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RESUMO
Em finais do século XIX, o cenário das antigas colônias mexicanas da América do Norte, tais como
Texas, Califórnia e Novo México, logo após a guerra contra os Estados Unidos, passa a ser marcado pela
presença de exemplares arquitetônicos que remetem às edificações produzidas pelas vinte e uma missões
franciscanas espanholas ali instaladas no século XVIII. Tal Linguagem é introduzida no Brasil no primeiro quartel
do século XX pelo arquiteto Edgar Vianna, sendo conhecida por várias denominações: “Neocolonial Hispano-
Americano”, “Estilo Missões”, “Estilo Californiano”, “Estilo Mexicano”. O objetivo desta pesquisa é registrar a
presença dessa linguagem em João Pessoa de modo a destacar seu valor histórico e arquitetônico, bem como
sua importância para a memória da cidade. Tal registro é feito a partir do mapeamento dos trechos urbanos
contemplados por edificações no estilo, e pela identificação e análise dos imóveis onde seus principais
indicadores formais são encontrados. É importante destacar que essa vertente do Neocolonial ocorreu em
paralelo com outras linguagens arquitetônicas, como o Neocolonial Luso-Brasileiro, ou o Art Déco, o que resultou
em pouca ou nenhuma alteração significativa em termos de layout e setorização das plantas das edificações,
sendo o estilo aplicado mais no âmbito formal, do que no conceitual.
RESUMÉ
A La fin Du XIXème siècle le site des anciennes colonies mexicaines de l‟Amérique Du Nord, comme
Texas, California et New Mexico, peu après la guerre contre les Etats-Unis, sont marqués par la présence
d‟exemplaires architecturales que faisent référence aux bâtiments des vignt et une missions franciscaines
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ème
espagnoles y instalées dépuis le XVIII siècle. Ce langage est introduite au Brésil au deuxième décennie du
ème
XX siècle par l‟architecte Edgar Vianna et a été connue par nombreuses désignations, comme “Néocolonial
hispano-américain”, Mission Style, “Style Californien”, “Style Mexicain". L‟objectif de cette recherche est
enregistrer la présence de ce langage à João Pessoa de façon à mettre en évidence sa valeur historique et
architecturale, et son importance pour la mémoire de la ville. Cet enregistrement est fait à partir de la
cartographie des sections urbaines couvertes par des bâtiments au style, et par l‟identification et analyse des
immeubles où ses principaux indicateurs formelles sont trouvés. C‟est important mette en évidence que cette
ramification du Néocolonial a eu lieu en parallèle avec des autres langages architecturales, comme le Néocolonial
luso-brésilien ou l‟Art Déco, ce qui a été responsable pour peu ou pas de changement significatif en ce qui
concerne le layout et la sectorization des plans, une fois que le style n‟a été appliqué que dans le domaine formel.
1 INTRODUÇÃO
Essa arquitetura de raízes hispânicas, ao ser trazida para o Brasil, é inserida num
contexto onde outra linguagem de caráter nostálgico e nacionalista já era recorrente - o
neocolonial luso-brasileiro. Tal contato faz com que o Estilo Missões naturalmente sofra
adaptações e absorva novos elementos, assumindo uma conotação híbrida onde típicos
valores formais portugueses são incorporados ao seu repertório original.
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atualmente ameaçado pelo arruinamento e perda de suas características formais em função
das indevidas intervenções a que é submetido.
2 CONTEXTO HISTÓRICO
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patrícios (AZEVEDO, 1994: 249). Assim surge o Estylo Colonial, bastante difundido por
nomes como Nestor de Figueiredo e C.S. San Juan, com o Pavilhão das Pequenas
Indústrias, na Exposição Internacional do Rio de Janeiro em 1922, ou mesmo com o projeto
de Lúcio Costa para o pavilhão do Brasil na United States Sesquicentennial International
Exposition, em 1926, na Filadélfia (ver Figura. 17).
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Logo após a vitória dos Estados Unidos na guerra contra o México pelo domínio das
colônias espanholas ali instaladas (tais como Texas, Califórnia e Novo México), buscou-se
uma “exaltação” da cultura europeia ali refletida nas vinte e uma missões franciscanas
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do sítio onde se desenrolou a história, gerou cerca de cinquenta milhões de dólares em
vendas na Califórnia. (Torre, 1994).
Figura 5. Casa W.T. Jefferson, Califórnia, Figura 6. Casa W.T. Jefferson, Califórnia,
EUA. Fachada. (Architectural Record, 1922: EUA. Detalhe da fachada. (Architectural
19) Record, 1922: 20)
através da residência D.L. James em Carmel Highlands (Figura 7). Embora compartilhe com
a primeira os curtos beirais em telha canal e a horizontalidade do partido , ela traz consigo
novos elementos, tais como os contrafortes e as falsas chaminés, bastante difundidas por
Newcomb em sua obra Spanish House for America (Figura 8), e igualmente presentes nos
trabalhos de George Washington Smith,do qual podemos citar como exemplo sua B House
para a Maravilla & Co. em Santa Barbara (Figura 9).
Entre os materiais que deram suporte à nova linguagem, pode-se destacar o uso da
pedra e do reboco com argamassa trabalhada grosseiramente em espessas camadas,
assim como a utilização de telhas de barro do tipo capa-canal ou estilo francês. A madeira
também se faz bastante presente, de forma aparente, principalmente na estrutura de
vigamento dos pavimentos superiores (ver Figuras 10 -11).
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ambém é igualmente
importante atentar para o uso do
ferro fundido nos balcões e gradis
das janelas, e nas luminárias
penduradas na fachada (ver
Figuras 12-13), assim como da
cerâmica esmaltada – os
azulejos– com sugestivas
estampas adornando poços,
Figura 9. Maravilla Company, Califórnia, EUA. Gravura.
( Architectural Record, 1922: three hundred forty-three.) fontes e painéis de paredes (ver
Figuras. 14-15).
Figura 10. Residência do East Alvarado District, Figura 11. Casa Dias Dorados, Califórnia,
Phoenix, EUA. Disponível em: EUA. Interior.
http://phoenixcityliving.typepad.com/phoenix_city_livi Fonte: NEWCOMB, 1927: 115.
ng/historic_homesdistricts/. Acesso em Jun. 2012.
Assim foi iniciada, como bem pontua Atique (2010), a “circulação de pessoas, ideias
e produtos” entre as duas nações, fato este comprovado na introdução de produtos
estadunidenses no Brasil, tais como o telefone, o rádio, eletrodomésticos, o próprio cinema
americano e ainda novidades domésticas no tocante à arquitetura, divulgadas em livros e
revistas especializadas. É curioso notar que foi a partir deste momento que “conhecemos o
bungalow, o hall, em vez do vestíbulo, o living room, em vez da sala de estar, o W.C. em vez
da latrina, etc.” (LEMOS, 1994: 150).
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Outras revistas nacionais, como Architetura no Brasil e A Casa também ajudaram a
difundir a nova vertente, tendo também contado com a divulgação da revista argentina Mi
Casita (Figura 18), um almanaque de plantas, elevações e perspectivas que se fez muito
presente nas mãos dos construtores da época.
Figura 18. Página da Revista Mi Casita. Modelo de Figura 19. Projeto de Bratke e Botti, 1931.
fachada Estilo Californiano. ( Mi Casita, 1945: 148). Detalhe de jogo de cobertas. (WOLFF,
2001: 231)
Outro fator importante a destacar sobre o Mission Style diz respeito à sua pureza
formal. Surge na América do Norte uma tendência arquitetônica com uma linguagem bem
característica que, ao adentrar no Brasil através da divulgação de livros especializados,
revistas de arquitetura, e o próprio cinema (como já foi dito), adquire uma linguagem própria,
através da mescla de seus elementos formais com aqueles do neocolonial aqui produzido,
como se observa no detalhe da obra de Oswaldo Bratke e Alberto Botti (Figura 19). Embora
se verifique uma predominância hispânica do conjunto, através da falsa chaminé, do jogo de
águas da coberta e dos curtos beirais, percebe-se a influência colonial lusa nas singelas
falsas eiras logo abaixo dos mesmos e no telhado do balcão sustentado por espessas
pilastras, bem típico da arquitetura civil brasileira do século XVIII.
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A partir da citação acima pode-se antecipar que essa distinção formal entre as duas
vertentes talvez justifique a razão porque o neocolonial luso-brasileiro foi pouco aplicado à
arquitetura residencial, predominando, por seu caráter de monumentalidade, nos edifícios
públicos/oficiais. O Estilo Missões, por sua vez, por ser menos ambicioso em termos de
grandeza, como foi dito anteriormente, teve maior aceitação no campo residencial brasileiro
do segundo quartel do século XX. [2] Sílvia Wolff (2001: 229) vem complementar o raciocínio
ao dizer que essa “linguagem hispano-americana” apenas unia um conjunto de elementos
decorativos sobre um “arcabouço arquitetônico conhecido”; isto é, em termos de planta,
Figura 20 Projeto de Eduardo Kneese de Mello. Figura 21. Projeto de Bratke e Botti. Aspecto de
Fachada.( WOLFF, 2001: 234) Fachada. ( WOLFF, 2001: 234)
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linguagem hispano-americana através da assimetria no conjunto, do jogo de volumes e
cobertas, do tratamento das aberturas e do reboco, e da utilização de contrafortes.
Figura 24. Planta do entorno do Parque Solon de Lucena, João Pessoa. Eixos de expansão e
localização de edificações neocoloniais. PMJP (Edição Nossa)
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ou poligonal), onde em geral “se situavam o hall e, normalmente, as escadas”, além de
vasos grandes no terraço em forma de ânfora.
Clara Correia D‟Alambert, citada por ATIQUE (2010: 221), complementa o exposto
ao elencar “alpendres com arcos abatidos ou goticizantes às vezes emoldurado por tijolos
ou pedras dispostos aleatoriamente, imitando aduelas [...] e revestimento rústico das
fachadas com reboco grosso em relevo, geralmente, na cor branca.” Este último tinha como
finalidade evocar os “resíduos deixados pelas brochas das constantes caiações nos prédios
originais.”(ver Figura 25). Vale ainda ressaltar o uso de elementos vazados para ventilação e
a utilização sistemática dos telhados com telha cerâmica capa-canal ou francesa.
Figura 26. nº 237, Rua Eurípedes Tavares. Figura 27 Residência no 216, Parque Solon de
Fachada principal. Acervo Pessoal Lucena. Fachada principal.
Acervo pessoal
Figura 30. Residência Inácio Pedrosa. Figura 31. Residência Inácio Pedrosa.
Pavimento superior. Pavimento térreo.
(SUDEMA). Edição nossa. (SUDEMA). Edição nossa.
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Figura 32. Residência Inácio Pedrosa. Fachada Principal (levantamento
nosso)
tampouco os acréscimos que obteve para ser adaptada ao uso institucional de repartição
pública. Sua fachada principal também foi levantada para melhor ilustrar os detalhes
apresentados no projeto residencial.
Figura 33. Residência Inácio Pedrosa. Vista da Figura 34. Hotel Paisani, Texas, EUA. Vista do
sala de jantar. Acervo Pessoal interior. (NEWCOMB, 1916: 102)
Fonte: Acervo Pessoal. Fonte: NEWCOMB, 1916: 101.
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Figura 35. Residência Inácio Pedrosa. Aspecto Figura 36. Cunningham House, Califórnia,
do living. Acervo Pessoal EUA. Interior. Disponível em:
http://www.amazon.com/George-Washington
Figura 38. Residência Inácio Pedrosa. Figura 39. Residência Inácio Pedrosa. Gradil
Detalhe da Fachada. Acervo Pessoal de janela superior. Acervo Pessoal.
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compartilham similaridades como a voluta na
base da fachada principal, o grande arco
adornado com falsas aduelas e os painéis de
cerâmica nos balcões das janelas. Outros
elementos característicos da linguagem hispano-
americana estão nos gradis das esquadrias, nas
falsas chaminés e no nicho para imagens de
Figura 40. Residência Inácio Pedrosa. santos católicos, além do embasamento em pedra
Gradil frontal. Acervo Pessoal.
aparente (ver Figuras 38-39). O extenso gradil
que delimita frontalmente o lote onde está implantado o imóvel constitui outro pronto alto da
residência na medida em que, através de seus módulos de forma goticizante, dialoga com
os arcos majestosos da fachada principal (Figura 40).
4 CONCLUSÕES
Através deste estudo, pode-se perceber que a presença do Mission Style na cidade
de João Pessoa se deu como uma ramificação de um movimento que se espraiava pelo
país, através de livros e revistas especializados, fato que ajudava a reforçar no mesmo seu
caráter regional, híbrido, uma vez que os clientes “profanavam” a pureza formal do estilo
com elementos morfológicos isolados, pela flexibilidade permitida pelos catálogos e
almanaques de arquitetura.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Ricardo Marques de. Las ideas de Ricardo Severo y La relación com El
academicismo. In: AMARAL, Aracy. Op. cit., p. 249.
LEMOS, Carlos A.C. El estilo que nunca existió. In: AMARAL, Aracy. Op. cit., p. 155.
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LEMOS, Carlos. Ecletismo em São Paulo. 1925. In: FABRIS, Anna Teresa (org). Ecletismo
na Arquitetura Brasileira. São Paulo, Nobel/Edusp. 1987., p. 79.
McMILLIAN, Elizabeth Jean. California Colonial: The Spanish and Rancho Revival Styles.
Schiffer Publishing Ltd., 2002.
NEWCOMB, Rexford. Spanish Colonial architecture in the United States. New York:
Dover Publications, 1990.
_______. The Spanish House for America: its design, furnishing and garden. Philadelphia.
J.B. Lippincott, 1927.
SANTOS, Paulo F., Quatro Séculos de Arquitetura. Rio de Janeiro: Fundação Rosimar
Pimentel, 1977.
SOUSA, Alberto; VIDAL, Wylnna. Sete plantas da capital paraibana: 1858-1940. João
Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2010.
TORRE, Susana. En busca de una indentidad regional: evolución de los estilos misionero y
neocolonial hispano em California entre 1880 y 1930. In: AMARAL, Aracy. Op. Cit., p. 52.
WOLFF, Silvia Ferreira Santos. Jardim América: o Primeiro Bairro-jardim de São Paulo e
sua Arquitetura, São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo/FAPESP/Imprensa Oficial
do Estado, 2001.
[1]
Cf. Atique, 2010: 222-223; Wolff, 2001: 226-229.
[2]
Segundo Maria Paula Albernaz e Cecília Modesto Lima, no Dicionário Ilustrado de Arquitetura, o estilo
missões é definido como “estilo arquitetônico adotado, sobretudo, nos anos 20 e 30 que associavas as formas
hispânicas às do neocolonial brasileiro. Permitia suprir de elementos decorativos as edificações em estilo
neocolonial, escassos na arquitetura neocolonial brasileira. Seus traços característicos são maciças arcadas em
arco pleno, colunas torsas e reboco grosso com desenhos informais lembrando vagamente a decoração árabe”.
(ALBERNAZ E LIMA apud. ATIQUE, 2010: 222).
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