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INICIADOS Edição
Especial
Trabalhos premiados nos Encontros
de Iniciação Científica da UFPB
ORGANIZADORES
Isac Almeida de Medeiros UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
Claudia de Figueiredo Braga PRÓ-REITORIA DE PESQUISA
Rogério Oliveira Barbosa JOÃO PESSOA, 2018
Os trabalhos foram classificados obedecendo-se
informações fornecidas pelos autores nas formas
de PAINEL [P] e COMUNICAÇÃO ORAL [O].
EDITORA UFPB
Cidade Universitária, Campus I –s/n
João Pessoa – PB
CEP 58.051-970
www.editora.ufpb.br
editora@ufpb.br
Fone: (83) 3216.7147
PROMOÇÃO
Formato: ePDF
Sistema requerido: Adobe Acrobat Reader
ISBN 978-85-237-1311-9
SÉRIE
INICIADOS VOL. 20
2013-2014
Trabalhos premiados no XX Encontro
de Iniciação Científica da UFPB
ORGANIZADORES
Isac Almeida de Medeiros UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
Claudia de Figueiredo Braga PRÓ-REITORIA DE PESQUISA
Rogério Oliveira Barbosa JOÃO PESSOA, 2018
I N I C I AD O S I N I C I AD O S
VOLUME 19 VOLUME 20
a b
SÉRIE SÉRIE
INICIADOS VOL. 21
2014-2015 INICIADOS VOL. 22
2015-2016
Trabalhos premiados no XXIII Encontro Trabalhos premiados no XXII Encontro
de Iniciação Científica da UFPB de Iniciação Científica da UFPB
ORGANIZADORES ORGANIZADORES
Isac Almeida de Medeiros UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Isac Almeida de Medeiros UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
Claudia de Figueiredo Braga PRÓ-REITORIA DE PESQUISA Claudia de Figueiredo Braga PRÓ-REITORIA DE PESQUISA
Rogério Oliveira Barbosa JOÃO PESSOA, 2018 Rogério Oliveira Barbosa JOÃO PESSOA, 2018
I N I C I AD O S I N I C I AD O S
VOLUME 21 VOLUME 22
c d
Isac Almeida de Medeiros
Rogério Oliveira Barbosa
Claudia de Figueiredo Braga
(Organizadores)
Série Iniciados
Vol. 19
Editora da UFPB
João Pessoa
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
Reitora MARGARETH DE FÁTIMA FORMIGA MELO DINIZ
Vice-Reitor BERNARDINA MARIA JUVENAL FREIRE DE OLIVEIRA
EDITORA DA UFPB
Diretora IZABEL FRANÇA DE LIMA
Supervisão de Editoração ALMIR CORREIA DE VASCONCELLOS JÚNIOR
Supervisão de Produção JOSÉ AUGUSTO DOS SANTOS FILHO
PRO-REITORIA DE PESQUISA
Ficha catalográfica
ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL
Solicitar por e-mail
fichacatalografica@biblioteca.ufpb.br
Solicitar na biblioteca central
Os trabalhos foram classificados obedecendo-se informações fornecidas pelos autores nas formas de PAINEL [P] e
COMUNICAÇÃO ORAL [O].
Promoção:
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA
SÉRIE INICIADOS
Vol. 19
Trabalhos Premiados no
XXI ENCONTRO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPB
25 a 29 de novembro de 2013
Centro de Ciências Jurídicas – CCJ
Campus I – João Pessoa
04 a 06 de dezembro de 2013
Centro de Ciências Agrárias – CCA
Campus II – Areia
Apresentação
A Série INICIADOS, em sua 19ª edição, publica 30 (trinta) trabalhos premiados de alunos de
Iniciação Científica e de Iniciação Tecnológica que apresentaram os resultados de pesquisas no XXI
Encontro de Iniciação Cientifica (ENIC).
A Universidade Federal da Paraíba promoveu o Encontro Unificado de Ensino, Pesquisa e
Extensão, no período de 25 a 29 de novembro de 2013, no Campus I da Universidade Federal da Paraíba
nos âmbitos dos CAMPUS I e CAMPUS IV, (João Pessoa, Rio Tinto e Mamanguape), e nos dias 04, 05
e 06 de dezembro de 2013, no Campus II em Areia, para os projetos relativos ao CAMPUS II e
CAMPUS III (Areia e Bananeiras). O evento objetivou a reflexão acerca das atividades realizadas nos
projetos acadêmicos de Ensino, Pesquisa e Extensão e a socialização das diversas experiências
vivenciadas pelos estudantes das diversas áreas do conhecimento numa perspectiva interdisciplinar.
Visando ações que vislumbram a melhoria da formação do aluno da UFPB, o Encontro unificado
consolida as bases da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
A pesquisa fez-se presente neste grande Encontro, representada pelo XXI ENIC cujo tema foi
Caminho para o Despertar da Vocação pela Ciência, em adesão ao tema selecionado para a Semana
Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT). Um tema que traduziu o principal objetivo da Iniciação
Científica.
A Pró-Reitoria de Pesquisa, por meio da Coordenação Geral dos Programas Acadêmicos e de
Iniciação Científica agradece aos docentes e discentes que fazem a pesquisa na UFPB e ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo contínuo apoio e incentivo
conferido à realização desses Programas da Universidade Federal da Paraíba.
CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DIGESTIBILIDADE IN VITRO DAS FOLHAS, TRONCO E MANGARÁ DE
BANANEIRA (MUSA SPP.) NA FORMA DE FENO. Jandeilson Gomes da Costa 9
(Bolsista PIBIC/CNPq/UFPB). Maria Fernanda Soares Queiroz (Orientadora).
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
ESTUDOS ESTRUTURAIS DA BTHTX-I, UMA FOSFOLIPASE A2 ISOLADA DO
VENENO DA SERPENTE BOTHROPS JARARACUSSU CO-CRISTALIZADA COM
N-ACETIL GALACTOSAMINA E DA PRTX-I, UMA PLA2 ISOLADA DO VENENO 75
MANOSE. Jephersson Alex Floriano dos Santos (Bolsista PIBIC/CNPq/UFPB). Daniela
Priscila Marchi Salvador (Orientadora).
CIÊNCIAS HUMANAS
O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO E DOS CONCEITOS GEOMÉTRICOS
NA PRÁTICA DOCENTE. Cleidison Cândido da Silva (Bolsista PIBIC/CNPq/UFPB). 211
Cristiane Fernandes de Souza (Orientadora).
CIÊNCIAS DA SAÚDE
CORRELAÇÃO DOS DADOS PERCEPTIVO-AUDITIVOS E DE AUTOAVALIAÇÃO
EM PACIENTES DISFÔNICOS SEM ALTERAÇÃO LARÍNGEA. Deyverson Da Silva 273
Evangelista (Bolsista PIBIC/CNPq/UFPB). Leonardo Wanderley Lopes (Orientador).
ENGENHARIAS
QUALIDADE DAS SEMENTES DE ALGODÃO DESLINTADAS COM ÁCIDO
SULSURICO. Alecio Rodrigues Pereira (Bolsista PIBIC/CNPq/UFPB). Heretia O 370
Gurjao Filho (Orientadora).
MODIFICAÇÃO ORGÂNICA DA ARGILA USANDO DOIS DIFERENTES SAIS
ORGÂNICOS. Bárbara Fernanda Figueirêdo dos Santos (Bolsista PIBIC/CNPq/UFPB). 384
Itamara Farias Leite (Orientadora).
RESUMO
A busca de alimentos alternativos e de baixo valor comercial, como os resíduos e
subprodutos agrícolas, representa uma forma de minimizar os gastos com a alimentação
animal. O presente estudo teve como objetivo avaliar a composição de feno de coprodutos
da bananeira (Musaspp.). As amostras de folhas, tronco e mangará (coração) de
bananeiras foram fenadas e submetidas às análises laboratoriais para determinação da
matéria seca (MS), proteína bruta (PB), matéria mineral (MM), fibra em detergente neutro
(FDN), fibra em detergente ácido (FDA) e extrato etéreo (EE). O teor de MS do feno da
folha, feno do colmo e feno do mangará foram respectivamente 73,41; 74,56 e 67,45%,
enquanto os teores de MM foram 9,04; 11,13 e 14,79% para estes mesmos fenos. Os
maiores valores de MO foram observados no feno da folha, 76,65% e no feno de colmo,
75,08%. O teor de PB observado no feno de mangará, 24,27%, foi superior aos demais.
Os teores de FDN observados foram 62,46% na folha, 70,50% no colmo e 50,93% no
mangará. Os teores de FDA das amostras de feno de folhas e de feno de mangará foram
semelhantes entre si, com médias de 30,73; e 32,67%, respectivamente, enquanto o teor
de FDA do feno de colmo foi considerado elevado, 40,60%. O feno da folha de bananeira
apresentou o maior valor de EE de 3,02% em sua composição. O feno das folhas e o feno
do mangará da bananeira (Musa spp.) são recomendados para utilização na dieta de
animais ruminantes com base na sua composição químico-bromatológica enquanto o feno
de colmo é um alimento de baixa qualidade nutricional para alimentação animal.
ͻ
1. INTRODUÇÃO
ͳͲ
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3. METODOLOGIA
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 1 - Teores médios de matéria seca, matéria mineral, matéria orgânica, proteína
bruta, nitrogênio, fibra em detergente neutro, fibra em detergente ácido e
extrato etéreo do feno de partes da bananeira
Feno da folha Feno do colmo Feno de mangará
Matéria Seca1 (%) 73,41 74,56 67,45
Matéria Mineral (%) 9,04 11,13 14,79
Matéria Orgânica (%) 76,65 75,08 69,82
Proteína Bruta (%) 18,21 3,88 33,06
Nitrogênio (%) 2,91 0,62 5,29
Fibra em Detergente
62,46 70,50 50,93
Neutro (%)
Fibra em Detergente
30,73 40,60 32,67
Ácido (%)
Extrato Etéreo (%) 3,02 1,47 1,62
1
MS = MS (55°C) * MS (105°C)
ͳͶ
observados foram superiores aos relatados por Bezerra et al. (2002) de 12,13% de PB
para a folha in natura de bananeira.
O teor de PB do feno de mangará, 33,06 g/100 g, é excelente quando comparado
aos valores comumente encontrados em alimentos volumosos e também em alimentos
concentrados utilizados na alimentação animal. Como base para comparação, o farelo de
algodão possui um teor de PB próximo de 28 a 30% e o farelo de soja um teor de PB em
torno de 45%. Assim sendo, a utilização do feno de mangará pode ser recomendado como
alimento a ser incluído na dieta de ruminantes tanto no período de escassez de forragem
quanto em qualquer época do ano, em substituição aos farelos comumente utilizados
pelos produtores na região do Brejo Paraibano.
Contudo, ao analisarmos os teores de FDN, percebe-se que o feno de colmo
apresentou o maior teor de FDN, 70,50, que pode ser considerado elevado e um fator
limitante ao consumo deste alimento pelos ruminantes devido ao mecanismo físico de
controle de ingestão voluntária (MERTENS, 1993). Contudo o feno de folhas e o feno de
mangará apresentaram valores de FDN de 62,46 e 50,93 g/100 g, o que permitiria seu
consumo como alimento volumoso exclusivo em uma dieta.
Os teores de FDA das amostras de feno de folhas e de feno de mangará foram
semelhantes entre si, com médias de 30,73 e 32,67 g/100 g, respectivamente. Todavia, o
teor de FDA observado no feno de colmo, 40,60 g/100 g, poderia caracterizá-lo como um
alimento de baixa qualidade nutricional para alimentação animal, pois, possivelmente a
maior parte de seu conteúdo em proteína estaria indisponível para fermentação no rúmen
por estar ligado à celulose e à lignina.
A folha, o colmo e o mangará apresentaram valores médios de 3,02; 1,47 e 1,62%
de EE em sua composição.
5. CONCLUSÃO
6. AGRADECIMENTOS
7. REFERÊNCIAS
BRINGEL, L.M.L.; NEIVA, J.N.M.; ARAÚJO, V.L.; BOMFIM, M.A.D.; RESTLE, J.;
FERREIRA, A.C.H.; LÔBO, R.N.B. Consumo, digestibilidade e balanço de nitrogênio
em borregos alimentados com torta de dendê em substituição à silagem de capim-elefante.
Revista Brasileira de Zootecnia, v.40, n.9, p. 1975-1983, 2011.
ͳ
agroindustriais da banana (Musa parasidiaca) e do urucum (Bixa orellana). In:
REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 42, 2005,
Goiânia - GO. Anais...Goiânia: SBZ, 2005.
LIMA, J.D.; LIMA, E.Q.; LEITE; A.M.R.; BATISTA, F.F.; ARAÚJO, R.C.; ARAÚJO,
A.E. Indicadores para formação dos produtores de banana do município de Bananeiras –
PB. In: ENCONTRO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DA PARAÍBA, XXII, 2010, Bananeiras – PB. Anais...Bananeiras: 2010.
MERTENS, D. R. Rate and extent of digestion. In: FORBES, J.M., FRANCE, J. (Ed.)
Quantitative aspects of ruminant digestion and metabolism. Cambridge:
Commonwealth Agricultural Bureaux, 1993. p. 13-51.
OLIVEIRA, L.L.; DUARTE, E.R.; NOGUEIRA, F.A.; SILVA, R.B.; FARIA FILHO,
D.E.; GERASEEV, L.C. Eficácia de resíduos da bananicultura sobre a inibição do
desenvolvimento larval em Haemonchus spp. provenientes de ovinos. Ciência Rural,
v.40, n.2, p.488-490, 2010.
TILLEY, J.M.A. & TERRY, R.A. A two stage technique for the in vitro digestion of
forage crops. Journal of British Grassland Society, v.18, n.2, p.104-111, 1963.
ͳ
DESEMPENHO E CARACTERÍSTICAS DE CARCAÇA DE COELHOS
ALIMENTADOS COM DIETAS CONTENDO GLICERINA BIDESTILADA
RESUMO
O objetivo deste estudo foi avaliar o desempenho produtivo, características de carcaça e
avaliação econômica de coelhos alimentados com dietas contendo diferentes níveis de
inclusão da glicerina bidestilada. O ensaio foi realizado no laboratório de cunicultura da
Universidade Federal da Paraíba, localizado na cidade de Bananeiras - PB. Para o ensaio
de desempenho foram utilizados 80 coelhos da raça Nova Zelândia vermelha com 30 dias
de idade sendo distribuídos em um delineamento experimental em blocos casualizados
com cinco tratamentos, oito repetições e parcelas constituídas de dois animais. Os
tratamentos consistiram da ração controle e da substituição de 25, 50, 75 e 100% da
energia digestível provinda do óleo de soja pela glicerina bidestilada. As dietas foram
elaboradas para se apresentarem isonutritivas. Ao final do experimento de desempenho,
os animais foram todos abatidos para avaliação das características dos órgãos e carcaça,
assim como a viabilidade econômica. Não foi observado (P>0,05) nenhum efeito (linear
ou quadrático), para as variáveis analisadas. A glicerina bidestilada pode ser utilizada
como ingrediente energético na dieta de coelhos em crescimento. Entretanto, a
viabilidade econômica de sua utilização vai depender da relação de preços entre os
ingredientes, especialmente o milho e óleo de soja.
ͳͺ
1. INTRODUÇÃO
ͳͻ
Vários tipos e designações de glicerina estão disponíveis comercialmente, diferindo
quanto ao conteúdo de glicerol e outras características, como cor, odor e impurezas. O
termo glicerina refere-se ao glicerol na forma comercial, com pureza acima de 95%.
O uso da glicerina na alimentação animal foi alvo de estudos no passado. Com o
recente estímulo à produção de biodiesel, e a consequente disponibilidade de glicerina
bruta, houve novo interesse no uso desse coproduto nas dietas.
Recentemente Retore et al. (2012) testaram diferentes tipos de glicerina na dieta de
coelhos em crescimento e concluíram que a glicerina bruta vegetal e a glicerina bruta
mista apresentam energia digestível de 5.099 e 4.953 kcal/kg matéria seca,
respectivamente, mostrando serem fontes de grande valor energético. E que a glicerina
bruta mista pode ser incluída no nível máximo estudado de 12%, enquanto a glicerina
bruta vegetal até 6% na dieta de coelhos em crescimento, analisando sempre o custo
benefício para avaliar o melhor nível a ser utilizado.
Testando a inclusão de até 15% de glicerina bruta na dieta de galinhas poedeiras,
Lammers et al. (2008), não observaram qualquer efeito sobre o consumo de ração diário
ou na produção de ovos, peso dos ovos e massa dos ovos produzidos.
Diante do exposto, há necessidade de mais pesquisas sobre outras formas de
utilização da glicerina. Uma alternativa é o emprego deste coproduto na alimentação
animal, podendo ser acrescentada na ração como fonte energética para os animais. Na
literatura são escassos os trabalhos científicos realizados com a inclusão de glicerina na
dieta de coelhos, portanto o seu metabolismo no organismo animal não está
completamente elucidado.
Sendo assim, objetivou-se avaliar diferentes níveis de inclusão da glicerina
bidestilada na dieta de coelhos em crescimento, e sua influência sobre o desempenho,
viabilidade econômica e as características de carcaça e carne.
2. MATERIAL E MÉTODOS
ʹͲ
bidestilada sobre o desempenho produtivo, características de carcaça e avaliação
econômica dos coelhos em crescimento.
ʹʹ
Em seguida, obteve-se o rendimento de carcaça (RC) e os pesos da carcaça quente
(PCQ) e fria (PCF). Osrendimentos de carcaça (RC), de membros anteriores (RMA), de
membros posteriores (RMP), de lombo (RL) e da região torácico-cervical (RRTC) foram
calculados em relação ao peso da carcaça.
O rendimento de carcaça (RC) foi calculado em relação ao peso corporal antes do
abate através da fórmula: [% RC = (Peso carcaça * 100) / Peso corporal]. Os rendimentos
de carcaça quente (RCQ=PCQ/PVA x 100) e de carcaça fria (RCF= PCF/PVA x 100),
em relação ao peso vivo ao abate (PVA) dos animais experimentais.
Os cortes comerciais foram realizados de acordo com Blasco e Ouhayoun (1993).
As coxas foram seccionadas na sétima vertebra, posteriormente foram cortados o
longissimus lumborum e as paletas. Para avaliar a viabilidade econômica da glicerina
bidestilada foram levantados preços das matérias-primas no mercado e calculado o custo
da ração por quilograma de peso vivo ganho, segundo Bellaver et al. (1985) conforme
descrito abaixo:
E m que: MCe = menor custo da ração por kg ganho observado entre os tratamentos;
Ctei = custo do tratamento i considerado.
Foram utilizados os preços dos insumos praticados na região de Bananeiras-PB para
calcular os custos das rações experimentais. O milho grão R$ 0,90/kg, farelo de soja R$
1,25/kg, feno de tifton R$ 1,00/kg, óleo de soja R$ 1,99/kg e glicerina bidestilada R$
0,27/kg.
Os dados obtidos foram analisados quanto à homogeneidade de variância (teste de
Levene a 5%) e quanto à distribuição dos erros (teste de Cramer Van-Misses a 5%)
segundo Everitt, (1998), estes atendendo as pressuposições estatísticas foram submetidos
ʹ͵
a analise de variância, utilizando o pacote PROC GLM do programa estatístico SAS (SAS
(9.1, SAS institute, Cary, NC, USA), sendo realizadas regressões lineares múltiplas até o
terceiro grau.
Os dados dos tratamentos com os diferentes níveis de substituição da glicerina
bidestilada foram comparados ao tratamento controle (sem glicerina bidestilada) pelo
teste de Dunnet a 5%.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Não foi observado (P>0,05) nenhum efeito (linear ou quadrático), para as variáveis
analisadas. A não alteração do consumo de ração, ganho de peso, conversão alimentar e
peso ao abate de coelhos na fase de crescimento, sugerem que a qualidade nutricional das
dietas foi mantida à medida que se incluiu a glicerina bidestilada, confirmando a boa
aceitação deste ingrediente energético pelos animais (Tabela 4).
Tabela 4 - Consumo médio diário de ração (CMDR), ganho médio diário (GMD),
conversão alimentar (CA) e peso de abate (PA) de coelhos alimentados com dietas
contendo diferentes níveis de glicerina bidestilada em substituição ao óleo de soja.
Níveis de glicerina bidestilada em substituição ao CV1, Regressão P
Variáveis óleo de soja %
0% 25% 50% 75% 100%
CMDR, 61,52 64,22 55,45 54,96 63,00 17,76 NS 0,5177
g
GMD, g 16,81 18,67 17,39 17,93 17,84 17,59 NS 0,6644
CA, % 3,77 3,46 3,23 3,17 3,58 17,82 NS 0,3646
PA, g 1441,56 1545,63 1472,19 1499,21 1500,31 12,64 NS 0,6210
1
CV = Coeficientes de variação; NS = Não significativo.
ʹͶ
Em estudos utilizando glicerina na alimentação de leitões recém-desmamados,
Zijlstra et al. (2009) verificaram que o valor de energia digestível para a glicerina
semipurificada é de 3.510 kcal/kg e que a inclusão de até 8% nas dietas, não prejudica os
parâmetros de desempenho dos animais.
Conforme Retore et al. (2012) a glicerina semipurificada vegetal pode ser incluída
em até 12% da dieta, e a semipurificada mista, em até 9%, sem afetarem o desempenho e
peso de carcaça de coelhos na fase de crescimento, além de reduzirem o custo de
produção.
Sabe-se que o glicerol absorvido é metabolizado a glicerol-3-fosfato e aos
intermediários da glicólise, dihidroxiacetona fosfato e gliceraldeído-3-fosfato
(LENINGHER, 2006). Assim, a não alteração dos parâmetros avaliados confirma que
houve um aporte energético metabólico proporcionado pela glicerina bidestilada na dieta,
por esta apresentar grande quantidade de ácidos graxos e glicerol, constituindo em um
aspecto fundamental, uma vez que o período entre o desmame e os 50 dias de idade é o
momento em que os animais apresentam seu maior crescimento e, consequentemente,
maior exigência nutricional.
Os animais utilizam a energia da dieta ou metabólica, parte para a mantença, em
processos catabólicos e anabólicos, e parte para produção, ou seja, crescimento e
deposição de proteína e gordura (SAKOMURA e ROSTAGNO, 2007).
A análise de regressão indica que não houve efeito (P≥0,05) do nível de inclusão
de glicerina bidestilada para as variáveis PCQ, PCF, RC, RMA, RMP, RL e RRTC de
coelhos na fase de crescimento (Tabela 5). Da mesma forma, o teste de Dunnett indicou
não haver diferença (P≥0,05) entre os níveis de inclusão da glicerina e a ração testemunha
(0% de glicerina). Esta resposta sugere que os valores nutricionais utilizados para as
glicerinas são semelhantes aos recomendados, uma vez que as rações foram isonutritivas
e que este coproduto não possui componentes nocivos ao desempenho dos coelhos.
Tabela 5 - Peso de carcaça quente (PCQ), peso de carcaça fria (PCF), rendimentos de
carcaça (RC), membros anteriores (RMA), membros posteriores (RMP), lombo (RL) e
região torácico-cervical (RRTC) de coelhos alimentados com dietas contendo glicerina
bidestilada em substituição ao óleo de soja.
Níveis de glicerina bidestilada em substituição ao CV1,
Regressão P
Variáveis óleo de soja %
0% 25% 50% 75% 100%
ʹͷ
PCQ, g 681,56 757,19 725,94 720,47 734,69 13,88 NS 0,4330
PCF, g 675,00 751,56 721,56 713,53 730,63 13,73 NS 0,4069
RC, % 47,02 48,69 49,27 47,99 48,90 3,94 NS 0,1256
RMA, % 16,03 17,07 15,90 15,32 15,81 4,63 NS 0,4820
RMP, % 35,21 39,06 35,23 35,54 35,61 3,68 NS 0,5973
RL, % 18,45 22,13 20,25 18,63 19,41 8,71 NS 0,6191
RRTC,
26,22 29,90 27,46 28,88 27,07 11,58 NS 0,3680
%
1
CV =Coeficientes de variação; NS = Não significativo.
Resultado semelhante, foi encontrado por Lammers et al. (2008a) em estudos com
suínos em fase de crescimento. Estes autores afirmaram que a inclusão de até 10% de
glicerina semipurificada (84,51% glicerol; 11,95% umidade; 2,91% cloreto de sódio e
0,32% metanol) não afetou as variáveis de desempenho e as características quantitativas
e qualitativas da carcaça.
A inclusão dos diferentes níveis da glicerina bidestilada não promoveu nenhuma
alteração (P>0,05) dos pesos do coração, fígado, rins e gordura (Tabela 6). Estes
resultados evidenciam que não houve nenhum efeito deletério da glicerina bidestilada,
mantendo assim a qualidade nutricional da dieta e o funcionamento adequado dos órgãos
analisados.
Tabela 6 - Peso do coração, fígado, rins e gordura de coelhos alimentados com dietas
contendo diferentes níveis de glicerina bidestilada em substituição ao óleo de soja.
Níveis de glicerina bidestilada em substituição ao CV1,
Regressão P
Variáveis óleo de soja %
0% 25% 50% 75% 100%
Coração, g 4,19 4,53 4,29 5,79 9,04 13,73 NS 0,5150
Fígado, g 36,69 45,36 40,15 40,25 38,62 11,07 NS 0,4789
Rins, g 9,84 10,13 10,24 12,05 9,94 12,39 NS 0,1275
Gordura, g 7,72 11,77 8,33 5,83 10,93 15,74 NS 0,1376
1
CV =Coeficientes de variação; NS = Não significativo.
Tabela 8 - Peso inicial, peso final, custo de ração (R$/kg), custo em ração por quilograma
de peso vivo ganho (CR), índice de eficiência econômica (IEE) e índice de custo (IC) de
coelhos alimentados com dietas contendo diferentes níveis de glicerina bidestilada em
substituição ao óleo de soja.
Níveis de glicerina bidestilada em substituição ao CV1,
Regressão P
Variáveis óleo de soja %
0% 25% 50% 75% 100%
Peso inicial, g 500,00 500,30 498,45 498,15 501,25 - - -
Peso final, g 1441,56 1545,63 1472,19 1499,21 1500,31 - - -
Custo da ração 1,01 1,00 0,99 0,98 0.97 - - -
CR, R$/kg PV 3,71 3,44 3,16 3,00 3,42 6,54 NS 0,2391
IEE, % 80,86 87,21 94,94 100,00 87,72 6,79 NS 0,1666
IC, % 123,67 114,67 105,33 100,00 114,00 6,54 NS 0,2391
1
CV = Coeficientes de variação; NS = Não significativo.
Os resultados promissores indicam que mais estudos devem ser feitos objetivando
conhecer melhor o valor nutricional da glicerina na alimentação de coelhos. Maior ênfase
deve ser dada no estudo do conteúdo da glicerina destilada. Pois de acordo com FDA
(2010) a glicerina bruta apresenta um elevado teor de metanol, não se enquadrando nas
recomendações de 150 ppm de metanol para utilização da glicerina na alimentação
animal.
ʹ
4. CONCLUSÃO
5. AGRADECIMENTOS
6. REFERÊNCIAS
BELLAVER, C.; FIALHO, E.T.; PROTAS, J.F.S. et al. Radícula de malte na alimentação
de suínos em crescimento e terminação. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.20, n.8, p.
969-74, 1985.
BERENCHTEIN, B.; COSTA, L.B.; BRAZ, D.B. et al. Utilização de glicerol na dieta de
suínos em crescimento e terminação. Revista Brasileira de Zootecnia, v.39, p.1491-
1496, 2010.
FDA US Food and Drug Administration.[2010]. Food additives permitted in feed and
drinking water of animals. Methyl esters of higher fatty acids. Disponível
em:http://www.accessdata.fda.gov/scripts/cdrh/cfdocs/cfCFR/CFRSearch.cfm?fr=172.2
25&SearchTerm=fatty%20acids. Acesso em: 10/03/2013.
ʹͺ
FERRARI, R.A.; OLIVEIRA, V.S.; SCABIO, A. Biodiesel de soja: taxa de conversão
em ésteres etílicos, caracterização físico-química e consumo em gerador de energia.
QuímicaNova, v. 28, n. 1, p. 19-23, 2005.
LAMMERS, P.J.; KERR, B.J.; WEBER, T.E. et al. Growth performance, carcass
characteristics, meat quality, and tissue histology of growing pigs fed crude glycerin
supplemented diets. Journal of Animal Science, v.86, p.2962-2970, 2008.
MENDOZA, O.F.; ELLIS, M.; MCKEITH, F.K. et al. Metabolizable energy content of
refined glycerin and its effects on growth performance, and carcass and pork quality
characteristics of finishing pigs. Journal of Animal Science, v.88, p3887-3895, 2010.
ʹͻ
MOUROT, J. Utilisation du glycérol en alimentation porcine. Inra Productions
Animales, n.5, v.22, p.409-414, 2009.
͵Ͳ
CURVAS DE CRESCIMENTO E TAXA DE DEPOSIÇÃO DE PESOS E
COMPONENTES CORPORAIS DE FRANGAS LEVES E SEMIPESADAS
RESUMO
Objetivou-se com o estudo estimar curvas de crescimento para determinar as taxas de
crescimento e de deposição dos componentes corporais de frangas leves e semipesadas
no período de 1 a 16 semanas de idade. Foram estudadas um total de 750 frangas Dekalb
White e 750 frangas Bovans Goldline, distribuídas em delineamento inteiramente
casualizado com 30 repetições de 25 aves. Foram obtidos o peso vivo, o peso corporal
depenado e o peso de penas. Além disso, algumas aves foram escolhidas e abatidas para
obter amostras de peso de corpo vazio que foram usadas na análise dos componentes
corporais. Essas informações foram usadas para obter os parâmetros de pesos e
componentes corporais do modelo de crescimento de Gompertz: Pt (g) = Pm.exp.{- exp.[-
b.(t - T)], em que: Pt = peso ou componente estimado da ave (g) no tempo t (dias); Pm =
peso corporal ou do componente (g) à maturidade; b = taxa de maturidade (por dia); T =
tempo após a eclosão, em que a taxa de crescimento é máxima (dias). A linhagem leve é
mais precoce no crescimento e na deposição do peso e dos componentes corporais. As
informações descritas nos parâmetros da equação Gompertz indicam que as frangas
Dekalb White, foram geneticamente melhoradas para alcançar o ponto de inflexão, ou
seja, atingirem mais precocemente o máximo crescimento de peso vivo e componente
corporal que a linhagem Bovans Goldline, o que permite que a linhagem de franga leve
inicie a postura mais cedo que a semipesada.
͵ͳ
1. INTRODUÇÃO
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 2- Estimativa dos parâmetros da equação de Gompertz para peso vivo, peso corporal
depenado e peso de penas de franga leve e semipesada
Peso vivo (g) Peso corporal depenado (g) Peso de penas (g)
Parâmetros
Dekalb Bovans Dekalb Bovans Dekalb Bovans
b
Pm (g) 1785,90 1878,75a 1340,72 b
1489,21a 135,53b 168,65a
b (por dia) 0,0210a 0,0198b 0,0255b 0,0285a 0,0232 0,0236
T (dias) 58,02b 62,98a 50,60a 46,84b 48,00b 51,08a
R2 0,97 0,96 0,99 0,99 0,96 0,98
Pm = peso à maturidade; b = taxa de maturidade; T = Idade em que a taxa de maturidade é
máxima.
͵ͷ
O peso vivo das frangas Bovans foi superior ao das frangas Dekalb em pelo
menos 90g. Entre as linhagens avaliadas, as frangas Bovans foram cinco dias mais tardias
e apresentaram peso a maturidade 5,2% maior que as frangas Dekalb em relação ao peso
vivo, justificado pela menor taxa de maturidade. Com relação ao peso de penas a
divergência aumentou para mais de 24%, representada pela diferença de 33g do peso a
maturidade de frangas Bovans em comparação às aves Dekalb. Quando o peso corporal
das aves esta livre de penas, a linhagem Bovans também pesa mais que a Dekalb. Desse
modo, a linhagem leve e semipesada apresentaram diferentes taxas de crescimento
corporal e de penas, em que as maiores taxas da linhagem Bovans podem influenciar as
exigências protéicas e, até de aminoácidos tipo metionina, em relação às Dekalb.
A taxa de maturidade para o peso vivo da franga leve foi maior que para a franga
semipesada (P≤0,05), indicando que a linhagem Dekalb branca atinge o peso adulto mais
cedo que a linhagem Bovans Goldline, porém, para o peso corporal vazio depenado o
resultado foi exatamente o inverso (P≤0,05), onde a franga Bovans foi mais precoce. Esta
informação é confirmada pelo menor tempo para atingir a máxima maturidade, veja que
do ponto de vista do peso vivo, as aves Dakalb White levaram cerca de cinco dias a menos
do que as aves Bovans para alcançar o maior peso. No peso de penas, a taxa de maturidade
não se alterou entre os genótipos (P≤0,05), apesar disso, o menor tempo de maturação no
peso de penas foi obtido com as frangas Dekalb (P>0,05). Isso explica por que nos
manuais das linhagens, as frangas leves tem menor peso ao início de postura que as aves
semipesadas.
A comparação dos coeficientes das equações para peso de pena indicou diferença
(P≤0,05) entre as linhagens, de modo que as aves Bovans apresentaram maior peso de
penas, mas a linhagem Dekalb apresentou menor tempo de deposição de penas. Neme et
al. (2006) também confirmaram maior quantidade de penas para as linhagens semipesadas
em relação as leves.
De modo geral, as informações descritas nos parâmetros da equação Gompertz
indicam que as frangas Dekalb White, foram geneticamente melhoradas para alcançar o
ponto de inflexão, ou seja, atingirem mais precocemente o máximo crescimento de peso
corporal e de penas que a linhagem Bovans Goldline, o que permite que a linhagem de
franga leve inicie a postura mais cedo que a semipesada.
As taxas de crescimento dos pesos corporais e de penas das duas linhagens foram
máximas quando o tempo para máxima maturidade foi estimado (Tabela 3), assim como
as curvas de crescimento (Figura 1, 2 e 3). O crescimento do peso vivo das frangas Dekalb
͵
é ligeiramente superior ao das frangas Bovans até 63 dias de idade (nove semanas),
aproximadamente, quando então, torna a ser menor até o início da postura. O expressivo
crescimento demonstrado pela maior maturidade proporcionou maiores taxas de
crescimento para as frangas leves (Figura 1). Resultados inversos foram observados para
o peso de penas (0,0236 vs 0,0232) em que as aves de reposição semipesadas
apresentaram valores maiores que as frangas leves, provavelmente, pela maior taxa de
maturidade e peso adulto, embora, as frangas Dekalb branca sejam três dias mais precoces
que as Bovans Goldline (Figura 3).
͵
nutrientes para a formação das penas, tipo metionina.
Taxa de crescimento de PV
1400 16
1200 Dekalb White 14
1000
Bovans Goldline 12
Peso vivo (g)
10
800
(g/d)
8
600 6
400 4
200 2
0
0
1 14 28 42 56 70 84 98 112
1 14 28 42 56 70 84 98 112
Idade (dias) Idade (dias)
a) b)
Figura 1- Curvas (a) e taxa de crescimento (b) de peso vivo da franga leve “Dekalb” e
da semipesada “Bovans” em função da idade
Peso corporal depenado (g)
1300 18
Taxa de crescimento (g/d)
Dekalb White
Bovans Goldline 16
1040
14
780 12
10
520 8
260 6
4
0 2
1 14 28 42 56 70 84 98 112 0
1 14 28 42 56 70 84 98 112
Idade (dias)
Idade (dias)
a) b)
Figura 2- Curva (a) e taxa de crescimento (b) de peso corporal depenado da franga
leve “Dekalb” e da semipesada “Bovans” em função da idade
Taxa de crescimento (g/dia)
140 1,6
120
Peso de penas (g)
Dekalb White
100 Bovans Goldline 1,2
80
60 0,8
40
0,4
20
0
0,0
1 14 28 42 56 70 84 98 112
1 14 28 42 56 70 84 98 112
Idade (dias)
Idade (dias)
a) b)
Figura 3- Curva (a) e taxa de crescimento (b) de penas da franga leve “Dekalb” e da
͵ͺ
semipesada “Bovans” em função da idade
͵ͻ
Bovans não apresentaram maior taxa de deposição e tempo de maturidade da matéria
mineral ao longo do período de crescimento, mas apresentaram maior quantidade de
matéria mineral no corpo vazio em relação às frangas Dekalb.
A taxa de maturidade da proteína e matéria mineral nas aves Dekalb foram
superiores às das Bovans, sugerindo que a linhagem Dekalb atinge o desenvolvimento
ósseo e muscular mais cedo que a linhagem Bovans, o que é confirmado pelo menor
tempo na proteína e numericamente na matéria mineral. Portanto, quanto menor à
deposição protéica, mais tempo a ave levará para iniciar a postura, haja vista que a taxa
de deposição tem reflexo sobre o tempo de maturidade.
A estimativa dos parâmetros da equação de Gompertz para a maior deposição de
água coincidiu com a máxima deposição de proteína, explicada pela necessidade de água
para a síntese protéica nas aves.
A deposição dos componentes corporais foi mais precoce nas frangas Dekalb em
relação às frangas Bovans, exceto para a água e a matéria mineral que foram semelhante.
Isso confirma a diferença de crescimento das duas linhagens e de certo modo, justifica o
planejamento alimentar observado a partir de estudos de composição de carcaça
(Kwakkel, 1991, Neme et al., 2006, Marcato et al., 2008), sendo mais importante que o
peso corporal na preparação do organismo das aves para a produção de ovos (Silva et al.,
2009).
Mediante a derivada da equação de Gompertz pode-se observar as taxas de
deposição dos componentes corporais (Tabela 5, Figura 4, 5, 6, e 7). Com isso, constata-
se que as aves semipesadas “Bovans” depositam maior quantidade de proteína que as
leves “Dekalb”, indicando que, possivelmente, estas aves atingem o início da postura
mais tardiamente, porque, quanto maior e mais prolongado a deposição protéica, mais
tempo a ave levará para iniciar a postura. Esse resultado é confirmado pelo maior peso à
maturidade na variável peso vivo (Tabela 2) e na proteína corporal (Tabela 4),
necessitando de maior tempo para realizar a síntese protéica.
200
1,5
150 1,0
100 0,5
50 0,0
1 14 28 42 56 70 84 98 112
0
Idade (dias)
1 14 28 42 56 70 84 98 112
Idade (dias) b)
a)
Figura 4- Curva de crescimento (a) e taxa de deposição (b) de proteína no corpo vazio
da franga leve “Dekalb” e da semipesada “Bovans” em função da idade
Deposição de gordura (g/d)
4,0
200
3,5
Dekalb White 3,0
150
Gordura (g)
Bovans Goldline
2,5
100 2,0
1,5
50 1,0
0,5
0 0,0
1 14 28 42 56 70 84 98 112 1 14 28 42 56 70 84 98 112
Idade (dias) Idade (dias)
a) b)
Figura 5- Curva de crescimento (a) e taxa de deposição (b) de gordura no corpo vazio
da franga leve “Dekalb” e da semipesada “Bovans” em função da idade
Ͷͳ
Deposição de matéria mineral
50 0,6
Matéria mineral (g) Dekalb White
40 0,5
Bovans Goldline
30
0,4
(g/dia)
0,3
20
0,2
10
0,1
0 0,0
1 14 28 42 56 70 84 98 112 1 14 28 42 56 70 84 98 112
Idade (dias) Idade (dias)
a) b)
Figura 6- Curva de crescimento (a) e taxa de deposição (b) de matéria mineral no corpo
vazio da franga leve “Dekalb” e da semipesada “Bovans” em função da idade
1200
13,0
9,0
400 7,0
5,0
0 3,0
1 14 28 42 56 70 84 98 112 1 14 28 42 56 70 84 98 112
Idade (dias) Idade (dias)
a) b)
Figura 7- Curva de crescimento (a) e taxa de deposição (b) de água no corpo vazio da
franga leve “Dekalb” e da semipesada “Bovans” em função da idade
Ͷʹ
140 800
120 780
80 740
60 720
40 700
Gordura
20 Água 680
0 660
1 7 28 49 77 91 112
Idade (dias)
4. CONCLUSÕES
5. AGRADECIMENTOS
6. REFERÊNCIAS
BRODY, T.B.; SIEGEL, P.B.; CHERRY, J.A. Age, body weight and body composition
requirements for the onset of sexual maturity of dwarf and normal chickens. British
Poultry Science, v.25, p.245-252, 1984.
GOMPERTZ, B. On the nature of the function expressive of the law of human mortality
and on a new method of determining the value of life contingencies. Trans. Roy Phil.
Soc., v.115, p.513-585, 1825.
GOUS, R.M. Methodologies for modelling energy and amino acid responses in poultry.
Revista Brasileira de Zootecnia, v.78, p.812-821, 2007. Suplemento especial.
HRUBY, M.; HAMRE, M.L.; COON, C.N. Growth modelling as a tool for predicting
amino acid requirements of Broilers. Journal Applied Poultry Research, v.3, p.403-
415, 1994.
MARCATO, S.M.; SAKOMURA, N.K.; MUNARI, D.P. et al. Growth and body
nutriente deposition of two broiler comercial genetic lines. Brazilian Journal of Poultry
Science, v.10, n.2, p.117-123, 2008.
ROSTAGNO, H.S.; ALBINO, L.F.T.; DONZELE, J.L. et al. Tabelas brasileiras para
suínos e aves: composição de alimentos e exigências nutricionais. 3ª. ed. Viçosa: UFV;
DZO – Departamento de Zootecnia. 2011. 135p.
Ͷͷ
AS AVES DA SERRA DE SANTA CATARINA‐PB: ESPÉCIES AMEAÇADAS E
DEMAIS INDICADORAS DE UM POTENCIAL CONSERVACIONISTA
RESUMO
A região onde se localiza a Serra de Santa Catarina (SCAT) é uma das reservas da
Biosfera criadas pela ONU, com prioridade muito alta para conservação. Objetivou-se
caracterizar a composição e riqueza de espécies da avifauna na SCAT e verificar possíveis
ocorrências de aves ameaçadas de extinção com interesse conservacionista. A
amostragem da avifauna foi realizada através de capturas com redes de neblina, listas de
Mackinnon e observações assistemáticas. As espécies foram categorizadas quanto à sua
dependência de florestas: independentes (IND), semidependentes (SMD) e dependentes
(DEP); bem como grau de endemismo e status de conservação. Foi registrado um total de
151 espécies distribuídas em 43 famílias. Sendo sete espécies endêmicas ao Nordeste,
duas delas ameaçadas de extinção, Penelope jacucaca e Xiphocolaptes falcirostris.
Quanto à relação com ambientes florestais constatou-se 58 espécies IND; 56 SMD; e 37
DEP. Quando comparados esses números a outros inventários em áreas na Caatinga,
verificou-se semelhanças em relação à riqueza de espécies com áreas de unidades de
conservação e diferenças entre áreas antropizadas apresentando uma média igual ou
maior as outras áreas, demonstrando a importância da SCAT como uma área proposta
para a criação de uma unidade de conservação de proteção integral.
Ͷ
1. INTRODUÇÃO
Ͷ
Figura 1 - Xiphocolaptes falcirostris registrado na excursão do segundo semestre de
2013 na Serra de Santa Catarina (Foto Cayo Lima).
A região da Serra de Santa Catarina é apontada como uma das reservas da Biosfera
criadas pela Organização das Nações Unidas (CNRBC 2004), que objetiva formar uma
rede internacional de áreas protegidas Fig. 2. Além disso, a região é também indicada
como área de muito alta prioridade para a conservação da Caatinga, segundo o MMA
(2002) Fig. 3, bem como área prioritária para pesquisa científica.
Ͷͺ
Figura 3 - Áreas prioritárias para a conservação da Caatinga. Os círculos vermelhos
indicam a localização da Serra de Santa Catarina.
2. METODOLOGIA
ͷͲ
será baseada em informações contidas na literatura (Silva 1995a, Stotz et al. 1996,
Silva et al. 2003).
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Tabela 1 - Espécies de aves registradas (141) nas áreas amostradas na Serra de Santa
Catarina - PB, durante as expedições entre 2012 e 2013, e dados da Coleção Heretiano
Zenaide. Status A- Ameaçado de extinção. Endemismo ENR- Endêmico do Nordeste,
EBR- Endêmico brasileiro indicação quanto ao uso de habitat: IND- Independente; SMD-
Semi-independente; DEP- Dependente. Número de frequência de observação. Na coluna
2012 e 2013 o número um corresponde ao registro da espécie de acordo com o ano.
Uso
de
Espécies Status Endemismo habitat 2012 2013
Tinamidae Gray, 1840
Crypturellus tataupa (Temminck,
1815) DEP 1 1
Anatidae Leach, 1820
ͷͳ
Dendrocygna autumnalis
(Linnaeus, 1758) IND 1
Cracidae Rafinesque, 1815
Penelope superciliaris Temminck,
1815 DEP 1
Penelope jacucaca Spix, 1825 A ENR DEP 1
Ardeidae Leach, 1820
Tigrisoma lineatum (Boddaert,
1783) IND 1
Nycticorax nycticorax (Linnaeus,
1758) IND 1
Butorides striata (Linnaeus, 1758) IND 1
Bubulcus ibis (Linnaeus, 1758) IND 1
Ardea alba Linnaeus, 1758 IND 1
Pilherodius pileatus (Boddaert,
1783) IND 1
Cathartidae Lafresnaye, 1839
Cathartes aura (Linnaeus, 1758) IND 1 1
Cathartes burrovianus Cassin,
1845 IND 1
Coragyps atratus (Bechstein,
1793) IND 1 1
Sarcoramphus papa (Linnaeus,
1758) SMD 1
Accipitridae Vigors, 1824
Geranospiza caerulescens
(Vieillot, 1817) SMD 1
Heterospizias meridionalis
(Latham, 1790) IND 1
Urubitinga urubitinga (Gmelin,
1788) SMD 1
Rupornis magnirostris (Gmelin,
1788) IND 1 1
Geranoaetus melanoleucus
(Vieillot, 1819) IND 1
Falconidae Leach, 1820
Caracara plancus (Miller, 1777) IND 1
Herpetotheres cachinnans
(Linnaeus, 1758) SMD 1 1
Rallidae Rafinesque, 1815
Aramides mangle (Spix, 1825) EBR DEP 1
Aramides cajanea (Statius Muller,
1776) SMD 1
Cariamidae Bonaparte, 1850
Cariama cristata (Linnaeus,
1766) IND 1 1
Columbidae Leach, 1820
Columbina talpacoti (Temminck,
1811) IND 1 1
ͷʹ
Columbina squammata (Lesson,
1831) IND 1
Columbina picui (Temminck,
1813) IND 1 1
Claravis pretiosa (Ferrari-Perez,
1886) SMD 1
Patagioenas speciosa (Gmelin,
1789) SMD 1
Patagioenas picazuro
(Temminck, 1813) SMD 1
Leptotila verreauxi Bonaparte,
1855 SMD 1 1
Psittacidae Rafinesque, 1815
Aratinga cactorum (Kuhl, 1820) ENR SMD 1 1
Forpus xanthopterygius (Spix,
1824) IND 1
Cuculidae Leach, 1820
Piaya cayana (Linnaeus, 1766) SMD 1
Coccyzus melacoryphus Vieillot,
1817 SMD 1
Coccyzus americanus (Linnaeus,
1758) SMD 1
Crotophaga ani Linnaeus, 1758 IND 1 1
Guira guira (Gmelin, 1788) IND 1
Strigidae Leach, 1820
Megascops choliba (Vieillot,
1817) SMD 1
Glaucidium brasilianum (Gmelin,
1788) SMD 1
Caprimulgidae Vigors, 1825
Antrostomus rufus (Boddaert,
1783) SMD 1
Hydropsalis hirundinacea (Spix,
1825) IND 1
Trochilidae Vigors, 1825
Anopetia gounellei (Boucard,
1891) DEP 1
Eupetomena macroura (Gmelin,
1788) IND 1 1
Chrysolampis mosquitus
(Linnaeus, 1758) IND 1 1
Chlorostilbon lucidus (Shaw,
1812) SMD 1 1
Amazilia fimbriata (Gmelin,
1788) SMD 1 1
Heliomaster squamosus
(Temminck, 1823) EBR DEP 1 1
Trogonidae Lesson, 1828
Trogon curucui Linnaeus, 1766 DEP 1
ͷ͵
Galbulidae Vigors, 1825
Galbula ruficauda Cuvier, 1816 SMD 1 1
Bucconidae Horsfield, 1821
Nystalus maculatus (Gmelin,
1788) EBR SMD 1 1
Picidae Leach, 1820
Picumnus fulvescens Stager, 1961 ENR SMD 1 1
Veniliornis passerinus (Linnaeus,
1766) SMD 1 1
Piculus chrysochloros (Vieillot,
1818) DEP 1
Celeus flavescens (Gmelin, 1788) DEP 1 1
Campephilus melanoleucos
(Gmelin, 1788) DEP 1 1
Thamnophilidae Swainson, 1824
Myrmorchilus strigilatus (Wied,
1831) SMD 1 1
Formicivora melanogaster
Pelzeln, 1868 SMD 1 1
Herpsilochmus atricapillus
Pelzeln, 1868 DEP 1 1
Thamnophilus capistratus Lesson,
1840 SMD 1 1
Thamnophilus pelzelni Hellmayr,
1924 DEP 1 1
Taraba major (Vieillot, 1816) SMD 1 1
Dendrocolaptidae Gray, 1840
Sittasomus griseicapillus
(Vieillot, 1818) DEP 1 1
Dendroplex picus (Gmelin, 1788) SMD 1 1
Lepidocolaptes angustirostris
(Vieillot, 1818) IND 1 1
Xiphocolaptes falcirostris (Spix,
1824) A ENR DEP 1 1
Furnariidae Gray, 1840
Xenops rutilans Temminck, 1821 DEP 1
Furnarius figulus (Lichtenstein,
1823) EBR IND 1
Furnarius leucopus Swainson,
1838 SMD 1 1
Pseudoseisura cristata (Spix,
1824) SMD 1
Phacellodomus rufifrons (Wied,
1821) SMD 1
Certhiaxis cinnamomeus (Gmelin,
1788) SMD 1 1
Synallaxis frontalis Pelzeln, 1859 DEP 1 1
Synallaxis albescens Temminck,
1823 IND 1
ͷͶ
Synallaxis scutata Sclater, 1859 SMD 1 1
Tityridae Gray, 1840
Pachyramphus viridis (Vieillot,
1816) SMD 1 1
Pachyramphus polychopterus
(Vieillot, 1818) SMD 1 1
Pachyramphus validus
(Lichtenstein, 1823) DEP 1
Xenopsaris albinucha
(Burmeister, 1869) IND 1
Rhynchocyclidae Berlepsch, 1907
Leptopogon amaurocephalus
Tschudi, 1846 DEP 1
Tolmomyias flaviventris (Wied,
1831) DEP 1 1
Todirostrum cinereum (Linnaeus,
1766) SMD 1 1
Hemitriccus margaritaceiventer
(d'Orbigny & Lafresnaye, 1837) SMD 1 1
Tyrannidae Vigors, 1825
Hirundinea ferruginea (Gmelin,
1788) SMD 1
Euscarthmus meloryphus Wied,
1831 SMD 1
Camptostoma obsoletum
(Temminck, 1824) IND 1 1
Elaenia flavogaster (Thunberg,
1822) SMD 1
Elaenia spectabilis Pelzeln, 1868 DEP 1 1
Elaenia chilensis Hellmayr, 1927 IND 1
Myiopagis viridicata (Vieillot,
1817) DEP 1 1
Phaeomyias murina (Spix, 1825) IND 1 1
Myiarchus ferox (Gmelin, 1789) SMD 1
Myiarchus tyrannulus (Statius
Muller, 1776) SMD 1 1
Casiornis fuscus Sclater & Salvin,
1873 EBR DEP 1 1
Pitangus sulphuratus (Linnaeus,
1766) IND 1 1
Myiodynastes maculatus (Statius
Muller, 1776) DEP 1 1
Machetornis rixosa (Vieillot,
1819) IND 1
Megarynchus pitangua (Linnaeus,
1766) SMD 1
Myiozetetes similis (Spix, 1825) SMD 1 1
Tyrannus melancholicus Vieillot,
1819 IND 1 1
ͷͷ
Tyrannus savana Vieillot, 1808 IND 1
Empidonomus varius (Vieillot,
1818) SMD 1 1
Fluvicola albiventer (Spix, 1825) IND 1
Fluvicola nengeta (Linnaeus,
1766) IND 1 1
Cnemotriccus fuscatus (Wied,
1831) DEP 1 1
Lathrotriccus euleri (Cabanis,
1868) DEP 1 1
Vireonidae Swainson, 1837
Cyclarhis gujanensis (Gmelin,
1789) SMD 1
Vireo olivaceus (Linnaeus, 1766) DEP 1 1
Corvidae Leach, 1820
Cyanocorax cyanopogon (Wied,
1821) EBR SMD 1 1
Hirundinidae Rafinesque, 1815
Stelgidopteryx ruficollis (Vieillot,
1817) IND 1
Troglodytidae Swainson, 1831
Troglodytes musculus Naumann,
1823 IND 1 1
Cantorchilus longirostris
(Vieillot, 1819) DEP 1 1
Polioptilidae Baird, 1858
Polioptila plumbea (Gmelin,
1788) SMD 1 1
Turdidae Rafinesque, 1815
Turdus rufiventris Vieillot, 1818 IND 1 1
Turdus amaurochalinus Cabanis,
1850 SMD 1 1
Mimidae Bonaparte, 1853
Mimus saturninus (Lichtenstein,
1823) IND 1
Coerebidae d'Orbigny &
Lafresnaye, 1838
Coereba flaveola (Linnaeus,
1758) SMD 1
Thraupidae Cabanis, 1847
Nemosia pileata (Boddaert, 1783) DEP 1 1
Lanio pileatus (Wied, 1821) SMD 1 1
Tangara sayaca (Linnaeus, 1766) SMD 1 1
Tangara palmarum (Wied, 1823) SMD 1
Tangara cayana (Linnaeus, 1766) IND 1
Paroaria dominicana (Linnaeus,
1758) ENR IND 1 1
Dacnis cayana (Linnaeus, 1766) SMD 1
Hemithraupis guira (Linnaeus, DEP 1
ͷ
1766)
Conirostrum speciosum
(Temminck, 1824) DEP 1
Emberizidae Vigors, 1825
Sicalis flaveola (Linnaeus, 1766) IND 1
Sicalis luteola (Sparrman, 1789) IND 1
Volatinia jacarina (Linnaeus,
1766) IND 1 1
Sporophila lineola (Linnaeus,
1758) IND 1
Sporophila nigricollis (Vieillot,
1823) IND 1 1
Sporophila albogularis (Spix,
1825) EBR IND 1 1
Arremon taciturnus (Hermann,
1783) DEP 1 1
Cardinalidae Ridgway, 1901
Cyanoloxia brissonii
(Lichtenstein, 1823) DEP 1
Parulidae Wetmore, Friedmann,
Lincoln, Miller, Peters, van Rossem, Van Tyne
& Zimmer 1947
Basileuterus culicivorus (Deppe,
1830) DEP 1
Basileuterus flaveolus (Baird,
1865) DEP 1 1
Icteridae Vigors, 1825
Icterus cayanensis (Linnaeus,
1766) SMD 1
Icterus jamacaii (Gmelin, 1788) SMD 1
Agelaioides fringillarius (Spix
1824) IND 1
Molothrus bonariensis (Gmelin,
1789) IND 1
Fringillidae Leach, 1820
Euphonia chlorotica (Linnaeus,
1766) SMD 1 1
ͷ
Figura 4 - Foto de Pilherodius pileatus documenta na Serra de Santa Catarina como
primeiro registro de ocorrência da espécie no estado da Paraíba (Foto Arnaldo Vieira-
Filho).
34
51 IND
SMD
DEP
56
4. AGRADECIMENTOS
5. REFERÊNCIAS
GIULIETTI, A.M., et al. Diagnóstico da vegetação nativa do bioma Caatinga. In: J.M.C.
Silva, M. Tabarelli, M.T. Fonseca & L.V. Lins (orgs.). Biodiversidade da Caatinga:
áreas e ações prioritárias para a conservação. pp. 48-90. Ministério do Meio
Ambiente, Brasília, 2004.
PACHECO, J.F. Aves da Caatinga: uma análise histórica do conhecimento. In: J.M.C.
Silva, M. Tabarelli, M.T. Fonseca & L.V. Lins (orgs.). Biodiversidade da Caatinga:
áreas e ações prioritárias para a conservação. pp. 189-250. Ministério do Meio
Ambiente, Brasília, 2004.
SILVA, J. M. C. Birds of the Cerrado Region, South America. Steenstrupia 21: 69-92,
1995c.
SILVA, J.M.C., M. TABARELLI, M.T. FONSECA & L.V. LINS (orgs.). Biodiversidade
da Caatinga: áreas e ações prioritárias para a conservação. Ministério do Meio Ambiente,
Brasília, 2004.
ʹ
SILVEIRA, L. F. & STRAUBER, F. C. Aves. In: MACHADO, A. B. M.; DRUMMOND,
G. M.; PAGLIA, A. P. (eds.), Livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de
extinção, 2 vol, 1420p, e DF: MMA, Brasilia, 2008.
SUTHERLAND W.J., I. NEWTON & R.E. GREEN. Bird Ecology and Conservation:A
Handbook of Techniques. Oxford University Press, Oxford, 2004.
STOTZ B.F., J.W. FITZPATRICK, T.A. PARKER III, & D.K. MOSKOVITZ.
Neotropical birds: Ecology and Conservation. Univ. Chicago Press, Chicago, 1996.
͵
SELEÇÃO DE COMPONENTES DE SUBSTRATOS E UTILIZAÇÃO DE
URINA DE VACA PARA A PRODUÇÃO DE MUDAS DE ABACAXI
ORNAMENTAL
RESUMO
O experimento foi conduzido no Viveiro de mudas do Setor de Agricultura do Centro de
Ciências Humanas, Sociais e Agrárias (CCHSA), Campus III da Universidade Federal da
Paraíba (UFPB), Bananeiras–PB. Com o objetivo de avaliar o desenvolvimento das
mudas de abacaxi-ornamental, com a utilização do esterco bovino e do esterco de galinha,
em diferentes proporções, com ou sem a aplicação via foliar de urina de vaca. O
delineamento utilizado foi o de blocos ao acaso, com 8 tratamentos e 4 repetições, sendo
a parcela experimental representada por 2 sacos plásticos contendo uma planta em cada,
totalizando 64 plantas. Os tratamentos obtiveram as seguintes proporções de terra e
material orgânico: esterco bovino + terra, nas proporções de 2:1 e 1:2 ; cama de aves +
terra, nas proporções de 2:1 e 1:2, com e sem a utilização da urina de vaca, após a
emergência das plantas, via foliar. Realizou-se a avaliação das seguintes variáveis:
diâmetro do colo, número de folhas e altura da planta mãe. observa-se que tanto o esterco
bovino como o esterco de galinha obtiveram as maiores médias no número de folhas (20),
tratamentos 1, 2, 4, 5 e 6, independentes das proporções, com a presença da urina de vaca,
tendo como exceção o tratamento 1. Em relação ao diâmetro do colo o tratamento 8 (Terra
+ esterco de galinha 1:2, com urina de vaca), obteve a maior média 43,6 cm, com
diferença significativa em relação as demais. Já para a altura da planta mãe, as maiores
médias foram observadas nos tratamentos 2 (Terra + esterco bovino 2:1, com urina de
vaca) e 6 (Terra + esterco de galinha 2:1, com urina de vaca), 30,2 cm e 29,8 cm,
respectivamente. Os resultados indicaram que tanto o esterco de bovino quanto o de
galinha promoveram um incremento no crescimento das mudas do abacaxi ornamental,
independentes da aplicação ou não da urina de vaca, na maioria das variáveis avaliadas.
Ͷ
1. INTRODUÇÃO
1.2 URINA DE VACA COMO FERTILIZANTE
1.3 ABACAXI-ORNAMENTAL
2. OBJETIVO GERAL
3. METODOLOGIA
ͻ
vaca diluída em água de torneira na concentração de 1%, o volume de 150 mL de solução
planta-1, dividido em 10 aplicações semanais. A concentração utilizada foi definida diante
do crescimento das plantas, com consequente aumento a partir do 70º dia após a primeira
aplicação, para 3%, com volume de 500 mL, divididos em 2 aplicações semanais e em
seguida, para 5%, com 1500 mL, divididos em 8 aplicações semanais.
A solução foi vertida via foliar, utilizando-se borrifador manual policamp®,
evitando o escorrimento da solução das folhas para o solo e deriva da solução para
parcelas vizinhas. A aplicação acontecia sempre aos sábados de cada semana, a uma
distância de 40cm da planta e sempre depois da irrigação.
Aos 151 dias após o plantio dos rizomas realizou-se a avaliação das seguintes
variáveis: diâmetro do colo da planta mãe, número de folhas da planta mãe, comprimento
do limbo foliar da planta mãe, número de perfilhos e número de flores. Para a realização
das medições acima, foram utilizados os seguintes materiais: Prancheta de madeira
Eucatex-waleu, paquímetro digital, caneta esferográfica e régua de acrílico 30 cm
acrimet®.
As amostras do esterco bovino, cama de galinha e da urina de vaca estão em espera
no laboratório de análises químicas de solo do CCA/UFPB, para as devidas análises
químicas. As mesmas serão retomadas e interpretadas para posterior confecção de um
artigo científico.
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e teste de Tukey, ao
nível de 5% de probabilidade, segundo Ferreira (1996). As análises estatísticas foram
realizadas com o auxílio do programa computacional SAS.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Ͳ
galinha 2:1, com urina de vaca), 30,2 cm e 29,8 cm, respectivamente. Moreira et al.
(2006) utilizando esterco bovino como parte do substrato para a propagação de mudas
micropropagadas de abacaxi cv. Pérola, verificou que houve efeito significativo no
desenvolvimento das mudas.
Não foram encontrados, na literatura consultada, outros trabalhos tratando dos
efeitos de estercos e urina de vaca sobre o crescimento do abacaxi-ornamental. Portanto,
uma discussão comparativa com os resultados de outros autores fica limitada.
Tabela 1.Valores médios das variáveis avaliadas: altura da planta mãe (APM), diâmetro
do colo (DC), número de folhas (NF), obtidos aos 151 dias após o plantio dos rebentos,
utilizando diferentes proporções de esterco bovino e esterco de galinha com e sem a
aplicação da urina de vaca.
Tratamentos Variáveis avaliadas
NF DC (mm) APM(cm)
1:Terra + esterco bovino 2:1, sem urina de vaca 20a 35,6b 26,0ab
2: Terra + esterco bovino 2:1, com urina de 20a 34,7b 30,2a
vaca
3: Terra + esterco bovino 1:2, sem urina de 15bc 34,7b 27,8ab
vaca
4: Terra + esterco bovino 1:2, com urina de 20a 34,4b 24,7b
vaca
5:Terra + esterco de galinha 2:1, sem urina de 14c 35,6b 28,0ab
vaca
6:Terra + esterco de galinha 2:1, com urina de 20a 34,6b 29,8a
vaca
7:Terra + esterco de galinha 1:2, sem urina de 17abc 36,5b 28,5ab
vaca
8:Terra + esterco de galinha 1:2, com urina de 19abc 43,6a 24,2b
vaca
CV 8,78 5,16 7,91
As médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre sí pelo teste de Tukey
em nível de 5% de significância
ͳ
O experimento está em andamento para posteriores avaliações da matéria seca e
análises químicas do tecido vegetal.
5. CONCLUSÃO
6. AGRADECIMENTOS
7. REFERÊNCIAS
Oliveira AP; Paes RA; Souza AP; Dornelas CSM (2003) Rendimento de pimentão
adubado com urina de vaca e NPK. In: 43 Congresso Brasileiro de Olericultura, Recife.
Resumos, SOB. CD-ROM.
͵
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
“ESTUDOS ESTRUTURAIS DA BthTX-I, UMA FOSFOLIPASE A2 ISOLADA
DO VENENO DA SERPENTE Bothropsjararacussu CO-CRISTALIZADA COM
N-ACETIL GALACTOSAMINA E DA PrTX-I, UMA PLA2 ISOLADA DO
VENENO DA SERPENTE Bothropspirajai CO-CRISTALIZADA COM
MANOSE”
RESUMO
ͷ
1. INTRODUÇÃO
a b
Figura 1: Espécimes adultos de serpentes do gênero Bothrops. a. B. jararacussu
(http://www.univap.br/cen/serpentario/fotos/crotalidae_bothrops/04.jpg - Foto: Sabina
Domingues Leonardo) e b. B. pirajai(Foto: Giuseppe Puorto, gentilmente cedida por
Marcio Martins).
Os venenos de serpentes são compostos por uma complexa mistura de toxinas
e outras substâncias bioativas, sendo que, mais de 90% do seu peso seco é constituído por
proteínas, compreendendo grande variedade de enzimas como proteases (metalo e
serino), fosfolipases A2 (principais constituintes), L-aminoácido oxidases eesterases
(Mebs, 2001). Os venenos ofídicos são compostos, também, por substâncias simples
como íons de magnésio, cálcio e zinco, os quais são importantes para ação das principais
metaloproteases do veneno, como as hemorrágicas.
Soares et al (2003 e 2004) descrevem que venenos de serpentes podem causar
diversos efeitos ao organismo, desde a coagulação sanguínea, hemorragias, mioglobinuria
(presença de mioglobina na urina), além da liberação de compostos ativos, que se
assemelham a histamina e bradicinina.
O veneno das serpentes do gênero Bothrops pode causar, de forma geral,
intensa dor local, às vezes com hemorragia e necrose tecidual grave podendo apresentar
manifestações sistêmicas e locais (Soares et al 2004).
As fosfolipases A2 (PLA2s, E.C. 3.1.1.4) compreendem uma grande família
de proteínas, as quais possuem a mesma função enzimática e demonstram uma
considerável homologia quanto à sequência de aminoácidos (Higuchi et al., 2007). As
PLA2s catalisam a hidrólise de 3-sn-fosfoglipídeos em ácidos graxos e lisofosfolipídeos
(Figura 2), a qual está relacionada com importantes atividades farmacológicas, tais como
efeito sobre plaquetas, neurotoxicidade, atividade anticoagulante e miotoxicidade
(Selistre-de-Araujo& Souza, 2007).
Figura 2: Sítios de atuação das fosfolipases. As PLA2s atuam nas ligações sn-2 dos
fosfolipídios numerados estereoespecificamente
(Lehningeret al., 1993).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
a = 38,996; b =
a = 56,303;b =
Cela unitária 71,424; a = 56,158; b=
56,303;
(Å) c = 44,326;β = 56,158;c = 130.006
c = 129.700
102,037
ͺʹ
Grupo espacial P3121 P21 P3121
Resolução (Å) 50 - 1,68 (1,74 - 50 - 1,95 (2,02 - 50 - 1,90 (1,97 -
1,68) 1,95) 1,90)
Reflexões 28010 17409 19747
únicas
Completeza 98,4 (90,1) 97,9 (96,9) 85,7 (90,6)
(%)
Rmergeb 4,6 (40,6) 4,9 (15,0) 9,9 (45,3)
I/σ(I) 35,16 (3,19) 20,74 (5,11) 7,20 (2,13)
Redundância 6,3 (4,3) 3,2 (3,0) 3,5 (3,6)
a
Números em parênteses correspondem aos dados de mais alta resolução;bRmerge =
hkl(i(|Ihkl,i-<Ihkl>|))/hkl,i<Ihkl>, onde Ihkl,i é a intensidade de uma medida individual da
reflexão com índices de Miller h, k e l, e <Ihkl> é a intensidade média daquela reflexão.
Calculado para I > -3σ (I).
Fonte: Pesquisa Direta, 2011-2013.
ͺ͵
Realizada a substituição molecular dos complexos, foram realizados ciclos de
refinamento molecular da estrutura rígida (RigidBodyRefinament) seguido por ciclos de
refinamento posicional e estereoquímico de cada átomo que compõe cada complexo
proteico (RestrainedRefinament) no programa computacional Refmac5 (Murshudovet al.,
1997) incluso no pacote CCP4i (CCP N. 4, 1994; Potterton et al., 2003). Intercalado aos
próximos ciclos de refinamento posicional e estereoquímico, foram feitas as modelagens
moleculares no programa computacional Coot v.0,7 (Emsley&Cowtan, 2004) para ajustar
os átomos de cada modelo sobre a nuvem eletrônica obtida pelo processamento de cada
conjunto de dados experimentais de difração de raios X.
ͺͶ
0,32
0,3
0,28
0,26
0,24
0,22
0,2
Ref. 1 Ref. 2 Ref. 3 Ref. 4 Ref. 5 Ref. 6 Ref. 7 Ref. 8 Ref. 9 Ref. 10 Ref. 11 Ref. 12 Ref. 13
Rfree Rfactor
ͺͷ
Tabela 4: Valores de figura de mérito (FOM), quantidade de ciclos de refinamento para
cada etapa e adição de moléculas àBthTX-I+G #1.
N-Acetil-
Refinamentos FOM SO4 H2 O Lítio Nº Ciclos Galactosamin
a
Ref. 1 0.772 0 0 0 20 0
Ref. 2 0.774 0 0 0 34 0
Ref. 3 0.749 0 0 0 8 0
Ref. 4 0.746 0 0 0 8 0
Ref. 5 0,748 0 0 0 9 0
Ref. 6 0.792 0 84 0 12 0
Ref. 7 0.793 1 83 0 100 0
Ref. 8 0.804 1 107 0 13 0
Ref. 9 0.806 2 124 0 19 0
Ref. 10 0.810 2 179 0 9 0
Ref. 11 0.810 2 179 0 7 0
Ref. 12 0.806 2 209 2 8 1
Ref. 13 0.805 3 208 3 7 1
Fonte: Pesquisa Direta, 2012-2013.
ͺ
3.2. Bothropstoxina-I + N-Acetil-Galactosamina(BthTX-I+G #2) - P21
0,29
0,27
0,25
0,23
0,21
0,19
0,17
0,15
Ref.1 Ref.2 Ref.3 Ref.4 Ref.5 Ref.6 Ref.7 Ref.8 Ref.9
Rfree Rfactor
ͺͺ
Figura 7: Gráfico de Ramachandran referente à BthTX-I+G #2 (grupo espacial P21).
Fonte: Pesquisa Direta, 2012-2013.
ͺͻ
ligações peptídicas entre os resíduos de aminoácidos foram plotados no gráfico de
Ramachadrane, destes, 93,30% dos aminoácidos estão dispostos em regiões permitidas,
3,57% estão em regiões admitidas e 3,13% dos resíduos estão em regiões não permitidas
(Figura 9).
0,35
0,34
0,33
0,32
0,31
0,3
0,29
0,28
0,27
0,26
0,25
Rigid Ref. 2 Ref. 4 Ref. 6 Ref. 8 Ref. 10 Ref. 12 Ref. 14 Ref. 16 Ref. 18
Rfree Rfactor
Rigid 0.703 0 0 0 13 0
Ref. 1 0,706 0 0 0 9 0
Ref. 2 0,701 0 0 0 11 0
Ref. 3 0,701 0 0 0 163 0
Ref. 4 0,695 0 0 0 69 0
Ref. 5 0,699 0 0 0 19 0
Ref. 6 0,697 0 0 0 145 0
Ref. 7 0,696 0 0 0 97 0
Ref. 8 0,697 0 0 0 8 0
Ref. 9 0,699 0 0 0 12 0
ͻͲ
Ref. 10 0,697 0 0 0 7 0
Ref. 11 0,708 0 9 0 9 0
Ref. 12 0,707 0 9 0 7 0
Ref. 13 0,709 0 9 0 9 0
Ref. 14 0,713 0 18 0 7 0
Ref. 15 0,713 0 39 0 8 0
Ref. 16 0,706 2 39 2 10 0
Ref. 17 0,712 2 39 2 6 0
Ref. 18 0,712 0 93 0 12 0
Fonte: Pesquisa Direta, 2012-2013.
4. CONCLUSÃO
ͻͳ
respectivamente, de 22,13% 27,40%. 92,86% dos resíduos de aminoácidos quem
compõem o complexo estão dispostos em regiões permitidas do gráfico de Ramachandran
enquanto que 6,72% estão nas regiões admitidas e um único aminoácido está disposto em
região não permitida. Uma única molécula de N-acetil-galactosamina localizada próxima
as Lisinas 16 e 20 do monômero A compõem a estrutura do complexo BthTX-I+G #1
juntamente com duas moléculas proteicas (dímero), 208 moléculas de água, duas
moléculas de sulfato e dois íons Lítio.
A BthTX-I+G#2 pertence ao grupo espacial P21 e apresentou resolução
máxima de 1,95Å. Os valores atuais de Rfactor são de 17,43% e de Rfree23,87. No gráfico
de Ramachandran, 94,96% dos resíduos de aminoácidos estão dispostos em regiões
permitidas, 4,62% em regiões admitidas e apenas um resíduo de aminoácido está na
região não permitida. Atualmente o complexo BthTX-I+G#2 é formado por duas
moléculas proteicas, quatro moléculas de sulfato, duas moléculas de polietilenoglicol
4000 e 258 moléculas de água. O gráfico de Ramachadran gerado revelou que 93,30%
dos aminoácidos estão dispostos em regiões permitidas, 3,57% em regiões admitidas e
3,13% dos resíduos de aminoácidos estão em regiões não permitidas.
Embora os complexos BthTX-I+G #1 e #2 apresentem valores aceitáveis para
finalizar a resolução de suas estruturas oligoméricas, novos ajustes devem ser realizados
e, uma análise minuciosa das densidades eletrônicas, até o momento, não explicadas
deverá ser feita para sanar todas as oportunidades de completa-las e definir se houve a
interação entre moléculas do sacarídeo N-acetil-galactosaminacom a PLA2BthTX-I e,
quantas moléculas interagiram. Os dados atuais do complexo PrTX-I+M apresentam
resultados preliminares que precisam ser aperfeiçoados para que se possa realizar uma
análise mais precisa da presença ou não do sacarídeomanose.
5. AGRADECIMENTOS
de AZEVEDO JR., W.F.; WARD, R.J.; GUTIÉRREZ, J.M.; ARNI, R.K. Structure of
aLys49-phospholipase A2 homologue isolated from the venom of Bothrops
nummifer(JumpingViper). Toxicon, v.37, p.371-384, 1999.
BRÜNGER, A.T. The free R value: a novel statistical quantity for assessing the accuracy
ofcrystal structures. Nature, v.355, p.472-474, 1992.
CARDOSO J.L.C.; FRANÇA F.O. de S.; WEN F.H.; MÁLAQUE C.S.M.; HADDAD
J.R.V., (2003). Animais peçonhentos no Brasil: biologia, clínica e terapêutica dos
acidentes. São Paulo: Sarvier, 468p.
FREMONT, D. H.; Anderson, D.H.; Wilson, I.A.; Dennis, E.A.; Xuong, N.H. Crystal
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KINI, R.M.; EVANS, H.J.A model to explain the pharmacological effects of snake
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Crotalus atroxVenom.J. Biol. Chem.,v. 260, n. 21, pp. 11627-11634, 1985
ͻ
AVALIAÇÃO DE 20 ANOS DEREFLORESTAMENTODO SUB-BOSQUE EM
UMA ÁREA DE MINERAÇÃO DE AREIA (MATARACA, PARAÍBA, BRASIL)
RESUMO
A mineração de superfície constitui uma das atividades que mais degradam o meio
ambiente. Trabalhos de restauração florestal ainda são relativamente recentes no Brasil,
fazendo-se necessário um constante monitoramento dos projetos em desenvolvimento
para que possamos selecionar as técnicas mais eficientes para cada vegetação. Afim de
avaliar a restauração de dunas mineradas, realizou-se um levantamento
fitossociológicodo sub-bosque sobre dunas em restauração e dunas naturais, na área da
mineradora Cristal Mineração do Brasil Ltda. (Mataraca, Paraíba, Brasil). Estabeleceu-se
32 parcelas de 50 x 6 m, distribuídas equitativamente em quatro áreas; 16 parcelas em
áreas naturalmente vegetadas e 16 parcelas em áreas com 20 anos de restauração. Nestas
parcelas todos os indivíduos com diâmetro entre 2,5 e 5 cm foram identificados e tiveram
medidas suas alturas. Calculou-se frequência, densidade, dominância e valor de
importância, além dos índices de diversidade de Shannon (H’), equabilidade de Pielou (J)
e similaridade de Sörensen (S). O estudo registrou 1032 indivíduos, identificados como
pertencentes a 65 espécies, 49 gêneros e 28 famílias. Os índices mostraram que as duas
dunas estão em patamares consideravelmente diferentes de Restauração, mostrando que
apesar de próximas o manejo diferenciado desenvolveu características diferentes entre os
dois Ecossistemas.
ͻ
1. INTRODUÇÃO
2. METODOLOGIA
ͻͻ
Figura 1– Região Nordeste com o estado da Paraíba destacado em cinza; B. = Litoral do
estado da Paraíba com destaque para o município de Mataraca; C. = Área da Cristal
Mineração do Brasil Ltda., com as 4 unidades amostrais delimitadas; D1 = Duna um, D2
= Duna dois, RL = Reserva Legal e RN = Restinga Nativa.
Duna 1 (D1) – Área minerada mais antiga, teve seu processo de reflorestamento iniciado
em 1988. Possui cerca de 20 ha de área e passou por vários tratamentos pré-plantio, tais
como; uso ou não de irrigação, cobertura com bagaço-de-cana (associado a uma adubação
nitrogenada de 50 kg de ureia por hectare coberto) e cobertura com solo de mata. Apesar
disso, Cunha et al. (2003) verificaram que esses diferentes tratamentos não resultaram em
diferenças significativas na composição florística da duna, apenas na densidade relativa
das espécies.
Duna 2 (D2) – Restauração iniciada em 1992. Possui cerca 40 ha de área. Toda a área
utilizou apenas a cobertura com solo de mata como tratamento pré-plantio.
Após o plantio das mudas, tratos culturais como coroamento, remoção de cipós, poda
e erradicação de leguminosas plantadas como pioneiras iniciais foram conduzidas até que
os indivíduos atingissem um porte que lhes permitissem superar a competição com as
plantas vizinhas (FONTES; ROSADO, 2004).
Reserva Legal (RL) - Compreende uma área de duna naturalmente coberta por Mata de
Restinga, possui cerca de 70 ha. Apresenta trechos bem preservados, embora já tenha sido
alterada por corte seletivo. Diz respeito a uma parte de toda a Reserva Legal da área, está
possui mais 130 ha e foi homologada recentemente, em 2008.
Restinga Nativa (RN) – Corresponde a uma grande área de mata de Restinga nativa,
possuindo cerca de 120 ha de área sobre a encosta marítima e sobre o topo da duna de
face frontal ao mar. É constituída principalmente por árvores baixas (4 a 14m de altura),
por vezes tortuosas e perfiladas (OLIVEIRA-FILHO; CARVALHO, 1993), com algumas
espécies comuns às outras formações vegetais adjacentes. Embora preservada, também
sofreu corte seletivo.
3. RESULTADOS
ͳͲʹ
Dentre as 65 espécies identificadas, duas não sãonativas de Restinga, são
elas,Mimosa caesalpinifolia (Sabiá) e Piptadeniastipulaceae (Amorosa). Essas espécies
foram encontradas exclusivamente na Duna em Restauração número 2.
ͳͲ͵
Tocoyenasellowiana 11 13.5 45.8 11.0 9.12 11.19
Anacardiumoccidentale 7 7.7 29.2 7.0 17.77 10.82
Manilkarasalzmannii 11 11.5 45.8 11.0 8.94 10.49
Solanumpaniculatum 8 7.7 33.3 8.0 5.88 7.19
Buchenaviatetraphylla 4 3.8 16.7 4.0 10.78 6.21
Zollerniailicifolia 3 5.8 12.5 3.0 2.72 3.83
Chamaecristaensiformis 4 1.9 16.7 4.0 3.31 3.08
Erythroxylumpasserinum 3 3.8 12.5 3.0 2.21 3.02
Eugenia uniflora 3 3.8 12.5 3.0 2.08 2.98
Hymenaeacourbaril 2 3.8 8.3 2.0 1.84 2.56
Myrcia multiflora 1 1.9 4.2 1.0 1.10 1.34
Guazumaulmifolia 1 1.9 4.2 1.0 0.98 1.30
Caesalpiniaechinata 1 1.9 4.2 1.0 0.74 1.22
Duguetiamoricandiana 1 1.9 4.2 1.0 0.74 1.22
Pera glabrata 1 1.9 4.2 1.0 0.74 1.22
Ziziphusplatyphylla 1 1.9 4.2 1.0 0.69 1.20
Campomanesiadichotoma 1 1.9 4.2 1.0 0.61 1.18
Eugenia umbelliflora 1 1.9 4.2 1.0 0.61 1.18
Tapiriraguianensis 1 1.9 4.2 1.0 0.61 1.18
Σ 100 100 416.7 100 100 100
Duna nº 2 (D2)
Piptadeniastipulacea 67 10.6 279.2 36.4 36.14 27.73
Mimosa caesalpiniifolia 29 10.6 120.8 15.8 16.05 14.15
Solanumpaniculatum 21 12.8 87.5 11.4 10.70 11.63
Tocoyenasellowiana 17 14.9 70.8 9.2 9.22 11.12
Tabebuia roseoalba 18 12.8 75.0 9.8 9.02 10.52
Anacardiumoccidentale 14 12.8 58.3 7.6 8.76 9.71
Solanumasperum 5 6.4 20.8 2.7 2.65 3.92
Ziziphusplatyphylla 4 4.3 16.7 2.2 2.65 3.03
Campomanesiadichotoma 2 2.1 8.3 1.1 1.22 1.48
Zollerniailicifolia 2 2.1 8.3 1.1 0.87 1.36
Guazumaulmifolia 1 2.1 4.2 0.5 0.66 1.11
Chamaecristaensiformis 1 2.1 4.2 0.5 0.56 1.08
ͳͲͶ
Eugenia uniflora 1 2.1 4.2 0.5 0.56 1.08
Guettardaplatypoda 1 2.1 4.2 0.5 0.50 1.06
Solanumpaludosum 1 2.1 4.2 0.5 0.46 1.04
Σ 184 100 766.7 100 100 100
ͳͲͷ
Área / Nome científico N FR DA DR DoR VI
Reserva Legal (RL)
Calyptranthes brasiliensis 53 3.3 220.8 15.0 13.99 10.75
Sacoglottismattogrossensis 39 3.3 162.5 11.0 10.25 8.18
Maytenuserythroxyla 27 5.7 112.5 7.6 6.79 6.72
Schoepfia brasiliensis 20 4.9 83.3 5.6 4.83 5.13
Protiumheptaphyllum 17 4.9 70.8 4.8 4.49 4.74
Duguetiamoricandiana 19 3.3 79.2 5.4 4.40 4.35
Guettardaplatypoda 9 4.9 37.5 2.5 2.47 3.31
Xylopialaevigata 11 3.3 45.8 3.1 2.79 3.06
Chaetocarpusmyrsinites 2 1.6 8.3 0.6 6.86 3.02
Cupaniaimpressinervia 12 2.5 50.0 3.4 3.06 2.97
Eugenia sp.2 10 3.3 41.7 2.8 2.60 2.90
Tabela 2, continuação:
ͳͲ
Lueheaochrophylla 5 0.8 20.8 1.4 1.45 1.23
Tapiriraguianensis 3 1.6 12.5 0.8 0.83 1.11
Lecythissp. 5 0.8 20.8 1.4 1.08 1.10
Pera glabrata 2 1.6 8.3 0.6 0.54 0.91
Byrsonimasericea 2 1.6 8.3 0.6 0.54 0.91
Ingasp. 2 0.8 8.3 0.6 0.61 0.67
Pogonophoraschomburgkiana 2 0.8 8.3 0.6 0.51 0.63
Ourateahexasperma 2 0.8 8.3 0.6 0.49 0.62
Cordiasuperba 2 0.8 8.3 0.6 0.42 0.60
Buchenaviatetraphylla 1 0.8 4.2 0.3 0.35 0.48
Manilkarasalzmannii 1 0.8 4.2 0.3 0.32 0.47
Eugenia glandulosa 1 0.8 4.2 0.3 0.29 0.46
Simabaferruginea 1 0.8 4.2 0.3 0.29 0.46
Zollerniailicifolia 1 0.8 4.2 0.3 0.27 0.46
Hirtellaciliata 1 0.8 4.2 0.3 0.25 0.45
Chiococcaplowmanii 1 0.8 4.2 0.3 0.19 0.43
Hirtella racemosa 1 0.8 4.2 0.3 0.19 0.43
Pradosialactescens 1 0.8 4.2 0.3 0.19 0.43
Σ 354 100 1475 100 100 100
Restinga Nativa (RN)
Eugenia sp.2 70 7.5 291.7 20.1 19.38 15.66
Schoepfia brasiliensis 50 5.7 208.3 14.3 13.84 11.28
Xylopialaevigata 24 6.6 100.0 6.9 7.20 6.90
Maytenuserythroxyla 23 7.5 95.8 6.6 6.49 6.87
Eugenia sp.1 21 6.6 87.5 6.0 5.80 6.14
Protiumheptaphyllum 16 3.8 66.7 4.6 4.57 4.31
Myrcia multiflora 12 5.7 50.0 3.4 3.54 4.21
Guettardaplatypoda 14 2.8 58.3 4.0 4.44 3.76
Eugenia candolleana 13 2.8 54.2 3.7 3.85 3.47
Calyptranthes brasiliensis 10 3.8 41.7 2.9 2.98 3.21
Tabela 2, continuação:
ͳͲ
Myrciariafloribunda 6 3.8 25.0 1.7 1.70 2.40
Duguetiamoricandiana 8 2.8 33.3 2.3 2.05 2.39
Lecythissp. 9 1.9 37.5 2.6 2.58 2.35
Erythroxyllumsp.1 10 0.9 41.7 2.9 3.11 2.31
Erythroxylumpasserinum 4 3.8 16.7 1.1 1.57 2.16
Manilkarasalzmannii 5 3.8 20.8 1.4 1.20 2.13
Coccolobasp. 5 2.8 20.8 1.4 1.43 1.90
Cupaniaimpressinervia 6 0.9 25.0 1.7 1.70 1.45
Talisiasp. 5 0.9 20.8 1.4 1.38 1.25
Ourateahexasperma 3 1.9 12.5 0.9 0.98 1.24
Ocoteaduckei 3 1.9 12.5 0.9 0.82 1.19
Chomelia obtusa 2 1.9 8.3 0.6 0.58 1.01
Byrsonimagardnerana 2 1.9 8.3 0.6 0.56 1.01
Coccolobamollis 3 0.9 12.5 0.9 0.96 0.92
Hirtellaciliata 2 0.9 8.3 0.6 0.69 0.74
Sacoglottismattogrossensis 2 0.9 8.3 0.6 0.56 0.69
Vitexrufescens 2 0.9 8.3 0.6 0.53 0.68
Guapirasp. 2 0.9 8.3 0.6 0.45 0.66
Chamaecristaensiformis 1 0.9 4.2 0.3 0.40 0.54
Anacardiumoccidentale 1 0.9 4.2 0.3 0.37 0.53
Chaetocarpusmyrsinites 1 0.9 4.2 0.3 0.32 0.52
Campomanesiadichotoma 1 0.9 4.2 0.3 0.29 0.51
Eugenia umbelliflora 1 0.9 4.2 0.3 0.27 0.50
Mataybaguianensis 1 0.9 4.2 0.3 0.27 0.50
Tabebuia roseoalba 1 0.9 4.2 0.3 0.27 0.50
Eugenia luschnathiana 1 0.9 4.2 0.3 0.27 0.50
Simabaferruginea 1 0.9 4.2 0.3 0.24 0.49
Zollerniailicifolia 1 0.9 4.2 0.3 0.21 0.48
Σ 349 100 1454 100 100 100
4. DISCUSSÃO
Dentre as espécies identificadas duas não são nativas de Restinga, são elas,
Mimosa caesalpinifolia (Sabiá) e Piptadeniastipulaceae (Amorosa). Essas espécies
ͳͲͺ
foram encontradas exclusivamente na Duna 2, onde são as duas espécies com maior valor
de importância, somando 42% do VI total da área (Tab. 1). Segundo o Ministério do Meio
Ambiente (BRASIL, 2006), a introdução de espécies não nativas nos diversos
ecossistemas se configura como a segunda maior causa de extinção de espécies no mundo,
sendo superada apenas pela supressão de habitat.Apesar de precisarmos de estudos
voltados para avaliar especificamente os impactos causados por essas duas espécies na
Duna 2, já podemos afirmar que o controle dessas duas espécies precisa ser melhor
desenvolvido na área, visto que depois de 20 anos de reflorestamento elas apresentam
grande representatividade na área. Apesar disso, a ausência das espécies exóticas nas
áreas naturais mostra que as mesmas, aparentemente, não estão prejudicando diretamente
os ecossistemas adjacentes.
Área RN RL D1 D2
RN x 0.697 0.373 0.224
RL 0.697 x 0.355 0.134
D1 0.373 0.355 x 0.612
D2 0.224 0.134 0.612 x
Tabela 5–As 5 espécies com maior índices de Valor de Importância (VI) expresso em
porcentagem (%), em cada uma das 4 áreas amostradas. D1 – Duna em Restauração 1
(Duna 1). D2 – Duna em Restauração 2 (Duna 2). RN – Restinga Nativa. RL – Reserva
Legal.
Índice de valor de importância por área
D1 D2 RN RL
T.roseoalba - 15% P.stipulacea - 27% Eugenia sp.2 - 15% C. brasiliensis - 11%
S. brasiliensis -
G.platypoda - 12% M.caesalpiniifolia - 14% S.mattogrossensis - 8%
11%
T.sellowiana - 11% S.paniculatum - 11% X.laevigata - 7% M.erythroxyla - 6%
A.occidentale -
T.sellowiana - 11% M. erythroxyla - 7% S. brasiliensis - 5%
10%
M.salzmannii -
T. roseoalba - 10% Eugenia sp.1 - 6% P.heptaphyllum - 4%
10%
Σ = 58% Σ = 73% Σ = 46% Σ = 34%
5. CONCLUSÃO
Dessa forma, indicamos intervenções diferentes para cada uma das áreas:
ͳͳͳ
Na Duna 1 indicamos que o manejo seja inicialmente dado com o adensamento da
área, sobretudo com as seis espécies que se desenvolveram sem o plantio, pois
essas já se mostram perfeitamente adaptadas às condições atuais do Ecossistema,
o que deve levar a uma aceleração da Sucessão ecológica na área, são
elas;Erythroxylumpasserinum(Cumixar), Solanumpaniculatum(Jurubeba),
Myrcia multiflora (Pau mulato), Duguetiamoricandiana(Mium), Pera
glabrata(Sete cascas) e Eugenia umbeliflora (Murta). Em segundo lugar
indicamos o enriquecimento da área com espécies nativas das áreas naturais
adjacentes, sobretudo das espécies chave da cadeia trófica que atrairiam outros
animais dispersores de propágulos para as áreas em Restauração.
6. AGRADECIMENTOS
ͳͳʹ
REFERÊNCIAS
BROWER, J. E.; ZAR, J. H. Field and laboratory methods for general ecology.C.
Brown Publishers, Boston, 1984.
ͳͳͶ
ESTUDO DOS PADRÕES FENOLÓGICOS DAS ESPÉCIES LENHOSAS
OCORRENTES EM UMA ÁREA DE BREJO DE ALTITUDE NA PARAÍBA,
BRASIL
RESUMO
A fenologia caracteriza a ocorrência dos eventos biológicos repetitivos e das causas de
sua ocorrência em relação com o meio biótico e abiótico. Os padrões fenológicos das
espécies vegetais do extrato arbustivo-arbóreo foram estudados no Parque Estadual Mata
do Pau-Ferro, uma área de Brejo de Altitude, localizado no município de Areia, durante
o período de julho de 2011 a julho de 2013. Observações fenológicas de 300 indivíduos
foram realizadas quinzenalmente. As fenofases de brotamento e queda de folhas
apresentaram-se continuas durante todo o ano.A fase de rebrota atingiu pico na estação
chuvosa, apresentando correlação positiva com a precipitação.A queda de folhas
apresentou pico no mês de novembro, coincidindo com o período de menor precipitação
da região.A floração e a frutificação apresentaram picos no período chuvoso. O pico de
floração ocorreu no mês de maio, período com índice de precipitação mais elevado e a
frutificação apresentou pico no mês de junho. As espécies estudadas apresentaram
padrões fenológicos intimamente associados à precipitação, evidenciando a influência de
fatores abióticos em sua ocorrência.
ͳͳͷ
1. INTRODUÇÃO
ͳͳ
2. METODOLOGIA
2.1. Área de estudo
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A comunidade apresentou espécies com padrões fenológicos contínuos
para asfenofases de brotamento e queda de folhas, ou seja, esses eventos
ocorreramdurante todo o ano. Para as fenofasesreprodutivas, a comunidade apresentou
predominância de espécies com padrão fenológico anual (19.7%), seguido de subanual
0.4% e não foram registrados indivíduos apresentando outros ciclos (contínuo e supra-
anual).
Fenologia vegetativa:
A fase de brotamento de folhas foi registrada durante todo o período
observado, atingindo picos nos meses de junho/2012 (80%)e julho/2013(70%), ambos os
anos coincidindo com os maiores índices de precipitação (Figura 2). O teste de Correlação
de Spearman inferiu que a fenofase de brotamento possui correlação positiva e
significativa com a precipitação(rs=0.9350; p<0.0001). Espécies comoErythroxylum
pauferrense (Fig. 3A) e Vismia guianensisapresentaram índices de rebrota de 50% em
junho/2012-2013 e 45% no mês de julho 2012, respectivamente.
A fenofase de queda de folhas apresentou picos em outubro de 2011 e
novembro de 2012, chegando a alcançar 65% em 2011 e 80% em 2012 dos indivíduos
apresentando essa fenofase no período mais seco do ano (Figura 2). Para esta fenofase foi
registrada correlação negativa e significativa com a precipitação (rs=-0.8841; p<0.0001).
Nesse período algumas espécies apresentaram elevado índice de queda foliar a exemplo
das espéciesMimosa caesalpiniifolia (Fig. 3C)e Diplotropis purpurea (Fig. 3D), que
perderam aproximadamente 90% de sua folhagem.
As fenofases de brotamento e queda foliar apresentaram uma correlação
negativa e significativa entre si(rs = -0.8731; p < 0.0001). Ou seja, quando uma aumenta
a outra diminui de acordo com a sazonalidade de chuvas.
ͳͳͺ
90 350
80
300
Intensidade da fenofase (%)
40 150
30
100
20
50
10
0 0
A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J
A B
C D
6 350
5 300
250
4
200
3
150
2
100
1 50
0 0
A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J
ͳʹͲ
A B
C D
ͳʹͳ
Tabela 1-Espécies que apresentaram as fases de floração e frutificação de julho/2011 a
julho/2013. Parque Estadual Mata do Pau-Ferro.
Família/Espécie Representatividade (%)
Annonaceae
Guatteria pogonopus 0,3
Asteraceae
Verbesina macrophyla 0,6
Hypericaceae
Vismia guianensis 0,6
Erythroxylaceae
Erythroxylum pauferrense 3,4
E. simonis 6,5
Leguminosae
Mimosa caesalpiniifolia 2,3
Diplotropis purpurea 0,6
Albizzia polycephala 0,6
Malpighiaceae
Byrsonima sericea 0,3
Malvaceae
Helicteres brevispira 0,3
Melastomataceae
Miconia sp 0,6
Myrtaceae
Psidium sp 0,3
Piperaceae
Piper sp 1,0
Rubiaceae
Psychotria carthagenesis 1,7
Psychotria sp. 0,3
Verbenaceae
Lantana camara 0,3
L. lilacina 0,3
4. CONCLUSÃO
5. AGRADECIMENTOS
PIVIC – CNPq/UFPB (2011-2013). À professora-orientadora Lenyneves Duarte pela
oportunidade a mim concedida e aos colegas do Laboratório de Biologia e Ecologia
Vegetal (LABERV/DCB/CCA/UFPB) pela ajuda em campo.
REFERÊNCIAS
AYRES, M., AYRES JÚNIOR., M., AYRES, D.L. & SANTOS, A.S. 2003. BioEstat 3.0.
Aplicações estatísticas nas áreas das ciências biológicas e médicas. Sociedade Civil
Mamirauá/ MCT – CNPq/ Conservation International, Belém.
ͳʹͶ
LOCATELLI, E.; MACHADO, I. C. Fenologia de espécies arbóreas de uma Mata
Serrana (Brejos de Altitude) em Pernambuco, Brasil. In: Kátia Pôrto; Marcelo Tabarelli;
Isabel Cristina Machado. (Org.). Brejos de Altitude: História Natural, Ecologia e
Conservação. Brasília: MMA/PROBIO/CNPq, 2004, v., p. 255-276.
MAYO, S.J. & V.P.B. FEVEREIRO. 1982. Mata do Pau-Ferro: a pilot study of the brejo
forest ofParaíba, Brazil. Royal Botanic Gardens, Kew.
MORELLATO, L.P.C., R.R. RODRIGUES, H.F. LEITÃO-FILHO & C.A. JOLY. 1989.
Estudo comparativoda fenologia de espécies arbóreas de floresta de altitude e floresta
mesófilasemidecídua na Serra do Japi, Jundiaí, São Paulo. Revista Brasileira de Botânica.
12:85-98.
NEWSTROM, L. E., FRANKIE, G. W. & BAKER, H.G. A new classification for plant
phenology based on flowering patterns in lowland Tropical Rain Forest Trees at La Selva,
Costa Rica. Biotropica, 26:141-159, 1994.
REICH, P.B. & BORCHERT, R. 1984. Water stress and tree phenology in a tropical dry
forest in the lowlands of Costa Rica. Journal of Ecology 72:61-74.
VIEIRA, M.F.; FONSECA, R.S.; ARAUJO, L.M. 2012. Floração, polinização e sistemas
ͳʹͷ
reprodutivos em florestas tropicais. In: Sebastião Venâncio Martins (Ed.). (Org.).
Ecologia de florestas tropicais do Brasil - 2a.edição, revista e ampliada. 2ª.ed.Viçosa:
Editora UFV, v. 1, p. 53-84.
ͳʹ
CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
AVALIAÇÃO DAS PERDAS DE SOLO E PRODUÇÃO DE SEDIMENTOS
UTILIZANDO TÉCNICAS DE SIG PARA A BACIA DO RIO MAMUABA,
PARAÍBA
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo avaliar as perdas de solo e a produção de sedimentos na
bacia do Rio Mamuaba utilizando modelos de erosão e Sistemas de Informações
Geográficas (SIG). Para o cálculo das perdas de solo, foi utilizada a Equação Universal
de Perdas de Solos (USLE), um modelo de erosão que emprega os principais fatores que
influenciam a perda de solo por erosão laminar: erosividade das chuvas, erodibilidade
dos solos, topografia e os fatores de manejo e práticas conservacionistas do solo a fim
de identificar as áreas da bacia mais susceptíveis aos processos de erosão. Os Fatores R,
K, LS e CP da USLE foram obtidos em ambiente SIG. Os resultados obtidos mostraram
que as perdas de solo variaram de 0 a 84 t/haano. As maiores perdas de solo foram
localizadas na porção sudeste da bacia e nas áreas com o solo do tipo Espodossolo. Para
a estimativa da produção de sedimentos foi utilizado a equação do Sediment Delivery
Ratio (SDR). Os resultados da aplicação da SDR podem ser considerados como bastante
baixo (1,18%) e o aporte de sedimento variaram de 0,645 a 0,697 t/haano, para os anos
de 1989 e 2001, respectivamente, mostrando uma variação de aproximadamente 6%.
ͳʹͺ
1. INTRODUÇÃO
2. MATERIAL E MÉTODOS
ͳ͵Ͳ
2.2. Determinação dos Fatores da USLE
Para a estimativa das perdas de solo para a bacia do Rio Mamuaba, utilizou-se a
USLE (WISCHMEIER e SMITH, 1965), que consiste num modelo matemático que
emprega os principais fatores que influenciam a perda de solo por erosão laminar:
erosividade das chuvas, erodibilidade dos solos, topografia e os fatores de manejo e
práticas conservacionistas do solo a fim de diagnosticar as áreas da bacia mais
susceptíveis aos processos de erosão. A USLE é representada pela seguinte equação:
A = RKLSCP (1)
ͳ͵ͳ
Figura 1 Localização geográfica da bacia do Rio Mamuaba no Estado da Paraíba
0,759
12
Pm 2
R= 89,823 (2)
i=1 Pa
ͳ͵ʹ
do Inverso do Quadrado da Distância (IDW) em ambiente SIG. De acordo com Costa e
Silva (2012), esse método de interpolação global se baseia no princípio de que quanto
mais próximo estiver um ponto do outro, maior deverá ser a correlação entre seus
valores. Nesse sentido, procurou-se representar uma maior distribuição espacial da
erosividade. Dispondo dos dados de precipitação foi possível ainda analisar a evolução
anual da precipitação pluvial média e observar a variabilidade pluvial anual na bacia em
relação as anomalias. Em seguida, os dados de chuva foram interpolados utilizando o
método de interpolação, conhecido como Krigagem para ser determinada a média da
precipitação total anual. Este método de interpolação foi escolhido visto à grande
utilização em estudos de distribuição espacial de precipitação.
O fator de erodibilidade do solo (Fator K) foi obtido a partir da associação das
unidades pedológicas da área de estudo junto a Empresa de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA, 1999) com os valores de erodibilidade disponíveis nos trabalhos de
Farinasso et al. (2006) e Mendonça (2005).
Figura 2 − Distribuição espacial do fator de erodibilidade dos solos para a bacia do Rio
ͳ͵͵
Mamuaba e localização dos postos pluviométricos utilizados.
Para a determinação do fator LS da USLE, foi utilizado o Modelo Digital de
Elevação da bacia, com resolução espacial de 30 m, adquirido junto ao Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (VALERIANO, 2005; VALERIANO et al., 2009),
disponível em http://www.dsr.inpe.br/topodata. Esse modelo de elevação foi escolhido
por se mostrar eficaz na representação do fator topográfico em bacias da região
litorânea do Nordeste, como apresentado nos trabalhos de Silva et al. (2007), Silva et al.
(2012). O fator LS foi estimado pelo modelo proposto por Moore e Burch (1986) (Eq.
3):
0,4 1,3
V sin
LS (3)
22,13 0,0896
ͳ͵Ͷ
Figura 3 − Mapa de uso e ocupação do solo da bacia do Rio Mamuaba para o ano de (a)
1989 e (b) 2001
< 10 Baixa
10−50 Moderada
50−200 Alta
> 200 Muita Alta
Fonte: FAO (1980).
Como a USLE calcula a perda do solo e não considera a deposição de solo. Para
estimar os sedimentos transportados foi utilizada a equação da taxa de transporte de
sedimentos, Sediment Delivery Ratio – SDR. O valor de SDR estima a taxa de
transferência de sedimentos que passa pelo exutório da bacia. Esse parâmetro utiliza as
seguintes características da bacia: (a) a distância que percorre o fluxo entre a área fonte
e a saída da bacia, (b) forma da encosta, (c) porcentagem da cobertura vegetal no
caminho percorrido pelo fluxo entre a fonte do sedimento e a saída da bacia, e (d)
textura do material. O SDR foi calculado pelo método de Maner (1958) (Eq. 4) e o
resultado foi utilizado para o cálculo da estimativa do aporte de sedimentos na bacia em
estudo segundo o Forest Service (1980) (Eq. 5).
ͳ͵
L
log(SDR)=2,943-0,824log m (4)
Fr
Y = (SDR A) (5)
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
ͳ͵
Figura 4 – Distribuição da precipitação total anual na bacia do Rio Mamuaba entre 1969
e 1989
ͳ͵ͺ
Figura 5 − Anomalia das precipitações médias anuais (mm), para o período de 1969 a
1989
ͳ͵ͻ
Figura 6 − Mapa da distribuição do fator de erosividade para a bacia do Rio Mamuaba
ͳͶͳ
Figura 7 – Mapa do Fator Topográfico (LS) para a bacia do Rio Mamuaba
ͳͶʹ
Tabela 3 − Evolução do uso e ocupação do solo da bacia do Rio Mamuaba para os anos
de 1989 e 2001
1989 2001
Classe
Área (km²) % Área (km²) %
Cana de açúcar 12,64 20,61 12,24 19,96
Vegetação arbustiva 21,89 35,7 16,51 26,92
Vegetação rasteira 9,39 15,31 13,66 22,28
Vegetação arbórea 8,51 13,88 6,30 10,27
Plantações 8,44 13,76 12,10 19,73
Solo exposto 0,45 0,74 0,51 0,84
TOTAL 61,32 100,0 61,32 100,0
Fonte: O autor, 2013.
Tabela 4 − Relação entre os tipos de solo e os níveis médios de perda de solo da bacia
do Rio Mamuaba
Figura 8 – Percentual das classes temáticas em: (a) 1989 e (b) 2001
ͳͶ͵
A Figura 9 mostra a espacialização das perdas de solo na bacia do Rio Mamuaba,
o resultado foi distribuído em seis classes de interpretação que variaram entre 0 e 85
t/haano. O nível médio de produção de sedimentos do solo tipo Espodossolo manteve-
se como maior nível de perdas de solo para os dois anos estudados, indicando a forte
interferência deste tipo de solo nos processos erosivos da bacia. Esse resultado está
influenciado com os resultados dos fatores de erosividade das chuvas, erodibilidade dos
solos, fator topográfico e o fator CP.
Observa-se que as perdas de solo para a bacia do Rio Mamuaba ocorreram em
grande maioria abaixo de 1 t/haano, em que segundo a classificação de FAO (1980)
valores menores que 10 t/haano são classificados como baixo grau de erosão. Já as
maiores perdas de solo, ou seja, de 40 a 85 t/haano, se deram nas áreas com os maiores
valores do fator LS, parte sudeste da bacia, onde predominam o solo do tipo
Espodossolo e as classes temáticas Plantações, Vegetação rasteira e uma pequena área
de solo exposto. Com relação à taxa de transferência de sedimentos SDR, o valor
encontrado para a bacia foi de 1,187%, o que pode ser considerado aceitável para bacias
de tamanho médio (até 100 km²), os valores do SDR variam de 0,25 a 25%. O aporte de
sedimentos encontrado para a bacia do Rio Mamuaba é relativamente baixo, visto a
baixa taxa do SDR. Foram encontrados os valores de 0,654 t/haano para o ano de 1989
e 0,697 t/haano para 2001, mostrando uma variação entre os anos analisados, em torno
de 6%.
ͳͶͶ
Figura 9 − Mapas das perdas de solo da bacia do Rio Mamuaba para o ano de (a) 1989 e (b)
2001
ͳͶͷ
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5. AGRADECIMENTOS
ͳͶ
6. REFERÊNCIAS
LEE, S. Soil erosion assessment and its verification using the Universal Soil Loss
Equation and Geographic Information System: a case study at Boun, Korea.
Environmental Geology, 45(4): 457-465, 2004.
MANER, S.B. Factors affecting sediment delivery rates in the Red Hills
ͳͶ
physiographic area. Transaction of American Geophysics 39(6), 669-675, 1958.
MOORE, I.D.; BURCH, G. Physical basis of the length-slope factor in the Universal
Soil Loss Equation. Soil Science Society of America Journal, 50(5): 1294-1298, 1986.
PEREIRA, V.C.; SOBRINHO, J.E.; OLIVEIRA, A.D.; MELO, T.K.; VIEIRA, R.Y.M.
Influência dos Eventos El Niño e La Niña na Precipitação Pluviométrica de
Mossoró-RN. Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7,
N.12; 2011 Pág1- 13, 2011.
SILVA, R.M.; SANTOS, C.A.G.; SILVA, L.P.; SILVA, J.F.C.B.C. Soil loss prediction
in Guaraíra river experimental basin, Paraíba, Brazil based on two erosion
simulation models. Revista Ambiente e Água, 2(3): 19-33, 2007.
SILVA, R.M.; SANTOS, C.A.G.; SILVA, L.P.; SILVA, J.F.C.B.C. Soil loss prediction
in Guaraíra river experimental basin, Paraíba, Brazil based on two erosion
simulation models. Revista Ambiente e Água, 2(3): 19-33, 2007.
ͳͶͻ
EFEITOS PRODUZIDOS POR CAMPOS GRAVITACIONAIS SOBRE
ALGUNS SISTEMAS QUÂNTICOS
RESUMO
Os efeitos causados pela geometria e topologia dos espaços-tempo sobre sistemas
quânticos vem sendo estudados desde o advento da mecânica quântica e da teoria da
relatividade geral, a fim de obter uma teoria de unificação. A teoria da relatividade geral
é formulada geometricamente e faz uso de conceitos como o de espaço-tempo, portanto,
para estudar os efeitos de campos gravitacionais sobre sistemas quânticos devemos
generalizar as equações da mecânica quântica para espaços curvos. As cordas cósmicas
e os monopolos globais são defeitos topológicos bastantes estudados, pois enriquecem a
relatividade geral e permitem analisar os mais variados sistemas físicos sobre suas
influências. Mostramos que os níveis de energia de uma partícula não-relativística
submetida a um oscilador harmônico isotrópico tridimensional na presença da corda
cósmica são alterados em relação ao espaço-tempo plano, assim como a presença do
monopolo global também altera os níveis de energia no caso do potencial de Kratzer.
Devido à magnitude das correções nesses níveis de energia, é possível, em princípio,
combinar esses resultados com dados observacionais e concluir sobre a existência ou
não desses defeitos topológicos no Universo.
ͳͷͲ
1. INTRODUÇÃO
2. METODOLOGIA
Resultados e discussões
dada variedade M ;
(ii) As equações de movimento para g devem depender somente do
ͳͷ͵
(iii) As equações de movimento devem ser covariantes gerais, ou seja, as
equações valem na ausência de gravitação, isto é, quando g
1
d
4
S x ( R 2) LM g , (1)
2
ͳͷͶ
A variação do termo envolvendo a constante cosmológica nos fornece
1 4
d 4 x
g d xg g g . (2)
2
O termo que contém o escalar de Ricci tem sua variação dada por
1 4
d 4 xR
g d
4
x g R d xRg g g . (3)
2
Mas,
R g g R .
R (4)
d 4 xR g d 4 xR g g d 4 xg g R
1 (5)
d 4 xRg g g .
2
d xg g R
4
Podemos verificar que 0.
Resta examinar o termo que corresponde aos campos de matéria e que é dado
por
M
d 4 xLM g . (6)
1 4
d 4 x
2
LM g d xT g g , (7)
ͳͷͷ
2 (LM g )
T . (8)
g g
(LM g ) (LM g )
d 4 xLM g
g
d 4
x g
( g )
(9)
(LM g )
d 4 x g .
( g )
O último termo na Eq.(9) não contribui, pois sendo a integral de uma divergência total,
torna-se um fluxo sobre a fronteira onde g 0 e, portanto, comparando a Eq.(7)
1 (LM g ) (LM g )
T g . (10)
2 g ( g )
A equação (10) pode ser interpretada como a definição em relatividade geral do tensor
energia-momento, pois a ação correspondente aos campos de matéria é invariante por
translações infinitesimais, x ( x) , desde que o tensor definido na Eq.(10) seja
1 1 1
d
S 4
x 2 Rg R g T g g . (11)
2 2
1
R Rg g T (12)
2
ͳͷ
onde 8 G / c4 (constante universal) e, portanto, podemos escrever as equações de
campo, também conhecidas como equações de Einstein, como
1 8 G
R Rg g 4 T . (13)
2 c
1
d
4
S x ( R 2) LM g . (14)
16 G
galáxias distantes). O fato de que o (comprimento de Planck) 2 1066 cm2 significa que
há um fenômeno físico que suprime completamente os efeitos da constante
cosmológica. No universo hoje, toma-se 0 . Em alguns modelos do universo
primitivo (inflacionário) é conveniente começar com 0 e então por alguma
dinâmica fazer 0 em tempos posteriores.
Retornando à Eq.(13), note que T é o conteúdo material (massa/energia) da
R 0 . (15)
ͳͷ
1 8 G
g R Rg g g T
2 c4
8 G
R 2 R 4 T (16)
c
R 0,
razão é chamada constante cosmológica. Ele foi obrigado a introduzir uma constante
de modo a obter uma solução cosmológica homogênea, isotrópica e estática.
i (r, t ) H (r, t ) , (18)
t
p2
H
V (r) , (19)
2
p i , (20)
2 2
i (r, t ) LB V (r ) (r, t ) , (21)
t 2
1
2LB i ( g ij g j ) , (22)
g
ͳͷͻ
5. SISTEMAS QUÂNTICOS NO ESPAÇO-TEMPO DA CORDA
CÓSMICA
Vamos encontrar uma métrica geral para o espaço-tempo gerado por uma corda
cósmica, como mostrou (VILENKIN, 1981). Acredita-se que o Universo primitivo
tenha experimentado várias transições de fase (KIBBLE, 1976), as quais poderiam ter
resultados na formação de defeitos topológicos, cada um deles com características
específicas. Vamos aproximar a corda cósmica de uma linha extremamente fina de
energia-momento ao longo do eixo- z . Assim, o tensor energia-momento pode ser
escrito na forma
ͳͲ
T (r )diag(1, 0, 0,1) . (23)
c2dt 2 dr 2 2r 2d 2 dz 2 ,
ds2 (25)
1
V ( , z)
2 ( 2 z 2 ) , (26)
2
2 1 1 2 2
2
LB . (28)
2 2 2 2 z 2
Com isso, a equação de Schrödinger, dada pela Eq.(21), para esse sistema,
torna-se
2 2 1 1 2 2
2
2 2 2 2 z 2
(29)
1
2 ( 2 z 2 ) ( , , z )
E ( , , z ) .
2
Visto que a métrica da corda cósmica é invariante por rotações, bem como invariante ao
longo do eixo- z , e devido à forma do potencial, podemos utilizar o método de
separação de variáveis escrevendo ( , , z) como
( , , z) R( )eim Z ( z) ,
R( )( )Z ( z) (30)
1 d 2 R( )
2
1 dR( ) m2 1
2 2
2 2
2 R( ) d 2
R( ) d 2
(31)
2 2
d Z ( z) 1
2 z 2 E.
2 Z ( z ) dz 2
2
ͳʹ
1 d 2 R( )
2
1 dR( ) m2 1
2 2 2 2
(32)
2 R( ) d 2
R( ) d 2
e
2
d 2 Z ( z) 1
2 z 2
z (33)
2 Z ( z ) dz 2 2
com
E z , (34)
onde a Eq.(33) é a bem conhecida equação de Schrödinger para uma partícula de massa
submetida a um oscilador harmônico unidimensional de frequência . Neste caso, é
sabido que os níveis de energia são dados por
1
z nz ,
(35)
2
onde nz 0,1, 2,... é um número quântico. E a solução da Eq.(33) é dada em termos dos
polinômios de Hermite na seguinte forma
1
nz 1
4 2
z2
Z ( z) 2 2
(nz !) e
2
H nz z . (36)
|m|
2
R( ) e 2
F ( ) , (37)
onde
(38)
e
1 | m | A
F ( ) 1 F1 2 , ; 2 (39)
2 2 2 2
ͳ͵
é a função hipergeométrica confluente, onde A 2 (2 | m | / ) . Como a função de onda
para deve ir à zero, devemos impor que 1F1 ( 2 ) seja um polinômio de grau n
1 | m |
n ,
(40)
2 2 2 2
|m|
1 2n . (41)
|m| 3
E N N (42)
2
onde N
2n nz .
Portanto, combinando os resultados dados pelas Eqs.(36), (37) e (39), temos
que as autofunções para o oscilador harmônico isotrópico tridimensional no espaço-
tempo da corda cósmica são dadas por
|m|
2 1 | m | A 2 im
( , , z, t ) CNm e
2
1F1 2 , ; e
2 2 2 2
1 (43)
nz
1
4
z2 iEN t
2 2
(nz !) 2
e
2
H nz z e ,
Monopolos globais são defeitos topológicos que devem ter sido formados em
um processo de transição de fase no universo primitivo. O seu campo gravitacional
poderia produzir a formação de aglomerados de matéria e eles poderiam induzir
anisotropias na radiação cósmica de fundo. O modelo mais simples para um monopolo
global é considerá-lo composto por um tripleto de campos isoescalares, cuja simetria
global original foi espontaneamente quebrada, como mostrado em (BARRIOLA, 1989;
DE MELLO, 2001). Assim, o tensor-energia momento, em regiões distantes do seu
núcleo, é dado aproximadamente por
2 2
T diag 2 , 2 , 0, 0 ,
(44)
r r
ͳͷ
A forma geral para a métrica estática, com simetria esférica é dada por
onde b2 1 8 2 / c2 .
A 1 A2
V (r )
2 D 2
, (47)
r 2r
2 1 2 2 2
2
2 A 1 A2
2 2
2b r b r L 2D 2
(r , , )
E (r , , ) , (48)
2 b r r r 2 r 2 r
1 1 2
sin (49)
2
L .
sin sin 2 2
ͳ
utilizando o método da separação de variáveis, escrevendo a função de onda na forma
lm (r , , ) Rl (r )Yl m ( , ) , (50)
d 2 gl (r )
2 2
l (l 1) A 1 A2
g l ( r ) 2 D g (r )
2 l
Egl (r ) , (51)
2 dr 2 2 b2 r 2 r 2 r
onde gl (r ) rRl (r ) .
gl (r ) r l e r Fl (r ) , (52)
onde
1 1 2 DA2 l (l 1)
l 1 4 2
(53)
2 2 b2
2 E
2 2
, (54)
d 2 Fl ( z ) dF ( z ) 2 DA
z (2l z ) l l F ( z)
0, (55)
dz 2
dz 2 l
com 2 2 DA2 / 2
. Assim, a solução para a função de onda radial gl (r ) é dada por
2
gl (r ) r l e r 1F1 l , 2l ; 2 r , (57)
A
2
l n
(58)
A
2
2
1 1 l (l 1)
Enl n 4
1 . (59)
2 A2 2 4 2 b2 2
7. CONCLUSÕES
Agradecimentos
8. REFERÊNCIAS
BEZERRA, V. B. Global effects due to a chiral cone. J. Math. Phys., v. 38, p. 2553-
2564, (1997).
ͳͻ
DE SOUSA GERBERT, P.; JACKIW, R. Classical and quantum scattering on a
spinning cone. Commun. Math. Phys., v. 124, p. 229-260, (1989).
ͳͲ
FILMES FINOS A BASE DE SRSNO3:EU
Márcia Rejane Santos Silva, André Luiz Menezes de Oliveira, Antonio Gouveia de
Souza,
Iêda Maria Garcia dos Santos
Universidade Federal da Paraíba, Cidade universitária, João Pessoa, PB, Brasil, 58059-
900.
Departamento de Química/ CCEN/UFPB
ieda@quimica.ufpb.br
RESUMO
Perovskita é uma estrutura versátil, com diversas aplicações. Neste trabalho, foram avaliadas
propriedades estruturais e fotocatalíticas de pós e filmes finos de SrSnO3 e SrSn0,99Eu0,01O3.
Foi utilizado o método Pechini-modificado e os filmes finos foram obtidos sobre a sílica
utilizando spin coating. As amostras foram tratadas a 700°C e caracterizadas por difração de
raios-X e espectroscopia UV-vis, enquanto os filmes finos foram também caracterizados por
microscopia de força atômica. Picos atribuídos à perovskita foram encontrados para todas
amostras, com uma cristalinidade baixa para os filmes. A energia de banda proibida foi de 3,2
eV para os pós puros e dopados, enquanto os filmes apresentaram valores de 2,3 e 3,4,
respectivamente. Imagens de AFM para o filme fino SrSn0,99Eu0,01O3 indicaram que a
microestrutura foi heterogênea, com pequenas ilhas em algumas partes do filme, levando a
uma rugosidade (RMS) de 8,073 nm para o filme, enquanto a RMS = 0,866 foi encontrada
para o substrato. A maior eficiência fotocatalítica foi para o filme dopado com európio,
calcinado a 800oC, sendo que 57% de descoloração foi atingida para o remazol amarelo ouro,
após 4 h de irradiação com lâmpada UV-C, utilizando solução em pH 3. Para as amostras de
pó, nas mesmas condições, uma baixa eficiência fotocatalítica foi encontrada.
ͳͳ
1. INTRODUÇÃO
(a) (b)
ͳʹ
Figura 1 - (a) Estrutura ortorrômbica de estanatos com estrutura perovskita (MIZOGUCH et al.,
2004); (b) inclinação cooperativa dos octaedros SnO6.
ͳ͵
Figura 2 - Esquema da obtenção do filme pela técnica de “spin coating” (LEAL, 2006; SIGAUD, 2005).
1.3 Fotocatálise
ͳͶ
A fotocatálise heterogênea pode ser classificada em direta (com transferência do
elétron/buraco diretamente para o corante) ou indireta e envolve a ativação de um
semicondutor por luz solar ou artificial.
Quando um catalisador é exposto à radiação UV, elétrons são promovidos da banda de
valência para a banda de condução. Como resultado disso, um par elétron-buraco é produzido,
Eq.(1). A eficiência da fotocatálise depende da competição entre o processo em que o elétron
é retirado da superfície do semicondutor e o processo de recombinação do par elétron/buraco
(Fig. 3).
Tanto o elétron (𝑒𝑒 ′ ) quanto o buraco (h•) podem migrar para a superfície do
catalisador, onde podem entrar em uma reação redox com outras espécies presentes na
superfície. Na maioria dos casos, o h• pode reagir facilmente com H2O ligada à superfície para
produzir radicais •OH, enquanto que o 𝑒𝑒 ′ pode reagir com O2 para produzir o ânion do radical
superóxido, Eq.(2) e (3), que posteriormente leva á formação de H2O2 e dos radicais •OH,
Eq.(4) e (5). Os radicais •OH produzidos podem reagir com o corante para formar as outras
espécies, sendo então responsável pela sua descoloração, Eq.(6). Na fotocatálise direta, o
elétron é capturado diretamente pelo corante, levando à sua degradação, Eq.(7).
ͳͷ
Figura 3 - Esquema representativo do mecanismo da geração de espécies oxidativas no estudo da
fotocatálise (NOGUEIRA, et al., 1998).
2. METODOLOGIA
2.1. Materiais
Agitação
constante
Ácido Cítrico
NH4OH (pH=4)
Sr(NO3)2 e Eu2O3
Aquecimento a 70ºC
ͳͺ
Etileno glicol
Aquecimento a 90ºC
HNO3 (pH=1)
Resina Polimérica
ͳͻ
A avaliação da superfície dos filmes foi feita a partir de imagens obtidas em
microscópio óptico Zeiss, com uma lente objetiva de 100x, acoplado a uma câmera digital
(Color View XS Soft Imaging System). As análises foram realizadas no Laboratório de
Solidificação Rápida (LSR) no Centro de Tecnologia da Universidade Federal da Paraíba.
Foram feitas análises em um microscópio de força atômica (AFM, Cypher Atomic
Force Microscope, Asylum Research) em modo AC em ar, com uma ponta de prova de
silício, f0= 300 KHz e k= 42 N.m2)
Fórmula estrutural
ͳͺͲ
Utilizando placas de Petri, foram acondicionados 15 mL da solução do corante
Remazol Amarelo Ouro juntamente com 10 mg de catalisador na forma de pó ou o filme.
O sistema reacional ilustrado na Fig. 5 foi confeccionado em madeira, com as
seguintes dimensões: 10 cm (altura), 20 cm (largura) e 100 cm (comprimento). As amostras
foram irradiadas por uma lâmpada UVC (254 nm ≈ 4,9 eV) da marca SuperNiko, modelo ZG-
30T8.
Após o teste realizou-se a centrifugação das amostras por 10 min a 5000 rpm. Em
seguida, foram filtradas, resultando na separação da solução filtrante e do catalisador para
posterior realização da medida UV-Vis. Já para o catalisador na forma de filme as etapas de
centrifugação e filtração são eliminadas.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os picos dos difratogramas dos filmes finos apresentados nas Fig. 6 e 7 foram
indexados pela ficha ICDD 01-070-4389 (ortorrômbico, Pbmn), para identificação da fase
perovskita dos filmes finos de SrSnO3 (puro e dopado) depositados a 700oC e a 800oC, no
substrato de sílica amorfa. A 700oC, nem todos os picos de difração referentes aos planos
cristalográficos do material estão presentes ou estão presentes em baixas intensidades,
indicando um elevado grau de desordem estrutural a longo alcance. Com o tratamento térmico
a 800 °C obteve-se uma melhor cristalização, com picos mais definidos para todos os planos
do difratograma.
ͳͺͳ
Figura 6 - Difratograma de Raios-X do Figura 7 - Difratograma de Raios-X do
SrSnO3. SrSn0,99Eu0,01O3.
Por sua vez, a partir dos difratogramas da Fig. 8 observou-se a obtenção de pós
monofásicos e cristalinos de SrSnO3 (puro e dopado), mesmo com calcinação a 700oC.
Nas Fig. 9 (a) e (b), foram obtidas curvas típicas de sistema cristalino, permitindo o
cálculo do “gap” óptico (“band gap”). Não foi observada a presença de caudas de absorção
(denominada cauda de Urbach) ou ainda deslocamento para baixa energia (deslocamento para
o vermelho) que são características de semicondutores amorfos.
A partir das curvas de absorbância, foi calculada a energia do “ band gap”, para as
amostras calcinadas a 700 ºC. A entrada do európio na rede apresentou uma influência no
valor do “gap” óptico provocando um aumento. Para o SrSnO3 foi observado um menor valor
do gap indicando uma maior desordem a curto alcance, especialmente para os filmes,
ͳͺʹ
indicando que o material apresenta desordem a curto e longo alcance, em consonância com os
resultados de DRX.
(a) (b)
A microscopia óptica foi utilizada para a análise dos filmes com o objetivo de verificar
a homogeneidade e a presença ou não de trincas, de ilhas em suas superfícies. Na Fig. 10, são
apresentadas as micrografias ópticas para os filmes finos obtidos por “spin coating”.
ͳͺ͵
700 °C 800 °C
(b)
(a) (b)
Figura 11 - Micrografia de força atômica 2D para (a) substrato e (b) filmes fino de SrSn 0,99Eu0,01O3.
(b)
(a)
Figura 12 - Micrografia de força atômica 3D para (a) substrato e (b) filme fino de SrSn0,99Eu0,01O3.
ͳͺͷ
diminuição da absorbância nessa região e em 238 nm indica uma degradação por parte dos
grupos aromáticos do corante (MOURA, 2013).
A irradiação da solução do corante sem catalisador (branco) apresenta uma
percentagem de descoloração pequena (6% no máximo). Deste modo, a presença de
catalisador, bem como da luz UV é indispensável para a reação fotocatalítica com o objetivo
de descolorir o corante em solução aquosa.
Na Fig. 13, são apresentados os resultados obtidos para a descoloração do corante
remazol amarelo ouro utilizando catalisadores na forma de pó e filmes. Esses resultados
demonstraram a eficiência do catalisador após a irradiação, tendo a contribuição da fotólise
sido retirada.
(a) (b)
Figura 13 - Porcentagem de descoloração para (a) filmes e (b) pós.
Os filmes finos obtidos por “spin coating” apresentaram uma eficiência fotocatalítica
com 57 % de descoloração do corante remazol amarelo ouro. Por sua vez, os catalisadores na
forma de pó levaram a 37 % (pH = 6) de descoloração com a utilização de 100 mg de
catalisador, sendo necessária a realização de etapas como centrifugação e filtração para
separação do catalisador.
Um ponto importante é que, para os filmes, a maior atividade foi obtida para a solução
com pH = 3. Vale ressaltar que, para o filme sem dopante, o aumento na temperatura de
cristalização não levou a uma melhor atividade catalítica, sendo que o efeito do sistema
dopado foi inverso. Essa inversão pode estar relacionada à desordem a curto alcance dos
materiais.
ͳͺ
4. CONCLUSÃO
Foi possível obter pós monofásicos e cristalinos de SrSnO3 (puro e dopado) por
intermédio do método Pechini-modificado. Os filmes finos obtidos por “spin coating”
apresentaram uma má adesão da resina ao substrato devido ao processo de limpeza, o que
prejudicou o resultado quando estes foram aplicados como catalisadores na descoloração
fotocatalítica do corante utilizado. Par esses materiais, foi necessário aumentar a temperatura
de tratamento térmico, para se obter filmes mais cristalinos. Os filmes finos dopados obtidos
por “spin coating” apresentaram uma eficiência fotocatalítica com 49 % de descoloração do
corante remazol amarelo ouro, aumentando para 57 % nos filmes mais cristalinos.
5. AGRADECIMENTOS
6. LISTA DE REFERÊNCIAS
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ͳͻͳ
SÍNTESE, CARACTERIZAÇÃO E ESTUDOS BIOLÓGICOS DE NOVOS
DERIVADOS DE IMIDAS CÍCLICAS, VISANDO POTENCIAL ATIVIDADE
BIOLÓGICA.
RESUMO
As imidas cíclicas são moléculas hidrofóbicas oriundas da síntese orgânica e possuem
efeitos farmacológicos como atividades anti-inflamatórias, antitumorais e
antimicrobianas. Muitos estudos têm sido realizados com outra classe importante de
substância para a indústria farmacêutica, o safrol, um óleo essencial (produto
natural)que apresenta um grupo metilenodióxido.Este trabalho descreve uma nova
proposta de pesquisa no campo da Síntese Orgânica via preparação de substâncias
inédias de compostos derivados das imidas cíclicas planejadas a partir do safrol com o
intuito de obter novos compostos que possam reunir características de ambos os grupos
(metilenodióxido do safrol e grupos imidas), com possíveis atividades
farmacológicas.Iniciou-se com a transformação do safrol em isosafrol através de uma
reação de isomerização. Em seguida, o isosafrol foi reagido com o anidrido maleico
para formar o intermediário via mecanismo Diels-Alder. Posteriormente o intermediário
foi reagido com quatro diferentes aminas aromáticas, formando os quatros compostos
inéditos derivados do safrol. Os compostos obtidos foram elucidados através de técnicas
espectroscópicas convencionais: Infravermelho e Ressonância Magnética Nuclear de ¹H
e ¹³C.Os estudos biológicos “in vitro” realizados para verificar a atividade antifúngica
mostraram que os compostos não apresentaram atividade na concentração de 1024
μg/mL frente aos microrganismos testados.
ͳͻʹ
1. INTRODUÇÃO
(a) (b)
Figura 3: (a) Aristolochiceae, (b) Lauraceae
Muitos estudos têm sido realizados com o safrol, devendo-se ressaltar que a
sua utilização tem sido de grande importância na síntese de novos compostos com
pequenas transformações químicas, obtêm-se assim derivados com vasto emprego
comercial, como é o caso do piperonal (Fig. 4) utilizado como fixador de fragrância e
perfumes (MAIA; GREEN; MILCHARD, 1993; BRAGA; CREMASCO; VALLE,
2005; BARDONI; CZEPAK, 2008; MAIA; ANDRADE, 2009).
2. METODOLOGIA
ͳͻ
Em um balão de 125 mL, equipado com condensador de refluxo e agitador
magnético adicionou-se 10 g (62 mmol; 9,1mL) de safrol (2) e 50 mL (150 mmol) de
uma solução 3M de KOH em n-butanol. A reação foi mantida sob agitação em refluxo
por 6h. Após esse período a mistura foi neutralizada com HCl a 10% e a fase orgânica
foi lavada sucessivamente com água destilada e solução aquosa de NaCl obtendo 9,5 g
(8,65 mL, 95%) do isosafrol (4), na forma de um líquido incolor.
Espectro de RMN ¹H, (60 MHz, DMSO, δ): 1,82 (d, 3H); 5,82 (s, 2H), 6,73-6,92 (m,
5H). Espectro de RMN ¹³C, (15 MHz, DMSO, δ): 18,069 (C-1); 123,29 (C-2); 130,48
(C-3); 132,23 (C-4); 105,40 (C-5); 146,77 (C-6); 148,19 (C-7); 108,04 (C-8); 120,24
(C-9); 100,97 (C-10).
ͳͻ
PREPARAÇÃO DOS COMPOSTOS DERIVADOS DO SAFROL
ͳͻͺ
2.3.4 Preparação do Ácido para-(11,12-metilenodioxi-5-metil-3,4,5,6-
tetrahidronaftaleno-2,15-dicarboxiimida)-benzóico (NII-COOH)
ͳͻͻ
2.3.5 Preparação do 1-Benzil-11,12-metilenodioxi-5-metil-3,4,5,6-
tetrahidronaftaleno-2,15-dicarboxiimida (NII-Bz)
ʹͲͲ
2.3.6 Preparação do 1-(11,12-metilenodioxi-5-metil-3,4,5,6-tetrahidronaftaleno-
2,15-dicarboxiimida)-para-benzosulfonilamina (NII-SO2)
ʹͲͳ
176,24 (C-15); 135,12 (C-16); 127,70 (C-17); 126,60 (C-18); 143,93 (C-19); 126,60 (C-
20); 127,70 (C-21).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
ʹͲʹ
Figura 6: Espectro de RMN ¹H do composto NII-Cl.
Nos espectros de RMN ¹³C os sinais típicos observados foram: dois sinais na
faixa de 176 ppm atribuído aos grupos C=O, vários sinais referentes aos carbonos
aromáticos na faixa de 147 – 122 ppm, um sinal referente ao carbono (CH2) próximo de
100 ppm e absorções positivas e negativas referentes aos carbonos CH2, CH, CH3. Estes
sinais podem ser vistos na Fig. 7.
ʹͲͶ
Figura 8: Espectro de infravermelho do composto NII-Cl.
ʹͲͷ
As cepas foram mantidas em meios de cultura apropriados, Agar Sabouraud
Dextrose-CSD (DIFCO LABORATORIES/France/USA) e conservadas a 4ºC e a 35ºC.
A determinação da concentração inibitória mínima (CIM) dos produtos
testados foi realizada pela técnica de microdiluição, utilizando placas de microtitulação
contendo 96 cavidades (poços) com fundo em forma de “U” e em duplicata e os
resultados obtidos frente às seis espécies antifúngicas estão representados na tabela 1.
+: crescimento do microrganismo
-: não crescimento do microrganismo
ʹͲ
4. CONCLUSÃO
A rota sintética utilizada para a síntese das imidas cíclicas mostrou-se ser
simples e eficaz. Os produtos finais foram obtidos com alto grau de pureza e
rendimentos moderados a bons. Foram sintetizadas quatro imidas cíclicas planejadas a
partir do safrol, sendo todas inéditas. As estruturas químicas das novas imidas foram
confirmadas através de técnicas de espectroscopia de infravermelho e de RMN ¹H e ¹³C.
Os estudos biológicos “In Vitro”realizados para verificar a atividade antifúngica
mostraram que os compostos não apresentaram atividade na concentração de 1024
ug/mL frente aos microrganismos testados (tabela 1).
5. AGRADECIMENTOS
6. REFERÊNCIAS
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Biological Active Isatins: A Short Review. v. 2, n. 4, p. 229-235, 2010.
ʹͲ
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SC, p. 57-105, 2003.
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HARGREAVES, M. K.; PRITCHARD, J. G.; DAVE, H. R.; Chem. Rev. v. 70, p. 439,
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MAIA, J. G. S.; Andrade, E. H. Database of the amazona aromatic plants and their
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ʹͲͺ
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imidobenzenosulphonyc derivatives.Teis (PhD). The hatfield Polytechnic. 1986.
PESCADOR, R.; ARAÚJO, P. S.; MAAS, C. H.; REBELO, R. A.; GIOTTO, C. R.;
WENDHAUSEN JR., R.; LARGURA, G. E TAVARES, L. B. B. Biotecnologia da
piper hispidinervium – pimenta longa. Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento, V.
15, p. 18-23, 2000.
ʹͲͻ
CIÊNCIAS HUMANAS
O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO E DOS CONCEITOS
GEOMÉTRICOS NA PRÁTICA DOCENTE
RESUMO
Este texto refere-se aos resultados alcançados no projeto intitulado O ensino de
Geometria na Educação Básica: concepções, tendências e ações formativas do
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica. O plano de trabalho intitulado
O desenvolvimento do pensamento e dos conceitos geométricos na prática docente teve
como objetivo investigar as percepções dos professores de Matemática da Educação
Básica da cidade de Rio Tinto – PB acerca do ensino de Geometria, bem como
desenvolver, aplicar e avaliar atividades e sequências didáticas. O projeto foi
desenvolvido nas seguintes etapas: discussões realizadas nos encontros do
GEPEM/CAMPUS – IV (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática);
aplicação do questionário diagnostico e análise dos dados; elaboração e aplicação de
oficinas pedagógicas; aplicação do questionário avaliativo e análise dos dados. Os
resultados mostraram que a maioria dos 13 (treze) professores investigados ainda
valorizam bastante o livro didático, sem uma reflexão mais crítica de seu uso; que
poucos professores utilizam com frequência outros recursos; que os professores
possuem pouca familiaridade para elaboração de propostas com a utilização de
materiais concretos para o ensino da Geometria; que a utilização de uma maquete
tridimensional pode promover uma aprendizagem significativa de vários conceitos e
conteúdos da Geometria.
ʹͳͳ
1. INTRODUÇÃO
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os dados da tabela 1 nos mostram que existem professores que atuam em mais
de uma rede de ensino, o que pode ser visto como um obstáculo para o professor poder
oferecer um ensino de qualidade. Na questão sobre em quais níveis de ensino da
Educação Básica esses professores lecionam, pudemos observar que 07 (sete) desses
professores lecionam o Ensino Fundamental, 04 (quatro) no Ensino Médio e 02 (dois)
professores lecionam tanto no Ensino Fundamental quanto no Médio.
Perguntamos também se estes professores lecionavam outras disciplinas além
da Matemática, 09 (nove) professores disseram que não, 03 (três) que sim e um deles
que, talvez não tenha compreendido corretamente a questão, assinalou as duas opções, o
que nos impossibilitou de analisarmos sua resposta.
Com relação às perguntas do questionário diagnóstico, dos 13 (treze)
professores pesquisados, 08 (oito) possuem Licenciatura em Matemática e desses, 02
(dois) também possuem Licenciatura em Pedagogia. Um professor está com o curso de
Licenciatura em Matemática em andamento e os outros 03 (três) professores não
possuem formação na área, no entanto, lecionam a disciplina de Matemática.
Na questão sobre o uso de alguns recursos didáticos, listamos alguns para que
os professores assinalassem com que regularidade eles estão presentes em sua prática.
Caso a escolha fosse “depende” ou “nunca”, o professor precisaria apresentar o motivo
dessa escolha. A tabela 2, a seguir, nos mostra a escolha dos professores. Os números
apresentados na tabela representam a quantidade de professores que assinalaram cada
uma das opções oferecidas.
ʹͳ
Vídeos 01 07 01 03
Materiais 03 05 03 02
Manipulativos
Livro Didático 13 X X X
Exercícios de Fixação 13 X X X
Fonte: Dados do questionário diagnóstico
Após o momento dedicado à analise dos dados coletados, com base nas
respostas dadas pelos professores e algumas percepções observadas através destas
respostas, pesquisamos alternativas de ensino de conteúdos e conceitos geométricos
para atender as lacunas que foram encontradas na analise das respostas dos professores.
Um dos objetivos do questionário diagnóstico que foi entregue aos professores
de Matemática da Educação Básica era justamente identificar quais conteúdos
geométricos eles apresentavam maior dificuldade ao ensinarem aos seus alunos durante
suas aulas e por quais motivos; com base em suas respostas elaboramos algumas
atividades didáticas no intuito de apresentarmos algumas propostas a esses professores.
ʹʹͲ
Independente do resultado da análise feita nas respostas dos professores,
tínhamos em mente que trabalharíamos com materiais concretos, ou seja, materiais
manipuláveis. Formas, cores, tamanhos, e etc. são pontos que podem ser levados em
consideração pelos professores ao pensarem em possíveis materiais para levar para sala
de aula, pois a Geometria é a única área da Matemática que explora o máximo a
visualização e a percepção de espaço do individuo, permitindo o uso de materiais
concretos durante as aulas, desmitificando um pouco a Matemática tão abstrata de
forma mais concreta. Assim, como destaca Lorenzato (2006b, p. 21) o material concreto
(MC) “pode ser um excelente catalisador para o aluno construir o seu saber
matemático”, isso dependerá simplesmente da forma que o professor como
intermediador do conhecimento irá conduzir os conteúdos em suas aulas, assumindo
uma postura de mediador entre a teoria/o material concreto/realidade. Para Passos
(2006b, p. 78), os MC devem servir como “mediadores para facilitar a relação
professor/aluno/conhecimento no momento em que um saber está sendo construído”.
Dessa forma realmente podemos ver o quanto o uso de um material didático
diferente poderá ajudar durante o ensino de novos conceitos e/ou conteúdos
geométricos, ajudando não apenas o professor ao ensinar a disciplina, mas também ao
aluno quando se tratar de aprender o conteúdo.
Nesse sentido, trabalhos todos os conteúdos que foram apresentados em nossa
pesquisa por meio de oficinas pedagógicas com o uso de materiais concretos.
Seguindo essa linha de pensamento, resolvemos construir uma maquete de uma
cidade fictícia (Fig. 1) para trabalhamos com os professores. A princípio, a ideia surgiu
em uma de nossas reuniões e que ao estudarmos bem a possibilidade, pudemos observar
que através da maquete poderíamos explorar diversos conteúdos geométricos que foram
apontados pelos professores, como por exemplo, localização em mapas, retas, ângulos,
sólidos geométricos e seus elementos, quadriláteros, etc. Utilizamos diversas
embalagens de tamanhos e formatos diferentes.
ʹʹͳ
Figura 1 – Maquete de uma cidade fictícia
3.3 Análise dos dados coletados nos dois últimos instrumentos de pesquisa
ʹʹͺ
4. CONCLUSÕES
Concluímos que o ensino da Geometria ainda é pouco abordado nas escolas por
vários motivos, e foi a partir do estudo teórico realizado na pesquisa que
compreendemos quais fatores influenciaram na prática pedagógica dos professores ao
ensinarem os conteúdos desta área da Matemática. Verificamos ao longo do estudo
realizado os inúmeros impasses encontrados pelos profissionais em exercer uma função
pedagógica que estimule o interesse do educando no processo de aprendizagem na área
abordada.
Obtivemos no decorrer do estudo uma maior dimensão dos problemas
encontrados na Educação Básica com relação ao ensino da Geometria.
Com base nas respostas dos professores observarmos que há uma carência nos
cursos de Formação de Professores de Matemática de abordagens do ensino de
Geometria mais voltadas para a sala de aula da Educação Básica. Talvez as disciplinas
que tratam da Geometria Euclidiana, embora promovam conhecimentos matemáticos
acerca de axiomas, teoremas, demonstrações de propriedades importantes da Geometria,
não trazem para os licenciandos propostas de ensino dos conteúdos e conceitos
geométricos trabalhados na Educação Básica. Entendemos que se o objetivo dessas
disciplinas não é apresentar tendências metodológicas de ensino da Geometria, os
cursos de Formação de Professores de Matemática deveriam trazer em sua estrutura
curricular disciplinas que promovessem essa discussão.
Ocorreram obstáculos no decorrer do estudo como, por exemplo, horários
compatíveis a todos os envolvidos, bem como na aplicação das atividades de ensino das
oficinas pedagógicas, a falta de interesse de alguns professores em fazer parte de uma
pesquisa, caracterizando uma resistência em abrirem-se as inovações educacionais. Mas,
apesar de termos conseguido realizar a aplicação das oficinas apenas com três
professores, fomos bem sucedidos, pois fomos às escolas e encontramos os professores
para a realização da pesquisa.
Por fim, entendemos que a proposta metodológica elaborada na pesquisa
merece ser expandida para outros pesquisadores e estudantes, tendo em vista a sua
importância para o desenvolvimento do ensino-aprendizagem no âmbito do Ensino de
Matemática de um modo geral, bem como no Ensino de Geometria. Assim acreditamos
que os objetivos do projeto e as metas almejadas foram alcançados com êxito.
Obtivemos alguns resultados em nossa pesquisa que poderão servir de ponto de partida
ʹʹͻ
para outras pesquisas a serem realizadas na área de Ensino de Geometria.
5. AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
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jan./mar. 1996.
ʹ͵Ͳ
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2010.
MIGUEL, A.; FIORENTINI, D.; MIORIM, M. Álgebra ou Geometria: para onde pende
o pêndulo? Pró-Posições. São Paulo: Cortez, v. 3, n.1[7], p. 39-54, mar. 1992.
ʹ͵ͳ
COTAS RACIAIS VERSUS COTAS SOCIAIS: DESVELANDO O
PRECONCEITO RACIAL LIGADO ÀS POLÍTICAS AFIRMATIVAS
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi investigar como os ex-cotistas negros são vistos e as
consequências dessas visões para sua inserção ao mercado de trabalho. Para isto,
utilizou-se um delineamento quase-experimental, no qual manipulou-se a cor da pele de
um candidato a uma vaga profissional (negro ou branco) e o tipo de cota (racial ou
social) e como variável dependente a justificativa dada pelo participante frente à atitude
do gerente descrita no cenário. Os resultados analisados por meio do software SPSS
apontaram que a cor da pele influencia na contratação do engenheiro branco, contudo o
gerente não é visto como preconceituoso por este fato. Concomitantemente, as análises
feitas a partir do software ALCESTE evidenciaram que o gerente é desresponsabilizado
por não contratar o engenheiro negro, atribuindo a responsabilidade do preconceito
racial a uma abstração: aos clientes da sociedade brasileira. Com isso o racismo à
brasileira cumpre seu papel ideológico de mascarar as práticas discriminatórias.
ʹ͵ʹ
1. INTRODUÇÃO
Apesar de o racismo ser formalmente proibido e desencorajado por meio de
punições legais e sociais, ainda é notória a forte presença desse fenômeno no Brasil,
sobretudo pela observância dos indicadores socioeconômicos das minorias raciais
(BROWSER,1995). O ingresso ao mercado de trabalho, enquanto meio de ascensão
social apresenta grandes disparidades socioeconômicas entre as raças. Segundo
Campante, Crespo e Leite (2004) os brancos que participam do mercado de trabalho têm
em média dois anos a mais de estudo, e consequentemente maiores rendimentos que os
pretos/pardos. No Nordeste, os trabalhadores brancos recebem em média rendimentos
95% superiores ao salário médio dos pretos/pardos (2,98 e 1,53 salários mínimos
respectivamente), enquanto no Sudeste esta variação sobe para exatos 100% (5,78
contra 2,89 salários mínimos).
No contexto do ensino superior brasileiro, Paixão, Rossetto, Montovanele e
Carvano (2010) mostram que a taxa bruta de escolaridade da população branca no
ensino superior passou de 12,4%, em 1988, para 35,8% em 2008, correspondendo a
uma elevação de 23,4 pontos percentuais. Enquanto no caso da população preta e parda,
a taxa passou de 3,6%, em 1988, para 16,4% em 2008, correspondendo a um aumento
de 12,7 pontos percentuais. Este aumento na taxa de escolaridade dos negros no ensino
superior pode ser parcialmente explicado pela progressiva adoção das políticas de ações
afirmativas nas universidades públicas, bem como pelo crescente incentivo do Governo
Federal à promoção do acesso às instituições particulares, através do Programa
Universidade para Todos (ProUni) e do Programa de Financiamento Estudantil (Fies).
Tomados em conjunto, esses dados apontam diferenças socioeconômicas
profundas entre negros e brancos em um país que se vê como uma democracia racial.
De fato, o racismo e o preconceito constituem um problema social desde tempos que
remontam ao período da colonização europeia e parecem ser tão antigos quanto às
relações assimétricas de poder entre os homens e a necessidade de justificar tais
relações (LIMA; VALA, 2004).
O tema deste trabalho é correlato aos estudos sobre o preconceito racial e o
racismo no Brasil, pois se trata da implantação das cotas nas instituições de ensino
superior públicas. Para se discutir esse tema, torna-se imperativo analisar brevemente
como se desenvolveram as relações sócio-raciais em nosso país, que teve o mito da
democracia racial e a política de branqueamento como base do surgimento de uma
forma específica de expressão do preconceito racial.
ʹ͵͵
Segundo Freyre (1933), a miscigenação racial no Brasil produziu uma ideologia
dominante de que nosso país viveria em uma “democracia racial”. Ao lado do mito da
democracia racial, arquitetou-se no Brasil a política de branqueamento que visava
promover a imigração europeia, a fim de suprir a escassez de mão-de-obra resultante da
abolição e a modernização do país (Skidmore, 1976), pois se acreditava que o Brasil não
conseguiria construir um status de país desenvolvido frente ao mundo se a maior parte
de sua população fosse descendente de africanos (Telles, 2003). Nesse contexto, pensar
nas cotas é questionar as bases históricas da nação brasileira enquanto nação
miscigenada e que nega a existência do preconceito racial atuante.
Gordon Allport (1954) foi um dos pioneiros no estudo do preconceito em
Psicologia Social. Para ele, o preconceito pode ser definido como uma atitude hostil
contra um indivíduo simplesmente porque ele pertence a um grupo desvalorizado
socialmente. Contudo, o que tem causado estranheza nos estudos recentes sobre
preconceito racial é que a sua forma de expressão clássica tem diminuído em várias
partes do mundo. No entanto, Camino, Da Silva, Machado e Pereira (2001) advogam
que diante da institucionalização de normas que proíbem a discriminação contra negros,
as pessoas desenvolveram novas formas de expressão do preconceito racial.
Turra e Venturi (1995), estudando as relações inter-raciais no Brasil,
caracterizam o racismo brasileiro como “racismo cordial”, definindo-o como uma forma
de discriminação contra os cidadãos não brancos (negros e mulatos), que se expressa ao
nível das relações interpessoais por meio de piadas, ditos populares e brincadeiras de
cunho racial. Essas ideias são resultados de um estudo realizado junto a uma amostra
representativa da população brasileira, cujos dados mostraram que, apesar de 89% dos
participantes afirmarem que existe racismo no Brasil, apenas 10% admitem ser racistas.
Dito de outra forma, as pessoas parecem ter clara consciência da discriminação racial
que se vive em nosso país, mas não aceitam a responsabilidade por essa situação.
Nesse contexto, o debate sobre a implantação das cotas no ensino superior
brasileiro tem sido caracterizado por uma acalorada polêmica, em que parece existir um
relativo consenso a favor das cotas sociais destinadas para estudantes de escola pública.
Contudo, quando se fala em cotas raciais, a sociedade literalmente se polariza
apresentando atitudes favoráveis ou contrárias.
No cerne dessa divergência estaria a imagem de que vivemos numa democracia
racial, sob a crença de que somos uma nação onde pessoas de todas as raças vivem em
harmonia, sem conflitos ou segregações. Esse tipo de imagem, segundo Camino,
ʹ͵Ͷ
Tavares, Torres, Álvaro e Garrido (2014) produziriam discursos com a ideia de que o
negro seria discriminado não por ser negro, mas por ser pobre. Essas ideias embasariam
os discursos de que as cotas raciais não devem ser implantadas, mas em seu lugar
entrariam as cotas sociais, destinadas a estudantes oriundos do ensino médio público e
cujas famílias comprovem a baixa renda familiar.
Diante deste cenário, Silvério (2002) advoga que a explicação do fenômeno da
desigualdade social é problemática, uma vez que os indicadores sociais mostram que a
dimensão econômica explica apenas parte da desigualdade entre ricos e pobres, a outra
parte é explicada pelo racismo.
Desse modo, a implantação das cotas sociais é importante, mas não resolve o
problema da maioria negra, pois mesmo entre pobres, assistiríamos a uma maior
inclusão de pessoas brancas. Então, visto que historicamente os negros foram
imensuravelmente prejudicados e que isso repercute até os dias atuais, uma das formas
de reparar esses danos compete ser por meio das ações afirmativas, especificamente, as
cotas raciais.
É neste contexto, que defendemos que analisar o quadro geral onde ocorrem
esses debates é imperativo para o entendimento das relações raciais em nosso país.
Assim sendo, diante do exposto até aqui, o objetivo deste estudo foi investigar como os
ex-cotistas negros são vistos e quais as consequências dessas visões para sua inserção
no mercado de trabalho.
2. MÉTODO
2.1 Delineamento
O estudo teve um delineamento quase-experimental, no qual manipulou-se a cor
da pele de um candidato a uma vaga profissional (negro ou branco) e o tipo de cota
(racial ou social) e como variável dependente a justificativa dada pelo participante
frente à atitude do gerente descrita no cenário.
2.2 Participantes
Foram entrevistados 170 estudantes do ensino médio de cinco escolas da rede
pública da cidade de João Pessoa – PB, com idades variando entre 14 e 28 anos e
autodeclarados de cor parda (62%).
ʹ͵ͷ
2.3 Instrumento
O instrumento foi formado por questões abertas e fechadas sobre o ingresso de
ex-cotistas no mercado de trabalho em três condições experimentais. Na primeira
condição, apresentamos uma história curta, de um ex-universitário negro cotista racial,
que conseguiu terminar com êxito seus estudos e que agora estaria participando de uma
seleção para trabalhar em uma grande empresa da construção civil, e ao fim da história
foi acrescentado o discurso justificador feito pelo gerente para não contratar o candidato
negro. Na segunda condição, a história era semelhante, diferenciando-se pelo fato do
ex-universitário ser cotista social. Na terceira condição, tínhamos a mesma história, no
entanto, o ex-universitário era branco e cotista social, sendo que aqui, não era
apresentado o discurso justificador feito pelo gerente. Por fim, foi feita a seguinte
pergunta: Você acha que o gerente foi preconceituoso? Cujos participantes responderam
em uma escala dicotômica (sim/não) e, logo após, o participante tinha que justificar sua
tomada de posição. Neste trabalho, serão apresentados apenas os resultados dessa última
questão. No final do instrumento, havia questões sobre as características
sóciodemográficas (idade, sexo e cor da pele).
2.4 Procedimentos
Após a aprovação nº 698/10 deste estudo pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
UFPB, os alunos responderam ao instrumento individualmente com aplicação coletiva
em sala de aula.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Figura 1. “Você acha que o fato de Gustavo ser negro influenciou a avaliação feita pelo
gerente?”.
Figura 2. Frequência das respostas para a questão “Você acha que o gerente foi
preconceituoso?”.
ʹ͵
Figura 3. “Você acha que o fato de Gustavo ser negro influenciou a avaliação feita pelo
gerente?”.
Figura 4. Frequência das respostas para a questão “Você acha que o gerente foi
preconceituoso?”.
Na terceira condição experimental (candidato branco e cotista social), dos 57
participantes que compunham esta situação, 55 deles (96,5%) afirmaram que a cor do
candidato influenciou na contratação e 53 sujeitos (93%) afirmaram que o gerente foi
preconceituoso ao contratar o engenheiro civil branco.
ʹ͵ͺ
Figura 5. “Você acha que o fato de Gustavo ser negro influenciou a avaliação feita pelo
gerente?”.
Figura 6. Frequência das respostas para a questão “Você acha que o gerente foi
preconceituoso?”.
ʹͶʹ
PRECONCEITO POR SER COTISTA
P
O
P
S
R
I
E
C
C
I
O
O
N
N
C
A
E
M
I
E
T
N
O
T
O
P
E
S
MESMA COMPETÊNCIA L
O
A
B Figura 8. Análise Fatorial de Correspondência.
R
C
E A figura 8 mostra que para o eixo 1, horizontal, destacam-se no lado
O
esquerdo, as palavras aglutinadas predominantemente nas classes 2 e 4. Por
R
C oposição, no mesmo eixo, à direita, posicionam-se as palavras com maiores
O cargas fatoriais agrupadas nas classes 1 e 3. De modo que a classe 4 engloba a
T classe 3, por se tratarem de discursos semelhantes no sentido de que o preconceito
A pela cor da pele é decorrente da importância que é dada a cor e não a competência
S do candidato.
Neste sentido, a Análise Fatorial de Correspondência evidenciou que os quatro
conglomerados compartilham dois núcleos de ideias principais: Posicionamento frente
às cotas e Preconceito pela cor da pele.
ʹͶ͵
3.2.2. Candidato negro e cotista social
Na segunda condição experimental, o corpus foi constituído por 56 unidades de
contexto iniciais (U.C.I), totalizando 4.585 ocorrências, sendo 720 palavras diferentes,
tendo em média 6 ocorrências por palavras. Após a redução do vocabulário às suas
raízes, foram encontradas 143 unidades de contexto elementares (U.C.E.). A
classificação hierárquica descente reteve 57% do total das U.C.E. do corpus,
organizadas em quatro classes como mostra o Dendograma ou a Classificação
Hierárquica Descendente na Fig. 9.
ʹͶͷ
P POSICIONAMENTO SOBRE COTAS P
R R
E E
C C
O O
N N
C C
E E
I I
T T
O O
P P
E O
L R
A
S
C E
O R
R
MESMA COMPETÊNCIA C
sobrepõem no cruzamento dos dois eixos. Isto se deve ao fato de todas elas I
4. COMENTÁRIOS FINAIS
Tomados em conjunto, os resultados deste trabalho apontam dois aspectos do
contexto inter-racial que merecem ser destacados: a) a importância da utilização de
diferentes abordagens metológicas objetivando alcançar as nuances do preconceito
racial no Brasil e b) que, embora em um primeiro momento, os dados quantitativos
mostrem uma diminuição de conteúdos que poderiam ser vistos como preconceito
flagrantes, quando se analisa os dados qualitativos, esses conteúdos se tornam mais
explícitos.
Finalizando, este estudo também aponta a importância do tema para a vida
acadêmica e profissional, mostrando que o preconceito racial e a discriminação dele
ʹͶͺ
decorrentes continuam perpassando as relações interpessoais tanto na academia
quanto na vida profissional.
5. AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
CARVALHO, José Jorge. Inclusão étnica e racial no Brasil: a questão das cotas no
ʹͶͻ
ensino superior. São Paulo: Attar Editorial, 2006.
VALA, Jorge; BRITO, Rodrigo; LOPES, Diniz. O racismo flagrante e o racismo sutil
em Portugal. In ____ (Org.), Novos racismos: Perspectivas comparativas. Oeiras: Celta
1999, p. 31-59.
TURRA, Cleusa; VENTURI, Gustavo. Racismo cordial: a mais completa análise sobre
preconceito de cor no Brasil. São Paulo: Ática, 1995.
ʹͷͲ
AÇÕES AFIRMATIVAS NA UNIVERSIDADE: DA ADOÇÃO DAS COTAS AO
RECONHECIMENTO SOCIOCULTURAL DOS GRUPOS QUE INTEGRAM O
PROGRAMA DE AÇÕES AFIRMATIVAS – O ENSINO E A PERMANÊNCIA
NA UFPB
RESUMO
A adoção de programas de ação afirmativa na universidade ganha centralidade no
debate acadêmico contemporâneo. Nesses debates, a pauta, para além do acesso, destaca
a permanência e o perfil sociocultural dos sujeitos sociais excluídos do ethos
acadêmico. Tendo como referencial analítico as crises de hegemonia, legitimidade e
institucionalidade que a universidade atravessa (SANTOS, 2004), o trabalho focaliza as
características econômicas, étnicas e culturais dos alunos cotistas do curso de Medicina
da Universidade Federal da Paraíba. A metodologia empregada baseia-se,
principalmente, nos postulados teóricos de Bourdieu (2011) e Santos (2004, 2010),
como, também, nos dados do Critério de Classificação Econômica Brasil (2013). Os
resultados apontam que os principais motivos que levaram os cotistas a escolher o curso
de Medicina foram a busca por reconhecimento social e a elevação do capital
econômico. Tais resultados indicam que esses sujeitos percebem, no curso superior, a
possibilidade de paridade de participação, nas escalas econômica e social, com os
demais sujeitos sociais. Os dados dialogam com as propostas de justiça cognitiva e
ecologia de saberes (SANTOS, 2010). Por fim, são apresentadas propostas de pesquisas
no campo das ações afirmativas, sendo necessário o aprofundamento de questões
concernentes à permanência das populações negra e indígena na universidade.
ʹͷͳ
1. INTRODUÇÃO
3. METODOLOGIA
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
30%
Cotas
Livre concorrência
70%
15% 20% A2
10% B1
B2
20% 35% C1
D
17%
A2
33%
B1
C1
33%
D
17%
Gráfico 3 – Divisão, em classes econômicas, do grupo dos alunos cotistas da turma "B"
do período 2011.1 do curso de Medicina da UFPB
Como visto no gráfico 3, que, entre os cotistas, existem as classes A2, B1, C1 e
D. Isto revela que nem todos eles apresentam situação econômica desfavorável (ou seja,
os blocados nas classes A2 e B1). Isto contribui para a seguinte percepção: no ano de
2010, quando foi aprovada pelo Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão
(CONSEPE) a implementação das Cotas Sociais, os critérios de recorte para se
enquadrar em “possível cotista” aprofundavam a ideia de que a educação pública não é
de boa qualidade, se comparada a educação particular. Pois, o primeiro vestibular desta
universidade com o dispositivo das Cotas Sociais, o de 2011, não elencou a categoria
hipossuficiência nos critérios seletivos. Nesse sentido, depreende-se que mesmo sendo
de classe alta – lê-se, com maiores possibilidades de ter acesso a cursos extras de
preparação para o exame do vestibular –, mas estudando em escola pública, o candidato
teria a possibilidade de concorrer nesta modalidade1.
Como base nisso, percebe-se que pela nova Lei de Cotas (Lei nº 12.711/12) o
indivíduo da classe A2 poderia entrar pelo sistema de reservas de vagas nesta
instituição, uma vez que a mesma acatou as medidas expressas na Lei referida no ano de
20132. Tal problemática é aprofundada no gráfico 4. Neste, percebe-se que, dos seis
4,5
4
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
Igual ou superior a 1,5 Salário Igual ou inferior a 1,5 Salário
Mínimo Mínimo
Gráfico 4 – Renda per capita da família dos cotistas da turma "B" do período 2011.1 do
curso de Medicina da UFPB
Não- Pardos: 4
cotistas:
14 Indígenas:
1
Brancos: 1
Cotista: 6
Gráfico 5 –
Raça/etnia autodeclarada dos alunos cotistas da turma "B" do período 2011.1 do curso
de Medicina da UFPB
todo o Ensino Médio e parte do Ensino Fundamental em escola pública. Já a nova Lei de Cotas
(12.711/12) defende que para o aluno ter acesso a universidade por meio desse programa
deve se enquadrar em uma das quatro situações propostas – 1ª: ter estudado todo o ensino
médio em escola pública; e, ter renda familiar per capita igual ou menor a 1,5 salário mínimo; e,
ser preto, pardo ou indígena; 2ª: ter estudado todo o ensino médio em escola pública; e, ter
renda familiar per capita igual ou menor a 1,5 salário mínimo; não ser preto, pardo ou indígena;
3ª: ter estudado todo o ensino médio em escola pública; e, ter renda familiar per capita igual ou
maior a 1,5 salário mínimo; e, ser preto, pardo ou indígena; 4ª: ter estudado todo o ensino
médio em escola pública; e, ter renda familiar per capita igual ou maior a 1,5 salário mínimo;
não ser preto, pardo ou indígena (BRASIL, 2013)
ʹͳ
Mediante ao entendimento do perfil étnico/racial dos cotistas, podemos
parafrasear Piovesan (2008) quando trata sobre a inserção destes sujeitos –
referenciando os pardos e o indígena – em estamentos sociais historicamente distintos a
eles. Sobre a matéria, esta autora diz que para a efetivação da garantia da igualdade
entre eles e o grupo dominante, não basta apenas proibir a discriminação mediante a
legislação repressiva, mas sim, ao lado disso, devem existir estratégias promocionais
capazes de estimular a sua inserção e inclusão nos espaços sociais historicamente “não
vistos” e “não vividos” por eles. Uma dessas estratégias seria a política de cotas3.
O gráfico 5 ainda nos apresenta a realidade de que, possivelmente, não existem
sujeitos autodeclarados negros na turma analisada - Ao comparar esse achado com os
resultados de Cardoso e Velloso (2011), em pesquisa realizada por eles na Universidade
de Brasília (UnB), perceberemos que os nossos achados são consonantes aos deles no
que diz respeito à população de cor negra. Pois, nas palavras desses autores “pretos e
pardos têm menores chances de acesso à escola, de progresso no sistema educacional e
de ingressar no ensino superior quando comparados a brancos” (p. 222, grifo
nosso).
Para o aprofundamento do entendimento dos aspectos sociais dos cotistas e dos
não-cotistas, também se torna relevante destacar o grau de instrução dos chefes de suas
respectivas famílias. Nesse sentido, o gráfico 6 apresenta essa realidade demonstrando
que, em se tratando dos sujeitos da turma analisada, ao passo que o grau de escolaridade
dos responsáveis pela renda familiar é maior, maiores também serão as chances de os
seus filhos adentrarem em um curso de educação superior.4
Gráfico 6 – Grau de instrução dos chefes das famílias dos alunos cotistas e dos não-
cotistas da turma “B” do período 2011.1 do curso de Medicina da UFPB
A assertiva acima exposta corrobora com a teoria bourdieusiana, no tocante ao
simbólico (BOURDIEU, 2011). Este autor, ao falar acerca da corrida pelo diploma
universitário na sociedade francesa de meados do século XX, diz que
ʹ͵
ser visto, os dados comprovam a teoria de Bourdieu (2011).
14
12
10
8
Cotistas
6
Não-cotistas
4
2
0
Até 20 min. De 20 a 40 min. De 40 min. a 1h De 1h a1:30h
1
Sim
Não
5
Tabela 1 – Serviços que os estudantes cotistas da turma “B” do período 2011.1 do curso
de Medicina da UFPB usufruem da Universidade e a classe econômica a qual pertencem
COTISTA COTISTA COTISTA COTISTA COTISTA COTISTA
SERVIÇO 1 (A2) 2 (B1) 3 (B1) 4 (C) 5 (D) 6 (D)
Alimentação
no
Restaurante x x x
Universitário
(RU)
Moradia na
Residência
Universitária
Bolsa- x
permanência
Fonte: Dados dos questionários respondidos pelos alunos cotistas
Ora, esses dados parecem não condizer com o perfil de hipossuficiência que se
espera de um cotista da Universidade em questão – o que agudariza as discussões sobre
cotistas não são beneficiados automaticamente após a inscrição na seleção para ter acesso a
esses programas, pois a concorrência leva em consideração, também, outros aspectos para
análise (como morar em área rural, assentamento; ter ou não casa própria; distância da
universidade para o local da residência em que mora com os cuidadores). Ainda afirmamos
que, no caso da UFPB, os estudantes não podem ter mutuamente os benefícios de
“Residência Universitária” e o de “Auxílio Moradia”.
ʹͷ
o gráfico 3. Tal afirmativa tem como base o fato ensejado pela seguinte problemática: se
de um lado os alunos beneficiários pelas cotas precisavam entrar na universidade por
meio desse programa, devido não possuírem condições materiais e econômicas
suficientes para o acesso no ensino superior, do outro, eles apresentam condições de
permanência no mesmo – o que é contraditório8.
Outro dado referente aos cotistas, diz respeito aos motivos que, segundo eles,
os levaram a optar pelo curso de Medicna. No questionário a eles apresentado existiam,
tanto “opções prontas” – nas quais eles tínham a opção de marcar ou não um traço
indicando sua identificação com a acertiva –, como também a opção de eles se
expressarem livrimente sobre a escolha. Os resultados foram sistematizados na Tab. 2.
8 Este fato pode ser confirmado na própria seleção para ter direito ao serviço de alimentação
universitária no Restaurante Universitário, uma vez que o estudante que possa comprovar sua
hipossuficiência (através de documentos como a sua Carteira de Trabalho não assinada)
automaticamente já tem mais chance de ser assistido pelo benefício. Nesse sentido, a maioria
dos estudantes que não tentam ou não conseguem o serviço, apresentam ter recursos
materiais maiores do que os demais alunos – incluindo os cotistas e os não-cotistas.
ʹ
pais e/ou x
amigos
Pela
possibilidade de x x
ascender
socialmente
Por ter
amigos/parentes
que são
médicos, o que
influenciou na
minha escolha
pelo curso
Escrita livre Marcou , Curiosidade Amor à realizar
(outro motivo) mas não (vontade de profissão um sonho
especificou saber) próprio
Fonte: Dados dos questionários respondidos pelos alunos cotistas
Assim, como pode ser visto na tabela referida: a maioria dos cotistas dessa turma
acredita que o curso os possibilitará ter um “boa remuneração no final da formação”, da
mesma forma que “reconhecimento social” no exercíco profissional. Entretanto, o
cotista 1, pertencente a classe A2, não marcou nenhuma das “opções prontas” e não
especificou o outro motivo que o levou a escolha pelo curso – o que pôde ser devido a
posição econômica na qual está classificado. Então, com base nos resultados até aqui
expostos, apresentaremos na próxima sessão as conclusões do estudo.
5. CONCLUSÕES
9 Termo utilizado por Pierre Bourdieu em seu livro “A distinção: crítica social do julgamento”
(2011)
ʹͺ
Ensino Superior como meio legítimo para propagação da solidariedade entre sujeitos,
ensejada, principalmente, a partir da Constituição Federal de 1988.
Por fim, aponta-se como caminhos para novas pesquisas: a caracterização dos
sujeitos cotistas de outras universidades, sob os pontos de vista econômico, étnico-racial
e de acesso ao capital cultural universitário; os impactos do engendramento de sujeitos
indígenas na formação universitária, por meio das ações afirmativas; a sistematização
das disputas dentro do campo entre os cotistas de perfil econômico e étnico-racial
diferentes (a partir do CCEB e das categorias branco, pardo, negro e indígena); como
também, a análise da eficácia da Lei nº 12.711/12, mais conhecida como “Lei de
Cotas”.
6. AGRADECIMENTOS
7. REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Janete M. Lins de. A educação como política pública. 3ª edição. São
Paulo: Autores Associados, 2004.
ʹͻ
CONTEMPORÂNEO, 3., 2012, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: UERJ, 2012. 1
CD-ROM.
DIAS, Eulina Souto. et al. Projeto catálogo geral dos manuscritos avulsos e em códices
referentes à história indígena e escravidão negra no brasil: novos olhares sobre a
diáspora e escravidão no brasil colônia. Cadernos Imbondeiro, João Pessoa, v. 2, n.1,
p. 1-9, 2006.
LOPES, Cristina. Cotas raciais: por que sim?. Rio de Janeiro: Ibase; Observatório da
Cidadania, 2006.
MACÊDO, Maurides; PAN, Mirian; ADORNO, Rebeca. Direito de igualdade racial e
ações afirmativas no Brasil e Estados Unidos: diferentes impactos. Revista Brasileira
de Política e Administração da Educação, Recife, v. 28, n. 2, 369-381, mai/ago, 2012.
NEY, Antonio. Política educacional: organização e estrutura da educação brasileira.
Rio de Janeiro: Wak, 2008.
PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos Humanos. São Paulo: Max Limonad, 1998.
ʹͲ
SANTOS, Boaventura de Sousa. A gramática do tempo: para uma nova cultura
política. 3. ed.. São Paulo: Cortez, 2010.
ʹͳ
CIÊNCIAS DA SAÚDE
DESVANTAGEM VOCAL E INTENSIDADE DO DESVIO VOCAL EM
PACIENTES COM QUEIXA VOCAL
RESUMO
Objetivo: verificar se existe associação entre a desvantagem vocal e a intensidade do
desvio vocal. Metodologia: Participaram 186 pacientes disfônicos, com idade entre 18 e
60 anos, que responderam ao Protocolo do Índice de Desvantagem Vocal (IDV) e foram
submetidos à gravação da vogal /ɛ/ sustentada. As vozes foram avaliadas quanto
à intensidade do desvio vocal e qualidade vocal predominante (rugosa, soprosa, instável
ou tensa). Resultados: considerando-se o ponto de corte do IDV, todos os indivíduos
apresentaram comprometimento relacionado à desvantagem vocal. Houve diferenças
nas médias dos escores funcional e orgânico do IDV em função do desvio vocal, com
maior desvantagem nos pacientes com desvio vocal moderado e intenso. Ocorreu maior
desvantagem vocal no domínio funcional nos indivíduos com qualidade vocal
predominantemente soprosa. Houve correlação positiva entre os escores do IDV nos
domínios total e funcional e a intensidade do desvio vocal. Conclusão: Existe
associação entre a desvantagem vocal e a intensidade do desvio vocal. Pacientes com
desvio vocal mais intenso e com qualidade vocal predominantemente soprosa
apresentam maior desvantagem vocal. O domínio funcional do IDV é o que mais reflete
a intensidade do desvio de qualidade vocal.
ʹ͵
1. INTRODUÇÃO
Na produção da voz analisamos aspectos fisiológicos, auditivos, acústicos e
emocionais, isto é, o exame laringológico, a percepção auditiva, medidas acústicas e
protocolos de autoavaliação são meios para quantificar a disfonia do indivíduo. A
autoavaliação fornecem dados para que os profissionais monitorem a evolução do
paciente e ocupam um papel fundamental diante de decisões terapêuticas (BRANSKI, et
al. 2010) e a autoavaliação vocal tem sido bastante importante, pois coleta a própria
perspectiva do paciente com relação à alteração vocal e se torna uma aliada aos diversos
outros aspectos relacionados ao processo de avaliação multidimensional da voz
(KASAMA e BRASOLOTTO, 2007). A organização Mundial da Saúde define saúde
como sistema multidimensional que incorpora aspectos físicos, mentais, e estado físico
do ser.
Foi desenvolvida uma metodologia, o Voice Handicap Index (VHI) – Índice de
Desvantagem vocal (IDV), para medir a gravidade das desvantagens na voz através da
análise emocional, funcional e orgânica do paciente. Este questionário foi validado em
2009 em nosso país e é composto de 30 itens dividido em três sub escalas, cuja
classificação foi citada anteriormente. Os escores são calculados por meio de somatório
simples e podem variar de 0 a 120; quanto maior o valor, maior a desvantagem vocal.
(JACOBSON et al.1990, BEHLAU et al. 2009). Neste trabalho tivemos o objetivo de
correlacionar o IDV com a intensidade do desvio vocal, a partir da avaliação perceptiva
auditiva da voz que se classifica em vozes normais (VNQV), de graus leve, moderado
ou intenso, como também o predomínio vocal (rugosidade, soprosidade,
tensão ou instabilidade) e assim verificar os grandes benefícios que este instrumento
pode trazer para um melhor planejamento terapêutico e sua comparação não só com a
patologia, mas a intensidade do desvio vocal.
A maioria dos tratamentos em saúde afetam o desenvolvimento físico, mental e
bem-estar social dos pacientes e desta forma, o teraupeta precisa estabelecer metas não
só que se direcionem aos aspectos físicos do problema vocal, mas também a fatores
subjetivos que se relacionam de forma direta a queixa vocal do paciente é fundamental.
Portanto, ao aliarmos medidas de natureza objetiva (Jitter, shimmer, proporção ruído-
harmônico, máximo tempo de fonação, etc.) com os protocolos de autoavaliação,
obteremos formas eficazes para entender o grau da disfonia e uma compreensão das
percepções subjetivas do paciente em atendimento.
ʹͶ
2. METODOLOGIA
O presente estudo transversal e descritivo teve por objetivo analisar a correlação
entre a avaliação perceptivo auditiva e a Desvantagem Vocal em pacientes disfônicos.
Participaram da pesquisa 186 pacientes, de ambos os sexos, com idade mínima entre 18
e 60 anos, sendo 116 do sexo feminino e 70 do sexo masculino com e sem alterações
laríngeas, apresentando queixa vocal e atendidos no setor de triagem do Laboratório de
Voz e Deglutição (LaDVox) de uma Instituição de Ensino Superior, entre agosto de
2012 e março de 2013. Todos os pacientes assinaram o termo de consentimento livre e
esclarecido.
A coleta de dados foi realizada em um local com ruído ambiental inferior a 50
dB e coletou-se a emissão da vogal /ɛ/ em tempo máximo de fonação. O software de
gravação foi o Fonoview versão 4.6 e a taxa de amostragem de 44.100Hz. Na mesma
sessão de avaliação o voluntário respondeu o questionário IDV, desenvolvido para
quantificar a percepção dos pacientes em meio as suas incapacidades com o uso da voz,
isto é, dificuldades percebidas pelo mesmo e geralmente leva menos de 5 minutos para a
realização (Rosen, et.al 2000). Na avaliação perceptivo-auditiva foi utilizada uma escala
analógico visual (EAV) com uma métrica de 0 a 100 mm e a marcação mais próxima do
0 representa menor alteração, e quanto mais próxima do 100, maiores são as alterações.
A escala contempla o grau geral do desvio da voz, rugosidade, soprosidade, tensão e
instabilidade. Três fonoaudiólogos especialistas em Voz, com experiência em avaliação
vocal perceptivo-auditiva executaram posteriormente essa avaliação, que se constituiu
na escuta das vozes dos pacientes e marcação por consenso na EAV. Por fim, foi
realizada uma correspondência da escala numérica (EN) para a EAV, sendo o grau
1 (0-35,5 mm) relacionado às variações normais da qualidade vocal (VNQV), grau 2
(35,6-50,5 mm) desvio leve a moderado, grau 3 (50,6-90,5 mm) desvio moderado e
grau 4 (90,6-100 mm) desvio intenso (YAMASAKI, et al. 2008).
Foi realizada a análise estatística descritiva para todas as variáveis analisadas,
além de análise estatística inferencial de correlação, com o teste de Correlação de
Spearman, para correlacionar as medidas acústicas, laringológicas, perceptivo-auditivas,
emocionais e de autoavaliação. O teste de Kruskal-Wallis será utilizado para comparar a
análise das medidas acústicas e de autoavaliação de acordo com o grau de desvio vocal.
A análise estatística será feita por meio do software STATISTICA, versão 6.0. O nível
de significância adotado será o de 5% para todas as análises
ʹͷ
3. RESULTADOS
Na comparação das médias e desvio padrão do IDV com a intensidade do desvio
vocal, foi observado significância estatística nos escores funcional 1(p= 0,042) e
total (p= 0,038). Considerando o ponto de corte entre indivíduos saudáveis e com
alteração vocal (IDV-T=19;IDV-E=3,0;IDV-F=7,5;IDV-O=10,5) quanto mais alterada
a voz, maior é a desvantagem percebida pelo individuo nestes dois escores. (Tabela 1).
ʹ
Tabela 2. Predomínio da qualidade vocal e sua relação com os escores do IDV.
PREDOMÍNIO
Valor
Variáveis Rugosidade Soprosidade Tensão Instabilidade
de p
Media DP Media DP Media DP Média DP
IDV-T 44,32 27,01 49,25 27,05 31,12 24,84 34,18 23,65 0,064
IDV-E 12,37 10,41 14,80 10,04 8,94 8,98 9,09 9,54 0,085
4. DISCUSSÃO
Os distúrbios da voz têm uma gênese multifatorial e as lesões funcionais ou
orgânicas causam prejuízos na comunicação do individuo desde problemas
ʹ
psicossociais a diminuição na qualidade de vida (SMITS, et al 2011). Ao observar a
avaliação vocal como um fator multidimensional, a autoavaliação do paciente é vista
como um grande aliado para um melhor planejamento terapêutico (DEJONCKERE,
2001). As Integrações destes dados fornecem informações importantes para o
diagnóstico preciso e diferencial e para o planejamento/monitoramento da eficácia da
terapia vocal (RODRÍGUEZ-PARRA, ADRIÁN e CASADO, 2009; UGULINO,
OLIVEIRA e BEHLAU 2012). Um estudo realizado correlacionou o Índice de
Desvantagem Vocal e coletas de voz em laboratório com pacientes disfônicos e o
mesmo apresentou uma forte correlação (P <0,01). Isto indica que problemas de voz
afeta vários aspectos na vida do individuo, inclusive emocionais, físicos, funcionais,
econômicos e outros e a sua adesão à terapia estar diretamente ligado a estes fatores
pessoais (Hsiung e Wang 2002).
Este estudo procurou investigar a relação do Indice de Desvantagem Vocal com
a intensidade do desvio e qualidade vocal predominante a partir da avaliação perceptiva
auditiva. Viu-se que os valores do IDV nos domínios físico e orgânico diferenciam
pessoas que tem grau normal, leve, moderado e intenso. Desta forma, observamos que
vozes mais desviadas no ponto de vista do grau da intensidade do desvio, apresentam
maior desvantagem vocal. Um estudo com pacientes portadores de paralisia unilateral
de prega vocal, disfonia por tensão muscular, pólipo e cisto verificou que o IDV é um
instrumento eficaz para coletar a percepção do próprio individuo antes e após o
tratamento (Rosen e Murry 2000). Foi visto também que, a partir da mudança
do grau da disfonia (grau leve em relação aos outros e principalmente entre moderado e
intenso), o IDV apresentará alteração. Assim, o IDV se torna uma forte ferramenta para
separar indivíduos com alteração e sem alteração de voz.
O IDV funcional apresentou correlação com o predomínio vocal e maior média
na qualidade vocal soprosa. Isso revela que indivíduos com vozes soprosas tem maior
dificuldade de projeção, de falar em lugares barulhentos e por períodos prolongados. É
importante ressaltar que o domínio funcional deste protocolo avalia aspectos
relecionados diretamente ao uso da voz. São questões como: ‘’As pessoas têm
dificuldade de me ouvir por causa da minha voz.’’ ou “ Meu problema de voz limita
minha vida social e pessoal’’. Um estudo que buscou caracterizar o perfil vocal de
pessoas com queixa de problemas de voz e em espera para atendimento
fonoaudiológico, quanto á autoavaliação vocal e à analise perceptivo-auditiva, entre
outros aspectos, encontrou-se correlação significante entre classificação global da voz,
ʹͺ
índice de disfonia e laudo otorrinolaringológico ( OLIVEIRA, 2008).
A disfonia é uma alteração vocal que pode causar consideráveis restrições
emocionais, sociais e funcionais devido ao comprometimento na comunicação,
evoluindo com dificuldades psicológicas, emocionais e a queixa vocal em si (PARK e
BELHAU, 2009) Neste estudo observamos uma corelação positiva entre a intensidade
do desvio com o grau da disfonia, isto é, quanto mais alterada a voz, maior a
desvantagem vocal apresentada pelos pacientes nos escores total e funcional.
Não se pode analisar a voz somente como uma produção sonora, pois a mesma
demonstra características físicas e emocionais do locutor, e pode se manifestar com
qualquer ruptura de equilíbrio nestas áreas (CARDOSO, 1999). Picolotto (1995) refere
que o sujeito só começa a se conta de sua alteração vocal, na medida em que encontra
dificuldades em comunicar-se no dia a dia. Baseando-se nos achados deste estudo,
pode-se se dizer que há uma correlação do Índice de Desvantagem Vocal com a
intensidade do desvio vocal e que este protocolo pode auxiliar junto às orientações e
decisões para um tratamento eficaz diante dos distúrbios de voz.
5. CONCLUSÃO
Verificou-se que a intensidade do desvio pode ser comparada diretamente com a voz
e não apenas a patologia e a partir da análise estatística, existe uma correlação positiva
entre a intensidade do desvio vocal e todos os domínios do IDV. A partir valores do
Indice de Desvantagem Vocal nos escores físico e orgânico, constatamos uma diferença
em função da intensidade do desvio vocal. Ao analisarmos o tipo de voz a partir da
predominância, a voz soprosa é que apresenta maior desvantagem vocal. Portanto, o
Índice de Desvantagem Vocal é uma importante ferramenta para melhor
desenvolvimento de um plano terapêutico e relaciona-lo diretamente com a voz do
paciente.
REFERÊNCIAS
Yamasaki, R.; Leão, S.; Madazio, G.; Padovani, M.; Azaveso, R.; Behlau, M.
Correspondência entre escala analógico-visual e escala numérica na avaliação
perceptivo-auditiva de vozes. Anais. XVI Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia,
Campos do Jordão(SP). 2008; 24-27.
M.-W. HSIUNGH · L. PAI · H.-W. WANG. Correlation between voice handicap index
and voice laboratory measurements in dysphonic patients. Eur Arch Otorhinolaryngol
(2002) 259: 97–99. Springer-Verlag 2002
MURRY Thomas, ROSEN Clark A. Vocal education for the professional voice user
and singer. Otolaryngol Clin North Am, v. 33, n. 5, p. 967-981, 2000.
PARK, Kelly; BELHAU, Mara. Perda da voz em professores e não professores. Rev
SocBrasFonoaudiol, 2009, 14(4), p. 463-469.
ʹͺͲ
ATUAÇÃO DOS TÉCNICOS DE ENFERMAGEM DA ATENÇÃO BÁSICA NO
CUIDADO AO USUÁRIO DIABÉTICO
RESUMO
O estudo objetiva verificar a participação do técnico de enfermagem no cuidado ao
usuário diabético, e identificar quais orientações os técnicos de enfermagem oferecem
aos usuários diabéticos sobre os cuidados com os pés. Trata-se de uma pesquisa
descritiva, com abordagem qualitativa, realizada com 40 técnicos de enfermagem da
atenção básica do município de João Pessoa – PB, durante maio a julho de 2013, a partir
de um formulário aplicado durante as entrevistas e analisados mediante a Técnica de
Análise do Discurso do Sujeito Coletivo. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa, CAEE 03459112.1.0000.5188. Foi possível identificar
que os técnicos de enfermagem participam do cuidado ao usuário diabético na atenção
básica, por meio de orientações e de procedimentos técnicos de enfermagem que são
coerentes com as suas atribuições e com o que é preconizado pelo Ministério da Saúde e
pelas entidades de Diabetes Mellitus. As contribuições dos técnicos de enfermagem
proporcionam a diminuição dos riscos para o desenvolvimento das complicações
oriundas do Diabetes Mellitus, uma vez que os seus discursos revelaram um cuidado
voltado tanto para a educação em saúde, quanto para a assistência de enfermagem.
ʹͺͳ
1. INTRODUÇÃO
2012).
ʹͺ͵
2. METODOLOGIA
ʹͺͶ
Segunda etapa – corresponde à identificação das ideias centrais que cada um dos
participantes envolvidos no estudo apresenta em seu discurso e as expressões-chave
para cada resposta de uma dada questão, formando assim, a síntese do conteúdo dessas
expressões.
Terceira etapa – ocorre o agrupamento das ideias centrais semelhantes ou
complementares, que envolvam as mesmas respostas de um determinado
questionamento, transcrevendo-se literalmente os termos empregados pelos
participantes da investigação.
Quarta etapa – compreende a estruturação do discurso-síntese, ou discurso do
sujeito coletivo, mediante o agrupamento das ideias centrais semelhantes, o que
representa um só discurso, como se todos tivessem sido proferidas por único indivíduo.
Ressalta-se que para caracterizar a amostra estudada foram consideradas as
variáveis: sexo, idade, tempo de profissão e tempo de atuação no referido local de
trabalho. Os dados obtidos foram tratados com auxílio do software Statistical Package
for Social Sciences (SPSS) versão 20.0.
Para o procedimento de realização do estudo, foram contempladas as
observâncias éticas das diretrizes e normas regulamentadoras para pesquisa envolvendo
seres humanos – Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde e a Resolução
311/2007 do Conselho Federal de Enfermagem, sobretudo no que diz respeito ao
consentimento livre e esclarecido dos participantes, sigilo e confidencialidade dos
dados.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Ideia Central 1 - Uso de calçados que protejam os pés. Discurso do sujeito coletivo:
Para que eles não andem descalços; [...] devem andar sempre
calçados, com calçados confortáveis, adequados e fechados, [...]
protegendo os pés de topadas, arranhões e feridas [...] evitando
se ferir para que, consequentemente, não haja complicações
quanto à cicatrização.
ʹͺͺ
Ideia Central 3 - Higiene e hidratação dos pés. Discurso do sujeito coletivo:
Falo para eles que tenha o devido cuidado para evitar topadas,
quedas, pois a cicatrização do diabético não é fácil e merece
uma devida atenção; [...] por isso digo pra ter muito cuidado e
não ter machucados.
4. CONCLUSÃO
5. AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
CARVALHO, R.P.; CARVALHO, C.P.; MARTINS, D.A. Aplicação dos cuidados com
os pés entre portadores de Diabetes Mellitus. Cogitare Enfermagem, Minas Gerais,
v.15, n.1, p.106-9, jan./mar. 2010.
ʹͻ͵
INCORPORAÇÃO DE ÓLEOS ESSENCIAIS DE PLANTAS AROMÁTICAS DO
NORDESTE BRASILEIRO EM FILMES DE QUITOSANA COMO
ALTERNATIVA PARA INIBIÇÃO DE FUNGOS PATÓGENOS PÓS-
COLHEITA
ʹͻͶ
1 INTRODUÇÃO
O crescimento populacional habitacional, além de diminuir as áreas
apropriadas ao cultivo agrícola, tem aumentado a demanda por alimentos. Estima-se que
no ano de 2050, a população mundial chegue a nove bilhões de habitantes, o que requer
o aumento da produção de alimentos a fim de suprir as necessidades desse número.
Diante de inúmeros fatores que interferem na redução da produção de alimentos, as
doenças causadas por fungos fitopatogênicos tem recebido destaque, por serem de
grande impacto na agricultura (CARRER, et al., 2010; BRUM, 2012).
A deterioração causada por patógenos é a principal causa de perdas em
pós‑colheita de pequenas frutas, em virtude da fragilidade de sua epiderme (BOWER,
2007), dentre os quais destacam-se os fungos, responsáveis por 80 a 90% do total do
prejuízo. (OLIVEIRA et al., 2006).
O controle das doenças e pragas na agricultura tem se intensificado, sendo
realizado basicamente através do emprego de produtos químicos sintéticos, no entanto,
a utilização indiscriminada está se mostrando ineficiente, já que diversos organismos
começaram a adquirir resistência a vários produtos, demandando a utilização de
quantidades cada vez maiores (SANTOS et al., 2006). Além disso, a crescente
preocupação da população em consumir alimentos saudáveis e a preservação do meio
ambiente, tem tornado o uso de agentes químicos uma prática questionável. Deste
modo, vários métodos alternativos de controle de doenças vêm sendo estudados
(SILVA et al., 2010).
Os métodos alternativos de controle, no qual se incluem o controle biológico, a
indução de resistência em plantas, o uso de extratos vegetais, dos óleos essenciais, e do
envoltório de quitosana tem se destacado (STANGARLIN et al., 1999; SCHWAN-
ESTRADA & STANGARLIN, 2005; CAPDEVILLE et al., 2002). A comprovada
atividade fungistática da quitosana a torna uma alternativa potencial no controle de
podridões pós‑colheita de frutas. Camili et al. (2007) utilizaram a quitosana no
recobrimento da uva “Itália”, verificando que esta suprimiu o crescimento de Botrytis
cinerea. Chien et al. (2007) avaliaram os efeitos de revestimento comestível da
quitosana na qualidade e vida de prateleira de fatias de manga.
Outros compostos têm sido estudados no controle de fungos patógenos,
apresentando resultados destacáveis, a exemplo dos os óleos essenciais. Vários estudos
têm comprovado o efeito de extratos e óleos essenciais de plantas medicinais na
capacidade de controlar doenças em plantas, por sua atividade antimicrobiana de forma
ʹͻͷ
direta ou indireta (CHAO & YOUNG, 2000; FIORI et al., 2000; BASTOS &
ALBUQUERQUE, 2004). Tais óleos podem ser formados por cem ou mais compostos
orgânicos, a exemplo dos alcoóis, ésteres, aldeídos e cetonas de cadeia curta em menor
proporção, e os monoterpenos e sesquiterpenos, encontrados com maior frequência.
(CASTRO et al., 2004; CASTRO et al., 2010; COSTA et al., 2008; NICARETA,
2006).
A hortelã pimenta (Mentha piperita L.), um híbrido natural entre M. aquática e
M. spicata que pertence à família Labiatae, é uma das espécies produtoras de
terpenóides mais exploradas comercialmente (MAFFEI; MUCCIARELLI, 2003), sendo
uma rica fonte de mentol (DOMIJAN et al, 2005). Extratos originários de M. piperita
têm evidenciado propriedades antifúngicas, demonstrando controle para patógenos de
plantas (BELMONT; MOCTEZUMA, 2001). Seu óleo essencial, considerado não
tóxico a humanos (ANSARI et al, 2000), apresenta, além de propriedades antifúngicas
(EDRIS; FARRAG, 2003; PANKAJ et al, 2003), propriedade antiviral
(SCHUHMACHER, 2003) e antibacteriana (PATTNAIK et al, 1996). Carretto et al
(2010) mostraram a atividade inibitória do óleo essencial de Mentha piperita L. contra
39 cepas do fungo Candida, sendo a C. albicans a de maior sensibilidade ao óleo.
Frente ao reconhecido potencial biológico da quitosana e do óleo essencial de
Mentha piperita, o objetivo deste estudo foi avaliar a eficácia da aplicação combinada
de quitosana e do óleo essencial de Mentha piperita como agentes antimicrobianos
alternativos para a inibição de Rhizopus stolonifer, Aspergillus niger, Aspergillus
flavus, Botrytis cinerea e Penicillium expansum em meio laboratorial e em tomates do
tipo cereja (Lycopersicon esculentum var. cerasiforme).
2 MATERIAL E MÉTODOS
ʹͻ
O OE de M. piperita L. (Hortelã-pimenta) foi adquirido comercialmente na
empresa Aromalândia Ind. Com. Ltda. (Minas Gerais, Brasil), e os seus parâmetros de
qualidade foram descritos em laudo técnico emitido pelo fornecedor.
Como micro-organismos teste, foram utilizados cepas de A. flavus URM 4540,
A. niger URM 5842, R. stolonifer URM 3728, B. cinerea URM 2802 e P. expansum
URM 3396 obtidos da Coleção de Culturas Micoteca URM (Centro de Ciências
Biológicas, Universidade Federal de Pernambuco). Para os ensaios de atividade
antifúngica, foram utilizados repiques das culturas. Posteriormente, foram coletados os
esporos fúngicos e adicionados em solução salina, para prover um inóculo fúngico de
aproximadamente 106 esporos/mL (RASOOLI e ABYANETH, 2004; RASOOLI e
OWLIA, 2005).
Os frutos em estádio de maturação comercial foram obtidos na EMPASA
(Empresa Paraibana de Abastecimentos e Serviços, João Pessoa, Brasil) e selecionados
sem sinais de danos mecânicos e deterioração, padronizados de modo a apresentar
tamanho, cor e forma homogêneas.
Foi realizada a avaliação fitoquímica do OE de M. piperita L. foi realizada no
Núcleo de Caracterização e Análise da UFPB, Laboratório Multiusuário de
Caracterização e Análise (LMCA). A composição fitoquímica do OE foi determinada
por cromatografia gasosa acoplada a espectrômetro de massa (GC-MS). A concentração
dos seus componentes foi calculada usando as áreas de pico individuais para cada uma
das substâncias. (WANG; CHEN; CHANG, 2005).
Quanto da aplicação combinada de QUI e OE, inicialmente foi realizada a
dissolução da QUI (8,0, 4,0, 2,0 mg/mL) em ácido acético (1 mL/100 mL) sob constante
agitação (120 rpm) por seis horas a temperatura ambiente. Em seguida, foram
adicionadas as diferentes concentrações de OE (5; 2,5; 1,25 μL/mL), seguindo-se o
processo de agitação por 18 horas adicionais a temperatura ambiente. Nos ensaios de
aplicação da solução formada pela combinação de QUI e OE como filmes em frutos, foi
adicionado glicerol (2 mL/100 mL) como agente plastificante no mesmo momento da
incorporação de OE a solução filme (OJAGH et al., 2010).
A CIM da QUI e do OE foi determinada através da técnica de diluição em
caldo. A mais baixa concentração (mais alta diluição) de QUI e do OE que não
apresentou crescimento fúngico visível foi considerada como a CIM (SHARMA e
TRIPATHI, 2007). A partir dos resultados obtidos nos ensaios de determinação da CIM
do óleo e da quitosana foram escolhidas as diferentes concentrações de QUI,
ʹͻ
posteriormente aplicadas em combinação nos ensaios de influência sobre o crescimento
micelial radial e germinação de esporos.
A avaliação da inibição do crescimento micelial radial foi determinada
utilizando-se a técnica do envenenamento do substrato de crescimento, onde foi
realizada a medida diária do crescimento micelial radial em ágar Sabouraud adicionado
das diferentes concentrações de QUI ou de OE, segundo as metodologias de AdamM et
al. (1998) e DaFerrera et al. (2003). A Influência sobre a germinação de esporos
fúngicos foi determinada segundo a metologia e Feng & Zeng (2007).
Foram realizadas as determinações “in vivo” do crescimento superficial em
tomate cereja (Lycopersicon esculentum var. cerasiforme), bem como da avaliação da
qualidade física e físico-química do tomate cereja, segundo Feng & Zeng (2007) e Liu
et al. (2007).
Nos mesmos intervalos de observação da presença de infecção fúngica, os
frutos foram avaliados quanto à perda de peso e aspectos gerais de qualidade como cor,
firmeza, determinação de sólidos solúveis, pH e acidez titulável.
O teor de sólidos solúveis foi determinado utilizando refratômetro digital
modelo HI 96801 (Hanna Instruments, São Paulo, Brasil), sendo os resultados expressos
em ºBrix (MENG et al., 2008).
A acidez titulável foi determinada utilizando-se NaOH a 0,1 N e fenolftaleína
como indicador sendo os resultados expressos em mmol H+/100 g de fruta (MENG et
al., 2008).
A relação SS/ATT foi realizada a partir da razão teor de sólidos solúveis por
teor de acidez titulável (MENG et al., 2008).
Para a perda de massa, os vegetais foram dispostos em bandejas, de modo que
permaneceram separados em proporções iguais (controle e tratamento) para posterior
acompanhamento da diferença de peso final durante o experimento. Os resultados foram
expressos em porcentagem, relativo à massa inicial do produto (MENG et al., 2008).
A cor da casca foi medida em três diferentes posições equatoriais do fruto,
através do Sistema CIELab (L*a*b*); ângulo Hue (h*ab) e croma (C*ab) em
colorímetro Minolta Modelo CR-300 (Osaka, Japão), de acordo a Comissão
Internacional de Iluminação (CIE, 1986).
A determinação da firmeza foi realizada utilizando-se probe (1/8) de 3 mm de
diâmetro acoplado ao texturômetro TA-XT2 Texture Analyzer (Stable Micro Systems,
Haslemere, Inglaterra), sendo os resultados expressos em N/mm (CHIEN et al., 2007).
ʹͻͺ
O pH foi determinado utilizando-se um pHmetro digital (DIGIMED, modelo
pH 300M, São Paulo, Brasil), provido de um eletrodo de vidro (ANALYSER, modelo
2ª13-HG, São Paulo), calibrado com solução tampão pH 7,0 e 4,0, seguindo os
parâmetros descritos pelo (IAL, 2005).
Para as análises estatísticas, foram utilizados testes de estatística descritiva
(média e desvio padrão) e inferencial (comparação de médias) para determinação de
diferenças estatisticamente significantes (p<0,05) entre os tratamentos aplicados. Todos
os ensaios foram realizados em triplicata. Para o tratamento estatístico utilizou-se o
software Sigma Stat. 3.1 (SIGMASTAT, 2009).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
ʹͻͻ
Farinha do Resíduo 110 100
Quitina 20,83±0,21 18,94±0,04
Quitosana 16,53±0,15 15,03±0,04
Constituintes
%
Menthona 20,7
Menthol 44,7
Neo-Menthal 6,25
͵ͲͲ
Esta variedade de compostos químicos presentes nos óleos essenciais como os
terpenos, terpenoides (monoterpenos, sesquiterpenos e os oxigenados derivados)
possuem baixo peso molecular, são altamente lipofílicos, e por isso têm facilidade de
atravessar membranas celulares e induzir respostas biológicas (CHAO et al., 2005).
Valeriano et al. (2012), ao quantificar e qualificar os constituintes do óleo de
M. piperita L., encontraram 17 compostos, sendo o menthol (32,33%) o componente em
maior quantidade. Kumar et al. (2012), avaliando a composição do óleo de M. piperita
L., também encontraram como componentes majoritários o menthol (26,53%) e a
menthona (25,83%), e descrevem que esses dois fitocompostos são os responsáveis pela
propriedade antimicrobiana do óleo essencial.
͵Ͳͳ
P. expansum URM 3396 8 mg/mL
͵ͲͶ
QUI (2 mg/mL) +MP(1,25µL/mL) 97,3 97,1 97,4 96,9 96,7 96,7
Resultados expressos como percentual de inibição do crescimento micelial radial em
relação ao experimento controle (QUI 0 mg/mL + MP 0 μL/mL). QUI: quitosana; MP:
óleo essencial de M. piperita L.
Tabela 7. Inibição do crescimento micelial radial do R. stolonifer URM 3728, em meio
sólido ao longo de 14 dias de exposição à diferentes combinações de quitosana e óleo
essencial de M. piperita L.
Percentual de Inibição (%)
COMBINAÇÃO DE QUI + MP Dias
2 4 6 9 12 14
QUI (8 mg/mL) +MP(5µL/mL) 97,5 97,5 97,4 97,5 97,1 97,2
QUI (8 mg/mL) +MP(2,5µLmL) 97,2 97,2 97,1 97,0 97,0 97,2
QUI (8 mg/mL) +MP(1,25µL/mL) 97,7 97,7 97,3 97,8 97,2 97,2
QUI (4 mg/mL) +MP(5µL/mL) 97,1 97,1 97,1 97,0 97,3 96,9
QUI (4 mg/mL) +MP(2,5µL/mL) 97,2 97,2 97,0 96,9 97,1 97,0
QUI (4 mg/mL) +MP(1,25µL/mL) 97,3 97,3 97,5 97,5 97,0 97,1
QUI (2 mg/mL) +MP(5µL/mL) 97,5 97,5 97,4 97,7 97,7 97,1
QUI (2 mg/mL) +MP(2,5µL/mL) 97,1 97,1 97,3 97,4 97,5 97,2
QUI (2 mg/mL) +MP(1,25µL/mL) 97,4 97,4 96,9 97,3 97,1 97,0
Resultados expressos como percentual de inibição do crescimento micelial radial em
relação ao experimento controle (QUI 0 mg/mL + MP 0 μL/mL). QUI: quitosana; MP:
óleo essencial de M. piperita L.
Tabela 8. Inibição do crescimento micelial radial do B. cinerea URM 2802, em meio
sólido ao longo de 14 dias de exposição à diferentes combinações de quitosana
e óleo essencial de M. piperita L.
Percentual de Inibição (%)
COMBINAÇÃO DE QUI + MP Dias
2 4 6 9 12 14
QUI (8 mg/mL) +MP(5µL/mL) 97,1 97,2 97,0 97,0 96,9 96,8
QUI (8 mg/mL) +MP(2,5µLmL) 97,2 97,3 97,1 97,0 96,9 96,8
QUI (8 mg/mL) +MP(1,25µL/mL) 97,2 97,4 97,2 97,1 97,0 96,7
QUI (4 mg/mL) +MP(5µL/mL) 97,2 97,0 97,0 97,1 96,9 96,6
͵Ͳͷ
QUI (4 mg/mL) +MP(2,5µL/mL) 97,2 97,3 97,5 97,4 97,4 97,0
QUI (4 mg/mL) +MP(1,25µL/mL) 97,1 97,0 96,8 96,8 96,6 96,5
QUI (2 mg/mL) +MP(5µL/mL) 97,3 97,2 97,3 97,1 96,9 96,8
QUI (2 mg/mL) +MP(2,5µL/mL) 97,4 97,4 97,5 97,3 97,4 97,0
QUI (2 mg/mL) +MP(1,25µL/mL) 97,4 97,1 96,9 96,9 96,4 96,4
Resultados expressos como percentual de inibição do crescimento micelial radial em
relação ao experimento controle (QUI 0 mg/mL + MP 0 μL/mL). QUI: quitosana; MP:
óleo essencial de M. piperita L.
Tabela 9. Inibição do crescimento micelial radial do P. expansum URM 3396, em meio
sólido ao longo de 14 dias de exposição à diferentes combinações de
quitosana e óleo essencial de M. piperita L.
Percentual de Inibição (%)
COMBINAÇÃO DE QUI + MP Dias
2 4 6 9 12 14
QUI (8 mg/mL) +MP(5µL/mL) 97,2 97,1 97,0 97,2 97,2 97,1
QUI (8 mg/mL) +MP(2,5µLmL) 97,1 97,1 97,0 97,1 97,1 96,8
QUI (8 mg/mL) +MP(1,25µL/mL) 97,2 97,2 97,1 97,3 97,1 97,2
QUI (4 mg/mL) +MP(5µL/mL) 97,5 97,1 97,6 97,1 97,2 97,2
QUI (4 mg/mL) +MP(2,5µL/mL) 97,2 97,1 97,1 97,1 97,1 96,9
QUI (4 mg/mL) +MP(1,25µL/mL) 97,2 97,1 97,5 97,1 96,4 96,7
QUI (2 mg/mL) +MP(5µL/mL) 97,3 97,1 97,1 97,2 97,2 97,4
QUI (2 mg/mL) +MP(2,5µL/mL) 97,3 97,0 97,0 97,4 96,8 97,0
QUI (2 mg/mL) +MP(1,25µL/mL) 97,2 97,1 96,9 96,3 96,5 96,6
Resultados expressos como percentual de inibição do crescimento micelial radial em
relação ao experimento controle (QUI 0 mg/mL + MP 0 μL/mL). QUI: quitosana; MP:
óleo essencial de M. piperita L.
Tabela 10. Inibição da germinação espórica de A. flavus (URM 4540), A. niger (URM
5842), R. stolonifer (URM 3728), B. cinerea (URM 2802) e P. expansum (URM 3396)
quando expostos a diferentes combinações de quitosana e óleo de M. piperita L.
͵Ͳ
Percentual de Inibição (%)
COMBINAÇÃO DE QUI + MP A. A. R. B. P.
flavus niger stolonifer cinerea expansum
QUI (8 mg/mL) +MP(5µL/mL) 100 100 100 100 100
QUI (8 mg/mL) +MP(2,5µLmL) 98 99 100 99 100
QUI (8 mg/mL) +MP(1,25µL/mL) 96 98 100 99 100
QUI (4 mg/mL) +MP(5µL/mL) 96 98 100 98 100
QUI (4 mg/mL) +MP(2,5µL/mL) 94 98 100 98 100
QUI (4 mg/mL) +MP(1,25µL/mL) 94 96 99 98 99
QUI (2 mg/mL) +MP(5µL/mL) 96 95 98 97 99
QUI (2 mg/mL) +MP(2,5µL/mL) 94 93 97 96 98
QUI (2 mg/mL) +MP(1,25µL/mL) 91 90 92 93 98
Resultados expressos como percentual de inibição da germinação espórica em relação
ao experimento controle (QUI 0 mg/mL + MP 0 μL/mL). QUI: quitosana; MP: óleo
essencial de M. piperita L.
͵ͳͲ
4 CONCLUSÃO
Os resultados obtidos neste estudo revelam que QUI e OE quando aplicados
em combinação em diferentes concentrações subinibitórias apresentam destacável
capacidade de inibição dos fungos patógenos pós-colheita A.flavus, A. niger, R.
stolonifer, B.cinerea e P.expansum e da microbiota fúngica autóctone em tomates cereja
armazenados a temperatura de resfriamento e ambiente. Ainda, foi observado que a
aplicação combinada dos compostos testados não interferiu negativamente nas
características físicas e físico-químicas dos frutos durante o período de armazenamento.
Estes achados revelam a potencialidade da aplicação combinada de QUI e OE em
concentrações subinibitórias no controle do crescimento e sobrevivência de patógenos
fúngicos em frutos, podendo surgir como alternativa aos agentes antifúngicos sintéticos
atualmente aplicados com a finalidade de diminuir as perdas pós-colheitas decorrentes
da ação de tais contaminantes biológicos.
5 AGRADECIMENTOS
Ao Deus de toda a glória, Amado da minh’alma, por sua infinita graça por Sua
vontade e mão sustentadora ao me fazer chegar até aqui. A Ele toda minha vida em
expressão de gratidão.
Aos meus pais, Nelson e Jane, por serem, antes de tudo, exemplos pra mim.
Por tudo o que me ensinaram, por acreditarem em mim em todo o tempo. Por todo
amor do mundo.
À Rebeca, minha irmã mais chegada que amiga, pelo apoio e cumplicidade.
Ao Professor Evandro, pelas orientações e contribuições, bem como por
investir em mim. Deixo clara a minha admiração.
À Professora Maria Lúcia, que me abriu as portas e me instruiu a dar os
primeiros passos na apaixonante área de Microbiologia de Alimentos.
À Professora Ingrid Dantas, por representar pra mim um exemplo de garra,
inteligência e força. Por segurar minhas mãos e me levar junto em seu projeto de
Doutorado; pela paciência comigo e pelos dias de aprendizado.
Aos meus colegas do Laboratório de Microbiologia de Alimentos, por todas as
risadas e vivências, pelos dias de alegria e pelos momentos de cansaço. Juntos pudemos
ser mais.
Aos meus amigos, minha riqueza.
Ao CNPq, pelo auxílio financeiro.
͵ͳͳ
À Universidade Federal da Paraíba, pela estrutura, condições e apoio; pela
participação ativa na formação da minha vida.
A todos, que de alguma forma, são parte dessa história junto comigo.
Meu muito obrigada.
REFERÊNCIAS
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͵ͳʹ
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͵ͳͶ
CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
BIODIREITO E SAÚDE: O ACESSO A MEDICAMENTOS PARA
REPRODUÇÃO ASSISTIDA PERANTE OS TRIBUNAIS ESTADUAIS
NORDESTINOS
RESUMO
O presente trabalho objetiva-se analisar as jurisprudências dos Tribunais Estaduais
Nordestinos, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Piauí, Maranhão, Ceará e
Rio Grande do Norte no tocante a interação entre a Bioética e o Biodireito na resolução
de lides em casos de Reprodução Assistida, além de avaliar conceitos e fundamentações
nos casos que envolvem acesso a medicamentos para fertilizações artificiais. Para
atingir esses propósitos realizou-se um levantamento bibliográfico para compreensão
preliminar, seguido de um levantamento jurisprudencial e de um estudo minucioso
sobre os temas em questão, para finalmente analisar as decisões com base no método
cognominado de hermenêutico-sistêmico. A grande dificuldade encontrada foi no
tocante a escassez de decisões relacionadas ao acesso a medicamentos para reprodução
assistida nos tribunais da região selecionada, sendo localizado apenas um julgado.
Contudo, foi possível verificar que o desembargador é sensível à questão da
infertilidade e aos danos que essa patologia pode acarretar nas diversas áreas da vida,
seja ela profissional, pessoal, familiar e até mesmo na saúde, física e/ou psíquica. Em
sua fundamentação utilizou-se dos princípios bioéticos, especialmente o da beneficência
e o da justiça, para garantir a distribuição dos bens e serviços médicos de maneira justa
e universal, mesmo que aplicados de maneira indireta.
O presente projeto tem por objetivo geral analisar as decisões dos Tribunais
Estaduais Nordestinos, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Piauí,
Maranhão, Ceará e Rio Grande do Norte no tocante à utilização implícita ou explícita
dos princípios bioéticos na fundamentação de suas decisões quanto ao acesso a
medicamentos em casos de Reprodução Assistida. Especificamente, almeja-se
demonstrar a interação entre a Bioética e o Direito na resolução de lides ligadas a
métodos de fertilização artificiais, compreender como os princípios da beneficência, da
não maleficência da justiça e da autonomia da vontade podem servir de fundamento
para os provimentos jurisdicionais, além de avaliar os conceitos e argumentações nos
casos que envolvem o tema em questão.
Os avanços na medicina não trazem consequências apenas na área da saúde, eles
realizaram uma verdadeira revolução na relação médico-paciente devido aos inúmeros
aperfeiçoamentos de ordem tecnológica. Esses progressos refletem também nas relações
jurídicas advindas do uso dessas novas práticas. Exige uma maior necessidade dos
padrões éticos na busca dos ideais de justiça e bem estar para todos. Para isso, foram
criados diversos Códigos e outras normas no intuito de garantir os direitos humanos
compatíveis com a prática médica. Foi assim que a Bioética e o Biodireito tomaram
forma a partir do fim da década de 70 e início da década de 80.
Van Rensseler Potter, oncologista e biólogo americano, depois de fazer uma
ligação entre os valores éticos e os fatos biológicos, deu origem ao termo “Bioética”,
ciência que a princípio limitava-se ao juramento hipocrático, mas que ao longo dos anos
passou a ser uma resposta da Ética às novas situações decorrentes da ciência no âmbito
da saúde e da vida. Atualmente, a Bioética está ligada a outra disciplina chamada
Biodireito, ramo do Direito Público, que tem como finalidade analisar de maneira ampla
as doutrinas, legislações e jurisprudências relacionadas à regulamentação da conduta
humana, especialmente nos assuntos ligados à Medicina e à Biotecnologia, garantindo
mais humanismo nas relações e ações médico-científicas.
Essas disciplinas ganharam maior repercussão com o avanço das tecnologias
médico-científica, já que esse avanço está diretamente ligado a maior necessidade de
padrões éticos e jurídicos para regulamentar a prática clínica e estabelecer os limites a
sua aplicação. Dessa forma, como não podia ser diferente, a relação médico-paciente
passou por uma verdadeira revolução, o sujeito tido como intocável e detentor de todo o
͵ͳ
conhecimento na área da saúde, passa a ser questionado sobre os limites de sua atuação
e o direito de escolha do paciente.
Nesse contexto, o paciente deixar de ser objeto na relação médica e passa a ser
sujeito dela, dando maior destaque para a autonomia dele.
Entende-se por Bioética a disciplina que investiga os conflitos éticos, à luz dos
valores e dos princípios morais, gerados pelos avanços nas ciências médicas e
biológicas, é um ramo da filosofia moral, produto de seu tempo, de uma cultura
construída por uma determinada sociedade.
O desenvolvimento dos meios de comunicação também foi responsável pelo
aumento dos questionamentos a respeito dos limites às pesquisas na área da saúde
humana, foi o principal fator para a ampla divulgação da possibilidade do homem
interferir de maneira eficaz nos modos de nascimento e morte dos indivíduos, controles
estes até então impossível. Nesse sentido, Barbosa (2010) fala que: “Talvez essa
possibilidade – de controle da vida -, mais do que qualquer outra, tenha despertado a
humanidade para a necessidade de preservá-la, estabelecendo limites para o atuar do
cientista”.
Pode-se considerar como o maior mérito da Bioética a sistematização, ou pelo
menos, a tentativa de ordenamento de questões diversas, mas que possuem
necessariamente ligação, princípios e fins comuns. Seu grande feito foi formular os
“princípios da Bioética”, que passaram a ser ponto obrigatório em qualquer discussão
que envolva os avanços das ciências médicas e biológicas.
A priori foram identificados três princípios básicos estabelecidos no Congresso
dos EUA, sendo eles: autonomia, beneficência e justiça. O princípio da autonomia diz
respeito a cada ser humano ter direito de escolha sobre sua própria vida, assim como em
procedimentos que impliquem alterações nas condições de sua saúde física ou psíquica.
Ele também diz respeito à capacidade de autogoverno do paciente para tomar suas
próprias decisões e à capacidade do médico de ponderar e decidir sobre o método mais
adequado a ser utilizado em cada caso. Desse modo, o centro de decisão passa a ser o
médico e o paciente, e não apenas o médico.
O princípio da beneficência busca o melhor para a sociedade e para cada ser
humano, orientando as condutas médicas quanto à ponderação entre os benefícios e os
malefícios. Cabe aos profissionais da saúde comprometerem-se com o máximo de
benefícios e o mínimo de danos e riscos. Este princípio busca coibir condutas que,
embora resultem em novos conhecimentos, possam ameaçar a vida e a integridade física
͵ͳͺ
ou mental do paciente. Uma variação desse princípio é o princípio da não maleficência,
acrescentado por Beauchamp e Childress, que consiste no dever de não causar mal a
outro, de não infringir dano intencional.
Já o princípio da justiça visa a garantir a obrigatoriedade da distribuição dos
bens e serviços médicos ou dos profissionais da área da saúde, de maneira justa e
universal, cabendo à sociedade, através do Estado, exercer os meios de controle das
ações, para que estas sejam justas. A ciência deve ser aplicada de maneira igual para
todos, não devendo existir nenhuma discriminação em relação à capacidade econômica
ou classe social daquele que precisa de tratamento médico.
Além desses, pode-se ainda citar o princípio da sacralidade da vida e dignidade
da pessoa humana. Ele trata a questão da vida como sendo um valor em si mesmo. E,
está presente no meio científico desde Kant, que entendia o ser humano como o fim, e
jamais como um meio. Este princípio ganhou destaque com as atrocidades cometidas
durante a Segunda Guerra Mundial pelos nazifacistas.
Já o Biodireito é ramo do Direito que discute a teoria, a legislação e a
jurisprudência referente às normas que regulam a conduta humana diante dos avanços
da Biologia, da Biotecnologia e da Medicina. Devido ao acelerado desenvolvimento
tecnológico e biomédico, tem-se exigido cada vez mais esforços interpretativos dos
juristas para poder adequar as normas existentes às novas situações e, assim, manter o
sistema vigente íntegro.
A mídia foi responsável pela ampla difusão das técnicas de reprodução assistida
desde o nascimento do primeiro bebê de proveta no país. Essa grande divulgação
acabou criando uma ideia utópica desses procedimentos, o que gerou uma demanda e
procura por serviços especializados. Contudo, a imagem apresentada sobre esses
procedimentos nem sempre corresponde à realidade. A ideia de técnica eficiente,
glamorosa, capaz de satisfazer a o desejo de ter um filho vai de encontro com os baixos
índices de efetividade observados na prática.
Esses procedimentos são complexos e nem sempre inofensivos para a mulher e o
bebê. A hiperestimulação hormonal acarreta grandes desconfortos para a mamãe e para
o bebê, em casos de gravidez múltipla pode levar a paralisia cerebral.
O uso de técnicas de Reprodução Assistida é um tema bastante polêmico, pois
lida com os sentimentos e desejos de maternidade e paternidade. Estes anseios estão
relacionados com ideias de perpetuação e edificação de uma família. É nesse contexto
que as técnicas de reprodução artificiais estão sendo amplamente difundidas.
͵ͳͻ
Vive-se em uma sociedade em que a procriação e a constituição de família estão
diretamente ligadas a ideia de sucesso pessoal, de forma que a infertilidade é repudiada
como um infortúnio. Dessa forma, a ideia de procriar está vinculada as identidades
pessoais e sociais dos sujeitos humanos. Assim, é notável que a impossibilidade de
reprodução biológica prejudique de maneira significativa, homens e mulheres, em
especial os que vivem em união.
Essa temática evoluiu tanto que até mesmo a sua conceituação até pouco tempo
considerada óbvia, hoje não é mais vista assim. O termo reprodução que antes
correspondia à capacidade natural de procriação, ou seja, aquela decorrente da
conjunção carnal, hoje, porém, não necessariamente está ligada a tal ato. Atualmente, a
procriação não mais necessariamente presume coito, já que a Medicina desenvolveu
técnicas de fecundação extracorpóreas.
Embora existam várias nomenclaturas como fertilização artificial, fecundação
artificial, fecundação por meios artificiais, concepção artificial, inseminação artificial, a
mais aceita é Reprodução Assistida (RA), denominação adotada pelo Conselho Federal
de Medicina, que consiste em formas artificiais de concepção do ser humano. É uma
junção de técnicas que favorecem a fecundação humana, partindo do manuseio de
gametas e embriões, visando o combate a infertilidade e gerando uma nova vida.
Vale salientar que esterilidade e infertilidade, comumente tidas como sinônimos,
possuem significação diversa, sendo a primeira uma incapacidade de reprodução em
decorrência de algum procedimento cirúrgico ou químico, enquanto que a segunda diz
respeito a quem nasce ou torna-se, mesmo que temporariamente, infértil.
Outra distinção a ser feita é entre os conceitos de infertilidade e infecundidade,
embora eles também estejam intimamente ligados, a infecundidade é a ausência de
filhos, ou seja, um casal é considerado infecundo quando não possui filhos, seja por
fazer parte do projeto pessoal ou conjugal, o que não caracteriza um problema
biomédico, uma infecundidade voluntária, seja por uma infecundidade involuntária, tida
como sinônimo de infertilidade, onde nem sempre é possível detectar as causas dessa
patologia.
Diniz e Costa (2013) mencionam que:
͵ʹͳ
2. METODOLOGIA
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
2 TJ/SP. Apelação 742.825-5/4-00, Relª. Desª. Maria Laura de Assis Moura Tavares, 5ª
Continua:
Dessa forma, entende-se que deva ser privilegiado o tratamento oferecido pelo
SUS sempre que não for comprovada a ineficácia ou a impropriedade da política de
saúde já existente. Só sendo considerado razoável o pagamento de tratamentos que
embora não tenha entrado na lista de tratamentos fornecidos pelo Estado se provada a
omissão administrativa para a sua inclusão.
O grande problema da discussão é que ao conceder um tratamento de
infertilidade a um casal pode acabar onerando outras parcelas da população ainda mais
͵ʹ
necessitadas, ao vincular as finanças estatais e sobrecarregar o Sistema Único de Saúde,
causando grave lesão a economia e a saúde públicas.
São extremamente pertinentes as observações do Min. Celso de Mello, no que
diz respeito especificamente à matéria em recente decisão de sua relatoria:
4. CONCLUSÕES
5. AGRADECIMENTO
6. LISTA DE REFERÊNCIAS
͵͵ͳ
______. Disponível em: <http://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/14720566/acao-
direta-de-inconstitucionalidade-adi-3510-df> Acesso em: 17 fev. 2013.
Disponível em:
<http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/CFM/1992/1358_1992.htm>. 17 fev. 2013.
SÃO PAULO. TJ/SP. Apelação 742.825-5/4-00, Relª. Desª. Maria Laura de Assis
Moura Tavares, 5ª Câmara de Direito Público, j. 23/10/2008 in BRASIL. Tribunal
Judicial do Piauí. MANDATO DE SEGURANÇA nº 2011.0001.004250-8.
Desembargador: Pedro de Alcântara da Silva Macêdo. 30 de agosto de 2012.
͵͵ʹ
O NOVO DESENVOLVIMENTISMO COMO ESTRATÉGIA DE GESTÃO DA
POBREZA NA AMÉRICA LATINA
RESUMO
O presente trabalho é resultado da Pesquisa de Iniciação Científica realizada entre o ano
de 2012-2013, cujo título: Conceito e Crítica - O Novo-Desenvolvimentismo na
América Latina, vinculado ao Grupo de Pesquisa sobre Trabalho (GPT), do Programa
de Pós-Graduação em Serviço social da UFPB, recebeu o premio de Jovem Pesquisador
do CNPq no ano de 2013. Tem como objetivo analisar criticamente as estratégias
utilizadas pelos Estados Latino-americanos com o discurso neodesenvolvimentistas, os
quais tentam associar políticas sociais com políticas econômicas, com o intuito de
combater a desigualdade na região. Parte das orientações dos organismos internacionais,
que tem como foco erradicar a extrema pobreza baseada nos critérios de renda. Por
meio do estudo documental e revisão bibliográfica, com pesquisa de caráter teórico e
tipo qualitativa, através da utilização de fontes secundárias de instituições como a
CEPAL, Banco Mundial, IBGE e PNUD, os dados obtidos evidenciam que os índices
de pobreza na região latino-americana não foram alterados e a desigualdade social
permaneceu substantivamente, no período analisado. Dos resultados, conclui-se que a
utilização dos Programas de Transferência de Renda como estratégia de enfrentamento
à pobreza, aparece muito mais como uma política de governo emergencial e focalizada,
em contraposição aos direitos da classe trabalhadora.
͵͵͵
1. INTRODUÇÃO
A pesquisa realizada nos sites oficiais dos governos Latino Americanos e dos
organismos internacionais, como o Banco Mundial, Organização das Nações Unidas
(ONU), Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO),
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Comissão
Econômica para América Latina (CEPAL), conseguiu trazer dados significativos para a
pesquisa, mas fazemos uma análise crítica sobre as formas e os critérios utilizados para
medir a pobreza e principalmente na manipulação dos dados, o que nos deixa intrigadas
sobre a confiabilidade de tais estatísticas.
͵͵Ͷ
É através da análise desses dados e desses autores, que vamos compreender o
conceito de pobreza e como essas políticas estão combatendo ou reproduzindo os altos
índices de indigência no continente Latino Americano. Embasada na crítica da
economia política pretendemos discutir a totalidade do conceito de pobreza no sistema
capitalista e como o seu desenvolvimento econômico está diretamente ligado a
pauperização.
11 Esse apoio técnico e financeiro oferecido pela instituição é firmado em acordos, no qual exige o
cumprimento das condicionalidades exigidas, além da quitação do valor repassado.
12
Os membros da família deve ter uma renda per capita de até ¼ do salário mínimo, neste caso de
até 140,00 mensais cada, e cumprir com as condicionalidades como frequência escolar e cartão de vacinas
em dias.
13
Disponível em: http://www.worldbank.org/en/news/feature/2010/05/27/br-bolsa-familia. Acesso
em 29 de agosto de 2013.
͵͵
devem ter menos de 1,25 dólares por dia para ter acesso aos programas assistencialistas.
Fig.1
14 Está em aspas, pois a criação do BSM no governo Dilma, só demonstra o fracasso do PBF do
governo Lula, no que tange a redução da extrema pobreza.
͵͵
em média, 10% mais ricos dos latino-americanos recebem 32% da renda total, enquanto
os 40% mais pobres recebem apenas 15%.”15. Esses dados colocam a América Latina
como um dos continentes mais desiguais do mundo.
Nesse sentido, é sob a retórica de acabar com a pobreza globalizada, sem alterar
a distribuição de renda, que o Banco Mundial incentiva à realização de projetos que
contribuam para o aumento da classe média. O caso de investimento aos micro-
empreendedores, tornando-os dependentes das multinacionais e dos organismos
multilaterais é um dos exemplos.
15 Disponível em:
http://www.eclac.cl/cgibin/getProd.asp?xml=/prensa/noticias/comunicados/8/48458/P48458.xml&xsl=/pr
ensa/tpl/p6f.xsl&base=/tpl/top-bottom.xsl. Acesso em 26 de julho de 2013.
16
http://www.worldbank.org/pt/news/press-release/2013/07/24/world-bank-group-backs-latin-america-
caribbean-steady-poverty-reduction-middle-class-growth Acesso em 30 de agosto de 2013.
͵͵ͺ
Esses empréstimos só agravam cada vez mais a dependência econômica dos
países latino-americanos. As multinacionais e transnacionais, interferem de forma direta
nas políticas estatais, por isso que os Estados “novo-desenvolvimentistas” reforçam a
política macroeconômica. As políticas sociais, expressas nos programas de transferência
de renda são voltadas para reprodução da pobreza. Segundo Siqueira:
17Esse índice é um cálculo que mede a desigualdade social, apresenta dados na faixa numérica de 0 à 1,
quanto mais perto do zero for os dados menos desigualdade de renda tem o país.
͵͵ͻ
de renda, em que o dinheiro sai da venda precarizada da força de trabalho, pois são eles
que produzem toda riqueza da sociedade, e acaba na comercialização desses produtos,
que são transformados em lucro e concentra-se nas mãos da classe dominante. O autor
Carlos Montaño, faz uma crítica a esses programas. Para ele “[...] toda medida de
‘combate à pobreza’ no capitalismo, não faz mais do que reproduzi-la, desde que amplia
a acumulação de capital. Quanto mais desenvolvimento das forças produtivas, maior a
desigualdade e o pauperismo” (2012, p. 280).
Isso significa dizer, que o avanço das forças produtivas não significa um maior
desenvolvimento social de equidade, mas ao contrário, significa maior concentração da
riqueza, o que acarreta nos altos índices de pobreza. Esses programas têm, na realidade,
por estratégia, reproduzir a pobreza relativa, para reprodução do sistema capitalista.
Uma das propostas defendidas por esse programa é de incentivar os países nele
inseridos, a cumprirem com os Objetivos do Milênio que tem como metas até 2015: a)
acabar com a fome e a miséria; b) educação básica de qualidade para todos; c) igualdade
entre sexos e valorização da mulher; d) reduzir a mortalidade infantil; e) melhorar a
saúde das gestantes; f) combater a AIDS, a malária e outras doenças; g) qualidade de
vida e respeito ao meio ambiente; h) todo mundo trabalhando pelo desenvolvimento.
Segundo o relatório do ano de 2012, o IDH dos anos 1990 a 2012 na Argentina
era de 0,701 e foi para 0,811, ficando na 45ª posição de 186 países. No México era de
0,654 e cresceu para 0,775, esta na 62ª posição. Já o Brasil estava com 0,590 e subiu
até 0,730 e está na 85ª posição.
Como os dados demonstram, em vinte e dois anos, o IDH cresceu muito pouco
͵ͶͲ
nesses países, mesmo depois da implementação das políticas assistencialistas18.
Segundo Veiga, esse índice deixa muitas lacunas na sua apreensão do desenvolvimento
humano:
18
Como os dados refletem o pouco avanço na redução da extrema pobreza, os OBM correm o risco de
não serem atingidos até 2015, por isso, um grupo foi formado para auxiliar o presidente da ONU a pensar
em uma agenda pós-2015, o objetivo é por “fim da pobreza extrema em todas as suas formas dentro de
um contexto do desenvolvimento sustentável e da formação de um espaço que pode construir
prosperidade sustentável para todos” essa agenda tem como meta 2030, ou seja, é uma reformulação dos
OBM, para os próximos 15 anos. Para maiores informações acesse o site:
http://www.post2015hlp.org/about/.
͵Ͷͳ
Segundo o relatório da CEPAL (2012), houve uma redução nos índices de
pobreza e indigência em quase todos os países. O aumento da pobreza ocorreu entre
2010 a 2011 na Costa Rica, República Dominicana e Venezuela.
Fig. 4
͵Ͷʹ
porcentagem das pessoas presentes na classe média tenha uma queda e a porcentagem
de pessoas que estão na extrema pobreza tenha uma alta,
Para lançar luz sobre os riscos que rodeiam a nova classe média
na América Latina e para ajudar a mapear a desigualdade na
região [...] um novo estudo encomendado pelo PNUD que
mostra que 38% dos latino-americanos estão em uma situação
vulnerável, ou seja, vivem com quatro a dez dólares por dia.
Correm o risco de voltar a cair na pobreza, principalmente
devido à qualidade da educação, à falta de acesso a serviços de
saúde e às condições de trabalho [...] mais de 30% dos latino-
americanos vivem com menos de quatro dólares por dia, com
16% da população vivendo em condições de pobreza extrema
(menos de 2,5 dólares por dia), segundo o estudo do PNUD. Só
2% da população está classificada como parte da classe alta (que
vivem com mais de 50 dólares por dia) e quase 30% fazem parte
da classe média (que vivem com dez a 50 dólares por dia).19
Essa preocupação está na precarização das demais políticas sociais, como saúde
e educação, por isso as estratégias utilizadas pelos países latino- americanos é de
privatização dessas políticas. O argumento está no Estado que não tem condições de
administrar as mesmas, deste modo prefere pagar uma empresa privada para fazer tais
serviços, isso reflete diretamente na negação de direitos para classe trabalhadora.
19Nota-se que há uma diferença na mensuração dos valores de extrema pobreza, que é de 1,25 dólares
por dia. http://www.pnud.org.br/Noticia.aspx?id=3744 Reportagem de 15 de julho de 2013. Acesso em
30/08/2013.
͵Ͷ͵
medidas compensatórias de redistribuição de renda e políticas
sociais focalizadas naquelas populações que se encontram em
situação maior de vulnerabilidade” (2012, p.0 5).
20
O autor Maranhão em seu artigo “Acumulação trabalho e superpopulação: crítica ao conceito de
exclusão social” do livro “O mito da assistência social: ensaios sobre Estado, Política e Sociedade”,
São Paulo, Cortez, 2010, p. 100; afirma que é “[...] por causa da alienação do produtor direto em relação
aos meios e instrumentos de produção da subsunção formal e real do trabalho ao capital, o
estabelecimento das necessidades e potencialidades dos trabalhadores está subordinada às demandas de
lucro e exploração capitalista”
21
Segundo Motaño e Duriguetto no livro Estado Classe e Movimento Social, 3. ed., São Paulo, Cortez,
2011; “[...] Conforma uma classe para si aquela que consciente de seus interesses e inimigos, se organiza
para a luta na defesa destes [...] a classe trabalhadora se torna sujeito autônomo, consciente de seus
interesses e do seu antagonismo ao capital, é organizado para as lutas de classes”.
͵ͶͶ
738/739).
3. CONCLUSÃO
͵Ͷͷ
O desenvolvimento mundial das forças produtivas acarreta o excedente de
produção, provocando mais uma das crises cíclicas do sistema capitalista. Como a cada
crise o capital se renova, essa suscitou no neoliberalismo, que devido sua ofensiva e
imposição ao realizar reformas estruturais, nos países periféricos agravou as
contradições entre capital/trabalho.
͵Ͷ
proporção em quase todos os países periféricos.
Por fim, o que pretendíamos nesse trabalho era fazer uma crítica às estratégias
de combate à pobreza defendida pelos organismos multilaterais e disseminada pelos
governos considerados novo desenvolvimentistas. Também realizar uma análise da
mensuração da pobreza baseada no critério da renda, que são passiveis de manipulação,
que no nosso entendimento, é fundamental para manter o discurso ideológico da classe
dominante.
Por isso enfatizamos, que as desigualdades sociais não serão superadas no sistema
capitalista, o que ocorre é uma falsa “administração da pobreza”, expressa na
contradição capital-trabalho. Ao contrário, a pobreza é intrínseca a esse modo de
produção capitalista, portanto, sua superação é impossível de ser alcançada, o que pode
ocorrer é em determinados ciclos econômicos o Estado regular a economia e amenizar
as expressões da “questão social” através de políticas sociais, que em nada altera a
estrutura econômica, apenas garante a reprodução imediata da força de trabalho.
4. AGRADECIMENTOS
5. REFERÊNCIAS
CEPAL. “El Panorama social de América Latina 2011” Copyright © Naciones
Unidas, febrero de 2012.
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política: livro I volume II; tradução de
Reginaldo Sant’Ana, 5° Ed. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil Editora, 1996.
MOTAÑO, Carlos. Pobreza, “questão social” e seu enfrentamento. Serv. Soc. Soc.,
n.110, São Paulo, Cortez, p.270-287, abr./jun. 2012.
NETTO, José Paulo, BRAZ, Marcelo. Economia política: uma introdução crítica. 5°ed.
São Paulo, Cortez Editora, 2009.
ROCHA, Sonia. Pobreza no Brasil, Afinal, do que se trata?, 3 ed. Rio de Janeiro, Ed.
FGV, 2006.
͵Ͷͺ
UM ESTUDO SOBRE O IMPACTO DA MEDIDA SOCIEDUCATIVA DE
INTERNAÇÃO NO COTIDIANO PSICOLÓGICO DAS MÃES DOS INTERNOS
RESUMO
Através deste trabalho buscamos entender até que ponto a ausência do masculino (pai)
fragiliza não só o adolescente em conflito com a lei, mas também repercute na
perspectiva psicológica da mãe e/ou responsável pelo destino da família. A pesquisa foi
desenvolvida de modo misto, ou seja, qualitativa e quantitativamente. Os dados foram
tratados de acordo com Bardin (1977). A partir dos dados obtidos, percebeu-se a
ausência do masculino nas falas das mães, seja como pai ou cuidador. Percebemos
ainda, a importância do papel da mulher mãe para o adolescente em conflito com a lei,
uma vez que eles apóiam-se nelas a fim de superar seus medos ou expectativas em
relação ao processo de internação/desinternação. Ademais, a percepção da reação de
sofrimento da mãe diante da internação muitas vezes representa para o adolescente um
estímulo à superação e arrependimento da prática infracional. Vale destacar ainda, que
as mães se isentaram da possibilidade de se colocarem na posição de responsáveis pela
situação de vulnerabilidade de seus filhos, evitando que seu papel de “boa mãe” seja
questionado. Portanto, para as mães o comportamento “desviante” do filho é exterior a
elas.
͵Ͷͻ
1. INTRODUÇÃO
2. METODOLOGIA
͵ͷ͵
2.1 O OLHAR SOBRE O OUTRO: ABORDAGEM TEÓRIO-
METODOLÓGICA DO PESQUISADOR
Tal posição, quando assumida pelo pesquisador, permite que este não se
aprisione na figura de superior, no mito da neutralidade, vendo-se como aquele que irá
desvendar a realidade do grupo pesquisado e construir sozinho o conhecimento.
Este precisa estar engajado e comprometido com seu objeto de estudo, com os
grupos que representa, de forma que possa ser um porta-voz de suas necessidades.
Conforme Cardoso (1996), a pesquisa é ação e é também política, podendo fornecer
material para as lutas próprias dos grupos na sociedade. Deste modo, impõe ao
pesquisador que trace estratégias para alcançar sua participação no grupo.
Ao discutir os efeitos da pesquisa, a autora coloca a capacidade de se
surpreender como intrínseca ao trabalho do cientista, onde na relação intersubjetiva
͵ͷͷ
pessoas se estranham se aproximam e descortinam juntas sentidos ocultos e relações
desconhecidas.
Os discursos e experiências dessas autoras apontam, assim, para a necessidade
dos pesquisadores realizarem uma reflexão crítica e constante acerca do processo de
pesquisa, que ocorre dentro de uma realidade sempre em movimento, na qual é preciso
que esses estejam abertos e atentos para enxergar as diversas possibilidades de análise
que se apresentam, revendo interpretações, refazendo hipóteses, realizando novas
investigações a partir do entendimento da natureza social do conhecimento.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Desta forma, pode-se concluir que a religião está diretamente ligada à conduta
moral do ser humano, o seu modo de agir e pensar. Um exemplo disso são as clínicas de
reabilitação vinculadas às instituições religiosas, que pregam a religião como meio de
cura e regeneração social.
Das tantas alternativas de ajudar os filhos nesse processo de socioeducação
apresentadas às mães nesta entrevista, a maneira mais comentada por elas foi “pedir
ajuda a Deus”; com 80% do percentual. Pode-se concluir a partir deste indicativo, que a
questão da religiosidade está bastante presente nesse contexto de privação. Nota-se que
a vinculação a alguma prática religiosa se caracteriza como um mecanismo de ajuda
para que seus filhos consigam sair do caminho “errado” (delitos, vício, etc.). Para elas, a
religião e a fé em Deus, é o elemento fundamental para a reabilitação social e moral do
adolescente.
A inserção no mercado de trabalho também foi citada entre 20% das
entrevistadas, como uma solução para ajudar o filho a sair do mundo do crime. Outra
questão relevante às mães é a ajuda de profissionais nesse processo de internação dos
filhos; 30% afirmaram que os profissionais que participam do cotidiano dos
adolescentes têm grande influência em sua mudança de conduta. Acreditam que os
assistentes sociais, os psicólogos, médicos, agentes sociais, entre outros, a partir do
convívio diário possam ajudá-los a mudar de comportamento. Ademais, maneiras de
ajuda como tentar educar e dar exemplo ou dialogar e aconselhar, foram pouco citadas
nas respostas, uma vez que para elas, essa medida já foi tomada muito antes deles serem
internos na instituição, tal posição serve ainda à manutenção da representação de “boa
mãe”, onde a possibilidade de mudanças dos filhos não cabem a elas, mas a fatores
externos e espirituais.
Para finalizar esta etapa das entrevistas, perguntamos às mães qual sua a opinião
delas sobre o processo socioeducativo no qual o filho está inserido. Segundo o
͵Ͳ
Levantamento Nacional do Atendimento Socioeducativo ao Adolescente em Conflito
com a Lei, em 2008, o número total de internos no sistema socioeducativo fechado no
Brasil é de 16.868 adolescentes, sendo 11.734 na internação, seguidos da internação
provisória 3.715 e da semiliberdade com 1.419 adolescentes de ambos os sexos.
Quando falamos em eficácia, subentende-se a capacidade de produzir algum
efeito. E no contexto das medidas socioeducativas tanto se pode produzir um efeito
satisfatório, reeducando o adolescente, como também tornando-o reincidente, tornando
cometer novas infrações.
Ao serem questionadas sobre a eficácia da internação para os filhos, 60% das
mães entrevistadas avaliaram a medida socioeducativa como positiva e que traria
resultados na vida dos filhos. Para elas, a internação teria um poder curativo, além do
que, ali, ele poderia estudar, e se profissionalizar, já que a instituição oferece cursos
para isso, ficando longe dos riscos da rua. Sobre a eficácia da internação, Liberati
afirma:
4. CONCLUSÃO
6. REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Ricardo. 70% dos jovens que cumprem pena são reincidentes. (2010) Disponível
em: <http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2011/06/11/70-dos-jovens-
que-cumprem-pena-sao-reincidentes.htm> Acesso em: 27 de maio de 2013.
ARIÈS, P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar Edit., 1978.
BAUMAN, Zygmunt. Vidas desperdiçadas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.
BRASIL. IBGE, Brasileiros que se declararam sem religião no Brasil. Censo 2010.
Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=2
170>. Acesso em: 15 de jun. 2012
͵
BRASIL. SEDH: Levantamento Nacional de Atendimento Socioeducativo ao
Adolescente em Conflito com a Lei, 2008. Disponível em:
<portal.mj.gov.br/sedh/spdca/levantamento_2008.pdf> Acesso em: 28 de outubro de
2012
CERVO, A. L. (Org.). Metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall,
2007.
DUARTE, Marco José de Oliveira; ALENCAR, Mônica Maria Torres de. (Orgs.).
Família, famílias: práticas sociais e conversações contemporâneas. Rio de Janeiro:
Editora Lumen Juris, 2011.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
HARRIS, J.R (1995). Diga-se com quem anda...: Quem realmente conta na formação –
os pais ou amigos? Quais os caminhos para o desenvolvimento de uma criança? Rio de
Janeiro: Objetiva.
Losacco. Silvia. O jovem e o contexto familiar. In: ACOSTA, Ana Rojás; VITALE,
Maria Amália Faller. (Org.) Família: Redes, Laços e Políticas Públicas. São Paulo:
IEE/PUCSP, 2003, p. 63-76.
RIBEIRO, Luziana Ramalho. Trajetória pela infração. Olinda: Livro rápido, 2009.
ZALUAR, Alba. Para não dizer que não falei de samba: os enigmas da violência no
Brasil. In: SCHWARCZ, Fernando A. História da vida privada no Brasil: contrastes
da intimidade contemporânea. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. P. 45-318.-
(Volume 4).
͵ͺ
ENGENHARIAS
AVALIAÇÃO DO DESLINTAMENTO DE SEMENTES DO ALGODÃO
HERBÁCIO (GOSSYPIUM HIRSUTUM L.) POR MÉTODOS QUÍMICOS
VISANDO O BENEFICIAMENTO E A QUALIDADE DAS SEMENTES
RESUMO
A semeadura mecanizada do algodão herbáceo (Gossypium Hirsutum L.) de sementes
com línter é dificultada, pois, as sementes se aderem umas às outras, originando um
aglomerado no depósito da semeadora, resultando em má distribuição na linha de
plantio. Este trabalho teve como objetivos avaliar o deslintamento de sementes de
algodão herbáceo com ácido sulfúrico em um protótipo de deslintador mecânico
químico semi-automático de forma convencional e manual, verificando desde a analise
fitossanitária das sementes até o desenvolvimento das plântulas originadas a partir de
sementes germinadas. Foram utilizadas sementes das variedades BRS 335 e BRS 336,
onde para ser avaliada a eficiência do deslintamento semi-automático as sementes com
linter e deslintadas, tanto pelo protótipo como manualmente, foram submetidas ao teste
de germinação, teste de emergência, avaliação do desenvolvimento da plântula,
avaliação do peso das sementes e teste de sanidade. Os dados foram submetidos à
análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5%. Houve
diferença significativa entre os tratamentos para as duas variedades. O deslintamento
das sementes pelo protótipo foi o mais eficiente uma vez que, além de promover a
completa remoção do linter manteve a qualidade das sementes, permitindo a formação
de lotes de elevada qualidade fisiológica.
͵Ͳ
1 – INTRODUÇÃO
2 – MATERIAL E MÉTODOS
4
5
8
9
6 2
3
7
13 14
12
11
10
͵ͷ
Neste processo, as duas frações foram misturadas e agitadas por cinco minutos. Em
seguida as sementes foram submetidas a água corrente para neutralizar o efeito do ácido
e imediatamente posta para secar a sombra e em local arejado.
A avaliação da eficiência das sementes deslintadas foi analisada segundo as
seguintes determinações:
1) Teste de germinação (TG) - Foram utilizadas 100 sementes de cada variedade e cada
tratamento, tendo como substrato rolos de papel germitest previamente umedecidos com
água destilada na quantidade de 2,5 vezes a sua massa inicial. O papel germitest junto
com as sementes foram inseridos em placas de preti e armazenados à temperatura
ambiente durante um período de 12 dias, conforme as Regras para Análise de Sementes
(BRASIL, 1992);
4) Foi avaliado o peso de mil sementes para cada tratamento, a fim detectar qual o
tratamento que apresentou sementes mais pesadas. Uma vez que as sementes das
variedades utilizadas no experimento apresentam mesma forma e tamanho médio, o
peso indica qual tratamento apresentou maior quantidade de linter;
3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
A porcentagem de germinação apresentou efeito isolado de acordo com a
variedade das sementes e de acordo com o tratamento utilizando sementes com linter e
deslintadas pelo protótipo. A germinação da variedade BRS 335 foi superior á variedade
BRS 336 (Tabela 1), mas não foi significante entre si pelo teste de Tukey a 5%.
O comprimento médio das raízes das plântulas nas duas variedades foi
observado verificando o efeito de método de deslintamento pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade. Na variedade BRS 335 o maior comprimento foi verificado nas sementes
com linter, enquanto que na BRS 336 foi no deslintamento pelo protótipo (Tabela 3).
O diâmetro médio das plântulas nas duas variedades foi observado, verificando o
efeito de método de deslintamento pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Na
variedade BRS 335 o maior diâmetro foi obtido no deslintamento com o protótipo,
enquanto que na variedade BRS 336 nas sementes com linter (Tabela 4).
͵ͺ
Tabela 4 – Diâmetro (cm) de plantas de algodoeiro em duas variedades e três
tratamentos de deslintamento da semente.
Deslintamento Variedade
BRS335 BRS336
Deslit. Protótipo 0,99a 0,13b
Deslit. Manual 0,12b 0,11b
Sementes com linter 0,12b 0,86ª
Médias seguidas das mesmas letras são iguais entre si e letras diferentes diferem pelo
teste de Tukey a 5%.
A matéria seca das plântulas nas duas variedades foi observada, verificando o
efeito de método de deslintamento pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. O
deslintamento manual resultou na menor massa da matéria seca na variedade BRS 335,
enquanto que na BRS 336 as sementes com linter obtiveram as maiores massas da
matéria seca (Tabela 5).
Tabela 5 – Massa da matéria seca (gramas por planta) de algodoeiro em duas variedades
Deslintamento Variedade
BRS335 BRS336
Deslit. Protótipo 0,81a 0,09c
Deslit. Manual 0,51b 5,36ª
Sementes com linter 0,78a 1,06b
e três tratamentos de deslintamento da semente.
Médias seguidas das mesmas letras são iguais entre si e letras diferentes diferem pelo
teste de Tukey a 5%.
A massa seca de mil sementes provenientes do tratamento com línter foi maior
que àquela dos tratamentos de deslintamento manual e pelo protótipo. Mesmo
apresentando massa semelhante aos demais tratamentos, em sementes deslintadas no
protótipo verificou-se sementes com o menor valor numérico de massa seca de mil
sementes, o que indica que as sementes deste tratamento apresentaram menor
quantidade de línter quando comparado com as provenientes do deslintamento manual.
͵ͻ
As sementes deslintadas manualmente ainda permaneceram com uma quantidade de
linter, em torno de 20%, já as deslintadas pelo protótipo tiveram 100% do linte extraído.
4 – CONCLUSÕES
O tempo de exposição das sementes ao ácido sulfúrico de 3 minutos no protótipo
é suficiente para o deslintamento das sementes do algodoeiro;
O deslintamento no protótipo, com tempo de exposição das sementes ao ácido
sulfúrico de 3 minutos, não ocasionou danos imediatos ou latentes às sementes,
permitindo a formação de lotes de elevada qualidade fisiológica;
O deslintamento no protótipo foi mais eficiente do que o manual, tendo em vista
que realizou o completo deslintamento das sementes, enquanto no deslintamento
manual as sementes ainda permaneceram com uma quantidade diminuta de
linter;
O deslintamento pelo protótipo foi o método que proporcionou a variedade BRS
336 um maior tamanho de plântula e comprimento de raiz. Na variedade BRS
335 proporcionou plântulas com maior diâmetro;
As sementes com linter proporcionou a variedade BRS 335 plântulas de maior
tamanho e maior comprimento de raiz;
O deslintamento das sementes pelo protótipo foi o método mais eficiente no
controle de fungos para ambas as variedades. Já as sementes deslitadas
manualmente foram observadas uma menor quantidade de fungos na variedade
BRS 335 e na variedade BRS 336 uma menor diversidade, quando comparado
com as sementes com linter.
O deslintamento manual não resultou em plântulas com melhor desenvolvimento
em nenhum dos requisitos avaliados. O que leva a concluir que só é uma prática
justificável para facilitar o seu manuseio em maquinas de plantio e evitar a
proliferação de agentes patógenos abrigados no linter;
REFERÊNCIAS
͵ͺͳ
BRASIL. Ministério da Agricultura. Regras para análise de sementes. Brasília:
SNDA/DNDCLAV, 1992, 365p.
͵ͺ͵
MODIFICAÇÃO ORGÂNICA DA ARGILA USANDO DOIS DIFERENTES
SAIS ORGÂNICOS
RESUMO
A modificação superficial de argilas é uma área que tem recebido bastante atenção dos
pesquisadores, devido à possibilidade de preparação de novos materiais e novas
aplicações. O seu principal foco vem sendo direcionado à ciência dos materiais, visando
à obtenção de argilas organofílicas para aplicação em nanocompósitos poliméricos,
devido ao fato dos polímeros puros não apresentarem o comportamento ou as
propriedades necessárias para determinadas funções. Este trabalho tem como finalidade
avaliar o efeito de dois tipos de sais orgânicos nas propriedades térmicas de uma argila
(AN). A argila Argel natural (AN) foi modificada organicamente com os sais orgânicos
alquil amônio (MA) e aril fosfônio (TP) por reação de troca iônica. Em seguida, as
argilas organofílicas foram caracterizados por Difratometria de Raios-X (DRX),
Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) e Termogravimetria (TG). A incorporação
dos sais orgânicos, MA e TP, favoreceram a obtenção de argilas organofílicas com
estabilidade térmica suficiente (~ 200°C) para serem usadas na preparação de
nanocompósitos de PEBD através do método de intercalação por fusão, estes com
propriedades térmicas satisfatórias, especialmente com a argila organofilizada com o sal
aril fosfônio, de mais alta estabilidade térmica.
͵ͺͶ
1. INTRODUÇÃO
Avaliar o efeito de dois tipos de sais orgânicos alquil amônio (MA) e aril
fosfônio (TP) nas propriedades térmicas da argila Argel natural (AN).
2. METODOLOGIA
A argila Argel 35 (AN) foi fornecida pela Bentonit União Nordeste S.A,
Campina Grande-PB sob a forma de pó com tamanho médio de partícula inferior a 74
μm e capacidade de troca catiônica de 92 meq/100g de argila. Os sais orgânicos,
brometo de cetil trimetil amônio (MA) e o brometo de tetrafenil fosfônio (TP), foram
fornecidos pela Sigma-Aldrich, São Paulo-SP.
A argila Argel natural (AN) foi modificada organicamente com os sais orgânicos
alquil amônio (MA) e aril fosfônio (TP) por reação de troca iônica. Dispersões aquosas
de argila foram aquecidas a aproximadamente 70 ± 5ºC a uma concentração de 2%
g/mL. A estas dispersões foram adicionadas 100% de MA e TP em quantidades
equivalentes à capacidade total de troca catiônica da argila. As dispersões foram
mantidas sob agitação mecânica por 30min a 3000 rpm. Passado este tempo,
permaneceram em repouso por 24h à temperatura ambiente. Em seguida, estas
dispersões foram filtradas, usando uma bomba a vácuo (papel de filtro N° 50), lavadas
com água destilada para remover o excesso de sal, secadas em estufa de secagem a 60 ±
5ºC por um período de 48h e, por fim, desagregadas e classificadas em peneira ABNT
nº 200 (diâmetro médio de partícula de 74 μm). A argila AN modificada organicamente
com os sais MA e TP foi codificada como ANOx onde x é MA e TP.
͵ͺ
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
͵ͺ
1041 AN
2,0
100000 Sal MA
ANOMA
521 1,5
80000
Absorbância (u.a.)
Absorbância (u.a.)
60000 3628 1,0
3450
915
40000 1041
1639 844 0,5
795 2921
20000 1476
2853
0,0
(A) (B)
0
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
-1
Comprimento de Onda (cm )
-1
Comprimento de Onda (cm )
͵ͺͺ
AN
19,27 Å
22,92 Å
ANOMA
ANOTP
Intensidade (u.a.)
12,14 Å
2 4 6 8 10 12
2 (º)
100
80
40
AN
20
Sal MA
ANOMA
0
Sal TP
ANOTP
Figura 3 – Curvas de TG para a AN pura, para o sal MA, para ANOMA, para o sal TP e
para ANOTP.
Sal MA 268,88
ANOMA 327,66
Sal TP 445,24
ANOTP 554,55
4. CONCLUSÕES
͵ͻͲ
Por meio da técnica de Difração de Raios-X (DRX), foi possível confirmar a
obtenção da argila organofílica, a partir do aumento na distância interlamelar quando a
argila pura foi posta em contato com os sais MA e TP, o que indica a efetiva
intercalação do cátion orgânico.
A Análise Termogravimétrica (TG) mostrou que modificação orgânica da argila
AN com os sais orgânicos MA e TP resultou em uma melhoria na estabilidade térmica
da mesma, tendo destaque para o sal TP, que devido à sua estrutura química,
apresentando maior estabilidade térmica quando comparado ao sal MA, como era
esperado.
5. AGRADECIMENTOS
Este trabalho foi apoiado pelo Laboratório de Solidificação Rápida (LSR)/UFPB
(espaço físico e equipamentos cedidos), e pelo CNPq (suporte financeiro).
REFERÊNCIAS
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2000.
AMMALA, A.; BELL, C.; DEAN, K., Composites Science and Technology, v. 68, p.
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CALLAHAN, J.; TRULOVE, P. C.; DELONG, H. C.; FOX, D. M., Thermochimica
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͵ͻͶ
REMOÇÃO DE MATERIA ORGÂNICA DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS
UTILIZANDO PROCESSOS DE COAGULAÇÃO, OXIDAÇÃO POR FENTON
E CARVÃO ATIVADO.
RESUMO
No processo produtivo do etanol a vinhaça surge como efluente. Para cada litro de
etanol produzido são gerados de 10 a 15 litros de vinhaça, que é rica em matéria
orgânica, possui baixo pH, elevada corrosividade e altos valores de DQO e DBO. Este
trabalho teve por objetivo avaliar o tratamento da vinhaça através do processo Fenton,
como também com o uso de diversos coagulantes seguidos por adsorção com carvão
ativado sintetizado a partir do bagaço da cana-de-açucar. Os processos de coagulação
foram feitos com intuito de tratar preliminarmente a vinhaça, em seguida foi feita uma
finalização com carvão ativado. A vinhaça in natura foi caracterizada e foi avaliada a
eficiência destes métodos em termos de remoção de DQO, DBO, sólidos totais, cor e
turbidez. Os resultados experimentais mostraram que o processo Fenton gerou
eficiência de remoção superior a 95% para DQO, cor e turbidez. Os processos de
coagulação/ floculação e a etapa de adsorção com carvão ativado completou
satisfatoriamente a purificação da vinhaça, produzindo eficiência de remoção superior a
90% para DQO, cor e turbidez. A utilização do bagaço de cana-de-açúcar como
precursor na produção de carvão ativado se mostrou bastante eficiente, além do baixo
custo de produção.
͵ͻͷ
1. INTRODUÇÃO
͵ͻ
1.2 Objetivos
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1- Oxidação avançada: processo Fenton
A oxidação avançada é um processo que demonstra grande potencial no
tratamento de efluentes contendo compostos tóxicos não biodegradáveis. Através de
reações químicas de oxidação pode-se diminuir parâmetros como DQO, DBO, sólidos
totais e a intensidade de cor dos efluentes.
Os processos oxidativos avançados baseiam-se na formação de radicais hidroxilo
(.OH). Estes radicais têm um potencial de oxidação elevado (E0=2,3V) (Higarashi et al,
2000) e são capazes de reagir com praticamente todas as classes de compostos
orgânicos. Há várias vantagens em relação ao uso dos processos de oxidação avançada,
dentre eles podemos citar a sua cinética rápida. Geralmente não é necessario um pós-
tratamento, os contaminantes são destruídos quimicamente em vez de sofrerem apenas
uma mudança de fase como sucede em processos de adsorção, filtração, etc. Se a
extensão da oxidação for suficiente, pode-se até atingir a total mineralização dos
compostos orgânicos e obter CO2, H2O e ions inorgânicos.
͵ͻ
O reagente de Fenton pode ter diferentes funções de tratamento dependendo da
relação H2O2/Fe2+. Quando a quantidade de Fe2+ é maior que a de H2O2, o tratamento
tende a apresentar um efeito de coagulação química. Já quando a quantidade de H 2O2
excede a quantidade de Fe2+ o tratamento tem efeito de oxidação química (Neyens &
Bayens, 2003). A definição da faixa de dosagem de reagentes varia de acordo com o
tipo de efluente. A faixa típica de relação H2O2/Fe2+ é de 5:1 a 25:1 em massa (Alves,
2004). Para tratamento da vinhaça a melhor proporção H2O2/Fe2+ foi de 17:1. O tempo
de reação depende da temperatura e dosagem dos reagentes. O término da oxidação
depende da relação entre peróxido de hidrogênio e substrato (composto orgânico)
(Bidga, 1995; Kang & Hwang, 2000).
4- METODOLOGIAS
4.1 Caracterização da vinhaça
A vinhaça utilizada foi adquirida em uma usina de açúcar e álcool localizada na
Paraíba. Após a coleta foi encaminhado ao laboratório de carvão ativado (LCA),
localizado na UFPB, onde foram realizados os procedimentos. A vinhaça foi
armazenada e mantida sob refrigeração à -4 0C.
As amostras de vinhaça coletadas foram analisadas, os parâmetros físico-
químicos realizados foram feitos de acordo com o STANDARD METHODS FOR THE
EXAMINATION OF WATER AND WASTEWATER (APHA,1995). Os parâmetros
utilizados foram: pH, sólidos suspensos totais (SST), Demanda Química de
Oxigênio(DQO), Demanda Biológica de Oxigênio (DBO), Carbono Orgânico Total
(COT), e turbidez. Os valores estão descritos na Tabela 1.
͵ͻͻ
Tabela 1-Parâmetros da vinhaça in natura.
Vinhaça Bruta
Parâmetros
Coleta 1 Coleta 2
pH 4,34 4,40
Sólidos totais (mg.L-1) 23.260 25.579
Turbidez (NTU) >3000 >5000
DQO (mg/l) 46.752 48.698
COT (mg.L-1) 24.218 31.000
DBO(mg.L-1) >21.000 >24.000
ͶͲͲ
Figura 1. Forno Elétrico Rotativo Figura 2-ASAP,Modelo 2020, Figura 3- Termobalança TGA.
da Micrometrics.
ͶͲͳ
Como a proporção H2O2 /Fe2+ varia de acordo com o tipo de efluente, foi
realizado vários testes até encontrar a melhor quantidade de ferro a se utilizar. Fixando a
quantidade de ferro, foram feitos testes variando a quantidade de peróxido de
hidrogênio(30ml e 35ml).
Procedimento: Em dois beckers foram adicionados 200 ml de vinhaça, e sob agitação
foi adicionado em cada becker 6ml de sulfato ferroso 0.35M. Em seguida no becker1 foi
adicionado 35ml de peróxido de hidrogênio a 30% e no becker 2 foi adicionado 30ml de
peróxido de hidrogênio 30%. Após, foi adicionado algumas gotas de ácido clorídrico
5M para ajustar o pH entre 3-4 e foram retiradas amostras de 10ml em 30min/ 60min/
120min de reação. Em cada amostra a reação foi parada adicionando 1ml de tiossulfato
de sódio 1M e hidróxido de sódio 0,2N até alcançar o pH 7. Foi deixado em repouso
para precipitação da matéria orgânica.
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
5.1-Processo Fenton
Para realizar as análises do processo Fenton foi utilizado o PASTEL UV-
ͶͲʹ
70MP0316 da SECOMAM e também o turbidímetro. Os parâmetros utilizados foram
sólidos suspensos totais (SST), Demanda Química de Oxigênio (DQO), Demanda
Biológica de Oxigênio (DBO), Carbono Orgânico Total (COT), turbidez e pH.
A Figura 5 apresenta a vinhaça bruta, antes do processo Fenton. Na Figura 6 a
vinhaça após o processo Fenton e a precipitação da matéria orgânica. Na Figura 7 temos
uma amostra do processo Fenton neutralizado com CaO e Na2S2O3. A Tabela 2
apresenta os resultados do processo Fenton neutralizado com CaO e na Tabela 3 são
mostrados os resultados do processo neutralizado com Na2S2O3 .
pH 7 pH 7
SST <5 SST <5
DQO 1110 DQO 1440
DBO 355 DBO 525
COT 234 COT 345
Turbidez 23 Turbidez 4,77
5.1.1- Analise dos parâmetros
pH: De acordo com os valores analisados de pH da vinhaça in natura, que é 4,34
a 4,4, optou-se deixar o pH neutro, ou seja 7.
Sólidos Suspensos Totais: A presença de sólidos suspensos na vinhaça diminui a
velocidade de sedimentação, por serem partículas insolúveis na água, dificultando a
separação natural ao longo do tempo. Aliado a isso, a maioria dessas partículas
ͶͲ͵
apresenta sua superfície carregada eletricamente, partículas coloidais, as quais
apresentam carga negativa, impedindo que as mesmas aproximem-se uma das outras.
Após o processo Fenton observa-se remoção de quase 100% dos sólidos suspensos.
Para análise das amostras foi utilizado o PASTEL UV-70MP0316 da SECOMAM.
Demanda Química de Oxigênio: A DQO da vinhaça in natura foi quantificada
pelo método micrométrico segundo Standard Methods for the Examination of Water
and Wastewater, por meio da digestão em refluxo fechado com dicromato de potássio
(K2Cr2O7) em meio ácido (H2SO4) e quantificação fotométrica a 600 nm. As amostras
da vinhaça in natura foram diluídas 100 vezes, a fim de apresentar uma DQO dentro da
curva padrão para este parâmetro. Para analisar as amostras foi utilizado o PASTEL
UV-70MP0316 da SECOMAM. Para as amostras neutralizadas com CaO observou-se
uma redução de 98% da DQO, e no processo neutralizado com Na2S2O3 houve 97% de
redução da DQO.
Demanda Biológica de Oxigênio: A DBO do efluente in natura foi determinada
usando o método de diluição de acordo com a metodologia padrão. Para analisar as
amostras foi utilizado o PASTEL UV-70MP0316 da SECOMAM. Para as amostras
neutralizadas com CaO pode-se observar uma redução de aproximadamente 98% da
DBO, e no processo neutralizado com Na2S2O3 houve aproximadamente 97% de
redução da DBO.
Carbono Orgânico Total: A determinação do teor de carbono orgânico total das
amostras foi obtida a partir do equipamento PASTEL UV-70MP0316 da SECOMAM.
Na amostra neutralizada por CaO observa-se uma remoção de aproximadamente 99%
do COT, e na amostra neutralizada por Na2S2O3 houve uma remoção de
aproximadamente 98%.
Turbidez: O método para avaliação da turbidez do efluente foi realizada através
de um Turbidímetro Digital LP 2000. Onde o efluente bruto foi diluído 100 vezes, a fim
de apresentar uma turbidez dentro da escala do aparelho. Como mostrado acima pode-se
observar que a vinhaça in natura possui turbidez bastante elevada. O valor médio é
superior a 3000 NTU. Logo se percebe a redução significativa de quase 100% após o
processo Fenton. O processo Fenton neutralizado com CaO possui um valor de turbidez
maior do que o neutralizado com Na2S2O3.Isto se deve ao fato do CaO aumentar a
dureza da água.
ͶͲͶ
5.1.2- Processo Fenton variando a quantidade de peróxido de hidrogênio
Como a proporção H2O2 /Fe2+ varia de acordo com o tipo de efluente, foram
realizados vários testes até encontrar a melhor quantidade de Ferro a se utilizar. Fixando
a quantidade de ferro, foram feitos dois processos: na amostra 1 adicionou-se 35ml de
H2O2 e na amostra 2 30ml. Foram retirados amostras de 30 minutos a 30 minutos. A
Figura 8 apresenta as amostras 1 e 2 com 30 minutos de reação, na Figura 9 são
apresentadas as amostras 1 e 2 com 1hora de reação e na Figura 10 as amostras 1 e 2
com 1:30 hora de reação. A tabela 4 mostra os resultados das análises das amostras
citadas acima, seguindo os seguintes parâmetros: pH, sólidos suspensos totais (SST),
Demanda Química de Oxigênio(DQO), Demanda Biológica de Oxigênio (DBO),
carbono orgânico total (COT) e turbidez.
ͶͲͷ
Pode-se observar que não há diferenças significativas com a variação de
peróxido, embora em todos os resultados as amostras com menor quantidade de
peróxido (amostra 2) apresentaram os menores resultados. Outros experimentos foram
realizados até encontrar a melhor proporção, para que não haja excesso de ferro, e para
se conseguir uma melhor redução dos parâmetros. Segundo Neyens & Bayens (2003),
quando a quantidade de Fe2+ excede a de H2O2 o tratamento tende a apresentar um
efeito de coagulação química. Já com a relação H2O2/Fe2+ é alta o tratamento tem efeito
de oxidação química, que é o que se pretende neste trabalho. Com relação ao tempo de
reação, ele dependerá de variáveis como temperatura e dosagem de reagentes. Como as
quantidades foram próximas, pode-se observar que não há uma remoção significativa
com as variações. Nas reações anteriores deixou-se a reação ocorrer por 1hora, e houve
bons resultados. Neste processo tirou-se os pontos de 30 em 30 minutos para observar o
melhor tempo de reação e se haveria uma diferença significativa nos resultados.
ͶͲ
Figura 11- Análise termogravimétrica do bagaço da cana de açúcar.
CAB CAB
CARVÃO ATIVADO BQF
01 02
Programação (ºC) 400 500 800
Rendimento (%) 19,1 28 19,1
BET (m²g-1) 458 117 605
Área de Superfície
Langmuir
Específica 604 155 797
(m²g-1)
Área de Microporo (m²g-1) 375 40 521
Volume de Microporo (cm³g-1) 0,17 0,03 0,24
Diâmetro de Poro (Å) 20.3 20,8 19,1
5.2.2- Analises das amostras após processo de coagulação e adsorção com carvão
ativado.
Os coagulantes utilizados foram FeCl3, Al2(SO4)3 e CaO. Os ensaios foram
realizados com a adição do coagulante em concentrações diferentes (5,10,15 g/l) até que
fosse observado visualmente a formação de flocos. A vinhaça após a
ͶͲ
coagulação/floculação e decantação foi tratada com carvão ativado feito a partir do
bagaço da cana de açúcar. Em seguida foram analisados os parâmetros: DQO, DBO,
pH, turbidez e cor. Na Tabela 6 encontram-se os valores das análises de DQO, turbidez,
cor e pH do coagulante CaO durante as fases de tratamento, in natura, após o processo
de coagulação no Jar-test e após a adsorção em carvão ativado realizadas com as
amostras com concentração de 10g/L de coagulante. Nas Tabelas 7 e 8 encontra-se os
valores para os coagulantes Al2(SO4)3 e FeCl3, respectivamente.
ͶͲͺ
vinhaça. Na Figura 11 é possível observar a vinhaça in natura, em seguida a vinhaça
clarificada após uso do coagulante CaO, nas concentrações 5g/L, 10g/L e 15g/L
respectivamente. Na Figura 12 observa-se as amostras clarificadas após a adsorção com
o carvão ativado. Na Figura 13 pode ser notada a vinhaça in natura e as amostras após o
processo de coagulação com 5g/L, 10g/L e 15g/L de Al2(SO4)3. A Figura 14 apresenta
as mesmas amostras após a adsorção com o carvão ativado. A Figura 15 observa-se a
vinhaça in natura e as amostras após o processo de coagulação com 5g/L, 10g/L e 15g/L
de FeCl3, a Figura 16 observa-se as mesmas amostras após a adsorção com o carvão
ativado.
Figura 11-Vinhaça in natura, vinhaça Figura 12- Vinhaça clarificada tratada com
clarificada com 5g/L, 10g/L e 15g/L de CaO. 5g/L, 10g/L e 15g/L de CaO, após adsorção
com carvão ativado.
Coagulante utilizado: Al2(SO4)3, concentrações 5g/L,10g/L,15g/L.
Figura 13-Vinhaça in natura, vinhaça Figura 14- Vinhaça clarificada tratada com
clarificada com 5g/L , 10g/L e 15g/L de 5g/L, 10g/L e 15g/L de Al2SO4, após
Al2(SO4)3. adsorção com carvão ativado.
Apresentados nas tabelas acima, observa-se que os parâmetros, cor, turbidez e DQO,
das amostras após o processo de coagulação sofreram uma redução em todos os
parâmetros em torno de 80%. Com a adsorção em carvão ativado os parâmetros são
reduzidos ainda mais, atingindo uma porcentagem maior que 90% em remoção de
contaminantes orgânicos presente no efluente, o que chega a eliminar completamente, o
odor característico da vinhaça. Os parâmetros de cor e turbidez chegaram em torno de
99% de remoção.
6. CONCLUSÃO
ͶͳͲ
7. AGRADECIMENTOS
8. REFERÊNCIAS
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Ͷͳ͵
ESTUDO DE RESÍDUOS DE CAULIM EM COMPOSIÇÕES DE ARGILAS
PARA USO EM CERÂMICA VERMELHA
RESUMO
A indústria da mineração e beneficiamento de caulim é um importante segmento da
indústria mineral, entretanto, produz uma enorme quantidade de resíduo por ano. A
reutilização de resíduos, após a detecção de suas potencialidades são consideradas
alternativas que podem contribuir para diminuição dos custos de produção e
fornecimento de matérias-primas alternativas, além de conservar recursos não
renováveis. O objetivo deste trabalho é avaliar a potencialidade do uso de resíduo de
caulim em composições contendo diferentes proporções de argilas plásticas utilizadas
na indústria de cerâmica vermelha, através de caracterização física e mineralógica do
resíduo, assim como das propriedades cerâmicas dos corpos de prova. Foi realizada a
preparação do resíduo de caulim e das argilas plásticas, seguido das misturas do resíduo
com as argilas e produção dos corpos de prova. Caracterizações físicas e mineralógicas
foram realizadas no resíduo, bem como a identificação das propriedades cerâmicas do
corpo de prova. Dos resultados de EDX e DRX pode-se constatar que o resíduo possui
majoritariamente SiO2 e Al2O3, onde as fases cristalinas presentes são caulinita, mica e
quartzo. A avaliação das propriedades cerâmicas mostraram que os valores de AA e PA
aumentam e a RLq, MEA e TRF diminuem com o aumento do teor de resíduo. Conclui-
se que a presença do resíduo interferiu na densificação da massa cerâmica por ser um
material com características não plásticas.
ͶͳͶ
1. INTRODUÇÃO
2. MATERIAIS E MÉTODOS
A1 – B1 100% 0%
A2 – B2 88% 12%
A3 – B3 75% 25%
A4 – B4 62% 38%
A5 – B5 50% 50%
𝑃𝑃𝑃𝑃 − 𝑃𝑃𝑃𝑃
𝐴𝐴𝐴𝐴 (%) = 𝑥𝑥 100
𝑃𝑃𝑃𝑃 (1)
𝑃𝑃𝑃𝑃 − 𝑃𝑃𝑃𝑃
𝑃𝑃𝑃𝑃 (%) = 𝑥𝑥 100
𝑃𝑃𝑃𝑃 − 𝑃𝑃𝑃𝑃 (2)
𝑃𝑃𝑃𝑃
𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀 (𝑔𝑔/𝑐𝑐𝑐𝑐³) = 𝑥𝑥 100
𝑃𝑃𝑃𝑃 − 𝑃𝑃𝑃𝑃 (3)
Onde:
o Ps – peso do corpo de prova seco (g);
o Pi – peso do corpo de prova imerso em água (g);
o Pu – peso do corpo de prova úmido (g).
A retração linear de queima foi calculada através da equação (4), onde os corpos
de prova são medidos em termos de suas dimensões para então calcular quanto a peça
diminui do seu tamanho original, dimensões de moldagem, durante a secagem e a
sinterização.
𝐶𝐶𝐶𝐶 − 𝐶𝐶𝐶𝐶
𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅 (%) = 𝑥𝑥 100 (4)
𝐶𝐶𝐶𝐶
ͶʹͲ
Onde:
o Cs – comprimento do corpo de prova que passou por secagem;
o Cq – comprimento do corpo de prova que passou por queima.
A tensão de ruptura à flexão por três pontos consiste na aplicação de uma carga
crescente em determinados pontos de uma barra de geometria padronizada. A tensão de
ruptura a flexão foi calculada de acordo com a equação (5) e é uma propriedade que
identifica a carga máxima suportada pela peça, ou seja, é um indicativo da resistência
mecânica do corpo de prova.
3𝐹𝐹 𝑥𝑥 𝐿𝐿
𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇 (𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀) = (5)
2𝑏𝑏 𝑥𝑥 ℎ²
Onde:
o F – é a carga de ruptura (N);
o L – é a distância entre os apoios do suporte (mm);
o b – é a largura da amostra na região da ruptura (mm);
o h – é a altura da amostra na região da ruptura (mm).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
x = fração acumulada
Q
C - Caulinita
M - Mica
C
Q - Quartzo
M
C
M
M C
C C M
Q C
Q
Q Q
10 20 30 40 50 60
2(grau)
22,0
Exo
ATD
TG 21,8
21,6
21,4
ATD (°C)
TG (mg)
21,2
21,0
20,8
20,6
Ͷʹͷ
Propriedade Cerâmica Valores de Referência
Ͷʹ
32 32 32 32
30 30 30 30
28 28 28 28
26 26 26 26
PA PA
22 850 °C 22 22 22
850 °C
20 950 °C 20 20
950 °C 20
18 1050 °C 18 18 1050 °C 18
16 16 16 16
14 14 14 14
12 12 12 12
AA AA
10 10 10 10
850 °C 850 °C
8 950 °C 8 8 950 °C 8
6 1050 °C 6 6 1050 °C 6
-5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55
Teor de Resíduo (%) Teor de Resíduo (%)
(a) (b)
Figura 4 – Resultados dos ensaios de absorção de água e porosidade aparente para as
composições contendo a Argila A (a) e a Argila B (b).
2.5 2.5
MEA (g/cm³)
MEA (g/cm³)
1.0 1.0
1050 °C
RLq (%)
RLq (%)
0.5 0.5
0.0 0.0
RLq
-0.5 850 °C -0.5
950 °C
-1.0 1050 °C -1.0
10 20 30 40 50 10 20 30 40 50
(a) (b)
Figura 5 – Resultados da Massa Específica Aparente e Retração Linear de Queima para
a Argilas A (a) e a Argila B (b).
Ͷʹͺ
35
850 °C 850 °C
7 950 °C 950 °C
1050 °C 30 1050 °C
6
25
TRF (MPa)
TRF (MPa)
20
4 15
10
3
5
2
0 10 20 30 40 50 0 10 20 30 40 50
Teor de Resíduo (%) Teor de Resíduo (%)
(a) (b)
Figura 6 – Gráficos da tensão de ruptura a flexão dos corpos cerâmicos produzidos com
a Argila A (a) e a Argila (b).
4. CONCLUSÃO
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Anand Subramanian
Universidade Federal da Paraíba
Departamento de Engenharia de Produção/Centro de Tecnologia/UFPB
anand@ct.ufpb.br
RESUMO
O presente projeto de pesquisa apresenta como objetivo geral resolver problemas reais
de sequenciamento da produção encontrados em empresas de manufatura, cujos
fundamentos básicos dos métodos de resoluções apresentam como base abordagens em
metaheurísticas e em modelos de programação linear inteira, além da combinação de
ambas as estratégias. A empresa objeto de estudo do projeto se trata de uma
multinacional do setor têxtil, onde foram identificados diversos atrasos de pedidos de
produção, possivelmente ocasionados por um sequenciamento da produção realizado de
forma ineficiente, onde não é utilizado nenhum método computacional e matemático
para que seja traçado. Com base nesses problemas, foi realizado um estudo acerca dos
processos de produção da empresa e, posteriormente, elaboradas as restrições que o
envolvem, tanto com relação aos pedidos de produção como em relação às máquinas.
Em seguida foi elaborada a modelagem matemática para o problema identificado,
buscando construir um programa capaz de manipular tais recursos de forma que fosse
alcançada uma solução viável para a empresa. Por fim, foi desenvolvido o algoritmo
para resolução do problema. Como principal resultado obtido tem-se que foi possível
gerar soluções viáveis para o sequenciamento da produção da empresa, ou seja, sem
nenhum atraso de pedidos.
Ͷ͵ʹ
1. INTRODUÇÃO
No cenário competitivo atual, as organizações buscam o melhor
aproveitamento dos recursos utilizando conceitos modernos de gerenciamento. Desta
forma, para atingir vantagem competitiva, as empresas devem criar mais valor que suas
concorrentes. A capacidade de uma empresa criar valor superior, por sua vez, depende
de seus recursos e das competências específicas que surgem com a utilização destes.
O gerenciamento de tais recursos no processo produtivo é, normalmente, uma
tarefa bastante complexa na prática. Dentre os vários problemas que envolvem tomadas
de decisões com relação aos recursos podem-se citar: dimensionamento de lotes de
produção, planejamento da produção, otimização da capacidade instalada e
sequenciamento da produção. Este último é o tema do presente projeto de pesquisa.
Scheduling consiste na busca por melhorias na alocação de atividades. É um
processo de tomada de decisão com o objetivo de aprimorar ou otimizar um ou mais
objetivos característicos de uma situação estudada, como por exemplo: redução de
número de pedidos atrasados, tempo de processamento total de produção, minimização
dos pedidos atrasados com ponderações, entre outros. Por essas características citadas
sua aplicação apresentar uma grande contribuição para a obtenção de vantagem
competitiva das empresas. Uma boa programação dos pedidos pode evitar desperdício
de tempo, recursos humanos, materiais e estoque, permitindo que os esforços da
empresa na produção estejam integrados e bem manipulador, buscando atender de
forma adequada os seus objetivos traçados.
O projeto está sendo realizado em uma multinacional do setor têxtil, localizada
na cidade de João Pessoa no estado da Paraíba. A empresa atualmente é líder de
mercado regional com relação à participação de mercado, tendo como clientes algumas
das principais lojas de atacados têxteis de nível nacional. Além da fábrica da cidade de
João Pessoa, na qual está sendo realizado o projeto, a empresa conta com outras nove
fábricas.
Atualmente a empresa conta com uma média de pedidos em torno de 1310
pedidos, nos quais devem ser sequenciados em 234 teares disponíveis para a produção.
Esses teares e pedidos são divididos em duas linhas produtivas, a Ratier, onde são
produzidas toalhas simples, sem bordados ou detalhes especiais, e a linha Jacquard,
responsável pela produção de toalhas detalhadas, com imagens, bordados, texturas
diferenciadas e uma grande gama de opções de customização. No caso da linha Ratier,
há teares mecânicos e eletrônicos para realizarem a produção das toalhas, enquanto na
Ͷ͵͵
linha Jacquard as alternativas são maiores devido aos diferentes níveis e opções de
customização: Eletrônico; Mecânico; Pinça e Jato de ar.
O presente plano de trabalho tem os seguintes objetivos específicos:
2. METODOLOGIA
A pesquisa está fundamentada nos preceitos da pesquisa descritiva e aplicada.
É descritiva, pois relata a situação prática encontrada comparada às mudanças geradas
pela futura aplicação de um método de otimização. É aplicada, pois gera resultados que
possam ser aplicados, visando melhorias. Desta forma, a pesquisa seguirá os passos
estabelecidos a seguir.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
No desenvolvimento das atividades propostas pelos objetivos específicos e
detalhadas na metodologia, foram observados possíveis problemas que motivaram à
elaboração do projeto, problemas esses relativos ao sequenciamento da produção de
toalhas da empresa. Pode ser observado na empresa que há um crescente acumulo de
pedidos atrasados mensalmente, que vem crescendo mensalmente.
O desenvolvimento do projeto será detalhado nas seções seguintes para melhor
compreensão das atividades desenvolvidas, dos métodos utilizados e aplicados e dos
resultados obtidos com a aplicação do modelo desenvolvido e proposto para a resolução
do problema de sequenciamento da produção observado na empresa objeto de estudo.
Ͷ͵
3.1 Desenvolvimento das atividades realizadas
Um dos fatores que levam a produção a não dar conta da demanda
possivelmente se dá pelo ineficiente sequenciamento da produção nos teares da
empresa. Conforme foi apresentado no primeiro ciclo do presente projeto, devido à
enorme variedade de situações possíveis para esse planejamento, tomando como base
que há, atualmente, aproximadamente 1338 pedidos mensais e 234 máquinas em
paralelo para serem abastecidas com esses pedidos, realizar o planejamento manual
desse sequenciamento se torna algo muito complexo, dificilmente conseguindo-se
alguma solução considerada boa, próxima da solução considerada ótima, a melhor
(Pinedo, 2008).
Neste contexto apresentado, o ambiente produtivo da empresa apresenta,
atualmente, 234 teares de produção, nos quais são divididos em dois grupos, Jacquard e
Ratier. Esses grupos apresentam características diferentes tanto em relação as suas
máquinas como em relação aos produtos que são processados nelas. Dessa forma, no
desenvolvimento do algoritmo apresenta no primeiro ciclo do projeto foi aplicado o
método para cada um dos dois grupos de maneira separada, pois são dois ambientes
produtivos distintos.
Na linha de produção Jacquard, são produzidas toalhas complexas com
variações que não há como produzir no máquinário presente no ambiente Ratier. Os
teares Jacquard apresentam ainda uma subdivisão, que varia de acordo com a
tecnologia empregada em sua produção, e, para isso, diferentes grupos de toalhas só
podem ser fabricadas em exclusivamente uma determinada tecnologia. No caso das
máquinas Jacquard, além desta tecnologia há outras variáveis empregadas no processo,
como é o caso do portador de trama e as arcadas, que são configurações das máquinas
necessárias para produzir os diversos tipos de pedidos possíveis.
Por sua vez, os teares Ratier são fabricam toalhas relativamente simples,
podendo ser lisas ou com pequenos e simples detalhes no acabamento. Os teares Ratier
apresentam uma divisão com respeito a sua tecnologia assim como a Jacquard, porém,
só existem dois tipos: Mecânico e Eletrônico. Diferentemente do outro grupo
apresentado, no Ratier, esses dois subgrupos não apresentam diferenças com relação à
produção. Ambos podem produzir os mesmos tipos de produtos e possuem uma
eficiência produtiva praticamente igual. No maquinário Ratier não há variações com
relação ao portador de trama, apenas com relação as arcadas. A Figura 1 a seguir ilustra
Ͷ͵ͺ
melhor os dados apresentados anteriormente a respeito das linhas de produção Jacquard
e Ratier.
ORDEM DE PRODUÇÃO
Arcadas
20896
30896 Arcadas
21168 JACQUARD RATIER
31010 Estreito 20896
Tecnologia
40640 30896
50528 Largo Eletrônico 21168
60416 Eletrônico Estreito 31010
... Mecânico 40640
Portador de Trama Mecânico Largo 50528
... Pinça 60416
4
6 ... Jato de ar
8
Setup Tempo
Arcadas 8h
Portador de Trama 0,1 h
Figura 1 – Linhas de Produção Jacquard e Ratier. Fonte: Elaborada pelo autor (2014).
Dados:
Variáveis de decisão:
𝑛𝑛
ͶͶͲ
𝑚𝑚 𝑛𝑛
∑ ∑ 𝑥𝑥𝑖𝑖𝑖𝑖𝑖𝑖 = 1 ∀ 𝑗𝑗
𝑘𝑘=1 𝑖𝑖=0
= 1, 2, … , n (2)
𝑛𝑛
∑ 𝑥𝑥0𝑗𝑗𝑗𝑗 ≤ 1 ∀ 𝑘𝑘
𝑗𝑗=1
= 1, … , 𝑚𝑚 − 1 (3)
𝑛𝑛
∑ 𝑥𝑥𝑖𝑖ℎ𝑘𝑘
𝑖𝑖=0
𝑖𝑖≠ℎ
𝑛𝑛
∀ ℎ = 1, … , 𝑛𝑛 (4)
− ∑ 𝑥𝑥ℎ𝑗𝑗𝑗𝑗 = 0
∀ 𝑘𝑘 = 1, … , 𝑚𝑚
𝑗𝑗=0
𝑗𝑗≠ℎ
𝑇𝑇𝑖𝑖 ≥ 0 ∀ 𝑖𝑖
= 1, … , 𝑛𝑛 (7)
ͶͶͳ
relacionado ao pedido. As restrições (2) impõem que, cada tarefa j tem uma única tarefa
predecessora imediata em uma única máquina. As restrições (3) garantem que cada um
dos teares k, se usado, tem uma única sequência de processamento, ou seja, uma única
sequência na qual não poderá ser alterada ao longo de uma simulação. As restrições (4)
asseguram que cada pedido j tem um único pedido sucessor imediato, com exceção do
pedido 0, que estabelece o início e o final da sequência de processamento no tear k. Se
𝑥𝑥𝑖𝑖𝑖𝑖𝑖𝑖 = 1, ou seja, se há um pedido sucessor j, implica que no tear k tem-se 𝐶𝐶𝑗𝑗𝑗𝑗 ≥ 𝐶𝐶𝑖𝑖𝑖𝑖 −
𝑀𝑀 + (𝑠𝑠𝑖𝑖𝑖𝑖𝑖𝑖 + 𝑝𝑝𝑗𝑗𝑗𝑗 + 𝑀𝑀)𝑥𝑥𝑖𝑖𝑖𝑖𝑖𝑖 , ou seja, que o tempo de término do pedido j no tear k, vem
depois do tempo de término do pedido i (anterior ao j, na mesma máquina), somado o
tempo de setup de i para j, mais o tempo de processamento do pedido j. Se 𝑥𝑥𝑖𝑖𝑖𝑖𝑖𝑖 = 0, a
restrição (5) não é ativada. A restrição (6) indica se os pedidos estão com atraso. As
restrições (7), (8) indicam os tipos de variáveis.
ͶͶʹ
Quadro 1 – Recursos e demanda da linha Ratier
Por sua vez, a linha Jacquard é composta por 120 teares, dividida em quatro
grupos principais: mecânicos, eletrônicos, de pinça e jato de ar, sendo os mecânicos e
eletrônicos subdivididos ainda em estreitos e largos, enquanto os de pinça e jato de ar
apresentam tamanho único. O Quadro 2 abaixo ilustra a quantidade de teares por grupo
e subgrupo, assim como a quantidade total de pedidos demandada no mês estudado, e
que deverá ser processada por tais teares.
Com relação aos grupos de teares, é importante ressaltar que na linha Ratier os
pedidos que podem ser processados nos teares mecânicos, também podem ser
processados nos teares eletrônicos, pois a tecnologia envolvida neste último é capaz de
desenvolver com perfeição os produtos produzidos no tear mecânico. Por outro lado, os
produtos que são produzidos nos teares eletrônicos não podem ser produzidos nos
mecânicos, pois estes apresentam uma tecnologia inferior, na qual não possuem
ferramentas específicas para diversas aplicações na tecelagem desses produtos.
ͶͶ͵
É importante ressaltar ainda que, todos os pedidos de tamanho estreito, além
serem processados nas máquinas de seu tipo do tamanho estreitas, também podem ser
processados em máquinas de tamanho largas, pois as largas podem ser adaptadas para
processarem tamanhos menores que os convencionais. Entretanto, os pedidos de
tamanho largo só podem ser processados exclusivamente nas máquinas de seu tipo e de
tamanho largo, pois não há como adaptar uma máquina estreita para processar um
tamanho maior.
Com base nessas informações, foram criadas diversas outras modificações nas
restrições que, ao serem consideradas no desenvolvimento do algoritmo, possibilitou
uma série de alterações a mais do que as que foram realizadas previamente com base
apenas nos grupos e subgrupos dos teares e seus respectivos tamanhos.
Por conta dos pedidos de produção ter diferentes datas para ser processada, este
foi um fator que foi considerado durante todo o desenvolvimento do algoritmo, ou seja,
a data de entrega dos pedidos foi considerada um peso ponderado no momento de
alocação dos pedidos nas máquinas, pois ela está diretamente atrelada à importância do
cliente que demandou aquele determinado pedido. O tempo de setup das arcadas
considerando cada uma das possíveis mudanças de arcada foi de 10 horas, enquanto o
tempo de setup do portador de tramas foi cotado em cerca de 15 minutos.
ͶͶ
acordo com o custo (soma dos tempos de processamentos e setup) de cada uma das
máquinas, é forçado com que cada pedido fosse alocado sempre na máquina de menor
custo, ou seja, na máquina com maior capacidade ociosa de processamento. No decorrer
do projeto foram testadas diversas técnicas no desenvolvimento da solução inicial,
sendo a descrita no presente trabalho a que mostrou maior eficiência, equilibrando um
bom processamento com uma solução inicial consideravelmente eficaz.
ͶͶ
07: if solução swap > solução atual & solução move
08: swap 𝑗𝑗1 e 𝑗𝑗2
09: end if
10: else if solução move > solução atual & solução swap
11: move 𝑗𝑗1 → 𝑝𝑝2
12: end if
09: end for
10: end for
11: end for
Por sua vez, no algoritmo de buscas externas às máquinas, para cada máquina
𝑖𝑖1 , será selecionado um pedido 𝑗𝑗1 no qual será testada sua troca com todos os outros
pedidos de todas as outras máquinas, além de movimentação para todas as posições
possíveis de todas as outras máquinas. Caso a solução após a alteração seja melhor de
que a solução atual, ela será mantida. Caso contrário, os procedimentos são repetidos até
que todos os pedidos de todas as máquinas tenham sido testados. O Algoritmo 3 a
seguir mostra o pseudocódigo da busca local externa implementada.
ͶͶͺ
14: end for
15: end for
16: end for
O Quadro 3 a seguir ilustra uma solução viável que foi gerada pelo programa
para o sequenciamento da linha de produção Jacquard, que é a linha que, atualmente,
apresenta um alto e crescente índice de atrasos de pedidos na empresa. O Quadro 3
apresenta o sequenciamento dos pedidos em cada uma das máquinas da linha de
produção. Os números apresentados representam a ordem dos pedidos que foram
demandados pela empresa, ou seja, além de detalhar o tipo e o tamanho do tear que está
sendo mostrada este sequenciamento.
ͶͶͻ
Quadro 3 – Solução viável gerada pelo programa para a linha Jacquard
Máquina Tipo Tamanho Pedidos sequenciados para serem processados
0 mecânica estreita 63 49 - - - - - - - - - - -
1 mecânica estreita 14 - - - - - - - - - - - -
2 mecânica estreita 112 191 52 - - - - - - - - - -
3 mecânica estreita 31 118 - - - - - - - - - - -
4 mecânica estreita 79 166 - - - - - - - - - - -
5 mecânica estreita 90 - - - - - - - - - - - -
6 mecânica estreita 154 57 - - - - - - - - - - -
7 mecânica estreita 177 54 - - - - - - - - - - -
… … … …
30 mecânica larga 471 27 7 580 - - - - - - - - -
31 mecânica larga 406 48 11 - - - - - - - - - -
32 mecânica larga 215 29 582 - - - - - - - - - -
33 mecânica larga 475 319 86 - - - - - - - - - -
34 eletrônica estreita 529 465 590 461 460 62 535 574 583 - - - -
35 eletrônica estreita 591 525 469 38 570 562 - - - - - - -
36 eletrônica estreita 635 631 577 513 459 457 453 451 448 446 134 490 -
37 eletrônica estreita 523 207 433 22 - - - - - - - - -
38 eletrônica larga 599 598 597 561 517 442 312 34 301 - - - -
39 eletrônica larga 633 632 630 627 626 625 624 623 622 621 - - -
… … … …
102 pinça único 325 316 281 272 263 262 243 219 259 132 680 688 -
103 pinça único 253 249 247 685 148 667 646 - - - - - -
104 pinça único 686 267 246 211 660 20 337 - - - - - -
105 jato de ar único 189 111 97 678 - - - - - - - - -
106 jato de ar único 332 331 305 260 218 214 200 26 671 - - - -
107 jato de ar único 351 349 348 277 245 244 242 241 199 194 170 169 679
108 jato de ar único 396 384 380 341 238 198 156 73 25 666 - - -
109 jato de ar único 691 411 410 409 258 237 236 235 234 195 193 176 683
110 jato de ar único 373 372 250 232 164 149 24 77 9 689 - - -
111 jato de ar único 356 354 323 288 240 239 196 121 102 10 - - -
112 jato de ar único 248 233 192 151 18 690 8 - - - - - -
ͶͷͲ
113 jato de ar único 231 229 228 220 153 143 142 71 64 - - - -
114 jato de ar único 463 265 161 160 150 75 672 668 664 - - - -
115 jato de ar único 377 330 329 292 187 144 46 0 677 675 298 - -
116 jato de ar único 395 394 392 391 390 389 388 386 385 6 5 663 684
117 jato de ar único 334 328 303 217 146 681 37 - - - - - -
118 jato de ar único 275 268 227 226 223 197 183 179 175 665 76 - -
119 jato de ar único 687 320 271 225 50 2 430 209 670 426 - - -
Fonte: Elaborado pelo autor (2013).
Ͷͷͳ
da instância no padrão a ser manipulado pelo programa, sendo necessário por diversas
vezes dialogar com o funcionário para que ele explicasse o que significava cada uma
destas particularidades.
4. CONCLUSÕES
Por conta de mudanças na gestão da empresa, houve a criação de uma barreira
de resistência na coleta por novas instâncias de outros períodos mensais de produção, na
qual foi quebrada recentemente, através de conversas com novos colaboradores da
empresa, que possibilitaram tanto a coleta de novas instâncias da produção, como
também se colocaram a disposição para auxiliar na resolução de dúvidas gerais, caso
existam. Porém, por já estar em fase final deste primeiro ciclo de projeto, não houve
como as novas instâncias serem testadas no programa.
Quanto aos objetivos específicos citados na parte introdutória do trabalho, todos
estão relacionados ao ciclo do presente projeto de pesquisa. Observa-se que o plano de
trabalho encontra-se alinhado com a metodologia descrita na Seção 2. Como foi descrito
na metodologia do projeto, com exceção dos objetivos específicos 12 e 13, que remetem
ao desenvolvimento de artigos científicos e de participação em congresso, todos os
outros foram cumpridos de forma adequada. Porém, com a renovação do projeto de
pesquisa, será dada uma atenção maior com relação à elaboração de artigos científicos
tendo em vista a apresentação em congressos e demais encontros da área.
Com a geração de solução viável prévia, não se fez necessária a utilização de
perturbações no algoritmo em busca de resultados mais eficazes no processo. Com a
renovação do projeto, será visada a realização de novas perturbações, além de mudanças
nos objetivos, visando encontrar soluções mais eficazes tanto no sequenciamento da
produção propriamente dita, como melhores resultados de processamento
computacional. Tendo ainda em vista a renovação do projeto de pesquisa, serão testadas
novas instâncias de diversos períodos coletados na empresa, objetivando comprovar a
grande eficiência do programa que está sendo desenvolvido.
5. AGRADECIMENTOS
Agradecimento especial ao CNPq e a UFPB pela oportunidade e pelo apoio no
desenvolvimento do projeto apresentado.
Ͷͷʹ
REFERÊNCIAS
LOURENÇO, H. R., MARTIN, O. C., STTZLE, T.: Iterated Local Search. In: Glover,
F., Kochenberger, G. (eds) Handbook of Metaheuristics, Kluwer Academic
Publishers, Boston, pp 321–353, 2002.
Ͷͷ͵
LINGUÍSTICA, LETRAS E ARTES
O DISCURSO ESCRITO NAS PLACAS URBANAS: A GOVERNAMENTALIDADE
DO DIZER
RESUMO
Este projeto objetiva investigar o discurso que circula nas placas urbanas da cidade de João
Pessoa, a fim de verificar como ocorre a governamentalidade e o controle social dos dizeres
nos espaços urbanos, a partir de procedimentos de controle e circulação desses dizeres, tais
como interdição, disciplina e vontade de verdade, que incidem sobre a linguagem do sujeito
social. Para tanto, foi selecionado um corpus composto por vinte e cinco placas urbanas,
coletadas nos espaços públicos da cidade de João Pessoa. As análises foram subsidiadas pelo
aporte teórico da Análise do Discurso (AD), fazendo o batimento das ideias de Michel Pêcheux,
fundador da teoria supracitada, com as de Michel Foucault, no que concerne à “genealogia do
poder”. Isso implica analisar a materialidade verbo-visual do discurso em pauta, não apenas
focando na parte estrutural, mas sobretudo na dimensão sócio-histórica que o constitui. Nossa
pesquisa é de caráter qualitativo de cunho interpretativo, considerando que se pauta na
explicação de fenômenos sociais Ao final das análises, verificamos que as placas urbanas
apresentam-se como suporte de materialização das relações de poder, tornando possível à
instituição governamental, organizar, controlar e disciplinar a vida dos indivíduos e o espaço
em que eles (con)vivem.
Ͷͷͷ
1. INTRODUÇÃO
Ͷͷ
2. ANÁLISE DO DISCURSO: UM CAMPO TRANSDISCIPLINAR
A irrupção do campo de investigação teórica da Análise do Discurso (AD) se deu no
contexto francês do final dos anos 60, no auge do Estruturalismo Linguístico. Ao propor a AD,
Michel Pêcheux rompe com a tradição estruturalista saussureana dos estudos linguísticos
desenvolvidos até então.
A elaboração dessa teoria apresenta-se dividida em três períodos, conhecidos por “as
três épocas da AD”. A primeira época (1969-1974) é o momento em que a teoria dá seus
primeiros passos, foram surgindo os primeiros conceitos, dentre os quais se destacam o de
sujeito, sentido e ideologia.
Já a segunda época (1975-1979) é o período em que Pêcheux discute principalmente a
noção de formação discursiva, termo tomado de empréstimo a Michel Foucault. A questão
fundamental que se coloca é como se relacionam os elementos intradiscursivos (da ordem da
língua) com os elementos interdiscursivos (da ordem da história), ou em outras palavras, “como
se relaciona o interior com seu “exterior” constitutivo nos processos discursivos?”. É em torno
desse ponto nodal que se desenvolverão os trabalhos de Michel Pêcheux nesse momento
teórico.
Nos últimos anos de elaboração da teoria (1980-1983), período conhecido como a
terceira época da AD, Michel Pêcheux amplia as fronteiras e aprofunda os diálogos, sofrendo
a influência de autores como Michel Foucault, Jean-Jacques Courtine, Michel de Certeau,
Jacqueline Authier-Revuz, dentre outros.
Essa terceira época, marcada pela “abertura dos horizontes teóricos”, segundo Baracuhy
(2004), resultou na ampliação de conceitos operacionais e principalmente na mudança do foco
de análise nos corpora da AD: dos universos logicamente estabilizados (político, religioso,
pedagógico), onde os sentidos são normatizados por uma “higiene pedagógica do pensamento”
para os universos logicamente instáveis (em que se inserem os discursos do cotidiano e o
literário), em que os sentidos se transformam, dando margem a várias interpretações possíveis.
É hora “de se pôr na escuta das circulações cotidianas, tomadas no ordinário do sentido”
(PÊCHEUX, 1990, p.48). Este fato levou Michel Pêcheux a falar, nos seus últimos anos, em
análise de discurso ao invés de análise do discurso.
O discurso é pensado enquanto “estrutura e acontecimento”, voltando-se para a análise
de materialidades diversas sob diferentes suportes. Partindo desse ponto, apresentamos as
placas urbanas como um suporte material por onde circulam os discursos do cotidiano, que
organizam, delimitam e disciplinam o espaço urbano. Elas são também suportes midiáticos de
longo alcance que, através dos discursos que veiculam, normatizam o corpo social.
Ͷͷ
Utilizaremos os conceitos pecheutianos de sujeito, memória discursiva e sentido para
discutirmos a produção de sentidos nos discursos que circulam na materialidade sincrética
(verbo-visual) das placas urbanas e os conceitos foucaultianos de governamentalidade, controle
e disciplina para analisarmos as relações entre os saberes e os poderes.
Ͷͷͺ
A verdade é deste mundo; ela é produzida nele graças a múltiplas
coerções e nele produz efeitos regulamentados de poder. Cada
sociedade tem seu regime de verdade, sua “política geral” de
verdade: isto é, os tipos de discurso que ela acolhe e faz funcionar
como verdadeiros; os mecanismos e as instâncias que permitem
distinguir os enunciados verdadeiros dos falsos, a maneira como
se sanciona uns e outros; as técnicas e os procedimentos que são
valorizados para a obtenção da verdade; o estatuto daqueles que
têm o encargo de dizer o que funciona como verdadeiro.
(FOUCAULT, 2012, p. 12).
Michel Foucault considera que “o poder está em toda parte; não porque engloba tudo e
sim porque provém de todos os lugares” (1999, p. 89), exercendo-se de forma difusa pelo corpo
social. Partindo dessa ideia, o filósofo considera que a vida em sociedade é marcada por
relações de poder. Para estudá-las, Foucault vai analisar, desde a Antiguidade até o século XX,
a governamentalidade – forma através da qual se exerce o poder frente à vida da população.
Com base nas leituras da bibliografia especializada sobre o tema e na análise das placas
que compõem nosso corpus, pudemos chegar a alguns resultados que serão apresentados nas
análises disponibilizadas a seguir.
A fim de analisarmos como o sujeito contemporâneo tem suas práticas cotidianas e seus
dizeres controlados, selecionados e organizados e como os poderes “funcionam como uma rede
de dispositivos ou mecanismos a que nada ou ninguém escapa” (FOUCAULT, 2012, p.17),
nossa pesquisa tem como foco, o discurso governamental, cujo caráter normativo regula os
espaços urbanos da cidade de João Pessoa, por onde circulam os dizeres institucionais das
placas urbanas.
A cidade, em nossa pesquisa, não é estudada enquanto espaço geográfico, mas define-
se como “espaço político-simbólico de produção de sentidos, sítio de significação” por onde
circulam os discursos sociais (ORLANDI, 2001, p.10). Buscamos analisar como a linguagem,
na sua dimensão linguística e social, se espacializa nas cidades. Ainda segundo a autora acima
citada, o sujeito produz sentidos na cidade, assim como é afetado pelos discursos que ela
produz.
Ͷͳ
Figura 1 - 31.10.12. Parq. Zoo A. Câmara -Tambiá
Figura 2 - 04.11.12. Est. C. Branco. Av. João Cirilo da Silva - Altiplano
Ͷʹ
O conjunto de saberes, que circula nas placas, é perpassado pela relação de poder entre
a instituição e os visitantes do Parque. Se por um lado, o poder institucional controla e organiza
o corpo social que se submete a ele, por outro lado, esse (bio)poder exerce uma positividade,
uma vez que se preserva o meio ambiente para o bem estar da coletividade.
Vivendo numa sociedade disciplinar, o sujeito contemporâneo tem suas práticas
cotidianas e seus dizeres, controlados, selecionados e organizados por procedimentos de
controle que garantem a governamentalidade do espaço público. Vejamos as placas a seguir:
Na placa em análise (fig. 3), o controle do comportamento dos corpos que atinge
diretamente e individualmente cada visitante. Nela, a voz da instituição se materializa através
de um texto sincrético, composto pela linguagem verbal e pela linguagem não verbal, que
reforça o que está sendo dito, pois além da leitura das palavras, o visitante terá acesso, também,
à leitura imagética, que, geralmente, acaba chamando mais a atenção dele.
Alimentar os animais é um comportamento muito comum às crianças, mas que também
se percebe nos adultos, por isso há a necessidade de controlar o comportamento de todos os
visitantes, para interditar uma prática (geralmente nociva aos animais) que se repete comumente
nos zoológicos.
Na imagem, o alimento é representado por um saquinho de pipoca, pois é a alimentação
mais comum entre os visitantes, desta forma, há um “efeito de transparência” que tenta mascarar
a opacidade constitutiva dos sentidos; isto é, um efeito de objetividade linguística, a fim de
limitar as derivas do sentido na tentativa de não permitir múltiplas interpretações à ordem
pública.
Ͷ͵
Em vários ambientes do parque, é possível perceber nos enunciados que circulam por
meio das placas, uma regularidade, através da presença de enunciados semelhantes a esse, como
os presentes nas fig. 4 e 5, “Não pise na grama”, “Não toque nas telas”, ou “Não ultrapasse a
área de afastamento”. Isso se torna possível, pois o enunciado é um nó em uma rede, ele nunca
aparece sozinho, sempre guarda rastros de outros, além de ter uma materialidade, que é
repetível. Conforme afirma Foucault (2008, p. 112), “não há enunciado que não suponha outros;
não há nenhum que não tenha, em torno de si, um campo de coexistências, efeitos de série e de
sucessão, uma distribuição de funções e de papéis”.
Nos enunciados que compõem essas placas, a disciplinarização do corpo social mais
uma vez se efetiva através do advérbio de negação “não”, que se constitui uma regularidade
enunciativa, exibida na materialidade repetível dos enunciados institucionais. Durante todo o
tempo, são estabelecidas relações de poder entre a instituição e o corpo social. Relações estas,
necessárias à organização do parque, uma vez que é através delas que se torna possível o
controle sobre práticas que, se repetidas, acabam prejudicando o bem estar dos animais e dos
demais visitantes que circulam pelo zoológico.
ͶͶ
O enunciado presente na placa dialoga com outros discursos presentes na memória
social. O sinal de igualdade é normalmente utilizado nos resultados de cálculos matemáticos
para mostrar a equivalência entre coisas que se encontram em lados distintos. A cidade só será
limpa se o “povo” for educado, consequentemente, o lixo espalhado pelas ruas é sinal de que a
população é mal educada.
O jogo de relação de poder que se estabelece entre a instituição, representada pela
logomarca do órgão que governa o município, e a sociedade se mostra, principalmente através
da frase imperativa que aparece na parte inferior da placa: “Mantenha a cidade limpa”.
A população precisa constantemente ser monitorada e relembrada de que deve manter a
cidade limpa, entretanto, como afirma Foucault (2012), “onde há poder, há resistência”, e apesar
das inúmeras campanhas promovidas na tentativa de barrar a prática de jogar lixo no chão, há
uma prática de resistência feita pelos vândalos da cidade, que, mesmo estando próximos a
lixeiras (que se encontram espalhadas pelas ruas), acabam jogando o lixo no chão.
Através da observação dessa placa e de outras que circulam pela cidade, trazendo
enunciados que fazem parte da mesma Formação Discursiva, como o da placa “Não jogue lixo
no chão” (fig. 7). Foucault nos ensina que se o poder fosse apenas repressivo, sem as
positividades, sem um porquê à sujeição, a dominação capitalista não conseguiria se manter. E
diz mais:
Manter a cidade limpa é algo que beneficiará a toda a população. Diante disso, pode-se
dizer que a biopolítica, ao governar os sujeitos faz com que eles se tornem corpos dóceis,
submissos, disciplinarizados, mas por outro lado, tenham uma vida melhor e mais longa.
A partir do século XVIII, a noção de biopoder e biopolítica passou a ser vista entre as
reflexões sobre as práticas disciplinares como exercício de poder. Judith Revel (2005: p. 26)
afirma que a “biopolítica – por meio dos biopoderes locais – se ocupará, portanto, da gestão da
saúde, da higiene, da alimentação, da sexualidade, da natalidade, etc., na medida em que elas
se tornaram preocupações políticas”.
Ͷͷ
Figura 8 - 24.05.13. Av. Epitácio Pessoa. Tambauzinho
Figura 9 - 21.08.12. Av. D. Pedro II. Cast. Branco
Na placa em análise (fig. 8), percebe-se que a instituição governamental faz uso de
procedimentos da biopolítica para tentar manter o bem estar da população. Através dos
enunciados verbais e não verbais presentes na placa, tenta-se conscientizar o corpo social a
respeito da importância do uso do capacete, um dos equipamentos de segurança que os
motociclistas devem usar.
Ao comparar o preço do capacete (em média duzentos reais) com o da vida
(“incalculável”), o governo aponta para a questão da imprudência que atinge grande parte dos
motociclistas, que muitas vezes, acabam pondo sua vida em risco ao andar no meio do trânsito
sem o principal equipamento de segurança indicado. A imprudência cobra um preço muito mais
alto que o cobrado por um capacete em uma loja, pois ela cobra o preço da vida. Essa ideia é
reforçada pelo enunciado “dê valor à vida”.
Através de placas como essa que se encontram espalhadas pelos espaços públicos da
cidade, o governo exerce uma normatização do corpo social e do corpo-espécie. Dialogando
com essa ideia de proteção sobre a vida no trânsito, apresentamos uma segunda placa (fig. 9)
composta pelo enunciado: “Se beber não dirija”.
Esse enunciado (estrutura intradiscursiva) surge a partir da constatação de um
acontecimento. Dados apontam que 43% dos acidentes de trânsito são causados por motoristas
alcoolizados. Conforme aponta Pêcheux (2008), o discurso é simultaneamente “estrutura e
acontecimento”. Não se pode interpretar o enunciado sem levar em conta a sua historicidade; a
dimensão interdiscursiva que o tornou possível de acontecer e de ser veiculado através desse
suporte público.
Ͷ
A voz governamental, materializada nas placas pelas logomarcas do governo Federal,
na primeira placa e da prefeitura da cidade de João Pessoa, na segunda, exerce poder sobre a
vida da população. A colocação dessas logomarcas, geralmente na parte inferior da placa,
segundo Baracuhy, (2007, p. 233) “acentua a função autor, através de um nome oficial que se
responsabiliza pelos dizeres que aparecem na materialidade textual”. Esse poder que segundo
o filósofo Foucault, antes era o “direito de deixar morrer”, passa, a partir do século XIX, a ser
o de “fazer viver”.
O poder é cada vez menos o direito de fazer morrer e cada vez mais o
direito de intervir para fazer viver, e na maneira de viver, e no ‘como’
da vida, a partir do momento em que, portanto, o poder intervém,
sobretudo nesse nível para aumentar a vida, para controlar seus
acidentes, suas eventualidades, suas deficiências [...] (Foucault, 2005,
p. 295)
Ͷ
Figura 10 - 08.02.13. Av. Cabo Branco. Busto de Tamandaré
Figura 11 - 31. 10.12. Parque Zoo Arruda Câmara – Tambiá.
6. CONCLUSÕES E RESULTADOS
Ͷͺ
Muitas das práticas cotidianas da população são regradas pelos enunciados que circulam
nas placas urbanas nos espaços públicos da cidade de João Pessoa. Além do controle do tempo,
há também um controle da forma de se vestir e da maneira de se comportar do corpo social.
Dessa forma, nossas análises apontam para o modo como é exercida a governamentalidade a
que os sujeitos estão expostos diariamente.
Entendemos que as placas se constituem um meio através do qual se materializam as
relações entre os saberes e os poderes (representado pela voz institucional presente na
logomarca da prefeitura da cidade e/ou do governo do estado).
O discurso normativo das placas acontece de forma a fazer com que os indivíduos e,
consequentemente, a população, siga as imposições governamentais, através de estratégias sutis
e eficazes, pautadas não apenas no controle pela interdição, mas sobretudo na positividade do
poder.
Os discursos que as placas urbanas veiculam apresentam, em sua maioria, enunciados
de materialidade sincrética (verbal e imagética). Verifica-se que a linguagem das placas é
estruturada na tentativa de se alcançar um “efeito de transparência”, de objetividade linguística,
a fim de limitar as derivas do sentido, na tentativa de não permitir múltiplas interpretações à
ordem pública.
7. AGRADECIMENTOS
Ͷͻ
REFERÊNCIAS
FOUCAULT, M. A ordem do discurso. 5 ed. São Paulo: Edições Loyola, 1996. (coleção
Leituras Filosóficas).
______. A governamentalidade. In: Ditos e escritos IV. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2006.
______. História da sexualidade1: a vontade de saber. 13 ed., Rio de Janeiro: Edições Graal,
1999.
ͶͲ
TÍTULO DO PROJETO
RECURSOS METAFICCIONAIS EM NARRATIVAS LITERÁRIAS DA TRADIÇÃO
ANGLO-AMERICANA.
TÍTULO DO PLANO
A CARACTERIZAÇÃO DE NARRADORES E LEITORES EM DOIS CONTOS
METAFICCIONAIS.
Genilda Azerêdo
UFPB – Cidade Universitária - João Pessoa - PB - Brasil - CEP: 58051-900 Fone: +55
(83) 3216-7200
Departamento de Letras Estrangeiras Modernas/Centro de Ciências Humanas, Letras e
Artes/UFPB
genildaazeredo@yahoo.com.br
RESUMO
A presente pesquisa A caracterização de narradores e leitores em dois contos metaficcionais
faz parte de um projeto maior que se intitula Recursos metaficcionais em narrativas literárias
da tradição anglo-americana. O objetivo deste trabalho é estudar dois contos que apresentam
características metaficcionais: The Yellow Wallpaper, de Charlotte Perkins Gilman (escritora
americana) e The Legacy, de Virginia Woolf (escritora inglesa). A metodologia da pesquisa
baseou-se em leituras, discussões e sistematização dos textos teóricos e críticos sobre a
metaficção; e análise e interpretação dos contos à luz da teoria estudada. A discussão dos
resultados indica que ambos os contos possuem seus significados atrelados às estratégias
metaficcionais: em “The yellow wallpaper”, a metaficção materializa-se no próprio signo do
papel de parede, que o intitula, e na necessidade de interpretação do seu significado, tanto pela
protagonista, quanto pelo leitor; a metaficção também se faz presente através do modo de
construção do conto, cuja linguagem lembra a escrita de diários. Em “The legacy”, temos a
estrutura “história dentro da história” (mise en abyme), através da presença material dos
volumes de diários de Ângela (narradora de sua história) na estrutura maior do conto (narrador
em terceira pessoa), gerando uma duplicação de narradores; consequentemente, da presença de
um personagem que lê os diários, e, ao lê-los, também decodifica e interpreta, provocando, pois,
a duplicação do ato de leitura e interpretação.
Ͷͳ
1. INTRODUÇÃO
O objetivo geral dessa pesquisa, cujo projeto intitula-se “Recursos metaficcionais em narrativas
literárias da tradição anglo-americana”, é analisar a metaficção, em sua modalidade teórica e
prática, através da articulação entre teorias que discutem o assunto e textos literários que têm
seus significados constituídos a partir destas categorias. Como objetivos específicos, o presente
plano prevê o estudo da metaficção atrelado às categorias de narrador e leitor nos seguintes
contos: “The yellow wallpaper”, de Charlotte Perkins Gilman, publicado em 1892, e “The
legacy”, de Virginia Woolf, publicado em 1944.
3. Qual a relação entre narrador e leitor quando acionamos o registro e a narrativa de diários?
4. De que modo a problematização das questões acima é adensada quando o diário é transposto
para o contexto ficcional da literatura?
5. Como se materializa, nos dois contos escolhidos para discussão, a releitura de códigos –
escrita, construção textual, registro, narração, leitura – pertinentes tanto ao contexto de diários
quanto ao contexto dos contos?
6. De que modo as duas autoras, Gilman e Woolf, fazem uso criativo da utilização da escrita de
diários para construir seus contos?
Segundo Waugh, o termo metaficção pode ser novo, mas a prática em si é antiga: “I
would argue that metaficional practice has become particularly prominent in the fiction of the
last twenty years. However, to draw exclusively on contemporary fiction would be misleading,
for, although the term “metafiction” might be new, the practice is as old (if not older than) as
Ͷʹ
the novel itself. What I hope to establish during the course of this book is that metafiction is a
tendency or function inherent in all novels” (WAUGH, 1984, p. 5). Assim como Patricia
Waugh, Hutcheon também acredita que a metaficção não é um fenômeno literário novo e nem
mesmo melhor que os outros, mas o que a diferencia é exatamente a integração de uma enorme
tradição de romances e seu nível de autoconsciência sobre as realidades literárias, algo que faz
a prática da metaficção diferente e digna de atenção.
O recurso metaficcional deixou para trás o realismo do século XIX que se caracteriza
na literatura e artes em geral como uma tendência filosófica do Positivismo, que observa,
analisa e tenta reproduzir a realidade o mais objetivamente possível. O século XIX era uma
época histórica de certezas e certa homogeneidade quanto aos valores e crenças sociais. Com o
século XX, vêm o modernismo e um contexto repleto de incertezas, variedade e fragmentação.
O século XXI tem acirrado ainda mais o ceticismo e questionamentos sobre a vida e as relações
humanas. Tal mudança quanto aos contextos históricos e sociais também é perceptível na
abordagem que os escritores dão aos textos literários. O uso de recursos metaficcionais ganha
em variedade e visibilidade na produção literária a partir do século XX.
Patricia Waugh:
Para Hutcheon:
Nas primeiras reuniões com a orientadora foi definido que trabalharíamos textos
teóricos sobre metalinguagem e metaficção e narrativas literárias que apresentassem
características metaficcionais. Foi decidido também que os estudos teóricos e a análise dos
contos (do projeto anterior e atual) seriam debatidos simultaneamente, para termos um melhor
entendimento do assunto, já que o mesmo é bastante complexo e requer muitas leituras e
exemplos. No intuito de evitar esquecimento de detalhes fundamentais, anotações foram feitas
durante os encontros.
O primeiro texto lido foi o capítulo VI, “Janela dos fundos”, do livro de Gustavo
Bernardo, leitura que nos mostra a adaptação do conto de Cornell Woolrich para o filme
produzido por Alfred Hitchcock, chamado Rear window. Nesses dois exemplos se observa o
uso de recursos metaficcionais. Em seguida, foi discutido o livro A metalinguagem, de Samira
Chalhub, que aborda o assunto de forma introdutória, a partir da noção da função
metalinguística da linguagem. Em seguida, iniciamos a análise dos contos para tentar articular
a teoria com a prática. Os textos que inicialmente compõem o desenvolvimento do nosso projeto
de pesquisa incluem:
ͶͶ
A terceira leitura teórica foi Metafiction – the theory and practice of self-conscious
fiction, de Patricia Waugh. Nesse texto, que é o capítulo inicial do livro, a autora apresenta
definições para a metalinguagem e metaficção, e também faz um apanhado crítico sobre a visão
já apresentada sobre esse fenômeno literário. Outros textos foram escolhidos, de forma
independente, para aprimorar e facilitar o meu conhecimento no assunto; os artigos são:
“Metaficção nos romances de Machado de Assis”, de Janine Resende Rocha; “O que é
metaficção? narrativa narcisista: o paradoxo metaficcional, de Linda Hutcheon”, de Brunilda
T. Reichmann; e por fim, “Metaficção e seus paradoxos: da desconstrução à reconstrução do
mundo real/ficcional e das convenções literárias”, de Verônica Daniel Kobs.
No segundo semestre de projeto a orientadora preferiu dar mais atenção a textos teóricos
gerais sobre a literatura e não apenas específicos sobre metaficção. Isso aconteceu devido a um
déficit de embasamento teórico, por parte dos orientandos, percebido no relatório parcial. Os
textos trabalhados foram: “Linguagem”, de James Wood, capítulo importante para notarmos o
quanto é perfeita a escolha de cada palavra que pode ser encontrada em uma narrativa, como o
próprio autor menciona:
Outro capítulo estudado foi “O que é Literatura e tem ela importância?”, de Jonathan
Culler; sua discussão concebe a natureza da literatura a partir de cinco pontos (porém todas
devem ser observadas em conjunto): “A literatura como a colocação em primeiro plano da
linguagem”; “Literatura como integração da linguagem”; “Literatura como ficção”; “Literatura
como objeto estético” e por fim, “Literatura como construção intertextual ou autorreflexiva”
(CULLER, 1999, p- 35-47). O tópico que mais chamou atenção para esse plano foi o de
“Literatura como ficção”, pois se pode assim fazer uma ponte com o conto “The Yellow
Ͷͷ
wallpaper”. Neste capítulo, Culler menciona o fato de poder existir uma forte ligação entre o
que é dito na narrativa (ficção) e o que acontece com o autor na vida real. “Pode ser que haja
fortes ligações entre o que aconteceu com o falante ou narrador do poema e o que aconteceu
com Wordsworth em algum momento de sua vida. Mas um poema escrito por um homem velho
pode ter um falante jovem e vice-versa” (CULLER,1999, p.38). Então se chega à conclusão
que, no conto de Charlotte Perkins Gilman, mesmo a autora tendo passado por uma situação
similar àquela retratada no conto – depressão pós-parto –, ainda assim, trata-se de uma narrativa
ficcional. Neste sentido, o “papel de parede”, anunciado no título do conto, constitui um
elemento criativo para os significados do conto e a compreensão da subjetividade da narradora-
personagem.
Os outros textos foram “Narrative”, “Character”, e “Voice”, de Andrew Bennett e
Nicholas Royle. No primeiro capítulo, “Narrative”, podemos observar várias questões
interessantes que se atrelam aos contos analisados neste projeto: “ 1) Stories are everywhere;
2) Not only do we tell stories, but stories tell us: if stories are everywhere, we are also in stories;
3) The telling of a story is always bound up with power, with questions of authority, property
and domination; 4) Stories are multiple: there is always more than one story; 5) Stories always
have something to tell us about stories themselves: they always involve self-reflexive and
metafictional dimensions” (1999, p. 54). A partir do terceiro ponto, notamos fortes ligações
com “The yellow wallpaper” e “The Legacy”; como exemplos, podem ser citados o papel
dominador do homem na sociedade perante as vontades e indagações das mulheres, as diversas
histórias dentro de um único conto, neste caso, uma segunda vertente a partir dos diários, e por
fim, os desdobramentos e a “autorreflexividade” na literatura. Essa “autorreflexividade” está
conectada, dentro do universo ficcional, à “reflexão sobre a própria literatura”, através da
consideração de aspectos ligados à relação entre ficção e realidade e à representação de mundos
através de textualidades diversas.
Por fim, discutimos os contos “Uma marca na parede” e “Um romance não escrito” da
escritora Virginia Woolf, e “Janela Indiscreta”, de Cornell Woolrich. Esses textos foram
discutidos e analisados de acordo com as teorias estudadas anteriormente. É importante destacar
que há uma presença mais complexa das características metaficcionais nesses últimos contos.
Nos contos de Woolf, por exemplo, a atenção se volta para a apreensão de uma realidade
escorregadia, subjetiva e abstrata.
Ͷ
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
O conto começa com a narradora, em primeira pessoa, comentando sobre a casa que o
marido havia alugado para eles passarem uma temporada de três meses; a casa descrita já tinha
um ar fantasmagórico e estranho desde o início. Logo em seguida, ela menciona um fator muito
importante – a narradora está sofrendo de uma “temporária depressão nervosa – uma ligeira
tendência histérica” (p. 74); porém, o marido e o próprio irmão, que são médicos, não acreditam
que esse tipo de problema seja algo sério. Adiante, ela cita outros detalhes importantíssimos, a
protagonista ama escrever, porém é proibida, devido ao tratamento médico. Ela diz: “Apesar
das opiniões deles, escrevi durante uns tempos. Mas, na verdade, isso acaba sempre por me
fatigar bastante — ter que fazê-lo tão veladamente, ou, caso contrário, ter que enfrentar uma
grande oposição” (p.75). A narradora-protagonista tem todos os seus horários controlados pelo
esposo-médico e é tratada sempre como uma criança. Todos esses fatores contribuirão
futuramente para a loucura total da protagonista.
Ͷ
Quanto mais tempo a protagonista fica longe de atividades e pessoas, mais intensas são
a depressão e as alucinações vistas no papel de parede. Vejamos o seguinte trecho: “Há uma
parte do quarto que está quase intacto, e aí, quando uma luz de outra origem esmorece e o sol
baixo incide sobre ele diretamente, quase posso imaginar um padrão de irradiação, apesar de
tudo — esses grotescos desenhos intermináveis parecem formar-se em torno de um centro
comum para depois se precipitarem em grandes mergulhos de cabeça, de igual distração” (p.80).
Até que no final da história a narradora está totalmente louca e se confunde com as mulheres
que ela imagina ver na parede: “Eu nem sequer gosto de olhar pelas janelas — há tantas dessas
mulheres a rastejarem por todo o lado, e rastejam tão depressa. Imagino se saíram desse papel
de parede, tal como eu. Mas eu estou bem atada agora à minha corda bem escondida — ninguém
me apanha lá fora, nessa estrada! Acho que terei que voltar para detrás do padrão quando a
noite vier, e isso é difícil!” (p. 88)
A partir das primeiras impressões sobre o texto “The yellow wall-paper”, notamos um
dado muito geral sobre a estrutura do conto, sendo o mesmo dividido em blocos e é sempre
bem fragmentada a narração em primeira pessoa da protagonista, caracterizando assim uma
escritura semelhante à de um diário. O fato de a personagem ser uma escritora, cuja escrita
lembra o estilo de diários, corrobora também a tendência de um gênero feminista.
A história começa com Gilbert Clandon olhando o broche de pérola que sua esposa,
Angela, deixou antes de morrer para Sissy Miller (a secretária). Gilbert até refletiu bastante no
início do conto como Angela tinha deixado tudo em tão perfeita ordem antes de morrer; era
como se ela tivesse previsto a própria morte: “It was as if she had foreseen her death” (p. 281).
Angela não tinha deixado nada específico para seu marido, apenas 15 volumes de diários
escritos por ela. Clandon nunca os tinha lido antes: “No, no, no, after I’m dead – perhaps”
(p.281), disse sua esposa. Entretanto, depois que entregou o presente para Miss Miller, o marido
decidiu lê-los e foi a partir desse momento que ele passou a conhecer realmente quem era sua
esposa e o que significava o casamento deles dois para ela. Clandon notou que o seu nome ia
desaparecendo dos diários à medida que ele ficava cada vez mais envolvido com o trabalho:
“His own name occured less frequently” (p. 285), porém outra pessoa, chamada de B.M
aparecia com mais frequência: “The initials B.M, B.M, B.M, recurred repeatedly” (p. 285).
Ͷͻ
Por fim, depois de uma ligação feita para Sissy para confirmar sua suspeita, Gilbert teve
a certeza que B.M era o amante de sua esposa, que ele havia se matado porque Angela não tinha
coragem de se divorciar e que a causa da morte dela também não tinha sido um acidente, mas
resultante da perda de seu verdadeiro amor.
É importante também notar a simbologia de um artefato deixado para Sissy Miller como
herança, no caso, o broche de pérolas. O broche de pérolas representa e faz referência ao
símbolo essencial da feminilidade criativa, ao emblema do amor entre os Gregos e à própria
ligação com a morte para alguns povos (cf. CIRLOT). Por mais que para Gilbert, Angela fosse
uma mulher imatura, sem muitas atitudes significativas, e impossibilitada de entender certas
situações, como ele mesmo menciona no conto: “(...) em vez de deixar sua pobre cabecinha
intrigada com problemas que eram difíceis demais para ela mesma entender” (p. 286), para
Sissy, que a conhecia verdadeiramente, Angela não era nada disso. O leitor também sabe que a
subjetividade de Angela é complexa.
Encontramos outro recurso utilizado por Virginia Woolf em The legacy, que é o
foreshadowing: “The literary device foreshadowing refers to the use of indicative
words/phrases and hints that set the stage for a story to unfold and give the reader a hint of
something that is going to happen without revealing the story or spoiling the suspense.
Foreshadowing is used to suggest an upcoming outcome to the story.” Podemos encontrar este
recurso claramente no início da narrativa quando Gilbert, por vários momentos, ficava
espantado com a ideia de Angela ter saído de casa no dia se sua morte tendo deixado os
presentes direcionados a cada pessoa. O texto já nos mostrava indícios que tinha ocorrido um
suicídio e não um acidente de carro; como exemplo, pode-se citar essa passagem: “No entanto
ͶͺͲ
como era estranho, Gilbert Clandon pensou mais uma vez, que ela tinha deixado tudo em tal
ordem – um presentinho de algum tipo para cada uma de suas amigas” (p. 281). Outro exemplo
de foreshadowing é o próprio título, pois nele o leitor já consegue ter uma pista sobre a morte
de alguém e bem provavelmente do(a) protagonista, já que um legado só será deixado se ocorrer
alguma morte.
As leituras fragmentadas feitas por Gilbert dos diários de Angela são uma característica
importante da estrutura de diários, reforçando assim mais um aspecto metaficcional; como
exemplo, podemos citar: “Leu bem rápido, completando cena após cena a partir dos fragmentos
desconexos. “Jantei na Câmara dos Comuns... Sarau nos Lovegroves. Lady L. perguntou-me se
eu me dava conta de minha responsabilidade como esposa de Gilbert” (p. 284). As diversas
interpretações feitas por Gilbert da própria história enquanto ele lia os diários e até mesmo de
sua conversa com Sissy Miller, cria, assim, mais um desdobramento dentro da narrativa maior.
Devido à sua auto-estima e arrogância, Clandon chegou à conclusão que Miller tinha “nutrido
uma paixão” por ele e que B.M era “um desses trabalhadores submissos que arejam suas
opiniões nas salas de visitas das senhoras grã-finas” (p. 285).
A inserção dos Diários, nesse conto, contribui para revelar que Ângela apenas adquiriu
“presença” e voz depois de morta. Sua subjetividade, enquanto vivia, caracterizava-se por ser
uma esposa insatisfeita, em busca de liberdade para viver uma nova vida com Gilbert. Mas só
sabemos disso simultaneamente ao marido, através da leitura dos Diários. A técnica constitui-
Ͷͺͳ
se bastante efetiva, pois o gênero Diário se amolda à intimidade de que Ângela precisava para
contar sua história de amor clandestina, secreta. E é por isso que apenas após sua morte, Gilbert
lê seus escritos.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o passar dos meses, notei que a metaficção exigia muita reflexão acerca de outros
assuntos para que ela fosse adequadamente entendida; como exemplo, posso citar a
intertextualidade. A intertextualidade se refere a obras que são criadas a partir de outras obras:
“Uma obra existe em meio a outros textos, através de suas relações com eles. Ler algo como
literatura é considerá-lo como um evento linguístico que tem significado em relação a outros
discursos (...)” (CULLER, 1999, p.40). Outro exemplo diz respeito às linguagens utilizadas nas
construções das narrativas; no texto “Linguagem”, de Wood, ele menciona uma frase usada por
um narrador de Woolf em The waves e fica mortificado com a tamanha perfeição das palavras
usadas.
Com esses embasamentos teóricos, com a ajuda de minha orientadora Genilda Azerêdo
e de uma orientanda que também participou do PIBIC, pude desenvolver esse projeto e analisar
as demais leituras com um olhar diferenciado, crítico, argumentativo e, acima de tudo,
meticuloso para os detalhes mais obscuros de um texto.
REFERÊNCIAS:
Ͷͺʹ
CIRLOT, J. E. A dictionary of symbols. New York: Philosophical Library, 1971.
GILMAN, CHARLOTTE PERKINS. The yellow wallpaper. In: Ward, Candace (ed.). Great
short stories by American women. New York: Dover, 1996.
HUTCHEON, LINDA. Narcissistic narrative: the metafictional paradox. London and New
York: Routledge, 1980.
HUTCHEON, LINDA. A theory of parody. Urbana and Chicago: University of Illinois Press,
2000.
ROCHA, JANINE. Metaficção nos romances de Machado de Assis. Santa Cruz do Sul. 2010.
In: http://online.unisc.br/seer/index.php/signo/article/viewFile/1320/959
WAUGH, PATRICIA. Metafiction. The theory and practice of self-conscious fiction. London
and New York: Routledge, 1984.
WOOD, JAMES. Como funciona a ficção. Trad. Denise Bottmann. São Paulo: Cosac Naify,
2012.
WOOLF, VIRGNIA. (Ed. Susan Dick). The complete shorter fiction of Virginia Woolf.
Orlando: Harvest, 1989.
WOOLF, VIRGINIA. Contos Completos. Tradução Leonardo Fróes. São Paulo: Cosac Naify,
2005.
ZEN, MARIANE WERNER. Íntimo e pessoal: a agenda como espaço de constituição de si. In:
http://anpuh.org/anais/wp-content/uploads/mp/pdf/ANPUH.S23.0729.pdf
Ͷͺ͵
AQUISIÇÃO FONOLÓGICA DA LATERAL /L/ EM CODA SILÁBICA POR
APRENDIZES BRASILEIROS DE INGLÊS – ANÁLISE A PARTIR DE PADRÕES
VARIÁVEIS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo analisar a ocorrência da vocalização na produção da lateral /l/
em posição de coda, realizada por aprendizes brasileiros de inglês como L2, procurando
relacionar os padrões variáveis do português brasileiro com a aquisição do inglês. Utilizamo-
nos da abordagem Teórico-metodológica da Teoria da Variação Linguística (LABOV, 1966,
1972) para a realização desta pesquisa. Como objetivos específicos, procuramos: observar de
que maneira os fatores linguísticos e extralinguísticos interferem na aquisição de inglês como
língua estrangeira e detectar quais são e por que ocorrem as transferências do dialeto materno
do falante na aquisição de L2. O corpus da pesquisa é composto de doze informantes que foram
estratificados de acordo com as variáveis sociais (Nível de proficiência e consciência
fonológica). Foram controladas variáveis linguísticas (tonicidade, contexto fonológico
posterior e anterior) e extralinguísticas (nível de proficiência, consciência fonológica e
informantes). Os dados foram coletados através da utilização de um gravador, foram
codificados e depois analisados com o auxílio do programa estatístico Goldvarb X (SANKOFF,
TAGLIAMONTE & SMITH, 2005). Os resultados obtidos demonstram a importância dos
fatores extralinguísticos para a ocorrência do fenômeno em estudo e consequentemente o
processo de produção da fala e suas variações.
ͶͺͶ
1. INTRODUÇÃO
A sociolinguística surge no século XX, quando passa a ser de interesse dos estudos
linguísticos, por passarem estes a não se interessarem apenas pelo sistema da língua
unicamente, mas pelo seu uso também. Com os trabalhos de William Labov (1966, 1972) a
sociolinguística ganhou mais destaque como ramificação da linguística.
A Teoria da Variação Linguística (LABOV, 1966, 1972) foi a abordagem teórica que
nos serviu para a realização desta pesquisa. Esta abordagem estabelece uma relação entre as
variações da língua e os fatores sociais. A língua, então, é observada como um sistema
heterogêneo e dinâmico, que está em constante mudança. As primeiras análises variacionistas
da aquisição de L2 mostraram que o contexto linguístico pode indicar se haverá variação ou
não variação e o tratamento longitudinal dos dados mostra o progresso da mudança linguística.
Essas variações podem ser observadas e sistematizadas através de levantamentos estatísticos
quantitativos.
A ideia de que a língua era heterogênea se consolidou graças aos estudos
etnolinguísticos e a dialetologia. A partir daí, estudos que tentavam englobar o estudo da língua
juntamente com os aspectos sociais começaram a surgir. Os estudos da variação e mudança
linguística passam a ser tratados de maneira tangível graças ao trabalho que deu origem à Teoria
da Variação Linguística (LABOV, 1966, 1972), realizado por Weinreich, Labov e Herzog
(1968). A Teoria da Variação Linguística veio em contraposição ao modelo gerativo de
Chomsky, onde os aspectos sociais não eram observados e estudados, pois no modelo
chomskyano, esses aspectos não tinham relevância teórica.
A Teoria da Variação Linguística cria então uma relação entre as variações da língua e
os fatores sociais. Sendo assim a língua estaria sob constante influência destes fatores sociais,
sendo constantemente moldada por eles, tornando-se dinâmica e heterogênea.
O processo de aquisição de uma L2 não se desvincula ou independe dos fatores sociais.
Estes continuam presentes e têm sua influência no processo de aquisição.
Partindo do pressuposto que nos utilizamos de conhecimentos e experiências prévias
para tentar compreender o novo, a língua materna torna-se influente no processo de aquisição
e aprendizagem de uma língua estrangeira e torna-se necessária a sua observação. O aprendiz
possui conhecimento da estrutura linguística de sua língua materna e irá utilizar este
conhecimento para entender e desenvolver seu conhecimento da L2.
Temos então o processo conhecido como processo de transferência, que se utiliza
basicamente do conhecimento de propriedades linguísticas de uma L1 para uma L2. Os
Ͷͺͷ
aprendizes baseiam-se no conhecimento que possuem de sua língua materna para entenderem
e aprenderem sobre a estrutura da língua estrangeira, aproveitando seus conhecimentos
linguísticos prévios. Sendo assim, pessoas de línguas maternas diversas apresentariam
dificuldades diferentes, no que se trata do processo de aprendizagem de uma língua estrangeira.
A análise contrastiva (LADO, 1957), em seus primórdios, afirmava que as substituições
na L2 eram causadas sempre por transferências, e assim, ela podia explicar a ocorrência de
alguns erros, mas não de todos, e isso eventualmente tornou-se um problema necessário de ser
analisado. Posteriormente surge a ideia de se observar os processos de desenvolvimento como
causa das substituições, que nem sempre eram causadas pelas transferências, como tido pela
análise contrastiva.
Trabalhando no campo das relações entre os padrões variáveis do português brasileiro
(PB) e a aquisição de línguas estrangeiras, Hahn (2010, p, 17) faz a seguinte citação:
Ͷͺͻ
2. METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada por meio da leitura de um texto que inclui diversas palavras
com a lateral /l/ em coda, em contextos diferentes, que foram analisados como variáveis. Estas
variáveis linguísticas foram: Contexto fonológico anterior (se é precedido de front vowel, mid
vowel ou back vowel); Contexto fonológico posterior (se é seguido de vogal, consoante ou
pausa); Tonicidade da sílaba que possui a coda silábica em estudo.
Foi levado em conta que alguns falantes, dependendo de sua produção, levariam o /l/,
que é esperado ser realizado em posição de coda, para a posição de núcleo, então não foi
incluída nenhuma palavra onde isso pudesse ocorrer.
Além das variáveis linguísticas, analisamos as variáveis extralinguísticas ou sociais que
foram: Nível de proficiência (básico, intermediário e avançado); Consciência fonológica (se o
informante possui conhecimento teórico de fonética e fonologia da língua inglesa); Informante
(a individualidade de cada informante).
A leitura do texto foi feita com doze (12) informantes, sendo quatro (4) de nível básico,
quatro (4) de nível intermediário e quatro (4) de nível avançado, onde dois (2) de cada nível
possuíam consciência fonológica, enquanto os outros dois (2) não possuíam.
ͶͻͲ
fenômeno em estudo. A partir daí começaremos a observar os dados a partir do embasamento
teórico adquirido.
3. RESULTADOS OBTIDOS
A partir dos resultados que obtivemos, podemos perceber a relevância de alguns fatores:
3.3 Tonicidade
A tonicidade também mostrou certa relevância estatística para essa pesquisa, sendo o
fator linguístico de maior relevância:
Ͷͻ͵
Tabela 5 – Tonicidade
Variáveis Aplicação/Total Porcentagem
Sílabas Tônicas 160/312 51.3%
Sílabas Átonas 72/120 60.0%
A partir da tabela acima, nós podemos observar que as sílabas átonas possuem um índice
de ocorrência maior que a das sílabas tônicas, que se mostraram pouco influentes sobre a
ocorrência do fenômeno.
Além da tonicidade, nenhuma outra variável linguística se mostrou significante, tendo
maior significância os fatores extralinguísticos como nível de proficiência e consciência
fonológica.
Como representado na tabela, nota-se que no caso das variáveis do contexto fonológico
posterior, a porcentagem de ocorrência foi muito próxima de 50% em todas as três, não havendo
muita diferenciação entre elas. Em seguida temos as de contexto fonológico anterior:
ͶͻͶ
Dessa vez notamos uma diferença maior entre a porcentagem de ocorrência de uma das
variáveis (Mid Vowel), com a ocorrência de 59,2%, em contraste com os outros valores
próximos a 50%. No entanto o contexto fonológico anterior não foi considerada uma variável
de relevância estatística para a pesquisa.
4. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS
Com base nos resultados obtidos, nós podemos concluir que fica clara a importância do
estudo da fonética e fonologia da língua inglesa, pois o conhecimento teórico permite ao
aprendiz discernir melhor os diferentes sons que podem ser produzidos pelo falante e isso
remete na prática em sua própria produção, além de facilitar o processo de aquisição de uma
L2. O conhecimento teórico fonológico acelera o processo de avanço do aprendiz na
interlíngua, e quanto mais rápido este avanço ocorre, menos propícia a ocorrência de processos
como o de fossilização. Por isso a importância da velocidade e forma de avanço da interlíngua
do aprendiz.
Também ficou claro que o nível de proficiência é um fator relevante a ser observado em
qualquer pesquisa, principalmente se relacionada ao processo de aquisição de L2. O nível de
proficiência, juntamente com a consciência fonológica do informante, se mostraram como
fatores externos relevantes para observarmos a ocorrência da vocalização do /l/.
O único fator linguístico que se mostrou de alguma relevância para este estudo foi a
variável de tonicidade, porém nem mesmo esta teve grande impacto e interferência na
ocorrência do fenômeno. Por mais que a vocalização do /l/ tenha sido mais comum nas sílabas
átonas, a diferença não foi tão grande se comparado às outras variáveis abordadas.
O informante também foi tido como variável extralinguística, pois este pode vir a ser
importante ao estudo e análise do mesmo. O falante pode possuir características individuais que
podem ser necessárias serem levadas em conta durante uma análise de dados.
Por fim, esperamos que esse estudo venha a contribuir para outros estudos nas áreas de
aquisição da linguagem, ensino de línguas, fonologia, dentre outras áreas. Poderá inclusive
oferecer informações que serão de utilidade e que possam ser levadas para a sala de aula, como
a importância de alguns estudos, como os que serão mencionados.
Ͷͻͷ
REFERÊNCIAS
BROSELOW, Ellen; CHEN, Su-I; WANG, Chilin. The emergence of the unmarked in Second
Language Phonology. Studies in Second Language Acquisition. n. 20, p. 261-280, 1998.
ELLIS, Rod. The structural syllabus and second language acquisition. TESOL Quaterly, v. 24,
n. 1, 1986, p. 91-113.
HAHN, Laura. A realização da lateral /l/ no inglês por falantes do português Brasileiro.
Dissertação de Mestrado. Porto Alegre: UFRGS, 2010.
LABOV, William. The social stratification of English in New York city. Washington: Center of
Applied Linguistics, 1966.
Ͷͻ
MACMILLAN English Dictionary for Advanced Learners. Mac Millan Publisher, 2002.
MAJOR, R.C. A model for interlanguage phonology. In: IOUP, G; WEINENBERG, S.H.
(Orgs.) Interlanguage Phonology: the acquisition of a second sound system.
TASCA, Maria. A lateral em coda silábica no Sul do Brasil. Porto Alegre: PUCRS, 1999.
WEINREICH, U.; LABOV, W.; HERZOG, M.. Empirical Foundations for a Theory of
Language Change. In: LEHMANN, W. & MALKYED, M. (orgs.). Directions for Historical
Linguistics. Austin: Univ. of Texas Press, 1968. p. 97-195.
Ͷͻ
O DISTANCIAMENTO BRECHTIANO POR MEIO DA COMÉDIA TENDO COMO
MODELO A ATUAÇÃO DE CHARLES CHAPLIN
RESUMO
Essa pesquisa se propõe a estudar o efeito do distanciamento proposto por Brecht, utilizando a
comédia como recurso, tendo como modelo a atuação do ator inglês Charles Chaplin. Através
do estudo do teatro épico apresentado por Anatol Rosenfeld, destacamos a paródia como
recurso principal dessa pesquisa, pois é utilizada, com frequência, no filme Tempos Modernos
de Chaplin. Essa escolha propiciou um recorte de investigação tendo em vista a necessidade de
aprofundar os aspectos técnicos da interpretação do ator inglês. Por meio de uma mímica limpa,
objetiva e reflexiva, o personagem Carlitos rompe com a identificação entre espectador e cena,
e entre ator e personagem, enfatizando a crítica em vez da ilusão. O aspecto prático dessa
pesquisa se concentra na criação de um experimento cênico a partir da personagem Quincas
Borba do romance: Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis. Este experimento
possibilitou a utilização dos recursos investigados na interpretação de Chaplin bem como uma
crítica às posturas do pequeno-burguesas. O experimento foi registrado em um material
audiovisual, tonando-se um dos resultados práticos da nossa investigação.
Ͷͻͺ
1. INTRODUÇÃO
A pesquisa faz parte do projeto Estudo da cena realista em Machado de Assis no
processo de criação do ator vinculado ao grupo de pesquisa registrado no CNPq: Teatro,
Tradição e Contemporaneidade, na linha de pesquisa: Ator e Cena. Com o objetivo de investigar
como os efeitos cômicos podem provocar o distanciamento brechtiano, utilizamos como
suporte teórico principal as obras de Bertolt Brecht e Henri Bergson.
A atuação de Charles Chaplin no filme Tempos Modernos nos serviu de objeto de estudo
porque não utiliza a psicologia da personagem como ponto de partida para sua criação. O filme
propõe ao espectador uma crítica aos costumes e ao comportamento da burguesia de sua época
apresentando cenas de alto teor irônico.
Da leitura do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis,
selecionamos a personagem Quincas Borba, que passa por uma situação econômica similar à
de Carlitos, para a criação de uma sequência de ações físicas que foi gravada em material áudio
visual. O trabalho propõe uma integração entre teoria e prática para a criação da personagem.
2. OBJETIVO DO TRABALHO
Essa pesquisa visa estudar o distanciamento brechtiano, por meio da comédia, tendo como
modelo a atuação do ator Charles Chaplin. Assim como desenvolver a personagem Quincas
Borba, retirada da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis, inspirados
pelas técnicas de interpretação cômica do ator inglês com o intuito de criar um material áudio
visual com o registro do trabalho.
3. MÉTODOS
A investigação seguiu uma sequência de etapas realizada em três fases simultâneas que
definiram um cronograma de trabalho. A primeira fase está relacionada ao levantamento
bibliográfico. A segunda fase foi dedicada à definição e análise da cena do filme Tempos
Modernos de Chaplin, que serviu de inspiração para a experimentação de exercícios de
interpretação. Na terceira fase criamos um laboratório prático para que pudéssemos construir a
personagem Quincas Borba a partir no romance Memórias Póstumas de Brás Cubas de
Machado de Assis. Estas experiências culminaram na organização de um material audiovisual
onde registramos nossa investigação sobre o distanciamento por meio da comédia. Também
relativa à terceira fase desse trabalho fizemos uma reflexão teórica a partir da prática com o
intuito de alcançar um aperfeiçoamento do exercício cênico e uma compreensão mais
aprofundada do tema abordado. Nosso trabalho foi finalizado na forma da comunicação oral
Ͷͻͻ
(apresentada na IV Jornada de Pesquisa em Artes Cênicas/2013 e ENIC/2013) e, por ter sido
premiado como Jovem Pesquisador no ENIC/2013, também foi apresentado na 66ª Reunião
Anual da SBPC/2014 – Sociedade Brasileira para o Progreso da Ciência. Realizada na
Universidade Federal do Acre (UFAC), Rio Branco, AC.
4. RESULTADOS E DISCURSÕES
O experimento cênico é um dos resultados obtidos com essa investigação. O aspecto prático
dessa pesquisa se concentra na criação da personagem Quincas Borba do romance Memórias
Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis. A personagem um filósofo visionário, genial e
louco ao mesmo tempo, em situação de mendicância, tendo tido um passado de posses, leva
para sua realidade de pobreza os costumes sociais e maneiras de um verdadeiro lorde. Frente a
esta contradição, nossa cena pretende enfatizar a disparidade entre forma e conteúdo com o
intuito de despertar o senso crítico no espectador e ao mesmo tempo fazê-lo rir. Os aspectos,
efeitos e técnicas (observados na interpretação de Chaplin) utilizados na construção desta
personagem, são: O distanciamento entre o personagem e suas ações, a neutralização facial, a
presença do ator narrador, a caricatura dos costumes e hábitos cotidianos da burguesia, a
presença da ironia, uma demonstração limpa e objetiva, a humanização do animal, a sátira da
mecanização do homem e a paródia. Para alcançar esta qualidade cênica utilizamos a proposta
de buscar a comicidade por meio da seriedade do clown. Assim passamos a incorporar na
personagem Quincas as características dos dois tipos fixos de palhaço (o Augusto e o Branco)
descritos por Burnier. Com a utilização da câmera pudemos investigar várias possibilidades
narrativas: a perspectiva interna da personagem, uma visão exterior e ainda um olhar crítico,
quando a câmera apresentava a visão que outra personagem envolvida na cena.
5. CONCLUSÃO
Pudemos concluir na prática, ainda que de forma parcial, que é possível provocar o
distanciamento brechtiano através da comédia. O estudo das diversas técnicas, efeitos e
métodos observados na atuação de Chaplin e das referências bibliográficas investigadas
demonstraram que o recurso cômico tem grande eficiência como ferramenta de afastamento
crítico para a plateia. Com a criação da personagem Quincas Borba e sua gravação em material
audiovisual, percebemos que a câmera também pode se tornar um condutor de narrativas,
possibilitando ao público um olhar crítico sobre a situação apresentada. Como continuidade da
pesquisa um grande universo se apresenta. Os aspectos cômicos podem ser analisados com uma
maior verticalidade e elencados um a um com o intuito de verificar sua eficácia. A criação de
ͷͲͲ
personagens extraídos da obra de Machado de Assis tem se revelado profícua nosso grupo de
pesquisa tem se dedicado a este procedimento por quatro anos com o desenvolvimento várias
pesquisas.
6. AGRADECIMENTO
Agradecemos ao empenho dos integrantes do nosso grupo de pesquisa para a realização
deste trabalho. Estendemos nosso agradecimento ao Centro de Comunicação, Turismo e Artes
– CCTA, ao Departamento de Artes Cênicas e ao Núcleo de Teatro Universitário – NTU, pelo
apoio a nossa pesquisa. Agradecemos também à Universidade Federal da Paraíba – UFPB, pelo
suporte financeiro destinado à nossa participação no 66ª SBPC]/2014 e ao Conselho Nacional
de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico – CNPq.
REFERÊNCIAS
BRECHT, Bertolt. Estudos sobre teatro / Bertolt Brecht: tradução de Fiama Pais Brandão:
(textos coletados por Siegfried Unseld). – 2 ed. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.
BRECHT, Bertolt. Teatro Dialético: Ensaios / Seleção e introdução: Luz Carlos Machel.
Civilização Brasileira, 1967.
CHAPLIN, Charles. Minha vida. Tradução: Amado, Genolino; Queiroz, Rachel De; Magalhães
Junior R. Editora: Jose Olympio. 2005
ROSENFELD, Anatol. Teatro Épico – São Paulo: Perspectiva – (Detalhes / dirigida por J.
Guinsburg), 1997
ͷͲͳ
SÉRIE
INICIADOS VOL. 20
2013-2014
Trabalhos premiados no XX Encontro
de Iniciação Científica da UFPB
ORGANIZADORES
Isac Almeida de Medeiros UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
Claudia de Figueiredo Braga PRÓ-REITORIA DE PESQUISA
Rogério Oliveira Barbosa JOÃO PESSOA, 2018
U N I V E R S I DA D E F E D E R AL DA PAR AÍ B A
R E I T O RA Margareth de Fátima Formiga Melo Diniz
V I C E -R E I T O RA Bernardina Maria Juvenal Freire de Oliveira
EDITORA UFPB
D I R E T O RA Izabel França de Lima
SUPERVISÃO DE EDITORAÇÃO Almir Correia de Vasconcellos Júnior
SUPERVISÃO DE PRODUÇÃO José Augusto dos Santos Filho
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA
P R Ó -R E I T OR Isac Almeida de Medeiros
T R AB AL H O S P R E M I AD O S N O
X X E N C O N T R O D E I N I C I A Ç Ã O C I E N T Í F I C A DA U F P B
24 A 28 DE NOVEMBRO DE 2014
CAMPUS I – JOÃO PESSOA
03 A 05 E DEZEMBRO DE 2014
CAMPUS III – BANANEIRAS
U N I V E R S I DA D E F E D E R AL DA PAR AÍ B A
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA
C O O R D E N A Ç Ã O G E R AL D E P R O G R AM A S
A C AD Ê M I C O S E D E I N I C I A Ç Ã O C I E N T Í F I C A
A P R E S E N TA Ç Ã O
C I Ê N C I A S H U M AN A S
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
188 A estratégia norte-americana de forum shifting
34 Biologia floral, ecologia da polinização e nas negociações em propriedade intelectual.
eficiência na produção de sementes de Vigna Pedro Henrique Mota de Carvalho (Bolsista
unguiculata (L.) Walp em sistemas agrícolas. PIBIC/CNPq/UFPB). Henrique Zeferino de
Marilene Vieira Barbosa (Bolsista PIBIC/ Menezes (Orientador).
CNPq/UFPB). Evelise Márcia Locatelli de Souza
(Orientadora). 200 Correlatos existenciais da congruência
valorativa: uma análise a partir da finitude
47 Caracterização fitossociológica e fitofisionomias humana. Liana de Fatima Cruz de Brito Lyra
na Serra de Santa Catarina – PB. Renato Magnum Marolla (Bolsista PIBIC/CNPq/UFPB). Thiago
Tavares Costa (Bolsista PIBIC/CNPq/UFPB). Antonio Avellar de Aquino (Orientador).
Pedro da Costa Gadelha Neto (Bolsista PIBIC/
CNPq/UFPB). Maria Regina de Vasconcellos
Barbosa (Orientadora).
CIÊNCIAS SOCIAIS
CIÊNCIAS AGRÁRIAS
ESTRATÉGIAS PARA A REVEGETAÇÃO DE FRAGMENTO FLORESTAL DO
MUNICÍPIO DE BANANEIRAS, PB1
Resumo
Introdução
1
Título do projeto: Conhecendo a flora autóctone e medidas de recuperação dos fragmentos florestais de brejos
de altitude.
2
Bolsista de Iniciação Científica, modalidade Ensino Médio; taleesss@gmail.com.
3
Professor Orientador; aldasibarbosa@gmail.com.
9
discutido por especialistas e educadores na área, que estão voltados para a realidade do campo,
visando à valorização das espécies autóctones, onde cada uma delas apresenta papéis
importantes para a perpetuação das cadeias e nichos ambientais locais. Para isso é importante
o conhecimento pormenorizado das espécies que povoam as formações vegetais da região,
possibilitando a outros uma ideia mais concreta ao determinar um estudo nesta área especifica
(BARBOSA et al., 2004).
Os brejos de Altitude são áreas que a partir do seu relevo executa função de barreira aos
ventos úmidos, os quais alcançam maiores altitudes, resfriando-se e propiciando a formação de
nevoeiros e chuvas, ressaltando que a partir dessas características citadas, a favorecimento de
zonação de associações vegetais que existe nas vertentes a barlavento, constituindo-se em
verdadeiras faixas de vegetação que se sucedem e ganham características mais úmidas, variando
entre florestas caducifólias ou subcaducifólias, até matas subperenes com espécies perenifólias
(LINS, 1989).
Segundo Veloso et al. (1991), esta tipologia pode ser considerada como refúgio ou
relíquia vegetacional, por apresentar peculiaridades florísticas, fisionômicas e ecológicas,
dissonantes do contexto em que está inserido. Representam áreas de exceção no contexto da
Zona do Agreste, favorecidos por condições naturais mais amenas que aquelas das caatingas
que a rodeiam. De acordo com dados obtidos na literatura existem 43 Brejos de Altitude,
distribuídos nos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, cobrindo uma
área original de aproximadamente 18.500 km². Somente Pernambuco e Paraíba possuem 31
brejos, distribuídos em 28 municípios do agreste e do sertão (TABARELLI, M; SANTOS,
2004).
As formações de brejo de altitude, principalmente os encontrados na região Agreste de
Pernambuco e Paraíba, são formações com microclima diferenciado, onde, por efeito
orográfico, a pluviosidade é bastante superior à do entorno inserido, caracterizando o “agreste
subúmido” (CABRAL et al., 2004).
Ao longo do tempo os brejos de altitude vêm sido de deveras formas sofrendo com
fatores antrópicos, principalmente para dar lugar a monocultura açucareira, ocasionando seu
fracionamento a pequenas manchas, com baixo poder de se regenerar (LINS; MEDEIROS,
1994).
O conhecimento dos processos ecológicos e dinâmicos constitui-se de uma ferramenta
importante para o entendimento e sucesso de um manejo sustentável em florestas tropicais
(KAO; IIDA, 2006).
O objetivo geral desse projeto é identificar e caracterizar a flora autóctone em áreas
preservadas e o comportamento das populações vegetais nos fragmentos florestais de brejo de
altitude e subsidiar, conseguintemente, conhecimentos específicos quanto à dinâmica
comportamental destas espécies na tipologia vegetal, assim como, estratégias de recomposição
da vegetação de área ameaçadas.
Material e métodos
Após os estudos prévios e preparatórios, como idas a campo e livros sobre brejos de
altitude a qual se referia às possíveis espécies a serem registradas e catalogadas no local, fez-se
necessário o reconhecimento da remanescente a ser estudado bem como a seleção das áreas
prioritárias para o levantamento e a pesquisa.
A caracterização crítica da Reserva quanto às fases sucessionais, áreas em regeneração
natural e degradação para a conseguinte instalação e implantação das parcelas experimentais,
as quais distribuíram-se de forma a escolher as áreas menos antropisadas para que se pudesse
representar e amostrar as espécies mais representativas do Fragmento florestal.
Além disso, fez-se necessário uma amostragem-piloto para estabelecer a quantidade
mínima necessária de parcelas a serem plotadas no remanescente as quais deram origem as
primeiras estruturas botânicas que foram coletadas e em seguida transferidas ao Herbário Jaime
Coelho de Morais no Centro de Ciências Agrárias – CCA, Campus II da UFPB, Areia - PB.
Na área selecionada foi realizado um levantamento florístico e fitossociológico. Para
tanto foram plotadas 22 parcelas fixas de 10m X 20m. Sendo cada parcela com 200 m²,
11
totalizando uma área amostral de 4.400 m², correspondendo a 12,39% do remanescente,
distribuídas sistematicamente no local.
Os estudos de florística e fitossociologia mostram a verdadeira face da estrutura
ecológica da flora regional, possibilitando, um manejo racional na conservação dos
ecossistemas (NASCIMENTO, 2002).
O inventário foi realizado durante os anos de 2011 a 2013, realizando-se caminhadas e
trilhas ao longo de todo remanescente. Para a identificação botânica foram coletados na fase
reprodutiva, cerca de três exemplares de cada espécie, quando possível. Os materiais vegetais
dos táxons foram coletados com presente aparente de descritores, foram acondicionados em
prensas e em seguida preparou-se as exsicatas.
O material foi enviado para o “Herbário Jaime Coelho de Morais” no Centro de Ciências
Agrárias (CCA) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Campus II, Areia - PB, sendo
classificado, identificado e posteriormente herborizados e incorporado ao acervo.
A B
Figura 2 - Coleta de dados sob aferição dos valores do diâmetro ao nível do solo (A), e demarcação de parcelas
experimentais (B).
12
Câmera Digital Fuji® 12mp
(Mega Pixels): Obter as imagens
no período do estágio;
GPS Garmim® E- trex: Para
obter as coordenadas dos
quadrantes da área;
Suta Mantax®: Tirar as medidas
do (DNS) Diâmetro ao Nível do
Solo, de indivíduos adultos;
Trena Bellota®: Tirar as medidas
das cordas para medições das
parcelas experimentais;
Fita Métrica: Tirar as medidas da
altura dos angicos em fase de
regeneração;
Cordas e Cano PVC graduado:
Demarcar, formando quadrantes e
obter o tamanho das árvores de
porte alto;
Paquímetro: Tirar as medidas do
diâmetro dos indivíduos em
regeneração.
Lápis, Papel e Prancheta: Para se
fazer anotações de cada parcela;
Tesoura de Poda: Utilizada para
Resultados e Discussão retirar amostras do material
vegetal;
Florística Google Earth: Obter o mapa da
área trabalhada;
Microsoft
do
Foram amostrados na área 879 indivíduos Excel 2010:
estrato arbóreo, vivos,Para se
distribuídos em 21
famílias, 33 gêneros e 36 espécies. trabalhar com os dados nas tabelas
e fazer anotações.
As famílias que apresentaram maior número de espécies na área, por ordem decrescente
foram: Fabaceae, com nove (09), Sapindaceae e Malvaceae com três (03), Anacardiaceae,
14
Myrtaceae, Melastomataceae, com duas (02), Bignoniaceae, Lauraceae, Hypericaceae,
Urticaceae, Moraceae, Solanaceae, com uma (01) e as demais somaram quatorze (14) espécies.
Gussonet al. (2008) também evidenciou a presença considerável da família Fabaceae, em
número de espécies, ao analisar as florestas estacionais semideciduais do triângulo mineiro.
Xavier (2009) ao realizar um levantamento florístico e fitossociológico também observou o
número de espécies da família Fabaceae mais acentuado (16 e 12 áreas I e II respectivamente),
em relação às demais famílias (Figura 4).
Famílias
12 14
10 9
Nº de Espécies
8
6
4 3 3
2 2 2
2 1 1 1 1 1 1
0
Vale a ressalva que a esta família (Fabaceae) está sempre associada a estágios
sucessionais iniciais, promovendo a melhoria do solo através dos processos simbióticos e
mutualísticos, para fixação de Nitrogênio com outros tipos de microrganismos (HUNGRIA et
al., 1994), o que permite inferir sobre a importância desta nos processos sucessionais das
comunidades florestais.
As famílias com maiores números de indivíduos, em ordem decrescente, são: Fabaceae
que se concentrou com 110 indivíduos (30% dos indivíduos amostrados), Sapindaceae 72 (8%),
Burseraceae 41 (5%), Piperaceae 38 (4%), figura 2.
120 110
100
72
Nº de Indivíduos
80
60
41 38
40
19 23 20 14 21
20 11 15 10 9 14
0
Famílias
Figura 5 - Número de indivíduos por família inventariados na Reserva do CCHSA/UFPB, Bananeiras-PB.
15
58
Cupania… 53
41
Piper mollicomum 38
25
Anadenanthera… 22
21
Tapirira guianensis 19
16
Brosimum guianense 15
14
Byrsonima sericea 11
10
Hymenaeae courbaril 10
10
Pterogyne
d nitens 9
9
Anacardium L.5
6
Espécies
Enterolobium Mart. 5
5
Vismia guianensis 5
4
Myrcia sp. 3
3
Alophylus sp. 3
3
Piptadenia stipulacea 2
1
Ceiba 1
1
Zanthoxylum… 1
1
Handroanthus 1
1
Miconia albicans 1
Nº de Indivíduos 0 20 40 60 80
Figura 6 – Relação do número de indivíduos amostrados por espécie, na Reserva do CCHSA/UFPB,
Bananeiras.
Nos Brejos de Altitude é possível ver diversos impactos ambientais antrópicos foram
constatados, o principal fator foi por apresentar condições de fertilidade e de disponibilidade
hídrica atraem agricultores para implantar lavouras. Nos cursos médio e baixo dos rios observa-
se que há a destruição da vegetação ciliar e, junto a áreas urbanas, a poluição da água pelo
despejo de esgotos e lixo. Fazendo frente a essa degradação constatada dos brejos e da falta de
informações a respeito floresta autóctone, levantamentos sistemáticos se fazem necessários e
urgentes para caracterizar sua composição geral, avaliar seu estado de conservação, para que
por fim desenvolver métodos de recuperação.
16
Figura 7 - Degradação do solo por efeitos erosivos antrópicos no fragmento florestal em 2012.
Figura 8 - Reserva do CCHSA/UFPB, Bananeiras-PB, com destaque das áreas em amarelo (áreas com
prioridade de planos de revitalização).
Neste fragmento amostrado pode-se observar uma série de ações antrópicas oriundos de
inúmeras problemáticas sociais, dentre as identificadas podemos destacar:
Conclusões
A área estudada possui uma riqueza florística semelhante quando comparado com outros
estudos realizados em âmbito regional de mesmas características fisionômicas.
Podemos relacionar que na área estudada, a família Fabaceae e Sapindaceae tem grande
capacidade de povoamento gerando dominância sobre as outras espécies. Maior parte das
espécies se distribui de forma agregada.
As espécies aqui listadas e catalogadas poderão servir de base para outras pesquisas que
venham elencar a preservação, utilização medicinal, silvicultural, farmacológica além de
proteção às plantas que compõem o patrimônio fitogenético autóctone representante às florestas
de brejo de altitude.
Os resultados obtidos neste trabalho permitem identificar as espécies mais importantes
da Reserva Florestal da UFPB/CCHSA.
Referências
GUSSON, A. E.; LOPES, S. F.; OLIVEIRA, A.P.; VALE, V. S.; NETO, O. C. D.; SCHIAVINI,
I. 2008. II Simpósio Internacional de Savanas Tropicais, Anais... Parla Mundi, Brasília -DF –
Universidade Federal de Uberlândia, Umuarama - MG. 2008. 3p.
SOUZA, V.C.; LORENZI, H. 2005. Botânica Sistemática- Guia ilustrado para identificação
das famílias de angiospermas da flora brasileira. 2. Ed. Plantarum: Nova Odessa, São Paulo.
SCOLFORO, J. R. S.; PULZ, F. A.; MELLO, J. M. Modelagem da produção, idade das florestas
nativas, distribuição espacial das espécies e a análise estrutural. In: SCOLFORO, J. R. S. (Org.).
Manejo Florestal. Lavras: UFLA/ FAEPE, 1998. p. 189-245.
TABARELLI, M.; SANTOS, A.M.M. Uma breve descrição sobre a história natural dos
Brejos Nordestinos. In Brejos de Altitude em Pernambuco e Paraíba, História Natural,
Ecologia e Conservação (K.C. Porto, J.J.P. Cabral; M. Tabarelli, eds.). Ministério do Meio
Ambiente, Brasília, (série Biodiversidade, n. 9), p.17-24.
19
APÊNDICE
FLORA NATIVA
20
Fragmento Florestal do CCHSA/UFPB, Campus de Bananeiras
Família: Polygonaceae
Nome científico: Coccolobamollis Casar.
Nome vulgar: Cravaçú
Hábito: árvore
Família: Burseraceae
Nome científico: Protiumheptaphyllum (Aubl.) Marchand
Nome vulgar: Almécega
Hábito: árvore
21
Família: Araliaceae
Nome científico: Scheffleramorototoni (Aubl.) Maguire et al.
Nome vulgar: Limãozinho
Hábito: árvore
Família: Sapindaceae
Nome científico: CupaniaimpressinerviaAcev.-Rodr.
Nome vulgar: Caboatã
Hábito: árvore
22
Família: Flacourtiaceae
Nome científico: Casearia sylvestrisSwartz.
Nome vulgar: Cafezeiro-do-mato
Hábito: arvoreta
Família:Myrtaceae
Nome científico:Myrciasplendens (O.Berg) Mattos.
Nome vulgar: Araçá bravo
Hábito: arvoreta
Família:Boraginaceae
Nome científico:CordiataguahyensisVell.
Nome vulgar: Frei-jorge
Hábito: arvoreta
23
Família: Malvaceae
Nome científico:Luehea paniculata Mart. &Zucc.
Nome vulgar: Açoita-cavalo
Hábito: arvore
Família: Sapindaceae
Nome científico: Talisiaesculenta (Cambess.) Radlk.
Nome vulgar: Pitombeira
Hábito: árvore
Família: Melastomataceae
Nome Científico:Miconiaalbicans (Sw.) Triana
Nome Vulgar: Quaresma branca/quaresmeira
Hábito: arvoreta
24
Família: Fabaceae; Leguminosae-Mimosoideae
Nome científico:Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan
Nome vulgar: Angico
Hábito: árvore
Família: Fabaceae
Nome científico:BowdichiavirgilioidesKunth
Nome vulgar:Sucuira-mirim
Hábito: árvore
Família:Solanaceae
Nome científico:Brunfelsiauniflora (Pohl.) D. Don.
Nome vulgar: Manacá-de-cheiro
Hábito: arvoreta
25
Família: Fabaceae; Leguminosae; Caesalpinioideae
Nome científico:Hymenaeacourbaril L.
Nome vulgar: Jatobá
Hábito: árvore
26
Família: Fabaceae; Leguminosae-Mimosoideae
Nome científico: Bauhiniaspp.
Nome vulgar: Pata-de-vaca
Hábito: árvore
Família: Urticaceae
Nome científico: CecropiapolystachyaTrécul
Nome vulgar: Embaúba
Hábito: árvore
27
Família: Malvaceae
Nome científico: Eriothecamacrophylla(K.Schum.) A.Robyns
Nome vulgar: Manguba
Hábito: árvore
Família: Fabaceae
Nome Científico: Peltophorumdubium (Spreng.) Taub.
Nome Vulgar: Cana-fístula
Hábito: árvore
Família: Sapindaceae
Nome científico: Alophylusspp.
Nome vulgar: Baga-de-morcego
Hábito: árvore
28
Família: Fabaceae; Leguminosae-Mimosoideae
Nome científico: IngaMill.
Nome vulgar: Ingá
Hábito: árvore
Família: Lauraceae
Nome científico: Ocoteaglomerata (Nees) Mez.
Nome vulgar: Louro preto
Hábito: árvore
Família: Bignoniaceae
Nome científico: Handroanthusspp.
Nome vulgar: Ipê
Hábito: árvore
29
Família:Anacardiaceae
Nome científico: TapiriraguianensisAubl.
Nome vulgar: Cupiuba branca
Hábito: árvore
Família: Lecythidaceae
Nome científico: Eschweileraovata(Cambess.) Miers
Nome vulgar: Biriba
Hábito: árvore
30
Família: Connaraceae
Nome científico: Connarus L.
Nome vulgar: Marassacaca/pajurarana
Hábito: liana
Família: Nyctaginaceae
Nome científico: Pisonia ambígua Heimerl
Nome vulgar: João mole
Hábito: árvore
Família: Malvaceae
Nome Científico: Guazuma ulmifolia Lam.
Nome Vulgar: Mutamba
Hábito: árvore
31
Família: Myrtaceae
Nome científico: Myrciaspp.
Nome vulgar: Araçá-bravo
Hábito: arvore
32
___________________________________________________________________________
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
BIOLOGIA FLORAL, ECOLOGIA DA POLINIZAÇÃO E EFICIÊNCIA NA
PRODUÇÃO DE SEMENTES DE VIGNA UNGUICULATA (L.) WALP EM SISTEMAS
AGRÍCOLAS
Resumo
O presente capítulo discute a pesquisa realizada com Vigna unguiculata (L.) Walp, pertencente
à família Fabaceae e conhecida popularmente por “feijão macáçar”, é uma cultura de importante
destaque na economia nordestina. A pesquisa teve por objetivo estudar a biologia floral,
identificar os visitantes que realizam a polinização e a influência dos mesmos na produção das
sementes. O comportamento dos visitantes foi observado entre 05h00min-10h00min. Para
identificar a estratégia reprodutiva realizaram-se dois experimentos: A. com os tratamentos de
autopolinização espontânea e polinização natural; e B. com autopolinização espontânea e
polinização cruzada manual, realizou-se ainda, estudo biométrico das sementes e frutos. V.
unguiculata apresenta flores zigomorfas com antese entre 04h30min-05h00min e senescência
às 09h00min-10h00min. As abelhas Xylocopa grisescens (71% das visitas) e Eulaema nigrita
(21,3%), foram consideradas polinizadores efetivos. V. unguiculata é capaz de produzir
sementes na ausência de polinizadores, porém a arquitetura floral atrai visitantes, garantindo
assim a variabilidade genética.
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Biologia floral, ecologia da polinização e eficiência na produção
de sementes de Vigna unguiculata (L.) Walp em sistemas agrícolas.
Estudante de Iniciação Científica: Marilene Vieira Barbosa (e-mail: mary-t.a@hotmail.com).
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br/e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br).
Orientador(a): Dra. Evelise Márcia Locatelli de Souza (e-mail:eveliselocatelli@yahoo.com.br, telefone: (83)
999541897).
34
As interações existentes entre plantas e animais influenciam diretamente no
funcionamento dos ecossistemas, sendo a polinização um processo fundamental a reprodução
das plantas (CRUZ; CAMPUS, 2009), viabilizando a formação de frutos e sementes.
Analisando de por outro anglo, a agricultura, pode ser beneficiada, pelo mutualismo
aqui descrito, sabendo que este pode influenciar na produção de frutos e sementes de algumas
espécies, estes destinados a alimentação humana, quando produzidos através de sistemas
agrícolas. Assim, este trabalho teve por objetivo estudar a biologia floral, identificar os
visitantes que realizam a polinização e a influência dos mesmos na produção de sementes em
cultivos de Vigna unguiculata na comunidade rural Assentamento Novo Salvador, no
município de Jacaraú, Paraíba.
Durante a execução do projeto foram feitas pesquisas bibliográficas, que embasaram a
parte teórica da pesquisa, bem como, estudo de caso da espécie através do trabalho de campo e
laboratório, em que se coletou dados sobre a fenologia, ecologia e biologia floral, sistema
reprodutivo, visitantes florais e da produção de sementes, o que nos permitiu identificar os
polinizadores, sua influencia e grau de dependência das mesmas por seus polinizadores na
produção de sementes.
Referencial Teórico
Metodologia e análise
Morfologia floral
Vigna unguiculata apresenta inflorescência racemosa, com botões e uma ou duas flores
que são hermafroditas, zigomorfas, diclamídeas, com coloração que pode variar de branca-lilás,
branca com tons amarelo e branca, dependendo da variedade, contém cinco pétalas, um
estandarte, duas alas e uma quilha, formada por duas pétalas que protege as partes sexuais
(Figura 1), o diâmetro da corola é de 47,4 mm.
O androceu é composto por 10 estames, que são curvados, sendo um livre com m =
20,66 mm de comprimento e nove fundidos formando um tudo estaminal, sendo 4 com m =
7,11mm e 5 com m = 9,51 mm de comprimento. As anteras são basifixas, bitecas com
deiscência longitudinal. O gineceu é composto por um carpelo com m = 14,19 mm de
comprimento e está envolvido pelo tubo estaminal, apresenta tricomas no estigma, o que pode
atuar como auxilio para aderência do pólen. O ovário é súpero, unilocular com uma média de
16 óvulos.
37
Figura 1 – Aspectos florais de Vigna unguiculata
Biologia floral
A antese é diurna, com início ás 04h30min- 05h00min e por volta das 09h00min-
10h00min inicia-se o processo de senescência floral, caracterizado pelo murchamento, fato
também observado por Rocha et al. (2007) em estudo realizado com a mesma espécie. Pode-se
encontrar em um único individuo botões, flores abertas e frutos.
A viabilidade polínica ficou em torno de m = 88,4%, valor baixo, quando comparados
com resultados obtidos por Ribeiro et al. (2013) em e estudo da mesma espécie realizado em
estufa, bem como, Kiill e Drumond (2001) e Guedes et al. (2009) em estudos realizados com
espécies da mesma subfamília.
A razão pólen/ovulo foi de m = 22,66, o que enquadrou a espécie em estudo como
xenogâmica facultativa, segundo parâmetro estabelecido por Crudem (1977).
O estigma está receptivo antes de antese. A concentração de açúcar no néctar ficou em
torno de 38 a 40% com volume de 2µl. Não se detectou a emissão de odores.
Ecologia da polinização
.
250
200
Nº de visitantes
50
0
5:00 às 6:00 6:00 às 7:00 7:00 às 8:00
SEM/FR
TRATAMENTO FL/FR SUCESSO %
Experimento A
Autopolinização 15
20/15 75%
espontânea
16
Controle 30/27 90%
Experimento B
Autopolinização 15
30/26 86,6%
espontânea
Polinização cruzada 16
20/16 83%
manual
40
testes de autopolinização espontânea com Gliricidia sepium e Canavalia brasiliensis,
respectivamente.
A porcentagem de frutos formados na área controle foi maior, quando comparados com
os resultados obtidos no tratamento de autopolinização espontânea nos experimentos A e B, o
que estar relacionado com a presença das abelhas. Estudo realizado por Camacho e Franke,
(2008) com a Leguminosa Adesmia latifolia, mostra que esta não apresentou formação de frutos
na ausência de polinizadores.
Os testes estatísticos indicam que não houve diferença significativa (Tabela 2), no
rendimento dos frutos e das sementes produzidas nos diferentes tratamentos, exceto para as
variáveis espessura e peso do experimento A, onde há a presença das abelhas na área controle,
que apresentou um sucesso reprodutivo de 90% (Tabela 1).
Experimento A
Experimento B
A formação de frutos e sementes, assim como sua qualidade, são relacionadas com a
adaptabilidade da espécie ou variedade ao meio, (ROCHA et al., 2007), porém a presença de
agentes polinizadores também pode interferir neste processo, FREITAS et al., (2009),
descrevem que a formação do fruto e semente pode ser limitada pela quantidade e qualidade de
pólen depositado no estigma, assim como a disponibilidade de recursos florais. Resultados
obtidos em estudos com Adesmia latifolia, por Camacho e Franke (2008), mostram que os
maiores rendimentos de sementes foram obtidos em área livre, com a presença de insetos
nativos.
Santana et al. (2002) observaram visitantes Apoidea no feijoeiro, Phaseolus vulgaris L.,
e concluíram que a abundancia das abelhas em determinadas áreas poderá promover um
aumento na produtividade da planta, sendo a presença do inseto na cultura um fator favorável
para quem busca maior produção.
A vagem de V. unguiculata apresentou um comprimento (Figura 4) que se concentrou
no intervalo de 192-220 mm (Experimento A) e 201- 219,99 mm (Experimento B), resultado
semelhante ao obtido por Silva e Neves (2011), com média geral de 19,68 cm, em pesquisa
realizada com 20 genótipos no estado do Piauí, diferente de dados obtido por Santos et al.
41
(2009) que obtiveram uma média geral de 16,30 cm em estudo realizado com quatro variedades
no Cariri paraibano.
EXPERIMENTO A EXPERIMENTO B
comprimento (mm) comprimento (mm)
1900ral 1900ral
1900ral
Frequencia (%)
1900ral 1900ral
Frequencia ( %)
1900ral
1900ral 1900ral
1900ral
1900ral 1900ral
1900ral
AE AE
1900ral 1900ral
CT PCM
1900ral 1900ral
1900ral
SEMENTES
FRUTOS
161 - 179,99
181 - 190,99
201 - 219,99
6,00 - 7,30
7,31 - 8,30
8,31 - 9,30
Largura (mm)
1900ral
Espessura (mm) 1900ral
1900ral
Frequencia ( %)
1900ral
1900ral 1900ral
Frequencia ( %)
1900ral 1900ral
1900ral
1900ral 1900ral AE
1900ral AE 1900ral
1900ral CT
1900ral 1900ral
CT
1900ral
FRUTOS
7,5 - 8,75
9,97 - 11,22
7,5 - 8,25
SEMNTES
8,71 - 9,96
8,26 - 9,01
9,02 - 9,77
Largura (mm)
1900ral
Espessura (mm) 1900ral
1900ral
Frequencia ( %)
1900ral 1900ral
Frequencia ( %)
1900ral 1900ral
1900ral
1900ral 1900ral
1900ral 1900ral AE
AE 1900ral
1900ral 1900ral PCM
1900ral PCM 1900ral
FRUTOS
5,00 - 5,8
SEMENTES
10,00 - 10,99
11,00 - 11,99
9,00 - 9,99
5,81 - 6,61
6,62 - 7,42
161 - 179,99
FRUTOS
SEMENTES
6,00 - 7,30
7,31 - 8,30
8,31 - 9,30
181 - 190,99
201 - 219,99
O número de sementes por vagem os dados obtidos ficaram entre 15 e 16 (Tabela 1),
enquanto que Silva e Neves (2011) e Santos et al. (2009), obtiveram 14,26 e 12,5,
respectivamente. Pesquisas com enfoque na qualidade da semente e genótipos da planta são
42
comuns, no entanto esses trabalhos geralmente comparam cultivares, ao invés de diferentes
tratamentos com a mesma variedade, como realizado na presente pesquisa.
Para espessura obteve-se uma maior frequência nos intervalos 5,52 - 6,53 e 4,52 - 6,57
(Figura 4) para frutos e sementes respectivamente, no experimento A, sendo uma maior
porcentagem de sementes e frutos da área controle. Para o experimento B, os frutos tiveram
uma maior porcentagem nos intervalos de 6,92- 7,72 no tratamento de polinização cruzada
manual, enquanto as sementes apresentaram maior rendimento na autopolinização espontânea,
com maior porcentagem entre os intervalos 4,74-5,51.
Conclusões
1. As observações demonstraram que, V. unguiculata possui estrutura floral que atrai uma
variedade de visitantes, sendo Eulaema nigrita e Xylocopa grisescens foram considerados
polinizadores efetivos, colaborando no processo de formação dos frutos e da variabilidade
genética nos sistemas agrícolas;
2. V. unguiculata é capaz de produzir frutos na ausência de polinizadores, o que a caracteriza
como auto-compatível;
3. Apesar dos dados referentes à eficiência na produção de sementes não apresentarem
diferença significativa, notou-se maiores rendimento na polinização natural, evidenciando
que os polinizadores influenciam tanto em quantidade quanto em qualidade na produção dos
frutos e das sementes;
4. Conclui-se ainda que V. unguiculata apesar de ser uma espécie autocompatível, oferece
recursos tróficos provavelmente com o objetivo de atrair visitantes florais garantindo assim
a variabilidade da espécie e se adaptou aos diferentes meios de reprodução ao longo do
tempo.
Referências
43
CAMACHO, J. C. B; FRANKE, L. B. Efeito da polinização sobre a produção e qualidade de
sementes de Adesmia latifolia. Revista Brasileira de Sementes, vol. 30, n. 2, p.081-090, 2008.
FAEGRI, K.; PIJL, L. VAN DER. The principles of pollination ecology. Oxford: Pergamon,
1980. 244p.
TEÓFILO, E. M.; PAIVA, J. B.; FILHO, S. M. Polinização artificial em feijão caupi (Vigna
unguiculata (L.) Walp. Ciênc. Agrotec. Lavras, v.25, n.1, p.220-223, 2001.
45
;
VIEIRA, P. F. S. P.; CRUZ, D. O.; GOMES, M. F. M.; CAMPOS, L. A.O.; LIMA, J. E. Valor
econômico da polinização por abelhas mamangavas no cultivo do maracujá-amarelo. Revista
Ibero americana de Economia Ecológica. Vol. 15p. 43-53, 2010.
46
CARACTERIZAÇÃO FITOSSOCIOLÓGICA E FITOFISIONOMIAS NA SERRA DE
SANTA CATARINA – PB
Resumo
Apresentação
Fundamentação teórica
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Potencialidades para criação de unidade de conservação de
proteção integral na Serra de Santa Catarina – Paraíba / Caracterização da flora e fitofisionomias na Serra de Santa
Catarina – PB.
Estudante de Iniciação Científica: Renato Magnum Tavares Costa (renato.magnum2@gmail.com).
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br).
Orientador(a): Maria Regina de Vasconcellos Barbosa (mregina@dse.ufpb.br, telefone: 83 3216-7754).
47
A caatinga abrange cerca de 900 mil km², correspondendo basicamente à região
semiárida brasileira (PRADO, 2003; SILVA et al., 2004). Essa região engloba a maior parte do
Nordeste brasileiro e uma faixa no vale seco da região média do rio Jequitinhonha, no estado
de Minas Gerais (PRADO, 2003). Ao contrário do que se acredita, a Caatinga apresenta um
mosaico heterogêneo de formações vegetais de grande complexidade (MACIEL, 2012), com
fisionomias florestais ou de savana-estépica, compostas principalmente por árvores e arbustos
adaptados às condições xerofíticas por meio de microfilia, caducidade foliar, presença de
espinhos, entre outras modificações morfológicas típicas desses ambientes (PRADO, 2003). As
diversas ecorregiões desse domínio e suas variações edafoclimáticas e topográficas abrigam
uma rica flora que hoje compreende cerca de 4.885 espécies reunidas em 175 famílias de
Angiospermas (FLORA DO BRASIL 2020, em construção). Todavia, a heterogeneidade
ambiental da caatinga impõe a necessidade de estudos mais amplos e adaptações metodológicas
que permitam conhecer melhor sua diversidade biológica, ainda subestimada (MMA, 2002).
Na Paraíba a caatinga é o principal ecossistema, ocupando cerca de 72% do território
do estado, nas porções central e ocidental do Planalto da Borborema, bem como em toda a
depressão sertaneja. Contudo, não há no estado uma unidade de conservação (UC) federal no
domínio da caatinga, e as poucas UCs estaduais são pequenas e sem expressão territorial
suficiente para manter o funcionamento ecológico e a importância biológica de suas formações.
Concomitantemente, a maior parte da área de caatinga no estado está caracterizada pela
mudança da paisagem por causa de interferência antrópica. A Serra de Santa Catarina apresenta
um dos poucos remanescentes com caatinga arbórea e formações florestais.
As Serras de Santa Catarina e do Boqueirão, pertencentes ao afloramento de rochas do
grupo Seridó do Pré-cambriano Superior, constituem uma faixa estreita que se destaca na
morfologia da depressão sertaneja na Paraíba. Esta faixa, como uma extensa serra alinhada,
segue a direção E-W do estado, 37º 59’ – 38º 27’ W e 6º 59’- 7º 1’ 30” S, com cotas altitudinais
oscilando de 450 a 836m. Estas serras apresentam diferentes fisionomias vegetacionais, como
a caatinga stricto sensu e a floresta serrana. Nas partes mais elevadas e íngremes, onde o relevo
apresenta-se forte ondulado, escarpado e montanhoso, com declividade acentuada, está presente
uma vegetação com estrato arbóreo dominante, contrastando bastante com as áreas de menor
altitude.
No ano de 2011 a Paraíba instituiu sua Política Estadual de Mudanças Climáticas
(PEMC) através da Lei 9.336/2011. Esta tem como objetivo principal normatizar a adequação
das atividades econômicas do estado ao desenvolvimento sustentável. Para isso, a PEMC
enfatiza a necessidade de aumentar as áreas legalmente protegidas, com o incentivo ao
reflorestamento e recuperação de áreas degradadas (Art3º parágrafo VI). Além disso, o Art. 5º
parágrafo XVI desta lei torna explicita a necessidade de criação uma unidade de conservação
na Serra de Santa Catarina.
A região que engloba a Serra de Santa Catarina é apontada como uma das áreas da
Reserva da Biosfera da Caatinga, denominação criada pela Organização das Nações Unidas
para indicar uma rede internacional de áreas protegidas. Além disso, a região é também indicada
como área de muito alta prioridade para a conservação da caatinga, segundo o MMA, bem como
área prioritária para pesquisa científica.
Segundo Andrade (2011), a vegetação encontrada nos ambientes de maiores altitudes
na caatinga expressa particularidades locais, quer seja na composição florística, na fisionomia
ou nos parâmetros estruturais. Seus dados fornecem subsídios para estudos taxonômicos,
ecológicos e fitossociológicos, bem como, para o planejamento de políticas de manejo
sustentável e de seleção de áreas prioritárias para conservação.
Devido às prioridades de conservação elencadas, à ameaça histórica ao tipo de cobertura
vegetal que ocorre na Serra de Santa Catarina e à demanda política do estado da Paraíba, foi
48
objetivo deste trabalho fornecer dados sobre a vegetação que pudessem subsidiar a criação de
uma unidade de conservação na região.
Assim, este trabalho teve como objetivos específicos: ampliar o conhecimento sobre a
flora da Serra de Santa Catarina; identificar as espécies que apresentam maior frequência e
densidade nesta flora; identificar as espécies características de cada uma das fitofisionomias
presentes na área; indicar espécies raras e ameaçadas.
Metodologia
Foram realizadas duas expedições à Serra, uma no período de março a abril de 2013 e
outra em abril de 2014, para a realização de coletas de espécimes férteis e levantamentos
fitossociológicos. O método adotado para o levantamento fitossociológico foi o de Ponto
Quadrante (MORO; MARTINS, 2011). Buscando amostrar todas a variações fisionômicas
presentes no local, foram plotadas 8 linhas contendo 10 pontos quadrantes cada, sendo a
distância entre um ponto quadrante e outro de 10 metros. As linhas foram reunidas duas a duas,
e estas se cruzavam sempre próximo ao quinto ponto, contudo, sem repetir o mesmo ponto
amostral (Figura 1). Em cada quadrante, a árvore mais próxima do ponto central foi
identificada, teve medidas a sua circunferência na base e a distância até o centro do ponto
quadrante, e estimada sua altura. Apenas indivíduos com circunferência na base igual ou maior
que 10 cm foram considerados.
Figura 1: Vista aérea da localização de dois dos quatro pares de linhas alocados na Serra de Santa Catarina, PB.
Legenda: Balão vermelho indica os pares de linhas e as bandeiras indicam os pontos no quadrante. Balão com a
estrela é um ponto conhecido na Serra como Cruz do Negro, atração turística local. Fonte: Google Earth.
O primeiro par de linhas, 1.1 e 1.2, foi plotado em uma área classificada como savana
estépica arborizada+florestada, a cerca de 700m de altitude. O par 2.1 e 2.2, na savana estépica
florestada+arborizada, a uma altitude de aproximadamente 560m. O terceiro par, 3.1 e 3.2, na
savana estépica florestada, a cerca de 340m de altitude. O quarto par de linhas, 4.1 e 4.2, em
uma área de savana estépica arborizada+agropecuária, a uma altitude de aproximadamente
290m. Essa distribuição seguiu o “Mapeamento exploratório da cobertura vegetal e de uso do
solo na Serra de Santa Catarina”, elaborado previamente.
49
Os parâmetros fitossociológicos calculados para cada espécie foram: densidade,
frequência e dominância relativas e absolutas, e valor de importância. Os cálculos foram
realizados no Programa FITOPAC File Version 2.1.2.85 (SHEPHERD, 2010). Além disso, uma
análise de cluster foi realizada no RStudio Version 0.98.976.
Todo o material botânico coletado (Figura 2) foi herborizado de acordo com as técnicas
rotineiramente empregadas em estudos taxonômicos (MORI et al., 1989), e as exsicatas
incorporadas ao acervo do Herbário Lauro Pires Xavier (JPB), da Universidade Federal da
Paraíba. A identificação do material botânico foi realizada a partir de consultas à literatura
especializada e/ou através da comparação com materiais previamente identificados por
especialistas no Herbário JPB.
Figura 2: Coleta de material botânico fértil durante a expedição realizada em 2013 para o levantamento
fitossociológico.
Resultados e análise
Tabela 1 – Parâmetros gerais das linhas amostradas na Serra de Santa Catarina, Paraíba
50
Linha 1.1 Linha 1.2
Parâmetros Valor Parâmetros Valor
No. de Indivíduos 40 No. de Indivíduos 40
No. de Espécies 22 No. de Espécies 23
No. de Famílias 11 No. de Famílias 10
Altura Média 7,125 Altura Média 6,631
Área Basal 0,968 Área Basal 0,491
Distância média 2,77 Distância média 2,147
Índice Shannon-Wiener 2,787 Índice Shannon-Wiener 3,004
Equabilidade 0,902 Equabilidade 0,958
Tabela 2 – Parâmetros estruturais das espécies do estrato arbóreo das linhas de pontos
quadrantes na Serra de Santa Catarina, ordenadas por IVI. Número de indivíduos (Ind),
Densidade relativa (DR), Frequência relativa (FR), Dominância relativa (DoR) e Índice de valor
de importância (IVI)
52
Annona
1 2,5 3,13 1,52 7,15 Indet 67 1 2,5 2,78 2,39 7,67
leptopetala
Guettarda
Indet 33 1 2,5 3,13 1,45 7,08 1 2,5 2,78 1,01 6,29
viburnoides
Aspidosperma
1 2,5 3,13 1,38 7,01 Indet 72 1 2,5 2,78 0,93 6,21
sp.
Indet 45 1 2,5 3,13 0,84 6,47 Indet 69 1 2,5 2,78 0,88 6,16
Indet 18 1 2,5 3,13 0,69 6,32 Indet 84 1 2,5 2,78 0,86 6,14
Capparis
1 2,5 3,13 0,65 6,27 Indet 92 1 2,5 2,78 0,79 6,06
flexuosa
Indet 46 1 2,5 3,13 0,56 6,18 Casearia sp. 1 2,5 2,78 0,79 6,06
Lonchocarpus
1 2,5 3,13 0,44 6,06 Indet 79 1 2,5 2,78 0,72 5,99
sp.
Indet 10 1 2,5 3,13 0,44 6,06 Indet 86 1 2,5 2,78 0,65 5,93
Indet 3 1 2,5 3,13 0,19 5,81 Indet 70 1 2,5 2,78 0,53 5,8
Indet 93 1 2,5 2,78 0,42 5,69
54
Mycracrodruon Anadenanthera
2 5 6,06 8,83 19,89 1 2,5 3,85 1,66 8,01
urundeuva colubrina
Aspidosperma Combretum
2 5 6,06 2,9 13,96 1 2,5 3,85 0,93 7,28
cuspa duarteanum
Amburana Combretum
2 5 6,06 2 13,06 1 2,5 3,85 0,65 6,99
cearensis leprosum
Combretum
2 5 6,06 1,34 12,4
leprosum
Libidibia ferrea 1 2,5 3,03 6,58 12,11
55
Figura 3 – Análise de agrupamento considerando as linhas alocadas nas partes altas e nas partes baixas da Serra
de Santa Catarina, Paraíba.
Conclusões
Referências
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CIÊNCIAS DA SAÚDE
ANÁLISE DA RELAÇÃO DOS DADOS DE NATUREZA LARÍNGEO, PERCEPTIVO
E DE AUTOAVALIAÇÃO EM PACIENTES COM DISTÚRBIOS DE VOZ
Resumo
O presente capitulo tem como objetivo descrever alguns métodos de avaliação vocal e dentre
eles investigar e entender a relação existente entre esses diferentes procedimentos e desta
maneira auxiliar o fonoaudiólogo clínico ou pesquisador na tomada de decisão de quais recursos
escolher para a realização da avaliação vocal. Para auxiliar na compreensão dessa temática foi
realizada uma pesquisa quantitativa, onde participaram 330 sujeitos, com diferentes
diagnósticos laríngeos e que realizaram uma sessão de avaliação vocal. Foi analisado dados do
exame laríngeo, dados perceptivo-auditiva e de autoavaliação. Todos os dados passaram por
análise estatística através da análise de variância ANOVA, o teste de Tukey e do teste de
correlação de Spearman. Ao final da pesquisa foi possível observar associação entre o
diagnóstico laríngeo, o desvio da qualidade vocal e os sintomas vocais, assim intensificando a
importância da integração dos dados para um adequado diagnóstico.
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Relação entre diagnóstico laríngeo, intensidade do desvio vocal
e sintomas vocais em pacientes disfônicos/ Integração dos dados de natureza fisiológica, perceptual, acústica e de
autoavaliação em pacientes disfônicos.
Estudante de Iniciação Científica: Hêmmylly Farias da Silva (e-mail: hemmyllyfono@hotmail.com, telefone: 83
986080988).
Orientador(a): Leonardo Wanderley Lopes (e-mail: lwlopes@hotmail.com, telefone: 83 3216-7203).
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br).
59
diversos órgãos e estruturas. Desta maneira, os distúrbios vocais são qualquer alteração que
impeça o funcionamento harmonioso desse processo assim comprometendo a emissão natural
da voz. Os distúrbios vocais podem ser desencadeados por fatores emocionais, ambientais,
comportamentais entre outros, e suas manifestações podem ser percebidas de maneira audível,
pela mudança na qualidade vocal, presença de lesões laríngeas ou proprioceptiva (BEHLAU,
2008; SIMBERG et al., 2009; BEHLAU et al., 2016).
Diante disso é possível descrever que a produção vocal é considerada uma função
multidimensional, tornando-se assim imprescindível a integração de diversos dados de
diferentes esferas, para assegurar uma adequada avaliação, diagnóstico e tratamento para a
alteração vocal. Deste modo a literatura científica sugere a presença de dados perceptivo-
auditiva, avaliação laringológica e a autoavaliação como informações básicas de uma avaliação
vocal (DEJONCKERE et al., 2001).
Assim o objetivo deste trabalho foi investigar a associação entre a intensidade do desvio
vocal, o diagnóstico laríngeo e a frequência de ocorrência de sintomas vocais nos pacientes que
procuraram atendimento fonoaudiológico no laboratório integrado de estudos da voz (LIEV)
do departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Essa
investigação foi realizada antes dos pacientes iniciarem a terapia, ou seja, no momento de
acolhimento e de triagem vocal, desta maneira assegurando uma avaliação vocal completa e
melhor prognóstico, uma vez que os dados obtidos para essa pesquisa também poderiam ser
utilizados para traçarem metas e garantir a objetividade da terapia vocal.
Fundamentação teórica
60
Como também alguns aspectos externos, ou seja, fatores relacionados ao ambiente em
que o indivíduo está inserido, como a exposição a ambientes muito secos, com poeira e/ ou
mofo. A exposição constante a essas situações poderá acarretar no desenvolvimento de
problemas em diversas estruturas que estão envolvidas no mecanismo da produção vocal e gerar
impacto diretamente na voz (FUESS e LORENZ, 2003).
Desta maneira é possível observar que diversos fatores podem influenciar direto ou
indiretamente na produção vocal e consequentemente desencadear um distúrbio vocal. Esses
problemas vocais podem acarretar impactos negativos na vida dos sujeitos em diferentes
proporções e gerar consequências negativa na qualidade de vida, tanto no aspecto social como
na capacidade de realizar tarefas (BAKER 2008; KASAMA e BRASLOTTO 2007).
Um estudo epidemiológico, realizado com mais de 1300 voluntários, encontrou que
4,3% dos sujeitos relataram que problemas vocais limitaram seu desempenho no trabalho, 7,2%
se ausentaram da profissão por até três dias devido a problemas vocais e 2% faltaram por mais
de quatro dias devido a este tipo de desordem (ROY et al., 2005).
Assim no momento da avaliação vocal torna-se essencial considerar o princípio básico
que a voz é multidimensional, ou seja, pode sofrer influência de diversos aspectos, sejam eles
anatomofisiológico, emocional, comportamental e/ ou ambiental, como mencionados
anteriormente. O momento de avaliação é imprescindível para conhecer, mapear e correlacionar
todos os aspectos envolvidos no distúrbio e desta maneira proporcionando uma visão ampla, a
identificação dos possíveis fatores etiológicos, a definição do grau da intensidade do desvio
vocal, a objetividade do tratamento oferecido e o impacto do problema vocal na vida do
indivíduo (MA E YU, 2006; RODRÍGUEZ-PARRA, ADRIÁN, CASADO, 2009; UGULINO
2012).
Dejonckere et al. (2001) sugerem que para a investigação do problema vocal, diante da
sua multidimensionalidade, é necessário a investigação e correlação de dados de diferentes
esferas. Desse modo, recomendam que devem participar da avaliação básica da voz: Avaliação
laringológica por meio da videolaringoscopia, análise perceptiva do clínico por avaliação
perceptivo-auditiva, avaliação acústica e a autoavaliação vocal.
Tais dados devem ser utilizados, não apenas para a triagem e diagnóstico, mas também
para monitorar a eficácia do tratamento e/ou de diferentes procedimentos que estão sendo
utilizado no decorrer do tratamento; além de fornecer dados para acompanhar a evolução clínica
do paciente (RODRÍGUEZ-PARRA, ADRIÁN, CASADO, 2009; UGULINO 2012).
Dentre as etapas necessárias para a avaliação vocal, destaca-se a avaliação laringológica
que é executada pelo médico otorrinolaringologista e pode ser realizada através da
laringoscopia. Esta avaliação consiste na visualização do trato vocal e fornece informações da
anatomia e fisiologia de diversas regiões e dentre elas a laríngea, além de proporcionar a
visualização da qualidade vibratória das pregas vocais. Consiste em um recurso que
proporciona ao clínico o diagnóstico diferencial, quando o problema vocal apresenta lesões
associadas (ZITTA 2005; PASTANA, GOMES; CASTRO, 2007).
A avaliação perceptivo-auditiva é realizada pelo Fonoaudiólogo e consiste em um
método soberano de avaliação vocal que irá fornecer dados para classificar, categorizar e
quantificar o desvio vocal do paciente, além de indicar a capacidade vocal, laríngea e as
características do trato vocal e articuladores (ZITTA 2005; YAMASAKI et al., 2008). Dentre
os protocolos disponíveis para essa análise os mais referidos na literatura são a escala GRBAS
e a Escala Analógica Visual (EAV) (BELE, 2005; EADIE e BAYLOR, 2006).
Em geral uma análise perceptiva apresenta dois métodos básicos de análise vocal,
primeiro a avaliação global do desvio vocal; e em segundo uma investigação mais específica
acerca dos parâmetros desviados, podendo ser essas dimensões a rugosidade, soprosidade,
tensão, instabilidade, entre outros. Porem muita cautela deve ser tomada diante da avaliação
61
dessas medidas, uma vez que a classificação desses parâmetros está diretamente relacionada a
experiência ou treinamento prévio dos avaliadores diante das alterações (MARYN et al., 2009).
Além das alterações morfológicas nas pregas vocais, laríngeas ou auditivas, a percepção
da alteração vocal pelo do indivíduo tem ganhado bastante destaque na literatura cientifica
sobre diferentes perspectivas, pois entende-se que as implicações geradas pelo distúrbio da voz
podem causar limitações desde inteligibilidade da expressão até o comprometimento em
atividades cotidianas e profissionais (OLIVEIRA et al., 2012).
Em uma pesquisa realizada por Kasama e Brasolotto (2007), que buscou investigar a
interferência do problema vocal na qualidade de vida desses sujeitos, foi possível observar que
aqueles indivíduos que relatavam grande impacto dessa alteração na sua qualidade de vida, pior
descreviam sua qualidade vocal.
Diante desta perspectiva nos últimos anos diversos instrumentos de autoavaliação foram
desenvolvidos para auxiliar a investigação da percepção do indivíduo frente de uma alteração
da voz e os impactos gerados no seu cotidiano (BASSI et al., 2011).
Dentre esses protocolos desenvolvido destaca-se aqui a Escala de Sintomas Vocais
(ESV), que consistem em um robusto instrumento de autoavaliação e sintomas vocais e
apresenta propriedades psicométricas comprovadas. Trata-se de uma escala de simples
aplicação com alta confiabilidade capaz de fornecer informações quanto à funcionalidade,
impacto emocional e os sintomas físicos decorrente de um problema vocal em adultos
(MORETI, 2011).
Sintoma consiste em qualquer modificação ocorrida no organismo causada por alguma
alteração endógena ou exógena (BEHLAU, 2008). Quanto refere-se aos sintomas relacionados
a voz, este podem variar desde falhas na voz, rouquidão persistente, a fadiga vocal, perda de
potência da voz, dor na garganta, pigarro e ardência/secura na garganta (JARDIM et al., 2007;
FERREIRA et al., 2009). Zambom e colaboradores (2007) definiram um número médio de
sintomas vocais para a população brasileira de 1,7 sintomas.
Os sintomas vocais pode ser uma das principais queixas relatadas pelo indivíduo, pois
conhecer a forma como o paciente caracteriza e percebe o seu problema com relação a fonação
é imprescindível, e a utilização de um instrumento para este momento da avaliação constitui
uma ferramenta essencial, uma vez que poderá ajudar o paciente na descrição dos seus sintomas,
detalhamento da sua qualidade de vida, como também auxiliará ao clínico na objetividade da
avaliação e na melhor tomada de decisão para uma conduta terapêutica (KASAMA e
BRASOLOTTO 2007; BEHLAU e OLIVEIRA, 2009). Importante destacar que a
autopercepção consiste em um dado subjetivo e não deve ser utilizado isoladamente para
possíveis condutas, deve-se ser associada e integrada aos demais dados da avaliação realizada.
O princípio básico da avaliação vocal sempre deverá ser a multidimensionalidade vocal
e a necessidade de estudos que investiguem a correlação entre as medidas dessa avaliação para
a compreensão e integração dos dados de diferente natureza na avaliação e no processo de
diagnóstico vocal é extremamente necessário.
Metodologia e análise
Possuir idade entre 18 e 59 anos, pois são limites que diminuem a probabilidade da presença
de alterações vocais decorrentes de mudanças hormonais da adolescência ou senescência
(BEHLAU, 2008);
Ter concordado em participar voluntariamente do estudo e ter assinando o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE);
Apresentar queixa vocal;
Ter realizado exame de laríngeo com otorrinolaringologista, apresentando laudo por escrito.
64
A primeira análise realizada foi a ANOVA e obtivemos como resultado diferença
estatisticamente significativa entre as médias dos escores total, limitação e físico da escala de
sintomas vocais nos diferentes grupos diagnósticos. Então após esse resultado foi realizado a
análise post-hoc para identificação desta diferença entre os grupos, e foi possível observar que
com relação ao domínio total da ESV o grupo de pacientes com lesão na porção membranosa
das pregas vocais apresentaram maior número de sintomas que pacientes sem lesão laríngea,
pacientes com distúrbio neurológico da voz e com distúrbio de voz secundário a refluxo
gastroesofágico. No domínio limitação e físico esse grupo de pacientes também apresentou
maior número de sintomas com relação as limitações que os pacientes sem lesão laríngea e que
os pacientes com distúrbio neurológico da voz.
Ao observar esses resultados acredita-se que esse aumento do número de sintomas
vocais nos pacientes com lesão na porção membranosa das pregas vocais pode ser decorrente
das alterações que essas lesões causam principalmente na harmonia do funcionamento vocal,
gerando consequências nos aspectos auditivos, sensoriais, físico e no uso da voz (GUNTER,
2004; HOUTE et al., 2011).
Também observamos que os sujeitos com distúrbio de voz secundário a refluxo
gastroesofágico apresentaram mais sintomas físicos que pacientes sem lesão laríngea. O
aumento do número de sintomas físicos pode ter sido influenciado pelo desconforto gerado no
trato vocal devido a irritação causada pelo refluxo do conteúdo gástrico que entra em contato
com a mucosa e as estruturas laríngeas (KOUFMAN et al., 2000).
Quando realizado o teste de correlação obtivemos como resultado que a intensidade do
desvio vocal está relacionada diretamente com o escore total da ESV, como também com os
sintomas emocionais e de limitação. E na comparação entre médias também foi possível
observar que os indivíduos com maiores desvios na qualidade vocal apresentaram mais
sintomas vocais escore total e de limitação.
As mudanças no funcionamento laríngeo podem ser percebidas auditivamente com a
presença de um desvio na qualidade vocal e pode proporcionar ao paciente diversos incômodos
e consequentemente relatos de maiores sintomas, sejam elas auditiva ou sensorial, bem como
proporcionar limitação no uso profissional ou social da voz (KASAMA e BRASOLOTTO,
2007; FERREIRA et al., 2009; DEARY et al., 2010).
Os achados desta pesquisa enfatizam a importância da visão multidimensional ao
problema de voz, uma vez que não existe uma relação direta entre o diagnóstico laríngea, a
avaliação auditiva e a autovaliação vocal, mas que essas informações são imprescindíveis de
serem trabalhadas em conjunto para proporcionar um adequado diagnóstico e prognóstico ao
paciente com problemas vocais, principalmente nos quadros de lesões na porção membranosa
das pregas vocais.
Conclusão
Os resultados obtidos por meio desse estudo revelam que existe associação entre o
diagnóstico laríngeo, o grau de desvio vocal, obtido através da análise perceptivoauditiva, e os
sintomas vocais, informado através da autoavaliação. Assim esta pesquisa intensifica a
importância da avaliação vocal multidimensional, pois as informações fornecidas nas diferentes
esferas da avaliação estão associadas.
O resultado da autoavaliação, em específico, os escores da Escala de Sintomas vocais
variam de acordo com o diagnóstico laríngeo de cada paciente.
Aqueles pacientes com diagnóstico de lesões na porção membranosa das pregas vocais
apresentaram maiores valores nos escores total e de limitação da Escala de Sintomas Vocais,
do que pacientes sem lesão laríngeo e com distúrbios neurológicos da voz ou distúrbio
secundário ao refluxo gastroesofágico.
65
Os pacientes com um maior grau de desvio vocal apresentaram maiores sintomas no
escore limitação. Os escores totais, emocionais e de limitação se apresentaram diretamente
proporcionais ao grau de desvio vocal de cada paciente.
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68
ESTUDO QUÍMICO MEDICINAL DE ÉSTERES FENILPROPANOICOS
Resumo
Apresentação
Este capítulo trata do desenvolvimento da pesquisa que teve como plano de trabalho o:
“Estudo químico medicinal de ésteres fenilpropanoicos” inserido no Projeto de Pesquisa de
Iniciação Científica intitulado: “Avaliação da atividade antifúngica de ésteres fenilpropanoicos
estruturalmente relacionados”. Esse projeto foi orientado pelo Prof. Dr. Damião Pergentino de
Sousa e realizado durante o período de agosto/2013 – julho/2014. A pesquisa envolve a
preparação e purificação de ésteres potencialmente bioativos, a avaliação dos mesmos em testes
antifúngicos e estudos da influência da estrutura química desses compostos orgânicos na sua
bioatividade antifúngica.
As infecções fúngicas passaram a receber considerável atenção desde o século passado,
devido ao aumento da sua frequência. Pacientes imunocomprometidos, portadores da Sídrome
da Imunodeficência Adquirida (AIDS), que passam por procedimentos cirúrgicos invasivos,
fazem uso de corticosteroides e/ou antibióticos de amplo espectro por tempo prolongado; estão
suscetíveis a infecções fúngicas causadas por agentes oportunistas e podem desenvolver um
quadro de maior gravidade. As leveduras do gênero Candida estão entre os fungos oportunistas
de maior interesse clínico, são responsáveis por uma variedade de infecções superficiais e
invasivas extremamente frequentes em ambientes hospitalares (BARBEDO & SGARDI, 2010;
NETO, 2004).
O tratamento dessas infecções é muitas vezes dificultado ou falho devido à limitação na
terapêutica, decorrente do crescente aparecimento de cepas fúngicas patogênicas resistentes aos
agentes antifúngicos disponíveis, o que é geralmente associado ao uso prolongado e incorreto
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Avaliação da atividade antifúngica de ésteres fenilpropanoicos
estruturalmente relacionados/Estudo químico medicinal de ésteres fenilpropanoicos.
Estudante de Iniciação Científica: Alana Rodrigues Ferreira (alanarodriguesferreira@hotmail.com).
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB (www.propesq.ufpb.br e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br).
Orientador: Prof. Dr. Damião Pergentino de Sousa (e-mail: damiao_desousa@yahoo.com.br).
69
desses medicamentos. Tornando-se necessária a pesquisa por novos agentes antifúngicos
(BARBEDO & SGARDI, 2010; NETO, 2004; SOUZA, 2010).
Diversas pesquisas de atividade antimicrobiana são realizadas com compostos
fenólicos. Substâncias dessa classe são largamente distribuídas na natureza, utilizadas
industrialmente como flavorizantes de alimentos, conservantes antimicrobianos; também fazem
parte da composição de cosméticos e perfumes (WANG, et al, 2012) e estão associados a um
amplo leque de efeitos biológicos: atividade antioxidante, antimicrobiana, anti-inflamatória e
anticarcinogênica (ABE et al, 2007).
Tendo em vista o potencial terapêutico apresentado por compostos fenólicos e a
necessidade da obtenção de novos candidatos a agentes antifúngicos, o presente trabalho tem
como principal objetivo preparar e avaliar a atividade antifúngica de uma coleção de ésteres
estruturalmente relacionados (em sua maioria fenilpropanoides) e estabelecer uma relação
estrutura-atividade das substâncias.
Fundamentação Teórica
O gênero Candida
Compostos fenólicos
70
As plantas produzem uma variedade de compostos orgânicos que não estão diretamente
relacionados com seu metabolismo básico e desenvolvimento, são os metabólitos secundários,
geralmente sintetizados para adaptação da planta ao ambiente ou para proteção contra insetos e
microrganismos patogênicos (KORKINA, 2007). Os compostos fenólicos são um exemplo de
metabólitos secundários. Quimicamente, possuem anel aromático com um ou mais substituintes
hidroxílicos, incluindo seus grupos funcionais; os de maior ocorrência natural podem
apresentar-se como ésteres e metil ésteres. São conhecidos por sua capacidade antioxidante, nos
alimentos são responsáveis pela cor e aroma, por exemplo. (ROCKENBACH, 2008).
Os ácidos fenólicos são compostos simples e dividem-se em dois grupos,
hidroxibenzoicos (os mais simples encontrados na natureza): ácido gálico, vanílico e siríngico,
por exemplo. O segundo grupo corresponde aos hidroxicinâmicos (derivados do ácido
cinâmico): ácido cafeico, ferúlico, p-cumárico e sináptico (ROCKENBACH, 2008). Estes
últimos são classificados como fenilpropanoides e caracterizados por possuírem um anel
aromático (que pode apresentar-se substituído) com uma cadeia lateral de três carbonos que
contém uma dupla ligação (MONTANARI, 2010). O ácido cinâmico e os hidroxicinâmicos são
encontrados na maioria das plantas existentes como misturas de forma livre e como mono ou
diésteres. Cinamatos com grupos hidroxilas e metoxilas possuem diversas propriedades
farmacológicas: atividade anticarcinogênica, antibacteriana, antifúngica e também possuem
efeitos contra o envelhecimento (WANG, et al, 2012).
Diversos estudos são realizados na produção de derivados fenólicos com atividade
antifúngica (TAWATA et al., 1996). Dentre as substâncias sintetizadas e avaliadas, destacam-
se os ésteres preparados a partir de ácidos orgânicos fenilpropanoides. Há relatos sobre a
biossíntese de derivados fenilpropanoides em plantas infectadas por fungos; comprovou-se ser
uma forma de defesa da planta (JIN & YOSHIDA, 2000). Ésteres do ácido cafeico e do ácido
benzoico, isolados de plantas, apresentaram atividade antifúngica frente a diversos tipos de
fungos (SVETAZ et al., 2004; LÓPEZ et al., 2002; TERREAUX et al., 1998). No estudo de
NARASIMHAN (2004) o ácido cinâmico e seus derivados apresentaram bioatividade
antibacteriana e antifúngica, frente a leveduras do gênero Candida.
Metodologia e análise
71
Esquema 1 – Reações de esterificação para preparação dos ésteres
Procedimento geral
1: Cinamato de metila
58,7%
2: o-cumarato de metila
58,1%
3: m-cumarato de metila
54,0%
4: p-cumarato de metila
53,4%
5: Ferulato de metila
59,9%
72
6: p-metoxi-cinamato de metila
93,7%
7: Vanilato de metila
90,1%
8: Cafetato de metila
31,1%
Teste antifúngico
Microrganismos
73
As leveduras utilizadas foram: Candida albicans (ATCC-76645), C. albicans (LM-
106), C. tropicalis (ATCC- 13803), C. tropicalis (LM-23), C. krusei (LM- 13) e C. krusei (LM-
656). As cepas foram adquiridas no Instituto Adolfo Lutz de São Paulo, Laboratório de
Micologia (DCF/UFPB). As mesmas foram mantidas em Agar Sabouraud Dextrose-ASD
(DIFCO LABORATORIES/France/USA) e conservadas a 4 ºC e a 35 ºC.
A suspensão dos microrganismos foi preparada conforme o tubo 0.5 da Escala
McFarland, ajustada através de leitura espectrofotométrica (Leitz-Photometer 340-800), para
90% T (530 nm), correspondendo, aproximadamente, a 106 UFC/mL (NCCLS 2000;
HADACECK; GREEGER, 2000; CLEELAND; SQUIRES, 1991). Os ensaios de atividade
antifúngica foram realizados em meio líquido RPMI 1640 para leveduras (ACUMEDIA/India).
Os meios de cultura foram preparados e usados conforme as instruções do fabricante.
Através dos resultados expressos na tabela 2, é possível observar que a maioria dos
produtos apresentou atividade antifúngica frente às espécies avaliadas, quando comparadas a
nistatina, fármaco antifúngico utilizado como padrão. O m-cumarato de metila (3) inibiu o
crescimento de todas as cepas testadas. O cafeato de metila (8) não produziu efeito apenas sobre
uma das cepas. O o-cumarato de metila (2), ferulato de metila (5) e p-metoxi-cinamato de metila
(6) inibiram o crescimento de cinco cepas usadas nos ensaios biológicos. Os produtos p-
cumarato (4) e cinamato de metila (1) tiveram baixo efeito inibitório sobre o crescimento das
leveduras do gênero Candida, enquanto que o vanilato de metila (7) não se mostrou bioativo
frente as cepas testadas.
Ao comparar 1 com seus derivados hidroxilados (2, 3, 4), estes últimos apresentaram
melhor atividade antifúngica. A presença da hidroxila mostra-se como fator determinante a
otimização da bioatividade de 2 e 3 frente as cepas de C. abicans: LM-106, LM-P20 e ATCC-
13803; o produto 3 ainda se mostrou ativo frente a C. tropicalis (LM-23), o que não ocorreu
com 1. A bioatividade de 4 foi melhor em C. albicans (LM-106). Essa melhor bioatividade dos
derivados de 1 está também relacionada com a posição da hidroxila no anel aromático; o
produto 3, com anel benzênico meta-substituído com a hidroxila mostrou melhor perfil
biológico entre todos. CACHIBA et al., 2012, sugerem a importância da posição da hidroxila
na atividade biológica.
Observando os ésteres 4 e 5, a presença do substituinte metoxila influencia na melhor
atividade de 5 já que este é bioativo contra C. albicans LM-P20 e o 4 não. A substituição da
74
hidroxila na posição para pôr uma metoxila melhorou a bioatividade de 6 em C. albicans LM-
P20. A presença de um grupamento espaçador de dois carbonos em 5 quando comparado com
7 tornou 5 bioativo frente a várias cepas, enquanto que o produto 7 foi inativo frente a todas as
cepas. O éster 5 só não foi bioativo frente C. tropicalis ATCC-13803 e LM-23. Por fim, ao
analisar as moléculas 4 e 8 a presença da hidroxila na posição 2 do produto 8 tornou-o bioativo
frente C. albicans LM-20 e C. tropicalis ATCC-13803 que não foram inibidas pelo éster 4.
75
Tabela 2 - Resultados da avaliação da atividade antifúngica das substâncias 1 a 8 sobre cepas de Candida em meio líquido
Microrganismos
Ésteres
(1024µg/mL) C.albicans C.albicans C.albicans C.tropicalis C.tropicalis C.krusei C.krusei
ATCC-76645 LM-106 LM-P20 ATCC-13803 LM-23 LM-13 LM-656
- + + + + - -
1: Cinamato de metila
- - - - + - +
2: o-cumarato de metila
- - - - - - -
3: m-cumarato de metila
76
4: p-cumarato de metila - - + + + - -
- - - + + - -
5: Ferulato de metila
77
Tabela 2 – Resultados da avaliação da atividade antifúngica das substâncias 1 a 8 sobre cepas de Candida em meio líquido
Microrganismos
Ésteres
(1024µg/mL) C. albicans ATCC- C. albicans C. albicans C. tropicalis C. tropicalis C. krusei C. krusei
76645 LM-106
LM-P20 ATCC- LM-23 LM-13 LM-656
13803
- - - + + - -
6: p-metoxi cinamato de
metila
+ + + + + + +
7: Vanilato de metila
- - - - + - -
8: Cafeato de metila
78
Nistatina - - - - + - -
Controle do MO + + + + + + +
79
Conclusões
Referências
CLELAND, R.; SQUIRES, E. Evalution of new antimicrobials “in vitro” and in experimental
animal infections. In: LORIAN, V. M. D. Antibiotics in Laboratory Medicine. Willians &
Wilkins, p. 739-788, 1991.
LÓPEZ A., MING D. S. TOWERS G. H. Antifungal activity of benzoic acid derivatives from
Piper lanceaefolium. J. Nat. Prod. v. 65, n. 1 p. 62-64, 2002.
PEIXOTO, Juliana Vieira, et al. Candidíase: uma revisão de literatura. Brasilian Journal of
80
Surgery and Clinical Research, v. 8, n. 2, p. 75–82, 2014.
SILVA, Sônia, et al. Candida glabrata, Candida parapsilosis and Candida tropicalis: Biology,
epidemiology, pathogenicity and antifungal resistance. FEMS Microbiology Reviews, v. 36,
n. 2, p. 288–305, 2012.
SVETAZ L. et al. Antifungal chalcones and new caffeic acid esters from Zuccagnia punctata
acting against soybean infecting fungi. J. Agric. Food Chem. v. 52, p. 3297-300, 2004.
TAWATA, S. et al. Synthesis and antifungal activity of cinnamic acid esters. Biosci Biotechnol
Biochem. v. 60, n. 5, p. 909-910, 1996.
WANG, H. et al. One-pot preparation of phenylpropanoid esters co-catalized by boric acid and
piperidine. Res Chem Intermed. v. 38, p. 207-213, 2012.
81
___________________________________________________________________________
Resumo
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Complexos luminescentes de lantanídeos ligados
covalentemente na superfície da sílica-gel/ Complexos de íons lantanídeos trivalentes com DTPA e β-dicetonatos
sobre a superfície da sílica-gel.
Estudante de Iniciação Científica: Jandeilson de Lima Moura (e-mail: jandeilsonlimamoura@hotmail.com).
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br).
Orientador(a): Ercules Epaminondas de Sousa Teotonio (e-mail: ercteot@gmail.com, telefone: 83 3216-7591).
83
cromóforos, com elevado valores de ε, capazes de transferir de maneira eficiente à energia
absorvida para o centro metálico. Este processo de sensibilização da luminescência do íon Ln3+
foi primeiramente reportado por Weisshman em 1942 (WEISSMAN, 1942). Dentre os ligantes
mais estudados como sensibilizadores da luminescência dos íons Ln3+ destacam-se aqueles
pertencentes à classe dos β-dicetonatos (BINNEMANS, 2009). Muitos destes compostos
apresentam valores de rendimentos quânticos próximos a 100%, tanto em compostos
moleculares como em materiais híbridos (TEOTONIO et al., 2008; YAN, 2012).
Dentre os materiais inorgânicos utilizados como suportes na obtenção de materiais
híbridos luminescentes, a sílica gel (SiO2), é um dos mais empregado na literatura (PRADO,
FARIA e PADILHA, 2005), devido aos seus altos valores de área superficial, resistência
mecânica, térmica e facilidade na modificação de sua superfície. A síntese desse tipo de material
pode ser realizada através de diversas rotas distintas: por dopagem da sílica mesoporosa
nanoestruturada, pelo processo sol-gel ou através do processo de pós-funcionalização da matriz
inorgânica. A escolha de uma rota em particular depende da aplicação a qual o material será
destinado.
Na rota de pós-funcionalização, a primeira etapa é descrita pela incorporação do
organossilano à superfície da matriz inorgânica, dando origem assim ao sólido funcionalizado.
Na segunda etapa o ligante de interesse reage com a matriz inorgânica modificada através dos
grupos funcionais da cadeia do organossilano. Uma das principais propriedades desses grupos
é a adsorção de íons metálicos, formando complexos covalentemente ligados à superfície da
matriz. Os ligantes aminopolicarboxilatos derivados dos ácidos etilenodiaminotetraacético,
EDTA e dietilenotriaminopentaacético, DTPA (FADEYEV et al., 2013), são amplamente
utilizados devido às suas capacidades de formarem complexos de alta estabilidade com metais
de transição e íons Ln3+.
Apesar dos avanços no desenvolvimento de materiais híbridos orgânico-inorgânicos
contendo íons Ln3+, as pesquisas sobre a influência das propriedades luminescentes de Ln3+-
complexos ligados covalentemente à superfície da sílica gel funcionalizada com organossilanos
e modificada com agentes quelantes e β-dicetonatos como sensibilizadores de luminescência
são pouco investigados na literatura. Consequentemente, esta tem sido a principal motivação
para o desenvolvimento deste trabalho.
Fundamentação teórica
(1) (2)
(3)
Figura 1 - Representação da estrutura da sílica gel, ilustrando os grupos silanol geminal (1), silanóis vicinais (2)
e siloxano (3). Fonte: Elaborado pelo autor.
Este tipo de matriz inorgânica tem despertado grande interesse devido às suas inúmeras
vantagens frente a outros materiais, frequentemente utilizados como suportes inorgânicos
(ARAKAKI e AIROLDI, 1999). Dentre estas vantagens pode-se citar sua alta estabilidade
térmica e mecânica, dimensões de área e poros variados, disponibilidade comercial com alto
grau de pureza e baixo custo (PRADO, FARIA e PADILHA, 2005).
No entanto, para aumentar a eficiência das reações de modificação, a sílica gel deve ser
submetida a um tratamento térmico prévio, comumente chamado de ativação da superfície. Esse
tratamento faz-se necessário para promover a liberação da água de hidratação sobre a superfície
do material, as quais impedem o acesso dos reagentes aos grupos silanóis (Si-OH) (ARAKAKI
e AIROLDI, 1999) (Figura 2)
Figura 2 - Esquema da remoção da água de hidratação da sílica pelo tratamento térmico. Fonte: Elaborado pelo
autor.
85
As reações de modificação podem ocorrer através de duas rotas distintas (Figura 3). A
primeira rota é chamada rota heterogênea (A), a qual é caracterizada por uma etapa de
imobilização do organossilano, de fórmula geral (RO)3Si(CH2)nX, sobre a superfície da sílica,
seguida pela reação de modificação do silano com dado grupo funcional. Enquanto que a rota
homogênea (B) pode ser descrita por uma etapa de modificação do organossilano e posterior
reação de ancoramento do mesmo a superfície da matriz inorgânica.
Figura 3 - Esquema de funcionalização da sílica gel pelas rotas heterogênea (A) e homogênea (B). Fonte:
Elaborado pelo autor.
H3CO H3CO
H3CO Si H3CO Si NH2
NH2 NH
H3CO H3CO
(1N) (2N)
H3CO
H3CO Si NH
NH NH2
H3CO
(3N)
De um modo geral, a reação de funcionalização dos silanos pode ser descrita pela
hidrólise dos grupos metóxila e posterior condensação dos mesmos aos silanóis (Si-OH)
86
disponíveis na superfície da sílica. Desta forma a imobilização é realizada através de ligações
covalentes. Após esta etapa, a matriz é geralmente denominada como organofuncionalizada ou
simplesmente funcionalizada.
Ligantes aminopolicarboxilatos tais como os dianidridos de EDTA e DTPA (Figura 5)
têm sido amplamente empregados em reações com materiais híbridos à base de sílica
modificada (FADEYEV et al., 2013; WENZEL et al., 1998), pois estes são extremamente
eficientes no que diz respeito à adsorção de metais de transição e íons lantanídeos, resultando
em complexos de alta estabilidade, imobilizados covalentemente sobre a superfície da sílica gel
(FADEYEV et al., 2013).
No entanto, quando comparados com complexos Ln3+-EDTA e Ln3+-DTPA, o íon Ln3+
não é completamente encapsulado pelo aminopolicarboxilato, pois ao reagir com a matriz
inorgânica funcionalizada, o ligante diminui sua habilidade coordenante devido à formação da
ligação amida com a superfície do material híbrido e, como consequência, a primeira esfera de
coordenação apresenta-se saturada com moléculas do solvente (CHEN et al., 2010; LIU et al.,
2009).
O
HO
O O O
HO
N
N O N N O
OH
HO O O O
O
O
(1) (2)
HO
N OH O
N
O O
O OH
HO O O
O N N N O
N
OH
O O
HO O
(3) (4)
Figura 5 - Fórmulas estruturais dos ácidos etilenodiaminotetracetico (1) e dietilenotriaminopentacético (3) e dos
dianidridos de EDTA (2) e DTPA (4). Fonte: Elaborado pelo autor.
Lantanídeos
A configuração eletrônica dos íons Ln3+ pode ser representada através do preenchimento
progressivo dos orbitais 4f, do 4f1 para o Ce3+ até o 4f14 para o Lu3+ (BINNEMANS, 2009).
Essa série é caracterizada pela diminuição gradual dos raios ao longo do período, comumente
chamado de “contração lantanídica”. Este fenômeno é um reflexo da blindagem imperfeita entre
os elétrons 4f.
Dentre as diversas propriedades dos íons Ln3+, uma característica que atrai bastante
atenção é a pequena extensão radial dos orbitais da subcamada 4f, a qual contêm os elétrons
opticamente ativos. Devido ao caráter interno dos elétrons 4f, estes são considerados por alguns
autores como sendo elétrons do core do átomo, dado à grande quantidade de energia requerida
para removê-los (MARTINS e ISOLANI, 2005), fato este que, explica a maior ocorrência do
estado de oxidação +3 como sendo o mais estável termodinamicamente, frente ao +2 e +4
(KALTSOYANNIS e SCOTT, 1999).
87
O fato dos íons Ln3+ possuírem os orbitais 4f fortemente blindados pelas subcamadas
fechadas 5s2 e 5p6 confere aos mesmos propriedades ópticas únicas. Por exemplo, os espectros
de emissão e absorção dos compostos desses íons são caracterizados pela presença de bandas
finas associadas às transições intraconfiguracionais 4f-4f (SASTRI et al., 2003). Outra
consequência desta blindagem é o alto caráter iônico e não direcional das ligações Ln-Ligantes,
sendo as geometrias dos complexos dependendo principalmente de fatores estéricos. Esse fato,
juntamente com os grandes valores de raios iônicos dos centros metálicos, favorece a formação
de compostos de íons lantanídeos com elevados números de coordenação (NC) variando de 6-
12, sendo NC igual a 7, 8 e 9 os mais comuns (MARTINS e ISOLANI, 2005).
As principais transições eletrônicas em compostos de íons lantanídeos são aquelas
envolvendo níveis das configurações 4fN, no entanto, transições interconfiguracionais do tipo
4fN ↔ 4fN-15d e transições de transferência de carga (CT) também podem ocorrer. As transições
interconfiguracionais, geralmente exibem larguras da ordem de 2.000 cm-1, porém são mais
frequentemente observadas em óxidos inorgânicos. Em coordenação estas estão geralmente
sobrepostas pelas bandas intensas devido às transições π- π* centradas nos ligantes orgânicos.
Já as transições de TC podem ocorrer como bandas largas da ordem de 4.000 cm-1 em todas as
classes de compostos de íons lantanídeos. Do ponto de vista da Teoria de Orbitais Moleculares
(TOM) estas transições são originadas a partir da transferência de um elétron situado em um
orbital de caráter predominante do ligante para um orbital de caráter predominante do metal
(LMCT) ou vice-versa, transferência de carga metal-ligante (MLCT) (KODAIRA, 2003).
O mecanismo de transferência de energia intramolecular, ligante orgânico-Ln3+ foi
inicialmente proposto por Crosby e Whan (CROSBY, WHAN e ALIRE, 1961; CROSBY,
WHAN e FREEMAN, 1961) e pode ser resumindo com base no diagrama apresentado na
Figura 6.
ICS
S1 ET
T1
Fosforescência
Florescência
Emissão
Absorção
S0
Ligante Lantanídeo
Figura 6 - Representação esquemática do processo fotofísico em um complexo de íon lantanídeo (III), ”efeito
antena”, Abreviações: ICS = cruzamento intersistema; ET = transferência de energia; S = singleto; T = tripleto.
Linhas verticais cheias indicam transições radiativas; linhas verticais pontilhadas indicam transições não
radiativas. Fonte: Elaborado pelo autor.
88
excitação indireta por transferência de energia, o íon Ln3+ pode sofrer uma transição para o
estado fundamental por emissão de fótons (BINNEMANS, 2009).
Metodologia e análise
Reagentes e Solventes
89
A ativação da sílica gel, com a finalidade de remover água adsorvida fisicamente, foi
realizada através do seu aquecimento à temperatura de 423 K sob pressão reduzida, durante um
período de 12 horas (ARAKAKI e AIROLDI, 1999).
+ 2CH3OH
OH OH
H3CO
OH OH
(3N) (Sil3N)
Figura 7- Esquema da reação de modificação da sílica gel com o 3N. Fonte: Elaborado pelo autor.
Síntese do DTPA-DA
O O
O O
O O
OH OH
HO OH
N Ac 2O/Piridina N
O N N O
N N
65ºC
O O
O OH HO O
Figura 8 - Procedimento utilizado na síntese do DTPA-DA. Fonte: Elaborado pelo autor.
Síntese da Sil3N-DTPA
+
OH
O OH
(Sil3N-DTPA)
HOOC
OH
O
+
N
N N O H2O
HOOC
(DTPA) O
Figura 9- Esquema reacional da modificação da matriz Sil3N com o DTPA-DA. Fonte: Elaborado pelo autor.
(Sil3N-DTPALn)
Figura 10 - Esquema reacional de adsorção dos íons Ln3+. Fonte: Elaborado pelo autor.
Após a obtenção dos materiais Sil3N-DTPALn (Ln = Eu ou Tb), a adição dos ligantes
“antenas” β-dicetonatos foi realizada a partir do contato do material com uma solução do ligante
0,01 mol L-1 durante 24h sob agitação mecânica, as matrizes híbridas foram denominadas
91
Sil3N-DTPALn-dic onde dic = tta, dbm, acind e bind (tta = 2-tenoiltrifluoroacetonato, dbm =
dibenzoilmetanato, acind = 2-acetil-1,3-indandionato e bind = 2-benzoil-1,3-indandionato) (ver
Figuras 11 e 12).
Ao término da reação o sólido foi filtrado a vácuo lavado com diversas porções de etanol
e seco em estufa a 50°C por 24 h.
O O
O O
R3
R1 R2
O
Figura 11 - Fórmulas estruturais dos -dicetonatos tta, dbm, acind e bind onde tta: R1 =C4H3S; R2 = CF3, dbm:
R1 = R2 =C6H5, acind: R3 =CH3, bind: R3 = C6H5. Fonte: Elaborado pelo autor.
Ln3+
Figura 12- Complexos de íon lantanídeos ligados covalentemente a superfície da sílica gel Sil3N-DTPALn-dic,
onde para tta: R1 =C4H3S; R2 = CF3, dbm: R1 = R2 =C6H5, acind: R3 =CH3, bind: R3 = C6H5 e para Ln Eu e Tb.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Medidas instrumentais
Resultados e discussão
Amostra C H N C/Nexp
% mmol g-1 % % mmol g-1
O OCH 3
NH OH NH
O Si NH NH2 O Si NH NH2
O O
OH
OH
C/N = 2,3 C/N = 2,7
OCH 3
OH NH
O Si NH NH2
OH OCH
3
OH
C/N = 3
Figura 13 - Esquema das diferentes possibilidades de ancoramento do agente sililante 3N na superfície da sílica
gel nas formas tridentada, bidentada e monodentada, respectivamente. Fonte: Elaborado pelo autor.
Conforme observado, há uma boa concordância entre os valores de C/Nteo e C/Nexp (C/N
=2,7), indicando que a molécula covalentemente ligada à superfície da sílica gel de forma
bidentada.
93
Figura 14 - Espectro na região do infravermelho do Ac-DTPA e DTPA.
94
Figura 15 - Espectros de absorção na região do infravermelho das amostras de sílica gel (―), Sil3N (―) e Sil3N-
DTPA (―).
95
Os modos vibracionais característicos da estrutura dos ligantes β-dicetonatos não foram
observados nos espectros das matrizes híbridas finais. Este fato é o resultado da baixa
quantidade de material imobilizado sobre a superfície dos sólidos.
96
(a) F 3C H2O
S
(b)
O O H2O
O O
S O Eu O C F3
O
O Eu
H2O O O OH 2
O O
CF 3
S
O
O
Figura 17 - Fórmulas estruturais dos complexos tris-β-dicetonatos de Eu3+ (a) [Eu(tta)3(H2O)2], (b)
[Eu(dbm)3(H2O)2], (c) [Eu(acind)3(H2O)2] e (d) [Eu(bind)3(H2O)2].
Figura 18 - Espectros de reflectância difusa das matrizes Sílica gel (―), Sil3N (―), Sil3N-DTPAEu (―), Sil3N-
DTPATb (―).
97
De um modo geral, nas matrizes finais SIL3N-DTPALn-dic é possível observar bandas
larga de absorção, as quais possuem perfis espectrais similares. Isto ocorre provavelmente como
resultado da sobreposição das bandas referentes às transições S0→S2* (~230 nm) e nS0→S2*
(~350 nm) dos aminopolicarboxilatos com aquelas associadas às transições intraligante nas β-
dicetonas.
A Figura 19 apresenta um conjunto de bandas largas na região de 190-550 nm. Estas
são características da estrutura eletrônica de cada ligante dicetonato presente nas matrizes
contendo os íons Eu3+ e Tb3+. Em uma análise comparativa é possível observar que o perfil
espectral do complexo [Eu(dbm)3(H2O)2] é similar àquele do material híbrido contendo o
respectivo ligante, Sil3N-DTPAEu-dbm, confirmando assim a presença do mesmo na matriz.
a) ( ) Sil3N-DTPAEu-tta
( ) Sil3N-DTPATb-tta
Intensidade normalizada (%)
( ) [Eu(tta)3(H2O)2]
b) ( ) Sil3N-DTPAEu-dbm
( ) Sil3N-DTPATb-dbm
( ) [Eu(dbm)3(H2O)2]
98
a) ( ) Sil3N-DTPAEu-acind
( ) Sil3N-DTPATb-acind
b) ( ) Sil3N-DTPAEu-bind
( ) Sil3N-DTPATb-bind
( ) [Eu(bind)3(H2O)2]
(nm)
Espectroscopia de Luminescência
99
Sil3N-DTPAEu-tta
Intensidade normalizada (%)
Sil3N-DTPAEu-dbm
Sil3N-DTPAEu-acind
Sil3N-DTPAEu-bind
Figura 21 - Espectros de excitação dos materiais híbridos Sil3N-DTPAEu-dic (dic= tta, dbm, acind e bind),
registrados a temperatura ambiente sob emissão monitorada na transição hipersensível 5D0 → 7F2 do Eu3+.
Sil3N-DTPAEu-tta
Intensidade normalizada(%)
Sil3N-DTPAEu-dbm
Sil3N-DTPAEu-acind
Sil3N-DTPAEu-bind
400 450 500 550 600 650 700
(nm)
Figura 22 - Espectros de emissão dos materiais híbridos Sil3N-DTPAEu-dic (dic = tta, dbm, acind e bind),
registrados a temperatura ambiente sob emissões monitoradas nas transições ligante da matriz e da antena,
respectivamente.
Conclusões
Agradecimentos
Referências
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104
UMA INTODUÇÃO À TOPOLOGIA GERAL E ELEMENTOS DE ANÁLISE
FUNCIONAL
Resumo
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Sobre soluções para uma classe de equações de Schrodinger
semilineares e quaselineares/ Uma introdução à topologia geral e elementos de analise funcional.
Estudante de Iniciação Científica: Thyago Santos de Souza (e-mail: thyago.lunes@gmail.com).
Instituto de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br, e-mail:cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br).
Orientador: Uberlandio Batista Severo (e-mail: uberlandio@mat.ufpb.br, telefone: 83 3216-7434).
105
Fundamentação teórica
A continuidade de uma função não depende da distância entre os pontos do espaço, mas
somente das coleções de conjuntos abertos do domínio e contradomínio dessa função. Isso
motiva a consideração do conceito mais geral de espaço topológico, onde os conjuntos abertos
não são necessariamente definidos a partir de uma distância. Assim, podemos generalizar vários
conceitos relacionados a continuidade tal como a compacidade, que é um tema intimamente
ligado ao estudo de soluções das EDPs.
“A análise funcional” é o nome tradicional para o estudo de espaços vetoriais de
dimensão infinita sobre ℝ ou ℂ e as transformações lineares entre eles. O que distingue este de
mera álgebra linear e a importância de considerações topológicas. Em espaços vetoriais de
dimensão finita há apenas uma topologia razoável, e as transformações lineares são
automaticamente contínuas, mas em dimensões infinitas as coisas não são tão simples. Como o
nosso objetivo e apenas dar uma breve introdução ao tema, vamos restringir a atenção para
topologias definidas por normas em espaços vetoriais. Esse tema e de fundamental importância
no estudo de EDPs já que o espaço das funções tem dimensão infinita.
Os espaços de Lebesgue são uma classe de espaços de Banach de funções cujas normas
são definidas em termos de integrais. Eles fornecem exemplos interessantes e desempenham
um papel central na análise moderna.
A seguir, listamos os principais resultados que pretendemos abordar neste texto:
Teorema de Stone-Weirstrass, Teorema de Hahn-Banach, Teorema da aplicação aberta,
Teorema do gráfico fechado, Desigualdades de Young, Holder e Minkowisky, Desigualdade de
Poincare e o Teorema da Representação de Riesz-Fréchet.
Metodologia e análise
Espaços Métricos
Intuitivamente, 𝑑𝑑(𝑥𝑥, 𝑦𝑦) pode ser interpretada como a distância de 𝑥𝑥 a 𝑦𝑦. Um espaço
métrico é um conjunto munido de uma métrica. Vamos ver alguns exemplos:
𝑑𝑑((𝑥𝑥1 , 𝑥𝑥2 ), (𝑦𝑦1 , 𝑦𝑦2 )) = 𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚{𝑑𝑑1 (𝑥𝑥1 , 𝑥𝑥2 ), (𝑦𝑦1 , 𝑦𝑦2 )}.
𝑑𝑑1 (𝑥𝑥1 , 𝑦𝑦1 ) + 𝑑𝑑2 (𝑥𝑥2 , 𝑦𝑦2 ) ou [(𝑑𝑑1 (𝑥𝑥1 , 𝑦𝑦1 )2 + 𝑑𝑑2 (𝑥𝑥2 , 𝑦𝑦2 )2 ]1/2.
Com mais algum estudo, é fácil verificar que estas três métricas são equivalentes.
Seja (𝑋𝑋, 𝑑𝑑) um espaço métrico. Dado 𝑥𝑥 ∈ 𝑋𝑋 e 𝑟𝑟 > 0 definimos a bola (aberta) de centro
𝑥𝑥 e raio 𝑟𝑟 como sendo 𝐵𝐵(𝑥𝑥, 𝑟𝑟) = {𝑦𝑦 ∈ 𝑋𝑋; 𝑑𝑑(𝑥𝑥, 𝑦𝑦) < 𝑟𝑟}. Um conjunto 𝐸𝐸 ⊂ 𝑋𝑋 é aberto se dado
𝑥𝑥 ∈ 𝐸𝐸 existe 𝑟𝑟 > 0 tal que 𝐵𝐵(𝑥𝑥, 𝑟𝑟) ⊂ 𝐸𝐸, e é fechado se seu complementar é aberto. É fácil
verificar que toda bola aberta 𝐵𝐵(𝑥𝑥, 𝑟𝑟) é um conjunto aberto; 𝑋𝑋 e ∅ são abertos e fechados. Não
é difícil mostrar que a união (interseção) qualquer de conjuntos abertos (fechados) em (𝑋𝑋, 𝑑𝑑) é
um conjunto aberto (fechado) em (𝑋𝑋, 𝑑𝑑). A interseção (união) finita de conjuntos abertos
(fechados) em (𝑋𝑋, 𝑑𝑑) é um conjunto aberto (fechado) em (𝑋𝑋, 𝑑𝑑).
Definimos o interior E° de um conjunto 𝐸𝐸 ⊂ 𝑋𝑋 é a união de todos os abertos de (𝑋𝑋, 𝑑𝑑)
contidos em 𝐸𝐸. O fecho 𝐸𝐸̅ de um conjunto 𝐸𝐸 ⊂ 𝑋𝑋 é a interseção de todos os fechados de (𝑋𝑋, 𝑑𝑑)
contendo 𝐸𝐸. É claro que 𝐸𝐸 é fechado se, e somente se, 𝐸𝐸 = 𝐸𝐸̅ . Um conjunto 𝐸𝐸 ⊂ 𝑋𝑋 e dito denso
em 𝑋𝑋 se 𝐸𝐸̅ = 𝑋𝑋 e nunca denso se 𝐸𝐸̅ tem interior vazio. 𝑋𝑋 é dito separável se contém um
subconjunto denso e enumerável. Por exemplo, ℚ𝑛𝑛 e um subconjunto enumerável e denso em
ℝ𝑛𝑛 . Uma sequência {𝑥𝑥𝑛𝑛 } em 𝑋𝑋 converge para 𝑥𝑥 ∈ 𝑋𝑋 (simbolicamente: 𝑥𝑥𝑛𝑛 → 𝑥𝑥 o u 𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙 𝑥𝑥𝑛𝑛 =
𝑥𝑥) s e 𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑛𝑛→∞ 𝑑𝑑(𝑥𝑥𝑛𝑛 , 𝑥𝑥) = 0.
Proposição 1. Seja 𝐸𝐸 ⊂ 𝑋𝑋 temos que, 𝑥𝑥 ∈ 𝐸𝐸̅ se, e somente se, qualquer bola aberta centrada
em 𝑥𝑥 intersepta 𝐸𝐸 se, e somente se, existe uma sequência {𝑥𝑥𝑛𝑛 } de elementos de 𝐸𝐸 que converge
para 𝑥𝑥.
Sejam (𝑋𝑋1 , 𝑑𝑑1 ), (𝑋𝑋2 , 𝑑𝑑2 ) espaços métricos, uma função 𝑓𝑓: 𝑋𝑋1 → 𝑋𝑋2 é contínua em
𝑎𝑎 ∈ 𝑋𝑋1 se para todo 𝜖𝜖 > 0 existe 𝛿𝛿 > 0 tal que 𝑑𝑑1 (𝑓𝑓(𝑎𝑎), 𝑓𝑓(𝑥𝑥)) < 𝜖𝜖 sempre que 𝑑𝑑1 (𝑎𝑎; 𝑥𝑥) < 𝛿𝛿.
Dito de outra forma 𝑓𝑓 é contínua em 𝑎𝑎 ∈ 𝑋𝑋1 se, dado 𝜖𝜖 > 0 existe 𝛿𝛿 > 0 tal que
𝑓𝑓 −1 (𝐵𝐵(𝑓𝑓(𝑎𝑎), 𝜖𝜖)) ⊃ 𝐵𝐵(𝑎𝑎, 𝛿𝛿). Diremos simplesmente que 𝑓𝑓 é contínua quando 𝑓𝑓 é contínua para
todo 𝑎𝑎 ∈ 𝑋𝑋1 e uniformemente contínua se a escolha do 𝛿𝛿 depende somente do 𝜖𝜖 e não de 𝑎𝑎 ∈
𝑋𝑋1.
Proposição 2. Sejam (𝑋𝑋1 , 𝑑𝑑1 ), (𝑋𝑋2 , 𝑑𝑑2 ) espaços métricos, uma função 𝑓𝑓: 𝑋𝑋1 → 𝑋𝑋2 é continua
se, e somente se, a imagem inversa 𝑓𝑓 −1 (𝑈𝑈) de qualquer conjunto aberto 𝑈𝑈 de (𝑋𝑋2 , 𝑑𝑑2 ) é um
conjunto aberto de (𝑋𝑋1 , 𝑑𝑑1 ).
Demonstração. Sejam (𝑋𝑋, 𝑑𝑑) um espaço métrico completo, 𝐸𝐸 ⊂ 𝑋𝑋 fechado e {𝑥𝑥𝑛𝑛 } uma
sequência de Cauchy em 𝐸𝐸 temos que {𝑥𝑥𝑛𝑛 } converge para algum 𝑥𝑥 ∈ 𝑋𝑋. Pela Proposição 1
segue que 𝑥𝑥 ∈ 𝐸𝐸̅ = 𝐸𝐸, logo 𝐸𝐸 é completo. Por outro lado, se 𝐸𝐸 é um subconjunto completo de
um espaço métrico qualquer (𝑋𝑋, 𝑑𝑑) e 𝑥𝑥 ∈ 𝐸𝐸̅ temos pela Proposição 1 que existe uma sequência
{𝑥𝑥𝑛𝑛 } em 𝐸𝐸 que converge para 𝑥𝑥. Segue do fato que toda sequência convergente é de Cauchy
que 𝑥𝑥 ∈ 𝐸𝐸. Isto mostra que 𝐸𝐸 é fechado.
Em um espaço métrico (𝑋𝑋, 𝑑𝑑) podemos definir a distância de um ponto a um conjunto
e a distância entre dois conjuntos. Se 𝑥𝑥 ∈ 𝑋𝑋 e 𝐸𝐸, 𝐹𝐹 ⊂ 𝑋𝑋 definimos,
Observe que, pela proposição 1, 𝑑𝑑(𝑥𝑥, 𝐸𝐸) = 0 se, e somente se, 𝑥𝑥 ∈ 𝐸𝐸̅ . Também
definimos o diâmetro de 𝐸𝐸 ⊂ 𝑋𝑋 por
Teorema 1. Seja E um subconjunto de um espaço métrico (𝑋𝑋, 𝑑𝑑), as seguintes afirmações são
equivalentes:
108
Um conjunto 𝐸𝐸 é dito compacto se satisfaz uma das propriedades (a)-(c) do teorema
anterior. Todo conjunto compacto e fechado pela Proposição 1 e limitado, a recíproca em geral
é falsa mas e verdadeira em ℝ𝑛𝑛 como mostra a proposto abaixo.
Demonstração. Como os subconjuntos fechados do ℝ𝑛𝑛 são completos, é suficiente mostrar que
subconjuntos limitados de ℝ𝑛𝑛 são totalmente limitados. Como cada subconjunto limitado está
contido em algum cubo da forma
é suficiente mostrar que 𝑄𝑄 é totalmente limitado. Dado 𝜖𝜖 > 0, escolha um inteiro 𝑘𝑘 > 𝑅𝑅√𝑛𝑛/𝜖𝜖
e expresse 𝑄𝑄 como a união de 𝑘𝑘 𝑛𝑛 cubos congruentes dividindo o intervalo [−𝑅𝑅, 𝑅𝑅] em 𝑘𝑘
intervalos iguais. O lado desses subcubos é 2𝑅𝑅/𝑘𝑘 e portanto o seu diâmetro é √𝑛𝑛(2𝑅𝑅/𝑘𝑘) < 2𝜖𝜖
e portanto cada um desses subcubos está contido na bola de raio e com centro que coincide com
o centro do cubo. □
Duas métricas 𝑑𝑑1 e 𝑑𝑑2 em um conjunto 𝑋𝑋 são ditas equivalentes se existem 𝑐𝑐1 , 𝑐𝑐2 > 0
tais que
𝑐𝑐1 𝑑𝑑1 ≤ 𝑑𝑑2 ≤ 𝑐𝑐2 𝑑𝑑1 .
É fácil ver que métricas equivalentes definem os mesmos abertos, fechados e compactos, as
mesmas sequências de Cauchy, e as mesmas funções contínuas e uniformemente contínuas.
Consequentemente, a maioria dos resultados relativos a espaços métricos depende não de uma
métrica em particular, mas somente de uma classe de equivalência.
Espaços Topológicos
Pela Proposição 2 o fato de uma aplicação 𝑓𝑓: 𝑋𝑋1 → 𝑋𝑋2 ser contínua não depende dos
números que exprimem as distâncias entre pontos desses espaços, mas somente das coleções de
conjuntos abertos de 𝑋𝑋1 e de 𝑋𝑋2. Isto motiva a consideração do conceito mais geral de espaço
topológico, onde os conjuntos abertos não são necessariamente definidos a partir de uma
distância.
Seja 𝑋𝑋 um conjunto não vazio. Uma topologia em 𝑋𝑋 é uma família 𝒯𝒯 de subconjuntos
de 𝑋𝑋 que contém ∅ e 𝑋𝑋 e é fechado para uniões arbitrárias e interseções finitas. O par 𝑋𝑋, 𝒯𝒯 é
chamado espaço topológico. Se 𝒯𝒯 está subentendido vamos simplesmente nos referir ao espaço
topológico 𝑋𝑋. Vejamos alguns exemplos:
i. Se 𝑋𝑋 e um conjunto nao vazio, 𝒫𝒫(𝑋𝑋) e {∅, 𝑋𝑋} são topologias em 𝑋𝑋. Elas são ditas topoligia
discreta e topologia trivial, respectivamente.
ii. Se 𝑋𝑋 é um conjunto infinito, {𝑈𝑈 ⊂ 𝑋𝑋; 𝑈𝑈 = ∅ ou 𝑈𝑈 𝑐𝑐 é finito} é uma topologia em 𝑋𝑋 chamada
topologia cofinita.
iii. Se 𝑋𝑋 é um espaco métrico, a coleção de todos os conjuntos abertos com a respectiva métrica
é uma topologia em 𝑋𝑋.
iv. Se (𝑋𝑋, 𝒯𝒯) é um espaço topológico e 𝑌𝑌 ⊂ 𝑋𝑋, então 𝒯𝒯𝑌𝑌 = {𝑈𝑈 ∩ 𝑌𝑌; 𝑈𝑈 ∈ 𝒯𝒯} é uma topologia em
𝑌𝑌, chamada topologia relativa induzida por 𝒯𝒯.
Seja (𝑋𝑋, 𝒯𝒯) um espaço topológico. Os elementos de 𝒯𝒯 são chamados conjuntos abertos,
e seus complementares são chamados conjuntos fechados. Se 𝑌𝑌 ⊂ 𝑋𝑋, então os subconjuntos
109
abertos (fechados) de 𝑌𝑌 em relação à topologia relativa são chamados abertos (fechados)
relativos. Observe que, pelas leis de De Morgan, a família de conjuntos fechados é fechada por
interseções arbitrárias e unções finitas. Seja 𝐴𝐴 ⊂ 𝑋𝑋 as definicoes de interior, fecho, densidade
são as mesmas de espaços métricos.
Se 𝑥𝑥 ∈ 𝑋𝑋 (ou 𝐸𝐸 ⊂ 𝑋𝑋), uma vizinhança de 𝑥𝑥 (ou 𝐸𝐸) é um conjunto 𝐴𝐴 ⊂ 𝑋𝑋 tal que 𝑥𝑥 ∈ 𝐴𝐴0
(ou 𝐸𝐸 ⊂ A0 ). Portanto, um conjunto 𝐴𝐴 é aberto se, e somente se, é uma vizinhança de se mesmo.
Um ponto 𝑥𝑥 é dito um ponto de acumulação de 𝐴𝐴 se 𝐴𝐴 ∩ (𝑈𝑈 − {𝑥𝑥}) ≠ ∅ para todo vizinhança
𝑈𝑈 de 𝑥𝑥.
Se 𝒯𝒯1 e 𝒯𝒯2 são topologias em 𝑋𝑋 tal que 𝒯𝒯1 ⊂ 𝒯𝒯2 , diremos que 𝒯𝒯2 é mais fina do que 𝒯𝒯1 .
Claramente qualquer topologia em 𝑋𝑋 é mais fina que a topologia trivial, e a topologia discreta
é mais fica que qualquer outra. Se ℰ ⊂ 𝒫𝒫(𝑋𝑋), existe uma única topologia 𝒯𝒯(ℰ), em 𝑋𝑋, que é a
interseção de todas as topologias em 𝑋𝑋 que contém ℰ, e chamaremos de topologia gerada por
ℰ, e ℰ é algumas vezes chamada uma sub-base para 𝒯𝒯(ℰ).
Se 𝒯𝒯 é uma topologia em 𝑋𝑋, uma base de vizinhanças para 𝒯𝒯 em 𝑥𝑥 ∈ 𝑋𝑋 é uma família
𝒩𝒩 ⊂ 𝒯𝒯 tal que 𝑥𝑥 ∈ 𝑉𝑉 para todo 𝑉𝑉 ∈ 𝒩𝒩 e se 𝑈𝑈 ∈ 𝑇𝑇 e 𝑥𝑥 ∈ 𝑈𝑈, existe 𝑉𝑉 ∈ 𝒩𝒩 tal que 𝑥𝑥 ∈ 𝑉𝑉 e 𝑉𝑉 ∈
𝑉𝑉 ⊂ 𝑈𝑈. Uma base para 𝒯𝒯 é uma família ℬ ⊂ 𝒯𝒯 que contém uma base de vizinhanças para 𝒯𝒯 em
todo 𝑥𝑥 ∈ 𝑋𝑋. Por exemplo, se 𝑋𝑋 é uma espaço métrico, a coleção de bolas abertas centradas em
𝑥𝑥 é uma base de vizinhanças para a topologia métrica em 𝑥𝑥, e a coleção de todas as bolas abertas
em 𝑋𝑋 é uma base.
Um espaço topológico 𝑋𝑋 chama-se um espaço de Hausdorff (ou separado) quando,
dados dois pontos arbitrários 𝑥𝑥 ≠ 𝑦𝑦 em 𝑋𝑋, existem abertos 𝐴𝐴, 𝐵𝐵 ⊂ 𝑋𝑋 tais que 𝑥𝑥 ∈ 𝐴𝐴, 𝑦𝑦 ∈ 𝐵𝐵 e
𝐴𝐴 ∩ 𝐵𝐵 = ∅.
Sejam 𝑋𝑋 e 𝑌𝑌 espaços topológicos e 𝑓𝑓 uma aplicação de 𝑋𝑋 em 𝑌𝑌. Então 𝑓𝑓 é dita contínua
se 𝑓𝑓 −1 (𝑉𝑉) é aberto em 𝑋𝑋 para todo aberto 𝑉𝑉 ⊂ 𝑌𝑌. Se 𝑥𝑥 ∈ 𝑋𝑋, 𝑓𝑓 é dita contínua em x se 𝑓𝑓 −1 (𝑉𝑉)
é uma vizinhança de 𝑥𝑥 para toda vizinhança 𝑉𝑉 de 𝑓𝑓(𝑥𝑥). Claramente, se 𝑓𝑓: 𝑋𝑋 → 𝑌𝑌 e 𝑔𝑔: 𝑌𝑌 → 𝑍𝑍
são contínuas (ou 𝑓𝑓 é contínua em 𝑥𝑥 e 𝑔𝑔 é contínua em 𝑓𝑓(𝑥𝑥), então 𝑔𝑔 ∘ 𝑓𝑓 é contínua (em 𝑥𝑥).
Vamos denotar o conjunto das aplicações contínuas de 𝑋𝑋 em 𝑌𝑌 por 𝐶𝐶(𝑋𝑋, 𝑌𝑌). É fácil verificar
que uma aplicação 𝑓𝑓: 𝑋𝑋 → 𝑌𝑌 é contínua se, e somente se, é contínua em todo ponto 𝑥𝑥 ∈ 𝑋𝑋. Se
𝑓𝑓: 𝑋𝑋 → 𝑌𝑌 é uma bijação, 𝑓𝑓 e 𝑓𝑓 −1 são contínuas, 𝑓𝑓 é chamado um homeomorfismo, e 𝑋𝑋 e 𝑌𝑌 são
ditos ser homeomorfos.
Seja 𝑋𝑋 um conjunto e {𝑓𝑓𝛼𝛼 : 𝑋𝑋 → 𝑌𝑌𝛼𝛼 }𝛼𝛼∈𝐴𝐴 uma família de aplicações de 𝑋𝑋 em uma espaço
topológico 𝑌𝑌𝛼𝛼 , a topologia fraca 𝒯𝒯 gerada por {𝑓𝑓𝛼𝛼 }𝛼𝛼∈𝐴𝐴 é a menor topologia em 𝑋𝑋 que torna todas
as 𝑓𝑓𝛼𝛼 contínuas. Ou seja, 𝒯𝒯 é a topologia gerada pelos conjuntos da forma 𝑓𝑓𝛼𝛼−1 (𝑈𝑈𝛼𝛼 ) onde 𝛼𝛼 ∈ 𝐴𝐴
e 𝑈𝑈𝛼𝛼 é aberto em 𝑌𝑌𝛼𝛼 . Se {𝑋𝑋𝛼𝛼 }𝛼𝛼∈𝐴𝐴 é uma família de espaços topológicos, a topologia produto em
𝑋𝑋 = ∏𝛼𝛼∈𝐴𝐴 𝑋𝑋𝛼𝛼 é uma topologia fraca gerada pelas funções coordenadas 𝜋𝜋𝛼𝛼 : 𝑋𝑋 ⟶ 𝑋𝑋𝛼𝛼 . Quando
trabalharmos com produto cartesiano de espaços topológicos, sempre vamos considerar a
topologia produto. Uma base para a topologia produto é dada por ⋂𝑛𝑛1 𝜋𝜋𝛼𝛼−1 𝑗𝑗
(𝑈𝑈𝛼𝛼𝛼𝛼 ) onde 𝑛𝑛 ∈ ℕ e
𝑈𝑈𝛼𝛼𝛼𝛼 é aberto em 𝑋𝑋𝛼𝛼𝛼𝛼 para 1 ≤ 𝑗𝑗 ≤ 𝑛𝑛.
Se 𝑋𝑋 é um conjunto, denotamos por 𝐵𝐵(𝑋𝑋, ℝ)(𝐵𝐵(𝑋𝑋, ℂ)) o espaço de todas as funções
reais (complexas) limitadas em 𝑋𝑋. Se 𝑋𝑋 é um espaço topológico, também temos os espaços
𝐶𝐶(𝑋𝑋, ℝ) e 𝐶𝐶(𝑋𝑋, ℂ) de funções contínuas em 𝑋𝑋. Quando falamos de funções complexas
omitiremos o ℂ e escreveremos 𝐵𝐵(𝑋𝑋) e 𝐶𝐶(𝑋𝑋). Se 𝑓𝑓 ∈ 𝐵𝐵 definimos a norma uniforme de 𝑓𝑓 por
‖𝑓𝑓‖𝑢𝑢 = 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠{|𝑓𝑓(𝑥𝑥)|; 𝑥𝑥 ∈ 𝑋𝑋}. A função 𝑑𝑑(𝑓𝑓, 𝑔𝑔) = ‖𝑓𝑓 − 𝑔𝑔‖𝑢𝑢 é uma metrica em 𝐵𝐵(𝑋𝑋) chamada
métrica uniforme.
Um espaço topológico 𝑋𝑋 é dito compacto se toda cobertura aberta de 𝑋𝑋 possui uma
subcobertura finita. Um subconjunto 𝑌𝑌 de um espaço topologico 𝑋𝑋 é dito compacto se este é
compacto com a topologia relativa. Além disso, 𝑌𝑌 é chamado pré-compacto se seu fecho é
110
compacto. Seja {𝐹𝐹𝛼𝛼 }𝛼𝛼∈𝐴𝐴 uma família de subconjuntos de 𝑋𝑋, diremos que 𝑋𝑋 tem a propriedade
da interseção finita se ⋂𝛼𝛼∈𝐵𝐵 𝐹𝐹𝛼𝛼 ≠ ∅ para todo 𝐵𝐵 ⊂ 𝐴𝐴 com 𝐵𝐵 finito.
A seguinte proposição é a união de três proposições que possuem demonstrações
simples e podem ser encontradas em [3].
Proposição 5. a) Um espaço topológico X é compacto se, e somente se, para todo família
{𝐹𝐹𝛼𝛼 }𝛼𝛼∈𝐴𝐴 de conjuntos fechados tem a propriedade da interseção finita, ⋂𝛼𝛼∈𝐴𝐴 𝐹𝐹𝛼𝛼 ≠ ∅;
b) Um subconjunto fechado de um espaço compacto é compacto;
c) Se 𝑋𝑋 é compacto e 𝑓𝑓: 𝑋𝑋 → 𝑌𝑌 é contínua, então 𝑓𝑓(𝑋𝑋) é compacto.
A partir de agora 𝑋𝑋 denotará uma espaço de Hausdorff compacto, e o espaço 𝐶𝐶(𝑋𝑋) estará
munido com a métrica uniforme. Seja 𝒜𝒜 um subconjunto de 𝐶𝐶(𝑋𝑋, ℝ) ou 𝐶𝐶(𝑋𝑋) dizemos que 𝒜𝒜
separa pontos se para todo 𝑥𝑥, 𝑦𝑦 ∈ X com 𝑥𝑥 ≠ 𝑦𝑦 existir 𝑓𝑓 ∈ 𝒜𝒜 tal que 𝑓𝑓(𝑥𝑥) ≠ 𝑓𝑓(𝑦𝑦). 𝒜𝒜 é dito
uma álgebra se esta é um subespaço vetorial real (complexo) de 𝐶𝐶(𝑋𝑋, ℝ)(𝐶𝐶(𝑋𝑋)) tal que 𝑓𝑓𝑓𝑓 ∈
𝒜𝒜 sempre que 𝑓𝑓, 𝑔𝑔 ∈ 𝒜𝒜. Se 𝒜𝒜 ⊂ 𝐶𝐶(𝑋𝑋, ℝ), 𝒜𝒜 é chamado de reticulado se max(𝑓𝑓, 𝑔𝑔) e
min(𝑓𝑓, 𝑔𝑔) estão em 𝒜𝒜 sempre que 𝑓𝑓, 𝑔𝑔 ∈ 𝒜𝒜. Desde que a álgebra e reticulado são operações
contínuas, é fácil ver que se 𝒜𝒜 é uma algebra ou um retículado, seu fecho 𝒜𝒜̅ tambem é, na
métrica uniforme.
A prova do Teorema de Stone-Weirstrass exige vários lemas que serão resumidos no
lema abaixo. Sua prova com todos os detalhes pode, por exemplo, ser encontrada em [3].
Demonstração. Dados 𝑥𝑥 ≠ 𝑦𝑦 ∈ X, seja 𝒜𝒜𝑥𝑥𝑥𝑥 = {(𝑓𝑓(𝑥𝑥), 𝑓𝑓(𝑦𝑦)); 𝑓𝑓 ∈ 𝒜𝒜. Então 𝒜𝒜𝑥𝑥𝑥𝑥 é uma
subalgebra do ℝ2 pelo lema anterior item (a), pois 𝑓𝑓 ⟼ (𝑓𝑓(𝑥𝑥), 𝑓𝑓(𝑦𝑦)) é um homeomorfismo de
álgebras. Se 𝒜𝒜𝑥𝑥𝑥𝑥 = ℝ2 para todo 𝑥𝑥, 𝑦𝑦, então pelos itens (c) e (d) do lema anterior temos que
𝒜𝒜 = 𝐶𝐶(𝑋𝑋, ℝ). Caso contrário, existem 𝑥𝑥, 𝑦𝑦 para o qual 𝒜𝒜𝑥𝑥𝑥𝑥 é uma subalgebra própria do ℝ2 .
Esta não pode ser {(0,0)} ou o espaço gerado por (1,1) pois 𝒜𝒜 separa pontos, pelo item (a) do
lema 𝒜𝒜𝑥𝑥𝑥𝑥 e o espaço gerado por (1,0) ou (0,1). Em ambos os casos existe 𝑥𝑥0 ∈ 𝑋𝑋 tal que
𝑓𝑓(𝑥𝑥0 ) = 0 para todo 𝑓𝑓 ∈ 𝒜𝒜. Existe apenas um 𝑥𝑥0 desde que 𝒜𝒜 separa pontos, por isso se nem
𝑥𝑥 nem 𝑦𝑦 e 𝑥𝑥0 , tem-se 𝒜𝒜𝑥𝑥𝑥𝑥 = ℝ2 . Os itens (c) e (d) do lema implicam que
Finalmente, se 𝒜𝒜 contém funções constantes, não existe 𝑥𝑥0 tal que 𝑓𝑓(𝑥𝑥0 ) = 0 para todo 𝑓𝑓 ∈
𝒜𝒜, então 𝒜𝒜 deve ser igual a 𝐶𝐶(𝑋𝑋, ℝ).
A segunda propriedade implica claramente que ‖0‖ = 0. Uma seminorma tal que
‖𝑥𝑥‖ = 0 apenas quando 𝑥𝑥 = 0 é chamada norma, e um espaço vetorial equipado com uma
norma é chamado de espaço vetorial normado.
Se 𝑋𝑋 é um espaço vetorial normado, a função 𝑝𝑝(𝑥𝑥, 𝑦𝑦) = ‖𝑥𝑥 − 𝑦𝑦‖ é uma métrica em 𝑋𝑋,
pois ‖𝑥𝑥 − 𝑧𝑧‖ ≤ ‖𝑥𝑥 − 𝑦𝑦‖ + ‖𝑦𝑦 − 𝑧𝑧‖ e ‖𝑥𝑥 − 𝑦𝑦‖ = ‖(−1)(𝑦𝑦 − 𝑥𝑥)‖ = ‖𝑦𝑦 − 𝑥𝑥‖.
Duas normas ‖∙‖1 e ‖∙‖2 em 𝑋𝑋 são ditas equivalentes se existirem 𝐶𝐶1 , 𝐶𝐶2 > 0 tal que
112
Um espaço vetorial normado que é completo com respeito a norma é chamado espaço
de Banach. Seja 𝑋𝑋 um espaco topologico, 𝐵𝐵(𝑋𝑋) e C(𝑋𝑋) são espaços de Banach com a norma
uniforme ‖𝑓𝑓‖𝑢𝑢 = 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑥𝑥∈X |𝑓𝑓(𝑥𝑥)|.
Uma transformação linear 𝑇𝑇: 𝑋𝑋 ⟶ 𝑌𝑌 entre dois espaços vetoriais é dita limitada se
existe 𝐶𝐶 ≥ 0 tal que
a) 𝑇𝑇 é contínua;
b) 𝑇𝑇 é contínua em 0;
c) 𝑇𝑇 é limitada.
Demonstração. Note que (a) implica (b) e trivial. Se 𝑇𝑇 é contínua em 0 ∈ 𝑋𝑋, existe uma
vizinhança 𝑈𝑈 de 0 tal que 𝑇𝑇(𝑈𝑈) ⊂ {𝑦𝑦 ∈ Y; ‖y‖ ≤ 1}, e 𝑈𝑈 contém uma bola 𝐵𝐵 = {𝑥𝑥 ∈ 𝑋𝑋; ‖𝑥𝑥‖ ≤
δ} de centro 0, assim ‖𝑇𝑇𝑇𝑇‖ ≤ 1 quando ‖𝑥𝑥‖ ≤ δ. Como 𝑇𝑇 comuta com a mutiplicação por
escalar, segue que ‖𝑇𝑇𝑇𝑇‖ ≤ 𝑎𝑎δ−1 sempre que ‖𝑥𝑥‖ ≤ 𝑎𝑎, ou seja, ‖𝑇𝑇𝑇𝑇‖ ≤ δ−1 ‖𝑥𝑥‖. Isto mostra
que (b) implica (c). Finalmente, se ‖𝑇𝑇𝑇𝑇‖ ≤ 𝐶𝐶‖𝑥𝑥‖ para todo 𝑥𝑥, então ‖𝑇𝑇𝑇𝑇1 − 𝑇𝑇𝑇𝑇2 ‖ =
‖𝑇𝑇(𝑥𝑥1 − 𝑥𝑥2 )‖ ≤ ϵ e sempre que ‖𝑥𝑥1 − 𝑥𝑥2 ‖ ≤ 𝐶𝐶 −1 𝜖𝜖, segue que T é contínua.
Se 𝑋𝑋 e 𝑌𝑌 são espaços vetoriais normados, denotamos o espaço das tranformações
lineares limitadas de 𝑋𝑋 em 𝑌𝑌 por 𝐿𝐿(𝑋𝑋, 𝑌𝑌). É fácil verificar que 𝐿𝐿(𝑋𝑋, 𝑌𝑌) é um espaco vetorial, e
que a função 𝑇𝑇 ⟶ ‖𝑇𝑇‖ definida por
é uma norma em 𝐿𝐿(𝑋𝑋, 𝑌𝑌), chamada norma operador. Vamos sempre assumir 𝐿𝐿(𝑋𝑋, 𝑌𝑌) munido
com esta norma.
Funcionais Lineares
113
Proposição 8. Seja 𝑋𝑋 um espaço vetorial sobre ℂ. Se 𝑓𝑓 é um funcional linear complexo em
𝑋𝑋 𝑒𝑒 𝑢𝑢 = 𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅, então 𝑢𝑢 é um funcional linear real, e 𝑓𝑓(𝑥𝑥) = 𝑢𝑢(𝑥𝑥) − 𝑖𝑖𝑖𝑖(𝑖𝑖𝑖𝑖) para todo 𝑥𝑥 ∈ 𝑋𝑋.
Por outro lado, se 𝑢𝑢 é um funcional linear em 𝑥𝑥 𝑒𝑒 𝑓𝑓: 𝑋𝑋 → ℂ definido por 𝑓𝑓(𝑥𝑥) = 𝑢𝑢(𝑥𝑥) −
𝑖𝑖𝑖𝑖(𝑖𝑖𝑖𝑖), então 𝑓𝑓 é um funcional linear complexo. Neste caso, se 𝑋𝑋 é normado, temos ‖𝑢𝑢‖ =
‖𝑓𝑓‖.
Demonstração. Primeiramente vamos mostrar que se 𝑥𝑥 ∈ 𝑋𝑋\𝑀𝑀, 𝑓𝑓 pode ser estendido para um
funcional linear 𝑔𝑔 em 𝑀𝑀 + ℝ𝑥𝑥 satisfazendo 𝑔𝑔(𝑦𝑦) ≤ 𝑝𝑝(𝑦𝑦). Se 𝑦𝑦1 , 𝑦𝑦2 ∈ 𝑀𝑀, temos
𝑓𝑓(𝑦𝑦1 ) + 𝑓𝑓(𝑦𝑦2 ) = 𝑓𝑓(𝑦𝑦1 + 𝑦𝑦2 ) ≤ 𝑝𝑝(𝑦𝑦1 + 𝑦𝑦2 ) ≤ 𝑝𝑝(𝑦𝑦1 − 𝑥𝑥) + 𝑝𝑝(𝑥𝑥 + 𝑦𝑦2 ),
ou
𝑓𝑓(𝑦𝑦1 ) − 𝑝𝑝(𝑦𝑦1 − 𝑥𝑥) ≤ 𝑝𝑝(𝑥𝑥 + 𝑦𝑦2 ) − 𝑓𝑓(𝑦𝑦2 )
logo
𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠{𝑓𝑓(𝑦𝑦) − 𝑝𝑝(𝑦𝑦 − 𝑥𝑥); 𝑦𝑦 ∈ 𝑀𝑀 ≤ 𝑖𝑖𝑖𝑖𝑖𝑖{𝑝𝑝(𝑥𝑥 + 𝑦𝑦) − 𝑓𝑓(𝑦𝑦); 𝑦𝑦 ∈ 𝑀𝑀}.
e defina 𝑔𝑔: 𝑀𝑀 + ℝ𝑥𝑥 ⟶ ℝ dada por 𝑔𝑔(𝑦𝑦 + 𝜆𝜆𝜆𝜆) = 𝑓𝑓(𝑦𝑦) + 𝜆𝜆𝜆𝜆. Então 𝑔𝑔 é claramente linear, e
𝑔𝑔|𝑀𝑀 = 𝑓𝑓, tal que 𝑔𝑔(𝑦𝑦) ≤ 𝑝𝑝(𝑦𝑦) para 𝑦𝑦 ∈ 𝑀𝑀. Além disso, se λ > 0 e 𝑦𝑦 ∈ 𝑀𝑀,
𝑔𝑔(𝑦𝑦 + λ𝑥𝑥) = λ[𝑓𝑓(𝑦𝑦/λ) + 𝛼𝛼] ≤ λ[𝑓𝑓(𝑦𝑦/λ) + 𝑝𝑝(𝑥𝑥 + (𝑦𝑦/λ)) − 𝑓𝑓(𝑦𝑦/λ)] = 𝑝𝑝(𝑦𝑦 + λ𝑥𝑥)ǡ
λ = −𝜇𝜇 < 0ǡ
𝑔𝑔(𝑦𝑦 + λ𝑥𝑥) = 𝜇𝜇[𝑓𝑓(𝑦𝑦/𝜇𝜇) − 𝛼𝛼] ≤ 𝜇𝜇[𝑓𝑓(𝑦𝑦/𝜇𝜇) − 𝑓𝑓(𝑦𝑦/𝜇𝜇) + 𝑝𝑝((𝑦𝑦/𝜇𝜇) − 𝑥𝑥)] = 𝑝𝑝(𝑦𝑦 + 𝜆𝜆𝜆𝜆).
Portanto 𝑔𝑔(𝑧𝑧) ≤ 𝑝𝑝(𝑧𝑧) para todo 𝑧𝑧 ∈ 𝑀𝑀 + ℝ𝑥𝑥. Evidentemente, o mesmo raciocínio pode ser
aplicado a qualquer extensão linear 𝐹𝐹 de 𝑓𝑓 satisfazendo 𝐹𝐹 ≤ 𝑝𝑝 em seu domínio, e isso mostra
que o domínio de uma extensão linear maximal satisfazendo 𝐹𝐹 ≤ 𝑝𝑝 deve ser todo o espaço 𝑋𝑋.
Mas a família ℱ de todas as extensões lineares 𝐹𝐹 de 𝑓𝑓 satisfazendo 𝐹𝐹 ≤ 𝑝𝑝 é parcialmente
ordenado pela inclusão (transformações de subespaços de 𝑋𝑋 em ℝ sendo considerado como
subconjuntos de 𝑋𝑋 × ℝ). Desde que a união de uma família crescente de subespaços de 𝑋𝑋 é um
subespaço, facilmente podemos ver que a união de uma subfamília linearmente ordenada de ℱ
está em ℱ. A prova é concluída, invocando o lema de Zorn.
114
Se 𝑝𝑝 é uma seminorma e 𝑓𝑓: 𝑋𝑋 → 𝑅𝑅 é linear, a desigualdade 𝑓𝑓 ≤ 𝑝𝑝 é equivalente a
desigualdade |𝑓𝑓| ≤ 𝑝𝑝, pois |𝑓𝑓(𝑥𝑥)| = ±𝑓𝑓(𝑥𝑥) = 𝑓𝑓(±𝑥𝑥) e 𝑝𝑝(−𝑥𝑥) = 𝑝𝑝(𝑥𝑥). Nesta situação, o
teorema de Hahn-Banach também se aplica aos funcionais lineares complexos:
Lema 2. Sejam 𝑋𝑋, 𝑌𝑌 espaços vetoriais normados e 𝑇𝑇: 𝑋𝑋 → 𝑌𝑌 uma transformação linear. Então,
𝑇𝑇 é uma aplicação aberta se, e somente se, existe 𝑟𝑟 > 0 tal que 𝑇𝑇(𝐵𝐵1𝑋𝑋 (0)) ⊃ 𝐵𝐵𝑟𝑟𝑌𝑌 (0). Além disso,
se 𝑋𝑋, 𝑌𝑌 são Banach e existe 𝑟𝑟 > 0 tal que 𝐵𝐵𝑟𝑟𝑌𝑌 (0) ⊂ ̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅ 𝑌𝑌
𝑇𝑇(𝐵𝐵1𝑋𝑋 (0)), temos que 𝐵𝐵𝑟𝑟/2 (0) ⊂ 𝑇𝑇(𝐵𝐵1𝑋𝑋 (0)).
Demonstração. Como 𝑋𝑋 = ⋃∞ 𝑋𝑋 ∞ 𝑋𝑋
𝑛𝑛=1 𝐵𝐵𝑛𝑛 (0) e 𝑇𝑇 é sobrejetora temos que Y= ⋃𝑛𝑛=1 𝑇𝑇(𝐵𝐵𝑛𝑛 (0)), mas
𝑌𝑌 é completo e 𝑦𝑦 → 𝑛𝑛𝑛𝑛 é um homeomorfismo de 𝑌𝑌 nele mesmo que leva 𝐵𝐵1𝑋𝑋 (0) em 𝐵𝐵𝑛𝑛𝑋𝑋 (0). Do
teorema da categoria de Baire 𝑇𝑇(𝐵𝐵1𝑋𝑋 (0)) não pode ser nunca denso. Isto é, existe 𝑦𝑦0 ∈ 𝑌𝑌 e 𝑟𝑟 >
115
𝑌𝑌
0 tal que 𝐵𝐵4𝑟𝑟 ̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅
(𝑦𝑦0 ) está contido em 𝑇𝑇(𝐵𝐵 𝑋𝑋 𝑋𝑋
1 (0)). Tome 𝑦𝑦1 = 𝑇𝑇𝑥𝑥1 ∈ 𝑇𝑇(𝐵𝐵1 (0)) tal que ‖𝑦𝑦1 −𝑦𝑦0 ‖ <
𝑌𝑌 (𝑦𝑦 )
2𝑟𝑟. Então 𝐵𝐵2𝑟𝑟 𝑌𝑌 ̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅
𝑋𝑋
1 ⊂ 𝐵𝐵4𝑟𝑟 (𝑌𝑌0 ) ⊂ 𝑇𝑇(𝐵𝐵1 (0)), logo se ‖𝑦𝑦‖ < 2𝑟𝑟,
Dividindo ambos os lados por 2 concluímos que existe 𝑟𝑟 > 0 tal que se ‖𝑦𝑦‖ < 𝑟𝑟 então y ∈
̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅
𝑋𝑋
𝑇𝑇(𝐵𝐵1 (0)). O resultado agora segue do lema anterior.
Demonstração. Sejam 𝜋𝜋1 e 𝜋𝜋2 as projeções de 𝐺𝐺(𝑇𝑇) em 𝑋𝑋 e 𝑌𝑌, isto é, 𝜋𝜋1 (𝑥𝑥, 𝑇𝑇𝑇𝑇) = 𝑥𝑥 e
𝜋𝜋2 (𝑥𝑥; 𝑇𝑇𝑇𝑇) = 𝑇𝑇𝑇𝑇. Obviamente 𝜋𝜋1 ∈ 𝐿𝐿(𝐺𝐺(𝑇𝑇), 𝑋𝑋) e 𝜋𝜋2 ∈ 𝐿𝐿(𝐺𝐺(𝑇𝑇), 𝑌𝑌). Como 𝑋𝑋 e 𝑌𝑌 são completos
𝑋𝑋 × 𝑌𝑌 é completo e portanto 𝐺𝐺(𝑇𝑇) é completo, pois é fechado. 𝜋𝜋1 é uma bijeção de 𝐺𝐺(𝑇𝑇) em 𝑋𝑋
e portanto 𝜋𝜋1−1 é limitado. Então 𝑇𝑇 = 𝜋𝜋2 ∘ 𝜋𝜋1−1 é limitado.
Espaços de Hilbert
Seja 𝐻𝐻 um espaço vetorial sobre 𝐾𝐾. Um produto interno (ou produto escalar) é uma
função 〈∙,∙〉: 𝐻𝐻 × 𝐻𝐻 → 𝐾𝐾 tal que
A função ‖∙‖: 𝐻𝐻 → ℝ definida por ‖𝑢𝑢‖ = 〈𝑢𝑢, 𝑢𝑢〉1/2 é uma norma. Para verificar este fato
basta mostrar que ‖𝑢𝑢 + 𝑣𝑣‖ ≤ ‖𝑢𝑢‖ + ‖𝑣𝑣‖ para todo 𝑢𝑢, 𝑣𝑣 ∈ 𝐻𝐻. Isto segue da Desigualdade de
Cauchy-Schwarz e de
‖𝑢𝑢 + 𝑣𝑣‖2 = ‖𝑢𝑢‖2 + 2𝑅𝑅𝑅𝑅〈𝑢𝑢, 𝑣𝑣〉 + ‖𝑣𝑣‖2 ≤ ‖𝑢𝑢‖2 + 2|〈𝑢𝑢, 𝑣𝑣〉| + ‖𝑣𝑣‖2 ≤ ‖𝑢𝑢‖2 + 2‖𝑢𝑢‖‖𝑣𝑣‖ + ‖𝑣𝑣‖2 .
116
Um espaço vetorial 𝐻𝐻 juntamente com um produto interno e dito um espaço com
produto interno. Em um espaço com produto interno vale a identidade do paralelogramo
Se um espaço com produto interno 𝐻𝐻 é completo dizemos que 𝐻𝐻 é um espaço de Hilbert. Dois
vetores 𝑢𝑢, 𝑣𝑣 em um espaço com produto interno 𝐻𝐻 são ditos ortogonais (escrevemos 𝑢𝑢 ⊥ 𝑣𝑣) se
〈𝑢𝑢, 𝑣𝑣〉 = 0 e neste caso vale o Teorema de Pitágoras
|〈𝑢𝑢𝑛𝑛 , 𝑣𝑣𝑛𝑛 〉 − 〈𝑢𝑢, 𝑣𝑣〉| = |〈𝑢𝑢𝑛𝑛 − 𝑢𝑢, 𝑣𝑣𝑛𝑛 〉 + 〈𝑢𝑢, 𝑣𝑣𝑛𝑛 − 𝑣𝑣〉| ≤ ‖𝑢𝑢𝑛𝑛 − 𝑢𝑢‖‖𝑣𝑣𝑛𝑛 ‖ + ‖𝑢𝑢‖‖𝑣𝑣𝑛𝑛 − 𝑣𝑣‖,
Demonstração. Dado 𝑢𝑢 ∈ 𝐻𝐻, seja 𝛿𝛿 = inf{‖𝑢𝑢 − 𝑣𝑣‖; 𝑣𝑣 ∈ 𝑀𝑀}, e seja {𝑣𝑣𝑛𝑛 } uma sequência em 𝑀𝑀
tal que ‖𝑢𝑢 − 𝑣𝑣𝑛𝑛 ‖ → 𝛿𝛿. Pela identidade do paralelograma,
1 2
‖𝑣𝑣𝑛𝑛 − 𝑣𝑣𝑚𝑚 ‖2 = 2‖𝑣𝑣𝑛𝑛 − 𝑢𝑢‖2 + 2‖𝑣𝑣𝑚𝑚 − 𝑢𝑢‖2 − 4 ‖ (𝑣𝑣𝑛𝑛 + 𝑣𝑣𝑚𝑚 ) − 𝑢𝑢‖ ≤ 2‖𝑣𝑣𝑛𝑛 − 𝑢𝑢‖2 +
2
2‖𝑣𝑣𝑚𝑚 − 𝑢𝑢‖2 − 4𝛿𝛿 2 .
Quando 𝑚𝑚, 𝑛𝑛 → ∞ esta última expressão tende a zero, logo {𝑣𝑣𝑛𝑛 } é uma sequência de Cauchy.
Seja 𝑣𝑣 = 𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙 𝑣𝑣𝑛𝑛 e 𝑤𝑤 = 𝑢𝑢 − 𝑣𝑣. Então 𝑣𝑣 ∈ 𝑀𝑀, pois 𝑀𝑀 é fechado, e ‖𝑢𝑢 − 𝑣𝑣‖ = 𝛿𝛿.
Afirmamos que 𝑤𝑤 ∈ 𝑀𝑀⊥ . De fato, se 𝑥𝑥 ∈ 𝑀𝑀, após multiplicar 𝑥𝑥 por um escalar diferente de
zero, podemos supor que 〈𝑤𝑤, 𝑥𝑥〉 é real. Então, a função
é real para 𝑡𝑡 ∈ ℝ, e tem um mínimo (ou seja, 𝛿𝛿 2 ) em 𝑡𝑡 = 0, pois 𝑤𝑤 + 𝑡𝑡𝑡𝑡 = 𝑢𝑢 − (𝑣𝑣 − 𝑡𝑡𝑡𝑡) e 𝑣𝑣 −
𝑡𝑡𝑡𝑡 ∈ 𝑀𝑀. Assim, 2〈𝑤𝑤, 𝑥𝑥〉 = 𝑓𝑓 ′ (0) = 0, então 𝑤𝑤 ∈ 𝑀𝑀⊥ . Além disso, se 𝑤𝑤′ é outro elemento de
𝑀𝑀⊥ , pelo teorema de Pitagoras (desde 𝑢𝑢 − 𝑤𝑤 = 𝑣𝑣 ∈ 𝑀𝑀) temos
117
com a igualdade se e somente se 𝑤𝑤 = 𝑤𝑤′. O mesmo raciocínio mostra que 𝑣𝑣 é o início elemento
de 𝑀𝑀 mais próximo de 𝑢𝑢. Finalmente, se 𝑢𝑢 = 𝑣𝑣 ′ + 𝑤𝑤′ com 𝑣𝑣 ′ ∈ 𝑀𝑀 e 𝑤𝑤′ ∈ 𝑀𝑀⊥, então 𝑣𝑣 − 𝑣𝑣′ e
𝑤𝑤 ′ − 𝑤𝑤 são ortogonais entre si, portanto, são iguais a zero.
Vamos trabalhar em um espaço de medida fixado (𝑋𝑋, 𝑀𝑀, 𝜇𝜇) e identificamos funções
mensuráveis que são iguais quase sempre. Sejam 𝑝𝑝 ∈ ℝ, 0 < 𝑝𝑝 < ∞, e 𝐿𝐿1 (𝑋𝑋) o espaço das
funções integráveis de 𝑋𝑋 em ℝ, definimos
e para 𝑝𝑝 = ∞
𝐿𝐿∞ (𝑋𝑋) = {𝑓𝑓: 𝑋𝑋 → ℝ; 𝑓𝑓 é mensurável e ∃𝑐𝑐 ≥ 0 tal que |𝑓𝑓(𝑥𝑥)| ≤ 𝑐𝑐 q.s. em 𝑋𝑋}.
1/𝑝𝑝
e para 𝑝𝑝 = ∞
Mostraremos que, para 1 ≤ 𝑝𝑝 ≤ ∞, 𝐿𝐿𝑝𝑝 (𝑋𝑋) é um espaço vetorial e que ‖∙‖𝑝𝑝 é uma
norma.
Se 1 ≤ 𝑝𝑝 ≤ ∞ denotamos por 𝑞𝑞 o número definido por
1 1
a) 𝑝𝑝
+ 𝑞𝑞 se 1 < 𝑝𝑝 < ∞
b) 𝑞𝑞 = 1 se 𝑝𝑝 = ∞ e 𝑞𝑞 = ∞ se 𝑝𝑝 = 1.
Lema 3 (Desigualdade de Young). Se 1 < 𝑝𝑝 < ∞ e 𝑎𝑎, 𝑏𝑏 são números reais não negativos
então
1 𝑝𝑝 1 𝑞𝑞
𝑎𝑎𝑎𝑎 ≤ 𝑎𝑎 + 𝑏𝑏
𝑝𝑝 𝑞𝑞
118
Lema 4 (Desigualdade de Hölder). Sejam 𝑓𝑓 ∈ 𝐿𝐿𝑝𝑝 (𝑋𝑋) e 𝑔𝑔 ∈ 𝐿𝐿𝑞𝑞 (𝑋𝑋) com 1 ≤ 𝑝𝑝 ≤ ∞. Então
𝑓𝑓𝑔𝑔 ∈ 𝐿𝐿1 (𝑋𝑋) e
1 1
|𝑓𝑓(𝑥𝑥)||𝑔𝑔(𝑥𝑥)| ≤ |𝑓𝑓(𝑥𝑥)|𝑝𝑝 + |𝑔𝑔(𝑥𝑥)|𝑞𝑞
𝑝𝑝 𝑞𝑞
e portanto
1 1
∫ |𝑓𝑓𝑓𝑓| 𝑑𝑑𝑑𝑑 ≤ ‖𝑓𝑓‖𝑝𝑝𝑝𝑝 + ‖𝑔𝑔‖𝑞𝑞𝑞𝑞 .
𝑋𝑋 𝑝𝑝 𝑞𝑞
mostrando que 𝑓𝑓𝑓𝑓 ∈ 𝐿𝐿1 (𝑋𝑋). Substituindo 𝑓𝑓 por 𝜆𝜆𝜆𝜆, 𝜆𝜆 > 0, temos
𝜆𝜆𝑝𝑝−1 1
∫ |𝑓𝑓𝑓𝑓| 𝑑𝑑𝑑𝑑 ≤ ‖𝑓𝑓‖𝑝𝑝𝑝𝑝 + ‖𝑔𝑔‖𝑞𝑞𝑞𝑞 .
𝑋𝑋 𝑝𝑝 𝜆𝜆𝜆𝜆
e minimizando o lado direito da desigualdade acima para 𝜆𝜆 ∈ (0, ∞) temos que o mínimo ocorre
𝑞𝑞/𝑝𝑝
para 𝜆𝜆 = ‖𝑓𝑓‖−1
𝑝𝑝 + ‖𝑔𝑔‖𝑞𝑞 e o resultado segue.
e aplicando a desigualdade de Hölder, note que (𝑝𝑝 − 1)𝑞𝑞 = 𝑝𝑝 onde 𝑞𝑞 é o expoente conjugado
de 𝑝𝑝:
∫|𝑓𝑓 + 𝑔𝑔|𝑝𝑝 ≤ ‖𝑓𝑓‖𝑝𝑝 ‖|𝑓𝑓 + 𝑔𝑔|𝑝𝑝−1 ‖𝑞𝑞 + ‖𝑔𝑔‖𝑝𝑝 ‖|𝑓𝑓 + 𝑔𝑔|𝑝𝑝−1 ‖𝑞𝑞
1/𝑝𝑝
= (‖𝑓𝑓‖𝑝𝑝 + ‖𝑔𝑔‖𝑝𝑝 ) (∫|𝑓𝑓 + 𝑔𝑔|𝑝𝑝 ) .
Portanto,
1−(1/𝑞𝑞)
‖𝑓𝑓 + 𝑔𝑔‖𝑝𝑝 = [∫|𝑓𝑓 + 𝑔𝑔|𝑝𝑝 ] ≤ ‖𝑓𝑓‖𝑝𝑝 + ‖𝑔𝑔‖𝑝𝑝 .
Teorema 11. 𝐿𝐿𝑝𝑝 (𝑋𝑋) é um espaço vetorial e ‖∙‖𝑝𝑝 : 𝐿𝐿𝑝𝑝 (𝑋𝑋) → ℝ+ é uma norma, 1 ≤ 𝑝𝑝 ≤ ∞.
119
Demonstração. Os casos 𝑝𝑝 = 1 e 𝑝𝑝 = ∞ são evidentes. Suponha que 1 < 𝑝𝑝 < ∞ e sejam 𝑓𝑓, 𝑔𝑔 ∈
𝐿𝐿𝑝𝑝 (𝑋𝑋). Basta mostrar que 𝑓𝑓 + 𝑔𝑔 ∈ 𝐿𝐿𝑝𝑝 e que a desigualdade triangular para ‖∙‖𝑝𝑝 vale (o restante
é de fácil verificação). Note que
Assim, |𝑓𝑓(𝑥𝑥) + 𝑔𝑔(𝑥𝑥)|𝑝𝑝 ≤ 2𝑝𝑝 (|𝑓𝑓(𝑥𝑥)|𝑝𝑝 + |𝑔𝑔(𝑥𝑥)|𝑝𝑝 ). Portanto, 𝑓𝑓 + 𝑔𝑔 ∈ 𝐿𝐿𝑝𝑝 (𝑋𝑋). Por outro lado
‖𝑓𝑓 + 𝑔𝑔‖𝑝𝑝𝑝𝑝 = ∫|𝑓𝑓 + 𝑔𝑔|𝑝𝑝−1 |𝑓𝑓 + 𝑔𝑔| ≤ ∫|𝑓𝑓 + 𝑔𝑔|𝑝𝑝−1 |𝑓𝑓| + ∫ |𝑓𝑓 + 𝑔𝑔|𝑝𝑝−1 |𝑔𝑔|
𝑋𝑋
≤ ‖|𝑓𝑓 + 𝑔𝑔|𝑝𝑝−1 ‖𝑞𝑞 ‖𝑓𝑓‖𝑝𝑝 + ‖|𝑓𝑓 + 𝑔𝑔|𝑝𝑝−1 ‖𝑞𝑞 ‖𝑓𝑓‖𝑝𝑝
𝑝𝑝−1 𝑝𝑝−1
≤ ‖𝑓𝑓 + 𝑔𝑔‖𝑝𝑝 ‖𝑓𝑓‖𝑝𝑝 + ‖𝑓𝑓 + 𝑔𝑔‖𝑝𝑝 ‖𝑔𝑔‖𝑝𝑝
Proposição 10. Suponha que 𝑝𝑝 e 𝑞𝑞 são expoentes conjugados e 1 ≤ 𝑞𝑞 < ∞. Se 𝑔𝑔 ∈ 𝐿𝐿𝑞𝑞 , então
‖𝑔𝑔‖𝑞𝑞−1̅̅̅̅̅̅̅
𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠
𝑓𝑓 = .
‖𝑔𝑔‖𝑞𝑞−1
𝑞𝑞
Então
∫|𝑔𝑔|(𝑞𝑞−1)𝑝𝑝 ∫|𝑔𝑔|𝑞𝑞
‖𝑓𝑓‖𝑝𝑝𝑝𝑝 = (𝑞𝑞−1)𝑝𝑝
= = 1,
‖𝑔𝑔‖𝑞𝑞 ∫|𝑔𝑔|𝑞𝑞
assim
∫|𝑔𝑔|𝑞𝑞
‖𝜙𝜙𝑔𝑔 ‖ ≥ ∫ 𝑓𝑓𝑓𝑓 = = ‖𝑔𝑔‖𝑞𝑞 .
‖𝑔𝑔‖𝑞𝑞−1
𝑞𝑞
Teorema 13. Seja 𝑝𝑝 e 𝑞𝑞 expoentes conjugados. Se 1 < 𝑝𝑝 < ∞, para cada 𝜙𝜙 ∈ (𝐿𝐿𝑝𝑝 )∗ existe 𝑔𝑔 ∈
𝐿𝐿𝑞𝑞 tal que 𝜙𝜙(𝑓𝑓) = ∫ 𝑓𝑓𝑓𝑓 para todo 𝑓𝑓 ∈ 𝐿𝐿𝑝𝑝 , e, portanto, 𝐿𝐿𝑞𝑞 é isomorfo isometricamente a (𝐿𝐿𝑝𝑝 )∗.
120
Introdução aos espaços de Sobolev
𝑊𝑊 1,𝑝𝑝 (𝐼𝐼) = {𝑢𝑢 ∈ 𝐿𝐿𝑝𝑝 (𝐼𝐼); ∃𝑔𝑔 ∈ 𝐿𝐿𝑝𝑝 (𝐼𝐼) tal que ∫𝐼𝐼 𝑢𝑢𝑢𝑢′ = − ∫𝐼𝐼 𝑔𝑔𝑔𝑔, ∀𝜑𝜑 ∈ 𝐶𝐶𝑐𝑐1 (𝐼𝐼)}
onde 𝐶𝐶𝑐𝑐1 (𝐼𝐼) é o espaço das funções de classe C1 e suporte compacto em 𝐼𝐼. Para 𝑢𝑢 ∈ 𝑊𝑊 1,𝑝𝑝 (𝐼𝐼)
denotamos 𝑢𝑢′ = 𝑔𝑔 e estabelecemos que 𝐻𝐻1 (𝐼𝐼) = 𝑊𝑊 1,2 (𝐼𝐼). Vamos considerar o espaço 𝑊𝑊 1,𝑝𝑝 ,
munido com a norma ‖𝑢𝑢‖𝑊𝑊 1,𝑝𝑝 = ‖𝑢𝑢‖𝐿𝐿𝑝𝑝 + ‖𝑢𝑢′‖𝐿𝐿𝑝𝑝 , e algumas vezes, se 1 < 𝑝𝑝 < ∞, com a
norma equivalente (‖𝑢𝑢‖𝑝𝑝𝐿𝐿𝑝𝑝 + ‖𝑢𝑢′‖𝑝𝑝𝐿𝐿𝑝𝑝 )1/𝑝𝑝 .
Proposição 11. O espaço 𝑊𝑊 1,𝑝𝑝 é Banach para 1 ≤ 𝑝𝑝 ≤ ∞. É reflexivo para 1 < 𝑝𝑝 < ∞ e
separável para 1 ≤ 𝑝𝑝 < ∞.
Demonstração. Seja (𝑢𝑢𝑛𝑛 ) uma sequência de Cauchy em 𝑊𝑊 1,𝑝𝑝 , então (𝑢𝑢𝑛𝑛 ) e (𝑢𝑢′𝑛𝑛 ) são
sequências de Cauchy em 𝐿𝐿𝑝𝑝 . Como 𝐿𝐿𝑝𝑝 é Banach para 1 ≤ 𝑝𝑝 ≤ ∞ temos que 𝑢𝑢𝑛𝑛 converge para
algum 𝑢𝑢 ∈ 𝐿𝐿𝑝𝑝 e 𝑢𝑢′𝑛𝑛 converge para algum 𝑔𝑔 em 𝐿𝐿𝑝𝑝 . Daí,
Lema 6. Considere 𝐿𝐿1𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙 = {𝑓𝑓: 𝐼𝐼 → ℝ; 𝑓𝑓|𝐾𝐾 ∈ 𝐿𝐿1 (𝐼𝐼) 𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝 𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡 𝐾𝐾 ⊂ 𝐼𝐼 compacto}:
As funções em 𝑊𝑊 1,𝑝𝑝 são a grosso modo primitivas das funções em 𝐿𝐿𝑝𝑝 . Mais
precisamente, temos o seguinte:
Teorema 14. Seja 𝑢𝑢 ∈ 𝑊𝑊 1,𝑝𝑝 (𝐼𝐼) com 1 ≤ 𝑝𝑝 ≤ ∞, então existe uma função 𝑢𝑢̃ ∈ 𝐶𝐶(𝐼𝐼 )̅ tal que
𝑢𝑢 = 𝑢𝑢̃ q.t.p. em 𝐼𝐼 e
𝑥𝑥
𝑢𝑢̃(𝑥𝑥) − 𝑢𝑢̃(𝑦𝑦) = ∫ 𝑢𝑢′ (𝑡𝑡)𝑑𝑑𝑑𝑑, ∀𝑥𝑥, 𝑦𝑦 ∈ 𝐼𝐼 .̅
𝑦𝑦
𝑥𝑥
Demonstração. Fixe 𝑦𝑦0 ∈ 𝐼𝐼 e seja 𝑢𝑢̅ = ∫𝑦𝑦 𝑢𝑢′ (𝑡𝑡)𝑑𝑑𝑑𝑑. Pelo item (b) do lema anterior, temos 𝑢𝑢̅ ∈
0
𝐶𝐶(𝐼𝐼) e
Assim ∫𝐼𝐼 (𝑢𝑢 − 𝑢𝑢̅)𝜑𝜑 ′ = 0, ∀𝜑𝜑 ∈ 𝐶𝐶𝑐𝑐1 (𝐼𝐼). Segue do item (a) do lema anterior que 𝑢𝑢 − 𝑢𝑢̅ = 𝐶𝐶 q.t.p.
em 𝐼𝐼. A função 𝑢𝑢̃ = 𝑢𝑢̅ + 𝐶𝐶 tem as propriedades desejadas.
Lema 7. Seja 𝜌𝜌 ∈ 𝐿𝐿1 (ℝ) e 𝑣𝑣 ∈ 𝑊𝑊 1,𝑝𝑝 (ℝ) com 1 ≤ 𝑝𝑝 ≤ ∞. Então 𝜌𝜌 ⋆ 𝑣𝑣 ∈ 𝑊𝑊 1,𝑝𝑝 (ℝ) e (𝜌𝜌 ⋆ 𝑣𝑣)′ =
𝜌𝜌 ⋆ 𝑣𝑣′.
Teorema 16 (Densidade). Seja 𝑢𝑢 ∈ 𝑊𝑊 1,𝑝𝑝 (𝐼𝐼) com 1 ≤ 𝑝𝑝 < ∞. Então existe uma sequência
(𝑢𝑢𝑛𝑛 ) em 𝐶𝐶𝑐𝑐∞ (ℝ) tal que 𝑢𝑢𝑛𝑛 |𝐼𝐼 → 𝑢𝑢 em 𝑊𝑊 1,𝑝𝑝 (𝐼𝐼).
1, se |𝑥𝑥| < 1
𝜉𝜉(𝑥𝑥) = {
0, se |𝑥𝑥| ≥ 2.
𝑥𝑥
Defina a sequência 𝜉𝜉𝑛𝑛 (𝑥𝑥) = 𝜉𝜉 (𝑛𝑛), para 𝑛𝑛 = 1,2, … . Segue-se facilmente a partir do
122
teorema da convergência dominada que se uma função 𝑓𝑓 pertence a 𝐿𝐿𝑝𝑝 (ℝ) com 1 ≤ 𝑝𝑝 < ∞,
então 𝜉𝜉𝑛𝑛 𝑓𝑓 → 𝑓𝑓 em 𝐿𝐿𝑝𝑝 (ℝ).
Dado 𝑢𝑢 ∈ 𝑊𝑊 1,𝑝𝑝 (𝐼𝐼) podemos supor que 𝑢𝑢 ∈ 𝑊𝑊 1,𝑝𝑝 (ℝ) pelo teorema do operador
extensão, defina 𝑢𝑢𝑛𝑛 = 𝜉𝜉𝑛𝑛 (𝜌𝜌 ⋆ 𝑢𝑢) ∈ 𝐶𝐶𝑐𝑐∞ . Escolha uma sequência de funções regularizantes (𝜌𝜌𝑛𝑛 ).
Afirmamos que a squência 𝑢𝑢𝑛𝑛 = 𝜉𝜉𝑛𝑛 (𝜌𝜌 ⋆ 𝑢𝑢) converge para 𝑢𝑢 em 𝑊𝑊 1,𝑝𝑝 (ℝ). Primeiramente,
temos ‖𝑢𝑢𝑛𝑛 − 𝑢𝑢‖𝑝𝑝 → 0. De fato, escrevemos
e portanto
portanto
onde 𝐶𝐶 = ‖𝜉𝜉′‖∞ .
Teorema 17. Existe uma constante 𝐶𝐶 (dependendo apenas de |𝐼𝐼| ≤ ∞) tal que
Em outras palavras, 𝑊𝑊 1,𝑝𝑝 (𝐼𝐼) ⊂ 𝐿𝐿∞ (𝐼𝐼) pela injeção contínua para todo 1 ≤ 𝑝𝑝 ≤ ∞. Além disso,
se 𝐼𝐼 é limitado, então
Corolário 3 (Diferencial da composição). Seja 𝐺𝐺 ∈ 𝐶𝐶 1 (ℝ) tal que 𝐺𝐺(0) = 0, e 𝑢𝑢 ∈ 𝑊𝑊 1,𝑝𝑝 (𝐼𝐼)
com 1 ≤ 𝑝𝑝 ≤ ∞. Então
1,𝑝𝑝
Teorema 18. Seja 𝑢𝑢 ∈ 𝑊𝑊 1,𝑝𝑝 (𝐼𝐼). Então 𝑢𝑢 ∈ 𝑊𝑊0 (𝐼𝐼) se, e somente se, 𝑢𝑢 = 0 na 𝜕𝜕𝐼𝐼.
1,𝑝𝑝
Demonstração. Seja 𝑢𝑢 ∈ 𝑊𝑊0 (com 𝐼𝐼 = (𝑎𝑎, 𝑏𝑏)). Como 𝑢𝑢(𝑎𝑎) = 0, pois 𝑢𝑢 = 0 na 𝜕𝜕𝐼𝐼. Daí,
𝑥𝑥
|𝑢𝑢(𝑥𝑥)| = |𝑢𝑢(𝑥𝑥) − 𝑢𝑢(0)| = |∫ 𝑢𝑢′ (𝑡𝑡)𝑑𝑑𝑑𝑑| ≤ ‖𝑢𝑢′‖𝐿𝐿1
𝑎𝑎
pela desigualdade de Hölder, tem-se ‖𝑢𝑢′‖𝐿𝐿1 ≤ 𝐶𝐶′′‖𝑢𝑢′‖𝐿𝐿𝑝𝑝 , com 𝐶𝐶′′ dependendo de |𝐼𝐼|. Logo
‖𝑢𝑢‖𝐿𝐿𝑝𝑝 ≤ 𝐶𝐶′‖𝑢𝑢′‖𝐿𝐿𝑝𝑝 , com 𝐶𝐶′ também dependendo de |𝐼𝐼|. Portanto,
‖𝑢𝑢‖𝑊𝑊 1,𝑝𝑝 (𝐼𝐼) = ‖𝑢𝑢‖𝐿𝐿𝑝𝑝 + ‖𝑢𝑢′‖𝐿𝐿𝑝𝑝 ≤ 𝐶𝐶′‖𝑢𝑢′ ‖𝐿𝐿𝑝𝑝 + ‖𝑢𝑢′ ‖𝐿𝐿𝑝𝑝 = 𝐶𝐶‖𝑢𝑢′‖𝐿𝐿𝑝𝑝 (𝐼𝐼)
onde 𝐶𝐶 = 𝐶𝐶 ′ + 1.
Aplicação
𝑢𝑢 = 𝑃𝑃𝐾𝐾 𝑓𝑓.
Além disso,
|𝑓𝑓| = ‖𝜑𝜑‖𝐻𝐻 ∗ .
〈𝜑𝜑,𝑢𝑢〉
𝑣𝑣 = 𝑢𝑢 − 𝜆𝜆𝜆𝜆 com 𝜆𝜆 = 〈𝜑𝜑,𝑔𝑔〉.
Note que 𝑣𝑣 está bem definido, uma vez que 〈𝜑𝜑, 𝑔𝑔〉 ≠ 0, e, por outro lado, 𝑣𝑣 ∈ 𝑀𝑀, uma vez que
〈𝜑𝜑, 𝑣𝑣〉 = 0. Daqui resulta que (𝑔𝑔, 𝑣𝑣) = 0, isto é,
125
onde 𝑓𝑓 é uma função dada (por exemplo em 𝐶𝐶(𝐼𝐼 )̅ ou, mais geralmente, em 𝐿𝐿2 (𝐼𝐼)). A condição
de fronteira 𝑢𝑢(0) = 𝑢𝑢(1) = 0 é chamada de condição de contorno de Dirichlet (homogênea).
Uma solução clássica de (⋆) é uma função 𝑢𝑢 ∈ 𝐶𝐶 2 (𝐼𝐼 )̅ satisfazendo (⋆), no sentido usual.
Uma solução fraca de (⋆) é uma função 𝑢𝑢 ∈ 𝐻𝐻01 (𝐼𝐼) que satisfaz
(⋆⋆) ∫𝐼𝐼 𝑢𝑢′ 𝑣𝑣 ′ + ∫𝐼𝐼 𝑢𝑢𝑢𝑢 = ∫𝐼𝐼 𝑓𝑓𝑓𝑓 , ∀𝑣𝑣 ∈ 𝐻𝐻01 (𝐼𝐼).
Note que toda solução clássica é uma solução fraca. Isso é obvio, por integração por partes
(como justificado no Corolário da diferencial da composição). A existência e unicidade de uma
solução fraca é garantido pelo seguinte resultado.
Proposição 13. Dado 𝑓𝑓 ∈ 𝐿𝐿2 (𝐼𝐼) existe uma única solução fraca 𝑢𝑢 ∈ 𝐻𝐻01 do problema (⋆).
Conclusões
Referências
FOLLAND, G. B.; Real Analysis - Modern Techniques and Their Applications, A Wiley-
Intersciente publication, 2nd ed., USA, 1999.
126
AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO LIPÍDICA COM ÊNFASE NO CLA DOS
PRODUTOS LÁCTEOS PARAIBANOS
Resumo
O objetivo deste estudo foi determinar a composição dos ácidos graxos com ênfase no CLA de
queijos e produtos lácteos fermentados produzidos no estado da Paraíba com selos de inspeção
estadual (SIE) e inspeção federal (SIF). Foram coletadas amostras de queijos (coalho, manteiga
e ricota) e produtos lácteos fermentados (iogurte e bebida láctea). A avaliação da composição
de ácidos graxos por cromatografia gasosa permitiu quantificar nos queijos concentrações de
ácidos graxos CLA na faixa de 1,44 a 1,54 mg/g de gordura. O queijo de manteiga se sobressaiu
nos percentuais de ácidos CLA, ácidos graxos saturados e monoinsaturados em relação demais
queijos. A predominância dos ácidos graxos foi para os ácidos palmítico, esteárico, oleico e
linoleico nos produtos lácteos paraibanos. Os produtos lácteos (queijos, iogurtes, bebida láctea)
produzidos em unidades com selos de inspeção estadual ou federal apresentaram perfil de
ácidos graxos semelhantes.
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Composição de ácidos graxos com ênfase no ácido linoleico
conjugado (CLA) de queijos e produtos lácteos fermentados produzidos no Estado da Paraíba / Avaliação da
composição lipídica com ênfase no CLA dos produtos lácteos paraibanos.
Estudante de iniciação científica: Ana Rita Ribeiro de Araújo Cordeiro (e-mail: anarita_k2@hotmail.com).
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail:cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br).
Orientadora: Marta Suely Madruga (e-mail: msmadruga@uol.com, telefone: 83 3216 - ).
127
Dentro dessa perspectiva, pesquisas vêm sendo realizadas objetivando encontrar
diferentes formas de aumentar, de forma natural, a concentração de CLA em alimentos. Sabe-
se que o nível de CLA no leite varia em função dos fatores ambientais, genéticos, fisiológicos,
e das práticas pecuárias, sendo os fatores ambientais, como a origem geográfica, estação do ano
e dieta do animal, os mais determinantes na variabilidade da composição de ácidos graxos;
desse modo, a principal estratégia adotada pelo setor lácteo tem sido a modificação da ração de
ruminantes com suplementação de ácidos graxos poli-insaturados tentando-se elevar a
concentração de ácidos linoleicos conjugados do leite e consequentemente dos seus derivados
(SANTOS; LANA; SILVA, 2002; COLLOMB et al., 2002).
Além desses fatores, as tecnologias de processamento, diferentes culturas de
fermentação, tratamentos térmicos e períodos de maturação podem afetar a composição final
de ácidos CLA em produtos lácteos. Portanto, a composição de ácidos graxos CLA de alimentos
lácteos industrializados disponíveis para o consumo podem apresentar diferenças entre regiões,
tipo e marcas comerciais (HERZALLAH; HUMEID; AL-ISMAIL, 2005; ZLATANOS et al.,
2002; NUNES; TORRES, 2010).
É sabido que o leite e seus derivados constituem as maiores fontes alimentares de CLA,
visto a grande quantidade de ácidos graxos em sua composição (mais de 400 ácidos graxos);
porém, nenhum estudo foi realizado objetivando avaliar a concentração de CLA em leites e
produtos lácteos paraibanos. Diante do que foi abordado e da escassez de informações, a
presente pesquisa tem como objetivo principal analisar a composição de ácidos graxos e de
CLA em diferentes amostras comerciais de queijos (coalho, manteiga e ricota) e produtos
lácteos fermentados (iogurte e bebida láctea) produzidos por indústrias paraibanas (com registro
no serviço de inspeção federal – SIF e no serviço de inspeção estadual).
Fundamentação teórica
O leite e seus derivados são uma das principais fontes de cálcio, proteína e riboflavina
(vitamina B2) na alimentação humana, fazendo parte de uma alimentação nutritiva que contribui
para a saúde e o crescimento saudável. De acordo com a V Diretriz do Guia Alimentar para a
População Brasileira, para se obter os benefícios do consumo desses nutrientes, é recomendado
três porções diárias de leite ou derivados lácteos (BRASIL, 2008).
A compra de produtos alimentícios pode ser influenciada por diversos fatores. Entre eles
está o crescimento da renda, o aumento da população, a redução de preços e as mudanças nos
hábitos alimentares (EMBRAPA, 2013a; FAO, 2013). O consumo de leite e derivados está
relacionado com a renda da população. É fácil observar o aumento do consumo de lácteos
quando aumenta a renda familiar (EMBRAPA 2013a). Dados da Pesquisa de Orçamento
Familiar 2009 demonstram o consumo de laticínios em geral em duas classes de renda da
população brasileira, onde a média nacional é de 30,6kg/per capita na classe de menor renda e
de 63,6kg/per capita na maior (IBGE 2010).
Devido ao fato que o consumo de leite e derivados, como queijos e iogurtes, vem se
incorporando cada vez mais na dieta da população, as indústrias leiteiras encontram-se em plena
expansão. Representando, por exemplo, um dos mais importantes sistemas agroindustriais em
países como o Brasil, tamanha sua importância econômica e social, sendo praticada em todo
território nacional.
A Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO, 2013) divulgou em
seu último relatório, dados da produção de leite no mundo. Foi observado que a produção de
leite atingiu 727 milhões de toneladas, incluindo leite de vaca, búfala, camelo, cabra e ovelha.
O leite de vaca sozinho foi responsável por 606,7 milhões de toneladas, o que representa
incremento de apenas 1,5% em relação a 2010.
128
De acordo com os dados da FAO, o Brasil está posicionado entre os maiores produtores
de leite do mundo, ocupando a 4ª posição, encontrando-se atrás apenas dos Estados Unidos,
Índia e China (FAO, 2013). Mesmo com a crise de 2008 e 2009, que abalou todo o sistema
econômico mundial, a produção de leite no Brasil continua apresentando crescimento
significativo, tendo sido ofertado em 2011, 32,1 bilhões de litros de leite, frente aos 27,6 bilhões
de litros ofertados em 2008. Isso representa uma taxa média de crescimento anual de 5,3%.
(EMBRAPA, 2013b).
A participação da Região Nordeste em relação à produção nacional vem ganhando força
na última década, tendo sido a terceira região que mais cresceu em participação neste período -
cerca de 48%. Atualmente o Nordeste brasileiro é responsável por 10% de todo o leite bovino
produzido no país.
O Estado da Paraíba ocupa 56.584.6 Km2 de área territorial brasileira englobando 223
municípios (VITORINO; BRAGA; BASTOS, 2006). O relevo do Estado caracteriza-se pela
existência das ecorregiões Agreste/Litoral, localizada mais próxima à costa, com áreas de mata
atlântica, relevo de baixada e maior umidade; ecorregião do Cariri/Curimataú, apresentando
vegetação de caatinga, com clima semiárido, concentração de chuvas nos meses de inverno e
relevo de planalto (Borborema) e a mesorregião do Sertão apresenta clima semiárido, vegetação
de caatinga em algumas áreas e relevo de planalto (Ocidental), com chuvas em épocas diferentes
(dezembro, janeiro e fevereiro). A produção leiteira é conduzida basicamente de forma
extensiva, em regiões semiáridas, com vegetação pobre e baixos índices pluviométricos (LEITE
et al., 2004).
Segundo o IBGE (2013) a Paraíba ocupa o oitavo lugar no ranking dos estados do
Nordeste em produção de leite bovino, como pode ser observado no Quadro 1.
Quadro 1 - Ranking dos Estados do Nordeste e variação entre 2002 e 2012 (produção em mil
litros)
Embora a Paraíba seja o penúltimo no ranking na produção de leite, ocupa o quarto lugar
no valor despendido na compra de leite e derivados pelos consumidores nordestinos,
demonstrando a importância desses alimentos na dieta dos paraibanos, como ilustrado na Figura
1 (IBGE, 2010).
A gordura do leite se apresenta na forma de glóbulos envolvidos por uma membrana
fosfolipídica correspondendo a uma mistura de lipídios, principalmente por triacilgliceróis que
compõem aproximadamente 98% do total da gordura do leite, seguido por diacilgliceróis (0,25-
0,48 %), monoacilgliceróis (0,02-0,4 %), glicolipídios (0,006 %) e ácidos graxos livres (0,1-0,4
%), fosfolipídios e esteróis (SEÇKIN et al., 2005).
129
Figura 1 - Valor gasto por mês na compra de leite e derivados pelas famílias dos Estados do
Nordeste
A gordura presente no leite e produtos lácteos é uma das mais complexas existentes,
tendo propriedades nutricionais e físicas únicas. Ela pode inúmeros ácidos graxos, sendo cerca
de 30 os principais. Estes diferem quanto ao comprimento da cadeia carbônica, que pode variar
de 4 a 24 átomos de carbono. As cadeias possuem diferentes posições das insaturações,
configuração posicional, geométrica e grupos funcionais (RODRIGUES; GIOIELLI; ANTON,
2003; SIMIONATO, 2008).
Há três principais fontes de ácidos graxos. A primeira, e mais importante em ruminantes,
é a síntese a partir do acetato e ß-hidroxibutirato transportados desde o rúmen. O acetato via
malonil-CoA, contribui para todos os ácidos de cadeia curta e em parte para os ácidos de até 16
átomos de carbono em ruminantes. A segunda fonte são os triglicerídeos presentes nos
quilomícrons circulantes e lipoproteínas de baixa densidade. Esses ácidos graxos com mais de
14 carbonos de comprimento são originários tanto da dieta como da microbiota do rúmen e são
principalmente ácidos palmítico (16:0) e esteárico (18:0), oléico (18:1n-9) e linoléico (18:2n-
6). Mais da metade dos ácidos graxos no leite deriva diretamente do sangue. A terceira fonte é
a acetil-CoA citoplasmática da glicólise e do ciclo do ácido cítrico (SIMIONATO, 2008).
De forma geral, o perfil da gordura do leite de cabra apresenta pouca diferença em
relação à de vaca. A diferença mais marcante está na maior proporção de ácidos graxos de
cadeia curta (6 a 16 carbonos) na gordura do leite de cabra. As comparações entre o leite de
cabra e o leite de vaca quanto ao perfil de ácidos graxos da gordura, apesar de estarem presentes
em alguns estudos, devem ser vistas com cautela, uma vez que a nutrição animal, raça, estágio
de lactação, dentre outros fatores, podem alterar de forma considerável sua composição
(BOMFIM, 2006).
A relação ácidos graxos saturados/insaturados é condicionada, principalmente pela
alimentação, mas também pode ser influenciada por diversos fatores, como a estação do ano, a
fase da lactação e o genótipo animal (BAUMAN; GRIINARI, 2001; SIMIONATO 2008). A
composição dos ácidos graxos influencia as propriedades organolépticas, nutricionais e físicas
do leite (CHILLIARD et al., 2003) e as características de fabricação dos seus derivados
(NUNES; TORRES, 2010).
No caso dos produtos lácteos caprinos, contribui notavelmente no sabor típico que é
influenciado pelo teor de ácidos graxos livres, especialmente os ácidos C6:0 - C10:0 (ZAN;
STIBILJ; ROGELJ, 2006). Os ácidos graxos livres são geralmente liberados durante a lipólise
pelas lipases de diferentes fontes (MALLATOU; PAPPA; MASSOURAS, 2003).
Como um dos principais componentes do leite, a gordura tem um papel importante em
produtos lácteos. A gordura do leite está envolvida na produção e firmeza do queijo, bem como
130
na cor e sabor de outros produtos lácteos, contribuindo também como fonte de energia para o
organismo (CHILLIARD et al., 2003).
O termo conjugated linoleic acids (CLA), consiste de um conjunto de isômeros
posicionais e geométricos do ácido octadecadienóico (C18:2), com duplas ligações conjugadas
variando entre 6 e 8 até 12 a 14, conforme Figura 2. Cada isômero posicional contém quatro
pares geométricos (cis,trans; trans,cis; cis,cis; trans,trans), totalizando 28 isômeros posicionais
e geométricos (COLLOMB et al., 2006).
131
Figura 3 – Produção de CLA em ruminantes
Ocorrência em alimentos
132
Uma pesquisa realizada para determinar o teor de c9t11 CLA em diversos produtos
lácteos comerciais da Itália, constatou que o queijo tipo Fontina Valdostana apresentou a maior
quantidade de CLA (8,11 mg.g-1), seguido de queijo Pecorino (7,77 mg.g-1) e queijo Suíço
Emmental (7,66 mg.g-1). Altos níveis de CLA foram encontrados em leite fermentado e iogurtes
(6,15 e 6,05 mg.g-1, respectivamente) (PRANDINI et al., 2007).
Bisig et al. (2007) analisaram a influência do processamento sobre a composição de
ácidos graxos e do conteúdo de ácido linoleico conjugado em produtos lácteos orgânicos e
convencionais. Eles concluíram que o processamento e armazenamento de derivados lácteos
geralmente não alteram a concentração de CLA na gordura do leite. Outros estudos mais
recentes também confirmam que fatores envolvidos no processo de fabricação de queijos em
geral, não afetam o teor de CLA na gordura (PRANDINI; SIGOLO; PIVA, 2011).
Metodologia e análise
133
Foram selecionadas, de forma aleatória, três diferentes lotes de cada tipo de queijos
(coalho bovino, coalho caprino, manteiga e ricota) e catorze produtos lácteos (6 iogurtes
integrais e 8 bebidas lácteas fermentadas) adquiridos em supermercados locais da cidade de
João Pessoa-Paraíba, totalizando oitenta e quatro amostras. Os queijos e produtos lácteos que
não eram comercializadas em João Pessoa foram adquiridos nas cidades próximas.
Considerando-se que foram selecionados cinco tipos de queijos produzidos em oito unidades
de processamento com amostragem de três lotes, tivemos um total de 42 amostras de queijo.
Além desses, foram realizadas três coletas de cada produto lácteo de três lotes diferentes,
totalizando 42 amostras de produtos lácteos.
Após coleta das amostras, estas foram imediatamente transportadas em embalagens
térmicas sob refrigeração até o laboratório, onde foram de imediato submetidos as análises de
gordura e perfil de ácidos graxos, observando-se o período de uma semana, a fim de evitar
possíveis alterações na composição química da gordura. Todas as análises foram executadas
em triplicata.
Análises do perfil de ácidos graxos e CLA dos queijos e produtos lácteos fermentados
Extração da gordura
A extração de lipídios totais foi realizada de acordo com o método de Folch, Less e
Stanley (1957), com clorofórmio, metanol e água (2:1:1). Pesou-se 2g da amostra e adicionou-
se 30 ml da solução de clorofórmio-metanol (2:1). Agitou-se por 2 minutos no triturador.
Adicionou-se mais 10 ml da solução de clorofórmio-metanol (2:1) e filtrou-se até obter o
extrato. Do volume do extrato, adicionou-se 20% de Sulfato de Sódio (1,5%), agitou-se,
esperou-se decantar e descarta-se o sobrenadante contendo os componentes solúveis. Do extrato
inferior, tomou-se uma alíquota de 5 ml para posterior quantificação dos lipídios totais e o
restante do extrato foi acondicionado em vidros âmbar devidamente codificados e armazenados
sob refrigeração.
Os extratos lipídicos foram armazenados protegidos da luz, calor e oxigênio, em vidros
âmbar hermeticamente fechados, em geladeira para posterior análise dos componentes lipídicos
(ácidos graxos).
Nesta etapa foi seguida a metodologia sugerida por Hartman e Lago (1973) para o
preparo dos ésteres metílicos. Tomou-se uma alíquota lipídica contendo de 25 a 50 mg de
gordura do extrato lipídico à temperatura ambiente e transferiu para um balão de fundo chato.
Foi adicionado 4 mL do agente saponificante: solução de hidróxido de potássio (KOH; 0,5
mol.L-1) em metanol, a mistura foi aquecida em refluxo por 4 min. Em seguida, foi adicionado
7,5 mL da solução de esterificação (preparada através da mistura de 4 g de cloreto de amônio,
120 mL de metanol e 6 mL de ácido sulfúrico concentrado em refluxo a 70 ºC por 30 min.), a
mistura foi aquecida em refluxo por mais 3 min. e depois transferida para um funil de separação
juntamente com 12,5 mL de éter etílico e 25 mL de água destilada. Após agitação e separação
das fases, a fase aquosa foi desprezada. Adicionou-se à fase orgânica 12,5 mL de éter etílico e
25 mL de água destilada. Prosseguiu-se com agitação e separação das fases, descartando a fase
aquosa, essa etapa foi repetida. Adicionou-se 12,5 mL de água destilada agitando o funil
delicadamente, após a separação das fases desprezou-se a fase aquosa, e assim repetiu-se por
mais 3 vezes. A fase orgânica foi filtrada com papel filtro contendo sulfato de sódio anidro,
lavou-se o funil com hexano e deixou o frasco âmbar aberto evaporando os solventes. Os metil
134
ésteres foram suspensos em 1 mL de hexano grau cromatográfico e armazenados em vials antes
de serem injetados no cromatógrafo gasoso.
Os ácidos graxos e o CLA dos queijos foram quantificados em mg/g de lipídios totais,
através das fórmulas utilizando a padronização interna. No presente estudo, 1,0 mL da solução
do padrão interno (1 mg mL-1) do éster metílico do ácido nonadecanoico (19:0, metil-
decasonoato) foi adicionado antes da etapa de transesterificação ao extrato metílico das
amostras. Optou-se por este padrão, tomando-se por base os critérios descritos por Visentainer
e Franco (2006), quais sejam: não ser encontrado na amostra, apresentar alto grau de pureza;
massa adicionada deve ser precisa; apresentar boa estabilidade; ser adicionado em
concentrações similares aos componentes a serem analisados; eluir separadamente e próximo
dos componentes da amostra; apresentar resposta do detector similar aos componentes da
amostra.
Os ácidos graxos e o CLA dos produtos lácteos fermentados foram identificados por
meio da comparação dos tempos de retenção dos ésteres metílicos das amostras com os padrões
de ésteres metílicos de ácidos graxos idênticos. A quantificação relativa dos ácidos graxos foi
realizada pela normalização das áreas dos ésteres metílicos. Os resultados dos ácidos graxos
foram expressos em percentual de área (%).
Análise estatística
O perfil dos ácidos graxos saturados (mg/g) e teor de CLA, encontrados nos queijos
produzidos no estado da Paraíba por unidades com selo de inspeção estadual e inspeção federal
estão apresentados na Tabela 1. A avaliação da composição de ácidos graxos por cromatografia
gasosa permitiu quantificar nos queijos de manteiga, ricota e coalho concentrações de ácidos
graxos CLA na faixa de 1,44 a 1,54 mg/g de gordura.
Trinta ácidos graxos foram identificados e quantificados, sendo 14 ácidos graxos
saturados, 7 ácidos graxos monoinsaturados e 9 ácidos graxos poli-insaturados.
A predominância dos ácidos graxos foi para os ácidos palmítico (C16:0), esteárico
(C18:0), oleico (C18:1) e linoleico (C18:2), os quais foram quantificados com teores mais
elevados nos três queijos analisados. Em nosso estudo foi possível observar que dentre as
amostras, os queijos manteiga apresentaram, em valores absolutos, um maior conteúdo de
ácidos CLA, Trans, graxos saturados e graxos monoinsaturados, que vai de encontro com as
características da tecnologia de produção desse queijo, já que a sua massa leva um acréscimo
exclusivamente de manteiga de garrafa ou manteiga do sertão como especifica a legislação,
com um teor de gordura variando até 55% dos sólidos totais.
Vale citar que o queijo ricota, preconizado como um queijo com baixo teor de gordura
apresentou concentrações no perfil de ácidos graxos semelhante ao queijo de coalho, que é
considerado um queijo com maior teor de gordura.
Nos produtos lácteos analisados o queijo de manteiga se sobressaiu nos percentuais de
ácidos CLA, ácidos graxos saturados e monoinsaturados em relação ao queijo ricota e coalho.
Em relação ao teor de Ácidos Graxos Saturados (AGS), os valores médios encontrados
nos três queijos produzidos na Paraíba foram menores que os quantificados por outros autores,
ao analisarem diversos tipos de queijos comerciais italianos (emmental, pecorino, caprino,
gorgonzola, dentre outros).
Os queijos produzidos em unidades com selos de inspeção estadual ou federal
apresentaram perfil de ácidos graxos bastante próximos, indicando que os queijos com inspeção
estadual atendem a legislação em vigor e apresentam padrões de qualidade semelhantes aos de
inspeção federal.
A quantificação do perfil de ácidos graxos possibilitou a quantificação dos ácidos graxos
saturados (g) presente na porção disposta no rotulo estabelecida pela legislação (1 fatia = 30g)
para cada tipo de queijo analisado. Foi possível observar que o queijo coalho, muito consumido
no Nordeste, apresentou um teor de 3,18 g de AGS por fatia de queijo. Considerando que a
recomendação da ANVISA para uma dieta de 2000 kcal é de menos de 22g de saturados por
dia, 100g de queijo coalho corresponderia a 48,18% da quantidade de gordura saturada
recomendada para consumo diário. Os outros queijos exibiram valores menores em comparação
ao coalho, com ênfase para o queijo ricota que apresentou os menores valores (2,33 g/fatia).
Tabela 1: Perfil de ácidos graxos e CLA (mg/g de gordura) de queijos (ricota, coalho e manteiga)
produzidos por indústrias do Estado da Paraíba com selo de inspeção estadual (SIE) e federal
(SIF).
Tabela 2 – Composição de ácidos graxos, mg/g de ácidos graxos (percentual de área), dos
produtos e tipos de registro.
139
C17:0 8,45 8,27 8,60 8,01 0,017 0,8257
C17:1n7c 1,62 1,91 1,90 1,64 0,023 0,5612
C18:0 166,05 160,87 162,81 163,47 0,373 0,4094
C18:1n9c+t 246,40 217,52 238,27 218,74 0,903 0,1996
C18:1n11c 29,32 24,39 25,85 27,38 0,184 0,0723
C18:2n6c 26,44 25,52 24,70 27,54 0,246 0,8865
C18:2c9t11 (CLA) 6,31 5,46 5,79 5,86 0,054 0,2576
C18:3n3 4,43 4,48 4,82 3,97 0,050 0,7491
C20:0 2,97 2,60 2,51 3,09 0,020 0,3928
C20:1n9 0,79 0,45 0,69 0,46 0,032 0,8278
C20:3n3c 2,51 2,95 2,59 2,98 0,035 0,6419
C22:0 0,53 0,42 0,45 0,50 0,011 0,5114
C23:0 0,07 1,34 1,25 0,18 0,055 0,2784
AGS 661,43 696,31 673,69 691,59 1,125 0,2161
AGMI 298,81 264,41 288,15 267,16 1,035 0,1653
AGPI 39,73 38,80 38,15 40,70 0,282 0,9267
AGSCC 13,40b 20,86a 17,17 18,32 0,184 0,0562
AGSCM 133,04b 150,80a 140,80 146,38 0,401 0,0642
AGSCL 514,99 524,65 515,72 526,89 0,795 0,6912
ω3 6,94 7,43 7,42 6,96 0,062 0,6094
ω6 26,44 25,53 24,70 27,54 0,246 0,8865
ω6/ω3 37,37 38,77 37,05 39,56 0,359 0,6045
AGPI: ácidos graxos poli-insaturados; AGMI: ácidos graxos monoinsaturados; AGS: ácidos graxos saturados;
AGSCC: ácidos graxos saturados de cadeia curta; AGSCM: ácidos graxos saturados de cadeia média; AGSCL:
ácidos graxos saturados de cadeia longa.
CLA: Ácido Linoleico Conjugado; c: cis; t: trans EPM: erro padrão da média.
Letras sobrescritas distintas na mesma linha são diferentes (P < 0,05), pelo teste de Tukey.
Conclusões
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145
MONITORAMENTO INTELIGENTE E PERVASIVO DA SAÚDE HUMANA
Bruno Adônis de Sá
Clauirton de Albuquerque Siebra
Resumo
O monitoramento remoto do paciente, onde tal paciente é monitorado na sua própria residência
ou no trabalho, é uma tendência da medicina moderna. Motivados por esta tendência, o objetivo
desta pesquisa é extrair e investigar os dados advindos de um acelerômetro tri-axial para a
classificação de movimentos humanos do cotidiano. Pretende-se fornecer alguns resultados
para demonstrar a eficiência do acelerômetro tri-axial como elemento sensor de movimentos
via uma rede neural artificial (RNA) para futura aplicações médicas. Inicialmente foi
desenvolvida uma API para sistemas Android que captura e armazena os dados advindos do
acelerômetro tri-axial interno do aparelho celular. Com o aparelho celular preso à cintura de 5
voluntários, foi capturado os dados do acelerômetro durante a execução de seis movimentos
humanos (sentar, levantar, andar, correr, deitar e levantar do deitar). Com estes dados
organizados e armazenados, foi criado um banco de testes (benchmark) com 360 padrões (72
de cada voluntário, sendo 12 de cada movimento). Em seguida foi realizado um estudo e
selecionado um conjunto de nove características que qualificam as curvas advindas do
acelerômetro para classificação destes movimentos. As nove características foram utilizadas
como entrada de uma RNA, que foi treinada e validada utilizando o processo de validação
cruzada (cross validation). Após feito o treinamento e validação da RNA, os resultados obtidos
ficaram em torno de 84% de acerto. Outro experimento realizado com entradas não utilizadas
no treinamento mostrou uma eficiência de 91,2%. Deste modo, pode-se concluir que o uso da
RNA com as características selecionadas é apropriado para a classificação dos seis movimentos
humanos estudados.
Introdução
Metodologia
A próxima etapa, após a obtenção dos dados, foi a caracterização de cada um dos 360
147
padrões. Diversas características podem ser utilizadas neste processo. Para facilitar o
entendimento, cada padrão pode ser visto como um conjunto de três curvas ao longo do tempo,
cada uma delas em um dos eixos cartesianos. Deste modo, exemplos de características que
poderiam ser utilizadas são: maior amplitude da curva, sua integral (área total), distância entre
o maior e menor valor (pico e vale), entre outras.
O nosso processo de caracterização dos dados/curvas foi baseado no cálculo de nove
características. As três primeiras características, denotadas por Mdx, Mdy e Mdz, referem-se a
parâmetros posturais ou valores de offset, onde são calculadas as médias dos vetores5 x, y e z.
1
1
𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑 = (𝑛𝑛−1 ∑𝑛𝑛𝑖𝑖=1(𝑦𝑦(𝑖𝑖) − 𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀)2 )2 (5)
1
1
𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑𝑑 = (𝑛𝑛−1 ∑𝑛𝑛𝑖𝑖=1(𝑧𝑧(𝑖𝑖) 2 2
− 𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀) ) (6)
A sétima, oitava e nona característica, denotadas de fX, fY e fZ, são obtidas através da
Transformada Rápida de Fourier (FFT). A partir do cálculo da FFT foi extraída a frequência
que apresenta a raia de maior amplitude de cada um dos vetores x, y e z. Essas frequências
extraídas representam três das características de entrada na RNA. Todas as nove características
foram calculadas utilizando um programa que foi desenvolvido na plataforma Octave e
armazenadas em arquivo texto (.txt) na forma de uma matriz de dados, para serem processadas
posteriormente.
O elemento de classificação dos movimentos foi definido como uma Rede Neural
Artificial (RNA)6, a qual implementa o modelo de aprendizagem supervisionada, também
conhecida como aprendizagem com professor. Uma RNA é composta por várias unidades de
processamento, chamadas neurônios. Estes neurônios são conectados por canais de
comunicação que estão associados a um determinado peso. Ou seja, toda conexão entre dois
neurônios possui um peso pi. As unidades fazem operações apenas sobre seus dados locais, os
quais são recebidos pelas conexões de entrada, de modo que o comportamento inteligente de
uma Rede Neural Artificial vem das interações entre as unidades de processamento da rede. A
figura abaixo mostra a arquitetura da rede utilizada no nosso experimento e o detalhamento do
neurônio com sua função de ativação, o qual mostra que a função Sigmoide foi utilizada com a
variável z sendo instanciada com o somatório da ponderação dos valores de entrada do neurônio.
148
Figura 1: Arquitetura da rede neural e detalhamento do neurônio.
Nossa rede possui três camadas. A primeira delas possui dez neurônios e é chamada
camada de entrada. O primeiro neurônio (bias) tem valor constante e igual a 1, sendo utilizado
para aumentar o grau de liberdade e adaptação da rede. Cada um dos demais nove neurônios
corresponde a entrada de uma das nove características discutidas anteriormente. A camada
intermediária é chamada de camada escondida (hidden layer) e não existe uma regra geral para
o seu número de neurônios. Algumas formulações empíricas são sugeridas na literatura. Por
exemplo, a camada intermediária deve ter uma quantidade de neurônios entre a quantidade de
entrada e saída. Neste caso, nossa camada intermediária deveria ter entre 7 e 9 neurônios. Outra
regra utilizada a média do número de neurônios das camadas externas. Esta formulação foi
utilizada no nosso projeto, de modo que utilizamos 8 neurônios, sendo um deles o bias. Um
número maior que 8 poderia levar a rede a apresentar problemas de overfit, onde a rede
apresenta uma ótima precisão para a identificação dos elementos do conjunto de treinamento,
mas não generaliza bem para novos exemplos de teste. Por fim, a camada de saída possui 6
neurônios e ela funciona como uma porta lógica OU-exclusivo, de modo que apenas uma das
saídas pode ser 1 a cada conjunto de entradas. Cada uma das saídas representa um dos seis
movimentos estudados. Dado um conjunto de 9 entradas, uma das saídas será ativada, indicando
que os dados de entrada estão relacionados ao movimento indicado pela saída ativa.
O erro calculado para a RNA é dada por uma função de custo J, que pode ser visualizada
na Eq.(7) e Eq.(8), de modo que o treinamento da rede tem o objetivo de reduzir este custo. Ou
seja, em cada iteração é calculado o valor de J, o qual deve ser decrescente até ser estabilizado.
No nosso caso foram utilizadas 16200 iterações.
𝐾𝐾
1 (𝑖𝑖) (𝑖𝑖)
𝐽𝐽( ) = 𝑚𝑚 ∑𝑚𝑚
𝑖𝑖=1 ∑ (−𝑦𝑦𝑘𝑘 log((𝑔𝑔 (𝑥𝑥 (𝑖𝑖) ))𝑘𝑘 ) − (1 − 𝑦𝑦𝑘𝑘 )log(1 − (𝑔𝑔 𝑥𝑥 (𝑖𝑖) ))𝑘𝑘 )) + 𝐹𝐹𝐹𝐹( )
𝑘𝑘=1
(7)
Onde FR(θ):
2 2
(1) (1)
𝐹𝐹𝐹𝐹( ) = [∑ 7
𝑗𝑗=1 ∑9𝑘𝑘=1(𝑗𝑗,𝑘𝑘 ) + ∑6𝑗𝑗=1 ∑7𝑘𝑘=1(𝑗𝑗,𝑘𝑘 ) ] (8)
2𝑚𝑚
Onde:
representa o conjunto de todos os pesos da rede, o qual pode ser dividido em duas
matrizes: (1) de dimensionalidade 7x10 e (2) de dimensionalidade 6x8;
m representa o número de exemplos de treinamento, no nosso caso 360;
k representa o número de classes utilizadas na classificação (6 classes representando cada
um dos movimentos);
149
x é a matriz de características, a qual contém 360 linhas (exemplos de treinamento) e 9
colunas (uma para cada característica);
y é o vetor de respostas de tamanho 360 que indica qual movimento está representado em
cada uma das linhas da matriz de características;
g representa a função de ativação do neurônio (Sigmoide), como ilustrado na Figura 1;
FR é um fator de regularização utilizado para que a rede tenha um melhor controle sobre a
velocidade de aprendizagem;
é a taxa de aprendizado que deve ser um valor entre 0 e 1. Estamos utilizando 0,618.
O método adotado para treinamento e validação dos dados do primeiro experimento foi
a Validação Cruzada (Cross Validation), onde foi explorado a variante Repeated K-Fold Cross
Validation (validação cruzada k-fold repetida). Esta variante é baseada no princípio estatístico
que quanto maior o número de estimativas, melhor o resultado final. Deste modo, o benchmark
é divido em k-fold. Para valor k=6, valor utilizado na nossa pesquisa, o benchmark deve ser
divido em seis partes.
A Figura 2 ilustra o processo 6-fold cross validation. A cada Round uma das seis partes
do benchmark é retirada para validação e as demais são utilizadas para treinamento da rede
neural. A precisão média de acerto da rede neural é calculada a cada Round e ao final dos seis
Rounds é realizada a média geral da validação de uma repetição. Além disso, a validação
cruzada foi repetida três vezes (3 vezes 6-fold cross validation), sendo a precisão da validação
obtida como a média das três rodadas.
Resultados e discussões
Média
3-K-Fold K1 K2 K3 K4 K5 K6
6-Fold
Primeira 75 98,3 96,6 85 88,3 70 85,5
150
Segunda 95 81,6 85 88,3 80 85 85,8
Terceira 70 81,6 93,3 80 83,3 78,3 81
Média Final 84,1
Após a validação da rede, a mesma foi utilizada para teste com um novo conjunto de 60
padrões que não foi utilizado no treinamento da rede durante o experimento anterior. Este
conjunto possuía 10 padrões para cada um dos seis movimentos estudados de um novo
voluntario. A Tabela 2 mostra que o percentual de acerto foi de 91,6%.
Movimentos % de acerto
Sentar 90
Levantar 100
Deitar 100
Andar 90
Correr 70
Levantar do deitar 100
Média 91,6
Fizemos uma análise sobre a baixa taxa de acerto na classe correr e concluímos que, o
grande problema é que muitas vezes este movimento acaba sendo erroneamente classificado
como andar. Isto acontece porque alguns dos voluntários eram pessoas mais velhas onde a
atividade de correr se assemelhava muito a de andar. Uma maneira de corrigir este problema
seria introduzir uma nova característica qualitativa relacionada à idade (e.g. jovem, adulto,
idoso), e até mesmo ao gênero (feminino, masculino), de modo que a rede seja capaz de
diferenciar o correr de um idoso do andar de um adulto.
Conclusão
Referências
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daily movements using a triaxial accelerometer. Medical & Biological Engineering &
Computing 2004, Vol. 42. p. 679-687.
151
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Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2011. 96f.
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physical activity recognition system for long-term activity monitoring in the elderly.
Medical Biological Engineering computing. International Federation for Medical and
Biological Engineering, p. 1271-1279. Nov. 2010.
152
IMPLANTAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DO MODELO EXPERIMENTAL DE CORPO
CAVERNOSO DE RATTUS NORVEGICUS
Resumo
A disfunção erétil é uma doença caracterizada pela incapacidade de iniciar ou manter a ereção
peniana necessária para uma relação sexual, que pode ser resultado de distúrbios psicológicos
e hormonais; obesidade; aterosclerose e hipertensão. O objetivo deste projeto foi padronizar a
técnica de retirada e isolamento de corpos cavernosos de ratos, responsáveis pela rigidez
peniana, no Laboratório de Farmacologia Funcional George Thomas. O órgão era isolado e
suspenso em cubas de banho em condições que mimetizavam o ambiente fisiológico e as
contrações tônicas eram induzidas por fenilefrina. Foram testados diferentes parâmetros
experimentais para obter a melhor resposta para a reatividade do corpo cavernoso. O resultado
obtido não corroborou os dados da literatura, que demonstraram concentrações menores do
agonista necessárias para obter a resposta submáxima do corpo cavernoso, sugerindo que
condições experimentais como, peso dos animais utilizados; tempo de estabilização ou tensão
de repouso a que o órgão era submetido.
Apresentação
Fundamentação Teórica
A disfunção erétil, é definida como a incapacidade de ter e/ou manter uma ereção
peniana suficiente para uma relação sexual satisfatória (ALVES et al., 2012). Para que haja
ereção, é necessário o relaxamento das fibras musculares dos corpos cavernosos, permitindo
maior fluxo sanguíneo arterial para os espaços lacunares, com concomitante vasodilatação das
artérias cavernosas (GROMATZKY; CARTAFINA; GOÉS, 2003).
Atualmente, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a disfunção erétil atinge
cerca de 50% dos homens em todo o mundo, sejam apresentando um quadro clínico de
153
disfunção leve, moderada ou intensa e a maior prevalência ocorre a partir de 60 anos de idade
(GOSHTASEBI, 2011; RIDWAN SHABSIGH, MD, 2006). Relacionam-se como principais
desordens causadoras da impotência: distúrbios psicológicos; doenças hormonais, como
diabetes, queda dos níveis de testosterona e problemas endócrinos; doenças neurológicas;
consumo excessivo de medicamentos; alcoolismo e tabagismo; obesidade; além de doenças
vasculares, relacionadas à obstrução ou ao aumento da contratilidade das artérias e veias,
prejudicando a chegada de sangue ao pênis, como aterosclerose e hipertensão, respectivamente.
Os corpos cavernosos são responsáveis pela rigidez peniana, (WROCLAWSKI;
TORRES, 2002) e, portanto, alterações em sua reatividade está relacionada à disfunção erétil.
O tecido dos corpos cavernosos é composto por espaços lacunares interligados, revestidos por
células endoteliais, e trabéculas, que consistem em bandas espessas de músculo liso
(GOLDSTEIN et al., 1982).
Esse músculo liso está presente em vários órgãos ocos, como vasos, traqueia, bexiga
urinária, corpo cavernoso, entre outros. A importância do estudo da reatividade da musculatura
lisa reside no fato de que distúrbios envolvendo a funcionalidade desse músculo podem causar
desconfortos como cólicas uterinas e intestinais ou doenças como diarreia, asma, hipertensão e
disfunção erétil (KIM et. al., 2008). Portanto, o modelo experimental de músculo liso tem uma
grande importância na busca por moléculas de interesse terapêutico (WEBB 2003).
A reatividade do músculo liso envolve dois mecanismos: o acoplamento eletromecânico
e o fármaco-mecânico. O primeiro está relacionado ao aumento da concentração intracelular de
cálcio ([Ca2+]i) desencadeado por uma despolarização da membrana plasmática, resultando na
ativação dos canais de cálcio dependentes de voltagem (Cav) e influxo desse íon, promovendo
a contração do músculo. Um aumento na concentração de potássio extracelular (K+)
desencadeia despolarização devido a diminuição deste íon através de canais de vazamento
presentes na membrana plasmática, que no repouso possui carga elétrica residual negativa
devido a saída das cargas positivas (fig. 1).
154
Durante o repouso, o gradiente químico favorece o efluxo de íons K+ através de seus
canais de vazamento, deixando a região perimembranar interna das células musculares lisas
polarizadas negativamente. Um aumento na [K+]e diminui o efluxo desses íons, havendo
acúmulo de cargas positivas na região perimembranar interna. A célula despolariza,
ocasionando a ativação dos Cav que leva ao influxo de Ca2+ com consequente contração.
O acoplamento fármaco-mecânico é caracterizado pela ligação de um agonista ao seu
receptor acoplado à proteína G (GPCR), promovendo cascatas de sinalização que levam à
formação de segundos mensageiros e culmina no aumento da [Ca2+]i, seja pela liberação do
cálcio estocado no retículo sarcoplasmático ou pelo influxo desse íon através dos Cav
(REMBOLD, 1996).
As vias de sinalização celular que levam à contração dos corpos cavernosos são
reguladas por meio de inervação simpática, através da ação da noradrenalina ao se ligar ao
receptor α1; ou de fatores contráteis derivados do endotélio, a exemplo da prostaglandina F2α
(PGF2α), sintetizada pela ciclooxigenase-2 (COX-2), ao se ligar ao receptor FP e da endotelina
ao se ligar ao receptor E2. Noradrenalina, PGF2α e endotelina se ligam aos respectivos GPCR
no músculo liso do corpo cavernoso, ativando a proteína Gq/11 através da troca do difostato de
guanosina (GDP) pelo trifosfato de guanosina (GTP) na subunidade α. A subunidade α-GTP
ativa a fosfolipase C-β1, produzindo os mensageiros secundários 1,4,5-trisfosfato de inositol
(IP3) e diacilglicerol (DAG) a partir da hidrólise do 4,5-bisfosfato de fosfatidil inositol (PIP2)
(REMBOLD, 1996; FUKATA et al., 2001). O IP3 se liga ao seu receptor no retículo
sarcoplasmático, promovendo a liberação de cálcio do retículo. O próprio cálcio ativa o receptor
de rianodina (RyR), um canal de cálcio ativado pelo cálcio presente no retículo), resultando na
liberação de mais cálcio dos estoques intracelulares (DELLIS et al., 2006). O cálcio transloca
a proteína cinase C (PKC) para a membrana plasmática e o DAG a ativa e essa irá fosforila os
Cav, modulando-os positivamente e levando assim ao influxo de cálcio. O aumento da [Ca2+]i
favorece o estabelecimento de sua ligação com a proteína ligante de cálcio do músculo liso, a
calmodulina (CaM). Esta, por sua vez, ativa a cinase da cadeia leve da miosina (MLCK), a qual
atua fosforilando a cadeia leve da miosina (MLC). A ativação desta, permite o estabelecimento
da ponte cruzada entre os filamentos de actina e miosina (fig. 2) (AGUILAR; MITCHELL,
2010).
155
Fonte: CORREIA, 2013.
O agonista se liga ao seu receptor do tipo GPCR na membrana plasmática e proteína
Gq/11 troca GDP por GTP na sua subunidade α (não mostrado na figura), tornando-se ativa. A
subunidade αq/11-GTP ativa a enzima PLCβ1, que cliva o lipídio de membrana PIP2 em IP3 e
DAG. O IP3 migra pelo citoplasma e ativa o IP3R presente na membrana do RS, liberando o
Ca2+ dos estoques. O Ca2+ liberado ativa o RyR, fazendo com que mais Ca2+ seja liberado para
o citoplasma. O Ca2+ liberado, juntamente com o DAG ativam a PKC. A PKC ativada fosforila
os CaV1 promovendo o influxo de Ca2+ através dos mesmos. O aumento da [Ca2+]c aumenta a
afinidade pela CaM formando o complexo 4Ca2+ - CaM, ativando a MLCK. E esta, ativada,
fosforila a MLC, a qual se torna ativa e interage com os filamentos de actina, desencadeando a
contração do músculo liso. As definições das abreviaturas estão presentes na lista de
abreviaturas e no texto.
O relaxamento das trabéculas dos corpos cavernosos é regulado pelo óxido nítrico (NO),
sintetizado pelo óxido nítrico sintase neuronal (nNOS) e liberado por neurônios não
adrenérgicos- não colinérgicos (NANC) ou produzido no endotélio (eNOS) por meio da via de
sinalização da acetilcolina (ACh) liberada por neurônios parassimpáticos, que se liga ao
receptor M3, ou ainda pela ação da endotelina ao se ligar aos receptores E1 nas células
endoteliais. A ACh e a endotelina se ligam aos seus receptores acoplado à proteína Gq/11,
resultando no aumento de Ca2+ na célula endotelial e consequente ativação da calmodulina pela
formação do complexo 4Ca2+-calmodulina, o qual ativa a eNOS, culminando na produção de
NO. O NO se difunde pela membrana e ativa a enzima ciclase de guanilil solúvel no citoplasma
da célula muscular lisa, promovendo a hidrólise de GTP em monofosfato cíclico de guanosina
(GMPc), mensageiro secundário necessário para o mecanismo relaxante do músculo liso
(HASHITANI, 2006). Além do NO e da endotelina, a prostaglandina E2 (PGE2) participa do
relaxamento dos corpos cavernosos, através da sua ligação com o receptor EP acoplado à
proteína Gs, ativando a enzima ciclase de adenilil (AC) que converte ATP em AMPc,
aumentando os níveis de nucleotídeos cíclicos no músculo liso (fig. 3) (BERRIDGE, 2008).
156
O agonista se liga ao seu receptor do tipo GPCR na membrana plasmática acoplado à
proteína Gs, que troca GDP por GTP na sua subunidade α (não mostrado na figura), tornando-
se ativa. A subunidade αs-GTP ativa a AC, a qual converte o ATP em AMPc. O NO gerado
tanto dos nervos como das células musculares lisas, estimula a atividade da GC s, que converte
o GTP em GMPc. Os nucleotídios cíclicos AMPc e GMPc ativam suas respectivas proteínas
cinases, PKA e PKG. Ambas as proteínas cinases fosforilam vários substratos: ativam os canais
de K+; inibem os CaV; aumentam a atividade da SERCA e da PMCA; ativam do trocador
Na+/Ca2+; fosforilação do IP3R pela PKG, mas não pela PKA. Todos esses mecanismos
diminuem a [Ca2+]c; as proteínas também inibem a MLCK. Todos esses mecanismos impedem
a ativação da MLC e, consequentemente, sua interação com os filamentos de actina,
promovendo o relaxamento do músculo liso.
O tratamento da disfunção erétil pode ser feito por acompanhamento psicológico,
intervenção cirúrgica por meio de implantação de próteses ou tratamento medicamentoso. Uma
das estratégias fármaco-terapêuticas para o tratamento da doença é o supositório uretral ou
solução injetável contendo um análogo da prostaglandina E1, promovendo relaxamento por
ação semelhante à PGE2. Porém o principal efeito indesejável apresentado pelos pacientes é a
dor na região onde o medicamento é administrado, causando desconforto e assim, baixa adesão
ao tratamento. Atualmente o tratamento dessa doença baseia-se no uso de inibidores de
fosfodiesterases do tipo 5 (PDE-V), que são enzimas com função de catalisar a hidrólise do
GMPc, resultando no relaxamento do músculo liso do corpo cavernoso e consequente ereção
peniana (RAJFER et. al., 1992 apud RODRIGUES et. al., 2010). No entanto, os inibidores de
PDE–V podem desencadear efeitos colaterais, como cefaleia ou hipotensão refratária
decorrentes de uma vasodilatação sistêmica, diminuindo assim a adesão ao tratamento com
esses fármacos (CHONG et. al., 2009). Nesse contexto, substâncias que promovam o
relaxamento do músculo liso em corpos cavernosos têm potencial atividade contra a disfunção
erétil.
Diante disso, o objetivo desse estudo foi implantar e padronizar a técnica de retirada e
isolamento de corpo cavernoso de rato no Laboratório de Farmacologia Funcional “Prof.
George Thomas”, possibilitando a investigação de substâncias com possível efeito relaxante
sobre este órgão, com a finalidade ulterior de contribuir para a descoberta de drogas com
potencial terapêutico na disfunção erétil ou que possam ser utilizadas como ferramenta
farmacológica para um melhor entendimento dos processos fisiopatológicos envolvidos nessa
doença.
Metodologia e análise
Conclusões
FEN 10-5 M
158
Após a verificação do tempo de contração mantida pelo corpo cavernoso, foram
realizadas curvas concentração-resposta cumulativas induzidas por fenilefrina (10-7 – 10-3 M)
para padronizar a concentração do agonista que induz a resposta submáxima do órgão (cerca de
80% da resposta contrátil) e assim seguir os experimentos induzindo a contração com esta
concentração. Através da análise do registro representativo (fig. 4), foi observado efeito
contrátil dependente de concentração da fenilefrina sobre o corpo cavernoso.
O valor de CE50 obtido no resultado foi 5,0 ± 0,5 x 10-5 M. Foi observado que a
concentração de promoveu 80% do efeito contrátil da fenilefrina correspondeu a cerca de 10 -4
M. No entanto, o resultado não corroborou os dados da literatura.
Os relatados por Dehghani, (2004) (CE80 = 7,5 x 10-6 M), cujas condições utilizadas
foram: fisiológica de Krebs bicarbonato, tensão de repouso de 1,5 g, estabilização de 60 minutos
e peso dos animais entre 200-250 g; e os relatados por Saad, (2013) (CE80 = 3 x 10-6M), que
utilizou solução fisiológica de Krebs, tensão de repouso de 0,1 g, estabilização de 45 minutos e
peso dos animais entre 300-400 g. A diferença nos valores de CE80 sugere que as condições
experimentais interferem na funcionalidade do corpo cavernoso. Além disso, apesar dos
animais utilizados nesta padronização e os relatados nos experimentos da literatura serem da
mesma espécie, a interferência na resposta do órgão pode estar relacionada à presença de
linhagens diferentes dessa espécie, bem como as condições em que os animais eram mantidos
no biotério.
159
Figura 5 – Gráfico referente à curva cumulativa induzida por fenilefrina
Referências
160
CLAUDINO, M. A.; PRIVIERO, F. B. M.; TEIXEIRA, C. E.; DE NUCCI, G.; ANTUNES, E.;
ZANESCO, A. Improvement in relaxation response in corpus cavernosum from trained rats.
Urology, v. 101, p. 1004-1008, 2004.
CHONG, D. Y.; MICHEL T. Farmacologia do tônus vascular. In: GOLAN, E. D.; THASHJAN
JR., A. H; ARMSTRONG, E. J.; AMSTRONF, A. W. Princípios de Farmacologia: a base
fisiopatológica da farmacoterapia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009.
DUTTA, K.; CARMODY, M. W.; CALA, S. E.; DAVIDOFF, A. J. Depressed PKA activity
contributes to impaired SERCA function and is linked to the pathogenesis of glucose-induced
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HADDOCK, R. E.; HILL, C.E. Rhythmicity in arterial smooth muscle. Journal of Physiology.
v. 566, p. 645–656, 2005.
HASHITANI, H. Interaction between interstitial cells and smooth muscles in the lower urinary
tract and penis. Journal of Physiology. v, 576. p, 707–714, 2006
161
REMBOLD, C. M. Biochemistry of smooth muscle contraction In: Bárány, M. (org.)
Electromechanical and pharmacomechanical coupling. San Diego: Academic Press, p.227-
239, 1996.
RIDWAN SHABSIGH, M. D. Epidemiology of erectile dysfunction. In: Male sexual function:
a guide to clinical management. p. 47-59. Towana, 2006.
162
DIAGNÓSTICO HIDROENERGÉTICO APLICADO AO SISTEMA PILOTO DE
DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA DO LABORATÓRIO DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E
HIDRÁULICA EM SANEAMENTO
Resumo
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Automação e controle em sistemas de distribuição de água /
Diagnóstico hidroenergético aplicado ao sistema piloto de distribuição de água do laboratório de eficiência
energética e hidráulica em saneamento
Estudante de Iniciação Científica: Kamilla Henrique Mendonça (e-mail: kamillapdm@hotmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br, e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientador: Heber Pimentel Gomes (e-mail: heberp@uol.com.br, telefone: 83 3216-7037)
163
Para Venturini et al (2001), a ocorrência de um intenso processo de urbanização nas
últimas décadas tem exigido dos serviços públicos de abastecimento de água grandes esforços
no âmbito técnico, organizacional e financeiro, na tentativa de atender satisfatoriamente às
demandas. Isso faz crescer a quantidade de estações de bombeamento para transportar água até
os pontos de consumo, resultando em elevadas demandas de energia elétrica proveniente de
muitos motores de médio e grande porte em funcionamento.
A temática sobre aspectos de eficiência energética nos sistemas de abastecimento de
água vem ganhando destaque nos últimos anos, sobretudo devido à redução de subsídios
governamentais que aumentaram os custos com energia elétrica, onerando gastos no setor. Esse
contexto impulsionou o surgimento de novos instrumentos e ferramentas tecnológicas com o
interesse de se atingir maior eficiência energética e hidráulica no saneamento.
Um grande passo para avaliação de um sistema de abastecimento de água foi a
introdução da modelagem computacional como ferramenta auxiliar de gerenciamento,
planejamento, projeto e diagnóstico do funcionamento do sistema. Um dos simuladores mais
utilizados no mundo por entidades gestoras, investigadores e acadêmicos é o EPANET 2.0,
desenvolvido por Lewis A. Rossman (2008) da U. S. Environmental Protection Agency
(US EPA), dos Estados Unidos e traduzido, em 2009, para o português do Brasil pelo
Laboratório de Eficiência Energética e Hidráulica em Saneamento – LENHS, da Universidade
Federal da Paraíba – Brasil (GOMES e SALVINO, 2007).
O EPANET foi concebido para ser uma ferramenta de apoio à análise de sistemas de
distribuição, podendo ser utilizado em diversas situações onde seja necessário efetuar
simulações de sistemas pressurizados de distribuição de água. O estabelecimento de cenários
de projeto (p.ex., expansão de uma rede existente), a calibração de modelos hidráulicos, a
análise do decaimento do cloro residual e a avaliação dos consumos são alguns exemplos de
aplicação do programa (GOMES & SALVINO, 2007).
Outra ferramenta importante, e também capaz de promover redução de gastos com
energia nos sistemas de distribuição de água, é a automatização desses sistemas, ao passo que
garante o controle das pressões ao longo da rede, operação adequada do sistema, melhor
eficiência na manutenção, leitura e monitoramento de parâmetros elétricos e hidráulicos,
evitando consumos excessivos.
A automatização consiste na aplicação das tecnologias de processo de abastecimento de
água junto à tecnologia da informação. A tecnologia no abastecimento pode ser aplicada nas
operações de captação e distribuição, por exemplo, enquanto que a tecnologia da informação
possibilita realizar a supervisão e os controles necessários para manter o sistema operando de
forma mais eficiente. A automação pode ser implantada por três estratégias (TSUTIYA, 2006):
164
Instruments. Essa placa realiza a interface do algoritmo de controle robusto com a planta através
dos conversores D/A (digital/analógico) e A/D (analógico/digital).
O software que atua como interface entre a placa de aquisição de dados e o usuário é o
LabVIEW®, é neste ambiente de programação onde se estabelece o projeto e o gerenciamento
do sistema de controle.
O LabVIEW® (Laboratory Virtual Instruments Engineering Workbench), utiliza uma
linguagem de programação, predominantemente visual, desenvolvida pela National
Instruments (NI), conhecida por Linguagem G. A mecânica de programação desse software
difere das linguagens usuais, pois incorpora um compilador gráfico aperfeiçoado para
maximizar o desempenho do sistema, ao invés de utilizar as tradicionais linhas de código. Os
programas gerados pelo LabVIEW® são chamados de instrumentos virtuais (Vi’s), por
possuírem a aparência e operacionalidade que simulam equipamentos reais. Esses são
compostos pelo painel frontal (Front Painel), que contém a interface, e pelo diagrama de blocos
(Block Diagram), que contém o código gráfico do programa. O objetivo deste trabalho é a
realização de um diagnóstico hidroenergético em conjunto com um controlador inteligente
aplicado ao Sistema de Abastecimento e Distribuição de Água - SADA - do LENHS da UFPB.
Fundamentação Teórica
165
Os efeitos causados pela má distribuição das pressões na rede, devido ao tipo de
modelagem convencional utilizado na grande maioria dos sistemas de abastecimento no Brasil,
que possui um único sistema de impulsão, promovem nas localidades baixas das cidades
pressões elevadas desnecessárias, estas pressões excedentes são desperdícios energéticos
(GOMES et al, 2011).
Na atual conjuntura mundial, onde a economia e o uso racional de recursos fundamentais
à manutenção da vida humana, tal como a água, devem ser premissas básicas para a idealização
e realização de qualquer projeto de abastecimento de água, não é possível tolerar o desperdício
hidro energético. Segundo Gomes (2005), no setor de saneamento ocorrem perdas significativas
de água e energia, que são inerentes às atividades de engenharia. As perdas de água podem ser
físicas e/ou comerciais, além das perdas de energia que ocorrem principalmente nas estações
elevatórias dos sistemas de distribuição de água.
A nível nacional, o setor de saneamento tem um gasto de cerca de R$ 3,0 bilhões,
anualmente, com energia elétrica. O sistema de abastecimento de água é responsável pelo uso
de 9,47 TWh/ano da energia elétrica no país, sendo 1,12 TWh/ano para sistema de esgotamento
sanitário, representando juntos 2,32% do consumo total de energia (AESBE, 2013).
Em países onde é possível constatar um elevado índice de perdas em suas redes de
abastecimento, os dados citados acima, referentes ao consumo de energia elétrica para o
bombeamento de água, representam um desperdício significativo – visto que a água tratada e
bombeada, destinada à distribuição na rede, não chegou aos pontos de consumo devido às
perdas do sistema.
Em um estudo publicado pela ABES no ano de 2013, a média de perdas entre países
desenvolvidos está em 35% enquanto que no Brasil, as perdas de água têm se mantido em torno
de 40%. A situação é ainda mais preocupante quando se analisa os dados de perdas sobre o
faturamento para empresas estaduais, onde esse índice varia de 21,1% a 75%. Isso representa
não apenas um prejuízo financeiro, como também um gasto energético desnecessário com uma
água que não foi consumida, além das perdas deste recurso ao longo do sistema de distribuição.
Para a redução desses índices tão alarmantes, a ABES elenca seis setores de
investimento necessários à correção do sistema de abastecimento. São eles:
De acordo com Araújo (2008) apud Ben (2007), o crescente consumo de energia elétrica
tem exigido uma considerável ampliação na capacidade do parque de geração, com a finalidade
de atender a demanda; e uma das funções da eficiência energética é contribuir para que a redução
de perdas atue como um fator compensador na ampliação da matriz energética brasileira. Ou seja,
166
a utilização racional dos recursos energéticos atuais, sem a necessidade de novas fontes geradoras
de energia elétrica protela a degradação cada vez mais crescente dos recursos naturais.
Para Gomes e Carvalho (2011) a determinação do consumo energético não depende
apenas do consumo de energia elétrica, pois a energia elétrica está relacionada com a produção
de água. Sendo assim, a forma mais indicada de se determinar o consumo energético é através
do cálculo do Consumo Específico de Energia Elétrica – CE. O CE é um indicador capaz de
mostrar se uma modificação no sistema produziu ou não um melhor custo benefício na rede.
Portanto, o diagnóstico hidroenergético que será aplicado a um sistema piloto de distribuição de
água no LENHS – UFPB analisará o comportamento e a variação de importantes fatores que
contribuem para a idealização de projetos economicamente viáveis e sustentáveis, garantindo
eficiência energética e hidráulica.
Ao automatizar um sistema de grandes dimensões, tal qual um sistema de
abastecimento, é possível realizar um monitoramento mais eficiente, detectando problemas na
rede em tempo real, além de ser possível introduzir algoritmos e programas computacionais
capazes de operar alguns parâmetros imprescindíveis ao sistema como a vazão e a pressão.
O uso de algoritmos robustos é uma ferramenta bastante eficiente na fase de automação
industrial e, com algumas alterações, é possível aplicá-la a uma rede de abastecimento. O
algoritmo é qualquer procedimento computacional bem definido que toma algum valor ou
conjunto de valores como entrada e produz algum valor ou conjunto de valores como saída
(CORMEN, 2002).
Na fase de automação de um determinado sistema são utilizados controladores
programáveis. Estes controladores podem ser aplicados em basicamente três tipos de sistemas:
Sistema de controle em malha aberta: utiliza uma medida adicional da saída (resposta) real
a fim de compará-la com a resposta desejada do sistema;
Sistema de controle em malha fechada: utiliza uma medida adicional da saída (resposta) real
a fim de compará-la com a resposta desejada do sistema;
Sistema de controle: é um sistema que tende a manter uma relação pré-estabelecida entre
duas variáveis do sistema através da comparação de funções destas variáveis, utilizando a
diferença como meio de controle (E SILVA, 2011).
Quando se deseja fazer uso de controles para elaboração de uma dada tarefa, com ou
sem parâmetros reajustáveis, é importante que se analise suas vantagens, desvantagens e qual
o objetivo do controle, para que se opte por um controle eficiente e que atenda as expectativas
do usuário. Para Vukic e Kuljaca (2002), os tipos de controles mais conhecidos são:
Controles on-off: são simples, fáceis de desenhar e de se operar. Geralmente são utilizados
quando não se faz necessário o ajuste de parâmetros, tendo apenas dois atuadores que
trabalham no modo “dentro ou fora”. Uma grande vantagem é que na maior parte das vezes
não necessita de manutenção;
Controlador Proporcional (P): relaciona a diferença entre o ponto de ajuste e a variável de
processo. O ganho proporcional (Kp) determina a taxa de resposta de saída para o sinal de
erro. Em geral, aumentando o ganho proporcional aumenta a velocidade da resposta do
sistema de controle. Quanto maior for esse ganho, maiores serão as chances do sistema se
tornar instável;
Controlador Derivativo (D): faz com que a resposta do sistema diminua se a variável de
processo for aumentando rapidamente. A derivada de resposta é proporcional à taxa de
variação da variável de processo. Aumentar o ganho derivativo fará com que o sistema de
controle reaja mais intensamente a mudanças no parâmetro de erro, aumentando a velocidade
da resposta global de controle do sistema. Na prática, a maioria dos sistemas de controle
167
utiliza um valor muito pequeno deste ganho, pois a derivada de resposta é muito sensível ao
ruído no sinal da variável de processo. Se o sinal de feedback do sensor é ruidoso ou se a
taxa de malha de controle é muito lenta, a derivada de resposta pode tornar o sistema de
controle instável;
Controlador Integrativo (I): soma o termo de erro ao longo do tempo; por isso, mesmo com
um erro mínimo, o ganho integral irá aumentar lentamente. A resposta integral é aumentada
ao longo do tempo a menos que o erro seja zero; portanto, o efeito é o de conduzir o erro de
estado estacionário para zero.
Para esse sistema será aplicado o controlador PID (Proporcional, Integral e Derivativo)
convencional. O controlador PID consiste na elaboração de um controle somando-se três
termos: um termo proporcional ao erro, um termo proporcional a integral do erro e um termo
proporcional à derivada do erro (DE NEGRI, 2004), conforme ilustrado na Figura 3.
168
1 t de ( t )
u ( t ) Kp e( t )
TI e(t )dt TD
0 dt
(1)
No entanto, para obter-se uma versão digital do controlador PID, deve-se discretizar os
componentes integrais e derivados. A maneira mais simples de discretizar uma integral é
aproximá-la de uma soma, chegando à forma utilizada do controle na versão digital, conforme
a equação abaixo:
T e(0) e(k ) k 1 T
u (k ) Kp e(k ) 0 e(i) D e(k ) e(k 1) (2)
TI 2 i 1 T0
A Equação (2) foi implementada no LabVIEWTM para encontrar o sinal de controle para
cada componente a ser controlado no sistema SADA.
Metodologia e análise
169
Figura 4 – Vista panorâmica do SADA
170
A Tabela 1 traz os quantitativos dos elementos que compõem o SADA de forma
sintetizada.
Material PVC
Comprimento (m) 18,6
Joelhos de 45° 5
Joelhos de 90° 15
Válvulas de Controle 3
Conjunto Motor-bomba 1
Booster 1
Transdutores de Pressão 5
Transdutores de Vazão 2
Conversores de Frequência 2
171
Figura 7 – Tabela de inserção de dados referentes ao nó 2
Com o intuito de executar uma simulação bem sucedidada no EPANET, foi necessário
traçar as curvas da bomba e do booster que são identificados no modelo pelos identificadores
11 e 31. Para isso, foi utilizado o CCO – Centro de Comando de Operação – do SADA, onde
para determinadas variações da vazão, obteve-se os respectivos valores de pressão a jusante.
Nas Figuras 8 e 9 é possível observar o traçado das curvas das bombas, geradas no EPANET.
172
Figura 9 – Curva 2 da bomba 11
Simulação Estática
Com a rede devidamente modelada e as curvas das bombas definidas, foi possível
executar a simulação estática no programa e conferir se os valores de vazão e pressão simulados
são satisfatórios e podem servir de base para uma expansão do sistema piloto, podendo, assim,
aplicá-lo a uma rede em grande escala. A Figura 10 apresenta o resultado dessa simulação.
173
Figura 10 – Simulação estática da bancada SADA
Levando-se em conta que, segundo a NBR 12218, a pressão mínima requerida nas redes
de distribuição de água é de 10 m.c.a., a simulação estática da bancada SADA, mostrada na Fig.
10, revela o quanto o sistema está trabalhando de forma superdimensionada. Nos nós 12 e 13 a
pressão chega a 22,33 m.c.a., o que representa mais do que o dobro da mínima requerida. Estes
valores enfatizam a necessidade de se aplicar um controle que possa gerir de forma mais
eficiente um sistema de abastecimento, de maneira que as pressões mínimas de projeto sejam
atendidas ao mesmo tempo em que as vazões necessárias cheguem aos pontos de consumo sem
déficit de volume.
O uso de um controlador para regular a rotação e a frequência da bomba 31, localizada
entre os nós cinco e oito, influencia diretamente no controle da pressão do PT-3, localizado
entre os nós 9 e 22.
174
A aplicação de controles criados a partir de algoritmos robustos com o intuito de
automatizar uma determinada tarefa, no caso deste trabalho, a redução da frequência da bomba
mostra-se de extrema importância para diminuição significativa do consumo energético e de
perdas reais em um SAA. A fase seguinte, após a simulação do sistema piloto, foi a elaboração
de um algoritmo de controle, utilizando a plataforma de programação LabVIEW®. O algoritmo
serve de base para a criação de uma rede de abastecimento mais autônoma, sendo controlada a
partir de programas computacionais.
Segundo Haffner (2013), o funcionamento do controlador PID, utilizado como
algoritmo robusto na plataforma LabVIEW®, pode ser entendido da seguinte forma
(ver Fig. 3):
175
Figura 11 – Tela principal do SADA no LabVIEWTM
176
Figura 13 – Tela de alteração dos parâmetros do controlador PID
Para caracterizar o controle criado como uma ferramenta aplicável em SAA para
garantir sua eficiência hidroenergética, este estudo também levou em conta parâmetros elétricos
que influenciam no funcionamento do SADA.
Para a medição dos parâmetros elétricos foi utilizada a Maleta Fluke®. Este equipamento
é composto por medidores de corrente e tensão, podendo analisar ainda parâmetros como
potência do conjunto motor-bomba. A Figura 14 mostra em detalhes a maleta com seus
componentes.
Para analisar de forma coerente os dados obtidos a partir das medições elétricas
realizadas no SADA foram utilizadas as Equações. (3) e (4). A Equação (3) representa o cálculo
do Coeficiente Específico de Energia Elétrica e é amplamente utilizada para avaliação de
sistemas de abastecimento quanto à eficiência energética; ela relaciona a energia consumida
pelo volume bombeado.
Pa t
CE (3)
V
177
Onde:
Pa – Potência elétrica medida, em kW
t – Tempo de bombeamento, em h
V – Volume bombeado, em m³
Pa t
CE (4)
Hman
V
100
Onde:
Pa – Potência elétrica medida, em kW
t – Tempo de bombeamento, em h
V – Volume bombeado, em m³
Hman – Altura manométrica de recalque
Resultados
A Tabela 2 foi utilizada como guia para realizar as alterações dos parâmetros.
Foram feitas alterações nos valores dos parâmetros do controlador PID com o intuito de
avaliar o desempenho do controlador no sistema, observando o tempo de subida, o sobressinal,
o tempo de estabilidade e o erro de regime permanente. O tempo de subida pode ser entendido
como o tempo que leva para a resposta variar de 10% a 90% do seu valor final; o sobressinal é
a diferença entre o valor do primeiro pico da resposta e o valor final da resposta; o tempo de
estabilidade é o período que leva para não ocorrer mais variações durante o funcionamento do
controle; e erro de regime permanente é a diferença entre o valor numérico da referência e o
sinal de saída. A Tabela 3 apresenta os resultados obtidos com a alteração dos valores dos
parâmetros do controlador PID; esses valores foram escolhidos a partir de um estudo criterioso
tomando como base a dinâmica do sistema envolvido.
180
Figura 15 – Gráfico referente ao teste 1
O gráfico da Figura 17 apresenta uma das respostas mais satisfatórias do controle PID.
Entretanto a frequência requerida para o funcionamento é um pouco elevada em relação ao teste
5 (conforme Figura 18), que também apresentou um desempenho satisfatório e uma frequência
próxima a 40 Hz para o conjunto motor-bomba.
181
Figura 17 – Gráfico referente ao teste 7
182
Figura 19 – Sistema SADA sem o PID
20 70
60
15 50
Pressão (m.c.a.)
Frequência (Hz)
40
10 30
20
5 10
0
0 -10
0 50 100 150 200 250
Tempo (s)
Altura Volume
CEN(kWh /m
Situação Manométrica Bombeado CE(kWh/m3)
/100)
(m.c.a) (m³)
Com o PID 25,82 2,80 0,143 0,553
Sem o PID 25,82 3,62 0,249 0,963
A partir dos dados obtidos nas Tabelas 5 e 6 é possível afirmar a eficiência energética
do sistema SADA ao se aplicar o controlador PID convencional no acionamento desta bancada
experimental, visto que os valores de diferença de potencial, corrente elétrica, potência, CE e
CEN, foram significativamente menores quando houve aplicação do controle em detrimento ao
funcionamento livre do sistema com uma frequência constante de 60 Hz. Em termos
percentuais, a eficiência do sistema com a aplicação do controle é de 80,67%.
Conclusões
Na primeira etapa desta pesquisa foi feita a modelagem e simulação estática do SADA
no EPANET. Os resultados apresentados dão um embasamento positivo para a realização de
diferentes simulações com variações de pressão e vazão, pois as pressões obtidas, conforme
variação de horário, eram superiores a 10 m.c.a.
Fazer uma simulação de uma rede já em funcionamento utilizando a ferramenta
EPANET possibilita ao usuário uma série de verificações técnicas e alternativas de intervenções
para melhoria de um sistema de abastecimento, levando-se em conta a abrangência no envio de
informações acerca das vazões, pressões, diâmetro das tubulações, perdas de carga, dentre
outras variáveis de interesse.
Em relação à criação do controle PID utilizando a plataforma LabVIEW®, os resultados
obtidos foram bastantes satisfatórios. A partir de oito variações dos ganhos integral,
proporcional e derivativo, chegou-se aos valores: 0,1, 0,4 e 0,8, respectivamente, que
proporcionaram o funcionamento do sistema de maneira estável. Os ganhos apresentados acima
são referentes ao teste cinco, que mesmo não apresentando tempo de subida tão rápido quanto
os testes sete e oito, proporcionou um funcionamento eficiente da rede, em relação aos
parâmetros hidráulicos de vazão e pressão, bem como uma frequência próxima a 40 Hz para a
bomba, o que retrata uma diminuição significativa no consumo de energia.
A utilização de ferramentas computacionais aplicadas a redes reais ou virtuais de
abastecimento de água são extremamente necessárias para que se possa estabelecer um
equilíbrio entre o uso consciente dos recursos naturais, bem como atender, de maneira
satisfatória, as demandas requeridas por suas zonas de abastecimento.
Referências
184
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 12218 - Projeto De Rede De
Distribuição De Agua Para Abastecimento Público. Rio de Janeiro, 1994.
ARAÚJO, W.R., LEITE, L.C., MOREIRA, S.G., PEREIRA, V.M.P. e SILVA JÚNIOR, A.R.,
2008, Aplicação de técnicas de inteligência artificial visando eficiência energética e
estimação de parâmetros em sistemas motrizes industriais. Eletrônica de Potência, vol.
13, no. 4, Brasil.
DE NEGRI, V.J. Introdução aos Sistemas para Automação e Controle Industrial. LASHIP
/ EMC / UFSC. Florianópolis, 2004.
185
GOMES, H.P. Sistemas de Saneamento – Eficiência Energética. Editora Universitária –
UFPB, João Pessoa, 2010.
TRAVIS, J. e KRING, J., 2006. LabVIEW for Everyone: Graphical Programming Made
Easy and Fun. 3ed., ISBN: 978-0-13-185672-1.
186
___________________________________________________________________________
CIÊNCIAS HUMANAS
A ESTRATÉGIA NORTE-AMERICANA DE FORUM SHIFTING NAS
NEGOCIAÇÕES EM PROPRIEDADE INTELECTUAL
Resumo
Neste capítulo o objetivo é discutir a importância do acordo Trans Pacific Partnership (TPP)
para a política comercial do governo Obama (2009-2017), abordando especificamente a questão
da propriedade intelectual. A análise apresenta o acordo como forma de inserção dos EUA no
comércio da região Ásia-Pacífico e aponta à continuidade no governo Obama da agenda
maximalista na política comercial, bem como da estratégia de forum shifting para regras TRIPS-
plus. O trabalho é um estudo de caso de tipo descritivo visto ser o TPP um acordo recém
negociado, mas que contém propostas que elevam a proteção da propriedade intelectual no
regime internacional para um patamar sui generis. As principais dificuldades do acordo são
oposição de países membros à inclusão de normas TRIPS-plus, o desbalanceamento entre o
nível de proteção demandado e flexibilidades oferecidas, e a possibilidade de
multilateralização. Por fim, conclui-se com uma breve análise do TPP sob o governo Trump.
Introdução
1
Título do Projeto de Pesquisa Plano de Trabalho: Implementando a agenda do desenvolvimento da OMPI: a
estratégia brasileira de "transversalização" dos princípios da agenda e a resistência norte-americana/ A estratégia
norte-americana de forum shifiting nas negociações em propriedade intelectual.
Estudante de iniciação científica: Pedro Henrique Mota de Carvalho (e-mail: pedro_mota_19@hotmail.com,
telefone: 83 9-9988-0694).
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br, e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br).
Orientador (a): Henrique Zeferino de Menezes (e-mail: hzmenezes@gmail.com, telefone: 83 9-8806-1981).
188
presente trabalho expõe as origens do acordo e discute a importância deste na política comercial
dos EUA para a região, discutindo como as principais demandas que compõem a agenda de PI
do país se inserem no acordo e como podem se relacionar com o paradigma internacional de
PI.
O trabalho debate a estratégia dos EUA de forum shifting, caracterizando o esforço para
a inclusão de um capítulo de PI no TPP como seu mais recente e importante desdobramento.
Por fim, através da avaliação da conjuntura do TPP, analisa-se a estratégia comercial que deu
fulcro a proposta, o conteúdo específico de capítulo de PI e o seu lugar na ainda incipiente
administração Trump.
Fundamentação teórica
2
Disponível em: http://www.ustr.gov/about-us/press-office/press-releases/2009/december/ustr-ron-kirk-remarks-
trans-pacific-partnership-n.
3
Disponível em: http://www.ustr.gov/about-us/press-office/press-releases/2011/november/trans-pacific-
partnership-tpp-trade-ministers%E2%80%99-re.
189
investimentos. A segunda dimensão estabeleceu a regionalização como objetivo, preconizando
a facilitação do comércio, o desenvolvimento de cadeias de suprimento e produção e a
constituição de uma tarifa única e regras comuns de origem.
A terceira dimensão abrange questões transversais, que visam diminuir o encargo para
conformação e manutenção do acordo. As áreas abordadas para esse fim são: a efetividade de
comunicação entre as partes negociantes e os grupos de interesse, a competição desigual de
empresas estatais nas licitações governamentais e a criação de flexibilidades para abarcar a
questão dos diferentes níveis de desenvolvimento entre os países membros.
A quarta dimensão versa sobre a capacidade de responder aos novos desafios impostos
ao comércio, enquanto que a quinta coloca o TPP como um “acordo vivo”, capaz de adaptar-se
e incluir novas questões e novos membros da região Ásia-Pacífico.
Uma vez exposta as características do TPP, busca-se avaliar a importância desse acordo
para a política comercial dos Estados Unidos no governo Obama e como nele se inseriu a
temática da PI. A manifestação de interesse do país para com o acordo remonta à época da
segunda administração Bush, no ano de 2008, sendo a negociação sobre serviços e investimento
as questões prementes (LEWIS, 2011). A entrada dos EUA no acordo P4, porém, acontece em
2009 com a administração Obama e só então se iniciam propriamente as negociações do TPP,
sendo os EUA seguidos por adesões de novos membros, como Austrália, Peru, Vietnã, Canadá,
México e Japão.
Conforme declarado pelo embaixador do United States Trade Representative, Ron Kirk,
quando da adesão dos EUA às negociações do TPP, os objetivos do país para com o acordo
repousariam em duas grandes questões: tornar a região da Ásia-pacífico o centro mais
colaborativo da economia mundial e fazer uso do acordo como base para a liberalização
comercial do século XXI e futuro comércio dos EUA4. A hipótese que se aventa é que
administração Obama visava o longo prazo – desencorajando uma visão na qual se prepondera
ganhos econômicos imediatos – ressaltando as potencialidades do acordo.
O que parece corroborar essa visão é o fato de que o país já possuía acordos preferenciais
de comércio com todos os integrantes, excetuando-se a Nova Zelândia, Vietnã e Brunei, cujos
mercados possuem alguns atrativos, mas não o suficiente para per se incentivar a entrada dos
EUA5, e o Japão, que, embora importante, entrou no acordo posteriormente, de forma que não
poderia ter sido o motivo para entrada dos EUA conforme se deu em 2009.
O TPP seria então uma plataforma para os EUA. Seu objetivo foi consolidar a
cooperação econômica do país com a economia da região Ásia-pacífico e alçá-lo enquanto líder
da integração econômica dessa região, na medida em que o TPP venha a de fato exercer a função
de acordo padrão para os países da APEC. Dessa maneira, se influi não apenas sobre a
cooperação intra ásia como também sobre o bloco da Ásia-pacífico, abrangendo importantes
economias das Américas como o Canadá e México – já parceiros comerciais na zona de livre
comércio do NAFTA – assim como Chile e Peru. O sucesso e a subsequente expansão do TPP
poderiam, inclusive, servir como forma de potencializar a multilateralização do comércio
mundial, sendo os principais fatores que tornam essa conjectura plausível os altos padrões da
liberalização comercial, a provisão de livre adesão e a presença, principalmente, do mercado
dos EUA como atrativo comercial (LEWIS, 2011).
4
Informações disponíveis em: www.ustr.gov/about-us/press-office/press-releases/2009/december/ustr-ron-kirk-
remarks-trans-pacific-partnership-n.
5
Conforme Lewis (2011) nenhum dos três países seria explicaria a adesão dos EUA ao TPP. O mercado do Vietnã
embora atraente, não explica a entrada dos EUA, visto que o país aderiu ao acordo posteriormente. A Nova
Zelândia, a despeito de seu interesse em constituir acordo preferencial de comércio com os EUA, nunca chegou a
lograr êxito em obtê-lo. Brunei Darussalam não possui nenhum atrativo claro, dado o pequeno tamanho de sua
economia e papel no comércio internacional.
190
Feita a exposição da importância do TPP para a política comercial do EUA na
administração Obama, prossegue-se com uma discussão específica sobre o posicionamento
desse governo acerca da inclusão da temática de PI no acordo. Conforme já abordado, a adesão
dos EUA ao TPP se deu em 2009 durante a administração Obama, e, assim como Bush (2001-
2009) a política comercial do governo evidencia a PI. Ambas as administrações se pautavam
no discurso de que a proteção insuficiente prejudicaria as vantagens comparativas que o setor
privado dos EUA possui em inovação6, como também para a manutenção do nível de emprego
da economia nacional, sendo cerca de 18 milhões de trabalhadores empregados em empresas
“intensivas em PI”7 nos EUA.
De fato, a preocupação com uma proteção mais abrangente da PI no governo Bush foi
de grande importância. Tendo iniciado a negociação do ambicioso Anti-counterfeit Trade
Agreement (ACTA) em âmbito plurilateral, a administração Bush também assinou acordos
bilaterais de comércio envolvendo cláusulas TRIPS-plus8, além de ter incentivado a discussão
da PI em variados fóruns, como o G8, ASEAN, OCDE, Organização Mundial de PI (OMPI),
Organização Mundial de Saúde (OMS) e Organização Mundial de Aduanas (OMA), além do
Conselho do TRIPS na OMC. Como estratégia complementar, buscou-se incrementar o padrão
mundial de proteção e enforcement das regras de PI através do uso seletivo da chamada “Special
301”.9
Seguindo essa tendência, a administração Obama buscou incluir na pauta do TPP uma
proteção mais abrangente à PI10. Assim como as administrações anteriores – remontando ao
governo Reagan (1981-1989) – a política comercial dos EUA no governo Obama, no que se
refere à PI, encontra-se pautada por uma abordagem maximalista. O maximalismo implica no
apoio a leis duras e “progressistas” em PI, possuindo três características básicas: i) a busca por
um maior termo de proteção a patentes, ampliando os setores tecnológicos contemplados e
dando maior eficiência às punições sobre infrações; ii) uma retórica que correlaciona o nível de
proteção concedido e a inovação na economia; iii) e a resistência contra quaisquer esforços de
interpretação da questão no sentido de obter flexibilidades a proteção de direitos adquiridos
(HALBERT, 2011).
Sendo uma abordagem comum a governos democratas e republicanos, as principais
fontes do maximalismo nos EUA provém do sistema legal, em especial após o advento do
CAFC (Tribunal de Apelação Federal), cujas decisões favorecem a maximização da proteção
mesmo quando há brechas para a interpretação mais flexível da legislação de PI11. Além disso,
6
Disponível em: http://www.ustr.gov/webfm_send/1673.
7
Estimativas divulgadas no Trade Policy Agenda de 2011: http://www.ustr.gov/webfm_send/2597.
8
O acordo TRIPS (em inglês, Trade Related Aspects of Intellectual Property Rights) assinado no âmbito da OMC
durante a Rodada Uruguai, constituiu-se como um acordo paradigmático em PI, consolidando padrões mínimos
para a sua proteção. Nos acordos preferenciais de comércio negociados durante a administração Bush, conseguiu-
se incluir normas que elevavam a proteção para além da proteção mínima acordado no TRIPS, sendo o setor
farmacêutico o principal beneficiado. (SELL, 2011).
9
A unilateralidade da seção “special” do artigo 301 da lei de comércio instituída em 1984 advém da noção formada
nos Estados Unidos, a partir de 1970, de que o fair trade internacional precisa ser imposto. A impressão nutrida
pelas empresas norte americanas e pelo governo dos Estados Unidos era a de que estavam enfrentando uma
concorrência ilegítima no comércio internacional, especialmente nas práticas “injustas e desleais” do Japão e dos
países emergentes do Pacífico, que negavam um tratamento igualitário aos produtos dos EUA. Dessa forma,
legitima-se na retórica norte-americana a necessidade de construção do fair trade segundo imposição da abertura
comercial. (ARSALANIAN, 1994).
10
Necessidade ressaltada pelo embaixador do USTR, Ron Kirk, quando do anúncio da intenção do Canadá e
México em aderir ao acordo. Disponível em: http://www.ustr.gov/about-us/press-office/press-
releases/2011/november/statement-us-trade-representative-ron-kirk-announ.
11
Esse fato deve-se à flexibilização da doutrina dos equivalentes. A liberalização dessa doutrina, depreendida dos
casos de jurisprudência julgados pelo CAFC, indica uma maior flexibilidade no que pode ser considerado “útil”,
de modo que patentes passaram ser concedidas ao que antes eram considerados “instrumentos de pesquisa”, com
a justificativa de que irão ser úteis para futuros avanços científicos. A consequência, então, foi a deflagração de
191
também são reconhecidos como fontes de maximalismo a literatura não crítica como livros
informativos destinados a inventores, artistas e autores sobre a importância de possuírem
direitos de PI, bem como os reports do governo e de grupos de interesse privado sobre o assunto,
que em grande medida ressaltam o prejuízo da pirataria imposto à economia e preconizam o
enforcement de regras em PI (HALBERT, 2011).
Uma das principais iniciativas do governo Obama consistiu justamente em dar
continuidade à abordagem maximalista através da proposição de um capítulo em PI no TPP, de
modo a reproduzir os padrões das normas negociadas em acordos preferenciais de comércio
anteriores12 e mesmo as provenientes de outros acordos plurilaterais, como o ACTA – no que
tange a proteção de direitos autorais em mídias digitais – refletindo o padrão de proteção
oferecido nos EUA (FERGUSSON et al, 2012).
Os principais assuntos tratados no capítulo adotado em 2017 foram: i) a extensão do
termo de patentes; ii) disclosure; iii) acesso a medicamentos; iii) biotecnologia e iv)
enforcement, embasados segundos normas TRIPS-plus e a abordagem maximalista da PI.
Apenas parte dessas normas foi incluída como originalmente propostas pelos EUA, conforme
abaixo se discute.
Os EUA preconizaram nas negociações uma série de medidas voltadas para aumentar a
proteção, limitando a capacidade dos Estados membros de condicionar o acesso ao mercado
mediante questões como: transferência de tecnologia, aquisição ou licenciamento de direitos de
PI (DPI) por empresas estatais e a utilização ou desenvolvimento de DPI de empresas nacionais,
sejam elas privadas ou estatais. Dentre essas medidas, porém, a única adotada no texto final foi
a extensão do termo de proteção de patentes por demora injustificada13.
Assim como em outros acordos de livre comércio nos quais os EUA fazem parte,
também se buscou limitar o direito dos Estados em requerer a divulgação de informações
(disclosure) referentes ao processo de invenção a fim de melhor julgar a concessão da patente.
O disclosure configura uma limitação “natural” dos DPI, correspondendo à autonomia
do governo nacional em julgar quais ideias e inovações podem ser de posse privada em seu
território e incrementar o acesso do interesse público a informações acerca do avanço
tecnológico (SHADLEN, 2005). Porém os EUA demandaram que as informações divulgadas
se resumam apenas a reproduzir a invenção, justificando como forma de impedir a divulgação
“desnecessária” de informações e a possibilidade de que estas sejam ilegalmente utilizadas com
o objetivo de promover firmas locais (FERGUSSON et al, 2012)14.
Para o acesso a medicamentos – assim como em grande parte dos acordos preferenciais
de comércio regionais ou bilaterais em que os EUA fazem parte – a posição do país restringiu-
se às flexibilidades previstas pelo acordo TRIPS, estendendo-se os termos de proteção às
patentes para além dos 20 anos assegurados pelo referido acordo, além de demandar pela
proteção baseada na exclusividade de dados por um período de cinco anos. A extensão
demandada se dá de forma subsequente a atrasos “injustificados” no processo de requerimento
de aprovação regulatória e de forma desequilibrada, ou seja, sem apresentar as circunstâncias
nas quais as extensões são limitadas e excetuadas.
Além da extensão dos termos de proteção, outra forma que os EUA buscaram deliberar
sobre os fármacos foi através da proposta para exclusividade de dados. Este é um novo tipo de
uma série de reinvindicações de patentes pela sua potencial utilidade, transformando, assim, a própria natureza da
patente de “prêmios” para inventores em “licença de caça”. Como consequência, áreas da tecnologia que não
eram antes protegidas por patentes passam a sê-lo, como biotecnologia, softwares e métodos de trabalho, que
consistem justamente em setores nos quais os EUA estavam na fronteira tecnológica. (CORIAT; ORSI, 2002).
11
Utiliza-se especificamente o acordo KORUS enquanto molde, apesar deste ser um acordo preferencial assinado.
12
Utiliza-se especificamente o acordo KORUS enquanto molde, apesar deste ser um acordo preferencial assinado
bilateralmente com a Coréia do Sul.
13
Art. QQ, 14.2, Seção E, acordo TPP.
14
Essa demanda se concretizou com a inclusão do artigo QQ. 8 E.
192
extensão dos direitos privados sobre PI e prevê direito da proteção dos dados de testes para
validação do medicamento independente da consecução da patente. Não só o maior encargo
com a proteção se faz um ponto negativo, mas também a limitação sobre empresas que fabricam
medicamentos genéricos. Estas serão forçadas a um dispêndio maior para levar a cabo testes
idênticos aos das empresas de fármacos regulares, acarretando aumento preço do medicamento
e atraso em sua entrada no mercado (FLYNN et al, 2012) (SHADLEN, 2005). Outros objetivos
almejados foram: a eliminação de tarifas sobre medicamentos e dispositivos médicos, refrear a
falsificação e redução das barreiras aduaneiras e barreiras internas à distribuição15.
Na área de biotecnologia os EUA buscaram a exclusividade de dados em 12 anos16 para
pesquisas de grandes moléculas, sendo esta a reprodução provisória do posicionamento de
grupos internos (empresas e congresso), de modo que ainda não se constitui como uma agenda
consolidada de política comercial (FLYNN, 2012). Essa demanda não se concretizou, muito
embora os EUA tenham logrado incluir a adesão obrigatória da UPOV 1991 a todos os
membros17 e proteção via patentes para invenções relacionadas às variedades vegetais18.
O enforcement é um assunto relevante na administração Obama, com o USTR
assumindo o compromisso de promover a efetivação das normas de PI em escala global. Antes
visto como um assunto eminentemente privado e sujeito ao litígio civil, o enforcement passa a
ser uma questão tanto de esfera criminal nacional, de jurisdição federal e necessitando
intervenção administrativa dos EUA em escala global (HALBERT, 2011).
Um dos principais problemas referentes à negociação do enforcement em acordos
internacionais é a imposição do aumento de dispêndio público – uma vez que mais atos se
tornam passíveis de serem considerados crimes – para criação de instituições e capacitação
profissional em países que não possuem a capacidade para tanto.
A proposta norte-americana para enforcement, em consonância com o ACTA, buscava
instituir a apresentação de menos evidências para aplicação de penas sobre infrações de marcas
comerciais e direitos autorais, incluindo atividades que não gerem ganhos financeiros19, bem
como a colaboração de provedores de serviço na internet para a retenção de conteúdo protegido
por direitos autorais (HALBERT, 2011). Também nesse caso a demanda foi atendida, com a
inclusão de um artigo sobre enforcement de punições criminais para falsificações em direitos
autorais e marcas comerciais20.
O esforço dos EUA para inclusão do capítulo de PI pode ser analisado enquanto
estratégia de forum shifting em regras TRIPS-plus, que, por seu turno, consiste na busca de
elevação dos padrões de proteção à PI para além do mínimo assegurado pelo TRIPS, porém, de
forma alternativa, transferindo a pauta de negociação de um fórum no qual se encontra um
impasse ou forte oposição para outro no qual há maior possibilidade de barganha, sendo
15
Conforme o “white paper” sobre acesso a medicamentos elaborado pelo TEAM (Trade Enhancing Access to
Medicines) para o TPP, nove objetivos são estipulados, a saber: promoção do acesso para medicamentos
convencionais e genéricos através de uma “TPP access window”; aumentar a certeza de proteção legal para
medicamentos genéricos; eliminação de tarifas sobre medicamentos; redução de encargos alfandegários para
medicamentos e das barreiras internas à sua distribuição; combate da contrafação; promoção da transparência e
justiça nos procedimentos legais; minimização das barreiras regulatórias desnecessárias; e reafirmação do
comprometimento das partes com a declaração de Doha sobre saúde pública. Disponível em:
http://www.ustr.gov/about-us/press-office/press-releases/2011/september/trade-enhancing-access-medicines-0.
16
Nota-se que o termo de proteção que é usualmente advogado nos acordos preferenciais de livre comércio para a
exclusividade de dados é de cinco anos. (SHADLEN, Ibidem).
17
Art. QQ. 8, Seção A.
18
Art. QQ. 1.3, Seção E.
19
Com efeito, muda-se o texto de “produção em escala comercial” para “ganho econômico”. Nesse sentido,
atividades que não visam ao lucro são compreendidas como formas de auferir ganhos econômicos, ao se eximir de
remunerar o detentor de DPI.
20
Art. QQ. 7.2, Seção H.
193
possível conduzir a negociação de forma mais satisfatória21. Denomina-se forum shifting
“horizontal” quando a transferência se dá para outras instâncias multilaterais, e forum shifting
“vertical” quando esta opta por instâncias preferenciais, tais como acordos bilaterais, regionais
e plurilaterais (SELL, 2011).
Caracterizando a negociação do TPP como forum shifting vertical, de especial
importância após o fracasso do ACTA, identificam-se os principais entraves encontrados para
a negociação desse acordo. Em primeiro lugar, a referida abordagem maximalista da PI, que
em alguns pontos como o enforcement e a cooperação com provedores de serviço de internet
ultrapassou a proteção proposta no ACTA, não se era consenso entre os então negociantes do
TPP. A Nova Zelândia pretendia preservar os padrões impostos pelo TRIPS e a Austrália
manifestou preocupações sobre como as propostas afetariam a compreensão das autoridades
nacionais sobre saúde pública (SELL, 2011; ELMS; LIM, 2011).
Um segundo problema relacionado à abordagem maximalista é a falta de equilíbrio entre
interesses privados e públicos, como demonstrado pela cláusula em medicamentos e em
segredos comerciais reduzindo a autonomia governamental em elaborar políticas públicas.
Esse problema é ainda maior considerando que o acordo abrange países em desenvolvimento,
como Peru, Brunei, Vietnã e México, de forma que foram compelidos a concordar com altos
padrões de proteção22, sem contar com deliberações quanto às regras de exceção e flexibilidades
presentes no TRIPS.
Novamente o TPP pareceu repetir o padrão dos acordos negociados pelos EUA,
configurando uma “exportação seletiva” da legislação norte-americana, cujo foco está no
aumento da proteção enquanto se prescinde das exceções. Retoma-se a lógica presente nos
acordos bilaterais da administração Bush e mesmo no TRIPS, no qual o desbalanceamento entre
interesses públicos e privados não foi empecilho para sua ratificação23.
Além de conter esses desequilíbrios, o TPP foi concluído sem o principal instrumento
de barganha norte americana, i.e, a abertura comercial, uma vez que grande parte dos países já
possuíam acordos preferenciais de comércio em vigor com os EUA. Sendo assim, é provável
que a proposição de um maior nível de proteção “a troco de nada” tenha sido a principal razão
para que o capítulo final sobre PI não tenha abrangido todos os pontos advogados pela
delegação norte-americana e empresas privadas (FLYNN, 2012).
É improvável a expansão do acordo através da estratégia bilateralização-
multilateralização pela qual os EUA buscaram o TRIPS24, sendo necessário que o acordo
plurilateral contenha, simultaneamente, os países mais interessados e os mais afetados com as
mudanças do regime, de forma que a negociação do acordo seja feita por representantes de
várias coalizões (YU, 2009). O TPP, no entanto, foi negociado por países ditos “like minded”,
compartilhando grande parte dos objetivos a serem atingidos com a liberalização comercial.
21
A estratégia em questão não seria uma novidade na dinâmica do regime de PI. A negociação do TRIPS iniciou-
se com a transferência do tema de PI da OMPI para a OMC na década de 1980 – visando a capacidade de
enforcement da organização e um incremento da barganha baseada na abertura comercial – e, com a posterior
dominação dos assuntos de saúde pública nas discussões da última, retorna a OMPI com o Patent Agenda, que
visava elevar os padrões estabelecidos pelo TRIPS. (HELFER, 2004). Com a oposição posta pela Agenda do
Desenvolvimento, o mais recente desdobramento dessa estratégia é o forum shifting vertical, no qual se leva a
discussão da PI para instâncias preferenciais.
22
Nota-se o acordo KORUS no qual o TPP se baseia é constituído por dois países de alta renda (EUA e Coréia do
Sul).
23
De fato, conforme o estudo seminal de Susan Sell, “Private Power, Public Law” a elaboração do TRIPS deve-
se em grande parte aos interesses específicos do Intellectual Property Comitee, grupo formado por empresas
multinacionais com sede nos EUA.
24
A estratégia dos EUA para a negociação da PI se daria em duas etapas, que consiste na bilateralização de normas
com um número considerável de países seguida da busca pela multilateralização. A rede de cooperação bilateral
já constituída é apontada como suposta justificativa para inclusão das normas no âmbito multilateral. (CORIAT,
2002).
194
Desta maneira, mesmo que os EUA lograssem êxito em aprovar o capítulo de PI da forma que
almejava, é pouco evidente a forma pela qual o acordo seria estendido ao âmbito multilateral e
às economias emergentes de maior relevância para o comércio internacional, como Brasil,
China e Índia.
195
Observa-se que as normas contidas no capítulo compartilham da linguagem
maximalista que pautou a negociação de acordos prévios em normas TRIPS-plus, seja em
âmbito bilateral, regional ou mesmo plurilateral, como o acordo ACTA (Anti Counterfeit Trade
Agreement)25. Mais que congregar todas as tendências que se manifestaram nesses acordos, o
TPP representa uma possível fonte de dinamismo para as negociações TRIPS-plus, visto que as
negociações desse tipo em outros fóruns estão em processo de estagnação, enquanto que outros
acordos promissores, como o próprio ACTA, fracassaram em ser efetivados.
O texto do TPP, além de congregar o que se negociou anteriormente em normas TRIPS-
plus, avança o endurecimento das regras em várias dimensões, como enforcement, segredos
comerciais, biotecnologia e patentes (FERGUSSON et al, 2012) (FLYNN et al, 2012). Sendo
assim, apesar de o estudo ser vulnerável quanto à capacidade de generalização, uma vez que se
constitui como um caso típico, justifica-se o estudo por investigar um acordo de importância
para compreensão do regime internacional de PI.
Ao lograr êxito em inserir um capítulo em PI no TPP, os EUA cumpriram uma das
principais condições para influir sobre o referido regime. Esse requisito, por seu turno, consiste
em atrelar as negociações em PI à liberalização comercial. Dessa forma se negociou o TRIPS,
– acordo paradigmático para o regime de PI até o presente momento – e em muito se atribui o
fracasso de acordos como o ACTA a insistência versar apenas sobre regras de PI (YU, 2009).
Uma comparação entre TPP e TRIPS revela duas diferenças chave: i) a incapacidade
dos EUA fazerem uso da liberalização comercial como fator de barganha, pelo fato de já
haverem celebrado acordos preferenciais de livre comércio com praticamente todos os
membros; e ii) a improbabilidade de expandir o acordo, uma vez que este é composto apenas
por países like-minded, que compartilham em grande medida da visão sobre a PI, mas não
abarca as economias emergentes.
Assim justificamos a escolha do TPP como caso mais representativo da agenda
maximalista dos EUA no governo Obama, estando em consonância com o modo de negociação
de acordos prévios, mas avançando em pontos relevantes.
O método de análise consistiu numa revisão tradicional da literatura, conforme definida
em Petticrew e Roberts (2006). O objetivo do trabalho não foi produzir uma revisão sistemática
ou de Estado da arte, mas selecionar trabalhos que provessem uma explicação detalhada do
acordo TPP e também elucidassem o conteúdo normativo em PI. Assim, não se pretende expor
o trabalho aqui desenvolvido como uma revisão de uma amostra representativa da literatura.
Associado à revisão da literatura, foi feito uso de análises documentais. Uma das
atividades concernentes foi o levantamento e sistematização de notícias divulgadas por sites
especializados como o (IP Watch e Bridges). Utilizaram-se ainda fontes oficiais dos EUA, o
Trade Policy Report e dos Reports do USTR referentes aos anos de 2009-2013, como forma de
complementar as informações sobre a estratégia comercial do país para região da Ásia-pacífico.
Por fim, foi feito uso do acordo final negociado no TPP, especificamente o capítulo em PI, de
modo a possibilitar comparação entre o que foi discutido na literatura e o que concretamente
obtido na negociação.
25
Susan Sell, autora de trabalhos seminais e um dos maiores expoentes no estudo da propriedade intelectual chegou
a caracterizar o TPP de “acordo ACTA-plus” em um dos seus trabalhos. (SELL, 2011).
196
principais características acerca da diversidade geográfica, do alto padrão de liberalização
comercial e como modelo de expansão.
Em segundo lugar, apontou-se a potencialidade do acordo, e não os ganhos econômicos
mais imediatos, como fator principal para a adesão dos EUA na administração Obama.
Argumentou-se que além de o país possuir acordos preferenciais de comércio com a maioria
dos membros, aqueles que possuem de fato mercados relevantes, como o Vietnã e Japão, só
aderiram ao acordo após a entrada dos EUA. Sendo assim, a centralidade do TPP para a política
comercial do governo Obama repousaria nas suas características e em sua capacidade de
alçarem os EUA à posição de liderança na economia da região.
Em terceiro lugar, analisou-se a proposta de um capítulo em PI feito pelos EUA e seu
resultado final. Além de expor seu conteúdo buscou-se situar a proposta de inclusão do acordo
em um contexto mais amplo de uma estratégia de forum shifting vertical, seguindo um padrão
da política comercial para PI que remonta a administração Bush e que consiste na tentativa de
aprovar acordos com cláusulas TRIPS-plus em instâncias não multilaterais.
Não obstante, elabora-se uma análise sobre a inclusão deste capítulo em PI. Em primeiro
lugar, a oposição aberta por parte de alguns países à inclusão de normas TRIPS-plus,
especialmente sobre a saúde pública, provavelmente diminuirá a efetividade das normas.
Um segundo complicador seria o desbalanceamento das normas, que evidenciam a
proteção e pouco versam em suas flexibilidades. Muito embora o desbalanceamento não tenha
impedido a concretização do acordo, a impossibilidade de os EUA fazerem uso de uma
barganha baseada na abertura comercial como aconteceu no TRIPS e noutros acordos bilaterais
pôs em xeque a sua capacidade de aprovar a proposta original do capítulo.
Por fim, a pouca representatividade do TPP, envolvendo apenas países “like-minded”
que compartilham de objetivos semelhantes na liberalização comercial, seria um terceiro
entrave a ser citado, na medida em que deixa pouco claro como o acordo passaria para o âmbito
multilateral, e, principalmente, como países em desenvolvimento que perseguem estratégias
divergentes em PI poderiam ser eventualmente incluídos.
Atualmente o lugar do TPP na política comercial dos EUA não é claro. Donald Trump
assumiu o governo do país em 2017 e quase imediatamente promoveu a saída do acordo,
atendendo às promessas feitas ao eleitorado.
O US Trade Policy Report de 2018 faz referência a esse compromisso de campanha e
justifica a decisão citando o fato de que os EUA já teriam acordos de livre comércio com a
maioria dos membros, minimizando assim a importância do acordo. No entanto, ao adotar esse
argumento, o órgão contradiz a postura adotada por ele próprio nas duas administrações Obama,
nas quais o TPP foi justificado exatamente pelos seus possíveis ganhos no longo prazo,
ampliando a cooperação econômica com parceiros. A saída do TPP implicou ainda no fim da
negociação mais direta com o Japão, com o qual os EUA não possuem acordo de livre comércio.
Esse revés foi fragilmente respondido pelas declarações de comprometimento do presidente em
comercializar com o país e por visitas feitas ao premiê japonês (USTR, 2018).
Embora o comprometimento político assumido por Trump pareça ser o principal
motivo da retirada dos EUA do TPP, outra possibilidade consiste na retomada de uma estratégia
de negociação de caráter unilateral, como a chamada liberalização competitiva praticada no
governo Bush (2001-2009). Essa possibilidade é em alguma medida respaldada nos objetivos
do Report de 2018 e nas decisões de Trump em aumentar as tarifas sobre importações de aço
no início deste mesmo ano, que parecem indicar a pretensão de um comércio mais direto,
explorando as vulnerabilidades dos parceiros como forma de ganhar maior margem de manobra
para negociações.
Não obstante, em abril de 2018 o presidente Trump admitiu a possiblidade de buscar
readmissão no TPP. Embora até o momento da redação desse trabalho nenhuma informação
oficial tenha sido fornecida pelo USTR, o presidente, via redes sociais, disse ter como objetivo
197
renegociar o acordo de forma mais favorável aos interesses norte-americanos, em especial com
o Japão, declaração esta recebida com reticências pelos dirigentes japoneses (TAYLOR, 2018).
Durante as negociações os EUA e o Japão mantiveram posições contrárias em relação à
liberalização dos mercados agrícola e de automóveis. A insatisfação de partes interessadas com
a negociação final é uma explicação possível e suficiente para elucidar ação de Trump em retirar
o país do acordo enquanto tenta manter ativo um canal de diálogo. Outro fato que pode
contribuir na explicação de sua decisão é a relação com a China.
Considerando que o anúncio de sua autodeclarada guerra comercial com a China foi
seguido pela sinalização de diálogo com os parceiros comerciais no TPP, também é possível
que a inserção regional esteja em evidência na estratégia comercial da administração Trump
para Ásia. Neste sentido, a participação Chinesa na negociação do acordo Regional
Cooperation Economic Partnership (RCEP), também conhecido como Asean +6, pode ser um
fator importante. Esse acordo parece ser relevante uma vez que inclui vários membros do TPP26,
mas adota uma linguagem diferente, em maior consonância com os objetivos de
desenvolvimento nacional da agenda comercial chinesa (ZAO, 2013).
A ausência dos EUA como líder de um processo formal de regionalização pode
impactar negativamente a percepção de seus parceiros e a balança de poder da Ásia. Se
comparada às administrações Obama, aparentemente a administração Trump parece não ter um
plano específico para consolidação dos interesses na região. A retomada de negociações
bilaterais pode ser uma alternativa, mas, se colocada em prática, terá de levar em conta a
desconfiança com a saída do TPP e a crescente participação chinesa na política e economia
regional.
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26
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198
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no28, 2014.
199
CORRELATOS EXISTENCIAIS DA CONGRUÊNCIA VALORATIVA: UMA
ANÁLISE A PARTIR DA FINITUDE HUMANA
Resumo
Este trabalho teve como objetivo analisar como a estrutura valorativa dos indivíduos se
comporta frente à consciência da morte e como se dá a percepção valorativa em termos de
sentido de vida, atitudes religiosas e percepção ontológica do tempo. Participaram do estudo
197 pessoas, com a média de idade de 27,83 anos, 28,9% do sexo masculino e 71,1% do sexo
feminino, sendo 140 solteiros (71,1%), 36 casados (18,3%), 11 divorciados (5,6%) e 10 de
outros estados civis (5,1%). Quanto à religião, foram 115 católicos (58,4%), 27 evangélicos
(13,7%), 13 espíritas (6,6%), 15 de nenhuma religião (7,6%) e 27 de outras religiões (13,7%).
Para a coleta de dados foram utilizados como instrumentos o Questionário de Valores Básicos,
aplicado em dois momentos, mencionando a finitude do sujeito no segundo momento, e um
Questionário Sociodemográfico. Os resultados demonstraram que a estrutura valorativa dos
participantes da pesquisa sofreu alteração frente à consciência de finitude.
Introdução
1
Liana.marolla@hotmail.com.
2
logosvitae@ig.com.br.
Grupo de Pesquisa Cadastrado no CNPq: Nous: espiritualidade e sentido.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8731262313224248.
Ministério da Ciência e Tecnologia e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq.
200
1. Dor e solidão: representa a morte como um momento de agonia, isolamento, miséria,
angústia e solidão;
2. Vida do além: aponta uma imagem da morte como uma nova vida, plena de satisfação,
felicidade, recompensa e união com Deus;
3. Indiferença: indica a morte como um fenômeno indiferente ao ser humano;
4. Desconhecida: apresenta a perspectiva da morte como incerteza, mistério e
desconhecimento;
5. Abandono: imagina a morte como o abandono de entes queridos e como um momento
para se sentir culpado;
6. Coragem: concebe a morte como uma oportunidade para demonstrar virtudes, no caso,
enfrentar o último teste da vida;
7. Fracasso: indica a morte como algo que impede a realização do potencial pessoal, por
exemplo, a realização de objetivos e sentido da vida;
8. Fim natural: sugere a morte como algo que faz parte do ciclo natural da vida.
Para Becker (1973), o medo que a morte provoca é o principal fator que faz o ser humano
mover-se, e, ao mesmo tempo, o maior problema psicológico da humanidade. Para o mesmo
autor, há duas correntes que exploram a origem do temor da morte: a primeira, não considera o
medo da morte como algo natural, mas como o produto da vivência do sujeito, sugere que
circunstâncias como a negligência nos cuidados maternos ou a negação da liberdade e
realização de impulsos – quer por parte da mãe, quer do social – seriam responsáveis pelo
desenvolvimento do medo da morte, que ele denomina de “terror”. Já a segunda, defende que
o pavor da morte se trate de algo inerente ao ser humano. Becker (1973) trabalha com a
conciliação entre as duas correntes: o medo da morte é inato e sofre influência do ambiente em
que o sujeito se desenvolve, conjugando, assim, os aspectos que compõem a natureza humana
– o animal e o simbólico (Fromm, 1981).
Se o medo da morte está presente em todo ser humano em função da necessidade de
autopreservação, então o manter-se consciente desse temor se constitui em patologia, uma vez
que paralisaria o sujeito. Assim, o temor deve ser reprimido de tal forma que, apesar de se ter
plena convicção de que a morte terá lugar algum dia, só se terá consciência dela em
circunstâncias especiais. Um dos mecanismos de repressão reside na tendência do ser humano
ampliar sua experiência de vida, superar seus limites e, desta forma, o medo da morte vai sendo
“absorvido pelos processos de expansão da vida” (Becker, 1973, p. 21). Isto pode ser ou não
facilitado, a partir da qualidade dos cuidados dispensados à criança em seus primeiros anos de
vida, além dos padrões culturais em que está imersa em seu desenvolvimento. No entanto,
quando uma intensa repressão é confrontada com uma situação de morte, o terror emerge e
abala o sujeito, sem que se possa camuflá-lo. Acrescenta-se, ainda, outro mecanismo de
201
superação do medo da morte: a crença na imortalidade, quando há uma continuidade dessa vida
numa dimensão eterna (Becker, 1973).
Greenberg, Pyszczynski e Solomon (1986), a partir das análises de Becker (1973),
desenvolveram a Teoria de Gerenciamento do Terror (TGT), apontando que a intensidade do
stress provocado pela consciência de morte suscita um mecanismo que o atenue, de forma a
proteger o sujeito, bloqueando os pensamentos relativos ao fim de sua vida. Reforçando esta
ideia, Stein e Cropanzano (2011) sustentam que o ser humano investe em sua imortalidade de
forma simbólica, por meio de suas realizações em vida, e também de forma real, através da
crença na continuidade da vida por meio de concepções pós-morte, tais como a reencarnação
ou vida após a morte. Ambas as maneiras de se lidar com o medo provocado pela consciência
de morte fazem parte de um mecanismo de proteção chamado de “tampão cultural da
ansiedade” (cultural anxiety-buffer): uma estrutura psicossocial construída sobre um conjunto
de crenças, valores, normas e consciência de si, entre outros elementos, que o sujeito desenvolve
a partir da percepção de seu ambiente de desenvolvimento. Desta forma, o “tampão cultural”
sofre influências do contexto em que o ser humano se insere, mas também adquire
características particulares, na medida em que o sujeito se organiza em seu meio.
O “tampão cultural da ansiedade” se configura no meio de conciliar a dicotomia entre o
desejo de continuidade da vida e o fato de que isso se trata de uma impossibilidade (Stein e
Cropanzano, 2011). É ele que confere ao ser humano seu senso de valor e de sentido de vida,
de maneira que se verifica a tendência de atração entre sujeitos que compartilham visões de
mundo semelhantes, compondo um endogrupo que mantém uma inclinação à repulsa ou juízo
frente aos sujeitos do exogrupo, cuja visão de mundo diverge da sua. Essa tendência se dá pela
necessidade de se reforçar continuamente o “tampão”, considerando sua fragilidade, dado que,
num mesmo contexto, verifica-se uma diversidade significativa de visões de mundo. Se há esta
diversidade, conclui-se que uma das percepções está equivocada, o que põe em conflito a
cosmovisão do sujeito (Greenberg, Solomon, Veeder, Pyszczynski, Rosenblatt, Kirkland &
Lyon, 1990).
A manutenção e defesa do endogrupo reflete, então, a própria sustentação pessoal do
senso de valor e sentido de vida, que é exacerbada quando ocorrem situações específicas em
que a consciência de morte é trazida à tona ou intensificada. Os grupos religiosos, neste
contexto, se constituem num importante fator de proteção contra o terror da morte, ou seja, dão
suporte a um dos tampões culturais da ansiedade provocada pela consciência de morte. (Jonas
& Fischer, 2006).
Jonas e Fischer (2006) sustentam que a importância da mortalidade para o sujeito o leva
a selecionar o grupo social a que pertença. Quando pensa em sua própria morte, aproxima-se
daqueles cujas normas culturais se identificam com as suas, recompensando, dentro do grupo,
os que se adéquam às normas e punindo os que se rebelam. Desta forma o sujeito defende sua
visão de mundo e mantém sua autoestima. Já Milfont & Diniz (2011) mencionam que a
autoestima deriva do sistema cultural, dado que este situa o sujeito em seu meio, conferindo-
lhe sua percepção de importância e valor, na medida em que se entende participante na
construção do mundo. A autoestima, assim, se configura numa das facetas do tamponamento
em relação ao sofrimento imposto pela consciência de morte, impelindo o sujeito a “satisfazer
os padrões de valores associados a essas visões de mundo” (p. 102).
A morte também pode evocar a pergunta pelo sentido da vida (Frankl, 1990), posto que
a finitude da existência humana poderia representar um aniquilamento de um sentido ou de uma
razão para viver. Assim, no próximo tópico será abordada a perspectiva do significado da
existência segundo a Visão de Viktor Frankl.
Sentido da vida
202
Viktor Emil Frankl (1950), fundador da Logoterapia, terceira escola vienense de
psicoterapia, declara que é impossível falar em psicoterapia sem mencionar os autores das,
então, duas únicas escolas psicoterápicas: a psicoanálise de Freud – a primeira escola – e a
psicologia individual de Adler – a segunda. As três, juntas, abordam o tripé dos motivadores do
comportamento humano: a vontade de prazer, a vontade de poder e a vontade de sentido, sendo
esta última a verdadeira força motriz do ser humano. Verifica-se que a frustração da vontade de
sentido pode ser substituída ou mascarada pela vontade de poder ou pela vontade de prazer,
como uma forma de compensação, provocando uma busca acentuada por dinheiro, por
exemplo, ou pelo sexo. Assim sendo, conclui-se que não é a vontade de prazer ou de poder que
movimentam o ser humano, mas a busca de sentido para sua existência (Frankl, 1978,1985).
Enquanto a teoria psicanalítica busca tornar conscientes processos inconscientes do id,
cuja repressão é formadora das neuroses, a psicologia individual se propõe a despertar o ser
humano à responsabilidade por seus sintomas, entendidos como uma tentativa de justificação
do sujeito diante da sociedade. Ambas as abordagens limitam o ser a um aspecto de sua
humanidade, seja a consciência para uma, ou a responsabilidade para a outra. As bases
antropológicas para o desenvolvimento dessas teorias se contrapõem, na medida em que
enxergam o ser humano a partir de perspectivas diferentes. Frankl (1950, 2011, 2013) defende
que, sendo aspectos do mesmo ser humano, estas visões antagônicas são resultado de sua
projeção em planos diferentes, formando imagens também diferentes entre si, havendo a
necessidade de se resgatar a unicidade do ser, para melhor compreendê-lo, a partir de uma
ontologia dimensional, que aponta para a dimensão noológica como originária das demais
dimensões.
Frankl (2013) fundamenta sua teoria sobre três pilares, que tratam de aspectos próprios
ou inerentes ao ser humano: a liberdade da vontade, que advoga que o ser humano é livre para
escolher as respostas que dará às questões de sua existência; a vontade de sentido, que reflete a
necessidade do ser humano de encontrar sentido para sua vida; e o sentido da vida, que é
inerente à existência humana, exclusivo a cada indivíduo e situacional, podendo ser alterado no
decurso de tempo (Frankl, 1985).
A frustração da vontade de sentido gera o que Frankl (1985) denominou de frustração
existencial. Isso pode acarretar uma tensão que não é vista de forma negativa, uma vez que é
necessária à manutenção da saúde mental do sujeito. O equilíbrio homeostático orgânico, na
verdade, não é algo estático, mas impõe um contínuo movimento de maior ou menor tensão
entre as partes ou processos corporais envolvidos. O mesmo ocorre na dimensão noológica, em
que, de um lado há um sentido a ser realizado e, do outro, o ser que o realizará (Frankl, 2013).
O sentido se realiza por meio de valores a serem concretizados que, segundo Frankl
(1985, 1990, 2013) podem ser criativos, por meio de um trabalho ou de uma ação; vivenciais,
experimentando algo ou alguém; e atitudinais, quando se posiciona de forma positiva diante de
um sofrimento inevitável. A consciência da finitude do ser humano suscita-lhe a
responsabilidade relativa a suas escolhas diante das potencialidades que se lhe apresentam,
impondo-lhe uma urgência de realização, uma vez que, em se deixando para depois, corre-se o
risco de não haver oportunidade para tanto. Cada sentido realizado se torna uma realidade
definitivamente preservada no passado. Assim sendo, a finitude não destitui, mas confere
sentido à vida.
Para Frankl (1989) na morte a vida está completa e terminada e a historicidade congela-
se no passado. Enquanto a pessoa que vive tem um futuro e um passado, o morto possui apenas
o seu passado, que não pode ser mais eliminado. Assim, segundo esse mesmo autor, o ser
humano seria responsável pelos valores que deixou perenizar no seu próprio passado,
concluindo que “(...) frequentemente a morte aparece como algo assustador, e dificilmente
suspeitamos quanto de bem ela significa” (Frankl, 1989, p. 103). O benefício da morte e da
finitude seria a consciência da que o ser humano está construindo o seu próprio passado, o que
203
ele se tornará na morte, e a responsabilidade para realizar valores mais significativos para a sua
existência.
Ademais, a questão da mortalidade parece influenciar significativamente na maneira
com que as pessoas vivem nos nichos culturais. Destarte, as concepções de morte podem estar
associadas com os sistemas valorativos dos grupos e dos indivíduos. Tendo em vista a relação
entre o sentido de vida e os valores, torna-se necessário aprofunda a perspectiva, o que será
discorrido a seguir.
Valores Humanos
Estudos empíricos
Boa parte dos trabalhos que abordam o tema de finitude e morte tem como amostras
indivíduos na terceira idade. Tal fato limita a compreensão que envolve a percepção da morte
205
e finitude a um grupo específico, em detrimento de sujeitos das demais faixas etárias, que
também, em algum momento, apresenta alguma reflexão acerca da limitação de sua existência.
Cótica (2011), Anjos, Santos, Oliveira & Saldanha (2013), Oliveira & Silva (2013) são
exemplos desses estudos.
Já os trabalhos cuja amostra contém ou se constitui de sujeitos jovens versam mais
acerca de como tais sujeitos lidam com a finitude e morte de terceiros (Lima & Marques, 2011;
Aquino, Serafim, Silva, Barbosa, Cirne, Ferreira & Dantas, 2010; Junqueira & Kovács, 2008;
Aquino & Diniz, 2009). A pesquisa de Araújo, Guimarães, Meyer, Boing, Ramos & Souza
(2013) se diferencia dessa tendência, buscando entender como determinados grupos etários,
incluindo sujeitos jovens, percebem a finitude, relacionando os dados com a qualidade de vida
desses sujeitos.
A finalidade desses trabalhos comumente gira em torno de se conhecer como os sujeitos
percebem e/ou se sentem em relação ao fim de sua vida, por vezes relacionando com a forma
como a desfrutam e sua qualidade de vida. De maneira geral, a morte e a finitude não são vistas
como algo positivo, surgindo, inclusive um sentimento de repulsa quando se pensa no tema
(Anjos et al., 2011).
A morte, de forma geral, é compreendida como fim de um ciclo, uma passagem para
outra “vida” ou para a “eternidade”, como um alívio para o caso de pessoas que sofrem dor,
como ruptura abrupta (mesmo em casos em que ela é esperada), como um fato da vida, e está
relacionada à dor, solidão e medo do “nada”. Sujeitos religiosos apresentam uma percepção
mais positiva da morte que os demais, com menos ansiedade e chegando mesmo a entendê-la
como uma realização humana. Aqueles que apresentam nenhum ou baixos níveis de
religiosidade tendem a conceber a morte como um fracasso (Lima et al., 2011; Cótica, 2011;
Anjos et al., 2013; Aquino, 2009).
Entre a população idosa, aqueles que desenvolvem atividades físicas, como caminhadas,
dança e outras, e não apresentam comprometimento neurológico, os achados apontam para uma
qualidade de vida melhor, porém revelam maior preocupação com a possibilidade de se tornar
dependentes de terceiros. A justificativa está no fato de serem pessoas mais ativas, e a limitação
física que alguns podem desenvolver com o passar dos anos afetaria significativamente sua
qualidade de vida (Guimarães, Scotti, Soares, Fernandes e Machado, 2012).
Pesquisas voltadas à concepção da morte e finitude por parte de profissionais cujos
trabalhos envolvem situações de morte revelam a percepção de despreparo em lidar com o tema
ao abordar pacientes e familiares que a experimentam. Aponta-se como causa principal o
despreparo acadêmico, seja por conta de o tema não ser contemplado de forma específica nas
grades curriculares, seja por conta de desconhecimento da literatura por parte dos docentes, seja
por estes também não se sentirem preparados para tratar do assunto. O resultado é a frustração
e sensação de fracasso do profissional ou aluno ao deparar-se com a situação de morte, podendo
chegar ao conformismo ou ao sofrimento por envolver-se emocionalmente em tal condição
(Lima et al., 2011; Junqueira et al., 2008).
Jonas e Fischer (2006) desenvolveram uma pesquisa estruturada sobre Teoria do
Gerenciamento do Terror (TGT), cujos resultados demonstram que a religiosidade funciona
como uma forma de administrar o pavor da morte, uma vez que fornece ao sujeito a confiança
na continuidade da vida, seja por meio da reencarnação, seja pela promessa de vida eterna, após
a morte. Os autores verificaram que apenas as pessoas verdadeiramente comprometidas com
sua crença religiosa são capazes de usufruir dos benefícios de atenuação do medo causado pela
lembrança da morte. Além disso, os resultados apontaram para um aumento do comportamento
religioso imediatamente após um ataque terrorista, que, após um decurso de tempo, retornou a
seus níveis anteriores. Tal tendência revela que sujeitos religiosos buscam a redução do stress
causado pela saliência da mortalidade intensificando sua vivência na relação com o sagrado.
206
Ao trabalho de Milfont e Diniz (2011), também envolvendo TGT, tendo um grupo que
foi exposto à SM e outro não, apontou para uma tendência do sujeito a considerar quase
indiferenciada sua natureza relativamente aos animais diante da consciência de morte, isto é,
sentiram-se mais próximos aos animais quando expostos à SM. Os autores defendem que a
noção de distinção entre seres humanos e animais é de fundo simbólico e, diante da SM, o
simbolismo se arrefece, trazendo ao sujeito uma percepção de maior proximidade entre as
partes. O gerenciamento do terror se dá com o domínio do simbólico sobre o corpóreo; desta
forma, com a atenuação do simbólico diante da consciência da morte, o sujeito tende a buscar
seu reforço por meio da proximidade com o grupo de pertença, onde encontra a aceitabilidade,
autoestima e senso de valor.
Aquino, Aguiar, Vasconcelos e Santos (2014), verificando que repercussão teria o
conceito de morte sobre o sentido de vida para adolescentes, verificaram a tendência do grupo
em evitar falar sobre a morte, que revelaram ser este um tema gerador de angústia. A
oportunidade de compartilhar impressões acerca da finitude e da morte terminou por funcionar
como um catalizador de tensões e promoveu uma reflexão sobre o par vida e morte e sentido
de vida dos sujeitos.
Outros achados referem-se à concepção de morte e finitude em relação ao sentido de
vida dos sujeitos que participaram dos projetos. Verificou-se que a existência de sentido de vida
é promotora de bem-estar e qualidade de vida. Da mesma forma, percebe-se a atenuação da
frustração existencial promovida pela vontade de sentido e a tendência dos sujeitos se
responsabilizarem por suas vidas ao fazerem uso da liberdade de vontade, posicionando-se de
forma positiva frente ao avanço da idade (Oliveira & Silva, 2013; Aquino et al., 2010).
Tendo em vista as considerações teóricas supracitadas, demanda-se, então, a seguinte
pergunta: Qual a relação entre a transitoriedade da vida e os valores humanos? Sabe-se que os
valores servem de guia para a existência humana (Rokech, 1973; Gouveia, 2003), mas o critério
para eleger alguns valores para nortear a vida e, por conseguinte, preterir outros, ainda não
encontra uma consensualidade na literatura. Autores como Inglehart (1977) argumentam que
esse crivo estaria na estrutura da sociedade, tais como sociedades materialistas e pós-
materialistas; outros, baseados na teoria de Maslow (1954), advogam uma concepção mais
individual, como a hierarquia das necessidades humanas (Gouveia 2003; Schwartz & Bilsky
1987). Não obstante, o presente projeto se propõe a acrescentar mais uma perspectiva de
análise: o critério da transitoriedade da existência. Mais precisamente, pretende-se responder à
seguinte questão:
- Qual o impacto da consciência da finitude na estrutura valorativa dos indivíduos?
Para responder à pergunta, desenvolveu-se um índice de congruência intravalorativa,
levando em conta a subtração entre os índices dos valores pelos quais os indivíduos estão
guiando as suas existências e o índice valorativo daqueles valores que os mesmos almejam
alcançar no final de suas vidas.
Método
Participantes
Instrumentos
Os dados foram coletados com preenchimento dos testes via formulários eletrônicos,
tendo um alcance intermunicipal, interestadual e internacional.
Procedimento ético
A pesquisa foi realizada de acordo com as prescrições da resolução no. 466/12 do CNS,
diretriz nacional que regulamenta as pesquisas que envolvem seres humanos, sob o protocolo
nº 17967213.0.0000.5188 do comitê de ética. Todos os participantes assinaram um termo de
livre consentimento e poderão abandonar a pesquisa a qualquer momento sem nenhum prejuízo.
Para efetuar as análises dos dados, utilizou-se o Pacote estatístico para Ciências Sociais,
PASW (versão 18). Em seguida, realizaram-se as análises descritivas (média, desvio padrão e
dispersão), bem como testes de correlações e teste t de student. Já para o estudo experimental
utilizou-se uma Anova para verificar a diferença entre as médias dos fatores dos instrumentos
administrados. Ademais, realizou-se uma análise fatorial confirmatória para o segundo
208
instrumento acerca dos valores humanos já que se apresenta uma modificação na estrutura da
apresentação do mesmo.
Para obter um índice de congruência intravalorativa, realizou-se a subtração entre as
pontuações do QVB Para este trabalho, definiu-se como (in)congruência intravalorativa à
distância, numa mesma subfunção valorativa, entre a pontuação de um indivíduo antes e após
a exposição à SM. Esse índice foi obtido por meio da subtração das pontuações das subfunções
no QVB convencional e QVB – Finitude. Optou-se por considerar o intervalo de -1 (menos um)
a +1 (mais um) como uma condição de congruência, estabelecendo-se os demais valores como
incongruência intravalorativa positiva ou negativa.
Resultados
Tabela 2 – Médias e desvios padrão das subfunções valorativas nas escalas QVB convencional
(1) e QVB finitude (2)
Subfunções valorativas Média dp t P
209
Experimentação (1) 13,87 2,92
5,77 0,0001
Experimentação (2) 12,61 3,91
Realização (1) 13,59 2,93
0,10 0,92
Realização (2) 13,57 3,74
Existência (1) 17,98 2,42
7,85 0,0001
Existência (2) 16,46 3,46
Suprapessoal (1) 16,80 2,39
3,43 0,001
Suprapessoal (2) 16,21 3,06
Interacional (1) 16,73 2,73
1,70 0,09
Interacional (2) 17,05 2,79
Normativa (1) 16,10 3,29
0,66 0,51
Normativa (2) 16,20 3,57
Discussão
Considerações finais
A presente proposta pretende contribuir com uma nova análise dos valores humanos,
que leva em conta a distância entre os valores que guiam a existência da pessoa no momento
presente e aqueles desejados no término da existência dos indivíduos. A pesquisa se justificou
na medida em que pôde trazer à tona novas formas de compreender esse fenômeno, apontando
para novos conhecimentos acerca da relevância da finitude para a existência humana. Os valores
humanos, enquanto princípios-guia na organização do ser humano, atendem a funções
específicas que se constroem a partir da história de vida do indivíduo, do nascimento ao fim do
ciclo vital.
De forma geral, os resultados demonstraram que a estrutura valorativa dos participantes
da pesquisa sofreu alteração frente à consciência de finitude quanto às subfunções de
experimentação, existência e suprapessoal, sugerindo uma atenuação dos valores pertinentes a
elas como norteadores da vida do indivíduo.
Considera-se que essa perspectiva metodológica poderá ser utilizada em futuras
pesquisas que se relacionem com o bem-estar psicológico e a qualidade de vida das pessoas.
Ademais, confia-se que com a ampliação dos estudos nessa área, podem-se propor programas
preventivos ou propostas mais eficazes de educação para a morte que enfatizem também os
valores humanos como uma via para ajudar o ser humano a lidar melhor com a morte e o morrer.
Referências
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214
___________________________________________________________________________
CIÊNCIAS SOCIAIS
A DIVERSIDADE MORFOLÓGICA DA ARQUITETURA NEOCOLONIAL
HISPANO-AMERICANA NA CIDADE DE JOÃO PESSOA ENTRE 1940 E 1960
Resumo
Em meados do século XX, a cidade de João Pessoa passou por um processo de expansão, onde
novos eixos viários foram contemplados com edifícios residenciais de leitura neocolonial
hispano-americana, entre outras linguagens arquitetônicas produzidas à época. Caracterizados
em linhas gerais, por rico jogo de volumes e cobertas, aberturas arqueadas ou goticizantes, e
rica variedade de emboços, tais edificações de gênese norte-americana tiveram diferentes
denominações, tais como estilo Missões, californiano, entre outras, e apresentaram singulares
variações morfológicas. O objetivo do presente trabalho é registrar a presença dessa arquitetura
e suas variações no contexto do repertório residencial de João Pessoa em meados do século
passado. Fundamentada na literatura disponível sobre o tema, na historiografia da expansão
urbana da cidade e em levantamento fotográfico de exemplares de peso, a pesquisa identifica
os principais elementos morfológicos que compõem as variações da linguagem, e culmina com
o estudo e caracterização das residências mais emblemáticas do tipo na capital paraibana.
Apresentação
Fundamentação Teórica
3
________. A Presença da vertente Hispano-americana da Arquitetura Neocolonial na Cidade de João Pessoa
entre 1940 e 1960. 30 fls. 2012. Relatório Final de Iniciação Científica (PIBIC). Universidade Federal da Paraíba,
João Pessoa, 2012.
4
Para mais informações acerca do contexto pós-guerra entre os Estados Unidos e Mexico cf. TORRE, Susana. En
busca de una indentidad regional: evolución de los estilos misionero y neocolonial hispano em California entre
1880 y 1930. In: AMARAL, Aracy. Arquitetura Neocolonial: America Latina, Caribe, Estados Unidos. São Paulo:
Fondo de Cultura Económica; Memorial da América Latina, 1994., p. 48-52.
5
Cf. ATIQUE, 2010, pp. 217-219.
217
ainda ressalta que ambos os eventos seriam responsáveis por divulgar o estilo até 1939, quando
começaria a entrar em decadência (Fig. 1A).
Neste contexto, considerando a disseminação dos “hispanicismos” no campo da
arquitetura americana produzida nas antigas províncias mexicanas supracitadas até as primeiras
décadas do século XX, observa-se um desenvolvimento estilístico que culminaria numa
pluralidade de variantes formais, difíceis de serem definidas, porém com uma mesma raiz, o
Spanish Colonial, que era desenvolvido segundo as características culturais do local onde era
produzido. Assim, apareceram as linguagens denominadas de Californiano, Mediterranean
Revival e Spanish Revival, Mission Style, Bungalows, entre outros.6
A obra de Blumenson (1981), Identifying American Architecture, representa o primeiro
passo para a confirmação da existência das variantes formais supracitadas do Neocolonial
Hispano-americano produzido na América do Norte. Com introdução de Nikolaus Pevsner, que
destaca a existência de três versões estilísticas: Mission Style, Pueblo Style e Spanish Colonial
Revival, todas compartilhando entre si de uma mesma raiz – o Spanish Colonial – a obra
consiste num conjunto de fichas catalográficas, organizadas de acordo com a época de produção
das vertentes em questão, e que pode ser compreendida no esquema da Figura 1B.
Segundo Newcomb (1927) o modelo Spanish Colonial, ao ser trazido para a América
Espanhola, sofreu adaptações (conforme citado anteriormente), quando, em contato com os
mais diversos povos e regiões, adquiriu características próprias, condizentes com o lugar de sua
construção e a situação imposta pelo seu entorno. Nesse contexto, se desenvolveu no México,
com a influência da cultura asteca pré-hispânica, o verdadeiro Estilo Mexicano,7 caracterizado,
primordialmente, pelo uso de azulejos coloridos no exterior das edificações – material utilizado
na Espanha, via de regra, nos interiores das edificações e nos jardins – e pelo trabalho refinado
em cantaria realizado pelos “artesãos-artistas” nativos, como complementa Baxter (1901, pp.
19-20). Sobre o assunto, Baxter ainda acrescenta que esses povos então colonizados possuíam
um notável desenvolvimento de técnicas artísticas, o que os tornava excelentes cortadores de
pedra, escultores de madeira, ferreiros, fabricantes de azulejos, oleiros, etc. Neste sentido,
expressivos exemplares arquitetônicos foram produzidos, como a Casa de los Azulejos, na
Cidade do México, e a Talavera Uriarte, situada na cidade de Puebla, também no México (Figs.
2A, 2B).
6
Para aprofundamento sobre a nomenclatura dos estilos hispânicos, ver ATIQUE, 2010, p.223.
7
Cf. NEWCOMB, 1927., p. 13-24.
218
Figura 2. A - Casa de los Azulejos, Cidade do México (esquerda). B - Talavera Uriarte.
Interior. Puebla, Mexico (direita).
:
Retomando o discurso, Newcomb (1927), aponta a difusão, através dos colonizadores,
desse modelo “hispano-mexicano” de habitação para as regiões da Califórnia, Arizona e Novo
México, além da Flórida e do Texas. Segundo o autor, seriam acrescentadas ainda as diversas
linguagens que esse padrão hispânico assimilaria com o passar do tempo, diferenciando-se em
muito dos protótipos do México, seja pela escassez de artistas competentes, seja pelo uso de
materiais mais rústicos, o que culminou com uma simplificação extrema das formas. No
Arizona, por exemplo, devido à situação “desértica” da região, afirmou-se uma arquitetura que
evocava as formas mouriscas do norte da África, apresentando, dentre outras características,
coberturas completamente planas, escondidas por platibandas, vigas salientes à fachada e cantos
arredondados. Blumenson (1981, pp. 5-7) define esta tipologia sob a denominação de Pueblo
Style, por se assemelhar às habitações indígenas do próprio Arizona e do Novo México,
conhecidas por pueblos (Fig.3A). Por outro lado, Newcomb (1927) defende a existência de duas
linguagens peculiarmente distintas, definindo como Pueblo Style, aquele modelo desenvolvido
escalonadamente, apresentando vários pavimentos, enquanto que o New Mexican Spanish Style,
transmitia certa uniformidade, em geral não excedendo dois pavimentos (Fig. 3).
Figura 3. A - Fine Arts Building. New Mexico (esquerda). B - Santa Fé County Courthouse.
New Mexico (direita).
219
Primeiramente, faz-se necessário considerar a obra de Blumenson (1981) como
referência para este tópico, por ser ela a mais precisa em termos de nomenclatura e distinção
entre as vertentes do Neocolonial Hispano-Americano. Nesse sentido, edifícios produzidos em
território nacional, assim como suas variantes, são considerados de acordo com o que o autor
supracitado pontua, contrapondo-se a este os pontos de vista de outros estudiosos que discorrem
sobre o tema.
Assim, considerando a produção do estilo no Brasil, é importante relembrar sua
introdução no cenário nacional através do arquiteto carioca Edgar Vianna no segundo decênio
do século XX através da residência Dona Alice Ferreira, situada no Rio de Janeiro, o que pode
ser confirmado através de nota publicada no jornal A Noite, de 1924, que dizia:
O senhor Edgar Vianna, achando, talvez analogia entre o estylo colonial brasileiro e
o ‘Spanish mission style’, ou estylo das missões hespanholas, em uso na Califórnia, e
considerando semelhança do nosso e do clima daquella região norte-americana,
edificou no Rio de Janeiro [...] a primeira casa de estylo ‘Missões’. O architecto,
conforme teve ocasião de dizer-nos, procurou imprimir ao edifício o pittoresco cunho
hespanhol, com seus balcões, os seus vasos floridos, o seu ferro batido e o róseo suave
da telha canal. [...]. Não lhe sendo possível desenvolver o pateo interno que caracteriza
o estylo [grifo nosso], o architecto lançou mão do recurso de enriquecer o jardim
principal, collocando uma fonte de azulejos no eixo da sala de visitas. (A NOITE,
apud. ATIQUE, 2010, p. 193.)
Através da citação acima, tem-se um perfil nítido desta variante hispânica denominada
“missões”. Sobre o tema, Blumenson (1981) acrescenta que “a característica do Mission style é
a simplicidade da forma”. Complementando sua afirmação, o autor elenca ainda o uso de:
“arcadas plenas suportadas por pilares, frontões curvilíneos, acabamento em estuque ou gesso,
torreões”. [Tradução nossa]
Sem deixar de considerar a utilização de curtos beirais com vigas expostas e a superfície
contínua das paredes que se projetam em diferentes pontos da fachada, formando um parapeito,8
pode-se tomar como exemplo “missioneiro” o projeto residencial de Eduardo Kneese de Melo
e a Usina São José, do próprio Edgar Vianna (Figs. 4 - A, B). Sobre o estilo em questão, vale
destacar a presença de grandes arcos de base larga no terraço terminando com uma base com
voluta (WOLFF, 2001). A autora também atenta para o fato de que, no repertório residencial
8
Cf. BLUMENSON, 1981, p. 5.
220
do Brasil “a introdução de pátios com varandas internas próprias à arquitetura tradicional
hispano-americana não se concretizou, embora fosse recorrente, conforme citação do Jornal A
Noite, a criação de falsos pequenos pátios com a presença de “chafarizes ou poços” que não
ultrapassavam o nível do solo”.9
Um outro tipo de edificação residencial introduzido no contexto brasileiro pelas mesmas
vias do neocolonial hispano-americano, foi o bangalô, através do chamado Mission Style
bungalow, tipologia que Wolff complementa ao defini-lo como “originário da casa simples
vernacular indiana”. Tais residências de pavimento térreo, planta compacta e de fácil apreensão
caracterizavam-se “por uma linguagem universal despojada, contudo redesenhada em alguns
detalhes nos contextos locais em que se desenvolviam. ” No corpo de sua análise, a autora alerta
que nessa tipologia “os esquemas distributivos pouco variaram, organizando os três setores
básicos de uma residência – social, íntimo e de serviços – em plantas retangulares ou quadradas.
O padrão era aquele de casas relativamente modestas (Fig 5), cujo programa comportava no
máximo três dormitórios”, [grifo nosso], (WOLFF, 2001, p.189).
9
Cf. WOLFF, 2001, p. 228-229.
221
Fonte: Wolff, 2001: 231. Fonte: Wolff, 2001: 231.
O autor também destaca a presença de torres sineiras, ou bell towers na arquitetura civil,
como elemento comum entre as variantes missões e hispânica, mas que não foram recorrentes
no Brasil. Diferenciando-se dos torreões circulares, poligonais ou quadrados, de origem
mediterrânea, essas torres sineiras apresentavam uma morfologia semelhante a uma torre de
igreja barroca de planta quadrangular e coroada com uma cúpula10 (Fig. 1A).
Carlos Lemos, ao tratar da produção arquitetônica em São Paulo a partir do ciclo
econômico do café, como sugeriu no próprio título de seu ensaio, sinaliza para o
desenvolvimento de uma arquitetura pós-guerra, mais tarde exportada para todo o Brasil,
denominada pelo autor de “Neocolonial simplificado”. Por consequência, também constitui
uma variante nacional do estilo em estudo, caracterizando-se em linhas gerais:
[...] pelo uso de telhas tradicionais, então chamadas de ‘paulistinhas’ [...] não sendo
porém vedado o emprego de telhas francesas [...], uso de jardineiras em balanço
abaixo dos peitoris para o plantio de gerânios, emprego exclusivo de venezianas nos
dormitórios, sendo elas facultativas nas salas de estar diurno [...] (LEMOS, 1989,
p.186).
10
Cf. BLUMENSON, 1981, p.9
222
Figura 7 - Sobrados “Neocoloniais simplificados”. À esquerda, sobrados de linguagem
hispânica, à direita, sobrados de linguagem lusa.
Metodologia e análise
Dentro do projeto previsto, o plano foi desenvolvido segundo cinco procedimentos, cuja
articulação garantiu o alcance dos objetivos da pesquisa. Assim, o processo metodológico
utilizado no trabalho compreendeu inicialmente a revisão de literatura através da leitura e do
exame minucioso e articulado dos principais títulos disponíveis dedicados ao tema. Nesse
sentido, foram considerados tanto os dados conceituais sobre o Neocolonial, como aqueles de
natureza histórica e sociocultural, além dos indicadores formais que caracterizavam a
linguagem revivalista. Em seguida, a partir do registro fotográfico das edificações e dos trechos
urbanos onde o neocolonial se fez presente na capital paraibana, realizado em pesquisa
anterior,11 foram selecionadas para análise quatro edificações do gênero. Este último
representou um dos procedimentos mais enriquecedores da pesquisa, por constituir a
oportunidade de se destacar a linguagem arquitetônica do estilo hispano-americano em quatro
versões distintas por meio de traços característicos e pontuais.
11
LUCENA, 2012.
223
Figura 8. A- Residência Inácio Pedrosa; B – Residência Aramis Ayres. New Mexico; C –
Residência José Arnaldo Cabral de Carvalho; D – Imóvel à Rua Visconde de Pelotas, nº 32.
224
como implantação no lote.11 São eles: a antiga residência do Sr. Inácio Pedrosa (Quadro 1),
palacete em Estilo Missões situado à Avenida Monsenhor Walfredo Leal, nº 181; a residência
Aramis Ayres (Quadro 2), um típico exemplar californiano situado no anel externo do Parque
Solon de Lucena, nº 350; a residência José Arnaldo Cabral de Carvalho (Quadro 3), um mission-
style bungalow (atualmente desfigurado), localizado na esquina da Av. Princesa Isabel com a
Av. Camilo de Holanda, nº 87; e o imóvel de nº 32 à Rua Visconde de Pelotas (Quadro 4), um
exemplar mission-style de leitura “simplificada”, conforme classificação proposta por Lemos
(1989).
12
Os quadros seguem modelo de fichas proposto por Cavalcanti Filho e Caju (2005) na catalogação de imóveis da
cidade de Areia, PB, constante no livro intitulado “O Patrimônio arquitetônico de Areia: um inventário”.
225
Quadro 1 – Residência Inácio Pedrosa.
Construído no final da década de 1930, por encomenda do industrial de algodão Abílio Dantas, o palacete
de dois pavimentos foi vendido na década de 1960 ao ex-deputado Inácio Pedrosa Sobrinho que lá residiu
até a década de 1980. Sua implantação no lote, independente dos quatro limites, permitiu a organização
de um grande jardim que circunda o imóvel. Apresentando planta onde o living room norteia os demais
cômodos do pavimento térreo, a residência possui três dormitórios no pavimento superior, mais uma
varanda na sua fachada principal, imitando um falso pátio com falso poço, que neste caso desempenha
função de jardineira (ver Anexo 2). Embora tenha sofrido alterações internas, com a adição de novos
revestimentos de piso, divisórias internas e fechamento de algumas aberturas, o corpo principal da
edificação mantém seu aspecto original em grande parte preservado, com cobertura em telha cerâmica e
caimentos de água em consonância com sua volumetria. Sua fachada apresenta aspecto rústico e
elementos compositivos característicos do estilo missões, entre os quais se destaca o próprio acabamento
da fachada, revestida em reboco chapiscado, o grande arco quebrado de base larga, nicho para imagem
de santo e a voluta de base.
(A) Aspecto geral; (B) Detalhe de seteira e voluta de base; (C) Detalhe das aduelas e nicho; (D)
Detalhe do falso poço no primeiro pavimento e da chaminé. Acervo Emanoel de Lucena, 2012.
226
Quadro 2 – Residência Aramis Ayres.
Segundo entrevista com o proprietário do imóvel, a edificação de dois pavimentos foi construída em
1945 pelo arquiteto Paulo Barreto e pelo construtor José Pedro.
Embora situado num lote de proporções muito menores que os da residência Inácio Pedrosa, o imóvel
também apresenta quatro recuos, sendo antecedido por um falso pátio com fonte, onde se percebe um
rico trabalho paisagístico e o portão exclusivo para entrada de automóveis, cujo abrigo – a garagem –
não é isolado do corpo da edificação, dando acesso à dependência de empregados.
Seu movimentado jogo de volumes e cobertas com telha cerâmica e curtos beirais, além de seu
revestimento em reboco liso-caiado e trabalho de peitoris e guarda corpos em lajotas cerâmicas fazem
referência às edificações californianas da época, como atesta seu proprietário que faz alusão a
semelhança de sua casa àquelas de Pasadena, Califórnia, EUA.
Sua fachada, apresentando alpendres delimitados por arcos plenos e cobogós florais, além das luminárias
pendentes em ferro e dos gradis que vedam as janelas, evoca as soluções de Lúcio Costa e Fernando
Valentim para a residência Raul Pedrosa, no Rio de Janeiro.
(A) Aspecto Geral; (B) Janela da dependência de empregados; (C) Entrada da garage; (D) Fachada
leste -detalhe para o desnível do terreno. Fonte: Acervo Emanoel de Lucena, 2012. (E) Residência
Raul Pedrosa (PINHEIRO, 2011, p. 191).
227
Quadro 3 – Residência José Arnaldo Cabral de Carvalho
Imóvel térreo, de planta compacta e de fácil apreensão, a antiga residência do Sr. José Arnaldo Cabral de
Carvalho, construída em 1946 pelo engenheiro-construtor Joaquim Pereira do Nascimento, é um típico
bangalô, que se integra às linguagens importadas dos Estados Unidos sob a forma de mission-style bungalow.
Apesar da descaracterização sofrida ao longo dos anos, que lhe imputaram cortes no lote e ampliações da
área total construída, suas características originais puderam ser analisadas através das plantas originais
obtidas no arquivo público da Prefeitura Municipal de João Pessoa.
Situada num lote de forma predominantemente quadrada, a edificação gozava de generosos recuos frontal,
lateral e de fundos, o que configurava o padrão de modernidade da época.
Apesar do seu aspecto de fachada bastante geométrico, reforçado pela presença da bay-window que conecta
a sala de visitas ao exterior, os elementos de inspiração hispânica aparecem em seu embasamento de pedra,
na grade de ferro forjado da janela do quarto frontal, e na composição de arcos do alpendre que dominava
toda a fachada oeste, hoje em dia emparedados.
228
Quadro 4 – Imóvel à Rua Visconde de Pelotas
O edifício está situado em lote tipo gaveta com aproximadamente 20m de frente, construído com generoso
recuo frontal, o que lhe permitiu a provisão de um jardim elevado, hoje usado como estacionamento. Segundo
entrevista concedida em 2012 pelo arquiteto Mário de Lascio, o imóvel data de 1946.
Com uma fachada tipicamente hispânica, com seu frontão curvilíneo pontuado por painel azulejar, além das
imitações de aduelas em pedra nos arcos de seu acesso principal, a edificação contempla o programa citado
por Carlos Lemos de uma arquitetura Neocolonial de linguagem simplificada. No térreo da residência há sala
de visitas, banheiro, copa e cozinha, e no pavimento superior, mais dois quartos, além de uma área comum,
que, por sua disposição, com todos os quartos convergindo para si, sinaliza para ser o ambiente o estar
noturno. Vale destacar a presença em sua fachada das jardineiras adossadas às janelas em pequenos balanços,
e das venezianas das esquadrias dos dormitórios. Embora seja um imóvel geminado, sua composição de
planta é tipicamente modernizante para os padrões da época, visto que todos os cômodos são devidamente
iluminados e ventilados através de aberturas.
229
Conclusões
Referências
LUCENA, Emanoel Victor Patrício de; CAVALCANTI FILHO, Ivan. O Estilo Missões na
cidade de João Pessoa. In: URBICENTROS, 2012. Salvador. Anais eletrônicos. Salvador:
UFBA, 2012
LEMOS, Carlos A.C. El estilo que nunca existió. In: AMARAL, Aracy. Op., cit., p. 155.
_______. Alvenaria burguesa: breve história da arquitetura residencial de tijolos em São Paulo
a partir do ciclo econômico liderado pelo café - 2.ed. ver., ampl - São Paulo: Nobel, 1989.
McMILLIAN, Elizabeth Jean. California Colonial: The Spanish and Rancho Revival Styles.
Schiffer Publishing Ltd., 2002.
NEWCOMB, Rexford. Spanish Colonial architecture in the United States. New York:
Dover Publications, 1990.
_______. The Spanish House for America: its design, furnishing and garden. Philadelphia.
J.B. Lippincott, 1927.
TORRE, Susana. En busca de una indentidad regional: evolución de los estilos misionero y
neocolonial hispano em California entre 1880 y 1930. In: AMARAL, Aracy. Op. Cit., p. 52.
231
WOLFF, Silvia Ferreira Santos. Jardim América: o Primeiro Bairro-jardim de São Paulo e
sua Arquitetura, São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo/FAPESP/Imprensa Oficial
do Estado, 2001.
232
ARQUITETURA FRANCISCANA NO NORDESTE DO BRASIL COLONIAL: UM
ESTUDO MORFOLÓGICO A PARTIR DOS ESTATUTOS DA ORDEM
Resumo
Apresentação
A arquitetura religiosa produzida no Brasil no período colonial é bastante diversificada.
Baseada em cânones utilizados na Metrópole, contraiu características distintas que guardavam
estreita ligação com o clero a ela vinculado, fosse ele secular ou regular. Nesse contexto, os
frades franciscanos produziram no Nordeste uma linguagem arquitetônica singular, que teve
como primeiro exemplar o Convento de N. S. das Neves de Olinda, fundado em 1585.
Juntamente com os outros dozes cenóbios da Ordem situados no Nordeste, compõe o que
Germain Bazin denominou em sua emblemática obra “A arquitetura Religiosa Barroca no
Brasil” (1983) de Escola Franciscana do Nordeste.
Não obstante, há questões que ainda não foram devidamente esclarecidas no tocante à
gênese de sua morfologia. A importância de um estudo morfológico sobre a arquitetura
conventual franciscana do Nordeste do Brasil colonial a partir dos Estatutos da Ordem reside
na possibilidade de tais documentos terem indicadores que respondam às questões existentes.
Dessa forma, este trabalho pretende estudar o referido modelo conventual franciscano à
luz dos Estatutos que regiam a Província à qual os conventos estavam vinculados; estabelecer
as relações entre os diversos ambientes do convento, sua forma, disposição e dimensões, com
a função a que se destinavam; entender até que ponto os espaços projetados refletiam as normas
impostas pelos estatutos vigentes e com que intensidade eram obedecidos pelas comunidades;
destacar a importância da Regra franciscana na produção do espaço conventual; e tentar
1
raquel_osias@hotmail.com; +55(83)99921-3622.
2
icavalcantifilho@yahoo.com.br; +55(83)98875-6047.
Projeto de pesquisa: A morfologia da Arquitetura Franciscana no Nordeste do Brasil colonial.
Plano de trabalho: Arquitetura Franciscana no Nordeste do Brasil colonial: um estudo morfológico a partir dos
Estatutos da Ordem.
CNPq - cnpq.br; +55(61) 3211-4000
UFPB - www.ufpb.br; +55(83)3216-7200
233
justificar a elaboração artística do ambiente eclesiástico propriamente dito frente ao
componente de pobreza característico dos frades menores.
A realização do trabalho se deu através de cuidadosa revisão bibliográfica,
contemplando a literatura que trata especificamente dos diversos conventos do Nordeste, as
práticas da ordem franciscana, e os Estatutos das Províncias de Santo Antônio do Brasil e de
Santa Maria da Arrábida, de Portugal. Outras ferramentas fundamentais para o concurso desta
pesquisa foram o levantamento fotográfico e estudo de plantas disponíveis, assim como as
visitas in loco ao modelo pessoense – o Convento de Santo Antônio da Paraíba – que serviu de
parâmetro para a análise realizada no que diz respeito ao estabelecimento da relação existente
entre os Estatutos e a prática construtiva das casas, já que a morfologia dos conventos era
praticamente a mesma.
Metodologia
Conforme previsto pelo plano da pesquisa em questão, o estudo foi realizado a partir de
cinco procedimentos principais, que concorreram para o alcance dos objetivos estabelecidos.
Foram eles:
a) Revisão bibliográfica
234
da relação entre a fábrica conventual franciscana e a normativa aplicada às comunidades dos
frades menores.
e) Redação do trabalho
Contextualização histórica
236
os diversos ambientes que os compõem estão presentes na maioria dos casos, quando não em
todos, e sempre em condições semelhantes, o que pode ser observado nas plantas abaixo
(Figuras 2 e 3).
237
Pouco se sabe sobre os conventos originais, anteriores à invasão holandesa. Os dados
que se tem são as pinturas de Frans Post, pintor holandês que veio ao Brasil na época da
ocupação batava, com a incumbência de retratar as paisagens das vilas, onde registrou com
muita propriedade a arquitetura religiosa colonial. Com a saída dos holandeses do território,
vários conventos passaram por restauração, como já foi mencionado. Dessa forma, as novas
obras foram executadas com materiais resistentes, como tijolo cozido, pedra e cal. A
recomendação dos novos materiais já era definida nos Estatutos de Santo Antônio do Brasil
(1709, p. 132-133), que já estavam em vigor à época, passando a ser proibida a construção em
barro, como ocorria anteriormente. Conforme aponta Bazin (1983, p. 141), “a fartura da pedra
de construção, própria da região, fez com que fosse usado em abundância, para os elementos
da estrutura arquitetônica aparente, material lapidado”. Este fator foi de fundamental
importância para a linguagem arquitetônica adquirida por tais construções.
Considerando a parte externa dos conventos, é possível afirmar que todos são
contemplados por adro anterior à sua fachada frontal. Este espaço consiste num grande pátio
descoberto onde se realizavam as rasouras e procissões (NÓBREGA, 1974, p. 106), contando
ainda com um monumental cruzeiro que o antecede, símbolo da devoção dos frades capuchos
à Paixão de Cristo (Figura 4). Inicialmente esses cruzeiros eram feitos em madeira, porém após
a invasão holandesa, muitos foram refeitos em pedra (BURITY, 1988, p. 72). Em alguns casos,
os adros também podiam abrigar nichos com painéis de azulejos e cenas da Paixão, que
enalteciam cerimônias religiosas ali realizadas. Outro uso ainda pôde ser identificado para esses
espaços: eram locais de sepultamento de pessoas menos abastadas, que não podiam “comprar”
túmulos nos interiores do convento ou da igreja conventual (ESTATUTOS DA PROVÍNCIA
DE SANTO ANTONIO DO BRASIL, 1709, p. 134).
Ainda como espaço de intermediação entre o sagrado e o profano, pode ser encontrado
em todas as casas franciscanas um pórtico, também chamado de galilé, que faz a ligação entre
o adro e a igreja conventual, a portaria que se abre para o claustro e as instalações da Ordem
Terceira (Figura 5). O ambiente também servia de espaço para outras cerimônias e para a
organização das procissões (BAZIN, 1983, pp. 147-148). À exceção de São Francisco de
238
Salvador, as igrejas conventuais eram sempre de nave única, providas de capela-mor (Figura
6), mais estreita, limitada por dois corredores que constituíam a Via Sacra e levavam à sacrista,
que normalmente correspondia à largura da igreja, apresentando um lavabo, e sendo o espaço
dedicado às preparações necessárias aos cultos (BAZIN, 1983, p. 143). A exceção a essa regra
é a sacristia de João Pessoa, que apresenta maior dimensão no sentido longitudinal à igreja, e
não transversal a ela (Figura 7). A nave ainda possuía um púlpito localizado em uma de suas
laterais, geralmente do lado da Epístola (à direita de quem entra), de onde eram feitas as
pregações, prática impulsionada pelo Concílio de Trento. Na parte anterior da igreja, acima da
galilé e de parte da nave, existia o coro, onde era cantado regularmente o Ofício Divino e demais
ofícios obrigatórios do cotidiano cenobítico franciscano (ESTATUTOS DO BRASIL, 1709, p.
107). Este espaço contava com um cadeiral com ricas talhas e um fascistol, onde eram
guardados os livros de cantos e partituras (Figura 8).
239
Figura 6 – Nave da igreja conventual do Convento de Santo Antônio da Paraíba.
240
Figura 8 – Coro alto do Convento de Santo Antônio da Paraíba.
No que diz respeito ao convento propriamente dito, sempre a sua conformação se dava
a partir do claustro, estando em um dos lados da igreja, oposto à Ordem Terceira. O claustro se
constituía como uma peça chave para o convento, sendo espaço de oração, de contemplação e
também sepultamento. O interior de seu perímetro podia contar com um espaço ajardinado,
conforme os exemplares de Ipojuca, Penedo e São Cristóvão, ou ainda ser dotado de um
impluvium, como ocorre em João Pessoa, Sirinhaém e Recife, para captação e consequente
reutilização de águas da chuva (Figura 12). No geral, seus limites internos eram demarcados
por uma galeria composta de arcos sustentados por colunas de ordem toscana, expressando a
influência clássica/renascentista apontada por Bazin (1983, p. 145). A ala conventual contava
ainda no pavimento térreo com salas de estudos, pois havia, em alguns conventos, ensino de
Gramática, Filosofia e Teologia; a sala capitular, onde ocorriam as reuniões do Capítulo; e o
refeitório, que além de sua função básica de servir de espaço para as refeições, funcionava como
local de “confissão comunitária” e de aplicação de disciplina dos noviços e coristas
(ESTATUTOS DO BRASIL, 1709, p.15, p.25 e p.111).
242
Figura 12 – Claustro do Convento de Santo Antônio da Paraíba.
243
Considerando os frontispícios das igrejas, Bazin os classifica segundo dois tipos: um
com leitura clássica e outro com linguagem barroca. O primeiro tipo é caracterizado pelo
Convento de Ipojuca, que apresenta três arcadas na galilé, seguidas verticalmente pelas janelas
do coro e o frontão triangular, sendo marcada a fachada por um campanário recuado (Figura
13). Já a segunda classificação deriva da primeira, porém lhe são acrescentadas mais duas
arcadas no pórtico e elementos barrocos, como as volutas responsáveis pela concordância entre
os diversos níveis, que dotam a fachada de uma configuração piramidal. Bazin (1983, pp. 148-
149) atribui como protótipo desse tipo de frontispício o do Convento de Cairu, servindo de
modelo para outros cenóbios que se inspiraram na sua forma (Figura 14).
Outro detalhe importante a ser apresentado é o fato das obras dos conventos, em geral,
serem realizadas por etapas, de acordo com a seguinte sequência: claustro, capela-mor, nave e
frontispício (BAZIN, 1983, p.142-143). Em muitos casos, podem ser observadas as datas dos
244
términos de cada fase das obras, que eram registradas na própria estrutura. Em relação à autoria
dos cenóbios, não se tem registros gerais dos arquitetos, sendo reconhecidos apenas alguns,
como frei Francisco dos Santos, encarregado do Convento de Nossa Senhora das Neves de
Olinda e de Santo Antônio da Paraíba; frei Eusébio da Expectação, responsável pelo Convento
de Igaraçu; mestre Gonçalves Olinda, encarregado do Convento de Recife e de Ipojuca; e frei
Daniel São Francisco, possível autor do traço do Convento de Paraguaçu (CAMPELLO, 2001,
p. 85).
Por fim, é de fundamental importância destacar o aspecto funcional das casas
conventuais, uma vez que:
Este fator é recorrente no âmbito dos franciscanos, que possuíam um cotidiano regido
pela configuração espacial de suas casas, ao mesmo tempo que seu dia-a-dia devia definir a
organização do espaço, numa sugestiva relação de reciprocidade.
Como já foi dito por muitos pesquisadores e apontado neste trabalho, a Escola
Franciscana do Nordeste compreendia uma unidade morfológica. Entretanto, algumas questões
relativas a essa propriedade ainda não foram respondidas. Levando em consideração a
similaridade existente nos treze exemplares quanto à forma, parte-se do pressuposto que devia
haver entre os franciscanos alguma espécie de recomendação geral orientando a morfologia e
o funcionamento da casa conventual. Assim, investiu-se no estudo dos Estatutos da Ordem com
o propósito de encontrar alguma referência que respondesse a essas questões.
Conquistada a independência da custódia e fundada a Província de Santo Antônio do
Brasil, os conventos do Nordeste passaram a obedecer aos seus Estatutos próprios, se
desvinculando da Metrópole. No que diz respeito à fábrica desses cenóbios, poucas são as
recomendações diretas encontradas nos Estatutos locais. Como foi mencionado anteriormente,
um dos aspectos definidos para as reconstruções e novas obras após a saída dos holandeses, foi
a questão dos materiais, que deveriam ser pedra e cal (ESTATUTOS DO BRASIL, 1709, pp.
132-133). Em relação à morfologia dos conventos, poucas informações são encontradas.
Atenta-se, entretanto, para alguns detalhes, como a exigência de uma biblioteca e enfermaria
em todos os conventos, sendo a ala hospitalar maior nos exemplares de Recife, Bahia e Olinda;
bem como a restrição dos noviciados aos Conventos de Santo Antônio de Paraguaçu, BA e
Santo Antônio de Igaraçu, PE (ESTATUTOS DO BRASIL, 1709, pp. 137-142). Apenas no
regimento do cotidiano conventual são citados os demais ambientes.
Não obstante, consta nos Estatutos de Santo Antônio do Brasil (1709, pp. 132-133) que,
após dada a permissão para a construção do convento, devia ser escolhido um sítio “acomodado
com pessoas” e o traçado da planta devia estar baseado em experiências anteriores da Ordem.
Diante do exposto, foi aventada a possibilidade de se recorrer a outras legislações franciscanas;
assim, foram considerados os Estatutos da Província de Santa Maria da Arrábida, de Portugal,
que contemplam dados dimensionais para os ambientes conventuais. Sendo a Província de
Santo Antônio do Brasil proveniente de uma província portuguesa, e sendo comprovada a vinda
de frades lusitanos para a Colônia, é provável que tenham utilizado recomendações da Arrábida
para a produção conventual na colônia. Nelas as medidas de ambientes como igreja conventual,
sala capitular, sacristia, largura de corredores, refeitório, cozinha, portaria, celas e pé direito são
245
sugeridas em palmos, medida utilizada no Reino à época (ARRÁBIDA, 1698, pp. 78-79).
Através da Tabela 1, pode-se ver a relação entre tais dimensões propostas e sua correspondência
em metros.
Medidas*
Ambientes Palmos Metros
Largura Comprimento Largura Comprimento
Igreja conventual 26 80 5,72 17,6
Sala do capítulo 15,5 21 3,41 4,62
Sacristia 18 18 3,96 3,96
Corredores do claustro 7 - 1,54 -
Corredor do dormitório 5a6 - 1,1 a 1,32 -
Refeitório 18 20 3,96 4,4
Cozinha 15 18 3,3 3,96
Portaria 14 18 3,08 3,96
Celas 9 10 1,98 2,2
Portas das celas 2,5 - 0,55 -
Pé direito (altura) 12 2,64
*Considerando 1 palmo igual a 0,22m.
Fonte: Elaborado pela autora, 2014.
De posse desses dados, foi feito um estudo comparativo com o Convento de Santo
Antônio da Paraíba, uma vez que se trata de um fiel exemplar da Escola e, como tal, contempla
de maneira geral as características comuns apontadas por Bazin (1983). Através da medição
dos espaços, realizado por meio de plantas disponíveis (Figura 15), foi possível estabelecer uma
relação entre as medidas indicadas nos Estatutos da Arrábida e as dimensões reais aplicadas à
casa conventual paraibana. Tal relação foi determinada a partir do cálculo da proporção entre
as medidas das larguras sugeridas nos Estatutos da Arrábida e das larguras dos cômodos do
Convento de Santo Antônio, efetuando-se logo após o mesmo procedimento em relação aos
comprimentos dos ambientes. Cada compartimento foi examinado individualmente e os
resultados são expressos na Tabela 2.
246
Figura 15 – Planta baixa do Convento de Santo Antônio da Paraíba, por Frei Tarcísio, OFM.
247
Tabela 2 – Relação de proporção entre as medidas sugeridas nos Estatutos da Arrábida (1698)
e aquelas existentes nos respectivos ambientes no Convento de Santo Antônio da Paraíba.
248
Em relação à diferença entre o pé direito proposto nos Estatutos e a altura existente no
convento, pode-se justificar este fato devido à diferença climática entre Portugal e o Brasil.
Sendo este último um país tropical, era aconselhável que se aumentasse a altura do pé direito,
possibilitando melhor circulação do ar e amenizando o efeito do clima quente. Tal
recomendação não se aplicava, no entanto, às construções localizadas na Europa, que tinha um
clima temperado e extremamente frio no inverno.
Um fator relevante a ser considerado, no tocante à altura do ambiente interno do
convento foi que, apesar de haver uma discrepância de pé direito – 2,64m na Arrábida x 4,0m
na Paraíba – os preceitos da Ordem foram mantidos, no que diz respeito à obediência e
humildade franciscana. Esses valores guardados pelos frades menores podem ser detectados
fisicamente nos conventos através da altura das portas das celas, que alcançam apenas 1,9m, e
reforçam o hábito dos religiosos se manterem curvados em sinal de obediência e minoridade.
Diante do exposto, é possível encontrar uma relação entre os indicativos das normas
franciscanas e as construções da Ordem, ainda que essa seja uma relação indireta, adaptada às
necessidades locais. Tais adequações, muitas vezes se davam devido às particularidades dos
sítios em que as obras eram localizadas, sendo bastante usual a implantação dos edifícios em
locais elevados, onde se obtinha belas vistas da paisagem de entorno, concordando com o
pensamento contemplativo franciscano e de meditação voltada para a natureza (FONSECA,
1988, p.31).
A despeito das particularidades existentes, pode-se compreender os motivos que
levaram às similaridades entre os cenóbios, possuindo estes um corpo conventual principal
baseado em uma planta comum, que se desenvolve a partir do claustro, tomando por base
proporções sugeridas por Estatutos da Ordem. Admitindo-se que os frades que vieram para a
colônia receberam as informações direta ou indiretamente da Metrópole; somando-se a isto a
prática arquitetônica adquirida ao longo do tempo pelos mestres arquitetos (que por vezes eram
naturais da Europa), e ao fato de que quando a maioria das casas foi construída, a custódia ainda
estava submetida à província portuguesa, identifica-se o fio condutor necessário para a fábrica
dos conventos.
Conclusões
249
Assim, através dessa investigação, ficou clara a presença da unidade morfológica dos
conventos do Nordeste, apesar da capacidade de adaptação que tinham os frades menores de
fazer as modificações necessárias para criar ambientes adequados para seu trabalho, os quais
deveriam ser concebidos sem transgredir os parâmetros da Regra franciscana que, baseada nas
normas do Concílio de Trento, imprimia uma nova ordem aos ambientes sacros.
Referências
BAZIN, Germain. A Arquitetura Religiosa Barroca no Brasil. Tradução: Glória Lúcia Nunes.
Rio de Janeiro: Editora Record, 1983.
Estatutos da Província de Santo Antônio do Brasil. Lisboa: Officina de Manoel & Joseph Lopes
Ferreyra,1709.
FONSECA, Fernando Luiz da. Estudos Baianos: Santo Antônio do Paraguaçu e o Convento
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MUELLER, Frei Bonifácio. Convento de Santo Antônio do Recife: 1606 – 1956. Recife. 1956.
NÓBREGA, Humberto Carneiro da Cunha. Arte Colonial da Paraíba; Igreja de Santo Antônio
– convento de São Francisco de João Pessoa. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba,
1974.
SILVA, Leonardo Dantas. Pernambuco Preservado: Histórico dos Bens Tombados no Estado
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WILLEKE, Frei Venâncio. O livro dos guardiães. In: Revista do Instituto Histórico Geográfico
Brasileiro. Volume 306 – Janeiro - Março – 1975. Fonte:
<http://www.ihgb.org.br/rihgb.php?s=p>. Acesso em 07/2014.
250
PRÁTICAS DE CONSUMO E ESTRATÉGIAS DE SOCIABILIDADE ENTRE
JOVENS ADOLESCENTES DE SEGMENTOS SOCIAIS DE BAIXA RENDA NA
CIDADE DE JOÃO PESSOA
Resumo
O presente capítulo tem por objetivo pensar qual a posição e o significado que as práticas de
consumo adquirem para um grupo específico de jovens adolescentes de segmentos sociais de
baixa renda na cidade de João Pessoa – PB busca apreender os sentidos atribuídos as suas
práticas de consumo assim como a relação entre seu consumo e sua forma de interação social e
observar se a sua condição de adolescentes de baixa renda os impossibilitam de consumir bens
desejados ou os excluem socialmente. A amostra da pesquisa foi um recorte de um grupo de
adolescentes entre 14 e 17 anos, que frequentava a escola estadual João Roberto Borges,
localizada em Mangabeira, bairro classificado como de baixa renda na cidade de João Pessoa.
Nossos resultados evidenciaram que os desejos de consumo, as atuais impossibilidades de
compra e a noção de luxo dos adolescentes provem de um imaginário construído pela escassez,
situado numa estratificação social com poucos bens e capitais culturais e econômicos.
Apresentação
Fundamentação Teórica
252
A sociedade de consumo e o consumismo dela derivado se tomaram forças sociais
fundamentais na constituição do mundo contemporâneo, aglutinando indivíduos e grupos
sociais, desenvolvida sobre uma lógica de descartabilidade e efemeridade. A ideia de felicidade
contemporânea se vê atrelada a capacidade de consumo e o poder de compra dos indivíduos.
253
Para além ainda desta dicotomia entre objetividade e subjetividade que envolve as
relações de consumo, cabe resgatar o pensamento de Simmel como talvez uma importante
chave para a compreensão do fenômeno do consumo moderno e de sua crescente centralidade
no âmbito da ordem social contemporânea enquanto mecanismo fundamental de sociabilidade
na medida em que, as práticas de consumo, funcionariam como “formas sociais” de mediação
às práticas de sociabilidade.
Simmel irá chamar atenção para a relação entre formas e conteúdos nos processos de
sociabilidade desenvolvidos na era moderna. Para o autor, a sociabilidade se torna possível na
medida em que as formas sociais se autonomizam em relação aos conteúdos da vida, que
seriam, neste caso, o seu substrato, e passam assim a mediatizar as interações sociais
Dito de outro modo, a constituição das formas sociais implica, necessariamente, um
processo extremo de racionalização sobre os conteúdos da vida que motivam e determinam sua
constituição, tornando possível deste modo, a própria sociabilidade.
Neste sentido, Simmel irá demonstrar que a sociedade nada mais é do que o próprio
movimento de “sociação” que se estabelece a partir da interação entre os indivíduos, a qual se
torna possível através de um conjunto de “formas sociais” que derivam dos conteúdos mais
diversos que motivaram a sua produção, e que emergem do mundo da vida, mas que ao mesmo
tempo se autonomizam deste substrato que é este mundo, para Simmel, denominado de “vida”.
Os conteúdos da vida se tornam, assim, a base de alimentação daquilo que torna possível a
interação social, ou seja, as formas racionalizadas destes conteúdos.
Neste sentido, se as formas sociais se distanciam, vale dizer se autonomizam, dos
conteúdos que a produzem, não significa que estes mesmos conteúdos deixem de ser sua fonte
última. Desta forma, “... é da essência da sociabilidade eliminar a realidade das interações
concretas entre seres humanos e erigir um reino no ar de acordo com as leis formais dessas
relações que se movimentam em si mesmas, sem reconhecer nenhuma finalidade que esteja fora
delas. No entanto, a fonte subterrânea na qual esse reino se alimenta não deve ser procurada
naquelas formas que determinam a si mesmas, mas na vivacidade dos indivíduos reais, em seus
sentimentos e atrações, na plenitude de seus impulsos e convicções”. (SIMMEL, 2006, p. 79/80)
A partir desta perspectiva, podemos indagar em que medida as práticas de consumo se
tornaram formas sociais que serviriam de suporte a manifestação de conteúdos da vida, se
tornando assim, mecanismos de sociabilidade.
De maneira geral o consumo passa para uma ordem onipresente na sociedade
contemporânea que envolve boa parte dos indivíduos, em todas as idades e classes sociais, seja
por meio do consumo de primeira ordem ou de segunda ordem. As práticas de consumo dos
indivíduos passam de um plano simplesmente concreto de ação para a significação e
caracterização de posições e atuações na sociedade, passam a envolver uma carga de
significados e intenções dos indivíduos. O consumo, a forma de usufruir e significar os bens e
serviços se apresenta como uma condição da vida social, permanente e irremovível (BAUMAN,
2008) constituindo um fato da vida, “um ato social” (SANTOS, 2004) no qual todos os
indivíduos sociais então associados e que reflete a organização social e formas de
desenvolvimento social.
Desse modo, o consumo passa a ser considerado um sistema de caractere significativo,
que possui sua própria linguagem de símbolos compartilhados entre os consumidores, entre os
atores sociais. (HELLMANN, 2010). Referindo-se então, a forma como alguém se veste, aos
produtos que consome, aos seus gostos e formas de lazer, e ao valor de uso empregado no
consumo.
Mary Douglas e Isherwood (2006), já haviam chamado atenção para o fato de que os
bens, no universo do consumo, se transformam, para além do princípio da utilidade, em
comunicadores e marcadores sociais. Esse liame dá vida social aos bens e estabelece neles uma
posição precisa na ordem social, não sendo neste sentido as práticas de consumo autônomas em
relação aos substratos sociais que lhe conferem sentido
Desse modo, se, de um lado, as práticas de consumo expressam um mecanismo
fundamental de sociabilidade, de outro, tornam possível a expressão de subjetividades, se
configurando como elo entre o sujeito e a realidade objetiva do mundo social.
Como apontou certa vez Simmel, “...não existe apenas vida social como força fundadora
da vida humana”. (SIMMEL, 2006, p. 28). O consumidor contemporâneo deve ser neste caso
percebido simultaneamente como um tipo social e humano. A lógica de sua atividade é
fortemente marcada pelos princípios sociais da modernidade ao mesmo tempo que por
elementos outros, derivados da imaginação, da procura do prazer, de propensões e conflitos
psicológicos e tudo aquilo de que se compõem os conteúdos do que com muita propriedade
Simmel (2006) denominou de “vida”, conteúdos estes que por mais fundamentais que sejam na
determinação das motivações produtoras da ordem social não são, de outro modo, redutíveis às
formas que caracterizam e constituem esta mesma “ordem” a qual, como chama atenção o autor,
não é passível de ser reduzida ou mesmo absolutizada como uma realidade em si, externa aos
indivíduos e aos processos de interação entre estes.
É exatamente a partir desta perspectiva de constituição da atividade social enquanto
processo contínuo (processos de sociação) que irá derivar a importante divisão no pensamento
de Simmel, e que para nosso propósito aqui é decisiva, entre “cultura objetiva” e “cultura
subjetiva”.
Como aponta em sua análise, paralelamente ao crescimento de uma “cultura objetiva”
da sociedade se desenvolve uma “cultura subjetiva” do indivíduo, acentuando, no transcorrer
dos processos de objetivação do mundo, o individualismo típico da era moderna. E esta
tipicidade não deriva de uma reação deliberada por parte do indivíduo às forças macro-sociais
que a ele se interpõem, mas, antes, por uma atitude de reserva em relação à estas forças, vale
dizer, uma atitude que o preserva em campos cada vez mais privados e subjetivos de sua
atividade social.
O que pode parecer um paradoxo constituiria, então, a própria dialética da modernidade:
ao ser cada vez mais obliterado pelo crescimento da cultura objetiva o indivíduo se retrairia em
esferas cada vez mais pessoais, subjetivas, acelerando o processo de individualização típico da
modernidade. O universo do consumo, fortemente marcado por artífices que pretendem indicar
o gosto legítimo, atribuir valores e representações às marcas dos produtos bem como produzir
um imaginário acerca da inclusão social e simbólica por intermédio da compra, constituindo
um sistema objetivo de propulsão da demanda, se encontra paralelamente povoado pelo
255
crescimento de uma “cultura do indivíduo”, a qual num sistema de mercado marcado por um
alto grau de anonimidade, transforma as escolhas do consumidor em mecanismos e espaços de
preservação de sua subjetividade, ao mesmo tempo que torna possível a sociabilidade entre
indivíduos e grupos.
No caso em tela, nossa preocupação fundamental se baseou na tentativa de compreender
como entre jovens adolescentes de baixa renda, que estão numa das pontas do sistema de
estratificação social, e por isso se encontram, além de uma posição objetiva subalterna,
estigmatizados como sujeitos excluídos da sociedade de consumidores, a utilização de suas
próprias práticas de consumo se tornam mecanismos fundamentais de sociabilidade bem como
manifestação de suas identidades e subjetividades.
1. Sexo
2. Idade
3. Série que frequenta
4. Bairro onde reside
5. Atividades remuneradas
6. Renda familiar e escolaridade dos pais
A segunda parte da entrevista foi direcionada aos sentidos expressos nas suas práticas
de consumo, apreensões e anseios acerca dos seus sonhos de consumo e o papel que o consumo
assume em suas vidas e na determinação dos estilos de vida por eles exercidos.
A importância das mídias, dos amigos e dos grupos sociais nas suas escolhas de consumo;
A necessidade de compra, para a inclusão em grupos;
Por meio das entrevistas buscamos estabelecer uma conexão entre as análises teóricas
acerca do consumo e das impossibilidades de compra e estilos de vida dos jovens adolescentes
em estudo, assim como seu imaginário acerca da sua posição econômica e da estratificação e
inclusão na sua realidade social.
257
Gráfico 1 – Distribuição por Idade
Idade
14 anos 15 anos 16 anos 17 anos
19% 29%
23%
29%
Considerando que os estilos de vida além de serem resultados das construções sociais e
dos sistemas de disposições dos contextos (habitus) nos quais os indivíduos estão inseridos,
envolvem suas escolhas e preferências particulares, suas subjetividades e individualizações, e
ainda orientam e organizam as práticas mais diversas do seu cotidiano, seja a religião, as roupas,
sapatos, corte de cabelo, grupo de amigos e formas de lazer, apresentando um fator de
sociabilidade e comunicação com o contexto social em que se desenvolvem; Os estilos, as
marcas e gostos formam um sistema de comunicação simbólica entre os indivíduos sociais e
uma classificação e reconhecimento entre eles, marcando os espaços sociais que eles ocupam e
ainda sofrem influência das disposições sociais.
Os jovens e adolescentes passam a ser, na sociedade de consumo, o grande foco das
indústrias e suas estratégias de produção, torna-se nítido que em meio a essa sociedade que
convida para o consumo, os jovens se encontram no centro da faixa dos consumidores mais
ativos, seu consumo, o fortalecimento do mercado de produtos atrativos para os jovens é
direcionado ao lucro e fortalecimento e expansão da produção e das vendas. Os jovens em sua
totalidade tornam-se “o consumidor potencial”, o corpo, as roupas, a sexualidade, o
entretenimento, as formas de lazer, os hobbies e etc., são ferramentas de publicidade, de
construção de mercadorias e novas atratividades, essas categorias não são mais indicadores da
individualidade do consumidor, tendo como alicerces um amplo mercado e produtos a sua
escolha. As escolhas e apreensões do mercado, a seletividade dos produtos e a carga subjetiva
impressa na compra e na forma de uso dos produtos é o que favorece certa individualidade aos
jovens, uma considerável “autonomia” no seu consumo.
Desse modo, considerando os aspectos simbólicos e econômicos envoltos no processo
258
de construção de valores e significações dos adolescentes acerca das suas escolhas e
comportamentos de consumo, observamos como estes estabelecem e classificam suas formas
de lazer e hobbies, de maneira que podemos ter uma visão geral das suas formas de vida,
preferências e gostos no contexto no qual essas significações são produzidas. Compreendemos
que os estilos de vida são as formas de manifestações das interiorizações dos valores objetivos
e subjetivos dos indivíduos, nesse caso dos jovens, que se expressam por meio das suas ações,
das preferências e gostos. (MÜLLER, 1997). Nesses sentido, as formas de consumo e apreensão
de bens materiais e imateriais dos jovens determina a forma como estes constroem seus estilos
de vida, os quais também passam a ser critérios de participação social, os bens, as formas de
vida desempenham um papel de integração dos jovens em grupos sociais e são meios de
intermediação da sua sociabilidade, que para esses indivíduos2, torna-se fundamental nas suas
relações sociais.
Por meio das entrevistas foi possível, observar as formas de lazer praticadas pelos
adolescentes e os seus desejos e impossibilidades relacionadas as essas atividades. Desse modo,
Através das análises de conteúdo das entrevistas tornou-se nítido que as práticas de lazer dos
adolescentes estão, na sua maioria destinadas à atividades isentas de gastos e investimentos
financeiros como: a passeios em praias, ouvir música, ir ao cinema e ao shopping; jogos de
computador/internet e futebol. Aquelas atividades que necessitam um investimento financeiro,
são segundo os jovens, estabelecidas com menos frequência, devido a sua da renda livre
limitada, isso ficou elucidado através da seguinte fala de um dos adolescentes: “Ultimamente
não tenho saído tanto e a grana está pouca, a crise está grande, então saio mais no final de
semana, eu vou pra igreja, saio com o namorado pra ir pro shopping, no cinema e fico muito
em casa na internet.” (Feminino, 16 anos).
Dessa maneira, surgiu o interesse de observar quais são os desejos e as impossibilidades
de compra e consumo3 que os adolescentes enfrentam devido a sua situação socioeconômica.
Os entrevistados justificaram a impossibilidade da aquisição dos bens na falta de condições
financeiras. Consoante a maior parte dos entrevistados, os desejos de consumo imediato mais
referidos foram algum meio de transporte, como carro ou moto, seguido por notebook e roupas
de marca. Bens que se apresentam como necessários na atual realidade social dos adolescentes.
Nesse sentido os jovens reconhecem as suas impossibilidades de consumo e não se sentem
limitações o que se refere as interações sociais, 61% dos entrevistados apresentou um
sentimento de conformação diante da impossibilidade de compra e situação financeira,
desconsiderando a possibilidade se exclusão social devido aos seus bens e gostos. Isso fica
elucidado na seguinte fala: “Não, não me sinto mal não, nem excluído, quando não dá, não dá
e pronto”; “Não, porque depende do que a gente pode fazer. A gente não pode fazer mais do
que a gente não tem, não pode querer, né?”.
Os adolescentes optam por aquelas atividades que possibilitam a sua distração e
divertimento, mas principalmente que não comprometam a sua renda mensal, tendo em vista
que o financiamento das suas despesas é proveniente dos seus pais. Ao optarem por práticas de
lazer e hobbies mais simples, com finalidade centrada no seu divertimento, os jovens transferem
suas preferências e escolhas para um plano utilitarista, que se refere às suas necessidades
práticas e se enquadram na sua realidade social baseada nas suas limitações.
2
Os adolescentes. Os estilos de vida dos adolescentes se apresentam como um desses fenômenos de comunicação
que envolvem formas concretas de produção de estilos, de escolhas (o vestuário, mas também o penteado, os
modos, as linguagens, os objetos, os hábitos, os lazeres, a educação, etc.) e do habitus, posturas, vestimentas e
gestos combinam-se, de maneira intencional, numa lógica de significação dos atores sociais que proporcionam a
sua integração e/ou distinção social. (PAIS, 1990).
3
O termo “compra” está relacionado aos aspectos econômicos da produção e apropriação material dos bens,
enquanto o ato de consumir está ligado às formas de usufruir e desfrutar das mercadorias, a recontextualização dos
bens materiais e imateriais, e a expressão de subjetividades, particulares e identidades. (SCHRAGE, 2009).
259
Por meio desse mapeamento foi possível observar que a amostra atribui suas escolhas
principalmente ao seu “gosto pessoal”. Em segundo lugar, as falas apontavam a influência dos
amigos e da família, e ao preço/necessidade. Com menor freqüência, eram citados também
como fator de orientação, a qualidade/marca e a publicidade/mídia.
Nessa perspectiva, os estilos de vida envolvem preferências de consumo, de compras,
das formas de lazer e dos hobbies das pessoas. Os gostos dos indivíduos, suas escolhas de
consumo se baseiam em julgamentos discriminadores que identificam nosso próprio
julgamento de valor e classificação acerca nosso meio social e dos indivíduos com quem nos
relacionamos, por meio de construções simbólicas compartilhadas no meio social.
(FEATHERSTONE, 1995).
Ainda nesse sentido, os adolescentes apresentam uma percepção de gosto baseado na
noção de “gosto natural”, de ordem objetiva, relacionado ao meio social, a sua situação
econômica, as disposições financeiras e as chances que o seu contexto social lhes oferece ou
não. Nesse caso, compreendemos que os gostos e escolhas desses jovens são resultados das
suas construções sociais (provenientes da relação entre suas disposições objetivas e das suas
formas de simbolizações e percepções do meio), da maneira como se vem e julgam o que lhes
faz bem, e está em última instancia relacionada à interação social.
No que se refere as reflexões dos adolescentes acerca de suas práticas de consumo, essa
noção está tão incutida nas suas apreensões, que estes não visualizam a importância ou
influência de outros fatores nas suas práticas de consumo.
Observamos que os gostos e as escolhas dos indivíduos são influenciados pelas
construções de valores socialmente estabelecidos, como forma das pessoas se afirmarem ou
distinguirem entre os grupos e classes sociais. Por outro lado, não podemos desconsiderar que
os estilos de vida são, em boa parte, determinados pelas escolhas particulares dos bens materiais
e da forma de simbolização que cada indivíduo atribui aos seus bens e serviços, assim como
pelas suas apreensões sociais, culturais, econômicas e intelectuais, pelo poder econômico e
principalmente pelas possibilidades e chances de vida as pessoas possuem. Desse modo tornou-
se necessário observar as simbolizações e significados que as práticas de consumo dos
adolescentes assumem no meio no qual se manifestam.
O consumo como forma de interação social: a inclusão e exclusão social dos adolescentes
mediada pelas suas práticas de consumo.
Percebe-se que as formas de consumo das classes se comunicam entre si, há uma
afirmação e legitimação dos gostos e algumas formas de consumo de bens de luxo estabelecidos
pelas elites. De maneira geral as pessoas de cada classe desenvolvem estratégias de legitimação
das suas formas de vida e estabelecem suas práticas de consumo sob um imaginário social
construído de maneira arbitrária como um mecanismo de classificação e distinção social.
Os indivíduos passam adquirir objetos não pelo que são, mas pelo que simbolizam
socialmente, no sentido que podem lhe conferir um meio de aproximação com esses indivíduos
de classes superiores e o seu reconhecimento e popularidade no seu contexto social. (ORTIZ,
1983)
Para Bourdieu as noções de gosto tornaram-se um dos mecanismos fundamentais de
diferenciação, inclusão e exclusão social. Tendo em vista essa noção de distinção e influência
entranhada nas formas contemporâneas de consumo, buscamos observar se os entrevistados
acham importante a opinião dos outros acerca das suas compras e demais formas de consumo.
Em nossa pesquisa, percebeu-se que as práticas de consumo dos participantes da pesquisa
ajudam no estabelecimento de relações, na construção de identidades e como forma de
comunicação entre o grupo, isso ficou evidenciado na seguinte fala:
260
Sempre tem alguém que influencia, porque a pessoa vê alguém usando
alguma coisa, aí a pessoa quer usar, ter também, sempre influencia”;
“Sim, com certeza, quando a gente vai pro shopping eles ficam... eles
olham, aí dizem que ficaria legal em mim e eu fico pensando se compro
ou não. Principalmente as pessoas mais chegadas a mim, eu ligo muito
pra influencia das pessoas, porque a gente é influenciado por tudo né,
pela mídia, pelos amigos né, e se os amigos falam que uma roupa é legal
você também acha legal. (Entrevistado, 16 anos)
Referências
266
CAMATTA, Rafael. Para além do consumo conspícuo: uma proposta de interpretação da teoria
do consumo em Thorstein Veblen. 2014. 112 f. Dissertação (Mestrado em Ciências
Econômicas) - Centro de Ciências Jurídicas e Econômica, Universidade Federal do Espírito
Santo, Vitória, 2014. Disponível em:
<http://portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_6169_Camatta%202014%20-
%20Para%20Al%E9m%20do%20Consumo%20Consp%EDcuo%20-%20Definitivo.pdf>>
. Acesso em: 24 de jan de 2017.
DOUGLAS, Mary; ISHERWOOD, Baron. O mundo dos bens: para uma antropologia do
consumo. Rio de Janeiro: EDUFRJ, 2006.
HELLMANN, Kai-Uwe. Konsumsoziologie, in: Kneer, Georg und Markus Schroer (Hrsg.):
Handbuch der speziellen Soziologien, Wiesbaden, 2010. _______, Kai-Uwe. Der Konsum der
Gesellschaft: Studien zusoziologie des konsums. Berlin, Springer VS. 2013.
ORTIZ, Renato (Org.). Pierre Bourdieu: sociologia. São Paulo: Ática, 1983.
SCHRAGE, Dominik: Die Verfügbarkeit der Dinge: eine historische Soziologie des Konsums.
Dresden. 2009
SOUZA, Keliene Bezerra de. Brasil e Alemanha: um estudo comparativo das práticas de
consumo e estilos de vida de jovens universitários. / Keliene Bezerra de Souza.- João Pessoa,
2017.
267
THOMPSON, JOHN. (1995), Ideologia e cultura moderna. Petrópolis-RJ, Vozes. ---------------
--------- (2005), “The new visibility” IN: Theory, culture and society, vol. 22, N 06. Sage
publications.
268
___________________________________________________________________________
Resumo
Este artigo objetiva analisar como ocorre a governamentalidade e o controle social dos dizeres
no discurso das campanhas de prevenção do Estado da Paraíba. Para tanto, coletamos dezessete
campanhas em redes sociais, porém selecionamos apenas seis para análise à luz da Análise do
Discurso (AD), subsidiados pela teoria foucaultiana sobre a “genealogia do poder” para pensar
as relações entre os discursos, os sujeitos, a História e os poderes. A metodologia caracteriza-
se por ser de cunho qualitativo, uma vez que é pautada na interpretação dos fenômenos sociais.
Como resultados, observamos que o discurso normativo, através das técnicas disciplinares,
acontece de forma a fazer com que os sujeitos sociais sigam as imposições governamentais. A
partir do momento em que as doenças se tornaram preocupações políticas, a
governamentalidade se ocupou destes temas, criando políticas públicas e novas técnicas de
poder a fim de garantir maior produtividade dos indivíduos e, consequentemente, desonerar o
Estado.
Apresentação
O que nos motivou e instigou a participar deste projeto de pesquisa foi o fato de que,
pelo seu aspecto inovador, ele se apresenta de grande importância para a sociedade, pois se
pauta a investigar as relações entre saberes – que constituem os discursos do cotidiano do sujeito
urbano – e os poderes – relacionados aos dizeres governamentais, que disciplinam, controlam
e organizam a vida da população por meio das campanhas de prevenção.
Este artigo visa apresentar os resultados do Plano de Trabalho “A Governamentalidade
dos sujeitos urbanos no discurso das campanhas de prevenção do Governo da Paraíba”,
desenvolvido no período compreendido entre agosto de 2013 a julho de 2014. Tal pesquisa está
vinculada ao Projeto PIBIC/UFPB/CNPq, intitulado “Governamentalidade e controle nos
discursos do cotidiano: a produção dos sentidos em espaços institucionais”, que tem como
mentora e coordenadora a professora doutora Regina Baracuhy. O objetivo geral deste projeto
é analisar os discursos do cotidiano, a fim de verificar como ocorre a governamentalidade e o
controle social dos dizeres nos espaços institucionais no Estado da Paraíba, como também
verificar alguns dos procedimentos de controle da produção e circulação destes dizeres, como
por exemplo, a interdição, a vontade de verdade e disciplina que incidem sobre a linguagem do
sujeito social.
Como objetivos específicos do plano de trabalho supracitado, propomo-nos a analisar
algumas campanhas de prevenção do Governo da Paraíba, que circularam no espaço urbano da
cidade de João Pessoa nos anos de 2012 e 2013, a fim de:
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Governamentalidade e controle nos discursos do cotidiano: a
produção dos sentidos em espaços institucionais / A governamentalidade dos sujeitos urbanos no discurso das
campanhas de prevenção do Governo da Paraíba.
Estudante de Iniciação Científica: Aline Guedes de Lima (e-mail: alineguedesguedes@hotmail.com).
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br).
Orientador(a): Maria Regina Baracuhy Leite (e-mail: mrbaracuhy.com, telefone: 83 3216-7745).
270
a) analisar como ocorre a produção dos sentidos nas materialidades verbal e imagética das
campanhas de prevenção do Governo da Paraíba;
b) verificar como os suportes textuais (outdoors, folderes, parada de ônibus, traseira de
ônibus) influem na circulação dos sentidos dos discursos veiculados nos textos das campanhas
de prevenção do Governo da Paraíba;
c) discutir a relação entre o sujeito, a linguagem e a memória discursiva na materialidade
sincrética (verbal e imagética) dos textos;
d) averiguar como se manifestam, na materialidade linguística, os procedimentos de
controle (técnicas disciplinares) que conduzem as práticas discursivas do sujeito no espaço
urbano;
e) analisar a constituição do discurso normativo que compõe a biopolítica e fomenta a
governamentalidade dos sujeitos nos espaços urbanos da cidade de João Pessoa.
Nossa pesquisa inclui os espaços urbanos da cidade de João Pessoa, por onde circulam
os discursos presentes nas campanhas de prevenção. A cidade não é analisada enquanto espaço
geográfico, mas como “espaço político-simbólico de produção de sentidos, sítio de
significação” (ORLANDI 2001, p.10). Deste modo, interessa-nos compreender como a
linguagem, em sua dimensão linguística e social, especializa-se na cidade e como nela, o sujeito
produz sentidos, ao mesmo tempo que é afetado pelos discursos produzidos no espaço urbano.
Fundamentação Teórica
A irrupção da Análise do Discurso ocorreu no contexto francês do final dos anos 60, no
auge do Estruturalismo Linguístico Saussuriano, o qual elegeu como objeto de estudo a langue
e ao fazer esse recorte, excluiu a fala e consequentemente, o sujeito e a História. Segundo
Denise Maldidier (1994: p.17): “os anos 60 (...) são os anos do estruturalismo triunfante. A
Linguística, promovida a ciência-piloto, está no centro do dispositivo das ciências”.
Entretanto, havia nesse panorama intelectual francês, um grupo de analistas do discurso
formado por linguistas, historiadores, filósofos e alguns psicólogos, que procuravam relacionar,
em seus estudos sobre a linguagem, Linguística, Marxismo e Psicanálise. (MALDIDIER, 1994)
Em 1969, Michel Pêcheux publica Análise Automática do Discurso (AAD 69), __
livro fundador da Análise do Discurso (AD) __ que propunha uma abordagem transdisciplinar
da linguagem, enfocando-a, não só na perspectiva linguística, mas também na sua dimensão
sócio-histórica.
Em artigo publicado com Catherine Fuchs (1975), Pêcheux (GADET; HAK, 1990:
p.163-164) define o quadro epistemológico da AD, situando-a num campo de entremeio entre
três regiões do conhecimento:
[...] Estas três regiões são, de certo modo, atravessadas e articuladas por uma teoria da
subjetividade (de natureza psicanalítica).
Militante do Partido Comunista Francês, à época da fundação da Análise do Discurso,
Michel Pêcheux pensou esse campo do saber como um dispositivo analítico que permitisse uma
intervenção, não apenas teórica, mas principalmente, política no real da língua e da história.
271
Rompendo com uma tradição de estudos linguísticos pautados no Estruturalismo, a
proposta de Michel Pêcheux pretendia “abrir uma fissura teórica no campo das Ciências
Sociais”, tendo por base a problematização do sujeito e da produção dos sentidos associada a
uma reflexão crítica sobre os contextos epistemológicos e as filosofias espontâneas subjacentes
à Linguística.
Gregolin (2004) aponta três pilares que vão nortear as propostas teóricas de Michel
Pêcheux: Althusser, Foucault e Bakhtin, além de ressaltar a influência da visão psicanalítica
de Jacques Lacan que “atravessa constitutivamente” toda a obra de Michel Pêcheux,
principalmente a releitura que Lacan fez das teses de Freud.
A teoria da Análise do Discurso foi elaborada em três períodos, conhecidos como “as três épocas
da AD” (GREGOLIN 2004, p.60), nas quais os conceitos basilares passaram por elaborações e
retificações feitas pelo seu mentor.
Na primeira época (1969-1974), são elaborados os conceitos teóricos essenciais como
discurso, sujeito, ideologia e sentido. A segunda época (1975-1979) é marcada pela noção de
formação discursiva, termo este que Pêcheux toma de empréstimo a Michel Foucault.
A partir da terceira época (1980-1983) Pêcheux amplia as fronteiras e aprofunda os
diálogos. Segundo Gregolin (2004: p.64) é “o momento de encontro com a Nova História (com
a influência das ideias de Michel de Certeau, Pierre Nora, Jacques Le Goff, dentre outros) e de
aproximação das teses foucaultianas”, que vão marcar a heterogeneidade que constitui o
edifício teórico da Análise do Discurso.
Essa fase se caracteriza também pela ampliação dos objetos de análise, passando-se a
não mais analisar apenas o discurso político, mas também os discursos do cotidiano. Nessa
época, o discurso é definido como “estrutura e acontecimento”. Pêcheux trabalha
simultaneamente com a descrição e a interpretação, declarando que estas duas formas analíticas
devem funcionar como um ‘batimento”. O discurso, que nos anos anteriores, havia sido pensado
a partir das categorias marxistas de contradição e assujeitamento, vai ser enfocado através da
noção de heterogeneidade.
Salientemos também o diálogo da teoria de Pêcheux com as ideias foucaultianas, que
importam para nós na medida em que trazem a discussão sobre a genealogia do poder. Michel
Foucault (1999) entende que “o poder está em toda parte; não porque engloba tudo e sim porque
provém de todos os lugares”. Para ele, o poder não está fixo em um determinado lugar, mas
atravessa difusamente todas as esferas do meio social. Por isso, há em todas as sociedades,
múltiplas relações de poder que perpassam, caracterizam, constituem o corpo social. Afinal de
contas, diz ele, “somos julgados, condenados, classificados, obrigados a tarefas, destinados a
uma maneira de viver ou a uma certa maneira de morrer”. (FOUCAULT, 2000: p. 29).
O poder na sociedade é exercido por meio de dispositivos que regulam os hábitos e
comportamentos dos sujeitos sociais, com o propósito de produzir “corpos dóceis e úteis” para
asseverar obediência às instituições. Para estudar como ocorrem as relações de poder em uma
sociedade, Foucault vai analisar as formas de gestão do corpo social, ou seja, da
governamentalidade – forma através da qual se exerce o poder frente à vida da população, desde
a Antiguidade até o século XX. Esta forma de governar é definida pelo filósofo como:
272
política global da vida dos indivíduos, incluindo um controle de estratégias que, não raro,
privam os indivíduos de sua liberdade, em relação a eles mesmos e em relação aos outros.
Não interessa certamente apenas governar, mas impor à população um conjunto de
técnicas que vão agir indiretamente sobre ela. Este controle social é feito por meio dos discursos
do cotidiano que circulam socialmente. Através da biopolítica e dos biopoderes locais, a
governamentalidade se ocupará de temas como a gestão da saúde, a higiene, a natalidade, etc.,
na medida em que eles se tornaram preocupações políticas (REVEL 2005, p.26).
Os métodos disciplinares apresentados por Foucault se manifestam no indivíduo, ou
seja, “no corpo-espécie”, o que se denomina como “governo de si” e também no corpo social
através do “governo dos outros”, ou seja, da população em geral, que, através de políticas
públicas, visam ao controle da natalidade e o aumento da vida, por exemplo.
A população aparece mais como um fim e instrumento do governo que como força do
soberano, mas também como objeto nas mãos do governo. Michel Foucault, em sua aula
inaugural no Collège de France, em 1970, questiona: “o que há de tão perigoso em as pessoas
falarem e seus discursos proliferarem indefinidamente?” (1999, p.8). A aula proferida foi
compilada e publicada no livro A ordem do discurso, obra esta que expressa as relações entre
os saberes e poderes. No livro, o filósofo francês especifica alguns procedimentos de controle
da produção e circulação dos discursos no meio social. Ele nos ensina que em toda sociedade:
Metodologia e análise
273
Para executarmos nosso trabalho, foram coletadas dezessete campanhas de prevenção
do Estado da Paraíba, porém selecionamos apenas seis para análise do nosso corpus, por serem
as mais representativas entre o material coletado. Utilizamos algumas campanhas que
circularam no Facebook, em um perfil da Secretaria de Saúde do Estado. Elas foram veiculadas
no mês de agosto de 2012 e entre os meses de março e abril de 2013. É válido ressaltar a
circulação dos dizeres também por meio de folderes e adesivos, como na campanha da Dengue,
distribuídos para a população nas ruas da cidade de João Pessoa, conforme é mostrado em fotos
no perfil da Secretaria na rede social.
A campanha de combate ao fumo, por sua vez, teve como suporte textual, o Facebook
e o Twitter, cujas logomarcas foram expostas na própria campanha publicitária.
As campanhas de prevenção institucionais, inseridas no gênero discursivo publicitário,
tiveram como suporte textual a Internet, veículo comunicativo tão utilizado socialmente em
nossos dias, que além de comunicar, possui a função de servir como ambiente fixo de um gênero
textual, como bem nos define Marcuschi (2003: p.11): “entendemos como suporte de um gênero
um locus físico ou virtual com formato específico que serve de base ou ambiente de fixação do
gênero materializado como texto”.
A importância dos suportes textuais reside no fato de eles divulgarem produtos e
serviços do trade institucional (neste caso, as campanhas de prevenção do Estado), além de
fixarem a forma de circulação da mensagem (por exemplo, os folderes circulam de forma local
e restrita), ou seja, são entregues diretamente à população em locais específicos da cidade. O
suporte não muda o conteúdo textual.
Observamos também os diferentes modos de circulação entre o suporte Internet e os
folderes e adesivos, vez que nestes podemos nos aproximar dos textos e repassá-los a outras
pessoas que não utilizam a Internet. É o que podemos exemplificar em algumas campanhas de
prevenção, em que a utilização de adesivos e folderes pôde estabelecer uma relação diferente
com pessoas que receberam o material. Observamos os diferentes modos de circulação entre o
suporte Internet e os folderes e adesivos, vez que nestes podemos nos aproximar dos textos e
repassá-los a outras pessoas que não utilizam a Internet.
Para a Análise do Discurso, o enunciado é a peça basilar da teoria. Foucault diferencia
o enunciado – unidade linguística básica, repetível – da enunciação – entendida como os jogos
enunciativos que singularizam o enunciado. Para Michel Foucault (2009: p. 177), o enunciado
é definido como:
Um jogo de posições possíveis para um sujeito; não como uma totalidade orgânica,
autônoma, fechada em si mesma e suscetível de – sozinha – construir um sentido, mas
como um elemento em um campo de coexistência; não como um acontecimento
passageiro ou um objeto inerte, mas como uma materialidade repetível.
Segundo nosso aporte teórico, o enunciado não é uma estrutura livre, ou seja,
independente. É caracterizado por apresentar uma materialidade repetível, funcionando desta
forma, como um ponto crucial em uma rede de significações. Para nossa pesquisa, utilizamos
o enunciado partindo da regularidade nele encontrada, a fim de realizarmos nossas análises.
Tomando por base as leituras e estudos realizados da nossa bibliografia de suporte a esta
pesquisa e com apoio na análise das campanhas de prevenção que constituem nosso corpus,
obtivemos alguns resultados, os quais serão mostrados nas análises disponibilizadas a seguir.
Análise 1
274
Figura 1 – Disponível em:
<https://www.facebook.com/SaudePB/photos/a.159486417451494.39761.158135660919903/476000219133444/
?type=1&theater>. Acesso em: 11 de maio de 2014.
Por isso, todo discurso é heterogêneo. Observamos, por exemplo, o discurso religioso
perpassando o discurso governamental e o discurso da saúde. Ele se materializa no enunciado
“Combater a dengue é uma missão de todos”, em que a palavra “missão” remete ao discurso
religioso católico, no tocante ao dever missionário, que foi instaurado no Concílio do Vaticano
275
II, o qual apresenta normas da Igreja Católica, que por ser missionária, seus fiéis têm como
dever (missão) fundamental, a obra de evangelização.
Além da materialidade linguística, a campanha também apresenta uma materialidade
imagética, indicada em três imagens – uma garrafa, um pneu e um vaso com vários mosquitos
em seu interior – objetos estes que são referências para o acúmulo de água parada - e,
consequentemente, para a proliferação do mosquito transmissor da dengue. Verificamos o
entrecruzamento das imagens com o discurso das placas de trânsito, expressando a interdição,
visto que, nas placas de trânsito há o controle do comportamento do pedestre e limitação do
espaço físico. Sob este mesmo controle, a população também se encontra proibida em acumular
água parada em garrafas, pneus e vasos, o que faz com que a população seja controlada e entre
na ordem do discurso do Governo, em que combater a dengue é uma missão de todos.
O discurso jurídico também se faz presente, credibilizando as práticas governamentais,
uma vez que foi a própria Constituição Brasileira de 1988 que qualificou a proteção e defesa da
saúde como interesse público a ser perseguido pelo Estado. A ele incumbe "cuidar da saúde"
(art. 23, II - competência comum da União, estados, Distrito Federal e municípios) ou fazer a
"proteção e defesa da saúde" (art. 24, XII - competência legislativa concorrente da União e
estados). Ainda segundo a Constituição, é atribuição do Estado, "executar ações de vigilância
sanitária e epidemiológica" (art. 200, II - competências do Sistema Único de Saúde), o que faz
com que a instituição governamental adote procedimentos de controle e práticas de vigilância
sobre a população. Tanto no que concerne ao governo do corpo-espécie (governo de si) quanto
nas técnicas de dominação exercidas sobre os outros (governo dos outros).
Análise 2
276
ações governamentais, inicialmente, eram voltadas para a vigilância epidemiológica, a
assistência médica e a divulgação de mensagens de alerta e de não discriminação.
Por ser letal e não ter cura, a AIDS causou medo e fez com que a população mudasse
hábitos, fato que abalou as relações sociais do final do século XX. Campanhas de prevenção
foram cada vez mais incorporadas no meio social, desde o final do século XX até os dias de
hoje, uma vez que, conscientizar jovens e adultos com informações acerca da doença parece ser
um dos principais antídotos contra o vírus HIV.
Na campanha publicitária, há a presença de uma linguagem informal no enunciado “Só
não rola transar sem camisinha”, em que esta materialidade verbal reforça o direcionamento
do público-alvo da campanha: os jovens. É neste enunciado que constatamos a sutileza do
controle e da vigilância para os adolescentes, uma vez que, este enunciado apresenta a ausência
de verbos no imperativo, o que se desvia um pouco da regularidade exemplificada em outras
campanhas como “Faça sua parte” e “Use camisinha”, em que a presença de verbos no
imperativo determinam, sutilmente, uma ordem a ser cumprida.
É neste sentido que observamos a escolha da linguagem “SÓ NÃO ROLA” no
enunciado, em que a presença da gíria, uma linguagem popular típica de um grupo social, neste
caso, os jovens, visto que a escolha da gíria é colocada visando o controle da AIDS nos jovens.
Para tanto, foi preciso utilizar de uma linguagem típica deste público, para que esse controle se
apresentasse de forma atenuada; a fim de não provocar a resistência a esse discurso
governamental, ou seja, de não transar sem camisinha.
Como os jovens possuem como característica típica, a rebeldia e a autoafirmação, se
não houvesse um controle instaurado de forma sutil para com eles, os mesmos certamente iriam
resistir a essa determinação. Além de estabelecer a sutileza, a materialidade “SÓ NÃO ROLA”
também apresenta um procedimento de controle de forma sutil, que é a interdição, pois, “sabe-
se bem que não se tem o direito de dizer tudo, que não se pode falar de tudo em qualquer
circunstância, que qualquer um, enfim, não pode falar de qualquer coisa” (FOUCAULT 1999,
p.9) e que em uma sociedade como a nossa, uma das regiões que mais sofre a interdição é a da
sexualidade.
Neste sentido, convém ressaltar que por mais que o discurso seja curto, a interdição que
o atinge nos revela rapidamente sua ligação com o desejo e o poder (FOUCAULT, 1999). Desta
forma, podemos também interpretar que a materialidade “SÓ NÃO ROLA” propicia a leitura
de que só não rola transar sem camisinha, mas que outras coisas podem rolar, ou seja, podem
acontecer. O uso da gíria nos permite fazer o seguinte questionamento: Se não rola transar sem
camisinha, significa que rola o quê?
Paralelo à materialidade verbal, há também a materialidade imagética, representada pelo
emoticon sorrindo estampado na camisinha, o que retrata uma intertextualidade com a
vigilância, pois remente à uma memória do típico enunciado de vigilância “Sorria, você está
sendo filmado!”. Este enunciado se apresenta de forma sutil para o meio social, porém, não
significa que tenha menos controle, pois quanto maior a sutileza, mais facilmente as pessoas se
rendem à vigilância. Além deste enunciado de vigilância, o emoticon sorrindo na campanha
também nos remete à uma memória dos emoticons, que são próprios da linguagem virtual dos
jovens, o que vem a enfatizar o público para quem é direcionada a campanha de prevenção.
Esta memória que nos remete aos emoticons presentes tanto na linguagem virtual, como
no enunciado da vigilância, se faz presente por se constituir como um corpo-sócio-histórico-
cultural. É pela memória se manifestar passível de permanência e circulação, que o emoticon
foi incorporado na campanha de prevenção da AIDS, apresentando-se de forma suave, mas não
menos vigilante em relação ao controle das atitudes dos jovens.
Análise 3
277
Figura 3 – Disponível em: <https://www.facebook.com/SaudePB/photos/pb.158135660919903.-
2207520000.1399842794./385058051560995/?type=3&theater>. Acesso em: 11 de maio de 2014.
A campanha publicitária (Figura 3) “Se beber não dirija” nos apresenta uma
materialidade verbal e imagética inteiramente relacionada a uma memória presente no meio
social: a memória do carnaval. A materialidade verbal, composta pelos enunciados “Se beber
não dirija” “Seu carro não é alegórico e Sua vida não é fantasia”, nos mostra a opacidade
constitutiva dos sentidos, uma vez que:
O sentido de uma palavra, de uma expressão, de uma proposição, etc., não existe em
‘si mesmo’ (isto é, na sua relação transparente à literalidade do significante), mas, ao
contrário, é determinado pelas posições ideológicas colocadas em jogo no processo
sócio histórico no qual as palavras, expressões e proposições são produzidas (isto é,
reproduzidas) [...] (PÊCHEUX 1988, p.160)
Análise 4
279
verdadeiro não é mais o discurso preciso e desejável, visto que não é mais o discurso
ligado ao exercício do poder. (FOUCAULT 1999, p. 15)
Análise 5
280
Análise 6
Na Figura 6, temos a campanha da saúde pública no que tange à doação de órgãos. Nela,
a normatização do indivíduo é perceptível. Ao submeter o indivíduo a dizer sim à doação de
órgãos para salvar vidas de outras pessoas, através do enunciado “diga sim”, a instituição
governamental impõe normas comportamentais dos indivíduos para que esta conduta se torne
coletiva, ou seja, para se atingir também, e, sobretudo, ao corpo-populacional, característica
esta própria da governamentalidade, pois segundo Michel Foucault “A norma corresponde à
aparição de um biopoder, isto é, de um poder sobre a vida e das formas de governamentalidade
que a ela estão ligadas” (REVEL 2005, p.65). A escolha da cor na materialidade imagética
também torna a campanha ainda mais significativa. A escolha da vibrante tonalidade vermelha
remete ao sangue e à dor, fazendo com que este discurso cromático-discursivo apele, de forma
mais incisiva, aos indivíduos a se submeterem às normas impostas.
A campanha ao apresentar de um lado o discurso governamental e, do outro, o da saúde,
em que estes discursos diversos se apresentam em um campo de possibilidades estratégicas, a
campanha vem expor o que conceituamos de formação discursiva. Segundo Foucault, “No caso
em que se puder descrever, entre um certo número de enunciados, semelhante sistema de
dispersão, e no caso em que entre os objetos, os tipos de enunciação, os conceitos, as escolhas
temáticas, se puder definir uma regularidade (uma ordem, correlações, posições e
funcionamentos, transformações), diremos, por convenção, que se trata de uma formação
discursiva (…)” (FOUCAULT 2013,p.47). É com esta noção discursiva que constatamos a
regularidade presente nos discursos – o propósito de normatizar os indivíduos através de seus
discursos articulados – a fim de analisarmos a singularidade – a de responsabilizar o indivíduo
pelo direito de fazer viver ou não outras pessoas. Desta forma, O Governo apresenta, de forma
clara, sua imposição sob o corpo-espécie quanto ao corpo-populacional a fim de utilizá-los para
seus propósitos de poder.
Conclusões
281
Desta forma, nossas análises mostram o modo como é exercida a disciplinarização dos
indivíduos pelo discurso normativo, e como as técnicas disciplinares acontece de forma a fazer
com que os indivíduos e, consequentemente, a população, siga as imposições governamentais.
Como um instrumento normativo do governo, as campanhas de prevenção irão
regulamentar a conduta do corpo populacional, através de técnicas de controle, ao mesmo
tempo que transmitem a preocupação do governo com a qualidade de vida, a saúde e o bem-
estar da população. Para o governo, além da preocupação com a saúde pública, há, sobretudo,
uma preocupação econômica e política. Observamos, também, que a voz da instituição
governamental é constituída de poder, uma vez que diz respeito ao governo preservar a ordem
da vida em sociedade.
Neste sentido, a governamentalidade ocorre em suas duas faces: na investida da
positividade e na economia. Na positividade, o governo estimula a população sutilmente, com
o objetivo de fazê-la cumprir refletidamente as regras impostas mediante o cuidado de si e, ao
mesmo tempo, fazendo com que seja vantajoso ao Estado esta arte de governar. A partir do
momento em que as doenças decorridas do tabagismo e da dengue se tornaram preocupações
políticas, a governamentalidade se ocupou destes temas, criando novas técnicas de poder a fim
de tornar os indivíduos produtivos ao trabalho e também, simultaneamente, torná-los corpos
dóceis. Esta forma de governar em relação ao objeto analisado, busca, não só lucrar, mas
também combater a ocorrência das doenças em prol da diminuição de gastos com a saúde
pública.
Os discursos que as campanhas de prevenção veiculam, apresentam enunciados de
materialidade sincrética (verbal e imagética). Verifica-se que a linguagem presente nas
campanhas é elaborada na tentativa de fazer a população refletir e cumprir as imposições. Esta
linguagem é conduzida para um determinado público-alvo, seja de forma explícita ou sutil.
Referências
CASTRO, Edgardo. Vocabulário de Foucault: um percurso pelos seus temas, conceitos. Belo
Horizonte: Autêntica, 2009.
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. 5 ed. São Paulo: Edições Loyola, 1999. (Coleção
Leituras Filosóficas).
GADET, F. & HAK, T. (orgs.) Por uma análise automática do discurso: uma introdução à
obra de Michel Pêcheux. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1990.
MARCUSCHI, Luis Antônio.A questão dos suportes dos gêneros textuais. DLCV: Língua,
linguística e literatura. João Pessoa, v.1, n.1, p.9-40, 2003.
MILANEZ, Nilton. A casa de Usher de Roger Corman: o campo de memória e o cromático-
discursivo no discurso fílmico. In: SOARES, Leonardo Francisco; RIBEIRO, Ivan Marcos
(Org.). Letras & Letras. Uberlândia: EDUFU, v.27, n.2,2012.
282
ORLANDI, Eni P. (org.) Cidade atravessada: os sentidos públicos no espaço urbano.
Campinas, SP: Pontes, 2001.
283
PRÁTICAS DOCENTES DE LEITURA COM FOCO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS
PARA A ALFABETIZAÇÃO
Resumo
Este capítulo tem como principal objetivo discutir a implementação do Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) e do TRILHAS, na paraíba durante os anos de 2013 e
2014. Nossa pesquisa é de caráter qualitativo interpretativista e tem como foco central observar
as práticas dos professores envolvidos nas formações continuadas, bem como evidenciar
possíveis dificuldades que eles tenham durante o processo de mudança de sua prática
pedagógica. Assim como o PNAIC e o TRILHAS, partimos de uma concepção interacionista
da linguagem, baseada em Bakhtin (2012 [1927]), Faria (2011), Vigotski (1998) e Soares
(2003). Nosso trabalho foi baseado principalmente na leitura dos documentos dos programas,
na coleta e análise de planos de aula e entrevistas com os professores. Concluímos que os
professores têm dificuldade no processo de adaptação de material didático para a sala de aula e
que o nivelamento dos estudantes é central para o sucesso das propostas.
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Cenas de práticas docentes com foco nas políticas públicas para
a alfabetização / Práticas docentes de leitura com foco nas políticas públicas para a alfabetização.
Estudante de Iniciação Científica: Daniel Rodrigues Cavalcanti (e-mail: danielcavalcanti@outlook.com).
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br).
Orientador(a): Evangelina Maria Brito de Faria (e-mail: evangelinab.faria@gmail.com, telefone: (83) 3216-7203.
284
O plano Práticas docentes de leitura com foco nas políticas públicas para a
alfabetização foi desenvolvido através de estudo da proposta com base interacionista para a
alfabetização do PNAIC e do TRILHAS e de observação de sua realização prática, através de
questionário para os professores do TRILHAS, diálogos e observação de professores
envolvidos com o PNAIC em João Pessoa, observações de relatos, planos de aula, e diálogo
com os professores envolvidos na formação do PNAIC via EAD ofertada pela UFPB entre 2013
e 2014.
Para que possamos realizar a discussão dos dados obtidos é preciso que tenhamos em
mente as concepções que regem o PNAIC e o TRILHAS e as implicações que elas trazem para
as práticas de leitura em sala de aula.
O grande interesse pelas questões relativas à linguagem no último século possibilitou à
ciência uma enorme gama de teorias que tentam explicar os fenômenos linguísticos de pontos
de vistas diversos e com objetivos muitos. Visto a necessidade de reconhecer e considerar todas
as teorias recentes, faremos uma rápida leitura dos pontos centrais de cada uma delas:
a. Teoria behaviorista
Dentro da perspectiva do estruturalismo desenvolvido na América do Norte o processo
de aquisição da linguagem aconteceria da mesma forma que as outras formas de aprendizagem
apontadas pela teoria behaviorista: o conhecimento seria construído através da relação entre um
estímulo e sua resposta. A criança seria naturalmente sujeita a estímulos externos, como o
vocábulo ‘sede’ que seria na maior parte das vezes associado à ‘água’. Com o passar do tempo
e com o reforço acontecendo para diversas situações linguísticas, a criança seria capaz de
adquirir as palavras e seu sentido.
b. Teoria Inatista
Tendo como forte argumento a ainda inexistente explicação para a produção por parte
das crianças de frases que nunca foram escutaram antes, Chomsky trabalha com a hipótese de
que há uma gramática universal que contem em si uma matriz biológica que rege todas as
línguas. Dentro desta perspectiva, a criança já possui uma gama de conhecimento linguístico e
seu ‘trabalho’ seria o de apenas reconhecer os parâmetros de determinada língua, visto que sua
mente já possui um ‘dispositivo’ capacitado e responsabilizado para a tarefa de aquisição de
língua.
c. Teoria Epigenética
Dentro desta teoria, desenvolvida por Jean Piaget, a aquisição da linguagem seria um
movimento de interação entre o ambiente e o organismo. A língua seria adquirida como todos
os outros conhecimentos, no momento em que o organismo alcance determinado nível de
maturação, no caso da língua o momento em que o desenvolvimento orgânico permita
desenvolver o aspecto simbólico na mente da criança. Seríamos então organicamente
disponibilizados para adquirir certas habilidades em certos momentos.
d. Teoria Interacionista
Esta proposta, trabalhada por Vigotski (1998), afirma que a aquisição da linguagem
ocorrer através da interação entre os indivíduos. Para Vigotski, o pensamento e a linguagem
possuem naturezas genéticas diferentes e unem-se com o passar do tempo, havendo assim uma
fala pré-intelectual e um pensamento pré-verbal. A natureza do processo de aquisição da
linguagem seria o contato com o social que a criança é naturalmente submetida, focalizando o
desenvolvimento do indivíduo como um processo social e histórico.
e. Teoria Sociocognitivista
285
A proposta sociocognitivista afirma que a aquisição da linguagem é um processo que
envolve a cognição da criança e o ambiente que lhe cerca. Nesta leitura, a criança inicia seu
processo de aquisição quando reconhece os adultos como seres dotados de intenção
comunicativa. A partir disto a criança começaria a buscar compreender o que o outro está
tentando dizer. Vale ressaltar que esta proposta se abrange para todo o conhecimento humano,
afirmando que a construção do conhecimento acontece a partir de uma ‘cognição social’ que
seria a capacidade de compreender os outros como seres intencionais.
O estudo destas concepções foi necessário para nossa fundamentação teórica no campo
e para o reconhecimento das orientações que regem os Programas que trabalhamos. Assim, nos
valemos de uma concepção interacionista da linguagem, as razões para isto serão trabalhadas a
seguir.
Assim como o é para os Programas do governo, nossa escolha pelo interacionismo tem
diversas consequências em nosso trabalho. Seguindo o pensamento de Vigotski, acreditamos
que o aprendizado e o desenvolvimento das crianças estão interligados e influenciam-se
mutuamente. Em termos de aquisição da língua escrita e da leitura, compreendemos que a
criança tem capacidade de aprender sobre o texto escrito antes de ser capaz de lê-lo, e que, ao
aprender características da escrita e da leitura, será mais facilmente conduzida ao conhecimento
da técnica utilizada no código escrito. Tanto por sua sensibilização e curiosidade despertada
para o tema e seus aspectos constituintes, como pela facilidade que o contato com os textos
proporcionará em suas aulas de aquisição da técnica escrita. Ao ouvir uma leitura a criança
aprende a ler, mesmo sem reconhecer formalmente as palavras.
Fundamentação teórica
O tratamento que foi dado ao ato da leitura não foi sempre homogêneo. O baixo
desempenho dos alunos em interpretar textos tem chamado a atenção de diversos profissionais
da Educação e da Linguística para a questão, o que desencadeou no crescimento das teorias. As
duas formas centrais de trabalhar a leitura são os modos ascendente e descendente.
O modo ascendente compreende a leitura como decodificação de partes pequenas para
a compreensão de partes maiores. Dentro desta forma de enxergar o processo, o aluno tem
necessidade de reconhecer as partes menores do texto para então compreendê-lo por inteiro.
Considera-se que durante o ato de leitura o leitor apenas processa os elementos menores até ter
conhecimento das informações que o autor ali colocou. O leitor apenas decodifica as palavras
para chegar a um sentido e a um conteúdo anteriormente concebidos por quem escreveu o texto.
É um modelo falho, pois desconsidera diversos aspectos do ato da leitura, como relata Alves
(2011) citando Rojo (2009):
a) O da descentralização das ações em relação ao corpo próprio, isto é, entre sujeito e objeto
(ou entre “eu” e “o outro” ou “eu” e “o mundo”); o sujeito começa a se conhecer como fonte
ou senhor de seus movimentos;
b) O da coordenação gradual das ações: [...] elas passam a se coordenar para constituir uma
conexão entre meios e fins;
287
c) O da permanência do objeto, segundo o qual o objeto permanece o mesmo e igual a si próprio
quando não está presente no espaço perceptual da criança. (SCARPA, 2012, p.249)
O problema é que, atrelada a essa mudança de concepção, veio a idéia de que não
seria preciso haver método de alfabetização. A proposta construtivista é justa, pois é
assim mesmo que as pessoas aprendem, não apenas a ler e escrever, mas é assim que
se aprende qualquer coisa: interagindo com o objeto de conhecimento. (SOARES,
2003, p. 17)
Há então, o famoso processo em que se passa a ter na educação um forte apelo teórico
sem um método de ensino, contrário ao momento anterior, em que havia um método rigoroso,
com suas variações, representado pela cartilha, mas sem grandes bases teóricas, sejam elas
psicológicos ou linguísticos, que lhe servisse de justificativa.
Em suma, a leitura que foi feita – e que foi aplicada – da proposta diz que as crianças
aprendem em contato com o objeto de estudo, em detrimento das práticas metodológicas de
ensino, pois se compreendia que a teoria construtivista3 não admite um método de alfabetização,
assim as crianças passaram a ter contato com diversos textos, sem receber simultaneamente
uma orientação para a atividade de escrita e leitura.
Como bem observa Magda Soares (2003) em artigo para a Revista Presença Pedagógica:
Este método não teve êxito quando se observa os resultados destes alunos durante todo
o processo da Educação Básica, além dos baixos índices em exames nacionais. É neste contexto
que a proposta interacionista da linguagem e do ensino surge como uma alternativa teórica e
2
Isto não significa que os docentes não possuíam um método para suas aulas. Significa que o método adotado não
obrigatoriamente sistematizava a escrita como um objeto de estudo formalizado.
3
Vale ressaltar que o trabalho da Psicogênese da língua escrita não constitui um manual de alfabetização, e sim,
um estudo que busca aprofundar os conhecimentos piagetianos sobre o desenvolvimento do conhecimento
humano, com especial foco para a escrita.
288
metodológica para a alfabetização. O interacionismo entende que a constituição do
conhecimento sobre a linguagem deve, além de estar baseada no contato com os textos que são
tratados como o principal objeto da alfabetização, ser permeada por uma prática baseada em
métodos que abranjam o sistema de escrita (em suas características enquanto sistema) e os usos
sociais dos textos. Ou seja, a criança deve ser instruída sobre o código escrito ao mesmo tempo
em que é inserida em práticas de letramento que deem sentido às formas que a escrita assume
socialmente.
Esta compreensão da aquisição de escrita e da leitura é compartilhada pelo PNAIC e
pelo TRILHAS, que surgem como materializações da proposta interacionista para a
alfabetização. Ambos os programas concebem que a aquisição da escrita deve estar relacionada
à aquisição da leitura desde os primeiros momentos da alfabetização. Com diversas atividades
que trabalham textos literários e jogos, os Programas buscam unir letramento e alfabetização
no cotidiano da sala de aula, como forma de dar à criança a possibilidade de contato com os
usos reais da língua e, através deles, refletir sobre o processo de escrita e leitura para adquiri-
los.
Os dois Programas que trabalhamos, PNAIC e TRILHAS, dão grande ênfase à
necessidade de alfabetizar com textos, ou seja, utilizando gêneros discursivos. O TRILHAS,
em especial, é voltado para práticas de letramento no primeiro ano do Ensino Fundamental,
como forma de auxiliar o processo de alfabetização e garantir à criança sua inserção nos usos
sociais da língua.
Para bem falarmos de letramento é preciso que o diferenciemos de alfabetização. Uma
prática de alfabetização é aquela que é voltada para o ensino do código, da técnica da escrita
para aquele que ainda não a conhece, é o ato pedagógico que tem como principal objetivo
ensinar o Sistema de Escrita Alfabética (SEA). O letramento consiste na prática que insere o
aluno no contexto social de uso da linguagem escrita, é o uso do sistema escrito em si, dentro
de seu contexto real de produção, dando ao SEA a razão de sua própria existência que é a
interação verbal construída pelos gêneros textuais em situações reais de utilização da língua. A
prática de alfabetização pode ser dividida de acordo com o método utilizado, podendo assim
ser chamada de analítica ou de sintética, tal qual os modos descendente e ascendente ditos
anteriormente.
Bakhtin ao falar do ensino de língua observa o caráter essencialmente funcional do
estudo de uma língua qualquer:
[...] a ordem metodológica para o estudo da língua deve ser o seguinte: 1. As formas
e os tipos de interação verbal em ligação com as condições concretas em que se
realiza. 2. As formas das distintas enunciações, dos atos de fala isolados, em ligação
estreita com a interação que constituem os elementos, isto é, as categorias de atos de
fala na vida e na criação ideológica que se prestam a uma determinação pela interação
verbal. 3. A partir daí exame das formas da língua na sua interpretação linguística
habitual. (BAKHTIN, 2012, p. 129)
Este primeiro ponto apontado por Bakhtin para o estudo de uma língua é corroborado
por Vigotski (1998). No livro A formação social da mente (1998), Vigotski, trabalha a natureza
interacional da aquisição do conhecimento, nisto inclua-se a língua. Ao falar dos processos de
ensino de língua ele demonstra a problemática do que chamamos ‘ensino tradicional’,
mecânico, do sistema de escrita e consequentemente da leitura. Ao falar da do desenvolvimento
das habilidades de leitura e escrita, ele afirma:
Parece claro que o domínio de um tal sistema complexo de signos não pode ser
alcançado de maneira puramente mecânica e externa; ao invés disso, esse domínio é
o culminar, na criança, de um longo processo de desenvolvimento de funções
comportamentais complexas. (VIGOTSKI, 1998, p. 140)
289
Este pensamento não deve ser entendido como um apelo para o não ensino da técnica
de escrever e ler. Esta não é a proposta do interacionismo, pois como bem trabalha Bakhtin
(2012 [1927]) o conceito de gênero textual discursivo se constrói em oposição ao do gênero
textual puro, uma vez que o primeiro engloba as situações interacionais que produzem e
motivam o gênero, enquanto o segundo se limita a observar o gênero em sua materialidade
concreta.
Afinal, desconsiderar o processo de alfabetização em prol de práticas de letramento seria
uma negação de diversos fatores necessários à leitura e à escrita que devem ser trabalhados ao
lado das práticas de letramento, alguns destes fatores – mais ligados à leitura – são: percepção
visual; distinção visual e habilidade visomotora (ALLIENDE, 1987). O que propomos é que as
habilidades tidas como “mecânicas” sejam trabalhadas ao lado de atividades que estejam
baseadas em situações reais do uso da língua, até mesmo durante o processo de alfabetização,
quando as crianças ainda não possuem domínio do sistema de escrita.
Então, para o processo de leitura é necessário que a criança saiba decodificar as
implicações do texto e que saiba refletir sobre elas. Isto acontece com o uso da técnica de
“decifrar” o código escrito, mas não estritamente através desta, pois a criança – assim como os
adultos – pode ter conhecimento das práticas letradas através de outros veículos de informação,
que não a leitura propriamente dita. Nesta perspectiva, ouvir uma história é uma forma de
contato com as letras. Assim como interpretá-la teatralmente. Essa concepção se resume na
necessidade de planejar o ensino de língua de acordo com os usos da própria língua. No nosso
caso – que trata de leitura nos anos iniciais do Ensino Fundamental – a aplicação desta ideia
não é difícil. O TRILHAS, ao justificar-se, é muito eficiente em afirmar a importância e a
relevância do trabalho com gêneros. Os gêneros mais utilizados pelo Programa são de tipologia
narrativa, visto seu público alvo:
Para que o leitor ou ouvinte possa interpretar a sucessão de ações, e para que o texto
tenha coerência, não basta uma relação cronológica. É necessária também uma relação
de causalidade lógica para explicar as transformações que ocorrem a partir da ação
de algum personagem. Isso formará um todo, ou seja, começo, meio e fim da história.
[...] Ajudar as crianças a entrar nessa dimensão de um texto pode ser bastante
promissor, no sentido de transformá-las em futuros leitores autônomos. Estaremos
favorecendo a que compreendam o texto à medida que conversamos sobre a estrutura
da história e propomos atividades que as ajudem a entender esse esquema que dá
sustentação às histórias. (TRILHAS, caderno de estudos, 2011, p. 19).
[...] é interagindo com a escrita, contemplando seus usos e funções, que as crianças se
apropriariam da escrita alfabética, e não a partir da leitura de textos “forjados” como
os presentes em diferentes cartilhas de alfabetização. (PNAIC: CONCEPÇÕES E
PRINCÍPIOS, 2012, p. 16 - 17)
Ainda neste ponto, o TRILHAS é enfático ao ressaltar que a atividade de leitura com os
alunos ainda não alfabetizados é uma das formas de inserir a criança no mundo letrado e facilitar
seu processo de apropriação do sistema de escrita:
290
Por exemplo, quando se lê uma lista de títulos de histórias conhecidas para as crianças
e se pede para elas encontrarem onde está escrito A Bela Adormecida, torna-se mais
provável a localização da escrita, uma vez que lhes foi dada oralmente a palavra que
devem localizar dentro de um contexto conhecido. Assim, ajuda-se a reduzir a
quantidade de antecipações possíveis que teriam de fazer para conseguir ler.
(TRILHAS: caderno de estudos, 2011, p. 23)
Seguindo esta linha de raciocínio, o TRILHAS nos fornece uma lista de atividades de
leitura e escrita que podem ser desenvolvidas em sala de aula tendo em vista o princípio de
inserir a criança no mundo letrado durante todo o processo de alfabetização, ou seja, alfabetizar
letrando. Aqui é relevante notar que algumas atividades que fazem parte de práticas
“tradicionais” do ensino são remodeladas. Essa observação será útil para a análise dos dados
mais adiante. A exemplo disto temos o ditado: a prática de ditar ainda é trabalhada, mas com
um foco que a torna completamente diferente do ditado tradicional, pois a sugestão é que o
professor solicite aos alunos que ditem para ele um texto já lido e memorizado e que está sendo
escrito no quadro. Ou seja, ao invés de testar a capacidade de escrita do aluno (muitas vezes
desconsiderando as relações grafo-fonológicas aí existentes), o professor levará o aluno a
refletir sobre a ligação entre a fala e a escrita e a forma como essa segunda se manifesta, pois:
Este contato com a leitura e com as letras em geral deve ser realizado através dos gêneros
discursivos. Nos Programas que trabalhamos, dentre as atividades que são sugeridas aos
docentes estão livros com narrativas infantis escritas por pessoas da área da alfabetização e
letramento, que têm por missão despertar o interesse das crianças para o material escrito. Isto é
realizado através de diversas atividades que envolvem a leitura e jogos com palavras. Este foco
dado aos gêneros naturalmente nos leva à Bakhtin e a discussão entre um ensino baseado nas
características do gênero e um outro ensino baseado nos usos sociais e no caráter “relativamente
estável” destes mesmos gêneros (cf. KLEIMAN, 2007).
A ideia de gênero existe nos estudos sobre a linguagem desde Aristóteles. Este falava
dos gêneros na poética e na retórica, já reconhecendo os aspectos estruturais e linguísticos de
constituição do discurso de acordo com a funcionalidade e os objetivos almejados. Mas, este
conceito de gênero não abrange a totalidade da prática discursiva, que é trabalhada por Bakhtin,
que compreende a relação interacional como base da produção de linguagem. Assim, para
Bakhtin (2012 [1927]),
Qualquer enunciação, por mais significativa e completa que seja, constitui apenas uma
fração de uma corrente de comunicação verbal ininterrupta (concernente à vida
cotidiana, à literatura, ao conhecimento, à política, etc). Mas essa comunicação verbal
ininterrupta constitui por sua vez, apenas um momento na evolução contínua, em
todas as direções, de um grupo social determinado. (Bakhtin, 2012/1927, p.128. –
grifo do autor)
Essa concepção, que abrange o próprio conceito de língua, nos concede a noção basilar
de que os gêneros só existem em comunhão com sua motivação e realização social. Este é o
ponto principal de distinção entre a noção de gênero discursivo de Bakhtin e a noção de gênero
poético (textual) de Aristóteles. A este respeito, Machado afirma que:
291
Os estudos que Mikhail Bakhtin desenvolveu sobre os gêneros discursivos
considerando não a classificação das espécies, mas o dialogismo do processo
comunicativo, estão inseridos no campo dessa emergência. Aqui as relações
interativas são processos produtivos de linguagem. Consequentemente, gêneros e
discursos passam a ser focalizados como esferas de uso da linguagem verbal ou da
comunicação fundada na palavra. (Machado, 2005, p.152)
Com os princípios interacionais em mente é fácil inferir que um ensino baseado nos
gêneros, tal como os concebe Bakhtin, é essencialmente um ensino que parta das práticas sociais
de produção discursiva, não podendo se limitar à simples observação do formato textual que é
utilizado ou do código utilizado para a escrita. Esta é a compreensão de ensino de língua
materna que permeia a proposta do PNAIC e do TRILHAS. No caderno Planejamento escolar:
alfabetização e ensino de língua portuguesa o PNAIC deixa claro a necessidade de dar à prática
da alfabetização e do letramento um sentido social que sensibilize o aluno para a relevância do
que está sendo ensinado para que ele “vivencie a leitura, a produção de texto escrito, a produção
e compreensão de textos orais e a apropriação do Sistema de Escrita Alfabética como práticas
relevantes e interessantes” (PNAIC: Planejamento escolar, 2012, p. 8)
Metodologia e análise
a) se escreve com letras, que não podem ser inventadas, que têm um repertório
finito e que são diferentes de números e outros símbolos; b) as letras têm formatos
fixos e pequenas variações produzem mudanças na identidade das mesmas (p, q, b,
d), embora uma letra assuma formatos variados (P, p, P, p); c) a ordem das letras é
definidora da palavra e, juntas, configuram-na, e uma letra pode se repetir no interior
de uma palavra e em diferentes palavras; d) nem todas as letras podem vir juntas de
outras e nem todas podem ocupar certas posições o interior das palavras; e) as letras
notam a pauta sonora e não as características físicas ou funcionais dos referentes que
substituem; f) todas as sílabas do português contêm uma vogal; g) as sílabas podem
ariar quanto às combinações entre consoantes, vogais e semivogais (CV, CCV, CVSv,
CSvV, V, CCVCC...), mas a estrutura predominante é a CV (consoante-vogal); h) as
letras notam segmentos sonoros menores que as sílabas orais que pronunciamos; i) as
letras têm valores sonoros fixos, apesar de muitas terem ais de um valor sonoro e
certos sons poderem ser notados com mais de uma letra. (LEAL E MORAIS, 2010,
P. 35-36)
Tendo estes critérios em vista buscamos nos planos de aula dos professores momentos
em que estes aspectos, ou atividades que possam incluí-los, sejam sistematicamente
trabalhados. A união de uma prática letrada com uma prática que foque no SEA é o que se
considera ideal de acordo com a proposta do PNAIC. Dos dezessete planos que analisamos
apenas nove estavam dentro da proposta de alfabetização vinculada às práticas de letramento.
É importante frisar que dentre estes nove planos existem inadequações diversas, que vão desde
má delimitação do objeto de trabalho até problemas metodológicos que desencadeiam práticas
tradicionais com pausas para práticas de letramento, esses fatores podem ser resultado de um
processo ainda inicial de adaptação a um novo modo de trabalho ou reflexo de dificuldades para
sistematizar a prática de sala de aula e um plano formal de ações.
Estas falhas do método foram as que mais se assemelharam aos relatos que obtivemos
através de questionário digital, de dificuldades dos profissionais também envolvidos com o
TRILHAS. Os professores demonstram que a compreensão da proposta não tem se
transformado em prática em sala de aula por uma dificuldade de transformar a teoria em
metodologia de ensino. Por exemplo: determinada professora tem interesse em desenvolver
atividades de letramento e compreende que não deve deixar o ensino do SEA de lado para isto.
Então, realiza com seus alunos uma série de atividades temáticas que têm como objeto central
um poema de Carlos Drummond de Andrade, para isto, conversa com seus alunos sobre o tema
central do poema, cola-o no quadro da sala e realiza uma leitura compartilhada, seguida de
perguntas sobre a estrutura, como onde está o título e etc. Ocorre que para trabalhar o sistema
de escrita alfabética a docente recorre aos antigos métodos de alfabetização, neste caso o ditado
tradicional de palavras que não possuem vínculo com o texto trabalhado anteriormente. Após
todo o trabalho com o letramento os alunos são submetidos a uma atividade de ditado com
palavras aleatórias escolhidas pelo professor semelhantíssima às práticas tradicionais de ensino,
com diferença apenas para o fato de que antes do ditado houve uma atividade com um poema.
Dificuldades como esta vão se multiplicando nos diversos planos de aula. Sempre que
o professor tem necessidade de elaborar a sequência didática e suas atividades, ou seja, quando
293
não há suporte de algum material didático institucional como jogos e cadernos de atividades, o
docente recorre a metodologia antiga e tenta encorpá-la para que atenda de alguma maneira aos
pressupostos teóricos do PNAIC e do TRILHAS.
Em geral, este tipo de dificuldade cria a ilusão de que o letramento está sendo utilizado
e nos leva a possibilidade de tirar conclusões equivocadas sobre o sucesso ou o fracasso do
letramento na alfabetização. Ler um poema não é fazer do letramento o mecanismo basilar da
prática pedagógica, nem muito menos representa uma mudança nos padrões de educação que
foram aplicados até então. Não podemos tomar tal tipo de prática como base para uma reflexão
profunda sobre a utilização do letramento na alfabetização.
Esta dificuldade foi relatada pelos docentes envolvidos com o TRILHAS, que em
dezoito das vinte e quatro cidades que conseguimos contato, alegaram que a proposta do
programa contribuiu para sua atuação em sala de aula, mas a ausência ou quantidade
insuficiente dos cadernos de atividades e dos jogos impossibilita ou dificulta a aplicação da
proposta educacional. O oposto aconteceu com os demais docentes que receberam e tiveram
acesso ao material integralmente. Todos estes relataram sucesso na aplicação do programa e
melhora no desempenho dos alunos para a apropriação do Sistema de Escrita Alfabética. De
alguns destes recebemos relatos de suas atividades em sala de aula utilizando as propostas
pedagógicas do TRILHAS. Os relatos contam como foram momentos em que as propostas do
TRILHAS foram utilizadas de maneira muito fiel à forma como estão nos manuais do
programa.
Fica claro então, que é preciso ter cautela para medir a força do letramento em atividades
avaliativas (como a ANA) em curto ou médio prazo. Os professores precisam de suporte de
formação e materiais para que a proposta se consolide em todas as salas de aula.
Em uma turma com vinte e seis alunos do primeiro ano do Ensino Fundamenta em uma
cidade do interior da Paraíba, uma professora dividiu em oito etapas (uma etapa por dia de aula)
uma abordagem de textos literários infantis (Branca de Neve, Cinderela, A Bela e a Fera e
Chapeuzinho vermelho) conforme a proposta do TRILHAS, que consiste em trabalhar o texto
desde a apresentação do livro através da leitura do título e perguntas sobre o que gêneros podem
estar no livro, até um trabalho de consolidação da leitura através da apresentação de uma peça
teatral em que os alunos assumem os papéis dos personagens da história trabalhada. Este
processo passa por diversos momentos: recuperação da história através de cartelas com cenários
da história; conversas sobre as intenções das personagens em diversos momentos da narrativa
enquanto se faz uma leitura coletiva do texto; leitura compartilhada em que cada aluno assume
uma personagem; divisão em grupos para o trabalho teatral; confecção coletiva de um cartaz
com uma lista das personagens e suas características; treino da entoação para cada fala em cada
momento. Esse relato de aula é acompanhado de diversos comentários que revelam o interesse
suscitado pelas atividades e o grande sucesso daí decorrente. As crianças interessadas –
primeiramente nas histórias e depois em encenar Chapeuzinho vermelho – desenvolveram
atividades de leitura que atribuíram sentido ao ensino e as práticas, tanto de leitura como de
escrita. A professora encerra o relato dizendo que a sequencialidade da proposta foi eficaz em
manter a atenção das crianças na necessidade de aprender a ler, o que facilitou o
desenvolvimento de todo o processo. Este relato traz na prática aquilo que é defendido na visão
interacionista baseada em Bakhtin: a interação, a necessidade, produzem o gênero textual e o
código escrito.
Situações diferentes, em que houve parcial sucesso do docente no ato de transformar a
teoria em método, também aconteceram. O plano de aula do PNAIC que julgamos mais
adequado à proposta foi elaborado sem o mesmo suporte metodológico que encontramos na
aula feita com base no TRILHAS, pois não está assentado em práticas sugeridas pelo programa.
Assim, sugere uma sequência didática dividida em quatro etapas que resumimos aqui: 1) leitura
de um texto sobre aves brasileiras; 2) organização de uma roda de conversa sobre as aves que
294
os alunos conhecem ou já viram pessoalmente; 3) aplicação de um questionário em forma de
cruzadinha sobre características das aves (as palavras da cruzadinha são selecionadas de acordo
com o aspecto do sistema de escrita alfabética que será trabalhado na aula); 4) propor que a
turma faça uma pesquisa sobre diversos tipos de aves para apresentação em sala e elaboração
de um mural sobre aves. Obviamente, este plano não está perfeito, mas aponta para o caminho
buscado pelos programas que trabalhamos. A docente não especificou o momento de trabalho
com sistema de escrita alfabética, mas não esqueceu de trabalha-lo (como ocorreu com cinco
outros planos). Observamos que nos planos de aula há sempre uma dificuldade metodológica
para a sistematização da leitura. Em geral, a leitura é trabalhada isoladamente das práticas que
envolvem escrita, ou possui uma ligação ainda estreita. De acordo com o PNAIC, consideramos
que o ensino sistemático que envolva práticas de letramento e alfabetização caminhando lado a
lado implique numa abordagem que focalize a leitura para diversos aspectos, inclusive os
referentes à prática de escrever. Um exemplo para isto é o (já mencionado) trabalho com o
ditado para o professor, que é sugerido pelo TRILHAS.
Quando estivemos em escolas, conversamos com professoras envolvidas atualmente
com a formação do PNAIC na Paraíba e que utilizam (ou tentam utilizar) o PNAIC em seu
cotidiano escolar. Três professoras são de uma escola da Rede Estadual de Ensino e quatro da
Rede Municipal de Ensino de João Pessoa. Todas as professoras atuam em mais de uma turma
de níveis escolares diferentes do Ensino Fundamental ao mesmo tempo. Assim, as docentes
atuam em uma turma do primeiro ano e outra do terceiro, em uma turma do segundo ano e outra
do terceiro ano e etc. Este último fato é relevante para nossa pesquisa, pois nos garante que as
docentes possuem uma visão ampla do ciclo de alfabetização proposto pelo PNAIC, sendo elas
mesmas atuantes em boa parte dele, o que nos rendeu uma série de comentários sobre a estrutura
do ciclo e suas implicações práticas no dia a dia escolar, o que vai além da composição teórica
disponível nos cadernos de formação do Pacto.
Estes relatos foram coletados em conversas dentro do ambiente escolar e gravados em
forma de áudio. Partimos sempre de perguntas como: Como você vê o PNAIC na sua sala de
aula?; O PNAIC te ajuda? Que dificuldades você tem para utilizar o PNAIC no seu cotidiano?
O primeiro aspecto apontado por todas as professoras é o problema do nivelamento dos
alunos. As professoras alegam que as atividades do PNAIC são elaboradas para um público
alvo definido que não é próximo ao grupo de alunos que é encontrado nas escolas. Por
compreenderem que a concepção do ciclo de alfabetização implica numa não reprovação do
aluno durante os três anos iniciais da educação básica, as competências que teoricamente seriam
desenvolvidas em cada ano são construídas em níveis muito distintos em cada aluno que sai do
primeiro para o segundo ano, por exemplo. Então, as atividades que são propostas para turmas
de segundo ano não são aplicáveis para todos os alunos da turma. Isso transforma as propostas
em atividades para determinados alunos e não para outros, o que reduz o alcance das atividades
elaboradas pelo, ou com base no PNAIC para poucos alunos. E, naturalmente, torna estas
práticas pouco atrativas para o docente.
Além do problema do desenvolvimento das competências, uma professora do primeiro
ano relatou que os alunos chegam à escola com níveis de letramento muito díspares, o que
culmina no mesmo problema. Para alguns alunos, a leitura de livros e atividades com leitura
fluem tranquilamente, enquanto que para outros o ato de ler possui pouco significado e não é
atrativo, então, a professora se sente na necessidade de adaptar-se as necessidades dos alunos e
acaba por não possuir mecanismos que lhe permitam utilizar as práticas de letramento que são
esperadas para o primeiro ano, pois os alunos possuem certa rejeição pelas atividades com livros
e textos. Em geral os estudantes partem do pressuposto de que não sabem ler e não demonstram
interesse em aprender. Além disto, as professoras relatam que tentam diminuir as diferenças
entre os alunos passando atividades a mais para casa que possam subsidiar o trabalho em sala
para os alunos com mais dificuldades, mas essa prática tem pouco resultado, pois os pais das
295
crianças não demonstram interesse em participar da execução de tais tarefas ou não sabem
ler/não valorizam a leitura, o que impossibilita a realização da atividade pela criança, já que
esta ainda não possui independência para realizar as atividades solitariamente.
Este fato nada mais é que o reflexo da formação de leitores e não-leitores no nosso país,
infelizmente a alfabetização de todos ainda é um projeto em execução e que não alcança o
cidadão fora de idade escolar com a força que é necessária. Isto gera mais dificuldades, ao
mesmo tempo em que valoriza toda e qualquer iniciativa que tente promover o acesso ao mundo
da escrita para as crianças em fase de alfabetização e para os adultos que não a alcançaram.
Naturalmente, esse problema tem seu ápice no terceiro ano do Ensino Fundamental. O
último ano do ciclo de alfabetização se transforma no momento em que a necessidade de
alfabetizar e letrar o aluno se torna mais latente – por causa das expectativas de aprendizagem
e da possibilidade de retenção escolar, total oposto da situação encontrada no primeiro ano.
Então, o terceiro ano fica com a tarefa de alfabetizar e letrar o aluno que não foi efetivamente
realizada pelos dois anos anteriores. Esse não é o panorama de todos os alunos, mas ocorre com
frequência suficiente para impossibilitar as atividades de leitura que o PNAIC sugere para o
terceiro ano, na visão de todas as professoras que conversamos. Como afirmou uma das
professoras que atua no terceiro ano: “Como posso pedir que a turma leia um texto se boa parte
da turma ainda não sabe ler nem palavras simples?”. Isso se transforma em uma grande relação
de causa e efeito que culmina em alunos que terminam o ciclo de alfabetização sem alcançar os
níveis de letramento e o domínio do Sistema de Escrita Alfabética que são esperados, o que
compromete todas as atividades escolares posteriores. Inclusive o trabalho com outras
disciplinas, pois o aluno que sai com deficiências de leitura tem dificuldades para realizar e
compreender diversas atividades.
Para tentar diminuir as disparidades de aprendizado que existem entre os alunos que
alcançam o terceiro ano, as professoras realizam atividades diferenciadas entre grupos de alunos
(estes grupos são geralmente estabelecidos pelos níveis de escrita propostos por FERREIRO e
TEBEROSKY, 1999) e indicam diferentes possibilidades de atividades para realização em casa.
Aqui cabe ressaltar o trabalho de outra professora entrevistada que divide a turma em duplas de
acordo com as competências já desenvolvidas por cada aluno, fazendo interagir alunos silábicos
com pré-silábicos, alfabéticos com silábicos etc. Estas combinações têm dado um bom resultado
para os alunos que iniciam o ano letivo com certo atraso em relação à turma. Destacamos que
essa atitude interacionista é iniciativa da própria professora em sua sala de aula. Essas ações,
de criação da professora em sala, foram constantemente apontadas pelas docentes como de
difícil execução, pois as atividades que o PNAIC sugere que as professoras realizem costumam
tomar conta de boa parte do horário da aula. Especialmente as sequências didáticas que
costumam tomar tanto tempo que impedem que a professora realize em sala outras atividades
que julgue mais adequadas para seus alunos.
Vale ressaltar que as atividades do PNAIC possuem caráter pontual e pedagógica para
o próprio docente, não se configurando como um manual de procedimentos para a sala de aula,
e sim, como um método que é repassado através de debates teóricos e práticas sugeridas durante
as formações. Isto significa dizer que a dificuldade apontada pela docente pode existir durante
a formação do PNAIC na medida em que ações são solicitadas, mas não se caracterizam como
um novo cotidiano escolar.
Na mesma escola encontramos uma outra profissional que traz uma visão bem diferente
da tratada até o parágrafo anterior. Pois, afirmou que atua no primeiro e no terceiro ano do
ensino fundamental e que não trabalha com leitura compartilhada ou individual de textos no
primeiro ano por acreditar que o aluno só está apto a ter contato com um texto após ter sido
plenamente alfabetizado. Com isso, ela se restringe a realizar leitura para seus alunos, que
apenas ouvem o que é contado.
296
Esses textos não são utilizados para as atividades de alfabetização, pois ela acredita que
o aluno ainda não possui acesso aos textos, na medida em que não saber ler. Contudo, esta
docente relata que já encontrou um aluno do primeiro ano realizando uma leitura de
determinado livro de histórias com base nas figuras e em sua própria imaginação, criando sua
própria narrativa. Outra prática desta docente é preencher o diário de classe assinalando
“competência em construção” para todas as competências dos alunos ao longo do primeiro ano,
sem considerar o real processo. O único momento em que o aluno é indicado como “apresenta
dificuldade” é o quarto bimestre do terceiro ano.
Temos então uma curiosa controvérsia entre docentes da mesma instituição educacional
e alunas do mesmo programa de formação, o PNAIC. Enquanto a professora citada no parágrafo
anterior reclama do “efeito bola de neve” que deixa para o terceiro ano a responsabilidade de
alfabetizar por ser o último ano do ciclo, suprindo todas as habilidades que não foram
alcançadas nos dois primeiros anos, a professora que citamos agora afirma que só considera um
aluno com dificuldade de aprendizagem quando este chega ao último momento do último ano
do ciclo de alfabetização. Quando observamos o caderno de formação do PNAIC que trabalha
com avaliação percebemos que há uma lacuna proposital quanto ao trabalho com alunos que
apresentam níveis de desempenho diferentes. Pois, o caderno limita-se a falar da importância
do diagnóstico a ser realizado no início do ano letivo e da necessidade de realizá-lo
continuamente e afirmações gerais sobre a necessidade de planejar ações didáticas para os
alunos que não estão de acordo com os preceitos das atividades de cada ano. Essa abertura, de
falar da necessidade de planejar sem fornecer mecanismos ou exemplos, pode ser um dos
fatores de dificuldade dos docentes em seu trabalho com as competências de cada aluno e seu
desenvolvimento singular.
Isto acontece, sem dúvidas, pela dificuldade do docente de traçar estratégias ou de
consegui realizá-las plenamente frente aos desafios do cotidiano de cada criança. Não cabe ao
Pacto trazer um livro de receitas para todas as situações de sala de aula, este não é, e nem deve
ser, o propósito do PNAIC. Estas dificuldades docentes refletem, isso sim, lacunas na formação
universitária dos cursos de graduação e as dificuldades rotineiramente encontradas em sala de
aula. Ao mesmo tempo, a concepção desta docente a impede de ler para estudantes de primeiro
ano, o que reflete claramente que ainda não houve uma conscientização da proposta do
alfabetizar letrando e suas naturais consequências para todo o processo de ensino e de
aprendizagem do ciclo de alfabetização.
Outro ponto de grande relevância para nossa pesquisa é a estrutura da formação ofertada
pelo PNAIC. São inseridos na formação apenas os docentes que atuam no ciclo de
alfabetização, ou seja, primeiro, segundo e terceiro ano. Os professores de quarto e quinto ano
não recebem informações sobre o método que está sendo utilizado ou quais os objetivos do
Programa, o que dificulta sua atuação, pois recebem em sua sala de aula alunos que estão (ou
estarão) habituados à determinada forma de trabalhar para a qual os professores do quarto e
quino ano não receberam instrução formal. Tão importante quanto, e mais impactante para o
processo educativo, é a não disponibilidade de formações para outros profissionais envolvidos
com a alfabetização no dia a dia escolar. Várias professoras relataram dificuldades em aplicar
o PNAIC em sua totalidade por conta da dificuldade de explicar aos supervisores escolares que
atividades são aquelas, quais seus embasamentos, justificativas e objetivos. Destas divergências
entre docentes, supervisores, coordenação pedagógica e algumas vezes até mesmo a direção
escolar, decorre que a aplicabilidade do PNAIC muitas vezes se reduz a “pinceladas” – como
afirmou uma das professoras – dentro da prática escolar tradicional que é aceita e exigida pela
coordenação escolar em suas diversas instâncias.
Isto não é uma falha do Pacto em si, é na verdade um chamado para a ampliação do
programa, que sente em sua própria construção a necessidade de ampliar-se para outros
profissionais que também trabalham com a sala de aula, afinal, nenhum professor é um
297
profissional isolado em sua sala e está subordinado a toda uma hierarquia própria dos sistemas
de educação.
As práticas de leitura que são abordadas por essas professoras que não recebem apoio
da organização escolar são sempre uma mescla entre a proposta do PNAIC e as práticas
tradicionais que são exigidas pela escola. Então, trabalha-se com texto ora com considerações
sobre o gênero e sua construção social para alcançar significação e trabalhar escrita, ora com
cartilhas que possuem pouco desenvolvimento de considerações sobre gênero e costumam visar
exclusivamente certas características da escrita. Isto ocorre pela já mencionada dificuldade de
diálogo entre docentes e supervisores. Adaptações dos textos literários também ocorrem.
Professoras que possuem mais liberdade de trabalho realizam alterações de palavras nos
textos do PNAIC mantendo o gênero e a forma de trabalhar de acordo com a proposta. Estas
alterações são realizadas para tentar nivelar o texto às aptidões de todos os alunos de uma turma
que apresente variações, além de mudanças linguísticas necessárias à variação local da língua.
Então, as professoras optam por deixar o texto apenas com palavras de sílabas simples e não
realizam as atividades de leitura compartilhada, pois a diferença de nível entre os alunos é fator
de discriminação entre as crianças. Comentários como “Joãozinho é burro” tornam-se
constantes em turmas em que algumas atividades só são alcançadas por alguns alunos, tentando
evitar isso são realizadas simplificações dos textos e redução da atividade de leitura para a
atuação apenas da própria professora. As professoras que realizam este procedimento também
alegam que as atividades do PNAIC não devem ser utilizadas em sala de aula da forma que são
sugeridas pelos formadores. Então, as sequências didáticas são reduzidas ao tempo que parece
mais adequado aos alunos e ao programa curricular da escola.
Conclusões
A partir dos dados obtidos e dos relatos das docentes notamos a importância central das
ações de formação para que as propostas sejam de fato aplicadas. Os profissionais envolvidos
têm necessidade de dominar plenamente as propostas, tanto em seus aspectos práticos como
teóricos, visto que muitas vezes serão eles mesmos os construtores da prática. Então, a formação
continuada é definidora do sucesso do PNAIC e do TRILHAS.
É importante ressaltar a já comentada necessidade da ampliação das ações de formação.
Tanto para alcançar outras instâncias da organização institucional escolar como para alcançar a
diversidade de situações de sala de aula que são tantas quanto as situações sociais de ensino e
aprendizagem. Desta forma, é preciso que a ação de formação se adapte à realidade escolar dos
professores que são seu alvo. A nosso ver, esse pode ter sido um dos problemas enfrentado
pelos professores diretamente envolvidos com o TRILHAS, visto as dificuldades que tiveram
em transformar a proposta de ensino em atividades práticas quando não obtiveram suporte do
material didático elaborado pelo Programa. A presença do material didático também se revelou
como ponto chave para o processo de implantação das práticas de ambos os Programas. Os
professores que dispunham de cadernos de orientação, livros com textos literários e jogos
elaborados pelos Programas tiveram sucesso em suas práticas, o que não ocorreu com os que
não tiveram acesso ao material completo.
O panorama geral das dificuldades relatadas nos revela que há necessidade de contato
entre os professores que utilizam as propostas em seu dia a dia escolar e os pesquisadores que
estão envolvidos nas atividades de elaboração do material didático e na formulação dos
conteúdos que serão passados aos formadores, que por sua vez passarão aos professores que
estão em salas de aula de alfabetização. Este contato seria útil para os dois lados, professores
de alfabetização poderiam expor suas dificuldades e pesquisadores poderiam adequar às
propostas à realidade das salas de aula que influencia, além de coletar dados que sirvam para a
incrementar o arcabouço de propostas do programa, como a relação interacional entre alunos
298
de níveis diferentes de domínio do sistema de escrita que foi composta por uma das professoras
que tivemos contato.
Em síntese, analisar o PNAIC e o TRILHAS é analisar a educação básica brasileira, pois
nos anos iniciais todos os problemas estruturais, de formação docente e sociais são
extremamente evidenciados pelo estudante que em tudo depende dos profissionais e da família
que o cerca. É necessário que ações nesse sentido continuem funcionando para mostrar que a
execução de uma política pública de educação é apenas o início de um processo de reconstrução
de injustiças sociais profundas, sendo o cotidiano do professor apenas um dos lugares afetados
pelo processo de formação histórica de nosso país.
A consequência natural disto é que para observar os impactos de uma política de
formação continuada é preciso antes observar o contexto imediato de inserção das práticas
pedagógicas a que essa política se propõe, para então medir as possibilidades de avanço real
em determinado espaço de tempo e, principalmente, reconhece os impactos sociais dessas
intervenções na vida das comunidades que participam desses projetos. Não foi aqui o nosso
recorte de pesquisa, mas ressaltamos que as ações do PNAIC ao lado do trabalho de prefeituras
e estado fez com que diversos professores se organizem em grupos de estudo, que algumas
dezenas de docentes buscassem inclusão digital, tanta para a formação via Moodle quanto para
a realização das atividades da formação e inúmeras outras ações que fogem do controle do
PNAIC como ação política e entram para a vivencia das pessoas que dele fazem e fizeram parte.
Vale também lembrar que os estudantes da rede pública mudam de escola várias vezes
ao longo do ano. O trabalho começado pelo docente nem sempre é concluído, ou o será de uma
maneira completamente diferente daquela primeira. Cabe então refletirmos sobre o impacto que
ciclos econômicos criam em nossas salas de aula, como isso afeta o desenvolvimento global de
nossas crianças e, por último, o valor imensurável de políticas que busquem das maneiras mais
diversas alcançar este público para lhe garantir o direito constitucional à educação.
Referências
ALBUQUERQUE, Eliana B.C., MORAIS, Artur G.; FERREIRA, Andrea T.B. As práticas
cotidianas de alfabetização: o que fazem as professoras? In: Revista Brasileira de Educação. V.
13, n.38. maio/ago 2008.
ALVES, Maria de Fátima. Leitura, compreensão de textos e formação docente. In: PEREIRA,
Regina Celi Mendes. Práticas de leitura e escrita na escola: construindo textos e reconstruindo
sentidos. João Pessoa: Editora da UFPB, 2011. p. 71-90.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, [1929], 2012.
299
CEZÁRIO, Maria Maura. MARTELOTTA, Mario Eduardo. Aquisição da linguagem. In:
MATELOTTA, Mário Eduardo (org.). Manual de linguística. São Paulo: Contexto, 2012. p.
207-216
FERREIRO, Emília. TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes
Médicas Sul, 1999.
KLEIMAN, Angela B. Letramento e suas implicações para o ensino de língua materna. Santa
Cruz do Sul: Revista SIGNO, p.1-25, 2007.
KOCH, Ingedore. Introdução a Linguística Textual: trajetória e grandes temas. São Paulo:
Martins Fontes, 2004.
TRILHAS. Cadernos de Estudos: trilhas para ler e escrever textos. São Paulo: Ministério da
Educação, 2011.
VIGOTSKI, Lev Semenovich. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
300
AMPLIANDO O OBJETO DE APRENDIZAGEM SOBRE TEORIA X-BARRA
Resumo
Este capítulo tem por objetivo apresentar um Objeto de Aprendizagem (OA) sobre a Teoria X-
barra, que foi desenvolvido com o intuito de complementar e reforçar o conteúdo ministrado
em sala de aula, tanto na modalidade de ensino presencial quanto na modalidade de ensino a
distância (EAD). Para desenvolver o Objeto de Aprendizagem, nos embasamos em Leitão e
Nobrega (2008), Mioto (2007) que afirmam que a Teoria X-barra explica como as palavras se
organizam para formar uma frase, e também tomamos como referência teórica Wiley (2000),
Lefta (2006) que discorrem sobre os objetos de Aprendizagem apresentando os conceitos e sua
importância para o âmbito educacional. Quanto ao aspecto metodológico trazemos as etapas da
pesquisa realizada em cada bimestre. Por fim, apresentamos uma análise descritiva do OA, com
algumas imagens extraídas dele mostrando sua estrutura e dinâmica em formato de Jogo
Educacional, e como o OA pode auxiliar o processo de ensino-aprendizagem.
Apresentação
Este capítulo traz a pesquisa que foi desenvolvida no plano “AMPLIANDO O OBJETO
DE APRENDIZAGEM SOBRE TEORIA X-BARRA”, que faz parte do projeto de Iniciação
Cientifica (IC) intitulado LOAL: LABORATÓRIO DE OBJETOS DE APRENDIZAGEM EM
LINGUÍSTICA. O referido projeto foi concebido e orientado pelo professor Dr. Márcio Martins
Leitão, durante o período de um ano (2013 -2014).
A presente pesquisa está centrada no desenvolvimento de um Objeto de Aprendizagem
(OA), mais especificamente, um jogo educacional sobre a Teoria X-barra. Esse OA tem por
objetivo complementar e reforçar o conteúdo que envolve a Teoria X-barra, na disciplina de
Teorias Linguísticas I, da UFPB, nas modalidades de ensino presencial e de ensino a distância
(EAD), pois os alunos têm dificuldades de assimilar essa teoria.
Partindo da premissa do plano de trabalho percebemos que para desenvolver o Objeto
de Aprendizagem seria necessário realizar uma vasta investigação na literatura e na internet,
com um olhar voltado para os recursos tecnológicos da área de educação. Fizemos uma pesquisa
em sites na internet e verificamos que não existia OA sobre a Teoria X-barra, diante de tal
pesquisa feita se torna evidente que somos os primeiros a criar um OA que engloba a Teoria X-
barra, ao menos na forma de jogo educacional.
Para fundamentar a nossa pesquisa teoricamente, buscamos nos embasar em alguns
teóricos que lidam com a Teoria X-barra. Tomamos por base os estudos de Mioto (2007); Leitão
e Nóbrega (2008) em que eles pontuam que essa teoria explica como as palavras vão se
organizar para formar a sentença/frase, já em relação aos OAs, apoiamo-nos em Wiley (2000);
Lefta (2006) que discorrem sobre os Objetos de Aprendizagem e sua relevância no âmbito
educacional.
1
Título do projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: LOAL: Laboratório de Objetos de Aprendizagem em
Linguística/ Ampliando o Objeto de Aprendizagem sobre Teoria X-barra.
Estudante de Iniciação Científica: Danieli Maria da Silva (e-mail: danielimariasilva.ufpb@gmail.com).
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br email: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br).
Orientador: Márcio Martins Leitão (e-mail: profleitao@gmail.com).
301
Diante do exposto se torna evidente que focalizaremos em nosso Objeto de
Aprendizagem, a Teoria X-barra e, mais adiante, apresentaremos uma análise descritiva e como
essa teoria foi abordada no OA, por meio de imagens que extraímos do objeto. O nosso objeto
de aprendizagem tem um caráter lúdico, motivador e atraente que visa facilitar o processo de
assimilação da Teoria X-barra, desse modo buscamos com o OA envolver o aluno e conduzi-
lo ao aprendizado de forma dinâmica.
No período da vigência do plano (2013-2014) foi dada continuidade a ampliação do
Objeto de Aprendizagem, pela nossa equipe, em que revisamos algumas partes e
desenvolvemos outras ao longo da pesquisa, sendo assim o OA é composto por quatros partes:
o Jogo Educacional; a árvore conceitual; o texto complementar; o exercício complementar.
Fundamentação Teórica
Com o avanço tecnológico ao longo dos anos vêm ocorrendo diversas transformações
no campo educacional, principalmente, na forma de comunicação e de interação envolvendo
professor e aluno no processo de ensino-aprendizagem. Através disso, as Tecnologias da
Informação e comunicação (TICs) estão a cada dia despertando a atenção dos educadores do
Brasil e do mundo (SILVA, 2014).
A partir do desenvolvimento das TICs surgiram inúmeros recursos tecnológicos, como
jogos educativos, animações, simulações, vídeos, gráficos e áudios, que têm um caráter
motivador, atraente e lúdico, que o professor pode utilizar para reforçar e complementar o
conteúdo aplicado nas modalidades de ensino presencial ou a distância (EAD), (BEZERRA,
2014; SILVA,2014).
Ainda no campo das TICs, vamos agora tecer algumas considerações sobre os Objetos
de Aprendizagem que vem sendo amplamente discutido na literatura.
A noção de Objetos de Aprendizagem (OAs) apareceu na década de 90, sendo elaborada
por Wayne Hodgins, que, ao observar seu filho brincando com um bloco de lego, notou que
seria possível construir blocos de ensino e dessa forma articular diversos conteúdos. Por sua
vez, o termo Objeto de Aprendizagem passou a ser utilizado por Wayne Hodgins em 1992,
(ASSIS, 2005, p.24, APUD JACOBSON).
Vale destacar que no decorrer do tempo foram surgindo outras noções de Objetos de
Aprendizagem. Assim é fundamental sabermos que na literatura, não há um consenso entre
elas, Leffa (2006, p. 18) vamos expor algumas delas:
[+N] [-N]
De acordo com Leitão e Nóbrega (2008), o radical /desej/, por exemplo, pode derivar o
nome deseja, o adjetivo desejado, e o verbo desejar. Assim, ao utilizar o verbo “desejar” não
encontramos nenhum traço nominal, porém temos os traços verbais como tempo, modo e
pessoa. Outro exemplo é o termo “desejado” que precisamos levar em consideração o contexto
pelo qual pode ter traços nominais como: O filho foi desejado pelos pais. Ou ter traços verbais
como: Ana tinha desejado o doce, por causa da ambivalência a categoria do adjetivo é fruto da
combinação dos traços ([+V+N]).
303
É importante salientar que dentre todas as outras categorias a única categoria que não
tem traços verbais [-V] e nem traços nominais [-N] é a preposição que pertence a uma classe
fechada, e por sua vez, ela não deriva de nenhuma outra categoria ou radical, (LEITÃO E
NÓBREGA, 2008).
Retomando a discussão sobre as categorias citadas acima pelos referidos autores, elas
são essenciais para compreendermos como a Teoria X-barra lida com os núcleos lexicais. A
Teoria X-barra representa os núcleos lexicais da seguinte forma V (núcleo verbal), N (núcleo
nominal), A (núcleo Adjetival) e P (núcleo preposicional) tais núcleos dão origem aos
sintagmas: sintagma verbal (SV), sintagma nominal (SN), sintagma adjetival (SA), sintagma
preposicional (SP).
Isso é válido para todos os núcleos e sintagmas, como afirmam Leitão e Nóbrega (2008),
veja o exemplo:
SV
Esp. V’
Ana
V Complemento
Comprar a bolsa
Metodologia e análise
2
O Laboratório de Objetos de Aprendizagem em Linguística era constituído pelos professores: Márcio Martins
Leitão, Marianne Cavalcante, Jan Edson Rodrigues Leite.
304
O segundo bimestre de 2013 focalizamos nosso estudo na Teoria X-barra que é utilizada
pela equipe e que fundamenta o Objeto de Aprendizagem, sob a orientação do professor Márcio
Leitão. Pautados na Teoria X-barra começamos a reajustar, revisar e ampliar o Objeto de
Aprendizagem, que mostra por meio de tal teoria como os sintagmas vão se organizar para
formar a sentença.
A Teoria X-barra é um assunto que os alunos da disciplina de Teorias Linguísticas I, da
UFPB têm dificuldade assimilar tanto nas aulas presenciais como nas aulas a distância (EAD).
Sendo assim, o Jogo Educacional sobre a Teoria X- barra poderá ajudar os alunos a entenderem
e a assimilarem de forma dinâmica e interativa o processo de organização das sentenças.
O terceiro bimestre de 2013 prosseguimos com a pesquisa aprimorando o Objeto de
Aprendizagem, que já tem uma parte da estrutura desenvolvida no Adobe Flash®. Vale salientar
que esse programa é bastante utilizado no desenvolvimento de jogos, animações e vários outros
recursos.
O primeiro bimestre de 2014.1 como o Objeto de Aprendizagem estava com a primeira
parte pronta e já almejávamos avançar para segunda parte do Jogo Educacional que será
apresentada futuramente quando for concluída.
Expomos acima a metodologia que traçamos e utilizamos para desenvolver o Objeto de
Aprendizagem (OA). E, a partir desse momento iremos apresentar a análise descritiva3 do
Objeto de Aprendizagem que elaboramos sobre a Teoria X-barra, que é um Jogo Educacional
com o intuito de complementar, reforçar e também facilitar a assimilação dessa teoria para os
alunos do curso de Letras Português da UFPB.
A inicialização do Objeto de Aprendizagem se dá por meio do menu principal, conforme
a figura 1. Tal menu principal será utilizado em todos os objetos elaborados pelo LOAL. Nesse
menu principal a direita tem o desenho de três bonecos em que trazemos os dados da equipe, e
também temos os submenus: o objeto de aprendizagem (jogo educacional), árvore conceitual,
o texto complementar e o exercício complementar. E, assim que o aluno/o usuário passa o
mouse em cada um dos submenus, vai surgir uma explicação sobre eles e ao clicar diretamente
em qualquer um dos submenus, por exemplo, o aluno/o usuário ao clicar na arvore conceitual
tem acesso aos conceitos-chave que vai ajudá-lo a entender a Teoria X-Barra.
3
Foi feita uma análise descritiva, porque não conseguimos testá-lo com os alunos devido a copa do mundo.
305
Figura 5 – Menu principal do Jogo Educativo
Prosseguimos com a apresentação do OA, então quando o aluno clica no submenu Jogo
Educativo aparece o Xomsky (colocamos o nome da animação de “Xomsky” para homenagear
Chomsky criador da Teoria X-barra) que vai situá-lo sobre a Teoria X-barra. Xomsky apresenta
de modo sucinto a Teoria X-barra numa sequência de sete imagens, vale salientar que o
educando pode pular essas explicações e partir direto para o Jogo Educativo, conforme as
figuras 2-8.
306
Figura 7 – Xomsky cumprimenta o aluno e diz o que vai fazer
307
Figura 9 – Ele continua com a explicação
308
Figura 11 – Xomsky fala sobre o módulo X-barra
Depois da apresentação da Teoria X-barra feita por Xomsky, o aluno deve clicar em “ir
para o objeto”, então Xomsky pega o controle e liga o projetor multimídia, e a partir daí é dado
um zoom na tela e aparece à imagem “Jogo Educativo”, ele clica no botão “iniciar” e o jogo
começa, conforme as figuras 9-10.
309
Figura 13 – Xomsky liga o projetor multimídia
Em seguida aparece uma imagem com o botão “iniciar” do lado esquerdo da tela ao
aluno/usuário clicar vai surgir outra imagem e ao lado direito os dois botões o de “ajuda” e o
de “voltar”, veja a figura 11. Já ao clicar no botão “ajuda” o aluno tem acesso a informações
que vão auxiliá-los a manusear o Objeto de Aprendizagem. Já quando ele clicar em “voltar”
retornará para a apresentação dos conceitos básicos da Teoria X-barra.
310
Figura 15 – O usuário clica em iniciar e tem início o jogo
Mais adiante, ao aluno clicar em “iniciar” vai surgir uma imagem (menina ou menino),
e também uma nuvem com palavras dentro que representa o léxico (dicionário mental). Por sua
vez, dentro do léxico estão contidos traços semânticos, fonológicos e formais, que estão
guardados na cognição linguística, essas informações que são usadas pelo indivíduo na geração
de uma sentença, figura 12.
311
Na figura 13 trazemos à estrutura da árvore sintática em que estão os rótulos (SD, SV e
4
SF ). O aluno vai clicar e arrastar cada um dos “itens linguísticos” acima dos rótulos,
colocando-os no seu respectivo local. Ainda ressaltamos que existem três marcadores: o
primeiro marcador que conta o “tempo” que o aluno usou para colocar os itens linguísticos no
seu respectivo lugar, no Jogo Educativo; o segundo marcador conta os “acertos” do aluno; o
terceiro marcador de “erros” conta quantas vezes o aluno errou.
Apresentamos na figura 14, a árvore sintática pronta com todos os itens linguísticos
colocados nos locais corretos, o sintagma determinante (SD) “O cachorro” gerado na posição
SV, núcleo (V) que apresenta o radical “lat” que não exige complementos, posto que o verbo
“latir” é intransitivo e tem sentido completo, em seguida, acontecem dois deslocamentos
automaticamente do radical verbal “lat”, que é movido para receber a flexão “iu”, o núcleo do
sintagma flexional (SF), e do sintagma determinante “O cachorro” foi movido para posição do
spec e recebeu caso nominativo, passando a ocupar a posição de sujeito.
4
Os rótulos citados acima (SD= Sintagma Determinante, SV= Sintagma Verbal e SF= Sintagma Flexional).
312
Figura 18 – Estrutura da árvore sintática pronta
313
Figura 19 – Semente da árvore conceitual
O texto complementar tem o propósito de oferecer mais um suporte para o aluno reforçar
conteúdo que já viu no Objeto de Aprendizagem acerca da Teoria X-barra, e também no final
do texto fizemos a indicação de algumas leituras de outros textos que lidam com essa teoria,
veja a figura 17:
314
Figura 21 – Texto complementar do Objeto de Aprendizagem
Conclusões
Referências
AUSUBEL, D.P. (1968). Educational psychology: a cognitive view. New York, Holt,
Rinehart and Winston.
LEFFA, V. J. Nem tudo que balança cai: Objetos de aprendizagem no ensino de línguas.
Polifonia. Cuiabá, v. 12, n. 2, p. 15-45. 2006 a. Disponível em:
<http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/polifonia/article/view/1069>. Acesso em
04 de abril 2013.
316
MOREIRA, M. A. Mapas conceituais e diagramas V. Instituto de Física - UFRGS. Porto Alegre
- RS, Brasil. Disponível em:
<http://www.if.ufrgs.br/~moreira/Livro_Mapas_conceituais_e_Diagramas_V_COMPLETO>.
Acesso em: 12 de junho de 2014.
317
OFICINAS DE MÚSICA DO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO EM ESCOLAS
PÚBLICAS DE CABEDELO
Resumo
Apresentação
1
Título do projeto/Plano de trabalho: Educação musical e educação integral: a música em propostas de expansão
da jornada escolar/Oficinas de música do Programa Mais Educação em escolas públicas de Cabedelo.
Estudante de iniciação científica: Olga Renalli Nascimento e Barros (olgarenalli@gmail.com).
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br).
Orientador(a): Maura Lúcia Fernandes Penna (maurapenna@gmail.com – telefone: (83) 3226-1473.
318
atividades oferecidas faziam parte do currículo obrigatório, inclusive as atividades musicais,
que estavam a cargo de um professor do quadro da rede, com formação específica (VEBER,
2012, p. 41-42), o que se diferencia das práticas de educação musical desenvolvidas através do
ME.
A respeito especificamente do ME, não conhecemos nenhum estudo sistemático, na área
de música, afora aqueles que o nosso grupo de pesquisa vem desenvolvendo, o que vem reforçar
a pertinência e relevância de nosso projeto de pesquisa. Em levantamento bibliográfico da
produção sobre o tema, encontramos relativamente poucos trabalhos específicos sobre esse
programa, sendo em sua grande maioria da área de educação/pedagogia. A maior parte dos
estudos encontrados baseiam-se ou na análise de documentos do próprio MEC sobre o
programa ou em dados oficiais sobre sua implementação (número de escolas e alunos atendidos,
etc), ou ainda na aplicação de questionários ou entrevistas com participantes do projeto
(gestores, professores comunitários / coordenadores, monitores), de modo que na maioria das
vezes não trazem dados significativos sobre as práticas educativas desenvolvidas, além de que
muitos deles são marcados por imprecisões ou mesmo inconsistências metodológicas.
Evidencia-se, assim, a necessidade de pesquisas mais aprofundadas sobre as práticas de
educação musical desenvolvidas através do ME.
Como coloca Cavaliere (2010) – que apresenta uma interessante discussão sobre os
desafios que o programa traz em termos de gestão e administração, já que tem uma estrutura
descentralizada –, por depender diretamente de agentes locais, a concretização de suas
propostas na realidade específica de cada escola não é padronizável, o que dá ao programa “uma
feição indutora, de difícil avaliação [a] curto prazo”. Tendo em conta a dimensão nacional do
ME e o montante de recursos públicos nele envolvidos, faz-se necessário conhecer e analisar
como ele de fato se realiza nas escolas, como as atividades propostas são desenvolvidas
efetivamente no cotidiano escolar. Desta forma, o conhecimento e análise – através de pesquisas
criteriosamente conduzidas, capazes de acompanhar o processo pedagógico – das práticas
educativas musicais realizadas são indispensáveis para permitir identificar fatores que
influenciam as práticas mais bem-sucedidas ou as mais problemáticas, permitindo levantar
subsídios, inclusive, para possíveis propostas para o aprimoramento do programa.
Sendo assim, estabelecemos nossos objetivos:
Fundamentação teórica
319
No campo da educação/pedagogia, desenvolvem-se intensas discussões a respeito da
ampliação da jornada escolar: ela pode simplesmente ocupar o aluno com diferentes atividades,
mantendo-o sob os cuidados da escola (o que configura uma escola de tempo integral), ou ela
pode permitir repensar o próprio modelo escolar de ensino, buscando seja concepções e práticas
de integração curricular seja uma formação mais global do ser humano e do cidadão.
O importante debate a respeito pode ser exemplificado pelos artigos apresentados na
coletânea organizada por Coelho (2009) e no número especial, dedicado exclusivamente ao
tema, do periódico Em Aberto, publicado pelo INEP, órgão do Ministério de Educação
(MAURÍCIO, 2009). Neles, diversos estudiosos discutem diferentes concepções de educação
(em tempo) integral e analisam diversas experiências já desenvolvidas em nosso país. Como
aponta Gadotti (2009, p. 21), no Brasil, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932,
já propunha a educação integral, entendendo-a como um direito do indivíduo que cabia ao
Estado assegurar. “Hoje, quando se menciona o tema da ‘escola de tempo integral’, ele é
associado, imediatamente, à experiência da ‘Escola-Parque’, de Anísio Teixeira [...] e aos
Centros Integrados de Educação Pública, os Cieps, de Darcy Ribeiro” (GADOTTI, 2009, p. 22-
23).
Assim, a educação integral em nosso país foi concebida tanto como “projeto especial”
– de caráter episódico, sem continuidade e sem alcançar “a totalidade dos sistemas
educacionais” – quanto como “política pública” (GADOTTI, 2009, p. 42). No momento atual,
a proposta da educação integral/em tempo integral procura se consolidar como uma política
pública, respaldada pela LDB, contando com o ME para colaborar na sua implantação. Apesar
de a implementação do programa se basear na realização “de ações socioeducativas no
contraturno escolar”, para a expansão da jornada (cf. BRASIL, 2007), documentos do programa
vinculam-no à perspectiva da educação integral, em função da qual deveriam ser estabelecidas
a organização curricular e a jornada escolar (BRASIL, 2009a).
Têm especial relevância no programa as atividades de cultura e artes, que abrangem
também o campo da música: A jornada escolar diária será ampliada com o desenvolvimento
das atividades de acompanhamento pedagógico, experimentação e investigação científica,
cultura e artes, esporte e lazer, cultura digital, educação econômica, comunicação e uso de
mídias, meio ambiente, direitos humanos, práticas de prevenção aos agravos à saúde, promoção
da saúde e da alimentação saudável, entre outras atividades. (BRASIL, 2010)
As atividades musicais desenvolvidas pelo PME, embora sejam realizadas em escolas
de educação básica, não têm caráter curricular. Por outro lado, não estão a cargo de professores
ou profissionais da educação, mas sim de monitores – tratados como “voluntários” – com
formações as mais variadas (cf. PENNA, 2011). Assim, apesar de se situarem no espaço da
escola – por definição, um contexto de educação formal – essas práticas educativas musicais
apresentam aspectos característicos de educação não formal, decorrentes de sua função social:
combater as “desigualdades nas condições de acesso, permanência e aprendizagem na educação
escolar” (BRASIL, 2010). Sendo assim, para cumprirmos com nossos objetivos, realizamos
observações em sequência das aulas de duas oficinas da rede municipal de ensino de Cabedelo,
entrevistas com os monitores, professores comunitários, diretores e coordenadores gerais do
ME na rede.
Metodologia
3. Pesquisa de campo: - A seleção dos casos a serem estudados teve, como fator decisivo, a
disponibilidade de todos os agentes envolvidos em voluntariamente participar da pesquisa.
No momento de entrada em campo, contatamos incialmente a direção de cada uma das duas
escolas em que coletamos dados, sendo apresentados os objetivos e procedimentos básicos
envolvidos na coleta de dados e solicitando o seu consentimento formal. Em seguida, foram
contatados os professores comunitários, que coordenam as atividades do programa em cada
escola, e os monitores diretamente responsáveis pelas atividades educativo-musicais. Desta
forma, todos os agentes diretamente envolvidos foram esclarecidos sobre os procedimentos
da pesquisa, assinando os termos de consentimento para sua participação.
6. A análise dos dados foi de cunho analítico e interpretativo, pelo caráter qualitativo desta
pesquisa. Comparando e entrecruzando os dados coletados através das diversas técnicas,
buscando compreender a realidade cada caso selecionado. Ao longo da análise, procuramos
relacionar o que encontramos em nossa pesquisa com a teoria e com outros estudos já
realizados, procurando detectar os pontos em que nossos dados reforçam esses estudos ou
deles se diferenciam e, ainda, buscando articular teoria e dados empíricos (GOLDENBERG,
2000, p. 92-93).
Análise
322
3. Planejar e realizar mobilização e divulgação (por meio de reuniões, banners, cartazes e
folhetos) das atividades na escola e na comunidade, mantendo um canal de comunicação
aberto com o público do final de semana e com os potenciais participantes;
4. Promover gestão cotidiana, acompanhamento, avaliação e reordenação das atividades e
oficinas quanto à adequação ao público e à proposta da ação, buscando integrar suas ações
com as da escola e as da comunidade;
5. Registrar e sistematizar as participações e ações dos finais de semana;
6. Identificar e fortalecer a rede de parceiros locais (pais, alunos, equipe escolar, comunidade,
instituições e empresas da região, ONGs, entre outros);
7. Definir metas e resultados a serem alcançados, como indicadores de integração escola-
comunidade, média de público de oficinas e ações, diversificação de participantes (homens
e mulheres, diferentes faixas etárias, com destaque para a juventude, integrantes de outras
comunidades etc.). (BRASIL, 2013, p. 38)
Neste mesmo sentido, Penna (2011, p. 153) aponta que o Mais Educação é uma
estratégia válida, porém provisória, para a implantação da expansão da jornada escolar. O
programa não deveria ser tomado como modelo, pois, segundo a autora, a implantação das
escolas de tempo integral deveria ser feita através da expansão dos quadros das redes de ensino
e não se utilizando de mão de obra voluntária, muitas vezes despreparada e sem
experiência/formação na área em que se propõe a trabalhar.
Orientar os educadores sociais, que antes eram oficineiros, agora têm que ser
chamados de educadores sociais [não achamos menção a isso nos documentos
oficiais]. Fazer o quadro de horários, planejamento, quando a gente acha que é
necessário parar e planejar as oficinas. Aqui tem cinco oficinas: judô, futsal, balé,
orientação de estudo e leitura e canto coral. Então, o coordenador tem que organizar
essas cinco oficinas, para que os alunos não fiquem ociosos entre uma troca de oficina
para outra. Ele passa uma hora em uma oficina, quando passa aquele horário, ele passa
para o outro. Nossa escola aqui é integral, então os alunos ficam, tomam banho e aí
entra na minha parte maior que é o horário de almoço, onde organizo os alunos para
eles se alimentarem, o banho... para que de 13h já comecem as atividades deles. (PC2,
entrevista em 16/07/2014)
Essa foi a primeira vez, em quatro anos de pesquisa no ME, em que encontramos alguma
indicação relativa à Ordem dos Músicos. No entanto, assim como nos documentos oficiais e
nas outras redes de ensino, os monitores são voluntários e recebem ressarcimento de despesas
de transporte e alimentação. Segundo o CG o valor é 80,00 reais por turma, a partir do ano de
2013, como confirmou o Monitor 2 (M2) em entrevista em 23/07/2014. A PC2 nos informou
que os currículos dos monitores são deixados na coordenação geral e são passados para as
escolas. Em seguida, a professora comunitária entra em contato, faz entrevista e pede o projeto.
No entanto, na Escola 2, quando a PC2 chegou, os monitores já atuavam na escola e, como ela
gostou da prática dos mesmos, não houve uma nova seleção (PC2, entrevista em 16/07/2014).
No entanto, há uma pequena distorção em relação ao ressarcimento de despesas e o voluntariado
do monitor, como podemos ver na fala de PC2:
Gostei do trabalho deles, porque eles são empenhados mesmo. Além de ele ser
voluntário, não ter um vínculo empregatício, a bolsa ser pouca, eles têm esse
compromisso de estar aqui na escola, de se envolver com os alunos, de entrar nos
projetos da escola, especificamente o balé, que faz apresentações nos eventos da
escola. M2, mesmo sendo professor de canto coral e trabalhar com percussão, ele
preparou para fazer uma apresentação na festa junina... então, eu não vi o porquê de
trocar. (PC2, entrevista em 16/07/2014)
Essa distorção também foi encontrada na fala do monitor, que nos informou que sua
principal motivação para estar no programa é a remuneração. E em determinado momento da
entrevista ele diz que os monitores não são pagos como deveriam ser (M2, entrevista em
23/07/2014). A seleção dos alunos fica a cargo da escola, há preferência para alunos “com
dificuldade de aprendizagem e de comportamento”. Na Escola 1 “todos que quiserem podem...
se os pais deixarem, mas a maioria fica mesmo, vários anos até” (PC1, entrevista em 11/12/13).
326
Nesta escola, o ME atende quase a totalidade de alunos matriculados na escola (200). Na Escola
2, o ME atende a totalidade de alunos matriculados na escola (114), segundo a Professora
Comunitária 2 (PC2) em entrevista em 16/07/2014. Mas, segundo CG, o número de alunos no
ME por escola é muito variado e não nos foi apresentado nenhum número médio. Assim como
encontramos nos documentos oficiais do programa e em outras redes de ensino, as escolas
podem oferecer cinco ou seis oficinas.
A Escola 2 conta com judô, futsal, balé, orientação de estudo e leitura e canto coral,
totalizando cinco oficinas, oferecidas todos os dias da semana. Segundo a
coordenação geral, as escolas mais antigas oferecem apenas cinco (Escola 2 está no
programa desde 2012), mas as que aderiram mais recentemente oferecem seis.
Segundo CG, no cadastro das oficinas no sistema do MEC, a quantidade mínima é 4
e a máxima é 6 oficinas. Mas, em todas as escolas, o ME funciona os cinco dias da
semana. “A orientação é que seja de segunda a sexta, completando 35 horas semanais
de atividade nas escolas” (CP, entrevista em 14/02/2014).
Porém, a maior dificuldade citada é em relação à estrutura física para realização das
atividades. “Na verdade, com a verba do ME elas [as escolas] não podem construir, podem
apenas adequar espaço. Então, é o que algumas escolas tentam fazer” (CP, entrevista em
14/02/2014). Mesmo com problemas em relação à estrutura, os alunos realizam no mínimo três
refeições na escola, entre lanche e almoço, desde o início da implantação do programa: “porque
o programa prevê, em ligação com Ministério do Desenvolvimento Social, a suplementação de
70% da carga nutricional da criança. Então, 70% da carga nutricional do aluno do ME fica a
cargo da escola” (CG em entrevista em 14/02/2014). Na Escola 2, a dificuldade em relação ao
espaço físico também é apontada, pela PC2:
A infraestrutura da escola não estava preparada para aderir. Então, a gente faz
estratégias para que o aluno não vá para casa. Nós damos preferência aos alunos que
327
moram longe, distante da escola e para os que as mães trabalham o dia todo. Os alunos
que moram perto, praticamente são vizinhos da escola, eles tomam banho, almoçam,
mas voltam para casa, porque você mesmo viu que a escola é pequena, não temos
quadra poliesportiva, não temos uma sala de repouso, uma sala de vídeo. E você viu
que só é uma sala para acolher os alunos. Naquela sala eles vão ter esporte, do totó,
da tv, do repouso, tudo dentro de uma sala. (PC2, entrevista em 16/07/2014)
O Monitor 1 também cita que na escola os alunos estão longes do “perigo das ruas” ou
de ficarem no ócio: “M1: Ah, é um projeto bom. Os meninos têm mais atividades diferentes...
e não ficam o dia todo em casa no facebook. Ou pior: na rua... no mau caminho” (M1, entrevista
em 10/12/13).
328
Para a professora comunitária 2, o programa também se caracteriza mais como uma
proposta de expansão da jornada escolar e com uma visão assistencialista, compartilhada por
D2:
O: Você pode me explicar um pouco sobre a proposta do programa, como você
entende?
PC2: A proposta do ME é ótima. É o ensino integral, para que o aluno, no horário
oposto, ele esteja dentro da escola. Para que ele não vá, como se diz, para a rua, ficar
no outro horário sem fazer nada. (PC2, entrevista em 16/07/2014)
CG: Nós entendemos que é parte importante do conteúdo da matriz curricular. Tanto
com os conteúdos pedagógicos, música é bastante rica, como cultura e como arte. Ela
pode ser trabalhada como aplicação pedagógica, como para o lazer e diversão. CP: E
a gente percebe também que há escolas que valorizam muito o regional, então trabalha
muito com músicas regionais... e utilizando também a questão da
interdisciplinaridade: utilizar música para ensinar também conteúdos que estão no dia
a dia, como história, geografia... entendeu? (CG e CP, entrevista em 14/02/2014).
329
esporte, do ensino complementar e da formação inicial para o trabalho e para a geração de
renda. (BRASIL, 2013, p.33)
CG: Pretendemos que a relação escola e comunidade se torne mais forte, trazendo,
nos finais de semana, os pais para dentro da escola, para também terem cursos
profissionalizantes, tempos de lazer. Até porque, em algumas comunidades, a única
diversão que existe é a escola. Temos comunidade que nem praça tem. Então, a escola,
sendo aberta nos finais de semana, evita uma série de depredações, vandalismo e
fazendo com que aquela comunidade entenda que aquele mecanismo do Estado não é
só do Estado, pode ser um mecanismo da comunidade. CP: Então, no caso das
atividades nos fins de semana, é bastante interessante porque pode ter a mãe da aluna
na escola aprendendo a cortar cabelo, a ser manicure e a aluna também. Então, é mãe
e filha no mesmo ambiente. (CG e CP, entrevista em 14/02/2014).
A coordenadora pedagógica enfatizou que, neste ano, pretendem estar mais juntos
desses educadores sociais. Trazê-los à Secretaria para dialogar e também entender as
necessidades deles.
O: E o que você tem percebido como efeitos dessas aulas? M1: Ah... muitos bons...
melhora de comportamento, estão mais unidos... eles até se apresentaram no sete de
330
setembro... tudo bem simples, básico, mas foi bom para eles... começar a levar a
sério... (M1, entrevista em 10/12/13).
Um dos alunos pergunta: “e aí, professor, vamos ficar repetindo isso sempre?”. M1
respondeu que a célula que estavam tocando já era preparação para muitas músicas
que iam tocar e frisou: “para cada música tem que haver um estudo técnico prévio”
(Diário de observações, Escola 1, 2ª observação (29/10/13).
332
No entanto, não pudemos verificar esta interação no Projeto Político Pedagógico da escola, pois
não tivemos acesso a este documento.
Em se tratando dos efeitos do programa, a PC2 citou melhora do rendimento em outras
disciplinas (por conta da oficina de letramento). Mas, para D2, “a principal delas [mudanças] é
eles quererem ficar na escola, gostam, participam. Quando temos algum evento, eles estão
dentro. Então, eu tenho observado que a mudança foi muito grande para eles” (D2, entrevista
em 16/07/2014). Já M2 foi mais sucinto e citou o fato de as crianças conseguirem fazer as
atividades propostas (M2, entrevista em 23/07/2014), o que já é um ótimo efeito, tendo em vista
outras coletas, onde os alunos não realizavam atividades significativas.
A escola oferece almoço e merenda regularmente, tendo poucos problemas em relação
a isso. A principal dificuldade, como já citamos no item anterior, é a falta de infraestrutura na
escola, como podemos ver na fala da PC2 em resposta à questão sobre educação integral
(também foram citadas a falta de material para as aulas de música e, citada pela diretora, a falta
de água):
A proposta da educação integral é bem válida. Tanto ajuda à família, porque o aluno
vem para escola e tem as refeições, a higiene pessoal. Mas a gente vê que Cabedelo é
uma cidade pequena, o número de habitantes era pouco, quando eles pensavam em
construir uma escola, era de acordo com o número habitantes. Essa escola é dos anos
70. Imagine como desses anos para cá, o número de habitantes vem crescendo, o
número de alunos, a educação evoluindo, o MEC evoluindo, mas a parte física da
escola não, estacionou. (D2, entrevista em 16/07/2014)
Dessa forma, podemos perceber que, mesmo com tantas dificuldades, há empenho dos
agentes que atuam na escola. Talvez porque a rede municipal de Cabedelo seja menor,
percebemos que o programa funciona melhor do que na rede municipal de João Pessoa, por
exemplo. Apesar de ser oficialmente uma oficina de canto coral, o Monitor 2 preferiu trabalhar
com percussão, inclusive o seu projeto e a escolha de instrumentos foram na área percussiva.
No entanto, suas aulas abordavam também outros elementos, além do ritmo, incluindo
o canto. Na 1ª observação (14/05/2014), M2 organizou os alunos em círculo em cima de tatames
(emborrachados), entregou um copo de alumínio a cada um e começou a explicar o primeiro
trecho da atividade dos copos (do grupo Palavra Cantada). M explicou o ritmo passo a passo
(por trechos) e progressivamente. Inicialmente, os alunos acharam muito difícil, mas tentaram
fazer, pois ficavam curiosos e animados quando alguém conseguia fazer algum trecho. Na 2ª
observação (21/05/2014), M2 retomou a brincadeira da aula anterior, passando para o segundo
trecho:
M2 dividiu a turma em trios: primeiro fazia ele e mais duas alunas, em seguida ele e
mais três. Quando alguém conseguia fazer bem, os outros diziam “que massa!”. Então,
M mostrou cantando a música (Boi de mamão – música folclórica). Alguns já sabiam
e cantaram com ele. “Cada um faz o que sabe, se não souber o ritmo, canta a música”.
(Diário de observações, Escola 2, em 21/05/2014)
Os alunos, aparentemente, nunca tinham ouvido falar de cadência e nem foi explicado
posteriormente. M2 explicou o exercício para os alunos e dividiu os alunos em três grupos. O
primeiro fazia a com o som de “tá”, o segundo com “tutututu-ta” e o terceiro com o som de
palmas. Nas pausas M2 sempre falava “um” para facilitar a contagem para os alunos, mas,
assim, não havia silêncio durante as pausas.
Percebíamos, claramente, que os alunos só conseguiam realizar a atividade juntamente
com o monitor e com sua contagem. Ele apontava para cada uma das figuras na hora de serem
tocadas. Dessa forma, aparentemente, os alunos não estavam internalizando a pulsação e o ritmo
nem lendo a partitura, mas se guiando pela imitação de M2. Em determinado momento, os
alunos começaram a bagunçar, então, M2 disse que quando os instrumentos chegassem, os que
não soubessem aquela atividade não poderiam tocar. Um aluno perguntou: “E quando chega”?
M2 respondeu: “Não sei” e continuou a atividade, com os alunos mais quietos. Vale lembrar
que não há perspectiva para a chegada dos instrumentos. M2 explicou que a primeira vez voz
iria ser feita com os bumbos, a segunda com as caixas e a terceira com os surdos e, depois,
pediu para fazerem novamente todas as vozes separadamente.
Na 8ª observação (23/07/2014), antes de M2 chegar, eu conversei com o professor de
música concursado. Ele disse que a realidade na escola é muito difícil. Reclamou da falta de
material (que está preso por conta da prestação de contas da outra gestora), disse que os alunos
dão muito trabalho, principalmente os da faixa etária que observo. Com ele, atividades simples
duram várias aulas, além de ele ter que interromper a aula diversas vezes por conta do
comportamento dos alunos.
Durante a aula, M2 pediu para que os alunos ficassem de pé para mais um exercício
rítmico no quadro. Um aluno começou a bater o ritmo de “we will rock you” do “Queens”. M2
prosseguiu explicando a atividade, de certa forma ignorando a música que o aluno estava
trazendo para aula, e continuou a explicar o exercício: “na primeira voz o som vai ser com o pé
e a pausa com ‘um’, na segunda voz o som vai ser com palmas e as pausas com “um” também”.
334
M2 fez uma primeira vez, em seguida pediu para que os alunos fizessem a primeira voz com
ele. Em seguida, todos fizeram a segunda linha (acompanhando o monitor, que também estava
fazendo). Depois, M2 dividiu em grupos: um grupo faz a primeira linha e o outro faz a segunda.
Quando juntou as duas vozes, o som ficou bastante desencontrado. Só funcionou quando o
monitor fez junto.
Após tocar e cantar a música (Borboletinha) ao mesmo tempo, o exercício saiu mais
sincronizado. Em seguida, percebemos que os alunos já tinham internalizado o ritmo e não
estavam mais presos ao quadro e o exercício saiu bem melhor. Percebemos que, mesmo com
muitas dificuldades, o M2 consegue realizar as atividades propostas. Apesar de não incorporar
músicas trazidas ou sugeridas pelos alunos, ele utiliza músicas normalmente conhecidas por
todos e os alunos se sentem construindo algo.
O monitor 2 teve sua formação musical em bandas de Cabedelo, trabalhou como
professor no projeto de bandas da prefeitura municipal de João Pessoa, em 2009. Tocou em
diversas bandas baile e na noite. Trabalha no ME há três anos, com oficinas de banda, canto
coral e percussão. Entrou na licenciatura em música em 2010. Mas não se formou ainda, por
motivos pessoais, por “ter que trabalhar, ter que se virar”. Percebemos, então, que o monitor
tem uma formação interessante e colocações pertinentes. Com seu empenho, consegue realizar
atividades em meio a muitas adversidades, podendo sua prática ser considerada significativa
para os alunos.
Conclusões
O Programa Mais Educação é uma iniciativa que ainda está se consolidando, com
muitos problemas a serem resolvidos. Acreditamos que as escolas precisam de mais recursos
para oferecer instalações adequadas para os alunos e os agentes envolvidos precisariam de mais
orientação e capacitação, para serem capazes de implantar o programa de modo mais produtivo.
Em contrapartida, também percebemos que o Manual que orienta as atividades do programa
vem evoluindo, no sentido de se aproximar da realidade, de se adequar ao contexto em que é
implantado.
Percebemos uma grande diferença operacional entre as redes estadual e municipal de
João Pessoa e a rede municipal de Cabedelo. Talvez por ser uma cidade menor, com apenas
dezessete escolas inscritas no programa, o ME, em Cabedelo, parece mais organizado e
funcional. As dificuldades encontradas nas práticas educativas dos monitores das outras escolas
pesquisadas, que podem estar relacionadas à falta de preparo pedagógico, não foram evidentes
no caso da Escola 1, pois, M1, apesar da pouca experiência como professor e não ter tido
nenhuma formação pedagógica formal, através de seu empenho, vem produzindo um trabalho
satisfatório com os alunos, que, inclusive, já se apresentaram no desfile de sete de setembro.
Na Escola 2, M2 é bastante empenhado e realiza uma prática consistente e diversificada, apesar
das inúmeras dificuldades. Ele tem experiência no ME, está na metade do curso de licenciatura
em música e afirma colocar em prática diversos ensinamentos e atividades advindos das
335
disciplinas do curso. No entanto, M2 afirma que o que aprende no curso não é suficiente para
garantir uma boa prática, pois o curso precisa se aproximar mais da realidade.
Não pudemos observar diálogo com a cultura da comunidade e dos alunos, como
indicado em diversos documentos do ME e mencionado no discurso dos coordenadores gerais
apenas. Inclusive não houve menção, por parte dos agentes das Escolas 1 e 2, às atividades do
ME no final de semana. Em nenhuma das observações de aulas das oficinas foi observado um
trabalho com músicas sugeridas pelos alunos, de modo a abarcar na atividade a cultura dos
alunos, o que poderia contribuir para o desenvolvimento da turma. M1 trabalhou concentrado
na tradição de bandas, com marchas e cadências. No entanto, M2, apesar de não usar músicas
sugeridas pelos alunos, trabalha músicas de tradição oral muito conhecidas, o que facilitou as
atividades para os alunos.
Entendemos que, nesta prática, faltam também maior planejamento e
comprometimento, por parte da direção e coordenação do programa nas Escolas 1e 2, e na
medida em que, com uma visão assistencialista do programa negligenciam o real sentido do
ME. Desta forma, nestas escolas/oficinas, o ME se concretiza como uma tentativa de fazer uma
escola de tempo integral, deixando de lado a formação educacional global.
Tendo em vista que o programa visa à implantação das escolas de tempo integral,
acreditamos que esse processo deveria ser feito através da expansão dos quadros das redes de
ensino e não utilizando mão de obra voluntária, muitas vezes, despreparada e sem experiência
ou formação na área em que se propõe a trabalhar (PENNA, 2011, p. 153). Neste sentido, para
amenizar as dificuldades pedagógicas encontradas, seria importante se o ME pudesse
proporcionar encontros formativos e formação continuada aos monitores, como foi citado pela
coordenadora pedagógica geral como sendo o objetivo para esse novo ano letivo.
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YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3. ed. São Paulo: Bookman, 2005.
338
AS CARTAS NO ANATÔMICO JOCOSO, DE FREI LUCAS DE SANTA CATARINA
Resumo
Palavras-chave: Frei Lucas de Santa Catarina. Folhetos jocosos. Século XVIII. Escrita
epistolográfica. Gêneros poéticos.
Apresentação
O gênero epistolar tem sua importância pouco considerada por muitos historiadores que
tendem a ler e investigar os impressos literários do passado sem considerar suas apropriações e
circulação, o momento histórico de sua publicação e os procedimentos de escrita próprios de
cada gênero (PÉCORA, 2001; MCKENZIE, 1999). As cartas também são raramente estudadas
como forma de comunicação ligada ao espaço público, sendo mais facilmente analisadas pelo
viés privado, particular. Torna-se de suma importância uma pesquisa que situe esta modalidade
discursiva no contexto em que elas constituíam um modo comunicativo vinculado a um suporte
popular de circulação: o jornal. Os periódicos são verdadeiros arquivos vivos para o
pesquisador, devendo ser vistos como fonte primária essencial para a história da literatura,
principalmente por serem responsáveis pela disseminação de diversos gêneros (BARBOSA,
2007).
Este estudo constituiu uma revisita à época em que as missivas eram publicadas pela
imprensa, não só servindo como exemplo estrutural para a redação do gênero, mas também de
entretenimento, tratando de assuntos comuns à sociedade de forma satírica, jogando com seu
estilo e conteúdo.
O corpus aqui estudado é constituído por oitenta e três cartas publicadas na coletânea
intitulada Anatômico jocoso, atribuída a Frei Lucas de Santa Catarina. Frade dominicano e
membro da Academia Real da História Portuguesa, o religioso foi autor tanto de obras de caráter
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Ler e escrever nos folhetos periódicos lusos dos séculos XVIII
e XIX.
Estudante de Iniciação Científica: Valnikson Viana de Oliveira (e-mail: valnikson18@hotmail.com; telefone: 83
99637-3480).
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br; e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br).
Orientador(a): Socorro de Fátima Pacífico Barbosa (e-mail: socorrofpbarbosa@hotmail.com; telefone: 83 99311-
3202).
339
sacro e histórico, como de impressos profanos, como os da compilação supracitada. O acesso a
esse material se deu através do acervo digital da Biblioteca Nacional de Portugal, que
disponibiliza a leitores e pesquisadores diversos periódicos antigos em versão digitalizada.
Segundo Rodrigues (1983, p. 95), os folhetos do Anatômico jocoso foram recolhidos e
publicados em Lisboa entre 1775 e 1778, numa coletânea de edição completamente licenciada
pela censura. A compilação apresenta três tomos, com o primeiro constando de obras diversas,
o segundo, apenas de cartas (que compõem o recorte desta pesquisa) e o terceiro, de peças
teatrais. Esse compêndio de escritos alheios, em sua maioria anônimos, usa uma assinatura
pseudónima: Padre Fr. Francisco de Abreu Matta Zeferino. Esta prática de ocultação do nome
é frequente na obra de Frei Lucas, sobretudo nos seus impressos mais ousados para a época
(RODRIGUES, 1983). Tal ação se deve, muito provavelmente, ao fato de esta veia satírica
bater de frente com a sua posição de cardeal da Igreja.
O ato de escrever cartas é um costume antigo, assim como a sua compilação e a atração
que exerce sobre os leitores. Vemos que o termo “anatômico”, derivado de “anatomia”, o ramo
da biologia que estuda a estrutura e a forma dos elementos constituintes do corpo humano,
resume bem a premissa do periódico aqui estudado. Unido ao vocábulo “jocoso”, a palavra traz
à tona uma verdadeira dissecação, quiçá uma autópsia, da sociedade portuguesa do seu tempo
através de escritos de natureza variada, mas sempre ligados pela sátira mordaz aos costumes e
atitudes dos tipos estereotipados (RODRIGUES, 1983). Esta pesquisa, nesse sentido, visa
contribuir para uma revisão da história da literatura portuguesa a partir das cartas de caráter
satírico publicadas na imprensa periódica do século XVIII.
Fundamentação teórica
Foram utilizados como aporte teórico os textos de Barbosa (2007; 2011) e Lausberg
(1967), para o entendimento da literatura vinculada aos periódicos setecentistas portugueses,
assim como o uso da retórica em sua redação; o guia de Freire (1823), no tocante ao estudo do
processo de construção das cartas; os excertos teóricos de Moisés (1974) e Goldstein (2006),
em relação à análise dos gêneros poéticos apresentados no corpus; além das observações de
Costa (2007) e Rodrigues (1983), no que diz respeito à história do periódico fonte.
Antes de iniciar a leitura e análise das cartas nos folhetos, fez-se necessário um exercício
de reconstituição histórica ligado à definição do termo “literário” no passado, sendo de
fundamental importância ao pesquisador para evitar interpretações anacrônicas (PÉCORA,
2001). Barbosa (2007) mostra que o conceito de literatura associado aos jornais oitocentistas
diverge do disseminado atualmente:
A rigor, até o fim do século XIX o que parece ser Literatura são textos que mantêm a
perspectiva horaciana de instruir e deleitar. Nesta concepção, o termo englobava a
eloquência, a poesia, a história, a crítica e também as ciências. Isso talvez justifique o
fato de que na coluna Literatura de muitos jornais, principalmente até a década de 70,
raramente encontrar-se um poema ou algum gênero que hoje tomamos como tal.
(BARBOSA, 2007, p. 30).
Metodologia e análise
Para o cumprimento das atividades sugeridas pelo plano de trabalho, foram feitas
reuniões que aconteciam quinzenalmente com todos os participantes do projeto e com a
professora orientadora. Realizou-se, nos encontros, uma série de discussões acerca dos textos e
do corpus específicos da pesquisa. Também se fizeram fichamentos de textos teóricos e
algumas apresentações em forma de seminário objetivando maior auxilio na compreensão da
participação dos periódicos jocosos no contexto da sociedade portuguesa, além dos usos e
apropriações do estilo satírico pela imprensa do século XVIII.
O plano individual designado foi executado concomitantemente às discussões sobre os
textos teóricos através da leitura integral do corpus e de sua transcrição. Logo depois, foi feita
sua catalogação em tabela (Tabela 1), ressaltando alguns aspectos relevantes ao gênero
epistolar, ficando assim especificada: numeração segundo o INDEX do Tomo II, título da carta,
paginação, tipologia segundo Freire (1823), temática, presença de assinatura ou referência ao
autor/remetente e referência ao destinatário.
Título da Autor/
INDEX Páginas Tipologia Tema Destinatário
Carta Remetente
Extracto
Feira da
verdadeiro Gênero Amigo não
Ladra, Desconheci
Carta I da famosa pp. 9-48 demonstrativ nomeado do
instaurada do.
Feira da o: discursivo autor.
numa praça.
Ladra.
341
Gênero Resposta
Que o autor
pp. 49- deliberativo: advertindo Desconheci Fr. Antonio
Carta II mandou a
57 exortação e sobre o do. Bisborria.
hum amigo.
conselho amor.
Do Author
a ʃua
mulher Saudade da
Gênero Prognóstica,
Pronoʃtica, pp. 57- mulher que Desconheci
Carta III demonstrativ mulher do
em que lhe 61 está em um do.
o: discursivo autor.
conta a convento.
ʃaudade
jocoʃa.
A hum
Gênero
amigo, que Agradecime
demonstrativ
lhe mandou pp. 62- nto por uma Desconheci Um padre não
Carta IV o:
hũa 65 condessa de do. nomeado.
agradeciment
condeʃʃa de ovos.
o
ovos.
Que hum
amigo
eʃcreveo a
outro,
dando-lhe
conta das
maravilhoʃ
as cauʃas, e
razoens
extraordiná Genealogia
Gênero Amigo não
rias, que pp. 66- da Senhora Desconheci
Carta V demonstrativ nomeado do
precederaõ 88 Maria da do.
o: discursivo autor.
para Gloria.
chegar a
ʃeu poder a
mais alta, e
muy
endeoʃada
Genealogia
da Senhora
Maria da
Gloria.
Em que o
Nove
Author dá
Gênero conclusões
conta do pp. 89- Desconheci Não
Carta VI demonstrativ que o amor
dia das ʃuas 101 do. especificado.
o: discursivo trouxe ao
Concluzoen
autor.
s.
Do Author,
dando
deʃenganos Gênero
Amigo não
a hum pp. 101- deliberativo: Amor Desconheci
Carta VII nomeado do
freiratico, e 105 exortação e freirático. do.
autor.
explicando conselho
que couʃa
he amor.
342
A huma
dama, que
ʃe moʃtrava
muito Gênero Atitudes
pp. 105- Desconheci Uma Dama
Carta VIII deʃdenhoza, judicial: tomadas por
113 do. não nomeada.
ʃó a fim de queixa uma Dama.
ʃer pelo ʃeu
amante
deixada.
Em que o
Author dá
noticia a
hum amigo
da Novella
diʃparatori Novela
Gênero Amigo não
a por elle pp. 113- escrita pelo Desconheci
Carta IX demonstrativ nomeado do
compoʃta a 133 autor por do.
o: discursivo autor.
rogo de encomenda.
hum
Cavalheiro,
que pedio
lha
compuzeʃʃe.
Em que o
Parada/proc
Author dá
issão
conta do Gênero
pp. 134- ilusória em Desconheci Não
Carta X sonho, e demonstrativ
146 homenagem do. especificado.
triunfo de o: discursivo
ao triunfo
Amor
do Amor.
reʃuʃcitado.
Que
eʃcreveo o
Author a
Gênero misto
certa peʃʃoa
(Gênero
para o Despedida
demonstrativ
deʃpedirem pp. 147- de um Desconheci Vizinho do
Carta XI o: discursivo
de huma 149 hóspede do. autor.
e Gênero
caʃa, onde indesejado.
judicial:
eʃtava por
queixa)
hoʃpede
havia muito
tempo.
Em reʃpoʃta
Algum nobre
de outra Gênero Notícias da
pp. 150- Desconheci não nomeado
Carta XII vinda do demonstrativ corte
158 do. residente no
Braʃil a eʃta o: discursivo portuguesa.
Brasil
Corte.
Que o
Author
mandou a Gênero
pp. 159- Genealogia Desconheci Não
Carta XIII outro, demonstrativ
162 dos Fialhos. do. especificado
dando-lhe o: discursivo
noticia da
geração
343
dos Fialhos
tirada da
Torre do
Tombo.
Notícias da
corte
De hum
portuguesa;
amigo a
Gênero Um Amigo não
outro, pp. 162- Desconheci
Carta XIV demonstrativ testamento nomeado do
dando-lhe 169 do.
o: discursivo imaginário autor.
novas da
do Cupido;
corte.
Amor
freirático.
Que o
Author
eʃcreveo a Gênero Nascimento Um Frade Irmão não
pp. 169-
Carta XV irmaõ, e demonstrativ da sobrinha poeta não nomeado do
171
pai, e o: parabéns do autor. nomeado. autor
deʃenganad
o.
Gênero misto
Que o
(Gênero
Author Notícias da Irmão não
judicial:
eʃcreveo a pp. 171- corte e da Desconheci nomeado do
Carta XVI queixa e
ʃeu irmão 179 vida do do. autor que está
Gênero
eʃtando no autor. viajando.
demonstrativ
Ultramar.
o: discursivo)
Gênero misto
(Gênero
Atitudes
judicial:
reprováveis Amigo não
A hum pp. 179- queixa e Desconheci
Carta XVII tomadas nomeado do
amigo. 181 Gênero do.
pelo amigo autor.
deliberativo:
do autor.
exortação e
conselho)
Que hum
amigo
mandou a
outro, que
ʃe achava
em Evora,
em que lhe Gênero misto
dá conta da (Gênero O tempo Amigo não
chuva de judicial: chuvoso de nomeado do
Carta pp. 181- Desconheci
Lisbõa em queixa e Lisboa e o autor que se
XVIII 190 do.
tempo dos Gênero descaso da encontra em
Reaes demonstrativ monarquia Évora.
Deʃpoʃorios o: discursivo)
dos
Sereniʃʃimo
s Principes
de
Portugal, e
Caʃtella.
344
Um Deão
(decano),
Agradecen Gênero O homem responsável
pp. 191- Desconheci
Carta XIX do um demonstrativ golozo ou máximo de
194 do.
marraõ o: discursivo marrão. um órgão
colegial da
Igreja.
Em que o
Author ʃe
deʃculpa
com certos Género
Freiras de
Religioʃas pp. 194- judicial: Amor Desconheci
Carta XX nomes
de ter 202 desculpa e freirático. do.
ocultados.
faltado, e justificação
accuʃa o
que teraõ
delle dito.
De piques,
com rebuço
de peʃames,
Género
por certa pp. 203- Amor Desconheci Não
Carta XXI deliberativo:
mudança, 211 freirático. do. especificado.
consolação
com
reʃpoʃta
ella.
Um
Algum
Gênero empregado
*Carta não RESPOSTA pp. 206- Amor cardeal da
demonstrativ não
indicada I : 211 freirático. Igreja não
o: discursivo especificad
nomeado.
o.
Gênero
De peʃames Amigo não
pp. 211- deliberativo: Amor Desconheci
Carta XXII á meʃma nomeado do
214 consolação e freirático. do.
peʃʃoa. autor.
pêsames
Reʃpoʃta a
huma
Carta, em
que lhe Gênero
Carta pp. 215- Amor Desconheci Não
davaõ demonstrativ
XXIII 217 freirático. do. especificado.
peʃames do o: discursivo
que ʃempre
acaba em
mudanças.
De hum Gênero misto
amigo para (Gênero
Amigo não
outro, ʃobre demonstrativ Ingresso do
nomeado do
Carta jocoʃa, pp. 218- o: discursivo amigo do Desconheci
autor que
XXIV ʃalgada, 221 e Gênero autor no do.
ingressou no
porque deliberativo: seminário.
seminário.
tambem he exortação e
picante. conselho)
Em que ʃe Gênero Caso vivido Amigo não
pp. 221- Desconheci
Carta XXV dá conta de demonstrativ pelo autor, nomeado do
231 do.
huma ʃege, o: discursivo que guiava autor.
345
em que o uma sege
Author em meio a
correo ʃeu uma
naufragio. tempestade.
Advertência
sobre um
A hum Senhor
Gênero moço
Carta amigo ʃobre pp. 231- Desconheci Capitão
demonstrativ vaidoso que
XXVI hum 235 do. Manoel
o: discursivo se casou
caʃamento. Ayque.
recentement
e.
A hum
amigo
Ascenção
ʃendo Um cardeal
Gênero de cargo do
Carta Guardiaõ pp. 236- da Igreja
demonstrativ amigo Frei Simão.
XXVII de Santa 240 não
o: parabéns cardeal do
Catharina nomeado.
autor.
de
Ribamar.
A hum
Comentário
amigo, que Gênero
s acerca de Amigo não
Carta lhe naõ pp. 241- demonstrativ Desconheci
notícias nomeado do
XXVIII reʃtituio 251 o: discursivo do.
vindas da autor.
hum e aviso
Corte.
candieiro.
A hum Gênero
Agradecime
amigo, que demonstrativ Amigo não
Carta nto por um Desconheci
lhe mandou p. 252 o: nomeado do
XXIX frasco de do.
hum fraʃco agradeciment autor.
vinho.
de vinho. o
A hum
Melhora do
amigo, Amigo não
Gênero estado de
dando-lhe o Desconheci nomeado do
Carta XXX p. 253 demonstrativ saúde do
parabem de do. autor, cardeal
o: parabéns amigo do
ʃua da Igreja.
autor.
melhorîa.
Recebiment
A hum
o de
amigo, que Gênero
Carta borragens Desconheci Não
lhe mandou p. 254 judicial:
XXXI que não do. especificado.
humas queixa
agradam o
borragens.
autor
Preʃente a Espécie de
huma procissão
enferma carregada
Gênero
Carta com ʃeu pp. 255- de Desconheci Não
demonstrativ
XXXII brinco de 257 oferendas do. especificado.
o: discursivo
ʃangria enviada a
conforme o um
Alcoraõ. convento.
Carta Gula das Freiras não
Gênero Cardeais da
Carta mandadeir pp. 258- freiras de nomeadas de
demonstrativ Igreja não
XXXIII a, que ʃe 268 certo determinado
o: discursivo nomeados.
mandou por convento. convento.
346
entrudo a e
certo oferecimento
Convento
em nomes
dos Noviços
de outro.
Epiʃtola
declaratori
a,
Executoria,
Petitoria,
Alguma
Marmelato
Gênero Gula e Cardeais da senhora não
Carta ria á pp. 269-
judicial: avareza de Igreja não nomeada e
XXXIV Senhora D. 280
queixa uma freira. nomeados. muito
Fulana
religiosa.
Defraudant
e, por Fr.
Droguete
defraudado
.
Gênero misto
O
A hum (Gênero
comportam
amigo que deliberativo: Amigo não
Carta pp. 280- ento das Desconheci
lhe pedio recomendaçã nomeado do
XXXV 282 freiras no do.
lhe fizeʃʃe o e Gênero autor.
contato com
huns verʃos. demonstrativ
a poesia.
o: discursivo)
A hum
amigo, que
lhe pedio
huns verʃos
Versos Cardeal da
para huma
Gênero escritos Igreja não
Carta Senhora, pp. 282- Desconheci
demonstrativ pelo autor nomeado,
XXXVI que lhe 283 do.
o: discursivo por amigo do
morreo ʃeu
encomenda. autor.
pay, Fulano
Sinoni,
Enviado do
Imperio.
A hum
amigo, que
lhe pedio
pp. 284- Gênero O processo Amigo não
Carta huns verʃos Desconheci
286 demonstrativ criativo do nomeado do
XXXVII para os do.
o: discursivo autor. autor.
annos de
huma
Senhora.
Laranjas e
Gênero
A hum alfaces
demonstrativ
amigo, que dadas ao Amigo não
Carta pp. 286- o: discursivo Desconheci
lhe mandou autor, que nomeado do
XXXVIII 288 e do.
laranjas, e as retribui autor.
agradeciment
alfaces. com
o
notícias.
347
Relacionam
ento
De deʃpique
amoroso
do amante
Gênero secreto do Denominad
Carta Lauʃo Tolo, pp. 289- Não
demonstrativ autor com a o Lauso
XXXIX chamando- 321 especificado.
o: discursivo Dama Tolo.
lhe a ʃua
Amarilis,
Dama Tolo.
que o
desprezou.
A hum
Os
amigo, que
Gênero benefícios
lhe mandou
demonstrativ que o autor
hum Amigo não
pp. 322- o: discursivo vê em se Desconheci
Carta XL prezunto, nomeado do
326 e trocar a do.
tendo-lhe autor.
agradeciment lampreia
promettido
o pelo
huma
presunto.
lamprêa.
A hum
amigo, que Um botelha
Gênero Amigo não
lhe mandou pp. 326- de vinho Desconheci
Carta XLI demonstrativ nomeado do
huma 329 dada ao do.
o: discursivo autor.
botelha de autor.
vinho.
A hum Gênero
amigo, que demonstrativ Um vaso de
Amigo não
lhe mandou pp. 329- o: discursivo couro com Desconheci
Carta XLII nomeado do
huma 330 e vinho dado do.
autor.
borracha agradeciment ao autor.
de vinho. o
Gênero
A hum demonstrativ Muitas
Amigo não
Carta amigo, que pp. 331- o: discursivo hortaliças Desconheci
nomeado do
XLIII lhe mandou 332 e dadas ao do.
autor.
hortaliça. agradeciment autor.
o
A hum Desgosto do
amigo, que autor em
Gênero Amigo não
Carta lhe mandou pp. 332- receber Desconheci
demonstrativ nomeado do
XLIV alecrim, 333 alecrim, do.
o: discursivo autor.
ʃalva, e salvas e
flores. flores.
A hum
amigo, que Falta de
pela notícias do
Gênero Amigo não
Quareʃma pp. 333- amigo do Desconheci
Carta XLV judicial: nomeado do
lhe naõ 334 autor do.
queixa autor.
mandou durante a
couʃa Quaresma.
algũa.
Notícias do
A certo Gênero Certo
Carta pp. 335- subúrbio e Desconheci
Enviado em demonstrativ mensageiro
XLVI 350 da Corte do.
Inglaterra. o: discursivo não nomeado,
portuguesa.
348
amigo do
autor.
Notícia
sobre a Certo
Ao meʃmo Gênero Quaresma e mensageiro
Carta pp. 351- Desconheci
Senhor demonstrativ o papel não nomeado,
XXXXVII 354 do.
Enviado. o: discursivo usado nas amigo do
cartas do autor.
mensageiro.
Certo
Notícias a
Ao meʃmo Gênero mensageiro
Carta pp. 355- serem Desconheci
Senhor demonstrativ não nomeado,
XXXXVIII 358 levadas pelo do.
Enviado. o: discursivo amigo do
mensageiro.
autor.
Crítica feita
ao uso da
Ao meʃmo Gênero Amigo não
*Carta não pp. 359- ortografia e Desconheci
Senhor demonstrativ nomeado do
indicada II 362 sintaxe pelo do.
Enviado. o: discursivo autor.
autor e à sua
caligrafia.
Do Padre
Frei
Fulano, em
reʃpoʃta a
outra carta,
Um cardeal
com hum Gênero Um livro
Carta pp. 363- da Igreja Padre Frei
livro de demonstrativ recebido
XXXXIX 364 não Fuão.
certas o: discursivo pelo autor.
nomeado.
diʃputas,
que lhe
mandou o
Padre Frei
Fuaõ.
Género
Livro Amigo não
Eʃcrita a pp. 365- judicial: Desconheci
Carta L censurado nomeado do
hum amigo. 368 desculpa e do.
do autor. autor.
justificação
Censura à
possível
deturpação Alguma
Gênero misto
do sistema autoridade da
(Gênero
A hum religioso e Corte
judicial:
amigo pp. 369- político de Desconheci portuguesa
Carta LI queixa e
dando-lhe 374 Portugal por do. ligada ao
Gênero
eʃta noticia. um sistema de
demonstrativ
estudante censura, não
o: discursivo)
que faz uso nomeada.
de livros
proibidos.
Como ʃe A resposta à
deve Gênero carta que Amigo não
pp. 375- Desconheci
Carta LII remediar a demonstrativ um Ministro nomeado do
377 do.
neceʃʃidade o: discursivo enviou para autor.
, ʃem que o autor.
349
eʃta ʃe
deʃcubra.
Um
Ministro,
com receio
Sobre o Gênero de falar em Amigo não
pp. 378- Desconheci
Carta LIII meʃmo demonstrativ público, nomeado do
380 do.
aʃʃumpto. o: discursivo pede que autor.
um
religioso o
faça.
A hum
amigo,
ʃobre hum Determinad
Sermaõ Gênero o sermão Amigo não
pp. 380- Desconheci
Carta LIV pregado em demonstrativ feito em dia nomeado do
383 do.
dia de S. o: discursivo de São autor.
Vicente na Vicente.
Sé de
Lisboã.
Em que ʃe Gênero
Empadas de
agradecem demonstrativ Amigo não
p. 384- Rolas dadas Desconheci
Carta LV humas o: nomeado do
385 de presente do.
empadas de agradeciment autor.
ao autor.
rolas. o
Gênero Empadas de
Agradecen
demonstrativ Lampreia Amigo não
do humas pp. 385- Desconheci
Carta LVI o: dadas de nomeado do
empadas de 387 do.
agradeciment presente ao autor.
Lamprêa.
o autor.
O autor
pede o
De hũ
Gênero cargo de
amigo
demonstrativ Meirinho na
doente, que Amigo não
p. 387- o: discursivo Comarca de Desconheci
Carta LVII depois de nomeado do
388 e Santarem, do.
ter pedido autor.
agradeciment para
fructa, pede
o Francisco
huma vara.
Jozé de S.
Payo
Deʃcrevend Uma festa
o huma com fogos
Gênero
Carta funçaõ pp. 388- de artifício Desconheci Não
demonstrativ
LVIII feʃtiva no 398 no do. especificado.
o: discursivo
Convento Convento
de Chelas. de Chelas.
Em reʃpoʃta
a outra de
hum amigo, Gênero Estudos e
Amigo não
que ʃe pp. 398- deliberativo: erudição do Desconheci
Carta LIX nomeado do
confeʃʃava 404 exortação e amigo do do.
autor.
a menos conselho autor.
ʃabio, por
lhe faltar o
350
exercicio de
eʃtudo.
A hum Laranjas
amigo, que dadas de
Gênero Amigo não
lhe mandou p. 405- presente ao Desconheci
Carta LX demonstrativ nomeado do
laranjas, 406 autor em do.
o: discursivo autor.
pedindo-lhe troca de
equívocos. equívocos.
Gênero
A hum demonstrativ Laranjas
Amigo não
amigo, que p. 406- o: discursivo dadas de Desconheci
Carta LXI nomeado do
lhe mandou 407 e presente ao do.
autor.
laranjas. agradeciment autor.
o
Gênero
A hum
demonstrativ Figos dados Amigo não
amigo, que pp. 407- Desconheci
Carta LXII o: de presente nomeado do
lhe mandou 408 do.
agradeciment ao autor. autor.
figos.
o
A hum
amigo, que
Gênero Uma Loa Amigo não
Carta lhe pedia Desconheci
p. 409 demonstrativ encomenda nomeado do
LXIII huma Loa do.
o: discursivo da ao autor. autor.
para huma
Comedia.
Comportam
ento
De
interesseiro
equivocos a Gênero
Carta pp. 410- de uma Desconheci Uma Dama
huma demonstrativ
LXIV 412 Dama e do. não nomeada.
Dama, pelo o: discursivo
amor não
Author.
correspondi
do.
Limões que
Sobre hum Gênero o amigo do Amigo não
p. 413- Desconheci
Carta LXV preʃente de demonstrativ autor iria nomeado do
414 do.
limoens. o: discursivo receber de autor.
presente.
Gênero
Um
Sobre um demonstrativ
presente de Amigo não
Carta preʃente de pp. 414- o: discursivo Desconheci
figos e uvas nomeado do
LXVI figos, e 415 e do.
dado ao autor.
uvas. agradeciment
autor.
o
Gênero
Alguns
Sobre um demonstrativ
legumes Amigo não
Carta preʃente de pp. 415- o: discursivo Desconheci
dados de nomeado do
LXVII alfaces, e 416 e do.
presente ao autor.
cebolas. agradeciment
autor.
o
A huma
Gênero Desilusão
Carta Dama pp. 416- Desconheci Uma Dama
judicial: amorosa e
LXVIII queixando- 421 do. não nomeada.
queixa queixas.
ʃe.
351
Repreensão
A huma
a uma
Senhora,
Senhora que
que fez Gênero
Carta pp. 422- interpretou Desconheci Uma Senhora
papel de demonstrativ
LXIX 425 um homem do. não nomeada.
Barbas em o: discursivo
barbudo e
huma
velho numa
Comedia.
comédia.
Comentário
Do Author Gênero s do autor
pp. 426- Desconheci Uma Senhora
Carta LXX a huma demonstrativ acerca de
428 do. não nomeada.
Senhora. o: discursivo notícias e
lembranças.
Do Author
a huma
Senhora, Gênero Uma Loa
Carta pp. 428- Desconheci Uma Senhora
remettendo demonstrativ escrita pelo
LXXI 430 do. não nomeada.
-lhe huma o: discursivo autor.
Loa, que
lhe pedira.
A hum
amigo, em
reʃpoʃta de
outra, em
que o tal Notícias da
Gênero Amigo não
Carta ʃujeito lhe pp. 430- corte e da Desconheci
demonstrativ nomeado do
LXXII mandava 438 vida do do.
o: discursivo autor.
pedir novas autor.
da Corte, o
qual eʃtava
no Alem-
Tejo.
Do Author
a hum Crítica à
Gênero Amigo não
Carta amigo pp. 438- aplicação da Desconheci
demonstrativ nomeado do
LXXIII ʃendo 443 justiça em do.
o: discursivo autor.
Ouvidor em Portugal.
Beja.
Amigo não
Que ʃe Advertência
Gênero nomeado do
mandou aos sobre os
Carta pp. 443- deliberativo: Desconheci autor que se
Brazis a perigos das
LXXIV 448 exortação e do. encontra em
certo terras
conselho terras
amigo. brasileiras.
brasileiras.
Do Author
a hum Gênero Despedida Amigo não
Carta pp. 448- Desconheci
amigo, demonstrativ do autor da nomeado do
LXXV 452 do.
retirando- o: discursivo Corte. autor.
ʃe da Corte.
Do Author Gênero Amigo não
Carta pp. 452- Desconheci
a hum ʃeu demonstrativ Amizade. nomeado do
LXXVI 455 do.
amigo. o: discursivo autor.
Carta A certa pp. 456- Gênero Agradecime Desconheci Não
LXXVII peʃʃoa. 459 demonstrativ nto por um do. especificado.
352
o: chiste
agradeciment recebido.
o
Ou Diʃcurʃo
do Author
ʃobre as
Gênero
Carta impacienci pp. 460- Desilusão Desconheci Não
demonstrativ
LXXVIII as de Cloris 469 amorosa. do. especificado.
o: discursivo
em as
fortunas de
Nize.
Ou
Narraçaõ
Gênero Saudades e
Carta ʃaudoza a pp. 469- Desconheci Uma Dama
demonstrativ lembranças
LXXIX huma 474 do. não nomeada.
o: discursivo do autor.
Dama
morena.
A certa A zanga do
Irmaã autor por
Gênero Irmã não
Carta Terceira, pp. 474- uma irmã é Desconheci
demonstrativ nomeada do
LXXX em tempo 477 revogada do.
o: discursivo autor.
da durante a
Quareʃma. Quaresma.
Alguns
presentes
A’ Gênero
Carta pp. 478- enviados ao Desconheci Senhora não
Chariʃʃima judicial:
LXXXI 480 autor por do. nomeada.
Senhora. queixa
uma
senhora.
Fonte: Elaborada pelo autor.
A transcrição foi realizada de forma a manter a grafia original das cartas, com todas as
palavras e pontuação, assim como a separação estrutural entre os parágrafos, feitas de acordo
com o impresso base. Os caracteres que sofrem oscilações frequentes de uso ao decorrer das
cartas (como v/b e g/j) foram transcritos da forma como aparecem.
Percebemos que muitas das epístolas apresentavam gêneros poéticos em excerto ou
completos, no corpo do escrito ou em anexo. Identificaram-se doze cartas que traziam gêneros
da poesia que não eram vinculados ou atribuídos a nomes de grandes escritores da época. Com
isso, acabou-se por selecionar, como categoria especial de análise, a presença destas
composições poéticas dentro do corpus. Realizou-se um levantamento de informações acerca
dos gêneros que resultou numa nova tabela de catalogação (Tabela 2), ressaltando agora alguns
aspectos relevantes à sua localização dentro do Tomo II do Anatômico jocoso e à sua estrutura:
identificação do gênero poético dentro da carta, sua categoria segundo Moisés (1974), a
quantidade de versos por estrofe e a divisão silábica segundo Goldstein (2006).
Tabela 2 – Dados dos gêneros poéticos sem atribuição de autoria que aparecem nas cartas do
Tomo II do Anatômico jocoso
Título ou
Título da Verso inicial Categoria Versos/
INDEX Divisão Silábica
Carta do Gênero Poética Estrofes
Poético
353
Em que o O’ vásoutros
Author dá moradores
conta do Heptassílabos ou
Dezesseis
Carta X sonho, e Quadra redondilhas
triunfo de quadras.
maiores
Amor
reʃuʃcitado.
Que o Pario voʃʃa
Author mulher em Duas
eʃcreveo a terça feira
Carta quadras e Decassílabos
irmaõ, e Soneto
XV pai, e
dois heroicos
deʃenganad tercetos.
o.
SERIO
Mudanças da Duas
formozura, quadras e Decassílabos
Soneto
finezas da dois heroicos
idolatria. tercetos.
JOCOSO
Allivio de
De peʃames
Carta deixados,
á meʃma
XXII
peʃʃoa
conʃolaçaõ de
deʃpedidos, Duas
tirados dos quadras e Decassílabos
Soneto
meʃmos dois heroicos
epîtetos da tercetos.
belleza
adultera, e
inconʃtancia
deʃconhecida.
Reʃpoʃta a Creou Deos a Duas
huma ʃuprema quadras e Decassílabos
Carta, em Soneto
formozura dois irregulares
que lhe tercetos.
Carta
davaõ
XXIII A ave lhe eʃtá Duas
peʃames do
que ʃempre bem mudar Soneto quadras e Decassílabos
acaba em de penna, dois heroicos
mudanças. tercetos.
Le a, he, em Heptassílabos ou
Preʃente a bom ??? ??? redondilhas
huma Portuguez, maiores
enferma Vão
Heptassílabos ou
Carta com ʃeu gallinhas, Uma
Quadra redondilhas
XXXII brinco de bem que quadra.
ʃangria maiores
caras:
conforme o Em fim, vaõ Heptassílabos ou
Alcoraõ. Uma
eʃte famintos Quadra redondilhas
quadra.
maiores
354
O preʃente Heptassílabos ou
Uma
abbreviado Quadra redondilhas
quadra.
maiores
FRANGAS. Heptassílabos ou
Uma
Quadra redondilhas
quadra.
maiores
COELHOS. Heptassílabos ou
Uma
Quadra redondilhas
quadra.
maiores
PERDIZES. Heptassílabos ou
Uma
Quadra redondilhas
quadra.
maiores
LEBRE. Heptassílabos ou
Uma
Quadra redondilhas
quadra.
maiores
CAPAÕ Heptassílabos ou
Uma
Quadra redondilhas
quadra.
maiores
PATOS. Heptassílabos ou
Uma
Carta
Quadra redondilhas
quadra.
mandadeir maiores
a, que ʃe VACA. Uma
Heptassílabos ou
mandou por Quadra redondilhas
quadra.
Carta entrudo a maiores
XXXIII certo CARNEIRO. Heptassílabos ou
Convento Uma
Quadra redondilhas
em nomes quadra.
maiores
dos Noviços PORCO. Heptassílabos ou
de outro. Uma
Quadra redondilhas
quadra.
maiores
CHOURICO. Heptassílabos ou
Uma
Quadra redondilhas
quadra.
maiores
PREZUNTO. Heptassílabos ou
Uma
Quadra redondilhas
quadra.
maiores
ARROZ. Heptassílabos ou
Uma
Quadra redondilhas
quadra.
maiores
PICADO. Heptassílabos ou
Uma
Quadra redondilhas
quadra.
maiores
TORTA DE Heptassílabos ou
Uma
NATAS, OU Quadra redondilhas
quadra.
DE NADA. maiores
FILHOZES Heptassílabos ou
Uma
Quadra redondilhas
quadra.
maiores
355
DOCE. Heptassílabos ou
Uma
Quadra redondilhas
quadra.
maiores
PAPOS DE Heptassílabos ou
Uma
ANJO. Quadra redondilhas
quadra.
maiores
SONHOS. Heptassílabos ou
Uma
Quadra redondilhas
quadra.
maiores
De deʃpique Aʃʃim anda o
do amante mundo á Heptassílabos ou
Carta Lauʃo Tolo, roda, Duas
Epigrama redondilhas
XXXIX chamando- quadras.
lhe a ʃua maiores
Dama Tolo.
*Carta Ou fejaõ Duas
Ao meʃmo
não lagartixas, ou quadras e Decassílabos
Senhor Soneto
indicada
Enviado. lagartas, dois heroicos e sáficos
(II) tercetos.
Em que ʃe Em mimo taõ
agradecem feʃtival, Heptassílabos ou
Carta Dez
humas Décima redondilhas
LV
empadas de versos.
maiores
rolas.
Sempre, Heptassílabos ou
Dez
Agradecen Amigo, as Décima
versos.
redondilhas
Carta do humas mãos levanto maiores
LVI empadas de De ʃeya a Heptassílabos ou
Lamprêa. Dez
pezar, por Décima redondilhas
versos.
bella maiores
Deʃempenhar Duas
Heptassílabos ou
-vos presume quadras
Epigrama redondilhas
(aparente
maiores
mente)
Deixa por vós Duas
Heptassílabos ou
o ʃetim, quadras
Epigrama redondilhas
(aparente
maiores
Deʃcrevend mente)
o huma A Primavera Duas
Heptassílabos ou
Carta funçaõ proteʃta quadras
Epigrama redondilhas
LVIII feʃtiva no (aparente
Convento maiores
mente)
de Chelas. Muʃica, vós Duas
Heptassílabos ou
ʃabeis pô-la quadras
Epigrama redondilhas
(aparente
maiores
mente)
Quem quer de Duas
Heptassílabos ou
ar, e terra dar quadras
Epigrama redondilhas
(aparente
maiores
mente)
356
Este feʃtejo, Duas
que as invejas quadras e Decassílabos
Soneto
chama, dois sáficos
tercetos.
A certa Quadrageʃim
Irmaã al com ʃua Duas
Terceira, exclamação
Carta quadras e Decassílabos
em tempo no Cabo. Soneto
LXXX
da dois sáficos
Quareʃma. tercetos.
Por fim, foram selecionados alguns dos folhetos para uma análise mais detalhada,
apresentando as características mais relevantes ao presente estudo com as cartas e a recorrência
das categorias poéticas identificadas.
O tomo II de Anatômico jocoso é constituído por oitenta e três cartas que, na folha de
rosto do volume, são descritas como “metaphoricas, joco-ʃerias e gazetarias”. Com a
catalogação, pudemos perceber que o critério organizacional adotado pelo compilador Fr.
Francisco de Abreu Matta Zeferino (na verdade Fr. Lucas de Santa Catarina) não corresponde
a nenhuma ordem clara de viés temporal ou autoral. A escolha das epístolas pode ter sido
influenciada por diversos fatores, como a curiosidade individual do organizador, a atenção com
o público leitor, uma ordem censória exterior etc. Todavia, no decorrer da pesquisa, identificou-
se a presença de duas missivas além das oitenta e uma indicadas no INDEX da coleção. Uma é
referenciada como anexo e a outra é simplesmente suprimida do guia apontado no início do
tomo. A partir disso, observa-se uma possível relação distribucional entre as cartas, que se
encontram, no tomo, aparentemente agrupadas segundo elementos da estrutura (como título e
extensão) e da temática dos folhetos.
A Carta XXI De piques, com rebuço de peʃames, por certa mudança, com reʃpoʃta ella
(MATTA ZEFERINO, 1755, pp. 203-211) une duas missivas em seu interior. A Carta não
indicada I Reʃpoʃta (MATTA ZEFERINO, 1755, pp. 206-211) aparece anexada à carta que
reponta, sendo assim indicada no INDEX. Entretanto, nota-se que a missiva que antecede este
caso, a Carta XX Em que o Author ʃe deʃculpa com certas Religioʃas de ter faltado, e accuʃa o
que teraõ delle dito (MATTA ZEFERINO, 1755, pp. 194-202, também apresenta esta estrutura
que compreende uma resposta ao folheto primário. A epístola traz inicialmente diversos
comentários possivelmente proferidos por algumas freiras (referenciadas como flores),
reclamando da ausência do autor, sendo respondidas logo depois com a justificação da falta.
Com a leitura do escrito, percebemos que estas “falas” foram, na verdade, idealizadas pelo seu
próprio escritor, não constituindo realmente duas missivas, mas uma só dividida em duas partes:
as possíveis reações das freiras em relação ao desaparecimento do autor e a resposta justificativa
deste a tais reações.
Já a Carta não indicada II Ao meʃmo Senhor Enviado (MATTA ZEFERINO, 1755, pp.
359-362) pode ter sido confundida com as duas outras epístolas que a antecedem, a Carta
XXXXVII e a Carta XXXXVIII, já que as três apresentam o mesmo título, como indicado na
Tabela 1. O compilador acabou por indicar no índice apenas duas dessas cartas.
Os problemas gráficos ou de editoração são recorrentes nos folhetos que compõem o
corpus, o que era algo comum também a outros periódicos setecentistas. Assim como os dois
casos evidenciados, muitas outras cartas do tomo II do Anatômico jocoso tiveram sua disposição
possivelmente guiada pela temática ou por elementos estruturais parecidos.
Em relação à autoria das cartas, vemos que a maioria não apresenta assinatura. Segundo
Rodrigues (1983, p. 95), só há um caso flagrante de autoria confirmada. Trata-se da Carta IX
357
Em que o Author dá noticia a hum amigo da Novella diʃparatoria por elle compoʃta a rogo de
hum Cavalheiro, que pedio lha compuzeʃʃe (MATTA ZEFERINO, 1755, pp. 113-133), de
autoria atribuída ao poeta Antônio Serrão de Castro. Algumas das missivas se vinculam a
pseudônimos ou nomes alegóricos relacionados ao assunto tratado nas missivas, mas sem
nenhuma indicação muito clara e direta do remetente. Todavia, podemos perceber algumas
características dos possíveis escritores dentro dos folhetos, indo da posição social e do nível de
proximidade com o destinatário até os aspectos de ordem privada, como a relação familiar. É
certo que muitas dessas cartas saíram da mente de Frei Lucas de Santa Catarina, assim como
de outros religiosos, fato percebido através de marcas dêiticas que apontam os conventos e
mosteiros como principal cenário para os temas tratados nas missivas.
Para Costa (2007, p. 126), esta anonímia presente nas cartas é vinculada muito
provavelmente a questões de censura, que também afetam diretamente o conteúdo e o sentido
pretendido pelo autor. Algo bastante interessante que se observa é a presença de duas cartas que
se constroem justamente em torno deste controle imposto à leitura. A Carta L Eʃcrita a hum
amigo (op. cit. pp. 365-368) apresenta justificações do autor para a censura de um livro por ele
posto à publicação, enquanto que a Carta LI A hum amigo dando-lhe eʃta noticia (MATTA
ZEFERINO, 1755, pp. 369-374) traz o discurso censor do autor em relação à possível
deturpação do sistema religioso e político de Portugal, por um estudante que faz uso de livros
proibidos. Alguns indivíduos conseguiam permissões especiais para ler obras banidas, fugindo
da ilegalidade. No entanto, isso dificultava ainda mais o controle do governo sobre a circulação
destes livros censurados, que acabavam também sendo adquiridos por alguns “desautorizados”
(VILLALTA, 2006). Esta situação é mostrada intimamente na Carta LI, que é possivelmente
dirigida a alguma autoridade jurídica vinculada à censura.
O papel do pesquisador que trabalha com a história cultural é o de identificar a maneira
como, em diferentes lugares e momentos, uma determinada realidade social é construída e dada
à leitura (CHARTIER, 1991). A maioria das epístolas analisadas funciona enquanto crônica
contaminada por sátira aos vícios, costumes e comportamentos públicos ou privados, de figuras
estereotipadas à sociedade do século XVIII. Esse viés mais político ligado ao tom jocoso da
linguagem utilizada nos folhetos mostra-nos a relação dos autores com o período em que
viveram e a sua forma de lidar com as normas e com a transgressão.
Com a leitura e a catalogação, pudemos identificar uma esmagadora ocorrência de cartas
discursivas do gênero demonstrativo. Também se detectaram sete ocorrências mistas, em que
os escritos apresentam características de dois gêneros diferentes, conforme Tabela 1. A maioria
das missivas apresenta narrações, relatos descritivos ou eloquentes comentários acerca do
assunto tratado pelo autor. Observou-se que os temas mais recorrentes nas cartas são o amor
freirático e a comida, com folhetos ligados à clausura dos conventos e mosteiros, além do
comportamento das damas.
O amor freirático foi um tópico muito explorado por diversos escritores setecentistas.
Segundo Hansen (2003, p. 79), o assunto envolve a relação das freiras com os mais diversos
homens que tinham acesso ao claustro, como padres, frades, vigários, músicos, arquitetos,
parentes e outros afidalgados, caracterizados ridiculamente como presunçosos e tolos. Este
amor “não natural” faz embate com a missão espiritual das noviças e aparece mais como
desenganado ou refratado do que como celebrado, sendo preceito para o humor. As missivas
ressaltam as frustrações de se manter uma relação encerrada sob as grades do convento. São
colocados na posição de autor o próprio freirático ou algum amigo seu que comenta sobre o
caso amoroso.
As cartas sobre comida são dominadas por muitas notas de agradecimento a presentes
ou a trocas comerciais. Nota-se uma sátira acentuada à gula como vício dos religiosos. Muitos
deles permutavam versos e outros escritos literários, os chamados “equívocos”, por alimentos
de seu gosto, como uma botelha de vinho, empadas, alface, presunto, etc. As missivas se tornam
358
“verdadeiros” documentos sobre as ligações entre o sagrado e o profano através da sátira aos
hábitos e costumes dos membros da Igreja.
A representação da mulher encontrada nas cartas vai de encontro com a realidade social
do século XVIII, em que nasciam para serem boas filhas, esposas e mães, sendo submissas
durante toda a vida. As Damas que fugissem desta natureza inferior e limitada em relação ao
homem eram duramente criticadas. Todavia, segundo Hansen (1989, p. 331), a partição
fundamental da sátira barroca é, na verdade, a de “pecado/não pecado”, que se estende a todos
os corpos, tanto do sexo feminino como do masculino. A Carta XXXIX De deʃpique do amante
Lauʃo Tolo, chamando-lhe a ʃua Dama Tolo (MATTA ZEFERINO, 1755, pp. 289-321) é um
extenso relato sobre o adultério. A Dama referenciada, chamada de Amarilis, tem o caso
amoroso secreto exposto pelo próprio amante em um ato de vingança por esta tê-lo desprezado.
Acontece que a carta também apresenta sátira à ação do homem pecador retratando-o como um
bobo desiludido, o “Lauʃo Tolo”. Temos que, mesmo com a recorrência de alvo a algumas
figuras determinadas, como a mulher e o freirático, a sátira feita nas cartas se estende aos
comportamentos estereotipados dentro da sociedade portuguesa.
As cartas do tomo II do Anatômico jocoso ainda apresentaram outro relevante aspecto
para a pesquisa: a presença de gêneros poéticos como elementos exteriores ao conteúdo das
cartas. As composições em verso podem ser divididas em dois tipos: as que apresentam
singularidade autoral e as que constituem apropriação da obra de grandes escritores, seja por
citação, paráfrase ou paródia.
A incorporação de outros escritos em língua portuguesa ou castelhana é algo bem
comum dentro das missivas estudadas. Seguem-se vários provérbios latinos, pequenas orações,
trechos de poesia, etc. Há também várias alusões a personagens da mitologia greco-romana e a
grandes escritores da literatura clássica, como Homero, Virgílio, D. Antonio de Mendonça,
Félix Lope de Veja, Luís Vaz de Camões, Pablo Gongalves de Andrade e Luis de Góngora y
Argote. Todavia, percebemos que a interessante inserção nas cartas de gêneros poéticos escritos
pelos próprios escritores das missivas, reforçando seu conteúdo.
A procedência da autoria se deu através de um estudo aprofundado de todos os excertos
em verso contidos nas cartas. Verificou-se que todos os gêneros poéticos não atribuídos a
nenhum escritor, ao contrário dos referenciados, são apresentados em totalidade e não em
trechos. Apenas as composições em verso contidas na já citada Carta IX Em que o Author dá
noticia a hum amigo da Novella diʃparatoria por elle compoʃta a rogo de hum Cavalheiro, que
pedio lha compuzeʃʃe, de autoria de Antônio Serrão de Castro, são mostrados em totalidade,
compondo o relato sobre a novela “disparatória do gigante sonhado”.
As composições poéticas sem atribuição de autoria foram catalogadas em relação à sua
categoria (quadra, soneto, epigrama ou décima), segundo Moisés (1974), à sua quantidade de
versos por estrofe (quadras ou tercetos), para um maior esclarecimento da categoria utilizada,
e à sua divisão em sílabas poéticas (heptassílabos ou decassílabos heroicos e sáficos) de acordo
com Goldstein (2006). Identificou-se que as personas autores das cartas fazem uso de sonetos,
quadras, décimas e epigramas, com os dois primeiros gêneros aparecendo com maior frequência
dentro das cartas em relação aos outros, conforme Tabela 2. A utilização destes gêneros
menores e mais populares pode se dar pela sua fácil memorização e cópia. Vale ressaltar que
algumas epístolas aparecem com mais de um gênero poético em seu interior, geralmente
emparelhados ou agrupados em um mesmo espaço textual, como as composições que
tematizam a alimentação presentes na Carta XXXIII Carta mandadeira, que ʃe mandou por
entrudo a certo Convento em nomes dos Noviços de outro.
O soneto é uma composição poética formada por quatorze versos distribuídos em duas
quadras e dois tercetos, com utilização predominante do decassílabo (MOISÉS, 1974). As
cartas do tomo II do Anatômico jocoso apresentam diversos sonetos que fundem os dois tipos
de decassílabo indicados por Goldstein (2006, p. 39): o heroico, com ascendência rítmica na
359
sexta e décima sílabas, e o sáfico, com ascendência na quarta, oitava e décima sílabas poéticas.
Estes gêneros poéticos aparecem geralmente no final das epístolas ou mesmo como anexo,
concretizando um tom de despedida. A maioria representa uma síntese do que foi tratado pelo
autor na carta. O soneto no final da Carta XV Que o Author eʃcreveo a irmaõ, e pai, e
deʃenganado (MATTA ZEFERINO, 1755, pp. 169-171) é enviado de presente ao irmão do a
que acaba de se tornar pai. O tio da criança decide retratar as boas novas que tratou na carta em
verso e apresentar sua faceta artística a ao parente:
Algo interessante a se notar é que o jogo de palavras feito pelo autor contribui para um
maior entendimento da missiva a partir do gênero poético. Ele utiliza, no último verso da
segunda estrofe, o termo “Palmeirim”, que significa peregrino, forasteiro ou estrangeiro, para
se referir ao irmão. Até a leitura do soneto, apenas se poderia inferir que o destinatário estava
distante da família. O verso traz uma possível informação que justifica esta ausência: a figura
paterna pode pertencer a alguma estância nômade de trabalho. O uso da palavra “Palmeira”
para designar a cunhada Dona Luiza reforça a construção do autor em lamentar pela separação
familiar, com a mulher presa, enraizada ao seu lar enquanto que o companheiro se encontra
distante. Além disso, em toda a construção do gênero poético há demarcações do tempo, com
a criança nascendo numa terça feira da “ʃemana de Ramos” no mês de Março, trazendo a
primavera e acabando com o inverno. Podemos interpretar que o autor faz referência de certo
modo à longevidade do período em que seu irmão se encontra fora de casa, sentindo a
necessidade e mostra-lo datas determinadas.
Além dessa contribuição para a compreensão completa da carta, muitos gêneros
poéticos também são usados como artifício próprio da sátira pretendida pelo autor. A décima é
um gênero de estrofe única com dez versos. Moisés (1974, p. 115) a divide em dois tipos: a
décima medieval, muito popular no século XVI, e a décima clássica ou “espinela”, formada por
uma quadra e uma sextilha heptassilábicas obedecendo, majoritariamente, ao esquema de rimas
abbaaccddc. O autor da Carta LV Em que ʃe agradecem humas empadas de rolas. (MATTA
ZEFERINO, 1755, p. 384), assim como o da Carta LVI Agradecendo humas empadas de
Lamprêa (MATTA ZEFERINO, 1755, pp. 385-386), faz uso da décima clássica para agradecer
empadas recebidas de amigos, como que realizando uma troca de favores. Os gêneros poéticos
são anexados às missivas como verdadeiras encomendas. A sátira se faz clara especialmente
nas décimas da Carta LVI, dedicadas “A hũa Lamprea recolhida em empadinhas”.
Já a epigrama é um gênero de temática mais centrada em assuntos ligados à tristeza e
ao luto, podendo ser formado por mais de uma estrofe, mas raramente tendendo a estender-se
muito (MOISÉS, 1974). Trata-se de uma composição mais simples. A já citada Carta XXXIX
360
De deʃpique do amante Lauʃo Tolo, chamando-lhe a ʃua Dama Tolo (MATTA ZEFERINO,
1755, pp. 289-321) é finalizada por uma epigrama que volta a realçar a tolice do autor:
O preʃente abbreviado
Vai, ʃem que ʃe lhe dê diʃʃo,
Sem doces em papeliço,
Sem momos empapllado.
FRANGAS.
COELHOS.
361
Conclusões
Referências
______. Jornal e literatura: a imprensa brasileira no século XIX. Porto Alegre: Ed. Nova
Prova, 2007.
COSTA, A. C. M. Erudição e utilitas na obra de Frei Lucas de Santa Catarina. Porto: Ed.
do autor, 2007.
______. Os lugares do lugar. In: A sátira e o engenho: Gregório de Matos e a Bahia do século
XVII. São Paulo: Companhia das Letras, Secretaria de Estado da Cultura, 1989. pp. 305-393.
MCKENZIE, D. F. The book as an expressive form. In: Bibliography and the sociology of
texts. Cambridge - UK: Cambridge University Press, 1999. pp. 9-30.
PÉCORA, A. À guisa do manifesto. In. Máquina de gênero. São Paulo: Edusp, 2001. pp. 3-
15.
RODRIGUES, G. A. Literatura e sociedade na obra de Frei Lucas de Santa Catarina (1600
- 1740). Lisboa: Casa da Moeda, 1983.
363
SÉRIE
INICIADOS VOL. 21
2014-2015
Trabalhos premiados no XXIII Encontro
de Iniciação Científica da UFPB
ORGANIZADORES
Isac Almeida de Medeiros UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
Claudia de Figueiredo Braga PRÓ-REITORIA DE PESQUISA
Rogério Oliveira Barbosa JOÃO PESSOA, 2018
U N I V E R S I DA D E F E D E R AL DA PAR AÍ B A
R E I T O RA Margareth de Fátima Formiga Melo Diniz
V I C E -R E I T O RA Bernardina Maria Juvenal Freire de Oliveira
EDITORA UFPB
D I R E T O RA Izabel França de Lima
SUPERVISÃO DE EDITORAÇÃO Almir Correia de Vasconcellos Júnior
SUPERVISÃO DE PRODUÇÃO José Augusto dos Santos Filho
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA
P R Ó -R E I T OR Isac Almeida de Medeiros
T R AB AL H O S P R E M I AD O S N O
X X I I I E N C O N T R O D E I N I C I A Ç Ã O C I E N T Í F I C A DA U F P B
16 A 20 DE NOVEMBRO DE 2015
CCJ - CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS
CAMPUS I e IV – JOÃO PESSOA
25 A 27 DE NOVEMBRO DE 2015
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS – CCA
CAMPUS II E CAMPUS III – AREIA
U N I V E R S I DA D E F E D E R AL DA PAR AÍ B A
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA
C O O R D E N A Ç Ã O G E R AL D E P R O G R AM A S
A C AD Ê M I C O S E D E I N I C I A Ç Ã O C I E N T Í F I C A
A P R E S E N TA Ç Ã O
A Série INICIADOS, em sua 21ª edição, publica 39 (trinta e nove) trabalhos premiados
de alunos de Iniciação Científica e de Iniciação Tecnológica que apresentaram os resultados
de pesquisas no XXIII Encontro de Iniciação Cientifica (ENIC).
A Pró-Reitoria de Pesquisa promoveu o XXIII ENIC , no período de 16 a 20 de novembro
no CCJ - Campus I e Campus IV – João Pessoa-PB e 25 a 27 de novembro de 2015 no CCA –
Campus II e Campus III – Areia-PB, para os projetos relativos ao CAMPUS II e CAMPUS III.
Sob a temática “A Universidade Federal da Paraíba aos 60 Anos: Semeando o Ensino,
a Pesquisa e a Extensão”, o III Encontro Unificado de Ensino, Pesquisa e Extensão objetiva
a reflexão acerca das atividades realizadas pelos projetos acadêmicos de Ensino, Pesquisa e
Extensão e a socialização das diversas experiências vivenciadas por estudantes e professores
das diversas áreas do conhecimento numa perspectiva interdisciplinar. Em nossos 1329
trabalhos, cada descoberta em pesquisa inspirou os desafios na busca de novos conhecimentos.
Dentre esses jovens pesquisadores, os que tiveram maior destaque apresentam seus trabalhos
completos neste livro.
A Pró-Reitoria de Pesquisa, por meio da Coordenação Geral dos Programas Acadêmicos
e de Iniciação Científica agradece aos docentes e discentes que fazem a pesquisa na UFPB e ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo contínuo apoio
e incentivo conferido à realização desses Programas da Universidade Federal da Paraíba.
406 Cartas de instrução pública nos jornais Publicador 660 Práticas de escrita no PNAIC: do conteúdo
Maranhense (1842-1886); Diário de Pernambuco proposto à implementação em sala de aula.
(1825-1888) e Argos Pernambucano (1850-1852). Eriglauber Edivirgens Oliveira da Silva (Bolsista
Vanessa Gonçalves Lira (Bolsista PIBIC/CNPq/ PIBIC/CNPq/UFPB). Evengelina Maria Brito de
UFPB). Fabiana Sena da Silva (Orientadora). Faria (Orientadora).
ENGENHARIAS
Resumo
Introdução
A região Sul do estado do Piauí vem se consolidando como uma das mais importantes
fronteiras agrícolas do país. Destaca-se o município de Bom Jesus que, nos últimos 20 anos,
passou por importantes mudanças socioeconômicas impulsionadas pelo agronegócio. O
município apresenta como principais culturas agrícolas soja, milho, feijão e arroz que, no ano
de 2016, somaram 79.023 ha de área colhida (IBGE, 2018). Praticamente toda a produção é
realizada em sistema de sequeiro, sendo as precipitações pluviométricas o meio de suprimento
de água às culturas.
Para que haja uma potencialização da produção local é necessário uso de tecnologias
dentre elas a irrigação. A utilização da irrigação, principalmente no semiárido do nordeste
brasileiro onde as precipitações são escassas e/ou mal distribuídas, tem que ser bem planejada
e executada, devido à crescente preocupação com os escassos recursos hídricos. A
determinação da evapotranspiração das culturas - ETc é etapa importante nos projetos de
irrigação. A ETc representa a água perdida pela planta por transpiração, juntamente com a
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho Mapeamento do uso da água pelas culturas agrícolas na região
de Bom Jesus – PI com sensoriamento remoto / Uso de índice de vegetação multiespectral na determinação da
evapotranspiração das culturas agrícolas em Bom Jesus - PI
¹Estudante de Iniciação Científica: Douglas Vieira Marques (e-mail: douglasagroce@hotmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientadora: Valéria Peixoto Borges (e-mail: valeria@cca.ufpb.br, telefone: 83 3362-1715)
9
água evaporada pelo solo, significando a lâmina que deve ser reposta à cultura, para que as
plantas cresçam e desenvolvam-se. A determinação da ETc, portanto, favorece a manutenção
das boas produtividades e, principalmente, o uso adequado dos recursos hídricos.
Operacionalmente, a ETc é determinada segundo as recomendações de Allen et al.
(1998), com o produto ET0 x Kc, em que ET0 é a evapotranspiração de referência e Kc o
coeficiente de cultivo para a determinada cultura e estádio fenológico. A ET0 é computada
somente com dados meteorológicos e os valores de Kc estão disponíveis na literatura, o que
torna o método bastante prático. Entretanto, valores de Kc obtidos em locais com variedades e
condições climáticas diferentes, podem não representar adequadamente as necessidades
hídricas das culturas do cerrado piauiense.
Para se realizar a estimativa da ET para grandes áreas, os métodos que aplicam dados
de sensoriamento remoto orbital se tornam interessantes, pois tais tecnologias trouxeram
possibilidade de aplicação sobre uma grande variedade de espécies vegetais e condições de
disponibilidade de água (ALLEN et al., 2011). O mapeamento da ET por sensoriamento
remoto pode ser aplicado no planejamento de atividades agrícolas e no gerenciamento dos
recursos hídricos de uma bacia hidrográfica (SILVA e BEZERRA, 2006), diferentemente de
métodos pontuais, que apresentam resultados representativos de áreas com pequenas
dimensões, e limitadas ao redor do local das medidas das estações meteorológicas. Além
disso, medidas de campo geralmente são complexas e requerem instrumentos caros.
Existem diversos métodos para determinação da ET a partir de dados de
sensoriamento remoto. Alguns computam a ET com o balanço de energia na superfície
(BASTIAANSSEN et al., 2006; ALLEN et al., 2007), outros consideram a relação entre os
índices de vegetação e os coeficientes de cultivo (HUNSAKER et al., 2007; SIMONNEAUX,
2008; ER-RAKI et al., 2010). Dentre esses índices, o mais aplicado é o Índice de Vegetação
da Diferença Normalizada, cuja sigla em inglês é NDVI. Os métodos ET = f (NDVI)
apresentam as vantagens de simples implementação, utilização de poucos dados e
possibilidade de monitoramento das mudanças no uso da água com o desenvolvimento da
cultura.
Utilizando imagens OLI- Landsat 8, o presente trabalho teve como objetivo determinar
e avaliar a distribuição temporal e espacial dos coeficientes basal de cultivo de áreas agrícolas
na região de Bom Jesus – Piauí, a partir do NDVI das culturas.
Fundamentação Teórica
10
OLI e o sensor termal TIRS possuindo um melhor desempenho radiométrico, quantificado em
resolução radiométrica passando de 8 bits para 12 bits. Foram adicionadas duas bandas
espectrais: a new coastal (banda 1), projetada especificamente para os recursos hídricos e
investigação da zona costeira, e um novo canal de infravermelho (banda 9), para a detecção
de nuvens cirros. Com o acréscimo das novidades provocou-se modificações nos intervalos
dentro do espectro dos canais de todas as bandas. Há também uma nova banda de Garantia de
Qualidade (Banda QA), que fornece informações sobre a presença de nuvens, água e neve. A
partir do sensor termal TIRS, criou-se ainda duas bandas espectrais para o comprimento de
onda antes coberto por uma única banda nos sensores TM e ETM (USGS, 2016).
Imagens do Landsat 8 vêm sendo aplicadas em diferentes trabalhos em diversas partes
do globo, tais como estudo de caso foi realizado na Espanha por Novelli et al. (2016),
avaliando o desempenho dos dados do Landsat 8 no sensoriamento remoto de culturas em
estufas plásticas; Hamzelo et al. (2015), trabalham com modelagem de carbono e poluição do
ar a partir da evolução espectral; Zhou et al. (2016), elaborou modelagem de comparação para
a distribuição de vegetação alpina em uma área árida.
Pode-se verificar a vasta aplicabilidade entre as imagens fornecidas pelos satélites
atualmente, conjugando com o processamento dos dados e obtendo informações de diferentes
naturezas e a agricultura que por sua vez está fortemente beneficiada com tal tecnologia,
contribuindo com o fortalecimento em âmbito mundial de suas atividades em geral, seja ela
agrícola, pecuária, florestal, entre outras.
11
possibilidade de aplicação sobre uma grande variedade de espécies vegetais e condições de
disponibilidade de água (ALLEN et al., 2011). O mapeamento da ET por sensoriamento
remoto pode ser aplicado no planejamento de atividades agrícolas e no gerenciamento dos
recursos hídricos de uma bacia hidrográfica (SILVA e BEZERRA, 2006).
12
Metodologia
O presente trabalho foi desenvolvido para o município de Bom Jesus, Piauí (9°4’18”
S, 44°21’34” W, 301 m). Inserido no bioma Cerrado, o município tem clima classificado com
subúmido seco (ANDRADE JÚNIOR et al., 2004). Os totais anuais de precipitação e
evaporação são 1093,4 mm 1934,4 mm, respectivamente; a temperatura média anual é 26,2°C
(INMET, 2014).
As imagens utilizadas foram geradas pelo satélite Landsat 8, as quais foram
adquiridas, gratuitamente, junto ao United States Geological Survey (USGS), já
ortorretificadas. O sensor OLI (Operational Land Imager) e o sensor TIRS (Thermal Infrared
Sensor) medem a radiância espectral dos alvos e armazena-os na forma de níveis de cinza, ou
número digital (ND), cujos valores variam de 0 a 4096, lhe conferindo resolução espectral de
12 bits. A resolução espacial do sensor é de 30 m nas bandas 1 a 7 e 9, 15 m na banda 8
(pancromática) e de 100 m nas bandas 10 e 11 (canais termais). A resolução temporal (tempo
de revisita) deste satélite é de 16 dias. As imagens utilizadas são da órbita e ponto 220/66.
Para os fins deste estudo, apenas imagens obtidas em condição de céu claro, ou seja, livres de
nuvens sobre a área de interesse, foram aproveitadas. O trabalho foi realizado em um período
de um ano, aplicando-se o método em imagens de maio de 2013 a maio de 2014.
Juntamente com as imagens de satélite, também se coletou dados meteorológicos
oriundos da estação automática do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) no município
de Bom Jesus (9°4’59” S, 44°19’35” W, 297 m), presente na cena Landsat em questão, e
aplicou-se na caracterização das condições meteorológicas do período estudado e para
obtenção da evapotranspiração de referência, dada pela equação 1 (ALLEN et al., 1998).
900 (1)
0,408 . Δ . (Rn-G)+γ . Tmed+273 .u2 . (es-ea)
ET0 =
Δ+ γ . (1+0,34 .u2 )
Em que:
ET0 - Evapotranspiração de referência pelo método Penman-Monteith, mm dia-1.
Δ - declinação da curva de saturação do vapor da água, kPa °C-1.
Rn - saldo de radiação, MJ m-2 dia-1.
G - fluxo de calor no solo, MJ m-2 dia-1.
γ - constante psicométrica, kPa °C-1.
u2 - velocidade média do vento a 2 m acima da superfície do solo, m s-1.
Tmed - temperatura média do ar, °C.
es - pressão de saturação de vapor, kPa.
ea - pressão atual de vapor, kPa.
13
ρλ ' = Mρ ∙ND+Aρ (2)
ρλ ' (3)
ρλ = ⁄(sen ê)
ρ5 - ρ4 (4)
NDVI =
ρ 5 + ρ4
Em que NDVImin é o valor do NDVI para o solo exposto, comumente utilizado o valor de
0,15.
Com as imagens de NDVI e Kcb, fez-se o mapeamento para a análise espacial e
temporal dos resultados.
Resultados e Discussão
14
Figura 1. Mapas do NDVI do município de Bom Jesus-PI no período compreendido entre
março de 2013 e março de 2014.
15
A alta variabilidade do NDVI também foi constatada por Gurgel et al. (2003) e
Barbosa et al. (2006) estudando área de vegetação nativa de Caatinga, caracterizando a
relação entre essa variável e a disponibilidade hídrica do solo para as plantas. Semelhante
variabilidade foi encontrada no presente estudo, sendo que se verificou a transição dos valores
de NDVI que predominam na imagem do mês de maio para julho de 2013, de 0,6-0,9 para
0,4-0,5 respectivamente. Valores de NDVI maiores que 0,2 representam a vegetação
fotossintetizante ativa. No mês de setembro a meados de dezembro observam-se as áreas em
pousio com valores de NDVI 0,1 e consequentemente solo exposto. Pixels de cor branca
correspondem a valores iguais ou abaixo de zero, representando nuvens ou água, os quais
apresentam reflectâncias maiores no visível do que no infravermelho. Nestas condições o
NDVI tem valores negativos. Nas imagens das datas de 24/09, 10/10 e 13/12 aparecem pixels
de altos valores, que correspondem possivelmente a riachos ou rios com suas respectivas
matas ciliares.
240
210
180
150
120
90
60
30
0
Mar Abr Mai Jun Jul Ago Out Nov Dez Fev Mar
16
fim de dezembro, quando as culturas estão no estágio inicial ou de desenvolvimento foliar, os
valores de Kcb não ultrapassaram 0,6, na maioria das parcelas. Os máximos valores são
registrados em maio, mês em que as culturas, que foram estabelecidas em outubro/novembro
estão no estádio médio. Neste período, os valores de Kcb ficaram em torno de 1,0, típico para
as culturas anuais aí exploradas (Allen et al., 1998). Acompanhando a curva representativa do
Kcb para cultivos anuais, no mês de julho valores abaixo de 0,5 foram encontrados nas
parcelas. Em setembro e outubro as áreas estão em pousio e, apesar de não haver plantas, o
Kcb esteve entre 0,1 e 0,2, pois os restos culturais do sistema de plantio direto possuem NDVI
> 0,1.
Figura 3. Mapas dos coeficientes basais de cultivo (Kcb do município de Bom Jesus-PI no
período compreendido entre março de 2013 e março de 2014.
17
O método aplicado, portanto, foi capaz de identificar o desenvolvimento da cultura e
sua relação com o uso da água, traduzindo em valores de Kcb semelhantes aos encontrados na
literatura para cultivos anuais. Toureiro et al. (2017) encontrou diferença máxima de 20%
entre a ET determinada com os coeficientes da FAO e a ET calculada com os coeficientes
gerados via NDVI, atribuindo tal diferença ao fato que os dados da FAO não foram
determinados para as condições climáticas locais. Anderson et al. (2016), encontrou R² = 0,43
na relação Kcb x NDVI, atribuindo tal resultado às poucas imagens MODIS disponíveis
durante o estádio inicial da cana-de-açúcar, impossibilitando uma análise adequada em todo o
ciclo da cultura.
Conclusões
Referências
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evapotranspiration with internalized calibration (METRIC) – model. Journal of Irrigation
and Drainage Engineering, ASCE 133, p.380–394, 2007.
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and height. Irrigation Science, v.28, p.17-34, 2009.
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energy budget (TSEB) model for the monitoring of evapotranspiration over irrigated annual
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and evapotranspiration estimate over an irrigated are in central Morocco. International
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Environmental Monitoring and Assessment, v.188, p.407-421, 2016.
21
SUPLEMENTAÇÃO DA BIOMASSA DE SPIRULINA PLATENSIS EM
RATOS SEDENTÁRIOS E TREINADOS COMO FATOR ANTIOXIDANTE
Resumo
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Suplementação da biomassa de Spirulina Platensis em ratos
sedentários e treinados como fator antioxidante/ Parâmetros murinométricos e composição corporal de ratos
sedentários e treinados suplementados com biomassa de Spirulina platensis.
Estudante de Iniciação Científica: Irinaldo Capitulino de Souza (e-mail: irinaldopersonal@gmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br, e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientador (a): João Andrade da Silva (e-mail: joaoctdr@gmail.com, telefone: 83 3216-7947)
22
Introdução
Revisão de literatura
Microalgas
Alguns alimentos se tornam objeto de pesquisa por apresentar em suas composições,
compostos bioativos capazes de atenuar fatores patológicos, causados por uma má
alimentação. Compostos, tais como, polifenois, carotenoide, peptídeos, antioxidantes,
antiatividades inflamatórias ou antiproliferativos, esteroides ou ácidos graxos poliinsaturados
encontrados nesses alimentos. São sugeridos positivamente contra doenças cardiovasculares,
neurodegeneração e câncer em diferentes pesquisas realizadas em seres humanos (HERRERO
et al, 2015).
Algumas microalgas são consideradas detentoras desses fatores. Em sua composição,
estão presentes compostos capazes de beneficiar à saúde humana. As microalgas pertencem a
um grupo heterogêneo predominante aquático. São geralmente microscópicos unicelulares,
procariontes ou eucariontes que podem ou não formar colônias. Apresentam pouca ou
nenhuma diferenciação celular e possuem pigmentos responsáveis pela coloração variada e
metabolismo fotoautotrofico (BARCELLOS et al. 2012). Tem capacidade de converter o CO2
23
em proteínas e lipídeos que podem ser transformados em alimentos e ração de alto valor
biológico. Algumas espécies apresentam crescimento extremamente rápido e pode até
duplicar sua biomassa em 24hs (BILAD et al. 2014).
O cultivo de microalgas tem despertado o interesse dos pesquisadores e do meio
industrial. Em função do alto valor nutricional que a biomassa apresenta. Essa biomassa pode
ser utilizada na produção de alimentos e de outros compostos naturais para comercialização.
Os compostos; ácidos graxos poliinsaturados, carotenóides, ficobilinas, polissacarídeos,
vitaminas, esteróis e diversos compostos bioativos naturais, além de apresentar ações
antioxidantes, caracterizam essa biomassa como alimento funcional (BARCELLOS et al.
2012).
O interesse pelas microalgas cresce pelo fato dos lipídeos encontrados em sua
composição, possuírem energias armazenadas por átomos de carbono duas vezes mais que os
carboidratos. Podendo favorecer o aumento substancial em energia de combustão em relação
às plantas terrestres para a produção de bicombustíveis (RAWAT et al. 2013).
As microalgas apresentam ações antioxidantes naturais, onde duas espécies são
cultivadas para a produção de carotenoides, tais como, Dunaliella que produz o (beta-
caroteno) e a Haematococcus que produz (astaxantina). Além dos carotenoides, as microalgas
apresentam em adição, outros pigmentos com funções antioxidantes, potencialmente valiosos,
tais como, os tocoferóis (vitamina E), ácido ascórbico (vitamina C) e compostos fenólicos. Os
tocoferóis são encontrados em óleos comestíveis para evitar a oxidação dos radicais livres nas
células humanas. A quantidade de vitamina (E) encontrada nas microalgas é maior do que a
encontrada em óleos virgens de oliva (GOIRIS et al. 2015).
De acordo com Raposo e Morais (2014) outro fator superimportante em relação à
biomassa das microalgas são os compostos fitoquímicos contidos em sua composição. As
doenças degenerativas não transmissíveis, tais como hipertensão, diabetes mellitus e câncer,
causadas muitas vezes por uma má alimentação, têm aumentado os números de óbitos no país.
As microalgas apresentam compostos fitoquimicos que podem reduzir e prevenir os riscos de
doenças cardiovasculares e cerebrais. Os compostos fitoquimicos encontram-se em legumes,
frutas e em maior concentração em microalgas e outras cianobacterias. Apesar de sua grande
riqueza em compostos fitoquimicos e fitonutrientes, enzimas antioxidantes, vitaminas,
carotenoides e polissacarídeos, compostos fenólicos e esteróis, as microalgas não recebem a
atenção que merecem em relação aos benefícios e prevenção de risco para a saúde dos seres
humanos.
As microalgas se destacam nas indústrias de alimentos, por apresentarem grandes
produtividades e baixo custo. Devido ao baixo custo o consumo e o processo de produção são
muito amplos, contribuindo assim como alimentos para a população mundial. Podendo ser
como biocatalisadores, em sínteses químicas, na produção de enzimas ou como fonte de
proteínas (VILCHEZ et al, 1997).
24
envelhecimento celular, tem apresentado grande relevância. Alimentos com ações
antioxidantes tem a capacidade de inibir as espécies reativas de oxigênios causadas pelo
estresse oxidativo. Devido a esta função, alimentos que contêm ações antioxidantes são
bastante pesquisados e consumidos, com objetivo de proteger as células do estresse oxidativo
(GAD et al., 2011). Além de sua função antioxidante, os carotenoides apresentam outras
funções, tais como, prevenção a células cancerígenas por meio do (b-caroteno, luteína e
zeaxantina), envelhecimento celular e prevenção contra doenças cardíacas, por meio da
(vitamina E) (CAMPO; 2000).
Microalgas e cianobactérias contêm funções antioxidantes naturais de grandes
diversidades bioquímicas. Elas possuem a capacidade de respostas adaptativa acelerada em
relação ao combate do estresse oxidativo. Isso ocorre pela ativação do seu sistema de defesa
antioxidante intrínseca. A maioria dos antioxidantes é a-apolar. O antioxidante é extraído
utilizando o etanol, que demonstra alta afinidade para a extração de antioxidante em
microalgas Haematococcus. O etanol é também considerado um dos solventes mais utilizados
para processamento de subprodutos agrícolas (GUEDES et al., 2013).
O organismo humano apresenta redução e oxidação natural para as atividades
funcionais e essenciais do metabolismo. Mas, quando há um desequilíbrio entre a produção de
radicais livres e a defesa antioxidante, o organismo promove o estresse oxidativo. É
importante que tenhamos conhecimento sobre alguns fatores que podem influenciar tanto na
produção como no aumento desses radicais livres. Fatores, tais como, defeitos na respiração
mitocondrial, metabolismo do acido araquidônico, ativação-inibição enzimático. Além destes
fatores, temos que levar em consideração os fatores exógenos na contribuição para a produção
desses radicais livres, tais como, poluição, fumo, exercícios de alta intensidade, bebida
alcoólica e má nutrição. Por meio de fatores endógeno e exógeno, podemos combater o
excesso de radicais livres por enzimas antioxidantes. Essas enzimas reagem de forma
acelerada, fazendo com que os radicais livres não possam reagir com as moléculas biológicas,
evitando-se produtos reativos (OLIVEIRA et al., 2013)
Algumas algas são consideradas ricas em antioxidantes naturais, contribuindo para a
segurança da saúde humana. As microalgas são indicadas como antioxidantes naturais e
seguras, pelo fato de serem cultivadas em biorreatores que mantém sua qualidade e controle
celular. De modo que esse processo ocorra sem a presença de herbicida e pesticida ou
quaisquer outras substâncias tôxicas (LI et al., 2007).
Espécies reativas de oxigênio são relacionadas a danos celulares e a produção de
doenças fatais no nosso organismo. Devido a esse fator de degradação, aumenta-se o interesse
dos pesquisadores para avaliar as ações antioxidantes das microalgas. Todas as espécies
possuem uma característica peculiar em relação às enzimas encontradas. De acordo com
Cuaresma et al., (2006) a espécie Chlamydomonas acidophila apresenta em sua composição;
b-carotone, luteína, zaxantina e caroteno, apresentando os mesmo carotenoides de
Scenedesmus (LOURENCIO et al., 2009). Já Chlocrococum de acordo com Bin e Chen
(2001) contem algumas enzimas anteriormente encontradas na Chlamydomonas, mas
apresentando algumas enzimas antioxidantes a mais, tais como, astaxantina, zeaxantina e
cantoxantina. A Chlorella vulgare bastante popular no Japão, também apresenta marcadores
antioxidantes, tais como, superoxido dismutase e catalase (O et al., 2010).
25
Spirulina platensis e antioxidante
A biomassa da Spitulina platensis é um alimento de alta qualidade biológica.
Contendo altos teores de proteínas (70%) (ANDRADE; COSTA; 2008), vitaminas (biotina,
ácido fólico, inositol, vitamina E e B12) e ácidos graxos poliisaturados (WANG et. al. 2007).
Rica em minerais (zinco, magnésio, manganês, selénio e ferro (YEGANEH; TEIMOURI;
AMIRKOLAIE, 2015), clorofila, carotenoides, hidrato de carbono, esteróis, pigmentos
aloficocianina, (PEIRETTI; MEINERI; 2011), ácido c-linolénico e ficobiliproteínas (SU et al
2014), β-caroteno, ficocianina, tocoferóis e superóxido dismutase que sãos os responsáveis
por ações antioxidantes (YEGANEH; TEIMOURI; AMIRKOLAIE, 2015). Além de conter
antioxidantes e vitaminas, essa biomassa contém também polissacarídeos sulfatados que são
antivirais e esteróis que apresentam funções antimicrobianas. De acordo com Yeganeh;
Teimouri; Amirkolaie, (2015) a Spirulina platensis pode regular o sistema imunológico
celular em respostas (interleucina 1β e factor de necrose tumoral (TNF) –α genes),
imunomoduladoras, biomoduladoras, e propriedades anticancerígenas (IBRAHEM et al.
2013). Além de prevenir aterosclerose, níveis elevados de colesterol e triglicerídeos e doenças
cardíacas (COLLA et. al, 2007).. A biomassa da S. platensis é classificada pela FDA como
GRAS (Generally Recognized as Safe) um alimento que garante total segurança à população
quanto ao seu consumo sem risco a saúde (ANDRADE; COSTA; 2008).
A produção da biomassa da Spirulina platensis ocorre em três etapas quais sejam:
cultivo, colheita e processamento. Países como os Estados Unidos, Tailândia, Índia, China,
Paquistão, Taiwan e Birmânia são os maiores produtores e consumidores comercias de
Spirulina platensis.(RAVI et. al. 2010). Segundo RAVI et. al. (2010) se faz necessário à
realização de mais pesquisas com alimentos utilizados como suplemento. A Spirulina
platensis é a única alga azul-verde que pode ser cultivada e comercializada como alimento,
com funções benéficas à saúde humana.
O estresse oxidativo influencia diretamente o envelhecimento e as doenças
degenerativas. As espécies reativas de oxigênio (ERO) desempenham papel chave nas lesões
teciduais e inflamações após a prática de exercícios intensos. Os suplementos têm sido
consumidos pelos atletas em suas dietas por conter componentes capazes de neutralizar essa
ação oxidativa induzida pelo exercício (MEIHUA; SHILIAN; DUODUO; 2013). O exercício
contribui com a formulação de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio (ERON)
contribuindo para a fadiga muscular. Para se defender do dano oxidativo induzido pelo
exercício, às células têm defesas endógenas e a contribuição dos antioxidantes exógenos que
interagem na defesa criando uma rede antioxidante celular (KALAFATI et. al. 2010).
Existem enzimas de defesa contra os radicais de espécies reativos de oxigênio (ERO)
produzidos nas células como parte dos processos metabólicos. Essas enzimas, tais como a
catalase, superoxido dismutase, glutationa peroxidase, entre outras substancia não enzimáticas
tais como, vitaminas A, E, C, glutationa, uibiquinona e flavonóides, reagem contras os
radicais livres como na defesa antioxidante. O desequilíbrio entre as espécies reativas de
oxigênio (ERO) e o antioxidante, causado pelo exercício é denominado estresse oxidativo
(LIPING et. al. 2011). O objetivo desta pesquisa foi avaliar a atividade antioxidante da
biomassa da Spirulina platensis em relação da Spirulina comercial. Teve como objetivo
específico; cultivo da biomassa da Spirulina platensis em meio sintético, extração de
antioxidantes a partir da biomassa Spirulina platensis e comercial e atividade antioxidante. E
26
foi desenvolvida Laboratório de Ambientes Recifais e Biotecnologia com Microalgas –
LARBIM. A biomassa foi cultivada no próprio laboratório e a Spirulina comercial foi
adquirida no comercial de João Pessoa.
Metodologia
Material biológico
A cepa da microalga Spirulina platensis utilizada para obtenção de biomassa cultivada
em laboratório foi obtida no banco de cultura de microalgas do LEA. A biomassa comercial
de Spirulina platensis foi obtida no comercio de João Pessoa.
27
obtido em número de células por mililitro ao final do cultivo e a produtividade de biomassa
(PB) foi definida como o valor da biomassa seca em gramas por litro de cultivo. O tempo de
cultivo foi determinado com base no número de dias decorridos desde a inoculação até o
período o qual foi alcançada a densidade celular máxima.
Quando o cultivo atingiu o início da fase estacionária do crescimento, o cultivo foi
interrompido e o material centrifugado em centrifuga refrigerada Novatecnica NT825 (20 °C,
3500 rpm por 20 min), sendo o sobrenadante descartado e o precipitado congelado a -40 °C
Terroni modelo 90LT-40C e posteriormente seca em Liofilizador Terroni modelo LS3000,
operando a uma temperatura de - 40 °C, pressão de 0,0966 mmHg e percentual de vácuo de
99,99. A biomassa seca foi pesada e guardada em recipiente hermético até o momento das
análises.
28
de acordo com Brand-Willams, Cuvelier e Berset (1995), que consiste na capacidade que os
antioxidantes presentes nas amostras possuem em seqüestrar o radical estável DPPH•. A partir
de triagem preliminar, a solução de DPPH• (23,6 μg.mL-1 em EtOH) foi adicionada às
amostras do extrato obtendo uma concentração final de 150 μg.mL-1. Em triplicata,
alíquotas de 90 μL dos extratos foram misturadas com 210 μL de etanol e 2.700 μL da
solução de DPPH• (23,6 μg.mL-1 em EtOH). Após 30 minutos foi efetuada a leitura a 517
nm, em espectrofotômetro UV-VIS (Thermo Fisher Scientific, modelo Evolution 60S). A
curva controle foi preparada utilizando Trolox em concentrações de 0,5 a 5 μg.mL-1. Os
resultados foram expressos pela determinação da %AAT (percentual atividade antioxidante
total) (equação 2):
Análise estatística
Todas as análises foram realizadas em triplicata, em três ocasiões diferentes. Os
resultados foram expressos como média ± desvio-padrão, submetidos a Test-T para
comparação entre os extratos das biomassas cultivadas e comercial, considerando p<0,05
utilizando o software Statistica 7.0. O coeficiente de correlação de Pearson (r) foi calculado
entre os fenólicos extraíveis totais e os métodos utilizados que avaliar a capacidade
antioxidante.
Resultados e discussão
Dados do cultivo
A tabela 1 evidencia os dados do cultivo em laboratório da Spirulina platensis.
29
realizadas extração com hexano, etanol e água, tanto para a biomassa obtida no laboratório
como para a biomassa comercial.
Tabela 1. Teor de fenólico total (mg EAG.g-1) das biomassas de Spirulina platensis cultivada
e comercial para os extratos de hexano (SBH e SCH), etanol (SBE e SCE) e água (SBA e
SCA), ao nível de probabilidade de p <0,05.
O teor de fenólicos para SBH foi de 14,41 mg EAG.g-1, porém como não houve
rendimento de extrato para a biomassa comercial (SCH) não foi possível determinar seu teor
de fenólicos totais. Não houve diferença significtiva (p<0,05) entre os teores de fenólicos
totais para os extratos de etanol da SBE e SCE, mas para o extratos de água foi observado um
maior teor de fenólicos para SBA (17,10 mg EAG.g-1) diferindo significativamente da SBA
30
(6,20 mg EAG.g-1).
Comparando-se os resultados desta pesquisa com os resultados da pesquisa realizada
por Kepekçi; Saygideger (2012) no extrato etanol, por meio de três etapas de extração há 40
µmol, 60 µmol e 120 µmol. Os resultados foram significativos para a extração de 60 e 120
µmol com valores respectivamente (25,73 ± 3,16) e (49,83 ± 5,56), demonstrando-se que os
valores encontrados na tabela 1 referente à SBE e SCE mostram-se valores potencialmente
significativos em relação aos compostos fenólicos da extração etanol. Os compostos
fenólicos totais apresentam funções biológicas e em particular, são considerados como uma
das mais importantes classes de antioxidantes naturais. Os resultados obtidos nesta pesquisa,
comparando-se com os valores por Machu et al. (2015), a determinação dos compostos
fenolicos totais por meio da extração água apresenta-se um valor numericamente baixo para
as amostras SBA de (6,20 ± 0,10) e SCA (17,10 ± 0,09) em relação com a amostra da
Spiriluna platensis dos autores citados anteriormente com valor (43.2 ± 1.0). Por mais que os
valores relativamente apresentados baixos da biomassa da Spirulina platensis e da comercial.
A água extrai com eficiência os compostos fenólicos com atividade antioxidante devido à sua
polaridade, Os teores dos compostos fenólicos são significativamente encontrados nesta
pesquisa.
Estão descritos na Tabela 2 a determinação da atividade atioxidante pela captura do
radical livre DPPH presentes na biomassa da Spirulina platensis cultivada e da Spirulina
platensis comercial.
31
A atividade antioxidante pelo sequestro do radical livre DPPH para SBH foi de 64,43
µmol Tx.g-1, não sendo determinado para SCH pois não houve rendimento de extrato. A
atividade antioxidante máxima foram observados nos dois extratos da biomassa cultivada
SBE e SBA com valores de 113,37 e 17,17 µmol Tx.g-1, respectivamente, diferindo
significtivamente (p<0,05) dos seus correspondestes de biomassa comercialentre.
Para se obter uma grande variedade de extractos a partir da microalga
Spirulina platensis, foram usados três solventes difentes de acordo com a sua polaridade.
Assim, uma grande variedade de extração pode ser obtida por meio da utilização de diferentes
solventes. Em relação à atividade antioxidante dos extratos da Spirulina platensis biomassa
hexano (SBH) e comercial (SCH), comparando-se com os resultados obtidos por
Hajimahmoodi et al. (2010), podemos perceber valores numericamente significativos para os
extratos SBH de (64,53) em relação as microalgas Chlorella vulgaris (4,06); Chrocococcus
dispersus (0,25) e Anabaena Cylindrica (0,15). Apresentando maior captura do radical livre
DPPH para os extratos hexano da SBH. Portanto para a amostra SCH não atribui valores
positivos para a extração hexano. Pelo fato de não obter rendimento durante a sua extração.
Referente ao extrato etanol da SBE (113,37) e da SCE (46,03) encontra-se dentro dos padrões
quando relacionados a valores numéricos de acordo com Herrero et al. (2004) que obteve um
valor de (100,1) para extração etanol. Sendo assim, apresentando maiores capturas do radical
livre DPPH para amostra SBE em relação à amostra SCE.
O coeficiente de correlação (R2) entre a capacidade antioxidante e o conteúdo fenólico
da biomassa de Spirulina platenses cultivada e comercial foi determinado (Figura 1).
Observou-se uma elevada correlação entre a capacidade antioxidante de DPPH e os teor de
fenólicos para os extratos de etanol (R2=0,99) como demosntrado na Figura 1A, sendo o
inverso observado para os extratos de água (Figura 1B).
32
Figura 1. Ilustração gráfica da correlação entre as atividades antioxidantes dos extratos de
etanol (Fig. 1A) e da água (Fig. 1B) e os teores de fenólicos totais nas biomassas de Spirulina
platensis cultivada e comercial, ao nível de probabilidade de p <0,05.
14,00
R² = 0,99
A
Atividade antioxidante (µmol Tx/g)
13,50
13,00
12,50
12,00
40,00 60,00 80,00 100,00 120,00
Teor de Fenólicos (mg EAG.g-1 )
19,00 B
Atividade antioxidante (µmol Tx/g)
17,00
R² = 0,98
15,00
13,00
11,00
9,00
7,00
5,00
5,00 7,00 9,00 11,00 13,00 15,00 17,00 19,00
Teor de Fenólicos (mg EAG.g-1 )
Assim, é possivel inferir que os compostos fenólicos extraidos com o solvente etanol
contribuiram para a capacidade antioxidante na microalga Spirulina platensis. Embora os
compostos fenólicos tenham apresentando um relação possitiva com a atividade antioxidante,
é importante resalvar que essa microalga também produzir uma grande variedade de outros
compostos antioxidantes, incluindo, por exemplo, os carotenóides, ácidos gordos poli-
insaturados e os polissacáridos, podendo ser estes outros compostos os responsáveis pela
atividade antioxidante no extrato de água.
33
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37
AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DE EXTRATOS FENÓLICOS
DE BAGAÇO DA VINIFICAÇÃO EM SISTEMAS-MODELO DE ALIMENTOS
Resumo
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Aplicação de antioxidantes naturais do resíduo da vinificação
em substituição a antioxidantes sintéticos em alimentos/ Avaliação da atividade antioxidante de extratos
fenólicos de bagaço da vinificação em sistemas-modelo de alimentos
Estudante de Iniciação Científica: João Cassimiro Neto (e-mail: jcassimironeto@gmail.com; (83) 999583578)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br, e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientador: Ismael Ivan Rockenbach (e-mail: ismael.rockenbach@gmail.com, telefone: (83) 99967-2565)
38
cosmética vem sendo bastante explorada. Em termos de exploração dos compostos fenólicos
dos subprodutos da vinificação como antioxidantes em alimentos, estudos estão sendo
desenvolvidos por alguns grupos de pesquisa ao redor do mundo, com vários aspectos ainda a
serem elucidados em torno desta aplicação.
Um dos subprodutos industriais da produção de vinho é o bagaço de uva, que consiste
basicamente de sementes e cascas. A maior parte do bagaço formado a partir da produção de
vinho no Brasil, aproximadamente 59,4 milhões de toneladas de bagaço considerando 18 kg
de bagaço/100 L de vinho, é tratada como resíduo de baixo valor econômico e utilizada como
ração animal e esterco (ROCKENBACH et al., 2011a).
O bagaço é originado da prensagem das matérias-primas da vinificação constituídas
pelas partes sólidas das uvas e pelo mosto, ou pelo conjunto mosto/vinho que as embebe. O
bagaço, como resíduo da prensagem, representa de 12 a 15% em peso da matéria-prima
inicial, contendo na sua composição restos de açúcares e outros glicídios, proteínas e, nas
sementes, um elevado teor de lipídios (SILVA, 2003).
Em comparação aos estudos químicos envolvendo os constituintes dos vinhos, o
bagaço de uva tem sido muito pouco investigado, sendo, no entanto, rico em compostos de
interesse para a saúde, como os compostos fenólicos (ROCKENBACH et al., 2012). É de
conhecimento científico o potencial antioxidante dos compostos fenólicos, atuando como
redutores de oxigênio singlete, na inibição das reações de oxidação lipídica e na quelação de
metais. Além disso, apresentam uma ampla gama de propriedades farmacológicas, como
antialergênicas, antiarteriogênicas, anti-inflamatórias, antimicrobianas, antitrombóticas e
também efeitos cardioprotetores e vasodilatadores (PUUPPONEN-PIMIÄ et al., 2001;
MANACH et al., 2005).
Em alimentos, a deterioração oxidativa de óleos ou gorduras e componentes lipídicos é
responsável pelo surgimento de odor e sabor característicos da rancidez, com consequente
diminuição da qualidade nutricional e segurança alimentar, visto que há formação de
compostos secundários, potencialmente tóxicos. Assim, a adição de antioxidantes é requerida
para preservar o sabor e a cor, e evitar a destruição de vitaminas. No entanto, a preocupação
cada vez maior dos consumidores em relação à segurança dos aditivos sintéticos tem
motivado a investigação acerca de novas fontes e dos benefícios de antioxidantes naturais
como seus possíveis substitutos nos alimentos (ROCKENBACH et al., 2011b). Moure et al.
(2001), em revisão sobre subprodutos industriais como fontes de compostos antioxidantes,
apresentam os subprodutos do processamento da uva como a fonte mais promissora para ser
aproveitada com esta finalidade. Sánchez-Alonso et al. (2008) realizaram um estudo na
Espanha com subprodutos da vinificação e observaram alta atividade antioxidante e
capacidade destes de inibir significativamente o desenvolvimento da rancidez em músculo de
peixe congelado a -20 °C. No entanto, estudos para incorporar extratos de subprodutos da
vinificação como antioxidantes em alimentos são escassos ou inexistentes no Brasil.
Neste contexto, o plano de trabalho vinculado a este projeto de pesquisa teve como
objetivo avaliar o potencial de extratos obtidos a partir de sementes e cascas do subproduto
gerado da vinificação na região do Vale do Rio São Francisco e no município de Natuba, na
Paraíba, como agentes antioxidantes naturais a serem utilizados em alimentos, em
substituição parcial ou total dos antioxidantes sintéticos.
39
Fundamentação teórica
40
compostos fenólicos presentes nas uvas passam para o vinho, mais ou menos, dependendo das
características do processo de vinificação. Mas, independentemente desta transferência, e
considerando que a maior parte destes compostos é encontrada nas partes sólidas da uva, uma
grande proporção permanece nos resíduos ou subprodutos da vinificação (ALONSO et al.,
2002).
Metodologia e análise
Para a obtenção das amostras que foram utilizadas neste estudo, realizou-se
inicialmente uma viagem até a cidade de Petrolina, Pernambuco. Esta viagem foi realizada em
veículo próprio do professor orientador da pesquisa. Participaram da viagem o orientador do
projeto e mais dois alunos.
Com sete vinícolas na região do Vale do São Francisco, consolidou-se a Rota do
Vinho, passeio turístico onde os visitantes podem conhecer os vinhos tropicais, que possuem
um sabor especial, segundo seus produtores. A primeira parada da nossa equipe foi na
vitivinícola Santa Maria, onde são fabricados os vinhos Rio Sol, em Lagoa Grande, a 40
minutos de Petrolina. Pelo caminho, a chamada Estrada de Vermelho (indo pela BR-428 e
pegando a PE-574), barris da empresa indicam o caminho para a fazenda, onde o empresário
português João Santos, responsável pela vinícola, costuma receber todo mundo pessoalmente.
A propriedade tem 200 hectares de vinhas plantadas, convivendo lado a lado com a caatinga,
coqueirais e mangueiras. As árvores tropicais são mantidas para compor o clima da fazenda.
Durante o passeio, os visitantes acompanham as ‘quatro estações da uva’ - o clima tropical
viabiliza as diferentes fases da produção no mesmo lugar, desde o florescimento, onde se vê o
começo dos cachos se formando, até provar as uvas que vão originar o vinho. Nesta empresa,
foram obtidos para o nosso estudo aproximadamente 5 kg de bagaço da vinificação da uva
Syrah (Vitis vinifera), a qual é utilizada para produção de vinhos finos.
Em seguida, nossa equipe visitou a vitivinícola Garziera, também em Lagoa Grande, a
77 km de Petrolina. A vinícola, fundada em 1978 por Jorge Garziera, tem a produção atual
voltada às uvas de mesa. Dos 200 hectares cultivados, um quarto da área é destinado às cepas
Ruby Cabernet, Petit Syrah, Cabernet Sauvignon, Barbera, Moscatel e Sauvignon Blanc – a
maioria delas compondo o assemblage da linha Carrancas, mais popular.
Outra vinícola visitada por nossa equipe foi a Bianchetti, ainda no município de Lagoa
Grande. A vinícola é capitaneada pelo casal de enólogos Isanete e Ineldo Tedesco, pioneiros
no vale (este último com passagem pela Boticelli). Em seus aproximadamente 17 hectares de
vinhedos, cultivam-se as cepas Petit Syrah, Ruby Cabernet, Barbera, Tempranillo, Sauvignon
Blanc e Moscato. A empresa também aposta na linha de rótulos orgânicos das uvas Barbera,
Petit Syrah, Ruby Cabernet, Tempranillo e Sauvignon Blanc.
No município de Santa Maria da Boa Vista, a 83 quilômetros de Petrolina, em
Pernambuco, a nossa equipe visitou a vinícola Boticelli. Encravada na Fazenda Milano, é a
mais antiga vinícola do Vale do São Francisco. Com parreirais próprios cultivados em cerca
de 150 hectares, produz 1,5 milhão de litros de vinho ao ano, que não estagia em barricas de
madeira. Dentre as 28 cepas cultivadas, há a predominância de Cabernet Sauvignon, Tannat,
Petit Syrah, Ruby Cabernet e Chenin Blanc; da espanhola Tempranillo; da italiana Barbera e
41
Moscato Canelli; da californiana Flora; e da lusa Alfrocheiro. Seu top de linha é o tinto 1501,
elaborado com 100% de Cabernet Sauvignon.
No retorno da viagem à Petrolina, nosso roteiro incluiu a cidade de Natuba, município
paraibano que faz divisa com o estado de Pernambuco. Natuba fica no Agreste Velho, em
meio a montanhas que chegam a mais de trezentos metros de altitude. Na década de 60
chegaram as primeiras mudas de uva trazidas de Pernambuco, e que se adaptaram
perfeitamente à terra de clima úmido. Começaria assim a história de um produto que viria a se
tornar o símbolo da região: A uva de Natuba, docinha e que origina um vinho igualmente
adocicado. Quem nos recebeu na cidade de Natuba foi o técnico da Emater (Empresa de
Assistência Técnica e Extensão Rural da Paraíba), Edvaldo Andrade, o qual gentilmente havia
providenciado junto aos produtores locais uma amostra de aproximadamente 5 kg de bagaço
de uva da variedade Isabel (Vitis labrusca) resultante da produção local de vinhos de mesa.
As amostras congeladas e armazenadas em caixas isotérmicas foram transportadas ao
laboratório de Processamento de Alimentos do Departamento de Tecnologia de Alimentos do
Centro de Tecnologia e Desenvolvimento Regional da Universidade Federal da Paraíba.
A partir da massa total de amostra de cada uma das variedades de uva obtidas, foi
separada uma fração homogênea para ser utilizada neste estudo, sendo o restante do material
mantido sob congelamento em freezer comercial. As frações de bagaço de uva Syrah e Isabel
foram submetidas à separação manual de cascas e sementes, desprezando-se o material
residual composto por pequenos engaços, bagas imaturas e outros pequenos resíduos. As
frações de semente e casca das duas variedades obtidas foram então liofilizadas e
posteriormente trituradas até a obtenção de um pó homogêneo.
Para o preparo dos extratos, amostras de semente de uva em pó (10 g) foram extraídas
individualmente com 100 mL de solvente etanol 99,5%, sob agitação mecânica, por 120
minutos, na ausência de luz. Os extratos assim obtidos foram então filtrados com auxílio de
papel filtro (Whatman No. 1) e transferidos para frascos âmbar. Os extratos de semente de uva
foram completamente evaporados em estufa sob vácuo e com temperatura ajustada para 40
ºC. Com o solvente dos extratos completamente evaporado, obteve-se o rendimento das
extrações.
Para a avaliação da estabilidade oxidativa através do método acelerado em
equipamento Rancimat®, frações de 100 mg dos extratos evaporados foram ressuspensas em
1 mL do solvente etanol utilizado na extração (100 mg/mL).
Para as determinações de compostos fenólicos totais, capacidade antioxidante de
desativação de radicais DPPH, e Poder Antioxidante de Redução do Ferro (FRAP), frações de
10 mg dos extratos foram ressuspensas em 10 mL do solvente etanol (1 mg/mL). Para a
determinação do Poder de inibição da oxidação pelo método de co-oxidação do β-
caroteno/ácido linoleico, frações de 50 mg dos extratos foram ressuspensas em 10 mL do
solvente etanol (5 mg/mL).
Para a avaliação da estabilidade oxidativa através do método acelerado em
equipamento Rancimat®, a amostra utilizada neste ensaio foi óleo de girassol refinado sem
adição de antioxidantes. Às amostras de óleo analisadas foram adicionadas diferentes
concentrações do extrato de semente de uva, além de uma amostra controle do óleo sem
adição de antioxidantes. A partir dos extratos de concentração conhecida (100 mg/mL), foram
aplicadas as alíquotas de 20, 110, 200 e 400 µL a porções de 10 g de óleo, correspondendo,
42
respectivamente, às concentrações de 200, 1100, 2000 e 4000 ppm. Estas porções de óleo
adicionado dos extratos antioxidantes foram submetidas novamente à estufa sob vácuo, sem
aquecimento, até a evaporação do solvente etanol. A partir de cada porção de 10 g de óleo
adicionado dos extratos antioxidantes, foram utilizados 2 g para análise no equipamento.
Os ensaios de estabilidade oxidativa foram realizados em duplicata no equipamento
873 Biodiesel Rancimat® da marca Metrohm utilizando a metodologia da AOCS Cd 12b-92
(2009). Neste método, 2 g da amostra foram envelhecidas a 110 ºC, sob fluxo constante de ar
(10 L/h). O resultado foi expresso como período de indução (PI), determinado
automaticamente a partir do ponto de inflexão da curva, pelo programa que acompanha o
equipamento.
O conteúdo total de polifenóis em cada extrato foi determinado
espectrofotometricamente, em triplicata, de acordo com o método de Folin-Ciocalteau
(ROSSI; SINGLETON, 1965), com modificações. Inicialmente, uma alíquota de 90 µL de
cada extrato etanólico (1 mg/mL) foi transferida para tubos de ensaio, aos quais foram
adicionados 60 µL do reagente Folin-Ciocalteau juntamente com uma alíquota de 2670 µL de
água destilada e agitada por 60 segundos. Em seguida, foi adicionada uma alíquota de 180 µL
de solução de Na2CO3 a 15% e agitada novamente por mais 30 segundos. A mistura foi
deixada em repouso por 120 minutos, à temperatura ambiente, na ausência de luz. A leitura da
absorbância a 760 nm foi registrada empregando-se um espectrofotômetro UV-vis da
Shimadzu, modelo UV-2550. Uma curva padrão com ácido gálico (de 1 a 20 mg/L) foi obtida
nas mesmas condições. Os resultados foram expressos em mg de equivalente a ácido gálico
por g do extrato (mg EAG/g).
Para a determinação da capacidade antioxidante foi utilizado o método DPPH.
Desenvolvido por Brand-Williams et al. (1995), o método DPPH tem como base a redução da
absorbância na região visível de comprimento de onda de 515 nm do radical DPPH• (2,2-
difenil-1-picrilhidrazil) por antioxidantes.
Em triplicata, alíquotas das soluções de amostras (1 mg/mL) foram misturadas com
etanol e 2.700 µL da solução de DPPH● (23,6 µg/mL em EtOH). Após 30 minutos foi
efetuada a leitura a 517 nm, em espectrofotômetro UV-vis da Shimadzu, modelo UV-2550.
Os resultados foram obtidos a partir da seguinte fórmula:
𝐴𝐴
% inibição do DPPH = 1 − ( 𝐴𝐴517(𝑓𝑓)) × 100
517(𝑖𝑖)
Sendo:
A517(i) a absorbância inicial a 517 nm
A517(f) a absorbância final a 517 nm
43
metodologia de Benzie e Strain (1996), com algumas modificações, preparou-se a solução do
reagente FRAP, combinando-se 25 mL de tampão acetato 0,3 M, uma alíquota de 2,5 mL da
solução TPTZ a 10 mM e 2,5 mL de solução aquosa de cloreto férrico 20 mM. Em ambiente
escuro, adicionou-se 90 µL de amostra (1 mg/mL) em tubo de ensaio e acrescentou-se 270 µL
de água destilada. Em seguida adicionou-se 2,7 mL do reagente FRAP. Após
homogeneização, os tubos foram mantidos em banho-maria a 37 ºC. O espectrofotômetro foi
calibrado com o reagente FRAP e as leituras da absorbância foram realizadas a 595 nm, após
30 minutos da reação. Uma curva controle utilizando sulfato ferroso foi preparada (500 a
2000 µM).
A partir da equação da reta do gráfico concentração (mg/L) versus absorbância, pode-
se calcular a atividade antioxidante total (AAT), substituindo-se na equação da reta a
absorbância equivalente a 1000 µM do padrão sulfato ferroso. O resultado foi expresso em
mM de sulfato ferroso/g de extrato.
O poder de inibição da oxidação foi avaliado pelo método de descoramento do sistema
β-caroteno/ácido linoleico descrito por Marco (1968). O mecanismo de descoramento do β-
caroteno é um fenômeno mediado por radicais livres resultantes da presença de
hidroperóxidos formados a partir do ácido linoleico. Neste sistema modelo, o β-caroteno sofre
rápida descoloração na ausência de um antioxidante. O radical livre do ácido linoleico,
formado a partir da abstração de um átomo de hidrogênio de um de seus grupos metileno
dialílicos, ataca as moléculas altamente insaturadas do β-caroteno. Como as moléculas de β-
caroteno perdem suas duplas ligações por oxidação, o composto perde seu cromóforo e a cor
alaranjada característica, o que pode ser monitorado espectrofotometricamente a 470 nm.
Uma alíquota de 20 µL da solução de β-caroteno (20 mg/mL em clorofórmio) foi
colocada em um frasco erlenmeyer de 250 mL com 40 µL de ácido linoleico, 1 mL de
clorofórmio e 20 mg de Tween 40. O clorofórmio foi completamente evaporado. Ao
erlenmeyer foram adicionados 150 mL de água deionizada (previamente submetida a
tratamento com atmosfera de oxigênio, durante 30 minutos). A emulsão apresentou-se
límpida e sua absorbância a 470 nm foi ajustada para 0,6 a 0,7. Diferentes alíquotas (100 e
400 µL) dos extratos (5 mg/mL) foram comparadas ao controle (sem antioxidante), ao
antioxidante padrão BHT (butil hidroxitolueno, 100 µL de solução a 100 mg/L) e a uma
mistura de extrato + BHT (50 µL + 50 µL). Uma leitura inicial da absorbância foi feita
imediatamente após a adição das amostras e do padrão ao sistema visando à determinação do
tempo zero. Posteriormente, a absorbância foi monitorada a cada 15 min, durante o período de
2 h. O sistema foi mantido em banho-maria a 40 ºC durante o ensaio. A capacidade
antioxidante foi calculada em termos de percentual de inibição, relativo ao controle, de acordo
com a seguinte equação:
Ai A f
% inibição = 100 x 100
C C
i f
Sendo:
Ai = Absorbância inicial do extrato
Af = Absorbância final do extrato
Ci = Absorbância inicial do controle
Cf = Absorbância final do controle
44
O experimento foi conduzido em um arranjo de blocos inteiramente casualizados com
repetições. Todas as análises foram realizadas em triplicata. Os dados foram comparados por
Análise de Variância (ANOVA) e as médias foram comparadas pelo teste t de Student,
utilizando-se o software Statistica versão 7.0 (Statsoft, Tulsa, Oklahoma). Os resultados
foram expressos como média ± desvio-padrão.
Na extração das sementes de uva a partir de 10 g de material liofilizado, foram obtidos
1,1190 g de extrato para a variedade Isabel e 1,3036 g de extrato para a variedade Syrah,
correspondendo a um rendimento de 13,04 e 11,19%, respectivamente.
Os teores de compostos fenólicos, atividade antioxidante e poder redutor dos extratos
de sementes do bagaço da vinificação das uvas Syrah e Isabel são apresentados na Tabela 1.
O teor de fenólicos totais dos extratos vegetais, avaliado pelo método de Folin-
Ciocateau, expresso em equivalente a ácido gálico (GAE) por g de extrato, apresentou
diferença estatisticamente significativa (p < 0,05) entre os resultados obtidos, sendo superior
no extrato de sementes da uva Syrah, de 433,31 mg GAE/g, em comparação ao conteúdo
obtido para o extrato de sementes da uva Isabel, que apresentou conteúdo de compostos
fenólicos de 344,56 mg GAE/g. Estes teores são superiores aos encontrados por Cordeiro
(2013), em estudo desenvolvido com diversos extratos de plantas originárias da Amazônia,
onde obtiveram valores que variaram de 4,32 (Guaraná) para 193,63 mg GAE/g de extrato
(Cravo). Epaminondas (2013), estudando propriedades antioxidantes do extrato de alho em
óleo de linhaça, obteve teor de 10,55 mg GAE/g de extrato seco, valor muito inferior ao
encontrado no presente trabalho. Analisando o potencial dos extratos de Moringa oleífera
Lamark, Batista (2013) encontrou teores de 41,75, 48,85 e 53,69 mg GAE/g de extrato nas
cascas das vagens, das folhas e de flores, respectivamente. Todos os autores aqui citados
apresentaram valores inferiores ao encontrado em nosso estudo, demonstrando assim que as
variedades de uva estudadas apresentam níveis expressivos de compostos fenólicos nas
sementes.
Segundo González-Paramás et al. (2004), extratos de sementes de uva contêm uma
mistura heterogênea de monômeros, oligômeros e polímeros formados por subunidades de
compostos flavan-3-ols como, por exemplo, (+)-catequina, (‒)-epicatequina e (‒)-
epicatequina-3-o-galato. Os compostos fenólicos são estruturalmente caracterizados pela
presença de grupos hidroxila, ligados a anéis aromáticos, capazes de interromper o progresso
de auto-oxidação por neutralização dos radicais livres a partir da doação de hidrogênio e
45
formação de radicais fenoxi, quimicamente estáveis (Angelo et al. 2007). Como já é de amplo
conhecimento, flavonoides e compostos fenólicos em geral exercem expressiva atividade
antioxidante em sistemas biológicos (Scalzo et al., 2005; Deepa et al., 2007).
O extrato das sementes de uva Syrah também apresentou maior capacidade de
desativação do radical DPPH, com valor de 96,73 mMol de capacidade antioxidante
equivalente ao Trolox (TEAC) /g de extrato, contra 41,29 mMol TEAC/g obtido para o
extrato das sementes da uva Isabel. Nunes (2015), em estudo com extratos metanólicos da
casca e partes comestíveis do Jambo, obteve valores de atividade de desativação de radicais
DPPH variando de 47,22 a 47,52 µMol TEAC/g para os extratos de casca e 25,92 a 22,20
µMol TEAC/g para os extratos de porção comestível. Os extratos metanólicos do referido
autor, mostraram capacidades de desativação do radical DPPH inferiores aos extratos obtidos
com etanol no presente estudo.
Alonso et al. (1991), avaliando o efeito de várias misturas de etanol/água para extração
de compostos fenólicos em sementes de uva, observaram que a extração mais eficiente é
quando o conteúdo de etanol é maior. Em outro estudo, Kallithraka et al. (1995) verificaram
que o metanol é o melhor solvente para extração de compostos fenólicos, porém estes
solventes não são adequados para o uso com finalidades alimentícias.
É de grande importância o uso de diferentes ensaios, em vez de depender de um único
ensaio para avaliar e comparar a atividade antioxidante de extratos vegetais. Desta forma, este
estudo avaliou também a atividade antioxidante dos extratos da semente de uva, determinada
como poder antioxidante de redução do ferro (FRAP). A variedade Syrah (4,79 mM
Fe2SO4/g) apresentou maior poder de redução do ferro do que a variedade Isabel (1,99 mM
Fe2SO4/g). Os resultados do método FRAP seguiram a mesma tendência dos resultados
obtidos nos métodos DPPH e FT, onde os maiores valores foram observados para as sementes
da variedade Syrah. Cordeiro (2013), analisando extratos de orégano e cravo, plantas
originárias da Amazônia, obtiveram teores de 0,17 e 0,58 mM Fe2SO4/g de extrato,
respectivamente, valores bem abaixo do nosso estudo. Em suas análises sobre a capacidade
redutora de extratos etanólicos e metanólicos de alho, Epaminondas (2013) obteve valores de
0,18 e 0,12 mM de Fe2SO4/g de extrato. Ainda neste contexto, Nunes (2015) em estudo de
extratos metanólicos da casca e partes comestíveis do Jambo vermelho (Syzygium
malaccense) obteve os teores de 0,19 (casca) e 0,09 (porção comestível) mM Fe2SO4/g de
peso seco, respectivamente.
Além da avaliação da atividade antioxidante e do poder redutor em sistemas
hidrofílicos, os extratos de semente de uva também foram avaliados quanto ao seu poder de
inibição da oxidação em sistema lipídico pelo método de co-oxidação do β-caroteno/ácido
linoleico, cujos resultados são apresentados na Figura 1.
Os extratos de sementes de uva apresentaram moderada capacidade de inibição da
oxidação no ensaio do sistema β-caroteno/ácido linoleico. Neste ensaio, o mecanismo de
descoloração do β-caroteno foi avaliado em um sistema mediado por radicais livres formados
a partir do ácido linoleico. Segundo Rockenbach (2012), a presença dos extratos com
atividade antioxidante pode inibir parcialmente a perda da cor do β-caroteno através da
neutralização dos radicais livres formados no sistema, sendo o percentual de inibição da
oxidação dose-dependente. Observando a curva de inibição da oxidação no ensaio do β-
caroteno, podemos constatar que os extratos S + BHT, BHT, I + BHT e S 400 mostraram-se
46
eficazes quanto à proteção contra a descoloração do sistema β-caroteno/ácido linoleico.
O antioxidante sintético BHT obteve um maior percentual de inibição da oxidação
(81,57%), quando comparado aos extratos de semente de uva da variedade Isabel, I 100
(37,25%), e I 400 (47,45%), bem como os extratos de semente de uva da variedade Syrah, S
100 (43,33%) e S 400 (63,92%). Ainda observando-se o gráfico, percebemos que os extratos
das variedades Isabel e Syrah na concentração de 5 mg/mL, aplicados em alíquota de 400 µL,
apresentaram capacidade antioxidante superior aos extratos na mesma concentração aplicados
em alíquota de 100 µL, demostrando que este aumento na proporção dos extratos da
variedade Syrah e Isabel aplicados aos sistemas de ensaio produz efeitos similares ao obtido
pelo composto sintético BHT.
0,8
0,7
0,6
Absorbância a 470 nm
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0 20 40 60 80 100 120
Tempo (minutos)
*BHT = 100 µL de solução a 100 mg/L; I 100 = 100 µL do extrato da amostra Isabel; I 400 = 400 µL do extrato
da amostra Isabel; S 100 = 100 µL do extrato da amostra Syrah; S 400 = 400 µL do extrato da amostra Syrah; I +
BHT = 50 µL do extrato da amostra Isabel + 50 µL da solução de BHT; S + BHT = 50 µL do extrato da amostra
Syrah + 50 µL da solução de BHT.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Mas, para isso é necessário observar os teores para que não interfiram no sabor e
aroma dos alimentos, e que se mantenham dentro dos padrões de qualidade exigidos.
Podemos ainda observar que os extratos das variedades Isabel e Syrah combinados com o
antioxidante sintético BHT mostraram-se potenciais inibidores de oxidação, com valores de
80,78% e 84,51%, respectivamente. Isto demonstra a capacidade sinergística positiva entre
eles, tornando possível o uso destes extratos em conjunto com compostos sintéticos,
reduzindo-se assim o teor destes sintéticos nos produtos alimentícios.
Avaliando a atividade antioxidante de extratos etanólicos de chá verde e gengibre
sobre o óleo de linhaça, Epaminondas (2013) obteve eficácia quanto à proteção do complexo
47
β-caroteno/ácido linoleico com percentuais de 85,61 e 84,49%, respectivamente. Segundo o
autor citado, a proteção contra a peroxidação lipídica por parte dos extratos deve-se à
presença de compostos fenólicos em abundância presentes tanto no chá verde quanto no
gengibre. Nunes (2015), caracterizando os compostos bioativos e a atividade antioxidante do
jambo vermelho (L.) Merr. & L.M. Perry, em extratos da casca e parte comestível e em
diferentes concentrações, obteve variações de inibição de 51,74% (partes comestíveis) para
78,47% (casca) para amostras de origem geográfica no município do Conde, região Nordeste
do Brasil.
No ensaio da estabilidade oxidativa através do método acelerado em equipamento
Rancimat®, os extratos de semente de uva apresentaram uma efetividade bastante discreta na
inibição da oxidação, com tempos de indução ligeiramente superior ao obtido com a amostra
controle, que foi pouco superior a 6 h (Tabela 2).
48
Figura 2. Período de indução da oxidação de extratos de sementes de uvas tintas (Vitis
vinifera e Vitis labrusca) no ensaio de estabilidade oxidativa através do método acelerado em
equipamento Rancimat®.
Conclusões
Referências
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213, 2005.
52
DETERMINAÇÃO DA FRAÇÃO LEVE EM UM
SOLO SOB PASTAGEM EM DIFERENTES GRAUS DE
CONSERVAÇÃO ANTES E APÓS UM PERÍODO CHUVOSO
Resumo
A grande extensão territorial no Brasil coberta por pastagens, geralmente aparece após
a substituição do ecossistema nativo. Objetivou-se realizar o fracionamento físico da matéria
orgânica utilizando polintugstato de sódio em uma topossequencia sob pastagem em distintos
graus de conservação no início e após um período chuvoso. O fracionamento foi realizado
utilizando polytungtato de sódio, a determinação do teor de Carbono foi realizada pela
oxidação-difusa-úmida. Não houve diferença significativa entre os períodos (inicial e final)
nem na interação período posição, contudo ouve diferença significativa ao nível de 5% no
desdobramento das posições dentro de cada período na área sob pastagem degradada. Na
pastagem conservada, a posição da área influenciou positivamente no acúmulo de fração leve,
assim como a ocorrência de chuvas na pastagem. Na pastagem degrada, não houve diferencia
entre asa posições nem nos períodos estudados, demonstrando que o estágio de conservação e
fundamental para o acúmulo da fração leve.
Apresentação
Fundamentação teórica
Metodologia e análise
Local da Coleta
O fracionamento da fração leve foi realizado no Laboratório de Matéria Orgânica no
Departamento de Solos e Engenharia Rural do Centro de Ciências Agrárias na Universidade
Federal da Paraíba, Areia-PB.
As áreas escolhidas são duas topossequências já estudadas por Brehm (2010) e Rebequi
(2011), as quais foram escolhidas entre 23 topossequências sob pastagens com diferentes
54
níveis de conservação anteriormente avaliadas por Santos et al. (2002); Galvão et al. (2005) e
Lima (2005). O critério de escolha das topossequências levou em consideração o mesmo
gênero e a espécie da gramínea formadora da pastagem (Brachiaria decumbens), o grau de
cobertura vegetal do solo, a densidade de plantas invasoras e a presença de pastejo por
bovinos. Diante dos critérios adotados as topossequências selecionadas foram as localizadas a
6°57’55,9” de latitude S e 35°46’14,4” de longitude O denominada pastagem conservada e a
localizada a 6°57’37,7” de latitude S e 35°45’46,7” de longitude O denominada pastagem
degradada.
As variadas formas das topossequências resultam em diferentes declividades ao longo
da paisagem do relevo, sendo assim, Santos et al. (2002) dividiu as topossequências nas
seguintes posições: topo, ombro, meia encosta, pedimento e várzea, mas no presente foram
observadas as posições ombro, meia encosta e pedimento, as quais compõem a encosta de
uma topossequência (Fig. 1).
55
Figura 2. Precipitação pluviométrica durante o período chuvoso
56
Determinação dos Teores de Carbono das Frações
A determinação do teor de Carbono em uma amostra, e realizada pela oxidação-
difusa-úmida (Snyder & Trofynow, 1984).
Com o auxílio de um pincel, a fração leve foi retirada da película, pesada e colocada
em tubos de digestão, adiciona-se 1g de dicromato de potássio e 25 mL da solução digestora
composta de H2SO4 e H3PO4 na proporção de 3:2.
Imediatamente após colocar a solução digestora, introduz uma cubeta com 2 mL de
NaHO 1 mol/L, os tubos são hermeticamente fechados e colocados em bloco aquecedor a 120
ºC por 2 hora, após 12 horas, no mínimo, as cubetas retiradas e o hidróxido de sódio é
colocadas em Becker com 100 mL de água destilada e titulada com HCl a 0,05 quando o pH
estiver 8,3 até 3,7, anotando-se o valor gasto na titulação.
Resultados e discussão
Não houve diferença significativa entre os períodos (inicial e final) nem na interação
período posição, contudo ouve diferença significativa ao nível de 5% no desdobramento das
posições dentro de cada período (Tabela-1) na área sob pastagem degradada.
Considerando-se o primeiro período, ou seja, antes do início das chuvas, a pastagem
que obteve o maior valor de carbono da fração leve, foi a pastagem degrada (5,68 g de C kg-1
de solo). Possivelmente isso ocorreu, devido à grande diversidade de espécies vegetal
presente nesta pastagem, possibilitando assim, um maior aporte de material depositado sobre
a superfície desta área, ocasionando tal valor. Santos e colaboradores (2012), realizando o
fracionamento físico em solo sob diferentes usos, encontrou, na área com eucalipto, valor de
estoque de fração leve superior às demais áreas, atribuindo tal fato a particularidade do
eucalipto em deposita uma grande quantidade de material sobre o solo. Rebequi (2015),
desenvolvendo estudos nas mesmas áreas desta pesquisa, obteve, na pastagem degrada,
valores de carbono total superiores aos encontrados na pastagem conservada. Este mesmo
autor atribuiu o fato a grande diversidade de espécies vegetais encontrada nesta área.
Nesta mesma área, a posição do relevo que apresentou maior acúmulo de carbono da
fração leve foi o pedimento (5,93 g de C kg-1 de solo), seguido da encosta (5,91 g de C kg-1 de
solo) e do ombro (5,22 g de C kg-1 de solo). Isso se deve, a esta posição se encontrar na parte
mais baixa do relevo, e que através dos processos erosivos, recebe toda a carga de material
que e deslocado das camadas superiores, justificando o porquê desta posição apresentar o
57
maior valor de carbono da fração leve dentre as demais posições. Sattler e colaboradores
estudando áreas declivosas sob pastagem, verificou em seu trabalho, que as partes mais baixas
da área, possuía um acúmulo dos atributos por ele estudados, observando que eles seguiam o
sentido da declividade.
Tabela 1. Distribuição dos valores médios de Carbono da fração leve por posição dentro de
cada período na área sobre pastagem degradada.
Tabela 2. Distribuição dos valores médios de Carbono da fração leve por posição dentro de
cada período na área sobre pastagem conservada
58
Considerando o segundo período, ambas as pastagens apresentaram aumento no teor
de carbono da fração vele, sendo que a área sob pastagem conservada obteve valores
superiores (5,79 g de C kg-1 de solo) aos encontrados na pastagem degrada (5,68 g de C kg-1
de solo). Este fato deve ao crescimento das plantas forrageiras após os meses de chuva,
contribuindo, consequentemente, para o aumento da fração leve das áreas. Devido à pastagem
conservada apresentar uma boa uniformidade de plantas forrageiras, cobrindo totalmente o
solo, após o período chuvoso, as plantas forrageiras, desta pastagem, apresentaram um
crescimento superior às da pastagem degradada e consequentemente um maior acúmulo de
resíduo que foi depositado sobre o solo, refletindo em um aumento do carbono da fração leve.
Dentre as posições, na pastagem conservada, a meia encosta (6,37 g de C kg-1 de solo)
se manteve superior as demais posições, seguida do ombro (5,99 g de C kg-1 de solo) e do
pedimento (5,02 g de C kg-1 de solo). Em ambas as pastagens, a posição que obteve maior
incremento no ganho de fração leve foi o ombro. Na pastagem degrada a sequência observada
após o período chuvoso, demonstrou que o ombro (6,32 g de C kg-1 de solo) se manteve
superior as demais posições, seguido do pedimento (6,02 g de C kg-1 de solo) e da meia-
encosta (4,78 g de C kg-1 de solo).
O fato de em uma pastagem (conservada) a posição que se manteve superior as demais
ter sido na outra pastagem a que obteve a menor média, se deve ao fato de a meia-encosta, na
pastagem degrada, apresentar uma alta declividade (39,7%) fazendo com que a água da chuva
transportasse seus materiais com facilidade até as posições interiores ao ponto que isso era
facilitado pela pouca cobertura do solo nesta posição. Fato este, que não foi observado na
posição do ombro, devido a sua boa cobertura do solo.
Conclusões
Referências
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carbono da biomassa microbiana em cinco épocas do ano em diferentes sistemas de manejo
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60
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
DISTRIBUIÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DO USO DA TERRA
E DA COBERTURA VEGETAL NA ÁREA DE PRESERVAÇÃO
AMBIENTAL DA BARRA DO RIO MAMANGUAPE
Resumo
Apresentação
Projeto: Dinâmica da Paisagem na Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape. Plano:
Distribuição espaço-temporal do uso da terra e da cobertura vegetal.
1
Estudante de Iniciação científica: Angélica Fernandes Pessoa (e-mail: angel-fernandes12@hotmail.com,
telefone: (83) 99181-9439)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientadora: Profa. Dra. Nadjacleia Vilar Almeida. (e-mail: nadjacleia@ccae.ufpb.br)
62
naturais são permitidos o desenvolvimento de atividades antrópicas e a exploração dos
recursos naturais. No entanto, as APA’s “tem como objetivos básicos proteger a diversidade
biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos
recursos naturais” (BRASIL, 2000).
A APA da Barra do Rio Mamanguape foi criada pelo Decreto nº 924 de 10 de
Setembro de 1993, com os seguintes objetivos específicos: I- garantir a conservação do
habitat do Peixe-Boi Marinho (Trichechus manatus); II - garantir a conservação de
expressivos remanescentes de manguezal, mata atlântica e dos recursos hídricos ali existentes;
III - proteger o Peixe-Boi Marinho e outras espécies, ameaçadas de extinção no âmbito
regional; IV - melhorar a qualidade de vida das populações residentes, mediante orientação e
disciplina das atividades econômicas locais; V - fomentar o turismo ecológico e a educação
ambiental (BRASIL, 1993).
No entanto, a pressão das atividades socioeconômicas desenvolvidas no interior e no
entorno da APA da Barra do Rio Mamanguape podem causar impactos negativos
comprometendo a manutenção dos ecossistemas presentes na APA.
Dessa forma, o monitoramento da cobertura vegetal e do uso da terra trará grande
contribuição para gestão e planejamento da APA da Barra do Rio Mamanguape tendo como
principal resultado a caracterização da dinâmica das unidades de paisagem no interior e
entorno da APA com destaque para os principais tipos de uso.
Assim, o problema que norteou a pesquisa foi: a criação da APA proporcionou a
preservação ou regeneração dos remanescentes florestais?
Diante do exposto, a presente pesquisa tem como objetivo geral analisar a distribuição
espaço-temporal da cobertura vegetal e das formas de uso da terra no entorno e no interior da
APA da Barra do Rio Mamanguape.
Nesse sentido, as geotecnologias como o Sistema de Informação Geográfica (SIG), o
Geoprocessamento e o Sensoriamento Remoto se firmam como ferramentas de grande
importância no monitoramento ambiental, fornecendo dados confiáveis que servem de suporte
à tomada de decisões. A utilização de SIG´s e de dados de Sensoriamento Remoto agilizam a
elaboração dos mapas temáticos de uso da terra e cobertura vegetal, possibilitam as análises
temporais, uma vez que a fisionomia da Terra está em constante transformação seja natural
e/ou antrópica.
Fundamentação teórica
63
com características relevantes, por diversos motivos, entre eles, para a proteção de fontes de
água, proteção de animais contra a caça e por abrigar uma grande variedade de recursos
naturais (MMA, 2007).
Entretanto, com o crescente aumento populacional, as áreas naturais tiveram que ser
destruídas, dando lugar à urbanização, ocasionando assim, a diminuição da fauna e da flora,
levando os mesmos ao risco de extinção. Dessa forma, visando à proteção dessas áreas
naturais foi instituído pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza –
SNUC, critérios e normas para a criação, implantação e gestão das Unidades de Conservação.
As Unidades de Conservação são:
As Unidades de Conservação, por sua vez, dividem-se em dois grupos, ambos com
características distintas: Unidades de Proteção Integral e Unidades de Uso Sustentável.
As Unidades de Proteção Integral têm como objetivo preservar a natureza, sendo
admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais. No entanto, neste tipo de Unidade é
proibida a coleta e destruição do patrimônio natural, com exceção dos casos previstos na Lei
do SNUC. Já as Unidades de Uso Sustentável, tem como objetivo compatibilizar a
conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais, visando
também à qualidade de vida dos habitantes que residem na área (BRASIL, 2000).
As Unidades de Conservação são de grande relevância, pois protegem a diversidade
biológica e os recursos genéticos a ele associados, além dos vários benefícios que
proporcionam para os seres humanos, tais como: equilíbrio climático e manutenção da
qualidade do ar, base para produção de medicamentos para doenças atuais e futuras, áreas
verdes para lazer, educação, cultura e religião, entre outros benefícios.
As alterações nos usos e coberturas terrestres ocorridas ao longo dos últimos anos,
devido às atividades socioeconômicas ocasionam inúmeras modificações/pertubações nos
ecossistemas, principalmente quando se trata de zonas litorâneas.
A intensa e extensa ocupação da zona da mata paraibana pelos canaviais e a expansão
das zonas urbanas, acarretaram a supressão de áreas de florestas nativas, o aumento da
fragmentação e o comprometimento da conservação dos recursos naturais (LONGUI, 1999
apud MELLO et al., 2015).
Nesse contexto, as técnicas de sensoriamento remoto têm sido fundamentais, pois
permitem o monitoramento dos recursos naturais, além de possibilitar a identificação do uso e
cobertura do solo, e sua variação ao longo do tempo com as transformações ocorridas na
paisagem (MORAIS et al., 2011).
O sensoriamento remoto pode ser definido como: a utilização conjunta de sensores,
equipamentos para processamento de dados e equipamentos de transmissão de dados
colocados a bordo de satélites, com o objetivo de estudar eventos, fenômenos e processos que
64
ocorrem na superfície do planeta Terra a partir do registro e da análise das interações entre a
radiação eletromagnética - REM e as substâncias que o compõem em suas mais diversas
manifestações (NOVO, 2010).
Para a obtenção de dados por sensoriamento remoto é necessário o uso de energia.
Dessa forma, a energia utilizada nesse processo é a radiação eletromagnética. Segundo
Florenzano (2011) a radiação eletromagnética se propaga em forma de ondas com a
velocidade da luz e é medida em freqüência e comprimento de onda.
Com relação à interação da energia com os objetos da superfície terrestre, cada um
reage de uma forma diferente. Esta interação varia de acordo com o comprimento de onda e
com as características biofísicas e químicas dos objetos (vegetação, água e solo)
(FLORENZANO, 2011).
É por meio dessas variações, que é possível distinguir e diferenciar os objetos da
superfície terrestre nas imagens de sensores. Dessa forma, é fundamental o conhecimento do
comportamento espectral dos objetos da superfície terrestre e dos fatores que interferem neste
comportamento, para que possamos extrair informações a partir de dados de sensoriamento
remoto (NOVO, 2010).
Segundo Oliveira (2013, p. 28), o termo comportamento espectral da vegetação é
frequentemente utilizado para representar as características de reflectância da REM pelas
folhas, plantas individuais e conjuntos de plantas.
Quando se trata de estudos em vegetação com aplicações de técnicas de sensoriamento
remoto, este é fundamentado na compreensão da aparência que uma dada cobertura vegetal
assume, sendo fruto de um processo complexo que envolve muitos parâmetros e fatores
ambientais (PONZONI, 2002).
Com o objetivo de auxiliar o estudo e o monitoramento da vegetação foram criados os
índices de vegetação. Esses índices por sua vez, têm como objetivo explorar as propriedades
espectrais da vegetação, especialmente nas regiões do visível e do infravermelho próximo
(OLIVEIRA, 2013).
Dessa forma, a fundamentação dos índices de vegetação consiste na reflectância da
vegetação entre essas duas regiões espectrais mencionadas (visível e infravermelho próximo).
Sendo assim, quanto maior a densidade de cobertura vegetal, menor será a reflectância na
região do visível, por outro lado, maior será a reflexão na região do infravermelho próximo
(PONZONI et al.2012).
Na literatura são encontrados mais de cinqüenta índices de vegetação (MOREIRA e
SHIMABUKURO, 2004 apud ROSEMBACK, 2005), porém quando se trata de cobertura
vegetal, um dos mais utilizados é o Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI),
proposto por Rouseet al (1974).
O NDVI é um método de determinação do vigor da vegetação por meio de diferença
normalizada entre o pico de reflectância no infravermelho próximo e a feição de absorção na
região do vermelho utilizada na fotossíntese (BAPTISTA e MUNHOZ, 2009 apud
OLIVEIRA, 2013).
Segundo Freire e Pacheco (2005), o NDVI é um indicador de vegetação utilizada para
destacar a vegetação ocorrente em uma área.
65
Metodologia e Análise
Área de estudo
A pesquisa foi realizada na Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio
Mamanguape, criada pelo Decreto 924 de 10 de Setembro de 1993 com extensão de 14.460
ha, situada na mesorregião da Mata Paraibana, entre as coordenadas planas: X1: 269058,
Y1:9238186, X2: 291791, Y2: 9258381, abrangendo os municípios de Rio Tinto, Lucena,
Marcação e Baía da Traição (Figura 1). Está inserida nas Bacias Hidrográficas dos rios Miriri
e Mamanguape.
Segundo Medeiros (2012) a geomorfologia da APA da Barra do Rio Mamanguape
apresenta as seguintes unidades: Estuário e Oceano Atlântico, Planícies Costeiras, Vertentes
de Tabuleiro, Planícies Flúvio Marinha e Topos de Tabuleiro. Geologicamente está situada
em regiões de aluviões e sedimentos de praia, coberturas lateríticas e coberturas elúvio–
coluviais; paleógeno/neógeno (AESA, 2014 apud ASSIS, 2014).
O período chuvoso na região ocorre entre os meses de março e agosto, sendo junho o
mês de maior índice, correspondente a 300 mm. A estação seca concentra-se entre os meses
de setembro e fevereiro, sendo os meses de outubro e novembro com menor taxa de
precipitação. A temperatura média fica em torno dos 26,3°C, sendo os meses de janeiro e
fevereiro registraram as maiores temperaturas 27,1ºC (ARAÚJO et al, 2016).
A principal drenagem está representada pela Bacia do Rio Mamanguape como mostra
a Figura 2.
66
Figura 2. Representação da Bacia Hidrográfica do rio Mamanguape, Paraíba.
67
Figura 3. Uso e Cobertura da Terra em 1974 na APA da Barra do Rio Mamanguape, Paraíba.
68
As imagens Landsat foram empilhadas e o registro foi realizado com base em
imagens GeoCover 2000, adquiridas junto à National Aeronautics and Space Administration
(NASA). Posteriormente, foi realizado o recorte para a área de estudo.
Para analisar o entorno foi definido uma área de 1000 m, através da ferramenta Buffer,
onde criou-se um novo polígono ao redor do limite da APA. Este raio de 1000 m foi definido
levando em consideração a área que exerce influência direta na região limítrofe da APA,
visando uma melhor visualização da dinâmica espacial ocorrida no local, em virtude de que as
transformações que ocorrem no entorno acabam influenciando diretamente no seu interior.
De acordo com Jensen (2009) o NDVI é importante porque permite o monitoramento
de mudanças sazonais e interanuais no desenvolvimento e na atividade da vegetação. Assim,
possibilita quantificar as áreas com cobertura vegetal para analisar sua dinâmica.
Para estimar os valores de NDVI é necessário a transformação dos números digitais de
cada pixel da imagem em radiância espectral monocromática. Dessa forma, foi utilizada a
Eq.(1) proposta por Markham e Barker (1987apud OLIVEIRA et al., 2012):
(1)
Onde:
a e b representam as radiâncias espectrais mínimas e máximas (Wm-2 sr-1 µm-1);
ND é a intensidade do pixel (número inteiro compreendido entre 0 e 255);
E i corresponde as bandas (1,2,...7) do satélite Landsat.
(2)
Onde:
L λi é a radiância espectral de cada banda;
K λiIrradiância solar no topo da atmosfera (Wm-2 µm-1);
Zé o ângulo zenital solar;
dré o quadrado da razão entre a distância média Terra-Sol.
69
O NDVI é obtido através da seguinte Eq. (3):
Onde:
PIV e PV correspondem, respectivamente, às bandas 4 e 3 do Landsat 5 e 7.
Segundo Oliveira (2013, p. 34), “Os valores do NDVI variam de -1 a +1, onde
normalmente superfícies com alguma vegetação apresentará um valor de NDVI que irá variar
de 0 a 1, já para superfícies como água e nuvens o valor geralmente irá ser menor que zero”.
Com o intuito de facilitar a interpretação dos índices gerados para cada um dos anos
selecionados, procedeu-se com o seu agrupamento em classes. Vários testes foram realizados
com o objetivo de chegar à amplitude das classes que melhor representasse a realidade da
cobertura vegetal e do uso da terra nos dois anos analisados.
Dessa forma, foram definidas 5 classes: Água, Solo Exposto (área urbana e solo
desnudo), Vegetação Rala, Vegetação de Transição e Vegetação Densa. Os mapas temáticos
de 1985 e 2001 resultantes da classificação foram convertidos do formato raster para vetor,
posteriormente, foi realizado o cruzamento das camadas vetoriais, mantendo as informações
de ambas no arquivo resultante da operação (SILVA et al., 2013). Este procedimento foi
realizado para analisar o quanto de vegetação foi preservado/conservado e o quanto foi
perdido ao longo do período de estudo.
No mapeamento da cobertura da terra de 1985 (anterior a criação da APA) pode-se
notar a predominância da classe de vegetação densa (Figura 4). Nota-se também a distribuição
da vegetação de transição em toda a área de estudo. Outra classe da cobertura existente é
caracterizada por vegetação rala, que por sua vez se encontra mais concentrada no entorno do
limite APA.
Comparando os resultados obtidos no ano de 1974 com o de 1985, já podemos
perceber que houve redução significativa dos fragmentos de Mata Atlântica, onde em 1974
apresentavam manchas representativas e em 1985 já se encontravam bastante fragmentados.
Nota-se também a distribuição de vegetação de transição em toda a área de estudo e da
vegetação rala, que por sua vez se encontra mais concentrada no entorno da APA.
No mapeamento de 2001, é possível verificar as mudanças significativas à distribuição
das áreas de vegetação (Figura 5). Observa-se uma redução das áreas classificadas como
vegetação rala e, consequente aumento da vegetação de transição. No entanto, as áreas
ocupadas por solo exposto e vegetação densa registraram uma pequena diminuição. Houve
também aumento da classe água, o que pode estar relacionado a uma maior intensidade
pluviométrica no mês que a imagem foi obtida.
Conforme pode-se visualizar na Tabela 2, houve uma pequena diminuição da área da
classe de vegetação densa. Já as áreas ocupadas por água e vegetação de transição
aumentaram ao longo do período de estudo. E as áreas ocupadas por solo exposto e vegetação
rala sofreram decréscimo. No entanto, vale salientar que a quantificação das áreas descritas é
para a APA e para a Área de Influência Direta, dessa forma, totalizando 231,85 Km².
70
Figura 4. Cobertura da Terra em 1985 na APA da Barra do Rio Mamanguape, Paraíba.
71
Tabela 2. Quantificação das áreas de classes temáticas de 1985 e 2001
72
Verifica-se também que as maiores áreas onde a vegetação foi classificada como
regenerado ou em estado de regeneração se encontra no entorno da APA, porém vale ressaltar
que essas áreas correspondem a plantio (cultivo), onde o mesmo estava em estágio alto no ano
de 2001, fazendo com que as áreas do entorno fossem classificadas como regeneradas, devido
à dinâmica (estágios de crescimento) do plantio. O mesmo vale para a classe solo exposto que
na área do entorno em 1985 mostraram-se um pouco mais elevadas e no ano de 2001 houve
um pequeno decréscimo. Já as áreas preservadas se encontram dentro do limite da Unidade de
Conservação.
Júnior et al., (2015), em estudo na Área de Proteção Ambiental do Pratigi na Bahia,
avaliou imagens NDVI para o monitoramento da dinâmica da cobertura vegetal entre os anos
de 2000, 2001, 2003 e 2006. E como resultado, as imagens NDVI foram sensíveis às
mudanças da cobertura vegetal e evidenciaram que houve aumento da vegetação mais densa,
assim como uma maior espacialização da mesma.
De acordo com trabalhos de campo as mudanças identificadas na área de estudo
podem ser atribuídas à expansão de atividades canavieiras como pode ser observado nas
Figuras 7 e 8. Na figura 7 o canavial se encontra no entorno da Unidade de Conservação ao
lado de um fragmento de Mata Atlântica.
Data: 18-08- 2015. Foto: Marcelo Melo Data: 18-08- 2015. Foto: Marcelo Melo
73
Figura 9. Cultivo de Bananas na Figura 10. Cultivo de Macaxeira na
Comunidade Arintigui. Comunidade Arintigui.
Data: 18-08-2015. Foto: Marcelo Melo Data: 18-08-2015. Foto: Marcelo Melo
Figura 11. Cultivo de Milho e Feijão na Figura 12. Área desmatada para cultivo.
Comunidade de Caranguejeira.
Data: 18-08-2015. Foto: Marcelo Melo Data: 18-08-2015. Foto: Marcelo Melo
74
Figura 13. Rhizophora Mangle (mangue- Figura 14. Laguncularia racemosa
vermelho). (mangue-branco).
Data: 18-08-2015. Foto: Marcelo Melo Data: 18-08-2015. Foto: Marcelo Melo
Data: 18-08-2015. Foto: Marcelo Melo Data: 18-08-2015. Foto: Marcelo Melo
Conclusão
75
dos habitats naturais, redução da diversidade biológica, e impactos a espécies de fauna e flora.
E a área de Influência Direta foi a que mais sofreu impactos negativos devido à expansão do
cultivo da cana-de-açúcar
Diante o exposto, a presente pesquisa pode servir de suporte para os tomadores de
decisões, principalmente no que diz respeito ao planejamento e a gestão da Unidade de
Conservação, visando assim a sua proteção.
Referências
ARAÚJO, Lincoln Eloi de. SILVA, Fabrício Daniel dos Santos Silva, ALENCAR, Haymée
Nascimento de Alencar, SANTOS, Elydeise Cristina Andrade dos Santos, SANTOS,
Klefferson Alves dos. Variabilidade climática da APA da Barra do Rio Mamanguape –
Paraíba. In: Nadjacleia Vilar Almeida & Milena Dutra da Silva. (Org.). Geotecnologia e
Meio Ambiente: Analisando uma Área de Proteção Ambiental. 1ed.João Pessoa-PB: FeF
Gráfica e Editora, 2016, v. 1, p. 219-236.
BRASIL. lei nº 9.985, de 18 de Julho de 2000. Regulamenta o artigo 225, § 1º, incisos I, II,
III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza e dá outras providências. Ministério do Meio Ambiente, Brasília. Disponível em:
http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=322. Acesso em: 15 de abril de
2015.
76
Brasil, 2005.
JÚNIOR, J. L. dos. S.; PONZONI, F. J.; CHAVES, J.M. Utilização de dados provenientes do
Modelo Linear de Mistura Espectral e Índice de Vegetação por Diferença Normalizada em
imagens TM/Landsat e ETM+/Landsat 7 para a verificação de alterações da cobertura vegetal
na APA do Pratigi-BA. In.: Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Anais XVII, João
Pessoa-PB, Brasil, 25-29 abr. 2015, INPE, p. 2171 – 2177.
MELLO, E. P.; PEREIRA, R. S., ALBA, E.; TRAMONTINA, J.; ARAÚJO, E.; PEDRALI,
L. D.; SILVA, P. S. B. da. Análise evolutiva da dinâmica florestal nativa por meio da
Linguagem de Geoprocessamento Algébrico, utilizando imagens de alta resolução espacial do
sensor REIS. In.: Anais do Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Anais XVII, João
Pessoa-PB, Brasil, 25-29 abr. 2015, INPE, p. 3526 – 3533.
77
a Mata Atlântica. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE. São José dos Campos,
2002. Disponível em: <http://ecologia.ib.usp.br/lepac/bie5759/CAP8_FJPonzoni.pdf> Acesso
em 07 Jul. 2014.
Agradecimentos
78
ANÁLISE DOS FORAMINÍFEROS RECENTES DA
PLATAFORMA CONTINENTAL DE PERNAMBUCO, NE-BRASIL
Resumo
Apresentação
¹Título do projeto: Análise dos Sedimentos Biogênicos da Plataforma Continental de Pernambuco e Paraíba, Ne-
Brasil/Análise dos Foraminíferos Recentes da Plataforma Continental de Pernambuco, Ne-Brasil
Estudante de Iniciação Científica: Emanoel Marcos Medeiros Azevedo (e-mail: emanoel.mrcs@hotmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientador: David Holanda de Oliveira (e-mail: david@cca.ufpb.br, telefone: (81) 99412-2030)
79
entre -50m e -60m, águas relativamente quentes, salinidade elevada e cobertura sedimentar
composta por sedimentos terrígenos e carbonáticos biogênicos (MANSO, 2003).
O trabalho teve como objetivo analisar a distribuição dos foraminíferos e o aspectos
tafonômicos das suas carapaças. Tais informações são importantes para compreensão do
ambiente deposicional e serve de base para futuros trabalhos oceanográficos e paleoambientais.
Além disso, este estudo colabora para uma maior compreensão da dinâmica sedimentar da
plataforma continental de Pernambuco, principalmente em relação aos sedimentos biogênicos,
já que os foraminíferos constituem um dos mais abundantes grupos de bioclastos do local.
Fundamentação teórica
80
costeiros e de monitoramento ambiental de impactos naturais e antropogênicos. Essa utilização
é baseada na abundância, diversidade e facilidade de coleta desses organismos no ambiente
marinho, tornando possível a análise quantitativa dos dados; além de excelentes indicadores
ecológicos e ambientais, os foraminíferos têm grande importância geológica, pois com a sua
morte, as carapaças são incorporadas ao sedimento e passam a se comportar como grãos
sedimentares (LEMOS JÚNIOR, 2011).
Os foraminíferos em relação aos demais grãos sedimentares biogênicos distinguem-se
em: morfologia, tamanho, composição da carapaça e estrutura. Desta forma, fornecem
assinaturas tafonômicas que são indicadoras de processos preservacionais que ocorreram em
virtude dos processos geológicos atuantes na crosta terrestre. A grande variabilidade
morfológica de carapaças possibilita inferir hipóteses sobre a paleoecologia evolutiva destes
organismos, pois o modo como às carapaças se apresentam é um reflexo direto da paleoquímica
da água do mar, padrões de circulação, sedimentação e ação bioerosiva (WETMORE, 1987).
Segundo VILELA (2011), há uma abundância destes organismos em sedimentos de
áreas marinhas, e o que é preservado deles são suas carapaças e esqueletos formados através
dos sedimentos marinhos. A expressiva distribuição geográfica e a célere evolução dos
microfósseis através das eras geológicas nos permite fazer estudos de correlação de camadas
sedimentológicas e datação relativa, levando a inferir também características dos
paleoambientes. A distribuição das associações de foraminíferos é condicionada por fatores
como: temperatura, nutrientes, salinidade, ph, luz, oxigênio, teor de CaCO3 e profundidade.
As espécies mais tolerantes ou menos tolerantes a variações ambientais podem ser indicadoras
do ambiente em que foram encontradas e servem como referencial para se determinar
paleoambientes. Os índices mais utilizados em estudos desta natureza são: Abundância,
Frequência e Diversidade.
Metodologia e análise
Área de estudo
A praia de Sirinhaém, litoral de Pernambuco, está localizada a 60 km ao sul de Recife,
sobre extensos depósitos costeiros do Quaternário, como produto da carga de sedimentos
transportados e depositados na zona costeira pelos rios Formoso e Trapiche, localizados ao sul
e ao norte da Praia de Sirinhaém, respectivamente (MANSO et al., 2001).
O material analisado foi coletado e cedido pelo Serviço Geológico do Brasil para
realização deste trabalho. As amostras foram coletadas por um amostrador do tipo Van-veen,
adaptado para coleta de sedimentos superficiais. A analise do material foi realizada no
Laboratório de Zoologia de Vertebrados e Paleontologia do Centro de Ciências Agrárias-UFPB,
Areia. Para este estudo, foram analisadas 08 amostras coletadas entre as profundidades de 13m
a 32m (Tabela 1).
81
Tabela 01. Relação das amostras coletadas na Plataforma Continental sul de Pernambuco.
Laboratório
De cada amostra foi realizada a análise de 10 gramas de sedimento. O material foi lavado
em peneira com abertura de 63mm. Após secagem para facilitar a análise, o material foi
quarteado para triagem dos organismos. Sob lupa binocular, foram triados no mínimo 300
organismos de cada amostra quarteada. Após a finalização do processo de coleta dos
organismos, iniciou-se a etapa para identificação taxonômica dos gêneros de foraminíferos,
utilizando referências bibliográficas especializadas para identificação: LOEBLICH e TAPPAN
(1988), SEN GUPTA (1999), OLIVEIRA (2012).
Durante a identificação das carapaças, foram analisados os parâmetros tafonômicos
referentes a coloração e preservação.
Em relação a coloração (Tabela 01), naturalmente os foraminíferos possuem carapaças
de coloração branca ou incolor, todavia eles podem apresentar mudanças (amarelo, marrom, ou
mosqueado) devido a possíveis alterações físico-químicas do ambiente ao longo do tempo
geológico. Tais alterações são registradas nas carapaças dos foraminíferos e servem de
informações paleoambientais (LEÃO e MACHADO, 1989; MORAES, 2001; CEZÁR, 2015).
Para o estado de preservação, foi utilizada a metodologia de COTTEY & HALLOCK
(1988), e modificado de MORAES (2001): O padrão de desgaste fornecerá informações
importantes como transporte do material e ambiente de deposição (CEZÁR, 2015). Foram
escolhidos quatro padrões de desgaste para mensurar o estado de preservação das carapaças
(Quadro 01):
82
Quadro 01. Padrão de análise tafonômica correlacionada à coloração das carapaças de
foraminíferos.
COLORAÇÃO PRESERVAÇÃO
Para análise dos dados foi utilizado os seguintes índices ecológicos abaixo:
Densidade Populacional ou abundância absoluta (n): corresponde ao número total de
indivíduos na amostra por unidade de volume ou peso, neste caso será considerado o
valor n em 10g de sedimentos (TINOCO, 1989).
Frequência relativa (FR): é a razão entre o número de indivíduos de uma determinada
espécie (n) em relação ao número total de indivíduos da amostra (T) expresso em
porcentagem (TINOCO, 1989).
Frequência ocorrência (FO): é a razão do número de ocorrências em que foi contatada
uma espécie (P); em relação ao número total de amostras estudadas (N) expresso em
porcentagem. (Eq.02) (TINOCO, 1989).
83
Para a interpretação dos resultados foi adotada a escala (Modificado de Dajoz, 1983):
Gêneros principais: valores de FR acima de 5%;
Gêneros acessórios: valores de FR entre 1% e 4,9%;
Gêneros traços: valores de FR inferiores a 1%.
Microfauna1 de foraminíferos
No total foi inferido a densidade de 16803 espécimes de foraminíferos e a identificação
de 18 Gêneros, dentre estes 17 foram bentônicos e um planctônico. As amostras que
apresentaram maior densidade de espécimes foram AM01 com 5312 espécimes; AM08 com
3432 espécimes e AM05 com 3080 espécimes (Apêndice 1).
A maioria dos gêneros de foraminíferos possuem carapaças do tipo porcelanosa (50%)
sendo representados pela Ordem Miliollida contando com nove gêneros sendo eles Archaias
spp, Spiroloculina spp; Pyrgo sp, Massilina spp, Triloculina spp, Quinqueloculina spp,
Articulina spp, Peneroplis spp e Sigmoillina spp. Os foraminíferos de carapaças hialinas (39%)
foram representados pela Ordem Rotallida com cinco gêneros: Discorbes spp, Gypsina spp,
Anphistegina spp, Nônio spp e Elphidium spp e das Ordens Globogerinida e Buliminida que
apresentaram somente um gênero representante no qual tem-se o Gênero Globogerinoides spp
e o Gênero Reussela spp. Por ultimo temos os que possuem carapaça aglutinante (11%)
pertencente à Ordem Textularride, que apresentou dois gêneros representantes, Textularia spp.
e Clavulina spp (Figura 1).
Fonte: Autor
Em relação a frequência relativa (FR), os gêneros principais foram: Peneroplis spp. com
média total nas amostras de 34%, variando entre 02% (AM 06) à 74% (AM08);
Quinqueloculina spp. com média total de 27% nas amostras, variando entre 09% (AM 08) a
54% (AM 03) e Amphistegina spp. média total de 14%, variando entre 05% (AM 05) à 16%
(AM 01) dentre outros.
1
O termo fauna é normalmente usado para designar o conjunto de animais de uma região. Porém também é usado
para designar um grupo de organismos que viveu em uma determinada época geológica. SANTOS, V.S. Fauna e
flora. 2010.
84
Em relação à frequência de ocorrência (FO), os gêneros mais constantes foram
Amphistegina spp. (100%), Quinqueloculina spp. (100%), Triloculina spp. (100%), Peneroplis
spp. (100%), Textularia spp. (100%), Pyrgo spp. (100%), Archaias spp (75%), Discorbis spp
(87%) e Elphidium spp (62%). Os gêneros que ocorreram de forma acessória nas amostras
foram: Articulina spp (50%); Spiroloculina spp (50%); Globogerinoides spp (37%); Gypsina
spp (37%); Reussela spp (25%) Sigmoilina spp (25%). Ocorrência acidental: Marcilina spp
(12%); Clavulina spp (12%) e Nônio spp (12%). Deste modo temos que nove gêneros aparecem
de forma constante nas amostras; seis gêneros são acessórios e três são acidentais
De acordo com vários autores (TINOCO, 1989; SEN GUPTA, 1999; VILELA E
KOUTSOUKOS, 2007) essa associação faunística é típica de águas tropicais mais rasas,
predominantemente de plataforma interna a média. Grande parte desses organismos vive em
relações ecológicas simbióticas, principalmente com algas, as quais necessitam de ambientes
com pouca profundidade e boa luminosidade para sobreviverem.
Bem como a grande quantidade de foraminíferos com carapaças porcelanosas justifica-se
pelo fato de que na plataforma continental de Pernambuco o processo hidrodinâmico é mais
intenso, devido à ação de ondas e correntes marítimas superficiais a qual acaba selecionando
organismos de carapaças mais resistentes, como é o caso dos Milíolídeos, que possuem
carapaças mais robustas, e que resistem por mais tempo no ambiente marinho aos processos de
saltação e arrasto decorrentes dos efeitos de circulação de massas de água (ARARIPE, 2014).
Outro fato que colabora para essa interpretação é quando correlacionamos à quantidade de
foraminíferos bentônicos e planctônicos nas amostras. A menor quantidade de foraminíferos
planctônicos nos ambientes de plataforma justifica-se pelo fato de que estes organismos
possuem sua ecologia adaptada a ambiente de águas mais calmas com processos
hidrodinâmicos pouco intenso, geralmente característicos de ambiente de mar aberto (GUPTA,
1999). De acordo com isso, o baixo número de formas planctônicas, está provavelmente
relacionado ao fato de que a área estudada apresenta maiores oscilações de salinidade e
condições de energia hidrodinâmica moderada a alta, sendo assim fatores limitantes para a
presença destes foraminíferos no ambiente e que a ocorrência, mesmo que baixa, de formas
planctônicas justifica-se pela fraca influência de correntes marítimas de água de áreas mais
profundas (ARARIPE, 2014).
85
correntes e também pode ser potencializada em casos de perfurações por predação ou simbiose
(COTTEY E HALLOCK, 1988, apud BATISTA, VILELA E KOUTSOUKOS, 2007 p.93). Já
as carapaças com dissolução foram mais frequentes em amostras mais profundas. De acordo
com COTTEY E HALLOCK (1988) a dissolução é mais comum em ambientes de baixa energia
e com sedimentos ricos em matéria orgânica, e pode ocorrer das seguintes maneiras:
bioquimicamente, quando animais que se alimentam de foraminíferos ingerem suas carapaças,
e estas são submetidas ao ataque das suas enzimas digestivas, biologicamente pela ação
bioerosiva de algas e fungos que remove o carbonato de cálcio (CaCO3) da carapaça,
acelerando com isso sua dissolução e fragmentação e geoquimicamente quando as carapaças
são submetidas a um ambiente subsaturado em carbonato de cálcio.
Figura 02. A: Percentual entre carapaças preservadas (Vermelho- 19%) e carapaças com não
preservadas (Azul- 81%). B: Percentual das variações de carapaças não preservadas.
A) B)
Fonte: Autor
86
atribui a coloração amarelada as tecas.
Quando os grãos escurecidos são removidos para a zona oxidante, por efeito da erosão
ou da ação de organismos bioturbadores, o sulfeto de ferro presente é rapidamente oxidado
passando para óxido de ferro, que é responsável pela cor amarronzada dos grãos (VAN
STRATEN, 1954 apud LEÃO E MACHADO, 1989). O caráter mosqueado das testas dos
foraminíferos está relacionado com a estrutura do grão. Em alguns casos, o agente corante
localiza-se ao longo das linhas de junção das câmaras, dando um aspecto listrado as tecas; pode
estar preenchendo microporos das paredes dos grãos ou apenas preenchendo as aberturas e
câmaras vazias das carapaças. Este de fato ocorreu durante o processo de análise tafonômica,
em que muitas das carapaças eram ornamentadas com uma miscelânea de cores em suas
carapaças em que muitas vezes as cores acompanhavam as linhas de suturas nas tecas dos
foraminíferos principalmente as carapaças do Gênero Peneroplis spp. A coloração amarela
pode indicar sedimentos relictos (antigos) misturados a sedimentos mais modernos.
Figura 03. A: Percentual entre Carapaças Não Alteradas (Vermelho- 2%) e carapaças Alteradas
(Azul- 98%). B: Percentual das variações de carapaças com alterações.
A) B)
Fonte: Autor
Conclusões
87
luminosidade e predominantemente de plataforma interna a média.
Os foraminíferos de carapaças porcelanosas dominam a plataforma continental de
Pernambuco caracterizando-a como um ambiente com intensa hidrodinâmica, devido a ação de
ondas e correntes marítimas superficiais, que seleciona organismos de carapaças mais
resistentes aos processos de saltação e arrasto, como é o caso dos Milíolídeos.
Sobre os processos tafonômicos das carapaças, foi observada uma grande quantidade de
carapaças com colorações alteradas (amarelas, marrons e mosqueadas) e não preservadas
(incrustadas, fragmentadas e dissolvidas), demonstrando assim uma representatividade de
espécimes relicta na plataforma continental de Pernambuco.
Referências
BRASIL. LEI N. 8.617, DE 4 DE JANEIRO DE 1993. Dispõe sobre o mar territorial, a zona
contígua, a zona econômica exclusiva e a plataforma continental brasileiros, e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8617.htm Acesso
em: 20/11/2016.
DAJOZ, R. 1983. Ecologia geral. 4 ed. Vozes, Petrópolis Rio de Janeiro, 472 p.
GUPTA, S. B. K., 1999. Modern foraminífera. Kluwer Academic Publishers, London, 371p.
88
LEÃO, Z. M. A. N; MACHADO, A. J. Variação da cor dos grãos carbonáticos de
sedimentos marinhos atuais. Revista Brasileira de Geociências, São Paulo, v. 1, n. 19, p.87-
91, mar. 1989.
LOEBLICH Jr., A.R. e TAPPAN, H. Foraminiferal Genera and their Classification [volume
1]. Van Nostrand Reinhold Company, New York: [i]-x, 1-970. 1988.
MANSO, V.A. et al. Perfil Praial de Equilíbrio da Praia de Serinhaém, Pernambuco. Revista
Brasileira de Geomorfologia, São Paulo, v. 2, n. 1, p.45-49, set. 2001.
89
SILVA, C.P. Bioestratigrafia e Paleoecologia de Foraminíferos da Bacia de Barreirinhas,
Cretáceo, Margem Equatorial Brasileira. IGEO/UFRGS, 2011. 132f. Tese (Doutorado). -
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Geociências. Programa de Pós-
Graduação em Geociências. Porto Alegre, RS - BR, 2011.
WETMORE, K.L. Correlations between test strenght, morphology and habitat in some benthic
foraminifera from the coast of Washington. Journal of Foraminiferal Research, v. 17, n. 1,
p. 1-13, 1987.
90
EUTROFIZAÇÃO E VULNERABILIDADE EM ÁGUAS DE BACIA
IMPACTADA NO NORDESTE BRASILEIRO: INDICADORES POTENCIAIS
Resumo
Apresentação
Fundamentação teórica
92
intensificam a acumulação e concentração de nutrientes, tornando estes ecossistemas muito
mais vulneráveis à eutrofização (BARBOSA et. al, 2012).
Metodologia e análises
Fonte: AESA
93
Médio Curso do rio Mamanguape e do rio Araçagi, consideradas áreas potenciais de
inundação ribeirinha, entre essas: Alagoa Grande, Araçagi, Cuité de Mamanguape, Cuitegi,
Guarabira, Itapororoca, Mamanguape, Marcação, Mulungu, Rio Tinto. Um dos principais rios
componentes da bacia, o rio Mamanguape nasce em Lagoa Salgada, lagoa temporária, situada
a mais de 500 metros de altitude, no planalto da Borborema. O médio curso do rio
Mamanguape localiza-se após a cidade de Alagoa Grande, onde passa pelos municípios de
Mulungu e Itapororoca. No baixo curso do rio Mamanguape as altitudes não ultrapassam 200
metros.
Ao todo foram selecionados 7 (sete) ambientes da Bacia do rio Mamanguape para
amostragens de água e sedimento, levando em consideração o uso e ocupação das áreas do
entorno. As amostras de água foram coletadas na subsuperfície da coluna de água dos
reservatórios e preservadas congeladas para evitar a degradação dos compostos de interesse.
As análises de fósforo total e ortofosfato da água foram realizadas segundo a metodologia
descrita por APHA (1998) também conhecida como “método do ácido ascórbico”, e consiste
na reação de complexação do ortofosfato pelo molibdato em meio ácido sendo catalisada pelo
antimónio, com formação de ácido fosfomolíbdico, que é reduzido pelo ácido ascórbico,
resultando no chamado azul de molibdênio cuja composição é incerta. A intensidade da cor
azul é proporcional à quantidade de fosfato inicialmente incorporada ao heteropiliácido
(MARUCHI, 2005). Sendo que para determinação do fósforo total a amostra anteriormente
passa por digestão com persulfato de potássio.
Foram coletadas amostras simples dos primeiros cinco (5) centímetros do sedimento
superficial dos ambientes com o auxílio de um amostrador confeccionado em tubo de PVC
rígido de 100 mm de diâmetro, sendo em seguida acondicionadas em potes plásticos e
congeladas a 4o C até o processamento. As amostras foram descongeladas e em seguida secas
a 65°C até peso constante. Após secagem, as amostras foram destorroadas e passadas em
peneira de 2 mm retirando-se o material mais grosseiro. Para realização das análises dos
teores de fósforo total e inorgânico, uma alíquota de aproximadamente 10g das amostras
foram maceradas em gral de porcelana, passadas em peneira de 100 mesh (0.149 mm) e
armazenadas em recipientes de polietileno.
Para a determinação do fósforo total no sedimento foi utilizado 0,5 g da amostra que é
queimada em mufla a 500°C por 1 hora. Após a queima o resíduo é levado a digestão em
solução de HCl 1 N, sendo aquecida durante 10 minutos em chapa térmica, em seguida filtra-
se e mantém-se a amostra refrigerada até o momento da determinação. A elevada temperatura
de combustão a que é submetida à amostra de sedimento promove a oxidação da matéria
orgânica e dos carbonatos, liberando o fósforo associado a estes carreadores geoquímicos. Na
determinação do fósforo inorgânico é utilizada a mesma quantidade de amostra, porém esta
não é levada a combustão, sendo lixiviada com o mesmo extrator durante 16 horas em
temperatura ambiente e sob agitação constante. Após a extração, as frações são determinadas
através do método do ácido ascórbico (APHA, 1998). A concentração de fósforo orgânico é
determinada através da diferença entre o fósforo total e o fósforo inorgânico. Sendo as
análises realizadas no Laboratório de Limnologia do Departamento de Fitotecnia e Ciências
Ambientais/CCA/UFPB e no Laboratório de Biotecnologia do Solo e da Água do
Departamento de Solos e Engenharia Rural/CCA/UFPB.
Para o cálculo do IET foi utilizado o índice de Carlson (1977), modificado para
94
ambientes tropicais por Toledo Jr. et al., (1983). O índice se baseou nos teores de fósforo total
na água. A expressão utilizada foi a seguinte:
Resultados e discussão
A Lagoa do Paó foi o ambiente que apresentou o maior teor de P- Total na água com
113, 46 μg/L, o menor valor registrado foi no reservatório de Mari III com 26, 89 μg/L.
Segundo Chapman (1992), as concentrações de fósforo, na maioria das águas naturais,
encontram-se entre 5 µg L-1 e 20 µg L-1, sendo assim valores inferiores aos aqui encontrados.
Freitas et al. (2011) trabalhando com o açude Cruzeta no Rio Grande do Norte encontraram
valores médios de P-Total de 150 μg/L. As altas concentrações de P-Total na água refletem,
sobretudo as cargas potenciais de nutrientes tanto dissolvidos quanto particulados, carreados
para os reservatórios, tendo a consequência direta a eutrofização artificial do ecossistema.
Tabela 1. Valores de fósforo total da água dos reservatórios analisados na Bacia do rio
Mamanguape.
Segundo a Resolução CONAMA nº 357 de 2005, para que um corpo d’água esteja na
condição classe 2 são necessários, entre outras avaliações, que as concentrações de fósforo
total sejam inferiores a 30 μg L-1, sendo assim quatro dos ambientes não se enquadram nos
padrões da Resolução.
Deve-se considerar o período de realização das amostragens, que foi no início da
95
estação seca (agosto - outubro). Uma vez que a dinâmica de nutrientes em reservatórios do
semiárido é controlada, principalmente, pela variação sazonal das condições climatológicas e
hidrológicas (CHELLAPPA et al., 2008). Assim em períodos de balanço hídrico negativo e a
altas temperaturas, pode ocorrer uma intensificação da acumulação e concentração de
nutrientes.
Os teores de ortofosfato (P-Orto) variaram de 14, 62 μg/L a 107,99 μg/L. A Lagoa do
Paó foi o ambiente que apresentou as maiores concentrações, assim como se deu com o P-
Total, fato que pode ser explicado pelo elevado despejo das cargas de esgoto diretamente no
corpo d’água. O ortofosfato é a forma que possui maior relevância entre as demais
apresentadas pelo fósforo, por ser a melhor assimilada pelos vegetais aquáticos, sem
necessidade de conversão a formas mais simples (ESTEVES; PANOSSO, 2011).
O IET para o P-Total mostrou que a maioria dos ambientes foram classificados como
mesotróficos, com exceção de Lagoa do Paó (Eutrófico), Mari III ficou no limiar entre
oligotrófico e mesotrófico. Registrando IET entre 44,21 e 64,98. A determinação do estado
trófico de um ambiente aquático é uma ação fundamental para obtenção de informações que
permitam descrever as relações bióticas e abióticas desse ecossistema. Os índices utilizados
possibilitam a classificação das águas de corpos hídricos, facilitando, assim, informações
relativas ao estado ou à natureza na qual se encontram tais sistemas (OLIVEIRA et al., 2007).
O IET de Carlson (1977), modificado para ambientes tropicais por Toledo Jr. et al., (1983)
tem sido um dos índices largamente usados para classificação de lagos e reservatórios, pela
sua simplicidade e objetividade (RIBEIRO, 2007).
96
Tabela 3. Índice de estado trófico (IET) para P-Total nos reservatórios monitorados na bacia
do rio Mamanguape, Paraíba, Brasil.
Os teores de P-total no sedimento variaram entre 18, 96 e 523, 17 µg g-1 (Tabela 4).
Zhang et al. (2008) propôs um índice para mensurar a poluição em ambientes lacustres com
base nos teores de P-total no sedimento. Pela classificação sugerida por estes autores, os
ambientes que apresentam concentrações de P-total < 500 µg.g-1 são considerados não
poluídos, entre 500 < P-total< 1300 µg.g-1 são moderadamente poluídos; e acima de 1300
µg.g-1 são considerados altamente poluídos.
Muito embora seja um dado de grande importância, a concentração total de fósforo nos
sedimentos não oferece maiores detalhes sobre os processos biogeoquímicos que envolvem a
deposição do fósforo (KOCH et al., 2001). O fracionamento geoquímico da fração total em
inorgânica e orgânica oferece uma imagem mais completa da dinâmica do elemento no
sedimento dos ambientes.
97
dos Matões no Piauí, também encontraram predominância da fração orgânica de fósforo no
sedimento, que em média representaram 53% do conteúdo total do nutriente.
Muito embora as plantas aquáticas só absorvam fosfato, o fósforo orgânico que entra
nos cursos hídricos pode ser mineralizado e ser importante fonte de P para o fitoplâncton e as
bactérias (CORRELL, 1999).
O P-orgânico é constantemente modificado em sua essência pelos processos de
degradação que ocorrem na interface água/sedimento e na porção depositada nas camadas
superficiais do sedimento (CARMAN et al., 2000). As transformações do fósforo orgânico
dos sedimentos dependem, além dos processos físico-químicos de adsorção e dessorção, de
fatores bioquímicos referentes aos organismos que promovem sua mineralização (TOOR et
al., 2003).
Os teores de P-inorgânico não ultrapassaram os 12 µg.g-1. Sendo o ambiente de Santa
Lúcia o que apresentou a maior concentração em relação ao P-total (24%). Valores bem
inferiores aos encontrados por Bai et al. (2009) no Lago Taihu na China, onde os valores de
P-inorgânico chegaram a 1551 µg.g-1.
Conclusão
Referências
98
BAI, X. DING, S.; FAN, C. et al. Organic phosphorus species in surface sediments of a large,
shallow, eutrophic lake, Lake Taihu, China. Environ Pollut., Barking, Essex, v. 157, p.
2507–2513, 2009.
CARLSON, R. E. A trophic state index for lakes. Limnology and Oceanography, n. 22, p.
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CHAPMAN, D. Water quality assessment. A guide to the use of biota, sediments and
water in environmental monitoring. 1. ed. UNESCO / WHO / UNEP. Chapman & Hall.
1992. 585p.
CORREL, D.L. Phosphorus: A Rate Limiting Nutrient in Surface Waters. Maryland. Poultry
Science, v. 78, p. 674–682. 1999.
99
KOCH, M.S., BENZ, R.E. e RUDNICK, D.T. Solid-phase phosphorus pools in highly
organic carbonate sediments of Northeastern Florida Bay. Estuarine, Coastal and Shelf
Science, v. 52, p. 279-291, 2001.
OLIVEIRA, G.S.; ANTUNES, F.M.; VAZ, S.S.; SILVA, A.M.; ROSA, A.H. Parâmetros
físico-químicos e balanço biogeoquímico de nutrientes inorgânicos na avaliação da qualidade
da água do Rio Sorocaba – SP. In: Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, 30,
Águas de Lindóia, 2007. Anais... Águas de Lindóia: SBQ, 2007.
PERH. Plano Estadual de Recursos Hídricos do Estado da Paraíba. Relatório Final. 2007.
Disponível on-line em: http://www.aesa.pb.gov.br/perh/. Acesso em 19 de setembro de 2015.
RUSU, V.; POSTOLACHI, L.; POVAR, I.; ALDER, A.; LUPASCU, T. Dynamics of
phosphorus forms in the bottom sediments and their interstitial water for the Prut River
(Moldova). Environ Sci Pollut Res., v. 19, p. 3126–3131, 2012.
100
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TOLEDO JR., A. P.; TALARICO, M.; CHINEZ, S.J.; AGUDO, E.G. “A aplicação de
modelos simplificados para a avaliação de processos de eutrofização em lagos e reservatórios
tropicais”. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA, 12, 1983,
Camboriú. Anais... Camboriú: 1983, p.1-34.
101
A TRIBO PHASEOLEAE (LEGUMINOSAE, PAPILIONOIDEAE)
NA MATA DO BURAQUINHO, JOÃO PESSOA, PARAÍBA – BRASIL
Resumo
Apresentação
_______________________________________________
Considerando a importância desta família na composição vegetal na mata Atlântica do
Brasil, bem como no mesmo domínio fitogeográfico da Paraíba. O presente trabalho teve por
objetivo contribuir para o conhecimento da diversidade de espécies da tribo Phaseoleae
(Leguminosae-Papilionoideae) na mata Atlântica localizada na Mata do Buraquinho em João
Pessoa, Paraíba. Este trabalho teve por objetivo realizar um estudo taxonômico tendo como
resultado o reconhecimento das espécies, a produção chaves de identificação, descrição,
comentários e pranchas de imagens destas.
Fundamentação teórica
103
Metodologia e análise
Conclusão
Tratamento Taxonômico
Arbustos, árvores, erva, Lianas, trepadeiras; ramos cilíndricos, costados, planos,
levemente alados, estrigosos, glabros, glabrescentes, hirsutos, pubescentes. Estípulas basifixas
104
ou peltadas, ovadas, estreitamente-triangulares, triangulares. Folhas alternas, dísticas ou
espiraladas; trifolioladas; pecioladas, raques e estipelas presentes; folíolos basais elípticos,
lanceolados, oblongos, ovados, ápices arredondados, mucronados, cuspidados, agudos,
margens inteiras, bases agudas, arredondadas, assimétricas, obtusas, truncadas, folíolos
apicais ovados, elípticos, lanceolados, oblongos, obovados, ápices agudos, arredondados-
mucronados, cuspidados, levemente-cuspidados, margens inteiras, bases arredondadas,
cordadas, cuneadas, obtusas, truncadas; faces adaxiais glabras, glabrescentes, estrigosos,
seríceas, faces abaxiais estrigosas, esparso-seríceas, glabras, glabrescentes, seríceas,
membranáceas. Inflorescências axilares ou terminais, panículadas, racemosas ou
pseudorracemosas, congestas ou laxas. Flores pediceladas, subsésseis ou sésseis, zigomorfas
ou assimétrica, monoclinas, hipóginas; cálice campanulado, largo-campanulado, tubuloso,
bilabiado ou radiado, pubescente, glabro, pubescente, seríceo, híspido, lacínias ou lobos, 4 ou
5, inconspícuos, brevemente-triangulares, triangulares, estreitamente-triangulares, truncado;
corola papilionácea, pétalas 5, unguiculadas, amarelas, amarelo-limão, brancas, castanhos,
rosas, lilás, violetas, vinhos, estandarte obovados, orbiculares, ovado-orbiculares, reflexos,
ressupinados ou não ressupinados, calcar presentes ou ausentes, alas livres, falcadas, largo-
obovadas, oblongo-obovadas, obovadas, quilhas conadas, cocleadas, falcadas, obovado-
falcadas, oblongas-falcadas; androceus diadelfos, anteras homomorfas ou heteromorfas,
rimosas; ovário sésseis, pluriovulados. Legumes típicos ou folículo, sésseis, lineares,
falcados-lineares, oblongos, planos ou cilíndricos, valvas cartáceas, lamelares, estria
alariforme presente ou ausente, hirsutos, pubescentes, hispidas, canescentes, margens retas,
estrias lignosas presentes ou ausentes. Sementes elípticas, oblongas, orbiculares, quadradas,
retangulares, transversalmente-elíptica; testas lisas, glutinosas, escuras, castanhas,
marmoradas, rubro-negras, pretas; hilos basais, centrais, subcentrais, elípticos, lineares,
orbiculares, oblongos.
105
5. Estandarte calcarado; legume com estrias lignosas nas margens das valvas.
6. Ramo costado, levemente alado; pecíolos 6,7-10,7 cm compr.; pétalas brancas,
sementes pretas .................................................. 3.2. Centrosema plumieri (fig. 1g)
6’. Ramo cilíndrico, não alado; pecíolos 0,9-3,9 cm compr.; pétalas lilás ou violeta;
sementes marmoradas
7. Ramo pubescente; raque foliar 2,1-2,2 cm compr.; inflorescências 6,1-9,2 cm
compr.; lacínios estreitamente-triangulares........................... 3.3. C. pubescens
7’. Ramo glabrescente; raque foliar 0,4-0,5 cm compr.; inflorescências 0,4-2 cm
compr.; lacínios curtamente-triangulares ............. 3.1. C. brasilianum (fig.
1f.)
5’. Estandarte não calcarado, legume sem estrias lignosas nas margens das valvas
8. Cálice com 4 lacínias ou lobos, semente com hilo linear
9. Cálice largo-campanulado; pétalas amarelo-limão; valvas dos legumes com
lamelas transversais............................................ 7.1. Mucuna sloanei (fig. 3b)
9’. Cálice campanulado, pétala violeta, valvas dos legumes sem lamelas
transversais.
10. Ramos estrigosos; estípula basifixa; pseudorracemo laxo; flor pedicelada,
antera homomorfa; legume reto; semente oblonga, testa marmorada
................................................................... 5.2. Dioclea virgata (fig. 2e-g)
10’. Ramos seríceos; estípula peltada; pseudorracemo congesto; flor séssil,
antera heteromorfa; legume arqueado; semente orbicular, testa
marrom.............................................................. 5.1. D. violacea (fig. 2c-
d)
8’. Cálice com 5 lacínias, hilos oblongos, orbiculares ou oblongos
11. Ramos glabros; cálice bilabiado, cálice triangular e truncado, pétala rosa,
alas falcadas, valvas do legume lignosas com estria alada; semente com hilo
basal, oblongo ..................................... 2.1. Canavalia brasiliensis (fig. 1c-d)
11’. Ramos seríceos ou hirsutos ou pubescentes; cálice radiado, lacínios
triangulares, pétala lilás ou amarela, valvas do legume coriácea sem estria
alada; sementes com hilo centrais, elíptico ou orbiculares.
12. Racemo, pétala amarela.
13. Liana; caule plano; ramo pubescente; estípula basifixa, folíolo com
base subcordada; flor pedicelada; fruto folículo; margem crenadas,
sementes rubro-negras .............. 9.1. Rhynchosia phaseoloides(fig. 3-d)
13’. Trepadeira; caule cilíndrico; ramo hirsuto; estípula medifixa, folíolo
com base cuneada; flor subséssil; fruto legume, margem reta; sementes
marmoradas .............................................................. 10.1. Vigna luteola
12’. Pseudorracemo, pétala lilás.
14. Ramo hirsuto; pseudorracemo 3,6-3,8 cm compr.; valvas do legume
híspida, margem reta; semente quadradas, testa castanha
......................................... 1.2. Calopognoium mucunioides (fig. 1b)
14’. Ramo seríceo; pseudorracemos 6,1-18 cm compr.; valvas do
legume canescente, margem ondulada; sementes oblongas, testa
preta ................................................................. 1.1. C. caeruleum
106
(fig. 1a)
Descrições taxonômicas
1.1. Calopogonium caeruleum (Benth.) C. Wright, Anales Acad. Ci. Med. Habana. 5: 337.
1868[1869]. (fig. 1a).
Nome vernacular: amarra valente, canela de aracuan, cipó de aracuan, cipó de macaco,
feijão de catinga de macaco, feijão chicote, feijão espargo, feijãozinho da mata (SILVA et
al.,2004).
Trepadeiras, caule cilíndrico; ramos cilíndricos, seríceos. Estípulas 0,2 x 0,1 mm, basifixa,
triangulares, indumento seríceo, caducas. Folhas espiraladas; pecíolos 5,2-6,8 cm compr.;
raques 1,6-1,8 cm compr.; folíolos basais 8,2-6,4 x 5,9-4,4 cm, ovados, ápice agudo, bases
obtusas, folíolos apicais 10,1-7,2 x 5,9-5,1 cm, ovados, ápices agudos, mucronados, bases
cuneadas, faces adaxial e abaxial, seríceos. Inflorescências axilares, pseudorracemosas, 6,1-18
cm compr., congestas. Flores subsésseis, zigomorfas; cálice tubuloso, radiado, pubescente,
lacínios 5, triangulares; pétalas lilás, estandarte obovada, não ressupinado, calcar ausente, alas
livres, obovadas, quilhas obovadas, anteras homomorfas. Legumes 7,2-4,7 x 0,8-0,4 cm,
linear, planos, valvas lignosas, canescentes, margens onduladas, estrias lignosas ausentes.
Sementes 5-7; 5-6 x 4 mm, oblongas; testas lisas, escuras; hilos centrais, elípticos.
Material Examinado: BRASIL, Paraíba, João Pessoa, Jardim Botânico, Mata dentro da
UFPB, 06.IX.1996, fl., M. R. Barbosa 1543 (JPB 24.574), idem, 05.XI.1982, fl. e fr., M. S.
Pereira e M. R. Barbosa 1994 (JPB 5401), id., 12.I.1942, fl. e fr., M. S. Pereira e M. R.
Barbosa 1994 (JPB 587).
Calopogonium caeruleum apresenta distribuição do México ao norte da Argentina
(Okano1982). No Brasil ocorre no Norte (Acre, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e
Tocantins), em todos os estados do Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul; pelos domínios
fitogeográficos da Amazônia, da Caatinga, do Cerrado e da Mata Atlântica (BFG, 2015).
Comentário: Na área de estudo foram encontradas duas espécies de Calopogonium:
C.caeruleum e C. mucunoides ambas são morfologicamente de fácil determinação, pois C.
caeruleum apresenta indumento seríceo, pseudorracemo laxo, legume margens das valvas
onduladas e sementes escuras (vs. indumento hirsuto, pseudorracemo congesto, legume com
margens das valvas retas e sementes castanhas em C. mucunoides).
1.2. Calopogonium mucunoides Desv.Ann. Sci. Nat. (Paris) 9: 423. 1826. (fig. 1b)
Nome vernacular: calopogônio, enxada verde, falso moromoró, falso oró, jequiritirana,
jiquitirana, soja perene (SILVA et al., 2004).
Trepadeira, caule cilíndrico; ramos cilíndricos, hirsutos. Estípulas 0,3-0,2 x 0,1 cm, basifixa,
triangular, seríceas, caducas. Folhas espiraladas; pecíolos 2,9-11,9 cm compr.; raques 0,9-1,9
cm compr.; folíolos basais 4,0-7,9 x 3,1-5,9 cm, ovados, bases obtusas, ápices agudos,
mucronados, folíolos apicais 5,4-9,4 x 3,4-6,5 cm, ovados elípticos, bases agudas, ápices
agudos, mucronados, margens inteiras, facesadaxial e abaxial seríceas. Inflorescências
axilares, pseudorracemosas, 3,6-3,8 cm compr., congestas. Flores sésseis, zigomorfas; cálice
tubuloso, radiado, híspido, lacínios 5, triangulares; pétalas lilás, estandarte orbicular, não
ressupinado, calcar ausente, alas livres, obovadas, quilhas obovadas, anteras homomorfas.
Legumes2,1-3,4 x 0,3-0,4 cm, lineares, planos, valvas cartáceas, híspidos, margens retas,
107
estrias lignosas ausentes. Sementes 7;0,3x0,3 cm, quadradas; testas lisas, castanhas; hilos
centrais, orbiculares.
Material Examinado: Brasil, Paraíba, João Pessoa, Jardim Botânico, 29.X.2003, fl. e
fr., Gadelha Neto, P. C. et al 1031. (JPB 32.258). idem, 31.VII.2006, fl., Gadelha Neto, P. C.
1563. (JPB 35.895).
Esta espécie ocorre na região neotropical (OKANO,1982). No Brasil ocorre no
Norte (Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) e todo os estados das
demais regiões; nos domínios fitogeográficos da Amazônia, da Caatinga, do Cerrado, da Mata
Atlântica e do Pantanal (BFG, 2015).
Comentário: Calopogonium mucunoides é uma espécie muito peculiar por apresentar
ramos, folhas, inflorescência e cálice e legumes com valvas coberto por indumento hirsuto.
2.1. Canavalia brasilienses Mart. ex Benth., Comm. Legum. Gen., 71. 1837. (fig. 1c-d).
Nome vernacular: fava de boi, feijão de porco, feijão bravo do ceará (Silva et al.,
2004).
Liana, caule cilíndrico; ramos cilíndricos, glabros. Estípulas caducas. Folhas espiraladas;
pecíolos 3,9-5,2 cm compr.; raques 1,4-3,2 cm compr.; folíolos basais 5,2-10,2 x 3,4-6,7 cm,
ovado, ápice apiculado, base assimétrica, arredondada, folíolos apicais 5,7-11,9 x 4,4-8,8 cm,
obovados, ápices agudos, bases cuneadas, face inferior com indumentos seríceos, face
superior com indumentos adpressos. Inflorescências axilares, pseudorracemosas, 27,7 cm
compr., congestas. Flores sésseis, zigomorfas; cálice campanulado, bilabiado, glabro, lobos 5,
triangulares, truncados; pétalas rosas, estandarte orbicular, ressupinada, calcar ausente, alas
livres, falcadas, quilhas oblongo-falcadas, anteras homomorfas. Legumes8,8-16 x 2 cm,
lineares, planos, valvas lignosas, canescentes, margens retas, estrias lignosas ausentes.
Sementes15, 1,4x0,8-0,9 cm, elípticas; testas lisas, castanhas; hilos basais, oblongos.
Material Examinado: BRASIL, Paraíba, João Pessoa, Jardim Botânico, 20.IX.2007,
fl. e fr., Gadelha Neto, P.C. 1761. (JPB 37.756).
Esta espécie tem ampla distribuição em todo continente Americano ocorre desde os
Estados Unidos até Argentina (SAUER, 1964). No Brasil ocorre no Norte (Acre, Amazonas,
Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), em todos os estados do Nordeste, Centro-Oeste e
Sudeste e no Sul (Paraná, Rio Grande do Sul); nos domínios fitogeográficos da Amazônia, da
Caatinga, do Cerrado e da Mata Atlântica (BFG, 2015).
Comentário:Esta espécie é facilmente reconhecida pelo cálice tubuloso bilabiado com
os dois lobos superiores fortemente diferenciados. Canavalia brasiliensis por apresentar
características exclusivas como flores com pétalas rosas e sementes com hilo basal.
3.1. Centrosema brasilianum (L.) Benth., Comm. Legum. Gen., 54. 1837. (Fig. 1e-f)
Nome vernacular: cunhã, fava brava, feijão bravo, jequiritirana, panapaná roxa,
panapaná roxo, patinha, patinho (SILVA et al., 2004).
Trepadeira, caule cilíndrico; ramos cilíndricos, glabrescentes.Estípulas caducas. Folhas
espiraladas; pecíolos 0,9-1,5 cm compr.; raques 0,4-0,5 mm; folíolos basais 3,5-5,0 x 1,1-2,5
cm, ovados, oblongos, ápices agudos, base obtusa; folíolos apicais 3,9-5,2 x 1,1-2,5 cm,
elípticos, ápices agudos a obtusos, bases obtusas, face adaxial e abaxial glabrescentes.
108
Inflorescências axilares, racemosas, 0,4-2 cm compr., congestas. Flores pecioladas,
zigomorfas; cálice breve-campanulado, bilabiado, glabro, lacínios 5, brevemente-triangulares;
pétalas violeta, estandarte orbicular, ressupinado, calcarado, alas livres, obovadas, quilhas
obovadas, anteras homomorfas. Legumes 10,5-12,3 x 0,4-0,5 cm, lineares, planos, valvas
cartáceas, glabras, margens retas, estrias lignosas presentes. Sementes 13-17, 0,3-0,4 x 0,1-0,2
cm, oblongas; testas lisas, marmoradas; hilos centrais, elípticos.
Material Examinado: BRASIL, Paraíba, João Pessoa, Jardim Botânico, 21.X.2003,
fl. e fr., Gadelha Neto, P. C. 1016. (JPB 32.247).
Segundo Queiroz (2009) esta espécie ocorre desde a Nicaragua até o Paraguai. No
Brasil ocorre nas regiões Norte (Amazonas, Amapá, Pará e Roraima), em todos os estados do
Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste e nos estados do Sul (Paraná e Santa Catarina). Sendo
encontrada nos Domínios Fitogeográficos Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e
Pantanal (BFG, 2015).
Comentário: Na área estudada foram encontradas três espécies de Centrosema. Estas
espécies se distinguem das espécies dos demais gêneros por apresentar o estandarte
ressupinado com um calcar na fade dorsal e o legume com estrias lignosas margens das
valvas. Centrosema brasilianumé facilmente separada das demais espécies deste gênero pelo
comprimento do racemo 0,4-2 cm compr e coloração das pétalas violeta vs. racemo 5,8-6,5
flores brancas em C. plumieri e racemo 6,1-9,2 cm compr. e pétalas lilás em C. pubescens.
3.2. Centrosema plumieri (Turpin ex Pers.) Benth., Comm. Legum. Gen. 54. 1837. (fig. 1g)
Nome vernacular: café berão, feijão bravo, feijão bravo jequirana, garimbé,
gualumbé, jequirana, jitirana, marmelada, patinha, patinho (SILVA et al., 2004).
Trepadeira, caule angulado; ramos costados, levemente alados, glabrescentes. Estípulas 0,9-
0,3 x 0,3-0,1 mm, basifixa, estreitamente-triangulares, glabra. Folhas espiraladas; pecíolos
6,7-10,7 cm compr.; raques 3,3-3,7 cm compr.; folíolos basais 12,2-7,3 x 5,0- 7,2 cm, ovados,
oblongos, ápices levemente-cuspidados, bases truncadas, folíolos apicais 9,8-12,7 x 11-9,1 cm
compr.; ovado, ápices levemente-cuspidados, base truncadas, obtusas; indumentos face
superior e inferior glabrescentes. Inflorescências axilares, racemosas,5,8-6,5 cm compr.,
congestas. Flores pediceladas, zigomorfas; cálice breve-campanulado, radiado, glabro,
lacínios 5, incospícuos; pétalas alvas, estandarte orbicular,ressupinado, calcarado, alas livres,
oblongo-obovadas, quilha oblongo-obovada, anteras homomorfas. Legumes10,2-13 x 0,8-0,9
cm, linear, plano, valvas cartáceas, glabras,margens retas, estrias lignosas presentes.Sementes
10-12, 0,5-0,8 x 0,4 0,7 cm,retangulares;testas lisas,pretas; hilos centrais, oblongos.
Material Examinado: BRASIL, Paraíba, João Pessoa, Caminho para a Mata do
Buraquinho, 11.V.1953, fl., Flávio Carneiro. (JPB 1923). João Pessoa, Jardim Botânico,
12.VIII.2002, fl., Gadelha Neto, P. C e M. Costa-Santos 724. (JPB 32250).
Esta espécie ocorre na Guatemala, Sudeste do México, desde Honduras a São Salvador
e Panamá e América do Sul (STANDLEY E STEYEMARK 1946). Norte (Amazonas,
Amapá, Pará e Roraima), Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco e
Piauí), Centro-Oeste (Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso), Sudeste (Minas Gerais, Rio
de Janeiro e São Paulo) e Sul (Paraná); nos Domínios Fitogeográficos: Amazônia, Caatinga,
Cerrado e Mata Atlântica (BFG, 2015).
Comentário: Dentre as espécies estudadas na área C. plumieri é a que apresenta
109
característica diagnóstica mais peculiar pois seus ramos costados e levemente alados e flores
com pétalas alvas. Com relação as espécies congenéricas é facilmente reconhecida pela
dimensão das estruturas foliares e florais.
4.1. Clitoria fairchildiana R.A. Howard, Baileya, 16. 1967. (fig. 1h-i)
Nome vernacular: clitória, faveira, faveiro, palheiro, palheteira, palheteiro, paliteira,
sobreiro, sombra de vaca, sombreiro (SILVA et al., 2004).
Árvore, ca. 10 m alt., caule cilíndrico; ramos cilíndricos, glabrescentes. Estípulas 0,5-0,7 x
0,1-0,2 cm, basifixa, lanceolada, glabra, caducas. Folhas espiraladas; pecíolos 6,1 cm compr.;
raques 2,9 cm compr.; folíolos basais 12,7 x 4,4 cm, elípticos, oblongos, ápices cuspidados,
base obtusa, faces adaxial e abaxial glabras; folíolos apicais 15,6 x 7,2 cm, elípticos,
oblongos, ápices cuspidados, base obtusa, faces adaxial e abaxial glabras. Inflorescências
terminais, panículas, 9,8-17,3 cm compr,, congestas. Flores subsésseis, zigomorfas; cálice
tubuloso, radiado, glabro, lacínios 5, triangulares; pétalas lilás, estandarte obovado-orbicular,
ressupinada, não calcarada, alas livres, obovadas, quilhas falcadas, anteras homomorfas.
Legumes 18 x 3,4 cm compr, lineares, planos, valvas lignosas, glabros, margens retas, estrias
lignosas ausentes. Sementes 10, 1,2-1,4x1,4-1,6 cm, orbiculares; testas lisas, castanhas; hilos
110
centrais, elípticos.
Material Examinado: BRASIL, Paraíba, João Pessoa, Jardim Botânico, 20.XI.2002,
fl., Gadelha Neto, P. C. e M. Costa-Santos 827 (JPB 31.389).
Clitoria fairchildiana é endêmica do Brasil (FRANZ, 1990). Ocorre no Norte
(Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia e Tocantins), em todo o Nordeste, Sudeste e Sul e no
Centro-Oeste (Goiás e Mato Grosso do Sul), nos Domínios Fitogeográficos Amazônia,
Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica (BFG, 2015).
Comentário: Na área foram encontradas duas espécies deste Clitoria, C.
fairchildiana e C. laurifolia. Estas se distinguem das espécies dos demais gêneros pelos
folíolos oblongos e cálice tubuloso, radiado. Clitoria faichildiana é facilmente reconhecida
por a única espécie arbórea de Phaseleae encontrada na área.
111
4.2. Clitoria laurifólia Poir., Encycl., Suppl. 2 (1): 301. 1811. (fig. a-b)
Nome vernacular: feijão bravo (SILVA et al., 2004).
Subarbusto ereto, ca. 70 cm alt., caule cilíndrico; ramos cilíndricos, seríceos. Estípulas 3 x 2
mm, basifixa, ovadas, seríceas. Folhas dística; pecíolos 0,3 cm compr.; raques 0,9-1,2 cm
compr.; folíolos basais 5,6-9,4 x 1,6-3,2 cm, oblongos, ápices arredondados-mucronados,
bases cuneadas, folíolos apicais 6,8-8,3 x 1,6-2,6 cm, oblongas, ápices arredondados-
mucronados, bases cuneadas, faces adaxiais glabras, abaxial esparso-seríceos. Inflorescências
axilares, racemosas, 2,3-12,7 cm compr., congestas. Flores subsésseis, zigomorfas; cálice
tubuloso, radiado, pubescente, lacínios 5, triangulares; pétalas lilás, estandarte obovado-
orbicular, ressupinado, calcar ausente, alas oblongo-obovadas, quilhas falcadas, anteras
homomorfas. Legumes 3,2-4,5 x 0,9-1,1 cm, oblongos, cilíndricos, valvas lignosas,
canescentes, projeção alariforme presente, margens retas, estrias lignosas ausentes. Sementes
3-5, 0,5-0,4 x 0,4 cm, transversalmente elípticas; testas glutinosas, castanhas; hilos centrais,
elípticos.
Material Examinado: BRASIL, Paraíba, João Pessoa, Jardim Botânico, 17.I.2002, fl.,
Gadelha Neto, P. C. 691 (JPB 32.254) idem, 09.VIII.2006, fl. e fr., Gadelha Neto, P. C.; R. A.
Pontes e N. T. Lima 1567 (JPB 36.019) id., fl., M. S. Pereira 35 (JPB 24.614). id., 8.V.1953,
Flávio Carneiro (JPB 1946).
Esta espécie ocorre desde o oeste da Venezuela até a região sudeste do Brasil
(FRANZ, 1990). No Brasil ocorre no Norte (Amazonas, Pará e Roraima), Nordeste (Alagoas,
Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe), em todo o Sudeste
e no Sul (Paraná); nos Domínios Fitogeográficos Amazônia, Caatinga, Cerrado e Mata
Atlântica (BFG, 2015).
Comentário: Clitoria laurifoliae Periandra mediterrânea compartilham característica
morfológica marcantes tais como o hábito arbustivo e as folhas com pecíolo menor que a
raque, no entanto se distinguem pelo cálice tubuloso, legume cilíndrico com margem uma
estria alariforme, sementes glutinosas em C. laurifolia, vs. cálice campanulado, legume plano
sem estria alariforme e sementes lisas em P. mediterranea.
5.1. Dioclea violacea Mart. ex Benth., Comm. Legum. Gen. 69. 1837. (fig. 2c-d)
Nome vernacular: cipó de imbiri, coroanha, mucunã, açu (SILVA et al., 2004).
Liana, caule cilíndrico; ramos cilíndricos, seríceos, Estípulas 0,4-0,8 x 0,2 cm, medifixa,
lanceoladas, glabras, persistentes. Folhas espiralada; pecíolos 9,8-6,7 cm compr.; raques 6-11
cm compr.; folíolos basais 8,5-8,7 x 5,5 cm, ovados oblongos, ápices cuspidados, margem
inteira, bases levemente cordadas, folíolos apicais 10-9,2 x 6,1-6,3 cm, ovados, elípticos,
ápices cuspidados, base truncada, indumentos da face adaxial e abaxial glabrescentes.
Inflorescências axilar, pseudorracemosas, 21 cm compr., congestas. Flores subsésseis,
zigomorfas; cálice campanulado, bilabiado, glabrescente, lobos 4, triangulares, truncado;
pétalas violeta, estandarte oblato-orbicular, não ressupinado, calcar ausente, alas livres,largo-
obovadas, quilhas oblongas, anteras heteromorfas. Legumes 12-4,5 x 3 cm, falcado-oblongos,
plano, valvas lignosas, densamente estrigosas, margens onduladas, estrias lignosas ausentes.
Sementes 5, 3 x 2,5 cm, orbiculares; testas lisas, marrons; hilos centrais, lineares.
Material Examinado: BRASIL, Paraíba, João Pessoa, Jardim Botânico, 24.V.2007,
fl. e fr., Gadelha Neto, P. C.; Z. G. M. Quirino e J. L. O Araújo 1736 (JPB 37.4610) João
112
Pessoa, Jardim Botânico, 21.X.2013, fl. e fr., Gadelha Neto, P. C. E P. F. Leite da Luz 1050
(JPB 32756).
Esta espécie ocorre no Peru, Brasil e Guianas (MACBRIDE 1943). No Brasil ocorre
no Norte (Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), em todos os
estados do Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Nos domínios Fitogeográficos Amazônia,
Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal (BFG, 2015).
Comentário: Na área de estudo, Dioclea apresentou duas espécies na área de estudo
D. violacea e D. virgata. Neste estudo Dioclea apresenta maior semelhança com Mucuna por
compartilhar o hábito de liana, as flores com cálice tetralobado, o legume com valvas lignosas
e sementes com hilo linear, sendo o número de lobos e o hilo linear a característica que
distingue das demais espécies e seus respectivos gêneros vs. flores com cálices pentalobados e
hilo orbicular, elíptico ou oblongo. Dioclea se distingue de Mucuna principalmente pela
coloração violeta em Diocleavs. coloração amarela em Mucuna.Dioclea violacea pode ser
confundida em fase vegetativa com D. virgata, porém a primeira tem estípula medifixa,
pseudorracemo congesto, flores subsésseis, anteras heteromorfas, legumes com margem das
valvas onduladas e sementes orbiculares, marrons; enquanto a segunda tem estípulas
basifixas, pseudorracemo laxo, flores pediceladas, anteras homomorfas, legume com margem
das valvas retas e sementes oblongas, marmorada.
5.2. Dioclea virgata (Rich.) Amshoff, Meded. Bot. Mus. Herb. Rijks Univ. Utrecht, 52: 69.
1939. (fig. 2e-f)
Nome vernacular: cipó de anauerá, cipó de pixuma, feijão bravo, feijãorana, mucuna,
mucunã (SILVA et al., 2004).
Liana, caule cilíndrico; ramos cilíndricos, estrigosos. Estípulas 1 x 1 mm, basifixa, triangular,
glabra, caduca. Folhas espiraladas; pecíolos 3,5-10cm compr.; raques 3-4cm compr.; folíolos
basais 4,8-11,2 x 2,7-7 cm, elípticos, ápices cuspidados, bases assimétricas, truncadas,
folíolos apicais 4,9-13 x 2,9-7,5 cm, obovados, ápices agudos, bases cuneadas e arredondadas,
cuspidados, faces adaxial e abaxial estrigilosos, Inflorescências axilares, pseudorracemosas,
20-64,5 cm compr., laxas. Flores pediceladas, zigomorfas; cálice campanulado, bilabiado,
glabro, lobos 4, triangulares; pétalas violetas, estandarte ovado-orbicular, não ressupinado,
calcar ausente, alas livres, largo-obovadas, quilhas oblongas, anteras homomorfas. Legumes
8-10,5 x 1,5-2 cm, oblongo, planos, valvas lignosas, estigosas, margens retas, estrias lignosas
ausentes. Sementes 8-10; 0,8-1,0 x 0,5-0,6 cm, oblongas ou elípticas;testas lisas, marmoradas;
hilos centrais, lineares.
Material Examinado: BRASIL, Paraíba, João Pessoa, Jardim Botânico, 02.IV.2003,
fl. e fr., Gadelha Neto, P. C. e M. Costa-Santos 889 (JPB 32251) idem, 28.IV.2004, fl. e fr.,
Gadelha Neto, P. C. et al 1126 (JPB 33.141).
Esta espécie ocorre no Peru, Brasil, Colombia e Guianas (MACBRIDE,1943). Ocorre
no Norte (Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia e Tocantins), Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará,
Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Sergipe), em todos os estados do Centro-Oeste e
Sudeste e no Sul (Paraná); nos Domínios Fitogeográficos Amazônia, Caatinga, Cerrado e
Mata Atlântica (BFG, 2015).
Comentário: Esta espécie é facilmente reconhecida pelo hábito tipo liana, as
inflorescências longas e laxas, podendo ser confundida com D. violacea ver comentário
113
supracitado.
6.1. Macroptilium lathyroides (L.) Urb.,Symb. Antill. 9(4): 457. 1928. (fig. 2h-i, 3a)
Nome vernacular: feijão bravo, feijão de rola, feijão de pombinha, siriatro (SILVA et
al., 2004).
Ervaeretas 40 cm alt., caule cilíndrico; ramos cilíndricos a levemente costados, glabros.
Estípulas 0,6-0,8 x 0,1-0,2 cm, basifixa, estreitamente-triangulares, glabra, persistentes.
Folhas dísticas; pecíolos 2,8-4,2 cm compr.; raques 1-1,4 cm compr.; folíolos basais 4-4,6 x
1,9-2,2 cm, ovados, ápices agudos, mucronados, base truncada, assimétricas,folíolos apicais
4,2-4,8 x 2,5-3 cm, ovados, ápices agudos, mucronados, base cuneada, face adaxial e abaxial
glabras. Inflorescências axilares, pseudorracemosas, 28-30 cm compr., congestas. Flores
sésseis, assimétricas; cálice campanulado, radiado, glabro, lacínios 5, estreitamente-
triangulares; pétalas vinho e castanho, estandarte orbicular, não ressupinado, calcar ausente,
alas livres, orbiculares, quilhas cocleadas, anteras homomorfas. Legumes 10 x 0,3 cm,
lineares, cilíndrico, valvas cartáceas, canescente, margem reta, estrias lignosas ausentes.
Sementes 10-13,0,3 x 0,18 mm, oblongas; testas lisas, marmoradas; hilos centrais,
orbiculares.
Material Examinado: BRASIL, Paraíba, João Pessoa, Jardim Botânico, 06.VII.2006,
fl. e fr., Gadelha Neto, P. C. e R. A. Pontes 1558 (JPB 35.868).
Esta espécie ocorre no Guatemala, México, Honduras, Panamá, Caribee América do
Sul (STANDLEY & STEYEMARK, 1946). Ocorre no Norte (Amazonas, Pará e Roraima),
Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco e Piauí), em todos os
estados do Centro-Oeste e Sul (Paraná); nos Domínios Fitogeográficos Amazônia, Cerrado,
Mata Atlântica e Pantanal (BFG, 2015).
Comentário: Na área estudada Macroptilium lathyroides é facilmente distinta das
demais espécies por apresentar caracteres exclusivos como hábito herbáceo, flores com
pétalas com coloração vinho, alas orbiculares e quilha cocleada.
7.1. Mucuna sloanei Fawc. & Rendle, J. Bot.55(650): 36. 1917. (fig. 3b).
Nome vernacular: pó de mico, mucuna, mucunã, mucunã brava, mucunã cabelusa,
olho de boi (SILVA et al., 2004).
Liana; caule cilíndrico, ramos levemente estriados, estrigoso. Estípulas 0,4 x 0,2 cm compr.,
basifixa, triangulares, glabra, caducas. Folhas espiraladas; pecíolos 11,3-12,2 cm compr.;
raques 2,6-2,6 cm compr.; folíolos basais 9,2-12,0 x 3,9-4,5 cm compr., ovados, ápices
cuspidados,base truncadas, folíolos apicais 10,4-13,0 x 4,5-7,0 cm, ovados, lanceolados, ápice
cuspidado, base truncada, face adaxial e abaxial glabrescentes, Inflorescências axilares,
racemosas, 4,2-9,5 cm compr.,congestas. Flores pediceladas; cálice largo-campanulado,
bilabiado, seríceo, lacínios 4, triangulares; pétalas amarelo-limão, estandarte oblongo, não
ressupinado, calcar ausente, alas livres, oblongas, quilhas oblongas, anteras homomorfas.
Legumes 5,5-14,6 x 3 cm, oblongos, planos, valvas lingosas, indumento hirsuto, urente, com
lamelas transversais, margem reta, estrias lignosas ausentes. Sementes 3, 3 x 3 cm,
orbiculares; testas lisas, castanhas; hilos centrais, lineares.
Material Examinado: BRASIL, Paraíba, João Pessoa, Jardim Botânico, 06.VI.2003,
fl., Gadelha Neto, P. C. et al. 916 (JPB 32.255).
114
Esta espécie ocorre em toda região neotropical (MOURA, 2013). No Brasil ocorre no
Norte (Amazonas, Pará e Rondônia), Nordeste (Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba,
Pernambuco e Sergipe), em todo o Centro-Oeste, Sudeste (Minas Gerais) e Sul (Paraná); nos
Domínios Fitogeográficos Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica (BFG, 2015).
Comentário: Esta espécie é facilmente reconhecida e distinta das demais pela
presença de legumes com valvas com valvas transversais e coberto por indumento hirsuto
urente. Pode ser confundida com as espécies de Dioclea ver comentário supracitado.
Figura 2. a–b. Clitoria laurifólia–a. subarbusto; b. flor zigomorfa; c–d. Dioclea violacea– c.
pseudorracemo congesto; d. flor zigomorfa; e–g. Dioclea virgata – e. flor pedicelada; f. flor
zigomorfa; g. pseudorracemo laxo; h–i. Macroptilium lathyroides– h. folha trifoliolada
glabra; i. cálice campanulado.
115
8.1. Periandra mediterranea (Vell.) Taub., Nat. Pflanzenfam. 3(3): 359. 1894. (fig. 3c)
Nome vernacular: alcaçua, alcaçuz (SILVA et al., 2004).
Subarbustoereto, 1m alt., caule cilíndrico; ramos cilíndricos, glabros. Estípulas 0,2-0,3 x 0,1
cm, basifixa, triangulares, glabra, caduca. Folhas espiraladas; pecíolos 0,7-0,8 cm compr.;
raques 0,8-1,4 cm compr.; folíolos basais 2,4-4,9 x 2,4-4 cm, elípticos, ápices arredondados-
mucronados, bases assimétricas, folíolos apicais 3,3-5,7 x 2,5-4,7 cm, elípticos, oblongos,
ápices arredondado-mucronados, margem inteira, bases arredondado, faces adaxial e
abaxialglabras. Inflorescências axilares, racemos, 1,5-2,5 cm compr., congestas. Flores
pediceladas, zigomorfas; cálice campanulado, radiado, glabro, lacínios 5, brevemente-
triangulares; pétalas lilás, estandarte ovado-orbicular, ressupinado, calcar ausente, alas livres,
largo-obovadas, quilha oblonga-falcada, anteras homomorfas. Legumes 10-10,5 x 0,5-0,6 cm,
linear-arqueados, planos, valvas cartáceas, glabros, margem retas, estrias lignosas ausentes.
Sementes8, 0,5 x 0,4 cm, retangulares ou elípticas; testas lisas, marmoradas; hilos subcentrais,
elípticos.
Material Examinado: BRASIL, Paraíba, João Pessoa, Jardim Botânico, 13.IX.2002,
fl. e fr., Gadelha Neto, P. C. 760 (JPB 31.374).
Ocorre no Norte (Pará e Tocantins), em todo o Nordeste e Centro-Oeste, Sudeste (Minas
Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo) e Sul (Paraná); nos Domínios Fitogeográficos Amazônia,
Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica (BFG, 2015).
Comentário: Na área estudada apenas esta espécie e Clitoria laurifolia apresentaram
o hábito arbustivo e pecíolo menor que a raque (ver comentário supracitado). Perianda
mediterranea
9.1. Rhynchosia phaseoloides (Sw.) DC., Prodr. 2: 385. 1825. (fig. 3d-e)
Nome vernacular: cipó tripa de galinha, favinha, favinha brava, favinha do campo,
jequiriti, jequiritu miúdo, manduvira, manduvira, manduvira, olho de cabra, olho de cabra
mirim, olho de pomba, olho de pombo, tentinho, tento pequeno(SILVA et al., 2004).
Liana, caule plano; ramos estriados, pubescentes. Estípulas 0,4 x 0,2 cm,basifixa, ovadas,
pubescentes, caducas. Folhas espiralada;pecíolos 3,1-6,8 cm compr.; raques 0,2-0,3 cm
compr.; folíolos basais 3,9-10,5 x 3,9-8,3 cm, obovados, ápices acuminados; margem inteira,
bases codiformes, face adaxial e abaxial pubescentes, folíolos apicais 6,0-14,9 x 4-0,12 cm,
ovados, ápices cuspidados, bases cordiformes, face adaxial e abaxial pubescentes.
Inflorescências axilares, racemosas, 10-12,5 cm compr., congestas. Flores pediceladas,
zigomorfas; cálice campanulado, radiado, pubescente, lacínios 5, estreitamente-triangulares;
pétalas amarelas, estandarte obovado, não ressupinado, calcar ausente; alas livres, oblongas,
quilha obovadas-falcadas, anteras homomorfas. Folículo 1,8-2 x 0,7-0,15 cm. Oblongos,
planos, valvas coriáceas, pubescente, margens onduladas, estrias lignosas ausentes.
Sementes3, 0,2-0,3 x 0,2 cm, orbiculares; testas lisas, rubro-negras; hilos centrais, orbiculares.
Material Examinado: BRASIL, Paraíba, João Pessoa, Jardim Botânico, Trilha da
Preguiça em direção ao Ibama, 11.VIII.2008, fl. e fr., Filardi, F. L. R. 895 (JPB 46.182) João
Pessoa, Jardim Botânico, Trilha do Rio, 10.X.2011, fl. e fr., Gadelha Neto P. C. 3087 (JPB
49.107). João Pessoa, Jardim Botânico, 07.III.1995, fl. e fr., M. I. Pereira 65 (JPB 23.232)
idem, 29.V.2002, fl. e fr., Gadelha Neto, P. C. et al 709 (JPB 31.369).
A espécie ocorre do norte e nordeste da Argentina até a América Central (GREAR, 1978). No
116
Brasil ocorre no Norte (Acre, Amazonas, Pará e Rondônia), Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará,
Maranhão, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte), Centro-Oeste (Distrito Federal,
Mato Grosso do Sul e Mato Grosso), em todo o Sudeste e Sul (Paraná e Santa Catarina), nos
Domínios Fitogeográficos Amazônia, Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica (BFG, 2015).
Comentário: Esta espécie é facilmente distinta das demais encontradas na área
estudada por apresentar caule maduro plano, estandarte amarelas com estrias vermelhas, fruto
tipo folículo e sementes rubro-negras.
10.1. Vigna luteola (Jacq.) Benth.,in Mart.,Fl. Bras. 15(1B): 194. 1859.
Nome vernacular: batatarana, feijão da praia (SILVA et al., 2004).
Trepadeira, caule cilíndrico; ramos cilíndricos a levemente costado, hirsutos. Estípulas 0,6 x
0,2 cm, medifixa, estreitamente-triangulares, hirsutos, persistentes. Folhas espiraladas;
pecíolos 1,3-7,8 cm compr., raques 0,2-1,1 cm compr.; folíolos basais 3,3-7,4 x 0,5-3,3 cm
compr., lanceolados, ápices agudos, bases assimétricas, folíolos apicais 4,2-9,2 x 0,6-2,7 cm
compr., lanceolados, ápices agudos, bases cuneadas, face adaxial glabrescentes, face abaxial
seríceos. Inflorescências axilares, racemosas, 6,2 cm compr.,congestas. Flores subsésseis,
zigomorfas; cálice campanulado, bilabiado, glabro, lacínias 5, triangulares; pétalas amarelas,
estandarte obovado, não ressupinado, calcar ausente;alas livres, obovadas, quilhas obovadas-
falcadas, anteras homomorfas. Legumes 2,1-2,7 x 0,4-0,6 cm, lineares, cilíndrico, valvas
cartáceas, hirsutos, margens retas, estrias lignosas ausentes. Sementes 8-10;0,5 x 0,3 cm,
elípticas;testas lisas, marmoradas; hilos centrais, oblongos.
Material Examinado: BRASIL, Paraíba, João Pessoa, Jardim Botânico: Trilha do
Rio, 26.V.2012, fl. e fr., P.C. Gadelha Neto 3309 e V.S. Sampaio (JPB 50.780) João Pessoa,
Jardim Botânico, 13.III.1954, fl. e fr., Flávio Carneiro (JPB 1833) idem, 05.XI.2003, fl.,
Gadelha Neto, P. C. 1033 (JPB 33709).
Segundo Queiroz (2009) esta espécie apresenta ampla distribuição, ocorrendo
principalmente nas linhas costeiras das Américas, África e sul da Ásia. No Brasil ocorre no
Norte (Pará), Nordeste (Bahia e Piauí), em todos os estados do Sudeste e Sul, nos domínios
Fitogeográficos Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica (BFG, 2015;PEREZ, 2015).
Comentário: Na área de estudo Vigna luteola e Dioclea violacea são as únicas
espécies a apresentarem estípulas medifixas, como característica marcante, no entanto são
muito distintas visto que a primeira é trepadeira e tem flores amarelas, enquanto a segunda é
liana e tem flores violeta. Este constitui o primeiro registro desta espécie para a Paraíba.
117
Figuras 3. – a.Macroptilium lathyroides – a. flor assimétrica; – T. Mucuna sloanei – b.
legume com lamelas longitudinais; – c. Periandra mediterrânea – c.flor violeta; d–e.
Rhynchosia phaseoloides– d. racemo congesta; – e. folículo com sementes bicolores.
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121
PERÍODO, DURAÇÃO E INTENSIDADE DE MUDA DE AVES NA CAATINGA,
SOB INFLUÊNCIA DO GRAU DE CONSERVAÇÃO DO AMBIENTE
Resumo
Apresentação
As aves estão sujeitas a diversas avarias físicas nos meios em que vivem, como por
exemplo, os encontros agonísticos, o atrito com a vegetação e com o ar. Os efeitos danosos
dessas ações podem ser mitigados pelas penas, apêndices tegumentários responsáveis por
proteger o corpo das aves. No entanto, essa funcionalidade natural das penas acaba por
desgastá-las, fazendo-se necessária a substituição das penas velhas por penas novas (Bergman
1982). De igual modo, a transição etária e a reprodução podem suscitar alterações de
plumagem e troca de penas. Esse processo de substituição de penas é denominado muda, um
procedimento extremamente importante no ciclo anual das aves que envolve a troca de penas
de vôo (rêmiges e retrizes) e penas de contorno (cabeça, dorso e ventre) (Cardoso 2008).
Embora seja aparentemente simples, a muda é um processo altamente exigente do
ponto de vista energético (Poulin et al. 1992) e envolve complexas estratégias evolutivas que
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Efeito da sucessão ecológica sobre comunidades e sucesso
reprodutivo de aves na caatinga / Período, duração e intensidade de muda de aves na caatinga, sob influência do
grau de conservação do ambiente
1
Estudante de Iniciação Científica: Rodrigo Rafael Maia (e-mail: rodrigomaia_ufpb@hotmail.com, telefone: (83)
98646-6250)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br, e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientador: Helder Pereira Farias de Araujo (e-mail: helder@cca.ufpb.br)
122
variam de acordo com as espécies em relação à fenologia, duração, intensidade e sequência.
Uma adequada descrição dessa variabilidade é essencial para a determinação dos fatores
ecológicos e fisiológicos associados, bem como para uma melhor compreensão das estratégias
de sobrevivência das aves (Cardoso 2008).
O processo de muda demanda muita energia para ser efetuada, essa característica faz
com que ela geralmente ocorra de forma assíncrona à reprodução (Foster1975, Snow 1976,
Poulin et al. 1992) e esteja intimamente ligada às variações ambientais e a disponibilidade de
recursos no ambiente. A relação entre as mudas e as variações ambientais é amplamente
conhecida nas regiões temperadas (Morton e Morton 1990, Jenni e Winkler 1994, Voelker e
Rohwer 1998, Butler et al. 2002) e tem sido demonstrada também em ambientes no
Neotrópico, como nos estudos realizados no cerrado, na caatinga, na floresta atlântica e no
semiárido venezuelano (Poulin 1992, Mallet-Rodrigues 2005, Piratelli et al. 2000, Araujo
2009, Silveira 2011). No entanto, as poucas informações sobre o processo de mudas (duração,
intensidade e sequência) no Neotrópico, demonstram diferenças quando comparado às zonas
temperadas que podem estar relacionadas a diferenças no metabolismo das aves desses
ambientes (Keast 1968, Voelker 2000, Silveira 2009).
Contudo, florestas sazonalmente secas que ocorrem no Neotrópico são conhecidas
pela sua rápida transição sazonal que modifica sua fisionomia de uma vegetação praticamente
decídua para uma fisionomia completamente verde, em pouco tempo (Pennington et al. 2006).
Essa rápida transição sazonal na vegetação pode ser comparada a transição que ocorre em
alguns ambientes temperados. No entanto, não é possível entender se existe um efeito similar
ao que ocorre nos ambientes temperados no processo de mudas em florestas sazonalmente
secas, pois não existem informações disponíveis sobre duração, intensidade e sequência de
mudas nesses ambientes.
Ainda, atualmente é comum observar uma preocupação em entender como alterações
da paisagem provocadas por ações antrópicas podem alterar a biodiversidade (Leal et al.
2005). Muitas dessas alterações estão relacionadas a descontinuidades de condições
adequadas para a manutenção de ciclos biológicos das espécies que, consequentemente,
promovem alterações na composição da diversidade local. Nesse contexto, ambientes de
florestas sazonalmente secas, como na Caatinga, região localizada no nordeste brasileiro,
estão submetidos à crescente ação antrópica (Tabarelli e Vicente 2002). Porém, será que
existe efeito dessas modificações antrópicas no processo de mudas em aves, visto que pode
haver alteração na disponibilidade de recursos necessários para manutenção energética do
processo? Ou será que as espécies que evoluíram em um ambiente com alto dinamismo
climático e de oferta de recursos não respondem a essas alterações, em relação ao processo de
mudas?
Para tentar preencher uma lacuna de informações sobre duração, intensidade e
sequência de mudas de penas de aves em florestas sazonalmente secas, bem como verificar se
alterações antrópicas da paisagem que ocorrem nesses ambientes podem influenciar o
processo de mudas, nosso objetivo foi descrever a duração, intensidade e sequência de mudas
de penas de aves em áreas na Caatinga e comparar esse processo entre ambientes conservados
e alterados.
123
Fundamentação teórica
Metodologia e análise
124
anual. A temperatura e umidade médias anuais são de 25°C e 65%, respectivamente (Silva
Dias 1987). A vegetação do Cariri Paraibano é altamente impactada pela caprinocultura e pelo
corte de madeira, sendo indicada como uma área prioritária para conservação e de extrema
importância biológica (Veloso et al. 2002, Leal et al. 2003).
Figura 1. Localização dos municípios de São José dos Cordeiros e São João do Cariri, estado
da Paraíba, Brasil.
125
Figura 2. Vegetação predominante nas dependências da RPPN Almas. Registro realizado em
2007.
126
Coleta de dados
127
Figura 4. Registro de mudas nas rêmiges primárias, contorno (cabeça) e retrizes em aves
capturadas na EESJC.
Análise de dados
Para melhor compreensão do processo de mudas, foram realizadas análises descritivas
de tendência central e percentual. As proporções de mudas de vôo nas comunidades ao longo
dos anos também foram comparadas através do teste Chi-quadrado. O mesmo teste foi
utilizado para comparar, entre áreas e anos, as proporções de mudas de vôo em quatro das
espécies mais representativas. As análises supracitadas foram realizadas através do programa
Bioestat 5.3 e apresentam nível de significância de 5%.
A duração das mudas foi calculada pela relação entre intervalo de tempo das
capturas/recapturas e desenvolvimento das mudas, a estimativa de duração foi realizada
através de proporção simples. A tendência sequencial das penas em mudas de vôo foi
constatada através da disposição e dispersão dos dados, juntamente com a aplicação de linhas
de tendência polinomiais para a primeira e décima primárias ao longo dos dias de
128
amostragem. A tendência polinomial foi aplicada as amostragens realizadas em 2007 e 2008
por terem se estendido por um período maior.
A intensidade da muda, por sua vez, foi gerada através do número médio de penas de
vôo que estavam sendo trocadas simultaneamente em cada espécie. A fim de evitar equívocos,
só foram considerados os cálculos de intensidade das espécies que apresentaram um N
robusto, maior que 25 indivíduos em muda. Ainda nesse sentido, os cálculos comparativos
entre subáreas só foram realizados se as mesmas apresentassem mais que cinco indivíduos
dessas espécies em processo de muda. Adicionalmente foi realizado o Teste t para comparar
as intensidades de muda nas espécies, entre as duas áreas.
Resultados
129
Figura 6. Representatividade das espécies em muda amostradas na RPPN Almas e subáreas
da EESJC
130
Análises descritivas permitiram uma visão geral sobre a incidência de mudas ao longo
do período (Fig. 7), sendo perceptível que em todos os anos e áreas amostradas, há um
aumento na quantidade de indivíduos que apresentam atividade de muda ao longo dos meses
amostrados e conseqüentemente ao avanço temporal durante período chuvoso.
Precipitação
Mudas de
primárias
Ao analisar as proporções de mudas de vôo nas duas áreas ao longo dos anos, o teste
de Chi-quadrado não apontou diferenças significativas entre áreas e anos amostrados (p =
0.26) (Fig. 8). Contudo, uma análise individual das espécies mais representativas, apontou
diferenças significativas em suas proporções de mudas entre áreas e períodos (Fig. 9):
Formicivora melanogaster (p = <0.0001); Lepidocolaptes angustirostris (p = <0.0001);
Hemitriccus margaritaceiventer (p = 0.0001); Lanio pileatus (p = 0.0013).
131
Figura 8. Proporções da incidência de mudas nas comunidades de aves das duas áreas de
estudo e anos de amostragem (RPPN Almas 2007, RPPN Almas 2008, EESJC 2014, EESJC
2015), utilizadas como base para o teste de Chi-quadrado.
A intensidade das mudas foi calculada com as espécies que apresentaram maior
representatividade (Tabela 1). Na RPPN Almas, Casiornis fuscus, Lanio pileatus e
132
Hemitriccus margaritaceiventer foram as que apresentaram as maiores taxas de intensidade
de muda, na EESJC, por sua vez, Hemitriccus margaritaceiventer e Phaeomias murina foram
as mais intensas. Sempre que possível a comparação entre áreas e espécies, é perceptível que
a RPPN Almas possui taxas de intensidade mais altas que as encontradas na EESJC, no
entanto, o Teste t apontou uma diferença marginalmente significativa entre as intensidades de
muda (t = 2,3530,p = 0,0568).
Tabela 1. Intensidade média de muda nas penas de vôo em espécies de aves amostradas na
RRPN- Almas, EESJC.
Em relação a duração das mudas nas penas de vôo, poucos indivíduos com mudas
primárias foram recapturados no mesmo ano (Tabelas 2 e 3). Contudo, foi possível verificar
na RPPN Almas um indivíduo da espécie Lepidocolaptes angustirostriscom duração de muda
estimada em 135 dias. Ainda na RPPN Almas, um Cnemotriccus fuscatus apresentou mudas
de retrizes precedendo a das rêmiges. Na EESJC foi possível acompanhar o andamento das
mudas em dois Hemitriccus margaritaceiventer, ambos avançaram cinco primárias em
aproximadamente 50 dias, P2 a P7 em 44 dias e P5 à P9 (com score 4) e P10 (com score 3)
em 57 dias. Nesse último caso, simultâneo a P10 houve a troca da R1.
Tabela 2. Recapturas de aves com mudas nas penas de voo, com suas respectivas durações
observadas e estimadas (estimativa levando em consideração a muda das primária) - RPPN
Almas.
133
Tabela 3. Recapturas de aves com mudas nas penas de vôo, com suas respectivas durações
observadas e estimadas (estimativa levando em consideração a muda das primária) - EESJC.
Percebe-se através desses registros que há uma tendência em que as primárias sejam
trocadas no sentido proximal-distal nas espécies citadas, indo da P1 a P10 e que as retrizes
sejam trocadas da mais interna a mais externa, a partir da R1, par central, e por centrifugação
até a troca da R6. O sentido proximal-distal é reafirmado através da curva de tendência
polinomial (Fig. 10 e 11). Ao longo dos dias de amostragem, ocorre um declínio nos registros
de mudas nodais e há um aumento nos registros de mudas terminais ocorrendo nos indivíduos
das comunidades de uma forma geral.
Figura 10. Curva de tendência polinomial das rêmiges primárias 1 e 10, na RPPN Almas no
ano de 2007.
134
Figura 11. Curva de tendência polinomial das rêmiges primárias 1 e 10, na RPPN Almas no
ano de 2008.
Discussão
135
casos registrados, apresentou durações de mudas dentro do esperado em ambientes tropicais,
cuja duração fica normalmente entre 90 e 150 dias (Keast 1968) diferentemente de zonas
temperadas onde a duração esperada é de 42 a 71 dias (Voelker 2000). Esses indícios
corroboram com a idéia de que aves tropicais possuem um metabolismo mais lento do que
aves de clima temperado (Silveira 2009).
O padrão sequencial de crescimento das mudas de vôo encontrado apresentou-se
dentro do comumente encontrado em Passeriformes, onde a muda das primárias e retrizes
ocorre no sentido proximal-distal (Silveira 2011, Cardoso 2008). Essa sequência pode ser
considerada uma resposta adaptativa, pois as penas externas possuem maior influência sobre a
eficiência de vôo (Jenni e Winkler 1994). Sendo assim, é mais vantajoso que os pares internos
sejam renovados primeiro e estejam com pleno potencial para em seguida mitigar a ausência
temporária das penas externas (Arruda 2013).
As intensidades de muda mais altas foram observadas na área conservada que na área
impactada e, ainda, o valor médio observado na primeira é semelhante ao observado no
Cerrado (Silveira 2011) (1,4 na EESJC, 2,5 na RPPN Almas e 2,6 no Cerrado). A RPPN
Almas apresenta uma maior estruturação vegetacional e possivelmente maior disponibilidade
de recursos e alimentos que a EESJC, como esperado em áreas vegetacionais mais
estruturadas (Stradford e Robinson 2005). Supõe-se que esse seja o motivo pelo qual a
intensidade de muda nas espécies amostradas seja mais alta, uma vez que a maior
disponibilidade de recursos e alimentos está diretamente ligada às mudas, propiciando mais
energia para um melhor desenvolvimento e eficiência do processo (Murphy e King 1992,
Murphy e Taruscio 1995). Um maior número de penas crescendo simultaneamente torna-se
uma estratégia para realizar o processo da muda em menos tempo, aproveitando
concentrações temporais de disponibilidade de recursos (Hall e Fransson 2000, Ryder e
Rimmer 2003, Dawson 2004, Silveira 2011). Na EESJC, área impactada, as intensidades não
foram tão expressivas, podendo ser um indício de que a disponibilidade de recursos é menor
na área mesmo no período chuvoso, induzindo uma muda paulatina.
Além da quantidade de recursos, ambientes mais estruturados permitem maior
segurança durante a exposição nos momentos de mudas de primárias. O processo de mudas
altera a performance aerodinâmica e, consequentemente, diminui a habilidade em fugas contra
predadores, bem como demanda maior gasto energético nas atividades de deslocamento
(Hedenstrom e Suanada 1999). É possível, portanto, que um ambiente mais conservado
permita a ocorrência de uma maior intensidade de mudas que um ambiente mais alterado, em
que as espécies poderiam estar mais vulneráveis.
Diante do exposto é possível concluir que o processo de muda está diretamente
relacionado ao final do período reprodutivo e às variações climático-ambientais que ocorrem
de forma sazonal na Caatinga, que a seqüência e duração das mudas são similares a outros
ambientes tropicais e parece não ser alteradas por modificação de habitat. No entanto, a
quantidade proporcional e a intensidade de mudas parecem ser influenciadas pela estrutura de
habitat e, consequentemente, pelo estado de conservação da vegetação. De qualquer modo,
estudos experimentais devem agora ser encaminhados com o objetivo de verificar essa
hipótese. Porém, fica evidente mais uma justificativa da necessidade de recuperação de áreas
mais impactadas, visto que a diminuição dos recursos pode causar impactos maiores no ciclo
de vida de espécies, que pode inviabilizar o ciclo natural de mudas.
136
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140
CIÊNCIAS DA SAÚDE
ANÁLISE DO POTENCIAL EROSIVO DE SUCOS SEM ADIÇÃO DE SOJA
Resumo
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/ Plano de Trabalho: Análise do potencial erosivo de diferentes bebidas ácidas no
tecido dentinário: um estudo in vitro / Análise do potencial erosivo de sucos sem adição de soja
Estudante de Iniciação Científica: Ingrid Andrade Meira (e-mail: ingrid_meiraa@hotmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientadora: Andressa Feitosa Bezerra de Oliveira (e-mail: andressafeitosa@msn.com, telefone: (83) 99957-
2014)
142
diversas, apresentando como resultado físico a perda mineral de forma patológica, crônica e
localizada da superfície dentária (BRITO et al., 2016). A erosão dentária tem como etiologia
fatores intrínsecos (xerostomia, anorexia, bulimia, problemas gastroesofágico) e/ou fatores
extrínsecos (alimentos, bebidas, produtos ácidos ou contaminação ácida presente no
ambiente) (LUSSI et al., 2009; BARBOSA, KATO, BUZALAF, 2011).
Clinicamente, a erosão pode ser identificada pelo esmalte opaco ou pela presença de
pequenas concavidades, que são normalmente mais largas do que profundas, situação em que,
pode ocorrer a exposição de dentina e queixas de hipersensibilidade (CARVALHO et al.,
2015). As principais complicações relacionadas a essa patologia são: dentes com
sensibilidade, perda da dimensão vertical de oclusão, e o comprometimento estético (TAJI;
SEOW, 2010). Ademais, essa patologia pode levar ao surgimento de lesões graves perto da
câmara pulpar (PINTO et al., 2013).
Existem outros processos não cariosos destrutivos que, clinicamente, se assemelham à
erosão dentária, como a abrasão e atrição (CARVALHO et al., 2015). Por isso, a natureza
multifatorial da erosão e a sua diversidade de fontes (MANGUEIRA et al., 2009) contribuem
na dificuldade de ser realizado um diagnóstico correto (CARVALHO et al., 2015).
Atualmente, a erosão dentária tem atraído à atenção da comunidade científica
(GONÇALVES et al., 2012) devido ao aumento da sua prevalência e concomitante a
diminuição da incidência de cárie em alguns países (BRASIL, 2010). Nota-se que a erosão é
comumente encontrada em indivíduos jovens (WANG et al., 2010; SALAS et al., 2015) e,
isso está de acordo com o aumento do consumo de agentes ácidos pelas crianças e adultos
jovens (GONÇALVES et al., 2012). No entanto, é observado que a maioria dos estudos
científicos não relata comparações do potencial erosivo de sucos industrializados de acordo
com o seu sabor (BELTRAME et al., 2017). Diante disso, o objetivo desse estudo foi avaliar
o potencial erosivo de diferentes sucos industrializados, sem a adição da proteína soja, no
tecido dentinário de dentes humanos. Esta pesquisa teve como objetivos específicos avaliar o
percentual de perda de dureza superficial da dentina, associando-o e correlacionando-o com
os dados de pH, titulação ácida para o pH 7.0 e capacidade tampão.
Fundamentação Teórica
Nos países da Europa e Médio Oriente a erosão dentária tornou-se uma patologia
frequente (EHLEN et al., 2008). Estudos epidemiológicos demostram prevalência da erosão
dentária de até 79% em crianças com até 5 anos de idade (MANTONANAKI et al., 2013) e
de 75% em adolescentes com 12 anos de idade (ZHANG et al., 2014). Isso pode está
relacionado, principalmente, ao exagerado consumo de bebidas ácidas pelas crianças e adultos
jovens (GONÇALVES et al., 2012).
O estilo de vida moderno promoveu mudanças nos hábitos das populações mundiais,
incluindo alterações em relação à dieta (BRITO et al., 2016). Nota-se um aumento
significativo no consumo de frutas, iogurtes, sucos de frutas com ou sem soja, bebidas
esportivas, energéticas e bebidas ácidas com baixo teor de açúcar (BRITO et al., 2016). Essas
alterações na dieta são fatores de risco relevantes para o desenvolvimento da erosão em
crianças e adultos (LUSSI et al., 2009). No Brasil, os consumidores também estão passando
143
por este processo de mudança de hábitos (BEHRENS; SILVA, 2004).
Diante disso, sabe-se que a erosão dentária não está relacionada, apenas, ao consumo
de refrigerantes (BORJIAN et al., 2010; MURAKAMI et al., 2011), mas também ao consumo
de sucos naturais e artificiais (EDWARDS et al., 1999; JENSDOTTIR et al., 2006),
demonstrando assim, a relevância deste tema. Além disso, o diagnóstico precoce da erosão
dentária deve ser enfatizado pelos cirurgiões-dentistas, porque a prevenção é a única forma
eficaz de evitar essa patologia (GONÇALVES et al., 2012).
A erosão é resultante da perda de mineral dos tecidos mineralizados, esmalte e
dentina, e se apresenta como uma lesão crônica e localizada na sua superfície (BRITO et al.,
2016). O esmalte dentário, de natureza ectodérmica, avascular e acelular, apresenta-se
constituído por 85% do seu volume de apatita, 12% de água, e 3% de proteínas (colágeno) e
lipídeos (BUZALAF et al., 2013). Em contrapartida, a dentina é um tecido mineralizado,
subjacente ao esmalte, de natureza conjuntiva, avascular que não tem células no seu interior,
no qual, 47% do volume dela correspondem à apatita, 20% à água e 33% a proteínas
(colágeno) e lipídeos, formando a maior parte da estrutura dentária (KATCHBURIAN;
ARANA, 2012). A dureza da dentina é significativamente menor do que a do esmalte
(KATCHBURIAN; ARANA, 2012). Assim, em relação à solubilidade, a dentina é mais
solúvel a ácidos e permite um maior contato de superfície com o meio do que o esmalte,
devido a sua composição, já que, nela há uma maior quantidade de matriz orgânica, alto
conteúdo de fosfato e os cristais de hidroxiapatita são menores do que no esmalte (BUZALAF
et al., 2013).
O equilíbrio mineral, presente na estrutura dentária, é decorrente da manutenção da
integridade do esmalte e da dentina, influenciado pela saliva e/ou biofilme dentário
(BUZALAF et al., 2013). No esmalte, o equilíbrio mantém os cristais organizados, e na
dentina, os minerais são mantidos ao redor ou dentro dos túbulos dentinários, estabilizados
pela matriz orgânica (colágeno) (BUZALAF et al., 2013). Esse processo ocorre em função de
dois fenômenos, a remineralização e a desmineralização, que quando balanceados,
respectivamente, não causam ganho de cristais de apatita no tecido ou perda relevante de
cristais para o meio (BUZALAF et al., 2013). O equilíbrio desses fenômenos depende do grau
de saturação dos íons que compõem a apatita presentes no meio, que é dependente do pH
(BUZALAF et al., 2013). O pH de 5,5, denominado de pH crítico do esmalte dentário,
permite o equilíbrio químico entre a desmineralização e a remineralização, assim valores de
pH acima do crítico, tendem à remineralização e, o contrário, há uma tendência à
desmineralização (HARA; ZERO, 2008; DAWES, 2003). Para a dentina, o pH crítico é 6,5,
logo, há uma maior facilidade de ocorrer a desmineralização da dentina, mesmo em situações
com pequenas oscilações de pH, devido a maior quantidade de carbonato, água e matéria
orgânica (WEFEL, 1994). Assim, as lesões de erosão em dentina se iniciam em um pH mais
alto do que no esmalte (WEFEL, 1994).
A desmineralização na dentina é caracterizada pela dissolução do conteúdo mineral,
expondo o colágeno que funciona como barreira de difusão ao ácido e reduz a
desmineralização (KIDD; FEJERSKO, 2004). No entanto, gradativamente e com o
transcorrer do tempo, a exposição ao ácido degrada o colágeno, através de enzimas, e mais
cristais de apatita são expostos e desmineralizados (KIDD; FEJERSKO, 2004). A degradação
da matriz de colágeno dentinário é um pré-requisito para o aparecimento de cavitação
144
(DUNG; LIU, 1999). E, diante da lesão cavitada, há uma reação de defesa do complexo
dentino-pulpar, que culmina com a esclerose tubular, na tentativa de proteger o elemento
dentário e barrar a progressão da lesão (TEN CATE, 2013).
Na cavidade bucal, a saliva é um importante fator que protege os dentes das mudanças
de pH, por meio da sua capacidade tampão e do seu poder de remineralização
(HENGTRAKOOL et al., 2009). A saliva humana age como uma solução tampão, impedindo
a ação dos ácidos presentes nas bebidas. Após dois ou três minutos da ingestão de agentes
ácidos, o pH da boca, que, normalmente, tem um valor em torno de 6,8 diminui rapidamente
para 5,0, levando em torno de 25 minutos para que o ambiente ácido seja alterado e a saliva
possa neutralizar qualquer ácido residual (DAWES, 2003).
De acordo com a literatura, diversas propriedades são importantes na determinação do
potencial erosivo de uma bebida, pois além do valor do seu pH deve-se considerar também a
titulação ácida, a capacidade tampão e as concentrações de Ca, Pi e F ( HARA, 2008).
Associado a esses fatores, pode-se observar a concentração do ácido, o seu tempo de contato
com o dente (BARBOSA; KATO; BUZALAF, 2011) e a sua frequência de consumo, pois
eles podem influenciar no potencial erosivo (BARBOSA; KATO; BUZALAF, 2011) das
bebidas.
Metodologia e Análise
Aspectos Éticos
Este estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da
Saúde da Universidade Federal da Paraíba. Trata-se de um estudo in vitro, com utilização de
dentes humanos. Os doadores dos órgãos dentários assinaram o Termo de Doação de Dentes e
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme a Resolução 466/2012 CN. Esse
estudo foi aprovado com o Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) de
número: 30865714.4.0000.5188. Os órgãos dentários foram obtidos na Clínica de Cirurgia II,
pertencente ao curso de Odontologia da UFPB. A presente pesquisa foi desenvolvida no
Laboratório de Técnicas Morfológicas do Departamento de Morfologia.
Universo e Amostra
Neste estudo foram utilizados 50 dentes humanos terceiros molares, extraídos por
razões ortodônticas ou por impactação. A seleção desses dentes foi realizada em função dos
mesmos não terem sido expostos a desafios ácidos na cavidade bucal. Os dentes coletados
foram limpos, por meio de raspagem, com curetas periodontais, para remoção dos restos dos
tecidos periodontais aderidos na superfície dentária, e armazenados em solução tamponada de
formol a 10%, sob temperatura ambiente, por um período máximo de 30 dias. Posteriormente,
cada dente foi examinado com o auxílio de uma lupa de 5x de aumento para averiguação de
possíveis trincas, rachaduras, cáries e alterações do esmalte, situação na qual foram excluídos
da amostra.
145
João Pessoa e estão descritos no Quadro 01. As bebidas adquiridas foram armazenadas
conforme instruções do fabricante. Para o controle negativo foi utilizado água mineral-
Indaiá e para o controle positivo utilizou-se a Coca-Cola.
Marca/
Tipo de bebida Composição Lote
Fabricante
Água, açúcar, sucos de uva, maçã, cenoura
Bebida mista de Del Valle
e mirtilo, vitaminas (C, E, B3, A, D, B6 e
uva, maça, Kapo® /
B12), aroma sintético idêntico ao natural, 11513P
cenoura e mirtilo The Coca-Cola
acidulante ácido cítrico e estabilizante
(sabor uva) Company ©
goma guar.
Água, suco concentrado de laranja, células
Del Valle®
de laranja, açúcar, aroma natural,
Suco de Laranja /The Coca-Cola 4389
acidulante ácido cítrico e antioxidante
Company ©
ácido ascórbico.
Água, açúcar, suco concentrado de maça e
suco concentrado de pêssego, ácido cítrico, Dafruta
5031605FC
Suco de pêssego goma xantana, aroma natural de pêssego, premium®/
E
ácido ascórbico, caroteno e Ebba©
polidimetilsiloxano.
Água, polpa concentrada de morango,
açúcar, acidulante ácido cítrico, Sufresh®/
Suco de
antioxidante ácido ascórbico (vitamina C), Turma da 7734-10
morango
aroma idêntico ao natural de morango e Mônica©
corante natural carmim de cochonilha.
Água, açúcar, sucos concentrados de
laranja, limão e tangerina, ácido ascórbico
(vitamina C), aromas natural e artificial de
Suco de frutas Tampico®/ Não estava
frutas cítricas, estabalizante goma xantana,
cítricas Valedourado© presente
benzoato de potássio, sequestrante EDTA
cálcio dissódico e tartrazina e amarelo
crepúsculo FCF.
Aurora®/
Suco de uva Suco de uva tinto integral, sorbato de 5102910411
Vinícola
tinto integral potássio e dióxido de enxofre. 5
Aurora©
Água gaseificada, açúcar, extrato de noz de Coca-Cola®/
Refrigerante a
cola, cafeína, corante caramelo IV, The Coca-Cola 21608SP
base de cola
acidulante ácido fosfórico e aroma natural. Company ©
Cloreto=23,80; Sódio=14,99; Nitrato=2,9;
Indaiá®/
Água mineral Bicarbonato=0,80; Sulfato=0,8;
Indaiá Brasil
FONTE: Santa Potássio=0,79; Magnésio=0,76; 140612
Águas Minerais
Rita I Cálcio=0,23; Bário=0,027 e
Ltda
Estrôncio=0,006.
146
Preparação dos espécimes
Após a análise dos dentes, foram preparados 64 blocos de dentina, de
aproximadamente 3x3x2mm, utilizando-se um disco diamantado dupla face na cortadeira de
precisão (Labcut 1010), sob irrigação constante. Os blocos foram embebidos em resina
acrílica e planificados na Politriz metalográfica, utilizando-se lixas de granulações variadas,
sob irrigação constante. O polimento da superfície da dentina foi realizado com feltros
umedecidos e suspenção de diamante de 1m. Após a preparação dos espécimes, os blocos de
dentina foram divididos, aleatoriamente, entre os grupos.
Coleta de Dados
As bebidas selecionadas, imediatamente após a sua abertura, tiveram o seu pH
mensurado. Para isso, utilizou-se um eletrodo acoplado a um medidor de pH (Orion, modelo
420A -Thermo Fischer Science Inc., Waltham, MA). A titulação ácida foi realizada com a
adição de incrementos da solução 1M NaOH a 50ml de cada bebida até atingir o pH 7,0,
neutro. A titulação ácida foi determinada pela quantidade de 1M NaOH que foi necessário
adicionar a cada bebida até a obtenção do pH neutro. As mensurações foram realizadas, em
triplicata, sob agitação constante, para garantir uma maior precisão, e a sua média foi
utilizada. A capacidade tampão (β) foi calculada por meio da equação adotada por Lussi et al.
(2011).
Para o teste erosivo, 8 espécimes de dentina foram imersos em 50ml (5ml/espécime)
de suco, em temperatura ambiente durante duas horas. Na presença de bolhas de ar, as
mesmas foram removidas com uma pequena agitação. Ao término de duas horas de
exposição, os espécimes foram removidos e lavados com água deionizada e armazenados em
ambiente úmido, para prevenir ressecamento, até a sua análise. As amostras foram limpas
utilizando ultrassom digital (Digital Ultrasonic Cleaner Heater 2500ml - Kondortech) antes
das mensurações de microdureza superficial.
O microdurômetro (Shimadzu HMV - AD Easy Test Version 3.0.00) com penetrador
diamantado do tipo Vickers, sob uma pressão de 50g por 10 segundos, foi utilizado para
mensuração da microdureza superficial das amostras, permitindo a obtenção da perda de
dureza superficial. Em cada amostra foram realizadas seis indentações, com uma distância de
70m cada, de acordo com a metodologia de Lussi et al. (2011). Assim, foram realizadas três
indentações nos espécimes de dentina antes do teste erosivo e três após teste, obtendo-se os
valores de microdureza inicial e final, respectivamente. A microdureza foi calculada pela
dimensão da indentação com software específico. Uma média do grupo foi obtida e o cálculo
da porcentagem de perda de dureza superficial (%PMD) foi calculado conforme o estudo de
Faust (2006).
147
considerado foi de 95% (p < 0,05).
Tabela 1. Médias de valores iniciais de pH, titulação ácida (mmol /l de NaOH para o pH 7.0),
capacidade tampão (∆C/∆pH), e o percentual da diferença de microdureza superficial
(%PMD) nos diversos grupos, de acordo com a composição da bebida analisada.
Percentual da
Titulação ácida Capacidade
pH diferença de
Tipos de bebida (mmol/l NaOH) tampão
(inicial) Microdureza
para pH 7.0 (∆C/∆pH)
(% PMD)
Suco de morango- Sufresh® 3,26 1,8 9,28 42,63
Suco de frutas cítricas-
3,20 3,95 19,25 48,29
Tampico®
Suco de uva- Kapo® 2,93 1,15 5,53 46,29
Suco de uva integral-
3,16 4,65 22,21 62,32
Aurora®
Suco de laranja caseira- Del
3,39 4,58 24,34 46,42
Valle®
Suco de pêssego- Dafruta® 3,1 2,43 12,33 40,34
Dentre os sucos avaliados, observou-se que o pH mais alto (3,39) foi encontrado no
suco de laranja caseira (Del Valle®), enquanto que, o suco de uva (Kapo®) obteve o menor
pH (2,93). Ademais, todos os sucos apresentaram o pH menor do que 5,5 e 6,5, considerados
os pH críticos, respectivamente, para o esmalte e para a dentina, corroborando diversos
estudos (LOSSO; SILVA; BRANCHER, 2008; HANAN; MARREIRO, 2009; GONÇALVES
et al., 2012; CATÃO; SILVA; OLIVEIRA, 2013; REDDY et al., 2016). Todos os sucos
testados nessa pesquisa, também apresentaram pH inferior a 4,0 como foi observado nos
estudos de Cavalcanti et al. (2006) e de Losso, Silva e Brancher (2008).
Além disso, nota-se que o controle positivo apresentou 4,84 como valor de pH,
considerado inferior ao crítico tanto para a dentina como para o esmalte, indicando que a água
mineral avaliada apresenta potencial erosivo, conforme já relatado no estudo de Larsen e
Richards (2002). No entanto, segundo esses autores (LARSEN; RICHARDS, 2002), a erosão
é mínima quando as bebidas apresentam valor de pH acima de 4,2, mas torna-se mais
evidente no pH abaixo de 4,0, como demonstrado nos resultados do presente estudo. Este
valor de pH ácido para a água mineral é característico da região nordeste do país, diferindo
das outras regiões, onde o pH é neutro. Portanto, pode variar de acordo com a marca, a região
onde foi obtida a água e os ingredientes adicionados a mesma.
O pH proporciona apenas uma medida inicial da concentração de íons de hidrogênio
dissociado (PINTO et al., 2010; PINTO et al., 2013). Em contrapartida, a titulação ácida é
148
uma medida mais precisa do teor total de ácido em uma bebida (LUSSI et al., 2011), pois é
caracterizada pela quantidade de base necessária para que uma solução atinja o pH neutro
(7,0). A maior titulação ácida encontrada foi de 4,65 para o suco de uva integral (Aurora®) e
a menor (1,15) foi obtida no suco de uva (Kapo®). Uma correlação positiva e forte (r =
+0,991, p<0,01) foi observada entre a capaciadade tampão e a titulação ácida, indicando que
uma bebida com alta titulação ácida apresentará elevada capacidade tampão (JENSDOTTIR;
BARDOW; HOLBROOK, 2005; EHLEN et al., 2008; LOSSO; SILVA; BRANCHER, 2008).
A análise estatística demonstrou uma relação significante entre e dentro dos grupos
estudados em todas as variáveis analisadas (ANOVA, p<0,001), exceto para a microdureza
inicial, como esperado, garantindo a padronização das amostras e contribuindo na veracidade
dos resultados obtidos. Mas, ao se comparar a microdureza inicial e final (antes e após o teste
erosivo), observou-se uma diferença estatisticamente significante (teste t pareado, p<0,001),
demonstrando uma redução dos valores de microdureza superficial da dentina após o teste
erosivo.
Na Tabela 2 está descrito os valores de %PMD de todos os sucos analisados e suas
relações com os valores obtidos pelos controles. Em relação ao controle negativo (Água
mineral- Indaiá®), nota-se que o seu valor de 16,92 no %PMD foi inferior a todos os sucos
analisados (p<0,01). Para o controle positivo (Coca-Cola®), todos os demais valores de
%PMD foram superiores, mas os valores dos sucos de morango (Sufresh®) e pêssego
(Dafruta) não foram estatisticamente significantes. Além disso, nota-se que o suco de uva
integral (Aurora®) teve o maior %PMD (62,32), superando o percentual do controle positivo
(Coca-Cola®), de 27,94. Esse achado também foi demonstrado por algumas pesquisas, as
quais relataram que sucos de uva e laranja podem ser mais erosivos do que os refrigerantes,
devido à alta titulação ácida (EDWARDS et al. 1999; JENSDOTTIR et al. 2005).
Tabela 2. Associação dos valores de microdureza final superficial da dentina, após o desafio
erosivo (Mdf) e a percentagem de diferença da microdureza superficial (%PMD) entre os
grupos, e sua associação com os controles negativo e positivo, com os valores de desvio
padrão (dP) (ANOVA, p <0,001).
149
Diante destes achados, estudos (SCARAMUCCI et al., 2011; FERREIRA et al. 2015)
tem sido propostos para que sejam modificadas as composições dos sucos, principalmente os
de laranja, numa tentativa de reduzir o seu potencial erosivo tanto no esmalte quanto na
dentina. No estudo de Ferreira (2015) foi proposta a modificação de um suco de laranja,
comercialmente disponível, por meio da adição de proteínas dietéticas. Nestes sucos foram
incluídos 0,2 g/L de caseína, 2,0 g/L de ovalbumina e 2,0 g /L da associação destas duas
proteínas. Foram utilizados controles negativo e positivo, respectivamente, suco sem aditivos
e suco modificado com cálcio disponível comercialmente. O esmalte foi analisado por meio
da microdureza superficial, enquanto, a dentina, por meio da perfilometria. Para o esmalte,
notou-se que os sucos de laranja modificados com proteína apresentaram redução da erosão e
os alterados com a caseína demonstraram uma tendência de proteção. No entanto, para a
dentina não foi observada nenhuma redução do potencial erosivo dos sucos de laranja
modificados e testados, mostrando assim, a complexidade deste tecido.
O %PMD apresentou uma correlação forte e estatisticamente significante com a
capacidade tampão (r = +0,746, p<0,01) e a titulação ácida (r = +0,767, p<0,001). Não foi
constatada correlação estatisticamente significativamente do pH inicial com a titulação ácida e
a capacidade tampão (p>0,05). Diante disso, pode-se concluir que os sucos com elevada
titulação ácida e capacidade tampão proporcionaram maior perda de dureza superficial das
amostras de dentina e um menor valor de microdureza final, após o desafio erosivo. Estes
achados demonstraram que o potencial erosivo pode ser determinado pela titulação ácida e a
capacidade tampão.
Por fim, os estudos in vitro não são capazes de reproduzir todas as condições bucais
relacionadas com a análise do potencial erosivo de bebidas sobre a superfície dental, mas
apresentam a vantagem de fornecer dados isolados das variáveis sem a interferência de outros
fatores. Assim, o conhecimento do potencial erosivo das bebidas é um dado importante para
se determinar as orientações clínicas em relação aos hábitos de consumo e bem como
contribuir no desenvolvimento de bebidas "mais seguras" (EHLEN et al., 2008).
Conclusão
Pode-se concluir que todas as bebidas avaliadas foram potencialmente erosivas, visto
que, possuem pH inicial mais baixo do que o considerado crítico para o esmalte e a dentina.
Em todos os grupos foi verifiada uma diminuição significativa dos valores de percentual da
perda de dureza superficial com uma variação no potencial erosivo, dependendo do sabor do
suco analisado. A titulação ácida e a capacidade tampão foram os fatores que mais
influenciaram o potencial erosivo das bebibas testadas. Portanto, reforça-se a necessidade de
alertar os responsáveis pelas crianças e adolescentes acerca dos danosos efeitos que sucos
industrializados podem exercer sobre a dentição, sugerindo a redução do seu consumo.
150
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ZHANG, S.; CHAU, A. M. H.; LO, E. C. M.; CHU, C. H. Dental caries and erosion status of
12-year-old Hong Kong children. BMC Public Health, v.14, n.7, 2014.
154
PROPRIEDADE PREBIÓTICA DE RESÍDUOS DE
FRUTAS TROPICAIS AVALIADA EM RATOS SADIOS
Resumo
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Prospecção de compostos bioativos presentes em resíduos de
frutas tropicais: Avaliação de propriedade hipolipemiante, antioxidante e prebiótica/ Propriedade prebiótica de
resíduos de frutas tropicais avaliada em ratos sadios
Estudante de Iniciação Científica: Laiane Alves da Silva (e-mail: l.a.i.a.n.e_alves@hotmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br, e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientadora: Jailane de Souza Aquino (e-mail: aquinojailane@gmail.com, telefone: 83 3209-8715)
155
e posteriormente dislipidêmicos, demonstrando os possíveis efeitos benéficos do consumo dos
resíduos, na perspectiva de incentivar uma cadeia produtiva com o aproveitamento sustentável
e o consumo destes resíduos pela população humana.
A fruticultura tem importância reconhecida na economia brasileira, em particular no
Nordeste onde há uma grande diversidade de frutas produzidas, consumidas e
comercializadas. O processamento de frutas tem se expandido, aprimorando-se as tecnologias
de conservação, contudo a geração de resíduos como cascas, sementes e bagaço continua
sendo um fator preocupante para o meio ambiente. Nas últimas décadas, as frutas tropicais e
exóticas têm permeado os temas de estudos científicos relacionados às suas propriedades
nutricionais e bioativas, avaliadas principalmente mediante testes in vitro. Aliado a este fato, a
demanda dos consumidores e da indústria por alimentos funcionais tem aumentado assim
como a busca pelo consumo de alimentos saudáveis na perspectiva da manutenção da saúde
ou como adjuvantes na prevenção e tratamento de doenças crônicas não transmissíveis. Tendo
em vista que as frutas acerola, caju e goiaba são considerados alimentos regionais com
potencial funcional, são bastante consumidas e de fácil acesso à população, bem como
bastante processadas pelas indústrias de polpas na cidade de João Pessoa – PB, considera-se
importante avaliar a qualidade nutricional de seus respectivos resíduos como forma de
incentivar o aproveitamento destes e minimizar o descarte no meio ambiente, bem como
avaliar as possíveis propriedades funcionais sobre o metabolismo de ratos.
O projeto foi dividido em três etapas. Na primeira etapa foi realizada a caracterização
nutricional dos resíduos de frutas (acerola, caju e goiaba) que foram submetidos à
desidratação por liofilização, a partir das seguintes análises in vitro: quantificação de fibras
solúveis e insolúveis, composição mineral e proximal, perfil fenólico, carotenoides, vitamina
C, potencial antioxidante por diferentes métodos, além de propriedades tecnológicas como
solubilidade, higroscopicidade, retenção de água e óleo e microscopia das partículas
desidratadas. Na segunda etapa foi realizado um ensaio biológico com animais sadios que
consumiram os resíduos de frutas (acerola, caju e goiaba) e na terceira e última etapa, outro
ensaio biológico foi realizado, porém com animais dislipidêmicos que consumiram os
resíduos de frutas. Neste capítulo daremos enfoque aos efeitos do consumo de resíduos de
acerola, caju e goiaba sobre o peso corporal e o consumo de ração, além de alguns parâmetros
de saúde intestinal avaliados em ratos sadios, tais como pH, umidade e contagem da
população de Lactobacillus, Bifidobacterium e Enterobactérias em amostras fecais, com a
finalidade de dar um indicativo de uma possível propriedade prebiótica mediante o consumo
continuado destes resíduos de frutas.
Fundamentação teórica
156
(MATIAS et al., 2005), os quais necessitam de um destino sustentável sob o ponto de vista
ambiental, nutricional e econômico. Do total de resíduos ou subprodutos gerados anualmente
(39000 toneladas), 91,7% são provenientes de indústrias alimentícias, aproximadamente 33
toneladas/ano de sementes e 198 toneladas/ano de cascas são descartados pela indústria de
polpas, doces, néctares e das frutas minimamente processadas (PELIZER PONTIRRI;
MORAES, 2007).
Dentre as frutas mais processadas estão a acerola, o caju e a goiaba que são apreciadas
por suas características sensoriais, qualidade nutricional e potencial funcional.
A acerola é reconhecidamente uma das maiores fontes naturais de vitamina C até hoje
descobertas, além de possuir concentrações importantes de carotenóides e licopeno. O caju
também é considerado fonte de fibras, vitamina C e polifenóis. A goiaba é fonte de vitaminas
A e C, de fibras, pectina e de potássio (ANTUNES et al., 2013; QUEIROZ et al., 2011). A
maior parte dos estudos destaca avaliações de compostos funcionais nas polpas ou nas frutas
como um todo (GENOVESE et al., 2008; CLERICI; CARVALHO-SILVA, 2011) e apesar dos
estudos com enfoque no aproveitamento de resíduos de frutas em alimentos (ABUD;
NARAIN, 2009), poucos enfocam a avaliação do potencial funcional dos resíduos de frutas
em modelos animais.
Os resíduos de frutas podem apresentar diversos compostos antioxidantes e fibras
alimentares que são consideradas componentes bioativos responsáveis pelo aumento do tempo
de trânsito intestinal, diminuição do esvaziamento gástrico, ao retardo da absorção de glicose,
diminuição da glicemia pós-prandial e redução do colesterol sanguíneo devido às suas
propriedades físicas que conferem viscosidade ao conteúdo luminal (AQUINO et al., 2017).
Neste sentido, o aproveitamento destes resíduos de frutas é de extrema necessidade, visando à
redução da poluição ambiental e agregação de valor ao produto, uma vez que a presença de
constituintes naturais, principalmente de fibras dietéticas (FD) e compostos antioxidantes
(como os compostos fenólicos - CF), muitas vezes é maior em determinados subprodutos do
que o conteúdo total apresentado originalmente pela parte comestível de algumas frutas
(BALASUNDRAM; SUNDRAM; SAMMAN, 2006; MYODA et al., 2010; FRACASSETTI
et al., 2013).
Diversas frutas e seus resíduos parecem ter efeito prebiótico, devido a presença de
ingrediente fermentado seletivamente por micro-organismo probióticos que permite
modificações na composição e/ou atividade na microbiota intestinal, conferindo benefícios
sobre a saúde (ROBERFROID, 2007). Prebiótico pode ainda ser definido como um
ingrediente alimentar que atende efetivamente a três critérios: (I) resistência a acidez gástrica
e a hidrólise por enzimas de mamíferos e absorção gastrointestinal; (II) substrato de
fermentação por micro-organismos intestinais pertencentes a microbiota humana; e (III)
estimulação seletiva do crescimento e/ou atividade de bactérias intestinais (principalmente
bifidobactérias e lactobacilos) associados com a saúde e bem-estar (CANDELA et al., 2010;
PUSHPANGADAN et al., 2014).
Os probióticos foram descritos pela primeira vez por Lilly e Stiiwell (1965), como
micro-organismos vivos não patogênicos e seletivos que têm efeitos benéficos sobre a saúde
do hospedeiro, além de prevenir e tratar doenças. Vale ressaltar que, embora ainda não seja
conhecido quais espécies de bactérias estão envolvidas na manutenção de um ambiente
intestinal saudável, é geralmente aceito que os gêneros
157
Bifidobacterium e Lactobacillus desempenham um papel significativo e que o aumento das
sua população pode ser benéfico para a saúde do hospedeiro ( CAVALCANTI NETO et al.,
2018).
Alguns estudos vêm demonstrando o efeito do consumo de frutas sobre a microbiota
intestinal e ainda há poucos relatos sobre o efeito do consumo de resíduos de frutas sobre
estes parâmetros que vem sendo avaliado principalmente em modelos animais devido ao grau
de invasividade de algumas avaliações. Nesse contexto, a saúde intestinal pode ser avaliada a
partir de alguns parâmetros como pH e umidade fecal, tempo de trânsito intestinal, contagem
de micro-organismos para identificação da microbiota fecal e intestinal, quantificação de
ácidos orgânicos fecais que geralmente são produzidos pelas bactérias desta microbiota, bem
como analise histológica do intestino (BATISTA et al., 2018).
Pereira et al., (2010) detectaram efeitos positivos na microbiota intestinal de ratos
Wistar que consumiram farinha de fruta-pão (Artocarpus incisa). Wchienchotet et al. (2009)
analisaram os efeitos dos oligossacarídeos de duas variedades da pitaya (Hylocereus undatus
Haw) ou "fruta do dragão", concluindo que foram capazes de estimular o crescimento de
bactérias dos gêneros Lactobacillus e Bifidobacterium. Em ratos dislipidêmicos, os resíduos
de acerola, caju e goiaba ocasionaram diminuição do pH fecal, gordura visceral, gordura
hepática e níveis séricos de lipídios, bem como aumento nas contagens de Bifidobacterium
spp. e Lactobacillus spp. contagens e protegeram o fígado e o intestino de danos teciduais
ocasionados pela dislipidemia (BATISTA et al., 2018).
Este breve conjunto de evidências apresenta as relevantes associações entre a
necessidade do aproveitamento dos resíduos agroindustriais como ingredientes de alimentos
regionais com consequente redução do descarte destes resíduos no meio ambiente, a
oportunidade de contribuir com a expansão da fruticultura na região Nordeste, a demanda da
indústria alimentícia e de consumidores pelo estudo de alimentos funcionais, as evidências de
que as frutas e seus resíduos podem apresentar ação antioxidante, prebiótica e ação positiva na
manutenção da saúde e tratamento de doenças crônicas, a presente proposta é justificada.
Apresentamos a seguir os principais efeitos do consumo de resíduos de acerola, caju e goiaba
sobre alguns parâmetros de saúde intestinal como indicativo de uma possível propriedade
prebiótica.
Metodologia e análise
158
para todo o experimento. Os diversos lotes recebidos foram homogeneizados, de maneira a
formar um só lote de cada resíduo de fruta para análises. Cada resíduo permaneceu por
aproximadamente 12 horas no liofilizador até que o material estivesse completamente
desidratado. Cada tipo de resíduo, previamente congelado foi submetido à liofilização em
temperatura de -40°C, pressão a vácuo abaixo de 150µHg e velocidade de liofilização de
1m/h por aproximadamente 12 horas, em liofilizador (modelo L-101, marca LIOTOP, São
Carlos-SP, Brasil). Após a secagem, os resíduos foram moídos e o pó obtido (Figura 1) foi
armazenado em embalagens vítreas e armazenado ao abrigo da luz sob refrigeração (-18°C).
Figura 1. Resíduos do processamento de acerola (A), caju (B) e goiaba (C) liofilizados
Animais e dietas
Os animais foram mantidos em gaiolas metabólicas em temperatura de 21±1ºC com
água e ração comercial ad libitum para todos os grupos, sendo submetidos a ciclos
alternados de claro e escuro de 12 horas cada. O ensaio biológico foi realizado durante 28 dias
com 28 ratos machos adultos da linhagem Wistar, com ±80 dias de idade, randomizados em
quatro grupos (Figura 2), assim descritos:
Grupo controle (GC; n = 7): ração comercial + gavagem com solução fisiológica
Grupo experimental Caju (CEC; n=7): ração comercial+ gavagem do resíduo (400mg/kg
de peso do animal)
159
Figura 2. Desenho de estudo do ensaio biológico
Anestesia
via intraperitoneal
Coleta de material fecal
160
para Lactobacillus foram incubadas em anaerobiose em temperatura de 37 ° C durante 24-
48h. Após a incubação, as colônias específicas cultivadas nos meios de cultura seletivos
foram contadas e o número de microrganismos viáveis expressos em log10.UFC/g (SILVA et
al., 2013; BATISTA et al., 2018).
Análise estatística
Os resultados foram testados quanto submetidos à análise de variância (ANOVA),
realizando-se testes de Tukey ao nível de 5% de significância (p<0,05), utilizando-se o
programa estatístico Sigma Stat 3.1.
Conclusões
Referências
161
ANTUNES, A. E. C.; LISERRE, A. M.; COELHO, A. L. A.; MENEZES, C. R.; MORENO
I.; YOTSUYANAGI, K.; AZAMBUJA, N. C. Acerola nectar with added micro encapsulated
probiotic. Food Science and Technology. p. 1-7, 2013.
AQUINO, J. S.; BATISTA, K. S.; MENEZES, F. N. D. D.; LINS, P. P.; GOMES, J. A. S.;
SILVA, L. A. Models to Evaluate the Prebiotic Potential of Foods. In: CHAVARRI, M.
Functional Food - Improve Health through Adequate Food. Rijeka: In tech, 2017. p. 235-
256.
BATISTA K. S.; ALVES A. f.; LIMA, M. D. S.; SILVA, L. A.; LINS, P. P.; GOMES, J. A.
S.; SILVA, A. S.; TOSCANO, L. T.; MEIRELES, B. R. L. A.; CORDEIRO, A. M. T. M.;
CONCEIÇÃO, M. L.; SOUZA, E. L.; AQUINO, J. S. Beneficial effects of consumption of
acerola, cashew or guava processing by-products on intestinal health and lipid metabolism in
dyslipidaemic female Wistar rats. British Journal of Nutrition. v. 119, n. 1, p. 30-41, 2018.
162
microorganisms, Science, v. 147, p.747-748, 1965
163
ANÁLISE DO PENTENCIAL EROSIVO DE SUCOS
COM ADIÇÃO DE SOJA SOBRE O TECIDO DENTINÁRIO
Resumo
O objetivo desse estudo foi avaliar o potencial erosivo de sucos com soja,
industrializados, no tecido dentinário. Assim, utilizou-se 48 blocos de dentina, divididos,
aleatoriamente, em 6 grupos (n=8). A água mineral e a Coca-cola® foram os controles
negativo e positivo, respectivamente. Foram realizadas medições, e m t r i p l i c a t a , de pH e
titulação ácida em 50ml de cada bebida até o pH 7.0. Os espécimes foram submetidos ao
teste erosivo (2 horas/27ºC) e, posteriormente, analisados sua microdureza superficial
(Vickers, 50g/ 1 0s). Os dados foram analisados pelo teste ANOVA e correlação de Pearson,
com p<0.05. Todas as bebidas apresentaram um pH superior ao da coca-cola e inferior ao da
água mineral. Diferença estatística foi observada entre e dentro dos grupos para todas as
variáveis analisadas (ANOVA, p<0,001), exceto para a microdureza inicial. O pH e a
titulação ácida apresentaram correlação significativa (p<0,05). Os sucos com soja
apresentaram-se potencialmente erosivos e menos danosos que a Coca-cola®.
Apresentação
¹Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Análise do potencial erosivo de diferentes bebidas ácidas no
tecido dentinário: um estudo in vitro/ Análise do pentencial erosivo de sucos com adição de soja sobre o tecido
dentinário
Estudante de Iniciação Científica: Nayanna Lana Soares Fernandes (e-mail: naaah.soares.fernandes@hotmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail:cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientadora: Andressa Feitosa Bezerra de Oliveira (e-mail: andressafeitosa@msn.com, telefone: (83) 9957-
2014)
164
significativamente nos últimos anos (JAEGGI, LUSSI, 2006; WANG et al., 2010; CORREA
et al. 2011). Isso pode estar relacionado ao aumento no consumo de bebidas ácidas
(GONÇALVES et al., 2012), a redução da perda de dentes pela menor prevalência da cárie, o
que permite a manutenção deles na cavidade oral durante um tempo prolongado, e também ao
envelhecimento da população (LUSSI, 1993; BARBOSA, KATO, BUZALAF, 2011). A
erosão dentária é uma patologia não cariosa, decorrente de um processo químico causado por
ácido de natureza diversa, apresentando como resultado físico a perda mineral de forma
crônica e localizada, da superfície dentária (AMAECHI, HIGHAM, EDGAR, 2003; AGUIAR
et al., 2006). Portanto, é importante que tenhamos a curiosidade em estudá-la e entender os
mecanismos envolvidos no seu desenvolvimento, para conseguir diagnosticar precocemente e
empregar o tratamento mais adequado possível.
Fundamentação teórica
Durante muito tempo a erosão dentária foi de pouca importância para clínicos e
pesquisadores, entretanto, na última década, ela tem chamado atenção da comunidade
científica em virtude do aumento crescente na sua prevalência e etiologia multifatorial
(JAEGGI; LUSSI, 2014; LUSSI; CARVALHO, 2014; SHAHBAZ et al., 2016; MAFLA et al,
2017; SALAS et al., 2017). Estudos relatam significativas taxas de prevalência da erosão
dentária, podendo variar de 15% a 57%, sobretudo em indivíduos jovens (ALVES et al.,
2015; SHAHBAZ et al., 2016; MAFLA et al., 2017). Segundo Carvalho et al. (2014) e
Alvarez et al. (2015), o risco e a progressão da erosão dentária é ainda maior na dentição
decídua, visto que esses elementos dentários apresentam uma camada mais fina de esmalte.
O desgaste erosivo é definido como um processo químico de natureza não bacteriana,
que resulta na perda superficial dos tecidos dentais duros (AGUIAR et al, 2006). A etiologia
da erosão está ligada a exposição frequente e duradoura dos tecidos dentais aos ácidos, os
quais podem ter origem intrínseca ou extrínseca (AGUIAR et al, 2006). Sobre os fatores
extrínsecos podemos destacar: dieta rica em alimentos e bebidas ácidas; ingestão frequente de
medicamentos com caráter ácido, como por exemplo: a vitamina C; exposição à ácidos
presentes no meio ambiente, como no caso de trabalhadores de indústrias químicas, ou
permanência prolongada em piscinas cloradas. Os principais fatores intrínsecos são doenças
que promovem a diminuição do fluxo salivar, distúrbios alimentares e/ou gastroesofágicos
que tenham como consequência a constante regurgitação do suco gástrico (SOBRAL, LUZ,
TEIXEIRA, NETTO, 2000). Pacientes expostos a ácidos extrínsecos sofrem mais erosão nas
superfícies vestibulares e oclusais dos dentes anteriores maxilares (BARRON et al, 2003;
BRANCO et al, 2008), já a exposição a ácidos intrínsecos provoca maior dano na superfície
palatina dos dentes (GANDARA, TRUELOVE, 1999; BARRON et al, 2003; MACHADO et
al, 2007).
Esta diversidade de fatores etiológicos permite explicar porque alguns indivíduos
apresentam maior risco à erosão do que outros (WANG; LUSSI, 2012; LUSSI; CARVALHO,
2014). As principais manifestações clínicas iniciais da erosão são: opacidades do esmalte e
superfícies lisas com lesões em forma de U, rasas e sem ângulos nítidos. Com o progresso da
doença, a lesão atinge o tecido dentinário e começa a provocar sensibilidade ao frio, ao calor e
165
à diferença de pressão osmótica (SOBRAL, LUZ, TEIXEIRA, NETTO, 2000; CARVALHO
et al., 2014). Em casos mais avançados pode ocorrer erupção compensatória de dentes
erodidos, formação de diastemas, alteração da dimensão vertical de oclusão (BARRON et al,
2003; MACHADO et al, 2007; BRANCO et al, 2008) e até mesmo dores musculares e
disfunção da articulação temporomandibular (MACHADO et al, 2007; BRANCO et al, 2008).
A perda parcial de mineral na superfície, resultante do ataque ácido, leva a uma perda
irreversível de tecido mineralizado e é acompanhado por um amolecimento progressivo da
superfície, o que tende a aumentar com a exposição contínua aos ácidos (GANSS et al., 2014;
WEST; JOINER, 2014). Esse processo faz com que as superfícies de esmalte erodidas fiquem
vulneráveis a forças mecânicas, como as da escovação (LUSSI et al., 2011; PORCELLI et al.,
2015). A abrasão da escovação remove o tecido superficial fragilizado (SOARES et al.,
2017). O processo de erosão progride até quando a dentina é atingida, e a partir daí ocorre
uma alteração na sua microestrutura e conseqüente abertura e exposição dos túbulos
dentinários, causando uma hipersensibilidade dentinária, que está frequentemente associada a
sintomatologia causada pela erosão dentária (WEST et al, 2000; NAYLOR et al, 2006).
A dentina é um tecido dental mineralizado, de natureza conjuntiva, que apresenta na
sua composição 25% de matéria orgânica em peso, na forma de colágeno. A dentina é menos
dura e mais resiliente que o esmalte, além de apresentar maior facilidade de degradação pela
ação de ácidos, decorrente do seu menor conteúdo mineral e maior concentração de proteínas
(STEFAN et al., 2015).
Numerosos episódios de exposição à agentes ácidos desencadeiam o processo erosivo,
tendo em vista que a frequência e duração do contato com o ácido pode determinar o
desenvolvimento e a progressão das lesões de erosão (AYKUT-YETKINER et al., 2013). O
potencial erosivo de uma bebida ácida ou gênero alimentício não depende, exclusivamente, do
seu valor de pH, mas também da sua associação com o seu conteúdo mineral, a sua acidez
titulável, a sua capacidade tampão e as suas propriedades de quelação do cálcio (WANG;
LUSSI, 2012). A capacidade tampão e o pH são considerados importantes fatores na cinética
da erosão (SHELLIS et al., 2014). O valor de capacidade tampão é, geralmente, utilizado em
química para definir a habilidade de uma solução para manter seu valor de pH (WANG;
LUSSI, 2012). Portanto, quanto maior a capacidade tampão da bebida, maior será o seu
desafio erosivo, e maior a quantidade de saliva necessária para neutralizar o ácido (WANG;
LUSSI, 2012). Além desses fatores, podemos citar também a adição da proteína caseína, e os
aspectos físicos como: a temperatura, a adesão da bebida a estrutura dentária e o tempo de
contato, como determinantes no processo de desenvolvimento da erosão causada por bebidas
ácidas. (FURTADO et al, 2010).
O extrato da proteína soja, seja liquido ou em pó, está sendo muito utilizado na
indústria de alimentos nos últimos tempos, devido principalmente a sua qualidade protéica e
energética (SILVA et al, 2010), dessa forma, a inserção da proteína soja nos sucos
industrializados de frutas no mercado brasileiro tem se tornado cada vez mais freqüente, pois
une as características sensoriais desejáveis das frutas com as propriedades funcionais da soja.
(TORREZAN et al, 2004; SILVA et al, 2010). Em relação aos consumidores brasileiros
observa-se o aumento do consumo de sucos de frutas com o extrato hidrossolúvel de soja
(BEHRENS, SILVA, 2004), associando características sensoriais apreciáveis das frutas com
as propriedades funcionais da soja (TORREZAN, et al., 2004). Essa expansão do mercado
166
brasileiro indica uma mudança nos hábitos dos consumidores (BEHRENS, SILVA, 2004),
que procuram produtos saudáveis e práticos (BARBOSA, 2007). Isso é comprovado pelo
índice de crescimento da categoria de bebidas à base de soja que vendeu em 2008 mais de 395
milhões de litros, representando um crescimento de 6,1 % comparando-se com o ano de 2007
(SILVA et al., 2010). Em 2014, o consumo, por cada brasileiro, foi em média 1,9 litros de
suco de soja, representando um aumento de 46% em relação à 2009, que era de apenas 300ml.
No entanto, em 2015 o volume de vendas de bebidas de soja caiu 15% e isto fez com que o
mercado fosse sofrendo adaptações. As marcas, detentoras dos produtos de soja, no Brasil,
tem se adaptado ao mercado, diminuindo o teor de acúcar e calorias de seus produtos e
diversificando suas linhas de produção (BORTOLOZI, 2015)
Apesar da grande oferta de alimentos e bebidas ácidas disponíveis no mercado, um
fator primordial que deve ser levado em consideração é o padrão de consumo. Medidas como
utilizar a água ou o leite, não escovar os dentes logo após a ingestão dessas bebidas, usar
soluções fluoretadas, usar dentifrícios com baixa abrasividade, são condutas que ajudam a
prevenir o desenvolvimento dessas lesões. (FARIAS et al, 2009).
A relevância de diagnosticar precocemente a erosão dentária deve ser enfatizada para
os cirurgiões-dentistas, porque a prevenção é a única forma eficaz para evitar essa patologia
(LUSSI et al., 2000; GONÇALVES et al., 2012). Portanto, a natureza multifatorial dessa
patologia e a diversidade de fontes que atuam como agentes etiológicos (MANGUEIRA et al.,
2009) contribuem para a dificuldade de realizar um diagnóstico correto (AGUIAR et al.
2006). Além disso, diferentes processos não cariosos podem afetar os dentes e causar
sintomatologia parecida com a erosão dental, dentre os quais se destacam: abrasão, abfração e
atrição. Dessa forma, é necessário conhecer a definição de todos esses outros processos a fim
de realizar um diagnóstico correto (AGUIAR et al, 2006).
Por fim, diante do exposto, podemos concluir que um dos principais fatores
relacionados ao desenvolvimento da erosão dentária se encontra no caráter ácido das bebidas
consumidas na dieta, e que a inserção da proteína soja nos sucos de frutas industrializados é
uma oferta crescente e bem aceita no mercado.
Metodologia
Aspectos Éticos
Este estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências
daSaúde da Universidade Federal da Paraíba, já que é um estudo in vitro, com utilização de
dentes humanos, os doadores dos órgãos dentários assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido, conforme a Resolução 196/96 CNS. Esse estudo foi aprovado com o
Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) de número:
30865714.4.0000.5188. O projeto foi desenvolvido no Laboratório de Técnicas Morfológicas
do Departamento de Morfologia.
Universo e Amostra
Neste estudo foram utilizados 25 dentes humanos terceiros molares, extraídos por
razões ortodônticas ou por impactação, obtidos na Clínica de Cirurgia II, pertencente ao curso
167
de Odontologia da UFPB, após assinatura do Termo de Doação de Dentes. A seleção da
amostra da presente pesquisa foi realizada em função desse grupo de dentes não ter sido
exposto a desafios ácidos na cavidade bucal. Não foram incluídos na amostra dentes que
possuíam trincas, rachaduras, cárie e/ou alterações do esmalte dentário.
168
Preparação dos espécimes
Os dentes coletados foram limpos através de raspagem com curetas periodontais, para
remoção dos restos dos tecidos periodontais aderidos na superfície dentária, e armazenados
em solução tamponada de formol a 10%, sob temperatura ambiente, por um período
máximode 30 dias. Posteriormente, cada dente foi examinado com o auxílio de uma lupa de
5x de aumento para averiguação de possíveis trincas, rachaduras, cáries e alterações do
esmalte, situação na qual foram excluídos da amostra.
Após a analise dos dentes, foram preparados 48 blocos de dentina, de
aproximadamente 3x3x2mm, utilizando-se um disco diamantado dupla face na cortadeira de
precisão (Labcut 1010), sob irrigação constante. Os espécimes foram embebidos em resina
acrílica para planificação em Politriz metalográfica, utilizando-se lixas de silicone de
granulações variadas, sob irrigação constante. O polimento da superfície da dentina foi
realizado com feltros umedecidos e suspenção de diamante de 1m. Após a preparação dos
espécimes, conforme observado na Fig. 01, os blocos de dentina foram divididos,
aleatoriamente, entre os grupos.
Coleta de Dados
As bebidas selecionadas presentes na Tabela 01, imediatamente após a sua abertura,
tiveram os seus pH mensurados, utilizando-se um eletrodo acoplado a um medidor de pH
(Orion, modelo 420A -Thermo Fischer Science Inc., Waltham, MA), Fig. 02. A titulação
ácida foi realizada com a adição de 1M NaOH a 50ml de cada bebida até atingir o pH
neutro,7.0. A titulação ácida foi determinada pela quantidade de 1M NaOH que foi necessário
adicionar a cada bebida até se obter um pH neutro. As medidas foram feitas nas bebidas sob
agitação constante, para garantir uma maior precisão, em triplicata, e uma média foi utilizada.
A capacidade tampão (β) foi calculada através da Equação 01, de acordo com Lussi et al.
(2011).
169
(2) %PMD = MDi1 – MDf2 x 100
MDi1
1
Média da Microdureza inicial da dentina
2
Média da Microdureza final da dentina
Figura 01: Espécime de dentina Figura 02: Eletrodo Figura 03: Amostras de
emblocado na resina acrílica. acoplado a medidor de pH. dentina durante teste
erosivo.
Análise Estatística
Os resultados foram analisados pela estatística descritiva e inferencial. Após a análise
de normalidade dos dados, testes paramétricos foram utilizados para comparação entre as
variáveis: pH, titulação ácida, capacidade tampão e %PMD. As correlações entre as variáveis
foram feitas com o teste de correlação de Pearson. O nível de significância considerado foi de
95% (p < 0,05).
Nesta pesquisa laboratorial in vitro foi possível estimar o potencial erosivo de bebidas
à base de soja prontas para consumo, disponíveis no mercado nacional, por meio da
determinação de diferentes propriedades físico-químicas, a exemplo do pH, titulação ácida e
capacidade tampão, além da alteração na microdureza superficial da dentina. Os resultados
obtidos em estudos in vitro devem ser analisados com cuidado, quanto a sua extrapolação
para as condições in vivo, pois não é possível imitar todos os aspectos presentes in vivo no
laboratório. No entanto, é importante trazer para o estudo in vitro o máximo de aspectos da
realidade clínica (SCARAMUCCI et al., 2011), já que eles tem a vantagem de fornecer dados
isolados de variáveis de interesse, sem que haja a interferência de outros fatores. Portanto, os
achados deste experimento devem ser interpretados levando-se em conta as limitações da
abordagem experimental adotada.
De acordo com a literatura, a dieta é o fator etiológico mais estudado (LUSSI,
170
JAEGGI, ZERO, 2004; WONGKHANTEE et al., 2006) e está relacionada com a erosão
dentária (LUSSI et al., 2012). O extrato de soja, também denominado como “leite de soja”, é
utilizado na fabricação de bebidas e está ganhando espaço no mercado devido à versatilidade
de sua utilização direta ou em formulações de produtos. Observa-se uma aceitação crescente
quando associado o extrato de soja com aditivos e ou ingredientes como os sucos de frutas, os
quais contribuem para melhores características sensoriais (TASHIMA e CARDELLO, 2003).
Portanto, acredita-se que o acréscimo da fruta na composição de alimentos à base de soja,
especificamente nas bebidas, tenha as tornado ácidas, e, portanto, potencialmente erosivas aos
tecidos dentários (FARIAS et al., 2009).
Os aspectos físico-químicos que podem influenciar diretamente na capacidade erosiva
de bebidas ácidas são: tipo, concentração e capacidade quelante do ácido; pH; acidez titulável;
conteúdo de cálcio, fosfato e flúor; adição da proteína caseína; temperatura e adesão
(FURTADO et al., 2010). Por isso, nesta pesquisa foi utilizado as medições de pH, titulação
ácida, capacidade tampão, e o percentual de perda da microdureza de superfície para calcular
o potencial erosivo das bebidas analisadas.
Os dados coletados apresentaram uma distribuição normal pelo teste de Kolmogorov-
Smirnov, em todas as variáveis estudadas (pH, titulação ácida para o pH 7.0, percentual de
perda de microdureza de superfície (%PMD) e capacidade tampão), permitindo a utilização
dos testes paramétricos. Houve relação estatisticamente significante entre e dentro dos grupos
para todas as variáveis estudadas. (ANOVA, p<0,001)
O pH das bebidas estudadas variou de 3.87 (suco de uva Ades®) a 4.22 (suco de
pêssego Sollys®). A água mineral (Indaiá®) e o refrigerante à base de cola (Coca-cola®)
foram considerados como grupos controles respectivamente, negativo e positivo. Os valores
de pH, titulação ácida e capacidade tampão estão presentes na Tabela 1 e Figura 4. Todos os
valores de capacidade tampão e de titulação ácida encontrados foram superiores aos do
controle negativo, já em relação ao pH, todos os sucos apresentaram um valor inferior quando
comparados a água mineral. Entretanto, se comparado esses valores aos de sucos sem adição
da proteína soja, relatados na literatura, observa-se uma significativa diferença, pois todos os
sucos analisados apresentaram valores de pH superiores aos presentes na literatura (CORSO
et al., 2006)
171
Tabela 01. Valores de pH, titulação ácida e capacidade tampão de todas as bebidas
analisadas.
Titulação
ácida* (mmol/l Capacidade
Tipo de bebida Ph (inicial)*
NaOH) para Tampão*
pH 7.0
Sucos com Soja
Uva – Ades® 3,87 1,3 8,11
Laranja – Ades® 3,88 1,66 10,34
Pêssego – Sollys® 4,22 1,46 10,27
Morango – Mais Vitta (Yoki)® 3,99 1,43 9,38
Controle Positivo
Refrigerante a base de cola – Coca-cola® 2,47 1,96 8,35
Controle Negativo
Água mineral – Indaiá® 4,84 0,03 0,2
*Test t, p<0,05
Os maiores valores para a titulação ácida e capacidade tampão, como pode ser
observado na tabela 1, foram encontrados no suco de laranja com soja. Dessa forma, visto que
a titulação ácida é a quantidade necessária de base a ser adicionada na solução para que esta
seja neutralizada, quanto maior esse valor, mais dificuldade terá a saliva em neutralizar essa
bebida e impedir que ela cause danos a superfície dentária (CORSO et al., 2006). O suco de
laranja com soja também apresentou o maior valor de porcentual de perda da microdureza
superficial, porém não apresentou o menor valor de pH, o qual foi observado no suco de uva
com soja. Este achado corrobora os relatos da etiologia multifatorial da erosão, onde apenas a
análise de uma variável não é suficiente para explicar o comportamento erosivo de uma
bebida, como descrito por Lussi et al. (2012) e Zero e Lussi (2005). Verificou-se também a
presença de correlação estatisticamente significante entre titulação ácida e capacidade tampão,
o que está mais relacionado a desafios erosivos prolongados, tendo em vista que o pH é um
bom determinante erosivo em desafios mais curtos (JENSDOTTIR et al., 2005), corroborando
o que foi realizado nesta pesquisa.
172
Figura 04. Distribuição das médias dos valores de pH, titulação ácida e capacidade tampão
em todos os grupos analisados.
12
10
pH
8 Titulação Ácida
0
Uva Laranja Morango Pêssego Coca-Cola Água
Figura 05. Valores da microdureza inicial da superfície da dentina, antes do desafio erosivo
(Mdi), microdureza final da superfície da dentina (MDf) realizada após o desafio erosivo, e o
percentual de perda da microdureza superficial (%PMD), com os valores de desvio padrão
para cada variável, comparando-as com os diferentes grupos (ANOVA, p <0.01)
173
tecido dentinário após a imersão das amostras em bebidas ácidas, verificando-se a perda de
mineral no tecido superficial, caracterizando a erosão.
Na Tabela 2, encontram-se os valores de %PMD dos sucos analisados, comparados
com os controles, positivo e negativo. O único suco que se mostrou significativo com os dois
controles foi o de Laranja. No controle negativo, os sucos de laranja e morango foram
significativos, mas para o controle positivo, apenas o de laranja.
Todos os sucos analisados foram mais erosivos do que a água mineral (Indaiá®), e
apenas dois (o suco de morango e o suco de laranja Ades®) foram mais erosivos do que o
controle negativo (Coca-cola®).
De acordo com Scaramucci et al. (2011), as medidas de microdureza superficial são
úteis para determinar os estágios iniciais da erosão. No entanto, a analise de outras variáveis,
como o pH, podem colaborar no diagnostico final. Além destas, no presente estudo ainda se
levou em consideração para análise a titulação ácida e capacidade tampão, também descritas
na literatura (SILVA et al., 2010; LUSSI et al., 2012). Portanto, percebe-se a importância da
realização de estudos com a finalidade de obter parâmetros em relação ao potencial erosivo de
substâncias alimentares, já que estas informações podem fornecer aos dentistas
recomendações para os pacientes com alto risco de desenvolveram esta patologia (LUSSI et
al., 2012).
Os sucos com adição da proteína soja apresentaram caráter erosivo variado nesse
estudo, mas quando comparado com os dados a literatura, ainda são valores mais satisfatórios
do que os sucos que não contam com a adição dessa proteína em sua composição. Portanto,
podem ser considerados uma opção de consumo, que oferece menos prejuízos a saúde bucal,
por apresentar um comportamento menos erosivo e mais satisfatório, especialmente para
crianças, que costumam fazer um uso constante desses produtos durante a infância.
174
o pH e titulação ácida para pH 7,0. (r= -804, p<0.05).
da capacidade tampão com as variáveis: titulação ácida (r= 878, p<0.05),
microdureza final (r= -852, p<0,05) e percentual de perda da microdureza de
superfície (r= 622, p<0,05).
titulação ácida para pH 7,0 com as variáveis: percentual de perda da
microdureza de superfície (r= 558, p<0,05) e a microdureza final (r= -750,
p<0,05).
Conclusões
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179
CIÊNCIAS EXATAS
AVALIAÇÃO NA PROPORÇÃO DE OBESOS
BENEFICIADOS PELO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA
Resumo
Apresentação
¹Título do Projeto/Plano de Trabalho: Gasto com assistencialismo e obesidade no Brasil/ Avaliação na proporção
de obesos beneficiados pelo Programa Bolsa Família
Estudante de Iniciação Científica: André Antonio de Oliveira (e-mail: andreoliveira53@hotmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br, e-mail: cadastrogpaic@propesq.ufpb.br)
Orientadora: Tatiene Correia de Souza (e-mail: tatiene@de.ufpb.br, telefone: (83) 3216-7075)
181
adolescentes em grande escala. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a obesidade
infantil é um problema global que está atingindo muitos países de baixa e média renda, sendo
que em 2013, o número de crianças com excesso de peso com idade inferior a cinco anos
estava estimado em mais de 42 milhões, sendo que 31 milhões vivendo em países em
desenvolvimento (disponível em: http://www.who.int/dietphysicalactivity/ childhood/en/).
No Brasil, segundo dados divulgados pela Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República em um estudo sobre a alimentação adequada de crianças e
adolescentes, apenas 1,9% das crianças com menos de 5 anos de idade apresentaram baixo
peso. Em contrapartida, constatou-se 7,3% das crianças nessa faixa etária com excesso de
peso, resultados esses referentes ao ano de 2006. Além do mais, segundo esse mesmo estudo,
o estado nutricional na primeira infância repercute na vida adulta, e a incidência de obesidade
em adultos têm crescido nos últimos anos em todas as regiões brasileiras (SECRETARIA DE
DIREITOS HUMANOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2015).
Nesse contexto, diversos estudos buscaram um maior aprofundamento no tema da
obesidade infantil. Abrantes et al. (2002) realizaram um estudo sobre a prevalência de
sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes das Regiões Nordeste e Sudeste, e
concluíram que a prevalência de obesidade foi maior em crianças do que em adolescentes.
Além do mais, a Região Sudeste apresentou uma maior prevalência de crianças obesas
comparada à Região Nordeste. Moreira et al. (2012) objetivaram identificar a prevalência de
excesso de peso e sua associação com fatores econômicos, biológicos e maternos em menores
de 5 anos da região semiárida do estado de Alagoas. Contudo, não foi evidenciada associação
significativa entre o excesso de peso e as variáveis socioeconômicas estudadas.
Oliveira et al. (2011) afirmaram que o governo brasileiro vem implantando programas
de transferência de renda, como o Programa Bolsa Família, partindo do fato de que um
incremento na renda familiar pode promover uma melhora no estado nutricional das crianças
que nelas vivem. Segundo Segall-Corrêa et al. (2008), as políticas de transferência de renda
podem exercer um papel fundamental na melhoria das condições sociais da população,
principalmente entre aquelas pessoas que se encontram em situação de extrema pobreza.
Neste cenário, um dos principais programas de transferência de renda é o Programa
Bolsa Família. Criado em 2003 no governo do então presidente Lula, o Bolsa Família
beneficia famílias em situação de pobreza e extrema pobreza em todo o país e integra o Plano
Brasil sem Miséria, que tem como foco de atuação os milhões de brasileiros com renda
familiar per capita inferior a 𝑅𝑅$ 77,00 mensais e está baseado na garantia de renda, inclusão
produtiva e no acesso aos serviços públicos (disponível em:
http://www.mds.gov.br/bolsafamilia). O Programa Bolsa Família é reconhecido
internacionalmente como o maior programa de transferência de renda do mundo.
Segundo uma pesquisa realizada em 2008 pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais
e Econômicas, IBASE, com titulares do Cartão Bolsa Família, a maior parte do beneficio
recebido mensalmente era gasto principalmente com alimentação, e que uma das principais
mudanças ocorridas nos hábitos alimentares após o recebimento deste auxílio foi o aumento
no consumo de açúcares, 78% dos titulares disseram que passaram a comprar mais desse
grupo alimentar. A pesquisa também concluiu que no geral, o que prevalece na decisão de
consumo da dieta das famílias são os alimentos de maior densidade calórica e menor valor
nutritivo, contribuindo para o aumento da prevalência de excesso de peso e obesidade
182
(IBASE, 2008).
Diversos autores buscaram associar o Programa Bolsa Família à situação nutricional
dos beneficiários. Lima et al. (2011) apresentaram como objetivo em seu estudo a verificação
do estado nutricional da população adulta beneficiária do Programa Bolsa Família no
município de Curitiba, no estado do Paraná, e observaram uma prevalência de sobrepeso e
obesidade em 56% dessa população. Cabral et al. (2013) estudaram beneficiários desse
mesmo programa em Maceió, no estado de Alagoas, e encontraram alta prevalência de
desnutrição em crianças e adolescentes, mas excesso de peso em adultos. Acreditou-se no
estudo que o excesso de peso tenha sido influenciado pelo aumento no consumo de alimentos
com alta densidade energética, devido à renda extra proveniente do benefício. Saldiva et al.
(2010) avaliaram as condições de saúde e nutrição de crianças menores de cinco anos e
associaram a qualidade do consumo alimentar aos beneficiários do Bolsa Família de um
município do semiárido brasileiro. Um aspecto relevante identificado no estudo foi o
consumo excessivo de guloseimas associado positivamente com crianças que pertenciam às
famílias beneficiárias. Baseado neste resultado foi formulada a hipótese de que com o
aumento da renda mensal, as famílias passaram a consumir mais alimentos com baixo valor
nutricional. Cotta e Machado (2013), Monteiro et al. (2014), Silva (2011) e Wolf e Filho
(2014) também apresentaram como objetivo em seus estudos a avaliação da situação
nutricional de beneficiários do Programa Bolsa Família.
O nosso objetivo no presente capítulo é avaliar e explicar a proporção de crianças
obesas, entre 0 e 5 anos de idade, beneficiadas pelo Programa Bolsa Família no ano 2014, e
identificar para cada uma das cinco regiões do Brasil os fatores que influenciam na obesidade
desses indivíduos através de variáveis relacionadas às condições sociais, econômicas,
demográficas e nutricionais dos beneficiários do Bolsa Família nos municípios brasileiros.
Como a variável de interesse é uma proporção, é necessário o uso de modelos apropriados
para essas situações. Para isso, utilizou-se o modelo de regressão beta proposto por Ferrari e
Cribari-Neto (2004). A classe de modelos de regressão beta tem como objetivo permitir a
modelagem de respostas que pertencem ao intervalo (0,1), por meio de uma estrutura de
regressão que contém uma função de ligação, covariáveis e parâmetros desconhecidos.
Fundamentação teórica
183
densidade beta que permite a modelagem da média da resposta através de uma estrutura de
regressão e que envolve também um parâmetro de precisão. A função de densidade beta nessa
reparametrização tem a forma
Γ(𝜙𝜙)
𝑓𝑓(𝑦𝑦; 𝜇𝜇, 𝜙𝜙) = y μϕ−1 (1 − y)(1−μ)ϕ−1 , 0 < 𝑦𝑦 < 1, (1)
Γ(μϕ)Γ((1 − μ)ϕ)
em que 0 < 𝜇𝜇 < 1 e 𝜙𝜙 > 0. Aqui, 𝐸𝐸(𝑦𝑦) = 𝜇𝜇 e 𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣(𝑦𝑦) = 𝑉𝑉(𝜇𝜇)/(1 + 𝜙𝜙), sendo 𝑉𝑉(𝜇𝜇) =
𝜇𝜇(1 − 𝜇𝜇), a “função variância”, 𝜇𝜇 é a média da variável resposta e 𝜙𝜙 pode ser interpretado
como o parâmetro de precisão no sentido que, para um valor fixo de 𝜇𝜇, quanto maior o valor
de 𝜙𝜙, menor a variância de 𝑦𝑦.
Sejam 𝑦𝑦1 , . . . , 𝑦𝑦𝑛𝑛 variáveis aleatórias independentes, em que cada 𝑦𝑦𝑡𝑡 , 𝑡𝑡 = 1, . . . , 𝑛𝑛,
segue a densidade apresentada na Equação (1) com média 𝜇𝜇𝑡𝑡 e parâmetro de precisão 𝜙𝜙𝑡𝑡
sendo desconhecidos. O modelo de regressão beta assume que uma função da média 𝜇𝜇𝑡𝑡 pode
ser igualada ao preditor linear 𝜂𝜂𝑡𝑡 sendo esta estrutura definida por 𝑔𝑔(𝜇𝜇𝑡𝑡 ) = ∑𝑘𝑘𝑖𝑖=1 𝑥𝑥𝑡𝑡𝑡𝑡 𝛽𝛽𝑖𝑖 = 𝜂𝜂𝑡𝑡 ,
em que 𝛽𝛽 = (𝛽𝛽1 , . . . , 𝛽𝛽𝑘𝑘 )𝑇𝑇 é um vetor de parâmetros de regressão desconhecidos (𝛽𝛽 ∈ ℝ𝑘𝑘 ),
𝑥𝑥𝑡𝑡1 , . . . , 𝑥𝑥𝑡𝑡𝑡𝑡 são observações de 𝑘𝑘 covariáveis e 𝑔𝑔(∙) é denominada função de ligação.
Portanto, 𝜇𝜇𝑡𝑡 = 𝑔𝑔−1 (𝜂𝜂𝑡𝑡 ) e 𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣(𝑦𝑦𝑡𝑡 ) = 𝜇𝜇𝑡𝑡 (1 − 𝜇𝜇𝑡𝑡 )/(1 + 𝜙𝜙), para 𝑡𝑡 = 1, . . . , 𝑛𝑛.
O modelo de regressão beta proposto por Ferrari e Cribari-Neto (2004) considera o
parâmetro de precisão constante ao longo das observações. Porém, admitimos como em Simas
et al. (2010) que o parâmetro de precisão é variável, sendo modelado através de uma estrutura
de regressão que contém covariáveis, parâmetros de regressão desconhecidos e uma função de
𝑞𝑞
ligação, sendo esta estrutura definida por ℎ(𝜙𝜙𝑡𝑡 ) = ∑𝑗𝑗=1 𝑧𝑧𝑡𝑡𝑡𝑡 γ𝑗𝑗 = 𝜗𝜗𝑡𝑡 em que 𝛾𝛾 =
(𝛾𝛾1 , . . . , 𝛾𝛾𝑞𝑞 )𝑇𝑇 é um vetor de parâmetros desconhecidos, 𝑧𝑧𝑡𝑡1 , . . . , 𝑧𝑧𝑡𝑡𝑡𝑡 são observações de 𝑞𝑞
covariáveis (𝑘𝑘 + 𝑞𝑞 ≤ 𝑛𝑛) assumidas fixas e conhecidas, 𝜗𝜗𝑡𝑡 é o preditor linear e ℎ(∙) é uma
função de ligação. Aqui, 𝜙𝜙𝑡𝑡 = ℎ−1 (𝜗𝜗𝑡𝑡 ), em que para 𝑡𝑡 = 1, . . . , 𝑛𝑛. Há várias possíveis
escolhas para as funções 𝑔𝑔(∙) e ℎ(∙). Entre elas podemos utilizar a função de ligação 𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙,
𝑔𝑔(𝜇𝜇𝑡𝑡 ) = log{𝜇𝜇𝑡𝑡 /(1 − 𝜇𝜇𝑡𝑡 )} ou a função 𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝, 𝑔𝑔(𝜇𝜇𝑡𝑡 ) = Φ−1 (𝜇𝜇𝑡𝑡 ), onde Φ−1 (∙) é a função
de distribuição acumulada de uma variável normal padrão, entre outras. Para maiores detalhes
sobre as funções de ligação ver McCullagh e Nelder (1989).
As estimativas dos parâmetros são obtidas maximizando numericamente a função de
log-verossimilhança através de um algoritmo de maximização não-linear. A distribuição dos
estimadores de máxima verossimilhança de 𝛽𝛽 e 𝛾𝛾, ditos 𝛽𝛽̂ e 𝛾𝛾̂, é aproximadamente normal em
grandes amostras. Esta aproximação pode ser usada na construção de intervalos de confiança
e testes de hipóteses. Para maiores detalhes inferenciais e matriciais do vetor escore e da
matriz de informação de Fisher, ver Simas et al. (2010).
Metodologia e análise
184
Periódico Capes ligadas ao tema do projeto. Após essa primeira etapa foram coletadas, a
partir de dados públicos, as variáveis relacionadas às condições sociais, econômicas e
demográficas da população brasileira e as condições nutricionais dos beneficiários do
Programa Bolsa Família. Além disso, foram pesquisados também dados referentes aos gastos
com programas assistencialistas nos municípios brasileiros. Posteriormente, foi montado um
conjunto de dados com todas as variáveis mencionadas acima. Vale destacar que nesta etapa
foram encontradas algumas dificuldades relacionadas à padronização e organização dessas
informações, visto que foram utilizadas diferentes fontes de dados, e que o objetivo era a
obtenção das variáveis citadas acima na abrangência dos municípios brasileiros. Contornado
este problema, foi feita a análise descritiva das variáveis de estudo e, através do modelo de
regressão beta foram selecionadas as variáveis para avaliar e explicar a proporção de crianças
obesas beneficiadas pelo Programa Bolsa Família nas cinco regiões brasileiras, ou seja, para
cada região do Brasil foram feitas modelagens considerando a estrutura de regressão da média
e da precisão do modelo de regressão beta com dispersão variável. Após isto, foram aplicadas
técnicas de diagnóstico dos modelos de regressão beta selecionados. Por fim, foram
analisados e debatidos os resultados encontrados com objetivo de escrita do projeto para
publicações científicas.
Em relação aos resultados, uma breve descrição das variáveis utilizadas nesse estudo
está apresentada na Tabela 1. As fontes de dados consultadas foram o Atlas do
Desenvolvimento Humano no Brasil, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome (MDS), o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), o Departamento
de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) e o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE).
Variáveis Definição
OB2014 Proporção de crianças beneficiadas pelo Programa Bolsa Família entre 0 e 5
anos de idade com obesidade em 2014
OB2010 Proporção de crianças beneficiadas pelo Programa Bolsa Família entre 0 e 5
anos de idade com obesidade em 2010
SB2010 Proporção de crianças beneficiadas pelo programa Bolsa Família entre 0 e 5
anos de idade com sobrepeso em 2010
GPER Gasto com assistencialismo per capita em 2014 (Programa Bolsa Família)
RENDA Renda per capita em 2010
POBRES Percentual de pobres em 2010
IDH Índice de Desenvolvimento Humano em 2010
TDES Taxa de desemprego em 2010
GINI Índice de Gini em 2010
MI Taxa de Mortalidade Infantil em 2010
ANBT Taxa de Analfabetismo entre pessoas acima de 15 anos de idade em 2010
PIB Produto Interno Bruto per capita em 2011
185
POP População estimada do município em 2014
DU Variável dummy: 1 se POP>50000 habitantes, 0 caso contrário
Fonte: Elaborado pelo autor.
A variável gasto per capita com o Programa Bolsa Família no ano de 2014 foi obtida
dividindo-se os gastos, em reais, com o referido programa assistencialista pela população
estimada dos municípios no ano considerado. Com isso, temos que 50% dos municípios
apresentaram um gasto per capita com o referido programa assistencialista menor ou igual a
R$132,30, enquanto que o valor máximo encontrado foi de R$2.839,00 reais. Considerando o
percentual de pobres, temos que os valores de mínimo e máximo foram 0,42% e 78,59%,
respectivamente.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) médio encontrado foi de 0,655. No caso
do Índice de Gini (GINI), que mede o grau de desigualdade na distribuição de indivíduos
segundo a renda domiciliar per capita, o valor médio encontrado foi de 0,49, sendo que o
186
valor 0 corresponde a quando não há desigualdade (a renda domiciliar per capita de todos os
indivíduos tem o mesmo valor) e o índice tende a 1 a medida que essa desigualdade aumenta.
Já em relação a taxa de desemprego, o valor médio encontrado foi de 6,59. Para a variável
mortalidade infantil, que considera o número de crianças que não deverão sobreviver ao
primeiro ano de vida em cada 1000 crianças nascidas vivas, temos que 75% dos municípios
apresentaram um valor menor ou igual a 24,30, ou seja, a cada 1000 crianças nascidas vivas,
cerca de 25 não irão sobreviver ao primeiro ano de vida. O valor mínimo para o Produto
Interno Bruto per capita corresponde a R$2.462,00. Enquanto que 75% das observações
apresentaram uma taxa de analfabetismo menor ou igual a 24,80.
Considerando a variável população, temos que o valor médio foi de 36.773 habitantes.
Com o objetivo de complementar a análise sobre a influência do número de habitantes no
estudo, foi criada a variável dummy, DU, que classifica os municípios como urbanos ou
rurais. Neste estudo, o município é classificado como urbano se sua população estimada no
ano de 2014 exceder 50.000 habitantes (DU=1), e é classificado como rural caso contrário
(DU=0). Dos 4957 municípios considerados, 624 foram classificados como urbanos,
representado um percentual de aproximadamente 12,59% do total de municípios.
Destacamos que a maior proporção de crianças obesas no ano de 2014 foi encontrada
no Estado do Maranhão, no município de Paulo Ramos, enquanto que em Tumiritinga (Minas
Gerais) foi encontrada a menor proporção. Já em relação ao sobrepeso infantil, a cidade de
Calçado (Pernambuco) apresentou o maior valor. Para a variável gasto per capita, Campo dos
Goytacazes e Carapebus, ambos no Estado do Rio de Janeiro, tiveram o maior e o menor
gasto per capita com o Programa Bolsa Família, respectivamente.
O município de Fernando Prestes (São Paulo) registrou o menor percentual de pobres
para o ano de 2010, enquanto que Uiramutã, em Roraima, registrou o maior percentual para
essa mesma variável. Santa Terezinha, no Estado de Santa Catarina, e Campo Alegre do
Fidalgo, no Piauí, registraram os valores de mínimo e máximo para a variável taxa de
desemprego, respectivamente. O menor Produto Interno Bruto per capita encontrado, no ano
de 2011, corresponde a cidade de Curralinho (Pará), enquanto que a maior taxa de
analfabetismo para 2010, corresponde a Alagoinha do Piauí (Piauí).
A partir das variáveis citadas acima, o nosso interesse é explicar a proporção de
crianças obesas beneficiadas pelo Programa Bolsa Família para o ano de 2014 nas cinco
regiões do Brasil e, para isso, utilizamos o modelo de regressão beta proposto por Ferrari e
Cribari-Neto (2004) que é adequado para os casos em que a variável resposta é uma
proporção, ou seja, restrita ao intervalo (0,1). O procedimento computacional foi
desenvolvido utilizando o pacote betareg (CRIBARI-NETO; ZEILEIS, 2010) do software
estatístico R (CRIBARI-NETO; ZEILEIS, 2010; KLEIBER; ZEILEIS, 2008).
Na seleção de covariáveis utilizadas para explicar a obesidade em crianças nas cinco
regiões brasileiras, utilizamos os critérios de seleção de modelos AIC (Akaike's information
criterion), que foi proposto por Akaike (1974) e o BIC. Vale salientar que para as Regiões
Centro-Oeste, Sudeste e Sul, utilizamos o critério de seleção de modelos AIC, enquanto que
para as Regiões Norte e Nordeste, utilizamos o critério BIC. Isso se deve ao fato de que para
essas duas regiões o melhor ajuste foi obtido a partir deste último critério.
Inicialmente, ao usar o modelo de regressão beta, nosso interesse reside em determinar
se a precisão é fixa, ou seja, se há ou não estrutura de regressão para o parâmetro de precisão.
187
Para tanto, empregamos o teste score (ESPINHEIRA, 2007) em que a hipótese nula é
𝐻𝐻0 : 𝜙𝜙1 = ⋯ = 𝜙𝜙𝑛𝑛 = 𝜙𝜙, ou seja, testamos a hipótese de que a precisão é constante, e
concluímos que a mesma é variável para todos os cenários estudados, isto é, para cada uma
das cinco regiões do Brasil há o ajuste considerando os parâmetros da média e da precisão.
Para essas modelagens foram consideradas diferentes funções de ligação considerando as duas
estruturas de regressão, e foram selecionados os ajustes mais adequados para cada região.
Nas Tabelas 3 a 7, encontram-se os ajustes referentes às Regiões Sudeste, Sul, Centro-
Oeste, Norte e Nordeste, respectivamente, com seus coeficientes estimados, erros-padrão e p-
valores. Vale salientar que as funções de ligação utilizadas na estrutura de regressão da média
foram 𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐 para as Regiões Norte e Centro-Oeste e 𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙 para Nordeste, Sul e Sudeste.
Enquanto que para a estrutura de regressão da precisão verificamos que a função de ligação
𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙 foi mais adequada para os cinco ajustes.
Para os cinco modelos de regressão beta foi aplicado o teste de especificação RESET
(PEREIRA; CRIBARI-NETO, 2013; RAMSEY, 1969). Esse teste considera como hipótese
nula que o modelo selecionado está bem especificado versus a hipótese alternativa de que ele
está mal especificado. O teste RESET realizado considerou o preditor linear estimado elevado
à terceira potência como variável de teste. Para os cinco modelos considerados concluiu-se
que a especificação correta dos mesmos não foi rejeitada aos níveis usuais de significância.
Em relação ao modelo de regressão beta selecionado para explicar a proporção de
crianças obesas nos municípios da Região Sudeste (ver Tabela 3), temos que as covariáveis
SB2010, TDES e GPER tiveram influência positiva na variável resposta, isto é, municípios
que apresentaram uma maior proporção de crianças com sobrepeso, uma taxa de desemprego
elevada e um maior gasto com assistencialismo per capita, tenderam a ter uma maior
incidência de indivíduos com obesidade para o ano de 2014. Além dessas covariáveis, ANBT
e INT1, iteração entre TDES e GPER, também foram selecionadas, sendo que a taxa de
analfabetismo teve influência negativa na variável resposta. O fato do gasto com
assistencialismo per capita ter influenciado positivamente na obesidade pode indicar que com
uma maior renda extra, as famílias passaram a consumir mais alimentos e isso pode ter
influenciado diretamente no estado nutricional dos indivíduos que as compõe. Considerando o
modelo para o parâmetro de precisão, apenas a covariável MI apresentou influência negativa
na precisão das respostas, enquanto que GPER, DU e GINI apresentaram influência positiva,
ou seja, o gasto com assistencialismo per capita, o fato de um município ter sido classificado
como urbano e apresentado um Índice de Gini mais elevado fez com que a precisão das
respostas fosse maior, isto é, as respostas tenderam a ser menos dispersas.
188
Tabela 3. Estimativas dos parâmetros, erros-padrão e p-valores do modelo de regressão beta
com dispersão variável para os dados referentes a Região Sudeste.
Modelo para 𝝁𝝁
Variáveis Estimativa Erro-padrão p-valor
INTERCEPTO −1,002 2,567 × 10−2 < 2 × 10−16
SB2010 8,703 × 10−1 1,498 × 10−1 < 6 × 10−9
ANBT −3,544 × 10−3 9,671 × 10−4 2 × 10−4
TDES 6,046 × 10−3 2,818 × 10−3 0,031
GPER 4,321 × 10−4 2,153 × 10−4 0,044
INT1 −4,686 × 10−5 2,130 × 10−5 0,027
Modelo para 𝝓𝝓
Variáveis Estimativa Erro-padrão p-valor
INTERCEPTO 2,396 0,397 < 1 × 10−9
GPER 0,001 4 × 10−4 0,011
DU 0,292 0,106 0,006
GINI 4,268 0,690 < 6 × 10−10
MI −0,051 0,015 7 × 10−4
Fonte: Elaborado pelo autor.
Com o objetivo de verificar possíveis afastamentos das suposições feitas para o modelo, a
Figura 1 apresenta os gráficos de resíduos ponderados versus índices de observações e o
gráfico de probabilidade normal com envelopes simulados. O modelo de regressão beta
selecionado para explicar a proporção de crianças obesas nos municípios da Região Sudeste
parece estar bem ajustado, visto que no gráfico de resíduos ponderados versus índices de
observações, os resíduos permanecem dentro do intervalo (-2,2), e em geral, permanecem
dentro das bandas de confiança no gráfico de probabilidade normal com envelopes simulados,
indicando que não há indícios de afastamento da suposição de que o modelo de regressão beta
selecionado fornece uma boa representação para os dados.
189
Tabela 4. Estimativas dos parâmetros, erros-padrão e p-valores do modelo de regressão beta
com dispersão variável para os dados referentes a Região Sul.
Modelo para 𝝁𝝁
Variáveis Estimativa Erro-padrão p-valor
INTERCEPTO −2,065 2,910 × 10−1 < 1 × 10−12
OB2010 1,010 × 10 2,607 1 × 10−4
RENDA −5,256 × 10−4 1,071 × 10−4 < 9 × 10−7
IDH 2,054 4,875 × 10−1 < 2 × 10−5
INT1 5,030 × 10−3 1,053 × 10−3 < 1 × 10−6
INT2 −1,747 × 10 4,425 < 7 × 10−5
Modelo para 𝝓𝝓
Variáveis Estimativa Erro-padrão p-valor
INTERCEPTO 8,537 1,587 < 7 × 10−8
DU 1,148 0,161 < 1 × 10−12
TDES 0,095 0,023 < 3 × 10−5
IDH −8,716 2,067 < 2 × 10−5
GINI 3,874 1,046 2 × 10−4
MI −0,068 0,025 0,007
POBRES −0,035 0,013 0,005
Fonte: Elaborado pelo autor.
190
obesidade em crianças na Região Sul parece estar bem ajustado, visto que os resíduos
permanecem dentro do intervalo (-2,2) e, em geral, permanecem dentro das bandas de
confiança dos envelopes simulados, indicando que não há indícios de afastamento da
suposição de que o modelo de regressão beta selecionado fornece boa representação para os
dados.
191
Tabela 5. Estimativas dos parâmetros, erros-padrão e p-valores do modelo de regressão beta
com dispersão variável para os dados referentes a Região Centro-Oeste.
Modelo para 𝝁𝝁
Variáveis Estimativa Erro-padrão p-valor
INTERCEPTO −2,967 3,972 × 10−1 < 7 × 10−14
OB2010 1,123 × 10 3,070 2 × 10−4
GINI 1,571 7,690 × 10−1 0,041
RENDA −6,128 × 10−4 2,481 × 10 −4
0,013
INT1 −2,310 × 10 5,954 1 × 10−4
INT2 5,305 × 10−3 2,149 × 10−3 0,013
Modelo para 𝝓𝝓
Variáveis Estimativa Erro-padrão p-valor
INTERCEPTO 2,485 0,596 < 3 × 10−5
SB2010 −4,488 1,779 0,011
DU 0,719 0,229 0,001
GINI 2,486 1,163 0,032
Fonte: Elaborado pelo autor.
192
Figura 3. Gráfico dos resíduos quantis aleatorizados versus os índices de observações e
gráfico de probabilidade normal com envelopes simulados – Região Centro-Oeste.
Modelo para 𝝁𝝁
Variáveis Estimativa Erro-Padrão p-valor
INTERCEPTO −2,931 1,219 × 10 −1
< 2 × 10−16
OB2010 5,596 1,159 < 1 × 10−6
DU 1,837 × 10−1 7,528 × 10−2 0,014
POBRES −8,490 × 10−3 2,110 × 10−3 < 5 × 10−5
GPER 2,456 × 10−3 5,987 × 10−4 < 4 × 10−5
POP 7,089 × 10−6 1,935 × 10−6 2 × 10−4
INT1 −1,679 × 10−2 5,126 × 10−3 0,001
INT2 −7,378 × 10−6 1,956 × 10−6 1 × 10−4
Modelo para 𝝓𝝓
Variáveis Estimativa Erro-Padrão p-valor
INTERCEPTO 3,657 0,338 < 2 × 10−16
TDES −0,035 0,017 0,045
MI 0,030 0,014 0,029
Fonte: Elaborado pelo autor.
193
Figura 4. Gráfico dos resíduos quantis aleatorizados versus os índices de observações e
gráfico de probabilidade normal com envelopes simulados – Região Norte.
194
Tabela 7. Estimativas dos parâmetros, erros-padrão e p-valores do modelo de regressão beta
com dispersão variável para os dados referentes a Região Nordeste.
Modelo para 𝝁𝝁
Variáveis Estimativa Erro-Padrão p-valor
INTERCEPTO −6,422 × 10−1 9,928 × 10−2 < 9 × 10−11
OB2010 −3,146 8,057 × 10−1 < 9 × 10−5
POBRES 2,898 × 10−3 9,288 × 10−4 0,001
GINI −5,281 × 10−1 1,660 × 10−1 0,001
TDES 1,935 × 10−2 3,781 × 10−3 < 3 × 10−7
MI −7,135 × 10−3 1,490 × 10−3 < 1 × 10−6
INT1 7,051 × 10−2 1,179 × 10−2 < 2 × 10−9
INT2 −3,936 × 10−4 8,687 × 10−5 < 5 × 10−6
INT3 4,692 1,383 6 × 10−4
Modelo para 𝝓𝝓
Variáveis Estimativa Erro-Padrão p-valor
INTERCEPTO 2,753 3,751 × 10−1 < 2 × 10−13
GINI 2,104 7,081 × 10−1 0,002
PIB 1,315 × 10−5 5,185 × 10−6 0,011
DU −3,692 × 10−1 1,125 × 10 −1
0,001
Fonte: Elaborado pelo autor.
195
região com uma taxa de desemprego mais elevada, houve uma tendência a apresentar uma
maior incidência de crianças obesas, resultado este semelhante ao encontrado na Região
Nordeste. Além disso, em duas das cinco regiões do Brasil, o gasto com assistencialismo per
capita apresentou influência positiva na obesidade de crianças. No que se refere às diferenças
encontradas entre os modelos de regressão, ainda considerando a estrutura de regressão para a
média, podemos destacar o fato de que o percentual de pobres dos municípios apresentou
diferentes influências entre as Regiões Norte e Nordeste. Nos municípios da Região Norte
esta variável apresentou influência negativa na variável resposta, enquanto que na Região
Nordeste, houve uma influência positiva nesta mesma variável. Em relação à estrutura de
regressão para o parâmetro de precisão, nos municípios das Regiões Sudeste, Sul e Centro-
Oeste classificados como urbanos, houve uma tendência a apresentar uma maior precisão nas
respostas, ao contrário do resultado encontrado na Região Nordeste. Vale destacar também,
que para as Regiões Sudeste e Sul a taxa de mortalidade infantil influenciou negativamente na
precisão das respostas, ou seja, conforme um determinado município apresentou um maior
valor para essa variável, a precisão das respostas tendeu a diminuir.
Conclusões
196
crianças obesas. Já em relação ao ajuste referente à Região Nordeste, o percentual de pobres e
a taxa de desemprego tiveram influência positiva. Em contrapartida, nesta mesma região, os
municípios com maiores taxas de mortalidade infantil tenderam a apresentar uma menor
incidência de obesidade em crianças.
Observamos que, para os modelos de regressão beta de duas das cinco regiões
brasileiras, a variável gasto per capita com o Programa Bolsa Família foi selecionada e
apresentou influência positiva na obesidade. Este resultado exige atenção, pois o rendimento
extra proveniente do benefício nestas duas regiões pode ter feito com que as famílias
participantes do programa tenham aumentado o consumo de produtos industrializados e com
alta densidade calórica, influenciando assim no estado nutricional das crianças pertencentes as
mesmas.
Ao final deste projeto esperamos ter contribuído com os resultados relacionados à
obesidade entre os beneficiários do Programa Bolsa Família. Vale salientar aqui que o mesmo
encontra-se publicado no volume 18 (n.1) da Revista de Ciências Exatas e Naturais, RECEN,
uma publicação do setor de Ciências Exatas e de Tecnologia, SEET, da Universidade
Estadual do Centro-Oeste, UNICENTRO. Ressaltamos ainda que algumas linhas de pesquisa
podem ser desenvolvidas, podendo haver o foco na inclusão de outras variáveis relacionadas
ao tema e um aprofundamento maior no estudo de observações influentes no modelo de
regressão beta com dispersão variável.
Referências
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1338, 2014.
200
DETERMINAÇÃO DE HEXAZINONA EM AMOSTRAS
AMBIENTAIS POR ESPECTROFOTOMETRIA UV-VIS
Resumo
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Determinação de hexazinona em amostras ambientais por
espectrofotometria UV-vis com regressão não-linear/Determinação de hexazinona em amostras de solo por
espectrofotometria UV-vis com regressão não-linear
Estudante de Iniciação Científica: Auriléia Pereira da Silva (e-mail: aurileiaps@gmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br, e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientadora: Lucina Rocha Sousa (e-mail: rslucina@gmail.com, telefone: 83 3362-1700)
201
de acordo com a IUPAC, é um herbicida pré e pós-emergente para controle anual de
gramíneas e plantas daninhas de folha larga em terra sem cultivo, ou em cultivos de alfafa,
blueberries, café ou cana-de-açúcar. É a triazina de maior solubilidade em água (33 g.kg-1),
com log KOC de 1,30 a 1,43. Apresenta tempo de meia vida de 232 dias em condições
anaeróbicas e 222 dias em condições aeróbicas e solos de textura franco-arenosa. Estas
características têm gerado preocupação pela possibilidade de contaminação do ambiente. Não
foram observadas a hidrólise ou a fotodegradação significativa deste composto em condições
ambientais normais. A biodegradação e a lixiviação são as rotas predominantes de dissipação.
Para a quantificação de triazinas e outros pesticidas em solo e água são empregadas as
técnicas de cromatografia líquida (BOUCHARD E LAVY, 1983; FERRACINI et al., 2005;
KODEŠOVÁ et al., 2011; MEI et al., 2011; QUEIROZ et al., 2005; QUEIROZ et al., 2007) e
gasosa (ZHU & LI, 2002) utilizando diferentes detectores, mas predominantemente UV-vis.
Alguns autores têm proposto a determinação de hexazinona em água por métodos
espectrofotométricos derivativos (AMADOR-HERNÁNDEZ et al., 2011). Segundo Amador-
Hernández et al. (2011), para a análise de pesticidas formulados, o CIPAC (Collaborative
International Pesticides Analytical Council) propõe a quantificação de hexazinona por
cromatografia líquida em coluna C8, utilizando água-acetonitrila 50:50 (v/v) como eluente e
detecção a 254 nm.
No Brasil, Queiroz et al. (2005) em Comunicado Técnico da Embrapa monitoraram
hexazinona em água subterrânea por cromatografia líquida de alta eficiência utilizando coluna
de fase reversa C18 e fase móvel metanol/água 50:50 (v/v) como eluente e detecção e
quantificação a 247 nm. Posteriormente, Queiroz et al., (2007) apresentaram um método para
determinação simultânea de hexazinona e diuron em amostras de solo. A extração foi feita
com metanol e analisadas por cromatografia líquida de alta eficiência utilizando os mesmos
parâmetros com exceção da fase móvel metanol/água 70:30 (v/v).
O herbicida hexazinona é empregado na cultura da cana-de-açúcar, na Paraíba, nas
regiões do Litoral ao Brejo Paraibano, que se associado à irrigação ou precipitações
irregulares, pode sofrer lixiviação e ocasionar a contaminação de fontes de água. Assim, esta
pesquisa avaliou o emprego de um método mais simples, econômico e ambientalmente
adequado, por não utilizar solventes orgânicos para a extração e a quantificação do
hexazinona. Este método se baseou na aplicação da técnica de espectrofotometria UV-vis para
determinação do hexazinona na presença e na ausência de matéria orgânica e em extratos
aquosos de amostras de solo da região do Brejo Paraibano.
Fundamentação teórica
202
hexazinona em amostras ambientais de solo e água em nível de traços.
Bouchard e Lavy (1983) desenvolveram um método rápido para quantificação de
hexazonona em solo e água utilizando cromatografia líquida de alta eficiência. O
comprimento de onda selecionado para determinação analítica do hexazinona foi 247 nm e
também foi utilizado 254 nm com detector para comprimento de onda fixo. O estudo avaliou
os efeitos do tipo de solo franco-siltoso e franco-arenoso, da autoclavagem (realizadas 2x em
um intervalo de 48 h) de solos a 120 °C/1 h a 1,4 bar e do congelamento de amostras a -21ºC
durante 1, 4 e 12 semanas, sobre a eficiência de extração. Para seis replicatas, os percentuais
de recuperação de hexazinona foram: 76 ± 3 e 75 ± 3 % a 0,04 ppm e 84 ± 2 e 73 ± 2 % para
4,00 ppm e em solos de textura franco-siltosa e franco-arenosa, respectivamente. Observou-se
que a autoclavagem reduziu o percentual de hexazinona: 79 ± 2 e 66 ± 2 % a 4,00 ppm em
solos de textura franco-siltosa e franco-arenosa, respectivamente, o que foi associado ao
aumento da solubilização do carbono orgânico do solo. Observou-se que a menor recuperação
de hexazinona no solo franco-arenoso tem relação com o maior teor de matéria orgânica que
está associação com aumento da adsorção do pesticida. O congelamento das amostras não
teve efeito na eficiência de extração de hexazinona do solo.
Mei et al. (2011) desenvolveram um método utilizando cromatografia líquida de ultra
eficiência acoplada a espectrometria de massas para determinação simultânea de 5 herbicidas.
A preparação da amostra utilizou o método QuEChERS, no qual as amostras são extraídas em
acetonitrila, sorvente C18 e então centrifugada e filtrada antes da detecção. Os limites de
detecção e quantificação foram 0,005 e 0,0167 μg.kg-1 e os percentuais de recuperação para
padrões de 4-40 μg.kg-1 foram de 98,2-98,5 e 91,1-85,8% para duas triazinas, hexazinona e
atrazina, respectivamente.
Ferracini et al., (2005) apresentaram um método alternativo para determinação de
herbicidas tebutiuron e hexazinona em águas subterrâneas. A extração foi feita com
diclorometano e as análises por cromatografia líquida de alta eficiência, coluna de fase
reversaC18, fase móvel metanol/água 50:50(v/v), detecção e quantificação a 247 nm. Uma
alíquota de 100 μL foi analisada por cromatografia líquida. Foram obtidos os seguintes
parâmetros de validação: limite de detecção 0,02 e 0,03 μg.L-1, limite de quantificação 0,07 e
0,09 µg.L-1, limite de linearidade do detector 300 µ.L-1(r2≥ 0.998), recuperação média de 90,3
a 108,2% e 90,3 a 101,6%, precisão intermediária(%RSD) < 8 e < 6%, para hexazinona e
tebutiuron, respectivamente. O método mostrou-se eficiente e confiável para determinação
dos herbicidas em águas subterrâneas.
Queiroz et al., (2005) monitoraram a qualidade da água subterrânea a fim de verificar
a ocorrência e concentração do herbicida hexazinona em poços monitorados em regiões de
cultivo de cana-de-açúcar. A amostragem foi feita trimestralmente, com coletas nos poços a 4
e 53 m de profundidade. As análises foram feitas em cromatografia líquida de alta eficiência,
detecção em 247 nm. Chegaram ao entendimento que não havia contaminação das águas pelo
hexazinona, pois os valores estavam abaixo dos limites de detecção que é de 0,02 μg.L-1. O
limite de quantificação é de 0,07 μg.L-1.
Queiroz et al., (2007) apresentaram um método para determinação simultânea de
hexazinona e diuron em amostras de solo. A extração foi feita com metanol e as amostras
analisadas por cromatografia líquida de alta eficiência, utilizando coluna defase reversa C18,
fase móvel metanol/água 70:30(v/v), com detecção e quantificação a 247nm. Os resultados
203
foram avaliados por análise de variância (ANOVA) com o auxílio do aplicativo Excel. Foram
obtidos os seguintes parâmetros de validação: limite de detecção do método de 0,016 e 0,014
mg.kg-1, limite de quantificação do método de 0,070 e 0,056 mg.kg-1, linearidade de 0,010–
2,50 mg.L-1(r2 ≥ 0,999); recuperação de 80 a 90% e 83 a 88%; precisão intermediária
(%RSD) < 9 e < 10%, para hexazinona e diurom, respectivamente.
Kodešová et al. (2011) avaliaram a adsorção de pesticidas em solos para verificar a
possível contaminação das águas subterrâneas causada por pesticidas comumente usados na
agricultura. A quantificação foi realizada por cromatografia líquida de alta eficiência. Os
testes de sorção foram realizados para 11 pesticidas selecionados e 13 solos representativos.
As equações de Freundlich foram usadas para descrever isotermas de adsorção. A regressão
linear múltipla foi usada para prever os coeficientes de adsorção de Freundlich a partir das
propriedades medidas do solo. As funções resultantes e um mapa de solos da República
Tcheca foram utilizados para gerar os mapas de distribuição do coeficiente. As regressões
lineares múltiplas mostraram que o coeficiente de KF dependia de: (a) combinação de MO
(teor de matéria orgânica), pHKCl e CTC (capacidade de troca de cátions) ou MO, SCS
(saturação do complexo sortivo) e salinidade (terbutilazina), (b) combinação de MO e pHKCl,
ou MO, SCS e salinidade (prometrina), (c) combinação de MO e pHKCl ou MO e
(metribuzina), (d) combinação de MO, CTC e teor de argila, ou teor de argila, CTC e
salinidade (hexazinona).
Amador-Hernández et al. (2011) desenvolveram um método analítico simples e
confiável é proposto para a determinação espectrofotométrica de hexazinona lixiviados de
amostras de água e solo, onde a interferência espectral a partir de matéria orgânica é evitada
por meio de uma ferramenta quimiométrica utilizando um sal sódico de ácido húmico.
Misturas binárias contendo 0,5-14 mg.mL-1 de herbicida e de 0 a 30 μg.mL-1 de sal de sódio
de ácidos húmicos foram preparados para o conjunto de calibração. O limite de detecção foi
de 0,1 e o limite de quantificação de 0,4 ng.mL-1; foi estimada uma precisão de 2,0%,
expresso como um desvio padrão relativo em percentagem. Os percentuais de recuperações
médias ± limites de confiança foram satisfatórios, cujos valores obtidos em misturas sintéticas
seguem (102 ± 2%), bem como em água da torneira (102 ± 1%), água de poço (103,8 ± 0,3%)
e lixiviados do solo (96 ± 5%). Infelizmente, uma menor recuperação média foi encontrada
para a água do mar (66 ± 15%), provavelmente devido à elevada salinidade da matriz reduz a
solubilidade de hexazinona.
Este foi o único trabalho encontrado na revisão da literatura que analisa o hexazinona
por espectrofotometria UV-vis e foi utilizado como referência para a metodologia.
Metodologia e análise
204
das soluções estoque de 100 µg mL-1 de HEXA e de 30 µg mL-1 de AFAH, e de trabalho,
preparadas diariamente com as diluições adequadas. Uma solução tampão de
K2HPO4/KH2PO4 0,5 mol L-1 com pH 6,3 também foi utilizada. Para o ajuste do pH foram
empregadas as soluções de HCl concentrado (37%) e NaOH 1,0 e 0,1 mol L-1, com o auxílio
de pHmetro Hanna e agitador magnético Tecnal.
Procedimento: Um conjunto de treinamento de 21 amostras foi preparado para a
análise, ver tabela 1. Volumes adequados das soluções estoque foram utilizados para obter as
concentrações definitivas de HEXA e AFAH, no intervalo de 0,5 a 14 µg mL-1 e 0 a 30 µg
mL-1, respectivamente, que foram adicionados em balões volumétricos de 10 mL contendo 1
mL de solução tampão, em seguida, os balões foram completados com água destilada. Os
espectros de absorção foram registados no intervalo de 200 até 340 nm, contra um branco de
água detilada, com uma resolução espectral de 0,2 nm. Foram analisados um conjunto
independente de 14 amostras de ensaio com composição aleatória, com concentrações de
HEXA e AFAH dentro dos intervalos considerados no passo de calibração. Para obter cada
um dos lixiviados de solo, 30 mL de água foram adicionados a 5 g de solo e mantida em
banho ultrassônico por 90 min a temperatura ambiente; o extrato foi centrifugado a 5000 rpm
durante 30 min e o sobrenadante misturado com HCl concentrado para se obter um pH final
de 2. Após uma hora, a amostra foi filtrada através uma membrana de fibra de vidro 0,45 µm
de tamanho de poro, neutralizada com NaOH e fortificado com HEXA. Das 14 amostras, 02
amostras de cada solo foram fortificadas (2 e 12 µg mL-1 de HEXA) antes de se obter os
lixiviados para se avaliar efeitos do procedimento de obtenção do lixiviado. Finalmente, as
análises foram realizadas nas mesmas condições que as soluções-padrão. Todas as análises
foram realizadas no Laboratório de Química e Bioquímica do Centro de Ciências Agrárias da
Universidade Federal da Paraíba.
Esta metodologia foi adaptada de Amador-Hernández, Velázquez-Manzanares e
Márquez-Reyes (2011), na qual se substitui o Humato de Sódio (NaHu) pela mistura de
ácidos fúlvico e húmico (AFAH), condição que se assemelha mais às das amostras de solos
que foram utilizadas. Ademais, os testes foram realizados utilizando dois solos secos ao ar,
peneirados a 2 mm, armazenados em freezer a - 20 °C, extraídos de perfil húmico (0 - 20 cm
de profundidade), de textura argiloarenosa e franco-argiloarenosa, provenientes das áreas de
reserva legal das propriedades Engenho Triunfo (ET) e Destilaria Macaíba (DM),
respectivamente. Estes produtores de cachaça empregam a HEXA como herbicida na cultura
da cana-de-açúcar e estão localizados nos municípios Areia e Alagoa Nova/PB, pertencentes à
microrregião do Brejo Paraibano.
205
Tabela 1. Conjunto de amostras de treinamento para calibração do método (composição em
µg mL-1).
206
Figura 1. a) Espectro de absorção da HEXA (4,0 µg mL-1); b) Espectro de absorção da
HEXA com AFAH (4,0 µg mL-1 e 1,2 µg mL-1, respectivamente); Espectros de absorção dos
lixiviados aquosos: c) ET fortificado com HEXA (12,0 µg mL-1); d) ET do solo previamente
fortificado com HEXA (12,0 µg mL-1); e) DM fortificado com HEXA (12,0 µg mL-1); f) DM
do solo previamente fortificado com HEXA (12,0 µg mL-1). ET: Engenho Triunfo; DM:
Destilaria Macaíba.
Foi observada uma interferência espectral significativa dos AFAH sobre a HEXA.
Efeito semelhante foi observado por Amador-Hernández, Velázquez-Manzanares e Márquez-
Reyes (2011) para o Humato de Sódio (NaHu) nos espectros de absorção da HEXA.
Estima-se que a concentração de 0,5 µg mL-1 de HEXA, figura 1, esteja abaixo do
limite de detecção, enquanto nas demais, figuras 1-6, observa-se o perfil dos espectros de
absorção com a matéria orgânica, nas concentrações 0,6 a 3,0 µg mL-1 de AFAH. Um limite
de detecção de 0,13 µg mL-1 foi observado por Amador-Hernández, Velázquez-Manzanares e
Márquez-Reyes (2011).
Para concentrações de 1,0 µg mL-1 a 14 µg mL-1 de HEXA, figuras não apresentadas
aqui, é possível observar a banda de absorção do HEXA em torno de 245 nm, bem como o
efeito da matéria orgânica nos espectros de absorção para diferentes concentrações de 0,6 a
3,0 µg mL-1 de AFAH. Observa-se que além da banda de absorção da HEXA a linha de base
dos espectros é afetada pela matéria orgânica. Estes resultados estão sumarizados nas figuras
2 e 3, considerando-se a absorbância nos comprimentos de onda de 245 nm e 282 nm.
207
Figura 2. Efeito dos AFAH na absorbância da HEXA (245 nm).
1
0,9
0,8
AFAH
Absorbância a 245 nm
0,7
0
0,6
0,6
0,5
1,2
0,4
1,8
0,3
2,4
0,2
3
0,1
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
HEXA µg mL-1
1
0,9
0,8
AFAH
Absorbância a 282 nm
0,7
0
0,6
0,6
0,5
1,2
0,4
1,8
0,3
2,4
0,2
3
0,1
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
HEXA µg mL-1
Dois tipos de solos com diferentes características foram usados para obter os
lixiviados fortificados com HEXA, tabela 2; nos quais o carbono orgânico presente no
lixiviado está associado com a presença de matéria orgânica e suas frações fúlvica, húmica e
de humina no solo (CARNEIRO, 2015).
208
Tabela 2. Características dos solos e análise dos lixiviados correspondentes fortificados com
HEXA.
Conclusões
O estudo mostrou que os ácidos fúlvicos e húmicos podem ser empregados para a para
quantificação de hexazinona por espectrofotometria UV-vis nas amostras reais de lixiviados
aquosos de solo fortificadas previamente ou após a obtenção dos lixiviados.
209
Referências
LE BARON, H.M. et al. The atrazine herbicides: A milestone in development of weed control
technology. In: Le Baron, H.M. et al. (Editores). The atrazine herbicides: 50 years
revolutionizing agriculture. Hungria: Elesevier, 2008. p. 1-13. Disponível em:
http://zip.net/bvnl9B. Acesso em 20/04/2014.
KODEŠOVÁ, R. et al. Pesticide adsorption in relation to soil and soil type distribution in
regional scale. Journal of Hazardous Materials, v. 186, p. 540-550, 2011.
ZHU, Y. and Li, Q.X. Movement of bromacil ande hexazinone in soils of Hawaiian pineapple
fields. Chemosphere, v. 49, p.669-674, 2002.
210
MANEJO DOS RESÍDUOS QUÍMICOS GERADOS DURANTE AS AULAS
PRÁTICAS NO LABORATÓRIO DE QUÍMICA ANALÍTICA DA UFPB/CAMPUS II
Resumo
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Gerenciamento de resíduos químicos em laboratórios de
ensino/Manejo dos resíduos químicos gerados durante as aulas práticas no laboratório de química analítica da
UFPB – Campus II
Estudante do Iniciação Científica do Ensino Médio: Camila da Costa Santos (e-mail:
c.amylla2010@hotmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientadora: Maria Betania Hermenegildo dos Santos (e-mail: mbetaniahs@gmail.com, telefone: 83 98874-
0449)
211
nossa sociedade as atividades que geram grandes quantidades de resíduos são consideradas
como impactantes ao meio ambiente e por isso estão sempre sob fiscalização das agências
estaduais de proteção ambiental, sendo passíveis de punição pelo órgão competente; já os
pequenos geradores de resíduos, tais como as instituições de ensino e de pesquisa, são
normalmente considerados pelos órgãos fiscalizadores como atividades não impactantes, e
assim sendo, raramente são fiscalizados quanto ao descarte de seus rejeitos químicos
(JARDIM, 2002).
Devido ao grande número de pequenos geradores de resíduos existentes na nossa
sociedade, de natureza variada, incluindo metais pesados, solventes halogenados,
radioisótopos e material infectante, esses deveriam ter um programa eficiente de
gerenciamento de resíduos. Atualmente a conscientização e a mobilização da sociedade civil
têm exigido que essa situação cômoda, da qual desfrutam esses pequenos geradores de
resíduos, seja revertida, requerendo para essas atividades o mesmo grau de exigências que o
Estado dispensa para os grandes geradores (JARDIM, 2002).
Pacheco et al. (2003) afirmam que os resíduos produzidos nas universidades geram
problemas para todas as instituições. Para Faria; Oliveira; Santos (2010) e Silva et al. (2011)
apesar do pequeno percentual de resíduos gerados nas instituições de ensino, esses se tornam
preocupantes, devido à persistência de tais resíduos no meio ambiente, o que pode causar
graves prejuízos à fauna e à flora.
Amaral et al., (2001); Jardim (2002) afirma que o cuidado com o descarte de resíduos
químicos oriundos de laboratórios de ensino e pesquisas deve ser um compromisso moral das
universidades com a sociedade, já que essas instituições acadêmicas são responsáveis pela
formação de seus alunos e, consequentemente, pelo seu comportamento como cidadãos do
mundo, conscientes e preocupados com as questões ambientais surgindo assim a necessidade
de criação de um programa de gerenciamento de resíduos.
A elaboração de uma Proposta de Gerenciamento de Resíduos Químicos compreende
o cadastramento de resíduos, ativo e passivo, recuperação e reutilização do resíduo
inevitavelmente gerado, sendo a principal regra a ser adotada para o gerenciamento da
responsabilidade objetiva, na qual, quem gera o resíduo torna-se responsável por ele
(TAVARES, 2005).
Para Jardim (2002); Prezotto (2010) a implantação de um programa de gestão de
resíduos implica mudanças no cotidiano de todo os envolvidos, pois seu sucesso está
intimamente relacionado à colaboração de todos os participantes ativos na unidade geradora.
Embora não haja uma legislação específica que trate do destino final de resíduos
químicos oriundos das atividades de ensino e de pesquisa, isso não deve ser usado como um
pretexto para a falta de gerenciamento destes rejeitos (PREZOTTO, 2010).
Fundamentação Teórica
212
saúde. Isso ocorre devido às variedades químicas e a periculosidade dos compostos químicos
utilizados e descartados por essas instituições (AMARAL et al., 2001; JARDIM, 1998;
SILVA et al., 2011).
As universidades são instituições responsáveis pela formação de profissionais
(professores e químicos) e possuem a tarefa de disseminar uma nova mentalidade nos meios
acadêmicos e profissionais (Amaral et al., 2001; Torres; Abreu, 2010). Tem-se observado nos
últimos anos uma crescente preocupação com os resíduos gerados em laboratórios de ensino e
pesquisa universitários, evidenciada pelo crescente número de artigos e livros publicados
sobre o assunto (SILVA; SOARES; AFONSO, 2010).
Em termos educacionais, faz-se necessário a implantação de programas de gestão de
resíduos que são uma excelente oportunidade de aprendizagem, treinamento e sensibilização
para alunos, professores e funcionários. Todos os usuários são parte integrante do programa e
corresponsáveis pelas avaliações e pelos resultados a serem obtidos, assim, todos devem ser
valorizados. Quanto mais cedo os alunos tiverem contato com um programa de gestão, torna-
se mais fácil a garantia uma postura comprometida com o ambiente. Por isso, todas as esferas
de ensino devem estar engajadas, comprometidas e envolvidas nessa proposta de gerir os
resíduos produzidos nas aulas de química e áreas afins (SILVA; SOARES; AFONSO, 2010).
213
pode não apresentar identificação correta ou de fácil localização dentro do laboratório,
requerendo uma investigação mais detalhada para o completo inventário, como no interior de
capelas, armários, pias, geladeiras por serem locais mais acessíveis à “estocagem”.
A identificação e caracterização dos resíduos passivos é uma tarefa que exige
paciência, cuidado e investigação criteriosa. Para Jardim (2002) essa tarefa quase sempre é
prejudicada por fatores como: ausência total de rótulos ou qualquer outro indicativo do
produto; rótulos deteriorados pelo tempo e ilegíveis e misturas complexas incluindo mais de
uma fase (sólido/líquido).
Na caraterização preliminar de resíduos líquido e gasoso, Jardim (2002) recomenda
verificar as seguintes caraterísticas: inflamabilidade; corrosividade; reatividade e toxicidade,
utilizando as possíveis rotas expostas na Tabela 1.
214
difícil gerenciamento.
Segundo Jardim (1998) a necessidade de adotar uma escala de prioridades que visam
minimizar ou até eliminar a geração de resíduos é um ponto importantíssimo na adoção de
uma Proposta de Gerenciamento dos Resíduos Químicos consiste em uma série de atitudes:
(I) Otimização da Unidade Geradora – essa otimização deve buscar (1) evitar o
consumo de água tratada com o uso por exemplo de trompa de vácuo e destiladores; (2)
diminuir os gastos com energia elétrica por meio da otimização do uso de muflas, chapas de
aquecimento e aparelhos de ar condicionado; (3) rotular os reagentes de maneira correta com
a devida identificação do produto, prazo de validade, modo de estocagem e o nome do
responsável pelo produto; (4) a quantidade de reagentes no laboratório deve ser pequena e (5)
todos da unidade geradora deve conhecer o material e o insumo que entra no laboratório;
(II) Minimizar a proporção de resíduos perigosos que são inevitavelmente gerados no
laboratório de química por meio de duas atitudes que não requerem investimento alto e são
facilmente assimiladas pelas pessoas de apoio:
Mudança de macro (escala convencional) para microescala – essa mudança
apresenta como vantagem: segurança (ao trabalhar com pequenas quantidades de reagentes o
laboratório torna-se menos insalubre, melhorando a qualidade do ar e minimizando o risco de
incêndio); tempo (como os volumes utilizados são menores, o tempo gasto para análises
também será menor); economia (devido ao pequeno volume/massa utilizado tem-se uma
grande economia em termos de reagentes) e aspectos ambientais (na adoção da microescala, a
quantidade de reagentes utilizados é de 100 a 1000 vezes menor, diminuindo assim a geração
de resíduos);
A substituição de reagentes e mudanças nos procedimentos - devido a
conscientização ambiental, grande parte dos procedimentos analíticos vem sendo alterados de
modo a se adequar à nova realidade quanto ao uso de reagentes e solventes menos
impactantes e a redução de resíduos.
(III) Segregar e concentrar correntes de resíduos de modo a tornar viável e
economicamente possível a atividade gerenciadora;
(IV) Reuso interno; ou externamente via transferência de resíduos – utilização dos
resíduos no estado em que se encontram, dentro ou fora da unidade geradora, podendo ser
reusado tanto dentro de suas funções originais como em novas funções;
(V) Reciclar o componente material ou energético do resíduo – utilização de um
resíduo após submetê-lo a algum tipo de tratamento, como por exemplo: filtração e destilação.
Os resíduos comuns ao processo de reciclagem são: solventes; combustíveis em gera; óleos;
resíduos ricos em metais, principalmente metais preciosos; ácidos e bases e catalisadores
(VI) Manter todo resíduo produzido na sua forma mais passível de tratamento – para
se manter o resíduo gerado numa forma passível de tratamento é necessário segregá-los em
pelo menos cinco correntes diferentes de resíduos, sendo duas correntes de resíduos orgânicos
(halogenados e nãohalogenados), uma corrente de aquosos contendo orgânicos e duas
correntes de resíduos sólidos, sendo uma de metais pesados e outra com outros tipos de
resíduos.
(VII) Dispor o resíduo de maneira segura – os resíduos químicos gerados nos
laboratórios de ensino na grande maioria têm destino ignorado ou difuso (pias, ralos, terrenos
baldios, agregado ao lixo doméstico, etc), sendo necessário a implantação de um programa
215
sério de gerenciamento voltado para o saneamento dessa realidade de fundamental
importância.
Metodologia
216
Figura 1. Questionário aplicado aos ingressantes dos cursos da Agronomia e Ciências
Biológicas do CCA/UFPB.
Resultados e discussão
A partir dos dados obtidos no mapeamento realizado no DCFS foi possível constatar
que três disciplinas possuíam em seu plano de curso aulas práticas a serem desenvolvidas no
217
LQA, no período letivo 2015.1 são elas: Química Geral e Analítica (ministrada para os alunos
ingressantes do curso da Agronomia), Técnicas de Laboratório e Química Analítica
(ministrada para os alunos ingressantes do curso da Zootecnia) e Princípios de Análises
Química (ofertada no 2º período para os cursos de Química, Licenciatura e Bacharelado),
essas eram ministradas por dois professores aqui identificados como Professor A e Professor
B. As duas primeiras disciplinas possuíam duas turmas cada, com cerca de 20 alunos por
turma. A terceira disciplina possuía apenas uma turma com aproximadamente 25 alunos.
Durante o acompanhamento das aulas práticas ministradas no LQA, verificou-se que
foram realizadas três aulas da disciplina Técnicas de Laboratório e Química Analítica sobre:
(1) Identificação das reações químicas; (2) Preparo de soluções líquidas: soluto líquido e
solvente líquido; (3) Preparo de soluções líquidas: soluto sólido e solvente líquido; e seis da
disciplina Princípios de Análises Química, cujos temas foram: separação e identificação dos
cátions: (1) Ag+, Hg22+ e Pb2+, (2) Fe3+, Cr3+, Al+3, Mn2+, (3) Mg2+, Ca2+, Sr2+, Ba2+; (4)
Separação e identificação de todos os cátions utilizados nas aulas anteriores; (5) Avaliação
prática envolvendo separação e identificação dos cátions visto durante as aulas práticas e (6)
Análise de ânions.
Na disciplina Técnicas de Laboratório e Química Analítica foram gerados cerca de
1000 mL de resíduos de HCl, H2SO4, NaOH; os quais foram armazenados em vidro âmbar
conforme mostra a Figura 2.
De acordo com o professor dessa disciplina o tipo e volume das soluções preparadas
tinham como objetivo o uso na disciplina Princípios de Análises Química. Ainda segundo
esse professor a quantidade de reagentes utilizada durante as aulas práticas sempre era a
menor possível.
218
Figura 3. Resíduo de Pb2+ e Cr3+
Figura 4. A escola em que você cursou o ensino médio tinha laboratório de química? (A)
Agronomia (II) Ciências Biológicas.
(A) (B)
Ao analisar o gráfico (A) da Figura 4 nota-se que 68% dos ingressantes do curso da
Agronomia relatam que a escola na qual cursou o ensino médio possui laboratório, porém
muitos acrescentaram que não funcionava. No gráfico (B) dessa mesma Figura, visualiza-se
que apenas 25% dos alunos ingressantes do curso de Ciências Biológicas relata a existência
de laboratório de química na escola em que cursou ensino médio. Para Silva (2011) os
219
principais problemas nas escolas públicas hoje são a falta de laboratório, de professores
preparados para utilizá-los e de verba para mantê-los.
O percentual de respostas quando os discentes foram interrogados sobre a utilização
pelo professor de química do laboratório pode ser visto na Figura 5.
(B)
(A)
100%
80% 64%
60% 36%
40%
20%
0%
Sim Não
(A) (B)
100% 100% 85%
80% 80%
60%
60% 60%
40%
40% 40%
15%
20% 20%
0% 0%
Sempre Raramente Sempre Raramente
220
De acordo com Macêdo et al. (2010) o laboratório de química proporciona ao aluno
uma vivência e a prática com o manuseio de instrumentos que irão lhe permitir conhecer
diversos tipos de atividades, contribuindo para a curiosidade e a vontade de vivenciar a
ciência.
Segundo Salesse (2012), na rede pública de ensino os laboratórios são na maioria das
vezes precários, não possuindo equipamentos e nem materiais necessários para ser usado no
experimento das práticas do professor de Química.
Quando os discentes foram questionados sobre os temas abordados pelo professor de
química durante as aulas teóricas e/ou práticas no ensino médio mais de 80% citaram as
Vidrarias existentes no laboratório (Figura 7).
Figura 7. Temas abordados pelo professor de química durante as aulas teóricas e/ou práticas
no ensino médio
(A) (B)
Figura 8. No período que você era aluno do ensino médio, participou de palestras, oficinas,
minicurso cujo tema abordado envolvesse Laboratório de Ensino de Química?
(A) (B)
221
Verifica-se na Figura 8 que mais da metade dos discentes da Agronomia e Ciências
Biológicas revela nunca ter participado de palestras, oficinas, minicursos cujo tema abordado
envolvesse Laboratório de Ensino de Química no ensino médio.
Ao analisar a Figura 9 nota-se que menos da metade dos ingressantes dos cursos que
participaram da pesquisa sabem o que deve ser feito com os resíduos gerados no laboratório
de ensino de química.
Figura 9. Você sabe o que deve ser feito com os resíduos gerados no laboratório de ensino
de química?
(B)
(A)
Apesar de quase metade dos alunos participantes da pesquisa afirmar que sabe o que
deve ser feito com os resíduos gerados no laboratório de ensino de química, os seus relatos
mostram o contrário:
222
Figura 10. Você conhece alguma vidraria utilizada no laboratório de química?
(A) (B)
Visualiza-se na Figura 11 (A) que quase 80% dos discentes da Agronomia relata
possuir nenhum ou um baixo conhecimento sobre as regras básicas para o funcionamento
seguro do laboratório de química; 85% dos discentes do curso de Ciências Biológicas afirma
o mesmo (Figura 11 (B)).
Figura 11. Qual o seu de conhecimento sobre as regras básicas para o funcionamento
seguro do laboratório de química?
(A) (B)
Conforme Bernardelli, (2004); Sousa, (2007) para que ocorra a melhoria no ensino de
Química os professores devem enfatizar a experimentação, proporcionando ao aluno a
associação da teoria com a prática, cumprindo, assim, a verdadeira missão de ensino. Por
despertar o interesse do aluno sobre conceitos básicos de química isso também ajuda na
aprendizagem sobre os materiais e equipamentos utilizados, manipulação de vidrarias e
medidas a serem tomadas com resíduos gerados e acidentes ocorridos no laboratório.
223
Conclusões
A partir dos dados obtidos no mapeamento realizado no DCFS foi possível constatar
que três disciplinas possuíam em seu plano de curso aulas práticas a serem desenvolvidas no
LQA, são elas: Química Geral e Analítica, Técnicas de Laboratório e Química Analítica e
Princípios de Análises Química. As duas primeiras disciplinas possuíam duas turmas cada,
com cerca de 20 alunos por turma. A terceira disciplina possuía apenas uma turma com
aproximadamente 30 alunos.
Durante o acompanhamento das aulas práticas ministradas no LQA verificou-se que a
postura do professor condiz com a que deve ser adotada para a implementação de um
Programa de Gerenciamento dos Resíduos Químicos.
Com base nos resultados obtidos a partir da aplicação do questionário aos ingressantes
dos cursos de Agronomia e Ciências Biológicas pode-se afirmar que durante a educação
básica o ensino prático de Química foi mínimo e quando ocorria aspectos importantes foram
negligenciados provocando, assim, o total despreparo dos alunos ingressantes nestes cursos
no período letivo 2015.1, em conceitos importantes para a sua formação.
Referências
224
OLIVEIRA, P. A; et al. Conhecimento de material básico em laboratório de química por
ingressantes num curso de Farmácia. Revista Científica da Faminas, Muriaé, v. 4, n. 1, p.
47-68, 2008.
SILVA, A. M. Proposta para Tornar o Ensino de Química mais atraente. Revista de Química
Industrial, Rio de Janeiro, 2º trimestre, 2011.
SOUSA, E. G.; et al. Averiguação do Ensino Médio em algumas escolas da cidade de Ilhéus.
In: SEMINÁRO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE
SANTA CRUZ (UESC), 10., Ilhéus, 2004. Anais... Ilhéus: Editus, 2004.
225
PROCESSOS DE COLONIZAÇÃO E SUCESSÃO DA
COMUNIDADE DE MACROALGAS BÊNTICAS NOS RECIFES
COSTEIROS DO LITORAL PARAIBANO – CONSTRUINDO MODELOS
PARA RECUPERAÇÃO AMBIENTAL EM AMBIENTES RECIFAIS
Resumo
O presente capítulo tem por objetivo apresentar a avaliação das variações temporais no
processo de colonização e sucessão na comunidade das macroalgas em substratos artificiais,
em ambiente recifal costeiro. O estudo foi desenvolvido no infralitoral (raso) em um ambiente
recifal no município de Cabedelo (PB) (6°59’04.00”S; 34°48’57.79”W). Os substratos
artificiais, preparados em molde de areia, a partir de nódulos de algas calcárias, foram
implantados ao curso de um ano, com intervalos de dois meses entre as implantações,
totalizando 60 substratos divididos em seis implantações ou tratamentos (T1, T2, T3, T4, T5 e
T6) com n=10. O acompanhamento ocorreu mensalmente, através do método fotográfico,
durante um ano, para cada tratamento. As fotos foram analisadas no programa Point Count
with Excel extensions (CPCe), de modo a identificar a ocorrência das espécies de macroalgas,
e a cobertura relativa de cada uma dessas espécies. Os resultados indicaram que a cobertura
total das espécies verificadas nos tratamentos (T1 a T6) demonstrou um padrão, com aumento
gradativo, observando também a substituição de espécies com o passar dos meses. De um
total de 23 espécies/taxa que colonizaram os nódulos, algumas podem ser consideradas
pioneiras por estarem presentes nos substratos implantados independente do tratamento. Entre
elas podemos destacar: Peyssonnelia sp, Ulva sp além das diatomáceas. Estas espécies
desapareceram ou reduziram sua frequência com o amadurecimento do sistema. A riqueza
apresentou um padrão de aumento gradual e estabilidade entre o sexto e oitavo mês após a
implantação dos substratos. Em todos os tratamentos, a diversidade apresentou um padrão
similar ao da riqueza. Foi evidenciado que existe um padrão determinado nos processos
estudados, sobretudo nos descritores riqueza, diversidade, cobertura e espécies colonizadoras
iniciais. Por outro lado, diferenças na velocidade do processo de sucessão parecem estar
associadas ao período de início do processo.
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Diversidade das macroalgas marinhas nos ambientes recifais
costeiros no estado da Paraíba: estrutura dinâmica e composição das espécies como base para indicação do
estado de conservação / Processos de colonização e sucessão da comunidade de macroalgas bênticas nos recifes
costeiros do litoral paraibano - Construindo modelos para recuperação ambiental em ambientes recifais.
Estudante de Iniciação Científica: Natália Cândido Pereira (e-mail: natalia_ufpbcandido@hotmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br, e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientador: George Emmanuel Cavalcanti de Miranda (e-mail: mirandag@dse.ufpb.br)
226
Apresentação
Fundamentação teórica
Os recifes são um dos mais ricos habitats marinhos do mundo, sendo um banco
genético de vital importância para atuais e futuras gerações (VILLAÇA, 2009) e
representando fonte de alimento e renda para muitas comunidades tradicionais (SALEM,
2005; PRATES, 2006). Em detrimento da alta produtividade, esses ambientes têm sido alvo
227
de diversos tipos de exploração, fundamentada quase que exclusivamente em interesse
econômico, causando a sua degradação (PADILHA; HENKS, 2012).
Muitos dos impactos que ocorrem nesses ecossistemas marinhos são resultantes de
diversas interferências antrópicas, sejam elas diretas e/ou indiretas. Os impactos diretos
causados pelo turismo nos recifes são decorrentes principalmente do pisoteio durante as
caminhadas, ancoragem de barcos e lanchas, mergulho livre e autônomo sem orientação
(DEBEUS, 2008). Os impactos indiretos são os que se sobressaem, caracterizados pelo
desmatamento das matas ciliares, descarga de agrotóxicos advindos da agricultura,
construções de condomínios e estabelecimentos comerciais na linha de praia causando a
degradação ambiental através do despejo de efluentes e resíduos sem tratamento, contribuindo
assim com o processo de eutrofização, tendo uma participação marcante na alteração da
estrutura das comunidades recifais (CORREIA; SOVIERZOSKI, 2008; COSTA et al., 2007;
MELO et al., 2014).
Segundo Lobban e Harrison (1997), em geral um ambiente exposto a cargas
excessivas de poluentes responde com alterações e, frequentemente, simplificação da
estrutura das comunidades biológicas, em especial sobre as comunidades bentônicas. Esta
simplificação pode ser explicada pela redução do número de espécies e abundância de
produtores primários que por sua vez, conduz a um eventual aumento na abundância de
espécies oportunistas com elevada capacidade reprodutiva (MARTINS et al., 2012).
Estudos realizados em recifes paraibanos relatam que esses ecossistemas são
tradicionalmente explorados pelo turismo, pesca artesanal, coletas de algas marinhas
comercialmente importantes (SOUZA et al., 2007; MELO et al., 2014; MIRANDA, 2010).
Os efeitos antropogênicos em sinergia causaram e ainda vem causando impactos sobre
ambientes recifais paraibanos, sobretudo sobre as comunidades bentônicas, que são
geralmente sésseis, a exemplo das macroalgas.
Diante do crescente impacto, seja de ordem direta e/ou indireta, a utilização de recifes
artificiais surge como uma ferramenta para o manejo sustentável desse tão importante
ecossistema, que abriga uma vasta diversidade de espécies. Segundo Seaman e Jensen (2000),
recifes artificiais são estruturas rígidas, de pequeno ou grande porte, normalmente
constituídas de concreto ou restos de materiais sem uso. Estas estruturas ao serem colocados
em contato com o fundo marinho resultam em substratos para o desenvolvimento e abrigo de
diversas espécies da fauna e da flora, típicas de ambientes rochosos, de grande importância
econômica e ecológica, se tornando assim um ambiente artificial similar a um recife natural
(SALEM, 2005; PIZZATO, 2004; JENSEN, 1997).
A utilização dos recifes artificiais em ambiente marinho surgiu no final do século
XVIII e início do século XIX, onde foi observado que através da instalação dos substratos
artificiais em determinada área do ambiente marinho ocorria uma maior aglomeração de
peixes (INO, 1974; SANTOS; PASSAVANTE, 2007). Isto fez com que a motivação primária
para a utilização dos recifes artificiais estivesse voltada para o incremento da produtividade
pesqueira (FAGUNDES; ZALMON, 2011; SANTOS et al., 2010; QUINTERO, 2009;
ISLAM et al., 2014).
Além do enfoque dado à produtividade pesqueira, os recifes artificiais vêm sendo
utilizados em vários países do mundo visando à recuperação de áreas degradadas na zona
costeira, o incremento do turismo subaquático como também têm sido instrumentos para a
228
formulação de novos objetivos de pesquisas (FABI et al., 2011; SANTOS; PASSAVANTE,
2007; PONTI et al., 2015; SANTOS, 2012; FAGUNDES, 2010). Assim, a restauração
ecológica surge como um processo de apoio à recuperação natural de um ecossistema que foi
degradado, danificado ou destruído. A assistência na recuperação natural pode ser tanto na
forma de medidas passivas x indiretas, ou na forma de intervenções ativas x diretas. A prática
de transplante de corais e outros organismos da biota de áreas degradadas constituem um
exemplo de restauração física ativa e / ou restauração de cunho biológico (EDWARDS;
GOMEZ, 2007).
Várias pesquisas têm feito uso de substratos artificiais em estudos de estrutura de
comunidades bentônicas, revelando-se um excelente instrumento no manejo, conservação e
restauração de ambientes degradados (MIRANDA 2010; SANTOS, 2012; CARTER;
PREKEL, 2008; TERAWAKI et al., 2003). Apesar do uso de recifes artificiais constituírem
um amplo campo para manipulação/experimentação a respeito da restauração ecológica, esta
prática precisa ser considerada com cuidado e de forma crítica em termos de necessidade,
impacto ecológico, relação custo-eficácia e estética (EDWARDS;
De acordo com a literatura tanto o processo de colonização como o de sucessão são
destacados como sendo de suma importância dentro do estudo das comunidades de
macroalgas bentônicas, uma vez que são responsáveis por determinar ou influenciar
fortemente a estrutura das comunidades recifais. (CONNELL; SLATYER, 1977;
MCCLANAHAN, 1997).
A sucessão ecológica é um termo bastante antigo e de fundamental importância dentro
da ecologia e que tem atravessado diversos períodos sendo alvo de estudos dentro da
ecologia, gerando assim diversas modificações referentes ao seu conceito (JOHNSON, 1977).
A sucessão ecológica pode ser caracterizada como sendo um processo natural, que
acontece ao longo do tempo, devido alterações verificadas nos ecossistemas após a destruição
de uma comunidade, promovendo assim modificações significativas na sua função e estrutura
(SAUER-MACHADO et al., 1992; ANTONIADOU et al., 2011).
Clements (1916 apud MIRANDA, 2009) foi um dos primeiros especialistas no estudo
das sucessões. Segundo ele, as sucessões teriam um estágio de equilíbrio e que em uma
determinada região haveria somente uma verdadeira comunidade clímax, o ponto final de
todas as sucessões. A sucessão é controlada pela comunidade, muito embora o ambiente
físico determine o padrão e a velocidade da mudança, muitas vezes limitando também a
extensão do desenvolvimento (ODUM, 1993), para tanto é imprescindível o entendimento da
dinâmica sucessional no estudo de comunidades.
Segundo Connel e Slatyer (1977), a complexidade do habitat biológico é um fator
importante referente ao assentamento larval e composição de espécies; assim, só depois de
uma mudança temporal na comunidade que determinadas espécies têm a oportunidade de se
estabelecer em habitat adequado. Alguns estudos têm mostrado que o processo de colonização
e sucessão em comunidades varia consideravelmente no espaço e no tempo dependendo de
diferentes regimes de perturbações, das interações ecológicas existentes, da história de vida
das espécies envolvidas como também dos seus graus de vulnerabilidade (SOUSA, 1979;
FOSTER, 1975; BENEDETTI-CECCHI; CINELLI, 1993). Os fatores ecológicos e/ou
ambientais que influenciam na estrutura das comunidades têm sido estudados já há bastante
tempo no ambiente terrestre, porém os estudos direcionados para as comunidades aquáticas
229
ainda são considerados recentes e ainda incipientes (BENEDETTI-CECCHI et al., 2005).
Diante do exposto surge a proposta da pesquisa em analisar a variação temporal da
riqueza, cobertura e diversidade na comunidade de macroalgas nos processos de colonização e
sucessão; bem como testar substrato artificial como ferramenta para recuperação ambiental
em recifes costeiros.
Material e Métodos
230
implantações um total de 60 nódulos. A distância média de um nódulo para outro, após a
implantação foi cerca de 30 cm. A Tab.1 traz a distribuição da implantação dos substratos
divididos em seis períodos/tratamentos, sendo n=10 por tratamento. Este modelo experimental
teve como objetivo a verificação do efeito temporal no processo de colonização e sucessão da
comunidade das macroalgas. Os três primeiros tratamentos (T1, T2 e T3) correspondentes a
estação chuvosa (abril, junho e setembro) e os três últimos (T4, T5 e T6) correspondentes a
estação seca (novembro, janeiro e março).
231
Figura 3. Registro fotográfico (em campo) dos substratos artificiais colonizados por
macroalgas.
As fotos digitais foram analisadas no programa Coral Point Count with Excel
extensions (CPCE) (KOHLER; GILL, 2006), de modo a verificar a ocorrência das diferentes
espécies de macroalgas presentes, como também avaliar ao longo do tempo a cobertura
relativa de cada uma dessas espécies presentes nos substratos, identificando até o menor nível
taxonômico possível.
Para cada foto inserida no programa, foram sorteados aleatoriamente 40 pontos para a
identificação dos organismos (Figura 4). Assim, posteriormente o programa gerou resultados
a respeito da composição de espécies e cobertura relativa de cada uma delas, e estes foram
tabulados em planilhas do programa Excel.
A análise dos registros fotográficos na maior parte das vezes não permitiu a
identificação dos organismos ao nível taxonômico de espécie, principalmente nos períodos
iniciais de colonização, uma vez que as macroalgas estavam em estágios juvenis. Desta
maneira, para evitar possíveis equívocos na identificação dos organismos no nível de gênero e
espécie, em alguns casos, optou-se por usar como unidades taxonômicas apenas o nível de
classe. Foi estabelecido o grupo “Dictyota/Dictyopteris”, devido não ter sido possível
diferenciar um gênero do outro em algumas fotografias. Para as espécies de macroalgas que
ainda estavam em estágios inicias de desenvolvimento, impossibilitando o processo da
identificação, foi designado grupo juvenil, como unidade taxonômica.
Para caracterizar a estrutura das comunidades presentes nas unidades amostrais e
possibilitar as devidas comparações no decorrer do tempo, foram utilizados os índices de
descritores da comunidade tais como: riqueza, cobertura, diversidade de Shannon-Wiener.
Figura 4. Fotos ilustrativas do processo de análise dos nódulos através do programa CPCe.
232
O programa CPCe forneceu dados a respeito da cobertura total e de cada espécie
presente nos nódulos artificiais, tendo por base o processo de coleta de dados mensalmente,
no curso de um ano para cada tratamento (T1, T2, T3, T4, T5 e T6). Através da análise da
cobertura puderam-se verificar quais espécies estavam presentes, bem como sua
representatividade em termos de valores percentuais em cada período amostral ao longo do
processo de colonização e sucessão.
A identificação das macroalgas seguiu a classificação e atualização proposta por Guiry
e Guiry (2014).
Para avaliar a riqueza das macroalgas, foi adotado o número de taxa presentes em cada
nódulo nos seis tratamentos (T1, T2, T3, T4, T5 e T6), onde cada tratamento foi monitorado
ao longo de um ano.
A riqueza em cada tratamento foi expressa pelo número médio de espécies
encontradas no conjunto dos substratos (n=10), esta foi calculada a partir da
presença/ausência em cada unidade amostral (nos tratamentos) repetindo-se a cada mês de
monitoramento.
Algumas espécies podem ter passado despercebidas ao longo do monitoramento pelo
fato de serem muito pequenas e frágeis, uma vez que o método fotográfico limita algumas
informações que carece de maiores detalhes. No entanto, foram realizadas algumas coletas de
materiais presentes no substrato para uma análise de identificação mais detalhada no
Laboratório de Algas Marinhas - LAM - DSE/CCEN/UFPB.
O índice de diversidade de Shannon-Weaver analisa a forma como o conjunto das
espécies está distribuído no ecossistema. Ele foi desenvolvido no período de 1948- 1949, por
Claude Elwood Shannon, e é um dos índices mais comumente utilizados para medir
diversidade em dados categóricos, sendo baseado na teoria da informação (SHANNON;
WIENER, 1949).
Para calcular o índice de diversidade das espécies de algas no presente estudo foi
utilizada uma planilha com os dados de cobertura por espécie previamente gerada pelo
programa CPCe.
Para caracterizar a estrutura da comunidade de macroalgas presente nas unidades
amostrais (nódulos artificiais) e possibilitar as comparações temporais nos diferentes
tratamentos (T1, T2, T3, T4, T5 e T6), foram utilizados os índices de riqueza, cobertura,
diversidade e dominância nos dados obtidos no decorrer de um ano de experimento em cada
tratamento. Estes dados gerados foram representados graficamente através do programa
Excel.
Para verificar possíveis diferenças significativas que ocorreram nos diferentes
períodos de implantações (Tratamentos), ao longo do processo sucessional da comunidade de
macroalgas, os índices utilizados foram submetidos a testes não paramétrico associado ao
teste “a posteriori” de Kruskal Wallis.
Para analisar as diferenças significativas entre os tratamentos foram utilizados três
momentos distintos de monitoramento: M1 (1° mês), M6 (6° mês) e M12 (12º mês), estas
análises foram realizadas a partir do programa Statistica (8.0).
233
Resultados
Tabela 2. Lista das espécies identificadas nos substratos artificiais ao longo do processo de
colonização e sucessão.
CHLOROPHYTA RHODOPHYTA
Ulvophyceae Florideophyceae
Dasycladales Ceramiales
Dasycladaceae Rhodomelaceae
Neomeris annulata Dickie Laurencia clavata Sonder
Coralinales
Ulvales Coralinaceae
Ulvaceae Amphiroa fragilissima (Linnaeus) J. V.
Ulva lactuca Linnaeus Lamouroux
Ulva sp.
Gelidiales
Bryopsidales Gelidiellaceae
Codiaceae Gelidium sp
Codium isthmocladum subsp. clavatum (Collins
& Hervey) P.C.Silva Gelidiellaceae
Gelidiella sp
Caulerpales
Caulerpaceae Halymeniales
Caulerpa racemosa (Forsskål) J. V. Lamouroux Halymeniaceae
Caulerpa prolifera (Forsskål) J.V. Lamouroux Cryptonemia sp
234
RHODOPHYTA
No decorrer de um ano de monitoramento de todos os tratamentos/períodos, no
tratamento T1 (abril/2013) foi verificada a presença de 19 taxa (UTO´s), sendo seis
Chlorophyta, seis Rhodophyta e cinco Ochrophyta (Phaeophyceae). As espécies encontradas
foram: Amphiroa fragilíssima, Caulerpa prolifera, Codium isthmocladum, Dictyopteris spp,
Dictyota spp, Gelidium sp, Laurencia clavata, Lobophora variegata, Neomeris annulata,
Peyssonnelia spp, Sargassum vulgare, Ulva sp, Ulva lactuca, Padina sp, Galaxaura
marginata, Tricleocarpa fragilis, Caulerpa racemosa. O grupo juvenil e das diatomáceas
foram verificados apenas no início do processo de colonização, com 60 e 90 dias após a
implantação dos substratos.
No tratamento T2 (junho/2013), foram identificados um total de 20 taxa, sendo sete
Rhodophyta (Amphiroa fragilissima, Laurencia clavata, Peyssonnelia spp, Gelidium sp,
Gracilaria sp, Tricleocarpa fragilis e Galaxaura marginata) seis Ochrophyta ( Dictyopteris
spp, Dictyota spp, Lobophora variegata, Sargassum vulgare, Spatoglossum schroederi ,
Padina sp) e cinco Chlorophyta (Caulerpa prolifera, Codium isthmocladum, Ulva sp, Ulva
lactuca, Neomeris annulata) além do grupo juvenil e das diatomáceas.
No tratamento T3 (setembro/2013), o total dos números de taxa encontrados foi de 23,
sendo nove Rhodophyta (Amphiroa fragilissima, Laurencia clavata, Peyssonnelia spp,
Gelidium sp, Gracilaria sp, Tricleocarpa fragilis, Galaxaura marginata, Gelidiella sp,
Cryptonemia sp), seis Ochrophyta (Dictyopteris spp, Dictyota spp, Lobophora variegata,
Sargassum vulgare, Spatoglossum schroederi , Padina sp) e seis Chlorophyta (Caulerpa
prolifera, Caulerpa racemosa, Ulva lactuca, Ulva sp e Neomeris annulata) e o grupo das
diatomáceas e o grupo juvenil. No tratamento T4 (novembro/2013) foram
identificados 20 taxa, destes, oito espécies de Rhodophyta (Amphiroa fragiiíssima, Laurencia
clavata, Peyssonnelia spp, Gelidium sp, Gracilaria sp, Gelidiella sp, Tricleocarpa fragilis,
Galaxaura marginata) cinco espécies de Ochrophyta (Dictyopteris spp, Dictyota spp,
Lobophora variegata, Sargassum vulgare e Padina sp) e cinco espécies de Chlorophyta
(Caulerpa prolifera, Caulerpa racemosa, Ulva sp, Ulva lactuca, Neomeris annulata) e o
grupo das diatomáceas e o grupo juvenil.
No tratamento T5 (janeiro/2014) foi verificado a presença de 16 taxa: sete espécies de
Rhodophyta (Laurencia clavata, Peyssonnelia spp, Gelidium sp, Gracilaria spp, Gelidiella sp
e Amphiroa fragilissima), cinco de Ochrophyta (Dictyopteris spp, Dictyota spp, Lobophora
variegata, Padina sp e Sargassum vulgare) e três de Chlorophyta (Ulva spp e Neomeris
annulata e Caulerpa prolifera) e o grupo juvenil.
No tratamento T6 (março/2014), foram identificados 17 taxa, com cinco espécies de
Ochrophyta (Dictyopteris spp, Dictyota spp, Lobophora variegata, Padina sp e Sargassum
vulgare), cinco espécies de Rhodophyta (Peyssonnelia spp e Gelidium sp, Gracilaria sp,
Amphiroa fragilissima e Laurencia clavata) e cinco espécie de Chlorophyta (Caulerpa
prolifera, Ulva sp, Neomeris annulata, Codium isthmocladum e Ulva lactuca) além do grupo
juvenil e das diatomáceas. Com base no processo de colonização, as espécies identificadas
nos nódulos foram divididas em quatro grupos: 1- as espécies que iniciaram o processo de
colonização, ou seja, que estavam presentes a partir do 1º, 2º e 3º mês e que permaneceram
até o final do monitoramento (após um ano); 2- as espécies que iniciaram o processo de
colonização, mas que não permaneceram até o final do experimento; 3- espécies que surgiram
235
em determinados meses do ano e não permaneceram por muito tempo nos nódulos; 4-
espécies que surgiram do meio para o final do processo de sucessão/colonização e se
estabeleceram nos nódulos até o final do experimento (Tabela 3).
Tabela 3. Lista das espécies distribuídas nos grupos em função do processo de colonização.
Laurencia Gracilaria sp
clavata
Gracilaria sp1
Galaxaura
marginata
Fonte: elaborada pela autora.
236
Figura 5. Gráfico da cobertura (média) do tratamento T1, nódulos artificiais implantados em
abril/2013. As barras verticais indicam o desvio padrão. *Mês em que não ocorreu o
monitoramento.
237
Figura 7. Gráfico da cobertura (média) do tratamento T3, nódulos artificiais implantados em
setembro/2013. *Mês em que não ocorreu o monitoramento.
238
Figura 9. gráfico da cobertura (média) do tratamento T5, nódulos artificiais implantados em
janeiro/2014. As barras verticais indicam o desvio padrão.
Figura 10. Gráfico da cobertura (média) do tratamento T6, nódulos artificiais implantados em
março/2014. As barras verticais indicam o desvio padrão. * Mês em que não ocorreu o
monitoramento.
Analisando a colonização inicial (1º mês) nos seis tratamentos, observamos que o T1
foi colonizado pelas seguintes (espécies) UTO: Ulva spp com cobertura média de 4,25% e
Peyssonnelia spp com cobertura média de 8,25%. No tratamento T2 foi verificada a presença
de rodofícea com cobertura média de 15,25%, clorofícea com 5% e feofícea com 0,25% além
239
da colônia de diatomáceas com 0,75%. No tratamento T3, observou-se que a cobertura média
de clorofícea foi de 10,5% e de Peyssonnelia spp foi de 6%. No tratamento T4, foi constatada
a presença de clorofícea com cobertura média de 0,25% e do grupo juvenil com 24,25%. No
tratamento T5, a presença de Peyssonnelia spp com cobertura de 4%, Dictyopteris spp 0,75%,
Gelidium sp 0,5% e Ulva spp 2,25%, além do grupo juvenil com 1,75%. No tratamento (T6) a
composição foi de Dictyopteris spp com a cobertura de 0,25%, clorofícea 2,5%, feofícea
1,5%, Gelidium sp 0,5% e o grupo “Dictyota/Dictyopteris com 3,25%.
Ainda se tratando da colonização inicial (1º mês) os tratamentos (T1, T2, T3, T4, T5 e
T6) apresentaram os respectivos valores na média da cobertura total (12,5%; 21,25; 16,5%;
24,5%; 9,25% e 8%), foi observada diferenças significativas na variação da cobertura total
entre os períodos (T1 a T6). O teste a posteriori de Kruskal Wallis evidenciou diferenças
significativas entre o T6 e os tratamentos T2 e T4, sendo o primeiro (T6) com a menor
cobertura e (T2 e T4) com os maiores para este descritor (Figura 11).
Figura 11. Gráfico da cobertura total (média) nos tratamentos (T1, T2, T3, T4, T5 e T6) no
primeiro mês após implantação dos substratos artificiais. As barras verticais indicam o desvio
padrão. Letras diferentes indicam diferenças significativas.
Cobertura (%)
240
Figura 12. Gráfico da cobertura total (média) nos tratamentos (T1, T2, T3, T4, T5 e T6) seis
meses após implantados os experimentos. As barras verticais indicam o desvio padrão. Letras
diferentes indicam diferenças significativas. T1 (out/13); T2 (dez/13); T3 (mar/14); T4
(mai/14) T5 (jul/14); T6 (set/14)
Cobertura (%)
241
Figura 13. Gráfico da cobertura total (média) nos tratamentos (T1, T2, T3, T4, T5 e T6) após
12 meses de introdução dos substratos artificiais. As barras verticais indicam o desvio
padrão. Letras diferentes indicam diferenças significativas.
Cobertura (%)
242
Figura 15. Gráfico da riqueza (média) do tratamento T2, nódulos artificiais implantados em
junho/2013. As barras verticais indicam o desvio padrão. * Mês em que não ocorreu o
monitoramento.
Figura 16. Gráfico da riqueza (média) do tratamento T3, nódulos artificiais implantados em
setembro/2013. As barras verticais indicam o desvio padrão. *Mês em que não ocorreu o
monitoramento.
243
Figura 17. Gráfico da riqueza (média) do tratamento T4, nódulos artificiais implantados em
novembro/2013. As barras verticais indicam o desvio padrão.
Figura 18. Gráfico da riqueza (média) do tratamento T5, nódulos artificiais implantados em
janeiro/2014. As barras verticais indicam o desvio padrão.
244
Figura 19. Gráfico da riqueza (média) do tratamento T6, nódulos artificiais implantados em
março/2014. As barras verticais indicam o desvio padrão. *Mês em que não ocorreu o
monitoramento.
Figura 20. Gráfico da riqueza (média) nos tratamentos (T1, T2, T3, T4, T5 e T6) após mês de
introdução dos substratos artificiais. As barras verticais indicam o desvio padrão. Letras
diferentes indicam diferenças significativas.
245
(2,3; 3,8; 5,9; 6; 2,9 e 2,2/espécies por tratamento). A maior riqueza foi registrada nos
tratamentos T2, T3 e T4, sendo semelhantes entre si e as menores nos tratamentos T1 e T6,
semelhantes entre si e diferentes dos tratamentos citados anteriormente (Figura 21).
Figura 21. Gráfico da riqueza (média) nos tratamentos (T1, T2, T3, T4, T5 e T6) após seis
meses de introdução dos substratos artificiais. As barras verticais indicam o desvio padrão.
Letras diferentes indicam diferenças significativas.
Figura 22. Gráfico da riqueza (média) nos tratamentos (T1, T2, T3, T4, T5 e T6) após 12
meses de introdução dos substratos artificiais. As barras verticais indicam o desvio padrão.
Letras diferentes indicam diferenças significativas.
246
Processo de colonização e sucessão: diversidade
As figuras de 23 a 28 apresentam a diversidade média das espécies ao longo do
processo sucessional nos diferentes tratamentos (T1 a T6).
Figura 24. Gráfico da diversidade (média) do tratamento T2, nódulos artificiais implantados
em junho/2013. As barras verticais indicam o desvio padrão. * Mês que não ocorreu o
monitoramento.
247
Figura 25. Gráfico da diversidade (média) do tratamento T3, nódulos artificiais implantados
em setembro/2013. As barras verticais indicam o desvio padrão. * Mês que não ocorreu o
monitoramento.
Figura 26. Gráfico da diversidade (média) do tratamento T4, nódulos artificiais implantados
em novembro/2013. As barras verticais indicam o desvio padrão.
248
Figura 27. Gráfico da diversidade (média) do tratamento T5, nódulos artificiais implantados
em janeiro/2013. As barras verticais indicam o desvio padrão.
Figura 28. Gráfico da diversidade (média) do tratamento T6, nódulos artificiais implantados
em abril/2013. As barras verticais indicam o desvio padrão. * Mês que não ocorreu o
monitoramento.
249
Figura 29. Gráfico da diversidade de Shannon-Wiener nos tratamentos (T1, T2, T3, T4, T5 e
T6) após um mês de introdução dos substratos artificiais. As barras verticais indicam o
desvio padrão. Letras diferentes indicam diferenças significativas.
Diversidade (%)
A análise estatística entre os tratamentos (T1 a T6), após o sexto mês de implantação,
mostrou que os tratamentos T3 e T6 apresentaram os menores valores de diversidade, e
diferentes significativamente dos tratamentos T1 e T4, que obtiveram os maiores valores
(Figura 30).
Figura 30. Gráfico da diversidade de Shannon-Wiener nos tratamentos (T1, T2, T3, T4, T5 e
T6) após seis meses de introdução dos substratos artificiais. As barras verticais indicam o
desvio padrão. Letras diferentes indicam diferenças significativas.
Diversidade (%)
250
apenas a diversidade do tratamento T4, com menores valores, se diferenciou
significativamente da registrada nos tratamentos T1 e T2 que apresentaram os maiores valores
na diversidade (Figura 31).
Figura 31. Gráfico da diversidade de Shannon-Wiener nos tratamentos (T1, T2, T3, T4, T5 e
T6) após 12 meses de introdução dos substratos artificiais. As barras verticais indicam o
desvio padrão. Letras diferentes indicam diferenças significativas.
Diversidade (%)
Discussão
251
2010) quando comparado à espécie K estrategista. O gênero Ulva é caracterizado por
apresentar capacidade de recuperar-se dos danos causados pelos estresses ambientais, graças à
maior plasticidade fenotípica e fisiológica, (LITTLER; MURRAY, 1975; SCHERNER et al.,
2012; TEICHBERG et al., 2010). Este possui uma estrutura física delicada, com apenas duas
camadas de células, e sem defesas específicas contra a herbivoria (BATISTA et al., 2013), o
que pode ter sido um dos motivos que este gênero não foi mais registrado nos substratos com
o passar do tempo ao longo do monitoramento.
Dentro do processo de mudanças sucessionais, as espécies pioneiras, podem alterar as
condições e/ou a disponibilidade de recursos no habitat, tornando o ambiente propício para o
estabelecimento do próximo grupo de espécies, facilitando a sucessão, este modelo é
denominado de facilitação (MATTHES; MARTINS, 1996). Esse mecanismo é um importante
componente da sucessão primária, na colonização de um novo substrato (BERKOWITZ et al.,
1995).
O outro modelo também bastante discutido no processo sucessional é o modelo da
inibição, onde os colonizadores iniciais se apossam dos recursos e inibem a invasão
subseqüente de outras espécies ou interrompem o crescimento daquelas já presentes. Nesta
concepção as espécies de clímax inibem as espécies de estágios iniciais. Nesse modelo, a
sucessão após o estabelecimento de uma espécie por outra ocorre somente através da morte ou
substituição das espécies. Assim, a mudança sucessional leva ao predomínio das espécies de
vida mais longa (MIRANDA, 2009)
Segundo Connel e Slatyer (1977), a morte dos colonizadores é devida a perturbações
causadas por condições físicas e/ou pela ação de herbívoros, parasitas, etc. Por outro lado, a
morte dos colonizadores, tanto no modelo de tolerância quanto no da facilitação, dá-se devido
à competição com espécies tardias.
A ocorrência expressiva de diatomáceas no processo inicial da colonização compôs o
biofilme que auxilia no estabelecimento de outros organismos bênticos (PARK et al., 2011).
Em trabalho também realizado em comunidades recifais do litoral Paraibano, Silva (2013)
encontrou um padrão de colonização de colônias de diatomáceas coloniais filamentosas em
períodos iniciais de sucessão, muito semelhante ao observado no presente estudo.
Apesar dos tratamentos T5 e T6 registrarem os menores percentuais de cobertura total,
após 30 dias, foi identificada através da análise quali quantitativa maior quantidade de táxons
para estes tratamentos. Esta observação pode estar associada ao fato de que neste período
considerado seco, o processo de colonização por diferentes espécies ocorreu de forma mais
rápida o que pode ter relação com a sazonalidade de reprodução e crescimento de espécies,
além de fatores relacionados ao ambiente (SOUSA, 1979; SILVA, 2013).
No decorrer do experimento, com seis e doze meses após a implantação dos substratos
artificiais, tendo por subsídio os dados de cobertura média total, observou-se que de maneira
geral não houve uma interferência marcante no processo de colonização e sucessão da
comunidade de macroalgas, no que diz respeito ao período em que os nódulos foram
implantados. Entretanto foi observado que aos 12 meses de monitoramento os tratamentos T3
e T4 apresentaram as maiores médias em relação à cobertura total, tendo em vista que o
gênero Sargassum se sobressaiu em relação às outras espécies que colonizavam os substratos
naquele momento, entrando em questão a competitividade de espécies no processo
sucessional. Foi notada também a competitividade das macroalgas pelo recrutamento de
252
substratos consolidados em Fonseca (1998), que concluiu que a interação competitiva é o
principal mecanismo responsável pela estruturação na comunidade de Sargassum, visto que a
herbivoria não exerce um papel importante.
Algumas espécies formaram um grupo de algas que colonizaram o sistema a partir dos
90-120 dias e continuaram aumentando/mantendo a cobertura e frequência até o final do
período observado, sendo este grupo denominado de “algas perenes”, destacando-se os
seguintes gêneros: Sargassum, Lobophora, Gracilaria, Codium, Gelidium, Amphiroa;
Tricleocarpa, Dictyota e Dictyopteris; estas algas podem ser consideradas marcadoras das
etapas finais do processo de sucessão.
A estratégia evolutiva que envolve duração do ciclo de vida, período reprodutivo e o
grau de recombinação são os determinantes básicos para se afirmar a posição das espécies nos
gradientes, espacial e sucessional (MIRANDA, 2009).
253
trabalho de Silva (2013) em que a colonização pelos diferentes gêneros de macroalgas, em
geral, aconteceu de forma mais rápida no período seco, quando comparadas ao período
chuvoso.
A redução da riqueza nos tratamentos que correspondem ao período seco pode está
associado ao fato de que a comunidade de macroalgas que colonizaram os nódulos tenha
atingido o “clímax”, sobressaindo apenas as espécies consideradas marcadoras das etapas
finais do processo de sucessão, como por exemplo, o Sargassum vulgare, sendo a espécie
dominante nesta análise.
Através da análise gráfica é possível perceber que a diversidade teve um
comportamento semelhante a riqueza, uma vez que este índice pode ser comprendido como o
número de espécies mais conpíscuas na comunidade (MIRANDA, 2000). Foi observado nos
tratamentos que a diversidade de Shannon-Wiener seguiu até determinado momento uma
curva ascendente, seguida de estabilização e em alguns tratamentos foi possível verificar uma
queda no final do processo, reforçando a ideia de amadurecimento do sistema ao curso dos
doze meses.
Conclusão
Este estudo mostrou que existe um padrão determinado nos processos estudados,
sobretudo nos descritores riqueza, diversidade, cobertura e espécies colonizadoras iniciais.
Por outro lado, diferenças na velocidade do processo de sucessão, parecem estar associadas ao
período de início do processo.
As espécies Peyssonnelia spp, Ulva spp e o grupo das diatomáceas, destacaram-se
como colonizadoras iniciais da colonização e sucessão.
Foi observado um padrão de aumento gradativo na riqueza e estabilidade entre o sexto
e oitavo mês após a implantação dos substratos. Estes dados sugerem que a colonização e
sucessão em pequenos espaços (substratos) disponibilizados na estrutura recifal, ocorre em
um período relativamente rápido entre oito e dez meses, momento no qual os substratos se
encontram plenamente colonizados por algas “perenes”.
Portanto através desta pesquisa podemos observar o curto espaço de tempo no qual
ocorreu a colonização e sucessão das algas nos substratos disponíveis. Esta constatação
representa um aspecto positivo no que diz respeito à utilização de estruturas similares na
recuperação ambiental, bem como poderá servir de apoio para futuras pesquisas dentro desta
área de estudo.
Referências
254
BATISTA, M. B; et al., Efeitos de estressores ambientais na ecofisiologia das macroalgas
marinhas dos costões rochosos. Ecologia de campo: abordagens no mar, na terra e em águas
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seedling growth and survival in early successional communities. Ecology, v. 76, n. 4, p. 1156-
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Management Program. Reef Restoration Concepts & Guidelines: Making sensible
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259
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260
TEMPOS DE DESSINCRONIZAÇÃO EM
CIRCUITOS ELETRÔNICOS CAÓTICOS ACOPLADOS
Yuri Oliveira¹
Hugo Leonardo Davi de Souza Cavalcante
Resumo
Muitas áreas da ciência estudam sistemas complexos, tais como redes nervosas,
ecossistemas, genética, mercado financeiro, etc. Apesar de complexos e de terem
comportamentos aparentemente imprevisíveis, existem leis que determinam o comportamento
desses sistemas. Nosso projeto visa mostrar como se pode representar sistemas complexos
através de circuitos eletrônicos e como esta implementação pode ser útil para fazer previsões
sobre o comportamento de tais sistemas. Estudamos dois circuitos caóticos acoplados, que
exibem o fenômeno de sincronização de caos, o qual foi utilizado para determinar a distribuição
espacial do grau de instabilidade desse sistema no espaço de fase. Nossa hipótese é que o tempo
de dessincronização seja inversamente proporcional ao grau de instabilidade. Nossos resultados
indicam a existência de pontos fortemente instáveis longe da origem do espaço de fase, e servem
de base para os próximos estudos que aprimorem a teoria vigente, a qual prevê que a maior
instabilidade ocorre próxima à origem.
Apresentação
Sendo alvo de estudo em diversas áreas da ciência, que variam desde redes nervosas até
o mercado financeiro, os sistemas complexos estão presentes em todos os momentos de nossa
vida. Portanto, a compreensão desses sistemas possui grande importância. Estes sistemas
complexos possuem propriedades universais que podem ser abordadas em diversos problemas
interdisciplinares, pois a maioria desses sistemas são formados por elementos (variáveis)
interagentes e uma dinâmica temporal complicada.
Um sistema caótico é um exemplo de complexidade, e possui regras simples em sua
evolução. Tais sistemas apresentam uma sensibilidade muito alta a pequenas perturbações em
suas condições iniciais, que os tornam imprevisíveis em grandes escalas temporais. Porém, é
possível prever seu estado futuro em curto prazo, e controlá-lo.
Se conhecemos um sistema e suas características, podemos montar um circuito
eletrônico analógico equivalente, usando arranjos de componentes eletrônicos. Sabendo disso,
Fundamentação teórica
O grande objetivo deste projeto, é fazer um mapeamento das variáveis do sistema e com
isso obter uma estatística dos pontos de maior instabilidade. Um ponto que possui muita
instabilidade, é mais propicio a erros ou desastres, pois nesta área a dessincronização é mais
rápida do que em outras áreas de estabilidade maior.
Um exemplo de mapeamento, que já foi estudado em outros artigos como (Cavalcante,
2013) e possuía uma hipótese de que os pontos (V1, V2 e I) de maior instabilidade se
concentravam na Região (0,0,0). Porém, este importante conceito não foi totalmente explorado
e essa será nossa motivação para começar o projeto, ajudando a comunidade cientifica com o
estudo destes mapeamentos.
Metodologia e análise
Como primeira etapa, analisamos um problema do livro (Nilsson, 2009) no qual era
necessário entender um circuito que funciona como um computador analógico. O circuito é
composto por um conjunto de resistores, capacitores e amplificadores operacionais, que
dispostos em diferentes blocos (conforme pode ser visto na Fig. 1), resultavam em operações
distintas que ao final, se juntavam em uma única expressão. A partir disso, chegamos finalmente
em uma equação diferencial equivalente ao sistema massa-mola, concluindo que existe uma
equivalência entre circuitos eletrônicos analógicos e equações diferenciais associadas a
sistemas dinâmicos.
Após a finalização no exercício teórico, colocamos tal circuito em prática, utilizando
uma protoboard, placa onde é possível montar circuitos eletrônicos sem a necessidade de
soldagem, e os componentes descritos no problema do livro, cada qual com sua função. Para
explicar o conjunto dos componentes, é preciso entender primeiramente o papel de cada peça
usada.
262
Figura 1. Circuito eletrônico analógico, equivalente ao sistema massa mola.
Os resistores servem na maioria das vezes para limitar a corrente elétrica em um circuito
eletrônico, impedindo que a corrente cresça para o infinito. Essa afirmação pode ser confirmada
pela Lei de Ohm, como mostra o esquema da Fig. 2.
Fonte: http://www.tecnolog.ind.br/content/38-a-lei-de-ohm
Já os capacitores são compostos por dois ou mais condutores isolados e tem como
função o armazenamento de energia elétrica no campo eletrostático entre os condutores. Este
armazenamento de energia dá ao capacitor uma memória dos valores de corrente elétrica, os
quais se manifestam como uma integral temporal. As fórmulas para corrente e tensão possuem
derivadas e integrais, respectivamente, tornando o capacitor um ótimo candidato para a
representação de sistemas que possuam equações diferenciais. Podemos ver claramente as
equações e como um circuito que possui um capacitor funciona na imagem Fig. 3, que foi
retirada de uma aula online.
263
Figura 3. Descreve as equações de corrente e tensão de um capacitor, em um exemplo
simples. Mostra também a formula de carga do mesmo.
Fonte: http://slideplayer.com.br/slide/333839/
264
não foram utilizadas no circuito.
Há uma relação entre a entrada e a saída do amplificador operacional. Temos que a
tensão de saída “Vout” é igual ao ganho ‘G’ multiplicado pela diferença entre ‘V+’ e ‘V-‘,
como demonstra a Fig. 5.
Os amplificadores são regidos por duas regras de ouro. A primeira regra, diz que as
tensões ‘V-‘ e ‘V+’ devem possuir o mesmo valor (essa regra vale apenas quando há
realimentação negativa, onde ligamos a saída à entrada inversora do componente). A segunda
regra diz que a corrente nunca passa pelas entradas do componente (pinos 2 e 3), acabando
assim, por fluir pela realimentação (na maioria dos casos).
Usando amplificadores operacionais juntamente com resistores e/ou capacitores,
podemos construir blocos que somam, subtraem, derivam ou integram. Podemos ver na Tab. 1,
exemplos de blocos e suas operações.
265
Após a montagem do circuito, equivalente ao sistema massa-mola, observamos seu
comportamento em um osciloscópio digital (aparelho de aquisição de tensão elétrica, capaz de
registrar e mostrar em tempo real a evolução temporal desta grandeza, permitindo sua análise)
e verificamos que os resultados eram coerentes com o problema proposto no livro (Nilsson,
2009). O mais importante é que a conclusão desta etapa nos permitiu entender como construir
circuitos elétricos baseados em sistemas dinâmicos. Utilizamos esse conhecimento para projetar
o circuito caótico usado na próxima etapa.
O próximo passo foi estudar um circuito caótico, que basicamente envolvem 3 variáveis
dinâmicas: V1, V2 e I. O grande objetivo era fazer um mapeamento espacial de onde seriam os
pontos de maior instabilidade do circuito.
Uma maneira de estudar a instabilidade, seria medir o tempo de dessincronização entre
dois circuitos sincronizados recém desacoplados. Para tal, tivemos que aprender como
sincronizar e dessincronizar dois circuitos caóticos, usando um acoplamento unidirecional do
“mestre” (transmissor), para o “escravo” (receptor).
Nossa hipótese é que quanto menor o tempo de dessincronização, mais instável é o
circuito, no ponto em que o acoplamento é desligado. Para o mapeamento, foi necessário
analisar diversos pontos do espaço de fase, em posições aleatórias, até recobrir todo o espaço
acessível pela trajetória caótica.
O circuito caótico que utilizamos possui o seguinte diagrama esquemático (Fig. 6).
Analisando este circuito, e usando as leis de Kirchoff (malha) e tensões nodais, podemos
chegar nessas três equações (Fig. 7).
266
Essas equações nos proporcionam as variáveis de análise V1, V2 e I, que usaremos para
o acoplamento e posteriormente o mapeamento.
Para controlar o acoplamento entre os dois circuitos usamos uma chave analógica
(modelo DG403), mostrada na Fig. 8.
Figura 8. Diagrama de pinos (lado esquerdo) e a tabela verdade da chave DG403 (lado direito).
Pinos 1 e 16 possuem contato quando o sinal de controle (pino 15) está no nível
logico 1.
Pinos 3 e 4 possuem contato quando o sinal de controle está no nível logico 0.
Pino 11, alimentação positiva (V+), alimentamos com +15 V.
Pino 12, nível logico (alimentamos esta entrada com +15 V)
Pino 13, GND (valor de referência).
Pino 14, alimentação negativa (V-), alimentamos com -15 V.
Pino 15, entrada do sinal de controle, onde é ligado o gerador de funções.
Responde de acordo com a tabela verdade acima.
Antes de colocarmos a chave no circuito principal, criamos um circuito teste. Este teste
consistia em chavear dois diodos emissores de luz (LED’s), alternando corrente entre eles de
acordo com o valor lógico da tensão produzida por um gerador de funções que estava conectado
ao pino 15 (IN1). O gerador de funções serviu para injetar uma onda de tensão específica na
entrada de controle da chave analógica, produzindo uma onda quadrada com frequência de 10
Hz e uma amplitude de 8 Vpp. Os pinos 3 e 16 estavam alimentados com uma tensão de +15
V. Além disso, usamos um resistor como forma de limitar a corrente, para que ela não
aumentasse infinitamente e levasse a queima de nossos componentes. Após a montagem,
conseguimos notar que o circuito de teste estava funcionando, pois os LED’s estavam
acendendo alternadamente com relação a onda quadrada do gerador. Com isso, concluímos que
a chave funcionava, e passamos a usá-la em nosso circuito principal, para fazer o acoplamento
entre as tensões V1 do Mestre e V1 do Escravo.
Para o acoplamento, foi necessário ligar a saída que une Mestre:Escravo (1:1), na porta
267
16 da chave analógica (DG403), que fazendo a ligação com a porta 1 (assim que o gerador de
funções aplicar uma tensão maior que 2.4 Volts), faz com que esta se conecte novamente ao
circuito caótico pela entrada V1 do “escravo”.
Sabemos pela tabela verdade da chave analógica DG403, que as portas 1 e 16 (sw1) e
as portas 3 e 4 (sw3) funcionam de forma antagônica, ou seja, quando há corrente por sw1, não
passa corrente por sw3 e vice-versa. Com base nessa tabela verdade, tivemos que criar uma
fuga para a corrente, que chegasse ao pino 3 da chave quando ela estivesse aberta, então ligamos
o pino 4 ao 3 e o 3 ao terra, para lidar com este possível problema.
É importante salientar que o circuito estará sincronizado apenas quando a tensão
injetada pelo gerador de funções, na porta 15 da chave, for maior do que 2.4 volts, fazendo com
que “sw1” da chave analógica ative. Caso o gerador injete uma tensão menor do que 2.4 V, o
circuito estará dessincronizado.
Após juntarmos a chave analógica com o circuito caótico, usamos o osciloscópio para
certificar que o circuito estava sincronizando corretamente e que ainda estava caótico. Para
isso, ligamos a saída do circuito em um dos canais do osciloscópio e em outro canal colocamos
o nosso gerador de funções. Conseguimos analisar o tempo exato em que ocorria a
dessincronização, e determinamos um padrão até o fim do projeto. Este padrão era de que
quando o nosso sinal de erro (saída do circuito) ficasse abaixo de - 0.5 V o sistema estaria
dessincronizado.
A próxima etapa seria calcular os tempos de dessincronização de uma série. Para isso
criamos um programa em Python que fizesse este trabalho, pois seria inviável fazer o cálculo
para centenas de eventos.
Python é uma linguagem de programação, que possui bibliotecas especificas como a
“Matplotlib”, para a manipulação com gráficos tanto em 2D como 3D, e a “numpy” para o
gerenciamento de arrays (vetores).
Após criado, o programa foi capaz de carregar arquivos salvos (sinal de erro e o gerador
de funções) pelo osciloscópio e coloca-los em arrays. Este procedimento foi feito com a função
“loadtxt()” da biblioteca “numpy”. Logo após foram criados e inicializados os seguintes arrays:
Antes de tudo, adotaremos a seguinte notação, “EDS” = “Erro De Sincronização”.
Após carregar os arquivos de texto e declarar os arrays que serão utilizados, fizemos um
268
laço de repetição (while) e uma função de comparação (if) que capturasse os valores certos
apenas nos tempos corretos.
Na aquisição dos dados do circuito, foram usadas as seguintes características:
Além disso, no final do programa usamos uma função plot, que serve para gerar um
gráfico de análise. Neste gráfico (figura 9) aparece o sinal de erro do circuito caótico na cor
azul e podemos notar que ele está sincronizado, próximo ao 0 V (eixo y) e dessincronizado
abaixo do ponto marcada com um círculo verde, que corresponde ao valor de referência. Este
gráfico mostra também pontos marcados com círculos vermelhos que identificam o exato
momento onde a chave desligou, começando a dessincronização. A diferença entre o tempo
correspondente ao círculo verde e a o tempo correspondente ao círculo vermelho nos mostra
quanto tempo levou para o circuito caótico dessincronizar após o acoplamento ser “desligado”.
Figura 9. Sinal de erro com marcações relativas ao desligamento da chave (bola vermelha) e o
ponto em que o circuito dessincroniza (bola verde). No eixo vertical estão valores de tensão (o
sinal “Erro de Sincronização” aparece invertido por conveniência. No eixo horizontal está o
tempo, em segundos.
269
Figura 10. Histograma que representa a quantidade de eventos relacionado ao tempo de
dessincronização.
Para melhor análise, colocamos o eixo y em escala logarítmica e diante deste gráfico,
fizemos uma tabela (Tab. 2) com média, máximo e mínimo dos tempos de dessincronização.
OBS: tempo no sistema internacional de unidades (segundos).
Após termos a Tab. 2, decidimos atacar o nosso principal objetivo, que era mapear a
instabilidade no espaço V1, V2 e I em nosso circuito, e encontrar os pontos de maior
instabilidade dessas variáveis. Para isso, tínhamos que usar o osciloscópio novamente para a
obtenção dos dados. Os canais do osciloscópio ficaram dispostos na seguinte forma:
Infelizmente não pudemos obter a variável ‘I’ de nosso sistema, pois o osciloscópio em
270
que trabalhávamos, possuía apenas quatro canais. Devido a este empecilho, decidimos por
utilizar uma técnica um pouco mais avançada para obter ‘I’. Por meio de uma técnica de
Reconstrução do atrator, utilizando coordenadas atrasadas (Takens, 1981).
Depois de salvarmos os dados dos 4 canais em arquivos de texto, usamos novamente o
Python para a análise destes dados. A análise realizada consiste em medir o tempo de
dessincronização e associá-lo à posição do espaço de fase (V1, V2 e I) na qual o acoplamento
foi desligado. Com as variáveis corretamente selecionadas, fizemos um gráfico em 3d usando
a função “scatter” da biblioteca matplotlib e obtivemos a seguinte imagem (Fig 11).
Figura 11. Gráfico 3D das variáveis V1, V2 e I. A cor dos círculos é proporcional ao inverso
do tempo de dessincronização, ou seja, quanto mais para o vermelho mais instável é o ponto
analisado
Conclusões
271
(0,0,0), porém, como podemos ver nas Fig. 12 e Fig. 13, há uma dispersão que não condiz com
a hipótese. Com as imagens do ponto de vista de cada variável, podemos observar melhor essa
dispersão.
Figura 12. Visão do mapeamento com perspectiva na variável V1. Podemos notar uma
dispersão de pontos de instabilidade no canto inferior direito
Figura 13. Mapeamento das variáveis do circuito caótico. Podemos observar pela perspectiva
de v2 que possui muita dispersão dos pontos de instabilidade no canto inferior direito
272
região (0,0,0). Temos uma hipótese de que isso ocorre devido a variável I, visto que ela não
pôde ser capturada pelos nossos osciloscópios (que possuem apenas 4 canais), e tivemos que
obtê-la pelo método de coordenadas atrasadas. Este método pode não ter sido preciso o
suficiente para obter o resultado esperado, mas temos uma possível solução para esta hipótese.
Esta solução consiste em retirar a chave (gerador de funções) de um dos canais e
colocarmos a variável I no lugar. Isso pode ser possível pois podemos prever como a chave
trabalhará apenas utilizando sua frequência e o tempo total de uma serie, e com isso saber os
tempos exatos do ligamento e desligamento da chave.
Não tivemos tempo para testar tal solução, pois entramos no projeto faltando pouco
menos de cinco meses para acabar (devido a substituição dos bolsistas). Contudo, ainda há
lacunas para serem resolvidas com relação aos mapeamentos e o nosso objetivo é continuar a
pesquisa assim que tivermos oportunidade.
Diante de todas as áreas trabalhadas neste projeto, desde circuitos até o mapeamento das
variáveis, concluímos que este trabalho é de tamanha importância em diversos aspectos, pois
abrange disciplinas distintas que são interligadas por sistemas complexos. Concluímos que
podemos determinar e construir, através de equações conhecidas, um circuito eletrônico
equivalente a um sistema complexo dado e estudar seus pontos de instabilidade, prevendo a
causa de possíveis falhas e até a correção das mesmas.
Referências
CAVALCANTE, H. L. D. S, ORIÁ, M., SORNETTE, D., OTT, E., & GAUTHIER, D. J., 2013,
Predictability and Suppression of Extreme Events in a Chaotic System. Physical Review
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Dynamical Systems and Turbulence, Lecture Notes in Mathematics, vol. 898. Springer-
Verlag. pp. 366–381.
273
CIÊNCIAS HUMANAS
ESTUDO DE PROPOSTAS VOLTADAS À FORMAÇÃO MORAL
A PARTIR DAS ANÁLISES DO PPC E DOS PLANOS DE AULA
DAS ESCOLAS NO/DO CAMPO DO BREJO PARAIBANO
Resumo
Este trabalho tem como foco o estudo do ensino voltado para facilitar o processo de
ensino ligado à formação moral da criança que vive no mundo rural, em particular às que
estudam em escolas situadas nos municípios de Areia, Borborema e Pilões. Nosso objetivo foi
estudar possíveis correlações os processos que respaldam uma tomada de decisão do
educando a qual embasasse o obedecer ou não a uma regra, tendo uma postura disciplinada ou
indisciplinada. Para aprofundar sobre o tema inicialmente se realizou um levantamento
bibliográfico. Já para coleta de dados realizou-se: entrevistas não diretivas; observação do
comportamento dos indivíduos campesinos; e análise de plano de aula. Através de
participação em grupos de estudos deu-se sequência ao planejamento, a execução e a
avaliação das ações desenvolvidas ao longo da implementação do conjunto projeto/plano.
Demonstrou-se que há na escola interesse em na redução da indisciplina, essencial para a
formação moral do sujeito.
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: formação moral do campo: o trabalho coletivo fundamenta a
prática e a conscientização de regras básicas a (não) ocorrência da (in) disciplina escolar? Estudo de propostas
voltadas à formação moral a partir das análises do PPC e dos planos de aula das escolas no/do Campo do Brejo
Paraibano.
Estudante de Iniciação científica: Carlos Eduardo da Silva Lopes (e-mail: dudulopesbn@hotmail.com, telefone:
(83) 99176-9661)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br, e-mail: cadrastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientadora: Nilvania dos Santos Silva (e-mail: nilufpb@gmail.com, telefone: (83) 8779-6304)
275
da moral, demonstrando a importância do respeito - inicialmente aquele fundamentado na
repressão, que os adultos e os mais velhos exercem com sua autoridade para com as crianças,
e, posteriormente, numa idade em que já é possível discutir e entender o porquê das normas e
regras que passam a ser aceitas e respeitadas de forma mútua pelos grupos sociais a que
pertencem e, consequentemente, pelo respeito aos seus componentes.
Este trabalho teve por objetivo estudar aspectos que possam apontar correlações entre
as atividades propostas pelos professores das escolas situadas no campo e o processo de
formação moral que embasa o processo de adoção de regras essenciais a (não) ocorrência da
(in) disciplina escolar. Buscando correlações nos planos de aula adotados por professores de
escolas situadas no campo, em particular aquelas que possam possibilitar a formação moral
das crianças. Além de investigar as crenças, opiniões – atitudes – dos professores das escolas
situadas no Campo diante de possíveis condutas (in)disciplinadas.
Fundamentação Teórica
Um dos desafios atuais da escola é contribuir para a formação moral do seu alunado.
Segundo Silva (2007) “A formação moral de uma criança está intimamente relacionada com a
interação dela com o meio em que vive”. Nos dias de hoje a família atribui essa
responsabilidade pela formação moral da criança à escola. Sendo que, é na família que
primeiro se deve dá a formação moral da criança, uma boa educação familiar é uma condição
básica para o convívio do aluno no ambiente escolar e a escola por ser uma instituição pública
também deve contribuir com essa formação moral da criança na vida e na sociedade. A escola
por sua vez contribui na formação moral dos seus alunos passando para eles através dessa
formação, princípios, valores, normas de convivência e de respeito, preparando os seus alunos
para a vida. Por isso é importante que se entenda que a família e a escola tenham um papel
importante a contribuir na formação moral da criança.
É através da educação que o sujeito adquire seus princípios morais, levando com ele
princípios que guias em sua jornada pessoal. Uma vez que é nos dias de hoje que há uma
grande falta de limites, de formação e regras dentro de casa por falta das famílias, e no meio
onde a criança está inserida, segundo Lepre (1999.p.66) “As relações sociais vividas pelas
crianças são de suma importância para o seu desenvolvimento moral”. E por isso as crianças
têm trazido para dentro da escola a indisciplina. E ao pensarmos em indisciplina nos leva a
refletir sob a formação moral na perspectiva da teoria de Piaget. Para ele os valores da moral
são construídos meio em que o sujeito se interage.
Ainda segundo Piaget o desenvolvimento da moral abrange três fases de
276
conscientização (anomia, heteronomia e autonomia). Na fase da anomia a criança não tem
consciência das regras e age por impulso. Na fase de heteronomia a criança tem o adulto
como a autoridade máxima, nessa fase a criança a passa a respeitar a autoridade do adulto de
forma unilateral e não a regra em si. Na autonomia última fase do desenvolvimento da moral
a criança já é capaz de fazer certa reflexão acerca de suas atitudes, distinguindo o certo do
errado, passando a respeitar a regra em si e não as ordens dos adultos, segundo o qual “essa
etapa corresponde a visão do adulto (como possibilidade e não como fato). Nela, o sujeito
sabe que as regras são necessárias para se viver em sociedade, mas essas regras e o respeito a
elas partem do seu interior”. (LEPRE, 1999. p.66)
Todavia, é nestas fases das crianças que se desenvolve a indisciplina do sujeito na
escola, uma vez que os mesmos estão em desenvolvimento psicológico da moral, com base na
sua interação com o meio e com sua convivência diária principalmente com os adultos, que se
tornam modelos de princípios, valores e normas morais. Com base nessas descobertas Piaget
descreve um caminho psicogenético que nos permite refletir sobre essas descobertas, em que
a indisciplina é uma delas. Surgindo o questionamento de como compreender através desse
referencial?
A indisciplina escolar tem sido um dos principais desafios da educação contemporânea
e diversos estudos foram feitos para a compreensão dessa questão nos últimos anos. Quando
pensamos em indisciplina nos remete logo a ideia de falta de respeito as regras, negação as
normas e em mal comportamento que compromete no meio social. “No geral a indisciplina
envolve atitudes, comportamentos e condutas que são consideradas inadequadas,
inapropriadas, inaceitáveis ou incompatíveis em relação ao momento, contexto, atividade ou a
uma expectativa”. (GARCIA, 2008)
É na família que temos os primeiros passos de aprendizagem na educação da criança e
os pais são os seus primeiros professores, o comportamento do aluno é o reflexo do que ele
aprende em casa, no seu dia a dia e nos ambientes em que ele está inserido, ou seja, ele já traz
para dentro da escola a educação e a formação que tem recebido ao longo de sua vida. Um
conhecimento pré-estabelecido, com sua cultura e costume de laços familiares que traz para si
um aprendizado informal. “O ambiente em que as crianças estão inseridas e a qualidade das
relações sociais a que elas se submetem, constituem de forma positiva ou negativa para a
questão da indisciplina” (LEPRE, 1999. P. 67)
Toda a formação moral que o sujeito aprendeu ele trará consigo para a escola, e como
na escola ele passa a ter convívio com novas pessoas diferentes de si, poderá gera algum tipo
de problema, por causa que muitas crianças têm dificuldade de se adaptar em novos
ambientes, mais também ela pode ter facilidade de se adaptar em novos locais. Na maioria das
vezes quando não ocorre de imediato a adaptação da criança, ela passa a ter inimizades com
os demais colegas, brigas, fica rebelde, desobediente, ofende os seus colegas e até mesmo o
próprio professor.
Quando a criança vem de uma família desestruturada com pais alcoólatras, separados,
famílias que vivem em constantes brigas isso tudo acarreta na indisciplina, e problema se
torna ainda pior, pois ela já chega na escola indisciplinada sem antes ter recebido alguma
formação, e fica nas mãos do professor a árdua tarefa de educar e passar para a mesma os
valores morais que não recebeu em casa. Desse modo nosso estudo teve por objetivo estudar
a relação entre as atividades de formação moral nas escolas do campo pelos professores e a
277
tomada de decisão de uma criança em obedecer ou não uma regra.
Metodologia e análise
278
mês de junho, e como se trata de uma escola da zona rural a tradição e a influência são bem
maiores do que nas escolas da cidade.
De início no primeiro momento da aula a professora Rosana trabalhou com seus
alunos a música “Asa Branca”, todos os seus alunos leram e cantaram a música de forma
coletiva, e depois alguns alunos individualmente se ofereceram de forma espontânea para ler e
cantar um trecho da música, com letra citada a seguir.
Asa Branca
Luiz Gonzaga
279
Meu coração
4.2. Análise dos relatos dos professores das escolas do campo situadas nos municípios de
Borborema, Pilões e Areia.
Para iniciarmos nossas discussões é importante ressaltar que para garantir o anonimato
dos professores que participaram da nossa pesquisa utilizaremos nomes fictícios. Iremos
chamar de professora Aline, professor Marcos, professora Rosana e a professora Ana.
Logo de início buscamos perguntar aos professores entrevistados o que eles entendiam
sobre formação moral. Todos os professores disseram que a formação moral está relacionada
a formação do caráter cidadão, do respeito e da aprendizagem de regras. Segundo eles a
formação moral vem da família, então perguntamos o porquê, pedindo para que eles
explicassem melhor a sua opinião. Eles responderam que é na família que primeiro dá a
formação moral, ela é quem dá a base ao indivíduo, e que ele já leva para a escola o que
aprende em casa com os seus familiares. Com a resposta dos professores pude perceber que
para eles a criança já entra na escola com alguma formação moral, e a formação que seu aluno
traz para dentro da escola já é o reflexo do que aprendeu, que segundo Piaget esses valores
são construídos de acordo com o ambiente social em que o sujeito se interage diariamente.
280
“o todo é maior do que a parte”, “tudo o que acontece tem uma causa”
etc.), em terceiro lugar, consequências imediatas tiradas desses
mesmos princípios (conclusões próximas). (MARITAIN, 2001. p.85)
Depois fomos para a próxima questão do nosso roteiro de entrevista que perguntava
“Que atividades podem ser feitas com os seus alunos para trabalhar a formação moral?”.
Aline respondeu que trabalha com textos e fábulas que no final trazem alguma lição de moral,
discutindo com seus alunos as atitudes dos personagens, se eles agiram de forma correta ou
errada. Marcos respondeu que trabalha a ética, a interdisciplinaridade, e que busca mostrar
sempre a função da família com base na formação moral. A professora Rosana respondeu que
trabalha com fábulas e contos que trazem alguns ensinamentos, citou como exemplo a história
de Peter Pan que era um menino que não queria crescer. Já Ana respondeu que gosta de
trabalhar com jogos e dinâmicas e fábulas.
Percebeu-se que com exceção do Marcos, os demais professores gostam de trabalhar
com fábulas, por que como todas as fábulas trazem uma lição de moral no final da história,
eles buscam através delas passar valores e ensinamentos para os seus alunos através das
atitudes dos personagens que geralmente são animais que chamam a atenção das crianças.
Continuamos a nossa entrevista com a pergunta “Quais suas histórias ou livros
didáticos preferidos para trabalhar em sala de aula? Por quê?”. Aline respondeu que tem um
acervo que vem do MEC (Ministério da Educação) que pega alguns livros desse acervo que
são recontos de histórias clássicas, citando como exemplo a história de “os três porquinhos”
que foi readaptada e ficou com o título de “os três jacarezinhos”. Também falou que gosta de
trabalhar contos e que às vezes inventa algumas histórias da sua imaginação. Marcos
respondeu que gosta muito de trabalhar com a autora Cecília Meireles, que segundo o
professor Marcos essa autora tem uns contos maravilhosos e que mostra a realidade da vida.
Indagamos o porquê e ele respondeu que ela fala sobre o colapso do meio ambiente que
estamos vivendo hoje. Ainda acrescentou que gosta muito da autora e de trabalhar com o meio
ambiente em sala de aula com os seus alunos.
A professora Rosana respondeu que gosta de trabalhar com as fábula e histórias que
chamem a atenção de seus alunos, citando novamente como exemplo a história de “Peter Pan”
um menino que não queria crescer e que gosta de viver aventuras mágicas. Já Ana respondeu
que gosta de trabalhar com histórias e desenhos que os seus alunos gostam de assistir como,
por exemplo, “A bela e a fera” para que as crianças se interessem mais pela sua aula, e que ela
se torne mais prazerosa. E também por que ela gosta muito de histórias. Percebeu-se nessa
questão que os professores não só trabalham com histórias que os seus alunos preferem, mas
também com histórias as quais eles também gostam e que ambos aprendem com os
ensinamentos e histórias que são trabalhados nessas atividades. E que além de tudo isso pude
perceber que os professores como essas atividades buscam despertar o gosto pela leitura em
seus alunos e que os mesmos possam questionar aquilo que estão lendo.
Partimos para a quarta questão da nossa entrevista que perguntava “Como você reage
diante do comportamento indisciplinado de seus alunos?”. E pedíamos que cada um dos
professores exemplificasse. Aline respondeu que quando isso acontece ele senta com o seu
aluno e conversa, e busca que ele tome consciência dos seus erros. Percebeu-se que Aline
busca conversa com o seu aluno para que ele mesmo possa ver que está agindo de maneira
281
errada, ela busca que com isso o seu aluno tenha uma tomada de consciência diante de seu
comportamento indisciplinado.
Marcos respondeu que na sua sala de aula não tem alunos indisciplinados, mas quando
se depara com esse problema busca ter um diálogo com a família, ou mesmo com o próprio
aluno, para saber o motivo pelo qual o seu aluno está agindo de forma indisciplinada.
Buscando entender a realidade da família do aluno, o tipo de vida que ela leva e que vem
passando.
Rosana respondeu que reage com o maior carinho possível, buscando entender o
porquê seu aluno está agindo dessa forma indisciplinada, procura saber se ele está passando
por algum problema, a causa ele está assim para poder tomar alguma atitude. Já Ana nos disse
que quando isso acontece ela costuma mostrar a sua autoridade. Falou que os seus alunos são
rebeldes por conta da falta de disciplina em casa dada pelos pais e demais familiares, e que as
mesmas fazem o que querem e nunca recebem um “não” e por isso trazem o que aprende em
casa para dentro da sala de aula. Para acalmar os seus alunos, que segundo ela a sua turma é
uma turma muito levada, ela busca uma dinâmica para que assim eles possam se acalmar. A
professora Ana ainda nos disse no final da sua fala que acha que o problema das nossas
escolas hoje em dia é a falta de disciplina em casa que as crianças trazem para a escola e que a
responsabilidade da educação que era para aprender em casa, tem ficado com os professores.
Nessa questão pude perceber diante das respostas dos professores que os professores
Aline, Marcos e Rosana buscam o diálogo para que possa entender o porquê do
comportamento indisciplinado de seus alunos, se está acontecendo algum problema com a
família, e que as algumas vezes eles até recorrem a própria família para entender a causa da
falta de disciplina de seus alunos. Somente Ana respondeu que mostra a sua autoridade diante
da falta de disciplina dos alunos, pude perceber que Ana conhece todos os país e familiares de
seus alunos, a realidade de vida deles, pelo fator dela moram na mesma localidade que eles.
Continuamos com a quinta pergunta “Como os seus alunos são com relação a
obediência? Comente como se comportam os três alunos mais disciplinados e os três alunos
mais indisciplinados?”. Aline respondeu que não tem alunos indisciplinados, tem apenas um
aluno seu que é desobediente. Segundo Aline esse aluno não gosta de ficar muito tempo
sentado e que o mesmo fica andando de carteira em carteira, ela respeita o não querer dele de
sentar, mais também não permite que ele fique o tempo todo de carteira em carteira andando
pela sala, por que se não os seus outros alunos também irão se sentir no direito de ficar
andando pela sala. Aline ainda acrescentou que coloca limites nesse aluno, e na primeira
oportunidade pede para que ele se sente. Pude perceber com essa resposta que essa criança
está na fase que Piaget chama de Autonomia. O aluno anda pela sala e no momento em que a
professora pede para que ele se sente, ele compreende a regra e se senta, ou seja, o respeito à
regra é gerado por meio de acordos mútuos.
Quando perguntamos ao professor Marcos, ele respondeu que ele não tem esse
problema de aluno indisciplinado na sua sala de aula. Rosana nos disse que seus três alunos
indisciplinados são desobedientes, e os seus três alunos mais indisciplinados ela busca não
elevá-los em relação aos demais, mais iguala-los. Segundo ela, eles são disciplinados porquê
tem um apoio familiar muito grande, já os seus alunos indisciplinados não. Percebei com essa
resposta que a professora Rosana entende que a causa da indisciplina de seus alunos é ligada a
falta de apoio e cuidados da família.
282
Quando foi perguntado a professora Ana, ela nos disse que dos seus três alunos mais
indisciplinados um deles toma medicação, por que ele tem hiperatividade, e que é muito
difícil trabalhar com esses três alunos, pois segundo Ana eles são muito indisciplinados, e que
isso acontece por que eles não moram com os pais, mas em lares desestruturados que segundo
ela essa é a causa da falta de disciplina desses três alunos. Percebeu-se com essa resposta que
os alunos não têm uma boa educação familiar, que como já foi citado antes é uma condição
básica para o convívio do sujeito na escola e nos demais ambientes em que ele frequenta. Já
os seus três mais disciplinados são os seus alunos mais esforçados que estudam. Segundo Ana
são os únicos alunos em que os pais vão à escola procurar como anda o desempenho de seus
alunos e quando necessário vai pedir orientação a professora Ana para as atividades passadas
para casa, para que os pais ensinem a seus filhos.
Na última pergunta do nosso roteiro de entrevista foi perguntado “Cite algumas
atividades trabalhadas em sala de aula. Como foi o comportamento da turma durante essas
atividades”? Todos os professores responderam que gostam muito de trabalhar com atividades
em grupo. Aline, Marcos, Rosana e Ana Justificaram que com essas atividades trabalhadas em
grupo os seus alunos ajudam uns aos outros, que eles interagem mais, aquele aluno que tem
menos dificuldade em algo ajuda aquele que tem mais dificuldade, sendo que não é preciso a
intervenção dos professores. As professoras Rosana e Ana ainda acrescentaram que gostam de
trabalhar com jogos e brincadeiras, Ana exemplificou com a jogo do boliche que além dos
alunos estarem brincando com o jogo e se concentrando na atividade também estão
aprendendo. “Brincar desenvolve as habilidades da criança de forma natural, pois brincando
aprende a socializar-se com outras crianças, desenvolve a motricidade, a mente, a criatividade,
sem cobrança ou medo, mas sim com prazer” (CUNHA 2001, p.14).
Com base nessas respostas da última pergunta do nosso roteiro de entrevista pude
perceber que com essas atividades trabalhadas os alunos fazem uso de alguns dos princípios
morais como a solidariedade e o respeito às regras e também a respeitarem uns aos outros.
Conclusões
Com base nas respostas dadas pelos professores entrevistados no nosso roteiro de
entrevista e pela análise feita do plano de aula pode-se concluir que a formação moral do
sujeito do campo é trabalhada em sala de aula diariamente pelos professores aqui
entrevistados. E que os mesmos buscam através de histórias principalmente as fábulas passar
os valores, regras e ensinamentos morais para os seus alunos. Utilizam as dinâmicas para
trabalhar a coletividade, a solidariedade o respeito dos alunos uns para com os outros. E cada
professor trabalha a formação moral de acordo com a realidade de seus alunos e as suas
necessidades.
No decorrer de toda a entrevista podemos perceber que todos os professores
entrevistados citaram que a família é o primeiro a dá formação moral do indivíduo e que o
mesmo leva para a escola o que vivencia em casa, na família e na comunidade, e, quando o
aluno está agindo de forma indisciplinada na escola eles buscam fazer um elo com a família,
buscando saber a realidade da família, se o aluno está passando por problemas familiares, se a
família tem uma boa base familiar para entender o porquê da falta de disciplina do aluno, para
283
que posteriormente venha a tomar alguma providência.
Desta maneira fica claro o desejo dos professores em trabalhar com a educação moral
e de colaborar na formação do sujeito, uma vez que se deposita nos professores esta missão de
educar e de transmitir conhecimentos científicos.
Referências
GARCIA, José. A indisciplina na escola: uma reflexão sobre a dimensão preventiva. Ver.
Paraná Desenv. 1999. p.101-108 Disponível em:
http://pt.slideshare.net/vasconcelos08/indisciplina-escolar. Acesso em 27/08/2015
SILVA, Nilvania dos Santos; CASTANHO, Maria Marta. Formação Moral: construção
de regras fundamentais aos valores do movimento das crianças sem terra (mst), anais do
XVI Congresso Brasileiro de Educação Infantil, 2007.
284
A EVASÃO ESCOLAR NOS CURSOS DO PRONATEC VINCULADOS
AO COLÉGIO AGRÍCOLA VIDAL DE NEGREIROS / CAMPUS III –
BANANEIRAS/PB: UMA ANÁLISE DE CASO
Resumo
O objeto de estudo desta pesquisa foi a evasão escolar. Para realização da pesquisa
elegemos como objetivo geral analisar o desenvolvimento dos cursos de Formação Inicial e
Continuada de Trabalhadores ofertados pelo Pronatec no CAVN, nos anos 2012 e 2013. A
abordagem de pesquisa foi quantitativa e qualitativa. Como instrumento de coletar das
informações, optamos pela entrevista semiestruturada e a análise documental. A partir da
análise dos relatórios finais elaborados pelos supervisores e orientadores do programa
identificamos através das fichas de matrícula os educandos evadidos e formamos o perfil.
Destaca-se que o os cursos com maior índice de evasão nos anos 2012 foram: Agente de
Inspeção Escolar; Atendente de Nutrição e Auxiliar Administrativo. No ano de 2013 os cursos
foram: Agricultor Familiar e Auxiliar de Secretaria Escolar. Quanto ao perfil dos evadidos, os
educandos tinham em média entre 21 e 25 anos, sendo mais de 70% do gênero feminino.
Apresentação
Esta pesquisa focou seu principal interesse na questão da evasão dos educandos nos cursos
de Formação Inicial e Continuada de Trabalhadores ofertados pelo Programa Nacional de
Acesso ao Ensino Técnico e Emprego - PRONATEC, demandadas pelo Colégio Agrícola Vidal
de Negreiros para aumentar as oportunidades educacionais aos trabalhadores historicamente
excluídos ou com dificuldades de participarem de um processo formal de escolarização na
modalidade de Educação Profissional
O Pronatec foi criado em 2011, através da Lei N. 12.513 de 26 de outubro com os objetivos
de: aumentar as oportunidades educacionais aos trabalhadores; expandir, interiorizar e
democratizar a oferta de cursos de educação profissional técnica de nível médio presencial e a
distância e de cursos e programas de formação inicial e continuada ou qualificação
profissional; fomentar e apoiar a expansão da rede física de atendimento da educação
1
Título do projeto/plano: A evasão escolar nos cursos do PRONATEC vinculados ao Colégio Agrícola Vidal de
Negreiros - Campus III – Bananeiras/PB: uma análise de caso/Perfil dos alunos do PRONATEC vinculados ao
Colégio Agrícola Vidal de Negreiros – Campus III – Bananeiras/PB
Estudante de Iniciação Científica Ensino Médio: Danielle Matias da Silva (e-mail:
daniellematias12@hotmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesc.ufpb.br, e-mail: cadastrocgpaic@propesc.ufpb.br)
Orientadora: Ana Cláudia da Silva Rodrigues (e-mail: claudiacavn@yahoo.com.br telefone: (83) 3216-7141)
285
profissional e tecnológica; contribuir para a melhoria da qualidade do ensino médio público,
por meio da articulação com a educação profissional; ampliar as oportunidades educacionais
dos trabalhadores, por meio do incremento da formação e qualificação profissional; estimular a
difusão de recursos pedagógicos para apoiar a oferta de cursos de educação profissional e
tecnológica; estimular a articulação entre a política de educação profissional e tecnológica e as
políticas de geração de trabalho, emprego e renda.
Como beneficiados em seu Art. 2 a referida lei 12.513 institui que o Pronatec atenderá
prioritariamente: estudantes do ensino médio da rede pública, inclusive da educação de jovens e
adultos; trabalhadores; beneficiários dos programas federais de transferência de renda;
e estudante que tenha cursado o ensino médio completo em escola da rede pública ou em
instituições privadas na condição de bolsista integral, nos termos do regulamento.
A partir de 2012, as instituições de ensino que ofertam a educação profissional assinaram
termo de cooperação técnica para pactuarem cursos de Formação Inicial e Continuada – FIC a
serem ministrados em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social – MDS através
das Secretarias Municipais de Ação Social.
Para a oferta dos referidos cursos de Formação Inicial e Continuada de Trabalhadores o
Ministério da Educação elabora o Guia Pronatec de Cursos para direcionar a oferta do
Pronatec/Bolsa-Formação sendo atualizado periodicamente, com o intuito de consolidar as
políticas públicas que objetivam aproximar o mundo do trabalho do universo da educação.
O Colégio Agrícola Vidal de Negreiros - CAVN é uma instituição que ofertada educação
profissional há 90 anos. Vinculado a Universidade Federal da Paraíba desde 1965, nos últimos
anos o CAVN vem ampliando a oferta de educação profissional para a classe trabalhadora,
principalmente para jovens e adultos através do Programa Nacional de Integração da Educação
Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (Proeja).
Neste sentido, em 2012, o CAVN adere ao Pronatec ofertando 9 cursos de Formação Inicial
e Continuada de Trabalhadores em três eixos tecnológicos: informação e comunicação;
produção alimentícia e recursos naturais. Foram matriculados neste ano 917 educandos. Em
2013 e 2014, o CAVN amplia sua oferta para 42 cursos, nos eixos de: ambiente e saúde;
controle de processos industriais; desenvolvimento educacional e social; gestão e negócios;
informação e comunicação; infraestrutura; produção alimentícia; recursos naturais e turismo,
hospitalidade e lazer. Nos cursos durante os anos de 2013 e primeiro semestre de 2014 foram
matriculados mais de 2.000 educandos.
No entanto, em quase três anos de Pronatec no CAVN, não tínhamos dados avaliativos
sobre a execução deste programa. Sabia-se do elevado número de matriculas e profissionais
envolvidos, porém os números apresentados não indicavam se os objetivos estavam sendo
atingidos. Por isso, questionou-se: Qual o perfil dos educandos matriculados nos cursos do
Pronatec? O percentual de aprovação, reprovação e evasão estão de acordo com os dados
nacionais? Quais os motivos apresentados pelos educandos que se evadiram durante a
realização dos cursos? Quais cursos apresentavam maior índice de evasão?
Destaca-se que a ausência de estudos sobre o Pronatec e consequentemente, a evasão dos
educandos nesta modalidade de ensino, relaciona-se para Machado e Moreira (2014) em
pesquisa realizada sobre a educação profissional no Brasil, ao fato de que o processo de
democratização da escola técnica de nível médio no Brasil apenas se iniciou. Portanto, a evasão
se materializa nos fatores que contribuem para o educando não permanecer nos estudos. Por
286
isso, investigar o que leva educandos a iniciarem uma formação profissional e em seguida
abandonarem é fundamental para compreender as ações educativas estabelecidas no projeto
pedagógico que contribuem para o abandono. Estas informações serão essenciais para a
melhoria da proposta pedagógica dos cursos e o aumento nos índices de qualificação dos jovens
para o trabalho, o que contribuirá para maximizar os investimentos governamentais na
educação técnica.
Em virtude da necessidade de compreensão das ações do Pronatec no CAVN, enquanto
possibilidade de formação profissional para trabalhadores jovens e adultos e por não termos
como afirmar se este programa está atendendo aos objetivos estabelecidos, consideramos que:
Os cursos ofertados pelo CAVN, através do Pronatec, oportunizam a classe trabalhadora a
formação inicial necessária para adentrar no mercado de trabalho formal e informal.
Fundamentação teórica
No final dos anos 1980, o mundo sofreu transformações políticas com a emergência das
políticas neoliberais; mudanças socioeconômicas com a afirmação de uma nova base
científico-técnica do processo produtivo; mundiazação do capital (CHESNAIS, 1996)
passaram a compor a nova realidade do mundo agora em processo de transformações
globalizadas. Essas mudanças, com profundas influencias no mundo do trabalho a partir da
substituição de tecnologias de base rígida, fundamentadas na eletromecânica, pelas de base
flexível, apoiadas no desenvolvimento da microeletrônica e das novas formas de organização e
gestão vão alterando em todo o mundo, particularmente no Brasil, as formas tradicionais de
educação profissional baseadas no paradigma taylorista/fordista (KUENZER, 2000, p.32),
possibilitando um novo modo de organização da produção, agora baseada em uma resposta
imediata às variações de demanda. Em virtudes dessas novas demandas surgem um novo
modelo organizacional, de natureza mais flexível e integrada do trabalho, conhecida como
toyotismo (GOUNET, 1999, p.22).
Segundo Antunes e Alves (2004), com a reestruturação produtiva do capital, os
trabalhadores tradicionais da era taylorista/fordista vão diminuindo e dando lugar a um tipo de
trabalhador mais adequado às formas mais flexíveis de relação com o trabalho. Corroborando
com esses citados autores, Souza (2006) argumenta que o trabalhador, de forma geral, diante
dessas novas transformações foi obrigado a se qualificar ou se requalificar, para manter o seu
trabalho, ingressar ou reingressar de forma multifuncionalidade e atendendo as exigências do
toyotismo.
As mudanças impostas pela dinâmica do capital mundializado alteraram
significativamente o tipo de trabalho e de trabalhados em todos os segmentos de negócios;
como bem diz Mehedff:
287
trator e a colheitadeira (1997, p. 2).
No caso brasileiro, para que o país pudesse desfrutar desse novo trabalhador, foram
implementadas políticas educacionais, levando o sistema educativo a, mais uma vez, modificar
suas formas de atendimento, adequando os currículos escolares a essa nova demanda de
mercado e, simultaneamente às necessidades sociais de forma geral.
Até a promulgação da Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996 e a edição do Decreto
2.208 /97, que, respectivamente, estabelecem a separação conceitual e operacional entre o
ensino médio e a educação profissional, os cursos técnicos de nível médio continuavam sendo
oferecidos nos moldes das Leis 5.692 /71 e 7.044/82 e de pareceres relacionados com as
habilitações profissionais. Em 1997 foi promulgado o Decreto 2.208/97, que apresentava como
objetivos prioritários a melhoria da oferta da educação profissional e sua adequação às novas
demandas econômicas e sociais da sociedade globalizada, na concepção proposta, o ensino
médio teria uma única trajetória, articulando conhecimentos e competências para a cidadania e
para o trabalho sem ser profissionalizante e a educação profissional apresentava como objetivo
prioritário a melhoria da oferta da educação complementar, conduzindo o aluno ao
permanente desenvolvimento das aptidões para a vida produtiva (MANFREDI, 2002).
Com essa nova orientação a educação profissional deveria ser desenvolvida “em
articulação com o ensino regular ou em modalidades que contemplem estratégias de educação
continuada, podendo ser realizada em escolas do ensino regular, em instituições especializadas
ou nos ambientes de trabalho” (BRASIL, 1997).
Aparentemente a proposta do Decreto 2.208/97 possibilitava várias formas de ingresso e
de saída dos educandos da Educação Profissional, democratizando o acesso escolar. Entretanto,
um olhar mais atento percebe que essa reforma proporcionou, mais uma vez, a separação do
Ensino Médio da Educação Profissional, continuando a dicotomia entre formação geral x
formação profissional e prejudicando a formação geral do trabalhador, como revela Kuenzer
(2000). Além do mais, Decreto 2.208/97, também, contribuiu para que o ensino técnico
assumisse a configuração dualista ao substitui-se o conceito de universalidade pelo de
equidade. Com essas novas orientações materializadas no Parecer CEB-CNE 16/99 e na
Resolução CEB-CNE 04/99, os cursos técnicos tiveram uma nova organização curricular,
novas cargas horárias e uma nova estrutura modular e formação baseada por um conceito
educacional emergente: as competências.
A Pedagogia das Competências pode ser entendida como um tipo de compreensão sobre
a formação, o homem e a sociedade, surgida associada ao processo de reestruturação capitalista,
que quer tornar-se hegemônico. Pautada num conjunto de formulações cuja função é a
orientação de práticas voltadas para o desenvolvimento de capacidades humanas necessárias ao
exercício profissional, a Pedagogia das Competências constitui-se numa abordagem que busca
promover a reorganização e o estreitamento do vínculo entre educação profissional e sistema
produtivo, conforme os princípios que definem as atuais demandas de força de trabalho das
empresas organizadas sob a égide dos conceitos de produção flexível e integrada (ARAUJO,
2001).
A Educação Profissional, nestas novas regulamentações, sofreu modificações
substanciais refletindo-se nas atividades do Colégio Agrícola Vidal de Negreiros, instituição
educativa onde desenvolvemos nossa pesquisa. Acompanhando a regulação nacional (leis,
288
decretos e portarias), o CAVN modificou o currículo dos seus cursos tornando tanto o ensino
profissional como a formação geral obrigatórios, organizados em uma única matriz curricular e
ofertados integralmente para todos que buscassem os cursos técnicos da instituição.
Em 2004, o Decreto 2.208/97 foi revogado e substituído pelo de número 5154/2004
normatizando-se um novo modelo de educação tecnológica integrada a Educação Profissional e
possibilitando a integração da educação profissional com a educação básica.
Continuando a política de maior oferta da educação profissional o governo federal lança
o Decreto 7.589, de 26 de outubro de 2011, que institui no âmbito do Ministério da Educação, a
Rede e-Tec Brasil com a finalidade de desenvolver a educação profissional e tecnológica na
modalidade de educação a distância, ampliando e democratizando a oferta e o acesso à
educação profissional pública e gratuita no País. No mesmo dia promulga a Lei N° 12.513, de
26 de Outubro de 2011 que criou o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e
Emprego – PRONATEC.
Percebe-se que o governo federal, ao longo dos anos, vem alterando a legislação
educacional para permitir o desenvolvimento de diversos programas que visam a oferta de
vagas para Educação Profissional em cursos de curta e longa duração para adolescentes, jovens
e adultos buscando, principalmente, a inclusão na escola. Paralelo a esta ação, desenvolve
políticas públicas para ampliar as oportunidades profissionais dos cidadãos e com isto
contribuindo para o desenvolvimento do país. No entanto, estes investimentos ainda não são
suficientes para minimizar os índices de evasão apresentado nas escolas. Pelo contrário, a cada
ano vem aumentando chegando a patamares assustadores, uma vez que segundo o Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), a partir dos dados de 2012, apresentados
em relatório, destaca que o Brasil tem a terceira maior taxa de abandono escolar entre os 100
países com maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) com a taxa de 24,3%, só atrás da
Bósnia Herzegovina (26,8%) e das ilhas de São Cristovam e Névis, no Caribe (26,5%).
Para Machado (2009) “o termo evasão refere-se ao ato de se escapar de algo, implicando
fuga, desvio para se evitar aquilo que não se deseja e que, portanto, foi rejeitado” (p.38). Este
fato só é percebido quando o aluno abandona a escola, desistindo de estudar. Porém, os motivos
que levam a desistência variam. Para Neri (2009), em recente estudo sobre os motivos da
evasão existem três questões básicas: dificuldade de acesso à escola; necessidade de trabalho e
geração de renda e falta intrínseca de interesse.
Segundo Johann (2012), ao pesquisar a evasão em cursos técnicos em uma escola
técnica de Passo Fundo/RS identificou que o maior percentual encontrado nas falas dos
entrevistados foi à incompatibilidade de conciliar os estudos com o trabalho. Como a maioria
dos alunos é do sexo masculino e estava trabalhando na época da evasão, isso pode ser um
indicador que esses alunos tiveram que abandonar seus estudos em função do trabalho.
Destaca-se que embora existam estudos a respeito da evasão escolar, torna-se importante este
estudo, por se tratar de um tema polêmico que continua dividindo opiniões, principalmente no
que tange aos fatores que interferem na evasão escolar e na busca de soluções. Ao trazer
dados da realidade a pesquisa contribuirá para o aprofundamento de processos que continuam
se reproduzindo na atualidade.
Para responder as dúvidas elencou-se como objetivo geral analisar o desenvolvimento dos
cursos de Formação Inicial e Continuada de Trabalhadores ofertados pelo Pronatec no CAVN.
289
A partir do objetivo geral traçaram-se os seguintes objetivos específicos:
Identificar os cursos do PRONATEC que apresentaram um maior índice de evasão no ano de
2012 e 2013; selecionar três cursos dentre os que apresentam os maiores índices de evasão
neste período; entrevistar os educandos evadidos; apresentar as causas de evasão indicadas
pelos educados entrevistados.
Metodologia e análise
290
O curso contribuiu para a promoção e a expansão da oferta de
educação profissional pelas escolas técnicas vinculadas a UFPB, tendo
em vista que este curso não fazia parte do projeto pedagógico do
CAVN, com isso novos discentes foram matriculados ampliando o
número de oferta nesta instituição;
Pontos Fortes:
a) Equipe de trabalho do PRONATEC (docentes, orientadora,
supervisora, coordenação geral e equipe de apoio);
b) As aulas práticas;
c) A interação entre os discentes e a equipe de apoio;
d) A oferta de ajuda de custo aos discentes;
e) Destacam que o conhecimento adquirido possibilitará uma
oportunidade para adentrar no mercado de trabalho.
291
O Quadro 1, abaixo, apresenta os dados dos cursos com maior índice de
evasão/desistência/abandono do ano 2012. Observa-se que o curso Atendente de Nutrição
apresentou um índice de 31,91% de não comparecimento:
292
evadiram ou abandonaram que foram entrevistados em cada curso nos anos de 2012 e 2013.
Observa-se no Gráfico 1, abaixo, que não foi possível manter contato com nenhum
educando desistente do curso de Agente de Inspeção de Qualidade. O principal motivo foi o
número de telefone informado no ato da matricula não ser mais utilizado pelos educados ou o
telefone, depois de várias tentativas permanecia fora da área de cobertura da operadora móvel.
Gráfico 1. Percentual dos educandos entrevistados dos cursos com maior índice de
evasão/abandono/desistência do ano de 2012.
120
100
100
80
60 Entrevistados
40 53,33 Não entrevistados
46,66
20
0
0
Agente de Inspeção de Atendente de Nutrição
Qualidade
O Gráfico 2, apresenta o percentual dos educandos entrevistados dos cursos com maior
índice de evasão/abandono/desistência do ano de 2013. Destaca-se que o curso de Auxiliar
Administrativo foi o que apresentou um maior índice de entrevistas realizadas.
Gráfico 2. Percentual dos educandos entrevistados dos cursos com maior índice de
evasão/abandono/desistência do ano de 2013.
90
80
70 80
75,67
60
50
52,09 Entrevistados
40 47,91
30 Não Entrevistados
20 24,33
10 20
0
Auxiliar Agricultor Familiar Auxiliar de
Administrativo Secretaria Escolar
293
dos educandos que não compareceram informaram que não foram avisados do início do curso.
100
80 87,5
60 Falta de informações do CRAS
40 Incompatibilidade com os
Estudos
20
12,5
0
Atendente de Nutrição
120
100
95 98,5
80 90
40 Problemas Pessoais
20
5 10 1,5
0
Auxiliar Agricultor Familiar Auxiliar de
Administrativo 2. Edição Secretaria Escolar
294
Gráfico 5. Perfil dos alunos desistentes do curso de Agente de Inspeção de Qualidade no ano de
2012
Idade
00
11,2
16-20
33,3 21-25
26-30
31-35
55,5 36-60
Gráfico 6. Perfil dos alunos desistentes do curso de Atendente de Nutrição – primeira edição no
ano de 2012
Idade
00
13,3
16-20
26,7
21-25
26-30
31-35
36-60
60
295
Gráfico 7. Perfil dos alunos desistentes do curso de Auxiliar Administrativo no ano de 2013
Idade
20,8
18,75 16-20
4,2
21-25
26-30
18,75 31-35
36-60
37,5
Gráfico 8. Perfil dos alunos desistentes do curso de Agricultor Familiar – Segunda Edição no
ano de 2013
Idade
2,7
32,4 16-20
21-25
32,4
26-30
31-35
16,2 36-60
16,2
296
Gráfico 9. Perfil dos alunos desistentes do curso de Auxiliar de Secretaria Escolar no ano de
2013
Idade
6,7 3,3
16-20
13,3
21-25
26,7
26-30
31-35
50 36-60
Observa-se, no gráfico 10, que o gênero que mais se evadiu, nos cursos investigados, foi
o feminino. Rosseto e Lobão (2017) em recente estudo sobre o programa PRONATEC no
Instituto Federal do Acre, também verificou a predominância de evadidos do gênero feminino,
relacionando “a diversidade de funções que a mulher desenvolve hoje na sociedade, bem
como as responsabilidades que lhes são impostas, faz com que haja uma sobrecarga que
muitas vezes não é possível dar conta” (p.258), ocasionando a evasão. Porém, estudos mais
aprofundados devem ser realizados para conhecimento dos reais motivos que induzem o
gênero feminino a se evadir.
Gráfico 10. Gênero dos alunos desistentes dos cursos do PRONATEC/CCHSA/CAVN nos
anos 2012/2013
Conclusões
Ao término da execução da pesquisa conclui-se que seus objetivos foram atingidos, pois a
partir da análise dos relatórios finais elaborados pelos supervisores e orientadores
297
encontraram-se os cursos com maior índice de evasão. Em seguida, identificaram-se através das
fichas de matrícula os educandos evadidos e formamos o perfil. Destaca-se que o os cursos com
maior índice de evasão nos anos 2012 foram: Agente de Inspeção Escolar; Atendente de
Nutrição e Auxiliar Administrativo. No ano de 2013 os cursos foram Agricultor Familiar e
Auxiliar de Secretaria Escolar. O principal motivo alegado pelos evadidos para a não
participação nos referidos cursos foi a ausência de informações por parte da secretaria de Ação
Social do município do início das atividades letivas. Quanto ao perfil, os alunos apresentaram
em média a idade entre 21 e 25 anos, sendo mais de 70% do gênero feminino.
Portanto, além de atender ao que se propôs nos seus objetivos, esta pesquisa contribuiu
para jovens que ainda cursam o ensino médio, se iniciem nas atividades como pesquisadores
promovendo a iniciação científica no país.
Referências
298
________. Decreto nº7.690 de 02 de março de 2012. Aprova a Estrutura Regimental e o
Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas do Ministério da
Educação. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 02 mar. 2012.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br. Acesso em: 20 maio de 2015.
______. Decreto nº 7.589, de 26 de outubro de 2011. Institui a Rede e-Tec Brasil. Acesso
em: 10 jul. 2015.
299
KUENZER, A. Z. (org). Ensino Médio: construindo uma proposta para os que vivem do
trabalho. São Paulo: Cortez, 2000.
ROSSETTO, Aldenisa de Lima Acácio; LOBÃO, Mário Sérgio Pedroza. PRONATEC: Uma
Abordagem Da Evasão no Instituto Federal do Acre (Campus Rio Branco) no ano de 2014.
Teias, v. 18, n. 51, 2017 (Out./Dez).
300
USO DAS TERRAS E DESERTIFICAÇÃO NOS CARIRIS VELHOS
Resumo
Apresentação
¹Título do Projeto de Pesquisa / Plano de Trabalho: Uso dos solos, degradação e conservação das Caatingas no
Alto Curso do Rio Paraíba-PB / Uso das terras e desertificação nos Cariris Velhos
Estudante de Iniciação Científica: Eini Celly Morais Cardoso (e-mail: einicelly@gmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientador: Bartolomeu Israel de Souza (e-mail: bartolomeuisrael@gmail.com)
301
Uma das áreas susceptíveis aos processos de desertificação é o Cariri Paraibano (ou
Cariris Velhos), em função das fortes alterações provocadas na vegetação nativa, devido ao
uso secular dessas terras. Ainda que a desertificação esteja se constituindo em um elemento
dos mais comuns em suas paisagens, há a ocorrências de áreas com importantes
remanescentes de vegetação das caatingas, apesar dos mesmos ainda serem pouco conhecidos
do ponto de vista científico, em termos de quantidade e diversidade.
Diante do exposto, justifica-se a necessidade do estudo do risco à desertificação na
bacia hidrográfica do Alto Curso do Rio Paraíba-PB, por esta extensão territorial estar
susceptível aos processos de desertificação e por ser uma das unidades físicoterritoriais de
extrema importância para a Paraíba, sobretudo para o abastecimento de água.
Este trabalho de Iniciação Cientifica foi desenvolvido em conjunto com o Grupo de
Estudos do Semiárido (GESA) da Universidade Federal da Paraíba, tendo como objetivos:
analisar espaço-temporalmente o risco à desertificação no Alto Curso do Rio Paraíba/PB e na
Área de Preservação Permanente (APA) do Cariri, a partir de modificações na caatinga entre
as décadas de 1980 à 2010, utilizando técnicas de Sensoriamento Remoto, com vistas a
subsidiar intervenções voltadas à preservação de remanescentes vegetais e a recuperação de
áreas degradadas; e analisar levantamentos fitossociológicos referente à quantidade, variedade
e os estratos da vegetação para efeito comparativo entre uma área degradada e outra
preservada na Área de Preservação Permanente (APA) do Cariri.
Fundamentação Teórica
302
Do ponto de vista da formação vegetal, suas florestas – levando-se em consideração
que a Caatinga é um bioma originalmente florestal, tal como vem sendo aceito mais
recentemente em nível internacional (OLIVEIRA FILHO et al.2006; PENNINGTON et al.,
2000; PRADO, 2000) – constituem um suporte fundamental às paisagens das quais as
populações dessa região dependem. Entretanto, se este bioma vem perdendo biomassa em
função da degradação da vegetação, respectivamente os produtos e serviços ecológicos
também estão sendo subtraídos, influindo na sustentabilidade das suas populações rurais.
Estima-se que 80% da vegetação da caatinga esteja completamente modificada,
apresentando-se a maioria dessas áreas em estágios iniciais ou intermediários de sucessão
ecológica (ARAÚJO FILHO, 1996). Tais alterações estão intrinsicamente relacionadas a um
sistema agropastoril e de extrativismo, incompatíveis com a capacidade de recuperação
natural da vegetação, sendo a persistência de tais práticas motivadas por serem as alternativas
existentes, pouco conhecidas e exploradas, restringindo-se deste modo, as opções de
resistência e permanência das populações nestas áreas (CASTRO, 2OO3).
No tocante a Paraíba, mais de 92% de seu território apresenta originalmente a
vegetação da Caatinga, o correspondente a 51.300 km², apesar da remoção da vegetação ter
descaracterizado parte desta formação vegetal. Só entre 2002 e 2008, a remoção deste tipo de
vegetação totalizou 7.349 km² (IBAMA, 2010). No Cariri Paraibano, as fortes alterações
provocadas na vegetação nativa devido ao uso secular dessas terras, a incidência dos
processos de desertificação já atinge, em diversos graus, cerca de 70% da mesma, originário
principalmente do desmatamento para aproveitamento da lenha como fonte energética
doméstica e industrial, produção de carvão vegetal, uso na construção civil, produção de
cercas, etc. (SOUZA, 2011; SOUZA et al., 2011). Em se tratando de uma região onde a
pluviosidade média anual é muito baixa (cerca de 500 mm), esse quadro acarreta uma série de
consequências negativas, tanto do ponto de vista ambiental, como social e econômico
(SOUZA et al., 2011).
Neste contexto, as transformações da cobertura da terra, em função do uso,
representam uma dinâmica complexa que dependem do tipo de vegetação, das interações
ecológicas, das atividades socioeconômicas, fenômenos meteorológicos, entre outros
(GUERRERO et al., 2008), levando à consequências diversas, a exemplo da incidência de
processos de desertificação no semiárido brasileiro.
A desertificação, de acordo com a convenção das Nações Unidades de Combate a
Desertificação (CCD), corresponde a um processo que se origina a partir da degradação das
terras áridas, semiáridas e subúmidas secas, como produto de diversos fatores, dentre eles, as
variações climáticas e as atividades humanas. Quanto ao entendimento da degradação da terra
pelo referido documento, representa a degradação dos solos, dos recursos hídricos, da
vegetação e da biodiversidade, implicando na redução da qualidade de vida das populações,
afetadas pela combinação de tais fatores (BRASIL, 2004).
Embora o termo desertificação seja relativamente recente, de acordo com Hare et al.
(1992), esta não se configura como uma experiência nova para a humanidade, aliás, o que há
de novo é reconhecimento de que se trata não mais de um problema limitado a um
determinado território, mas sim um problema de dimensão global, sendo mais perceptível pela
parcela da população inserida nas áreas sujeitas a este processo.
A região semiárida do Brasil é uma das regiões susceptíveis à desertificação, a qual
303
possui, baseada na Lei Complementar nº 125, de 3 de Janeiro de 2007, uma área com
extensão de aproximadamente 1,03 milhão de km², onde vivem aproximadamente 25 milhões
de habitantes, o equivalente a 12% da população do Brasil, sendo uma das áreas semiáridas
mais densamente habitada do mundo. Boa parte da população rural desta região possui baixos
indicadores socioeconômicos e baixo nível tecnológico no desempenho das atividades
agropecuárias e extrativistas, que somado estes aos fatores físicos limitantes, a exemplo dos
fatores climáticos, como a escassez e a variabilidade das chuvas no tempo e no espaço e as
altas taxas de evapotranspiração, esta região do país vem acumulando degradação ambiental
há cerca de 300 anos (SAMPAIO et al, 2005).
O risco à desertificação é dentre os riscos ambientais, decorrente da combinação
complexa dos riscos naturais agravados ou provocados por determinados tipos de uso e
ocupação do solo nas regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas, conforme observa Veyret
(2007).
O termo risco tem sido bastante difundido por diversas áreas da ciência e ramos do
conhecimento. Segundo Veyret (2007, p.11), o risco é um objeto social, por traduzir-se numa
percepção de uma crise potencial, de acidente ou de catástrofe, de maneira que, só há risco se
houver uma “população ou indivíduo que o perceba e que poderia sofrer seus efeitos”.
Os fatores de risco são diversos, podendo ser de origem de processos naturais e/ou
intensificadas em razão das consequências das atividades humanas. Entretanto, por muito
tempo, os desastres naturais foram encarados apenas como fatalidades. Em pleno século XXI,
alguns atores sociais ainda persistem em responsabilizar a natureza pelas crises e desastres,
pois entendido como acaso, pouco ou nada pode ser feito. Porém, os avanços científicos
alertam cada vez mais, que “não é somente a natureza que engendra riscos maiores, é em
primeiro lugar, a ciência e a técnica.” (VEYRET, 2007, p. 15).
No Brasil, por exemplo, muitas ações do Estado tem papel fundamental na incidência
do processo de desertificação, pois a capacidade de resposta institucional diante do risco à
desertificação é bastante incipiente. Diferentemente do gerenciamento das crises e desastres, o
risco exige, conforme Veyret (2007, p.12) “ser integrado às escolhas de gestão, às políticas de
organização dos territórios às práticas econômicas. Neste caso, a prevenção constitui o
coração da análise”.
Diante do exposto, entende-se que a melhor forma de encarar a desertificação, é não
tratá-lo como um perigo difícil de ocorrer, mas reconhecê-lo como um processo em curso,
admitindo ser uma ameaça real à população das regiões de clima árido, semiárido e subúmido
seco, pois conforme Dagnino e Carpi Junior (2007, p.57) “a probabilidade do perigo aumenta
com a convicção bem assente de sua impossibilidade”. Como sinalizador de problemas
ambientais, o risco precisa ser compreendido como um caráter que alerta e convence por
argumentos através “a imaginação de movimentos lineares que levam impreterivelmente à
catástrofe, ou pelo menos a um dano irreparável”, assim como observa Brüseke (1997, p. 124-
125, apud Dagnino e Carpi Junior, 2007, p. 56), caso medidas de prevenção não sejam
tomadas.
A construção do risco à desertificação é uma medida necessária para evitar à sua
deflagração, precisando para isto, ser encarado como um sistema complexo, o qual se
configura, conforme Gomes e Vitte (2010), numa contraposição ao paradigma da ordem,
estabilidade e equilíbrio da ciência moderna. Deste modo, uma das contribuições que a
304
Geografia pode oferecer às pesquisas envolvendo os riscos ambientais é a partir da análise
geográfica da relação sociedade-natureza com o objetivo de explicar as questões ambientais a
partir das transformações da natureza pela prática social.
A presente pesquisa foi desenvolvida em dois recortes geográficos (Figura 1), o Alto
Curso do Rio Paraíba/PB e APA do Cariri, os quais estão inseridos na região que compreende
os Cariris Velhos (Cariri Paraibano), localizados no centro-sul do estado, mais
especificamente na mesorregião do Planalto da Borborema, abrangendo cerca de 11.000 km²,
o equivalente a 20% do território paraibano, a qual possui toda a sua drenagem contida na
Bacia do Rio Paraíba.
305
barragens existentes na Paraíba (Epitácio Pessoa, Cordeiro e Camalaú), características que
atestam a sua relevância.
Quanto a APA do Cariri, esta representa uma unidade de conservação de abrangência
do Rio Paraíba, a qual está localizada entre os municípios de Cabaceiras, Boa Vista e São
João do Cariri. Criada pelo decreto nº 25.083, 08 de Junho de 2004, sua extensão territorial
abrange uma área de aproximadamente 18.560 ha (dezoito mil quinhentos e sessenta
hectares), sendo a segunda maior unidade de conservação entre as áreas protegidas pelo
Estado da Paraíba, a qual abriga importantes remanescentes de caatinga, particularmente das
áreas no entorno de lajedos.
Metodologia e análise
306
obtenção de resultados análogos a sobreposição das imagens do TM-Landsat-5 através de
filtros coloridos, foram utilizadas as bandas 5,4 e 3 do OLI-Landsat 8, associadas as cores
azul, verde e vermelho, respectivamente.
Figura 2. Representação das composições coloridas geradas por ano e as respectivas bandas
utilizadas.
307
A partir do resultado da classificação, foi possível distinguir áreas com cobertura
vegetal, de solo exposto e dos corpos hídricos. A cobertura vegetal pôde ainda ser
diferenciada em vegetação aberta, semiaberta e fechada, com base no aspecto de sua
densidade.
Devido às condições geoambientais na qual a área de estudo está inserida e o histórico
das perturbações antrópicas exercidas nessa região, relatados por Souza (2008), o aspecto da
densidade da cobertura vegetal foi utilizado como parâmetro biofísico para estimar os níveis
de risco à desertificação, em função da degradação da vegetação exercer um papel
fundamental na possibilidade de desencadear processos de desertificação. Porém,
compreende-se que é necessário levar em conta outros elementos no estudo da desertificação,
como atesta o documento da Convenção das Nações Unidades de Combate à Desertificação
(CCD, 1995).
Assim, as áreas identificadas como solo exposto, vegetação aberta, vegetação
semiaberta e vegetação fechada no produto da classificação das imagens, foram
respectivamente associadas às nomenclaturas de risco à desertificação Muito Grave, Grave,
Moderado e Baixo.
As cores utilizadas no mapeamento serviram para ilustrar a intensidade do risco à
desertificação, de maneira que, quanto maior o risco identificado, as tonalidades de cor bege
foram empregadas, fazendo alusão a maior exposição do solo, e quanto menor o risco ao
processo em questão, as tonalidades de cor verde foram empregadas para referenciar as áreas
com maior densidade da vegetação.
Em seguida, os mesmos procedimentos empregados no processo de classificação das
imagens e mapeamento das classes do ano de 2013, foram empregados para as imagens dos
anos de 1989 e 2005 respectivamente.
Com relação às nuvens e sombras de nuvens presentes nas imagens, foi possível
individualizá-las por intermédio de edição matricial. Este mesmo procedimento também foi
realizado para distinguir área urbana de solo exposto, levando-se em consideração a
delimitação das áreas urbanas proposta pelo censo do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) de 2010. Essa delimitação foi utilizada tanto nas imagens de 2013, quanto
para as dos anos de 1989 e 2005, tendo em vista a indisponibilidade da base cartográfica da
década de 1980. Em decorrência deste procedimento, a área urbana permaneceu invariável
nos três anos analisados.
Em paralelo as atividades de gabinete, os trabalhos de campo foram realizados entre os
anos de 2014 e 2015, de maneira a subsidiar dois propósitos principais. O primeiro esteve
fundado na necessidade de aproximação da pesquisa com o objeto de estudo, com vistas a
melhor compreensão a respeito do funcionamento das paisagens nos recortes estudados, bem
como o de avaliar in loco os níveis de risco à desertificação do mapeamento.
O segundo propósito foi levantar dados referentes à diversidade e variedade dos
estratos da vegetação para efeito de comparação entre uma área preservada e uma outra
degradada, ambas na APA do Cariri, mais especificamente na propriedade Salambaia. Para
tanto, levou-se em consideração que a caatinga é um bioma originalmente florestal, onde em
situação de maior preservação dominaria o estrato arbóreo, ao passo que quanto menos
apresentasse esse estrato, mais degradada estaria a área analisada.
O método utilizado para o levantamento da vegetação na APA do Cariri foi o
308
biogeográfico de Cámara & Díaz del Olmo (2004), denominado Método de Transecto Linear
para Fanerófitos e Caméfitos – MTLFC. Este consiste num censo de plantas lenhosas, dentro
de um trecho linear de 2 metros de largura por 50 metros de comprimento, perfazendo uma
área de 0,1 ha. Os indivíduos identificados e recenseados compreendem os que estão situados
dentro da distância de 1m à direita e à esquerda da fita métrica, como didaticamente ilustra a
Figura 4 a seguir.
Embora outros dados pudessem ser obtidos através deste método de levantamento da
vegetação, especificamente para esse trabalho foram priorizadas a identificação das espécies e
a caracterização dos estratos dos indivíduos recenseados numa área preservada e outra
degradada. O propósito deste levantamento se deu numa perspectiva de exemplificar
possibilidades passíveis de serem encontradas em termos de diversidade e estrutura em
ambientes com diferentes usos da terra. Após a coleta dos dados em campo, os mesmos foram
tratados em gabinete num aplicativo desenvolvido no programa Excel por Cámara & Díaz del
Olmo (2004), o qual possibilitou a organização e a apresentação dos resultados.
A partir do mapeamento temporal do risco à desertificação no Alto Curso e APA do
Cariri, percebe-se que o processo de degradação ambiental na região estudada, em função das
formas de apropriação dos recursos naturais, deixou marcas expressivas na cobertura da terra
no Cariri Paraibano, as quais puderam ser identificadas por intermédio de imagens de satélite,
com base na análise empírica da densidade da vegetação, assim como foi relatado
anteriormente na metodologia.
Como resultado da classificação das imagens de satélite, foram gerados três mapas
temáticos representando o risco à desertificação no Alto Curso do Rio Paraíba a partir dos
recortes temporais de agosto-1989 (Figura 5) julho-2005 (Figura 6) e agosto-2013 (Figura 7),
os quais estão representados pelas ilustrações a seguir.
309
Figura 5. Mapa Temático do Risco à desertificação no Alto Curso do Rio Paraíba /PB no
recorte temporal de 08/1989.
Figura 6. Mapa Temático do Risco à desertificação no Alto Curso do Rio Paraíba /PB no
recorte temporal de 07/2005.
310
Figura 7. Mapa Temático do Risco à desertificação no Alto Curso do Rio Paraíba /PB no
recorte temporal de 08/2013.
311
Muitas áreas naturalmente com baixa produtividade, tendo sido somadas ao modo de
produção mais intensivo do algodão, ainda hoje apresentam dificuldades em se recompor e
favorecer o desenvolvimento espontâneo da sucessão natural da vegetação, conhecidas
popularmente na região como “terras fracas” (SOUSA, 2008).
A criação de ovinos e principalmente de caprinos, vem ganhando elevada importância
no desenvolvimento da pecuária na região, sobretudo por estes animais apresentarem maior
resistência às condições adversas da caatinga, chegando a superar a pecuária bovina a partir
da década de 1980, assim como destaca Souza (2008). Contudo, apesar das vantagens
econômicas oferecidas em relação a criação bovina, a forma como a caprinocultura se
desenvolveu na região ─ com base numa estrutura fundiária que desfavorece a capacidade de
suporte da vegetação frente a uma dieta alimentar mais diversificada nas pastagens nativas em
relação ao hábito alimentar dos bovinos ─ tem sido mais um elemento que contribui
fortemente para o processo de degradação das terras do Cariri Paraibano.
O Estado, através de suas ações, teve papel fundamental neste processo de degradação,
direta e indiretamente, devido ao financiamento de diversas intervenções territoriais de
elevado impacto ambiental, incompatíveis com a capacidade de resiliência da caatinga, seja
pela inoperância na fiscalização do comprimento das leis ambientais, bem como por ainda não
ter sido capaz de difundir de forma mais ampla uma série de práticas sustentáveis de uso dos
solos, mesmo que muitas destas paradoxalmente tenham sido apoiadas financeiramente por
órgãos governamentais (SOUZA et al, 2010).
Além das atividades agropastoris, o extrativismo é ainda muito forte na região, por ser
o recurso madeireiro da caatinga ainda bastante utilizado como matriz energética, tanto para
fins domésticos, quando para atender demandas econômicas, a exemplo do setor têxtil,
olarias, cerâmico, siderúrgico, assim como aponta a investigação feita por Travassos (2012).
Esse conjunto de alterações na vegetação ocorridas ao longo do processo de ocupação
do Cariri Paraibano, associado com períodos de estiagens, vem contribuindo para os
desequilíbrios ecológicos, afetando não só as condições de subsistência da população rural,
mas também a parcela da população que vive nas cidades, pondo em risco a segurança
alimentar, o acesso à água e a dinâmica econômica da região.
O processo de degradação ambiental no Cariri Paraibano em função das formas de
apropriação dos recursos naturais, descritos anteriormente, deixaram marcas expressivas na
cobertura vegetal no Cariri Paraibano, as quais podem ser identificadas por intermédio das
imagens de satélite. Deste modo, foi possível cartografar os níveis de risco à desertificação no
Alto Curso do Rio Paraíba/PB, a partir das imagens de satélite com base na análise empírica
da densidade da vegetação, como relatado anteriormente na metodologia.
Por intermédio dos Mapas Temáticos representados pelas Figuras 5, 6 e 7, percebe-se
nitidamente uma estreita relação das características físicas dominantes nessas terras com o
processo de ocupação e os distintos níveis de risco à desertificação. Neste sentido, nas três
situações apresentadas em formas de mapas, a menor densidade da vegetação da caatinga
encontra o seu mais expressivo correspondente espacial nas proximidades dos corpos
hídricos, particularmente no entorno dos maiores rios da região, com destaque para o Rio
Paraíba, além dos reservatórios de água.
Historicamente essas áreas favoreceram o desenvolvimento das práticas agropastoris,
além da concentração populacional, inclusive das cidades, acarretando mudanças mais
312
drásticas na vegetação originalmente presente. Os efeitos do uso intensivo e contínuo nestes
espaços, somados a dinâmica das estiagens, vêm diminuindo a capacidade de recuperação
espontânea da vegetação. A representação dessas áreas nos mapas temáticos está associada ao
risco de desertificação grave a muito grave.
Observa-se nas três situações apresentadas, praticamente a inexistência de matas
ciliares, as quais se mostram restritas a pequenos trechos dos rios e riachos, mas ainda sim,
com grande probabilidade de haver um predomínio da Algaroba (Prosopisjuliflora), espécie
exótica que também contribui para a diminuição da presença de plantas nativas da caatinga,
dada a agressividade com que se instala nos ambientes de várzea e se aproveita dos recursos
hídricos (SOUZA,2008).
No Mapa Temático I (Figura 5), referente ao Risco de Desertificação em 1989, é
nítido que o risco grave a muito grave, no Alto Curso do Rio Paraíba, possui uma extensão
maior e mais homogênea no centro-sul da bacia. Somado ao relevo suave ondulado à
ondulado, com a concentração nessas áreas das maiores várzeas no Alto Curso do Rio Paraíba
e reservatórios de água, a exemplo de Campos e Cordeiro, tais condições propiciaram um uso
mais intensivo, deflagrando consequentemente uma degradação maior na vegetação.
Em 2005 (Figura 6), passados dezesseis anos, o quadro da rarefação da vegetação
permanece fortemente acentuado na porção centro-sul da bacia, característica similar quando
observada também no ano de 2013 (Figura 7). Compreende-se que a dificuldade da vegetação
para se recompor, como destacado anteriormente, tem relação direta com a combinação do
uso intensivo do solo pelas atividades agropastoris com as variações de clima e tempo por
quase 300 anos. Nestas áreas, o risco à desertificação também foi caracterizado como Grave e
Muito Grave.
Comparando-se ainda os Mapas Temáticos dos anos de 1989 (Figura 5) e 2005 (Figura
6), o aumento da alteração na cobertura vegetal é ampliado na porção da bacia que
compreende o Cariri Oriental, imprimindo um retalhamento mais expressivo na paisagem,
fragmentando deste modo, áreas da caatinga antes mais contínuas.
Ao analisar o ano de 2005 (Figura 7), as formas regulares que denotam a fragmentação
da vegetação e sua distribuição espacial, revelam não apenas a degradação desta, mas também
a composição da malha fundiária atualmente predominante no Cariri Paraibano, a de um
grande número de pequenas propriedades, o que denota uma pressão maior sobre os recursos
naturais da região. Conforme levantamento feito por Souza (2008) em 2006 nos dados do
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), em termos quantitativos, as
pequenas propriedades são as que predominam no Cariri Paraibano (97,1%), sendo relevante
também a área ocupada por estas, correspondendo a 46,1%.
As razões para uma mudança tão expressiva na cobertura vegetal entre 1989 e 2005,
podem ter sido ocasionadas pela implantação de algum tipo de lavoura temporária (a exemplo
de milho e feijão), pastagem para o gado (sobretudo caprinos e ovinos), extrativismo vegetal
ou mesmo a combinação destas atividades, como é corriqueiro na região. Porém, a pesquisa
desenvolvida por Travassos (2010) mostra um Cariri que exporta lenha para ser utilizada
como matriz energética de baixo custo, principalmente para Campina Grande e para o Polo
Gesseiro de Pernambuco, o qual é responsável este pela produção de 95% do gesso no Brasil.
Os números que revelam um aumento deste tipo de atividade no Cariri Paraibano são
ainda, segundo Travassos (2010), bastante mascarados pela prática do comercio ilegal de
313
lenha, tendo em vista que muito da madeira extraída ilegalmente não é computada pelos
órgãos de proteção e fiscalização do meio ambiente. Entretanto, é possível extrair
apontamentos significativos destes dados por ser um dos caminhos para alertar sobre a perda
da cobertura vegetal para a produção de lenha, assim como foi constatado por este
pesquisador ao consultar os dados no Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA)
referentes às décadas de 1990 a 2010. Os dados estratificados por Travassos (2010), no Cariri
Oriental e Ocidental, também revelaram que até 2002 o Cariri Oriental produzia mais lenha
do que o ocidental. Possivelmente, com a rarefação dos recursos florestais, a produção foi
sendo diminuída e em contrapartida, aumentada na porção do Cariri Ocidental por ainda
possuir maior potencial para a exploração vegetal.
Diante do exposto, o avanço do desmatamento no Auto Curso do Rio Paraíba/PB,
observado também nas imagens de satélite do ano 2013 (Figura 7), sobretudo na porção oeste
da Bacia, tem na prática indiscriminada do extrativismo vegetal um dos fatores fundamentais
de perda de cobertura vegetal.
Em 2013, o aspecto de retalhamento da vegetação é ainda maior e mais proeminente
do que foi observado em 2005, indicando o avanço progressivo do desmatamento no Alto
Curso do Rio Paraíba/PB, sobretudo na porção oeste da bacia. Este processo tem estreita
ligação com o período prolongado de estiagem, que não só a região do Alto Curso do Rio
Paraíba vem passando, mas o semiárido brasileiro como um todo, de maneira que muitos
produtores rurais utilizam-se do comércio da lenha como uma renda complementar.
A situação na bacia como um todo em 2013 (Figura 7) apresentou um aspecto de
deterioração da vegetação maior do que os outros recortes temporais analisados, tendo em
vista que muito do quadro da degradação apontado no mapeamento foi dado em virtude do
comportamento fenológico da caatinga frente a estiagem que o semiárido nordestino vem
passando desde 2011, devido a forte atuação do fenômeno El Niño. Como consequência, o
sistema foliar da maioria das plantas da caatinga ao responder à períodos de estiagem com a
queda das folhas, tem efeito direto na aparência deste alvo nas imagens de satélite, muitas
vezes passando a serem confundidas com solo exposto (Risco Alto à Desertificação) ou com
uma vegetação mais rarefeita (Risco Grave à Desertificação), mesmo nas situações em que a
densidade desta é maior.
A solução adotada para subsidiar uma melhor interpretação do produto cartográfico
gerado foi a realização de várias viagens à campo em períodos distintos entre 2014 e 2015,
aprofundando deste modo, o conhecimento sobre a região.
A partir do mapeamento desenvolvido nesta pesquisa, os temas puderam ser
quantificados por área ocupada no Alto Curso do Rio Paraíba/PB, os quais podem ser
conferidos no Gráfico 1 a seguir.
314
Gráfico 1. Quantificação dos temas por área e recorte temporal
315
Esta unidade de conservação é uma das porções territoriais do Cariri Paraibano que
abriga uma riqueza florística que se diferencia, de modo geral, das áreas no entorno de
lajedos. Para conhecer algumas particularidades da vegetação em duas situações distintas de
uso e ocupação do solo na APA do Cariri, não reveladas pela perspectiva vertical das imagens
de satélite, foram efetuados levantamentos de vegetação para analisar a diversidade vegetal e
os estratos dominantes dos indivíduos presentes em uma área preservada e outra degradada.
O resultado da coleta destes aspectos estruturais, importantes para o reconhecimento
do nível de conservação dos remanescentes florestais, pode ser conferido na Tabela 1 a seguir.
316
Figura 8. Ilustração do estrato arbustivo dominante e da densidade da vegetação na área
degradada
317
Figura 10. Ilustração do estrato dominante e da densidade da vegetação na Área preservada
onde foi realizado o levantamento da vegetação.
Destaca-se que mesmo nas partes da área preservada com domínio de estrato
arbustivo, a elevada densidade das plantas é um fator que a torna constituinte de uma situação
de baixo risco à desertificação, levando em consideração também que a sucessão ecológica se
encontra, aparentemente, em franco progresso.
Conclusões
318
exploração dos recursos naturais do Cariri Paraibano.
A caatinga, assim como as outras florestas, representa um suporte fundamental,
sobretudo para a parcela da população mais diretamente ligada a esta, por fornecer bens e
serviços, as quais fazem parte de suas bases de sustentabilidade. Porém, o Alto Curso do Rio
Paraíba, assim como boa parte do semiárido brasileiro, vem perdendo extensões consideráveis
de sua cobertura vegetal e com esta os serviços ecossistêmicos, corroborada pelas atividades
humanas e as formas de ocupação.
Nos períodos de estiagem, sobretudo as mais prolongadas, o comércio da lenha como
atividade econômica complementar em muitas propriedades rurais na região tem sido uma
prática comum que repercute negativamente sobre o potencial ecológico da área. Por estes
recursos florestais não serem renovados na mesma velocidade das práticas destrutivas, a sua
escassez representa um aumento do risco não só por deixar os solos mais expostos às
intempéries do tempo e do uso com as atividades agropecuárias, mas também por outras
extensões serem incorporadas pelo processo de degradação, generalizando-se de tal modo que
os processos de desertificação poderão se expandir.
Com as novas condições ecológicas construídas pelas interferências antrópicas ao
longo do processo de ocupação deste recorte físiogeográfico, as limitações para o
restabelecimento natural da vegetação são ainda maiores, privando, desta forma, as espécies
menos resistentes às novas condições, resultando no quadro de homogeneização biótica, tão
característico nas paisagens desta região.
Por intermédio desta pesquisa, sobretudo pelos trabalhos de campo realizados, foi
possível verificar que os remanescentes de uma caatinga menos antropizada são minorias no
contexto geral das paisagens no Alto Curso do Rio Paraíba. Nos levantamentos
fitossociológicos realizados na APA do Cariri, foram observados na unidade amostral da área
preservada, alta diversidade da vegetação, grande variedade de espécies e o predomínio do
porte arbóreo, características estas incomuns diante do quadro de devastação da vegetação na
região.
Referências
319
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Pacífico, Panamá). Panamá: Embajada de Españaen Panamá, 2004.
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MAIA, G. N. Caatinga: árvores e arbustos e suas utilidades. 2ª ed. – Fortaleza, 2012, p. 19-
71
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Cruz]. Os Riscos: O homem como agressor e vítima do meio ambiente. – São Paulo:
Contexto.
321
Agradecimentos
322
A SOCIEDADE CIVIL E A DITADURA MILITAR NA PARAÍBA:
TRABALHADORES, ESTUDANTES E A IGREJA CATÓLICA
Resumo
Apresentação
1
Título do Projeto/Plano de Trabalho: A Ditadura Militar na Paraíba: “os anos de chumbo” (1969-1974) / A
Sociedade Civil e a Ditadura Militar na Paraíba: trabalhadores, estudantes e a igreja católica.
Estudante de Iniciação Científica: Janaína Gomes da Silva (e-mail: janaina_gomes_13h@hotmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br)
Orientador: Prof. Dr. Paulo Giovani Antonino Nunes (e-mail: pauloantoninonunes@hotmail.com)
323
No campo político, a última eleição direta do Estado ocorreu em 1965, na qual
pleiteava o cargo de governador, por um lado, o udenista João Agripino Filho, tendo como
vice o ex-prefeito de Campina Grande, Severino Cabral. Por outro lado, o pessedista Rui
Carneiro, com Argemiro de Figueiredo de vice. O êxito de Agripino no escrutínio consagrou-
o como a liderança política mais forte do Estado.
Subsequentemente, com a decretação do Ato Institucional n°2, pelo presidente
Humberto de Alencar Castelo Branco, em 27 de outubro de 1965, houve uma mudança
significativa no processo eleitoral. Tendo em vista que tivemos a extinção do
pluripartidarismo, que foi substituído pelo bipartidarismo, destarte, ocorreu a criação de dois
partidos: ARENA (Aliança Renovadora Nacional) e o MDB (Movimento Democrático
Brasileiro). O primeiro era o partido da situação, aqui no Estado compôs o quadro dessa
organização política antigos membros da UDN, PDC, PL, PSP, e, em menor grau,
dissidências do PSD, PTB, PSB e PR. (NUNES, 2012)
No caso do MDB, partido de oposição, o que na prática representava uma “oposição
consentida”, foi composto sobretudo por membros oriundos do antigo PSD e PTB. Diante
dessa situação, podemos perceber que as rivalidades políticas entre esses dois partidos durante
o regime militar na Paraíba, em regra, ficavam restritos ao âmbito local, isto é, apesar do
MDB ter sido criado para ser um partido de contraste ao da situação, não havia ataques
contundentes de parlamentares locais ao Governo Federal, até porque os poucos que ousaram
adotar uma postura de radicalidade em contraposição aos ideais da nova ordem política
acabaram tendo seus mandatos cassados1.
Segundo Monique Cittadino (1999, p.118), “O MDB paraibano assumiu uma posição
de apoio à política estabelecida pelo Executivo Federal, chegando a referendar diversas
medidas adotadas pelo regime militar”. É importante destacar que durante a ditadura, no que
concerne aos momentos de eleição, os candidatos da ARENA, até o ano de 1978, ganharam
amplamente as disputas, mesmo no caso peculiar da vitória de Rui Carneiro, membro do
MDB, para o Senado, em 1966 e 1974, esse fato não significou um real recrudescimento das
forças de oposição contra o regime vigente.
Todavia, para José Octávio de Arruda Mello (1999 apud NUNES, 2012), em alguns
momentos do período inicial do pós-golpe, parlamentares do MDB, como: Argemiro de
Figueiredo, Osmar de Aquino, Humberto Lucena e Miranda Freire, proferiram críticas sutis
ao novo regime político, sobretudo no tocante à falta de democracia. E, posteriormente, no
período da “distensão”, pronunciamentos mais agressivos surgiram de vozes ligadas ao
partido oposicionista.
No que tange a conjuntura do Estado à época dos militares, a Paraíba vivenciou um
processo de modernização em sua economia, além de ter passado por transformações na sua
estrutura administrativa. Essas vicissitudes foram iniciadas durante o mandato de Pedro
Gondim e, estendeu-se, até o governo de Wilson Braga na década de 1980. Segundo Nunes
(2012), a política desenvolvimentista durante o regime militar era considerada uma das bases
fundamentais para a segurança nacional.
Sobre o processo eleitoral e político, é fulcral destacar que com a eleição de 1965, na
1
Cf. NUNES, Paulo Giovani Antonino. “Cassações de mandatos parlamentares durante a ditadura militar: o caso
do Estado da Paraíba”. (mimeog.)
324
qual João Agripino consolidou-se como a liderança mais forte do Estado, só houve a
retomada da eleição direta para governador novamente em 1982. E nesse interregno, foram
eleitos governadores por via indireta os seguintes políticos: Ernani Ayres Sátyro e Sousa, em
1970; Ivan Bichara Sobreira, em 19742; e Tarcísio Burity, em 1978. Todos esses partidários
da ARENA.
Feita essa sucinta explanação sobre o contexto político da Paraíba durante o regime
militar, que é importante para se compreender o período, saliento que essa pesquisa tem como
escopo analisar a atuação de setores específicos da sociedade civil paraibana durante os “anos
de chumbo” (1969-1974), que são: A ala progressista da Igreja Católica, os estudantes e os
trabalhadores. Visando compreender como estas forças políticas se comportaram diante do
regime de exceção. Essa pesquisa se justifica pela necessidade de entender este período da
história paraibana, praticamente ainda não abordado pela historiografia. Sendo de suma
importância constatar empiricamente as peculiaridades dos efeitos do regime militar na
Paraíba, buscando comparação com a região Sudeste do Brasil.
Nosso trabalho parte do ponto de vista da história política, nos moldes recentes da
historiografia, como foi bem elucidado na obra coletiva publicada sob a direção de René
Rémond, “Por uma História Política”. Todavia, antes de adentrar nessa nova perspectiva,
faz-se necessário descrever brevemente a evolução histórica desse campo de estudo.
Segundo Nunes (2012), a história política tradicional, factual, individualista, idealista,
surgiu com os gregos na Antiguidade Clássica, e sua essência perpassou o período Medieval,
Moderno e Contemporâneo, tendo o seu auge no século XIX, fomentada pela historiografia
metódica. Esse tipo de história tradicional dá ênfase a elite governante, aos grandes líderes, as
monarquias, o aparelho estatal, excluindo assim, a miríade da massa social.
A história política prosperou entre os séculos XIV e XX sobretudo por dois fatores:
primeiro, pela sociedade do ancien régime, posteriormente, devido a sociedade burguesa que
se sobressaiu da Revolução Francesa. O fazer história nesse período significava adentrar no
seio aristocrático e da elite, buscar sua grandeza histórica no meio da nobreza.3 A partir de
meados do século XVIII até a primeira metade do XIX, os dois movimentos proeminentes em
voga, a saber, a Ilustração e o Romantismo, promoveram a importância do fator político na
história:
2
O vice-governador Dorgival Terceiro Neto é quem conclui o mandato de Ivan Bichara.
3
Ver LE GOFF, Jacques. “A política será ainda a ossatura da História? ”. In LE GOFF, Jacques. O maravilhoso
e o quotidiano no Ocidente Medieval. Lisboa: Edição 70, 1983, p. 225.
4
FALCON, Francisco. História e Poder. In: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. Domínios da
História. Ensaios de Teoria. Rio de Janeiro: Campus, 1997, p. 68.
325
acometida, que surgiram da École des Annales, do marxismo, estruturalismo, quantitativismo,
etc. Em suma, novas correntes historiográficas emergiram contra a predominância do aspecto
político.
Sobre isso, disse Rémond (1996, p.15): “Foi contra esse estado de coisas, contra a
hegemonia do político, herança de um longo passado, que, em nome de uma história total,
uma geração se insurgiu e fez-se uma revolução na distribuição do interesse”. Esse novo
olhar sobre a história significou que, a partir de então, deslocou-se a atenção do fator político
para dá primazia aos aspectos econômicos e sociais. O enfoque do historiador voltou-se para a
sociedade em seus diversos aspectos, em detrimento ao Estado.
A revista Annales d’histoire économique et sociale foi indubitavelmente a que mais
contribuiu para o descrédito da história política. Considerava execrável a tríade composta pela
história política, narrativa e acontecimental. Taxando-a de falsa-história, pois ocupava-se
apenas da margem dos fatos, sendo superficial e barata. Em substituição ao paradigma do
político, preconizava uma perspectiva histórica mais totalizante, que abarcasse o aspecto
econômico e social, almejando assim, uma história em profundidade.5
Passados tempos obscuros para a história política, esta retornou gradualmente para o
proscênio da ciência. Tendo sido escorraçada para segundo plano pelas ciências sociais, a
política ressurgiu como uma fênix na história. Nessa nova fase, a história política apresenta-se
em outros moldes, renovada sobre seu objeto de estudo, procura então fazer uma história mais
global, em diálogo com outros campos do conhecimento, buscando assim, a profundidade e a
transdisciplinaridade. Para Jacques Le Goff (1983), essa nova história política mostra-se
dedicada à análise social, as estruturas, a sociologia e ao estudo do poder. Sendo assim, muito
diferente da antiga concepção de história política.
Há umas três décadas, de acordo com René Remond (1996), podemos observar o
retorno de uma história política renovada, com embasamento na interdisciplinaridade e
composta por elementos que visam a expansão do contexto social. Essa volta do político se
deve em parte pela ampliação que a política passou a ter na sociedade atual, além de que, o
aspecto econômico não conseguiu explicar por si só determinadas circunstâncias históricas.
Essa renovação do político é produto tanto de uma pressão externa, quanto da reflexão
crítica de vários intelectuais – não apenas de historiadores – que enxergaram no político um
importante elemento para a compreensão da sociedade. Em suma, o processo de renovação foi
algo provocado. Dessa forma, fazendo justiça a geração que redescobriu a importância da
história política, destacam-se os seguintes intelectuais: Charles Seignobos, André Siegfried,
Albert Thibaudet, Georges Weill, Marcel Prélot e Jean-Jacques Chevallier.6
Constata-se também que, a partir do aumento das atribuições do Estado na sociedade
contemporânea, houve consequentemente uma ampliação da ação política, que por sua vez,
corroborou para que o historiador olhasse mais atentamente os aspectos políticos. Diante
disso, verificamos em vários momentos do período militar brasileiro a atuação de diversos
setores da sociedade civil que por se sentirem membros de um corpo político, envolveram-se
em atividades que visavam intervir nas decisões que afetavam a coletividade. A título de
exemplo, temos as manifestações estudantis, que representaram a principal força de
5
LE GOFF, 1983, p. 226-7.
6
Cf. RÉMOND, René. Por uma História Política. Rio de Janeiro: UFRJ/FGV,1996.
326
mobilização e combate ao regime militar, tendo destaque a nível nacional.
Pierre Rosanvallon, ao escrever sobre o político7, afirmou que o objetivo da história
conceitual do político é entender a composição e evolução das “racionalidades políticas”, ou
seja, dos mecanismos de representações que comandam a forma pela qual um período, uma
nação ou grupos sociais conduzem sua ação e delineiam seu futuro. O político, portanto, “é o
lugar onde se articulam o social e sua representação, a matriz simbólica na qual a experiência
coletiva tem suas raízes e ao mesmo tempo reflete sobre si mesma”. (ROSANVALLON apud
BORGES, 1991/2, p. 15)
Para Jacques Julliard (1995) em História: novas abordagens, ao tratar sobre a
importância da política na contemporaneidade, destaca que o historiador político deve cada
vez mais ater-se ao longo prazo, dessa forma, a temporalidade em que trabalha tem que ser
encarada não apenas pelo ângulo da ruptura, mas também da permanência. Sobre isso,
utilizamos o conceito de cultura política para compreender certos elementos da sociedade
brasileira que não ficam restritos ao período do regime militar. Vale salientar que Julliard
mantém uma posição crítica ao modelo da história política tradicional, e o seu pensamento
contribuiu para o debate historiográfico referente a essa temática, ao indicar como a política
pode ser tratada pela história de uma forma diferente da abordagem tradicional. Buscando
“relacionar fragmentos de explicação no interior de uma interpretação total”8.
No cenário brasileiro, no que concerne a produção histórica, podemos verificar que o
ano de 1970 representou uma nova fase para a história política. De acordo com Francisco
Falcon, antes dessa data predominava o modelo de história política tradicional enquanto
campo de pesquisa e ensino. Todavia, a partir de 1970, o cenário do campo historiográfico
começou a transformar-se paulatinamente, surgindo contestações acerca desse tipo de história
tradicional, por meio de diversos intelectuais e algumas academias.9
Vale ressaltar que, devido a hegemonia da história política tradicional no ensino de
história do Brasil durante tanto tempo, podemos identificar vestígios desse modelo, arraigado
nas escolas, até os dias atuais. No tocante a ênfase do papel do Estado e dos grandes homens
no processo histórico, além do caráter narrativo e eminentemente factual. Segundo Vavy
Pacheco, é grande ainda o número de pessoas presas a uma concepção de história narrativa de
“grandes feitos, grandes datas e grandes figuras”. Sendo esse o modelo de história que
predomina no senso comum.10
A nova história política surge justamente em contraposição a esse paradigma
événementiel e busca transferir o foco do Estado para a problemática do poder, assim como
foi elucidado por Michel Foucault em sua Microfísica do poder. Alargando horizontes,
ampliando o diálogo com outros campos do conhecimento, e apropriando-se do conceito de
cultura política para compreender as motivações que estão por trás das ações humanas.
Em resumo, nosso trabalho se baseia nessa perspectiva teórica de uma história política
7
Cf. ROSANVALLON, Pierre. Por uma história do político. São Paulo, Alameda, 2010, p. 67-101.
8
Ver JULLIARD, Jacques. “A Política”. In Jacques Le Goff e Pierre Nora. História: Novas Abordagens. Rio de
Janeiro: Francisco Alves, 1995, pp. 180-196.
9
Cf. FALCON, 1997, p. 8
10
Sobre o latente dinamismo da reflexão sobre o político na historiografia, mantendo laços com os movimentos
sociais e com uma crescente interdisciplinaridade, ver o artigo de: BORGES, Vavy Pacheco. “História e política:
laços permanentes”. In Revista Brasileira de História. São Paulo: ANPUH/Marco Zero, vol. 12, n°23/24,
1991/2, pp. 7-18.
327
renovada, que apresenta necessidade de uma problemática, no caso específico, estamos
perscrutando o comportamento de uma parcela da sociedade civil paraibana na temporalidade
dos “anos de chumbo”, visando explicar as mudanças em profundidade. Além disso, o
aspecto político auxilia-nos na compreensão e análise dos fatos sociais. Haja vista que o
conceito de história política não se reduz mais ao aparelho estatal como era em tempos de
outrora. Como Georges Balandier, pensamos que a história política hoje tem um papel fulcral
na ciência, que se apresenta na contribuição “à interpretação global da mudança”11. René
Rémond, por sua vez, ao escrever sobre essa nova história, afirmou que:
A partir do contexto da história política renovada e seu diálogo com a história cultural,
utilizamos o conceito de “cultura política”, na definição feita pelo historiador Rodrigo Patto
Sá Motta, que define como:
11
Cf. JULLIARD, Jacques. A Política. In Jacques Le Boff e Pierre Nora. História: Novas abordagens. Rio de
Janeiro: Francisco Alves, 1995, p. 193.
12
Cf. BERSTEIN, Serge. A cultura política. In: RIOUX, Jean-Pierre; SIRINELLI, Jean-François. Para uma
história cultural. Lisboa, Estampa, 1998, p. 349-363.
328
ou à memória coletiva de grupos sociais. (GOMES, 2005, p. 33).
Compreendemos assim, que esse conceito serve para entender determinados elementos
arraigados na cultura política brasileira nos quais perpassam o golpe de Estado de 1964, por
exemplo, o descompromisso com o ideal da democracia e o exercício de um governo que se
utiliza do autoritarismo e tolhe a liberdade de expressão. Destarte, usaremos o conceito de
Estado e sociedade civil a partir da definição proposta por Antônio Gramsci, na qual o Estado
subdivide-se em dois planos: sociedade política e sociedade civil. A primeira, representa a
classe dominante detentora dos mecanismos de repressão legal. A segunda, por sua vez,
representa organismos autônomos de participação política, privados do dispositivo repressor,
mas sendo difusores de ideologias, como por exemplo; a família, a escola, a Igreja, partidos
políticos, sindicatos, entre outros. (NUNES, 2012).
Objetivos
Material e métodos
329
academias. Segundo Tânia Regina de Lucca:
O abandono da ortodoxia economicista, o reconhecimento da importância
dos elementos culturais, não mais encarados como reflexo de realidades mais
profundas, o que era comum em leituras reducionistas, e a verdadeira
revolução copernicana efetuada por Thompson ao propor que se adotasse a
perspectiva dos vencidos, a história vista de baixo(history from below),
trouxeram ao centro da cena a experiência de grupos e camadas sociais antes
ignorados e inspiraram abordagens muito inovadoras, inclusive a respeito de
culturas de resistência. (LUCCA, 2008, p. 113 apud SOBREIRA, 2012)
O terceiro passo da pesquisa foi a leitura e análise dos documentos oficiais produzidos
pelo Estado e por entidades da sociedade civil que participaram da luta contra a ditadura
militar. Assim sendo, estudamos uma parcela da vasta produção documental deixada pelo
Arcebispo da Paraíba na época da ditadura, o Dom José Maria Pires, no qual durante seu
episcopado teve vários atritos com os militares e o Governo central. Além disso, perscrutamos
o dossiê do período militar da Igreja Católica no Estado. A pesquisa tanto das obras escritas
de Dom José quanto a do dossiê foram realizadas no Arquivo Eclesiástico da Paraíba.
O quarto passo refere-se a análise de depoimentos de militantes e pessoas que viveram
ativamente o período da ditadura militar no Estado. Esses testemunhos fazem parte do projeto
“Compartilhando Memórias: repressão e resistência na Paraíba”13 e também das Audiências
Públicas que foram realizadas pela Comissão da Verdade e Preservação da Memória do
Estado da Paraíba.
Por fim, o quinto passo da pesquisa, foi realizado concomitantemente aos
procedimentos anteriores, e diz respeito as reuniões do grupo de estudos, organizado pelo
13
A greve na qual se encontra a UFPB, desde o final do mês de maio, impossibilitou o acesso ao restante do
arquivo audiovisual do projeto “compartilhando memórias”, pois este está localizado no Laboratório de História
(Laborhis) da referida instituição.
330
professor Paulo Giovani Antonino Nunes, coordenador da pesquisa. Os encontros eram feitos
quinzenalmente, com a participação de alunos bolsistas, voluntários e interessados sobre a
história do período militar brasileiro. Nessas reuniões tínhamos apresentação e discussão de
textos historiográficos ligados a temática.
Resultados e discussão
14
Cf. ALVES, Maria Helena Moreira. Estado e oposição no Brasil (1964-1984). Petrópolis: Editora Vozes
Ltda, 1984, p. 143.
331
ações da célula do PCBR, localizada em João Pessoa, na qual arquitetou o assalto à empresa
Souza Cruz, e a “guerrilha” de Catolé do Rocha.15 Vale salientar que ambos movimentos
foram desbaratados pelas forças policiais em meados de 1969.
As ações da esquerda paraibana que adotaram a posição de resistência ao regime
militar, pode ser caracterizado como movimentos dispersos e desarticulados. A imprensa do
Estado na época informa-nos que as operações dos opositores, em regra, limitavam-se a
distribuição de panfletos conclamando o povo à luta, assim como têm-se a ocorrência de
pichação das paredes de várias cidades do Estado, com slogans considerados subversivos.
Segundo Nunes (2015, p. 16):
332
doces.17
Vale ressaltar que, apesar da opressão e censura que houve no período abarcado pelos
anos de chumbo. O governo Médici desfrutava de grande popularidade entre as classes alta e
média, em virtude da ampla propaganda política e sobretudo devido ao extraordinário
crescimento da economia, que proporcionava uma certa legitimidade ao regime militar. Por
isso, essa fase também é conhecida por ser a época do “milagre econômico”, no qual o PIB
brasileiro chegou a alcançar taxas de crescimento de dois dígitos anualmente.
Não obstante, as benesses desse desenvolvimento não refletiram na melhoria da
qualidade de vida da maior parte da população. Constata-se a partir de pesquisas feitas na
época que, os ricos ficaram mais ricos, a classe média conseguiu manter, ou até mesmo elevar
sua parte na distribuição de renda, e os pobres, por sua vez, permaneceram a margem desse
crescimento. (ALVES, 1987, p. 149)
De acordo com Maria Helena Moreira Alves, a condição dos trabalhadores era difícil
pelo fato de que o poder aquisitivo do salário mínimo tendia a declinar no período do
“milagre”. Segundo dados apresentados pela autora em sua obra Estado e Oposição no Brasil
(1964-1984), 78,8% da população ganhavam menos de dois salários mínimos. Na prática,
havia uma grande parcela da sociedade brasileira vivendo em situação de absoluta pobreza
(Ibidem, p.152).
A ala progressista da igreja católica na Paraíba: ação pastoral e política de Dom José
Maria Pires
O Arcebispo da Paraíba na época, Dom José Maria Pires, é um personagem de suma
importância nesse contexto histórico, tendo em vista que proferiu publicamente críticas
contundentes ao regime militar. Filiando-se na defesa dos pobres e oprimidos. Sendo um líder
religioso ativo que se envolveu em diversos conflitos de terras que houve no campo, sempre
estando no lado dos trabalhadores rurais em detrimento aos interesses dos latifundiários e do
governo. Dom José chegou à Paraíba em 26 de março de 1966, para suceder a Dom Mario de
Miranda Villas Boas no cargo de Arcebispo do Estado. Segundo Pereira (2012, p. 09):
Embora apoiando o Golpe Militar de 1964, quando ainda era bispo daquela
diocese mineira [Araçuaí], Dom José mudou sua postura acerca do regime
militar já nesse mesmo ano, enfrentando o autoritarismo dos militares e
defendendo as vítimas do regime ditatorial. Chegando a Paraíba, em 1966,
permaneceu firme na luta contra as arbitrariedades dos militares e buscou
alternativas para resolução de problemas como a fome e a seca, criando duas
iniciativas relevantes: a Operação Gota D’água e o Projeto Igreja Viva.
Ambos com preocupações maiores que o mero assistencialismo tão presente
na instituição eclesial.
Dom José manteve uma posição de radicalidade na defesa dos direitos humanos,
manifestando denúncias e sentimentos de repúdio a violação desses direitos por meio de
sermões, cartas pastorais, declarações nos jornais, além de comparecer nas comunidades
17
Depoimentos de José Emilson Ribeiro e Simão Almeida ao projeto “Compartilhando Memórias: repressão e
resistência na Paraíba”.
333
injustiçadas. Por esse engajamento pastoral e crítico das arbitrariedades cometidas pela classe
dominante e o governo dos militares, Dom José chegou a ser intitulado por esses setores como
sendo comunista e subversivo.18
No tocante ao golpe de 1964, Dom José Maria Pires foi um grande entusiasta
inicialmente, assim como grande parte dos membros da Igreja Católica no período.
Entretanto, tempo depois, decepcionou-se com o regime dos militares por não terem posto em
prática o programa de governo que fora anunciado. Além de agirem com austeridade aos
opositores políticos. Em entrevista a Vanderlan Pereira, Dom José disse o seguinte:
Com relação as vítimas do regime militar, Dom José buscava conceder proteção
dentro de suas possibilidades, em suas palavras:
A gente fazia o que era possível. Se era preciso esconder a pessoa, a gente já
sabia que devia mandar para a tal lugar, mandava muitas vezes p’ro interior,
para casa de um padre. É necessário? Como é que vai para lá? Entra no meu
18
Cf. PEREIRA, Vanderlan Paulo de Oliveira. Em nome de Deus, dos pobres e da libertação: Ação pastoral e
política em Dom José Maria Pires, de 1966 a 1980. Dissertação de Mestrado apresentada ao PPGH/UFPB, em
2012.
334
carro aqui, fica lá atrás, deita lá. Meu carro passava. Não tinha a Manzuá,
mas tinha a polícia na estrada... Era o arcebispo, pronto, logo conseguia.
Então a gente pode levar pessoas assim. (PIRES Apud PEREIRA, 2012, p.
95)
Portanto, Dom José Maria Pires foi um líder religioso que não se limitou a ficar
restrito ao ambiente do Palácio do Bispo, sede oficial do Arcebispo da Paraíba, como o
fizeram seus antecessores, pelo contrário, ele se envolveu nos conflitos sociais que existiram
na época do regime militar, sempre estando ao lado dos menos favorecidos, dos trabalhadores
rurais, dos estudantes perseguidos. Em suma, manteve uma posição de defesa dos direitos
humanos, de ajuda aos mais necessitados e de crítica as arbitrariedades cometidas pelo
sistema. Não se calando diante das graves injustiças cometidas contra os trabalhadores.
Destarte, em vários momentos da história podemos observar atritos entre Dom José,
por um lado, e os agentes do governo com o apoio da classe dominante, por outro. A título de
exemplo, temos os conflitos rurais que houve nas Fazendas de Mucatu e Alagamar, na década
de 1970. Dessa forma, podemos concluir que, mesmo o Arcebispo da Paraíba tendo uma
postura de diálogo e não incitamento a violência contra a Ditadura, Dom José era considerado
um desafeto dos militares em virtude das duras críticas que proferiu contra a ordem vigente.
A ação pastoral de Dom José, materializada a partir dos projetos Igreja Viva, CEB’s,
Operação Gota d’água e Equipe de Promoção Humana, este último, posteriormente deu
lugar ao Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Arquidiocese da Paraíba, em 1976.
Todos esses órgãos tinham por escopo se envolver nos problemas vividos pelo povo
paraibano. Refletiam a prática das resoluções conciliares. 19
O Arcebispo metropolitano através de sua ação ministerial, empenhava-se em prestar
assistência aos pobres, preocupava-se com as questões sociais inerentes ao cotidiano do povo.
Entre as diversas ações empreendidas por Dom José, está o movimento de educação popular,
com a finalidade de diminuir o índice de analfabetismo no Estado, construções de habitações,
campanha para angariar fundos ao combate da escassez de água, dentre outros.
Diante disso, dessa atuação eficaz nos meios populares, de engajamento político em
áreas rurais em defesa dos camponeses, denunciando a concentração de terras, o latifúndio, a
opressão dos pobres, algumas lideranças políticas do Estado e membros da classe latifundiária
se desagradaram com esse modelo da Igreja Viva, no que implicou na perseguição de alguns
agentes pastorais. 20No Estado paraibano houve perseguição de agentes do governo a
membros da Igreja Católica, geralmente acusados de subversão e comunistas. Os alvos da
repressão eram em regra aqueles que se envolviam na assistência aos trabalhadores.
Dentre os clérigos mais visados pelos órgãos de informação estavam os missionários
estrangeiros. Sob esse aspecto, um caso bastante emblemático foi o do Frei Hermano José
Cürten, que fora preso em meados da década de 1970, dentre as acusações, consta o de ser
comunista e subversivo. Dom José Maria Pires, na sua terceira carta pastoral, aborda os
19
O Concílio Vaticano II, segundo o Papa João XXIII, tinha por finalidade a Igreja fazer uma autoavaliação e
atualizar-se a temas inerentes da contemporaneidade, sua proposta era a de um aggiornamento. Esse evento teve
uma forte influência na prática pastoral exercida por Dom José Maria Pires no Estado paraibano. Ele buscou
colocar em ação as resoluções do Concílio, apresentando em seu ministério o modelo de uma Igreja atenta às
questões sociais e mais aberta ao povo.
20
Idem, 2012.
335
problemas do campo, e sobre esse episódio escreveu o seguinte:
Nesta carta, Dom José também manifesta o apoio ao Frei franciscano, tanto da
Arquidiocese quanto da Ordem a qual pertence. Além de tecer críticas as autoridades políticas
e considerar injustas as acusações formuladas contra o Frei Hermano José. Dom José ressalta
que é legítima a ação pastoral do Frei Hermano, no qual aconselha os agricultores para se
unirem, recorrerem ao Sindicato e a Federação, na procura de defenderem seus direitos dentro
da lei. O Arcebispo reflete que nas circunstâncias da época, os missionários que se
comprometem a ajudar os humildes, são tachados de comunistas, subversivos e ameaçados de
expulsão. E acrescenta:
Seria tão bom que os nossos irmãos, responsáveis pela Segurança Nacional
fossem viver algum tempo no meio do povo, participando de seus
sofrimentos, trabalhando com ele e comendo do mesmo feijão com farinha.
Então eles também iriam apoiar as reclamações do povo e iriam sentir que a
verdadeira segurança não se conquista silenciando os clamores de justiça,
mas transformando metralhadoras em arados e tanques de guerra em tratores
agrícolas. (Ibidem, 1975)
336
Outro caso de atrito entre membros da Igreja no Estado com os militares ocorreu em
1972, quando o Bispo diocesano de Campina Grande (CG), Dom Manuel Pereira da Costa,
foi proibido de entrar no teatro municipal por ordem do Comandante da 5 a Cia. de Infantaria
de CG. Sobre esse episódio, o vereador Rildo Fernandes, da Câmara municipal da cidade, saiu
em defesa do religioso21. Dom Manuel Pereira, por sua vez, comunicou ao General do 7°
Regimento Militar de Pernambuco o acontecido:
A prática pastoral de Dom Manuel Pereira é semelhante a Dom José Maria Pires.
Ambos são denominados como bispos progressistas. Por isso eram considerados desafetos dos
militares, pois suas atuações não se limitavam as questões religiosas, tendo também
preocupação com a realidade social do povo paraibano. Em contrapartida, os bispos das
dioceses sufragâneas do interior do Estado, Dom Expedito e Dom Zacarias, respectivamente
de Patos e Cajazeiras, tinham uma postura mais conservadora. Não obstante, apesar das
concepções metodológicas serem distintas, segundo Dom José23, o relacionamento entre os
quatro era de harmonia e cumplicidade.
De acordo com o depoimento de Vilma Batista de Almeida, ao projeto
“Compartilhando memórias”, a Igreja Católica paraibana apoiava os movimentos de esquerda.
Contudo, de uma forma moderada, não se desvirtuando dos seus preceitos, e não adotando um
engajamento político ativo em combate ao regime vigente.24
No que concerne a Dom José Maria Pires, este recebeu várias cartas anônimas
contendo ameaças, devido ao seu trabalho pastoral. Algumas dessas cartas encontram-se no
dossiê do regime militar da Arquidiocese do Estado, e fazem menções as atividades contrárias
de Dom José a Revolução de 64, acusando-o de ser terrorista, pedindo o seu afastamento do
cargo de Arcebispo, chegando até a conter ameaças de morte. Como podemos verificar nesse
21
Cf. Dossiê do regime militar, no Arquivo Eclesiástico da Paraíba. Fundo: Chancelaria, série: documentação
dos bispos, sub-série: discursos, 1972. (doc. Sem título).
22
Cf. Dossiê do regime militar, no Arquivo Eclesiástico da Paraíba. Fundo: Chancelaria, série: documentação
dos bispos, sub-série: Cartas pastorais, 29/03/1972.
23
PEREIRA, 2012.
24
Vilma Batista foi da direção da JUC (Juventude Universitária Católica). Atuou no movimento estudantil, e por
isso acabou sendo fichada pela DOPS, acusada de desenvolver atividades incompatíveis com a vida universitária
e desordem pública. Atualmente é professora emérita do Estado da Paraíba.
337
trecho:
Das coisas que você está fazendo D. José Maria Pires, querendo levar o país
a mesma situação de 1964. Não pense que o povo está com você, o povo está
com a revolução, deixe de ser besta velho caduco, filho da puta. Você com
esse terrorista Wanderlei Caixe vai arranjar o chapéu de viagem, pode
esperar. Os proprietários também não vão ficar de braços cruzados, aguarde
que verá, porque quem procura acha. Você agora só quer é agitar o povo,
mas o povo está compreendendo tudo porque ninguém é besta e já sabe o
que passou em 64. Olhe para a Itália, França e o mundo todo, e veja o
terrorismo como está, e você também querendo fazer terrorismo velho filho
da puta. Prepara-se para morrer, porque se continuar assim o seu dia chegará,
e o de Wanderlei também, bando de filho da puta terroristas. (Carta anônima,
sem data. Dossiê do regime militar. Fundo: Chancelaria, série: doc. dos
bispos, sub-série: Comunicação, AEPB).
O movimento estudantil
O movimento estudantil constitui numa categoria social que representou uma das
principais vertentes de oposição ao regime militar. Em relação a isso, o Estado buscou se
apropriar de instrumentos ideológicos como a reforma universitária, a modernização na
estrutura do ensino superior, além de lançar mão da força policial para reprimir e desmobilizar
seus adversários. Os estudantes, sendo intelectuais em processo de formação, foram agentes
históricos ativos no processo de combate a ditadura, sendo politizados e organizados.
Possuem uma entidade representativa nacional, a UNE – União Nacional dos Estudantes –
que desde 1938 atua nas organizações de atividades estudantis no País, juntamente com as
subsedes, UEEs – União Estadual dos Estudantes.
Durante a década de 1960, o movimento estudantil tornou-se bastante participativo da
vida política brasileira. No governo de João Goulart, a diretoria da UNE era composta por
membros vinculados a esquerda. Logo, era nítido o apoio de grande parte da categoria
estudantil as propostas de reformas de base, nas quais incluía a reforma universitária, que era
uma das principais bandeiras de luta dos estudantes. Contudo, com o golpe civil-militar de
1964, as entidades estudantis, sobretudo a UNE, foram perseguidas pelos militares, que por
sua vez, consideravam esses espaços de representação estudantil recinto de comunistas e
subversivos, por isso houve uma forte repressão nesse meio, vale ressaltar que, boa parte do
movimento estudantil estava tenuemente ligado ao governo Jango.
Posteriormente, em 09 de novembro de 1964, o então presidente Castelo Branco,
decretou a Lei n° 4.464, vulgo “Lei Suplicy”, a qual repercutiu negativamente entre os
estudantes, a ponto de fomentá-los a organizar-se e lutar para a derrubada do regime. Esta lei
recebeu esse epíteto em virtude do nome do Ministro da Educação na época, Flávio Suplicy
de Lacerda. E previa a proibição de atividades políticas nas organizações estudantis, além de
colocar na ilegalidade a UNE e as UEEs. É importante destacar que, apesar de terem sido
consideradas ilegais, esses órgãos passaram a atuar na clandestinidade. Em contrapartida, as
entidades estudantis legais, criadas a partir desta lei, ficaram submetidas ao Ministério da
Educação e Cultura (MEC). De acordo com Martins Filho, o objetivo central da ‘Lei Suplicy
era anular a autonomia da representação estudantil. (1987, p.87)
338
A decretação da Lei Suplicy desencadeou em vários Estados da Federação passeatas
de estudantes contra essa medida. Como efeito dessas manifestações, houve enfrentamentos
entre militares versus estudantes. Essa relação conflituosa, tornou-se mais intensa com o
passar dos primeiros anos do regime militar. A título de exemplo, os acordos MEC/USAID -
Ministério da Educação e Cultura e United States Agency for International Development -
entre o governo brasileiro e uma agência estadunidense, geraram uma onda de protestos em
diversas partes do país, inclusive na Paraíba. Esses acordos visavam reformar o ensino
brasileiro tendo como padrão o modelo educacional dos Estados Unidos.
Os líderes estudantis, por sua vez, consideravam inadmissível a interferência de
estrangeiros na educação brasileira. Protestaram veementemente a influência dos Estados
Unidos no Brasil. Diante disso, sofreram forte repressão do Estado. Outros problemas de
insatisfação dos estudantes era a escassez do número de vagas nas universidades e a questão
dos excedentes, isto é, os candidatos aprovados no exame vestibular não tinha a garantia da
vaga. Essas pautas estavam no debate para o projeto da reforma universitária.
Posteriormente, outro fato que impactou o movimento estudantil paraibano foi o
assassinato do estudante Edson Luís de Souto Lima por policiais, em 28 março de 1968, no
Rio de Janeiro, em meio a um protesto dos estudantes contra o fechamento do restaurante
calabouço. Em João Pessoa, o número de manifestantes nas ruas no dia 1° de abril, chegaram
a cerca de 6.000. No dia 04, após a missa de sétimo dia celebrada por Dom José Maria Pires,
em memória ao estudante secundarista Edson Luís, aconteceram violentos choques de rua que
duraram quase quatro horas entre estudantes e policiais. No dia seguinte, ocorreu novamente
confronto, tendo o Palácio do Governo sido apedrejado pelos manifestantes. (FILHO, 1987,
pp. 155-7)
As passeatas que se realizaram na capital paraibana tiveram por objetivo protestar
contra a violência das forças policiais, a qual Edson Luís acabou se tornando uma das vítimas
da virulência cometida pelo Estado. Esse estudante transformou-se num verdadeiro mártir no
meio da luta estudantil. Além disso, essas manifestações estudantis refletiam a insatisfação
dessa categoria social com o regime militar.
O ano de 1968 representou o auge do engajamento político e das atividades estudantis.
A luta dos estudantes nas principais cidades do país corroborou para o recrudescimento das
manifestações populares de oposição ao regime vigente. As passeatas que se realizaram no
decorrer desse ano serviram para desestabilizar o governo dos militares. Em resposta a esta
onda de protestos, os governistas reprimiram duramente as mobilizações que ocorreram,
utilizando-se do aparato da força policial. No fim desse mesmo ano, é lançado o AI-5, Ato
Institucional que legitimava a ação repressiva do Estado, visando manter o “movimento
revolucionário” iniciado em 1964, que por hora se via ameaçado diante de tantas
contestações. Segundo Roberto Schwartz:
339
No Estado, após a decretação do AI-5, foram cassados pelo Conselho de Segurança
Nacional (CSN) dez políticos paraibanos, muitos desses foram acusados nas suas fichas do
IPM (Inquérito Policial-Militar) de terem vinculação com as agitações estudantis. Segundo
Nunes25, no tocante a cassação dos deputados e suplentes do Estado em 1969, tanto da
ARENA quanto do MDB, a justificativa utilizada pelo CSN era o envolvimento dos políticos
com os movimentos de 1968, sobretudo o estudantil.
Dentre os políticos que tiveram atuação no movimento estudantil paraibano, destacam-
se: José Targino Maranhão, Mário Silveira, Ronald de Queiróz e Francisco Souto Neto. A
grande maioria era filiada ao MDB, somente este último, Souto Neto, elegeu-se pela ARENA,
partido da situação. Um outro político cassado em 1969, Osmar de Aquino, notabilizou-se por
ser um ferrenho opositor do regime militar, em um dos seus discursos, afirmou que:
Na Paraíba, como foi mencionado, uma minoria dos estudantes adotou a estratégia da
25
Cf. NUNES, Paulo Giovani Antonino. “Cassações de mandatos parlamentares durante a ditadura militar: o
caso do Estado da Paraíba”. ( mimeog.)
340
luta armada. Tivemos o assalto da fábrica de cigarros Sousa Cruz em 1969, no qual um grupo
de jovens, egresso do movimento estudantil e filiado ao PCBR, agiam clandestinamente
realizando assaltos, distribuindo panfletos, pichando muros das cidades. Em suma,
conclamando o povo a luta. Por outro lado, no que tange ao âmbito das instituições de ensino
superior, houve perseguições e punições nas universidades paraibanas. A reitoria da UFPB no
mandato de Guilardo Martins perseguiu professores e interveio em entidades de representação
estudantil. Segundo Waldir Porfírio:
Vale salientar que, o reitor da UFPB na época, Guilardo Martins Alves, além de ter se
formado na faculdade de Medicina e dirigido o centro da Faculdade de Medicina,
Odontologia e Farmácia por essa mesma instituição, era também Capitão-Médico do Exército
Brasileiro, alinhado com os militares da situação. Portanto, defensor dos interesses do regime
militar. Foi nomeado interventor da UFPB logo após o golpe civil-militar, especificamente em
14/04/1964, quatro meses depois foi eleito reitor, tendo sido reeleito em 1967, e permaneceu
na direção da instituição até julho de 1971. Segundo Guilardo Martins, a Universidade foi a
maior beneficiária da Revolução de 1964:
341
esclarecimentos e a não renovação de contratos. Na carta o reitor reintera seu compromisso
com o regime militar, dizendo ser “fiel aos ideais e à continuidade do processo
Revolucionário”. No tocante as entidades estudantis, de acordo com Waldir Porfírio, houve o
fechamento dos seguintes diretórios:
DIRETÓRIOS ACADÊMICOS
26
Ibidem, p. 29
342
estudantes ocuparam os espaços públicos, fizeram passeatas, realizaram protestos. Em suma,
essa rebelião significou um acontecimento revolucionário.
Não obstante, o movimento estudantil pós-68, segundo Baffi Pellicciotta27, é marcado
pela derrota e o seu desmantelamento, condição que transforma enquanto objeto de estudo
uma temática de poucos atrativos. Na minha pesquisa no arquivo do DCE – Diretório Central
dos Estudantes - da UFPB, não encontrei fontes documentais sobre o período aqui abordado.
Esta foi indubitavelmente uma das dificuldades encontradas durante o processo de elaboração
desse trabalho, a escassez de fontes primárias sobre o movimento estudantil na Paraíba.28
Todavia, dentre os poucos trabalhos produzidos sobre a atuação dos estudantes no
governo Médici, encontramos o de Mirza Maria Baffi Pellicciotta, que especializou-se nessa
temática. Sua dissertação “Uma aventura política: as movimentações estudantis dos anos
70”, nos dá uma visão geral sobre as articulações dos estudantes nessa fase de crise
institucional. De acordo com a referida autora:
27
Cf. PELLICCIOTTA, Mirza Maria Baffi. Uma aventura política: as movimentações estudantis dos anos 70.
Dissertação de Mestrado apresentado ao DHIFCH/ Unicamp, em 1997.
28
No arquivo da DOPS-PB, cerca de 90% dos documentos referem-se à década de 1980. A documentação das
décadas de 1960 e 1970 praticamente desapareceu. Justamente no período de maior repressão e atividade de
vigilância aos movimentos oposicionistas do regime militar. (FERREIRA, Lúcia de Fátima Guerra. Ditadura
militar na Paraíba: documentos e memórias. In: DANTAS, Eder et. Al org., 2014, p. 270).
29
PELLICCIOTTA, 1997, p. 45-6.
30
(FERREIRA, Lúcia de Fátima Guerra. Ditadura militar na Paraíba: documentos e memórias. In: DANTAS,
Eder et. Al org., 2014, p. 271-278)
343
PCB, PCBR e ALN. Atuando não apenas na Paraíba, mas também em outros Estados, em prol
da ação revolucionária de combate à ditadura. Não obstante, em virtude das diversas ações
empreendidas contra o regime, acabou sendo capturado pelas forças de repressão. Foi
barbaramente torturado no quartel do IV Exército em Recife, além de ter sido condenado por
cerca de 10 anos de prisão na ilha de Itamaracá (PE). Em depoimento ao projeto
“Compartilhando memórias”31, José Emilson relatou os sofrimentos que vivenciou no período
que fora capturado e preso:
Fui preso em Recife na Estrada dos Remédios (...) por Sérgio Fleury, o
famigerado Fleury, (...) onde fui jogado numa Kombi, sem o banco do meio,
e em plena rua, fui torturado com choques elétricos, coronhada nos
testículos, em cima dos rins, até chegar ao quartel onde passei 30 dias sendo
torturado, sem tomar um banho, todo cheio de sangue, fezes, urina, o meu
cabelo grande que eu usava todo cheio de sangue pedrado, (...) só com uma
cueca, pois a roupa me foi arrancada. Fiquei preso 30 dias no IV Exército e
só depois fui levado ao DOPS de Recife, quando entrei a fase legal. Foram
abertos vários processos contra mim. (FERREIRA e FERREIRA, 2012a)32
31
Projeto desenvolvido pelo NCDH, com apoio da SESU/MEC, Programa de Apoio a Extensão – PROEXT, em
2010 e 2011, e com continuidade em 2014. (Ibidem, p. 274)
32
Ibidem, p. 277-8.
344
Os caminhos traçados pelos estudantes que aderiram à luta armada, aos poucos deram
sinais de debilidade, como forma de resistência política, e isolamento entre os grupos
guerrilheiros. A repressão exercida pelo governo militar foi tanta que em poucos anos de
atuação os focos de guerrilhas foram praticamente exterminados. A estratégia de pegar em
armas para combater a ditadura não vingou.
No início de 1969, o então presidente Costa e Silva, decretou a lei n°477, que em
relação ao movimento estudantil previa medidas mais repressivas para o ambiente
universitário, de maneira que os estudantes, professores e funcionários envolvidos em
atividades “subversivas”, de acordo com os termos da Lei de Segurança Nacional, poderiam
ser punidas com a expulsão e proibidos de adentrar na Universidade num espaço de cinco
anos. Essa medida corroborou significativamente para a desarticulação das atividades
estudantis. Conforme o documento “Uma história do ME: 1960-1974”, no início da década de
1970:
345
acadêmica pretendidos pela Reforma da Universidade (Ibidem, p. 77)
Os trabalhadores
Em relação a temática dos trabalhadores, não encontramos durante nossa pesquisa
fontes primárias nem secundárias, no tocante ao recorte temporal deste trabalho, no espaço do
Estado paraibano, que pudesse elucidar o comportamento dessa categoria social diante da
ditadura. Existem alguns trabalhos historiográficos, como o do historiador Paulo Giovani, que
aborda a questão da repressão as ligas camponesas, sindicatos, Associação Paraibana de
Imprensa (API), operários, por parte das forças militares, no período do imediato pós-golpe de
1964.33
Também encontramos nas obras do Arcebispo da Paraíba, Dom José Maria Pires,
menções de repressão de agentes do governo e latifundiários, aos trabalhadores rurais, no
âmbito dos conflitos de terras que houve no campo. Contudo, esses escritos correspondem ao
período pós-1974. Logo, foge do recorte temporal de nosso trabalho.
No âmbito da historiografia, o trabalho do pesquisador Marcelo Badaró34, sobre o
sindicalismo brasileiro após 1930, faz um breve resumo acerca do comportamento dos
sindicatos na conjuntura no regime militar a nível nacional. Podemos inferir de sua pesquisa
que houve uma forte perseguição a líderes e militantes sindicais ligados às esquerdas, por
meio de inquéritos instaurados pelos interventores a serviço da ditadura. Como resultado da
repressão, os sindicatos vivenciaram um processo de esvaziamento no quadro de seus
associados. Segundo Mattos (2003, p. 52):
33
Cf. NUNES, Paulo Giovani Antonino. “Golpe civil-militar na Paraíba: repressão e legitimação de parte da
sociedade civil no imediato pós-golpe”. Revista Perspectiva Histórica, vol.2, no 2, janeiro-junho de 2012,
pp.37-62.
34
MATTOS, Marcelo Badaró. O sindicalismo brasileiro após 1930. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003.
346
Com essas medidas de arrocho salarial e exploração da força de trabalho, o governo
federal propiciou ao setor privado um alto grau de lucratividade. Vale lembrar que o período
correspondente ao chamado “milagre econômico”, do qual a economia brasileira atingiu um
crescimento superior a 10% no PIB, não reverberou na melhoria da qualidade de vida dos
trabalhadores.
No tocante as organizações sindicais, o governo militar no início da década de 1970,
buscou valorizar um novo paradigma de atuação sindical, caracterizado pela prática
assistencialista, em consonância com os ideais do crescimento econômico, sendo assim
requisito para uma subsequente política de redistribuição. Portanto, podemos constatar que os
sindicatos tanto rurais quanto urbanos nessa época dos anos de chumbo, estavam voltados
sobretudo para atividades assistenciais aos trabalhadores, recebendo o incentivo do governo
federal. Os sindicatos atuavam mais como prestadores de serviços do que propriamente um
órgão engajado na defesa dos interesses dos trabalhadores.
Com relação à pesquisa dos periódicos, provavelmente em virtude de estarem sob a
égide da censura ou autocensura, não descobrimos nenhum vestígio de enfrentamento e
resistência dos trabalhadores diante da ditadura no Estado. A forte repressão que se abateu aos
camponeses e setores da esquerda paraibana no imediato pós-golpe, fez com que se criasse
uma “cultura de medo”, inibindo assim, ações armadas de luta contra o regime militar.
As notícias publicadas pelos jornais que tratavam dessa categoria social giravam em
torno de programas do governo em benefício do homem do campo. Sendo recorrente menções
ao Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL), como podemos verificar no
periódico A UNIÃO:
347
receberão aposentadoria. Disse que “um administrator se impõe com
determinações dessa natureza, em favor de uma classe que ficou
marginalizada durante vários governos”. Em aparte, o sr. Ruy Gouveia
afirmou que “o presidente Vargas durante sua administração já cuidava dos
problemas dos ruralistas e naquela época pretendia estender os benefícios
das leis trabalhistas e da previdência social aos agricultores, só não atingindo
os objetivos em face das forças imperialistas que terminaram levando-o à
morte”. (A UNIÃO, João Pessoa, 10/09/1971, p. 01)
Conclusão
A conclusão que podemos chegar depois de um ano de pesquisa é de que grande parte
da sociedade civil paraibana que apoiou o golpe civil e militar de 1964, não tinha a
perspectiva de que o novo regime instaurado iria permanecer no poder durante cerca de vinte
e um anos, tornando-se uma ditadura. Quando o governo começou a decretar os atos
institucionais, ficou nítido que o movimento revolucionário que almejava garantir a
democracia desvinculou-se do seu propósito original.
Diante disso, insurgiram-se movimentos de resistência para restaurar um estado
democrático de direito. Essa luta partiu primeiro dos estudantes que, posteriormente,
conseguiram adesão de outros setores da esquerda. Contudo, em virtude das manifestações
oposicionistas que se notabilizaram no ano de 1968, o grupo que estava no poder resolveu
endurecer ainda mais o regime, através do AI-5.
Essa medida dos militares enfraqueceu os setores de oposição que mantiveram até
então uma postura de luta pacífica. Por outro lado, outros grupos se lançaram na luta armada
para derrubar o estado de exceção. Destarte, o poder executivo procurou exterminar os focos
de guerrilha existentes, no que conseguiu antes do fim do mandato de Garrastazu Médici. A
resistência via luta armada não vingou.
Na Paraíba, setores ligados a esquerda paraibana, como os estudantes e a ala
progressista da Igreja Católica, tiveram um papel de resistência ao regime, porém, não com
forças para modificar o status quo. Os estudantes mais audaciosos que entraram na luta
armada, representavam uma ínfima parcela da categoria estudantil, e não lograram apoio da
sociedade para transformar a situação política do país. Por outro lado, os pronunciamentos de
Dom José Maria Pires, apesar de conterem críticas ao Estado autoritário, sobretudo no que diz
respeito às violações dos direitos humanos, não produziram reações que provocasse a
alteração política do Brasil. Serviram mais para incitar reflexões sobre a realidade social.
Em comparação com a região Sudeste do Brasil, onde houve uma intensa mobilização
348
de grupos armados para combater a ditadura, a repressão se abateu mais fortemente, em
virtude das frequentes ações de guerrilhas, seja urbana ou rural. Na Paraíba, os anos de
chumbo, por sua vez, foi um período marcado por uma grande popularidade do Governador
Ernani Sátyro e do Presidente da República, Emílio Garrastazu Médici – devido muito a
intensa propaganda política – no que diz respeito a esse último, nas vezes que visitou o
Estado, fora recepcionado calorosamente por milhares de pessoas nas ruas, que se
aglomeravam para saudar o chefe da nação brasileira. Como podemos verificar nesta notícia
veiculada pelo jornal A UNIÃO:
Em suma, o resultado da pesquisa até o momento corrobora com a nossa tese de que
houve um enfrentamento entre os setores civis aqui analisados, contra a ditadura militar. Em
contrapartida, percebemos que a acomodação e o apoio ao regime vigente estavam presentes
em alguns segmentos da sociedade, como nas classes alta e média, haja vista que o chamado
“milagre econômico” favoreceu consideravelmente essa camada da população, e também
serviu para legitimar o governo dos militares.
No que concerne as perspectivas diante do trabalho, pretendo dá continuidade a
investigação dos objetos de estudo que foram abordados no decorrer deste relatório.
Possivelmente, os resultados obtidos nessa pesquisa se desdobrará para um futuro Trabalho de
Conclusão de Curso (TCC). Por fim, encerro essas considerações finais ressaltando a
importância da experiência que adquiri ao longo do ano que estive vinculada ao PIBIC. Essa
oportunidade de se lançar no campo da pesquisa científica me fez despertar para a vocação
acadêmica, sendo bastante enriquecedor ser, concomitantemente, pesquisadora e divulgadora
de conhecimento. Além de ter contribuído para o meu crescimento profissional.
Referências
1. Arquivos
2. Bibliografia
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353
A RESPONSABILIDADE SOCIAL NA PERSPECTIVA DA INCLUSÃO
SOCIAL ATRAVÉS DA ACESSIBILIDADE NAS EDIFICAÇÕES
Resumo
Apresentação
1
Título do Plano de Trabalho: Um Estudo Sobre a Acessibilidade nas Edificações, Sanitários e a Ergonomia nas
Escolas Municipais de Bananeiras- PB.
Estudantes de Iniciação Cientifica: Josefa Luciana Da Silva (e-mail: jlucianasilva17@gmail.com) voluntárias do
PIVIC/UFPB - Elenice da Silva Moraes (e-mail: elenicemoraes7@gmail.com) colaboradora no PIVIC/UFPB.
Orientador: José Mancinelli Lêdo Nascimento (e-mail: jm-ledo@uol.com.br telefone 83.3367.5562)
354
formulário estruturado objetivando a coleta das evidências objetivas de acessibilidades e
ergonomia.
Com a proclamação do Ano Internacional das Pessoas Deficientes, pela Assembleia
Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de 1981, foi demarcada uma nova
visão mundial para os governantes e a sociedade, no que se refere a obrigação de desenvolver
ações que assegurem a acessibilidade, a prevenção da deficiência, a igualdade de condições e
participação plena das pessoas com necessidades especiais.
No Brasil, após a Constituição Federal de 1988, um arcabouço legal começou a ser
gerado, especialmente na área de educação, com a compreensão de que a prática da inclusão
social repousa em alguns princípios importantes, como a aceitação das diferenças individuais;
valorização de cada pessoa; convivência dentro da diversidade humana e aprendizagem
através da cooperação (BRASIL, 1998).
Na visão da UNESCO, a educação inclusiva ultrapassa a concepção de que a mesma
esteja apenas a servir as pessoas com necessidades especiais. Compreende que a inclusão
passa pela alta qualidade da educação para todos os estudantes e ao mesmo tempo o
desenvolvimento de uma sociedade mais inclusiva, que apoia e acolhe a diversidade entre
todos (UNESCO, 2008).
Nesse sentido, a perspectiva da inclusão social requer a preparação da sociedade para
lidar com todas as pessoas, com suas diferenças e semelhanças. E assim é com a organização
educacional, que deve estar preparada para todos, sejam estas pessoas com ou sem
deficiências. Estas mudanças institucionais requeridas pelas demandas sociais sugerem que as
novas políticas, normas e regulamentos sejam derivadas da compreensão da Responsabilidade
Social (RS), como filosofia norteadora do comportamento e atitudes das pessoas que exercem
atividades de planejamento e de gerenciamento nas organizações.
Na sociedade contemporânea, há uma necessidade de construir um novo paradigma de
gestão, aglutinando acessibilidade, inclusão social e responsabilidade social. Nessa
perspectiva, ampliam-se as condições, a abrangência de buscar formas mais consistentes e
adequadas para mensurar a acessibilidade, inclusão social e responsabilidade social, caminha-
se, portanto, para a construção de metodologias que gerem resultados efetivos e confiáveis.
Fundamentação Teórica
355
reatividade, e não a responsabilidade, deveria ser objetivo dos esforços sociais da empresa A
segunda abordagem, situada no nível macro, é representada pelo modelo de Preston e Post
(1975), que conceberam a RS como uma presença influenciadora das empresas no setor
público, devendo a organização ponderar e avaliar os efeitos de suas ações na sociedade, indo
além da simples obediência às leis, mas sem o compromisso de solucionar a totalidade dos
problemas. De acordo com estes autores, são duas as áreas da gestão da Responsabilidade
Social das Empresas (RSE) em que as empresas e a sociedade interagem de dois modos
distintos: Relações primárias - orientadas pelo mercado para as interações com clientes,
empregados, acionistas e credores; Relações secundárias – não orientadas pelo mercado –
interação com a lei e a moralidade. (STONER e FREEMAN, 1999)
A obrigação social é definida como a adaptação do comportamento corporativo às
forças do mercado e da legislação. O único critério para o comportamento das empresas aqui
são os aspectos legais. No entanto, pode ser que o critério legal não seja suficiente. Dowling e
Pfeffer (1975) sugerem três razões para explicar por que os critérios legais não podem ser
suficientes. Primeiro, devido à dinâmica das normas sociais, a mudança legal é
frequentemente adiada por causa de sua natureza formal. Em segundo lugar, os valores sociais
podem entrar em conflito uns com os outros enquanto as leis são assumidas para ser
consistentes. Em terceiro lugar, durante um período transitório, certas atividades podem ser
mal tolerada pelo sistema social, enquanto a lei confere a aceitação social no código legal.
A capacidade de resposta social envolve um longo prazo de adaptação. A ideia da
capacidade de resposta social não é sobre como a empresa deve se adaptar às atuais normas
sociais, mas sobre a razão de ser do negócio a longo prazo e o papel que deve desempenhar no
sistema social. As corporações devem prever as mudanças que possam ocorrer no sistema
social e estarem prontos para o desafio. As atividades de sensibilidade social relacionadas são
antecipatória e preventiva, enquanto as responsabilidades sociais dos comportamentos
relacionados são prescritivos.
A aplicação dos conceitos referentes à RS do ponto de vista contemporâneo, conduz à
organização1 para uma nova abordagem de gestão, a qual tem como pressuposto a
dependência da sociedade para sua existência, continuidade e crescimento. Desta forma, o que
marca essa mudança de concepção de gestão é a tendência de práticas articuladas e interativas
com segmentos da sociedade, na busca de determinar as características de produtos e serviços,
para atender uma determinada demanda de grupos sociais, objetivando oferecer-lhes um
sentimento de pertença, cidadania e qualidade de vida.
A compreensão do cenário da Responsabilidade Social (RS), na perspectiva da
inclusão social (IS), inclui o Programa de Ação Mundial (PAM) para as pessoas com
deficiência, aprovado em 3 de dezembro 1982 pela Assembleia Geral das Nações Unidas com
o propósito de "promover medidas eficazes para a prevenção da deficiência e para a
reabilitação e a realização dos objetivos de igualdade e de participação plena das pessoas com
deficiências na vida social e no desenvolvimento"(STUMMER, 1992, p.2).
A partir dessas e outras considerações, um marco legal sobre a acessibilidade começa
a se consolidar, elas, a Lei de N0 10.098, de dezembro de 2000, o Decreto Lei de N0 5.296, de
2 de abril de dezembro de 2004 e as Normas NBR 9050 e NBR 13.994, da Associação
1
Entidade que tem por objetivo distinto, formada por pessoas, tecnologias, normas e procedimentos
356
Brasileira de Normas Técnicas de 2000 e 2004 respectivamente, todas voltadas ao
estabelecimento de critérios gerais e básicos para promoção da acessibilidade das pessoas
com deficiência ou com mobilidade reduzida em edificações.
Raia Jr. et al. (1997), entendem acessibilidade como sendo um esforço dos indivíduos
para sobrepor uma separação espacial como objetivo de executar suas atividades do cotidiano.
Por sua vez, o Art. 2o, inciso I, da Lei N o 10.098/2000, define acessibilidade como sendo “a
possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, dos espaços,
mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos sistemas e meios
de comunicação, por pessoa com de deficiência ou com mobilidade reduzida.” (BRASIL,
2000).
As pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida estão presentes no dia-a-dia
das instituições de ensino, há uma necessidade de uma reflexão permanente na busca de
alternativas ou o estabelecimento de políticas públicas que assegurem a acessibilidade efetiva
na comunidade à qual está inserida.
Na Constituição Federal de 1988, em seu Art. No 206, “prevê a igualdade de condições
de acesso e permanência na escola”. (BRASIL, 1988), compreende-se, portanto, que a escola
deve fornecer um ambiente que possibilite as mesmas condições de acesso e permanência
para todos e, em especial, àqueles que possuem algum tipo de deficiência ou mobilidade
reduzida.
Para melhor compreender a aplicação das normas e torná-la exequíveis, a norma NBR
9050, de 11 de novembro de 2015, estabelece critérios e parâmetros técnicos a serem
observados quando da elaboração de projetos de construção e reforma, na adaptação das
edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos às condições de acessibilidade
enquanto, a norma NBR 13994, de 30 de junho de 2000, para os casos que precisem de
elevadores, estabelece condições exigíveis na elaboração do projeto, fabricação e instalação
de elevadores de passageiros, com o fim de adequá-los com características para transportar
pessoas com deficiência que podem locomover-se sem o auxílio de terceiros.
Por fim, NBR 15599, de 25 de setembro de 2008, que fornece diretrizes que
promovem a acessibilidade na prestação de serviços, contornando as barreiras de
comunicação existentes, que deve ser usado pelos prestadores de serviço que buscam o
atendimento a demanda das pessoas com dificuldades na comunicação, potencial mercado, e a
legislação pertinente em vigor.
Segundo Manzini (2008, p. 286), “É necessário ofertar às escolas as condições de
acessibilidade em: edificações, meios de comunicação e informação e recursos didáticos”.
Porém, a acessibilidade só pode ser bem executada quando uma vez bem compreendida das
diversidades de limitações existentes.
Ely (2005), enfatiza a necessidade de se considerar os fluxos de circulação, dimensão
do espaço, dos equipamentos e mobiliário, e o conforto térmico, fluxo luminoso e acústico, a
fim de atender às necessidades funcionais dos usuários, as quais estão relacionadas com as
exigências da tarefa. CALADO (2006, p. 34) afirma que:
357
fundamental que o ambiente seja projetado de maneira a permitir a
inclusão, viabilizando a recepção e o acolhimento dos alunos,
independente de suas diferenças físicas, de expressão, de
comunicação, de aprendizado, enfim, tratar a todos, igualmente, em
suas singularidades, com respeito e dignidade, conforme prevê a
legislação.
Com isso, percebe-se que a adaptação do ambiente não traz apenas mais possibilidades
locomotoras aos deficientes visuais e de locomoção, traz principalmente o acesso pleno ao
serviço educacional de determinado estabelecimento, portanto o planejamento de adequação
das escolas a esse fim não deve estar apenas ligado às condições orçamentárias da gestão seja
ela pública ou privada, toda uma esquematização pedagógica e educacional também deve
estar por trás dessa adequação para que o resultado seja bem mais efetivo. A preparação dos
professores e pessoal de apoio educacional é essencial nas etapas de inclusão dos alunos com
deficiência.
Metodologia e Análise
358
Banheiros Acessíveis Sanitários acessíveis para usuários de
cadeiras de rodas
Ergonomia Adequada Mesas ou superfícies para o
desenvolvimento das atividades pelas
pessoas com necessidades especiais, com
também, cadeiras para pessoas com
necessidades especiais
Fonte: Nascimento (2014)
359
superfícies para refeição ou trabalho são previstas em espaços acessíveis, pelo
menos 5% delas, com no mínimo 1(uma) do total deve ser acessível para PCR.
Recomenda-se, além disso, que pelo menos outros 10% sejam adaptáveis para
acessibilidade.
Conclusões
360
Bananeiras PB e oferecer um conjunto de informações relevantes para a elaboração de uma
política de planejamento e execução de edificações escolares. A proposta de aplicação do
Índice de Responsabilidade Social da Universidade, desenvolvido por Nascimento (2014) traz
um retrato da realidade e a geração de informações que favorecem a gestão das escolas
públicas.
A continuidade da ideia passa pela configuração e consolidação da escala de níveis, ou
seja, determinar o que é muito fraco, fraco, regular, bom e muito bom, dentro da visão de
consolidar um índice de responsabilidade social na perspectiva da inclusão social.
Referências
361
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362
O CURRÍCULO COMO PROMOTOR DE REELABORAÇÃO DE
IDENTIDADES E DO RECONHECIMENTO DOS EDUCANDOS DO
COLÉGIO AGRÍCOLA VIDAL DE NEGREIROS, BANANEIRAS/PB
Resumo
Esta pesquisa foca seu interesse na questão da redefinição de identidades propiciada por
experiências educativas formais direcionadas aos jovens e ou adultos que estudam na
modalidade Educação Profissional. O objetivo foi analisar se o currículo dos cursos técnicos
de nível médio do CAVN está tratando a especificidade e problemática desses jovens no
sentido de consolidar o fortalecimento das suas identidades. A abordagem metodológica foi
qualitativa, os instrumentos de coleta de dados foram os projetos pedagógicos dos cursos da
instituição e a entrevista semiestruturada. Os sujeitos que participaram da pesquisa foram 20
educandos que estudam nos cursos Técnicos de Nível Médio do CAVN. Ao término das
análises conclui-se que a instituição possibilita a aquisição de conhecimentos necessários para
sua entrada e permanência no mercado de trabalho. Infere-se que os cursos do CAVN
proporcionaram uma formação madura que permitiu, dentro desta relação particular, um
reconhecimento recíproco e a reelaboração de suas identidades.
Apresentação
Fundamentação teórica
364
maior tradição. O currículo supõe a concretização dos fins sociais e culturais, de socialização,
que se atribui à educação escolarizada, ou de ajuda ao desenvolvimento, de estímulo e cenário
do mesmo, o reflexo de um modelo educativo determinado, pelo que necessariamente tem de
ser um tema controvertido e ideológico, de difícil concretização num modelo ou proposição
simples.
O projeto pedagógico curricular relaciona-se com a instrumentalização concreta que
faz da escola um determinado sistema social, pois é através dele que lhe dota de conteúdo,
missão que se expressa por meio de usos quase universais em todos os sistemas educativos,
embora por condicionamentos históricos e pela peculiaridade de cada contexto, se expresse
em ritos, mecanismos, etc., que adquirem certa especificidade em cada sistema educativo.
Quando definimos o currículo estamos descrevendo a concretização das funções da
própria escola e a forma particular de enfocá-la num momento histórico e social determinado,
para um nível ou modalidade de educação, numa trama institucional. Para Oliveira (2009) o
currículo é “Criação cotidiana de processos interativos entre diferentes saberes e valores nos
quais são tecidas e modificadas redes de saberes, poderes e fazeres que nos envolve a todos”
(p.169).
Numa sociedade avançada, o conhecimento tem um papel relevante e
progressivamente cada vez mais decisivo. Uma escola “sem conteúdos” culturais é uma
proposta irreal, além de descomprometida. O conhecimento, e principalmente a legitimação
social de sua possessão que as instituições escolares proporcionam, é um meio que possibilita
ou não a participação dos indivíduos nos processos culturais e econômico da sociedade, ou
seja, que facilita num determinado grau e numa direção.
A materialização do currículo na escola é o Projeto Pedagógico Curricular (PPC) e
este tem sido objeto de estudos para professores, pesquisadores e instituições educacionais em
nível nacional, estadual e municipal, em busca da melhoria da qualidade do ensino.
O PPC é o plano global da instituição. Pode ser entendido como a sistematização,
nunca definitiva, de um processo de Planejamento Participativo, que se aperfeiçoa e se
concretiza na caminhada, que define claramente o tipo de ação educativa que se quer realizar.
É um instrumento teórico-metodológico para a integração da atividade prática da instituição
neste processo de transformação. E cabe ao PPC a consecução das atividades e ações
escolares, estando nele as concepções norteadoras que contribuíram para a reelaboração das
identidades e o reconhecimento.
As compreensões de identidade formuladas por Giddens, Bauman e Hall, nos ajudam a
entender como estes indivíduos (os alunos campesinos e seu todo o grupo social), nos seus
percursos de vidas e nas relações pessoais e com a sociedade, devido a sua condição cultural e
social sofrem diferentes discriminações e falta de reconhecimentos, advindas de negações de
seus direitos individuais e sociais. Essas discriminações e falta de reconhecimentos (Honneth,
2003), ocorridas durante suas trajetórias de vida, ocasiona uma construção fragmentada da sua
identidade. Por isso, a escola é a oportunidade de crianças, jovens e adultos constroem e
reconstroem sua identidade, negociando sentidos e buscando alternativas para o enfretamento
social e o reconhecimento.
Uma das reflexões sobre a identidade e a sociedade contemporânea é realizada por
Giddens (2006), ao considerar que vivemos em uma sociedade moderna e instável, por isso as
identidades são construções também relativamente instáveis, influenciadas pelo processo
365
contínuo de atividade social: os acidentes, as fricções, os erros, o caos, etc. É através do ruído
social, dos conflitos entre os diferentes agentes e lugares de socialização que a identidade se
constrói, sendo ativadas, estrategicamente, pelas contingências, pelas lutas, e sendo,
permanentemente, descobertas e reconstruídas na ação.
Continuando Giddens (2006) expõem suas considerações sobre as instabilidades das
identidades na sociedade moderna, uma vez que a influência de acontecimentos distantes
sobre eventos próximos, e sobre as intimidades do eu, se torna cada vez mais comum. O
“mundo” que agora vivemos é considerado único, segundo ele, com um quadro de
experiência unitário, mas, ao mesmo tempo, um mundo que cria novas formas de
fragmentação e dispersão. Corroborando com Giddens, Bauman (2005) considera que a vida
tornou-se não apenas mais complexa, mas muito menos padronizada, muito mais individual.
Para estes autores, apesar de significativas diferenças na abordagem – com Giddens seguindo
uma tradição mais “analítica”, e Bauman uma linha de pensamento mais “crítica” –
semelhanças que nos permitem encarar às identidades como um processo incessante de
reformulação e mudança.
A identidade do sujeito se constrói na contradição e no jogo social, pois o sujeito
enquanto ser social se constitui e é constituído na relação com o outro. Essa nova
compreensão de formação de identidades deve abranger a noção de cocha de retalhos, uma
vez que não é possível, atualmente, termos biografias lineares como acontecia ao longo do
século XX, pois o mundo contemporâneo demanda maiores mudanças na estrutura temporal e
em sua percepção subjetiva modificando o sujeito e suas identidades assumidas.
Na mesma linha de reflexão de Hall, Giddens e Bauman, ao definirem identidade
como “fonte de significado e experiência de um povo”, Castells (2008) afirma que, do ponto
de vista sociológico, toda e qualquer identidade é construída. E esta concepção de identidade
como processo em construção/reconstrução, elaboração/reelaboração que consideramos neste
trabalho.
A identidade, na perspectiva sociológica, representa um construto, construído não a
partir das propensões psíquicas internas, mas pelas relações que lhe são inculcadas do
exterior. O sujeito se constrói na contradição em que há sempre em jogo, pois o sujeito se
constitui e é constituído na relação com o outro.
Para Eckert-Hoff (2008) o sujeito é dividido e estranho a si mesmo. O Outro é a face
oculta da identidade. Citando Kristeva (1994, p. 191) “é sempre a partir do outro que eu me
reconcilio com a minha própria alteridade-estranheza, que jogo com ela e vivo com ela”. É
nesse sentido que se constitui a identidade, que se difunde além dos limites, além das
fronteiras, e se dá apenas em momentos de identificação.
Para Hall (2000a) a identidade é histórica e se constitui de formas diferentes: a
iluminista, a sociológica e a pós-moderna. Na primeira a identidade é centrada, unificada,
dotada de razão. Consiste num núcleo interior que nasce com o sujeito e nele se desenvolve,
ainda que permanecendo essencialmente o mesmo (idêntico) ao longo de sua existência. Na
segunda, a identidade preenche o espaço entre o interior e o exterior, costurando o sujeito a
estrutura. Ela estabiliza os sujeitos e o mundo cultural em que habitam, tornando-os
unificados e predizíveis. Nessa concepção, o sujeito, previamente vivido como tendo uma
identidade única e estável, está se tornando fragmentado; composto não de uma única, mas de
várias identidades, algumas vezes contraditórias ou não-resolvidas. Na terceira, a
366
pós-moderna, o sujeito não tem uma identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade
torna-se uma “celebração móvel”.
Atualmente, algumas questões são suscitadas quando se discute as identidades, uma
vez que as transformações sociais têm marcado o mundo do trabalho, a vida social e
consequentemente a experiência subjetiva dos indivíduos. Para Paiva e Calheiros (2001) a
Nova Era Capitalista, termo utilizado para definir este período histórico que estamos
vivenciando, é responsável pelas mudanças ocorridas tanto na sociedade quanto no individuo,
ocasionando uma nova experiência em relação ao tempo e a necessidade de reconstrução mais
frequente da identidade social e pessoal. Por isso, propõem a noção de “percursos
identitários”. Para as autoras, os percursos são frutos tanto da coesão objetiva quanto das
escolhas individuais feitas no contexto de uma nova “reflexividade”, presa a moldura das
transformações em curso.
Giddens (2002) em suas análises sobre identidade argumenta que a reflexividade da
modernidade se estende ao núcleo do eu, ou seja, que o eu se torna uma “projeto reflexivo
pelo qual o indivíduo é responsável”. Neste entendimento a identidade vai se formando, o
que somos depende do que fazemos de nós. Somos o resultado das escolhas, das ações nas
quais nos envolvemos. Estamos sempre inacabados, estamos sempre nos construindo e
reconstruindo.
Hall (1999, p. 38), também compreende a identidade na sociedade contemporânea
como um projeto do eu e afirma que:
A identidade assume uma perspectiva mais pontual, pois ela emerge não tanto
de um centro interior, de um ‘eu verdadeiro e único’, mas do diálogo entre
conceitos e definições que são para nós representados [...] conceituado como
sedimentações através do tempo daquelas diferentes identificações ou
posições que adotamos e procuramos ‘viver’, como se viessem de dentro, mas
que, sem dúvida, são ocasionadas por um conjunto especial de circunstâncias,
sentimentos, histórias e experiências únicas e peculiarmente nossas como
sujeitos individuais. (HALL, 1999, p. 56)
367
estão sendo formadas.
Com isso a existência de um núcleo essencial do eu, estável, que passe, do início ao
fim, sem mudança, por todas as vicissitudes da história, passa a ser vista como uma mera
fantasia. Na verdade, o que se tem é um sujeito fragmentado, instável, cambiante, deslocado
(tanto de seu lugar no mundo social quanto de si mesmo), composto de várias identidades
(algumas antagônicas ou não resolvidas).
Se a fragmentação ocorre no interior dos indivíduos, ocorre também entre os membros
de um dado grupo, o que permite afirmar que nenhuma identidade mestra é capaz de alinhar
todos os componentes desse grupo. Assim, fracassa sempre as tentativas de determinar a
identidade feminina, a identidade do adolescente, a identidade negra. Em síntese, aspectos
identitários diversos cruzam-se e deslocam-se no interior dos indivíduos e dos grupos,
tornando o processo de identificação descontínuo, variável, problemático e provisório
(HALL, 1999), dependendo das várias conexões e relações vivenciadas pelo sujeito nas suas
relações com os outros. Assim, como reforça Castells (2008), do ponto de vista sociológico,
toda e qualquer identidade é construída. Nesse sentido, a questão principal diz respeito a
como, a partir de que, por quem, para que e a serviço de quem as identidades sociais estão
sendo constituídas, significando que existe uma aproximação entre as relações de poder e três
formas distintas de construção de identidades: legitimadoras, de resistência e de projeto.
A construção de identidade legitimadora é aquela introduzida pelas instituições
dominantes e tem como intenção a expansão de sua dominação em relação aos atores sociais.
Buscam perpetuar seu domínio ocasionando identidades subjugadas ao sistema social vigente.
A construção de identidades de resistência é criada por sujeitos em condições/posições
desvalorizadas e/ou estigmatizadas que encontram em situações desfavorecidas em relação a
dominação, construindo trincheiras de resistência e sobrevivência com base em princípios
diferentes dos que permeiam as instituições da sociedade (CASTELLS, 2008). Encontramos
frequentemente estas identidades de resistência dentro de grupos e movimentos que lutam por
reconhecimento dentro do espaço público, como exemplo do campo agrário podemos citar o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, que a mais de 20 anos defendem uma
política de reforma agrária e para isso organiza mobilizações e manifestações que contribuem
para a reelaboração das identidades de seus militantes.
Na construção da identidade de projeto os sujeitos sociais constroem uma nova
identidade utilizando qualquer material cultural ao seu alcance, capaz de definir sua posição
na sociedade e representa um ideal a ser alcançado e ao fazê-lo, contribui para a
transformação de toda a sociedade (CASTELLS, 2008).
Salientamos que identidades que começam como “resistências” podem acabar
resultando em “projetos”, ou tornarem-se dominantes nas instituições da sociedade,
transformando-se assim em “legitimadoras” para poder continuar dominando. É importante
destacarmos que, nesta visão, cada tipo de processo de construção de identidade leva a um
resultado distinto com relação a sociedade. Portanto, é a partir da predominância das
construções identitárias que as sociedades se modificam. Por isso, as identidades reelaboradas
durante o período de estudo no PROEJA possibilitam transformações na comunidade de
origem do educando, principalmente através da identidade de projeto que permite um projeto
de construção de uma vida diferente, que mesmo oprimida, no caso dos agricultores jovens e
adultos do campo, pode expandisse no sentido de transformação da sociedade.
368
As afirmações de Castells complementam as ideias de Erikso (1976) que afirma que a
identidade se constrói simultaneamente no juízo que o indivíduo faz de si próprio, tendo como
referência os seus julgamentos sobre os outros, os julgamentos dos outros sobre ele próprio,
como também o contexto social em que está inserido.
No entanto, a construção de nossa própria vida não é um processo consistente, linear, e
sim, um percurso complicado que tem que dá conta das descontinuidades e das
transformações constantes da nossa sociedade, ou seja, somos os autores e atores de nossa
identidade.
Nesta perspectiva, para que possamos nos constituir enquanto sujeitos se faz
necessário outro tipo de educação, que possa ser desenvolvida, ao longo da nossa vida,
conforme Paracelso apud Mészáros “A aprendizagem é a nossa própria vida, desde a
juventude até a velhice, de fato quase até a morte; ninguém passa dez horas sem nada
aprender” (MÉSZAROS, 2006, p. 47). Ou seja, nos construirmos indivíduos e formamos
nossa identidade diariamente, nas relações que estabelecemos em sociedade e conosco
mesmo. Portanto, a identidade se apresenta em constante construção a partir da relação do eu
comigo mesmo e com o mundo.
Partindo-se da concepção de que o termo identidade carrega múltiplos sentidos
esclarecemos que neste trabalho estamos entendendo o conceito de identidade a parti da
definição de Alheit, que afirma ser “a identidade uma instancia de mediação entre a
subjetividade individual de uma pessoa e as estruturas sociais” (ALHEIT, 2006).
Reconhecimento e visibilidade
Na contemporaneidade, os estudos sobre reconhecimento e visibilidade categorias
dedicadas em compreender como se constitui o sujeito, sua experiência de relação
intersubjetiva e como os indivíduos se constituem como pessoa. Tais categorias são
consideradas importantes inovações teóricas por levantarem questões no âmbito da
experiência subjetiva, da experiência jurídica normativa e na experiência social.
O estudo sobre a constituição da sociedade e sua relação com o indivíduo não é de
hoje. Muitos estudiosos têm se debruçado em pesquisas tentando compreender como o ser
humano interfere na composição da sociedade e de como a sociedade interfere na constituição
do ser humano. Quem interfere em que? O que a sociedade nos obriga a fazer? Somos na
realidade livres? Estas questões são levantadas por Elias (1994).
Autores como Axel Honneth e Nancy Fraser, partindo da teoria crítica da sociedade
contemporânea focalizada por Haberman elaboram o enfoque crítico e elegem esta categoria,
o reconhecimento, como central para uma compreensão mais aprofundada e crítica sobre a
organização social nas modernas sociedades do Ocidente.
A questão da visibilidade e do reconhecimento do sujeito na sociedade
contemporânea, segundo Honneth e Fraser, partiram da ideia que existe uma construção social
que regula política e socialmente o indivíduo: a esfera pública. Eles partiram da noção de que
todos os indivíduos e suas expressões coletivas fazem parte da esfera pública, mesmo sem o
saberem ou se darem conta.
Ora, para nós, nenhuma definição é neutra. Cada definição vai refletir um momento
histórico, uma localização geográfica, um ambiente cultural, um status social, um
comprometimento político de uma pessoa “individuo”. Por isso, ressaltamos que a escolha por
369
determinadas definições reforça a visão de mundo de quem as escolhe.
A categoria teórica reconhecimento, entrelaçada com a categoria identidade, é, na
contemporaneidade objeto de revisões e de novas interpretações. Axel Honneth e Nancy
Fraser, junto com Charles Taylor são os principais autores que procuraram retrabalhar, cada
um o seu modo, o tema do reconhecimento como sendo central para uma teoria crítica da
sociedade contemporânea.
Honneth (2003), aborda o tema do reconhecimento a partir da sociedade
contemporânea, fase histórica em que o multiculturalismo e o pluralismo social pressionam o
indivíduo e o coletivo social a (re) construírem novas identidades. Esta pressão ou
necessidade de constantes redefinições de papeis individuais e coletivas trouxeram ao centro
do debate uma nova demanda de grupos com identidades específicas e até presentemente tidos
como inferiores ou incapazes ou discriminados a exemplo dos negros, das mulheres, dos
homossexuais etc. Honneth2(2003), a partir dos estudos do jovem Hegel e Mead, focaliza o
reconhecimento como uma luta de pessoas e grupos sociais, sobretudo os mais discriminados
ou excluídos e sustenta que a formação da identidade é um processo intersubjetivo de luta por
mutuo reconhecimento em relação aos parceiros de interação. Os sujeitos ao terem seus
direitos negados, ou seja, ao lhe serem negado o reconhecimento das suas identidades, estes
se sentem oprimidos por um sentimento de desvalorização pessoal e isto os deprimem,
diminuem as suas autoestimas no tocante à capacidade que elas (indivíduos) têm de se
relacionar com os outros de igual para igual. Por isso, o reconhecimento do indivíduo ou do
grupo funciona como uma correção de injustiça propiciando que o sujeito ou os grupos sociais
possam ser reconhecidos, por parte dos outros cidadãos estranhos ao grupo, como
cidadão/grupos portador/es de valor, membro/s pleno/s da comunidade e possuidor/es dos
mesmos direitos e deveres que cabem a qualquer outro cidadão visto como incluídos e
reconhecidos socialmente. O reconhecimento da injustiça possibilita o sujeito/grupo
reconstruir uma autoimagem positiva, que aqui denominamos de reelaboração de identidade,
e assim poder estabelecer relações que contribuam para o desenvolvimento individual e social
e para o fortalecimento das identidades do grupo social anteriormente discriminado.
Honneth (2003), afirma que toda a luta por reconhecimento tem início nas
experiências vivenciadas por sujeitos ou grupos sociais que envolvem situações de
desrespeito, se constituindo como fonte emotiva e cognitiva de resistência social e de levantes
coletivos. A primeira forma de desrespeito apresentada por Honneth se refere ao que toca a
camada da integridade corporal de uma pessoa ou “morte psíquica”. Nessa experiência de
desrespeito são tiradas violentamente de um ser humano todas as possibilidades da livre
disposição sobre o seu corpo e representam a espécie mais elementar de desrespeito social. Os
maus tratos físicos são responsáveis pela perda da confiança em si mesmo, que foi
conquistada através do amor e da capacidade de empoderamento do seu próprio corpo.
Esta forma de desrespeito afeta também a confiança na fidedignidade do mundo
social. Não podemos deixar de ressaltar que esta forma de desrespeito pode encontrar nas
relações de trabalho, estabelecidas nas zonas rurais das pequenas e médias cidades, pois o
agricultor deixa de dominar sua força de trabalho e passa a ser arrendado por grandes
proprietários de terra, para poder sobreviver. Esta forma de violência silenciosa de não
dominação do seu corpo (força de trabalho) contribuir para a perda da confiança deste
trabalhador em si e na sua condição de reverter esta situação.
370
Devemos levar sempre em consideração que para o autor uma luta só pode ser social a
partir do momento em que ela se generaliza para além das intenções individuais, tornando-se
base para um movimento coletivo. Porém, ressalta as necessidades destes movimentos
nascerem sempre em decorrência de lutas por questões ligadas a necessidades econômicas ou
ligadas a questões de reconhecimento por parte do outro.
A segunda forma de desrespeito apresentada por Honneth (2003), se refere a forma
coletiva de privação de direitos, designada como “morte social”. Neste caso a exclusão social
se apresenta na negação da possibilidade de pretensões jurídicas socialmente, ou seja, do
sujeito ser reconhecido como sujeito capaz de formar juízo moral. Esse direito é negado,
quando uma pessoa, ou grupo social não pode se relacionar em pé de igualdade com outros
sujeitos sociais.
O ultimo tipo de desrespeito apresentado por Honneth se refere a negação do valor social dos
indivíduos ou grupos. A forma como a sociedade degrada algumas formas de vida ou modos
de crenças, considerando-as de menor valor ou deficientes, interfere nas condições dos
sujeitos desses grupos atribuir um valor social as suas próprias capacidades (vexação).
Em relação aos educandos do CAVN é a forma de desrespeito entranhada nas suas
lutas, pois ao terem sua identidade social negada, subjugada, depreciada, estes sujeitos passam
a questionar a si próprio como um ser estimado por suas propriedades e características.
Segundo Honneth (2003), as experiências de desrespeito e negação de reconhecimento
sofridas pelo sujeito contribuem para o sofrimento humano de duas formas distintas: a
psicológica e a física, uma vez que uma influencia a outra. Lutar por reconhecimento, através
de ações de resistência política, pode significar a base motivacional para superação das
situações de desrespeito, vergonha e humilhação.
Metodologia e análise
371
relação discursiva com um interlocutor, ao filtrarmos a informação que disponibilizamos a
ele, estamos em processo de construção do mundo e de (re) elaboração da identidade e
também estamos reafirmando a nossa presença nesse mundo.
Como instrumento de coletar das informações, optamos pela entrevista
semiestruturada. Salientamos que para Rosa e Arnolde (2006) este tipo de instrumento é um
processo comunicativo de extração de informação por parte do entrevistador. Entrevistamos
10 educandos que estudam nos 1. Anos dos cursos Técnicos de Nível Médio do CAVN e 10
educandos que estudam nos 3. Anos dos cursos Técnicos de Nível Médio do CAVN. Por
questões éticas, os sujeitos que participaram desta investigação tiveram seus nomes
verdadeiros mudados por pseudônimos. Destacamos que após a realização das entrevistas
estas foram transcritas pelo entrevistador e em seguida analisadas.
A escolha do curso é um indicador que denominamos inicial para a pesquisa, pois a busca
por uma formação profissional atende a objetivos diversos. Se levarmos em consideração a
localização geográfica dos educandos, as condições sociais e financeiras e a própria história
de vidas dos educandos pesquisados teremos caminhos diferenciados durante o percurso de
formação.
Podemos citar, como exemplo, relatos de educandos matriculados nos cursos do
CAVN, que buscam através dos estudos nos cursos agrários adquirirem conhecimentos
necessários para modificação das práticas desenvolvidas há anos pelos familiares e com isso
melhorarem as condições de trabalho da região; melhoria individual, através da elevação da
formação profissional; alguns gostariam de retornar as suas comunidades; tornarem grandes
proprietários agregando valor aos produtos produzidos; buscavam a melhoria da relação do
homem com a terra e a melhoria da qualidade de vida de suas comunidades; sair de casa;
trabalhar na área técnica escolhida; ajudar os familiares, etc.
Como podemos perceber, ao investigarmos os propósitos iniciais de ingresso dos
educandos nos cursos pesquisados poderemos compreender que modificações foram sendo
produzidas e tomaram corpo após o término do curso, nas histórias de vida dos sujeitos
pesquisados.
Cada proposta pedagógica de cursos de formação, de uma maneira geral e de cursos de
formação profissional especificamente, apresenta objetivos quanto ao perfil do educando que
se deseja formar. Tais propostas, ao serem aprovadas por seus conselhos, indicam as bases
teóricas e os princípios que nortearão a organização curricular destes cursos.
Iniciamos nossa análise observando que em suas narrativas os jovens enfatizaram a
gratidão aos estudos, uma vez que os pais de Educando 1, Educando 2 e Educando 3 não
foram alfabetizados, os mesmos destacaram o desejo destes para com os filhos de não
permanecerem nas mesmas condições. O único caso em que encontramos pais alfabetizados é
na família de Santos, no entanto, como ele morou com os avós até, aproximadamente os dez
anos, também relata o incentivo aos estudos por parte de seus familiares. Este incentivo é
motivo de gratidão, demonstrando o valor que os educandos atribuem ao estudo.
Apresentamos abaixo o que apreendemos a partir dos jovens e adultos pesquisados:
372
seis anos sem poder estudar devido ter que trabalhar muito em casa, de
manhã, a tarde e a noite [...] voltei a estudar uns cinco, ou seis anos depois.
Foi quando eu vi que minha família tinha uma certa estabilidade, estava
estabilizada [...] tenho muita lembrança boa da escola... e muita ruim
também. Boa em relação aos professores, que sempre, sempre procurou
melhorar o ensino, sempre procurou ensinar o que é certo. E por outro lado
também, tinha muitas coisas ruins com relação a segurança. Hoje, piorou um
pouquinho mais do que era, mas antigamente não deixa de ser também
violento (Educando 6, 29 anos).
O que me marcou mais... foi assim... as amizades com o pessoal que até hoje
eu tenho. Tem pessoas que me vêem hoje em dia e ainda falam comigo. Até
hoje, tenho o aproveitamento da escolaridade dos professores. Na época eles
não eram formados, mas foram evoluindo e até hoje chegaram a se formar e
assim... foram evoluindo cada vez mais. (Educando 2, 23 anos)
A escola era carente, como era no sitio não tinha lanche você sabe no sitio
vai mais com o intuito do lanche do que aprender como era pequena.
Lembro também das brincadeiras [...] Modelo de aprendizagem para o ser
humano não tinha muita cabeça de como era a escola como os alunos se
desenvolvia lá ia mais com o intuito de aprender brincar e de aprender [...]14
e 15 anos com os alunos era boa, tinha bom desenvolvimento na escola em
apresentação de trabalho, nos grupos para fazer apresentação de trabalho,
boa desenvoltura, com os professores também era ótima, os diretores
gostavam de min, se relacionava bem porque era bem popular procurava
saber com os professores e diretores questões de esporte, promovia torneio
nos finais de ano era o presidente da classe, não existia grêmio só presidente
de sala[...] (Educando 5, 21 anos)
Não lembro que idade eu tinha quando comecei meus estudos, eu era
pequeno... não sei... talvez uns 7 ou oito anos [...] Eu gostava da escola...
sabia a cartilha todinha... Minha mãe colocava a gente na escola contra a
vontade do meu pai... ele só queria que a gente trabalhasse, somente... mas
minha mãe colocava e comprava os cadernos escondidos [...] eu lembro que
eu brigava muito... tinha uma professora que eu gosto dela até hoje... ela me
protegia... assim... quando eu brigava ela não contava pro meu pai, pois sabia
que eu ia apanhar, ele era muito bruto [...] Da escola eu lembro desta
professora e do meu sonho de fazer Direito, queria ser juiz... mas tive que
trabalhar e deixei a escola... (Educando 7, 34 anos)
Meu contato com a escola começou cedo, só que entrava e saia dela com
bastante frequência... só comecei mesmo a estudar por volta dos 10 anos...
tinha que trabalhar... vendia frutas e verduras do sítio em um carro de mão
de casa em casa, durante a semana e no domingo na feira[...] nunca tive
muitos problemas na escola... meus pais valorizavam muito os estudos,
apesar de serem analfabetos [...] A escola naquela época era outra, não tinha
violência, falta de respeito, os alunos respeitava mas... tudo era diferente.
(Educando 1, 24 anos)
373
Eu gostei muito do período da pré-escola, foi meu primeiro contato com a
escola [...] Sempre sentei lá atrás... eu era muito calada... nunca gostei de
contato com professor e alunos... acho que era meu jeito... eu sou tímida...
[...] a escola representava uma esperança de mudar de vida... de ter uma
oportunidade de trabalhar, né. E ajudar meus pais ou pelo menos de ter
minhas próprias coisas, sem precisar deles. [...] A maior alegria foi quando
aprendi a ler e escrever, por eles não saber ler e escrever, para eles era uma
alegria né, vê os filhos sabendo ler [...]. (Educanda 3, 33 anos)
Minha escola era pequena... minha turma na época que entrei para a escola,
chegava aos 20 ou 30 alunos... Fui reprovado na 3 e 4 série, por devido
bagunça... me lembro dos professores, Meriangela principalmente, que me
incentivava muito, confiava em mim e isto foi um incentivo para eu está hoje
aqui... Devo muito a ela, agradeço muito e fico muito feliz quando encontro
com ela... (Educando 4, 24 anos)
O contato inicial dos entrevistados com a escola demonstra a importância que esta
representa para as camadas sociais carentes, como possibilidade de transformação da
realidade social. O papel que a escola desempenha no processo de mobilidade social é objeto
de posições diferenciadas. Autores como Gramsci, Bourdieu e Passeron, Giroux, Apple,
defendem que a educação serve ao capitalismo, reproduz seu sistema, seus meios e relações de
produção. Que é impossível que a produção seja mantida sem que se reproduzam seus meios
materiais, que garantam a manutenção ou o incremento da produção, assim como tornam
necessária a reprodução cultural na sociedade, papel secularmente e ainda atualmente
desempenhado pela escola. Entretanto muitos autores como Adorno, Gramsci, Freire, Giroux,
Apple, defendem que a escola pode assumir a função de transformadora e assim contribuir
através da contra hegemonia para a mudança individual e social.
Ao que parece, a intenção dos entrevistados ao entrar na escola era adquirir
conhecimentos necessários para uma mobilidade social “[...] a escola representava uma
esperança de mudar de vida... de ter uma oportunidade de trabalhar, né” (Educando 3, 33
anos), “Da escola eu lembro desta professora e do meu sonho de fazer Direito, queria ser
juiz... mas tive que trabalhar e deixei a escola... (Educando 7, 34 anos).
No entanto, as condições sociais e econômicas se responsabilizaram por afastar estes
jovens da escola e esta responsabilidade pelo abandono é percebida pelos entrevistados como
individual e necessária para a contribuição com a manutenção da família; “tinha que
trabalhar... vendia frutas e verduras do sítio (Educando 1, 24 anos)”, “Eu entrei na escola com
7 anos de idade e só fiquei dois anos. Desisti...foi... estudei dois anos e larguei para trabalhar e
depois insisti de novo [...] (Educando 6, 20 anos)”.
É comum encontramos nos meios escolares a culpa pelo fracasso escolar geralmente
atribuída ao aluno e as suas condições físicas, cognitivas, sociais e psicológicas.
Menezes-Filho e Leon (2002, p.418), ao analisar este fracasso materializado nos índices de
reprovação escolar no Brasil de 1984 a 1997, apontaram alguns dos fatores que contribuem
para o desempenho na escola, e, consequentemente, para a ocorrência deste fenômeno. Eles
assim afirmaram:
374
[...] o desempenho na escola pode ser influenciado por diversos fatores: as
condições socioeconômicas do estudante, a compatibilidade do estudo com a
inserção no mercado de trabalho [ver Filgueira, Filgueira e Fuentes (2000)],
as condições econômicas e sociais da região onde vive, as suas
características observadas, como idade e sexo, e as não-observadas, como
talento, determinação e vontade de continuar estudando.
(MENEZES-FILHO & LEON, 2002, p.418)
Conclusões
Destaca-se que a pesquisa foi importante, porque propiciou um olhar mais detalhado
sobre as histórias de vida destes educandos, suas relações e construções identitárias,
resignificando suas experiências e contribuindo para reflexões mais elaboradas sobre a vida
vivida. Após a realização da pesquisa, onde colhemos traços das histórias de vida dos
educandos constatamos que os jovens e adultos investigados demonstraram que a escola
representa a possibilidade de mobilidade social. A escola proporcionou a reconquista da
autoconfiança perdida, e consequentemente a adquirir conhecimentos necessários para sua
entrada e permanência no mercado de trabalho. Infere-se que os cursos do CAVN
proporcionaram uma formação madura que permitiu dentro desta relação particular um
reconhecimento recíproco (Honneth, 2003). Ressalta-se que por ser uma pesquisa de PIBIC
Ensino Médio as análises não puderam ser mais aprofundadas respeitando-se o nível de
aprendizagem da equipe.
Referências
375
Université de Bielefeld. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.32, n.1, p. 177-197, jan./abr.
2006
ELIAS, N. O processo civilizador: Uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ed., 1994, v I.
HONNETH, A. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. 2 ed. São
Paulo: Editora 34, 2003.
KRISTEVA, Julia. Estrangeiros para nós mesmos. Trad. Maria Carlota Carvalho Gomes.
Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
376
MÉSZAROS, István. A educação para além do capital. São Paulo: Boi Tempo Editorial,
2006 (Mundo do Trabalho).
377
O COTIDIANO DA ESCOLAS DO CAMPO DO BREJO PARAÍBANO:
ANÁLISE DE “INSTRUMENTOS” LIGADOS AO AUMENTO
OU REDUÇÃO DA INDISCIPLINA ESCOLAR
Resumo
Apresentação
Acredita- se que o sujeito campesino tem sua formação moral baseada principalmente
na relação entre família, escola e comunidade. O que é significativo para a construção da sua
identidade, pautada na adoção de valores, os quais, conforme Silva, (2007) não só orientam a
nossa vida, como dizem o que e por quê é importante o “nosso jeito de pensar e agir. Precisam
fazer parte de nosso sentir e lutar. Por isto, tal qual uma roça, os valores precisam ser
cultivados”. (p.35).
A partir disso, em parceria com o Núcleo de Extensão Multidisciplinar Para o
Desenvolvimento rural (NEMDR) do Campus III da Universidade Federal da Paraíba
(UFPB), tem-se trabalhado através de pesquisa, extensão e ensino no sentido de entender
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: formação moral do campo: o trabalho coletivo
fundamenta a prática e a conscientização de regras básicas a (não) ocorrência da (in) disciplina escolar? / O
cotidiano das escolas do campo do Brejo Paraibano: análise de “instrumentos” ligados ao aumento ou redução da
indisciplina escolar;
Estudante de Iniciação científica: Marinalva Silva Barbosa (e-mail: marinalvasamantha2@gmail.com
@hotmail.com, telefone: (35) 9703-4663)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail: cadrastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientadora: Nilvania dos Santos Silva (e-mail: nilufpb@gmail.com; telefone: (83) 8779-6304)
378
como se dá a formação moral do sujeito campesino, estudando o cotidiano de escolas rurais e
almejando a obtenção de dados essenciais para aprimorar futuras intervenções, respaldadas na
educação contextualizada, como as de formação, inicial e continuada, de profissionais de
educação que atuam nestas instituições.
Quando falamos de construção de valores o fator comportamento vai estar
determinantemente atrelado. Vivemos hoje em uma sociedade globalizada onde tudo se move
em uma velocidade extraordinária. Neste processo busca-se contribuir, através de uma
investigação, para que uma escola do campo auxilie o discente no sentido de proporcionar
serviços educacionais pautados no Artigo 28 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (BRASIL,1996), que respalda que “na oferta de educação básica para a população
rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias à sua adequação às
peculiaridades da vida rural e de cada região”.
Fundamentação Teórica
379
que muda é que este mundo agora é mais do que físico, também inclui as
outras pessoas. Há a adoção de um respeito “místico” pela regra – que é
unilateral. Este consiste na primeira forma de respeito na gênese psicológica
e implica tanto na recepção de normas completamente feitas como na
ausência de valorização recíproca entre os envolvidos.
380
Oportunizar ao aluno condições para que ele vivencie, pratique e assuma,
como hábitos os valores da terra, luta, trabalho, embelezamento, cultura,
vida, a bandeira do MST, solidariedade, participação. A descoberta destes
valores é essencial na construção do caminho ao ser Sem Terra. Contribuir
para que o aluno seja solidário. (SILVA, 2007)
Neste processo é importante que haja investimento na aprendizagem e regras que as quais
disciplinem, na medida do necessário, o sujeito para, enquanto ser ativo, tome decisões
calcadas na autonomia. Para tanto, é necessário a adoção de intervenções que respaldem, por
exemplo, uma gestão democrática, calcada na responsabilidade e no respeito mútuo, para a
construção de uma educação satisfatória construídas com os Movimentos, incentivando o
coletivismo.
Metodologia e Análise
A pesquisa foi realizada nas escolas “Edith da Silva Rodrigues” e “Sólon de Lucena”,
ambas situadas na cidade de Borborema, também ocorreu na “Carlos Hermógenes da Costa
Lira”, situada na zona rural da cidade de Pilões e na “Abel Barbosa da Silva”, situada na
cidade de Areia. A escolha dos participantes não foi aleatória.
Com relação aos participantes, ao todo foram quatro (4) professores, sendo dois da
cidade de Borborema um da cidade de Pilões e um da cidade de Areia, denominados, para
resguardar o sigilo quanto a identidade dos mesmos, de X1; X2; X3 e X4. Todos atuavam em
turmas multisseriadas do Nível I do Fundamental.
Quanto ao procedimento adotado para obtenção dos dados desenvolveram-se as
seguintes ações:
381
Reuniões para subsidiar o planejamento, a execução e a avaliação das ações, de
forma contínua, desenvolvidas pelos integrantes da pesquisa, em parceria com
o Núcleo de Extensão NEMDR;
Elaboração do roteiro de entrevista;
Entrevistas, entre os meses de abril a junho de 2015, de docentes das escolas;
Observação do comportamento dos alunos das escolas citadas acima, através
de gravação em vídeo;
Análise dos resultados obtidos através das ações descritas anteriormente;
Avaliação e divulgação de resultados através de elaboração de relatórios,
resumos e artigos, juntamente com apresentação de trabalhos em eventos
locais, como o Encontro de Pesquisa (ENIC) da UFPB.
Resultados e discussões
É importante salientar que toda discussão tecida será com o propósito central de obter
informações ligadas as regras básicas para a formação moral a partir das perspectivas de
alguns professores (as) das escolas situadas no campo do Brejo Paraibano. Cuja investigação
ocorreu em determinado contexto/época, em parceria com o Núcleo de Extensão NEMDR, da
Universidade Federal da Paraíba. O que exige, consequentemente, cuidados para com a
generalização dos dados. A seguir apresenta-se os resultados, juntamente com a análise das
respostas obtidas mediante as entrevistas dos docentes das escolas rurais.
No início da entrevista questionamos os professores sobre o que eles entendiam por
formação moral. X1 e X4 relacionaram com a responsabilidade da família. Não podemos
negar que esta interação é importante na formação do indivíduo. Quando falamos de formação
no mundo rural Piaget afirma que “o essencial para o desenvolvimento do indivíduo é a sua
ação ao interagir no meio em que vive, que pode gerar os desequilíbrios em várias
perspectivas”, seja cognitiva, moral, afetiva, motora, entre outras (PIAGET, 1973 apud Silva,
2008: p. 81).
382
Dando continuidade X2 considera que a moral se liga com a disciplina, de regras e da
ética. X3 aponta que a mesma estará ligada a “formação do caráter do cidadão”. Segundo
Piaget o desenvolvimento “é uma equilibrarão progressiva, uma passagem contínua de um
estado de menor equilíbrio para um estado de equilíbrio superior”, existindo um “certo
funcionamento constante, que assegura a passagem de qualquer estado para o nível seguinte”
(PIAGET, 1995 apud Silva p. 81), sendo assim, nesse processo a aprendizagem de regras é
um fator atrelado à formação do sujeito, que segue as regras é bem visto em uma sociedade.
Continuamos nossa entrevista perguntando acerca das atividades feitas com os seus
alunos para trabalharem a formação moral. X1 respondeu “Jogos, dinâmicas, leituras de textos
e interpretação oral”, X2 mencionou que trabalha com textos como fabulas onde discute com
seus discentes a atitude do personagem. É importante salientarmos que é preciso ter cuidado
na escolha para que as histórias motivem o aluno, considerando o contexto dele. O X3
informou que trabalha com atividades voltadas para o cotidiano, valores, princípios e respeito
mútuo. Segundo Piaget o respeito mútuo vai estar totalmente desenvolvido no estágio de
autonomia (7 aos 11 anos) onde ele diz que os indivíduos “se consideram como iguais e se
respeitam reciprocamente” (1996 apud Silva 2007: p. 6). X4 responde que trabalha atividades
que envolvem ética, interdisciplinaridade, e enfatiza o papel da família no processo formativo.
Dando continuidade à apresentação e análise das respostas, ao perguntar quais as
histórias ou livros paradidáticos preferidos para trabalhar em sala de aula e o porquê do seu
uso. Como exemplo, evidenciamos a resposta de X4 que afirmou trabalhar com livros de
Cecilia Meireles, segundo o qual
[...] ela mostra a gente a realidade da vida, Cecilia Meireles ela tem uns
contos maravilhosos umas historias lindíssimas, belíssimas que você ver se
referindo, a natureza, e hoje nós estamos o que vendo essa natureza se acabar
e se nós não botarmos os pés no chão e não fizer algo amanhã nós vamos ser
prejudicados, já estamos prejudicados.
[...] as interações sociais entre crianças com idade entre dois e sete anos
ainda são marcadas por formas de linguagem “rudimentar”, dependentes da
ação concreta. O egocentrismo característico da idade conduz à dificuldade
de se colocar sob um ponto de vista diferente do seu. É como se falasse para
si própria e não para outra pessoa, não havendo necessidade de discutir para
383
convencer os outros sobre a veracidade do seu raciocínio. A marca da
linguagem, nesse período, é o “monólogo”, individual ou coletivo.
(PIAGET, 1995, p.91)
Por isso, o uso do grito exerce um tipo de poder unilateral ao seu aluno, ele irá
obedecê-lo por causa do medo, devido a possível consequência da desobediência, e não
porque entende o motivo pelo qual sua postura estaria errada. Ainda referente a questão
número 4, X2, X3 e X4 responderam que usam o diálogo para descobrir o problema e tentar
resolvê-lo. Na heteronomia predomina um tipo de respeito imposto por aquela figura que ele
acredite ser a detentora do poder. Piaget nos indica que o respeito unilateral implica em “uma
primeira forma de relação social que nós chamamos de relação de coação” (apud, Silva, 2007:
p.6).
Já na pergunta 5 da entrevista, que focalizou a opinião dos professores sobre como
seus alunos eram em relação a obediência, pedimos para citarem o comportamento dos três
mais disciplinados e os três menos disciplinados. Vamos analisar a resposta de X2, onde ele
responde “que não tem aquele aluno indisciplinado, mas tem aquele aluno que tem
dificuldade de obedecer”. Supõe-se que X2 não relacione inquietação como fata de
obediência. Vimos isso durante um momento da entrevista na qual o professor dar o seguinte
exemplo “as vezes estou dando aula e passa vários bois na frente da escola, os alunos correm
todos para a janela”. Com esse exemplo podemos deduzir que ele relaciona indisciplina como
sendo análogo a “não ficar quieto”.
Na última pergunta da entrevista, pediu-se para citar algumas atividades trabalhadas
em grupo, assim como a maneira em que seus alunos se comportavam durante as mesmas. X3
mencionou que nas
Ao separamos do seu relato a parte em que diz que tenta sempre repassar o seu
material, podemos atrelar ao que Piaget chama de imitação onde afirma que
Em relação as respostas dadas à esta última questão, por parte dos demais professores
384
suas respostas variaram: X1 irá apontar que trabalha com dinâmicas; X2 não se referiu a
nenhuma atividade trabalhada em grupo; X4 afirmou que tenta agrupar os alunos que tem um
aprendizado melhor os que tem mais dificuldades.
Ao finalizamos nossa análise dos relatos dos professores podemos observar que suas
respostas foram bem adequadas ao estágio moral de seus alunos. Vimos também que eles têm
um certo tipo de apreciação pelas escolas da zona rural. Salientando que as crianças da zona
rural são mais fáceis de educar, menos indisciplinadas que as do urbano, talvez devido a
adoção desde cedo de valores mais ligados ao coletivo, o respeito para com o outro.
No que se refere à formação das regras, segundo Piaget, a partir dos setes
anos a criança encontra-se num estágio de conscientização das regras
denominado de autonomia, que como marcado pela construção de regras
“como resultado de uma livre discussão, e como digna de respeito na medida
em que é mutuamente consentida” (1994: p. 60). Na autonomia há
predomínio do respeito mútuo, presente em relações sociais nas quais os
indivíduos envolvidos “se consideram como iguais e se respeitam
reciprocamente” (PIAGET, 1996, apud Silva 2007: p.6)
Podemos observar então que, no caso das crianças do 3°e 4° ano, a autonomia deu-se
início a construção do respeito unilateral no que se refere as regras. Por isso era esperado que
as crianças deste ano letivo se comportassem conforme a regra, no período da entrevista o
professor não precisou chamar atenção dos alunos em nenhum momento, o que reforça nossa
análise.
Com relação a outra Turma, da escola “B”, de Borborema observamos os alunos da
turma multisseriada do 2° ao 5° ano. Nesta escola o professor também estava aplicando prova.
Nesse dia e nos permitiu observarmos seus alunos. No início podemos constatar que, mesmo
na hora da prova as crianças conversavam muito entre si, depois em um determinado
momento o professor precisou se ausentar por poucos minutos da sala de aula. Após ele sair
as crianças começaram a perguntar umas para as outras qual a resposta de certas questões da
prova, teve um aluno que pegou seu caderno e procurou as respostas, sempre olhando para a
porta para ver se o professor chegava.
Ao analisarmos essa cena podemos concluir que, no momento em que o professor está
em sala de aula ele exerce um tipo de poder para as crianças lhes passando autoridade. Piaget
nos diz que na fase da heteronomia “a formação das regras da criança, ocorre mediante
385
relações sociais nas quais ela desenvolve o sentimento de respeito unilateral para com os seus
superiores, porque a pessoa respeitada aparece como superior (mais forte, hábil e sábia) para a
criança, enquanto está se vê como inferior a quem ela respeita” (PIAGET, 1994 apud SILVA
2008: p.94)
Após sua saída os alunos acharam que poderiam burlar a regra, pois aquela autoridade
não estava presente para lhes repreender, com chegada do professor na sala de aula, eles
guardaram o material que estavam pesquisando. Concluímos assim que as crianças já tinham
um nível de conscientização das regras, pois elas sabiam que pesquisar a prova era errado,
mas se o professor não estivesse ali para vê-los, eles não seriam punidos.
Quanto a observação de alunos da Turma da Escola “C” Pilões, como na maioria
das escolas situadas no campo, essa turma também é multisseriada, sendo 3°, 4° e 5° ano. Ao
chegarmos a sala de aula observarmos sua decoração, chamando nossa atenção cartazes
espalhados, que mostravam aos alunos hábitos que eles tinham que seguir, como escovar os
dentes três vezes ao dia, pedir licença, dizer obrigado. Apontando técnicas utilizadas pelos
educadores e educandos que favoreciam a conscientização sobre a formação de regras.
Em determinados momentos da aula, observamos que três alunos do 5° ano não
queriam participar da aula, ficavam conversando e não queriam fazer a tarefa. Isso contribuiu
para que os menores imitassem os mais velhos. Podemos levar em consideração o pensamento
de Piaget, onde ele diz que
O professor teve de chamar atenção desses alunos maiores várias vezes durante nossa
observação e mesmo assim eles se negaram a participar da aula. Os alunos do 3º e 4° ano
tiveram grande participação na aula, na hora da leitura todos participaram, sendo mais
receptivos para com o professor.
Por último, com relação aos discente da Turma da Escola “D” Areia, composta de
25 alunos do 2° ano, nossa observação ocorreu em julho de 2015. As crianças dessa turma
eram bem inquietas, ficavam correndo pela sala e saindo constantemente mesmo que o
professor falasse que não saísse. Elas não consideravam as regras impostas pelo professor
como validas. Podemos concluir que elas ainda estavam centradas no egocentrismo
característico da idade. Ocorriam também conversas com os outros colegas e em
determinados momentos ouvimos gritos oriundos desses grupos.
Também sabemos que nessa fase as crianças geralmente usam “monólogos” para se
comunicarem, nesse sentido Piaget (1995) irá nos dizer que “a criança não fala somente às
outras, fala a si própria, sem cessar, em monólogos variados que [...] constituem de um terço
da linguagem espontânea entre crianças de três e quatro anos, diminuindo por volta dos sete”
386
(apud SILVA, 2008: p.91). Ao terminamos nossa entrevista com a professora nós observamos
que quase todos os alunos saíram da sala de aula, sobrando apenas alguns. Ela nos relatou que
era difícil educar aquela turma por que eram pequenos e indisciplinados.
Conclusão
Referências
BRASIL, MEC. Diretrizes Operacionais para a Educação Básica das Escolas do Campo.
CNE/MEC, Brasília, 2002
_______. Seis Estudos de Psicologia (21ª ed.) Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995
387
Desenvolvimento do Campo Brasileiro: o papel dos Observatórios de Educação ..., Sergipe.
2007a.
388
POLÍTICAS PÚBLICAS, DESIGUALDADE E VULNERABILIDADE
SOCIAL NAS PEQUENAS CIDADES DO CARIRI PARAIBANO
Resumo
O artigo tem como objeto de reflexão as políticas públicas destinadas à redução das
desigualdades e da vulnerabilidade social, com vistas à promoção do desenvolvimento social
nas pequenas cidades do Cariri paraibano, região localizada na porção Centro-Sul do Estado
da Paraíba. A partir de análises das informações obtidas por meio de pesquisas bibliográficas,
coleta de dados secundários em órgãos públicos e trabalhos de campo, buscamos explicar os
efeitos decorrentes do Programa Bolsa Família nas condições de vida das famílias em
situação de pobreza e em condição de vulnerabilidade social. Os resultados alcançados
revelaram que essa política pública está provocando melhorias na vida da parcela mais pobre
da população que habita a região pesquisada. Contudo, a desigualdade e a situação de
vulnerabilidade social ainda persistem de maneira acentuada e são decorrentes da ausência de
oportunidades e de liberdade, as quais, no nosso entendimento, são condições indispensáveis
ao desenvolvimento social.
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Políticas públicas, desigualdades e vulnerabilidade social: o
que diferencia os desiguais no Cariri Paraibano? / Políticas públicas, desigualdade e vulnerabilidade social nas
pequenas cidades do Cariri Paraibano.
Estudante de Iniciação Científica: Suayze Douglas da Silva (e-mail: suayzedouglas@hotmail.com, telefone: (83)
98720-9317)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientador: Anieres Barbosa da Silva (e-mail: anieres@uol.com.br, telefone: (83) 98831-2487)
389
pobreza e em condição de vulnerabilidade social nas pequenas cidades daquela região, a qual
está localizada na porção Centro-Sul do Estado da Paraíba.
390
integrada das atividades econômicas, sociais e políticas, envolvendo múltiplas instituições e
as muitas condições de agentes, relacionadas de forma interativa para se analisar o
desenvolvimento, que consiste em eliminar as privações de liberdades que limitam as
escolhas e as oportunidades das pessoas de exercer ponderadamente sua condição de agente.
No Cariri paraibano, assim como em outras porções territoriais do semiárido
nordestino, as realidades são caracterizadas por problemas de ordem socioeconômica, o que,
certamente, contribui também para a emergência de diferenças entre os desiguais, tanto no
meio rural quanto nas pequenas cidades da região. Desse modo, é possível inferir que a área
de estudo se constitui num espaço onde o problema da desigualdade social existente no
espaço brasileiro fica evidenciado, visto que a pobreza se manifesta, aparentemente, de duas
maneiras: uma do ponto de vista econômico, expressa por um mercado de trabalho escasso na
oferta de emprego, sendo o serviço público municipal quase a única alternativa para a
população trabalhadora, e a outra, está associada às precárias condições de infraestrutura. As
precariedades de infraestrutura dos serviços e dos equipamentos sociais colaboram, portanto,
para as condições mínimas de reprodução social das populações e tornam-se elementos
impeditivos para o desenvolvimento de capacidade e de liberdade.
Essa realidade, pautada pela desigualdade social, é produto de uma combinação de
heranças de condições e de escolhas de natureza econômica, política e cultural, que são
inibidoras de um processo social democrático no país. Assim, esta pesquisa é norteada pelo
pressuposto de que as desigualdades socioespaciais devem ser compreendidas como
originárias de um processo de distribuição desigual de liberdade e oportunidade, e que
assumem um caráter dialético enquanto produto e condição da ausência de liberdade e da
baixa capacidade das populações, tornando-se, portanto, um dos principais fatores de
limitação para as populações na construção do desenvolvimento socioespacial.
De modo geral, a temática abordada ainda é pouco estudada no âmbito da Geografia
paraibana, visto que a maioria dos estudos, até então realizados, não consideram, por
exemplo, a desigualdade e a situação de vulnerabilidade social decorrente da ausência de
capacidade e de liberdade, as quais, no nosso entendimento, são condições indispensáveis ao
desenvolvimento social, ficando este, portanto, distribuído de forma bastante desigual.
Fundamentação teórica
Toda pesquisa precisa de um marco teórico que lhe dê sustentação. Os marcos teóricos
da pesquisa em pauta – Políticas públicas, desigualdades e vulnerabilidade social: o que
diferencia os desiguais no Cariri Paraibano? – serão explicitados aqui, de maneira resumida,
por meio de algumas categorias, termos ou conceitos (num permanente diálogo entre teoria e
problema a ser investigado), como desenvolvimento, desigualdade e vulnerabilidade social.
Iniciando este diálogo teórico, queremos, de antemão, deixar claro que “não há
conceito simples. Todo conceito tem componentes, e se define por eles”, como afirmam
Deleuze e Guatarri (1992, p.27). Ou seja, toda noção, conceito ou termo tem uma história,
seus elementos e metamorfoses; tem interações entre seus componentes e com outros
conceitos; tem um caráter processual e relacional num único movimento do pensamento com
superações; as mudanças significam, ao mesmo tempo, continuidades, ou melhor,
391
(des)continuidades; o novo contém o velho e este, aquele (DEMATTEIS, 2010). Isso não
deve ser diferente em relação aos termos, conceitos ou categorias que passaremos a refletir
teoricamente a partir deste instante.
Existem distintos referenciais por meio dos quais é possível realizar uma análise e
compreensão de processos e dinâmicas de desenvolvimento, uma vez que por muito tempo
inúmeras discussões foram desencadeadas por pesquisadores e teóricos para responder
diversos questionamentos, como por exemplo: Quais os caminhos para a superação da
pobreza, da desigualdade e da vulnerabilidade social? Como promover o desenvolvimento em
regiões carentes e estagnadas economicamente? Até que ponto as políticas públicas tem sido
eficazes na eliminação das privações de liberdade das populações? Que políticas de promoção
social e econômica têm sido viabilizadas pelos governos municipais com vistas ao
enfrentamento das desigualdades e das condições de vulnerabilidade? O que mudou com
relação à implementação de políticas públicas com vistas à promoção do desenvolvimento
social? Na maioria das vezes, as respostas foram apresentadas com propostas, planos e ações
que consideravam, sobretudo, a busca do crescimento econômico.
Fazendo uma revisão sucinta dos principais paradigmas do desenvolvimento, após
1950, o termo já esteve associado às mais diferentes concepções: modernização por
industrialização (década de 1950), desenvolvimento endógeno ou da dissociação (década
de 1960), equacionamento das necessidades básicas (década de 1970), ajuste estrutural
(década de 1980), desenvolvimento sustentável (década de 1990), governança global (fins
dos anos de 1990).
É evidente que essas concepções não foram aplicadas de forma contínua ou linear em
nenhum país ou região, uma vez que, do ponto de vista operacional e ideológico, algumas são
antagônicas. Esses paradigmas, que se configuram após a Segunda Guerra Mundial, refletem
a insatisfação com resultados e a incerteza da estratégia mais adequada para propiciar o
desenvolvimento em contextos e escalas geográficas diferentes.
Em Desenvolvimento como liberdade, Amartya Sen (2000) distingue duas alternativas
que se contrapõem e que estão presentes tanto nos debates públicos como nos estudos de
economistas. A primeira alternativa entende o desenvolvimento “como um processo feroz,
duro, disciplinado, um processo com muito sangue, suor e lágrimas num mundo no qual
sabedoria requer dureza”, diz Sen (2000, p.51). Nesse sentido, a construção do
desenvolvimento suscita o afastamento, da forma mais ampla possível, de questões
relacionadas à democracia, ao meio ambiente e aos direitos políticos e civis. A construção do
desenvolvimento, portanto, deve se processar sobre as bases sólidas do trabalho incansável,
pois o necessário aqui e agora é dureza e disciplina (SEN, 2000). Essa concepção sinaliza para
a compreensão do desenvolvimento como progresso e crescimento econômico. No Brasil, ela
perdurou por várias décadas e esteve presente nas políticas públicas estabelecidas pelos
governos estadual, municipal e federal, sendo os seus resultados considerados insuficientes,
do ponto de vista social, uma vez que foram intensificadas as desigualdades sociais no país.
A segunda alternativa admite o desenvolvimento como um processo menos rígido. Sen
(2000), assevera que nesta perspectiva de desenvolvimento a aprazibilidade do processo é
exemplificado por coisas como trocas mutuamente benéficas (...), pela atuação de redes de
segurança social, de liberdades políticas ou de desenvolvimento social ou por alguma
combinação dessas atividades sustentadoras. A tese do autor é de que o desenvolvimento pode
392
ser visto como um processo de expansão das liberdades reais que as pessoas desfrutam, sem
deixar de lado o crescimento econômico, o aumento da renda e a melhoria dos processos
produtivos.
Os primeiros trabalhos desenvolvidos sobre vulnerabilidade estavam balizados pelas
preocupações de abordar de forma mais abrangente o fenômeno da pobreza e as diversas
modalidades de desvantagem social (ABRAMOVAY, 2000). No contexto latino-americano, a
abordagem analítica da vulnerabilidade social se torna sistemática a partir dos trabalhos de
Caroline Moser. Em 1998, ao estudar as estratégias de redução da pobreza urbana, essa autora
ressalta a importância dos ativos das famílias, não se referindo apenas à renda ou posse de
bens materiais, o que do ponto de vista da formulação de políticas públicas pode ser
considerado uma inovação.
A vulnerabilidade, nesse sentido, é um conceito que requer diversas unidades de
análise, como, por exemplo, indivíduos, domicílios e comunidade, bem como que sejam
colocados em evidência os eventos que afetam ou tornam as pessoas vulneráveis e
predispostas ao risco social, sendo este uma situação mais que a vulnerabilidade. Este
fenômeno social vem sendo motivo de preocupação de diversos pesquisadores, bem como de
organismos governamentais e de Organizações Não-Governamentais, sobretudo quando se
constata as perversidades socioeconômicas decorrentes do atual processo de globalização da
economia, no qual alguns espaços são selecionados para a reprodução do capital enquanto
outros ficam à margem do processo de desenvolvimento econômico e social, como é o caso
do Cariri paraibano.
Nessa região, a população economicamente pobre e com precárias condições de
reprodução social se transforma numa presa fácil do assistencialismo, e da dependência dos
favores do poder local, configurando, portanto, um quadro de privações de liberdades
políticas, sociais e econômicas. Essa compreensão se coaduna com o pensamento de
Kaztman; Wormald (2002), ao destacar que a pobreza se refere às privações vividas tanto
pelas pessoas como pelos lugares na satisfação de suas necessidades básicas, em particular as
necessidades materiais.
No que diz respeito à desigualdade, a literatura consultada nos permite compreender
esse fenômeno como algo associado à pobreza, ao crescimento econômico insuficiente, à
democracia de baixa qualidade, tanto no que se refere aos direitos sociais quanto aos direitos
políticos. Logo, a pobreza não pode ser definida de forma única, até porque se manifesta de
maneira desigual em cada território, que, por sua vez, é caracterizado pelas particularidades
econômicas, políticas e sociais.
Nesse sentido, a desigualdade desafia a Geografia a enfrentar a tarefa de colaborar no
entendimento da origem dos processos que este fenômeno social produz e solidifica, sendo os
municípios brasileiros sujeitos políticos e objetos de análises que podem originar processos de
ruptura ou reforçar os processos estruturadores das desigualdades (CASTRO, 2005).
O Cariri paraibano apresenta uma população urbana (105.539 habitantes) superior se
comparada com a população rural (79.696 habitantes). Como a nossa área de estudo são as
pequenas cidades dessa região, se faz necessário apresentar, embora de maneira não
sistematizada, alguns dados relacionados à taxa de urbanização, referente aos anos de 1991,
2000 e 2010, pois esses dados também auxiliam na compreensão de outros aspectos que
expressam as diferenças intrarregionais existentes.
393
A partir desses dados verificamos que todos os municípios do Cariri paraibano, com
exceção de Prata e Serra Branca, tiveram um aumento na taxa de urbanização nos anos de
2000 para 2010. No entanto, estes dois municípios já apresentavam mais de 60% de
urbanização. Alguns municípios que tiveram uma taxa de urbanização elevada apresentavam
um índice menor que 50%, isto é, o aumento que ocorreu nesses anos foi pequeno, por
exemplo: em 2000, a taxa de urbanização do município de Barra de Santana era de 7,24% e
passou para 8,91% em 2010. Além disso, o mesmo município apresenta a menor taxa de
urbanização se comparado aos demais. Também é importante destacar que dos dezessete
municípios pertencentes ao Cariri Ocidental, apenas Coxixola (44,16%), São João do Tigre
(34,78%) e São José dos Cordeiros (41,23%) apresentavam, no ano de 2010, taxa de
urbanização menor que 50%. Por outro lado, dos doze municípios do Cariri Oriental, apenas
Boqueirão (71,09%), Gurjão (67,36%), Riacho de Santo Antônio (68,87%) e São João do
Cariri (54,03%) apresentavam taxa de urbanização maior que 50%, naquele período.
Diante dessa realidade, associada a outros dados trabalhados durante a pesquisa,
podemos inferir que a área urbana dos municípios do Cariri paraibano comporta parcelas
expressivas da população em condições de desigualdades e vulnerabilidades. Nesse caso,
podemos considerá-la diferenciada e que as diferenças intrarregionais podem ser atribuídas à
inexistência ou incipiência de equipamentos de infraestrutura (água tratada, iluminação
pública, coleta de lixo, equipamentos educacionais, de lazer e de saúde, por exemplo)
presentes na maioria dos municípios pesquisados, e que também favorecem as condições de
desigualdades, vulnerabilidades e pobreza existente nos espaços urbanos das pequenas
cidades da região.
Ao refletir sobre a pobreza urbana, Santos (1978) enfatizou que ela é um fenômeno
que atinge todos os países, sobretudo os subdesenvolvidos. Nesses países, como é o caso do
Brasil, o processo de urbanização foi bastante acelerado e isso também provocou a expansão
da pobreza, fazendo com que este fenômeno atinja de maneira desigual diferentes cidades de
um mesmo país. Em outras palavras, o autor ressaltou que alguns aspectos da pobreza urbana
estão vinculados à urbanização, mas, também enfatizou que devemos ter cuidado para não
tratar este fenômeno de maneira simplista, sendo preciso descobrir as verdadeiras causas da
pobreza, além de procurar solucioná-las.
394
produtivo.
Esses tipos de privações se destacam no estudo de Sen (2000). Para esse autor, devem
ser removidas as principais fontes de privação de liberdade: a pobreza e a tirania, a carência
de oportunidades econômicas e destituição social sistemática, a negligência dos serviços
públicos e a intolerância ou interferência excessiva de Estados repressores, para que se
obtenha o desenvolvimento social. Ressalta, ainda, que o mundo global em que vivemos nega
liberdades elementares à grande maioria das pessoas, ou seja, a liberdade de saciar a fome, de
obter nutrição satisfatória ou de obter remédios, a oportunidade de vestir-se ou de morar de
modo adequado, de ter acesso à água tratada, saneamento básico, programas de assistência
médica e educação. Enfim, nega as liberdades políticas e civis e impõe restrições à liberdade
de participar da vida social, política e econômica da comunidade.
Em face do crescimento significativo dos índices de pobreza, miséria e vulnerabilidade
social, especialmente no meio rural, o debate em torno das diversas perspectivas de
desenvolvimento esteve presente no contexto nacional, regional e internacional. Tal fato,
também propiciou a busca de novos caminhos ou alternativas de desenvolvimento,
principalmente nos países economicamente pobres, os quais emergiram em meio à retomada
de outros debates que tinham como temáticas principais os agravos ambientais, a economia
solidária, a democracia participativa, o controle social dos espaços, os movimentos sociais,
dentre outros.
A questão das desigualdades sociais no Brasil e a proposta de contribuir para a sua
compreensão, considerando como objeto de estudo o município, ou especificamente o rural ou
o urbano, requer considerar a perspectiva do espaço da política. Este é balizado pelo conceito
de território que se encontra intrinsecamente incorporado às noções de poder e de controle.
Em outras palavras, o território é definido e constituído a partir de relações fundamentalmente
políticas, sendo possível perceber, no conjunto de fatores que resultam diretamente da
política, a centralidade das dinâmicas territoriais que afetam a organização da base material da
sociedade. Desse modo, o território deve ser observado como um continente de sistemas de
interesses, que na maioria das vezes, são os fundamentos da necessidade da política e das suas
instituições para o controle dos conflitos (CASTRO, 2005).
O território, nesse caso, é definido a partir de seus usos, das experiências e resultados e
das organizações de cooperação que foram geradas pelos seus usos e para esses usos, numa
interação dos atores sociais. Ele exerce um papel ativo, na medida em que é,
simultaneamente, um ator (agente) e um palco (lugar), como destacado por Santos e Silveira
(2008). Esses autores também advertem que
395
visão relacionada à qualidade de vida, sem deixar de buscar a eficiência produtiva, pois se
volta para as necessidades dos indivíduos e para a participação destes no processo de
desenvolvimento. Sendo assim, o desenvolvimento pode ser visto como resultante de ações
articuladas que visam induzir mudanças socioeconômicas e ambientais, configuradas em um
processo evolutivo, interativo e hierárquico quanto aos seus resultados e se encontra em uma
base territorial, local ou regional (SCHNEIDER, 2003).
Em conjunto ao que foi exposto até então, o estudo que realizamos na região do Cariri
paraibano, no período de 2012-2013, cuja temática estava direcionada à compreensão das
políticas públicas e tecnologias sociais para convivência como o semiárido, tendo como
referência as experiências de uso e manejo de água naquela região, possibilitou a constatação
que essa porção do território paraibano, sobretudo o seu meio rural, se constitui em um espaço
marcado pela presença da pobreza e da vulnerabilidade social, evidenciando, nesse caso, uma
territorialidade bastante perversa.
Logo, pensar o desenvolvimento social levando em consideração a diferenciação
territorial é importante, principalmente quando se trata de políticas públicas que buscam
reduzir a desigualdade e a vulnerabilidade social, pois se faz necessário que as fontes de
privação da liberdade sejam totalmente removidas da vida social.
Metodologia e análise
396
necessário estudar as políticas públicas pelo enfoque geográfico, isto é, entendê-las como uma
política espacial que repercute no espaço geográfico, compreendido como social e histórico
que
se define como união indissolúvel de sistemas de objetos e sistemas de
ações, e suas formas híbridas, as técnicas, que nos indicam como o território
é usado: como, onde, por quem, por quê, para quê (SANTOS; SILVEIRA,
2008, p.11).
397
mencionado diz respeito ao número de pessoas que se encontram em condição de extrema
pobreza. Na região Nordeste, mais de 52% da população que está na condição de extrema
pobreza reside no meio rural.
Na busca de mudar essa realidade, o Programa Brasil Sem Miséria se constitui numa
política pública que envolve aproximadamente 100 ações, sendo distribuídas em três grandes
eixos de atuação, a saber: garantia de renda, acesso a serviços e inclusão produtiva. O
primeiro eixo é relativo às transferências monetárias feitas para as famílias com o intuito de
amenizar situação de extrema pobreza. Nesse aspecto, é importante destacar o Programa
Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada, além da Ação do Brasil Carinhoso. O
segundo eixo trata do acesso a serviços e do provimento, ampliação e qualificação dos
serviços e ações de cidadania e de bem-estar social. E o terceiro eixo, o da inclusão produtiva,
está relacionado ao fomento de oportunidades de qualificação, de ocupação e de renda. Nesse
caso, podemos destacar o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego –
PRONATEC/Brasil Sem Miséria.
Embora essas políticas públicas, assim como outras que não foram citadas, exerçam
um papel importante no combate aos fenômenos sociais que tratamos nesta pesquisa,
escolhemos como objeto de estudo o Programa Bolsa Família. A escolha dessa política
pública relaciona-se ao fato de que ela é caracterizada pelas oligarquias dominantes como
apenas uma política de transferência de renda. Para desconstruir esse discurso propagado pela
mídia, colocaremos também em evidência os aspectos educacionais e de saúde, os quais se
fazem presentes no Programa Bolsa Família, ou seja, esses elementos contribuem para que a
população, no nosso caso, aquela que reside nas pequenas cidades do Cariri paraibano, tenha
uma vida mais digna e, consequentemente, escape das armadilhas pensadas pelas oligarquias.
O Programa Bolsa Família é uma política que transfere renda para aquelas famílias
que se encontra em situação de pobreza (renda mensal por pessoa entre R$ 77,01 e R$
154,00) e de extrema pobreza (renda mensal por pessoa de até R$ 77,00). Este programa foi
criado pelo Governo Federal no ano de 2003 a partir da unificação de quatro programas
federais, a saber: o Programa Bolsa Escola (Lei nº. 10.219 de 11/04/2001 e Decreto nº. 4.313
de 24/07/2002 – extinto em 2003), que estava sob a responsabilidade do Ministério da
Educação; O Programa Bolsa Alimentação (MP nº. 2.206-1 de 06/09/2001 e Decreto nº. 3.934
de 20/09/2001 – extinto em 2003), que estava a cargo do Ministério da Saúde; o Programa
Auxílio-Gás (MP nº. 18 de 28/12/2001 e Decreto nº. 4.102 de 24/01/2002 – extinto em 2008)
que estava sob a responsabilidade do Ministério de Minas e Energia; e o Programa Cartão
Alimentação (Lei nº. 10.689 de 13/06/2003 e Decreto nº. 4.675 de 16/04/2003 – extinto em
2003). Este último também era conhecido pelo nome de Programa Nacional de Acesso à
Alimentação (PNAA).
O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), criado em 1996, e que estava
sob a responsabilidade da Secretária de Estado da Assistência Social (SEAS), foi incorporado
ao Programa Bolsa Família em dezembro de 2005. O PETI foi um programa de transferência
de renda condicionada, isto é, as famílias beneficiadas teriam que investir na educação e na
saúde.
Embora o Programa Bolsa Família tenha sido criado apenas em 2003, sua construção é
uma consequência de uma trajetória das políticas sociais nos últimos quarenta anos,
essencialmente depois da Constituição de 1988, que solidificou aspectos fundamentais para a
398
criação de um novo sistema brasileiro de proteção social (SOARES; SÁTYRO, 2009).
Diante desse breve contexto histórico, o Programa Bolsa Família foi instituído por
meio da Medida Provisória nº. 132 de 20 de outubro de 2003. A sua gestão foi estabelecida
pela Lei nº. 10.836 de 09 de janeiro de 2004 e regulamentada pelo Decreto nº. 5.209 de 17 de
setembro de 2004. Dentre os seus objetivos estão: a redução da pobreza e da desigualdade de
renda e o atendimento dos beneficiários na área da saúde e educação.
Nesse sentido, o MDS (2015) ressalta que o Programa Bolsa Família possui três eixos,
a saber: a) a transferência de renda, que provoca um alívio em relação à pobreza; b) as
condicionalidades, as quais permitem o acesso a direitos sociais básicos – educação, saúde e
assistência social; e c) as ações e programas complementares que buscam tornar possível o
desenvolvimento social, de modo que as famílias atendidas pelo programa superem a situação
de vulnerabilidade.
Para participar e permanecer no Programa Bolsa Família, as pessoas beneficiadas
precisam assumir e cumprir alguns compromissos, chamado também de contrapartidas, que
são impostos pelo Programa, tanto na área da educação quanto na de saúde. No primeiro
aspecto, os jovens entre 6 e 15 anos devem estar matriculados e apresentar uma frequência
escolar mensal mínima de 85% da carga horária. Por outro lado, os adolescentes entre 16 e 17
anos, devem ter uma frequência mínima de 75%. Desse modo, esse Programa também está
combatendo o trabalho infantil, uma vez que a criança beneficiada deverá estar na escola. Já
no aspecto da saúde, é necessário que as famílias tenham o seu cartão de vacinação
atualizado; que as mães acompanhem as fases da vida das crianças menores de 7 anos; que as
mulheres entre 14 e 44 anos precisem de acompanhamentos médicos; além das gestantes ou
nutrizes (lactantes) realizarem o pré-natal e acompanhar a sua saúde e a do seu bebê.
Apesar da importância dessas condicionalidades na melhoria das condições de vida da
população beneficiada pelo Programa Bolsa Família, constatamos que ainda são elevados os
percentuais de analfabetismo das pessoas que moram nos municípios do Cariri paraibano no
ano de 2010, com mais de 15 anos de idade.
40,0%
35,0%
30,0%
25,0%
20,0%
15,0%
10,0%
5,0%
0,0%
Barra de São…
Riacho de Santo…
São Domingos…
São Sebastião…
Boqueirão
Cabaceiras
Coxixola
Livramento
Assunção
Caturité
Gurjão
Monteiro
Amparo
Sumé
Zabelê
Camalaú
Caraúbas
Parari
Prata
Santo André
Alcantil
Barra de Santana
Serra Branca
Taperoá
Congo
Ouro Velho
A partir dos dados do gráfico 01, percebemos que a maioria dos municípios da região
399
do Cariri paraibano apresenta percentuais de analfabetismo entre 20% e 35%, o que
consideramos ainda bastante elevado, sobretudo se considerarmos o contexto atual que é
caracterizado pelo meio técnico-científico-informacional. Apesar desses dados, deve ser
evidenciado que houve melhora dos percentuais quando comparados com décadas anteriores,
o que, de certo modo, contribui para reafirmar a tese de que o Programa Bolsa Família tem
contribuído de forma significativa para a melhoria das condições de vida de inúmeras famílias
residentes em regiões economicamente pobres e com elevados índices de desigualdade
socioespacial.
No momento da criação do Programa Bolsa Família, esta política pública beneficiava
3.615.596 famílias, mas o Governo Federal trabalhava com uma estimativa de beneficiar 11
milhões de famílias pobres. Com este foco, entre os anos de 2004 e 2006, as famílias
beneficiárias dobraram. Mas foi apenas em 2006 que o Governo Federal atingiu 11,1 milhões
de famílias (SÁTYRO; SOARES, 2009). No período que corresponde de 2006 até inicio de
2009 não houve crescimento em termos numéricos, conforme ressaltou Soares; Ribas; Soares
(2009). A cobertura do programa para alcançar 13,7 milhões foi estabelecida pelo o Governo
Federal e deveria ser alcançada até o final de 2009 (SOARES; SÁTYRO, 2009).
Em abril de 2015, o MDS divulgou uma notícia sobre a cobertura do Programa Bolsa
Família. De acordo com o órgão, o Programa beneficiava aproximadamente 14 milhões de
famílias brasileiras, isto é, mais de 50 milhões de pessoas. Também é destacado o crescimento
médio do benefício que era de R$ 73,70 em outubro de 2003 passando para R$ 167,79 em
abril daquele mesmo ano. Aquela realidade, em termos orçamentários, por exemplo, custava
para o Programa apenas 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB).
A cobertura da população e os números de benefícios concedidos são alguns dos
critérios levados em consideração para medir o tamanho ou abrangência do Programa Bolsa
Família, que é superado apenas pelas seguintes políticas sociais: Sistema Único de Saúde
(SUS); educação pública e previdência social (SOARES; RIBAS; SOARES, 2009). A
percentagem da população beneficiada pelo Programa Bolsa Família nos municípios do Cariri
paraibano é apresentada no gráfico 02.
Gráfico 02. Percentagem de pessoas atendidas pelo Programa Bolsa Família nos municípios
do Cariri paraibano no ano de 2014
90,00
80,00
70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
-
Barra de São…
Riacho de Santo…
Boqueirão
Livramento
Assunção
Caturité
Coxixola
Gurjão
Prata
Monteiro
Santo André
Sumé
Zabelê
Camalaú
Caraúbas
Parari
Congo
Alcantil
Ouro Velho
Serra Branca
Taperoá
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do MDS (2014), publicados na Folha de São Paulo, em edição de
30 de outubro de 2014.
400
Os dados apresentados no gráfico revelam que dos 29 municípios do Cariri paraibano
apenas dois, Barra de Santana (49,40%) e Parari (49,95%), apresentam uma porcentagem
inferior a 50% de famílias beneficiadas pelo Programa Bolsa Família. Os municípios de
Amparo, Camalaú, Congo, Santo André e São João do Tigre são os que apresentam os mais
altos percentuais de famílias beneficiadas (acima de 70%), ou seja, àquelas que são mais
vulneráveis à pobreza e a insuficiência de renda.
No entanto, aquela realidade não corresponde mais aos dias atuais, tendo em vista os
desmontes das políticas públicas pelo governo de Michel Temer, provocando, nesse sentido, o
retorno de parcelas da população de pequenas cidades do Cariri paraibano à condição de
extrema pobreza. Corroborando com este fato, o discurso midiático propaga que o Programa
Bolsa Família desestimula o beneficiário a trabalhar, além de ser uma grande despesa para os
cofres públicos. Para combater essa ideia, que consideramos errônea, apresentamos um dado
bastante significativo divulgado pelo MDS em abril de 2015. Naquela época, o órgão
anunciou que em 11 anos mais de 3.155.201 famílias beneficiadas saíram voluntariamente do
Programa Bolsa Família em todo o país. Esses números também incluem aquelas famílias que
deixaram o Programa nos quatro primeiros meses do ano de 2015. Em outras palavras, o
Programa Bolsa Família complementou a renda das famílias beneficiadas, bem como
provocou melhorias nas condições de vidas dessas pessoas, as quais saíram do Programa
voluntariamente.
De acordo com Medeiros; Britto; Soares (2007), alguns críticos do Programa se
limitaram em apontar uma ou mais famílias atendidas que possuem uma renda acima do que é
permitido pelo Programa, ou seja, a partir deste fato, começaram a fazer inferências sobre a
gestão do Programa. Os autores continuam ressaltando que
casos isolados não são evidências adequadas para avaliar programas que,
juntos, afetam diretamente quase quatorze milhões de famílias. Identificar o
público de fato beneficiado por esses programas é crucial para determinar
em que medida seus objetivos estão sendo atingidos e o que pode ser feito
para melhorá-los (MEDEIROS; BRITTO; SOARES, 2007, p.10).
Apesar das críticas e dos problemas relacionados à sua gestão, corroboramos com o
pensamento daqueles que consideram o Programa Bolsa Família como uma política que
revolucionou a proteção social do Brasil, onde seus impactos foram importantes, sobretudo no
combate à desigualdade e da pobreza, sendo que não podemos encontrar impactos negativos
produzidos pelo Programa (SOARES; SÁTYRO, 2009).
Diante dessa realidade, concordamos com Carapetkov (2010) ao afirmar que o
Programa Bolsa Família tem impacto tanto na vida dos beneficiários quanto na redução da
pobreza e da desigualdade regional e nacional, pois há melhorias nos aspectos econômicos e
sociais das cidades em que as pessoas beneficiárias moram.
Em suma, ressaltamos a importância do Programa Bolsa Família na melhoria das
condições de vida da população. Contudo, para que a sua eficácia seja cada vez mais efetivada
se faz necessário que os três eixos do Programa Brasil Sem Miséria sejam trabalhados de
maneira articulada (algo nem sempre presente nas ações governamentais), permitindo, nesse
sentido, o enfrentamento da extrema pobreza e, consequentemente, possibilitando a
401
reprodução social dos beneficiados das políticas públicas. Essa forma de pensar não é tão
recente, pois Josué de Castro, em sua obra clássica Geografia da Fome, já apontava, com
muita propriedade, a educação, a revolução cultural e a orientação política do povo como
caminhos para a superação da pobreza e da fome no semiárido. Além disso, destacava a
necessidade de uma mudança estrutural do sistema socioeconômico e político, ao propor, por
exemplo, projetos de desenvolvimento econômico do Nordeste num contexto de uma política
nacional de desenvolvimento. Logo, isso pressupõe uma mudança significativa no modelo de
desenvolvimento e na execução de políticas públicas.
Portanto, ressaltamos que os municípios brasileiros, e principalmente os seus espaços
urbanos, representam uma realidade territorial, social e histórica que os tornam diferenciados
no conjunto, isto é, eles refletem as diversas desigualdades e as perversões sociais existentes
no Brasil. Esta realidade/desigualdade ainda se faz presente de forma marcante na área
pesquisada, como foi constatado a partir da reflexão realizada ao longo do presente estudo.
Conclusões
402
Referências
CASTRO, Josué de. Geografia da Fome: o dilema brasileiro: pão ou aço. 10.ed. Rio de
Janeiro: Edições Antares, 1984, 361p.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O que é a filosofia? Rio de Janeiro: Editora 34, 1992.
FOLHA DE SÃO PAULO. Como a economia local influenciou na votação. Disponível em:
<http://arte.folha.uol.com.br/poder/2014/10/27/a-economia-do-voto>. Acesso em 30 de
outubro de 2014.
403
agosto de 2015.
SANTOS, Milton. Pobreza urbana. 2.ed. São Paulo, Recife, Editora Hucitec, 1978, 119p.
SEN, Amarthya. O desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras,
2000, 409p.
SOARES, Sergei; RIBAS, Rafael Perez; SOARES, Fábio Veras. Focalização e cobertura do
programa bolsa-família: qual o significado dos 11 milhões de famílias?. Rio de Janeiro:
IPEA, março de 2009.
404
SOUZA, Bartolomeu Israel de. Cariri Paraibano: do Silêncio do Lugar à Desertificação.
199f. 2008. Tese (Doutorado em Geografia) – Programa de Pós-Graduação em Geografia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, 2008.
405
CARTAS DE INSTRUÇÃO PÚBLICA NOS JORNAIS PUBLICADOR
MARANHENSE (1842-1886); DIÁRIO DE PERNAMBUCO
(1825-1888) E ARGOS PERNAMBUCANO (1850-1852)
Resumo
Apresentação
2
Embora esse termo possa parecer anacrônico para o século XIX, utilizo-o para delimitar o espaço geográfico
atual, pois compreendo, a partir de Albuquerque Júnior (2009, p. 51), que “o Nordeste é filho da ruína da antiga
geografia do país, segmentada entre “Norte” e “Sul”. “O espaço “natural” do antigo Norte cedera lugar a um
espaço artificial, a uma nova região, o Nordeste, já prenunciada nos engenhos mecânicos ciclópicos usados nas
obras contra as secas, no final da década anterior”.
1
Título do Projeto/Plano de trabalho: Sociedade de Correspondência e a Instrução Pública nos Jornais do
Nordeste no Império / Cartas de Instrução Pública nos jornais Publicador Maranhense (1842-1886); Diário de
Pernambuco (1825-1888) e Argos Pernambucano (1850-1852)
Estudante de iniciação científica: Vanessa Gonçalves Lira (e-mail: vanessaglira09@gmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br, e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientadora: Fabiana Sena da Silva (e-mail: fabianasena@yahoo.com.br, telefone (83) 3216-7446)
406
Para atingir o objetivo dessa investigação, foram realizados estudos sobre a imprensa
no Império, fazendo uma revisão bibliográfica que considera as cartas como fonte de
pesquisa. Dessa forma, foi percebido que os jornais abarcaram gêneros discursivos distintos e,
que esses, dialogavam com as cartas por terem tratados de assuntos comuns à instrução
pública oitocentista. Também consideramos os conteúdos das epístolas, no que concerne ao
discurso da instrução pública do Maranhão e de Pernambuco, para a identificação dos
assuntos, dos signatários e dos destinatários. Assim, percebemos que, por meios de elementos
textuais, esses se mostravam publicamente.
Os gêneros discursivos publicados nos periódicos promoveram comunicação entre
leitor-escritor-leitor, já que o ledor também poderia ser signatário de cartas públicas. Sena
(2012), ao tratar sobre cartas de sujeitos da instrução pública, infere que elas foram o gênero
do discurso recorrente do oitocentos e, por abordar temas distintos da instrução pública do
período oitocentista é um objeto de pesquisa que permite conhecer as práticas culturais, por
isso, contribuem para a história da educação por apresentar heterogeneidade discursiva, já que
tanto apresentaram as marcas singulares de seus autores e ainda deram visibilidade a
documentos.
Contudo, esta pesquisa se torna relevante para a historiografia por apresentar o
processo do fazer histórico, tendo o jornal como fonte primária e a carta como gênero
discursivo que, por meio de suas mensagens, estava articulada em suas páginas com outras
notícias sobre instrução pública.
Metodologia e análise
407
Publicador Maranhense (1842-1848), Diário Pernambuco (1825-1831) e Argos
Pernambucano (1850-1852), configurando um total de 355 no Maranhão e 52 em
Pernambuco. No entanto, ainda não foi coletado no Argos Pernambucano (1850-1852), em
virtude do quantitativo de edições dos jornais e por considerar que as cartas não veicularam
informações sobre instrução pública isoladamente. Por isso, também, consideramos os demais
gêneros discursivos e o jornal como todo.
A organização do corpus dessa pesquisa implicou na classificação do gênero
discursivo coletado. Para tanto, foi utilizado o quadro de tipologia de cartas, realizado em
projetos de pesquisa anteriores3. A construção se deu a partir dos manuais de escrever cartas,
Corte na aldeia (1618), de Francisco Rodrigues Lobo; La Secretaire à la Mode (1650), de
Sieur de la Serre; Le Nouveau Secretaire de La Cour (1714), de Monsieur Milleran, O
secretário português ou o método de escrever cartas (1801), de Francisco José Freire
(Cândido Lusitano), Manual Del escribiente (1831), de Romualdo Paronce e o capítulo
destinado à escrita epistolar em O Código do bom-tom (1845) de José Inácio Roquette, Novo
Secretário Português ou Código Epistolar (1860, 3ª ed.), de J. I Roquette, os quais se
encontram disponíveis na internet. Por meio deles, pudemos verificar o modo de produção das
cartas e a organização da escrita epistolar.
A pesquisa nos jornais Publicador Maranhense, Diário de Pernambuco e Argos
Pernambucano se constituiu em um processo desafiador, em virtude do distanciamento do
investigador do seu tempo de produção, a linguagem própria da época, a diversidade de
gêneros discursivos. Nos diversos discursos coletados nesses jornais, encontramos os dos
presidentes de província, dos secretários, dos inspetores da instrução, dos diretores e dos
professores.
Os acervos digitais que serviram para a realização das coletas dos gêneros
discursivos sobre a instrução pública foram a Biblioteca Nacional Digital 4, e o site University
of Florida Digital Collections54. Segundo Almeida (2011, p.19) existem dois tipos de fontes
digitais que devem ser consideradas como primárias pelo pesquisador, os “documentos
primários digitais exclusivos” e “documentos primários digitalizados”. Nesse sentido,
entendemos conforme o autor que os acervos utilizados nesse projeto de pesquisa são
instituições acadêmicas que possuem documentos digitalizados acessíveis na internet. Ainda
sobre os documentos digitalizados, o referido define: “documentos primários digitalizados são
os que existiram em outro suporte, anterior à digitalização.” Por exemplo, nessa pesquisa os
jornais antes estavam disponíveis para investigação pelo suporte papel e não por meio virtual.
Os jornais digitalizados apresentaram em suas pastas modos diferentes de
apresentação do layout e recursos diferenciados para o trabalho do pesquisador. A
Hemeroteca Digital, por exemplo, oferece um recurso de busca de palavras para tornar o
processo de investigação mais objetivo5. Todavia, a utilização desse não dispensou as leituras
do jornal, pois as notícias sobre instrução pública nesses suportes não tinham um lugar fixo.
Sena (2014), ao considerar a fonte jornalística, chama a atenção do leitor e afirma que as
3
Os planos de trabalhos, sob a orientação da Profª. Drª Fabiana Sena, foram Governista Parahybano e Correio
Mercantil: o discurso epistolar sobre a instrução pública no império (2011-2012); Ao Redator os Jornais do
império: a instrução pública nas províncias do Rio de Janeiro e da Paraíba (2013-2014) – CNPq.
4
Disponível em http://bndigital.bn.br/hemeroteca-digital/
5
Disponível em http://ufdc.ufl.edu/results/?t=newspaper%20diario%20de%20pernambuco
408
cartas não tinham seções específicas.
O método que utilizamos para a identificação do gênero discursivo epistolar foi o
proposto por Ginzburg (1989) que orienta o pesquisador a considerar a obra como todo, com
um olhar investigativo e observar as minúcias que são as marcas autorais de seus atores.
Dessa forma, esse método na pesquisa contribuiu, por exemplo, para perceber no conteúdo
das cartas os destinatários pelas seguintes expressões: ao inspetor da instrução, ao diretor da
instrução, ao delegado da instrução e ao professor. Também, consideramos os verbos que
foram indícios que nos mostraram a classificação dos discursos, a saber: ordeno, verifique e
responda, os quais nos ajudaram a identificar os discursos de ordem. Esses marcadores
discursivos foram essenciais para identificar tanto a classificação das cartas, quanto os
emissores e receptores do discurso da carta.
Na coleta das cartas nos jornais O Publicador Maranhense e Diário de Pernambuco,
verificamos que esse gênero do discurso destacou-se, pois, por meio dele, os signatários e os
destinatários comunicavam seus pensamentos sobre assuntos distintos como demissão de
professores, autorização para pagamentos, admissão de alunos, recebimento de documentos,
dentre outros. Diante dessas observações, concordamos com Pinsky e Luca (2009) que a
escrita de cartas era recorrente no século XIX. As autoras afirmam que nesse período houve
uma cultura escrita de cartas eminente, por isso, entendemos que a publicação dessas em
periódicos era comum.
As palavras que utilizamos para coletar no Publicador Maranhense disponível na
Hemeroteca Digital foram: instrução, educação, professor, lente, aluno, educando, Liceo,
Casa dos educandos e aula. E, ainda, alguns cargos na esfera da instrução pública exercidos
na época, como: inspetor da instrução, delegado da instrução, diretor da instrução, comissário
da instrução, secretário da instrução. Nesse momento da pesquisa também percebemos que
outras esferas sociais tratavam da instrução, por exemplo, Tesouro Provincial, Juízes, inspetor
de obras.
Nesse processo consideramos que as cartas não eram fáceis de identificar, pois os
discursos epistolares inseridos nos periódicos do oitocentos estavam juntos com outros sem
uma delimitação que as sinalizasse como tal. Dessa forma, a coleta constituiu-se complexa
nos periódicos investigados e, quanto a esse aspecto do imprenso, Luca (2010) afirma que o
uso do jornal como fonte histórica deve considerar sua complexidade, por ter sido esse o
suporte dos debates de sujeitos distintos que se utilizavam desse lugar para fomentar as suas
opiniões e as negociações em seu contexto.
No processo de transcrição das cartas como pode ser visto na carta acima, atentamos
ao método de marcação proposto por Aldrige e Nicolau (2009) que elaboraram uma tabela
que identifica as limitações das transcrições de fontes antigas como o jornal que pode
apresentar-se ao investigador corroído e ilegível. Assim, utilizamos o (ilegível) em nossa
pesquisa para mostrar ao leitor a limitação que os periódicos apresentam ao pesquisador.
O Publicador Maranhense6 e o Diário de Pernambuco7 registraram debates e a
6
Esse periódico pertencia ao jornalista João Francisco Ferreira e divulgava notícias políticas e comerciais locais,
nos anos de 1841-1842 tinha a nomenclatura de Jornal Maranhense. Em 1842, o nome do referido periódico
mudou para Publicador Maranhense, que segundo a Hemeroteca Digital aconteceu depois que seu proprietário
decidiu colocá-lo nos moldes estabelecidos pelos jornais da Corte, Bahia e Pernambuco. Dessa forma,
compreendemos que se buscava tonar público na província do Maranhão as relações comerciais e políticas que a
409
organização da instrução pública do Império e, pelas cartas deram visibilidade a cultura
escolar ao mostrar seu cotidiano de tomadas de decisões pelos discursos de ordem, dos
emissores que por suas marcas autorais deixaram indícios que indicavam o lugar social
ocupado na sociedade imperial e, ainda, dos leitores ao noticiar os acontecimentos da
instrução pública em suas páginas (SENA, 2014). Assim, concordamos com Barbosa (2007,
p.18) ao discorrer sobre a relevância que o suporte tem para a pesquisa científica, afirmando
que “não é mais possível escrever uma história da vida cultural brasileira sem consultar aos
jornais da época”. Então, compreendemos a carta como aquela que, além de promover
diálogos, mostra para os estudiosos da história da educação parte da cultura da instrução
pública do período imperial.
Ao estudar sobre a história dos jornais em especial no século dezenove, constatamos
que esse foi o período no qual houve maior produção dos periódicos. Nesse sentido, Sousa
(2010) afirma que por meio desse veículo de comunicação os jornalistas tentavam formar a
opinião dos leitores conforme as ideias políticas, econômicas, sociais e culturais que
acreditavam e, por isso, esse século foi denominado como “época de ouro da imprensa”. De
acordo com os estudos do autor, no oitocentos a produção jornalística no Brasil apresentou-se
diversa e intensa, pois estava relacionada com dois fatores: a instrução das massas e a criação
de instituições escolares. Desse modo, captamos que as cartas que estavam postas nos jornais
pesquisados tiveram sua relevância diante do poder de intervenção social dos periódicos, que
coincidiu com a prática cultural de escrita desse gênero do discurso no período estudado.
Compreendemos que “a sociedade de correspondência do Nordeste” se comunicava
por gêneros discursivos, entre eles a carta, que serviram para difusão da instrução pública no
Império. Por isso, os jornais desse período possibilitavam ao pesquisador o conhecimento da
cultura de um determinado momento histórico, além de serem fontes que permitem a
identificação das esferas sociais e de seus sujeitos.
Bakhtim (1997) ao discorrer sobre a “heterogeneidade” dos gêneros discursivos
afirma que eles são diversos, pois cada esfera social comporta um repertório singular. De
modo que tem por propósito promover diálogos entre locutor e interlocutor que por meio
desses se constituem em réplicas dos diálogos. Dessa forma, foi possível perceber que os
gêneros do discurso foram disponibilizados para os leitores nas seções que organizavam o
impresso maranhense e pernambucano, porém não foram padrões. Concluímos, assim, que os
gêneros do discurso, promoviam o dialogismo entre os sujeitos principalmente por meio da
carta.
Na pesquisa também observamos que os manuais de escrever cartas poderiam ser
utilizados pelos signatários das epístolas. Então, compreendemos que a dimensão retórica
poderia ser considerada por esses para produzirem os discursos transmitidos pelo jornal do
Maranhão e Pernambuco. Dessa forma, constatamos que o gênero epidíctico cabia a escrita
delas por permitir a inserção de assuntos diversos em seus conteúdos. Aristóteles (2005,
p.277) explica que esse se enquadrava nos elogios e preserva a superioridade ao possibilitar
província tinha com outras localidades nacionais e internacionais. Todavia, a mudança da nomenclatura
coincidiu com a ampliação do universo de notícias que o jornal abarcava.
7
Segundo Nascimento (1968), o primeiro periódico de anúncios da América Latina circulou no período imperial
entre 1825 a 1888, de segunda a sábado. Seu proprietário foi Antonino José de Miranda Falcão, dos anos de
1825 a 1831, um intelectual que defendia as ideias liberais, essas almejavam a descentralização administrativa de
Pedro I.
410
que o escritor trate de assuntos distintos desde os sentimentais aos incisivos. Nesse sentido, o
autor diz “o estylo epidíctico é o mais apropriado ao texto escrito, pois a sua função é ser
lido”.8
O quantitativo de cartas coletadas no jornal maranhense resultou em 355 e variou
conforme cada ano, como pode ser verificado no quadro abaixo:
1842 1843 1844 1845 1846 1847 1848 1849 1850 1851 T. P
4 17 46 23 50 43 45 64 45 15 355
Fonte: Dados da pesquisa 2014-2015.
TIPOLOGIA 1842 1843 1844 1845 1846 1847 1848 1849 1850 1851 Total
Ordem 2 9 22 12 23 15 22 18 21 7 151
Parecer 2 6 11 7 10 14 7 15 10 2 84
Aviso 0 3 10 1 13 14 13 25 11 4 94
Participação e 0 0 2 3 3 0 0 3 1 1 13
Notícia
Convite 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 2
Exortação 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1
Fonte: Dados da pesquisa 2014-2015.
8
Munhós (2014, p.186) ao estudar sobre a origem retórica das cartas, fez um levantamento dos clássicos dessa
área de conhecimento e, ao tratar de Aristóteles, diz que os três gêneros da retórica aristotélica atendem a
objetivos distintos. Porém, quando os escrevedores de cartas se utilizavam dele, tinham a intensão de mostrar as
verdades materializadas na escrita do discurso. Assim, o autor infere: “escrever uma carta implica também em
um conhecimento partilhado coletivamente pelo remetente e o destinatário”.
411
– Ao Inpector da Intrucçã Publica. – Afim
de ser satisfeita a Determinação do Governo
Imperial constante do Aviso do Ministerio
dos Negocios do Imperio de 17 de Janeiro
ultimo, cumpre que Vmc. me remetta com a
maior brevidade possivel uma relação das
Aulas Publicas tanto primarias como
secundarias existentes nesta Provincia com
Ordem declaração do numero dos alunnos de um e
outro sexo que as frequentarão no anno
proximo passado, visto ter este objeto de ser
contemplado no Relatorio que por aquelle
Ministerio tem de ser apresentado á
Assemblea Geral Legislativa na 2ª Sessão
da actual Legistura. (COUTINHO, In:
PUBLICADOR MARANHENSE, 1850, p.
01)
Segundo Roquette (1860) “as cartas de parecer são sempre motivadas de outras em
que se consulta alguem, lhe pede o seu perecer, o auxilio das suas luzes, a solução d`alguma
dificuldade, etc.” Para deduzir que a carta apresentada é dessa tipologia, atentamos a
412
recomendação do manual para transmitir esse tipo de discurso ao destinatário e ao leitor do
jornal. Dessa forma, percebemos que a referida carta responde a uma comunicação que não
estava publicada no jornal. Além disso, nos certificamos que era de parecer pelos enunciados
pontuais como, por exemplo, as seguintes expressões: “conformando–me com sua opinião”,
“não lhe será aceita”, que comprovam que houve uma comunicação que antecedeu a carta
publicada.
No Maranhão, a administração da província e os administradores da instrução
pública comunicaram por cartas de aviso decisões e ações efetivadas sobre a instrução como,
por exemplo: recebimento de ofícios, de objetos para colégios, comunicado de demissões e
demissões de funcionários. Apresentamos abaixo uma carta de aviso publicado no Publicador
Maranhense.
413
Quadro 3. Quantitativo das cartas no jornal do Diário de Pernambuco
O resultado apresentado a partir desse jornal possibilitou constatar que o suporte não
fez alusões constantes sobre instrução pública. Pelo quantitativo apresentado, o Diário de
Pernambuco ao tratar da instrução assim como o Publicador Maranhense, reconhecia a
instrução pública como essencial para o desenvolvimento na nação. Nesse sentido,
entendemos que a instrução no Brasil era um mecanismo de controle dos intelectuais para
inculcar o sentimento de nacionalismo na população. Então, inferimos que os modelos de
instrução pública que perpassaram pelos jornais tinham como objetivo além de formar
opiniões dos leitores, estimular debates, fomentar os modelos de comportamentos e o modo
de comunicação ideal com as esferas sociais com as quais interagiam. Ressaltamos que a
escrita da carta deveria estar adequada às regras dos manuais já citados e, ainda, aos ajustes
do editor do jornal.
No Diário de Pernambuco além das cartas classificadas como de aviso, houve outros
tipos como participação ou notícia e queixas. Segue o quadro com a organização quantitativa
das classificações constadas.
414
pontuação de exclamação (!) que aparece no discurso para chamar a atenção do leitor ao passo
que concomitantemente de denúncia, irregularidade como, por exemplo, a colocação de vaga
para professor de cadeira de latim em concurso, quando o mesmo estava de licença
comprovada com atestado, como pode ser visto na carta publicada em 08 de fevereiro de
18309. Rizzini (2007) explica que os docentes, pelos jornais, faziam pedidos de aberturas de
escolas com suas assinaturas. Mas para reclamar ou expor suas indignações, estes
preservavam seu anonimato. A autora infere que isso poderia estar relacionado com as
disputas políticas nas quais o cargo de professor estava envolvido, porém esse tipo de carta
não encontrava espaço em todos os jornais, já que essa publicação dependia de dois fatores: o
primeiro era a configuração do impresso e o segundo a condição econômica do docente.
Apresentamos a seguir uma carta de queixas:
CORRESPONDENCIA
Snr. Editor
Parece subjectis, et debelare superbos,
Deixemos de maõ esses rediculos colunnas, taõ pequenos, e despreziveis, que
talvez se gloriem se ver seus nomes em letra redonda, ainda que sejaõ tractados
com o maior vilipendio: olhemos com desprezo, que merecem, os PP. Barretos,
Maritimo, Jozes Bernardinos Campos, Posthumos, Joaõ diabos, coxinhos, e a
mais caterva de gozos, colunnistas, que naõ valem meio tustaõ; e dirijimos os
nossos tiros ao Corifêo dos Colunnistas. O impostor, orgulhoso, e impofia Snr.
T.X.; façamos èr á S. M. o Imperador, e a todo Brazil , que este cogumelo é o
principal agente da Colunna em Pernambuco, e o primeiro conjurado ablutista.
Tranquilo estava Pernambuco, os odios, nascidos de passadas sedições estavam
Queixas muito aplacados: apenas chhegou o Snr. T. X., mandando de propozito pelo
Misnisterio, a maldicta Colunna toma corpo, ou melhor, é criada : escriptores
comprados daõ principio a`tarefa; todos os principios Constitucionaes saõ
mettidos a ridiculo: naõ há miguelista, carcunda, e inimigo do Brazil, que naõ
corra a alistar-se nas bandeiras absolutas: clamaõ os Periodicos
Constitucionaes: os Povos assustaõ-se: os amigos da Constituiçaõ enchem-se de
despeito, a guerra civil esta`a romper por instantes, e o Snr. T. X. , fiado na
protexçaõ do Ministerio, zomba de tudo, escreve, e manda os seus trabalhos
Prizidenciaes para o Cruzeiro, agazalha, protege, anima, e excita os Colunnas !
Elle sabe, e é publico, que Jose Bernadino de Sena roubou, quando era
Thezoureiro d`Alfandega do Algodaõ 14 contos de reis a`Fazenda Publica,
protege-o e alcança-lhe seguro ; porque esse heroe fez-se Colunna, garatujou
para o Cruzeiro, e prometteu ser o seu testa de ferro. O benemerito P. M. Fr.
Miguel do Sacramento Lopes, Professor proprietario de Rhetorica do
9
No jornal Pernambucano diferente do Publicador Maranhense, o jornalista abria a edição com cartas de
queixas e debates contra pessoas ilustres, como: Thomas Xavier, que segundo a carta publicada dia 08 de
fevereiro de 1830 no Diário de Pernambuco, um ex-ministro recebeu críticas quanto à abertura de concurso da
cadeira de retórica do professor e sacerdote Fr. Miguel do Sacramento Lopes, que se queixa que durante sua
licença a disponibilização do dito concurso tornava-se imprópria.
415
Seminario, há muito tempo doente, obtem do mesmo Snr. T. X. licença de 6
mezes em virtude da- attestações dos mais respeitaveis Facultativos, que o
tem medicado na sua enfermidade ; e ainda mais alcança informaçaõ do Snr.
T. X. de um requerimento, em que pede a S. M. o I. mais um anno de licença:
sabe entre tanto esse Snr. , que o P. Mestre escrevia para o Constitucional, da
`parte disto ao Ministerio, e sem mais nem mais ahi vem rebolindo uma Portaria
para ser posta a consurso, como se estivera vaga, a Cadeira do P. M. Fr. Miguel.
Ja viu alguem, que o Governo mandasse prover um lugar, que tem
proprietario, sem constar, que este é falecido ou que cometeu crime, pelo
qual fora sentenciado a perder a sua propriedade? Sabia por ventura o ex-
Ministro do Imperio as circusntancias d`aquella Cadeira? Quem naõ conhece,
que uma Portaria taõ despotica, foi em consequencia de informaçaõ do
Prezidente da Provincia ? E`de notar, que a Portaria manda por a`concurso a
Cadeira sem tocar motivo algum, e isto talvez por especial recommendaçaõ do
Snr. T. X. ; porque sendo elle o mesmo, que havia informado favoravelmente o
mencionado requerimento, ficava conhecida a sua perfidia, e falsidade, se a
dicta Portaria dissesse v.g.” Em “ consequencia do Officio de V.E. de “tantos
&c., Manda S. M. o I., que “seja posta a concurso a Cadeira de Rhetorica do
Seminario, &c.”
Chega entretanto outra Portaria posterior a`quella, na qual, bem longe de o
considerar apeado da Cadeira, concede S. M. Fr. Miguel um anno de licença, e
Manda, que se lhe pague o seu honorario. Que fara `o Sultaõ Snr. T. X.
? Naõ cumpre a Portaria!!! E é este o Prezidente muito recto , e que se diz
(agora) muito Constitucional? Este procedimento e`tanto mais odiozo, quanto o
Snr. T. X. concedera 6 mezes de licença de, informa verificando a molestia, e `e
muito obrigado ao P. M. Fr. Miguel, para cuja caza foi, quando chegou de
Coimbra, muito farroipilha, onde esteve hospedado algusn mezes, e foi tractado
com maior mimo, que permittiaõ as posses do mesmo P. M. e de seu falecido
pai: embora saiaõ em defeza do seu capataz os despreziveis rabiscadores do
Cruzeiro, dizendo que o estimavel P. Mestre nunca esteve doente: ou elle nunca
esteve, e o Snr. T. X. faltou ao seu dever , dando-lhe
6 mezes de licença, e mentiu ao Soberano na informaçaõ de seu
requerimento, ou informou para o ministerio, a fim e lhe ser tirada a
Cadeira, depois que suspeitou, que elle escrevia contra os seus colunnas, e é
um homem orgulhoso versatil, e maõ.
Um Official, que se alistara na colunna, obteve 6 mezes de licença registrada, e
por consequencia ficou privado do soldo , como manda a Lei: pois o Snr. T. X.
mandou-lhe abonar a soldo de 4 mezes: em fim taõ enfatuado e`o Snr. T. X. ,
que se naõ pejou de consentir, que um punhado de colunnas andasse de porta
em porta pedindo esmolas, para o brandarem com uma commenda: e porque?
Que serviços relevantes tem feito o Snr. T. X.?
Que lhe deve Pernambuco? Plantou a Colunna, dividiu os Povos; lutou,
quanto pode, por iludir a reuniaõ do Conselho de Provincia ; durante sua
prezidencia os salteadores tem infestado todos os esminhos ; anda muito tezo, e
416
espetado em uma sege, dando grande importancia a`sua personagem ; e eis
grande merecimento e os bons serviços do Snr. T. X. Viu malogrados os seus
planos, as colunnas por terra, a grande Ordem do Dia, e Officio do
honradissimo Snr. General Antero servindo de corpo de delicto a´devassa
contra elles e seus socios Colunnas, e sobre tudo o dote findo, isto é` ; a
Prezidencia acabada ; naõ pode conter a raiva, rompe nos maiores insultos,
e invectivas contra o integerrino Snr. Atero, a quem se naõ seja de chamar
farropilha , O Snr.T. X. (coitado!) está daoudo ; porque se se lembrasse dos
seus principios, se se lembrasse , que o que e`só deve ao seu espirito adulador
dos Grandes, naõ boquejaria contra um Militar, cuja vida publica tem sido
decididamente honestae grave. O Excellentissimo Snr. Antero deve o que `e á
seus publicos serviços , e para ser Governador das ( ilegível) Em fim o Snr. T.
X. , desesperado pelo mao exito de seus infermesplanos, que vêr, se
espicaçando ao Excellentissimo Snr. Antero, exeita algum desaguisado de um
ou outro Constitucional mais fogoso: cada `enganado : ninguem cae nessa.
O quebra Inteprido (O QUEBRA INTEPRIDO, In: DIÁRIO DE
PERNAMBUCO, 1830, p.1-2 grifos nossos).
417
jornal pernambucano dentre outros objetivos acompanhava os acontecimentos da província
para denunciar abusos feitos contra os sujeitos envolvidos na instrução pública, bem como
suas ofertas de serviços. Nesse sentido, compreendemos que os jornais apresentaram, por
meio das cartas, ao leitor estilos diferentes de escrita. Desse modo, remetemo-nos a afirmação
de Chatier (1999) acerca do “ordenamento do mundo escrito” que impõe ao leitor o confronto
a um conjunto de regras que eram utilizadas conforme o suporte que publicasse as notícias.
Os periódicos dessa pesquisa podem ser entendidos como lugar de ordenação dos discursos.
Contudo, podemos afirmar pelo quantitativo de cartas dessa pesquisa e demais
gêneros discursivos verificados nos jornais, que houve uma parte da sociedade imperial que se
comunicava principalmente por meio das cartas. Dessa forma, a imprensa nordestina estudada
nesse trabalho acompanhava a dinâmica da sociedade. Além de apresentar para o pesquisador
suas particularidades no modo de sua produção e ordenação dos discursos sobre instrução
pública que veiculavam.
Considerações finais
O estudo da imprensa imperial do Nordeste nos fez perceber os jornais como o lugar
dos diálogos sociais dos escritores-leitores que utilizavam as cartas para emitirem opinião
sobre a instrução pública juntamente com os demais gêneros do discurso que eram publicados
nas páginas e, por sua vez, davam ênfase aos acontecimentos da instrução.
As cartas identificadas e classificadas dessa pesquisa foram entendidas como práticas
discursivas produtoras “de ordenamento, de afirmação de distâncias, divisões; daí o
reconhecimento das práticas de apropriação cultural como formas diferenciadas de
interpretação.” (CHARTIER, 2002, p.28).
Os jornais deram visibilidade às cartas sobre instrução pública da província do
Maranhão e de Pernambuco do período imperial, mostrando a dinâmica dos diversos
profissionais que serviram as respectivas províncias, sendo eles: os presidentes, os inspetores
da instrução, do tesouro, de obras públicas, o diretor da instrução pública, os delegados da
instrução, dentre outros. Além de mostrar os mecanismos de controle, as interferências de
ordem e as queixas dos professores. Desse modo, os gêneros discursivos pesquisados nos
referidos periódicos buscavam persuadir o leitor e, por isso, a variação de tipologias adaptava-
se a necessidade do escritor.
A pesquisa desenvolvida se constituiu como elemento imprescindível no meu
processo de formação, pois ao aprofundar os estudos sobre a imprensa imperial me
possibilitou conhecer como se organizaram os discursos nos jornais e, ainda, como esses
interagiam publicamente com seus leitores. No processo de estruturação da metodologia de
pesquisa construída, entendeu-se que a relevância de considerar os jornais como fonte
digitalizada que facilita o acesso por ser um acervo de memórias múltiplas de acontecimentos
históricos.
O ápice desse estudo se deu em momentos que a pesquisa me propôs, ao que
Ginzburg (1989) sugere, de verificar a partir dos vestígios da escrita elementos que
constituem uma carta e seus variados tipos.
418
Referências
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como fonte primária para pesquisas históricas. AEDOS-Revista do corpo discente do PPG-
História da UFRGS. Num.8, vol. 3, 2011.
BAKHTIN, Mikail. Estética da criação verbal. São Paulo Martins Fontes, Coleção Ensino
Superior,1997.
BARBOSA, Marta Emisia Jacinto; LIMA, Jorge Luiz Ferreira. História, imprensa e redes
de comunicação. Uberlândia. Jul de 2008. Disponível em
<www.seer.ufu.br/index.php/historiaperspectivas/article/download/.../1032>.Acesso em: set.
2014.
GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia
das Letras, 1989.
419
LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução Bernardo Leitão, 5ª Ed Campinas, São
Paulo,2003.
LUCA. Tania Regina. História dos, nos e por meio dos periódicos.
MAGALDI, Ana Maria Bandeira de Mello; XAVIER, Libânia Nacif (org.). Impressos e
história da educação: usos e destinos. Rio de Janeiro: 7Letras, 2008
MALATIAN, Teresa. Cartas: narrador, registro e arquivo. In: PINSKY, Carla B. e LUCA,
Tânia Regina de. O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009.
SENA, Fabiana. A imprensa e instrução pública no império: o modo epistolar nos jornais
do Rio de Janeiro e da Paraíba. HSBE- Revista brasileira de história da educação. Vol. 14,
2014.
SILVA, Gilmar Pereira, Memórias históricas escritas pelo Doutor Cesar Augusto
Marques. Caxias - MA, 2010. Acesso em 18 de Abril de 2015. Disponível em
https://books.google.com.br/books?id=p4CtlluciG8C&pg=PA194&lpg=PA194&dq=publicad
or+maranhense&source=bl&ots=nH0rjZOlz5&sig=OOCk17fQy-9-Jx_Vool6bb4BvQ&hl=pt-
BR&sa=X&ei=J6EyVfSLOsWpNvLGgTA&ved=0CDcQ6AEwBw#v=onepage&q=publicado
r%20maranhense&f=false
SOUSA, Carlos Erick de. A permissão à palavra impressa: condições de circulação dos
primeiros jornais no Brasil e no Maranhão. Revista Comunicação & Inovação. Vol 11, São
Caetano, 2010.
VIEIRA, Carlos Eduardo. Jornal como fonte e tema para a pesquisa em história da educação:
um estudo da relação entre imprensa, intelectuais e modernidade nos anos de 1920. In: Cinco
estudos em História e Historiografia da Educação. OLIVEIRA, Marcus Aurélio Taborda
(Org.). Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
420
APÊNDICE – Quadro 4: Cartas nos jornais Publicador Maranhense e Diário de Pernambuco no oitocentos
421
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Resposta ao professor de Latim da Vila de Viana
Data:16/12/1842 Ao professor de Latim da Villa de Viana.–Accuzando a recepção do officio de 13 do corrente,
Signatário: Diretor da instrução em que pergunta se pode servir conjuntamente o cargo de 3º Suplente do Subdelegado de Policia
Destinatário: Professor de Latim da Vila do distrito de Viana com o de Professor de Latim, que ora exerce, tenho em resposta de
de Viana significa–lhe eu nenhuma incompatibilidade ha em servir ambos os empregos, e porque, sendo
Classificação: Parecer Vmc. Suplente apenas poderá accidentalmente exercer o mesmo cargo.
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Provindêcia de exames e data de sua realização
Data: 15/02/1843 –Pelo seu officio n. 2 de 19 do expirante, fiquei sciente de ter Vmc. reunido a Congregação do
Signatário: Jeronino Figueira de Mello Lyceo afim de providenciar sobre os exames, que deixarão de ter logar o anno passado, e de ter
Destinatário: Francisco Sotero dos Reis. a mesma Congregação resolvido que os referidos exames fossem feitos do dia 23 em diante.
Director da Instrucção Publica. Deos guarde a Vmc. Palacio do Governo do Maranhão 31 de Janeiro de 1843.– Jeronimo
Classificação: Aviso Martiniano Figueira de Mello.
–Snr. Francisco Sotero dos Reis, Director da Instrucção Publica.
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Criação da cadeira de 1as letras
Data: 26/04/1843 –Respondendo ao officio que essa Camara dirigio a esta Presidencia em data de 9 de Janeiro p.
Signatário: Presidente p. sob n. 17 tenho a dizer-lhe, que não havendo lei alguma que criasse n`essa Villa cadeira de
Destinatário. A Camara Municipal da 1.as letras, não pode ter lugar a nomeação que pedem de Professor Publico como foi
Passagem Franca. reconhecido pelo meu antecessor, deixando de mandar pôr em concurso a referida cadeira,
Classificação. Parecer/ Pretensão apezar do que anteriormente declara em officio de 16 de Setembro do p. p. Fiquem porem Vmcs.
certos de que na proxima reunião da Assembléa Provincial, proporei a criação da cadeira, visto
ser de grande utilidade para esse município.
422
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Gratificação de lente substituto
Data: 03/05/1843 –Respondendo ao seu officio de 15 de Fevereiro ultimo sob n. 8, servindo de informação ao
Signatário: Presidente de Província requerimento de João Nepomuceno Xavier de Brito, Lente substituto das Cadeiras de
Destinatário: Director da Instrcção Geographia e Historia, e do segundo anno de comercio do Lyceu d`esta capital , que se queixa
Publica. e o Thezouro Publico Provincial de lhe haver denegado no Thezouro Provincial o pagamento dos respectivos vencimentos tenho
Classificação. Parecer a declarar: 1.º q` os Lentes substitutos não tem direito a gratificação, que lhes marca o art. 14 da
Lei Provincial n. 80 no tempo das ferias visto que a Lei Provincial n. º 115 art. 4. º dispõe que
elles somente a percebão durante o tempo d´esse serviço, este cessa inteiramente nas referidas
ferias que o fazem interramper, ao que acresce sendo da mente das Leis Provinciais relativas a
substituição do Lyceo economizar os dinheiros publicos com a creação de professores
substitutos, dando ao mesmo tempo algumas vantagens pecuniarias mais aos professores, que
por talentos e applicação se achassem habilitados a leccionar em duas cadeiras, esse fim se não
conseguiria se eles tivessem direito á referida gratificação durante o tempo das ferias, em que
nenhum serviço prestão convertendo-se d`esta arte com manisfesta illegalidade em ordenado
fixo a gratitificação eventual que lhes fora concedida: 2 . que com quanto as substituições das
cadeiras do Lyceo devão ser consideradas como interinas, não é necessario todavia que os
Profesores nomeados apresentem novas nomeações da Presidencia para poderem ter direito a
seus ordenados, por quanto não ha Lei alguma que assim o determine, e o titulo que huma vez
obtiverão reconhecendo n`eles as qualidade necessarias para bem dezempenhar, o facto da
substituição vigorar, quando não tenhão prazo certo até que lhes seja cassado expressa, ou
tacidamente pela nomeação de outro individuo, que he o que contitui a interinidade. Sob pena de
dar-se o absurdo de obrigar o Professor nomeado a tirar um Titulo inutil e a fazer com ele
despezas que nem sempre são compensadas com os ordenados vencidos e a não ter conseguinte
aquellas vantagens, que a Lei lhe conceda por seu trabalho: resultado do exposto que a Vmc.
Quando se da o caso do impedimento dos Professores, compete participal-o no substituto
nomeado para que ele vá ocupar a cadeira em virtude de sua primeira nomeação.
Nesta conformidade pois tenho expedido as necessarias ordens ao inspector do Thezouro
423
Publico Provincial, e defferido o requerimento do mencionado Lente subtituto.
Deos guarde etc.
Ao Director da Instrcção Publica.
–Neste mesmo sentido officiou ao Thezouro Publico Provincial.
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Pagamento de alugueis de casas
Data: 03/05/1843 –Remetto a Vmc. o incluso officio do Professor de 1as letras do 1.º destricto da Cidade de Caxias
Signatário: Ignacio Vieira Lima, em que pede o pagamento d`alugueis das casas, em que está assentada sua
Destinatário: Director da Instrcção aula, e utencilios para ella, afim de que informe sobre taes pretenções, e sobre o mais que elle
Publica. expõe no referido officio. Por esta occazião tenho de recomendar - lhe que faça cumprir pelos
Classificação. Ordem/ Recomendação Professores Publicos a determinação do art. 3.º do Regulamento de 9 de Outubro de 1841, visto
que não lhes é licito a comunicação directa com a Presidencia, e apenas o diregir-lhe
requerimentos para os objetos, que respeitem unicamente ao direito, e interesse particular.
Deos guarde etc.
Ao Director da Instrucção Publica.
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Demissão de educandos
Data: 09/05/1843 –Attendendo ao que Vmc. me representa em seu officio n. 23 de 10 do corrente, ordeno que seja
Signatário: demitido do numero dos Educandos, Avelino Antonio Ribeiro, visto que pelo seu
Destinatário: Ao Director dos comportamento se tem tornado indigno de combinar a permanecer n`esse estabelecimento. Deos
Educandos. guarde etc.
Classificação: Ordem – Ao Director dos Educandos.
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Frequência, mapas e gratificações de Professores
Data: 09/05/1843 –Attendendo ao que Vmc. me representa em seu officio n. 23 de 10 do corrente, ordeno que seja
Signatário: demitido do numero dos Educandos, Avelino Antonio Ribeiro, visto que pelo seu
Destinatário: Ao Director dos comportamento se tem tornado indigno de combinar a permanecer n`esse estabelecimento. Deos
Educandos. guarde etc.
424
Classificação: Ordem – Ao Director dos Educandos.
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Frequência, mappas e gratificações de Professores
Data: 09/05/1843 –Em solução ao seu officio de 6 do corrente, sob n. 23, pedindo esclarecimentos acerca de
Signatário: alguns Delegados que não tem cumprido com o que dispõe o § 2. º Art. 5. º do Regulamento de
Destinatário: Ao Director da Instrcção 9 de outubro de 1811, declaro a Vmc. que sendo obrigação dos Professores remeter aos
Publica Delegados os mapas mensaes dos alunos das suas escholas, e sendo de supor que os ditos
Classificação: Ordem Delegados não os tenhão transmitidos à Directoria como lhes incumbe o mencionado Art. do
citado Regulamento por não os terem recebido dos Professores, sendo essa operação mui facil , e
simples, deve Vmc negar a sua rubrica aos atestados de frequencia passados pelos Delegados,
ordenando a estes que os naõ passem tambem sem que tenhão recebido os referidos mapas dos
Professores, pois que a estes não é , e nem pode ser licito afastarem-se do cumprimento de uma
obrigação que se lhe impoz, afim de que a Presidencia esteja sempre inteira do estado das
escholas; maxime quando o art. 10 da Lei Geral de 15 de outobro de 1827 concede uma
gratificação aos Professores que por mais de 12 annos de exercício não interrompido se tiverem
destinguido por sua providencia, grande numero e aproveitamento de discipulos, o que somente
se pode verificar avista de taes mapas.
Deos guarde etc.
Ao Director da Instrcção Publica
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Pagamentos
Data: 09/05/1843 –Em resposta ao seu officio n. º 24 de 5 do corrente informando sobre a representação do
Signatário: Professor publico de primeiras letras do 1.º Districto de Caxias, Ignacio Vieira de Lima, que
Destinatário: Ao Director da Instrcção pede o pagamento dos alugueis das cazas em que tem sua eschola, utensílios para ella, e o
Publica. pagamento do seu ordenado pela respectiva coletoria, tenho a dizer-lhe: 1. º que foraõ
Classificação: Parecer indeferidas as pretenções do suplicante, em consequencia dos motivos por Vmc. Expendidos na
citada informação: 2. º que a Lei do orçamento Provincial somente consignou quantias para
utensílios das aulas pelo methodo Lencastetrino, o que Vmc. Communicará ao referido
Professor, remetendo-lhe a incluza Provizão que acompanhou a mencionada reprezentação sem
425
motivo ostensivo. Deos guarde etc.
Ao Director da Instrucção Publica.
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Autorização para impressão de exemplares do regulamento das escolas primárias
Data: 21/06/1843 –Ao Director da Instrucção Publica. –Respondendo ao seu officio n.º 33 de 12 do corrente
Signatário: declaro á Vmc. que o authorizo a mandar imprimir até 300 exemplares do Regulamento interno
Destinatário: Ao Director da Instrucção para que as escholas de instrucção primaria, organisado em virtude do § 3.º do Regulamento de
Publica 9 de Outubro de 1841, e approvado por esta Presidencia em 29 de Abril p.p. remettendo – me
Classificação: Ordem Vmc. A conta da despeza , afim de ser paga pela quantia destinada para Instrucção Publica.
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Solicitação de informações sobre professor
Data: 29/06/1843 –Officio ao Director da Instrcção Publica, mandando que informe com urgencia, á Presidencia,
Signatário: se o Professor de 1.as Letras de Codó no exercicio de sua cadeira, e no caso de negativa, qual o
Destinatário: ao Director da Instrcção fundamento, e desde que tempo.
Publica
Classificação: Ordem
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Admissão de educando
Data: 29/06/1843 –Ao Director da Caza dos Educandos. - Admitta Vmc. na caza dos Educandos o menor que por
Signatário: parte de Guilhermina Francisca de Almeida lhe for apresentado, visto ter provado a sua pobreza
Destinatário: Ao Director da Caza dos com atestado do respectivo Parocho.
Educandos
Classificação: ordem
426
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Acusação contra professor
Data: 13/07/1843 Ao Director da Instrucção Publica. –Remetto à Vmc. o incluzo officio da Camara Municipal
Signatário: da Villa do Miarim datado de 3 do corrente, acompanhado de úma representação de varios
Destinatário: Ao Director da Instrucção moradores do 4,º e 5.º Districto, de Anajatuba, e mais tres documentos contra o Professor
Publica Publico d`aquelle destricto Chistotovão de S. Tiago Vieira, afim de que Vmc. ouvindo o referido
Classificação: Ordem Professor informe sobre os factos de que é elle accuzado
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Copia de Oficio
Data: 13/07/1843 Illm. Snr. – S. Exc. o Snr. Prezidente da Provincia em consequencia da requisição da Assemblea
Signatário: Dr Cazimiro José de Moraes Legislativa Provincial constante do officio de V. S. de 7 do corrente sob. n. º 46 me ordena
Sarmento, Secretario da Provincia. transmitta á V. S. a copia inclusa do officio do Director da Instrucção Publica acerca do
Destinatário: Prezidente da Provincia - professor de 1.as letras do Codó Antonio Joze da Costa .–Deos guarde á V. S. Secretaria do
Classificação: Governo do Maranhão 16 ded Junho de 1843. – Illm. Snr. Secretario da assembleia Legislativa
Aviso Provincial.
–Dr Cazimiro José de Moraes Sarmento, Secretario da Provincia.
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Solicitação de quadro de alunos matriculados no Lyceo
Data: 17/07/1843 –Ao Director da Instrucção Publica.–Para satisfazer a uma resolução d`Assemblea Legislativa
Signatário: Provincial , cumpre que Vmc. me remetta um quadro dos alunnos matriculados em cada uma das
Destinatário: Ao Director da Instrucção aulas do Lyceo, desde a sua criação, com declaração dos aprovados diffinitivamente em cada
Publica uma d`ellas.
Classificação: Ordem
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Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Providências quanto licença ao Professor de Historia e Geografia
Data: 18/10/1843 Illm. Sr. –Fazendo presente ao Exm. Sr. Presidente da Provincia o officio, que V. S. me
Signatário: enderessou sob n. 9 em 28 do passado, e em que pede por parte da Assembléa informações sobre
Destinatário: Doutor Cazimiro José de o estado da Villa da Chapada, que por cartas particulares consta achar-se alterado por
Moraes Sarmento. Secretário do Governo. assassinatos alli commetidos, e bem assim quaes as providencias que se tem tomado a respeito
Classificação: Parecer do Professor de Historia e Geographia, que se acha ausente sem licença , manda-me o mesmo
Exm. Sr. que quanto a 1. ª parte do mesmo officio eu declare á V. S., afim de leval–o ao
conhecimento da Assembléa Legislativa Provincial; 1.º que tanto pelos officios enviados à
Presidencia pelo Chefe de Policia, como pelos que ultimamente vierão d`aquella comarca não
consta, que n`ellas se tenha alterado a tranquilidade publica por assassinatos, e que apenas nos
ultimos se communica, que fora assassinato José Leite Cavalcante, Colletor da Fazenda e 5.º
suplente do Juiz Municipal ; 2.º que constando do officio dezembagador Chefe de Policio de 3
do corrente, que depois do 1.º da Maio deste anno se lhe tem enviado da chapada officios
indignos de credito que lhe parecem fabricados mais perto, e contrafeita a firma do Delegado, e
entre elles um no dia 27 do passado Setembro datado da chapada em 28 de Maio declarando o
mesmo Chefe de Policia. que há encontrado taes officios em sua casa, sem saber qual o portador
que os conduzio; há todo motivo para suppor–se que essas cartas, á que V. S. attende contem
noticias exactas e exageradas, ou são forjadas nas cidades por pessoas interessadas como
aquelles officios, e não podendo merecer o menor conceito em quanto não vierem informações
que se vão exigir das authoridades da Chapada. Quanto a 2.ª parte do seu officio devo significar
a V. S., que nenhumas providencias tem S. Ex. julgado por óra dever tomar sobre Professor de
Geographia e Historia do Lyceu desta cidade, que ausentou-se da Provincias em ferias e tem
deixado de vir exercer a cadeira, por doente, segundo consta na correspondência do Director do
mesmo Lyceu. Deos guarde a V. S. Secretaria do Governo do Maranhão 4 de Outubro de 1843,
– Illm. Sr. 1.º Secretario da Assembléa Legislativa Provincial.
– Doutor Cazimiro José de Moraes Sarmento. Secretário do Governo.
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Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Comunicado de nomeação de porteiro do Liceu
Data: 18/01/1847 Ao Inspector Instrucção Publica.
Signatário: Carlos Fernando Ribeiro –Tendo S. Ex. o Sr. Presidente da Provincia por despacho de 3 do corrente nomeação a João
Destinatário: Ao Inspector Instrucção Ignacio de Moraes Rego para o logar de Portaeiro do Lyceo d`esta cidade, de ordem do mesmo
Publica. Classificação: Aviso Exm. Sr. o communico á Vmc. Para sua intelligência, e para o fazer constar ao nomeado afim de
solicitar o competente Titulo por esta Secretaria. –Deus Guarde á Vmc. Secretaria do Governo
do Maranhão de 4 de Janeiro de 1847.
–Carlos Fernando Ribeiro, Secretario do Governo.
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Passagem de professor
Data: 18/01/1847 –Ao Inspector da Instrucção Publica.–Tendo o Exm. Sr. Presidente da Provincia por despacho
Signatário: Carlos Fernado de Ribeiro d`esta data concedido ávista do que Vmc. informou em seu officio de 12 do corrente sob. n. 582
Destinatário: Ao Inspector da Instrucção a passagem que requer o Professor de primeiras lettras de Pastos Bons João Evangelista do
Publica Classificação: Aviso Sousa Gomes para a cadeira do mesmo ensino na villa de Santa Hellena assim o communico á
Vmc. de ordem de S. Ex. –Deus Guarde a Vmc. Secretaria do Governo do Maranhão de 15 de
Janeiro de 1847.–Dr. Carlos Fernado de Ribeiro, Secretario do Governo.
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Passagem do professor
Data: 23/01/1847 –Ao Inspector da Instrucção Publica.–Tendo o Exm. Sr. Presidente da Provincia por despacho
Signatário: Carlos Fernado de Ribeiro d`esta data concedido àvista do que Vmc. informou em seu officio de 12 do corrente de n.582 a
Destinatário: Ao Inspector da Instrucção passagem que requer o Professor de primeiras letras de Pastos Bons João Evangelista do Sousa
Publica Classificação: Aviso Gomes para a cadeira do mesmo ensino na villa de Santa Hellena assim o communico á Vmc. de
ordem de S. Ex. –Deus Guarde a Vmc. Secretaria do Governo do Maranhão de 15 de Janeiro de
1847.–Dr. Carlos Fernado de Ribeiro, Secretario do Governo.
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Demissão e Admissão de educandos
Data: 23/01/1847 –Ao Director da Casa dos Educandos.
Signatário: –A`vista do que Vmc. Expoe em seu officio de 13 do corrente sob. n.2 concordo que sejão
Destinatário: Ao Director da Casa dos despedidos d`esse estabelecimento os educandos Antonio José da Costa e João Batista
Educandos Rodrigues em logar dos quaes devem ser admitidos os extranumerarios Americo Nunes Cascaes,
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Classificação: Parecer e Sabino José dos Santos como Vmc. indica.
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Pagamento de ordenado de professor
Data: 27/01/1847 Dia 22.–Ao Conselheiro Presidente da Relação.–Convido muito montar quando antes a eschola
Signatário: normal de ensino primario creada pela Lei Provincial n.76, cujo Professor acha–se a perceber os
Destinatário: Ao Conlheiro Presidente da seus ordenados sem prestar serviço por falta de huma casa com as proporções adequadas ás
Relação, Major Engenheiro José Joaquim necessidade d`esse methodo de ensino e não tendo sido possivel até hoje conseguir–se o seu
Rodrigues Lopes. estabelecimento em outro local n`esta cidade que não seja o telheiro pertencente á caza da
Classificação: ordem Relação, o qua,l segundo me consta, actualmente pouca serventia presta aos Senhores
Dezembargadores, podendo até ser substituído pelo quarto á esquerda da entrada principal da
caza, fazendo–se para isso as alterações que convierem, tenho n`esta data auctorisado ao Major
de Engenheiros Lopes, encarregado dos concertos da dita caza, para proceder por conta do
Thesouro Provincial ás obras e modificações no mencionado telheiro necessárias para adaptal-o
á esse fim, o que comunico á V.S. paa o seu conhecimento.
Expediu–se ordem n`este sento no Major Engenheiro José Joaquim Rodrigues Lopes.
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Concerto da Escola Normal
Data: 27/01/1847 –Ao Conselheiro Presidente da Relação. Attendendo ás considerações appresentadas por V. S.
Signatário: Presidente com seu officio de hoje, que acabo de receber, ácerca dos inconvenientes trazidos ao serviço do
Destinatário: Ao Conselheiro Presidente Tribunal do que V. S. é chefe por occasião de serrem privados da serventia do telheiro ligado á
da Relação, Engenheiro da obra casa da Relação, que este Governo tinha resolvido destinar para o estabelecimento da Eschola
Classificação: Parecer Normal do ensino primario, tenho a dizer-lhe –lhe que vou providenciar afim de que se não
continue na dita obra, que foi ordenada em pressuposta diverso, por informações que parecerão
attendiveis, e por ser urgente e de grande vantagem o montamento da dita eschola.
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Officou-se n`esta conformidade ao Engenheiro carregado da obra de que se trata.
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Abonar de professor
Data: 27/01/1847 –Ao mesmo.–Em resposta ao seu officio n. 89 de 15 do mez passado declaro á Vmc. que a
Signatário: quantia de dez mil reis mensaes mandada abonar ao professor da Escola Normal, Felippe
Destinatário: Ao Inspector do Thesouro Benicio de Oliveira Condurú para aluguel de utensílios e moveis que presta para a dita escola,
Provincial deve ser paga pela verba das despesas eventuaes.
Classificação: Ordem
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Nomeação de Delegado da Instrução
Data: 02/2/1847 Dia 25 de Janeiro.–Ao Inspector da Instrucção Publica. Em resposta ao seu officio n. 599 de 22
Signatário: do corrente , communico a Vmc. que pela Portaria junta tenho nomeado o Dr. Antonio
Destinatário: Ao Inspector da Instrucção Marcelino Nunes Gonsalves por Vmc. proposta para o cargo de Delegado da Instrucção Publico
Publica Villa do Codó, em logar do Dr. João Caetano Lisbôa que passou para a Commarca de
Classificação: Aviso Guimarães.
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Demissão do cargo de Delegado da Instrução publica
Data: 02/2/1847 –Ao mesmo.–Tendo este Governo por despacho de 23 do corrente conceidido a demissão que
Signatário: pedira o Dr. Antonio Joaquim Tavares, do cargo de Delegado da Instrucção Publica n`esta
Destinatário: Ao mesmo (Inspector da cidade, cujo requerimento foi por Vmc. informado no mesmo dia, assim lh`o communico para
Instrucção Publica) seu conhecimento, e para que na forma da Lei, haja de propôr outro cidadão para referido cargo.
Classificação: Aviso
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Negação para professor realizar o seu trabalho
Data: 02/2/1847 Ao Inspector da Instrucção Publica.–A`vista da informação do Juiz de Direito interino da 2.º
Signatário: Vara, e a do Presidente da Relação que acaba de ser apresentada á este Governo, por onde consta
Destinatário: Ao Inspector da Instrucção que o Professor de Geographia, e Historia do Lyceu Candido Mendes de Almeida não se acha
Publica pronunciado, hem que esteja ainda pendente da decisão do Tribunal da Relação o processo de
Classificação: Ordem responsabilidade que lhe fora instaurado, não pode o mesmo Professor deixar de ser admittido ás
funções do seu Emprego, cujo exercicio o deverá considerar deste o dia de sua apresentação.
–Tenho assim respondido ao seu officio de 30 de Dezembro ultimo sobre este objecto.
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Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Poço da Casa dos Educandos
Data: 02/2/1847 –Por participação do Director dos Educandos de 9 do corrente vim no conheciemento que o
Signatário: Palacio do Governo poço aberto por V.Mc. para uzo e serviço d`aquelle estabelecimento se acha sêcco, o que muito
Destinatário: Classificação: Ordem admira que aconteça na estação chuvoza, e por isso convem que V. Mc. E vá de novo examinar,
e ver se convém que elle seja mais profundado de maneira que posso prestar utilidade e não
fique sem fruto o dinheiro que n`elle se despendeo. Deus Guarde a V. Mc. Palacio do Governo
do Maranhão 17 de Março de 1846. J.J. de Moura Magalhaes._Sr. J.J.R. Lopes, M, G.
do Imp. C. de Engenheiros.
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Falta de Professor
Data: 18/2/1847 Signatário: Presidente Dia 8.–O Presidente da Provincia sob representação do Inspector da Instrucção Publica acerca
Destinatário: Classificação: Ordem das faltas dadas pelos Professores em consequencia de serviço publico incompativel com as
funcções do Magisterio, há por conveniente declarar que à vista do arti. 64 n. 2.º dos Estatutos
do Lyceu taes faltas são por si mesmas abonadas, com tanto porem que o serviço publico que as
motive seja obrigatório por que o Professor d`elle se não houvesse podido escuzar, circunstancia
esta que deverá provar perante o Inspector da Instrucção para ser considerado isento da multa
estabelecida no art. 5.º da lei Provincial a 115 de 1.º do Setembro de 1841 combinado com os
arts. 2.º e 3.º da de n. 93 de 16 de Julho de 1840.
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Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Escola Normal
Data: 18/2/1847 Dia 14.–Director das obras publicas da Provincia .–Remetto-lhe a inclusa proposta de uma casa
Signatário: para o estabeleciemento da Eschola normal do ensino primario, afim de que Vmc. haja informar
Destinatário: Ao Director das obras sobre a sua idoneidade, ouvindo ao Professor nomeado para a mesma Eschola Filepe Benicio de
publicas da Provincia Oleiveira Condurú, e tendo em attenção qual a despesa que importaria a construcção de um
Classificação: Ordem edifício novo apropriado a esse fim, em ordem a ser comparada com o menor preço porque o
proponente possa dar a casa offerecida depois de leitos os arranjos , e reparos que se julgarem
necessários.
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Pagamento de empregados
Data: 23/03/1847 –Ao Inspector da Instrucção Publica.–Em resposta no que por Vmc. foi representado á este
Signatário: Presidente Governo em officio sob. n. 632 de 4 do corrente sobre o pagamento dos Empregados da sua
Destinatário: Ao Inspector da Instrucção Repartição tenho a communicar –lhe que havendo procedido ás necessarias averiguações sobre o
Publica caso e feito as recomendações convenientes para que cesse qualquer motivo de queicha a tal
Classificação: Aviso/Parecer repeito, espera essa Presidencia que d`oravante taes pagamentos serão mais regulamente feitos,
bem que não seja para acreditar que a falta ao presente havida seja proviniente de parcialidade
da parte do Inspector do Thesouro Provincial na distribuição dos dinheiros públicos, senão de
algum equivoco, ou menos exacta intelligencia em que se achava acerca dos recursos do cofre
no mez de Fevereiro passado, e sobre a preferencia estabelecida em favor dos Empregados.
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Nomeação para Instrução publica
Data: 25/03/1847 –Ao Inspector da Instrucção Publica.–Sendo de grande utilidade organizar mais regulamente as
Signatário: funções do Magisterio Publico da Provincia, para o que fora conveniente codificar a legislação
Destinatário: Ao Inspector da Instrucção existe sobre a instrucção primaria, e secundaria, com as correcções, complementos que se
Publica julgarem necessárias: nomeio á Vmc. e mais aos Cidadãos Francisco Sotero dos Reis, João
Classificação: Aviso Francisco Lisboa, e o Doutor Francisco de Mello Coutinho de Vilhena para que hajão de
encarregar–se d`ess trabalho, esperando de seus reconhecimento zelo pelo interesse geral da
Provincia, e pelos especiaes da instrucção publica que de bom gradose prestarão á esta
commissão.
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Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Pagamentos no Liceo
Data: 27/03/1847 –Ao Inspector do Thesouro Provincial.–Tendo –me sido presente a sua informação em officio
Signatário: sob. n. 21 de 13 do mez proximo passado sobre a Representação que o Inspector da Instrucção
Destinatário: Ao Inspector da Instrucção Publica dirigia á este Governo acerca da demora indevida em que se achavão os pagamentos dos
Publica Empregados do Lyceu, e tendo reconhecido pelos exames a que em minha presença fiz proceder
Classificação: Ordem nesse Thesouro Provincial a inexactidao da referida informação, e o fundamento com que
representara o dito Inspector da Instrucção Publica, provando–se que até o ultimo de Fevereiro
passado havião meios mais que sufficientes para o pagamento demorado, ainda mesmo com
algumas despesas que alias só devião ser feitas ulteriormente na conformidade das ordens d`esta
Presidencia, tenho a recomendar–lhe 1.º maior cuidado nos exames a que proceder quando
houver de informar á este Governo sobre sobre qualquer negocio do Thesouro Provincial; 2.º
que a prefencia dada em favor das despesas alimentarias, com os Empregados públicos quando
comppetentemente habelitados, em nenhum caso deixará de ter logar sem ordem especial da
Presidencia; 3.º que a preferencia concedida a alguns d`entre esses mesmos Empregados não se
extende alem do pagamento do mesmo mez, de sorte que antes de serem pagos. Todos os
ordenados de um mez aos Empregados que no decurso d`elle se tenhão habelidado, não se deve
repetir o pagamento a outros do vencido no mez subsequente; 4. º que a distribuição dos
dinheiros publicos não compete exclusivamente ao Inspector do Thezouro da Provincia, na
conformidade de cujas ordens, e as disposições da Lei, deve aquelle executar exposições da Lei,
deve aquelle executar esse serviço; 5.º finalmente que em sua correspondência oficial se
abstenha de termos offensivos e menos graves improprios do estylo de taes communicações, e
do respeito devido à Auctoridade Superior a quem são dirigidas.
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Licença e nomeação
Data: 29/04/1847 –Ao Inspector da Instrucção Publica.–Tendo concedido seis mezes de licença sem ordenado ao
Signatário: Continuo da Bibliotheca publica Remualdo Antonio da Silva para ir ao Rio de Janeiro, e
Destinatário Ao Inspector da Instrucção nomeado para servir durante a sua ausencia, o referido emprego a Manoel do Nascimento Silva
Publica Inspector do Thesouro Provincial Patrão–mór, percebendo os respectivos vencimentos, assim o communico á Vmc. para sua
Classificação: Aviso intelligencia. Igual participação se fez ao Inspector do Thesouro Provincial
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Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Bilhetes na Casa do Educandos
Data: 29/04/1847 –Ao Dr. José Maria Junior.–Em reposta ao seus officio de 24 do corrente sob. n. 21
Signatário: Inspector do thesouro participando –me que se achão já prontos mil bilhetes da Loteria da casa dos Educandos
Destinatário: Ao Dr. José Maria Junior Artifices desta tenho a dizer–lhe que pode Vmc. annunciar a venda dos ditos bilhetes.
Classificação:
Parecer
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Nomeação para cargo de Delegado da Instrução
Data: 27/05/1847 –Ao Inspector Interino da Instrucção Publica.–Concordando com a proposta constante de seu
Signatário: Presidente officio n.675 de 19 corrente, remetto á Vmc. a Portaria pela qual nomeio o Cidadaão Antonio
Destinatário: Ao Inspector Interino da Raimundo Ferreira para o cargo de Delegado da instrucção Publica na Villa do Paço de Lumiar
Instrucção Publica em logar de Alexandre Pereira Collares que foi mudado para o de suplente do mesmo Delegado.
Classificação: Parecer
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Nomeação para cargo de Inspetor da instrução publica
Data: 12/06/1847 Dia 9.–O Presidente da Provincia attendendo aos merecimentos e mais qualidades que
Signatário: concorrem na pessoa do cidadão Fracisco Sotero dos Reis, ha por bem nomea–lo para servir
Destinatário: Classificação: Ordem interinamente o cargo de Inspector da Instrucção Publica passando ao seu substituito o exercício
da cadeira de Gramatica e Latina do Lyceu de que é Professor Publico em quanto se achar
encarregado da Inspectoria–Pela Secretaria da Prezidencia se fação as communicações do estylo.
Nesta conformidade se fizeram as commnicação.
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Nomeação para Delegado da Instrucção
Data: 12/06/1847 –O Presidente da Provincia em consequecia da proposta do Inspector interino da Instrucção
Signatário: Publica, nomeia para Delegado da mesma Instrucção no Cururupú ao cidadão Antonio Manoel
Destinatário: Classificação: Aviso de Carvalho e Oliveira.
N`este sentido se oficiou ao respectivo Inspector.
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Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Gratificação de professor de primeiras letras
Data: 12/06/1847 –Ao 1.º Secretario da Assembleia Legistiva Provincial,–Srn. Ex, o Sr, Presidente da Provincia
Signatário: Dr. Carlos Fernando Ribeiro manda remeter á V. S. afim de ser presente a Assemblea Legislativa Provincial e incluso
Destinatário: Ao 1.º Secretario da requemento em que o Professor de primeiras letras da villa do Itapucurucú– mirim Ignacio
Assembleia Legislativa Provincial Francisco de Oliveira pede no forma do art, 8, º da Lei Provincial n. 115 do 1, º de Setembro que
Classificação: Parecer de 1841 a approvação de acto do Governo que considerou o Supplicante com direito á
gratificação de que trata o art. 10 da Lei de 15 de Outubro de 1827 na razão da 3.º parte do seu
ordenado, e isto em virtude dos documentos que forão presentes e que igualmente passo ás mãos
de V.S. com a copia da informação do Inspector interino da Instrucção Publica a tal respeito.–
Dr. Carlos Fernando Ribeiro. Secretario do Governo.
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Nomeação de Delegado da Instrução
Data: 17/06/1847 Dia 10 de Junho._ Ao Inspector interino da Instrucção Publica.–Tenho presente o seu officio de
Signatário: 4 do corrente sob. n. 693 propondo para Supplente do Delegado da Instrucção Publica em
Destinatário: Ao Inspector interino da Monção ao Padre Mariano José de Campos, e em resposta cumpre–me declarar –lhe que nomeio
Instrucção Publica. o referido Padre, ficando desordenado d`esse cargo o cidadão que actualmente exerce. – Inclusa
Classificação: Aviso remetto a respectiva nomeação.
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Aprovação Delegados da Instrução
Data: 26/06/1847 – Ao Inspector interino da Instrucção Publica. Approvo para Delegados da Instrucção Publica o
Signatário: Vigario Manuel Bernardo Vaz , e Domingos Gonçalves Nina Coco, este do Districto do Coroatá
Destinatário: Ao Inspector interino da , e aquelle do de Vinhaes, e para Supplentes, a Luiz Francisco Pereira de Macedo, e do 2.º A
Instrucção Publica José Carlos Pereira de Castro, por Vmc. Proposto em seu officio de 16 do corrente sob n. 9. P–
Classificação: Parecer Inclusa remetto as nomeações dos referidos Delegados.
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Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Nomeação de Delegado da instrução
Data: 3/07/1847 – O Presidente da Provincia em virtude de proposta do Inspector interino da Instrucção Publica
Signatário: nomeia para o cargo de Delegado da mesma no Districto de S. Bernardo do Brejo ao Padre
Destinatário: Ao Inspector interino da Manuel de Almeida Brandão .
Instrucção Publica Communico –se ao Inspector da Instrucção Publica.
Classificação: Aviso
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Pagamento de professor
Data: 09/07/1847 –Ao Inspector do Thesouro Provincial.–Dê Vmc. as provindencias para que seja pago de seus
Signatário: vencimentos pela Colletoria de Alcantara o Professor da Cadeira de Grammatica Latina da
Destinatário: Ao Inspector do Thesouro mesma cidade Francisco Caetano Martins, por assim o haver requerido.
Provincial
Classificação: Ordem
Jornal: Publicador Maranhense Assunto: Professor ocupando dois cargos
Data: 13/07/1847 Dia 8 de Julho.–Ao Inspector interino da Instrucção. Em resposta ao seu officio de 18 de junho
Signatário: ultimo sob. n.13 , tenho a dizer–lhe que não ha incompatibilidade entre e emprego de Professor
Destinatário: Ao Inspector interino da Publico e o de Secretário da Camara Municipal, uma vez que o individuo que os exerça
Instrucção desempenhe as obrigações de Magisterio, cumprindo no entanto declarar–lhe que obrou Vmc.
Classificação: Parecer com acerto em não relevar as faltas que déra o Professor de primeiras Letras do Icatú durante as
Sessões da Camara de que é Secretário.
Jornal. Diário de Pernambuco Assunto. Oferta de serviço para aula de música
Data. 23/1/1829 3 Luis Esmolzi Professor e compositor de Muzica chegado proximameate esta Cidade participa
Signatário. Professor Luis Esmozi ao respeitavel publico que elle se propõem a dar liçoens de piano contraponto e cantoria tanto
Destinatário. Classificação. Aviso em cazas particulares como na de sua rezidencia rua Nova.
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Jornal. Diário de Pernambuco Assunto. Queixas de um Professor ao Pescador do Inferno
Data. 24/01/1829 Tendo a pena aparada, devo, cumprir, o que prometi na minha ultima resposta à esse Pescador
Signatário. Joze Fernandes Gama – do Inferno, posto que fizesse tenção de não trepicar mais às infames, e escandaloza asneiras. E
Professor Regio porque não se persuada o Publico que cito de falso as Ordenações, Alvaras, e Regimentos, e
Destinatário. Pescador do inferno &c.,como costumão alguns, para illudirem , na esperança de que o Leitor não quererà tomar o
Classificação. Queixas trabalho de ir ver os originaes citados; outro remedio não tenho, se não de sahir terceira vez a
campo, não só para se ver, o que mandão os Regimentos das Alfandegas, relativamente a
jurisdição dos Juizes, mas tãobém para que os leitores saibão que esses carunchosos documentos
transcriptos pela perversidade natural d`esse infame ladrã da paciencia humana, e inseridas no
Diário de 15 de Dezembro do anno, que agora findou, em vez de me aniquilarem, me tecem um
não pequeno elogio, sendo, como passo a fazer, analyzados os ditos documentos. Pertendendo
eu ir a Lisboa queixar-me da exto---, que pertendia fazer a corporação dos Professores dos
Estudos menores e o Excellentissimo Bispo d`esta Diocese, mutilando, e saccando de cada um
annualmente a quarta parte do seu respectivo ordenado, a pretexto de fundos para o Seminario
de Olinda, fiz o requerimento transcripto por esse ladrão da paciencia humana no referido
Diario, para obter a necessaria licença, visto ser então o mencionado em todo este bispado.
Constando o meu requerimento de 5 ou 6 linhas, tive por Despacho os despropositados
desabafos, improprios do caracter de um Prelado, extendidos em 84 regras compostas de
falsidades; os quaes desabafos, ainda que fossem verdadeiros, pedia a caridade christã de um
Ecclesiastico tão sublime, que d`elles se não lembrasse. Pergunto agora a esse Pescador do
Inferno, se elle ignora o resultado assombrozo a S.
M. F. , que Does tem em gloria. Esse Pescador não o ignora; por que eu me persuado que elle he
tartaruga velha, e de casco duro. Segundo as minhas conjecturas. Não o ignorão outros muitos,
porque isto se passou em anno de 1799.
Saibão pois os que d`este negocio não tem noticia que o mesmo Augustissimo Senhor, que
Deos tem, Mandou logo retirar d´esta Diocese o referido Prelado. E para não ficar aqui alguma
raça d`elle, mandou igualmente retirar o irmão do mesmo, que era Tenente Coronel de Linha
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d`esta Praça, e da mesma sorte o sobrinho, que era Secretario d`este Governo: e a mim me fez a
Mercê de me conferir, uma penção annual de 200S reis , em quanto eu existisse, e naõ quizesse
mais entrar para a regencia da minha cadeira; e que só deixaria eu de receber esta penção, se
com efeito me deliberasse a querer outro vez ser Professor Regio; o que tudo consta fielmente
Livros de Registro da Junta da Fazenda d`esta mesmissima Provincia. Então, Snr. Pescador do
Inferno, este facto da-me honra, ou descredito? Passemos a`imputação, queme faz o dito
Pescador a respeito do ex- Gneneral Luiz do Rego Pertendendo o principal satélite d`esse ex-
Genenral meter os braços até os cotuvellos nos direitos da Alfandega do algodão, de que eu
ainda tenho a honra ser administrador, Fiscal e Juiz, persuado que os dous Inspectores d´este
genero tinhaõ alguma jurisdiçaõ na dita Alfandega, além da de qualidecarem o genero, e que por
consequencia um dos dous, ( qu e era seu parcial amigo) estava em circunstancia de despor dos
direitos entaõ Reaes; e naõ podendo conseguir os seos escandalosos fins, em quanto existisse
naquela caza uma Authoridade primeira, e que tanto se oppunha aos seus reprehensivos intentos,
tractou de me perder, malquistando- me, quando pôde, perante o sobredito ex-General Luiz do
Rego; até que este fazendo- se surdos as informações, que tinha em contrario, me mandou
prender em huma Fortaleza em o Augustissimo Nome de S. M. o Senhor D. Joaõ VI., que Deos
tem em gloria. Mas este Monarcha, do qual eu tinha a honra de ser bem conhecido, se dignou de
me mandar logo soltar, e restituir-me ao meu lugar por um avizo enérgico, em asperamente
reprehendeu d`esta despótica violencia o referido ex-General. Tudo se acha registado na
Secretaria d`este Governo. Então Snr. Pescador do Inferno, este outro facto da-me honra, ou
descredito? Passados trez mezes depois da minha soltura, ardendo em fundamente cólera o dito
ex-General, ou verdadeiramente o dito satélite, mandou-me esse ex-General imprudente, em o
Augustissimo Nome do mesmo Soberano Senhor D. Joaõ VI., exterminado para 6 legoas
distante d´esta Praça, como se eu fosse Magistrado criminoso, de cuja residencia se procedesse
a`Devassa: mas sabendo que este procedimento estava na Corte muito em vista do Miniterio,
mandou-me o dito Luiz do Rego do Engenho Tabatinga, para a Fortaleza do Brum em Nome do
mesmo Soberano Senhor,à pretexto de ser eu cumplice de huma conspiraçaõ contra elle por Joaõ
Cassimiro, Pitanga e outros. Passador tres mezes, dentro dos quaes naõ me pôde formar culpa
439
alguma, estando já o seu Satelite bastantemente lanzudo, me mandou soltar, fungindo que o
fazia por ordem do Ministerio.
Passados doze dias depois d`esta soltura, sendo terceira vez incitadoo referido ex-General pelo
dito Satelite que eu em vez de sucumbir, e deixar se roubassem os Direitos Reaes, do Algodão,
como se tinha feito nos treze mezes do meu exterminio, e prezaõ, continuava a impedil-os ainda
com maior vigor, tornou-me a mandar segunda Partario, para que voltasse outra vez para
Tabatinga, até que S. M., á Quem elle dava parte, deliberasse sobre omeu orgulho, o que fosse
do seu Real beneplácito.
Em consequencia d`esta Portaria, apenas por mim recebida, e de tantos tormentos, quantos
ficaõ referidos, fui pessoal ao Mondego fallar à Luiz do Rego; e com efeito expondo-lhe, ou
exprobrando-lhe em rosto (mas com todo o respeito) os seus attendados contra uma Authotidade
Subalterna, que o naõ tinha offendido, e que devia zelar a fazenda, de que estava encarregado,
recapitulei todos os tormentos, pelos quaes me tinha feito passar, &c.&c. Depois de me ouvir
aquelle ex-General, teve de me responder tão desccordamente, e taõ esquecido do seu
respeitabilíssimo Emprego, e Authotidade, que me fez perder os sentidos, ebrigando-me a
disforça-me em sua presença, como merecia o seu ataque, ou, para melhor dizer, como merecia
os seus costumados ataques.
E porque devia cumprir a minha palavra, que lhe dei em sua presença, de dizer em publico, o
que lhe tinha respondido alli em particular, escrevi na mesma hora em dous exemplares o Edital,
que esse Pescador do Inferno enseria no referido Diario, naõ metade, como elle enseriu, mas sim
com o resto, que elle naõ quis transcrever; introcucção esta, que fez este malvado no Diario naõ
tanto para me aniquilar, quanto para viliopendiar aquelle ex-General, alias um Fidalgo , e huma
pessoa de consideração, do qual alguns factos violentamente praticados, se achavaõ em
esquecimento, e não anadavaõ em papeis públicos. Em virtude d´este Edital, que serviu de corpo
de delicto, se procedeu à Devassa, para se verificar a identidade da minha letra, e do signal,
porque eu não sou infame Pescador, que cubra a cara: o que faço, he para se ver, e constar. Mas
qual foi o resultado d´esses Editaes, e da Devassa, que me acompanhou prezo para a Ilha das
Cobras, d`onde sahi por um Decreto depois de 24 dias de homenagem? Tive um Accordaõ
440
honradíssimo, filho dos integérrimos, sabios, e sisudos Ministros da Supplicação. Fui restituído
pelo ditto Accordaõ ao meu lugar com muita honra: do Thesouro se passou Portaria, pela qual se
me mandaraõ pagar todos os meus Ordenados, que se estavaõ devendo, e o Nosso Immortal
Imperador, sendo requerido por Luiz do Rego, para servir no Brasil, hé sabido que lhe
respondeu que nunca o consenteria, à vistas das violencias, que elle tinha practicado em
Pernambuco, estando prompto para o despachar para Portugal, como o fez. Entaõ, Sr. Pescador
do Inferno, torno a perguntar, este outro fazto da-me honra, ou descredito? E a que vem estes
factos taõ extranhos, trantando –se de contestações judiciaes, do crime de u m Empregado
desvairado meu
Subalterno? Se esse infame Pescador tivesse alguma contestação, ou literária, ou judicial com
alguma Authoridade Ecclesiastica, civil, ou Militar, poe exemplo, se esse infame ladraõ da
paciencia tivesse uma contestação com o Reverendissimo Deaõ de Olinda, que hé uma de
huma para outra parte a fim de ver se alcanço algum alivio em meus padecimentos. Recebi
sempre o honorario da minha Cadeira de Rhetorica em que sou confirmado por Carta Regia de
20 de Setembro de 1821. O anno p.p requerî com certidiões dos supracitados Professores ao
Excelentissimo Snr. Presidente 6 mezes mais de licença, emquanto me dirigia a S. M. o I.,
pedindo-lhe hum anno para ver se neste tempo me restabelecia: concedeo-me a licença, e
informou favoravelmente o meu requerimenro para a Côrte. No em tanto ao dito Excelentissimo
Snr. Prezidente, que eu escrevia artigos para o Constitucional contra a sociedade dos Colunnas:
eis apparece hum Aviso de 17 de Setembro do anno p. p, rubricado pelo ex-Ministro do Imperio
o Excellentissimo Snr. Joze Clemente mandando pôr a concurso a minha Cadeira. Como se
lembrou esse Snr. De assim proceder, tirando a minha propriedade sem ser eu ouvido.
Convencido, e sentenciado por crime? O Ministro do Imperio podia mandar prover em
Pernambuco huma Cadeira sem saber, que estava vaga? Logo he probabilissimo, que o
Excellentissimo Snr. T. X., que me havia facultado a licemça, e informado o meu requerimento
ao Soberano, certificando-O de que eu carecia convalescer; apenas sonhou, que eu escrevia em
sentido contrario ao seus Colunnas, deo-se pressa por participar particularmente ao dito Ministro
do Imperio, que eu estava bom; escrevendo contra a sua predilecta Colunnos, e eis hum Aviso
441
Sultanico, lançando-me fóra da Cadeira. Todos temos a fortuna de conhecer a inteireza, e
Binignidade do Imperador: e he erivel , hum Monarca tão Justo, e Pio me Mandasse tirar a
Cadeira, Q`Elle Mesmo me déra em propriedade sem culpa alguma, sem ser eu ouvido, e
sentenciado: hum Monarca tão zelador das leis, que na Portaria de 17 de Dezembro de 1828
Manda repreheder gravemente a Manoel da Costa Pinto Prezidente, e ao Conselho do Governo
por tirar a Cdeira de Filosofia a Fr. Manoel Justino Aires de Carvalho, Lente proprietario,
fazendo-lhe ver “que o Provimento vitalicio dá cireito a hum proprietario para ser conservado
em seu emprego, e receber a seu ordenado emquanto legalmente não for apozentado, ou
privado por erro do seu officio”? He de notar a simpleza deste Aviso; porque devendo dizer v.
g. “ Constando a S. M. o Imperador pelo officio de V. Ex. de tantos achar-se vaga a Cadeira de
Rhetorica do Seminario de Olinda, Manda o Mesmo Augusto Snr. , que seja posta a concurso
&c.” naõ toca em motivo algum: manda pôr a concurso huma Cadeira de hum Professor vitalicio
sem este ter falecido, sem ser convencido de crime!!! O Imperador do Brazil ainda naõ fez
destas ; o que faz suppôr com todo o fundamento que o ex- Ministro do Imperio calou o motivo
supra indicado por especial recomendação do Excellentissimo Snr. T. X. S e cometti crime:
appareça ; seja setenciado, e naõ terei de que me queixar. O mesmo ex-Ministro do Imperio,
talvez esquecido do meu nome concedeo –me hum anno de licença em Aviso de 22 de Outubro:
mando-o appresentar ao Excellentissimo Snr. Thomaz Xavier: naõ lhe dá cumprimento, dizendo,
que outro já esta provido, e que representára sobr` este negocio a S. M. I. para decidir. He muito
provavel , disesse muito boas ausencias, que eu estava saõ, como hum pèro, &c. &c.: mas em
quanto me dirijo aos pés do Throno, cujo acesso (graças a `Constituiçaõ, e a Quem no -la
offertou) a nenhum subdito he vedado ; desabafo em publicar aos meus concidadaõs a injustiça,
com que me tem tractado o Excellentissimo Snr. Thomaz Xavier; que além da justiça, que me
assiste, tem rasões particulares, e elle bem as sabe, para se mostrar mais grato ao filho do Doutor
Joaõ Lopes. Ao mesmo tempo que assim procede comigo o Excellentissimo Snr. Thomaz
Xavier, por puro effeito da sua benignidade mandou pagar 4 mezes do soldo ao Snr. Ajudante de
S. Paulo que foi para a côrte com licença registrada, apezar da Lei em contrario : mas esse Snr.
Ajudante he voz publica, que fora hum dos Patriarcas fundadores da Colunna, e serviço taõ
442
relevante devia merecer, que em seu favor fosse portergada a lei. Se o Excellentissimo Snr.
Thomaz Xavier tivesse barruntos de que eu mimoseava o Cruzeiro, e Amigo do Povo com
algum art. De seu gosto, nem a minha Cadeira seria posta a concurso; elle enformaria ate`que eu
merecia honorario dobrado: mas apezar da familia, que há `muito sustento por dever e houra; eu
sou superior a essa vingança pouco digna do Excellentissimo Snr. T. X.; e se para substituir, e
sustentar meus sobrinhos me fosse mister escrever em favor de sociedades, que ey entendo , e
provo, que saõ liberticidas ; muito me contentara com a minha indigencia; pois quem nunca
soube adular cedros de Libano muito se degradaria com se abaixar a quem conheço laranjaira.
Fr. Miguel do Sacramento Lopes
Pregador da Imperial Capella,
Professor de Rhetorica, e Bel- las Letras do Seminario.
443
merecimento e capacidade. Oxala que outro tanto podesse dizer o Sr.Queixoso. Hum Academico
Bahiano.
Jornal. Diário de Pernambuco Assunto. Oferta de aulas e ofício para meninas
Data. 12/01/1831 – A 17 do corrente abre-se uma aula de maninas na rua do Rozario 2.º andar do sobrado D.7
Signatário. defronte da esquina do beco do peixe frito, na qual se ensina a ler, escrever, e contar, gramatica
Destinatário. Classificação. Aviso Protugueza, e toda a qualidade de costura: a Sr.ª que desvelo de sua parte, e convida os pais de
filhas a irem a referida caza tractar dos ajustes.
Jornal. Diário de Pernambuco Assunto. Oferta de serviço de aulas de gramática e francez
Data. 14/01/1831 – Quem precisar de um mestre de grammatica Latina e Franceza, homem capaz; annucie, ou
Signatário. dirija-se a rua Rozario D.19
Destinatário. Classificação. Aviso
Jornal. Diário de Pernambuco – Maria Theodora Vianna de Carvalho, Professora de primeiras letras na fraguezia de S. Fr.
Data. 17/01/1831 Pedro Gonçalves, aviza, que abre a sua Aula no dia 17 do corrente, rua do Amorim N.º 131
Signatário. Maria Theodora Vianna de
Carvalho
Destinatário. Classificação. Aviso
Jornal. Diário de Pernambuco Assunto. Oferta de serviço
Data. 17/01/1831 – Quem precisar de um mestre de grammatica Latina e Franceza, homem capaz; annucie, ou
Signatário. Mestre de grammatica dirija-se a rua Rozario D.19
Destinatário. Classificação. Aviso
Jornal. Diário de Pernambuco Assunto. Professora vende mulato
Data. 04/02/1830 Hum mulato de boa figura, idade 17 annos, com prineipio de çapateiro, sem molestia nem vicio,
Signatário. e bom para page; na Boa Vista defronte da Igreja da Gloria, na casa da Professor de primeiras
Destinatário. Classificação. Aviso lettras.
444
Jornal. Diário de Pernambuco Assunto. Método de ensino
Data. 06/02/1830 Todo o moço eu menino que quizer aprender o idioma Francez, com toda a perfeitção
Signatário. Destinatário. Classificação. gramatical, dirija-se a Mr. Garcie, cujo methodo facil de ensinar tem feito já conseguir no
Aviso conhecimento do dito idioma a muitas pessoas n`um bem curto espaço de tempo; o Recife beco
do Monteiro no segundo andar do N.º 1.
Jornal. Diário de Pernambuco Assunto. Professor faz queixa por sua cadeira ter ido a concurso sem justificativa
Data. 08/02/1830 Annuncio
Signatário. Fr. Miguel do Sacramento
Lopes Ao Respeitavel Publico
Pregador da Imperial Capella, Professor
de Rhetorica, e Bel- las Letras do HE geralmente sabido, que eu fui atacado de huma terrivel affecção nervoza, da qual fui muitas
Seminario vezes tractado pelos Snrs. Professores Doutor Joze Eutaquio Gomes, Mathias Carneir Leão,
Destinatário. Snr. Thomaz Xavier Joaquim Jeronimo Serpa, Jeronimo Vitella Tavares, e Antonio Joze Pinto ; que tenho anadado
Dados da Pesquisa: 2014-2015.
445
CIÊNCIAS SOCIAIS
MENSURANDO A SUSTENTABILIDADE
EMPRESARIAL EM AGROINDÚSTRIAS PARAIBANAS
Resumo
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Mensurando a Sustentabilidade Empresarial em
Agroindústrias/Mensurando a Sustentabilidade Empresarial em Agroindústrias Paraibanas.
Estudante de Iniciação Científica: Aline Romão da Silva (e-mail: liine_romao@hotmail.com).
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientador: Aldo Leonardo Cunha Callado (e-mail: aldocallado@yahoo.com.br, telefone: 83 3216-7285)
447
que denotem responsabilidade social, qualidade de vida, melhoria nos resultados do
empreendimento, bem como a preservação dos recursos naturais. A partir desse
posicionamento, a presente pesquisa tem por objetivo investigar se agroindústrias paraibanas
consideram, em suas práticas de gestão, aspectos ambientais, sociais e econômicos da
sustentabilidade empresarial.
Para Barros et al. (2010), o empreendimento considerado sustentável é aquele que
atende às dimensões econômica, social e ambiental. Isso implica dizer que a empresa visa o
lucro, objetivo essencial para organizações com fins lucrativos. Só que considera também, o
impacto do desenvolvimento de suas operações no meio ambiente, desempenhando,
simultaneamente, ações de cunho social, em benefício de seus funcionários e/ou da
comunidade.
Dentre os motivos de adesão à política de ecologia sustentável e responsabilidade
socioambiental, por parte das empresas, estão à competitividade e a aceitação da população.
Isso acontece, segundo Barbosa e Cândido (2012) e Barros et al. (2010), a partir da percepção
de que a competitividade depende cada vez mais de posturas responsáveis de sua parte, no
sentido de cooperar com o desenvolvimento de soluções de problemas ambientais e sociais.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2013) definiu
projeções regionais, divididas em projeções regionais de regiões consolidadas e áreas de
expansão recente, situadas na região central do Brasil, e parte do Nordeste. Ainda conforme o
MAPA (2013), o desenvolvimento de atividades referentes ao agronegócio nas regiões e
estados brasileiros caminha para a próxima década com foco na competitividade e na
modernidade, fazendo da utilização permanente da tecnologia um caminho para a
sustentabilidade.
É o caso do estado da Paraíba, que com 167.477 estabelecimentos agropecuários vem
ganhando espaço e sendo explorado por atividades associadas ao agronegócio, que é
considerada economicamente viável ao seu desenvolvimento (IBGE, 2006). Com isso,
observa-se a importância da adoção de medidas coerentes com aspectos sustentáveis por parte
de empresas que atuam no agronegócio. Além de seu importante papel sobre a economia
nacional, tal atividade representa relevância na economia regional e estadual.
No entanto, faz-se necessário que se possa mensurar a sustentabilidade empresarial por
meio da associação de suas três dimensões principais. Diante disso, a pesquisa propôs
alcançar os seguintes objetivos específicos: a) mensurar o desempenho da sustentabilidade
empresarial de organizações que atuam no agronegócio paraibano, a partir de aspectos
ambientais, sociais e econômicos; e b) verificar quais práticas ambientais, sociais e
econômicas estão sendo utilizadas por organizações que atuam no agronegócio paraibano.
Fundamentação Teórica
448
Elkington (1999), a empresa pode agregar ou destruir valores conforme o desempenho de suas
atividades. No entanto, essas possibilidades estão estritamente fundamentadas no equilíbrio
das questões econômicas, sociais e ambientais.
A sustentabilidade econômica diz respeito à eficiência na alocação e distribuição dos
recursos naturais para o alcance do bem-estar dos indivíduos. Jennings (2004) discute que o
componente econômico do triple bottom line é frequentemente associado ao desempenho
financeiro, e que há uma sutil diferença. Enquanto a área de finanças preconiza a provisão de
capital quando e onde é requerido para o consumo ou investimento no comércio, a economia é
o meio pelo qual a sociedade faz uso dos recursos naturais e humanos na busca do bem-estar
humano. A sustentabilidade econômica, neste caso, se estenderia para além das fronteiras
organizacionais, estando ligada também a elementos sociais e ambientais.
Segundo Oliveira (2005), a sustentabilidade econômica admite o acesso à tecnologia, a
melhoria contínua dos processos produtivos, a diversificação de suas atividades, a segurança
alimentar, bem como o desenvolvimento econômico equilibrado entre setores produtivos. A
mesma autora defende que a superação das disparidades inter-regionais é uma condição
importante para o desenvolvimento desses objetivos, onde ações de eco-desenvolvimento
baseado na igualdade, no controle institucional efetivo do sistema financeiro internacional e
na evolução das políticas e das instituições internacionais de proteção ao meio ambiente
devem fazer parte do escopo da proposta de desenvolvimento sustentável.
No tocante a dimensão ambiental da sustentabilidade, os debates observados na
literatura consideram principalmente aspectos associados aos recursos naturais e questões
voltadas aos impactos causados por ações de empresas a esses recursos. A dimensão
ambiental do desenvolvimento sustentável foca principalmente no meio ambiente e nos
recursos naturais que este provém para a sociedade, bem como nos impactos das atividades
humanas no ecossistema, sejam eles originários do cotidiano da população ou das operações
empresariais.
Ekins (2011) define sustentabilidade ambiental como sendo a manutenção das funções
ambientais que são importantes, bem como a manutenção da capacidade do estoque de capital
em prover essas funções. As funções ambientais que fornecem bens e serviços para satisfação
das necessidades humanas podem ser classificadas em quatro categorias, a saber: (1) funções
reguladoras, sendo a regulação dos processos ecológicos essenciais e dos sistemas de apoio à
vida; (2) funções de produção, como a colheita de ecossistemas naturais como matéria prima,
comida e recursos genéticos; (3) funções do habitat, que seria a provisão de refúgio e local de
reprodução por parte dos ecossistemas naturais para animais e plantas selvagens, contribuindo
para a conservação da diversidade ecológica e genética, bem como seus processos evolutivos;
e (4) funções de informação, sendo a prestação de serviços de lazer, de informações culturais
e históricas, inspiração artística e espiritual, educação e pesquisa científica.
E em relação à sustentabilidade social, de acordo com Oliveira (2005), deve guiar-se
pela busca de equidade na distribuição de renda e de bens, com a finalidade de reduzir a
desigualdade abismal entre os padrões de vida dos ricos e dos pobres e de promover a
igualdade de acesso a recursos e serviços sociais e ao emprego pleno.
Segundo Nascimento (2012), para que uma sociedade seja considerada sustentável,
todos os cidadãos devem ter o mínimo necessário para viver dignamente, e os indivíduos não
devem absorver produtos, recursos naturais e energéticos que prejudiquem outras pessoas. O
449
termo “justiça social” emerge, retratando o desejo de erradicação da pobreza, definindo outros
padrões de consumo de bens materiais, estabelecendo limites mínimo e máximo de
desigualdade social.
A sustentabilidade social somente é alcançada pela participação da comunidade e da
sociedade civil como um todo. A dimensão social é formada por um conjunto de valores e
características, a exemplo da diversidade, identidade cultural, coesão da comunidade, cortesia,
congregação, tolerância, compaixão, pluralismo, entre outros (GOODLAND, 1995). O
mesmo autor destaca que o capital social demanda a manutenção e o reabastecimento por
valores compartilhados e direitos igualitários, por interações da comunidade, de religiões e
culturas. Sem essa manutenção, esse capital irá depreciar como em um capital físico.
Na visão de Munasinghe (2007), o capital social seria a acumulação da capacidade que
permite os indivíduos e comunidades a trabalharem juntos, e seu crescimento resultaria no
desenvolvimento social, traduzindo-se em melhorias no bem-estar individual e social. O
capital social possui componentes institucionais, como o sistema legal e entendimentos
informais e tradicionais que determinam o comportamento da comunidade, e a qualidade e
quantidade dessas interações sociais, inerentes à condição humana (como apoio mútuo,
valores sociais já citados anteriormente), determinam o estoque do capital social. Este autor
também defende que o desuso desse tipo de capital causa sua depreciação, mas o seu uso
estimula seu crescimento.
Muitos autores realizaram pesquisas voltadas para a sustentabilidade empresarial no
contexto do agronegócio. É o caso do estudo desenvolvido por Claro e Claro (2004) que
propuseram indicadores ecológicos, econômicos e sociais para auxiliar no monitoramento da
sustentabilidade, com 13 produtores de café orgânico, situados em Minas Gerais. Por meio de
um estudo de caso, desenvolveram-se os indicadores e julgou-se ser imprescindível a visão
integrada destes indicadores, bem como das dimensões da sustentabilidade. Além disso,
sugeriu-se a utilização de tais indicadores como base para a construção de um código de
conduta relacionado à sustentabilidade da cadeia agroindustrial do café.
Callado (2010) propôs e testou um modelo para mensurar a sustentabilidade
empresarial, a partir da integração das dimensões ambiental, social e econômica, cuja
aplicação ocorreu em vinícolas localizadas na Serra Gaúcha. Observou-se que parte das
vinícolas concilia desempenho satisfatório nas três dimensões de sustentabilidade
consideradas (ambiental, social e econômica). Também se observou que algumas vinícolas
consideraram apenas duas das três dimensões investigadas.
Com o objetivo de apresentar o conceito de sustentabilidade empresarial e os
principais indicadores de sustentabilidade, Bueno, Souza e Meireles (2011) realizaram um
estudo em uma Usina de Açúcar e Álcool, em Boa Vista (Roraima). Constataram que a Usina
apresentou ações voltadas para as três dimensões básicas, pois mescla ações voltadas para o
meio ambiente e para o social, ou possuem uma gestão socioambiental, sem tirar do foco dos
resultados econômicos.
Barbosa e Cândido (2012) propuseram verificar as práticas ambientais de uma
destilaria de álcool do Estado da Paraíba e como estariam relacionadas com a sua
competitividade e a sustentabilidade do município onde a usina está localizada. Os resultados
indicaram que as relações entre as variáveis ocorrem de forma indireta e faz-se necessário um
modelo de gestão com maior conformidade aos interesses e necessidades dos seus
450
stakeholders, em especial aqueles mais ligados à localidade.
Melo, Silva e Queiroz (2014) apresentaram o Índice de Sustentabilidade Observada
(ISO) como forma de classificar as empresas do agronegócio exportador quanto às suas
práticas sustentáveis. Os resultados mostraram que a visão das empresas está de acordo com o
tripé da sustentabilidade. Contudo, observou-se a predominância da dimensão ambiental, o
que sugeriu que esta dimensão é vista como sendo a mais importante na visão dos gestores,
sugerindo ainda que as empresas que possuem as práticas ambientais mais consistentes
alcançam ganhos econômicos.
Os resultados observados nestes estudos indicam que a abordagem e prática da
sustentabilidade nas agroindústrias precisam ser ainda mais incentivadas e os autores
ressaltam a importância de se incluir os conceitos sustentáveis no contexto organizacional.
Verifica-se a necessidade de implementação da sustentabilidade na gestão agroindustrial,
tendo em vista a expectativa de benefícios, ambientais, sociais e econômicos, gerados com
sua inclusão.
Metodologia e Análise
INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE
DIMENSÃO AMBIENTAL
(I1) Sistemas de Gestão Ambiental (SGA)
(I2) Quantidade de água utilizada
451
(I3) Processos decorrentes de infrações ambientais
(I4) Treinamento, educação de funcionários em aspectos associados ao meio ambiente
(I5) Economia de energia
(I6) Desenvolvimento de tecnologias equilibradas
(I7) Ciclo de vida de produtos e serviços
(I8) Quantidade de combustível fóssil utilizado por ano
(I9) Reciclagem e reutilização de água
(I10) Acidentes ambientais
(I11) Fontes de recursos utilizados
(I12) Redução de resíduos
(I13) Produção de resíduos tóxicos
(I14) ISO 14001
(I15) Qualidade do solo
(I16) Qualidade de águas de superfície
DIMENSÃO ECONÔMICA
(I17) Investimentos éticos
(I18) Gastos em saúde e em segurança
(I19) Investimento em tecnologias limpas
(I20) Nível de endividamento
(I21) Lucratividade
(I22) Participação de mercado
(I23) Passivo ambiental
(I24) Gastos em Proteção ambiental
(I25) Auditoria
(I26) Avaliação de resultados da organização
(I27) Volume de vendas
(I28) Gastos com benefícios
(I29) Retorno sobre capital investido
(I30) Selos de qualidade
DIMENSÃO SOCIAL
(I31) Geração de trabalho e renda
(I32) Auxílio em educação e treinamento
(I33) Padrão de segurança de trabalho
(I34) Ética organizacional
(I35) Interação social
(I36) Empregabilidade e gerenciamento de fim de carreira
(I37) Políticas de distribuição de lucros e resultados entre funcionários
(I38) Conduta de padrão internacional
(I39) Capacitação e desenvolvimento de funcionários
(I40) Acidentes fatais
(I41) Contratos legais
(I42) Stress de trabalho
(I43) Segurança do produto
Fonte: Callado (2010, p. 81).
452
São propostos três níveis de desempenhos para cada indicador de sustentabilidade,
sendo Escore 1, Escore 2 e Escore 3 respectivamente: desempenho inferior (quando a empresa
apresentar desempenho insuficiente); desempenho intermediário (quando a empresa
apresentar desempenho mediano); e desempenho superior (quando a empresa apresentar
desempenho superior).
Com os dados coletados, a mensuração do GRID consistiu no desenvolvimento de três
etapas:
Onde,
wi = peso definido pelos especialistas ao indicador de desempenho i;
pi = nível de desempenho apresentado pela empresa no indicador i; e
n = número de indicadores considerados.
0 1
Econômica EPSS ˂ 58,358 EPSS ≥ 58,358
(zero) (um)
0 1
Social EPSE ˂ 56,966 EPSE ≥ 56,966
(zero) (um)
Fonte: Callado (2010, p. 86).
453
2) Cálculo de Escore de Sustentabilidade Empresarial (ESE), obtido pelo
seguinte cálculo:
454
Os resultados obtidos após os cálculos e interpretações dos Escores Parciais de
Sustentabilidade e Escore de Sustentabilidade Empresarial de cada empresa, foram utilizados
para mensurar o posicionamento destas no Grid de Sustentabilidade Empresarial (GSE).
RESULTADOS Posicionamento
Escore Escore Parcial Escore Parcial de Escore de no Grid de
Parcial de de Sustentabilidade Sustentabilidade Sustentabilidade
Sustentabilidade Sustentabilidad Ambiental (EPSA) Empresarial Empresarial
Econômica (EPSE) e Social (EPSS) (ESE) (GSE)
0 0 0 0 I
0 0 1 1 II
0 1 0 1 III
1 0 0 1 IV
1 1 0 2 V
0 1 1 2 VI
1 0 1 2 VII
1 1 1 3 VIII
Fonte: Callado (2010, p. 91).
455
ambientais;
• posicionamento V representa empresas com bom desempenho econômico e que
possuem boas interações sociais, mas não estão comprometidas com aspectos
ambientais;
• posicionamento VI representa empresas com baixo desempenho econômico, mas
que possuem boa interação social e estão comprometidas com aspectos
ambientais;
• posicionamento VII representa empresas com bom desempenho econômico, não
possuem boa interação social, mas estão comprometidas com aspectos
ambientais; e
• posicionamento VIII representa empresas com bom desempenho econômico que
possuem boa interação social e que estão comprometidas com aspectos
ambientais.
456
de todas as empresas apresentarem, pelo menos, 10 anos de existência no mercado.
Observa-se, na Tabela 02, o número de funcionários das empresas. Foi considerada a
classificação do SEBRAE, de acordo com o critério de número de funcionários, para o porte
da empresa.
Nº de funcionários Qtde %
Até 19 empregados (microempresa) 8 61,55
20 a 99 empregados (pequena empresa) 2 15,38
100 a 499 empregados (média empresa) 1 7,69
Superior a 500 empregados (grande empresa) 2 15,38
Total 13 100
Fonte: Dados da Pesquisa, 2015.
457
se uma maior concentração de empresas com um número menor de produtos, não havendo
grande variação nos perfis analisados.
Na Tabela 04 consta o nível de utilização da capacidade instalada das empresas
participantes desta pesquisa. Observa-se que 53,85% da amostra investigada apresentaram
que utilizam acima de 80% de sua capacidade instalada. Por outro lado, 38.46% das empresas
apresentaram que utilizam no máximo 60% de sua capacidade instalada.
E por fim, foi observado que apenas uma empresa utiliza entre 61% e 80% de sua
capacidade instalada, representando 7,69% da amostra. Percebe-se, portanto, que um pouco
acima da metade das empresas respondentes utilizam algo próximo a capacidade máxima de
produção que possuem.
A Tabela 05 apresenta os dados associados aos diferentes mercados em que as
empresas participantes da pesquisa disponibilizam seus produtos a venda. De acordo com os
resultados obtidos, constatou-se que o mercado onde são vendidos os produtos fabricados
pelas empresas participantes é majoritariamente formado pelo próprio estado e por outros
estados. Esta opção mercadológica compreende 46,15% da amostra investigada.
Salienta-se que 30,77% das empresas investigadas optam pela venda de seus produtos
apenas no mercado local (próprio estado) e 23,08% vendem além do próprio estado, para
outros estados e países. Dessa forma, destaca-se a diversificação dos mercados para onde são
vendidos os produtos das agroindústrias investigadas. Observou-se que, apesar dessa
diversificação de mercados observada, parte significativa de empresas opta por vender apenas
no mercado local (próprio estado). Em contrapartida, nenhuma das empresas respondentes
opta por comercializar seus produtos apenas para outros estados.
Outro aspecto analisado diz respeito ao número de concorrentes dos principais
458
produtos das empresas respondentes. Os resultados observados são apresentados na Tabela
06.
Nº de concorrentes Qtde %
Até 10 concorrentes 5 38,46
Acima de 10 concorrentes 8 61,54
Total 13 100
Fonte: Dados da Pesquisa, 2015.
459
considerado. Os resultados associados a esta análise. Essas informações estão dispostas na
Tabela 08.
460
(2) quantidade de combustível fóssil utilizado por ano (38,46), (3) produção de resíduos
tóxicos (84,62%) e (4) qualidade do solo (92,3%). Salienta-se que todas as empresas tiveram
desempenho superior nos indicadores: acidentes ambientais e qualidade de águas de
superfície.
Estes resultados indicam que a maioria das empresas consideradas na pesquisa se
caracteriza pela ausência de processo instaurado por organizações ambientais. Além disso,
observa-se que estas vêm reduzindo, ou mantém inalterada, a quantidade de combustível
fóssil utilizada por ano. Identificou-se, também, que todas as empresas indicam não haver
registro de acidentes ambientais, em comparação com os três últimos anos.
Assim também, verifica-se que há práticas de monitoramento e controle de resíduos
tóxicos na maioria das empresas consideradas. Estas demonstraram que, predominantemente,
as suas atividades não geram danos na qualidade do solo e nenhuma delas indicou que suas
práticas danificam as águas de superfície.
Em contrapartida, quatro dos indicadores tiveram uma maior concentração de
respostas no Escore 1, representando o pior desempenho, a saber: (1) treinamento, educação
de funcionários em aspectos associados ao meio ambiente (76,92%), (2) ciclo de vida dos
produtos e serviços (84,62%), (3) redução de resíduos (46,15%) e (4) ISO 14001 (92,3%).
Tem-se que a maior parte das agroindústrias respondentes apresentou desempenho inferior
nos mesmos.
Tais indicadores explanam que a maior parte das entidades não adotam práticas de
treinamento e de educação de funcionários em aspectos associados ao meio ambiente. A
maioria também demonstrou ausência de práticas de redução de resíduos e desconhecimento
da relação do meio ambiente com o ciclo de vida dos produtos e serviços. Além disso, apenas
uma empresa possui a certificação da norma ISO 14001.
Foi também investigado o desempenho das empresas na dimensão ambiental, a partir
do Escore de Parcial de Sustentabilidade Ambiental (EPSA), comparado ao seu Escore Médio,
conforme Quadro 2, apresentado anteriormente. Os resultados estão dispostos na Tabela 09.
461
resultados foram superiores ao Escore Médio da dimensão. Percebe-se dessa forma, que a
maioria delas incluem as práticas sustentáveis ambientais em suas atividades operacionais.
No estudo de caso realizado por Farias, Rossato e Dorr (2014), a empresa de
transporte coletivo urbano obteve desempenho insatisfatório no EPSA, visto que o somatório
obtido foi inferior ao seu Escore Médio. Em contrapartida, a pesquisa realizada por Andrade e
Câmara (2012) teve resultado semelhante ao desse estudo, uma vez que foi observado que dos
8 (oito) hotéis investigados, apenas 1 (um) deles apresentou desempenho insatisfatório nos
EPSA.
No que tange aos indicadores econômicos, analisou-se a distribuição dos resultados
obtidos nos escores de desempenho das empresas investigadas. Os resultados são
apresentados na Tabela 10.
462
Tabela 11. Desempenho das empresas por indicador econômico
463
Identificou-se que nos indicadores econômicos: investimentos éticos (53,85%),
lucratividade (53,85%), passivo ambiental (92,3%) e volume de vendas (53,85%), a maior
parte das empresas investigadas obteve desempenho superior. Nestes aspectos, foram obtidos
escores máximos em suas respostas.
Esses indicadores estavam relacionados à utilização de critérios técnicos e econômicos
associados a aspectos sociais e ambientais. Dessa forma, a maioria das empresas indicou ter
identificado um aumento da lucratividade nos últimos três anos e uma ausência de passivo
ambiental em suas práticas. E por fim, foi observado um aumento no volume de vendas.
No entanto, dez indicadores apresentaram Escore 1, isto é, desempenho inferior na
categoria considerada, a saber: (1) gastos em saúde e em segurança (84,62%), (2)
investimento em tecnologias limpas (61,54%), (3) nível de endividamento (53,85%), (4)
participação de mercado (46,15%), (5) gastos em proteção ambiental (46,15%), (6) auditoria
(84,62%), (7) avaliação de resultados da organização (53,85%), (8) retorno sobre capital
investido (53,85%), (9) selos de qualidade (61,54%) e (10) gastos com saúde e demais
benefícios (100%).
Os resultados apresentados indicam que a maioria das empresas investigadas não
possui gastos associados aos planos de saúde para seus funcionários. Além disso, percebeu-se
que, majoritariamente, houve uma redução da participação de mercado e um aumento no nível
de endividamento, nos últimos três anos. Constatou-se também que todas as empresas
apresentaram a inexistência de gastos direcionados a planos de pensões e aposentadorias e
demais benefícios para os funcionários.
Outras características observadas na maioria das agroindústrias analisadas estavam
ligadas à falta de investimento em tecnologias limpas, à ausência de gastos em proteção
ambiental, a não realização de serviços de auditoria, à carência de processos formais de
avaliação de resultados, à falta de selos de qualidade nos produtos e à redução do retorno
sobre capital investido.
Em seguida foi verificado o desempenho das empresas analisadas, por meio do Escore
Parcial de Sustentabilidade Econômica (EPSE), comparado ao seu Escore Médio. Os
resultados estão dispostos na Tabela 12.
464
Dessa forma, tem-se que a maior parte das empresas respondentes teve desempenho
insatisfatório no Escore Parcial de Sustentabilidade Econômica, visto que, seus resultados
foram inferiores ao Escore Médio da dimensão. Percebe-se que a maioria das agroindústrias
analisadas não está aderindo de maneira satisfatória às práticas sustentáveis no âmbito
econômico.
Já no estudo realizado por Andrade e Câmara (2012) 6 dos 8 (oito) hotéis investigados
apresentaram desempenhos satisfatórios nos EPSE, visto que, os resultados obtidos destes
hotéis foram acima do Escore Médio desta dimensão. O mesmo ocorreu no estudo de Farias,
Rossato e Dorr (2014), em que a empresa analisada obteve EPSE satisfatório.
No que se refere aos indicadores sociais, foi investigada a distribuição dos escores de
desempenho das empresas pesquisadas. Os resultados podem ser visualizados na Tabela 13.
465
Tabela 14. Desempenho das empresas por indicador social
Verificou-se que quatro indicadores sociais tiveram a maioria das respostas com
escore máximo, a saber: (1) geração de trabalho e renda (92,3%), (2) acidentes fatais (92,3%),
(3) contratos legais (69,23%) e (4) Segurança do produto (46,15%). Os resultados positivos
466
sugerem que a maioria das empresas têm ações voltadas para o desenvolvimento da
comunidade local, através da geração de trabalho e renda. Além disso, percebe-se que a
maioria das empresas investigadas indicou a não ocorrência de acidentes fatais, a legalidade
contratual e a existência de informações para a segurança dos produtos ofertados.
Por outro lado, sete indicadores apresentaram que as empresas têm desempenho
abaixo do esperado na dimensão social (Escore 1), a saber: (1) auxílio em educação e
treinamento (84,62%), (2) interação social (84,62%), (3) empregabilidade e gerenciamento de
fim de carreira (92,3%), (4) políticas de distribuição de lucros e resultados entre funcionários
(84,62%), (5) conduta de padrão internacional (76,92%), (6) capacitação e desenvolvimento
de funcionários (46,15%) e (7) stress de trabalho (53,85%).
Esses resultados inferiores demonstram ausência predominante de recursos para o
auxílio em educação e treinamento. Assim também, observa-se que a maioria das
agroindústrias tem carência de ações para promover a interação social, a empregabilidade e o
gerenciamento de fim de carreira. Identificou-se, ainda, que a maior parte das empresas não
distribui lucros e resultados entre seus funcionários. Além disso, tem déficit de práticas de
capacitação e desenvolvimento destes, de condutas sociais de padrão internacional e de ações
voltadas para o stress de trabalho.
Verificou-se, também, o desempenho das empresas na dimensão social, por meio do
Escore Parcial de Sustentabilidade Social. Os resultados são visualizados na Tabela 15.
467
Em relação a esse estudo, fica observado que, de modo geral, as empresas analisadas
estão preocupadas com o meio ambiente. Entretanto, ainda precisam aperfeiçoar ou
acrescentar práticas voltadas à sociedade e à economia, para que possam obter o equilíbrio
entre os três pilares da sustentabilidade.
A integração dos Escores Parciais de Sustentabilidade Ambientais, Econômicos e
Sociais resultou no Escore de Sustentabilidade Empresarial (ESE). Os resultados estão
dispostos na Tabela 16.
A partir dos resultados apresentados, observa-se que 7,69% das empresas participantes
da pesquisa teve Escore de Sustentabilidade Empresarial Insuficiente. Identificou-se, também,
que 46,15% da amostra investigada apresentou sustentabilidade empresarial fraca, 38,47%
relativa e 7,69% satisfatória.
Mediante análise foi identificado que uma empresa apresentou o Escore 3, ou seja,
demonstrou ter desempenhos satisfatórios nas três dimensões da sustentabilidade. Tal
resultado é considerado bastante promissor, uma vez que demonstra que a agroindústria
consegue equilibrar suas atividades, voltando-as para as ações e políticas ambientais, sociais e
econômicas da sustentabilidade.
Nota-se, também, que uma empresa apresentou Escore 0 de Sustentabilidade,
indicando não ter desempenhos satisfatórios em nenhuma das três dimensões. Além disso, se
observou que a maior parte das empresas estão incluídas no Escore 1, implicando dizer que
possuem desempenho satisfatório em apenas uma das três dimensões consideradas. Dessa
forma, se observa a necessidade de adaptação dessas empresas no que refere à inclusão
particular da Sustentabilidade Empresarial em suas atividades organizacionais.
Em uma pesquisa realizada por Farias, Rossato e Dorr (2014), os resultados revelaram
um desempenho empresarial inferior na dimensão ambiental e superior nas dimensões
econômica e social, resultando na classificação de Sustentabilidade Empresarial Relativa, ou
seja, possuía um bom resultado em duas das três dimensões de sustentabilidade consideradas.
Por meio das possibilidades de interações dos Escores Parciais de Sustentabilidade,
assim como dos resultados apresentados no Escore de Sustentabilidade Empresarial foi
possível posicionar as empresas participantes da pesquisa no Grid de Sustentabilidade
Empresarial (GSE). Na Tabela 17, visualizam-se os resultados obtidos.
468
Tabela 17. Posicionamentos espaciais das empresas no Grid de Sustentabilidade Empresarial
(GSE)
VII VIII
I II 7,69% 7,69%
7,69% 38,47%
469
Com isso, foi possível observar o posicionamento espacial do Grid por meio de uma
visualização tridimensional da sustentabilidade empresarial. Tal modelo considerou a
integração das dimensões ambiental, econômica e social da sustentabilidade, de modo a
possibilitar uma melhor detecção das principais ausências e/ou insuficiências encontradas nas
agroindústrias investigadas, assim como também as suas eficiências e qualidades.
Conclusões
Referências
470
ANDRADE, J. M. R.; CÂMARA; R. P. B. Mensuração da Sustentabilidade Empresarial:
Uma Aplicação em Hotéis Localizados na Via Costeira da Cidade de Natal/ RN. Revista
Ambiente Contábil, UFRN, Natal-RN, v. 4. n. 2, p. 110 – 131, jul./dez. 2012.
471
______. AMÂNCIO, R. Entendendo o conceito de sustentabilidade nas Organizações.
Revista de Administração da Universidade de São Paulo, v. 43, n. 4, p. 289-300, 2008.
ELKINGTON, J. Cannibals with forks: the triple bottom line of 21st century business.
Oxford: Capstone, 1999. 402p.
JACKSON, A.; BOSWELL, K.; DAVIS, D. Sustainability and Triple Bottom Line Reporting
– What is it all about? International Journal of Business, Humanities and Technology, v.
1, n. 3, p. 55-59, 2011.
MAIA, A. G.; PIRES, P. S. Uma compreensão da sustentabilidade por meio dos níveis de
complexidade das decisões organizacionais. Revista de Administração Mackenzie, São
Paulo, v. 12, n. 3, p. 177-206, 2011.
472
fevereiro de 2013.
473
UM ESTUDO COM BASE EM VALUE RELEVANCE NA OFERTA
PÚBLICA INICIAL (IPO) NAS COMPANHIAS ABERTAS BRASILEIRAS
Resumo
Estudos que relacionam a informação contábil aos preços das ações de uma empresa
são denominados value relevance. O presente estudo tem por objetivo avaliar a relevância da
informação contábil relacionada ao patrimônio líquido, ao lucro líquido e ao EBITDA no
processo na formação de preço das ofertas pública iniciais (IPO) ocorridas na
BM&FBOVESPA entre 2004 a 2012. Para isso, utilizou-se regressões simples e múltiplas,
onde o valor de mercado das empresas (obtidos pela multiplicação do número de ações pelo
valor de mercado dessas ações na data do IPO) corresponde a variável dependente e as
variáveis contábeis como variável independente ou explicativa. Verificou-se que entre as
variáveis contábeis pesquisadas apenas uma o EBITDA apresentou significância estatística,
demonstrando que essa variável contribui para a formação do preço das ações e
consequentemente para o mercado de capitais brasileiro.
Introdução
Uma das fases inevitáveis dentro do ciclo de vida de uma empresa reside no fato dela
se tornar pública através de uma Oferta pública inicial (IPO), que se refere a emissão e venda
de ações no mercado visando financiamento externo (YALCIN; UNLU 2017).
Quando é feita uma oferta pública inicial os investidores passam pela dificuldade de
precificar essas ações uma vez que dispõem de pouca informação acerca da entidade que as
emitem, a grande maioria das informações vem do prospecto de divulgação obrigatória que
contém algumas demonstrações financeiras causando uma grande dependência e limitação do
investidor (LEE; MASULIS, 2011). No Brasil esse prospecto é obrigatório por imposição da
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por meio da resolução nº 400 que presume
contribuir para precificação e redução da assimetria informacional envolvida nesse processo.
Nesse contexto as demonstrações contábeis representam uma importante fonte de
informação que independente do interesse partilhar de cada stakeholders deve prestar
informações relevante e de qualidade. Para Costa et al. (2012) a informação contábil relevante
1
Título do Projeto de Pesquisa/ Plano de Trabalho: Qualidade da informação e oferta pública inicial nas
companhias abertas brasileiras/ Um estudo com base em value relevance na oferta pública inicial (IPO) nas
companhias abertas brasileiras.
Estudante de iniciação científica: Jefferson Pereira de Andrade (e-mail: pereira_jp2008@hotmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientador (a): Wenner Glaucio Lopes Lucena (e-mail: wdlucena@yahoo.com.br, telefone: (83) 3216-7457)
474
é aquela que auxilia os usuários em suas previsões e que por consequência possui relação com
o preço das ações da companhia.
Atualmente as pesquisas contábeis no mercado de capitais tem se mostrado como um
tema de grande interesse incluindo testes de eficiência do mercado, análise crítica e de
relevância quanto o valor da informação contábil, sendo essas importantes ferramentas de
decisões ligadas ao patrimônio, decisões de investimento de mercado, definição de normas
contábeis, e as decisões de divulgação financeira das empresas (KOTHARI, 2001). A partir
dos trabalhos de Ball e Brown (1968) e Beaver (1968) inicia-se os estudos que relacionam o
preço das ações com as informações contábeis divulgados pelas companhias, estudos esses
que são denominados Value Relevance e objetivam determinar o quanto às informações
divulgadas pelas entidades são relevantes para o mercado de capitais.
A grande importância da informação contábil para a formação do preço de mercado
das ações está relacionada à sua utilização de uma prática padrão por parte das empresas que
subscrevem essas ações (essas práticas são ligadas a relação preço-lucro do setor e ganhos dos
emissores atuais para definir o preço do IPO) enquanto isso os analistas de mercado baseiam
suas recomendações de investimentos nos relatórios de lucros de empresas que recentemente
tornaram-se públicas (LEE; MASULIS, 2011).
Diante da dificuldade de precificação dos atuais e prováveis investidores quanto ao
valor de uma IPO e da premissa que as demonstrações contábeis são capazes de influenciar o
preço das ações chega-se a seguinte questão de pesquisa: As informações contábeis sobre
Lucro Líquido; Patrimônio Líquido e Ebitda são relevantes para a formação de preço das
ofertas públicas de iniciais (IPO)?
Dessa forma, o objetivo geral deste estudo é analisar se as informações contábeis sobre
patrimônio líquido, lucro líquido e EBITDA são relevantes para o processo de formação de
preço das ações disponibilizadas através de Ofertas Públicas Iniciais (IPO).
A pesquisa se justifica por contribuir para o entendimento da relação entre as
informações prestadas por relatórios contábeis e o processo de formação do preço de mercado
das ações de uma oferta pública inicial.
Esse trabalho está estruturado em cinco seções contando a introdução, na segunda é
apresentado o referencial teórico acerca das ofertas públicas iniciais e do value relevance,
seguido da metodologia, análise dos dados e considerações finais.
Referencial teórico
475
Porque fazer um IPO?
Qual o melhor momento para o IPO?
Quais benefícios um IPO para a entidade?
Qual o custo de um IPO?
A figura 01 aponta o melhor momento para emitir ações é quando a empresa atingirá
sua maturidade, esse apontamento é corroborado por Zilio (2012).
Outro fator percebido como o momento para a realização do IPO é que não somente as
características intrínsecas as corporações determinam o momento certo para isso, segundo
Rossi Junior e Marotta (2010) as empresas aproveitam condições de mercado que causam
flutuações temporárias no custo de capital próprio (esses momentos são conhecidos como
476
“janelas de oportunidade” e na literatura internacional como equity market timing) sugerindo
que as empresas que realizam um IPO nesse momento possuem uma rentabilidade menor e
que essas empresas teriam dificuldade em realizar um IPO em outras condições de mercado.
Ainda segundo os autores o equity market timing é medido por meio do volume de
IPOs realizado em determinado período de tempos, ou seja, o número de IPOs irá aumentar
sempre que o mercado esteja aquecido e que o racional dos administradores perceba que há
uma janela de oportunidade no mercado tornando o custo de captação de recursos no mercado
menor que as demais modalidades de financiamento. Isso ficou bem claro no Brasil no
período de 2004 a 2007, onde o crescimento de IPO foi significativo.
O IPO apresenta vantagens e desvantagem que devem ser analisadas quanto a sua
viabilidade econômica. A seguir é apresentado o quadro 1 demonstrando essas vantagens e
desvantagens.
VANTAGENS
Ampliação da base de captação Permite que as empresas tenham acesso ao mercado de
de recursos financeiros e de seu capitais do país como fonte de financiamento para
potencial de crescimento investimentos e aquisições.
Permite equalizar o endividamento, ajustando a relação
Maior flexibilidade estratégica -
capital próprio e de terceiros, refletindo o risco
liquidez patrimonial
empresarial.
As exigências com relação a transparência e
Imagem institucional - maior confiabilidade facilita os negócios, atraem o
exposição ao mercado consumidor final aumentando o prestigio e a presença
no mercado.
Solução para problemas empresariais como sucessão,
Reestruturação societária
partilhas e heranças.
Gestão profissional Aceleração da profissionalização da companhia.
Relacionamento com A abertura do capital pode ser feita para os
funcionários funcionários a própria empresa.
DESVANTAGENS
A abertura de capital envolve custo que como em toda
Custos a relação custo x benefícios esses devem ser menores
que os potenciais resultados a serem alcançados.
Atendimento a rigorosas e especificas normas para
Qualidade da Informação
elaboração e divulgação das demonstrações contábeis.
Fonte: Elaborado a partir de CVM, 2014.
477
Vale ressaltar que entre os custos do IPO estão pagamento de taxas, anuidades,
publicidade, intermediação financeira; alocação de pessoal para acompanhamento do
processo, montagem de estrutura interna para dar suporte à abertura, honorários e auditoria
externa.
Value relevance
Em meio ao IPO é esperado que a qualidade das informações prestadas pelas empresas
seja melhor que as informações prestadas por ela mesma antes do IPO isso devido a uma série
de fatores, principalmente devido a maior exigência dos órgãos fiscalizadores a qual as
empresas passam a se submeter. Akoron e Sandani (2017) salientam que nesse processo a
empresa deve dedicar atenção especial a qualidade das informações que chegam ao mercado.
Uma das maneiras de mensurar a qualidade das informações que chegam ao mercado a
academia desenvolveu os trabalhos intitulados value relevance que para Martins et al. (2014)
478
tratam de estudos desenvolvidos visando proporcionar uma métrica para a qualidade das
informações contábeis. Em geral esses estudos buscam investigar a relação entre os valores
de mercado das empresas e as informações emanadas da contabilidade (MARTINS et al.,
2014). Esses estudos fundamentam-se na Hipótese dos Mercados Eficiente (o mercado
absorve as informações disponíveis refletindo no preço das ações) desenvolvida no âmbito
das finanças tradicionais.
Os pesquisadores contábeis que estudam o value relevance segundo Silva et al. (2014)
tratam o mercado de capitais como uma espécie de laboratório onde são realizados testes cujo
objetivo é comprovar se as informações contábeis são realmente capazes de auxiliar os
usuários na avaliação dos efeitos potenciais de transações passadas, presentes e futuras (valor
preditivo) e na confirmação ou correção de suas avaliações anteriores (valor confirmatório).
Segundo Lourenço et al. (2014) a diferença existente entre os valores contábeis e os valores
de mercado foram um dos principais motivos para esse tipo de estudo, devido à complexidade
das variáveis que formam o preço das ações os valores contábeis representam apenas uma
parte, ou seja, ela não é capaz de explicar completamente o preço de uma ação.
As pesquisas dessa área são feitas mediante análises estatísticas, geralmente regressões
(Com o crescimento do enfoque positivista da contabilidade na segunda metade do século
XX, em que muitos trabalhos empíricos passaram a utilizar o R^2 resultantes das regressões
para medir a utilidade e relevância da informação contábil, Lopes et al. (2007)) relacionando
dados contábeis divulgados como variáveis independentes e informações sobre o preço das
ações coletados na bolsa como variáveis dependentes. Ainda em níveis diferentes, as
pesquisas evidenciam a existência de uma relação positiva entre os dados (BARROS et al.
2013).
Em meio a toda a publicação disponível sobre relevância da informação contábil ainda
sim a teoria da contabilidade tem sido relativamente silenciosa sobre o papel da contabilidade
em mercados ineficientes e emergentes. Pode-se esperar que a contabilidade seja menos
relevante nestes mercados porque o preço das ações não reflete a informação devido a uma
variedade de problemas de mercado. No entanto, as fontes de informação são pouco
disponíveis nesses mercados (possivelmente) fazendo das informações contábeis
relativamente mais importantes do que outras fontes que estão em mercados mais
desenvolvidos (LOPES, 2002).
479
uma série de estudos desenvolvidos nessa área.
Costa e Lopes (2007) estudaram as adaptações feitas pelas empresas brasileiras que
negociam ações na bolsa de Nova York em seus relatórios contábeis para se adaptarem aos
USGAAP verificando a sua relevância para o mercado brasileiro, esse estudo teve como foco
informações ligadas ao Patrimônio Líquido e o Lucro Líquido. Por meio das regressões os
pesquisadores chegaram à conclusão que as informações divulgadas conforme os princípios
geralmente aceitos no Brasil são relevantes para o mercado e que os ajustes efetuados para os
USGAAP também são relevantes em relação ao Patrimônio Líquido, mas não no tocante ao
Lucro Líquido.
Zanini e Kronbauver (2009) buscaram verificar se a contabilidade em meio a nova
economia que migrou de uma era industrial para intelectual perdeu relevância devido a sua
dificuldade de mensurar os ativos intangíveis. Por meio da análise efetuada percebeu-se que
não houve redução na relevância da informação dos indicadores tradicionais (lucro por ação e
valor patrimonial por ação), com exceção para pequenas perdas no mercado argentino. No
Brasil e no Peru observou-se que houve um aumento no poder explicativo dos indicadores.
Malacrida (2009) buscou investigar a relevância da informação de fluxo de caixa
corrente, accruals e lucro corrente para estimar o fluxo de caixa futuro e o retorno das ações
de empresas brasileiras listadas na BM&FBOVESPA no período compreendido entre os anos
de 2000 a 2007. Por meio da análise dos dados a pesquisadora observou que o lucro corrente é
mais relevante para predizer o fluxo de caixa futuro do que o próprio fluxo de caixa corrente,
o accruals também é relevante para predizer o fluxo de caixa futuro adicionando capacidade
preditiva ao lucro corrente. Apesar de sua relevância essas informações contábeis
demonstraram não ser significantes para predizer o fluxo de caixa futuro para períodos acima
de um ano.
Macedo et al. (2011) analisaram o impacto causado pela lei 11.638/07 que substituiu a
Demonstração dos Fluxos de Caixa(DFC) pela Demonstração de Origem e Aplicação de
Recursos (DOAR) na relevância da informação contábil, para isso compararam os
coeficientes de determinação das regressões que tinham como variáveis independentes a
origem dos recursos por ação e o fluxo de caixa operacional por ação, como resultados os
autores chegaram a conclusão que a substituição da DOAR pela DFC foi benéfica aos
usuários das informações contábeis no mercado de capitais.
Costa, Reis e Teixeira (2012) analisaram se a relevância da informação contábil é
afetada pelas crises econômicas (1997, 1998, 1999, 2002 e 2008), para isso foi utilizada uma
metodologia similar a empregada por Ohlson (1995) com dados apresentados em painel ou
cross selection, tendo o lucro líquido do exercício e o patrimônio líquido como variável
independentes e o valor de mercado com variável dependente. Os resultados encontrados
pelos pesquisados sugerem o que o patrimônio líquido tem sua relevância elevada enquanto o
lucro líquido tem sua relevância reduzida nos períodos de crise.
Barros et al. (2013) investigaram a relevância da informação contábil após a adoção
das normas internacionais de contabilidade em vigor no Brasil por meio da lei 11.638/07. Os
dados foram coletados de 50 empresas listadas na BM&FBOVESPA, três anos antes da lei
11.638 e três anos após, dentre as informações coletadas estavam o retorno anual por ação que
representava a variável dependente e como variáveis independentes estavam o EBITIDA por
ação; o retorno por ação; o lucro por ação; o valor patrimonial da ação e faturamento por
480
ação. A metodologia adotada considerava a separação entre ações ordinárias e preferenciais.
Com a pesquisa foi encontrado evidencias de que os investidores que possuem ações
ordinárias tomam decisões baseadas no EBITIDA, valor patrimonial das ações e faturamento
para balizar suas informações, já aqueles que detêm ações preferenciais fazem uso do valor
patrimonial e o faturamento das ações. Como resultado final verificou-se que o processo de
convergência elevou a relevância da informação contábil.
Na Austrália Ji e Lu (2014) avaliaram a relevância do valor dos ativos intangíveis
incluindo o goodwill, também verificaram se sua relevância está associada a confiabilidade
dos valores contábeis nos períodos pré e pós adoção as normas internacionais de
contabilidade (IFRS), para chegar aos resultados encontrados foi utilizada uma amostra de
6.650 empresas que permitiu chegar aos seguintes resultados. Os ativos intangíveis têm seu
valor relevante capitalizado na Austrália, tanto no pré e pós-adoção de períodos de IFRS. A
relevância é maior em empresas com informações mais confiáveis sobre os ativos intangíveis.
A relevância valor de intangíveis diminuiu no período pós-adoção do IFRS. No entanto, a
relação positiva entre o valor de relevância e confiabilidade de intangíveis manteve-se
inalterada no período pós-adoção.
Santos e Cavalcante (2014) investigaram os efeitos da adoção das normas
internacionais de contabilidade (International Financial Reporting Standards – IFRS) relativa
a relevância da informação baseando-se na tempestividade e conservadorismo contábil. Como
resultado os pesquisadores puderam concluir que a adoção dos IFRS foi benéfica a relevância
da informação no Brasil corroborando com os estudos existentes na literatura nacional e
internacional, além disso, os resultados sugerem que o processo de conversão causou um
declínio na tempestividade das informações e não afetou o nível de conservadorismo.
Duarte, Girão e Paulo (2017) diferente das outras pesquisas avaliaram a o impacto da
escolha das regressões usadas (Quantíilica e mínimo quadrados ordinários - OLS) usando dois
testes e dois modelos cada, onde as variáveis lucro líquido no período seguinte e valor de
mercado foram utilizadas como variável dependente. Como resultado os autores concluíram
que a regressão quantílica apresentou resultado superior ao OLS em condições restritas de
trabalho como a presença de heterocedasticidade e outliers.
Silva, Souza e Klann (2017) analisaram a relevância dos ativos intangíveis no mercado
acionário brasileiro. Para isso usaram uma amostra de 164 empresas listadas na Bovespa
entre 2010 e 2013 e constataram a relevância lucro líquido, patrimônio líquido, ativo
intangível, goodwill, patrimônio líquido ajustado e lucro líquido ajustado até seis meses após
a data da publicação.
Procedimentos metodológicos
Para o desenvolvimento da pesquisa foram coletados dados contábeis e de mercado
relacionado as empresas na base de dados Economática® e nas demonstrações contábeis das
empresas. Todas as variáveis contábeis utilizadas referem-se as últimas demonstrações
publicadas pelas companhias antes da realização da oferta pública. As variáveis coletadas
foram o Patrimônio Líquido, Lucro Líquido, depreciação, amortização, impostos sobre o
lucro, despesas financeiras e as receitas financeiras, além dos dados contábeis foram coletados
o preço de fechamento das ações e o número de ações ordinárias e preferenciais na data de
realização do IPO.
481
Após a coleta dos dados foram calculados o valor de mercado e o EBITDA para cada
uma das empresas analisadas. O valor de mercado foi obtido pela multiplicação do número de
ações pela cotação. Já o EBITDA segui as diretrizes da resolução CVM nº 527 de outubro de
2012 conforme descrito na equação 1 abaixo:
Onde:
LL = Lucro líquido,
TRI = Tributos sobre o lucro;
REC_FIN = Receitas financeiras
DEP_FIN = Depesas financeiras;
DAE = Depreciação amortização e exaustão.
De acordo com CREPO (2009) sempre que se deseja estudar o comportamento de uma
variável em relação à outra se pode utilizar a análise de regressão, que por sua vez tem o
objetivo de descrever através de um modelo matemático a relação entre as duas variáveis
partindo de um número n de observações. Para o desenvolvimento da pesquisa foi utilizado os
seguintes modelos econométrico descrito nas equações 2; 3 e 4 a seguir:
Onde:
𝑉𝑉𝑉𝑉𝑖𝑖𝑖𝑖 = Preço da ação da empresa i no tempo t;
∝0 = Intercepto;
∝1 = Coeficiente de inclinação da reta;
LL= Lucro líquido do trimestre anterior ao IPO;
PL= Patrimônio líquido do trimestre anterior ao IPO;
EBITDA= Ebitda do trimestre anterior ao IPO.
Os modelos visam identificar o efeito das variáveis a serem testadas em relação ao
valor de mercado das empresas. Conforme descrito acima os modelos 2, 3 e 4 utilizam apenas
a variável dependente a ser testada podendo interferir na no resultado do modelo, entretanto
para lidar com problema e atribuir maior robustez são utilizados os modelos a seguir (equação
5 e 6) inserindo a uma nova variável de controle.
A escolha das variáveis se deu pelo fato de diversos trabalhos como o de Ohlson
482
(1995); Galdi e Lopes (2008); Zanini e Kronbauver (2009) e vários outros constatarem a
relevância do lucro contábil e o patrimônio líquido em diversos contextos como crises,
mudanças de legislação, adoção de padrões internacionais, entre outro, mas nenhum deles
estudou a relevância dessas variáveis no contexto de um IPO. O uso do EBITDA é baseado na
significância encontrada nos trabalhos de Barros, Estojo e Freitas (2013) encontraram poder
explicativo na variável após a adoção das IFRS e Vieira e Girão (2014) que constataram
aumento no poder explicativo do EBITIDA após a adoção da Resolução 527 da CVM.
Para a análise dos pressupostos das regressões foi utilizado o Teste de White para
verificar a heterocedasticidade, o teste VIF para verificar a colinearidade e o Teste Chow para
identificar a estabilidade dos parâmetros, além do teste de normalidade. Todos os testes assim
como as regressões foram realizados no software estatístico Gretl.
A composição da amostra inicialmente se deu a parti do levantamento no portal
eletrônico da Bovespa todas as empresas de capital aberto que fizeram um IPO entre os anos
de 2004 e 2012, dessa maneira chegou-se a um universo pesquisável de 151 empresas. A
escolha do corte temporal se deu pelo fato que de segundo Pinheiro (2012) motivadas pelo
desenvolvimento favorável da economia sobretudo a parti de 2004 houve um grande número
de abertura de capital no Brasil, representando um número considerável de empresas listada.
A parti do universo encontrado foi definida a amostra conforme demonstra a figura 02 abaixo.
Dentre as 151 empresas que realizaram IPO nesse período, oito delas eram empresas
do setor financeiros sendo excluídas da amostra devido sua regulamentação diferenciada, 47
delas não possuíam todos os dados disponíveis sendo também excluídas da amostra. Como
resultado final do processo de amostragem chegou-se a uma amostra de 96 empresas.
483
Tabela 1. Estatística descritiva dos dados coletados
De acordo com o teste Chow a regressão não apresenta problemas estruturais uma vez
que não se rejeita a hipótese nula de que não existe falha estrutural na regressão, apesar disso
a regressão apresenta problema quanto a sua capacidade de previsão e a variável lucro líquido
não afeta o crescimento da variável explicativa, ainda quanto ao modelo existe problemas
quanto a normalidade dos resíduos.
A Tabela 3 apresenta os resultados da regressão para a variável patrimônio líquido
conforme equação 3.
484
Tabela 3. Relevância do Patrimônio Líquido
O modelo Apresentado na tabela 3 não passou no teste F com p-valor maior que 0,05,
confirmado pelo teste t que também não foi significativo, sendo assim não se pode afirmar
que o lucro líquido é relevante para o mercado de capitais, em se tratando dos dados
utilizados e para o que se quer investigar. Não foi encontrado problema quanto à
heteroscedasticidade conforme teste de White, mas a regressão apresenta problemas quanto a
normalidade dos resíduos.
A tabela 4 evidencia o resultado da análise efetuada para os juros antes dos juros,
impostos, depreciação, exaustão e amortização conforme equação 4.
485
A tabela 5 apresentada a seguir demonstra os resultados obtidos em uma regressão
múltipla contendo o patrimônio líquido como variável de controle conforme equação 5.
486
Considerações finais
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jan. 2014.
490
PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS AGENTES
EM TORNO DO ESTUÁRIO DO RIO PARAÍBA
Resumo
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Percepção Ambiental dos Agentes em Torno do Estuário do
Rio Paraíba
Estudante de Iniciação Científica: Jonas Cavalcante Marinho (e-mail: jonasmarinho@ymail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientadora: Márcia Batista da Fonseca (e-mail: mbf.marcia@gmail.com, telefone: (83) 3216-7559)
491
Na Paraíba, uma das ferramentas adotadas é a Política Estadual de Pagamento por
Serviços Ambientais (PEPSA), regulamentada pela lei nº 10.165/2013. De acordo com esta
Lei, Serviços Ambientais são benefícios relevantes para a sociedade gerados pelos
ecossistemas, em termos de manutenção, recuperação ou melhoramento das condições
ambientais.
No entanto, para que um agente econômico aceite pagar por serviços ambientais é
preciso que ele reflita, reconheça a relevância e perceba o valor atribuído a estes serviços.
Então, de acordo com Tuan (2012, p. 18), a “percepção é tanto a resposta dos sentidos aos
estímulos externos como a atividade proposital, na qual certos fenômenos são claramente
registrados”. Somente após a interpretação dos estímulos recebidos do meio ambiente por
parte dos indivíduos é que as ferramentas para sanar os problemas ambientais serão utilizadas
de maneira eficiente. Logo, após a percepção, a valoração dos serviços ambientais permite a
elaboração de políticas ambientais que poderão oferecer instrumentos para a melhor
preservação ou atendimento das dificuldades constatadas em uma comunidade.
De acordo com Rocha (2011), o processo de decisão dos consumidores na escolha dos
bens e serviços é verificado tomando como referência o valor atribuído às diversas
características presentes nos produtos, ou seja, a percepção do valor está relacionada às
características observadas pelos consumidores, dos produtos e aos benefícios que estes podem
proporcionar.
Logo, o ponto de partida desta pesquisa é o estudo da percepção ambiental, que é a
interpretação dos resultados obtidos pelos indivíduos através dos estímulos sofridos pelo
ambiente, de modo que tal interrelação pode influenciar atitudes e comportamentos destes
indivíduos em relação as suas escolhas.
Entende-se por biodiversidade o conjunto de espécies, seja animal, plantas,
microorganismos e outros seres vivos em que todos se relacionam entre si e com o meio
ambiente. Já um estuário pode ser considerado como “zona de transição entre os habitats de
água doce e marinha, embora muitas das suas mais importantes características físicas e
biológicas não sejam de transição, mas sim específicas (ODUM, 2004).
O estuário do Rio Paraíba, composto de rica biodiversidade, que, segundo o Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), abrange uma área de 630 Km²,
possui dezessete unidades de conservação: uma federal, cinco estaduais, dez municipais e
uma Reserva Particular do Patrimônio Natural. Segundo o ICMBio, apenas um quinto do
estuário é constituído de área protegida na Paraíba.
Diante do exposto, pode-se questionar: qual a percepção ambiental dos agentes em
relação à perda da biodiversidade no estuário do rio Paraíba? Portanto, o objetivo geral deste
estudo é averiguar a percepção ambiental dos agentes em relação ao grau de interesse por
questões ambientais no entorno do estuário do Rio Paraíba.
Este tipo de estudo é relevante no sentido de elencar motivos para a compreensão da
percepção dos agentes econômicos em relação aos instrumentos criados para conduzir de
forma adequada os recursos naturais.
O estudo da percepção é considerado um tema novo no campo da Ciência Econômica.
A psicologia é a ciência pioneira na investigação do tema, definindo as funções da percepção:
a) função normativa: manter-se em contato constante com o meio, atualização para sobreviver
e se desenvolver; b) função defensiva: capta-se o perigo, ameaças, antes que aconteça algo de
492
pior.
A partir dos estudos desenvolvidos pela psicologia sobre a percepção, outra área
buscou compreender, através da percepção, o comportamento do consumidor, com o objetivo
de compreender o que acontece no consciente do comprador entre a chegada do estímulo
externo e a decisão de compra, foi a Administração.
Como ponto de partida, por meio das funções da percepção, a Ciência Econômica
busca desenvolver estudos, sobretudo na área da Economia Ambiental, no sentido de criar
instrumentos de conservação e preservação dos serviços ecossistêmicos, pois a economia
pode: a) identificar os atores (áreas) afetados e definir incentivos; b) fornecer argumentos para
alcançar as metas da conservação; c) demonstrar a distribuição de custos e benefícios das
diversas metas; d) avaliar as políticas públicas atuais e seus resultados; e e) ajudar na criação
de um futuro sustentável (PAVESE, 2010). No entanto, para a criação dos instrumentos
defensivos, existe a necessidade de os indivíduos perceberem a degradação e os impactos
ambientais de uma localidade.
Na Paraíba estima-se que restaram 5% da cobertura original de Mata Atlântica e nem
1% disso está protegido, de acordo com o ICMBio. Algumas destas consequentes perdas de
habitat e fragmentação são justificadas no Plano Municipal de Conservação e Recuperação da
Mata Atlântica da prefeitura de João Pessoa (Paraíba), o qual destaca que os fatores que
fragmentam este Bioma são os seguintes: a) decorrência do crescimento populacional; a
implantação e manutenção de infra-estrutura, como construção de edificações; a
disponibilidade de terras para a indústria e a agricultura; a ocupação litorânea intensa,
principalmente no município de João Pessoa, onde se percebe poucas áreas verdes
remanescentes; e o crescimento urbano espontâneo.
Segundo o ICMBIO (PB) o estuário do rio Paraíba, inserido no Bioma Mata Atlântica,
congrega dezessete unidades de conservação. São entendidas como unidades de conservação
áreas protegidas que possuem um decreto de criação, incluindo-se neste grupo os parques, o
Jardim Botânico e o Horto Florestal de João Pessoa, como já fora citado, segundo o ICMbio
apenas um quinto da aérea do estuário está protegida.
Este estudo teve como objetivo avaliar a percepção dos agentes percepção ambiental
dos agentes em relação ao grau de interesse por questões ambientais no entorno do estuário do
Rio Paraíba. Especificamente, mapear os serviços ambientais ofertados pelo estuário do rio
Paraíba com relação às quatro grandes famílias de serviços ambientais: os de provisão,
regulação, suporte e culturais; elencar os principais setores econômicos atendidos por estes
serviços ambientais; elaborar e aplicar um questionário semiestruturado com vistas a capturar
a percepção ambiental dos agentes econômicos que se beneficiam dos serviços ambientais do
estuário; mensurar através do modelo logit o grau de interesse por questões ambientais dos
entrevistados.
Além do exposto, o estudo justifica-se por ser original, por tratar-se de um tema muito
relevante para a literatura econômica, o qual contribuirá como uma fonte de pesquisa para
futuros estudos, por colaborar de maneira prática para a experiência das pessoas envolvidas
no processo, como também para compreender se os consumidores estão dispostos a pagar
mais por produtos que possuem uma certificação ambiental no sentido de reduzir a perda da
biodiversidade em torno da região em estudo.
Após esta apresentação serão apresentadas a fundamentação teórica, o material e o
493
método utilizado para se alcançar os objetivos propostos. Na seção seguinte, serão
apresentados os resultados e discussão da pesquisa, e na quinta seção a conclusão.
Fundamentação teórica
Segundo Duroy (2005 apud Inglehart, 1990) evidências mostram que as sociedades
tanto dos países desenvolvidos quanto as dos países em desenvolvimento estão preocupadas
com valores pós-materialistas, ou seja, consciência e valores ambientais, na direção de melhor
qualidade de vida do coletivo em vez de ganhos individuais.
Nesse sentido, Waldman e Schneider (2000) afirmam que a consciência ambiental é
relevante para minimizar e manter os recursos ambientais, pois eles são escassos e as pessoas
participam de um processo de preservação do meio ambiente.
A consciência é o resultado da interação entre as pessoas e o aperfeiçoamento da
mente humana, e que esta não seria satisfatório se não fosse os fatores externos que
estimulassem o homem (BUCK; FURTADO; TEIXEITA, 1999). Desse modo, o homem
expressa a sua consciência através das representações sociais, ou seja, valores, imagens e
crenças dos indivíduos construídas por meio do convívio em sociedade.
Fortalecendo essa idéia, Duroy (2005), destaca que os meios de subsistência
ameaçados, a necessidade biológica e psicológica de viver em consenso com a natureza, o
nível de escolaridade, as diferenças culturais e a riqueza econômica são fatores determinantes
da consciência ambiental.
Desse modo, a conscientização é um fator determinante, pois as pessoas mudarão o
seu comportamento e o seu hábito devido a sua preocupação com o meio ambiente, como
também poderão influenciar futuras decisões que possam modificar ou até mesmo ajudar na
elaboração de propostas que visem e colaborem com a solução da problemática
socioambiental. Além disso, a consciência é essencial para a percepção e a valoração dos
recursos ambientais.
Somente após os anos 1960, é que surgiram teorias objetivando estudar como as
pessoas percebem o meio ambiente físico, natural e humanizado, e como a economia
influencia os valores e comportamentos ambientais, a fim de analisar o próprio entendimento
das pessoas.
Souza (2009) destaca que antes da percepção é necessário que a nossa mente capte e
compreenda os estímulos recebidos do ambiente externo, de maneira que estes sejam
processados. Logo, o primeiro processo de compreensão de algo que acontece antes da
percepção é chamado de sensação ou “sensibilização”, que “é o processo pelo qual captamos
o mundo externo por meio de órgãos especializados nesta função (órgãos sensoriais)
(SOUZA, 2009, p. 85).
Para Gade (1998), citado por Brandaliseet al. (2009), o estágio em que os estímulos
adquiridos anteriormente, através das sensações, são interpretados, constituem a percepção.
Nesse sentido, Brandaliseet al. (2009, p. 277) explica, de forma resumida, o conceito de
percepção:
[...] é a interpretação que uma pessoa faz de uma mensagem e esta pode ser
diferente dependendo de quem a recebe, o que leva a crer que o nível de
494
instrução e experiência influencia no modo como um estímulo é percebido e,
consequentemente, nas atitudes e comportamento de consumo
(BRANDALISE, 2009, p. 277).
Segundo Tuan (1980) a percepção por parte dos indivíduos em relação ao meio
ambiente é obtida por meio dos órgãos dos sentidos (tato, olfato, paladar, visão e audição), o
apego ao lugar decorrente de vínculos históricos, bem como pela observação da paisagem.
Uma explicação para este fato pode ser encontrada na relação entre percepção e valoração.
A partir do século XX, com o aumento da tecnologia e da globalização, aconteceu no
mundo um aumento na produção e no consumo de produtos, que por sua vez provocou um
aumento na utilização dos recursos ambientais, os quais se tornaram cada vez mais escassos
diante das ilimitadas necessidades dos indivíduos.
Nesse contexto, a ciência econômica utiliza métodos de valoração que objetivam
atribuir valor monetário aos recursos ambientais, que segundo Oliveira e Mata (2013, p. 610)
“podem ser implementados como instrumentos de políticas públicas, correção de falhas de
mercado, proteção ambiental e subsídio à composição de indicadores e crescimento.
De modo geral, a valoração econômica é um instrumento muito relevante no sentido
de gerir políticas ambientais que intervenham na esfera econômica de maneira a atingir
eficientemente os objetivos propostas aos agentes econômicos, como também um instrumento
de conscientização dos indivíduos, pois os custos decorrentes das modificações ocorridas no
ambiente serão transferidos para a população.
A percepção ambiental vem sendo estuda pela ciência econômica para se explicar a
forma como os homens utilizam os recursos ambientais. No sentido mais amplo, Ermolaeva
(2011) faz uma análise, através de um estudo de caso, da percepção e práticas ambientais
existentes entre os estudantes da Universidade do Estado do Colorado (CSU), nos Estados
Unidos, e da Universidade Federal Kazan (KSU), na Rússia, com o objetivo de verificar se
entre as duas culturas tais práticas são diferentes ou estão correlacionadas. Os resultados
mostraram diferenças entre as duas culturas, pois, de nove tipos de comportamentos
considerados ambientalmente saudáveis, os estudantes da CSU apresentaram cinco, enquanto
que os da KSU somente três. De certa forma, esses resultados podem decorrer do modo como
as leis e as ferramentas de intervenção no meio ambiente estão sendo utilizadas em cada
cultura apresentada. Diante disso, a autora propõe em seu estudo a promoção da educação
ambiental, pois é através dela que as pessoas tornar-se-ão conscientes dos seus atos perante o
meio ambiente, como também retribuirão de alguma forma aquelas atitudes consideradas
saudáveis ao ambiente. Essas retribuições promoverão atitudes de preservação além de
influenciar outros comportamentos favoráveis ao progresso ambiental.
Rocha (2011) discutiu sobre atitudes e comportamentos de compra de consumidores
de diferentes tipos de bens com características ecológicas. Objetivando avaliar o valor
atribuído pelos consumidores a esses tipos de bens e as variáveis associadas a essas escolhas,
o autor realizou uma pesquisa de campo e utilizou o método de análise conjunta
complementado por dados quantitativos. O estudo conclui que as pessoas entrevistadas
atribuem valor as suas escolhas de acordo com o tipo de produto, percebem os atributos dos
produtos ecológicos quando estes impactam diretamente a sua saúde, seu corpo ou a sua
segurança. As mulheres são mais sensíveis as variáveis ecológicas, e por isso valorizam os
495
produtos ecológicos e em particular os consumidores com nível de instrução e renda superior.
Santos (2013) analisa a percepção ambiental dos estudantes universitários da cidade de
João Pessoa, no estado da Paraíba e o interesse dos mesmos com relação a temáticas
relacionadas ao “consumo verde” e o desenvolvimento sustentável. Os resultados mostraram
que, em relação ao cuidado com o meio ambiente, a maioria deles afirmou que essa atividade
é dever das Organizações não Governamentais (ONG’s). Os universitários se mostram
preocupados com os problemas ambientais, porém, percebeu-se um baixo nível de percepção
ambiental, de modo que as variáveis que impedem o consumo de produtos ecologicamente
corretos destes são o preço e a falta de informação, e o que poderia tornar o desenvolvimento
sustentável e a consciência ambiental uma realidade de longo prazo seria a preferência pela
educação.
Metodologia e Análise
496
agentes acerca dos serviços ambientais ofertados pelo entorno do estuário do Rio Paraíba.
O questionário contemplou os grupos temáticos de questões:
Em que Yit é a variável binária que representa o grau de interesse dos entrevistados por
questões ambientais; I = idade; S = sexo; R = renda individual; RF= renda familiar; RP=
renda per capta; N = número de dependentes da renda familiar; A = anos de estudo; F =
ocupação do entrevistado. β0 representa o valor médio de Yit ou o intercepto da equação. Os βit
representam a probabilidade de Yit, dada uma variação nas variáveis explicativas. E ξt é o
termo de erro que constitui a diferença entre o valor observado (Yit) e a sua esperança E(Yit),
e possui as propriedades clássicas desejáveis de média zero, variância constante, ausência de
autocorrelação e normalidade.
A variável dependente Yit foi formada considerando a dummy alta, ou seja, quando os
entrevistados avaliaram que o seu grau de interesse por questões ambientais tenha sido alto,
dentre as alternativas nula, baixa, média e alta.
O modelo também apresenta variáveis binárias, ou seja, dummies, a saber: funcionário
público/ funcionário privado, autônomo/estudante, aposentado/pensionista e empresário. Estas
variáveis não foram descritas na equação 1 por simplificação.
497
Serviços Ambientais Ofertados pelo Estuário do Rio Paraíba
Serviços ecossistêmicos ou ambientais são serviços que os agentes obtêm dos
ecossistemas. Os serviços ambientais ofertados pelo estuário do rio Paraíba com relação às
quatro grandes famílias de serviço ambientais: provisão, regulação, suporte e culturais, podem
ser observados no Quadro 1.
Observa-se que o mangue oferta serviços ambientais de provisão, ou seja, determinada
quantidade de produtos obtidos em um período de tempo. Estes serviços ambientais sustentam
atividades econômicas, como por exemplo, recursos pesqueiros para populações localizadas
em zonas costeiras. Além disso, o solo do mangue possui muitos nutrientes, em que estes
servem de alimentos para espécies marinhas nativas desta área, tais como: peixes, crustáceos,
caranguejo, camarão, dentre outras espécies. O setor primário é atendido pelos serviços
ambientais do mangue, isso por ser uma área em que são extraídos recursos naturais de usos
múltiplos.
Por sua vez, a oferta de serviços ambientais do Parque Cabo Branco é referente à
regulação e suporte. A regulação tem uma grande importância por mitigar danos naturais
principalmente por causa do avanço do mar. Uma das causas das alterações ambientais na
área é o avanço da ocupação do solo e o aumento da população.
Quadro 1. Alguns Exemplos de Serviços Ambientais Ofertados pelo Estuário do Rio Paraíba
498
Ecossistemas Marinhos: Areia Vermelha e Picãozinho
Nos ecossistemas marinhos de Areia Vermelha e Picaozinho, 100 pessoas, para cada
ecossistema, responderam ao questionário. Por meio deste, primeiramente, foi obtido um
panorama do perfil sócio econômico dos participantes. O quadro 2 mostra a faixa de idade dos
entrevistados.
499
Gráfico 1. Grau de escolaridade dos entrevistados na pesquisa
Areia Vermelha
Picaozinho
3 Para esta pesquisa considerou-se o salário mínimo (SM) de R$ 724,00 vigente em 2014. De 1 até 3 SM (R$ 724,01 a R$
2.172,00). De 3 até 5 SM (R$ 2.172,01 a R$ 3.620,00). De 5 até 10 SM (R$ 3.620,01 a R$ 7.240,00). De 10 até 15 SM (R$
7.240,01 a R$ 10.860,00). De 10 até 15 SM (R$ 7.240,01 a R$ 10.860,00). De 15 até 20 SM (R$ 10.860,01 a R$ 14.480,00).
De 20 até 30 SM (R$ 14.480,01 a R$ 21.720,00). Mais de 30 SM (acima de R$ 21.720,00).
500
Gráfico 2. Ocupação dos entrevistados na pesquisa
501
Gráfico 3. Número de pessoas que dependem diretamente da renda familiar
502
Gráfico 4. Nível de percepção ambiental dos entrevistados
Visita atrativos
atividades na
atividades na
Visita locais
Visita locais
Ir a eventos
Ir a eventos
históricos e
históricos e
Avaliação
natureza
natureza
culturais
culturais
culturais
culturais
naturais
naturais
Praticar
Praticar
Avaliação
503
Isso mostra relativamente um grande interesse dos entrevistados pelas atividades
relacionadas à natureza, tendo em vista que somente 22% do total da amostra em Areia
Vermelha e 26% em Picãozinho não praticam nenhuma atividade relacionada à trilha,
mergulho, etc.
504
Gráfico 6. Grau de escolaridade dos entrevistados na pesquisa
505
ou 31,43% corresponde a 5 (cinco) até 10 (dez) salários mínimos e a menor parte ou 2,86%
recebem mais de 30 (trinta) salários mínimos. Percebe-se que grande parte dos participantes
possui um médio poder aquisitivo.
506
Aproximadamente 27% dos respondentes no Parque Cabo Branco declararam que três
pessoas, 27% duas pessoas, 20% quatro pessoas, 16% uma pessoa, 9% cinco pessoas, e 1%
afirmaram que seis pessoas são dependentes diretos da renda familiar. Quadro muito próximo
se verifica em relação à quantidade de pessoas que dependem diretamente da renda familiar,
nos imóveis no entorno da Barreira, aproximadamente 33% informou que três pessoas, 28%
declarou que duas pessoas, 20% quatro pessoas, 12% afirmou que uma pessoa, 6% cinco
pessoas, e apenas 1% informou que seis pessoas são dependentes diretos da renda familiar.
Agora analisando as questões sobre percepção ambiental no gráfico 8, percebe-se que
no Parque cabo Branco 51,43% dos entrevistados possuem médio grau de interesse por
questões ambientais, 45,71% alto grau de interesse, 1,43% baixo grau de interesse, e 1,43%
não possuem nenhum interesse por questões ambientais. Em relação ao esforço individual
para a conservação ambiental, 61,43% responderam que seu esforço é médio, 28,57% que é
alto, 8,57% afirmaram que é baixo, e menos de 2% disseram que não faz esforço para
conservar o meio ambiente. A maioria dos participantes ou 68,57% afirmou que o esforço da
sociedade para a conservação do meio ambiente é baixo, e a menor parte ou 4,29%
declararam a sociedade não se esforça, e 4,29% afirmaram que esse esforço é alto. Quanto à
avaliação para as empresas, 48,57% do total declararam que o esforço das empresas para
conservação do meio ambiente é médio, 45,71% que é baixo, e 5,71% afirmaram que não
existe esforço por parte das empresas em conservar o meio ambiente. Por outro lado, a maior
parte dos participantes ou 67,14% afirmou que e alto a necessidade de criação e manutenção
de áreas de conservação ambiental e somente 2,86% acham que não existe esta necessidade.
Quando questionado sobre o interesse do participante por questões ambientais, os
respondentes que adquiriram imóveis no entorno da Barreira, 47,14% do total afirmaram que
é médio, seguindo-se as opções de alto (44,29%) e baixo (8,57%). Sobre o esforço individual
para a conservação do meio ambiente, 54,29% declarou que seria médio, seguido de alto
(28,57%) e apenas 17,14% declarou que seria baixo. Todos os participantes mostraram ter
algum nível de interesse por questões ambientais, como também algum nível de esforço
individual para conservar o ambiente.
Quanto ao esforço da sociedade para a conservação do meio ambiente, 72,86%
avaliaram que é baixo e apenas 2,86% afirmou que a sociedade não se esforça para conservar
o meio ambiente. Em relação ao esforço das empresas na conservação do meio ambiente,
63,77% da amostra avaliou que o esforço das empresas é baixo e 4,35% declarou que é nulo.
Nenhum participante informou que o esforço das empresas na conservação ambiental seria
alto. A maior parte dos entrevistados acredita que a necessidade de criação e manutenção de
áreas de conservação ambiental é alta (77,14%). Todos os entrevistados declararam que existe
algum nível de necessidade de criação e manutenção ambiental.
507
Gráfico 8. Nível de percepção ambiental dos entrevistados
Pode-se observar no quadro 7, que a frequência com que a maior parte dos
respondentes do parque cabo Branco que visita atrativos naturais é baixa (35,71%), a visita a
locais históricos e culturais da maioria também é baixa (44,29%), a constância a eventos
culturais é média (51,43), e é nula a pratica de atividades relacionadas à natureza da maioria
dos participantes.
É possível observar que a intensidade de visitação a atrativos naturais da maioria ou
35,71% dos entrevistados na barreira do Cabo Branco é baixa, e que é 48,57% da amostra não
pratica atividades relacionadas à natureza. No entanto, existe pouca dispersão na frequência
das questões relacionadas a visitação dos locais selecionados.
Visita atrativos
atividades na
atividades na
Visita locais
Visita locais
Ir a eventos
Ir a eventos
históricos e
históricos e
Avaliação
Avaliação
natureza
natureza
culturais
culturais
culturais
culturais
naturais
naturais
Praticar
Praticar
Nulo 17,14% 12,86% 1,43% 48,57% Nulo 17,14% 20,00% 8,57% 34,29%
Baixo 35,71% 44,29% 25,71% 15,71% Baixo 32,86% 40,00% 21,43% 32,86%
Médio 34,29% 37,14% 51,43% 21,43% Médio 31,43% 27,14% 52,86% 22,86%
Alto 12,86% 5,71% 21,43% 14,29% Alto 18,57% 12,86% 17,14% 10,00%
Fonte: Dados da pesquisa (2014/2015)
508
maior parte dos que visitam atrativos naturais é baixa (32,86%), assim como os que visitam
locais históricos e culturais (40%). Já a constância dos visitantes de eventos culturais é média
(52,86%). E a alternativa que nenhum participante pratica atividades relacionadas à natureza
foi a mais citada (34,29%).
Mangue
Na região do entorno do estuário do rio Paraíba temos uma área de seis mil
quilômetros de áreas de mangue. Estas áreas são habitats naturais de procriação para diversas
espécies de crustáceos e peixes. Estas áreas ainda tem a importante função de reter a
quantidade de poluição que chega ao mar. A área de mangue utilizada nesta pesquisa está
localizada no município de Cabedelo (PB). Nesta área foram aplicados 50 questionários onde
os respondentes responderam perguntas sobre o seu perfil socioeconômico e posteriormente
sobre percepção ambiental. O quadro 8 apresenta a faixa etária, gênero e escolaridade dos
respondentes.
Gênero %
Faixa etária Femin Mascu Predominâ
ino lino ncia
De 18 a 25
4 3 14.00
anos
De 26 a 35 8 4 24.00
De 36 a 45 2 5 14.00
De 46 a 55 3 7 20.00
De 56 acima 7 7 28.00
Total 24 26 100,00
A maioria dos entrevistados possui idade igual ou maior há 56 anos (28%). Existe uma
paridade entre o gênero dos participantes, com 52% de homens e 48% de mulheres. Entre os
entrevistados, a maior parte possui o ensino superior completo (32%) e a menor parte o ensino
médio incompleto (2%).
Quanto à ocupação dos participantes, 34% trabalham em empresa privada e a menor
parte são empresários (2%). O gráfico 14 mostra detalhadamente a ocupação dos
entrevistados na área do mangue. O quadro 9 apresenta a ocupação, renda dos participantes e
qual o número de pessoas que dependem da renda familiar.
Em relação ao perfil de renda individual dos entrevistados, a maioria recebe de 1 (um)
até 3 (três) salários mínimos, e a menor parte somados recebem 10 (dez) salários mínimos ou
mais (6%). Quanto a renda familiar, a maior parte ganha de 1 (um) até 3 (três) salários
509
mínimos, e a menor parte somados recebem 10 (dez) salários mínimos ou mais. O percentual
de participantes que responderam que duas pessoas dependem diretamente da renda familiar
foi 28%, uma pessoa, 24% do total, três pessoas, 22%, quatro pessoas, 16% da amostra e
cinco pessoas, 10% dos participantes.
O quadro 10 apresenta o nível de percepção ambiental dos entrevistados na área do
Mangue e o nível de frequência de visitação a áreas de atrativos naturais e áreas de visitação
histórico-cultural.
510
Quadro 10. Nível de percepção ambiental dos entrevistados
Visita atrativos
atividades na
Visita locais
Ir a eventos
históricos e
Avaliação
natureza
culturais
culturais
naturais
Praticar
Nulo 12.00% 16.00% 20.00% 44.00%
Baixo 36.00% 26.00% 24.00% 22.00%
Médio 30.00% 36.00% 26.00% 18.00%
Alto 22.00% 22.00% 30.00% 16.00%
Hotéis
Os questionários acerca da percepção ambiental dos agentes também foram aplicados
em hotéis da cidade de João Pessoa. Foram aplicados 100 questionários nos seguintes hotéis:
Verde Green Hotel, Ibis Hotel, Hotel Tambaú, Littoral Hotel e Skyler Hotel. No quadro 11 é
possível observar a faixa de idade dos entrevistados nos hotéis.
511
Quadro 11. Faixa etária, gênero e escolaridade dos entrevistados na pesquisa
512
Quadro 12. Ocupação, renda e número de pessoas que dependem da renda familiar
513
Quadro 13. Nível de percepção ambiental dos entrevistados
Praticar atividades
Visita atrativos
Visita locais
na natureza
Ir a eventos
históricos e
Avaliação
culturais
culturais
naturais
Nulo 4,00% 0,00% 1,00% 25,00%
A constância com que a maioria dos participantes da pesquisa visita atrativos naturais
é média (49%). A frequência de visitação a locais históricos e culturais também é média
(49%), assim como a regularidade a eventos culturais dos participantes (40%). Do total, 31%
respondeu que é média a assiduidade a prática de atividades relacionadas à natureza, 28%
afirmou que é baixa, 25% respondeu que é nula, e 16% alta.
514
dependente, visto que o aumento em um ano de estudo provoca um aumento de 0.091 no grau
de interesse por questões ambientais.
O resultado para a variável “número dependentes da renda familiar” mostra que o grau
de interesse por questões ambientais reduz em 0.175 quando há o aumento em uma unidade
no número de dependentes da renda familiar.
Esse mesmo efeito negativo é observado quando o número de funcionários que
trabalham em empresa privada aumenta, ou seja, o aumento em uma unidade na variável
“funcionário de empresa privada” resulta na diminuição no grau de interesse por questões
ambientais em 0.470.
Tabela 1. Resultado do modelo logit reduzido para grau de interesse por questões ambientais
Conclusões
515
meio ambiente, pois se apresentaram interessados por questões ambientais, e a maior parte
deles se mostrou preocupados em conservar e manter áreas de preservação ambiental. Além
disso, a soma dos que declararam que a sua frequência de visita a atrativos naturais é média
ou alta é maior que a soma dos que declararam que a sua visita a atrativo naturais é nula ou
baixa.
Os resultados para os entrevistados em Picãozinho mostraram-se muito parecidos com
os de Areia Vermelha, pois se percebeu uma alta preocupação, por parte dos entrevistados nas
duas áreas, na preservação e conservação da natureza, e uma média frequência de visitação
em locais relacionados à natureza.
Apesar da falta de zoneamento, fiscalização e controle do número de visitantes, esse
alto grau de consciência por parte dos entrevistados em Areia Vermelha e Picãozinho facilita
a conservação das espécies marinhas existentes nos locais.
Na averiguação do entorno do Parque Cabo Branco, observou-se que é média a
preocupação e a opinião dos entrevistados quando questionados sobre o seu comportamento
individual e das outras pessoas sobre a conservação do meio ambiente, e baixa a frequência
deles em quesitos relacionados à natureza. Este resultado indica relativamente o
comportamento dos respondentes na pesquisa em relação à preservação.
Na análise das respostas das pessoas que adquiriram ou tem intenção de adquirir
imóveis no entorno da barreira do Cabo Branco, percebe-se que a maioria dos participantes
não estão preocupados em cuidar e preservar o meio ambiente. Além disso, a maior parte
deles pouco praticam atividades ou frequentam locais relacionados à natureza. Diante disso,
torna-se mais difícil a luta pela conservação e preservação da área analisada, sobretudo no
bairro do Altiplano Cabo Branco, pois apesar de ser uma local de preservação ambiental
permanente, existe uma grande especulação imobiliária e sua bandeira é promover uma
melhor qualidade de vida.
Os respondentes relacionados a área do mangue, são conscientes em relação à
preservação do meio ambiente, e em relação à frequência de visitação de locais e atividades
relacionados à natureza, observou-se que existe pouca dispersão entre os níveis analisados.
Esse resultado é satisfatório porque o mangue é uma área muito importante para determinadas
espécies marinhas, vegetais e aquáticas, e o avanço de ameaças, seja por parte da população
local ou de outros predadores, precisa ser evitado.
Em linhas gerais, a maioria dos respondentes afirmou possuir um alto grau de interesse
por questões ambientais. O esforço individual dos participantes para a conservação do meio
ambiente varia entre alto e médio, enquanto que segundo a maioria dos respondentes, o
esforço da sociedade e das empresas para a conservação ambiental, é baixo.
Na análise do modelo econométrico, verificou-se que a primeira variável
independente, a idade, possui um efeito positivo sobre o grau de interesse por questões
ambientais, por parte dos entrevistados. Isso indica que as pessoas de maior idade tendem a
ser mais sensíveis e interessadas no meio ambiente.
Do mesmo modo, a segunda variável, anos de estudo, bem como a terceira variável,
renda familiar, apontaram que o nível de interesse por questões ambientais aumenta quando
estas duas variáveis crescem, ou seja, quanto maior a formação acadêmica do individuo mais
interessado pelo ambiente ele será. Além disso, quanto maior o rendimento de todos os
indivíduos de uma família maior será a relevância atribuída aos recursos naturais.
516
Por outro lado, a quarta variável, número de dependentes da renda familiar, e a quinta
variável do modelo, funcionários de empresa privada, indicam menor grau de interesse por
questões ambientais devido ao sinal negativo dos coeficientes.
De modo geral, pode-se averiguar que os indivíduos percebem e reagem de maneira
diferente sobre o meio ambiente. Este fato ficou evidenciado na análise das diferentes áreas
estudadas, ou seja, os entrevistados em Areia Vermelha, Picãozinho e no mangue possuem
tendência a conservação e preservação ambiental, enquanto que os entrevistados no entorno
do Parque Cabo Branco são menos suscetíveis as questões ambientais. Isso sugere que deve
haver ações de educação ambiental por parte dos gestores com vistas a promover a redução
das alterações sobre os recursos ambientais nas atividades em áreas de preservação
permanente.
Referências
ARAÚJO, A.F.V. Valoração Ambiental: uma aplicação do modelo Logit para a avaliação
monetária do Jardim Botânico da cidade de João Pessoa. 2002. 120f. Dissertação (Mestrado
em Economia) - Programa de Pós-Graduação em Economia, Universidade Federal de
Pernambuco, Recife, 2002.
ERMOLAEVA, P. Environmental practices among the USA and Russian students: cross
cultural analysis. Bulgarian Journal of Science and Education Policy (BJSEP), v. 5, n. 2,
p. 364-384, 2011.Disponível em: <http://www.bjsep.org/getfile.php?id=105>. Acesso em: 21
set. 2014.
517
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
MAY, P. H.; LUSTOSA, M. C.; VINHA, V. da. Economia do Meio Ambiente: Teoria e
prática. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.
518
<http://appvps6.cloudapp.net/sigam3/Repositorio/222/Documentos/2010_II%20Encontro%20
Paulista%20de%20Biodiversidade/EPBIO_Mesa%20D_Helena_Pavese.pdf>. Acesso em: 18
mar. 2015.
TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. São
Paulo: Difel, 1980.
519
COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL:
ESTUDO EM ORGANIZAÇÕES PARAIBANAS
Resumo
Esta pesquisa desenvolvida com o apoio do CNPq e da UFPB apresenta como objetivo
geral conhecer o comprometimento organizacional de trabalhadores de organizações
paraibanas, conforme o modelo proposto por Rego e Souto (2004), correlacionando-os com
variáveis antecedentes e consequentes apontadas no estudo de Siqueira e Gomide Jr. (2004),
dando continuidade às pesquisas iniciadas em 2013 no PIBIC/CNPq/UFPB, na tentativa de
cobrir a lacuna existente em pesquisas sobre o comprometimento organizacional que
envolvem estudos longitudinais. E, como objetivos específicos, pretende-se analisar a relação
entre as variáveis antecedentes com o comprometimento organizacional afetivo, instrumental
e normativo, bem como apresentar a influência destes tipos de comprometimento nas
variáveis consequentes, (desempenho) investigada, por meio de uma pesquisa de campo e de
natureza quantitativa aplicada a 76 colaboradores no ano de 2014 e 110 colaboradores no ano
de 2015, ambas as amostras são de organizações públicas do estado da Paraíba, a maioria do
gênero feminino, em 2014 (59,7% e em 2015 (53,6 %); 26,4% destes possuem de 20 até 25
anos, e 21,6% encontram-se há mais de 10 anos na mesma organização. Os resultados
revelaram um alto comprometimento organizacional afetivo dos trabalhadores, um moderado
comprometimento organizacional normativo e um baixo comprometimento organizacional
instrumental. Neste caso, o comprometimento normativo constitui-se em preditor direto do
comprometimento organizacional afetivo, comprovando o estudo de Siqueira e Gomide Jr.
(2004).
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Comprometimento organizacional: Estudo em organizações
paraibanas
Estudante de Iniciação Científica: Marucelle de Alcântara Bonifácio (e-mail: marucelle.alcântara@hotmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientadora: Raissa Dália Paulino (e-mail: raissa@cchsa.ufpb.br)
520
O ‘comprometimento organizacional’ desponta como um tema de interesse relevante
no campo científico nas últimas décadas, com o auxílio às empresas a obterem colaboradores
mais envolvidos, mais satisfeitos e, consequentemente, mais produtivos (NOVAES,
COLETA, 2003).
Para Bastos (1994), Siqueira e Gomide Jr. (2004), o comprometimento organizacional
pode ser definido como o vínculo entre o colaborador e a organização a qual pertence e, em
uma perspectiva macro-organizacional, conhecer melhor este comprometimento seria
estratégico para a gestão de pessoas e para as políticas no meio organizacional.
Na perspectiva micro-organizacional, compreender os vínculos que o colaborador
estabelece em seu meio de trabalho possibilitaria aos estudiosos uma melhor
instrumentalização na análise do indivíduo e sua trajetória profissional, uma vez que é por
meio do seu trabalho que os indivíduos esperam receber de sua organização um retorno de
seus atos e investimentos pessoais, ou seja, receber recursos capazes de satisfazer suas
necessidades pessoais, familiares e profissionais. (SIQUEIRA, GOMIDE JR., 2004).
Esta pesquisa apresenta como objetivo geral conhecer o comprometimento
organizacional de trabalhadores de organizações públicas da Paraíba, conforme o modelo
proposto por Rego e Souto (2004), correlacionando-os com variáveis antecedentes e
consequentes apontadas no estudo de Siqueira e Gomide Jr. (2004), dando continuidade às
pesquisas iniciadas em 2013 no PIBIC/CNPq/UFPB, na tentativa de cobrir a lacuna existente
em pesquisas sobre o comprometimento organizacional que envolvem estudos longitudinais.
Como objetivos específicos, pretende-se avaliar a relação entre as variáveis
antecedentes (idade, tempo no serviço, escolaridade e satisfação com a vida) com o
comprometimento organizacional afetivo, instrumental e normativo, bem como apresentar a
influência destes tipos de comprometimento na variável consequente (desempenho)
investigada.
Fundamentação teórica
521
‘disposição’, tomado como estado, caracterizado por sentimentos ou reações afetivas
positivas, tais como lealdade em relação a algo ao qual se associam intenções
comportamentais específicas. (BEZERRA, 2006).
No Brasil, diversos trabalhos estudaram antecedentes ao comprometimento, dentre
eles o trabalho de Medeiros (2003) que estudou os antecedentes e consequentes do
comprometimento organizacional, no qual afirma que itens como confiança, descentralização
e trabalho em equipe influenciam positivamente o comprometimento e o desempenho, e que
itens como hierarquização, especialização dos cargos e rigor pelos resultados fazem com que
o comprometimento e o desempenho dessas organizações diminuam.
Pinto (2011) na sua dissertação destaca os principais estudos sobre comprometimento
organizacional. O estudo de Bastos e Brandão (1993) identificou antecedentes do
comprometimento, ressaltando a influência de estratégias de recursos humanos no
envolvimento dos empregados. Guimarães-Borges, Marques e Adorno (2005) também
verificaram relações entre a política de recursos humanos, comprometimento organizacional e
satisfação no trabalho, identificando forte influência da política de RH no comprometimento e
satisfação dos empregados. Siqueira (2002) identificou em seus estudos relacionamento do
comprometimento organizacional ao comportamento de cidadania organizacional e à intenção
de rotatividade.
Payne e Huffman (2005) empreenderam um estudo cujo objetivo era analisar a
influência da supervisão no comprometimento organizacional e no turnover. Os resultados
indicaram correlação positiva de supervisão com as dimensões afetiva e instrumental do
comprometimento organizacional e negativa com turnover. Na mesma linha de estudo, Sá e
Lemoine (1998) identificaram que o estilo de liderança influencia o comprometimento através
de uma gestão participativa. Sá e Lemoine (1999) também investigaram a influência do
relacionamento interpessoal e das condições de trabalho no comprometimento.
Bastos e Borges-Andrade (1995, 1999) estudaram o relacionamento entre antecedentes
e os múltiplos focos do comprometimento: carreira, sindicato e organização. Ribeiro (2008)
reforça a necessidade de se aprender mais sobre os consequentes do comprometimento, pois
estes quase não foram investigados pelos estudos nacionais enquanto os estudos sobre os
antecedentes são extremamente frequentes. Blau (2003) realizou um estudo que buscava base
para uma quarta dimensão do comprometimento organizacional, consistindo na subdivisão da
dimensão instrumental proposta por Meyer e Allen (1991).
Fatores como inexistência de ofertas atrativas de novo emprego, tempo de trabalho na
empresa, esforços investidos no trabalho e vantagens econômicas no atual emprego são
considerados antecedentes do comprometimento organizacional instrumental/calculativo e
entre as variáveis consequentes deste tipo de comprometimento observam-se aspectos
prejudiciais aos resultados organizacionais, tais como baixa motivação e baixo desempenho e
aspectos que podem auxiliar no desempenho da organização, como menor rotatividade,
moderada satisfação no trabalho, moderado envolvimento com o trabalho, moderado
comprometimento organizacional afetivo e moderado comprometimento organizacional
normativo. (SIQUEIRA, GOMIDE JR., 2004).
Na abordagem do comprometimento organizacional normativo, fatores como
socialização cultural e organizacional são considerados como antecedentes deste
comprometimento e como consequências para a organização aspectos como maior satisfação
522
no trabalho, maior comprometimento organizacional afetivo, mais comportamentos de
cidadania organizacional e menor intenção de sair da empresa. (SIQUEIRA, GOMIDE JR.,
2004). Os autores ainda consideram antecedentes do comprometimento organizacional afetivo
‘características pessoais’, tais como escolaridade ou idade e percepção de suporte e cultura
organizacional. Aspectos conseqüentes para a organização estariam representados por melhor
desempenho do empregado, maior esforço no trabalho, menor rotatividade e menos faltas ou
atrasos.
Com o objetivo de esclarecer as diferenças entre os três tipos de comprometimento
organizacional evidenciados neste estudo, Medeiros e Enders (2002 apud PAULA, COSTA,
2008), Allen e Meyer (1996) e Siqueira (2001) explicam que o empenho afetivo se assenta
num vínculo emocional à organização. No laço instrumental, as pessoas não sentem qualquer
propensão para facultarem à organização algo mais do que aquilo a que estão estritamente
obrigadas a fazer e, finalizando, o empenho normativo se baseia no dever de lealdade para
com a organização, não suscita o mesmo entusiasmo e envolvimento que os produzidos pelo
empenho afetivo.
Para fins deste estudo, utiliza-se a definição e o modelo de comprometimento
organizacional proposto por Rego e Souto (2004) com ênfase em três dimensões: a afetiva, a
normativa e a instrumental e procura destacar algumas das variáveis antecedentes e
consequentes do comprometimento organizacional apontadas por Siqueira e Gomide Jr.
(2004). Cabe salientar que, dentre as variáveis destacadas por Siqueira e Gomide Jr. (2004),
optou-se devido às limitações desta pesquisa como tempo e recursos financeiros disponíveis,
pela seleção de alguns fatores antecedentes e consequentes que se correlacionarão com o
comprometimento organizacional afetivo, normativo e instrumental/calculativo, que podem
oferecer maior sustentação empírica às conclusões existentes.
Como esta proposta de pesquisa enfatiza o comprometimento organizacional, Rego e
Souto (2004) expõem que este comprometimento é o estado psicológico que caracteriza a
ligação do individuo à organização, tendo implicações na sua decisão de nela continuar e este
comprometimento do individuo com a organização deve ser positivo e benéfico para ambos.
Neste modelo de Rego e Souto (2004), adotado para a realização desta pesquisa, o
comprometimento organizacional é apresentado por três dimensões: a dimensão afetiva, a
normativa e a instrumental, correlacionando-os com variáveis antecedentes e consequentes
apontadas no estudo de Siqueira e Gomide Jr. (2004), que serão identificadas em
organizações públicas na Paraíba que, de acordo com o Censo Demográfico 2010 (IBGE,
2013), o sexto menor índice do nível de ocupação pertence a este Estado (46,7%), com uma
população estimada em 3.766.528 pessoas. Destaca-se que estudos comparativos sobre o
comprometimento que envolvem estas organizações ainda são incipientes no contexto
brasileiro.
Valentim (1992) esclarece que há uma tendência de se buscar pessoas que não
trabalham só pelo salário ou benefícios imediatos, mas trabalham pelo prazer, pelo significado
que o trabalho tem para a vida delas e que são relacionados com suas vidas, o que poderá ser
visualizado com o resultado encontrado nesta pesquisa.
Contudo, uma das grandes preocupações das organizações, tanto no meio acadêmico
como no empresarial, é a de conseguir selecionar e manter, no seu quadro funcional,
indivíduos competentes, dedicados, engajados e, principalmente, envolvidos com os
523
problemas da organização. (MEDEIROS e ENDERS, 1998).
Assim sendo, a escolha pelo tema Comprometimento Organizacional objetivou
apreciar as dimensões afetiva, normativa e instrumental expostas no modelo de Rego e Souto
(2004) em organizações paraibanas, comparando, no resultado das amostras, as variações ao
longo de um período de tempo.
A pesquisa identificará o tipo de comprometimento organizacional mais presente nos
colaboradores e este conhecimento do tipo de vínculo que o colaborador estabelece com a sua
organização pode contribuir para o êxito, tanto da organização quanto dos indivíduos.
Com a posse dos resultados desta pesquisa, identificando os níveis e as relações entre
o comprometimento organizacional (afetivo, normativo e instrumental) dos colaboradores e as
variáveis antecedentes e consequentes (SIQUEIRA, GOMIDE JR., 2004) escolhidas, novas
estratégias para o desenvolvimento de processos que visem à eficácia do seu objetivo
organizacional com base em uma investigação científica poderão ser desenvolvidas, com a
utilização de instrumento validado em território nacional.
Outrossim, os resultados encontrados poderão auxiliar no desenvolvimento de
estratégias como, por exemplo, implantação de uma política de promoção considerada justa,
que ofereça oportunidade de crescimento organizacional, investimentos em treinamentos e em
remuneração que contribuirão para o alcance dos objetivos organizacionais com maior
eficácia. (BASTOS, 1994).
Ressalta-se, de um modo geral, que o trabalho foi desenvolvido de acordo com as
NORMAS 2014/2015 PIBIC/CNPq/UFPB, PIBITI/CNPq/UFPB, PIBIC-AF/CNPq,
PIVIC/UFPB E PIVITI/UFPB, cujos projetos contemplados deverão elaborar e encaminhar
relatórios parcial e final sobre as ações previstas no cronograma de trabalho, que não devem
ultrapassar 12 meses, bem como apresentar os resultados da pesquisa no ENIC a ser realizado
na UFPB no segundo semestre de 2015.
Espera-se que os objetivos propostos sejam atendidos, ressaltando que se optou por
trabalhar com escala válida em território brasileiro para a obtenção dos dados. Cabe salientar
que, será considerado apenas o foco na organização, conforme os estudos de Nascimento,
Lopes e Salgueiro (2008), apesar da afirmação de mais cinco focos diferentes de
comprometimento: (1) com o trabalho; (2) com o emprego; (3) com a carreira; (4) com o
sindicato e (5) com a equipe. (BASTOS, 1994 e TAMAYO et al., 2001).
Busca-se, ainda, dar ênfase aos conhecimentos científicos adquiridos, salientando a
importância e aplicabilidade das teorias estudadas, ratificando a iniciação científica sua
responsabilidade e essencial participação para a construção e o aperfeiçoamento dos
colaboradores e da organização.
Metodologia e análise
524
para a realização de estudos mais aprofundados sobre o tema.
A principal particularidade de uma pesquisa exploratória é que essa é “realizada em
área na qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado. Por sua natureza, não
comporta hipóteses que, todavia, poderão surgir durante ou ao final da pesquisa”
(VERGARA, 2003, p. 47). Neste tipo de pesquisa, “procura-se obter um primeiro contato
com a situação a ser pesquisada ou um melhor conhecimento sobre o objeto em estudo
levantado”. (SAMARA e BARROS, 1997, p.24).
Realizou-se, também, uma pesquisa de caráter descritivo, por expor “características de
determinada população ou de determinado fenômeno, bem como estabelecer correlações,
entre variáveis, e definir sua natureza [...]” (VERGARA, 2003, p. 47) e a pesquisa
bibliográfica, que de acordo com Vergara (2003, p. 48), caracteriza-se por ser um “estudo
sistematizado desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes
eletrônicas, isto é, material acessível, ao público em geral”.
Normalmente, para esse tipo de pesquisa foi utilizada uma amostragem, tendo em vista
o tamanho da população, o tempo do entrevistador, o custo da pesquisa e, ainda, a capacidade
para o processamento dos dados. Por isso, a população alvo desta pesquisa foi constituída
pelos colaboradores de organizações públicas da Paraíba, por meio de uma amostra por
conveniência.
Porém, para se atingir o objetivo exposto, primou-se pela tentativa de atingir as
seguintes metas traçadas no plano proposto. Todavia, conforme exposto inicialmente neste
tópico, primeiramente, foi realizada uma pesquisa exploratória sobre o tema
comprometimento organizacional e, posteriormente, efetuadas pesquisas de caráter descritivo,
bibliográfico e quantitativo. Foi utilizada uma amostragem por conveniência, tendo em vista o
tamanho da população, o tempo do entrevistador, o custo da pesquisa e, ainda, a capacidade
para o processamento dos dados, utilizando de pesquisa de campo.
No ano de 2014, a amostra contou com a participação de 76 colaboradores de
organizações públicas paraibanas.
No ano de 2015, a amostra contou com a participação de 110 colaboradores de
organizações públicas paraibanas. Segundo Hair et al. (2005), em amostras por conveniência,
recomenda-se de 100 a 200 observações.
Estes colaboradores receberam um livreto impresso com as seguintes partes:
525
Os Alphas de Cronbach ultrapassaram o patamar de 0,70. Para o presente estudo
foram utilizadas as três dimensões que compõem esta Escala: a afetiva, a normativa e
a instrumental;
Escala de Satisfação com a Vida: esta medida foi elaborada originalmente por
Diener e cols. (1985), tendo sido realizados estudos recentes que atestam a adequação
dos seus parâmetros psicométricos (PAVOT; DIENER, 1993 apud FONSECA, 2008).
Compõe-se de cinco itens, respondidos em uma escala tipo Likert, variando de 1 =
discordo totalmente a 7 = concordo totalmente. Uma análise fatorial confirmatória
permitiu observar a adequação de sua estrutura unifatorial: χ2(5) = 5,02, p > 0,05,
χ2/g.l. = 1,00, RMSEA = 0,02, GFI = 0,99 e AGFI = 0,98, que apresentou Alfa de
Cronbach de 0,72 (CHAVES, 2003) e
Para efetuar as análises estatísticas, utilizou-se o IBM SPSS Statistics 20, efetuando as
análises descritivas para a caracterização da amostra, as análises do teste Kaiser-Meyer-Olkin
(KMO), do teste de esfericidade de Bartlett e Alpha para os instrumentos e das correlações e
regressões entre as variáveis para identificar os antecedentes e consequentes do
comprometimento organizacional destes colaboradores, conforme os estudos de Siqueira e
Gomide Jr. (2004).
Para efetuar as análises estatísticas, utilizou-se o IBM SPSS Statistics 20, efetuando as
análises descritivas para a caracterização da amostra, as análises do teste Kaiser-Meyer-Olkin
(KMO), do teste de esfericidade de Bartlett e Alpha para os instrumentos e das correlações e
regressões entre as variáveis para identificar os antecedentes e consequentes do
comprometimento organizacional destes colaboradores, conforme os estudos de Siqueira e
Gomide Jr. (2004).
A análise foi realizada com os colaboradores de organizações públicas da Paraíba,
526
considerando as suas percepções acerca do ambiente de trabalho.
Após a aplicação do instrumento de pesquisa, as respostas dos participantes foram
registradas na forma de banco de dados do IBM SPSS Satatics 20 e elaboradas as análises do
teste Kaiser-Meyer-Olkin (KMO), do teste de esfericidade de Bartlett e do Alpha.
As médias do comprometimento organizacional afetivo, instrumental e normativo dos
colaboradores das organizações pesquisadas foram apresentados analisados se houve ou não
variação neste período de tempo estudado.
O estudo longitudinal foi realizado com os colaboradores de organizações públicas da
Paraíba, dando continuidade às pesquisas iniciadas em 2013 no PIBIC/CNPq/UFPB e,
considerando as percepções desses colaboradores acerca do ambiente de trabalho,
caracterizado como algo raro nos estudos em organizações, por meio da pesquisa de campo.
Contudo, os resultados foram utilizados para avaliações organizacionais. Por fim, as
conclusões foram realizadas e sugestões para estudos futuros elencados.
Inicialmente, após a aplicação do instrumento, as respostas dos participantes foram
registradas na forma de banco de dados do IBM SPSS Statistics 20, sendo elaboradas as
análises do teste Kaiser-Meyer-Olkin (KMO), do teste de esfericidade de Bartlett e do Alpha.
(PAULINO et al, 2011).
No ano de 2014, a amostra de 76 colaboradores por conveniência contou com a
maioria do gênero feminino (59,7 %); com idade a partir de 20 anos, com 29,9% de 20 até 25
anos;15,6% de 26 a 30 anos; 10,4% de 31 a 35 anos; 5,2% de 36 a 40 anos; 18,1% de 41 a 45
anos e 20,8% com mais de 50 anos. Em relação ao nível de instrução, 31,2% possuem o
ensino superior completo, 27,3% a pós-graduação, 23,4% o ensino médio completo, 15,5% o
ensino superior incompleto, 1,3% o ensino fundamental completo, 1,3% o ensino fundamental
incompleto. Deve-se destacar que não houve registro para ‘sem instrução’ e 31,2% são
professores.
Destes colaboradores, 18,2% trabalham na organização há menos de um ano, mas
22,1% encontram-se há mais de 10 anos na mesma organização; 49,4% apresentam uma
jornada de trabalho com 40 horas semanais e 90,9% não fazem hora-extra.
No ano de 2015, a amostra contou com a participação de 110 colaboradores. Esta
amostra por conveniência contou com a maioria do gênero feminino (53,6 %); com idade a
partir de 20 anos, com 26,4% de 20 até 25 anos; 18,2% de 26 a 30 anos; 15,5% de 31 a 35
anos; 4,4% de 36 a 40 anos; 16,4% de 41 a 45 anos e 19,1% com mais de 50 anos. Em relação
ao nível de instrução, 31,8% possuem o ensino superior completo, 22,7% o ensino médio
completo, 21,8% o ensino superior incompleto, 20,9% a pós-graduação, 1,8% o ensino
fundamental incompleto e 0,9% o ensino fundamental completo. Deve-se destacar que não
houve registro para ‘sem instrução’.
Destes colaboradores, 2,7% trabalham na organização há menos de um ano, mas
21,6% encontram-se há mais de 10 anos na mesma organização; 41,8% apresentam uma
jornada de trabalho com 40 horas semanais e não houve relato para hora-extra.
Para os dados obtidos no ano de 2014, a Escala de Comprometimento Organizacional
Afetivo (ECOA) apresentou o valor de KMO = 0,676 e de Bartlett (103,053 e 0,000 de
significância), com rejeição de H0, comunalidades variando de 0,643 a 0,843 e Alpha = 0,84,
com 75,97% da variância total explicada. A Escala de Comprometimento Organizacional
Normativo (ECON) apresentou o valor de KMO = 0,606 e de Bartlett (78,099 e 0,000 de
527
significância), com rejeição de H0, comunalidades variando de 0,466 a 0,825 e Alpha = 0,76,
com 68,66% da variância total explicada.
A Escala de Comprometimento Organizacional Instrumental (ECOI) apresentou o
valor de KMO = 0,849 e de Bartlett (265,142 e 0,000 de significância), com rejeição de H0,
comunalidades variando de 0,604 a 0,833 e Alpha = 0,91, com 74,04% da variância total
explicada.
A Ficha de Avaliação de Desempenho do Colaborador, que para este estudo
denominou-se de ‘Autoavaliação do Desempenho do Colaborador’, apresentou o valor de
KMO = 0,616 e de Bartlett (29,293 e 0,000 de significância), com rejeição de H0,
comunalidades variando de 0,443 a 0,668 e Alpha = 0,61, com 57,63% da variância total
explicada.
A Escala de Satisfação com a Vida apresentou o valor de KMO = 0,687 e de Bartlett
(73,515 e 0,000 de significância), com rejeição de H0, comunalidades variando de 0,455 a
0,817 e Alpha = 0,65, com 45,37% da variância total explicada.
Para os dados obtidos no ano de 2015, a Escala de Comprometimento Organizacional
Afetivo (ECOA) apresentou o valor de KMO = 0,668 e de Bartlett (144,196 e 0,000 de
significância), com rejeição de H0, comunalidades variando de 0,688 a 0,840 e Alpha = 0,83,
com 76,29% da variância total explicada. A Escala de Comprometimento Organizacional
Normativo (ECON) apresentou o valor de KMO = 0,660 e de Bartlett (122,347 e 0,000 de
significância), com rejeição de H0, comunalidades variando de 0,583 a 0,813 e Alpha = 0,80,
com 72,30% da variância total explicada. A Escala de Comprometimento Organizacional
Instrumental (ECOI) apresentou o valor de KMO = 0,859 e de Bartlett (468,465 e 0,000 de
significância), com rejeição de H0, comunalidades variando de 0,632 a 0,874 e Alpha = 0,93,
com 78,29% da variância total explicada.
A Ficha de Avaliação de Desempenho do Colaborador, que para este estudo
denominou-se de ‘Autoavaliação do Desempenho do Colaborador’, apresentou o valor de
KMO = 0,600 e de Bartlett (37,714 e 0,000 de significância), com rejeição de H0,
comunalidades variando de 0,391 a 0,649 e Alpha = 0,58, com 55,93% da variância total
explicada.
A Escala de Satisfação com a Vida apresentou o valor de KMO = 0,758 e de Bartlett
(133,777 e 0,000 de significância), com rejeição de H0, comunalidades variando de 0,200 a
0,665 e Alpha = 0,72, com 50,59% da variância total explicada.
Realizadas estas análises e de acordo com o Quadro 1 abaixo, seguem as médias, os desvios e
as correlações referentes ao comprometimento organizacional afetivo, normativo e
instrumental, e às variáveis selecionadas no ano de 2014: autoavaliação do desempenho no
trabalho, escolaridade, idade, tempo de trabalho e satisfação com a vida:
528
Quadro 1. Médias, desvios e correlações no ano de 2014
Desvio-
Variáveis Média 1 2 3
padrão
1. Comprometimento Afetivo (ECOA) 5,4 1,1 -
2. Comprometimento Normativo (ECON) 4,3 1,3 0,26**
3. Comprometimento Instrumental (ECOI) 3,5 2,6 0,06 0,06
4. Autoavaliação do Desempenho do
5,7 0,7 0,04 -0,05 -0,00
Colaborador
5. Escolaridade 6,5 1,3 0,07 0,10 -0,19
6. Idade 3,2 2,0 0,16 0,03 0,18
7. Tempo de trabalho na empresa (meses) 105,5 126,2 0,16 0,01 0,12
8. Satisfação com a vida 5,0 0,9 -0,01 0,05 0,10
* p < 0,05 ** p < 0,01
529
para ele. (SIQUEIRA, 2000).
Com relação ao ano de 2015, de acordo com o Quadro 2 abaixo, seguem as médias, os
desvios e as correlações referentes ao comprometimento organizacional afetivo, normativo e
instrumental, e às variáveis selecionadas: autoavaliação do desempenho no trabalho,
escolaridade, idade, tempo de trabalho e satisfação com a vida:
Desvio-
Média 1 2 3
Variáveis padrão
1. Comprometimento Afetivo (ECOA) 5,6 1,2 -
2. Comprometimento Normativo (ECON) 4,4 1,3 0,37**
3. Comprometimento Instrumental (ECOI) 3,2 1,6 0,04 0,01
4. Autoavaliação do Desempenho do
5,7 0,7 -0,09 -0,14 0,11
Colaborador
5. Escolaridade 6,4 1,2 -0,06 0,05 -0,16
6. Idade 3,2 1,9 0,10 -0,10 0,22*
7. Tempo de trabalho na empresa (meses) 111,9 128,05 0,06 -0,14 0,17
8. Satisfação com a vida 5,0 0,9 0,52 0,04 0,03
* p < 0,05 ** p < 0,01
530
Conforme o estudo de Pinto (2011), os baixos índices de comprometimento
instrumental encontrados nas duas pesquisas em contraposição ao alto índice de
comprometimento afetivo podem revelar que as políticas adotadas nas organizações
favorecem o desenvolvimento de vínculos baseados na identificação com os objetivos das
empresas, ao invés de estimular relações pragmáticas baseadas unicamente numa avaliação de
custos e benefícios.
Na comparação dos quadros, Quadro 1 e Quadro 2, em ambos, o comprometimento
organizacional afetivo se correlacionou significativamente com o comprometimento
organizacional normativo. Tendencialmente, os indivíduos demonstram maior
comprometimento afetivo e normativo e menor comprometimento instrumental quando
identificam um alto desempenho na organização. No entanto, não foi verificada a correlação
do comprometimento organizacional com a variável consequente ‘desempenho’ da amostra
pesquisada no ano de 2014. Por outro lado, foi verificada a correlação do comprometimento
organizacional com a variável antecedente ‘idade’ da amostra pesquisada no ano de 2015.
Outrossim, foi possível destacar a variação entre a pesquisa de 2014 e a pesquisa de 2015,
com aumento do COAfetivo e CONormativo e a diminuição do COInstrumental com o passar
do tempo.
Seguem as análises de regressão que procuram explicar as correlações observadas no
ano de 2014 entre a variável dependente ‘comprometimento organizacional afetivo’ e a
independente ‘comprometimento organizacional normativo’ no Quadro 3:
Os resultados das análises de regressão padrão indicam que o Modelo 1 não foi
significativo na predição da variância do comprometimento organizacional afetivo na amostra
estudada. Os estudos de Meyer et al (2002) e Rego et al (2007) encontraram uma relação
positiva entre o comprometimento afetivo e normativo, estimados respectivamente em 0,63 e
0,43.
Com relação ao ano de 2015, o comprometimento organizacional afetivo também se
correlacionou significativamente com o comprometimento organizacional normativo. Seguem
as análises de regressão que procuram explicar as correlações observadas no ano de 2015,
primeiramente, entre a variável dependente ‘comprometimento organizacional afetivo’ e a
independente ‘comprometimento organizacional normativo’ no Quadro 4:
531
Os resultados das análises de regressão padrão indicam que o Modelo 2 também não
foi significativo na predição da variância do comprometimento organizacional afetivo na
amostra estudada.
Pode-se presumir que os colaboradores se sintam comprometidos a permanecer na
organização pelo tempo em que trabalham na organização. 21,6% deles, encontram-se há
mais de 10 anos na mesma organização, e de acordo com Almeida et al. (2005), quanto maior
o período de serviço prestado do colaborador na empresa, maior será sua perspectiva em
poder contribuir, em virtude do acervo de experiência e conhecimentos e, em troca, os
vínculos afetivos sejam capazes de crescer devido às práticas que estas organizações possam
oferecer relacionadas à valorização das pessoas.
O Modelo 3 apresenta a análise de regressão que procura explicar a correlação entre a
variável dependente ‘comprometimento organizacional instrumental’ e a independente ‘idade’
no Quadro 5:
Os resultados das análises de regressão padrão indicam que o Modelo 3 não foi
significativo na predição da variância do comprometimento organizacional instrumental na
amostra estudada, o que confirma o estudo de Siqueira e Gomide Jr. (2004) que consideram
antecedentes do comprometimento organizacional afetivo ‘características pessoais’, tais como
‘idade’ ou ‘escolaridade’ (Modelo 3) e percepção de suporte e cultura organizacional.
Pode-se presumir que os colaboradores deste estudo não se sintam obrigados a
permanecer na organização por serem relativamente jovens com idade de 20 até 25 anos, com
26,4%, e a maioria com cursando o ensino superior 31,8%, considerando, também, que a
jovialidade e o grau de instrução são elementos cruciais na contratação de funcionários em
muitas organizações. Neste caso, o que poderia acarretar a permanência do colaborador na
organização seria a motivação de percepções individuais sobre custos, perdas de
investimentos decorrentes do desligamento da organização. A organização contará com o
colaborador enquanto ela for atraente para ele. (SIQUEIRA, 2000).
Conclusões
532
comportamentos que fortalecem o vínculo com a organização, como, por exemplo, chegar
pontualmente ao trabalho).
Estas diferentes bases conduzem à tipologias do comprometimento, como, por
exemplo, o modelo tridimensional de Meyer, Allen e Smith (1993) e o modelo de Rego e
Souto (2004), no qual o comprometimento é o estado psicológico que caracteriza a ligação do
individuo à organização, que implica na sua decisão de nela continuar e que deve ser positivo
e benéfico para ambos, apresentado por três dimensões: a dimensão afetiva, a normativa e a
instrumental/calculativa, adotado nesta pesquisa.
Os resultados deste estudo apontaram para um alto comprometimento organizacional
afetivo dos colaborados das organizações públicas, um moderado comprometimento
organizacional normativo e um baixo comprometimento organizacional
instrumental/calculativo. Também foi possível observar a variação entre a pesquisa de 2014 e
a pesquisa de 2015, com aumento do COAfetivo e CONormativo e a diminuição do
COInstrumental com o passar do tempo.
Allen e Meyer (1996, 2000) e Meyer (1997) sugerem que o comprometimento
organizacional afetivo se desenvolve quando o colaborador se envolve e/ou reconhece o valor
e/ou deriva a sua identidade da associação com a organização.
Estes efeitos podem ser alcançados quando, por exemplo, o colaborador a) sente que a
organização o trata de modo justo, respeitador e apoiante; b) tem confiança na organização e
nos seus líderes; c) obtém satisfação no trabalho; d) considera que os valores da organização
tem uma orientação humanizada; e) sente que existe congruência entre os seus objetivos e os
da organização e f) a organização é uma boa cidadã e assume comportamentos socialmente
respeitáveis. (REGO, CUNHA, SOUTO, 2007).
As análises de correlação e regressão confirmaram um resultado do estudo de Siqueira
e Gomide Jr. (2004): o comprometimento afetivo como consequente direto do
comprometimento normativo.
No entanto, não foi verificada a correlação do comprometimento organizacional com a
variável consequente ‘desempenho’ da amostra pesquisada no ano de 2014. Por outro lado,
foi verificada a correlação do comprometimento organizacional com a variável antecedente
‘idade’ da amostra pesquisada no ano de 2015. Deve-se considerar a exposição de Rego e
Souto (2004) na qual a interpretação das consequências e dos antecedentes do
comprometimento só pode ser proficiente após a clara compreensão do caráter
multidimensional do comprometimento. Tamayo et al (2001 apud GUIMARÃES, 2007)
afirmam que o vínculo que o individuo desenvolve no seu trabalho é complexo e
multidimensional, compreendendo não somente a relação com o trabalho em si, mas também
com outros empregados, com a equipe de trabalho, com a carreira, com o sindicato e com a
organização na qual trabalha e, neste estudo, foram abordados colaboradores que ocupam
diferentes níveis em organizações públicas, perfazendo um total de 67 cargos, como, por
exemplo, programadores, assistentes, analistas contábeis, supervisores, auxiliares de serviços
gerais, técnicos de segurança do trabalho, porteiros, trainees, frentistas, analistas, gerentes,
diretores, coordenadores, dentre outros.
De acordo com Traldi e Demo (2012), a produção nacional recente sobre
comprometimento no trabalho é vigorosa, com crescente interesse dos pesquisadores sobre o
tema. O comprometimento organizacional tem sido investigado em diversos setores de
533
atividades como educacional, portuário, hospitalar, agroindustrial, bancário e tecnológico.
Contudo, o principal foco dos estudos é o organizacional e a principal base investigada é a
afetiva. Observou-se, também, uma presença massiva de estudos quantitativos como os que
relacionaram o comprometimento à espiritualidade nas organizações (REGO, CUNHA,
SOUTO, 2007), aos vínculos empregatícios e à qualidade de vida no trabalho
(SCHIRRMEISTER et al, 2008), à justiça organizacional (RIBEIRO, 2008) e à geração de
vantagem competitiva sustentável. (CHANG JR et al, 2007). Outrossim, foi possível observar
a lacuna existente em pesquisas sobre o comprometimento organizacional que envolvem
estudos longitudinais.
Conhecer o indivíduo se tornou necessário para que a organização crie estratégias no
mundo empresarial, pois na medida em que se entendem as razões do comportamento do ser
humano, possibilitam-se os meios para alocar pessoas certas, no lugar certo, com motivações
que tragam resultados satisfatórios, no alcance dos objetivos que a organização pretende
chegar, permitindo também aos profissionais a satisfação de pertencer à organização.
(PAULINO et al, 2014).
Considerando que os objetivos propostos neste estudo foram alcançados, reconhecem-
se algumas limitações da pesquisa como a inclusão de um leque restrito de variáveis,
podendo, em estudos futuros, envolver mais variáveis, como por exemplo, estado civil,
número de dependentes, absenteísmo, cidadania organizacional, suporte organizacional,
satisfação com o trabalho, qualidade de vida no trabalho, com a diferenciação por tipo de
organização (pública, privada e ONG).
Pode-se, ainda, sugerir a realização de trabalhos que integrem as múltiplas bases e
focos do comprometimento, visando à compreensão do construto, com o objetivo de analisar
as variações nas caraterísticas da amostra.
Ressalta-se que a amostra dos participantes foi reduzida (N < 300), o que limita
generalizar os resultados para o Brasil e mesmo para o contexto paraibano, não sendo o
propósito deste estudo.
Referências
534
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identificando padrões de comprometimento do trabalhador com a organização, a carreira e o
sindicato. Revista Brasileira de Administração Contemporânea, v. 1, n. 6. p. 219-240, set.,
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DIENER, E.; EMMONS, R. A.; LARSON, R.; GRIFFIN, S. The satisfaction with life scale.
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535
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NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO. Brasília/DF, 2005. Anais
XXIX ENANPAD. Rio de Janeiro, RJ. 2005.
MEYER, J. P., BECKER, T. E.; VAN DEN BERGHE, C. Employee commitment and
motivation: a conceptual analysis and integrative model. Journal of Applied Psychology, 89
(6), 991 – 1007, 2004.
536
PAULINO, R. D.; VASCONCELOS, C. R. P. DE; ALVES, W. Correlatos da Espiritualidade
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537
XXXII Encontro da ANPAD (EnANPAD), 2008, Rio de Janeiro. Anais. Rio de Janeiro:
XXXII EnANPAD, 2008.
TAMAYO, A.; SOUZA, M. G. S.; VILAR, S. L.; RAMOS, J. L.; ALBERNAZ, J.V.;
FERREIRA, N. P. Prioridades axiológicas e comprometimento organizacional. Psicologia:
Teoria e Pesquisa, v. 17, n. 1, p. 27-35, 2001.
538
ENGENHARIAS
PRODUÇÃO DE NANOTUBOS DE ÓXIDOS DE FERRO
Resumo
Apresentação
Fundamentação teórica
541
lepidocrocita e ferridrita. A partir da goetita, por exemplo, a fase hematita pode ser obtida por
calcinação em temperaturas entre 260 e 320°C e a partir da lepidocrocita a calcinação deve
ser realizada em temperaturas mais altas, em torno de 400°C (CORNELL;
SCHWERTMANN, 2003).
Dentre os diversos campos em que os óxidos de ferro são aplicados destacam-se o uso
como pigmentos e os processos envolvendo adsorção e catálise, devido, principalmente, às
propriedades redoxes e texturais. Como pigmentos os óxidos de ferro apresentam uma grande
variedade de cor, podendo variar entre o marrom, amarelo, vermelho, preto e verde;
apresentam ainda baixa toxidade, alta resistência ao intemperismo e baixo custo (SPINELLI;
OLIVEIRA; PASKOCIMAS, 2003). Um estudo recente relatou a síntese de hematita para
aplicação na coloração de esmaltes cerâmicos, as características deste material como alta
estabilidade térmica e química foram destacadas (OPUCHOVIC; KAREIVA, 2015).
A adsorção em óxidos de ferro tem sido utilizada no tratamento de águas e efluentes
industriais. Nanopartículas de goetita e lepidocrocita, por exemplo, foram utilizadas na
remoção de chumbo (Pb) (RAHIMI et al., 2014). A adsorção do arsênio na forma de As+3 e
As+5 utilizando como adsorvente a lepidocrocita foi estudada por Repo et al. (2012). Os
trabalhos de Rahman et al. (2013) e Parsons et al. (2014), descrevem o uso da magnetita como
adsorvente para a remoção de matéria orgânica dissolvida e cromo (Cr+3 e Cr+6). Além disso,
o uso de óxidos de ferro na adsorção de ânions (nitrato, fluoreto, bromato, fosfato e
perclorato), tem apresentado resultados promissores (KUMARI; JR PITTMAN; MOHAN,
2015).
Além disso, a sua aplicação em processos de oxidação avançada, como a fotocatálise e
o sistema Fenton heterogêneo na degradação de corantes e compostos fenólicos, tem sido
relatada. Estudos recentes envolvendo o uso de catalisadores a base de óxidos de ferro,
magnetita, hematita e goetita, são relatados na literatura (GEORGI; RUSEVOVA; KOPINKE,
2012; RAMAN; POURAN; DAUD, 2014; QIN et al., 2015; ZHANG et al., 2015).
Na obtenção desses materiais, o método de precipitação e oxidação de ferro a partir da
mistura de uma solução aquosa de FeSO4 com NaOH pode ser utilizado para a síntese de
vários compostos de ferro, como a α-FeO.OH (goetita), a γ-FeO.OH (lepidocrocita), a δ-
FeO.OH (ferroxita), α-Fe2O3 (hematita) e FeO.Fe2O3 (magnetita).
Os mecanismos de oxidação de hidróxido ferroso em meio aquoso sulfatado, tal como
ocorre após a mistura de FeSO4 com NaOH, são extremamente complexos e dependem de
uma série de fatores, dentre eles a concentração inicial de reagentes, a relação Fe+2:OH, a
temperatura da reação, a velocidade de oxidação e cristalização, a agitação da mistura,
introdução de oxigênio no meio e até mesmo a geometria do tanque de reação.
As condições experimentais determinam, além do tipo de óxido de ferro que será
obtido, a cristalinidade do mesmo, a morfologia dos cristais e a distribuição granulométrica.
Adegoke et al. (2014), produziu cinco amostras de óxidos de ferro (hematita), por
diferentes métodos de precipitação. A morfologia das amostras produzidas variou entre nano-
cubos, placas, esféricas e hexagonais, e os valores da área superficial específica variaram
entre 26 e 52 m².g-1. O volume de microporos ficou entre 0,04 até 10,8 cm³.g-1 e tamanho de
partículas entre 15,8 e 85,8 nm.
A influência da temperatura na oxidação do hidróxido ferroso produzido em meio
aquoso sulfatado foi investigada por Olowe, Pauron e Génin, (1991) e Dufour et al. (1997).
542
Diferentes mecanismos foram propostos para a obtenção da goetita, lepidocrocita e magnetita,
com direcionamentos preferenciais da reação, para uma fase ou outra, como uma função da
temperatura. Com relação à cinética de oxidação do hidróxido ferroso, sabe-se que a mesma é
bastante influenciada pelo teor de oxigênio dissolvido no meio, o que é função da
temperatura, mas também é função da vazão de oxigênio introduzido e da agitação da mistura.
Refait et al. (2008), avaliou a influência da concentração de Fe+2 e da velocidade de agitação
da mistura na qualidade do óxido de ferro produzido (cristalinidade e tamanho do cristal). O
autor verificou que um aumento da velocidade de agitação da mistura induz a um aumento da
área de contato ar/interface da suspensão e, consequentemente, um aumento do fluxo de
oxigênio, o que levaria a uma diminuição do tamanho do cristal. A influência da velocidade
de agitação no tamanho de partícula promove uma maior uniformidade da solução durante a
reação tornando as distribuições de tamanho das partículas mais estreitas.
Jin et al. (1998), estudou a oxidação e cristalização de Fe(OH)2, produzido em meio
básico, para goetita, avaliando a influência da velocidade de oxidação e cristalização na
morfologia das amostras produzidas. Foi observado pelo autor que a agitação, na etapa de
oxidação do hidróxido ferroso, exerce bastante influência no crescimento dos cristais. A
agitação promove, por atrito ou cisalhamento, o seu desprendimento da superfície
favorecendo que haja um crescimento e cristalização em fase liquida, e não em fase sólida -
na superfície do Fe(OH)2.
Peukert et al. (2014), avaliou o efeito da vazão de oxigênio no mecanismo de
formação da goetita, partindo-se de Fe(OH)2, produzido em meio básico. Foi observado que a
morfologia e o tamanho das partículas podem ser modificados por meio de alterações no fluxo
de ar. Além disso, o autor propôs diferentes mecanismos de formação da goetita, com a
cristalização ocorrendo em fase sólida, para baixos fluxos de ar, e em fase líquida, para altos
fluxos de ar.
Neste capítulo, e neste projeto de pesquisa, foi investigada a síntese de óxidos de ferro,
pelo método da precipitação partindo-se de uma solução aquosa de sulfato ferroso. A reação
que ocorre entre o sulfato ferroso e o hidróxido de sódio está apresentada abaixo. A Reação 1,
é a reação estequiométrica, com razão molar entre [FeSO4]:[NaOH] igual a R = 0,50. A
Reação 2, ocorre quando um excesso de NaOH é adicionado no meio, e neste caso, o
precursor para a obtenção do óxido de ferro é o Fe(OH)2. E a Reação 3, é aquela que ocorre
com um excesso de FeSO4.
Reação 1
Reação 2
xFeSO4 yNaOH xFe(OH ) 2 xNa2 SO4 ( y 2 x) NaOH
Reação 3
y y
xFeSO4 yNaOH Fe(OH ) 2 Na 2 SO4 ( x y / 2) FeSO4
2 2
543
Foi relatado em trabalhos anteriores, (BAPTISTTELLA et al., 2014), que no método
ácido, Reação 3, o óxido de ferro é formado a partir do intermediário Green Rust II (GRII); e
não a partir do Fe(OH)2. Neste caso, uma proposta foi apresentada para a formação da goetita
a partir do intermediário GRII. A reação inicia-se com a formação do hidróxido ferroso
(Reação 4); é seguida pela oxidação do sulfato ferroso remanescente em fase líquida via
oxigênio dissolvido na água (Reação 5); reação do sulfato férrico com o hidróxido ferroso
(Reação 6); e finalmente, oxidação do GRII com o oxigênio, então introduzido na mistura
reacional, para produção, por exemplo, da goetita (Reação 7).
Neste trabalho, foram obtidos óxidos de ferro utilizando-se somente o método ácido e
partindo-se do intermediário GRII para a obtenção do produto (seja goetita, hematita ou
magnetita). A razão molar utilizada entre [FeSO4]:[NaOH] foi fixada em R=1,00.
No estudo, avaliou-se a influência da vazão de oxigênio introduzido na mistura
reacional, da temperatura da reação, velocidade de agitação da mistura e tempo de reação, na
qualidade do óxido de ferro produzido. Foi possível propor um mecanismo cinético para a
formação do óxido de ferro, com a introdução da dependência do tamanho de partículas com
o tempo de reação, além disso, propôs-se uma etapa limitante para a velocidade da reação.
Reação 4
8FeSO4 8 NaOH 4 Fe(OH ) 2 4 Na 2 SO4 4 FeSO4 R 1,0
Reação 5
2 FeSO4 1 O2 2H Na 2 SO4 Fe2 SO4 3 H 2O 2 NaOH
OH
2
2
2 H 2O
Reação 6
Fe2 SO4 3 4 Fe(OH ) 2 2 NaOH 2 Fe2II Fe III OH 5 SO4 Na 2 SO4
green rust II
Reação 7
2Fe2II Fe III OH 5 SO4 O2 6
FeO
.OH
4H 2 SO4
goetita
Metodologia e análise
544
através de compressores e difusores de laboratório, a agitação foi promovida por um agitador
mecânico. Após a oxidação, o lodo de Fe+3 foi lavado sucessivas vezes; uma lavagem ácida
(H2SO4 – 50% v/v); uma lavagem básica (NaOH – 1% m/m) e uma lavagem neutra (água
destilada). As amostras obtidas foram secas a 60°C por 12 horas (em estufa), e o pó resultante
foi moído e peneirado em uma malha de 200 mesh (pronto para a caracterização
e uso).
Neste capítulo foram avaliados alguns parâmetros que influenciam significativamente
na qualidade do produto. Variou-se a vazão do ar introduzido na mistura reacional, de 0,90 e
0,45 L.min-1 (o que resultou em velocidades iniciais de oxidação do ferro, de 64,9 e 9,4 mg.L-
1
.min-1, respectivamente); variou-se a temperatura da reação, entre 40 e 60°C; e a agitação da
mistura na etapa de oxidação, de 190, 500 e 700 rpm. Além disso, realizou-se um ensaio sem
a introdução forçada de ar, variando-se o tempo da reação (para uma mesma agitação de 700
rpm).
545
quando houve mudanças nas condições operacionais, como a vazão de ar adicionado no meio,
a temperatura da reação, agitação da mistura e o tempo de reação. Neste caso, os seguintes
resultados foram encontrados a partir das caracterizações do material quando houve a
mudança nas condições operacionais.
Figura 1. Difratogramas de raios-X das amostras A.1.1 e A.3.1 (vazão de ar: 0,9 e 0,45
L.min-1, respectivamente; pH inicial mistura: 7,4; temperatura da reação: 400C; agitação da
mistura: 190 rpm).
546
partir do intermediário GRII, a vazão de oxigênio interferiu na seletividade da reação. Na
reação realizada a 70°C e para baixas vazões de oxigênio a magnetita foi preferencialmente
formada, enquanto que para altas vazões, somente goetita foi obtida. O autor concluiu que em
alta temperatura, as duas reações de oxidação do GRII são competitivas, formando como
produtos as fases goetita e lepidocrocita ou magnetita, conforme esquema abaixo.
Fe(OH ) 2 O
2 / FeSO 4 O 2 velocidade
GRII Fe3O4
Fe(OH ) 2 O
2 / FeSO 4
FeOOH (ou FeOOH )
O 2 velocidade
GRII
Na conversão para a magnetita, dois íons de oxigênio devem ser extraídos para três
moléculas de Fe(OH)2. Se a oxidação é lenta, o tempo para a extração do oxigênio a partir do
cristal e para o rearranjo do ferro remanescente e oxigênio, pode ser suficiente para a
formação da magnetita.
A análise termogravimétrica foi realizada nas amostras A.1.1 e A.3.1, obtidas com
diferentes vazões de ar e consequentemente, diferentes velocidades iniciais de oxidação. A
Figura 2 apresenta as curvas obtidas para as duas amostras.
547
último pico endotérmico refere-se à decomposição do sulfato presente no sólido que ocorre
perto de 600°C.
Observa-se na Figura 2, a ocorrência dos três picos endotérmicos descritos por Cornell
e Schwertmann (2003). O primeiro pico, ocorrendo a uma temperatura de 80°C, refere-se à
expulsão da água absorvida (umidade). O segundo, a 250°C para a amostra A.1.1 e a 280°C
para a amostra A.3.1, refere-se a mudança de fase, da goetita para a hematita. E o terceiro
pico endotérmico, entre 600 e 630°C, refere-se à decomposição do sulfato. Novamente,
conclui-se que a diminuição da vazão de ar, e consequentemente da velocidade da reação,
aumenta a cristalinidade da amostra, pois foi constatado um aumento considerável na
temperatura de mudança de fase.
A morfologia das amostras foi analisada por MEV e as amostras obtidas apresentam o
formato de bastões (Figura 3). Este resultado está de acordo com o estudo de Peukert et al.
(2014), cujas imagens de MEV mostram partículas alongados que apresentam uma forma
semelhante à haste de acordo com o hábito cristalino de α-FeOOH.
Comparando-se as duas amostras, é possível constatar que ao reduzir a vazão do ar
introduzido no meio reacional, as partículas de goetita produzidas tornaram-se mais finas e
alongadas, como mostra a Figura 3 (b).
Figura 3. MEV das amostras produzidas com diferes vazões de ar. (a) Amostra A.1.1 – 0,9
L.min-1 e (b) Amostra A.3.1 – 0,45 L.min-1.
(a (b)
)
Tabela 1. Análise da área superficial específica, volume e diâmetros de poros e nas amostras
A.1.1 e A.3.1.
Testes Vazão de ar
Área Superficial Volume Total de Diâmetro de
(R = 1,00 / T = 40°C adicionado
Específica (m².g-1) Poros (cm³.g-1) poros (Å)
/ A = 190 rpm) (L.min-1)
A.1.1 0,90 69 0.45 261.37
A.3.1 0,45 80 0.31 142.32
548
Observa-se que a amostra A.3.1, produzida com menor vazão de ar, mais cristalina e
com formado mais fino e alongada, obteve uma área de 80 m².g-1, enquanto que a amostra
A.1.1,obteve um valor de área BET de 69 m².g-1. Desta forma, conclui-se que ao diminuir a
vazão de ar introduzido no meio reacional, e consequentemente a velocidade de oxidação
inicial do GRII, houve um aumento na área superficial especifica alcançado, provavelmente,
através das mudanças morfológicas das amostras de goetita, com uma provável, diminuição
no tamanho das partículas, além da redução no tamanho dos poros.
549
goetita concorrendo com a lepidocrocita em velocidades altas, conforme resultado da amostra
A.1.1.
No entanto, quando a temperatura da reação é elevada para 60°C, a reação preferencial
que ocorreu foi do GR II para magnetita, haja vista que a amostra A.3.2, apresenta
praticamente uma única fase de magnetita, apenas com algum vestígio de goetita (pico em 2ϴ
igual a 21,27).
Este resultado está de acordo com o encontrado por Dufour (1997), porém variando-se
a vazão de oxigênio introduzido no meio reacional. Dufour destacou que para baixas vazões
de oxigênio, menores velocidades da reação são alcançadas e a magnetita é preferencialmente
formada. Enquanto que para altas vazões de oxigênio, somente goetita foi obtida. Refait et al.
(2008), relata que como a cinética da reação é controlada pela redução do oxigênio dissolvido,
a temperatura, além da vazão de oxigênio, é outro parâmetro importante, uma vez que
modifica a solubilidade do oxigênio. Para as temperaturas maiores, há baixa solubilidade do
oxigênio, tipicamente T > 60°C e Fe3O4 é preferencialmente formada.
Ao monitorarmos a reação de oxidação do GRII, via análise de Fe+2 presentes em fase
sólida em intervalos de tempo regulares, observa-se na Figura 4, que a velocidade de oxidação
do GRII foi realmente menor durante a produção da amostra A.3.2.
A Figura 5 apresenta o MEV das amostras A.3.1 e A.3.2. Pelos resultados obtidos
nota-se claramente a mudança na morfologia das amostras produzidas em diferentes
temperaturas. A amostra de goetita (A.3.1), apresenta o formato de bastão enquanto que a
amostra de magnetita, A.3.2 têm o formato esférico. Na Figura 5b, é visto ainda a presença de
uma pequena quantidade de bastões, este fato justifica o pico encontrado em 2ϴ igual a 21,17,
no DRX da amostra A.3.2 (Figura 4).
550
Figura 5. MEV das amostras produzidas variando-se a temperatura da reação. (a) Amostra
A.3.1 (b) Amostra A.3.2.
Figura 6. Difratogramas de raios-X das amostras produzidas com agitação de 190 rpm
(A.3.1) 500 rpm (A.5.1) e 700 rpm (A.6.1). Demais parâmetros dos testes: vazão de ar: 0,45
L.min-1 (A.3.1), 0,03 L.min-1 (A.5.1) e 0,005 L.min-1 (A.6.1).
Pelo DRX das amostras, observa-se que o aumento na agitação da mistura, durante a
etapa de oxidação do GRII, não alterou de forma significativa a cristalinidade das amostras.
Nos três casos apenas os picos referentes a goetita foram encontrados.
As distribuições granulométricas das amostras A.3.1, A.5.1 e A.6.1, estão apresentadas
na Figura 7. É possível observar que o aumento na agitação da mistura reduziu o tamanho das
551
partículas, ou melhor, dos aglomerados de partículas. O diâmetro médio dos aglomerados,
calculado com base na distribuição em volume, foi de 93,3, 65,1 e de 58,9 μm, para as
amostras A.3.1, A.5.1 e A.6.1, respectivamente. Além disso, o aumento na agitação da
mistura tornou a distribuição de tamanho dos aglomerados mais homogênea (Figura 7).
Figura 7. Distribuição de tamanho de partículas das amostras (a) A.3.1 – 190 rpm (b) A.5.1 -
500 rpm e (c) A.6.1 – 700 rpm.
552
Avaliação do mecanismo da reação de oxidação do GRII
A fim de justificar a diminuição no tamanho dos aglomerados de partículas com o
aumento na agitação da mistura, é necessário realizar-se um estudo cinético da reação de
oxidação do GRII e formação da goetita. Conhecer o mecanismo de formação das partículas
de goetita é muito relevante para controlar, por meio de variação nos parâmetros do processo,
o tamanho das partículas, a morfologia, cristalinidade e homogeneidade do material.
Um mecanismo proposto para a reação de oxidação do GRII com a consequente
formação dos cristais de goetita é composto por quatro etapas:
1. A absorção do oxigênio a partir da fase gasosa para a fase líquida (Reação 8);
2. A transferência de massa do oxigênio do seio da fase líquida para a superfície
do GRII (Reação 9);
3. A reação química de oxidação do GRII com o oxigênio disponível na
superfície (Reação 10);
4. O rearranjo na estrutura cristalina e crescimento dos cristais de goetita
a. Crescimento dos cristais na superfície do GRII.
b. Crescimento dos cristais na fase líquida.
Reação 8
Reação 9
Reação 10
553
oxidação do GRII durante a produção das amostras A.3.1 e A.6.1. Observa-se pelas curvas
que o aumento na agitação da mistura, de 190 para 700 rpm, promoveu uma maior velocidade
na reação de oxidação do GRII (amostra A.6.1). Isso é um indicativo de que a etapa
controladora da reação de oxidação do ferro é a transferência de massa do oxigênio, a partir
da fase líquida, para a superfície do GRII (Reação 9 do mecanismo proposto). Pode-se dizer
ainda que a influência da agitação na TM, é maior do que a influência da concentração de
oxigênio na solução, haja vista que a amostra A.6.1, com menos oxigênio, porém maior
agitação, teve uma velocidade de oxidação maior.
Figura 8. Cinética de oxidação avaliando o efeito da agitação dos testes A.3.1 (190 rpm) e
A.6.1 (700 rpm).
554
Segundo Bird et al. (2011), o coeficiente convectivo de transferência de massa (kc),
está relacionado com a agitação da mistura, o diâmetro das partículas sólidas (ou um
comprimento característico), a viscosidade cinemática e a difusividade do oxigênio em fase
líquida (Equação 4). Todos estes parâmetros, exceto o diâmetro das partículas de GRII,
podem ser considerados constantes com o tempo da reação, e específicos para cada
experimento, principalmente em experimentos realizados com diferentes agitações e/ou
temperaturas.
O composto intermediário, GRII, é um composto floculento e gelatinoso que é
susceptível a quebra devido às tensões de cisalhamento provocadas pela alta agitação e
turbulência da mistura. Desta forma, obtém-se uma relação inversa entre kc e o diâmetro das
partículas de GRII:
Equação (5)
O parâmetro ac, refere-se a área superficial externa das partículas de GRII, por unidade
de volume da solução; m²/L, por exemplo. Se o sólido for duro e resistente ao cisalhamento,
ac, assim como kc, teriam um valor constante e específico para um determinado sólido e
sistema reacional. Entretanto, para um sólido gelatinoso, assim como o GRII, estima-se que a
agitação esteja causando a quebra dos flocos com a consequente variação no diâmetro dessas
partículas com o tempo de reação. Desta forma, utilizando-se apenas como referência a
dependência de ac para um leito fixo de partículas esféricas, encontra-se uma dependência
inversa de ac com o diâmetro das partículas de GRII:
Onde a1 é uma constante que depende apenas da forma das partículas de GRII.
Substituindo-se os valores de kc e ac, ambos dependentes do diâmetro das partículas,
na Equação (5), tem-se:
Equação (7)
555
No estudo de Encina et al. (2014), foi observado que durante a reação de oxidação do
ferro ferroso, a concentração de oxigênio dissolvido no meio, CO2, permanece extremamente
baixa e constante, e neste caso, a Equação 7 pode ser escrita como:
Equação (8)
Figura 9. Cinética de oxidação avaliando o efeito da agitação nos testes A.6.1 (aeração de
0,005 L.min-1) e G1 (sem vazão de ar).
556
É possível observar que o tempo reacional para alcançar a completa oxidação do ferro
ferroso no teste G1 foi de 10.000 min, enquanto que no teste A.6.1 foi de aproximadamente
3.000 min (Figura 9). Esse maior tempo de agitação resultou na produção de aglomerados de
partículas menores, como pode ser visto na Figura 10, na análise da distribuição
granulométrica. O diâmetro médio encontrado para a amostra A.6.1 foi de 58,9 μm enquanto
que para a amostra G1 foi de 34,4 μm.
A Figura 11 apresenta o MEV das amostras avaliando-se o efeito do tempo de agitação
da mistura.
A partir das imagens do MEV os valores para a largura e comprimento médio de cada
partícula individual foram estimados e a Tabela 4, apresenta os resultados obtidos. Verifica-se
que o tempo maior de agitação, provocou uma redução no comprimento das partículas
obtidas, indo de um valor médio de 447 nm, para a amostra A.6.1, para 378 nm para a amostra
G1.
Este resultado confirma a hipótese levantada anteriormente, de que para o GRII, um
sólido gelatinoso, a agitação está causando a quebra dos flocos durante a reação com a
consequente variação no diâmetro dos mesmos com o tempo. Isto tem como consequência a
obtenção de aglomerados de goetita menores e partículas de goetita também menores.
Figura 10. Distribuição do tamanho de partículas a laser. (a) Amostra A.6.1 e (b) Amostra
G1.
557
Figura 11. MEV das amostras, avaliando o efeito da agitação. (a) Amostra A.6.1 - vazão de
ar = 0,005 L.min-1 e (b) Amostra G1 – sem vazão de ar.
Tabela 2. Valores encontrados para a largura e comprimento médio das partículas (estimados
pelo resultado do MEV).
Conclusões
Neste trabalho foram obtidos diferentes tipos de óxidos de ferro como a goetita e
magnetita, pelo método da precipitação seguida pela oxidação do Green Rust II. Resultados
foram encontrados quando houve mudanças nas condições operacionais, como a vazão de ar
adicionado no meio, a temperatura da reação, agitação da mistura e o tempo de reação. Neste
caso, as seguintes conclusões foram estabelecidas:
558
c) O aumento na agitação da mistura de 190 para 700 rpm não alterou a pureza da
amostra, permanecendo a goetita como única fase cristalina. Entretanto, em alta
agitação partículas mais aciculares foram obtidas. Um aumento de 24% na área
superficial específica foi obtido, sendo 80,40 m²/g (190 rpm) e de 105,84 m²/g (700
rpm).
Referências
559
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GEORGI, A.; RUSEVOVA, K.; KOPINKE, D.F. Nono-sized magnetic iron oxides as
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JIN, Y.; WANG, T.; WANG, Z.; YU, Z. A study of the morphology of the goethite
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catalyst for the degradation of methyl orange. Catalysis Today, v. 252, p. 107-112, 2015.
561
ANÁLISE E PROJETO DE TOPOLOGIAS DE CONVERSORES
CC-CC DE ALTO GANHO E ALTO RENDIMENTO
Resumo
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Estudo de conversores CC-CC não isolados de alto ganho e
alto rendimento/ Análise e projeto de topologias de conversores de alto ganho e alto rendimento
Estudante de Iniciação Científica: André Elias Lucena da Costa (e-mail: andre.costa@cear.ufpb.br)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail:cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientador: Romero Leandro Andersen (e-mail: romero@cear.ufpb.br, telefone: (83) 3216-7858)
562
et al., 2013; LIU; ZHANG, 2014; CAI et al., 2014).
O conversor Push-Pull é uma escolha comum em aplicações de fontes de baixa tensão,
podendo alcançar um elevado ganho através do ajuste da relação de transformação do
transformador. Contudo, a indutância de dispersão do transformador causará picos de tensão
nas chaves (KIM; KWON, 2009). O conversor Flyback pode alcançar uma tensão elevada de
saída, entretanto, a indutância de dispersão causará um esforço elevado de tensão sobre o
interruptor, degradando a eficiência do conversor (HSIEH et al., 2012; LIN; YANG; LIANG,
2011). Circuitos de grampeamento podem melhorar os problemas de picos de tensão nas
chaves, mas podem resultar em circuitos de comando complexos aumentando os custos (LIN;
YANG; LIANG, 2011). Para reduzir as perdas, podem ser utilizadas combinações de
conversores em cascata. Alguns conversores de alto ganho com chave única foram
apresentados na literatura, como o conversor com estágio Boost, Forward e Flyback,
apresentado em (LIU; ZHANG, 2014), e também o conversor com um estágio Boost e um
Boost-Flyback apresentado em (CHEN et al., 2011). Apesar de permitirem o uso de circuitos
de comando simples e de baixo custo, esses conversores com chave única podem não ser
atrativos para aplicações de potência um pouco mais elevada devido às perdas na chave
principal do circuito e consequente degradação do rendimento. Este trabalho apresenta um
conversor em cascata com duas chaves comandadas a partir de um mesmo sinal, diminuindo o
esforço de corrente em cada uma delas.
O conversor é composto por um estágio Boost e um estágio Boost-Flyback, conforme
a Figura 1. O primeiro estágio é composto por um indutor de entrada Li, uma chave S1, um
diodo D1 e um capacitor C1. O segundo estágio é composto por um transformador com
relação de transformação em função do número de espiras, dois diodos D2 e D3 e dois
capacitores de saída Co1 e Co2.
D3
Lk2
Co2
N2
Ro
Li D1 Lk1 D2
N1
LM
Vi Co1
S1 C1 S2
Fundamentação Teórica
563
[t0, t1] - Nesta etapa a chave S1 encontra-se fechada e somente o diodo D3 está
conduzindo. O indutor Li armazena energia da fonte Vi. O capacitor C1 entrega energia para
indutância de magnetização Lm. Essa etapa acaba quando a energia em LK2 é zero. A Figura
2(a) apresenta essa etapa.
[t1, t2] - Nesta etapa a chave S1 encontra-se fechada e todos os diodos estão
bloqueados. A tensão Vin está sendo armazenada no indutor Li. O capacitor C1 entrega energia
para indutância de magnetização Lm. Essa etapa termina quando a chave S1 bloqueia. A Figura
2(b) mostra o circuito equivalente dessa etapa.
[t2, t3] - Neste intervalo a chave S1 encontra-se aberta e os diodos D1, D2 e D3 estão
conduzindo. O indutor LM encontra-se desmagnetizando e transferindo energia através do
transformador, para carregar o capacitor Co2. O indutor Li desmagnetiza transferindo energia
para o capacitor C1. A indutância de dispersão LK1 começa a desmagnetizar-se e transfere
energia o capacitor Co1, através de D2. Essa etapa acaba quando a indutância de dispersão se
desmagnetiza completamente, bloqueando assim o diodo D2. A Figura 2(c) apresenta essa
etapa.
Figura 2. Etapas de operação: (a) Etapa 1 - (b) Etapa 2 - (c) Etapa 3 - (d) Etapa 4.
D3 D3
Lk2 Lk2
ILk2 ILK2
N2 Co2 N2 Co2
Li Lk1 D2 + Li D1 Lk1 D2 +
D1 Ro Vo Ro Vo
LM N1 Io - LM N1 Io -
ILi ILk1 ILi ILk1
Vi ILm Co1 Vi ILm Co1
S1 C1 S2 S1 C1
IS2 S2 ICo1
(a) D3
(b) D3
Lk2 Lk2
ILK2
N2 Co2
N2 Co2
Li D1 Lk1 D2 + +
Ro Vo Li D1 Lk1 D2
Io - Ro Vo
ILk1 LM N1 L M N1 Io -
ILi ILi
Vi ILm Co1
S1 C1 S2 Vi ILm Co1
IS2 S1 C1 S2
(c) (d)
Fonte: Elaborado pelo autor.
O comportamento descrito até aqui é visualizado a partir das formas de ondas teóricas
ilustradas na Figura 3.
564
Figura 3. Principais formas de ondas teóricas do conversor.
Vgs iS2(t)
t iD2(t) t
iS1(t)
t t
iLi(t) iC1(t)
t t
iLm(t) iCo1(t)
t t
iD1(t) iCo2(t)
t t
iD3(t)
(iLk2) iLk1(t)
t0 t1 t2 t3 t4 t to t1 t2 t3 t4 t
ton to toff-to ton to toff-to
toff toff
Ts Ts
Fonte: Elaborado pelo autor.
VLi Vi (1)
VC1 VLm (2)
565
1 ton Ts
i V dt (Vi VC1 )dt
0 (6)
Ts 0 ton
VC1 1
(7)
Vi 1 D
1 on
t Ts
1 ton Ts
V
VC1dt Co 2 dt
0 (10)
Ts 0 ton
n
nD
VCo 2 Vi (11)
(1 D)2
A tensão de saída Vo é a soma das tensões sobre os capacitores Co1 e Co2. Somando-se
(9) e (11), obtemos a equação (12) que define o ganho do conversor no modo de condução
contínua.
Vo nD 1
(12)
Vi (1 D) 2
Material e Análise
566
Tabela 1. Especificações de projeto.
Po 350
I
Li 14,58 A (13)
Vi 24
D Vi 0,5 24
Li 147 μH (14)
f s I Li 40000 2, 0412
VC1 D 48 0,5
Lm 161,38 μH (15)
f s I Lm 40000 3, 7178
B. Capacitor C1
O valor médio da tensão no capacitor C1 é calculado conforme pela equação (16).
567
1 1
V
C1 Vi
24
48 V (16)
1 D 1 0,5
I Lm D 12,82 0,5
C1 3,33 mF (17)
VC1 f s 0, 048 40000
( I 2t 2 2 3
1 Lm on 1 12.82 12,5 14,58
I C1ef t 3 13, 09 A (18)
Ts I Li 2 o I Li 2 (toff to )) 25 2
3 14,58 (12,5 3)
1 1
VCo1
V
2 i
24 96 V (19)
(1 D) (1 0,5) 2
nD 6,33 0,5
VCo 2
V
2 i
24 303 V (20)
(1 D) (1 0,5) 2
O valor da capacitância Co1 pode ser calculado a partir ondulação de tensão ∆VCo1,
definida na Tabela 1. Na segunda etapa de operação, a corrente que passa pelo capacitor Co1 é
igual a corrente do resistor Ro. A capacitância Co1 é calculada em função das especificações
do conversor, conforme a equação (21).
Io D 0,875 0,5
Co1 114 μF (21)
VCo1 f s 0, 096 40000
568
É necessário conhecer também o valor da corrente eficaz no capacitor. O valor eficaz
da corrente através de Co1 é calculado conforme a equação (22).
O valor da capacitância Co2 pode ser calculado a partir ondulação de tensão ∆VCo2,
definida na Tabela 1. Na segunda etapa de operação, a corrente que passa pelo capacitor Co2 é
igual a corrente do resistor Ro. A capacitância Co2 é calculada em função das especificações
do conversor, conforme a equação (23).
Io D 0,875 0,5
Co 2 3, 6 μF (23)
VCo 2 f s 3, 038 40000
2 2
I Lm to 2 3
I o ton 2
0,875 12,5 2, 02 3
n 3
1 I Lm I oto 1 12,82 0,875 3
I Co 2 ef I o 2to 0,875 3 0,96 A
2
(24)
Ts n 25 6,33
I 2 2
Lm I o (toff to ) (2, 02 0,875) (12,5 3)
n
D. Resistência de carga Ro
Uma vez que a potência e a tensão de saída são especificadas na Tabela 1, a resistência
de carga pode ser calculada conforme a equação (25).
V 2 4002
R
o 457.14 Ω (25)
Po 350
E. Esforços em S1 e S2
Quando a chave S1 estiver conduzindo a corrente que passa por ela é a corrente do
indutor Li, pode-se calcular o valor eficaz da corrente iS1(t) conforme a equação (26).
569
I S1ef I Li D 14,58 0,5 10,3 A (26)
Quando a chave S2 estiver conduzindo a corrente que passa por ela é a corrente do
indutor Lm, pode-se calcular o valor eficaz da corrente iS2(t) conforme a equação (27).
Quando a chave S1 está bloqueada, sua tensão máxima é igual a VC1. O esforço de
tensão VS1 é calculado conforme a equação (28).
1 1
V
S1 Vi
24
48 V (28)
1 D 1 0,5
Quando a chave S2 é bloqueada, sua tensão é igual a VCo1. O esforço de tensão VS2 é
calculado conforme a equação (29).
1 1
VS 2
V
2 i
24 96 V (29)
(1 D) (1 0,5) 2
F. Esforços em D1, D2 e D3
Quando o diodo D1 estiver conduzindo a corrente que passa por ela é a corrente do
indutor Li, pode-se calcular o valor eficaz da corrente iD1(t) conforme (30).
Quando o diodo D2 estiver conduzindo a corrente que passa por ela é a corrente do
indutor Li, pode-se calcular o valor eficaz da corrente iD2(t) conforme (31).
to 3
I D2ef I LmMax 14, 67
2,93 A (31)
3Ts 3 25
Quando o diodo D3 estiver conduzindo a corrente que passa por ela é a corrente do
indutor Li, pode-se calcular o valor eficaz da corrente iD3(t) conforme (32).
1 I Lm 2 to I Lm
2
1 3
I D3ef
(t
off t o ) 2, 022 2, 022 (12,5
3) 1,33 A (32)
Ts n 2 n 25 2
Quando o diodo D1 está bloqueado, a tensão reversa é igual a tensão do capacitor C1, a
tensão reversa VD1 é calculada conforme (33).
1 1
VD1 Vi
24
48 V (33)
1 D 1 0,5
570
Quando o diodo D2 está bloqueado, a tensão reversa é igual a tensão do capacitor C1, a
tensão reversa VD2 é calculada conforme (34).
1 1
VD 2
V
2 i
24 96 V (34)
(1 D) (1 0,5) 2
G. Protótipo
O protótipo construído do conversor CC-CC, projetado para uma potência de 350 W,
pode ser visto na Figura 4. Os componentes utilizados do circuito de potência são
apresentados na Tabela 2.
571
Componentes Quantidade Conexão Valor
Capacitor C1 4 Paralelo 4700 µF/ 100 V
Capacitor Co1 2 Paralelo 680 µF/200 V
Capacitor Co2 1 - 200 µF/ 400 V
Transformador 1 - n = 6.33
Indutor Li 1 - 150 µH
Diodos D1 e D2 2 - STTH6002CW
Diodo D3 1 - STTH1210D
Chaves S1cc e S2cc 2 - IRFP4668PbF
Driver 1 - UCC27324
Fonte: Elaborado pelo autor.
O protótipo é composto por duas placas, uma placa responsável por gerar o sinal
PWM para acionar as chaves S1 e S2 e a outra placa apresenta o circuito de potência do
conversor. O diagrama esquemático da placa de potência é apresentado na Figura 5 e a placa
de comando é apresentada na Figura 6.
77u
2u
1N4148 1N4148
1 8 1N4148 1N4148
2 7
3 6
4 5
572
Potenciômetro
(ajuste de razão
cíclica)
1N4148
1N4148
Potenciômetro
(ajuste da
frequência)
Na placa de comando foi utilizado o circuito integrado UC3525 para gerar o sinal de
comando das chaves S1 e S2. O potenciômetro do pino 2 é responsável por ajustar a razão
cíclica e o potenciômetro do pino 6 ajusta a frequência de operação do conversor CC-CC.
H. Resultados experimentais
A Figura 7 mostra a tensão e a corrente de entrada, verifica-se que a corrente está se
comportando como esperado apresentando uma ondulação de corrente de aproximadamente
2 A. A tensão de entrada tem o valor de aproximadamente 24 V.
573
conversor CC-CC apresentou um ganho estático experimental de aproximadamente 16.
A Figura 9, apresenta a tensão reversa no diodo D1. O pico de tensão no diodo D1 é
ocasionado por indutâncias parasitas no layout da placa, no entanto, como o diodo D1 foi
dimensionado para suportar uma tensão reversa de 200 V não se faz necessário o uso de
circuitos auxiliares para atenuar esse efeito. Apesar da sobretensão, o diodo D1 apresentou
uma tensão reversa de aproximadamente 48 V.
574
dimensionado para suportar uma tensão reversa de 200 V não se faz necessário o uso de um
grampeador para limitar essa sobretensão. Apesar da sobretensão, o diodo apresentou uma
tensão reversa de aproximadamente 96 V.
575
sobretensão no diodo. Como o diodo D3 foi projetado para suportar uma tensão reversa de
1000 V e no laboratório o conversor chegou a apresentar uma tensão reversa de 910 V, se faz
necessário a utilização de circuitos auxiliares que limitem essa sobretensão. Para atenuar a
sobretensão em D3 foi utilizado um grampeador dissipativo composto por diodos, resistores e
capacitores. Apesar da sobretensão, o diodo D3 apresentou uma tensão reversa de
aproximadamente 600 V.
Conclusões
Nesse trabalho foi estudado um conversor de alto ganho, composto por um estágio
Boost e um estágio Boost-Flyback. Foram apresentadas as formas de ondas teóricas, o
principio de operação, o dimensionamento dos componentes e o ganho estático do conversor.
Além disso, foi realizado um exemplo de projeto contendo o dimensionamento dos
componentes de sua estrutura de potência. Os resultados e experimentais validam a análise
teórica do conversor.
Comparando o conversor com os conversores de alto-ganho com chave única, a
presença de duas chaves reduz as perdas nos semicondutores do conversor e tem potencial
para o aumento de sua eficiência. Dessa maneira, esse conversor é um bom candidato para
aplicações em sistemas que visam o processamento da energia gerada a partir de fontes
renováveis de baixa tensão.
Referências
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step-up gain dc-dc converter, Power Eletronics and Application Conference and Exposition
(PEAC), 2014, p. 6-10.
CHEN, S. M.; LIANG, T. J.; YANG, L. S.; CHEN, J. F. A cascaded high step-up dc–dc
converter with single switch for microsource applications, IEEE Transactions on Power
Electronics, 2011, vol. 26, nº. 4, p. 1146-1153.
COPPOLA, M.; LAURIA, D.; NAPOLI, E. On the design and the efficiency of coupled step-
up dc-dc converters, Electrical Systems for Aircraft, Railway and Ship propulsion
(ESARS), 2010, p. 1-6.
HSIEH, Y.-P.; CHEN, J.-F.; LIANG, T.-J; YANG, L.-S. Analysis and implementation of a
novel single-switch high step-up DC-DC converters, IET Power Electronics, 2012, vol. 5, p.
11-21.
HU, X.; GONG, C. A high voltage gain dc-dc converter integrating coupled-inductor and
diode-capacitor techniques, IEEE Transactions on Power Electronics, 2014, vol. 29, nº 2,
576
p. 789-800.
KIM, E.-H.; KWON, B.-H. High step-up resonant push-pull converter with higher efficiency,
IET Power Electronics, 2009, vol. 2, p. 79-89.
LIN, M.-S.; YANG, L.-S.; LIANG, T.-J. Study and implementation of a single switch
cascading high step-up dc-dc converters, Power Electronics and ECCE Asia (ICPE &
ECCE), 2011, p. 2565-2572.
YUAN, B.; YANG, X.; ZENG, X.; DUAN, J.; ZHAI, J.; LI, D. Analysis and design of a high
step-up current-fed multiresonant dc-dc converter with low circulating energy and zero-
current switching for all active switches, IEEE Transactions on Industrial Electronics,
2012, vol. 59, nº 2, p. 964-978.
ZENG, J.; QIAO, W.; QU, L. A single-switch isolated dc-dc converter for photovoltaic
systems, Energy Conversion Congress and Exposition (ECCE), 2012, p. 3446-3452.
ZHOU, L.; QIU, D.; XIAO, W.; ZHANG, B. A single-switch high step-up dc-dc converter
with coupled inductor, Energy Conversion Congress and Exposition (ECCE), 2014, p.
4251-4256.
577
ESTUDO REOLÓGICO DE MICROEMULSÕES UTILIZADAS PARA
RECUPERAÇÃO DE PETRÓLEO
Resumo
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Determinação de sistemas microemulsionados para serem
utilizados na recuperação de petróleo avaliando suas eficiências de varrido e deslocamento/Estudo reológico de
microemulsões utilizadas para recuperação de petróleo
Estudante de Iniciação Científica: Elayne Andrade Araújo (e-mail: elaynea_@hotmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientador(a): Fabíola Dias da Silva Curbelo (e-mail: fabioladias@yahoo.com; telefone: +55 (83) 99613-8786)
578
Diante do fato de que na etapa de exploração de jazidas grande parte do petróleo fica
retido nos meios porosos do reservatório, foi necessário desenvolver metodologias visando
aumentar a produtividade do óleo em campos já existentes. Esses procedimentos são
denominados de métodos de recuperação de petróleo.
Dentre os métodos existentes destacam-se, principalmente, os métodos convencionais,
como injeção de gás ou de água, e os métodos especiais, como químicos, miscíveis, térmicos
e outros. Os métodos convencionais apresentam desvantagens devido às altas tensões
interfaciais entre o fluido que está sendo injetado e o óleo no meio poroso, ocasionando
assim, baixas eficiências de deslocamento e, consequentemente, baixas recuperações de
petróleo. Estudos mostram que com a aplicação desses métodos é possível obter um fator de
recuperação de 30%, aproximadamente (THOMAS, 2001).
Diferentemente dos métodos convencionais, os métodos químicos, principalmente, a
injeção de sistemas microemulsionados, conseguem minimizar as diferenças interfaciais entre
os fluidos, melhorando o processo de dessorção e aumentando a eficiência de deslocamento
do óleo no meio poroso, ocasionando um incremento no percentual de óleo recuperado, e,
posteriormente, aumentando a eficiência de varrido devido à diminuição da diferença de
viscosidade entre a microemulsão e óleo (THOMAS, 2001).
A análise do comportamento do fluxo de microemulsão nas rochas reservatórios
depende, em grande parte, da viscosidade e da reologia da fase. No processo de recuperação,
as microemulsões devem percorrer os meios porosos do reservatório e retirar o óleo presente
no meio (SUNIGA; FORTENBERRY; DELSHAD, 2016). Com isso, este trabalho tem como
objetivo desenvolver sistemas microemulsionados e analisar o comportamento reológico,
visando sua aplicação em campos petrolíferos com a finalidade de aumentar a produtividade
dos poços.
Fundamentação teórica
Segundo Daltin (2011), um tensoativo quando em solução com água ou óleo, não
apresenta total estabilidade em sua dissolução, proporcionando assim características
diferenciadas aos tensoativos. Analisando o comportamento dos tensoativos em solução tem-
se que, quando uma molécula tensoativa é solubilizada em água, a parte polar (hidrofílica) da
molécula auxilia na sua solubilização, enquanto a parte apolar (hidrofóbica) diminui sua
579
solubilidade. Caso a parte hidrofílica seja suficientemente polar para solubilizar a parte
apolar, a solução é estável, mas continua havendo uma tensão entre a estabilidade provida
pela parte hidrofílica e a instabilidade gerada pela parte hidrofóbica. Isto ocorre de maneira
semelhante quando o tensoativo é solubilizado na fase orgânica.
Os tensoativos apresentam valores de BHL (balanço hidrofílico lipofílico), que é uma
tentativa de quantificar as contribuições das partes polar e apolar presente na molécula em
solução (GRIFFIN, 1949).
A solubilidade do tensoativo varia de acordo com o BHL, ou seja, quanto maior o
BHL, mais solúvel em água é o tensoativo. Os valores de BHL variam na faixa de 1 a 20,
sendo o máximo valor correspondente a um percentual de 100% de caráter hidrofílico. Diante
disso, uma molécula tensoativa com BHL igual a 10, apresenta igual afinidade tanto pelo o
óleo quanto pela água. A Tabela 1 mostra a faixa de BHL, o qual demonstra o comportamento
esperado na diluição do tensoativo na fase aquosa (DALTIN, 2011).
580
microemulsões O/A e A/O. Neste trabalho, foram desenvolvidos diagramas de fases ternários
(Figura 2), constituídos de três componentes: fase aquosa, fase oleosa e fase tensoativa.
Fonte: AUTORA
Em que:
Winsor I (WI) - microemulsão em equilíbrio com a fase oleosa em excesso;
Winsor II (WII) - microemulsão em equilíbrio com a fase aquosa em excesso;
581
Winsor III (WIII) - microemulsão em equilíbrio com a fase oleosa e aquosa, ambas em
excesso;
Winsor IV (WIV) – equilíbrio monofásico de microemulsão.
582
A Equação 3 fornece que a força deve ser proporcional à área e à velocidade e
inversamente proporcional à distância entre as placas. Logo, a constante de proporcionalidade
entre os termos (Pa.s) é denominado de viscosidade. Portanto, a partir desta equação é
possível afirmar que a força de cisalhamento é proporcional ao negativo do gradiente de
velocidade. O gradiente de velocidade é dado pela variação da região de maior velocidade
para a de menor, podendo ser classificado como a força motriz para o transporte de momento
(BIRD, 2004). Isto é característico de um fluido newtoniano.
Os fluidos são classificados, a partir da relação entre a taxa de deformação e a tensão
de cisalhamento, em fluidos newtonianos ou não newtonianos. A Figura 5 mostra o esquema
de classificação reológica dos fluidos.
Fluidos
Não
Newtonianos
Newtonianos
Dependentes do Independentes
Viscoelásticos
tempo do tempo
Plásticos de Herschel -
Dilatantes Pseudoplásticos
Bingham Bulkley
Fonte: AUTORA
583
Figura 6. Curvas de fluxo dos fluidos newtonianos e não-newtonianos.
Fonte: AUTORA
584
que representa este modelo é expressa pela Equação 6.
𝜕𝜕𝑢𝑢 𝑛𝑛
𝜏𝜏𝑦𝑦𝑦𝑦 = 𝜏𝜏0 + 𝐾𝐾 ( 𝜕𝜕𝜕𝜕𝑥𝑥 ) (6)
Metodologia e análise
Figura 7. Diagramas ternários utilizando o sistema: solução salina, OV1, (a) T1 e (b) T2.
(a) (b)
585
a solubilidade dos mesmos em água. Observa-se na Figura 7 (b), a presença de regiões mais
amplas de emulsão e gel, quando comparado com as regiões da Figura 7 (a). Isto ocorre,
provavelmente, pelo fato do T1 (BHL = 16,7) ser mais hidrofílico do que T2 (BHL = 15,0),
permitindo a formação de mais espaços intramicelares para solubilização da fase oleosa.
A emulsão óleo em água (O/A) é caracterizada por uma fase líquida de aparência
branca. Ela surgiu nestes sistemas (Figuras 7 (a e b)), pois quando a fase aquosa é agitada
com a fase oleosa na presença de um tensoativo, geralmente em concentrações abaixo da
concentração micelar crítica (cmc), novas superfícies óleo-água são criadas com a dispersão
do óleo na água e o tensoativo tende a se direcionar para estas novas superfícies.
Observa-se que a região de emulsão utilizando o T2 é maior que a utilizando o T1. Isto
acontece devido ao impedimento estérico que ocorre entre suas moléculas, pois o T2
apresenta uma cauda apolar maior que do T1, onde as moléculas de tensoativo não se
deslocam pela superfície das gotículas de óleo e não deixam nenhuma parte da superfície sem
proteção, impedindo, portanto, a coalescência das gotículas de óleo e estabilizando a emulsão.
A região de gel também apareceu no sistema utilizando o T2. Esta região surgiu devido ao
maior peso molecular do T2 quando comparado com o T1, 1310 e 1228 g/mol,
respectivamente, fazendo com que aumentasse a viscosidade do sistema e formasse,
consequentemente, a estrutura gel.
A Figura 8 (a), mostra o diagrama de fases para o sistema formado com solução salina,
óleo vegetal 2 (OV2) e tensoativo não-iônico (T1). Neste sistema foram observadas regiões
como emulsão, WI, WII e WIV. O diagrama da Figura 8 (b), utilizando a mesma fase aquosa
e oleosa da Figura 8 (a), entretanto, com o tensoativo 2 (T2), ocorreu o aparecimento de cinco
regiões: emulsão, WI, WII, WIII e WIV.
Figura 8. Diagramas ternários utilizando o sistema: solução salina, OV2, (a) T1 e (b) T2.
(a) (b)
586
O diagrama da Figura 9, obtido através da mistura do sistema composto por: solução
salina, OV2 e a razão OCS/Álcool =1 (tensoativo/cotensoativo), mostra quatro regiões: WII,
WIV, WIV + OCS (sólido) e uma região não solubilizada. O diagrama ternário utilizando as
mesmas fases aquosa e tensoativa, porém com o OV1 não foi concluído, pois a fase oleosa
não apresentou solubilidade adequada com a mistura de OCS/Álcool, em nenhuma proporção.
A partir dos resultados obtidos, foi possível observar que os diagramas de fases
ternários/pseudotérnarios apresentaram regiões de microemulsões diferenciadas, como WI,
WII, WIII, WIV, gel, emulsão, WIV+OCS, o qual pode ser explicado relacionando com o
tensoativo utilizado.
Dos sistemas microemulsionados, das Figuras 7, 8 e 9, foram escolhidos nove pontos
para ser realizada a análise reológica, como mostrado na Figura 10.
1 7
3 5 6 9
4 8
2
587
Na Tabela 1 abaixo, é possível verificar as porcentagens mássicas de cada
microemulsão escolhida.
Tabela 1. Pontos escolhidos para o estudo reológico, e suas respectivas frações mássicas
Pontos Escolhidos
Sistemas Pontos fFO fT fFA
Solução salina, T2, OV1 1 15% 35% 50%
2 15% 35% 50%
Solução salina, T1, OV1
3 50% 35% 15%
Solução salina, T2, OV2 4 15% 70% 15%
5 10% 40% 50%
Solução salina, T1, OV2 6 50% 30% 20%
7 20% 60% 20%
8 40% 40% 20%
Solução salina, OCS/Álcool = 1, OV2
9 10% 40% 50%
Figura 11. Reômetro Brookfiel LVDVIII Ultra utilizado para a determinação da viscosidade
das microemulsões.
Fonte: AUTORA
Diante do fato de que a maioria dos fluidos empregados na indústria de petróleo são
não-newtonianos, têm-se que grande parte das microemulsões, estudadas neste artigo, podem
ser aplicadas em determinados processos, uma vez que apresentaram comportamento de tais
fluidos.
588
Os pontos 1 e 2, Figuras 12 e 14, respectivamente, podem ser classificados como fluidos
de potência com limite de escoamento, também conhecido através do Modelo de Herschel-
Bulkley, apresentando três parâmetros reológicos: 0 (D/cm2), limite de escoamento real; n,
índice de fluxo; e, K (D.s/cm²) índice de consistência.
Figura 12. Análise do ponto 1 pelo Modelo de Herschel-Bulkley nas temperaturas de: A)
30°C; B) 40°C; C) 50°C; D) 60°C; E) 70°C.
A B
C D
589
ocorre o movimento desordenado das moléculas, que aumenta a distância entre as micelas
adjacentes, diminuindo o volume das micelas e, consequentemente, diminuindo sua
viscosidade.
5000
Viscosidade (mPa.s)
500
50
1 10 100
Taxa de Cisalhamento (1/s)
30 °C 40 °C 50 °C 60 °C 70 °C
Figura 14. Análise do ponto 2 pelo Modelo de Herschel-Bulkley nas temperaturas de: A)
30°C; B) 40°C; C) 50°C; D) 60°C; E) 70°C.
A B
A
C D
590
E
5000 Log-log
Viscosidade (mPa.s)
30 °C
40 °C
500 50 °C
60 °C
70 °C
50
1 10 100
Taxa de Cisalhamento (1/s)
591
Figura 16. Análise (ponto 3) pelo Modelo de Herschel-Bulkley nas temperaturas de: A)
30°C; B) 40°C; C) 50°C; D) 60°C e, à 70°C, pela análise do modelo de: E) Herschel-Bulkley
e F) Bingham.
A B
C D
E F
592
Figura 17. Relação da Viscosidade com a Taxa de Cisalhamento a diferentes temperaturas
(ponto 3).
Log-log
5000
Viscosidade (mPa.s)
30 °C
40 °C
500 50 °C
60 °C
70 °C
50
1 10 de Cisalhamento 100
Taxa (1/s) 1000
Figura 18. Análise do ponto 4 pelo Modelo de Herschel-Bulkley nas temperaturas de: A)
30°C; B) 40°C; C) 50°C; D) 60°C; E) 70°C.
A B
E
C D
593
E
Log-log
Viscosidade (mPa.s)
5000
30°C
500 40°C
50°C
60°C
50
70°C
1 10 100 1000
Taxa de cisalhamento (1/s)
A Figura 20, referente ao ponto 5, mostra que apenas nas temperaturas de 40 e 60°C, o
Modelo de Herschel-Bulkley possui melhores ajustes. Em 30°C, o valor da tensão de
cisalhamento tornou-se constante a taxa de deformação acima de, aproximadamente, 110 s-1.
Nas temperaturas de 50 e 70°C, a partir de 115 e 108 s-1, respectivamente, a relação entre a
tensão e a taxa, apresentou um comportamento linear.
594
Figura 20. Análise do ponto 5 pelo Modelo de Herschel-Bulkley nas temperaturas de: A)
30°C; B) 40°C; C) 50°C; D) 60°C; E) 70°C.
A B
C D
595
Figura 21. Relação da Viscosidade com a Taxa de Cisalhamento em diferentes temperaturas
(ponto 5).
Log-log
Viscosidade (mPa.s)
500
30 °C
40 °C
50 °C
60 °C
70 °C
50
1 10 100 1000
Taxa de Cisalhamento (1/s)
Figura 22. Análise do ponto 6 pelo Modelo de Herschel-Bulkley nas temperaturas de: A)
30°C; B) 40°C; C) 50°C; D) 60°C; E) 70°C.
A B
596
C D
Log-log
4000
Viscosidade (mPa.s)
30 °C
40 °C
400 50 °C
60 °C
70 °C
40
1 10 100 1000
Taxa de deformação (1/s)
597
Observando a Figura 24, foi verificado que as temperaturas de 30 a 60°C, referente ao
ponto 7, obtiveram bom ajuste ao Modelo de Herschel-Bulkley. Em 70°C, a microemulsão
não se ajustou ao modelo, porém, também analisando a Figura 25, em que a partir de,
aproximadamente, 80 s-1, a curva de viscosidade apresentou um comportamento diferente das
outras temperaturas.
Figura 24. Análise do ponto 7 pelo Modelo de Herschel-Bulkley nas temperaturas de: A)
30°C; B) 40°C; C) 50°C; D) 60°C; E) 70°C
A B
C D
598
A viscosidade da microemulsão, em relação à taxa de cisalhamento (Figura 25),
diminuiu com o aumento da temperatura, mostrando o comportamento de um fluido
pseudoplástico.
5000 Log-log
Viscosidade (mPa.s)
30 °C
40 °C
500 50 °C
60 °C
70 °C
50
1 10 100
Taxa de deformação (1/s)
Figura 26. Análise do ponto 8 pelo Modelo de Herschel-Bulkley nas temperaturas de: A)
30°C; B) 40°C; C) 50°C; D) 70°C (O programa não forneceu o gráfico referente ao modelo na
temperatura 60°C).
A B
599
C D
Log-log
70
Viscosidade (mPa.s)
30 °C
40 °C
50 °C
60 °C
70 °C
7
1 10 100 1000
Taxa de Deformação (1/s)
600
Figura 28. Análise do ponto 9 pelo Modelo de Herschel-Bulkley nas temperaturas de: A)
30°C; B) 40°C; C) 50°C; D) 60°C; E) 70°C.
A B
C D
601
água, O/A), com 10% FO – 40% FT – 50% FA. Neste caso, o tensoativo sofreu grande
interferência do sal (NaCl), se empacotando ainda mais com o aumento da temperatura e se
dilatando.
100
Log-log
Viscodidade (mPa.s)
30 °C
40 °C
10
50 °C
60 °C
70 °C
1
1 10 100 1000
Taxa de Deformação (1/s)
Conclusões
A escolha dos pontos das regiões de microemulsão foi realizada com o objetivo de
obter as menores frações mássicas possíveis de tensoativo, uma vez que, dentre os três
constituintes da microemulsão, ele apresenta o maior custo. As microemulsões foram
escolhidas, de modo comparativo, para apresentarem composições aproximadamente iguais.
O estudo reológico das microemulsões foi realizado, basicamente, através da
verificação das relações entre a tensão de cisalhamento e viscosidade com a taxa de
deformação. A partir dessas relações, os fluidos puderam ser classificados em: Bingham,
Herschel-Bulkley, dilatantes ou pseudoplástico. A maioria dos fluidos utilizados na indústria
de petróleo está entre os modelos de Bingham e do Herschel-Bulkley.
Nas análises realizadas, pode-se concluir que, na maioria das microemulsão estudadas,
o modelo de fluido não newtoniano que obteve os melhores resultados foi o de Herschel-
Bulkley. Apenas no ponto 3, na temperatura de 70°C, o modelo de Bingham obteve melhor
resultado do que o pseudoplástico. Estes resultados indicam que as microemulsões
determinadas podem ser utilizadas tanto para o aumento do fator de recuperação de petróleo,
pois apresentam viscosidade e comportamento adequados para terem boas eficiências de
varrido e de deslocamento de petróleo.
Referências
602
DALTIN, D. Tensoativos: química, propriedades e aplicações. São Paulo: Blucher, 2011.
603
CONCEPÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE UM AMPLIFICADOR DE BAIXO
RUÍDO (LNA) EM 2,4 GHZ UTILIZANDO TECNOLOGIA CMOS DE 180 NM
Resumo
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Concepção de Circuitos Integrados Analógicos com Baixo
Consumo de Energia / Concepção e Caracterização de um Amplificador de Baixo Ruído (LNA) em 2,4 GHz
Utilizando tecnologia CMOS de 180 nm
Estudante de Iniciação Científica: Elmo Luiz Fechine Sette (e-mail: elmo.sette@cear.ufpb.br)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail:cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientador: Antonio Augusto Lisboa de Souza (e-mail: antoniosouza@cear.ufpb.br)
Co-orientador: Emmanuel Benoit Jean Baptiste Dupouy (e-mail: emmanuel.dupouy@gmail.com)
604
A maioria dos transceptores opera com uma impedância de terminação característica,
geralmente 50 Ω (RAZAVI, 2012). Um requerimento adicional é o baixo consumo de
potência, que é especialmente importante para sistemas de comunicação alimentados por
bateria (SHAEFFER; LEE, 1997). O objetivo deste projeto é a concepção de um LNA que
atenda aos requesitos de desempenho supracitados no plano de trabalho. O desenvolvimento
do trabalho se deu através do estudo de conceitos fundamentais necessários para projetos
analógicos, e por simulações utilizando a ferramenta Cadence Design Systems, tanto para as
simulações do esquemático, quanto para o desenho do layout.
Fundamentação teórica
Topologias LNA
De forma geral, existem dois tipos de arquiteturas para amplificadores de baixo ruído
(LNA) em CMOS: saída única (saída simples) e saída diferencial.
Para o amplificador de saída diferencial obter um mesmo ganho do amplificador de saída
única, deve-se polarizar o amplificador com o dobro de corrente, sendo uma grande
desvantagem em termos de consumo de potência. Outra desvantagem do amplificador de
saída diferencial é a necessidade do uso de um balun, que é o elemento que dá a defasagem no
sinal proveniente do estágio anterior (antena ou filtro), uma vez que a entrada desse circuito
necessita de um sinal diferencial. Isto causa perdas adicionais que influem na figura de ruído
total do sistema.
O LNA deve apresentar uma impedância de entrada de 50 , afim de maximizar a
transferência de potência do sinal e para que os estágios que o precedem funcionem
corretamente. Existe uma dificuldade para se obter uma impedância de 50 na entrada do
LNA devido, principalmente, à capacitância intrínseca de entrada dos transistores MOS. A
figura a seguir apresenta os principais tipos de configurações para a obtenção de uma
impedância de entrada de 50 .
Figura 1. Obtenção de uma impedância de 50: (a) Terminação resistiva; (b) Terminação
1/gm; (c) Realimentação em série; (d) Degeneração indutiva.
605
O método de terminação resistiva Fig.1-a gera um bom casamento de entrada em faixa
larga ao custo de uma grande degradação da figura de ruído do LNA.
O método da Fig.1-b utiliza um transistor MOS porta comum como terminação de
entrada. Para obter a impedância necessária (50 ), faz-se uma seleção apropriada do
tamanho do transistor e da corrente de polarização. O que torna esta uma opção menos
atrativa é o fato da figura de ruído ser inversamente proporcional ao comprimento de canal do
transistor, assim a diminuição do tamanho do canal gera um aumento na figura de ruído, fator
indesejado para nossos objetivos.
A técnica de realimentação em série Fig.1-c tem um consumo de potência bem maior
pois é uma configuração de banda larga e não utiliza técnicas de sintonia de frequência LC
que reduzem o consumo. Outra desvatangem é a utilização de resistores, o que acarreta no
aumento da figura de ruído.
A exigência de baixo ruído nos leva ao uso de apenas um dispositivo ativo na entrada
do LNA (TELLI; ASKAS, 2004). Analisando os parâmetros de ruído de quadripolos
MOSFET, observamos que a impedância de fonte que rende o mínimo de fator de ruído é o
indutivo e geralmente não relacionado com as condições de máxima transferência de potência.
Além disso, é difícil fornecer um bom casamento de impedância (50 Ω) na fonte sem
degradar o desempenho do ruído, devido à impedância de entrada de um MOSFET ser
inerentemente capacitiva (LEE, 2004).
O melhor compromisso entre casamento de impedância e figura de ruído é conseguido
através da degeneração indutiva de fonte, mostrado na Fig.1-d, que permite a obtenção de
uma impedância de entrada real sem o uso de resistores.
Para simplificar a análise, consideramos um dispositivo modelo que inclui apenas gm e a
capacitância porta-fonte, cuja impedância de entrada tem a seguinte forma:
1 𝑔𝑔𝑚𝑚 𝐿𝐿𝑠𝑠
𝑍𝑍𝑖𝑖𝑖𝑖 = 𝑠𝑠𝐶𝐶 + 𝑠𝑠(𝐿𝐿𝑆𝑆 + 𝐿𝐿𝑔𝑔 ) + (1)
𝑔𝑔𝑔𝑔1 𝐶𝐶𝑔𝑔𝑔𝑔1
1
+ 𝑠𝑠(𝐿𝐿𝑠𝑠 + 𝐿𝐿𝑔𝑔 ) = 0 (2)
𝑠𝑠𝐶𝐶𝑔𝑔𝑔𝑔1
𝑔𝑔𝑚𝑚 𝐿𝐿𝑠𝑠
= 50Ω (3)
𝐶𝐶𝑔𝑔𝑔𝑔1
606
Parâmetros de espalhamento (parâmetros S)
𝑏𝑏 𝑆𝑆 𝑆𝑆12 𝑎𝑎1
[ 1 ] = [ 11 ][ ] (4)
𝑏𝑏2 𝑆𝑆21 𝑆𝑆22 𝑎𝑎2
Onde S11, S12, S21, S22 são os parâmetros de espalhamento medidos entre a porta de
entrada e saída. Expandindo-se a matriz de espalhamento, as seguintes equações podem ser
escritas:
𝑏𝑏
𝑆𝑆11 = 𝑎𝑎1 , 𝑠𝑠𝑠𝑠 𝑎𝑎2 = 0 (5)
1
𝑏𝑏
𝑆𝑆12 = 𝑎𝑎1 , 𝑠𝑠𝑠𝑠 𝑎𝑎1 = 0 (6)
2
𝑏𝑏
𝑆𝑆21 = 2 , 𝑠𝑠𝑠𝑠 𝑎𝑎2 = 0 (7)
𝑎𝑎 1
𝑏𝑏
𝑆𝑆22 = 𝑎𝑎2 , 𝑠𝑠𝑠𝑠 𝑎𝑎1 = 0 (8)
2
Onde S11 é o coeficiente de reflexão de entrada, S12 é o ganho reverso, S21 é o ganho
direto e S22 é o coeficiente de reflexão da saída, parâmetros os quais serão de fundamental
importância ao projeto do LNA.
607
Metodologia e análise
608
Escolha dos indutores
O indutor de degeneração (Ls) deve ser o menor valor possível, pois de acordo com a
Eq.(3), quanto menor for Ls, maior tem que ser gm para que a igualdade de 50 Ω se matenha,
gerando assim um maior ganho. Lg deve ser idealmente grande, aperfeiçoando o desempenho
do circuito em termos de ruído. De acordo com a Eq. (2), a soma do indutor da porta (Lg) e do
indutor da fonte (Ls) é constante, então quanto menor for Ls, maior tem que ser Lg. A escolha
das indutâncias foi feita da seguinte forma (Fig.5).
609
Figura 6. Casamento de impedância na entrada (S11) utilizando a carta de Smith.
610
Estabilidade
O LNA pode se tornar instável devido à presença de caminhos de realimentação da
saída para a entrada para certas combinações de impedâncias de entrada e saída. Para testar a
estabilidade do circuito, nós utilizamos os parâmetros K e ∆ (RAZAVI, 2012).
Estágio cascode
Estágio cascode também é utilizado nesta topologia (M2), devido a sua capacidade de
melhorar o isolamento reverso (S12) e também por reduzir o efeito de Cgd (capacitância gate-
dreno) do transistor principal (LEE, 2004).
611
Análise da figura de ruído
Uma das principais especificações de um LNA é a sua figura de ruído. Ela é
responsável pela relação sinal-ruído quando o sinal atravessa o dispositivo, e corresponde ao
fator de ruído expresso em dB. A figura de ruído total do circuito é extraida após a adição de
todos os componentes do LNA.
Circuito esquemático
Após seguir todos os passos de desenvolvimento e todos os estudos citados
anteriormente, chegamos ao seguinte circuito esquemático.
A figura a seguir mostra a relação final (em dBs) das principais características do
LNA, ganho (S21), isolamento reverso (S12), casamento de entrada (S11), casamento de saída
(S22) e figura de ruído (NF) em 2.4GHz. Vale ressaltar que os resultados em dB de S11, S12,
S22 e NF quanto menores melhor e que o resultado em dB de S21(ganho) quanto maior melhor.
612
Layout
Foi utilizado para o desenho do layout a mesma ferramenta utilizada para as
simulações do esquemático (Cadence). Através de simulações DRC (Design Rules Check),
projeta-se o layout respeitando as regras da tecnologia utilizada. Foi comprovado através de
simulações LVS (Layout vs Schematic) que o layout do LNA corresponde perfeitamente ao
esquemático proposto. Logo após foram feitas simulações para a extração de todos os
parasitas PEX (Parasitic Extraction), de forma a obter-se o real desempenho deste circuito,
apresentados na tabela a seguir. O layout final juntamente com outras estruturas de testes é
apresentado na Fig.11.
Parâmetro
Valor
(@ 2.4 GHz)
S11 -26.567 dB
S12 -44.96 dB
S21 9.96 dB
S22 -9.6 dB
NF 2.09 dB
Consumo de Potência 11.7mW
613
Caracterização
O LNA foi enviado para fabricação através de um convênio da MOSIS, três meses
depois recebemos os circuitos integrados (CI) sem encapsulamento e com encapsulamento.
614
Mede-se a atenuação gerada por todo o setup que inclui o gerador de sinais, cabos,
conexões, substrato e analisador de espectro. Para um LNA de 2.4 GHz por exemplo monta-se
uma tabela como a seguir.
Figura 15. Resultados pós-layout (vermelho) e do LNA final sem encapsulamento (azul).
615
Figura 16. S21(ganho) para três amostras do LNA.
Este circuito foi concebido para funcionar com uma tensão de 1,8 V de alimentação.
Fig.17 apresenta o S21 (ganho) medido sob diferentes tensões de alimentação.
Figura 17. S21 sob diferentes tensões de alimentação: 1,6 V (verde), 1,8 V (azul claro), 2 V
(azul) e 3 V(rosa).
616
Observa-se um aumento contínuo no ganho à medida que se aumenta a tensão de
alimentação e, simultaneamente, percebe-se que o circuito opera normalmente com uma
alimentação de até 3 V. Na Tabela a seguir é comparado o desempenho deste LNA com
outros trabalhos publicados.
Logo em seguida foi feito o primeiro demonstrador utilizando uma placa de circuito
impresso (PCB do inglês, Printed Circuit Board).
A seguir foi comparado (Fig.19) os resultados das simulações pós-layout, das medidas
do circuito sem encapsulamento (“on wafer”) e das medidas do circuito com encapsulamento
e na placa (PCB).
Por último foi feito a caracteriazação da figura de ruído do LNA utilizando o circuito
com encapsulamento e placa PCI, apresentados na Fig.20.
617
Figura 19. Desempenho do LNA, pós-layout (vermelho), sem encapsulamento (azul) e com
encapsulamento (verde).
Conclusão
618
Medidas atuais apresentam um ganho de 7.7 dB em 2.24 GHz com uma boa adaptação de
entrada e saída para um consumo de potência de apenas 11.7 mW. Em seguida a figura de
ruído do LNA foi caracterizando utilizando um setup que incluia uma placa de circuito
impresso (PCB). A figura de ruído do LNA medido com encapsulamento e na placa de
circuito impresso foi de aproximadamente 3,4 dB em 2,24 GHz (Fig.20).
Ao que nos consta, até a época de apresentação deste trabalho (2015), este foi o
primeiro circuito LNA completamente integrado e plenamente caracterizado do nordeste
brasileiro. Os resultados deste trabalho foram apresentados no Chip in Bahia em setembro de
2015 (SETTE et al., 2015), maior conferência de microeletrônica no Brasil.
Referências
SHAEFFER, D. K. and LEE, T. H. A 1.5V, 1.5 GHz CMOS Low Noise Amplifier. IEEE
Journal of Solid-State Circuits, Vol. 32, No. 5, p. 745-759, 1997.
TELLI, A. and ASKAR, M. CMOS LNA Design for System-on-chip Receiver Stages. In:
2004 Topical Meeting on Silicon Monolithic Integrated Circuits in RF Systems, 2004. p. 171-
174.
WU, J., LIN, Y. and TSAI, Y. A sub-mW CMOS LNA for WSN Applications. In: 2012
Asia-Pacific Microwave Conference Proceedings (APMC), 2012. p. 899-901.
CHEN, L., LI, Z. and WANG, Z. A 0.5 V CMOS LNA for 2.4-GHz WSN application. In:
2010 International Symposium on Signals Systems and Electronics (ISSSE), Vol. 1, 2010. p.
1-4.
SETTE, E., SALDANHA, R., SOUZA, A. and DUPOUY, E. Design and Characterization
of a 2.4 GHz LNA in 180 nm CMOS Technology. In: Proceedings of the 15th
Microelectronics Students Forum (SFORUM 2015), 2015.
619
LINGUÍSTICA, LETRAS E ARTES
MARCAS DA LÍNGUA MATERNA E DA LÍNGUA PATERNA
EM GÊNEROS JORNALÍSTICOS DO SÉCULO XIX e XX À LUZ DO
MODELO DA TRADIÇÃO DISCURSIVA E DA SOCIOLINGUÍSTICA
Resumo
Apresentação
Nosso estudo repousa sobre textos de jornais impressos paraibanos dos séculos XIX e
XX, levando em consideração que o jornal era um dos mais importantes e influentes meios de
comunicação em massa desses séculos e era, fortemente, utilizado pela população para
publicar fatos, anúncios, notícias, comunicados, produções literárias etc. concretizando o que
foi dito por Bakhtin (2003) que em qualquer esfera de comunicação existem e se aplicam os
seus próprios gêneros. Isto posto, podemos afirmar, também, que os textos encontrados nos
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Presença da Língua Portuguesa nos jornais no Brasil com
língua paterna e com língua materna: estudo à luz do modelo da Tradição Discursiva e da Sociolinguística/
Marcas da língua materna e da língua paterna em gêneros jornalísticos do século XIX ao século XXI à luz do
modelo da Tradição Discursiva e da Sociolinguística.
Estudante de Iniciação Científica: Andressa Dantas da Silva.
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientadora: Roseane Batista Feitosa Nicolau(e-mail:rosenicolau.ufpb@gmail.com)
621
jornais paraibanos, revelam uma faceta do conhecimento linguístico-textual e discursivo da
sociedade da época no que diz respeito à língua portuguesa em uso.
A língua é uma herança sociocultural, entretanto não a usamos tal qual era usada por
nossos antepassados, ou seja, a língua é mutável e flexível, por isso, se diz que ela varia e,
depois, pode até mudar. Corroborando com o que foi dito, Murrie, (2004, p.15), afirma que a
variação “[...] é a seiva que mantém a língua viva e de que é impossível impedi-la, por mais
que tente fossilizar a língua, ditando regras a serem seguidas, ela sempre surpreende com sua
diversidade”. Complementando como Leite e Callou (2002), “a variação linguística é um
retrato da vivência social dos indivíduos”. A língua, além de se diversifica no tempo, se
diversifica também no espaço social, pessoal ou interpessoal. Mas, a língua, também, se
mostra como uma imposição social, como uma entidade não só cultural, mas também política.
Neste trabalho, trataremos aqui da diferença existente entre o que se entende como
língua materna em oposição a um conceito teórico ainda em discussão que passou a ser
chamado de língua paterna. Destacamos que os termos “Língua Materna” e “Língua Paterna”
foram empregados inicialmente por um estudioso francês Bernard Cerquiglini, (apud
BAGNO, 2011) com os seguintes sentidos:
A língua materna caracteriza-se por ser aquela apreendida no seio familiar,
genuinamente falada e ouvida por pessoas do convívio do lar e vive às margens da norma
padrão. E a língua paterna seria a norma padrão, ou seja, a língua oficializada e normatizada
pelos governantes. Muitas vezes é a forma considerada canônica e possui grande prestígio em
meio a sociedade, apresentando uma gramática formalizada e que deve ser seguida.
No caso da língua português oficial do Brasil esta ainda segue padrão da elite do
século XIX, que gerou uma certa discrepância entre o português falado e escrito no Brasil até
o século atual, conforme Pagotto (1998). Também tratando sobre essa questão, Perini (1997;
2006) afirma que “há duas línguas no Brasil: uma que se escreve (e que recebe o nome de
“português”) e outra que se fala (e que é tão desprezada que nem tem nome)”.
Nos gêneros jornalísticos, podemos perceber o que há de mais puro e real na Língua
Portuguesa em uso, qual a variedade predominante na língua, é provavelmente observar traços
da forma materna ou a paterna. Diante da inegável riqueza linguístico-histórica dos textos
publicados nos jornais, no século XIX e XX e, até nos dias de hoje, e da constatação da
discrepância entre o português falado e escrito no Brasil, iremos fazer uma breve análise de
alguns desses textos jornalísticos, dos séculos pretéritos, aqui mencionados, tendo como
prisma teórico o modelo de estudo da Tradição Discursiva, nas ideias assinaladas por Kabatek
(2005), a Sociolinguística e os aspectos apontados por Bernard Cerquiglini (apud BAGNO,
2011).
Assim, nesse estudo, vamos buscando identificar traços das duas formas língua: a
língua materna, que seria o português falado no Brasil, e da língua paterna, que ainda segue a
elite do século XIX, com todas as imposições e regras, que vêm a ser a norma-padrão, que
deve ser aprendida, utilizada e reproduzida, sobretudo na escrita, e é esperada nos jornais,
produzidos pela sociedade da época.
Deste modo, nossa proposta é analisar o que nos trazem os jornais paraibanos dos
séculos passados acerca das formas materna e paterna da língua, observando as variações
linguísticas da língua pretérita, dos nossos antepassados. Nessa análise, nas folhas amarela,
manchas e esfareladas, vamos estudar além dos aspectos linguísticos, os aspectos sócio-
622
histórico-ideológicos por meio dos gêneros da época, por meio e de suas marcas linguísticas.
Destacamos que esse estudo é incipiente devido a ser uma pesquisa de iniciação científica.
623
educação institucionalizada; mas grande questão é que, impera ainda uma supervalorização da
língua normatizada, nos moldes europeu que tem causado muitos problemas ao povo
brasileiro, ao ponto de dizer que muitos não falam o português correto, gerando preconceito e
discriminação. Nesse sentido, na nossa análise, pretendemos observar os textos dos séculos
nos quais se consolidaram português do Brasil, como língua materna, que se sobressai com
sua flexibilidade, diante uma normatização imposta pela elite do século XIX, mas que se
estabelece com novas normas que unificam a língua como uma língua de uma nação brasileira
e, também, colabora para que a língua desempenhe sua função precípua, a socialização em
toda a sua diversidade e variedade.
A Sociolinguística estuda as conexões entre linguagem e sociedade e o modo como
usamos a linguagem em diferentes situações sociais. Para os sociolinguistas, nas comunidades
de fala, frequentemente, existirão formas linguísticas em variação. Em toda comunidade de
fala são frequentes as formas linguísticas em variação. A essas formas em variação dá-se o
nome de variantes. “Variantes linguísticas são diversas maneiras de se dizer a mesma coisa
em um mesmo contexto e com o mesmo valor de verdade. A um conjunto de variantes dá-se o
nome de variável linguística”. (TARALLO, 1997, p.8). Elas podem ser:
b) Social (ou diastrática) que pode ser observada através da comparação entre os
modos de falar das pessoas de diferentes classes sociais. Neste tipo de variante,
existem fatores (grau de escolaridade, nível socioeconômico, sexo/gênero, faixa
etária) que podem ajudar na identificação e discriminação das variações
encontradas em decorrência dos fatores sociais; e
624
abordagem esclarecedora sobre isso, indica que existem “várias normas linguísticas”,
entendendo-se a palavra “norma” como atitudes comuns, consideradas aceitáveis por uma
comunidade.
[...] os grupos sociais se distinguem pelas formas de língua que lhe são de
uso comum. Numa sociedade diversificada e estratificada como a brasileira,
haverá inúmeras normas linguísticas, como, por exemplo, a norma
característica de comunidades rurais tradicionais, aquela de comunidades
rurais de determinada ascendência étnica, a norma característica de grupos
juvenis urbanos, a(s) norma(s) característica(s) de populações das periferias
urbanas, a norma informal da classe média urbana e assim por diante.
(FARACO, 2004, p. 38).
Assim, falando-se objetivamente, existe uma necessidade até mesmo política (no sentido da
polis grega) de se estabelecer uma normatividade no seio da sociedade, a fim de se balizarem
alguns conceitos em relação aos usos linguísticos sociais que possam ser compreensíveis a
todos os cidadãos de um determinado agrupamento humano e que auxiliem no manejo dos
bens culturais mediados pela língua, como narrativas orais, documentos escritos oficiais,
comunicações gerais, etc. Afinal:
Tradição Discursiva
O conceito de Tradição Discursiva (doravante TD) surgiu em pesquisas da linguística
625
alemã, sob forte influência dos estudos de Eugenio Coseriu. A Tradição Discursiva
fundamenta-se segundo Kabatek (2005) na relação temporal de um texto em um determinado
tempo da história com outro texto anterior. Para que uma TD seja estabelecida é necessário
que a forma linguística seja repetida e esteja relacionada a evocações, que por sua vez, estão
ligadas aos fatores sociais e culturais dos falantes.
Entendemos por Tradição Discursiva (TD) a repetição de um texto ou de uma forma
textual ou de uma maneira particular de escrever ou falar que adquire valor de signo próprio
(portanto é significável). Pode-se formar em relação a qualquer finalidade de expressão ou
qualquer elemento de conteúdo, cuja repetição estabelece uma relação de união entre
atualização e tradição; qualquer relação que se pode estabelecer semioticamente entre dois
elementos de tradição (atos de enunciação ou elementos referenciais) que evocam uma
determinada forma textual ou determinados elementos linguísticos empregados (KABATEK,
2005, p.8).
Essa teoria se encaixa nos estudos sobre as transformações e sobre as mudanças dos
gêneros textuais contidos no acervo da memória discursiva dos falantes de determinada
língua. Ou seja, quando falamos ou escrevemos, modelamos nosso dizer de acordo com
tradições textuais contidas no acervo da memória cultural de sua comunidade, conforme uma
maneira tradicional de dizer ou de escrever.
Nesta pesquisa fizemos um recorte de alguns gêneros de divulgação pública para
nosso objeto de estudo, os quais são os anúncios, os apedidos e os editais. São textos
encontrados em jornais, para públicos específicos ou não, que muitas vezes, tratavam de
assuntos do interesse de todos. Textos bastante comuns de serem encontrados nos jornais,
uma vez que, versavam assuntos do interesse do povo e trazem também o português do Brasil/
no Brasil por meio do texto escrito.
Anúncios
Os anúncios nascem da necessidade da população de comunicar-se e, nos séculos XIX
e XX, o jornal era um dos únicos meios de comunicação que alcançava quase toda a
sociedade, observamos que através dos Anúncios de jornais desses séculos, além de
conhecermos seu contexto linguístico-discursivo podemos também reconhecer o contexto
sócio-histórico.
O gênero anúncio é conceituado como sendo um texto público, e que, através dele,
seriam divulgados produtos ou serviços para a população; porém, no século XIX, não eram
divulgados apenas produtos para comercialização, também eram anunciadas informações do
626
interesse de terceiros, como por exemplo, fuga de escravos, furto de objetos pessoais etc. Para
Aldrigue e Nicolau (2009), os anúncios representam, de forma geral, impressos relativos às
necessidades da comunidade de divulgar fatos e desejos de compra e venda de forma pública.
No início do século XIX, divulgando necessidades básicas: moradia, educação, produtos
alimentícios; depois, necessidades impostas pela sociedade de consumo primando pelo status,
beleza e conforto.
Esse gênero tinha várias páginas dos jornais que eram dedicadas a ele, nestes espaços
eram divulgados vários tipos de anúncio, porém, eles não possuíam um formato padrão, cada
pessoa preenchia seu espaço como desejava, a maioria apenas com textos escritos, eram
poucas as ilustrações.
Apedidos
O gênero Apedido, também conhecido como Publicações a pedido, são textos
encontrados nos jornais do século XIX e início do século XX, que tratava de diversos
assuntos do interesse do público, como avisos, comunicados etc. Esse tipo de texto era escrito
por qualquer pessoa, assinante ou não do jornal, que desejasse publicar fatos de seu interesse
e que achava conveniente torná-los públicos. O espaço destinado aos apedidos muitas vezes
era usado para debates e acertos entre leitores e, em muitas ocasiões, esses debates envolviam
vários jornais e causava bastante polêmica. Poderia ser também para expor um agra-
decimento, um pedido de desculpas, uma solicitação ou auxílio, um pequeno texto poético de
autoria popular; mas, por outro lado, esse espaço era utilizado, também, como veículo de
desforras ou canal aberto para cobrar providências diversas às autoridades.
Por ser escrito por vários tipos de pessoas, desde as pessoas mais simples as mais
nobres, esse gênero carrega um traço muito pessoal, ou seja, as marcas linguísticas do
português brasileiro da época aparecem nitidamente nas publicações apedidos, nos levando a
ver uso concreto da língua nesse período.
Editais
O gênero Edital é um escrito oficial, deliberado por autoridades jurídicas ou
administrativas que tem por finalidade informar ao público, interessado ou não, diversos tipos
de avisos, atos, leis etc., ou meramente para cumprir um requisito legal. Os Editais
começaram a ser divulgados em cartazes afixados em locais de públicos de grande circulação
de pessoas e no século XIX começaram a ser publicados nos jornais, e desde então garantiram
seu espaço.
São vários os tipos de Editais, na composição do nosso corpus pudemos observar essa
diversidade tipológica, isso se justifica com a classificação de Medeiros (1999) que os
distribuiu em Edital de Licitação, Proclama de Casamento (mais conhecido como Proclamas),
Editais do poder judiciário, Editais de Hastas Públicas, Editais de leilões e Edital de concurso.
Nos jornais do século XIX os “Editaes”, como geralmente eram escritos, constituíam
publicações frequentemente encontradas, por serem textos oficiais tinham seu espaço
segurado.
Esse gênero traz muitas das características dos modelos trazidos dos jornais europeus
sobretudo de Portugal. No caso dos Editais, percebe-se que o redator desse gênero reveste de
todo um arcabouço de fórmulas, definições, regras escritas e imposições colocadas pela língua
627
padrão de uma sociedade europeia, patrocinada pelo Estado Brasileiro, mediada pela escola e
pelos puristas.
Seguindo o caminho das Tradições Discursivas, em nossa pesquisa veremos que
alguns gêneros de divulgação pública se transformaram com a passagem do tempo e alguns
até desaparecem, dando lugar a outros gêneros, assim como Kabatek (2005) explica que as
TDs são transformadas ao longo do tempo, e podem mudar totalmente até se converterem em
outra realidade totalmente diferente da inicial.
Metodologia e Análise
628
Quadro 01. Gêneros de Jornais selecionados para análise.
SÉCULOS/ CARTA DE
ANÚNCIOS APEDIDOS EDITAIS
GÊNEROS LEITORES
Jornal O Jornal O Jornal Gazeta
Conservador, 01 Conservador, 09 da Parahyba, 18
de abril 1876. de outubro de de maio de
SÉCULO
1875. 1888.
XIX
Jornal O Jornal O
Publicador, 02 de Publicador, 29 de
março de 1882. setembro de 1862.
Jornal O Norte, O Jornal, 05 de Jornal A União,
23 de maio de janeiro de 1924. 01 de junho de
SÉCULO 1908. 1932.
XX Jornal A
República, 30 de
dezembro 1906.
Fonte: autores
Com base nas pesquisas sobre Normatização da língua vigente no período em estudo,
em gramáticas e estudos sobre o português do Brasil, elencamos algumas marcas da presença
da língua materna e paterna:
a) No que concerne ao uso do gerúndio, é sabido que no português esse uso resultado
de perdas e ganhos de terreno; de um lado atesta-se a vitória dessa forma em
alguns contextos, de outro, observa-se a restrição de seu uso. O gerúndio teve no
seu emprego limitando, no texto escrito em Língua Portuguesa, sendo substituído
pelo infinitivo com toda a espécie de preposições, em Portugal e no Brasil no
século XIX. Entretanto, observamos, nos textos analisados, o uso desse termo,
talvez porque os responsáveis pelos textos não tiveram acesso à língua paterna,
apresentaram o uso do gerúndio visto como arcaico pelos portugueses. Este fato
merece um estudo mais amplo.
De acordo com a Gramática Histórica da L. Portugueza, Said Ali (1921 p.160) “as
gramáticas normativas portuguesas não consideravam as formas gerundivas”; porém, aqui,
encontramos essas formas, nos textos dos anúncios de jornais, como podemos atestar nos
seguintes exemplos: “Acceitam encommendas garantindo| que ninguem o satisfará
melhor...” (Anúncio, 1908). “Contendo uma rica escolha de a-| nedoctas e pequenos artigos
de curio-| sidade”. (Anúncio, 1882). Isso demonstra que o gerúndio, pode ser visto com uma
marca que mostra o distanciamento do uso da língua oficial, paterna, dita pela gramática
normativa e que também pode está ligado ao grau de formalidade dos gêneros.
629
confusão, como mostra-nos a tabela da Gramática Expositiva, de Pereira (1907 p.
44):
Gôsto Gósto
Zêlo Zélo
Dúvida Duvída
Contínua Continúa
Fôrma Fórma
Fôra Fóra
Isto nos mostra que o nosso idioma materno traçou caminhos de divergências em
comparação a Língua paterna (oficial) que nos foi imposta, sobretudo, pela oficialização da
língua portuguesa e pela elite do século XIX.
630
Há uma distância entre as formas usadas nos textos produzidos por brasileiros pouco
letrado, no caso, os anúncios; e, os editais, produzidos pelos tinham estudado na cartilha e nas
gramáticas normativas. Entretanto, há também um assentamento de certos usos nas camadas
mais escolarizadas e, isso, causou certo distanciamento nas normas imposta pelos gramáticos
do século XIX, que tinha a proposta de manter proximidade com a cultura europeia e, assim,
se manter distante da cultura popular do Brasil.
Este era o projeto de nação da elite do século XIX, cujo modelo a seguir, no que se
refere a língua, era o da norma culta do português moderno. E o acesso a essa norma se dava a
partir da escola e sua manutenção foi acatada, conforme Pagotto (1998), pelo discurso
científico.
Podemos afirmar, sem dúvidas, que a realidade linguística do português do Brasil é
heterogênea, variável e de certa forma complexa. Esta complexidade da língua portuguesa
falada no Brasil, em parte, é fruto da maneira como o país foi colonizado e povoado; e,
consequentemente, como a língua portuguesa foi assimilada na vastidão do território
brasileiro. Sendo assim, a Língua Portuguesa, que nos foi imposta pelos colonizadores, foi se
transformando numa língua brasileira miscigenada e se tornando o que é hoje, uma língua ao
mesmo tempo homogênea, no sentido que todos se entendem; e heterogênea, no sentido que
surgiu de uma formação populacional de várias origens (indígena, africana e europeia) e que
apresenta variantes.
A partir da miscigenação tanto cultural quanto social, a língua portuguesa falada no
Brasil começou a se distanciar do modelo lusófono imposto de língua, em todos os aspectos.
E esse distanciamento pode ser observado nos textos impressos dos jornais do Brasil, com
estamos percebendo nas nossas análises. Deste modo, nossa pesquisa constata essas
transformações linguísticas, pela qual passou a língua portuguesa no Brasil, sendo atestada
nos jornais do século XIX e XX.
Conclusão
631
uso da língua portuguesa no/do Brasil, que já são, de certa forma, estudadas em disciplinas da
área de Língua Portuguesa por alunos do Curso de Letras.
Referências
SILVA NETO, Serafim da. Introdução ao estudo da língua portuguesa no Brasil. 2ed. Rio
de Janeiro: INL, 1963
XAVIER, Maria Elizabete Sampaio Prado. História da Educação: a escola no Brasil. São
Paulo: FTD, 1994.
ZOTTI, Solange Aparecida. Sociedade, Educação e Currículo no Brasil: dos jesuítas aos
anos de 1980. Campinas: Autores Associados, 2004.
COELHO, Izete Lehmkuhl. Para conhecer Sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2015.
KABATEK, Johannes: Tradições discursivas e mudança lingüística. In: Tânia Lobo (ed.):
Para a História do Português Brasileiro VI, Salvador: EDUFBA, (no prelo). Texto
apresentado no encontro PHPB em Itaparica, Bahia, setembro de 2004.
http://www.kabatek.de/discurso/itaparica.pdf. Acesso em 20 de julho.
LEITE, Yonne. CALLOU, Dinah. Como falam os brasileiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 2002.
632
MAXWELL, Kenneth. Marquês de Pombal - Paradoxo do Iluminismo. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1996.
MURRIE, Zuleika de Felice et al. Projeto Escola e Cidadania para Todos: Língua
Portuguesa. São Paulo: Editora do Brasil, 2004, 816 p. TARALLO, Fernando. A pesquisa
Sociolinguísta. São Paulo: Àtica, 1997, 96 p.
NISKIER, Arnaldo. Educação Brasileira: 500 anos de História. Rio de Janeiro: FUNARTE,
2001.
PEREIRA, Eduardo Carlos. Grammatica expositiva. São Paulo: Weiszflog Irmãos, 1907.
Exemplar nº 0641.
ANEXOS
633
naturalmente por engano, | um lenço finamente borbado em cambraia de li- | nho. E como não
tenha sido até hoje restituido á | sua donna, sem duvida porque a pessoa que o le- | vou ignora
onde ella mora, declaramos que podem | leval-o ao escriptorio desta folha, ao Largo de S. |
Frei Pedro Gonçalves n. 8, onde encontraráõ pes-| soa competente para recebel-o; do contrario
ver- | nos-hemos forçados a publicar o nome dessa pes- | soa, pois sabe-se quem é.
634
17 de Maio de 1888.|Eu Maximi-|ano Aureliano Monteiro da Franca, escrivão interino do jury
o escrevi. ||Antonio da Trindade A. Meira Henriques.||
635
CONTÍNUO VOCAL E EMBLEMAS
Resumo
Apresentação
637
de gesto e fala, assim como todas as outras modalidades de linguagem numa mesma matriz de
significação e como essa relação favorece a inserção da criança no processo de aquisição da
linguagem, além de mapear as produções linguísticas da criança sob influência da relação
gesto-vocal.
Para nos guiar teoricamente, alicerçaremos nossa discussão na ideia de que é por
meio da fala materna, que a mãe proporciona para a criança um contato maior com a
linguagem, isso ocorre já nos primeiros meses de vida enquanto a interação entre mãe e
criança está se efetivando pelo aleitamento materno, as primeiras trocas de olhares, as
expressões faciais, o contato físico, as produções gestuais e vocais da mãe inserem a criança
num primeiro contexto de linguagem, ou melhor, num contexto multimodal de linguagem.
Cavalcante (1999) afirma que é nesse contexto que surgem as primeiras
manifestações de fala atribuída e na medida em que a criança vai se apropriando efetivamente
da linguagem, a fala atribuída passa a acorrer com menor frequência e deixa de ser uma
prática exclusiva da produção materna e se introduz também nas produções da criança em
momentos de brincadeiras.
Fundamentação teórica
638
olhares diferenciados, prosódia e posturas corporais.
Os vários aspectos da linguagem passaram a ser investigados após essa nova
concepção de se entender linguagem, tal perspectiva entende a manifestação em diferentes
modalidades, o que a caracteriza como uma compreensão multimodal de linguagem, nesse
sentido a linguagem se consolida como um sistema sustentado na ação. As ações corporais
visíveis como o olhar, o toque, as expressões, e a gestualidade fazem parte desse sistema.
Quando falamos da construção significativa dos primeiros enunciados das crianças é
importante ressaltarmos a influencia que a interação mãe-bebê exerce nessa construção, pois
através dela é possível compreender o funcionamento multimodal da linguagem. Nesse
processo de trocas interacionas é possível percebermos as várias facetas da linguagem, sejam
elas gestuais ou vocais. Isto nos permite inferir que essa nova forma de compreender a
linguagem se divide e se compõe ao mesmo tempo, se divide do ponto de vista que são
modalidades distintas se levarmos em consideração suas especificidades, mas se compõem se
considerarmos que ambas são linguagem e que estão associadas para a construção de
significados. Para Bruner (1975 e 1983), o gesto é concebido no período pré-linguístico e
desaparece em função da fala, descrevendo-os como modalidades comunicativas que ocorrem
em períodos diferentes na aquisição da linguagem. Em contraponto a essa ideia McNeill
(1985) propôs a indissociação do gesto e fala, pois, segundo ele, essas modalidades de
linguagem ocorrem simultaneamente e são responsáveis pela construção da matriz
multimodal, no entanto é importante ressaltarmos que a composição dessa matriz multimodal
não está restrita apenas ao gesto e a fala, o que significa que o olhar, a prosódia, o ritmo de
fala e as variadas expressões corporais contribuem satisfatoriamente para sua efetivação.
Para compreendermos o gesto utilizamos como base teórica McNeill (2000), no qual
ele explica que esse termo necessita de uma observação, vista que não temos gesto no singular
e sim no plural o termo gestos designa movimentos consecutivos nomeados gestos. No
continuo elaborado por Kendon (1982) no qual ele categoriza os diversos gestos e expõe a
relação multimodal que ocorre entre gesto e fala. Tais gestos que aparecem no contínuo de
Kedon apresentado por McNeill (1985) são: a gesticulação, a pantomima, os gestos
emblemáticos, a(s) língua(s) de sinais. Kendon (1982) organiza seu contínuo a partir de quatro
relações estabelecidas entre gesto e fala: relação com a produção de fala (1); relação com as
propriedades linguísticas (2); relação com as convenções (3), relação com o caráter semiótico
(4), conforme tabela a seguir.
639
É importante ressaltarmos que as pesquisas de McNeill (2000) levaram em
consideração uso da linguagem pelo adulto, interessa-nos entender essa manifestação da
linguagem no infante.
Para isso a nossa análise se baseia em três das quatro colunas que compõe o continuo
de Kendon (1982), a coluna referente à Gesticulação, é caracterizada pelos gestos que
acompanham o fluxo da fala, envolvendo braços, movimentos da cabeça e do pescoço,
postura corporal e pernas, possuem marcas da comunidade de fala e marcas do estilo
individual de cada um. As Pantomimas são os gestos que representam ações do dia-dia que de
acordo com Kendon não ocorrem simultânea à produção de fala. Os Emblemas são os gestos
convencionais, os quais carregam consigo uma vasta carga da cultural do falante.
Analisando o contínuo de Kendon (Gesticulação - Pantomimas - Emblemáticos-
Língua de Sinais) da esquerda para a direita percebemos que há uma diminuição da
obrigatoriedade de fala compreendemos assim, presença de propriedades linguísticas
aumenta; os gestos individuais são substituídos por aqueles socialmente regulados.
(CAVALCANTE 2012, p.10)
Enquanto que para entendermos o contínuo vocal, utilizamos as considerações de
BARROS (2012) que apresenta quatro momentos para fala inicial do infante encontradas nas
interações entre mãe e criança. Como veremos a seguir:
BLOCOS DE
BALBUCIO JARGÃO HOLÓFRASE
ENUNCIADOS
640
quais, um dos termos é verbal e o outro buscado no contexto lingüístico mais amplo, através
de gestos corporais que aparecem como terceiro momento da produção do infante na proposta
de Barros (2012). Já o quarto momento acontece às manifestações dos Blocos de enunciados,
que apresentam alternância da produção de holófrases com enunciados completos. Nesse
momento a criança já é capaz de fazer pedidos, perguntas e produzir respostas mais longas
com significado completo, superando os enunciados holofrásticos (BARROS, 2012).
No entanto, é importante ressaltamos que tais momentos de produção vocal do infante
proposto por Barros, não ocorrem isoladamente, ou seja, a criança poderá balbuciar e produzir
jargões ao mesmo tempo, pode produzir blocos de enunciados ao mesmo tempo em que
produz holófrases, neste sentido a criança vai se inserindo no sistema linguístico. Partindo
disso, vários estudos que buscaram compreender como a interação entre mãe e criança
propicia a linguagem, estudos como o de Cavalcante (1999) mostra que a criança é inserida
no processo de aquisição da linguagem sob influência da fala materna, tal fala é denominada
por Cavalcante (1999) de manhês e se constitui como a fala materna dirigida ao bebê por
apresentar clareza, graus de repetitividade de simplificação, além de ser clara e breve sendo
aliada a modificação prosódica como frequência que varia. Scarpa (2012) afirma ter pelo
menos dois caminhos que a criança trilha para o primeiro vincula-se ao processamento,
discriminação e segmentação do fluxo de fala da língua da comunidade linguística a que
pertence já o segundo diz respeito às características fortemente prosódicas (e de qualidades de
voz) presentes nos enunciados dirigidos a ela.
Como vimos, vários estudos contribuem para a compreensão multimodal de linguagem
e tentam explicar como se dá a construção dessa matriz num contexto interacional social.
Nesse sentido, a aquisição permite que a criança se reconheça como sujeito ativo da
linguagem e passe a construir sua imagem do mundo pelo outro, o que nos remete a ideia do
Interacionismo Social, que por sua vez entende a interação social e as trocas comunicativas
entre a criança e seus interlocutores como base para o desenvolvimento linguístico, ou seja, a
fala que a criança está exposta (input) é vista como fator de aprendizagem da linguagem, por
esse motivo, uma das questões que se tem levantado é se a criança será atingida por toda
amostra linguística ou manifestações linguísticas ao seu redor ou se tais amostras irão
influencia na aquisição. Embora essa questão não tenha tido ainda uma resposta, as pesquisas
vêm mostrado uma segunda alternativa, a criança é afetada pela fala dirigida a ela. (SCARPA,
2001)
Scarpa (2012) vai dizer que há pelo menos dois caminhos que a criança trilha o primeiro
vincula-se ao processamento, discriminação e segmentação do fluxo de fala da língua da
comunidade linguística a que pertence, já o segundo diz respeito às características fortemente
prosódicas (e de qualidades de voz) presentes nos enunciados dirigidos à criança. Assim a
interação entre mãe e criança pode ser concebida como o berço da multimodalidade, pois já
nos primeiros dias de vida da criança podemos perceber a concretização da interação pelo
próprio ato de amamentar, pelas trocas de olhares, pelo ato da mãe de interpretar os diferentes
choros, as diferentes expressões faciais e corporais. Partindo disso podemos afirmar que o ser
humano constitui linguagem desde sua primeira mamada.
A interação entre mãe e criança ou/e cuidador, tem sido alvo de várias áreas
interessadas em entender como essa interação contribui para o desenvolvimento da criança.
Numa abordagem interacionista e multimodal sobre aquisição da linguagem, a interação entre
641
mãe e criança é de suma importância para que possamos entender como se dá o
desenvolvimento linguístico da criança e qual é o papel da mãe nesse processo. É perceptível
que a interação mãe-bebê se concretiza já nos primeiros dias de vida da criança. Isto ocorre
porque a mãe está a todo o momento tentando interpretar os diferentes choros, as várias
expressões faciais e corporais da criança que mesmo sem dominar as modalidades de
comunicação consegue interagir com a mãe. Acerca desta afirmação, vejamos:
Assim, podemos afirmar que é por meio da interpretação materna que a criança tem
seu primeiro contato com a linguagem. Nesse sentido a criança depende da mãe para se inserir
no contexto linguístico, uma vez que ela ainda não domina as modalidades linguísticas, a mãe
a insere por meio da articulação que faz com a língua, ou seja, por meio do deslocamento da
sua fala para a fala da criança.
Estes efeitos produzidos pela interpretação podem ser compreendidos como lugares
discursivos ocupados pela criança, ao longo de sua trajetória como falante. Desta
forma, um primeiro lugar seria a sua total dependência à fala do outro; uma segunda
posição seria a de submetimento ao próprio funcionamento da língua - processos
metafóricos e metonímicos6, e um terceiro, seria estranhamento de sua própria fala,
isto é, passar de interpretado a intérprete, quando surgem as auto-correções,
hesitações, etc. (Carvalho, 1995 e de Lemos, 1997 apud CAVALCANTE, 1999: 18).
Como vimos, a autora propõe que a criança passa por três momentos de deslocamento durante
sua trajetória linguística. Segundo a autora o primeiro seria o fato de a criança depender da
interpretação do adulto, nesse caso da mãe, que provoca o momento interação entre eles por
meio da sua interpretação, desse ponto de vista a produção vocal da mãe faz grande diferença,
uma vez que a criança está mais vulnerável a modalidade vocal do que as outras modalidades.
Para se inserir na língua, a segunda seria o submetimento do infante ao próprio funcionamento
da língua e por fim ela passaria pelo o estranhamento da própria língua, isto é passar de
interpretado para intérprete.
Para CAVALCANTE (1999) o deslocamento discursivo também se efetiva do ponto
de vista da fala dirigida a criança, em especial a fala materna. Vejamos o que Cavalcante
(1999) afirma sobre essa questão:
642
Desde os primeiros momentos de interações entre mãe e criança, percebemos que a
mãe observa as diferentes produções da criança. Nesse contexto a interação mãe-criança seria
a origem, as raízes de uma concepção de linguagem multimodal. Pois é por meio da
interpretação materna aos diferentes comportamentos sejam esses choros, olhares, expressões
faciais e corporais da criança, que a mãe sustenta a comunicação, ou seja, a fala materna
dirigida à criança como afirma Cavalcante, pode ser sim considerado um deslocamento
discursivo, já que a mãe dá lugar à criança na sua própria fala. Assim, a multimodalidade na
produção da mãe e da criança permite que haja interação e a interação por sua vez permite a
comunicação, nesse caso podemos inferir que a linguagem ocorreria primeiro do que a
interação.
Metodologia e análise
A construção desse capítulo se deu por meio de leituras no que se referem à aquisição
da linguagem sob uma perspectiva multimodal da língua, transcrições ortográficas das
gravações que foram realizadas na residência da díade, e análises interpretativas e
quantitativas do aparecimento dos gestos pantomímicos e da produção verbal infantil.
Os dados são retirados de gravações feitas por vídeo na casa da díade (mãe-bebê), com
duração aproximadamente de 15 a 20 minutos cada sessão. Os bebês têm em média zero a
trinta e seis meses e são gravados em situação natural. O quadro com algumas informações
das sete díades trabalhadas no LAFE:
Grupo 1- Díades B; C; H
Faixa etária 0 a 24 meses
Grupo 2 – Díades A; E
Faixa etária 11 a 21 meses
Grupo 3 – Díades D; F; G
Faixa etária 24 a 32 meses
643
Nesse plano trabalhamos com o Grupo 2. Foram realizadas as transcrições, e através
das filmagens observaremos, também, “Continuo vocal e Emblemas”. Vejamos um exemplo
da folha de transcrição que foi substituída pelo software que foi implantado efetivamente em
nosso laboratório no último ano
A transcrição era realizada em tabela dividida por colunas, como mostra o exemplo
acima. Em que o lado esquerdo corresponde à mãe, tanto em gestos, fala, prosódia e olhar, e o
lado direito corresponde a linguagem do bebê. Empregamos dois tipos de transcrição: uma
transcrição segmental seguindo o IPA (Alfabeto Fonético Internacional) e uma transcrição
ortográfica. As marcas suprassegmentais, descrição da qualidade de vocal, registro,
velocidade de fala, etc, aparecem em parênteses logo acima da transcrição fonética; as pausas
vêm com seu tempo colocado em parêntese; as curvas entonacionais são desenhadas na linha
abaixo da transcrição fonética. Mas como estamos mostrando um novo modelo de transcrição
desde a última vigência o novo modelo segue abaixo:
644
produções vocais e gestuais da mãe e do bebê, além disso, é possível acompanhar a
manifestação de produções gestuais e vocais com mais precisão.
Com o projeto intitulado Contínuo Vocal e Emblemas propomo-nos relacionar os
quatros momentos do desenvolvimento da fala do infante apresentado por Barros (2012),
balbucio, jargão, holófrase, blocos de enunciados que compõem o contínuo vocal e os gestos
que aparecem na segunda coluna do contínuo de Kendon (1982) apresentado por McNeill
(2000) analisado da direita para esquerda, a fim de compreendermos como essa relação
influência no processo de aquisição da linguagem.
Barros (2012) corrobora com a ideia de Cavalcante (1999) e Scarpa (1999; 2007) que
desde cedo a criança é sensível as facetas da prosódia na entrada para a linguagem e que as
pistas prosódicas orientam a criança na percepção, no processamento da fala dirigida (ou não)
a ela, bem como na interpretação dos enunciados da criança pelo outro. Barros afirma que é
no primeiro ano de vida que as crianças começam a perceber não só os sons específicos da
língua materna, mas também a fonotática da língua, isto é, a co-ocorrência de sons em
diferentes posições silábicas. Algumas pesquisas mostram que as crianças começam o
processo de segmentação do continuum em unidades menores entre 6 a 8 meses de idade
(CURTIN E HUFNAGLE, 2009). Pesquisas também indicam que as crianças são sensíveis à
alternação de sílabas forte/fraca ainda bem pequenas (GERKEN,2004; MEHLER
&CHRISTOPHE, 1995 apud BARROS 2012). Barros traz também a análise da tabela, na
qual Sten (1924) apresenta quatro estágios, a fim de mostrar como se dá o desenvolvimento
da linguagem verbal da criança nos seus três primeiros anos de vida, os quais vão de uma
variada produção vocal até ao uso de contextos comunicativos expressivos do uso padrão da
linguagem adulta e consolidada. Os estágios do desenvolvimento da linguagem para Stern
(1924) se dividem em estágio preliminar, primeiro período, segundo período, terceiro período
e quarto período, ilustrados na tabela 7 a seguir:
645
(Extraído de Ingram 1968, apud Barros 2012)
Segundo Barros, mesmo que Sten tenha mostrado fatores de linguagem no primeiro
ano de vida, o estágio preliminar importante para entender como a criança vai constituído
linguagem ao longo do deu desenvolvimento. A autora caracteriza quatro momentos do
desenvolvimento do infante comoveremos abaixo:
É importante ressaltarmos que a autora esclarece não haver uma sequência padrão para
o acontecimento destes momentos, ou seja, a criança pode balbuciar e produzir blocos de
enunciados numa mesma faixa etária, ou jargonizar ao mesmo tempo em que produz as
primeiras palavras irreconhecíveis. Como vimos o desenvolvimento linguístico do infante
apresenta questões complexas acerca de como a criança começa a falar. Por muito tempo
acreditou-se que a linguagem tinha uma única modalidade, mas em contraponto Bruner
(1984) considerou que além da linguagem verbal, a gestualidade também recorrente nas
situações comunicativas de certa forma trazia um sentido para o contexto comunicativo, no
entanto suas observações afirmavam que os gestos guardariam o lugar da fala e sumiriam em
função dela, ou seja, assim os gestos foram caracterizados como pré-linguisticos. Em
contraponto a essa ideia McNeill (2000) vai mostrar que não, os gestos não desaparecem em
função da fala, e sim do contrário a depender os gestos acompanham o fluxo de fala. Vejamos
como os diferentes gestos que compõem o contínuo de Kendo.
646
Gesticulação Pantomima Emblemáticos Língua de sinais
Contínuo Presença Ausência de Presença opcional Ausência de fala
1 obrigatória de fala fala de fala
Contínuo Ausência de Ausência de Presença de Presença de
2 propriedades propriedades algumas propriedades
lingüísticas lingüísticas propriedades lingüísticas
lingüísticas
Contínuo Não convencional Não Parcialmente Totalmente
3 convencional convencional convencional
Contínuo Global e sintética Global e Segmentada e Segmentada e
4 analítica analítica analítica
(Extraído de McNeill, 2000)
647
interessam e pelas quais elas gostariam que o outro se interessasse também, de modo que seu
interesse seja compartilhado. Além disso, elas são capazes de apontar para informar algo ao
outro, para lhe dar uma informação que lhe possa ser útil. O autor acredita que a infraestrutura
cognitiva necessária para a comunicação cooperativa já está em vigor em seres humanos em
uma idade muito precoce, antes que a criança comece a usar a língua; A língua não é o meio
pelo qual a comunicação cooperativa humana é possível e relacionaremos com o continuo
vocal coluna. Observamos em nossas análises como é usado esse gesto e suas implicações
para interação com os sujeitos adultos, principalmente a mãe, que aparece com mais
frequência nas transcrições utilizadas; as análises também nos mostram que o gesto
emblemático é usado como meio de inserção da criança no meio linguístico.
CAVALCANTE (1994) apresenta o gesto de apontar como uma extensão do braço e
dedo indicador em direção a um objeto”, p.34). É relevante mostrar que esse gesto é
condicionado tanto por fatores biológicos quanto influências externas, pois é somente através
do desenvolvimento sensório motor e do incentivo da mãe no estabelecimento da interação da
criança que há a presença do apontar convencional.
Nossas observações mostraram que o gesto emblemático que aparece com mais frequência é o
gesto de apontar, o qual se apresenta em diferentes formas, porém além dessa modalidade de
gesto emblemático, foi possível observarmos também o bater de palmas, o tchau, o não, o
legal entre outros. Percebemos também que estes emblemas aparecem na maioria das vezes
associados à produção vocal tanto da mãe, quanto da criança. Vejamos a situação
comunicativa a seguir:
Situação comunicativa I: mãe e criança estão no quarto, a mãe tenta a todo o momento
cantar a música hipopocaré. Criança com 1;0.12
648
fala estão presentes na interação a acompanhados de outras modalidades tais como: olhar,
expressões faciais e corporais e prosódia que promovem a efetivação da linguagem
multimodal.
Vejamos alguns exemplos:
Nesta cena é possível perceber a matriz multimodal sendo efetivada pela gesticulação
e a produção vocal simultânea: “ebuze::/ enbuze:::” numa fala jargonizada, com a presença de
contornos típicos de narrativa tom médio/alto, depois alto com leve queda, como se narrasse
algo para a interlocutora. Como mostra o fragmento do Praat a seguir:
649
É importante ressaltarmos e observarmos que a narração produzida pela criança exibe
simultaneamente a produção vocal e gestual, no entanto nesse contexto não há um privilégio
voltado para uma dessas modalidades, mas podemos inferir que há uma prioridade dada por
parte da criança a ação de chamar a atenção do seu interlocutor. Percebemos tal intenção, a
partir de todas as outras modalidades expostas na situação comunicativa, a saber: Olhar,
expressão facial e corporal, além é claro, da produção verbal e gestual, vejamos:
1 2 3
Situação comunicativa - Cena 2: mãe na sala da casa, sentada no chão junto ao bebê, que
está brincando. Idade da criança 1;0.12, vejamos:
650
produção essa produção de emblema de negação configurado na ação de “dá as cotas a mãe”.
1 2 3
Analisando esta cena percebemos que é sob influência do apontar negativo produzido
pela mãe, que a criança produz a negação numa configuração diferente da mãe, nesse caso a
criança vira as costas negando sua atenção a sua mãe, neste contexto podemos inferir que
tanto criança quanto a mãe aparecem como agente ativo da interação. Na mesma cena foi
possível percebermos duas configurações diferentes do gesto emblemático APONTAR
produzidos pela mãe.
1. O apontar se consolida numa negação, a mãe ao quer que a criança suba no móvel,
enfatiza o não tanto na produção vocal, quanto na produção gestual.
2. Esse apontar tem uma funcionalidade diferente do primeiro, neste caso a mãe ergue o
braço em direção a criança afim de chamar sua atenção para si.
3. O terceiro apontar se aproxima um pouco do segundo quanto a sua funcionalidade,
mas o modo como ocorre é diferente aqui a mãe pega na perna e manter sua atenção voltada
para ela.
Vejamos a tabela a seguir:
651
mãe e criança apresentam interesses diferentes já que a mãe quer cantar e a criança quer subir
no móvel.
Assim, à medida que a mãe tenta mediar à atenção da criança, a mesma não interage
com mesma sintonia que a mãe, na verdade percebemos que mãe e criança apresentam
interesses diferentes, já que a mãe quer cantar e a criança quer subir no móvel. Ainda nesta
situação a produção da criança é bastante satisfatória, percebemos a presença de dois, dos
quatro momentos do desenvolvimento da fala infantil mostrado por Barros (2012). O jargão
caracterizado por um contorno entonacional que se estende a uma cadeia de sílabas ou um
longo fragmento composto por sílabas ininteligíveis é produzido como se a criança
reclamasse de algo “uié” e eh eh” logo depois que a mãe tenta impedi-la de subir no móvel
como veremos na imagem a seguir:
652
quanto criança produziram significativamente gesto e fala sincronizados.
Nesta cena vemos a interação entre mãe e criança embalada pela música do
chapeuzinho vermelho, aqui percebermos a efetivação da matriz multimodal, vemos que a
criança ao mesmo que pratica a gesticulação produz uma sequência de jargão, que embora
incompreensível acompanha o ritmo da música, o que a faz continuar como agente ativo na
situação comunicativa. Há também o bater de palmas que acompanha o ritmo da música e por
ser convencional é um gesto emblemático. Percebemos que aqui gesto e fala acontece
simultaneamente. Assim, é possível afirmarmos que os gestos que compõem o contínuo de
Kendon estão presentes na interação entre mãe e criança o que propicia a efetivação da matriz
multimodal, ou seja, quando gesto e fala ocorre simultaneamente.
Diferentemente da cena anterior, a criança atende a intenção comunicativa da mãe,
uma vez que participa do dueto proposto por ela espontaneamente. À medida que a mãe canta
e dá espaço para que a criança cante na mesma medida construindo a interação na qual tanto
mãe como criança participam ativamente.
Percebemos também que a produção linguística da criança abarca grande influência
da fala dirigida a ela, vemos que a mãe controla a produção vocal da criança que produz
significativamente, sendo possível percebermos os quatros momentos da linguagem infantil
propostos por BARROS (2012). Embora a mãe controle de certa forma a produção linguística
da criança, a ação de completar as frases que compõem a música é praticada espontaneamente
pela criança, que por sua vez também produz gestualidade sincronicamente a melodia da sua
voz, como veremos no próximo fragmento.
653
Percebemos a produção vocal da criança um pouco mais presente, se comparada às
cenas anteriores, quando a criança era menor, isso ocorre naturalmente à medida que a criança
vai crescendo sua produção vocal acompanha na mesma velocidade o ritmo do seu
crescimento. Embora a produção vocal ganhe mais espaço, a presença da fala materna, com
diversos estilos que se modalizam a depender da sua intenção comunicativa continua presente.
Vemos que os quatros momentos do desenvolvimento da fala do infante proposto por
BARROS (2012), estão presentes nesta situação é possível percebermos a presença do
balbucio no “a a” no início da música, “vo bem so zi nha” que caracteriza os blocos de
enunciados, holófase “daqui” e falas jargonizadas que mesmo incompreensível carrega o
ritmo da música.
Nesta cena, podemos afirmar que os diretivos usados pela mãe são decorrentes do fato
dela tentar controlar a produção vocal da criança, controlar no sentido de fazer com que a
criança perceba a necessidade de adequar a sua fala ao momento dela própria entrar em cena,
ou seja, fazer a criança perceber que é a vez dela completar a música como num dueto, no
qual cada um dos dois participantes sabe seu momento de cantar. Daí a produção significativa
da criança, com a manifestação dos quatro momentos da fala infantil. Assim, é possível
afirmarmos que os gestos que compõem o contínuo de Kendon (1982) estão presentes na
interação entre mãe e criança o que propicia a efetivação da matriz multimodal, ou seja,
quando gesto e fala ocorre simultaneamente.
Vimos em todos os momentos da interação entre mãe e criança a efetivação da Matriz
Multimodal por meio das produções verbais e não verbais, as quais acontecem geralmente
simultaneamente, associadas assim como afirma McNeill (1985).
Observamos que a produção gestual e a produção vocal estão presentes naturalmente
nas situações comunicativas desde os primeiros meses de vida do ser humano e aparecem
significativamente na interação mãe/bebê, pois é através da mãe que a criança vive suas
primeiras relações comunicativas e tem o primeiro contato com a linguagem.
Tanto adulto como criança aparecem nessas interações como produtoras ativos da
654
linguagem numa perspectiva multimodal. Vimos que a proposta de linguagem enquanto
instância multimodal é de alta relevância para o processo de aquisição da linguagem. Nossos
dados mostram que a produção gestual está associada a produção vocal tanto da criança
quanto da mãe, além disso o gesto emblemático com maior ocorrência foi o gesto de apontar
tanto mãe quanto criança se privilegiaram esse gesto como meio de consolidar a interação. É
importante constatarmos que tal gesto pode se materializar distintamente a depender da
situação comunicativa, ou seja, nessas situações comunicativas apresentadas ao longo do
trabalho encontramos o gesto de apontar se constituindo em três configurações mais
recorrentes tais como: negação, como uma forma de chamar a atenção e outra de manter a
atenção.
Durante nossas análises buscamos fazer o mapeamento da relação concomitante entre
gesto e fala nas cenas aqui analisada, vejamos:
A tabela referente à cena 1 e 2 na qual a criança está com a idade: 1;0.12 aponta a
produção de gesto e de fala acontecendo simultaneamente, a produção do jargão que carrega
uma carga sonora de negatividade e o balançar das penas insinuando a mesma carga, a de
negativar a intenção comunicativa da mãe de cantar a música do Hipopocaré, são berço
multimodal da linguagem, a expressão que contribui para a ideia da indissociação do gesto e
da fala aqui defendida.
Já na tabela referente à cena 3 na qual a criança aparece com 1;9.7 de idade temos a
produção dos quatro momentos apresentados por Barros (2012), vemos aqui na produção do
balbucio, holofráse e dos blocos de enunciados a ausência do emblema, nosso elemento de
investigação o que não quer dizer que houve a ausência da produção textual. Vejamos o
gráfico que demonstra essa situação:
655
Com esse gráfico buscamos mostrar a relação específica entre os gestos emblemáticos
e a produção vocal da criança, com isso percebemos que há um aumento um tanto
considerável se compararmos os dados das duas tabelas. A produção de emblemas é bem mais
presente na primeira tabela, mas com relação ao mapeamento do contínuo vocal estão
presentes todos os momentos apresentados por Barros (2012) de maneira intensa na segunda
tabela.
Vejamos agora o mapeamento da produção gestual e vocal da criança, aqui buscamos
apresentar uma tabela geral da produção gestual e vocal.
656
criança, também com relação à produção gestual. Aqui constatamos o “amadurecimento”
vocal da criança, neste caso vemos a presença dos quatros momentos do desenvolvimento da
linguagem apresentado por BARROS (2012). Os dados mostram que há um aumento
significativo na produção vocal do bebê durante, há um crescimento no que diz respeito a essa
modalidade. Já a produção gestual, no início aparece equiparada se analisarmos os dados
referentes a Cena1, na Cena 2 vemos que há uma diferenciação com relação a produção dos
gestos, pois aqui a produção gestual aparece maior na s e em menor quantidade na cena 3. Os
dados mostram que a produção vocal e gestual da criança acontece simultaneamente, mesmo
que haja um crescimento com relação a produção vocal, o que é perfeitamente natural, a
sincronia entre gesto e fala ocorre na medida certa para consolidação da interação que por sua
vez acarreta a comunicação.
Conclusões
657
para o objeto. Vimos que os quatro momentos do desenvolvimento da linguagem proposto por
Barros (2012) aparecem significativamente no processo de aquisição da linguagem atrelados a
produção de emblemas.
Diante de tudo que foi exposto, pode-se se dizer que os gestos emblemáticos ocorrem
em associação com o contínuo vocal nas interações mãe-criança desde na primeira infância
antes. Há uma variedade de emblemas produzidos pela mãe e pela criança que se constituem
na interação de forma significante para o processo comunicativo. Há uma variedade de gestos,
destacando-se o ato de simular falar ao telefone, um dos gestos emblemas mais recorrestes na
nas produções da mãe e da criação está o gesto de apontar bastante privilegiada pela mãe e
pelo infante. Consideramos o importante papel da dialogia entre mãe e criança no processo de
aquisição da linguagem e a mesma importância para produções verbais e não-verbais nesse
contexto, pois percebemos que tais contextos influenciam no desenvolvimento linguístico,
uma vez que os primeiros gestos ocorrem desordenadamente, porém através das interações
vividas com a mãe a criança vai construindo gestos cada vez mais perfeitos e dando indícios
da formação do seu contínuo gestual. É importante papel da interação como berço da
multimodalidade enquanto instância de linguagem para os estudos em Aquisição da
linguagem, uma vez que permite evidenciarmos a produção de Gestual e Vocal numa mesma
matriz de significação, ou seja, simultaneamente.
Referências
BRUNER, J. The ontogenesis of speech acts. In: Journal of child language. Vol.2 Nº 1.
Cambridge: Cambridge University Press, 1975.
CAGLIARI, L. C. Prosódia: algumas funções dos supra seguimentos. In: Cad. Est. Ling.,
Campinas, 1992. (23): 137-151, Jul/Dez
BUTCHER, C.; Goldin-Meadow, S. Gesture and the transition from one-to two-word speech:
when hand and mouth come together. In: MCNEILL, D. (ed) Language and gesture.
Cambridge University Press, 2000.
658
Pessoa: Ed. da UFPB, 2009d, p. 158 (no prelo).
LAVER, J. The Gift of Speech. Papers in the Analysis of Speech and Voice. Edinburgh:
Edinburgh University Press. pp. 235-264, 1991.
________ Unifying principles in the description of voice, posture and gesture. In: CAVE,
C.;GUAITELLA, I. Interations et comportement multimodaux dans la communication.
Paris, L’Harmattan, 2000.
MCNEILL, D. So you think gestures are nonverbal? Psychological Review. Vol 92(3) 350-
371, Jul., 1985.
659
PRÁTICAS DE ESCRITA NO PNAIC: DO CONTEÚDO
PROPOSTO À IMPLEMENTAÇÃO EM SALA DE AULA
Resumo
Apresentação
As práticas docentes vêm ganhando enfoque nas pesquisas acadêmicas pela grande
preocupação dos pesquisadores em relação ao processo de ensino-aprendizagem nos diversos
níveis da Educação Básica. Graças a esse interesse científico, os anos iniciais da Educação
Básica vêm passando por grande influência dos estudos da área da aquisição da linguagem,
principalmente a aquisição da escrita, que vem provocando uma revolução na forma de
compreender como o conhecimento sobre a escrita é construído.
Durante muito tempo no século passado, o período de alfabetização infantil foi
norteado pelo modelo tradicional de alfabetizar, que se organiza da seguinte forma: o primeiro
momento se caracteriza pelo ensino do sistema de escrita alfabética (a correspondência
fonográfica) e as convenções ortográficas do português, para em um segundo momento ser
trabalhado a leitura, os treinos ortográficos e a produção textual escrita. Tal pensamento
1
Título do Projeto de Pesquisa/ Plano de Trabalho: A Alfabetização no PNAIC: Do conteúdo proposto à
implementação na sala de aula/ Práticas de escrita no PNAIC: Do conteúdo proposto à implementação na sala de
aula.
Estudante de Iniciação Científica: Eriglauber Edivirgens Oliveira da Silva (e-mail: glauberkb@hotmail.com,
telefone: (83) 3221-3617)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail:cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientador(a): Evangelina Maria Brito de Faria (e-mail: evangelinab.faria@gmail.com)
660
perdurou por muito tempo, porém, com os estudos do campo da aquisição da escrita foi
possível desvendar o seguinte fato sobre o processo de alfabetização: o desenvolvimento da
compreensão do sistema de escrita da língua (as letras, as palavras) e a compreensão do
funcionamento da língua escrita (os aspectos discursivos) são dois processos análogos, que
devem ser desenvolvidos simultaneamente e não de forma separada, como ocorre no modelo
tradicional.
Esta descoberta viria revolucionar os anos iniciais da Educação Básica, pois os
docentes agora precisariam desenvolver os aspectos formais da escrita (aquisição do sistema
de escrita alfabética) junto com os aspectos funcionais (leitura e produção textual), para que
assim o processo de aquisição/alfabetização tenha melhores resultados. No entanto, tais
alterações teórico-metodológicas estão sendo discutidas há cerca de duas décadas, enquanto é
possível perceber certa dificuldade dos docentes em abandonar o modelo tradicional de
alfabetizar para se adequar as novas descobertas.
Em meio a essa dificuldade do docente alfabetizador, o Governo Federal vem unindo
esforços com esses avanços teóricos e lançando diversos Programas Nacionais com o intuito
de melhorar as práticas docentes, com base na nova perspectiva de alfabetizar. No entanto,
mesmo com os esforços governamentais e os avanços das pesquisas acadêmicas, as melhorias
constatadas nesse processo de mudança de paradigma em meio à prática docente não são tão
expressivas quanto era esperado.
Na busca de compreender o motivo de tal problemática na aplicação dos Programas
Nacionais, o seguinte capítulo, decorrente da pesquisa desenvolvida a partir do plano
“Práticas de escrita no PNAIC: Do conteúdo proposto à implementação na sala de aula” 1, tem
como objetivo geral analisar o processo de formação continuada e as práticas docentes dos
professores alfabetizadores para identificar os obstáculos da consolidação das novas
teorizações da alfabetização. Nesse contexto, a pesquisa desenvolvida pretendia responder às
seguintes perguntas: A formação proporcionada pelos Programas Nacionais atende às
necessidades dos professores alfabetizadores e tutores (ou orientadores de estudo)? As
práticas em sala de aula correspondem às práticas discutidas na formação continuada? E quais
os obstáculos para uma real mudança na sala de aula de alfabetização?
Para o desenvolvimento deste estudo, foi usado como objeto de pesquisa o Pacto
Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), que é um Programa Nacional do
Governo Federal aliado aos governos estaduais e municipais. O PNAIC trata-se de uma
iniciativa de proporcionar formações continuadas para os professores integrantes do ciclo de
alfabetização no intuito de trazer uma mudança significativa na forma de se alfabetizar. No
estado da Paraíba, o Pacto no ano de 2015 contava com a participação de mais de 8.000
professores das séries iniciais de duzentos e vinte e três municípios, com a formação
ocorrendo em nível estadual e sendo, desde 2014, responsabilidade da Universidade Federal
da Paraíba.
Para o desenvolvimento da análise, o estudo se embasou em teorias interacionistas
convenientes ao campo de aquisição da linguagem, onde usamos nomes como: BAKHTIN
(2012), FARIA (2011), VIGOTSKI (1998), FERREIRO & TEBEROSKY (1999), SOARES
1
Pertencente ao projeto de Iniciação Científica (IC) “A Alfabetização no PNAIC: Do conteúdo proposto à
implementação na sala de aula”, orientado pela professora Drª. Evangelina Maria Brito de Faria durante a
vigência 2014-2015.
661
(2003), entre outros. Nosso estudo se justifica, em primeiro lugar, por se dedicar ao tema da
alfabetização, que é um assunto sempre em pauta na Educação brasileira. Também podemos
justificá-lo pela oportunidade de discutir aspectos relevantes para a implementação da leitura
e da escrita em sala da alfabetização, pois, permite que possamos apontar caminhos para a
própria equipe de formação do PNAIC. E por fim, o atual estudo se justifica pela ampliação
das pesquisas já desenvolvidas pelo LAFE (Laboratório de Aquisição de Fala e Escrita), do
qual fazemos parte, que objetiva ser um banco de dados e de análises dos processos da fala e
escrita infantis e que já abriga várias pesquisas concluídas e em andamento de doutorandos,
mestrandos e de alunos PIBIC.
Fundamentação Teórica
662
Aquisição da escrita e o seu objeto de estudo
Diferentemente das outras duas subáreas da aquisição da linguagem, a aquisição da
escrita possui um objeto de pesquisa bastante peculiar no meio dos estudos aquisitivos: o
sistema linguístico escrito de uma determinada língua. No entanto, para uma abordagem mais
didática, dissertaremos sobre este objeto e sua peculiaridade para que exista uma maior
compreensão de como ocorre o processo de aquisição da escrita.
Definir a escrita é algo complexo por causa da diversidade de sistemas escritos
existentes no mundo, poré, Higounet (2003) sintetiza toda a complexidade dos sistemas
linguísticos escritos em sua seguinte fala:
Segundo a definição de um de nossos mais eruditos mestres, a escrita é, acima de tudo, “um
procedimento do qual atualmente nos servimos para imobilizar, para fixar a linguagem
articulada, por essência fugidia”. (HIGOUNET, 2003, p. 9)
Para Higounet, a escrita é a forma de “imobilizar” a linguagem corrente. No caso,
podemos interpretar a visão do autor dizendo que a escrita é um recurso para tornar a
comunicação corrente em uma estrutura “estática”, para que não passe por alterações
posteriores, como ocorre comumente na comunicação oral. No entanto, mesmo “fixando” os
signos correntes por meio da escrita, a escrita é submetida a dois processos que podem
interferir na interpretação destes signos: o processo de leitura e o processo de produção
escrita. Entretanto, antes de focar nesses processos, pretendemos falar mais sobre as
características do complexo sistema de signos escritos.
Para começar a caracterizar o objeto da aquisição da escrita, necessitamos desvendar o
que é necessário para que se instaure um sistema de signos escritos. Février (1959) diz que
para existir escrita “é preciso inicialmente um conjunto de sinais que possua um sentido
estabelecido de antemão por uma comunidade social e que seja por ela utilizado” (FÉVRIER
apud HIGOUNET, 2003, p. 11). No caso, a escrita é um sistema de signos que depende de um
acordo social implícito entre os indivíduos de um determinado contexto social para a sua
existência e este sistema de signos tem que ser usado para que tal existência seja consolidada.
No entanto, Février complementa sua fala sobre o que é preciso para a existência da
escrita dizendo que “em seguida é preciso que esses sinais permitam gravar e reproduzir uma
frase falada” (FÉVRIER apud HIGOUNET, 2003, p. 11). Com isso, Février afirma que a
escrita é um sistema de signos linguísticos específicos, em que sua função é representar, ou
“imobilizar”, de alguma forma a fala oral.
Mesmo com tal definição sobre o sistema de escrita, a escrita possui outras
características importantes para auxiliar na compreensão do objeto de trabalho de nossa
pesquisa, que estaria relacionada à estrutura do sistema de signos escritos. Higounet (2003, p.
11) diz que desde as escritas primitivas, até a escrita alfabética, houve três etapas de evolução
do sistema de signos escritos: a escrita sintética, a escrita analítica e a escrita fonética.
A primeira etapa da evolução da escrita, a escrita sintética, seria o momento de
surgimento da escrita, onde a união de signos escritos forneceria uma alusão a uma frase, não
notando propriamente a frase, mas sim, sugerindo-a. Na segunda etapa, a escrita analítica, o
signo escrito notava uma palavra, não mais sugerindo uma frase com a união de signos, mas
sim, representando uma palavra de forma integral. E na terceira etapa, a escrita fonética, seria
quando os sistemas de escritas se assemelhavam mais dos sistemas de escritas ocidentais
modernos, pois, a menor unidade do signo escrito começava a notar os fonemas.
663
As etapas da evolução histórica da escrita, segundo Higounet, foram importantes para
evolução dos signos escritos para se chegar ao estágio atual, onde podemos identificar quase
em todo o mundo a predominância da escrita alfabética, que seria a escrita na terceira etapa
apontada por Higounet. Entretanto, ainda conseguimos identificar escritas não alfabéticas no
mundo, que ainda estejam na etapa da escrita sintética, fazendo com que as escritas do mundo
se dividam em duas estruturas escritas: as escritas alfabéticas e as escritas não alfabéticas. A
atual pesquisa irá trabalhar com a aquisição da escrita de um sistema de escrita alfabética,
pois, o contexto de nossos dados é inserido em uma cultura em que o seu sistema signos
escritos é alfabético.
No entanto, mesmo com todas as considerações feitas sobre o objeto de pesquisa da
aquisição da escrita, ainda é necessário debater sobre os processos de aquisição da escrita e
como eles ocorrem, para a nossa pesquisa se tornar mais clara.
Os processos da escrita
Uma das características apontadas por Février (1959) como necessária para a
existência da escrita é o fato de que um sistema de signos escritos acordados por um grupo
social esteja em uso por este grupo. Este uso da escrita ocorre através de dois processos
bastante estudados na aquisição da escrita, que são os processos de leitura e de produção
escrita. Ambos os processos são inerentes à existência da escrita, pois, sem eles a escrita não
possuiria a possibilidade de atribuir significado com o seu sistema de signos.
A leitura é muito associada ao ato de decodificar a escrita, no entanto, várias
discussões acadêmicas sobre este processo atribuem um valor maior ao ato de ler, pois,
acreditam que ler a palavra escrita é muito mais do que decodificar. Martins (1959, p. 31) fala
da leitura como o ato de decodificar, porém, atribui a ela o processo de compreensão da
palavra escrita, em que a autora diz o seguinte sobre relação entre compreender e decodificar
com a leitura: “Ambas são necessárias à leitura. Decodificar sem compreender é inútil;
compreender sem decodificar, impossível. Há que se pensar a questão dialeticamente.”
(MARTINS, 1959, p. 32). Com tais constatações da autora, podemos fazer a afirmação geral
de que o ato de ler é, ao mesmo tempo, decodificar e compreender a escrita.
Já a produção escrita tem a crença inversa em relação à leitura, onde o ato de escrever
é visto pela maioria como o ato de codificar a fala em signos escritos. No entanto, não
podemos reduzir as produções escritas a simples transcrições da fala oral, pois, o próprio
sistema de signos escritos possui peculiaridades que lhe proporciona certa independência
diante das produções orais. Podemos confirmar tal pensamento no seguinte comentário de
Vigotski (1998):
No caso, vemos que mesmo com a escrita sendo inicialmente submetida à língua oral,
664
de forma gradual ela adquire independência passando a ter sua própria ligação com as
entidades reais e passando ser um sistema de signos independente possuindo suas próprias
regras (a ortografia é um bom exemplo de uma regra restrita ao sistema de signos escritos,
que não afeta diretamente a fala oral). Tal afirmação mostra que a produção escrita não é
somente codificar a fala oral em signos visuais, mas sim, que produzir escrita é se comunicar
por meio de um sistema de signos com a autonomia e regras próprias.
Após discutir sobre os paradigmas posto sob os dois processos de uso da escrita, a
atual pesquisa visa trabalhar com mais profundidade um dos processos destacados até o
momento: o processo de produção escrita. Entretanto, para compreender melhor a produção
escrita, precisamos discutir sobre como se organiza a produção escrita, para se ter um
panorama dos diversos processos que ocorrem para conseguir se produzir um texto.
665
O período de alfabetização e sua relação com a aquisição da escrita
Na sociedade atual, o período de alfabetização infantil é de suma importância para o
desenvolvimento da educação em todos os níveis de ensino, pois, é na alfabetização que as
crianças começam a desenvolver sua interação com o sistema de escrita da sociedade a qual
está inserida e passa pelo processo de aquisição da escrita. Podemos afirmar que o processo
de aquisição da escrita, nos dias atuais, em sua maioria, é de responsabilidade das escolas de
ensino infantil, porque são elas que começam a proporcionar para a criança suas primeiras
interações com a escrita e começam a usufruir de métodos alfabetização para que a criança
consiga aprender a ler e escrever de forma autônoma.
Refletir sobre o período de alfabetização e as práticas e métodos nele trabalhadas é de
grande importância para o nosso estudo na área da aquisição da escrita, pois, são essas
práticas e métodos que auxiliam as crianças no seu processo de adquirir a linguagem escrita e
desenvolver suas capacidades de ler e escrever. Com isso, consideramos necessário debater
sobre os métodos de alfabetização que vigoraram na Educação Básica brasileira, contexto o
qual nossa pesquisa foi desenvolvida, para melhor compreensão do processo de alfabetização
e como ele auxilia a criança em seu período de aquisição da escrita.
666
(FARIA, 2011, p. 15).
Com as visíveis insatisfações diante dos métodos sintético e analítico, uma nova
concepção de alfabetizar adentrava o período da educação infantil usando como base os
princípios cognitivistas/construtivista, que passava a considerar o sistema de signos escritos
como objeto de conhecimento, tornando a apropriação da escrita um “conflito cognitivo”.
Com esse novo ponto de vista, alguns fatores do processo de alfabetização passaram a ser
olhados de forma diferente, por exemplo: o “erro”, que durante os métodos era sinal de não
aprendizagem sendo abominado, na nova perspectiva passou a ser algo aceitável e construtivo
para que a apropriação do sistema de signos escritos ocorresse.
No meio de toda essa mudança de paradigma no período de alfabetização, nos anos 80
é publicada a pesquisa de Emília Ferreiro e Ana Teberosky sobre a Psicogênese da Língua
Escrita (1999), que viria trazer uma grande mudança para o cenário educacional brasileiro e
seria de grande impacto para a consolidação da perspectiva cognitivista no período de
alfabetização. A Psicogênese da Língua Escrita (1999) trata-se de uma pesquisa, que se
baseava nas teorias de Piaget, feita com crianças argentinas para compreender como ocorria o
processo de apropriação do Sistema de Escrita Alfabética (SEA) e como os fatores sociais
interferiam nesse processo. Os resultados apresentados por Ferreiro e Teberosky faziam
constatações diferentes ao que se pensava nos métodos sintéticos e analíticos, onde uma das
mais importantes constatações estava ligada ao fato de que a alfabetização é um ato ativo por
parte da criança, diferentemente do que acreditava os defensores dos métodos.
Outra importante contribuição, que a pesquisa de Ferreiro e Teberosky (1999)
proporcionou para o período de alfabetização, foi os níveis de apropriação do Sistema de
Escrita Alfabética (SEA) organizado pelas autoras, que facilitaria o diagnóstico do aluno no
período de apropriação do SEA. Os níveis de apropriação do SEA elaborados pelas autoras
foram cinco, no entanto, dois desses níveis são intermediários entre os três estágios principais
da aquisição do sistema de signos escritos, que são: o nível pré-silábico, no qual a criança
ainda não consegue distingui de forma clara a escrita do objeto a qual ela significa e acredita
que a escrita representa o objeto e não sons da fala; o nível silábico, no qual a criança
compreende que existe a correspondência entre som e escrita e passa a reconhecer as sílabas
na correspondência de grafema e fonema; e o nível alfabético, que seria o momento em que a
criança teria uma boa compreensão do sistema escrita, porém, ainda precisaria de
aprimoramentos.
Com todos esses avanços teóricos, a alfabetização se consolidou em uma nova
perspectiva, a construtivista. Entretanto, essa mudança no comportamento do período de
alfabetização baseada nos estudos construtivistas não trouxe alterações significativas no
quadro dos alunos que terminavam tal período, pois ainda havia a ocorrência de crianças que
terminavam esse período sem saber lê ou escrever de forma satisfatória.
Soares (2003) fala sobre isso na revista Presença Pedagógica, em seu texto “A
reinvenção da alfabetização”, em que traz uma discussão sobre os prós e contras que a
aplicação dos estudos construtivistas trouxe para o período de alfabetização brasileiro. A
autora faz o seguinte comentário sobre a aplicação do construtivismo na alfabetização
brasileira e aponta qual foi o maior problema da aplicação de tal perspectiva:
Não estou afirmando que essa concepção seja errada, mas a maneira como
667
ela se difundiu no sistema é que pode ser uma das causas da perda de
especificidade do processo de alfabetização. A mudança conceitual que veio
dos anos 80 fez com que o processo de construção da escrita pela criança
passasse a ser feito pela sua interação com o objeto de conhecimento.
Interagindo com a escrita, a criança vai construindo o seu conhecimento, vai
construindo hipóteses a respeito da escrita e, com isso, vai aprendendo a ler e
a escrever numa descoberta progressiva.
O problema é que, atrelada a essa mudança de concepção, veio a idéia de
que não seria preciso haver método de alfabetização. A proposta
construtivista é justa, pois é assim mesmo que as pessoas aprendem, não
apenas a ler e escrever, mas é assim que se aprende qualquer coisa:
interagindo com o objeto de conhecimento. Mas os métodos viraram
palavrões. (SOARES, 2003, p. 17)
[...] nesse conceito está a ideia de que a escrita traz consequências sociais,
culturais, políticas, econômicas, cognitivas, linguísticas, quer para o grupo
social em que seja introduzida, que para o indivíduo que aprenda a usá-la.
Em outras palavras: do ponto de vista individual, o aprender a ler e escrever
668
– alfabetizar-se, deixar de ser analfabeto, torna-se alfabetizado, adquirir a
“tecnologia” do ler e escrever e envolver-se nas práticas sociais de leitura e
de escrita – tem consequências sobre o individuo, e altera seu estado ou
condição em aspectos sociais, psíquicos, culturais, políticos, cognitivos,
linguísticos e até mesmo econômico; do ponto de vista social, a introdução
da escrita em um grupo até então ágrafo tem sobre esse grupo efeitos de
natureza social, cultural, política, econômica, linguística. (SOARES, 1999,
p. 17-18)
Podemos ver na fala de Soares (1998) que letramento se trata de algo além do
processo de alfabetização e apropriação do SEA. De forma mais ampla, na citação vê-se que
letramento se trata das alterações e status que o acesso aos usos sociais da escrita traz para os
indivíduos ou grupos sociais. Tais alterações tornam os indivíduos “letrados”, pois, após ter
conhecimento do código escrito, o indivíduo passa a ter alterações de natureza tanto externa
(social), quanto interna (cognitiva). Este estado adquirido pelo indivíduo está completamente
relacionado ao fato de conseguir ter acesso aos usos sociais do código escrito.
No caso, pode-se inferir que o letramento está completamente ligado às alterações
causadas no individuo ao compreender os usos sociais da escrita, enquanto podemos inferir
que a alfabetização está ligada a compreensão da estrutura do código escrito. Com os pontos
levantados até o momento, podemos chegar à conclusão da definição dada por Soares sobre o
ato de “alfabetizar letrando”:
Metodologia e Análise
669
participantes da formação em diversos níveis (coordenador, formador, orientador, professor)
para se conseguir visualizar o diálogo entre as camadas da formação e a presença da
concepção de alfabetizar do Pacto dentro da sala de aula de alfabetização.
Para tornar a exposição sobre a coleta e análise de dados mais didática, iremos expor
primeiramente a análise bibliográfica desenvolvida sobre os materiais de formação do PNAIC
para se identificar a concepção de alfabetizar do Pacto. Após da exposição da análise
bibliográfica, será exposto o contexto da coleta dos dados em áudio, as entrevistas, e também
será mostrada a análise desses dados, tomando como referência a concepção de alfabetizar
adotada pelo Pacto para se conseguir responder as perguntas que norteiam a nossa pesquisa.
No entanto, antes de seguir para a exposição das ações de pesquisa, consideramos necessário
falar sobre o Programa Nacional estudado com o intuito de contextualizar o nosso objeto de
pesquisa, para deixar claro os seus objetivos com o ciclo de alfabetização.
670
o PNAIC possui para o trabalho docente com a produção textual escrita nos anos de
alfabetização.
O seguinte quadro, presente no caderno Currículo na Alfabetização: Concepções e
Princípios (2012, p. 34), foi elaborado pelo MEC e está inserido entre os “Direitos de
Aprendizagem e Desenvolvimento do Ciclo de Alfabetização”. Os direitos de aprendizagem
organizam-se em uma dinâmica de objetivos para cada ano do ciclo de alfabetização, em que
usam as siglas I (Introduzir), A (Aprofundar) e C (Consolidar) para delimitar a função de cada
direito diante do ano escolar em questão.
Fonte: Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa: Currículo Na Alfabetização: Concepções e Princípios,
2012, p. 34.
Este quadro serve para nos fornecer uma noção parcial do paradigma de produção
textual escrita aderida pelo PNAIC, que está em total consonância com os direitos de
aprendizagem elaborados pelo MEC. Consequentemente, consideramos importante analisar
cada direito de aprendizagem de forma teórica, para uma melhor compreensão dos objetivos
que o Pacto almeja atingir no ciclo de alfabetização sobre o conteúdo de produção textual
escrita.
671
Nossa análise do quadro vai se organizar na ordem em que estão elencados os
objetivos do Pacto para produção textual escrita. No caso, começamos nossa análise com os
dois primeiros direitos que falam sobre planejamento da escrita considerando o contexto de
produção. Planejar o texto é uma atividade do ensino de produção escrita que é sempre citada
por vários teóricos, quando vão sistematizar o ensino de produção textual escrita, pois é nesse
momento que: “o sujeito define as estratégias utilizadas para atingir o objetivo do texto, bem
como para atingir seus interlocutores.” (FERRAZ, 2011, p. 249).
No entanto, além de planejamento do texto, o PNAIC pede para que se considere o
contexto de produção. Tal dado, do ponto de vista linguístico e comunicacional, é importante,
pois o contexto de produção é imprescindível para a organização/planejamento de qualquer
atividade comunicativa. Sobre tal assunto, Bakhtin (2012) diz o seguinte:
“Qualquer que seja o aspecto da expressão-enunciação considerado, ele será determinado
pelas condições reais da enunciação em questão, isto é, antes de tudo pela situação social
mais imediata.” (BAKHTIN, 2012, p. 116).
Como o autor afirma, o contexto social onde a produção escrita vai circular determina
os aspectos do texto que serão produzidos. Tais ideias fazem com que possamos inferir que o
Pacto esteja visando os usos e funções sociais da linguagem escrita, pois o planejamento é
guiado pelo contexto de produção, e não por uma lógica interna da língua.
Outra questão que acompanha a discussão desses dois direitos iniciais é o fato de o
primeiro ser desenvolvido com o auxílio de escriba e o segundo ser desenvolvido de forma
autônoma. Tal comportamento do Pacto tem total relação com a concepção de aprendizagem
sociointeracionista, pois se acredita que a criança aprende interagindo com o objeto,
entretanto, essa interação precisa ser mediada por outro indivíduo. No caso, o Pacto coloca
para que o planejamento seja desenvolvido inicialmente com escriba, para a criança
posteriormente passar a fazer isso de forma autônoma. Isso não ocorre só nesse objetivo, mas
em outros que virão ser expostos posteriormente.
No terceiro e quarto direito passa-se do planejamento para a produção, entretanto, essa
produção é orientada por outro conceito linguístico, que é os gêneros textuais discursivos. A
importância dos gêneros textuais discursivos para a produção escrita é evidenciada por
Bakhtin (2000), em que podemos ver novamente a importância do contexto para tal conceito:
O querer-dizer do locutor se realiza acima de tudo na escolha de um gênero do discurso. Essa
escolha é determinada em função da especificidade de uma dada esfera da comunicação
verbal, das necessidades de uma temática (do objeto do sentido), o conjunto de constituído
dos parceiros, etc. (BAKHTIN, 2000, p. 301)
Como vemos na citação, reafirmando o que foi dito anteriormente, fatores externos à
estrutura da língua é que organiza o texto que será produzido. Esses fatores externos
constituem os gêneros textuais discursivos, que existem em grande diversidade no meio
social. O PNAIC tem foco na produção de textos atendendo a diversos gêneros textuais
discursivos, para que a criança tenha contato com a escrita em diversos contextos conhecendo
as diversas finalidades e funções da escrita. Esta é a importância dos gêneros para o período
de alfabetização, pois eles auxiliam ao Pacto seguir a perspectiva do letramento, pois, como
muito é comentado, o melhor jeito de “letrar” é através dos gêneros textuais discursivos.
Ainda no terceiro e quarto direito vemos a mesma distinção vista anteriormente, em
que no terceiro direito a produção é feita com o auxílio de escriba e no quarto a produção é
672
desenvolvida de forma autônoma. Novamente, a volta da compreensão sociointeracionista que
a criança em seu aprendizado precisa desenvolvê-lo junto de um mediador entre o
conhecimento e ela.
No quinto, sexto e sétimo direito, vemos que o PNAIC começa a falar de conteúdos
relacionados à coesão e coerência da produção textual nos momentos iniciais da aquisição da
escrita. O quinto direito é voltado para que o aluno estruture o conteúdo textual que ele
produz usufruindo de recursos coesivos, em outras palavras, é exaltado o desenvolvimento do
trabalho com a coesão textual. No sexto direito é dado um enfoque à questão de organização
textual relacionada ao uso de parágrafos e tópicos. Tal conteúdo se torna importante quando
apontamos dados como os constatados Ferreiro e Teberosky (1999, p.115 -150), do ponto de
vista micro da organização textual, em que as crianças em período de aquisição da escrita
possuem dificuldade de compreender o espaço em branco entre as palavras como
representação da pausa na fala oral. Consequentemente, do ponto de vista macro textual,
trabalhar a separação/organização textual por meio de parágrafos e tópicos é algo necessário
para esse período da aprendizagem para uma maior compreensão dos recursos coesivos. Já no
sétimo direito é evidenciado o trabalho com a pontuação, pois as crianças no período de
aquisição da escrita possuem dificuldade de distinguir letras de sinais de pontuação
(FERREIRO & TEBEROSKY, 1999, p. 61 – 63), consequentemente, torna-se necessário
desenvolver essa reflexão com a criança em meio ao conteúdo de produção textual escrita.
O oitavo direito fala sobre a criança apresentar uma diversidade vocabular necessária
para atender às necessidades de adequação das palavras de acordo com o gênero que será
produzido. Tal objetivo é importante, pois, como é comentado por Antunes (2012), diversos
fatores condicionam a escolha das palavras na realização da atividade comunicativa. Entre
esses fatores, Antunes aponta o gênero que será usado para a comunicação como um fator
marcante na escolha vocabular do indivíduo que vai se comunicar:
Possuir uma diversidade vocabular permite que o aluno possa interagir com mais
gêneros escritos, pois, como podemos constatar na citação, cada gênero exige uma seleção de
palavras adequadas e para atender à necessidade de cada gênero textual, a criança precisa ter
conhecimento de uma diversificada gama de palavras em seu vocabulário.
O nono, décimo e décimo primeiro direito abordam a revisão textual durante a
produção e depois do término dela. No nono e décimo direito, identificamos novamente a
perspectiva sociointeracionista, em que no nono direito a revisão é feita de forma coletiva e
mediada pelo escriba e, no décimo direito, esta revisão deve ser desenvolvida autonomamente
pela criança. Esses direitos indicam a revisão durante a produção com o intuito de fazer a
criança refletir e seguir o seu planejamento textual prévio, ou refazê-lo, diante do momento de
673
sua produção textual escrita.
No caso do décimo primeiro direito, a revisão visa observar as incongruências textuais
para que a criança, após revisar, reescreva e reelabore o seu texto. A reelaboração textual por
parte da criança é constatada por diversos estudos da aquisição da escrita, como Abaurre
(1997, p. 61 - 69) e Fiad (1997, p. 71-77), consequentemente tornando esse objetivo do Pacto
para o conteúdo de produção textual escrita uma possibilidade real no ciclo de alfabetização.
A reelaboração textual por parte da criança sendo uma realidade, a reescrita textual se torna
algo imprescindível em meio às reflexões da criança sobre a produção textual escrita, pois
como muitos autores pensam: “[...] a escrita deve ser vista como um processo, uma prática
constituída de várias ações: planejamento, textualização, revisão e reescrita.” (PEREIRA,
2010, p.181). No caso, ao inserir a reescrita como um objetivo no desenvolvimento de
práticas de produção textual escrita, o Pacto contempla todas as ações imaginadas para o
processo de produção textual.
Com todas as considerações feitas sobre o quadro de direitos de aprendizagem para o
ciclo de alfabetização, adotados pelo PNAIC, conseguimos inferir que a perspectiva do
“alfabetizar letrando” está inserida dentro das práticas de escrita do Pacto, pois a produção
textual é vista (como podemos observar no quadro) desde o primeiro ano do ciclo de
alfabetização e essa produção textual funciona como uma atividade de letramento, pois a
criança começa a se inteirar dos usos e funções da escrita. Além de tudo isso, podemos
observar que o desenvolvimento da produção textual escrita no Pacto passa por um processo
de aprendizagem sociointeracionista, pois o mediador é uma figura presente em muitos
direitos, como identificamos em diversos momentos.
674
Quadro 1. Organização e Identificação do corpus de entrevista.
Identificação do
Função na Formação Continuada do PNAIC
entrevistado
C1 e C2 Coordenadores de Linguagem da Formação Continuada do PNAIC
Paraíba no ano de 2014.
F1, F2, F3 e F4 Formadores de Linguagem na Capacitação oferecida pelo PNAIC
Paraíba para os Orientadores de Estudo no ano de 2014, que
lecionaram nos polos de João Pessoa e Sousa.
O1, O2, O3 e O4 Orientadores de Estudo dos municípios de Caiçara e João Pessoa, que
ofereceram capacitações semanais para os professores de seus
respectivos municípios, no ano de 2014.
P1, P2, P3, P4 e Professores alfabetizadores do 1º, 2º e 3º ano do Ciclo de Alfabetização
P5 no município de João Pessoa, que participaram da capacitação
oferecida pelos Orientadores de Estudo durante o ano de 2014.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Como visto no quadro, os dados usados nesse são constituídos de entrevistas com:
Dois Coordenadores de Linguagem, Quatro Formadores de Linguagem das capacitações
oferecidas aos Orientadores de Estudos, Quatro Orientadores de Estudo que acompanham os
professores alfabetizadores de seus respectivos municípios e Cinco Professores
alfabetizadores que lecionam no Ciclo de alfabetização. Escolhemos não identificar os
participantes pelo nome por motivos pré-estabelecidos durante as entrevistas, para que com o
anonimato o entrevistado se sentisse mais confortável para fazer comentários sinceros sobre o
programa estudado. As análises das entrevistas serão desenvolvidas por meio de temáticas
abordadas durante os diálogos com os entrevistados, onde, por motivos organizacionais, serão
expostas na seguinte ordem:
675
enquanto a pesquisa era desenvolvida, que era: “Por que a teoria abordada pelas Formações
Continuadas não conseguem se consolidar na prática docente?”. De início, tínhamos a crença
na existência de uma dificuldade no diálogo intermediado entre o professor alfabetizador, que
estavam vivenciando a prática nos anos de alfabetização, e os coordenadores de linguagem,
que elaboravam os conteúdos teóricos debatidos em todas as formações do PNAIC. Com este
pensamento, durante todas as entrevistas com os participantes de todos os níveis da Formação
Continuada do Pacto, eles foram questionados sobre a interação com os demais níveis e se as
sugestões e queixas feitas, aos níveis mais próximos da coordenação de linguagem, eram
atendidas.
O primeiro dado trazido pelos participantes C1 e C2 é o fato da elaboração do
conteúdo, para as formações dos orientadores de estudos, ser desenvolvida junto com os
formadores de linguagem, que lidavam diretamente com os orientadores de estudo, onde se
buscava suprir através das formações as dificuldades identificadas pelos formadores.
Nos dados coletados através de entrevista, C2 comenta que o MEC havia pedido para
que o PNAIC 2014 se aprofundasse nos conteúdos do PNAIC 2013, os quais os orientadores
de estudos não possuíam muita segurança de trabalhar. Com isso, a formação de linguagem
buscou focar em temáticas importantes, porém, que eram consideradas pouco abordadas,
como letramento digital e inclusão. No entanto, através das formações, C1 comenta que
demandas de outros conteúdos vinham sendo trazidas pelos formadores e os conteúdos das
formações iam se adaptando através da necessidade que os orientadores de estudos possuíam.
Tal dado sobre o diálogo coordenador-formador na preparação do conteúdo trabalhado
nos seminários informado por C2 é confirmado na entrevista feita com um dos formadores
integrantes de nosso recorte. F1 quando questionado sobre a elaboração do conteúdo dos
encontros de formação dos orientadores de estudos, comentou que este processo ocorria de
forma coletiva, onde eles não tiveram que repassar algo que veio do MEC, e sim, analisar
contextos e preparar conteúdos para suprir as dificuldades dos orientadores de estudos. F4 diz
que havia reuniões quinzenais entre os coordenadores e os formadores, em que era relatado
oralmente os acontecimentos e dificuldades identificados na formação dos orientadores para
que, a partir disso, pudessem pensar em estratégias de forma que todos os contextos pudessem
ter suas dificuldades atendidas. F3 exaltou a comunicação existente entre a coordenação e os
formadores através de relatórios escritos, em que eram repassados para os coordenadores com
comentários sobre a evolução de suas turmas de orientadores e como estava sendo a
aceitabilidade dos mesmos em relação ao conteúdo.
Com a confirmação da existência da interação entre coordenador e formador, através
das entrevistas de ambas as partes, seguimos para analisar outro ponto da cadeia de diálogo da
formação continuada. Logo, tornou-se necessário continuar a delinear o caminho dessa cadeia
de diálogo até os orientadores de estudo, para conseguirmos compreender como era a relação
desse grupo com os seus formadores e com os professores alfabetizadores que estão sob sua
tutela.
Sobre a interação formador-orientador de estudos foi perguntado aos formadores se os
mesmos faziam adaptações dos conteúdos de acordo com o contexto e dificuldades os quais
os orientadores estavam expostos, pois, alguns formadores que integram nossos dados eram
do polo de Sousa, que possuía orientadores de estudo de cidades mais interioranas do estado
da Paraíba. A resposta de F1 foi sugerindo um diálogo com orientadores, onde F1 disse que o
676
avanço com os conteúdos trabalhados na formação com os orientadores de estudos dependia
do retorno dado pelos orientadores em relação à compreensão dos professores alfabetizadores
em suas formações nos seus municípios. Caso os professores alfabetizadores tivessem tido
dificuldades com o conteúdo, voltava-se a trabalhar aquele conteúdo em uma próxima
formação de orientadores, para que aquele conteúdo voltasse a ser trabalhado nas formações
dos orientadores de estudos com os professores alfabetizadores e assim ser consolidado. F2
comenta o avanço gradativo que houve na elaboração dos conteúdos das formações dos
orientadores de estudos, pois, inicialmente, estava se voltando muito a conteúdos trabalhados
em formações anteriores, enquanto, no final do ciclo 2014 se estava conseguindo desenvolver
conteúdos mais “amarrados” adaptados ao contexto de suas respectivas turmas, em que se
recebeu uma reposta positiva no avanço deles.
Fica claro que até este nível de comunicação da formação continuada, os diálogos
entre os dois níveis da formação (coordenador e formador) eram mantidos e desenvolvidos
fazendo com que as dificuldades, que chegavam até esses níveis, fossem supridas no meio da
elaboração do conteúdo trabalhado nas formações continuadas do Pacto.
No entanto, nos falta confirmar este dado no nível de orientador de estudos para
termos a certeza de que o diálogo apontado como existente, até o momento, era realmente
desenvolvido diante do ponto de vista dos orientadores de estudo. O2 comenta que a sua
comunicação com o seu formador ocorria dentro e fora da formação, onde fora da formação
eram usados outros métodos (e-mail, telefone e aplicativos para fins comunicativos) para se
desenvolver este diálogo com o formador, para que o mesmo tivesse um acompanhamento do
processo que estava sendo desenvolvido em seu município. O3 confirma tal acompanhamento
dos formadores, em que afirma a existência de uma comunicação fora da formação por meio
de outros métodos já citados. O1 chega a trazer uma crítica sobre o fato das formações se
prenderem a pauta de abordagem para aquela formação, consequentemente não conseguindo
se aprofundar em questões de dificuldades do orientador de estudos durante a formação, no
entanto, O1 comenta que percebeu que em outras formações voltava a se debater o que os
orientadores apresentaram dificuldades de compreensão.
Mesmo com o ponto indicado por O1, conseguimos perceber que os formadores
sempre buscavam demandar atenção aos orientadores de estudos e o desenvolvimento do
trabalho dentro e fora da formação. Seja mantendo contato fora do contexto de formação, seja
tentando suprir a dificuldade apresentada em uma formação posterior, em nossos dados fica
visível a tentativa de adaptar os conteúdos das formações em relação à demanda de
dificuldades apresentadas pelos orientadores. Tal posicionamento do formador diante do
orientador de estudo, constatado nas entrevistas dos orientadores de estudo, demonstra uma
tentativa de tornar o diálogo, entre esses participantes, eficaz e amplo, mostrando que existe
uma comunicação entre esses dois atores da formação continuada.
Com a confirmação da ocorrência de diálogo até o nível dos orientadores de estudos,
chegamos à última linha desta grande cadeia de diálogo formada na formação continuada
oferecida pelo PNAIC no ano de 2014, que é a comunicação entre orientador de estudos e
professor alfabetizador. O2, O3 e O1 apontaram possuir dificuldades de comunicação fora da
formação com os professores alfabetizadores de suas turmas, pois muitos não tinham um bom
domínio das tecnologias de comunicação usadas para tal diálogo. No entanto, mesmo com tal
problemática, o acompanhamento dos orientadores de estudo com os professores
677
alfabetizadores era mantido através de reuniões presenciais que ocorriam semanalmente. O2
comenta que incentivou seus professores alfabetizadores a entrar em contato com as
tecnologias para facilitar a comunicação e conseguir fazer com que este professor
desenvolvesse uma afinidade maior com as tecnologias digitais ampliando sua dinâmica de
sala de aula com o auxílio destes recursos. Também complementou sua fala dizendo que
buscou visitar as escolas dos professores os quais acompanhavam, para conseguir ter de perto
o panorama de como as atividades do Pacto estavam sendo desenvolvidas. O1, O3 e O4 por
possuírem empregos vinculados a escolas, comentam que sua vivência de orientador de
estudos servia para auxiliar a prática do PNAIC nas escolas os quais estavam vinculados, no
entanto, não conseguiam fazer o mesmo acompanhamento desenvolvido por O2 com as suas
professoras alfabetizadoras.
No ponto de vista dos professores alfabetizadores, este diálogo ocorria de forma
efetiva, em que conseguimos perceber três formas de acompanhamento diferente dos
orientadores de estudos do ponto de vista dos professores alfabetizadores. P1 comenta que
todas as atividades propostas pelo PNAIC tinham que ser relatadas para orientador de estudos,
onde o professor alfabetizador tinha que comentar como foram desenvolvidas as adaptações
feitas para o contexto de sua turma e as sugestões que eles tinham em relação ao
desenvolvimento da atividade. P4 comenta que o acompanhamento do orientador de estudos
era bastante satisfatório, onde nas reuniões ele tentava sanar todas as dúvidas e inseguranças
dos professores alfabetizadores para que o mesmo tivesse mais firmeza ao praticar as
atividades proposta pelo Pacto em sua turma. E P5 comenta que seu orientador tinha um
acompanhamento intenso das atividades, em que não se atinha somente as reuniões, buscando
sempre manter contatos por outros meios. Tais afirmações apontam que o diálogo entre o
professor alfabetizador e o orientador de estudos ocorria de forma satisfatória, como
conseguimos observar no relato de todos os níveis.
O diálogo intermediado entre a coordenação de linguagem e o professor alfabetizador
em nossos dados é apontado como eficaz, onde além de todas as formas e recursos de
comunicação indicados até o momento, C2 comenta que chegava a ter contato com a
realidade do professor alfabetizador através do relatório feito pelos formadores de linguagem.
No caso, podemos afirmar que o relatório era uma forma de comunicação de todos os níveis,
em que conseguimos observar que ele saía do relato de atividade do professor alfabetizador e
chegava até o coordenador de linguagem, não de forma integral, no entanto, de forma geral e
pontual.
Com todos os pontos expostos, conseguimos perceber o seguinte movimento dialógico
em meio aos níveis de formação continuada do PNAIC, que demonstra o fato de que o
processo de comunicação é contínuo e chega à realidade do professor alfabetizador, também,
fazendo com que volte as suas dificuldades para a coordenação de linguagem para que se
repense na elaboração do conteúdo da formação:
678
Problemáticas para a concretização da proposta do PNAIC
No caso, se nossos dados indicam que existem esforços de todos os lados da cadeia de
diálogo desenvolvida no Pacto para que a proposta de mudança do programa se concretize nas
salas de aula de alfabetização, onde estará à dificuldade para se consolidar tal prática no
período do ciclo de alfabetização na Educação Brasileira?
Nos dados coletados, ficou claro em comentários de participantes de todos os níveis
problemas externos aos participantes do programa, que não necessariamente poderia ser
resolvido pelos participantes de dentro dele. C2 chega a apontar o fato de substituição, por
motivos externos ao programa, dos professores alfabetizadores participantes do PNAIC nas
formações de 2013 e 2014, fazendo com que o trabalho desenvolvido pelo Pacto tivesse um
problema de continuidade. No caso, os professores alfabetizadores, que entrassem no ano de
2015, iriam sentir a ausência dos conteúdos trabalhados nos anos anteriores, pois não estavam
inseridos no processo de formação continuada. Tal fato dificulta bastante o trabalho do
PNAIC, pois o Pacto vem com uma proposta de formação continuada de quatro anos, no
entanto, fatores externos fazem com que professores alfabetizadores sejam substituídos com
dois anos de participação quebrando a continuidade do processo de formação.
Em relatos de O3 e O4, foi identificada a atitude dos orientadores de estudos de
determinado município tentarem criar uma estratégia de consolidar a proposta do PNAIC
criando o Núcleo de Alfabetização para desenvolver pesquisas e debates sobre o período do
ciclo de alfabetização, para que assim os professores alfabetizadores se mantivessem sempre
atualizados sobre esse período de ensino da Educação Básica. Entretanto, por não obter o
apoio necessário para a concretização de tal ideia, a ideia não foi levada a frente. No entanto,
O2 chega a comentar que desenvolveu um grupo de estudos sobre conteúdos pertinentes a
alfabetização com os professores alfabetizadores o qual orientava, porém, tal coisa partiu da
atitude pessoal dos professores e de O2 para que isso se concretizasse, sem auxílio externo.
Outro ponto falado pelo orientador O4 e o professor alfabetizador P1, é que
professores alfabetizadores que não possuem supervisores envolvidos de alguma forma com o
PNAIC têm dificuldades de desenvolver as atividades propostas pelo Pacto em suas escolas,
por não conseguir receber o apoio necessário para o desenvolvimento das mesmas. Também
foi relatado por P2 e P3, que a ausência de participação dos pais no processo de alfabetização
faz com que tenham dificuldade de consolidar alguns conhecimentos com os seus alunos,
pois, o desenvolvimento do trabalho tem que ser desenvolvido exclusivamente na sala de
aula.
Conseguimos observar que o diálogo dentro do PNAIC é desenvolvido, no entanto, a
consolidação da proposta do Pacto na educação brasileira não depende somente dos
participantes da formação, e sim, de uma mobilização maior da sociedade para que o processo
de formação continuada voltado para a o ciclo de alfabetização consiga alcançar o estágio
desejado.
679
muito semelhantes. Os orientadores de estudos O1, O3 e O4 exaltam em suas entrevistas o
fato das propostas do Pacto conseguir chegar ao professor alfabetizador e causar mudanças
perceptíveis aos seus olhos, onde O4 comenta que a formação do Pacto trouxe para os
professores alfabetizadores as teorias que eles precisavam para embasar suas práticas,
permitindo que eles tenham mais segurança em fazer suas atividades. O2 comenta que
consegue observar a evolução do PNAIC com o passar dos anos e percebe tal avanço nas
práticas de seus professores alfabetizadores com clareza.
No nível dos professores alfabetizadores, a mesma justificativa em relação ao PNAIC
como algo positivo para o ciclo de alfabetização é dada por todos os cinco participantes das
entrevistas, em que dizem que o PNAIC acrescentou nas práticas deles em sala de aula. No
entanto, algumas críticas vieram também em relação à dinâmica do programa, como: P1
comenta sobre as atividades muito complexas que o Pacto pede para que seja desenvolvida
em sala de aula, que normalmente não se adéqua ao contexto dos professores alfabetizadores e
suas turmas; P3 comenta sobre o excesso de atividades pedida pelo programa para os
professores alfabetizadores tornando o Pacto cansativo. No entanto, percebemos uma boa
aceitação dos professores alfabetizadores em relação às propostas do PNAIC.
680
crianças e buscando sempre contextualizar a escrita em seus usos e funções, como pede o
método do “alfabetizar letrando”. P2 busca desenvolver as atividades de produção escrita de
gêneros simples, segundo o método do “alfabetizar letrando”, no entanto, foi percebido que a
escrita é pouco abordada em comparação com a leitura na turma em que P2 leciona. P4
comenta que desenvolve atividades de produção textual, no entanto, o método de alfabetizar
ainda está ligado à ideia tradicional de trabalhar sílaba por sílaba. E P3 não desenvolve
atividades de produção escrita com os seus alunos, pois acredita que precisa seguir a
dicotomia de alfabetizar primeiro, para depois fazer com que a criança aprenda a escrever
textos.
Em nossos dados, conseguimos perceber que uma minoria ainda está vinculada a ideia
da antiga forma de alfabetizar. Quatro professores alfabetizadores integrantes de nossos dados
buscam desenvolver a produção escrita com as crianças do ciclo de alfabetização, enquanto,
um professor ainda acredita na antiga premissa de alfabetizar primeiro, para depois fazer com
que a criança escreva. Isso indica um bom dado no comportamento dos professores do ciclo
de alfabetização, pois, aparentemente, a mudança visada pelo Pacto começa a aparecer dentro
dos pensamentos dos professores em sua maioria.
Conclusão
681
Referências
ANTUNES, Irandé. O território das palavras: estudo do léxico em sala de aula. São
Paulo: Parábola, 2012.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, [1929], 2012.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
FERREIRO, Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Porto alegre: Arte
Médicas Sul, 1999.
HIGOUNET, Charles. História Concisa da Escrita. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.
LORANDI, Aline; CRUZ, Carina Rabello; SCHERER, Ana Paula Rigatti (2011). Aquisição
da Linguagem. In: Verba Volant. v. 2 n. 1. Disponível em:
<http://letras.ufpel.edu.br/verbavolant/segundo/lorandi2.pdf> Acesso em fev. 2014.
MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. São Paulo: Editora Brasiliense, 1989.
682
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alunos e professores. In.: PEREIRA, Regina Celi Mendes (Org.). Ações de linguagem:
formação continuada à sala de aula. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2010. p.
172-195.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.
VIGOTSKI, Lev Semenovich. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes,
1998.
683
ESTUDOS SOBRE A ACOMODAÇÃO LINGUÍSTICA NO PORTUGUÊS
BRASILEIRO: ANÁLISE DO PROCESSO DE ACOMODAÇÃO
LINGUÍSTICA DE FALANTES PARAIBANOS EM SÃO PAULO
Resumo
Apresentação
1
Título do Projeto de pesquisa/Plano de Trabalho: Estudos sobre a acomodação linguística no Português
brasileiro/Análise do processo de acomodação linguística de falantes paraibanos em São Paulo.
Estudante de Iniciação Científica: Mikaylson Rocha da Silva (E-mail: mikaylson_rocha@hotmail.com, telefone:
(83) 99927-8799).
Instituição de vínculo de bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br).
Orientador: Profº. Dr. Rubens Marques de Lucena (e-mail: rubenslucena@yahoo.com)
684
traços fonético-fonológicos, lexicais e discursivos, bem como, levando em consideração o
estudo da acomodação linguística, se há fatores extralinguísticos e linguísticos que
corroborem ao processo de convergência linguística.
Durante a pesquisa, alguns fenômenos fonológicos nos permitiram verificar os efeitos
da acomodação: a (não) palatalização da coronal /s/ anterior às oclusivas dentais surdas e
sonoras /t/ e /d/ produzidas por paraibanos. Também foram analisadas as variáveis estilísticas,
sociais e atitudinais dos falantes para compreender a incidência do fenômeno estudado.
O presente trabalho se encaixa na linha de pesquisa da Sociolinguística Variacionista,
especificamente em estudos de contato dialetal, cujo objetivo é compreender a acomodação
linguística de falantes paraibanos residentes em São Paulo há pelo menos 2 (dois) anos. A
escolha do objeto se deve ao fato de a variável /s/ ser marcada categoricamente pela não
palatalização no dialeto em contato. Acreditamos também que o prestígio encoberto da
variável paulistana pode gerar um reforço favorável à acomodação.
Diante do exposto, buscamos compreender como as pessoas da Paraíba passaram a
enxergar seu próprio dialeto e o dialeto de contato. Através de um instrumento de coleta
baseado no método laboviano clássico, analisamos as realizações fonéticas dos nossos
colaboradores em situação de entrevista. Assim, temos uma distinção entre os dialetos de
contato:
Para a realização desta pesquisa, lançamos hipóteses a partir das contribuições teóricas
de Fernández (1998) de que as atitudes linguísticas (positivas, negativas ou de neutralidade)
quanto ao dialeto de contato (falar paulista) podem justificar a acomodação dialetal do
segmento /s/ em posição de coda medial anterior às oclusivas surdas e sonoras /t/ e /d/.
Também esperamos que informantes com maior tempo de exposição ao dialeto alvo possam
apresentar maior expectativa à acomodação da variável em estudo, assim como informantes
com baixo nível de escolarização possam apresentar uma menor acomodação (LABOV,
1972). No que concerne às variáveis linguísticas independentes, acreditamos que o tamanho
da palavra, tonicidade e o contexto fonológico podem acelerar o fenômeno de acomodação
linguística.
O objetivo geral deste trabalho é analisar como as atitudes linguísticas podem
contribuir para o processo de acomodação linguística de falantes paraibanos morando em São
Paulo. Os nossos objetivos específicos são: a) Examinar como os tipos de atitudes podem
favorecer ao processo de convergência ou divergência linguística; b) Verificar como os
falantes, em contato com outra variedade linguística, assimilam traços fonético-fonológicos,
lexicais e discursivos no processo de acomodação da comunicação; c) Avaliar em que medida
o interlocutor pode ser o principal alvo para que a acomodação ocorra.
Por fim, a relevância deste estudo é que, à medida que contribuiremos teórica e
metodologicamente para os estudos de dialetologia do PB, também refletiremos sobre as
percepções atitudinais que os nossos respondentes paraibanos têm quanto à sua forma de falar
estando em contato dialetal com o falar paulista. Percebemos que esta pesquisa contribui para
a desconstrução de estereótipos e preconceitos linguísticos em relação ao povo paraibano,
685
atentando ao fato de que não há formas “mais” ou “menos” corretas de se falar o PB, mas há
distintas maneiras de se expressar dizendo a mesma coisa.
Fundamentação teórica
Para Trudgill (1978; 1983), a Sociolinguística se constitui como uma disciplina que
estuda a língua e sua relação com a sociedade e a cultura. Tais relações, segundo o autor,
podem se configurar em três direções: a influência da sociedade na língua, a variação de
fenômenos socioculturais e linguísticos e a influência da língua na sociedade.
Fernández (1998) argumentava que, em pesquisas variacionistas, as variedades são
vistas como um conjunto de elementos ou padrões linguísticos universais associados a
contextos específicos, tais como: profissional, social, regional, cultural e político. De certa
forma, há uma imbricação entre estruturas ou padrões e o uso desses padrões sendo
determinados por questões extralinguísticas.
Outro objetivo essencial aos estudos variacionistas é o de introduzir o conceito de
regra variável, demonstrando que há uma covariação sistemática entre as variações
linguísticas e sociais. Ou seja, se tomarmos como exemplo a fala espontânea, ainda assim
iremos encontrar padrões linguísticos e extralinguísticos. Para tanto, ao defendermos o
conceito de regra variável, estamos dialeticamente indo contra ao conceito de regra
categórica, a qual é sustentada pelo paradigma gerativo.
Labov (1972), em seu memorável trabalho Padrões Sociolinguísticos, discorria acerca
da teoria da variação e mudança como uma “linguística socialmente realista”, ou seja, o
objetivo teórico dessa corrente era o de compreender como a língua se estruturava a partir dos
signos linguísticos do sistema de uma língua. O estudo da linguística diacrônica foi objeto de
pesquisa para muitos dos filólogos e comparatistas do século XIX. Entretanto, o
Estruturalismo do século XX, ao legar importância ao aspecto sincrônico em detrimento ao
diacrônico, colocou os estudos da mudança num lugar periférico na linguística.
Essa mudança de paradigma na Linguística, sobretudo no que diz respeito à
centralidade da sincronia, é um dos interesses da teoria laboviana. Para Labov (1972, p.338),
o motivo para desconsiderar esse paradigma saussuriano é o de que: “[...] A sociolinguística
segue o princípio apresentado por Jespersen de que, para compreender alguma coisa, devemos
compreender como ela veio a existir”.
O que Labov (1972) argumentava era que as correntes formalistas dedicaram tantos
anos aos estudos do sistema linguístico e da autonomia da sintaxe que acabou esquecendo-se
de desenvolver uma Linguística da fala. Assim, Labov (1972) denominou de paradoxo
saussuriano a incoerência de que a atividade mental “língua” era sistemática, arbitrária,
coletiva e homogênea. Por outro lado, a fala era vista como uma atividade assistemática,
caótica e regida pela pluralidade discursiva de cada indivíduo. Desse modo, Labov (1972)
chamou atenção para a incongruência teórica de que a fala não podia ser resultado do sistema
linguístico. Nos moldes saussurianos, a fala (langue) é compreendida como parte social e
homogênea e a fala (parole) como representação assistemática, heterogênea e individual.
No que diz respeito à variação na fala e na comunidade de fala, Labov (1972, p.238)
argumentava que: “é comum que uma língua tenha diversas maneiras de dizer a mesma
686
coisa”. Desse modo, para Labov (1972), no interior das comunidades de fala era comum que
houvesse distintas formas linguísticas de se referir a um mesmo fenômeno, como é caso do
fenômeno dialetal analisado neste estudo.
A partir das contribuições labovianas sobre o variacionismo linguístico nas
comunidades de fala é que verificamos o efeito da acomodação linguística em contato
dialetal.
Uma teoria cara para os estudos em dialetologia é a A Teoria da Acomodação, a qual
busca compreender como usuários de uma língua em situação de interação verbal, alteram, de
maneira estratégica (consciente ou não), seus códigos, registros e estilos linguísticos para se
adaptarem às necessidades conversacionais, linguísticas, sociais e culturais da situação
comunicativa em que esses mesmos sujeitos estão inseridos. Em outras palavras, para Giles et
al. (1973), a Teoria da Acomodação busca explicar como os falantes se acomodam
linguisticamente ao interlocutor no momento da interação verbal.
O foco teórico passa a ser o aspecto interpessoal da diversidade da fala, e o desafio
para as pesquisadas voltadas aos estudos de contato dialetal é determinar como os tipos
específicos de diversidade de fala acontecem e o que os motivam no seio conversacional.
Ainda no que diz respeito aos primórdios dos estudos da Teoria da Acomodação, Giles
e Powesland (1975) afirmam que a teoria discute a utilidade em mudança de registros em
nível linguístico, como por exemplo, o uso de sotaques (accent usage). Assim, com base
nessa premissa teórica, os autores argumentam que a avaliação do falante e sua diversidade de
fala recaem à situação dialógica, ou seja, quando o destinador quiser aprovação do seu
interlocutor, ele mudará registros e adaptará seu padrão de fala ao do seu interlocutor para
minimizar as tensões linguísticas envolvidas no ato conversacional.
Levando-se em consideração o ato dialógico em que os falantes de distintas realidades
dialetais estão inseridos, a essência teórica dessa corrente se encontra em minimizar as
relações de similaridade-atração desenvolvidas no âmbito da psicologia social (GILES et al,
1973). A redução de dissimilaridades é importante no processo de acomodação, pois o
processo pode não apenas envolver integração em grupo, aceitação social, melhor
desempenho conversacional, mas também recrudescimento identitário linguístico por parte de
falantes expostos a uma nova realidade dialetal.
Como bem afirmam Giles, Taylor & Bourhis (1973), o processo de acomodação
linguístico pode ser um reflexo de um desejo individual de aprovação social ou de reduzir
pressões culturais, estereótipos sociais, culturais e linguísticos. Ainda, segundo os autores, o
processo de acomodação pode se dar sem nenhuma aprovação por parte dos interlocutores,
como pode ser atenuado por pressão das esferas sócio-discursivas nas instâncias da
comunidade de fala em que o indivíduo esteja inserido.
Assim, segundo estudos de Giles et al. (1973, p.167-168), essas pressões do processo
de acomodação fazem com os “indivíduos que acomodam seu falar induzem seus
destinatários (interlocutores) a avaliá-los mais favoravelmente, e que este fenômeno pode ser
visto como do desejo individual por aprovação social”. Apesar de a interação verbal ser
motivada pela díade locutor-interlocutor, Giles et al. (1973) afirmam que a acomodação não
pode ser vista como resultado de aceitação do interlocutor, mas pelo processo de integração
linguística.
No âmbito da Accomodation Theory of Speech [SAT], há dois conceitos-chave, que
687
são: convergência e divergência linguística. Os postuladores dessa teoria, Giles et al. (1973),
afirmam que há “convergência de fala” quando o falante procura aprovação do interlocutor ao
adaptar seu sotaque na intenção de reduzir as dessemelhanças fônicas que há entre ambos. O
processo de convergência linguística obedece às dinâmicas da interação verbal entre os
usuários da língua, de forma que aspectos linguísticos e extralinguísticos são determinantes na
mudança do falar de um dos usuários da conversação.
Embora o fenômeno da acomodação sofra pressões sociais e linguísticas, é necessário
ressaltar que a aprovação recebida não significa necessariamente que haja alguma preferência
por parte do remetente. O lugar sócio-historicamente ocupado pelos dialetos em contato é
extremamente importante, pois no caso de dialetos com menor prestígio social, em que há
exclusão e rechaço, a tendência é que os falantes busquem pistas linguísticas para modificar
ou disfarçar as diferenças na fala. Para Giles et al. (1973, p.150), o conceito de convergência
deve ser compreendido como:
Ainda segundo Giles et al. (1987; 1973), a convergência linguística não significa que o
falante irá modificar todos os aspectos disponíveis de sua fala para o dialeto em contato.
Também não quer dizer que o processo de acomodação é inacabado e fragmentado, ou que o
fenômeno de divergência não possa fazer parte desse processo.
A divergência linguística, assim como a convergência linguística, pode se materializar
em diversas formas, verbal e não verbalmente. O fenômeno de divergência linguística é por
muitas vezes definido como “desacomodação”, que, segundo Giles (1973), o falante opta por
manter registros do dialeto de origem, como forma de manter o recrudescimento identitário ou
quando não houver pressão para mudar de registro.
Metodologia e análise
Todos os colaboradores paraibanos deste estudo são filhos de nordestinos e que foram
a São Paulo basicamente pelo mesmo propósito – conquistar estabilidade de vida; trabalhar
numa cidade grande, a fim de conquistar um bom emprego; garantir boas escolas aos seus
688
filhos; em alguns casos, fugir da seca e da miséria em que viviam na Paraíba.
Todos os falantes recrutados residiam na grande São Paulo, fato que facilitou não
apenas a coleta, mas a compreensão do objeto de estudo, já que todos os falantes estavam
numa mesma comunidade de fala.
No quadro 2, podemos observar uma breve descrição do perfil dos falantes
paraibanos:
Variáveis linguísticas
As variáveis linguísticas na Sociolinguística Variacionista estão relacionadas quase
sempre aos fenômenos fonéticos e fonológicos, por serem mais recorrentes, mais fácil de
manipular e livres da dubiedade de sentido, como é o caso de estudos na Semântica.
Consoante Câmara Jr. (2006), o dialeto paulista em oposição ao paraibano se
caracteriza por apresentar a realização fricativa alveolar do fonema /s/ antes das oclusivas /t/ e
689
/d/. Essa distinção categórica entre os falares também é defendida por Callou e Leite (2009),
ao afirmarem que, dependendo do dialeto, só ocorrem [s] ou [ʃ] quando seguido de uma
consoante surda, como em li[s]ta ou li[ʃ]ta. O mesmo também acontece quando o segmento
posterior é uma consoante sonora, como em de[z]de e de[Ʒ]de.
Dessa maneira, o quadro 3 apresenta a delimitação das variáveis deste estudo:
Quadro 3. Variável fricativa e variantes antes das oclusivas dentais surdas /t/ e sonoras /d/
Variáveis sociais
Os fatores sociais são variáveis independentes, que podem (ou não) influenciar no
processo de variação linguística.
Observamos o quadro 4, no qual estão apresentadas as variáveis sociais controladas
neste estudo.
Códigos
Variáveis Sociais
Tempo de residência em São Paulo
(c) até 12 anos (l) mais de 12 aos
Contato diuturno com falantes paulistas
(r) reside com paulistas (n) não reside com paulistas
Contato com falantes paraibanos
(p) Falantes com contato com paraibanos (s) Falantes sem contato com paraibanos
Idade
(e) Adulto emergente (18-30 anos) (d) Adulto acima dos 30 anos
Sexo
(m) masculino (f) feminino
Anos de escolarização
(a) Até 2 anos (b) De 3 a 9 anos
Acima de 9 anos
690
critérios previamente estabelecidos à coleta de dados. A partir da recorrência do objeto de
pesquisa, ou seja, a produção da fricativa /s/ antes dos segmentos /t/ e /d/, é que buscamos
entender se havia ou não condicionamento entre as variáveis independentes sobre a
dependente.
Embora houvesse critérios no processo para recrutar colaboradores para a formação do
corpus desta pesquisa, não consideramos este estudo somente experimental, pois as variáveis
de controle teriam que ter um trato mais explanatório e, portanto, não manipulado.
Desta maneira, a natureza deste estudo é quantitativa e qualitativa, tendo em vista que
o objetivo de compreender o comportamento da fricativa /s/ antes das oclusivas /t/ e /d/ se deu
através do controle de variáveis linguísticas (tratamento estatístico) e análise do discurso dos
falantes (análise qualitativa). Todo o percurso de obtenção dos dados foi a partir de
entrevistas e de gravação de observação etnográfica. Quanto ao tratamento dos dados
coletados, fizemos uso do programa estatístico GoldVarbX (TAGLIAMONTE, 2006), que é
amplamente usado nos estudos de variação linguística.
Por questões de natureza de pesquisa, os instrumentos de coleta foram adaptados a fim
de facilitar a avaliação qualitativa do estudo. Dessa maneira, seguimos as seguintes etapas:
Etapa 1: a ficha de caracterização do falante foi desenvolvida para traçar o perfil social
do sujeito da pesquisa, assegurando que informações importantes fossem registradas durante o
contato com os colaboradores. Em um segundo momento, após ter conhecido o novo
colaborador, marcamos um dia apropriado para que a entrevista pudesse acontecer. A
entrevista foi aplicada com uma média de quarenta a uma hora de duração, e envolvia
questões desde o dia a dia, sonhos em morar em São Paulo, até questões específicas de atitude
dialetal.
Etapa 2: Junto à entrevista de atitude linguística, aplicamos uma entrevista
sociocultural e sociolinguística que foi baseada e adaptada de acordo com indicações de
Tagliamonte (2006). O intuito dessa entrevista era de conhecer um pouco mais sobre os
colaboradores, se poderia haver algum aspecto econômico, cultural e idiossincrático em
comum entre eles e como forma de facilitar a dissertação qualitativa sobre eles.
691
refere ao fenômeno da não palatalização do segmento /s/ em coda silábica medial antes das
oclusivas alveolares /t/ e /d/, selecionamos todos os fones produzidos nessa posição silábica
em uma situação que favorecia menor monitoração da fala (neste caso, as entrevistas).
Nesta rodada, obtivemos um total de 843 realizações da variável /s/, sendo 573
favorecendo ao fenômeno de acomodação dialetal contra 269 ocorrências de permanência do
comportamento linguístico paraibano na fala dos colaboradores.
Observamos no gráfico 5 um resumo da acomodação geral da fricativa /s/:
32%
Não palatalizou
68%
Palatalizou
Anos de escolarização
Essa variável foi relevante para a compreensão do fenômeno de acomodação dialetal
desse grupo de falantes paraibanos residentes em São Paulo, pois acreditamos que a escola
pode influenciar direta ou indiretamente na forma como nos organizamos no mundo social
através da língua.
692
Tabela 1. Anos de escolarização
693
segmento /s/ por falantes que têm contato com paraibanos e por falantes que não têm contato
com paraibanos. Assim, os colaboradores que tinham contato com paraibanos apresentaram
um peso relativo de 0,31, o que desfavorece o fenômeno em estudo; enquanto falantes que
não possuíam contato com paraibanos apresentaram um peso relativo de 0,69.
O contato foi avaliado levando-se em conta a maneira como esses falantes se
relacionam com paraibanos, tanto em São Paulo, como viajando com certa frequência à
Paraíba.
Chamou-nos atenção que nesse grupo de falantes sem contato com paraibanos, muitos
deles tinham lembranças que eles julgavam “ruins” da cidade natal, e, portanto, apresentaram
atitudes negativas quanto ao falar de origem.
Considerando a trajetória de nossos colaboradores e aliado à concepção de língua
como prática intersubjetiva, podemos conjecturar que falantes ao estarem expostos a uma
nova realidade dialetal, procurariam meios de participar das regras do convívio social e do
dialeto em contato para que fossem aceitos socialmente. Assim, era de se esperar que falantes
que não tivessem contato com pessoas de sua cidade de origem iriam ter como parâmetro
linguístico os traços da comunidade alvo.
694
Variável sexo
A última variável que o programa GoldVarbX detectou, como relevante para este
estudo, foi o contexto fonológico anterior à fricativa /s/. Delimitamos essas ocorrências
somente após ouvir os áudios de nossas entrevistas, e percebemos a ocorrência das seguintes
695
vogais: dorsal /a/, labial /o/, coronal /e/ e nasal /õ/.
Conforme a tabela 8, podemos verificar que o fenômeno de produção do fone sibilante
/s/ antes de /t/ e /d/ foi mais produtivo quando a vogal dorsal /a/ era o contexto fonológico
anterior, como na palavra ba[s]tante. O peso relativo atribuído a esse contexto dorsal foi de
0,54 e um percentual de 74% das ocorrências pertinentes ao fenômeno. Em segundo lugar,
ficou a vogal labial /õ/, com 69% das ocorrências e 0,51 do peso relativo. Um exemplo para
esse segundo contexto é a palavra go[s]to. Em seguida, o programa detectou as ocorrências
para o segmento coronal /e/, como em re[s]taurante, e representou um percentual de 60% e
um peso relativo de 0,46, que desfavoreceu ao fenômeno. Por fim, o programa detectou uma
menor relevância da vogal nasal /õ/, com 52% de ocorrência e um peso relativo de 0,32, um
exemplo dessa ocorrência é visto na palavra con[s]trução.
Cagliari (1974, p.118), ao estudar a palatização do português do Brasil,
especificamente do dialeto paulista, afirma que, do ponto de vista fonético, a palatalização
caracteriza-se por “uma mudança fonética que consiste na ampliação da zona articulatória de
produção de uma consoante, devido ao desdobramento da parte média da língua no palato
médio”. Ou seja, o comportamento da fricativa /s/ em situação palatal é também parte do
processo de assimilação sofrido por certas consoantes e vogais em contato com um fonema
palatal.
696
Segundo Rocha (1984), o ego etnocêntrico ocorre em distintas instituições da
sociedade. Para o autor, o princípio dos comportamentos etnocêntricos se dá por meio do
relativismo cultural e científico. No caso da instituição escola, percebemos que por muitos
anos a escola vem funcionando como uma instituição que reproduz comportamentos da classe
dominante. Neste caso, segundo o colaborador, um fator preponderante para que buscasse
pistas dialetais favoráveis à acomodação ao falar paulista era o fato de ser ridicularizado na
universidade.
Interlocutor 1(entrevistador): Você já precisou mudar a sua maneira de falar para ser aceita?
Você gostaria de falar como as pessoas daqui?
Interlocutor 2 Colaborador 1: Sim, no início eu tentava mudar meu vocabulário, falava mais
devagar. Nos “esses” eu mudava os “chiados” que eram mais necessários e o vocabulário que
faz parte daqui [...]. Mas, sabe, eu não gostaria de falar como as pessoas daqui,eu quero ser
aceita e respeitada por ser paraibana, se eu mudar a minha forma de falar será devido ao tempo
que moro aqui, mas não por pressão.
Colaborador 1
Interlocutor
Colaborador 1(entrevistador):
1 Você já precisou mudar a sua maneira de falar para ser aceita?
Você gostaria de falar como as pessoas daqui?
Interlocutor 2 Colaborador 1: Isso não! Não, nunca precisei fingir ser o que não sou. Mudar
a forma de falar é esconder que você é. Nunca precisei não. No começo quando morei em São
Mateus, eu achava bonita a maneira como falavam lá. Eu não sei, nunca fui obrigado a mudar
a maneira de falar, mas ainda acho linda a forma de falar daqui, acho suave o sotaque não é
tão “aperreado” como o de vocês de lá.
Colaborador 2
697
positivas quanto à forma de falar tanto na Paraíba como em São Paulo. Por vezes, defendendo
a ideia de que não vem mudando a sua forma de falar e de que não sofreu preconceito. O
colaborador 2 caracteriza linguisticamente a forma de falar paraibana como “aperreada”, ou
seja, “caótica”, e não se inclui nesse “caos” quando faz uso do pronome dêitico “vocês” e
aponta para o entrevistador conferindo a ele e a todos os outros paraibanos que estão na
Paraíba.
Por outro lado, o colaborador 2 ao adjetivar o sotaque paulista como “suave”,
observamos que essa escolha refletiu-se por achar o sotaque paraibano “arrastado”. Conforme
explicita Bakhtin (2011), a palavra é uma ponte estabelecida entre o locutor e interlocutor,
sendo ela marcada por sua característica polifônica. Ainda segundo o autor, a palavra nunca é
vista como “item dicionarizado”, mas como “produto de interação verbal” causando efeito
dialógico a quem se direciona.
Acreditamos que as vozes que permeiam no discurso do falante são vozes
“dominantes” marcadas historicamente e que tentam caracterizar linguisticamente a
supremacia de um dialeto sobre outro. Percebemos que esse relativismo cultural e linguístico
também contribuiu para a convergência linguística do falar paraibano em São Paulo.
Interlocutor 1(entrevistador): O que você acha do seu sotaque? Tem algo que não gosta?
Você prefere a forma de falar daqui?
Interlocutor 2: Colaborador 3: É pra falar a verdade? Pode? Eu acho feia a forma de falar
na Paraíba [...]. Desculpa, sei que você também é de lá. Quando eu ligo para meus pais e
familiares, eu acho e[s]tranho, porque falam muito rápido, alto e arra[s]tado, no final ninguém
entende nada. Eu tive que reaprender a falar como as pessoas daqui. Eu não acho que o
português falado aqui é o mais correto, mas comparado com o de lá, aqui falam mais correto,
mais devagar, respeitam as regras da linguagem, pelo menos eu acho. Meu filho nasceu aqui,
fala como as pessoas daqui, eu go[ʃ]to mais da forma de falar daqui.
Colaborador 3
Colaborador 1
698
Considerações finais
A escolha da fricativa /s/ antes de /t/ e /d/ se deu por seu comportamento ser categórico
em ambos os falares: no falar paraibano esse fonema é marcado pela sua palatalização e no
falar paulista pela ausência deste som. Embora a escolha fonético-fonológica tenha essa razão
de “categorização” dos falares aqui em estudo, é necessário ressaltar que o valor simbólico
atribuído a cada falar nos fez escolher esse determinado fenômeno. Ou seja, uma escolha
fonético-fonológica por si só não justificaria a relevância de uma pesquisa no âmbito da
Sociolinguística Variacionista. É necessário, portanto, que existam motivações, pressões
linguísticas e sociais envolvendo o fenômeno. Isto é, um valor sociocultural atribuído a uma
particularidade linguística em determinada comunidade de fala.
A partir dos resultados obtidos neste trabalho, observamos que o fenômeno de
acomodação dialetal é fortemente marcado pela relação sujeito-interlocutor, pelos interesses
conversacionais entre os usuários de uma língua, que em muitas vezes são reflexos da
necessidade de integração em grupos sociais e/ou para diminuir a tênue dissimilaridade entre
os falares.
Dessa maneira, no que tange à realização do fone /s/ antes de /t/ e /d/ na Paraíba,
podemos dizer que essa variável tem um menor prestígio linguístico e social, enquanto a
realização desse fone na comunidade de fala paulista tem status social e linguístico mais
prestigioso.
Diante dessa construção sócio-histórica e linguística em torno da produção do
/s/ em ambos os falares, observamos que falantes migrantes paraibanos em São Paulo, em
situação de interação verbal com distintos interlocutores, eram mais coagidos a mudar a
maneira de falar para atender às necessidades conversacionais de seus interlocutores.
Os resultados obtidos na primeira rodada mostraram um total de 843 realizações da
variável /s/, sendo 573 favorecendo ao fenômeno de acomodação dialetal e 269 ocorrências
que ainda mostravam o comportamento tipicamente paraibano na fala dos colaboradores deste
estudo. Diante disso, observamos que 68% dos dados obtidos pelo programa estatístico
GoldVarbX (SANKOFF, TAGLIAMONTE & SMITH, 2005) favorecia ao fenômeno de
mudança dialetal.
Percebemos que as atitudes dos nossos colaboradores diferiam muito entre si, e
atribuímos essa diferença à trajetória de vida de cada um informante. Para Bourdieu (1999), o
lugar ocupado pelo homem na atividade que ele mesmo produz é resultado de forças de ação e
opressão de capitais simbólicos, culturais, econômicos e linguísticos. Portanto, acreditamos
que os falantes 1, 2 e 3 apresentaram em seus discursos maiores ocorrências de opressão e de
violência simbólica quanto à maneira paraibana de falar.
Foucault (1989), em seu texto Genealogia do Poder, argumenta que as relações de
poder através da linguagem eram o único meio disponível para se chegar a certo
conhecimento do homem, enquanto sujeito, e do mundo, enquanto fenômeno. A linguagem
por ser uma prática social constitutiva, é nela e através dela que passamos a incluir e excluir
nossos interlocutores de determinados espaços sociais.
Não muito diferente dos estudos em atitudes linguísticas, acreditamos que essas
relações de poder estabelecidas através da língua em instituições sociais, fez com que alguns
de nossos colaboradores fossem atingidos por discursos contrários à adoção da variação
699
linguística.
Por fim, observamos neste estudo que as atitudes positivas influenciaram o processo
de acomodação dialetal de falantes paraibanos residentes em São Paulo, e verificamos
também que as atitudes negativas quanto ao próprio dialeto causaram a divergência
linguística. Grosso modo, falantes que relataram ocorrência de violência simbólica, quanto ao
dialeto de origem, estavam mais acomodados ao dialeto alvo do que aqueles que não
passaram por situações preconceituosas e xenófobas.
Também reiteramos que as variáveis sociais desempenharam um papel fundamental
para a compreensão do fenômeno da acomodação, visto que, conforme preconizávamos em
nossas asserções, falantes mais escolarizados estariam mais conscientes linguisticamente
sobre as marcas categóricas do falar paulista, isto é, estes falantes percebiam o que era distinto
entre o falar de origem e o de contato.
Para concluir, avaliamos que o processo de acomodação dialetal deste estudo é
decorrente de vários fatores: o fato de haver uma verticalização de valoração entre variedades
do PB, que neste caso é exemplificado pela migração de um povo que detém um falar “menos
prestigioso” para uma comunidade de fala na qual o dialeto é, desde o incurso histórico,
considerado “padrão” ou “correto”; a necessidade de integração e aceitação social; o lugar
sócio-histórico ocupado pelos colaboradores deste estudo, isto é, quem os são, de onde vêm,
com quem e o porquê que foram para São Paulo e as categorias linguísticas e extralinguísticas
observadas como fundamentais para controle do fenômeno da acomodação.
Referências
BHABHA, H. "Dissemination: Time, narrative and the margins of the modern nation." In:
The Location of Culture. London. Routledge. 1990.
CAGLIARI, L.C. Análise fonológica: introdução à teoria prática com especial destaque para
o modelo fonêmico. São Paulo: Mercado de letras, 2002.
CALLOU, D.; LEITE, Y. Iniciação à fonética e à fonologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.
700
ariel, 1998.
SAID, E.W. Cultura e Imperialismo. Denise Bottman trad., São Paulo: Companhia das
Letras. 1995.
TAGLIAMONT, S. A. Sali and SMITH, Eric. Goldvarb X: variable rule application for
Macintosh and Windows. Departamento de linguística, Universidade de Toronto, 2005.
701
AS CARTAS NO ALMOCREVE DE PETAS,
DE JOSÉ DANIEL RODRIGUES DA COSTA
Resumo
Palavras chave: Almocreve de Petas. Escrita epistolar no século XVIII. Sátira. Jocoso
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Ler e escrever nos folhetos periódicos lusos dos séculos XVIII
e XIX.
Estudante de Iniciação Científica: Suelen Oliveira de Brito (e-mail: suelenbrito@outlook.com.br; telefone: (83)
98738-5806)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br; e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientadora: Socorro de Fátima Pacífico Barbosa (e-mail: socorrofpbarbosa@hotmail.com; telefone: (83) 99311-
3202)
702
Pelo baixo custo, todos podiam ter acesso a esses folhetos, até mesmo os iletrados, pois as
práticas de leitura dos setecentos e oitocentos divergiam da nossa maneira de ler
silenciosamente e com os olhos. Nesse período, ler em locais públicos, em família ou entre
amigos era comum o que tornava a leitura uma prática compartilhada (CHARTIER, 2011).
Assim sendo, o trabalho deteve-se sobre o gênero epistolar, fundador da escrita em
jornais e periódicos, mas que tem sido pouco considerado por alguns historiadores da
literatura, os quais se apropriam dos objetos literários cometendo sérios anacronismos, ou
seja, investigam os textos literários do passado sem considerar os modos de apropriação,
recepção e os procedimentos retóricos de cada gênero de acordo com o momento histórico de
sua publicação (PÉCORA, 2001). Pensando nessa problemática, defendemos que “toda
reflexão metodológica” deve “enraízar-se, com efeito, numa prática histórica particular, num
espaço de trabalho específico” (CHARTIER, 1991, p. 178). Assim, faz-se relevante um
estudo que situe a epístola no contexto histórico a qual pertence, sendo necessário, portanto,
vinculá-la ao seu suporte de origem: o jornal. Neste suporte, a carta não deve ser estudada
pelo viés privado, mas sim ligada ao espaço público, tendo em vista que “entre os séculos
XVII e XVIII, existe todo um outro conjunto de relações com os textos que passa pelas
leituras coletivas, leituras que manipulam o texto, decifrado por uns e outros, por vezes
elaborado em comum, o que põe em jogo alguma coisa que ultrapassa a capacidade individual
da leitura” (CHARTIER, 2011, p. 233). Sendo assim, “a escrita da carta no jornal não se
constituía como prática privada de escrita, mas como atividade socialmente extensa, cuja
leitura era partilhada não pelos ausentes, mas por aqueles que se presentificavam na partilha
que faziam da comunidade de leitores de determinado periódico” (BARBOSA, 2011, p. 332).
Afinal, a leitura era realizada em locais públicos, como nas praças e salões, por alguém
letrado que lia para uma comunidade de leitores.
Ao “revisitar” a época em que as epistolas eram publicadas pelos jornais, percebemos
que estas serviam tanto como exemplo para a redação do gênero, já que serviam como modelo
nos manuais para a escrita de outras cartas, quanto para entreter o povo, pois abordava de
forma jocosa assuntos variados, relacionados à sociedade portuguesa, como a sátira à mulher,
tipos sociais e aos costumes da própria sociedade portuguesa. Quando nos atentamos para a
redação do gênero e, consequentemente, aos procedimentos retóricos, a vinculação das cartas
ao espaço público e, principalmente, a variedade de temas abordados nas missivas, foi
necessário retomarmos historicamente o conceito do termo “literatura” à época, o qual
compreendia sentido muito diferente do que os críticos e historiadores contemporâneos
consideram como tal. Eagleton (2006), ao falar sobre as definições de literatura, citando o
exemplo da Inglaterra no século XVIII, afirma:
703
O autor se refere à Inglaterra, todavia a definição pode ser concebida como um
conceito de literatura aplicável a Portugal da época, e que abrangia gêneros diversos como
cartas, avisos, notícia entre outros, hoje impensáveis no campo literário. Pensando o literário
como sinônimo de erudição e conhecimento, é importante no estudo epistolar atentar para o
contexto histórico em que se inserem as missivas e suas funções, entre elas “instruir e
deleitar” e ainda considerar a diferença do que se considera literatura hoje e o que era séculos
atrás para não se cometer anacronismos.
O corpus que compõe este estudo é, portanto, composto por 41 cartas pertencentes ao
folheto luso Almocreve de Petas1, ou moral disfarçada, para a correção das miudezas da
vida, do editor José Daniel Rodrigues da Costa, o qual circulou em Lisboa (Portugal), entre os
anos de 1978 e 1799, editado pela Oficina de Simão Thadeu Ferreira. Apresentemos a parte I
do Almocreve de Petas:
1
O almocreve, de acordo com Silva (1789, p. 20), é um homem que conduz bestas de carga, e transporte e as
petas por sua vez, seriam graças chulas, mentiras enganosas, isto é, enganar com graças. A imagem desse
homem que leva graça ao povo é vista na primeira página do periódico.
704
O objetivo geral da pesquisa é analisar as cartas do século XVIII em seu suporte de
origem, expondo seus pressupostos retóricos, bem como o conjunto de gêneros em estilo
jocoso, contribuindo, assim, com a revisão da literatura portuguesa. Os objetivos específicos
visavam: catalogar todas as diversas cartas dos dois volumes do Almocreve de Petas;
compreender as regras de escrita do gênero epistolar e sua definição; identificar os tipos
predominantes de cartas jocosas do periódico; assinalar os principais temas das cartas nos
periódicos jocosos; reconhecer a participação dos periódicos jocosos no contexto da imprensa
portuguesa e analisar os usos e apropriações dos gêneros do estilo sublime jocoso.
Fundamentação teórica
2
Apesar de termos consultado o jornal Almocreve de Petas no suporte de origem, tivemos acesso a ele por meio
de uma plataforma digital (acervo microfilmado da Biblioteca Nacional de Portugal), que disponibiliza muitos
periódicos online para quem desejar conhecê-los. Além disso, sabemos que esses jornais, devido ao tempo em
que foram criados, podem se deteriorar, o que torna a digitalização um importante instrumento na preservação de
sua memória.
705
entender as funções desses gêneros do discurso retórico usamos como aporte teórico o livro
Elementos de retórica literária (1967), do retórico alemão Heinrich Lausberg. Os estudos de
Barbosa por sua vez, foram de grande valia pois, utilizando-se dos secretários, a pesquisadora
analisa as cartas do jornalista Miguel Lopes do Sacramento de forma a mostrar como esses
escritos se constituíram como escrita ficcional, modulada pelas regras da retórica
(BARBOSA, 2011).
No que se refere à história e ao conceito de literatura vinculada aos periódicos
oitocentistas, os estudos Abreu (2003) e Eagleton (2006) foram de grande relevância. Em seu
artigo “Letras, Belas Letras, boas letras”, Márcia Abreu discorre sobre como se construiu
historicamente o conceito de literatura que temos hoje e a partir disso nos ajuda a
compreender que podemos ser anacrônicos quando queremos atribuir o conceito de literatura
que temos hoje, ao que se tinha de literário séculos passados, nos quais nem o termo literatura
existia. Pensando nessa construção histórica do termo, optamos por adotar um conceito de
literário que fosse caro ao século XVIIII, para isso utilizamos o conceito que Eagleton traz na
obra Teoria da literatura: uma introdução.
Para entender a relação entre jornal e literatura nos inteiramos da pesquisa de Barbosa
(2007). O livro Jornal e literatura: a imprensa brasileira no século XIX da professora
Socorro de Fátima Pacífico Barbosa traça um percurso histórico e discorre sobre o literário
nos periódicos, bem como menciona os gêneros literários que neles circularam e foram
apagados da história da literatura brasileira, além de delinear uma história da leitura nos
jornais e periódicos. Dessa forma, o livro se tornou uma pertinente fonte de pesquisa para
nosso trabalho.
Por fim, a compreensão da história e dos costumes da sociedade lusitana se deu a
partir dos estudos de Monteiro (2011) e Martins (1964). Esses estudos nos possibilitaram
compreender como era a sociedade portuguesa do século XVIII, os costumes, os hábitos, as
crenças culturais tanto da elite quando das classes populares. Esses aspectos foram
fundamentais para entender em que e sobre qual sociedade o Almocreve circulava, para que e
em que contexto sociocultural o redator o José Daniel Rodrigues da Costa, editor do jornal
português, estava inserido.
Diante do exposto todos os estudos elencados foram imprescindíveis para
cumprimento do plano, de forma que direcionaram a pesquisa e nos ajudaram a analisar,
pensar e repensar nosso objeto de estudo.
Metodologia e análise
706
pesquisa. Além disso, foram feitos fichamentos de textos e apresentações de seminários, os
quais sempre suscitavam em debates e comparações com outros folhetos da época, tornando a
discussão bastante proveitosa. Desses debates e discussões também participaram doutorandos
e mestrandos que são orientandos da professora Socorro de Fátima Pacífico Barbosa. A
participação desses pesquisadores e os debates suscitados foram de fundamental importância
para o desenvolvimento da pesquisa e compreensão do objeto de estudo. Para além da leitura
de textos teóricos, as reuniões foram de grande valia para o andamento da pesquisa, pois
nestas discutiam-se os textos teóricos vinculados à pesquisa e era possível sanar dúvidas
concernentes a sua leiturà, dando direcionamento então a execução do plano individual. Vale
dizer que a execução do plano foi feita simultaneamente às discussões dos textos teóricos, por
meio da leitura do corpus e da transcrição dos das epistolas. É importante destacar que a
transcrição foi realizada tal qual a estrutura original das cartas, preservando a pontuação, a
estrutura entre os parágrafos e a ortografia das missivas.
A transcrição das epístolas no Almocreve de Petas resultou em um corpus constituído
por 41 cartas presentes nos dois tomos do periódico português. Sendo assim, constatamos o
tomo I é constituído por treze cartas e o tomo II por vinte oito cartas, as quais tratam sobre as
mais variadas temáticas. É interessante ressaltar, que as cartas apesar de obedecerem um
padrão, ditado por manuais epistolares ou os chamados secretários, as técnicas retóricas foram
utilizadas não para tratar de assuntos sérios, como a política ou a igreja, mas para satirizar os
diferentes tipos e costumes da sociedade Lusitana da época e dessa forma “educar” a
sociedade, julgando o que é correto e não correto. Além disso, a jocosidade não se fazia
presente apenas nas epistolas, mas também nos gêneros poéticos, notícias e avisos.
A segunda etapa da pesquisa foi centrada na análise das missivas a partir do Secretário
Português (1823), um importante manual que ditava como as cartas deveriam ser escritas de
acordo com os seus diferentes propósitos, observando ainda que que até metade do século
XIX, a carta era modulada por pressupostos retóricos e classificada em três gêneros do
discurso retórico: demonstrativo ou epidítico, judiciário e deliberativo.
Salientamos que a pesquisa pautou-se no estudo diacrônico das epístolas no periódico
jocoso, de modo que atentamos para vários pressupostos tais como o conceito de literatura, as
regras de escrita que foram moduladas pela retórica, o seu caráter dialógico (BARBOSA,
2007) pois como veremos no Almocreve de Petas, há cartas que fazem referência a uma carta
anterior ou até mesmo é a resposta de um enigma precedente, como é caso da carta IV do
tomo I (pp. 181-182), a variedade de temáticas, a linguagem alegórica como ornamento
retórico intencional, o anonimato nas missivas entre outros, os quais possuem certo sentido no
suporte jornal.
Com Chartier (1999, p. 95) entendemos que devemos “enlaçar numa mesma história o
estudo de textos – e aqui poderíamos lembrar, canônicos ou profanos, literários ou sem
qualidades -, o dos suportes de sua transmissão e disseminação, àquele de sua leitura, de seus
usos e de suas interpretações. Dessa forma, defendemos que não devemos nos deter a um
estudo que considere apenas a imanência textual, mas também aos suportes nos quais eles
estão inseridos e os usos e apropriações que os leitores fazem deles, pois “para os leitores
mais instruídos, as possibilidades de leitura parecem expandir-se, propondo práticas
diferenciadas segundo os tempos, lugares e gêneros."(CHARTIER, 2007, p. 266).
707
Consideramos ainda para efeitos de pesquisa não apenas os livros canônicos, escritos por
autores célebres, leitores famosos, ou jornais consagrados, mas também textos, autores,
leitores e suportes (no nosso caso o periódico jocoso) muitas vezes desconhecidos por falta de
estudos mais consistentes. Esses estudos, muitas vezes, privilegiam apenas o livro como fonte
de pesquisa, tomando o jornal como um arquivo morto e deixando assim lacunas importantes
na história da literatura. Um exemplo disso, é o caso do conceito de literatura, que só por
meio de um estudo diacrônico e nos suportes (entre eles o jornal) foi possível entendê-lo
como prática de escrita de determinado gênero em seu tempo histórico e, sendo assim, “por
trás da definição de literatura está um ato de seleção e exclusão, cujo objetivo é separar alguns
textos, escritos por alguns autores do conjunto de textos em circulação.” (ABREU, 2006, p.
39).
Dessa maneira, o jornal nos interessa na medida em que “é parte da economia interna
da linguagem, da divulgação e da circulação do literário” (BARBOSA, 2007, p. 38). Sendo,
portanto, um palco de discussões que abriga autores diversos (conhecidos ou não) tendo o
leitor oportunidade de participar e de certa forma interferir na sua composição, pois, como
afirma Chartier (2007, p. 277), “se o leitor é um efeito do texto, ele é também seu criador”.
Assim, o jornal era também um objeto cultural, entendendo cultura aqui como “aquela que
trata das práticas comuns, 'sem qualidade’, que exprimem a maneira através da qual uma
comunidade - não importa em que escala - vive e pensa a sua relação com o mundo, com os
outros e com ela mesma”. (CHARTIER, 1999, p.08-09). Nessa perspectiva o jornal era um
suporte que dava abertura para a discussão, onde o que se expressava era o pensamento de um
povo, sua visão de mundo. Dizendo com Barbosa o jornal era “o lugar por excelência da
multiplicidade discursiva; nele, revelam-se mesmo que de forma incipiente as vozes de uma
‘opinião pública’, da qual participavam os mais variados segmentos da sociedade, entre os
quais as mulheres”. (BARBOSA, 2007, p. 40). Podemos perceber isso na carta abaixo, veja:
Nesta missiva, uma mulher defende-se das críticas feitas pelo Senhor Victorino ao
sexo feminino em uma carta anteriormente publicada, propondo-se defender o seu sexo,
mostrando que os defeitos encontrados pelos homens nas mulheres, muitas vezes são motivos
deles mesmos. A prática de fazer referência a uma carta ou folheto anterior é frequente no
Almocreve de Petas, e tendo em vista esse caráter dialógico, faz-se necessário que o
pesquisador esteja atento ao jornal como um todo.
Percebe-se ainda, que não há identificação da tal mulher, mas dada a forma jocosa da
3
Em todas as citações de o Almocreve de Petas adotaremos a grafia e pontuação originais.
708
carta podemos inferir que ela tenha sido escrita pelo próprio Editor, já que isso era uma
prática comum a época. Assim como esta, muitas outras em Almocreve de Petas também são
anônimas. Segundo Barbosa (2007, p. 34), “essa pouca importância dada ao nome ou à
autoria revela outras práticas de consumo e de produção do escrito, em que o ‘nome do autor’
poderia afastar ou atrair o leitor para o texto”. Caso o editor tenha realmente escrito a missiva,
para ele é conveniente o anonimato, posto que uma “batalha” entre um homem e uma mulher
por meio de cartas, daria muito mais sucesso ao periódico do que se ele revelasse ser o autor
da mesma, podendo ser ainda severamente criticado tanto pelos homens, quanto pelas
mulheres, perdendo assim leitores. Se a mulher fosse autora de fato, e se revelasse tinha muito
a perder, pois estaria se expondo ao criticar os homens publicamente, já que o Almocreve era
um jornal que circulava nas várias camadas sociais dessa maneira, o anonimato funcionava
como um artifício a seu favor. Além disso, outro aspecto interessante a ser ressaltado é que a
epístola expressa a “opinião pública”, já que demonstra um pensamento sobre as mulheres
vigente na época, exposto na insatisfação de uma mulher. Ressaltamos que mesmo o editor
podendo ser o autor da missiva, de certa forma é a voz feminina que fala no texto e defende-se
do pensamento vigente. Notamos ainda que o autor(a) da carta utiliza-se do artifício da sátira
para criticar a sociedade lusitana quando traz críticas aos homens da época.
No que diz respeito a tipologia padrão das epistolas, utilizamos o Secretário
Português, de Francisco José Freire (1823), o manual mais importante dedicado à prática
epistolar na época e direcionado, de início, na sua edição de 1801 aos secretários ( escritores
especializados), aos quais eram exigidos alguns atributos como “um vivo engenho, inteiro
conhecimento das Línguas Latina, e Materna, e uma larga lição dos melhores Autores, que
escreveram Cartas e trataram do modo como se formar” (FREIRE, 1823, p. 1). De fato, ao
percorrermos o Almocreve de Petas percebemos que o seu editor, tinha um vasto
conhecimento, desde a mitologia ao Latim como veremos a seguir:
[...] ha meu Amigo, tem visto pouco, e lido menos: se V. m. tivesse corrido
pela vista o Lunario perpetuo , lá veria o Sol puchado por quatro cavallos \
os quaes, como diz o tal Lunario assistem no quarto Ceo, e andão sobre as
nossas cabeças. Também ha outro cavallinho chamado o Pégazo que assiste
lá muito alto ; e porque não havia o meu cavalo tambem fazer a primeira
figura ? O remédio para a dor de dentes que v. m. julgava incrível,
parecendo-Ihe que ninguém se poderia assentar sobre as brazas , he porque
v. m. nunca vio homens comerem estopas e vomitarem fogo; e, demais este
remedio he asseverado por graves Doutores, Gil Blaz, D. Quixote ,
Bertoldino e outros muitos Authores de igual lote não o desapproyão
(Almocreve de Petas, 1819, Tomo I, p. 318).
Nessa epístola, o editor responde à carta de Aprígio Táfes, o qual lhe faz críticas
severas numa carta anterior. Observamos, pelo trecho acima, que o editor é irônico ao chamar
Aprígio Táfes de “meu Amigo”, entendendo ironia aqui como figura retórica, a qual deve “ser
compreendida pelo ouvinte, como ironia, e, portanto, como sentido contrário” (LAUSBERG,
1967, p. 253). Além disso, o editor se utiliza de leituras, como, por exemplo, cavalos na
709
literatura para defender o fato de seu cavalo4 vir na parte de cima do folheto (o que Aprígio
critica), assegurando suas palavras de forma jocosa a doutores como D. Quixote, que na
literatura sabemos se tratar de um personagem louco. Além da literatura, percebemos seu
conhecimento também sobre a mitologia ao mencionar o cavalo “Pégaso”.
Podemos ver ainda alguns trechos em latim no Almocreve de Petas na carta XXVI,
tomo II (1819, pp. 84-85). Mesmo a epístola sendo supostamente de um leitor, sabe-se que
pode não ser devido a prática recorrente na época do autor se passar pelo leitor. Outro aspecto
interessante é em relação à própria discussão, como já vimos, o jornal proporciona uma
batalha de discursos e neste caso serviu ao próprio editor para se defender das críticas. E
sendo assim, na medida em que o jornal proporciona essa batalha de discursos (leitor/editor)
deslegitima a sua autoridade enquanto instrumento de controle social. Como afirma Conway,
“apesar de o periódico esgrimir a palavra como instrumento de controle social, também a
utiliza para deslegitimar sua própria autoridade escrituária; pois a carta faz com que a palavra
se torne arma contra a palavra do outro.” (apud BARBOSA, 2011, p. 336).
Até meados do século XIX a carta era modulada por critérios retóricos, os quais
tinham como intuito persuadir ou ensinar algo. Esses critérios como podemos observar estão
muito presentes no Almocreve de Petas. Segundo Chartier:
4
Há na parte superior do folheto uma xilogravura que representa o Almocreve montado em um cavalo.
710
Comecemos pelo gênero demonstrativo: como exemplo, temos a Carta que de
Coimbra escrevêrão ao Editor:
Com a maior admiração tenho comprado, e lido a Collecçao do seu
Almocreve de Petas , e louvando-lhe muito a difficuldade, a que se propoz ,
visto que vai desempenhando o promettido : he certo, que até quinto, ou
sexto folheto eu disse comigo , que tão impossível era a sua continuação,
como a sua venda, pois que o povo tanto se chorava inda para as cousas da
primeira necessidade em tempos tão críticos ; porém em ambas as cousas me
enganei , na primeira , porque vejo a sua Collecção volumosa , sem se repetir
nos pensamentos, antes augmentando o sal, e amoralidade, e na segunda , tão
longe já estou de pensar no pouco gasto , que o papel teria, que aconselho a
v. m. , sem lhe levar nada pelo conselho, que faça petas por toda a
eternidade, sem que lema o seu consumo; á vista do que presenciei
Domingo, e vem a ser o caso, que indo eu a essa Cidade de Lisboa, e
estando de hospede na rua direita dos Anjos, não pude dormir mais na noite
do Domingo das quatro horas por diante, pois era na rua tal algazarra de
Saloyas , e Saloyos para Praça, que pasmei[...]foi rompendo o dia , e então
divisei o que esta gente levava : eu contei para sima de 30 leitoas, 40 dúzias
de pombos,83 canastras de gallinhas , e 7 dúzias dellas ás mãos, 900 frangos,
115 perdizes[...] ora vendo eu esta abundância , e dizendo-me o dono da casa
, que tudo aquillo se gastava em Lisboa, e que no outro dia se repetia a
mesma scena, peguei no meu capote, e segui a comitiva[...]e vi vender
leiloes como raros a 400 réis, olhei para ás bancas, e vi que o lombo de
porco hia a nove vinténs o arrátel, cheguei ao Rocio, e de oito rebanhos de
perús só restava huma perúa , que se vendeo por três cruzados novos ; tudo
isto serião nove horas , quando erão dez voltei outra vez á Praça, já não
havia huma só ave[...]Nas bancas já não vi mais que toucinho, visitei 52
pasteleiros neste dia, e já não tinhão nada do seu[...]finalmente engolio a
Senhora Dona Lisboa dentro de ires horas, tudo quanto se lhe apresentou
neste dia [...]em todas a feiras he immenso povo a comprar e immensa
bizarria da ordem dos tafus ; vejo que no luxo se multiplicão as modas , e os
preços das caças bordadas de oiro, das cambraias, das casimiras, e de todos
os mais generos Paquetaes ; tudo Lisboa come, e de tudo Lisboa se veste:
ninguém falta a estas ceremonias ; os theatros tem enchentes , de Verão não
ha quintas com escritos, ao Domingo he preciso empenho para huma sege,
nada se faz de graça , a moeda corre a pezar da choradeira do não tenho[...]
Ora combinando o que assima fica dito , com o diminuto preço de 40 réis,
que custa o seu folheto, devo affoitamente rogar-lhe, que não pare com as
petas, porque está sabido, que todos tem para tudo, e mais nos certifica o seu
calculo, que li no folheto número XXXVII. (Almocreve de Petas, Tomo,
1819, Tomo II, pp. 141- 143).
Percebemos que a carta inicia elogiando o editor, o suposto autor diz não acreditar na
persistência da qualidade e permanência do folheto, tendo em vista que o povo se dizia sem
dinheiro para os artigos mais necessários, devido ao tempo difícil que estava passando. O
autor da carta diz ter se enganado, pois assim como a qualidade do folheto não decaiu,
percebeu que “tudo Lisboa come, e de tudo Lisboa se veste”, e é vendido na feira por preços
711
altos e nada sobra. Sendo assim, aconselha ao editor que não pare com as petas pois custam
apenas 40 réis, pois sabe-se que todos têm dinheiro para tudo, inclusive os folhetos. Devido
ao conteúdo da carta e pela prática recorrente na época, pode-se atribuir a missiva ao próprio
editor (BARBOSA, 2007), utilizando-se do pseudônimo “As Vedra” para convencer o
público que seu folheto não custa tão caro quanto outros artigos que compram a alto preço,
sem necessidade. Ainda como forma de convencimento faz referência a um cálculo de um
folheto precedente, em que relata os gastos supérfluos do povo certificando que este tem
dinheiro também para seu folheto. Segundo Martins (1964, p. 402), “no século XVIII o
rendimento do Brasil vem dar riqueza a um país desolado e despovoado”. Apesar de Portugal
está arrasada devido a invasão Francesa, sabe-se que está voltando a enriquecer através do
Brasil, assim podemos inferir que a convicção de As Vedra também pode vir desse fato.
Nota-se, ainda, na epístola uma severa crítica ao povo de Lisboa no que diz respeito
à gula, quando se diz na carta [...] engolio a Senhora Dona Lisboa dentro de ires horas, tudo
quanto se lhe apresentou neste dia, todavia tudo é dito por meio de uma escrita jocosa. Para
Monteiro, a medida em que a refeição régia passou a ter uma certa publicidade “a alimentação
da família real era, por isso, bastante escrutinada: um rei que arrotava e que emitia muitos
ruídos enquanto comia era criticado, o mesmo acontecendo com os membros da família régia
que se alimentavam em quantidade imoderada, conduta sempre alvo de críticas por causa do
mal exemplo que dava” (MONTEIRO, 2011, pp. 171-172). A falta de maneiras à mesa era
comum na corte portuguesa e como exemplo, Mattoso cita: D. Maria Francisca, a qual bebia
muito vinho, D. Filipe II que gostava muito de comer e D. Afonso VI que tinha falta de
moderação ao comer.
Como vemos, os elogios ao editor, de certa forma, dão credibilidade ao jornal, e as
repreensões a moda procura censurar os vícios da sociedade, assim como criticar a gula, que
diferente do Anatômico Jocoso5 não está relacionada como vício dos religiosos, mas sim do
povo como um todo. Devido aos elogios e a censura à epístola, pode ser analisada como
pertencente ao gênero demonstrativo ou epidítico. Ainda na mesma carta:
Neste trecho da carta, observa-se que o autor dá uma informação ao editor sobre um
5
Periódico português atribuído a Frei Lucas de Santa Catarina, que circulou em Portugal entre os anos 1975 e
1978.
712
folheto que copia o Almocreve e chama-se Retorno do Almocreve de Petas. A prática de
copiar outros jornais era recorrente até porque a cópia não era algo tido como plágio, posto
que a noção de autor ainda era bastante incipiente, sobretudo nos jornais e periódicos. Para
tanto, o que se tinha era o ato de emular, ou seja, “a imitação que supera o modelo imitado”.
(HANSEN, 2000, p. 325). E se era imitado era porque podia servir de exemplo, ganhando o
periódico português uma certa notoriedade. Percebe-se ainda, que a crítica do suposto leitor
deve-se ao fato de O Retorno do Almocreve prometer ampliar as notícias e não o fazer, não
cumprindo o proposto e fazendo apenas mera imitação, o que torna o Almocreve de Petas
melhor. Essas críticas também podem ser dirigidas a alguns escritores do período neoclássico,
que ainda persistiam na imitação dos clássicos, sem buscar criar algo novo a partir deles.
Na carta II, tomo I (pp. 115), temos o seguinte:
Nesta carta, há um relato sobre a violência que vem acontecendo na Serra da Arrabida.
Dada a forma como o autor relata os fatos, entende-se de início que, quem vem sofrendo com
a violência, são as criaturas (os homens) da Serra, tendo em vista que há o uso de termos
como “infelices”, “feridos” “estrangulados”, mas ao prosseguirmos na leitura vemos que a
violência vem sendo sofrida pela natureza, e não pelos homens.
Percebe-se na missiva, uma variante da escrita alegórica, a personificação que, de
acordo com Lausberg (1967, p. 251), “consiste na introdução de coisas concretas [...] assim
como noções abstratas e coletivas [...] como pessoas que parecem falar e agir”. Na carta,
temos árvores que demonstram emoções inerentes ao ser humano, como vemos no trecho
“chora a triste Mãi por lhe arrancarem do seio o filho precioso, estimavel fructo das suas
entranhas”. A jocosidade apresenta-se no fato, de o autor usar termos que geralmente eram
713
empregados para tratar dos seres humanos com o objetivo de discorrer sobre a devastação, no
caso, do “cedro”, “medronheiros”, “zambugueiros” árvores vendidas a baixos preços e usadas
segundo o autor em prol da moda, transformando-se em objeto para satisfazer desejos
supérfluos de tafues, senhoras e senhores, fazendo o leitor acreditar de início que se trata de
uma violência contra os homens da serra e não de árvores como mais adiante se percebe na
carta. Há, ainda, na missiva uma acusação de que são os homens da corte que têm vindo
“degolar” os habitantes daquele lugar, o que a faz pertencer ao gênero judiciário. Temos
então, uma severa crítica à corte, que desmata a natureza para satisfazer seus desejos
mesquinhos.
Vejamos agora um exemplo do gênero deliberativo na Carta que escreveo Theodozia
Maria a seu filho, que anda nos Estudos de Coimbra, a qual por artes do Almocreve veio em
copia às mãos do Editor:
714
não veio a entender. Segundo ela, o pai não gostou da decisão do filho de “entrar no curso de
bacharelo”, pois preferia-o “sirurgião” ou “informado na difficuldade dos creligos”. Outro
fato que o deixou intrigado foi a mudança do sobrenome do filho de Pitorra, para Palhoça. Em
seguida tomam-se os irmãos mais velho e mais novo como bons exemplos, no intuito de
persuadir o filho do que é melhor, e ainda dissuadi-lo, através da figura do pai, de que deve
usar o sobrenome da família, sugerindo que ele deixe de escrever por meio de retóricas que
não se entende. Esta passagem se apresenta como uma crítica ao uso da retórica de forma não
didática, já que esta tem o propósito de comunicar de forma clara. A carta pode ser incluída
assim no gênero deliberativo por causa da tentativa de persuasão e dissuasão.
Um tipo social muito criticado no Almocreve de Petas e um dos temas mais
recorrentes do periódico é o taful, mencionado tanto nas cartas como nos outros gêneros.
Entende-se Taful aqui como sendo aquele “que é jogador por ofício, ou hábito. [...] reputado
entre os bons por vil, e torpe por ser bêbado, taful, ou de outra semelhante torpeza, [...] O que
vive alegremente, e se dá a todo o gênero de divertimentos” (SILVA, 1789, p. 439). Tafularia,
por sua vez, seria “a vida do taful, o comportamento dele” ou “Ajuntamento de Tafues”
(SILVA, 1789, p.439). Assim, temos um trecho de um escrito em forma de versos que abre o
tomo II do folheto, direcionado aos concorrentes do jornal, e intitulado “Aos leitores tafues”,
vejamos:
715
Percebemos que o editor satiriza o fato de os seus críticos desdenharem de seus
escritos e diz que isso não o fará desistir de compor suas petas, como afirma nos seguintes
versos: “Apostemos qual primeiro/Nas petas há de cançar/ Se hei eu de as compor/Se haveis
ser vós de as comprar”. Além disso, procura demonstrar que apesar de criticá-los esses
críticos também compram suas petas. Dessa forma, notamos que a sátira não se apresenta
apenas nas cartas, mas também em outros gêneros, como no caso acima.
Na carta XX, tomo II (pp. 52-54), Sonhé escreve a um amigo para falar sobre
pesadelos que vem tendo há dias, e mais especificamente sobre os tipos sociais que há na ilha.
Nessa tarefa, o auxiliam dois homens que encontrou na ilha, logo ao chegar, passar por uma
casa onde havia “três seges” à frente e perguntar aos companheiros quem mora lá, os homens
respondem:
he hum Taful desta ilha muito procurado , o homem mais facil em tudo
quanto promette , que se tem visto, traz muita gente a reboque e nada
conclue, porque nelle, por tafularia, o mesmo he prometter, que faltar, tudo
empata , engana a todos com rodeios, e estratagemas de persuasão, e já a
muitos, no seu projeto, lhe tem tordado algum tombo por fim da galhofa.
Disse eu cá comigo, destes há muito lá na minha terra. (ALMOCREVE DE
PETAS, 1819, TOMO II, pp. 52-53).
A passagem acima faz parte de um conjunto de cartas que são publicadas no jornal
separadamente, mas que são continuação uma da outra, relatando uma série de sonhos do
remetente Sonhé a um amigo de Lisboa. No trecho acima, vemos que os companheiros de
Sonhé falam para ele sobre o homem taful, homem vil que só faz prometer, enganar e
persuadir a todos. Quando os companheiros terminam de falar do taful, Sonhé reponde:
“Disse eu cá comigo, destes há muito lá na minha terra”, o que nos faz perceber que o taful
faz referência as pessoas e costumes portugueses ou até mesmo a corte. A escrita da carta é
alegórica, entendendo-se alegoria aqui como uma metáfora que "consiste na substituição do
pensamento em causa, por outro pensamento, que está ligado, numa relação de semelhança
[...] a esse pensamento em causa (LAUSBERG, 1967, p. 249). A carta inicia no tomo I e
termina no tomo II, neste último, Sonhé começa a contar ao amigo a sua chegada a “Ilha da
Tafularia”. Nitidamente, a ilha é uma metáfora de Portugal, mostrando todos os vícios da
sociedade portuguesa, a partir dos costumes tanto dos Tafues, quanto das senhoras que de
tudo usava para se enfeitar.
O taful é um dos temas mais recorrentes no Almocreve de Petas, sendo explorado em
todo o jornal, até mesmo nos gêneros poéticos, como já observamos. Por descrever um tipo da
sociedade portuguesa, e demonstrar todos os seus vícios e desgraças no intuito de censurar
podemos dizer que esta carta é pertencente ao gênero demonstrativo ou epidítico, gênero mais
recorrente no periódico português.
Os dois tomos de Almocreve de Petas contêm cartas que perpassam os gêneros do
discurso retórico, como pudemos observar. Entretanto, apesar de se utilizar desses gêneros do
discurso retórico, o autor segue outros caminhos ao tratar de assuntos considerados menos
sérios, pelos quais tenta retratar, através dos escritos jocosos, a sociedade lusitana, seus
costumes até mesmo a partir de situações do cotidiano: a mãe que escreve ao filho, o amigo
716
que escreve ao amigo contando o que se passa onde vive, um homem que escreve a mulher
amada.
Conclusões
Os escritos do século XVIII em jornais têm muito o que nos revelar por meio do
estudo diacrônico. Este suporte nos permite tomar conhecimento dos leitores anônimos e as
formas pelas quais eles se apropriaram de certos escritos e gêneros retóricos, entre os quais a
carta, firmando uma relação tão próxima com o jornal, a ponto de ditar o que seria escrito e de
que maneira, tendo ainda a possibilidade de também construir o escrito até mesmo de forma
anônima, como é o caso de algumas epístolas. Assim, a escrita das missivas não se constituía
como prática privada, já que os leitores eram participantes ativos na construção dos escritos e
a “leitura era partilhada não pelos ausentes, mas por aqueles que se presentificavam na
partilha que faziam da comunidade de leitores de determinado periódico” (BARBOSA, 2011,
p. 332). Ao discorrermos sobre os escritos nos jornais temos que atentar para o fato de que os
jornais e, consequentemente as cartas contidas neles, eram lidos em praça pública, pois nem
todos sabiam ler, mas compartilhavam da leitura com os outros.
Apesar de a maioria das cartas apresentar autoria, na análise que fizemos das epístolas
foi possível constatar que essa autoria é duvidosa, devido à forma jocosa dos escritos e pelo
conteúdo das cartas, que muitas vezes quer persuadir ou dissuadir o leitor. O anonimato bem
como a autoria duvidosa se fazem presentes nas epístolas e funcionam como formas de
dissimuladas de escrever (BARBOSA, 2011). Todos os artifícios empregados pelo editor,
entre eles a escrita jocosa e a alegórica tem como intuito satirizar aspectos culturais,
econômicos e políticos da sociedade Lusitana. Essa forma dissimulada de escrever é prática
recorrente nos periódicos da época entre eles o Anatômico Jocoso, não sendo diferente
também no Almocreve de Petas.
Além disso, em uma época em que não se dava tanta importância ao nome do autor, os
escritos tinham certa supremacia, por isso a necessidade de atentar ao jornal como um todo,
no qual muitas vezes uma carta está relacionada a outra, ou até mesmo a um outro gênero
como foi observado por meio deste trabalho.
Ainda foi possível constatar que os gêneros do discurso retórico estavam presentes em
todas as cartas analisadas, podendo a maioria das epístolas ser classificadas no gênero
demonstrativo, tendo em vista que muitas tinham como objetivo censurar os vícios da
sociedade lusitana. Os tipos satirizados mais recorrentes nas missivas foram: a mulher, a
cidade de Lisboa e o Taful, mas pode - se observar outros temas como: a preguiça, a gula, o
amor, entre outros. Além disso, em algumas cartas a escrita alegórica foi empregada de forma
intencional, usando o editor da sátira para desmascarar não apenas aspectos culturais, mas
também políticos e econômicos da sociedade portuguesa. Desse modo, o jornal se constitui
numa batalha de discursos onde o leitor “é o ouvinte a ser convencido, educado, instruído,
elogiado, julgado e atacado, enfim modulado pelo fundo discursivo dos gêneros”
(BARBOSA, 2011, p. 334).
Percebe-se, portanto, que o projeto é de extrema relevância no estudo do gênero
717
epistolar no século XVIII, principalmente os jornais e periódicos jocosos, pois além de
revisitar a história “esquecida” da literatura portuguesa, bem como evidenciar a relevância da
pesquisa a partir dos suportes de origem, busca cooperar nos estudos referentes à literatura
portuguesa e ressalta a importância do estudo diacrônico, restaurando práticas de leitura e de
escrita nos jornais oitocentistas, já que foi a partir destes periódicos que o “literário” iniciou
sua circulação possuindo a literatura uma grande dívida para com os jornais.
Referências
Almocreve de Petas ou moral disfarçada para a correção das miudezas da vida, por José
Daniel Rodrigues da Costa, entre os pastores do Tejo Josino Leirense. Lisboa: Oficina de
Simão Ferreira: Lisboa 1798 e 1799.
______. Jornal e literatura: a imprensa brasileira no século XIX. Porto Alegre: Ed. Nova
Prova, 2007.
______. O mundo como representação. Estudos avançados. São Paulo, v. 5, n. 11, abril
1991.
EAGLETON, T. Teoria da literatura: uma introdução. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
718
______. Secretário Portuguez. Lisboa: Impressão de João Nunes Esteves, 1823.
719
SÉRIE
INICIADOS VOL. 22
2015-2016
Trabalhos premiados no XXII Encontro
de Iniciação Científica da UFPB
ORGANIZADORES
Isac Almeida de Medeiros UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
Claudia de Figueiredo Braga PRÓ-REITORIA DE PESQUISA
Rogério Oliveira Barbosa JOÃO PESSOA, 2018
U N I V E R S I DA D E F E D E R AL DA PAR AÍ B A
R E I T O RA Margareth de Fátima Formiga Melo Diniz
V I C E -R E I T O RA Bernardina Maria Juvenal Freire de Oliveira
EDITORA UFPB
D I R E T O RA Izabel França de Lima
SUPERVISÃO DE EDITORAÇÃO Almir Correia de Vasconcellos Júnior
SUPERVISÃO DE PRODUÇÃO José Augusto dos Santos Filho
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA
P R Ó -R E I T OR Isac Almeida de Medeiros
T R AB AL H O S P R E M I AD O S N O
X X I V E N C O N T R O D E I N I C I A Ç Ã O C I E N T Í F I C A DA U F P B
3 A 4 DE NOVEMBRO DE 2016
C A M P U S I V – R I O T I N T O E M A M A N G UA P E
7 A 11 DE NOVEMBRO DE 2016
CAMPUS I - JOÃO PESSOA
16 A 18 DE NOVEMBRO DE 2016
CAMPUS III - BANANEIRAS
U N I V E R S I DA D E F E D E R AL DA PAR AÍ B A
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA
C O O R D E N A Ç Ã O G E R AL D E P R O G R AM A S
A C AD Ê M I C O S E D E I N I C I A Ç Ã O C I E N T Í F I C A
A P R E S E N TA Ç Ã O
106 Influência do embrião na expressão do SLC2A1 e 240 Produção de nanotubos de óxidos de ferro.
AGAT durante a placentação em bovinos. Magda Ana Maria Salgueiro Baptisttella (Bolsista
Fernandes (Bolsista PIBIC/CNPq/UFPB). Danila PIBIC/CNPq/UFPB). Vivian Stumpf Madeira
Barreiro Campos (Orientadora). (Orientadora).
117 Elaboração e caracterização físico-química e 261 Erros de especificação nos modelos de regressão
sensorial de bebidas tipo smoothie de frutas beta. André Antonio de Oliveira (Bolsista
adicionadas de Lactobacillus acidophillus PIBIC/CNPq/UFPB). Tatiene Correia de Souza
(LA-05). Thais Costa Matte (Bolsista PIBIC/ (Orientadora).
CNPq/UFPB). Estefânia Fernandes Garcia
(Orientadora). 282 Avaliação do impacto do turismo sobre
morfologia celular de Gracilaria caudata J.
Agardh no Parque Estadual Marinho de Areia
Vermelha, Cabedelo/PB. Daniel Silva Lula Leite UFPB entre 1988-2016. Sheila Larissa Araújo da
(Bolsista PIBIC/CNPq/UFPB). George Emmanuel Silva (Bolsista PIBIC/CNPq/UFPB). Bernardina
Cavalcanti de Miranda (Orientador). M. J. Freire de Oliveira (Orientadora).
C I Ê N C I A S H U M AN A S
CIÊNCIAS SOCIAIS
BIOTECNOLOGIA
EFEITO DE DIFERENTES DILUENTES NA CRIOPRESERVAÇÃO DE
ESPERMATOZOIDES EPIDIDIMÁRIOS DE RUMINANTES
Resumo
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Criopreservação de espermatozoides epididimários de
ruminantes: possibilidade de conservação de material genético/Efeito de diferentes diluentes na criopreservação
de espermatozoides epididimários de ruminantes.
Estudante de Iniciação Científica: Alex Souza Rique (e-mail: alexrique@outlook.com); Instituição de vínculo da
bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br; e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br); Orientadora: Sildivane
Valcácia Silva (e-mail: sildivane@cbiotec.ufpb.br, telefone: 83 3216-7173)
9
febre aftosa em alguns estados no ano de 2005, mostrando a necessidade de cuidados com a
sanidade dos animais (BEEFPOINT, 2011). Contudo, o aprimoramento no manejo sanitário
associado às técnicas de melhoramento genético de rebanhos, resultaram em um aumento de
cerca de 10 vezes na exportação de carne nos últimos quinze anos, totalizando US$ 6,3 bilhões
no ano de 2017 (ABIEC, 2017). Seja pelo aumento da qualidade da carne animal, seja visando
o controle de patógenos, a criopreservação associada à inseminação artificial e outras técnicas
vieram beneficiar o produtor, ao permitir melhorias do rebanho em um curto período de tempo,
confiabilidade da qualidade do material genético e vantagens econômicas.
Durante anos têm-se estudado sobre os diluidores mais adequados para cada espécie
para diminuir a perda da fertilidade espermática durante a criopreservação (BAILEY;
MORRIER; CORMIER, 2003). Estes diluidores utilizados para a conservação do sêmen de
espécies domésticas precisam apresentar potencial hidrogeniônico e osmolaridade adequados
para cada espécie, capacidade de tamponamento, e devem proteger os espermatozoides das
lesões criogênicas (SALAMON; MAXWELL, 2000).
Esta pesquisa visa estudar o efeito de diferentes diluidores em células epididimárias de
bovinos durante o processo de refrigeração. Esta proposta, de perfil biotecnológico, foi
desenvolvida no Centro de Biotecnologia, localizado no Campus I da Universidade Federal da
Paraíba em conjunto com o matadouro Big Carne, localizado na cidade de João Pessoa-Paraíba,
que cedeu os complexos testículo-epidídimo de bovinos.
Durante a vigência da iniciação científica foram coletados os complexos testículo-
epidídimo e separados no laboratório e utilizada a região da cauda do epidídimo para obtenção
dos espermatozoides através da técnica de flutuação, analisados e fracionados nos diferentes
diluidores e, por fim, colocados sob a curva de refrigeração para posteriores análises.
As análises pós-refrigeração foram realizadas para avaliar a motilidade e vigor
espermático, integridade e funcionalidade da membrana plasmática. Foi dado enfoque a estas
análises, pois durante o processo de criopreservação o espermatozoide passa por danos devido
à mudança de temperatura, ou seja, ao choque frio (WATSON, 1995). Estes danos interferem
em parâmetros do espermatozoide que são importantes para o processo de fertilização
(GONZALEZ, 2004; RAVAGNANI, 2015). Para amenizar os efeitos da mudança de
temperatura são utilizados diluidores que dão suporte energético e propiciam um meio ideal
para a sobrevivência das células (SATHE; SHIPLEY, 2014).
Visando o aperfeiçoamento da criopreservação de células espermáticas provenientes do
epidídimo, o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de diferentes diluidores na preservação
de células espermáticas obtidas diretamente de epidídimo durante refrigeração a 5 °C por 48
horas.
Fundamentação teórica
Nos últimos anos, a criotecnologia tem conquistado grande destaque tanto na medicina
reprodutiva humana quanto na reprodução animal, seja através da criopreservação de embriões,
células germinativas masculinas, femininas ou mesmo através da criopreservação de tecido
gonadal como o ovário (CASTRO et al., 2011).
A inseminação artificial em bovinos é uma biotécnica aplicada à reprodução com maior
difusão e impacto no melhoramento genético de animais de exploração zootécnica (BORGES
et al., 2011). Touros geneticamente superiores contribuem para o melhoramento genético do
rebanho de produtores (STOUT, 2012). Em 2016, o efetivo brasileiro de bovinos foi de 218,23
milhões de cabeças, representando um aumento de 1,4% em comparação com o ano anterior
(IBGE, 2016).
A criopreservação do sêmen tem sido vista como um meio de beneficiar a criação de animais
de importância agrícola, onde o uso do sêmen congelado permite rápido avanço genético dos
10
rebanhos comerciais, permitindo a escolha de reprodutores que melhor atendam às necessidades
de produção (WATSON, 2000; LEITE et al., 2011).
O processo de criopreservação de sêmen, além de possibilitar sua utilização por longo
período, reduz riscos e custos com a aquisição e transporte de reprodutores; favorece rápida
difusão de material genético entre regiões, países e continentes; minimiza a possibilidade de
introdução de doenças transmissíveis via sêmen numa região e/ou país e a transmissão e
propagação de doenças sexualmente transmissíveis nos rebanhos (TRALDI, 1994), além de ser
amplamente utilizada para a criação de animais nos campos, bem como para a conservação de
espécies ameaçadas de extinção (PESCH; BERGMANN, 2006).
Contudo, a morte inesperada, processos obstrutivos ou distúrbios traumáticos que
impossibilitem a colheita espermática podem interromper prematuramente a vida reprodutiva
de machos de alto valor genético (MONTEIRO, 2011). Para isto, a colheita e a criopreservação
dos espermatozoides da cauda do epidídimo podem ser a última chance e opção para
preservação das células germinativas destes animais (BARBOSA et al., 2012).
Nos mamíferos, o epidídimo possui diversas funções, ressaltando-se a reabsorção dos
fluídos dos túbulos seminíferos, promovendo a concentração do sêmen, o transporte dos
espermatozoides, a eliminação dos espermatozoides defeituosos, a maturação e o
armazenamento dos espermatozoides. A função de armazenamento é ilustrada pelo fato dos
espermatozoides ejaculados sobreviverem por 24 horas ou mais fora do epidídimo; entretanto
os que são mantidos na cauda do epidídimo, in vivo, permanecem vivos por mais de 15 dias
(MURÁDAS et al., 2006).
Em touros e garanhões o número de espermatozoides armazenados na cauda do
epidídimo pode ser suficiente para até 10 ejaculações sucessivas dependendo da idade, tamanho
e atividade reprodutiva do animal (BEDFORD, 1994). Como os epidídimos funcionam como
vasos de armazenamento in vivo, os espermatozoides epididimários podem ser coletados destes
animais, podendo servir como um recurso indispensável para salvar o germoplasma de machos
geneticamente valiosos. Contudo este material é um recurso genético finito e deve ser utilizado
da maneira mais eficiente possível para maximizar o número de progênies por macho (STOUT,
2012).
Por outro lado, alterações irreversíveis na membrana espermática, oriundas dos
processos de refrigeração, congelação e descongelação são caracterizadas por distúrbios na
estrutura de bicamada proteico-lipídica, como um decréscimo na fluidez e aumento na
permeabilidade da membrana, danos acrossômicos, desidratação, liberação de enzimas e
fosfolipídios, redução da atividade metabólica e diminuição no consumo de ATP. Tais
alterações podem comprometer parcial ou totalmente a fertilidade do espermatozoide
(FARSTAD, 1996).
Cerca de 40% a 50% dos espermatozoides não sobrevivem à criopreservação, mesmo
com protocolos otimizados (WATSON, 2000). Como consequência, a fertilidade do sêmen
criopreservado utilizado na inseminação artificial (AI) é mais pobre que o sêmen fresco na
maioria das espécies, o que pode ser parcialmente compensado pela utilização de um maior
número de espermatozoides vivos (WATSON, 1995). Para diminuir os fatores negativos da
criopreservação são utilizados diluentes, que tem como propósito fornecer às células
espermáticas fontes de energia, proteger as células de danos relacionados à temperatura e
manter um ambiente adequado para os espermatozoides sobreviverem temporariamente
(PURDY, 2006).
Por este motivo a primeira etapa envolvida na criopreservação espermática representa a
diluição das amostras seminais em meios específicos, evitando-se os efeitos deletérios
relacionados ao metabolismo espermático e exposição ambiental, garantindo a manutenção do
movimento celular (FOOTE, 1982). A preservação do sêmen por muitas horas não é possível
sem a adição destes diluidores, os quais são responsáveis por prolongar a vida do
11
espermatozoide. Os diluidores estabilizam sistemas enzimáticos, mantêm a integridade de
membranas, protegem os espermatozoides de danos como choque frio, dos produtos tóxicos
produzidos pelos próprios espermatozoides, e previnem o crescimento de microrganismos
(FLOREZ-RODRIGUEZ, 2013). Em virtude de sua importância, considera-se que os meios
diluidores desempenharam o papel mais importante para o estabelecimento da inseminação
artificial como prática de manejo reprodutivo em bovinos (HURST, 1953).
A maioria dos ejaculados de animais domésticos contêm um maior número de
espermatozoides que o necessário para uma fecundação. Devido a isto, pode-se diluir e
fracionar este material para ser utilizado em uma série de inseminações (CASTELO; FROTA;
SILVA, 2008). Um dos componentes básicos dos diluentes para criopreservação é uma fonte
de lipoproteína de alto peso molecular para proteger contra o choque térmico, como a gema de
ovo e o leite (VISHWANATH; SHANNON, 2000).
Os constituintes responsáveis pela proteção nos diluentes a base de gema de ovo são as
lipoproteínas de baixa densidade (LDL), fornecendo proteção contra o choque frio, como
também reduz a perda de enzimas acrossomais e previne alterações degenerativas no acrossoma
durante o armazenamento de líquidos (SALAMON; MAXWELL, 2000). Segundo Fürst
(2006), esta proteção se dá devido a presença das LDLs presentes na composição da gema do
ovo que irão se ligar a membrana plasmática durante a diminuição da temperatura, tornando a
membrana mais resistente, como também através da substituição após a perda de fosfolipídios,
prevenindo a ruptura da membrana plasmática.
O leite desnatado por sua vez, que é desprovido de lipoproteínas, também protege os
espermatozoides durante o armazenamento, sendo as micelas de caseína encontradas na
composição do leite seus componentes ativos envolvidos na proteção dos espermatozoides
(BERGERON; MANJUNATH, 2006). Segundo Salamon e Maxwell (2000), o sucesso do
efeito protetor deste diluente é atribuído à sua fração de proteína, que pode atuar como um
tampão contra mudanças no pH e como um agente quelante contra quaisquer metais pesados
presentes.
Diante do exposto, foram realizadas análises de motilidade de integridade da membrana
plasmática e acrossomal para avaliar a atividade de diferentes diluidores sob os
espermatozoides epididimários de bovinos pós refrigeração a 5ºC e determinar o diluidor mais
adequado para criopreservação destas células.
Metodologia e Análise
12
Figura 1 – Complexo testículo/epidídimo bovino
13
Fonte: Arquivo Pessoal.
A escolha das marcas comerciais do leite desnatado foi baseada em sua constituição. O
leite Molico® foi escolhido por apresentar apenas a constituição do leite, enquanto o
Piracanjuba® contém uma mistura entre leite e proteína de soja, a lecitina. Estudos afirmam que
a lecitina fornece uma proteção aos espermatozoides durante o choque frio e a congelação,
garantindo melhores parâmetros espermáticos após a criopreservação (NEHRING;
ROTHE, 2003; AIRES et al., 2003).
A diluição média final foi de 20 x 106 espermatozoides/mL. Em seguida, os grupos
foram acondicionados em criotubos e submetidos à curva de refrigeração até alcançar 5 ºC, e
foram avaliados quanto aos parâmetros de motilidade, vigor, integridade de membranas
plasmática e funcionalidade de membranas plasmáticas (Eosina-nigrosina e solução
hiposmótica de citrato de sódio, respectivamente) nos momentos 0h (ao alcançar 5 ºC), 24h e
48h de refrigeração. As avaliações foram realizadas em triplicata e cada experimento foi
realizado cinco vezes. Em todas as repetições foi realizada avaliação da morfologia espermática
a fim de subtrair a porcentagem de espermatozoides com cauda enrolada dos resultados obtidos
na avaliação de funcionalidade de membrana plasmática.
a) Análise espermática
Fonte: http://tarwi.lamolina.edu.pe/~emellisho/Reproduccion_archivos/Practica%204-eval-semen.pdf
Fonte: http://www.serida.org/publicacionesdetalle.php?id=01495
Motilidade Espermática
Diluidores Tempo 0h Tempo 24h Tempo 48h
15
GE 21,98±13,24cd 15,32±11,14b 9,70±4,91b
GF 24,34±9,82cd 30,84±13,97ab 26,16±11,43ab
GA= Grupo Tris-gema; GB= Grupo Piracanjuba Inativado; GC= Grupo Piracanjuba não inativado; GD= Grupo
Molico Inativado; GE= Grupo Molico não inativado; GF= Grupo UHT. Letras minúsculas na mesma coluna
indicam diferença entre os grupos (p<0.05).
Conclusões
Referências
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22
SÍNTESE, CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DA ATIVIDADE ANTIMICROBIANA
DE MICROPARTÍCULAS DE QUITOSANA ENCAPSULADAS COM
CLOREXIDINA EM STAPHYLOCOCCUS AUREUS1
Resumo
As bactérias da espécie Staphylococcus aureus são responsáveis por diversos tipos de infecções.
O fármaco mais empregado é a bisguanida de clorexidina, entretanto, provoca efeitos colaterais.
Partículas de quitosana tem sido alvo de estudos, pois podem ser usadas no encapsulamento de
fármacos. O trabalho teve como objetivo elucidar a síntese, caracterização das partículas de
quitosana contendo clorexidina e análise do seu potencial como agente antimicrobiano. As
partículas foram sintetizadas e caracterizadas por Microscopia Eletrônica de Varredura,
Termogravimetria, Calorimetria Exploratória Diferencial e UV-Vis, além de microdiluição
seriada e testes de viabilidade celular com resazurina nos ensaios microbiológicos. Nos
resultados foi possível observar a formação de micropartículas de quitosana. Dentre as
micropartículas sintetizadas a que apresentou melhor resultado foi encapsulada com o fármaco
em pH neutro no meio Brain-Heart Infusion - CIM de 1,55x 10-2 mg/mL. Pode-se concluir que
as micropartículas se mostraram promissoras no combate às bactérias Staphylococcus aureus.
Palavras-chave: Micropartículas. Quitosana. Staphylococcus aureus.
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Síntese, caracterização e análise da atividade antimicrobiana
de micropartículas de quitosana encapsuladas com clorexidina em Staphylococcus aureus / Avaliação do efeito do
encapsulamento de clorexidina em nanopartículas de quitosana na cinética de crescimento de microorganismos.
2
Estudante de Iniciação Científica: Aline Silva Lima (e-mail: alinelima.biotec@gmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB / CAPES (www.propesq.ufpb.br e-mail:cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br).
3
Orientador(a): Ronaldo Rodrigues Sarmento (e-mail: ronaldo@ets.ufpb.br).
23
de cacho e é responsável por provocar doenças, que vão desde uma simples infecção como as
espinhas, até casos graves a exemplo da septicemia (Santos, et al., 2007). Está comumente
relacionada às infecções piogênicas em todo o mundo, sua resistência bacteriana aos
antibióticos tem sido desenvolvida por mutações em seus genes ou pela aquisição de genes de
outras bactérias da mesma espécie.
Para prevenir as possíveis infecções e suas complicações, produtos com atividade
antimicrobiana podem ser utilizados (Festuccia et al., 2013). A clorexidina é uma bisguanida
catiônica e possui atividade bactericida, que está associada a ruptura da membrana
citoplasmática microbiana, resultando em precipitação ou coagulação de proteínas e ácidos
nucleicos. Porém, seu uso in vivo pode ocasionar reações adversas e consequentemente alterar
sua atividade bactericida. Em justaposição, pouco se sabe sobre nanopartículas de quitosana,
um polissacarídeo desacetilado derivado da quitina que possui inúmeras propriedades, dentre
elas também a antimicrobiana. Portanto, o trabalho teve como objetivo sintetizar e caracterizar
nanopartículas de quitosana contendo clorexidina e avaliar o seu efeito antimicrobiano frente a
bactéria Staphylococcus aureus.
Fundamentação teórica
Metodologia e análise
25
Figura 1 – Microscopia eletrônica de varredura das micropartículas de quitosana; na
figura A podemos observar estruturas de micropartículas de QS em tamanho
micrométrico médio de 473 nm. A imagem B mostra uma única partícula de CSN,
possui o formato não tão arredondado e sua dimensão é 8.790 nm. Na C, que
representa QSN+CLX foram encontradas apenas partículas em tamanho micrométrico
com o valor médio de 546 nm.
Como podemos ver, a figura acima mostra a termodecomposição da QS, QSN, QS+CLX
26
e QSN+CLX. Na QS, representada pela cor preta, houve uma primeira perda de água entre
60°C a 107°C no valor de 19%, uma segunda em 230°C referente a saída de NOx com 10% e a
terceira na variação de 230°C a 357°C perdendo 27% de massa advinda da composição residual
da QS.
Para QSN (vermelha), observou-se duas perdas, sendo primeira entre 65,8 °C e 90°C
com perda de massa de 44% relativo à saída da água, no segundo quando a temperatura atingiu
417°C, perdeu-se 26% de massa referente a quebra estrutural do TPP.
Nas amostras de QS+CLX entre 65°C a 101°C notou-se a perda de 11% da massa, que
é da água, enquanto na segunda, no intervalo de 101°C a 355°C o valor de 46% é referente a
decomposição da quitosana e clorexidina.
Por fim, na cor verde (QSN+CLX), três perdas foram detectadas; no primeiro intervalo
entre 63°C a 95°C, com aproximadamente 30% de massa, referente a água, no segundo em
298°C com 16% de massa respectiva a decomposição da quitosana e clorexidina, e o último em
471°C com 15,3% pertencente a quebra estrutural do TPP.
Na realização do DSC, 6g de cada amostra foi aquecida partindo da temperatura
ambiente até 180ºC, em uma taxa de 10ºC/min, através do equipamento Shimadzu DSC 60 a
uma vazão de argônio 50ml/min.. Esta técnica foi empregada para avaliar as propriedades
físicas da substância em função da temperatura.
Para a amostra de micropartículas de quitosana o gráfico apresentou um pico
endotérmico na faixa de 110ºC que é atribuído a evaporação da água. Foi notado um segundo
pico exotérmico na faixa de 290° C correspondente a degradação da quitosana.
No gráfico da amostra de quitosana neutralizada aparece um pico na faixa de 61ºC que
provavelmente é referente a perda de água fracamente ligada às moléculas de quitosana, o pico
na faixa de 128°C é referente a evaporação da água formada a partir da degradação do TPP e
da quitosana, também chamada de água inclusa, e o terceiro pico na faixa de 328°C e se refere
a decomposição da quitosana.
A B
27
D
C
29
Figura 6 – Placa neutralizada com hidróxido de sódio (NaOH), contendo
micropartículas de quitosana (QSN); quitosana com clorexidina (QSN + CLX);
controle de esterilidade (CE) e controle de crescimento (CC).
O TPP não agiu como bactericida ou bacteriostático e isso justifica a coloração rosa nos
poços – Fig 4-, então podemos inferir que o mesmo não interfere na quitosana como potencial
antimicrobiano. Kašpar et al. (2013) relatam em seu estudo a utilização de micropartículas de
quitosana reticuladas por ânions de tripolifosfato (TPP) apresentaram características favoráveis
a aplicações em encapsulações. A clorexidina 0,12% teve ação bactericida dentro do esperado
e eliminou todos os microorganismos nessa concentração, entretanto, a concentração mínima,
in vitro, para inibir o crescimento bacteriano foi a 5,85x10-3 mg/mL. O controle de crescimento
estava dentro dos padrões, pois como só havia meio de cultivo e microorganismos, era esperado
o crescimento das bactérias. Pode-se notar no controle de esterilidade, que o meio utilizado não
apresentava contaminação, pois não ocorreu crescimento celular.
Para inibir o crescimento bacteriano das placas contendo 108 UFC/ml dos
microrganismos, as micropartículas contendo clorexidina apresentou efeito melhor do que nos
poços que continham apenas o fármaco. Não obstante, a absorbância mostrou que as
micropartículas de quitosana com clorexidina não neutras apresentou concentração inibitória
mínima 1,55x10-2 mg/mL, um valor menor quando comparado com as micropartículas que
foram neutralizadas, que revelou CIM 3,1x10-2 mg/mL – Fig 5.
30
Gráfico 1 – Concentrações inibitória mínima da clorexidina em três
parâmetros; digluconato de clorexidina 0,12% (azul), micropartículas de
quitosana com clorexidina neutralizada (laranja), micropartículas com
clorexidina não neutra (cinza);
Conclusões
Referências
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weights. Carbohydr. Polym., v.54, n. 4, p.527-530, 2003.
33
REMOÇÃO BIOLÓGICA DE HPA EM SOLO INCREMENTADO COM TORTA DE
SESAMUM INDICUM L. (GERGELIM)
Resumo
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Uso de Pseudomonas aeruginosa na remoção de
hidrocarbonetos do petróleo em solo suplementado com coprodutos agropastoris/ Remoção biológica de HPA em
solo incrementado com torta de Sesamum indicum L. (gergelim)
Estudante de Iniciação Científica: Gilanna Falcão Ferreira (e-mail: gilannaferreira@gmail.com)
Discente voluntária no Programa de Iniciação Científica
Orientador: Ulrich Vasconcelos (e-mail: u.vasconcelos@cbiotec,.ufpb.br, telefone: 83 996599369)
34
solo tem origem antropogênica em quase sua totalidade, e representa um aumento significativo
da razão C:N:P, exigindo medidas de intervenção e recuperação. Sob diferentes pontos de vista,
é possível identificar a existência de lacunas no que diz respeito ao risco à saúde ambiental e
humana, representado por tais compostos. Estas áreas de sombras também se estendem aos
eventos posteriores à contaminação, diretamente relacionados à microbiota, à dinâmica dos
nutrientes no solo e à recuperação do equilíbrio do ecossistema.
A biorremediação é um processo de recuperação de uma área contaminada por
substâncias tóxicas, empregando micro-organismos. Cabe ressaltar que a natureza persistente
e/ou recalcitrante de certos hidrocarbonetos, particularmente Hidrocarbonetos Policíclicos
Aromáticos (HPA), representa entraves no bioprocesso, motivando investigações de novas
estratégias para a bioacessibilidade e posterior remoção. Uma dessas alternativas encontra
abrigo no uso de cossubstratos, isto é, compostos que ao serem consumidos para produção de
energia e biomassa, contribuem para a assimilação de outros de natureza menos biodegradável.
Diferentes moléculas podem ser aplicadas para estes fins, porém coprodutos industriais
despontam como promissores por inúmeras razões, apesar de seu uso ainda figurar um tema
recente, revelando a necessidade de ser melhor explorados.
Neste capítulo é apresentado uma das possíveis destinações nobres a resíduos
agropastoris, no contexto da biorremediação e da aplicação de torta gorda, obtida a partir do
processamento do gergelim para obtenção de seu óleo, assumindo a função de cossubstrato,
durante a remoção de hidrocarbonetos do petróleo. Este trabalho foi desenvolvido como parte
do Projeto Universal, coordenado pelo orientador (Processo n° 477305/2013-0, Edital n°
14/2013-MCT/CNPq), cuja parceria com Embrapa-Algodão, sediada em Campina Grande,
permitiu a doação, caracterização e aplicação da torta de gergelim.
Fundamentação teórica
A degradação ambiental dos HPA pode acontecer por meio de processos físico-químicos
ou por ação biológica. A biorremediação é um processo no qual plantas ou micro-organismos
são utilizados para remover ou reduzir o teor de contaminantes ambientais. Os tratamentos
podem ser do tipo ex-situ ou in-situ. O primeiro é realizado fora do local onde houve a
contaminação e o segundo método baseia-se no tratamento realizado no próprio local a
contaminação, geralmente apresentando menor custo e promovendo menores impactos (NANO
et al., 2003).
Tratando-se da remoção de HPA em solos, duas estratégias de biorremediação podem
ser utilizadas, bioestímulo e bioaumento, aplicados respectivamente quando a relação C:N:P
está afetada, admitindo-se a utilização de cossubstratos. Diversos gêneros bacterianos podem
ser empregados no processo, tais como, Mycobacterium sp., Haemophilus sp., Rhodococcus
sp., Paenibacillus sp. Entretanto, Pseudomonas aeruginosa é uma bacteria com elevado
potencial, uma vez que pode se desenvolver em ambientes hostis e utilizar mais de 90
compostos orgânicos como fonte de carbono (SHRIVASTAVA et al., 2004; VASCONCELOS,
DE FRANÇA e OLIVEIRA, 2011).
A agroindústria é responsável pela produção de uma grande quantidade de subprodutos,
dentre eles as tortas, resultantes após a prensagem de sementes de oleaginosas. Embora
apresentem fibras, proteínas e compostos antioxidantes em sua composição, as tortas de
prensagem são consideradas coprodutos com baixo valor comercial, sendo destinadas como
ração animal ou desprezadas, na maior parte das vezes (SEVERINO et al., 2004). Utilizando
estes coprodutos como cossubstrato de processos como a biorremediação de solos
contaminados por HPA, as tortas podem receber uma destinação mais nobre. Baseado nessa
premissa, o objetivo do trabalho foi analisar a remoção de dois HPA, utilizando um consórcio
formado por linhagens de proteobactérias, associado à adição de torta gorda de semente de
gergelim.
36
Metodologia e análise
Para a realização deste estudo, foi utilizado um solo coletado de região com histórico de
contaminação por petroderivados. O contaminante utilizado consistia numa mistura de óleo
lubrificante usado, adquirido em um estabelecimento de troca de óleo na cidade de João Pessoa.
A torta de semente gergelim foi gentilmente cedida pela Embrapa-algodão. As principais
características do solo, óleo e do cossubstrato (torta) estão sumarizadas na Tabela 1.
Para garantir o suprimento de oxigênio, o solo foi regularmente aerado por meio de
revolvimento a cada abertura durante os ensaios microbiológicos. Para o ensaio de respiração
microbiana foi empregada a técnica descrita por Severino et al. (2004), baseada na titulação da
solução de NaOH 1,0 mol/L com solução de HCL 1,0 mol/L, na presença de vermelho de fenol.
Em cada reator foi disposto um recipiente contendo 25 ml da solução do hidróxido,
substituindo-o a cada abertura do reator para titulação. O ensaio foi conduzido nos dias 1, 10,
30 e 60. A concentração produzida de CO2 foi calculada empregando a Equação 1.
Em que: V1–volume (mL) de HCl necessário para neutralizar NaOH no reator; V0–
volume (mL) de HCl necessário para neutralizar NaOH no reator controle (sem micro-
organismo); 44– massa molecular do CO2; e m–massa (kg) do solo no reator.
As análises para determinação do teor dos HPA no solo foram realizadas pelo
Laboratório Bioagri ambiental. Para o cálculo das perdas abióticas, os reatores controle foram
mantidos esterilizados por meio da adição de uma solução nitrato de prata 10% (m/m).
No início e no final do ensaio de biodegradação, foi aplicado um teste de ecotoxicidade.
O objetivo deste teste foi verificar o efeito dos contaminantes e seus metabólitos sobre a
fertilidade do solo. Para isto, utilizou-se sementes de três plantas: milho (Zea mays), maxixe-
do-norte (Cucumis anguria) e mostarda (Brassica nigra), adquiridas de Toca do Verde (Canoas,
Brasil). O teste foi conduzido como descrito por Tiquia, Tam e Hodgkiss (1996). Inicialmente
foi confeccionado um extrato do solo de cada reator, retirando-se 10 g do material e misturando
a 90 ml de água destilada esterilizada. Após a homogeneização manual e de 5 a 8 ml do extrato
foram transferidas para placas de Petri, embebendo-se o papel de filtro cortado em círculo,
disposto no interior da placa, contendo no mínimo 10 sementes. Em função do tamanho, para o
milho foram aplicadas 5 sementes.
A fitotoxicidade foi determinada por meio do cálculo do índice de germinação (IG),
pelo qual, estima-se a relação entre o número de sementes germinadas com o tamanho das
38
radículas crescidas, comparadas com um controle com água destilada. O IG foi calculado
aplicando a equação 2.
39
Figura 2 – Média da biomassa bacteriana aeróbia heterotrófica cultivável do solo nos reatores
Conclusões
Agradecimentos
Referências
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detoxification in soil by a consortium of basidiomycetes isolated from compost: role of laccases
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42
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44
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE MATERIAIS ALCALINAMENTE ATIVADOS
FRENTE À REAÇÃO ÁLCALI-AGREGADO: AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES
MINERALÓGICAS E MICROESTRUTURAIS
Resumo
Na construção civil a Reação Álcali Agregado (RAA) é uma patologia que origina expansão no
concreto ocasionando surgimento de fissuras que compromete suas propriedades. Várias
pesquisas foram iniciadas objetivando a busca à novos materiais mais resistentes a esse tipo de
patologia, destacando-se os Materiais Alcalinamente Ativados (MAA), que podem por si só
recuperar a estrutura atingida. Os MAA’s apresentam boas propriedades em termos de
resistência, estabilidade e durabilidade. Este trabalho tem como objetivo avaliar o desempenho
de MAA’s frente à RAA acessando suas propriedades. Foram preparadas barras prismáticas de
argamassas de metacaulinita e pirex ou dois tipos de britas, ativadas com SiNa e SiK, e
comparadas a um material de referência. Todas as barras foram submetidas ao Ensaio de
Expansão pelo Método Acelerado e analisadas suas propriedades por FRX, DRX, Ultrassom e
MEV. Os resultados apontam que o MAA ativado com SiNa apresentou potencial de agente
mitigador da RAA.
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Avaliação do Desempenho de Materiais Alcalinamente
Ativados Frente à Reação Álcali-Agregado / Avaliação das Propriedades Mineralógicas e Microestruturais
Estudante de Iniciação Científica: Jocélio Jairo Vieira Filho (e-mail: jocelio.vieira@cear.ufpb.br)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail:cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientador(a): Kelly Cristiane Gomes (e-mail: gomes@cear.ufpb.br, telefone: 83 3216-7268)
45
Desde a década de 1940, quando foi descoberta, a Reação Álcali-Agregado (RAA) vem
se tronando um tema cada vez mais recorrente nos estudos a respeito das manifestações
patológicas nas estruturas de concreto, isso porque o registro de estruturas por ela afetadas
aumentou consideravelmente nos últimos anos (STANTON, 1940; POOLE, 1992; TIECHER
et al., 2006; TIECHER, 2007).
Ressalta-se que as principais causas da RAA são a presença, no agregado, de minerais
reativos que reagem com os álcalis do cimento (GILLOTT, 1986). Entretanto, influências
externas como a umidade e temperatura são condicionantes importantes do processo deletério
(DIAMOND, 1975, 1989, 1999; HOBBS, 1988; TAYLOR, 1997). Como resultado desta reação
formam-se géis que na presença de umidade são capazes de expandir, gerando pressões e
fissurações no concreto (PETERSON et al., 2000). Devido ao fato de a água ser um dos fatores
determinantes da existência da RAA, as obras hidráulicas são as mais suscetíveis de
apresentarem esse tipo de problema (HASPARYK, 2005).
Nos últimos anos, novos materiais cimentícios começaram a ser desenvolvidos e
testados visando melhorias nas estruturas com relação a RAA (CHEN et al., 1993). A maioria
das pesquisas com novos materiais tem o objetivo de melhorar as propriedades mecânicas,
físicas ou químicas do aglutinante, buscando um maior rendimento energético, redução da
liberação de CO2 na atmosfera, diminuição da poluição dos recursos hídricos superficiais e
subterrâneos, entre outros, além da criação de materiais de alto rendimento, que degradem
minimamente o ambiente (PALOMO etal., 1999).
Entre esses materiais desenvolvidos, destaca-se o Material Alcalinamente Ativado
(MAA), como uma boa alternativa ao cimento Portland, formado pela solução aquosa de
partículas sólidas álcali-ativadas, ou seja, os MAA’s são compostos obtidos através de óxido-
aluminossilicatos polimerizados em ambientes extremamente básicos (DUXSON, 2006;
DUXSON et al., 2007).
Os MAA’s apresentam grande resistência mecânica, proteção inerente de aço de reforço
devido ao alto pH residual e baixas taxas de difusão de cloreto, elevada resistência aos agentes
agressivos, boa estabilidade dimensional, boa aderência a concretos, baixa condutividade
térmica, alta resistência ao fogo (até 1000°C) sem emissão de fumaças ou gases tóxicos quando
aquecido, e sua aparentam não serem sujeição a reações deletérias do tipo álcali-agregado
(PALOMO et al., 1999; DUXSON, 2006, DUXSON et al., 2007).
Como a RAA é uma das reações deletérias mais comuns nos concretos, tornam-se
imprescindíveis estudos sobre a temática, em especial ao produto da reação, ou seja, aos géis
formados, já que são eles os agentes responsáveis pelos danos causados nas estruturas de
concreto. Desta forma, a busca por novos materiais que possam vir a mitigar a RAA é
fundamental para a obtenção de estruturas que possibilitem maior durabilidade, em especial
aquelas submetidas a ambientes agressivos, bem como a sobrecargas de esforços. Neste sentido,
justifica-se as pesquisas na avaliação do desempenho de MAA frente a RAA.
Neste sentido, este trabalho tem como objetivo a avaliação do desempenho de Materiais
Alcalinamente Ativados (MAA) frente à Reação Álcali-Agregado (RAA) através da avaliação
de suas propriedades mineralógicas e microestruturais.
Fundamentação Teórica
47
A síntese destes materiais implica em processos de solidificação com mecanismos
altamente estudados com as variantes de razões molares dos ativadores, a temperatura de síntese
e a energia de mistura (PALOMO et al., 1999), onde o processo de síntese pode ser simplificado
ao determinar as proporções ótimas de cada sistema.
Na ativação alcalina destes materiais, sais alcalinos, por exemplo KOH e NaOH, podem
atuar como catalizadores junto com silicatos dos materiais aluminosilicosos à temperatura de
processamento, geralmente menor que 100°C, onde a ativação alcalina é uma reação de
hidratação de aluminosilicatos com substâncias do tipo alcalino e alcalino-terroso, como:
Hidróxidos (R2CO3, R(OH)2) e sais de ácidos fortes (R2CO3, R2S, RF) ou fracos (Na2SO4,
CaSO4.2H2O), onde R pode ser um íon Na, K, Li (PUERTAS, 1995) e o Ca (PALOMO et al.,
1999).
Para melhorar os resultados, deve-se realizar sobre os aluminosilicatos um tratamento
térmico envolvendo a perda de água e alterações na coordenação do íon de alumínio com o
oxigênio. Com isso, o material tem grande parte de sua estrutura cristalina perdida, resultando
num estado praticamente amorfo, de alta entropia, que resulta em uma grande tendência de
combinar-se quimicamente (CHANG, 1994).
O mecanismo da reação alcalina é formado por reações conjugadas de destruição e
imobilização, que resulta na destruição da matéria-prima em unidades estruturais estáveis. Os
primeiros passos acontecem com a desagregação das ligações covalentes Si–O–Si,
consequência do aumento do pH da solução alcalina, onde depois, ocorre a acumulação dos
produtos degradados, que interagem entre si e formam um coagulado, que origina uma terceira
fase para gerar uma estrutura de condensados.
Uma das principais diferenças entre os ligantes do cimento Portland comum e os
ativados alcalinamente é que, no cimento é utilizado água com pH neutro, enquanto nos ligantes
álcali-ativados, as soluções com alta alcalinidade são necessárias para dar início ao processo de
dissolução.
Metodologia e Análise
Metodologia
A água utilizada para a síntese alcalina, bem como para a preparação da solução de
NaOH 1M, foi do tipo destilada.
A Tabela 2 apresenta a composição química dos ligantes e agregados utilizados na
pesquisa (metacaulinita, cimento, britas e pirex), obtidas pela Fluorescência de Raios-X.
(%) SiO2 Al2O K2O Fe2O Na2 CaO TiO2 MgO SO3 Outros
3 3 O
MK 62,96 34,61 1,34 0,63 0,07 0,05 0,03 0,12 0,00 0,19
Cimento 20,91 1,94 0,84 2,42 0,51 63,94 0,26 3,62 5,18 0,38
Pirex 74,77 3,32 0,43 0,15 10,05 8,45 0,00 2,56 0,26 0,01
Brita 1 66,98 16,43 4,03 3,83 2,60 3,36 0,73 1,29 0,10 0,65
Brita 2 71,89 16,01 4,69 1,65 3,12 1,74 0,00 0,60 0,11 0,19
49
Durante os ensaios, as barras de MAA a base de metacaulinita, pirex e silicato de
potássio e da combinação dos dois silicatos não obtiveram condições de serem submetidas ao
ensaio de expansão e as barras a base de metacaulinita e britas (B1 e B2) não apresentaram
condições de integridade após o ensaio de expansão acelerada, sendo utilizadas até o final do
ensaio de expansão pelo método acelerado apenas as barras oriundas da metacaulinita e pirex
ativadas apenas com silicato de sódio e as barras de referência. A Figura 1 apresenta o aspecto
visual das barras de MAA e de CP após submissão de ensaio de expansão pelo período de 30
(trinta) dias.
Figura 1 – Aspecto Visual das Barras de MAA e CP após submissão ao ensaio de expansão acelerado pelo período
de 30 (trinta) dias.
Após o período de realização do ensaio de expansão (30 dias), as barras foram retiradas
da solução e preparadas para as demais analises.
Resultados
(%) SiO2 Al2O K2O Fe2O Na2 CaO TiO2 Mg SO3 Outro
3 3 O O s
MK.P.SiNa 66,0 6,84 0,26 0,31 16,1 7,54 0,06 2,54 0,19 0,06
9 1
*MK.P.SiK 72,0 10,2 2,24 0,22 7,61 5,38 0,03 1,94 0,21 0,09
2 6
*MK.P.SiNa+ 71,5 9,59 1,2 0,22 9,73 5,46 0,03 1,90 0,19 0,18
SiK 0
MK.B1.SiNa 70,0 13,1 2,31 2,84 6,64 2,82 0,50 0,97 0,11 0,70
1 0
MK.B2.SiNa 57,5 11,8 2,58 1,27 24,5 1,15 0,16 0,51 0,06 0,28
4 9 6
CPV-ARI.P 52,3 1,79 0,29 1,76 8,04 31,0 0,15 2,69 1,53 0,36
0 9
* Ensaio realizado com as barras de argamassa antes da submissão ao ensaio de expansão.
Como pode ser observado pela Tabela 3, os MAA’s apresentam uma predominância, já
esperada, de SiO2. O Na2O também apareceu com grande quantidade em sua composição,
principalmente nas barras de MAA a base do agregado B2 (MK. B2.SiNa), o que evidencia que
51
nesta amostra ocorreu uma incorporação acentuada do álcali sódio oriundo da solução de NaOH
1M.
Já o material cimentício a base de cimento Portland apresentou uma grande quantidade
de SiO2, sendo um aumento bastante elevado comparado a cada precursor separadamente.
Deve-se levar em consideração que a RAA é oriunda do aumento da presença de SiO2 que ficou
disponível para originar a reação. A presença relevante de Na2O pode ter sido potencializada
através da solução de NaOH em que as barras prismáticas foram submetidas devido ao ensaio
de expansão pelo método acelerado.
As Figuras 3 a 6 apresentam os padrões de difração dos materiais precursores utilizados
nessa pesquisa.
Pelos difrotogramas apresentados é possível observar que a metacaulinita é um material
amorfo apresentando baixa cristalinidade na estrutura do material, sendo constituída
basicamente de quartzo e mica. Já a amostra de cimento apresenta alto grau de cristalinidade,
sendo composto basicamente pelas fases belita, alita, óxido de cálcio, gesso e outros minerais
minoritários.
Observando os difratogramas dos agregados utilizados na pesquisa, pode-se observar
que o pirex é um agregado amorfo de alta reatividade, sendo composto basicamente de quartzo
e tridimina. Já nas britas é possível observar que elas são extremamente cristalinas, sendo a
brita B1 composta por albita, arnodita, cordierita, quartzo, biotita e microlina, enquanto a brita
B2 é composta por albita, cordierita, quartzo, microlina e muscovita, tendo este último
apresentado pico de maior intensidade.
Figura 3 – Padrões de Difração dos ligantes Metacaulinita (MK) e do Cimento (CPV-ARI). (Qz: Quartzo, M:Mica,
Gy: Gesso, CaO: Óxido de Cálcio, C3S: Alita, C2S: Belita, C3A: Aluminato, C4AF:Ferrita).
Figura 4 – Padrão de Difração do Agregado reativo Pirex. (Qz: Quartzo, Td: Tridimina).
52
Figura 5 – Padrão de Difração do Agregado Granítico Brita 1. (Qz: Quartzo, B: Biotita, A: Albita, C: Cordierita,
M: Microlina, An: Arnodita).
Figura 6 – Padrão de Difração do Agregado Granítico Brita 2. (Qz: Quartzo, A: Albita, C: Cordierita,
M:Microlina, Mu: Muscovita).
Observa-se que a principal diferença entre as britas é o tipo de mica presente nelas.
Enquanto a brita B1 por ser oriunda de uma rocha do tipo granodiorite, segundo a classificação
TAS, apresentando a mica do tipo biotita (mica piroxênica ou magnesiana), de acordo com
Peterson et. al. (2000). Já a brita B2 por ser oriunda de uma rocha do tipo granito, segundo a
classificação TAS, apresenta uma mica do tipo muscovita (mica potássica) que se enquadra em
uma das espécies de micas graníticas segundo Peterson et. al. (2000). É possível observar,
ainda, que a brita B2 apresenta um grau de cristalinidade menor quando comparada à brita B1,
visível pelo halo formado entre 5º e 30º.
As análises por DRX foram realizadas nas barras após a submissão ao ensaio de
expansão com o objetivo de determinar as possíveis reações e formações de novos minerais que
venham a contribuir no processo de formação do gel da RAA. As Figuras 7 a 9 apresentam os
difratogramas das barras de argamassas produzidas nessa pesquisa.
Pelas Figuras 7 a 9, pode-se observar os padrões de difração das barras oriundas de MK
e Pirex, MK e Britas e a base de CPV. Pode-se observar que não houve degradação da estrutura
cristalina, quando comparadas às estruturas dos agregado empregados na elaboração dessas
barras.
53
Figura 7 – Padrões de Difração das barras de MAA a base de Pirex e silicatos de Sódio (MK.P.SiNa), de Potássio
(MK.P.SiK) e de Sódio + Potássio (MK.P.SiNaK). (Qz: Quartzo, M: Mica, Td: Tridimina, Tr:Trona).
Figura 8 – Padrões de Difração das barras de MAA a base das Britas B1 (MK.B1.SiNa) e B2 (MK.B2.SiNa). (Qz:
Quartzo, B: Biotita, A: Albita, C: Cordierita, M: Microlina, An: Arnodita, Mu: Muscovita).
54
Figura 9 – Padrão de Difração das barras de CPV com Pirex. (Qz: Quartzo, M: Mica, Gy: Gesso, CaO: Óxido de
Cálcio, C3S: Alita, C2S: Belita, Td: Tridimina, C: Calcita, P: Portlandita, Tr: Trona, Na:Natron).
55
Figura 10 – Curvas de Expansão com o tempo. (a) Argamassas de CPV-ARI.P e MK.Na.P (MK.P.SiNa), (b)
Imagem das argamassas de MK.Na.P (MK.P.SiNa) aos 30 dias após submissão ao ensaio, e (c) Imagem das
argamassas de CPV-ARI.P aos 30 dias após submissão ao ensaio.
Pela Figura 10 pode-se observar as expansões nas barras de MAA e de CP, após 30
(trinta) dias de submissão em uma solução de NaOH a 1M a 80°C. É possível observar que nas
barras de CP com pirex (CPV-ARI.P) ocorreram variações bem mais significativas quando
comparadas com as barras de MAA (MK.Na.P, também denominado de (MK.P.SiNa),
chegando até 05 (cinco) vezes maiores ao término do ensaio.
Pode-se observar, ainda, que após 7 dias de imersão em solução, as barras de CPV-
ARI.P tinha expandido mais do que o limite permitido na norma NBR 15577-4 (0,1%). Esta
expansão pode ser uma evidência de que a barra de material cimentício a base de cimento
Portland apresente RAA. Isto pode ter sido facilitado pela grande presença de pirex, rico em
sílica, que pode ter sido disponibilizada para a reação, bem como uma maior interação com os
álcalis da solução.
Essa patologia não foi evidenciada nas barras de MAA. Isto pode ocorrer em função dos
álcalis estarem aprisionados na matriz, e desta forma, impedindo sua disponibilização para a
formação da RAA. Desta forma, apesar de uma ligeira expansão, as barras de MAA
permaneceram estabilizadas durante praticamente toda análise, com expansões inferiores as
preconizadas na norma ABNT NBR 15577-4.
Em termos visuais, pode ser observado que após 30 dias (ver Figura 10b e 10c) de
submissão ao ensaio, pode ser visto ao longo de toda a superfície da amostra a interação da
matriz com o agregado reativo pirex. Observa-se uma maior interação com a matriz de MAA,
enquanto que com as argamassas a base de Cimento Portland, eles estão na superfície do
material, apresentando um descolamento da matriz. A Figura 10b mostra que as amostras do
sistema metacaulinita estavam em perfeitas condições após 30 dias de exposição, sem
apresentar fissuras superficiais e que não excedeu as disposições da norma NBR 15577-4.
As barras que foram produzidas, após passarem pelo ensaio de expansão pelo método
acelerado foram preparadas para análises em ultrassom. As Figuras 11 e 12 apresentam os
espectros de ultrassom das barras de Metacaulinita com Pirex e Silicato de Sódio (MK.P.SiNa)
e de Cimento Portland com Pirex (CPV-ARI.P).
56
Figura 11 – Imagem do gráfico da análise em ultrassom das Barras de MK.P.SiNa.
Pode observar pelos gráficos apresentados nas Figuras 11 e 12 que as barras prismáticas
a base do material alcalinamente ativado (MK.Na.P) apresentou uma menor amplitude em
relação ao gráfico do material a base de cimento Portland (CPV-ARI.P). Isto é um indicativo
que o material cimentício a base de cimento Portland possui em seu interior um número maior
de falhas, bem como um indicativo, em conjunto com os resultados de expansão, que o material
CPV-ARI.P pode ter apresentado a patologia de RAA.
Já como no material MK.Na.P não ocorreu uma expansão significativa, o gráfico possui
poucas variações na amplitude, significando assim que a estrutura interna das barras foi pouco
danificada. Esses resultados, em junção com o ensaio de expansão, servem de indícios da
possível ausência da RAA nas barras de MAA.
A Figura 13 apresenta as micrografias SEM das amostras de Cimento (a) e de Pirex (b).
Pode ser observado pela Figura 13 a finura do cimento e geometria do pirex que apresenta
superfície bem definida e cantos angulares.
Figura 14 – Micrografia SEM das barras CPV-ARI.P, destacando os espaços vazios oriundos das pérolas de pirex
que se descolaram da estrutura.
Figura 15 – Micrografia SEM das barras CPV-ARI.P, destacando as fissuras e descolamento nas interfaces entre
o agregado e a matriz cimentícia.
Em diversas partes da amostra foram encontradas um gel no centro e em volta dos grãos
de pirex, bem como extensas fissuras em torno do agregado (Figura 16). Avalia-se que esta seja
uma manifestação decorrente da expansão da estrutura em função da ocorrência da RAA.
Figura 16 – Micrografia SEM das barras CPV-ARI.P, destacando as fissuras no grão de pirex.
Este fato não foi observado nas amostras das barras a base de MAA. Nestas, os grãos
de pirex permaneceram firmes na matriz, devido a adesão pasta/agregado ser mais forte no
MAA do que nas amostras de argamassas a base de CP.
58
As Figura 17 e 18 apresentam as micrografias das barras MK.P.SiNa.
Pode-se observar pela Figura 17 que o MAA apresentou uma matriz relativamente
porosa. Contudo, o mesmo aparenta ser resultado de uma mistura ineficiente (em termos de
compactação da matriz) e não devido ao descolamento do agregado. Esses espaços são
destacados pela coloração escura devido ao preenchimento dos vazios pela resina de
embutimento. Pode-se observar, ainda, pela Figura 18, que os agregados de pirex realmente
permaneceram aderidos a matriz do material, embora, seja perceptível fissuras na sua interface.
Pelas Figuras 17 e 18, é possível observar a ausência de uma fase gel na estrutura, o que
pode ser um indicativo que os MAA’s não são tão susceptíveis a RAA quando comparados a
estruturas a base de cimento Portland.
Conclusões
Após todas as análises e ensaios realizados, pode-se observar que apesar de os materiais
a base de MAA apresentarem teores mais elevados de SiO2 e Na2O, quando comparados ao
material a base de CP, estes não foram disponibilizados para originarem a RAA.
Pela caracterização mineralógica foi possível observar que não houve degradação da
estrutura cristalina, após submissão ao ensaio de expansão pelo método acelerado, quando
comparadas às estruturas dos agregado empregados na elaboração dessas barras. Todas as fases
cristalinas observadas são oriundas dos materiais precursores, com exceção do sistema ativado
com silicato de sódio que apresentou fases de carbonatos, oriundas da exposição ao ambiente
alcalino. Isto pode ser uma evidência da disponibilidade de álcalis na matriz que pode vir a
possibilitar a formação da RAA.
As barras de MAA (MK.P.SiNa) apresentaram uma expansão insignificante quando
comparadas as barras de cimento Portland. Estes resultados, em conjunto com os resultados de
ultrassom, sugerem que as barras não foram afetadas pela RAA, apesar de apresentarem teores
59
elevados de sílica e álcalis, o que indica que estes componentes foram imobilizados na matriz
do MAA. Nas barras a base de cimento estes componentes podem ter ficados disponíveis para
reagirem e assim, ocasionarem a RAA.
Pelos resultados de ultrassom, foi possível observar, que a estrutura interna das barras
de MAA’s apresentaram poucas fissuras em seu interior quando comparadas aos resultados das
barras a base de Cimento Portland que possuíam grandes amplitudes. Estes resultados foram
corroborados pela microestrutura, onde foi possível observar fissuras exclusivas das barras a
base de cimento e pirex, que se podem ser oriundas da Reação Álcali-Agregado, ou até o gel
formado na reação, além de descolamento dos agregados da matriz cimentícia.
Durante o processo de preparação das amostras para análises de Microscopia Eletrônica
de Varredura, foi verificado que a adesão pasta/agregado é maior no MAA quando comparadas
as barras de CP.
Diante do exposto, há evidências de que os MAA’s a base de Metacaulinita com
agregados reativos ativados com silicato de sódio, apresentam um excelente potencial para
reforçar estruturas danificadas e mitigar a RAA ou até mesmo substituir o cimento em estruturas
com pequenos volumes.
Referências
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 5733: Cimento Portland com alta
resistência inicial. Rio de Janeiro: ABNT, 1991.
DUXSON, P.; FERNÁNDEZ-JIMÉNEZ, A.; PROVIS, J.L.; LUKEY, G.C.; PALOMO, A.;
VAN DEVENTER, J.S.J. Geopolymer technology: the current state of the art. Journal
Material Science, 42:2917–2933 (2007).
60
DUXTON, P. The structure and thermal evolution of metakaolin geopolymers. Thesis of
Doctor of Philosophy in Engineering of Department of Chemical and Biomolecular
Engineering, the University of Melbourne, 2006.
HOOBS, D.W. Alkali-silica reaction in concrete. London: Thotmas Telford, 1988. 183p.
PALOMO, A., GRUTZECK, M.W., BLANCO, M.T. (1999). “Alkali-activated Fly Ashes: A
Cement for the Future”, Cement and Concrete Research, Vol. 29, pp. 1323-1329.
STANTON, T. E. Expansion of concrete through reaction between cement and aggregate. In:
Proceedings of American Society of Civil Engineers. v. 66, n. 10. Dec. 1940, p. 1781- 1811.
61
SWAMY, R. N.; AL-ASALI, M. M. Expansion of concrete due alkali-silica reaction. ACI
Materials Journal. v. 85, n. 5, p. 33-40, 1988.
62
SÍNTESE, CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DA ATIVIDADE ANTIMICROBIANA
DE NANOPARTÍCULAS DE QUITOSANA NA CONDUÇÃO DE CLOREXIDINA EM
STREPTOCOCCUS MUTANS1
Resumo
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Avaliação do efeito do encapsulamento de clorexidina em
nanopartículas de quitosana na cinética de crescimento de microrganismos/ Síntese, caracterização e análise da
atividade antimicrobiana de nanopartículas de quitosana na condução de clorexidina em Streptococcus mutans.
2
Estudante de Iniciação Científica: Celiene Ferreira do Nascimento (e-mail: Cely.ceu.17@gmail.com) Instituição
de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail:cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br).
3
Orientador(a): Ronaldo Rodrigues Sarmento (e-mail: ronaldo.sarmento@hotmail.com).
63
colaboração do Prof Dr Eliton Souto de Medeiros, da Universidade Federal da Paraíba (João
Pessoa - PB), que gentilmente cedeu o Laboratório de Materiais e Biossistemas (LAMAB) para
a síntese e caracterização das micropartículas utilizadas no estudo.
O Streptococcus mutans (S. mutans) é uma bactéria Gram positiva, microaerófila,
apresenta-se como cocos em cadeia, não hemolítico, produtor de polissacarídeos (glucanas)
extra e intracelulares (AZEVEDO, 1988).
O digluconato de clorexidina é um sal constituído de dois anéis fenólicos clorados e de
dois grupos biguanida que tem sido usado para suprimir o biofilme oral durante e após
tratamentos das alterações inflamatórias periodontais, e para prevenir o desenvolvimento destas
patologias (HULL, 1980). O digluconato de clorexidina apresenta a seguinte fórmula
molecular: C28 H42 Cl2 N10 O7 (PUBCHEM, 2008). Apesar dos seus inúmeros benefícios, a
clorexidina causa alguns efeitos colaterais quando usada continuamente por um longo período.
A maioria dos profissionais da área não recomenda o uso diário em longo prazo, principalmente
por causa de seus efeitos colaterais tais como manchas dentárias, queimação na língua, alteração
do paladar e em alguns casos, descamação e dor na mucosa bucal (FLEMMING et al, 1990;
GJERMO & SAXTON, 1991).
As nanopartículas constituídas por polímeros biodegradáveis têm atraído maior atenção
dos pesquisadores em relação aos outros sistemas como os lipossomas, devido às suas
potencialidades terapêuticas, à maior estabilidade nos fluídos biológicos e durante o
armazenamento (SCHAFFAZICK et al., 2003). Dentre esses polímeros naturais com aplicação
na área farmacêutica, é possível destacar a quitosana devido as suas diversas aplicações,
principalmente como sistema de liberação de fármacos. Graças as suas propriedades
bioadesivas, pode ocorrer aumento do tempo de permanência dos sistemas de quitosana nos
sítios específicos de absorção, liberando-o controladamente e melhorando sua
biodisponibilidade (THANOU et al., 2001).
Fundamentação Teórica
Metodologia e Análise
65
Síntese das nanopartículas de quitosana sem clorexidina:
67
Caracterização – Microscopia Eletrônica De Varredura
68
endotérmico na faixa de 110ºC que é atribuído a evaporação da água. Também apresenta um
segundo pico exotérmico na faixa de 290° C que corresponde a degradação da quitosana.
No gráfico da amostra de quitosana neutralizada aparece um pico na faixa de 61ºC que
provavelmente é referente a perda de água fracamente ligada às moléculas de quitosana, o pico
na faixa de 128°C é referente a evaporação da água formada a partir da degradação do TPP e
da quitosana , também chamada de água inclusa, e o terceiro pico na faixa de 328°C se refere a
decomposição da quitosana.
Nas amostras de nanopartículas de quitosana carreando clorexidina além dos picos
observados anteriormente nas amostras de nanopartículas de quitosana também aparece um
pico na faixa de 115°C referente ao ponto de fusão da clorexidina.
(a) (b
)
(c) (d
)
69
Caracterização - Termogravimetria
QS
110 QSN
QS+CLX
100
d e m o d e m o d e m o d e m o d e m o
QS+CLXN
90
d e m o d e m o d e m o d e m o d e m o
80
d e m o d e m o d e m o d e m o d e m o
70
m (%)
60 d e m o d e m o d e m o d e m o d e m o
50
d e m o d e m o d e m o d e m o d e m o
40
d e m o d e m o d e m o d e m o d e m o
30
20
70
Figura 5 – Atividade antimicrobiana de nanopartículas de quitosana neutralizadas. QS: nanopartículas de
quitosana; QS+CLX: nanopartículas de quitosana carreando clorexidina; CE: controle de esterilidade; CC:
controle de crescimento.
Figura 7 – atividade antimicrobiana do Tripolifosfato de sódio (TPP) e da clorexidina (CLX). CE: controle de
esterilidade; CC: controle de crescimento.
Na terceira placa (figura 7) temos os controles, observamos que o TPP não tem ação
antimicrobiana. A clorexidina, como já era de se esperar, apresentou atividade antimicrobiana.
71
105
100
Inibição de crescimento, %
95
90
85
CLX
80
QS+CLXn
75
QS+CLX
70
65
60
0 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07
Concentração de CLX, mg/mL
120
100
Inibição de crescimento, %
80
60
QS
40 QSn
20
0
0 0,5 1 1,5 2
Concentração de CS, mg/mL
Figura 9 – Gráfico das concentrações inibitórias mínimas das nanopartículas de quitosana neutralizadas
(QSn) e não neutralizadas (QS).
Já foi constatado que a quitosana tem atividade antimicrobiana, então já era de se esperar
os resultados de inibição para as amostras de nanopartículas de quitosana. Observando as
imagens 5 e 6 e o gráfico que relaciona as concentrações inibitórias mínimas de CLX,
QS+CLXn e QS+CLX (figura 8) podemos constatar que as nanopartículas de quitosana
neutralizadas carreando clorexidina consegue inibir mais o crescimento do microrganismo do
que as não neutralizadas, umas das explicações para tal acontecimento é o fato do S. mutans ser
acidófilo (resistente a baixo pH). Por outro lado, as nanopartículas que estão neutralizadas
podem estar liberando o fármaco com mais eficácia quando comparadas com as que não estão
neutralizadas.
Conclusões
72
As nanopartículas de quitosana carreando clorexidina se mostraram muito eficaz na
inibição de culturas de S. mutans, principalmente as neutralizadas que seriam as mais
apropriadas para utilização em seres humanos. Apesar do excelente resultado, estudos
adicionais são necessários para analisar sua viabilidade na diminuição dos efeitos colaterais do
uso prolongado da clorexidina. Além disto, é preciso melhorar a estabilidade das
nanopartículas.
As nanopartículas de quitosana carreando clorexidina possuem grande potencial, pois o
sistema de nanopartículas permite uma liberação controlada e direcionada, maximizando o
efeito do fármaco e possibilitando o uso de menores concentrações podendo diminuir efeitos
colaterais.
Referências
GJERMO, P.; SAXTON, C. A. Antibacterial dentifrices. Clinical dat and relevance with
emphasis on zinc/triclosan. J Clin Periodontol, v.18, p. 468-473, 1991.
LOESCHE, W.J. Role of streptococcus mutans in human dental decay. Microbiol Rev,
Michigan, v.50, n.4, p.353-380, Dec. 1986.
73
MENDES, A. A.; OLIVEIRA, P. C.; CASTRO, H. F; GIORDANO, R. L. C. Aplicação de
quitosana como suporte para a imobilização de enzimas de interesse industrial. Química Nova,
São Paulo, v. 34, n. 5, pp. 831-840, 2011.
SILVA, C.; RIBEIRO, A.; FERREIRA, D.; VEIGA, F. 2003. Administração oral de peptídeos
e proteínas: II. Aplicação de métodos de microencapsulação. Rev. Bras. de Ciên. Farm. Braz.
J. Pharm. Scien. V. 39 (1), p.1-20.
THANOU, M., et al. Oral drug absorption enhancement by chitosan and its derivates separation.
Advanced Drug Delivery Reviews, v.52, p.117-126, 2001.
74
REMOÇÃO BIOLÓGICA DE HPA EM SOLO INCREMENTADO COM TORTA DE
ARACHIS HYPOGAEA L. (AMENDOIM)
Resumo
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Uso de Pseudomonas aeruginosa na remoção de
hidrocarbonetos do petróleo em solo suplementado com coprodutos agropastoris/ Remoção biológica de HPA em
solo incrementado com torta de Arachis hypogaea L. (amendoim)
Estudante de Iniciação Científica: Thiago Gonçalves Cavalcanti (e-mail: thigoca@gmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail:cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientador: Ulrich Vasconcelos (e-mail: u.vasconcelos@cbiotec,.ufpb.br, telefone: 83 996599369)
75
a recuperação de solos contaminados por óleo. Ao longo do tempo, micro-organismos
hidrocarbonoclásticos reduzem o avanço da contaminação por meio da formação de produtos
menos tóxicos ou sua mineralização, num processo dividido em duas fases distintas, mais
rápido inicialmente, mediada pela biodisponibilidade do poluente e posteriormente mais lenta,
controlada pela relação sorção/dessorção dos hidrocarbonetos nos agregados do solo.
A natureza recalcitrante da maioria dos compostos do óleo promove impactos no solo
em todas as suas esferas. Especialmente, os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, HPA,
compreendem uma das classes de moléculas mais ocorrentes e possuem um potencial
mutagênico e carcinogênico amplamente divulgado. A remoção desses compostos é dificultada
por sua natureza química, responsável pela sorção aos agregados do solo, dificultando o
bioacesso. Desta forma, é importante buscar meios de baixo custo e eficazes, visando acelerar
a taxa de biodegradação dos HPA no solo.
Uma das alternativas no processo de remoção pode ocorrer por meio de vias
cometabólicas. Partindo deste princípio, a adição de pequenas quantidades de fontes
alternativas de carbono, permite o aumento da velocidade de biodegradação de compostos
persistentes e recalcitrantes, por além de promover incremento na biomassa, pode servir de
fontes preferenciais de carbono para síntese de moléculas importantes ao processo.
Diferentes classes de moléculas podem ser utilizadas com este propósito, com destaque
para coprodutos de processos do setor agroindustrial. Agregar funcionalidade a estes materiais,
muitas vezes considerados resíduos industriais e por assim rejeitados, pode contemplar
destinações mais nobres em detrimento ao descarte e nas próximas páginas estão demonstradas
como a torta obtida a partir da prensagem do amendoim para obtenção de seu óleo, pode ser
aplicada no processo de biorremediação de um solo contaminado por HPA. Este trabalho foi
resultado do desenvolvimento do Projeto Universal (Processo n° 477305/2013-0, Edital n°
14/2013-MCT/CNPq), do qual era proposto o uso de diferentes cossubstratos biodegradáveis
na remoção de petroderivados em solo.
Fundamentação teórica
Metodologia e análise
Tabela 2 - Média do diâmetro dos halos de inibição (mm) formados pelas linhagens de
Pseudomonas aeruginosa. O resultado expressa a repetição em pelo menos duas vezes no teste
de atividade antimicrobiana
Torta de
Condições Óleo (mL)
amendoim (g)
1 10 5
2 20 5
3 10 10
4 20 10
5* 10 0
6* 20 0
* controles abióticos
Em que: V1–volume (mL) de HCl necessário para neutralizar NaOH no reator; V0–
volume (mL) de HCl necessário para neutralizar NaOH no reator controle (sem micro-
organismo); 44– massa molecular do CO2; e m–massa (kg) do solo no reator.
Um ensaio de ecotoxicidade foi conduzido antes e após 60 dias de tratamento, para
verificação da fertilidade do solo, segundo o método descrito por Tiquia, Tam e Hodgkiss
(1996). Foram confeccionados extratos de solo, a partir da mistura de 10 g da amostra e 90 mL
de água destilada. Alíquotas entre 8 e 10 mL dessas suspensões foram transferidas para embeber
papeis de filtro dispostos em placas de Petri, contendo no mínimo 10 sementes, previamente
lavadas e secadas, de milho (Zea mays), mostarda (Brassica nigra) e maxixe-do-Norte
(Cucumis anguria). O controle do teste foi realizado com água destilada. As placas foram
incubadas à 22±1°C, em ausência de luz, por 5 dias e após o período, o número de sementes
germinadas foi contado e o tamanho das radículas foi medido com auxílio de uma régua. O
índice de Germinação (IG) das sementes foi determinado e a toxicidade foi classificada, como
descrito por Anastasi et al. (2009), empregando-se a Equação 2.
Óleo Torta
Condições FEN PIR Δ DP
(mL) (g)
1 10 5 77,5±0,1 79,9±0,1 0,4 PIR
2 20 5 76,9±0,3 79,3±0,2 0,4 PIR
3 10 10 78,1±0,3 80,4±0,3 0,4 PIR
4 20 10 76,9±0,3 79,3±0,2 0,4 PIR
Considerando as perdas abióticas de 11,7±0,1 e 12,6±0,1 quando empregados 5 e 10 mL de óleo nos reatores,
respectivamente; FEN - fenantreno; PIR – pireno; Δ - variação da relação mássica inicial e final entre FEN e PIR;
DP – degradação preferencial.
Por outro lado, os resultados obtidos na remoção do pireno revelaram maior taxa de
degradação, porém entre as condições a redução da adição do cossubstrato também promoveu
as melhores utilizações do hidrocarboneto. O maior sucesso também foi obtido na condição 3
(20mL de óleo e 5g de torta de amendoim), seguida das condições 1 (10 mL de óleo e 5g de
torta de amendoim), 2 (20mL de óleo e 5g de torta de amendoim) e 4 (20 mL de óleo e 10g de
torta de amendoim).
Os dois HPA foram escolhidos por serem os compostos desta classe, mais prevalentes
no óleo lubrificante usado no reator e calculando-se a razão entre os dois, fenantreno, contendo
3 anéis condensados, representou os HPA de baixa massa molecular e pireno, com 4 anéis, os
HPA de alta massa molecular. No primeiro dia, a razão entre HPA de alta e baixa massa
molecular foi de 1,3, chegando a 0,4 em todas as condições testadas. Este número não sendo
negativo, significa que a degradação preferencial foi pelo pireno, resultado também observado
por Vasconcelos, de França e Oliveira (2011), implicando no fato que este HPA estava mais
biodisponível e a torta promoveu mecanismos à biota para utilizá-lo como fonte de carbono.
As perdas abióticas foram estimadas em 11,7% quando empregado 5 mL de óleo e
12,6% com 10 mL. Estes valores são esperados em estudos de biorremediação de solos
contaminados por hidrocarbonetos (PERFUMO et al., 2007; McNALLY; MIHELCIC e
LUEKING, 1998) e são representados principalmente pelas perdas por volatilização e foto-
oxidação (WIECZOREK e WIECZOREK, 2007). A quantificação dos microrganismos
cultiváveis do solo revelou uma população elevada e estável ao longo dos 60 dias (Figura 3).
O fato dos números estimados permanecerem cerca de 108 UFC/g de solo pode ser
explicada pela elevada carga microbiana adicionada do consórcio, aliada à presença da torta de
amendoim como uma fonte alternativa de carbono. Isto possivelmente garantiu o reforço contra
um fenômeno comum em estudos de biorremediação de solos empregando o bioaumento, isto
é, uma fase lag mais longa, refletindo num atraso do processo (BAGGI, 2000).
82
Figura 3 – Quantificação das bactérias heterotróficas cultiváveis
Condições de óleo (mL) e de torta (g), respectivamente nos reatores: 5 e 10 (preto); 2 – 20 e 5 (branco); 3 – 10 e
10 (cinza) e 4 – 20 e 10 (azul)
A estimativa de gás carbônico formado por meio da respiração microbiana (Figura 4),
complementa esta afirmação.
Condições de óleo (mL) e de torta (g), respectivamente nos reatores: 5 e 10 (preto); 2 – 20 e 5 (cinza); 3 – 10 e 10
(preto pontilhado) e 4 – 20 e 10 (cinza pontilhado)
Pelo teste da respiração, os maiores resultados foram conseguidos nas condições 4 (20
mL de óleo e 10g de torta de amendoim) e 2 (20mL de óleo e 5g de torta de amendoim),
diferente do observado considerando os percentuais de remoção do fenantreno e do pireno. Isto
possivelmente está ligado ao fato de outros hidrocarbonetos do óleo, os quais não foram
utilizados com variáveis de resposta deste estudo, possivelmente foram assimilados, implicando
nas maiores taxas de respiração. Neste contexto, os resultados do teste de ecotoxicidade (Tabela
5) podem contribuir com esta afirmação.
O fenantreno e pireno foram reduzidos significativamente e altos índices de germinação
foram obtidos, exceto na condição 4 (20 mL de óleo e 10g de torta de amendoim), quando os
maiores teores de óleo e torta estavam presentes. Isto pode ter explicação no fato que outros
hidrocarbonetos podem não ter sido removidos como fenantreno e pireno ou se assim o foram,
metabólitos presentes podem ter sido tóxicos às plantas testadas e neste caso, o teste não
reproduziu uma situação apenas por contaminação por HPA.
83
Tabela 5 – Índice de germinação do extrato do solo antes e após o tratamento
Conclusões
Agradecimentos
Referências
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n. 2, p. 363-370, 2002.
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peanut shell and soy sauce residue fermentation. CN n. PI 200810152162, 08 out. 2008, 08
jan 2015.
86
___________________________________________________________________________
CIÊNCIAS AGRÁRIAS
PERFIL SENSORIAL DE UVAS PASSAS COMERCIALIZADAS NA CIDADE DE
JOÃO PESSOA – PB
Resumo
A produção de uvas no Brasil chega a 1,3 milhões de toneladas/ano, porém apenas cerca de 2%
é utilizado para a produção de uva passa. As frutas secas são produtos com demanda cada vez
maior em decorrência da crescente procura por alimentos de maior conveniência e praticidade.
O presente trabalho tem como objetivo conhecer o perfil sensorial de uva passa comercial. A
avaliação sensorial das marcas de uvas passas foi realizada por meio de um painel treinado, o
qual procedeu-se com a Análise Descritiva Quantitativa (ADQ). Foram gerados doze termos
descritores pela equipe de julgadores para descrever as marcas de uvas passas, dos quais, três
referem-se à aparência, três referem-se ao aroma, quatro ao sabor e dois relacionados à textura.
O perfil sensorial das uvas passas apresentou diferenças significativas. Em relação as uvas com
e sem sementes os julgadores perceberam diferença significativa em quase todos os atributos
exceto nos atributos sabor doce e textura firme.
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Perfil sensorial de uvas passas comercializadas na cidade de
João Pessoa – PB
Estudante de Iniciação Científica: Jennifer Maria Barros do Nascimento (e-mail: Jennifer_2301@hotmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientador: Ricardo Targino Moreira (e-mail: ricardo.ufpb@gmail.com, telefone: 83 3216-7357)
88
atitude em comprar o produto, utilizando a escala estruturada de 5 pontos, na qual 5 representa
a nota máxima "consumiria sempre" e 1 representava a nota mínima “não consumiria",
empregando os procedimentos descritos para análise sensorial (MEILGAARD et al., 1991).
O percentual de aceitação, indiferença e rejeição para cada atributo, foi calculado a partir
dos resultados obtidos na avaliação do teste de Aceitação utilizando os 9 pontos da escala
hedônica. A aceitação foi calculada pelo somatório dos percentuais dos escores de “gostei
ligeiramente” (6) à “gostei muitíssimo” (9), a indiferença é igual ao percentual obtido no escore
“nem gostei/nem desgostei” (5) e a rejeição foi calculada pelo somatório dos percentuais dos
escores de “desgostei ligeiramente” (4) à “desgostei muitíssimo” (1).
O perfil dos consumidores de uva passa foi traçado por meio de questionário on line,
utilizando a ferramenta disponibilizada pelo Google docs, sendo respondidos 80 questionários,
sendo indivíduos de ambos os gêneros, com idade acima de 18 anos.
Os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e teste a posteriori de
Tukey à 5% de significância, utilizado para a determinação de diferenças entre as médias
obtidas de cada tratamento utilizando o programa estatístico Assistat 7.7.
Fundamentação teórica
Na produção brasileira de uvas, cerca de 50% é destinada para consumo in natura, sendo
considerada uma variedade de grande importância econômica e social. Os estados que se
destacam na produção de uvas são: Rio Grande do sul, Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Bahia
e Pernambuco. Sendo o Vale do Submédio do São Francisco um grande produtor de uvas de
mesa e uvas finas para produção de vinho (AGRIANUAL, 2012).
A produção mundial de uvas corresponde a 70 milhões de toneladas por ano. No Brasil,
a produção de uvas é crescente, chegando a 1,3 milhões de toneladas, dos quais apenas 2% é
utilizado para a produção de uva passa (FAO, 2013). Segundo Mello (2013), apenas no ano de
2005 foram importadas 53.285 toneladas, sendo os principais países fornecedores a Argentina
(10 mil t), seguida pela Turquia (2 mil t) e Irã (894 mil kg).
Por ser um fruto muito perecível, o percentual de perdas é elevado, gerando desperdícios
e dificultando a comercialização. Dessa forma, a elaboração de uvas passas brasileiras vem
sendo apontada por estudos realizados por agências de fomento e empresas de extensão e
pesquisa como uma alternativa de negócio sustentável em regiões tradicionalmente produtoras
de uvas, como o Vale do São Francisco e Santa Catarina (CAMARGO, 2003).
A uva passa está entre as principais frutas desidratadas com seu consumo em pleno
crescimento, podendo ser consumida de forma natural ou ainda ser usada como ingrediente na
indústria de alimentos, como por exemplo, a de sorvetes e panificação, sendo o panetone o
principal representante desta última, com uma produção mundial em maior concentração no
Brasil. O problema do alto consumo, é que o Brasil ainda não apresenta produção própria de
uvas passas, sendo abastecido por produto importado (PENSA, 2008), principalmente da
Argentina, Chile, Turquia e Irã (MELLO, 2013).
A inclusão de uvas passas na dieta diária fornece nutrientes essenciais, como fibras
solúveis e insolúveis em níveis que contribuem significativamente para a melhoria da saúde
cardiovascular, além de possuir nutrientes valiosos, compostos bioativos ou fitoquímicos de
proteção. Fornece também minerais essenciais como: potássio, ferro e estão entre as mais ricas
fontes de boro, um oligoelemento essencial que pode ter um importante papel na saúde óssea
(CARUGHI, 2008).
No âmbito da avaliação da qualidade de alimentos processados, segundo Munõz et al
(1992), os testes sensoriais são utilizados para avaliar e garantir que a qualidade de produtos
seja assegurada, pois há a possibilidade dos julgadores identificar a presença ou ausência de
diferenças perceptíveis, definir características sensoriais de forma rápida e detectar
89
particularidades que não podem ser detectadas por outros procedimentos analíticos.
A Análise Descritiva Quantitativa (ADQ) é um método baseado no julgamento de
julgadores treinados, os quais desenvolvem uma linguagem descritiva objetiva, mais próxima
à linguagem do consumidor; com base no desenvolvimento consensual da terminologia
descritiva a ser utilizada, o que implica em maior concordância de julgamentos entre os
julgadores e os produtos são analisados com repetições e os resultados estatisticamente
analisados (STONE ESIDEL, 1992).
Metodologia e análise
Foram avaliadas seis marcas comerciais de uvas passas pretas (Tab. 1), sendo cinco
marcas sem sementes e uma com semente, todas adquiridas em supermercados da região de
João Pessoa-PB. Os testes sensoriais foram realizados no Laboratório de Análise Sensorial de
Alimentos (LASA) do Departamento de Engenharia de Alimentos do Centro de Tecnologia –
UFPB – Campus I.
VOLUME DA PRESENÇA DE
MARC
EMBALAGE TIPO DE EMBALAGEM SEMENTE
A
M
Embalagem de polietileno
A 100 g Sim
transparente
B 100 g Embalagem de polietileno laminada Não
C 150 g Pote plástico Não
D 200 g Pote plástico Não
E à granel Pote plástico Não
F à granel Pote plástico Não
Fonte: Pesquisa Direta, 2016.
90
a) Recrutamento dos julgadores: foram recrutados julgadores do gênero masculino e feminino
consumidores de uva, com disponibilidade e interesse em participar da equipe sensorial
treinada;
b) Seleção: na etapa de seleção dos julgadores, foram aplicados os testes de reconhecimento
dos gostos básicos para avaliar se os candidatos possuíam sensibilidade aos gostos básicos
(doce, salgado, ácido e amargo), bem como a percepção normal de adstringência
(MEILGAARD, CIVILLIE; CARR, 1991). As amostras foram servidas em copos
descartáveis de 50 mL, cor branca, codificados com números de três dígitos, a temperatura
ambiente em cabines individuais. Acompanhado as amostras (soluções) foi servido água
pura, na mesma temperatura para os julgadores. Em seguida foi aplicado o teste de
reconhecimento de odores proposto por Noble et al. (1987), com o objetivo enriquecer e
uniformizar a linguagem descritiva dos voluntários. As amostras foram apresentadas em
recipientes escuro codificados com três dígitos e cobertos com tampas de alumínio
perfurado, para evitar a identificação visual. O terceiro teste a ser realizado foi o de Escala
com a finalidade de verificar a capacidade visual e a habilidade em usar escalas não
estruturadas dos candidatos (avaliadas por meio do teste de figuras geométricas). Por último
foi realizado o teste para avaliar o poder discriminativo sensorial (capacidade de diferenciar
amostras) dos julgadores, com uso de teste triangular. O resultado do teste foi analisado pela
tabela específica do teste (Número Mínimo de Respostas do Teste Triangular) ao nível de
5% de significância (MEILGAARD et al., 2007). Foram selecionados apenas os candidatos
que alcançaram no mínimo 70% de aproveitamento em todos os testes realizados;
c) Desenvolvimento da terminologia descritiva: os julgadores selecionados através dos testes
foram solicitados a participarem de uma sessão para o levantamento da terminologia
descritiva das amostras utilizando-se o Método de Rede (Repertory Grid Keily's Method)
descrito por Moskowitz (1983), onde os participantes receberam amostras distintas e foram
solicitados a agrupá-las em pares e descrever as similaridades e diferenças entre cada par de
amostras quanto à aparência, aroma, sabor e textura. Após, os julgadores foram reunidos
para discussão dos atributos a serem avaliados, suas definições e referências (Tab. 2), sendo
elaborada uma ficha para a avaliação das amostras através de escalas não estruturadas de 9
cm (Fig. 2), ancoradas nas suas extremidades contendo todos os termos descritivos que
expressam intensidade;
d) Treinamento: foram realizadas sessões de treinamento, nas quais foram avaliadas três das
seis variedades de uvas passas. Durante as sessões, os julgadores tiveram à sua disposição
uma lista com as definições dos termos descritivos e foram orientados para avaliar as
amostras de referência de cada atributo (padrões) durante todo o treinamento. Os julgadores
foram selecionados pela capacidade de discriminar as amostras (p de Famostra<0,50), boa
repetibilidade (p de Frepetição>0,05) e resultados consensuais com os demais membros da
equipe sensorial;
e) Seleção final da equipe: para a seleção da equipe final, os julgadores avaliaram seis marcas
do produto, em duas repetições, com apresentação das amostras de forma monádica. Os
dados obtidos foram tabulados e submetidos à Análise de Variância (ANOVA) de dois
fatores (amostra e repetição) por julgador, para cada termo descritor avaliado. Para compor
a equipe descritiva final, foram selecionados julgadores, que apresentavam bom poder
discriminativo, boa reprodutibilidade nos julgamentos e consenso com a equipe.
91
Questionário de recrutamento para análise sensorial de uva passa
Prezado participante, convido você a responder este questionário cujo objetivo de sua aplicação
é recrutar pessoas que possuam interesse e disponibilidade de tempo em participar de uma análise
sensorial de uva passa.
7. Informe a(s) variedade(s) que você mais consome de uva de mesa: _______________________
Figura 1 - Questionário de recrutamento para análise sensorial de uva passa preta comercial da cidade de João
Pessoa-PB.
92
Ficha de avaliação sensorial de uva passa
Nome: _______________________________________________ Amostra ____________
Serão avaliadas amostras de uva passa. No lado esquerdo, enumere a amostra que será avaliada e, na escala, indique
com um traço vertical o ponto que melhor reflete a sua resposta em relação aos atributos. Entre uma amostra e
outra, coma o biscoito e lave a boca com água.
APARÊNCIA
COR – Marrom
CLARO ESCURO
TAM - Tamanho
PEQUENA GRANDE
BRI – Brilho
POUCA MUITA
AROMA
HERB - Herbáceo
NENHUM FORTE
SD – Sabor Doce
FRACO FORTE
SA - Ácido
FRACO FORTE
SF - Frutado
NENHUM FORTE
TEXTURA
TF – Firmeza
Pouca Muita
TA – Adstringência
Pouca Muita
Figura 2 - Ficha final utilizada na Análise Descritiva Qualitativa das uvas passas pretas comerciais da cidade de
João Pessoa-PB.
93
Tabela 2 - Definição dos termos descritivos e referências de intensidade desenvolvidas pela
equipe sensorial.
U
R
A
T
E
94
necessária para provocar “CASCÃO” (Marca
uma determinada Predilecta).
deformação, através da MUITA: Bala de iogurte
compressão bucal. (Marca Florestal)
Refere-se à propriedade POUCA: Barra de cereal
de certos alimentos que (Marca Nutry).
TC - Crocância
emitem um ruído seco ao MUITA: Biscoito cream
estalarem nos dentes. cracker (Marca Vitarella).
Fonte: Pesquisa Direta, 2016.
Análise estatística
A equipe treinada para a ADQ foi composta por 15 julgadores, dos quais 60%
pertenciam ao gênero feminino e 40% ao gênero masculino. Após o treinamento, ficou a equipe
definitiva com 13 julgadores para realizar a etapa final da análise descritiva e determinar o perfil
descritivo das uvas passas.
Foram gerados doze termos descritores pela equipe de julgadores para descrever as
amostras de uvas passas (Tab. 2), dos quais, três referem-se à aparência (cor marrom, brilho e
tamanho), três referem-se ao aroma (herbáceo, de fruta seca e caramelizado), quatro ao sabor
(gosto ácido, gosto doce, adstringente e frutado) e dois relacionados à textura (crocância e
firmeza).
Os perfis sensoriais das uvas passas pretas comerciais gerados pelos julgadores
treinados encontram-se apresentados na Fig. 3, onde os eixos representam a intensidade das
escalas presentes na Ficha de Avaliação Descritiva das amostras cujo valor zero da escala
encontra-se no centro e o valor máximo no extremo, sendo as médias de intensidade dos
atributos apresentadas no lugar adequado de cada eixo. Os pontos de cada atributo para amostra
foram unidos, gerando uma representação do perfil sensorial de cada amostra de uva passa.
Como apresentado na Fig. 3 e Tab. 4, a marca A é caracterizada pelo aroma doce,
sabores doce, adstringente, ácido e frutado e no atributo textura destacou-se na sua firmeza. A
marca B foi caracterizada no atributo aparência pela cor marrom, tamanho e brilho, no atributo
aroma pelo aroma herbáceo, frutas secas e doce, no sabor destacou-se quanto ao sabor doce e
frutado e na textura em sua firmeza. Já a marca C, destaca-se entre as demais marcas por se
caracterizar por quase todos os atributos exceto pela aparência no quesito tamanho, no atributo
aroma pelo aroma de frutas secas e na sua textura no quesito crocância. A marca D foi
caracterizada pelo aroma herbáceo e de frutas secas, sabores doce, adstringente, ácido e frutado
e na textura por sua firmeza. Marca E apresentou as maiores médias dentre as seis marcas nos
atributos cor marrom, aroma de frutas secas e sabor adstringente, ainda se caracterizou pelo seu
aroma e sabor doce e pelo seu sabor frutado. Já a marca F foi a única que foi caracterizada por
todos os atributos do quesito aroma (herbáceo, frutas seca e doce) e pelos sabores doce, ácido
e frutado.
95
Para Alarcão et al., (2001), o primeiro julgamento de qualidade feito por um consumidor
em um alimento está em sua aparência. A cor é, talvez, o mais importante atributo da aparência,
porque cores anormais fazem com que o produto venha a ser rejeitada pelo consumidor. Das
seis marcas analisadas apenas as marca B, C e E se caracterizaram pela sua cor na opinião de
seis julgadores. Porém, essas marcas diferem das marcas A e D, mas a marca F não difere
significativamente da marca C.
Cor marrom
9
Crocância 8 Tamanho
7
6
Firmeza 5 Brilho
4
3
2
1
Sabor Frutado 0 Aroma Herbáceo
Sabor Doce
Figura 3 – Perfil sensorial das uvas passas pretas comerciais da cidade de João Pessoa-PB gerado pelos julgadores
treinados.
Tabela 4 – Médias dos escores dos atributos sensoriais das amostras de uvas passas comerciais
de João Pessoa-PB.
MARCAS Número de
Atributo
A B C D E F Julgadores
Aparência
Cor marrom 1,8c 4,9a 4,3ab 1,8c 5,1a 3,5b 6
Tamanho 1,3c 3,4a 2,6b 1,4c 3,5a 3,3a 8
Brilho 1,9c 3,8a 4,1 a
1,1d 3b 3,8a 8
Aroma
Herbáceo 0,8d 6,6a 5,8b 3,9c 1,1d 3,9c 7
Frutas secas 3,1c 4,7b 2,9c 5,2b 6,3a 4,7b 13
Doce 3,9bc 3,0d 5,1 a
3,8c 4,4abc 4,5ab 8
Sabor
Doce 4,8a 5,1a 5,1 a
3,9a 4,5a 5,2a 11
Adstringente 5,4b 2,2d 5,1b 3,4c 6,6a 1,5d 6
Ácido 3,9a 1,1c 4,2 a
4,0a 2,9b 4,0a 6
Frutado 4,2bc 5,5a 5,0ab 4,8abc 4,8abc 4,1c 11
Textura
96
Firmeza 5,6a 4,3a 5,3a 4,4a 1,2b 0,9b 8
Crocância 3,5a 1,6b 2,3b 1,6b 1,9b 1,4b 8
Nas linhas, médias seguidas de letras iguais não diferem estatisticamente (ANOVA e Teste de Tukey, p>0,05).
O aroma das uvas passas pode depender de vários fatores, como a variedade, a origem
geográfica, o método de secagem e as condições de armazenamento, sendo ainda considerado
um dos atributos mais importante na qualidade sensorial de passas, principalmente para
determinar a aceitação dos consumidores. O aroma caramelizado (aroma doce) é o aroma
característico que vem a partir da reação de Maillard durante a secagem de uva (GUINÉ et al.,
2010). Nesse aspecto, apenas a marca B difere significativamente das demais marcas.
Segundo Sabarez et al. (2000), os frutos secos possuem sabor característico e além de
proporcionar uma rica fonte de açúcar, também fornecem um alto teor de vitaminas, minerais
e polifenóis, devido à forma concentrada. De acordo com Liang et al. (2011), a qualidade
sensorial de uvas também depende grandemente do conteúdo e a composição química das
mesmas, incluindo açúcares, ácidos orgânicos, compostos fenólicos e compostos voláteis. No
atributo sabor doce não há diferenças significativas entre as seis marcas. Na adstringência,
apenas as marca D e E diferem significativamente comparando com as demais. No sabor ácido
há diferença significativa nas marcas B e E. No sabor frutado não houve diferença
significativamente.
Como definição, as propriedades de textura de um alimento são um grupo de
características físicas que surgem a partir dos elementos estruturais do alimento, sentidas
principalmente pelo toque, estando relacionadas com a deformação, desintegração e fluxo do
alimento devido à aplicação de uma força sobre o mesmo (BOURNE, 2002). No atributo
firmeza, não houve diferença significativa entre as marcas A, B, C e D, como também não
houve entre as marcas E e F. Porém os dois grupos citados diferem entre si. Já no atributo
crocância, apenas a marca A difere significativamente das demais.
Conclusão
Referência
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Tecnology, Academic Press, New York, 2002.
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1994.
98
INFLUÊNCIA DO EMBRIÃO NA EXPRESSÃO DAS AQUAPORINAS 1 E 11
DURANTE A PLACENTAÇÃO EM BOVINOS
Resumo
Apresentação
1
Título do projeto/Plano de Trabalho: Modulação da expressão gênica do tecido uterino pelo embrião bovino:
influência no metabolismo e transporte celular/Influência do embrião na expressão das aquaporinas 1 e 11 durante
a placentação em bovinos
Estudante de Iniciação Científica: Luiza Monteiro de Almeida (e-mail: lu.monteiro9401@gmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail:cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientadora: Danila Barreiro Campos (e-mail: danila@cca.ufpb.br; telefone: 83-33621700)
99
Esta pesquisa forneceu informações importantes sobre o controle do metabolismo
uterino exercido embrião em desenvolvimento de forma a garantir condições propicias para sua
própria sobrevivência, e também possibilita novos estudos voltados principalmente na
identificação de falhas ocorridas durante a placentação de embriões manipulados, como no caso
dos produzidos por fertilização in vitro.
Fundamentação teórica
A gestação nos mamíferos inicia a partir da fecundação, que acontece na tuba uterina,
formando o zigoto. Após sucessivas clivagens e migração para o corpo uterino, o concepto
atinge o estágio de blastocisto eclodido, fase na qual acontece o reconhecimento materno e
formação de membranas extraembrionárias. Estas membranas são o início da comunicação fetal
com a mucosa materna (WOLF et al., 2003).
A placenta é formada no local de aposição das membranas com a mucosa. Trata-se de um
órgão transitório formado por tecidos maternos e fetais, que tem as funções de transportar
nutrientes para o concepto, permitir trocas metabólicas e controle hormonal para manutenção
da gestação (LEISER; KAUFMANN, 1994). Os ruminantes possuem uma placenta
característica composta por cotilédones e carúnculas endometriais, os quais formam os
placentomas (RICI et al., 2011).
O sucesso da gestação depende do estabelecimento de um complexo e coordenado
mecanismo de comunicação materno-fetal. Múltiplos sinais maternos e fetais sincronizam o
desenvolvimento fetal e a preparação do útero (IMAKAWA et al., 2004; NORWITZ et al.,
2001). As técnicas de reprodução assistida geralmente produzem embriões mais sensíveis a
falhas, pois a manipulação das células pode alterar a expressão gênica embrionária e, por
consequência, interferir no seu desenvolvimento e sinalização para o útero (ZHOU et al., 2008).
Os períodos de perdas significativas em gestações com embriões FIV são os primeiros estágios
de desenvolvimento do embrião e da placenta, por volta de trinta a noventa dias, que podem
estar relacionadas às falhas no desenvolvimento de membranas placentárias (FARIN et al.,
2006).
O desenvolvimento adequado do embrião depende de substâncias fornecidas pela mãe,
tais como: água, glicose, vitaminas, aminoácidos, ácidos graxos e minerais (GAO et al., 2009).
O suprimento destas substâncias, que acontece da circulação da mãe para o feto, através da
placenta, vai influenciar diretamente no desenvolvimento fetal e no seu peso ao nascimento
(DESFORGES; SIBLEY, 2010). O papel do embrião no controle da secreção dessas
substâncias ainda é pouco estudado. Estudos na espécie humana indicam que o embrião em
desenvolvimento pode influenciar a expressão de genes da tuba uterina e seu próprio transporte
(LEE; YEUNG, 2006). Alguns genes regulam o metabolismo e transporte celular uterinos,
dentre eles, as aquaporinas 1 (AQP1) e 11 (APQ11), cuja função transportar e organizar a
distribuição de água nos diversos compartimentos biológicos, e são essenciais durante a
gestação (ZACCAI, 2004). O papel do embrião na modulação desses genes ainda não foi
investigado em bovinos.
Metodologia e análise
AQP1
a
12
a
Expressão relativa
(GATM / tubulina)
a
a
6
a a
3
b
b b
a
0
30 dias 35 dias 40 dias 35 dias 40 dias
____________________________________ _______________________
IA IFV
AQP11
1
a
a
(AGUA11 / tubulina)
Expressão relativa
0,75
0,5
0,25
a
a b
b
b b b
0
As diferenças da dinâmica gênica observadas neste estudo entre gestações por FIV e IA
podem acontecer devido à manipulação e exposição do blastocisto ao meio de cultura e outras
condições que alteram a expressão gênica (WRENZYCKI et al., 2001; RIZOS et al., 2002;
CORCORAN et al., 2006;) e sua capacidade de modulação no endométrio. As expressivas
perdas de embriões FIV são relatadas durante os primeiros estágios de desenvolvimento do feto
e da placenta (FARIN et al., 2006). A manipulação do concepto o deixa suscetível a alterações
epigenéticas que podem ser prejudiciais ao desenvolvimento da placenta e do embrião (MANN
et al., 2004).
Conclusões
Referências
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105
INFLUÊNCIA DO EMBRIÃO NA EXPRESSÃO DO SLC2A1 E AGAT DURANTE A
PLACENTAÇÃO EM BOVINOS
Magda Fernandes1
Danila Barreiro Campos
Resumo
A interação do embrião com o epitélio uterino promove alterações no útero que garantem a
manutenção da gestação. Com o objetivo de avaliar a influência do embrião na expressão gênica
de SLC2A1 e de GATM em gestações por inseminação artificial (IA) e fertilização in vitro
(FIV), foram coletadas carúnculas de corno gestante e não gestante de animais submetidos à IA
aos 30, 35 e 40 dias de gestação, e de animais submetidos à FIV aos 35 e 40 dias de gestação.
As amostras de tecido foram submetidas a reações de qPCR. O gene SLC2A1 apresentou maior
expressão no corno gestante em gestações por IA; já em gestações por FIV não houve diferenças
significativas na expressão; O GATM teve maior expressão no corno não gestante em todos os
períodos nas gestações por IA, e apenas aos 40 dias nas gestações por FIV.
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Modulação da expressão gênica do tecido uterino pelo embrião
bovino: influência no metabolismo e transporte celular/Influência do embrião na expressão do SLC2A1 e AGAT
durante a placentação em bovinos.
Estudante de Iniciação Científica: Magda Fernandes (e-mail: magda_fernandes.mf@hotmail.com; telefone:
083996677032)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientador(a): Danila Barreiro Campos (e-mail: campos.danila@gmail.com; telefone: 83-33621700)
106
mas também fatores fetais estão envolvidos nesta função.
Os embriões possuem a capacidade de emitir sinais que alteram as condições
fisiológicas e os padrões de expressão gênica no útero, porém, são necessários maiores estudos
sobre esse efeito do embrião no tecido uterino (LEE; YEUNG, 2006).
Embriões obtidos por técnicas de fertilização in vitro apresentam maiores riscos de
falhas do que aqueles produzidos de forma natural (ISOM et al., 2013). Isso está relacionado às
perturbações causadas pela manipulação e meios de cultura usados no processo (WRENZYCKI
et al., 2001). Estudos revelam que muitos genes apresentam menor expressão em embriões
bovinos obtidos por produção in vitro do que aqueles produzidos in vivo, cujos genes podem
estar envolvidos nos processos de transcrição e tradução, influenciando na menor qualidade
desses embriões (CORCORAN et al., 2006).
O processo de implementação da gestação envolve uma série de mudanças no interior
do útero, como mudanças de expressão gênica, mudanças hormonais, alterações em
permeabilidade das membranas e até supressão imunológica (BAZER et al., 2010), e requer
adequada comunicação entre o endométrio materno e o embrião (PONSUKSILI et al., 2012).
A placenta é um órgão de fundamental importância para o desenvolvimento fetal, pois
é através dela que acontece o transporte de nutrientes da mãe para o embrião; e ainda, a placenta
funciona como uma espécie de barreira imunológica. Deficiências placentárias prejudicam o
fornecimento de nutrientes durante a vida fetal, aumentando a susceptibilidade de problemas
após o nascimento (JANSSON; POWELL, 2013).
A capacidade de troca de substâncias e permeabilidade placentária está relacionada à
expressão de uma série de proteínas transportadoras no epitélio do trofoblasto (DESFORGES;
SIBLEY, 2010). A glicose e os aminoácidos constituem a principal fonte de energia para o
concepto. O gene SLC2A1 expresso no útero, é considerado fundamental para o
desenvolvimento do feto, pois ele garante transporte e absorção de glicose através da placenta
(GAO et al., 2009). Já o GATM codifica a enzima que tem papel importante no metabolismo
da creatina; e, a creatina participa do metabolismo proteico armazenando energia nas células
(BORCHEL et al., 2014).
Com o avanço das tecnologias de reprodução assistida e com a finalidade de melhorar
a eficiência dessas técnicas, surgiu a necessidade de descobrir e minimizar as perdas
gestacionais decorrentes de falhas embrionárias e/ou maternas. O projeto de pesquisa buscou
avaliar a influência do embrião na modulação da expressão gênica de moléculas envolvidas no
transporte e metabolismo celular, como o SLC2A1 e GATM, em carúnculas uterinas de animais
submetidas à inseminação artificial (IA) e fertilização in vitro (FIV).
Fundamentação teórica
Metodologia e análise
Foram utilizadas vacas (Bos indicus) mestiças primíparas prenhas, das quais 14 foram
submetidos à IA, e seis passaram por transferência de embriões produzidos por FIV, usando
sêmen sexado para macho. Todos os procedimentos realizados com os animais foram aprovados
pelo Comitê de Ética no Uso de Animais do Centro de Biotecnologia (CEUA-CBiotec) da
Universidade Federal da Paraíba.
Após confirmada a gestação, colheu-se duas carúnculas uterinas do corno gestante e do
corno não gestante das fêmeas prenhes por inseminação artificial aos 30 (n=3), 35 (n=8) e 40
(n=3) dias se gestação e, por fertilização in vitro aos 35 (n=3) e 40 (n=3) dias de gestação; em
seguida as amostras foram armazenas em ultra freezer à -80 °C.
As amostras de tecido foram submetidas à extração e purificação do RNA utilizando o
Mini Kit RNeasy (Qiagen, Valência, CA) de acordo com as recomendações do fabricante. A
fim de evitar a contaminação por DNA genômico utilizou-se a enzina DNAse I (Quiagen,
Valência, CA) durante o processo de extração e purificação do RNA, que em seguida foi
submetido à eletroforese em gel de agarose para avaliação da sua integridade. Utilizando o Kit
SuperScript III e o oligo-dT (Invitrogen, Carlsbad, CA), seguindo as instruções recomendadas,
1 µl de RNA de cada amostra foi transcrito para posterior análise dos genes.
Para avaliar a expressão gênica dos genes transportador de glicose 2A1 (SLC2A1) e L-
arginina: glicina amidinotransferase (GATM), realizou-se reações de PCR quantitativo (qPCR)
utilizando o aparelho MxPro-Mx3005P v.4.10 Biuld 389, Schema 85 (Stratagene © 2007,
United States). Na reação, foi utilizado o reagente SYBR Green PCR Master Mix (Applied
Biosystems®, Thermo Fisher Scientific Inc., Waltham, MA). Como controle endógeno
utilizou-se a tubulina beta (TUBB); todos os nucleotídeos utilizados foram escolhidos a partir
de sequências conhecidas e publicadas no GenBank (Tabela 1).
As reações de qPCR foram realizadas sob as seguintes condições de amplificação: 2
minutos a 50 °C e 10 minutos a 95 °C, em seguida, 40 ciclos de 95 °C por 15 segundos e 60 °C
durante 1 minuto. A eficiência dos primers utilizados foi previamente verificada por meio da
análise da curva de dissociação. Os dados foram normalizados em relação a uma amostra
calibradora utilizando o método ΔΔCt com correção para eficiência de amplificação (PFAFFL,
2001). As amostras foram analisadas em triplicata, e foi considerada a média dos resultados
obtidos.
109
TUBB CAGCAAGATCCGTGAAGAGT
ACCAGCTGATGGACAGAGAG 123 bp
(BT030522.1)
Fonte: Elaborado pela autora.
Figura 1. Expressão relativa do gene SLC2A1. Barras pretas: corno gestante; barras cinza:
corno não gestante; IA: inseminação artificial; FIV: fertilização in vitro; a e b: diferenças
entre cornos (P <0,05); * : diferença entre IA e FIV (p <0,05)
SLC2A1
25
*
20 a
(SLC2A1 / tubulina)
Expressão relativa
15
*
a
Fonte: a
Elaborado 10 pela
autora. a
* a
b a
5 a a *
b
Umas das principais fontes de energia para os mamíferos é a glicose, cuja absorção é
mediada por proteínas de membranas integrais chamadas transportadores de glicose (SHIN et
al., 1997). Na placenta, o transporte de glicose acontece por difusão facilitada ao longo de um
gradiente de concentração independente de sódio. (GAO et al., 2012). O transportador de
glicose SLC2A1 facilita o transporte de glicose das células do endométrio para o lúmen uterino
(GAO et al., 2009).
Estudos anteriores relatam que a progesterona e o IFNt induzem e estimulam a
expressão de SLC2A1 durante o período de implantação da gestação em ovinos (GAO et al.,
2009). Em humanos, a placentação acontece sob condições de hipóxia, a qual é essencial para
o desenvolvimento do embrião; e, foi observado maior expressão de SLC2A1 neste período de
110
baixo teor de oxigênio para garantir o transporte de glicose (HAYASHI et al., 2004). Isso
explica a maior expressão de SLC2A1 em carúnculas do corno gestante, para assim garantir
fornecimento suficiente de glicose para o concepto durante seu desenvolvimento. No entanto,
em gestações obtidas por FIV não houve diferença entre os níveis de transcritos no corno
gestante e no não gestante.
Em técnicas de transferência nuclear de células somáticas, a taxa de implantação da
gestação é considerada baixa, e ocorre devido à defeitos vasculares e anomalias na placenta
(ARNOLD et al., 2008; DE SOUSA et al., 2001). Em gestações FIV, já foi relatado que as
perdas gestacionais estão relacionadas à subdesenvolvimento e/ou anomalias nas membranas
fetais, como a alantoide, e consequentemente menor fornecimento de nutrientes levando à morte
fetal. (THOMPSON; PETERSON, 2000; DE SOUSA et al., 2001). Outras anormalidades já
foram associadas a gestações produzidas in vitro, como membranas edematosas e
irregularidades no cordão umbilical, além disso, a maioria dos fetos não são normais ou nascem
mortos (MIGLINO et al., 2007; KOHAN-GHADR et al., 2008).
Belkacemi et al. (2011), verificou que em placentas subdesenvolvidas há menor
expressão de transportadores de nutrientes prejudicando a troca materno-fetal, resultando em
crescimento fetal inadequado. A glicose age estimulando a hipertrofia, hiperplasia e migração
de células do trofectoderma, sendo um componente essencial para o crescimento embrionário
(KIM et al., 2011); e o SLC2A1 exerce função fundamental no fornecimento de glicose para o
feto (HAYASHI et al., 2004).
A expressão gênica do GATM foi menor no corno gestante do que no corno não gestante
em todas as idades gestacionais por IA. Nas gestações por FIV observou-se essa maior
expressão nas carúnculas do corno não gestante apenas aos 40 dias de gestação. Não houve
diferença significativa da expressão desse gene em gestações por IA e por FIV no mesmo
período gestacional (Figura 2).
Além da glicose, os aminoácidos são fontes de energia para o feto (GAO et al., 2009).
Na sua forma fosforilada, a creatina (Cr) libera o fosfato para o ADP transformando-o em ATP
novamente, mantendo níveis adequados de ATP e armazenando energia para a célula. Além
disso, a partir da creatina a energia armazenada é transportada entre os componentes celulares
e para os órgãos (BORCHEL et al., 2014).
O metabolismo da creatina envolve a participação da enzima L -arginina:
amidinotransferase glicina (GATM), arginina e glicina que sintetizam o
guanidinoaminoacetato, que passa por metilação pela enzima guanidinoaminoacetato N -
metiltransferase (GAMT) que o transforma em creatina (CHOE et al., 2013).
Em gestações obtidas por IA a expressão de GATM foi menor no corno gestante em
todas as idades gestacional estudadas. Estudos anteriores verificaram a presença de creatina no
líquido amniótico de humanos e ratos (GROENEN et al., 2004; PERAL et al., 2005;), desta
forma, o líquido amniótico pode ser uma fonte fácil de creatina para várias estruturas do feto
(BRAISSANT et al., 2005).
111
Figura 2. Expressão relativa do gene GATM. Barras pretas: corno gestante; barras cinza:
corno não gestante; IA: inseminação artificial; FIV: fertilização in vitro; a e b: diferenças
entre cornos (P <0,05)
GATM
50
b
40
Expressão relativa
(GATM / tubulina)
30 b
20
b
10
b
a a a a a a
0
30 dias 35 dias 40 dias 35 dias 40 dias
____________________________________ _______________________
IA IFV
Fonte: Elaborado pela autora.
Conclusões
A partir dos resultados obtidos nesse trabalho é possível concluir que a presença do
embrião exerce influência sobre a expressão de genes relacionados com o transporte e
metabolismo celular no útero. Os embriões produzidos por técnicas de reprodução assistida são
geralmente mais propensos a falhas do que embriões obtidos por inseminação artificial.
Observou-se nesse trabalho que o nível de transcrição gênica uterina em gestações de embriões
produzidos in vitro apresenta-se diferente quando comparado com gestações oriundas de
inseminação artificial. Esses resultados permitem sugerir que os processos envolvidos na
112
produção de embriões in vitro podem influenciar o embrião, alterando sua capacidade de
modulação uterina.
A identificação dessas diferenças entre gestações obtidas por IA e FIV, bem como o
entendimento dos mecanismos envolvidos podem auxiliar na compreensão de diversas causas
de falhas gestacionais. Esse conhecimento pode impulsionar novos estudos relacionados ao
processo de produção de embriões, buscando intervenções e metodologias que garantam a
obtenção de embriões de melhor qualidade, com plena capacidade de sinalização ao
endométrio.
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116
ELABORAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E SENSORIAL DE
BEBIDAS TIPO SMOOTHIE DE FRUTAS ADICIONADAS DE LACTOBACILLUS
ACIDOPHILLUS (LA-05)
Apresentação
Frutas e vegetais são uma parte essencial da nutrição humana. São ricos em vitaminas
hidrossolúveis (vitamina C e vitaminas do grupo B), compostos provitamina A fitoesteróis,
além de serem fonte de uma elevada variedade de minerais e fitoquímicos, dependendo da
espécie (GEBBERS, 2007). Estudos documentaram a prevenção de certas doenças crônicas tais
como hipertensão doenças cardíacas e risco de acidente vascular cerebral ((DAUCHET et al.,
2007, NORSON; LUCAS; MACGREGOR, 2007) através do consumo de uma quantidade
adequada de frutas e vegetais. No Brasil, O Guia Alimentar para a População Brasileira
(BRASIL, 2014) recomenda a ingestão diária de pelo menos quatro porções de fruta,
distribuídas ao longo das refeições.
Em virtude da rotina acelerada da maioria dos indivíduos da sociedade atual, muitas
vezes o consumo da fruta fresca é substituído por frutas minimamente processadas, como sucos
e néctares. Como alternativa para acompanhar a atual tendência de consumo de alimentos mais
frescos e nutritivos e que sejam de fácil acesso e conservação, a produção de Smoothies
apresenta-se como alternativa no suprimento dessas demandas.
Também se mostra crescente entre consumidores o reconhecimento da existência de
relação positiva entre dieta e saúde, o que reflete nas mudanças sofridas no mercado de
alimentos nos últimos anos, que viu o setor de alimentos funcionais prosperar, com estimativas
recentes indicando uma quota anual de até 50.000 milhões de dólares, em todo o mundo
(STANTON et al., 2005).
Na Europa, o maior segmento deste mercado compreende os alimentos enriquecidos
com probióticos, prebióticos ou simbióticos. Definidos como "microrganismos vivos que,
1
thaiscostamatte@gmail.com, Telefone: 83-99957-4325.
2
estefaniafgarcia@yahoo.com.br, Telefone: 83-99673-4716. Projeto: Desenvolvimento de bebidas tipo smoothie
de frutas adicionadas de Lactobacillus acidophillus (LA-05) / Plano vinculado: Elaboração e caracterização físico-
química e sensorial de bebidas tipo smoothie de frutas adicionadas de Lactobacillus acidophillus (LA-05),
Universidade Federal da Paraíba, Telefone: 83-3216-7200.
117
quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro"
(FAO/WHO, 2002), os probióticos, em particular, são cada vez mais utilizados como
suplementos alimentares, devido às inúmeras evidências científicas que sustentam o conceito
de que a manutenção de uma microbiota intestinal saudável pode fornecer proteção contra
distúrbios gastrointestinais, incluindo infecções e síndromes inflamatórias do intestino
(SHEEHAN; ROSS; FITZGERALD,2007).
Como forma de estimular o consumo de frutas e ao mesmo tempo desenvolver produtos
dentro do mercado promissor de alimentos funcionais, produtos à base de fruta adicionados de
bactérias probióticas tem ocupado as prateleiras de supermercados de todo o mundo. O
desenvolvimento de sucos, papinhas infantis, purês e vegetais fermentados por bactérias
probióticas tem sido documentado, destacando muitas vezes uma influência positiva nas
características físico-químicas e microbiológicas do produto (MARTINS et al., 2013).
Dessa forma, o objetivo desse estudo foi desenvolver formulações de Smoothies a base
de frutas adicionados de Lactobacillus acidophillus (LA-05) e avaliar a aceitação sensorial e a
qualidade físico-química das formulações propostas, além de fornecer mais uma opção de
produtos derivados de frutas que seja rico em nutrientes essenciais e que forneça potenciais
benefícios à saúde da microbiota intestinal de seus consumidores.
Fundamentação teórica
Metodologia e análise
Cepa bacteriana
Para o desenvolvimento da bebida tipo Smoothie foi utilizada uma cepa de Lactobacillus
acidophillus (LA-05) (Christian Hansen, Valinhos, Minas Gerais, Brasil) a 0,1%. A cultura
comercial liofilizada foi reidratada em caldo MRS e incubada a 37ºC/24 horas. Após etapa de
reativação, as culturas foram centrifugadas (10000 x g / 5 minutos), lavadas duas vezes com
tampão fosfato (10 mM de fosfato de sódio monobásico, 10 mM fosfato de sódio dibásico, 130
mM cloreto de sódio a pH 7.2) e após nova centrifugação o pellet foi inoculado no Smoothie
para obtenção de 8 log.UFC.ml-1.
119
Elaboração das bebidas tipo Smoothie de frutas adicionadas de Lactobacilllus acidophillus (LA-
05).
Smoothies Ingredientes
S1 Polpa integral de açaí, banana e mel
S2 Manga, maracujá e gengibre
S3 Abacaxi, melão e hortelã
S4 Melancia, acerola e romã
Além dos ingredientes citados no quadro 1, para cada litro de Smoothie elaborado foram
adicionados 100 ml de água de coco, para auxiliar no batimento. Todos os ingredientes foram
homogeneizados e submetidos a processo de pasteurização (80ºC/10minutos, seguido de
resfriamento a 8 ºC) para posterior inoculação asséptica com 0,1% de Lactobacillus
acidophillus (LA-05) (Christian Hansen, Valinhos, Minas Gerais, Brasil). As bebidas foram
submetidas à fermentação e armazenamento sob temperatura de refrigeração (8ºC) durante 24
horas, antes de serem avaliadas. A figura 1 apresenta as quatro formulações propostas antes da
pasteurização.
S4 S3 S1 S2
Análises sensoriais
Análises físico-químicas
Análises estatísticas
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Análises sensoriais
121
Tabela 1 – Avaliação sensorial (média ± desvio padrão) de Smoothies adicionados de
Lactobacillus acidophilus (LA-05)
Variáveis Amostras
S1 S2 S3 S4
Aparência 7,5±1,9A 7,6±1,6A 6,8±1,9A 7,1±1,1A
Cor 7,6±1,7AB 8,1±1,3A 6,9±2,1B 7,6±0,9AB
Aroma 6,9±1,7AB 7,4±1,7A 6,7±2,1AB 6,2±1,8B
Sabor 7,1±1,9A 6,3±2,1AB 5,8±2,3B 5,5±1,8B
Textura 6,8±2,2A 6,8±1,9A 6,3±2,3A 6,5±1,8A
Avaliação global 7,3±1,7A 7,0±1,8A 6,4±2,1A 6,4±1,7A
A, B, C
Em uma linha, médias seguidas de letras desiguais diferem estatisticamente (p < 0,05).
122
Figura 2 – Avaliação de intenção de compra de Smoothies adicionados de Lactobacillus
acidophilus (LA-05)
80
A c e ita ç ã o
N e u tr o
60
R e j e iç ã o
40
%
20
4
1
3
S
Tabela 2 – Avaliação sensorial (média ± desvio padrão) de Smoothie açaí, banana e mel
adicionado de Lactobacillus acidophilus (LA-05)
80 N e u tro
R e je iç ã o
60
%
40
20
0
0
14
21
T e m p o (d ia s )
Análises físico-químicas
Conforme a Tabela 1, foi observado diferenças significativas (P < 0,05) nos parâmetros
analisados durante o período de estocagem. O pH do Smoothie apresentou aumento em seus
valores, diferindo dos resultados encontrados por outros autores que utilizaram culturas
probióticas para fermentar produtos vegetais (DI CAGNO, et al., 2011; FONTENELES et al.,
2013). Paralelo ao aumento do pH foi observada a diminuição dos valores de acidez titulável.
Essa diminuição pode ser explicada pelo consumo de ácidos orgânicos durante a fermentação.
Alguns micro-organismos são capazes de fermentar e assimilar esses ácidos como fonte de
carbono e energia, provocando aumento no pH (DI CAGNO, et al., 2011).
A viscosidade apresentou aumento significativo (P < 0,05) na primeira semana de
armazenamento, com posterior diminuição desses valores. Essa alteração pode ser decorrente a
atuação de protopectinases, enzimas envolvidas na quebra da pectina e consequente diminuição
da viscosidade (FONTENELES et al., 2013). Não foram observadas diferenças significativas
(P > 0,05) nos resultados de sólidos solúveis totais.
Todos os valores dos parâmetros de cor são vistos na Tabela 1. O L* indica a
luminosidade e capacidade de um objeto refletir ou transmitir luz baseado em uma escala com
valores de 0 a 100 (CESAR et al., 2014). Assim, baixos valores de L* indicam objetos mais
escuros, motivo pelo qual os resultados aqui apresentados estão mais próximos do limite
inferior, devido à coloração escura do açaí. Inicialmente pode-se observar um significativo
aumento de L* (P < 0,05), que pode ser decorrente de perda de antocianinas durante o
armazenamento. Resultados semelhantes foram vistos por Cesar et al. (2014), onde a redução
de antocianinas em poupa de açaí clarificada foi acompanhada de aumento na luminosidade
(L*). No decorrer do armazenamento nota-se a redução desses valores, de modo que L* não
difere significativamente nos dias 1 e 21, início e final do armazenamento, respectivamente.
Apesar de não exibir diferença significativa (p > 0,05), a* teve discretas modificações. Essas
variações nos índices L* e a* podem ser explicadas pela co-pigmentação das antocianinas,
envolvendo ligações fracas entre antocianinas e outros compostos não coloridos como ácidos
fenólicos e flavonoides (CESAR et al., 2014). Os índices a* e b* não possuem limite numérico
específico, variando de negativo a positivo, onde a* positivo refere-se ao vermelho e negativo
ao verde, enquanto b* positivo corresponde ao amarelo e negativo ao azul (CESAR et al., 2014).
Foram notadas diferenças significativas (p < 0,05) nos valores de b*, com diminuição inicial
da intensidade do amarelo. A intensidade aumentou novamente nos dias 14 e 21. Essas
alterações podem ser decorrentes da interação entre polifenóis e produtos da degradação de
carboidratos e/ou ácido ascórbico (CESAR et al., 2014). Resultados semelhantes foram
encontrados por Castillejo et al. (2016), onde duas formulações de Smoothies mostraram
mudanças na coloração após 7 dias de estocagem.
Conclusões
Referências
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128
___________________________________________________________________________
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
EXTRAÇÃO E ATIVIDADE MICROBIANA DA LECTINA EXTRAÍDA DE
STERCULIA FOETIDA E MUCUNA PRURIENS EM BACTÉRIAS
STAPHYLOCOCCUS AUREUS SENSÍVEL E RESISTENTE A METICILINA (MRSA)
Resumo
Lectinas são uma classe de proteínas que podem aglutinar hemácias, ligando-se reversivelmente
à carboidratos, onde as mesmas podem participar de funções de defesa do organismo agindo
contra bactérias e fungos. Este capítulo tem como objetivo investigar a ação antibacteriana das
lectinas extraídas das sementes de Mucuna pruriens e Sterculia foetida, frente à Staphylococcus
aureus sensível e resistente a meticilina (MRSA). Realizou-se a extração e purificação de
lectinas presentes nas sementes, posteriormente os ensaios de atividade hemaglutinante,
quantificação de proteínas solúveis, eletroforese em SDS-PAGE, cromatografia e por fim os
testes antimicrobianos. Os resultados indicaram que as lectinas foram capazes de inibir a
multiplicação do S. aureus sensível e MRSA. Pode-se concluir então que as lectinas utilizadas
neste estudo apresentaram potencial antimicrobiano relevante e mais estudos devem ser
realizados para que as mesmas possam vir a ser uma alternativa no controle de agentes
patogênicos sensíveis e resistentes a antibióticos.
Apresentação
1
Título do projeto: Investigação de lectinas extraídas da flora brasileira: Isolamento, purificação e abordagem na
atividade antimicrobiana/ Plano: Extração e atividade microbiológica da lectina extraída de Sterculia foetida e
Mucuna pruriens em bactérias Staphylococcus aureus sensível e resistente a meticilina (MRSA).
Estudante de Iniciação Científica: Carlos da Silva Maia Bezerra Filho (e-mail: carlosmaia1996@gmail.com).
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail:cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br).
Orientador: Dr. Juscélio Donizete Cardoso (e-mail: juscelio.cardoso@gmail.com).
130
fatores que contribuem para o surgimento destas cepas resistentes (SANTOS, 2004). O
tratamento dessas infecções causadas por bactérias resistentes é dificultado pelo fato de
existirem reduzidas opções de antibióticos no mercado, o que acaba por estimular a procura por
novas alternativas terapêuticas eficazes (OLIVEIRA et al., 2006).
As lectinas apresentam atividade antibacteriana devido ao bloqueio dos movimentos
bacterianos (DAMICO et al., 2003). Além disso, já foi demostrado que as mesmas podem
intervir na formação de biofilmes microbianos (TEIXEIRA et al., 2006; CAVALCANTE et al.,
2011).O Brasil possui uma enorme diversidade de plantas e lectinas. A maioria delas nunca foi
estudada a fim de investigar suas atividades microbiológicas. Deste modo, o objetivo deste
estudo foi extrair e avaliar a atividade antimicrobiana de lectina da Sterculia foetida e Mucuna
pruriens em bactérias Staphylococcus aureus sensível e resistente a meticilina (MRSA)
Fundamentação teórica
As lectinas vêm sendo estudadas desde o século XIX, precisamente no ano de 1888,
onde Stilmark analisou a capacidade de aglutinação dos extratos das sementes de Ricinus
comunis frente a células sanguíneas de vários animais, havendo aglutinação de diferentes tipos
de hemácias. Desse modo, ele denominou essa substância de ricina e essa foi a descoberta que
iniciou as pesquisas envolvendo lectinas (SHARON, 2004).
Pouco tempo depois, H. Hellin encontrou outra lectina tóxica em sementes de Abrus
precatorius, popularmente conhecido como feijão jequiriti, a qual chamou essa proteína de
abrina. Em 1891, Paul Ehrlich utilizou a ricina em estudos imunológicos, onde foi demonstrado
que camundongos tornaram-se resistentes a doses letais desta toxina, após terem sido aplicadas
pequenas doses subcutâneas, repetidamente, nestes animais (KENNEDY, 1995). Entretanto, foi
somente em 1960 que as pesquisas sobre lectinas passou a ganhar ímpeto, atraindo a atenção e
motivando estudos para a investigação e possíveis aplicações biológicas das mesmas (GABOR,
2004).
Até a primeira metade do século passado, as lectinas também eram conhecidas como
hemaglutininas, fitohemaglutininas ou aglutininas. Esses termos foram usados antes do
mecanismo causador da hemaglutinação, que podia ser visto macroscopicamente, ser
compreendido a nível molecular. Até que em 1952, Morgan e Watkins comprovaram que a
capacidade de hemaglutinação da lectina baseava-se na atividade de ligação da mesma com um
carboidrato específico (VAN DAMME, 1998). É devido a essa especificidade que deriva o
termo “lectina” do latim “legere”, que significa escolher, selecionar.
Devido à sua capacidade de interagir com carboidratos de maneira não-covalente, as
lectinas exercem funções relacionadas com o reconhecimento de diversas informações
presentes nas variadas estruturas de oligossacarídeos conjugados com lipídeos ou proteínas na
superfície celular (BROOKS, 1998; COELHO, 2000). Esta interação ocorre através de ligações
intermoleculares dos tipos: Ligações de hidrogênio, interações hidrofóbicas e interações de Van
der Walls (ELGAVISH, 1997). Entretanto, as interações hidrofóbicas são as principais forças
de interação entre lectinas com carboidratos, glicoproteinas e substâncias glicosiladas
(ROBERTS, 1983; KELLA, 1984; BARONDES, 1988).
As lectinas possuem vários domínios protéicos, porém sua capacidade de ligar-se a
carboidratos ocorre devido às mesmas possuírem pelo menos um domínio reconhecedor de
carboidratos (DRC) em cada cadeia de polipeptídica (DODD et al., 2001). Desde então, o termo
lectina é utilizado para caracterizar toda proteína que possui um ou mais DRC que é capaz de
se ligar de forma reversível e específica a mono ou oligossacarídeos (PEUMANS et al., 1995).
Graças a essa capacidade as lectinas possuem um alto grau de especificidade em
interações com grupos sanguíneos pertencentes ao sistema ABO e MN e hemácias de várias
espécies de animais (PAIVA et al., 1992; SHARON et al., 1993; REYNOSO-CAMACHO et
al., 2003).
O fato das lectinas serem de origem não imunológica as difere de anticorpos que também
131
possuem a capacidade de aglutinar células. Enquanto os anticorpos são estruturalmente
semelhantes, as lectinas se diferem entre si quanto à sua composição de aminoácidos, peso
molecular, dependência de metais e estrutura tridimensional (DAMME et al., 1998).
Atualmente, várias lectinas estão sendo isoladas e estudadas a nível bioquímico e físico
químico para realizar a análise de suas funções celulares, além disso, os genes que transcrevem
lectinas têm sido clonados e as estruturas tridimensionais destas macromoléculas estão sendo
solucionadas por meio de estudos de difração de raios-X e técnicas de cristalização (PEUMANS
et al., 1998; GADELHA et al., 2005).
Apesar de todas as lectinas possuírem a capacidade de ligar-se reversivelmente a
carboidratos (LIS et al., 1998), as mesmas também possuem características próprias que as
diferem das demais, isso fica evidente quando se compara as diferentes aplicações biológicas
que as lectinas possuem na natureza, onde o reconhecimento entre as proteínas e os carboidratos
é essencial em vários processos biológicos como em infecções microbianas, metástase,
fertilização, crescimento, diferenciação e proliferação celular (PARK et al., 2000). Na Fig. 1
podem-se verificar as interações das lectinas com carboidratos presentes em diversos
organismos.
Figura 1: Esquema de ligação de uma lectina com glicoconjugados. Fonte: (SHARON e LIS,
2004)
132
Figura 2: Classificação das lectinas vegetais conforme suas características estruturais. Fonte:
(DAMME, PEUMANS, BARRE e ROUGÉ, 1998)
Metodologia e análise
137
Tabela 1: Teor de proteínas solúveis nos extratos (mg/mL = miligramas de proteína por mL)
Extrato mg/mL
Sterculia foetida (Albumina) 0,821
Sterculia foetida 0-30% 0,441
Sterculia foetida 30-60¨% 0,310
Sterculia foetida 60-90% 0,770
Sterculia foetida pico II 0,649
Mucuna pruriens (Albumina) 0,610
Extrato Atividade
Hemaglutinantea
(UH/ 100 μL)
Sterculia foetida (Albumina) 16
Sterculia foetida 0-30% ndb
Sterculia foetida 30-60¨% 4
Sterculia foetida 60-90% ndb
Sterculia foetida pico II 16
Mucuna pruriens (Albumina) ndb
a
O valor expressa o inverso do título da maior diluição na base 2 que ainda foi capaz de aglutinar células de forma
visível em número de unidades hemaglutinantes (UH).
b
Não detectado.
138
Gráfico 1: Pico I da fração albumina da Sterculia foetida, submetida a cromatografia de troca
iônica DEAE-Sephacel
140
Figura 4: Teste antimicrobiano do pico II da Sterculia foetida frente ao S. aureus sensível em
meio MH
141
Figura 6: Teste antimicrobiano da fração Albumina da Sterculia foetida frente ao S. aureus
sensível em meio MH
142
Figura 8: Teste antimicrobiano da fração 0-30% da Sterculia foetida frente ao S. aureus
sensível em meio MH
143
Figura 10: Teste antimicrobiano da fração 30-60 % da Sterculia foetida frente ao S. aureus
sensível em meio MH
Figura 11: Teste antimicrobiano da fração 30-60 % da Sterculia foetida frente ao S. aureus
resistente a meticilina em meio MH
144
Figura 12: Teste antimicrobiano da fração 60-90 % da Sterculia foetida frente ao S. aureus
sensível em meio MH
Figura 13: Teste antimicrobiano da fração 60-90 % da Sterculia foetida frente ao S. aureus
resistente a meticilina em meio MH
145
Figura 14: Teste antimicrobiano da fração Albumina da Mucuna pruriens frente ao S. aureus
sensível em meio MH
Figura 15: Teste antimicrobiano da fração Albumina da Mucuna pruriens frente ao S. aureus
resistente a meticilina em meio MH
A partir dos dados obtidos nas Fig. 4 - 13 pode-se verificar que as lectinas presentes nas
diferentes frações de S. foetida foram capazes de reduzir a densidade óptica e a multiplicação
do Staphylococcus aureus sensível e resistente a meticilina, após 24 horas de incubação à 37º
C, até nas concentrações de 1,25 mg/mL. Vale salientar, que as lectinas presentes na semente
de S.foetida foram capazes de inibir a multiplicação de diversas bactérias como o S. aureus, E.
146
coli, P. aeruginosa e B. subtilis (BRAGA et al., 2015), de maneira semelhante, as lectinas
presentes nas sementes de Eugenia uniflora foram capazes de inibir fortemente o crescimento
de cepas de S.aureus (OLIVEIRA et al., 2008) e lectinas purificadas de plantas do Sul da África
apresentaram efeito antibacteriano frente às cepas de Staphylococcus aureus e Bacillus subitilis
(GAIDAMASHVILI et al., 2002).
A partir dos dados da Fig. 14 e 15, pode-se constatar que a fração Albumina da Mucuna
pruriens não foi capaz de diminuir a densidade óptica, após 24 horas, em nenhuma das
concentrações testadas nos testes com S. aureus sensível, enquanto na concentração de 1,25
mg/mL foi capaz de diminuir a densidade óptica frente ao S. aureus resistente a meticilina. Já
foi constatada que o extrato etanólico das folhas e sementes da Mucuna pruriens apresentaram
atividade antimicrobiana frente a microrganismos patogênicos como a Escherichia coli
(OGUNDARE et al., 2007; KUMAR et al., 2009).
Conclusões
A partir deste estudo, pode-se notar que foi possível extrair e purificar quantidades
significativas de proteínas a partir das sementes de M. pruriens e S. foetida, plantas presentes
na flora brasileira, onde a presença de lectinas foi confirmada por meio de ensaios de atividade
hemaglutinante. Além disso, observou-se que as lectinas foram capazes de inibir a
multiplicação de cepas de S. aureus sensível e resistente a meticilina. Portanto, pode-se concluir
que as lectinas utilizadas neste presente estudo apresentaram resultados antimicrobianos
relevantes e mais estudos devem ser realizados para que as mesmas possam vir a ser uma
alternativa no controle microbiano de agentes patogênicos sensíveis e resistentes à antibióticos.
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154
ESTUDO PRÉ-CLÍNICO DA POSSÍVEL ATIVIDADE ANTINOCICEPTIVA E/OU
ANTICONVULSIVANTE DE MONOTERPENOS
Resumo
Apresentação
Fundamentação teórica
Metodologia e análise
No teste agudo das convulsões induzidas pelo pentilenotetrazol, das cinco doses testadas
do (+)-3-careno, duas foram capazes de reduzir significativamente a latência para o surgimento
da primeira convulsão (gráficos 1 e 2). Este teste foi dividido em duas etapas, os dados da
primeira etapa são os seguintes: 25 mg/kg (83,3 ± 9,2s); 50 mg/kg (495,6 ± 148,2s); 75 mg/kg
(553,9 ± 122,2s), comparados com o grupo controle que recebeu o veículo (78,63 ± 10,13s). Na
segunda parte do teste, os resultados obtidos foram: 100 mg/kg (253,4 ± 104,3s); 125 mg/kg
(277,5 ± 107s), comparados com o grupo controle (168,6 ± 104,3s). As respostas apresentadas
pelos grupos tratados com as doses de 50 e 75 mg/kg do (+)-3-careno foram as que mais se
aproximaram à do grupo que recebeu a substância padrão diazepam, na dose de 4 mg/kg (900,0
± 0,0s).
Gráfico 1 – Efeito do (+)-3-careno nas doses de 25, 50 e 75 mg/kg sobre a latência para início
das convulsões induzidas pelo pentilenotetrazol em camundongos (n=8/grupo)
1000 ****
800
** **
L a t ê n c ia ( s )
600
400
200
0
C o n t r o le 25 50 75 D ia z e p a m
T r a t a m e n t o s ( m g /k g ; i.p .)
Fonte: Elaborado pelo autor. Os valores representam a média ± erro padrão da média. ANOVA one way seguido
do teste de Dunnet. **p<0,01 e ****p<0,0001, comparado com o grupo controle (veículo).
159
Gráfico 2 – Efeito do (+)-3-careno nas doses de 100 e 125 mg/kg sobre a latência para início
das convulsões induzidas pelo pentilenotetrazol em camundongos (n=8/grupo)
1000 ****
L a t ê n c ia ( s ) 800
600
400
200
0
C o n t r o le 100 125 D ia z e p a m
T r a t a m e n t o s ( m g /k g ; i.p .)
Fonte: Elaborado pelo autor. Os valores representam a média ± erro padrão da média. ANOVA one way seguido
do teste de Dunnet. ****p<0,0001, comparado com o grupo controle (veículo).
Gráfico 3 – Efeito do (+)-3-careno nas doses de 25, 50 e 75 mg/kg sobre a latência de morte
no teste de convulsões induzidas pelo pentilenotetrazol em camundongos (n=8/grupo)
1000 * * **
L a t ê n c ia d e m o r t e ( s )
800
600
400
200
0
C o n t r o le 25 50 75 D ia z e p a m
T r a t a m e n t o s ( m g /k g ; i.p .)
Fonte: Elaborado pelo autor. Os valores representam a média ± erro padrão da média. ANOVA one way seguido
do teste de Dunnet. *p<0,05 e **p<0,01, comparado com o grupo controle (veículo).
160
Gráfico 4 – Efeito do (+)-3-careno nas doses de 100 e 125 mg/kg sobre a latência de morte no
teste de convulsões induzidas pelo pentilenotetrazol em camundongos (n=8/grupo).
1500
L a t ê n c ia d e m o r t e ( s )
1000 * * *
500
0
C o n t r o le 100 125 D ia z e p a m
T r a t a m e n t o s ( m g /k g ; i.p .)
Fonte: Elaborado pelo autor. Os valores representam a média ± erro padrão da média. ANOVA one way seguido
do teste de Dunnet. *p<0,05, comparado com o grupo controle (veículo).
Tabela 2 – Efeito do (+)-3-careno nas doses 100 e 125 mg/kg e do diazepam sobre a
porcentagem de mortalidade após o teste das convulsões induzidas pelo pentilenotetrazol em
camundongos (n=8/grupo)
161
No teste das convulsões induzidas pelo eletrochoque auricular máximo foi observado
uma diminuição na duração das convulsões induzidas pelo eletrochoque auricular máximo
(gráfico 5) nos grupos tratados com o (+)-3-careno nas doses de 25 mg/kg (3,88 ± 1,8s); 50
mg/kg (3,88 ± 1,9s) e 75 mg/kg (1,75 ± 1,0s), quando comparados ao grupo controle (11,63 ±
2,4s). Como já era previsto, os animais tratados com a droga padrão fenitoína (25mg/kg; i.p.)
também apresentaram inibição das convulsões (3,0 ± 1,5s). Na tabela 3, o percentual de
convulsões foi alto no grupo tratado com o (+)-3-careno na dose de 25 mg/kg (50%). Já os
grupos que receberam as doses de 50 mg/kg (37,5%) e 75 mg/kg (37,5%), apresentaram uma
diminuição no número de convulsões. O grupo controle tratado com o veículo (100%) e o
padrão (37,5%) apresentaram respostas esperadas.
Gráfico 5 – Efeito do (+)-3-careno nas doses de 25, 50 e 75 mg/kg na duração das convulsões
no teste de convulsões induzidas pelo eletrochoque auricular máximo em camundongos
(n=8/grupo)
T e m p o d e f le x ã o e e x t r e n s ã o d a s p a t a s ( s )
15
10
* *
**
5
**
0
C o n t r o le 25 50 75 F e n it o ín a
T r a t a m e n t o s ( m g /k g ; i.p .)
Fonte: Elaborado pelo autor. Os valores representam a média ± erro padrão da média. ANOVA one way seguido
do teste de Dunnet. *p<0,05 e **p<0,01, comparado com o grupo controle (veículo).
Tabela 3 – Efeito do (+)-3-careno nas doses 25, 50 e 75 mg/kg no teste das convulsões
induzidas pelo eletrochoque auricular máximo
162
O teste de convulsões induzidas por PTZ é uma metodologia amplamente utilizada na
triagem de novas drogas anticonvulsivantes. O mecanismo responsável pela ação convulsivante
do PTZ acontece pela inibição de receptores ionotrópicos GABAA para cloreto, que tem o
GABA como neurotransmissor inibitório. Esta excitação neuronal também pode ocorrer pela
abertura de canais de sódio, provocando um influxo deste íon e consequente despolarização
(SALGADO, 2016).
Na primeira etapa deste experimento, não foi observado um aumento significativo no
grupo tratado com o (+)-3-careno na dose de 25 mg/kg, porém nas doses de 50 e 75 mg/kg foi
possível constatar um aumento relevante na latência para o surgimento das convulsões (gráfico
1). Estas mesmas doses também foram capazes de aumentar de forma estatisticamente
significativa a latência de morte (gráfico 3). Entretanto, nenhuma das doses apresentou uma
melhora expressiva na taxa de mortalidade (tabela 1).
Neste primeiro teste, à medida que as doses foram aumentando, também os animais
apresentaram uma melhor resposta em relação aos parâmetros observados, levando a acreditar
que o (+)-3-careno age de forma dose dependente. Porém ao realizar a segunda etapa do teste,
utilizando doses maiores, o efeito previamente constatado foi revertido. Nas doses de 100 e 125
mg/kg, o (+)-3-careno não demonstrou evolução no resultado (gráfico 2). Apesar disso,
tratando-se da latência de morte, foi possível perceber que estas doses foram capazes de reduzir
de forma significativa este parâmetro (gráfico 4). A taxa de mortalidade, assim como na
primeira etapa, permaneceu inexpressiva (tabela 2).
A função molecular dos receptores GABAA nos neurônios condiz com suas funções
fisiológicas em doenças que afetam o sistema nervoso central. Fármacos capazes de inibir os
receptores GABAA geram convulsões em animais, no entanto, substâncias endógenas ou
exógenas, como fármacos, que são capazes de intensificar a ativação dos receptores GABA A,
reduzem a excitabilidade neuronal, reduzindo o aparecimento de convulsões. (GOLAN, 2012).
Esta significativa redução na resposta em reflexo ao aumento da dose pode estar
relacionada com a ocupação prolongada dos sítios pelo (+)-3-careno, levando à
dessensibilização do receptor GABAA, promovendo a transição do receptor para o estado
inativo e consequente fechamento do canal iônico, mesmo estando ligado ao agonista (GOLAN,
2012).
Também foi realizado o teste das convulsões induzidas pelo eletrochoque auricular
máximo, que assim como o PTZ, é um modelo extensivamente utilizado para avaliar agentes
anticonvulsivantes. Este teste é baseado no emprego de cargas elétricas por um período de
tempo muito breve, essa descarga é capaz abrir canais iônicos dependentes de voltagem,
gerando uma despolarização neuronal e promovendo convulsões do tipo tônico-clônicas, que
são caracterizadas pela extensão tônica dos membros posteriores. (SALGADO, 2016).
No teste do eletrochoque auricular máximo, todas as doses testadas do (+)-3-careno
foram capazes de reduzir de forma estatisticamente significativa o tempo no qual os animais
apresentaram flexões e/ou extensões das patas posteriores, uma característica típica das
convulsões tônico-clônicas. No entanto, a dose de 75 mg/kg se destacou dentre as demais,
apresentando um efeito ainda mais acentuado, semelhante ao da substância padrão fenitoína
(gráfico 5). Similarmente foi constatado que as doses de 50 e 75 mg/kg do (+)-3-careno também
tiveram a proteção estendida ao segundo parâmetro, sendo capazes de reduzir
significativamente o aparecimento de convulsões, o que não pôde ser observado na dose de 25
mg/kg (tabela 3).
Uma característica comum da epilepsia envolve a hiperexcitabilidade neuronal, que
promove uma descarga de forma bastante sincronizada para produzir a convulsão. Isso sugere
que a atividade convulsivante é consequência de um desequilíbrio entre a neurotransmissão
inibitória e excitatória. As drogas anti-epilepticas podem ser divididas em três grupos, baseado
em seus respectivos mecanismos de ação, que podem incluir a modulação de canais iônicos
163
dependentes de voltagem, a atenuação da neurotransmissão excitatória e o aprimoramento da
neurotransmissão inibitória (MADSEN et al., 2010).
O relevante efeito anticonvulsivante promovido pelo (+)-3-careno no teste das
convulsões induzidas pelo eletrochoque auricular máximo, fortalece os resultados desta
pesquisa. As doses de 50 e 75 mg/kg do (+)-3-careno apresentaram um controle notável das
convulsões, tanto no teste do PTZ, como no teste do EAM, destacando o potencial
anticonvulsivante dessa substância nestas específicas doses, tendo em vista que este efeito por
elas produzido não foi observado nas outras doses testadas, reforçando o potencial
anticonvulsivante das mesmas e sugerindo a realização de mais estudos para avaliar a possível
participação das vias envolvendo o receptor GABAA, assim como outros canais iônicos
relacionados a vias inibitórias e excitatórias.
Conclusões
Referências
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Resumo
Parasitos são componentes ocultos que ocorrem em todas as comunidades e constituem grande
parte da diversidade biológica encontrada em diversos ecossistemas. Além disso, os parasitos
podem fornecer informações sobre o ambiente onde vivem e o seu hospedeiro. A perturbação
ambiental pode ter um efeito positivo, negativo ou neutro sobre os parasitos, dependendo do
tipo de impacto e do grupo estudado. O presente trabalho objetivou coletar e identificar os
parasitos do peixe Atherinella brasiliensis dos Estuários dos Rios Paraíba do Norte e
Mamanguape, bem como correlacionar o parasitismo a variáveis do hospedeiro e do ambiente,
contribuindo para um melhor conhecimento da fauna parasitológica tanto dos locais estudados,
como do hospedeiro e a relação parasito-hospedeiro. Oito espécies de parasitos foram
registradas, sendo o copépode Acusicola brasiliensis o mais prevalente e abundante. A riqueza
parasitária teve correlação significativa com o comprimento do hospedeiro, fator de condição
relativo do hospedeiro e setor da coleta; a abundância do copépode Acusicola brasiliensis teve
correlação significativa com o comprimento do hospedeiro, estuário estudado e setor da coleta.
Os estuários do Rio Paraíba do Norte e Mamanguape foram incluídos como novas localidades
para espécies de parasitos já conhecidas em outras regiões. Adicionalmente, os parasitos
Rhipidocotyle sp. (Digenea), Mothocya argenosa, M. omidaptria, M. nana (Isopoda) e
Pharyngodonidae gen. sp. (Nematoda) foram registrados pela primeira vez no hospedeiro
Atherinella brasiliensis.
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Que lições retirar do funcionamento ecológico em sistemas
estuarinos da Paraíba?/ Caracterização da fauna parasitária do peixe Atherinella brasiliensis (Atheriniformes:
Atherinopsidae).
Estudante de Iniciação Científica: Julia Martini Falkenberg (falkenbergjulia1@gmail.com, (83) 99316-0092).
Instituição de Vínculo da Bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br, cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br, (83)
3216-7570).
Orientadora: Ana Carolina Figueiredo Lacerda (acflacerda@dse.ufpb.br, (83) 3216-7762).
166
173-2012), do qual a Profa. Dra. Ana Carolina Figueiredo Lacerda foi colaboradora.
Fundamentação teórica
Metodologia e Análise
Área de estudo
Hospedeiros e parasitos
Para cada um dos estuários, foram selecionadas três estações de amostragem e em cada
estação, foram amostrados três pontos de coleta. As assembleias de peixes foram amostradas
na época de seca (novembro de 2013) e na época de chuva (julho de 2014). Em cada ponto de
168
coleta, foram realizados três arrastos manuais, na margem e no canal. Para a captura de
indivíduos juvenis, foram realizados arrastos, com uma rede de 10 m de comprimento x 1,5 m
de altura e malha de 8 mm por uma extensão aproximada de 30 m. Para a captura dos adultos
nos canais, foram efetuadas quatro séries de 15 lances de tarrafas em cada ponto de coleta. Os
peixes capturados foram preservados em solução de formalina a 4%. Em seguida, os peixes
foram levados ao laboratório, onde foram identificados, e feitas as medidas do comprimento
(mm) e do peso total (g). Os peixes foram encaminhados para o Laboratório de Invertebrados
Paulo Young na UFPB, para a análise parasitológica. Os olhos, fossas nasais, brânquias e o
tegumento dos peixes foram dissecados à procura de parasitos. O conteúdo foi analisado em
placa de Petri sob o estereomicroscópio.
Os parasitos coletados foram conservados em etanol 70% para análise posterior. Para
identificação, os espécimes foram clarificados em meio de Hoyer (Copepoda), Ácido lático
(Nematoda), ou corados com Carmim Acético (Digenea) (EIRAS et al., 2000). Posteriormente,
lâminas foram montadas em Bálsamo do Canadá e analisadas com o auxílio do microscópio.
Os isópodes foram identificados com o auxílio do estereomicroscópio. A identificação foi feita
segundo Luque & Tavares (2007), Bruce (1986), Amado & Rocha (1996), Thatcher (2006),
Gibson et al. (2002), Moravec (1998) e demais literaturas pertinentes. Os índices de
parasitismo, bem como a terminologia ecológica estão de acordo com Bush et al. (1997).
Análises estatísticas
Resultados e Conclusões
169
250
TOTAL
200
Número de peixes
150
100
50
0
AMBOS EPN EMA
Figura 1 - Número de peixes analisados e parasitados nos estuários dos Rios Paraíba do Norte (EPN) e
Mamanguape (ERM).
Tabela I - Espécies de parasitos coletados nos estuários dos rios Paraíba do Norte (EPN) e
Mamanguape (EMA), prevalência (P), intensidade média (I.M.), abundância média (A.M.) e
valores mínimos e máximos de parasitos encontrados de cada espécie (Mín – Máx). Traços
indicam a ausência do parasito para a localidade estudada
Figura 2 - Estimativa de riqueza de espécies de parasitos nos Estuários dos Rios Paraíba do Norte (A) e
Mamanguape (B).
172
Figura 3 – Correlação entre riqueza de parasitos e (A) Comprimento do hospedeiro e (B) Setor da coleta.
Figura 4 - Abundância de parasitos da espécie Acusicola brasiliensis, relacionada com (A) o estuário e (B) o setor
da coleta.
Tabela II – Resultados obtidos a partir da GLM, usando como variável resposta a riqueza de
parasitos (Modelo 1) e a distribuição de Poisson. Na tabela, apenas as variáveis que foram
mantidas no modelo final
*Valores significativos.
Tabela III – Resultados obtidos a partir da GLM, usando como variável resposta a abundância
do parasito Acusicola brasiliensis (Modelo 2) e a distribuição de Poisson. Na tabela, apenas as
variáveis que foram mantidas no modelo final
*Valores significativos.
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182
FENOLOGIA DA DISPERSÃO E TIPOLOGIA DOS FRUTOS DE DUAS ESPÉCIES
DE PSYCHOTRIA (RUBIACEAE) EM MATA ATLÂNTICA, PB
Resumo
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Fenologia reprodutiva de espécies do gênero Psychotria L.
(Rubiaceae) presentes em área de Mata Atlântica no estado da Paraíba/ Fenologia da dispersão e tipologia dos
frutos de duas espécies de Psychotria (Rubiaceae) em Mata Atlântica, PB.
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br/e-mail:cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br).
Estudante de Iniciação Científica: Letícia Keyla França de Andrade (e-mail: leticiakeylaf@gmail.com).
Orientadora: Zelma Glebya Maciel Quirino (e-mail: zelmaglebya@gmail.com).
183
oferecido pelas mesmas no ambiente em que se encontram; reconhecer o padrão fenológico de
frutificação, identificando o período, a intensidade e procurando relacionar esse padrão com a
frequência de visitas e a precipitação; e compreender o sistema reprodutivo das espécies,
verificando a eficiência dos seus agentes dispersores.
O presente trabalho é definido por uma pesquisa de caráter descritivo e experimental.
Durante a vigência do projeto (2015-2016), foram realizadas atividades em campo mensais,
com posterior análise dos dados no Laboratório de Ecologia Vegetal da UFPB – Campus IV,
no intuito de responder aos questionamentos e hipóteses levantadas.
Fundamentação teórica
Rubiaceae Juss., com aproximadamente 650 gêneros e 13.200 espécies, destaca-se como
uma das maiores famílias dentre as Angiospermas, ocupando o quarto lugar em diversidade
(DELPRETE, 2004). A família é bem representada no Brasil, ocorrendo cerca de 130 gêneros
e 1500 espécies, e conhecida por possuir uma ampla distribuição e significativo potencial
econômico (SOUZA; LORENZI, 2008).
O maior gênero de Rubiaceae, Psychotria L., pertencente à subfamília Rubioideae, é
representado por cerca de 2000 espécies (ROBBRECHT; MANEN, 2006), em sua maioria
arbustos ou subarbustos umbrófilos que habitam o subosque de florestas tropicais (MORAES
et al., 2011). No entanto, árvores, lianas, ervas e epífitas também podem ser encontradas no
gênero (Delprete, 2004). Psychotria colorata (Willd. ex Schult.) Müll. Arg. e Psychotria
hoffmannseggiana (Willd. ex Schult.) Müll. Arg. são espécies simpátricas e nativas que
possuem uma ampla distribuição pelas regiões brasileiras (FLORA DO BRASIL, 2017).
No estado da Paraíba, Rubiaceae foi estudada em áreas de Mata Atlântica e Caatinga
por BARBOSA (1996), PEREIRA (1996), PEREIRA; BARBOSA (2004, 2006), MELO;
BARBOSA (2007), PESSOA; BARBOSA (2012) e FERREIRA (2014). Entretanto, faz-se
necessário um maior levantamento de dados no que diz respeito à busca de padrões fenológicos,
bem como ao entendimento das relações ecológicas da família com suas respectivas espécies
dispersoras.
Angiospermas desenvolveram frutos com atributos responsáveis por um aumento das
chances de remoção de suas sementes por consumidores, dos quais podem estar relacionados à
cor do diásporo, tamanho, forma e valor nutricional. PIJL (1982) destacou três categorias
relacionadas aos agentes dispersores: anemocoria (diásporos adaptados à dispersão pelo vento),
zoocoria (diásporos adaptados à dispersão por animais) e autocoria (diásporos de espécies cuja
dispersão pode ocorrer através da gravidade ou de forma explosiva).
Em florestas neotropicais, cerca de 50% a 90% das espécies arbóreas e arbustivas
produzem frutos adaptados à dispersão por animais, especialmente por vertebrados (SAN
MARTIN-GAJARDO, 1999). Aves e mamíferos podem ser considerados como maiores
contribuintes no processo de dispersão (HOWE; SMALLWOOD, 1982). Estratégias
fenológicas vêm sendo apontadas como facilitadoras para a dispersão, onde períodos de
maturação dos frutos são associados a prováveis condições advindas de fatores abióticos ou
bióticos que venham a favorecer a dispersão dos diásporos (LIMA et al., 2010). A agregação e
sincronia das fenofases reprodutivas em indivíduos da mesma espécie possibilita a
concentração de maior número de frutos em determinado local, aumentando a atratividade e,
por consequência, probabilidade de visitas por consumidores (FEINSINGER et al., 1991;
GRANDISOLI, 1997).
Rubiaceae demonstra possuir um padrão reprodutivo, com a concentração na produção
de flores em dois períodos principais (fevereiro e setembro) e uma distribuição de frutos ao
longo ano (SAN MARTIN-GAJARDO, 1999; ALMEIDA; ALVES, 2000; FONSECA et al.,
2008; SANTOS et al., 2008), sendo estes predominantemente carnosos e divergindo em
184
caracteres morfológicos (formas, tamanhos e cores). Em geral, são dispersos por aves,
morcegos ou pequenos mamíferos. Além disso, muitas espécies podem estar associadas a
formigas que atuam frequentemente como dispersoras secundárias (MEDONÇA, 2012).
Para o gênero Psychotria, estudos fenológicos constam dos trabalhos de ALMEIDA;
ALVES (2000) com P. nuda (Cham. & Schl.) Wawra e P. brasiliensis Vell.; SAN MARTIN-
GAJARDO; MORELLATO (2003) com P. nuda (Cham. & Schl.) Wawra e P. birotula L.B.
Sm. & Downs; COELHO; BARBOSA (2004) com P. poeppigiana Müll. Arg.; LOCATELLI;
MACHADO (2004) com P. pubigera Schltdl., P. brachypoda (Muell. Arg.) Britton, P.
fluminensis Vell., P. carthaginensis Jacq.; TEIXEIRA; MACHADO (2004) com P. barbiflora
DC.; LOPES; BUZATO (2005) com P. suterella Muell. Arg.; RAMOS; SANTOS (2005) com
P. tenuinerves Müll. Arg.; PEREIRA; BARBOSA (2006) com P. bahiensis DC., P. barbiflora
DC., P. bracteocardia (DC.) Müll. Arg., P. carthagenensis Jacq., P. hoffmannseggiana (Willd.
ex Schult.) Müll. Arg. e P. subtriflora Müll. Arg.; PEREIRA (2006) com P. conjugens Mull.
Arg., P. hastisepala Mull. Arg., P. hygrophiloides Benth, P. sessilis Vell.; SILVA (2007) com
P. conjunges Müll. Arg., P. hastisepala Müll. Arg. e P. sessilis (Vell.) Müll. Arg.; FONSECA
et al. (2008) com P. brachypoda (Müll. Arg.) Britton.; SANTOS et al. (2008) com Psychotria
spectabilis Steyrm.; OLIVEIRA (2008) com P. cephalantha (Müll. Arg.) Standl., P. prunifolia
(Kunth) Steyerm. e P. platypoda DC.; KOCH; SILVA; SILVA (2010) com P. carthagenensis
Jacq.; MEDONÇA (2012) com P. hoffmannseggiana (Roem. & Schult.) Muell. Arg. e P.
colorata (Willd. ex Schult.) Müll.Arg.; PELISSARO (2012) com P. leiocarpa Cham. &
Schltdl., P. carthagenensis Jacq. e P. myriantha Muell. Arg.; FERREIRA; CONSOLARO
(2013) com P. capitata Ruiz & Pav., P. deflexa DC., P. goyazensis Mull. Arg., P.
hoffmannseggiana (Roem. & Schult.) Muell. Arg., P. prunifolia (Kunth) Steyerm.; SILVA et
al. (2014) com P. hastisepala Müll. Arg.; MESQUITA-NETO et al. (2015) com P.
trichophoroides Müll.Arg.; FARIA; ARAUJO (2016) com P. carthagenensis Jacq. Em
contrapartida, uma quantidade inferior à metade dos trabalhos listados possui alguma descrição
referente às relações entre as espécies de Psychotria e seus agentes dispersores.
Estudos confirmam a identificação das espécies de Psychotria como constituintes
importantes de oferta como recurso para aves de Mata Atlântica, o que enfatiza a relevância do
conhecimento da ecologia das espécies desse gênero (ALMEIDA; ALVES, 2000; ALMEIDA,
2005; MEDONÇA, 2012; FERREIRA; CONSOLARO, 2013).
Metodologia e análise
Área de Estudo
Procedimentos metodológicos
Análise de dados
Conclusões
Fenologia reprodutiva
186
A espécie Psychotria hoffmannseggiana apresentou padrão de floração sub-anual (Graf.
1). A produção de flores iniciou-se na estação seca e atingiu o seu pico no mês com maior
registro de chuvas (março). Psychotria colorata apresentou padrão de floração anual
intermediário, com início da fenofase na estação chuvosa e pico nos meses de abril e maio. É
notório o aumento na produção de flores desta espécie nos períodos de baixa precipitação.
Verificou-se uma média de três flores abertas por inflorescência ao dia para P.
hoffmannseggiana e cinco para P. colorata.
Florescer no começo da estação chuvosa pode ser uma estratégia para atrair
polinizadores de espécies entomófilas, partindo da premissa de que neste período ocorre maior
abundância de insetos (BELO et al., 2013). Além disso, os frutos estarão prontos para dispersão
ainda no período chuvoso, facilitando assim a germinação das sementes.
100 450
90 400
Intensidade de Fournier (%)
80 350
Precipitação (mm)
70
300
60
250
50
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30
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0 0
fev/15 mar/15 abr/15 mai/15 jun/15 jul/15 ago/15 set/15 out/15 nov/15 dez/15 jan/16
Gráfico 1 – Intensidade de Fournier das espécies Psychotria colorata (Willd. ex Schult.) Müll. Arg e Psychotria
hoffmannseggiana (Willd. ex Schult.) Müll. Arg. para a fenofase de floração e a precipitação no Jardim Botânico
Benjamim Maranhão, PB.
O período de frutificação foi o evento fenológico de maior duração nas duas espécies,
com grande disponibilidade de frutos maduros na estação chuvosa. Psychotria
hoffmannseggiana apresentou padrão contínuo. Esta fenofase estendeu-se de fevereiro a
dezembro, sendo marcada pela predominância de frutos imaturos. O pico na produção de frutos
maduros deu-se entre junho e julho (Graf. 2). Psychotria colorata apresentou padrão de
frutificação anual. O evento ocorreu de abril a outubro, com pico em meses de alta precipitação
(junho e julho), demonstrando um comportamento distinto da sua floração (Graf. 3). A fenofase
desta espécie também apresentou predominância de frutos imaturos. Verificou-se uma média
de três meses para maturação dos frutos das espécies.
Apesar da fenofase de frutificação apresentar-se no decorrer do ano de estudo, foi
constatada maior intensidade de frutos maduros para as duas espécies na estação chuvosa. A
longa duração do registro fenológico para frutos imaturos, aliado a maturação gradual e por
longos períodos, vem sendo discutida com frequência em trabalhos que envolvem espécies do
gênero Psychotria (ALMEIDA; ALVES, 2000; SAN MARTIN-GAJARDO; MORELLATO,
2003; LOPES; BUZATO, 2005; SILVA, 2007; FONSECA et al., 2008). Uma explicação para
este comportamento foi apresentada por ALMEIDA; ALVES (2000), cuja função principal é a
defesa dos frutos contra danos causados por herbívoros.
187
100 450
90 400
Intensidade de Fournier (%)
80 350
70
Precipitação (mm)
300
60
250
50
200
40
150
30
20 100
10 50
0 0
fev/15 mar/15 abr/15 mai/15 jun/15 jul/15 ago/15 set/15 out/15 nov/15 dez/15 jan/16
Precipitação Frutos imaturos Frutos maduros
Gráfico 2 – Intensidade de Fournier da espécie Psychotria hoffmannseggiana (Willd. ex Schult.) Müll. Arg. para
a fenofase de frutificação e a precipitação no Jardim Botânico Benjamim Maranhão, PB.
100 450
90
Intensidade de Fournier (%)
400
80 350
Precipitação (mm)
70 300
60
250
50
200
40
30 150
20 100
10 50
0 0
fev/15 mar/15 abr/15 mai/15 jun/15 jul/15 ago/15 set/15 out/15 nov/15 dez/15 jan/16
Gráfico 3 – Intensidade de Fournier da espécie Psychotria colorata (Willd. ex Schult.) Müll. Arg. para a fenofase
de frutificação e a precipitação no Jardim Botânico Benjamim Maranhão, PB.
A C
188
B D
Figura 1 – Registro de flores e frutos das espécies Psychotria hoffmannseggiana (Willd. ex Schult.) Müll. Arg.
(A e B) e Psychotria colorata (Willd. ex Schult.) Müll. Arg. (C e D) presentes no Jardim Botânico Benjamim
Maranhão, PB.
Espécies Fenofases p Rs t
P.
Floração 0,43 0,98 0,97 0,68 0,37 0 0,27 0,33 0,07 0 0 0
hoffmannseggiana
Frutificação 0 0,1 0,13 0,6 0,9 1 1 0,96 0,53 0,33 0,23 0,03
Tabela 3 – Média, variância e desvio padrão da biometria de frutos e sementes das espécies P.
hoffmannseggiana e P. colorata presentes no JBBM. CF: Comprimento do fruto; LF: Largura
do fruto; PF: Peso do fruto; CS: Comprimento da semente; LS: Largura da semente; PS: Peso
da semente
CF LF PF CS LS PS
Média 13.76 7.81 27.8 4.65 1.76 1.32
Psychotria
colorata Variância 4.68 1.31 0.0006 0.088 0.18 1.04414E-07
Desvio
Padrão 2.16 1.14 0.025 0.3 0.42 0.00032
Dispersão
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195
___________________________________________________________________________
CIÊNCIAS DA SAÚDE
AVALIAÇÃO DA PRECISÃO DAS MEDIÇÕES DE ÂNGULO BASAL DE WELCHER
EM RESSONÂNCIA MAGNÉTICA DE CRÂNIO
Resumo
O presente capítulo tem por objetivo avaliar a precisão do ângulo basal de Welcher (ABW),
utilizado para o diagnóstico de platibasia, em ressonância magnética de crânio (RM)
comparando as medições de radiologistas experientes e graduandos em medicina da UFPB
devidamente treinados. Os examinadores foram divididos em dois grupos: o primeiro grupo
(composto pelos dois graduandos) mediu o ABW em 100 exames de RM, enquanto o segundo
(composto pelos dois radiologistas), em 50 exames. Nossos resultados evidenciaram excelente
precisão ao se comparar estatisticamente as medições de um mesmo examinador, e as medições
de examinadores diferentes. Diante disso, podemos inferir a legitimidade das medições
desempenhadas pelos graduandos, bem como a validade da medida do ABW para diagnóstico
de platibasia em RM.
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Avaliação craniométrica da população do nordeste brasileiro
por ressonância magnética: parâmetros diagnósticos da platibasia / Avaliação da precisão das medições de Ângulo
Basal de Welcher em RNM do crânio.
Estudante de Iniciação Científica: Alysson Emannuel Neves Rodrigues Vieira (email:
alysson_alp95@hotmail.com).
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail:cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br).
Orientador: Severino Aires Araújo-Neto (e-mail: severinoaires@hotmaill.com, telefone: (83) 3216-72.
197
a 2012. As medidas de ABW foram marcadas no plano sagital mediano T1, em cortes 1,0 mm.
Os examinadores foram divididos em dois grupos, compostos, respectivamente, por dois
estudantes de medicina e dois radiologistas experientes. O primeiro grupo mediu o ABW em
100 exames de RM, enquanto o segundo, em 50 exames. Cada um realizou duas leituras,
separadas por período mínimo de duas semanas, de maneira cega e independente. Foram
aplicadas medidas de concordância intraclasse (ICC), inter e intraobservador adotando intervalo
de confiança (IC) de 95%.
Dentre os 100 pacientes cujas RMs foram analisadas, 57 eram do sexo feminino (57%)
e 43, do sexo masculino (43%), com idade média de 45,9 anos (desvio padrão:18,1 e mediana:
44), variando de 18 a 88 anos. A análise do ICC intraobservador revelou um valor para o
Graduando A (média das medidas: 129,22º) de 0,936 (0,905 – 0,956), para o Graduando B
(média das medidas: 131,91º) de 0,941 (0,913 - 0,960), para o radiologista A (média das
medidas: 130,69) 0,964 (0,937 - 0,979) e para o Radiologista B (média das medidas: 130,55º)
de 0,918 (0,860-0,953). Já a avaliação interobservador do ICC demonstrou os seguintes valores:
em relação aos dois graduandos entre si, o ICC foi de 0,935 (0,651 – 0,976); Entre os dois
radiologistas, cujo ICC foi de 0,967 (0,941 - 0,981); entre o grupo de graduandos e o de
radiologistas foi de 0,992 (0,985 - 0,996).
Foi, portanto, verificada uma excelente precisão entre os 4 examinadores na amostra de
RM de 100 pacientes. Os altos índices de precisão dão base para que os graduandos continuem
futuras pesquisas na área de TCV.
Fundamentação teórica
A platibasia pode ser avaliada por diversos parâmetros, sendo O ângulo basal de
Welcher (ABW) e o ângulo clivo-canal (ACC) dois dos mais difundidos. O ABW mede a
angulação da base do crânio e é formado pelo cruzamento de duas retas que ligam o násion ao
tubérculo da sela e este ao básion. Na literatura, em indivíduos normais o ABW não costuma
ultrapassar 132o. Segundo vários autores, acima de 140º estabelece-se o diagnóstico de
platibasia(AMARAL et al., 2004; SMOKER, 1994). O ACC mede a curva entre a rampa do
clivo (occipital) e o canal medular cervical proximal, tendo como referência a superfície
posterior do dente do axis. O limite postulado para normalidade é que não seja menor que 150o
(AMARAL et al., 2004)
O interesse pelo estudo da TCV se sedimenta no fato de que há décadas que
pesquisadores do Nordeste brasileiro relatam uma alta prevalência de invaginação basilar nesta
região. Uma das maiores casuísticas do mundo foi referida por neurocirurgiões paraibanos entre
1970 e 1990, que realizou 260 cirurgias de pacientes com malformações occipitocervicais (DA
SILVA et al., 1994). Alguns trabalhos conduzidos por da Silva et al., 1994, Alves et al., 2011
e Ilayperuma, 2011 associam a IB à braquicefalia. Segundo esses dois últimos autores, na
braquicefalia, o aumento do diâmetro látero-lateral da calota craniana implicaria numa mudança
conformacional na base do crânio, que permite a retificação do mesmo. Esta alteração na
conformação de estruturas presentes na fossa posterior culminaria na invaginação basilar.
199
Em um trabalho recente, foram analisados 166 crânios adultos articulados, pertencentes
ao laboratório de anatomia da UFPB. Os resultados demonstraram que a imensa maioria
(80,12%) se caracterizava como de braquicefálicos. Apenas 2,41% foram classificados como
dolicocefálicos (crânio estreito), e 17,47% foram mesocefálicos (crânio
médio)(NASCIMENTO et al., 2016).
A origem de tal tendência populacional pode encontrar-se na ancestralidade indígena.
Escavações no interior do estado de Pernambuco mostram grande prevalência de braquicefalia
em esqueletos de indivíduos que viveram naquela região há cerca de dois mil anos. As
professoras Marília de Carvalho Mello e Sheilla Ferraz Mendonça especialistas em
Antropologia Física do Museu Nacional levantaram a hipótese de que a cabeça chata dos
indivíduos seria resultante dos casamentos consanguíneos da comunidade e da adaptação
milenar dos povos ao ambiente semiárido da caatinga. A segunda corrente de pensamento,
defendida pela arqueóloga Jeannette Dias, levanta a conjectura de que os ossos da parte superior
da cabeça se consolidavam precocemente nessa tribo, assim como em outras que habitavam o
Nordeste Brasileiro pré-histórico, fato que favorecia o crescimento lateral do crânio, ou seja, a
braquicefalia (VIDAL et al., 2013)
Além disso, os autores do presente texto, em pesquisa reportada em encontro loco-
regional recente, descreveram uma alta prevalência de braquicefalia em mais de 300 crânios de
esqueletos indigentes extraídos de um cemitério de João Pessoa, capital da Paraíba. Outro
trabalho da mesma equipe, realizado com indivíduos do sertão deste mesmo estado, com RM,
mostrou números diferentes para os limites de normalidade medidas de Chamberlain e Welcher
daqueles referidos na literatura com uma aparente tendência para invaginação e platibasia
(FRADE et al., 2017). Diante de tais dados, é possível aventar a hipótese de que os limites de
normalidade craniométricas extraídos de cada uma destas populações sejam diferentes entre si.
Assim, a princípio, não parece adequado aplicar indiscriminadamente parâmetros de
normalidade previamente extraídos de estudos que aplicaram a) métodos de imagem diferentes
e b) conduzidos em populações com supostas diferenças craniométricas, sem que estes sejam
devidamente revalidados. Em tese, na população nordestina, por exemplo, incorre-se no risco
de diagnósticos falso-positivos de platibasia ou invaginação basilar (hyperdiagnosis) ao aplicar
os parâmetros extraídos de populações caucasianas.
Os autores têm por objetivo geral avaliar a craniometria na população do Nordeste
Brasileiro por meio de exames de RM no que tange às medidas da base do crânio, notadamente
o ABW. Os objetivos específicos são: Avaliar a reprodutibilidade do ABW pela RM;
Metodologia e análise
Intra-CC
Grupos comparados Pacientes (N)
(I.C.- 95%)
Figura 2 – Gráfico Bland-Altman da confiabilidade inter-observador dos valores de ABW dos graduandos. Mostra
a diferença entre os valores dos dois observadores (Graduando A – Graduando B).
203
Figura 3 – Gráfico Bland-Altman da confiabilidade inter-observador dos valores de ABW dos radiologistas.
Mostra a diferença entre os valores dos dois observadores (Radiologista A – Radiologista B).
Figura 4 – Gráfico Bland-Altman da confiabilidade inter-observador dos valores de ABW dos radiologistas e dos
graduandos. Mostra a diferença entre os valores dos dois grupos de observadores (Graduandos – Radiologistas).
Conclusões
No presente trabalho percebeu-se que houve sim uma excelente reprodutibilidade entre
os 4 examinadores na amostra de RM de 100 pacientes. Os altos índices de reprodutibilidade
dão base para que os graduandos continuem futuras pesquisas na área da TCV e legitimam o
uso do ânglo Basal de Welcher para diagnóstico de platibasia em exames de RM
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207
ESTUDO DO PERFIL MATERNO E DOS PRINCIPAIS DETERMINANTES NA
MORTALIDADE NEONATAL EM UMA MATERNIDADE PÚBLICA NO
MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA – PB
Resumo
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Análise de fatores contribuintes para a mortalidade neonatal
em uma maternidade pública no município de João Pessoa – PB/ Estudo do perfil materno e dos principais
determinantes na mortalidade neonatal em uma maternidade pública no município de João Pessoa – PB.
Estudante de Iniciação Científica: Ana Beatriz de Andrade Rangel (email:biarangel1994@hotmail.com; telefone:
83 99339-9009).
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br email:cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br).
Orientador(a): Valderez Araújo de Lima Ramos (e-mail: valderezjp@yahoo.com.br, telefone: 83 99332-4420).
208
visando reduzir a ocorrência de óbitos neonatais evitáveis na região de João Pessoa.
Fundamentação teórica
Metodologia e análise
Conclusões
Referências
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situação no nível local. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 19(1):51-60, 2010.
215
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL REMINERALIZADOR DE DENTIFRÍCIOS
FLUORETADOS EM LESÕES DE CÁRIE ARTIFICIAL
Resumo
Este estudo teve por objetivo avaliar o potencial remineralizador de dentifrícios fluoretados,
associados à goma tara, na lesão de cárie artificial. 60 blocos de esmalte humano foram
randomizados em 4 grupos (n = 15): Complex (controle negativo, com goma tara e sem F); F-
Complex (100 % de NaF associado à goma tara); Padrão (controle positivo, NaF livre e sem
goma tara); Placebo (sem goma tara e sem F). Após o desenvolvimento da lesão de cárie
artificial, os blocos foram submetidos a um modelo remineralizante de ciclagem de pH e
tratamento diário com as suspensões dos dentifrícios. A remineralização (%SMHR) observada
foi: Padrão (3,49) > Placebo (0,65) > F-Complex (-1,59) > Complex (-5,48). Diferenças
estatisticamente significantes foi verificada apenas entre os grupos Placebo versus Padrão e
Complex (p <0,05). Portanto, o dentífrico experimental F-Complex não demonstrou potencial
remineralizador, com a utilização do modelo in vitro de ciclagem de pH empregado.
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/ Plano de Trabalho: Avaliação do potencial remineralizador de dentifrícios
fluoretados em lesões de cárie artificial/ Avaliação do potencial remineralizador de dentifrício fluoretado em lesões
de cárie artificial
Estudante de Iniciação Científica: Ingrid Andrade Meira (e-mail: ingrid_meiraa@hotmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail:cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientador (a): Andressa Feitosa Bezerra de Oliveira (e-mail: andressafeitosa@msn.com, telefone: 83 9957-2014
216
é heterogênea, apresentando uma maior incidência na população com perfil socioeconômico
menos favorecido (ENGELMANN et al., 2016). Por isso, a sua prevenção ainda é um dos
maiores objetivos da odontologia contemporânea (KIRANMAYI; NIRMALA; NUVVULA,
2015).
Assim, diante da expressiva prevalência da cárie dentária no contexto mundial e
nacional, o desenvolvimento de formulações que possam promover uma liberação controlada
de fluoreto pode ser de grande valia na clínica diária quando comparada às formulações
regulares (DUCKWORTH, 2015). A literatura está consolidada com relação à eficácia do flúor
frente à cárie dentária (DAMLE et al., 2016; MARINHO et al., 2003). Portanto, este estudo
objetivou avaliar o potencial remineralizador de dentifrício fluoretado, no qual foi adicionado
na sua composição à goma tara (hidrocolóide, Caesalpina Spinosa), em lesão de cárie artificial
de esmalte humano, usando um modelo de ciclagem de pH in vitro.
Fundamentação Teórica
Aspectos éticos
Neste estudo foram utilizados 40 dentes humanos terceiros molares, extraídos por razões
ortodônticas ou por impactação, obtidos na Clínica de Cirurgia II, pertencente ao curso de
Odontologia da UFPB, após assinatura do Termo de Doação de Dentes. A seleção da amostra
da presente pesquisa deu-se em função desse grupo de dentes não terem sido expostos à
cavidade bucal.
218
Os dentes coletados foram limpos, por meio de curetas periodontais, para remoção dos
restos dos tecidos periodontais aderidos na superfície dentária e, armazenados em solução
tamponada de formol a 10%, sob temperatura ambiente, por um período máximo de 30 dias.
Posteriormente, cada dente foi examinado com o auxílio de uma lupa de 5x de aumento para
averiguação de possíveis trincas, rachaduras, cárie e alterações do esmalte, situação em que
foram excluídos da amostra.
Após a análise dos dentes, foram preparados 60 blocos de esmalte de aproximadamente
4x4x2mm. Para isso, utilizou-se um disco diamantado dupla face na cortadeira de precisão
(Labcut 1010), sob irrigação constante. Os blocos foram embebidos em resina acrílica para
planificação em Politriz metalográfica, utilizou-se lixas de silicone de granulações variadas
(300,400, 600, 1200), também sob irrigação constante.
O polimento da superfície do esmalte foi realizado com feltros umedecidos e suspensão
de diamante de 1 µm, com a finalidade de obter a superfície do esmalte mais uniforme, plana e
homogênea (BUZALAF et al., 2010; LIPPERT; JUTHANI, 2015), permitindo a padronização
mais precisa das amostras (BUZALAF et al., 2010). Esta etapa é essencial para estudos em que
a variável resposta é a avaliação da microdureza superficial (BUZALAF et al., 2010), caso desta
pesquisa.
Após a preparação dos espécimes, os blocos de esmalte foram divididos, entre os grupos,
de acordo com o valor da microdureza inicial (SH0). A superfície do esmalte sadia de cada
espécime foi dividida em três partes iguais, sendo a primeira, área controle (1), a segunda, área
controle desmineralizada (2), e a terceira área teste remineralizada (3) (HIRATA et al., 2013).
Para a formação da lesão artificial de cárie, 1/3 do espécime de esmalte (área controle) teve a
sua superfície protegida com uma dupla cobertura de esmalte de unha vermelho (Risqué
Tecnologia, COSMED Indústria de Cosméticos e Medicamentos S/A, São Paulo, Brasil),
conforme Fig. 1.
Em seguida, os espécimes foram imersos na solução desmineralizadora (1,3 mM/L
Ca(NO3)2.4H2O, 0,78mM/L NaH2PO4 H2O em 0.05 M/L de tampão de acetato, 0,03μgF/mL
(NaF), pH 5.0, 32 mL/bloco) durante 16 horas a 37°C, para a formação da lesão artificial de
cárie (QUEIROZ et al., 2008). Esta metodologia produz uma desmineralização da subsuperfície
do esmalte sem causar a erosão superficial (SILVA et al., 2010).
Ao término da desmineralização, o segundo 1/3 da superfície do espécime foi, também,
recoberto com o mesmo esmalte de unha (área controle desmineralizada). A área teste, com
aproximadamente 1mm ficou descoberta, para a utilização dos slurries dos dentifrícios.
Figura 1. Espécime de esmalte com o seu 1/3 de superfície protegida com dupla cobertura de
esmalte de unha.
219
Seleção dos dentifrícios e preparação do slurries
Neste estudo foram utilizados 4 dentifrícios, fornecidos pela empresa Bitufo (Jundaí,
São Paulo – Brasil) (Quadro 1). Estes foram acondicionados em embalagens iguais e foram
identificados por meio de cores por um pesquisador independente. O código da cor não foi
revelado aos pesquisadores que acompanharam o estudo laboratorial da pesquisa. As cores de
cada dentifrício apenas foram reveladas ao final da análise estatística.
220
Tratamento e Ciclagem de pH
Coleta de dados
Foram realizadas três medições em três áreas distintas, afastadas 100µm uma da outra
para cada nova mensuração de microdureza superficial e por fim calculou-se a sua média
aritmética. As medições foram realizadas com o auxílio de um microdurômetro, (Shimadzu
HMV - AD Easy Test Version 3.0), utilizando um penetrador diamantado do tipo Vickers, sob
uma pressão de 100g por 10 segundos. As amostras de esmalte foram limpas ao término de cada
etapa, antes da mensuração da microdureza superficial com ultrassom digital (Digital
Ultrasonic Cleaner Heater 2500ml - Kondortech).
221
O desenvolvimento de pesquisas in vitro possibilita uma menor variabilidade intrínseca
e um melhor controle científico (BUZALAF et al., 2010). As variáveis utilizadas nesse tipo de
estudo são mais sensíveis do que as disponíveis na situação clínica (BUZALAF et al., 2010). A
importância científica de estudos com modelos experimentais in vitro foi relatada por Ten Cate
(2015), o qual enfatizou a necessidade da inclusão nestes tipos de estudos os elementos
essências que caracterizem a situação particular que se pretende estudar.
Há grande diversidade de modelos in vitro para ciclagem de pH (BUZALAF et al.,
2010 e COMAR et al., 2013), de metodologias para a formação das lesões de cárie artificial e
de soluções desmineralizantes, que diferem em relação a composição, pH e tempos de duração
(QUEIROZ et al., 2008; AMAECHI et al., 2013; MALEKAFZALI et al., 2015), o que resulta
na formação de lesões com diferentes características (BUZALAF et al., 2010). No entanto,
segundo a Associação Americana de Odontologia (ADA) o mais relevante em relação ao
modelo de ciclagem de pH utilizado é a presença de duas características: a validade, que é o
grau de sucesso oferecido pelo modelo, simulando o máximo possível a situação clínica, e a
confiabilidade, que envolve o modo como o pesquisador obtém as medições de um estudo.
Diante disso, a presente pesquisa empregou o modelo de ciclagem de pH proposto e
validado por Vieira et al. (2005) e, já utilizado em estudo anterior (SILVA et al., 2010). Esse
modelo in vitro, é caracterizado como remineralizante e foi associado à formação artificial, de
lesão de cárie inicial, pois se trata de um protocolo indicado para as pesquisas que visam avaliar
produtos em desenvolvimento ou recentemente comercializados (MOI; TENUTA; CURY,
2008), que é o caso do presente estudo. É possível, por meio deste modelo, testar com rapidez
e baixo custo o potencial remineralizador de novos produtos (BUZALAF et al., 2010).
No presente estudo foram avaliados 4 dentifrícios, dentre estes existiam 2 controles, 1
placebo e 1 experimental. O dentifrício experimental utilizado nesta pesquisa ainda está em
processo de patente e por isso, não será revelada a sua formulação. No modelo adotado na
presente pesquisa foi incluída a agitação, no momento da aplicação dos dentifrícios, simulando
a escovação e a manutenção das soluções e dos espécimes na temperatura da cavidade bucal.
Na Tab.1 são observados os valores médios das variáveis SH0, SH1, SH2, com o
respectivo desvio padrão. A maior média para SH0 foi de 400,76, encontrado no grupo do
placebo e o menor foi 345,20, presente no controle negativo. Nesse mesmo grupo, foi verificado
o maior valor (56,22) para a variável SH1 e o menor valor (24,30) foi no grupo placebo. A maior
média (45,59) para SH2 foi encontrada no controle positivo e a menor (25,40) foi notada no
grupo experimental.
Gráfico 1. Média dos valores %SMHR, com os respectivos valores de desvio padrão (dp)
A
A 3,49
10,00 B
0,65
5,00 -5,48
%SMHR
0,00
-5,00
-10,00 -1,59
A, B
-15,00
Placebo Complex Padrão F- Complex
* Médias seguidas de letras distintas diferem estatisticamente entre os grupos, em cada análise, ao nível de 5%,
ANOVA seguido do teste de Tukey.
Conclusões
Referências
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227
___________________________________________________________________________
Resumo
Este capítulo objetiva definir e avaliar o desempenho do método robusto de regressão KRR
(kernel based robust method) para dados tipo intervalo, utilizando as informações do centro e
amplitude dos intervalos e comparando com o modelo IRR. Além da extensão para dados
intervalares, foram testadas 6 variações do método KRR (KRR1, KRR2, KRR3, KRR4, KRR5
e KRR6) diferenciadas entre si pelo tipo de função que estima seu hiper-parâmetro 𝛾𝛾. Aplicados
a um banco de dados real e considerando o centro e a amplitude dos intervalos, foram escolhidos
os modelos com menor Raiz do Erro Quadrático Médio (𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅), 𝑅𝑅 2 e tempo de processamento
(em segundos). De acordo com as análises, os métodos KRR5 e KRR1 obtiveram melhores
resultados na modelagem de centro e amplitude, respectivamente. Quando comparados com o
modelo IRR, evidencia-se a superioridade do KRR, bem como a robustez refletida na menor
Média das Magnitudes dos Erros Relativos (𝑀𝑀𝑀𝑀𝑅𝑅𝐸𝐸).
Apresentação
1
Título do Projeto/Plano de Trabalho: Modelagem de Dados Simbólicos de Natureza Intervalar/Métodos Robustos
de Regressão Aplicados a Dados de Natureza Intervalar,
Estudante de Iniciação Científica: Adenice Gomes de Oliveira Ferreira (e-mail: adne.adenice@gmail.com)
Instituição de Vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br, e-mail: cadastrogpaic@propesq.ufpb.br)
Orientador(a): Eufrásio de Andrade Lima Neto (email: eufrasio@de.ufpb.br, telefone: 83 3216-7785)
229
ambiente 4G, etc. Os dados do tipo intervalo, bem como o desenvolvimento de técnicas
adequadas para sua modelagem têm sido base de estudo no ramo estatístico da Análise de Dados
Simbólicos (ADS), a qual tem como principal característica desenvolver modelos para o
tratamento de dados mais complexos, como de distribuições de probabilidade ou de pesos,
células multivaloradas e intervalos (BILLARD e DIDAY, 2000).
Os modelos de regressão constituem um dos métodos estatísticos mais utilizados na
solução de problemas reais. O modelo de regressão normal linear objetiva estimar o valor médio
de uma variável resposta (Esperança de 𝑌𝑌 = 𝐸𝐸(𝑌𝑌)) com base em valores observados de outras
variáveis relacionadas (𝑋𝑋’s), ditas explicativas. Para tanto é necessário que haja suposição de
normalidade, homocedasticidade, linearidade e independência dos erros. Entretanto, muitas
vezes algumas destas hipóteses são violadas devido a presença de pontos aberrantes, conhecidos
na área estatística como outliers (DOMINGUES,2016). Um caminho interessante, nestes casos,
está relacionado à utilização de métodos robustos de regressão, o qual se apresenta como parte
do tema central deste trabalho (MONTGOMERY et al, 2006).
A Regressão Robusta é uma alternativa a alguns métodos de regressão, nos quais a
presença de outliers afeta as estimativas dos parâmetros do modelo, dificultando
principalmente, as suposições de normalidade e linearidade (RYAN, 2009). Assim, os métodos
de regressão robusta demonstram-se insensíveis à presença de observações aberrantes,
produzindo melhores estimativas dos parâmetros, o que nos reporta às predições com menores
erros. Para tanto, a principal diferença entre um modelo de regressão robusta e um método não
robusto é a maneira como se estimam os parâmetros dos modelos.
Para os modelos robustos, tal processo envolve uma função peso, que determina pesos
para cada observação da amostra, o que propicia que os outliers apresentem uma menor
influência nas estimativas dos parâmetros do modelo, que serão necessários para minimizar
uma função objetivo baseada nos erros (diferença entre os valores observados e os estimados
pelo modelo). Como tal procedimento é recursivo, este processo necessita de um valor inicial
e um critério de parada, sendo este determinado pelo pesquisador. Comumente, utiliza-se como
valores iniciais para estimação dos parâmetros de um modelo de regressão robusta o estimador
de mínimos quadrados ordinários (MQO). Ademais, a escolha da função objetivo, função peso
e regra de parada é o que diferencia os métodos robustos entre si.
O modelo KRR (kernel based robust method) tem se demonstrado competitivo quando
comparado aos modelos de regressão robusta apresentados na literatura, e Ferreira et. al (2015)
comprova a competitividade do método aplicando-o em dados reais.
Fundamentação Teórica
𝑦𝑦𝑖𝑖 = 𝛽𝛽0 + 𝛽𝛽1 𝑥𝑥𝑖𝑖1 + 𝛽𝛽2 𝑥𝑥𝑖𝑖2 + ⋯ + 𝛽𝛽𝑝𝑝 𝑥𝑥𝑖𝑖𝑖𝑖 + 𝜀𝜀𝑖𝑖 , (1)
no qual 𝛽𝛽0 , 𝛽𝛽1, … , 𝛽𝛽𝑝𝑝 correspondem aos coeficientes a serem estimados pela regressão,
visando a minimização da soma dos quadrados dos erros (∑𝑛𝑛𝑖𝑖=1 𝜀𝜀𝑖𝑖 2 ).
No caso de dados intervalares, o erro a ser minimizado advém das medidas utilizadas
no modelo, neste caso os valores mínimos e máximos ou medidas de centro e amplitude, que
representem um intervalo. Sendo assim, a partir de uma amostra com 𝑛𝑛 intervalos e 𝑝𝑝 + 1
variáveis tipo intervalo, temos 𝑦𝑦𝑖𝑖 = [𝛼𝛼𝑖𝑖 , 𝜆𝜆𝑖𝑖 ], para 𝑖𝑖 = 1, 2, … , 𝑛𝑛, onde 𝑦𝑦𝑖𝑖 𝑐𝑐 = (𝛼𝛼𝑖𝑖 + 𝜆𝜆𝑖𝑖 )/2 e
𝑦𝑦𝑖𝑖 𝑎𝑎 = (𝜆𝜆𝑖𝑖 − 𝛼𝛼𝑖𝑖 ) correspondem, respectivamente, ao centro e amplitude do i-ésimo intervalo da
230
variável tipo intervalo dependente Y .
As variáveis explicativas também são intervalares, sendo a j-ésima variável explicativa
𝑋𝑋𝑗𝑗 definida por 𝑥𝑥𝑖𝑖𝑖𝑖 = [𝛼𝛼𝑖𝑖𝑖𝑖 , 𝜆𝜆𝑖𝑖𝑖𝑖 ], para 𝑖𝑖 = 1, 2, … , 𝑛𝑛 e 𝑗𝑗 = 1, 2, … , 𝑝𝑝, com medida de centro dada
por 𝑥𝑥𝑖𝑖𝑖𝑖 𝑐𝑐 = (𝑎𝑎𝑖𝑖𝑖𝑖 + 𝑏𝑏𝑖𝑖𝑖𝑖 )/2 e amplitude definida por 𝑥𝑥𝑖𝑖 𝑎𝑎 = (𝑏𝑏𝑖𝑖 − 𝑎𝑎𝑖𝑖 ). Considerando
independência entre centro e amplitude, é possível definir as suas respectivas variáveis
explicativas, sendo 𝑋𝑋𝑐𝑐 = (𝑥𝑥1. 𝑐𝑐 , 𝑥𝑥2. 𝑐𝑐 , … , 𝑥𝑥𝑛𝑛. 𝑐𝑐 ) e 𝑋𝑋𝑎𝑎 = (𝑥𝑥1. 𝑎𝑎 , 𝑥𝑥2. 𝑎𝑎 , … , 𝑥𝑥𝑛𝑛. 𝑎𝑎 ).
O modelo KRR para dados desta natureza utiliza o centro e amplitude dos intervalos na
estimação dos seus coeficientes. Além disso, o método repondera as observações discrepantes
com base nas funções de kernel, atribuindo menores pesos aos outliers, reduzindo a influencia
dos mesmos na estimativa da reta de regressão. O KRR minimiza uma função simétrica definida
positiva, aqui denotada por
onde: 𝛷𝛷 é a função de mapeamento do espaço de entrada, 𝜇𝜇𝑖𝑖 𝑐𝑐 = 𝛽𝛽0 𝑐𝑐 + 𝛽𝛽1 𝑐𝑐 𝑥𝑥𝑖𝑖1 𝑐𝑐 + 𝛽𝛽2 𝑐𝑐 𝑥𝑥𝑖𝑖2 𝑐𝑐 +
⋯ + 𝛽𝛽𝑝𝑝 𝑐𝑐 𝑥𝑥𝑖𝑖𝑖𝑖 𝑐𝑐 representa a média da variável 𝑌𝑌 𝑐𝑐 estruturada em função das variáveis
independentes associadas aos centros dos intervalos, e seus respectivos parâmetros, e
𝜇𝜇𝑖𝑖 𝑎𝑎 = 𝛽𝛽0 𝑎𝑎 + 𝛽𝛽1 𝑎𝑎 𝑥𝑥𝑖𝑖1 𝑎𝑎 + 𝛽𝛽2 𝑎𝑎 𝑥𝑥𝑖𝑖2 𝑎𝑎 + ⋯ + 𝛽𝛽𝑝𝑝 𝑎𝑎 𝑥𝑥𝑖𝑖𝑖𝑖 𝑎𝑎 representa a média da variável 𝑌𝑌 𝑎𝑎 ,
estruturada em função das variáveis independentes associadas às amplitudes dos intervalos, e
seus respectivos parâmetros.
Como a função de mapeamento 𝛷𝛷 não é explicitamente conhecida, a estimação dos
parâmetros dos modelos de regressão, para o centro e amplitude dos intervalos, necessita do
uso da distance kernel trick - truque da distância de kernel (MULLER et al., 2001). Assim, 𝑆𝑆
pode ser reescrita através da seguinte expressão
𝑛𝑛 𝑛𝑛
𝑐𝑐 ) 𝑐𝑐 )‖2
𝑆𝑆 = ∑‖𝛷𝛷(𝑦𝑦𝑖𝑖 − 𝛷𝛷(𝜇𝜇𝑖𝑖 + ∑‖𝛷𝛷(𝑦𝑦𝑖𝑖 𝑎𝑎 ) − 𝛷𝛷(𝜇𝜇𝑖𝑖 𝑎𝑎 )‖2
𝑖𝑖=1 𝑖𝑖=1
𝑛𝑛
231
Tabela 1: Tipos de funções Kernel
onde 𝑦𝑦𝑐𝑐 ∗ = 𝐾𝐾𝑐𝑐 1/2 𝑦𝑦𝑐𝑐 e 𝑦𝑦𝑎𝑎 ∗ = 𝐾𝐾𝑎𝑎 1/2 𝑦𝑦𝑎𝑎 são vetores 𝑛𝑛 × 1, 𝑋𝑋𝑐𝑐 ∗ = 𝐾𝐾𝑐𝑐 1/2 𝑋𝑋𝑐𝑐 e 𝑋𝑋𝑎𝑎 ∗ = 𝐾𝐾𝑎𝑎 1/2 𝑋𝑋𝑎𝑎 são
matrizes 𝑛𝑛 × 𝑝𝑝 de postos completos, 𝜀𝜀𝑐𝑐 ∗ = 𝐾𝐾𝑐𝑐 1/2 𝜀𝜀𝑐𝑐 e 𝜀𝜀𝑎𝑎 ∗ = 𝐾𝐾𝑎𝑎 1/2 𝜀𝜀𝑎𝑎 são vetores 𝑛𝑛 × 1. As
matrizes 𝐾𝐾𝑐𝑐 e 𝐾𝐾𝑎𝑎 , de dimensão 𝑛𝑛 × 𝑛𝑛 , representam matrizes diagonais de pesos estipulados
pela função Kernel para o centro e amplitude.
Os hiper-parâmetros 𝛾𝛾𝑐𝑐 e 𝛾𝛾𝑎𝑎 desempenham um papel importante na estimativa dos
parâmetros do modelo KRR, bem como nos cálculos dos pesos das matrizes 𝐾𝐾𝑐𝑐 e 𝐾𝐾𝑎𝑎 .
Metodologia e análise
Entrada: 𝑦𝑦 𝑐𝑐 , 𝑋𝑋𝑐𝑐 , máximo de iterações 𝑇𝑇, limite de tolerância 𝑠𝑠, hiper-parâmetro 𝛾𝛾̂𝑐𝑐 .
Saída: 𝛽𝛽̂ 𝑐𝑐 , 𝜇𝜇̂ 𝑐𝑐 .
Início
𝑡𝑡 = 0
𝐾𝐾𝐺𝐺 (𝑡𝑡) = Matriz Identidade 𝑛𝑛 × 𝑛𝑛
(𝑡𝑡) −1
𝛽𝛽̂ 𝑐𝑐 = (𝑋𝑋𝑐𝑐 𝑇𝑇 𝐾𝐾𝐺𝐺 (𝑡𝑡) 𝑋𝑋𝑐𝑐 ) 𝑋𝑋𝑐𝑐 𝑇𝑇 𝐾𝐾𝐺𝐺 (𝑡𝑡) 𝑦𝑦 𝑐𝑐 ; estimativa de MQO
(𝑡𝑡)
𝜇𝜇̂ 𝑐𝑐 (𝑡𝑡) = 𝑋𝑋𝑐𝑐 𝛽𝛽̂ 𝑐𝑐
𝜀𝜀̂𝑐𝑐 (𝑡𝑡) = 𝑦𝑦 𝑐𝑐 − 𝜇𝜇̂ 𝑐𝑐 (𝑡𝑡)
(𝑡𝑡) 2
‖𝑦𝑦 𝑐𝑐 −𝜇𝜇
̂ 𝑐𝑐 ‖
(𝑡𝑡)
𝑆𝑆 = 2 [1 − 𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒 {− 2 }]
̂𝑐𝑐
2𝛾𝛾
Ajuste
Repetir
𝑡𝑡 = 𝑡𝑡 + 1
(𝑡𝑡−1) 2
(𝑡𝑡) ‖𝑦𝑦 𝑐𝑐 −𝜇𝜇
̂ 𝑐𝑐 ‖
𝐾𝐾𝐺𝐺 = 𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒 {− 2 }, Matriz Diagonal de dimensão 𝑛𝑛 × 𝑛𝑛
̂𝑐𝑐
2𝛾𝛾
(𝑡𝑡) −1
𝛽𝛽̂ 𝑐𝑐 = (𝑋𝑋𝑐𝑐 𝑇𝑇 𝐾𝐾𝐺𝐺 (𝑡𝑡) 𝑋𝑋𝑐𝑐 ) 𝑋𝑋𝑐𝑐 𝑇𝑇 𝐾𝐾𝐺𝐺 (𝑡𝑡) 𝑦𝑦 𝑐𝑐
(𝑡𝑡)
𝜇𝜇̂ 𝑐𝑐 (𝑡𝑡) = 𝑋𝑋𝑐𝑐 𝛽𝛽̂ 𝑐𝑐
233
(𝑡𝑡) 2
‖𝑦𝑦 𝑐𝑐 −𝜇𝜇
̂ 𝑐𝑐 ‖
(𝑡𝑡)
𝑆𝑆 = 2 [1 − 𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒 {− 2 }]
̂𝑐𝑐
2𝛾𝛾
Final
Fonte: Elaborado pela autora.
Entrada: 𝑦𝑦 𝑎𝑎 , 𝑋𝑋𝑎𝑎 , máximo de iterações 𝑇𝑇, limite de tolerância 𝑠𝑠, hiper-parâmetro 𝛾𝛾̂𝑎𝑎 .
Saída: 𝛽𝛽̂ 𝑎𝑎 , 𝜇𝜇̂ 𝑎𝑎 .
Início
𝑡𝑡 = 0
𝐾𝐾𝐺𝐺 (𝑡𝑡) = Matriz Identidade 𝑛𝑛 × 𝑛𝑛
(𝑡𝑡) −1
𝛽𝛽̂ 𝑎𝑎 = (𝑋𝑋𝑎𝑎 𝑇𝑇 𝐾𝐾𝐺𝐺 (𝑡𝑡) 𝑋𝑋𝑎𝑎 ) 𝑋𝑋𝑎𝑎 𝑇𝑇 𝐾𝐾𝐺𝐺 (𝑡𝑡) 𝑦𝑦 𝑎𝑎 ; estimativa de MQO
(𝑡𝑡)
𝜇𝜇̂ 𝑎𝑎 (𝑡𝑡) = 𝑋𝑋𝑎𝑎 𝛽𝛽̂ 𝑎𝑎
𝜀𝜀̂𝑎𝑎 (𝑡𝑡) = 𝑦𝑦 𝑎𝑎 − 𝜇𝜇̂ 𝑎𝑎 (𝑡𝑡)
(𝑡𝑡) 2
‖𝑦𝑦 𝑎𝑎 −𝜇𝜇
̂ 𝑎𝑎 ‖
(𝑡𝑡)
𝑆𝑆 = 2 [1 − 𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒 {− 2 }]
̂𝑎𝑎
2𝛾𝛾
Ajuste
Repetir
𝑡𝑡 = 𝑡𝑡 + 1
(𝑡𝑡−1) 2
(𝑡𝑡) ‖𝑦𝑦 𝑎𝑎 −𝜇𝜇
̂ 𝑎𝑎 ‖
𝐾𝐾𝐺𝐺 = 𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒 {− 2 }, Matriz Diagonal de dimensão 𝑛𝑛 × 𝑛𝑛
̂𝑎𝑎
2𝛾𝛾
(𝑡𝑡) −1
𝛽𝛽̂ 𝑎𝑎 = (𝑋𝑋𝑎𝑎 𝑇𝑇 𝐾𝐾𝐺𝐺 (𝑡𝑡) 𝑋𝑋𝑎𝑎 ) 𝑋𝑋𝑎𝑎 𝑇𝑇 𝐾𝐾𝐺𝐺 (𝑡𝑡) 𝑦𝑦 𝑎𝑎
(𝑡𝑡)
𝜇𝜇̂ 𝑎𝑎 (𝑡𝑡) = 𝑋𝑋𝑎𝑎 𝛽𝛽̂ 𝑎𝑎
(𝑡𝑡) 2
‖𝑦𝑦 𝑎𝑎 −𝜇𝜇
̂ 𝑎𝑎 ‖
(𝑡𝑡)
𝑆𝑆 = 2 [1 − 𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒 {− 2 }]
̂𝑎𝑎
2𝛾𝛾
Final
Fonte: Elaborado pela autora.
Por último, realizamos uma comparação do modelo KRR com o método robusto para
dados tipo intervalo proposto por Fagundes et al. (2013), aqui denominado IRR, a partir da
aplicação de ambos os métodos em uma base real de dados tipo intervalo.
Foi utilizada a técnica leave-one-out para cálculo das medidas comparativas entre os
métodos. Vale ressaltar que esta técnica é um caso particular de validação cruzada, justificada
em função do pequeno tamanho de amostra da base de dados real utilizada. A técnica de
validação cruzada consiste em dividir o conjunto total de dados em 𝑘𝑘 subconjuntos mutuamente
exclusivos de mesmo tamanho. Posteriormente, um subconjunto é utilizado para teste e os 𝑘𝑘 −
1 restantes são utilizados para estimação dos parâmetros do modelo (treinamento). Este
234
processo é repetido 𝑘𝑘 vezes, alternando o conjunto de testes entre as 𝑘𝑘 partições da base de
dados. Ao final das 𝑘𝑘 iterações calcula-se a acurácia sobre os erros encontrados, através da
média e desvio padrão da medida de erro encontrada em cada teste.
Sendo um caso particular da validação cruzada, o método leave-one-out possui a mesma
dinâmica, entretanto 𝑘𝑘 é igual ao número total de dados 𝑛𝑛. Nesta abordagem são realizados 𝑛𝑛
cálculos de erro, um para cada observação.
Os desempenhos dos modelos KRR para dados tipo intervalo foram avaliados por meio
do cálculo da Raiz da Média do Quadrado dos Erros (Root Mean Square Error - 𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅) e do
𝑅𝑅2 , definidos pela Eq. (7) e Eq. (9), para medidas de centro, e pela Eq. (8) e Eq. (10), para
medidas de amplitude,
𝑛𝑛
1
𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅 = √ ∑(𝑦𝑦𝑖𝑖 𝑐𝑐 − 𝑦𝑦̂𝑖𝑖 𝑐𝑐 )2 ,
𝑐𝑐
(7)
𝑛𝑛
𝑖𝑖=1
𝑛𝑛
1
𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅 = √ ∑(𝑦𝑦𝑖𝑖 𝑎𝑎 − 𝑦𝑦̂𝑖𝑖 𝑎𝑎 )2 ,
𝑎𝑎
(8)
𝑛𝑛
𝑖𝑖=1
2
2 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶(𝑦𝑦𝑖𝑖 𝑐𝑐 , 𝑦𝑦̂𝑖𝑖 𝑐𝑐 )
𝑅𝑅𝑐𝑐 = ( ) , (9)
𝜎𝜎 𝑐𝑐 𝜎𝜎̂ 𝑐𝑐
2
2 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶(𝑦𝑦𝑖𝑖 𝑎𝑎 , 𝑦𝑦̂𝑖𝑖 𝑎𝑎 )
𝑅𝑅𝑎𝑎 = ( ) , (10)
𝜎𝜎 𝑎𝑎 𝜎𝜎̂ 𝑎𝑎
onde, 𝑦𝑦𝑐𝑐 e 𝑦𝑦𝑎𝑎 representam os valores observados da variáveis respostas e, 𝑦𝑦̂𝑐𝑐 e 𝑦𝑦̂𝑎𝑎 correspondem
aos valores estimados para as mesmas pelo método KRR, para o centro e a amplitude,
respectivamente. Os desvios padrões dos valores observados, para centro e amplitude, estão
representados por 𝜎𝜎 𝑐𝑐 e 𝜎𝜎 𝑎𝑎 , e os desvios dos valores estimados para as mesmas medidas são 𝜎𝜎̂ 𝑐𝑐 e
𝜎𝜎̂ 𝑎𝑎 .
Para a comparação com o modelo IRR, considerados a Magnitude Média do Erro
Relativo (Mean Magnitude of Relative Error - MMRE), denotada por
𝑛𝑛
1 1 𝛼𝛼𝑖𝑖 − 𝛼𝛼̂𝑖𝑖 𝜆𝜆𝑖𝑖 − 𝜆𝜆̂𝑖𝑖
𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀 = ∑ {| |+| |}
𝑛𝑛 2 𝛼𝛼𝑖𝑖 𝜆𝜆𝑖𝑖
𝑖𝑖=1
onde: 𝛼𝛼𝑖𝑖 representa o limite inferior do intervalo e 𝜆𝜆𝑖𝑖 o limite superior do intervalo para variável
resposta 𝑦𝑦 da i-ésima observação, sendo suas respectivas estimativas são denotadas por 𝛼𝛼̂𝑖𝑖 e
𝜆𝜆̂𝑖𝑖 .
Os outliers para este tipo de informação ainda são objetos de estudo. Dessa forma,
consideramos uma medida descrita por Fagundes et al. (2013) para identificá-los. Um outlier
intervalar na medida de centro é estipulado quando o resíduo padronizado associado ao mesmo
é considerado grande, ou seja, |𝑟𝑟𝑖𝑖 𝑐𝑐 | ≥ 2, para 𝑖𝑖 = 1, 2, … , 𝑛𝑛, onde 𝑟𝑟𝑖𝑖 𝑐𝑐 é descrito por
𝑐𝑐
𝑦𝑦𝑖𝑖 𝑐𝑐 − 𝑦𝑦̂𝑖𝑖 𝑐𝑐
𝑟𝑟𝑖𝑖 = , (12)
𝜎𝜎𝑖𝑖 𝑐𝑐 √1 − ℎ𝑖𝑖𝑖𝑖 𝑐𝑐
−1 𝑇𝑇
com ℎ𝑖𝑖𝑖𝑖 𝑐𝑐 = 𝑥𝑥𝑖𝑖. 𝑐𝑐 (𝑋𝑋𝑐𝑐 𝑇𝑇 𝑋𝑋𝑐𝑐 ) 𝑥𝑥𝑖𝑖. 𝑐𝑐 e 𝑋𝑋𝑐𝑐 = (𝑥𝑥1 𝑐𝑐 , 𝑥𝑥2 𝑐𝑐 , … , 𝑥𝑥𝑛𝑛 𝑐𝑐 ).
235
Para medida de amplitude, tem-se classificado outlier intervalar quando o valor absoluto
do resíduo padronizado associado ao mesmo é maior ou igual a dois, e a descrição de 𝑟𝑟𝑖𝑖 𝑎𝑎 é dada
por
𝑎𝑎
𝑦𝑦𝑖𝑖 𝑎𝑎 − 𝑦𝑦̂𝑖𝑖 𝑎𝑎
𝑟𝑟𝑖𝑖 = , (13)
𝜎𝜎𝑖𝑖 𝑎𝑎 √1 − ℎ𝑖𝑖𝑖𝑖 𝑎𝑎
−1 𝑇𝑇
com ℎ𝑖𝑖𝑖𝑖 𝑎𝑎 = 𝑥𝑥𝑖𝑖. 𝑎𝑎 (𝑋𝑋𝑎𝑎 𝑇𝑇 𝑋𝑋𝑎𝑎 ) 𝑥𝑥𝑖𝑖. 𝑎𝑎 e 𝑋𝑋𝑎𝑎 = (𝑥𝑥1 𝑎𝑎 , 𝑥𝑥2 𝑎𝑎 , … , 𝑥𝑥𝑛𝑛 𝑎𝑎 ).
Para fins de comparação em relação ao custo computacional, foi calculado o tempo de
processamento, mensurado em segundos, para cada modelo KRR aplicado, em ambas as
medidas (centro e amplitude).
Finalmente, ajustamos o modelo KRR ao banco de dados “Soccer”, o qual fornece
informações sobre jogadores de futebol profissional de 20 equipes francesas. Nesta base de
dados, a duas variáveis intervalares independentes “altura” e “idade” foram consideradas para
prever a variável tipo intervalo dependente, “peso”. O banco segue detalhado é apresentado na
Tabela 2.
Coeficientes
Modelos 𝑹𝑹𝑹𝑹𝑹𝑹𝑹𝑹𝒄𝒄 𝑹𝑹𝒄𝒄 𝟐𝟐 Tempo (seg.)
𝜷𝜷𝟎𝟎 𝒄𝒄 𝜷𝜷𝟏𝟏 𝒄𝒄 𝜷𝜷𝟐𝟐 𝒄𝒄
KRR1 28.2112 0.3656 -0.7851 2.2501 0.1830 0.0056
KRR2 22.1853 0.3990 -0.7797 2.2360 0.1855 0.2804
KRR3 25.8034 0.3802 -0.7913 2.2671 0.1762 0.0040
KRR4 28.8411 0.3589 -0.7650 2.3098 0.1721 0.0080
KRR5 21.4378 0.4028 -0.7767 2.2263 0.1887 0.0074
KRR6 27.8685 0.3682 -0.7894 2.2919 0.1711 0.0018
Fonte: Elaborada pela autora.
Coeficientes
Modelos 𝑹𝑹𝑹𝑹𝑹𝑹𝑹𝑹𝒂𝒂 𝑹𝑹𝒂𝒂 𝟐𝟐 Tempo (seg.)
𝜷𝜷𝟎𝟎 𝒂𝒂 𝜷𝜷𝟏𝟏 𝒂𝒂 𝜷𝜷𝟐𝟐 𝒂𝒂
KRR1 -1.2993 0.6926 0.5300 2.3601 0.6183 0.0400
KRR2 -1.2137 0.6866 0.5333 2.3609 0.6182 0.2800
KRR3 -1.0838 0.6769 0.5398 2.3628 0.6179 0.0200
KRR4 -0.0259 0.5943 0.6011 2.4186 0.6083 0.0200
KRR5 -1.2433 0.6887 0.5321 2.3606 0.6182 0.0200
KRR6 2.3564 0.4585 0.6406 2.6017 0.5670 0.0400
Fonte: Elaborada pela autora.
237
Com a finalidade de comparar o método KRR com o IRR, tendo em vista que este último
também é um modelo específico para dados intervalares, escolheram-se as funções que
obtiveram melhores resultados, quando considerado custo benefício, tanto para medida de
centro quanto para amplitude. Desta forma foi selecionada a função de hiper-parâmetro e
estrutura que definem o KRR5 para o centro e o KRR1 para a amplitude. Utilizando a técnica
de leave-one-out, foram calculados os MMRE’s, que obtiveram média de 0.0263 e desvio
padrão de 0.01970, enquanto o modelo IRR obteve média de 0.0438 e desvio padrão de 0.0329.
Tais resultados evidenciam que ao utilizar o modelo KRR5 para o centro dos intervalos
e o modelo KRR1 para as amplitudes, observamos que o método KRR superou o método IRR
para esta base de dados de acordo com a medida de desempenho MMRE.
Por último, quando aplicamos a fórmula de identificação da presença de outlier, para
amplitude, o método KRR5 não identificou observação discrepante, bem como o modelo IRR.
Contudo, para os centros dos intervalos, o KRR5 identificou a presença de dois outliers
(observação 7 e 14 da amostra), com |𝑟𝑟7 𝑐𝑐 | = 2.08 e |𝑟𝑟14 𝑐𝑐 | = 2.97, enquanto que o modelo IRR
identificou apenas uma observação |𝑟𝑟14 𝑐𝑐 | = 2.49. Isto significa que o modelo KRR se
comportou de forma mais criteriosa para identificar a presença de intervalos discrepantes, o que
infere atribuição mais adequada dos pesos destas observações, absorvendo o impacto das
mesmas nas estimativas dos parâmetros, justificando menor erro de previsão observado.
Conclusões
238
Referências
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Classification and Related Methods, Proceedings of the Seventh Conference of the International
Federation of Classification Societies (IFCS 2000), Springer, Belgium, pp. 369-374.
CAPUTO, B.; SIM, K.; FURESJO, F.; MOLA, A.. Appearence-based object recognition using
svms: which kernel should I use. In: Proceedings of NIPS workshop on statistical methods
for computational experiments in visual processing and computer vision, v. 1. p. 1-1, 2002.
DOMINGUES, M. A. O.. Métodos robustos em regressão linear para dados simbólicos do tipo
intervalo. Tese (doutorado) - Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Centro de
Informática (CIN). Ciência da Computação, 72 folhas, 2010. Disponível em:
http://www.cin.ufpe.br/ maod/stat/maod-tese-definitivo.pdf. Acesso em março de 2016.
FERREIRA, A.G.O.; LIMA NETO, E.A.; FERREIRA, M.R.P.; SILVA, R.B.; CARVALHO,
F.A.T.. An application of a robust regression method based on Gaussian kernel function. In:
60th ISI World Statistics Congress, 2015, Proceedings of the 60th ISI World Statistics
Congress, v. 1. p. 1-1, 2015.
MULLER, K.R.; MIKA, S.; RAETSH, G.R.; TSUDA, K.; SCHLOELKOPF, B.. An
introduction to kernel-based learning algorithms. IEEE Trans. Neural Netw, v. 12. p. 181-
202, 2001.
RYAN, T.P.. Modern Regression Methods – Wiley Series in probability and statistcs. Second
edition. Acworth, Georgia, 2009.
239
PRODUÇÃO DE NANOTUBOS DE ÓXIDOS DE FERRO
Resumo
A precipitação e oxidação de ferro a partir de uma solução aquosa de sulfato ferroso com
hidróxido de sódio permite obter diferentes óxidos de ferro, mas os mecanismos das reações
são complexos e dependem de uma série de fatores. Neste capítulo investigou-se os fatores que
influenciam na cinética da reação de oxidação do ferro para a produção de óxidos de ferro,
utilizando-se um método ácido de precipitação. Os fatores investigados foram: a vazão de ar
introduzido na mistura reacional, a temperatura da reação, velocidade de agitação da mistura e
tempo de reação. As caracterizações para avaliar a qualidade do óxido de ferro produzido
contemplaram: difratometria de raios X, área superficial específica, distribuição do tamanho de
partículas, microscopia eletrônica de varredura e análise termogravimétrica. Os resultados
evidenciaram a produção de fases bem definidas de óxidos de ferro do tipo goetita, hematita e
magnetita. A nanopartícula de goetita produzida apresentou área superficial especifica de 80
m².g-1 e tamanho de partículas de 378 nm de comprimento e 36 nm de largura.
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Produção de Nanotubos de Óxidos de Ferro (catalisadores e
adsorventes) e Avaliação de suas Propriedades Adsortivas / Produção de Nanotubos de Óxido de Ferro
Estudante de Iniciação Científica: Ana Maria Salgueiro Baptisttella (e-mail: anabapmaria@gmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail:cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientador(a): Vivian Stumpf Madeira (e-mail: eqvsm@yahoo.com, telefone: 83 9926-1010)
240
Nesta pesquisa, buscou-se avaliar a influência da vazão de ar introduzido na mistura
reacional, da temperatura da reação, velocidade de agitação da mistura e tempo de reação, na
qualidade do óxido de ferro produzido. Foi avaliada a pureza, cristalinidade, morfologia e
tamanho das partículas obtidas. Além disso estudou-se o mecanismo cinético da reação de
oxidação do intermediário formado durante o processo (Green Rust II – GRII), e propôs-se uma
lei de velocidade bem como uma etapa limitante para a reação.
Fundamentação teórica
Óxidos de ferro é o nome genérico dado aos óxidos, hidróxidos, oxi-hidróxidos e outros
compostos de ferro. Todos contêm Fe, O e/ou OH, e diferem na composição, na valência do
ferro e na estrutura, sendo que a maioria possui estrutura cristalina. Os principais minérios de
ferro de ocorrência natural são a hematita (Fe2O3), a goetita (FeOOH) e a magnetita (Fe3O4).
Estes óxidos representam uma família de materiais com notável diversidade de propriedades e
uma química muito interessante devido às suas propriedades magnéticas, elétricas, físico-
químicas e morfológicas, que os torna importantes do ponto de vista científico e tecnológico
(CORNELL; SCHWERTMANN, 2003).
Dentro da família dos óxidos de ferro os que se destacam neste capítulo são a goetita,
hematita, lepidocrocita e magnetita os quais apresentam propriedades morfológicas, magnéticas
e físico-químicas importantes que justificam a sua aplicação em diferentes áreas.
A goetita (α – FeOOH) é o óxido de ferro mais estável termodinamicamente em
temperatura ambiente, componente majoritário em solos e rochas, pertencente à classe dos
minerais oxi-hidróxidos. A sua estrutura consiste de um empacotamento hexagonal compacto
dos ânions (O-2 e OH-), com o íon Fe+3 ocupando o centro dos interstícios octaedros dentro de
uma camada. A estrutura e disposição que os átomos ocupam, permite adicionar a esses
materiais excelentes propriedades superficiais com altas relações área/volume, alta afinidade às
moléculas de água, reatividade e capacidade de adsorção (FROST; CHEN; HAIBO, 2014).
A magnetita (Fe3O4) conhecida como óxido de ferro preto ou minério de ferro
magnético, é amplamente utilizada como pigmento, fonte de ferro e catalisador. É um mineral
ferrimagnético, ou seja, que apresenta a suas propriedades magnéticas permanentemente com
alinhamento dos momentos magnéticos na mesma direção, porém em sentidos opostos,
contendo em sua estrutura íons de Fe+3 e Fe+2.
A hematita (α – Fe2O3) pode apresentar coloração preta, metálica, marrom ou
avermelhada, mas sempre apresenta traços avermelhados. É bastante estável e a sua obtenção
decorre da transformação de outros óxidos/hidróxidos de ferro, como o caso da goetita,
lepidocrocita e ferridrita. A partir da goetita, por exemplo, a fase hematita pode ser obtida por
calcinação em temperaturas entre 260 e 320°C e a partir da lepidocrocita a calcinação deve ser
realizada em temperaturas mais altas, em torno de 400°C (CORNELL; SCHWERTMANN,
2003).
Dentre os diversos campos em que os óxidos de ferro são aplicados destacam-se o uso
como pigmentos e os processos envolvendo adsorção e catálise, devido, principalmente, às
propriedades redoxes e texturais. Como pigmentos os óxidos de ferro apresentam uma grande
variedade de cor, podendo variar entre o marrom, amarelo, vermelho, preto e verde; apresentam
ainda baixa toxidade, alta resistência ao intemperismo e baixo custo (SPINELLI; OLIVEIRA;
PASKOCIMAS, 2003). Um estudo recente relatou a síntese de hematita para aplicação na
coloração de esmaltes cerâmicos, as características deste material como alta estabilidade
térmica e química foram destacadas (OPUCHOVIC; KAREIVA, 2015).
A adsorção em óxidos de ferro tem sido utilizada no tratamento de águas e efluentes
industriais. Nanopartículas de goetita e lepidocrocita, por exemplo, foram utilizadas na remoção
de chumbo (Pb) (RAHIMI et al., 2014). A adsorção do arsênio na forma de As+3 e As+5
241
utilizando como adsorvente a lepidocrocita foi estudada por Repo et al. (2012). Os trabalhos de
Rahman et al. (2013) e Parsons et al. (2014), descrevem o uso da magnetita como adsorvente
para a remoção de matéria orgânica dissolvida e cromo (Cr+3 e Cr+6). Além disso, o uso de
óxidos de ferro na adsorção de ânions (nitrato, fluoreto, bromato, fosfato e perclorato), tem
apresentado resultados promissores (KUMARI; JR PITTMAN; MOHAN, 2015).
Além disso, a sua aplicação em processos de oxidação avançada, como a fotocatálise e
o sistema Fenton heterogêneo na degradação de corantes e compostos fenólicos, tem sido
relatada. Estudos recentes envolvendo o uso de catalisadores a base de óxidos de ferro,
magnetita, hematita e goetita, são relatados na literatura (GEORGI; RUSEVOVA; KOPINKE,
2012; RAMAN; POURAN; DAUD, 2014; QIN et al., 2015; ZHANG et al., 2015).
Na obtenção desses materiais, o método de precipitação e oxidação de ferro a partir da
mistura de uma solução aquosa de FeSO4 com NaOH pode ser utilizado para a síntese de vários
compostos de ferro, como a α-FeO.OH (goetita), a γ-FeO.OH (lepidocrocita), a δ-FeO.OH
(ferroxita), α-Fe2O3 (hematita) e FeO.Fe2O3 (magnetita).
Os mecanismos de oxidação de hidróxido ferroso em meio aquoso sulfatado, tal como
ocorre após a mistura de FeSO4 com NaOH, são extremamente complexos e dependem de uma
série de fatores, dentre eles a concentração inicial de reagentes, a relação Fe+2:OH, a
temperatura da reação, a velocidade de oxidação e cristalização, a agitação da mistura,
introdução de oxigênio no meio e até mesmo a geometria do tanque de reação.
As condições experimentais determinam, além do tipo de óxido de ferro que será obtido,
a cristalinidade do mesmo, a morfologia dos cristais e a distribuição granulométrica.
Adegoke et al. (2014), produziu cinco amostras de óxidos de ferro (hematita), por
diferentes métodos de precipitação. A morfologia das amostras produzidas variou entre nano-
cubos, placas, esféricas e hexagonais, e os valores da área superficial específica variaram entre
26 e 52 m².g-1. O volume de microporos ficou entre 0,04 até 10,8 cm³.g-1 e tamanho de partículas
entre 15,8 e 85,8 nm.
A influência da temperatura na oxidação do hidróxido ferroso produzido em meio
aquoso sulfatado foi investigada por Olowe, Pauron e Génin, (1991) e Dufour et al. (1997).
Diferentes mecanismos foram propostos para a obtenção da goetita, lepidocrocita e magnetita,
com direcionamentos preferenciais da reação, para uma fase ou outra, como uma função da
temperatura. Com relação à cinética de oxidação do hidróxido ferroso, sabe-se que a mesma é
bastante influenciada pelo teor de oxigênio dissolvido no meio, o que é função da temperatura,
mas também é função da vazão de oxigênio introduzido e da agitação da mistura.
Refait et al. (2008), avaliou a influência da concentração de Fe+2 e da velocidade de
agitação da mistura na qualidade do óxido de ferro produzido (cristalinidade e tamanho do
cristal). O autor verificou que um aumento da velocidade de agitação da mistura induz a um
aumento da área de contato ar/interface da suspensão e, consequentemente, um aumento do
fluxo de oxigênio, o que levaria a uma diminuição do tamanho do cristal. A influência da
velocidade de agitação no tamanho de partícula promove uma maior uniformidade da solução
durante a reação tornando as distribuições de tamanho das partículas mais estreitas.
Jin et al. (1998), estudou a oxidação e cristalização de Fe(OH)2, produzido em meio
básico, para goetita, avaliando a influência da velocidade de oxidação e cristalização na
morfologia das amostras produzidas. Foi observado pelo autor que a agitação, na etapa de
oxidação do hidróxido ferroso, exerce bastante influência no crescimento dos cristais. A
agitação promove, por atrito ou cisalhamento, o seu desprendimento da superfície favorecendo
que haja um crescimento e cristalização em fase liquida, e não em fase sólida - na superfície do
Fe(OH)2.
Peukert et al. (2014), avaliou o efeito da vazão de oxigênio no mecanismo de formação
da goetita, partindo-se de Fe(OH)2, produzido em meio básico. Foi observado que a morfologia
e o tamanho das partículas podem ser modificados por meio de alterações no fluxo de ar. Além
242
disso, o autor propôs diferentes mecanismos de formação da goetita, com a cristalização
ocorrendo em fase sólida, para baixos fluxos de ar, e em fase líquida, para altos fluxos de ar.
Neste capítulo, e neste projeto de pesquisa, foi investigada a síntese de óxidos de ferro,
pelo método da precipitação partindo-se de uma solução aquosa de sulfato ferroso. A reação
que ocorre entre o sulfato ferroso e o hidróxido de sódio está apresentada abaixo. A Reação 1,
é a reação estequiométrica, com razão molar entre [FeSO4]:[NaOH] igual a R = 0,50. A Reação
2, ocorre quando um excesso de NaOH é adicionado no meio, e neste caso, o precursor para a
obtenção do óxido de ferro é o Fe(OH)2. E a Reação 3, é aquela que ocorre com um excesso de
FeSO4.
Reação 5
Fe2 (SO4 )3 + 4 Fe(OH ) 2 + 2 NaOH 2 Fe2II Fe III (OH )5 SO4 + Na2 SO4
green rust II
Reação 6
2 Fe2II Fe III (OH )5 SO4 + O2 6
FeO
.OH
+ 4 H 2 SO4
goetita
Reação 7
Metodologia e análise
243
A metodologia de obtenção dos óxidos de ferro envolveu seis etapas: a mistura,
decantação, espessamento, oxidação (e concomitante cristalização), lavagem e secagem.
Posteriormente as amostras foram caracterizadas e selecionadas para os ensaios de adsorção.
Inicialmente, uma solução aquosa de sulfato ferroso (FeSO4 - 0,1 mol.L-1) foi misturada
com hidróxido de sódio (NaOH - 0,2 mol.L-1), à 25ºC, com agitação constante em 700 rpm. A
razão molar utilizada entre [FeSO4]:[NaOH] foi fixada em R=1,00. Da mistura foi obtido um
lodo verde, após decantação, que foi mantido em repouso por 24 horas para o espessamento.
Passado este tempo, o sobrenadante foi removido e o lodo submetido a etapa de oxidação e
cristalização. A oxidação foi realizada introduzindo-se ar na mistura reacional, através de
compressores e difusores de laboratório, a agitação foi promovida por um agitador mecânico.
Após a oxidação, o lodo de Fe+3 foi lavado sucessivas vezes; uma lavagem ácida (H2SO4 – 50%
v/v); uma lavagem básica (NaOH – 1% m/m) e uma lavagem neutra (água destilada). As
amostras obtidas foram secas a 60°C por 12 horas (em estufa), e o pó resultante foi moído e
peneirado em uma malha de 200 mesh (pronto para a caracterização
e uso).
Neste capítulo foram avaliados alguns parâmetros que influenciam significativamente
na qualidade do produto. Variou-se a vazão do ar introduzido na mistura reacional, de 0,90 e
0,45 L.min-1 (o que resultou em velocidades iniciais de oxidação do ferro, de 64,9 e 9,4 mg.L-
1
.min-1, respectivamente); variou-se a temperatura da reação, entre 40 e 60°C; e a agitação da
mistura na etapa de oxidação, de 190, 500 e 700 rpm. Além disso, realizou-se um ensaio sem a
introdução forçada de ar, variando-se o tempo da reação (para uma mesma agitação de 700
rpm).
245
Figura 1 – Difratogramas de raios-X das amostras A.1.1 e A.3.1 (vazão de ar: 0,9 e 0,45 L.min-
1
, respectivamente; pH inicial mistura: 7,4; temperatura da reação: 400C; agitação da mistura:
190 rpm).
Fe(OH ) 2 ⎯O⎯
2 / FeSO 4 O 2 velocidade
⎯⎯→ GRII ⎯⎯ ⎯⎯⎯⎯→ Fe3O4
Fe(OH ) 2 ⎯O⎯
2 / FeSO 4
⎯⎯⎯⎯→ − FeOOH (ou − FeOOH )
O 2 velocidade
⎯⎯→ GRII ⎯⎯
Esquema 1 - Formação de goetita e magnetita a partir do GRII.
Na conversão para a magnetita, dois íons de oxigênio devem ser extraídos para três
moléculas de Fe(OH)2. Se a oxidação é lenta, o tempo para a extração do oxigênio a partir do
cristal e para o rearranjo do ferro remanescente e oxigênio, pode ser suficiente para a formação
da magnetita.
A análise termogravimétrica foi realizada nas amostras A.1.1 e A.3.1, obtidas com
diferentes vazões de ar e consequentemente, diferentes velocidades iniciais de oxidação. A
Figura 2 apresenta as curvas obtidas para as duas amostras.
246
Figura 2 - Análise termogravimétrica das amostras de óxido de ferro produzidas com diferentes vazões de ar.
247
(a) (b)
Figura 3 - MEV das amostras produzidas com diferes vazões de ar. (a) Amostra A.1.1 – 0,9 L.min-1 e (b)
Amostra A.3.1 – 0,45 L.min-1.
Tabela 1 - Análise da área superficial específica, volume e diâmetros de poros e nas amostras
A.1.1 e A.3.1
Área
Testes Vazão de ar Volume Total
Superficial Diâmetro de
(R = 1,00 / T = 40°C / adicionado de Poros
Específica poros (Å)
A = 190 rpm) (L.min-1) (cm³.g-1)
(m².g-1)
A.1.1 0,90 69 0.45 261.37
A.3.1 0,45 80 0.31 142.32
Observa-se que a amostra A.3.1, produzida com menor vazão de ar, mais cristalina e
com formado mais fino e alongada, obteve uma área de 80 m².g-1, enquanto que a amostra
A.1.1,obteve um valor de área BET de 69 m².g-1. Desta forma, conclui-se que ao diminuir a
vazão de ar introduzido no meio reacional, e consequentemente a velocidade de oxidação inicial
do GRII, houve um aumento na área superficial especifica alcançado, provavelmente, através
das mudanças morfológicas das amostras de goetita, com uma provável, diminuição no tamanho
das partículas, além da redução no tamanho dos poros.
249
Figura 4 - Oxidação do intermediário GRII nos ensaios realizados a diferentes temperaturas (A.3.1 – T = 400C e
A.3.2 – T = 600C).
A Figura 5 apresenta o MEV das amostras A.3.1 e A.3.2. Pelos resultados obtidos nota-se
claramente a mudança na morfologia das amostras produzidas em diferentes temperaturas. A
amostra de goetita (A.3.1), apresenta o formato de bastão enquanto que a amostra de magnetita,
A.3.2 têm o formato esférico. Na Figura 5b, é visto ainda a presença de uma pequena quantidade
de bastões, este fato justifica o pico encontrado em 2ϴ igual a 21,17, no DRX da amostra A.3.2
(Figura 4).
Figura 5 - MEV das amostras produzidas variando-se a temperatura da reação. (a) Amostra A.3.1 (b) Amostra
A.3.2.
250
Variação na agitação da mistura
Figura 6 - Difratogramas de raios-X das amostras produzidas com agitação de 190 rpm (A.3.1) 500 rpm (A.5.1)
e 700 rpm (A.6.1). Demais parâmetros dos testes: vazão de ar: 0,45 L.min -1 (A.3.1), 0,03 L.min-1 (A.5.1) e 0,005
L.min-1 (A.6.1).
Pelo DRX das amostras, observa-se que o aumento na agitação da mistura, durante a
etapa de oxidação do GRII, não alterou de forma significativa a cristalinidade das amostras.
Nos três casos apenas os picos referentes a goetita foram encontrados.
As distribuições granulométricas das amostras A.3.1, A.5.1 e A.6.1, estão apresentadas
na Figura 7. É possível observar que o aumento na agitação da mistura reduziu o tamanho das
partículas, ou melhor, dos aglomerados de partículas. O diâmetro médio dos aglomerados,
calculado com base na distribuição em volume, foi de 93,3, 65,1 e de 58,9 μm, para as amostras
A.3.1, A.5.1 e A.6.1, respectivamente. Além disso, o aumento na agitação da mistura tornou a
distribuição de tamanho dos aglomerados mais homogênea (Figura 7).
251
Figura 7 - Distribuição de tamanho de partículas das amostras (a) A.3.1 – 190 rpm (b) A.5.1 - 500 rpm e (c) A.6.1
– 700 rpm.
O resultado encontrado para a área superficial específica da amostra A.3.1, foi de 80,40
m².g-1, enquanto que para a amostra A.5.1, o valor da área aumentou para 105,76 m².g-1 e para
a amostra A.6.1 de 105,84 m².g-1, mostrando que o aumento na agitação da mistura teve um
efeito positivo sobre a amostra produzida. Desta forma, a maior agitação reduziu o tamanho
dos aglomerados de partículas, aumentou a homogeneidade do material e aumentou a área
superficial específica (aumento de 24%). Estes valores de área estão de acordo com o descrito
na literatura, onde amostras de goetita, produzidas pelo método da precipitação e oxidação do
intermediário GR II, são obtidas com áreas na faixa de 72,5 a 103,1 m².g-1(KUROKAWA;
SENNA, 1999).
252
Avaliação do mecanismo da reação de oxidação do GRII
1) A absorção do oxigênio a partir da fase gasosa para a fase líquida (Reação 8);
2) A transferência de massa do oxigênio do seio da fase líquida para a superfície do GRII
(Reação 9);
3) A reação química de oxidação do GRII com o oxigênio disponível na superfície (Reação
10);
4) O rearranjo na estrutura cristalina e crescimento dos cristais de goetita:
a) Crescimento dos cristais na superfície do GRII;
b) Crescimento dos cristais na fase líquida.
Reação 10
253
oxidação maior.
Figura 8 - Cinética de oxidação avaliando o efeito da agitação dos testes A.3.1 (190 rpm) e A.6.1 (700 rpm).
𝑊𝑊|𝑂𝑂2 (𝑙𝑙) = 𝑘𝑘𝑐𝑐 (𝐶𝐶𝑂𝑂2 (𝑙𝑙) − 𝐶𝐶𝑂𝑂2 (𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠í𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐) ); (mg/min)/m² superfície externa GRII Equação (2)
𝑊𝑊|𝑂𝑂2 (𝑙𝑙) = 𝑘𝑘𝑐𝑐 𝐶𝐶𝑂𝑂2 (𝑙𝑙) ; (mg/min)/m² superfície externa GRII Equação (3)
Segundo Bird et al. (2011), o coeficiente convectivo de transferência de massa (kc), está
relacionado com a agitação da mistura, o diâmetro das partículas sólidas (ou um comprimento
característico), a viscosidade cinemática e a difusividade do oxigênio em fase líquida (Equação
4). Todos estes parâmetros, exceto o diâmetro das partículas de GRII, podem ser considerados
constantes com o tempo da reação, e específicos para cada experimento, principalmente em
experimentos realizados com diferentes agitações e/ou temperaturas.
O composto intermediário, GRII, é um composto floculento e gelatinoso que é
254
susceptível a quebra devido às tensões de cisalhamento provocadas pela alta agitação e
turbulência da mistura. Desta forma, obtém-se uma relação inversa entre kc e o diâmetro das
partículas de GRII:
1 1
2 0,5
𝜈𝜈 2 6 1 1 Equação (4)
𝑘𝑘𝑐𝑐 = 𝑎𝑎2 (𝑑𝑑 ) (𝜐𝜐) (𝐷𝐷𝐴𝐴𝐴𝐴 )3 = 𝑎𝑎3 (𝑑𝑑 ) ; m/min
𝑝𝑝 (𝑡𝑡) 𝑝𝑝 (𝑡𝑡)
Onde a3 é uma constante que depende da agitação da mistura (v), viscosidade cinemática () e
difusividade do oxigênio em fase líquida (DAB).
Considerando a transferência de massa como a etapa limitante da reação, conforme
análise feita nas curvas cinéticas (Figura 8), a lei de velocidade da reação de oxidação do GRII
pode ser escrita como:
O parâmetro ac, refere-se a área superficial externa das partículas de GRII, por unidade
de volume da solução; m²/L, por exemplo. Se o sólido for duro e resistente ao cisalhamento, ac,
assim como kc, teriam um valor constante e específico para um determinado sólido e sistema
reacional. Entretanto, para um sólido gelatinoso, assim como o GRII, estima-se que a agitação
esteja causando a quebra dos flocos com a consequente variação no diâmetro dessas partículas
com o tempo de reação. Desta forma, utilizando-se apenas como referência a dependência de
ac para um leito fixo de partículas esféricas, encontra-se uma dependência inversa de ac com o
diâmetro das partículas de GRII:
Sendo: 𝑎𝑎𝑐𝑐 =
6(1−𝜙𝜙)
=
𝑎𝑎1
; m²superficie externa GRII/L solução Equação (6)
𝑑𝑑𝑝𝑝 𝑑𝑑𝑝𝑝 (𝑡𝑡)
Onde a1 é uma constante que depende apenas da forma das partículas de GRII.
Substituindo-se os valores de kc e ac, ambos dependentes do diâmetro das partículas, na Equação
(5), tem-se:
𝑑𝑑𝐶𝐶𝐹𝐹𝐹𝐹 +2 1
0,5
𝑎𝑎1 Equação (7)
𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠
− = 2𝑎𝑎3 ( ) 𝐶𝐶𝑂𝑂2 (𝑙𝑙)
𝑑𝑑𝑑𝑑 𝑑𝑑𝑝𝑝 (𝑡𝑡) 𝑑𝑑𝑝𝑝 (𝑡𝑡)
No estudo de Encina et al. (2014), foi observado que durante a reação de oxidação do
ferro ferroso, a concentração de oxigênio dissolvido no meio, CO2, permanece extremamente
baixa e constante, e neste caso, a Equação 7 pode ser escrita como:
255
Avaliação do efeito do tempo de agitação no tamanho das partículas obtidas
Para avaliar o efeito do tempo de agitação no tamanho das partículas de goetita obtidas,
bem como tamanho dos aglomerados de partículas de goetita, realizou-se um teste, cuja amostra
foi denominada G1. Neste caso, comparativamente com a amostra A.6.1, todas as condições
foram mantidas; ou seja, a mesma agitação, o mesmo pH da mistura e a mesma temperatura,
porém no teste G1, não houve o fornecimento de ar através dos compressores e difusores de
laboratório. O ar necessário para a oxidação foi fornecido apenas pela superfície de contato
líquido/gás, na borda do tanque de reação.
Sem a aeração forçada a concentração do oxigênio na fase líquida será reduzida e a
velocidade da reação de oxidação do GRII, ficará menor precisando de mais tempo (tempo de
agitação), para que a reação se complete.
A Figura 9 apresenta as curvas cinéticas obtidas para a oxidação do ferro ferroso sólido
(GRII) na produção das amostras de goetita; A.6.1 e G1.
Figura 9 - Cinética de oxidação avaliando o efeito da agitação nos testes A.6.1 (aeração de 0,005 L.min-1) e G1
(sem vazão de ar).
É possível observar que o tempo reacional para alcançar a completa oxidação do ferro
ferroso no teste G1 foi de 10.000 min, enquanto que no teste A.6.1 foi de aproximadamente
3.000 min (Figura 9). Esse maior tempo de agitação resultou na produção de aglomerados de
partículas menores, como pode ser visto na Figura 10, na análise da distribuição granulométrica.
O diâmetro médio encontrado para a amostra A.6.1 foi de 58,9 μm enquanto que para a amostra
G1 foi de 34,4 μm.
A Figura 11 apresenta o MEV das amostras avaliando-se o efeito do tempo de agitação
da mistura.
A partir das imagens do MEV os valores para a largura e comprimento médio de cada
partícula individual foram estimados e a Tabela 4, apresenta os resultados obtidos. Verifica-se
que o tempo maior de agitação, provocou uma redução no comprimento das partículas obtidas,
256
indo de um valor médio de 447 nm, para a amostra A.6.1, para 378 nm para a amostra G1.
Este resultado confirma a hipótese levantada anteriormente, de que para o GRII, um
sólido gelatinoso, a agitação está causando a quebra dos flocos durante a reação com a
consequente variação no diâmetro dos mesmos com o tempo. Isto tem como consequência a
obtenção de aglomerados de goetita menores e partículas de goetita também menores.
Figura 10 - Distribuição do tamanho de partículas a laser. (a) Amostra A.6.1 e (b) Amostra G1.
Figura 11 - MEV das amostras, avaliando o efeito da agitação. (a) Amostra A.6.1 - vazão de ar = 0,005 L.min-1 e
(b) Amostra G1 – sem vazão de ar.
257
Tabela 2 - Valores encontrados para a largura e comprimento médio das partículas (estimados
pelo resultado do MEV).
Conclusões
Neste trabalho foram obtidos diferentes tipos de óxidos de ferro como a goetita e magnetita,
pelo método da precipitação seguida pela oxidação do Green Rust II. Resultados foram
encontrados quando houve mudanças nas condições operacionais, como a vazão de ar
adicionado no meio, a temperatura da reação, agitação da mistura e o tempo de reação. Neste
caso, as seguintes conclusões foram estabelecidas:
Referências
258
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260
ERROS DE ESPECIFICAÇÃO NOS MODELOS DE REGRESSÃO BETA
Resumo
O presente capítulo tem por objetivo avaliar os efeitos de erros de especificação nas inferências
do modelo de regressão beta com dispersão variável. Para isto, um estudo de simulação foi
realizado. Neste estudo, a variável resposta foi gerada com distribuição beta assumindo
covariáveis e funções de ligação conhecidas, em sequência, o modelo foi ajustado sob a
especificação correta e incorreta considerando seis tipos de erros de especificação. Avaliamos
os efeitos destes erros através de taxas de rejeição e taxas de cobertura em relação a um dos
parâmetros do submodelo da média e, além disso, avaliamos também o viés relativo e o erro
quadrático médio em relação às estimativas das respostas médias. Verificamos através dos
resultados obtidos que os erros de especificação que envolviam o preditor linear da estrutura de
regressão do parâmetro de precisão apresentaram uma influência considerável nas inferências
do modelo. Por fim, uma aplicação a dados reais foi realizada.
Apresentação
1
Título do Projeto/Plano de Trabalho: Erros de Especificação nos Modelos com Dispersão Variável/ Erros de
Especificação nos Modelos de Regressão Beta
Estudante de Iniciação Científica: André Antonio de Oliveira (e-mail: andreoliveira53@hotmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br, e-mail: cadastrogpaic@propesq.ufpb.br)
Orientador (a): Tatiene Correia de Souza (email: tatiene@de.ufpb.br, telefone: 83 3216-7075)
261
Nesta abordagem, o parâmetro de dispersão varia ao longo das observações, sendo modelado
também por uma estrutura de regressão que contém covariáveis, parâmetros desconhecidos e
uma função de ligação. Segundo Espinheira et al. (2008b), a classe de modelos de regressão
beta é similar em muitos aspectos à classe dos modelos lineares generalizados (MCCULLACH;
NELDER, 1989).
Diversas aplicações do modelo de regressão beta podem ser encontradas na literatura.
Oliveira e Souza (2016), por exemplo, utilizaram este modelo para investigar a proporção de
crianças obesas beneficiadas pelo Programa Bolsa Família nas regiões do Brasil. Almeida
Junior e Souza (2015) avaliaram o impacto exercido pelo Programa Bolsa Família nas eleições
presidenciais do ano de 2010, enquanto que Silva e Souza (2014) tiveram por finalidade
modelar a taxa de analfabetismo nos municípios do estado da Paraíba neste mesmo ano.
Sant'Anna e Caten (2010) modelaram a fração ou proporção de itens não conformes às
especificações de um processo industrial com enfoque no modelo de regressão beta e no modelo
linear generalizado, por outro lado, Pinto et al. (2011) fizeram uso destes mesmos modelos de
regressão para um estudo relacionado à infartos em pacientes. Outros exemplos de aplicações
podem ser encontrados em Souza e Cribari-Neto (2015) e Cribari-Neto e Pereira (2013).
Ao se realizar qualquer análise de regressão não é possível saber de fato se o modelo
estimado retrata adequadamente a realidade do fenômeno em estudo. Segundo Pereira e Cribari-
Neto (2014), caso a especificação do modelo escolhido esteja incorreta, inferências imprecisas
podem ocorrer no que se referem a estimação de parâmetros, intervalos de confiança e testes de
hipóteses. No modelo de regressão beta com dispersão variável, a escolha das funções de
ligação e das variáveis independentes são processos tipicamente necessários no ajuste de um
determinado modelo, e que podem ser baseados em conclusões de estudos anteriores. Porém,
em termos práticos, é comum se cometer erros de especificação neste processo.
Neste contexto, alguns autores estudaram diferentes formas de especificações na classe
de modelos de regressão beta. Bayer e Cribari-Neto (2015) exploraram o tema de seleção das
covariáveis importantes nas estruturas de regressão dos submodelos da média e da dispersão.
Andrade (2007) realizou um extenso estudo de simulação com o objetivo de avaliar o impacto
da especificação incorreta da função de ligação da média e comparou, através de uma aplicação
prática, os resultados obtidos através do uso de diferentes funções de ligação. Lima (2007)
propôs um teste de erro de especificação para modelos de regressão beta baseado no teste
RESET (RAMSEY, 1969), e concluiu através de simulações que o mesmo é útil para detecção
do uso de função de ligação incorreta bem como de não-linearidades no preditor linear. Canterle
et al. (2015) abordaram o problema da má especificação na função de ligação do submodelo da
dispersão, e verificaram que a incorreta especificação desta função de ligação tem uma
influência considerável nas inferências do modelo, incluindo implicações diretas na eficiência
dos estimadores dos parâmetros da média.
Loose et al. (2014) abordaram em seu estudo o desempenho dos estimadores pontuais e
intervalares no modelo de regressão beta com dispersão variável e, através de simulações de
Monte Carlo, confirmaram a consistência destes estimadores. Contudo, observaram que os
estimadores que modelam a precisão (inverso da dispersão) são consideravelmente mais
viesados do que os que modelam a média, indicando uma necessidade de maior atenção na
modelagem da estrutura de regressão deste parâmetro. Considerando a dificuldade em se
modelar esta estrutura, e que na prática é comum se cometer erros de especificação, Cribari-
Neto e Souza (2012) propuseram uma nova abordagem em modelos de regressão beta como
forma de solucionar estes problemas. Esta abordagem é baseada em estimadores do tipo
sanduíche para casos em que a estrutura de regressão para o parâmetro de dispersão é
negligenciada. Os autores concluíram que as inferências, considerando esta metodologia, são
precisas mesmo sob dispersão variável, o que indica uma possível solução para os erros de
especificação que usualmente são cometidos nesta estrutura.
262
Neste contexto de erros de especificação, o nosso objetivo é avaliar o efeito dos mesmos
nas inferências do modelo de regressão beta com dispersão variável. Um estudo de simulação
considerando diferentes cenários foi realizado com este propósito. Nestas simulações, a variável
resposta foi gerada com distribuição beta assumindo covariáveis e funções de ligação
conhecidas, o modelo foi então ajustado considerando a especificação correta e incorreta. Em
particular, seis tipos de erros de especificação foram avaliados, englobando tanto erros nos
preditores quanto nas funções de ligação das duas estruturas de regressão. Para avaliar o efeito
destes erros, consideramos as taxas de rejeição e as taxas de cobertura em relação a um dos
parâmetros do submodelo da média (𝜇𝜇). Computamos ainda algumas medidas considerando as
estimativas para as respostas médias, a saber: o viés relativo médio e o erro quadrático médio.
Por fim, realizamos uma aplicação a dados reais.
Fundamentação teórica
Γ(𝜙𝜙)
𝑓𝑓(𝑦𝑦; 𝜇𝜇, 𝜙𝜙) = y μϕ−1 (1 − y)(1−μ)ϕ−1 , 0 < 𝑦𝑦 < 1, (1)
Γ(μϕ)Γ((1 − μ)ϕ)
em que 0 < 𝜇𝜇 < 1 e 𝜙𝜙 > 0. Aqui, 𝐸𝐸(𝑦𝑦) = 𝜇𝜇 e 𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣(𝑦𝑦) = 𝑉𝑉(𝜇𝜇)/(1 + 𝜙𝜙), sendo 𝑉𝑉(𝜇𝜇) =
𝜇𝜇(1 − 𝜇𝜇), a “função variância”, 𝜇𝜇 é a média da variável resposta e 𝜙𝜙 pode ser interpretado
como o parâmetro de precisão no sentido que, para um valor fixo de 𝜇𝜇, quanto maior o valor de
𝜙𝜙, menor a variância de 𝑦𝑦.
Sejam 𝑦𝑦1 , . . . , 𝑦𝑦𝑛𝑛 variáveis aleatórias independentes, em que cada 𝑦𝑦𝑡𝑡 , 𝑡𝑡 = 1, . . . , 𝑛𝑛,
segue a densidade apresentada na Equação (1) com média 𝜇𝜇𝑡𝑡 e parâmetro de precisão 𝜙𝜙𝑡𝑡 sendo
desconhecidos. O modelo de regressão beta assume que uma função da média 𝜇𝜇𝑡𝑡 pode ser
igualada ao preditor linear 𝜂𝜂𝑡𝑡 sendo esta estrutura definida por 𝑔𝑔(𝜇𝜇𝑡𝑡 ) = ∑𝑘𝑘𝑖𝑖=1 𝑥𝑥𝑡𝑡𝑡𝑡 𝛽𝛽𝑖𝑖 = 𝜂𝜂𝑡𝑡 , em
que 𝛽𝛽 = (𝛽𝛽1 , . . . , 𝛽𝛽𝑘𝑘 )𝑇𝑇 é um vetor de parâmetros de regressão desconhecidos (𝛽𝛽 ∈ ℝ𝑘𝑘 ),
𝑥𝑥𝑡𝑡1 , . . . , 𝑥𝑥𝑡𝑡𝑡𝑡 são observações de 𝑘𝑘 covariáveis e 𝑔𝑔(∙) é denominada função de ligação. Portanto,
𝜇𝜇𝑡𝑡 = 𝑔𝑔−1 (𝜂𝜂𝑡𝑡 ) e 𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣(𝑦𝑦𝑡𝑡 ) = 𝜇𝜇𝑡𝑡 (1 − 𝜇𝜇𝑡𝑡 )/(1 + 𝜙𝜙), para 𝑡𝑡 = 1, . . . , 𝑛𝑛.
O modelo de regressão beta proposto por Ferrari e Cribari-Neto (2004) considera o
parâmetro de precisão constante ao longo das observações. Porém, admitimos como em Simas
et al. (2010) que o parâmetro de precisão é variável, sendo modelado através de uma estrutura
de regressão que contém covariáveis, parâmetros de regressão desconhecidos e uma função de
ligação, sendo esta estrutura definida por ℎ(𝜙𝜙𝑡𝑡 ) = ∑𝑞𝑞𝑗𝑗=1 𝑧𝑧𝑡𝑡𝑡𝑡 γ𝑗𝑗 = 𝜗𝜗𝑡𝑡 em que 𝛾𝛾 = (𝛾𝛾1 , . . . , 𝛾𝛾𝑞𝑞 )𝑇𝑇
é um vetor de parâmetros desconhecidos, 𝑧𝑧𝑡𝑡1 , . . . , 𝑧𝑧𝑡𝑡𝑡𝑡 são observações de 𝑞𝑞 covariáveis (𝑘𝑘 +
𝑞𝑞 ≤ 𝑛𝑛) assumidas fixas e conhecidas, 𝜗𝜗𝑡𝑡 é o preditor linear e ℎ(∙) é uma função de ligação.
263
Aqui, 𝜙𝜙𝑡𝑡 = ℎ−1 (𝜗𝜗𝑡𝑡 ), em que para 𝑡𝑡 = 1, . . . , 𝑛𝑛.
As estimativas dos parâmetros são obtidas maximizando numericamente a função de
log-verossimilhança através de um algoritmo de maximização não-linear. Usualmente, utiliza-
se o método quasi-Newton BFGS (PRESS et al., 1992). A distribuição dos estimadores de
máxima verossimilhança de 𝛽𝛽 e 𝛾𝛾, ditos 𝛽𝛽̂ e 𝛾𝛾̂, é aproximadamente normal em grandes amostras.
Esta aproximação pode ser usada na construção de intervalos de confiança e testes de hipóteses.
Para maiores detalhes inferenciais e matriciais do vetor escore e da matriz de informação de
Fisher, ver Simas et al. (2010).
Funções de ligação
As funções 𝑔𝑔(∙) e ℎ(∙) são conhecidas como funções de ligação e existem muitas
possibilidades para suas escolhas. Considerando o parâmetro da média temos que, 𝑔𝑔(𝜇𝜇𝑡𝑡 ) = 𝜂𝜂𝑡𝑡 ,
𝑡𝑡 = 1, . . . , 𝑛𝑛, em que 𝑔𝑔(∙) é estritamente monótona e duas vezes diferenciável, com domínio
em (0,1) e imagem em ℝ. Portanto, 𝜇𝜇𝑡𝑡 = 𝑔𝑔−1 (𝜂𝜂𝑡𝑡 ). Alguns exemplos destas funções de ligação
são: a função 𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙, 𝑔𝑔(𝜇𝜇𝑡𝑡 ) = log{𝜇𝜇𝑡𝑡 /(1 − 𝜇𝜇𝑡𝑡 )}, a função 𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝, 𝑔𝑔(𝜇𝜇𝑡𝑡 ) = Φ−1 (𝜇𝜇𝑡𝑡 ), onde
Φ−1 (∙) é a função de distribuição acumulada de uma variável normal padrão, a função 𝑐𝑐𝑙𝑙𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜,
𝑔𝑔(𝜇𝜇𝑡𝑡 ) = 𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙{−𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙(1 − 𝜇𝜇𝑡𝑡 )}, e a função 𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙, 𝑔𝑔(𝜇𝜇𝑡𝑡 ) = −𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙{−𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙(𝜇𝜇𝑡𝑡 )}.
logit
probit
cloglog
4
loglog
2
0
-2
-4
-6
264
1, . . . , 𝑛𝑛. Para maiores detalhes sobre as funções de ligação ver McCullagh e Nelder (1989).
Metodologia e análise
Avaliação numérica
268
Tabela 2: Taxas de rejeição sob 𝑯𝑯𝟎𝟎 : 𝜷𝜷𝟐𝟐 = 𝟎𝟎.
270
Tabela 3: Resultado das taxas de cobertura para 𝜷𝜷𝟐𝟐 .
Assim como ocorreram com as taxas de rejeição, nos modelos em que há o erro no
preditor da precisão (E2, E3, E4 e E5) há uma tendência a apresentar resultados mais distantes
do esperado comparado ao caso em que não há esse erro (E1) ou quando o modelo é estimado
desconsiderando a estrutura de regressão para o parâmetro de precisão (E6). Exemplificando,
considere valores de médias próximos de 0 e 𝑛𝑛 = 50, a taxa de cobertura para o parâmetro 𝛽𝛽2
no modelo com erros nas funções de ligação e no preditor da média (E1) é de 92.69%, enquanto
que no modelo estimado com esses mesmos erros acrescido ao erro no preditor da precisão
(E3), a taxa é de 88.99%. Já para o modelo estimado com precisão fixa (E6), a mesma foi de
91.47%.
As taxas de cobertura para o modelo estimado com erros no preditor da precisão e na
271
função de ligação da média (E4) tenderam a ser mais distantes do valor esperado do que no
modelo estimado com erro no preditor e na função de ligação do parâmetro precisão (E2) para
os cenários 1 e 2. Resultado que reforça o fato de que, errar no preditor da precisão e na função
de ligação da média é mais grave do que errar apenas na especificação do parâmetro de precisão
(função de ligação e preditor linear) considerando valores de médias variando até próximos de
0.65.
Confrontando os resultados obtidos em relação apenas aos diferentes intervalos de
médias considerados, temos que em geral, as taxas de cobertura tenderam a serem maiores para
os cenários com médias variando próximos de 0.5 e de 1. Para ilustrar este resultado, considere
o tamanho amostral 𝑛𝑛 = 100 e caso em que se comete erros nos preditores lineares e nas
funções de ligação dos parâmetros da média e da precisão (E3), as taxas de cobertura
considerando os cenários 1, 2 e 3, foram 89.60%, 91.02% e 91.55%, respectivamente.
A Tabela 4 apresenta os vieses relativos médios (VRm) e o erro quadrático médio
(EQM) das estimativas das médias. Através de sua análise, pode-se observar que em todos os
casos, como já era esperado devido a propriedade de consistência dos estimadores de máxima
verossimilhança, com o aumento do tamanho amostral os valores de VRm e EQM tenderam a
zero. Além do mais, o modelo estimado corretamente no geral apresentou os menores valores
para essas medidas.
Dos intervalos para as médias utilizados na geração dos dados, o cenário 3, de médias
próximas de 1, apresentou menores VRm e EQM comparado aos outros dois cenários. Mais
uma vez, modelos estimados com erro no preditor linear do parâmetro da precisão apresentaram
resultados mais distantes do esperado. Vale destacar, que no caso de vieses relativos médio e
erro quadrático médio, o modelo estimado desconsiderando a estrutura de regressão do
parâmetro de precisão apresentou em alguns casos, os resultados mais distantes de zero
comparado aos demais modelos aqui estudados. Exemplificando este último resultado,
considere 𝑛𝑛 = 50 e médias variando próximas de 0, o VRm e o EQM do modelo estimado com
precisão fixa (E6) foram de 0.0750 e 0.0113 respectivamente, enquanto que no modelo
estimado com erros no preditor linear da média e nas funções de ligação da média e da precisão
(E1), por exemplo, estes valores foram de 0.0597 e 0.0091, respectivamente.
Aplicação
Nesta seção apresentamos uma comparação entre os resultados obtidos por meio da
modelagem dos dados referentes a obesidade adulta nos Estados Unidos em 2014, considerando
diferentes funções de ligação. Para esses dados temos que a variável resposta, OB2014, é a
proporção de adultos obesos nos estados e totalizam 50 observações. As variáveis
independentes utilizadas para explicar a obesidade nos estados foram: a porcentagem de
residentes desempregados ou empregados em tempo parcial em 2014 (DESEMP), a
porcentagem de adultos que consomem vegetais menos de uma vez por dia em 2011 (VEGET),
a porcentagem de residentes que não tem cobertura de seguro de saúde em 2014 (DESCOB), o
escore de bem-estar em 2014 (BST), a porcentagem de fumantes de cigarro em 2012 (FUM) e
a taxa de insegurança alimentar em 2013 (INSEG). Neste estudo, a especificação do modelo de
regressão beta com dispersão variável pode ser definida da seguinte maneira:
272
Tabela 4: Vieses Relativos Médios (VRm) e Erro Quadrático Médio (EQM) para o estimador das médias.
273
𝑔𝑔(𝜇𝜇𝑡𝑡 ) = 𝛽𝛽0 + 𝛽𝛽1 𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝑡𝑡 + 𝛽𝛽2 𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑡𝑡 + 𝛽𝛽3 𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝑡𝑡 + 𝛽𝛽4 𝐵𝐵𝐵𝐵𝐵𝐵𝑡𝑡 + 𝛽𝛽5 𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝑡𝑡 (2)
com 𝑡𝑡 = 1, … ,50 . Além disso, temos que 𝑔𝑔(∙) e ℎ(∙) são as funções de ligação utilizadas para
modelar a média e precisão, respectivamente. Vale salientar que foram utilizadas as funções de
ligação 𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙, 𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐 e 𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙 para a estrutura da média e 𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙 e 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠 para a precisão, porém
apresentamos apenas os ajustes com as funções de ligação cujos resultados mostraram-se mais
diferenciados, que aqui denominamos de ajuste 1 e ajuste 2 (ver Tabela 5). Aplicamos o teste
da razão de verossimilhanças (NEYMAN E PEARSON, 1928) para testar a hipótese nula de
que a dispersão dos dados é fixa versus a hipótese alternativa de que a mesma é variável,
concluindo ao nível de significância de 5% a necessidade de uma estrutura para modelar a
dispersão dos dados.
Tabela 5: Estimativas dos parâmetros (Est.), erros-padrão (E.P.) e p-valores dos modelos
considerando as funções de ligação 𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙 para a estrutura da média e 𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙 e 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠 para modelar
a precisão.
Ajuste 1 2
Especificaça 𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙(𝜇𝜇𝑡𝑡 ) e 𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙(𝜙𝜙𝑡𝑡 ) 𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑔𝑔(𝜇𝜇𝑡𝑡 ) e 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠(𝜙𝜙𝑡𝑡 )
˜o
Parâmetro Est. E.P. p- Est. E.P. p-valor
valor
𝜷𝜷𝟎𝟎 0.546 0.267 0.041 0.853 0.446 0.056
𝜷𝜷𝟏𝟏 −0.005 0.001 < −0.006 0.003 0.012
0.001
𝜷𝜷𝟐𝟐 0.010 0.002 < 0.009 0.002 < 0.001
0.001
𝜷𝜷𝟑𝟑 0.004 0.001 0.004 0.005 0.002 < 0.001
𝜷𝜷𝟒𝟒 −0.018 0.004 < −0.023 0.006 < 0.001
0.001
𝜷𝜷𝟓𝟓 0.008 0.002 < 0.008 0.002 < 0.001
0.001
𝜸𝜸𝟎𝟎 3.110 1.557 0.046 −17.409 18.09 0.336
4
𝜸𝜸𝟏𝟏 −0.370 0.094 < − − −
0.001
𝜸𝜸𝟐𝟐 0.138 0.062 0.025 − − −
𝜸𝜸𝟑𝟑 0.332 0.059 < 2.146 0.835 0.010
0.001
𝜆𝜆 1349.416 11.509
Fonte: Elaborado pelo autor.
275
Figura 2: Gráficos de probabilidade normal com envelopes simulados.
0.15
0.25
Resíduos Ponderados (valores absolutos)
0.10
0.15
0.10
0.05
0.05
0.00
0.00
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5
Quantis Quantis
34 24
0.8
0.30
18
Alavancagem generalizada
Alavancagem generalizada
0.6
0.25
41
0.20
0.4
0.15
0.10
0.2
0.05
0.0
0.00
0.24 0.26 0.28 0.30 0.32 0.34 0.24 0.26 0.28 0.30 0.32 0.34
276
Por fim, a Figura 4 apresenta o gráfico dos valores observados versus os valores
estimados, permitindo assim a comparação entre as respostas médias estimadas obtidas a partir
de cada modelo proposto. Como resultado, verificamos que as estimativas médias de OB2014
se diferenciam dependendo da especificação utilizada no modelo. Valendo ressaltar que o
melhor ajuste seria aquele que apresentasse os menores desvios, denotados por 𝜇𝜇𝑡𝑡 − 𝜇𝜇̂ 𝑡𝑡 , com
𝑡𝑡 = 1, … ,50, ou seja, apresentando observações mais próximas possível da reta.
Uma das maneiras de se decidir entre dois modelos de regressão beta não-encaixados
qual que apresenta-se melhor especificado é utilizar o teste J adaptado para este tipo de modelo
apresentado por Cribari-Neto e Lucena (2015). A aplicação deste teste é realizada de forma
sequencial para cada modelo. Primeiramente, para testar a especificação do ajuste 1, incluímos
no mesmo a estimativa do preditor linear do ajuste 2 como variável de teste, em seguida,
testamos a significância do modelo por meio do teste da razão de verossimilhanças, obtendo
assim um p-valor 0.0440. Em sequência, testamos a especificação do ajuste 2 incluindo a
estimativa do preditor linear do ajuste 1 como variável de teste. Desta forma, concluímos aos
níveis usuais de significância que o ajuste 2 apresentou uma melhor especificação dado o p-
valor do teste de 0.2350, ou seja, a partir do teste J temos que o modelo melhor especificado é
aquele com funções de ligação 𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙 e 𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠 para modelar as estruturas de regressão da média
e da precisão, respectivamente.
Figura 4: Gráfico dos valores observados versus os valores estimados da variável obesidade
adulta nos Estados Unidos em 2014, considerado os ajustes com diferentes funções de ligação.
0.36
ajuste 1
ajuste 2
0.34
0.32
Valores Estimados
0.30
0.28
0.26
0.24
Valores Reais
Discussão
Conclusões
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281
AVALIAÇÃO DO IMPACTO DO TURISMO SOBRE MORFOLOGIA CELULAR DE
GRACILARIA CAUDATA J. AGARDH NO PARQUE ESTADUAL MARINHO DE
AREIA VERMELHA, CABEDELO/PB
Resumo
A prática do turismo não ordenado compromete a qualidade ambiental dos recifes sendo
necessário o planejamento turístico baseado em princípios de sustentabilidade. Única Unidade
de Conservação paraibana exclusivamente marinha, o Parque Estadual Marinho de Areia
Vermelha (PEMAV) recebe milhares de visitantes ao longo do ano. Ocorrendo ao longo do
PEMAV, a espécie Gracilaria caudata tem reconhecida importância ecológica e econômica. O
estudo avaliou o impacto do turismo sobre a morfologia celular de G. caudata no PEMAV.
Foram determinadas duas estações (Estações A e B) no PEMAV que se diferenciam pelos níveis
de turismos recebidos. Para coleta de espécimes de G. caudata foi utilizado o método do círculo
graduado desenvolvido por Máximo (2015). Não foram observadas diferenças na estrutura
morfológica celular entre os espécimes de G. caudata das estações A e B, concluindo que os
impactos do turismo não são capazes de promover mudanças no metabolismo e morfologia
celular da espécie.
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Diversidade e biologia das macroalgas marinhas nos ambientes
recifais costeiros no Estado da Paraíba: Estrutura, dinâmica, ecofisiologia e composição das espécies como base
para indicação do estado de conservação e gestão / Estrutura, dinâmica, fotobiologia e composição do fitobentos
marinhos na bioindicação do estado de conservação de ambientes recifais costeiros no Estado da Paraíba
Estudante de Iniciação Científica: Daniel Silva Lula Leite (e-mail: dan_jpb@hotmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail:cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientador(a): George Emmanuel Cavalcanti de Miranda (e-mail: mirandag@dse.ufpb.br, telefone: 83 3216-7406)
282
De caráter interdisciplinar, a pesquisa procura utilizar resultados de estudos histológicos
e fisiológicos das macroalgas como base de dados para tomada de ações de conservação,
avaliando-se a política e gestão ambiental local. A importância da interdisciplinaridade em
estudos ambientais que visem o desenvolvimento foi entendida ao longo do projeto e serviu
como base para elaboração de projetos de pós-graduação, incluindo o do autor, ex-aluno de
Iniciação Cientifica.
Diversas idas ao PEMAV ao longo dos anos 2013, 2014 e 2015 alertaram para a
necessidade de avaliações do impacto da atividade turística, pois o local é um dos pontos mais
visitados do Estado, recebendo dezenas de milhares de visitantes ao longo do ano, que pisam,
jogam lixo e arrancam organismos do ambiente recifal local. Além disso, impactos decorrentes
da ancoragem e tráfego de embarcações já foram constatados em outros estudos na área.
Nesse contexto, buscou-se no projeto apresentado no presente capítulo a análise do
impacto antrópico em um nível imperceptível a olho nu e que há escassez de estudos na
literatura. A percepção de diferenças morfológicas celulares entre populações de uma mesma
espécie submetidas a diferentes níveis de impacto antrópico serve como alerta sobre a saúde
ecossistêmicas e pode representar uma iniciativa de replanejamento ambiental.
Fundamentação teórica
Metodologia e análise
Figura 5 – Localização do Parque Estadual Marinho de Areia Vermelha. Fonte: Adaptado de Costa (2016).
284
De acordo com a classificação climática proposta por Köpen (in Atlas Geográfico da
Paraíba, 1985), o clima da região é As’, se caracterizando por ser quente e úmido. A estação
chuvosa inicia-se em março e estende-se até agosto. A estação seca começa em setembro e
prolonga-se até fevereiro. Os índices de temperatura variam muito pouco, ficando entre 22º e
26ºC (FELICIANO; MELO, 2003).
Um dos principais pontos turísticos do Estado, o PEMAV está submetido a várias
formas de impactos antrópicos decorrentes do turismo mal orientado: caminhada e mergulho
no platô recifal, práticas de lazer sobre o banco de areia, atracagem e tráfego de catamarãs,
dentre outras (COSTA; MIRANDA, 2016b).
A maioria das Áreas Marinhas Protegidas no mundo sofrem com a carência de dados
bióticos e abióticos locais (WOOD et al., 2008). No PEMAV, tal problemática aliada aos altos
custos e falta de vontade dos governantes, retardaram a elaboração e implementação do plano
de manejo.
Os espécimes de Gracilaria caudata foram coletados no dia 07 de julho de 2016, sob
maré 0.3 m, nas estações A e B (Figura 2). Foram coletados 20 organismos em cada estação
utilizando o método do círculo graduado (Figura 3) desenvolvido por Máximo (2015) e unidade
amostral de 50x50 cm.
285
Figura 3 – Esquema do método do círculo graduado descrito por Máximo (2015). Os pontos no interior do círculo
representam diferentes pontos amostrais. Fonte: Máximo (2015).
286
Figura 4 – Microscopia de luz da secção transversal do talo de G. caudata coradas com TB-O. Nota-se a reação
metacromática na parede celular de células corticais, subcorticais, medulares e na camada mucilaginosa (ágar).
Fonte: Elaborado pelo autor.
Faveri et al. (2015) utilizando o mesmo método citoquímico para avaliação do efeito da
urbanização sobre H. musciformis, concluíram que a elevada temperatura (>35°C) foi o
principal estressor para a espécie, causando alterações no metabolismo e morfologia celular e
espessamento de parede na região cortical do talo. Os autores interpretaram o aumento da
espessura da parede celular como um mecanismo de defesa física contra a alta concentração de
nutrientes em ambientes eutrofizados. Yokoya e Oliveira (1992) ao avaliarem o efeito da
salinização ambiental sobre Gracilaria, afirmam que ambientes hipersalinos reduzem o
comprimento das ramificações, enquanto salinidades mais baixas provocam o branqueamento.
Não foram observadas diferenças na estrutura morfológica entre os espécimes de G.
caudata das estações A e B. As reações metacromáticas parecem indicar que há um gradual
aumento da deposição de polissacarídeos ácidos na parede celular em regiões mais antigas do
talo (Figura 5), porém esse fato ocorreu em ambas estações, parecendo estar relacionado com
o comportamento fisiológico da espécie e não em resposta a impactos. Como as estações estão
próximas (>2 km), espera-se que as comunidades recifais de Areia Vermelha e Areia Dourada
estão submetidas as mesmas condições físico-químicas da água, dessa forma, conclui-se que os
impactos do turismo que ocorrem na estação A não são capazes de promover mudanças no
metabolismo e morfologia celular de G. caudata.
O gênero Gracilaria tem reconhecido potencial de crescimento em ambientes
impactados pela urbanização, porém há uma grande lacuna na elucidação das relações
morfofisiológicas e dos fatores ambientais relevantes no desenvolvimento e na adaptação das
suas espécies (OLIVEIRA, 2007).
287
Figura 5 - Secções transversais das regiões dos talos de G. caudata das estações A (A2, M2 e B2) e B (A1, M1 e
B1) coradas com TB-O. Regiões do Talo: A = Ápice; M = Meio; B = Base. Estações de coleta: 1 = Estação B,
Areia Dourada; 2 = Estação A, Areia Vermelha. Seta em M1 indica presença de tetrasporângios. Fonte: Elaborado
pelo autor.
Conclusões
Referências
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291
ANÁLISE DAS PUBLICAÇÕES SOBRE MODELOS DE AVALIAÇÃO DA
COLABORAÇÃO EM REDES DE RELACIONAMENTOS
INTERORGANIZACIONAIS
Resumo
Este artigo tem como principal objetivo realizar uma revisão sistemática da literatura sobre
modelos e ferramentas de avaliação da colaboração em redes de relacionamentos
interorganizacionais. Foi desenvolvida uma visão geral das pesquisas e constatou-se que a
palavra-chave supply chain management foi a mais adotada e o termo supply chain o mais
citado nos títulos dos artigos. Tal resultado corrobora com a análise do conteúdo que demonstra
que grande parte das pesquisas teve como foco a avaliação de redes do tipo cadeias de
suprimentos. Os modelos e ferramentas de avaliação utilizados variaram bastante, destacando-
se a Structural Equation Modeling, utilizada em dois dos artigos analisados. Dentre as
oportunidades para a realização de novas pesquisas cujo foco é a avaliação da colaboração em
redes de relacionamentos interorganizacionais, sugere-se a adoção de ferramentas de
multicritério de apoio à decisão, tal como a Analytic Hierarchy Process, a Analytical Network
Process ou a Graph Theoretic Approach.
Introdução
A colaboração interorganizacional tem sido considerada nos últimos anos por estudiosos
como uma estratégia importante para as organizações alcançarem seus objetivos. Diversos
estudos documentaram as vantagens das redes colaborativas e sua efetividade na prestação de
serviços (HILL; LYNN, 2003; GUO; ACAR, 2005; SOWA, 2009; JANG; FEIOCK;
SAITGALINA, 2016). Lavie (2006), Dyer e Singh (1998) descrevem esta vantagem como
sendo uma vantagem colaborativa que gera benefícios estratégicos obtidos por meio de
relacionamentos interorganizacionais.
Assim, o termo vantagem colaborativa indica que a formação de uma parceria pode ser
importante para o bom desempenho de uma organização, pois formar e manter relacionamentos
colaborativos pode auxiliar no processo de criação de valor aos parceiros, possibilitando às
organizações um significativo poder competitivo (KANTER, 1994). Dyer e Singh (1998), Cao
e Zhang (2011) também afirmam que a vantagem colaborativa advém das rendas relacionais,
um benefício associado ao coletivo, não podendo ser gerado pelas organizações de forma
individual. A colaboração interorganizacional pode acontecer em distintos tipos de redes, como
por exemplo, clusters, alianças estratégicas, entre organizações sem fins lucrativos e até mesmo
entre organizações de diferentes setores da sociedade, como por exemplo, entre às organizações
sem fins lucrativos e empresas privadas.
1
Título do Projeto/Plano de Trabalho: Relacionamentos interorganizacionais como fonte de vantagem
colaborativa/Análise das publicações sobre modelos de avaliação da colaboração em redes de relacionamentos
interorganizacionais.
Estudante de Iniciação Científica: Lucas Carvalho de Oliveira (e-mail: lucascarvalhodeoliveira@hotmail.com)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail:cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientadora: Cláudia Fabiana Gohr (e-mail: claudiagohr@ct.ufpb.br, telefone: 83 3216-7549)
292
Apesar do aumento das pesquisas teóricas e empíricas em relação à colaboração
interorganizacional e seus benefícios (CAO; ZHANG, 2010, 2011; CHAKRABORTY;
BHATTACHARYA; DOBRZYKOWSKI, 2014), poucos estudiosos focaram na avaliação da
colaboração existentes nos relacionamentos interorganizacionais. Mesmo que as empresas
conheçam os benefícios da colaboração, na prática muitas delas fracassam em sua execução, e
a falta de métricas para avaliá-la é um dos motivos para esse insucesso (PARUNG; BITITCI,
2006). Dessa forma, procurando cobrir essa lacuna da literatura, esta pesquisa tem como
principal objetivo realizar uma revisão sistemática da literatura sobre modelos e ferramentas de
avaliação da colaboração em redes de relacionamentos interorganizacionais. Especificamente,
pretende-se desenvolver uma visão geral das pesquisas e analisar o conteúdo dos trabalhos
procurando identificar os principais modelos adotados, as pesquisas que estão sendo
desenvolvidas, lacunas da literatura e oportunidades para o desenvolvimento de novos
trabalhos. Esta pesquisa está vinculada a um projeto maior, intitulado “Relacionamentos
interorganizacionais como fonte de vantagem colaborativa”.
Para o alcance dos objetivos, o capítulo está estruturado da seguinte forma:
primeiramente se apresenta uma revisão da literatura. Em seguida são apresentados os
procedimentos metodológicos, momento em que se detalham os procedimentos adotados para
a revisão sistemática realizada neste artigo. Posteriormente apresentam-se os resultados da
pesquisa. Por fim, as conclusões e sugestões para a realização de futuras pesquisas são
apresentadas.
Revisão da literatura
293
Quadro 1 – Tipos de redes de relacionamentos interorganizacionais
AUTOR(
REDES DEFINIÇÃO
ES)
Aglomerações territoriais que envolvem não só agentes Lastres e
Cluster econômicos, mas também políticos e sociais, que estabelecem Cassiolato
diversos vínculos entre si. (2003)
Rede de organizações que mantêm relações mútuas,
agregando valor aos bens e/ou serviços, desde os fornecedores Gonçalves
Cadeia de de matéria-prima, passando pelos distribuidores, até os , Leite e
suprimentos consumidores finais, incluindo também, eventualmente, os Silva
movimentos de retorno de produtos não consumidos ou (2012)
descartados.
Ocorre quando duas ou mais empresas independentes
Barney e
Alianças resolvem cooperar no desenvolvimento, produção ou venda de
Hesterly
estratégicas produtos. Geralmente podem se subdividir em: joint ventures
(2007)
e alianças com ou sem participação acionária.
Redes de Nessas redes as organizações não competem por lucros, mas
organizaçõe por recursos (financeiros e não financeiros) que permitam Arya e Lin
s sem fins alavancar seus diferentes projetos atendendo a um maior (2007)
lucrativos número de clientes.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Procedimentos metodológicos
Este trabalho tem como principal objetivo realizar uma revisão da literatura sobre
modelos e ferramentas de avaliação da colaboração em redes de relacionamentos
interorganizacionais. Para o alcance do objetivo, foi adotado o método da Revisão Sistemática
da Literatura. Tal método visa a estruturação de etapas claras e reproduzíveis a fim de atingir
uma síntese das principais contribuições científicas de uma determinada área (TRANFIELD;
DENYER; SMART, 2003). Seu resultado permite retirar o viés subjetivo na seleção de um
conjunto de artigos por meio de uma avaliação crítica da literatura, bem como propiciar um
conhecimento dos artigos selecionados por meio da análise de dados quantitativos
(TRANFIELD; DENYER; SMART, 2003). Devido a essas vantagens, a Revisão Sistemática
vem se tornando importante para selecionar pesquisas proeminentes em campos de estudos
ainda em ascensão (LIMA JUNIOR; OSIRO; CARPINETTI, 2013), como é o caso do tema do
presente trabalho.
294
A Revisão Sistemática desta pesquisa transcorreu em três etapas, de acordo com o
proposto por Lacerda, Ensslin e Ensslin (2012): (i) investigação preliminar, onde é selecionada
a base de dados e definem-se os parâmetros de busca; (ii) execução da busca e seleção dos
artigos que comporão o portfólio final; e (iii) análise bibliométrica e de conteúdo do portfólio.
Maiores detalhes sobre os procedimentos adotados serão disponibilizados na seção de
resultados deste trabalho.
A bibliometria consiste em uma análise estatística de trabalhos acadêmicos visando a
obtenção de dados quantitativos da produção científica, possibilitando medir e avaliar o
material selecionado (ARAÚJO, 2006). Para a análise bibliométrica, foram utilizados nesta
pesquisa o BibExcel (desenvolvido e disponibilizado gratuitamente por Ollen Persson) e o
EndNote®. Já a análise de conteúdo teve a finalidade de capturar e organizar diversos dados
empíricos dos trabalhos consultados (GUTHRIE et al., 2004), em especial, os principais
modelos de avaliação da colaboração utilizados nas pesquisas sobre relacionamentos
interorganizacionais.
Resultados
A investigação prévia iniciou-se com a escolha da base de dados para a pesquisa, sendo
selecionada a plataforma Web of Science (WoS) devido ao seu amplo acervo e sua
compatibilidade com os softwares bibliométricos utilizados (EndNote® e BibExcel). Em
seguida, foi determinado o período de tempo para a realização da pesquisa, que contemplou o
período entre os anos de 2000 a 2017. Posteriormente foram definidas as palavras-chave
utilizadas nos campos de busca do WoS de acordo com o tema da pesquisa (Quadro 2). Essas
palavras foram combinadas entre si em pares das seguintes maneiras: (i) título x título, (ii) título
x tópico e (iii) tópico x tópico.
Palavras-chave
Assessment Collaboration Model
Evaluation Model Supply Chain
Maturity Cluster
Maturity Model Industrial district
Collaboration Network
Strategic Alliance
Fonte: Elaborado pelos autores.
295
Quadro 3 - Combinações e resultados
Quantidade
Nº Combinação das palavras-chave
de artigos
1 Combinação inicial (completa) 158.964
2 Combinação sem tópico x tópico 57.051
3 Combinação sem título x tópico 6.806
4 Com a substituição de certas interações por três palavras-chaves 475
Fonte: Elaborado pelos autores.
296
Tabela 1 - Filtros e redução do portfólio
297
Quadro 4 - Portfólio Final
A análise bibliométrica iniciou com o levantamento dos anos em que os trabalhos foram
realizados. Como se pode ver na Figura 1, há uma homogeneidade no número de obras por ano,
com uma pequena redução compreensível nos três anos mais recentes, devido aos filtros citados
na seção anterior.
0
2004 2008 2010 2011 2012 2013 2016
Ao fazer o levantamento dos termos que mais aparecem nos títulos e palavras-chave dos
artigos, constata-se que o termo “Supply Chain” lidera o ranking de aparições. Isso indica que
a maioria dos trabalhos do portfólio se voltou para a colaboração nesse tipo de arranjo
produtivo. Termos como “colaboration”, “model” e “maturity” estão entre os mais retornados
na análise, o que aponta para uma coerência entre os artigos selecionados para a pesquisa. A
frequência dos termos presente nos títulos e palavras-chave pode ser visto nas Figura 2 e Figura
3, respectivamente.
Business
Evaluation
Role
Capital
Outcomes
Interdependence
Integration
Network
Relational
Impact
Collaboration
Strategic
Processes
Alliance
Model
Maturity
Supply Chain
0 1 2 3 4 5 6 7 8
299
Figura 3 – Principais termos das palavras-chave
0
Supply chain collaboration Malaysia Strategic alliance Cluster
management
Número
Periódico JCR 2015
de artigos
Supply Chain Management - An International 2.731
Journal 3
Journal of Cleaner Production 1 4.959
Management Decision 1 1.134
Regional Studies 1 1.987
International Journal of Production Economics 1 2.782
Computers in Industry 1 1.685
Computers in Human Behavior 1 2.880
Information Systems Management 1 1.021
Expert Systems With Applications 1 2.981
Fonte: Elaborado pelos autores.
O BibExcel permite fazer uma análise das referências dos trabalhos selecionados
(Quadro 7. Ainda nas referências, é possível enumerar os autores mais citados, indicando quais
são os pesquisadores mais relevantes dentro do tema objeto de pesquisa, conforme se verifica
300
na Figura 4. Analisando o Quadro 7 é possível verificar que o “Supply Chain Management: an
International Journal”, além de ser o periódico com o maior número de publicações, continua
sendo um dos mais utilizados nas referências dos trabalhos.
PERIÓDICO CITADO
Journal of Operations Management 26
Supply Chain Management: An International Journal 14
International Journal of Production Economics 13
International Journal of Operations & Production Management 10
Harvard Business Review 8
Journal of Cleaner Production 7
Organization Science 7
Decision Sciences 6
International Journal of Production Research 6
Journal of World Business 6
Strategic Management Journal 6
Industrial Marketing Management 5
Journal of Supply Chain Management 5
Production and Operations Management 5
Regional Studies 5
Academy of Management Review 4
European Management Journal 4
Expert Systems With Applications 4
301
Figura 4 - Autores mais citados nas referências dos artigos
Discussão
Método de Modelo/
Autor Objetivo Aplicabilidade
Pesquisa Ferramenta
Fuzzy-rule
Este estudo apresenta um based
framework de tomada de decisão - relationship
Lin e Chen fuzzy para selecionar a aliança intensity
Modelagem Teórico
(2004) estratégica da SC mais favorável function e
segundo recursos de avaliação fuzzy
limitados. relationship
hierarchy
Examina a relação entre a
maturidade do processo de
gerenciamento da cadeia de
Lockamy e SCOR;
suprimentos e desempenho e
McCormack Survey Empírico Análise de
fornece um modelo de maturidade
(2004) Regressão
do processo de gerenciamento da
cadeia de suprimentos para
melhorar o desempenho da cadeia.
Elabora um modelo conceitual Survey/ Back-
Chang et al. para avaliar o desempenho e as Estudo de Propagation
Empírico
(2008) vantagens competitivas Caso Network
associadas ao ERP a partir de uma (método (BPN)
302
Método de Modelo/
Autor Objetivo Aplicabilidade
Pesquisa Ferramenta
perspectiva da SCM. misto)
ColabMM e
Metodologia
Apresenta uma abordagem para
Magdaleno Estudo de business
estimular a colaboração entre Empírico
et al. (2008) Caso process
profissionais.
modeling
(BPM)
Verifica se as empresas que se
integram apenas com parceiros
adjacentes a elas na cadeia de
suprimentos apresentam padrões
Hierarchical
Kannan e diferentes de prática e
Survey Empírico cluster
Tan (2010) desempenho da cadeia de
analysis
suprimentos do que aqueles que
também se integram com
parceiros mais distantes na cadeia
de suprimentos.
Esta pesquisa tem como objetivo
desenvolver um modelo de
maturidade da cadeia de
Reyes e
suprimentos para que as empresas Estudo de
Giachetti Empírico Delphi
mexicanas possam avaliar suas Caso
(2010)
atuais operações de cadeia de
suprimentos e desenvolver um
roteiro de melhoria.
Os objetivos deste artigo são:
argumentar o papel da teoria da
relação pessoal de Kelley (PRT)
na explicação da manutenção e
sucesso dos resultados da aliança;
argumentar a inclusão da
comunicação entre os parceiros da
Structural
cadeia de suprimentos como um
Equation
componente importante do capital
Sambasivan Modeling
de relacionamento, além da Survey Empírico
et al. (2011) (SEM) e
confiança e do comprometimento;
Teste de
testar o impacto da
Sobel
interdependência entre os
parceiros da cadeia sobre os
resultados das alianças
estratégicas; e testar o papel do
capital de relacionamento como
um constructo mediador entre a
interdependência.
Vicente, Analisa clusters de relações de
Social
Balland e conhecimento colaborativas Estudo de
Empírico Network
Brossard incorporadas em redes mais Caso
Analysis
(2011) amplas em um campo tecnológico
303
Método de Modelo/
Autor Objetivo Aplicabilidade
Pesquisa Ferramenta
particular.
Este artigo apresenta um modelo
Raza,
de maturidade de usabilidade Internal-
Capretz e Estudo de
especificamente voltado para Empírico consistency
Ahmed Caso
problemas de usabilidade para Analysis
(2012)
projetos open source.
Desenvolve uma estrutura,
integrando as características da
teoria de custo de transação, teoria Structural
Sambasivan baseada em recursos, teoria de Equation
Survey Empírico
et al. (2013) contingência, teoria de troca social Modeling
e teoria de relacionamento pessoal (SEM)
Kelley e testar o framework
através da investigação empírica.
Analisa a eficácia de duas práticas
Sancha, sustentáveis de gerenciamento de
Partial least
Gimenez e suprimentos (avaliação e
Survey Empírico square
Sierra colaboração) sobre a realização de
(PLS)
(2016) uma cadeia de fornecimento
socialmente responsável.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Pode-se observar que os métodos de pesquisa mais utilizados foram o estudo de caso e
o survey (Figura 5), o que mostra uma tendência dos artigos em desenvolver modelos de
avaliação da colaboração e de análise da colaboração interorganizacional e validá-los por meio
de testes empíricos. Apenas um trabalho adotou o método misto (estudo de caso e pesquisa-
ação) e apenas um artigo utilizou modelagem matemática (por meio da metodologia fuzzy)
como forma de selecionar parceiros para uma cadeia de suprimentos.
4
Estudo de Caso
Survey
Modelagem
Misto
304
Analisando o Quadro 8 também foi possível extrair os principais modelos/ferramentas
adotados nas pesquisas, em que se se observa que o mais utilizado é o Structural Equation
Modeling (SEM) aparecendo em duas pesquisas. Todos os outros modelos/ferramentas
aparecem apenas uma vez, o que pode indicar que não existe um modelo/ferramenta específico
para avaliar a colaboração em relacionamentos interorganizacionais. A soma total dos
modelos/ferramentas ultrapassa o número de artigos no portfólio final, pois alguns artigos
utilizaram mais de um modelo/ferramenta para avaliar e/ou analisar a colaboração
interorganizacional, confirme se observa na Figura 6.
Internal-consistency Analysis
Social Network Analysis
Teste de Sobel
Partial Least Square (PLS)
Delphi
Hierarchical cluster analysis
Business process modeling (BPM)
ColabMM
Back-Propagation Network (BPN)
Análise de Regressão
SCOR
Fuzzy relationship hierarchy
Fuzzy-rule based relationship intensity…
Structural Equation Modeling (SEM)
0 1 2 3
Fonte: Elaborado pelos autores (2017).
Por meio da análise do conteúdo dos artigos e da visão geral das pesquisas realizadas
também foi possível constatar algumas lacunas da literatura, como por exemplo:
Conclusão
305
Este trabalho teve como objetivo principal realizar uma revisão da literatura sobre
modelos e ferramentas de avaliação da colaboração em redes de relacionamentos
interorganizacionais. Para isso, a metodologia empregada foi a revisão sistemática da literatura,
partindo de uma investigação preliminar para identificar as palavras-chaves mais adequadas à
busca, seguida pela seleção dos artigos de acordo com determinados filtros de eliminação e, por
fim, da análise bibliométrica e de conteúdo dos artigos.
Na análise bibliométrica pode-se observar que a palavra-chave “supply chain
management” foi a mais utilizada (Figura 3) e que o termo “supply chain” aparece como o
mais citado nos títulos (Figura 2), indicando uma maior concentração de estudos relacionados
à colaboração cadeia de suprimentos. Tal resultado corrobora com a análise do conteúdo dos
artigos que demonstra que grande parte dos trabalhos teve como foco a análise/avaliação de
redes do tipo cadeias de suprimentos. Além disso, dentre os modelos ou ferramentas mais
adotadas destaca-se a Structural Equation Modeling (SEM) aparecendo em dois dos trabalhos.
Desse modo, pesquisas futuras podem cobrir parte das lacunas apresentadas
anteriormente desenvolvendo modelos de avaliação da colaboração com o uso de ferramentas
específicas e testando-os em contextos diferentes de colaboração, além da cadeia de
suprimentos. Além disso, pesquisadores podem concentrar esforços em estudos teóricos para
melhor compreender os processos de avaliação da colaboração interorganizacional, buscando,
com base na literatura, identificar o(s) modelo(s) mais adequado(s) para ser(em) utilizado(s),
assim como suas vantagens e desvantagens. Considerando que apenas um dos artigos utilizou
a modelagem matemática por meio da adoção do Fuzzy, sugere-se para futuras pesquisas a
adoção de outras ferramentas de multicritério de apoio à decisão, tal como a AHP (Analytic
Hierarchy Process), a ANP (Analytical Network Process) ou a GTA (Graph Theoretic
Approach). Por fim, sugere-se que sejam identificados fatores que influenciam na colaboração
em diferentes tipos de arranjos interorganizacionais, de forma que possam ser utilizados nos
modelos de avaliação da colaboração.
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309
DESENVOLVIMENTO DE MATERIAIS CERÂMICOS PARA UTILIZAÇÃO EM
CÉLULAS A COMBUSTÍVEL DE ÓXIDO SÓLIDO (SOFC)
Resumo
Células a combustíveis são dispositivos que convertem energia química em energia elétrica
através de uma reação de oxirredução. Seu processo de conversão energética é feito de forma
limpa e sustentável, tendo como produtos eletricidade, calor e vapor de água. Estes dispositivos
são formados basicamente por dois eletrodos (anodo e catodo) separados por um eletrólito. O
presente capítulo tem como objetivo estudar cátodos de uma célula a combustível,
especificamente cátodos à base de cobaltato de cálcio (Ca3 Co4 O9 - C349) sintetizadas pelo
método da gelatina. Além do cobaltato de cálcio, foram sintetizadas composições do material
dopados com CuO. Os pós foram caracterizados por difração de raios X (DRX) e Microscopia
eletrônica de varredura (MEV). Os pós obtidos a partir do método dos gelatina mostraram-se
eficazes para a confecção de materiais catódicos para células a combustível de óxido sólido
(SOFC).
Apresentação
Este capítulo é um projeto que faz parte do grupo de pesquisa em células a combustível
da Universidade Federal da Paraíba, projeto de iniciação científica (IC) intitulado
“Desenvolvimento de materiais cerâmicos para utilização em células a combustível de óxido
sólido”. Esse projeto foi elaborado e orientado pela Professora Dra Flávia de Medeiros Aquino
no período correspondente a 6 meses (março de 2016 a julho de 2016).
A preocupação com o crescimento da demanda mundial de energia juntamente com a
escassez de combustíveis fósseis, aumento da poluição, e a preocupação com danos ambientais,
tem sido o principal motivo para o investimento em novos tipos de energia que possuam uma
boa eficiência e confiabilidade. Nesse contexto, as células a combustível destacam-se como
uma tecnologia bastante promissora.
A partir de 1970 já existiam vários tipos de pilhas diferentes, porém foi na época de 80
que ocorreu um maior avanço dessa tecnologia, tornando possível o uso de pilhas a combustível
em veículos particulares, transportes coletivos, assim como na geração de energia elétrica em
larga escala. Atualmente, sua aplicação pode ser vista em diversos lugares do mundo como
Estados Unidos, Alemanha, Canadá e Japão (AMADO et al, 2007).
O estudo apresentado neste capítulo teve como principal objetivo sintetizar e
caracterizar a cobaltita de cálcio puro e dopada com CuO em diferentes composições, onde
utilizou-se o método da gelatina para o processo de síntese e utilização das técnicas de difração
de raios X (DRX) e microscopia eletrônica de Varredura (MEV) para a caracterização estrutural
e morfológica.
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Desenvolvimento de materiais cerâmicos para utilização em
células a combustíveis de óxido (SOFC)
Estudante de Iniciação Científica: Matheus Fernandes Caldas Souza (e-mail: fcs.matheus@gmail.com)
Instituição de Vínculo de bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail: cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientador(a): Flávia de Medeiros Aquino (e-mail: flavia@cear.ufpb.br)
310
Fundamentação teórica
Os prótons são transportados pelo eletrólito e os elétrons são conduzidos ao cátodo por
um circuito externo onde ocorrerá a reação de redução do oxigênio e formação de água através
da equação 2:
1⁄2 O2(g) + 2e− → O2− Eq. 2
Nas células a combustível de óxido sólido e nas células de carbonato fundido, o íon
migra através do eletrodo catódico (AQUINO, 2012).
A reação global, a equação 3, desse processo pode ser escrita da seguinte forma:
Os eletrodos são ligados por um interconector que tem função de conduzir corrente de
311
um eletrodo para o outro, sem que os mesmos tenham contato direto, evitando uma possível
degradação.
As células a combustível são diferenciadas por suas propriedades e por seus materiais.
Geralmente essas células podem ser classificadas por suas diferentes temperaturas de operação
e por seus diferentes tipos de eletrólito. Podemos classificar as células a combustível em de
baixa temperatura (T < 250 ºC) e de temperaturas intermediárias e altas (500 < T < 1000 ºC).
Dentre as células de baixa temperatura podemos citar a célula a combustível de ácido fosfórico
(PAFC), a de metanol direto (DMFC), a célula a combustível de membrana trocadora de prótons
(PEMFC) e célula alcalina (AFC). Já dentre as de alta temperatura de operação podemos citar
as células de carbonato fundido (MCFC) e a célula de óxido sólido (SOFC) (AMADO et al,
2007).
As células a combustível de óxido sólido são amplamente utilizadas como dispositivos
geradores de energia. Sua tecnologia é usada para produzir eletricidade sem causar danos ao
meio ambiente, e com uma alta eficiência de aproximadamente 60%, funcionando no intervalo
de 700-1000 ºC. (SHAIKH et al, 2015). Além disso, a célula de óxido sólido (SOFC) possui
algumas vantagens sobre outros tipos de células, incluindo materiais relativamente baratos,
baixa sensibilidade para impurezas no combustível, componentes versáteis, boa estabilidade
mecânica, baixa reatividade química e outros atributos favoráveis (SUN et al, 2009).
O eletrodo catódico em uma célula a combustível de óxido sólido deve possuir as
seguintes características: estabilidade química e estrutural; alta condutividade eletrônica;
expansão térmica compatível com o eletrólito; compatibilidade e reatividade mínima com o
eletrólito e o interconector, com os quais o eletrodo mantém contato e, uma boa porosidade para
facilitar o transporte de oxigênio para a fase gasosa na interface eletrodo/eletrólito (AMADO
et al, 2007).
De forma a reduzir as perdas de performance da célula, diminuir os custos de materiais
e a manutenção da pilha, estudos vêm sendo aprofundados para desenvolver células de óxido
sólido de temperatura intermediária (600-800 ºC), incluindo a procura por novos materiais de
eletrólito com alta condutividade iônica, diminuindo a espessura do eletrólito por novas técnicas
de fabricação e desenvolvendo materiais para os eletrodos com melhor desempenho (YU et al,
2015). Embora a diminuição da temperatura de operação da célula reduza os custos com
manutenção, isso também aumenta a resistência do eletrólito e reduz as taxas de reações
eletrocatalíticas na célula.
O cobaltato de cálcio (Ca3 Co4 O9 ) tem atraído um grande interesse como um material
termoelétrico promissor, devido capacidade de transformar o calor residual nas células a
combustível de óxido sólido em energia elétrica e também às suas boas propriedades como a
alta performance termoelétrica e impressionante estabilidade térmica e química à altas
temperaturas. (KANG et al, 2014). A estrutura da cobaltita contém camadas do tipo CdI2
compostas por CoO2 intercaladas com camadas do tipo sal-rocha compostas por Ca2 CoO3 ,
como mostra a Figura 2. Já que a reação de redução do oxigênio que ocorre no cátodo é
considerada uma reação catalítica polifásica, a mobilidade do íon e a condutividade eletrônica
do cátodo são críticas para o desempenho eletroquímico. Todas essas propriedades tornam o
C349 um material promissor para ser utilizado como cátodo de uma SOFC (YU et al, 2015).
312
Figura 2 – Estrutura em camadas do cobaltato de cálcio
Metodologia e Análise
Para o estudo da estrutura cristalina do material Ca3−x Cux Co4 O9 (0<x<0,2) foi realizada
a técnica de difração de raios X (DRX). O equipamento utilizado foi o difratômetro BRUKER
D2 PHASER, com radiação Kα do cobre (1,54 Å), tensão de 30 kV, corrente de 30 mA,
314
velocidade de varredura de 2º.min−1 e passo de 0,02º. Os ângulos de difração (2θ), foram
escaneados numa faixa de 10 a 80º. A identificação foi realizada por comparação com dados
do JCPDS – International Center of Diffraction Data através do programa X’pert HighScore
Plus e o tratamento dos dados foi feito utilizando o Origin 8.0.
As informações sobre a microestrutura dos pós foram obtidas utilizando a técnica de
microscopia de eletrônica de varredura (MEV). Essas informações incluem: forma, tamanho e
homogeneidade dos grãos formados, bem como, a formação de poros. Essas características
estão diretamente associadas às propriedades elétricas do material Ca3 Co4 O9 . As imagens de
MEV foram obtidas utilizando um microscópio eletrônico de varredura de marca JEOL e
modelo LEO1430 de potência de 15 kV, e utilizando revestimento de carbono para amostras.
Foram sintetizados os óxidos Ca3 Co4 O9 , Ca2,99 Cu0,01 Co4 O9 , Ca2,95 Cu0,05 Co4 O9 ,
Ca2,9 Cu0,1 Co4 O9 , , Ca2,8 Cu0,2 Co4 O9 pelo método da gelatina. Nas Figuras 4 e 5 são
apresentadas as micrografias para os materiais Ca3 Co4 O9 e Ca2,8 Cu0,2 Co4 O9 , respectivamente.
Os resultados de análises de difração de raios X na figura 6 mostraram a formação da fase
cristalina na temperatura de 900 ºC para os respectivos materiais sintetizados.
315
Figura 5 – Micrografia do material Ca2,8Cu0,2Co4O9
Figura 6 – Padrões de difração de raios X de pós calcinados Ca3−x Cux Co4 O9 (0<x<0,2) a 900
°C
Conclusões
Referências
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YU, S. et al. Effect of calcination temperature on oxidation state of cobalt in calcium cobaltite
and relevant performance as intermediate-temperature solid oxide fuel cell cathodes. Journal
of Power Sources, v. 280, p. 581–587, 2015.
318
A TEORIA DO GRAU DE BROUWER E ALGUMAS APLICAÇÕES
Resumo
O presente capítulo tem por objetivo estudar a Teoria do Grau Topológico de Brouwer, o qual
permite encontrar respostas significativas quanto a existência, unicidade ou multiplicidade de
soluções para certas equações não lineares que surgem na Análise Funcional Não Linear, bem
como em vários ramos da ciência. A partir da leitura e estudo de artigos, dissertações e outras
publicações da área, buscamos compreender os principais resultados inerentes a essa temática,
envolvendo alguns resultados de Análise no espaço RN, e teoria das Equações Diferenciais
Ordinárias com enfoque para o Teorema da Existência e Unicidade de Soluções para tais
equações. Com esses resultados em mente, partimos para o estudo da Teoria do Grau e,
posteriormente, abordamos algumas de suas aplicações, como seu uso nas demonstrações do
Teorema do Ponto Fixo de Brouwer, do Teorema do Ouriço e do Teorema da Separação de
Jordan.
Apresentação
1
Título do Projeto de Pesquisa/Plano de Trabalho: Análise Não Linear Aplicada a Equações Diferenciais Elípticas/
A Teoria do Grau de Brouwer e Algumas Aplicações
Estudante de Iniciação Científica: Rafael Pereira de Lima (e-mail: rafaelpereiralima@outlook.com, telefone: 83
987502266)
Instituição de vínculo da bolsa: UFPB/CNPq (www.propesq.ufpb.br e-mail:cadastrocgpaic@propesq.ufpb.br)
Orientador: Uberlandio Batista Severo (e-mail: ubsevero@gmail.com, 83 91089730)
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da pesquisa.
Para nos guiar teoricamente, nos apoiamos em pressupostos teórico-metodológicos da
Análise no espaço 𝑅𝑅𝑅𝑅 e outros espaços métricos que apresentam a linguagem necessária a
construção da teoria do grau. Nessa perspectiva, nos baseamos fortemente em autores como
Elon (2010), Almeida (2006) e Berestycki (1975).
Durante a vigência do projeto, realizamos seminários semanais para a exposição e
discussão dos conteúdos abordados no projeto, além de resolução de exercícios sobre o tema,
participação em cursos de verão e acompanhamento de aulas na pós-graduação.
Fundamentação teórica
O estudo das equações diferenciais teve um grande avanço no século XVIII no que diz
respeito a obtenção de soluções explícitas ou sua representação via séries, ou seja, o tratamento
dado a essa teoria era quantitativo. No entanto, é relativamente difícil encontrar exemplos de
equações cujas soluções sejam obtidas explicitamente. Somente por volta de 1880, com os
trabalhos de Poincaré, é que essa teoria passou a ser vista de um ponto de vista qualitativo, quer
dizer, passou a se ter o interesse em investigar questões como a existência e comportamento da
solução, sem necessariamente, se ter o conhecimento da solução de maneira explícita. A partir
de então, a teoria qualitativa vem sendo intensamente desenvolvida, impulsionando o
surgimento de novas técnicas no estudo de equações diferenciais, dentre os quais podemos
destacar os métodos variacionais e topológicos que fazem parte da área de Análise Funcional
Linear e Não-Linear.
Atualmente, sabemos que a subárea de Equações Diferenciais Parciais (EDP) tem tido
um amplo progresso nos últimos anos, devido a quantidade e qualidade das publicações em
revistas de circulação internacional, a formação de um expressivo número de novos
pesquisadores na área e a consolidação da pós-graduação e da pesquisa em alguns centros
emergentes, além da intensificação dos intercâmbios entre muitos pesquisadores nacionais e
internacionais.
Vários problemas na Análise Funcional Não-Linear consistem em encontrar soluções
para equações do tipo 𝑓𝑓(𝑥𝑥) = 𝑦𝑦. Como veremos na próxima seção, a cada terna (𝑓𝑓, Ω, 𝑦𝑦), onde
Ω ⊂ ℝ𝑛𝑛 , 𝑦𝑦 ∈ ℝ𝑛𝑛 e 𝑓𝑓 uma função contínua definida em Ω, associamos um número inteiro 𝑑𝑑 de
tal modo que as propriedades da função 𝑑𝑑 nos permita encontrar respostas significativas quanto
a existência, unicidade ou multiplicidade de soluções destas equações. Com esta ferramenta,
poderemos demostrar o Teorema do Ponto Fixo de Brouwer, o Teorema do Ouriço e o Teorema
da Separação de Jordam.
Metodologia e análise
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𝐶𝐶̅ ∞ (Ω) = ∩𝑘𝑘≤1 𝐶𝐶̅ 𝑘𝑘 (Ω);
|𝑓𝑓|0 = max |𝑓𝑓(𝑥𝑥)|, quando 𝑓𝑓 ∈ 𝐶𝐶(𝐴𝐴) e 𝐴𝐴 ⊂ ℝ𝑛𝑛 for compacto;
𝐴𝐴
𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠 𝑓𝑓: Fecho do conjunto dos pontos 𝑥𝑥 ∈ ℝ𝑛𝑛 tais que 𝑓𝑓(𝑥𝑥) ≠ 0.
Definição 2. Sejam 𝑈𝑈 ⊂ ℝ^𝑛𝑛 um conjunto aberto e 𝑓𝑓: 𝑈𝑈 → ℝ uma função. Para cada
𝜕𝜕𝜕𝜕
𝑖𝑖 = 1, … , 𝑛𝑛, definimos a 𝑖𝑖-ésima derivada parcial de 𝑓𝑓 em 𝑎𝑎 ∈ 𝑈𝑈, e denotamos por 𝜕𝜕𝑥𝑥 (𝑎𝑎), pelo
𝑖𝑖
seguinte limite
caso exista
Definição 3. Sejam 𝑈𝑈 ⊂ ℝ𝑛𝑛 um aberto. Dizemos que uma aplicação 𝑓𝑓: 𝑈𝑈 → ℝ é a classe
𝜕𝜕𝜕𝜕
𝐶𝐶 1 se as derivadas parciais 𝜕𝜕𝑥𝑥 , 𝑖𝑖 = 1, … , 𝑛𝑛 existem e são contínuas.
𝑖𝑖
Definição 5. Diremos que um conjunto 𝐴𝐴 ⊂ ℝ𝑛𝑛 tem medida nula, e indicamos por
𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚(𝐴𝐴) = 0, quando para todo 𝜖𝜖 > 0 dado, existem retângulos abertos 𝐵𝐵1 , … , 𝐵𝐵𝑘𝑘 , … do ℝ𝑛𝑛 ,
tais que
∞ ∞
Teorema 2. Sejam 𝐴𝐴 ⊂ ℝ compacto e 𝑓𝑓: 𝐴𝐴 → ℝ𝑛𝑛 uma função contínua. Então, existem
uma função contínua 𝑓𝑓:̅ ℝ𝑛𝑛 → ℝ𝑛𝑛 tal que 𝑓𝑓 (̅ 𝑥𝑥) = 𝑓𝑓(𝑥𝑥) para todo 𝑥𝑥 ∈ 𝐴𝐴.
321
𝑔𝑔′ (𝑓𝑓(𝑎𝑎)). 𝑓𝑓 ′ (𝑎𝑎): ℝ𝑛𝑛 → ℝ𝑝𝑝 .
Teorema 4. (Teorema da Função Inversa). Sejam 𝑈𝑈 ⊂ ℝ𝑛𝑛 e 𝑓𝑓: 𝑈𝑈 → ℝ𝑚𝑚 uma aplicação
de classe 𝐶𝐶 1 . Se para 𝑎𝑎 ∈ 𝑈𝑈, 𝐽𝐽𝐽𝐽(𝑎𝑎) ≠ 0, então existem abertos 𝑉𝑉 e 𝑊𝑊, contendo 𝑎𝑎 e 𝑓𝑓(𝑎𝑎),
respectivamente, tais que 𝑓𝑓 é um difeomorfismo de classe 𝐶𝐶 1 entre 𝑉𝑉 e 𝑊𝑊. Além disso, 𝑦𝑦 ∈ 𝑊𝑊,
temos
−1
(𝑓𝑓 −1 )′ (𝑦𝑦) = [𝑓𝑓 ′ (𝑓𝑓 −1 (𝑦𝑦))] .
Teorema 9. (Teorema de Sard). Sejam 𝑈𝑈 ⊂ ℝ𝑚𝑚 um conjunto aberto e 𝑓𝑓: 𝑈𝑈 → ℝ𝑚𝑚 uma
aplicação de classe 𝐶𝐶 1 . Se 𝑆𝑆 = {𝑥𝑥 ∈ 𝑈𝑈; det 𝑓𝑓 ′ (𝑥𝑥) = 0}, então 𝑓𝑓(𝑆𝑆) tem medida nula.
Com o embasamento dos conceitos vistos acima, partimos para o estudo da Teoria do
Grau Topológico de Brouwer. Fizemos tal estudo em três etapas. Primeiro, mostramos que a
aplicação grau é única, em seguida, passamos a construir o grau e por fim fizemos algumas
aplicações da teoria desenvolvida.
̅ e y ∈ ℝn \𝑓𝑓(𝜕𝜕Ω)}, onde 𝒟𝒟
Unicidade do Grau: Seja 𝑀𝑀 = {(𝑓𝑓, Ω, 𝑦𝑦): Ω ∈ 𝒟𝒟, 𝑓𝑓 ∈ 𝐶𝐶(Ω
𝑛𝑛
é a coleção de todos os subconjuntos abertos do ℝ . Seja 𝑑𝑑: 𝑀𝑀 → ℤ uma função satisfazendo
as seguintes propriedades: