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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I


CURSO DE PSICOLOGIA

DIEGO CONCEIÇÃO MIRANDA

RELATÓRIO DE ESTÁGIO

Salvador
2022
DIEGO CONCEIÇÃO MIRANDA

RELATÓRIO DE ESTÁGIO

Trabalho acadêmico apresentado à disciplina


Estágio Supervisionado em Processos Sociais
e Educativos III, do curso de Psicologia, da
Universidade do Estado da Bahia, como
requisito parcial para conclusão do componente
curricular.

Orientadora: Profª Drª Meire Pereira Checa

Salvador
2022
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 4
PRESSUPOSTOS TEÓRICOS 5
DESCRIÇÃO DA INSTITUIÇÃO 7
DIRECIONAMENTOS DO TRABALHO 9
OBJETIVOS 9
ATIVIDADES DESENVOLVIDAS 9
Tabela 2 - Cronograma de atividades da oficina de Orientação Profissional 10
RESULTADOS E DISCUSSÃO 14
REFERÊNCIAS 18
APÊNDICE – RELATÓRIOS DE CAMPO 19
RELATÓRIO DE CAMPO SEMANAL – 11/04/2022 a 15/04/2022 19
RELATÓRIO DE CAMPO SEMANAL – 18/04/2022 a 22/04/2022 21
RELATÓRIO DE CAMPO SEMANAL – 25/04/2022 a 29/04/2022 23
RELATÓRIO DE CAMPO SEMANAL – 02/05/2022 a 06/05/2022 27
RELATÓRIO DE CAMPO SEMANAL – 09/05/2022 a 13/05/2022 30
RELATÓRIO DE CAMPO SEMANAL – 09/05/2022 a 13/05/2022 32
RELATÓRIO DE CAMPO SEMANAL – 16/05/2022 a 20/05/2022 33
RELATÓRIO DE CAMPO SEMANAL – 25/05/2022 a 27/05/2022 36
RELATÓRIO DE CAMPO SEMANAL – 30/05/2022 a 03/06/2022 36
RELATÓRIO DE CAMPO SEMANAL – 06/06/2022 a 10/06/2022 38
RELATÓRIO DE CAMPO SEMANAL – 04/07/2022 - 08/07/2022 40
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INTRODUÇÃO

O presente relatório busca estruturar as reflexões e contribuições


oriundas das práticas envolvidas no componente curricular Estágio
Supervisionado em Processos Sociais e Educativos III, da qual foi direcionada
a um colégio público estadual em Salvador.
Este campo de prática pode ser entendido como ainda pouco
desenvolvido na Psicologia Escolar, principalmente pelo número praticamente
inexistente de profissionais de psicologia inseridos na educação básica
oferecida pelo Estado.
Quando recorremos à Patto (2004), compreendemos que a ausência
desses profissionais é sustentada tanto por conta da negligência da psicologia
frente a realidade social brasileira, quanto pelo modelo de educação que foi
estruturado no Brasil ao longo dos anos.
Acerca desse modelo, Patto (2004) demonstra que o projeto educacional
no Brasil vai tomando forma a partir dos interesses das elites políticas e
econômicas existentes até os dias atuais. Para a autora, a preocupação
puramente quantitativa, sem se atentar para a qualidade do ensino oferecido à
maioria da população brasileira, molda a educação que possuímos hoje. De tal
modo, para a autora, essa educação torna-se marcada pela falta,
principalmente de conhecimento crítico e voltado para a realidade social.
Para Patto (2004), a consequência de se pensar apenas no número de
cadeiras, sem levar em consideração as pessoas que as ocupariam, seria
justamente um sistema falido de educação, produtora de inúmeros fracassos.
Fracassa o aluno, pois não consegue vislumbrar um projeto de vida a
partir desse ensino ofertado, fracassa o professor, por não conseguir cumprir
com a difícil missão de ensinar nessa realidade, fracassa também a escola,
esta que se apresenta cada dia mais evadida, e principalmente, fracassa toda
uma sociedade.
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PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

Assim como exposto anteriormente, toda a prática envolvida nesta


disciplina teve como suporte teórico a visão crítica de Patto (2004) acerca da
Psicologia Escolar, bem como da inserção da Psicóloga no contexto
educacional na mediação com as queixas e “problemas” trazidos pela escola.
Patto (2004) afirma que é de suma importância para o profissional de
Psicologia inserido no contexto escolar problematizar os anos de práticas, que
por sua vez, se mostraram ineficazes para auxiliar no processo de
escolarização, sobretudo na realidade brasileira.
Práticas voltadas para uma visão individual das dificuldades enfrentadas
pelos estudantes, de cunho patologizante, marcam a atuação histórica da
psicologia nas escolas, da qual se voltou exclusivamente para dar conta da
“queixa escolar”.
Para a autora, a então queixa escolar é formulada com o intuito de
individualizar e culpabilizar o indivíduo pelo seu processo de escolarização. A
manutenção dessa queixa escolar também busca isentar a escola e o seu
modelo empregado de se responsabilizar pelas dificuldades existentes na
unidade escolar.
Como alternativa, Patto (2004) sugere que é necessário entender,
escutar e envolver todos os atores que fazem parte do ambiente escolar,
trazendo intervenções em coletivo, sem olhar os problemas de forma isolada
ou de forma biológica.
Em consonância com essa alternativa teórica, Andrada (2005, p.197)
afirma que “Vygotsky (1979, 1983, 1998) elaborou todo um conhecimento
acerca de como aprendemos, igualando todos os seres humanos no seu
processo de aprendizagem, independente das possíveis limitações orgânicas
e/ou físicas”. Desse modo, mostra-se mais efetivo o olhar material dialético e
sócio histórico dos fenômenos, envolvendo todos os elementos psicossociais
que perpassam pelo processo educacional.
No tocante ao suporte teórico da principal atividade desenvolvida neste
trabalho de estágio, a oficina de Orientação Profissional, também adotamos os
mesmos pressupostos políticos e científicos das considerações acima
6

apresentadas. Assim, trabalhamos com a perspectiva da Psicologia Sócio


Histórica, em específico a proposta de atuação em Orientação Profissional de
Bock (2018).
Para sermos fidedignos aos conhecimentos de Bock (2018),
trabalhamos com os estudantes da turma do 3º Ano as temáticas que
envolviam o mercado de trabalho e as questões envolvidas na escolha
profissional. Tais reflexões foram direcionadas para um diálogo coletivo e
informativo, construído por todos os envolvidos.
Assim como defendido por Aguiar (2006), o raciocínio percorrido nos
trabalhos com Orientação Profissional deve fugir do discurso meritocrata e
individualizante, prezando pelo fortalecimento da rede coletiva de disseminação
de informações e rede de apoio.
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DESCRIÇÃO DA INSTITUIÇÃO

O Colégio Estadual Deputado Luis Eduardo Magalhães – CEDLEM é


uma escola que compõe a rede básica de ensino do Estado. Localizado na rua
Manoel Rufino, o então colégio está situado em uma área de extrema
vulnerabilidade no bairro do Arenoso.
A região carrega uma importante história junto aos movimentos sociais
de luta em prol do movimento negro, pois a área já abrigou um dos principais
quilombos de Salvador. Essa importância é reconhecida não por parte do poder
público, mas sim, pelas iniciativas populares e de organizações de moradores
do bairro.
A escola oferta cursos do ensino fundamental II, ensino médio e EJA.
Funcionando nos turnos matutino, vespertino e noturno, CEDLEM possui um
quantitativo de 903 alunos matriculados nos turnos matutino e vespertino,
conforme nos foi fornecido pela direção da escola, sob consulta do sistema de
informação da Secretaria de Educação:
Tabela 1 – Quantitativo de discentes matriculados na instituição

Matutino Vespertino
Turm Turm
Série Nº de Alunos Série Nº de Alunos
a a
A 38 6º Ano A 40
6º Ano B 37 7º Ano A 37
C 37 RE 47
A 31 A 32
8º Ano
7º Ano B 32 B 30
C 30 C 31
RF 40 A 38
8º Ano
RE 40 9º Ano B 32
A 43 C 31
9º Ano
B 37 RF 40
1º Ano
1º Ano A 33 RE 19
A 33
2º Ano
B 29
A 32
3º Ano
B 34
Total 526 Total 377
TOTAL GERAL 903
Fonte: Elaboração própria (2022).
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Como não obtivemos o quantitativo do turno da noite, acreditamos o


total geral pode se aproximar dos 1.000 alunos matriculados na instituição. As
turmas são bastante numerosas, entretanto, cada turma possui uma média de
apenas 15 alunos frequentando diariamente a sala de aula.
O colégio possui um amplo terreno, e três pavilhões de aula. Além das
salas de aula, apenas o pavilhão principal possui banheiros, além de uma
biblioteca desativada, sala de vídeo e cantina para as refeições. O segundo
pavilhão possui uma sala da coordenação pedagógica e uma sala para os
professores.
O ambiente como um todo carece de espaços para socialização e lazer.
No que se refere à prática de esportes, a escola conta com uma quadra,
localizada ao fundo da escola.
9

DIRECIONAMENTOS DO TRABALHO

OBJETIVOS

● Compreender o papel da profissional de psicologia atuando em uma


instituição de ensino público básico
● Levantar as demandas da instituição a partir da escuta qualificada dos
atores presente no ambiente escolar
● Observação das atividades presentes na rotina da escola
● Trabalhar temas emergentes com os estudantes, promovendo a
socialização e construção do projeto de vida

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

A partir dos objetivos estipulados para este trabalho, realizamos


observações nas atividades corriqueiras do colégio, sobretudo na Direção da
unidade escolar. Nas observações, também pudemos efetuar escuta de todos
os participantes no funcionamento da escola, compreendendo as relações e as
influências que cada um exerce entre si.
Com as observações, realizamos o levantamento das principais
demandas presentes na escola, e com isso, gerou-se a possibilidade de pensar
propostas de intervenção em diversos eixos e com a participação de todos os
atores presentes na escola.
Entretanto, tendo em vista o curto prazo de vigência do semestre de
vigência do Estágio Supervisionado em Processos Sociais e Educativos III,
priorizamos o fortalecimento da escola com a rede SUAS do distrito, e a
execução de uma oficina de Orientação Profissional com a turma do 3º ano do
ensino médio. Conforme listado abaixo, foram executadas as seguintes
atividades:
1) Escuta dos atores presentes na escola e observação da dinâmica
escolar.
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2) Visita ao CRAS para obter melhores informações acerca do distrito


em questão, assim como o fortalecimento da relação entre a rede
SUAS e a escola.
3) Construção do projeto de intervenção a partir das demandas
levantadas.
4) Participação no conselho de classe e ampliação do diálogo com os
professores.
5) Elaboração e execução de oficinas de Orientação Profissional.
6) Articulação para a permanência do vínculo enquanto campo de
atuação e estágio profissional para o curso de Psicologia – UNEB.
A articulação com a rede SUAS se deu por intermédio da comunicação
com o psicólogo do CRAS do distrito de abrangência da escola em questão.
Elaboramos também um formulário de encaminhamento, conforme foi sugerido
pelo próprio psicólogo do CRAS, para que as demandas pudessem ser
acompanhadas e direcionadas aos órgãos competentes para atender as
demandas.
No tocante a oficina de Orientação Profissional, elaboramos o presente
cronograma com as atividades que foram elaboradas em cada encontro. Todas
os encontros tiveram objetivos específicos, dos quais nortearam as atividades
desenvolvidas em cada dia.

Tabela 2 - Cronograma de atividades da oficina de Orientação Profissional

ENCONTRO ATIVIDADES OBJETIVOS


S
Dinâmica de apresentação Visa-se promover a
através do Curtograma, a socialização do grupo e
turma formou duplas em que sensibilização do tema com
cada um apresentaria o outro o levantamento de
respondendo 5 perguntas: 1- interesses para ser
Nome; 2- Coisas que gosto e trabalhado no decorrer dos
faço; 3- Coisas de que gosto, encontros. Desenvolver
mas não faço; 4- Coisas que grupalmente reflexões a
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Encontro não gosto, mas faço; 5-


01 Coisas que não gosto, e não
faço.
→ Exposição sobre: formas de
acesso e programas de estágio,
respeito das possíveis
primeiro emprego e jovem
estratégias de
aprendiz.
enfrentamento das
→ Na sequência, entregamos dificuldades encontradas
novas folhas de papel para que os para o objetivo desejado.
estudantes escrevessem a
principal dificuldade que eles
visualizam quando pensam em se
inserir no mercado de trabalho.

→ Grupos de Discussão: a
partir da seleção e Exercitar a capacidade de
categorização dos temas mais elaboração de estratégias
Encontro 02 citados por eles como frente às dificuldades, sem
dificuldades, foram distribuídos desconsiderar suas
cinco temas para discussão em realidades.
grupo.
→ Oficina de confecção de
Desenvolver conhecimento
currículo: orientações para
técnico acerca da elaboração
confecção de currículo;
Encontro de documentos essenciais
atividade de fixação; orientações
03 para a inserção no mercado
para cadastro de currículos em
de trabalho.
plataformas digitais.

→ Feira das Profissões: Fortalecer o senso de


Encontro dos estudantes com pertencimento com a escola
Encontro
ex-alunos formados pelo e desenvolvimento de
04
colégio deles; Apresentação estratégias para contar as
dos ex-estudantes, sua história adversidades do mercado de
de vida e compartilhamento da trabalho existentes para os
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experiência de ser ex-aluno da alunos de escolas públicas, a


escola; Perguntas, dúvidas e partir do relato e
reflexões sobre o que foi experiências reais de
trazido pelos convidados. pessoas que possuem
histórias semelhantes às dos
participantes.
Fonte: Elaboração Própria (2022).

Mesmo não tendo tempo hábil para executar todas as atividades


pensadas como intervenção às demandas, elaboramos uma proposta de
práticas em que envolvesse todos os atores da escola, além de oferece ao
curso de Psicologia da UNEB o desenvolvimento de práticas no campo de
Ensino, Pesquisa e Extensão. Assim, desenvolvemos as atividades principais
em três eixos:
EIXO I - Plantão Psicológico
● Levantamento, Acolhimento, Encaminhamento e Acompanhamento das
demandas consideravelmente críticas em Saúde Mental.
o Dos estudantes: Identificar casos com gravidade de adoecimento
ou sofrimento mental nos alunos. Dar continuidade no
acompanhamento nos casos de abuso sexual.
o Dos professores/gestores: Articular junto a SEC, o projeto Saúde
do Professor, solicitando uma maior atenção por parte do projeto.
Encaminhamento individual para profissionais especializados nas
respectivas demandas apresentadas, com atendimento gratuito
ou de baixo custo.
● Fortalecimento de vínculo institucional com os dispositivos de atenção
psicossocial existentes no distrito, tais como: Serviço de Psicologia -
UNEB, CAPS Pernambués, CRAS e Conselho Tutelar.
● Acompanhamento dos casos encaminhados junto à rede de Atenção
Psicossocial, bem como o registro dos avanços e agravos na situação
psicossocial dos alunos assistidos.

EIXO II - Orientação Profissional (Ensino Médio)


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● Atuação em conjunto com os alunos, professores e com a coordenadora


pedagógica na adaptação do conteúdo trabalhado em sala para a área
de Orientação Profissional, abrangendo todas as turmas do Ensino
Médio.
o A Orientação Profissional aconteceria processualmente, tendo
início no 1º ano do ensino médio, até o 3º ano.
● Ciclos de palestras com temas relacionados ao contexto dos estudantes,
contexto esse trazido pelos próprios alunos, ou identificado pelos
profissionais.
● Articular a inserção de projetos e cursos profissionalizantes para a
escola.
● Oferecer suporte tecnológico para os alunos se inscreverem em
vestibulares, cursos, projetos, e confeccionarem currículos.

EIXO III - Educação Socioemocional


● Desenvolver em conjunto com as disciplinas de Artes e Educação Física
dinâmicas e atividades que trabalhem o desenvolvimento de habilidades
socioemocionais nos estudantes.
● Articular a introdução de projetos artísticos, tais como: Oficina de Teatro,
Oficina de Dança, Oficina de Graffiti, etc. E também fomentar a inserção
de projetos culturais, tais como: cultivo de horta.
● Estimular, também na disciplina de Artes, a confecção de adereços
decorativos para ornamentar a escola, sobretudo em períodos festivos.
● Estruturar a realização de palestras e rodas de conversa acerca de
temas como: uso das mídias sociais, saúde mental, educação sexual,
direitos civis, preconceito e discriminação, etc. 
● Contribuição no Projeto Pedagógico para estimular que os professores
deem continuidade nas intervenções nos conteúdos de suas respectivas
disciplinas.
 
Além das atividades propostas, o projeto buscaria atingir outras práticas
de Ensino: oferecendo campo de observação e práticas para as disciplinas que
envolvem a área de Psicologia e Escola ou Adolescentes. E também práticas
de Pesquisa: com o desenvolvimento de reuniões de estudos entre os
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participantes, como forma de atualizar a prática com as contribuições teóricas


existentes.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após as práticas iniciais, das quais envolviam a escuta e observação


das demandas apresentadas pela gestão, professores e funcionários da
unidade escolar, tornou-se possível não apenas elencar as principais
demandas passíveis de atuação para o Psicólogo Escolar, quanto na
elaboração das próprias atividades em si.
Sobre este processo de escuta e investigação, Andrada (2005) afirma
que é imprescindível essa trajetória de compreender, de maneira ampliada,
todos os elementos presentes na escola. De tal forma, a autora traz:
[...] considero impossível o trabalho do Psicólogo Escolar, sem esse
olhar do pesquisador, que observa, analisa, avalia e escreve novas
possibilidades de atuação, principalmente quando observamos a atual
conjuntura da Psicologia Escola/Educacional no país, onde ainda se
busca sua identidade a nível curricular e principalmente na sua
prática institucional. (ANDRADA, p.196, 2005).

Para a autora, essa investigação não se dá de maneira neutra, mas que


a própria presença do psicólogo já interfere na dinâmica dos espaços e das
pessoas presentes no ambiente. Seguindo esse ponto de vista, as intervenções
elaboradas no contexto escolar também devem buscar um posicionamento
político que favoreça a emancipação psicossocial dos grupos sociais presentes
na escola.
Acerca das demandas, podemos elencar as principais questões
observadas que estão relacionadas ao contexto do corpo estudantil: (1) A falta
de disciplina e responsabilidade; (2) Dificuldade de interação e socialização
sem conflitos; (3) Mau uso dos dispositivos e espaços da escola; (4) Violência,
drogas e presença do tráfico; (5) Uso inadequado das redes sociais.
Sobre a falta de disciplina, os alunos apresentam um alto nível de faltas
nas disciplinas, pois passam boa parte do tempo pelos arredores da escola,
geralmente acarretando em confusões e brigas. Já acerca da dificuldade de
socialização entre os alunos, segundo relato das gestoras, a realização de
atividades que envolvam todas as turmas, tais como a hora da refeição,
acabam ocasionando brigas por conta das rixas existente entre grupos de
alunos.
16

No tocante ao mau uso dos dispositivos da escola, fica perceptível que a


falta de disciplina, bem como a falta de uma relação mais complexa com o
colégio, acarreta em um mau uso dos equipamentos da escola, onde os alunos
geralmente depredam mesmo sendo algo recém reformado ou recém adquirido
pela gestão.
A questão da violência e a presença do tráfico se apresentaram como
uma dura realidade da comunidade. O tráfico se configura como um poder
paralelo, que em muitas vezes, exerce maior influência do que os poderes
legais oriundos do Estado. A presença deles se configura de maneira subjetiva
e também física, onde representantes do crime organizado adentram à unidade
escolar e mutas vezes buscam interferir na dinâmica da escola.
No que se refere às demandas referentes aos colaboradores da escola,
conseguimos elencar as principais: (1) Desfalque no quadro de funcionários;
(2) Sobrecarga de trabalho e estresse; (3) Baixa remuneração; (4) Resistência
a mudanças e intervenções por parte da direção; (5) Ruídos na comunicação
entre as categorias e hierarquias profissionais; (6) Burocracia e demandas de
cunho administrativo.
O quantitativo insuficiente de funcionários pode ser entendido como um
dos principais problemas, pois a partir dele, outras dificuldades surgem, tais
como a sobrecarga de trabalho e o estresse. Não menos impactante está a
baixa remuneração e valorização dos profissionais, sobretudo no que se refere
aos professores. Na medida em que a educação não é prioridade de
investimento, os profissionais sentem isso claramente quando vivenciam o
desmonte em seus direitos trabalhistas.
Sendo uma demanda mais específica dessa escola, o fato de a nova
gestão ter chegado em uma instituição bastante antiga, com uma cultura
organizacional pré-estabelecida, de fato dificulta o andamento de mudanças.
Assim, a gestão afirma haver um certo conflito em suas intervenções, e que os
profissionais mais antigos causam formas indiretas de intervir nas decisões da
direção.
Ainda neste ponto, a falta de comunicação amplifica essas dificuldades,
pois os ruídos na comunicação intensificam os desentendimentos e as
insatisfações presentes nas relações entre as categorias profissionais da
escola. Essa dificuldade ne comunicação reverbera inclusive nos estudantes,
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que segundo a direção, acabam sendo uma para alguns funcionários


expressarem suas insatisfações.
A direção também pontua o excesso de burocracia presente em seu
trabalho com a Secretaria de Educação, tendo em vista que é exigida inúmeros
documentos para os procedimentos a serem realizados. Para a direção, a
própria Secretaria de Educação deveria encarregar um funcionário
exclusivamente para tratar dos trâmites burocráticos.
Ao levar em consideração todo esse contexto, logo nos deparamos com
a inexistência de trabalhos teóricos que conseguissem dar conta da realidade
específica da escola. Além disso, a inserção inédita do profissional de
psicologia neste espaço também gera uma atividade extra, uma vez em que
precisamos desenvolver novas representações sociais acerca da função do
psicólogo no ambiente escolar.
Apesar dessas problemáticas, conseguimos estruturar um projeto de
intervenção para a maioria das dificuldades listadas acima. As nossas
propostas perpassam por uma tentativa de envolver todos os atores presentes
na escola, dos estudantes, aos professores, funcionários e direção. Para além
do espaço educacional em si, também elaboramos intervenções que envolviam
a articulação da rede de Assistência Social presente na comunidade.
Entretanto, conforme mencionado anteriormente, restringimos nossas
intervenções por conta do curto tempo de execução do estágio. Estipulamos
como prioridade o fortalecimento do vínculo da escola com o CRAS e a
execução da Oficina de Orientação Profissional.
Todo o processo de escuta, identificação das demandas e tentativa de
estruturar intervenções para as questões levantadas, nos possibilitou
desenvolver uma compreensão bastante prática do papel e das atividades
possíveis de serem realizadas pela psicóloga na escola pública de ensino
básico.
Ambas as práticas possibilitaram um maior despertar para o trabalho do
psicólogo nesse contexto educacional. Mas para além disso, também
compreendemos a importância de se pensar os problemas existentes no
sistema público de ensino como algo sistêmico, político e histórico. Sobre isso,
Andrada (2005, p.197) afirma:
18

Aponta-se aqui para a necessidade de perceber a escola e os


problemas ali presentes sob outro paradigma, não mais o modelo da
causalidade linear, mas o da causalidade circular, que constitui o
pensamento sistêmico baseado na cibernética, na teoria geral dos
sistemas e na teoria da comunicação.

Dentro dessa perspectiva, identificamos que a presente situação


precária do ensino público no Brasil é oriunda de um projeto político vigente até
os dias atuais, onde a educação de qualidade para as camadas menos
favorecidas nunca foi uma prioridade (PATTO, 2004).
Deste modo, em momentos de possibilidades de ampliação na inserção
de psicólogas no ensino público básico por meio da Lei nº 13.935, de 11 de
dezembro de 2019, essa vivência se torna essencial para se problematizar as
práticas desses profissionais, tal como as formações vigentes nos cursos de
Psicologia.
Buscar o desenvolvimento de uma atuação crítica e social da escola,
construir formações teórico e práticas para os cursos de Psicologia, se tornam
posicionamentos cada vez mais urgentes, principalmente porque o fracasso
escolar não é o fracasso de um aluno ou de um profissional isolado, mas sim o
fracasso de toda uma sociedade.
19

REFERÊNCIAS

AGUIAR, W. M. J. D. A escolha na orientação profissional: contribuições da


psicologia sócio-histórica. Psic. da Ed., São Paulo, v. 2, n. 23, p. 11-25, fev
2006. Disponivel em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S1414-69752006000200002>. Acesso em: 05 nov 2019.

ANDRADA, Edla Grisard Caldeira de. Novos Paradigmas na Prática do


Psicólogo Escolar. Psicologia: Reflexão e Crítica, Florianópolis, v. 18, n. 2, p.
196-199, abr. 2005. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/prc/a/fsyKnWZcGR78wdVGNVscVFF/?
format=pdf&lang=pt. Acesso em: 16 jun. 2022.

CHECA, M.P. A Psicologia diante de demandas escolares nos Centros de


Referência de Assistência Social (CRAS) em Salvador BA): apontamentos
ético-políticos. 2021. 207 f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de
Educação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2021. Disponível em:
https://repositorio.ufba.br/handle/ri/34339 Acesso em: 11 mar 2022.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Referências Técnicas para


Atuação de Psicólogas (os) na Educação Básica. Brasília: CFP, 2013.

PATTO, Maria Helena Souza. Ciência e política na primeira república: origens


da psicologia escolar. Mnemosine, São Paulo, v. 1, n. 0, p. 203-225, abr. 2004.
Disponível em:
https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/mnemosine/article/view/41357.
Acesso em: 17 jun. 2022.
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APÊNDICE – RELATÓRIOS DE CAMPO

RELATÓRIO DE CAMPO SEMANAL – 11/04/2022 a 15/04/2022

O primeiro dia de inserção no Colégio Estadual Deputado Luis Eduardo


Magalhães se deu no período da tarde, horário em que geralmente se inicia as
aulas do turno vespertino. Mesmo sendo em horário de aula, aparentemente o
calendário da Semana Santa afetou o acontecimento das aulas, tendo em vista
o grande quantitativo de alunos fora das salas, estando elas sem uso até o final
da tarde.
Os funcionários da escola se mostraram extremamente receptivos e
acolhedores, principalmente G., um líder de turma, e L. um ex-aluno, que nos
conduziram até a sala da vice direção. Fica evidente que ambos possuem uma
dedicação bastante ativa frente às atividades de apoio na escola.
Ao longo do período em observação, fica evidente a relação de
proximidade que os alunos, ex-alunos e funcionários possuem em relação à
escola, onde muitos se sentem praticamente em casa, acolhidos e
extremamente à vontade no ambiente interno e externo do colégio. Essa
relação se apresenta de maneira peculiar, mas conforme será relatado mais a
frente, também se torna um obstáculo para a nova gestão da escola.
Logo de início, na medida em fomos nos apresentando como
profissionais da área de Psicologia, alguns funcionários reagiram de maneira
bastante entusiasmada, supostamente por idealizar que um profissional de
saúde iria realizar alguma intervenção resolutiva frente aos problemas
enfrentados no cotidiano da escola.
Nessa idealização do profissional de Psicologia, L., funcionário da
escola, nos convida para realizar escuta de um ex-estudante da então
instituição, chamado C.. Um composto de brincadeira com uma certa
esperança em que, com uma simples conversa, nós pudéssemos “aconselhar”
o jovem C., este que fora transferido para outro colégio, mas que ainda insistia
em ir para o Luis Eduardo, colégio onde, segundo ele, estariam seus amigos e
sua namorada.
21

No diálogo com C., fica evidente o seu desejo em voltar para o colégio
de origem, mas que não conseguiria por não haver mais vagas. Em seu
discurso, C. demonstrou não ter apoio da família e que já estaria recebendo
inúmeras faltas em seu atual colégio, do qual ele não possui interesse em
estudar.
Na sequência, fomos convidados à sala da direção, onde lá estavam o
preceptor J. e a vice-diretora T.. Neste momento, a vice diretora nos atualizou
sobre os principais acontecimentos e dificuldades enfrentadas no colégio.
Dentre os principais obstáculos elencados pela vice diretora, ela relata a
presença de uma cultura organizacional muito cristalizada e com certos vícios
oriundos das gestões anteriores.
A título de exemplo, T. relata como uma simples troca de funcionários de
um módulo para o outro, reverberou em um desequilíbrio no funcionamento da
escola, onde tal desequilíbrio estaria propositalmente sendo ocasionado pela
insatisfação desse funcionário realocado. Ademais, alguns funcionários se
acobertam uns aos outros quando faltam ou saem mais cedo do expediente.
Essa cultura carregada de afetos e vícios, segundo a vice diretora, se
apresentaria como um obstáculo considerável para a implementação de
mudanças que buscassem a melhoria no funcionamento do colégio. Até este
ponto, chama a atenção que essa cultura organizacional demanda um trabalho
interventivo não apenas por parte dos estudantes, mas também dos
funcionários e professores.
Haja vista disso, foi-se cogitado uma escuta inicial com os funcionários
do colégio, seja em formato de reunião ou roda de conversa. Nessa
possibilidade de intervenção, residiria a importância de se trabalhar as
expectativas e representações desses funcionários frente ao papel da
psicologia no ambiente escolar. Outro ponto importante a ser trabalhado seria a
idealização deles no que diz respeito a melhorias no funcionamento da escola,
suas implicações pessoais e o papel de cada um nessa então melhoria.
Realizar uma reunião ou atividade com os líderes de sala também seria
uma estratégia de escuta para os estudantes. Tendo em vista o quantitativo
elevado de estudantes, escutar inicialmente os líderes da sala poderia auxiliar
nessa execução.
22

Outro acontecimento observado durante a tarde foi a atuação


democrática da vice diretora, onde a mesma reserva sua sala para desenvolver
escuta dos estudantes, funcionários e pais dos alunos. Durante nossa
permanência na sala da direção, T., a vice diretora, entra com a mãe de C.
para escutá-la e aconselhá-la frente ao comportamento dele, já sendo
insustentável para a escola, segundo T.
T. também traz um outro aluno para escutá-lo logo após um
desentendimento com um funcionário da escola. Após chamar todos os
envolvidos no acontecimento, e escutar seus relatos um a um, a vice diretora
consegue exercer um papel de diálogo e conciliador frente às adversidades e
desentendimentos que surgem ao longo do expediente.
Frente a isso, cabe também pensar uma articulação mais consolidada
com o Conselho Tutelar da região, onde este órgão poderia fornecer um
suporte mais técnico e legal à escola, principalmente nessas situações de
conflitos e problemas sociais que o colégio enfrenta diariamente.

RELATÓRIO DE CAMPO SEMANAL – 18/04/2022 a 22/04/2022

O segundo dia de retorno à escola teve como objetivo a realização de


um encontro com Z., a então diretora do colégio, e o levantamento de dados
quantitativos referentes ao número total de estudantes matriculados no ensino
regular.
Houve assim, a devida apresentação à diretora do colégio, da qual se
encontrava em sua sala disponível para o diálogo. Em conversa com Z., logo
após a apresentação, a diretora nos informou suas principais demandas e
dificuldades enfrentadas no colégio, que segundo ela, seria a burocracia
presente na relação com a Secretaria de Educação.
Na visão da diretora, os diretores das escolas na Bahia enfrentam uma
demanda desproporcional de burocracia e de protocolos administrativos que,
segundo ela, competem com as demandas do dia a dia nas escolas. Para ela,
essa burocracia tira a possibilidade dos diretores realizarem um trabalho
humanizador e voltado para o contato mais próximo com o público da escola.
Ainda nessa problemática, Z. acredita que deveria haver uma separação
entre as demandas administrativas das demandas relacionadas ao
23

funcionamento do colégio e da gestão do público pertencentes ao ambiente


escolar. Para Z., as tarefas administrativas poderiam ser direcionadas a um
profissional exclusivo da área, e as demandas de gestão do corpo estudantil,
bem como o atendimento ao público em geral, deveria ser de responsabilidade
do diretor.
Após acolhermos e efetuarmos a escuta de suas considerações até aqui
apresentadas, solicitamos à diretora que discorresse melhor sobre sua visão
das principais demandas mais particulares do colégio. Com isso, tentamos
entender quais pontos a diretora acredita que precisaríamos levar em
consideração nas intervenções futuras.
Acerca desse ponto, a diretora traz que haveria um uso fora de controle
das mídias sociais por parte dos estudantes. Z. relata que nesse uso
descontrolado, os discentes criam, compartilham e alimentam a disseminação
de notícias falsas sobre outros colegas – como forma de vingança ou tentativa
de atingir algum colega em específico – e até mesmo sobre a escola.
No tocante às notícias relacionadas à escola, a diretora relata que
muitos estudantes encenam brigas com luta corporal propositalmente com o
intuito de “viralizarem” o conteúdo. Segundo Z., a mídia sensacionalista de
algumas emissoras alimenta essa prática na medida em que demonstram
interesse em exibir esses vídeos de brigas escolares.
Para a diretora, todo esse contexto alimenta um antigo estigma de
violência presente nos colégios públicos, onde a mídia sensacionalista
incentiva ainda mais o comportamento dos jovens de utilizar as redes sociais
para suprir uma necessidade de reconhecimento social.
No fim, em conjunto com a diretora neste diálogo, foi-se compreendido a
importância de se realizar alguma intervenção em formato de roda de
conversa. Tal intervenção teria como intuito a conscientização dos estudantes
frente aos riscos existentes no uso indevido das redes sociais.
Após o diálogo com a diretora, a próxima atividade realizada foi a
observação dos estudantes em locais de ampla socialização. Tal observação
teve como objetivo uma melhor compreensão das dinâmicas sociais dos
estudantes e do funcionamento do colégio.
O local escolhido foi o refeitório, espaço amplo e com bastante
circulação de alunos. O refeitório também é composto com novas mesas e
24

cadeiras destinadas para os alunos. Neste espaço, foi possível observar um


quantitativo majoritário de estudantes do sexo masculino. Foi interessante
observar que a manutenção dos bens e imóveis da escola é cotidianamente
preservado pelos funcionários, que a todo momento, quando os estudantes se
exaltavam no mal uso dos bens, as funcionárias da cantina prontamente
orientam os estudantes para não depredarem a estrutura da escola.
Enquanto realizávamos a observação no refeitório, G., um dos
estudantes chegaram até nós e questionou a nossa área de atuação. G. era o
estudante que desde o primeiro dia de ida a campo, nos proferiu uma
acolhedora recepção. Em diálogo conosco, G. relata seu sonho em cursar
Jornalismo, e dos seus projetos pessoais que envolvem a área de jornalismo
com as mídias sociais. O estudante relata que realiza reportagens em suas
redes, matérias estas que retratam a realidade do bairro e busca oferecer
visibilidade a projetos existentes na comunidade. G. ressalta que assim como
ele, outros estudantes também possuem talentos diversos.
Nesse rápido diálogo com G., foi possível perceber a necessidade de
reconhecimento presentes nos estudantes. Tal raciocínio nos levou a pensar
sobre uma possível feira de talentos ou evento que possa trazer mais
visibilidade às diversas potencialidades dos estudantes.

RELATÓRIO DE CAMPO SEMANAL – 25/04/2022 a 29/04/2022

Tendo como objetivo matricial a socialização das ideias até o momento


levantadas pelos estagiários, bem como formular um cronograma provisório de
atividades, o terceiro encontro ocorreu na quarta-feira, dia 27 de abril, e foi
realizado na sala da direção com o suporte do preceptor J.
Antes da realização do encontro, houve uma breve espera na sala da
vice direção, pois a então vice diretora T. encontrava-se atarefada com as
demandas de seu ofício. Não apenas a diretora, mas todos os funcionários do
colégio aparentavam estar bastante sobrecarregados pela demanda
extraordinária ocasionada pela semana de provas.
Durante a espera, pudemos conhecer M., uma das professoras de
história. M. afirma está no colégio desde 2018, mas que atua na docência há
mais de 30 anos, estando prestes a solicitar sua aposentadoria.
25

Ao saber nossa área de atuação, enquanto estagiários de psicologia, M.


compartilha seu curso de formação complementar na área de Psicologia, mais
especificamente de Logoterapia e Análise Existencial. Finalizamos o diálogo
com um breve esclarecimento acerca dos nossos objetivos de atuação no
colégio, sinalizando à M. que dentro de alguns dias iríamos nos reunir com o
corpo docente da escola.
Logo antes de irmos para a sala da direção, I., funcionária da secretaria,
nos aborda para relatar suas sugestões de pontos que poderiam ser levados
em consideração em nossas intervenções. Brevemente, I. relata que a
sobrecarga de trabalho, bem como a baixa remuneração, faz com que muitos
funcionários da escola apresentem uma desmotivação na execução das
atividades de sua competência, impactando assim, na qualidade dos serviços
oferecidos pela escola. I. afirma trabalhar na escola há mais de 30 anos, tempo
que a fez obter uma relação íntima e próxima com a escola, oferecendo à ela
uma visão mais aprofundada das demandas apresentadas no colégio.
Após adentrarmos à sala da direção, T., a vice diretora, ainda não pôde
nos dar total atenção pois suas demandas ainda continuavam. Aproveitamos o
tempo disponível para realizarmos a estruturação do cronograma provisório
para o mês de abril, definindo algumas atividades até o início de maio.
Tais atividades envolvem os encontros com os professores, funcionários
da escola e líderes das turmas. Nesses encontros, buscaríamos
primordialmente efetuar escuta e acolhimento das demandas, dificuldades e
dos pontos de vista de cada um.
Também conseguimos socializar algumas ideias iniciais referente às
intervenções futuras com as turmas, sendo elas algumas rodas de conversa e
a elaboração de um projeto midiático, onde um núcleo de jornalismo composto
pelos próprios estudantes e com algum representante da direção da escola. O
projeto midiático teria como principal objetivo oferecer um canal de divulgação
de notícias positivas e fidedignas referentes à escola, nele, os estudantes
também teriam a oportunidade de exercerem uma maior participação no
colégio, bem como desenvolverem suas habilidades com as mídias sociais.
Sobre as rodas de conversas, ainda ficamos de definir a metodologia de
execução e organização do público participante, tendo em vista o alto
26

quantitativo de alunos, e a ausência de um espaço mais amplo para comportar


mais alunos do que geralmente cabe em uma sala de aula.
Inicialmente, cogitamos dividir por níveis de ensino, tendo em vista que
as demandas do Ensino Fundamental não necessariamente seriam as mesmas
do Ensino Médio, principalmente pelo último nível de ensino demandar mais de
questões voltadas para a inserção no mercado de trabalho.
De qualquer forma, haveria a importância de debatermos o tema
relacionado ao uso das redes sociais e as implicações jurídicas envolvidas no
compartilhamento em massa de imagens de terceiros. Para esse momento,
ficou subentendido a necessidade dessas rodas de conversa irem além de uma
simples palestra, devendo haver também intervenções e dinâmicas de grupos.
Enquanto ocorriam as discussões na sala da direção por nós do estágio,
a vice diretora T. precisou realizar alguns atendimentos às mães de alguns
alunos. Dentre eles destacamos a primeira mãe, da qual demonstra interesse
em um atendimento psicoterapêutico. Para ela, conseguimos oferecer alguns
números de telefone para atendimento gratuito.
A segunda mãe que nos chama atenção, adentra a sala da direção
precisando de mais informações referente ao benefício social que parou de
receber. Atenciosamente, a vice diretora T. recolhe os documentos da mãe e
tenta auxiliá-la na busca por respostas do motivo pelo qual seu benefício tenha
sido suspenso.
Com isso, fica notório a importância do trabalho humanizado realizado
pela vice diretora, comportamento esse que está presente na maioria dos
funcionários da escola. Ainda sobre este ponto, pensamos também a
importância de um fortalecimento de vínculos da escola com as instituições
responsáveis por demandas presentes no dia a dia do colégio, e que por
muitas vezes, acaba por sobrecarregar as diretoras que sempre acabam
acolhendo as demandas pendentes de profissionais para executá-las.
Acerca disso, T. relata que trabalha para tentar suprir a falta da
coordenadora pedagógica, de uma segunda vice diretora e de alguns
professores que adoecem e precisam se afastar. T. também desabafa sobre a
dificuldade de gerir um quadro de funcionários que atualmente se encontra
bastante desgastado psicologicamente pelo excesso de demandas.
27

Ao final, compartilhamos com a vice diretora nossas ideias de


intervenção e propostas de encontro com os profissionais da escola. Após
acolher tais colocações, T. também sugere que temas como uso de drogas e
sexualização precoce também sejam trabalhadas nas intervenções.
Por fim, T. ainda relata o problema da ausência de atividades
comemorativas na escola. Para ela, tal ausência estaria relacionada à um
receio por parte dos funcionários de haver alguma briga entre os estudantes, o
que geralmente acontece em momentos festivos. Com isso, a vice diretora
sugere a importância de trabalharmos a socialização entre eles, como forma de
melhorar a relação entre as turmas e subgrupos existentes no corpo estudantil.
Nesta mesma semana, realizamos uma outra ida ao campo, que foi
realizada na sexta-feira, dia 29 de abril. Neste encontro, tivemos a
oportunidade de efetuar uma breve escuta com as funcionárias que trabalham
na cantina da escola. No momento estavam presentes cinco funcionárias dos
dois turnos, que geralmente se reservam entre o turno vespertino e matutino.
De maneira geral, ao pedir que falassem sobre suas vivências na
escola, as funcionárias relataram suas principais dificuldades enfrentadas no
dia a dia de seus trabalhos. Acerca destes, as merendeiras afirmam que existe
uma indisciplina por parte dos estudantes, pois segundo elas, eles ficam
bastante exaltados no momento de servir a comida, não respeitando a ordem
na fila e nem a vez de cada um pegar a merenda. Entretanto, mesmo quando
apontam pontos negativos sobre a vivência no trabalho, as profissionais
sempre trazem contrapontos positivos. Nesse aspecto, elas abordam a
afetividade dos estudantes, que segundo elas, se tornam um dos principais
fatores motivacionais.
Em síntese, as funcionárias da cozinha esquematizam que seus maiores
desejos seriam um salário mais justo, espaço mais amplo de trabalho, mais
funcionários para compor a equipe e mais disciplina por parte dos estudantes.
Logo após este encontro, fomos conhecer os demais espaços da escola,
como as salas de aula nos andares superiores, e na sequência, fomos em
direção à sala da direção. Na direção, entramos em diálogo com Z., a diretora
do colégio, que buscava finalizar suas atividades para dar início a reunião
conosco.
28

Nesse encontro, compartilhamos as ideias iniciais para o projeto de


intervenção e as contribuições para a melhora no funcionamento da escola.
Dentre as contribuições, o diálogo proporcionou novas ideias e possibilidades
de ações para a escola, dentre elas: a possibilidade de uma horta que
forneceria alimentos orgânicos para a cozinha, onde tal horta seria gerenciada
pelos pais dos estudantes, entre outras atividades.
Ao final, organizamos juntamente com a diretora, reuniões com os
líderes de turma da escola e com uma estagiária de Pedagogia. Tal estagiária
estaria oferecendo suporte na elaboração do Projeto Pedagógico da escola.
Compreendemos que este encontro seria importante para obtermos melhores
contribuições para o projeto de intervenção.

RELATÓRIO DE CAMPO SEMANAL – 02/05/2022 a 06/05/2022

De forma esporádica, a ida ao colégio ocorreu na terça feira, dia 03 de


maio, no turno da manhã. A visita ocorreu neste dia por conta da reunião com
os líderes de turmas, deliberada pela diretora Z. O intuito desse encontro,
inicialmente, seria para orientar os líderes referente à uma reunião com a
ouvidoria, da qual iria ocorrer no dia seguinte, onde a Secretaria de Educação
do Estado buscaria entender quais são as principais demandas das escolas,
sob o ponto de vista dos estudantes.
A reunião inicia pontualmente às 8h30. Na medida em que a diretora ia
em direção ao espaço reservado para o encontro, os líderes foram a
acompanhando para a sala. Chegando na sala cedida para a reunião, as
cadeiras estavam organizadas em formato padrão para aula, o que me gerou a
dúvida se tal organização poderia interferir na sensação dos estudantes de
proximidade na horizontalidade do diálogo.
Mas pelo fato de ser uma sala que logo em seguida seria utilizada para
aula, modificar a posição das cadeiras em formato de roda de conversa poderia
gerar um trabalho considerável, além de atrasar o início da aula. Todos
sentaram, e pela percepção visual, haviam cerca de 20 estudantes presentes
na reunião, compostos por líderes e vice líderes das turmas do turno matutino.
A diretora Z. começa a reunião introduzindo a todos sobre o motivo dela,
que seria o evento com a ouvidoria da SEC da qual acontecerá no dia seguinte.
29

Z. explana brevemente sobre o que seria uma ouvidoria, o papel da Secretaria


de Educação, como funcionam os trâmites burocráticos existentes na resolução
de demandas presentes na escola.
Após a breve explicação, Z. solicita aos alunos que verbalizem as
demandas e melhorias na escola que eles enxergam. A diretora informou que
seria importante eles trazerem tais demandas naquele momento, pois ela
poderia orientar a eles se tais pontos seriam de competência da SEC ou da
direção da escola.
A primeira demanda é levantada por uma estudante do 3º ano, da qual
relata um mau cheiro em uma parte na parede do colégio, Z. prontamente
esclarece que essa demanda seria de competência da direção, da qual já
estaria trabalhando para resolver este problema, que segundo ela, seria gerado
por uma falha na construção do edifício da escola, falha esta que estaria
permitindo a proliferação de baratas na região, que por fim estaria causando o
mau cheiro.
Após as explicações, o próximo estudante a falar, também do 3º ano do
ensino médio, questiona a diretora quais de fato seriam demandas que a SEC
trata, para que assim, eles pudessem organizar melhor suas contribuições. A
diretora explica rapidamente, e logo em seguida, o mesmo estudante afirma
que a escola precisa de mais profissionais especializados no cuidado com os
estudantes com “problemas de saúde”, se referindo aos alunos portadores de
alguma deficiência ou demanda específica de atenção.
Para ele, os professores não são capacitados para atuar na
escolarização desses estudantes, havendo assim, segundo ele, a necessidade
de terem professores especializados para ajudar nesse suporte. Além disso, o
estudante aponta a necessidade de existir psicólogos na escola, tendo em vista
o alto índice de depressão e bullying presente entre os alunos.
Os outros estudantes apontam a ausência de livros, atraso na entrega
das fardas e o espaço do refeitório que não consegue comportar todas as
novas mesas. Logo em seguida, a diretora passa uma lista de presença e pede
para que eu apresente aos estudantes um pouco do trabalho de intervenção
que será desenvolvido por nós na escola.
No final da reunião, antes de sairmos, alguns estudantes se aproximam
da diretora para compartilhar seus pontos de vista. Tal acontecimento deixa
30

evidente a dificuldade de alguns em se expressarem em público, reforçando a


necessidade de haver sempre dinâmicas para que todos se sintam à vontade
de falarem nesses encontros.
Chegando juntamente com a diretora em sua sala após o final da
reunião, conversamos brevemente sobre o desenrolar da reunião. Também
compartilhei com ela meu receio de não conseguirmos ter um momento mais
próximo para escutar os estudantes, assim, sugeri que pudéssemos utilizar os
horários vago deles, principalmente para não interferir no andamento das
aulas.
Com isso, analisamos turma por turma para identificar as lacunas
presente em cada turma, para que assim, possamos organizar reuniões em
momentos em que os estudantes não estejam em aula.
Na sexta-feira, 06 de maio, a atividade de estágio foi realizada no
CRAS-Beiru/Narandiba, dispositivo de referência social do distrito onde a
escola faz parte. O propósito da visita foi a realização do encontro com D.,
Psicólogo da instituição, agendado previamente para nos receber.
A reunião em questão teve como principais objetivos (1) Identificar
pontos de articulação entre o modo de atuação do CRAS com as demandas do
colégio; (2) Buscar fortalecer o vínculo entre o CRAS e o colégio; e (3)
Compreender de que forma as demandas individuais de saúde mental dos
estudantes podem ser encaminhadas para o acompanhamento Psicossocial do
CRAS.
Após a apresentação dessas questões acima para o psicólogo, D. inicia
externalizando suas impressões gerais acerca dos pontos de melhoria no
funcionamento do Sistema Único de Assistência Social – SUAS. Ao voltar
especificamente para os pontos contidos nos objetivos acima apresentados
para ele, D. ressalta a importância da relação do CRAS com os colégios de
abrangência do território.
Do ponto de vista dele, a demanda e a quantidade insuficiente de
profissionais têm dificultado a atuação ativa do CRAS nas escolas, mas eles
estariam, ainda assim, construindo um cronograma de articulação com as
instituições presentes no território de abrangência.
Acerca da abrangência, o psicólogo afirma que o então CRAS abrange
os seguintes bairros: Arenoso, Beiru, CAB, Cabula, Cabula VI, Doron,
31

Narandiba, Nova Sussuarana, Novo Horizonte, Saboeiro e Trobogy. Com isso,


chama a atenção a quantidade de bairros presentes na abrangência do CRAS,
totalizando 11 localidades, com uma população superior à boa parte dos
municípios baianos. Mas de fato, o principal agravo nas dificuldades de
atuação do CRAS se torna o número baixo de profissionais contratados, onde
no caso do psicólogo, por exemplo, existe apenas um profissional para atender
todo esse público.
Diante desse contexto, D. sinaliza que o vínculo com o colégio seria
interessante para facilitar a articulação e a relação entre o CRAS e a escola.
Acerca disso, o psicólogo nos sinalizou que, diante das demandas individuais
de saúde mental, a escola pode encaminhar os estudantes, de preferência com
algum documento de encaminhamento devidamente preenchido com um
parecer geral da demanda do estudante. Esse parecer facilitaria o atendimento
no CRAS, pois o psicólogo poderia obter uma visão geral da situação,
norteando a sua escuta no momento do atendimento com o estudante e
responsável encaminhado.
D. ainda salienta que o encaminhamento do CRAS surte mais efeito nas
instituições de saúde, pois eles entendem que um usuário encaminhado do
CRAS se encontra em extrema vulnerabilidade social. Assim, nessa rede de
direcionamento, o usuário consegue mais chances de um atendimento. O
psicólogo também sinaliza para a importância de tanto o CRAS, quanto a
escola oferecer um acompanhamento para as demandas encaminhadas, como
forma de assistir o pregresso, desenvolvimento ou resolução das demandas.
Acerca das demandas psicossociais coletivas, D. afirma que a escola
pode realizar reuniões no CRAS, como forma de pensar planos de atuação,
reuniões de conscientização, palestras e inclusão das demandas da escola no
calendário de intervenção do CRAS.
Para finalizar, D. ressalta a importância de articularmos também com
outros dispositivos da região como Conselho Tutelar. Além disso, o psicólogo
também afirma que seria necessário a elaboração de reuniões periódicos por
parte da direção escolar com o CRAS.
Após finalizar o encontro com o psicólogo, nos reunirmos para socializar
as ideias geradas até o presente momento. Também discutimos o andamento
do estágio, bem como a elaboração do Projeto de Intervenção.
32

RELATÓRIO DE CAMPO SEMANAL – 09/05/2022 a 13/05/2022

Neste dia de ia a campo, tivemos como principal objetivo a socialização


com a vice diretora T. das ideias, direcionamentos e sugestões oriundas da
reunião anterior com o CRAS.
De início, como T. encontrava-se na sala da direção em atendimento
com uma mãe, fomos para a sala da vice direção aguardar a finalização do
atendimento. Chegando na sala da vice direção, encontramos com M.,
professora de história. M. questiona acerca da nossa instituição de origem e
relata que estaria aberta para possíveis articulações com o curso de Psicologia
da UNEB, articulação essa que teria como intuito a criação de novas vagas de
estágio para o então colégio, bem como o fortalecimento do vínculo entre a
UNEB e a escola.
A professora afirma possuir CRP ativo graças as suas especializações
na área de Psicologia, a mesma atende em seu tempo livre fora da escola,
além de estar cursando pós-graduação stricto sensu em história na UNEB.
Mesmo com alta carga de demandas, M. se mostra totalmente aberta e
disponível para contribuir com a construção de um serviço em Psicologia no
colégio.
Após alguns minutos de conversa, fomos de encontro à vice diretora, na
sala da direção, para iniciarmos o diálogo. Logo de início, informamos sobre
nossa ida ao CRAS, e que a partir dessa reunião, foram deliberadas algumas
ideias e possibilidades de intervenção ou fortalecimento do vínculo entre o
CRAS e o colégio.
Inicialmente, apresentamos que, em caso de demandas psicossociais
individuais, seria importante uma escuta, triagem, e a elaboração de um
documento de encaminhamento direcionado ao CRAS. Lá no CRAS, o
psicólogo efetuaria uma segunda escuta, bem como a leitura do
encaminhamento, para que assim, o mesmo consiga encaminhar para algum
dispositivo da rede de atendimento em saúde mental. Segundo o psicólogo do
CRAS, um encaminhamento sendo feito dessa forma, garante mais chances de
efetividade no atendimento nas unidades de saúde mental.
33

No tocante aos casos de demandas coletivas, que necessitam serem


trabalhadas em grupo, haveria a possibilidade de realizar reuniões com a
equipe do CRAS e Conselho Tutelar, para que assim, fosse pensado alguma
intervenção em coletivo, ou até mesmo na inclusão da escola no calendário de
atuação do CRAS.
Após acatar nossas contribuições, delegamos a tarefa de elaborar uma
ficha de encaminhamento, para padronizar e facilitar a confecção dos
encaminhamentos. Tal ficha seria formulada com a logo do Governo do Estado
e as informações padrões da escola.
Na sequência, socializamos algumas ideias iniciais de atividades acerca
do projeto de intervenção, ainda em processo de elaboração. T. demonstrou
interesse na primeira e única atividade que conseguimos mencionar na
reunião, sendo a de colaboração na formulação do Projeto Político Pedagógico,
com o intuito de fixar juntamente com os professores os pontos levantados
para serem trabalhados diariamente com os estudantes em suas aulas. Assim,
os professores conseguiriam dar continuidade nas intervenções e trabalhariam
processualmente os temas norteadores em suas aulas.
Ao chegarmos neste ponto, T. ressalta a importância de se pensar
alguma intervenção voltada para os professores e outros funcionários, pois
segundo ela, alguns deles não estariam agindo de maneira profissional, com
bastante faltas injustificadas e dificuldades de aceitarem mudanças deliberadas
pela direção.
Segundo ela, a mesma já precisou solicitar o desligamento de alguns
funcionários, justamente por eles não estarem mais fazendo seu trabalho, e
também devido a impossibilidade de contratação de novos funcionários,
optando assim, por desligarem alguns para solicitar substitutos a eles.
Devido ao compromisso seguinte, precisamos encerrar a reunião de
maneira incompleta, pois não conseguimos atingir a discussão de todos os
pontos desejados. Após finalizar o encontro, fomos em direção à UNEB para
uma outra reunião com a estagiária que estaria dando suporte à direção da
escola.
Em reunião com S., estagiária de pedagogia do colégio, conseguimos
obter um panorama geral acerca da realidade dos professores. Para S., essa
34

realidade seria tão preocupante, que a mesma sugere a necessidade de ser


feita uma intervenção com os professores.

RELATÓRIO DE CAMPO SEMANAL – 09/05/2022 a 13/05/2022

Nesta ida à campo, convidamos uma colega de turma, chamada G.,


para dialogarmos acerca da possibilidade de execução de uma oficina de
Orientação Profissional. Chegando no colégio, o então preceptor J. estava
presente na sala da Direção para contribuir com as ideias e propostas.
Trouxemos a ideia da Orientação Profissional a partir de diálogos, tanto
com a estagiárias S., quanto com G., pois a cada dia percebemos a
necessidade de limitar e objetificar a nossa prática de intervenção na escola,
tendo em vista as inúmeras questões que surgem a cada diálogo.
Trouxemos discussões acerca da viabilidade das ações que havíamos
elaborado no esboço do projeto de intervenção. Após algumas reflexões,
reelaboramos nossas propostas e desenvolvemos outras adicionais, com o
intuito de estarmos mais em conformidade com atividades que possamos dar
conta neste momento.
De princípio, ficou decidido a necessidade de obtermos mais
aproximação dos professores estando com eles na sala dos professores na
próxima ida à campo. Demarcamos que, de início, iremos atuar com a turma do
2° ano vespertino, a partir de um levantamento de interessados em participar
da oficina de Orientação Profissional.
A Orientação Profissional também foi pensada por nós como uma
atividade inicial por ser uma temática presente na faixa etária dos estudantes, e
também pela importância de se pensar a empregabilidade para jovens
periféricos.
Mediante ao pouco contato com os estudantes, deixamos em aberto
novas temáticas a serem trabalhadas. Nesse contexto, também sentimos a
necessidade de haver uma flexibilidade nas atividades propostas aos
estudantes, pois podem existir demandas novas.
35

RELATÓRIO DE CAMPO SEMANAL – 16/05/2022 a 20/05/2022

Neste encontro, nossa ida teve como principais objetivos (1) Socializar
nosso projeto de atuação com a direção, (2) Acordar junto com a direção um
espaço e horário fixo para realização das atividades, (3) Solicitar da direção um
levantamento dos professores das respectivas turmas em que iremos realizar
as atividades, (4) Passar na turma do ensino médio uma lista de interesse para
compor a oficina de Orientação Profissional.
Adentramos na sala da direção onde se encontrava a vice diretora T..
Neste espaço, ocorreram uma sucessão de atendimentos e movimento de
escuta por parte de T., com pais, estudantes, funcionários e professores.
Logo de início, o professor de história E., entra na sala para trazer sua
insatisfação referente à um estudante, entretanto, por haver uma sequência de
acontecimentos referente ao estudante e a escola, a vice diretora narra para o
professor tais fatos ocorridos. Depois de muito discorrerem sobre o assunto, o
professo retorna para a sala e logo na sequência já entra uma estudante
acompanhada de seu pai.
Na ocasião, a estudante vem com seu pai para denunciar o
comportamento de assédio por parte de um outro aluno. Após escutar a aluna
e o seu pai, a vice diretora tenta entrar em contato com os pais do então aluno
acusado. Sem sucesso nas ligações, a diretora entra em contato com o
Conselho Tutelar para obter melhores orientações referente ao caso.
Depois de receber as informações e passa-las para o pai da estudante,
entra um novo caso de uma mãe com seu filho, da qual relata que ele estaria
sendo ameaçado por um outro estudante. Após trazerem seus relatos, a vice
diretora consegue convocar o aluno acusado em e ambos conseguem dialogar
sobre o ocorrido.
Ainda na sequência, após a saída dos atores do acontecimento anterior,
entram dois estudantes do turno da noite para relatar uma discussão ocorrida
com um professor, e também denunciar sua conduta, que segundo eles, não
seria condizente com a postura de um professor.
36

Como solução as diretoras relatam que já estão trabalhando para o


afastamento do professor, já que segundo elas, ele teria transtornos mentais e
alguns problemas pessoais.
Ao final, conseguimos apresentar o modelo de Formulário de
Encaminhamento para os Estudantes, explicando brevemente a finalidade dos
encaminhamentos. Também socializamos nossos projetos de intervenção com
as turmas do ensino médio e fundamental, trazendo nossas necessidades de
espaço e horário para execução das atividades.
Finalizamos o encontro já no período da noite, deliberamos a
continuação do diálogo com a vice diretora para que a mesma pudesse ir
ajustando conosco a articulação com os professores das turmas.
No dia em questão, fomos na unidade escolar nos turnos da manhã e da
tarde para darmos encaminhamento nas atividades. Antes da nossa ida no
período da manhã, articulamos exaustivamente com os professore pelo
WhatsApp ao longo da semana, com o intuito de combinar os horários das
oficinas que irão ocorrem em horário de aula.
Chegando no colégio, fomos nas turmas do 3º ano A e B, para informar
aos estudantes das respectivas turmas sobre as oficinas de Orientação
Profissional e explicar como será o funcionamento dos encontros, que
ocorrerão todas nas sextas em uma das aulas dos professores de ambas as
turmas.
Após irmos na sala da direção informar sobre a conclusão das nossas
atividades no período da manhã, fomos para casa por conta do horário de
almoço. Retornamos ao espaço escolar no período da tarde, com o intuito de
socializar nossas atividades e projetos em elaboração para o preceptor e a vice
direção.
Durante o nosso diálogo, a vice diretora prosseguiu com alguns
atendimentos com estudantes em conflitos, mães e responsáveis. Em um
desses atendimentos, a vice diretora conversa com as tias de uma aluna que
denunciou seu padrasto por abuso sexual. Entre diálogos e desabafos, a vice
diretora relata o estado psicossocial atual da aluna, e suas tias descrevem
como foi o processo de criação e desenvolvimento da menina, até culminar em
uma ruptura entre elas e a mãe da menina, onde segundo elas, terminou
ocorrendo nesse período os abusos contra a estudante em questão.
37

As tias foram para tratar em específico do ocorrido com sua sobrinha,


mas o contexto envolveu outras estudantes que também relataram abusos
sexuais. Toda essa conjuntura demonstra a carência de suporte jurídico legal e
psicossocial para situações como essas no ambiente escola, sobretudo em
caráter preventivo.

RELATÓRIO DE CAMPO SEMANAL – 25/05/2022 a 27/05/2022

Na quarta-feira, delegamos o dia para planejar e alinhar as dinâmicas a


serem desenvolvidas na oficina. Em conjunto, estruturamos os encontros em
temas que seriam trabalhados sempre a partir de dinâmicas com os alunos. A
exceção seria para o dia da Feira das Profissões, onde pensamos em ser um
dia mais livre para que os estudantes possam tirar dúvidas com os profissionais
convidados.
Na sexta-feira, foi o dia estipulado para darmos início às atividades da
oficina, com dinâmicas de socialização, apresentação dos estudantes e
levantamento das habilidades, inclinações e interesses. Chegando na unidade
escolar, buscamos a direção e encontramos a nova vice diretora, em encontro
com ela, nos apresentamos e apresentamos um pouco da proposta de atuação
elaborada por nós até o presente momento.
Fomos para a frente da sala do 3º ano B, turma da oficina, e
aguardamos o término da aula vigente para podermos adentra na sala e
darmos início à oficina. Entretanto, em diálogo com os estudantes, percebemos
que o último horário é o mais complicado para encontrar os alunos em sala,
sobretudo por conta da merenda.
Vendo a movimentação deles para querer sair e alcançar um bom lugar
na fila da merenda, não conseguimos segurá-los para a oficina, mas
conversamos sobre alternativas para que eles consigam participar, sem perder
o horário da merenda.
Ao escutar as alunas, decidimos realizar o primeiro encontro da oficina
em uma manhã inteira, pois assim, conseguiríamos otimizar o tempo, iniciar
cedo a oficina e liberar os alunos a tempo da merenda.
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Pelo período da tarde, socializamos nossas ideias e alterações para o


preceptor, tendo em vista a impossibilidade de realização da oficina. Também
tivemos a oportunidade de observar a aula de um professor de geografia do 1º
ano, do qual utilizou a sala em que estávamos para exibir conteúdo de vídeos
para tornar o conteúdo de sua aula mais clara para os estudantes.

RELATÓRIO DE CAMPO SEMANAL – 30/05/2022 a 03/06/2022

Assim como ficou estabelecido, na quarta-feira, efetuamos a reunião


para alinhamento e organização do calendário de execução das atividades da
oficina de Orientação Profissional. Também adaptamos o primeiro encontro
para que fosse possível a realização de duas dinâmicas em um único encontro
que duraria boa parte da manhã.
Chegando na unidade escolar na sexta-feira, fomos em direção à sala
do 3º Ano B, para darmos início a oficina. Antes de chamar os estudantes para
a sala onde seria realizada a oficina, nos apresentamos novamente para os
que não estavam presente na semana anterior. Na sequência, solicitamos a
todos os alunos para que seguissem para a sala da coordenação.
Com a presença de alguns professores, como o de matemática e de
história. Na oficina trabalhamos com os estudantes uma apresentação inicial
para estimular a socialização entre eles, e o levantamento de interesses
profissionais.
Após a apresentação, fizemos uma dinâmica para compreender as
dificuldades que os alunos visualizam quando pensam no mercado de trabalho.
Nosso intuito era, nesse mesmo dia, trazer tais dificuldades para serem
pensadas em coletivo de forma crítica e reflexiva, pensando em possíveis
soluções para tais dificuldades.
Nesta manhã com eles, também trouxemos uma breve explanação
referente aos níveis de ensino, o ensino profissionalizante, ensino técnico e
ensino superior. Nesse momento expositivo, os estudantes tiraram suas
dúvidas sobre as formas de acesso ao ensino e também sobre as políticas de
Ações Afirmativas.
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Para que a oficina não ficasse mais longa, decidimos deixar o momento
de reflexão com as dificuldades para o próximo encontro, já que as discussões
foram bem produtivas e alguns já demonstravam sinais de cansaço.
No período da tarde, fomos ao encontro do preceptor para socializar o
ocorrido. T., a vice diretora também estava presente e juntamente com ela,
pudemos externalizar as atividades da oficina. Assim como nos outros
encontros, T. compartilhou conosco os ocorridos mais importantes na escola
durante a semana.

RELATÓRIO DE CAMPO SEMANAL – 06/06/2022 a 10/06/2022

Na quarta-feira pela manhã, participei do Conselho de Classe das


disciplinas de Linguagens (Redação, Português e Inglês). A dinâmica consistia
basicamente em duplas de professores que avaliavam todos os alunos de uma
turma. Juntamente com o professor de inglês, fizemos a avaliação da turma
6ºCM, aluno por aluno.
No barema utilizado, colocamos a nota de todas as disciplinas de cada
um dos 37 alunos da turma. Além disso, no final o professor foi atribuindo uma
avaliação para o estudante, sobre o seu desempenho na unidade.
No mesmo dia, nos reunimos na UNEB para discutir o andamento do
encontro do dia 10/06, na sexta-feira. Ajustamos as dinâmicas para alinhar com
o eixo temático trabalhado e com o tempo de duração da aula, para que não
ultrapassasse os 50 min do horário.
Já na sexta-feira, chegamos na unidade escolar e esperamos a
finalização da aula do professor de matemática. Como era aplicação de teste,
alguns foram terminando e saindo da sala, o que acabou dispersando um
pouco a turma. Chagando na sala após o final da aula de matemática, pedimos
para que alguns alunos fossem convidar os restantes que haviam saído, para
que pudéssemos dar andamento com a oficina.
Mantendo a mesma média de alunos do encontro anterior, dividimos a
turma em 5 grupo. Para cada grupo, entregamos uma frase que foi elaborada a
partir das dificuldades visualizadas por eles na oficina anterior. As frases
giraram em torno dos temas: Escolha profissional; Falta de oportunidade; Alta
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exigência do mercado de trabalho; Entrevista de emprego e Conciliação entre


vida pessoal e o trabalho.
Após 10 min de socialização entre os integrantes dos grupos, abrimos
para discussão, onde cada grupo expôs sua contribuição, solução, alternativa
ou reflexão frente a frase recebida. Os alunos argumentaram sobre os temas e
contribuíram ao longo do encontro. Finalizamos com o levantamento das áreas
de interesse de cada um, e na sequência, eles apresentaram um seminário na
disciplina da última aula.
Dando continuidade nas atividades da manhã, realizamos um encontro
com uma professora veterana, chamada A., no diálogo a professora desabafou
sobre seus principais anseios ao longo dos 30 anos de docência. No período
da tarde, fomos socializar os acontecimentos junto ao preceptor do estágio.
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RELATÓRIO DE CAMPO SEMANAL – 04/07/2022 - 08/07/2022

Assim como fizemos nas semanas anteriores, reservamos um dia para o


planejamento da oficina na sexta-feira, buscando finalizar a estruturação das
dinâmicas a serem realizadas com os estudantes.
No dia da oficina, chegamos na unidade escolar mais cedo do que o
habitual, pois planejamos realizar a oficina no segundo horário de aula dos
alunos. Na sala havia dois estudantes novos, que não haviam participado dos
encontros anteriores.
Para este dia, propusemos uma oficina de currículos, trazendo
atividades de confecção de currículos, dicas para a elaboração e atividades de
fixação do conteúdo apresentado no encontro. Explicamos a ideia principal do
currículo, assim como os elementos essenciais que devem estar no
documento.
Na sequência, entregamos um formulário para que eles pudessem
compreender o local adequado para colocar as informações no currículo, na
medida em que iam preenchendo o formulário.
Após explicar sobre cada elemento de dados do currículo, tiramos as
dúvidas que surgiram, e na sequência dividimos a turma em três grupos, dos
quais receberam um modelo de currículo cada. Deliberamos a atividade para
cada grupo identificar inadequações no modelo de currículo recebido.
Depois dos grupos socializarem os erros nos modelos, realizamos um
informativo sobre o nosso último encontro a ser realizado na próxima sexta, dia
15/07, orientando todos a levarem dúvidas e questionamentos para
compartilhar com os convidados.
Na saída da escola, a professora A. nos parou para compartilhar seu
sentimento de apreensão frente aos casos de abuso sexual que ainda não
tiveram providências. De acordo com a professora, uma das estudantes
violentadas teve a queixa retirada por imposição da família, da qual estaria
coagindo a menina a pedir desculpas ao abusador.
Sem saber como proceder, a professora nos questiona quais medidas
poderiam ser tomadas nesse caso. Compartilhamos nossas impressões e
refletimos sobre a persistente tentativa da escola de se isentar da
responsabilidade de realizar a queixa ao conselho tutelar, mesmo que de forma
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anônima. No período da tarde, retornamos à escola para socializar com


preceptor os elementos ocorridos em nossas atividades pela manhã.

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