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“Se você foi chamado para plantar igrejas, Darrin Patrick cativa você. Melhor,
ele sabe o que é necessário para conectar você com o evangelho, o evangelho
com a igreja e a igreja com a missão. Profundamente perceptivo; é um acampa-
mento de treinamento em formato impresso. Se Deus alistou você, leia-o, e que
comece o treinamento!”.
Dave Harvey, Autor de Rescuing ambition e ministro de plantação
de igreja e cuidado pastoral da Sovereign Grace Ministries
“Darrin consegue atravessar um denso emaranhado para nos dar uma percepção
melhor do que é mais importante na iniciação de uma nova obra — uma com-
preensão clara de uma comunidade funcionando segundo os padrões bíblicos e
conduzida por alguém apaixonadamente comprometido com Jesus. Esta é uma
obra robusta, excelente, que vai além de estratégias pragmáticas e apresenta
princípios que servem em qualquer contexto. Estou empolgado com a ideia de
um movimento de líderes que estejam dispostos a colocar em prática os princí-
pios fundamentais de O plantador de igreja e iniciar igrejas que honrem a Deus
e compartilhem a reputação dele!”
Jud Wilhite, Autor de Eyes wide open; Pastor Coordenador da
Central Christian Church, Las Vegas, nv
“Darrin Patrick entende o ministério. Ele sabe que não é uma carreira para aqueles
entre nós que estão tentando fazer alguma coisa para Deus. É um chamado que
só pode ser cumprido fielmente quando edificado sobre o fundamento das normas
das Escrituras. Não é somente um excelente livro para qualquer pessoa envolvi-
da em plantação de igreja, mas também um excelente livro para qualquer pessoa
envolvida no ministério pastoral. Este livro vai ajudar você (e sua equipe) a manter
a vida, a mensagem e a missão alinhadas com a visão e o chamado de Deus.”
Larry Osborne – Pastor da North Coast Church, Vista, ca
“Este livro é uma arma. O plantador de igreja é uma das peças mais importantes
do instrumental de que um plantador de igreja (ou aspirante a qualquer posição
de liderança na igreja) pode dispor. Darrin Patrick escreve com base em sua
convicção bíblica e experiência comprovada, não em suas preferências pragmá-
ticas. Confio em Darrin. Confio no que ele escreveu aqui. Espero que este livro
chegue às mãos de homens em todo o mundo.”
Justin Buzzard, Plantador de igreja, Phoenix, az; blogger, BuzzardBlog
O
PLANTADOR
DE
IGREJA
O homem, a mensagem, a missão
TRADUÇÃO
DANIEL HUBERT KROKER
Copyright ©2010, Darrin Patrick
Título original: Church Planter: the man, the message, the mission
Traduzido a partir da primeira edição publicada pela Crossway,
ministério de publicações da Good News Publishers
1300 Crescent Street – Wheaton, Illinois, 60187 EUA.
1a edição: 2013
Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os direitos
reservados por SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA,
Caixa Postal 21266, São Paulo, SP, 04602-970
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Proibida a reprodução por quaisquer meios (mecânicos, eletrônicos,
xerográficos, fotográficos, gravação, estocagem em banco de
dados etc.), a não ser em citações breves com indicação de fonte.
SUPERVISÃO EDITORIAL
Marisa K. A. de Siqueira Lopes
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Valdemar Kroker
REVISÃO
Thomas Neufeld Lima
COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO
Sérgio Siqueira Moura
REVISÃO DE PROVAS
Ubevaldo G. Sampaio
Fernando Pires
DIAGRAMAÇÃO
SK Editoração
CAPA
Eduardo Mano
13-02330 CDD-254.1
Índices para catálogo sistemático:
1. Igrejas: Plantio: Cristianismo 254.1
2. Plantio de igrejas: Cristianismo 254.1
Sumário
Agradecimentos.....................................................................................................006
Prefácio de Mark Driscoll.................................................................................007
Introdução: Por que focar no homem?......................................................009
O HOMEM
1 Um homem resgatado..............................................................................027
2 Um homem chamado...............................................................................037
03 Um homem qualificado............................................................................055
04 Um homem dependente ........................................................................075
05 Um homem habilidoso.............................................................................087
06 Um homem que pastoreia ...................................................................103
07 Um homem determinado........................................................................121
A MENSAGEM
08 Uma mensagem histórica......................................................................137
09 Uma mensagem que resulta em salvação ................................149
10 Uma mensagem centrada em Cristo .............................................167
11 Uma mensagem que expõe o pecado..............................................185
12 Uma mensagem que estilhaça os ídolos.......................................199
A MISSÃO
13 O cerne da missão: compaixão...........................................................223
14 A casa da missão: a igreja....................................................................233
15 Os meios da missão: contextualização .........................................249
16 As mãos da missão: o cuidado...........................................................268
17 A esperança da missão: transformação da cidade.................288
Agradecimentos
OQ PLANTADOR
uero agradecer a meu pai por ser o primeiro homem na minha
vida e a minha piedosa mãe os quais eu tanto queria que esti-
DE IGREJA
vessem vivos para ler este livro.
Também quero agradecer à diretoria e aos integrantes do
ministério Atos 29, cuja coragem e fé inspiraram as palavras que
aqui estão escritas.
Sou grato aos presbíteros e obreiros da igreja The Journey que
serviram e sofreram por nossa igreja local para que eu pudesse
escrever.
Além disso, sem o apoio de Amie, minha esposa piedosa e
temente a Deus, e de nossos quatro filhos, isso não teria tido a
mínima chance de acontecer.
Finalmente, glória a Jesus, que me salvou e me chamou para
ele e para a sua missão por meio da igreja local em favor do mundo.
Mark Driscoll
Pastor de pregação e teologia da Mars Hill Church.
Fundador e responsável pela visão do ministério Atos 29
Introdução
A crise cultural
Vivemos em um mundo repleto de homens que prolongaram a
adolescência. Não são nem meninos nem homens. Eles vivem
suspensos, por assim dizer, entre a infância e a idade adulta, entre
crescer e já ter crescido. Chamemos esse tipo de homem de home-
nino, um híbrido de homem e menino. O homenino é imaturo
como um adolescente, porque todo um nicho foi criado para que
ele viva nas paixões da juventude. A cultura à nossa volta não ape-
nas tolera esse comportamento, mas o encoraja e estimula (pense
10 O plantador de igreja
1
Cf., de Kay S. Hymowitz, “Child-Man in the Promised Land”. Esse artigo,
do qual me vali ao longo deste capítulo, pode ser acessado em http://www.city-
journal.org/2008/18_1_single_young_men.html.
Depois de observar que o tempo médio gasto em jogos de videogame pelos
homens na faixa dos 18 aos 34 anos é de duas horas e quarenta e três minutos
por dia, Hymowitz sarcasticamente acrescenta: “Isso é 13 minutos a mais do que o
tempo gasto pelos jovens na faixa dos 12 aos 17, que ao que tudo indica têm mais
responsabilidades do que a turma atual dos vinte e tantos”.
2
Ver http://www.city-journal.org/2008/18_1_single_young_men.html.
3
Scott Hillis, “Microsoft says ‘Halo’ 1st-week sales were $300 mln”, Reuters,
4 de outubro, 2007.
4
Paul McDougall, “Halo 3 sales smash game industry records ”, Information
Week, 27 de setembro, 2007.
5
Ver http://www.seriousgameseurope.com/index.php?option=com_frontpag
e&Itemid=1&limit=4&limitstart=44. [Mantivemos a indicação da fonte, apesar de
o site não mais estar disponível na Internet. N. do E.]
Por que focar no homem? 11
6
U.S. Census Bureau, 2000; http://usattorneylegalservices.com/divorce-
statistics.html.
7
Ver http://www.familysafemedia.com/pornography_statistics.html.
8
Ibid.
9
Ibid.
10
Ibid.
11
Ver http://oak.cats.ohiou.edu/~ad361896/anne/cease/rapestatisticspage. html.
[Mantivemos a indicação da fonte, apesar de o site não mais estar disponível na
Internet. N. do E.]
12
Ibid.
13
Ibid.
12 O plantador de igreja
14
Hymowitz, “Child-Man in the Promised Land”.
15
Ver David Gilmore, Manhood in the making: cultural concepts of masculinity
(Binghamton: Vail-Ballou Press, 1990), p. 41-2, 64.
16
Hymowitz, “Child-Man in the Promised Land”.
Por que focar no homem? 13
17
De acordo com um estudo do Kinsey Institute sobre as práticas sexuais ame-
ricanas, conduzido há quase sessenta anos, 92% dos homens americanos de todas as
faixas etárias após a puberdade informaram que se masturbavam regularmente. Ver
http://www.teenhealthfx.com/answers/Sexuality/1056.html.
18
De acordo com a Associação Mundial de Kickball Adulto (waka), o kick-
ball adulto autorizado já conta com mais de 700 times em 18 estados, com mais de
17.000 jogadores registrados. A waka tem mais de 30 empregados em tempo inte-
gral e é um negócio de um milhão de dólares por ano. Ver http://www.kickball.com.
19
John Carroll, citado em Leon J. Podles, The Church impotent (Dallas:
Spence Publishing, 1999), p. 168.
20
Para evidências disso, ver http://www.rejuvenile.com.
21
Podles, The Church impotent, p. 43.
14 O plantador de igreja
O que quero dizer com tudo isso é que temos duas gera-
ções de homens que não foram criados por verdadeiros homens,
e o resultado é uma adolescência masculina prolongada. Em uma
cultura que precisa desesperadamente da influência de homens
de Deus, essa lacuna resulta numa legítima crise cultural. Não a
solucionaremos ignorando o homenino e esperando que, alguma
hora, ele acabe virando adulto. Não solucionaremos o problema
simplesmente dizendo às mulheres que assumam o papel dos
homens. Nós poderemos resolver o problema sendo exemplos de
masculinidade bíblica e conclamando os meninos adultos a aban-
donarem as paixões da juventude e se tornarem os homens que
Deus os está chamando a ser no ambiente da igreja local. Esse
22
Gilmore, Manhood in the making, p. 229.
Por que focar no homem? 15
A crise teológica
Nosso mundo está bagunçado em inúmeros aspectos. Problemas
óbvios estão por toda parte: crimes sexuais contra crianças, vio-
lência cometida por governos injustos, práticas desonestas no tra-
balho que sugam o salário honesto de pessoas decentes e comuns
— a lista vai longe. Mas uma das áreas mais sutis de confusão e
conflito doentios que tenho visto envolve a questão dos gêneros
sexuais. As definições são importantes aqui.
Nosso sexo é definido pelo nosso corpo: somos homens ou
somos mulheres, de forma tangível, devido à nossa genitália. O
gênero, contudo, é algo um pouco menos tangível. Nosso gêne-
ro é uma mistura de nossas ações, mentalidade e características
pessoais.23 E visto que, de acordo com a Bíblia, Deus criou tanto
o homem como a mulher à sua imagem e semelhança, o gênero
está inseparavelmente ligado à espiritualidade. Ser uma pessoa do
sexo masculino está ligado à biologia, mas ser homem está ligado a
como ele se relaciona com Deus, pensa sobre ele e o serve.
Os homens e as mulheres são um reflexo do caráter de Deus,
e os homens em geral não estão indo muito bem na questão de
exibir a imagem de Deus com integridade. Como se trata de uma
questão essencialmente espiritual, a correção precisa vir na forma
de uma retificação teológica. Assim como Deus se dirigiu a Adão,
embora ambos, ele e sua mulher, tivessem pecado,24 penso que
é totalmente apropriado usar a oportunidade que este livro me
proporciona para me dirigir aos homens diretamente, apontan-
do o pecado deles, mas também apontando para cima, para o
23
Podles, The Church impotent, 37.
24
Gênesis 3.9.
16 O plantador de igreja
25
Devo grande parte de meu desenvolvimento como professor e líder a Rick
McGinniss, que fundou e pastoreia a Igreja Comunitária de North Heartland na
cidade de Kansas. Ver http://www.northheartland.org.
26
O igualitarismo faz contraste ao complementarismo, sustentando que ho-
mens e mulheres podem e devem servir em funções iguais na igreja e no lar. Já o
complementarismo sustenta que homens e mulheres são iguais em valor, mas cha-
mados para funções complementares em determinadas funções da igreja e do lar. A
melhor defesa da posição igualitária, em minha opinião, é Men and women in the
Church: building consensus on Christian leadership, de Sarah Summer (Downers
Grove: InterVarsity, 2003).
Por que focar no homem? 17
27
Alguns livros úteis sobre esse assunto são Dan Doriani, Women and ministry
(Wheaton: Crossway, 2003); Jerram Barrs, Through his eyes: God’s perspective on
women in the Bible (Wheaton: Crossway, 2009); e Recovering Biblical manhood and
womanhood: a response to evangelical feminism, ed. John Piper e Wayne Grudem
(Wheaton: Crossway, 1991).
28
Alguns dos textos mais relevantes incluem 1Timóteo 2.11-15; 3.2; Tito 1.6;
Efésios 5.22-33 e 1Coríntios 11.1-16 e 14.33b-35.
29
Por exemplo, a rede de Dan Kimball e Erwin McManu, http://
theoriginsproject.org, assim como a rede de Dave e Jon Ferguson, http://www.
newthing.org.
18 O plantador de igreja
30
Por exemplo, Débora em Juízes 4.4.
31
Por exemplo, as filhas de Filipe em Atos 21.9.
32
Esse foi o principal catalisador para o livro de Jerram Barr, Through his eyes:
God’s perspective on women in the Bible.
Por que focar no homem? 19
33
Efésios 5.21-33; 1Pedro 3.1-7; Colossenses 3.18,19.
34
1Coríntios 11; 1Timóteo 2.11-15.
35
Alexander Strauch, Biblical eldership: an urgent call to restore Biblical
Church leadership, Littleton: Lewis and Roth, 1995, p. 58.
36
Efésios 5.28.
37
Hebreus 13.17 diz: “Obedecei a vossos líderes, sendo-lhes submissos, pois
eles estão cuidando de vós, como quem há de prestar contas; para que o façam com
alegria e não gemendo, pois isso não vos seria útil” [grifo do autor]. No lar, Deus
ordenou que maridos e pais assumam o comando no amor, no serviço e no sofri-
mento. Na igreja, Deus chamou os presbíteros/pastores a fazerem o mesmo.
20 O plantador de igreja
são iguais na igreja, mas eles têm papéis diferentes, o que é aná-
logo aos relacionamentos na Trindade — Pai, Filho e Espírito
Santo. As pessoas da Trindade são iguais; mesmo assim, na
divindade há submissão do Filho e do Espírito ao Pai. Minha
interpretação dessa deferência divina é que a submissão é uma
característica de um relacionamento saudável. A submissão
indica uma humildade geral e confiança mútua que orienta os
companheiros no relacionamento. A submissão é boa, e exige
não apenas que uma pessoa se submeta, mas também que outra
assuma o papel de liderança. Deus, em sua sabedoria, situou o
homem no papel de líder, tanto na família quanto na igreja. E
a obra de formação de caráter que Deus quer realizar nos mari-
dos, nos pastores e nos pais será realizada no contexto do papel
de liderança.
É a minha convicção que quando o lar e a igreja estiverem
corretamente ordenados — quando maridos e presbíteros aceita-
rem que Deus colocou o seu povo amado sob o cuidado deles e
que ele os considera responsáveis pela saúde espiritual dos filhos
dele —, as famílias e as igrejas começarão a se assemelhar à comu-
nidade perfeita que observamos na Trindade. Quando isso come-
çar a acontecer, os homens de fato se sentirão atraídos a assumir
a responsabilidade no lar e na igreja, porque verão o chamado
para seguir a Cristo na liderança como um chamado inspirador e
singularmente masculino.
O que é necessário na igreja não é dominância — o abuso
de poder por parte de homens abusivos e arrogantes. Já tivemos
demais disso. O que realmente precisamos é de uma ressurgência
— uma infusão saudável de homens tementes a Deus que sirvam
a igreja pelo poder do Espírito de Deus.38
Considere as seguintes estatísticas reveladoras fornecidas
por David Murrow, autor de Why men hate going to Church [Por
38
Adotei o vocabulário “dominância vs. ressurgência” como usado em http://
www.churchformen.com.
Por que focar no homem? 21
yy A igreja típica nos eua atrai uma multidão adulta que é 61%
feminina e 39% masculina. Essa lacuna entre os sexos aparece
em todas as categorias de idade.40
yy Em qualquer dado domingo, há 13 milhões de mulheres adul-
tas a mais do que homens nas igrejas americanas. Essa estatís-
tica provém dos diagramas do Grupo Barna sobre a frequência
de homens e mulheres na igreja sobrepostos aos números do
censo de 2000 relativos a homens e mulheres adultos na popu-
lação dos eua.
yy Neste domingo, quase 25% das mulheres casadas e que fre-
quentam a igreja comparecerão ao culto sem o marido. Che-
guei a esse diagrama usando os números de 2000 para o total
de adultos casados do censo dos eua e sobrepondo as porcen-
tagens de 2000 de frequência masculina versus feminina em
cultos semanais da pesquisa do Grupo Barna. Os diagramas
sugerem que pelos menos 24,5 milhões de mulheres casadas
frequentem a igreja numa dada semana, mas entre os homens
casados esse número é de apenas 19 milhões. Isso são 5,5
milhões de mulheres a mais, ou 22,55%. O número real pode
ser até mais alto, já que as pessoas casadas frequentam a igreja
em números muito maiores do que as solteiras.
yy Mais de 70% dos rapazes que estão sendo criados na igreja
a abandonarão durante a adolescência e na casa dos 20 anos.
Muitos desses rapazes nunca voltarão.41
39
Todas as estatísticas que se seguem foram tiradas diretamente de http://
www.churchformen.com/allmen.php. [Mantivemos a indicação da fonte, apesar de
o site não mais estar disponível na Internet. N. do E.]
40
“U.S. Congregational Life Survey—Key Findings”, 29 de outubro, 2003;
www.uscongregations.org/key.htm.
41
“LifeWay research uncovers reasons 18 to 22 year olds drop out of Church”
[“Pesquisa da LifeWay descobre as razões por que os jovens entre 18 e 22 anos
abandonam a igreja”], disponível no site da LifeWay: http://www.lifeway.com/
lwc/article_main_page/0,1703,A=165949&M=200906,00.html. Acesso em: 12
set. 2007.
22 O plantador de igreja
42
Barna Research Online: “Women are the backbone of Christian congrega-
tions in America” [“As mulheres são a espinha dorsal das congregações cristãs na
América”], 6 de março, 2000; http://www.barna.org.
43
Ver http://www.acts29network.org/about/doctrine.
44
É isso que amo no Redeemer Church’s Planting Center (rcpc). Eles
plantam todo tipo de igreja que permaneça nos limites do cristianismo ortodoxo,
para que possam alcançar as cidades do mundo; ver http://www.redeemer.com/
about_us/church_planting.
Por que focar no homem? 23
45
1Coríntios 13.12.
O HOMEM
Um bom ministro, que tem a presença de Deus consigo em sua obra, é
a maior das maiores bênçãos que Deus pode conferir a um povo além
da dádiva de si próprio. ( Jonathan Edwards).1
1
Jonathan edwards, The salvation of souls, Wheaton, Crossway, 2002, p. 140.
2
Gregório de nazianzo, Oratorian 2.71, citado em Andrew Purves, Pastoral
theology in the classical tradition (Louisville: Westminster John Knox, 2001), p. 9.
3
Richard Baxter, The reformed pastor, Edinburgh, The Banner of Truth
Trust, 2001, p. 53.
4
Charles sPurgeon, Lectures to my students, Grand Rapids, Zondervan, 1972,
p. 9. Sine qua non é uma expressão latina que significa “sem a qual não”, isto é, aquilo
que é precondição necessária.
1
Um homem resgatado
5
Baxter, The reformed pastor, p. 72.
Um homem resgatado 29
e expiar seu próprio pecado. Ele estava confiando no que ele estava
fazendo em vez de confiar no que Cristo havia feito por ele.
Infelizmente, as igrejas muitas vezes estão tão desesperadas
por liderança que não se importam em deixar passar defeitos de
caráter em um líder, especialmente se ele for talentoso. As pessoas
podem pensar: Ele pode não exibir um caráter piedoso, mas a pre-
gação dele é espetacular... ele é um conselheiro maravilhoso... ele pode
inspirar as pessoas a segui-lo! Com a vasta maioria das igrejas atual-
mente em declínio ou estagnadas, os homens talentosos mas não
regenerados acabam se tornando um item bastante procurado na
economia cristã profissional.
Outras igrejas simplesmente não estão devidamente prepa-
radas para discernir entre um líder regenerado e um não rege-
nerado. Às vezes, a visão que determinada igreja tem sobre o
ministério pastoral foi tão influenciada pelo modelo de negócios
americano, concentrando-se no crescimento a qualquer custo,
que há pouca ou nenhuma ênfase em encontrar alguém chamado
por Deus. Nos últimos anos, tenho sido chamado para prestar
consultoria a várias denominações e redes evangélicas, entre elas
algumas denominações tradicionais, sobre decisões envolvendo a
contratação, demissão e o recrutamento de obreiros. Descobri que
a principal pergunta com que tanto liberais como conservadores
muitas vezes começam o processo não é: Este homem é cristão?,
mas: Este homem pode fazer a igreja crescer? Essa questão principal
é reveladora, e nos alerta para uma das razões por que há tantos
homens que estão implantando e liderando igrejas mas não têm
uma relação salvífica com Jesus Cristo.
Sem dúvida, há uma preocupação ética quando um homem
engana a igreja a respeito de suas próprias “credenciais” para o
ministério. Mas é mais do que uma mera questão ética. O bem-estar
da igreja (e do seu pastor) está em jogo. Considere o que acontece
quando um homem tenta liderar ou plantar uma igreja sem antes
ter sido resgatado dos seus pecados. Ele se sentirá ou abatido
(condenado, inseguro e inadequado), ou cheio de si (convencido,
Um homem resgatado 31
7
Como Wayne Grudem observa, o termo não regenerado literalmente significa
“alguém que não é renovado no coração e na mente ou renascido no espírito”. Isso
está em contraste com alguém que é regenerado. É importante lembrar que um
espírito regenerado não é algo que uma pessoa pode alcançar. Antes, é como nascer
— é algo que acontece a uma pessoa e que está fora de seu controle. Ver, de Wayne
Grudem, Systematic theology: an introduction to Biblical doctrine (Grand Rapids:
Zondervan, 1994), p. 699, 700. [Publicado em português por Edições Vida Nova,
São Paulo, 1999]. Ver também Ezequiel 36.26,27; João 3.3-8; 1Pedro 1.3.
8
Ver Filipenses 1.15-18.
9
Charles Spurgeon, Lectures to my students, Grand Rapids, Zondervan, 1972,
p. 9,10.
32 O homem
10
James Packer, Your father loves you: daily insights for knowing God, Whea-
ton, Harold Shaw Publishers, 1986), devocional para o dia 22 de janeiro.
Um homem resgatado 33
11
2Coríntios 5.17.
12
1João 2.9,10 diz: “Aquele que diz estar na luz, mas odeia seu irmão, até agora
está nas trevas. Aquele que ama seu irmão permanece na luz, e nele não há tropeço”.
34 O homem
13
1João 2.3 diz: “E sabemos que o conhecemos, se guardamos seus manda-
mentos”.
Um homem resgatado 35
1
William H. williMon, Pastor: the theology and practice of ordained minis-
try, Nashville, Abingdon, 2002, p. 141-5.
2
Charles sPurgeon, Lectures to my students, Grand Rapids, Zondervan, 1972,
p. 262-7.
2
Um homem chamado
3
Jeremias 1.5.
4
Alguém certa vez me disse que concordar em servir a Deus no ministério
vocacional é aceitar um chamado a uma vida inteira de sofrimento.
38 O homem
5
Como visto em Êxodo 32.9 e várias outras passagens.
Um homem chamado 39
O que é o chamado?
Uma das coisas mais importantes a fazer na hora de avaliar o seu
chamado é estudar o de outros homens, e também o que ele têm
a dizer sobre esse chamado.
Martinho Lutero, o reformador da igreja e teólogo do século
16 que deflagrou a Reforma Protestante, ensinava que “o chama-
do é dúplice [...] divino, algo que é efetuado pelo poder do alto,
e que é da fé [...], [bem como] um chamado de amor [...] como
quando os amigos desejam que você pregue um sermão. Ambas as
vocações são necessárias para assegurar a consciência”.6
Lutero listou oito qualidades que um ministro deve ter:
6
The table talk theology of Martin Luther, ed. e intr. Thomas S. Kepler, Grand
Rapids, Baker, 1952, p. 234.
40 O homem
4) Boa memória
5) Saber quando parar de falar
6) Estar seguro de sua doutrina
7) Estar disposto a arriscar corpo e sangue, riqueza e honra na obra
8) Estar disposto a ser zombado e ridicularizado por todos.7
7
Ibid., p. 23-89.
8
João Calvino, Institutas, Livro iv, Cap. 3, seções 11 e 12.
9
Letters of John Newton, Londres, Banner of Truth Trust, p. 545-6.
Um homem chamado 41
por realizar o seu dever agora, tenham certeza de que a sua mente
ainda não está orientada para isso”.10
Charles Hodge, o teólogo reformado do século 18, distin-
guia entre as qualificações intelectuais, espirituais e corporais para
o ministério, todas as quais devem estar presentes num chamado
genuíno. As qualificações intelectuais são “habilidade, conhe-
cimento, ortodoxia”. As espirituais são “uma grande apreciação
do ofício, um grande desejo por ele pelos motivos apropriados, a
disposição de ir a qualquer parte e de se submeter a tudo o que
for necessário no desempenho de seus deveres, [e] um senso de
obrigação — de modo que digamos ‘ai de mim, se não anunciar
o evangelho’”. As qualificações corporais, segundo ele, são “boa
saúde e os dons de expressão necessários”.11
Robert L. Dabney, outro teólogo presbiteriano do século 19,
escreveu que Deus chama um homem ao ministério “iluminando
e influenciando sua consciência e entendimento, bem como aos
seus irmãos, para que compreendam [...] as qualificações nele
existentes que apontam de maneira criteriosa para a pregação
como o seu ofício”.12 As qualificações que ele lista incluem: (1) sau
dável e ardoroso temor a Deus, (2) sólida reputação de vida san-
ta, (3) caráter de respeitável força, (4) alguma experiência cristã
e (5) aptidão para ensinar.13
Deixemos agora o passado distante. Vou compartilhar uma
história do passado recente, sobre como eu fui chamado ao minis-
tério. Eu estava sentado no primeiro culto de retiro da minha vida,
e para ser sincero eu estava um pouco assustado com a enorme
quantidade de jovens cristãos que havia na capela dessa pequena
10
Letters of George Whitefield: for the period 1734-1742, Edinburgh: The
Banner of Truth Trust, 1976, p. 81-2.
11
Charles Hodge, Princeton sermons: outlines of discourses, doctrinal and
practical, Londres, The Banner of Truth Trust, 1958, p. 311.
12
Robert L. Dabney, Discussions: evangelical and theological, vol. 2, Londres,
The Banner of Truth Trust, 1967, p. 27.
13
Ibid., p. 31.
42 O homem
Discernindo o chamado
O seu chamado ao ministério não precisa ser como o meu ou,
aliás, como o chamado de qualquer outra pessoa. Na verdade,
um dos aspectos mais interessantes do chamado é que, seja nas
44 O homem
Confirmação do coração
Não há nada como ir a um show de rock e simplesmente pirar.
Por causa da música, quero dizer. Se o som estiver certo no show,
dá para sentir o baixo no seu tórax, como que alterando o seu rit-
mo cardíaco. Há uma pressão, uma força da qual você não pode
escapar até deixar o local. Essa pressão é semelhante à confir-
mação do coração de um chamado ao ministério. Você a sente
em você. Você a sente sobre você. É uma pressão no coração e
na alma. Uma pressão inescapável. Uma pressão inevitável. Uma
pressão que evoca um profundo anseio de ser pastor.
Em 1Timóteo 3.1, o autor se refere ao sujeito que “almeja”
ser presbítero. Na verdade, esse desejo pode ser considerado a
primeira qualificação do presbítero. O homem que é verdadei-
ramente chamado deseja o ministério. Ele não entra no ministé-
rio de má vontade, triste, relutante, arrastando os pés. Ele entra
no ministério porque quer e sente alegria em seguir esse desejo.
14
Estou falando no nível popular com essa terminologia; também é legíti-
mo usar o termo coração para se referir à pessoa toda. Cf. a proveitosa discussão a
respeito em Bruce K. Waltke, The book of Proverbs: chapters 1–15 (Grand Rapids:
Eerdmans, 2004), p. 902-9.
Um homem chamado 45
Isso não significa que não se deva ter alguma cautela, já que se
trata de um chamado elevado; mas há um entusiasmo, uma
alegria e um sentimento de privilégio em poder servir a Deus
dessa forma.15
Um verdadeiro chamado é frequentemente acompanhado de
um desejo insaciável de, a todo custo, servir a Deus e ao seu povo.
Há um forte sentimento no coração de que ou é o ministério ou
nada. Considere o chamado de Neemias. O livro que leva o seu
nome começa descrevendo um chamado do coração para servir a
Deus conduzindo o povo dele. No capítulo 1, Neemias pergunta
quanto ao estado dos sobreviventes do Exílio e à condição física
da grande cidade, Jerusalém. O relato que ele recebe não é enco-
rajador: “Os que sobreviveram ao cativeiro estão passando grande
aflição e vergonha lá na província. Os muros de Jerusalém foram
derrubados, e as portas da cidade, queimadas” (Ne 1.3). Essas
notícias atingem diretamente o coração de Neemias. Sabemos
disso por causa do versículo seguinte:
15
Isso também não significa que não haja alguma “relutância humilde” por
parte daquele que é chamado.
46 O homem
16
Spurgeon, Lectures to my students, p. 26.
Um homem chamado 47
Confirmação da mente
A confirmação da mente é um aspecto importante na hora de
discernir o chamado ao ministério, mas muitas vezes é ignorada
porque é mais fácil se concentrar na confirmação do coração. É
fácil permitir que as emoções daquilo que se percebe ser um cha-
mado tirem o foco de todo o restante. Mas um genuíno chamado
ao ministério vai além dos desejos e emoções, incluindo também
reflexão e planejamento. A confirmação da mente é uma avalia-
ção feita pela pessoa que se sente chamada ao ministério quanto
àquilo a que ela é especificamente chamada a fazer. Enquanto a
confirmação do coração é mais geral e etérea, a confirmação da
mente é específica e prática. A confirmação do coração vem à
tona por meio de suas paixões e clama: Quero dar minha vida pela
igreja! A confirmação da mente segue essas paixões e pergunta:
Como, especificamente, posso servir a igreja?
Muitos homens se entregaram ao ministério em geral sem
fazer a menor ideia de qual ministério em particular eles estão
sendo chamados a exercer. A história cristã nos mostra que um
chamado ao ministério é geralmente acompanhado de um encargo
ministerial específico. Isso não quer dizer que a primeira atribuição
17
John Newton, Memoirs of the rev. John Newton, in: The works of the rev. John
Newton, vol. 1, Edinburgh, The Banner of Truth Trust, 1985.
48 O homem
18
Jim Collins, Good to great: why some companies make the leap and others
don’t, Nova York, HarperCollins, 2001, p. 13.
52 O homem
Melhor não ter presbíteros do que ter os presbíteros errados. ( Jon Zens).3
1
Charles sPurgeon, Lectures to my students, Grand Rapids, Zondervan, 1972,
p. 13.
Citado em William H. Willimon, Pastor: the theology and practice of or-
2
4
1Timóteo 3.1-7; Tito 1.5-9; 1 Pedro 5.1-4.
56 O homem
5
Strauch, Biblical eldership, p. 103.
6
Cf. ibid., p. 68-72.
7
Atos 14.23; 15; 20.17,28; 1Timóteo 5.17; Filipenses 1.1; Tito 1.5; Tiago
5.14; 1Pedro 1.1; 5.1
8
Cf., de Strauch, Biblical eldership, p. 16.
Um homem qualificado 57
Anepilemptos, “irrepreensível”
Esse termo descreve o homem cujo caráter é livre de qualquer mácu-
la séria, que é respeitado por aqueles que o conhecem e amplamente
9
D. A. Carson, The cross and Christian ministry, Grand Rapids, Baker, 1993,
p. 95, grifo do autor.
10
Citado em Strauch, Biblical eldership, p. 70.
Um homem qualificado 59
11
Citado em William D. Mounce, Word Biblical Commentary, vol. 46, Pastoral
epistles (Nashville: Nelson Reference and Electronic, 2000), p. 169.
12
Ibid., p. 152.
13
Confira a discussão em ibid., p. 170 ss.
60 O homem
era que minha mulher e meus filhos viviam pisando em ovos por
causa do meu comportamento imprevisível.
Dois anos depois de termos plantado a igreja Clear Creek,
comecei a reconhecer em mim um afastamento emocional bas-
tante distinto em relação a minha mulher e meus filhos. E o pior,
percebi que eu provavelmente era o último da família a percebê-lo.
Minha mulher e meus filhos já estavam se sentindo desconectados.
Eu me lembro de me perguntar um dia: “E se seu plantasse
uma igreja muito bem-sucedida, mas não soubesse como amar,
valorizar, proteger e me conectar com minha própria mulher e
meus filhos? E se eu chegasse ao fim da minha única vida, e minha
mulher e meus filhos não quisessem mais saber de mim?”.
Um amigo sábio e temente a Deus me ajudou a perceber
algumas coisas. Em primeiro lugar, ele me ajudou a ver que os
acessos de raiva são como mergulhar numa piscina segurando as
canelas, a famosa “bombinha”: você não sabe realmente o quão
longe a água vai espirrar, porque está se atirando nela de olhos
fechados. Minha raiva estava respingando em pessoas que eu nun-
ca havia pretendido atingir.
Em segundo lugar, ele me ajudou a perceber que eu estava
alavancando a minha energia emocional para me ajudar a permane-
cer comprometido num processo ou para lutar em situações difíceis,
o que pode ser uma coisa muito boa. Mas a minha emoção era a
raiva, e eu estava alvejando as pessoas com ela, especialmente aquelas
mais próximas de mim. Eu percebi que a minha raiva estava conecta-
da ao meu desejo exagerado de ser bem-sucedido. Qualquer um que
ficasse entre mim e os meus objetivos se tornava alvo de minha ira.
Mas eis que o evangelho me transformou. Certo dia meu
amigo me disse: “Nada do que você fizer pode levar Deus a amá-lo
mais, e nada do que você fizer pode levar Deus a amá-lo menos”.
Bem, eu havia dito isso umas centenas de vezes ao longo da minha
vida ministerial. Mas quando meu amigo me disse isso naquele
momento em particular, o Espírito de Deus abriu o meu coração
para ver novamente a vastidão da sua graça.
Percebi que eu estava tentando conquistar o amor de Deus
por meio do trabalho duro e do sucesso. Eu estava bravo porque
62 O homem
Kosmios, “respeitável”
Isso significa ter uma vida bem ordenada (uma vida que não se
caracteriza pelo caos).
Essa qualificação parece tratar do caráter geral da vida do
pastor, algo como um medidor de decibéis de sua vida. Um dos
meus amigos pastores era um homem que não tinha a vida em
ordem. O carro dele nunca estava limpo por fora, e por dentro era
muito pior. O jardim e o quintal dele ficavam por conta da própria
natureza: era mato puro (ele dizia aos seus filhos pequenos que
eram flores). Não só o carro, a casa e o quintal dele eram mal-
cuidados, mas ele também era desgrenhado. Havia uma agitação
geral na maneira como ele se portava. Estava sempre afobado,
suas conversas eram sempre apressadas e o caos permeava todo
Um homem qualificado 63
Philoxenos, “hospitaleiro”
Ele ama os estranhos. Ele não é dado a panelinhas.
Ao contrário do que geralmente se pensa, essa qualificação
não significa que o pastor e sua mulher devam sempre ter algo
preparado para comer em sua casa para todas as pessoas da igre-
ja. Nem significa que a casa do pastor deva ser uma porta gira-
tória para as pessoas da igreja virem se divertir, assistir à tv e
assim “viver em comunidade”. A palavra “hospitaleiro” se refere à
maneira como o pastor e sua família recebem as pessoas que não
são da fé. Em outras palavras, ser hospitaleiro é ser amigo dos
pecadores, e, assim, ser como Jesus.
Um excelente exemplo de hospitalidade centrada na comu-
nidade está na história de Alex Early, sobre como plantou a igreja
chamada Four Corners Church num lugar que ele denomina “um
bar americano de rock’n’roll gls”.15
15
Para mais informações sobre a Four Corners Church, visite http://
fourcornersnewnan.org.
64 O homem
16
Marcas conhecidas de uísque e tequila na América do Norte. N. do E.
66 O homem
desse vício. O mesmo se pode dizer, cada vez mais, quanto aos
medicamentos controlados. Um pastor que conheço não conse-
guia relaxar sem tomar várias cervejas depois do trabalho, e não
conseguia dormir sem o auxílio de um sonífero. Isso não é peri-
goso somente para o corpo, a mente e as emoções, mas também
é sinal de uma profunda falta de fé na capacidade de Deus de
satisfazer as nossas necessidades e prover a nossa força.
17
A Bourbon Street em particular e o distrito francês em geral tinham um
cheiro peculiar — uma combinação de álcool, urina e vômito, que eu imaginei como
sendo o cheiro do pecado.
Um homem qualificado 67
Epieikes, “amável”
A palavra “amável” aqui não se refere àqueles homens passivos
e inertes, de aperto de mão macio, que precisam de um espelho
retrovisor implantado na testa de tanto que recuam. A amabi-
lidade nesse contexto significa ser flexível, ser disposto a ceder
quando houver a possibilidade. Essa palavra descreve um homem
que não precisa que as coisas sejam sempre como ele quer. Essa
qualificação diz respeito ao quociente de teimosia do homem. Os
homens qualificados não precisam que as coisas sejam sempre do
jeito deles. Eles estão dispostos, em prol da igreja, a não estar
sempre certos.
18
Para mais informações sobre Jason e a Journey Church, visite o seu site:
http://thejourney.org.
68 O homem
19
Para aqueles no ministério que estão lutando contra o pecado sexual, um bom
recurso é o livro de John H. Armstrong, The stain that stays: the Church’s response to
the sexual misconduct of its leaders (Ross-shire: Christian Focus Publications, 2000).
72 O homem
isso não quer dizer que está proibido de apoiar a igreja e sua lide-
rança, de servir a igreja como leigo ou de usar os seus dons espiri-
tuais para edificar o corpo. A sua disposição em se afastar por um
período será instrutiva aos outros quanto à necessidade da santi-
dade pessoal e à seriedade e ao peso do ofício pastoral. No fim,
o Senhor pode usar esse cenário para o bem dos seus propósitos.
Para todos nós, onde quer que estejamos na trajetória do
nosso chamado, essas qualificações são um desafio a que busque-
mos ser santos e irrepreensíveis em nossa vida pessoal, em nossos
relacionamentos e na nossa função pública. No fim das contas,
nenhum de nós é qualificado diante de Deus para servir o seu
povo. Como o apóstolo Paulo pergunta: “E quem está preparado
para essas coisas?” (2Co 2.16). Nossa esperança não está em nós
mesmos, mas em Cristo, que nos chama, nos purifica, nos equipa
e nos qualifica.20
20
Se você tem perguntas adicionais sobre a sua qualificação para o ministério,
a melhor coisa a fazer é pedir ajuda à liderança da sua igreja. Se essa opção não
for viável, considere a possibilidade de participar de um processo de avaliação
do ministério Atos 29. Você pode aprender sobre esse processo em http://www.
acts29network.org/plant-a-church/assessment-process.
Os homens dependem da bênção e da providência favoráveis de
Deus para o êxito em todos os afazeres, mas o êxito deste afazer em
particular depende de maneira mais diversa e imediata da influência
divina. Este ofício depende, de todas as formas, de Deus. É ele que
deve equipar e qualificar o ministro para o seu trabalho. É ele que lhe
deve conceder um coração que, sincera e seriamente, busque os fins
desse trabalho. É ele que deve assisti-lo em particular e em público.
É ele que deve dispor o ministro favoravelmente à sua congregação,
e é ele que deve inclinar o coração desta favoravelmente ao ministro,
desse modo influenciando a ambos, para que uma harmonia possa ser
conservada entre ministro e congregação, e que assim esteja livre o
caminho para o êxito do ministério dele. ( Jonathan Edwards).1
1
Jonathan edwards, The salvation of souls, Wheaton, Crossway, 2002, p. 14-23.
2
Gregório Magno, Pastoral care, I.10, 38, citado em Andrew Purves, Pastoral
theology in the classical tradition (Louisville: Westminster John Knox, 2001), p. 67.
4
Um homem dependente
3
Biblicamente falando, a carne é aquela parte de nós que ainda precisa ser
entregue a Deus; cf. Romanos 8.7.
76 O homem
4
“Sem mim nada podeis fazer”, diz Jesus em João 15.5.
5
Charles Spurgeon, Lectures to my students, Grand Rapids, Zondervan, 1972,
p. 17.
Um homem dependente 77
6
Algumas leituras essenciais que recomendo são Jim Collins, Good to great:
why some companies make the leap… and others don’t (New York: Harper Business,
2001); Michael Gerber, The e-myth: why most businesses don’t work and what to do
about it (New York: Ballinger, 1985).
7
Sola Scriptura era um dos princípios dos reformadores durante a reforma
protestante de 500 anos atrás. Ele se refere à convicção de que a Bíblia, e só ela, é a
nossa autoridade final em questões de teologia e vida.
78 O homem
Lutero disse algo que se tornou famoso: “Se deixo de passar duas
horas em oração a cada manhã, o diabo obtém a vitória durante
o dia. Tenho tantas coisas a fazer que não posso seguir adiante
sem passar três horas diárias em oração”. De acordo com Lutero,
estar ocupado é uma razão ainda maior para passar muito tempo
lutando com Deus em oração.
Richard Baxter, o pastor e teólogo puritano, aconselhou os que
pretendem servir no ministério pastoral com as seguintes palavras:
Richard Baxter, The reformed pastor, General Books llc, 2009, p. 61.
8
Êxodo 34.29-35.
9
10
Seremos sábios em atentar às palavras de Mateus 12.34, prestando atenção
em nossas palavras, porque elas revelam nosso coração.
Um homem dependente 79
Baxter prossegue:
O que é dependência?
Praticamente no centro do seu sermão mais famoso, o Sermão do
Monte, Jesus desafia seus seguidores com respeito à vida depen-
dente. As palavras dele têm implicações interessantes para aqueles
entre nós que desejam ingressar na vida do ministério público ou
já estão nela:
11
Baxter, The reformed pastor, p. 61-2.
12
Mateus 6.5,6.
80 O homem
Detectando a dependência
Para muitos de nós, responder à pergunta “Estou vivendo em
dependência de Deus?” é uma tarefa difícil. Parte da razão disso é
que muitas vezes não sabemos se estamos vivendo em dependên-
cia de Deus, e isso porque não estamos ativamente conscientes do
Um homem dependente 83
15
A palavra “concluindo” em Atos 16.10 nos ajuda a enxergar que, embora
essas incitações sejam místicas, elas também estão conectadas ao pensamento estra
tégico. Paulo teve dois impedimentos em seu espírito e uma visão clara, mas foi
somente depois de chegar a uma conclusão — relacionar todas essas coisas cogniti-
vamente — que ele soube aonde o Espírito o estava conduzindo.
16
Para aqueles entre nós que estão completamente esgotados, no entanto, o pri-
meiro passo provavelmente é tirar uma folga. Uma vez por mês eu tiro uma folga de
um dia. Uma vez a cada três meses tento tirar uma folga de dois dias. E uma vez por
ano tento tirar uma folga de uma semana. O propósito desses períodos é ter um tempo
de descanso, relaxamento e solitude com Deus. Alguns ministros são tão ocupados
que acabam impedindo o acesso de Deus ao seu coração. Ao diminuir o ritmo e passar
um tempo tranquilo fora da correria do ministério, podemos permitir que Deus fale
à nossa vida. Se você que está lendo isso estiver se sentindo totalmente exausto, con-
sidere a ideia de tirar um período sabático, um período de folga do ministério. Um
conselheiro me disse que os pastores deviam passar um período sabático de três meses
uma vez a cada sete anos, ou mesmo, se possível, um período sabático de seis meses.
Confie em Deus; confie que ele manterá o ministério durante a sua ausência. Você
estará mais capacitado para servir sua congregação quando estiver revigorado.
84 O homem
O memorial de Pascal:
No ano da graça de 1654, segunda-feira, 23 de novembro [...]
De cerca de dez e meia da noite até cerca de meia hora após
a meia-noite.
FOGO.
Deus de Abraão. Deus de Isaque. Deus de Jacó.
Não dos filósofos nem dos instruídos.
Certeza. Alegria. Certeza. Emoção. Visão. Alegria.
Esquecimento do mundo e de tudo fora de Deus [...]
O mundo não te conheceu, mas eu te conheci.
Alegria! Alegria! Alegria! Lágrimas de alegria [...]
Meu Deus, tu me abandonarás? Nunca me deixes ser sepa-
rado de ti.17
17
William L. Portier, Tradition and incarnation: foundation of Christian
theology, Mahwa, Paulist, 1994, p. 38-9.
Os homens mais irresolutos, tímidos, carnais e instáveis entre nós não
são bons candidatos ao púlpito. Há certos trabalhos de que jamais
devemos incumbir os espiritualmente inválidos ou deformados. Um
homem pode não ser qualificado para escalar edificações altas; talvez
sua cabeça seja muito fraca, e o trabalho numa altura elevada o ponha
em grande perigo. Sendo assim, que ele permaneça no nível do chão
e encontre algum trabalho útil no qual uma cabeça firme seja menos
importante. Há irmãos que têm deficiências espirituais análogas: eles
não podem ser chamados a um trabalho visível e elevado, porque sua
cabeça é muito fraca. (Charles Spurgeon).1
1
Charles sPurgeon, Lectures to my students, Grand Rapids, Zondervan, 1972,
p. 13.
5
Um homem habilidoso
2
1Coríntios 12.7: “A manifestação do Espírito é dada a cada um para bene
fício comum”.
Um homem habilidoso 89
3
Efésios 4.11-16.
4
1Coríntios 12.25.
5
1Timóteo 4.11,13; 5.7; 6.2 etc.
6
Romanos 12.7; 1Coríntios 12.28.
7
Atos 15.35.
8
Atos 18.26.
9
A Segunda Confissão de Londres (1677) declara essa distinção com respeito
à pregação: “É incumbência dos bispos ou pastores das igrejas pregar a Palavra, dado
o seu ofício; não obstante, a tarefa de pregar a Palavra não se limita estritamente a
eles, mas se outros membros demonstram os dons e a capacitação do Espírito Santo
para isso, e são aprovados e chamados pela Igreja para tanto, estes também podem e
devem pregar” (xxvi, Seção 11).
10
Em geral, é consenso entre os protestantes que a Bíblia usa os termos “pres-
bítero” e “bispo” como maneiras diferentes de se referir à mesma função. Pastorear,
em contaste, é um ministério desempenhado tanto pelos presbíteros como por ou-
tros. O nome pastor veio a ser associado com a função de presbítero. O nome que
se dá à função não é algo crucial, como indicam as variações na terminologia de
Paulo. Todavia, não se deve permitir que isso obscureça as diferenças entre função e
ministério ou limite o ministério pastoral aos presbíteros.
90 O homem
11
Neemias 8.8.
Um homem habilidoso 91
12
Romanos 1.18: “Pois a ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e
injustiça dos homens, que impedem a verdade pela sua injustiça”.
94 O homem
17
Atos 27.
18
Romanos 12.8
Um homem habilidoso 97
19
C. Peter Wagner, Finding your spiritual gifts: Wagner-Modified Houts
Questionnaire, Glendale: Regal Books, 1995.
20
Charles R. Swindoll, 7 building blocks for leaders, Insights, February 2007,
p. 1, 3.
21
Esse é um post de Daniels em seu blog, que se chama Better living: thoughts
from Mark Daniels. O post, intitulado “Opening Your Spiritual Gifts”, pode
ser encontrado em http://markdaniels.blogspot.com/2006/12/opening–your–
spiritual–gifts–day–19.html.
22
John C. Maxwell, Leadership gold: lessons I’ve learned from a lifetime of
leading, Nashville: Thomas Nelson, 2008, p. 77.
98 O homem
23
O pastor Drew Goodmanson, da igreja Kaleo, que faz parte da rede Atos 29,
tem sido uma grande influência para mim quanto às tendências positivas e negativas
da filosofia ministerial do modelo triplo. Você pode obter mais informações sobre
Drew em http://www.goodmanson.com.
24
Ver http://www.goodmanson.com/20070-7/03/the-dangers-of-triperspec-
tivalism.
Um homem habilidoso 99
Profetas
Embora os profetas sejam excelentes guardiões da verdade, às
vezes eles focam tão intensamente na doutrina que acabam negli-
genciando a pregação da graça de Deus. Os profetas precisam evi-
tar a atitude de influenciar a mente em detrimento do coração das
pessoas. Os profetas também precisam lutar contra a arrogância,
o legalismo e o desprezo pelas pessoas que não compartilham suas
convicções e paixões.
Sacerdotes
Os sacerdotes que apresentam a semelhança de Cristo evitam
influenciar o coração das pessoas em detrimento de sua mente. Mas
se os profetas precisam combater a arrogância, muitos sacerdotes
precisam lutar contra a covardia. Como os sacerdotes muitas vezes
tendem a valorizar os sentimentos subjetivos mais que a verdade
objetiva, eles podem acabar fechando um olho para o pecado para
não complicar a vida de ninguém. O confronto pode às vezes não
ser a atitude preferida do sacerdote, mas é necessário quando a
verdade está sendo comprometida.
Reis
Os reis são excelentes líderes. Eles fazem as coisas acontecer. Eles
também desenvolvem sistemas que ajudam os outros a realizar as
coisas. E pelo fato de se concentrarem tanto em resultados, os reis
precisam cuidar para não acabarem excluindo o evangelho da gra-
ça, subordinando-o tão excessivamente a programas que ele acabe
morrendo. Os reis também tendem a detectar o que está quebrado
e precisa de conserto, o que pode ser extremamente útil na vida
da igreja. Mas eles devem lutar para manter elevado o moral da
congregação, e precisam reduzir o ritmo de vez em quando para
celebrar as vitórias ministeriais já conquistadas.
O pastor habilidoso é um supervisor, guardião teológico
e mestre de sólida doutrina que conhece suas qualidades e
100 O homem
Vai até eles tão logo ouvires da sua doença, sem esperar que enviem
alguém para te chamar. (Richard Baxter).3
1
Alexander straucH, Biblical eldership: an urgent call to restore Biblical
church leadership, Littleton, Lewis and Roth, 1995, p. 98.
2
Jonathan edwards, The salvation of souls, Wheaton, Crossway, 2002, p. 170.
3
Richard Baxter, The reformed pastor, General Books llc, 2009, p. 103.
6
O coração de um pastor
Cristo ainda tem a mesma compaixão pelas pessoas de hoje, e ele
designou os líderes da sua igreja para servirem como pastores das
suas ovelhas escolhidas. Como pastores, devemos atender com
zelo e diligência as pessoas que Deus colocou sob o nosso cui-
dado. Precisamos ser como o homem que vai atrás de sua única
ovelha perdida e não sossega até encontrá-la e conduzi-la em
segurança até a sua casa.4 Precisamos ser como aquele que é o
4
Lucas 15.4.
104 O homem
5
João 10.11.
6
Baxter, The Reformed Pastor, p. 117.
7
Atos 20.28: “Portanto, tende cuidado de vós mesmos e de todo o rebanho
sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de
Deus, que ele comprou com o próprio sangue”.
Um homem que pastoreia 105
8
1João 3.16.
9
Atos 20.29: “Eu sei que, depois da minha partida, lobos cruéis entrarão no
vosso meio e não pouparão o rebanho”.
10
É importante distinguir entre os lobos que tentam machucar as ovelhas de
maneira consciente e deliberada e os cristãos espiritualmente imaturos, que às vezes
machucam as ovelhas sem intenção maliciosa. É necessário confrontar ambos os
tipos de pessoas, mas pastores corajosos e habilidosos serão muito mais severos com
os lobos.
11
Hebreus 13.17: “Obedecei a vosso líderes, sendo-lhes submissos, pois eles
estão cuidando de vós, como quem há de prestar contas”.
106 O homem
12
Tiago 3.1 diz: “Meus irmãos, muitos de vós não devem ser mestres, sabendo
que seremos julgados de forma mais severa”.
13
Edwards, The salvation of souls, p. 21.
14
João 10.12,13: “Mas o empregado, que não é pastor e a quem as ovelhas
não pertencem, quando vê o lobo se aproximar, abandona as ovelhas e foge. E o
lobo as ataca e dispersa. O empregado foge porque é empregado e não se importa
com as ovelhas”.
Um homem que pastoreia 107
15
Aprendi sobre essa conexão entre espírito e inspiração com Frederick
Buechner. Ele a menciona em seu livro Wishful thinking (São Francisco: Harper-
Collins, 1973), p. 110.
Um homem que pastoreia 109
O dever do pastor
Até agora falei sobre a importância do pastoreio espiritual, mas
ainda não defini exatamente o que ele é. Richard Baxter, em seu
clássico The reformed pastor, oferece um retrato útil do que significa
ser um pastor de almas. Ele escreve: “[o] ministro não é um mero
pregador público, mas deve ser para eles o conselheiro da alma
deles, assim como o médico lhes é para o corpo, e o advogado, para
o patrimônio, de modo que todo homem que esteja em dúvida ou
em apuros possa levar o seu caso ao pastor para ser resolvido [...]
Não só devemos estar dispostos a assumir o fardo deles, mas deve-
mos atraí-lo a nós, convidando-os a virem ter conosco”.16
O pastor de almas, em outras palavras, é um médico espiritual.
Os pastores cuidam da saúde da alma das pessoas, assim como os
médicos cuidam da saúde do corpo delas. Os pastores, portanto,
combatem as doenças espirituais e encorajam a saúde espiri-
tual da congregação. Eles supervisionam o crescimento espiritual
16
Baxter, The reformed pastor, p. 96.
Um homem que pastoreia 111
17
Êxodo 18.13-27.
112 O homem
18
Alguns apontariam para a prática de Richard Baxter de visitar e doutrinar
regularmente cada membro de sua igreja como um argumento contra a mera super-
visão dos ministérios de pastoreio. É verdade que os pastores devem se ocupar do
pastoreio pessoal além de supervisionarem os sistemas de pastoreio, mas precisamos
lembrar que o próprio Baxter também disse: “Se um capitão consegue fazer com
que os oficiais sob suas ordens cumpram seu dever, ele pode comandar os soldados
com muito mais facilidade do que se carregasse todo o trabalho sobre os próprios
ombros”. (The reformed pastor, p. 102). Além disso, essa abordagem tem fundamen-
tação bíblica nos acontecimentos de Êxodo 18 e é uma necessidade prática para as
igrejas grandes.
114 O homem
19
Colossenses 3.16 (“em toda sabedoria [...] ensinai e aconselhai uns aos
outros”); Romanos 14.19; Gálatas 6.1; Efésios 4.15; Hebreus 10.24.
20
João 13.14; Romanos 12.10; Gálatas 5.13; Filipenses 2.1-4.
21
1Coríntios 12.7; 1Pedro 4.10,11.
Um homem que pastoreia 115
fardos (Gl 6.2), lutas (Ef 4.25; Hb 3.13; Tg 5.16) e uma afeição
visível (Rm 16.16). Elas buscam ouvir umas às outras mais do que
falar (Tg 1.19), consideram umas às outras mais importantes do
que a si mesmas (Fp 2.3,4) e transbordam em amor umas pelas
outras (1Ts 3.12).
O pastor é alguém que une as pessoas como o velcro, por
assim dizer, para que elas possam pastorear umas às outras. O
papel do pastor é conectar pessoas indisciplinadas com outras que
sejam disciplinas e lhes ensinem a disciplina. É conectar as pes-
soas feridas com as que podem ajudá-las a se curar. É ajudar as
pessoas sem direção a obter orientação por meio de amigos sábios.
Em um sentido real, o trabalho do “pastoreador” é encorajar um
ambiente familiar no qual a igreja possa ajudar os cristãos a “criar”
uns aos outros em amor e verdade.
As tentações do pastor
Há muitas tentações e perigos com as quais precisamos tomar cuida-
do à medida que buscamos crescer em nossas habilidades pastorais.
22
William H. Willimon, Pastor: the theology and practice of ordained ministry,
Nashville, Abingdon, 2002, p. 179.
118 O homem
23
Ibid., p. 68.
Um homem que pastoreia 119
1
Richard Baxter, The reformed pastor, General Books llc, 2009, p. 12.
2
Jonathan edwards, The salvation of souls, Wheaton, Crossway, 2002, p. 51-2.
7
Um homem determinado
Tiago 3.1.
3
5
Eugene H. Peterson, The contemplative pastor: returning to the art of
spiritual direction, Grand Rapids, Eerdmans, 1989, p. 49. [Edição em português: O
pastor contemplativo, 2. ed., trad. Neyd Siqueira, Rio de Janeiro: Sepal, 2004].
Um homem determinado 123
Lembre-se da ressurreição
Esse desafio de Paulo conclui seu extraordinário tratado sobre
a realidade e as implicações da ressurreição corpórea de Jesus
Cristo. Ao longo de todo o capítulo, o apóstolo defende que a
ressurreição é a base da nossa fé e esperança como cristãos. É por
causa da ressurreição que temos a capacidade de realizar o nosso
trabalho até o fim; é por isso que o versículo 58 começa com a
palavra portanto. Um dos meus mentores em exegese dizia que
toda vez que você depara com a palavra portanto deve verificar
a que ela se refere. Em geral, quando a palavra portanto ocorre
no Novo Testamento ela nos lembra de voltar atrás e verificar o
contexto para podermos compreender o versículo ou a passagem.
O contexto, neste caso, é a realidade de que Cristo ressuscitou dos
Um homem determinado 125
6
John Piper, Desiring God: meditations of a Christian hedonist, Sisters,
Multnomah, 2003.
7
C. S. Lewis, The complete C. S. Lewis signature classics, São Francisco:
HarperSanFrancisco, 2002), p. 75.
Um homem determinado 127
e por fora. Portanto, quase tenho vontade de dizer: que outro seja
pregador em meu lugar. Deixarei que as coisas sigam o seu rumo,
pois nada logro senão o ódio e a inveja do mundo e todo tipo de
importunações do diabo. Portanto, minha carne e meu sangue se
revoltam, e minha natureza humana fica abatida e desanimada.
Nessa condição, devo buscar os conselhos da Palavra de Deus [...]
“Bem-aventurados sois, quando vos insultarem, perseguirem e,
mentindo, disserem todo mal contra vós por minha causa. Ale-
grai-vos e exultai, pois a vossa recompensa é grande; porque assim
perseguiram os profetas que viveram antes de vós” (Mt 5.11). A
essas palavras eu me apego.8
Enfrente a realidade
A maioria dos pastores vive num mundo de conto de fadas. Eles
se recusam a enfrentar a realidade brutal em que o ministério con-
siste, optando, em vez disso, por um mundo seguro e artificial
que nunca envolve conversas difíceis ou decisões radicais. Dan
Allender aponta:
8
Martinho Lutero, citado em Thomas C. Oden, Classical pastoral care:
ministry through word and sacrament, vol. 2 (Grand Rapids: Baker, 1987), p. 13-4.
128 O homem
9
Dan Allender, Leading with a limp: turning your struggles into strengths,
Colorado Springs: Waterbrook, 2006, p. 14.
Um homem determinado 129
��
A Jonathan Edwards reader, ed. John E. Smith, Harry S. Stout e Kenneth P.
Minkema (New Haven: Yale University Press, 1995), p. 275. Às vezes, a verdadeira
determinação exige que se se assuma esses compromissos, alianças, votos e/ou resolu-
ções diante de Deus. Embora alguns cristãos vejam a realização de votos como algo
legalista, na verdade fazer votos é algo completamente bíblico. Nas Escrituras, o sal-
mista faz votos diante de Deus (p. ex., Sl 22.25; 56.12; 61.8; 76.11; 116.14), o apóstolo
faz votos (At 18.18), o povo de Deus faz votos (p. ex., Gn 28.20; 50.25; 1Sm 1.11) e o
próprio Deus faz todo tipo de votos, juramentos e alianças (p. ex., Gn 17.7; Sl 132.11;
Jr 31.31). Outros cristãos podem sentir que essa ênfase valoriza demais as decisões e
os esforços humanos. É interessante, porém, observar que Edwards era totalmente
calvinista, tendo uma profunda compreensão da soberania de Deus. Sua crença na
soberania divina não diminuiu em nada a determinação de seus esforços por Deus.
130 O homem
11
Ibid.
Um homem determinado 131
Descanse no sábado
O descanso sabático é outro princípio bíblico que a maioria dos
pastores ignora. Embora seja verdade que os cristãos não estão
sujeitos ao quarto mandamento da mesma maneira que os antigos
israelitas, ele continua sendo no mínimo um princípio bíblico com
o qual podemos aprender bastante. Como os pastores trabalham
no domingo, muitos deles nunca tiram um dia de descanso. Essa é
uma receita para o desastre e a exaustão. Todos precisam descansar
e se recuperar de vez em quando.12 Uma pergunta útil que pode-
mos fazer é: Eu posso recomendar tranquilamente o meu estilo de
vida a um rapaz mais jovem que está ingressando no ministério?
Martinho Lutero escreveu: “Aqueles que cuidam das almas são
dignos de todo o cuidado”.13 Você está cuidando de si mesmo?
12
Para um tratamento mais aprofundado do descanso do sábado, ver meu ser-
mão intitulado “Rest”, que faz parte de uma série maior intitulada “Rhythms”; http://
www.journeyon.net/sites/default/files/audio/rest-tg-1-11-09.mp3. [Mantivemos a
indicação da fonte, apesar de o site não mais estar disponível na Internet. N. do E.]
13
Martinho Lutero, citado em Oden, Classical pastoral care: ministry through
word and sacrament, p. 7.
14
Chan Kilgore é o pastor fundador da Crosspointe Church em Orlando,
Flórida. Ele também é membro do conselho da rede Atos 29. Visite o site da
Crosspointe em http://www.xpointe.com.
132 O homem
Algumas perguntas
Concluiremos com algumas perguntas práticas que todos nós faría-
mos bem em considerar cuidadosamente:
15
Uma história impactante de um pastor que lutou com a depressão e expe
rimentou ajuda e superação divinas é o testemunho de Tommy Nelson, pastor da
Denton Bible Church, no Texas. Você pode ouvir o testemunho de Tommy em
http://www.focusonthefamily.com/radio.aspx?ID={1A0F9D4F-C845-46AD-
B196-41C170EFCE27}.
134 A mensagem
Havia por volta dessa época Jesus, um homem sábio, se é que é lícito
chamá-lo homem; pois foi realizador de obras maravilhosas, um
mestre dos homens que recebem a verdade com alegria. Ele atraiu
para si muitos dentre os judeus bem como dentre os gentios. Ele era
[o] Cristo. E quando Pilatos, por sugestão dos principais homens
entre nós, o condenou à cruz, aqueles que o tinham amado desde o
começo não o abandonaram; pois ele lhes apareceu novamente vivo
no terceiro dia, tendo os divinos profetas predito essa e dez mil outras
maravilhas a seu respeito. E a tribo dos cristãos, derivando dele o seu
nome, até hoje não se extinguiu. ( Josefo, historiador judaico
do século primeiro d. C.).2
1
Citado em Michael Horton, Christless Christianity: the alternative Gospel
of the American church, Grand Rapids, Baker, 2008, p. 97.
2
Josefo, Antiguidades judaicas, p. 63-4.
8
Os fatos
Jesus, o Deus-homem, cresceu e se submeteu perfeitamente aos
seus pais terrenos. Ele trabalhou com seu pai como carpinteiro,
sem dúvida trabalhando duro sob o sol e apresentando, portanto,
braços fortes, e uma ética de trabalho mais forte ainda.3 Finalmen-
te, com cerca de trinta anos, depois de seu batismo público, no qual
Deus Pai afirmou a sua filiação e o Espírito Santo o capacitou para
a grande missão de Deus, Jesus começou o seu ministério público.
3
Gosto muito da cena n’A paixão de Cristo, de Mel Gibson, na qual se vê o
prazer de Jesus em construir mesas e cadeiras.
138 A mensagem
4
John Stott, The cross of Christ, Downers Grove, InterVarsity, 1986, p. 48.
[Edição em português: A cruz de Cristo, São Paulo: reimp., Vida, 1992, p. 41].
Uma mensagem histórica 139
5
Stott comenta o paradoxo das palavras de Pedro: Jesus “não morreu; ele foi
morto. Devo, todavia, contrabalançar essa resposta com o seu inverso. Ele não foi
morto; ele morreu, entregando-se voluntariamente para fazer a vontade do Pai”.
Ibidem, p. 53.
6
Ver, por exemplo, Lucas 2.1,2, que situa acontecimentos na vida de Jesus no
contexto de acontecimentos mais amplos no Império Romano, tais como um decreto
de César Augusto e um registro sob Quirino, governador da Síria.
140 A mensagem
7
Para uma boa crítica da teologia de Spencer, consulte a resenha de Scott
McKnight sobre A heretic´s guide to eternity em http://blog.beliefnet.com/jesuscre-
ed/2006/07/heretics–guide–to–eternity–1.html. [Mantivemos a indicação da fonte,
apesar de o site não mais estar disponível na Internet.]
8
“Amados, não acrediteis em qualquer espírito, mas avaliai se os espíritos vêm de
Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo. Assim conheceis o Espírito
de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em corpo é de Deus; e todo
espírito que não confessa Jesus não é de Deus, mas é o espírito do anticristo, a respeito
do qual tendes ouvido que havia de vir, e agora já está no mundo” (1Jo 4.1-3).
9
João 1.1,14; Colossenses 1.15-20.
Uma mensagem histórica 141
O anúncio
A mensagem do evangelho estava fundamentada na história, mas
qual é a natureza da mensagem? A palavra euangelion (“evangelho”)
ou euangelizomai (“declarar/anunciar o evangelho”) ocorre tantas
vezes no Novo Testamento que, “claramente, o termo ‘evangelho’
é uma espécie de código para muitos autores do Novo Testamento;
o termo resumia de forma bastante básica aquilo em que, para
os cristãos primitivos, consistia essencialmente a fé cristã”.13 O
termo grego euangelion distinguia a mensagem cristã da miríade
10
Graeme Goldsworthy, Gospel-centered hermeneutics, Downers Grove,
InterVarsity, 2006, p. 21.
11
Ver, p. ex., Isaías 53.4-9.
12
A Pax Romana foi um longo período de relativa paz e estabilidade em todo o
Império Romano aproximadamente durante os dois primeiros séculos d.C.
13
James V. Brownson, Speaking the truth in love: New Testament resources for
a missional hermeneutic, Christian Mission and Modern Culture Series, Harrisburg,
Trinity, 1998, p. 31.
142 A mensagem
14
Ibid., p. 46.
15
João 14.6; Atos 4.12.
Uma mensagem histórica 143
A história em chamas
O evangelho é a mais bela história na trajetória da humanidade.
Aliás, a razão pela qual outras histórias são belas — a razão pela
16
Brownson, Speaking the truth in love, p. 46.
17
Tim Keller, Keller on Preaching to a Post-modern City II: Preaching
to Create Spiritually Inclusive Worship; http://pt.scribd.com/doc/13385894/
Preaching-in-a-PostModern-City. [Mantivemos a indicação da fonte, apesar de o
site não mais estar disponível na Internet. N. do E.]
18
Romanos 10.8-10: “Mas que diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e
no teu coração; isto é, a palavra da fé que pregamos. Porque, se com a tua boca con-
fessares Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre
os mortos, serás salvo; pois com o coração é que se crê para a justiça, e com a boca
se faz confissão para a salvação”.
144 A mensagem
19
Um bom relato da conversão de Lewis pode ser lido em: Alan Jacobs, The
Narnian: the life and imagination of C. S. Lewis, Nova York: HarperCollins, 2005.
20
Ver Systematic theology de Louis Berkhof (Grand Rapids: Eerdmans, 1996),
p. 142.
21
Cf. Hebreus 4.12; Jeremias 20.9.
Uma mensagem histórica 145
22
É útil aqui fazer a distinção entre verdade exaustiva e verdade suficiente.
Cf., de D. A. Carson, The gagging of God: Christianity confronts pluralism (Grand
Rapids: Zondervan, 1996), p. 103ss. Embora o nosso conhecimento seja sempre
limitado e parcial, podemos ter conhecimento verdadeiro de Deus e do mundo, por-
que Deus graciosamente condescendeu conosco e revelou a verdade de uma forma
que a possamos entender.
23
Cf., de Lesslie Newbigin, Proper confidence: faith, doubt, and certainty in
Christian discipleship (Grand Rapids: Eerdmans, 1995), p. 71.
146 A mensagem
24
Os concílios da igreja primitiva consistiram em reuniões de bispos da igreja
do mundo inteiro cujo propósito era discutir e definir a doutrina cristã. O erro
do apolinarismo, por exemplo, foi condenado pela igreja no Primeiro Concílio de
Constantinopla, que ocorreu em 381 d.C.
25
Newbigin, Proper confidence, p. 11.
O evangelho é o fato de que Jesus viveu a vida que você deveria ter
vivido, e morreu no seu lugar a morte que você deveria ter morrido,
para que Deus pudesse receber você não por aquilo que você fez e é,
mas por aquilo que ele fez e é. (Tim Keller).1
1
Tim keller, Keller on Preaching to a Post-modern City II: Preaching
to Create Spiritually Inclusive Worship; http://pt.scribd.com/doc/13385894/
Preaching-in-a-PostModern-City.
2
John stott, The cross of Christ, Downers Grove, InterVarsity, 1986, p. 160.
[Edição em português: A cruz de Cristo, São Paulo: reimp., Vida. N. do E.: Para maior
clareza, a citação foi traduzida diretamente do original em inglês, e não extraída da
versão em português da obra A cruz de Cristo, p. 144].
3
stott, The cross of Christ, p. 110. N. do E.: A citação foi traduzida direta-
mente do original em inglês, e não citado da versão da obra A cruz de Cristo em
português, pois esta contém um erro evidente de tradução.
9
4
Gênesis 3.15. De acordo com o Novo Testamento, o plano de salvação de
Deus remonta até mesmo a antes de Gênesis 3; ele é o conselho eterno de Deus.
Paulo, por exemplo, afirma que Deus nos salvou “devido ao seu propósito e à graça
que nos foi concedida antes dos tempos eternos” (2Tm 1.9).
150 A mensagem
5
Romanos 6—9.
6
Gênesis 12.1-3.
7
Gálatas 4.4: “Vindo, porém, a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho,
nascido de uma mulher, nascido debaixo da lei”.
8
Atos 2.22-24: “Homens israelitas, escutai estas palavras: Jesus, o Nazareno,
homem aprovado por Deus entre vós com milagres, feitos extraordinários e sinais,
que Deus realizou entre vós por meio dele, como bem sabeis; ele, que foi entregue
pelo conselho determinado e pela presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-
o pelas mãos de ímpios; e Deus o ressuscitou, quebrando as algemas da morte, pois
não era possível que fosse detido por ela”.
9
Nós também temos um inimigo pessoal — o próprio Satanás, por meio de
quem o pecado e a morte entraram no mundo ( Jo 10.10; 1Pe 5.8; Ap 12.10).
10
Graeme Goldsworthy, Gospel-centered hermeneutics, Downers Grove, Inter-
Varsity, 2006, p. 58.
Uma mensagem que resulta em salvação 151
11
John Piper, For whom did Christ die? & What did Christ actually achieve on
the cross for those for whom he died?”; http://www.monergism.com/thethreshold/
articles/piper/piper_atonement.html.
12
Êxodo 12.5; 1Pedro 1.19.
13
1João 3.16.
152 A mensagem
14
Cf. o shemá de Israel, chamado por Jesus de o maior mandamento, encon-
trado em Deuteronômio 6.5: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração,
com toda a tua alma e com todas as suas forças”.
15
Cf. Jeremias 2.12,13: “Espantai-vos disso, ó céus, e horrorizai-vos! Ficai
verdadeiramente desolados, diz o Senhor. Porque o meu povo cometeu dois delitos:
eles me abandonaram, a fonte de águas vivas, e cavaram para si cisternas, cisternas
furadas, que não retêm água”. Gosto muito dessa metáfora porque ela se refere tanto
à natureza quando ao resultado da idolatria — nós criamos um deus e damos a ele
nosso coração, nossa alma e nossas forças, o que acaba nos tornando não só desobe-
dientes à lei e nos levando a desonrar a Deus, mas também a ficar desapontados com
o ídolo e a nos sentir vazios, já que Deus é a única cisterna verdadeira.
Uma mensagem que resulta em salvação 153
escolha. O que significa ser salvo? Significa que Jesus veio para
satisfazer as exigências justas da lei, para que pecadores e idólatras
pudessem ser reconciliados à comunhão com Deus.
Na nossa cultura, a ideia de que Jesus morreu para satisfazer
a justiça de Deus causa desconforto em muitas pessoas. A raiz
desse problema, muitas vezes, está numa incompreensão da seve-
ridade do pecado. Ele não é uma ofensa menor que pode ser facil-
mente removida, como um mosquito irritante num dia quente de
verão. O pecado é a ofensa mais séria que pode existir, porque é
cometida contra o mais sério, o mais glorioso dos seres.
A palavra hebraica para “glória” é kabod [pronuncia-se
kavod]. Ela vem de kabed, “pesado”. O uso original dessa palavra
se referia às coisas pesadas num sentido literal, físico. Assim, por
exemplo, a Bíblia descreve Eli como “pesado”,16 uma forma edu-
cada de dizer que ele era corpulento. A palavra kabed também era
usada, de maneira mais figurada, para descrever coisas de gran-
de importância. Assim, a Bíblia diz que Abraão era “pesado” não
porque ele precisasse melhorar o seu cardiograma, mas porque ele
era rico. “Abraão havia se tornado muito ‘pesado’ em animais e em
prata e ouro”.17
Não é difícil, portanto, ver por que a palavra hebraica para
“pesado” veio a ser usada para designar qualquer pessoa merecedora
de honra ou reconhecimento — generais, reis, juízes e outras posi-
ções de influência e poder. Nos filmes de máfia e de gângsteres, os
cobradores ou matadores são chamados de heavies [“pesados”], por-
que o peso físico e psicológico das incumbências que eles carregam
exige respeito. Em hebraico, diríamos deles que eram kabod; isto é,
pessoas a quem se deve prestar o máximo respeito.
A palavra do Novo Testamento para “glória” tem um signifi-
cado semelhante. Trata-se da palavra grega doxa, que originalmente
16
1Samuel 4.18.
17
Comentários sobre Gênesis 13.14 em Matthew Henry’s concise Commentary,
Nashville: Thomas Nelson, 2000.
154 A mensagem
se referia a “ter uma opinião”. Ela passou a significar ter uma alta
estima por uma grande pessoa, como um rei. Render glória a uma
pessoa era conceder-lhe a honra que sua reputação exigia.
Vemos, assim, por que a Bíblia usou essas palavras — a palavra
hebraica para “pesado” e a palavra grega para “honra” — e as aplicou
a Deus. Deus é aquele que tem a posição mais elevada, que tem
mais poder e a mais grave reputação em todo o universo. Deus é “o
pesado”. Ele é um peso-pesado. Aliás, ele é O peso-pesado.
Portanto, ofender a Deus equivale a comprar uma briga com
Muhammad Ali, um jovem Mike Tyson e Fedor Emelianenko
fundidos num só lutador e multiplicados ao infinito. Em outras
palavras, ofender a Deus é o maior crime no universo e merece
punição eterna.
Como John Piper brilhantemente articula: “O pecado não é
pequeno, porque não é contra um soberano pequeno. A seriedade
do insulto aumenta de acordo com a dignidade daquele que é
insultado. O Criador do Universo é infinitamente digno de res-
peito, admiração e lealdade. Portanto, falhar em amá-lo não é algo
trivial”.18 Se não conseguimos entender a profundidade dos apu-
ros em que, como pecadores, nós nos encontramos, a morte de
Cristo nos parecerá desnecessária e supérflua. Mas se aceitamos
a nossa verdadeira situação como pecadores diante de um Deus
santo, a morte de Cristo se torna bela e preciosa para nós.
O texto bíblico que aborda mais claramente a expiação e
sua ligação com a justiça e a retidão de Deus é Romanos 3.25,26.
Nele, Paulo afirma que Deus “ofereceu [a Cristo] como sacri
fício propiciatório, por meio da fé, pelo seu sangue, para demons
tração da sua justiça. Na sua paciência, Deus deixou de punir
os pecados anteriormente cometidos; para demonstração da sua
justiça no tempo presente, para que ele seja justo e também justi-
ficador daqueles que têm fé em Jesus”. Paulo está descrevendo a
18
John Piper, The passion of Jesus Christ: fifty reasons why he came to die,
Wheaton, Crossway, 2004, p. 21.
Uma mensagem que resulta em salvação 155
19
Stott, A Cruz de Cristo, p. 78.
Uma mensagem que resulta em salvação 157
20
Se você estiver interessado em aprender um pouco mais a respeito das di-
ferentes teorias sobre a expiação, recomendo o texto breve, porém útil, de Leon
Morris, “Theories of the Atonement”; http://www.monergism.com/thethreshold/
articles/onsite/atonementmorris2.html. [Publicado em português como “Teorias da
expiação” em Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã, reimp. em um volume,
São Paulo, Vida Nova, 2009, p. 141-5].
21
Colossenses 2.15.
158 A mensagem
22
1Pedro 2.21.
23
Isaías 53.5,12; Romanos 4.25; 5.8; Gálatas 3.13; 1Pedro 3.18.
24
Para uma defesa extensa e proveitosa da doutrina da substituição penal, ver,
de Steve Jeffery, Mike Ovey e Andrew Sach, Pierced for our transgressions: rediscove-
ring the glory of penal substitution (Wheaton: Crossway, 2007). Encontra-se aí, por
exemplo, uma afirmação útil sobre a importância prática da substituição penal na pá-
gina 153: “Uma compreensão de substituição penal da cruz nos ajuda a compreender
o amor de Deus e a apreciar sua intensidade e beleza. As Escrituras magnificam o
amor de Deus ao se recusarem a diminuir a nossa situação de pecadores que merecem
a ira divina e ao retratarem a cruz, de forma fiel e sem concessões, como o lugar onde
Cristo sofreu essa punição em lugar de seu povo. Se embotamos as pontas afiadas da
cruz, tiramos o brilho do diamante do amor de Deus”.
25
Richard F. Lovelace, Dynamics of spiritual life: an evangelical theology of
renewal, Downers Grove, InterVarsity, 1979, p. 97.
26
Efésios 5.25.
Uma mensagem que resulta em salvação 159
27
Hebreus 12.2.
28
2Coríntios 5.19
29
Colossenses 2.13.
30
Romanos 3.25.
31
2Coríntios 5.15.
32
João 3.16.
33
Romanos 4.25.
34
Efésios 1.11.
35
Filipenses 3.9,10.
36
1Pedro 2.24
37
1Coríntios 15.22
38
Hebreus 7.25.
39
Isaías 53.5.
40
Gálatas 5.1
41
Efésios 2.11-22
42
1Pedro 2.21.
43
Romanos 3.24.
160 A mensagem
44
1João 2.1.
45
Hebreus 2.14,15.
46
Romanos 5.1-11.
47
1Corintios 1.30.
48
1Pedro 1.3.
49
Hebreus 10.19.
50
Romanos 8.32.
Uma mensagem que resulta em salvação 161
meu; mas depuseste sobre mim o que era teu. Tu te tornaste o que
não eras, para que eu pudesse me tornar o que eu não era”.51
Deve ter sido algo terrível para Cristo absorver o nosso
pecado. A agonia física da cruz foi horrível e inimaginável (como
dissemos no último capítulo), mas não foi nada perto da agonia
espiritual de se tornar pecado e suportar a ira de Deus. Nos relatos
dos Evangelhos lemos que, enquanto Cristo pendia da cruz, trevas
cobriram a terra (Mt 27.45). Durante essa escuridão, Jesus bradou:
“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.46).
Essa citação de Salmos 22.1 expressou algo da agonia que Jesus
suportou; num sentido muito real, Deus literalmente abandonou
Jesus na cruz. Embora eles tivessem amado um ao outro eterna-
mente, Deus Pai deu as costas a Deus Filho. Na cruz, Jesus ergueu
os olhos para o céu e só viu escuridão. Jesus bradou ao Pai e a única
resposta foi o silêncio. E pior, o Pai derramou em Jesus toda a sua
ira pelo pecado. Ele puniu Jesus com a vingança de um Deus santo
e justo contra toda a maldade cometida por todos os que creem.
A ira de Deus não foi nem um pouco mitigada ou suavizada. Ela
foi despejada em Jesus, que se tornou nosso pecado e foi punido em
nosso lugar. “Deus o fez na carne, condenando o pecado e envian-
do o seu próprio Filho em semelhança da carne do pecado e como
sacrifício pelo pecado” (Rm 8.3).
Tudo isso aconteceu embora Jesus nunca houvesse peca-
do. Em sua vida, ele obedecera a Deus perfeitamente e, desde a
eternidade, desfrutara de um relacionamento amoroso com o Pai.
Tudo isso aconteceu embora Jesus fosse o Deus eterno. Ele era
digno de adoração infinita, mas recebeu infinita ira. Ele deveria
ter ostentado uma coroa de joias reluzentes; em vez disso, puse-
ram-lhe sobre a cabeça uma coroa de espinhos. Ele deveria ter
sido enaltecido como rei, mas foi executado como um vergonhoso
marginal. Aquele que era adorado por legiões de anjos tornou-se
o indivíduo mais desprezado a já ter existido no universo.
51
Citado em Stott, A Cruz de Cristo, p. 180.
162 A mensagem
52
Citado em Mark Driscoll, Death by love: letters from the cross (Wheaton:
Crossway, 2008), p. 119.
53
Ibid., p. 20.
54
2Coríntios 5.21.
Uma mensagem que resulta em salvação 163
E a ressurreição?
Talvez você tenha percebido que, ao longo deste capítulo, tentei me
referir tanto à ressurreição quanto à morte de Cristo. Eu o fiz porque
não há como separar as duas coisas. Embora a morte de Cristo seja
central para a realização por parte de Deus da nossa salvação em
Cristo, ela não estaria completa sem a ressurreição. “Bendito seja o
Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos regenerou para
55
Meu antigo professor, hoje meu amigo, Mark Devine, fez essa observação
durante uma conversa que tivemos sobre o impacto da imputação.
56
Driscoll, Death by love, p. 137: “A propiciação está ligada à nossa pena pelo
pecado, enquanto a expiação está relacionada à nossa purificação do pecado”.
57
George Whitefield, citado em Jeffery, Ovey e Sach, Pierced for our
transgressions, p. 193.
164 A mensagem
58
1Pedro 1.3. Cf. também Atos 13.30; Romanos 4.25; 2Timóteo 2.8.
Uma mensagem que resulta em salvação 165
Sumário
O evangelho literalmente significa “boas-novas”. O evangelho con-
siste em boas novas porque Cristo realmente salva pecadores. A ira
de Deus para com o pecado não está mais apontada para aqueles que
creem em Jesus como Senhor. Em vez disso, Jesus Cristo realizou
tudo o que era exigido para a nossa salvação do pecado.
Os autores do Novo Testamento se referem à vida obediente,
morte sacrificial e expiatória e ressurreição poderosa de Jesus como
novas/notícias porque eles estão relatando eventos reais que ocor-
reram na história e que, tanto objetiva como subjetivamente, nos
libertam do domínio mortal do nosso pecado. Jesus nos liberta obje-
tivamente porque ele morreu em nosso lugar. Nas palavras de Paulo
em 2Coríntios 5.21, “Deus tornou pecado por nós aquele que não
tinha pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus” (nvi).
Por causa da obra salvadora de Cristo, nós temos uma ficha limpa,
uma posição correta perante um Deus santo.
Jesus nos liberta subjetivamente do pecado ao revelar a nature-
za incompleta e inadequada das coisas a partir das quais formamos
nossa identidade à parte da nossa filiação em Cristo. Não precisamos
mais perseguir uma identidade, uma justiça; ela foi trazida a nós.
Estamos livres da culpa, da vergonha, da amargura e da decepção,
porque cremos que nossa identidade e destino repousam seguramen-
te na obra concluída de Jesus na cruz.
Num sentido real, então, quando falamos do evangelho nós fala-
mos de Jesus. A existência do evangelho depende completamente da
pessoa e da obra de Cristo. Sem Cristo não há nova alguma sobre uma
mudança na nossa posição e condição diante de Deus. Sem Cristo não
há nenhuma coisa boa da qual possamos falar, porque não há resgate
da escravidão do nosso pecado. Sem Cristo não há evangelho, porque
o evangelho não é apenas sobre Jesus. Jesus é o evangelho.
Pregue a Cristo, sempre e em toda parte. O evangelho todo consiste
nele. Sua pessoa, ofícios e obra devem ser o nosso grande tema,
o tema que abarca todos os temas. (Charles Spurgeon).1
1
Charles sPurgeon, citado em Sydney greidanus, Preaching Christ from the
Old Testament: a contemporary hermeneutical method (Grand Rapids: Eerdmans,
1999), p. 2.
2
Michael Horton, Christless Christianity: the alternative Gospel of the
American church, Grand Rapids, Baker, 2008, p. 142.
3
Bryan cHaPell, Christ-centered preaching: redeeming the expository sermon,
Grand Rapids, Baker, 2005, p. 282.
10
Uma mensagem
centrada em Cristo
4
Tenho uma grande dívida para com Graeme Goldsworthy pelas informações
que são a base deste capítulo e recomendo fortemente o seu excelente livro Preaching
the whole Bible as Christian scripture: the application of Biblical theology to expository
preaching, Grand Rapids, Eerdmans, 2000.
168 A mensagem
5
Adão e Eva, como os pais da igreja observaram, tinham a capacidade de não
pecar. Ninguém desde então teve esse privilégio, exceto Jesus, que o Novo Testa-
mento chama de “o segundo Adão”.
6
Gênesis 3.9: “Mas o Senhor Deus chamou o homem, perguntando:
Onde estás?”.
7
Gênesis 3.12: “Respondeu então o homem: A mulher que me deste deu-me
da árvore, e eu comi”.
8
Gênesis 3.13: “E o Senhor perguntou à mulher: Que foi que fizeste? E ela
respondeu: A serpente me enganou, e eu comi”.
Uma mensagem centrada em Cristo 169
9
Gálatas 4.4 observa que Deus enviou seu Filho quando veio “a plenitude
dos tempos”.
10
João 1.14: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, pleno de graça e
verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai”.
11
Filipenses 2.7 ensina que Cristo renunciou a seus direitos como Deus,
voluntariando-se livremente a não exercer todos os atributos divinos. Ele não dei-
xou, contudo, de ser Deus.
12
Os pais da igreja chamavam esse paradoxo de união hipostática — uma
pessoa, duas naturezas.
13
Hebreus 2.17; 4.15.
170 A mensagem
14
1Timóteo 2.5,6; 1João 3.5.
15
Lucas 24.13-35.
16
“Afirmamos que a Pessoa e a obra de Jesus Cristo são o foco central de
toda a Bíblia”, Artigo III, Declaração de Hermenêutica Bíblica de Chicago; http://
www.churchcouncil.org/ICCP_org/Documents_ICCP/English/02_Biblical_
Hermeneutics_A&D.pdf.
17
Anthony C. Thiselton, New horizons in hermeneutics: the theory and practice
of transforming Biblical reading, Grand Rapids, Zondervan, 1992, p. 150.
18
Greidanus, Preaching Christ from the Old Testament, p. 120.
Uma mensagem centrada em Cristo 171
aos coríntios que, quando estava com eles, resolveu não saber nada
a não ser Cristo, e este crucificado. Paulo não estava dizendo que
não fizera nada a não ser lhes apresentar o “plano da salvação”,
simplesmente enfatizando o caminho para ser salvo. O que ele
estava dizendo é que essa mensagem — a morte de Cristo pelo
nosso pecado — era o centro de tudo o que ele pregava. Paulo via
a obra de Cristo na cruz como o fundamento de todas as coisas
— tanto para a salvação quanto para a santificação; tanto para a
entrada na vida cristã quanto para o crescimento nela.19
Ao longo de suas cartas, Paulo constantemente associa seus
assuntos práticos a Cristo e sua obra de salvação. Por exemplo,
quando Paulo trata da questão das doações e da generosidade
com o dinheiro em 2Coríntios 8, ele recorre à obra de salvação
de Cristo como exemplo.20 Quando desafia os maridos a ama-
rem suas esposas em Efésios 5.25-33, ele imediatamente discute o
relacionamento de Cristo com a igreja. Do mesmo modo, quando
precisa confrontar os coríntios por sua idolatria ao conhecimento
e ao poder, Paulo aponta para Cristo, que é o poder e a sabedoria
de Deus.21 Assim, para o apóstolo, dinheiro, amor e poder — três
dos principais motivadores físicos, espirituais e emocionais do
coração humano — encontram todos sua expressão mais verda-
deira em Cristo. É só em Cristo que estão a riqueza, a intimidade
e o poder verdadeiros. Paulo responde às preocupações práticas de
igrejas repletas de pecadores imperfeitos e feridos conectando-os
de volta a Cristo.
19
Wayne Grudem define a santificação assim: “A santificação é uma obra pro-
gressiva de Deus e do homem que nos torna mais e mais livres do pecado e mais
semelhantes a Cristo na nossa vida”. Wayne Grudem, Systematic Theology, Grand
Rapids, Zondervan, 1994, p. 746. [Edição em português: Teologia Sistemática, São
Paulo: Vida Nova, 1999].
20
2Coríntios 8.9: “Pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo,
que, sendo rico, tornou-se pobre por vossa causa para que fôsseis enriquecidos por
sua pobreza”.
21
1Coríntios 1.30: “Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual, da parte de
Deus, se tornou para nós sabedoria, justiça, santificação e redenção”.
172 A mensagem
22
Lucas 24.25,26.
Uma mensagem centrada em Cristo 173
23
Greidanus, Preaching Christ from the Old Testament, p. 119.
24
2Coríntios 5.21.
25
Goldsworthy, Preaching the whole Bible as Christian scripture, p. 4.
26
Ibid., p. 6.
174 A mensagem
27
Por exemplo, os adesivos de carro que trazem o dizer “Deus é meu copiloto”.
28
1João 2.6 nos lembra de que amar a Deus é viver como Jesus viveu.
Uma mensagem centrada em Cristo 175
29
Ouvi essa distinção fazer/feito em uma palestra de Bill Hybels anos atrás.
30
Ouvi o dr. Chapell usar essa frase em numerosas preleções e conversas. Não
a encontrei em seus escritos.
31
Como Richard Lovelace escreveu: “Poucos sabem o suficiente para começar
o dia baseando-se totalmente na plataforma de Lutero: você é aceito, olhando para
fora de si pela fé e reivindicando a justiça totalmente exterior de Cristo como o
único fundamento da sua aceitação, repousando naquela qualidade de confiança que
haverá de produzir uma santificação crescente na medida em que a fé for ativa em
amor e gratidão”. Dynamics of spiritual life: an evangelical theology of renewal (Downers
Grove: InterVarsity, 1979), p. 101.
32
Greidanus, Preaching Christ from the Old Testament, p. 10.
33
Goldsworthy, Preaching the whole Bible as Christian scripture, p. 99.
176 A mensagem
O moralismo
O moralismo pode ser definido como a tentativa de apaziguar a
ira de Deus contra o nosso pecado com nossas boas obras. Ele é
um inimigo do evangelho porque afirma, na melhor das hipó-
teses, que Salvação = Jesus + Meus esforços morais. Na pior das
hipóteses, ignora completamente a obra expiatória de Jesus. No
moralismo, entregamos nossa ficha moral a Deus e exigimos que
ele nos abençoe em virtude da nossa sujeição à sua lei. A pregação
moralista, portanto, tende a pôr a ira e a santidade de Deus acima
do seu amor e da sua graça.35
A pregação moralista impõe uma pressão sobre a vontade da
pessoa para que ela se sujeite à lei de Deus. Esse tipo de pregação
produz pessoas hiper-rígidas e excessivamente críticas. Richard
Lovelace escreve:
Os cristãos que não têm mais certeza de que Deus os ama e acei-
ta em Jesus, independentemente de suas realizações espirituais,
são, sem que o saibam, pessoas radicalmente inseguras — muito
mais inseguras que os não cristãos, porque têm luz demais para
poder descansar sob os constantes anúncios que recebem, no seu
ambiente cristão, da santidade de Deus e da retidão que os cristãos
devem ter. Sua insegurança se manifesta no orgulho, em asserções
veementes em defesa de sua própria justiça e em críticas defensi-
vas direcionadas aos outros. Eles naturalmente acabam odiando
outros estilos culturais e outras raças para fortalecer seu próprio
34
Estou ciente de que há muitas outras falsificações que eu poderia abordar
aqui. Estou me concentrando naquelas que considero as maiores tentações para os
pastores jovens.
35
Isso é verdade, mas sob outro aspecto o moralismo e o legalismo enfraque-
cem a lei de Deus, reduzindo-a ao nosso próprio nível de obediência.
Uma mensagem centrada em Cristo 177
O relativismo
Embora o relativismo seja considerado o oposto do moralismo,
eles na verdade são dois lados da mesma moeda falsa. Enquanto o
moralismo ensina que Deus é fundamentalmente um juiz severo,
e que devemos nos aproximar dele com nossos melhores esforços
pessoais, o relativismo ensina que a verdade é determinada por
nós mesmos, e que devemos nos aproximar de Deus (se de fato
ele existe) com aquilo que nos parecer melhor. No relativismo,
nós criamos nosso próprio Deus e obedecemos à nossa própria
lei. A pregação relativista, dessa forma, eleva o amor e a graça
de Deus acima de sua ira e santidade. Esse tipo de pregação tem
um apelo emocional, encorajando as pessoas a seguir o seu pró-
prio coração. A pregação relativista produz pessoas sentimentais
e pusilânimes. Um pastor pós-moderno com quem conversei me
disse que seu principal objetivo na pregação não era declarar a
verdade da Bíblia, mas dialogar com sua comunidade para que
seus ouvintes pudessem evoluir para o verdadeiro caminho de
36
Lovelace, Dynamics of spiritual life, p. 212.
37
Ver Efésios 2.6; Colossenses 3.1-3; 2Coríntios 5.17.
178 A mensagem
A autoajuda
A autoajuda é atraente para a vontade das pessoas, porque as desa-
fia a aplicar os princípios bíblicos sem necessariamente desafiá-las
a aplicar o evangelho ao próprio coração. Na autoajuda, Cristo
como exemplo é elevado acima de Cristo como Salvador. A pre-
gação de autoajuda, portanto, concentra-se no exemplo de Cristo
e se esquece do fato de que ele é Salvador. Esse tipo de pregação
não leva a sério o verdadeiro grau de disseminação do pecado,
porque presume que as pessoas querem e podem obedecer, e só
precisam que lhes seja dito como fazê-lo.38 Esse tipo de pregação
não é bíblico, porque desconsidera totalmente a realidade de que
o ser humano tende naturalmente a resistir à obediência a Deus.39
A pregação de autoajuda costuma apresentar os personagens
bíblicos de um ângulo “pessoas como nós”. Nós somos Davi, nos-
sos problemas são Golias e assim por diante. Traça-se uma linha
reta entre a vitória ou o conflito do personagem e a nossa vida,
sem que nada disso seja conectado à pessoa e obra de Cristo.40
38
Isso é o contrário do que Romanos 1.18 diz sobre os seres humanos, que
“impedem a verdade pela sua injustiça”.
39
Cf. Romanos 1.18.
40
Goldsworthy lamenta: “Os textos são tirados do contexto; e as aplicações são
feitas sem a devida preocupação com o que o autor bíblico, que em última análise é o
Espírito Santo, está tentando comunicar por meio do texto. A pregação centrada em
problemas e temas se torna a norma, e a análise dos personagens trata os heróis e as
heroínas da Bíblia como exemplos isolados de como viver”. Goldsworthy, Preaching
the whole Bible as Christian scripture, p. 16.
Uma mensagem centrada em Cristo 179
41
Citado em ibid., p. 3.
42
Ibid., p. 73.
43
Gálatas 2.19,20: “Já estou crucificado com Cristo. Portanto, não sou eu
quem vive, mas é Cristo quem vive em mim. E essa vida que vivo agora no corpo,
vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”.
44
É importante pregar o texto como ele está escrito, isto é, considerar o seu
gênero (profecia, narrativa, salmo, epístola etc.) como um guia para a pregação.
180 A mensagem
O ativismo
O sermão que estimula ao ativismo é outra forma de sermão falso.
Trata-se da antiga mensagem do “evangelho social” do liberalis-
mo protestante, hoje em dia reavivada em muitas igrejas urbanas
que estão sendo forçadas a lidar com os problemas da pobreza e
da injustiça. O ativismo se concentra na renovação corporativa
de Cristo à custa da obra de salvação pessoal de Cristo, enfati-
zando a obra corporativa do reino de Deus, mas concentrando-se
muito pouco na obra pessoal do Rei. A pregação ativista pro-
duz pessoas comprometidas com causas, mas cuja vida não está
centrada em Cristo. No final das contas, essa abordagem mina
a capacidade da igreja de realizar uma transformação social ver-
dadeira, porque a verdadeira transformação social começa com
um coração transformado. Ajudar os necessitados, por exemplo,
é muito importante,46 mas não deve ser separado de Jesus Cristo
e da mensagem de salvação pessoal conectada a sua vida, morte e
ressurreição. Devemos trabalhar pelo bem das nossas cidades, ser-
vir os necessitados e combater a injustiça e a opressão, fazendo-o
como um sinal do reino vindouro e de que nós conhecemos o
Rei. Mas a pregação centrada em Cristo não renuncia à natureza
pessoal do evangelho para simplesmente se concentrar nos seus
aspectos corporativos. Em vez disso, ela fornece a base e o contexto
45
John Stott, Preaching between two worlds: the challenge of preaching today,
Grand Rapids, Eerdmans, 1994, p. 126. [Edição em português: Eu creio na pregação,
trad. Gordon Chown, São Paulo: Vida, 2003].
46
Ver Tiago 1.27; 1João 3.17.
Uma mensagem centrada em Cristo 181
47
Na minha igreja, a The Journey, nós começamos um ministério de justi-
ça social para nossa cidade chamado Mission St. Louis. Você pode conferi-lo em
http://missionstl.org.
182 A mensagem
2Timóteo 3.16.
48
nós. Deus disse a Abraão: “Agora sei que você me ama, porque não
negou seu filho, seu único filho, que você ama, a mim”; nós, agora,
podemos olhar para Deus enquanto ele leva seu filho ao topo do
monte, ali o sacrificando, e dizer: “Agora sabemos que tu nos amas,
porque não negaste teu Filho, teu único Filho, que tu amas, a nós”.
Jesus é o verdadeiro e superior Jacó, que lutou e levou o golpe
da justiça que nós merecíamos, para que, como Jacó, apenas rece-
bêssemos as feridas da graça para nos despertar e nos disciplinar.
Jesus é o verdadeiro e superior José, que, à direita do rei, per-
doa aqueles que o traíram e venderam e usa seu novo poder para
salvá-los.
Jesus é o verdadeiro e superior Moisés, que ocupa a brecha
entre o povo e o Senhor e que medeia uma nova aliança.
Jesus é a verdadeira e superior Rocha de Moisés, que, golpea-
da com o cajado da justiça de Deus, agora nos dá água no deserto.
Jesus é o verdadeiro e superior Jó, o verdadeiro sofredor ino-
cente, que então intercede por nós e salva seus amigos tolos.
Jesus é o verdadeiro e superior Davi, cuja vitória se torna a
vitória de seu povo, embora não tenham jamais levantado uma
pedra sequer para conquistá-la.
Jesus é a verdadeira e superior Ester, que não apenas se arris-
cou a deixar um palácio terreno, mas perdeu o palácio supremo e
celestial; que não apenas arriscou sua vida, mas deu sua vida para
salvar seu povo.
Jesus é o verdadeiro e superior Jonas, que foi lançado à tem-
pestade para que pudéssemos ser salvos dela.
Jesus é a verdadeira Rocha de Moisés, o verdadeiro Cordeiro
da Páscoa, inocente, perfeito, desamparado, que foi morto para
que o anjo da morte passasse pela nossa porta sem nos atingir.
Ele é o verdadeiro templo, o verdadeiro profeta, o verdadeiro
sacerdote, o verdadeiro rei, o verdadeiro sacrifício, o verdadeiro
cordeiro, a verdadeira luz, o verdadeiro pão.
O tema principal da Bíblia realmente não é você — é ele.50
50
A citação é de uma palestra que Tim Keller deu na Resurgence Conference
de 2006.
Quando incapazes de pregar a Cristo, e ele crucificado, pregamos a
humanidade, e ela aperfeiçoada. (Will Willimon).1
O clérigo que minimiza o pecado não tem como preservar seu devido
papel em nossa cultura. (Karl Menninger).2
1
Citado em Sidney greidanus, Preaching Christ from the Old Testament
(Grand Rapids: Eerdmans, 1999), p. 34.
2
Citado em John stott, The cross of Christ, p. 91. [N. do E.: Várias citações
de Stott, A cruz de Cristo, deste capítulo são traduzidas diretamente do original para
expressar melhor o sentido pretendido pelo autor].
3
Citado em greidanus, Preaching Christ from the Old Testament, p. 5.
4
Edmund clowney, Preaching Christ in all of Scripture, Wheaton, Crossway,
2003, p. 55.
11
O que é a ira?
No primeiro capítulo de sua carta à igreja romana, Paulo entra em
detalhes específicos sobre a origem do pecado e a atitude de Deus
em relação a ele. Ele descreve a reação de Deus à injustiça, à des-
crença e ao pecado humanos como ira. Paulo diz em Romanos 1
que, quando Deus dá aos seres humanos o que eles querem — a
liberdade para se entregar às concupiscências e desejos que no
186 A mensagem
5
Cf. especialmente Romanos 1.24-32.
6
Alguns argumentariam que muitas vezes se usa o termo “ira” de maneira
impessoal, isto é, separadamente de Deus. Stott, em A Cruz de Cristo, p. 94,95, traz
algumas reflexões úteis nesse sentido: “É certo que às vezes a palavra é usada sem
referência explícita a Deus, e com ou sem o artigo definido, mas a frase [sic] comple-
ta ‘a ira de Deus’ também é usada, aparentemente sem embaraço algum, tanto por
Paulo como por João […] Talvez o motivo de Paulo ter adotado expressões impessoais
não seja a fim de afirmar que Deus jamais se enraivece, mas enfatizar que sua ira
não possui nenhum matiz de malícia pessoal […] E assim como charis representa
a atividade pessoal graciosa do próprio Deus, da mesma forma orge representa sua
hostilidade à impiedade, igualmente pessoal”.
7
Stott, The cross of Christ, p. 173.
8
“Quem crê no Filho tem a vida eterna; quem, porém, mantém-se em desobe-
diência ao Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus” ( Jo 3.36).
9
Stott, The cross of Christ, p. 106.
Uma mensagem que expõe o pecado 187
O que é o pecado?
Há um sem-fim de razões para a enorme impopularidade da
mensagem do evangelho. A principal delas é a dolorosa realidade
de que as Escrituras vez após vez definem o que é bom e o que é
mau, como um árbitro apitando pontos e faltas numa partida de
esporte. Os autores de Provérbios, por exemplo, frequentemente
se referem às pessoas que incorrem em certos pecados específi-
cos com adjetivos que não primam pelo “politicamente correto”:
“prostituta”, “preguiçoso”, “insensato” e por aí vai.12 A Bíblia está
cheia de exemplos de coisas que estão ou dentro ou fora dos limi-
tes em várias áreas da vida humana; sexualidade, dinheiro e poder
são algumas delas. Embora fique claro ao longo de toda a Palavra
de Deus que o Senhor ama seu povo intensamente, esse mesmo
amor intenso não permite que ele ignore nosso pecado.
Mas isso tudo nos leva à pergunta: o que exatamente é o peca-
do? Não é preciso ser graduado pela Universidade de Harvard para
perceber que algo está terrivelmente errado no nosso mundo.
Para tentar explicar essa situação, numerosos culpados já foram
10
Muitos hoje têm dificuldade em entender como Deus pode ser comple-
tamente bom e ao mesmo tempo sentir ira em relação ao mal. A bondade e a ira,
contudo, não são incompatíveis. Quando os pais sentem ira ao descobrirem que seu
filho foi maltratado, eles não o fazem apesar de serem boas pessoas, mas justamente
porque o são. É por causa de sua bondade que eles sentem repulsa pelo mal que foi
cometido contra seu filho. Da mesma maneira, Deus sente ira justamente porque ele
é completamente santo, justo e bom. Se ele não sentisse ira, não seria Deus.
11
C. John Miller, Repentance and the 20th century man, Ft. Washington,
Christian Literature Crusade, 1998, p. 73.
12
Por exemplo, cf. Provérbios 6.6-9; 6.26; 19.24; 10.10; 12.16 etc.
188 A mensagem
13
Cf. Romanos 8.7: “A mentalidade da carne é inimiga de Deus, pois não está
sujeita à lei de Deus, nem pode estar”.
Uma mensagem que expõe o pecado 189
14
Stott, The cross of Christ, p. 90.
15
A ideia de que os mandamentos de Deus são um fardo e difíceis demais é,
obviamente, uma mentira. 1João 5.3 diz: “Porque o amor de Deus está nisto: em guar-
darmos os seus mandamentos, e seus mandamentos não são um peso”. Tiago 1.25
promete que aquele que pratica a palavra de Deus “será abençoado”. Não há forma
mais satisfatória e feliz de viver do que seguir os mandamentos de Deus (Sl 1.1,2).
16
O salmista descreve a pessoa autossuficiente: “Por causa do seu orgulho, o
ímpio não o busca. Deus não está em nenhum de seus planos” (Sl 10.4).
190 A mensagem
17
“Pois todos os que são das obras da lei estão debaixo de maldição. Porque
está escrito: Maldito todo aquele que não permanece na prática de todas as coisas
escritas no livro da lei. É evidente que ninguém é justificado diante de Deus pela lei,
porque: O justo viverá pela fé” (Gl 3.10,11).
18
Gálatas 6.2.
19
Gênesis 3.12.
20
Gênesis 2.23.
21
Gênesis 3.13.
Uma mensagem que expõe o pecado 191
Robert Peterson, Hell on trial: the case for eternal punishment, Phillipsburg,
22
28
Quando digo tranquilo, não me refiro a uma tranquilidade realmente tran-
quila, mas a uma tranquilidade idólatra. Agostinho acertou em cheio quando disse
que “nosso coração anda inquieto enquanto não encontra descanso em ti”.
Uma mensagem que expõe o pecado 193
29
Mateus 5.11,12: “Bem-aventurados sois, quando vos insultarem, persegui-
rem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por minha causa. Alegrai-vos e exul-
tai, pois a vossa recompensa no céu é grande; porque assim perseguiram os profetas
que viveram antes de vós”.
194 A mensagem
30
Isso lembra bastante a situação que Paulo previu em 2Timóteo 4.3: “Porque
chegará o tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, desejando muito ouvir
coisas agradáveis, ajuntarão para si mestres segundo seus próprios desejos”. Não
transforme sua igreja no cumprimento dessa profecia.
31
Na tradição reformada, a Lei do Antigo Testamento é subdivida em três
categorias — civil, cerimonial e moral. Essa é uma forma de entender a relevância
contínua da lei para os cristãos modernos. Quanto aos usos da Lei, em geral a tra-
dição reformada se concentra em três deles: (1) a lei expõe o pecado; (2) a lei refreia
o mal; e (3) a lei é um guia para os cristãos.
32
Deuteronômio 4.6-8.
33
Romanos 7.7.
34
Romanos 7.8.
35
Gálatas 3.23,24.
36
Romanos 3.23.
Uma mensagem que expõe o pecado 195
37
Essa perspectiva precisa ser levada em conta na hora de escolher os textos
bíblicos para a pregação. Como a Bíblia inteira é a palavra de Deus, não devemos
evitar os textos difíceis, mas devemos permitir, antes, que eles nos corrijam. William
H. Willimon, em Pastor: the theology and practice of ordained ministry (Nashville:
Abingdon, 2002), p. 126, oferece algumas palavras úteis a esse respeito: “Devemos
ler a Bíblia de uma maneira mais cuidadosa e respeitosa do que aquela que consiste
em revirar o texto bíblico e escolher uma ou outra passagem com base naquilo que
consideramos possível e permissível dentro do nosso contexto presente. Fazer isso
não é alinhar nossa vida com o testemunho dos santos; antes, nas palavras de Barth,
fazê-lo é ‘adornar-se com a plumagem deles’. Somos tentados a descartar aquilo
que nos causa desconforto ou o que não se encaixa facilmente em nosso presente
esquema de coisas. Uma questão hermenêutica apropriada, portanto, não seria sim-
plesmente ‘O que significa esse texto?’, mas antes ‘De que maneira esse texto está
me pedindo para mudar?’ ”.
38
Eis a citação inteira: “[É] em parte porque o pecado não provoca nossa pró-
pria ira que não cremos que ele provoque a ira de Deus” […] “onde se ignora a ideia
da ira de Deus, aí também não haverá compreensão do conceito central do evan-
gelho: a singularidade da revelação no Mediador”. De igual modo, “só aquele que
conhece a grandeza da ira será conquistado pela grandeza da misericórdia” (Stott,
The cross of Christ, p. 109).
196 A mensagem
39
Ibid, p. 101: “Recobrar os conceitos de pecado humano, responsabilidade,
culpa e restituição sem recobrar também a confiança na obra divina da expiação é
um desequilíbrio trágico. É um diagnóstico sem receita, a futilidade da autossalva-
ção no lugar da salvação de Deus; é alçar a esperança apenas para jogá-la no chão
mais uma vez”.
40
Willimon, Pastor, p. 148.
41
Stott, The cross of Christ, p. 98.
O contrário do evangelho é a idolatria. (Mark Driscoll).1
1
Mark driscoll, Death by love: letters from the cross, Wheaton, Crossway,
2008, p. 92.
2
Michael Horton, Christless Christianity: the alternative Gospel of the
American church, Grand Rapids, Baker, 2008, p. 94.
3
João calvino, As institutas da religião cristã, 1.11.
12
y Levítico 19.4: “Não vos volteis para os ídolos, nem façais deuses
de metal para vós. Eu sou o senHor vosso Deus”.
4
“Na Bíblia não há acusação mais séria do que a de idolatria. A idolatria exigia
a punição mais severa, suscitava as polêmicas mais carregadas de desprezo, ocasio-
nava as medidas mais extremas de isolamento imposto e era considerada a principal
e mais emblemática característica daqueles que eram a própria antítese do povo de
Deus.” Brian S. rosner, “Idolatry”, em New dictionary of Biblical theology: exploring
the unity and diversity of Scripture, ed. T. Desmond Alexander, Brian S. Rosner,
D. A. Carson e Graeme Goldsworthy (Downers Grove: InterVarsity, 2000), p. 570.
200 A mensagem
yy Isaías 42.8: “Eu sou o Senhor; este é o meu nome. Não darei a
minha glória a outro, nem o meu louvor às imagens esculpidas”.
yy Jonas 2.8: “Os que se apegam aos ídolos inúteis afastam de si a
misericórdia”.
y y Habacuque 2.18: “Para que serve a imagem esculpida por
um artífice? E a imagem de fundição, que ensina mentiras?
Pois o artífice confia na sua própria obra, mas faz ídolos mudos”.
yy 1Coríntios 10.14: “Portanto, meus amados, fugi da idolatria”.
5
Gênesis 1.26,28.
6
Gênesis 3.1-5.
7
João 8.44.
8
Tiago 1.17.
Uma mensagem que estilhaça os ídolos 201
9
Historicamente, os cristãos têm se referido à desobediência de nossos pri-
meiros pais desde a época dos pais da igreja. Louis Berkhof, Systematic Theology
(Grand Rapids: Eerdmans, 1932, reed. 1996), p. 219, observa que “a ideia de que [o
pecado] se originou no ato de transgressão voluntária e na queda de Adão no paraíso
já se encontra nos escritos de Ireneu”.
10
Romanos 1.23.
202 A mensagem
11
Êxodo 20.3: “Não terás outros deuses além de mim”.
12
Êxodo 20.4,5: “Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do
que há em cima no céu, nem embaixo na terra, ou nas águas debaixo da terra. Não
te curvarás diante delas, nem as cultuarás, pois eu, o Senhor teu Deus, sou Deus
zeloso. Eu castigo o pecado dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração da-
queles que me rejeitam”.
13
Êxodo 20.17: “Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher
do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumen-
to, nem coisa alguma do teu próximo”.
14
Colossenses 3.5: “Portanto, eliminai vossas inclinações carnais: prostituição,
impureza, paixão, desejo mau e avareza, que é idolatria”. Cf também Efésios 5.5:
“Porque bem sabeis que nenhum devasso, ou impuro, ou avarento, que é idólatra,
tem herança no reino de Cristo e de Deus”.
Uma mensagem que estilhaça os ídolos 203
15
Salmos 24.3,4.
16
Ver, p. ex., Salmos 8.1; 24.7; 26.8; 29.1; 57.11; 66.2; 71.8; 145.11.
17
“Portanto, dize à casa de Israel: Assim diz o Senhor Deus: Convertei-vos e
deixai os vossos ídolos; desviai o rosto de todas as vossas abominações” (Ez 14.4-6,
esp. o v. 6). “[A]dulteraram com os seus ídolos” (Ez 23.37). “Assim diz o Senhor
Deus: Por teres desperdiçado a tua cobiça e descoberto a tua nudez nas tuas prosti-
tuições com os teus amantes; por causa também de todos os ídolos das tuas abomi-
nações...” (Ez 16.36).
18
P. ex., Salmos 106.36: “Serviram seus ídolos, que se transformaram em
armadilha para eles”.
204 A mensagem
23
Martin Lloyd-Jones, Life in Christ: studies in I John, Wheaton, Crossway,
1994, p. 729.
206 A mensagem
24
Gosto de dizer que Tim Keller está para os pastores como Johnny Cash para
os músicos — todos o imitam, mas poucos lhe dão o devido crédito.
25
Ver o texto “Talking about Idolatry in a Postmodern Age”, de Tim Keller;
http://www.monergism.com/postmodernidols.html.
Keller escreve: “Lutero entendeu o fato de que a lei veterotestamentária con-
tra os ídolos e a ênfase do Novo Testamento na justificação apenas pela fé são essen
cialmente a mesma coisa. Ele afirmou que os Dez Mandamentos começam com
dois mandamentos contra a idolatria. Isso porque o problema essencial da trans-
gressão da lei é sempre a idolatria. Em outras palavras, jamais transgredimos os
demais mandamentos sem primeiro transgredir a lei contra a idolatria. Lutero com-
preendeu que o primeiro mandamento realmente trata basicamente da justificação
pela fé, e deixar de crer na justificação pela fé é idolatria, que é a raiz de tudo o que
desagrada a Deus”.
Uma mensagem que estilhaça os ídolos 207
26
David Powlison, Idols of the heart in vanity fair, The Journal of Biblical
Counseling, 13, (2): p. 35, Winter 1995.
27
Introduction to 1 John, ESV Study Bible, Wheaton, Crossway, 2008.
208 A mensagem
28
Mateus 22.37-39.
29
Essas questões foram adaptadas do capítulo 7 do livro de David Powlison,
Seeing with new eyes (Phillipsburg: P & R, 2003). Powlison as chama de “questões
raio X”.
Uma mensagem que estilhaça os ídolos 209
Ídolos de superfície
Das duas categorias de ídolos, os ídolos de superfície31 são mais
fáceis de reconhecer porque estão, afinal, mais próximos da super-
fície. Muitas pessoas os reconhecem, portanto, como a causa de
grande parte dos problemas em seu relacionamento com Deus e
30
Por exemplo, Dick Keyes em No god but God e David Powlison em “Idols of
the heart in vanity fair”.
31
Kaufman, seguindo Keyes, os chama de ídolos próximos.
210 A mensagem
32
C. John Miller, Repentance and the 20th century man, Ft. Washington, Chris-
tian Literature Crusade, 1998, p. 38.
Uma mensagem que estilhaça os ídolos 211
Ídolos-fonte
Enquanto os ídolos de superfície são, para muitas pessoas, mais
fáceis de entender e mesmo de reconhecer, os ídolos-fonte, por sua
própria natureza, são mais subversivos. De acordo com Kaufman,
os ídolos-fonte incluem conforto, aprovação, controle e poder.33
Esses são os ídolos por trás de todas as demais idolatrias em nossa
vida. Esses ídolos se coadunam com os ensinamentos de Jesus34
e com a teoria da personalidade desenvolvida por Alfred Adler.35
33
Kaufman, seguindo Keyes mais uma vez, os denomina ídolos distantes.
34
Cada um desses temas, por exemplo, figura de forma proeminente no
Sermão do Monte de Jesus (Mt 5—7). Grande parte dos ensinamentos de Jesus
trata de necessidades humanas fundamentais de aprovação, (5.3-10; 6.2-4,14,15),
poder (6.19-24), controle (6.25-34) e conforto (7.7-11).
35
Um dos derivados do trabalho de Adler é o perfil de personalidade disc;
http://www.discprofile.com/whatisdisc.htm.
212 A mensagem
36
Marcos 1.15.
216 A mensagem
centro do seu ser. Creio que, a esta altura, um recurso visual será
útil para entendermos como podemos destronar a idolatria e exal-
tar a Cristo na nossa vida.37
Figura 12-1
Ídolo de
FÉ
Veja o seu pecado Jesus viveu por mim
IME
Ídolo-fonte
37
Delineei esse modelo enquanto ouvia a descrição de Kaufman sobre como
se arrepender e crer no evangelho é como pular numa cama elástica.
38
Lutero se referia a essa realidade como simul justus et peccator — justo e
pecador ao mesmo tempo. Isso se refere à realidade que, quando estamos em Cristo,
temos na nossa vida o pecado dentro de nós, mas ao mesmo tempo estamos vestidos
com a justiça de Cristo.
Uma mensagem que estilhaça os ídolos 217
39
Romanos 8.7: “A mentalidade da carne é inimiga de Deus, pois não está
sujeita à lei de Deus, nem pode estar”.
40
A palavra grega para arrependimento, metanoia, literalmente significa “mu-
dar de ideia”.
41
Gosto muito das palavras de Jack Miller sobre o arrependimento: “Deus
não nos chamou para sermos nossos próprios advogados de defesa, mas para sermos
pedintes humilhados diante do trono da graça, recusando-nos a deixá-lo até rece-
bermos pão”. Repentance and the 20th century man, p. 35.
218 A mensagem
42
Ibid., p. 77.
43
“Em Cristo” é a designação frequente de Paulo (p. ex., Rm 8.1; 1Co 15.58;
2Co 5.17; Gl 3.26) para a união com Cristo.
44
Colossenses 3.3.
45
Gálatas 2.20.
46
“A tentação permanente é o cristão permitir que pecados preencham a sua
vida e resvalar para o antigo hábito da autoafirmação e da autoconfiança. Quando
isso acontece, é frequente que os seus “arrependimentos” percam o poder, porque a
autoconfiança o levou a ter um fundamento legalista como base da sua aceitação por
Deus. Sem fé em Cristo, o arrependimento se torna um remorso que causa calafrios
na alma.
47
Ibid., p. 103.
48
1Tessalonicenses 1.9.
Uma mensagem que estilhaça os ídolos 219
49
Na The Journey realizamos uma série sobre a idolatria no outono de 2007.
Eu o encorajo a ouvir esses sermões para mais reflexões sobre este tema. Você pode
encontrá-los em http://journeyon.net/media/transformation.
50
Miller, Repentance and the 20th century man, p. 55.
yy A MISSÃO
É só pelo fato de que Jesus veio até este mundo confuso com o
objetivo de acabar com a confusão que somos capazes de ver
a situação de forma ampla, panorâmica. Ele trocou o céu por um
ventre, um estábulo, um deserto e uma cruz para que o mundo fosse
salvo por meio dele. Podemos amar e buscar a cura de pessoas
confusas porque Jesus fez isso primeiro — como amigo de cobradores
de impostos, pecadores, cafetões e prostitutas, tornando muitos
deles seus apóstolos! (Scott Sauls).1
1
Scott sauls, Gospel (ainda não publicado).
13
O cerne da missão:
compaixão
2
Romanos 10.14-17.
3
Lucas 19.10; cf. 5.31,32.
224 A missão
4
Paul Miller, Love walked among us. Colorado Springs: NavPress, 2001.
[Edição em português: O amor andou entre nós, trad. Eulália Pacheco Kregness, São
Paulo: Vida Nova, 2011.]
5
Lucas 7.11-17.
6
Miller, Love walked among us, p. 28.
7
Há um debate entre teólogos sobre se Deus “sente” ou não emoções como
nós sentimos, o que impacta diretamente o que se pensa sobre um Deus compas-
sivo. Acredito que as Escrituras defendem intensamente a passibilidade de Deus.
Wayne Grudem se mostra útil aqui: “A ideia de que Deus não tem nenhuma pai-
xão ou emoção está nitidamente em conflito com boa parte [...] das Escrituras [...]
Em vez disso, a verdade é bem o contrário, pois Deus, que é a origem das nossas
emoções e que de fato as criou, certamente também sente emoções: Deus se alegra
(Is 62.5). Ele se entristece (Sl 78.40; Ef 4.30). O seu furor arde contra os seus
inimigos (Êx 32.10). Compadece-se dos seus filhos (Sl 103.13). Ama com amor
perene (Is 54.8; Sl 103.17). É um Deus cujas paixões devemos imitar para toda a
eternidade, quando nós, como nosso Criador, odiarmos o pecado e nos alegramos
na justiça” (Teologia sistemática, São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 114).
226 A missão
8
Miller, Love walked among us, p. 31.
O cerne da missão: compaixão 227
Os inimigos da compaixão
Ativismo
Quando entrei no ministério de tempo integral, tive a sensação
extraordinária de que estava vivo pela primeira vez. Eu estava
totalmente consumido com ensinar, pastorear, liderar e aconse-
lhar, a ponto de negligenciar outras responsabilidades para exercer
o ministério. Não conseguia imaginar não gostar do ministério.
Ao longo dos anos, tenho percebido que os prazeres de minis-
trar a pessoas muitas vezes são sufocados pela agenda exigente
das atividades. Percebo que posso ficar tão imerso no ativismo do
ministério a ponto de perder o prazer de estar ali.
Um dos primeiros sinais de que o ativismo está ameaçando
destruir o prazer é uma ausência de compaixão por aqueles que
Deus pôs sob os cuidados do pastor. Tenho visto isso em meu
próprio ministério. Muitas vezes sentei-me frente a frente a uma
mesa de restaurante, uma escrivaninha ou uma mesa de jantar
com uma pessoa ou um casal devastado pelos efeitos de seu peca-
do e/ou do pecado de outros contra eles e, em vez de ouvir com
“ouvidos espirituais” e esperar o direcionamento do Espírito, eu
me desligava de quem estava falando e começava a me preocupar
9
C. S. Lewis, The four loves, Eugene: Harvest House, 1971, p. 121.
228 A missão
Pressa
Há uma diferença entre simplesmente estar ocupado e estar com
pressa. Estar ocupado se refere às tarefas que você precisa realizar.
Estar com pressa é o estado espiritual, mental e emocional em
que você se encontra quando tenta realizar as tarefas que precisa.
Você pode estar ocupado sem estar com pressa. No início do meu
ministério pastoral, eu não conseguia entender uma anotação fei-
ta em um diário como esta:
Justiça própria
Há um aspecto vertical da justiça própria: eu estou tentando ser justo
perante Deus por meio de minhas boas obras, não pelas de Cristo. Mas
também há um aspecto horizontal da justiça própria: eu estou ten-
tando ser justo perante Deus porque comparo meu pecado com o de outros.
A forma horizontal da justiça própria é uma das muitas
razões por que as pessoas não perdoam pessoas próximas a elas e
muito menos são compassivas para com indivíduos que não são
próximos. Miroslav Volf, que presenciou o assassínio e estupro
de sua família e seus amigos na guerra nos Bálcãs na década de
1990, diz de forma muito perspicaz: “O perdão agoniza quando
excluo meu inimigo da comunidade dos humanos e me excluo da
comunidade dos pecadores”.11
Aqui acredito que Volf liste os dois principais motivos que
impedem as pessoas de exercer compaixão para com as outras.
Richard Exley, The rhythm of life, Tulsa: Honor Books, 1987, p. 37.
10
Autoproteção
Uma das coisas mais difíceis de superar ao amar pessoas em sofri-
mento é absorver sua dor, rejeição e vergonha sem recuar emocio-
nalmente. A raiz da palavra compaixão significa “estar junto [com]
à dor de alguém [paixão]”.12 Assim, demonstrar compaixão para
com uma pessoa é concordar naquele momento em adentrar no
sofrimento com ela, escolher participar de sua realidade — espe-
ranças, sonhos, pecados e rebeldia. Se o seu coração está obstruído,
como forma de proteger a si mesmo, você não conseguirá partici-
par do sofrimento de outras pessoas, porque todas as suas energias
se concentrarão em evitar a dor. A compaixão é a única maneira
de não se concentrar em seu próprio conforto. Compaixão é o
sentimento concedido por Deus que permite que nos distraiamos
de nossos desejos e nos concentremos nas necessidades de outros.
Uma descrição interessante está embutida na palavra hebrai-
ca racham. No Antigo Testamento, o termo racham normalmente
é traduzido por amar ou ter compaixão.13 O interessante é que
ela é derivada da palavra rechem, normalmente traduzida por
12
Ronald A. Heifetz e Marty Linsky, Leadership on the line: staying alive
through the dangers of leading, Boston: Harvard Business School Publishing, 2002,
p. 235.
13
David Patterson, Hebrew language and Jewish thought, Nova York: Routledge,
2005, p. 21.
O cerne da missão: compaixão 231
14
Êxodo 34.5-7: “O Senhor desceu numa nuvem e, pondo-se junto a ele, pro-
clamou o nome do Senhor. Tendo o Senhor passado diante de Moisés, proclamou:
Senhor, Senhor, Deus misericordioso e compassivo, tardio em irar-se e cheio de
bondade e de fidelidade; que usa de bondade com milhares; que perdoa a maldade,
a transgressão e o pecado; que de maneira alguma considera inocente quem é cul-
pado; que castiga o pecado dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até a terceira
e quarta geração”.
A igreja é a igreja para o bem do mundo. (Hans Küng).1
1
Citado em Randy Wilson coffin, The collected sermons of William Sloane
Coffin, vol. 1. Louisville: Westminster John Knox, 2008.
2
Citado em Wilbert R. sHenk, Write the vision, Harrisburg: Trinity, 1995, p.
87.
3
Christopher J. H. wrigHt, The mission of God, Downers Grove: InterVarsity,
2006, p. 29.
14
A casa da missão:
a igreja
4
Entrevista de Bill Hybels, “Selling Out the House of God?” Christianity
Today, July 18, 1994.
5
N. do R.: em inglês, a expressão forma um trocadilho com duplo sentido,
uma vez que sell out pode significar vender ou trair uma causa.
6
Para saber mais sobre a autovaliação da Willow Creek, ver a Reveal Study
Series de Greg Hawkins e Cathy Parkinson, publicada pela Willow Creek Asso-
ciation ou, para uma crítica externa, ver, de G. A. Pritchard, Willow Creek seeker
services: evaluating a new way of doing church (Grand Rapids: Baker, 2005).
A casa da missão: a igreja 235
7
Alguns estimam que o número de denominações protestantes ultrapasse
trinta mil. Cf., de David Barret; George Kurian e Johnson Todd, World Christian
Encyclopedia, 2. ed. (Nova York: Oxford University Press, 2001).
8
Essa tem sido minha experiência, assim como a de Mark Driscoll. Ver Mark
Driscoll e Gerry Breshears, Vintage church (Wheaton: Crossway, 2008), p. 35.
9
Eu adaptei o texto a seguir de D. J. Tidball, Church, New dictionary of bibli-
cal theology: exploring the unity and diversity of Scripture, ed. T. Desmond Alexander,
Brian S. Grosner, Graeme Goldsworthy, D. A. Carson (Downers Grove: InterVarsity,
2000), p. 410.
10
A igreja também é chamada de a nova humanidade (Ef 2.15), um corpo
com muitas partes e membros importantes (1Co 12.12-31), a noiva de Jesus Cristo
(Ef 5.25-33), lavoura de Deus (1Co 3.9) e uma nação santa (1Pe 3.9). A igreja co-
meça com a nação de Israel, como a descendência de Abraão (Gn 17.7) e o povo da
aliança de Deus (Êx 19.5,6) e continua hoje como os verdadeiros filhos de Abraão,
os que creram em Cristo (Gl 3.7; Fp 3.3).
236 A missão
Membresia regenerada
Isso simplesmente significa que a igreja é formada por pessoas
que pararam de tentar salvar a si mesmas e passaram a crer em
Jesus como Salvador e Senhor.12 Obviamente há pessoas não
cristãs frequentando os cultos de adoração e outras atividades na
igreja, assim como crianças que ouvirão o evangelho e esperamos
que crerão em Cristo e participarão da vida da igreja. Resumindo,
membresia regenerada significa que os que são membros da igreja
foram regenerados pelo Espírito Santo, resultando tanto em fé
salvadora como em fé perseverante.
Liderança qualificada13
A igreja foi edificada sobre os profetas e os apóstolos.14 Esses, então,
designaram presbíteros15 e puseram em funcionamento o diaconato.16
Os dois ofícios (ou funções/posições) de liderança da igreja são
os de presbíteros e diáconos.17 Presbíteros constituem o ofício mais
11
Driscoll e Breshears, Vintage church, p. 38-9.
12
Atos 2.38: “Pedro então lhes respondeu: Arrependei-vos, e cada um de vós
seja batizado em nome de Jesus Cristo, para o perdão de vossos pecados; e recebereis
o dom do Espírito Santo”.
13
Ver mais explicações sobre a base bíblica para presbíteros e diáconos no
capítulo 3, Um homem qualificado, deste livro.
14
Efésios 2.20.
15
Atos 14.23.
16
Atos 6.1-4.
17
Filipenses 1.1.
A casa da missão: a igreja 237
Pregação e adoração
As trezentas primeiras pessoas na nova igreja de Jerusalém se tor-
naram cristãs porque ouviram o evangelho sendo pregado.20 Essa
não foi uma experiência única, visto que esses primeiros converti-
dos continuaram a manter a disciplina de ouvir a Palavra de Deus
e responder em adoração. As igrejas cristãs primitivas continua-
ram a se reunir para adoração, instrução e edificação mútua.21
Unidade do Espírito
A igreja de Jesus Cristo ecoa a oração de Jesus, que pediu a Deus
Pai “para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e
18
1Timóteo 3.1-7.
19
1Timóteo 3.8-13.
20
Atos 2.41.
21
1Coríntios 14.26.
22
Mateus 28.19,20; 1Coríntios 11.23-26.
238 A missão
eu em ti, que também eles estejam em nós, para que o mundo creia
que tu me enviaste”.23 Isso não significa que cristãos piedosos não
possam discordar em questões específicas de doutrina ou método,
mas que todos os cristãos ortodoxos compartilham de uma unidade
fundamental em sua identidade e missão — ambas essenciais.
Santidade
Visto que a igreja foi santificada posicionalmente,24 ela busca
manter santidade prática ao se arrepender do pecado e crer nas
promessas do evangelho, e isso se mostra na obediência às Escri-
turas. A igreja repreende os que são descobertos em algum peca-
do25 e disciplina os que pecam sem se arrepender.26 A igreja deve
se destacar como diferente do mundo porque ela é santa.27
23
João 17.21.
24
2Coríntios 5.17; Efésios 1.3.
25
Gálatas 6.1.
26
Mateus 18.15-17.
27
Filipenses 2.15.
28
Mateus 22.39.
29
Também se ordena aos cristãos para que suportem uns aos outros (Rm 15.1),
edifiquem uns aos outros (1Co 14.26), restaurem uns aos outros (Gl 6.1), perdoem
uns aos outros (Ef 4.32), submetam-se uns aos outros (Ef 5.21), considerem uns aos
outros superiores a si mesmos (Fp 2.3), digam a verdade uns aos outros (Cl 3.9),
compartilhem uns com os outros (Hb 13.16), confessem pecados uns aos outros
(Tg 5.16) e tenham unidade de pensamento uns com os outros (1Pe 3.8).
A casa da missão: a igreja 239
30
Mateus 28.18-20.
31
Efésios 1.4,5.
32
Gênesis 1.27,28.
33
Gênesis 6.5.
34
Gênesis 7.23.
35
Gênesis 11.
36
Gênesis 12.1-3.
37
Isaías 49.6: “Também te porei [a Israel] para luz das nações, para seres a
minha salvação até a extremidade da terra”.
240 A missão
38
Wright, The Mission of God, p. 62.
A casa da missão: a igreja 241
39
Esta subseção é fortemente orientada pelo ensino de Richard Lovelace. Um
recurso útil é seu Dynamics of spiritual life (Downers Grove: ivp, 1979).
242 A missão
40
Ed Stetzer diz que muitas tradições eclesiais estão perfeitamente contextua-
lizadas para 1954! Ouvi isso em uma conferência do ministério Atos 29 em outubro
de 2006.
41
Larry Osbourne chama essa migração de uma igreja para outra para ensino
mais profundo de “migração de maturidade”.
42
Para uma boa compreensão desse dom, ver Wayne Grudem, The gift of
prophecy in the New Testament and today, Wheaton, Crossway, 2000. [Edição em
português: O dom de profecia: do Novo Testamento aos dias atuais, trad. Emirson
Justino, São Paulo: Vida, 2004].
43
A santificação, nesse caso, é a obra progressiva de Deus e do homem, que nos
torna cada vez mais livres do pecado e mais como Cristo em nossa vida cotidiana. Ver
The gift of prophecy in the New Testament and today, Wheaton: Crossway, 2000.
A casa da missão: a igreja 243
formalmente, mas não mais frequentam, diferentemente das pessoas sem igreja.
244 A missão
46
Afinidade é quando nos cercamos de pessoas como nós.
47
Para um recurso útil a uma melhor compreensão desse ponto fraco,
ver o artigo escrito por Steve Boyer e os presbíteros da Capitol Hill Baptist
Church in Washington, D.C., What does Scripture say about the poor?; http://sites.
silaspartners.com/partner/Article_Display_Page/0,,PTID314526|CHID598014|
CIID2376562,00.html#vi.
A casa da missão: a igreja 245
48
James Brownson expressou isso melhor: “O movimento da igreja primitiva
que produziu e canonizou o Novo Testamento era um movimento com um caráter
missionário específico”, em seu livro Speaking the truth in love: New Testament
resources for a missional hermeneutic. Christian Mission and Modern Culture
Series (Harrisburg: Trinity, 1998), p. 14.
49
Driscoll and Breshears, Vintage church, p.145.
50
Atos 5.13; 9.31.
246 A missão
51
Eu aprendi esse conceito pela primeira vez de Tim Keller.
Contextualização tem a ver com tornar a igreja o mais culturalmente
acessível e possível sem comprometer a verdade da fé cristã. O que se
busca nesse processo é a verdade atemporal e métodos temporais.
Em outras palavras, contextualizar não é tornar o evangelho
relevante, mas mostrar a relevância do evangelho. (Mark Driscoll).1
1
Mark driscoll e Gerry BresHears, Vintage church, Wheaton, Crossway,
2008, p. 228.
2
James V. Brownson. Speaking the truth in love: New Testament resources
for a missional hermeneutic, Harrisburg: Trinity Press International, 1998, p. 4.
3
Dean E. fleMMing, Contextualization in the New Testament: patterns for
theology and mission, Downers Grove, InterVarsity, 2005, p. 13.
4
Lesslie newBigin, The Gospel in a pluralist society, Grand Rapids, Eerd-
mans, 1989, p. 306.
15
Os meios da missão:
contextualização
5
Para um exemplo de alguns críticos da contextualização, cf. http://teampyro.
blogspot.com, especialmente este artigo: http://teampyro.blogspot.com/2008/03/
context-and-contextualization.html.
6
Tim Keller, em “Contextualization: wisdom or compromise?” (Connect
Conference, Covenant Seminary, 2004), p. 3, escreve: “A estratégia missionária con-
siste em duas partes: a) Por um lado, certifique-se de não remover nenhum dos
aspectos essenciais da mensagem do Evangelho, tais como o ensino sobre o pecado,
a necessidade de arrependimento, a perdição dos que estão fora de Cristo e assim
por diante. b) Por outro lado, certifique-se de remover qualquer linguagem ou prá-
tica não essenciais que confundam ou ofendam a sensibilidade das pessoas que está
tentando alcançar. A chave para a missão eficaz é saber a diferença entre o essencial
e o não essencial”.
250 A missão
O que é a contextualização?
A palavra contextualização foi usada originalmente por missioná-
rios para descrever o processo de levar o evangelho a diferentes
culturas. A contextualização é a maneira que a igreja emprega
para responder com o evangelho à cultura.7 É simplesmente levar
as imutáveis boas-novas a uma cultura em frequente mudança, ao
reafirmar o significado do evangelho de um modo que seja com-
preensível àqueles que o ouvem.8
A contextualização não é uma rejeição da verdade absoluta e
objetiva do evangelho em favor da última tendência do relativis-
mo. D. A. Carson expressa isso melhor: “Nenhuma verdade que os
seres humanos possam articular poderá jamais ser articulada de um
modo transcendente à cultura, mas isso não significa que a verdade
assim articulada não transcenda a cultura”.9 Carson está mostrando
a simples realidade de que, toda vez que transmitimos verdade, faze-
mos isso em um contexto. O que significa que, embora haja apenas
um único evangelho imutável, não há somente um único modo de
transmiti-lo. Transmitir o evangelho de um modo único e estático,
sem considerar língua, costumes, política e sistemas de crença de
uma cultura, resultaria em miná-lo, subcontextualizando-o.
Entretanto, a contextualização pode ser um empreendimen-
to arriscado. Do mesmo modo que há o perigo de permitir que o
medo da cultura conduza a uma subcontextualização do evange-
lho, também há o risco de supercontextualizá-lo — submetendo-o
à autoridade da cultura. A última metade da citação de Carson
aponta para a realidade de que, embora as boas-novas existam em
um contexto, sua verdade transcende, ou ultrapassa, esse contexto.
Ele está certo. A verdade de Deus é extralocal, o que significa que
ela é a verdade para todas as épocas, em todos os lugares e para
7
Cf. http://www.pcusa.org/calltomission/presented–papers/young.htm.
8
Graeme Goldsworthy. Gospel centered hermeneutics, Downers Grove,
InterVarsity, 2006, p. 26.
9
D. A. Carson. Maintaining scientific and Christian truths in a postmodern
world, Science & Christian Belief, vol. 14 (2): 107-22, outubro, 2002; www.
scienceandchristianbelief.org/articles/carson.pdf.
Os meios da missão: contextualização 251
10
Keller, Contextualization: wisdom or compromise?, p. 1.
11
Eu ouvi Ed Stetzer usar os termos lutar e contextualizar em um evento de
treinamento que realizamos juntos em Springfield, Missouri, em 2005.
12
Você pode assistir a alguns críticos da contextualização em http://www.
youtube.com/lanechaplin. [Mantivemos a indicação da fonte, apesar de o site não
mais estar disponível na Internet. N. do E.]
252 A missão
13
Keller, Contextualization: wisdom or compromise?, p. 2.
14
1Coríntios 1.18.
15
1Pedro 2.6-8. Obviamente, os não cristãos sempre se ofenderão com os
próprios cristãos — sua conduta, suas palavras, seu estilo de vida. Assim como as
pessoas odiaram Daniel por orar três vezes ao dia (Dn 6), e assim como Pedro e
João foram perseguidos por curar e por pregar o evangelho (At 4.1-22), os cristãos
de hoje sofrerão perseguição em virtude de sua vida correta. O que quero dizer é
que, quando a igreja remove os elementos desnecessários da sua cultura, os não
cristãos conseguem lidar mais diretamente com o próprio evangelho. Em vez de ver
conservadores ou liberais, eles veem o próprio Jesus Cristo. Desse modo, Cristo, e não
a igreja, torna-se o derradeiro e maior motivo de ofensa.
Os meios da missão: contextualização 253
16
Flemming, Contextualization in the New Testament: patterns for theology
and mission, p. 19.
17
Um grande recurso para essa tensão é o livro de John Stott, Between two
worlds: the challenge of preaching (Grand Rapids: Eerdmans, 1994). [Edição em
português: Eu creio na pregação, trad. Gordon Chown, São Paulo: Vida, 2003.]
18
Cf. a preocupação de Paulo em 1Coríntios 14.24,25.
254 A missão
19
Keller, Contextualization: wisdom or compromise?, p. 1. Brownson, em
Speaking the truth in love, p. 64, faz a mesma observação: “Não há nenhum relato não
contextualizado da narrativa do evangelho”.
20
Por “fundamentalistas”, refiro-me a pessoas que são anticultura e que ten-
dem a ver as relações igreja vs. cultura em categorias puramente preta e branca e que
acreditam que seu “tipo de igreja” tem o equilíbrio perfeito.
21
Keller cita um exemplo prático e cultural disso: “Os cristãos coreanos têm
uma grossa pré-camada de cultura confucionista (que faz da tradição humana um
ídolo e adora os ancestrais). Assim, quando eles leem a Bíblia, veem a ênfase em
submissão à autoridade, em lealdade e comprometimento. Os cristãos americanos
têm uma grossa pré-camada de individualismo ocidental (que transforma os sen-
timentos e necessidades individuais em ídolos). Assim, quando eles leem a Bíblia,
veem a ênfase na liberdade e nas decisões pessoais. Mas os cristãos coreanos poderão
encontrar no texto sagrado a fobia que os cristãos americanos têm por compromis-
so e a aversão por autoridade (isto é, onde eles se tornam seletivos com respeito à
verdade bíblica) e os cristãos americanos poderão encontrar a tendência dos cristãos
coreanos ao autoritarismo em suas instituições e à conservação de suas tradições
humanas de um modo farisaico (isto é, onde eles se tornam seletivos com respeito à
verdade bíblica). É simplesmente impossível para a igreja não ser influenciada, em
algum aspecto, pela cultura em que ela está inserida”. Keller, Contextualization:
wisdom or compromise?, p. 2.
Os meios da missão: contextualização 255
Ao passo que a Bíblia não pode ser corrigida pelas culturas não
cristãs, os cristãos podem. (Se você se recusa a permitir que seu
cristianismo seja corrigido, com isso está dizendo que pressupõe
que seu cristianismo seja perfeitamente bíblico.) Uma filosofia não
cristã pode mostrar algo que seja uma percepção bíblica, mas que
os cristãos não notaram. Esse processo nos mostra qual parte de
nossa própria estrutura é bíblica e qual parte é composta por nossa
própria bagagem cultural ou emocional.24
22
Ibid., p. 1.
23
Ibid., p. 2.
24
Ibid.
25
Ibid., p. 3.
256 A missão
26
P. ex., Atos 2.42-47.
27
P. ex., Provérbios 14.31: “Quem oprime o pobre insulta seu Criador, mas
dá-lhe honra quem se compadece do necessitado”. Cf. Gálatas 2.10.
28
Para uma boa descrição da igreja sendo enviada a um contexto, ver The
missional church in context: helping congregations develop contextual ministry, ed.
Craig Van Gelder (Grand Rapids: Eerdmans, 2007).
Os meios da missão: contextualização 257
um orienta sua vida — como investe seu tempo, seu dinheiro e sua
energia. Ele analisará as perguntas que a cultura está fazendo, a con-
tribuição que elas têm a oferecer e os elementos que transcendem
as barreiras sociais normais. Em meu contexto, isso ocorre com o
beisebol. As pessoas em St. Louis, Missouri, amam o time do St.
Louis Cardinals. Eles são cidadãos orgulhosos da Cardinal Nation.
Fico cada vez mais admirado diante de como todo esse seg-
mento da sociedade vai ao templo do St. Louis, que é o Bush Sta-
dium. Artistas, mães ocupadas com os interesses esportivos de seus
filhos, hipsters urbanos, fãs da Nascar e todos os outros grupos entre
eles são bem-informados e apaixonados pelos Cardinals. É algo
que une as pessoas em minha cidade, como se vê no tempo, no
dinheiro e na energia que devotam a isso. Um modo de contextua-
lizar em St. Louis, Missouri, é se informar a respeito de seu time de
beisebol profissional. A igreja precisa estar disposta a participar da
Cardinal Nation, equipada com um conhecimento útil do jogo, e,
especificamente, do time — que molda a paixão de tantos.
Há fatos que precisamos aceitar sobre uma cultura à medida
que o evangelho avança para dentro dela. Obviamente, há ele-
mentos na cultura que precisamos rejeitar e questionar. Os valores
ocidentais do relativismo (toda verdade é subjetiva e pessoal) e sua
prima próxima, a tolerância (não se podem julgar as convicções
de outra pessoa), são exemplos de valores que devemos rejeitar e
questionar. Contextualizar apropriadamente é discernir as con-
vicções essenciais da cultura e então levar a verdade de Deus a
interagir com elas, confrontando-as e expondo-as, além de desa-
fiar as pessoas a aceitar Cristo.
“Contextualizar é participar, questionar e recontar os ‘enredos’
e as ‘narrativas culturais’ básicos da cultura”.29 Toda cultura tem uma
história, uma trama e uma resposta às seguintes perguntas:
29
Keller, Contextualization: wisdom or compromise?, p. 4.
258 A missão
35
Esse também é o caso no Antigo Testamento, que se comunica com Israel
com costumes e expressões idiomáticas específicos e conceitos historicamente espe-
cíficos que eram inteligíveis àqueles aos quais ele era escrito.
36
Flemming, Contextualization in the New Testament, p. 15.
Os meios da missão: contextualização 261
37
Mark Driscoll, The radical reformission, Grand Rapids, Zondervan, 2004,
p. 56-7. [Edição em português: Mark Driscoll, Reformissão: como levar a mensa-
gem sem comprometer o conteúdo. Niterói: Tempo de Colheita, 2009.]
38
Flemming, Contextualization in the New Testament, p. 105.
39
William D. Mounce, em Word biblical commentary: Pastoral Epistles
(Nashville, Nelson Reference & Electronic, 2000), p. 371, observa que o termo
tesouro de Paulo (usado, p. ex., em 1Tm 6.20) refere-se a uma “propriedade valiosa
confiada a uma pessoa para cuidado seguro”.
262 A missão
Figura 15.1
40
Flemming, Contextualization in the New Testament, p. 21.
264 A missão
41
Driscoll e Breshears, Vintage church, p. 19.
42
Keller, Contextualization: wisdom or compromise?, p. 4.
43
A igreja da rede Atos 29 Sojourn Community Church, em Louisville, está
alcançando os artistas por meio do The 930 Art Center. The 930 se epenha em
produzir renovação cultural por meio das artes, recebendo exibições e concertos
artísticos, segundo a doutrina da imago Dei — cada um é criativo pelo fato de que
cada um é criado à imagem do Deus Criador. Para mais informação, ver http://
sojournchurch.com/site–management/the–930. [Mantivemos a indicação da fonte,
apesar de o site não mais estar disponível na Internet. N. do E.]
Os meios da missão: contextualização 265
44
Paulo cita o Antigo Testamento cinco vezes durante o sermão.
45
Para um ótimo material sobre Paulo e o paganismo, ver Peter Jones,
Capturing the pagan mind: Paul’s blueprint for thinking and living in the new global
culture (Nashville: Broadman & Holman, 2003).
46
Atos 17.16: “Enquanto Paulo esperava por eles em Atenas, sentia grande
indignação, vendo a cidade cheia de ídolos”.
47
Matthew P. Ristuccia define o areópago como “a versão do primeiro século
do conselho editorial do The New York Times: um grupo de formadores de opinião
incrivelmente influentes sobre o que era considerado urbano, inteligente e chique. O
areópago vestia o manto de grandes gregos, como Platão, Sócrates e Aristóteles”. Cf.
“Mere Christianity in Athens”; http://web.princeton.edu/sites/chapel/Sermon%20
Files/2005_sermons/050105athens.htm.
266 A missão
Atos 13, nem simplesmente foi às ruas, como fez em Atos 14.
Em vez disso, procurou uma nova plataforma48 em Atenas, para
pessoas que “não tinham outro interesse a não ser contar ou ouvir
a última novidade”.49 Paulo falou a língua desses hipsters pluralis-
tas ao citar de memória dois poetas/dramaturgos/filósofos gregos:
“Nele vivemos, nos movemos e existimos, como também alguns
dos vossos poetas disseram: Pois dele também somos geração”.50
Paulo não estava apenas despejando alguns nomes aleatórios
a fim de obter certa credibilidade perante eles. Um dos filóso-
fos que ele citou foi Epimênides, que cem anos antes havia sido
chamado para ajudar Atenas durante uma terrível praga. Supos-
tamente foi seu conhecimento acerca do deus desconhecido que
levou à cura da cidade.51 Paulo, bem versado em exegese bíblica,
também era um dedicado exegeta cultural e conhecia o suficiente
de história ateniense para citar o próprio homem que apresentou
seu Deus desconhecido a eles.52 Paulo se empenhou intensamente
em declarar que Deus era Criador (v. 24), autossuficiente (v. 25)
e soberano (v. 26). Mas também dedicou-se de modo igualmente
intenso para ajudar com muita compaixão esses atenienses espiri-
tualizados — mas perdidos — a enxergar que Deus estava próximo
48
Meu amigo Jonathan McIntosh me ajudou com muitas percepções a respei-
to de Atos 17. Ele define plataforma como “permissão cultural”.
49
Atos 17.21.
50
Atos 17.28. Essas citações são de Epimênides de Creta e Arato, respec-
tivamente.
51
Cf., de Don Richardson, Eternity in their hearts: startling evidence of belief
in the one true God in hundreds of cultures throughout the world (Ventura: Regal,
2006), p. 17. [Edição em português: Fator Melquisedeque: o testemunho de Deus nas
culturas através do mundo, 1. ed., trad. Neyd Siqueira, São Paulo: Vida Nova, 1986,
com seguidas reimpressões.]
52
Cf. Mark Driscoll: “Como missionário, você precisará assistir a programas
de televisão e filmes, ouvir música, ler livros, ler revistas, participar de eventos, in-
tegrar organizações, navegar por sites e ser amigo de pessoas de quem você talvez
não goste a fim de melhor compreender indivíduos que Jesus ama” (The radical re-
formission, p. 103). [Edição em português: Mark Driscoll, Reformissão: como levar
a mensagem sem comprometer o conteúdo. Niterói, Tempo de Colheita, 2009.]
Os meios da missão: contextualização 267
53
Jonathan McIntosh ajudou-me a entender que, como a cultura envolve seres
humanos que são gloriosos em virtude da imagem de Deus neles, e ainda assim
corrompidos por causa do pecado, é fácil ou rejeitar completamente ou absorver
completamente a cultura. Em outras palavras, é fácil ou focar inteiramente na glória
(imagem de Deus) dos seres humanos ou inteiramente no aspecto maculado dos
seres humanos (depravação). Os conservadores tendem a focar na depravação e os
liberais, na imago Dei. Missionários eficazes conseguem manter a tensão que resulta
de se reconhecer tanto a beleza quanto a degradação.
16
As mãos da missão:
o cuidado
A grande “co-missão”
O Evangelho segundo Mateus termina com a ordem de Jesus
a seus seguidores para continuarem a obra que ele iniciou, ins-
truindo-os a:
1
N. do R.: O cinturão da ferrugem é uma região do Nordeste dos Estados
Unidos, entre as cidades de Chicago e Nova York, cuja economia se baseia especial-
mente na indústria pesada e de manufatura.
2
Cf. http://en.wikipedia.org/wiki/Urban_sprawl para uma definição de “ex-
pansão urbana” em inglês.
As mãos da missão: o cuidado 269
3
Nota de estudo na esv Study Bible, Wheaton, Crossway Bibles, 2008.
As mãos da missão: o cuidado 271
O início
O que é servir a cidade? Essa foi a pergunta que motivou o estágio
do pastor Josh quando ele chegou à Journey. Depois de dois anos
trabalhando com crianças no centro antes de começar seu está-
gio, ele viu diretamente os efeitos da pobreza em St. Louis. Com
o peso de sua experiência, iniciou um ministério de auxílio, em
julho de 2006, na Journey. Ele e a equipe que reuniu começaram
a tentar “consertar tudo”. O próprio Josh conta: “Nós estávamos
envolvidos em todo tipo de atividade típica imaginável relacio-
nada a servir os pobres na cidade — de sopões e abrigos para
mulheres a andar pelas ruas do centro tarde da noite em busca de
pessoas desabrigadas para evangelizar, e muito mais”.
272 A missão
O momento da virada
Não satisfeito em cruzar os braços, Josh realizou uma introspec-
ção profunda sobre seu chamado e a missão que Deus havia posto
diante dele. Iniciou um diálogo com outros líderes em quem ele
confiava e começou um processo de crítica radical de seus esforços
ministeriais. Josh orou ao Senhor que mostrasse a ele e a sua equi-
pe bem claramente em que direção ele queria que a Mission: St
Louis seguisse. De maneira típica, a resposta de Deus surpreen
deu Josh e a equipe.
O momento da virada veio no meio de outro projeto —
um transporte de suprimentos escolares para várias escolas ele-
mentares, incluindo a Adams Elementary, no bairro Forest Park
Southeast, localizado a menos de um quilômetro do campus-sul
da Journey na cidade. Josh relata o dia em que entregou os supri-
mentos à escola Adams:
As mãos da missão: o cuidado 273
4
Estudo compilado por Mario Quinto Press e noticiado por cbs News; http://
www.cbsnews.com/stories/2006/10/30/national/main2135998.shtml.
As mãos da missão: o cuidado 277
Satisfazendo as necessidades
A soma de todas as evidências apontou três áreas específicas que
precisavam de atenção em fpse. A Mission: St. Louis começou a
desenvolver estratégias e programas para tratar da subeducação,
da capacitação centrada no evangelho e da instabilidade econô-
mica. O resultado agora é que a Mission: St. Louis dirige pro-
gramas baseados em indicadores de êxito mensuráveis e com as
melhores práticas, assegurando, assim, uma maior probabilidade
de alcançar os resultados mais próximos do ideal. A seguir está
um vislumbre de como a Mission: St. Louis vem lidando com
algumas das necessidades mais urgentes em fpse.6
Educação
Programa de leitura matinal
O Mourning Reading Program (mrp) [Programa de Leitu-
ra Matinal] foi planejado pelo especialista em leitura de nível
5
Cf. http://www.nagc.org, http://txgifted.org/gifted–glossary, em inglês.
6
Para mais informação detalhada sobre esse e outros ministérios da Mission:
St. Louis, cf. http://www.missionstl.org.
As mãos da missão: o cuidado 279
Capacitação
Um Natal acessível
O evento de capacitação que é a marca registrada da Mission:
St. Louis é An Affordable Christmas [Um Natal Acessível]. Nos
anos anteriores, a Journey participava em programas associados
aos feriados que se baseavam inteiramente em doações. Os volun-
tários traziam os donativos e os entregavam às famílias, como pre-
sentes. O pastor Josh percebeu algo que não estava bem certo
numa dessas entregas. “Eu notei que as crianças, as mães e as avós
7
F. Mosteller, The Tennessee study of class size in the early school grades,
The future of children: critical issues for children and youths, vol. 5 (2): 113-27, 1995.
280 A missão
Cruze a rua
Dois dias por semana, os voluntários andam pelo bairro para conhe-
cer pessoas por meio de um programa chamado Cross the Street
(cts) [Cruze a Rua]. Os seis a oito voluntários se reúnem em uma
casa do bairro e, por aproximadamente noventa minutos, envolvem
membros da comunidade em uma conversa real e significativa.
8
Robert D. Lupton, Compassion, justice and the Christian life: rethinking min-
istry to the poor, Ventura: Regal Books, 2007. Anteriormente publicado como And
you call yourself a Christian.
As mãos da missão: o cuidado 281
Desenvolvimento econômico
À medida que Josh trazia as necessidades de fpse à nossa aten-
ção, buscávamos abordagens originais para satisfazê-las. Uma
das ideias que surgiram dessa reflexão foi levar nossos pequenos
grupos para fazer missão em fpse. Começamos um novo culto
em um espaço recentemente reformado em nosso campus-sul da
cidade e convidamos quinze de nossos grupos para se comprome-
terem com esse culto. O propósito era que participassem, juntos,
no culto normal, em três finais de semana por mês, e servissem no
culto em fpse no quarto fim de semana. Queríamos poder dizer
uma vez por mês: “A igreja saiu do templo”.
O primeiro Commmunity Working Day [Dia de Trabalho
Comunitário] foi um sucesso extraordinário. Depois de conversar
com uma creche local, que tinha uma lista enorme de necessidades
de melhorias, a agenda foi estabelecida. Mais de 150 voluntários
trabalharam todo aquele domingo substituindo janelas, pintando
salas, instalando tapetes, limpando o jardim e construindo um par-
quinho de diversões para a creche. No total, mais de trinta mil dóla-
res em trabalho e materiais foram doados naquele dia. As melhorias
não somente produziram um sentimento de satisfação nos voluntá-
rios e nos moradores de fpse, mas muitos que não tinham conexão
anterior com o bairro viram pessoalmente as necessidades dessa
comunidade carente. O dia de trabalho também enviou a mensa-
gem de que fpse é uma região de pessoas que estão lutando para
revitalizar e cuidar de sua comunidade.
282 A missão
por ser duro demais com alguns dos bandidos que está tentando
alcançar — isso é que é ironia! A vida não é perfeita para Ben.
Mas é vida. Vida real, com propósito, relacionamentos significa-
tivos, libertação e perdão dos pecados e contentamento que vem
com a percepção de que suas más escolhas, e até mesmo suas
boas ações, não têm a última palavra sobre como tudo termina.
A última palavra pertence a Jesus. E Ben pertence a ele.
17
A esperança da missão:
transformação da cidade
1
Matt é o pastor de uma igreja da rede Atos 29 chamada Austin Stone Com-
munity Church; http://www.austinstone.org.
2
Cf. Efésios 3.10: “... para que agora a multiforme sabedoria de Deus seja
manifestada, por meio da igreja, aos principados e poderios nas regiões celestiais”.
A esperança da missão: transformação da cidade 289
3
Atos 17.1-4.
4
Atos 17.5-10.
5
Ver http://www.prb.org/Educators/TeachersGuides/HumanPopulation/
Urbanization.aspx.
6
Ver http://www.unep.org/geo2000/english/0049.htm.
290 A missão
Postura urbana
Quando o povo de Deus se viu em uma terra estrangeira por cau-
sa de seu pecado, sentiu-se tentado a não se envolver na cidade, a
evitar um possível contágio e por isso a se afastar da cultura e das
pessoas que viviam nela.
7
Cf. http://www.ippnw.org/Resources/MGS/V6N2Schubel.html, em in-
glês. [Mantivemos a indicação da fonte, apesar de o site não mais estar disponível
na Internet. N. do E.]
8
Cf. http://www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?artid=1118907,
em inglês.
A esperança da missão: transformação da cidade 291
10
Citado em Henry R. Van Til. The Calvinistic concept of culture (Grand
Rapids: Baker, 1972), p. xiii.
11
Ibidem. p. 29-30.
A esperança da missão: transformação da cidade 293
Multiplique-se na cidade
No que tem sido chamado de o mandato cultural, Adão e Eva
foram chamados a frutificar, multiplicar e encher a terra — a gerar
filhos que amem a Deus e a desenvolver uma cultura que o glorifi-
que.12 Certamente esse mandato era singular e restrito em alguns
aspectos a Adão e Eva, como os primeiros pais da raça humana, e
não deve ser compreendido como uma implicação para que toda
família tenha muitos filhos. Entretanto, é interessante que Deus
instrua seu povo por meio de Jeremias a ter filhos em uma cidade
hostil como um modo de influenciá-la para o bem. Não seria o
caso de pensarmos nisso — ter mais filhos — como uma, dentre
outras muitas possibilidades, com que poderíamos influenciar a
nossa cidade? E não apenas mais filhos, mas filhos que amem a
Deus e sirvam a cidade?13
12
Gênesis 1.28.
13
Não estou dizendo que todos devem ter certo número de filhos ou que você
é mais espiritual se tiver filhos. Para uma boa discussão sobre a questão de controle
de natalidade, ver o item Question 9 em Religion saves, de Mark Driscoll, Wheaton:
Crossway, 2009.
294 A missão
14
Para mais informações sobre a igreja perseguida, ver http://www.persecu-
tion.com, em inglês.
15
Richard Mouw observa que, por causa da graça comum, até mesmo os não
redimidos possuem “impulsos para a justiça e empenhos pelo bem comum”. Van
Til, The calvinistic concept of culture, p. xiii.
A esperança da missão: transformação da cidade 299
Figura 17-1
Daniel: Deus é meu Juiz Beltessazar: Guardião dos tesouros de Bel
Hananias: Javé é Deus Sadraque: Inspiração do sol (adoração do sol)
Misael: Aquele que Mesaque: Da deusa Shaca
pertence a Deus (adoração de Vênus)
Azarias: Javé auxilia Abednego: Servo do fogo
16
Daniel 1—2.
300 A missão
17
2João 3.18.
A esperança da missão: transformação da cidade 301
18
Richard Stearns, The hole in our Gospel: what does God expect of us? The
answer that changed my life and might just change the world, Nashvile: Thomas
Nelson, 2009, p. 22.
19
Tullian Tchividjian. Unfashionable: making a difference in the world by
being different. Sisters, Multnonah, 2009, p. 52. Tullian usa como fonte o estudo
de Thomas Schreiner sobre 2Pedro 3.10 na esv Study Bible da Crossway, p. 2422-3,
para o fundamento desse ponto.
302 A missão