Você está na página 1de 6

Evolução biológica

A vida na Terra foi evoluindo, de forma lenta e gradual, sofrendo diversas modificações que
deram origem à grande diversidade de seres vivos que podemos observar atualmente no
nosso planeta.

1. Dos procariontes aos eucariontes


Para compreendermos a evolução da vida temos de compreender, em primeiro lugar, a
história evolutiva da célula. Os seres vivos podem agrupar-se em dois grandes grupos, os seres
procariontes e os seres eucariontes, que apresentam algumas diferenças entre si:

Ao longo de vários milhões de anos, os seres procariontes eram os únicos seres constituintes e
habitantes da Terra, apenas em locais aquáticos. Porém, ao longo de vários anos, estes foram-
se diversificando, especialmente em relação ao seu metabolismo.

Alguns desses seres começaram a realizar o processo metabólico da fotossíntese, que como
sabemos, libertava oxigénio para a atmosfera.
Posteriormente este oxigénio começou-se a acumular na atmosfera, o que causou um impacto
brutal na vida dos procariontes, que eram os únicos habitantes da Terra. O oxigénio não era
benéfico para todos estes seres, por isso levou à extinção de alguns, mas à permanência de
outros em situações anaeróbias.

Entre alguns sobreviventes, contam-se os indivíduos que desenvolveram a capacidade de


resistir ao oxigénio. Entre eles, havia um grupo que semelhança das atuais mitocôndrias, eram
capazes de aproveitar este gás para oxidar compostos orgânicos, fabricando assim energia.

Apesar da fotossíntese e da respiração, a simplicidade destes organismos limitava os processos


metabólicos que podiam ser realizados simultaneamente. Alguns dos grupos dos procariontes
evoluíram e aumentaram a sua complexidade, que muito provavelmente deram origem aos
seres eucariontes, também devido:

• À sua simplicidade estrutural (a evolução processar-se-ia de seres mais simples para


mais complexos);
• Ao registo fóssil existente: os dados fósseis sugerem que os seres eucariontes surgiram
2000 milhões de anos depois dos organismos procariontes.

Para explicar o aparecimento de células eucarióticas a partir da evolução de células


procarióticas, existem duas hipóteses: a hipótese autogénica e a hipótese endossimbiótica.

1.1 Hipótese autogénica


Segundo a Hipótese Autogénica, os seres eucariontes são o resultado de uma evolução gradual
dos seres procariontes. Numa fase inicial, as células desenvolveram sistemas endo
membranares resultantes de invaginações da membrana plasmática. Algumas dessas
invaginações armazenavam o DNA, formando um núcleo. Outras membranas evoluíram no
sentido de produzir organelos semelhantes ao retículo endoplasmático.

Posteriormente, algumas porções do material genético abandonaram o núcleo e evoluíram


sozinhas no interior de estruturas membranares. Desta forma, formaram-se organelos como as
mitocôndrias e os cloroplastos.

Esta hipótese pressupõe que o material genético do núcleo e dos organelos (sobretudo das
mitocôndrias e dos cloroplastos) tenha uma estrutura idêntica. Contudo, tal não se verifica. O
material genético destes organelos apresenta, geralmente, uma maior semelhança com o das
bactérias autónomas, do que com o material genético presente no núcleo.

Esta e outras observações levaram ao desenvolvimento de um outro modelo ou hipótese – a


Hipótese Endossimbiótica.
Argumentos a favor da hipótese autogénica:

→ Todas as membranas que constituem os organelos celulares possuem a mesma


composição bioquímica;
→ Alguns genes necessários ao funcionamento das mitocôndrias e dos cloroplastos estão
atualmente no núcleo;

Argumentos contra a hipótese autogénica:

→ Não explica o que desencadeou a invaginação da membrana celular;


→ Se o núcleo fosse formado por invaginações de membrana procariótica, então o DNA
do núcleo seria circular, o que não corresponde a realidade.

1.2 Hipótese endossimbiótica


Algumas células procarióticas de grandes dimensões (célula hospedeira) capturaram células
mais pequenas, como os ancestrais das mitocôndrias e cloroplastos. Alguns destes ancestrais
conseguiam sobreviver no interior da célula procarióticas de maiores dimensões, resistindo à
ingestão, estabelecendo-se relações de simbiose.

A íntima cooperação entre estas células conduziu ao estabelecimento de uma relação


simbiótica estável e permanente. A evolução conjunta destes organismos terá levado ao
surgimento das células eucarióticas constituídas por vários organelos, alguns dos quais foram,
em tempos, organismos autónomos.

Assim, as primeiras relações endossimbióticas terão sido estabelecidas com os ancestrais das
mitocôndrias. Os ancestrais das mitocôndrias seriam organismos que tinham desenvolvido a
capacidade de produzir energia, de forma muito rentável, utilizando o oxigénio no processo de
degradação de compostos orgânicos.

Por outro lado, outro grupo de procariontes, semelhante às atuais ciano- bactérias, tinha
desenvolvido a capacidade de produzir compostos orgânicos, utilizando a energia luminosa. A
associação das células procarióticas de maiores dimensões com estes seres, ancestrais dos
cloroplastos, conferia-lhe vantagens evidentes. Mas, nem todas as células eucarióticas
possuem cloroplastos. Este facto é explicado, segundo a Hipótese Endossimbiótica, pelo
estabelecimento de relações simbióticas de forma sequencial. Isto é, as primeiras relações
endossimbióticas terão sido estabelecidas com os ancestrais das mitocôndrias e, só
posteriormente, algumas dessas células terão estabelecido relações de simbiose com os
ancestrais dos cloroplastos.
Argumentos a favor da hipótese endossimbiótica:

→ As mitocôndrias e cloroplastos dimensões semelhantes às das bactérias.


→ As mitocôndrias e cloroplastos produzem as suas próprias membranas internas
replicam-se por um processo semelhante à bipartição.
→ Estes organelos possuem o seu próprio material genético.
→ Os ribossomas dos cloroplastos assemelham-se mais aos ribossomas dos procariontes
do que aos ribossomas presente no citoplasma dos eucarióticos.
→ Os ribossomas das mitocôndrias têm grande variabilidade, mas são mais semelhantes
ao dos procariontes.
→ Na membrana interna de ambos, existem enzimas e sistemas de transporte parecidos
aos que estão presentes nos atuais procariontes.
→ Atualmente, continuam a verificar-se alguns casos de simbiose obrigatória entre
eucariontes e bactérias, constituindo relações endossimbióticas.

Pontos fracos da hipótese endossimbiótica:

→ Esta hipótese não explica a origem do núcleo das células procarióticas;


→ Não esclarece como é que o DNA nuclear comanda o funcionamento dos cloroplastos
e das mitocôndrias;
→ Não explica como é que tendo os seres procariontes as mesmas dimensões um foi
englobado por outro.
→ Não explica o porque dos ribossomas das células eucarióticas serem maiores.
→ Não explica o porque do DNA nas células eucarióticas no núcleo é linear.

2. Da unicelularidade à multicelularidade
Vantagens da Multicelularidade:

• Maiores dimensões, mantendo-se, contudo, ma relação área/volume das células ideal


para a realização de trocas com o meio.
• Maior diversidade, proporcionando uma melhor adaptação a diferentes ambientes
• Diminuição da taxa metabólica, resultado da especialização celular que permitiu uma
utilização de energia de forma mais eficaz.
• Maior independência m relação ao meio ambiente, devido a uma eficaz homeostasia
resultante de uma independência dos vários sistemas de órgãos.

Depois do aparecimento das células eucarióticas, a vida na Terra apresentava já grande


diversidade.

Os organismos eucariontes, que desenvolveram capacidade de predação, começaram a


aumentar de tamanho, o que favoreceu:

• A captura mais eficiente de outras células;


• A deslocação que, sendo mais rápida, facilita a fuga e a alimentação;
• O aumento do metabolismo.

À medida que as dimensões da célula aumentam, a razão entre a área da célula e o seu volume
diminui porque o crescimento celular não pode ser indefinido. Então, como o metabolismo se
torna mais ativo, mas a superfície membranar que contacta com o exterior não tem um
aumento proporcional, as trocas com o meio tornam-se menos eficientes e não são capazes de
dar resposta às necessidades das células.

Assim, para indivíduos com dimensões superiores a 1mm sobreviverem só têm duas
possibilidades: ou são unicelulares, mas com um metabolismo muito baixo ou, para darem
resposta às necessidades metabólicas, têm de ser multicelulares.

Embora ainda não esteja bem esclarecida, pois o registo fóssil não é suficiente, pensa-se que a
multicelularidade tenha resultado de associações vantajosas entre eucariontes unicelulares
que foram evoluindo:

• Inicialmente, todas as células desempenhariam a mesma função;


• Posteriormente, algumas células ter-se-iam especializado em determinadas funções,
ocorrendo diferenciação celular;
• A diferenciação celular, em que se verifica interdependência estrutural e funcional das
células, ter-se-á acentuado, originando verdadeiros seres multicelulares.

Atualmente, verifica-se a existência de agregados de seres eucariontes unicelulares da mesma


espécie que estabelecem ligações estruturais entre si, formando colónias ou agregados
coloniais.
Volvox não é considerado um ser pluricelular, pois, embora seja constituído por células
estruturalmente independentes, sob o ponto de vista funcional, a sua diferenciação é ainda
muito incipiente, confinando-se exclusivamente às células reprodutoras. Contudo, este
exemplo é bastante útil para se compreender que organismos coloniais semelhantes tenham
evoluído no sentido de maior organização e diferenciação estrutural e funcional e, como tal, da
verdadeira multicelularidade.

Pensa-se que:

→ Os seres coloniais possam ter estado na origem de algas verdes pluricelulares, algumas
das quais evoluíram mais tarde para plantas;
→ Este dado é apoiado pela existência de clorofila a e b nas algas verdes e nas plantas e,
também, pela presença de amido como substância de reserva em ambas;
→ Os diferentes tipos de células, já com especialização, originaram tecidos que levaram
ao aparecimento de órgãos e de sistemas de órgãos, havendo uma crescente
especialização e diferenciação celulares.

Vantagens evolutivas da multicelularidade para os organismos:

→ Permite que os organismos tenham maiores dimensões, mantendo a relação


área/volume ideal para a realização de trocas com o meio;
→ Possibilita maior diversidade, proporcionando uma melhor adaptação a diferentes
ambientes (Um ser vivo multicelular tem células com funções diferentes e por isso a
adaptação a meios diferentes torna-se mais fácil);
→ Diminuição da taxa metabólica, como resultado da especialização celular que permitiu
uma utilização de energia de forma mais eficaz (Quando uma célula é especializada,
apresenta mecanismos especializados para a função que esta tem, assim esta função é
feita de forma mais rápido, gastando menos energia);
→ Maior independência relativamente ao meio ambiente, devido a uma eficaz
homeostasia (equilíbrio dinâmico do meio interno) que resulta da interdependência
entre os vários sistemas de órgãos (permite uma melhor adaptação aos ambientes
com características mais extremas).

Em suma, pode dizer-se de forma muito simples que a evolução das formas de vida se
processou dos procariontes para os eucariontes unicelulares e dos seres coloniais para os
pluricelulares.

Você também pode gostar