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1-Com base em Iamamoto (2007), discuta a relação entre o capital fetiche e a “Questão

Social”, apontando a relação existente entre a mundialização do capital, a


desregulamentação dos mercados e os impactos no mundo do trabalho.

Para compreender a questão social na cena contemporânea precisamos considerar as mediações


históricas que redimensionam a produção/reprodução dessa categoria na atualidade.

No atual contexto da mundialização da economia sob a hegemonia do capital financeiro “tem-se


o reino do capital fetiche na plenitude de seu desenvolvimento e alienação”. (IAMAMOTO,
2007, p.107)

O capital financeiro passa a comandar o processo de acumulação assegurando a associação entre


as empresas industriais e as instituições financeiras, através de processos de fusões e aquisições
de empresas, permitindo que os grandes grupos industriais transnacionais aumentem cada vez
mais sua concentração e centralização de capitais, garantindo suas taxas de lucro e ampliando
seu poder político e econômico.

A mundialização do capital ao mesmo tempo em que impulsiona a tendência à homogeneização


do consumo e dos modos de dominação ideológica através da mídia e das tecnologias acaba
impulsionando a tendência da heterogeneidade e desigualdade econômica entre os países,
acelerando o desenvolvimento desigual entre as nações e, no seu interior, entre classes e grupos
sociais.

O capital financeiro se apoia em dois pilares: as dívidas públicas e o mercado acionário das
empresas, que são respectivamente, os principais ingredientes da primeira e da segunda etapa da
liberalização e desregulamentação dos mercados financeiros.

Na primeira etapa da liberalização e desregulamentação dos mercados financeiros, entre 1982 e


1994, os mercados financeiros tornavam-se cada vez mais poderosos, na medida em que o
endividamento dos governos crescia exponencialmente, sob o efeito das taxas de juros elevadas,
criando-se a indústria da dívida. Nessa mesma logica, os programas de ajustamento estrutural
são impostos para os países devedores através dos FMI e do Banco Mundial, objetivando a
abertura abrupta da economia desses países, priorizando as exportações. “Impõem a redução da
massa salarial pública e da despesa pública, afetando os programas sociais, a eliminação de
empresas públicas não rentáveis, exacerbando as desigualdades de rendimentos e o aumento da
pobreza.” (HUSSON, 1999 apud IAMAMOTO, 2007 p.118)

Já na segunda etapa, a partir de 1994, a compra e venda de ações passam a ocupar o cenário
econômico. Esse período tem sido marcado por exigências de produtividade e rentabilidade,
pela redução dos postos de trabalho e rebaixamento dos salários, estimulando uma maior
competitividade entre os trabalhadores, contribuindo assim, para a expansão da crise sindical. A
expansão das terceirizações, da precarização, e da flexibilização no mundo do trabalho acarreta
a redução dos direitos sociais e a polarização da classe trabalhadora, separando de um lado os
trabalhadores regulares, e do outro os trabalhadores temporários/tempo parcial.

O Estado cumpre um papel fundamental nesse modo de dominação, sustentando a estrutura de


classes e as relações de produção. A autonomização e a hipertrofia do aparato estatal são
essenciais para o capital que passa a ter um controle cada vez maior sobre os rendimentos
sociais. As funções coercitivas do Estado e as suas funções integradoras se entrelaçam para
garantir as condições gerais da produção.
A mundialização do capital não suprime as funções do Estado, ela modifica as condições de seu
exercício, alterando sua direção socioeconômica e sua intervenção. Por isso, o Estado continua
forte, mas seu compromisso é com os interesses do grande capital.

Esse período marcado pela financeirização, transnacionalização e mundialização do capital afeta


o mercado de trabalho e todo o tecido social. A transferência de riquezas entre classes e
categorias sociais e entre países provoca o aumento do desemprego crônico, a flexibilização e
precarização das condições e relações de trabalho, o rebaixamento de remuneração da força de
trabalho, o desmonte dos sistemas de proteção social e a redução dos direitos sociais, afetando o
conjunto do mercado de trabalho.

“O capital internacionalizado produz a concentração da riqueza, em um polo social (que é


também, espacial) e, noutro, a polarização da pobreza e da miséria, potenciando
exponencialmente a lei geral da acumulação capitalista, em que se sustenta a questão social.”
(IAMAMOTO, 2007, p.111)

Nesse cenário de globalização do capital a questão social também é globalizada, metamorfoseia-


se e assume novas roupagens. A responsabilidade do Estado com o capital financeiro e a
liberdade concedida ao movimento do capital para valorizar-se na esfera financeira
(re)configuram a questão social na contemporaneidade.

O predomínio do capital fetiche conduz à banalização do humano, à descartabilidade e


indiferença perante o outro, o que se encontra na raiz das novas configurações da questão social
na era das finanças. Nessa perspectiva, a questão social é mais do que as expressões de pobreza,
miséria e “exclusão”. Condensa a banalização do humano, que atesta a radicalidade da alienação
e a invisibilidade do trabalho social – e dos sujeitos que o realizam – na era do capital-fetiche. A
subordinação da sociabilidade humana às coisas – ao capital-dinheiro e ao capital mercadoria –,
retrata, na contemporaneidade, um desenvolvimento econômico que se traduz como barbárie
social. (IAMAMOTO, 2007, p.125)

Esse processo resulta no crescimento de um enorme contingente de homens e mulheres


“excluídos” dos mercados, pois não conseguem que suas necessidades sociais sejam
transformadas em demandas monetárias, “as alternativas que se lhes restam, na ótica oficial, são
a violência e a solidariedade” (IAMAMOTO, 2007, p.123) conduzindo à naturalização das
desigualdades sociais.

2- Com base nos textos de José Paulo Netto, destaque a diferença entre a “Questão Social”
e o “pauperismo” no período pré-industrialização.

Na oitava década do século XVIII, o capitalismo ingressa num novo estágio evolutivo,
configura-se o segundo estágio do capitalismo, o capitalismo concorrencial. Logo que ele vai se
consolidando nos países da Europa Ocidental já podem ser sentidos os primeiros impactos da
sua dominação.

Um novo fenômeno surge diante dessa nova dinâmica do capitalismo: trata-se do fenômeno do
pauperismo. A dinâmica da pobreza que se generalizava era radicalmente nova, ela crescia na
medida em que a sociedade se tornava capaz de produzir mais bens e serviços.

Quando o pauperismo adquiriu uma dimensão política na sociedade ele passou a ser
denominado de questão social. Isso ocorreu devido à reação da população contra as condições
de vida geradas pelo pauperismo. Não se conformando com essa situação os pauperizados se
organizaram e lutaram em torno de interesses comuns, configurando uma ameaça real a ordem
burguesa.

Desse modo, a questão social se diferencia do pauperismo devido ao seu inalienável caráter
político. Através da consciência politica a classe trabalhadora pode compreender que a questão
social é constitutiva do capitalismo e só poderá ser suprimida com a superação desse modo de
produção.

3- Comente a frase de Netto (2010) “A pobreza crescia na razão direta em que aumentava
a capacidade social de produzir riquezas”, com base na Lei Geral de Acumulação
Capitalista.

Segundo Netto (2010) a pobreza crescia na razão direta em que aumentava a capacidade social
de produzir riquezas. Essa nova dinâmica da pobreza é indissociável da dinâmica especifica do
capital – a acumulação. A lei geral de acumulação capitalista ocasiona um enorme crescimento
da riqueza social e simultaneamente, um enorme crescimento da pobreza, que resulta na
polarização riqueza/pobreza. “A acumulação da riqueza num polo é, portanto, ao mesmo tempo,
a acumulação de miséria, tormento de trabalho, escravidão, ignorância, brutalização e
degradação moral no polo oposto.” (MARX, 1984, I, 2: 210)

4- Explique o que é a face contemporânea da barbárie, segundo Netto, e sua relação com a
forma de enfrentamento da questão social.

No tardo-capitalismo, o atual estagio da ordem do capital, a dimensão civilizatória se esgota e a


dimensão da barbárie se expande. “O desenvolvimento capitalista é avanço civilizatório
fundado na barbárie.” (NETTO, 2010, p.7)

“A barbárie capitalista é omnilateral e polifacética – e é ubíqua: contém-se no arsenal termo-


nuclear que pode aniquilar repentinamente todas as formas de vida sobre o planeta.” (NETTO,
2010, p.31) A barbárie contemporânea incide sobre a totalidade da vida social provocando a
regressão do ser social.

Segundo Netto (2010) a face contemporânea da barbárie mais evidente na atualidade, se


expressa exatamente no trato que, nas políticas sociais, vem sendo conferido à questão social.
Esse trato político-institucional consistente na articulação entre a politica assistencialista
minimalista (ex: programas de combate à pobreza no Brasil) e a repressão extra econômica
permanente aos mais pobres.

5- Segundo Castel (1998), como se configura a nova “questão social” e quais suas
principais expressões?

Para Castel a “nova questão social” configura-se pela desestabilização dos trabalhadores que se
tornaram sobrantes, inúteis devido à ordem do mercado capitalista.

O referido autor faz uma análise do enfraquecimento da condição salarial, onde a então
sociedade salarial entra em crise a partir dos anos 70 devido a crise do capitalismo.

A partir dessa crise chega ao fim a era do pleno emprego e surge uma nova sociedade, a
sociedade dos supranumerários ou inúteis para o mundo. Esses indivíduos perdem a sensação de
pertencimento a algum grupo, pois era o trabalho e a sua posição no mercado de trabalho que
inseria os indivíduos em grupos, dos mais abastados aos mais pobres, porém todos eles
trabalhavam e assim poderiam se sentir parte da sociedade mesmo estando inseridos na lógica
capitalista sobre a disparidade salarial entre esses grupos.

Segundo Castel, essa precarização do trabalho a partir da crise gera as expressões da nova
questão social, que são a desestabilização dos estáveis, a instalação na precariedade e o déficit
de lugares ocupáveis na estrutura social. Em decorrência desse déficit uma massa de pessoas
não inseridas na sociedade salarial é gerada e aqueles que estão inseridos se tornam instáveis,
pois a concorrência se torna maior devido aos sobrantes que desejam retornar á esta sociedade,
fazendo com que a precariedade seja instalada e haja um retrocesso ás condições vividas
anteriormente à sociedade salarial.

Castel não identifica essa problemática inserida indubitavelmente na luta de classes, assim como
acredita Marx e sim faz sua análise pautada no enfraquecimento da condição salarial.

Ao não se sentirem pertencentes a nenhum grupo, os chamados inúteis não conseguem se


organizar para lutar por direitos e melhores condições de vida, entretanto os
explorados/trabalhadores conseguiam se organizar pois tinham um grupo onde estavam
inseridos.

Neste contexto é preciso se encontrar medidas para amenizar esses “transtornos” causados pela
crise do pleno emprego, pois o Estado não vive mais na sociedade salarial e deve intervir nesse
cenário visando o equilíbrio e assegurar o mínimo de coesão social. Castel chama de Estado
social à intervenção do Estado no mercado e no trabalho.

As ações do Estado são totalmente contraditórias, pois com a criação de políticas de integração
que são as politicas universais e as politicas de inserção que são focalizadas e voltadas para
aqueles que sofrem com o déficit, criam um modo de vida precário.

Castel considera que para recuperar o trabalho assalariado como forma de garantir a cidadania, é
preciso o fortalecimento do Estado. Isso se torna contraditório também, pois o Estado não
matem uma neutralidade quando se trata de burguesia e classe trabalhadora.

Castel não identifica essa problemática inserida indubitavelmente na luta de classes e na lei
geral de acumulação, assim como acredita Marx. A definição de existência de uma nova questão
social está pautada pelo referido autor na construção da sociedade salarial, o que diz respeito ao
surgimento de novos atores e novos conflitos e considera que com a criação do Estado de bem-
estar social, que foi uma alternativa construída dentro do modo capitalista, as desigualdades
foram superadas concomitantemente com a superação da questão social.

6- Com base no texto de Guerra [et al.], explique os limites da análise de Castel a respeito
da noção de “nova questão social”.

Castel acredita que haja uma nova questão social contrariando o pensamento de vários autores
que seguindo a perspectiva marxiana, apontam o surgimento de novas expressões da questão
social, entretanto a questão social em si continua sendo a mesma.

Nos últimos anos ocorreram mudanças de ordem política, econômica e social que sem dúvida
vão impactar a sociedade contemporânea. É a partir dessas mudanças que Castel vai defender
sua tese de que há o surgimento de uma nova questão social.
Castel considera que a questão social no inicio do século XIX estava relacionada ao pauperismo
da classe trabalhadora, entretanto defende que essa questão social foi se transformando sendo
necessário começar a compreendê-la a partir da sociedade salarial.

O autor considera que o pauperismo identificado no século XIV não poderia ser classificado
como uma expressão da questão social, somente no século XVIII com o surgimento das
sociedades pré-industriais que a pobreza se configurará de outra maneira, agora ameaçando a
ordem com sua grande massa de vulneráveis. O pauperismo então ganha atores, o proletariado,
configurando assim a questão social como resultado da luta de classes agora estabelecida.
Castel trabalha dentro da concepção de emancipação política, o que contradiz a concepção de
Marx, que nega ser a emancipação política a “salvação” dos indivíduos de uma sociedade, é
preciso a emancipação humana que possibilitará ir além dos entraves que a emancipação
política coloca.

O autor identifica que na sociedade salarial houve a conquista de um sistema de proteção social
inaugurando uma nova condição da classe trabalhadora, onde acredita que a questão social foi
extinta devido ao sistema de proteção do Estado de bem-estar social.

Entretanto, em uma visão mais ampla dessa questão, outros autores consideram que a questão
social continua sendo a mesma, a contradição fundante do capital/trabalho, onde a riqueza que é
socialmente produzida é apropriada pela minoria, contradição que é inerente e criada pelo modo
de produção capitalista.

Toda e qualquer medida tomada dentro do modo de produção capitalista jamais poderá suprimir
a questão social, pois a mesma é inerente a essa ordem, fazendo com que o pensamento e a
teoria de Castel seja altamente questionável, pois o autor não observa a questão social e o modo
de produção capitalista como duas coisas que nunca veremos separadamente.

7- Disserte sobre a possibilidade, ou impossibilidade, de existir uma “nova Questão Social”


e sobre a frase “A ‘questão social’ é constitutiva do capitalismo: não se suprime aquela se
este se conservar” (NETTO, 2010).

Com base nos textos lidos não somente nesta disciplina, mas também ao longo do nosso
processo de formação, pudemos perceber que o debate sobre a possibilidade da existência de
uma nova questão social se torna cada vez mais importante, pois muitas confusões podem ser
feitas em relação as teorias dos diversos autores.

Compactuamos com a teoria de Marx, que sem dúvida mesmo depois de muitos anos se torna
cada vez mais contemporânea e nos faz ter a clara certeza de que a possibilidade de existência
de uma nova questão social é remota.

Com a maior aproximação dos textos de Castel, pudemos comprovar várias falhas em sua teoria
o que reafirma ainda mais a veracidade da teoria de Marx.

O modo de produção capitalista se configura como aquele que expropria, explora, cerceia
direitos e faz com que toda a sociedade esteja imersa em uma lógica cruel onde não podemos
vislumbrar uma saída enquanto ele existir.

A frase do Netto nos diz tudo o que precisamos saber para poder ter a certeza de que a nova
questão social não passa de uma falácia, pois a questão social e o capitalismo andam juntos
nessa sociedade injusta que tem a intenção de nos fazer acreditar que a pobreza atual sempre
existiu e que não foi construída por esse modo de produção. Então não poderemos ver a questão
social ser suprimida sem que o capitalismo seja também extinto.

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