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Guia Aves Do Litoral Compressed
Guia Aves Do Litoral Compressed
GUIA FOTOGRÁFICO
AVES DO LITORAL DO RIO GRANDE DO SUL
EXPOSIÇÃO TEMPORÁRIA
GUIA FOTOGRÁFICO
Alice Pereira
IMBÉ/RS 2018
REALIZAÇÃO
APRESENTAÇÃO
O Museu de Ciências Naturais da Universidade Federal do Rio
costeiros e marinhos.
bico pequeno. No ar, no mar, na terra. Por onde quer que andemos
Boa leitura!
Revisores
Aline Portella Fernandes
Daniela Martins
Ismael Cabral
Maurício Tavares
Fotografias
Alexandre Azevedo
Alice Pereira
Daniela Martins
Maurício Tavares
Diagramação
Lucas Antonio Morates
A ZONA COSTEIRA
RIO GRANDE DO SUL
A zona costeira do Rio Grande do Sul estende-se A zona urbana está invariavelmente sobre os campos
YROTS ERUTAEF
desde Torres até a Barra do Chuí, totalizando 620 km, e de dunas, estendendo-se até as margens de lagunas
em alguns setores, pode alcançar mais de 100 km de ou sobre as dunas frontais. As lagoas são margeadas
largura (1). A região costeira é contínua lateralmente, por banhados e marismas, que também podem
retilínea e influenciada por ventos dos quadrantes SO- ocorrer nos campos de dunas em períodos de alta
NE, sendo também sua característica uma costa aberta precipitação (3, 4, 5). As dunas móveis não são
e dominada pela ação das ondas (2). Além disso, a vegetadas e são constantemente modificadas pelo
região apresenta um complexo sistema do tipo laguna- regime de ventos ao longo do ano (6). Os ventos de
barreira, em que barreiras arenosas aprisionam corpos sudeste no inverno e nor-deste no verão controlam o
lagunares de tamanhos variados. Esses corpos d'água perfil da costa, bem como os alagamentos nas margens
podem estar isolados ou conectados por canais entre si, das lagoas.
e formam uma bacia hidrográfica que se conecta com o Esse ambiente entre a face praial e a lagoa é rico
A planície costeira do RS é formada por um mosaico rece alimento e lugares ideais para ninhos e tocas
de ambientes composto por praias arenosas, lagoas, de aves, pequenos mamíferos, serpentes e lagartos e
lagunas, marismas, banhados, campos, dunas, e matas outros. Além do mais, os corpos d’água temporários
de restinga (3). No entanto, esta disposição do ambi- abrigam peixes sazonais e uma ampla diversidade de
ente costeiro é, em muitos locais, interrompida devido à anfíbios (4), o que também atrai uma ampla diversi-
Lagoa do Rincão
Campos Arenosos
Oceano
Atlântico
YROTS ERUTAEF
nosso Estado, o Rio Grande do Sul está inserido abundância de nutrientes alimenta uma intrinca-
na Plataforma Sul. Esta região compreende a da teia trófica durante todo ano. Os índices de
porção continental entre o Cabo de Santa Marta, clorofila que identificam a abundância do fito-
no Estado de Santa Catarina (SC), e o Chuí (RS). plâncton são elevados durante o final de inverno
Plataforma Sul estende-se mar adentro até o mais alta nas águas costeiras durante o verão e
limite de 200 m de profundidade, o que se dá nas águas oceânicas durante o inverno (9). Esses
entre 120-200 km de distância da costa (7). As organismos sustentam uma grande biomassa de
águas costeiras e oceânicas dessa unidade são peixes, o que pode ser observado na abundância
influenciadas pela confluência da Corrente Marí- de pescarias que ocorrem no RS, um importante
tima do Brasil, vinda do nordeste do país, e das polo pesqueiro no Brasil. A alta produtividade
Malvinas, vinda do sul da América do Sul. A biológica na Plataforma Sul, devido às caracterís-
primeira é uma massa de águas tropicais e a ticas oceanográficas descritas, torna-se impor-
segunda de águas subantárticas, e a resultante tante área de alimentação para diversos orga-
de sua convergência são águas ricas em nutrien- nismos, entre eles as aves marinhas (10, 11, 12).
Corrente do Brasil
.
Corrente das Malvinas
Imagem Google Maps, 2018.
AVES
MARINHAS
São todas aquelas que dependem do am- Algumas das adaptações cruciais das aves
biente marinho para alimentação, e devido ao alto para sobreviver neste ambiente inóspito são:
nível de adaptação para esse ambiente, não so- a) Ponta do bico em a forma de gancho que possi-
breviveriam longe dele. Passam a maior parte da bilita a captura de presas rápidas e lisas, como pei-
cendo em terra firme apenas no período reprodu- b)Glândulas de sal que retiram o excesso de cloreto
tivo. Quase todas as aves marinhas reproduzem-se de sódio do sangue. Essas glândulas situam-se em
em ilhas oceânicas ou costeiras. Raras exceções uma cavidade entalhada no crânio e posicionada so-
como os pinguins reproduzem em faixas costeiras bre cada órbita. O sal ingerido via alimentação é
desabitadas. A reprodução ocorre apenas uma excretado em forma de solução concentrada pelas
é bianual. O casal formado pode se repetir por c) As patas são palmadas , ou seja, possuem uma
toda vida dos indivíduos, ou no mínimo por toda a membrana entre os três dígitos anteriores. Elas exer-
estação reprodutiva. O cuidado parental pelo ca- cem função de remo, auxiliando na natação, na de-
sal é fundamental para garantir a sobrevivência colagem e no pouso dessas aves no mar.
cil aceso e diversos predadores. Em geral, geram durante o voo. Em oceano aberto e também nas bor-
apenas um filhote em cada estação. Algumas das das ilhas predominam ventos fortes e constantes
espécies colocam um ovo a mais, chamado de que servem de “combustível” para o voo dessas aves.
"ovo de segurança", porém dificilmente conse- Ao invés de baterem asas constantemente, os alba-
guem sustentar dois filhotes. A reprodução se da trozes, pardelas e petréis planam nessas correntes
na primavera/verão, de acordo com o hemisfério de vento. Os pinguins são aves exclusivamente mer-
subantárticas do Arquipélago de
O albatroz-de-sobrancelha pode
Também apresenta diferentes
acasalar.
Indivíduo adulto
Possui plumagem diferenciada
massa corporal.
longevas.
Pinguim-de-Magalhães
Spheniscus magellanicus
Foto: Ignacio Benites Moreno
Bobo-pequeno
Puffinus puffinus
crustáceos.
Charadriiformes. Nidificam em praias arenosas de alimento nos locais onde essas aves
próxima à lagos, lagoas e rios interioranos (16, das regiões austrais e boreais os impulsiona
ções longas, em sua maioria, são oriundas do similares são abundantes. Assim, uma grande
Hemisfério Norte, onde nidificam na região jornada se dá, sincronizada com cada pico
da tundra ártica. Algumas espécies são oriun- de abundância de presas em seus locais de
por que essas aves, em geral, tão pequenas Existem espécies de aves limícolas re-
zem?
Batuíra-de-bando
Charadrius semipalmatus
goa do Peixe, no litoral médio do Rio Grande do Sul, em abril registrou 767 indivíduos (19).
Chegam a América do Sul a partir de setembro e a preparação para o retorno aos sítios
reprodutivos começa em março e dura até maio, quando essas aves deixam o continente
sul-americano. Alguns indivíduos podem ser vistos durante o restante do ano, esperando o
patas semipalmadas, ou seja separadas parcialmente por uma membrana de pele entre os
restante é todo negro. Durante esse período, a porção branca da testa e fronte é mais
estreita, dando lugar a um margeado negro acima do bico, na testa e olho. Os indivíduos
fora do período reprodutivo têm bico acinzentado e a fronte com uma larga área branca.
A plumagem do dorso e peito é similar à reprodutiva, mas em geral, menos viva e mais
Esta batuíra é residente e reproduz-se nas dunas costeiras ao longo da costa do RS.
O pico de abundância desses indivíduos na beira da praia é entre abril e maio, quando
um colar negro no peito, mas diferente da batuíra de bando, esse colar não se com-
pleta no dorso. A fronte é branca e a testa possui uma larga banda negra, também di-
dos, sem qualquer traço de cor negra no colar e na testa. Mede 15 cm.
Maçarico-branco
Calidris alba
É uma das espécies mais abundantes no Brasil em seu período migratório. Fedrizzi
(2008) registrou 7.000 indivíduos em abril do Arroio Chuí a Mostardas, no RS. Em dezem-
bro, durante a migração para o sul da América do Sul, foi o mais abundante na Lagoa do
Peixe, sendo registrados 4.000 indivíduos. Nidifica em áreas ao longo do Círculo Polar
Fogo, extremo sul da América do Sul. A reprodução ocorre em junho, e em agosto já po-
quando em fase de engorda. A plumagem não reprodutiva é marcada pelo dorso acin-
zentado com porções pardas, peito e ventre brancos. Quando reprodutivo, o maçarico-
Migrante do Hemisfério Norte, o RS faz parte do limite meridional de sua área de mi-
cendo no Rio Grande do Sul a partir de agosto e voltando para o Canadá a partir de
março. No entanto, alguns indivíduos podem permanecer nos locais de invernada o ano
todo. Costuma permanecer bastante tempo junto aos sangradouros que desembocam
na beira da praia. Mede entre 29 e 33 cm. Pode ser confundido com o maçarico-de-
Foto: Maurício Tavares (esq.) e Alice Pereira (dir.)
perna-amarela (Tringa flavipes) ao primeiro olhar, no entanto este último é menor, entre
23 e 25 cm de comprimento.
Batuíra-de-peito-tijolo
Charadrius modestus
na porção arenosa da face praial. Migram dos locais reprodutivos como Terra
cm.
Maçarico-de-sobre-branco
Calidris fuscicollis
RS, meses em que se desloca para o sul da América do Sul e passa pelo RS retornando
registrou o pico de 14.000 indivíduos em novembro e pouco mais de 8.000 em abril. Nidifi-
principal deste maçarico é a faixa branca na região do uropígio (acima da cauda), que
pode ser vista quando a ave alça voo. Apresenta também uma faixa branca acima do
supercílio, ventre branco e peito manchado de marrom. Dorso amarronzado, pés e bico
Foto: Maurício Tavares
pretos. Indivíduos não reprodutivos exibem plumagem similar, porém mais pálida e
sua parada anual na Baía de Delaware, 18 cm. Seu peso é variável, dependendo do
Estados Unidos. O que eles descobriram foi estado corporal ao longo migração. Pode
dados revelaram que durante a migração quando se dirigem para passar o inverno no
para o sul, tempestades tropicais forçaram extremo sul da Argentina; e entre fevereiro
as aves a tomarem rotas mais distantes. O e abril, quando voltam para suas áreas
energia para seguirem sua jornada. Um dos Para esta ave, o RS serve como área de
mento no número e na intensidade de tem- tada) para a pré-nupcial, com seu alaran-
para o termo "ave costeira". As aves limícolas po- gressivamente se torna urbano, algumas dessas
dem ser consideradas aves costeiras e algumas aves se adaptaram a essa mudança. Espécies
aves consideradas marinhas também podem ser oportunistas como garças e gaivotas aproveitam
tidas como costeiras. Para este guia, considera- resíduos deixados pelos humanos nas praias. A
mos como aves costeiras todas aquelas que vemos pesca artesanal e esportiva é um prato cheio para
com frequência utilizando a faixa de praia ou am- os biguás, gaivotas, garças e savacus. Essas aves
bientes associados. Neste sentido, reunimos as permanecem de tocaia junto aos pescadores
garças, savacus e socós (Pelecaniformes), o cabe- esperando algum peixe por ventura deixado de lado
mes) e também os Charadriiformes como o per- reúne de maneira especial diferentes aves costeiras.
nilongo-de-costas-brancas, o piru-piru, o talha- Podem ser vistas ali comumente as garças, gaivotas,
O que estas aves, embora morfologicamente com os pescadores, como também diferentes espé-
distintas, tem em comum? Elas encontram na re- cies de trinta-réis, mergulhando feito um pequeno
gião costeira, seja na face praial, seja nas lagoas torpedo em busca de pequenos peixes, e grupos de
e campos de dunas, alimento abundante, locais talha-mar cortando a superfície da água com seus
Foto: Alice Pereira Ocorrem em lagoas, lagos, estuários e também no mar esporadi-
nte. Este hábito é comum para que após a natação sequem suas
Indivíduo jovem
dedos das patas são extremamente alongados, o que permite que essa ave caminhe sobre a
água. Nesse ambiente busca por insetos, pequenos peixes, moluscos e sementes. O indivíduo
jovem (foto acima) difere do adulto, que exibe a cabeça, o pescoço, o peito e o ventre
negros. O dorso e as penas do dorso da asa (coberteiras) são de cor castanha, mas as penas
de voo (rêmiges) são amarelo-pálidas, sendo vistas quando a ave abre suas asas para alçar
voo. Possui um esporão em cada asa para a sua defesa, assim como os populares quero-
Indivíduo jovem
reprodutivo as cores se apresentam ainda mais vivas. O indivíduo jovem tem coloração similar
Visita solos recém arados em busca de minhocas e outros invertebrados. Nos terrenos alaga-
diços captura anfíbios, pequenos peixes e insetos. Pode alimentar-se de cobras e roedores
também. O nome desta ave em inglês é whistling heron, traduzindo perfeitamente o seu
canto característico, similar a um melodioso assobio. O seu canto é bastante diferente das
demais garças. Sick (2001) detalha que no seu voo, a maria-faceira encolhe menos o pesco-
Indivíduo jovem
Foto: Ignacio Benites Moreno
Indivíduo adulto
É uma ave muito comum em todo o litoral do RS, sendo a gaivota
Pode ser vista o ano todo, entretanto, grandes bandos são mais co-
Foto: Daniela Martins ilhas da região sul-sudeste do Brasil (e.g. Santa Catarina) são mais
Foto: Alice Pereira desloca-se em bandos cruzando os céus, muitas vezes é confundido
espécie migratória no RS, proveniente de outros países do norte da América do Sul como de outros
estados brasileiros. Nidifica em ilhas costeiras em Santa Catarina e Espírito Santo, entre maio e
setembro. Este trinta-réis em seu período reprodutivo exibe toda a cabeça negra. A medida que vai
saindo do período reprodutivo, a fronte vai tornando-se paulatinamente branca e assim permanece
pode mostrar-se todo amarelo, manchado de negro (foto acima) e quase todo negro com
pequenas porções amareladas. É característico o seu topete nucal, muitas vezes arrepiado. Não é
O talha-mar é conhecido pela sua singular adaptação: o bico. A ranfoteca mandibular é mais
longa que a maxilar, além de ambas as porções serem extremamente comprimidas lateralmente.
Assim, a ave sobrevoa rente à superfície da água, enquanto "corta" a água com seu bico. Ao
encontrar uma presa próxima à superfície, a ave pinça-a. O bico é rico em enervações, o que
possibilita-a pelo tato identificar a sua presa. Alimenta-se de peixes e camarões, geralmente à
noite e no crepúsculo. Tão extrema é esta adaptação que o talha-mar não poderia alimentar-se de
outra forma, por exemplo escavando o solo. Nidifica em pequenos buracos escavados na areia, na
Amazônia, região Centro-Oeste e também no RS. O comprimento médio é de 50 cm, exibe asas
longas e estreitas, e sua cauda é bifurcada e as pernas são curtas com pés palmados. Grandes
bandos podem ser vistos na Lagoa do Peixe no verão, bem como nas desembocaduras de sangra-
Esta ave é muito comum à beira mar, como também em estuários e manguezais. Frequenta tam-
bém alagados interioranos. É bem menor que a espécie anterior, por isso muitas vezes é confundida
como “filhote” da garça-branca-grande (Ardea alba). O bico e as pernas são pretos e patas amare-
las. Também forma as egretas no período reprodutivo. Ao contrário de outras aves que utilizam a
glândula uropigial para espalhar o óleo que impermeabiliza suas penas, as garças impermeabilizam-
se com um pó liberado por plumas localizadas nas laterais do corpo. Alimenta-se de peixes, crustá-
ceos, insetos, anfíbios e répteis. Pescam utilizando o balançar da pata dentro d’água como isca, re-
volvendo uma pequena quantidade de substrato de fundo e confundindo os curiosos peixes que se
aproximam. Seu comprimento médio é de 54 cm, seus ninhos são construídos em arbustos próximos à
Indivíduo adulto
i n c l u i n d o regiões metropolitanas e m q u e v i v e m m i l h õ e s
de pessoas.
PESCA
capturá-las, algumas artes de pesca oferecem risco de captura para as aves marinhas. Pedaços
incidental. No caso da pesca de espinhel pelágico, as iscas são de rede, linhas, chumbadas e
colocadas em um grande número de anzóis enfileirados em uma anzóis dispersos no ambiente são
linha longa, rente à superfície do mar. A isca atrai não só os potencialmente danosos quando
no mínimo 160.000 aves marinhas são vítimas de captura chance de capturá-la. Entretanto,
aves são destruídos devido à urbanização crescente, tomando conta de campos de dunas, margem de
aves dependentes de zonas úmidas. O trânsito constante de veículos na beira da praia, além de trazer
contaminação por combustível, pode ocasionar o atropelamento de aves e seus filhotes. Outro problema
associado aos carros na praia é a compactação do sedimento, onde estão enterradas suas presas, e a
diminuição do tempo de alimentação por espécies de aves migratórias que têm um cronograma migratório
bem definido. Não acumular gordura suficiente a tempo pode causar mortalidade entre pontos de parada.
As aves marinhas também sofrem com a destruição dos locais onde se reproduzem, seja pelo aporte
de resíduos plásticos trazidos pelas correntes oceânicas, seja pela invasão de espécies exóticas ao local,
como ratos, gatos e cães, principalmente. Esses animais exóticos invasores predam ovos e filhotes de aves
exótica também é impactante num ambiente fechado como é o caso das ilhas oceânicas. A mudança do
substrato vegetal ou a falta dele prejudica a nidificação (21). O problema com espécies não-nativas e
animais domésticos, não é exclusivo das ilhas oceânicas, ocorrendo na zona costeira de forma mais
profusa.
As aves limícolas sofrem com a degradação de seus pontos de descanso durante a migração. A de-
gradação desses locais está levando a diminuição de suas presas (16). Essas presas, os pequenos inverte-
brados que estão enterrados na areia são sensíveis ao pisoteio. Além disso, tanto limícolas como outras
aves costeiras que se alimentam em banhados e sangradouros contaminados por esgoto estão sujeitas à
doenças causadas por diversos patógenos presentes no ambiente contaminado. Zonas mortas também são
mais uma ameaça, somada a eutrofização dos corpos d'água por efluentes domésticos, depleção de
snitraM aleinaD :otoF
OS RESÍDUOS
SÓLIDOS URBANOS
A Lei 12.305/10 institui a Política Nacional dos Resíduos Sólidos. Esta lei, se cumprida em sua inte-
gralidade, garantiria a resolução de muitos dos problemas ambientais que o país enfrenta hoje, principal-
mente na disposição, destinação, reciclagem, reaproveitamento e redução dos resíduos sólidos no Brasil.
maior parte dos resíduos dispersos nos mares são de origem continental. O resíduo abandonado na praia
pelos banhistas e pelos comerciantes, o saco de lixo rasgado em ruas próximas à beira-mar, o descarte de
construção, e outros, sem exceção, é trabalhado pela ação dos ventos, do clima e das ondas. O saco
plástico que está preso em uma camada de areia em uma duna frontal pode chegar ao mar no momento
em que uma tempestade faz o mar subir e erodir essa duna. Esse saco poderá ser levado de volta à beira
da praia, mas também poderá vagar pelo oceano sendo degradado em pequenos pedaços. Esse
"microlixo" é facilmente engolido por peixes, que serão consumidos pelas aves (22). As aves limícolas, por
exemplo, ingerem as pequenas partículas de resíduos, sobretudo plástico, ao buscarem suas presas
enterradas na areia.
Aves curiosas e famintas consomem resíduos diretamente, desde bitucas de cigarro a bexigas de festa
de criança. O documentário intitulado "Midway" é bastante ilustrativo acerca da situação dos resíduos no
ambiente marinho. Este filme, de Chris Jordan, mostra que mesmo nas ilhas mais distantes dos continentes
o ambiente é afetado pelos resíduos urbanos trazidos transportados pelas correntes oceânicas.
O resíduo que impacta o ambiente marinho e costeiro também pode ser descartado no mar por em-
barcações ou ser perdido "por acidente" durante o transporte de mercadorias. Este é o caso dos pellets
(terceira foto à direita). Os pellets são esférulas poliméricas utilizadas como matéria-prima na fabricação
de itens plásticos. Navios carregados dessas minúsculas esférulas as perdem durante o transporte, e não é
raro observar os pellets aglomerados na beira da praia, delineando o contorno da onda na areia. A
ingestão de resíduos plásticos causa inúmeros problemas como inanição, constipação, alterações hormo-
(25).
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v. 72, p. 40-45.
AVES DO LITORAL DO RIO
GRANDE DO SUL
2018
Ficha Técnica
Rui Vicente Opperman
Reitor
Diretora do CECLIMAR
Coordenador do Mucin
Museóloga
Alice Pereira
Curadoria/Taxidermias
Equipe Mucin
Maurício Tavares
AGRADECIMENTOS