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CURSO EXTENSIVO
Direito Administrativo
Organização administrativa
MATERIAL DE APOIO
coordenador:
Nos tempos atuais, a forma de Estado Brasileiro é FEDERATIVO, de acordo com previsão
expressa do artigo 1º Caput da Constituição da República Federativa do Brasil.
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos: (...)
A adoção dessa forma de Estado implica na ideia de que, ao lado do poder central e
soberano, vicejam entidades políticas internas componentes do sistema, as quais tem competências
específicas atribuídas precipuamente pela Constituição Federal.
CELSO RIBEIRO BASTOS1 observa que a Federação, como forma de Estado, “foi a forma
mais imaginosa já inventada pelo homem para permitir a conjugação das vantagens da autonomia
política com aquelas outras defluentes da existência de um poder central". Ou seja, na Federação se
conjugam de um lado o poder central e soberano e de outro as partes componentes da capacidade 1
política derivada do processo de descentralização.
Decorre dessa forma de Estado o princípio da autonomia de seus entes, que integram a
chamada organização político-administrativa do Estado. A autonomia é que atribui aos entes da
Federação os poderes de autoconstituição, autogoverno, autolegislação e autoadministração.
Dentro dos poderes que decorrem da autonomia, por conta da sua pertinência com o tema
em estudo neste momento, destaca-se o poder de AUTOADMINISTRAÇÃO dos entes federados.
Este poder é definido como a capacidade que as unidades autônomas têm de organizar e
manter as suas próprias atividades estatais. Tal poder (ou capacidade), está prevista nos artigos 25
e seguintes do texto constitucional, garantido a possibilidade de que estes entes se estruturem da
forma que entenderem mais conveniente para a execução das suas atividades, desde que
respeitados os limites impostos pela Constituição Federal. É importante destacar, também, que os
entes autônomos, tendo em vista a sua capacidade de autoadministração, tem liberdade para definir
a sua organização, promovendo a desconcentração e a descentralização administrativa, criando
órgãos e pessoas jurídicas para melhor desenvolver as suas atividades, tendo sempre como
balizamento o previsto no texto constitucional.
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2. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Em razão disso, para que haja um ganho em precisão, é recomendável dividir a definição sob
duas óticas: dos executores da atividade e da própria atividade em si.
A atividade administrativa pode ser prestada de diversas formas pelo Estado. Este pode
prestar por si mesmo as atividades administrativas que lhe cabem ou pode desempenhá-la por meio
de outros sujeitos, pessoas jurídicas que são criadas pelo Estado para executar atividades delegadas
por este.
Para o desempenho de suas atribuições o Estado adota duas formas básicas de organização
e atuação administrativa:
3.1. CENTRALIZAÇÃO
É muito comum o uso do termo desconcentração para designar este fenômeno. Os grandes
exemplos são os Ministérios, órgãos da União que desenvolvem a atividade administrativa de forma
especializada.
Celso Antônio Bandeira de Mello assim diz sobre a atividade administrativa centralizada:
“Diz-se que a atividade administrativa é centralizada quando é exercida pelo próprio Estado,
ou seja, pelo conjunto orgânico que compõe a sua intimidade”.
Cabe frisar que algumas funções públicas, por conta de sua relevância, têm referência
constitucional determinando seu exercício de forma centralizada. Isso se vê no artigo 37, XXII da
CRFB, referente à administração tributária:
3.2. DESCENTRALIZAÇÃO
Territorial ou Geográfica. 4
ATENÇÃO: a terminologia aqui utilizada não é uniforme, mas é a adotada pela maioria da doutrina
nacional. Alguns utilizam “delegação legal” (outorga) e “delegação negocial” (delegação).
A descentralização será feita por outorga quando o Estado criar uma entidade administrativa
(pessoa jurídica) e a ela transferir determinado serviço público, sendo fundamental neste caso a
edição de uma lei que crie ou autorize a criação desse ente administrativo, sendo, em geral, seu
prazo indeterminado. Neste caso há a transferência da execução e da titularidade de determinado
serviço público.
É pacífico na doutrina que a titularidade dos serviços e atividades pública não pode ser
transferido pelo Estado, só podendo ser conferidos a pessoas da Administração Indireta
(descentralização administrativa). Neste ponto, há uma controvérsia sobre se a outorga pode ser
feita para todas as pessoas da Administração Indireta ou somente para as pessoas da Administração
Indireta sujeitas a regime de direito público. Predomina a segunda corrente.
Exemplo: quando o estado edita uma lei criando uma autarquia e transfere para esta pessoa
jurídica o exercício e a titularidade de um serviço público educacional. Ou, ainda, a criação, no
âmbito da União, do IBAMA, para tratar de questões ambientais que antes eram de
competência do Ministério do Meio Ambiente.
Por sua vez, a descentralização será feita por delegação quando o Estado transferir a
execução de determinado serviço público à pessoa jurídica de direito privado previamente existente.
O Estado conserva consigo a titularidade do serviço, podendo dispor sobre ele de acordo com o
interesse público.
Percebam a diferença: neste caso o Estado não cria uma entidade administrativa que vai
integrar a Administração Indireta, mas apenas transfere para o particular a execução de algum
serviço público.
C. DESCENTRALIZAÇÃO TERRITORIAL
Esta forma de descentralização, no Brasil, só desperta interesse acadêmico, dado que não
existe nenhum território criado nos moldes aqui estudados.
4 Que não se confunde com a autotutela, estudada no âmbito dos Poderes da Administração ou dos
“A expressão Administração Direta foi usada para referir os entes instituídos diretamente
pela Nação, por ocasião do exercício do poder constituinte originário. A sede jurídica desses
entes é a própria Constituição”.
Cabe ressaltar que os entes que compõe a Administração Pública Direta, por serem pessoas
jurídicas de direito público, estão sujeitos às prerrogativas e obrigações inerentes a esse regime, o
que é extensível às suas estruturas internas, isto é, aos seus órgãos.
José dos Santos Carvalho Filho: “O compartimento da estrutura estatal a que são cometidas
funções determinadas, sendo integrado por agentes que, quando as executam, manifestam a própria
vontade do Estado”.
Hely Lopes Meireles: “Órgãos Públicos são centros de competência instituídos para o desempenho
de funções estatais, através de seus agentes, cuja atuação é imputada à pessoa jurídica a que
pertence”.
Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo: “Unidades integrantes da estrutura de uma mesma pessoa
jurídica nas quais são agrupadas competências a serem exercidas por meio de agentes públicos.
Como se vê os órgãos são conjuntos de competências, sem personalidade jurídica própria; são
resultado da técnica da organização administrativa conhecida como desconcentração”.
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Além dessa conceituação doutrinária, a Lei 9.784/99 (Processo Administrativo Federal) traz
um conceito legal de Órgão (Art. 1º, §2º, I):
Art. 1º, §2º, I - órgão - a unidade de atuação integrante da estrutura da Administração direta
e da estrutura da Administração indireta”.
b) Emprêsas Públicas;
d) fundações públicas.
Cabe salientar que, embora seja comum definir a Administração Indireta como um conjunto
de pessoas jurídicas às quais se atribui competência para o exercício descentralizado de funções
administrativas, a verdade é que também é possível a criação de Sociedades de Economia Mista ou
Empresas Públicas com a finalidade de exploração da atividade econômica e não a prestação de
serviços públicos, desde que preenchidos os requisitos previstos no artigo 173 da CRFB.
Para a criação dessas pessoas jurídicas é necessário que haja previsão legal, nos termos
do artigo 37, XIX da Constituição: “somente por lei específica poderá ser criada autarquia e
autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação,
cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua atuação”.
A espécie legislativa é a lei ordinária. Perceba a diferença das autarquias (essa criada por
lei), para as demais (criação autorizada por lei). A diferença nesse caso é que a autarquia já existe
com a edição da lei e as demais pessoas jurídicas passam a existir com o registro dos atos
constitutivos no órgão competente (cartório ou junta comercial). Note também que a lei que dispuser
sobre essas entidades deve ser específica para isso não podendo tratar de outros temas, sob pena
de inconstitucionalidade deste ato legislativo.
A lei específica que cria ou autoriza a criação, extinga ou autorize a extinção de uma entidade
da administração indireta vinculada ao poder executivo é de iniciativa do Chefe deste poder.
A previsão da reserva da iniciativa, para a esfera federal, está prevista no artigo 61, §1º, II, ‘e’
do texto constitucional:
ii - disponham sobre:
Não obstante a CF só fale em ministério e órgãos, é preciso entender que o termo órgãos foi
usado em sentido amplo ou mesmo atécnico, estando englobada qualquer estrutura organizacional.
Assim entendeu o STF:
“Ação direta de inconstitucionalidade. Lei alagona 6.153, de 11-5-2000, que cria o programa
de leitura de jornais e periódicos em sala de aula, a ser cumprido pelas escolas da rede
oficial e particular do Estado de Alagoas. Iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo
estadual para legislar sobre organização administrativa no âmbito do Estado. Lei de
iniciativa parlamentar que afronta o art. 61, § 1º, II, e, da CR, ao alterar a atribuição da 9
Secretaria de Educação do Estado de Alagoas. Princípio da simetria federativa de
competências. Iniciativa louvável do legislador alagoano que não retira o vício formal de
iniciativa legislativa.” (ADI 2.329, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 14-4-2010,
Plenário, DJE de 25-6-2010.)
Para a extinção da entidade da Administração Indireta, por paralelismo de formas com a sua
forma de criação, é exigido lei, seja para extinguir ou autorizar a extinção.
Essas pessoas jurídicas não podem ter fins lucrativos, visto que foram criadas para a
realização do interesse público, inclusive quando forem exploradoras da atividade econômica. Não
obstante a isso elas podem auferir lucro, mas não foram criadas com esse objetivo principal.
A criação dessas pessoas jurídicas ocorre para o desempenho de uma atividade específica,
prevista na lei que a criou ou autorizou a sua criação.
Essas entidades estão sujeitas a controle (não há subordinação), sendo este tanto interno
(realizado pela Administração Direta), quanto um controle externo (por pessoas estranhas a sua
estrutura), tendo como objetivo assegurar o cumprimento dos objetivos fixados nos atos de criação,
zelar pela eficiência administrativa e pela autonomia técnica, operacional, administrativa e financeira.
A. AUTARQUIAS
As autarquias são pessoas jurídicas de direito público (entidades administrativas autônomas),
criadas por lei, dotadas de personalidade jurídica de direito público, patrimônio próprio, que
desenvolvem atividades administrativas típicas de Estado nos exatos limites que a lei que a criou
estipular.
Não são subordinadas a nenhum órgão da Administração Direta, estando a ela vinculadas ,
possuindo direitos e obrigações diversas das do Estado.
“Autarquia é a Pessoa Jurídica de Direito Público, criada por lei, com capacidade de
autoadministração, para o desempenho de serviço público descentralizado, mediante
controle administrativo exercido nos limites da lei”.
O legislador ordinário, por sua vez, definiu o que vem a ser esta entidade jurídica, deixando
claro que ela faz parte da Administração Indireta do Estado e possui personalidade jurídica de direito
público.
Decreto-Lei 200/67:
Autarquias”;
I - Autarquia - o serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e
receita próprios, para executar atividades típicas da Administração Pública, que requeiram,
para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada”.
Decreto-Lei 6.016/43:
“Art. 2º Considera-se autarquia, para efeito dêste decreto-lei, o serviço estatal
descentralizado, com personalidade de direito público, explícita ou implicitamente
reconhecida por lei”.
Criação e Extinção:
As autarquias somente são criadas por lei ordinária específica (art. 37, XIX da
Constituição). A lei que criar a autarquia deverá ser específica para este fim, sendo a mesma de
iniciativa privativa do Presidente da República (art. 61, §1º, II, ‘e’ da Constituição).
A extinção das autarquias deve ser feito de igual modo, ou seja, deve haver uma lei que
extinga a pessoa jurídica de direito público, em atenção à simetria das formas jurídicas.
Natureza Jurídica:
A personalidade jurídica da Autarquia inicia-se com a vigência da lei que a institui, sendo
dispensável qualquer ato posterior, tal qual o registro ou inscrição de atos constitutivos, sendo normal
que seja editado um ato infralegal (em regra Decreto) que disponha sobre a organização da
Autarquia.
Patrimônio:
Extinta a autarquia, todo o seu patrimônio é reincorporado ao ativo da pessoa política a que
ela pertencia.
Atos e Contratos:
Como são pessoas jurídicas de direito público, as suas relações jurídicas com terceiros têm
tratamento equivalente ao das entidades da Administração Direta.
No que tange aos seus atos praticados, esses são considerados atos administrativos.
De acordo com o Decreto-Lei 200, a Autarquia tem a finalidade de executar atividades típicas
da administração pública. A intenção do legislador foi a de entregar às Autarquias a prestação de
serviços públicos em sentido amplo com todas as prerrogativas públicas, fazendo-o de forma
especializada.
Prevalece na doutrina que o escopo do legislador ao criar as autarquias foi atribuir a elas
serviços públicos e atividades de natureza social, excluindo a realização de atividades de natureza
econômica.
São exemplos de Autarquias: INSS – Instituto Nacional do Seguro Social, BACEN – Banco 12
Central do Brasil e CVM – Comissão de Valores Mobiliários
Em regra, o Estado não responde diretamente pelos atos das autarquias. Entretanto, admite-
se que o Estado responda de forma subsidiária caso a autarquia não tenha patrimônio suficiente para
responder pelos danos causados. Veja decisão do STJ:
III. "Nos termos da jurisprudência sedimentada nesta e. Corte, é vedado, em sede de agravo
regimental, ampliar a quaestio trazida à baila no recurso, colacionando razões não
suscitadas anteriormente" (STJ, AgRg no RE nos EDcl no AgRg no REsp 660.800/AL, Rel.
Ministro FELIX FISCHER, CORTE ESPECIAL, DJe de 01/02/2011).
O regime de pessoal para aqueles que atuam em autarquias é o mesmo aplicável aos entes
da Administração Direta que os criou, sendo estes considerados agentes públicos na categoria de
servidores públicos.
Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito de sua
competência, regime jurídico único e planos de carreira para os servidores da
administração pública direta, das autarquias e das fundações públicas.
Os agentes públicos integrantes das Autarquias, como todos servidores públicos, se sujeitam
a regras como: exigência de concurso público, proibição de acumulação, regime especial de
aposentadoria, teto remuneratório, entre outras situações.
- Prazos Diferenciados: prazo em dobro para se manifestar (art. 183 do CPC e art. 10 da
Lei 9.469/97);
- Isenção de custas judiciais (Lei 9.289/96, art. 4º, I), não abrangendo o reembolso das
despesas judiciais feitas pela parte autora;
- Dispensa de depósito prévio para interposição de recurso (Lei 9.494/97, art. 1-A);
- Duplo grau de jurisdição obrigatório nos casos de sentença contrária ou que julgar
procedente os embargos à execução de dívida ativa da Fazenda Pública (art. 496, I, do CPC e Art.
2º, §1º da Lei 6.830)
No seu artigo 150, §2º a Constituição garantiu às autarquias a chamada imunidade tributária
recíproca, vedando a instituição de impostos sobre o seu patrimônio, a sua renda e os serviços que
elas prestarem, desde que os mesmos estejam vinculados a suas finalidades essenciais. 14
O STF tem jurisprudência que amplia a imunidade recíproca para alcançar também a
exploração de atividades estranhas aos fins da autarquia, desde que a renda que decorra desta
exploração seja revertida para a manutenção de atividades ligadas às finalidades essenciais do ente.
4. Assim sendo, seja por prescindir de fundamento não atacado (ensejando a aplicação
analógica da Súmula 283 do STF), seja porque os dispositivos apontados como violados
não contêm comando capaz de infirmar os fundamentos do acórdão recorrido (dando azo
à aplicação analógica da Súmula 284 do STF), não merece conhecimento o Recurso
Especial.
(STJ - REsp 1204680/RJ - Relator(a) Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI - Órgão Julgador
PRIMEIRA TURMA - Data do Julgamento 19/05/2011)
B. EMPRESAS ESTATAIS
Não obstante a isso a doutrina amplamente majoritária (Celso Antônio Bandeira de Melo,
Geraldo Ataliba, Marcelo Alexandrino) e a jurisprudência atual (STF AI 651512 AgR-ED / RS e RE
605908 AgR / RJ) entendem que essas entidades podem dedicar-se à exploração de atividade 16
econômica em sentido estrito ou à prestação de serviços públicos.
As prestadoras de serviço público (regidas pelo art. 175 da Constituição), sendo a sua atividade
regida essencialmente pelo direito público.
B1. CONCEITO
A Empresa Pública é a pessoa jurídica que depende de autorização legal para sua criação,
como instrumento de ação do Estado, dotada de personalidade de direito privado, mas submetida a
certas regras especiais decorrentes da finalidade pública que persegue. É formada sob qualquer
forma admitida em direito, com capital formado unicamente por recursos públicos, podendo prestar
serviços públicos ou explorar atividade econômica.
A Lei n. 13.303/2016 trouxe o conceito legal das empresas estatais, definindo as empresas
públicas em seu art. 3º:
A Lei das Estatais (Lei n. 13.303/2016) também conceitua esta espécie de empresa pública.
Veja-se:
Após esta autorização, o Poder Executivo pode elaborar atos concretos referentes a
implantação e funcionamento da empresa, além de providenciar a inscrição dos seus atos
constitutivos no competente registro público. A aquisição de personalidade jurídica pelas Empresas
Públicas e Sociedades de Economia Mista depende desta inscrição no órgão competente.
A criação de empresas públicas ou sociedades de economia mista não é livre. Essa ausência
de liberdade se dá porque, se o objeto dessas empresas for a exploração de atividade econômica,
devem ser observados as restrições previstas na Constituição Federal relativas à atuação do Estado
como agente econômico.
Além disso, para a atuação como prestadoras de serviços públicos, o seu objetivo,
teoricamente, só poderá ser um serviço que tenha natureza de atividade econômica em sentido
amplo (serviços públicos arrolados no art. 175 da Constituição).
Por sua vez, a atuação das empresas públicas e sociedades de economia mista, quando
prestadoras de serviços públicos, é possível para aqueles serviços com natureza de atividade
econômica em sentido amplo (art. 175 da Constituição), ou seja, aqueles serviços que tem a
possibilidade de ser explorados segundo os princípios norteadores da atividade empresarial,
podendo ser delegados a particulares e explorados com intuito de lucro (ex.: energia elétrica,
transporte coletivo).
Na esfera federal, a lei específica que autorize a criação ou a extinção de uma empresa
pública ou de uma sociedade de economia mista deve ser de iniciativa privativa do chefe do Poder
Executivo (art. 61, §1º, II, “e” da Constituição).
Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou
Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao
Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao
Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta
Constituição.
II - disponham sobre: 19
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o
disposto no art. 84, VI;
Cabe ressaltar que, ao menos na teoria, é possível a criação dessas empresas nos demais
poderes da República, sendo nesse caso a lei de iniciativa dos respectivos chefes dos poderes.
Criação de subsidiárias:
O texto constitucional diz que é preciso autorização legislativa “em cada caso” para a criação
das empresas subsidiárias. Entretanto, a jurisprudência consolidada do STF (ADI 1.649/DF):
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI 9478/97. AUTORIZAÇÃO
À PETROBRÁS PARA CONSTITUIR SUBSIDIÁRIAS. OFENSA AOS ARTIGOS 2º E 37,
XIX E XX, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INEXISTÊNCIA. ALEGAÇÃO
IMPROCEDENTE. 1. A Lei 9478/97 não autorizou a instituição de empresa de economia
mista, mas sim a criação de subsidiárias distintas da sociedade-matriz, em consonância
com o inciso XX, e não com o XIX do artigo 37 da Constituição Federal. 2. É dispensável
a autorização legislativa para a criação de empresas subsidiárias, desde que haja
previsão para esse fim na própria lei que instituiu a empresa de economia mista
matriz, tendo em vista que a lei criadora é a própria medida autorizadora. Ação direta
de inconstitucionalidade julgada improcedente.
Ressalte-se que a orientação do STF foi fixada anteriormente à edição da Lei n. 13.303/2016,
que renova a necessidade de autorização legislativa já prevista constitucionalmente, assim como
para a sua participação em empresa privada, que deve ter objeto social relacionado ao da subsidiária
investidora. No entanto, acredita-se que o entendimento jurisprudencial exposto se mantém
inalterado, posto que novel dispositivo legal reitera os termos do inciso XX do art. 37 da CF/88, do
qual se originou a interpretação da Corte Suprema.
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B3. OBJETO
Existem dois objetos que movem o Estado a criar uma empresa pública ou uma sociedade
de economia mista, quais sejam:
Em regra, essas empresas são criadas para possibilitar o Estado atuar diretamente no
domínio econômico, indo além do seu papel de “agente normativo e regulador da atividade
econômica”, atuando diretamente na condição de agente econômico (Estado-Empresário).
Além desse objeto é possível a criação de empresa pública ou sociedade de economia mista
que tenha como objeto a prestação de serviços públicos. Os serviços públicos que poderão ser
prestados por essas entidades são aqueles serviços que podem ser delegados a particulares e que
tem o potencial de serem prestados com o intuito de lucro.
A lei que dispõe sobre o estatuto jurídico das empresas estatais impõe a observância de seus
termos por todas as pessoas enquadradas nessa situação jurídica, sem distinção quanto ao objeto,
seja de exploração de atividade econômica (como a Petrobrás e a Caixa Econômica Federal) ou de
prestação de serviços públicos (a exemplo dos Correios e da Infraero).
Cabe frisar, ainda, que as empresas públicas e as sociedades de economia mista têm
personalidade jurídica de direito privado, independentemente de qual seja o seu objeto.
B4. CONTROLE
Não há hierarquia entre a entidade e a pessoa política que a criou, sendo a relação entre elas
de vinculação administrativa (e não subordinação). Por este motivo o controle finalístico (ou
supervisão ministerial) pressupõe expressa previsão em lei que defina os limites e os instrumentos
de controle.
Especificamente no que toca a fiscalização pelo Tribunal de Contas, inicialmente o STF não
admitia este tipo de controle sobre as sociedades de economia mista (dado que, segundo o Tribunal,
os seus bens e seus direitos não eram reconhecidos como bens públicos, mas sim como bens
privados, inconfundíveis com os do Estado, logo sem incidência do artigo 71, II da Constituição). Mas
esse posicionamento foi revisto e atualmente admite-se esse controle. A ressalva que existe é pela
impossibilidade de o Tribunal de Contas interferir na política de administração da empresa.
O que vai determinar qual o regime jurídico que será aplicado para essas pessoas será, em
larga medida, a natureza do objeto de suas atividades-fim.
Para boa visualização da questão é relevante separar os dois objetos que essas entidades
podem desenvolver:
Prestadoras de Serviços Públicos (Art. 175 da CF) embora sejam pessoas jurídicas de direito
privado, estão sujeitas a diversas regras e princípios de direito público, especialmente as decorrentes
do princípio da continuidade do serviço público.
B6. LICITAÇÃO
Em vez da Lei Geral de Licitações e Contratos, a lei que rege o procedimento do pregão (Lei
n. 10.520/2002) será preferencialmente adotada para aquisição de bens e serviços comuns pelas
empresas públicas e sociedades de economia mista, na forma do art. 32, inciso IV, da Lei n.
13.303/2016.
Mesmo antes desta previsão, entendia-se que era aplicável às empresas públicas e as
sociedades de economia mista a hipótese de inexigibilidade de licitação, por impossibilidade de
competição, aos contratos que estivessem diretamente relacionados à atividade-fim/econômica
da entidade, visto que o oposto inviabilizaria que essas pessoas desenvolvessem bem as finalidades
para as quais foram criadas (razão de segurança nacional ou relevante interesse coletivo) e atingiria
o interesse público. O destaque é que o legislador enquadrou tal situação como caso de licitação
dispensada.
O regime tributário das empresas públicas e das sociedades de economia mista vai depender
do seu objeto: explorar a atividade econômica ou prestar serviços públicos.
Sem dúvida o dispositivo acima citado tem como fundamento o princípio da livre
concorrência. Não obstante o dispositivo não faça qualquer referência, o entendimento amplamente
majoritário é no sentido de que a vedação alcança apenas essas empresas que atuem na exploração
da atividade econômica. Isso se dá tendo em vista a localização do dispositivo na Constituição
(dentro do artigo 173, que trata da atuação do Estado no domínio econômico) e porque somente
quando atuam em um ambiente de livre concorrência é que eventuais benefícios para as empresas
estatais afetarão o setor privado.
Neste ponto, é necessário destacar inovação legislativa introduzida pela Lei n. 13.303/2016
relacionada à transparência de eventuais condições distintas ostentadas em detrimento de qualquer 24
outra empresa do setor privado em que atuem, demonstrando afinidade com o raciocínio
desenvolvido acima. Assim, segundo o art. 8º, § 2º, do referido estatuto (grifos acrescidos):
(...)
“(...) Imunidade tributária recíproca. Art. 150, inciso VI, a, da Constituição Federal.
Sociedade de economia mista. Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (CASAN).
Não preenchimento dos parâmetros traçados por esta Corte para a extensão da imunidade
tributária recíproca. Precedente. Agravo não provido. 1. Não há error in procedendo ou
violação da ampla defesa por alegada afronta ao Regimento Interno do STF, em seus arts.
250 (que prevê julgamento colegiado para as ações cíveis originárias) e 251 (que dispõe
sobre a concessão de palavra às partes e ao PGR na sessão de julgamento), uma vez que
esta Corte admite a possibilidade de o relator decidir, monocraticamente, pretensão sobre
a qual a jurisprudência da Corte já tenha se posicionado, nos termos do art. 21, § 1.º, do
RISTF. Precedentes. 2. A Corte já firmou o entendimento de que é possível a extensão
da imunidade tributária recíproca às sociedades de economia mista prestadoras de
serviço público, observados os seguintes parâmetros: a) a imunidade tributária
recíproca se aplica apenas à propriedade, bens e serviços utilizados na satisfação
dos objetivos institucionais imanentes do ente federado; b) atividades de exploração
econômica, destinadas primordialmente a aumentar o patrimônio do Estado ou de
particulares, devem ser submetidas à tributação, por apresentarem-se como 25
manifestações de riqueza e deixarem a salvo a autonomia política; e c) a desoneração
não deve ter como efeito colateral relevante a quebra dos princípios da livre-
concorrência e do livre exercício de atividade profissional ou econômica lícita”.
Precedentes: RE n.º 253.472/SP, Tribunal Pleno. Relator para o acórdão: Min. Joaquim
Barbosa, DJe de 1.º/2/11 e ACO 2243/DF, decisão monocrática, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe
de 25/10/13.
Importante ressaltar que, em relação aos Correios, o STF entende que a imunidade alcança
todas suas atividades, ainda que relacionadas a serviços não-exclusivos:
Em primeiro lugar cabe citar a necessidade de concurso público para que haja a contratação
dos seus empregados, pacificamente reconhecida na jurisprudência por força do artigo 37, II da CF.
(...)
II – A jurisprudência deste Tribunal é pacífica no sentido de que, para a investidura em
cargo ou emprego público, as empresas públicas e as sociedades de economia mista
se submetem à regra constitucional do concurso público, prevista no art. 37, II, da Lei
Maior. Precedentes. (STF - ARE 790897 AgR / RJ – 25/02/2014)
Isso não significa que os empregados públicos dessas entidades jurídicas adquiriram a
estabilidade de que trata o artigo 41 da Constituição. O STF tem jurisprudência firmada neste sentido.
Entretanto, este mesmo Tribunal entende que não é cabível a dispensa imotivada dos empregados
de empresa pública e sociedade de economia mista, uma vez que violaria os princípios da
impessoalidade e isonomia.
Além disso, a remuneração que é paga por essas entidades está sujeita ao teto
constitucional, na hipótese das empresas públicas, sociedades de economia mista ou suas
subsidiárias receberem recursos das pessoas políticas para o pagamento de despesas com pessoal
ou custeio geral (Art. 37, §9º).
O foro judicial competente para dirimir controvérsias que se formem entre os empregados
públicos e a sociedade de economia mista ou empresa pública é a justiça do trabalho (Art. 114 da
Constituição).
Os empregados dessas entidades são equiparados a funcionários públicos para fins
penais (art., 327, §1º do Código Penal) e os seus atos podem sem enquadrados como ato de
improbidade administrativa.
O regime dos bens das sociedades de economia mista e empresas públicas é tema permeado
de polêmicas.
Até agora foi estudado tudo que tem aplicação comum para as empresas públicas e
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sociedades de economia mista. Acontece que existem algumas diferenças entre tais entidades
administrativas.
Essas diferenças são basicamente três: i) forma jurídica (forma de organização); ii)
composição do Capital Social; iii) competência para o Julgamento de suas Ações.
Forma Jurídica:
A Sociedade de Economia Mista deve ter a forma de sociedade anônima (S/A), sendo
regulada, basicamente, pela Lei das Sociedades por Ações (Lei 6.404/76), conforme previsto no
artigo 5º, III do Decreto-Lei 200/67 e ratificado pelo art. 5º da Lei n. 13.303/2016.
Tendo em vista a sua forma jurídica, as sociedades de economia mista sempre terão natureza
comercial, seja qual for o seu objeto (Art. 2º da LSA) e são inscritas na Junta Comercial.
A Empresa Pública por sua vez pode ser revestir de qualquer forma admitida no
ordenamento jurídico brasileiro. Podem, inclusive, ser instituídas sob forma jurídica sui generis, não
prevista no direito privado, desde que a lei que autorize a sua criação assim disponha.
Seus atos constitutivos são inscritos no registro público de empresas mercantis ou no registro
civil de pessoas jurídicas, conforme for o caso.
Composição do Capital:
Por outro lado, o capital das empresas públicas é integralmente público, isto é, oriundo de
pessoas integrantes da Administração Pública, não havendo a possibilidade de participação de entes
privados neste capital. Mas é possível que a maioria do capital votante desta entidade seja da
titularidade do ente instituidor, mas que haja participação de outras pessoas políticas ou de entidade
da Administração Indireta. Tal possibilidade foi confirmada pelo parágrafo único do art. 3º da Lei n.
13.303/2016.
Foro Processual:
C. FUNDAÇÕES PÚBLICAS
Foi com base nessa ideia oriunda do direito civil que nasceram as fundações públicas, sem
alterações, incluindo os citados elementos acima. A mudança se dá na figura do instituidor, que agora
passou a ser o Estado.
Ou seja, isso permite que façamos uma separação entre as fundações: de um lado temos as
fundações privadas, instituídas por pessoas da iniciativa privada, e de outro temos as fundações
públicas, quando o Estado tiver sido o instituidor.
C1. CONCEITO
Há um conceito legal de Fundação Pública, previsto no Decreto-Lei 200/67, em seu artigo 5º,
IV, sendo conceito extremamente polêmico (polêmica será apresentada em tópico próprio):
A definição da natureza jurídica das Fundações Públicas é tema que há muito provoca
imensa polêmica na doutrina.
A princípio, o Decreto-Lei 200/67, como visto acima, conceituou a fundação pública como
uma entidade de direito privado. Posteriormente, operou-se uma modificação no diploma legal,
mantendo-se a personalidade jurídica de direito privado, mas determinando que essas entidades não
se submeteriam ao Código Civil. Essa divergência foi sanada com a publicação da Constituição de
1988, que definiu fundação pública como uma pessoa jurídica de direito público, dando-lhe o mesmo
tratamento da autarquia.
Com a Emenda Constitucional nº 19/98 o artigo 37, XIX da Constituição foi alterado e deu a
fundação a mesma forma de criação das empresas estatais, entidades com personalidade jurídica
de direito privado, retornando a discussão.
Então, para Celso Antônio Bandeira de Mello as fundações públicas são pessoas jurídicas de
direito público, sendo pura e simplesmente autarquias.
Hely Lopes Meirelles explica que, antes da Constituição, a fundação, mesmo quando criada
31
e mantida pelo Estado, tinha natureza de direito privado. Com o advento da Constituição o autor
modificou o seu posicionamento dizendo que o texto magno transformou essas fundações em
entidades de direito público. Posteriormente, com o advento da EC 19/98, alterando o art. 37, XIX da
Constituição, a doutrina admite a posição anterior do autor, ou seja, as fundações públicas têm
natureza de direito privado.
Para essa corrente, capitaneada por Maria Silvia Di Pietro, o Poder Público pode criar
fundações de direito público (serão denominadas apenas de Fundação Pública ou autarquia
fundacional) ou pode instituir uma fundação de direito privado (serão denominadas de Fundação
Pública de Direito Privado ou fundação governamental).
Cabe ressaltar que em qualquer caso a sua natureza jurídica deve ser extraída das
disposições constantes da lei instituidora, conforme bem frisado pelo Supremo Tribunal Federal, no
julgamento da ADI 191- 07/03/2008:
1.A distinção entre fundações públicas e privadas decorre da forma como foram criadas, da
opção legal pelo regime jurídico a que se submetem, da titularidade de poderes e também
da natureza dos serviços por elas prestados. 2. A norma questionada aponta para a
possibilidade de serem equiparados os servidores de toda e qualquer fundação privada,
instituída ou mantida pelo Estado, aos das fundações públicas. 3. Sendo diversos os
regimes jurídicos, diferentes são os direitos e os deveres que se combinam e formam os
fundamentos da relação empregatícia firmada. A equiparação de regime, inclusive o
remuneratório, que se aperfeiçoa pela equiparação de vencimentos, é prática vedada pelo
art. 37, inc. XIII, da Constituição brasileira e contrária à Súmula 339 do Supremo Tribunal
Federal. Precedentes. 4. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada procedente.
Como já foi dito, a Fundação Pública de Direito Público é uma espécie do gênero autarquia,
motivo pelo qual seu regime jurídico é o mesmo e já foi estudado em tópico anterior. Neste momento
serão abarcadas apenas as diferenças e temas dignos de nota,
Sobre a equiparação da fundação pública de direito público à autarquia, no caso, para definir
a competência da justiça federal para julgamento, segue pronunciamento do STJ,:
5. É assente nesta Corte que a fundação pública federal, que atende à previsão do
art. 5º, IV, do Decreto-lei nº 200/67, equipara-se às autarquias federais para efeito da
competência da Justiça Federal (CF, art. 109, I).
Seguindo a lógica da identidade com o regime jurídico das autarquias, a criação das
fundações públicas de direito público é feita por meio de lei, sendo dispensável o registro dos atos
constitutivos no Registro Civil de Pessoas Jurídicas.
Trata-se de pessoa jurídica instituída e mantida pelo Poder Público, mas com personalidade
jurídica de direito privado, denominada doutrinariamente de “fundação governamental”.
Para essas pessoas, não obstante a sua personalidade jurídica de direito privado, o seu
regime jurídico sofre influência de norma de direito público e, à semelhança das Empresas Estatais,
sujeitam-se a um regime jurídico híbrido (estão sujeitas a fiscalização financeira e orçamentária,
controle externo e interno, entre outros).
Criação
Para a criação desta pessoa jurídica aplica-se a literalidade do disposto no artigo 37, XIX da
Constituição, que exige lei específica para autorizar a sua criação, ficando para a Lei Complementar
definir as suas finalidades.
Controle:
Receita e bens:
Essas entidades podem receber dotações orçamentárias para a sua manutenção e os seus 33
bens podem ter regime especial, desde que fundamentais para a prestação do serviço.
D. CONSÓRCIOS PÚBLICOS
A Lei 11.107/05 introduziu em nosso sistema jurídico uma nova modalidade de pessoa
jurídica denominada de consórcio público.
A título introdutório é importante frisar que esses consórcios podem ser constituídos como
pessoas jurídicas de direito público (integrantes da Administração Indireta) ou como pessoas
jurídicas de direito privado.
Art. 241. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disciplinarão por meio de
lei os consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes federados,
autorizando a gestão associada de serviços públicos, bem como a transferência total ou
parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços
transferidos.
O texto constitucional atribuiu a cada ente federado competência para disciplinar, por meio
de lei própria, os temas (i) consórcios públicos, (ii) convênios de cooperação e (iii) gestão associada
de serviços públicos.
Não obstante a isso, a Lei 11.107/05 é uma lei de normas gerais de caráter nacional, aplicável
a todos os entes da federação, conforme o seu artigo 1º dispõe:
Percebe-se que a estratégia adotada pelo constituinte para compatibilizar com a Constituição
uma lei de caráter nacional que regule consórcios públicos foi atribuir a eles natureza contratual,
atraindo a incidência do artigo 22, XXVII da Carta Republicana.
Como dito, a base legal para os consórcios públicos é a Lei 11.107/05, regulamentada pelo
Decreto 6.017/07. A Lei 11.107/05 não conceitua o consórcio público, apenas diz que os mesmos
constituirão uma associação pública ou uma pessoa jurídica de direito privado. Já o decreto trouxe
algumas definições importantes e que aclararam o instituto do consórcio público.
Pela definição do Decreto 6.017/07, consórcio público pode ser definido como:
34
“Art. 2o Para os fins deste Decreto, consideram-se:
Cabe atentar que é permita a celebração de convênios entre o Distrito Federal e Municípios.
O consórcio público será constituído do contrato, cuja celebração dependerá da prévia subscrição
do protocolo de intenções., que deve ser ratificado mediante lei, e, com essa ratificação, o consórcio
público é efetivamente celebrado.
É possível a ratificação com reservas, desde que os demais entes aceitem. Nessa hipótese
ter-se-á o consorciamento parcial ou condicional do ente federado.
“Art. 2º, III - protocolo de intenções: contrato preliminar que, ratificado pelos entes da
Federação interessados, converte-se em contrato de consórcio público”.
Além dessa forma de extinção do consórcio público, o Decreto 6.017/2007 prevê como forma
de extinção a RETIRADA de um dos membros (no caso de consórcio público formado por dois
membros apenas).
O Consórcio Público sempre terá personalidade jurídica, conforme previsto n art. 6º da Lei
11.107/05, sendo sujeito de direitos e obrigações próprios. Este é é o elemento fundamental para a
distinção entre consórcios públicos e convênios de cooperação (ambos constantes do artigo 241 da
Constituição): os consórcios detêm personalidade, os convênios não.
O consórcio público poderá ser uma pessoa jurídica de direito público ou uma pessoa
jurídica de direito privado. Quando é uma pessoa jurídica de direito público, ele assume a forma
de associação pública e integra a Administração Pública Indireta de todos os entes da federação que
dele participam (adquire personalidade jurídica com a vigência das leis de ratificação do protocolo de
intenções).
Sendo pessoa jurídica de direito privado, assumirá a forma de associação civil e a sua
constituição deverá ser efetivada na forma da legislação civilista (aquisição de personalidade jurídica
ocorrerá com a inscrição dos atos constitutivos no registro civil de pessoas jurídicas). Neste caso,
estarão sujeitos a um regime híbrido, dado que estão sujeitos a determinadas normas de direito
público (Ex: licitação, celebração de contratos, prestação de contas e admissão de pessoal).
Art. 2º, VII - Contrato de rateio: contrato por meio do qual os entes consorciados
comprometem-se a fornecer recursos financeiros para a realização das despesas do
consórcio público
É proibida a aplicação de recursos financeiros entregues por meio de contrato de rateio para
o atendimento das despesas ordinárias ou genéricas, sendo estas as despesas cuja execução
orçamentária se faz com modalidade de aplicação definida.
Cabe ressaltar, ainda, que, nos termos do artigo 8º, §3°, o consórcio público, bem como os
entes consorciados, em conjunto ou separadamente, são partes legítimas para exigirem o
cumprimento das obrigações previstas no contrato de rateio.
Por último, cabe frisar uma exceção prevista na Lei 11.107/05. O contrato de rateio deve ser
formalizado em cada exercício financeiro e o seu prazo de vigência não será superior ao das
dotações orçamentárias que o suportam, exceto (art. 8º, §1º):
- contratos que tenham por objeto exclusivamente projetos consistentes em programas e
ações contemplados no plano plurianual;
- gestão associada de serviços públicos custeados por tarifas ou outros preços públicos.
Art. 2º, XVI - contrato de programa: instrumento pelo qual devem ser constituídas e
reguladas as obrigações que um ente da Federação, inclusive sua administração indireta,
tenha para com outro ente da Federação, ou para com consórcio público, no âmbito da
prestação de serviços públicos por meio de cooperação federativa.
O contrato de programa, prevê o art. 34 da Lei 11.107/05, continuará vigente mesmo quando 37
extinto o consórcio público ou convênio de cooperação que autorizou a gestão associada de serviços
públicos.
Outra regra relevante em relação ao contrato de programa é que a Lei 11.107/05 incluiu na
Lei 8666/93 mais uma situação na qual a licitação é dispensável, estando assim previsto no texto da
lei geral de licitações:
É importante destacar que tanto o STJ quanto o STF têm reconhecido a impossibilidade
de que sanções aplicadas aos entes consorciantes possam repercutir como penalidade ao
consórcio. Trata-se do princípio da intranscendência das sanções. Assim, apesar de um ente
integrante do consórcio contar com restrição para o repasse de verbas, tal circunstância não impede
o repasse ao consórcio do qual o ente inadimplente faz parte.
DIREITO ADMINISTRATIVO. PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA DAS SANÇÕES E ENTIDADE
INTEGRANTE DE CONSÓRCIO PÚBLICO COM PENDÊNCIA NO CAUC.
O fato de ente integrante de consórcio público possuir pendência no Serviço Auxiliar de Informações
para Transferências Voluntárias (CAUC) não impede que o consórcio faça jus, após a celebração de
convênio, à transferência voluntária a que se refere o art. 25 da LC n. 101/2000. Nos moldes da Lei n.
11.107/2005, é possível conceituar consórcio público como o contrato administrativo multilateral,
firmado entre entidades federativas, para persecução de objetivos comuns, resultando na criação de
uma nova pessoa jurídica. A grande novidade dos consórcios públicos regidos por essa lei é que,
atualmente, a celebração do contrato resulta na instituição de uma nova pessoa jurídica, com
personalidade distinta da personalidade das entidades consorciadas (art. 1º, § 1º, da Lei n.
11.107/2005). Nota-se, por oportuno, que o instrumento não modifica a natureza dos entes federativos
que dele participam. Nesse passo, segundo o princípio da intranscendência das sanções, não podem
as penalidades e as restrições de ordem jurídica superar a dimensão estritamente pessoal do infrator,
não podendo prejudicar os outros entes, sob pena de violação desse preceito normativo, consoante
entendimento já consolidado no STJ (AgRg no REsp 1.087.465-SC, Segunda Turma, DJe 16/9/2009)
e no STF (ACO 1.631-GO AgR, Tribunal Pleno, DJe 1º/7/2015; e ACO-MA 1.848 AgR, Tribunal Pleno,
DJe 6/2/2015). Em relação aos consórcios públicos, se não adotada a tese da intranscendência, estar-
se-á afirmando que a irregularidade de uma pessoa jurídica de direito público, integrante da
administração pública direta, seria capaz de alcançar outra pessoa jurídica, integrante da administração
indireta (no caso, o consórcio público de Direito Público). Ressalte-se, ainda, que os consórcios
públicos possuem autonomia administrativa, financeira e orçamentária, não havendo falar em exceção
ao princípio da intranscendência, cujo escopo é o de impedir que sanções e restrições de ordem jurídica
superem a dimensão estritamente pessoal do infrator e atinjam outro ente federativo. A personalidade
jurídica própria dos consórcios permite razoável segurança jurídica em relação ao cumprimento de
suas obrigações. Além disso, não prevalece a tese de que o respeito à autonomia dos consórcios
públicos incentivaria a inadimplência dos entes consorciados, fraudando o sistema de normas que rege
as transferências voluntárias, uma vez que, na elaboração dos contratos de Direito Público (assim
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como nos de Direito Comum), a boa-fé é presumida, enquanto que a má-fé necessita ser provada.
Ademais, a escolha das propostas e a celebração do contrato de repasse são decisões discricionárias
do órgão do Poder Executivo competente, havendo um procedimento de aprovação de plano de
trabalho e de seleção da proposta vencedora antes da formalização do contrato de repasse. Se a
administração pública decidisse por não selecionar a proposta em razão da inadimplência de um dos
entes consorciados, não haveria óbice algum. No entanto, se aprovado o plano de trabalho do
consórcio público e selecionada a sua proposta, não há que se falar, em razão da pendência de alguns
dos entes consorciados, em irregularidade por parte do consórcio público para firmar convênio, visto
que possui personalidade jurídica própria e relações jurídicas próprias.
(REsp 1.463.921-PR, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 10/11/2015, DJe 15/2/2016)