Você está na página 1de 24

Capítulo:

SILVA, Denilson de Cássio. “Em História sou simplesmente poeta: Cecília Meireles e o
passado presente como escrita da história.” In: MARCELINO, Douglas Attila. (Org.).
Ritualizações do passado: a história como prática escrita e rememorativa. Curitiba:
Editora CRV, 2020, p. 47-74.

Em História sou simplesmente poeta: Cecília Meireles e o passado presente


como escrita da história
Denilson de Cássio Silva

“O passado não é assim tão passado porque dele nasce o presente com que se faz o
futuro.”
Cecília Meireles, Diário de Notícias, 1933.

Para além do Romanceiro


Obra das mais conhecidas e investigadas de Cecília Meireles, Romanceiro da
Inconfidência, lançado em 1953, evidenciou a importância da história para a sensibilidade
e a visão de mundo da autora (MEIRELES, 2015a; SEFFRIN, 2015). Não só pelo tema,
pelo século, pelos problemas e pelos agentes mobilizados, como também pelo formato e
pela linguagem, o texto mostrava-se imbuído de passado, ligando-se a um longo processo
de construção da identidade nacional e do imaginário republicano, que, de diferentes
maneiras, atualizava-se no presente (CATROGA, 2011; STARLING, 2018;
CARVALHO, 2017; FRAGA, 2015; GOUVÊA, 2008). Já foi assinalado que esse livro
constituiria um ponto de inflexão em suas realizações, sobretudo, em sua produção
poética (BRITO, 1968). Em 6 de dezembro de 1950, a própria Cecília relatou como “este
é um livro diferente, tão diferente de quanto fiz até agora que, ou será bem recebido, ou
ninguém lhe dará importância nenhuma” (MEIRELES, 1998a, p. 198).
Admitidas as especificidades do Romanceiro em relação às experimentações
literárias, pregressas e posteriores, demonstra-se, aqui, que a vivência de uma cultura
histórica - de saberes e meios, efetivos e afetivos, pelos quais uma sociedade concebe a
si e a seu passado (SÁNCHEZ MARCOS, 2009) - por Cecília Meireles, remontou à sua
juventude, quando ainda estudante. Nessa direção, parte-se do argumento de que a
história, enquanto experiência e campo de conhecimento, integrou, sistematicamente, as
reflexões da intelectual e suas tomadas de posição na esfera pública. Em outras palavras,
a escolha e a abordagem da Inconfidência Mineira não se deram ao acaso, uma vez que
foram desenvolvidas com base na interação com estudos e escritas da história, os quais
1
vinham compondo a perspectiva de Cecília Meireles e, desse modo, exorbitando
domínios da especialização acadêmico-historiográfica.
O objetivo deste capítulo, mais do que esmiuçar os vários assuntos de história
discutidos pela escritora, é analisar como ela estabeleceu uma relação com o passado,
com personagens, fatos e temporalidades, valendo-se da matéria para interrogar e
compreender o universo em que vivia.
Testa-se a hipótese de que o entendimento da história por Cecília ancorou-se na
concepção e na escrita de um passado presente, ressurreto, enredado por narrativas e
valores humanístico-republicanos, capazes de vincular a história de si à história da
coletividade, ora predominando a subjetividade lírica, transfiguradora do real, ora dando
maior ensejo à objetividade das informações e à conduta dissertativo-argumentativa. No
primeiro caso, tomando corpo, sobretudo, em poemas; no segundo, em cartas, crônicas,
entrevistas e ensaios – muito embora tais tendências fossem dinâmicas e interpermeáveis.
Em vista disso, optou-se por adotar um encaminhamento metodológico
qualitativo, selecionando-se e cruzando, daqueles diferentes tipos de fonte e de discurso,
dados que se fizessem contundentes para a efetivação da proposta. Longe da pretensão de
exaurir quesito tão complexo nos limites destas laudas, tem-se um esforço investigativo
que se move de finais da década de 1910 ao limiar dos anos 1950. Nesse ínterim,
vocábulos como fantasmas, espectros e heróis; nomes como Rousseau, Bertha Lutz e
Tiradentes; e problemas como os da liberdade, da igualdade e da paz vão sendo
recompostos, captando fios de continuidade e de mudanças de uma pessoa e de sua época.

Fantasmas do passado
Ao participar das incertezas e inquietudes da “era dos extremos” (HOBSBAWM,
1994), Cecília Meireles, a exemplo de tantos de sua geração, tomou a história como ponto
cardeal para se situar, para levantar diagnósticos das confusões em curso e para emitir
prognósticos em defesa de seus ideais. Do Rio de Janeiro, então “capital irradiante”
(SEVCENKO, 1998, p. 516-620), onde nasceu e sempre residiu, lançou mão de liras e
de farpas (LAMEGO, 1996), com uma atenta perspectiva histórica.
Em 1919, o primeiro poema de seu livro inaugural, além de dar título à obra, servia
como uma espécie de cenário preparatório para o prosseguimento das composições. E
deixava entrever a magnitude do passado:
Espectros
Nas noites tempestuosas, sobretudo

2
Quando lá fora o vendaval estronda
E do pélago iroso à voz hedionda
Os céus respondem e estremece tudo,

Do alfarrábio, que esta alma ávida sonda,


Erguendo o olhar, exausto a tanto estudo,
Vejo ante mim, pelo aposento mudo,
Passarem lentos, em morosa ronda,

Da lâmpada à inconstante claridade


(Que ao vento ora esmorece ora se aviva,
Em largas sombras e esplendor de sóis),

Silenciosos fantasmas de outra idade,


À sugestão da noite rediviva
- Deuses, demônios, monstros, reis e heróis (MEIRELES, 2001a,
p. 15).

Os demais dezesseis sonetos do volume gravitavam em torno da caminhada


humana no tempo, com personagens variados, que iam da Antiguidade à Modernidade e
que, embora mortos, mostravam-se vivos aos sentidos da poetisa. O eu lírico não apenas
enxergava coisas pretéritas (v. 7 e 8, acima), como também distinguia seus odores: “Há
um perfume no ambiente / - um perfume de outrora, / muito vago, a lembrar todo um
passado morto...” (MEIRELES, 2001a, p. 25). Somente o trabalho da sensibilidade,
contudo, talvez não bastasse para poetizar a matéria histórica, cuja escrita demandava
algum rigor ou compromisso com a empiria. Houve uma preocupação com a correção das
informações acionadas, como sugere o fato de a autora ter submetido os originais a uma
análise prévia de quem fora seu professor da área, Basílio de Magalhães.
Anunciando para os próximos dias o surgimento do trabalho, o lente comentava o
título:
Longe de ser algum chamariz interesseiro, a denominação corresponde
fielmente aos assuntos versados: são estas sombras heroicas ou visões
trágicas de personalidades que influíram intensamente na civilização
humana, como o Cristo e Átila, Cleópatra e Joana d’Arc, Sansão e
Marco Antônio, Dalila e Maria Antonieta (MAGALHÃES, 1919, p. 5).1
E recordava:
Quando, há três anos, fui chamado a lecionar História do Brasil a alunas
da Escola Normal, entre elas desde logo notei como inteligência fora do
comum, com acentuado cunho pessoal, a de nome Cecília Meirelles. É
esta a autora dos ‘Espectros’ (MAGALHÃES, 1919, p. 5).

1
Acrescente-se que o terceiro poema, intitulado Brâmane, sinalizava que o interesse da autora pela cultura
oriental, em especial, a indiana, já fazia parte de seu horizonte de interesse e de investigação. Sobre a relação
de Cecília Meireles com a Índia, ver: REIS, 2019. Sobre a poética ceciliana, em geral, ver: GOUVÊA,
2008.

3
Do professor de História quis ela escutar a “opinião sobre as primícias poéticas do
seu talento juvenil”, vindo a dar mostras de “grande cultura”, “da antiguidade clássica e
da história medieva e moderna” (MAGALHÃES, 1919, p. 5). Descontadas as
formalidades e gentilezas do comentário, tem-se aí sinais do caminho formativo de
Cecília Meireles, de seu interesse pelo passado e de sua preocupação não somente com o
esmero da técnica literária, como também com o conhecimento dos elementos históricos.
Em outra resenha do opúsculo, Lincoln Souza admoestava a jovem a deixar
emergir mais seu lirismo, em detrimento da descrição de cenas e vultos da história
(SOUZA, 1920).2 Incidindo ou não tal conselho, fato é que, nas décadas seguintes, Cecília
produzirá versos, predominantemente, caracterizados por vozes e emoções pessoais, com
elevada carga subjetiva, distinguindo-se da tendência desse primeiro experimento
literário. A despeito disso, a presença desse passado que não passava será uma das
grandes permanências da poética e das ideias da escritora, um dos caracteres que fez de
Cecília sempre outra, porque sempre a mesma. Ou, em outros termos, como relataria em
1946: “[...] as transformações que em mim possa encontrar são apenas as de uma
continuação de mim mesma, através das experiências que o tempo nos oferece”
(MEIRELES, 1946, p. 3).3
Tensionando as relações entre livre criação literária e acatamento dos informes da
racionalidade histórica, Cecília Meireles realizou um exercício que, por um lado, por seu
contorno parnasiano, estaria cada vez mais distante dos passos seguintes e, por outro, ao
estabelecer diálogos entre literatura e história, demarcaria a centralidade dos problemas
do passado.
Há quase dois anos diplomara-se pela Escola Normal do Distrito Federal, onde
protagonizara um motim estudantil contra o autoritarismo da diretoria (O SÉCULO,
1915). Exercia o magistério na Escola Deodoro da Fonseca, da rede pública municipal,
bairro da Glória, Rio de Janeiro. Estava prestes a completar 19 anos de idade.

A inúmera

2
Após citar o poema Noite de luar, o crítico indagou: “Por que a jovem e encantadora poetisa não nos dá
um livro de joias líricas como essa?” (SOUZA, 1920).
3
Cecília referia-se à divisão de sua obra em duas partes, antes e depois de 1938, quando, enfim, obteve
consagração com o prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras, com o volume Viagem, lançado no
ano seguinte pelo Editorial Império, de Lisboa. Cf. MEIRELES, 1946.

4
Esse imaginário integrado por espectros ou fantasmas, a atenção para essa
presença do passado, intercruzando autobiografia e processo histórico, manifestou-se
também nas décadas seguintes. Figuras políticas consagradas e proezas militares e
bíblicas, contudo, foram cedendo espaço para uma história entroncada na própria
existência da autora, em sua genealogia e em personagens anônimos ou explorados. Em
trabalho de 1927, já casada com o artista plástico português Fernando Correia Dias, dentre
vinte e seis cânticos, testemunhava o
XXIV

Não digas: Este que me deu corpo é meu Pai.


Esta que me deu corpo é minha Mãe.
Muito mais teu Pai e tua Mãe são os que te fizeram
Em espírito.
E esses foram sem número.
Sem nome.
De todos os tempos.
Deixaram o rastro pelos caminhos de hoje.
Todos os que já viveram.
E andam fazendo-te dia a dia.
Os de hoje, os de amanhã.
E os homens, e as coisas todas silenciosas.
A tua extensão prolonga-se em todos os sentidos.
O teu mundo não tem polos.
E tu és o próprio mundo (MEIRELES, 2015b, p. 65).

Cecília Meireles interagia com a história, apropriando-se do passado pelo


reconhecimento de uma herança cultural (v. 3 e 4), que desaguava no presente, atuando
nos meandros da realidade (v. 8 a 10). Assumir esse condicionamento seria um primeiro
passo para a tomada de consciência histórica e a incorporação de responsabilidades,
inclusive, indo ao encontro de um aspecto universalista, de cariz também oriental, pelo
qual se observaria como as coisas todas estariam ligadas (v. 13 a 15) (REIS, 2019). Se o
indivíduo não era completamente independente, pois suscetível ao fardo do passado, nem
por isso estava impedido de exercer o livre arbítrio, ou seja, embora envolto pelas
circunstâncias, enquanto parte de um todo, haveria escolhas possíveis a tomar, assumindo
suas consequências.
No tomo Viagem, que reuniu escritos de 1929 a 1937 e veio consagrar Cecília
Meireles como vencedora da polêmica disputa pelo prêmio de poesia da Academia
Brasileira de Letras, o Epigrama nº 13 assim encerrava a obra:
Passaram os reis coroados de ouro,
e os heróis coroados de louro:
passaram por estes caminhos.

5
Depois, vieram os santos e os bardos.
Os santos, cobertos de espinhos.
Os poetas, cingidos de cardos (MEIRELES, 2001a, p. 323).4

Duas acepções de história foram sinalizadas, respectivamente, em cada uma das


estrofes: a de uma narrativa enaltecedora dos feitos de famigerados, encarnados na
imagem de reis e heróis; e, em contraste, a de uma compreensão dos oprimidos,
representados pelas figuras dos santos e poetas. Na qualidade de síntese desses eixos
interpretativos, o poema parece acentuar uma afinidade com a segunda perspectiva, dando
a entender que o poder e a glória, fugazes, passavam – verbo este utilizado duas vezes na
primeira estrofe – à proporção que ainda vigia a ação dos que padeciam. Desse ponto de
vista, os heróis, mais do que em imponentes ícones oficiais, seriam identificados na figura
dos que se sacrificavam em prol do bem comum e da beleza. Ao fim e ao cabo seriam
estes os efetivos protagonistas da história.
Reverberando esse entendimento, em Mar Absoluto e outros poemas, de 1945, a
autora expunha um
Compromisso

Transportam meus ombros secular compromisso.


Vigílias do olhar não me pertencem;
trabalho dos meus braços
é sobrenatural obrigação.

Perguntam pelo mundo


olhos de antepassados;
querem, em mim, suas mãos
o inconseguido.
Ritmos de construção
enrijeceram minha juventude,
e atrasaram-se na morte.
Vive! – clamam os que se foram,
ou cedo ou irrealizados.
Vive por nós! – murmuram suplicantes.

Vivo por homens e mulheres


de outras idades, de outros lugares, com outras falas.
Por infantes e por velhinhos trêmulos.
Gente do mar e da terra,
Suada, salgada, hirsuta.
Gente da névoa, apenas murmurada. [...]

Esta sou eu – a inúmera.


Que tem de ser pagã como as árvores
e, como um druida, mística. [...]

4
Sobre a referida polêmica, ver: RICARDO, 1939. Agradeço a Ana Amélia Neubern Batista pelo
compartilhamento dessa fonte.

6
Andam arados, longe, em minh’alma.

Andam os grandes navios obstinados.


Sou minha assembleia,
noite e dia, lucidamente.

Conduzo meu povo


e a ele me entrego.
E assim nos correspondemos.

Faro do planeta e do firmamento,


bússola enamorada da eternidade,
um sentimento lancinante de horizontes,
um poder de abraçar, de envolver
as coisas sofredoras,
e levá-las nos ombros, como os anhos e as cruzes. [...]
(MEIRELES, 2001a, p. 462-463).

Abrir-se à dimensão mística da relação com o passado, como que reconhecendo


os limites da razão (v. 4; 20 a 23); viver pelos mortos (v. 12 a 14), representando homens
e mulheres, com suas falas esquecidas pela história (v. 15 e 16); corresponder-se com os
mesmos (v. 30), assumindo o papel de porta-voz da gente comum, da classe trabalhadora
(v. 17 a 20), dos sofredores (v. 35): eis algumas proposições de Cecília Meireles. Tais
diretrizes não estariam distantes das teses de um seu contemporâneo, que, na Europa de
1940, avaliava:
O passado traz consigo um índice secreto, que o impele à redenção. Pois
não somos tocados por um sopro de ar que envolveu nossos
antepassados? Não existem, nas vozes a que agora damos ouvidos, ecos
de vozes que emudeceram? [...] Se assim é, então existe um encontro
secreto marcado entre as gerações precedentes e a nossa. Então, alguém
na terra esteve à nossa espera (BENJAMIN, 2012, p. 242).

Nesse texto derradeiro, Walter Benjamin reparou o predomínio de um tipo de


história, empática ao triunfo dos poderosos, sendo, por isso, necessário inverter essa
orientação, isto é, “escovar a história a contrapelo” e atentar para a “tradição dos
oprimidos” (BENJAMIN, 2012, p. 245). Bem antes do filósofo alemão, o historiador
francês Jules Michelet já defendera o projeto de uma história “daqueles que sofreram,
trabalharam, definharam e morreram sem ter a possibilidade de descrever seus
sofrimentos” (MICHELET apud BURKE, 2010, p. 19).5

5
Mais recentemente, a expressão a história vista de baixo, atuará para “convencer aqueles de nós nascidos
sem colheres de prata em nossas bocas, de que temos um passado, de que viemos de algum lugar.”
(SHARPE, 1992, p. 39-62).

7
Cecília Meireles parecia comungar desses questionamentos sobre um
historicismo, atado à ideologia do progresso, ao enaltecimento do Estado nacional, dos
grandes chefes, batalhas e feitos políticos. Seu interesse pela cultura popular e pelo
folclore, igualmente, derivaria dessa concepção (MEIRELES, 1952; MEIRELES, 1950).
Ela própria, nascida e criada em família de parcas posses materiais (O SÉCULO, 1915;
MEIRELES, 1998a, p. 13), viria a se distinguir como intelectual e a ascender socialmente,
por meio de sua dedicação aos estudos (O SÉCULO, 1915). Ela, a “inúmera”, a anônima,
aquela que, diante da tumultuada assembleia de criação da “Legião da Mulher Brasileira”,
se declarara “livre pensadora” (MEIRELES, 1920)6, projetar-se-ia como nome
reconhecido nos meios culturais e traria à tona histórias de outros tantos desfavorecidos
ou incompreendidos.

Guerra, Abolição, Revolução e República no canteiro de Clio


Cecília Meireles foi tecendo laços de sociabilidade, frequentando círculos
intelectuais, aproximando-se ou se afastando de determinados grupos ao longo das
décadas. Em 1927, ligou-se à confraria da Revista Festa, recepcionando, inclusive,
importantes reuniões.7 Em junho de 1930, participou da inauguração do Diário de
Notícias, assumindo a direção de um espaço específico do jornal, a Página de Educação.8
Um dos fundadores do jornal, Nóbrega da Cunha, além de aliado na luta pelos ideais do
movimento escolanovista,9 era padrinho de uma das filhas de Meireles e Correia Dias
(LÔBO, 2010), o qual, por sua vez, também tornou-se colaborador do periódico e da
Página, em especial, com suas ilustrações.
Ao tratar da educação, Cecília dissertou sobre os mais variados temas, julgando,
mais tarde, que essa talvez tivesse sido a principal contribuição que prestara junto ao
jornalismo.10 Ao longo de dois anos e meio, diariamente, argumentou e reportou

6
Citação feita primeiramente em: LAMEGO, 2018. Agradeço a Carolina de Oliveira Silva Othero pelo
compartilhamento desse artigo.
7
Segundo testemunho de Andrade Murici, um dos principais articuladores da publicação, “[...] Fora na
casa de nossa grande amiga [Cecília Meireles], na rua de São Cláudio, na entrada do Morro de São Carlos,
que Festa foi estruturada, com o auxílio do eminente ilustrador Correia Dias” (MURICI, 1971, p. 228).
8
O engajamento de Cecília Meireles por meio do Diário de Notícias foi analisado em: LAMEGO, 1996.
9
Como Cecília, Nóbrega da Cunha foi signatário do Manifesto pela Educação Nova, além de assinar artigos
em defesa desse movimento. Cf. AZEVEDO et al., 2010.
10
“A minha atividade na imprensa é muito antiga e em vários setores. Reputo a mais importante que exerci
entre os anos 1930 e 34, no Diário de Notícias e depois em A Nação, porque aí tive a ocasião de servir às
ideias de melhoramento do homem brasileiro pela compreensão mais séria da educação, atendendo a todos
os problemas que o afligem, com as soluções que um plano geral de educação, devidamente orientado,
comporta. [...]” (MEIRELES, 1945, p. 11).

8
problemas culturais, políticos, sociais e econômicos, valendo-se, não raro, de um
horizonte histórico crítico, propício ao fortalecimento de suas análises. Dentre as questões
enfrentadas pela articulista, figuraram os desafios da guerra e da paz. Outros três pontos
expunham de modo igualmente incisivo os referenciais que norteavam sua visão da
história. Foram eles: a abolição da escravidão, a Revolução Francesa e a República.
Não resta dúvida de que a Grande Guerra (1914-1918) tornou-se um dos
acontecimentos basilares para seus contemporâneos, exercendo impacto nos meios
intelectuais da América do Sul (COMPAGNON, 2014). Compreende-se, assim, que a
carnificina tenha sido aventada como um episódio definidor da ideia de “geração”. No
Brasil, a exemplo de outros torrões, a guerra seria identificada como uma espécie de
cinzel a talhar toda uma juventude literária, alcunhada de “geração da Paz” (COSTA,
1923; MURICI, 1928), surgida do armistício de 1918 e do hiato da gripe espanhola.
A urgência em se evitar novas guerras e estabelecer a paz, segundo Cecília
Meireles, seria o “mais grave problema do mundo” (MEIRELES, 2001b, p. 258). Para
enfrentá-lo, além de lançar mão de vocabulário e de expressões pacifistas (SILVA,
2017b), a autora sinalizava a relevância de um ensino e de uma concepção de história,
antagônicos à retórica belicista. Dessa maneira, em janeiro de 1932, ao se deparar com a
notícia do predomínio de miniaturas de tanques, submarinos, porta-aviões e outros itens
de guerra em lojas de brinquedo berlinenses, redigiu:
[...] como o telegrama vem de Berlim, e a palavra da história tem um
prestígio profundo, porque vem de infinitos destinos acumulados e
sacrificados nas trágicas mãos do tempo, não será inoportuno recordar
Wells quando discorre sobre ‘A catástrofe internacional de 1914’ [...].
(MEIRELES, 2001b, p. 234).

A seguir, citou extensos trechos desse último tópico do livro oitavo de The outline
of History,11 tocando destacar aquele que parece resumir a crítica em foco:
O maior crime dos Hohenzollern foi a intervenção constante e
persistente da coroa na educação do país, e particularmente no ensino
de história. Nenhum Estado moderno pecou tanto contra a educação. A
oligarquia e a monarquia coroada da Grã-Bretanha puderam mutilar e
fazer sofrer a educação, mas a monarquia Hohenzorllen corrompeu-a e
prostituiu-a (WELLS apud MEIRELES, 2001b, p. 234).12

11
Conhecido, sobretudo, por seus romances científicos, Herbert George Wells (1866-1946) foi também
autor de textos de não-ficção e defensor da paz, da justiça social e da igualdade de direitos entre homens e
mulheres. Cf. WELLS, 2015.
12
A tradução desse e dos demais excertos de Wells pode ter sido feita por Cecília Meireles, que estudava
várias línguas, dentre as quais, o inglês. O original encontra-se em: WELLS, 2015. Saliente-se que a autora
observou ainda: “Essa mesma visão de Wells, encontramo-la em Remarque, nas queixas do Nada de novo
na frente ocidental, e no Depois” (MEIRELES, 2001b, p. 234). Além de leitora e comentarista das obras

9
A educadora-jornalista prestigiava a história, o saber sobre a experiência dos que
viveram, lutaram e morreram, e via com preocupação o uso de seu ensino para a promoção
de um patriotismo sectário, de ilusões de superioridade. Dois dias depois, emergiu um
outro artigo, no qual, novamente, Cecília voltou a ressignificar as ideias de H. G. Wells.
Na condição de brasileira, intelectual latina-sul-americana (SILVA, 2018), Cecília
parecia disposta a atuar pela descolonização do pensamento historiográfico e de seu
ensino, ao difundir e se apropriar de passagens como:
O patriotismo forma-se um pouco no ambiente doméstico; até certo
ponto, pelos livros; mais, talvez, pelos jornais; mas principalmente pelo
ensino da história em nossas escolas. Essa obsessão de independência
soberana dos Estados, que constitui o único obstáculo real para a
federação e a paz mundiais, tem por base o ensino, nas escolas, da
história puramente nacionalista ou imperialista (WELLS apud
MEIRELES, 2001b, p. 238).

Reservas críticas ao nacionalismo e ao patriotismo, cuja exacerbação vinha


impregnada de valores militaristas e belicistas, bem como a quaisquer outros meios de
obliteração da inteligência, acompanharam as proposições de Cecília durante todo o
tempo em que debateu ideias e projetos na tribuna pública.13 Não surpreende, pois, que,
em período de ascensão do fascismo, a escritora tenha interrogado os termos de Benito
Mussolini, segundo os quais, no futuro, a guerra seria inevitável, “porque nunca foi
registrada a passagem de um século sem guerras” (MUSSOLINI apud MEIRELES,
2001b, p. 296). Na sequência da menção, em tom de reprovação, disparou: “Quer dizer
que o passado é uma regra absoluta. Que só terá de ser, para sempre, o que já foi. Portanto,
o que aconteceu não acontecerá... Enfim, uma negação total de evolução” (MEIRELES,
2001b, p. 296).
Apesar de não completamente isenta de uma perspectiva histórica evolucionista,
presente também no trabalho supracitado de Wells, Cecília Meireles preconizava uma
compreensão da história inerente à possibilidade de irrupção do novo, de abertura ao
imponderável. Conforme mais tarde argumentaria outra contemporânea, esse ângulo
teórico modelava o núcleo da vivência da liberdade, assentado na contramão das
tentativas de controle ou de antecipação das ações e dos fatos (ARENDT, 2013). Assim,
se o ensino da matéria fora direcionado para a guerra, poderia também ser a chave para a

de Eric Maria Remarque, Cecília dedicou cerca de cinco crônicas à exegese de cartas de estudantes alemães
mortos na guerra, então publicadas em livro. Vislumbra-se, por esses indícios de empatia, igualmente, pelos
alemães, que a citação de Wells possuía antes um intento político-pacifista do que uma inexistente adesão
à propaganda antigermânica pré-nazista.
13
Ver, por exemplo, crônicas dos anos 1950: MEIRELES, 1999.

10
“obra de pacifismo universal” (MEIRELES, 2001b, p. 238). A paz, como a liberdade,
teria de ser “uma conquista do homem dominado por si mesmo”, um processo longo,
difícil, mas possível, mesmo porque “a humanidade possui a virtude da morte, que é uma
virtude de renovação. Os mortos de hoje transmitirão aos vivos de amanhã, e aos de todos
os tempos, um sonho que já está procurando ser uma pequena realidade” (MEIRELES,
2001b, p. 283).
O percurso do passado, portanto, não seria uma regra imutável, uma vez relido e
redimensionado pelo presente, locus do imprevisível, da gestação de futuros. Esse mesmo
juízo delineou os apontamentos de Cecília sobre os significados do 13 de maio e do 14
de julho, datas que, excluídas há pouco do calendário oficial (DECRETO, 1930),14
relembravam, respectivamente, a assinatura da lei nº 3. 353 de 1888, cujos breves artigos
declaravam legalmente extinta a escravidão no Brasil, e a tomada da Bastilha por
populares na Paris de 1789, símbolo da Revolução Francesa.
Constatando, em maio de 1932, que “o preconceito das raças não desapareceu
completamente do espírito de todos”, provocou: “Eu queria que me dissessem em que
país do mundo é que está a liberdade”. E inferiu:
[...] o Brasil, infelizmente, ainda não é uma exceção. E parece que em
todo hino que a gente sabe de cor desde criança está essa palavra bonita,
que instintivamente se ama e em que se acredita, sem saber que é apenas
uma invenção de algumas criaturas sonhadoras, que morreram por ela
(muito contentes quase sempre), antes de a poderem conhecer com
realidade objetiva. Mas o sonho transmite-se. O sonho é uma realidade
a seu modo: sem substância, mas indestrutível (MEIRELES, 2001b, p.
203).

Uma vez mais, a cronista, alerta às vicissitudes do cotidiano, burilava seu


raciocínio com uma percepção histórica, na qual os agentes e os projetos, derrotados ou
incompletos, irrompiam capazes de inspirar o presente e o porvir. Sonhos, ideias e seus
portadores do passado desafiavam a corrupção do tempo, comunicavam-se com os vivos
e, com estes, viviam. Logo, “[...] o que é do sonho é da esperança. Assim o 13 de maio.
Por enquanto, só verificamos a abolição de uma escravatura cujo desaparecimento é,
ainda, meio duvidoso. E cuja gravidade, por isso mesmo, não diminuiu” (MEIRELES,
2001b, p. 204).

14
Juntamente com o 13 de maio e o 14 de julho retirou-se do calendário de feriados nacionais o 21 de abril,
até então consagrado à “comemoração dos precursores da Independência Brasileira, resumidos em
Tiradentes” (DECRETO, 1890). Essa mudança veio a chamar a atenção de Cecília Meireles para o episódio
e os personagens da Inconfidência Mineira, conforme mais tarde, em 1947, recordaria a autora. Cf.
MEIRELES, 1998a, p. 111.

11
Se os significados e os anseios da Abolição continuavam à espreita da
concretização de seus fins inalcançados, o mesmo se aplicava às ideias franco-
revolucionárias: “Somos, afinal, um permanente 14 de julho. Uma permanente aspiração
para a liberdade, seja qual for o rumo por que orientarmos essa palavra”, pois “[...] Dentro
de nós existem sombrias bastilhas: a que os outros edificaram em nosso espírito, e aquelas
que nós mesmos, sem o sabermos, andamos edificando” (MEIRELES, 2001b, p. 209).
Imersa nos embates por uma educação pública, gratuita, laica e democrática, para
ambos os sexos, Cecília fornecia pistas de sua opção política e historiográfica:
14 de julho: todo o nosso esforço. Nosso sangue. Nosso espírito...
Talvez uma bastilha em fogo... E a liberdade?
“Liberté, liberté, chérie...”
Onde estão os que morreram por ela, naquele 14 de julho que todos
viram? Eles sorririam agora de todas as nossas mortes infrutíferas...
Sorririam, mas tornariam a morrer mil vezes, pelo mesmo sonho
(MEIRELES, 2001b, p. 210).

Posto que o passado dos vencedores fosse entendido como um peso, a travar
mudanças necessárias, o dos vencidos era interpretado como herança semeadora de
liberdade. Mais valeria o martírio do que o servilismo ante o opressor, partidário da
inércia. Que tais referenciais lançassem raízes na cultura francesa, acompanhada por certa
francofilia, vinda do oitocentos, parece claro (FLÉCHET; COMPAGNON; ALMEIDA,
2017). Cecília Meireles, inclusive, sentia-se mais familiarizada com a língua francesa do
que com a inglesa (MEIRELES, 1998a), e assumia a importância de Jean-Jacques
Rousseau para sua formação intelectual, ao denominá-lo de “criatura genial”, “de que
ainda hoje estamos sendo discípulos em todas as verdades que preparou no seu século”
(MEIRELES, 1932a, p. 4). Sua concepção de história e a forma de lidar com o passado
sustinha uma proximidade com esse seguimento político-ideológico, por meio do qual se
municiava de preceitos republicanos, chegando mesmo a afirmar, ao sair em defesa da
laicidade do ensino, frente a medidas do Governo Provisório, que “[...] a revolução [de
outubro de 1930] deixa até de ser democrática. Eu achava melhor, portanto, que
voltássemos logo à monarquia. Porque assim, pelo menos, podia haver a esperança de
ainda vir a ser proclamada a República” (MEIRELES, 1932b, p. 4).

Uma tarefa de refazer séculos


Nota-se que, para a autora, a noção de República extrapolava a simples
denominação de regime político, designando, substancialmente, um conjunto de
princípios e de práticas voltados para a justiça, a igualdade, a liberdade e o apreço pelo

12
bem comum. Essa forma de apreender a história e o mundo implicou movimentos
distintos, animando, por um lado, os vínculos com pessoas e circuitos que comungavam
do mesmo ideal e, por outro, acentuando a reação de adversários.
Em 1932, como ocorria a praticamente todos de tendência progressista, Cecília
fora rotulada de comunista e, em 1937, viu o Centro de Cultura Infantil, que fundara e até
então conduzia, ser invadido e fechado pela polícia do Estado Novo, sob o pretexto de
abrigar obras de conotações... comunistas. No ano seguinte, seus opositores tentaram, sem
êxito, preteri-la do prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras. Atitude análoga
voltaria a surgir nos anos 1950, quando concorreu a outras honrarias com Romanceiro de
Inconfidência (LIMA, 1932; PIMENTA, 2001; ANDRADE, 2007). A despeito dessas
investidas, Cecília Meireles conseguiu retraçar rotas de ação e levar a cabo iniciativas,
sem abrir mão de seu olhar para a história.
Em 1939, viúva e mãe de três filhas, tornou-se repórter da revista mensal O
Observador Econômico e Financeiro, fornecendo textos com mais de 15 páginas,
enriquecidos por fotografias, com títulos como “Economia do Magistério”, “Economia
do Intelectual” e “Trabalho feminino no Brasil” (MEIRELES, 1939a; MEIRELES,
1939b; MEIRELES, 1939c).15 Em todas essas colaborações, além de consultar
profissionais e estudos pertinentes, trazendo números atuais sobre os problemas
arrolados, valeu-se de um balanço histórico. Comparou os desafios do professorado nos
períodos anteriores e posteriores às iniciativas escolanovistas dos anos 1920
(MEIRELES, 1939a); conjecturou sobre a figura dos intelectuais, estimando que fosse
“condição do pensamento debater-se entre circunstâncias e alcançar algumas verdades
duradouras [...]”, haja vista que “[...] A história da humanidade é o relato desse vai-e-vem
do pensamento, em luta consigo e com tudo mais – de algumas das suas vitórias e muitos
dos seus cativeiros” (MEIRELES, 1939b, p. 59); recorreu a Frei Vicente do Salvador e a
Vanhargen, o Barão de Porto Seguro, para investigar o trabalho feminino no Brasil
colonial, atravessando o Império até os avanços do Novecentos, em que apreciava o
engajamento de Bertha Lutz na “chefia do movimento de reivindicações femininas”
(MEIRELES, 1939c, p. 101).
Durante a realização de uma das entrevistas para O Observador, tomou contato
com o fitopatologista e diretor da Escola Nacional de Agronomia, Heitor Grillo, com
quem se casou em 1940. No ano subsequente, tornou-se editora da revista Travel in

15
Sobre a revista, ver: CORRÊA, 2016.

13
Brazil, produzida pelo Departamento de Imprensa e Propaganda, escrita unicamente em
inglês e voltada para o público estrangeiro (LUCA, 2011).16 Ao preparar um dos volumes,
viajou para Ouro Preto e fez a cobertura da Semana Santa de 1942, ocasião que instigaria
a criação de um vigoroso elo com a cidade, mantido até o fim da vida.
Dividindo o número com outros dois artigos, um dos quais, assinado por seu
antigo professor de História, Basílio de Magalhães, o texto de Cecília Meireles descrevia
detalhes das celebrações e dos personagens envolvidos, mesclando tons de reportagem,
crônica e poesia, coerentes com a proposta da publicação. Anunciando que uma visita à
Semana Santa de Ouro Preto valeria a pena, “seja em espírito devocional, seja em espírito
científico, artístico ou turístico” (MEIRELES, 1942, p. 16),17 mal disfarçava seu
entusiasmo:
[…] Ouro Preto! Essa é Ouro Preto. Um ar de tristeza, de velhice
sonhadora, banha-se como a luz da lua no topo das colinas com igrejas
de duas torres, cobre as antigas casas em ruínas e desce com os rios
preguiçosos, que fluem lentamente sob as pontes de pedra com suas
cruzes para proteger o viajante (MEIRELES, 1942 p. 15).18

Ao enlace do legado arquitetônico com os efeitos da natureza, a amplificar os


sentidos e as impressões, somavam-se considerações sobre a história brasileira:
[...] Ouro Preto, a célebre “Vila Rica”, à qual dois fatos importantes da
história brasileira são atribuídos: o martírio de Tiradentes e o amor do
poeta Gonzaga, ambos parte do dramático episódio denominado
“Inconfidência Mineira”, o movimento pela independência em 1789
(MEIRELES, 1942, p. 15).19

Tiradentes e a Inconfidência Mineira, desde pelo menos a década de 1820, vinham


sendo discutidos como personagem e evento capazes de incrementar os símbolos e a
identidade da nação, ganhando prestígio, em especial, após proclamação da República,
em 15 de novembro de 1889 (MAXWELL, 2019; CARVALHO, 2017). Entretanto, as
disputas em torno da redefinição da memória e da história nacionais, de seus heróis e

16
A Travel in Brazil contou com contribuições de Mário de Andrade, Tasso da Silveira, José Lins do Rego,
Sérgio Buarque de Holanda, dentre outros.
17
Original: “whether in a devotional spirit, or in a scientific, artistic or touristic spirit”. Tradução minha.
18
Original: “[…] Ouro Preto! This is Ouro Preto. An air of sadness, of dreamy old age, bathes like
moonlight the tops of the hills with twin-towered Churches, covers the old ruined houses and descends with
the lazy rivers, wich flow sluggishly under the stone bridges with their crosses to protect the traveler.”
Tradução minha. Registra-se que Ouro Preto despertou o fascínio de vários intelectuais coetâneos. Ver, por
exemplo, o caso de Gustavo Barroso, cujo pensamento, se não distava tanto de Cecília Meireles, no que diz
respeito à experiência do tempo, situava-se no polo oposto ao daquela no espectro político. Ver:
CERQUEIRA, 2017.
19
Original: “[...] Ouro Preto the celebrated ‘Vila Rica’, to wich two important facts of Brazilian history are
attributed: the martyrdom of Tiradentes, and the love of the Poet Gonzaga, both forming a part of the
dramatic episode called the ‘Inconfidência Mineira’, the movement for independence in 1789.” Tradução
minha.

14
acontecimentos centrais, não cessariam. Os inconfidentes e seu mártir subsistiam como
objeto de controvérsias durante o Estado Novo, não raro criticados por simpatizantes do
fascismo. Em outras palavras, “apesar de um forte imaginário sobre Tiradentes já estar
internalizado na população, sobretudo pela ação da escola, havia discussões sobre tal
figura e a possibilidade de alteração de uma hierarquização de sua grandeza [...]”
(FRAGA, 2015, p. 145-146).
Nesse debate, Cecília tendia para a valorização do alferes, de Gonzaga e das
aspirações dos insurgentes, conforme já explicitara em artigo de abril de 1931
(MEIRELES, 2001b, p. 195-198). Com a entrada do Brasil na guerra ao lado dos Aliados,
em agosto de 1942, a demanda por um imaginário de luta por liberdade intensificou ainda
mais a reverência àquela figura (FRAGA, 2015, p. 146-147).
Vale, assim, indagar que nuances haveria entre tais representações, partícipes de
um mesmo macro campo ideológico, ou seja, de enaltecimento da ideia de liberdade e das
tramas das Minas setecentistas. A editora de Travel in Brazil, com efeito, tomou parte na
elaboração e na difusão do referido simbolismo e, simultaneamente, manteve-se esquiva
a um tipo de nacionalismo, que pudesse obnubilar o espírito crítico (SILVA, 2017a). Mais
que isso: em tempos nos quais grassava a perda do “respeito pela condição humana”
(MEIRELES, 1998b, p. 189), com a ditadura estadonovista e a fúria bélica mundial, deu
ênfase aos significados da resistência à opressão, à sobrevivência de princípios
defendidos por condenados,20 compreendendo a Inconfidência por uma via processual,
como um “dramático episódio”, como “movimento pela independência” (MEIRELES,
1942, p. 15).21
A escolha dessas expressões não era gratuita e sugeria o comprometimento da
autora com uma cultura histórica alinhada ao “desejo de ser justo”, ao “pudor de ser ou
parecer, sequer, maior que o seu semelhante” (MEIRELES, 1998b, p. 189). Sob esse
prisma, a narrativa tocante aos inconfidentes seria não só histórica, como também
alegórica, a desvelar as angústias do agora.
Cerca de um ano após realizar a cobertura da Semana Santa, parecia se divertir
com as tensões de sua relação com o passado, imaginando-se com outros nomes, viajando
pelo século XVIII e reinventando temporalidades: “No caminho [para Ouro Preto], mudo

20
Anos depois, emblematicamente, a autora pensou em dar o título de “Os Condenados” à sua pesquisa
sobre a Inconfidência. Ver: MEIRELES, 1998a, p. 119.
21
Sobre a participação de intelectuais nos quadros do Estado Novo, ver: GOMES, 2007. Quanto à Segunda
Guerra Mundial, ainda ecoando traumas do conflito de 1914, Cecília Meireles também se manifestou pela
poesia. Cf. MOURA, 2016.

15
de nome e de cara. Envelheço, não para adiante, como todos envelhecemos, mas ao
contrário, - minha cronologia vai-se fazendo ao revés, no cômputo para antes de Cristo”
(MEIRELES, 1998b, p. 26).
Se tal interação poderia proporcionar momentos de leveza e de engenho, também
causava angústias e fadigas. Afinal, desde aquela ida a Ouro Preto foi se envolvendo com
o caso e se entregando, cada vez mais, a seu exame, coroado com a publicação do
Romanceiro da Inconfidência, em 1953. Dois anos depois, proferiu uma conferência na
Casa dos Contos, em Ouro Preto, em que explicou o longo processo de preparação,
relembrando:
Quando, há cerca de 15 anos, cheguei pela primeira vez a Ouro Preto,
o Gênio que a protege descerrou, como num teatro, o véu das
recordações que, mais do que a sua bruma, envolve estas montanhas e
estas casas -, e todo o presente emudeceu, como plateia humilde, e os
antigos atores tomaram suas posições no palco. Vim com o modesto
propósito jornalístico de escrever as comemorações de uma Semana
Santa; porém os homens de outrora misturaram-se às figuras eternas
dos andores; [...] Na procissão dos vivos caminhava uma procissão de
fantasmas [...] (MEIRELES, 2013, p. 16).

A referência ao Teatro relacionava-se com uma fase de grande interesse da autora


por essa arte, a ponto de haver imaginado, inicialmente, dar ao processo da Inconfidência
o formato de uma peça. Não só em Ouro Preto, como no Rio de Janeiro,
[...] o nome do Alferes, o sangue do Alferes gritavam, clamavam – não
a sua desgraça -, mas a enormidade daquela tragédia desenrolada entre
Minas e o Rio, forte, violenta, inexorável como as mais perfeitas de
outros tempos, dos tempos antigos da Grécia, e que os helenos fixaram
por escrito, e que até hoje servem de alta lição, para acabar de
humanizar os homens (MEIRELES, 2013, p. 20).

Em outras ocasiões, Cecília afirmara que entendia a Literatura como uma “fonte
de ilustração indispensável à formação humana.” (MEIRELES, 1944, p.3), “[...] um meio
de compreensão humana e do mundo...” (MEIRELES, 1946, p. 11). Essa mesma
concepção regeria a escrita da história, feita de buscas por elementos duráveis, universais
- tais como liberdade, amor, justiça, traições e humanidade, contidos em episódios
específicos - e de negociações com o passado presente ou com o governo dos mortos
sobre os vivos:
Sem sombra de positivismo, posso, no entanto, confirmar por
experiência a verdade de que “somos sempre e cada vez mais
governados pelos mortos”. Porque nesse mundo emocional que o tempo
acumula todos os dias nem o mais breve suspiro se perde, se ele foi
dedicado ao aperfeiçoamento da vida. [...]
A voz irreprimível dos fantasmas, que todos os artistas conhecem,
vibra, porém, com certa docilidade, e submete-se à aprovação do poeta,

16
como se, realmente, a cada instante lhe pedisse para ajustar seu timbre
à audição do público. Porque há obras que existem apenas para o artista,
desinteressadas de transmissão; outras que exigem essa transmissão e
espera que o artista se ponha a seu serviço, para alcançá-la. O
Romanceiro é desta segunda espécie (MEIRELES, 2013, p. 22 e 25).

Uma das razões que levou a poeta a abandonar a composição dramática foi o
receio de atribuir, a cada personagem, “pensamentos e sentimentos incompatíveis com a
sua psicologia, e dar-lhes uma linguagem que não podemos reconstituir com suficiente
perfeição” (MEIRELES, 2013, p. 25). A expressão para unir e fazer falar os planos lírico
e histórico-narrativo, então, foi identificada em uma estrutura de raízes medievais, o
romanceiro, que traria a possibilidade de “entremear a possível linguagem da época à dos
nossos dias; de, não podendo reconstituir inteiramente as cenas, também não as deformar
inteiramente; de preservar aquela autenticidade que ajusta à verdade histórica o halo das
tradições e da lenda.” (MEIRELES, 2013, p. 25).22
Tal seriedade em pesquisar e escrever sobre o passado, respeitando “essas vozes
que falavam, que se confessavam, que exigiam, quase, o registro da sua história”
(MEIRELES, 2013, p. 26), fê-la sentir-se obrigada à tarefa de “[...] refazer séculos”
(MEIRELES, 1998a, p. 125). Conforme escrevera a Armando Côrtes-Rodrigues, em 4 de
setembro de 1947:
Estou toda século 18, com raízes pelo 17. Porque esses inconfidentes
eram meio enciclopedistas, meio pedreiros-livres; e é preciso estar
dentro da Revolução Francesa, da Independência dos Estados Unidos,
ler Franklin e Jefferson, Voltaire, Montesquieu, Diderot; ir aos árcades
italianos; estudar Portugal desde D. João V, pelo menos; ir aos clássicos
espanhóis, principalmente Gracián, ir à política peninsular do tempo,
Deus meu! (MEIRELES, 1998a, p. 125).

Onze dias depois, comentou diferenças entre os séculos, admitindo os benefícios


de avanços científicos e tecnológicos mais próximos. Frisava, porém, sua preferência pelo
Setecentos, no que diz respeito às ideias e aos projetos da Ilustração:
[...] é verdade, agora estou toda século 18. V. não imagina o que é ler
antes de dormir “L’esprit des lois”. Exceto pelos aviões, pelos telefones,
os automóveis, a penicilina... não vejo nada que justifique os séculos 19
e 20. Estamos em vertiginosa decadência. Voltaire, p. ex., era muito
mais cristão que todos os católicos que conheço (MEIRELES, 1998a,
p. 128).

22
Ver também: BORDINI, 2015.

17
Mais tarde, em 4 de abril de 1949, prestes a embrenhar-se em mais uma de suas
visitas a Ouro Preto, exprimiu, de maneira indubitável, sua admiração pelas diretrizes
iluministas:
Mandar-lhe-ei notícias de O. P., se bem que de lá seja mais vagaroso,
pois o correio tem de vir ao Rio, e do Rio à Europa, quase como no séc.
18. Ai, mas quem tivesse vivido então! Que soma de ilusões teríamos,
- que já não chegavam ao século atual! Que esperanças de liberdade, de
dignidade, que altos conceitos de Montesquieu! que sonho de realizar o
mundo pelo saber, como os enciclopedistas! [...] (MEIRELES, 1998a,
p. 176).

Em tais considerações havia, decerto, respingos de uma mitologia política da


“Idade do Ouro”, a contrastar com os problemas do presente, oscilando “entre a
impotência para reconstituir o que foi e esse peso da esperança que a lembrança conserva
sempre” (GIRARDET, 1987, p. 139). Essa possível idealização do século XVIII também
trazia em seu bojo um realismo crítico, emanado do cotejo do passado com o presente.
Em carta à Isabel do Prado, sua amiga, então funcionária da Organização das Nações
Unidas e empenhada, desde 1945, em trabalhos de reconstrução da Europa, expôs:
[...] eu quero contar aos homens como se morre sem culpa. E não a
mortezinha suave de cama e círio na mão – mas a morte esquartejada,
essa coisa vil, desrespeitosa, degradante que agora vimos repetir-se, em
larga escala, quando pensávamos que os tempos tinham passado de
partir os homens ao meio, aos repuxões de cavalos bravios...
(MEIRELES, 1947).23

A brutalidade do mundo recém-saído da Segunda Guerra Mundial, por esse


ângulo, não parecia tão diferente da crueldade de um outrora, feito, pelo visto, não só de
luzes. A vivência e a escrita da história, aqui, se encontravam e se alimentavam de uma
problemática comum, a perpassar os pensamentos e as convicções de Cecília Meireles,
de modo que soa pertinente a avaliação segundo a qual, “em última análise, esta obra [o
Romanceiro] tende para o que foi sempre a sua preocupação [da autora]: a vida e o destino
do homem” (GOUVEIA, 2014, p. 154). Um “sempre”, ressalte-se, heteróclito,
historicamente construído, atravessado por incertezas, tentativas e transformações.

Considerações finais ou da poeta-historiadora


Ao optar por abordar certos problemas e personagens históricos, Cecília parecia
mirar uma articulação de ideias e de noções político-axiológicas, capazes de dar a

23
O potencial das cartas de Cecília a Isabel do Prado como meios de compreensão da escrita do Romanceiro
foi trabalhado, parcialmente, em: SAMPAIO, 2015.

18
conhecer o passado, de intervir no presente e de colaborar com a abertura de futuros
possíveis. Suas diferentes facetas, frentes de atuação e redes de sociabilidade iam-se
costurando entre si e lavrando um mesmo projeto político-pedagógico e historiográfico.
A escrita da história, pois, derivava de uma cultura histórica, orientada por elementos
humanísticos e de contorno republicano, eventualmente sintetizados no dístico franco-
revolucionário “liberdade, igualdade e fraternidade”, em contraste com seus antípodas, a
tirania, o preconceito, a injustiça, o ódio.
Desde seu primeiro trabalho literário, enfrentou a tarefa de se comunicar com o
passado, adentrando a esfera pública. E, dessa forma, foi engendrando seu intuito de dar
voz e vez a antepassados, cujos ideais endossava, sentindo-se destinatária de parte
daquela herança (TODOROV, 2008). Cruzando passado e presente, razão e emoção,
subjetividade e objetividade, história e literatura, Cecília Meireles tateou experiências e
ensaiou reflexões, como portadora de uma visão complexa da existência, em que tais
pares terminológicos, tensionados, conviviam e se intercambiavam.
O interesse e a importância de conhecer e escrever sobre a aventura humana ao
longo de tempos e espaços, assim, acompanhou Cecília Meireles em sua trajetória, sem,
por isso, tê-la transformado em uma historiadora stricto sensu, numa época em que o
perfil daquele profissional estava em delineamento (GOMES, 1996). Ela mesma, aliás,
mostrava-se avessa a especializações e compartimentos intelectuais rígidos, embora
reconhecesse como áreas primordiais de atuação a Literatura e a Educação. Como revelou
à Isabel do Prado: “[...] em História sou simplesmente poeta” (MEIRELES, 1948). Dir-
se-ia poeta-historiadora, que, até falecer, em novembro de 1964, ainda produziria
biografias, crônicas, cartas, ensaios e poemas, devidamente acompanhada por seus
“espectros” ou “fantasmas”.

Referências bibliográficas

Fontes primárias

Livros
MEIRELES, Cecília. “A oração de Cecília Meireles”. In: COMISSÃO NACIONAL DE
FOLCLORE (Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura). III Semana Nacional
de Folclore. De 22 a 29 de agosto de 1950. Porto Alegre/RS, p. 86-95.
MEIRELES, Cecília. Artes populares. [1952]. Rio de Janeiro: Ediouro. [s.d.]
MEIRELES, Cecília. Crônica em geral. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998b. (Obra
em prosa; v. 1).
MEIRELES, Cecília. Crônicas de viagem, 2. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. (Obra
em prosa).

19
MEIRELES, Cecília. “Espectros” [1919]. In: MEIRELES, Cecília. Poesia completa.
Organização Antônio Carlos Secchim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001a. p. 3-28. [v.
1].
MEIRELES, Cecília. “Viagem: poesia (1929-1937)”. [1939]. In: MEIRELES, Cecília.
Poesia completa. Organização Antônio Carlos Secchim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2001a. p. 223-324 [v. 1].
MEIRELES, Cecília. “Mar Absoluto e outros poemas” [1945]. In: MEIRELES, Cecília.
Poesia completa. Organização Antônio Carlos Secchim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2001a. p. 443-595. [v. 1].
MEIRELES, Cecília. Crônicas de educação. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001b.
(Obra em prosa; v. 4).
MEIRELES, Cecília. “Como escrevi o Romanceiro da Inconfidência.” 20 de abril de
1955. In: MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. [1953]. Organização e
apresentação de Ana Maria Lisboa de Mello. Porto Alegre, RS: L&PM, 2013.
MEIRELES, Cecília. Cânticos [1927]. Apresentação Suzana Vargas. 4. ed. São Paulo:
Global Editora, 2015b.
MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. [1953]. Organização André Seffrin.
Apresentação Alberto da Costa e Silva. [13. ed.]. São Paulo: Global, 2015a.
RICARDO, Cassiano. A Academia e a Poesia Moderna. São Paulo: Editora Gráfica
Revista dos Tribunais, 1939.

Jornais e revistas
COSTA, Nelson. Uma geração literária. In: A.B.C.: política, atualidades, questões sociais,
letras e artes. Ano IX. n. 410. Rio de Janeiro, p. 3, 13 jan. 1923. Disponível em
https://bndigital.bn.gov.br/. Acesso em 9 fev. 2019.
LIMA, Alceu Amoroso. O Instituto Oficial de Psicologia. In: A Ordem. Centro Dom
Vital. Rio de Janeiro, n. 28, p. 402, jun. 1932. Disponível em https://bndigital.bn.gov.br/
Acesso em 22 ago. 2019.
MAGALHÃES, Basílio de. Espectros. In: Gil-Blas – Panfleto de Combate. Rio de
Janeiro, p. 5, 26 jun. 1919. Disponível em https://bndigital.bn.gov.br/ Acesso em 9 jul.
2019.
MEIRELES, Cecília. In: A União. Rio de Janeiro, p. 3, 18 mar. 1920. Disponível em
https://bndigital.bn.gov.br/ Acesso em 5 jun. 2019.
MEIRELES, Cecília. Por que a escola deve ser leiga. A segunda conferência da série
realizada a convite da Liga-Anticlerical do Brasil. In: Diário de Notícias. Rio de Janeiro,
Domingo, p. 4, 17 jan.1932a. Disponível em https://bndigital.bn.gov.br/ Acesso em 14
jun. 2019.
MEIRELES, Cecília. Para a monarquia!. In: Diário de Notícias. Rio de Janeiro, terça-
feira, p. 4, 05 jan. 1932b. Disponível em https://bndigital.bn.gov.br/ Acesso em 9 fev.
2019.
MEIRELES, Cecília. Economia do Magistério. In: O Observador Econômico e
Financeiro. Rio de Janeiro, n. 37, p. 22-40, fev. 1939a.
MEIRELES, Cecília. Economia do Intelectual. In: O Observador Econômico e
Financeiro. Rio de Janeiro, n. 40, p. 59-74, mai. 1939b.
MEIRELES, Cecília. Trabalho feminino no Brasil. In: O Observador Econômico e
Financeiro. Rio de Janeiro, n. 42, p. 93-107, jul. 1939c. Disponíveis em
https://bndigital.bn.gov.br/ Acesso em 15 ago. 2019.
MEIRELES, Cecília. Holy Week in Ouro Preto. In: Travel in Brazil. Rio de Janeiro,
Brazil, The Press and Propaganda Dept, v. 2, n. 4, p. 16, 1942. Disponível em
https://bndigital.bn.gov.br/ Acesso em 9 ago. 2019.

20
MEIRELES, Cecília. Cecília Meireles fala de sua vida literária. Entrevista a Solena
Benevides Vianna. Jornal A Manhã. Rio de Janeiro – Domingo, 20 jan. 1946. Disponível
em https://bndigital.bn.gov.br/ Acesso em 17 mai. 2018.
MURICI, Andrade. “Geração adolescente.” In: Festa: mensário de pensamento e de arte.
Rio de Janeiro, Ano I, n. 12, p. 3-4, 15 set. 1928. Disponível em
https://bndigital.bn.gov.br/ Acesso em 9 fev. 2019.
O SÉCULO. Rio de Janeiro, 19 jun. 1915, p. 2. Disponível em https://bndigital.bn.gov.br/
Acesso em 5 jun. 2019.
SOUZA, Lincoln. As nossas melhores poetisas. In: Gil-Blas – Panfleto de Combate. Rio
de Janeiro: 15 abr. 1920, não paginado. Disponível em https://bndigital.bn.gov.br/ Acesso
em 9 jul. 2019.

Epistolografia
Cartas de Cecília Meireles a Armando Côrtes-Rodrigues (1946-1964):
Rio de Janeiro, 21 de maio de 1946;
Rio de Janeiro, 26 de maio de 1947;
Rio de Janeiro, 20 de julho de 1947;
Rio de Janeiro, 04 de setembro de 1947.
Rio de Janeiro, 15 de setembro de 1947;
Rio de Janeiro, 04 de abril de 1949;
Rio de Janeiro, 6 de dezembro de 1950.

Reunidas em: MEIRELES, Cecília. A lição do poema: cartas de Cecília Meireles a


Armando Côrtes-Rodrigues. Organização e notas de Celestino Sachet. Ponta Delgada,
Açores: Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1998a.

Cartas de Cecília Meireles a Isabel do Prado (1941-1953):


Rio de Janeiro, 17 de julho de 1947.
Rio de Janeiro, 10 de maio de 1948.
Disponíveis na Fundação Casa de Rui Barbosa RJ: Arquivo Isabel do Prado.

Entrevistas
MEIRELES, Cecília. Entrevista. Um curso de literatura para os servidores civis. In: A
Manhã. Rio de Janeiro, Domingo, p. 3, 29 out. 1944,. Disponível em
https://bndigital.bn.gov.br/ Acesso em 15 out. 2019.
MEIRELES, Cecília. Cecília Meireles fala de sua vida literária. Entrevista a Solêna
Benevides Vianna. In: A Manhã. Rio de Janeiro, Domingo, p. 11, 20 jan. 1946. Disponível
em https://bndigital.bn.gov.br/ Acesso em 5 jun. 2019.
MURICI, Andrade. Entrevista. In: CACCESE, Neusa Pinsard. Festa: contribuição para o
estudo do modernismo. São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de
São Paulo, 1971. p. 224-239.

Obras em geral
ANDRADE, Oswald. Voto a descoberto [1952]; Um prêmio [1953]. In: Telefonema.
Organização, introdução e notas de Vera Maria Chalmers. 2ª ed. aum. São Paulo: Globo,
2007. p. 553 e 666 (Obras completas de Oswald de Andrade).
ARENDT, Hannah. Que é Liberdade?. In: Entre o passado e o futuro. [1954]. Tradução
Mauro W. Barbosa. 7 ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2013. p. 188-220. (Debates; 64).

21
AZEVEDO, Fernando [et.al.] Manifestos dos pioneiros da educação nova (1932) e dos
educadores (1959). Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010.
(Coleção Educadores).
BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história. In: Magia e técnica, arte e política:
ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução Sérgio Paulo Rouanet. Prefácio
Jeanne Marie Gagnebin. 8ª ed. rev. São Paulo: Brasiliense, 2012. p. 241-252. (Obras
escolhidas v. 1).
BORDINI, Maria da Glória. História e poesia no Romanceiro da Inconfidência. [1996].
In: MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. 13ª ed. São Paulo: Global, 2015.
p. 289-310.
BRITO, Mário da Silva. Cecília Meireles. In: Poesia do Modernismo [1959]. 2ª ed. Rio
de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1968. p. 169-178.
BURKE, Peter. A Escola dos Annales (1929-1989): a revolução francesa da
historiografia. Tradução Nilo Odalia. 2ª ed. São Paulo: Editora da Unesp, 2010.
CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: o imaginário da República no
Brasil. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
CATROGA, Fernando. Ensaio Respublicano. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos
Santos, 2011. (Ensaios da Fundação).
CERQUEIRA, Erika Morais. Habitar o passado: Gustavo Barroso e o seu tempo.
Curitiba: Editora Prismas, 2017.
COMPAGNON, Olivier. O adeus à Europa: a América Latina e a Grande Guerra
(Argentina e Brasil, 1914-1939). Tradução Carlos Nougué. Rio de Janeiro: Editora
Rocco, 2014.
CORRÊA, Maria Letícia. Jornalismo econômico no Brasil: um estudo a partir da revista
O Observador Econômico e Financeiro (1936-1945). In: BRANDÃO, Rafael Vaz da
Motta; CHAVES, Mônica Piccolo Almeida; CORREA, Maria Letícia. História
econômica e imprensa. Rio de Janeiro: Contracapa: 2016. p. 113-130.
DECRETO, n. 19.488, de 15 de dezembro de 1930. Disponível em
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-19488-15-dezembro-
1930-508040-republicacao-85201-pe.html. Acesso em 17 ago. 2019.
DECRETO, nº 155-B, de 14 de janeiro de 1890. Disponível em
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-155-b-14-janeiro-1890-
517534-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em 17 ago. 2019.
FLÉCHET, Anaïs; COMPAGNON, Olivier; ALMEIDA, Sílvia Capanema P. de (Org.).
Como era fabuloso o meu francês!: Imagens e Imaginários da França no Brasil (séculos
XIX-XX). Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa; 7 Letras, 2017.
FRAGA, André Barbosa. Os heróis da pátria: política cultural e história do Brasil no
governo Vargas. Curitiba/PR: Ed. Prismas, 2015.
GIRARDET, Raoul. Mitos e mitologias políticas. Tradução de Maria Lúcia Machado.
São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
GOMES, Ângela de Castro. História & historiadores. Rio de Janeiro: Editora Fundação
Getúlio Vargas, 1996.
GOMES, Ângela de Castro. Cultura política e cultura histórica no Estado Novo. In:
ABREU, Martha et. al. (Orgs.). Cultura política e leituras do passado: historiografia e
ensino de história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. p. 43-51.
GOUVÊA, Leila V. B. Pensamento e “Lirismo Puro” na poesia de Cecília Meireles. São
Paulo: Edusp, 2008. (Ensaios de Cultura; 34).
GOUVEIA, Margarida Maia. Cecília Meireles, um auto-retrato: a correspondência com
Côrtes-Rodrigues. In: OLIVEIRA, Gisele; LOPES, Delvanir (Orgs.). Cecília Meireles em

22
diálogos dissonantes: 50 anos de presença em saudade (1964-2014). São Paulo:
Scortecci, 2014. p. 141-159.
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX (1914-1991). [1994]. 2ª ed.
Tradução Marcos Santarrita. Revisão técnica Maria Célia Paoli. São Paulo: Companhia
das Letras, 1994.
LAMEGO, Valéria. A farpa na lira: Cecília Meireles na Revolução de 30. Rio de Janeiro:
Record, 1996.
LAMEGO, Valéria. “Lirismo engajado: um decálogo para Cecília Meireles.” In: Revista
Quatro cinco um, São Paulo, p. 16-17, maio 2018.
LÔBO, Yolanda. Cecília Meireles. Recife: Fundação Joaquim Nabuco. Editora
Massagana, 2010. (Coleção Educadores).
LUCA, Tânia Regina de. A produção do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP)
em acervos norte-americanos: estudo de caso. Revista Brasileira de História, São Paulo,
v. 31, n. 61, p. 271-296, 2011.
MAXWELL, Kenneth. Conjuração Mineira (1789). In: SCHWARCZ, Lilia Moritz;
STARLING, Heloisa Murgel (Orgs.). Dicionário da República: 51 textos críticos. São
Paulo: Companhia das Letras, 2019. p. 67-74.
MOURA, Murilo Marcondes de. O mundo sitiado: a poesia brasileira e a Segunda Guerra
Mundial. São Paulo: Ed. 34, 2016.
REIS, Ana Amélia Neubern Batista dos. Cecília Meireles e a Índia no modernismo
brasileiro. 235 f. Tese (Doutorado). Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de
Letras, Belo Horizonte, 2019.
SAMPAIO, Cláudia Dias. Cecília Meireles e Isabel do Prado: a construção de
Romanceiro da Inconfidência. Revista da Anpoll, Florianópolis, n. 38, p. 245-255,
Jan./Jun. 2015.
SÁNCHEZ MARCOS, Fernando. Cultura histórica. In: Culturahistórica.es: portal digital
multilíngue sobre cultura histórica. Disponível em
http://www.culturahistorica.es/cultura_historica.html. Acesso em 22 abr. 2019.
SEFFRIN, André. Bibliografia básica sobre o Romanceiro da Inconfidência. In:
MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. [1953]. Organização André Seffrin.
Apresentação Alberto da Costa e Silva. [13. ed.]. São Paulo: Global, 2015. p. 335-346.
PIMENTA, Jussara. Leitura e encantamento: a Biblioteca Infantil do Pavilhão Mourisco.
In: NEVES, Margarida de Souza; LÔBO, Yolanda Lima; MIGNOT, Ana Chrystina
Venancio (Orgs.). Cecília Meireles: a Poética da Educação. Rio de Janeiro: Ed. PUC RJ:
Loyola, 2001. p. 105-120.
STARLING, Heloísa Murgel. Ser republicano no Brasil Colônia: a história de uma
tradição esquecida. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
SEVCENKO, Nicolau. Capital irradiante: técnica, ritmo e ritos do Rio. In: SEVCENKO,
Nicolau (Org.). República: da Belle Époque à Era do Rádio. São Paulo: Companhia das
Letras, 1998. p. 513-620. (História da vida privada no Brasil; v. 3).
SHARPE, Jim. A história vista de baixo. In: BURKE, Peter (Org.). A escrita da história:
novas perspectivas. Tradução Magda Lopes. São Paulo: Editora Unesp, 1992. p. 39-62.
SILVA, Denilson de Cássio. Pensadora da guerra e “pastoras de nuvens”: Cecília Meireles e a
Grande Guerra Mundial (Rio de Janeiro, 1930-1933). In: ANAIS DO XXIX SIMPÓSIO
NACIONAL DE HISTÓRIA: contra os preconceitos: história e democracia. Universidade de
Brasília (UnB), Brasília DF: Associação Nacional de História, 24 a 28 de julho de 2017b.
SILVA, Denilson de Cássio. “O ‘afeto das palavras’: Pátria, Nação e Estado em Fernando
Pessoa, Mário de Andrade e Cecília Meireles (Lisboa, São Paulo, Rio de Janeiro, primeira
metade do século XX).” In: Revista Cantareira. Niterói, edição 27, jul-dez., p. 82-94,
2017a.

23
SILVA, Denilson de Cássio. Pacifismo, educação e dimensões políticas na América Latina:
Cecília Meireles em diálogo com Alfonso Reyes (Rio de Janeiro, década de 1930). In: Em tempo
de histórias. PPGHIS UnB. Brasília, n. 32, p. 103-124, jan-jul. 2018.
TODOROV, Tzvetan. O espírito das Luzes. Tradução Mônica Cristina Corrêa. São Paulo: Editora
Barcarolla, 2008.
WELLS, Herbert George. Complete works of H. G. Wells. Hastings (UK): Delphi Classics, 2015.

24

Você também pode gostar