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Resumo
Fica evidente que o concepção de modo de produção tanto para Marx quanto
para Engels é mais ampla que o campo da economia. Modo de produção inclui as relações
pelas quais os seres humanos se associam para produzirem seus meios de vida, as
condições que encontram e está inserido num modo de vida. Esse último, engloba vários
outros campos nos quais a ciência está dividida, “o que hoje se chamaria de campo da
‘filosofia’, ‘economia’, ‘política’, ‘sociologia’, ‘pedagogia’, ‘psicologia’, ‘antropologia’, etc.”
(GOULDNER, 1990, pág. 1). A atuação na produção, a necessidade dessa atuação, a forma
como ela se dá para diferentes classes está intrinsecamente ligado às formas de
regularização dessas relações (VIANA, 2007). As formas de consciência das relações
compõem também o modo de vida (VIANA, 2008).
Outro aspecto a se considerar é o reconhecimento do retorno que as relações
sociais criadas a partir do modo de produção têm sobre essas últimas (VIANA, 2007).
Desse modo a afirmação sobre a qual a “a indústria e o comércio, a produção e o
intercâmbio das necessidades vitais, condicionam, por seu lado, a distribuição, a estrutura
das diferentes classes sociais e são, por sua vez, condicionadas por elas no modo de seu
funcionamento” (MARX; ENGELS, 2007, pág. 31), refuta qualquer postulado de a
consciência ou as formas de regularização das relações sociais serem simples reflexos do
modo de produção entendido restritamente como economia. O que remete à necessidade
de aplicação do materialismo histórico dialético à ele mesmo (KORSCH, 2008; LUKÁCS,
2003; VIANA, 2008), no sentido de determinar histórico-concretamente as apropriações
do marxismo.
O primeiro capítulo de O Capital pode ser tomado nesse sentido. A exposição
das determinações da mercadoria, desde como ela aparece até a sua essência, implica em
demonstrar as relações sociais nas quais os seres humanos produzem sua existência no
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capitalismo. A análise de Marx vai desembocar na exposição de que “as relações entre os
produtores, nas quais se afirma o caráter social dos seus trabalhos, assumem a forma de
relação social entre os produtos do trabalho” (2003, pág. 94).
Tal processo ocorre por meio do trabalho privado (2003), trabalho estranhado
ou pela divisão social do trabalho (MARX, 2004). A realização da atividade que caracteriza
o ser humano, a produção dos meios de vida, não como realização, mas como privação da
própria produção, do produto e de si mesmo consiste na relação fundamental na
sociedades de classe, como a capitalista. Nessas sociedades, “(...) cada nova fase da divisão
do trabalho determina também as relações dos indivíduos uns com os outros no que diz
respeito ao material, ao instrumento e ao produto do trabalho” (MARX; ENGELS, 2007,
pág. 89).
AS RELAÇÕES SOCIAIS E A EMANCIPAÇÃO HUMANA
A impossibilidade de vida fora da sociedade parece mais atual que nunca. Até os
lupemproletários, ou desempregados em algumas correntes interpretativas, contam com
restritas possibilidades de vida. A generalização das relações capitalistas para quase todo o
mundo impõe o assalariamento ou a miséria derivada da impossibilidade de acesso aos
meios de produção, fundamentalmente a terra interditada pelas relações de propriedade.
A pesquisa sobre as relações sociais a partir do referencial materialista histórico
dialético, não obstante, precisa retomar uma leitura marxista do marxismo e, no diálogo
com o marxismo original (GOULDNER, 1990) partir de pressupostos fundamentais dessa
perspectiva. Entre eles, a afirmativa de Marx e Engels de que “o fato é, portanto, o
seguinte: indivíduos determinados, que são ativos na produção de determinada maneira,
contraem entre si estas relações sociais e políticas determinadas” (2007, pág. 93). Isso
implica considerar que “um determinado modo de produção ou uma determinada fase
industrial estão sempre ligados a um determinado modo de cooperação ou a uma
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Expressa em momento inicial da exposição dos autores, tal afirmação pode ser
tomada, por outro lado, como conclusiva. Nela se afirma o caráter temporal e material das
sociedades. O que remete à necessidade de, na pesquisa social, ultrapassar os limites da
aparência das relações sociais, da descrição parnasiana 1 dessas, e percebê-las também
como atividade sensível dos seres humanos. Metodologicamente,
Essa concepção da história (e/ou das sociedades) consiste, portanto,
em desenvolver o processo real de produção a partir da produção
material da vida imediata e em conceber a forma de intercâmbio
conectada a esse modo de produção e por ele engendrada, quer dizer
a sociedade civil em seus diferentes estágios, como o fundamento de
toda a história, tanto a apresentando em sua ação como Estado como
explicando a parti dela o conjunto das diferentes criações teóricas e
formas da consciência – religião, filosofia, moral etc. – e em seguir o
seu processo de nascimento a partir dessas criações, o que então
torna possível, naturalmente, que a coisa seja apresentada em sua
totalidade (assim como a ação recíproca entre esses diferentes
aspectos) (42).
1 Refere-se à escola artística de fins do século XIX conhecida como Parnasianismo e que possui entre suas
características a descrição naturalista.
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sociais podem ser pesquisadas nessa perspectiva, tal como as relações sociais entre os
sexos.
Bibliografia