Você está na página 1de 5

Há seis meses a Polícia Federal (PF) procura 

os integrantes de um grupo
terrorista que já praticou pelo menos três atentados a bomba em Brasília e
anuncia como seu objetivo mais audacioso matar o presidente da
República Jair Bolsonaro. A informação foi publicada na manhã desta
sexta-feira (19) pela revista Veja. 

O veículo informa que entrevistou nas duas últimas semanas um dos


líderes da Sociedade Secreta Silvestre (SSS), que se apresenta como
braço brasileiro do Individualistas que Tendem ao Selvagem (ITS), uma
organização internacional que se diz ecoextremista e é investigada por
promover ataques a políticos e empresários em vários países.

O terrorista identifica-se como “Anhangá”. Por orientação do grupo, o


contato foi feito pela deep web, uma espécie de área clandestina da
internet que, irrastreável, é utilizada como meio de comunicação por
criminosos de várias modalidades. O líder garante que o plano para matar
Bolsonaro é real e começou a ser elaborado desde o instante em que o
presidente foi eleito. Anhangá contou a Veja que o grupo planejava
executar o presidente no dia da posse. “Vistoriamos a área antes. Mas
ainda estava imprevisível. Não tínhamos certeza de como funcionaria”,
explicou à Veja o terrorista.

Jair Bolsonaro: alvo da SSS, organização que se diz ecoextremista


(Foto: AFP)
O máximo que ele revelou aos jornalistas do veículo  sobre si é que é do
sexo masculino, tem entre 20 e 30 anos, está em Brasília e é "um radical
defensor da natureza". Já com as vidas humanas, não demonstra a
mesma preocupação. Segundo ele, o presidente é um “estúpido populista”
que “falha com sua segurança” e anda “sem uma proteção adequada”, o
que facilita o atentado. “Um ataque a Jair Bolsonaro será sempre uma
possibilidade latente. Bolsonaro e sua administração tem declarado guerra
ao meio ambiente. Tentamos sempre adquirir explosivos e armas mais
potentes. Estudamos semanalmente nossos alvos".

Dias antes da posse de Bolsonaro, a SSS colocou uma bomba em frente a


uma igreja católica distante 50 quilômetros do Palácio do Planalto. O
artefato não explodiu por uma falha do detonador. No mesmo dia, a SSS
postou um vídeo na internet reivindicando o ataque e revelando detalhes
da bomba que só quem a construiu poderia conhecer. Nessa postagem, o
grupo também anunciou que o próximo alvo seria o presidente eleito, o que
levou as autoridades a sugerir o cancelamento do desfile em carro aberto.
“Facilmente poderíamos nos misturar e executar este ataque, mas o risco
era enorme (…) então seria suicida. Não queríamos isso.” Na ação seriam
usados explosivos e armas. “A finalidade máxima seriam disparos contra
Bolsonaro ou sua família, seus filhos, sua esposa.”
Incêndio de carros do Ibama em Brasília: o grupo gravou as cenas
(CBMDF/Divulgação)

Depois disso, em abril, dois carros do Ibama foram incendiados em um


posto do órgão em Brasília e, no local, havia pichações com ameaças de
morte ao ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente. Em vídeo, o grupo
assumiu a responsabilidade pelo atentado e exibiu o material utilizado
durante o ataque, oferecendo provas de que era mesmo o autor do crime.

Além de Ricardo Salles, na entrevista ao veículo, o líder do grupo


extremista alerta para a existência de um terceiro alvo no governo:
Damares Alves, a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos. 

Espécie de holding internacional dos chamados ecorradicais, o ITS foi


fundado em 2011 no México e afirma ter representantes também na
Argentina, Chile, Espanha e Grécia. A organização se diz contra tudo o
que leva à devastação do meio ambiente e defende o uso de medidas
extremas e atos violentos contra os inimigos da natureza (evidentemente
tal discurso não tem coerência alguma). Em maio passado, os
ecoterroristas do Chile assumiram a autoria de uma carta-­bomba enviada
a um empresário. Dois anos antes, em 2017, um artefato similar foi
endereçado ao presidente de uma mineradora, que ficou ferido. No
México, o ITS reivindicou a autoria de várias explosões em universidades.
Uma delas resultou, em 2016, na morte de um pesquisador. No fim do ano
passado, o grupo também se responsabilizou por uma bomba deixada
próximo a uma igreja ortodoxa em Atenas.
Bomba em frente a uma igreja de Brasília: o primeiro recado da
SSS
(Foto: Reprodução)

De acordo com a Veja, os terroristas brasileiros vêm sendo monitorados


pelas autoridades há algum tempo. Um relatório elaborado pela diretoria de
inteligência da PF intitulado “Informações sobre Sociedade Secreta
Silvestre” descreve que, em 2017, uma bomba foi deixada na rodoviária de
Brasília. O documento, obtido por VEJA, ressalta que a imprensa não
noticiou o atentado, mas, mesmo assim, os detalhes foram divulgados
num site do grupo chamado Sociedade Secreta Silvestre, traduzidos para
diversos idiomas e assinados por uma pessoa identificada como Anhangá.

Em dezembro, depois da ameaça ao presidente Bolsonaro, a Polícia


Federal decidiu pôr no caso os melhores agentes da seção antiterrorismo.
Os policiais já seguiram várias pistas. Três suspeitos chegaram a ser
presos. Mas os integrantes do grupo ainda não foram identificados.
Anhangá provoca: “(Eles) são incompetentes (…). Não somos meros
amadores, dominamos técnicas de segurança, de engenharia, de
comportamento social. (…) Discutimos internamente com membros de
outros países”.
Os comunicados e vídeos do grupo terrorista ITS são postados num site
chamado Maldición Eco-­extremista, traduzido para diversos idiomas. Foi
por meio desse canal que VEJA solicitou uma entrevista com um
integrante do ITS-Brasil. Um e-mail criptografado, de um servidor
localizado na Suíça, indicou um endereço eletrônico para o qual deveriam
ser enviadas as perguntas. Pouco tempo depois, Anhangá apareceu e
disse que estava à disposição para esclarecer as dúvidas da reportagem.
A partir daí, foi mandado um link de um chat privado, em que as
mensagens eram destruídas após 24 horas. Nesse canal, foram feitas três
entrevistas, reproduzidas ao longo destas páginas. Em fevereiro de 2019,
a rede de televisão francesa TV5Monde utilizou o mesmo caminho para
entrevistar o fundador do ITS, que se apresentou como “Xale”. A
reportagem informava que o grupo tinha ramificação no Brasil.

Num inquérito sigiloso obtido por Veja, a própria PF destaca que o grupo
continua praticando atos criminosos com “extrema gravidade” e mostrando
“profusão de ideias violentas e extremistas, além de divulgar ameaças
contra a vida do Bolsonaro”. Isso, por si só, já se enquadra em crime de
terror.

Segundo afirma a reportagem do veículo, o inquérito do STF também


reuniu evidências de um plano real de ataque contra um ministro da Corte.
Os investigadores descobriram que um grupo havia monitorado durante
algum tempo a rotina de um dos magistrados, cujo nome é mantido em
sigilo, e de sua família, que mora em São Paulo. O objetivo era definir o
melhor lugar para uma emboscada, e o local escolhido foi o Aeroporto de
Congonhas. A ideia dos criminosos era cercar o carro do ministro na saída
do terminal e metralhá-lo. “Eles diziam que ‘iam abrir fogo’”, revela um
magistrado que teve acesso à investigação, conduzida pelo ministro
Alexandre de Moraes.

O plano foi discutido em um chat da deep web também frequentado pelos


estudantes Guilherme Monteiro e Luiz Henrique de Castro, que
invadiram uma escola em Suzano, no interior de São Paulo, e
executaram cinco alunos, duas funcionárias e depois se mataram. No
chat, o grupo que planejava o ataque ao ministro do STF trocava
informações com os assassinos da escola.

Você também pode gostar