Por volta de 1885, Johann Balmer constatou que uma série de freqüências emitidas pelo
átomo de hidrogênio poderia ser expressa pela equação
n = (1/4 - 1/n2) x 3,29 x 1015 Hz,
onde n é um número inteiro ou igual a 3. A simplicidade desta expressão era intrigante, e
outras relações empíricas semelhantes, entre as freqüências emitidas por outros átomos,
foram buscadas, mas nenhuma delas relacionava números inteiros de maneira tão simples.
Bohr havia desenvolvido um modelo do átomo de hidrogênio que lhe permitia explicar
porque as freqüências emitidas obedeciam a uma lei tão simples. Seu pensamento estava
baseado nos seguintes postulados:
1. No átomo, somente é permitido ao elétron estar em certos estados estacionários,
sendo que cada um deles possui uma energia fixa e definida.
2. Quando um átomo estiver em um destes estados, ele não pode emitir luz. No
entanto, quando o átomo passar de um estado de alta energia para um estado de
menor energia há emissão de um quantum de radiação, cuja energia hn é igual à
energia entre os dois estados.
3. Se o átomo estiver em qualquer um dos estados estacionários, o elétron se
movimenta descrevendo uma órbita circular em volta do núcleo.
4. Os estados eletrônicos permitidos são aqueles nos quais o momento angular do
elétron é quantizado em múltiplos de h/2p
Dentre os quatro postulados, as duas primeiras estão corretas e são mantidas pela teoria
quântica atual. O quarto postulado está parcialmente correto: o momento angular de um
elétron é definido, mas não da maneira proposta por Bohr. O terceiro postulado está
completamente errado e não foi incorporado pela teoria quântica moderna.
NÚMEROS ATOMICOS E ÁTOMOS MULTIELETRÔNICOS
As equações de Bohr posem ser aplicadas a outros átomos monoeletrônicos tais como He +,
Li+, Be3+, etc, desde que os respectivos números atômicos (Z=2,3,4, etc) sejam utilizados.
As energias dos elétrons em átomos com mais de um elétron não podem ser calculadas por
meio das equações de Bohr. Estas podem ser obtidas a partir de medidas espectroscópicas.
Os elétrons de valência de muitos átomos podem ser promovidos quando excitados na faixa
de comprimentos de onda entre 200 e 1000 nm. Várias séries de linhas de emissão, mais
ou menos similares àquelas observadas para o átomo de H, foram observadas para os
átomos de Li, Na e K. Tais séries foram denominadas sharp, principal, diffuse e fine. Se
calcularmos os valores recíprocos dos comprimentos de onda de modo a obtermos uma
unidade de energia, então, podemos montar os diagramas de níveis de energia. Nestes
diagramas os níveis foram classificados como S, P, D e F, para identificar as séries.
Devido ao efeito de blindagem pelos elétrons internos, os elétrons de valência no lítio, sódio
e potássio possuem níveis com energias similares. A transição do nível P para o nível S é
responsável pelo aparecimento de uma emissão na região visível espectro. Esta luz é
utilizada para identificar estes átomos por meio dos tradicionais "testes da chama".
Uma grande quantidade de informações com relação aos níveis de energia não átomos foi
obtida analisando-se os espectros na presença de campos magnéticos. Constatou-se por
meio deste tipo de experimento que é necessário outros números quânticos, além do
número quântico n de Bohr, para descrever os átomos. O maior avanço foi conseguido por
G. Goudsmit e D. Ulenbeck que, em 1925, propuseram que os elétrons devem ter um
momento angular intrínseco denominado momento angular de spin, quantizado em
unidades de h/2p . Este novo momento angular e o número quântico magnéticos a ele
associado são muito importantes para a compreensão dos níveis de energia permitidos em
átomos multieletrônicos.
Em 1912, foi desenvolvido uma técnica para determinar o número atômico de todos os
elementos. H.G.J. Moseley bombardeou eletrodos metálicos com elétrons acelerados por
uma grande diferença de potencial. Desta forma ele foi capaz de obter espectros de emissão
na região do raio-x. Estas transições ocorrem devido à excitação de elétrons muito próximos
ao núcleo dos elementos, na superfície do eletrodo. Estes elétrons formam as camada K e L,
sendo o efeito de que todas as freqüências observadas poderiam ser descritas pela fórmula
empírica
n = c(Z - b)2,
onde c e b eram constantes que dependem da camada eletrônica considerada. Z era um
inteiro cujo valor aumentava regularmente de uma em uma unidade, quando os elementos
eram tomados na ordem em que apareciam na tabela periódica. Então, Moseley concluiu
corretamente que a magnitude de Z era o número atômico, ou seja, a carga do núcleo do
elemento emissor do raio-x. De acordo com a teoria de Bohr, a freqüência da luz emitida
por um átomo monoeletronico deveria ser proporcional a Z 2, o quadrado da carga nuclear.
Moseley propôs que a razão das Z2 era devido ao fato dos elétrons terem a tendência de se
blindar mutualmente. Portanto, sempre que for considerado mais do que um elétron, a
carga nuclear efetiva será igual a (Z - b) e não a Z, sendo b aproximadamente igual a 1,0
para os elétrons da camada K.
Se ordenarmos os elementos segundo as massas atômicas dos elementos, três pares de
elementos (níquel e cobalto, argônio e kriptônio e telúrio e iodo) aparecem em posições
inconsistentes com suas propriedades químicas. Moseley percebeu que tais discrepâncias
poderiam ser sanadas ordenando os elementos os elementos segundo seus números
atômicos. Resumindo, ele mostrou que a carga nuclear e não a massa é mais fundamental
na definição das propriedades químicas.
AS LIMITAÇÕES DO MODELO DE BOHR
Os níveis de energia de Bohr são consistentes para átomos monoeletrônicos e podem ser
corrigidos para ser utilizados em átomos multieletrônicos. Entretanto, aqueles níveis de
energia em si não explicam a tabela periódica. No caso do átomo de Li, o elétron de
valência tem n = 2 no seu estado de menor energia. De acordo com as hipóteses de Bohr,
este elétron deveria ter um momento angular orbital igual a 2h/2p . Contudo, foram obtidos
como resultado dos experimentos baseados em medidas magnéticas que os níveis S,
apresentam momento angular orbital igual a zero. Experimentos similares com o átomo de
H indicam que o momento angular dos níveis S (n-1) é igual a zero. A tabela periódica é
coerente com a existência dos octetos eletrônicos, mas a teoria de Bohr não. Obviamente, o
modelo de Bohr tinha de ser revisado.
As tentativas no sentido de corrigir o modelo de Bohr culminaram na introdução dos orbitais
elípticos, os quais melhoram a concordância das energias calculadas com aquelas obtidas
por meio dos espectros, mas a tabela periódica ainda não podia ser explicada. Enquanto
esta modificações eram realizadas no modelo de Bohr, outras evidências iam aparecendo e
cada vez mais se tornava claro que a mecânica clássica, usada por Bohr, jamais poderia
explicar as propriedades dos elétrons nos átomos.
MECÂNICA QUÂNTICA
Talvez possa parecer surpreendente o fato da teoria de Bohr, tão bem sucedida no início,
ter sido abandonada depois de apenas 12 anos. A despeito dos sucesso de uma teoria, ela
deve ser refinada ou rejeitada se ela não for capaz de explicar todos os fatos experimentais
relevantes. Mesmo após todas as correções introduzidas a teoria de Bohr não capaz de
explicar os detalhes dos espectros de átomos multieletrônicos, e nem era capaz de
proporcionar uma explicação satisfatória relativa às ligações químicas. Estas e outras falhas
da teoria indicavam claramente que as idéias de Bohr consistiam apenas em mais uma
etapa para o desenvolvimento de uma teoria atômica geral.
Havia dois fatos mal explicados pela física teórica, no início da década de 1920. Uma era o
conflito entre o modelo ondulatório e corpuscular da luz. O outro era o fato do conceito de
quantizações de energia ter sido introduzido na mecânica Newtoniana de uma forma pouco
aceitável, quase como um apêndice. O desenvolvimento de uma nova teoria mecânica
parecia inevitável, para eliminar o conflito entre o modelo corpuscular e ondulatório da luz e
para fazer com que o conceito de quantização surgisse como uma conseqüência de algum
princípio mais fundamental.
DUALIDADE ONDA - PARTÍCULA
Em 1924, L. de Broglie tomou algumas das equações utilizadas anteriormente por Einstein
para descrever o fóton e rearranjou-as de modo a poder calcular o comprimento de onda de
partículas em movimento. Seu resultado foi
l = h/mv = h/p.
Esta equação fundamenta o conceito da dualidade onda - partícula. Ou seja, todas as
partículas de matéria em movimento, também, deve apresentar propriedades ondulatórias.
Então percebe-se que quanto maior a massa e a velocidade da partícula menor é o
comprimento de onda. Assim, não podemos medi-lo diretamente porque o comprimento de
onda associado às partículas macroscópicas é menor que as dimensões de qualquer sistema
físico que venhamos a medir. Assim, nunca iremos observar a difração ou qualquer outro
fenômeno ondulatório ocorrer com bolas de basebol ou mesmo como partículas de poeira.
Por outro lado, o momento dos elétrons e mesmo dos átomos são tão pequenos que os
comprimentos de onda associados ao seu movimento são aproximadamente da mesma
dimensão dos espaçamentos interatômicos nos cristais. Portanto, quando um feixe de
elétrons atinge a superfície de um cristal, ele deve ser difratado. Este fenômeno foi
observado pela primeira vez em 1927, três anos após de Broglie ter desenvolvido suas
idéias.
A proposta de Broglie parece ter piorado a situação, ao invés de resolver o conflito da
dualidade onda - partícula. Contudo, a generalização da idéias de Broglie geraram uma
teoria mecânico-quântica totalmente consistente. Atualmente, a interpretação
universalmente aceita com relação à dualidade onda-partícula é a de que não existe
nenhuma inconsistência no comportamento observado. Estamos utilizando as palavras de
uma linguagem criada para descrever o mundo macroscópico para tentarmos descrever o
comportamento de sistemas atômicos. Portanto, não podemos supor que palavras tais como
onda ou partícula sempre descrevam satisfatoriamente todas as propriedades de coisas que
não fazem parte do nosso mundo macroscópico. Assim, o que quer que sejam fótons e
elétrons, aceitamos o fato de que eles possuem uma natureza dual: em alguns
experimentos eles se comportam mais como partículas e em outras mais como ondas.
PRINCÍPIO DA INCERTEZA
Os termos posição e velocidade são utilizados para descrever o comportamento de
partículas macroscópicas. Haverá alguma restrição em aplica-los às partículas subatômicas,
que apresentam propriedades de onda? Considere o problema de se determinar a posição
de um elétron, para perceber que existe restrições. Se tentar usar luz para localizar o
elétron, segundo os princípios gerais da óptica não se pode localizar o elétron com uma
precisão maior que ± l , o comprimento de onda da luz utilizada. Obviamente, pode-se
tornar n suficiente pequeno para que se possa localizar o elétron com bastante precisão.
Entretanto, será que se pode determinar o momento do elétron e sua posição
simultaneamente. A resposta é não, pois para se determinar a posição do elétron,
inevitavelmente, muda-se seu momento por uma quantidade desconhecida. Para localizar
um elétron com a ajuda de um fóton, deve haver uma colisão entre os dois. Um fóton de
comprimento de onda l possui um momento p = h/l , sendo que uma fração qualquer do
momento do fóton será transferida para o elétron no instante da colisão. Logo, ao
determinar a posição do elétron com uma precisão D x = ± l produz-se uma incerteza no
seu momento equivalente a D p » h/l . O produto destas incertezas é igual a
D pD x » l h/l = h
Esta é um dedução grosseira do princípio da incerteza de Heisenberg, o qual estabelece
um limite na precisão com que a posição e o momento de uma partícula podem ser
determinados simultaneamente. Utilizando argumentos mais elaborados podemos obter a
equação precisa do princípio da incerteza:
D pD x ³ l h/4p
A determinação exata e simultânea da posição e do momento é o requisito necessário para
descrevermos a trajetória de uma partícula. Logo, pode-se inferir que há um limite para a
precisão com que podemos conhecer a trajetória da mesma. Discutindo o efeito da
aplicação do princípio da incerteza sobre a determinação da trajetória dos elétrons nos
átomos. De modo a termos uma idéia sobre a localização exata de um elétron, tenta-se
determinar sua posição com uma precisão de 5 pm. Sabe-se que associada à medida da
posição do elétron tem-se uma incerteza no momento dada por
D p = h/ 4p D x = 1,00 x 10-23Kgms-1
Dado que a massa do elétron é igual a 9 x 10 -31kg, a incerteza na velocidade do elétron será
igual a
D v = D p/m » 1,00 x 10-23Kgms-1/ 9 x 10-31kg » 107 ms-1
De acordo com este cálculo grosseiro, a incerteza na velocidade do elétron se aproxima da
velocidade da luz, semelhante ou maior que a velocidade esperada para o elétron.
Concluindo, pode-se dizer que a velocidade do elétron é tão incerta que não há como
determinar sua trajetória. Aqui pose-se notar outra falha da teoria de Bohr. As trajetórias
muito bem definidas por ele sugeridas podem não ter nenhum significado, pois segundo o
princípio da incerteza jamais poderão ser demonstradas experimentalmente.
Estava claro para a maioria dos físicos teóricos , do início de década de 1920, que era
necessário desenvolver uma nova mecânica, dado que a tentativa de impor as condições de
quantização às equações de Newton não tinha sido bem sucedida. Esta iria ser denominada
mecânica quântica ou mecânica das ondas e deveria explicar o comportamento
ondulatório das partículas. Estas ondas preencheriam o espaço em torno das partículas e
suas propriedades seriam descritas por uma função de onda. Estas funções devem surgir
das novas equações que substituiriam as da mecânica clássica. Os criadores desta nova
mecânica começaram com uma certa equação clássica muito bem conhecida e se valeram
do raciocínio indutivo para obterem a mesma equação na sua forma mecânico quântica. O
desenvolvimento da mecânica quântica foi uma das grandes realizações do homem.
A FORMULAÇÃO DA MECÂNICA QUÂNTICA
As equações fundamentais da mecânica quântica foram apresentadas pela primeira vez
entre 1925 e 1926. No início haviam dois conjuntos de equações independentes. As
equações desenvolvidas por W. Heisenberg, em 1925, eram baseadas na álgebra de
matrizes, enquanto que as equações desenvolvidas por E. Schröndinger, em 1926, se
valiam de equações diferenciais de segunda ordem. Cedo ficou claro que ambos os
conjuntos de equações eram soluções matemáticas da mesma equação básica. A maior
parte da mecânica quântica tem como objetivo encontrar meios de resolver esta equação de
forma simples.
A equação fundamental da mecânica quântica é
H y i = Eiy i
As energias permitidas E1, E2, E3, etc. são obtidas quando o operador Hamiltoniano H é
aplicado sobre as funções de onda y 1, y 2, y 3, etc.. O resultado numérico obtido é
denominado um auto-valor ou valor-próprio: somente quando H operar sobre uma
função de onda adequado y 1, a resultante será o produto da função inicial Y 1 com seu
auto-valor E1.
Em mecânica quântica, um problema a ser resolvido é definido pelo seu Hamiltoniano. No
método desenvolvido por Heisenberg o Hamiltoniano é inteiramente simbólico; mas
apresenta propriedades conhecidas. O Hamiltoniano do método de Schröndinger consiste de
operações conhecidas como a multiplicação e a diferenciação, as quais são aplicadas sobre
funções de onda que se consistem de funções matemáticas usuais. Em ambos os casos, o
operador Hamiltoniano é obtido a partir das equações da mecânica clássica para a energia,
expressas em função do momento e da posição.
Algumas propriedades dos átomos podem ser calculadas mais precisamente do que
poderiam ser medidas experimentalmente. Mas, a exatidão das medidas experimentais são
muito melhores do que os resultados obtidos por meio de cálculos, no caso de algumas
outras propriedades. Assim, no caso da determinação das propriedades físicas de átomos e
moléculas, no estado gasoso, as duas técnicas se complementam mutuamente.
Bibliografia
MAHAN, B. M., MYERS, R. J.. Química - Um curso Universitário. Tradução Koiti Araki, Denise
O. Silva, Flavio M. Matsumoto. 4o ed. Editora E. Blücher, São Paulo, 1998. cap. 10.
MASTERTON, W. L., SLOWINSKI, E. J., STANITSKI, C. L.. Princípios de Química Tradução
por Jossyl S. Peixoto. 6o ed. Guanabara, Rio de Janeiro, 1990. cap 7.
ATKINS, P. W.. Físico-Química- volume 2, Tradução Horacio Macedo. 6 o ed. LTC. Rio de
Janeiro 1999. cap 1.
PEIXOTO, E. M. A. Teoria Quântica. Copy Service, São Paulo, 1988, cap 1.