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Agrupamento de Escolas Sá da Bandeira - 170562

Escola Secundária de Sá da Bandeira – 402837

Português – 12º ano – 2021/2022


dezembro - 2021

Ricardo Reis
 O Clássico

Reis é um clássico por formação e vocação.


Do ponto de vista psicológico, destacam-se a racionalidade bem como a austeridade e a contenção
(face às emoções e aos sentimentos). De facto, Reis é a própria encarnação da razão, com tendência
para a abstração e para o calculismo, em detrimento da espontaneidade e da naturalidade, tal como
acontece em Caeiro. Enquanto este apenas sabe sentir, Reis é dado a congeminações de caráter
metafísico, angustiando-se com a ideia da efemeridade da vida. Importa ainda referir que Reis não é
apenas um clássico que renuncia ao excesso, procurando o equilíbrio. De facto, deteta-se neste
heterónimo uma atitude radical, própria de alguém que se mantém alheio aos desafios e apelos da vida.

 A filosofia de vida

Enquanto clássico, Reis angustia-se perante a questão da transitoriedade da vida, decorrente da


sofreguidão e voracidade do tempo. Tem consciência de que o instante presente é a única realidade
com a qual pode contar. Por isso, desenvolve uma filosofia de vida, procurando viver de forma plena e
intensa. Procura, portanto, responder à sua angústia de caráter existencial: como vivenciar intensa e
plenamente a dádiva da vida, no instante presente, fazendo face à voracidade do tempo.

 O Epicurismo e o Estoicismo

Reis associa as correntes filosóficas do Epicurismo e do Estoicismo.


Com o Epicurismo, Reis aprende o conceito de prazer. Esta corrente de pensamento advogava duas
formas distintas de prazer: os prazeres inferiores dos sentidos (que apenas promovem a agitação e a
instabilidade, conduzindo à dor e ao sofrimento) e os prazeres superiores do espírito (que são
duradouros e os únicos capazes de fomentar a tranquilidade, conduzindo à felicidade). Além disso, os
filósofos epicuristas ensinaram a Reis a moderação, qualidade também presente no poeta latino
Horácio (aurea mediocritas).
No que respeita ao Estoicismo, permitiu-lhe desenvolver a capacidade de renúncia e de abdicação
face à vida. Reis cria a sua própria máxima de vida:
“Senta-te ao sol / Abdica / E sê rei de ti próprio.”
“Segue o teu destino, / Rega a tuas plantas, / Ama as tuas rosas. / O resto é sombra de árvores
alheias.”
Para alcançar o ideal de vida definido, Reis cultiva uma postura de vida baseada no despojamento,
na passividade e no retraimento. Nada espera, nada deseja, nada acumula (nem bens materiais, nem
afetivos, nem glória, nem fama, nem poder).
Pode, assim, afirmar-se, que Reis adota uma atitude marginal face à vida:
“Quer pouco: terás tudo. / Quer nada: serás livre.”
É desta forma que atinge a tranquilidade de espírito, a ausência de sofrimento, a ataraxia estoica.
Agrupamento de Escolas Sá da Bandeira - 170562
Escola Secundária de Sá da Bandeira – 402837

Além disso, como clássico, vive apenas o momento presente (carpe diem) mas de forma moderada.

 O Fatalismo

Reis acredita na existência de um destino (Fatum) ao qual não nem os próprios deuses podem
escapar. O seu fatalismo fá-lo acreditar que não vale a pena passarmos pela vida tecendo sonhos,
desejos ou expetativas, pois só nos será dado o que o Destino tiver reservado para nós.

 O Paganismo

Reis manifesta-se um pagão convicto, facto que decorre do seu classicismo. Esta característica está
presente na sua constante referência aos deuses. Sobrepõe a moral pagã à cristã. Por isso, sente-se
um exilado na alma, na medida em que não se identifica com a civilização judaico-cristã (civilização
ocidental), na qual vivia imerso.

 A Linguagem e o estilo

Reis teve uma educação clássica (latinista de formação, helenista por autodidatismo). Pessoa
comenta que se trata do heterónimo que melhor escreve. Assim, do ponto de vista fónico, encontramos
as seguintes marcas: eufonia, assonância, rimas interiores, a ode de tipo horaciano; irregularidade
métrica. Quanto aos aspetos morfossintáticos e semânticos, destacam-se: a linguagem erudita,
alatinada (no vocabulário e na sintaxe), o uso do hipérbato, o uso do gerúndio, o uso frequente do
imperativo e um estilo laboriosamente construído.

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