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DIREITO PROCESSUAL CIVIL II

Conceito de recurso

Recurso em um sentido amplo é todo e qualquer instrumento que pode se valer para poder
exercitar o interesse perante o poder judiciário. Nesse sentido amplo, é possível incluir nessa
categoria a petição inicial, porque ela é um instrumento para levar uma pretensão ao
judiciário. Na contestação também se exercita pretensões, e essa categoria inclui também
chamamento ao processo, apelação, recurso extraordinário.

Na verdade, quando se utiliza recurso em um sentido amplo, é sinônimo de um instrumento


processual. O problema desse conceito é que ele é muito amplo, abarcando coisas que não
deveriam ser abarcadas.
Por isso, utiliza-se o sentido estrito de recurso: “recurso é o remédio voluntário idôneo a
ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a
integração da decisão judicial que se impugna” (BARBOSA MOREIRA).

O sentido etimológico da palavra recurso é voltar ao curso do processo. Apesar disso, no


Brasil não se volta o curso todo do processo, significando então o prolongamento do curso,
uma dilatação do curso normal das coisas.

Esse conceito pode ser dividido em três partes:


“recurso é um remédio voluntário” – consegue-se separar o recurso da remessa necessária
pela palavra voluntário.
Existem algumas decisões que para produzir efeitos precisam ser confirmadas pelo tribunal.
Muito embora o juiz decida e as partes concordem com a decisão proferida, ainda assim,
para produzir efeitos, é necessário ato de chancela do tribunal, que é a remessa necessária.
Se ninguém recorreu da decisão, sendo uma hipótese de remessa necessária, o juiz
automaticamente submete a decisão ao tribunal para que ele confirme ou não a decisão. No
processo civil, as hipóteses de remessa necessária são para decisões contra a Fazenda
Pública.
Se as condenações forem de valor acima do teto, utiliza-se a remessa necessária. Se a
condenação for abaixo do valor do teto, não se utiliza. Esse instituto foi criado como um
controle dos atos expeditórios do juiz de primeiro grau para evitar condenações
fraudulentas. O valor do teto foi aumentado para que se avalie o trabalho do tribunal de
segunda instância, diminuindo o número de ações em que há a remessa necessária. Além
disso, o NCPC apostou no sistema de precedente: se a decisão está animada com base em
precedentes judiciais, não será necessário fazer a remessa. O sistema de precedente é um
dos pilares do NCPC.
A remessa necessária é uma condição de eficácia da decisão. Ou seja, nas hipóteses em que
é necessário a remessa, a decisão só produz efeitos se ela for confirmada pelo tribunal.
Historicamente, a remessa necessária era chamada de recurso obrigatório, mas é uma
expressão equivocada porque só há recurso voluntário. Na remessa necessária o juiz é
obrigado a mandar o processo para o Tribunal, mas isso não é recurso. Existem princípios
que regem os recursos e não regem a remessa necessária. O primeiro princípio que rege o
recurso é a voluntariedade. Todo recurso é voluntário. Da mesma forma que o poder
judiciário precisa ser provocado, assim é com o sistema recursal.
Dentro de uma sentença, há várias decisões judiciais distintas que a formam e que podem
ser atacadas separadamente. Não é necessário atacar toda a decisão, podendo atacar
apenas uma parte. Cada parte da decisão é chamada de capítulo de sentença. Se recurso é
remédio voluntário e se a parte escolhe um determinado capítulo, o tribunal vai analisar
apenas essa parte.
Não existe recurso obrigatório. Ele nasce de um descontentamento da parte em relação a
uma decisão judicial. A decisão não diz respeito à integralidade da sentença.
O que aproxima as duas é que tanto a remessa necessária quanto o recurso podem alterar
uma decisão judicial.

“dentro do mesmo processo” – Para ser recurso, o ato que impugna a decisão brota da
mesma relação processual. Através do recurso se estende o curso do processo de forma a
atacar a decisão. Se está prolongando o curso, ele ainda é o mesmo, está no mesmo
processo.
Isso é importante porque existem formas de atacar uma decisão judicial que fazem surgir um
novo processo. Ou seja, terá um processo para discutir outro processo, como a ação
rescisória, em que se instaura um processo para questionar a decisão dada em outro
processo. Há o processo que originou a decisão e a ação rescisória, que caso seja procedente
desconstituiria a decisão dada em outro processo. A ação rescisória não é recurso porque
não é dentro do mesmo processo. O mandado de segurança também é um exemplo de um
processo para discutir outra decisão. É uma ação autônoma em que se cria uma nova relação
processual para discutir a decisão de outro processo.
Recurso, ação autônoma de impugnação e sucedâneo recursal – Os três permitem a
modificação de uma decisão.
O recurso é uma forma de mudar a decisão dentro do mesmo processo. Na ação autônoma
de impugnação é um processo distinto para desconstituir a decisão. Sucedâneo recursal é
tudo que não é recurso e não é ação autônoma de impugnação (ex.: remessa necessária,
pedido de reconsideração).

“a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração da decisão judicial que se


impugna” – Diz respeito ao objeto do recurso. Todo recurso, inevitavelmente, pede uma
dessas quatro coisas.
A parte pleiteia a reforma da decisão quando está diante do erro de julgamento em sentido
estrito (error in judicando), pretendendo que aquela decisão seja substituída por outra, livre
do vício original. Isso é importante para o efeito recursal chamado efeito substitutivo.
Quando há reforma, substitui-se uma decisão por outra. A substituição pode ser em
decorrência de erro na avaliação de fatos, quando o juiz avalia mal as provas ou porque o
juiz aplicou mal o direito.
A invalidação diz respeito a um erro no proceder (error in procedendo). Nesse erro, a
preocupação não é com o conteúdo da decisão, que pode até ser bom. O problema é a
forma com a qual se chegou à decisão. Geralmente, quando há um erro na forma para se
chegar na decisão, gera também um prejuízo no conteúdo, mas essa não é a queixa
principal, e sim a forma de atuação do juiz. Ex.: desconsideração da personalidade jurídica.
Quando o juiz faz isso, permite que os efeitos de algumas obrigações ultrapasse a
personalidade e resvalem na pessoa dos sócios, que irão responder quando houve desvio de
finalidade, abuso, etc. Apesar disso, isso não é a regra. O patrimônio da pessoa jurídica e do
sócio não se confunde. O NCPC mostra que para haver essa desconsideração, é necessária a
instauração da intervenção de terceiros e a possibilidade de ouvir os sócios antes de
desconsiderar a personalidade, abrindo contraditório. Se o juiz desconsiderar sem fazer isso,
não observando as regras do processo civil, o sócio pode ir até o Tribunal e pede a
invalidação da decisão de 1º grau. Nesse caso, a princípio não reclama o conteúdo da
decisão, e sim à forma de atuar do juiz.
Quando há esse tipo de erro, o Tribunal cassa/anula a decisão. Quando anula a decisão, o
juiz tira a decisão e não a substitui por nada. Volta os autos para o juiz de 1ª instância para
consertar o erro, devendo respeitar o contraditório. Desde que respeite o contraditório e
ouça a parte, pode até mesmo decidir da mesma forma. Ou seja, quando se fala desse erro,
não ocorre o efeito substitutivo.
O esclarecimento é um efeito que se busca por meio do embargo de declaração. No
embargo de declaração, quando se pretende o esclarecimento, na verdade o que se quer é
que o juiz exprima de forma mais clara aquilo que ele decidiu. Ou seja, quer que o juiz
remova a obscuridade ou a contradição da decisão que proferiu. Não é possível chegar à
conclusão a partir do que o juiz disse. As vezes é simples identificar a obscuridade ou a
contradição da decisão, mas nem sempre pode ser. Pode se dar por uma expressão difícil do
juiz ou mesmo quando há várias pessoas decidindo, como é o caso do mensalão em que há
vários ministros com decisões diferentes.
A integração também é um recurso pretendido no embargo de declaração. Quem julga o
embargo de declaração é o próprio juízo prolator da decisão. O órgão que é responsável por
eliminar a contradição da decisão, e não o juiz (pessoa). Se houver a mudança de juiz entre o
período da decisão e do embargo, é o novo juiz que julgará, porque ele que é o novo
responsável pelo órgão. Na integração, busca-se que o juiz supra uma omissão, ou seja, que
ele preste jurisdição de forma mais integral possível. Isso normalmente ocorre quando o juiz
deixa de analisar um dos pedidos formulados pela parte.

O artigo 489, §1º do CPC mostra como o juiz deve fundamentar uma decisão, avaliando os
precedentes. Nesse caso, se o juiz deixa de utilizar os precedentes, pode-se interpor
embargo de declaração para integração.
Justificativas para Existência Dos Recursos

A primeira grande justificativa para existência de recursos que a doutrina costuma apontar é
que ele serve para evitar injustiças, para evitar que decisões incorretas sejam proferidas;
julgar é um ato humano e por isso é suscetível a falhas e o recurso se abre como uma
possibilidade corretiva; como o recurso é julgado por órgãos colegiados (três
desembargadores), se existem mais pessoas apreciando a causa a possibilidade de
acontecerem erros diante de uma causa é menor, além disso, leva-se em consideração
também que são pessoas mais experientes; porém os críticos dizem que se a decisão
colegiada é tão boa, que comece logo por decisão colegiada; mas isso não significa que a
decisão do tribunal é perfeita, significa dizer que tem a chance de errar por último, muito
embora tenha essa crítica, o recurso busca corrigir equívocos de primeiro grau de instância;
O segundo fator que costumam atribuir como justificativa é a fiscalidade; a ideia é que se o
magistrado sabe que sua decisão é suscetível de ser examinada por um órgão de hierarquia
superior, a tendência natural é que o magistrado a ser supervisionado tende a errar menos,
pois será mais diligente no julgamento de seus processos; um dos critérios de ascensão na
carreira da magistratura é o merecimento que está diretamente ligado com a menor
quantidade de reformas em suas decisões;
A terceira justificativa é que o recurso contribui para uniformização do direito; se num
primeiro momento, em um nível inferior, pode haver grande número de decisões ímpares e
quanto mais sobe a hierarquia as decisões vão se aproximando e ficando mais uniformes; a
uniformização cessa as dúvidas em relação ao direito (isso de grosso modo); como existem
menos órgãos, dispersa as dúvidas sobre quais interpretações seriam mais adequadas ou
não;

Classificação dos Recursos

Quanto à extensão: Pode ser total ou parcial


Recurso total: a mais simples das acepções é aquele que impugna toda a decisão;
Recurso parcial: aquele em qual o recorrente questiona parte da decisão; a consequência
pratica disso é que o tribunal só vai analisar a parte questionada, não havendo direito de
arrependimento depois; se não fez em momento oportuno, o tribunal só vai poder analisar o
que foi pedido; o juiz não pode julgar mais, menos e diferente do que foi pedido; o tribunal
se vincula à matéria devolvida;
Os capítulos não devolvidos transitam em julgado; coisa julgada vai se formando ao longo do
tempo;
Se tenho uma demanda com pedido de condenação por danos morais e condenação por
danos materiais; se o réu perdeu tudo, ele poderia questionar as duas coisas (dois capítulos),
exercendo o recurso total, mas se escolher somente o capítulo de danos morais, o tribunal
só vai analisar os danos morais, pelo princípio da correlação;
A coisa julgada depende da forma que utilizei o recurso; o capítulo não recorrido pode ser
executado;
Se recurso é remédio voluntário, não há obrigatoriedade de se recorrer, e daquilo que não
se recorre, gera coisa julgada;
Art. 1002 - trata do recurso total e do recurso parcial; dizendo que a decisão pode ser
impugnada no todo ou em parte;

Quanto à fundamentação: livre ou vinculada


Fundamentação livre: pode questionar a decisão em todo e qualquer caso; ou seja, o
legislador não vai dizer quais são as críticas que você pode fazer aquela decisão, você pode
fazer qualquer crítica, seja de fato ou de direito; pode-se criticar tanto a analise de fatos
quanto a forma do juiz de analisar o direito; (ex: apelação - art. 1.009: desde que tenha uma
sentença prejudicial vai caber apelação; outro exemplo é o recurso inominado no juizado
especial, o recurso ordinário);
Fundamentação vinculada: é aquele que o legislador estabelece as hipóteses, as razoes pelas
quais as partes podem questionar aquela decisão; não pode utilizar em todo e qualquer
caso, apenas posso utilizar nas hipóteses que a legislação autoriza; a crítica deve se encaixar
nas hipóteses previstas na legislação, se ela não se encontra, o recurso não é cabível; o
tribunal nem analisa esse recurso se feito mesmo assim (ex: recurso extraordinário, a
hipótese mais famosa é desrespeito à CF, se a decisão desrespeitou o CC, não cabe recurso
extraordinário);
O recurso de fundamentação vinculada ele é de competência em relação à matéria;
Se tiver dúvida entre os recursos, segue-se a regra de que a grande maioria é de
fundamentação vinculada; pois é a grande maioria dos casos;

Os atos do juiz de primeiro grau se dividem em três: despacho, decisão interlocutória e


sentença; o despacho é um ato do juiz que promove o andamento do processo e não possui
conteúdo decisório (ex: despacho designando audiência, despacho dando vista ao processo
etc), do despacho não cabe recurso devido à ausência de conteúdo decisório; decisão
interlocutória é aquela dada ao longo do processo que não encerra o processo, só pode
agravar se houver previsão legal, a maioria das hipóteses de cabimento do agravo de
instrumento estão previstos no art. 1015; e sentença é uma decisão que encerra o processo
ou uma fase do processo, cabe recurso de apelação;
Se a decisão interlocutória não está nas hipóteses previstas em lei, pode-se recorrer, mas vai
ter que esperar o momento que for proferida a sentença (art. 1009, § 1º); ou seja, cabe
apelação ou contrarrazões de apelação;
No NCPC o agravo de instrumento é um recurso de fundamentação vinculada;

Quanto à autonomia: Pode ser principal ou acessório.


Decorre da ideia de bem principal e acessório. O bem principal é aquele que existe por si só.
O bem acessório é visto pela sua relação com o outro. Sua existência, valoração econômica,
destinação, é atrelada ao bem principal. O bem acessório segue o bem principal.
Um recurso principal tem existência por si só. O recurso de uma parte não depende do
recurso da outra parte. Art. 997.
É possível que uma parte do capítulo da sentença prejudique a parte e no outro a privilegie,
podendo acontecer isso para as duas partes. Então, cada parte interporá o recurso da parte
que lhe prejudicar. São recursos independentes.
Se o recurso de uma parte for tempestivo e o recurso da outra parte for intempestivo, um
será analisado e outro não. Um não prejudica o outro porque são independentes.
Recurso acessório deve ser evitado ao máximo, porque o risco de ter problemas são
maiores.
O “recurso acessório” (adesivo) não é um tipo/espécie de recurso, e sim na verdade uma
forma de interpor alguns recursos. Prova disso é o art. 994 do NCPC que lista os tipos de
recurso, mas não cita essa forma.
 É uma forma de interpor para recurso de apelação, recurso especial e o recurso
extraordinário. Há autores que entendem que é cabível interpor o recurso ordinário de
forma adesiva, por ele ser muito parecido ao recurso de apelação e há lugares em que se
indica utilizar as mesmas regras para ambos. Apesar disso, é uma corrente minoritária e
Alisson não concorda.
 O prazo de interposição do recurso adesivo é o mesmo prazo para contrarrazoar. Ou
seja, a parte pode interpor o seu recurso no momento em que for intimado para
contrarrazoar o princípio da outra parte. Isso diz respeito ao princípio do contraditório,
em que a parte contrária deve ser ouvida no momento em que a parte interpõe recurso.
Nesse momento a parte apresenta uma peça processual chamada de contrarrazões para
argumentar que a decisão deve permanecer do jeito que está. Nesse momento, pode-se
aderir ao recurso interposto pelo adversário. Se aderir, significa que está querendo
recorrer também, mas de capítulos diferentes.
 O conhecimento do recurso adesivo fica subordinado ao conhecimento do recurso
principal. Se por algum motivo o outro recurso não for interposto, o recurso adesivo
ficará prejudicado.
 Sucumbência recíproca – Para haver o recurso adesivo, deve haver a perda em uma
parte e o ganho em outra parte. Não se pode falar em recurso adesivo caso uma parte
tenha ganhado tudo porque ela não terá interesse processual.

Quanto ao direito aplicado: O recurso pode ser ordinário ou extraordinário (em sentido
amplo) ou excepcional.
Nos recursos ordinários há apelação, agravo de instrumento, agravo interno, recurso
ordinário etc. Num recurso ordinário, pode-se pedir a um Tribunal para analisar tanto
questões de direito como questões fático-probatórias. Avaliar o direito ou avaliar a prova do
processo, porque pode ser que nesse caso tenha conclusões diferentes do que antes. O
recurso ordinário é preocupado com a tutela do direito subjetivo da parte. Evitar a
ocorrência de injustiça.

Quando se fala em recurso extraordinário ou excepcional, há o recurso especial e o recurso


extraordinário (espécie, como um tipo de recurso). Nos recursos excepcionais, há uma
preocupação com a tutela objetiva do direito. A preocupação é conseguir obter a melhor
interpretação do direito. Nos recursos excepcionais, a interpretação do direito se acresce.
Não quer dizer que não vai atender ao direito subjetivo da parte, mas isso é indiretamente,
uma consequência.

Nos recursos excepcionais, o tribunal não faz simples revisão de prova. A preocupação do
Tribunal é a aplicação do direito. Pode dizer se em um determinado contexto é aplicado
determinado conceito. A função desses recursos é uniformizar a aplicação do direito. Não
serve para que simplesmente revise a prova processual.
Súmula 7 do STJ. A súmula não fala de recurso extraordinário porque quem julga esse tipo
de recurso é o STF. Não se pode, em sede de recurso excepcional, se avaliar prova. Isso
segue tanto para o recurso extraordinário como para o especial, muito embora tenha sido
editada pelo STJ. Se fosse do STF, falaria do recurso extraordinário.

Atos sujeitos a recursos

O recurso só cabe em pronunciamentos decisórios judiciais. Nesse sentido, não cabe


recurso, por exemplo, do laudo de um perito, porque não é pronunciamento judicial. Precisa
ser um pronunciamento decisório, ou seja, não dá para recorrer nos casos em que o juiz não
se manifesta.

Pronunciamentos de 1º grau: Pode ter despacho, decisões interlocutórias e sentenças. No


despacho não cabe recurso porque não é pronunciamento decisório. Então, dos
pronunciamentos de 1º grau os mais importantes são decisões interlocutórias e a sentença.
Sentença (art. 203) deve ter um aspecto conteudístico e deve também encerrar um módulo
processual. O art. 485 diz respeito à sentença terminativa, que não analisa o mérito do
processo. Para que o juiz analise o mérito da demanda, é necessário que se preencha as
condições da ação e os chamados pressupostos processuais. Se há algum problema em
relação à isso, gera sentença terminativa (se já há coisa julgada, se não há legitimidade da
parte etc.)
Se o juiz analisa o mérito, analisa de acordo o art. 487, que são as chamadas sentenças
definitivas. Sentença definitiva não é a mesma coisa de coisa julgada (diz respeito ao mérito).
Pode haver uma sentença definitiva que ainda não é coisa julgada.
Encerra um módulo que pode ser de conhecimento ou de execução para ser sentença. O
recurso da sentença é a apelação.
Para ser decisão interlocutória, deve faltar algum dos elementos da sentença, seja do art.
485, 487 ou não encerra um módulo processual. O recurso aqui depende do art. 1015, que
cabe agravo de instrumento. Se não estiver nesse artigo, cabe apelação.

Pronunciamentos de 2º grau: Decisão de relator e colegiadas.


Existem atos que podem ser feitos sozinhos pelo relator e atos feitos pelo colegiado;
Decisões colegiadas: são conhecidas como acórdãos, são decisões tomadas em conjunto; do
acórdão os recursos podem variar, o que precisa-se saber até agora é que são atos
decisórios de primeiro e segundo grau.
Decisões do relator: o relator quando decide sozinho, é chamado de decisão monocrática,
podendo ser terminativa ou definitiva; se tem uma decisão monocrática dada no tribunal, o
recurso é o agravo interno; as decisões monocráticas são exceção à regra.

Princípios

 Princípio do duplo grau de jurisdição


Está intimamente ligada ao sistema recursal. Quando se fala dessa ideia, é a possibilidade de
um órgão jurisdicional rever uma decisão que foi proferida. Possibilidade de rever decisão
judicial. Instrumento para minimizar a ocorrência de falhas e injustiça perante órgãos do
poder judiciário. Forma de controle para atenuar equívocos.
Alguns autores sustentam que só há duplo grau de jurisdição se essa revisão for feita por um
órgão de hierarquia superior. Normalmente quem julga o recurso dado pela decisão de um
juiz de primeiro grau é o TJ, TRT, TRF etc. Quem entende que há um duplo grau de jurisdição
vê como um escalonamento do poder judiciário, havendo órgãos de sobreposição que
realizam o controle dos atos que são exercitados/praticados pelo órgão de hierarquia
superior.
A finalidade dos recursos é exercer fiscalização sobre os atos praticados pelos órgãos
inferiores.
Há autores que dizem que o duplo grau de jurisdição é uma garantia e outros que dizem que
é um princípio. Essa mudança de nome tem conotação estranha no viés prático. Quando vê
como garantia, entende que em todo caso de decisão judicial deveria haver a possibilidade
de se recorrer. Quando se diz que é um princípio, ele é uma norma apriori, então via de
regra estão suscetíveis ao duplo grau de jurisdição. Seria somente a princípio, podendo
existir casos em que não acontece isso.
No processo civil, o duplo grau de jurisdição é visto como princípio. A consequência prática
disso é que podem existir casos em que não vai haver o duplo grau de jurisdição. Há quem
diga que ele deve ser julgado por um órgão de hierarquia distinta superior. Dessa maneira,
não haveria como revisar as decisões originárias do STF, porque não há órgão de
sobreposição à ele.
Há autores que dizem que muito embora não possa acessar um órgão de hierarquia
superior, há recursos internos dentro do próprio Tribunal, que exerce controle sobre as
decisões proferidas por ele. Há decisões colegiadas, que reduzem muito o nível de
possibilidade de erros em decisões, pelo menos sobre o ponto de vista teórico-abstrato.
No âmbito criminal, o Pacto de San Jose da Costa Rica, é estabelecido que o julgado tem o
direito de ter sua decisão revista. No âmbito criminal talvez fosse visto como garantia e não
apenas como princípio devido à supralegalidade do Pacto.
Há quem diga que o duplo grau de jurisdição decorre do devido processo legal, que dentro
dessas prerrogativas tem-se que pensar numa forma de controle das decisões judiciais.
Há quem diga que o devido processo legal decorre da garantia do contraditório, que é uma
forma de influenciar a decisão do juiz. Não é só mais uma garantia de recorrer e responder.
Para dizer que o recurso parte do contraditório, seria possível suprimir recursos, desde que
fosse garantido o espaço de influencia, e não vários espaços de influência necessariamente,
como o embargo de declaração, que não poderia ser suprimido por ser o último mecanismo
para sanar omissões.

Embargos de divergência – Tentar mudar a decisão para uma que seja mais benéfica quando
há divergência nas decisões.

A consequência prática disso são as críticas feitas para o sistema judiciário pela lentidão que,
em tese, seria causada pelos recursos. Se entende-se recursos como princípio, é possível que
haja supressão para celeridade processual. Se o recurso for entendido como garantia, não é
possível suprimir porque deve estar em todos os processos.

Negociação processual – Forma de penetração da consensualidade no processo. Isso porque


umas das grandes discussões que se faz hoje em dia é a possibilidade de eliminar, via
negócio jurídico, recursos.

 Princípio da taxatividade
Só existem recursos previstos em lei. Só pode ser recurso a forma de impugnação já prevista
em lei, ou seja, muito embora esteja na moda falar de autonomia privada e da possibilidade
de as partes criarem no processo, as partes não têm a liberdade de criar um recurso. O
artigo 994 do NCPC cria um lista de recursos. Não significa dizer que só existem esses
recursos, mas só pode haver recursos previstos em lei. Ex.: na lei de juizado especial há
previsão de recurso; embargos infringentes de alçada na lei de execução fiscal.
A parte não tem autonomia para criar uma forma nova de impugnação à uma decisão.

Princípio da unicidade, unirrecorribilidade ou princípio da singularidade – A ideia é que para


cada decisão só existe um tipo de recurso certo.
Ex.: Se tem uma sentença, o recurso é apelação; para decisão interlocutória depende.
 Exceção ao princípio da unicidade:
a. De toda decisão cabe embargo de declaração. Pode haver embargos de declaração
sucessivos até extirpar todas as dúvidas.
b. De um acórdão pode caber, simultaneamente, recurso extraordinário e recurso
especial.

 Princípio da fungibilidade
Dá ideia de possibilidade de substituir. Não há como falar disso sem falar de
unirrecorribilidade. A regra é que só cabe um tipo de recurso, mas em algumas situações
excepcionais, o Tribunal pode conhecer um recurso incorreto como se correto fosse, desde
que observados alguns pressupostos. Atenuação da regra da unirrecorribilidade, porque se
ela fosse levada a ferro e fogo, a consequência prática seria que a interposição de um
recurso incorreto não haveria o que fazer e a pessoa perderia.
Decorre do princípio da instrumentalidade das formas, que diz que um processo não é um
fim em si mesmo, e mostra que o importante é o resultado do processo. Ao âmbito do
recurso, se torna o princípio da fungibilidade.
Há pressupostos para o STJ:
a. Não pode haver erro grosseiro. Não pode servir para salvar um advogado, procurador
e promotor ruim. O STJ entende erro grosseiro como contrariedade a texto de lei ou
a texto de súmula.
b. Para o STJ, o recurso incorreto deve ter sido interposto no prazo do recurso correto.
OU seja, além de não ser um erro grosseiro, a parte tem que, no mínimo, interpor o
recurso no prazo do recurso correto. Isso serve para evitar a mentira, no caso de
saber que usou o prazo errado e usar um recurso que tem um prazo maior para
tentar se safar. Diante de uma situação de dúvida, a pessoa deve usar o recurso com
menor prazo, porque se extravasar o prazo do recurso correto o STJ não vai aceitar.
O princípio da fungibilidade não era expresso no código passado, sendo construindo
praticamente por entendimentos jurisprudenciais. No NCPC, o princípio da fungibilidade foi
expressamente previsto. Não quer dizer que não será utilizado em outros casos, mas que
esses são os mais importantes.
Art. 1024, §3º. O recurso interposto foi embargo de declaração, mas o correto seria o agravo
interno. O relator entenderá como agravo interno, permitindo a fungibilidade entre os
recursos.
Art. 1032 – Se a parte interpôs um recurso especial, quando na verdade a violação não foi à
legislação federal, e sim a constituição, o relator vai intimar a parte para demonstrar a
repercussão geral, unindo as duas coisas e enviando para o STF analisar, convertendo para
recurso extraordinário.
Art. 1033 – violação à legislação federal, mas interpôs recurso extraordinário. Entende-se
como o recurso certo, sem necessidade de abrir prazo para demonstrar repercussão geral
porque isso não é requisito de recurso especial.

O recurso extraordinário serve, entre outras coisas, para fazer controle difuso de
constitucionalidade. Ou seja, quando há violação da Constituição Federal. Precisa observar
todos os pressupostos recursais e também a repercussão geral, e só há isso nesse recurso. A
repercussão geral é mostrar que transcende os interesses dos processos, tendo um aspecto
econômico, social, cultural que extravasa o interesse do litigante. A parte discute, mas
teoricamente poderia ser outra pessoa discutindo o mesmo tema.
O recurso especial serve para caso que viola a legislação federal. Não deve demonstrar
repercussão geral.

 Princípio da Dialeticidade
Em todo recurso deve constar as razões do inconformismo do recorrente, ou seja, a crítica
que o recorrente faz à decisão, qual foi o ponto em que houve erro decisório. Não basta ter
o pedido, tem que ter causa de pedir. Se diz que a decisão está incorreta, deve mostrar o
porquê. A parte tem a obrigação de indicar fatos e fundamentos pelos quais ele se insurge
contra aquela decisão para viabilizar o contraditório.
No processo civil não existe recurso sem razões recursais. A parte deve sempre dizer o
porquê insatisfeito, sendo em relação ao conteúdo ou em relação à forma com a qual o juiz
aplicou. Art. 1010, II; art. 1016, II; art. 932, III.

No processo penal é diferente porque a defesa pode interpor recurso sem dizer quais são as
críticas àquela decisão. No processo civil isso não existe, devendo sempre dizer o motivo do
descontentamento.

 Princípio da Colegialidade
A ideia é muito simples, a princípio; significa que as decisões dadas em sede recursal, são
decisões feitas por um grupo de magistrados, ou seja, é uma decisão tomada em conjunto;
Se tiver mais pessoas debruçadas sobre o caso, a chance de erro é menor; a ideia é de que a
análise será qualitativamente superior ou, pelo menos, com menores chances de
acontecerem erros do que um análise feita de forma individual;
Se espera de um colegiado efetivo é que todos os julgadores contribuam com a decisão;
para formar um decisão mais completa, complexa e multifacetada;
Muito embora se espere isso, ocorre um problema chamado pseudocolegialidade, ou seja,
parece que é colegiado, mas não é; um primeiro efeito é o que a doutrina tem chamado de
de acordo; não se analisa de forma mais detida o processo para decidir, é uma ideia no
sentido de que há um grupo de desembargadores, mas a decisão colegiado não houve;
Quando um desembargador discorda, ele tem que elaborar um voto explicando as razões ao
qual ele discorda; de acordo não é um problema quando a pessoa concorda realmente, a
falha se encontra quando o desembargador concorda devido ao fato de não ter realizado
sua função;
Ele tem sido utilizado para agilizar o processo; o problema é a falta de coerência, em um
momento se concorda com uma decisão e depois quando é relator, decide de forma
diferente; isso gera também congelamento/enrijecimento do direito, pois várias teses
começam minoritárias e depois de um tempo se tornam majoritárias;
Pode haver a pseudo-colegialidade quando não se sabe qual é decisão pois cada um decide
de uma forma diferente, que é o fenômeno chamado de dispersão de voto; é um problema
completamente oposto que o anterior;
Teoria da média aritmética: soma-se a dispersão quantitativa (cada desembargador fixa um
quantum diferente) toda e divide pelo número de colegiados; essa é uma teoria minoritária;
o STJ diz que essa teoria não pode ser adotada porque ocorre uma substituição de três votos
dados por nenhum voto dado;
Teoria do voto médio: O STJ defende a aplicação dessa teoria; dentre os votos da dispersão
quantitativa de votos, deve-se pegar o maior voto que houve um maior número de
adesões/concordâncias;
Não se aplica essas teorias em casos de dispersão qualitativa, apenas quando o problema for
quantitativa;
Quando a dispersão de voto for qualitativa, vai se aplicar a técnica de ampliação do
colegiado e chamar mais desembargadores para se formar o voto;
A partir da década de 1990, a legislação processual sofreu diversas alterações para aumentar
a celeridade; no NCPC houve uma ampliação de poderes decisórios do relator, ou seja,
decisões que a princípio deveriam ser tomadas de formas colegiadas, passaram a ser
tomadas de forma isolada pelo relator; que é a decisão monocrática;
Art. 932 II, III e IV - poderes do relator: vão falar das principais hipóteses em que o relator
pode decidir sozinho; essas possibilidades são exceções à regra; apreciar o pedido de tutela
provisória nos recursos e processos de competência originária do Tribunal, apreciar o pedido
de tutela provisória nos recursos e nos processos de competência originária do tribunal etc;
Alguns autores dizem que é inconstitucional esses poderes do relator de julgar sozinho fere
o princípio do juízo natural; falam que a legislação infra-constitucional retirou do colegiado a
possibilidade de julgar uma matéria que seria competência dele;
Alisson acredita que não é inconstitucional, pois existe a possibilidade de acionar o
colegiado, se não concordar com o relator, através do agravo interno; o código ainda
permite o relator julgar sozinho, mas de forma a seguir precedentes;
Se de um lado retirou a colegialidade, há uma tentativa de garantir a segurança devido aos
precedentes;

Ampliação do colegiado
Técnica de ampliação do colegiado: antes, no CPC/73, havia a figura dos embargos
infringentes, que tinha como função principal era fazer com que a tese vencida se tornasse a
tese vencedora; toda vez que houvesse divergências de votos, era um recurso que poderia
ser utilizado para reverter a votação; vez que o voto vencido, às vezes, pode ser o voto mais
adequado; na opinião de Alisson, era o recurso mais desnecessário da legislação, pois
estatisticamente os tribunais mudavam muito pouco as votações, que é a propensão
cognitiva do menor esforço; o problema maior é que gerava um maior problema do tribunal
sobre a mesma causa;
O CPC de 2015 acabou com esse recurso, na opinião do Alisson fizeram algo que ficou uma
bosta, que foi a técnica de ampliação do colegiado (art. 942), quando não se tem decisão
unânime no recurso de apelação, no agravo de instrumento que julga mérito do processo,
na ação rescisória que julga procedente o pedido, o tribunal vai aumentar automaticamente
o colegiado (ex: se há 3 desembargadores, serão aumentados os julgadores até que seja o
suficiente para alterar a (possibilidade) decisão, de maneira a conseguir encontrar uma
maioria);
No código passado precisava de um recurso para gerar um efeito similar, o código atual
simplificou o procedimento, mas aumentou a carga de trabalho dos tribunais, e isso, na
opinião do Alisson, piorou o sistema; e isso pode gerar um aumento do de acordo;
Apelação; ação rescisória provida e agravo de instrumento quando julga parcialmente o
mérito.

 Princípio do Prévio Esgotamento das Instâncias Ordinárias


É aplicado somente aos recursos direcionados ao STF ou STJ, ou seja, tribunais de super-
posição; aplicado especialmente para o recurso extraordinário e recurso especial;
Não se poder mover recurso extraordinário e recurso especial (excepcionais), quando existir
um recurso cabível na instância inferior; não se move esses recursos mencionados, se ainda
é possível questionar a decisão no âmbito das instâncias ordinárias; é para evitar o recurso
per-salto, ou seja, aquele que pula instâncias;
Deve-se esgotar tudo que for possível nas instâncias inferiores antes de ser levado ao STJ ou
STF; pois a eles são dirigidas questões de última ou única instância;
Súmula 281 STF: é inadmissível recurso extraordinário quando couber na justiça de origem,
recurso ordinário da decisão impugnada; aplica-se esse mesmo entendimento no recurso
especial, não está na súmula porque a competência de julgar recurso especial é do STJ;
Súmula 207 STJ: diz a mesma coisa com outras palavras;

 Princípio do Non Reformatio In Pejus


Inexistência de reforma para piorar;
A ideia originária é muito simples; se tem um recurso de apenas uma parte, não pode, a
pretexto de julgar o recurso dessa parte, piorar a situação dela; o recurso gera uma
expectativa de melhora, então esse recurso só serve para poder melhorar, não podendo
piorar a situação da pessoa;
O recurso deve ser útil, deve trazer melhora na esfera jurídica da parte recorrente;
Se ambas as partes recorrem pode, obviamente, ocorrer que o recurso prejudique a esfera
jurídica de uma das partes, mas não devido ao recurso da parte de recorrente, mas da parte
contrária que recorreu;
Não se pode haver recurso que analise, nem para melhorar, diferentemente do que foi
pedido; é aplicação do princípio da congruência;
Efeito translativo dos recursos – É a possibilidade que tem o tribunal de analisar matérias de
ordem pública ou matérias que a lei permite ao magistrado o reconhecimento de ofício;
Existem algumas matérias que ninguém falou nada, mas permite-se o reconhecimento de
ofício pelo juiz (ex: reconhecimento de ofício do juiz de negócio jurídico nulo; decadência
legal; incompetência absoluta);
Quando se fala de matérias de ordem pública, rege o princípio inquisitivo, que é a
desnecessidade de provocação do juiz; concentra o poder na mão de quem gere o processo;
e ele é o oposto do princípio que rege os recursos, que é o princípio da voluntariedade;
O magistrado pode dar uma decisão prejudicial se reconhecer matéria de ordem pública; a
decisão pode ser desfavorável, mas não pelo recurso, mas devido a matéria de ordem
pública que deve ser reconhecida de ofício pelo juiz;
Tribunal pode analisar uma questão de ordem pública sem ser provocado e isso pode gerar
decisão desfavorável à parte;
O tribunal só vai fazer essa análise no capítulo recorrido, não é de tudo; pode fazer uma
analise aprofundada dentro do capítulo recorrido; então isso se limita ao capítulo
impugnado e no máximo ao capítulos acessórios;
Decisão surpresa: aquela que se dá com base em um ponto que não foi discutido na seara
processual; ela é uma decisão que fere o jogo limpo; essa decisão viola o contraditório,
porque as partes não tiveram chance de discutir o tema;
Art. 9º - o objetivo de sempre ouvir as partes antes de decidir é para evitar a decisão
surpresa;
Existem alguns casos que a decisão surpresa é inevitável, porém isso é excepcional; a decisão
surpresa é tolerada em casos de urgência porque ouvir previamente a parte gasta tempo;
também se admite quando a oitiva da parte bloqueia a utilidade da decisão judicial;
O NCPC criou um dispositivo muito interessante para evitar decisões surpresas: art. 933 - o
relator intimará previamente as partes mesmo em relação a matéria de ordem pública;
Remessa Necessária – Não é recurso; remessa necessária acontece quando não tem recurso;
Discute-se se a remessa necessária pode ou não pode prejudicar a situação da Fazenda
Pública;
A primeira corrente, adotada pelo Alisson, defende que a remessa necessária não é recurso,
então não se aplica princípios do sistema de recursos à ela; sua função não é de chancelar
decisões erradas, então pode melhorar ou piorar a situação da Fazenda Pública;
Para o STJ, não se pode agravar a situação da Fazenda Pública na remessa necessária, ou
seja, ela somente serve para melhorar a situação da Fazenda;
Súmula 45 STJ - o reexame necessário é proibido para prejudicar a Fazenda Pública;
Non reformatio in pejus indireta – Ocorre quando há hipótese de anulação da decisão;
quando se caça uma decisão ela não vincula o magistrado para uma segunda decisão; Ou
seja, não se aplica essa ideia de non reformatio in pejus indireta;

 Princípio da Consumação
Uma vez exercitado o direito de recorrer, não se pode exercitar esse direito novamente;
("fale agora ou cale-se para sempre");
Esse princípio está diluído no processo civil em vários momentos;
Por exemplo, em uma decisão com dois capítulos, o advogado acha que um capítulo está
perfeito (mesmo que prejudicial) e somente recorre do outro capítulo, e, ao comentar com
outro colega, ele descobre uma forma de impugnação do capítulo, porém, agora ele não
pode fazer isso mais por causa do princípio da consumação;
Isso é importante em recursos que se precisa trazer documentos, que devem ser trazidos no
momento de proposição do recurso; então deve tudo ser feito de maneira completa, pois
não vai haver outra chance depois;
A jurisprudência defensiva era um conjunto de entendimento dos tribunais que dificultavam
o acesso do recurso ao tribunal; o princípio da consumação no CPC/73 era utilizado de forma
bizarra e não admitia de forma alguma a complementação de nada; porém, de certa forma,
esse princípio foi mitigado no NCPC, em seu art. 932 § único - antes de considerar
inadmissível o recurso, o relator abrirá prazo (5 dias) para complementação do recorrente
(para fixar documentos);

 Princípio da Complementariedade
É uma exceção ao princípio da consumação;
Esse princípio se aplica no julgamento dos recursos de embargos de declaração; os
embargos de declaração é o único recurso do CPC em que o prazo é de 5 dias (os outros
recursos possuem prazo de 15 dias); que serve para sanar omissões do juiz no âmbito do
processo;
Via de regra, o que não se falou no recurso, não pode ser aditado; porém quando os
embargos de declaração, é possível que o recorrente complemente suas razões recursais
quando seu recurso for interposto antes da decisão que dá provimento à embargos de
declaração (integração/esclarecimentos) - art. 1024 § 4º;
Pode-se complementar de forma a atacar o que é novo, ou seja, essa faculdade de
complementação fica adstrita aquilo que é novo;
Art. 1024 § 5º - se os embargos forem julgados improcedentes ou acolhidos, mas não
alteram a conclusão do julgamento anterior, não faz sentido em se falar de aditamento;
Súmula 418 STJ - essa súmula quer dizer que um recurso interposto antes da publicação da
decisão do embargo de declaração, o recorrente tem que aguardar para ratificar o recurso;
ela dá impressão de que a parte tem direito a complementar suas razões de recurso, porém
o problema é que quando a decisão não modificava nada, o STJ dizia que a parte devia
ratificar, se o recorrente não o fazia o recurso era inadmitido; isso era bizarro, pois o sujeito
tinha que ratificar algo que não mudou; ou seja, claramente isso era uma jurisprudência
defensiva;
O art. 1024 § 5º acabou com a súmula 418; se não houve alteração, o recorrente não é
obrigado a ratificar; não se aplica mais essa súmula;
Súmula 579 STJ - parece que ela diz a mesma coisa que o art. 1024 § 5º, porém o STJ
interpreta que não precisa ratificar se não modificou, mas se modificar o recorrente deve
ratificar;
Se modificar tem uma faculdade de aditar, mas o STJ entende que é uma obrigação, se não
ratificar, pelo menos, vai ser recusado;

 Princípio da irrecorribilidade em separado das decisões interlocutórias


Nem toda a doutrina reconhece esse princípio e esse problema de reconhecimento se dá
muito pelos conceitos extremamente diversos.
Ele tem um efeito prático que muitas vezes é desconsiderado em nível acadêmico e prático.
Via de regra, a despeito da decisão interlocutória, o processo segue porque não houve a
extinção de um módulo processual. Ordinariamente, no processo civil, os recursos que
cabem para essa decisão é o agravo de instrumento. Alguns autores falam que não vigora o
princípio da irrecorribilidade em separado das decisões interlocutórias porque no Brasil,
sempre que se tinha uma decisão interlocutória, era sempre uma decisão agravada. Por isso,
no processo civil não vigorava a irrecorribilidade em separado, porque quando havia a
decisão interlocutória, havia o recurso de agravo.
A tutela antecipada gera autos diferentes do que tramita na primeira instância para que um
não prejudique o andamento do outro. Se há essas duas realidades, e elas são apartadas,
não se aplica no processo civil, porque no agravo de instrumento se recorre em separado.
Olha-se para essa realidade e entendem que não há como recorrer em separado. Isso se
aplica na justiça do trabalho, porque não tem uma figura análoga ao agravo de instrumento,
assim como na lei do juizado, recorrendo apenas no final conjuntamente.
Se antes se falava que não aplicava, hoje em dia deve-se entender que aplica de forma
mitigada, porque há um rol em que se aplica separadamente e o que não está nesse rol é
feito de forma junta. Ou seja, depende da decisão interlocutória, porque algumas devem
esperar até o final e outras estão no rol do artigo 1.015 do NCPC.

Em um segundo sentido, para Nelson Neves Júnior, não se olha as realidades distintas de
autos distintos. Interpreta que a decisão interlocutória não tem o poder de paralisar o
andamento do feito na decisão principal. O recurso contra a decisão interlocutória não obsta
o andamento da demanda. Enquanto tramita o recurso, essa tramitação não obsta o
andamento normal perante o juiz de 1º grau. Forma-se autos distintos justamente para dar
essa mobilidade.
Em última instância, isso significa que o recurso de agravo não suspende os autos principais,
que é a regra. Para que um recurso de agravo de uma decisão interlocutória suspenda o
andamento principal, o relator do caso deve dizer esse efeito. Isso serve para evitar a
procrastinação indevida do processo.
Para Alisson, nesse segundo sentido o processo se aplica perfeitamente ao processo civil.

 Princípio da personalidade ou relatividade


O recurso só aproveita para aquele que recorrer. Essa regra geral está prevista na parte de
litisconsórcio, no artigo 117 do NCPC.
A regra básica do litisconsórcio é que o comportamento do litisconsorte não prejudica e nem
favorece o outro, porque eles são tratados com independência. Há exceções em que
favorece, mas não é sempre. Se o litisconsorte recorrer de um recurso, isso não aproveita o
outro porque são consideradas pessoas distintas.
Tem exceção para isso, que é no litisconsórcio unitário. Pode ser que o recurso de um afete
o outro litisconsorte. Unitário é porque não há como a decisão ser diferente para cada
litisconsorte. Abrange pessoas que não recorreram justamente porque a decisão é una.
Art. 1005 do NCPC faz referência ao litisconsórcio unitário. É o posicionamento majoritário
sobre a interpretação desse artigo.
A ideia base da relatividade está no 117.

Efeito dos Recursos

1. Efeito impeditivo
Barbosa Moreira chama de efeito obstativo (esse nome também serve para outra
coisa, por isso Alisson prefere impeditivo). Quando se interpõe recurso, ele impede a
formação da coisa julgada ou da preclusão da matéria decidida se a pessoa recorrer
no prazo certo.
A corrente majoritária diz que todo recurso produz efeito impeditivo. A posição do
STJ é que só produz esse efeito os recursos tempestivos e cabíveis.

2. Efeito devolutivo
Significa dizer que o recurso transfere (devolve) a matéria impugnada para o órgão
ad quem. Ou seja, do juízo que decidiu para o que vai apreciar o recurso.
O juízo que proferiu a decisão é chamado de juízo a quo.
O juízo que vai apreciar o recurso é chamado de juízo ad quem.
Quem vai limitar o efeito devolutivo é o recorrente, porque ele não é obrigado a
recorrer de toda a decisão, podendo devolver apenas parte do que foi decidido no
tribunal. Isso significa que o tribunal ficará adstrito ao que foi devolvido. Tem
exceção, que é o caso, por exemplo, de haver a devolução de um capítulo principal,
mas que tem acessórios. O capítulo acessório segue o principal.
Há polêmica em relação a esse efeito, porque para alguns autores todo recurso
produz o efeito devolutivo, porque a ideia seria questionar a matéria para ser
apreciada. Para outros autores, nem todo recurso produz efeito devolutivo, porque
para isso o juízo a quo tem que ser diverso do juízo ad quem. Para eles, se quem
julgou o recurso foi a mesma pessoa que operou a decisão, o efeito é regressivo.

3. Efeito translativo
Há autores que tratam esse efeito de forma autônoma, como Nelson Neves Junior.
Para ele, é um efeito específico. Já Barbosa Moreira fala que o efeito translativo é um
aspecto vertical do efeito devolutivo.
O problema começa com autores que não reconhecem a autonomia desse recurso. O
efeito devolutivo atua na extensão e o efeito translativo atua na profundida. Tudo
aquilo que submete ao Tribunal é analisado na maior profundidade possível.
O efeito translativo é inspirado no Princípio Inquisitivo, que realça os poderes do juiz.
É um princípio que municia o juiz a agir sem estar provocado.
A grande crítica que se faz a esse princípio é que ele tem uma tendência de
comprometer a imparcialidade do julgador, por isso na maioria das vezes o processo
se rege pelo Princípio Dispositivo, evitando a contaminação do julgador.
Atualmente, significa dizer que o juiz está autorizado a conhecer de ofício matérias
de ordem pública ou matérias que a lei permite o conhecimento de ofício. Ex.:
nulidade de negócio jurídico, requisitos de admissibilidade da demanda, prescrição,
decadência legal, incompetência absoluta, nulidade absoluta, juros legais, correção
monetária, honorários advocatícios, despesas processuais etc.
Decisão de terceira via – Busca-se atualmente evitar decisões que não tenham nada a
ver com o que as partes pediram e nem debateram. Para isso, o Código estabelece a
ideia de contraditório prévio como regra expressa, prevista no art. 10 do CPC. Ainda
que a matéria possa ser decidida de ofício, as partes devem poder debater. Isso serve
para de certa forma controlar o viés cognitivo do tribunal. Essa ideia está prevista no
art. 933 novamente.

4. Efeito suspensivo
Significa conseguir que a decisão não produza efeitos. Que a decisão tenha seus
efeitos suspensos enquanto tramita o recurso. Isso significa na prática que enquanto
tramita o recurso, a decisão não precisa ser cumprida. Não são todos os recursos que
apresentam esse efeito, fazendo com que ainda que tenha recurso em trâmite, a
decisão deve ser cumprida.

Via de regra, a decisão produz efeito imediato e na regra o recurso não tem efeito
suspensivo. Essa regra está prevista no artigo 995 do NCPC. A resposta do recurso
pode mudar a decisão, precisando haver indenização para voltar ao estado de coisa
anterior. O simples fato de precisar ter interposto recurso não significa que não vai
cumprir a decisão, a não ser que haja disposição legal ou judicial em contrário.
Excepcionalmente, o legislador pode atribuir a algum tipo de recurso o efeito
suspensivo automático. Hoje, no sistema do processo civil, só tem um recurso que
tem esse efeito suspensivo automático, que é a apelação, de acordo o artigo 1012,
caput, do NCPC.
Há exceções a essa exceção, ou seja, hipóteses em que a apelação não tem efeito
suspensivo. Art. 1012, §1º do NCPC. Geralmente são hipóteses em que têm caráter
de urgência. Apesar disso, se houver comprovação de dano grave com o
cumprimento, o juiz pode modular essa decisão e permitir a suspensão.
A doutrina e a jurisprudência mostram que o artigo 995 é insuficiente. Para o
embargo de declaração o efeito suspensivo vai depender do recurso subsequente.
Por exemplo, se interpõe embargo de declaração de uma sentença, em que o
embargo subsequente é a apelação, gera efeito suspensivo.

Para os outros recursos que não têm efeito suspensivo, o juiz pode conceder porque
preenche determinados requisitos legais. Muito embora não haja uma previsão do
legislador do efeito suspensivo, o relator poderá atribuir o efeito suspensivo quando
daquela decisão houver risco de dano grave de difícil ou impossível reparação e ficar
demonstrada a probabilidade do provimento do recurso. O recorrente deve
demonstrar que se cumprir a obrigação, vai ser impossível voltar ao estado de coisa
anterior.
A parte pode pedir o cumprimento provisório de uma decisão, mas ele não é
automático porque deve ser requerida pela parte.

5. Efeito regressivo ou de retratação


É a possibilidade de que o juízo que proferiu a decisão se retrate, retificando sua
decisão. Para Alisson, é um juízo excepcional, porque se fosse regra e o juiz voltasse
atrás a todo momento, o processo viraria um caos, especialmente quando se trata de
decisão dada por juiz de 1º grau. Por isso, o juízo de retratação precisaria ser
autorizado por lei. É também a leitura feita pela OAB.

Esse caráter excepcional também impediria a vulnerabilidade das partes. Para


Alisson, o juiz não poderia agir na retratação de ofício, devendo haver previsão em lei
e provocação da parte. Apesar disso, há juiz que acredita que não precisa ser
provocado para isso. Ex.: improcedência liminar do pedido, indeferimento de petição
inicial (art. 331; 332, §3º; 1018, §1º)
Agravo de instrumento; apelação no ECA; para alguns autores na discussão do efeito
devolutivo, não há esse primeiro efeito, mas há o regressivo no embargo de
declaração.

6. Efeito expansivo ou extensivo


Não há previsão em todos os livros de processo.
É um efeito de exceção à regra, porque não é todo recurso que produz e quando o
faz, excepciona outros efeitos.
O juiz está adstrito àquilo que foi pedido, como regra base de todo processo. Porém,
quando se fala desse efeito, a decisão vai atingir matérias que não foram atacadas ou
pessoas que não recorreram. Ou seja, esse efeito expansivo normalmente mitiga o
princípio dispositivo, o efeito devolutivo ou mitiga o efeito da personalidade ou
relatividade dos recursos. A ideia é compatibilidade, porque se aquela decisão dada
pelo tribunal for compatível com as outras que foram dadas, ela vai ser mantida. Por
outro lado, se for incompatível com outras decisões dadas no processo, acontecerá o
efeito expansivo. Geralmente acontece por incompatibilidade dos atos processuais
ou dos outros capítulos da decisão.

Efeito expansivo subjetivo – Acontece quando a decisão alcança alguém que não
recorreu. Isso vai ocorrer nas hipóteses de litisconsórcio unitário.
Efeito expansivo objetivo – Atinge capítulos diversos dos impugnados. Se divide em a.
interno e b. externo.
a. É interno quando vai afetar um capítulo dentro da própria decisão. Não foi
questionado, mas o que foi questionado afeta outros capítulos. Ex.: ação de
paternidade cumulada com alimentos (cumulação própria sucessiva do pedido).
Se o tribunal provê recurso e mostra que não há relação de paternidade,
automaticamente prejudica o capítulo dos alimentos, prejudicando o capítulo
que fixou honorário para o advogado. Geralmente acontece o efeito expansivo
objetivo interno quando há relação de prejudicialidade entre os pedidos.
b. É externo quando impacta em algo de fora da decisão. Normalmente acontece
com decisões que versam sobre nulidade de ato processual. Não anula só um ato,
como também tudo que decorreu dele. Gera o encerramento do processo
principal.

7. Efeito Substitutivo
Substitui uma decisão por outra. Espera-se que essa nova decisão não tenha os
problemas da decisão original, sendo uma decisão melhor, mas nem sempre
acontece isso.
Quando se fala de reforma de decisão diz que teve um error in judicando. Nesse caso
se retira uma decisão e coloca outra no lugar sem o vício original.
Não é possível falar de efeito substitutivo no caso de invalidação. Retira a decisão do
mundo jurídico e o Tribunal não coloca outra no lugar. O próprio juiz que prolatou a
decisão vai dar outra decisão.
Tradicionalmente o efeito substitutivo ocorre com decisões que reformam a decisão
(recurso provido). Sempre acontece quando se pede a reforma de decisão, há o
efeito substitutivo. Apenas o conhecimento do recurso já gera o efeito suspensivo.
Na situação de provimento é claro ver o efeito suspensivo. No caso do recurso
improvido ou desprovido, é como se houvesse a substituição de uma coisa pela
mesma coisa, mas houve a substituição porque o recurso já foi conhecido.

Pressupostos Recursais

Juízo de Admissibilidade e Juízo de Mérito


Todo processo e todo recurso têm requisitos de admissibilidade para a demanda. Isso é o
que o juiz analisa em todo e qualquer processo, não dependendo do que seja. Ex.:
legitimidade da parte, aptidão da petição, interesse processual, litispendência, competência
do juízo, regularidade da representação etc. Se encontra um problema de admissibilidade, o
juiz está desautorizado a julgar o mérito. É uma operação mental acerca da análise da
admissibilidade da demanda. É uma decisão terminativa, porque não envolve o mérito do
processo, só produzindo coisa julgada formal.
O que diferencia é o mérito, que não está presente em todos. É analisado se tiver a decisão
de admissibilidade. Quando o juiz invade o mérito do processo, a decisão é definitiva,
impedindo que o magistrado analise o mesmo tema nesse processo e em qualquer outro.
Analisar o mérito não significa necessariamente uma decisão de procedência.
No sistema recursal acontece uma situação muito similar. Quando a pessoa recorre, ela
também faz pedido. Pode pedir invalidação, esclarecimento, integração e reforma de uma
decisão. Esse pedido é chamado de mérito recursal, o que significa dizer que o juiz analisou o
pedido do recurso, mas não significa dizer que vai ganhar esse pedido.
Da mesma forma que se fala da admissibilidade da demanda, antes de analisar o mérito é
necessário ultrapassar os requisitos de admissibilidade. Se tudo estiver em conformidade,
que é o juízo de admissibilidade recursal, o juiz está autorizado a ingressar no mérito do
recurso. Os requisitos de admissibilidade recursal são todos de ordem pública. Isso significa
dizer que o tribunal vai analisar ainda que não tenha nenhum requerimento das partes em
relação a isso. Como não foi requisitado pelas partes, deve-se abrir contraditório. Ex.:
preparo, tempestividade, cabimento, sucumbência, interesse recursal, legitimidade recursal
etc.
Se encontra algum problema nesses requisitos, não vai poder analisar o mérito recursal, que
gera um juízo de admissibilidade negativo, que significa desautorização do tribunal para
analisar o mérito recursal, sem exceção. A doutrina diz que é de natureza declaratória,
porque mostra se está presente ou não.
Quando profere uma decisão de juízo de admissibilidade negativo, diz-se que o recurso não
foi conhecido. Toda decisão sobre juízo negativo de admissibilidade deve ser fundamentada.
Não deve se manifestar sobre o pedido da parte, porque a admissibilidade é um
antecedente lógico, não sendo permitido ir para frente.
Se estão presentes os requisitos de admissibilidade, é uma decisão que tem juízo de
admissibilidade positivo, conhecendo o recurso, que significa dizer que terá o mérito
recursal analisado. Isso não significa dizer que o recorrente tem razão. Quando o mérito
recursal é analisado e o tribunal percebe que o recorrente tem razão, o tribunal dá
provimento ao recurso. Pode ser que o recorrente não tenha razão na análise do mérito,
dizendo que o recurso teve o provimento negado ou foi improvido.
Quando chega ao tribunal, o relator tem poderes de decidir monocraticamente sobre o
mérito recursal como uma forma de dar agilidade ao processo. O art. 932, III mostra que o
relator não pode analisar recurso que não estava adequado aos requisitos de
admissibilidade.
Operação do juízo de admissibilidade no CPC de 15

O juízo de admissibilidade serve para evitar que o tribunal se ocupe com processos que não
podem ter seu mérito analisado, constituindo um filtro. No CPC/73 o recurso era interposto
perante o juízo a quo que analisava a admissibilidade. O recurso só era enviado para o
Tribunal após averiguação do juízo de admissibilidade. Apesar disso, o tribunal não está
vinculado à decisão positiva de admissibilidade feita pelo juiz a quo, já que quando o recurso
chegasse no tribunal haveria novamente a análise de admissibilidade.
O CPC de 2015 fez mudança em relação a isso, tirando a capacidade do juiz de 1º grau para
analisar a admissibilidade do recurso, já que ela deveria ser feita novamente pelo Tribunal.
Forma de economizar e dar celeridade processual, não ocupando tempo do juiz de 1º grau.
Agora é só analisado pelo Tribunal.
Em relação ao recurso de apelação, hoje em dia a análise é única porque é feita apenas pelo
Tribunal. Essa ideia de análise única do juízo de admissibilidade também foi originariamente
colocado para o recurso especial e extraordinário. Apesar disso, antes de o código entrar em
vigor, aprovou-se uma lei (3.150/16) reinstituindo o duplo juízo de admissibilidade no REsp e
RE, sendo feito pelo tribunal e também pelo STJ e pelo STF conforme for o recurso.

Os requisitos de admissibilidade da demanda podem ser objeto do juízo do mérito recursal.


Não se pode confundir os requisitos de admissibilidade da demanda com os requisitos de
admissibilidade do recurso. Os requisitos de admissibilidade da demanda são as condições
da ação e pressupostos processuais. Se a parte tem uma decisão envolvendo esses temas e
ela entende que lhe prejudica, não há problema nenhum em recorrer deles, ou seja, que
eles sejam objeto do recurso, constituindo o mérito. Ainda que entre com esse recurso, há
que avaliar os requisitos de admissibilidade, como o prazo.
Os requisitos de admissibilidade do recurso podem ser objeto de mérito de um recurso. O
que não pode é ser no mesmo recurso. Se o tribunal deixa de reconhecer por ser
intempestivo, mas é tempestivo, podendo interpor recurso para discutir sobre a
tempestividade. O que não é possível é que o juízo de admissibilidade recursal seja discutido
no mesmo recurso, mas em outro é possível.
O mérito recursal não tem conteúdo pré-definido, dependendo do caso concreto.

Dependendo da corrente que se segue sobre a natureza jurídica do juízo de admissibilidade,


isso altera o marco da coisa julgada, alterando a marca também da ação rescisória.
O juízo de admissibilidade tem sempre uma natureza declaratória, segundo a posição do
Nelson Neves Júnior, que seria uma corrente mais coerente para Alisson. Sentenças
declaratórias retroagem. Não constitui nada, só declara que existe, reconhece uma situação
que já existiu. Ou está preenchido ou não tá, e independente disso, já terá acontecido desde
o momento da propositura do recurso. O problema dessa corrente é que deixa o recorrente
em uma posição delicada porque se por algum motivo o tribunal fala que não preenche os
requisitos e isso tem efeitos ex tunc, é lá atrás que começou a contar o prazo para a ação
rescisória, então se o tribunal demora mais de 2 anos para julgar e diz que não preenche os
requisitos, não tem mais prazo para recorrer e já perdeu o prazo da ação rescisória.
Cássio Capinella diz que é sempre declaratória, positivo ou negativo o juízo. Quando é
negativo, a decisão não deve retroagir em nome da segurança jurídica, sendo necessário
proteger o recorrente. A ideia de perder o recurso e a ação rescisória é muito ruim para o
recorrente. Essa corrente é vantajosa porque elimina a questão de a partir de onde se conta
o prazo para a ação rescisória. Apesar disso, ela não tem previsão legal e também se torna
um pouco incoerente pela natureza declaratória, mas seria uma excelente corrente.
Para Freddie Diddier, se o juízo de admissibilidade é positivo, é declaratório; se o juízo é
negativo, tem natureza constitutiva. Quando é negativo, a operação mental realizada até ali
é válida, mas nessa decisão o tribunal desconstitui a operação feita. O efeito seria ex nunc. O
problema dessa corrente é que pegaria a mesma operação mental e mudaria a natureza de
acordo o resultado. O que seria positivo é tentar encontrar uma justificativa teórica para
tentar ajudar o recorrente.
Corrente do STJ tem um problema porque ela não se explica. O juízo é declaratório sendo
positivo ou negativo. Quando o recurso é admitido em relação ao cabimento e
tempestividade a decisão não retroage.

Pressupostos processuais

CARTI SUPER LUXO P RG

Cabimento
Adequação
Regularidade formal
Tempestividade

Sucumbência

Legitimidade

Preparo

Repercussão geral (REx)

Critério classificatório Barbosa Moreira – Divide os requisitos de admissibilidade recursal em


intrínseco e extrínseco. Os intrínsecos tem a ver com o direito de recorrer e os extrínsecos
têm a ver com o exercício do direito de recorrer.
A repercussão geral só será analisada em recurso extraordinário. Em todos os outros
recursos serão analisados todos os outros requisitos, a não ser a repercussão geral.
Os extrínsecos são: regularidade formal, tempestividade e preparo. O resto é intrínseco.

1. Cabimento
A depender do autor, há autores que fazer uma interpretação mais elástica ou mais
restrita. Quem faz uma análise elástica estuda o cabimento junto com adequação.
Quem faz uma análise estreita fala que para saber se o recurso é adequado, a
primeira coisa que precisa saber é se cabe recurso da decisão. A primeira questão é
saber se é suscetível de recurso.
Ex.: questão de competência do juiz por alegar incompetência num caso que há
vínculo com a parte; não declaração de amicus curie.
Essas decisões irrecorríveis são exceção ao sistema.

2. Adequação
Se a decisão não é irrecorrível, cabe recurso. Se cabe recurso, a segunda questão é
saber qual é o recurso correto. Diz sobre a singularidade. Para cada tipo de decisão,
só há um tipo de recurso adequado.
A doutrina fala que a análise da adequação é a fusão do princípio da
unirrecorribilidade, taxatividade e no caso de REsp e RE, também precisa ter a
satisfação do princípio do prévio esgotamento das instâncias ordinárias.
É taxatividade pela impossibilidade de criar outros recursos diferentes daqueles
previstos no art. 994 e na legislação esparsa.
A adequação seria uma correlação entre a taxatividade e a singularidade. Se só há
recursos previstos e apenas um se adequa a cada decisão, é essa a análise a ser feita.

A doutrina majoritária funde cabimento e adequação, como o STJ. Se somar essas


duas ideias, não há erro. Quando em julgados se fala em cabimento, geralmente já
inclui adequação.

3. Legitimidade recursal
A terceira questão que surge é quem pode recorrer da decisão.
Art. 996, NCPC. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro
prejudicado e pelo MP.
Juiz não tem legitimidade recursal, porque ele mesmo decide. O recurso nasce de um
descontentamento da parte em relação à decisão. Excepcionalmente demais, a lei dá
para o juiz a legitimidade para recorrer em alguns incidentes processuais. Isso é a
exceção da exceção da exceção pra sempre. Além disso, o juiz nunca recorre da
própria decisão.
Ex.: quando o juiz não se declara suspeito e a parte acredita que será prejudicada,
pode pedir para que mude de juiz. Nesse caso, o juiz tem capacidade postulatória
para argumentar, mas apenas porque é parte na questão de suspeição.
Parte – parte vencida, e não qualquer parte. Parte que sucumbiu. Desde que tenha
perdido, pode ser tanto o autor como o réu. O réu revel pode recorrer porque
ingressa no processo no estágio em que ele se encontra. Pode recorrer se ainda
houver prazo. Apesar disso, se não habilitou advogado, dificilmente vai saber sobre
recorrer pela ausência de notificação.

Terceiros intervenientes – Deixa de ser terceiro e passa a ser parte do processo, não
como autor e réu, mas pode recorrer quando a decisão lhe prejudica. Ex.: assistente,
sócio que surge a partir da desconsideração da personalidade jurídica.
Terceiro prejudicado – Excepcionalmente pode resvalar sobre quem não foi parte no
processo. Essa pessoa também pode recorrer, mas terá que demonstrar a relação
com o processo e a pertinência com aquela decisão. Art. 996, parágrafo único. Ex.:
caso de formação de precedente (IRDR) que prejudica outros. A parte que se sentir
prejudicada pode questionar.

Ministério Público – O MP atua de duas formas no processo civil: na qualidade de


parte, quando propõe ACP, ação de improbidade administrativa; e atua como fiscal
da ordem jurídica. Muito embora não tenha proposto aquela demanda e não atue
como réu, terá que intervir no processo como pressuposto de validade como no caso
de interesse de incapaz. Quando atua como parte, sem dúvidas pode recorrer,
porque entra na qualidade de parte vencida.
O problema sempre foi na atuação da qualidade de fiscal da ordem jurídica
oferecendo parecer no processo. Ex.: juiz decide em um sentido e MP dá parecer em
outro sentido. Súmula 99 mostra que o MP tem legitimidade para recorrer como
oficial da lei ainda que não haja recurso da parte. Se ele não pudesse recorrer, a
fiscalização dele seria inútil. O CPC/73 não falava disso e hoje o NCPC deixa claro que
pode recorrer como parte ou fiscal da ordem jurídica, no artigo 966.
Ainda surge dúvida sobre a legitimidade de o juiz recorrer contra o interesse da
parte.

4. Sucumbência
Para Alisson o melhor nome é interesse recursal, porque não é sempre que só aquele
que sucumbiu vai recorrer.
Alguns autores chamam de interesse recursal. Esse requisito também está previsto
no art. 996 do NCPC na parte em que diz sobre a parte vencida.
Só vai poder recorrer aquele que perdeu. Se ganha parte e perde parte, pode
recorrer do capítulo em que saiu derrotado. Então a ideia básica desse pressuposto
significa que só tem interesse recursal quem perdeu, e perder é no dispositivo da
decisão. Se o juiz decidiu por uma linha argumentativa diferente, mas deu o que a
parte pediu, a princípio não cabe recurso. Isso porque o recurso tem que trazer um
resultado prático, sendo uma melhora na vida daquele que sucumbiu.
Excepcionalmente, mesmo a parte vencida pode recorrer da decisão. Via de regra,
aquele que recorre é quem perde.
Se tem uma sentença terminativa que transita em julgado, depois disso a parte pode
recorrer da demanda, porque só faz coisa julgada formal. Se tem uma sentença
definitiva faz coisa julgada material, não podendo entrar com a mesma demanda
posteriormente. Nesse caso, mesmo a parte que ganhou pode recorrer de uma
decisão terminativa na intenção de obter uma sentença definitiva.
Na ação coletiva, a ação de improcedência só faz coisa julgada material se houver
amplo esgotamento da prova. Depende do que aconteceu no processo.
No âmbito criminal por exemplo, o réu que foi absolvido por falta de provas também
tem interesse em ter um resultado que diz que o fato não ocorreu, porque a não
ocorrência impede que a pessoa seja perturbada de novo sobre o caso, enquanto a
ausência de provas pode fazer com que retorne o caso.

Interesse recursal na apelação/agravo de instrumento


A apelação é um recurso livre e o agravo é vinculado. Então a pergunta que surge é
se a pessoa pode apelar mesmo tendo ganhado o processo. No CPC/73 não havia
esse possibilidade.
Tem interesse em apelar não da decisão de mérito, mas de uma decisão
interlocutória que não tinha previsão legal de agravo. Na nova sistemática do código
pode apelar para discutir a decisão interlocutória, mas apenas no caso de ela não ser
agravável.
A concessão de gratuidade judicial só pode ser recorrida nas contrarrazões da
apelação. Então mesmo que a parte tenha ganhado, pode recorrer dessa gratuidade
da parte contrária na apelação. O interesse de recorrer não é da sentença, e sim da
decisão interlocutória proferida ao longo do processo e anterior à sentença.

5. Inexistência de fato impeditivo ou extintivo do direito de recorrer


Três institutos: aceitação, renúncia do direito de recorrer, desistência do direito de
recorrer.

Aceitação
Comportamento da parte que demonstra sua aquiescência, sua conformação com a
decisão proferida.
Pode ser de duas formas: expressa e tácita.
A aceitação expressa é quando manifesta nos autos a aceitação da decisão. Essa
aceitação não gera efeito prático muito interessante.
A aceitação ocorre quando há um comportamento incompatível com o interesse de
recorrer. Ideia de non venire contra factum próprio. Não pode ter atos contraditórios.
Pratica ato que não representa manifestação de resignação em relação à decisão.
Muito pelo contrário, o comportamento parece que concorda com a decisão. O
exemplo mais comum é o cumprimento da decisão judicial quando é cabível recurso
com efeito suspensivo. Se liga à ideia de preclusão lógica pela prática de um ato
incompatível com o que deveria praticar.

Renúncia
Abrir mão do direito de recorrer, não exercitando-o. A renúncia também pode ser
expressa ou tácita.
A renúncia expressa é quando a parte expressamente nos autos mostra que não tem
interesse em recorrer. Ocorre muito para trazer o momento do trânsito em julgado,
porque apenas depois dele se expede o mandado de averbação. É importante para o
registro.
A renúncia tácita existe quando a pessoa não se pronuncia, mas pelas atitudes
interpreta-se como se houvesse renúncia. Ex.: possibilidade de recorrer de dois
capítulos, mas recorreu de só um. Há a interpretação de que renunciou do direito de
recorrer do outro capítulo.
A renúncia também pode ser total ou parcial. A total é quando não recorre de nada e
parcial é quando recorre de parte do que poderia recorrer. Isso acontece devido ao
efeito devolutivo.

** A parte pode renunciar do direito de recorrer independente da anuência da parte


adversária; A parte pode renunciar independente da anuência de outros
litisconsortes;

Surge a questão se pode renunciar do direito de recorrer antes de saber do conteúdo


da decisão. A corrente majoritária no CPC/73 diz que não, que só pode renunciar
após conhecer o recurso na decisão. Atualmente, devido aos negócios jurídicos
processuais, entende-se que é perfeitamente possível, gerando o pacto de instância
única. O TJ de MG editou enunciados sobre isso, que significa as partes dizendo que
vão aceitar a decisão independente do conteúdo. É uma forma de amortizar e de
certa forma de as partes controlarem o tempo do processo.
Para Alisson, é possível, mas não para todos os recursos, como o embargo de
declaração porque ele é um instrumento que assegure que a decisão seja
compreensível. Se o juiz proferir uma decisão incompreensível, a parte não poderia
fazer nada. Quando se pensa na não renúncia, acredita-se na decisão correta e
compreensível.

Quando há renúncia do direito de recorrer, para a doutrina majoritária não há a


possibilidade de recorrer adesivamente, porque renuncia não à uma modalidade e
sim ao recurso como um todo.

Desistência
A parte desiste em prosseguir o recurso já em curso. Não vai adiante com o recurso
que já interpôs.
A diferença da renúncia é que nessa não exercia o direito de recorrer, enquanto na
desistência já interpôs um recurso e não quer prosseguir com ele.
** Pode desistir independente da anuência da parte adversária; Pode desistir
independente da anuência de outros litisconsortes.
Art. 998 e 999, NCPC.
Também pode acontecer de forma expressa e tácita; total e parcial.

Desistência da demanda vs. desistência do recurso


Quando a parte desiste do recurso, não precisa da anuência da outra parte. Por outro
lado, na desistência da demanda só pode acontecer se a outra parte ainda não foi
citada. A partir do momento em que a parte é citada, deve haver anuência da parte
contrária.

O entendimento hoje é que a parte pode desistir do recurso repetitivo, mas não pode obstar
a formação do precedente, apesar de ele não vincular aquela parte. Enunciado 313 e 332.

6. Regularidade Formal
A ideia mais básica significa que os recursos precisam atender as exigências formais.
Ou seja, o recorrente deve observar as formalidades recursais estabelecidas pela
legislação.
Cada recurso tem exigências que lhe são próprias e peculiares. Ex.: no embargo de
divergência precisa mostrar que há jurisprudência divergindo; no agravo de
instrumento há documentos indispensáveis.

Há exigências cabíveis para todos os recursos:


Os recursos devem ser escritos. Não existe, no processo civil, recurso verbal. Sempre
deve ter uma petição escrita.
Todo recurso tem petição recursal.

Deve ter endereçamento. Alguns recursos são interpostos ao juízo a quo e outros
recursos a parte vai endereçar para o juiz ad quem, mas a regra é ser ao juiz a quo.
Depois de processar, o juízo a quo remete ao ad quem. Isso nada mais é do que dizer
sobre a competência.

Fundamentos de fato e de direitos – Teoria da Substanciação. Precisa de fato,


fundamento e pedido. Não pode ter só um ou só outro. O pedido deve ser uma
decorrência da fundamentação de fato e de direito.
Todo recurso é uma crítica a uma decisão judicial. Pode criticar a apreciação do fato,
do direito etc. Não é mais momento de criticar a petição inicial mais. Não é de
qualquer decisão judicial, e sim a decisão a que se está recorrendo.

Todo recurso tem que ser motivado. É necessário, no processo civil, sempre, indicar
as razões pelas quais entende-se que a decisão está equivocada. Essa petição que se
faz a motivação é chamada de razões recursais. Recurso sem motivação viola o
princípio da dialeticidade.
Última parte no inciso III, art. 932 do NCPC. Súmula 182 do STJ. Por mais que o
agravo do artigo 527 não exista mais, a razão de ser da súmula ainda continua válida.
Não é repetir a petição inicial, e sim atacar a decisão especificamente.

Todo recurso deve ter pedido. É o mérito do recurso. Pode ser reforma, invalidação,
integração ou esclarecimento. Pode também ser mais de uma coisa, havendo
cumulação de pedidos.

O NCPC deu uma abrandada na regularidade formal. Muito do que não era sanável,
passou a ser por conta do art. 932, parágrafo único.

7. Tempestividade
Um recurso é tempestivo quando é praticado dentro do prazo legal instituído para a
sua prática. Não pode ultrapassar esse prazo.
O recurso prematuro acontecia antes do prazo, antes da intimação, e não antes da
decisão. O STJ falava que era intempestivo. Isso não seria válido porque a intimação
serve apenas para dar ciência, mas se a parte não precisou dela para saber da
decisão, poderia recorrer desde então.
Hoje em dia não há mais essa questão, porque entende-se que quando se diz dentro
do prazo é que ele não pode ser ultrapassado, porque na vigência do NCPC, não há
que se falar mais da figura do recurso prematuro.
Se passa desse prazo de recurso, diz-se que ele é intempestivo.

A regra no NCPC é que há prazo de 15 dias úteis para recorrer.


A exceção é no embargo de declaração, em que o prazo é de 5 dias úteis para
recorrer.
O recurso inominado tem prazo de 10 dias. Surge a questão se os dias são úteis ou
não. Na dúvida, deve-se sempre contar o menor prazo para não ter problema de
intempestividade. Felizmente essa polêmica foi cessada dizendo que se o prazo é em
dias úteis.
Quando se diz sobre a aplicação de ECA, o sistema recursal que se aplica é o recursal
processual civil, mesmo que diga respeito a questão de penal. Nesse sistema, não é
necessário o preparo. Lei dos juizados também pode ter prazo diferente.
No ECA o prazo para recorrer é de 10 dias, salvo se a legislação processual estipular
prazo inferior.

Algumas pessoas, no processo civil, gozam de prazo diferenciado: o MP, a Defensoria


Pública, a Fazenda Pública têm prazo em dobro, tanto para contrarrazoar como para
interpor recurso.
Quando se diz da Fazenda Pública é pessoa jurídica de Direito Público. Pessoas
jurídicas da administração direta (União, estados, municípios); autarquias e
fundações e consórcio público.
Empresa pública e sociedade de economia mista não têm direito ao prazo em dobro.
Os escritórios-escola de universidades reconhecidas pelo MEC agora terão direito a
prazo em dobro. Art. 186, §3º do NCPC.

Litisconsortes no CPC/73 – Se os litisconsortes tivessem advogados distintos, teria


direito à dobra de prazo. A razão disso é que pelo número de pessoas ficaria mais
difícil ter acesso aos autos por ter mais profissionais manejando os autos.
Atualmente, para ter direito à dobra de prazo, é necessário que haja litisconsortes
com advogados distintos. Além disso, o NCPC traz que esses advogados devem
pertencer a escritórios distintos. No entanto, se o processo for eletrônico, não há
permissão para essa dobra, porque permite o acesso simultâneo de tantos quantos
precisarem.
Súmula 641 – Não dobra o prazo quando só um dos litisconsortes quiser recorrer.
Isso porque a justifica do embaraço simultâneo dos advogados não se justifica mais,
já que só um quer recorrer.

Contagem do prazo

Os prazos são contados em dias úteis, mas é importante saber também qual é o início
da contagem do prazo.
No direito processual civil, o prazo inicia no dia seguinte ao da intimação e inclui o dia
de término.
Quando a decisão é proferida em audiência a legislação considera intimados os
presentes. Se a parte não comparece de forma injustificada na AIJ, a pessoa que deve
buscar se informar sobre. Certifica do trânsito e começa a execução. É um risco que
se corre por deixar de comparecer em um ato processual.
Quando a decisão não é proferida em audiência, normalmente as partes são
intimadas via publicação no diário oficial.
Existem alguns órgãos que têm prerrogativa de intimação pessoal, como a defensoria
pública e o MP.

Suspensão de prazo recursal – artigo 1.003

8. Preparo
Preparo é o encargo financeiro decorrente da tramitação do recurso. Para o recurso
ser processado. Via de regra, todo processo tem.
Geralmente o valor varia de acordo com o valor da causa.
Além do preparo, quando há algo físico ainda se paga a taxa de remessa e retorno de
autos. Envio dos autos e volta para a comarca de origem. Por isso só faz sentido
quando é físico.

Existem pessoas dispensadas de recolher o preparo. Ex.: quem litiga com base no
benefício da assistência jurídica gratuita; MP; União; estados; município; DF;
autarquias e demais entes que gozam de isenção legal (pessoas jurídicas de direito
público).

Quando o preparo deveria ser recolhido, mas a pessoa não recolheu, diz-se que o
recurso é deserto. A punição aplicável para o recurso deserto é que ele não é
conhecido.
Quem realiza o preparo incompleto tem direito a ser intimado para complementar o
recolhimento (recolhimento simples, que é simplesmente completar).
Quem não recolheu nada do preparo, o NCPC trouxe uma nova regra, que mostra
que antes de aplicar a pena de deserção, será intimado a recolher o preparo em
dobro.
O prazo para comprovar o preparo é o tempo de contestar porque deve ser
apresentado junto o comprovante.

RECURSOS EM ESPÉCIE

APELAÇÃO

Art. 1009 do CPC.


As normas desse recurso costumam funcionar como normas supletivas para outros recursos.
Não é raro que os tribunais se socorram de normas do recurso de apelação para reger outras
espécies de recursos que por acaso não tenham normas que os disciplinem. Ex.: Recurso
ordinário constitucional. A lei não fala nada quase sobre ele porque utiliza-se supletivamente
as regras do recurso de apelação.
Nesse sentido, as regras do recurso de apelação funcionam como uma espécie de panorama
para os outros recursos.
O recurso de apelação e o recurso de agravo mudaram muito com o NCPC.

Em relação aos pronunciamentos do juiz de 1º grau, há três figuras: despacho, decisão


interlocutória e sentença.

Despacho não cabe recurso porque não tem conteúdo decisório. Apenas promove o
andamento do processo.

Apelação é um recurso que vai sempre incidir sobre a decisão de um juiz de 1º grau. Não
existe apelação de decisão dada por Tribunal. Muitas vezes a doutrina utiliza a palavra
sentença como sinônimo de decisão. Para ser apelação, deve ser de uma decisão dada por
juiz de primeiro grau.

Sentença atualmente tem um aspecto material e um aspecto formal.


Aspecto material – Se liga ao conteúdo decisório.
Aspecto formal – Diz respeito ao momento processual no qual ocorreu a decisão. Melhor
dizendo, esse aspecto implica necessariamente no encerramento um modo ou fase
processual.

Art. 203, §1º NCPC – Pode existir regra diversa no momento em que se cria em
procedimentos especiais, mas em regra traz o conceito de sentença. Não basta que tenha
um conteúdo. É indispensável que esse ato decisório encerre uma fase cognitiva do processo
ou a fase de execução. Conteúdo + encerramento de módulo processual.
Se faltar qualquer uma das duas coisas, há a decisão interlocutória.

A decisão interlocutória é um conceito residual no NCPC. Art. 203, §2º.


Se estiver no art. 1015, vai ter que agravar de instrumento a partir de 15 dias úteis. Se não
estiver no rol desse artigo, deve esperar o momento em que será proferida a sentença para
poder recorrer.

Art. 485 NCPC – Sentenças terminativas.


Art. 487 NCPC – Sentenças definitivas.

Se identificar de forma incorreta qual o tipo de ação decisória que se tem, errará o tipo de
recurso a ser interposto. No caso do art. 178 o prazo para decadência é de 4 anos.

Via de regra, se há uma sentença, o recurso será apelação, mas há exceções:


 Sentença produzida por juiz dos juizados especiais. Cabe recurso, que doutrinariamente
é chamado de recurso inominado.
As diferenças desse recurso para a apelação são basicamente três: o prazo (10 dias); o
segundo grau de jurisdição é a Turma Recursal, não vai para o tribunal (TJ ou TRF, como
apelação); na lei de juizado, se há a decisão interlocutória pode discutir tudo no recurso
inominado ao final, já no NCPC depende do art. 1015.
 Sentenças proferidas no âmbito da execução fiscal de valor igual ou inferior a 50 OTNS. O
recurso cabido é chamado de embargos infringentes, também chamados por alguns de
embargos infringentes de alçada. Esse embargo é julgado pelo próprio juiz que proferiu a
decisão.
Uma observação que se deve fazer é que havia embargos infringentes do CPC, deixando
de existir. Era utilizado para alteração de votos no acordão de modo a prevalecer o voto
vencido. O NCPC acabou com isso, fazendo agora a técnica de ampliamento de
colegiado, do art. 942 NCPC. Não confundir essas duas coisas diferentes.
 Das sentenças proferidas pelo juiz federal em que forem parte de um lado Estado
estrangeiro ou organizações internacionais e de outro lado município ou pessoa
residente no Brasil, o recurso cabível será o recurso ordinário constitucional.
Ele parece com o recurso de apelação, mas tem uma diferença gritante porque é julgado
pelo STJ, não passando pelo TRF.

Ampliação do objeto da apelação no CPC/15

No CPC/73, a apelação só tinha uma finalidade, que era discutir sentença. Pouco importava
se era uma sentença terminativa ou definitiva, se houvesse uma sentença, o recurso seria
apelação.
O NCPC criou um sistema diferenciado de preclusão, que é chamado de sistema dinâmico de
preclusão. Quando tem decisões interlocutórias que não são agravadas de imediato porque
não estão no rol do art. 1015, essas decisões também passaram a ser objeto do recurso de
apelação. Hoje, então, uma apelação serve para atacar sentenças e decisões interlocutórias
não agraváveis de imediato. Elas são as decisões interlocutórias que não estão no rol do art.
1015.

Uma parte pode apelar muito embora tenha sido totalmente vencedor na demanda?
Hipótese em que a pessoa se sucumbiu em um incidente processual que não permite agravo
imediato, mesmo que tenha sido vencedor da demanda. Pode apelar posteriormente.

Art. 1009, §1º. Nas preliminares recursais geralmente se trata das questões de
admissibilidade recursal, porque são antecedentes lógicos ao julgamento do mérito. Além
dessas clássicas preliminares, pode haver preliminares discutindo decisões que não tiverem
sido possíveis via agravo de instrumento.
Pode também se fazer nas contrarrazões de apelação. Historicamente, contrarrazões é uma
peça só para defender. Quando recorre, diz que a decisão está errada. A contrarrazão
acredita que a decisão é boa. Normalmente quem contrarrazoa só quer que a decisão se
mantenha, porque se não quer isso vai recorrer. Quer que se mantenha tal qual ela está,
porque se tiver insatisfeito deve recorrer. Se não o fizer, aceitou de forma tácita a decisão.
As contrarrazões tem natureza de peça defensiva no sentido de não querer nada diferente
de como está.
Atualmente, a partir do NCPC, a contrarrazão ganhou natureza recursal. Ganhou natureza
híbrida. Pode-se na contrarrazão de apelação não só querer manter como ela foi proferida.
Pode manter uma coisa e questionar a outra. Hoje pode pedir nas contrarrazões de apelação
uma decisão das decisões interlocutórias que não teve chance de agravar antes. É por isso
que hoje a doutrina fala que a natureza jurídica da contrarrazão mudou. Pode ser um
comportamento de questionar outras decisões.

Competência para Interposição

A petição de apelação é dirigida ao juiz a quo (1ª Vara Cível de GV – ex); quem vai julgar é o
TJ.
Depois do processamento regular (intimar a outra parte para contrarrazões) envia para o
tribunal.
Após ter apelado da sentença, o juiz deve intimar o recorrido para contrarrazoar. No prazo
de contrarrazão a parte também pode apresentar uma apelação adesiva ou então pode, no
bojo das contrarrazões dela, questionar uma decisão interlocutória não agravável. Após isso,
o juiz deve intimar a outra parte, já que também houve o contraditório para a outra parte.
Se não tiver havido decisão interlocutória e nem recurso adesivo, o juiz envia direto ao
Tribunal.
O passo do juiz após o recebimento das contrarrazões depende do que veio junto. Se teve
apelação adesiva ou apelação de decisão interlocutória não agravável, deve chamar a outra
parte para a realização do contraditório. Após isso, envia para o Tribunal.
Quem avalia pressuposto recursal é o tribunal.
Competência para julgar é diferente da competência para interpor, que é a competência
para receber o recurso.

No NCPC, tomadas essas providências, o juiz remete o processo ao tribunal


independentemente da realização do juízo de admissibilidade. Ou seja, não é o juiz de 1º
grau que fala sobre tempestividade, falta de preparo, legitimidade recursal, cabimento.
Quem fala sobre esses temas é o tribunal. Ou seja na atual sistemática de processo civil, o
juízo de admissibilidade na apelação é realizada no tribunal.
Art. 1010 §§ 1º, 2º e 3º, NCPC.
O Código não fala do recurso da decisão interlocutória dentro das contrarrazões, apesar
disso, sabendo que há o contraditório que permite manifestar sobre todos os atos da parte
que possam prejudicar, deve sim recorrer.
Hoje na apelação não se faz juízo de admissibilidade.

Requisitos formais da apelação


O Código fala que é necessário haver qualificação das partes. No recurso, chama-se essas
pessoas de recorrente e recorrido. Normalmente a qualificação basta a referência da
qualificação já feita nos autos. É necessário qualificar geralmente um terceiro prejudicado
que não estava nos autos anteriormente.
Art. 1010, I e II. Exposição dos motivos de fato e de direito, que geralmente é chamada de
causa de pedir recursal. Pode ter uma causa de pedir recursal tanto fundada na má-
apreciação do juiz em relação a matéria de fato como da interpretação dada ao direito. No
recurso, a parte faz uma crítica em relação a uma decisão. É necessário demonstrar com
razões de fato e de direito que uma decisão está errada. Não existe recurso sem que aponte
uma causa de pedir.
É necessário ter pedido. Em relação a ele, é preciso pedir a reforma ou a invalidação.
Efeito substitutivo para a reforma da decisão. Precisa mostrar, no capítulo de decisão, o que
quer que saia da decisão e o que seja incluído. Error in judicando.
Quando pede a invalidação, quer que o tribunal tire aquela decisão do sistema jurídico; não
quer que coloque outra no lugar. Error in procedendo.
Art. 1010, §3º - O tribunal que pela primeira vez julgou um recurso vai julgar todos os
outros. Quando chega na Turma, realiza sorteio para saber quem será o relator do processo.
A função do relator, em primeiro momento, é verificar se há alguma irregularidade sanável
ou matéria de ordem pública que as partes não manifestaram. Se tiver, o relator intima as
partes e faz um relatório, que é para contar de forma sucinta os fatos do processo. Após
isso, prepara o voto dele, que é a forma que ele entende que deve ser decidida aquela
matéria, elaborando fundamentação para aquele caso.
Quando é colegiado, precisa reunir todos para o voto. Existem casos em que o relator está
autorizado a julgar monocraticamente uma apelação. Essas hipóteses estão previstas no art.
932 do NCPC. A regra é que os julgamentos sejam colegiados, mas excepcionalmente, para
conferir maior velocidade ao processo, permite que o relator julgue monocraticamente o
recurso. Se a parte não concorda com a decisão dada, interpõe agravo interno.
I – Inadmissibilidade do recurso – Qualquer problema afeto a pressupostos recursais, não
conhecendo o recurso (juízo de admissibilidade negativo), podendo julgar
monocraticamente. Ex.: falta de interesse, cabimento, falta de preparo etc.
II – Quando o recurso perde objeto – Confissão de que o Poder Judiciário falhou. Não faz
mais sentido o julgamento. Geralmente isso acontece quando o Judiciário demora demais a
julgar.
III – Julgamento com base em precedentes – O NCPC permite, em algumas hipóteses, que o
relator julgue sozinho o recurso quando já há súmula do STF, do STJ ou do próprio tribunal;
Se já houver recurso repetitivo extraordinário e especial já julgado; Quando já tiver decisão
dada em IRDR (Incidente de Recurso de Demanda Repetitiva) ou IAC (Incidente de Assunção
de Competência). É uma técnica de admissão da atividade jurisdicional que deve ser repetida
para outras demandas do futuro. Isso causa problemas porque se cria precedente à
brasileira. Na história do direito, o precedente não nasce para ser precedente, e apenas uma
decisão.
Fora essas possibilidades, o julgamento será colegiado, porque ele é regra. A decisão
monocrática é exceção.

Efeitos da apelação

Efeito Devolutivo – É a transferência de uma matéria decidida por um órgão inferior para um
órgão jurisdicional superior. Possibilidade de o tribunal reanalisar uma matéria decidida por
um outro órgão jurisdicional.
É vinculado ao ato recursal da parte. Se pode recorrer de uma parte da decisão, o efeito
devolutivo fica limitado ao que foi pedido pela parte. O que limita esse efeito é o pedido da
parte, já que não é obrigada a recorrer da decisão toda. A depender do que a parte pediu,
isso também vai influenciar o que o tribunal vai julgar, já que fica adstrito a essa parte.
Apesar disso, há capítulos que são prejudiciais a outros. Nesse caso, por extensão esses
capítulos também serão afetados.
Da mesma maneira que é possível cumular pedido, é possível cumular causa de pedir. Pode
ter mais de uma razão para fazer um pedido. No art. 1013, o código trata que o tribunal está
livre para analisar todas as causas de pedir caso tenha devolvido uma das partes para o
tribunal. Pode avaliar tudo que estiver afeto àquele capítulo.
A doutrina fala que esses dispositivos falam da profundidade do efeito devolutivo. (Art.
1013, §1º e 2º). Há autores que chamam o efeito translativo de profundidade do efeito
devolutivo. Poderia limitar verticalmente a atuação do tribunal, mas não horizontalmente.

Efeito translativo – É uma ficção. Muito embora a parte não tenha falado, é como se ela
tivesse suscitado aquela matéria.

Efeito suspensivo – Regra geral, os recursos não têm efeito suspensivo. Apesar disso, o
entendimento majoritário é que a apelação tem efeito suspensivo. Excepcionalmente,
haverá a apelação sem efeito suspensivo. Em uma decisão, há capítulos que podem ter
efeito suspensivo e outros não.
Ex.: condenação a alimentos e indenização. A obrigação alimentícia não tem efeito
suspensivo, mas a indenização tem. Se a parte recorre disso e há possibilidade de separar os
capítulos autônomos, é isso que vai acontecer; Ação demarcatória com indenização. O
primeiro não tem efeito suspensivo e o segundo tem.

Apelação e Teoria da Causa Madura

A causa está madura quando está pronta para o julgamento, porque muitas vezes pode
julgar o mérito no sentido de improcedência, mas a causa não está madura. Diz-se que esse
processo está pronto para ser julgado quando já há os elementos de convicção necessários
para o julgamento. Isso é visto no julgamento conforme o estado do processo (julgamento
antecipado do mérito, no código passado). Não precisa mais de colhimento de provas ou
outros documentos.
Normalmente, esse instituto está atrelado à ideia de desnecessidade de produção
probatória. Pode ser um fato possível de comprovação só por via documental (petição inicial
para o autor e contestação para o réu) ou então pode ser desnecessária essa dilação
processual por ser “causa de direito”, que é aquela só discutida no plano legislativo. Não
envolve outras coisas ou questão de fato para saber sobre a existência desse direito.
A ideia dessa teoria é evitar que o processo se prolongue desnecessariamente. O processo já
está pronto para ter colhido seu fruto, que é a decisão. Se a decisão já tem elementos para
poder ser produzida, ou seja, se esse é o fruto que se quer colher, ela deve ser prolatada
logo.
Nos recursos, há algumas hipóteses, principalmente nas de invalidação, em que o tribunal
cassa uma sentença, que significa que retira essa sentença do lugar e retorna para o original
que proferiu a decisão, de forma que o juiz que proferiu a decisão deve colocar outra no
lugar sem os vícios.
É um tipo de instituto que mostra que os processos devem ter uma duração razoável. Em
algumas circunstâncias, quando o processo já tiver condição de ser decidido, o processo não
precisa ser retornado para a origem. O próprio Tribunal está autorizado a proferir desde logo
uma decisão.

Pressupostos: Só pode fazer se a causa estiver madura, ou seja, se for desnecessária a


comprovação probatória, ou seja, naquele processo já há tudo que é necessário para poder
decidir. Se o tribunal perceber, de acordo com a defesa da parte, que há necessidade de um
tipo de prova que ainda não foi produzida, não pode fazer o julgamento.

Hipóteses (art. 1013, §3º): sentenças terminativas; quando o juiz de origem decidiu com
base em prescrição ou decadência (prescrição é uma defesa preliminar, de forma que o juiz
não precisa mais produzir prova, tanto é que o código permite o julgamento liminar do
pedido por prescrição ou decadência); nos casos em que a decisão não obedece a
congruência com o pedido ou causa de pedir (o juiz deu mais do que o que foi pedido).
Significa que deve se ater ao que foi pedido. Caso de extra, ultra e citra petita. O código
autoriza que o tribunal não precisa remeter de novo ao juiz, bastando que anule a parte que
extrapolou; A fundamentação da decisão se aplica também aos precedentes, devendo o juiz
explicar o porquê usou determinado precedente. Se o juiz não explicar de forma satisfatória
a sua decisão, constata-se omissão na fundamentação de um pedido que poderia ser
utilizado e há a possibilidade de fundamentar no momento da apelação.

Essa teoria nasce para acabar com os problemas de distorção dos juízes.

Apelação e questões de fato não discutidas no juízo de 1º grau


Regra geral, o Tribunal não pode se pronunciar a respeito de temas que não foram objeto de
debate perante o juízo de 1º grau. Quando acontece de o tribunal pular o 1º grau, diz-se que
há um vício de supressão de instância, que queima a etapa. A teoria da causa madura é uma
exceção a essa técnica.
O Tribunal só poderia analisar matéria fática que foi objeto de discussão no 1º grau. No
princípio da eventualidade, precisa dizer tudo aquilo que importa, porque não pode tirar
fatos novos ao decorrer do processo.
Há exceção a essa ideia, que é a respeito de fatos supervenientes, dando possibilidade a
parte de argui-los, já que não fez antes porque não era possível.
A questão que se põe é a possibilidade de alegar fato novo na apelação ou contrarrazões. É
possível desde que se trate de fato novo.
Se o fato é inédito por incúria da parte, não pode apresentar na apelação. Caso em que
poderia ter alegado e não alegou, petição mal feita, pesquisa mal feita. Cabe preclusão; Se o
fato é inédito porque é superveniente, poderá utilizar porque o acontecimento é posterior;
Alegação de fato de conhecimento superveniente, que deve conseguir demonstrar que só
não conseguiu conhecer por uma circunstância excepcional. Aconteceu no passado, mas o
fato não era conhecido. É preciso justificar o porquê de não ser conhecido o fato, mostrando
que houve um justo impedimento para não ter alegado isso no passado.
De toda forma, se o fato é novo, o relator está obrigado a abrir contraditório em relação a
ele. Não basta um só dizer. Art. 933, NCPC.

AGRAVO DE INSTRUMENTO

Cabimento
É um recurso cabível em face de algumas decisões interlocutórias, por causa do art. 1015 do
NCPC. A lista de incisos desse artigo só se aplica ao processo de conhecimento, porque o
parágrafo único mostra que cabe agravo de instrumento para decisões interlocutórias em
fase de liquidação, cumprimento ou no processo de execução ou inventário; o NCPC mostra
que de qualquer interlocutória cabe agravo, mas no processo de conhecimento só nas
hipóteses mencionadas.
No processo de conhecimento, para caber agravo de instrumento, tem que ser uma decisão
interlocutória. O agravo de instrumento tem como requisito a necessidade de ser uma
decisão interlocutória. Se a lista do 1015 acontecer na sentença, o recurso será apelação.

Em algumas hipóteses do 1015, não importa o conteúdo da decisão. Basta que a decisão
tenha como objeto aquele tema. Tanto faz o acolhimento quanto a rejeição do pedido, se
deferiu ou indeferiu. Apenas ter o tema como objeto permite haver o agravo, como o inc. I
do art. 1015.
Há algumas hipóteses em que só é possível a depender do resultado da decisão, como o inc.
V do art. 1.015, que só admite agravo para a rejeição do pedido de gratuidade da justiça.
Não basta que a decisão seja sobre o tema, depende do resultado.
A recorribilidade do agravo é secundum eventum litis.

O NCPC quis limitar de alguma maneira as possibilidades de uso de agravo de instrumento.


Historicamente, o legislador vem tentando fazer isso há tempos porque esse tipo de recurso
é o que mais infla o TRF e o TJ.
Doutrinária e jurisprudencialmente existe entendimento pacífico de que o rol de situações
agraváveis é taxativo. A maioria das hipóteses está no art. 1015, mas assim como expresso
no inc. XIII desse artigo, há outras previsões legais que dizem respeito ao agravo. Ou seja, o
que é necessário para agravar é a previsão legal, mas não necessariamente no art. 1015.

O que não está no rol do art. 1015 não é irrecorrível, desde que seja decisão interlocutória.
Apesar disso, vai se recorrer na apelação ou nas contrarrazões de apelação.
O problema é que quando o legislador faz listas, pode acontecer de esquecer coisas
importantes. Nesse caso, pensa-se em utilizar o mandado de segurança. Apesar disso, a lei
12.016, art. 5º, I, mostra que não é possível se valer desse instrumento para decisões que
caiba recurso com efeito suspensivo. Isso gera problema porque quando não há a presença
no rol do artigo 1015, indica-se recorrer na apelação ou nas contrarrazões de apelação e a
apelação tem efeito suspensivo. Ou seja, não pode impetrar mandado de segurança. Para
Alisson, ainda com isso caberia o mandado de segurança.
Teoria do Recurso Inútil - Para o STJ, ainda que tenha o recurso, se o recurso se mostrar
inútil, seria cabível mandado de segurança. Ex.: inutilidade da apelação para versar sobre
incompetência, porque já vai ter tramitado o processo. Não vai adiantar mais nada.
No âmbito do TRF e TJ, não há essa permissão e nem a possibilidade de ampliação do rol do
art. 1015, deixando da forma mais rígida possível.

Regularidade formal do agravo de instrumento

Na petição de agravo de instrumento, precisa-se do nome das partes, que se pode chamar
de recorrente e recorrido ou agravante e agravado. É necessária qualificação completa das
partes, inclusive é necessário indicar quem são os advogados que representam essas partes.
Essa indicação serve para facilitar o relator intimar as partes para manifestar o agravo. O
problema disso é que muitas vezes o réu ainda não tem advogado constituído nos autos.
Nesse caso, o autor deve dizer que deixa de indicar o advogado do réu por ainda não ter a
constituição dele.

É necessário ter na petição de agravo de instrumento os fundamentos de fato e de direito


pelos quais se pretende a reforma ou a invalidação da decisão. Precisa haver também o
pedido de reforma ou invalidação da decisão.

É preciso tirar cópias de documentos que formam o processo principal para formar um
instrumento que vai tramitar perante o Tribunal. Vai ter os autos do processo tramitando na
primeira instância e no Tribunal vai correr os autos do recurso de agravo. Ou seja, é o
mesmo processo, mas com autos distintos.
A legislação determina alguns documentos que são obrigatórios, definidos no art. 1017, I
(obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da contestação, da petição que ensejou a
decisão agravada, da própria decisão agravada, da certidão da respectiva intimação ou outro
documento oficial que comprove a tempestividade e das procurações outorgadas aos
advogados do agravante e do agravado). É necessário no mínimo esses documentos, há
situações que precisa de coisas além disso ou que a parte ache conveniente juntar.
Se falta, no processo, documentos definidos, é necessário juntar uma declaração de que
esses documentos não existem no processo. No NCPC, se o relator observar que não há
algum documento obrigatório ou que ele ache necessário para averiguar a questão, deve
abrir prazo de 5 dias para o agravante completar a documentação (art. 932, parágrafo
único).

Quando o agravo é feito em autos físicos, o agravante tem o prazo de 3 dias para juntar
cópia do agravo nos autos principais. Ela tem duas finalidades: a primeira delas é de facilitar
ou permitir que o agravado apresente contrarrazões ao recurso. Nos autos eletrônicos, não
há sentido em se falar nesses prazos. A segunda finalidade é de permitir que o juiz se retrate
da decisão agravada.

Efeitos

Efeito suspensivo – O agravo não tem efeito suspensivo, mas ele pode ser requerido desde
que se demonstre que há a possibilidade de a decisão gerar grave dano, dano de difícil ou
impossível reparação e a probabilidade de provimento do recurso.

Efeito regressivo – O agravo de instrumento permite esse efeito. Significa que o próprio juiz
que proferiu a decisão pode voltar atrás. Por isso, é sempre bom juntar a petição de agravo
nos autos principais. Essa decisão substitui a primeira.

Apesar disso, pode acontecer de a decisão chegar ao fim e o agravo só chegar ao fim muito
tempo depois. Decisão de agravo superveniente à sentença. É um tema muito complexo e
controvertido, porque quando se fala em decisão liminar é uma decisão dada em cognição
sumária, mas é um tribunal de hierarquia superior (juiz de cognição sumária). Apesar disso,
não teve contato com todas as provas. De outro lado, há um juízo de instância inferior que
esgotou todas as provas do caso (juiz de cognição exauriente).

AGRAVO INTERNO
Recurso cabível das decisões monocráticas proferidas pelo relator ou pelo presidente e vice-
presidente dos tribunais.
Em face das decisões de juízo de admissibilidade proferias pelo relator ou presidente dos
Tribunais, quase sempre o recurso será agravo interno.
O princípio da colegialidade pressupõe que haverá um conjunto de pessoas refletindo sobre
aquele caso, comprometidas para dar uma melhor resposta ao tema. Isso pressupõe que a
decisão dada por um grupo será melhor dada do que uma decisão monocrática. Por outro
lado, em uma tentativa de dar maior celeridade, o Código amplia os poderes decisórios do
relator. Apesar disso, a possibilidade de decisão do relator monocraticamente é uma
exceção. Essa exceção à regra geral está prevista no art. 932 do NCPC, que trata dos poderes
do relator. Como o relator também é falível, o Código queria o recurso de agravo interno
como instrumento para viabilizar a instauração da colegialidade. O objetivo do agravo
interno é permitir a decisão colegiada de um recurso que foi decidido monocraticamente.

Quando se fala em decisão monocrática, é possível haver decisão terminativa de definitiva.


A decisão terminativa trata-se de uma decisão que analisa pressupostos recursais. Decisão
que não conhece o recurso de forma geral pode ser impugnada via agravo interno. Um dos
mecanismos da utilização de precedente é para a aceleração procedimental, porque se há
uma decisão dada no passado que deve se replicar no presente, pode aproveitar nos casos a
partir de então. O relator pode prover ou desprover o recurso com base em precedentes. A
legislação diz que IRDR é precedente (não necessariamente é, mas toma como se fosse). O
problema do Brasil é que se criou um sistema particular para resolver um problema de
massa. Precedente, para o NCPC é súmula dos tribunais superiores ou do próprio tribunal;
decisões proferidas em IRDR ou em IAC (incidente de assunção de competência); recurso
especial repetitivo e recurso extraordinário repetitivo julgados sobre aquela matéria; recurso
extraordinário julgado com repercussão geral e alguns autores chegam a citar ADIN e ADC
julgados pelo STF. Esses precedentes não podem ser afastados pelo tribunal. Não é obrigado
a julgar de forma igual, mas não pode se desviar, sendo chamados de precedentes
vinculantes. Recurso persuasivo.
Há quem diga que o sistema de precedente do NCPC é inconstitucional, dizendo que só a
Constituição poderia criar precedente vinculativo.
Quando tem precedente obrigatório, pode julgar mais rápido o processo.

Não é obrigado a julgar sempre do mesmo jeito. Distinção e superação.


Superação (overruling) – Quando o tribunal percebe que o precedente julgado no passado
não contém uma boa decisão, sendo uma decisão equivocada. Precisa demonstrar que as
circunstâncias mudaram ao ponto de não acomodar aquele precedente; há situações em
que se altera devido a uma alteração legislativa, porque a alteração normativa altera a
procedência de um precedente. Sempre quem faz é o tribunal que editou o precedente.
Distinção (distinguishing) – O precedente continua válido, mas o problema é que o holding
(razões de decidir) do caso não se aplica ao caso presente. Qualquer juízo pode fazer, até
mesmo o relator.

Aspectos procedimentais do Agravo Interno

Cada Tribunal vai deferir a competência para julgar o agravo interno. Em MG, quem julga o
agravo interno é a turma ao qual pertence o relator que decidiu monocraticamente.
Normalmente, o relator do agravo interno é o mesmo magistrado que decidiu
monocraticamente, conferindo agilidade.
Obs: O NCPC fala que o recorrente no agravo interno não pode simplesmente reiterar o seu
recurso. O relator precisa reiterar que forma específica a decisão monocrática. Art. 1.021,
§1º NCPC.
Art. 1.021, §3º - O relator não pode simplesmente reproduzir o conteúdo da decisão
agravada para improceder o agravo interno. Isso serve porque sendo o mesmo julgador, não
haveria garantia de que ele fosse julgar de forma diferente.

Penalidades para o Agravante

Para evitar a proliferação de agravo interno sem razão, que se chama de “recurso pelo
recurso”, o NCPC instituiu uma penalidade para o agravante.
Art. 1.021, §4º - O agravante paga multa de 1 a 5% do valor atualizado da causa, se for
manifestamente admissível ou for julgado unanimemente improcedente.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

Historicamente, existe uma divergência na doutrina se os embargos de declaração eram


mesmo um recurso. Nem todos os autores conseguiram atribuir aos embargos de declaração
uma natureza recursal. O problema chave nesse recurso, que talvez não se vê em nenhum
outro é que os embargos de declaração é um recurso julgado pelo próprio órgão prolator da
decisão. Por conta disso, a doutrina sempre teve muita dificuldade em falar que isso é um
recurso, porque a ideia histórica é que o recurso prevê órgão de hierarquia superior.
Apesar desse posicionamento doutrinário, prevalece a ideia, inclusive na legislação, de que
os embargos de declaração é recurso. Hoje a doutrina é tranquila em dizer que não é
essencial de um recurso que ele seja visto por um órgão de hierarquia superior. O que é
essencial é a ideia de se rever uma decisão. Quem tem competência para julgar os embargos
de declaração é o juízo no qual a decisão foi proferida. Essa ideia não pode ser atrelada ao
juiz, porque ele é a pessoa.
De toda decisão cabe embargo de declaração. Princípio da ampla embargabilidade, que é
uma exceção ao Princípio da Unicidade Recursal, que entende que para cada decisão só cabe
um tipo de recurso. A isso, acresce-se o embargo de declaração.
Princípio da Ampla Embargabilidade – Há hipóteses de previsão de irrecorribilidade, salvo
embargo de declaração (sentença arbitral).

O embargo de declaração só vai ser usado em prova se não couber mais nenhum outro tipo
de recurso, já que ele cabe em tudo.

Rol no art. 102 da CF sobre a competência de julgamento do STF. Ainda que não haja
disposição expressa no texto constitucional, há a competência do STF para julgar embargo
de declaração. Isso se justifica pela Teoria dos Poderes Implícitos.

O embargo de declaração é um mecanismo de aperfeiçoamento de uma decisão judicial. É


um recurso que visa corrigir vícios decisórios quando a decisão for omissa, obscura,
contraditória ou contiver erros materiais. Não basta que o Poder judiciário ou a autoridade
responsável decida. É preciso compreender aquela decisão. Não dá para cumprir uma
decisão judicial se as partes têm dúvida sobre o que foi decidido. Os embargos de declaração
estão para a decisão da mesma maneira que a emenda da petição inicial está para a petição,
já que é uma forma de melhorar uma petição inicial. A mesma coisa para o embargo de
declaração, que permite a correção de vícios decisórios. Objetivo de sanear vícios na
decisão.
Embargo de declaração é um recurso de fundamentação vinculada. Para aquele recurso ser
conhecido, cabível, a insurgência deve enquadrar em uma das hipóteses de cabimento
previstas pelo legislador. Ou seja, só cabe embargos de declaração nas hipóteses previstas
em lei, que são:

I Obscuridade – Quando dela não se é possível extrair o que de fato foi decidido. É o caso em
que a decisão peca por falta de clareza.

II Contradição – Acontece quando a decisão tem incompatibilidade lógica. A fundamentação


não condiz com o dispositivo; os argumentos não se alinham. É importante trazer a ideia de
sentença suicida, que se contradiz. Normalmente existe contradição entre a fundamentação
e o dispositivo. Do mesmo jeito que na petição inicial o pedido deve ser uma consequência
lógica da causa de pedir, o dispositivo no recurso deve ser uma consequência lógica da
fundamentação.

III Omissão – É omissa quando o juiz deixa de se manifestar sobre pedido ou sobre causa de
pedir que sejam relevantes para a decisão. Aparece, nesse momento, a função integradora
dos recursos. A doutrina costuma falar que os embargos de declaração é um sistema de
aperfeiçoamento à prestação jurisdicional, porque precisa de respostas. Se houver a
omissão, corrige a má-prestação jurisdicional. Corrige decisões infra petita. Instrumento de
correção decisório. Se conecta com a garantia de inafastabilidade do controle jurisdicional,
em que nenhuma lesão ou ameaça ao direito deixará de ser apreciada. Prestação
jurisdicional realizada de forma incompleta.
A doutrina costuma conectar essa omissão com a garantia de inafastabilidade do controle
jurisdicional. Precisa ter um órgão que seja capaz de dirimir litígios e não se pode afastar da
avaliação jurisdicional. Só há um caso em que se pode protelar, já que não pode levar
imediatamente ao judiciário, que é a justiça desportiva. Antes de levar ao judiciário, utiliza-
se dela. Se não conseguir resolver a questão no prazo de 60 dias, pode ir ao judiciário.
Levar uma questão ao judiciário é também receber uma resposta. Por isso, se conecta à
garantia de inafastabilidade porque não basta submeter a questão ao judiciário. Se a
questão não foi devidamente apreciada, os embargos de declaração tem a função de
complementar a decisão.
Omissão direta – Legítima omissão. Quando o juiz realmente deixa de apreciar algo que foi
expressamente postulado pela parte. Hipóteses em que o juiz deve apreciar tudo, como é o
caso de cumulação sucessiva. Não inclui, por exemplo, caso de cumulação imprópria
subsidiária.
Omissão indireta – A rigor, não há pedido e nem causa de pedir. Na petição inicial, não se
identifica. Como a legislação permite que o juiz conheça algumas matérias de ofício e a
qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição, é possível utilizar embargos de declaração
como forma de questionar o juiz sobre essas matérias. É uma omissão indireta porque a
rigor não existe omissão, mas por uma espécie de ficção a legislação permite que conheça a
matéria, desde que não tenha transitado em julgado.
No efeito translativo, o juiz pode conhecer matérias de ordem pública ainda que não tenha
sido provocado para tanto, podendo analisar de ofício. Não está vinculado à manifestação da
parte, porque o que prepondera nesse caso é o princípio inquisitivo.

IV Erro material – Hipótese criada pelo NCPC. Normalmente, se constitui de erro de grafia ou
erros de cálculo, sendo erros que não impedem a compreensão da decisão. Geralmente,
uma vez publicada a decisão do juiz, ele não pode se retratar sem motivação. Há hipóteses
excepcionais previstas em lei. O que acontecia é que as vezes, o juiz ao decidir cometia erros
materiais que são comuns. A jurisprudência sempre admitiu correção de erro material a
qualquer tempo mediante a provocação por qualquer forma. Não precisava de um recurso
para isso, bastando uma petição no processo.
O problema é que às vezes a parte poderia entender erro material e o juiz não e vice-versa, o
que gerava trânsito em julgado. Por isso, criou-se hipóteses no rol de embargo de
declaração.

Embargo de Declaração não é apelação.


Embargo de Declaração não é agravo de instrumento.
Embargo de Declaração não é recurso especial e nem recurso extraordinário.
Não é função do embargo de declaração de manifestar uma insatisfação com a decisão no
sentido de alterá-la. Se houver descontentamento com a decisão, o recurso é outro.

Só podem ser interpostos nos casos expressos em lei.

Embargos de Declaração e Efeitos modificativos ou infringentes

O embargo de declaração tem fundamentação vinculada. Não é um recurso destinado, a


princípio, a promover alterações no conteúdo decisório. Claro que muda algo, mas não se
espera que mude substancialmente. Na verdade, o que se espera é que se elimine essa
contradição e obscuridade. Apesar disso, existem casos que para eliminar os vícios da
decisão, necessariamente o conteúdo deve ser modificado também. Quando se fala em
conteúdo, é a substância da decisão. Ou seja, para conseguir manter a lógica e coerência da
decisão, o provimento dos embargos de declaração significa mudança no conteúdo
decisório. Quando isso ocorre, os embargos produziram efeitos infringentes ou
modificativos. É o efeito pelo qual se pretende modificar a decisão, mas isso não é a regra
desse tipo de embargo.
Geralmente, o embargo de declaração suscitado pela omissão, quando provido possui esse
efeito porque se agrega novos capítulos, sendo substancialmente maior pelo efeito
integrador dos embargos de declaração.
Também existe esse efeito modificativo quando para manter a coerência da decisão é
preciso modifica-la, como é o caso de uma decisão contraditória a ser corrigida, que acaba
modificando o conteúdo decisório.

Efeito infringente não é a regra e só ocorre quando for indispensável para que o embargo de
declaração cumpra sua finalidade. Se para sanar contradição, obscuridade, omissão tiver que
modificar, pode fazê-lo. Apesar disso, o pedido não é primeiramente a modificação da
decisão. Ela é uma decorrência da correção do vício decisório.

Quando o juiz vislumbrar a possibilidade de acontecer efeito infringente, está obrigado a


abrir prazo para contrarrazões. No CPC/73 não havia isso.

Prequestionamento.

Embargos de Declaração e Efeito interruptivo

A interposição do embargo de declaração interrompe o prazo para a propositura de outros


recursos. O prazo do embargo de declaração é de 5 dias úteis e da apelação 15 dias úteis.
Apesar disso, quando interpõe embargo de declaração, o prazo da apelação é zerado,
contando o prazo a partir da publicação dos embargos de declaração.
Cabe embargo de declaração do embargo de declaração, e o prazo para o próximo recurso
começa a contar da publicação.

RECURSO ORDINÁRIO (CONSTITUCIONAL)

É um recurso de cabimento muito restrito. Em regra, não se utiliza. É muito específico e com
peculiaridades.
É um recurso de previsão constitucional – Art. 102, II, a e b.
Prevê cabimento de RO para o STJ e para o STF. Não há tribunal ordinário (TRF e TJ) julgando
RO.
Quando um recurso sai da instância ordinária (juízo tradicional de 1º grau e a jurisdição
exercida pelo TJ e TRF) e vai para as cortes de superposição, o rigor é extremamente
ampliado, muitas vezes até criando requisitos não presentes em lei.

Os arts. 102 e 105 da CF tratam sobre a competência do STF e STJ.


O inc. I de ambos os artigos trata de competência originária e os incs. II e III tratam de
competência recursal.
O 102, II trata sobre a competência recursal ordinária e o III sobre a recursal extraordinária.
Quando se fala de competência originária, significa dizer que não passou por instâncias
inferiores para chegar lá. Isso não é a regra, porque geralmente o tribunal não tem
condições de produzir prova, mas nessa competência pode fazer se depender de prova
(pode ser só de direito). Normalmente é feita de forma capilar em instâncias ordinárias.

Quando se fala de competência recursal, não começou no tribunal, e sim chegou lá porque
teve decisão e alguém descontente com aquela decisão total ou parcialmente, se insurgiu
contra ela. Então, quando se fala dessa competência, a prova já foi toda produzida na
instância ordinária, via de regra. A discussão é, então, sobre a melhor forma de interpretar
aquela prova e o direito. Normalmente os tribunais desenvolvem competências recursais,
configurando a maior parte de sua atividade.

Quando um tribunal julga um recurso ordinário, o que importa é a tutela do direito subjetivo
da parte, corrigindo injustiças e erro no julgamento. Quando o tribunal julga recursos
ordinários, está autorizado a reavaliar matéria do direito e do fato. Isso significa que quando
o Supremo julga um recurso ordinário, está autorizado a reavaliar provas, e não produzir.
Então, quando a CF fala que vai julgar em grau de recurso ordinário as matérias listadas,
quer dizer que o Supremo vai analisar se o juiz avaliou o direito corretamente, mas se for
necessário avaliar também prova, pode.
Quando se fala de competência extraordinária, se diz de recurso especial e extraordinário e
embargo de divergência nesses recursos. Quando se fala disso, o STF e o STJ têm como
preocupação principal a uniformização do direito. A questão central é definir qual a melhor
forma de interpretar a CF no caso do RE e, no caso do STJ, qual a melhor forma de
interpretar a legislação federal. Quando o STF e o STJ julgam o RE e o REsp, não estão
autorizados a fazer a mera revisão de prova (Súmula 7 do STJ, que se aplica também ao STF).
Ou seja, tem uma limitação na cognição.

O art. 1.027, I do NCPC trata sobre o recurso ordinário julgado pelo STF, mas não inclui
habeas corpus e nem do crime político, porque confia a matéria para o CPP.
O art. 1.027, II do NCP trata do recurso ordinário julgado pelo STJ, com a mesma diferença
do anterior.

Se o problema nasce em órgãos superiores (STJ, TSE, TST, STM), a competência é do STF.
Se o problema nasce no âmbito do TJ e o TRF, a competência é do STJ.

Recurso ordinário na tutela de liberdades públicas – 1.027, I e II, a

Para ser de competência do STF – Deve ser de competência originária de tribunais


superiores referentes a mandado de segurança, habeas data e mandado de injunção, mas
que devam ter sido resolvidos em única instância, tendo iniciado em tribunal superior, sendo
de competência originária dele. Não pode ter começado em outro. Deve ser de caráter
denegatório, ou seja, a pessoa que fez o pedido, perdeu. Se ele ganhar, o recurso é outro. A
negação pode ser parcial, não sendo necessariamente integralmente denegatório. Pode
ainda ser uma decisão terminativa denegatória, que não avaliou o mérito.

Para ser de competência do STJ – Não é de tribunal superior, e sim de um TJ ou de um TRF.


As ações são as mesmas (mandado de segurança, habeas data ou mandado de injunção);
deve ter caráter denegatório, mas não precisa ser totalmente denegatório, podendo ser
parcialmente denegatório. Pode ser, então, de mérito denegatório ou uma decisão
terminativa que não decidiu sobre o mérito.

Súmula 272 do STF – Não se aplica fungibilidade recursal entre recurso ordinário e
extraordinário e nem no ordinário de competência do STJ e recurso especial. Há um recurso
específico. Ex.: recorrer depois que se perde um mandado de segurança. O recurso é o
ordinário. Não pode haver a fungibilidade porque para isso não pode haver erro grosseiro, e
se entende que essa confusão é grosseira porque tem expressamente na lei.

Só cabe recurso ordinário de acórdão, porque tanto o STF quanto o STJ entendem que só se
pode utilizar o RO se tiver esgotado previamente as instâncias ordinárias. Então,
normalmente recursos para tribunais superiores pressupõem o prévio esgotamento. Se há
decisão monocrática não cabe RO, porque antes dele sempre há o agravo interno.
Direito líquido e certo é aquele que se comprova por meio de prova documental. Se não há
um direito líquido e certo via mandado de segurança, a consequência é a resolução de
mérito. Após isso, pode propor a mesma demanda em instância ordinária para produção de
prova.

Mandado de segurança de juizado especial não se torna competência nem do STF nem do
STJ.

Recurso ordinário nas causas internacionais – 1.027, II, b.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO E RECURSO ESPECIAL

Recurso extraordinário e recurso especial possuem características em comum que serão


analisadas conjuntamente;

QUESTÕES GERAIS COMUNS

O objetivo dos recursos ordinários é tutelar o direito subjetivo das partes. Evitar injustiças
nos julgamentos de casos.
Para que se possa evitar injustiças o tribunal possui autorização legal e constitucional de
fazer análise de fato e prova, ou seja, é possível que o tribunal revise fatos (reavaliar provas),
para saber se o juiz fez aquilatação correta daquelas provas;

Já nos recursos extraordinários, a função é tutelar o direito objetivo, ou seja, a preocupação


central do STF e STJ é dirimir a controvérsia em face da interpretação do direito. A
consequência prática disso é que não se admite recurso somente para reavaliar provas nos
recursos extraordinários e especiais; recurso extraordinário e especial não são sede somente
de reavaliação de provas;

Viu-se, também, que existem recursos de fundamentação livre e fundamentação vinculada.


A principal regra é que os recursos sejam de fundamentação vinculada, os quais o legislador
se antecipa dizendo quais são as hipóteses em que se pode levar tais discussões.
O recurso extraordinário e o recurso especial são recursos de fundamentação vinculada, de
forma que as hipóteses de cabimento são previstas pela Constituição Federal, devendo o
recorrente deixar claro que suas razões recursais se encaixam nas hipóteses previstas em rol
taxativo.
O STJ foi constituído a partir do advento da CF/88. Muitas súmulas que foram editadas pelo
STF se deram em momento histórico em que ele congregava as funções do STJ

Súmula 281 STF - é inadmissível recurso extraordinário quando couber na justiça de origem
(estruturas do poder judiciário em que se originou a demanda) outro recurso que pode ser
manejado antes do recurso extraordinário. Previsão do prévio esgotamento das instâncias
ordinárias.

Jamais caberá recurso extraordinário e recurso especial de decisão monocrática, pois


sempre caberá agravo interno e ele não pode ser pulado, porque, se o for, não há prévio
esgotamento das instâncias ordinárias. Esse requisito nasce a partir dos dispositivos
constitucionais (art. 102 e art. 105) que prevê recurso especial e recurso extraordinário em
última ou única instância

Art. 105 da CF/88 e Súmula 203 STJ - não cabe recurso especial de acórdão proferido por
turma recursal dos juizados especiais porque está listado em rol taxativo que cabe recurso
apenas de causas decididas pelos TJs e TRFs. Se ocorre violação à lei federal no âmbito dos
juizados especiais não há o que se fazer, pois o máximo que se admite é reclamação, que
nem é um recurso, em caso de violação de súmulas. Nessa situação cabe recurso
extraordinário porque a Constituição não limitou que as causas tenham sido esgotadas
perante TJ ou TRF;

Súmula 279 STF e Súmula 07 STJ - não cabe recurso extraordinário ou recurso especial para
apenas reexame de provas. No entanto, cabem esses recursos para se discutir o direito
probatório (ex: discutir prova ilícita, porque não precisa analisar o conteúdo da prova).

O STJ e o STF, em recurso extraordinário e recurso especial, interpretam os fatos tomando


como verdade aquilo que foi alegado pelo tribunal; então o ponto de início de sua
interpretação se dá a partir do entendimento da conclusão do tribunal sobre a matéria.

Prequestionamento
O requisito do prequestionamento nasce a partir da expressa causas decididas presente nos
art. 102 e 105 da Constituição Federal. Isso significa que o STJ e o STF não será primeira
manifestação do processo, será a última. O tema ser discutido não pode ser inédito.

O efeito translativo (possibilidade de se reconhecer matéria de ordem pública na suscitada


no âmbito do recurso) no recurso extraordinário e no recurso especial fica limitado pela
barreira do prequestionamento, não se pode reconhecer matérias de forma inédita nesses
recursos porque não houve prequestionamento. Essa ideia de "em qualquer tempo e em
qualquer grau de jurisdição" das matérias de ordem pública funcionam somente em
primeira e segunda instância.

Em um primeiro momento, o STJ entendia que o tribunal somente poderia manifestar sobre
a matéria de ordem pública se ela houvesse sido prequestionada expressamente. Porém,
isso não corresponde ao entendimento atual do STJ e do STF, entende-se hoje que desde
que tenha sido prequestionada qualquer matéria, não precisa ser especificamente, e o
recurso tenha sido admitido, o STJ e o STF podem analisar as matérias de ordem pública. Se
o recurso foi recebido porque prequestionou qualquer matéria, as matérias de ordem
pública podem ser analisadas.
No prequestionamento, não precisa que o dispositivo de lei (artigo) seja mencionado, basta
que a matéria seja suscitada.

Admitem execução provisória


A ideia de execução provisória é de que, via de regra, recurso especial e extraordinário não
possuem efeito suspensivo. Porém, assim como os outros recursos, o relator pode conceder
efeito suspensivo desde que seja demos trado o risco de dano de difícil ou impossível
reparação e a probabilidade de provimento do recurso.
A execução provisória é um instrumento que possui divisão de valores, porque a ideia é que
existe um título que favorece a execução da decisão, mas de outro lado existe a
possibilidade de reversão dessa decisão
Para fins de prequestionamento, não se exige que o tribunal mencione o artigo, bastando
que entre na matéria, até mesmo porque há conceitos no direito que não têm um artigo
específico.

Recurso Extraordinário

Há requisitos cumulativos e há requisitos alternativos. Os requisitos cumulativos são 3 e


deve haver a presença de todos eles. À isso, deve-se somar ao menos 1 dos 4 requisitos
alternativos.

Requisitos cumulativos:
1. Decisão em única ou última instância proferida por TRF ou por TJ. Essa exigência se dá
por conta da ideia do prévio esgotamento das instâncias ordinárias. Não é possível
acionar o STF se existir na instância de origem um outro recurso capaz de reverter a
decisão. Se há um recurso que pode ser manejado antes de se valer do recurso
ordinário, deve se valer primeiro dele. É plenamente cabível recurso extraordinário
oriundo de turma do juizado especial tanto estadual quanto federal.
2. Prequestionamento. Não pode ser matéria inédita. Se houver prequestionamento e o
tribunal não se manifestar sobre ela, há a possibilidade de usar embargos de
declaração.
3. Repercussão geral** É um requisito ou pressuposto de admissibilidade recursal, mas é
muito peculiar, porque só há no recurso extraordinário. Ou seja, muito embora tenha
requisitos de admissibilidade comuns a todos os recursos, a repercussão geral é um
requisito de admissibilidade mas só se faz presente no recurso extraordinário. Como a
Constituição é prolixa, que não se limita a temas constitucionais, a possibilidade de
uma decisão judicial de alguma forma resvalar no texto constitucional é grande. Nesse
sentido, historicamente sempre houve a tentativa pelo STF de meios para conter a
quantidade de demandas que chegava ao judiciário. Em 2012-2013, surgiu a
repercussão geral, que não é um requisito originário. Quando institui essa
repercussão, quer que o recorrente demonstre a transcendência da matéria discutida,
ou seja, deve demonstrar que o tema que se leva a discussão importa não só para ele.
Vai além dos interesses da parte. Então, demonstrar a repercussão geral é demonstrar
que extravasa o interesse recursal do recorrente para impactar a própria sociedade.
Essa transcendência pode se quantitativa ou qualitativa.
Quando se fala da transcendência quantitativa, deve-se demonstrar que aquele tema
discutido se equipara à situação de várias outras pessoas. Isso quer dizer que um
número grande de pessoas pode ser beneficiada com aquele julgamento. Quando há
um recurso extraordinário com repercussão geral demonstrada, configura
precedente. Ou seja, o tribunal está obrigado a utilizar aquele julgamento em
decisões futuras. Depois daquela decisão, há um instrumento para utilizar e julgar
todas as decisões com ele. A transcendência aqui se dá por números.
Em contrapartida, há a ideia de transcendência qualitativa. Nada impede que haja
ambos. O que importa não é a repetição de casos, que muitas vezes nem se repete
muito, só que a discussão daquele tema é de suma importância para o
desenvolvimento do direito. O problema, então, não é a quantidade, e sim a
envergadura do tema discutido. Permitir que grupos invisibilizados socialmente
consigam ter voz e suas pretensões possam ser atingidas. Não é pela quantidade, e
sim pelo que o caso representa. Nem sempre haverá uma quantidade grande de
demanda sobre o mesmo assunto, mas ele tem uma representação forte. Ex.: uso de
banheiro de acordo a identificação social. Embora não aconteça todo dia, o tema é
importante.
A repercussão geral é um requisito que deve ser demonstrado pelo recorrente. O
código passado falava que o recorrente deveria abrir uma preliminar e discutir a
repercussão geral. Embora não fale mais, é importante deixar claro que aquele tema
tem repercussão geral. Alguns autores vão dizer que muito embora o código não exija
isso mais, serve par dizer que o STF poderia analisar de ofício. Apesar disso, pela
existência da jurisprudência defensiva que tem como ideia dificultar o conhecimento
de um recurso, é sempre bom demonstrar a repercussão geral.
O código traz algumas hipóteses de presunção de repercussão geral. Nesse caso, não
é necessário abrir preliminar porque ela já está presumida. Não deve demonstrar as
causas de transcendência, porque já se presume que é digna da apreciação. Acontece
em casos em que:
a. Quando contraria a decisão de súmula ou entendimento predominante do STF;
b. Quando a decisão declarar inconstitucional tratado ou lei federal. Quando a CF
fala de lei federal, deve-se ler lei nacional. Lei federal vincula só a União, enquanto
a lei nacional vincula todos os entes. Os tratados reconhecidos tem caráter de
emenda constitucional e o recurso cabível vai ser o extraordinário.
É um requisito de admissibilidade que só pode ser apreciado pelo STF. Quem tem
competência para dizer se uma matéria tem ou não repercussão geral, é apenas o
STF. Isso é importante porque via de regra o juízo de admissibilidade é do juízo ad
quem. No caso do recurso extraordinário e especial, esse juízo é duplo para todos os
requisitos de admissibilidade, exceto a repercussão geral. Depois da primeira análise,
o tribunal está autorizado a replicar.
A repercussão geral só vai ser negada pelo voto de 2/3 dos ministros do STF. Então, se
não atingir esse quórum, se presume que aquele recurso extraordinário tem
repercussão geral. Para julgar a repercussão geral, geralmente se faz pelo plenário
virtual. O prazo para julgar a repercussão geral é de 20 dias a partir da abertura do
prazo pelo relator. Se não se pronunciar de forma contrária à repercussão, significa
dizer que tem a repercussão. Ou seja, o silêncio importa a anuência.
Requisitos alternativos – art. 105, III da CF
1. Contrariar dispositivo constitucional. Como a constituição fala de muita coisa, e
muita coisa é repetida da legislação infraconstitucional, o STF tem um entendimento
histórico que só cabe recurso extraordinário se a ofensa for direta á constituição. Não
cabe se a ofensa for reflexa, que é quando para descobrir a ofensa constitucional é
necessário conhecer o desrespeito à legislação infraconstitucional primeiro. Não
cabe, nesse caso, recurso extraordinário. Só cabe se para descobrir se houve ou não
houve ofensa quando se avalia direto à Constituição. Ou seja, não precisa se socorrer
pela infraconstitucional. Ex.: a violação ao devido processo legal só pode ser
conhecida com a avaliação do NCPC. Seria uma ofensa reflexa.
As vezes o recorrente pode ter dúvida se houve violação de forma direta ou se violou
primeiro uma legislação infraconstitucional, como é o caso da coisa julgada. Nessa
situação, o STF entende que, via de regra, coisa julgada é tema constitucional. Por
conta dessa dificuldade de divisar o que seria uma ofensa reflexa ou direta à
constituição, o NCPC criou a nova espécie de fungibilidade para permitir o
conhecimento de um recurso extraordinário, sendo que o imposto foi o recurso
especial. Nesse caso, o relator vai abrir prazo para a parte demonstrar repercussão
geral e entender como extraordinário.
2. Decisão declarar a inconstitucionalidade de lei federal ou tratado. Se declarar
constitucional, não cabe recurso extraordinário.
3. Decisão que declara válida lei ou ato de governo local em face da Constituição.
4. Decisão que julgar válida lei de governo local (municipal ou estadual) contestada em
face de lei federal. Isso é uma pegadinha, porque se fosse seguir uma regra, seria um
recurso especial. É um problema constitucional. Na verdade, o que está de fundo é a
distribuição de competência legislativa.

Recurso Especial
Não cabe recurso especial de acórdão de turma recursal de juizado especial.
Os requisitos estão previstos no art. 105 da CF.
Os requisitos cumulativos são: a decisão em única ou última instância por TRF ou TJ e
prequestionamento.

Os requisitos alternativos são três:

a. Contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência.


b. Julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal
c. Der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal. O
objetivo central é permitir a uniformização do direito no que concerne a
interpretação da legislação federal. Não pode ter um TJ entendendo de uma forma e
outro entendendo de forma totalmente diferente. Pode ter mais de uma turma
dentro do mesmo tribunal e uma turma diverge da outra, mas não é outro tribunal, e
sim um órgão operacional dentro do tribunal. Tem que ser de outro. Tem que
demonstrar que os casos são parecidos, ou seja, quase idênticos, e que as decisões
são díspares.

Juízo de Admissibilidade no Recurso Extraordinário e Especial

Mudou antes mesmo da entrada em vigor do NCPC. Originariamente, a concepção primeira


do CPC, todo juízo de admissibilidade seria realizado pelo órgão ad quem. Antes de entrar
em vigor o NCPC, que ficou em período de vacatio por 1 ano, o ministro Gilmar Mendes
apresentou um projeto de lei para alterar a sistemática do juízo de admissibilidade no NCPC.
Via legislativo, foi restituído o duplo juízo de admissibilidade nos recursos extraordinário e
especial. Tudo aquilo do duplo juízo se aplica aqui.
Quem realiza o juízo de admissibilidade na origem é o presidente ou vice-presidente do
tribunal. O regimento interno vai atribuir a competência para um, para outro ou para quem
for. Tem mais de um vice. Normalmente é o vice que tem a competência. No Código, na
versão original, como não tinha juízo de admissibilidade, o juízo recursal era muito simples.
Se por algum motivo ele não fosse enviado, o recurso cabível seria o agravo em recurso
extraordinário ou especial que era utilizado para provocar o encaminhamento para o STF ou
STJ.
Se há discordância do juízo de admissibilidade realizado pelo presidente ou vice, é possível
utilizar o recurso de agravo interno atualmente, via de regra.
O relator ou vice não precisa sempre mandar tudo pra o tribunal porque se já tem o recurso
no âmbito do STF ou do STJ discutindo a mesma matéria que a pessoa recorre, o NCPC
mostra que tem que reter esses processos para esperar a decisão proferida em âmbito
superior, se utilizando dos que representam a controvérsia. Se a decisão dessa amostra for
igual a decisão igual, não há o que fazer porque diz a mesma coisa. Se a decisão do STF é
diferente da que foi dada pela origem, remete para a turma para rever a decisão. Se persistir
na controvérsia, muda a decisão de acordo o precedente para se conformar com a decisão
superior. O problema disso é que esse sistema foi pensado para a lógica de replicação das
decisões dadas pelos tribunais superiores dentro da lógica de precedente. Depois que
decide, há a replicação. Normalmente, essa divergência é resolvida no âmbito do próprio
tribunal. O problema disso é que o Brasil não é acostumado a lidar com uma lógica de
precedente obrigatório. Pode ter um precedente que não se acomoda perfeitamente ao
caso, podendo realizar a operação de distinção, podendo demonstrar a diferença. Essa
operação de distinção pode ser feita por qualquer tribunal.
O problema é a ideia de overruling, que é a superação do precedente, que é feita sempre
pelo próprio tribunal que editou o precedente. Se há um precedente e a decisão que se
recorre está em de acordo ao precedente, o relator não teria, a princípio, motivo para
mandar para o STF essa decisão ser revista. O problema é que como essa divergência sempre
é resolvida no tribunal a quo, não há espaço para lidar com a ideia de superação, porque o
tribunal que consolidou o precedente que tem que fazer a alteração, mas ela não chega a ser
discutida nesse âmbito.

Embargos de Divergência

A função do embargo de divergência é uniformizar a interpretação do direito dentro do


mesmo tribunal. Substancialmente, esse é o recurso derradeiro para fechar a interpretação
em uma situação rara de uma turma divergir da outra.

Para caber embargos de divergência, tem que demonstrar que o acórdão recorrido tem uma
similitude fática, mas consequência jurídicas díspares. Muito embora o acórdão recorrido
trabalhe o mesmo tema do acórdão paradigma, a consequência do recorrido é diferente da
consequência jurídica do acórdão paradigma. É necessário fazer o cortejo analítico, ou seja,
é necessário demonstrar que o tema versado no acórdão recorrido se assemelha
(praticamente idêntico).

Os julgados devem espelhar um entendimento atual daqueles órgãos. Não serve como
acórdão paradigma um acórdão que não mais representa a opinião do Tribunal sobre aquele
tema. O recorrente deve demonstrar então que se a questão tivesse caído em outra turma,
o julgamento seria diferente, mostrando que ele agiu de forma aleatória em relação a um
tribunal com mesma hierarquia e competência. Esse acórdão recorrido deve partir de um
órgão fracionário. Se for pelo pleno, não faz sentido a resolução. Só é possível utilizar o
acórdão paradigma se a turma continua a ter competência para decidir aquela matéria
(súmula STJ).

O recorrente vai ter que demonstrar similitude fática discutida. Não cabe embargos de
divergência para discussão do valor do dano moral. Não há como mensurar o valor sem
necessariamente cotejar a particularidade das partes, porque teoricamente teria que
ponderar o poder econômico do ofensor, a condição econômica da vítima. Não cabe só em
relação ao valor porque se for analisar o valor é analisar peculiaridades do caso, e se há essa
análise significa que o caso não é igual.

Se a turma muda o entendimento sobre um tema, não seria cabível embargo de divergência
por conta da decisão proferida em primeira turma. O acórdão recorrido não pode ser da
mesma turma do acórdão paradigma, porque não há a ideia de separação, via de regra. No
caso de alteração substancial na composição da turma, pode haver embargos de divergência
porque é como se fosse um outro órgão. Isso é pessoalizar demais o entendimento
jurisprudencial.

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