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PANORAMA SOBRE O
Por:
Lubango
Junho / 2020
Panorama sobre o Direito do Ambiente em Angola
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Índice
1. - Introdução ................................................................................................................................. 2
1.1 - Conceito de Ambiente ............................................................................................................. 3
1.2 - Conceito de Direito do Ambiente ............................................................................................ 4
1.3 - Fontes Internacionais do Direito do Ambiente ....................................................................... 4
2. - Legislação ambiental a nível internacional ................................................................................ 5
2.1 - Considerações gerais ............................................................................................................... 5
2.2 - Princípios informadores do Direito do Ambiente.................................................................... 6
3. - Legislação ambiental a nível interno ......................................................................................... 8
3.1 - A Lei de Bases do Ambiente .................................................................................................... 9
3.1.2 - Princípios do Direito do Ambiente na Lei de Bases do Ambiente ...................................... 10
3.1.3 - Objectivos e medidas da Lei de Base do Ambiente ............................................................ 11
3.1.4 - Órgãos de Gestão Ambiental .............................................................................................. 12
3.1.5 - Medidas de Protecção Ambiental ...................................................................................... 12
3.1.6 - Responsabilidades, infracções e sanções ........................................................................... 14
4. - Instrumentos jurídico-legais de defesa do Ambiente.............................................................. 15
4.1 - Lei sobre a Avaliação de Impacte Ambiental ......................................................................... 15
4.2 - Lei das Associaçoes de Defesa do Ambiente ......................................................................... 21
4.3 - Lei do Ordenamento do Território e do Urbanismo .............................................................. 23
4.3.1 - Fins do ordenamento do território ..................................................................................... 24
4.3.2 - Princípios fundamentais do ordenamento do território e urbanismo ............................... 25
4.3.3 - Instrumentos do ordenamento do território e do urbanismo (planos) ............................. 26
4.3.4 - Operações de ordenamento ............................................................................................... 30
4.3.5 - Orgânica do ordenamento do território e do urbanismo .................................................. 33
4.3.6 - Regime dos planos territoriais ............................................................................................ 35
4.4 - Lei de Terras........................................................................................................................... 37
4.4.1 - Intervenção fundiária ......................................................................................................... 39
4.4.2 - Terrenos .............................................................................................................................. 40
4.4.3 - Direitos fundiários ............................................................................................................. 42
Conclusão ....................................................................................................................................... 46
Bibliografia ..................................................................................................................................... 47
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Panorama sobre o Direito do Ambiente em Angola
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1. - Introdução
A experiência acumulada nos últimos anos tem produzido uma nova consciência
global acerca das implicações ambientais do desenvolvimento humano, traduzida por uma
cada vez maior responsabilização da sociedade como um todo diante dessas implicações.
Cabe aos Estados definir políticas ambientais que correspondam a essa nova
consciência global, com o objectivo não só de renovar ou utilizar correctamente os recursos
naturais disponíveis, garantindo assim o desenvolvimento sustentado de toda a
humanidade, bem como assegurar a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.
A Constituição angolana de 1975 não dedicava qualquer norma à protecção do
ambiente, mau grado a recente irrupção da temática na agenda internacional pela mão da
Conferência de Estocolmo, que imortalizou a primeira Bíblia de princípios de Direito
ambiental na Declaração de Estocolmo. A afirmação da independência do Estado angolano
face à potência colonizadora e a intenção desenvolvimentista levaram o legislador
constituinte a realçar apenas a vertente económica e utilitária dos bens naturais (que são de
titularidade estatal: artigo 11º), na sua dimensão de “recursos naturais”, cujo
aproveitamento o Estado deve gerir planificadamente e de forma harmoniosa, de forma a
criar riqueza em benefício de todo o povo angolano (artigo 8º).
Com a revisão/transição constitucional de 1992, a protecção do ambiente é acolhida
numa dupla vertente, no artigo 24º: por um lado, afirma-se o “direito ao ambiente” de todos
os cidadãos, no nº 1; por outro lado, entrega-se a tarefa de protecção do ambiente e de
gestão do equilíbrio ecológico ao Estado, no nº 2; e ainda se determina a repressão dos
comportamentos que, directa ou indirectamente, causem dano ao ambiente (nº 3).
Concomitantemente, a Assembleia Nacional vê-se atribuída competência (relativa) para
elaboração de uma lei de bases de protecção da natureza, de salvaguarda do equilíbrio
ecológico e do património cultural, no artigo 90º al. h).
A Constituição de 1992 alavanca o novo posicionamento do Estado angolano face
à realidade ambiental. Na verdade, a sociedade angolana já há algum tempo havia
descoberto a temática, anotando-se a criação da Associação Angolana do Ambiente em
1982, à qual se seguiram, nos anos 1990, várias outras entidades de cariz associativo e
tendo a divulgação da problemática ambiental como móbil, como a Juventude Ecológica
de Angola, a Associação para o desenvolvimento rural e ambiente, a Jornalistas para o
Ambiente e Desenvolvimento e o Clube dos Amigos da Floresta da Ilha de Luanda. Em
2002, emerge o Fórum das ONG ambientais (Rede Maiombe).
A aprovação da Lei de Bases do Ambiente (Lei 5/98, de 19 de Junho - LBA)
assinala a pedra angular para a edifícação do Direito Ambiental em Angola. Dela brotam
outros instrumentos legais como o Decreto 39/00, de 10 de Outubro (Regime da Protecção
do Ambiente no Âmbito da Actividade Petrolífera), o Decreto 51/04, de 23 de Julho
(Regime da Avaliação de Impacto ambiental - RAIA), a Lei 5/04, de 7 de Setembro (Lei
das Actividades Industriais), a Lei 6-A/04, de 8 de Outubro (Lei dos Recursos Biológicos
Aquáticos ou nova Lei das Pescas), a Lei 10/04, de 12 de Novembro (Regime das
actividades petrolíferas), o Decreto 59/07, de 13 de Julho (Regime da Licença Ambiental
- RLA), ou o Decreto presidencial 194/11, de 7 de Julho (Regime da Responsabilidade por
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Infere-se por isso que o ambiente constitui um direito de todos, um bem de uso
comum dos cidadãos, essencial para uma sadia qualidade de vida, razão pela qual o poder
público e a colectividade têm o dever de o defender o preservar ecologicamente equilibrado
para as presentes e futuras gerações.
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privilegiará este em detrimento dos outros. Daí que se justifiquem certas limitações que o
Direito do Ambiente impõe ao exercício de outros direitos privados (por exemplo no
domínio do direito de propriedade), bem como a aplicação de sanções penais aos actos que
degradem, de forma grave, as componentes ambientais.
2 - Avaliação de impacte ambiental: apesar de estar muito ligado às poluições
transfronteiras, este princípio é extensivo a todas as actividades. Ele reflecte a aplicação,
nas relações internacionais, de uma técnica jurídica que teve a sua origem nos Estados
Unidos da América nos finais de 1969.
A avaliação e declaração de impacte ambiental é sobretudo um procedimento
administrativo especial que se impõe com o objectivo político da protecção do meio
ambiente.
O procedimento administrativo começa com uma prévia avaliação ambiental da
decisão futura que, de forma simples, conclui afirmando ou negando o impacte
significativo dos efeitos ambientais da acção.
Podemos afirmar que a avaliação de impacte ambiental é uma medida preventiva
que se insere não só no planeamento de actividades directamente relacionadas com o
ambiente, como também no planeamento global do país, a nível local e nacional. É, em
síntese, um procedimento administrativo de prevenção e de monitorização dos danos
ambientais.
3 - Fiscalização do estado do ambiente: este princípio aparece formulado em
vários instrumentos jurídicos internacionais, sendo de se realçar, a título exemplificativo,
a Convenção sobre o Direito do Mar e, de forma mais genérica, a Carta Mundial da
Natureza. Este princípio está estreitamente ligado a um outro princípio de Direito
Internacional do Ambiente que é o dever de cooperação dos Estados.
A Conferência de Estocolmo de 1972 adoptou um plano de acção, que foi aprovado
pela Assembleia Geral das Nações Unidas, para garantir a fiscalização do estado do
ambiente, a nível mundial, que previa a vigilância contínua, a inspecção, a troca de
informações, a avaliação dos factos relativos ao ambiente a nível planetário, a partir da
coordenação de instalações e de serviços nacionais, financiados internacionalmente.
4 - Cooperação internacional: a protecção do ambiente não é uma tarefa isolada
dos diversos Estados. Estes adoptam, cada vez mais, medidas conjuntas que visam defender
interesses comuns, razão pela qual se verifica uma certa globalização do Direito do
Ambiente.
O princípio 24 da Declaração de Estocolmo refere a necessidade dessa cooperação
para se “limitar, evitar, reduzir e eliminar os efeitos prejudiciais ao ambiente resultantes de
actividades exercidas em todos os domínios, tomando-se na devida consideração a
soberania e os interesses de todos os Estados”.
A cooperação internacional deve igualmente verificar-se na harmonização das
regras de direito em matéria de ambiente para que se possam alcançar os seguintes
objectivos: unificação das regras no domínio da indemnização das vítimas das poluições
transfronteiras; determinação da lei aplicável para a obtenção de uma indemnização por
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O nosso páis apresenta uma grande diversidade ecológica, devido à sua extensão
territorial, variação fisiográfica, diversificação climática e geológica e posição central entre
as duas maiores divisões faunísticas e florestais da região etiópica e uma rica rede
hidrográfica servida por numerosos rios.
Apesar de não haver ainda um grave problema no desequilíbrio do ecossistema,
Angola apresenta já situações que merecem preocupação no domínio ambiental. São os
casos, a título exemplificativo, da exploração mineira e particularmente dos diamantes, da
poluição marítima, da exploração pesqueira, entre outras.
Deve-se, entretanto, ressaltar que a manutenção da diversidade biológica em
Angola não corre ainda perigos pela inexistência de grandes destruições ou alterações dos
habitats naturais, mau grado os problemas existentes e já referenciados.
É neste contexto que se inscreve a problemática do ambiente em Angola e se
inserem as medidas a serem tomadas para se regulamentar a defesa e a utilização do meio
ambiente.
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O artigo 74º CRA consagra o Direito à acção popular que é entendida como sendo
uma acção de natureza constitucional que pode ser intentada por qualquer cidadão, de
forma individual ou organizado em associações, junto ao poder judicial ou às autoridades
administrativas, com o objectivo de anular actos lesivos ao património público, histórico e
cultural, ao ambiente, à qualidade de vida, à defesa do consumidor bem como à legalidade
de actos da administração pública.
A acção popular ambiental surgiu com o objectivo de se assegurar uma mais ampla
defesa do bem ambiente alargando-se aos cidadãos direito e a legitimidade processual para
que ajam sempre que haja danos ou riscos de dano ambiental.
Em Angola a acção popular ambiental surgiu face à pressão das associações de
defesa do ambiente que verificavam que o Estado nem sempre agia de forma rápida e
segura na defesa do ambiente, particularmente face aos constantes derrames de petróleo
que se verificam na província de Cabinda e a ela muito se deve à então Deputada Fátima
Jardim, que foi quem teve a iniciativa para a presentar ao Parlamento angolano para sua
aprovação.
O regime jurídico das associações ambientais é fixado pela Lei nº 3/06, de 18 de
Janeiro - Lei das Associações de Defesa do Ambiente.
A Lei das Associações de Defesa do Ambiente, Lei nº 3/06, de 18 de Janeiro, atribui
legitimidade processual a estas organizações para “propor acções judiciais de natureza
civil, criminal ou administrativa necessárias à prevenção, correcção ou cessação de actos
ou omissões de entidades públicas ou privadas que constituam factor de degradação do
ambiente” (alínea a) do nº 1 do artigo 8º da citada Lei).
São Associações de Defesa do Ambiente, aquelas dotadas de personalidade
jurídica, constituídas nos termos da lei geral que não tenham por fim o lucro económico
dos seus associados e que sejam constituídas exclusivamente para a defesa do ambiente e
áreas conexas, do uso racional e sustentável dos recursos naturais e da protecção dos
direitos de qualidade de vida (art. 2º da Lei nº 3/06).
A intervenção das associações de defesa do ambiente é uma consequência normal
do direito à informação e participação do público que pode ser a título individual ou
associado.
As associações de defesa do ambiente desempenham um importante papel na defesa
do meio ambiente, desenvolvendo acções de protecção, de prevenção, de sensibilizada e
educação da opinião pública e ainda de auxiliares da administração pública.
A título de curiosidade é de se referir que em alguns países, como a França, a
Alemanha ou o Brasil, dada a importância destas associações, se concede às mesmas um
papel de destaque, gozando até de legitimidade processual. Elas podem intervir como parte
principal ou como assistente nos processos judiciais em que a questão em debate diga
respeito a protecção do ambiente e dos recursos naturais.
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― Planos municipais globais: a luz do nº 2 do artigo 31º, são planos que abrangem
a área territorial municipal no seu todo (o solo rural e urbano), que é o caso do Plano
Director Municipal, pois, possui orientações estratégicas genéricas, com o fim de erradicar
as assimetrias territoriais entre as áreas urbanas e rurais do município, tendo em conta as
opções de carácter nacional e regional que tenham impacto na área municipal. Na mesma
ordem de ideia, o nº 3 do mesmo artigo sustenta que os planos municipais que abrangem
as áreas rurais e urbanas (desde que tenham em conta as devidas adaptações), podem ser
aplicáveis aos municípios integrados nas grandes cidades constituídas apenas por solo
urbano e urbanizável.
― Planos municipais parciais: são planos menos abrangentes que os planos
globais, pois, abrangem apenas uma parte da área territorial municipal. Pertencem assim a
este âmbito os seguintes planos:
A - Planos urbanísticos
Segundo o nº 2 do artigo 32º, os planos urbanísticos, são aqueles que têm uma
natureza regulamentar e estabelecem as regras de ocupação, uso e transformação dos
terrenos urbanos e urbanizáveis que pertencem aos parâmetros urbanos da área territorial
municipal com vista a proporcionar melhoria na qualidade de vida dos munícipes. Desta
feita, o artigo 32º faz uma classificação dos planos que são assim considerados:
1 - Plano Director Municipal (PDM): de acordo com o nº 3 do artigo 31º e o nº 2
do artigo 32º, o PDM é um tipo de plano que abarca a totalidade do território municipal,
possui uma dupla função por incidir tanto em solos urbanos e nos rurais. Neste caso, refere-
se ao PDM que incide apenas sobre a área urbana do município.
2 - Plano de Pormenor: consiste em regular a ocupação, utilização ou conservação
do espaço territorial em determinados aspectos urbanos.
3 - Planos especiais de recuperação ou reconversão de áreas urbanas degradadas
ou de ocupação ilegal
4 - Planos directores gerais: são planos que incidem sobre as grandes cidades que
integram vários municípios para o planeamento urbanístico geral de todo o seu perímetro
urbano.
5 - Esquemas de ocupação dos terrenos: ao contrário dos planos directores gerais,
estes são aplicáveis apenas em centros urbanos de pequena dimensão.
6 - Planos de alinhamentos: são os planos que se encontram previstos no artigo 39º
da LOTU, consistem na delimitação entre os solos do domínio público e privado, assim
como entre os solos do domínio rural e urbano.
B - Planos não urbanísticos
São planos que, de acordo com o citado no nº 5 do artigo 31º e no artigo 33º podem
ser divididos em:
1 - Planos de ordenamento rural: são planos de natureza regulamentar que
estabelecem as regras de ocupação e utilização das áreas rurais do território municipal.
Fixam também os modelos de preservação e evolução da organização espacial, natural e
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Diz-nos o art. 35º da LOTU que a execução dos planos territoriais pressupõe a
realização das seguintes operações gerais de ordenamento aplicáveis onde e quando forem
necessárias e conforme os tipos de terrenos e as situações fundiárias: classificação e
qualificação dos solos, afectação ao domínio público e sua desafectação, transferências
dominiais, demarcação e alinhamento, medidas preventivas, expropriação por utilidade
pública e operações especiais de ordenamento (operações urbanísticas e operações de
ordenamento rural).
1 - Classificação e qualificação dos solos (art. 36º)
A classificação constitui uma operação de ordenamento que determina o destino e
regime básico dos solos e assenta na distinção fundamental entre solos rurais e solos
urbanos, constante da Lei de Terras.
A qualificação dos solos é uma operação de ordenamento que, sob respeito da sua
classificação básica, define e regula a aptidão natural e específica dos solos rurais em razão
das suas potencialidades agrárias ou mineiras, ou a função dos solos urbanos, em razão da
actividade dominante que neles possa ser desenvolvida, estabelecendo o respectivo, destino
urbanístico ou regime de edificabilidade.
2 - Afectação ao domínio público e sua desafectação (art. 37º)
A afectação ou desafectação de um bem fundiário ou imóvel ao regime de domínio
público que não resulte de um acto de classificação geral, deve ser fixada pelos planos
territoriais em que o bem visado se integra e só produz efeitos depois de publicado o
diploma legal que os aprovar, porém, na omissão daqueles, pode resultar de decreto do
Governo ou de acto administrativo que extravasa aos planos territoriais.
Em caso de ocupação indevida de qualquer parcela de um bem fundiário do domínio
público ou nela se executarem quaisquer obras não autorizadas, ou que de qualquer outro
modo impeçam a execução dos planos territoriais, a autoridade competente intima o
contraventor para desocupar o domínio ou demolir as obras, no prazo que lhe for fixado,
sob pena de ser demolida por conta do contraventor e sem prejuízo da efectivação da
responsabilidade civil pelos danos causados e da aplicação das penas que no caso
couberem, nos termos regulamentares da presente lei.
3 - Transferência dominiais (art. 38º)
Os planos territoriais podem, para além dos actos de concessão de forais e de
fixação de perímetros urbanos, propor a transferência de determinados bens fundiários de
domínio público do Estado para a titularidade e gestão das autarquias locais, sem prejuízo
do que nesse sentido possa resultar da Lei das Autarquias Locais ou de lei especial que
regule o regime das transferências dominiais, exceptuando os bens do domínio mineiro,
marítimo e militar.
4 - Demarcação e alinhamento (art. 39º)
A delimitação dos solos classificados e confinantes, entre os terrenos do domínio
público e do domínio privado rural e urbano, deve ser feita por meio da implantação de
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marcos no solo, sucedendo o mesmo, mutatis mutandis, com a delimitação das fronteiras
do território nacional.
Os órgãos da Administração Pública devem promover a elaboração de planos de
alinhamento que contenham traçados das vias públicas e de demais espaços canais a
respeitar nas construções dos prédios urbanos ou outras edificações.
5 - Medidas preventivas (art. 40º)
O Governo, por intermédio de um decreto, pode estabelecer que uma área, ou parte
dela que se presuma vir a ser abrangida por um plano urbanístico ou de ordenamento rural
ou projecto de empreendimento público de outra natureza, seja sujeita a medidas
preventivas, destinadas a evitar alteração das circunstâncias e condições existentes que
possam comprometer a execução do plano ou empreendimento ou torná-la mais difícil ou
onerosa.
Essas medidas podem ter por objecto áreas para as quais exista plano de
urbanização que, pela sua desactualização ou inadequação, careça de ser substituído ou
alterado, ficando suspenso o plano, total ou parcialmente, conforme a área abrangida pelas
medidas e as providências nelas estabelecidas. Toda via, as normas que regulam as medidas
preventivas não podem estabelecer novos fundamentos de indeferimento de loteamentos
urbanos ou de aprovação de projectos de obras.
As medidas preventivas consistem na proibição, suspensão ou sujeição a prévia
autorização, eventualmente condicionada das iniciativas, actos ou actividades seguintes:
a) Criação de novos aglomerados ou núcleos populacionais rurais ou urbanos;
b) Alterações importantes, por meio de aterros ou escavações, à configuração geral
dos solos;
c) Instalação de novas explorações ou ampliação das existentes;
d) Destruição do solo vivo por movimento de terras, aterros, entulhos e poluição
relevante com área igual ou superior à fixada;
e) Derrube maciço ou relevante de árvores, com qualquer área ou superior à fixada;
f) Construção, reconstrução ou ampliação de edifícios, muros, vedações ou outras
instalações.
As medidas preventivas abrangem somente os actos relevantes para os fins a atingir
pelo plano ou empreendimento, podendo ainda limitar-se a certas espécies de actos ou
actividades e o recurso a elas deve limitar-se aos casos em que, haja fundado receio de que
os prejuízos resultantes da possível alteração das circunstâncias sejam socialmente mais
relevantes do que a adopção das medidas.
São causas de cessação das medidas preventivas a revogação, o decurso do prazo
respectivo de duração e a aprovação do plano e se tomar executório o plano ou projecto
de empreendimento público em causa.
As medidas preventivas podem ser substituídas por normas de carácter provisório,
assim que o estado dos estudos relativos ao plano permita defini-las.
Toda obra ou trabalho efectuado com inobservância das medidas preventivas
podem ser embargadas e demolidas à custa dos proprietários e sem direito a indemnização.
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e) Reordenamento rural;
f) Repovoamento rural;
g) Florestação e reflorestação;
h) Explorações ou estabelecimentos agrários, florestais, mineiros e industriais;
i) Pedreiras, saibreiras e outros parques mineiros;
j) Parques naturais ou ecológicos;
k) Zonas e parques turísticos;
l) Os demais tipos previstos na lei regulamentar.
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Em 2004 foi aprovada a nova Lei das Terras, Lei nº 9/04 de 9 de Novembro,
estabelece que a terra é propriedade do Estado, mas, o seu uso pode ser transmitido para
pessoas singulares ou colectivas, tendo em conta o seu racional aproveitamento, consagra
também que a propriedade quer da pessoa colectiva ou da pessoa singular são respeitadas
e protegidas pelo Estado. De igual modo, a propriedade e a posse das terras pelos
camponeses, embora exista a possibilidade da expropriação para a utilidade pública.
A lei de terras aplica-se aos terrenos rurais e urbanos sobre os quais o Estado
constitua algum dos direitos fundiários em benefício de pessoas singulares ou de pessoas
colectivas de direito público ou de direito privado, com vista à prossecução de fins de
exploração agrícola, pecuária, silvícola, mineira, industrial, comercial, habitacional, de
edificação urbana ou rural, de ordenamento do território, protecção do ambiente e de
combate à erosão dos solos. Ficam excluídos do âmbito de aplicação da Lei de Terras os
terrenos que não possam ser objecto de direitos privados, como os terrenos do domínio
público ou os que, por sua natureza, sejam insusceptíveis de apropriação individual. - art.
3º Lei de Terras.
Importa dizer que são do domínio público, o conjunto de bens ou coisas que o
Estado ou as autarquias locais aproveitam para a prossecução dos seus fins, usando poderes
de autoridade ou seja, através do direito público, incluindo nomeadamente as coisas
destinadas ao uso de todos, as coisas utilizadas pelos serviços públicos ou sobre as quais
incida a actuação destes e as coisas que satisfaçam os fins de uma pessoa colectiva pública
- art. 1º al. d) Lei de Terras. Nos termos do art. 95º CRA e 29º Lei de Terras são bens do
domínio público:
a) As águas interiores, o mar territorial e os fundos marinhos contíguos, bem como
os lagos, lagoas e cursos de águas fluviais, incluindo os respectivos leitos;
b) Os recursos biológicos e não biológicos existentes nas águas interiores, no mar
territorial, na zona contígua, na zona económica exclusiva e na plataforma continental;
c) O espaço aéreo nacional;
d) Os jazigos minerais, as nascentes de água minero-medicinais, as cavidades
naturais subterrâneas e outros recursos naturais existentes no solo e subsolo, com excepção
das rochas, terras comuns e outros materiais habitualmente utilizados como matéria-prima
na construção civil;
e) As estradas e os caminhos públicos, os portos, os aeroportos e as pontes e linhas
férreas públicas;
f) As praias e a zona marítimo-terrestre;
g) As zonas territoriais reservadas à defesa do ambiente, designadamente os parques
e reservas naturais de preservação da flora e fauna selvagens, incluindo as infra-estruturas;
h) As zonas territoriais reservadas aos portos e aeroportos, como tais classificados
por lei;
i) As zonas territoriais reservadas para a defesa militar;
j) Os monumentos e imóveis de interesse nacional, como tais classificados e
integrados no domínio público, nos termos da lei;
k) Outros bens determinados por lei ou reconhecidos pelo direito internacional.
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aproveitamento útil e efectivo durante três anos consecutivos ou seis anos interpolados,
qualquer que seja o motivo.
D - Princípio da taxatividade (art. 8º)
Só são permitidos a constituição de direitos fundiários, sobre os terrenos integrados
no domínio privado do Estado previstos na lei de terras, sendo nulo o negócio jurídico pelo
qual se constitua um direito fundiário que não esteja previsto na lei de terras.
E - Princípio do respeito pelos direitos fundiários das comunidades rurais (art. 9º)
O Estado respeita e protege os direitos fundiários de que sejam titulares as
comunidades rurais, incluindo aqueles que se fundam nos usos ou no costume. Os terrenos
das comunidades rurais podem ser expropriados por utilidade pública ser objecto de
requisição, mediante justa indemnização.
F - Princípio da propriedade dos recursos naturais pelo e Estado (art. 10º)
Os recursos naturais são propriedade do Estado, integrando-se no seu domínio
público, sendo intransmissível o direito de propriedade do Estado sobre os recursos
naturais, podendo apesar disso o Estado constituir, em benefício de pessoas singulares ou
colectivas, direitos de exploração dos recursos naturais.
A transmissão do direito de propriedade ou a constituição de direitos fundiários
limitados sobre terrenos do domínio privado do Estado, não implica a aquisição, por
acessão ou por outro modo de aquisição, de qualquer direito sobre outros recursos naturais.
G - Princípio da não reversibilidade das nacionalizações e dos confiscos (art. 11º)
As aquisições do direito de propriedade pelo Estado por força de nacionalizações
ou de confiscos são consideradas válidas e irreversíveis, sem prejuízo do disposto em
legislação específica sobre reprivatizações.
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4.4.2 - Terrenos
Nos termos do art. 19º Lei de Terras os terrenos são classificados em função dos
fins a que se destinam e do regime jurídico a que estão sujeitos. Nesses termos, os terrenos
do Estado classificam-se em concedíveis e não concedíveis.
São terrenos concedíveis (art. 20º) aqueles que o Estado tenha a propriedade
originária, contanto que não tenham entrado definitivamente na propriedade privada de
outrem.
O domínio dos terrenos concedíveis e os direitos fundiários limitados sobre estes
constituídos estão sujeitos ao regime jurídico do domínio privado do Estado ou das
autarquias locais, às normas da Lei de Terras e ao disposto no artigo 1304º do Código Civil.
Os direitos fundiários do Estado são imprescritíveis.
Os terrenos concedíveis classificam-se em terrenos urbanos e terrenos rurais.
1 - É terreno urbano (art. 21º) o prédio rústico situado na área delimitada por um
foral ou na área delimitada de um aglomerado urbano e que se destine a fins de edificação
urbana. Os terrenos urbanos são classificados em função dos fins urbanísticos em terrenos
urbanizados, terrenos de construção e terrenos urbanizáveis.
a) Terrenos urbanizados são aqueles cujos fins concretos estão definidos pelos
planos urbanísticos ou como tal classificados por decisão das autoridades competentes,
contanto que neles estejam implementadas infra-estruturas de urbanização;
b) Terrenos de construção são aqueles urbanizados que, estando abrangidos por
uma operação de loteamento devidamente aprovada, se destinem à construção de edifício,
contanto que esta haja sido licenciada pela autoridade local competente.
c) Terrenos urbanizáveis são aqueles que embora abrangidos na área delimitada por
foral ou no perímetro urbano equivalente, hajam sido classificados, por plano urbanístico
ou plano equivalente, como reserva urbana de expansão.
2 - É terreno rural (art. 22º) o prédio rústico situado fora da área delimitada por um
foral ou da área de um aglomerado urbano e que designadamente se destine a rins de
exploração agrícola, pecuária, silvícola e mineira. Os terrenos rurais são classificados em
função dos fins a que se destinam e do regime jurídico a que estão sujeitos, em terrenos
rurais comunitários, terrenos agrários, terrenos florestais, terrenos de instalação e
terrenos viários.
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a) Terrenos rurais comunitários (art. 23º) são aqueles ocupados por famílias das
comunidades rurais locais para sua habitação, exercício da sua actividade ou para outros
fins reconhecidos pelo costume ou pela presente lei e respectivos regulamentos.
b) Terrenos agrários (art. 24º) são aqueles aptos para cultura, designadamente para
o exercício de actividade agrícola e pecuária, nos termos do regime jurídico de constituição
ou transmissão de direitos fundiários previsto na presente lei.
c) Terrenos florestais são aqueles aptos para o exercício da actividade silvícola,
designadamente para a exploração e utilização racional de florestas naturais ou artificiais,
nos termos dos planos de ordenamento rural e da respectiva legislação especial.
d) Terrenos de instalação (art. 25º) são aqueles destinados à implantação de
instalações mineiras, industriais ou agro-industriais, nos termos da presente lei e da
respectiva legislação aplicável ao exercício de actividades mineiras e petrolíferas e aos
parques industriais.
e) Terrenos viários (art. 26º) são aqueles afectos à implantação de vias terrestres de
comunicação, de redes de abastecimento de água e de electricidade e de redes de drenagem
pluvial e de esgotos.
São terrenos reservados ou reservas (art. 27º) aqueles que estão excluídos do
regime geral de ocupação, uso ou fruição por pessoas singulares ou colectivas, em função
da sua afectação, total ou parcial, à realização de fins especiais que determinaram a sua
constituição. A constituição das reservas é da competência do Governo, que nelas podem
incluir terrenos do domínio privado ou do domínio público do Estado ou das autarquias
locais, bem como terrenos que já tenham entrado definitivamente na propriedade privada
de outrem.
Os terrenos reservados ou reservas classificam-se em totais ou parciais.
― Nas reservas totais não é permitida qualquer forma de ocupação ou uso, salvo a
que seja exigida para a sua própria conservação ou gestão, tendo em vista a prossecução
dos fins de interesse público previstos no respectivo diploma constitutivo. A constituição
de reservas totais visa, entre outros fins, a protecção do meio ambiente, defesa e segurança
nacionais, preservação de monumentos ou de locais históricos e promoção do povoamento
ou do repovoamento;
― Nas reservas parciais são permitidas todas as formas de ocupação ou uso que
não colidam com os fins previstos no respectivo diploma constitutivo
A autoridade que tenha constituído a reserva pode determinar a exclusão de algum
ou alguns terrenos do seu intuito, sempre que ocorra motivo justificado. Os prédios que
não pertençam ao Estado podem ser incluídos nas reservas por meio de expropriação por
pública ou pela constituição de servidões administrativos, devendo ser dada justa
indemnização aos proprietários e aos titulares de outros direitos reais afectados, sem
prejuízo da possibilidade de estes optarem pela subscrição de capital social das sociedades
comerciais que venham a constituir-se para a exploração de actividades relacionadas com
o terreno reservado.
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1 Foralé o título aprovado por diploma do Governo, pelo qual o Estado delimita a área dos terrenos integrados no domínio
público do Estado e por este concedidos às autarquias locais para gestão autónoma;
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Conclusão
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Bibliografia
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