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SEMANAL
A NEWSMAGAZINE MAIS LIDA DO PAÍS WWW.VISAO.PT
JOSÉ PACHECO
PEREIRA AMBIENTE
“O PROBLEMA
DA DIREITA
AS TAXAS QUE
É ESTAR VAMOS PAGAR
DESFASADA
DA REALIDADE”
PARA SALVAR
O PLANETA
Joana de Áustria,
Isabel da Nóbrega
e Hedy Lamarr
GRANDES MULHERES
NA SOMBRA DA HISTÓRIA
AS HISTÓRIAS DE 16 ARTISTAS, ESCRITORAS, MATEMÁTICAS, POLÍTICAS
E EMPRESÁRIAS, CUJA IMPORTÂNCIA FICOU ESCONDIDA NUM MUNDO DOMINADO PELA
NARRATIVA MASCULINA. OS SEUS EXEMPLOS SÃO AINDA HOJE UMA FONTE DE INSPIRAÇÃO
O Tribunal de Justiça da União Europeia procura,
através de procedimento de contratação pública,
tradutores freelance.
O Tribunal de Justiça tenciona atribuir ocasionalmente a tradutores freelance
a tradução para português de textos jurídicos
DSDUWLUGHFHUWDVO¯QJXDVRȴFLDLVGD8QL¥R(XURSHLD
RADAR
14 Raio X
16 A semana em 7 pontos
18 Holofote
19 Inbox
20 Almanaque
21 Transições
GETTY
22 Próximos capítulos
24 Imagens do mundo
56 David Attenborough, o senhor planeta
FOCAR A propósito de um novo livro editado em Portugal sobre expedições
realizadas nos anos 50 e 60, traçamos o perfil do icónico naturalista
72 O que leva a extrema-direita que continua ativo aos 95 anos
a ser negacionista
da Covid-19?
76 Jogos Olímpicos: 28 Mulheres na sombra da História
o peso das medalhas Foram matemáticas, escritoras, artistas, políticas, empresárias,
78 Nicarágua: a vice-presidente mas a História, escrita no masculino, ignorou-as ou tratou-as, se fosse
o caso, apenas como mulheres ou filhas de homens famosos
implacável
As origens do futebol
na nova edição da VISÃO História
Diz-se que o futebol é um
dos setores de maior êxito da
economia portuguesa. Formamos
os jogadores, exportamo-los por
bom dinheiro, adquirimos atletas
estrangeiros quase de graça,
Precisamos que os intelectuais
damos-lhe visibilidade e, a seguir, voltem a inspirar-nos!
vendemo-los aos grandes clubes Maria Antónia Sequeira, Lisboa
internacionais com bons encaixes.
É assim o futebol moderno, TÓQUIO 2020
Ao contrário do que nos querem fazer
que faz movimentar milhões, crer, os resultados dos Jogos Olímpicos
sobretudo desde que os clubes se de Tóquio só vieram confirmar aquilo que
transformaram em empresas e já sabíamos. Estamos cada vez mais na
até servem de cobertura a jogadas cauda da Europa. Mesmo comparando
com países com a mesma população,
menos limpas de dirigentes. Mas as medalhas que Portugal ganhou são
isso são outros futebóis, e não é incomparavelmente escassas. E as
deles que falamos no novo número conseguidas foram-no à custa de um
da VISÃO História, já nas bancas. tremendo mérito e trabalho dos atletas.
Nuno Vieira, Lisboa
O fenómeno que evocamos nas
páginas desta revista é o do MIA COUTO
futebol antes de se chamar futebol, o da invenção do jogo propriamente dito Quero dar os meus parabéns ao
escritor-poeta que redigiu este magnífico
em Inglaterra e o da chegada a Portugal do chamado desporto-espetáculo, texto [Conversa entre pedras, V1483].
quando eram os “carolas” que sustentavam os clubes. Maravilhoso de imaginação e, ao mesmo
Claro que não podíamos passar ao lado da fundação dos “três grandes”, tempo, tão finamente adaptado ao real!
Benfica, Sporting e Futebol Clube do Porto, contando a história das pequenas Leio sempre a página de Mia Couto na
VISÃO.
coletividades de Lisboa e do Porto que deram origem a estes clubes. E Danielle Foucaut Dinis
ninguém melhor para o fazer do que os que são adeptos e que, todos os dias,
“vestem” a camisola. João Gobern escreve sobre o “glorioso”, António Macedo TAXA VASP
Como agente da distribuidora Vasp há
dedica-se ao atual campeão nacional e Germano Silva discorre sobre o clube 36 anos na venda de jornais e revistas,
do Norte que nasceu duas vezes. além de pagar semanalmente uma
Percorrendo as páginas da revista, convidamos o leitor a conhecer como as garantia bancária, a Vasp, a pretexto da
fábricas da primeira metade do século XX se tornaram viveiros dos clubes crise, começou a cobrar uma taxa de
distribuição da sua mercadoria. No meu
operários e, também, a desfazer a persistente ideia feita de que o Estado Novo caso, são 11,70 euros por semana. Até
promovia o futebol para “alienar as massas”, quando o que se passava era que ponto é legal esta situação? É o fim
exatamente o contrário: o regime temia o futebol porque era um fenómeno de dos postos de venda.
massas. Salazar, esse, era completamente ignorante na matéria e desprezava o Mário Silva, Setúbal
Contactos
visao@visao.pt
As cartas devem ter um máximo
de 60 palavras e conter nome, morada
e telefone. A revista reserva-se
o direito de selecionar os trechos
que considerar mais importantes.
NOVA MORADA
CORREIO: Rua da Fonte da Caspolima
PESSOA INQUÉRITO AÇORES – Quinta da Fonte,
O poeta com Criadores de futuro As rotas sugeridas Edifício Fernão Magalhães, 8,
múltiplas faces pelos guias locais 2770-190 Paço de Arcos
O avô António
e um restaurante
de beira de estrada
POR DULCE MARIA CARDOSO
T
rim-trim-trim. O telefone estremeceu O telefone de marcador redondo estava à
a noite. Insistentemente. Trim-trim- entrada do apartamento, no canto esquerdo do
-trim. Vindo das misteriosas entranhas quadrado alcatifado a que o senhorio, ao mostrar-
metálicas, que a sisuda baquelite preta -nos o pequeno T1, nomeou pomposamente de
cobria, o irritante toque não parou até a hall de entrada. Também chamou kitchenette à
minha mãe se levantar e atender, Está sim? minúscula cozinha que estava separada da sala
No final da década de setenta, em casa por uns cortinados cujo azul-petróleo haveria de
ILUSTRAÇÃO: SUSA MONTEIRO
dos meus pais, as noites eram para dormir empardecer com as lavagens que davam ao início
de uma ponta a outra, mesmo se o meu do verão o cheiro a lixívia e a sabão azul e branco.
pai, angustiado por não saber como pagar Apesar da fineza das palavras estrangeiras, até eu,
as prestações do empréstimo do IARN, passasse com pouco mais de 12 anos, percebi de imediato que
muitas delas de um lado para o outro, a fumar na a nossa família não cabia ali. Mas não estando em
escuridão da varanda, o cigarro, um frouxo farol condições de escolher, os meus pais agradeceram
laranja, o meu pai, um destroçado rochedo. o facto de o senhorio não exigir caução nem fiador,
P
ara que servem os avisos e os alertas? Conhecemos o risco, sabemos que ele
De que adianta dizer que se deve está cada vez mais próximo de ser brutal-
escutar a Ciência se, depois, não se mente destruidor e inevitável, mas continua-
levam as suas conclusões a sério? mos a adiar as decisões que precisam de ser
Desde que o IPCC (sigla inglesa de tomadas. Até porque demoramos demasiado
Painel Intergovernamental para as tempo a olhar o problema de frente.
Alterações Climáticas) publicou o Durante anos, por exemplo, sempre que o
seu primeiro relatório, em 1990, as País se via sobressaltado devido aos incên-
emissões de gases com efeito de estufa quase dios florestais, a narrativa pouco se alterava e
duplicaram no planeta. Há mais de três déca- nunca incluía o “pormenor” do aquecimento Usar uma ilustra-
das – desde essa primeira conclusão, consen- global: a “culpa” era sempre da falta de meios ção com um rosto
feminino era uma
sual entre centenas de peritos reunidos pelas para combater as chamas e dos incendiários
hipótese, mas
Nações Unidas – que sabemos tudo o que de criminosos que ateavam o fogo pela calada da
pouco atrativa.
mais importante precisávamos de saber sobre noite, a soldo de interesses obscuros – o que
o aquecimento global e as alterações climáti- até pode ter sido verdade, em alguns casos,
cas. Sabemos, mas nada fizemos para tentar a par de fatores como o gritante desordena-
inverter a situação. mento do território, o despovoamento do
Nesse primeiro relatório, estavam já bem Interior, a falta de planeamento na gestão das
2
explícitas a caracterização e a dimensão do florestas e a ausência de mecanismos eficazes
problema. Com base, como se escrevia então, de proteção civil.
em três “provas robustas”: a temperatura mé- No entanto, quando vemos agora os in-
dia do planeta está a aquecer devido à ativida- cêndios incontroláveis nas nações mais ricas e
de humana e, em consequência disso, o nível desenvolvidas do planeta, onde existem mais
do mar vai subir e vão ser mais frequentes as homens, máquinas e aviões para combater as
ondas de calor. chamas do que em outra parte do globo qual-
Passaram-se 31 anos e o IPCC produziu quer, temos de refrear o argumento da falta
mais cinco relatórios – o último, o sexto, de meios. E devemos, isso sim, procurar os
publicado há dias e que o secretário-geral das “incendiários”, responsáveis por estes crimes,
Nações Unidas, António Guterres, classificou que ameaçam a Natureza, arrasam povoações
como um “alerta vermelho” para a Humani- e matam pessoas. O último relatório do IPCC
dade. Nele, os cientistas acrescentam ainda é muito claro sobre quem tem a culpa dos in- Tentar uma monta-
mais robustez às provas que têm reunido cêndios, mas também das ondas de calor que gem com pedaços
ao longo dos tempos e tentam prever o que provocam secas e inundações: os incendiários de várias fotos?
pode acontecer nos próximos anos, caso se somos nós. Não só persistimos em ignorar os Fica demasiado
adotem ou não medidas para combater o alertas dos cientistas como nos recusamos a confuso.
aquecimento global. Mas dão-nos também, mudar de estilo de vida, protestamos quando
desta vez, outra certeza: a crise climática já se as taxas de carbono fazem aumentar o preço
tornou inevitável e irreversível. E só nos resta dos combustíveis fósseis e privilegiamos o
uma oportunidade, a derradeira – já não para conforto imediato em detrimento do futuro
evitar o pior mas, apenas, para tentar evitar o
pior cenário possível.
sustentável. Pior: permitimos, com a nossa
inação, que o debate político sobre o ambien-
3
Em consciência, ninguém pode manifes- te caísse, tantas vezes, em questões estéreis
tar-se admirado ou surpreendido com isto. e laterais, sem se debruçar, de facto, naquilo
Não só os avisos foram sendo feitos, ao lon- que é essencial mudar na economia e na or-
go dos anos, como também os sinais se tor- ganização da sociedade.
naram cada vez mais eloquentes: secas nunca Agora, diz o IPCC, temos uma década para
vistas, inundações que só deveriam ocorrer tentar impedir o pior cenário possível. Não vai
num século, mas que se repetem numa dé- ser fácil: vamos sofrer com secas e inundações,
cada, incêndios colossais em todas as latitu- ver a nossa orla costeira destruída em muitos
des. E tudo isto com um padrão comum: a locais e os incêndios a imporem a sua lei na
cada ano que passa, vão sendo batidos novos floresta. Vamos assistir ao fim de indústrias mas
O melhor é sele-
recordes de temperatura média em qual- também ao surgimento de outras. E vamos ser
cionar três mulhe-
quer ponto do globo, mas continuam ainda a todos obrigados a pagar mais taxas e impostos
res, de épocas e de
aumentar, globalmente, as emissões de gases em nome do ambiente. É esse o preço a pagar origens diferentes.
com efeito de estufa. pelo incêndio que começámos. rguedes@visao.pt
Veja aqui
a apresentação
da nova imagem
do Norte
COFINANCIADO POR:
Clara Raposo Presidente do ISEG
Nesta
edição
– Animais que batem recordes
– Como fazer slime comestível
– Como ganhar um fim de semana
em autocaravana
– Férias ao ar livre
– Cupões com descontos para entradas
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em parques temáticos
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Campanha válida até 15/09/2021, na versão impressa ou digital, salvo erro de digitação. Os preços da versão impressa são válidos apenas
para Portugal. Assinatura paga na totalidade ou em prestações mensais sem juros, TAEG 0%. Consulte todas as opções em loja.trustinnews.pt
RAIO X
S Ó N I A C A L H E I R O S scalheiros@visao.pt
Farol de Cordouan,
estuário do Gironde, França
52
Lugares em perigo de perder a distinção, incluindo a recém-entrada Roșia Montană Paisagem
Mineira, na Roménia, tal como aconteceu, este ano, à cidade inglesa de Liverpool. É nos
Estados árabes que se situam 40% dos lugares culturais (21) em perigo e, em África, 29% dos
naturais (11) estão em risco. Menos de 9% dos locais ficam em África, apesar de, este ano, oito
mesquitas da Costa do Marfim e de o Parque Nacional Ivindo, no Gabão, terem entrado para a
lista. A tentativa de resolução dos conflitos armados, de erradicar a pobreza extrema e a compra
de vacinas deverão ser agora prioridades ainda maiores nestes países
SARA
NOVA
EDIÇÃO
JÁ À VENDA
BARROS LEITÃO
QUEM TEM UMA PRIMA ASSIM,
TEM TUDO!
POR
SARA BELO LUÍS*
GETTYIMAGES
A CEGUEIRA
Mal comparados, há três grandes assuntos
da chamada atualidade que nos deixam
Por fim, a saúde mental. A propósito do caso
da ginasta americana Simone Biles, o assun-
mais ou menos indiferentes: a crise demo- to veio à baila por causa da pressão a que
gráfica, as alterações climáticas e a saúde estão sujeitos os atletas de alta competição.
mental. Isto é, podem até ser gastos rios Também têm sido publicados vários estudos
de tinta para se escrever sobre eles, podem que alertam para o facto de a solidão – ter-
até ocupar alguns minutos em horário reno fértil para todas as depressões – estar a
nobre televisivo, em bom rigor, pode até aumentar, acelerada, em boa parte, pela cri-
reconhecer-se-lhes a maior das importân- se pandémica. Há dois meses, em entrevista
cias estratégicas. Mas não só não provo- à VISÃO, a economista Noreena Hertz, au-
cam qualquer alarme social como condu- tora do muitíssimo recomendável O Século
zem a uma estranha inação. E, quanto mais da Solidão, dizia: “Temos tendência para
preocupantes são as conclusões dos mui- afirmar que os mais velhos são os mais so-
tos estudos produzidos sobre estes temas, litários, mas a geração em que as pessoas se
quanto mais graves são as declarações que sentem mais sozinhas é a mais nova. Um em
os cientistas e as elites políticas sobre eles cada cinco millennials admite não ter um
proferem, mais difícil é transmitir a men- único amigo.” Já aqui citámos um relatório
sagem. Na era da hiperinformação, como é recente promovido pela Comissão Europeia,
possível tanto ruído? segundo o qual quadruplicou a solidão entre
Apresentados há duas semanas pelo Insti- os jovens da faixa etária 18-35 anos.
tuto Nacional de Estatística, os resultados De certo modo, esta insensibilidade até se
preliminares dos Censos 2021 indicam compreende. Não são questões de curto
que existem menos 214 mil pessoas a viver prazo, os efeitos são difusos e têm sobre-
em Portugal do que há dez anos, o que já tudo impacto nas gerações futuras – como
não acontecia desde os anos 60 do século diz o outro, no futuro, estamos todos
passado, período em que houve, como mortos... Por outro lado, esta tríade de
é sabido, um forte fluxo de emigração. preocupações é própria de sociedades mais
Estes primeiros dados também dizem que desenvolvidas, com democracias estabi-
cerca de metade da população do País está lizadas e, mais crise, menos crise, econo-
concentrada em 31 municípios, localiza- mias prósperas. São inquietações de quem,
dos sobretudo nas áreas metropolitanas de justificam os cientistas políticos, vive em
Lisboa e do Porto. Sobre o novo relatório territórios onde já não há nem guerras nem
do Painel Intergovernamental para as Alte- fomes para resolver. Também é verdade
rações Climáticas (IPCC, na sigla inglesa), que, da Síria ao Sudão do Sul, há todo um
divulgado esta semana em toda a Impren- mundo com outras urgências e prioridades
sa, os cientistas do IPCC escreveram em – e isso, no mínimo, devia envergonhar-
letras garrafais o que, segundo os especia- -nos. Mas é tão estúpido esperar por um
listas, nunca tinha sido escrito com tanta maravilhoso mundo novo pós-Covid-19
assertividade: a Humanidade está a sufocar como desperdiçar a rutura da pandemia
o planeta; sim, a culpa é nossa! para ver o essencial.
*Subdiretora
sbluis@visao.pt
GETTY IMAGES
(DGS) recomendou a vaci-
vai ser atingido em 2030. nação contra a Covid-19 de
O documento deverá ser- todas as crianças e adoles-
vir de base às propostas centes dos 12 aos 15 anos,
que os decisores políticos sem prescrição médica. Em
FRANÇA
levarão à COP26, em conferência de imprensa,
novembro, em Glasgow. “Non”! esta terça, 10, Graça Freitas
justificou a decisão com
Pelo quarto fim de semana consecutivo, os franceses dados recentes da União
saíram à rua em protesto contra as novas medidas Europeia e do Centers for
A F E G A N I S TÃ O
sanitárias, consideradas pelo governo essenciais para Disease Control and Preven-
O regresso travar a pandemia. De um modo geral, os manifestantes
acham que a ideia de um “passe sanitário” constitui uma
tion (CDC), que confirmam
que episódios de miocardites
das trevas violação dos direitos e das liberdades fundamentais. e pericardites são “extre-
Nada impediu, porém, que, nesta segunda, 9, entrasse mamente raros”. Ainda se
Ao mesmo tempo em vigor a obrigatoriedade de apresentação de um desconhece, porém, a data
que o avanço dos certificado de vacinação (PCR ou um teste antigénio para início da vacinação dos
fundamentalistas negativos) para fazer viagens de comboio de longo jovens desta faixa etária
islâmicos no Afeganistão curso e aceder a determinados lugares, como bares, (cerca de 410 mil). Apesar de
se torna evidente, a restaurantes e salas de espetáculos. os efeitos da doença serem
Administração Biden já
pouco graves nos adoles-
tornou claro que, após 20
centes, a sua vacinação tem
anos de conflito, terminou CIÊNCIA como objetivo garantir o
o papel dos Estados
seu bem-estar e “reduzir a
Unidos da América no
território afegão. Em
Esperança contra a malária transmissão do vírus”.
menos de uma semana, A BioNTech – a empresa Europeia e Fundação Bill e
os talibãs conquistaram alemã que, juntamente com Melinda Gates, o projeto,
seis capitais de província: a americana Pfizer, criou a cujos ensaios clínicos
Taliqan, Kunduz, Sari Pul, primeira vacina de mRNA estão previstos para o
Taloqan, Sheberghan e contra a Covid-19 – anunciou final de 2022, pretende
Zaranj. Com a iminência o lançamento de um projeto ainda desenvolver uma
de uma guerra civil entre que visa desenvolver a capacidade de produção
as tropas governamentais primeira vacina contra a sustentável de vacinas em
e as forças talibãs, a malária, também baseada África, continente onde a
FERNANDO NEGREIRA
população não tem para em mRNA. Apoiado pela doença é responsável por
onde ir, receando-se uma Organização Mundial da 409 mil mortos por ano
nova tragédia humanitária. Saúde (OMS), Comissão (dados da OMS, de 2019).
NA BIELORRÚSSIA
poderia disputar preparada – a também ao marido aos compatriotas
as eliminatórias estafeta dos 400 que abandonou a para “deixarem
dos 200 metros, metros. Mal sabia Bielorrússia assim de ter medo de
que dar conta RUI ANTUNES que percebeu falar” se forem
a razão da sua
presença nos dessa insatisfação, o que estava desrespeitados
Jogos Olímpicos. no Instagram, em causa. Em enquanto atletas.
A caminho do iria torná-la
torná la entrevista ao El A Amnistia
uma dissidente País, Kristina Internacional
aeroporto, ao
involuntária. Logo sugeriu que, se contabiliza 30
falar ao telefone
ela que nunca tivesse obedecido mil bielorrussos
com os pais e a se envolvera em à ordem de “detidos em
avó, a velocista manifestações regressar, a violação do seu
de 24 anos soube contra o regime esperavam direito à liberdade
que, na Bielor- comunista “talvez a prisão de reunião
rússia, corria já de Aleksandr ou o hospital pacífica”, desde
a versão de que Lukashenko nem psiquiátrico”, as eleições de
sofria de pertur- emitira sinais acrescentando há um ano. Há
bações mentais. públicos de que “não se sai dois meses, o
Aconselhada a desagrado para facilmente de regime desviou um
não regressar, com o ditador ou qualquer um avião comercial
pediu socorro a mesmo qualquer deles”. para prender
um polícia japo- declaração de o jornalista
nês. “Estou em cariz político. dissidente Roman
perigo”, escreveu Protasevich.
num tradutor Kristina diz seguir
automático na as notícias, mas só
internet. quer prosseguir
com a
carreira:
“Pertenço
ao mundo do
desporto.”
18
INBOX
M O D É S T I A À PA R T E
Quero
Não é a roupa
upa
de cozinha mais
continuar
prática, mas
gosto de cozinhar
zinhar
a não ter
com estilo
ilo
PARIS HILTON ON
fronteiras
A socialite estreou
reou
Cooking With Paris, programa
de culinária na Netflix,
etflix, e a não ter
limites
em q
que usa vestidoss de festa
DANIELA MELCHIOR
Na sua estre
estreia internacional,
a atriz portuguesa
portug de 24 anos
é protagonista
protago do filme
O Esquadrão Suicida, no qual
interpreta Ratcatcher 2,
personagem construída
personag
aproveitando a sua nacionalidade
FRASE DA SEMANA
Fontes: Twitter, TVI, Jornal i, Observador, The New York Times, RTP
19
ALMANAQUE
NÚMEROS DA SEMANA
€1,4 mil
milhões
Valor da fortuna de Rihanna, Carismático Iggy Pop Sensual Rita Ora
estimado pela revista
Forbes. A nova milionária
é agora a cantora mais
bem paga do mundo, numa
lista encabeçada pela
apresentadora Oprah Winfrey.
11,5 milhões
Horas extra trabalhadas
pelos profissionais de saúde
no Serviço Nacional de Saúde
no primeiro semestre de
2021, dois terços de todas
as horas extraordinárias
prestadas em 2020.
2 500
Despedimentos previstos
Provocadora Saweetie
€3,2 milhões
Poderosa Jennifer Hudson Cumplicidade Normani e Bryan Adams
2 100
as folhas do Calendário Pirelli em foram feitos, em junho e julho, em Los
2022. Neste verdadeiro objeto de arte Angeles, na Califórnia, em cenários
iniciado em 1964 e que já vai na 48ª que vão desde as ruas desta grande
Auxiliares de lares de idosos edição, sem publicação em 2021 por metrópole, ao teatro Palace ou o hotel
que ainda não tomaram causa da pandemia, a música será a Chateau Marmont e em Capri, em
uma única dose da vacina protagonista com retratos a preto-e- Itália, no hotel La Scalinatella. O cantor
contra a Covid-19, aos que se branco, mas também a cores, captados e fotógrafo canadiano de 62 anos passa
juntam cerca de mil utentes. por Bryan Adams, a revelar diversas assim a fazer parte da lista de 37 dos
Números que se devem a gerações e estilos, do rock ao rap, mais prestigiados fotógrafos do mundo
alguns surtos ativos e à da pop à eletrónica. Os retratos de que já dispararam para a Pirelli, como
constante entrada de novos Cher, Iggy Pop, Grimes, St. Vincent, Herb Ritts, Annie Leibovitz ou Mario
profissionais. Jennifer Hudson, Normani, Rita Ora, Testino.
MORTES
A pianista Elisa Lamas foi
também uma das profes-
soras mais carismáticas do
meio musical português,
tendo lecionado no Con-
servatório desde 1952 e
até à reforma. A autora da
Sebenta de Harmonia com
vista à realização do baixo-
-cifrado morreu no dia 3, aos
95 anos.
LIONEL MESSI
Antigo presidente da
Fintado na despedida
Associação Portuguesa
da Indústria Farmacêutica
durante cerca de 12 anos,
João Gomes Esteves foi
também vice-presidente da Estava tudo certo para renovar por mais duas épocas, mas a grave
Confederação Empresarial crise financeira do Barcelona, com dívidas a rondar os €1 200
de Portugal e do Conselho milhões, empurrou-o para fora do clube de toda a vida
Geral da Associação Indus-
trial Portuguesa – Câmara Há um ano, queria sair e ficou. Agora, necessitava para crescer. O talento,
de Comércio e Indústria. O queria ficar e teve de sair... quando esse, nunca lhe faltou. Quando o então
médico-veterinário, comen- a renovação de contrato estava já secretário técnico do clube, Carles
dador da Ordem de Mérito e acordada e todos esperavam que ele Rexach, o observou pela primeira
medalha de ouro do Ministé- continuasse. Estava escrito que o vez, quis tanto contratá-lo que logo
rio da Saúde, morreu no dia
adeus de Lionel Messi ao Barcelona redigiu um contrato simbólico num
5, aos 77 anos.
não poderia ter um guião predefinido. guardanapo, devidamente assinado
Não seria coerente com o legado de 21 por todas as partes.
Natural da Amadora, foi na anos que deixa no clube da Catalunha, Ao fim de três anos, já estava a
presidência da Câmara Mu- um festival de imprevisibilidade estrear-se na equipa principal do
nicipal de Beja, durante 23 constante. Barcelona e, a partir daí, foi sempre a
anos (1982-2005), que José Se os adversários o esperavam de um somar: quatro Ligas dos Campeões,
Manuel Carreira Marques lado, ele fugia para o outro. A cada dez Ligas espanholas, três Mundiais
firmou o seu nome, sempre toque na bola, a cada movimento de Clubes, seis Bolas de Ouro, maior
eleito por coligações lidera- de corpo, o improviso e o engodo goleador da história do clube...
das pelo PCP. Morreu no dia sempre presentes. A capacidade de Mais de duas décadas depois, a
6, aos 77 anos. levar meio mundo a acreditar que ia rutura é justificada pelas dificuldades
fazer uma coisa para, de repente, tirar financeiras que o clube atravessa
um coelho da cartola e executar outra (dívida de €1 200 milhões e prejuízos
O comediante norte-ame- completamente diferente. “Mágico”, de €487 milhões só na última
ricano Trevor Moore, um como lhe chamaram vezes sem conta. temporada). Segundo o presidente
dos fundadores do grupo de Foi sempre assim imprevisível desde Joan Laporta, Messi aceitou baixar o
comédia The Whitest Kids U’ que, em 2000, com apenas 13 anos, salário para metade e o pagamento
Know, conhecido por atuar
abandonou a natal Argentina para em cinco anos dos dois anos de
e produzir séries infantis da
ingressar no Barça. De pequena contrato, mas a Liga não deu aval ao
Disney, morreu no dia 6, aos
41 anos, num acidente de
estatura, partiu à procura de um acordo. Aos 34 anos, o argentino ficou
viação. clube na Europa que lhe pagasse livre para escolher o próximo destino:
o tratamento hormonal de que Paris Saint-Germain. R.A.
PERISCÓPIO
GETTY IMAGES
que tem de fazer tormentas que tivemos
respeitar os estatutos de enfrentar. Chegarei,
do partido. A última amor, na volta da
conquista da jurisdição maré. Ai, troquei-te por
laranja, liderada por um mar ao sul.”
VA C I N A S C O V I D - 1 9 Paulo Colaço, foi o
reconhecimento pelo CONVITE
Onde é que
já vimos isto?
P O R C E C Í L I A M E I R E L E S / Deputada do CDS-PP
C
om a chegada do verão, o Governo tem- Que os cidadãos e as empresas portugueses terão
se multiplicado em anúncios de verbas também de pagar.
e investimentos na execução do famoso Aliás, os anúncios não se limitam apenas às
PRR – Plano de Recuperação e Resiliência. verbas que virão da Europa. Ao mesmo tempo
A mensagem subjacente a todos estes que apregoa um dos maiores investimentos
anúncios parece-me bastante simples: de sempre na modernização da Administração
há dinheiro para gastar e o primeiro- Pública, aparentemente a única reforma a que
ministro está com pressa de passar os esse investimento levará é à contração de mais
cheques. Se o dinheiro vai ser gasto da funcionários.
melhor forma, se os investimentos feitos O número de funcionários públicos tem
vão ser reprodutivos e se o setor privado (sobretudo aumentado todos os anos desde 2015, e no primeiro
o mais afetado pela pandemia) vai ser compensado, trimestre deste ano, aproximava-se bastante dos
são perguntas que o Governo prefere que não sejam níveis de 2011. Esta semana, o Governo anunciou já
feitas. Até porque as respostas não uma nova vaga de contratações
seriam animadoras e poderiam na Função Pública e mais
perturbar o clima eleitoralista que Os setores mais dinheiro no próximo Orçamento
se quer instalar. para aumentar os seus salários.
Aliás, a filosofia do Plano é
dinâmicos, o setor É evidente que há áreas
precisamente apostar no setor exportador e as da Administração Pública
público como motor da economia.
É o setor público que fica com
empresas que não carentes de recursos humanos,
mas não é menos óbvio que a
a parte de leão dos fundos, trabalham para o digitalização e, sobretudo, a
relegando a iniciativa privada Estado ficarão para simplificação de procedimentos
para o papel de sócia minoritária (absolutamente necessária)
dos empreendimentos, a navegar
segundo plano. É esta levarão a que algumas
entre o habitual mar de burocracia a visão clientelar que funções se tornem supérfluas.
e procedimentos associados às
candidaturas. É verdade que
o Governo tem para a Também a descentralização,
abundantemente proclamada,
o setor público vai precisar de economia portuguesa. mas ainda longe de ser uma
contratar empresas privadas para Não é um erro novo, realidade, terá necessariamente
realizar muitos dos investimentos, de levar a grandes alterações na
mas isso significa apenas que
mas é um erro trágico Função Pública. Não é possível
mais uma vez, como infelizmente apregoar a passagem de várias
já aconteceu muitas vezes no competências essenciais para
passado, serão as empresas habituadas à contratação a administração local, mas depois querer deixar
pública e adaptadas a terem o Estado como grande intocadas todas as estruturas e grandes direções
cliente que sairão beneficiadas. Os setores mais gerais que geriam essas mesmas competências na
dinâmicos, o setor exportador e as empresas que não administração central.
trabalham para o Estado ficarão para segundo plano. É por tudo isto que me parece que o conjunto
É esta a visão clientelar que o Governo tem para a destes anúncios nada tem que ver com uma visão
economia portuguesa. Não é um erro novo, mas é reformista, nem tão-pouco com uma ideia para
um erro trágico. o País. Eles traduzem sobretudo um objetivo
Sobretudo porque os fundos europeus não eleitoralista e uma tentativa de disfarçar a crise
são eternos e porque, ao contrário da ideia que que vivemos com dinheiro e pacotes de medidas
tem passado, terão de ser pagos com recursos megalómanas. É uma receita que já vi um outro
próprios europeus, cujos contornos não estão governo do Partido Socialista experimentar numa
ainda completamente determinados, mas que se crise anterior. E, lamentavelmente para todos nós e
traduzirão provavelmente em impostos europeus. para Portugal, o final não é nada feliz. visao@visao.pt
GOUVES,
ILHA DE EVIA,
GRÉCIA
AKCAYAKA,
TURQUIA
PEFKI, EVIA,
GRÉCIA
GREENVILLE,
CALIFÓRNIA,
EUA 12 AGOSTO 2021 VISÃO 25
IMAGENS
AMTA,
ÍNDIA
FADILIYAH,
IRAQUE
ALTENAHR,
ALEMANHA
CAIRO,
EGITO
12 AGOSTO 2021 VISÃO 27
MULHERES
NA SOMBRA
DA HISTORIA
FORAM MATEMÁTICAS, ESCRITORAS, ARTISTAS,
POLÍTICAS, EMPRESÁRIAS, MAS A HISTÓRIA, ESCRITA
NO MASCULINO, IGNOROU-AS OU TRATOU-AS, SE FOSSE
O CASO, APENAS COMO MULHERES OU FILHAS
DE HOMENS FAMOSOS. NO ENTANTO, FORAM MUITAS AS
QUE NÃO SE RESIGNARAM E PROSSEGUIRAM NA SENDA
DOS SEUS SONHOS, ÀS VEZES EM CONFRONTO ABERTO
COM UMA SOCIEDADE QUE NÃO AS COMPREENDIA
MARIA JOÃO MARTINS
12 AGOSTO 2021 VISÃO 29
C
Chamava-se Judith e era a irmã de William Shakespeare. Tal como
ele, era audaz, inteligente, curiosa e conformava-se pouco com
os limites do pequeno mundo em que nascera. Mas os pais não a
mandaram à escola e a menina teve de estudar às escondidas, sempre
receosa pelo castigo, no pouco tempo que lhe deixavam as tarefas
domésticas nas quais, pelo contrário, se devia mostrar exímia. Mal
chegou à puberdade, arranjaram-lhe o noivo que convinha à família,
mas, em desespero, Judith fugiu de casa e juntou-se a uma trupe de
atores, das muitas que atravessavam então as estradas de Inglaterra,
para recreação de nobres e plebeus. Abandonada pelo amante, que
a engravidara, suicidou-se e foi sepultada sem sacramentos nem
família, à beira de um caminho qualquer. Não chegara a fazer 20 anos.
Chocante? Sim, mesmo que Judith Shakespeare não tenho passado
de uma personagem de ficção criada pela escritora inglesa Virginia
Woolf com o propósito de, através do choque, alertar a comunidade
para os obstáculos colocados à criatividade feminina (no livro de
1929, Um Quarto que seja Seu), a verosimilhança da história faz-nos
pensar em quantas, como Judith, deixámos cair pelo caminho. Umas
Bárbara
Virgínia
A primeira
realizadora
portuguesa
foi “obrigada”
a emigrar
Desde 2015 que a Academia Portu-
guesa de Cinema atribui o Prémio
Bárbara Virgínia às mulheres que o
júri considera autoras de serviços
assinaláveis a esta arte. No entanto,
quem ainda sabe ao certo a razão
deste nome e a quem pertenceu?
Nascida em Lisboa a 15 de novembro
de 1923, Bárbara Virgínia é o nome
artístico de Maria de Lourdes Dias
vezes, de forma tão trágica como esta, outras, num apagamento lento, Costa. Filha da classe média, teve
silencioso e igualmente letal. Aconteceu no mundo da literatura, mas uma educação artística e acesso a
também nos das outras artes, nas ciências, na política ou na vida um grupo de intelectuais e artistas
empresarial. amigos da família, mas, ao contrário
Ao longo da História, nas mais diversas civilizações, as mulheres de muitas das suas contemporâneas,
foram incentivadas a atingir a excelência... no papel de “anjo do lar”. não se contentou com as
Nas artes, quando muito, podiam desempenhar a função de musas habituais prendas de tocar
inspiradoras. Tudo o que as obrigasse a transpor a soleira da porta piano e falar francês.
de casa era coisa subversiva, capaz de as desviar do caminho tido por Aos 22 anos, depois de
adequado. Se insistiam (e foram muitas as que o fizeram), o escrutínio ter sido atriz nos filmes
– o dos contemporâneos e o da posterioridade – tendia a ser Aqui Portugal e Sonho de
implacável. Importava silenciar-lhes os feitos para não se tornarem Amor, ousou ir mais lon-
exemplos. ge; tornando-se a primeira
Mas se o passado é um país distante (às vezes, inatingível), nem portuguesa a realizar uma
por isso o devemos abordar com facilitismo: há que dizer que longa-metragem, Três Dias
nem todas as épocas trataram com negligência a criatividade e sem Deus, onde também
a inteligência femininas. No século XVI, as princesas da Casa de era a atriz principal. Dará tal
Áustria (ou de Habsburgo, dinastia que dominou grande parte da conta de si que, juntamente
Europa durante centenas de anos) eram conhecidas pela sua cultura
e competência política e, como tal, desempenharam cargos de
grande responsabilidade. Foram os casos de Isabel de Portugal, filha Destemida
de D. Manuel I de Portugal, casada com o imperador Carlos V, e da Representou Portugal
filha destes, Joana de Áustria, que haveria de ser mãe do nosso rei na primeira edição do
D. Sebastião. Mulheres que conviveram e acolheram no seu círculo Festival de Cannes e,
à pergunta se temia
figuras com o nível intelectual de Santa Teresa de Ávila ou da pintora
reações negativas por
Sofonisba Anguissola.
se estar a meter num
Mas a História não evolui em linha reta e não encontramos idêntica mundo de homens,
paridade em épocas bem mais recentes. É sabido que, em resposta respondeu: “Temo
a alguém que lhe perguntava sobre as aspirações das mulheres à apenas não chegar ao
realização profissional, Salazar terá respondido: “Nunca encontrei nível artístico que me
uma boa dona de casa que não tivesse muito que fazer.” proponho”
Mostrar-se-ia tão eficaz neste tipo de doutrinação que meio século
de democracia ainda não erradicou totalmente o velho patriarcado.
que ela foi uma das fundado- nome próprio, Isabel da Nóbrega
foi uma mulher intrépida que não
hesitou em causar escândalo na sociedade hipócrita em que
se movia, se o coração lhe falasse mais alto. Assim aconteceu
quando deixou o médico Pedro Abreu Loureiro para viver
com João Gaspar Simões e voltaria a acontecer quando en-
controu José Saramago. O que mais temia era esse murchar
FOI UMA MULHER INTRÉPIDA precoce das mulheres casadas que tão bem descreve em Viver
Safo de Lesbos
A primeira lírica da História
Dizia de si mesma ser serva da beleza e Platão
considerou-a a décima das musas, favorita de
Zeus. Nascida na ilha de Lesbos no século VII
a.C, é considerada a mãe da poesia clássica
grega, apenas superada, em fama, por Home-
ro. Além do mais sabemos pouco, a não ser o
que nos conta Ovídio: que a sua família viera
da Ásia Menor e que ficou órfã de pai ainda
criança. Começou a escrever na adolescência
e não tardou a ser adorada por uns e detestada
por outros, desencadeou ódios, a ponto de ser
exilada em Siracusa, onde continuou a escrever
e a aumentar a sua fama e influência junto dos
mais novos.
De regresso a Mitilene, Safo fundou um salão
onde ensinava música, dança e canto aos jovens
da nobreza, sendo o amor e a livre expressão
do desejo um dos temas privilegiados pelos
frequentadores dessas sessões sob o signo da
deusa Afrodite.
Como autora, Safo escreveu nove livros de
odes, elegias, hinos e cânticos nupciais, mas
apenas alguns fragmentos chegaram aos nossos
dias, escritos em dialeto eólico. Ousada tanto no
conteúdo como na forma, experimentou vários
tipos de métrica e abordou temas que, até en-
Hipátia
tão, não eram matéria poética. A ela devem-se
os versos sáficos – os decassílabos com tónica
na quarta, oitava e décima sílabas. Foi também
a precursora do lirismo poético, onde o Eu fala
dos seus sentimentos, característica que lhe ren-
de Alexandria
deu o título de “a primeira lírica da História”. O
assunto principal dos seus poemas foi sempre
o amor, tratado com naturalidade, muitas vezes
GETTYIMAGES
aulas de música somente para ser uma
amadora competente e não para ser pro-
fissional como o seu irmão, Felix. Mesmo
assim, Fanny aprendeu rapidamente e
não só se tornou uma pianista de exceção,
como começou a compor ainda menina.
Por sorte, o marido de Fanny, o pintor Wi-
lhelm Hensel, apreciava mais os talentos
de Fanny do que a família de origem, que,
pelo contrário, considerava essas ativi-
dades pouco dignas de uma respeitável
dona de casa burguesa. Hensel organizava
saraus para que o público tomasse conhe-
cimento do trabalho da sua Fanny. Sob o
estímulo dele, publicou várias composi-
Ada Lovelace ções da sua autoria.
Atualmente, são conhecidas 466 compo-
sições de Fanny, nomeadamente cânticos
Filha de Lord Byron, preferiu no estilo Lied, (muito populares nesta
época) e peças para piano. A sua maior
D.R.
12 AGOSTO 2021 VISÃO 37
A vilã que também foi
produtora, argumentista
e realizadora
A imagem que guardamos dela é a de mulher fatal se conformou com o papel decorativo que os grandes
à moda do cinema clássico norte-americano, em estúdios lhe queriam impor.
filmes como They Drive by Night ou High Sierra, Em 1951, já inscrita na Director’s Guild of America (foi a
nos quais conseguia ser tão dura como George Raft segunda mulher a fazê-lo, após a pioneira Dorothy Arzner),
ou Humphrey Bogart, com quem contracenava. No estreou-se na realização de On Dangerous Ground (em
entanto, esta britânica, nascida no Norte de Londres que entrava como atriz) devido à doença de Nicholas Ray.
em 1918, foi muito mais do que uma estrela de volátil Dois anos depois, tornar-se-ia a primeira mulher a dirigir
fulgor. Na verdade, foi atriz, mas também produtora, um film noir, The Hitch-Hiker. Em 48 anos de carreira,
argumentista, realizadora e uma mulher que nunca fez mais de 59 participações em filmes, tendo dirigido oito
longas-metragens, a maioria nos Estados Unidos
da América, de que se tornou cidadã em 1948.
Dirigiu, escreveu e atuou em vários filmes para
televisão. Nos anos 70, foi a única mulher a dirigir
um episódio da série Twilight Zone, mas também
assinou programas das séries Alfred Hitchcock
Apresenta, Casei com Uma Feiticeira, The Donna
Reed Show, Batman e The Untouchables. Morreu
em 1995 e foi sepultada ao lado de Errol Flynn.
Ida
Lupino
Tina Modotti
Fotógrafa na Guerra Civil de Espanha
Assunta Adelaide de Luigi Modotti nasceu em 1896 em Udine, Itália, numa
família de operários pobres. Aos 17 anos, emigrou para São Francisco, Ca-
lifórnia, onde o pai e uma irmã já estavam em busca do “sonho americano”.
Bonita e carismática, Assunta, que já era Tina, começou a servir de manequim
no atelier de costura onde trabalhava. Em breve, começou a frequentar os
meios artísticos e apareceu, em pequenos papéis, no cinema mudo.
O encontro decisivo, ocorrido pouco depois, dar-se-ia com
Edward Weston, considerado um dos pais da fotografia pura à
americana. Tornaram-se amantes e, com ele, Tina descobriu a
paixão por esta arte ainda à procura de uma linguagem, pelas
viagens e pelo compromisso político. Andou pelo México pós-
-revolucionário, conheceu Diego Rivera e Frida Kahlo, partiu
Sonho
para Moscovo, já como membro do Partido Comunista, e depois
americano
Com Edward
para o coração da Guerra Civil de Espanha, a qual documentou
Weston, tão poderosamente como Robert Capa.
descobriu Tina Modotti morreu aos 45 anos, vitimada por um ata-
a paixão que cardíaco, na Cidade do México, e, aos poucos, apesar das
pela arte da homenagens feitas pelos amigos, a sua obra foi caindo no es-
fotografia quecimento. Só a partir da década de 80, quando o trabalho
das mulheres fotógrafas começou a ser objeto de um renovado
interesse, é que Modotti foi resgatada à penumbra.
GETTYIMAGES
tornou-se muito menos falada (e tocada)
do que a de contemporâneos seus, como
Benjamin Britten.
Ethel, que conseguiu tornar-se composito-
ra, apesar da veemente oposição paterna,
estudara com um professor privado e, mais
tarde, frequentou o Conservatório de Leip-
zig, onde conheceu muitos compositores da
época. Porém, desistiu, após apenas um ano
de estudos, por não estar satisfeita com o
nível de ensino e voltou a estudar com um
e Matemática.
A direita está
desfasada
da realidade
O antigo dirigente social-democrata
defende que o mais importante da
política portuguesa, no próximo ano,
será saber “quem controla o PSD”.
Considera que o partido ficou castrado,
por muitos anos, pela liderança de Passos
Coelho – em quem não votou. E reflete
sobre a “ignorância atrevida” que tomou
conta do debate, em Portugal.
Quanto à “bazuca” europeia, mostra-se
cético: “Na fila para os dinheiros,
estão os mesmos de sempre...”
FILIPE LUÍS LUÍS BARRA
José Pacheco Pereira Fotografado
nesta segunda-feira, 9, no polo do
Arquivo Ephemera, num armazém
da antiga zona industrial do Barreiro
“Caibo mal apenas na little box [a caixinha] Quer dizer que muitas das
em que me metem.” Esta frase, na nota personalidades do nosso quotidiano,
introdutória do novo livro de José Pacheco em Portugal, hoje proeminentes em
Pereira, 72 anos, Personalia (da Tinta-da- várias áreas, terão apenas uma nota
-China) que é lançado nesta quinta-fei- de pé de página?
ra, 12, resume a ideia de uma obra que Na esmagadora maioria dos casos, nem
contempla alguns textos inéditos e que isso.
recupera, sobretudo, textos publicados, Mas consegue identificá-las?
ao longo do tempo, no blogue Abrupto e Não, isso não consigo.
em jornais, revistas e publicações diversas. Ora, no dia em que morre Mário
“A qualidade de político”, escreve Pacheco Soares, por exemplo, temos a
Pereira, “é, por nenhuma boa razão, avas- consciência de que esta figura não será
saladora e, como tende cada vez mais a ser apenas uma nota de pé de página...
um insulto, com o estado atual da radica- Nesse caso, sim, como nos de Álvaro
lização nas chamadas ‘redes sociais’, serve Cunhal, Sá Carneiro, Ramalho Eanes...
os seus fins e tem publicidade assegurada”. Mas essas são figuras que protagonizam
Por isso, o que encontramos em Persona- mudanças, cortes no tempo, recomeços...
lia é o outro lado do intelectual, a refle- Posso dizer-lhe que já lidei, nos meus
xão transversal ao tempo – e aos tempos trabalhos de investigação, com imensa
históricos –, a recuperação de episódios gente de extrema importância – mas que
sobre figuras universais (embora, algumas desapareceu completamente do mapa.
desconhecidas), em que o real se confunde Quando uma obra de História tem apenas
com a recomposição formatada pela ima- um volume, em mil figuras conhecidas...
ginação do autor. A política está sempre nem uma sobra. Nem uma. Nesse sentido,
lá, claro, mas Pacheco, nestes escritos de sou, também, um especialista do efémero.
breve leitura – 168 páginas –, cose-se, fun- Tornou-se, então, um estudioso do
damentalmente, às paredes da pólis. Num tempo e do que influencia os vários
dos armazéns da antiga zona industrial do tempos...
Barreiro, na Rua 48, onde mantém um dos Exatamente...
polos do imenso Ephemera, o maior arqui- E, nesse sentido, teve a necessidade
vo privado nacional, recebe-nos de mangas de estudar o efémero. É isso que o
arregaçadas, a acarretar livros, documentos arquivo Ephemera guarda?
e pastas, uma das quais reúne boa parte do Nós, na Ephemera, somos “omnívoros”. A
quinto tomo da monumental biografia de nossa atenção quanto ao que é importante
Álvaro Cunhal, que ele há de terminar um para a História vai mudando. Coisas que
dia destes. hoje nos parecem relevantes amanhã estão
No seu livro, declara-se “especialista esquecidas. É um processo de seleção na-
do efémero”. O que é um “especialista tural que muda com as mentalidades, com
do efémero”? as gerações e com os tempos. Por exemplo,
Quem trabalha com a História percebe que quando nós olhamos para a propaganda
muito pouca coisa fica para a História. E política, verificamos a ascensão e a queda
se isso é verdade para a História em geral, de várias das suas formas. O autocolante!
é verdade para a História de Portugal, é Usar um autocolante de um partido ou de
verdade para a História da Literatura, etc. um candidato era símbolo de pertença.
Ou seja: percebe-se que o tempo é um “Eu pertenço a um partido. Eu apoio um
implacável selecionador. E, portanto, a candidato.” Andava-se com autocolantes
maioria das coisas a que atribuímos valor, na lapela, nos transportes públicos. Hoje,
na realidade, não só não tem o valor que mesmo que surja algum autocolante, ele
lhe atribuímos como não deixa especial é retirado quando se sai do grupo (do co-
registo. Isto [o arquivo Ephemera] está mício, da reunião, da manifestação)... Nós,
cheio de coisas que entram nesse catálogo. na Ephemera, estamos a cobrir as cam-
Aliás, no prefácio do meu livro, falo de um panhas autárquicas. Pelos meus cálculos,
autor, o Pigault-Lebrun [transição entre serão, por todo o País, umas sete a oito mil
os séculos XVIII e XIX] que foi um grande candidaturas. E onde antes havia o cartaz,
bestseller e que, hoje, não só ninguém o lê hoje há o outdoor. E os outdoors estão
como está completamente esquecido. E eu cada vez mais parecidos entre si – e não
trabalho com personagens: as principais se distinguem dos outdoors dos agen-
mas também com personagens secun- tes imobiliários da Remax... À distância,
dárias e, até, terciárias. E o que é muito não percebemos a diferença e já temos
relevante para a História está cheio de fotografado, por engano, anúncios da
personagens secundárias e terciárias. Essas Remax! Com uma inovação: agora há uma
personagens, embora não marcando nada tendência para o “engraçadismo”, político;
de decisivo, traduzem o espírito do tempo. aqueles que já são pensados para aparecer
JOÃO RENDEIRO
ANA BRUN
BRUNO
UNOO
MICHEL CANALS
ÁLVARO SOBRINHO
51
51
DUARTE LIMA
12 AGOSTO 2021 VISÃO
P
Pouco mais de dez anos depois de ter
arrancado aquela que é considerada
uma das maiores investigações sobre
fraude fiscal e branqueamento de ca-
pitais em Portugal, da qual resultaram
muitos outros processos, a Operação
Monte Branco ainda não conhece
uma acusação. Apesar de, no início
deste ano, a Procuradoria-Geral da
República (PGR) ter pedido ao De-
partamento Central de Investigação
e Ação Penal (DCIAP) que finalizasse
este caso até às férias judiciais, a ver-
dade é que várias diligências ainda
Homeland
nd / Caso Duarte Lima
-GERAL DA REPÚBLICA
Tributária (RERT) ao qual aderiram volve o antigo ministro da Juventude
intervenientes processuais, o Minis- e Desporto de Guterres, Armando
ADMITE QUE
tério Público encontra-se a proceder à Vara, e cujo julgamento arrancou
conferência entre os valores pagos em no início de junho. Este processo
termos fiscais e os valores das opera-
ções financeiras detetadas no âmbito EQUIPA LIDERADA cruza-se com a Operação Marquês,
por estar em causa o alegado bran-
do inquérito”, assegurou, salientando
que “o designado Processo Monte POR ROSÁRIO queamento de capitais, oriundos das
contrapartidas obtidas por Vara ao
Branco deu origem a vários inquéri-
tos, alguns dos quais findos”, como, TEIXEIRA AINDA conseguir, enquanto administrador
da Caixa Geral de Depósitos (CGD),
por exemplo, o que envolveu Duarte
Lima, denominado Homeland, e
ESTÁ A REALIZAR que o banco público financiasse o
empreendimento Vale do Lobo. A la-
que acabou com a condenação do
ex-deputado do PSD a seis anos de
“DILIGÊNCIAS” E A vagem de cerca de um milhão de eu-
ros terá sido feita através do esquema
prisão efetiva. CONFERIR VALORES detetado no Monte Branco. E, nem há
SUSPEITOS NO CASO
dias, depois de a defesa de Ricardo peitas de burla, abuso de confiança
Salgado, um dos visados neste caso, e branqueamento de capitais, igual-
PROVAS NA
deram em nada, como foi o inquérito do que se sustentar uma acusação que
à venda da EDP Renováveis, em que o não seja devidamente alicerçada em
OPERAÇÃO MARQUÊS
primo de Ricardo Salgado, José Maria meios de prova e mais à frente venha
Ricciardi, chegou a ser arguido. a ser objeto de um despacho de não
A DIMENSÃO DOS
do Sindicato dos Magistrados do Mi- ser produzida dez anos depois do
nistério Público, o prazo estabelecido início da investigação e 15 anos após
INDÍCIOS RECOLHIDOS
“não se trata de uma decisão defini- os factos não faz sentido. Uma Jus-
tiva. Tem é de existir uma nova deci- tiça tardia não tem nada de justo; é
o próprio Código Penal que manda 2012, para branquear capitais, lesando
atender ao decurso do tempo, desde o Estado em cerca de duas centenas
a prática dos factos até ao julgamen- de milhões de euros em impostos. O
to, como critério da fixação da pena. dinheiro seria entregue por diversas
Esta é mais uma das aberrações do personalidades, entre elas Ricardo
modo de investigação que tem vindo Salgado, a Canas. Este último fazia
a ser seguido pelo DCIAP”, admite o chegar as quantias ao ex-banqueiro
causídico, que não deixa de apontar DESDE JUNHO DE 2011, Michel Canals, sócio da Akoya, uma
OPERAÇÃO MONTE
baterias a quem dirige tais proces- sociedade de gestão de fortunas se-
sos. “A reprodução e a duplicação de diada na Suíça, que as depositava
comportamentos não são censuradas
por nenhuma das entidades a quem BRANCO JÁ PERDEU em bancos de Genebra e de Zurique.
O dinheiro seguia para o BPN de
cumpre fiscalizar o funcionamento
da Justiça. Durar dez ou 15 anos pa- O PRINCIPAL ARGUIDO, Cabo Verde e daí chegava à casa mãe
do banco em Portugal. No final, os
rece ser irrelevante para os conselhos
superiores das magistraturas”, diz FRANCISCO CANAS, montantes eram transferidos para os
clientes de Canas em contas do BCP.
Saragoça da Matta.
QUE FALECEU EM 2017; Mas nem todos, como Duarte
Lima, passavam pela loja criada por
DA PEQUENA LOJA A CABO VERDE
A investigação à alegada atividade
DESENCADEOU VÁRIOS Canas em 1974. Na lista de clientes de
Canals estariam o antigo presidente
criminosa que tinha origem na loja PROCESSOS – COMO A do BES Angola, Álvaro Sobrinho, que
OPERAÇÃO MARQUÊS,
Montenegro, Chaves & C.ª, na Rua do terá usado aquela sociedade através da
Ouro, e se estendia à Suíça e a Cabo advogada Ana Bruno para investir no
DERAM EM NADA
por “Zé das Medalhas” e entretanto também nos últimos anos, para se li-
falecido, terá servido, entre 2006 e vrarem da Justiça. nropio@visao.pt
O senhor
planeta
Viajou pelos lugares mais recônditos da Terra
para recolher imagens e histórias do reino animal.
O mundo rendeu-se às cenas televisivas por si
narradas e, aos 95 anos, o icónico naturalista
continua ativo, hoje num tom de alerta em prol
da proteção da biodiversidade. A propósito de um
novo livro editado em Portugal sobre expedições
realizadas nos anos 50 e 60, traçamos o seu perfil
MARIANA CORREIA DE BARROS
1926
Nasce em Inglaterra,
um ano antes da
invenção da televisão
que o transformaria
numa lenda. Passa
a infância a recolher
pedras, fósseis e
pequenos animais
1950
Casa-se com a
namorada de sempre
e, dois anos depois,
entra para a BBC, onde
trabalha na produção de
programas, sobretudo
giná-la narrada na sua potente e melodiosa de não ficção
voz tem outro encanto.
O parágrafo em questão versa sobre uma 1954
das espécies de lémures com que o apresen- Parte na primeira
tador de televisão e o seu operador de câ- grande expedição
mara se cruzaram na ilha de Madagáscar, na zoológica para o
década de 60, e faz parte da segunda grande programa Zoo Quest,
expedição zoológica reunida em Viagens ao em que filma e captura
Outro Lado do Mundo – Mais Aventuras de espécies exóticas para
Um Jovem Naturalista, editado, este mês, o zoo de Londres
em português pela Temas e Debates. O livro
reúne três grandes viagens, da Nova Guiné 1979
Estreia da série Life
às Ilhas do Pacífico, de Madagáscar ao Terri-
on Earth, que viria a
tório do Norte da Austrália, num registo de
ser um momento de
grande reportagem e de relato observacional
transformação na
da existência das espécies autóctones desses
sua carreira. Com
lugares recônditos, bem como de busca pelos 13 episódios de 55
hábitos, ritos e vivências dos povos locais. minutos, deu origem
A obra é a continuação do volume, também a mais oito séries
publicado pela mesma editora em Portugal, documentais
em 2019, Aventuras de Um Jovem Naturalis-
ta, e são ambas reedições revistas dos diários 1985
com que Sir David Attenborough sempre se É ordenado cavaleiro
fez acompanhar nas suas missões, no caso pela rainha Isabel II e
para o programa Zoo Quest, o primeiro vê os seus programas
grande leque de viagens ao serviço da BBC. serem vendidos
Entre 1954 e 1964, numa produção conjunta para todo o mundo,
entre a estação de televisão britânica e o zoo tornando-se uma
de Londres, fez uma série de expedições com estrela de televisão
o propósito de filmar os animais e trazer o planetária
ALMA COLECIONADORA
David Frederik Attenborough nasceu em
Inglaterra, a 8 de maio de 1926, no mesmo
ano da rainha Isabel II, de quem é amigo
próximo. Filho do meio de uma família de
O livro três irmãos – Richard, o mais velho, foi ator
e realizador de cinema –, cresceu em Lei-
A obra Viagens ao
Outro Lado do Mundo
cester, nas imediações da University College,
– Aventuras de Um onde o pai desempenhava funções de reitor.
Jovem Naturalista Apaixonado pela Natureza desde miúdo,
reúne três grandes tem contado, em inúmeras entrevistas, que
expedições feitas as suas paixões incluíam manter tanques de
a territórios quase peixes tropicais, andar de bicicleta sozinho
virgens, num registo à procura de pedras e de fósseis e apanhar
de escrita de viagens pequenos insetos e anfíbios. Hoje, mantém-
e aventura e de relato -se uma alma colecionadora, mas sobretudo
jornalístico de artefactos tribais, de arte, livros e música.
ÍCONE GLOBAL
Em inúmeros outros programas que con-
tinuou a fazer ao longo dos anos, contribui
não só com a sua inconfundível voz como
também com a ajuda em edição, escrita dos
guiões – quando não são escritos por si, dá-
-lhes o seu cunho pessoal – e investigação,
tendo, devido à idade, reduzido o número de
viagens e de trabalhos.
Considerado um “tesouro nacional” e
uma das mais influentes figuras britânicas,
tornou-se, ao longo dos 70 anos de carreira,
um ícone global. Foi ordenado cavaleiro pela
rainha, em 1985, tem mais de 15 espécies ba-
tizadas com o seu nome, como a planta car-
nívora Nepenthes attenboroughii ou a aranha
caribenha Spintharus davidattenboroughi,
recebe em média 40 cartas por dia, muitas de
crianças, e nunca tirou a carta de condução.
Fez televisão a preto-e-branco, a cores, com
gravadores de fita e material técnico capaz de
ocupar as costas de 40 carregadores nas via-
gens entre aldeias, como relata em Viagens
ao Outro Lado do Mundo, mas adaptou-se
e soube tirar proveito das possibilidades das
novas tecnologias. Basta ver os últimos traba-
lhos em streaming, como a série Our Planet.
Nas últimas duas décadas, foi alvo de al-
guma controvérsia por se manter à parte do
tema das alterações climáticas. Em 2017, com
a estreia de Blue Planet II, sobre o tópico da
poluição dos mares, o discurso modificou-
-se, mas sempre na perspetiva de proteger
o mundo animal, admitindo que o aumento
A CARTA DE CONDUÇÃO
observado o mundo natural – e o seu declí-
nio – como ele. visao@visao.pt
DE UM
das emissões. Estas medidas vão ter
um impacto profundo na vida dos europeus.
Os combustíveis ficarão (ainda) mais caros?
E as viagens de avião? Os novos impostos
sobre os transportes marítimos farão
MUNDO
aumentar o preço dos produtos importados?
E há compensações para quem
tem menores rendimentos?
Tudo o que precisa de saber
sobre as taxas verdes que aí
MELHOR
vêm. O custo da transição
é alto, mas o de não fazer
nada é mais alto ainda,
conclui o relatório do IPCC
publicado esta semana
LUÍS RIBEIRO
C
do Painel Intergovernamental para as
Alterações Climáticas (IPCC) publica-
do esta semana mostra que a inação
resultaria num aumento de tempe-
ratura potencialmente catastrófico. O
documento de 42 páginas conclui, por
exemplo, que a atmosfera já está hoje
1,09 ºC acima da média da segunda
metade do século XIX e que as ondas
de calor extremas são mais frequentes
e intensas por causa disso. E uma su-
bida de 1,5 ºC (o limite ideal do Acordo
de Paris) será quase certamente atin-
gida até 2040. Vamos falhar as metas,
sim, mas sem medidas de redução de
emissões, como o pacote Fit for 55, o
futuro será ainda mais sombrio.
A GASOLINA E O GASÓLEO
VÃO CONTINUAR
A AUMENTAR?
De um modo geral, na União Europeia
(UE), sim. Entre as medidas mais im-
portantes do Fit for 55 está a inclusão
dos setores do transporte rodoviário e
Chama-se “Fit for 55” (aptos para 55), dos edifícios num mercado autónomo
numa referência ao corte de 55% das de licenças de emissão, semelhante ao
emissões de gases com efeito de estufa, que já existe para a aviação e para as
até ao fim desta década, face a 1990, e indústrias mais intensivas em emissões
promete ser uma revolução ambiental de dióxido de carbono (CO2) e outros
sem precedentes. A base da estratégia, gases com efeito de estufa. Isto signifi-
apresentada em julho, é simples: taxar ca que os produtores ou distribuidores
produtos e serviços com altas emis- de combustível terão de comprar no
sões, para acelerar a descarbonização, mercado licenças de emissão corres-
no caminho para a neutralidade car- pondentes aos gases produzidos.
bónica, apontada a 2050. As contas são fáceis de fazer. A
A forma de cumprir o plano, no en- queima de um litro de gasolina emite
tanto, é complexa. Implica aumentar a 2,4 quilos de CO2. Tendo como refe-
produção de eletricidade no bloco eu- rência o preço atual da tonelada de car-
ropeu para 40% (hoje, ronda os 20%), bono no mercado europeu de emissões
implementar impostos transfronteiri- (cerca de €50), 50 litros de gasolina
ços em produtos como aço, cimento e custariam mais €6 do que hoje. Mas
O MAIS RECENTE
fertilizantes, criar um novo mercado de o preço do carbono tem subido muito,
carbono para os combustíveis fósseis tendência que deverá manter-se e até
RELATÓRIO
usados nos transportes rodoviários e acelerar. Prevê-se que atinja os €100
na climatização dos edifícios, e impor por tonelada daqui a poucos anos, o
novas “taxas verdes” no transporte
marítimo e aéreo. Pelo caminho, fica
que (pressupondo um paralelismo
neste novo mercado dos combustí- DO IPCC MOSTRA
sentenciada a morte dos veículos com
motor de combustão, sendo na prática
veis) elevaria o acréscimo de preço na
gasolina para €12 por cada 50 litros. QUE A INAÇÃO NÃO
proibida a sua venda a partir de 2035.
Sim, nos próximos anos, a vida
Qual o preço da medida ao final do
ano? Uma análise do Instituto Eco- É ALTERNATIVA.
vai encarecer e, numa primeira fase,
corre-se o risco de serem os mais
nómico Polaco estima um aumento
médio anual nos custos com transporte
SE NÃO REDUZIRMOS
desfavorecidos a pagar a fatura. Mas
a ideia é que seja atingido um equilí-
de €373 para uma família europeia. EMISSÕES,
brio e que, a longo prazo, o impacto MAS OS PREÇOS JÁ SÃO
INCOMPORTÁVEIS
OS EFEITOS SOBRE
O CLIMA SERÃO
seja neutro. As receitas decorrentes
destes impostos podem também ser EM PORTUGAL. COMO
IRREVERSÍVEIS
uma arma contra a desigualdade – se PODEM SUBIR MAIS?
forem bem aplicadas. “Portugal já aplica uma taxa de car-
A transição será dolorosa para mui- bono nos combustíveis rodoviários”,
tos, mas não há alternativa. O relatório lembra Francisco Ferreira, presidente
OS IMPOSTOS SOBRE
OS COMBUSTÍVEIS SÃO
UMA IMPORTANTE FONTE
DE RECEITA DO ESTADO.
GETTY IMAGES
TRANSIÇÃO
igual”, diz o professor de Ambiente políticas climáticas no organismo,
Tiago Domingos. durante a apresentação do Fit for
ENERGÉTICA
Mas esse imposto não pode ser 55. “Também vamos pedir muito às
cego, avisa. “Teria de se avançar com nossas indústrias, mas é por uma boa
tarifas na fronteira, tendo em conta causa. É para dar à Humanidade uma
que um quilo de carne de fora da UE hipótese de lutar.” visao@visao.pt
M
LUÍS RIBEIRO
uita gente lava o frango para causar problemas, sublinha Paula o mesmo saleiro para temperar a salada,
antes de o cozinhar por Teixeira: “A dose para provocar uma tudo com as mãos. Mas este não é um
motivos de higiene. Não doença é muito baixa. Basta meia dú- costume generalizado na Europa. “Na
deixa de ser irónico que zia de células.” Noruega e em Inglaterra, não é assim.
essa “medida higiénica” O estudo seguinte, já com vários Têm um saleiro para a salada. Da pri-
seja uma das principais países europeus, revelaria um hábito meira vez que submetemos o estudo,
causas de contaminação ainda mais arriscado. nem queriam aceitar. Os revisores, que
da cozinha – o frango é eram ingleses, achavam que ninguém
a maior fonte da bacté- DO FRANGO PARA A SALADA fazia isso. Mas depois perceberam
ria Campylobacter spp., Apesar de ser perigosa, sobretudo que as pessoas faziam-no mesmo em
o agente que provoca mais casos de para os mais velhos, crianças e grá- Portugal, na Roménia, na Bulgária e na
intoxicação alimentar na Europa, e vidas, a Campylobacter morre fa- Hungria...”, recorda Paula Teixeira, que
lavá-lo só vai ajudar a espalhar os mi- cilmente na carne cozinhada (breves participou também nesta investigação.
cróbios. É por isso que uma das regras momentos a 70 ºC são suficientes). O Aparentemente, este descuido de-
de ouro é precisamente não passar o problema é quando se transmite para corre da crença de que o sal desinfeta.
frango por água antes de o preparar. alimentos que são comidos crus. E “Achamos que o sal mata tudo”, diz a
“Quando perguntávamos às pes- a probabilidade de isso acontecer é investigadora portuguesa. “Só que não
soas porque estavam a lavar o fran- grande, a julgar pelos resultados de havia nada publicado sobre contami-
go, elas nem percebiam a pergunta”, outro estudo (este em vários países nação no sal. O micróbio podia até cair
recorda Paula Teixeira, investigadora europeus, incluindo Portugal), publi- e morrer. Mas também lá podia ficar
do Centro de Biotecnologia e Química cado em maio na revista PLOS ONE. umas horas. Não sabíamos.”
Fina, da Universidade Católica Portu- Neste caso, foi analisada a conta- O primeiro passo foi contaminar
guesa, no Porto, e autora de dois es- minação de alface a partir de bactérias 30 amostras de frango com a bac-
tudos sobre contaminação ambiental no frango, através do sal – muita gente téria e temperá-las com sal, com as
nas cozinhas domésticas. tempera o frango e, logo de seguida, usa mãos. De seguida, as mesmas mãos
Um dos estudos, publicado em ja- temperaram outras 30 amostras de
neiro na revista científica International alface, a partir do mesmo saleiro.
Journal of Food Microbiology, acompa- Resultado: em 30 amostras de sal, 21
nhou 18 casos portugueses e redundou ficaram contaminadas (70%); em 30
num manual de más maneiras: 13 (72%) amostras de alface, 11 testaram posi-
não lavaram as mãos antes de começa- tivo à bactéria (37%).
rem a tratar da carne; 12 (67%) lavaram Mas talvez o problema ficasse re-
o frango previamente, debaixo de uma solvido se a salada não fosse tempera-
torneira aberta (num inquérito anterior da imediatamente a seguir ao frango.
a 609 portugueses, concluiu-se que Os cientistas fizeram, então, testes
este é um hábito de mais de metade das em laboratório para perceber quanto
pessoas); e houve até um caso de alguém tempo a bactéria sobrevive no sal. Ao
que arrumava a loiça lavada enquanto fim de quatro horas, ainda estava ativa.
preparava a carne com as mãos. Nas conclusões de ambos os es-
GETTY IMAGES
P
LUÍS RIBEIRO
ESPERAVA-SE
que aquele modelo económico é CSD, com responsabilidades na agen-
um grande responsável pelo que da florestal, permitiram-me perceber
hoje vivemos. Confesso que estou
ansioso para ver os resultados, UM RETROCESSO que essa é uma constante mundial,
mas temos em Portugal característi-
porque é uma primeira fotogra-
fia. Não me parece que possamos EM RELAÇÃO cas diferenciadas. Se no nosso país a
opinião pública está contra as mono-
sair muito do que é o comporta-
mento normal, mas estou com ÀS PREOCUPAÇÕES culturas de eucalipto, na Austrália está
contra as monoculturas de pinheiro-
alguma curiosidade.
Durante muito tempo,
AMBIENTAIS DAS -bravo; no Brasil, contra as de teca.
É a questão das espécies importadas.
imperou o greenwashing.
Parece-lhe que hoje as
EMPRESAS, COM Este tipo de discussão é assim nas
florestas, mas ninguém questiona
empresas estão mais A CRISE DA COVID-19, se devemos ter batatas na Europa,
ACONTECEU
As questões da transparência globalizaram-se. Aqui o problema
das empresas passaram a ser continua a ser a tal dissociação. E há
auditadas, seja por processos uma série de mitos urbanos quanto
formais seja por processos in- aos efeitos negativos. lribeiro@visao.pt
FOCAR
A “gripezinha”
“Uma mentira
pode correr meio
à portuguesa
mundo antes que
a verdade consiga
calçar as botas”
James Callaghan
Estadista britânico
(1912-2005)
A
negacionistas
FOTOS: GETTYIMAGES
Jair Bolsonaro rejeitaram máscara, dos “Médicos pela Verdade” – ou a falta
distanciamento social e vacina, ao de distanciamento social nas ações da
mesmo tempo que alimentaram di- sua campanha presidencial. Na altura,
versas teorias da conspiração sobre Ventura encerrou a questão ao afirmar
a origem do vírus, curas alternativas que o Chega “defende a saúde pública”.
ou, simplesmente, para divergirem E, com ironia, desvalorizou o facto de
das respostas à doença dadas pela muitos dos seus apoiantes ignorarem
esmagadora maioria dos governos. o uso de máscaras. A retórica, porém,
Ainda na última manifestação do não lhe permitiu escapar à acusação
Chega, no Porto, o político português pelo Ministério Público de um crime de
insistiu em adjetivar como “ditadu- desobediência simples, na sequência da
ra sanitária” as medidas adotadas realização de um jantar-comício, a 17 de
pelo Governo de António Costa para janeiro, quando ainda vigorava o estado
travar o vírus – um termo recorren- de emergência no País.
temente utilizado por quem, no con-
texto pandémico, se assume como O PESO DOS CONSERVADORES
antissistema. Para memória futura, “As ideias influenciam o curso da Histó-
fica o exemplo prático da união entre
ria, não porque sejam verdadeiras mas
extrema-direita e negacionistas,
porque são acreditadas. Uma afirmação
quando, em janeiro passado, uma
turba em fúria invadiu o Capitólio,
que aponta para a circunstância de os
em Washington, provocando cinco homens serem movidos por aquilo em
mortos. Na ação, destacou-se o que acreditam, sem questionarem se tal
movimento QAnon, que defende corresponde à verdade.” A frase, retirada
Trump como o salvador do mundo, do livro Populismo e Democracia, de
num combate secreto contra uma José Filipe Pinto, sintetiza o fenómeno
organização global de pedófilos negacionista atual. À VISÃO, o autor
e canibais liderada por democra- acrescenta que é através das linhas ideo-
tas, celebridades de Hollywood, o lógicas assumidas pelos conservadores
milionário George Soros ou Angela cristãos, nacionalistas e identitários que
Merkel, entre outros. se tem feito uma ligação destes movi-
mentos à extrema-direita. Em comum,
estes grupos assumem uma “contestação
à globalização, que acreditam ser con-
trolada por uma elite mundial que tem
como objetivo acabar com o que foram
os bastiões das sociedades de modelo
ANDRÉ VENTURA
ocidental”. “Na prática, falamos de pes- NÃO SE VACINOU.
EXTREMA-DIREITA
soas que consideram que as sociedades
europeias só existem se tiverem corres-
pondência com aquilo que vem escrito
na Bíblia, e que respeita os princípios E NEGACIONISTAS
tradicionalistas da religião, da pátria
e da família”, explica José Filipe Pinto.
UNEM-SE NAS TEORIAS
O especialista em populismos ga-
rante que estes movimentos “têm
DE CONSPIRAÇÃO
décadas”, embora só agora, com a ANTISSISTEMA
EUROPA
47%
ÁFRICA 3%
ÁSIA OCEÂNIA 6%
24% AMÉRICAS
20%
Medalhas da liberdade
Em Portugal, os números não enganam: os nossos atletas ganharam seis medalhas
em ditadura e 21 em democracia – em períodos de tempo quase iguais
1912 1920 1924 1928 1932 1936 1948 1952 1956 1960 1964 1968 1972 1974 1976
ESTOCOLMO ANTUÉRPIA PARIS AMESTERDÃO LOS ANGELES BERLIM LONDRES HELSÍNQUIA MELBOURNE ROMA TÓQUIO MÉXICO MUNIQUE 25 DE ABRIL MONTREAL
1980 1984 1988 1992 1996 2000 2004 2008 2012 2016 2021
MOSCOVO LOS ANGELES SEUL BARCELONA ATLANTA SYDNEY ATENAS PEQUIM LONDRES RIO DE TÓQUIO
JANEIRO
T
FILIPE FIALHO
1935 1938
A longa marcha da
Penguin
A CUMPRIR 85 ANOS DE IDADE, A EDITORA
BRITÂNICA COM CATÁLOGO DE MILHARES DE
TÍTULOS UNIU PERGAMINHOS E REBELDIA.
E HÁ MAIS RAZÕES PARA CELEBRAR: A 24
DE AGOSTO, É FINALMENTE LANÇADA EM
PORTUGAL A ICÓNICA COLEÇÃO PENGUIN
CLÁSSICOS, COM SETE LIVROS QUE INCLUEM
AUTORES NACIONAIS. CONHEÇA AS HISTÓRIAS
DESTA AVE RARA
S Í LV I A S O U TO C U N H A
Teoria da evolução
O logótipo do pinguim
foi desenhado por
Edward Young em 1935,
estilizado pelo tipógrafo
Jan Tschichold em 1949
e reinventado pela agência
1942 1944 1946 1947 1948 1949 2003 Pentagram em 2003
EUA
Finalmente em português
A coleção Penguin Clássicos é lançada em Portugal a 24 de agosto, com ambições, autores nacionais e um inédito brasileiro
Q
uantos mais definição de “clássico” evoluiu Penguin até 1960 (ao ser des- não é uma exaltação à toa do
clássicos de e expandiu-se para abarcar tronado por O Amante de Lady passado, antes uma escolha
literatura do novas linguagens, formatos e Chatterley, de D.H. Lawrence). criteriosa do que nele é rele-
mundo poderão públicos”, já sublinhara Henry É essa coleção icónica que vante para nós, Humanidade,
existir?”, preocu- Eliot, atual responsável da agora chega a Portugal, com hoje.” E cujos valores, diz, pro-
pava-se o diretor coleção no livro The Penguin sete volumes em novas tradu- varam a sua força durante a
editorial da Penguin, William Classics Book (2018). Algo que ções. “Esta coleção nasce de pandemia que fechou livrarias.
Emrys Williams, nos anos ecoa a crença do primeiro di- uma ideia revolucionária – a da Na estreia da Penguin Clássi-
1950, depois de lançar os pri- retor, Emile Victor Rieu: “Estes democratização da leitura e o cos, há três clássicos de língua
meiros 60 volumes da coleção textos ajudam-nos a apreciar acesso às obras universais que portuguesa: Os Maias de Eça
Penguin Classics. Não havia e a compreender as diferenças compõem o cânone, derruban- de Queirós (com prefácio
motivos para angústia: 75 essenciais que nos dividem, do a ideia de que os grandes de Carlos Reis); O Livro de
anos passados da sua criação assim como as verdades livros estão reservados a uma Cesário Verde (prefaciado por
(dez anos depois da fundação universais que nos vinculam elite intelectual”, recorda Paula Morão); e o inédito Triste
da Penguin Books), a Penguin uns aos outros (…). O seu valor Eurídice Gomes, a editora da Fim de Policarpo Quaresma de
Classics é uma biblioteca de é incalculável, e a sua perda Penguin Clássicos. Evocando Lima Barreto (com introdução
Babel com milhares de títulos ou destruição diminuir-nos-ia Italo Calvino – “Um clássico de Lilia Schwarcz e prefácio de
abrangendo quatro mil anos a todos.” Ele viu a sua tradu- é um livro que nunca esgota Clara Rowland). Este romance
de literatura universal desde a ção da Odisseia de Homero tudo o que tem a dizer aos brasileiro, protagonizado por
Antiguidade até à atualidade, inaugurar a coleção, em 1946, seus leitores” –, a responsável um nacionalista, crítico das
de Gilgamesh a Orwell. “A tornando-se o best-seller da afirma à VISÃO: “Esta coleção clivagens sociais entre elites
JOSÉ CARIA
O
IndieLisboa está de Bairrão Ruivo, atual diretora do museu. elementos, ao conter já muito do
regresso à capital, Comecei a trabalhar no projeto e logo que Vieira queria que fosse relatado
já a partir do próxi- me apercebi do quão interessante era cinematograficamente sobre o seu
mo sábado, dia 21, aí a correspondência que restava. Vieira casamento.
ficando até 6 de se- e Arpad construíram muito bem a O filme abre caminho na
tembro. Com a pro- posterioridade, as cartas davam-nos intimidade do casal de artistas
gramação eclética do uma série de pistas para construirmos através dessas cartas?
costume, ainda que todo o universo da vida deles. Vieira e Arpad marcaram muito bem
afetado pelos efeitos da pandemia no Como foi o processo de criação e o que queriam que fosse público e
que respeita ao número de obras por- realização do filme? o que não fosse. Aliás, existem até
tuguesas apresentadas, assumiram os Toda a história de Vieira e de Arpad cartas que não são públicas e que
responsáveis, o Festival Internacional é contada através das cartas, dos saem um pouco da linearidade das que
de Cinema vai apresentar o documen- depoimentos de investigadores em são narradas no filme. E é aqui que
tário de João Mário Grilo dedicado ao pintura e também de trechos do filme surge a questão da responsabilidade:
casal de pintores Maria Helena Vieira Ma Femme Chamada Bicho (1978), “De que forma posso criar esta
da Silva e Arpad Szenes. A conversa de José Álvaro Morais. O processo homenagem exatamente da forma que
com o realizador português explorou a foi bastante complexo mas também eles gostariam que fosse feita?”. Por
pintura, os processos de criação e, claro, muito desafiante. Na minha ótica, o isso mesmo escolhi fazer o arranque
a pandemia. filme já estava feito: Vieira e Arpad da obra na sepultura de ambos. Além
Porquê um filme sobre Vieira da prepararam-no meticulosamente ao de ser a única imagem que consigo
Silva e Arpad Szenes agora? longo dos anos. A dificuldade esteve deles, hoje, esta é a representação do
O filme resultou de um desafio que em juntar todas as peças. Para tal, foi que é o filme – um levantar da tampa
me foi lançado pela Fundação Arpad indispensável o trabalho do Comité na vida deles, que foi marcada por
Szenes-Vieira da Silva: queriam que Arpad Szenes-Vieira da Silva em um casamento que lhes parecia ser
eu pensasse numa obra sobre as cartas Paris, que organizou o material, e o intrínseco. A maior obra de Vieira e de
trocadas pelo casal, na sequência da filme do José Álvaro, que se tornou Arpad foi o amor que os uniu durante
exposição comissariada por Marina a peça-chave para ligar todos os 55 anos, não foi nenhum quadro ou
a última vez que nos licenciamento em Portugal para qualquer male pupae, Gryllodes sigillatus, Locus-
D
víramos, estávamos que fosse a atividade associada a insetos ta migratória, Schistocerca, gregaria e
numa garagem em Ma- na comida. Há um ano, Guilherme deixou Tenebrio mollitor), ainda não está legis-
tosinhos, rodeados de essa “brincadeira”, que o ocupava bastante lada a produção nem a comercialização
caixas de bichos-da- desde 2016, depois de ter acabado o curso de nenhuma destas espécies de grilo, de
-farinha e não havia de Engenharia Alimentar e apreendido o besouro, de larvas e de gafanhotos. “Falta
máscaras a taparem- conselho da FAO, quando essa organiza- criar mecanismos legais para regularizar as
-nos o rosto. Dois anos ção das Nações Unidas para a alimentação fábricas”, explica Guilherme, acreditando
depois, encontramo-nos com Guilherme recomendou os insetos como a alternativa que isso acontecerá no início de 2022.
Pereira, 28 anos, da empresa Portugal Bugs, mais conveniente à produção e ao consumo Porém, podem vender-se produtos
em frente a uma prateleira de supermerca- massificado de gado. derivados deles, desde que se importe a
do, admirando os seus produtos com base Como até hoje não conseguiu comercia- matéria-prima. A Portugal Bugs fá-lo e,
em insetos, acabados de chegar às mãos lizar nem um bicho por si produzido, por por enquanto, é a única empresa a pro-
dos portugueses. A caminhada até aqui foi não haver suporte legal para isso, embora duzir este tipo de artigo alimentício. Mas
dura, e especialmente morosa, mas contou fabricasse dezenas de quilos por mês, vi- há sete empresas a integrar a associação
sempre com o apoio da namorada e colega rou-se então para a transformação. Portugal Insect, que existe desde 2018 para
de curso, Sara Martins. Neste momento, e apesar de Portugal defender os interesses destes visionários
Quando o conhecemos, fazia produ- ter aprovado para consumo humano sete que entraram em ação antes que a lei lhes
ção de Tenebrio mollitor, sem que isso espécies de insetos (Acheta domesticus, permitisse tirar algum proveito disso. No
o levasse a lado nenhum, pois não havia Alphitobius diaperinus, Apis mellifera entanto, na Europa, há mais de dois anos
As algas também
alimentares, pois já há dois mil milhões de
pessoas a consumi-los no mundo. No en-
DE PROTEÍNA. MAS
aí na Natureza), pois os bichos necessitam dem chegar aos nossos pratos, os bichos
de pouca água e ainda de menos alimento nem se notam. A farinha é a sua redução
para se desenvolverem. No entanto, por
serem ainda raros na Europa, são um bem TAMBÉM SÃO RICOS e é adicionada a receitas tradicionais; nas
barrinhas, como têm tantos outros ingre-
bastante caro.
Desde que profissionalizou a transfor-
EM ÁCIDOS GORDOS dientes, ninguém dá pelo sabor dos Tene-
brio; os snacks, esses sim, são o bicho em
mação, a Portugal Bugs já fabricou mais de
20 mil destes produtos, que envia também
ESSENCIAIS, FIBRAS estado puro, desidratado, bem crocante. E
saboroso, perfeito para um final de tarde de
para países tão diversos como República E VITAMINAS verão, junto a uma imperial. loliveira@visao.pt
P O R M I G U E L A R A Ú J O / Músico
H
O alçapão á coisas que desaparecem sem deixar
rasto. Uma das luvas do par, as moedas
castanhas, os guarda-chuvas, os