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Teoria Geral do Direito Civil

I
Licenciatura: Solicitadoria

ISCAL – Prof.ª Ana Paula Sequeira


A utilização deste ficheiro destina-se exclusivamente
aos alunos da UC e não dispensa o estudo de outros
manuais. É proibida a sua publicação ou difusão por
meios não autorizados pela docente.
II. Teoria Geral da Relação Jurídica:

1. Conceito e estrutura da Relação Jurídica:

Relação jurídica é a relação da vida social regulada pelo Direito,


contrapondo direito subjetivo de uma pessoa a dever jurídico ou sujeição
de outra pessoa.
Por exemplo, no contrato de arrendamento o inquilino tem o direito de
uso do imóvel arrendado e o senhorio o dever de facultar tal uso.
Teoria Geral da Relação Jurídica

• O direito subjetivo depende da vontade do seu titular, da sua


atuação e da soberania do seu querer.
• O direito subjetivo como poder jurídico que demonstra o
interesse do sujeito.
• O direito potestativo é um poder.
• Os direitos potestativos e o estado de sujeição dos outros sujeitos
(contraparte) podem ser:
1. Direitos potestativos constitutivos;
2. Direitos potestativos modificativos; ou
3. Direitos potestativos extintivos.
Teoria Geral da Relação Jurídica

• O instituto jurídico é o conjunto de normas legais que


estabelecem a disciplina de uma série de relações jurídicas em
sentido abstrato. Por exemplo, o instituto da compra e venda, o
instituto da adoção, o instituto da posse.

• É a «Relação da vida social disciplinada pelo Direito,


mediante atribuição a uma pessoa (em sentido jurídico) de
um direito subjetivo e a imposição a outra pessoa –
contraparte na relação – de um dever jurídico ou de uma
sujeição».
Teoria Geral da Relação Jurídica

A relação jurídica existe entre sujeitos, incide sobre um objeto,


emerge de um facto jurídico, e a relação jurídica está dotada de
garantia.

A relação jurídica é composta por quatro elementos que


compõem a sua estrutura:

a) sujeitos - os sujeitos são as pessoas (singulares ou coletivas), entre


as quais existe um vínculo, digno de proteção jurídica;
Teoria Geral da Relação Jurídica

b) objeto - é o que dá origem à relação jurídica, ou seja, o nexo formado


pelo direito subjetivo por um lado, e pela vinculação por outro dos sujeitos
envolvidos na dita relação jurídica. Corresponde à realidade sobre que
recai o poder do sujeito ativo, realidade essa que pode ser uma coisa, uma
prestação, uma pessoa ou mesmo um direito;

c) facto jurídico - todo o facto humano ou evento natural produtor de


efeitos jurídicos;
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d) garantia - é o conjunto de providências coercivas postas à disposição do


titular do direito. A garantia só entra em ação após o impulso do titular do
direito subjetivo violado ou ameaçado, e destina-se, em princípio, à
indemnização de danos patrimoniais ou não patrimoniais causados pelo
incumprimento de uma obrigação.

Direito subjetivo e direito potestativo:


O direito subjetivo é o direito, o poder, a faculdade tutelada
juridicamente, de uma pessoa exigir ou pretender de outra um
comportamento positivo (ação) ou negativo (omissão, não fazer,
abstenção), ou de produzir determinados efeitos jurídicos que
inevitavelmente afetam outras pessoas (contraparte).
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Face a esta definição, não são direitos subjetivos os chamados


poderes-deveres, ou poderes funcionais, ou seja, os poderes que
não podem ser ou não livremente exercidos pelo titular. Como
exemplo, os poderes integrados no poder paternal ou na
tutela, que não podem ser exercidos como o titular pretenda, mas
apenas nos termos exigidos pela função do direito, sob pena de
violação de uma obrigação com as inerentes sanções.

Também não são direitos subjetivos os poderes jurídicos stricto


sensu ou faculdades, como sejam a faculdade de contratar ou de
ocupar uma terra.
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São direitos subjetivos:


✓ Os direitos de crédito (direitos relativos)
✓ Os direitos reais (propriedade e figuras afins) (direitos absolutos)
✓ Os direitos de personalidade (direitos absolutos)
✓ Os direitos de família

O Dever Jurídico é o «Dever juridicamente imposto à contraparte sujeito


passivo na RJ de realizar o comportamento – ativo (fazer) ou passivo
(abster-se de fazer) – a que tem direito o titular ativo da RJ.»
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Os direitos potestativos são poderes jurídicos de, por um ato


livre de vontade, só por si ou de acordo com uma decisão judicial,
produzir efeitos jurídicos que se impõem à outra parte.

Enquanto nos direitos subjetivos o titular tinha direito a uma


prestação de outra pessoa, nos direitos potestativos a outra
pessoa apenas se sujeita, independentemente da sua vontade,
à produção de efeitos jurídicos na sua esfera jurídica, apenas como
resultado da vontade do titular.
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Os direitos potestativos podem ser constitutivos, modificativos ou


extintivos.

Os direitos potestativos constitutivos produzem a constituição de uma


nova relação jurídica.

Por exemplo, na constituição de uma servidão de passagem a favor de


prédio encravado a qual é constituída apenas por ação do dono do prédio
beneficiário (ou dominante), independentemente da vontade do dono do
prédio serviente.
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Os direitos potestativos modificativos produzem a modificação de uma


relação jurídica já existente (sempre, mais uma vez, independentemente da
vontade da contraparte).
Por exemplo, a separação judicial de pessoas e bens; cessão da posição de
arrendatário no trespasse de estabelecimento comercial; etc.

Os direitos potestativos extintivos são os que produzem a extinção de


uma relação jurídica existente (de novo, independentemente da vontade da
contraparte). Por exemplo, o Direito de obter divórcio; a denúncia e
revogação de um contrato.
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A) OS SUJEITOS:

1. Personalidade e capacidade jurídica:


• Os sujeitos de direito são os entes que podem ser titulares de direitos e
obrigações, ou seja, de serem titulares de relações jurídicas.
• Sujeitos de relações jurídicas tanto podem ser as pessoas singulares
como as pessoas coletivas.

• As pessoas singulares são os seres humanos (as pessoas físicas).


• As pessoas singulares têm personalidade jurídica.
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O Regime da Personalidade Jurídica


• Diz-se sujeito de direito todo aquele que pode ser sujeito passivo ou
ativo de uma relação jurídica.
• A personalidade jurídica consiste na aptidão para desempenhar o
papel de destinatário de direitos e deveres, de ser o seu centro de
imputação.

A Personalidade e capacidade jurídica são conceitos próximos.


• A capacidade jurídica pode ser de gozo ou de exercício.
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• As incapacidades (menoridade ou maior acompanhado) são de


exercício, não de gozo
• • As incapacidades de gozo não são relativas à menoridade ou
acompanhamento.

Pessoas físicas VS pessoas jurídicas


• A sua capacidade de gozo e exercício é diversa;
• Em geral, as pessoas físicas têm capacidade de gozo plena dos seus
direitos (exceto quando o contrário resultar da lei), não podendo
prescindir desta, já a capacidade de gozo das pessoas jurídicas depende
dos seus estatutos.
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Artigo 160.º
(Capacidade)

1. A capacidade das pessoas coletivas abrange todos os direitos e


obrigações necessários ou convenientes à prossecução dos seus
fins.
2. Excetuam-se os direitos e obrigações vedados por lei ou que
sejam inseparáveis da personalidade singular.
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Pessoas físicas (ou singulares)


A Aquisição da Personalidade
Artigo 66.º
(Começo da personalidade)
1. A personalidade adquire-se no momento do nascimento
completo e com vida.
2. Os direitos que a lei reconhece aos nascituros dependem do seu
nascimento.
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A personalidade jurídica adquire-se no momento do nascimento


completo e com vida (art. 66º, n.º 1, do C. Civil) e só cessa com a morte
(arts. 68 º, n.º 1, C. Civil).

A personalidade jurídica consiste na possibilidade de ser titular de


relações jurídicas.

A capacidade jurídica (também chamada de capacidade de exercício de


direitos) consiste na possibilidade de atuar juridicamente, quer exercendo
direitos, quer assumindo e cumprindo deveres.
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A pessoa dotada de capacidade jurídica atua no exercício dos direitos (ou


cumprimento de deveres) pessoalmente, não precisando de ter
representante legal, e atua autonomamente, ou seja, sem precisar de
autorização de outra pessoa.

A capacidade jurídica para as pessoas singulares surge com a maioridade


ou a emancipação. A maioridade alcança-se aos dezoito anos, e a
emancipação através do casamento se este ocorrer antes de o nubente
atingir tal idade.
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As pessoas coletivas são organizações constituídas por uma coletividade


de pessoas ou por uma massa de bens, dirigida à realização de interesses
comuns ou coletivos, às quais a ordem jurídica atribui personalidade
jurídica.

Pessoa coletiva é um organismo social destinado a um fim lícito a que o


Direito atribui a possibilidade de ser titular de direitos e de vinculações, ou
seja, a possibilidade de ser sujeito de relações jurídicas.
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As Incapacidades Jurídicas:
A capacidade jurídica consiste na possibilidade de atuar juridicamente,
quer exercendo direitos, quer assumindo e cumprindo deveres, por ato
próprio.

• Capacidade de exercícios de direitos,


• Capacidade de cumprir obrigações,
• Capacidade para adquirir direitos, ou
• Capacidade para assumir obrigações.
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A incapacidade jurídica divide-se em duas vertentes:


- a incapacidade de exercício e a incapacidade de gozo.

Por incapacidade de exercício entende-se alguém que não tenha aptidão


para exercer um determinado direito de que é titular, porém pode exercê-
lo se for em conjunto com uma pessoa capaz.

Da incapacidade de exercício resulta a condição jurídica dos menores e do


regime jurídico do maior acompanhado.
Teoria Geral da Relação Jurídica:

• Por outro lado, a incapacidade de gozo é insuprível, isto é, o


incapaz não pode efetuar negócios ou determinadas relações e nem
mesmo outra pessoa pode servir como representante.

• Um exemplo desta é “ a incapacidade de perfilhar dos menores de 16


anos, dos interditos por anomalia psíquica e dos notoriamente
dementes (art. 1850.º CC).”
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1. Os Menores:
• Incapacidade genérica de exercício (123.º) com exceções (artigo 127.º).

• Casos pontuais de incapacidade de gozo (exemplos, para casar, com


menos de 16 anos, 1601º, a) CC; para perfilhar, também com menos de 16
anos, artigo 1850.º, n.º 1 do CC; para testar, se não estiverem
emancipados, artigo 2189.º, a)) do CC.

– Suprida por representação, através do exercício das responsabilidades


parentais, subsidiariamente da tutela (artigo 124.º);
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– Os atos praticados por menores, no âmbito da sua incapacidade, são


anuláveis.
O artigo 125.º do Código Civil regula as condições da anulabilidade
e da confirmação dos atos dos menores.

Como podemos distinguir a Nulidade da anulabilidade?


A invalidade não se refere a quaisquer factos, mas apenas a atos jurídicos
– negócios jurídicos (contratos e negócios jurídicos unilaterais, como
a procuração e o testamento).
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• A invalidade pode resultar de ilicitude no seu modo de formação ou


de contrariedade do seu conteúdo com o sistema jurídico. Mas a
invalidade reporta-se sempre ao ato, que, sendo nulo ou anulado, não
produz os seus efeitos típicos.

Artigo 126.º
(Dolo do menor)
Não tem o direito de invocar a anulabilidade o menor que para praticar o
acto tenha usado de dolo com o fim de se fazer passar por maior ou
emancipado.
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• Artigo 127.º
• (Excepções à incapacidade dos menores)
1. São excepcionalmente válidos, além de outros previstos na lei:
a)Os actos de administração ou disposição de bens que o maior de
dezasseis anos haja adquirido por seu trabalho;
b) Os negócios jurídicos próprios da vida corrente do menor que, estando
ao alcance da sua capacidade natural, só impliquem despesas, ou
disposições de bens, de pequena importância;
c) Os negócios jurídicos relativos à profissão, arte ou ofício que o menor
tenha sido autorizado a exercer, ou os praticados no exercício dessa
profissão, arte ou ofício.
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2. Pelos actos relativos à profissão, arte ou ofício do menor e pelos actos


praticados no exercício dessa profissão, arte ou ofício só respondem os
bens de que o menor tiver a livre disposição.

Artigo 128.º
(Dever de obediência)
Em tudo quanto não seja ilícito ou imoral, devem os menores não
emancipados obedecer a seus pais ou tutor e cumprir os seus preceitos.
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Artigo 129.º
(Termo da incapacidade dos menores)
A incapacidade dos menores termina quando eles atingem a maioridade ou são
emancipados, salvas as restrições da lei.

Artigo 130.º
(Efeitos da maioridade)
Aquele que perfizer dezoito anos de idade adquire plena capacidade de
exercício de direitos, ficando habilitado a reger a sua pessoa e a dispor dos seus
bens.
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Artigo 131.º
Pendência de ação de acompanhamento de maior
Estando pendente contra o menor, ao atingir a maioridade, ação de
acompanhamento, mantêm-se as responsabilidades parentais ou a tutela
até ao trânsito em julgado da respetiva sentença.

Artigo 132.º
(Emancipação)
O menor é, de pleno direito, emancipado pelo casamento.
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Artigo 1649.º
(Casamento de menores)
1. O menor que casar sem ter obtido autorização dos pais ou do tutor, ou o
respectivo suprimento judicial, continua a ser considerado menor quanto à
administração de bens que leve para o casal ou que posteriormente lhe
advenham por título gratuito até à maioridade, mas dos rendimentos desses
bens ser-lhe-ão arbitrados os alimentos necessários ao seu estado.
2. Os bens subtraídos à administração do menor são administrados pelos pais,
tutor ou administrador legal, não podendo em caso algum ser entregues à
administração do outro cônjuge durante a menoridade do seu consorte; além
disso, não respondem, nem antes nem depois da dissolução do casamento, por
dívidas contraídas por um ou ambos os cônjuges no mesmo período.
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