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Artigo Original - 513 -

ENVELHECIMENTO ATIVO E SUA RELAÇÃO COM A INDEPENDÊNCIA


FUNCIONAL1

Olívia Galvão Lucena Ferreira2, Silvana Carneiro Maciel3, Sônia Maria Gusmão Costa4, Antonia Oliveira
Silva5, Maria Adelaide Silva Paredes Moreira6

1
Texto extraído da dissertação - Representações sociais sobre o envelhecimento ativo: um estudo com idosos funcionalmente
independentes, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB),
em 2008.
2
Mestre em Enfermagem. Professora da Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba. Paraíba, Brasil. E-mail: oliviaglf@hotmail.
com
3
Doutora em Psicologia Social. Professora do Curso de Graduação e da Pós-graduação em Psicologia da UFPB. Paraíba, Brasil.
E-mail: silcamaciel@ig.com.br
4
Mestranda em Enfermagem. Paraíba, Brasil. E-mail: gusmaosonia@yahoo.com.br
5
Doutora em Enfermagem. Pesquisadora do CNPq. Professora do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFPB.
Paraíba, Brasil. E-mail: alfaleda@hotmail.com
6
Doutora em Ciências da Saúde. Professora do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFPB. Pesquisadora do
Programa Nacional de Pós-Doutorado da Capes. Paraíba, Brasil. E-mail: jpadelaide@hotmail.com

RESUMO: O objetivo da presente pesquisa foi analisar os fatores determinantes de um envelhecimento ativo e sua relação com a
independência funcional. A pesquisa foi realizada com 100 idosos de uma Unidade de Saúde da Família, em João Pessoa-PB. Como
instrumentos para a avaliação dos idosos foram utilizados a Medida de Independência Funcional e um questionário sociodemográfico.
Os dados foram analisados através do software SPSS. De acordo com os resultados, todos os idosos apresentaram independência
funcional para a realização das atividades analisadas. Os dados mostraram também que a independência funcional promove uma
maior inserção dos idosos na comunidade, através do fortalecimento dos vínculos sociais e familiares, da amizade e do lazer, sendo
estes fatores considerados como determinantes para um envelhecimento ativo.
DESCRITORES: Envelhecimento ativo. Independência. Funcionalidade.

ACTIVE AGING AND ITS RELATIONSHIP TO FUNCTIONAL


INDEPENDENCE

ABSTRACT: This study’s objective was to analyze the factors determining active aging and its relationship to functional independence.
It was conducted with a hundred elderly individuals cared for in a Family Health Unit in João Pessoa, PB, Brazil. The Functional
Independence Measure and a socio-demographic questionnaire were used to assess the elderly participants. Data were analyzed using
the SPSS. According to the results, all the participants were functionally independent for the performance of the studied activities.
Data also showed that functional independence promotes greater integration of elderly individuals within the community, through
strengthening social and family bonds, friendship and leisure, factors considered to be determinants of an active aging process.
DESCRIPTORS: Aging actively. Independence. Functionality.

ENVEJECIMIENTO ACTIVO Y SU RELACIÓN CON LA INDEPENDENCIA


FUNCIONAL

RESUMEN: El objetivo del presente estudio fue analizar los factores determinantes del envejecimiento activo y su relación con
la independencia funcional. La investigación se realizó con 100 personas mayores de una Unidad de Salud de la Familia, en João
Pessoa-PB, Brasil. Como instrumentos para la evaluación de personas mayores se utilizó la Medida de Independencia Funcional y
un cuestionario sociodemográfico. Los datos fueron analizados a través del software SPSS. Según los resultados, todos los sujetos
presentan la independencia funcional para llevar a cabo las actividades analizadas. Los datos también demostraron que la independencia
funcional promueve una mayor integración de las personas mayores en la comunidad, mediante el fortalecimiento de los lazos sociales
y familiares, de amistad y de ocio, y esos factores se consideran como determinantes del envejecimiento activo.
DESCRIPTORES: Envejecimiento activo. Independencia. Funcionalidad.

Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2012 Jul-Set; 21(3): 513-8.


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INTRODUÇÃO autonomia, com boa saúde física e mental, enfim,


com um envelhecimento saudável e ativo.7-8
O envelhecimento pode ser entendido como
um processo dinâmico e progressivo, caracteriza- A autonomia pode ser definida como a li-
do tanto por alterações morfológicas, funcionais berdade para agir e tomar decisões no dia a dia,
e bioquímicas, quanto por modificações psicoló- relacionadas à própria vida e à independência.
gicas. Essas modificações determinam a progres- Pode também ser entendida como a capacidade de
siva perda da capacidade de adaptação ao meio realizar atividades sem a ajuda de outra pessoa,
ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e necessitando, para tanto, de condições motoras e
maior incidência de processos patológicos, que cognitivas suficientes para o desempenho dessas
podem levar o indivíduo à morte.1 tarefas. No entanto, autonomia e independência
não são conceitos interdependentes, haja vista que
Como uma de suas consequências, o enve- o individuo pode ser independente e não ser au-
lhecimento traz a diminuição gradual da capaci- tônomo, como acontece, por exemplo, nas demên-
dade funcional, a qual é progressiva e aumenta cias. Ou então, ele pode ser autônomo e não ser
com a idade. Assim, as maiores adversidades de independente, como no caso de um indivíduo com
saúde associadas ao envelhecimento são a incapa- graves sequelas de um acidente vascular cerebral,
cidade funcional e a dependência, que acarretam mas sem alterações cognitivas: nessa situação, ele
restrição/perda de habilidades ou dificuldade/ é autônomo para assumir e tomar decisões sobre
incapacidade de executar funções e atividades sua vida, mas é dependente fisicamente.2
relacionadas à vida diária. Tais dificuldades são
Na busca de uma melhor qualidade de vida,
ocasionadas pelas limitações físicas e cognitivas,
fruto de um envelhecimento com independência
de forma que as condições de saúde da popula-
e autonomia, de um envelhecimento saudável e
ção idosa podem ser determinadas por inúmeros
ativo, tem-se investido no desenvolvimento de
indicadores específicos, entre eles a presença de
programas sociais e de saúde voltados para a
déficits físicos e cognitivos.2-3
preservação da independência e da autonomia,
A capacidade funcional pode ser definida sendo metas fundamentais não só do governo,
como a manutenção da capacidade de realizar mas de todos os setores da sociedade. Como uma
Atividades Básicas da Vida Diária (ABVD) e Ati- importante estratégia para alcançar esse desafio,
vidades Instrumentais da Vida Diária (AIVD), ne- destaca-se o Programa de Saúde da Família, desen-
cessárias e suficientes para uma vida independente volvido nas Unidades de Saúde da Família, sendo
e autônoma. Para o idoso, a realização das ABVD apontado como eficiente para alcançar medidas
aparece como algo presente e necessário para a específicas de promoção e de prevenção da saúde,
sua sobrevivência, mantendo-o participativo na cuidando dos idosos que vivem na comunidade.9-10
gestão e nos cuidados com a própria saúde, e no Contudo, nos diversos níveis de atenção
desenvolvimento de tarefas domésticas.4-5 desses programas, os profissionais de saúde têm
Portanto, o estudo da capacidade funcional encontrado idosos com problemas crônicos de
tem-se tornado um componente-chave para a saúde, que acarretam dependência funcional e,
avaliação da saúde dos idosos, sendo geralmente quando identificados tardiamente, dificultam as
direcionado para a análise da habilidade e do de- estratégias para revertê-los ou minimizá-los. Daí
sempenho para realizar determinadas atividades do a relevância de serem empreendidos estudos que
cotidiano. Dessa maneira, a saúde dos idosos torna- proporcionem a identificação dos fatores determi-
-se intimamente ligada à independência funcional, nantes para um envelhecimento mais saudável,
que é medida através de avaliações funcionais.2-6 possibilitando, assim, a implantação de programas
Hoje, o Brasil atinge os mais elevados níveis de prevenção de doenças e promoção da saúde.5
de população idosa. No entanto, conseguir viver Vista dessa maneira, a compreensão do
por mais tempo nem sempre é sinônimo de viver envelhecimento reveste-se de tamanha complexi-
melhor. A velhice pode estar associada ao sofri- dade e relevância que justifica a pretensão de um
mento, aumento da dependência física, declínio estudo voltado para a análise da relação entre a
funcional, isolamento social, depressão e improdu- capacidade funcional e os fatores determinantes
tividade, entre outros fatores que não representam do envelhecimento saudável. Portanto, este estudo
significados positivos. Porém, é possível viver destina-se a procurar respostas para o questiona-
mais com uma qualidade de vida melhor, através mento existente sobre uma possível relação entre o
da busca do envelhecimento com independência e envelhecimento ativo e a independência funcional.
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Com base nesta questão, a presente pesquisa nível 6 trata da independência modificada, na qual
procurou analisar os fatores determinantes para um as atividades requerem uma ajuda técnica, adap-
envelhecimento mais saudável, verificando o grau tação, prótese ou órtese e/ou são realizadas em
de independência funcional dos idosos cadastra- tempo excessivo. Finalmente, o nível 7 é relativo
dos em uma Unidade Básica de Saúde da Família. à independência completa, na qual as tarefas são
Partiu-se da suposição de que a independência realizadas sem ajuda técnica e em tempo razoável.
funcional promove uma maior inserção dos idosos Após a administração da MIF, foi aplicado
na comunidade, através da autonomia para a reali- um questionário sociodemográfico, contemplando
zação das atividades da vida diária e do fortaleci- as variáveis relacionadas a sexo, idade, grau de
mento de vínculos sociais e familiares, de amizade escolaridade, religião, procedência, situação de
e de lazer, sendo esses fatores considerados como moradia, com quem mora, prática de atividade
determinantes para um envelhecimento mais ativo. física, modalidade, trabalho e situação de saúde.
A participação dos idosos foi voluntária e
MÉTODO atendeu à Resolução 196/1996, do Ministério da
Saúde/Conselho Nacional de Saúde/Comissão
Esta pesquisa foi realizada na Unidade de
Nacional de Ética em Pesquisa, tendo sido apro-
Saúde da Família Nova Conquista, situada no
vada pelo Comitê de Ética em Pesquisa, do Centro
bairro Alto do Mateus, na cidade de João Pessoa-
de Ciências da Saúde da Universidade Federal da
-Paraíba, Brasil.
Paraíba, sob o protocolo nº 0188\08. Os instru-
A amostra foi selecionada por conveniência mentos foram aplicados de forma individual, nos
e constituída por 100 idosos, com idades variando domicílios dos idosos. Todos os dados coletados
entre 60 e 93 anos (M=68; DP=7,53), de ambos os foram analisados pelo software SPSS 15, utilizando
sexos e com níveis de escolaridade variados. Como a estatística descritiva.
critério de inclusão, foi estabelecido o fato de se
situarem na faixa etária de 60 anos para cima e
estarem vivendo na comunidade e atendidos pelo RESULTADOS E DISCUSSÃO
Programa de Saúde da Família. No que concerne ao perfil sociodemográfico
Para a avaliação funcional dos idosos foi uti- da amostra, constatou-se que a maioria era do sexo
lizado o instrumento preconizado pelo Ministério feminino (73%). A prevalência do sexo feminino
da Saúde,11 a Medida de Independência Funcional também foi observada em outros estudos com
(MIF). É um teste que quantifica a ajuda necessária idosos em Unidades de Saúde da Família, revelan-
para a realização de um conjunto de 18 tarefas e do que, no Brasil, há muito tempo, o número de
possui itens referentes ao desempenho da pessoa mulheres idosas tem sido superior ao de homens
idosa, levando em conta seis dimensões teóricas: idosos. Este aspecto pode ser explicado por meio
(1) autocuidado (cuidar de si mesmo: alimentação, da mortalidade diferenciada entre os sexos, algo
higiene pessoal, banho, vestir-se); (2) controle dos bastante presente na população brasileira.12-13
esfíncteres; (3) transferências (capacidade de se Quanto à escolaridade, verificou-se que 40%
transferir do leito para a cadeira e outros locais); dos idosos não eram alfabetizados, enquanto que
(4) locomoção; (5) comunicação (compreensão e 48% deles disseram ter o ensino fundamental in-
expressão de ideias); e (6) cognição social (rela- completo. Tal configuração parece coerente com
cionada à interação social). o que tem sido observado em outros estudos re-
As tarefas avaliadas durante a aplicação da ferentes à educação na população idosa. Segundo
MIF receberam uma classificação em uma escala de esses estudos, as dificuldades de acesso à educação
graus de dependência, composta por sete níveis. eram bem maiores há décadas atrás, quando com-
Nesses níveis, o valor 1 equivale à dependência paradas com a atualidade, principalmente no que
total. Os níveis 2, 3 e 4 correspondem, respectiva- se refere às mulheres. Essas observações justificam
mente, à assistência máxima, moderada e mínima. a grande incidência de idosos não alfabetizados ou
O nível 5 diz respeito à supervisão, estímulo ou com baixos níveis de escolaridade, encontrada no
preparo, quando é necessária a presença, controle, presente trabalho.12
sugestão ou encorajamento de outra pessoa, sem Na amostra estudada, 79% dos idosos rela-
contato físico. Ou ainda, quando é necessário que taram que eram portadores de alguma patologia,
outra pessoa prepare os objetos que serão utiliza- sendo a hipertensão arterial a doença mais fre-
dos ou ajude na colocação da órtese ou prótese. O quente. Quando tratada, esta patologia não leva
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a uma degeneração da capacidade funcional, exige mais da esfera do funcionamento psicológico


nem a uma diminuição da inserção sociofamiliar. e intelectivo. Apesar disso, pode-se concluir que, em
Destaque-se também o fato de que 21% dos ido- termos gerais, todos os idosos da amostra apresen-
sos disseram que não tinham nenhuma patologia taram independência funcional.
crônica, ou seja, possuíam uma velhice saudável. Um dado relevante neste estudo diz respei-
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), to à participação em atividades físicas. Apesar
este fato tem constituído a pauta de vários estudos da maioria dos participantes (83%) não exercer
e pesquisas, e deve ser visto numa perspectiva atividades físicas e apenas 17% praticarem a cami-
ampla, como resultado de um trabalho interseto- nhada, os resultados do MIF revelaram que 100%
rial e interdisciplinar de promoção de modos de dos idosos entrevistados possuíam independência
vida saudável.14 funcional. Essa condição mostrou-se presente mes-
Contudo, para que o envelhecimento seja mo entre aqueles que não praticavam nenhum tipo
bem sucedido, deve-se analisar não apenas a de atividade física, mas que se mantinham ativos,
ausência de enfermidades, mas também a manu- através dos seus afazeres domésticos e religiosos.
tenção das condições de autonomia e de funcio- Deve-se sublinhar que os idosos relacionavam a
nalidade. No presente trabalho, esta análise foi atividade não só à prática de exercícios físicos,
feita através da MIF.15 As pontuações médias das mas também às atividades domésticas, o que pode
dimensões, para as distintas faixas etárias dos ido- caracterizar uma situação de não sedentarismo,
sos envolvidos no estudo, podem ser observadas corroborando outros estudos na área. Tais estudos
na tabela 1. afirmam que a atividade física é um processo com-
plexo que, independentemente de ser decorrente
Tabela 1 - Pontuação média dos idosos nas de uma atividade desportiva ou ligada ao trabalho
dimensões da Medida de Independência profissional, pode ser usada como um procedi-
Funcional, em função da faixa etária. João Pessoa- mento capaz de retardar e até mesmo reverter
PB, 2008 um processo patológico em andamento. Dessa
maneira, pode trazer benefícios para os idosos, tais
como a socialização, a melhoria da autoestima, o
Dimensões de Independência Funcional
Faixa estímulo à criatividade, o combate à insônia e a
etária A B C D E F promoção de um envelhecimento mais saudável
e ativo, entre outros.12
60 a 65 6,88 6,91 6,94 6,74 6,90 6,60
Este fato se relaciona com a questão da si-
66 a 70 6,98 6,98 7,00 6,91 7,00 6,42
tuação ocupacional, quando a aposentadoria foi
71 a 75 6,79 6,92 6,78 6,50 6,97 5,94 referida por 91% dos idosos entrevistados. A apo-
76 a 80 6,97 6,95 7,00 6,95 7,00 6,58
sentadoria pode ser definida como a inatividade
após um tempo de serviço ou como remuneração
81 a 85 6,96 6,87 6,92 6,87 7,00 6,42 por essa inatividade. Contudo, o fato de estar apo-
86 a 93 6,50 7,00 7,00 6,00 7,00 5,89 sentado não implica uma total inatividade e um
A=Autocuidado; B=Controle de esfíncteres; C=Transferência;
sedentarismo completo. Os resultados mostraram
D=Locomoção; E=Comunicação; F=Cognição social. que, mesmo aposentados, os idosos permanecem
realizando tarefas domésticas e participando de
Apesar de 58% dos idosos analisados se situ- atividades de lazer, o que implica uma inserção
arem em uma faixa etária superior a 65 anos, e 7% sociofamiliar que pode ser o diferencial na ma-
deles estarem acima dos 85 anos, 100% dos idosos nutenção da capacidade funcional e no envelhe-
se mostraram como independentes funcionalmente, cimento saudável.16
não necessitando de ajuda de outra pessoa para a No que se refere à moradia, 88% dos partici-
realização de suas atividades da vida diária. Foram pantes residiam em casa própria e 75% conviviam
classificados nos níveis 5, 6 e 7, que correspondem, com o cônjuge e/ou parentes próximos, incluindo
respectivamente, à supervisão, à independência filhos e netos. Estes dados trazem aspectos positi-
modificada e à independência completa. Pode-se vos, a partir da compreensão de que, para o idoso,
também verificar que os idosos apresentaram me- o fato de morar só tem sido associado ao declínio
nor média na dimensão 6, cognição social, o que é na qualidade de vida e ao agravamento da mor-
justificável, pois, neste item, são avaliadas ativida- bidade, podendo funcionar até mesmo como um
des como resolução de problemas e memória, o que indicador de risco de mortalidade.9
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Estes achados confirmam que, para ser bem os idosos não fiquem distantes de um espaço social,
sucedido, o envelhecimento deve representar não em relativa alienação, inatividade, incapacidade
apenas a ausência de enfermidades, mas também física e dependência, mas possam buscar o seu bem-
a manutenção das condições de autonomia e de -estar e melhorar a sua qualidade de vida. Para isso,
funcionalidade.15 Pode-se dizer que quanto mais é necessário o incremento de políticas e programas
ativa é uma pessoa, menos limitações físicas ela sociais de envelhecimento ativo, com a intenção de
tem. Então, para se ter saúde e se manter ativo, prevenir e retardar as debilidades e doenças crônicas
recomenda-se uma vida independente, casa, ocu- associadas a esse período da vida humana.
pação, afeição e comunicação.5 Considera-se que a prática de qualquer ati-
As experiências de manter o bem-estar e vidade e não apenas a física constitui um meio de
lidar com o adoecimento são constantes na vida manter e/ou melhorar a capacidade funcional.
daqueles que enfrentam o envelhecimento, sendo Além disso, é capaz de possibilitar uma maior in-
necessário promover a saúde e estimular compor- serção na comunidade, através do fortalecimento de
tamentos visando a manutenção da autonomia vínculos familiares, de amizade, de lazer e sociais,
e o envelhecimento bem-sucedido. O envelheci- promovendo mudanças na vida cotidiana, como
mento bem-sucedido deve ser considerado como busca de melhoria da qualidade de vida. Assim, não
uma condição a ser atingida por quem lida com é de surpreender que, na atualidade, se considere a
as mudanças inerentes ao envelhecer. Esse tipo prática das atividades físicas como uma das maiores
de envelhecimento é mais do que a ausência de conquistas da saúde pública, entendendo-se a saúde
doença e a manutenção da capacidade funcional, pública como a ciência e a arte de evitar doenças,
sendo fundamental a sua combinação com o en- prolongar a vida e desenvolver a boa disposição
gajamento ativo e com a vida, o que representa o física e mental dos seres humanos.
conceito mais amplo do bom envelhecer.17 Manter os idosos independentes funcio-
Além desses resultados, observou-se durante nalmente é o primeiro passo para se atingir uma
a coleta de dados que os idosos participantes se melhor qualidade de vida. Para tanto, é necessário
caracterizaram como funcionalmente indepen- o planejamento de programas específicos de inter-
dentes, também apresentando os cinco fatores venção, visando a eliminação de fatores de riscos
recomendados (vida independente, casa, ocu- relacionados com a incapacidade funcional. Ao
pação, afeição e comunicação). Com base nesses lado disso, devem ser elaboradas ações de promo-
dados, pode-se concluir que a dependência pode ção da saúde, prevenção de doenças, recuperação
ser prevenida ou reduzida, se houver ambiente e e reabilitação, que interfiram diretamente na ma-
assistência adequados. nutenção da capacidade funcional destes idosos.
Deve-se levar em conta que esta capacidade fun-
cional depende também de fatores demográficos,
CONSIDERAÇÕES FINAIS socioeconômicos, culturais e psicossociais, além
O aumento da população idosa gera a neces- do estilo de vida.
sidade de se desenvolverem meios para melhor Em consonância com essas observações, a
atender às dificuldades advindas com esse cres- presente pesquisa ressalta a importância de ações
cente número. Mesmo existindo as perdas durante voltadas para a população idosa que busca a aten-
o processo do envelhecimento, o envelhecer de ção primária. Cada Unidade de Saúde da Família
maneira ativa deve ser estimulado entre os idosos, (USF) deve oferecer profissionais preocupados
pois ele é sinônimo de vida plena e com qualidade. em agir de forma humanizada e consciente, no
Envelhecimento ativo corresponde ao equilíbrio sentido de despertar, em cada cidadão usuário, a
biopsicossocial, à integralidade do ser que está importância das atividades físicas para um enve-
inserido em um contexto social e ainda refere-se lhecimento ativo e saudável.
ao idoso que é capaz de desenvolver suas poten- A atual Política Nacional de Atenção Básica
cialidades. Daí a importância do apoio da política, descreve que a realização do cuidado em saúde da
da família, da sociedade, da rede de amigos e dos população idosa, de área circunscrita às USFs, se
grupos de interesse comuns, todos juntos na luta dá tanto no âmbito da unidade de saúde quanto
contra a discriminação e o preconceito que gira em no domicílio e nos demais espaços comunitários
torno do envelhecimento na nossa cultura. (escolas, associações, entre outros). A escuta quali-
É preciso promover mudanças na estrutura so- ficada das necessidades dos usuários proporciona
cial, a fim de que, ao terem suas vidas prolongadas, um atendimento humanizado e viabiliza o estabe-
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Correspondência: Silvana Carneiro Maciel Recebido: 22 de dezembro de 2010


Rua Vereador Gumercindo B. Dunda, 378, ap. 1401 Aprovação: 22 de novembro de 2011
58036-850 – Aeroclube, João Pessoa, PB, Brasil
E-mail: silcamaciel@ig.com.br

Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2012 Jul-Set; 21(3): 513-8.

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