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RESUMO
Artigo Original:
Elaborado em: setembro / 2010.
Recebido em: janeiro / 2011.
Publicado em: janeiro / 2011.
*1
Trabalho apresentado no Congresso de Psicologia Fenomelógico-Existencial | Fundação Guimarães Rosa –
2010.
**2
Psicólogo formado pela UFMG, especialista em Psicologia Clínica Fenomenológico-Existencial e Gestáltica
pela FEAD e em Temas Filosóficos pela UFMG.
Biblioteca Virtual Fantásticas Veredas – Fundação Guimarães Rosa
Página web: www.fgr.org.br l E-mail: bibliotecafgr@fgr.org.br
2 Psicoterapia de orientação fenomenológica
INTRODUÇÃO
DISCUSSÃO
Talvez o sistema mais próximo do ideal Husserliano tenha sido a Teoria da Gestalt
(RAFFAELLI, 2004), apesar de não ter escapado de críticas do próprio Husserl.
Verifica-se, porém, que
na ciência psicológica atual persiste o descompasso, que Husserl criticava
na psicologia do século XIX, entre o campo da psicofísica e da pesquisa
comportamental – enfatizando o controle e a experimentação e produzindo
„dados‟ – e o campo da psicologia filosófica e da psicologia clínica,
interessadas no ser e na emoção, gerando „abstrações‟. (RAFFAELLI, 2004,
p. 214)
“estar presente no aqui e agora”, ou seja, consciência num sentido lato, sem entrar
na complexa discussão do que seria a natureza da consciência pura, abordada por
Husserl (2006) e recentemente pelos filósofos da mente.
O sentido dos fenômenos, sendo existente, não pode ser criado, e, sim, acessado
ou explicitado, ou seja, desvelado. Husserl elaborou um método de acesso a esse
sentido, a redução fenomenológica. Na redução fenomenológica, é colocado “entre
parênteses” tudo que não é essencial ao fenômeno, ou seja, tudo que não seja
fundamental ao sentido daquele fenômeno para a consciência que o experimenta,
incluindo aí todos os juízos pré-formados. Ao final do processo, o “resíduo”, o que
ficou “fora dos parênteses”, é o sentido último (eidos) do fenômeno. Porém, Husserl
ainda propõe a redução eidética, pois, na redução fenomenológica, chega-se ao
sentido do fenômeno para aquela consciência para a qual o fenômeno se mostrou.
Na redução eidética, busca-se o sentido do fenômeno para todas as consciências,
ou seja, o sentido intersubjetivo, que permite, por exemplo, que o termo “mesa” se
refira a um determinado objeto e isso seja entendido por todas as pessoas,
possibilitando assim o compartilhamento das experiências através da linguagem.
Amatuzzi (2008) chama de vivido3 “nossa reação interior imediata àquilo que nos
acontece, antes mesmo que tenhamos refletido ou elaborado conceitos. [...] Não a
reação construída, nem a reação pensada”. Assim, a vivência (ou vivido) não é uma
elaboração do sujeito, como um pensamento, nem simplesmente um sentimento que
ocorre. É um “ressoar interior” da experiência, como um entrelaçamento de
pensamento e sentimento primeiro. A vivência, sendo fenômeno, tem seu sentido,
que, no entanto, só pode ser resgatado numa nova vivência atual que busque
recuperá-la da forma mais pura possível; porém, nunca em sua pureza total. O
resgate do sentido de uma vivência sempre remete a outras, pois a forma de
“ressoar” de um fenômeno é a forma de inscrição de “algo” a uma consciência já
determinada por outras experiências, sejam elas individuais, familiares ou
socioculturais (AMATUZZI, 2008). Assim, o sentido resgatado somente se configurou
dessa forma devido a vivências anteriores, que também podem ser novamente
atualizadas e resgatadas em seu sentido. Esse se torna então um processo
interminável de resgate de sentido, sendo que o sentido resgatado sempre é
resgatado numa nova vivência, e o sentido dessa vivência contém a possibilidade de
ressignificar os conteúdos da vivência anterior, reconfigurando a própria estrutura do
sujeito.
3
Sinônimo de vivência, mas optei por este termo de acordo com Bello (2004), que argumenta que o termo em
alemão, erlebnis, é um substantivo, enquanto vivido é um participio passado. Vivência, sendo também
substantivo, representa maior correspondência ao termo original.
Amatuzzi (2008) chama a fala que acessa o sentido da vivência de “fala autêntica”.
Essa fala permite à pessoa a simbolização do real, facilitando o processo de lidar de
forma criativa e construtiva com suas experiências. “A tarefa do terapeuta é
favorecer a palavra que seja aquilo que nasceu para ser: um momento fugaz que
nos abre os olhos para a realidade, e muda tudo.” (AMATUZZI, 2008, p. 69) Porém,
essa fala só emerge diante de uma escuta qualificada. Para Amatuzzi (2008, p. 71),
a escuta na psicoterapia é entrar em contato com o que a pessoa diz. Ao fazer isso,
o psicoterapeuta “nos ajuda a perceber como organizamos o mundo, e como nossos
problemas se prendem à forma como fazemos isso”.
Yalom (2006) aborda outra questão muito importante sobre a constituição da relação
psicoterápica. A psicoterapia é um microcosmo social, e, desta forma, na
constituição da relação com o cliente, o psicoterapeuta terá uma expressão real da
forma de relacionamento interpessoal do cliente. Ou seja, a vivência da relação
dentro da psicoterapia será um fenômeno a ser abordado em seu sentido, por ser
revelador de como o cliente (e consequentemente, o psicólogo) constitui suas
relações com outras pessoas. Será, também, um “laboratório existencial”, por ser
uma oportunidade de estabelecer uma relação diferente, à medida que o sentido
dessas vivências vai sendo tematizado. É o que Yalom (2006) chama de “empregar
o aqui-e-agora”. Assim, a própria relação terapêutica será objeto de uma redução
fenomenológica, durante o processo.
REFERÊNCIAS
HUSSERL, Edmund. Idéias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia
fenomenológica: introdução geral à fenomenologia pura. 2. ed. Aparecida, SP: Idéias
& Letras, 2006.
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