FREI LUÍS DE SOUSA – Síntese dos vários aspetos da obra

1. Género dramático:

É o género literário em que se representa uma realidade exterior através de personagens,

que vivem um conflito, desenrolado num espaço e num tempo. As personagens, mediante o
diálogo (texto principal), contam o que fazem e pensam. Predomina a função apelativa da
linguagem. Este género está orientado para a relação “eu/tu”. As descrições e o narrador
desaparecem, dando lugar às personagens vivas e ao cenário. O narrador é substituído pelas
didascálias (texto secundário). É um género de texto concebido para ser representado em palco,
perante espetadores.

2. O mito sebastianista:

O contexto da ação da peça situa-se na época pós-batalha de Alcácer Quibir, a partir da

qual nasceu o mito sebastianista (presente e vivo em Telmo e Maria), o qual vai perdurar durante
muitos anos e que representa a crença de todos aqueles que esperavam restituir a prosperidade
a Portugal e libertá-lo do domínio castelhano. Com o desaparecimento de D. Sebastião, com a
perda de bons militares e com o dispêndio de elevadas quantias para resgatar os cativos, o país ficou
vulnerável. A crença de alguns no regresso do jovem rei transformou-se na esperança de restituir a
Portugal a ordem antiga.
O mito sebastianista estendeu-se desde a crença no regresso de D. Sebastião à crença num
qualquer salvador da pátria em momentos de crise, enraizando-se, fortemente, na
mentalidade portuguesa.
Garrett tornou sebastianista a sua peça por duas vias: por um lado acredita-se quer no regresso
(positivo) do rei, quer no regresso (negativo) de D. João; por outro, percebe-se que a peça é
também uma metáfora do próprio tempo de Garrett, que viveu, também ele, uma época de
crise ( as lutas liberais).

3. A figura histórica que dá título à peça:

Manuel de Sousa Coutinho (sécs. XVI-XVII) é uma figura real. Sabe-se que, antes de se
dedicar à vida monástica e ter tomado o nome religioso de Frei Luís de Sousa, teve família e uma
vida política ativa. É, no entanto, mais conhecido pela sua faceta de escritor barroco, pela sua obra
na área das crónicas e das hagiografias. Por isso, Maria, na cena II, do Ato II, faz referência aos
escritos do pai.

4. Estrutura da obra:

Externamente, a peça divide-se em três Atos, cada um deles dividido em cenas. A sua
estrutura interna obedece à construção típica de um texto dramático: Exposição, ou apresentação de
personagens e situação inicial (cenas I-II, Ato I); Conflito, ou desenrolar dos acontecimentos (cena
III, Ato I – cena IX, Ato III); e Desenlace, ou conclusão (cenas X-XII, Ato III).