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Este texto tem por objetivo socializar algumas questões advindas da prática do
sociedade.
preocupação mundial que ganha força para penetrar nos marcos das instituições de
1
O ECAii inscreve-se na era dos direitosiii ao redefinir o lugar da infância, na
“situação irregular”?).
O ECA, respeitado como dispositivo legal, tem seu impacto amortecido no jogo
das relações de poder vigentes, haja vista que a letra legal é amplamente divulgada, mas
de assistência à infância.
Menores.
2
Com o advento do ECA, a função social das entidades de abrigo ganha uma
compulsória.
Menorista.
situações de risco como procedimento rotineiro para dar conta da situação desses
desvalidos.
Hoje a tônica das Legislações não é a prática do asilamento, como também não
3
adolescente como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais, imprime novas
diretrizes.
Esses são os sinais do novo tempo que imprimem a filosofia de proteção integral
Desemprego;
4
Envolvimento com drogas;
Violência doméstica;
Violência de gênero.
processo, sujeitos a toda espécie de riscos sociais, são os primeiros a sofrer os efeitos da
5
A coesão dos Conselhos Tutelares e sua parceria com segmentos da sociedade
capacitação e retaguarda, são os órgãos políticos que garantem a defesa dos direitos
informações;
verbas públicas;
e pesquisa.
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social, político, familiar.
Com o presente texto, esperamos ter contribuído, ainda que de forma limitada,
para uma maior reflexão sobre a temática, envolvendo outros profissionais e outras
instituições.
Referências bibliográficas
BOBBIO, Noberto. A Era dos Direitos. 10ª ed. Rio de Janeiro: Campus,1992.
BOWLBY, John. Cuidados Maternos e Saúde Mental. 3ª ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1995.
1992.
de manutenção do vínculo”. In: Família Brasileira, a base de tudo. 3ª ed. São Paulo:
7
Cortez/UNICEF, 1998.
*
Assistente social da 1ª Vara da Infância e Juventude da comarca da capital do Estado do Rio de Janeiro
e mestre em Serviço Social.
**
Assistente social da 1ª Vara da Infância e Juventude da comarca da capital do Estado do Rio de Janeiro
e pós-graduada em Serviço Social.
i
_______. Reintegração familiar como tema prioritário. Conference for Children and Residential Care.
Stockholm, Sweden, maio/1999 (xerox).
ii
A organização da sociedade civil e sua articulação com segmentos do Estado nos anos 80 propiciaram a
edificação de uma Legislação inovadora, na medida em que rompe com o tratamento estigmatizante dado
a um contingente significativo da infância, considerada em situação irregular. O ECA, aprovado em
13/06/90, decorre da mobilização nacional na luta pela democratização, direitos e participação nas
políticas públicas visando resgatar o exercício da cidadania.
iii
Bobbio discute a importância do reconhecimento e proteção dos direitos do homem na atualidade,
destacando algumas teses: os direitos naturais são direitos históricos; nascem na era Moderna, juntamente
com a concepção individualista da sociedade; tornando-se um dos principais indicadores do progresso
histórico.
iv
Bobbio, Op. cit.: 24.
v
FALEIROS. “Infância e o Processo Político no Brasil”. In: A arte de governar crianças: a história das
políticas sociais, da legislação e da assistência à infância no Brasil. p.51.
vi
Ibid., artigo 100º, parágrafo único.
RESUMO
Ao longo de séculos, o imaginário social consubstanciou-se na crença de que o lugar
comum da criança era fora da família. A rede configura-se numa referência distante, que
repassava as funções de proteção e socialização de suas crianças a terceiros. Atualmente, em
diversas partes do mundo efervescem produções científicas que apontam para o
redirecionamento das instituições de proteção ao contigente infanto-juvenil, destacando-se o
princípio da continuidade familiar.
No entanto, dez anos após a promulgação da Legislação Menorista ainda predomina a
cultura do Código de Menores. O ECA tem seu impacto amortecido no jogo das relações de
poder vigente, haja vista que a letra legal é amplamente divulgada, mas não incorporada ao
contexto instituicional, alterando-se apenas conceitualmente os modelos de assistência à
infância.
Nesse cenário a contradição entre a Lei e a realidade oferece espaço para a
permanência de instituições que se utilizam de uma rotina de atendimento privativa de
liberdade, cerceando os vínculos familiares e sociais.
O desmonte do paradigma da institucionalização vincula-se a materialização do ECA na
vida de seus protagonistas, no que tange a seus direitos fundamentais. Em contrapartida, as
possibilidades de a infância ser conduzida na perspectiva de um Estado de direitos se dá a partir
da consolidação do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente e dos
Conselhos Tutelares, legítimos para traçar um diagnóstico social preciso quanto a situação da
infância no país, promovendo ações específicas junto às prefeituras e Estados para a
implementação e funcionamento do ECA.