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A HISTÓRIA NO ENEM: PRESENÇAS E AUSÊNCIAS

Marcus Vinícius Furtado da Silva Oliveira

A despeito dos inúmeros problemas causadas pela pandemia ocorreu, no dia 17


de janeiro de 2021, a primeira etapa do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
Nessa primeira etapa, milhões de estudantes de todo o Brasil fizeram questões sobre as
áreas de linguagens e ciências humanas, além da redação. Como em anos anteriores, as
presenças e ausências de determinados conteúdos motivaram intensos debates nas redes.
Por um lado, se afirma o caráter ideológico e esquerdista do exame, enquanto por outro,
se cobra a presença de conteúdos que desapareceram da avaliação nos últimos anos.
Diante dessas polêmicas, pretendemos aqui estabelecer um balanço do saber histórico
nessa última edição do Enem.
A rigor, não há a disciplina de História no Enem, uma vez que, buscando uma
perspectiva interdisciplinar, o exame pensa a partir das áreas do conhecimento. Além
disso, também não há conteúdos prévios a serem cobrados na prova, de modo que todas
as questões são baseadas em trinta habilidades e seis competências próprias das áreas de
ciências humanas. Contudo, esse modelo avaliativo interdisciplinar não elimina os
conteúdos e os saberes característicos das disciplinas. Ao contrário, trata-se de
mobilizar tais saberes no sentido do desenvolvimento das habilidades e competências.
Portanto, qualquer análise acerca da distribuição de conteúdos e disciplinas no exame
deve partir desse pressuposto.
Dentro dessas habilidades, houve uma seleção de conteúdos diversa da habitual.
Em detrimento dos temas de história do Brasil e história contemporânea, apareceram
diversas questões relacionadas a Antiguidade. Qualquer seleção curricular ou de
conteúdos parte de determinadas intencionalidades marcadas por horizontes políticos e
ideológicos. Nesse sentido, essa distribuição de conteúdos, embora vinculada às
habilidades, levanta preocupações acerca dos critérios de seleção para as próximas
edições do exame.
Por outro lado, o ensino de História é um campo abrangente e fecundo de
possibilidades. Ensinar a Antiguidade não se configura necessariamente um exercício de
erudição ou a demonstração de um temperamento conservador. Na medida em que a
função do ensino de história se concentra na elaboração de ferramentas para a
orientação temporal dos estudantes, o estudo dos diversos tempos históricos é
fundamental. O processo de historicização do presente demanda a percepção da
complexidade do tempo e de seus movimentos de continuidade e descontinuidade.
Portanto, à guisa de um balanço, é possível apontar, exclusivamente de um ponto
de vista do saber histórico, que, apesar da preocupante ausência de questões de História
do Brasil, os saberes e habilidades mobilizados no exame possibilitaram importantes
reflexões para os discentes de todo o país, a despeito do governo Bolsonaro e do
reacionarismo de seus ministros.

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