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A história de 

Amor de Perdição circunda-se na cidade portuguesa chamada


Viseu, mas o enredo não se centra absolutamente em tal cidade, pois a alternância de
cidades se faz presente à medida que o enredo da ficção avança deliberadamente.

A narrativa começa com a história da família de Simão, seus conflitos com o pai, seu
comportamento agressivo movimentado pelos ideais da Revolução francesa. Era
um jovem engajado em defesas públicas e acadêmicas, pois estudava numa
universidade em Coimbra, muito movimentada na época.

Domingos José Correia Botelho era um fidalgo não muito rico que teve a prerrogativa e
sorte última de se casar com a ilustríssima e formosa Srª Rita Teresa Margarida
Preciosa, a Dama da rainha de Portugal. Em 1779 Domingos Correia era juiz de fora da
cidade de Cascais, mas posteriormente conseguiu transferência para Vila Real, cidade
onde nasceu. Seria bom e gratificante exercer o ofício na terra onde foi concebido à
vida, não fosse as incessantes e inoportunas reclamações de Rita Teresa, ainda
saudosa de seus luxos monárquicos da corte de Lisboa, luxos estes que toda Dama do
Paço usufrui e, estando em sincronia com suas perfeitas sanidades mentais, jamais
quer abdicar.

Apesar dos queixumes de Rita Teresa, o casal ainda conseguiu ter cinco filhos: Manuel,
Simão, Maria, Ana e Rita. Manuel era o mais velho dentre os meninos, e Rita a mais
nova dentre os rebentos femininos.

Foi-se feita mais uma transferência do casal, agora para a cidade de Viseu, mas desta
vez acrescida a uma promoção: Domingos Botelho tornou-se corregedor desta cidade.
Ambos filhos de Botelho eram universitários em Coimbra: Manuel estudava Direito; já
o encapetado Simão – que espezinhava a vida do Reitor e das autoridades da
Universidade com seu gênio moleque e arruaceiro – cursava Humanidades.

Porém, Simão vai passar um tempo em Viseu, cidade em que sua família morava.
Neste período, seu pai percebe o comportamento modificado do filho e descobre que
ele está enamorado de sua vizinha, Teresa. O casal mantém sua relação
amorosa pelas janelas de seus quartos, às escondidas, já que as famílias são inimigas.

Só existe uma coisa na vida que é capaz de transfigurar a compleição congênita de um


rapaz rebelde como Simão o era: o AMOR. Este sentimento totalmente inefável,
inesperado, indescritível à guisa de meras palavras de qualquer língua, teve a façanha
de arrebatar o coração sanguinário, rebelde e revolucionário de Simão, pois o filho
mais novo do corregedor se apaixonara fervorosamente por uma vizinha chamada
Teresa, uma menina de 15 anos.

A paixão entre os dois jamais pôde se materializar, pois tanto a família de Simão
quanto a de Teresa se opunha rigorosamente contra o firmamento da união do casal.
Motivo da briga de família: Há muito tempo as famílias tiveram uma briga por motivos
jurídicos, mas isso permanece incomodando até os tempos atuais por causa do
orgulho deles.
Simão retornou à Coimbra para concluir os estudos e se tornar um homem
independente, assim, poderia voltar a Viseu e casar-se com sua amada, como havia
prometido

Simão e Teresa se comunicavam e trocavam suas afeições sentimentais única e


exclusivamente através de cartas. E foi por causa de sua comunicação missivista que
Simão decidiu fugir de Coimbra, interrompendo assim seus estudos acadêmicos, para
ir a Viseu se encontrar às espreitas com Teresa.

Enquanto isso, Teresa se comunicava com a irmã de Simão, mas foi descoberta. Então,
o pai de Teresa, Tadeu, arquitetou um casamento forçado com  um primo distante
para impedir a paixão. Tadeu Albuquerque por motivos ambiciosos queria a todo custo
o casamento de Teresa com fidalgo, mas sua filha recusava-o convencidamente,
chegando a declarar explicitamente, para a raiva e descontentamento de seu pai, seu
amor por Simão. Após sofrer muitas ameaças, Teresa envia uma carta para Simão
contando tudo.

Simão teve a resolução  de se hospedar na casa de um conhecido seu, o ferreiro João


da Cruz, este que se mostrou a todo momento sempre prestativo e disposto a ajudar
Simão em qualquer coisa, já que, há tempos atrás, o ferreiro conseguiu se livrar da
cadeia graças à intervenção jurídica do pai de Simão. Daí em diante, João tornou-se o
braço direito de simão.

O ferreiro tinha uma filha chamada Mariana, “moça de vinte e quatro anos, formas
bonitas, um rosto belo e triste”. Ela demonstrou, desde o início, total disposição para
ajudar Simão no que fosse preciso, passando, além de ajudar Simão, também a
admirá-lo e amá-lo. Mariana tinha um semblante melancólico porque predizia tristezas
que aconteceriam com Simão caso ele continuasse com seu amor por Teresa, amor
este obstruído por egoísmo e orgulho dos pais do casal:

Baltasar Coutinho passa a atormentar a vida de Teresa, querendo a todo custo seu
consentimento para o casamento arranjado. Através de ameaças e com o aval de
Tadeu, Baltasar se transforma em um estorvo na consolidação do amor do sofredor
casal.

Em uma noite de festa, Teresa e Simão, que trocavam cartas


semanalmente, combinaram de se encontrar enquanto todos estavam distraídos.
Porém, o primo de Teresa estava de olhos fixos em sua prometida e descobriu o caso.
Embora não tivesse denunciado publicamente a identidade de Simão, quis vingar-se. 
Os dois rapazes preparam armadilhas e o confronto resultou no ferimento de Simão,
que foi pata casa de João ser cuidado por Mariana, filha e enfermeira.

Contudo, Mariana se apaixona por seu paciente. Uma jovem já melancólica reconhece


que seu amor é irrealizável, se contentando em ser a fiel serva de Simão. Assim,
Mariana se torna mediadora das cartas e do romance do casal protagonista.

No encontro :
Ambos discutiram, e Simão – com o intuito nobre e extremamente passional de livrar
o estorvo da vida de Teresa – atirara contra o fidalgo de Castro Daire, matando-o
instantaneamente. Como consequência óbvia e imediata, Simão fora preso em Viseu
após o fato, e Teresa transferida para o convento de Monchique, na cidade do Porto,
onde a sua tia era freira.

O pai de Simão nada fazia para tentar tirar o filho da reclusão. Era bem possível que se
quisesse fazê-lo conseguiria relativo êxito, pois detinha o ofício de corregedor,
profissão essa de significativo status e influência persuasiva nos meios jurídicos da
época. Mas, a despeito de tudo isso, Domingos Botelho sempre negava e limitava-se
sempre a dizer isso:

“ ─ Eu não determino nada. Faça de conta que o preso Simão não tem aqui parente
algum.”

Enquanto a Teresa, sua vida tornara-se terrivelmente obscura e lastimosa também.


Seu único entretenimento dentro do convento eram as cartas que escrevia ao detento
Simão. A única atividade da rapariga dentro do convento era chorar. Sua tia Constança,
a única companhia que tinha no convento, lamentava-se ao ver diariamente sua
sobrinha aos prantos por causa de um amor impossível de se materializar.

Graças à ternura e solidariedade de Mariana, Simão tinha com quem contar dentro da
prisão. E também deve-se a Mariana o título de ser a intermediadora entre o romance
missivista do casal.

Enfim, foi graças a um tio-avô de Simão que o pai deste pôde repensar sua atitude de
não ajudar o filho a se livrar da prisão. O nome do tio-avô era a Antônio da Veiga, este
que ameçou se matar caso o pai não “mexesse seus pauzinhos” para tirar o filho da
forca. Infelizmente, tudo que o corregedor conseguiu foi a substituição do cárcere pela
deportação de dez anos do filho para o exílio na Índia.

Mariana decidiu ir com o amado ao exílio. Para ela não restava mais nada na vida a não
se o amor que sentia por Simão, já que o pai desta rapariga morrera assassinado por
um almocreve. Quanto a Teresa, ao saber da resolução do exílio, enlouquecera. Não
poderia imaginar Simão exilado por dez anos.

Enfim, a 17 de março de 1807, sai do cais de Ribeirinha o navio com os 75 degredados,


entre eles Simão e Mariana. Teresa, vendo do convento o navio transportando os
exilados, suicidara-se.

Simão, consentindo e consciente do destino nefasto que o aguardara, aceita


complacentemente seu fado. Após o suicídio de Teresa, chega às mãos de Simão sua
derradeira carta com o seguinte parágrafo inicial:

“ ─ É já o meu espírito que te fala, Simão. A tua amiga morreu. A tua pobre Teresa, à
hora em que leres esta carta, se me Deus não engana, está em descanso”.
Simão, tempos depois de ler a carta, e já com bastante febre provocada pelo enjoo do
mar, falecera no navio pedindo antes que Mariana jogasse todas as cartas que
recebera de Teresa ao mar. Atira se ao mar.

É claro que Mariana fez tudo isso conforme seu amado pediu. Só um detalhe: Mariana
jogou no mar algo mais que as cartas. Jogou no mar si própria, tentando
desesperadamente encontrar ali o corpo cadavélico de Simão que lá estava,
arremessado pelos almirantes do navio às ondas do mar. Mariana morrera, pois,
abraçada com o corpo do fidalgo em alto mar.

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