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(HTTPS://WWW1.FOLHA.UOL.COM.BR/ILUSTRADA/CINEMA)
8.out.2021 às 4h00
que ganhou sua primeira câmera, em 1958, aos 12 anos —e da qual o diretor,
aos 75 anos, não pretende se ver curado tão cedo.
Seu cinema segue vigoroso, e "Capitu e o Capítulo" —que tem sua primeira
exibição para o público brasileiro no festival online Olhar de Cinema
(https://www.olhardecinema.com.br/) e deve chegar ao circuito no início de 2022— é seu mais
recente colírio.
Ou seria melhor nomear a obra como um par de óculos de lentes grossas —qual
os que o diretor usa para identificar este repórter na tela do computador—, já
que exigem olhos abertos a imagens fora do comum. Não espanta que sua visão
do "Dom Casmurro" (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/fj201109.htm) traduza mais a forma
que o enredo do romance. Em suma, esqueça o “traiu ou não traiu”
(https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq25069914.htm).
O nome da adaptação ele já tinha desde os anos 1980, quando o poeta Haroldo
de Campos (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0512200510.htm) sugeriu que, no romance, o
capítulo era mais importante que Capitu —são 148 ao todo em cerca de 200
páginas. "Anos depois, li uma análise sobre as frases longas do Proust, que
funcionavam como uma maneira de respirar e eram atribuídas à asma dele",
aponta Bressane. “Sugeri que o capítulo poderia ser também um sinal artístico
da epilepsia do Machado (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/12/1840811-em-livro-sobre-machado-
silviano-santiago-une-critica-e-romance.shtml)”.
Sua Capitu também é uma reaparição. Mariana Ximenes empresta suas íris
esverdeadas aos olhos de ressaca. Ela já havia feito uma ponta em “Dias de
Nietzsche em Turim” (https://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/critica/ult569u392.shtml), filmado há
mais de 20 anos, quando começava a se tornar um rostinho conhecido na
Globo.
tudo a ler
Uma seleção semanal para conhecer novos livros, recordar clássicos, descobrir tendências e
revirar curiosidades literárias.
No lugar dos takes repetidos à exaustão, Ximenes conta que foram pouco mais
de dez dias de gravações —e raramente se fez mais de um take.
“Fiquei surpreso quando um não deu certo, e o Bressane veio pedir desculpas”,
relembra Vladimir Brichta, que faz o alucinado Bentinho. “A gente tem que
trabalhar com o risco do primeiro take dar certo. Isso coloca a gente em um
lugar muito precioso.”
Brichta ainda não viu o filme pronto, mas ficou contente ao saber que uma
improvisação sua —que envolve a distorção de um violino— está no corte final.
Muitos, aliás, já pintaram nos seus estúdios –Alessandra Negrini, Josie Antello e
Marjorie Estiano são apenas alguns dos nomes que brilham nos últimos longas
—sem falar da luminosa Helena Ignez nos trabalhos de 1970,
(https://www1.folha.uol.com.br/serafina/2018/09/1979796-segredo-da-vitalidade-e-trabalho-mental-afirma-helena-ignez.shtml)
e cuja prole está aqui, com Djin Sganzerla fazendo Sancha, mulher de Escobar
—Saulo Rodrigues.
Uma atitude como a de Bressane parece ir contra o tempo. “Estamos em um
momento amuso, contrário às musas”, lamenta Bressane a respeito da
condução da cultura no país —e não é de hoje. "Essa ideia de arruinar vem
desde Canudos", aponta, em referência à guerra ocorrida na cidade baiana no
final do século 19 (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/06/destruida-duas-vezes-canudos-sobrevive-em-
meio-a-escombros-e-miseria.shtml), sugerida de relance em "Capitu e o Capítulo".
“Eu não sei se isso tem fim. É uma situação de horror”, comenta, lembrando o
incêndio em julho em um galpão da Cinemateca
(https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/07/incendio-atinge-deposito-da-cinemateca-brasileira-na-zona-oeste-de-sao-
paulo.shtml). “Mas não é por isso que se possa desistir de coisa alguma."
morto em 2016, por sete meses entre Londres, Veneza e Katmandu, no Nepal.
Ele conta que não trata os filmes como reminiscências, mas como um material
de outro autor —qual as imagens sobreviventes em “Capitu”. Bressane não quis
se aprofundar em como recuperou e preservou esses tesouros pessoais
—“foram salvos pelo destino”, diz—, mas que seja uma oportunidade de
conservar sua obra sem condescendência.
CAPITU E O CAPÍTULO
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