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Colegiado de Psicologia 1

UNIME – Itabuna/BA

ESTRUTURA COGNITIVA DO SUCESSO: RELAÇÃO COM O MEDO DE


FRACASSO E SOFRIMENTO PSÍQUICO

Flavine Santos Santana1


Kellen Verena Silva Souza²

RESUMO
Este artigo objetiva, por meio de uma revisão literária, estabelecer num primeiro
ponto, a relação entre as tensões causadas pelo progresso na modernidade,
variante fortemente influente nas alterações dos modos de vida e concepções
particulares acerca das realizações pessoais, que se configura num padrão de
comportamento irreflexivo em busca de imediatismo por reconhecimento a
excelência, o que leva a desconfortos psíquicos e mesmo adoecimento
psicossomático. A estas mudanças culturais no parâmetro de entendimento da
realidade, que impõe em excesso, ao sujeito, a necessidade de mostrar-se sempre
em ideal de potencial extenuante, soma-se num contraponto, o entendimento dos
conceitos de resiliência e auto eficácia, quando estes em contrapartida a desajustes
frente as situações adversas fomentam a importância da Terapia Cognitivo
Comportamental neste cenário.

Palavras Chave: Modernidade, Excelência, Resiliência. Terapia Cognitiva


Comportamental.

1. INTRODUÇÃO

A contemporaneidade trouxe muita inovação, e com ela também a vida


tornou-se muito complexa, de modo que estar ciente de tudo que acontece externa e
internamente, é atitude reflexiva para qual não sobra tempo. Diante da velocidade
com que os impositivos da vida moderna atuam sobre a subjetividade, englobando-a
na dinâmica capitalista do sucesso, da exacerbação ao pódio de excelência, tensões
tem ganhando a dimensão de sérios desajustes e conflitos psicológicos.
Exatamente essa urgência que de modo imperativo irreflexivo, impõe a sujeito
exacerbação das suas capacidades e potencialidades, tem provocado, estresses,

1
Discente do 9º período do curso de Psicologia.
² Psicóloga; Mestre em Ciências e Técnicas Nucleares pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.

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desequilíbrios emocionais e desajustes comportamentais, subtraindo a autenticidade


em nome de performances espetaculares, para ter lugar a visibilidade que se traduz
na própria necessidade de aparecer, para existir.
Assim a sociedade do tradicionalismo, com seus parâmetros institucionais
bem estabelecidos, que davam suporte as neuroses de modo que as
transformações ainda não impactavam nas relações e nos modos de ser,
dissolvendo toda e qualquer solidez, substituída agora, pela sociedade do
espetáculo, tem sua representatividade no Liquefeito, termo que traduz o indivíduo
nesta contemporaneidade, movido pelo imperativo de visibilidade, esvaziando-se de
si mesmo e se deixando a deriva, tudo quanto possa ser ainda entendido enquanto
parte desse universo humano.
A “sociedade do cansaço”, também é a sociedade das alterações orgânicas
provenientes de um esgotamento psíquico, e, portanto, porque não especificar a
partir do termo que melhor traduz esse processo da perda degenerativa do ‘eu’, - as
doenças psicossomáticas. Diante de todo esse panorama, a bivalência de dois
termos – resiliência e auto eficácia - trazem a discussão um retorno ao ponto de
repartida, donde o sujeito possa seguir com reflexividade sobre si e sobre os
fenômenos que lhe chegam, não se sobrecarregando impondo-se metas que não
condizem com suas reais possibilidades, e mesmo a partir de constructos positivos
enfrentar as dificuldades com o recurso de sentir-se apto a supera-las.
Após compreender as mudanças que desembocaram na sociedade do
imperativo sucesso, do espetáculo e portanto do cansaço, a partir de uma
explanação apurada embasada numa revisão literária, este artigo tem o intuito de
clarificar como se dá o mal do século, em que consiste esse sentimento de angustia
aflitiva que abarca os modos de ser e atuar nos dias vigentes, o impacto dessa
urgência por excelência a todo custo, nas relações interpessoais e o reflexo em
adoecimento psicossomático, incluindo também a compreensão dos termos
resiliência e auto eficácia como complemento a importância da Terapia Cognitiva
Comportamental por seu foco de atendimento voltar-se para o fortalecimento da
autonomia do sujeito e de suas capacidades cognitivas no enriquecimento das
estratégias de enfrentamento as adversidades por meio da psicoeducação.

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2. MAL-ESTAR NA CONTEMPORANEIDADE

O momento de profundas e aceleradas mudanças, na atual modernidade, tem


dissolvido certezas, padrões, conceitos e tudo mais sólido com que se pode apoiar-
se para posicionar-se de forma segura diante das imposições do progresso.
Estabelecer-se em meio a tamanha pluralidade torna-se tarefa complexa em que se
exigi um grau aguçado de reflexividade, atitude imperativa e muito desafiadora para
o sujeito, já que também fica comprometida devido ao ritmo acelerado com que se é
surpreendido frente a paradigmas cada vez mais liquefeitos, tal qual também as
relações, sejam no nível familiar ou ainda em outros segmentos, subsequente a
tamanha velocidade de transformações nos moldes de vida.

No âmbito da construção da auto identidade individual, bem como das


relações sociais, a alta modernidade impõe um cenário de escolhas e
riscos, no qual a biografia individual é chamada a ser escrita e reescrita a
partir de uma atitude reflexiva e consciente do indivíduo. Esse processo
reflexivo de construção da identidade é uma novidade em relação a
contextos pré-modernos, nos quais a presença de tradições mais ou menos
hegemônicas fornecia relativa estabilidade para a construção da identidade
dos indivíduos. No contexto de destradicionalização e pluralidade da alta
modernidade, a construção da identidade tornou-se um problema com o
qual os indivíduos têm que lidar em um mundo mutável. No que concerne à
psicologia, especialmente à psicologia social, o ponto a salientar é que as
transformações institucionais da alta modernidade tiveram um impacto
sobre as relações sociais, desde as relações familiares, englobando a
paternidade e a maternidade, até a sexualidade e as relações de amizade
(GIDDENS, 1992/1993, 1999/2002). Esse impacto é interpretado por
Giddens (1999/2002) como uma instabilidade nas relações sociais,
marcadas pelo constante desafio à reconstrução reflexiva do autoconceito
de eu. (BECK, 2009, pag 639)

Desta forma a grande questão é o exercício da reflexão, num movimento


incessante de informações na sociedade da informação, já não se detém diante do
que põe em questão a subjetividade do indivíduo, ao contrário parece impor a este
um posicionamento imediato de adequação comprometendo sua particularidade
reflexiva. Notadamente algumas personalidades importantes como Freud apostaram
numa modernidade a base da ciência livre de ideais arraigados na religiosidade ou
tradição de maneira a proporcionar maior liberdade favorecendo a um
autoconhecimento e potencial de atitude benéfico ao sujeito, porém a maximização
desse processo de abertura acaba por suprimir a reflexividade, instaurando o
desconforto e insegurança oscilantes. “No entanto, salientou Giddens (1995/1997),

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esse processo e intervenção sobre o mundo levou a uma consequência não


planejada, a alta modernidade, marcada por amplo grau de descontrole e
instabilidade.”. Como se afirma:

Tal projeto exige a consciência acerca das várias fases da vida de maneira
que a cognição torna-se ponto chave na tarefa de reinterpretação da
autobiografia, bem como de avaliação do futuro. Giddens (1999/2002)
salienta que a reflexividade tem que ser exercida continuamente porque a
instabilidade da alta modernidade continuamente traz novos movimentos
conflitivos para o indivíduo. (BECK Aaron.. pag 639)

O mal-estar que assola a contemporaneidade e se expressa na


desarticulação interior do sujeito, tanto quanto nas aparições de desequilíbrio
homeostático, evidenciado nas doenças psicossomáticas, vem se instalando no
decorrer de um percurso, desde a descentralização da lei paternal e do poder
determinante das instituições tradicionais nos modos de vida, a hegemonia do
capitalismo que institui a ditadura do ter sobre o ser, a capitalização das relações
desde o “sentir” ao “agir”, e dessolidificação do paradigma da industrialização
surgindo a sociedade da vigilância da representação, do extremo imperativo do
“aparecer” e ser reconhecido. Um movimento tão intenso de exposição, que já não
se faz o movimento reverso nem mesmo para o exercício da reflexão. “A doença da
modernidade era a histeria – expressada na teatralização do sujeito – ou a paranóia;
mecanismos de projeção da interioridade do sujeito através de um sistema
delirante”, “[...] hoje Anna O. não tem mais vida interior para dramatizar como
sintoma” (et alt – formas de mal estar ... pa 15, ROUANET, 2000, p. 234)”.

Fica evidente que neste contexto o modo de subjetivação era inscrito pelo
poder do Pai e sua perpetuação no transcorrer da vida assumia formas de
instâncias – totêmicas – reguladoras, efetivadas pelas autoridades
instituídas e legitimadas culturalmente. Tratava-se do controle externo,
exercido pela religião, família, trabalho, pelo Estado e pelo próprio
ordenamento Psic. Rev. São Paulo, volume 23, n.1, 9-29, 2014 Formas do
mal-estar na sociedade contemporânea 13 jurídico, ou seja, pela própria lei.
Fora exatamente a essa exorbitância da Lei que Freud imputou o mal-estar
do sujeito moderno (COSTA, D. B. & MOREIRA, J. O., 2010). Diante do
exposto, inicia-se um movimento libertário com o intuito de contestar a
ordem legitimada e “solucionar” a angústia e insatisfação provenientes da
mesma, evidencia-se pois, a transição e inauguração da
contemporaneidade.

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O homem da sociedade da visibilidade enfrenta a crise de ser, sem ter onde


se resvalar ou resguardar-se, vítima de seus próprios modos de conceber a
realidade que o insere, não reconhece nela a verdade sobre si mesmo, e preso ao
que se lhe apresenta, após progressiva perda contemplativa já não consegue
discernir o que de fato lhe proporciona bem estar, tão pouco identificar donde partem
suas aflições. Aqui se encontram a angustia, ansiedade, medos e frustrações que
não identificados donde provem somam-se num mal-estar crônico, e mais adiante
são estes mesmo mecanismos sabotadores, impeditivos da satisfação pessoal para
consigo mesmo, que adoecem a mente e por conseguinte refletem-se em alterações
físicas no próprio corpo.
Numa tentativa de tornar mais claro o ponto de vista aqui em discussão a
Psicanalise tem lugar dando luz ao se inscrever:

“num lugar de certa filosofia imanente da existência indo muito além de sua
função terapêutica. Trata- -se de um segmento ao qual se incumbe à tarefa
de preencher os vazios do discurso pós-moderno arregimentado nos novos
modos de alienação, direcionados ao gozo e ao consumo” (SHICOTTI,
VIDOTTE, 2014, pag 17).

A terapia Cognitiva Comportamental chama atenção para sua contribuição no


que tange a importância de se recuperar no sujeito adoecido, desta sociedade
contemporânea tal qual se apresenta, o exercício da reflexibilidade “visto que a
reflexividade é uma forma de superação de angústias e situações de potencial
desesperança, vivenciadas a partir de crenças negativas potencializadas em
experiências destrutivas presentes no contexto instável da alta modernidade.”
(BECK, 2009)
Pode-se compreender portanto, que esta crise a qual encerra o homem em
seu cárcere por ele mesmo guardado – o mal estar da sociedade do êxito - inscreve-
o num conflito consigo mesmo, difícil de ser traduzido sem ajuda de um
posicionamento que o conduza de volta a si mesmo numa perspectiva de
autoconhecimento, propiciando-lhe um encontro honesto com suas capacidades e
limitações, de maneira que assertivamente e não tão somente reativa possa passar
a lidar com o contexto de adversidades, do cotidiano que se afigura a vida moderna
contemporânea e seus desafios. Como defende:

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Nota-se que a ruptura com a natureza e a seguinte industrialização


excessiva presentes no nosso cotidiano fomentam o êxito completo da
construção da “casa do homem”, no entanto, como avesso deste
movimento, a loucura do nosso tempo, é exatamente o resultado da
maneira pela qual construímos o mundo em que vivemos, embora,
incoerentemente, prefiramos acreditar que esta encontra-se na sombra da
irracionalidade das relações e irrealidade do mundo. (SHICOTTI, VIDOTTE
pag 17).

3. O IDEAL DE SUCESSO E SEUS EFEITOS PATOLÓGICOS

O processo de modernização que elevou o padrão de vida de um


ordenamento compulsivo do consumismo a um ideal também compulsório por metas
predefinidas num contexto coletivo que exalta o glamour, a luxuria e ostentação,
ideário que observa-se indispensável a existência e que parece relacionar-se com as
alterações culturais ocasionadas na transição do tradicionalismo para o moderno
contemporâneo estilo de vida, também tem se tornado um evidente fator de
adoecimentos psíquicos, desequilíbrios emocionais longe de obedecerem a lógica
do “progresso”; “ por mais qualidade de vida”, o contrário, corresponde ao invés de
atenuante da ansiedade e angustias, é contudo agente ativador sempre presente,
maximizando todos esses males.
Dada essas transformações ferozes no campo da subjetivação do sujeito
movido por um padrão contemporâneo de conceber-se no mundo a partir do olhar
do outro ultrapassando os limites concebíveis de ideal de construção do “eu” tido
como normal, mas acima dessa concepção admissível, algo preocupante acontece;
o indivíduo se reduz ao ato, ao desejo descompensado, e em sua concepção interior
sobre si, há uma obrigatoriedade de reconhecimento, tal qual para um palco é
preciso que haja um espetáculo e esse imperativo inquietante equivale ao
sentimento de pertença, ‘o sentir-se no mundo”’, nos dias atuais; “..O lugar do ato
torna-se mais reconhecido do que o lugar da própria pessoa.” (CARRETEIRO, 2005
p. 66)
É também nesse sentido que podemos considerar que o ato é mais
importante que os sujeitos, uma vez que ele pode ser digerido no espaço de sua
exibição (CARRETEIRO, 2005 p. 66). Aqui residem as descompensações, e tem
lugar os conflitos psicológicos gerados numa dinâmica onde o ser é engolido por
expectativas excessivas e muitas vezes desconectas com as reais possibilidades e

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habilidades do sujeito, colando-o a beira de um precipício egoico, o que se traduz


num culto narcisista, porta de entrada para uma série de outras afecções mentais,
provenientes de um movimento de vida sempre tão voltado para seu ‘averso
externo’, quanto superficial no que refere a importância do autoconhecimento, de
modo que já não existe espaço para descobrir o desmando patologizante da
‘sociedade do espetáculo’, em que sucesso é palavra de ordem mais que um êxito
dentro de perspectivas mais realistas podem trazer satisfação e de maneira a não se
desdobrar em conflitos psíquicos adoecedores (CARRETEIRO, 2005 p. 66).

O olhar adquire um lugar considerável na sociedade da ação contínua, e a


histerização dos atos passa a ter papel privilegiado. Ela terá como objetivo
atrair o olhar do outro e querer receber forte valência de sua parte. Os
pequenos palcos públicos, com seus numerosos espectadores, têm papel
crucial na construção do reconhecimento do ato. O lugar do ato torna-se
mais reconhecido do que o lugar da própria pessoa. É o ato que dará
grandeza a seu autor. Há uma redução do indivíduo ao ato. O autor se
empenhará para tentar usar de toda sua inteligência, capacidade de
improvisação e de sedução, para continuar como objeto da atenção do
outro. A grande ou a pequena celebridade torna-se o alvo almejado. Estar
fora do palco equivale a não existir. (CARRETEIRO, 2005 p. 66..)

Num comparativo ao modelo de saúde em superação devido ao entendimento


de saúde enquanto processo que envolve o indivíduo em sua totalidade, o século
XXI, essa era do global virtual, cibernético e do ritmo frenético das atualizações que
demoram pra ser atualizadas no interior de cada sujeito, que este momento
conturbado inseri, não mais o risco eminente das pandemias virais nos acometem,
ao invés disso, vivemos o assombro “dos crescentes infartos causados não pela
negatividade de algo imunologicamente diverso, mas pelo excesso de positividade”
(HAN p.8 2010), este fragmento faz referência ao culto ao movimento individual em
busca sempre do aceitável em moldes que nem sempre traduzem as especificidades
e particularidades intrínsecas ao modo de fato de ser de cada um.
Parece que a homogeneidade traduz um padrão aversivo as diferenças, e
essa diferença pós moderna ‘é hiperestésica a hibridização’ ou seja um
enaltecimento das habilidades numa disputa pelo primeiro lugar, lugar de excelência
numa busca excessiva para provar habilidades e potencialidades exponenciais sem
que nessa corrida competitiva haja espaço para medianos, e essa compreensão por
parte do sujeito, não o permite se aceitar conforme suas reais possibilidades, o que
provoca um estado de tensão desestruturante.

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Para melhor entendimento, pretende-se aqui, evidenciar o perigo da perda da


capacidade de reflexão sobre si e sobre tudo que atua sobre esse ‘eu’ na
contemporaneidade. Essa metáfora da perda imunológica quer dizer que, o adverso
não chama atenção (o diferente do pódio por excelência), então o sistema encontra-
se desprotegido e vulnerável sem indicadores do invasor agressor a homeostase do
sistema (é afetado por submeter-se a busca desmedida por metas mirabolantes
condição para padrão do êxito sem conformidade com as reais condições do
sujeito), e aqui é importante ressaltar que trata-se do aspecto psicológico fortemente
debilitado em meio a essa crise traduzida pelo ideal das performances
espetaculares.
A ‘Sociedade do cansaço’ pós ‘sociedade disciplinar’ é dominação extenuante
de um sistema capital que já engloba até mesmo a capacidade do sujeito de rebelar-
se contra o que o domina e o coloca em lugar de ser seu próprio carcereiro,
transbordando em stress, nas crises de hiperatividade, depressão, transtorno do
sono, do humor, síndromes como a do pânico e de Burnout por exemplo. Então o
sujeito contemporâneo precisa ser orientado a buscar por um modo mais autêntico
de atuação em meio a tantas exigências e a angustia proveniente pelo anseio
sempre latente rumo ao reconhecimento imposto por esse padrão de excelência em
vigor.

Em tempos de carestia, a preocupação está voltada para a absorção e


assimilação. Em épocas de superabundância, o problema volta-se mais
para a rejeição e expulsão. A comunicação generalizada e a
superinformação ameaçam todas as forças humanas de defesa''5• (HAN,
2010 p.15)

4. ENTENDENDO A RELAÇÃO ENTRE RESILIÊNCIA E FELICIDADE

Entendendo a relação entre Resiliência e auto eficácia, chegamos ao caminho


de retorno do sujeito apreensivo e preso a seus constructos disfuncionais frente as
adversidades presentes no contexto da vida pós-moderna. Este caminho de retorno
refere-se à maneira positiva, menos reativa e mais assertiva de conduzir-se por
entre as adversidades cotidianas.
Foco no problema sem se deixar ser paralisado, escolhas construtivas e
criativas são possibilidades de enfrentamento que se traduzem no próprio

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tratamento da Terapia Cognitiva comportamental, que consiste em desenvolver no


sujeito habilidade para lidar com seus pensamentos e consequentemente mais
efetividade no trato com sentimentos e emoções, o que resulta em um
comportamento adequado e provedor de maior satisfação consigo mesmo em seu
contexto de vida.
Qual o conceito de felicidade mais adequado a realidade conflitante do
padrão de vida moderno? Pois bem, dentro desta perspectiva, onde coloca-se em
pauta o desejo pelo ter, em detrimento do próprio sujeito e sua subjetividade,
felicidade é ser classificado com excelência seja lá quais forem as provas; laborais,
sentimentais/emocionais/relacionais, familiares, pessoais ou mais propriamente dito,
o conjunto de todas essas citadas. Porém o que é fonte de angustia, frustração é a
emergência da imediaticidade dessa concretização e as estratégias utilizadas; ora
fuga e evitação se intercalam, ora, auto estima rola montanha da realização pessoal
abaixo, não deixando o sujeito se quer ter condições de restabelecer sua motivação,
mergulhado no labirinto do descontentamento consigo mesmo e com o mundo a sua
volta.

Todo ser humano tem uma elevada necessidade de sucesso e à


medida que este sucesso não é alcançado, a tendência ao
desânimo pode tornar-se uma ameaça que o impossibilite de levar
adiante seus objetivos de vida. Não obstante, há de se conhecer as
reais possibilidades e os limites e, assim, buscar o desenvolvimento
de novas habilidades que, consequentemente, conduzam às
conquistas as quais se almeja. (HERRERA, 2013, p. 90)

Sim, é natural ter aspiração a auto realização, aqui não há nenhum enfoque
negativo quanto ao aspecto do sucesso, porém também é comum situações se
tornarem adversas e dificultarem assim as conquistas pessoais, tornando-se eventos
estressores, ou mesmo impedimento ao bem-estar; satisfação que não se sabe bem
ao certo a dosagem para cada indivíduo em particular, mas pode-se entender como
felicidade.
A resiliência então nada mais é que uma habilidade de adaptação às
situações problemas, de maneira a facilitar no enfrentamento e na resolução das
questões, uma vez que aqui o indivíduo tende a ter uma percepção promissora das
experiências negativas, evitando que se tornem transtornos mentais. Indivíduos
resilientes desenvolvem competência para se posicionarem frente aos desafios que

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lhes são impostos, de modo positivo, ajustando-se ao contexto estressor e


superando as dificuldades, fortalecendo-se com a superação, tornando-se
resistentes às novas ocasiões adversas.

Dentre as características psicológicas mais evidentes desses indivíduos,


estão incluídas uma responsividade rápida ao perigo; a busca de
informações; a formação e a utilização de relacionamentos para propiciarem
a sobrevivência; a convicção de ser amado; a reestruturação cognitiva de
experiências dolorosas; o otimismo e a esperança. (HERRERA, 2013, p. 90)

Auto eficácia, portanto, passa também a atuar nestes indivíduos como


constructos funcionais, que atuam como um conjunto de crenças na sua capacidade
de lidar, resolver e superar situações problemas, determinando positivamente seu
comportamento. A ambivalência destes dois termos, que embora em seus conceitos
pareçam se tratar ambos de um mesmo, correlacionam-se efetivamente com a
Terapia Cognitiva Comportamental, visto que esta abordagem trata da regência dos
pensamentos, uma vez que estes são os preditores do comportamento.

Um evento comum do nosso cotidiano pode gerar diferentes formas


de sentir e agir em diferentes pessoas, mas não é o evento em si
que gera as emoções e os comportamentos, mas sim o que nós
pensamos sobre o evento; nossas emoções e comportamentos
estão influenciados pelo que pensamos. Nós sentimos o que
pensamos. Os eventos ativam os pensamentos, os quais geram,
como consequência, as emoções e os comportamentos. Segundo
Beck13, “quando o indivíduo é capaz de preencher o espaço
faltante entre um evento ativador e as consequências emocionais e
comportamentais, então suas reações se tornam compreensíveis”
(HERRERA, 2013, p. 88)

Esta correlação entre os termos (resiliência/autoeficácia) e a TCC, faz-se


necessário enfatizar, pois, visto que a modernidade e todo seu complexo contexto,
tem se tornado fonte de desajustes e conflitos psíquicos emocionais. Isto posto, traz
a importância das técnicas cognitivo comportamentais, sendo estas eficazes quanto
ao foco em potencializar e desenvolver a capacidade resolutiva da cognição
humana, para uma melhor adaptação às adversidades, favorecendo a qualidade de
vida, a partir do fortalecimento da autoestima por intermédio da psicoeducação, que
proporciona descobertas intimas indispensáveis (autoconhecimento) na busca pelas
realizações pessoais e satisfação quanto ao modo como passam a ser regidos os
pensamentos e emoções. Abrindo um leque de opções, para uma melhor percepção

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dentro do esquema da tríade cognitiva, que envolve o indivíduo em suas relações


com o outro no contexto vivido, já que a habilidade no desenvolvimento de
estratégias para solução dos problemas, torna-se também mais efetiva.

5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para a confecção deste trabalho, foi utilizada pesquisa bibliográfica, a partir


de artigos científicos e periódicos que trouxeram o posicionamento de autores
estudiosos sobre as questões a que este trabalho pretendeu clarificar, tais como, a
complexidade conflitante da contemporaneidade, o homem pós moderno escravo de
um ideal de sucesso e excelência, as patologias próprias deste período, e os
posicionamentos tidos como positivos em busca da autenticidade deste sujeito
contemporâneo, tendo enfoque a terapia cognitiva comportamental e suas técnicas,
visando a promoção de comportamentos mais adaptativos.
A pesquisa que embasou este trabalho caracteriza-se por ser qualitativa,
tendo em vista o aprofundamento das questões em discussão e descritiva por
descrever o fenômeno que caracteriza o conflito a que em discussão se propôs
investigar.

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Considerando a análise feita com base no material bibliográfico, acerca do


movimento incessante e complexo, instável da globalização, produzindo padrões
determinantes no modo de concepção da realidade, verificou-se o impacto nos
modos de vivenciar esse fenômeno da contemporaneidade, observando o efeito
sobre a subjetividade, no entendimento que este mal do século, compreendido com
base na leitura dos periódicos científicos aqui tomados como base teórica para a
produção deste trabalho, é contudo, aflição diante da impossibilidade de exercer a
reflexividade devidamente, havendo um déficit de autoconhecimento do homem
contemporâneo, pois a velocidade com que os padrões são impostos não permite o
movimento reverso a exteriorização e exposição a visibilidade excessiva.

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Isto posto, observou-se que esta busca do homem moderno pela plenitude,
traduz-se em desamparo, frente a frustração causada pelo conflito de
autoidentidade, comprometida pela imposição de ideais de sucesso pautada no
consumo, posse de bens, e excelência de capacidades e potencias pessoais, como
valores que ressaltam a importância do indivíduo junto a sociedade, onde o
capitalismo que engloba também a subjetividade deste indivíduo, apregoa, que o
que se produz em números, é que delimita o valor de cada um.
Este estudo na literatura, confirmou que o sofrimento psíquico que se
denuncia como mal do século, deriva do desenraizamento na perda dos referências
simbólicos, quando há superação da sociedade tradicional, pela vigência dos dias
atuais, em que se percebe cada vez mais crescentes, demandas que expressam
insatisfação, insegurança, desesperança, desmotivação e dificuldade para lidar com
as próprias dores e amarguras. Tal postura de despreparo, expressa-se na fuga e na
atitude de evitamento, que é indício da inconsistência pessoal a que se afigura a
despersonificação do sujeito, na sociedade do cansaço.
Ao confirmar tal sofrimento humano proveniente de peculiaridades deste
momento contemporâneo, este estudo também relata a relação de causalidade
entre a necessidade de glorificar o ‘eu’ e o sofrimento daqueles que fracassam,
manifesto através das patologias próprias deste momento, desta conjuntura social e
cultural, do espetáculo; depressão, síndromes como a do pânico, transtornos como o
de ansiedade e as dependências químicas que também se enquadram num padrão
de fuga e evitamento das situações problemas, que chacoalham justo o emocional
do indivíduo, que vive o conflito da busca incessante pelo prazer.
Deste modo as discussões discorridas no desenvolvimento deste trabalho,
evidenciam o desafio de lidar com este sujeito multifacetado. Para tanto surgem
fatores relacionados com a bivalência Resiliência e Auto eficácia, correspondentes a
estilos de respostas positivas, mais adaptativas as adversidades, relativas a
habilidades cognitivas eficazes, preditoras de comportamentos que contribuem para
uma vida pessoal e profissional mais também mais positiva. A terapia Cognitiva
Comportamental é enfatizada, por suas técnicas estarem voltadas para o
desenvolvimento das capacidades cognitivas humanas no sentido de promover ao
indivíduo, mais qualidade de vida, através do fortalecimento da autoestima, maior
controle sobre si, o meio e as situações vividas, proporcionando maior amplitude de
estratégias e habilidades para solucionar conflitos.

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7. CONCLUSÃO

Diante de todo levantamento teórico, suscitado na discussão pelo


entendimento deste momento atual da conjuntura social e cultural da
contemporaneidade, deste sujeito da excelência e da análise dos conflitos causados
por essa imposição, sem espaço para o exercício da reflexividade sobre este ‘eu’
que se dissolve em meio a sua despersonalização e inautenticidade, surge a
necessidade de entendimento das causas e das consequências patológicas, no
intuito de colaborar para a prática do psicólogo neste cenário.
Conclui-se portanto, a partir da compreensão do desenvolvimento de
comportamentos mais adaptativos e eficazes na busca por satisfação nos moldes
saudáveis de qualidade de vida, que a terapia cognitiva comportamental tem papel
significativo no trato dos transtornos e desajustes causados como efeito, deste
momento atual da sociedade, uma vez que seu foco potencializa a autonomia do
sujeito sobre si e sobre suas atitudes, frente aos desafios impostos e este parece ser
o caminho de retorno a um estado menos comprometido e adoecido, proveniente
das transformações vigentes.

REFERÊNCIAS

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