Você está na página 1de 16

28/02/2018 Humanização Hospitalar: dos Primórdios à Atualidade, um Breve Relato - Psicologia Hospitalar - Psicologado: Artigos de Psicologia

(/)

Humanização Hospitalar: dos Primórdios à Atualidade, um


Breve Relato (/atuacao/psicologia-
hospitalar/humanizacao-hospitalar-dos-primordios-a-
atualidade-um-breve-relato)
Autor:  Cícero Diógenes Carlos Rodrigues | Publicado na Edição de:  Janeiro de 2013 (https://psicologado.com/edicoes/01/2013)

Categoria:  Psicologia Hospitalar (/atuacao/psicologia-hospitalar/)

Resumo: A proposta de humanização nasce como forma de oposição à violência


institucional existente nos hospitais brasileiros, e isso se concretiza com atos em que se nega a
subjetividade dos sujeitos e a sua completude, quando lhes reduzem a meros objetos. Desta
forma, humanizar é modi car o modo de se fazer e produzir assistência hospitalar. É modi car
toda a sua estrutura. E partindo deste princípio foi que objetivamos analisar a construção
histórica da humanização hospitalar no Brasil, perpassando pela história do hospital enquanto
modelo europeu adotado pelo Brasil, a m de que pudéssemos analisar os principais
sentimentos dos sujeitos em relação ao hospital, culminando assim na tentativa de conceituar a
humanização hospitalar, denotando a importância que se é humanizar a assistência hospitalar.
Para tanto realizamos uma pesquisa de cunho bibliográ co em livros publicados no Brasil,
artigos cientí cos, esta fundamentada no método qualitativo.  Concluiu-se que a humanização
hospitalar é uma tarefa difícil e de grande complexidade, pois denota mudanças no modo de
atuação da equipe, das estruturas do hospital e nem sempre os envolvidos no processo
hospitalar estão abertos a mudanças. Mesmo diante do investimento promovido pelos órgãos
competentes em propor uma atenção a saúde humanizada encontramos ainda muitos
estabelecimentos hospitalares distantes do que vem a ser uma instituição humanizada, mas
uma instituição altamente violenta.
Palavras-Chaves: Humanização, Hospital, Paciente, Psicologia Hospitalar

https://psicologado.com/atuacao/psicologia-hospitalar/humanizacao-hospitalar-dos-primordios-a-atualidade-um-breve-relato 1/16
28/02/2018 Humanização Hospitalar: dos Primórdios à Atualidade, um Breve Relato - Psicologia Hospitalar - Psicologado: Artigos de Psicologia

1. Introdução
O alvorecer dos séculos XIX e XX veio acompanhado de mudanças sociais signi cativas,
dentre elas podemos destacar a entrada da medicina no hospital, apontada por muitos teóricos
como o mais importante acontecimento ocorrido nos últimos séculos na área da saúde.
A entrada da medicina no hospital imprimiu-lhe uma nova face. Antes marcado pela
caridade cristã, agora é modi cado por uma nova política de atuação, que se volta para as
preocupações com saúde e doença, e o que antes era lugar de hospedagem/prisão torna-se um
lugar para um ambiente médico, que agora muda sua estrutura, administração, modo de ser e
fazer.
Atualmente, o ambiente hospitalar passa por constantes reestruturações, com a inserção de
novas tecnologias e novas práticas de intervenção multidisciplinar. Este novo ambiente,
proporciona a medicina uma nova forma de se produzir saúde, graças a informática e  às
máquinas que são capazes de ver além dos olhos, além da descoberta de fármacos que
possibilita tratar mais precisamente as doenças, o que tem tornado a intervenção dos
pro ssionais de saúde cada vez mais especí ca.
Com a tecnologia, a medicalização da medicina, nasce um hospital desumanizado,
despreocupado com o lado humano dos sujeitos, que vai desde a equipe técnica do hospital aos
pacientes. Todas estas mudanças trouxeram graves problemas ao hospital, e a relação médico-
paciente sofreu drásticas mudanças.  O hospital agora é capaz de cuidar, tratar, salvar, porém
incapaz de vê e reconhecer os sujeitos além de objetos, doenças, e máquinas, com uma visão
cada vez menos holística sobre o paciente.

A partir do exposto decidimos investigar de forma breve a Humanização Hospitalar desde


os primórdios até a atualidade, com o objetivo de investigar a contribuição do processo de
hospitalização na construção da (des)humanização hospitalar, perpassando pelos sentimentos
e percepção sofridos pelos sujeitos, analisar os principais fatores que in uenciam na
desumanização hospitalar, perpassando a origem do hospital a atualidade, uma construção
histórica. origem do hospital culminando com a ideia de humanização da atualidade.
Esta pesquisa norteou-se sobre o olhar investigativo da construção da história do hospital e
sua in uência na (des) humanização, para tanto nos referenciamos nas duas obras intituladas,
História da Loucura (1961) e Microfísica do Poder (1979, 2010), ambas de Michael Foucault.
 Investigamos também os sentimentos mais comuns imbuídos nos sujeitos em processo de
hospitalização ou a própria hospitalização, por m buscamos considerações a respeito da
história da humanização na tentativa de conceituá-la.

2. Metodologia

https://psicologado.com/atuacao/psicologia-hospitalar/humanizacao-hospitalar-dos-primordios-a-atualidade-um-breve-relato 2/16
28/02/2018 Humanização Hospitalar: dos Primórdios à Atualidade, um Breve Relato - Psicologia Hospitalar - Psicologado: Artigos de Psicologia

Trata-se de uma pesquisa classi cada segundo Mancini (2006) como um estudo de revisão
bibliográ ca, por realizar uma análise e síntese de informações disponibilizadas por estudos
relevantes sobre determinado tema, e que foi fundamentada a partir da leitura e compreensão
da literatura já existente presente em livros do acervo pessoal e artigos cientí cos
especializados encontrados através de busca nos bancos de dados SciELO, BIREME, e  Google
Acadêmico, além das fontes Medline e LILACS, onde foram utilizados termos como
Humanização, Psicologia, e hospitalização, onde foram escolhidos os trabalhos que dissessem
a respeito do tema proposto, e que trouxessem informações relevantes de serem discutidas
aqui.

3. Referencial Teórico

3.1 Um breve relato histórico do hospital.


Para Foucault (2010) a história do hospital pode ser dividida em dois períodos. O primeiro
anterior ao século XVIII, no qual o hospital é caracterizado como uma instituição de assistência
aos pobres, como eram classi cados aqueles que se encontravam a margem da sociedade
europeia que os consideravam a sua parcela anormal, e que para se preservar a ordem e a
normalidade era necessário retirá-los das ruas, colocando-os em um ambiente que os
mantivessem em ordem e não se caracterizasse como uma ameaça a norma, estes eram
submetidos a uma variedade enorme de regras, propostas nos regulamentos gerais destes
ambientes descritos por Foucault na obra intitulada História da Loucura (1972) onde o hospital
era gura de exclusão e separação dos sujeitos da sociedade.
Neste período no hospital não havia preocupação com a saúde dos internos, e segundo
Brasil (1965) estas instituições eram responsáveis por um grande número de óbitos, devido a
falta de cuidados médicos, a precariedade estrutural, o desconhecimento da medicina
bacteriologista e virologista, ao tempo que os internos sadios conviviam diretamente com os
enfermos.

Os hospitais enquanto ambiente de hospedaria, (pois em nada eles se caracterizavam com


a ideia de hospital o qual é concebido na atualidade.), eram mantidos e administrados pelas
instituições religiosas da época, e diferentemente do hospital que conhecemos este não tinha a
gura do médico. Neste período a medicina era regalia dos mais ricos, que recebiam as visitas
dos médicos em suas casas, quando estavam necessitados. (FOUCAULT, 2010).
O segundo momento da história do hospital que corresponde ao período posterior ao
Século XVIII e início do século XIX e XX, é marcado pelo rompimento entre administração
hospitalar e religião, passando agora a responsabilidade de administrar os hospitais às
municipalidades.(FOUCAULT, 2010).

https://psicologado.com/atuacao/psicologia-hospitalar/humanizacao-hospitalar-dos-primordios-a-atualidade-um-breve-relato 3/16
28/02/2018 Humanização Hospitalar: dos Primórdios à Atualidade, um Breve Relato - Psicologia Hospitalar - Psicologado: Artigos de Psicologia

Com a entrada da medicina no hospital o médico tornou-se o novo administrador, este fator
é considerado por Brasil (1965) como à mudança mais importante e signi cativa; no entanto
esta não foi uma conquista da população e nem tão pouco foi concebida se pensando nela,
mais pelo fato de que com o avanço tecnológico e com ele o surgimento do fuzil no exercito,
que tornavam o treinamento dos soldados mais onerosos aos cofres públicos, viu-se que não se
podiam perder soldados feridos em combate, por ferimentos que poderiam ser curados com a
ajuda de um especialista, neste caso o médico, e foi a partir desta necessidade imposta pelo
sistema capitalista que o médico tornou-se peça fundamental no hospital, desencadeando
assim uma variedade de mudanças, que partiam desde as estruturas físicas às tecnológicas.
Aos poucos as mudanças ocorridas nos hospitais do exercito, foram também alcançando a
sociedade civil, de forma bem lenta. (FOUCAULT, 2010)
Estas mudanças caram mais evidentes com a 2ª e 3ª Revolução cienti ca e técnica, que
promoveu várias conquistas no tangente da saúde. Houve assim o domínio da bioquímica, da
farmacologia, etc., com implicações tanto no diagnóstico como na terapêutica e na reabilitação,
eis que o hospital cou impregnado pelas tecnologias. (GRAÇA, 1996)
Com a técnica houve a necessidade das especializações. Os médicos agora se
especializavam em doenças especí cas, em órgãos, sistemas, etc., porém segunda a rma
Graça (1996, p. 10)”... o hospital de ontem, dá lugar a um mundo de botas brancas e de
tecnologia de ponta, asséptico mas desumanizado.”

E assim o hospital passou a ser o centro da saúde. A idéia de saúde coletiva acabou sendo
esquecida ou colocada em segundo plano enquanto houve investimentos em massa numa
medicina técnica e tecnológica. O médico ganhou poder, passou a ser o centro da relação
saúde-doença, isto é não existe saúde/cura sem a presença do médico. (GRAÇA 1996).
Segundo Goldenstein (2006, p. 42):

Criou-se um verdadeiro mito da medicina tecnológica, do poder dos hospitais e dos


médicos, como se fosse possível curar todas as doenças através de tecnologia ou de
transplantes cardíacos.

Esta nova aurora no hospital traz ao seu contexto inúmeras mudanças, principalmente no
que se faz referência ao diagnóstico e tratamento de doenças. A tecnologia que ganha poder
após a Segunda Guerra Mundial, toma espaço nos hospitais, proporcionando aos médicos
maior poder de diagnóstico e em consequência, de tratamento, a descoberta dos fármacos e a
sua administração dentre outros fatores traz um novo modo de se fazer saúde, e se pensar
doença (GOLDENSTEIN, 2006).

https://psicologado.com/atuacao/psicologia-hospitalar/humanizacao-hospitalar-dos-primordios-a-atualidade-um-breve-relato 4/16
28/02/2018 Humanização Hospitalar: dos Primórdios à Atualidade, um Breve Relato - Psicologia Hospitalar - Psicologado: Artigos de Psicologia

Outra característica que nasceu com o alvorecer da medicina no hospital, foi à construção
de um hospital comércio, criada por grandes empresários que viram no hospital, nos médicos e
nos pacientes uma promissora fonte de renda e economia, graças às grandes descobertas que
precederam este século, como a descoberta do antibiótico e de outros fármacos para se tratar
patologias de forma pontual. (AMIN, 2001)
Assim o hospital passa a representar o mercado, o médico o produtor e por m o paciente
aquele que consome e paga a conta. Com este novo modelo o médico é sobrecarregado de
funções, de consultas, procedimentos, afetando diretamente aquele que precisa do cuidado e
atenção o paciente, que vê toda essa situação com descon ança. (GOLDENSTEIN, 2006)
Diante de toda a pressão investida no médico pelo modelo capitalista que a saúde vive, ele
se coloca diante das suas próprias pressões, pois segundo Goldenstein (2006) a medicina e o
médico ganhou poder e destaque nos últimos tempos, e com isso há uma excessiva con ança
dos pacientes no médico e do médico nos seus próprios meios terapêuticos, ou seja o médico
não pode errar, errando ele quebra com toda a crença depositada pelo paciente no médico.
Cobra-se um diagnóstico pontual, uma terapêutica e ciente, etc., e este comportamento
acaba por gerar uma cisão entre o médico e todos os sujeitos imbuídos no hospital, “já que a
obrigação de fazer o máximo para alcançar a cura e a exigência excessiva da competência se
antepõe a qualquer gesto de humanidade” (AMIN, 2001).
O hospital enquanto instituição teve sua história dividida em dois períodos, com
transformações e características distintas e peculiares a cada um, observamos em Foucault
(2010) um hospital segregador que separavam os sujeitos por classes sociais, e um segundo
hospital também segregador, porém com o objetivo de curar e tratar. Portanto a história do
hospital é marcada por mudanças, estas signi cativas à vida da sociedade, porém estas
construídas sob a óptica da desumanização, da exclusão.

3.2 O Sujeito e a hospitalização


Anterior ao período da hospitalização os sujeitos eram tidos e percebidos como tal, ou seja,
com poder de decisão, autônomos, que cuidam das suas vidas, do seu corpo, e pouco
dependem de outras pessoas para realizar atividades rotineiras (AMIN, 2001).
Com o adoecimento e em consequência a hospitalização, os sujeitos são lançados em
outro mundo até então desconhecido e levados a viver uma nova realidade, esta dirigida e
ordenado sob a responsabilidade de outras pessoas, muitas vezes estranhas ao seu convívio
social (GOLDENSTEIN, 2006).

Durante o processo de hospitalização os sujeitos perdem as características que lhes são


próprias, e passam a ser tidos e esperados como pacientes, ou seja, daqueles de quem se
espera passividade, respeito às regras, aceitação ao tratamento que lhe é imposto, visto que

https://psicologado.com/atuacao/psicologia-hospitalar/humanizacao-hospitalar-dos-primordios-a-atualidade-um-breve-relato 5/16
28/02/2018 Humanização Hospitalar: dos Primórdios à Atualidade, um Breve Relato - Psicologia Hospitalar - Psicologado: Artigos de Psicologia

este está sendo realizado por um bem maior, que é a recuperação e preservação da sua vida
(AMIN, 2001).
Desta forma, percebe-se logo de início um tendencionismo de transformar os sujeitos em
meros objetos manipuláveis, palpáveis, e de acordo com Amin (2001) e Goldenstein (2006) para
a equipe técnica do hospital, se o paciente não falar não reagir, não perguntar, estará
colaborando para e ciência do pessoal de internação, e claro, com a manutenção da rotina
paci camente.
Esquece-se que este que agora está doente, preso ao leito hospitalar, deixou sua vida, sua
família, suas responsabilidades fora do ambiente hospitalar e lhes obrigam a viver uma
realidade que não é sua (GOLDENSTEIN, 2006) .
Tende-se a reduzi-lo a patologias. Ignora-se o homem como um ser completo, que muito
além de um corpo doente ele é, um ser social, psicológico e espiritual (AMIN, 2001).
Negam-lhe ainda sua história, causando-lhe segundo Amin (2010) sentimentos de angústia,
frustração, medo, etc., na tentativa de serem especí cos no diagnóstico e tratamento, porém
como a rma Goldestein (2006) de nada valerá um diagnóstico e dados objetivos de patologias,
seu prognóstico e técnicas de intervenções, se não for considerado que não se trata de uma
doença, mais sim de pessoas doentes e nesse sentido, desconhecer a história da pessoa
equivale a negligenciar o próprio sentido desse trabalho.
O processo de hospitalização ocasiona ao sujeito hospitalizado uma cisão da sua vida
normal. Eis que ao tornar-se paciente, ele torna-se vulnerável, parte externa de um processo ao
qual ele está inserido, ou melhor, é parte fundamental deste, no entanto impõe-lhes
procedimentos invasivos sem que lhes peçam autorização e consentimento.

Com as rotinas de tratamento, o paciente sente-se, se quisermos falar do aspecto físico,


agredido e invadido (invasão que ocorre, por exemplo, através de sondas, cateteres,
drenos, etc.), gerando sentimentos de dúvidas, medo, expectativas, sensações estranhas
em sua corporeidade,etc., atingindo e, até comprometendo sua identidade.” (SANTOS E
SEBASTIANI 2003, p. 153). 

É importante salientar que no processo de hospitalização além do medo, da angústia e da


ansiedade em relação ao internamento e tratamento, o paciente sofre um dos fatores mais
penosos na hospitalização,que de acordo com Camon (2010) é o processo de
despersonalização, o qual “o paciente deixa de ter o seu próprio nome e passa a ser um número
de leito ou então alguém portador de alguma determinada patologia”.
Isso se dá pelo fato de que com o avanço tecnológico no hospital, ocorreu uma
“fragmentação ocorrida a partir dos diagnósticos cada vez mais especí cos que, além de não
abordarem a pessoa em sua amplitude existencial, fazem com que apenas determinados
sintomas existam naquela vida”. (CAMON, 2010).

https://psicologado.com/atuacao/psicologia-hospitalar/humanizacao-hospitalar-dos-primordios-a-atualidade-um-breve-relato 6/16
28/02/2018 Humanização Hospitalar: dos Primórdios à Atualidade, um Breve Relato - Psicologia Hospitalar - Psicologado: Artigos de Psicologia

Desta forma como expressa Goldenstein (2006, p.48) a hospitalização faz com que haja a
fragmentação do sujeito proposta pela medicina atual que “con a extremamente na e ciência
da medicação química, e [...] cirúrgica”, negando a importância da anamnese.
Este último capaz de proporcionar ao médico/paciente uma relação agradável e necessária
para ambos no processo saúde/doença, acreditando que esta nova forma de se fazer saúde
proporcione aos sujeitos maiores chances na sua recuperação.
Porém, seguindo o pensamento de Amin (2001) este processo acarreta aos sujeitos
hospitalizados uma série de sentimentos que podem ao contrário do que se pensa, agravar
ainda mais a sua situação atual, pois “o paciente sente-se um morto-vivo, ao ser lhe dado o
nome da doença, como se ele fosse, a partir daquele momento, aquele nome, e não mais ele.”

3.3 A humanização hospitalar no Brasil


Diretamente in uenciado pelo modelo europeu, o Brasil, no que se faz referência à saúde,
adota as mesmas características do modelo de saúde europeu, o mesmo ocorre com o modelo
hospitalar da época, em que as Santas Casas de Misericórdia, instituídas pela Igreja recebiam a
parcela mais pobre da sociedade, os hospitais do exercito cuidavam dos feridos em guerra ou
acometidos de alguma doença, os mais abastados tinham os médicos que atendiam em casa e
quando se precisava de procedimentos cirúrgicos os cirurgiões barbeiros tratavam de operá-los
nas suas próprias residências (HELITO E KAUFFMAN, 2007).
Em 1542, Braz Cubas inicia em Santos a construção da primeira Santa Casa de
Misericórdia, daí foram sendo construídas outras casas espalhadas pelo pais, o exército se
conveniou com as Santas Casas, porém com a rma Helito e Kauffman (2007) devido as
precariedades destas instituições o exército decide construir aquele que seria o primeiro
hospital militar do Brasil, este atendia tanto soldados como a população civil, quando por
qualquer motivo as Santas Casas não podiam fazer, porém o hospital do exército acabou
vivendo as mesmas condições precárias das Santas Casas.
A grande parte dos hospitais brasileiros foi erigida sob a óptica da lantropia, a
enfermagem era assumida pelas irmãs de caridade, muitas vezes sem nenhuma formação e\ou
capacitação, tanto é que apenas em 1921 foi que teve inicio por iniciativa de Carlos Chagas o
primeiro curso superior da moderna enfermagem.(HELITO E KAUFFMAN, 2007)
O cenário começou a passar por mudanças por volta dos anos 80, quando devido à
incrementação das campanhas sanitaristas patrocinadas pelo Estado tornou-se necessário criar
hospitais públicos, para que pudessem tratar tal realidade com maior precisão, essa realidade
também modi cou os cuidados dispensados aos doentes mentais, onde D. Pedro II “penalizado
com as condições subumanas vividas pelos alienados, assinou um decreto para a construção
de um hospício no Rio de Janeiro” (HELITO e KAUFFMAN, 2007, p. XIVI) sendo o mesmo
concretizado em 1852.
https://psicologado.com/atuacao/psicologia-hospitalar/humanizacao-hospitalar-dos-primordios-a-atualidade-um-breve-relato 7/16
28/02/2018 Humanização Hospitalar: dos Primórdios à Atualidade, um Breve Relato - Psicologia Hospitalar - Psicologado: Artigos de Psicologia

Este período fora caracterizado pelo auto índice de óbitos que ocorriam nos hospitais,
devido a precária infra-instrutora e conhecimentos médicos precários, tanto que o hospital cara
conhecido e assimilado pela população como lugar destinado a morrer, deste cenário nasce o
que mais tarde seria conhecido como o hospital privado, pois diante de tantos acontecimentos
médicos instituíram “casas de saúde” uma espécie de hospital nas suas próprias residências se
contrapondo ao sistema hospitalar vigente visto como “ante-câmara da morte” (REGO, 1993).
Desta forma podemos observar que os primeiros passos da implantação do hospital no
Brasil, fora in uenciado diretamente pelo modelo hospitalar europeu, estes primeiros
estabelecimentos de saúde no Brasil, era caracterizado pela precariedade existente, tanto em
recursos técnicos e humanos, Helito e Kauffman (2007) citam como exemplo dessa
precariedade a Hospedaria dos Imigrantes em São Paulo, que fora construído como “o principal
centro de recepção, triagem e abrigo dos imigrantes estrangeiros, chegando a alojar até 9 mil
pessoas e contar com um único médio para assisti-las”.
Poucos eram os estabelecimentos hospitalares, e só na década de 1930 fora que mudanças
começaram a serem sentidas com a criação de novos hospitais neste mesmo período houve o
fortalecimento do sistema previdenciário, onde o acesso a saúde seria fruto da contribuição do
empregado com a previdência, agora os hospitais serão reservados aqueles que tinham o plano
previdenciário ou vínculo com a previdência social.
O sistema de saúde previdenciário se entendeu até o ano de 1988, onde na reformulação da
constituição brasileira, a saúde foi instituída como direito de todos os cidadãos e dever do
estado no artigo 196 da nova constituição federal (MELLO, 2008).
Da saúde como dever do Estado nasce o Sistema Único de Saúde (SUS), que pretendia
oferecer saúde a todos os brasileiros, sem distinção de qualquer gênero, que ofereceria saúde
não só curativa mais pautada sobre os eixos, promoção que buscam eliminar ou controlar as
causas das doenças, Proteção que procuram prevenir riscos e exposições das doenças atuando
diretamente na vida das pessoas e por m a recuperação que são as ações que evitam mortes e
sequelas quando já estão com o patógenos estalado. (MELLO, 2008).
A criação do SUS marcou a década de 80 numa proposta de oferecer a população brasileira
saúde de qualidade, pautadas na nos princípios de integralidade, universalidade e equidade. Já
os anos 90 mostraram as di culdades em se implantar o SUS e com elas cresceram as críticas,
a desumanização e impessoalidade da atenção à saúde (JUNGES e DODE, 2009).
Desde a criação e implantação do SUS, existem várias criticas a sua metodologia, prática e
execução. Críticas ao atendimento desumano, a falta de recursos necessários para os
procedimentos mais básicos, infraestrutura precária, precariedade em recursos humanos e
técnicos, a baixa remuneração a equipe hospitalar (BRASIL, 2001).

Em resumo, o modelo de sistema único de saúde (SUS) proposto para o nosso meio é
universal, humanizado e de qualidade, tendo recebido elogios de inúmeros países. No
entanto, embora tenha obtido algumas conquistas desde que foi criado, enfrenta grandes
di culdades para efetivar sua total implantação (MELLO, 2008, p. 29).

No ano 2000 quando em Brasília se realizava a 11º Assembléia Nacional de Saúde, a


humanização foi apontada como uma necessidade para que o SUS funcione como proposto, ao
mesmo tempo que representa um grande desa o na sua implantação, pois humanizar equivale
a mudança, não somente no corpo técnico, mas mudanças organizacionais, humanizar é mudar
a forma de se promover saúde, é mudar o rosto do hospital enquanto instituição. (RIOS, 2009).

https://psicologado.com/atuacao/psicologia-hospitalar/humanizacao-hospitalar-dos-primordios-a-atualidade-um-breve-relato 8/16
28/02/2018 Humanização Hospitalar: dos Primórdios à Atualidade, um Breve Relato - Psicologia Hospitalar - Psicologado: Artigos de Psicologia

Oposto ao processo de humanização, encontramos a tecnologia, a medicalização da


medicina, apontadas por Rios (2009); Graças (1996); Goldenstein (2006); Amim (2001) dentre
outros, como responsável pelo processo conhecido como desumanizador da área hospitalar. No
entanto Mello (2008) apresenta a saúde brasileira em descompasso com o desenvolvimento
cientí co-tecnológico, cultural e político. Assim podemos observar a grandiosidade do que pode
ser considerado como fator desumanizador no hospital, pois a tempo que o pro ssional não
dispõe de meio de diagnóstico, de precisar um tratamento através da técnica ca difícil sua
atuação diante da problemática.
      O Ministério da Saúde do Brasil, diante dos resultados das pesquisas propostas para
investigar o nível de aceitação dos usuários do SUS, concluiu que “a qualidade da atenção aos
usuários é uma das questões mais críticas do sistema de saúde brasileiro” (Brasil, 2001, p.5),
apontou ainda que os usuários que “a forma de atendimento, a capacidade demonstrada pelos
pro ssionais de saúde para compreender suas demandas e suas expectativas são fatores que
chegam a ser mais valorizados que a falta de médicos, etc.”
Diante das criticas investidas ao Sistema de Saúde, das propostas geradas na 11ª
Assembléia Nacional de Saúde, das pesquisas realizadas para medir o nível de qualidade do
SUS, o então ministro da saúde, Sr. José Serra, convidou um grupo de pro ssionais da área de
saúde mental com o intuito de gerar um projeto que pudesse ajudar a mudar esta realidade no
país, daí nasceu o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar – PNHAH, que
de principio foi aplicado como projeto piloto em vários hospitais da rede pública de saúde,
propondo “um conjunto de ações integradas que visam mudar substancialmente o padrão de
assistência aos usuários nos hospitais públicos melhorando a qualidade e a e ciência dos
serviços prestados” (BRASIL, 2001, p.7).
O programa demonstra a necessidade de se promover ações que sejam capazes de
transformar a forma de atendimento no hospital, no melhoramento da relação equipe/paciente
apontada como algo de fundamental importância, e acima de tudo ajudar a equipe a se pautar
na tecnologia como fundamental para a saúde, sem se perder no distanciamento que a mesma
promove entre médicos e pacientes, este apontado por muitos teóricos como o princípio da
desumanização no hospital (RIOS, 2009);
Com o desenvolvimento das atividades propostas no programa fora observado que em
alguns estabelecimentos hospitalares já existiam atividades consideradas humanizadoras, só
que de forma isoladas, sem que modi casse de forma veemente a estrutura hospitalar ou
provocasse nos médicos, pacientes e equipe sentimentos de mudanças em relação a realidade.
Pode-se observar que o PNHAH no seu desenvolvimento foi envolvido em sentimentos de
gratidão e de repulsa por parte de alguns pro ssionais, visto que alguns pro ssionais nalmente
se sentiram reconhecidos pelo fato de que já vinham desenvolvido atividades humanizadoras,
de outro lado pro ssionais se sentiam ofendidos com a proposta, questionando-o, e a rmando
ser o mesmo sem necessidade, pois a humanização já faz parte da prática de saúde, porém
como a rma Brasil (2001), a crítica investida ao programa de humanização da assistência
hospitalar, nasce por que propor humanização é propor mudanças nas bases administrativas
daquela instituição, que em consequência causará certo mal estar entre pro ssionais,
administradores que ainda se encontram resistentes a mudanças.
Ao m da realização do projeto piloto que se pendurou por cinco meses, concluiu-se que
havia sim a necessidade gritante de se desenvolver uma cultura de atendimento a saúde,
re etindo o desejo da instituição de oferecer “um novo modo de ser e fazer saúde pautada no
respeito à vida humana” (BRASIL, 2001, p. 11).

https://psicologado.com/atuacao/psicologia-hospitalar/humanizacao-hospitalar-dos-primordios-a-atualidade-um-breve-relato 9/16
28/02/2018 Humanização Hospitalar: dos Primórdios à Atualidade, um Breve Relato - Psicologia Hospitalar - Psicologado: Artigos de Psicologia

Diante desta necessidade de se humanizar o hospital, em 2003 o ministério da saúde


vislumbrou  a necessidade de se humanizar toda a rede de saúde brasileira, com o intuito de
impregnar uma cultura humanizadora em toda a rede de saúde. (BRASIL, 2004).
Do desejo de uma rede de saúde humanizada, nasce a Política Nacional de Humanização,
que se descentraliza do hospital e ganha conotação não, mais de projeto, mas de política, como
a rma Brasil (2004, p.1) “ela deve ser vista como uma das dimensões fundamentais, não
podendo ser entendida como um programa”, pois o risco de concebermos a humanização como
mais um programa seria a de aprofundar relações verticais, relações estas que implicam em
executar uma determinada exigência, no intuito de se cumprir índices e alcançar metas.
Partindo do princípio de que se assumirmos a humanização como relações verticais,
podemos cair na tentação de se executar ideias, de outrem, pensada numa realidade diferente
daquela de quem se executa, foi contra a ideia de relações verticais que o Ministério da Saúde
do Brasil, pautado na humanização como política transversal que lançou no ano de 2003 a
Política Nacional de Humanização, o humaniza SUS, descentralizando-a do hospital, que até
então era concebido como programa passando a ser tido e executado como política, não mais
restrito a um ambiente ou especialidade mais em todos os níveis de atenção do SUS.
Humanização como política pública, implica em “traduzir princípios e modos de operar no
conjunto das relações entre pro ssionais e usuários, entre os diferentes pro ssionais, entre as
diversas Unidades de Saúde” (Brasil, 2004, p. 2).  Devendo estas contribuírem para a missão
ultima e fundamental a construção de saúde e a construção de sujeitos, Brasil (2004) a rma que
é neste ponto indissociável que a humanização se de ne: “aumentar o grau de
corresponsabilidade dos diferentes atores que constituem a rede SUS no cuidado a saúde
implica mudança na cultura da atenção dos usuários e da gestão dos processos de trabalho” .
Mesmo diante das mudanças signi cativas no próprio modo de se pensar humanização no
Brasil, das ações desenvolvidas, observamos através de pesquisas recentes, que a
humanização é uma construção lenta que enfrenta grandes di culdades, e que ainda os
pacientes são vistos e tratados como meros objetos, plausíveis manipulação e transformação.
Como prova disto relatou a pesquisa realizada por Gomes e Nations (2007), intitulada:
Cuidado, “cavalo batizado” e crítica da conduta pro ssional pelo paciente-cidadão hospitalizado
no Nordeste brasileiro, nele os autores apontam a partir das pesquisas realizadas, a
precariedade do atendimento ofertado pelo SUS no Brasil, em especial no Nordeste Brasileiro
onde fora desenvolvido a pesquisa, apontando as formas mais desumanas e cruéis como os
pacientes são tratados pelos médicos, enfermeiros, e outros pro ssionais.
Os autores salientam que a prática desumanizadora dos hospitais nasce desde a
precariedade estrutural, a gestão hospitalar centralizadora, o difícil acesso ao sistema,
desorganização, tecnicismo e poder hegemônico da Biomédica.
Outro estudo de grande relevância produzido no Nordeste brasileiro que se pautou na
investigação da qualidade de saúde oferecida aos nordestinos intitulada: “Pisada como Pano de
Chão: experiência de violência hospitalar no Nordeste Brasileiro.” Esta pesquisa desenvolvida na
cidade de Fortaleza capital do Ceará, mostra o atendimento hospitalar como, repleto de
iniquidades e violência institucional. (GOMES et al. 2008)
A pesquisa demonstrou insatisfação por parte dos pacientes em 83,6% apontando como
desprezo e humilhação por parte da equipe, somente 16,4% perceberam como zelo pelo
paciente, contribuindo para a recuperação da sua saúde. Desta forma a pesquisa demonstrou

https://psicologado.com/atuacao/psicologia-hospitalar/humanizacao-hospitalar-dos-primordios-a-atualidade-um-breve-relato 10/16
28/02/2018 Humanização Hospitalar: dos Primórdios à Atualidade, um Breve Relato - Psicologia Hospitalar - Psicologado: Artigos de Psicologia

que a insatisfação dos pacientes em relação ao contato médico-paciente, do paciente


instituição é de grande relevância, demonstrando assim também a insatisfação do médico em
relação a instituição. (GOMES et al., 2008).
Percebe-se desta forma que apesar da tentativa de se promover uma cultura humanizadora
na rede de saúde brasileira, principalmente no âmbito hospitalar, porém observamos pautados
nas pesquisas de Gomes e Nations (2007) e Gomes et al. (2008) pesquisas estas recentes, de
que a humanização precisa ainda ser de agrada em todo o sistema e adotada por todos os
pro ssionais e feito modo de prática pelos gestores.

4. Resultados e Discussões
Os séculos XIX e XX marcaram de nitivamente a história do hospital, que passa por
grandes transformações, entre elas a mais signi cativa foi à entrada da medicina no hospital,
que transformou de nitivamente a ideia e estrutura de hospital concebidas até então. Esta
corroborou e proporcionou um novo modo de se fazer administração hospitalar e saúde.
Porém estas mudanças trouxeram ao âmago do hospital graves problemas, entre eles
destacamos o distanciamento entre equipe de saúde e paciente e entre as próprias equipes, o
que resultou numa medicina técnica e desumanizada.
O hospital técnico, a medicina elitizada, imposta pelo sistema capitalista que cobra dos
sujeitos produção, da indústria medicamentosa que in uencia diretamente o fazer médico,
impondo-lhe características comerciais, passa a serem produtoras de ações desumanizadoras.
O fazer médico passa a ser puramente técnico. A anamnese é esquecida, o contato com o
paciente é tido como desnecessário, o diagnóstico é realizado sem que seja perguntado nada
ou quase nada ao doente.Um ambiente de humanos passa agora a ter características de
ambiente de máquinas que executam tratamentos, consultas, investigação individualmente,
sem que haja qualquer contato, mesmo o mais simples possível entre qualquer um desses
sujeitos.
É no hospital desumanizado e desumanizador que pessoas são negadas como sujeitos,
perdendo o que lhe é próprio, passando a ser objeto manipulável do desejo médico. Fragilizado
pela doença ele permite ser explorado, manipulado, invadido, sem que esboce qualquer
característica contrária a tal ação, a nal, ele espera do médico a cura e o médico espera dele a
passividade para lhe proporcionar o que tanto deseja.
Há um grave reducionismo onde o sujeito perde espaço para a doença, não importa para a
equipe, quem ele é, o que pensa e o que sente. O importante nesta relação é a sua doença, pois
é conhecendo-a que se pode tratar e devolver-lhe a sua saúde, mesmo que seja preciso usar
procedimentos altamente invasivos, ações constrangedoras e negação total deste sujeito, a
ponto de lhe negar informações sobre o seu processo de adoecimento e tratamento, invadindo
os sujeitos sem pedir licença e/ou consentimento.
A esta negação de subjetividade, sujeição dos indivíduos, relações de controle, de
alienação, Rios (2009) dá o nome de violência institucional, esta favorecedora de uma estrutura
institucional caracterizada pela rigidez hierárquica, pela ausência de direito ou de recursos das
decisões superiores, ou seja, existe a prevalência da administração vertical, a administração dos
que “pensam e dos que obedecem, levando-se ao estado de alienação dos sujeitos”.
Diante do exposto Rios (2009) salienta que como resultado desta forma de violência,
acontece o inverso no hospital, ao invés de promover cuidado e cura ele passa a ser produtor de
doenças.
https://psicologado.com/atuacao/psicologia-hospitalar/humanizacao-hospitalar-dos-primordios-a-atualidade-um-breve-relato 11/16
28/02/2018 Humanização Hospitalar: dos Primórdios à Atualidade, um Breve Relato - Psicologia Hospitalar - Psicologado: Artigos de Psicologia

Foi contra esta forma de violência institucional que nasce a ideia de humanização, no intuito
de “recuperar o lugar das varias dimensões discursivas dos sujeitos que atuam ou recorrem as
instituição [...] desconstruindo relações de dominação-submissão” proporcionando assim a
quebra de administração vertical para horizontal, onde todos são protagonistas do fazer saúde.
A necessidade de humanizar a atenção à saúde foi manifestada em vários momentos da
história e comprovado pelas inúmeras ações consideradas humanizadoras, que vinham sendo
realizadas de forma individual, isoladas, tais como atividades lúdicas, lazer, entretenimento ou
arte, melhorias na aparência física dos serviços, etc.
Estas acabavam por tornar o ambiente hospitalar mais acolhedor, porém incapaz de abalar
ou modi car a organização do trabalho, e acabavam por funcionar como válvulas de escape,
diminuindo assim o sofrimento que o ambiente hospitalar provoca em pacientes e equipe.
Vale salientar que estas eram ações desenvolvidas pelos próprios trabalhadores,
independente de gestores e de incentivo. Era uma resposta clara a necessidade de mudança no
modo de fazer saúde no hospital.
No Brasil a necessidade de se humanizar o serviço de saúde foi suscitada no ano 2000
quando representantes dos vários estados brasileiros, pro ssionais e  governantes, estavam
reunidos na 11ª Assembleia Nacional de Saúde, sendo esta apontada como uma necessidade e
um desa o para o SUS e neste mesmo ano fora lançado o PNHAH, com ações humanizadoras
voltadas para o hospital.
Mais tarde viu-se a necessidade de que esse programa fosse convertido em política pública
e que descentralizasse do hospital, na tentativa de impregnar uma cultura de atendimento
humanizador em toda a rede de saúde.
E assim de ações isoladas a humanização passa a ser tida como necessidade, como eixo
de funcionamento da saúde, uma nova forma de ser e fazer hospital, medicina, e saber pautar-se
sobre o aparato técnico, porém fundamentos no respeito, na solidariedade, no diálogo, no
reconhecimento de subjetividade, no ver além da patologia.
Humanizar impõe transformação estrutural, organizacional e cultural na instituição
hospitalar, fazer com que todos sejam protagonistas deste fazer saúde, e todos inclui médicos,
enfermeiros, técnicos, en m toda a equipe desde o zelador ao médico, incluindo o paciente e a
própria administração hospitalar.
Mudar implica muitas vezes resistência por parte dos pro ssionais, como aponta Rios
(2009) muitos pro ssionais, estudantes de medicina, de outras graduações em saúde, tem uma
vaga noção do que vem a ser humanização, vendo-a como algo sem relevância, e que não é
função sua humanizar mais dos voluntários, voltamos à ideia de humanização enquanto
caridade, em tornar o ambiente hospitalar mais acolhedor, percebe-se por parte deles uma vaga
e pobre noção da importância do que vem a ser humanização, de que não existe saúde,
produção de saúde sem reconhecer a necessidade de praticá-la pautada no respeito, na
construção de subjetividade, no fazer humanização.
É preciso mudanças signi cativas no todo, principalmente na formação dos pro ssionais de
saúde, que devem ser pautados “dentro dos princípios da humanização e o desenvolvimento de
ações institucionais visando ao cuidado e à atenção às situações de sofrimento e estresse
decorrente do próprio trabalho” (RIOS, 2009). É preciso oferecer formação permanente aos
pro ssionais, recursos necessários a execução do seu trabalho, valorização dos pro ssionais.

https://psicologado.com/atuacao/psicologia-hospitalar/humanizacao-hospitalar-dos-primordios-a-atualidade-um-breve-relato 12/16
28/02/2018 Humanização Hospitalar: dos Primórdios à Atualidade, um Breve Relato - Psicologia Hospitalar - Psicologado: Artigos de Psicologia

Muitas ações na tentativa de oferecer um ambiente hospitalar humanizado são realizadas


em todo o território, porém de forma tímida e super cial. E isto fora rea rmado nas pesquisas
realizadas por Gomes e Nations (2007) e Gomes et. al. (2008) ambas no nordeste brasileiro,
demonstram que a humanização é uma prática ainda distante em muitos estabelecimentos
hospitalares, que vêem nos sujeitos hospitalizados simples objetos manipuláveis, negando-lhes
sua subjetividade, negando-lhes a vida ao tratá-los com desumanização e desdém.
  É preciso mudanças e que haja uma conversão dos gestores para a necessidade de se
oferecer uma saúde pautada no respeito mutuo e acima de tudo promover uma administração
horizontal, onde todo o sujeito tem direito e voz e vez, sendo assim protagonistas do fazer
saúde.

Considerações Finais
A partir dos resultados dessa pesquisa foi possível analisar como está se fazendo e
propondo humanização hospitalarno Brasil, incluindo o grande desa o que se encontra
atualmente, no que se faz referência a implantação desta política pública nas redes de saúde e
principalmente no hospital, como também a importância e a necessidade de se ter um ambiente
hospitalar humanizado e consequentemente uma atenção de qualidade.
Ao realizar uma análise completa podemos observar a construção histórica do hospital, e
de que forma esta construção ainda continua a implicar quando se trata de assistência
hospitalar na atualidade, pois seguindo os passos do hospital anterior ao século XVIII temos um
hospital segregador, que não detinha atenção a saúde da população, mas como preservação a
“normalidade” social daquela época.
Posterior ao século XVIII observamos um hospital preocupado com a saúde da população,
porém desumanizador, possivelmente graças a tecnologia apontada por muitos teóricos como
princípio desencadeador da desumanização.
Identi camos ainda diante deste hospital desumanizado, os principais sentimentos vividos
pelos sujeitos na hospitalização, expressados por medo angústia, impotência, dependência,
dentre outros, que se desencadeiam devido a crescente violência institucional, proposta pelo
modelo hospitalar vigente. Sentimentos estes que prejudicam ainda mais a saúde dos
hospitalizados, podendo agravar sua situação já precária.
Concluímos desta forma que se fazer humanização e principalmente humanização
hospitalar, é entrar em choque com pro ssionais, gestores, governantes, pois humanizar é
sinônimo de mudanças, investimentos, formação e infelizmente nem todos estão abertos a tais
mudanças.
A certeza é que a população merece e precisa ter um hospital que possa oferecer
atendimento, mas atendimento de qualidade, que seja enriquecido com a técnica, com os novos
meios de tratamento e diagnóstico, e que se possa ver o doente como um sujeito, um ser em
completude, que precisa ser respeitado como tal.
Da mesma forma concluímos que os pro ssionais precisam ser valorizados somo sujeitos
também, que não sejam considerados como máquinas pelo sistema capitalista vigente que
exige produção, independente de qualidade e/ou e ciência, sem lhes oferecer qualidade, meios
técnicos, etc. é preciso oferecer formação permanente e de qualidade a todos os pro ssionais.

Referências:

https://psicologado.com/atuacao/psicologia-hospitalar/humanizacao-hospitalar-dos-primordios-a-atualidade-um-breve-relato 13/16
28/02/2018 Humanização Hospitalar: dos Primórdios à Atualidade, um Breve Relato - Psicologia Hospitalar - Psicologado: Artigos de Psicologia

Artigos Relacionados:

(M)e(U) (SI)lêncio (CA)ntará: Vivenciando Sentimentos e Sentidos com o Lúdico à Luz da


Psicologia Hospitalar (/atuacao/psicologia-hospitalar/m-e-u-si-lencio-ca-ntara-vivenciando-
sentimentos-e-sentidos-com-o-ludico-a-luz-da-psicologia-hospitalar)

A Atuação do Psicólogo Hospitalar Diante da Morte em Unidades de Terapia Intensiva


(/atuacao/psicologia-hospitalar/a-atuacao-do-psicologo-hospitalar-diante-da-morte-em-unidades-
de-terapia-intensiva)

A Atuação do Psicólogo Hospitalar no Tratamento do Sujeito Portador de Doença Crônica


(/atuacao/psicologia-hospitalar/a-atuacao-do-psicologo-hospitalar-no-tratamento-do-sujeito-
portador-de-doenca-cronica)

A Atuação do Psicólogo no Contexto Hospitalar (/atuacao/psicologia-hospitalar/a-atuacao-do-


psicologo-no-contexto-hospitalar)

A Contribuição da Brinquedoteca Hospitalar na Recuperação da Saúde da Criança Hospitalizada


(/atuacao/psicologia-hospitalar/a-contribuicao-da-brinquedoteca-hospitalar-na-recuperacao-da-
saude-da-crianca-hospitalizada)

https://psicologado.com/atuacao/psicologia-hospitalar/humanizacao-hospitalar-dos-primordios-a-atualidade-um-breve-relato 14/16
28/02/2018 Humanização Hospitalar: dos Primórdios à Atualidade, um Breve Relato - Psicologia Hospitalar - Psicologado: Artigos de Psicologia

Últimos Artigos Publicados:


(https://psicologado.com/)
A Utilização da Musicoterapia no Tratamento de
Crianças com Transtorno do Espectro Autista
(https://psicologado.com/psicopatologia/saude-
mental/a-utilizacao-da-musicoterapia-no-
tratamento-de-criancas-com-transtorno-do-
espectro-autista)
A Humanização: dos Pacientes aos Profissionais
de Saúde
(https://psicologado.com/atuacao/psicologia-
hospitalar/a-humanizacao-dos-pacientes-aos-
profissionais-de-saude)
Pensando a Infância e o Menor-Infrator a Partir
das Agências de Controles Sociais
(https://psicologado.com/atuacao/psicologia-
juridica/pensando-a-infancia-e-o-menor-
infrator-a-partir-das-agencias-de-controles-
sociais)
A Interferência dos Comportamentos
Inadequados/Disfuncionais (Hiperativos e
Impulsivos) no Processo de Ensino-
Aprendizagem
(https://psicologado.com/atuacao/psicologia-
clinica/a-interferencia-dos-comportamentos-
inadequados-disfuncionais-hiperativos-e-

https://psicologado.com/atuacao/psicologia-hospitalar/humanizacao-hospitalar-dos-primordios-a-atualidade-um-breve-relato 15/16
28/02/2018 Humanização Hospitalar: dos Primórdios à Atualidade, um Breve Relato - Psicologia Hospitalar - Psicologado: Artigos de Psicologia
impulsivos-no-processo-de-ensino-
aprendizagem)
A Alteridade Familiar na Constituição do Sujeito
Contemporâneo: a fragilização das funções
parentais no cotidiano infanto-juvenil
(https://psicologado.com/abordagens/psicologia-
analitica/a-alteridade-familiar-na-constituicao-
do-sujeito-contemporaneo-a-fragilizacao-das-
funcoes-parentais-no-cotidiano-infanto-juvenil)
A Atuação do Psicólogo Escolar na Rede Pública
de Ensino de Olinda-PE
(https://psicologado.com/atuacao/psicologia-
escolar/a-atuacao-do-psicologo-escolar-na-
rede-publica-de-ensino-de-olinda-pe)
Rebecca, a Lagartinha que Queria ser
Borboleta
(https://psicologado.com/atuacao/psicologia-
escolar/rebecca-a-lagartinha-que-queria-ser-
borboleta)
A Importância dos Jogos Lúdicos na Educação
Infantil
(https://psicologado.com/atuacao/psicologia-
escolar/a-importancia-dos-jogos-ludicos-na-
educacao-infantil)
coloque este aplicativo no seu blog
(https://psicologado.com/gadget)

Fique por dentro das novidades do Psicologado!


Cadastre seu e-mail para receber nossos boletins gratuitos:

Nome:

Email:

Cadastrar

/  Psicologado.com (/) /  Áreas de Atuação (/atuacao/) /  Psicologia Hospitalar (/atuacao/psicologia-hospitalar/)


/  Humanização Hospitalar: dos Primórdios à Atualidade, um Breve Relato

Contato (https://psicologado.com/sobre/contato.html) | Twitter (https://twitter.com/Psicologado) | Facebook


(https://www.facebook.com/Psicologado) | Política de Privacidade (https://psicologado.com/sobre/politica-de-privacidade.html) | Termos
de Uso (https://psicologado.com/sobre/termos-de-uso.html)

© Psicologado 2007 - 2018. Todos os direitos reservados

https://psicologado.com/atuacao/psicologia-hospitalar/humanizacao-hospitalar-dos-primordios-a-atualidade-um-breve-relato 16/16

Você também pode gostar