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ANÁLISE DO FILME MR.

JONES (MIKE FIGGS, 1993)

NATAL
2022
O filme Mr. Jones, apresenta a trajetória de Jones (Richard Gere), um homem de 35 anos
com diagnóstico de Transtorno Bipolar e as diversas situações pelas quais o protagonista
enfrenta em suas fases maníacas e depressivas, bem como os riscos e eventos que o
mesmo causa a si próprio e aos que estão a sua volta, e um panorama de sua luta ao
longo dos anos e as constantes internações pelas quais sofreu.
A princípio encontramos um protagonista carismático, nas primeiras cenas do filme,
bastante enérgico, disposto e ativo em busca de uma vaga de trabalho. Com seu carisma
e boa lábia, consegue contornar o supervisor de uma obra, conquistando uma
oportunidade de trabalhar na construção civil. Porém, logo em seguida, Jones se coloca
em uma situação de risco, subindo ao telhado e verbalizando que iria voar. Estas
situações estão presentes ao longo de toda a narrativa, demonstrando o ápice de sua
fase maníaca. Jones é internado em um hospital psiquiátrico e erroneamente
diagnosticado com esquizofrenia paranoide, já que no momento em que foi socorrido
apresentava alucinação auditiva e delírios. Porém, ao ser observado clinicamente pela
Dra. Elizabeth Olsen, é diagnosticado com Transtorno Bipolar, ou psicose maníaco-
depressiva, como conhecido à época.
Em suas fases maníacas, Jones apresenta um alto grau de hiperatividade e
impulsividade, claramente expresso na cena que em, após sair do hospital, vai ao banco e
saca todo o dinheiro que possuía em sua conta. Seguem-se então, cenas nas quais o
protagonista gasta excessivamente, acompanhando de humor elevado e sentimento de
grandiosidade. Todas as situações o levam a um delírio no qual, sobe ao palco e passa a
reger uma sinfonia de Beethoven. A partir daí, segue-se outra internação, dessa vez, aos
cuidados da Dra. Olsen. Como é sabido do transtorno bipolar, a fase maníaca antecede a
fase depressiva, assim, após todos esses episódios, Jones entra nesta fase na qual seu
humor é alterado radicalmente e todo o seu envolvimento excessivo em atividades com
elevado potencial destrutivo, autoestima inflada, e pensamentos e falas aceleradas, dá
lugar a um humor deprimido e total perda de interesse e prazer na vida. Apatia, tristeza e
desamparo, agora acompanham Jones durante seus dias, até a Dra. Olsen convencê-lo a
internar-se novamente para que seu tratamento seja iniciado. O episódio depressivo
maior do protagonista é visto a partir de sua expressão de dor profunda e potencialmente
suicida. Jones, leva a cabo o tratamento, até manifestar que gostaria de encerrá-lo, pois
já não seria o mesmo de antes - não mais apresentava o vigor e o humor expansivo que
de sua fase maníaca, atitude bastante comum em pacientes diagnosticados com
transtorno bipolar. Abandonando mais uma vez o tratamento, Jones entra mais uma vez
na fase maníaca, causando baderna nas ruas, e colocando-se em risco de vida através
de atitudes iminentemente perigosas, como colocar-se em meio a carros e andar em cima
de um muro na praia.
O filme também demonstra a inteligência, o poder de sedução e o senso de observação
extremamente apurado que Mr Jones possui, em especial, quando se sente seguro,
eufórico e expansivo, que é justamente nas crises maníacas. Inclusive há uma cena que
ele afirma que deseja ser assim, que gosta de ser assim. Outras cenas, ele encanta
mulheres, ele se torna uma pessoa engraçada, e desapegada do dinheiro, pois saca todo
seu dinheiro no banco e segue gastando de forma compulsiva em compras
desnecessárias.
Corroborando isso, noutra cena, o Senhor Jones arremessa na lata do lixo seu principal
estabilizador de humor: a medicação lítio.
O filme faz um recorte do Transtorno Bipolar Tipo I – aquele em que há a episódios
depressivos intercalados com episódios maníacos, perpassando por todas as
problemáticas enfrentadas por aqueles que dele padecem, desde a dificuldade de
aceitação do tratamento, dificuldades de relacionamento, internações recorrentes e a
solidão do paciente. Com uma visão humanizada, a narrativa nos faz refletir sobre a
condição de um sujeito com o transtorno e a importância de persistir no tratamento
psicoterápico e medicamentoso para que assim, o paciente possa ter qualidade de vida e
poder usufruir de uma vida plena, desempenhando de forma natural suas atividades
pessoais e profissionais.
Essa alteração de humor do personagem ora demonstrando uma alegria exagerada e ora
tristeza profunda, é trazida em várias cenas do filme: quando Senhor Jones invade o
palco onde uma orquestra apresenta um sinfonia a fim de regê-la; quando faz contas de
cabeça de forma muito rápida, dentre outras. E sempre ele acredita que, se tratado,
perderia essa criatividade e essa vontade imensa de curtir a vida.
O mais tocante sobre o filme é a leveza, a humanidade e a empatia que ele consegue
transparecer sobre a doença mental, demonstrando que é possível e completamente
necessário rever a visão e a relação que se tem com as pessoas que tem depressão,
bipolaridade ou outro transtorno psicótico. O que mais sensibiliza e humaniza parte do
amor, do cuidado, é o toque, o carinho, a consciência da dor, sua verdade e seu
sofrimento ao longo da vida e, principalmente, que pode se tratar da vida de qualquer um
de nós ou dos nossos familiares. O filme oferta uma reflexão extremamente rica e
oportuna sobre os preconceitos e estigmas que ainda existem acerca das doenças
mentais.

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