Você está na página 1de 7

A DEPRESSÃO PSICÓTICA E O TRANSTORNO BIPOLAR

Transtornos Depressivos: Bipolar (Psicose maníaco-depresiva)


Fase Depressiva: a dor moral; a inibição psicomotora; as ideias delirantes de depreciação; as
ideias de morte.
Fase Maníaca: apresentação particular; excitação psíquica; superabundância da atividade
psicomotora, lúdica.
A etiopatogenia: a hereditariedade, fatores bio-tipológicos, fatores psicodinâmicos, multifatorial. O
maníaco é sempre espreitado pela depressão.

Depressão e Estados Depressivos


I – Aspecto Clínico da fase depressiva
1) O início do acesso: é habitualmente rápido, dias ou algumas semanas
2) Marcado por: distúrbios do sono, uma astenia crescente, tristeza que se agrava cada vez mais
3) Circunstâncias desencadeantes: separação, luto, enfermidade pessoal ou de alguém próximo,
fracasso social ou profissional, dano material, entre outras.
II – No Plano Evolutivo
Primeira fase Depressiva ou A Mania Franca Sobrevém:
 Em um adulto jovem entre 18 e 40 anos de idade
 Apresentando, às vezes, durante os anos precedentes traços de caráter neurótico, em
particular obsessivos
 Antecedentes familiares, diretos ou colaterais, de estados depressivos, de tentativas de
suicídios e de agitação maníaca são frequentemente encontrados
 Em um certo número de casos, existe uma circunstância desencadeante: luto, ruptura,
separação, deslocamento, revezes, fracasso, doença, vividos como um ferimento narcísico
insuportável.

PERÍODO DE ESTADO DEPRESSIVO


Perturbação do humor (sentido negativo), da tristeza, do sofrimento interior
Vida psíquica: tristeza, desgosto da vida este sofrimento é vivido como um fracasso e o deprimido
duvida sempre do seu próprio valor
Vida somática: alteração do sono diminuído em quantidade, perturbado em sua qualidade porque
está invadido por ruminações em quantidade, alteração do apetite, a astenia, dor moral, inibição
psicomotora, ideias delirantes de depreciação, dos outros, de perseguição, negação do outro,
autoacusação delirante desprovida de fundamento, culpabilidade patológica, incurabilidade,
hipocondria. Ideias de morte: todo deprimido se confronta com o suicídio, a aceitação da morte ou
desejo passivo (autoabandono, anorexia, imprudências, etc), o desejo ativo de morrer, tentativas
de suicídio às vezes graves e dramáticas.
Conduta psicológica do depressivo: “negação da vida” e de si, baixa estima e sua
autorrecriminação
Ambivalência afetiva no estado fusional com a mãe compromete a diferenciação entre o eu e o
objeto (primeiro universo da matriz de identidade) oposições pulsionais entre as noções retentivas
possessivas e as agressivas
Ao desapontamento sofrido junto do objeto – com a mãe – deslocamento quase total para as
relações do objeto: base psicológica do fenômeno melancólico
O nascimento do afeto depressivo e a instalação da sensibilidade depressiva: sentimento de ter
perdido o objeto ou aspectos dele, e a resignação diante desta perda, incapacidade de restaurar o
objeto dentro de si. O afeto depressivo situa-se no ponto central da transição, constitutivo do
psiquismo, em que a abdicação narcísica, da onipotência e da fusão, se faz necessária.

Três grandes sistemas da matriz defensiva: depressão, dor e angústia


Situação traumática originaria, do nascimento – estado de desamparo
Situações reais de desenvolvimento da angustia em face do perigo, da perda e da ausência do
objeto de amor: traço comum que une num estado de desamparo
A perda é para a depressão o que o perigo é para a angustia
O estado defensivo de alerta ante uma ruína iminente, “incapacidade de estar só”, sutil e “branda”
ameaça de desmoronamento do terreno psíquico de base
O estado depressivo representa defesa do terreno psíquico, reflete uma carência de dupla
demanda:
 Garantia do espaço, de seus contornos e limites
 Exigência de ser provido de um conteúdo, indícios de sentido de existência
É um erro atrelar a depressão ao plano ético.

Do estado do desamparo, depressão originária: retorno sobre si, a transformação da atividade em


passividade e a inibição dos fins da pulsão. Estado de apelo, plano fenomenológico.
O desamparo é, pela sua definição negativa, o indício da realidade; é a primeira diferenciação,
representa uma função de preservação ou a garantia do próprio espaço para o desenrolar psíquico.
A depressão define e conduz os processos de integração, garante e conserva os processos e
estágios de diferenciação na genealogia psíquica.
A formação do eu representa o momento e o marco capital de integração e diferenciação no terreno
psíquico. As patologias depressivas surgem como defesas contra as angústias no começo da vida
adulta.
A sensibilidade narcísica do melancólico deve-se à sua dificuldade em introjetar, integrar e assimilar
o objeto para dentro do eu, expondo este último a um massacre culposo por parte do supereu.
Depressão: possibilidade natural em amadurecimentos saudáveis; condição para a integração do
indivíduo. A destrutividade, capacidade de viver uma experiência de tristeza, arrependimento, culpa
é um indicativo de amadurecimento.
Dificuldade: assumir a plena responsabilidade pela destrutividade – pessoal e inerente a uma
relação objetal.
Na avaliação e diagnóstico da depressão: organização do estado depressivo e o uso mais ou
menos rígido das defesas antidepressivas – a força do ego e a maturidade pessoal do paciente, a
integração, força do ego e estrutura da personalidade.
Estado protótipo da depressão: desamparo, estado originário. Estado afetivo capaz de
comprometer o sujeito em sua singularidade e sentido existencial; impossibilita-o de explorar sua
capacidade espontânea e criativa de se fazer no mundo; priva-o de se encontrar consigo e com o
outro ao destitui-lo de sua experiência vital, de sua qualidade humana de felicidade.
Do normal ao patológico
 Neurofisiológico: baixo nível de atividade neurológica devido quantidades insuficientes de
neurotransmissores (noradrenalina, dopamina e serotonina).
 Psicodinâmico: sentimento de desamparo; perda do objeto real e simbólico.

DEPRESSÃO E CID-10

F30-F39: Transtornos do humor (afetivos)

F30 Episódio maníaco


F30.0 Hipomania
F 30.1 Mania sem sintomas psicóticos
F 30.2 Mania com sintomas psicóticos
F 30.8 Outros episódios maníacos
F30.9 Episódio maníaco não especificado
F31 Transtorno afetivo bipolar
F31.0 Transtorno afetivo bipolar, episódio atual hipomaníaco
F31.1 Transtorno afetivo bipolar, episódio atual maníaco sem sintomas psicóticos
F31.2 Transtorno afetivo bipolar, episódio atual maníaco com sintomas psicóticos
F31.3 Transtorno afetivo bipolar, episódio atual depressivo leve ou moderado
.30 Sem sintomas somáticos
.31 Com sintomas somáticos
F31.4 Transtorno afetivo bipolar, episódio atual depressivo grave sem sintomas psicóticos
F31.5 Transtorno afetivo bipolar, episódio atual depressivo grave com sintomas psicóticos
F31.6 Transtorno afetivo bipolar, episódio atual misto
F32 Episódio depressivo
F32.0- Episódio depressivo leve
.00 - Sem sintomas somáticos
.01 – Com sintomas somáticos
F32.1 - Episódio depressivo moderado
.10 - Sem sintomas somáticos
.11 – Com sintomas somáticos
F32.2 - Episódio depressivo grave sem sintomas psicóticos
F33.2 - Episódio depressivo grave com sintomas psicóticos
F32.8 - Outros episódios depressivos
F32.9 – Episódio depressivo, não especificado
F33 Transtorno depressivo recorrente
F33.0 – Transtorno depressivo recorrente, episódio atual leve
.00 - Sem sintomas somáticos
.01 – Com sintomas somáticos
F33.1 – Transtorno depressivo recorrente, episódio atual moderado
.10 - Sem sintomas somáticos
.11 – Com sintomas somáticos
F33.2 - Transtorno depressivo recorrente, episódio atual grave sem sintomas psicóticos
F33.3 - Transtorno depressivo recorrente, episódio atual grave com sintomas psicóticos
F33.4 - Transtorno depressivo recorrente, atualmente em remissão
F33.8 – Outros transtornos depressivos recorrente
F33.9 – Transtornos depressivo recorrente, não especificado
F34 Transtornos persistentes do humor (afetivos)
F34.0 – Ciclotimia
F34.1 – Distimia
F34.8 - Outros transtornos persistentes do humor (afetivos)
F34.9 – Transtorno persistente do humor (afetivo), não especificado
F38 Outros transtornos do humor (afetivos)
F39 Transtorno do humor (afetivo) não especificado
SINTOMAS PSICOPATOLÓGICOS
Distúrbio afetivo característico (humor rebaixado); atraso e constrição do pensamento; lentidão e
diminuição da espontaneidade; empobrecimento das relações sociais; mudanças fisiológicas
(preocupação hipocondríaca).

SINTOMAS SUBJETIVOS
Perda: a perda real de um objeto de amor (morte; separação), ou subjetiva (perda narcisistas,
psicológica interna: rejeição, ameaças à autoconfiança e à autoestima, ameaça ao amor próprio ou
parte do próprio ego). Resposta a aparente sucesso.
Raiva: abandono pelo objeto de amor perdido; introjeção; identificação.
Culpa: isolamento e negação; conservar seus sentimentos fora da consciência; ignorar suas origens
no mundo externo.
Sintomas primordiais: redução da autoconfiança e da autoestima; cristalização da espontaneidade
e criatividade.
Síndromes maníacas: defesa contra a depressão. É produto da negação e da inversão do afeto.

ESTUDO CLÍNICO
I- Circunstâncias de aparecimento
Fatores biotípicos idênticos aos da mania
Fatores precipitantes
Início geralmente progressivo
II- Período de estado
Síndrome de inibição e de depressão profunda
Auto-acusação
Indignidade
Hipocondria
Raptus suicida ou procura obstinada da morte
Síndrome digestiva e hepatobiliar
III- Evolução
Duração média e espontânea de 6 ou 7 messes

ESTADOS DEPRESSIVOS E CRISES DEPRESSIVAS


I. O estado depressivo
Conceito às vezes bastante vago
O humor triste
A inibição das atividades mentais e físicas
O sofrimento mental e as “vivências” depressivas
A forma mais típica é a crise depressiva, embora a variedade dos estados depressivos seja
bastante grande.
Depressões “reativas”, “neuróticas” e de “esgotamento”
A depressão involutiva.
As depressões dos estados – limites
As depressões sintomáticas
As depressões “atípicas” e ao problema da esquizofrenia
II. As crises depressivas
Estado depressivo típico evoluindo geralmente, dentro do quadro de uma psicose periódica
Estudos psicanalíticos e neuro-fisiológicos

SÍNDROME “MELANCÓLICA” OU DEPRESSIVA


Hiperestesia e estímulos dolorosos;
Bradipsiquismo, inibição do pensamento;
Hipotimia, sentimentos de dor moral, desesperança, pessimismo, apatia ou ansiedade, inibição das
pulsões;
Hipobulia, hipocinesia;
Mímica triste, de sofrimento;
Bradilalia;
Distonias neurovegetativas.
A síndrome “melancólica” é típica da fase depressiva do Transtorno Bipolar, mas pode ser
encontrada nos transtornos psicorreativos de tonalidade depressiva, na paralisia geral progressiva,
na senilidade, na epilepsia, nas psicopatias depressivas.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: DEPRESSÃO PSICÓTICA E ESTADO DEPRESSIVO
NEURÓTICO

Ey, Henri; Berbard, P.; Brisset, C. Manual de Psiquiatria , Rio de Janeiro: Ed. Masson, 1981

Você também pode gostar