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IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS EM PERNAMBUCO

ESCOLA DE TEOLOGIA DA ASSEMBLEIA DE DEUS NO BRASIL


EXTENSÃO CARUARU
CURSO LIVRE EM TEOLOGIA

CARLOS JOSÉ DA SILVA


HEITOR LAMARTINE DA SILVA

DOUTRINAS FILOSÓFICAS DA MODERNIDADE

Trabalho apresentado ao professor João


Moreno de Souza Filho, Curso Livre de
Teologia, como pré-requisito avaliativo da
disciplina Teologia Contemporânea.

CARUARU
2021
Humanismo

Etimologicamente a palavra “humanismo” vem do termo latino, usado por


Cícero (106-43 a.C.) “humanistas”, que é da mesma raiz de homo e hominis (=homem).
Já nos tempos de Varrão (116-27 a.C.) “humanistas”, além do sentido popular de
“humanitário”, tinha um significado mais rico e preciso, que era a educação do homem
de acordo com a verdadeira forma humana, com o seu autêntico ser. A palavra significava
também “erudição”, “cultura”, “comportamento correto e civil” e “dignidade”,
envolvendo a polidez dos costumes, a “civilização”.
O Humanismo foi um movimento cultural e filosófico que se desenvolveu na
Europa, entre os séculos XIV e XV. Iniciado na Itália, no século XV, com o Renascimento
e difundido pela Europa, rompendo com a forte influência da Igreja e do pensamento
religioso da Idade Média.
O teocentrismo (Deus como centro de tudo) cede lugar ao antropocentrismo,
passando o homem a ser o centro de interesse. Em um sentido amplo, humanismo
significa valorizar o ser humano e a condição humana acima de tudo. Está relacionado
com generosidade, compaixão e preocupação em valorizar os atributos e realizações
humanas.
O humanismo procura o melhor nos seres humanos sem se servir da religião,
oferecendo novas formas de reflexão sobre as artes, as ciências e a política. Além disso,
o movimento revolucionou o campo cultural e marcou a transição entre a Idade Média e
a Idade Moderna.
Especificamente no campo das ciências, o pensamento humanista resultou em
um afastamento dos dogmas e ditames da igreja e proporcionou grandes progressos em
ramos como a física, matemática, engenharia e medicina.
Entre as principais características do humanismo destacam-se:
• Período de transição entre Idade Média e Renascimento;
• Valorização do ser humano;
• Surgimento da burguesia;
• Ênfase no antropocentrismo, ou seja, o homem no centro do universo;
• As emoções humanas começaram a ser mais valorizadas pelos artistas;
• Afastamento de dogmas;
• Valorização de debates e opiniões divergentes;
• Valorização do racionalismo e do método científico.

[1]
Humanismo nas artes
Através das suas obras, os intelectuais e artistas passaram a explorar temas que
tivessem relação com a figura humana, inspirados pelos clássicos da Antiguidade greco-
romana como modelos de verdade, beleza e perfeição. As esculturas e pinturas agora
apresentavam altíssimos graus de detalhes nas expressões faciais e nas proporções
humanas, e o período foi marcado pelo desenvolvimento de diversas técnicas.
A perspectiva com ponto de fuga (também chamada de perspectiva
renascentista) foi uma das técnicas de pintura desenvolvida durante o movimento
humanista, proporcionando simetria e profundidade às obras. Nas artes plásticas e na
medicina, o humanismo foi representado em obras e estudos sobre anatomia e
funcionamento do corpo humano.

Principais nomes e obras do humanismo


Alguns dos principais artistas humanistas da época do nascimento, seguido de
algumas das suas obras são:
Literatura
• Francesco Petrarca: Cancioneiro e o Triunfo, Meu Livro Secreto e Itinerário
para a Terra Santa
• Dante Alighieri: A Divina Comédia, Monarquia e O Convívio
• Giovanni Boccaccio: Decameron e O Filocolo
• Michel de Montaigne: Ensaios
• Thomas More: A Utopia, A Agonia de Cristo e Epitáfio

Pintura
• Leonardo da Vinci: A Última Ceia, Mona Lisa e Homem Vitruviano
• Michelangelo: A Criação de Adão, Teto da Capela Sistina e Juízo Final
• Raphael Sanzio: Escola de Atenas, Madona Sistina e Transfiguração
• Sandro Botticelli: O Nascimento de Vênus, A Adoração dos Magos e A
Primavera

Escultura
• Michelangelo: La Pieta, Moisés e Madonna de Bruges

[2]
• Donatello: São Marcos, Profetas e Dav

Antropocentrismo

O Antropocentrismo é um pensamento filosófico que coloca o homem como


indivíduo central para o entendimento do mundo. O termo tem origem grega e em sua
etimologia temos anthropos, que significa “humano”, e kentron, “centro”, logo homem
no centro. Como doutrina filosófica, o pensamento antropocêntrico nos informa que o ser
humano é a figura central e, desse modo, ele é responsável pelas suas ações, sejam elas
culturais, históricas, sociais e filosóficos. Ao romper com os paradigmas presentes na
época, traz à tona um homem crítico, dotado de racionalidade que lhe possibilita
questionar a realidade em sua volta.
Para entender o conceito de antropocentrismo, é importante retomar a concepção
de mundo que imperava na sociedade da Idade Média: o teocentrismo. Para essa doutrina,
o deus cristão estaria no centro do universo. Desse modo, qualquer pensamento ou ação
que não estivesse baseado nos preceitos bíblicos poderiam ser considerados incorretos e,
consequentemente, pecaminosos. No teocentrismo, o divino é o fundamento do mundo e
não há qualquer pensamento racional ou crença diferente da cristã que esteja acima dessa
máxima.

Características do antropocentrismo
A centralidade do ser humano trazida pelo antropocentrismo apresenta reflexos
em diversas áreas do conhecimento, sendo importante para a literatura, pintura, escultura
e música, além da própria filosofia. Atualmente, esse pensamento se encontra bastante
difuso, mas em sua origem podem ser observadas algumas características que
possibilitam diferenciá-lo da doutrina à qual ele se opõe.

Vejamos algumas características:


• A principal característica do antropocentrismo é a mudança de perspectiva no que
diz respeito a quem é a figura central para a explicação do mundo e em quem
deveria basear as ações humanas. Em vez do deus judaico-cristão, agora é o ser
humano quem ocupa esse lugar de referência;
• Outro traço do pensamento antropocêntrico diz respeito à exaltação da
racionalidade como sendo um atributo inerente à humanidade;

[3]
• Esse pensamento filosófico também será marcado pelo cientificismo, segundo o
qual o homem pode exercer controle sobre a natureza, sendo possível estudá-la e
compreendê-la;
• Uma vez que o deus judaico-cristão deixa de ser o centro do universo, as ações
tomadas pelos seres humanos devem levar em consideração apenas as
consequências que elas poderão causar aos próprios seres humanos. Por isso, diz-
se que, no antropocentrismo, o homem é o fim das coisas;
• Por fim, a filosofia antropocêntrica será marcada por um certo essencialismo. Isso
diz respeito ao fato de que, segundo essa doutrina, o ser humano possui uma
essência que é imutável, natural e central. Essa propriedade não poderia ser
observada em nenhuma outra espécie.

Racionalismo

Um dos traços distintivos do ser humano em relação às demais criaturas é sua


racionalidade. Mas, na modernidade, essa concepção foi levada ao extremo através de
uma corrente de pensamento, a saber, o racionalismo. Conforme Russell Norman
Champlin (2014, v. 5, p. 544), “o termo indica o princípio de que à razão devemos dar o
lugar de preeminência, em nossa maneira de tomar conhecimento das coisas”.
Os adeptos dessa tendência filosófica, de modo geral, pregaram que a razão é o
único ou, pelo menos, o principal meio para o homem alcançar a verdade. Essa concepção
surgiu por volta do século XVII, tendo como expoentes René Descartes e Baruch de
Spinoza. Logo, os racionalistas iriam questionar a fé religiosa, como se esta fosse
destituída de um fundamento racional.
No século XVIII, essa corrente de pensamento foi incorporada por estudiosos de
diferentes campos do saber como as ciências sociais e naturais e, não menos importante,
na concepção de política, de sociedade, de ética e até de humanidade. A identificação
desses pensadores como iluministas (ou mesmo, esclarecidos) deu origem ao termo
Iluminismo. Em fins do século, surge a expressão “o século das luzes” como o ápice da
maturidade intelectual e racional do homem. De acordo com os historiadores Kalina
Vanderlei Silva e Maciel Henrique Silva (2013, p. 210),
[…] a maioria desses pensadores compartilhava algumas ideias em
comum: a defesa do pensamento racional, a crítica à autoridade
religiosa e ao autoritarismo de qualquer tipo e a oposição ao fanatismo.
Influenciado pela revolução científica do século XVII, principalmente

[4]
pelo racionalismo e pelo cientificismo de Descartes, a maioria dos
iluministas pregava o papel crítico da razão, considerando essa a única
ferramenta capaz de esclarecer a humanidade.

Em prol da autonomia do ser humano, os iluministas propunham a emancipação


em relação aos sistemas de crença, instituições religiosas e as demais estruturas
socioculturais características do que se convencionou chamar de Antigo Regime.
O racionalismo iluminista promoveu a razão. A partir de então, além de ser uma
chave para construção do conhecimento, como no século precedente, alguns de seus
defensores apresentaram-na como uma lente para interpretação da realidade e o sistema
ideal para organização do conhecimento. Como observou Ezir George Silva (2008), a
razão adquiriu status de juíza e senhora de todas as coisas. O paradigma cartesiano de
Descartes estabeleceu a razão científica e filosófica como cânon e a clareza e distinção
das ideias como medida da verdade. Em outras palavras, “a razão merece toda a
confiança, levando-o assim a rejeitar e a considerar como inverdade tudo aquilo que lhe
escapa a compreensão” (SILVA, 2008, p. 21).
O conhecimento científico e a reflexão filosófico foram sobrelevados a tal ponto
que parecia que a religião estava totalmente dissociada de qualquer tipo de racionalidade.
Essa concepção recebe atenção de alguns pensadores cristãos que, na tentativa de
demonstrar a razoabilidade do cristianismo, acabaram relegando toda aura mística,
sobrenatural e misteriosa da fé cristã. Assim, para Roger Olson (2001), o racionalismo
iluminista seria um dos catalisadores do movimento deísta.

Materialismo

Em termos gerais, o materialismo pode ser caracterizado como uma doutrina


filosófica cujo fundamento último da realidade está na dimensão e/ou substâncias
materiais. Trata-se da atribuição causal de toda realidade à matéria. Assim, a única ou,
pelo menos, a principal causa de tudo aquilo que existe é a matéria. Como qualquer outra
definição sintética, essa afirmação generalizada tem suas limitações. Por essa razão, não
podemos negligenciar variações dessa teoria em suas versões historicamente
identificáveis (ABBAGNANO, 2007).
Sob tal premissa, alguns materialistas negariam a existência de dimensões
imateriais e transcendentais da realidade, tais como o universo psíquico (alma) e espiritual
(espírito humano, esfera sobrenatural, divindade, etc.); outros, julgaram que estas

[5]
instâncias pudessem existir independentes da realidade material. Cumpre frisar que a
própria noção de matéria varia dentre as correntes de pensamento que endossam o
materialismo.
Na Antiguidade Grega, Demócrito, Epicuro e seus respectivos discípulos
desenvolveram seus sistemas de pensamento sob um argumento cosmológico (ou,
metafísico) materialista. A despeito de suas distinções, esses filósofos consideraram a
matéria, com sua estrutura atômica, como substância e princípio vital do universo, com
capacidade (força ou energia) inata para se combinarem dando origem a tudo o que existe.
Ainda negaram o pressuposto teleológico, como também, reduziram as experiências
psíquicas e espirituais dos seres humanos ao nosso sistema sensorial. Nesse sentido, os
fenômenos mentais, a consciência, as sensações e sentimentos seriam meramente
produtos de modificações na substância material do ser humano. A questão, aqui, é que
“o universo, em sua totalidade, incluindo toda vida e mente, pode ser reduzido e explicado
em termos de matéria em movimento” (CHAMPLIN, 2014, v. 4, p. 158).
O paradigma materialista desaguou na modernidade irrigando a mente de
diversos pensadores modernos e contemporâneos, tais como Thomas Hobbes, Denis
Diderot, Karl Marx, John Dewey, entre outros. Servido de pressuposto filosófico e
metodológico para questões científicas, no campo da física, psicologia e até mesmo das
ciências sociais (com o positivismo e o marxismo). Na versão, nominada por Nicola
Abbagnano (2007) de materialismo psicofísico, todas as faculdades humanas – tanto do
ser, como do agir – são resultado do organismo físico que, por sua vez, é determinado
pelo universo material circundante. Nisto, as atividades psíquicas são consideradas
processos do sistema nervoso central.
Esses diferentes formatos do materialismo não se limitam as teses filosóficas –
que, por natureza, carecem de confirmação –, pois, alguns de seus proponentes defendem-
nas como doutrina de vida que suplante as “alienantes” e “ilusórias” afeições religiosas.
Esse anseio polêmico e “profético” foi encarnado por duas escolas de pensamento,
especialmente, no final do século XIX, o positivismo e o marxismo.
Na sua vertente positivista, o credo materialista contribuiu para eleição da
ciência como tábua da verdade. Sendo assim traduzida pelo que chamamos de
cientificismo, abrangendo tanto as ciências naturais, quanto o campo das humanidades.
Mais do que uma forma de conhecimento, o materialismo científico é apresentado como
uma cosmovisão que busca reduzir tudo ao nível da observação, por conseguinte,
excluindo tudo aquilo que escape desse critério.

[6]
Noutro polo, Karl Marx faz uma releitura da dialética hegeliana, podando seus
pilares idealistas, e apresentando-a sob um fundamento materialista. Inspirado por esse
argumento de seu mentor, Friedrich Engels postula que natureza e a história estão em
contínua mudança, ou ainda, num processo evolutivo decorrente de tríades (tese, antítese
e síntese). Essa acepção receberia o rótulo de materialismo dialético.
No tocante a realidade humana, essa teoria tornou-se conhecida pela alcunha de
materialismo histórico. O conhecimento dessa dimensão humana da realidade, nessa
concepção, deve estar enraizado na realidade histórica. Mas, o que constituiria a
materialidade da história? As inúmeras interpretações a respeito do pensamento de Marx
nos levariam para respostas, igualmente, incontáveis. Porém, segundo Abbagnano (2007,
p. 652), esse cânon de interpretação
[…] consiste em atribuir aos fatores econômicos (técnicas de trabalho
e de produção, relações de trabalho e de produção) peso preponderante
na determinação dos acontecimentos históricos. O pressuposto desse
cânon é o ponto de vista antropológico defendido por Marx, segundo o
qual a personalidade humana é constituída intrinsecamente (em sua
própria natureza) por relações de trabalho e de produção de que o
homem participa para prover às suas necessidades. A “consciência” do
homem (suas crenças religiosas, morais, políticas, etc.) é resultado
dessas relações, e não seu pressuposto.

O conjunto das relações de produção formam a estrutura econômica a partir da


qual se estabelecem as esferas jurídicas, políticas, religiosas, etc. Por essa razão, Marx e
muitos marxistas afirmam que a subsistência da vida material condiciona a vida social,
política e espiritual dos seres humanos, não seu inverso. Essa doutrina filosófica, no curso
do tempo, foi incorporada na vida política, intelectual e até na esfera religiosa –
particularmente pelos adeptos da Teologia da Libertação, convertendo-se naquilo que
Marx dizia combater: as ideologias. Adquirindo, dessa maneira, status dogmático.
O materialismo também se difundiu no cotidiano em forma prática ou moral.
Diversas pessoas, consciente ou inconscientemente, vivem como se não houve uma
dimensão transcendente da realidade – na qual estão inclusos sua psique, leis morais e até
o próprio Criador. Comumente, esse materialismo prático é identificado com a busca de
conforto e bens materiais ou desfrute de múltiplos prazeres como guia moral e,
consequentemente, comportamental – sendo assim associado ao hedonismo.
É perceptível que em suas diferentes versões o materialismo se manifesta como
uma tendência contrária aos princípios bíblicos. Mesmo assim, acabou influenciando
muitos cristãos, sejam intelectuais que abraçaram dogmaticamente o materialismo

[7]
dialético, quanto aqueles que o adotam na sua versão prática e moral, como se não
houvesse Deus.

Referências
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia. Vol. 4-5.
São Paulo: Hagnos, 2014.
DIANA, Daniela. Características do humanismo. In: Toda Matéria. Disponível em:
<https://www.todamateria.com.br/caracteristicas-do-humanismo/>.
OLSON, Roger. História da teologia cristã. São Paulo: Vida, 2001.
SENA, Ailton. Antropocentrismo. In: Educa+Brasil. Disponível em:
<https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/filosofia/antropocentrismo>.
SILVA, Ezir George. Modernidade e pluralidade. Caruaru: Edições FAFICA, 2008.
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos
históricos. São Paulo: Contexto, 2014.

[8]

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