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CONSULTORIA

PEDAGÓGICA
MÓDULO I: Apontamentos acerca do espaço na Educação Infantil
TÓPICO I: TEXTO PRINCIPAL
Percebendo os espaços educacionais infantis brasileiros ao longo da história.

A educação de crianças encontra-se diretamente relacionada ao ambiente em que estão


inseridas, e a escola é a instituição social responsável pela socialização e pelo conhecimento
de mundo da criança. Essa etapa da educação não era valorizada como ocorre atualmente e,
portanto, não havia preocupações maiores com seu desenvolvimento. Com a inserção das
mães no mercado de trabalho, as creches e pré-escolas assumiram a responsabilidade de
cuidar e educar os filhos das trabalhadoras, como afirma Kramer (1992, p.23):

As aspirações educacionais aumentam à proporção em que ele acredita que a


escolaridade poderá representar maiores ganhos, o que provoca freqüentemente a
inserção da criança no trabalho simultâneo à vida escolar. (...) A educação tem um
valor de investimento a médio ou longo prazo e o desenvolvimento da criança
contribuíra futuramente para aumentar o capital familiar.

Ao longo de seu desenvolvimento vários elementos e objetos de estudo foram incorporados às


discussões sobre educação de crianças, tendo como exemplo a preocupação com saúde,
alimentação, sono, desenvolvimento e aprendizagem desses sujeitos em crescimento. Vários
aspectos influem no processo de desenvolvimento da criança, como a interação com o adulto,
com as crianças, com o meio social em que está inserido, com a cultura local. Entretanto, a
discussão relativa à organização dos espaços ainda se apresentou de maneira discreta ao longo
dos anos. E diante da prática, torna-se notável a necessidade de estudos referentes à influência
desses espaços para o aprofundamento e conhecimento dos educadores sobre tal aspecto.
Durante séculos a educação de crianças pequenas era responsabilidade exclusiva das
famílias, pois era no contato com os adultos que elas iriam aprender as tradições e costumes
de seu contexto histórico e social. No que se refere aos escravos a “educação” consistia
apenas em serem ensinados para o trabalho braçal e para a submissão aos integrantes das
elites.

Segundo Silva (2003), inicialmente, as instituições brasileiras que lidavam com


crianças eram de cunho assistencialista localizando-se na capital do Império e nas capitais das
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províncias, mas sempre ligadas ao acolhimento de crianças abandonadas e mantendo um
caráter filantrópico. É nesse contexto que, em 1875, surge o primeiro Jardim-de-infância
brasileiro que tinha o caráter particular e isolado (MONARCHA, 2001, p.15), o que se
prolongou até os primeiros anos da república. Os jardins-de-infância são citados numa
legislação do império que determinava que em cada distrito da capital do império deveria
haver um dessas instituições e, dessa vez, são citados não somente com cunho assistencialista,
mas como centros para instrução elementar, ou seja, para o ensino.
O ano de 1899 pode ser considerado um marco das propostas de instituições pré-
escolares no Brasil, pois houve a fundação do Instituto de Proteção e Assistência à infância do
Rio de Janeiro e a inauguração da creche da fábrica de tecidos Corcovado que foi criada para
atender aos filhos das operárias. No Brasil República, foi criado o Departamento da Criança
que surgiu de iniciativa governamental em 1919 e, a partir disso houve um aumento do
número de creches e de jardins de infância no país. (SILVA, 2003)
No século XX, vários acontecimentos foram de fundamental importância para a
valorização da infância, como o Primeiro Congresso Brasileiro de Proteção à Infância (1922),
a criação da Associação Brasileira de Educação (1924), o primeiro curso de aperfeiçoamento
em Educação Infantil (1932), a criação do Departamento Nacional da Criança (1940). Esses
acontecimentos e a luta de teóricos voltados para as questões da infância, como Ovide
Decroly (1871-1932), John Dewey (1859-1952), Maria Montessori (1870-1952), Celestin
Freinet (1896-1966), Jean Piaget (1896-1980) e Lev Semenovich Vygostky (1896-1934)
foram alicerces para a construção e fundamentação do sentimento de infância no mundo e no
Brasil. (SILVA, 2003; ALMEIDA, 2002)
Durante alguns anos (década de 1960) a educação de crianças de 0 a 3 anos restringia-
se à recreação, à assistência médico-sanitarista e higiênica. Em outro período, na década de
1970, era voltada para a segurança e para a saúde, mas ainda não priorizava uma formação da
criança que comportasse todas as esferas de desenvolvimento infantil: cognitivo, social,
motor, físico e psicológico. Dessa forma, muitas discussões eram realizadas acerca das
crianças menos favorecidas social e economicamente. A partir desses debates surgiu uma
proposta de atendimento pré-escolar público que iria tentar remediar as carências das crianças
mais pobres. Surgiu assim a “educação compensatória” que visava estímulo e preparação
precoce para a alfabetização e mantendo uma visão assistencialista do ensino.
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Então, a partir de lutas e reivindicações foi conquistado, na Carta Magna de 1988, o
“reconhecimento da educação em creches e pré-escolas como um direito da criança e um
dever do Estado a ser cumprido nos sistemas de ensino” (RAMOS, 2002, p. 115).

A criança possui necessidades específicas e as Instituições de Educação Infantil


precisam estar aptas a ofertar, aos pequenos, as condições para que seu desenvolvimento
aconteça. Nessa perspectiva, o cuidar e o educar precisam andar juntos dentro da instituição
de educação infantil. A preocupação somente com uma das dimensões afetará o
desenvolvimento integral das crianças que façam parte daquele contexto.

Com todas as lutas para regularização e valorização da Educação Infantil como uma
fundamental etapa para o crescimento e desenvolvimento das crianças, é preciso que as
Instituições de Educação Infantil, priorizem espaços que contemplem as duas dimensões sem
que haja uma cisão entre as duas. Espaços que contemplem o cuidado com a sua saúde, que
ofereçam possibilidades para seu desenvolvimento físico, mas que também contemplem a
dimensão cognitiva e social do crescimento infantil. Os espaços escolares infantis sofreram
mudanças devido ao avanço nos estudos sobre esse importante elemento da área da Educação
Infantil e bem como por intermédio da legislação vigente que regulamentam como devem ser
as instituições e o que elas precisam oferecer para que as crianças possuam uma formação
integral.

Ao longo do curso discutiremos como o ambiente físico e social influencia no


desenvolvimento e na aprendizagem da criança como um todo. A seguir, conheceremos
algumas contribuições de estudiosos acerca do espaço físico e social das Instituições de
Educação Infantil.
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Teresa Cristina Citelli Gonçalves


* Graduada e Letras e Pedagogia e
Especialista em Psicopedagogia,
Educação Infantil e Metodologia do
Ensino Superior.

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