gerais e problemas associados a perguntas “perturbadoras” A elaboração das questões: recapitulação de regras gerais
1. Evitar termos ambíguos ou pouco
claros na formulação das questões 2. Evitar questões muito gerais
Até que ponto se encontra satisfeito com o seu trabalho?
Muito satisfeito Satisfeito Pouco satisfeito Nada satisfeito Prefiro não responder 3. Evitar fazer duas perguntas numa mesma questão 4. Evitar questões tendenciosas
Concorda com uma eventual redução dos impostos sobre o
rendimento, apesar de as pessoas mais desfavorecidas puderem vir a ser penalizadas nos seus apoios sociais? Concordo Não concordo Não tenho opinião 5. Evitar questões que assumem a resposta afirmativa a uma pergunta prévia
Em que partido pensa votar nas próximas
eleições? __________________________________
Vai habitualmente ao cinema?
Mais do que 1 vez por semana 1 vez por semana 2 ou 3 vezes por mês 1 vez por mês 6. Evitar questões com termos técnicos ou conceitos 7. Evitar questões que incluem duplas negativas
Não concorda com a opinião de que os alunos não
deveriam pedir empréstimos bancários para financiar a sua frequência do ensino superior? Concordo Não concordo Não sei 8. Evitar que entre a pergunta e as categorias de resposta não exista correspondência exacta 9. Evitar desequilíbrios ou omissões entre as categorias de resposta apresentadas em escalas Questões problemáticas ou perturbadoras • Não existe consenso acerca do que constitui uma questão “problemática” ou “perturbadora”. • Todavia, sabe-se que certas questões são mais propensas a gerar respostas enviesadas do que outras. • Tais enviesamentos tendem a estar associados ao facto de certas questões transportarem consigo uma certa carga “ameaçadora” para o inquirido, normalmente associada a assuntos “sensíveis”, “privados” ou “estigmatizantes”. • A tendência para fornecer respostas “falsas” resulta portanto de uma avaliação da pergunta em termos de “ameaça/recompensa”. • Uma pergunta ameaçadora é avaliada como susceptível de ser utilizada de algum modo contra o inquirido. • Risco de sofrer algum tipo de sanção (económica, legal, etc.) por parte do inquiridor ou simplesmente ser rejeitado por este. • Esta avaliação depende de uma percepção da pergunta em termos do que é (ou não) “socialmente aceitável ou desejável”. a) Alguns tópicos habitualmente vistos como “socialmente desejáveis”: – Ser bom cidadão (desempenhar algum papel relativamente à comunidade, estar recenseado e votar, conhecer problemas sociais, etc.) – Ser uma pessoa bem informada e culta (ler livros, ler jornais, frequentar bibliotecas, frequentar museus e exposições, etc.) – Cumprir responsabilidades de ordem moral e social (apoiar obras de caridade, auxiliar parentes e amigos, etc.) b) Alguns tópicos habitualmente vistos como “socialmente indesejáveis”:
- Doenças e incapacidades (doenças mentais,
doenças terminais, etc.) - Comportamentos ilegais ou contra as regras sociais (actos criminais, consumo de drogas, práticas sexuais, etc.) - Estatuto económico (rendimento, bens, etc.) Como reduzir o efeito perturbador de certas perguntas? • Tendo em conta que a definição de “pergunta perturbadora” não é consensual e a sua avaliação depende de múltiplos factores, as sugestões que se seguem são meramente indicativas e baseadas em experiência empírica prévia. • Principais factores que intervêm na apreciação de uma questão como “perturbadora”: – Características pessoais ou idiossincráticas dos inquiridos (vulnerabilidades, sentimentos de culpa em relação a certos comportamentos, receios, etc.) – Problemas desencadeados pela própria pergunta (confrontar o inquirido com problemas que este desconhece, gerar desconforto ou sentimento de inferioridade, etc.) – Perturbação associada à relação entrevistador – inquirido (problemas de avaliação negativa por parte do inquiridor – ou percepção desse facto pelo inquirido – , suspeição de aplicação de sanções decorrentes da informação fornecida, etc.) • Algumas sugestões: – Sublinhar a confidencialidade da pergunta – Enfatizar a importância social das respostas dos inquiridos – Permitir aos inquiridos responder anonimanente – Tornar o tema/ tópico “natural” (como sabe, muita gente faz X, … quantas vezes é que já fez X?…) – Fornecer uma pequena definição introdutória que “desdramatize” o significado de um tópico/ tema. – Diminuir a proximidade psicológica da pergunta, deixando o inquirido relatar o comportamento de outra pessoa (algum dos seus amigos consome habitualmente drogas?) – Fazer uma pergunta aberta (deixar o inquirido usar os seus próprios termos) – Fazer uma pergunta fechada (assumindo o carácter “natural” das categorias de resposta; revelando que o inquiridor não tem qualquer problema em usar determinados termos ou falar de certos assuntos) – Colocar perguntas perturbadoras na parte final do questionário (para não afectar as respostas subsequentes) • Os exemplos que se seguem foram retirados de um inquérito elaborado no âmbito do projecto EU Kids Online (2009-11), coordenado pela London School of Economics and Political Science, dirigido a crianças e jovens entre os 9 e o 16 anos de 25 países europeus. • Questionários: 1. Pais: entrevista 2. Crianças/jovens (9-16 anos): entrevista 3. Crianças/jovens (9-10 anos): auto-preenchimento 4. Crianças/jovens (11-16 anos): auto-preenchimento • A versão portuguesa dos 4 questionários aplicados encontra-se disponível em: http://www2.lse.ac.uk/media@lse/research/EUKidsOnline/EUKidsII%20%282009- 11%29/Survey/National%20questionnaires/PortugalSurvey/Portuguese_questionnaires.aspx
• Mais informação em: www.eukidsonline.net
Bibliografia Bryman, Alan (2004, 2ª ed.), Social Research Methods, Oxford: Oxford University Press. Foddy, William (1996), Como perguntar, Oeiras: Celta. Fowler Jr., Floyd J. (2009), Survey Research Methods, Londres, Sage, 4ª ed., pp. 19-47, 87-113, 115-126. Ghiglione, Rodolphe e Matalon, Benjamin (1992), O inquérito. Teoria e prática, Oeiras: Celta (1ª ed. orig.1978). Lobe, B., Livingstone, S., Olafsson, K., and Simões, J. A. (eds.) (2008) Best Practice Research Guide: How to research children and online technologies in comparative perspective. Londres: EU Kids Online http://www2.lse.ac.uk/media@lse/research/EUKidsOnline/EU%20Kids%20I%20(2 006-9)/EU%20Kids%20Online%20I%20Reports/D42_ISBN.pdf Simmons, Rosemarie (2001), "Questionnaires", in Nigel Gilbert (org.), Researching Social Life, Londres: Sage, 2ª ed., pp. 85-104. Site: www.eukidsonline.net