Você está na página 1de 5

Somos uma organização sem fins lucrativos que iniciou sua jornada em 2015 com o objetivo

de aproximar jovens da ciência, por meio de atividades voltadas para a educação científica e a
aprendizagem baseada em projetos. Enxergamos a iniciação científica no ambiente escolar como
uma ferramenta para gerar desenvolvimento pessoal, científico e transformação social.

Nossa missão é levar a iniciação científica para dentro das escolas, despertando a
curiosidade e o potencial de estudantes e de seus professores. Assim, contribuímos para a
formação de pensamento crítico e para o desenvolvimento de habilidades e competências
essenciais para o século XXI.

Com o uso da tecnologia, nossas iniciativas são focadas em orientar, capacitar e desafiar
estudantes e professores para que criem projetos científicos centrados em problemas reais e
atuais, em qualquer área do conhecimento, ampliando cultura da pesquisa em suas escolas.

Entre 2016 e 2019, estes materiais eram restritos para uso exclusivo dos estudantes,
mentores e professores que participavam do Programa de Iniciação Científica Decola Beta. Nesses
4 anos, pudemos realizar 4 edições do Programa Decola Beta para estudantes, 4 edições da
Experiência Beta e 1 edição do Programa Decola Beta Professores. Destes programas, participaram
mais de 900 estudantes, professores e pós-graduandos, e foram essas pessoas que fizeram com
que o CB chegasse a 152 cidades e 23 estados do Brasil, além de outros 5 países.

Em 2020, após 4 anos testando e aprimorando esta coleção, decidimos realizar o que já era
um sonho: disponibilizar todo nosso conteúdo de forma aberta ao público. Fazemos isso porque
nós acreditamos no poder dos jovens cientistas e somos apaixonados pelo poder transformador
que a ciência tem. Quando um jovem protagoniza um projeto de pesquisa científica, ele muda sua
forma de perceber o mundo e, consequentemente, de interagir com ele.

Basta ligar a televisão, olhar a internet ou andar pelas ruas para perceber que o mundo está
cheio de problemas que esperam por uma solução. No ensino formal, geralmente não há espaço
dedicado a pensar de forma crítica em resolver esses problemas. Acreditamos que uma das formas
de mudar essa realidade é dar espaço e condições para que jovens determinados possam fazer

1 2

questionamentos sobre os problemas que os cercam e buscar respostas a essas perguntas usando Não está no centro do nosso propósito que os jovens criem um projeto que conquista
a ciência. prêmios, alto grau de complexidade e desenvolvimento. Essa é uma consequência para alguns, e
certamente ficamos felizes quando isso ocorre. No entanto, nosso foco é o processo, é a formação
Nós do Cientista Beta, assim como você, fazemos parte de uma geração que não quer olhar
do jovem. Se hoje ele não criar a solução mais eficiente, se hoje não for multipremiado, está tudo
para os problemas e apenas apontar culpados. Queremos mais: queremos usar o conhecimento
bem. Guardamos a certeza de que no futuro ele poderá gerar contribuições ainda maiores para a
para colocar em ação as ideias de como tornar o mundo o lugar em que queremos viver. Para isso,
sociedade, pois se tornará alguém ativo, mais capaz de ler o mundo e de imaginar formas de
devemos compartilhar nosso conhecimento.
transformá-lo, e não apenas o criador de uma invenção isolada. Dentro das possibilidades das
Somos cientistas, pois estamos buscando entender o mundo, sua beleza e suas mazelas; e, invenções, nosso olhar está voltado para inventar um novo jovem cientista, em uma versão beta
ao sermos Beta, reconhecemos a necessidade que temos de nos transformar, a cada dia, na melhor permanente. Esse jovem é, por si só, a solução para os problemas que enfrentamos do século XXI,
versão de nós mesmos. não apenas o seu projeto.

Este e-book faz parte de um conjunto de atividades e conteúdos que serve para incentivar e
Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-
guiar a prática e/ou orientação de pesquisas no Ensino Básico. Pode ser usado de forma
CompartilhaIgual 4.0 Internacional (CC BY-NC-SA 4.0).
independente por estudantes ou ser apresentado pelo orientador ou orientadora aos jovens
cientistas.

Ao utilizar os materiais disponibilizados pelo Cientista Beta no desenvolvimento da sua Você tem o direito de: Compartilhar — copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou
pesquisa, os estudantes têm condições de desenvolver habilidades, de compreender o método formato; e de Adaptar — remixar, transformar, e criar a partir do material.
científico, fazer um plano de pesquisa, manter um diário de bordo com os registros da
De acordo com os termos seguintes: Atribuição — Você deve dar o crédito apropriado, prover um
pesquisa, colocar a mão na massa e obter resultados, fazer um relatório de pesquisa, um pôster e
link para a licença e indicar se mudanças foram feitas. NãoComercial — Você não pode usar o
compreender e dominar a escrita científica. Todos os estudantes também devem ter condições de
material para fins comerciais. CompartilhaIgual — Se você remixar, transformar, ou criar a partir do
se inscrever e participar de feiras de ciências.
material, tem de distribuir as suas contribuições sob a mesma licença que o original. Leia mais aqui:
Além disso, também apresentamos conteúdos sobre habilidades comportamentais, de
diálogo e de trabalho em equipe. Ao realizar sua pesquisa com o apoio destes materiais, nosso
objetivo é que os estudantes consigam vivenciar experiências que permitam o exercício de 4ª edição, revisada e lançada pela primeira vez de forma aberta em 2020. Porto Alegre/RS.
liderança, de protagonismo, de ensinar algo a alguém, de receber e lidar com feedback, trabalhar
Texto e diagramação: Mariana Ritter Rau. Revisão: Barbara Alves Zolet, Jaqueline Dahmer Steffenon
em equipe e ser capaz de resolver problemas sozinhos.
e Kawoana Trautman Vianna
O nosso objetivo principal com o uso destes materiais está no “delta”. Delta é a variação
Ícones: FlatIcon
percebida entre o estado final e o inicial de determinado processo. É isso que nos interessa: que o
estudante, ao finalizar uma pesquisa, olhe para trás e veja que algo está diferente com relação a Acesse a coleção completa, incluindo desafios que colocam em prática este conteúdo, em:
quando começou. https://cientistabeta.com.br

3 4
Os Guias Decola Beta incluem ícones especiais.

Ícones com links para você clicar: Vídeo Link Texto

Para decidir fazer pesquisa, é comum familiarizar-se com o que se trata essa jornada. É hora de
inspirar-se com quem já fez pesquisa. Ao ver histórias e depoimentos de outros jovens cientistas,
você é capaz de perceber o quão longe esse caminho pode te levar. Cerque-se dos recursos
Ícones que significam códigos:
necessários para desenvolver o projeto. Também podemos incluir aqui uma decisão sobre qual é
Exemplo Frase Dica Beta Fim de capítulo a sua área de interesse de pesquisa.

Caso você esteja lendo uma versão deste material em que não é possível acessar os links
pelos ícones (impressa, por exemplo), você pode acessar todos os links do material pelo Quando você entende que é a partir de um problema e de uma pergunta que a sua pesquisa deve
computador entrando aqui: linktr.ee/GuiasDB ser construída, passa a perseguir conhecimento a respeito dos desafios que o cercam. Você se
sente como um buscador de problemas, tentando compreendê-los e observá-los de forma crítica.

Toda pesquisa acontece para responder uma pergunta baseada em curiosidade e em


questionamento acerca do mundo. Exercite essa capacidade de perguntador, pois essa etapa
consiste em dar o pontapé inicial para a pesquisa definindo qual é a pergunta que quer responder.

5 6

Capítulo 1: Comece com o porquê...................................................................... 8

Capítulo 2: O perguntador.................................................................................. 11

Capítulo 3: Definindo o tema ............................................................................. 13


Fazer um projeto é muito mais prazeroso quando nos conectamos com o porquê das coisas.

Capítulo 4: Solução ............................................................................................ 16 Vamos falar um pouco do Círculo Dourado?

Grandes líderes inspiram as pessoas a agir deixando claro o porquê, a causa pela qual lutam,
Bibliografia ......................................................................................................... 18
quais são suas motivações. O mesmo vale para vender algum produto. As empresas mais bem-
sucedidas deixam claro qual é a razão pela qual existem e não o produto que oferecem. Já imaginou
que quando você fala do seu projeto isso ocorre da mesma forma? Somos motivados por causas,
pois todos queremos mudar nossa realidade para melhor e viver uma vida com mais propósito.
Nesse contexto, o Círculo Dourado é uma ferramenta efetiva para gerar engajamento, sendo versátil
para muitas áreas, e aparece aqui para que a gente possa juntos encontrar o seu porquê de fazer
um projeto em determinado assunto!

Círculo Dourado é uma representação criada por Simon Sinek, no livro “Start With Why”
(Comece com o Porquê). Nela o porquê está no centro, pois é a parte mais importante. Só
depois se fala no como e no o que. Veja a explicação que o próprio Simon dá neste vídeo:

Ao se apropriar da ciência e desenvolver um projeto científico em uma área que seja do seu
interesse, os estudantes desenvolvem protagonismo, proatividade e responsabilidade com o mundo
em que vivem. Todo jovem que se propõe a resolver um problema real por meio da ciência redefine
seus limites e se entende como um agente de transformação, ao estar mais capacitado para lidar
com os problemas do mundo contemporâneo. Além disso, aprende a se comunicar melhor,
trabalhar em equipe, desenvolver disciplina e pensamento crítico, dentre muitos outros benefícios.

7 8
Por quê? Não existe equipamento semelhante no mercado, os deficientes devem usar adaptadores,
dificultando seu dia-a-dia.
O processo consiste em encontrar um assunto que seja de seu interesse, receber auxílio de
um professor orientador, estudar, utilizar os espaços da escola e institutos de pesquisa e, em alguns Lucas Kehl - Mentor no Programa Decola Beta em 2017-2019.

casos, interagir e aprender nas feiras de ciências. Não há uma resposta prévia. Sabemos de onde
partimos, mas não há como prever onde iremos chegar.
O quê? Substituição de adoçante artificial por um extrato natural em produtos de
panificação diet.

O resultado é o desenvolvimento de um projeto científico. Além disso, é possível que você Como? Extraindo os fruto-oligossacarídeos da batata Yacon.
conquiste prêmios, reconhecimentos e até mesmo bolsas em universidades.
Por quê? Cerca de 10% da população mundial possui diabetes e consome uma grande quantidade
de adoçantes artificiais que fazem mal a saúde.

Andrey Morawski e Rafaela Carniel - Mentorados no Programa Decola Beta em 2016.

É claro que um dos muitos porquês de desenvolver um projeto é acreditar que a ciência é
transformadora e que pode ser algo revolucionário quando aplicada em problemas reais. Esse é o Portanto, se conecte primeiro com um porquê. No caso do projeto do Andrey e da Rafaela,
porquê geral. E o porquê do seu projeto, especificamente? Já parou para pensar nisso? eles se conectaram com a população que possui diabetes, que por essa razão já possui uma gama
reduzida de escolha de alimentos e ainda está sujeita à ingestão de compostos que não são
O Círculo Dourado é uma forma de agir, pensar e comunicar. Assim, vemos que os projetos
benéficos à saúde quando querem saborear alimentos adocicados.
científicos podem ter a sua motivação guiada pelo porquê. A maioria deles, atualmente, é apenas
um o que, para o qual há vários comos. Trouxemos alguns exemplos para você ver como ele pode Uma vez que o seu porquê seja agir usando ciência para resolver esse problema, a definição
ser aplicado na sua jornada de pesquisa, mostrando o círculo dourado de projetos de jovens do seu “como” resolver esse problema e do seu “o quê” será gerado com o projeto são definições
cientistas que já fizeram parte dos nossos programas. Note que todos esses jovens cientistas, no secundárias.
momento em que buscavam um tema para a pesquisa, talvez não fizessem ideia do como e do quê
Além disso, se abre um leque de diferentes possibilidades de ação, pois existem diferentes
fariam, mas provavelmente iniciaram com um porquê bem claro.
“comos” para resolver esse problema. Você poderia por exemplo fazer uma pesquisa-ação com
O quê? Um método de detectar um agrotóxico na água e nas frutas. conscientização de diabéticos sobre as escolhas alimentares. Ou uma pesquisa bibliográfica que
consiste em uma prospecção tecnológica das novas opções de adoçante menos nocivo à saúde.
Como? Por meio de um procedimento químico que envolve diferentes colorações.
Ou mesmo pensar em como prevenir que a taxa mundial de diabetes chegue a 10%, pensando em
Por quê? Esse agrotóxico é cancerígeno para seres humanos e vem sendo aplicado em larga escala formas de reeducar a população sobre esse perigo, para que as pessoas sequer tenham que
na agricultura, representando um perigo. consumir produtos de panificação diet.

Gabriela Delela e Mariana Buttendender - Mentoradas no Programa Decola Beta em 2016. Agora que você já sabe se conectar com um porquê, podemos começar a pensar nos
“comos”!

O quê? Uma órtese robotizada de mão que permite que deficientes físicos executem o movimento
de pinça.

Como? Com um equipamento personalizado, escaneamento e impressão 3D.

9 10

medicamentos mais eficazes. Aqui, é possível desenvolver inúmeros estudos que visem gerar esse
conhecimento tão necessário de compreensão dos mecanismos do câncer.

2) Você acredita que o ensino atual está ruim. Nesse caso, é importante uma
pesquisa que reúna os depoimentos sobre as insatisfações de alunos e professores, além
de dados como desempenho escolar em provas e etc.

Temos que ter em mente também que nem todo projeto surge para resolver um problema,
diretamente. Há os que surgem para gerar novos conhecimentos. São pesquisas direcionadas para

Todo o projeto precisa de um problema, que irá nortear as ações. descobrir algo até então desconhecido. Se você se questiona frequentemente "por que isso
acontece assim?", "como isso acontece?", "por que se repete dessa forma?" pode ser que seu
Um problema pode aparecer como uma pulga atrás da orelha, ou a partir de algo que você
caminho seja esse. Então, podemos dizer que o seu problema é justamente a ausência de uma
leu ou ouviu de alguém. No entanto, apenas ter um problema não é suficiente. É preciso avaliar se
resposta ou explicação a uma pergunta. Alguns exemplos de perguntas: “Por que sentimos dor após
isso gera um bom tema de pesquisa, e estudar tudo o que há a respeito disso atualmente para ter
o exercício físico?”, “Uma célula da pele pode se tornar um neurônio?”, “Como se desenvolve
certeza de que você não estará “reinventando a roda” com a sua pesquisa. Qual é a pergunta que te
o câncer?
move? Qual é o problema que você quer resolver? Qual o seu propósito?

“Se eu tivesse uma hora pra resolver um problema e minha vida dependesse dessa solução, eu
passaria 55 minutos definindo a pergunta certa a se fazer”
Albert Einstein

Por que devo começar pelo problema?

A magia da ciência está em utilizar conhecimento para resolver questões que, de alguma
forma, representam uma adversidade para determinada parcela da população e do ambiente em
questão. Por isso, nós acreditamos que a sua intenção deva estar focada em problemas reais.

É importante falarmos em começar pelo problema pois, para muitas pessoas, isso pode não
ser tão trivial. É comum encontrar casos em que a ideia do projeto é estabelecida primeiro. É como
se você começasse ao contrário, a partir do resultado que se deseja encontrar. Várias vezes
encontramos jovens que contam algo como “vou desenvolver um aplicativo que faz x, y e z para
ajudar as pessoas a e b!”. E sequer pararam para entender um pouco melhor sobre o contexto do
problema e qual é a vivência das pessoas que sofrem com ele. Cuidado para não admitir logo de
início que esse “como” é o melhor para resolver determinado problema.

Alguns exemplos!

1) Para encontrar a cura para um tipo de câncer, primeiro você deve conhecer muito bem
os caminhos do desenvolvimento dessa doença. Só assim será possível criar e testar

11 12
Michelangelo, ao ser perguntado
sobre como havia feito a escultura de Davi
(com quase 4,5 metros em um só bloco de
mármore, guardada na academia Artes de
Florença), respondeu mais ou menos assim:

Foi fácil, fiquei um bom tempo olhando o


mármore, até nele enxergar o Davi. Então,
Agora que você já sabe como encontrar informações sobre o problema que você quer peguei o martelo e o cinzel, e tirei tudo o que
resolver e já sabe tudo sobre ele, é hora de delimitar o tema da sua pesquisa. não era Davi!

Fazer pesquisa é capaz de deixar qualquer pessoa empolgada, com vontade de salvar o
planeta e gerar a paz mundial. No entanto, é necessário ter especificidade na questão a ser estudada Ou seja, Michelangelo foi capaz de construir uma obra como a estátua de Davi apenas

até um ponto em que a realização do projeto seja viável. Isso não significa realizar uma pesquisa retirando aquilo que não era Davi. Retire de forma inteligente o que não é essencial à sua pesquisa.

menos importante, e sim focar na contribuição que você é capaz de causar ao mundo científico. Outra analogia possível é quando imaginamos toda a gama de cores do arco-íris. Ao invés

Por exemplo, na pesquisa do Andrey e da Rafaela, eles poderiam escolher pesquisar a de incluir o arco-íris inteiro na sua pesquisa, tá tudo bem você escolher pesquisar o tom laranja.

possibilidade de substituir os adoçantes artificiais em pães, refrigerantes e iogurtes por extratos de Assim, seu projeto se tornou específico. E ainda assim você sabe que o conhecimento que irá

batata yacon, beterraba e maçã para testar em pessoas com diabetes, pessoas com hipertensão produzir e/ou o problema que irá resolver a respeito da cor laranja segue inserido em um contexto

arterial e pessoas com obesidade. Olha o quanto a pesquisa ficaria abrangente demais, seria maior, que é, neste caso, o arco-íris completo.

impossível que dois estudantes conseguissem desenvolver este projeto ao longo de 1 ano. Por isso,
é adequado que tenham escolhido especificamente as pessoas com diabetes, depois escolhido
substituir o adoçante apenas em produtos de panificação e utilizando apenas o extrato de batata
yacon. Eles definiram um problema específico para trabalhar.

Na pesquisa, não dê um passo maior do que a própria perna. Um passo de cada vez, sendo
um passo bem dado, poderá levar você ao desenvolvimento de uma pesquisa suficientemente Transforme o problema em uma questão, assim, o direcionamento da sua pesquisa é

robusta e consistente. responder a essa questão. Exemplo: O extrato da batata Yacon pode substituir adoçantes
artificiais em receitas de pão integral e cookies?

Deve ser informado o foco, as especificidades, as escolhas, o local e o tempo a que se refere
Tão importante quanto definir o escopo (assunto, abrangência) da pesquisa é definir o não- à pesquisa. Por isso que no exemplo acima especificamos que as receitas testadas se tratam de
escopo. Ou seja, ter consciência sobre aquilo que não é central na sua pesquisa. Vou te contar uma pão integral e cookies.
história:

13 14

Devem existir fatos verificáveis na prática e não percepções pessoais. Por isso, caso o
projeto visasse o sabor do pão produzido com o extrato adoçante da batata Yacon, não seria
formulado como: “O extrato da batata Yacon torna o pão integral mais gostoso?”. E sim: “A
diferença no sabor entre pão integral com adoçante artificial e adoçante natural de batata
Yacon pode ser verificada por meio de análises sensoriais?”.

Exemplo de problema com dimensão inviável: “O que pensam as pessoas idosas


Não temos!
sobre tecnologia?” Isto dá margem a um campo muito amplo. Veja o problema formulado
para uma dimensão viável: “O que pensam as pessoas de 70 a 80 anos sobre a influência do uso do Não há uma receita mágica que você deva seguir para chegar à solução perfeita para o
celular na capacidade de raciocínio dos jovens do ensino médio da rede pública de Jaguaribe?“ problema que você escolheu. Cada caso é único, cada pesquisador é único. E a ciência é tão fluida
que nenhuma solução é perfeita, pois o que existem são verdades transitórias, não verdades
absolutas. Chocado? Calma, apesar de não termos uma receita mágica, temos dicas!

Deve expressar a relação entre duas ou mais variáveis. Conforme já vimos, a pesquisa possui Grandes hipóteses e, em função disso, grandes descobertas, foram estruturadas a
variáveis independentes (aquela que você controla; que é fator determinante para que ocorra um partir das mais simples situações do dia-a-dia. Assista aos exemplos que Adam Savage
determinado resultado; é o estímulo que condiciona uma resposta) e variáveis dependentes (é o traz nesse vídeo (ative as legendas!).
resultado de algo que foi estimulado; não é manipulada, mas é o efeito observado como resultado
Um olhar atento ao seu redor combinado com uma boa pesquisa bibliográfica podem ajudar
da manipulação da variável independente).
você a pensar em algumas opções de solução, até que você escolha qual é a mais plausível e viável
Exemplo! Na pesquisa: "Qual a influência do stress na frequência cardíaca em mulheres de ser executada no seu contexto.
de 20 a 24 anos que trabalham na escola x?". A variável independente será o grau de stress e
a variável dependente será a frequência cardíaca.

Além de saber informações relevantes e dados sobre o problema que você escolheu como
tema da pesquisa, é fundamental saber se esse problema é resolvido, atualmente. Então, é uma
tarefa do jovem pesquisador estudar sobre as formas de resolução que já existem, para ver se
alguém já teve antes a ideia que você estava imaginando. E se já teve, bora elaborar uma nova
solução.

Se você conseguir entender como essas soluções funcionam, poderá ter ainda mais ideias
para a sua pesquisa. Veja onde essas soluções são falhas, quais os aspectos do problema que elas
não atendem, quais os seus lados bons e lados ruins. Ligue os pontos e veja se formando, na sua
frente, a imagem da hipótese e da pesquisa que você irá desenvolver.

15 16
A ciência é muito ampla e existem muitas pessoas além de você pesquisando, no mundo
todo. O que deve estar claro é aquilo que irá definir o que diferencia a sua pesquisa das demais.
Alguns exemplos: você resolve o problema de maneira mais rápida? Mais barata? De forma mais
PORVIR. Aprendizagem baseada em projetos. Disponível em: <
amigável ao meio ambiente? Com um processo que é mais eficiente? Em uma região onde isso http://porvir.org/especiais/maonamassa/aprendizagem-baseada-em-projetos/>. Acesso em: abril
nunca foi feito? Em um grupo onde isso nunca foi avaliado? de 2017.

Isso precisa estar bem definido e também é um dos critérios de avaliação do seu projeto em
SINEK, Simon. Start with why: How great leaders inspire everyone to take action. Penguin, 2009.
qualquer feira. Cuidado para não reinventar a roda.

Por fim, lembre-se de olhar ao seu redor e perceber quais são os recursos dos quais você já SOUZA, Dalva Inês de et al. Manual de orientações para projetos de pesquisa. Novo Hamburgo:
dispõe. Quem você já conhece que pode te ajudar? Quais espaços e estruturas você já tem para FESLSVC, 2013.
fazer pesquisa? Caso precise ir atrás disso, quanto tempo você precisaria? E além disso, quanto
tempo você tem para fazer essa pesquisa? Pensar em recurso é pensar em tudo isso. Não elabore
um problema de pesquisa que envolveria ter que lançar um balão meteorológico para verificar uma
hipótese, pois provavelmente você não consegue fazer isso em apenas um ano - e sem uma
estrutura específica. Sonhe alto mas sempre com os pés no chão sobre o que você de fato consegue
colocar em prática. Para aqueles que cederam exemplos das suas pesquisas do ensino médio para ilustrar conceitos
deste material: Gabriela Delela, Mariana Brunetto, Lucas Kehl, Andrey Morawski e Rafaela Carniel.

Pela escrita da primeira edição do conteúdo em 2016, que futuramente deu origem a partes deste
material: Deise Carvalho e Fernanda Neumann.
“Um livro, uma caneta, uma criança e um professor podem mudar o mundo.”
Malala Yousafzai

Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-
CompartilhaIgual 4.0 Internacional (CC BY-NC-SA 4.0).

4ª edição, 2020, Porto Alegre/RS.


Texto e diagramação: Mariana Ritter Rau
Revisão: Barbara Alves Zolet, Jaqueline Dahmer Steffenon e Kawoana Trautman Vianna
Acesse a coleção completa, incluindo desafios que colocam em prática este conteúdo, em:
https://cientistabeta.com.br

17 18

19

Você também pode gostar