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the New Regulation of the Petroleum Sector; new players came into the game, re-exploring older provinces and reaching
brand new, challenging frontiers.
Key words: Petroleum exploration, Petroleum Provinces; Brazilian petroleum reserves; Continental margin.
O CONCEITO DE SISTEMA PETROLÍFERO petrolífero, que mesmo estando ausentes, podem ser
de alguma forma compensados por condições de
A indústria petrolífera foi gradualmente exceções geológicas ou por algumas coincidências
percebendo, ao longo de décadas de exploração, que adequadas.
para se encontrar jazidas de hidrocarbonetos de Rochas geradoras são normalmente constituídas
volume significativo era imperioso que um determinado de material detrítico de granulometria muito fina
número de requisitos geológicos ocorressem (fração argila), tais como folhelhos ou calcilutitos,
simultaneamente nas bacias sedimentares. O estudo representantes de antigos ambientes sedimentares de
destas características de maneira integrada e a baixa energia e que experimentaram, por motivos
simulação preliminar das condições ótimas para sua diversos, explosões de vida microscópica. Os
existência concomitante, com o objetivo de permitir remanescentes orgânicos autóctones (material
a diminuição do risco exploratório envolvido nas planctônico) ou alóctones (material vegetal terrestre
perfurações de poços, um item de elevado custo, carreado para dentro do ambiente) são incorporados
foram consolidados em um único conceito: o de às lamas sob a forma de matéria orgânica diluída. A
sistema petrolífero (Magoon & Dow, 1994). princípio, quanto maior a quantidade de matéria
Um sistema petrolífero ativo compreende a orgânica, mais capacidade terá a rocha para gerar
existência e o funcionamento síncronos de quatro grandes quantidades de petróleo. Entretanto, a
elementos (rochas geradoras maturas, rochas- incorporação desta matéria orgânica na rocha deve
reservatório, rochas selantes e trapas) e dois vir acompanhada da preservação de seu conteúdo
fenômenos geológicos dependentes do tempo original, rico em compostos de C e H. Para isto, o
(migração e sincronismo), que serão descritos a seguir. ambiente deve estar livre de oxigênio, elemento
altamente oxidante e destruidor da riqueza em C e H
Rochas geradoras das partículas orgânicas originais. Em suma, ambientes
anóxicos favorecem a preservação da matéria orgânica
O elemento mais importante e fundamental para a e, conseqüentemente, a manutenção da riqueza
ocorrência de petróleo em quantidades significativas original de rochas geradoras.
em uma bacia sedimentar, em algum tempo geológico De uma maneira geral, rochas sedimentares comuns
passado ou presente, é a existência de grandes apresentam teores de Carbono Orgânico Total (COT,
volumes de matéria orgânica de qualidade adequada teor em peso) inferior a 1%. Para uma rocha ser
acumulada quando da deposição de certas rochas considerada como geradora seus teores devem ser
sedimentares que são denominadas de geradoras. São superiores a este limite de 1% e, muito comumente,
estas rochas que, submetidas a adequadas situados na faixa de 2% - 8%, não sendo incomuns
temperaturas e pressões, geraram o petróleo em valores de até 14%; mais raramente, até 24%. O tipo
subsuperfície. Se este elemento faltar em uma bacia, de petróleo gerado depende fundamentalmente do tipo
a Natureza não terá meios de substituí-la, ao contrário de matéria orgânica preservada na rocha geradora.
dos outros cinco elementos constituintes do sistema Matérias orgânicas derivadas de vegetais superiores
tendem a gerar gás, enquanto o material derivado de configurações geométricas das estruturas das rochas
zooplancton e fitoplancton, marinho ou lacustre tende sedimentares que permitem a focalização dos fluidos
a gerar óleo. O estágio de maturação térmica de uma migrantes nos arredores para locais elevados, que não
rocha geradora, ou seja, a temperatura na qual ela permitam o escape futuro destes fluidos, obrigando-
está gerando petróleo, também influenciará no tipo os a lá se acumularem, são denominadas de trapas
de petróleo gerado. Em condições normais, uma ou armadilhas. Elas podem ser simples como o flanco
rocha geradora começa a transformar seu querogênio de homoclinais ou domos salinos, ou, mais
em petróleo em torno de 600oC. No início, forma-se comumente, como o ápice de dobras anticlinais/arcos/
um óleo de baixa maturidade, viscoso. À medida que domos salinos, ou até situações complexas como
a temperatura aumenta, o óleo gerado vai ficando superposição de dobras e falhas de natureza diversas.
mais fluido e quantidade de gás vai aumentando. Por Este tipo de aprisionamento, em uma estrutura
volta de 900oC, as rochas geradoras atingem seu pico elevada, é denominado de trapeamento estrutural.
de geração, expelindo grandes quantidades de óleo Nem sempre o petróleo é aprisionado em situações
e gás. Com o aumento da temperatura até os 1200oC, estruturais. Eventualmente, a migração do petróleo
o óleo fica cada vez mais fluido e mais rico em gás pode ser detida pelo acunhamento da camada-
dissolvido. Por volta desta temperatura, a quantidade transportadora, ou bloqueio da mesma por uma
de gás é predominante e o óleo gerado já pode ser barreira diagenética ou de permeabilidade, ficando
considerado um condensado. Entre 1200 - 1500oC, então retido em posições estruturalmente não-
apenas gás é gerado pelas rochas-fonte. notáveis. Neste caso, teremos um trapeamento de
caráter estratigráfico.
Migração
Rochas-reservatório
Uma vez gerado o petróleo, ele passa a ocupar
um espaço/volume maior do que o querogênio Rochas-reservatório são normalmente litologias
original na rocha geradora. Esta se torna compostas por material detrítico de granulometria
supersaturada em hidrocarbonetos e a pressão fração areia a seixo, representantes de antigos
excessiva dos mesmos faz com que a rocha-fonte se ambientes sedimentares de alta energia, portadores
frature intensamente, permitindo a expulsão dos de espaço poroso onde o petróleo será armazenado
fluidos para zonas de pressão mais baixa. A viagem e, posteriormente, será extraído. Tais rochas são
dos fluidos petrolíferos, através de rotas diversas pela geralmente os arenitos, calcarenitos e conglomerados
subsuperfície, até à chegada em um local portador diversos. Entretanto, qualquer rocha que contenha
de espaço poroso, selado e aprisionado, apto para espaço poroso, não necessariamente intergranular, de
armazená-los, constitui o fenômeno da migração. As natureza diversa causado por fraturamento ou
rotas usuais em uma bacia sedimentar são fraturas dissolução também pode fazer às vezes de rochas-
em escalas variadas, falhas e rochas porosas diversas reservatório. Como exemplos temos rochas ígneas e
(rochas carreadoras), que ligam as “cozinhas” de metamórficas cristalinas fraturadas, ou mais
geração, profundas, com alta pressão, a regiões precisamente, qualquer tipo de rocha fraturada,
focalizadoras de fluidos, mais rasas, com pressões mármores lixiviados, entre vários outros.
menores. As rochas-reservatório mais comuns são areias
antigas, depositadas em dunas, rios, praias, deltas,
Trapa ou Armadilha planícies litorâneas sujeitas à influência de ondas/
marés/tempestades, e em mares e lagos profundos,
Uma vez em movimento, os fluidos petrolíferos através de correntes de turbidez. Depois dos arenitos,
são dirigidos para zonas de pressão mais baixas que os reservatórios mais comuns são rochas calcárias
os arredores, normalmente posicionadas em situações porosas depositadas em praias e planícies
estruturalmente mais elevadas que as vizinhanças. As carbonáticas, desenvolvidas em latitudes tropicais e
Figura 1 – Ilustração esquemática do sistema petrolífero atuante na Bacia de Campos (segundo Rangel & Martins, 1998).
Figura 2 – Distribuição dos sistemas petrolíferos com maiores reservas de petróleo (exclusive águas profundas e ultraprofundas) do
mundo. O tamanho do círculo é proporcional às reservas (petróleo recuperável) encontradas no sistema petrolífero. As áreas mais ricas são
o Oriente Médio, a Bacia da Sibéria Ocidental e a Venezuela (Bacia de Maturin e Lago Maracaibo).
de placas continentais - deformou ou influenciou de Tethys) no Golfo do México. Muito embora não
estruturalmente esta faixa. Os mesmos reservatórios tenha havido uma colisão continental nesta área, a
- carbonatos juro-cretácicos - são abundantes ao interação entre a Placa do Caribe e a Placa Norte-
longo desta faixa. Americana foi suficiente para fornecer um ambiente
Este intervalo de tempo (Neojurássico e o início tectônico compressional ativo semelhante às colisões
do Mesojurássico, 160 - 135Ma) engloba as rochas do outro lado do Atlântico.
geradoras mais ricas conhecidas, estando elas A Placa Africana colidiu com a Europa formando
relacionadas a um paleo-mar denominado de Tethys, as cadeias de montanhas do Atlas, Pirineus, Alpes
que se desenvolveu em paleolatitudes quentes e (Itália/Suíça/Áustria e Dináricos) e Cárpatos. Muito
equatoriais, desenvolvendo abundantes plataformas embora as produções de petróleo destas áreas
carbonáticas e camadas anóxicas repletas de matéria geologicamente conturbadas sejam pequenas, duas
orgânica, mas que, posteriormente, foi destruído/ importantíssimas províncias petrolíferas se associam
assimilado por sucessivas colisões continentais da ao paleo-mar de Tethys na Europa. A Bacia da
Placa Eurasiana com várias outras vindas do sul, no Sibéria Ocidental (Rússia), a segunda mais rica do
final do Cretáceo e, principalmente, durante o planeta, e o Mar do Norte (Reino Unido e Noruega).
Terciário. Uma longa cicatriz de montanhas e bacias Mesmo relativamente distantes da cicatriz atual do
sedimentares pouco ou muito amarrotadas, repletas fechamento do paleo-mar neojurássico, e com
de petróleo, marca a localização deste paleo-mar, desenvolvimento tectônico distinto da colisão
outrora muito rico em matéria orgânica.. continental ocorrente mais a sul (bacias intracratônicas
De oeste para leste, aparece a província petrolífera constituídas por riftes aulacogênicos cobertas por
de carbonatos do México, a oeste da Península de depressões circulares tipo sag), ambas áreas
Yucatan (e em menor escala, Cuba) e o delta do receberam transgressões marinhas paleo-setentrionais
Mississipi (uma feição sedimentar posterior que se oriundas do paleo-mar de Tethys, à semelhança do
desenvolveu de maneira fortuita sobre uma extensão Golfo do México. Ambas bacias sedimentares
paleo-setentrional da antiga rocha geradora do Mar possuem em suas profundezas os ricos folhelhos
Tabela 1 – Doze regiões do planeta contêm 70% do volume de petróleo descoberto até hoje. Do volume total (2.767 bilhões de barris), 37%
(1.009 bilhões de barris) já foram produzidos e consumidos pela humanidade, restando ainda 63% (1.758 bilhões de barris) como reservas
conhecidas e produzíveis.
(Guardado et al., 1990). Esta bacia foi o laboratório cobertos igualmente por progradações deltaicas oligo-
mundial do desenvolvimento tecnológico que nestes miocênicas, tais como os deltas do Orinoco (Trinidad
quinze anos permitiu a entrada em produção de Tobago) e do Congo (Angola/Congo). No caso do
campos situados em lâminas d’água desde 400 m delta do Mississipi, no Golfo do México, as rochas
(Campo de Marimbá) até 1900 m (Campo de geradoras principais são os folhelhos neojurássicos,
Roncador). O Golfo do México, liderado pela Shell, com uma significante contribuição dos folhelhos
participou deste “corrida”, fornecendo um grande cenomaniano-turonianos. As rochas-reservatório são
número de descobertas que, embora apresentassem predominantemente arenitos turbidíticos, a
volumes significativamente inferiores aos da Bacia de deformação/trapeamento é do tipo compressional
Campos (cerca de 3 bilhões de barris de reservas), (relacionado a sistemas gravitacionais interligados de
puderam ser colocados em produção pelo imenso deslizamento-encurtamento) ou associado à tectônica
mercado faminto de energia situado em suas salina e a subsidência necessária para a maturação e
adjacências e pela gigantesca infra-estrutura já migração do petróleo é originada pela sobrecarga dos
existente em suas águas rasas. Vinte campos de espessos pacotes deltaicos sobre as rochas geradoras
petróleo situados, entre lâminas d’água entre 600 e subjacentes.
1600 m já entraram em produção no Golfo do No caso particular da Bacia de Campos, o mesmo
México. sistema petrolífero atuante nas águas rasas atua
A costa oeste da África, notadamente nas águas igualmente em águas profundas, ou seja, as rochas
profundas de Angola (delta do Congo) e Nigéria (delta geradoras são folhelhos lacustrinos do Cretáceo
do Niger), completa o chamado “triângulo dourado Inferior e as rochas reservatório são turbiditos de
das águas profundas” (Fig. 3). Uma série idades diversas, variando do Albiano até o Mioceno
impressionante de descobertas feitas por companhias (Fig. 1). A maturação necessária para a geração do
como a Elf e a Total (hoje TotalFinaElf), Esso (hoje petróleo parece estar ligada à progradação terciária
ExxonMobil), British Petroleum (hoje BP-Amoco) e do delta do rio Paraíba do Sul.
Texaco já somam cerca de 8 bilhões de barris de
reservas. Entretanto, o único campo em produção Evolução Tectono-Sedimentar da Margem
atualmente em lâminas d’água superiores a 600 m Continental Brasileira
encontra-se na Guiné Equatorial (Campo de La Ceiba)
operado pela pequena companhia Triton. A margem divergente da América do Sul,
Outras áreas em franco desenvolvimento no estendendo-se por mais de 12.000 km desde o Delta
número de descobertas e na perspectiva de entrada do Orinoco no Oriente Venezuelano até a Terra do
em produção de campos de petróleo em águas Fogo, no extremo sul da Argentina, inclui um sistema
profundas são o sudeste asiático (Indonésia, Filipinas contínuo de bacias sedimentares originadas pelos
e Malásia), o Mediterrâneo (delta do Nilo no Egito e mecanismos de distensão litosférica que, a partir do
Israel, e Mar Adriático na Itália, este já com um campo Mesozóico, conduziram à ruptura do paleocontinente
em produção em 800 m de lâmina d’água), o Mar do Gondwana, e à separação definitiva das placas
Norte, Austrália, Trinidad Tobago e outros países da Africana e Sul-Americana, acompanhando a formação
África Ocidental (Guiné Equatorial, Congo, Costa do do Oceano Atlântico Sul.
Marfim e Mauritânia). Considerando-se a natureza e a orientação dos
Nas águas profundas e ultraprofundas, a maioria campos de tensões regionais durante a fase de
dos sistemas petrolíferos ativos são deltaicos. As rifteamento e a dinâmica das placas Africana e Sul-
rochas geradoras podem ser folhelhos prodeltaicos Americana durante a fase de deriva continental, três
(eocênicos-oligocênicos), existentes antes da domínios distintos (Fig. 4) podem ser reconhecidos
progradação de grandes deltas oligo-miocênicos, tais ao longo da margem: uma região dominantemente
como nos deltas do Niger, do Nilo e do Mahakam distensiva, entre o sul da Argentina e o extremo
(Indonésia), ou folhelhos mais antigos, relacionados nordeste da costa brasileira; um segmento de natureza
a depósitos anóxicos do Cenomaniano/Turoniano, transformante, correspondente ao Atlântico
Figura 3 – Distribuição dos sistemas petrolíferos de águas profundas e ultraprofundas no mundo. O tamanho do círculo é proporcional às
reservas encontradas. As áreas mais ricas são a Bacia de Campos, o Golfo do México e a África Ocidental (da Nigéria até Angola).
10.000 m de sedimentos. Grandes falhas normais por um binário de cisalhamento dextrógiro; em tal
sintéticas de geometria lístrica compõem seu contexto de acelerada quebra e subsidência mecânica
arcabouço tectônico. A sub-bacia de Cametá generalizada, incursões marinhas provenientes do
representa a terminação SE deste rifte, tendo se Atlântico Central foram facilitadas, tendo influenciado
implantado sobre as seqüências paleozóicas da Bacia a sedimentação já durante a fase rifte.
do Parnaíba. Quatro domínios ou “bacias” individualizadas são
Com o declínio da atividade das falhas normais reconhecidas na Margem Equatorial Brasileira: Pará-
que caracterizaram a fase rifte, seguiu-se um estágio Maranhão, Barreirinhas, Ceará e Potiguar (Fig. 5). A
de sag, a partir do Cenomaniano, quando foram Bacia do Pará-Maranhão, posicionada na faixa
depositados sedimentos predominantemente oceânica defronte aos estados homônimos e com área
argilosos. Condições pós-rifte foram alcançadas no de 50.000 km2, tem como característica marcante
Maastrichtiano, e cerca de 4.000 m de sedimentos em seu registro estratigráfico um espesso pacote de
continentais a marinho-marginais foram acumulados rochas carbonáticas, acumulados no intervalo de
(Formação Marajó). Uma grande parte desta tempo entre o Maastrichtiano e o Recente e
sedimentação corresponde à descarga da bacia conhecidos como Formação Ilha de Santana. Este
amazônica durante o Cenozóico. pacote carbonático grada lateralmente para uma
seqüência arenosa proximal (Formação Areinhas).
Margem Equatorial No sentido das águas profundas, dominam os
folhelhos de talude e bacia a que se intercalam arenitos
A tectônica transcorrente, peculiar na evolução da turbidíticos (Fig. 6).
Margem Equatorial, impôs características específicas A tectônica adiastrófica, propelida por fluxos de
àquele segmento no que se refere à dinâmica do massa no sentido das regiões mais distais da margem
rifteamento e ao padrão estrutural das bacias continental, define um estilo de deformação bem
sedimentares associadas. A arquitetura convencional característico, denominado por Zalán (2001) de
das bacias do tipo rifte, onde a subsidência é gravitational fold-and-thrust belts. O fenômeno foi
controlada por uma importante falha normal de borda, estudado em detalhe na região do Pará-Maranhão, e
a que se associam possantes leques de corresponde a um domínio com grande incidência de
conglomerados sintectônicos, não é um padrão falhas de empurrão e dobras associadas, similares em
facilmente identificável nas bacias da Margem geometria e dimensões aos clássicos cinturões
Equatorial (Matos & Waick, 1998). orogênicos das áreas compressionais do planeta.
Estilos estruturais característicos de um rifteamento A Bacia de Barreirinhas, ocupando a porção
transtensivo ao longo desse limite de placas costeira e de plataforma continental do Estado do
conduziram a uma evolução segmentada da Margem Maranhão, tem área de 20.000 km2, dominantemente
Equatorial, com sub-bacias apresentando entre si offshore. A bacia implantou-se em um substrato
histórias contrastantes em termos de fluxo térmico, sedimentar paleozóico; o pacote rifte é representado
subsidência e distribuição de fácies sedimentares, pelo Grupo Canárias, uma seção de arenitos líticos
magmatismo, eventos de soerguimento e episódios imaturos, siltitos e folhelhos esverdeados, um conjunto
de deformação. Alguns setores da Margem Equatorial de estratos interpretado como depositados num
experimentaram subsidência contínua ao longo do contexto deltaico preenchendo uma bacia rifte
tempo, similarmente ao padrão dominante na Margem precocemente marinha. Seguem-se os grupos Caju e
Leste, ao passo em que outros foram submetidos a Humberto de Campos, documentando o estágio pós-
importantes episódios de soerguimento e inversão que rifte na evolução da margem. O Grupo Humberto de
produziram significativas lacunas em seus registros Campos constitui o clássico complexo sedimentar de
estratigráficos. Os dados disponíveis indicam que a plataforma-talude-bacia, sendo que fácies de águas
fase rifte ao longo da Margem Equatorial ocorreu de profundas, com arenitos turbidíticos associados, estão
forma rápida, no Aptiano (Matos e Waick, 1998), incluídas na Formação Travosas (Brandão & Feijó,
tendo sido a ruptura litosférica na região patrocinada 1994).
A Bacia do Ceará ocupa a porção oceânica Barremiano. Um segundo pulso extensional, orientado
defronte ao estado de mesmo nome, tendo área de a E-W, teve lugar entre o Neo-Barremiano e o Eo-
35.000 km2. Em função de particularidades nos estilos Aptiano. Seguiu-se uma fase transicional aptiana e a
estruturais e estratigráficos, três segmentos são etapa de evolução marinha. No Neo-Campaniano,
reconhecidos na bacia: de oeste para leste, as sub- uma deformação transcorrente afetou a área,
bacias de Piauí-Camocim, Acaraú-Icaraí e Mundaú originando um padrão de estruturas orientado a
caracterizam diferentes domínios separados por WNW-ESSE e produzindo uma discordância de
importantes feições transversais positivas, amplo significado na porção offshore da bacia.
correspondentes a altos do embasamento, a grandes No Cenozóico, teve lugar um magmatismo
corpos ígneos ou a anticlinais em ampla escala basáltico subaquoso, conhecido como Formação
produzidos por inversão tectônica sin-sedimentar. Macau. Eventos tectônicos tardios nesta área incluem
Particularmente a sub-bacia de Piauí-Camocim reativações de feições estruturais NE-SW por
(Zalán, 1985) caracteriza um complexo segmento da campos de tensões E-W, cuja extensão ao Recente
Margem Equatorial Brasileira onde operaram faz desta uma das regiões de maior sismicidade do
processos de inversão transpressiva, mecanismos País.
estes os responsáveis pelo desenvolvimento de A porção terrestre da Bacia Potiguar inclui um
grandes hiatos no registro sedimentar daquela área, gráben confinado, não-aflorante, que abriga
que envolvem o intervalo temporal entre o Neo- sedimentos lacustres da fase rifte de idade neocomiana
Cenomaniano e o Neo-Eoceno. O hiato equivalente com espessura total de 6.000 m. Recobre a seção
nas regiões vizinhas a leste é de menor expressão, rifte um pacote de rochas de idade aptiana a
mas ainda importante em Acaraú-Icaraí, e torna-se campaniana.
quase imperceptível na sub-bacia de Mundaú. O arcabouço estrutural da calha central da Bacia
A fase rifte acomodou mais de 4.000 m de Potiguar terra inclui depocentros ou grábens, altos
sedimentos siliciclásticos continentais naquele internos e plataformas. Os grábens apresentam-se
segmento da margem, correspondentes a fácies de assimétricos com orientação geral SW-NE,
rochas aluviais, fluviais e lacustres da Formação desenvolvidos sob o controle de grandes falhas
Mundaú (Beltrami et al., 1994). A partir do Albiano, normais, sendo a principal delas a Falha de
passaram a dominar condições francamente marinhas. Carnaubais. Plataformas marginais rasas bordejam o
Entre o Eoceno e o Recente, uma sedimentação gráben central em ambos os lados, e nessas áreas
arenosa grossa acomodou-se junto às áreas proximais está ausente o pacote eocretácico. Falhas
da bacia, a Formação Tibau, que grada para os transcorrentes E-W afetaram a bacia durante o
carbonatos da Formação Guamaré e aos folhelhos Barremiano-Eoaptiano. Uma persistente atividade
da Formação Ubarana no sentido das porções mais magmática teve lugar durante a evolução do rifte
distais da bacia. Outro aspecto significativo observado Potiguar, e suas manifestações são conhecidas como
na Bacia do Ceará, certamente ligado à presença de Formação Rio Ceará-Mirim, datados entre 140-120
importantes lineamentos oceânicos em seu substrato, Ma (Araripe & Feijó, 1994).
é a abundância de montes submarinos e guyots nas O pacote rifte na Bacia Potiguar é representado
regiões de águas profundas. pela Formação Pendência, composta por folhelhos
A Bacia Potiguar constitui o segmento de ligação lacustres com turbiditos arenosos, arenitos flúvio-
entre a Margem Equatorial e a Margem Leste, e ocupa deltaicos e conglomerados, abrangendo o intervalo
área de 27.000 km2 na porção offshore e 22.000 temporal Berriasiano ao Eoaptiano. Este pacote limita-
km2 em terra. Por seu posicionamento geotectônico se ao gráben central, sem afloramentos. O topo do
particular, este setor inclui elementos de ambos os pacote rifte é marcado por uma discordância regional,
contextos, o que lhe emprestou uma complexa e a unidade encontra-se basculada para SE.
evolução. O rifteamento iniciou no Neo-Berriasiano A Formação Alagamar, de idade Neoaptiana,
(Cremonini et al., 1998) como resultado de um campo recobre o pacote rifte. Ela representa o estágio
distensivo WNW-ESSE, persistente até o Eo- transicional continental para marinho da evolução da
bacia, e consiste de folhelhos negros, margas e alojam-se as bacias de Santos e Campos. No sentido
calcilutitos. Esta seção é recoberta por arenitos fluviais do oceano, o Platô de São Paulo é limitado por uma
finos a grossos e argilitos de idade albo-cenomaniana escarpa abrupta, em parte correspondente também
(Formação Açu). Acima, ocorrem os carbonatos de ao limite externo de ocorrência dos evaporitos
alta energia da Formação Jandaíra, de idade aptianos. Para NW, o Platô de São Paulo é delimitado
turoniana-campaniana. Um recorrente magmatismo pela Serra do Mar, outra feição proeminente ao longo
produziu, no Eoceno-Oligoceno, os depósitos da da margem leste brasileira. A configuração destas
Formação Macau. montanhas costeiras é dada por uma cadeia de
escarpas com cerca de 1000 km de comprimento e
Margem Leste 2200 metros de altitude máxima; seu trende SW-NE
foi herdado do embasamento pré-cambriano.
O Neojurássico marcou o início do efetivo Para norte do Platô de São Paulo, a margem
rifteamento na porção sul da América do Sul (Uliana brasileira extende-se por cerca de 1200 km numa
& Biddle, 1988; Urien & Zambrano, 1996). Na direção N-S, até alcançar uma bifurcação no paralelo
porção meridional da Argentina, esta fase precoce correspondente à Cidade do Salvador; aí se incluem
de ruptura é documentada por alguns pulsos as bacias do Espírito Santo-Mucuri, Cumuruxatiba,
magmáticos mais antigos, datados entre 200 e 180 Jequitinhonha e Camamu-Almada. A partir da referida
Ma (Keeley & Light, 1993), indicando que o bifurcação, um ramo seguiu N-S continente-adentro,
rompimento litosférico e a instalação da margem constituindo o rifte abortado do Recôncavo-Tucano-
continental já eram iminentes. O arcabouço estrutural Jatobá, e o outro propagou-se ao longo da margem
pré-existente, que inclui trendes de idade pré- em desenvolvimento, definindo as bacias de Jacuípe,
cambriana, paleozóica e triássica, exerceu um Sergipe-Alagoas e Pernambuco-Paraíba, até alcançar
importante papel durante o rifteamento mesozóico, o Alto de Touros, no extremo nordeste do continente.
uma vez que a ruptura do Atlântico Sul acomodou-se A Bacia de Pelotas ocupa cerca de 200.000 km2
como falhas normais sobre um grão estrutural mais na região costeira e marítima do Estado do Rio
antigo. Do mesmo modo, a presença de estruturas Grande do Sul, dos quais 40.000 km2 na área emersa.
transversais criou complicações neste quadro Em sua porção em terra, a Bacia de Pelotas inclui um
simplificado de propagação do rifte de sul para norte. pacote de rochas sedimentares siliciclásticas de idade
A margem continental da América do Sul, vista a terciária com até 1.800 m de espessura (Dias et al.,
partir de seu extremo meridional, inicia com um 1994; Fontana, 1995).
extenso trecho retilíneo, orientado a NE-SW, em que O pacote sedimentar que preenche a Bacia de
inclui-se a Bacia de Pelotas (Fig. 7). Na terminação Pelotas assenta diretamente sobre o embasamento
nordeste deste trecho desenvolve-se a Dorsal de São cristalino ou sobre seqüências paleozóicas
Paulo, cujo prolongamento para NW, no sentido do eqüivalentes às da Bacia do Paraná. O limite sul da
continente, encontra o Arco de Ponta Grossa. Esta bacia é dado pela Zona de Fratura do Chuy, junto ao
feição corresponde a um braço abortado do rifte sul- limite territorial com o Uruguai. Para norte, a
atlântico inteiramente dominado por magmatismo Plataforma de Florianópolis e a Dorsal de São Paulo
básico do Eocretáceo (134-128 Ma; Turner et al., constituem o limite entre as bacias de Pelotas e de
1994) que afeta os pacotes sedimentares paleozóicos Santos.
da Bacia do Paraná e as regiões de embasamento A fase rifte ocorreu durante o Neocomiano, e então
vizinhas. se acumularam rochas siliciclásticas grossas da
A Dorsal de São Paulo também define o limite sul Formação Cassino associadas aos fluxos basálticos
do Platô de São Paulo, uma região onde a largura da Formação Imbituba (Fig. 8). No domínio de águas
total da crosta distendida durante o rifteamento assume rasas, onde a morfologia do rifte é imageada pelos
uma dimensão mais ampla quando comparada ao dados sísmicos, configuram-se meio-grábens
restante da margem. Nessa área, a crosta continental controlados por falhas antitéticas de alto ângulo. Os
estirada alcança 400 km de largura, e sobre o platô basaltos da Formação Imbituba, num arranjo
130 e 120 Ma (Dias et al., 1990). A porção inferior um regime francamente distensivo, que passa a um
da Formação Lagoa Feia inclui conglomerados com contexto compressivo na região de águas profundas,
abundantes clastos de basalto que formam grandes originada pela contração mergulho-abaixo do pacote
leques ao longo das falhas de borda; também ocorrem em movimento. Falhas normais de geometria lístrica
arenitos, folhelhos ricos em matéria orgânica e associam-se em geral à tectônica salina.
coquinas, definindo um contexto de sedimentação A Bacia do Espírito Santo-Mucuri situa-se na
lacustre. As coquinas alcançam até 400 m de região costeira (20.000 km2) e na plataforma
espessura, constituindo-se em depósitos de carapaças continental (200.000 km2) do Estado do Espírito
de pelecípodes (Membro Coqueiros) associados a Santo e porção sul da Bahia, tendo evoluído sobre
altos estruturais e representando uma fácies particular um complexo de terrenos ígneos e metamórficos pré-
de rochas porosas nesta bacia. cambrianos (Vieira et al., 1994). As indicações mais
A parte superior da Formação Lagoa Feia, apoiada antigas de processos distensivos mesozóicos ativos
em expressiva discordância, é representada por uma nessa área correspondem a diques de diabásio
seqüência de conglomerados e folhelhos avermelhados jurássicos orientados a NW-SE, conhecidos como
de idade aptiana recobertos por uma seção de Suíte Fundão. Esta fase precoce de magmatismo foi
evaporitos do Neoaptiano (Membro Retiro). A sucedida por um episódio extrusivo de idade
ocorrência do pacote aptiano e mais antigo é limitada neocomiana-barremiana, quando basaltos toleiíticos
por uma zona de falha sintética de orientação geral e rochas vulcanoclásticas da Formação Cabiúnas
SW-NE que desenvolve-se paralela e próxima à linha acumularam-se conjuntamente aos sedimentos iniciais
de costa. da fase rifte na bacia.
Durante o Albiano-Cenomaniano, as condições O pacote sedimentar sinrifte da Bacia do Espírito
marinhas prevaleceram na bacia. A Formação Macaé Santo-Mucuri é conhecido como Formação Cricaré,
consiste em carbonatos clásticos e oolíticos (Membro tendo espessura estimada em 5.000 m; corresponde
Quissamã) que, localmente, aparecem completamente a conglomerados continentais, arenitos, coquinas e
dolomitizados. A sucessão vertical inclui calcilutitos, dolomitos, associados a folhelhos ricos em carbono
margas e folhelhos (Membro Outeiro) e arenitos orgânico. A seqüência acomodou-se em depressões
turbidíticos (Membro Namorado). Nas porções mais falhadas de orientação geral N-S a NE-SW, limitadas
proximais, a Formação Macaé é constituída por por falhas normais sintéticas, e seu topo é definido
conglomerados e arenitos pobremente selecionados por uma importante superfície de discordância, sobre
(Membro Goitacás). a qual se apoiam os sedimentos de natureza
O Grupo Campos recobre discordantemente a transicional da Formação Mariricu, do Neoaptiano.
Formação Macaé, e representa o preenchimento desta Esta unidade é formada por conglomerados, arenitos
bacia marginal durante a fase final de subsidência grossos arcosianos e folhelhos (Membro Mucuri)
térmica e basculamento do substrato para leste. O recobertos por um pacote de evaporitos e folhelhos
pacote é representado por sedimentos proximais, negros conhecidos como Membro Itaúnas.
areno-conglomerático-carbonático (Formação O pacote correspondente à fase marinha aberta
Emborê) que gradam a folhelhos nas porções distais na Bacia do Espírito Santo-Mucuri constitui o Grupo
(Formação Ubatuba). A Formação Ubatuba Barra Nova de idade albiana, e o Grupo Espírito
compreende milhares de metros de espessura de Santo, abrangendo o intervalo Cenomaniano ao
folhelhos e margas, com arenitos turbidíticos Recente. O primeiro consiste de arenitos grossos de
intercalados (Membro Carapebus). fácies marinha marginal (Formação São Mateus) que
O basculamento progressivo da bacia para leste grada para carbonatos no sentido do mar (Formação
propiciou o desenvolvimento de uma intensa Regência). O Grupo Espírito Santo é a clássica
deformação adiastrófica em função do volumoso fluxo seqüência de plataforma continental progradacional,
de sal (Demercian et al., 1993). A tectônica salina e formada por uma fácies arenosa proximal (Formação
o estilos estruturais dela resultantes configuram dois Rio Doce) intercalada com carbonatos (Formação
casos: próximo à costa, nos primeiros 100 a 200 km, Caravelas); o conjunto torna-se pelítico em seu
contexto distal, junto ao talude e à bacia profunda estruturas compressionais junto ao Complexo de
(Formação Urucutuca). Abrolhos.
O Cenozóico assistiu ao importante episódio As Bacias de Cumuruxatiba/Jequitinhonha
magmático que definiu a Formação Abrolhos, desenvolvem-se no domínio marítimo da costa da
impondo grandes rearranjos estruturais à bacia. Esta Bahia, correspondendo a um trecho retilíneo orientado
unidade corresponde a rochas vulcânicas e a N-S, com cerca de 350 km de comprimento e uma
vulcaniclásticas sub-alcalinas a alcalinas que foram área em torno de 45.000 km2. O embasamento nessa
extrudidas durante o intervalo Paleoceno-Eoceno (60- área é constituído por terrenos granítico-gnáissicos
40 Ma). Os corpos ígneos intercalam-se com os pré-cambrianos do Cráton do São Francisco. O
sedimentos carbonáticos da Formação Caravelas e padrão estrutural do rifte nestas bacias é dado por
com os folhelhos da Formação Urucutuca. A falhas normais sintéticas orientadas a N-S e SW-NE,
acumulação de grandes volumes de magma na porção localmente interrompidas por falhas de transferência
externa da plataforma continental trouxe complicações e zonas de acomodação de direção NW-SE.
ao quadro convencional de halocinese mergulho- O pacote sedimentar neocomiano a eoaptiano
abaixo; ao alcançar esta barreira, o fluxo sedimentar nestas bacias corresponde ao Grupo Cumuruxatiba
descendente construiu um padrão característico de e à Formação Cricaré (Fig. 9). O primeiro inclui uma
sucessão basal de rochas siliciclásticas (Formação Rio de Contas. Na Bacia de Jacuípe, o pacote
Monte Pascoal) representada por arenitos grossos a Neocomiano está ausente e a Formação Rio de
médios intercalados com folhelhos cinza e pretos e Contas representa o estágio rifte, que naquela área
conglomerados, interpretados como uma unidade pré- tem idade Barremiano-Eoalbiano.
rifte. O pacote sinrifte é representado pela seqüência Um pacote de evaporitos e siliciclásticos de idade
lacustre da Formação Porto Seguro (Santos et al., neoaptiana constitui a Formação Taipus-Mirim. Esta
1994) e Formação Cricaré. Esta última, bem como o unidade consiste de arenito muito fino intercalado com
restante do pacote lito-estratigráfico na área de siltitos e folhelhos negros com elevado teor de carbono
Cumuruxatiba/Jequitinhonha, incluindo os magmatitos orgânico (Membro Serinhaém); o Membro Igrapiúna
do Eocenozóico da Formação Abrolhos, exibe recobre a seção anterior e consiste de carbonatos,
características similares às seções equivalentes folhelho marrom, halita e anidrita, com barita associada
encontradas na vizinha Bacia do Espírito Santo- em alguns locais nas bacias de Almada e Camamu.
Mucuri, pelo que tomam dela emprestada a A clássica seção de carbonatos albiano-
nomenclatura estratigráfica formal. cenomanianos é aqui conhecida como Formação
As Bacias de Almada/Camamu/Jacuípe Algodões, e é sucedida por uma seqüência
correspondem à porção da margem continental neocretácica-cenozóica que, nas Bacias de Almada/
brasileira posicionada adjacente à Baía de Todos os Camamu/Jacuípe, guarda similaridades litológicas e
Santos, no Estado da Bahia, cobrindo cerca de estratigráficas com as formações Urucutuca,
110.000 km2, com apenas uma pequena parte em Caravelas e Rio Doce da Bacia do Espírito Santo-
terra emersa. A Baía de Todos os Santos corresponde Mucuri.
à terminação sul do rifte abortado do Recôncavo- A Bacia de Sergipe-Alagoas situa-se na margem
Tucano-Jatobá, e à região onde essa bacia interior continental do nordeste brasileiro, cobrindo cerca de
conecta-se com a margem. Isso define uma importante 35.000 km2, dos quais dois terços estão na área
junção tectônica, marcada por um complexo padrão marítima. Das bacias da margem leste, a de Sergipe-
estrutural. Durante a evolução da porção norte da Alagoas é a que registra a sucessão estratigráfica mais
Bacia de Camamu, estilos estruturais distensivos e completa, incluindo remanescentes de uma
compressivos desenvolveram-se simultaneamente, sedimentação paleozóica, um pacote jurássico a
num padrão singular ao longo da margem brasileira. eocretácico pré-rifte amplamente desenvolvido e as
Alguns intervalos litológicos dessas bacias clássicas seqüências meso-cenozóicas sinrifte e pós-
apresentam semelhanças ao encontrado nas seções rifte. A bacia é uma das tradicionais produtoras de
equivalentes de áreas vizinhas, e assim delas obtiveram petróleo do País e, juntamente com a Bacia do
suas denominações litoestratigráficas. Este é o caso Recôncavo, escreveu as primeiras páginas na história
das unidades paleozóicas da Formação Afligidos e o da Geologia do Petróleo brasileira.
pacote pré-rifte das formações Aliança e Sergi, O Nordeste do Brasil foi um sítio de ampla
unidades clássicas na estratigrafia da Bacia do sedimentação durante o Paleozóico, e provavelmente
Recôncavo. Acima dos arenitos da Formação Sergi também durante o Neoproterozóico, o que é
assenta uma seção com cerca de 500 m de espessura documentado pelas incontáveis áreas de ocorrência
de folhelhos avermelhados do Neocomiano inferior, de remanescentes destas unidades que existem na
conhecidos como Formação Itaípe e representando região. Estas unidades foram preservadas de uma
a transição pré-rifte/rifte na bacia (Netto et al., 1994). remoção erosiva por subsidência localizada devida à
A bacia sinrifte lacustre foi preenchida por folhelhos tectônica distensiva mesozóica. A Formação Estância
(Membro Jiribatuba) que gradam a arenitos nas é a mais antiga destas unidades, consistindo numa
regiões mais proximais (Membro Tinharé); no sucessão não-deformada de conglomerados, arenitos,
conjunto, estas unidades constituem a Formação folhelhos e carbonatos do Neoproterozóico-
Morro do Barro. Entre o Barremiano e o Eoaptiano, Cambriano, exposta na porção sudoeste da bacia.
um pacote misto siliciclástico-carbonático de ambiente Remanescentes paleozóicos na Bacia de Sergipe-
lacustre foi depositado, conhecido como Formação Alagoas são incluídos no Grupo Igreja Nova (Feijó,
marginal rasa, um pacote que está incluído nas chineses, gregos, romanos, povos do Oriente Médio,
formações Gramame e Maria Farinha, que gradam no Egito dos Faraós, em várias civilizações antigas.
para a Formação Calumbi nas porções distais. Desde a antiguidade até os tempos mais modernos,
Um aspecto particularmente interessante na no século 19, sua utilização pouco se modificou, tendo
geologia das bacias de Pernambuco-Paraíba é dado inclusive adquirido nos Estados Unidos duvidosas
pela presença de boas exposições do contato K/T, qualidades medicinais. Por esta época, no mundo
uma condição não encontrada em outros locais ao inteiro havia uma grande demanda por iluminantes mais
longo da margem leste. Este intervalo estratigráfico eficientes que os óleos animais e vegetais então
foi estudado por Albertão (1995). Naquela área o utilizados, e também por lubrificantes eficientes para
contato K/T corresponde a uma zona situada cerca as máquinas da recém-iniciada Era Industrial.
de 60 cm acima do contato entre as formações Uma conjunção de fatores e a visão de um grupo
Gramame, de idade maastrichtiana, e Maria Farinha, de americanos empreendedores, certamente
do Paleoceno-Oligoceno. O contato se expresssa almejando ganhar dinheiro, resultaram no evento que
como uma superfície erosiva que separa uma representa o marco inicial da Exploração de Petróleo,
seqüência inferior de margas biomicríticas de ambiente o ciclo de busca sistemática desse bem para utilização
nerítico e um pacote de carbonatos e folhelhos de em bases industriais e comerciais. Um advogado,
ambiente mais profundo, caracterizados pela presença George Bissell, emigrando do Sul para o Norte dos
de estratificações cruzadas do tipo hummocky Estados Unidos, por problemas de saúde, tomou
atribuídas à ação de tsunamis como modeladores do conhecimento do petróleo minerado nas exsudações
fundo marinho. Uma camada de marga apresentando da Pensilvânia. Vislumbrando utilizações mais
um alto teor de irídio e de carbono orgânico marca o importantes que as medicinais da época para aquele
contato K/T e aqui, bem como a nível global, estes produto, conseguiu convencer um banqueiro de Nova
indicadores de extinção da biota pré-existente são Jersey, que por sua vez encontrou investidores para
interpretados como produzidos pelo impacto de um o projeto. O próximo passo foi contratar um cientista,
corpo extra-terrestre. no caso o professor de química da Universidade de
Yale, Benjamim Silliman, que comprovasse as
A EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO NO qualidades idealizadas por Bissell para o petróleo. O
BRASIL: DAS BACIAS TERRESTRES ÀS cientista conseguiu, destilando aquele produto
ÁGUAS ULTRAPROFUNDAS malcheiroso, comprovar a existência de vários
subprodutos dentre os quais o querosene e a graxa,
No momento em que uma nova ordenação jurídica que se formavam a diferentes temperaturas.
para o setor petróleo recém se instala no País é Restava então descobrir um modo mais eficiente
oportuna uma reflexão sobre o petróleo, recurso de extrair o petróleo. Existia na época, nos Estados
natural tão disputado e de tão grande impacto na Unidos, uma primitiva indústria de perfuração de
economia mundial. Pretende-se aqui, de forma poços artesianos para água e também para a obtenção
sumarizada, registrar o esforço realizado na pesquisa de sal. Foi contratado um perfurador conhecido na
do petróleo no Brasil desde suas origens, em meados época, o Coronel Edwin L. Drake, que orientou
do século 19, passando pelo século 20 e a criação algumas modificações nos equipamentos existentes e
da Petrobras, até o século 21, já sob a égide da Nova foi encarregado da perfuração que teria lugar nas
Lei e da Agência Nacional do Petróleo. proximidades de Oil Creek, localidade do condado
O petróleo e algumas de suas utilidades são de Titusville, na Pensilvânia, famosa pelos seeps de
conhecidos desde os tempos antigos, milhares de anos petróleo. Foi encontrada a pouco mais de 20 metros
atrás; já foi utilizado como calafetante, iluminante de profundidade uma rocha-reservatório, de onde
(tochas fumarentas) e até como arma de guerra (fogo fluiu petróleo de boa qualidade, parafínico, de fácil
grego). Era obtido em exsudações, que são locais destilação. (Fig. 10) Estava assim iniciada a Era do
onde o petróleo, através de fraturas e fissuras nas Petróleo, que moldou a maior potência da Terra, que
rochas, extravasa na superfície. Foi usado por originou fortunas, que motivou guerras pela sua posse
Figura 10 – A Era do Petróleo, vista sob a perspectiva da evolução do preço dessa commodity no mercado internacional.
e que se tornou o recurso mineral mais influente do A partir daí, a história da exploração do petróleo
século 21. O sucesso de Drake ficou como um marco brasileiro evoluiu por diversos períodos e fases
inicial do crescimento explosivo da moderna indústria influenciados e sustentados nestes 140 anos por um
do petróleo. crescimento do conhecimento geológico, pelo
No Brasil, a história também começou por esta aumento expressivo da demanda por derivados do
época. Exsudações de petróleo e gás eram petróleo, pela disponibilidade de recursos financeiros,
conhecidas em várias regiões do país, na Bahia, na pelos choques dos preços internacionais e pelos
hoje conhecida Bacia do Recôncavo Baiano, em São marcos regulatórios implementados. O evento mais
Paulo, Paraná e Santa Catarina, na Bacia do Paraná, importante no período foi a criação da Petrobras, com
no litoral baiano de Ilhéus, Bacia de Camamu, no a responsabilidade de atuação exclusiva neste
Estado do Maranhão, Bacias de São Luiz e segmento da industria, uma aventura de sucesso que
Barreirinhas, e em outros locais deste vasto país- começou em terra, migrou para o mar, avançou com
continente. Os primeiros registros históricos, sucesso para as regiões de águas profundas (com
documentados, foram as duas concessões outorgadas cotas batimétricas entre 400 e 2.000 metros) e, desde
em 1858 pelo Imperador Dom Pedro II a 1999, iniciou mais uma etapa em uma nova fronteira,
particulares, para a pesquisa e mineração de carvão, as regiões de águas ultraprofundas (mais de 2.000
turfa e betume. metros de lâmina d’água).
A promulgação, em 06/08/97 da lei 9478/97, a em águas territoriais limítrofes com o Uruguai, até o
nova regulamentação do petróleo no Brasil, com a extremo norte, na fronteira com a Guiana Francesa.
conseqüente implantação da Agência Nacional do A região de águas profundas no mar brasileiro abrange
Petróleo (ANP), encontram a atividade de exploração 780.000 km2 entre as cotas batimétricas de 400 e
de petróleo em estágio crescente e maduro do 3.000 metros.
conhecimento geológico de grande parte das diversas Com uma população de cerca de 160 milhões de
e complexas bacias sedimentares brasileiras. habitantes, o Brasil é uma das grandes economias do
Possuindo grandes dimensões e uma área sedimentar mundo, sendo a principal força econômica da
total de 6.436.000 km2, o Brasil conta, em terra, com América do Sul. Sua economia é diretamente
mais de 20 bacias proterozóicas, paleozóicas, influenciada pelos recursos energéticos encontrados
cretácicas e terciárias, algumas ainda inexploradas, em suas bacias sedimentares, principalmente aquelas
espalhando-se por 4.880.000 km2, desde o da margem continental. Hoje, cerca de 38% da
desenvolvido Sul-Sudeste até o árido Nordeste e a energia primária consumida no País é proveniente do
Amazônia (Fig.11). O restante da área sedimentar está petróleo. Uma média diária de cerca de 1.500.000
na Plataforma Continental, onde 1.550.000 km2 se barris de petróleo (óleo + condensado + gás) são
distribuem por mais de 15 bacias sedimentares produzidos a partir das bacias sedimentares brasileiras,
cretácico-terciárias de Margem Atlântica, até a cota correspondendo a cerca de 70% das necessidades
batimétrica de 3.000 metros, desde o extremo sul, nacionais.
Tabela 2 – Histórico da força de trabalho de geocientistas da Petrobras no período 1954/1970. Até 1961, o norte-americano Walter Link
chefiou o Departamento de Exploração.
Tabela 3 – Ranking de bacias sedimentares brasileiras segundo sua atratividade para petróleo, na visão de Link e de Moura & Oddone.
Belém, Maceió, Salvador e Ponta Grossa (PR). Em 1955, um dos primeiros poços perfurados na
Inicialmente, foi feita uma revisão meticulosa das Bacia do Médio Amazonas, região de Nova Olinda,
bacias conhecidas, ficando as ações concentradas nas produziu algum óleo, gerando grandes esperanças e
bacias do Recôncavo (exploração e produção) e intensificando a campanha amazônica. Em 1957, a
amazônicas (exploração), com esforço mais modesto descoberta da acumulação de Jequiá foi a primeira
nas demais bacias. A estratégia era imediatista: um na Bacia de Sergipe-Alagoas e, também, a primeira
aumento rápido da produção e de novas descobertas fora do Recôncavo Baiano. A partir de 1960/61, as
na já razoavelmente conhecida Bacia do Recôncavo, universidades brasileiras começaram a formar
e realizar as grandes descobertas nas bacias da Região regularmente turmas de geólogos. Em 1961, os
Amazônica, onde se concentravam nossas resultados negativos na Amazônia já começavam a
expectativas de redenção. causar algum desconforto e, neste mesmo ano, foi
Uma dificuldade inicial foi a carência de pessoal divulgado o Relatório Link (Link, 1960, apud Souza,
especializado, apesar do CENAP (Centro de 1997), que concluiu pela inexistência de acumulações
Aperfeiçoamento e Pesquisas de Petróleo) ter de grande porte nas bacias sedimentares terrestres
realizado alguns convênios com universidades brasileiras.
brasileiras para formar geólogos de petróleo e do De modo geral, a partir do relatório, Link
envio ao exterior de alguns técnicos brasileiros para questionava fortemente futuros investimentos em
estudos e especialização, mas isso não era suficiente. programas exploratórios muito audaciosos,
Dezenas de geólogos e geofísicos norte-americanos desestimulando novas investidas nas bacias
e europeus foram contratadas (Tab. 2), com a paleozóicas e recomendando a intensificação dos
justificativa de que seriam os professores e instrutores trabalhos no Recôncavo e Sergipe-Alagoas,
dos técnicos brasileiros e, mais importante, a de que principalmente na porção sergipana da bacia. É
os resultados exploratórios só poderiam ser obtidos importante ressaltar que Link insistia que as conclusões
no curtíssimo prazo com a ajuda daqueles apresentadas eram dependentes em grande parte dos
profissionais. O plano inicial era que, à medida que escassos e pouco evoluídos dados geofísicos da
os profissionais brasileiros fossem sendo treinados, época, e que a evolução desta ferramenta poderia
estes iriam substituindo os estrangeiros. Isto de fato reverter este quadro. Sugeriu ainda que o caminho
aconteceu, e a tabela abaixo mostra como foi esta para as grandes descobertas tão almejadas poderia
evolução. estar na Plataforma Continental, àquela época já com
Walter K. Link, à época renomado geólogo com atividade intensa e descobertas animadoras no Golfo
reconhecida capacidade e experiência no ramo da do México americano, e também em concessões a
exploração de petróleo, conhecia a indústria e as serem adquiridas no exterior em bacias geologicamente
dificuldades das bacias brasileiras. Tendo aqui mais atrativas. A polêmica despertada pelo
chegado com um cenário de óleo barato e com as “Relatório” na imprensa e nos meios políticos foi
expectativas nacionalistas exacerbadas pela campanha enorme, principalmente quanto ao pessimismo para
de criação da Petrobras (“O Petróleo é Nosso”), sabia com as imensas bacias paleozóicas brasileiras e devido
da necessidade de se encontrar rapidamente os ao mito criado da existência de petróleo em
“bonanzas fields” (denominação utilizada no México abundância no país. Um anexo ao relatório foi
e Sul dos Estados Unidos para campos gigantes), com apresentado em novembro de 1960, com novas
campanhas exploratórias que se iniciariam informações que rebaixavam as avaliações da Bacia
rapidamente nas bacias mais apropriadas para estas do Médio Amazonas e da porção terrestre da Bacia
descobertas. Daí, após uma meticulosa revisão de de Sergipe-Alagoas, principalmente esta última
todas as bacias sedimentares brasileiras, os esforços (Alagoas).
terem sido divididos entre o óleo mais fácil e em O clamor nos meios jornalísticos e políticos
quantidades modestas no Recôncavo e Sergipe- aumentou, levantando inclusive suspeitas acerca da
Alagoas e a busca dos “bonanzas” nas imensas bacias idoneidade na condução da política exploratória. Tudo
paleozóicas Amazônicas, do Parnaíba e Paraná. isto coincidiu com a mudança do governo brasileiro e
teve repercussão na direção da empresa, tendo sido eu quem fez a geologia das bacias sedimentares
trocado o General Sardenberg pelo engenheiro brasileiras”.
Geonísio Barroso. Nos meios técnicos também houve Em março de 1961, antes da saída de Link, foi
reação ao relatório, porém esta reação se prendeu criado por decisão da diretoria um grupo de trabalho
mais ao que foi considerado pessimismo exagerado composto pelos geólogos Pedro de Moura e Décio
com relação a certas bacias frente a escassa Oddone, para a reavaliação do Relatório Link. Após
quantidade de dados. Os argumentos dos a demissão do geólogo Link, Pedro de Moura foi
exploracionistas que criticavam o Relatório se referiam empossado como chefe do Departamento de
em grande parte à metodologia, já que achavam que Exploração.
muito pouco trabalho de detalhe havia sido feito até O novo relatório de reavaliação das bacias de
então para avaliações tão negativas. modo geral contra-argumentava que até então muito
Em meados de 1961, ao término de seu contrato pouco trabalho de detalhe havia sido feito para
e ressentido com as críticas, muitas delas injustas e justificar uma condenação tão radical das bacias. No
irrefletidas, a respeito do seu trabalho, Walter K. Link entanto, observando-se as avaliações das bacias feitas
deixa o país, após demitir-se. Às acusações de má- pelos dois grupos (Tab. 3), o de Link e o de Moura e
fé, por se “encontrar a serviço de interesses Oddone (1962), apud Souza (1997), verifica-se
alienígenas”, Link comenta simplesmente: “não sou haver poucas discrepâncias entre os dois.
época com mais de 20 bilhões de barris de petróleo de barris e a produção estava em 182.064 barris por
de reservas. O critério da continuidade respondeu dia.
discretamente, porém o da analogia fracassou e os
poços secos se sucederam na Foz do Amazonas, - 1975/1984: Fase Marítima/Plataforma Rasa/Bacia
Espírito Santo e Santos. de Campos
A descoberta, em 1969, do Campo de São
Mateus, revelou o potencial da província terrestre do Em 1975 foi descoberto na Bacia de Campos o
Espírito Santo. Em 1972, os distritos exploratórios Campo de Namorado, o primeiro gigante da
foram esvaziados e as atividades em terra e o número Plataforma Continental brasileira (Fig. 10). Os
de técnicos reduzidos. Os resultados modestos na Contratos de Risco, decretados em 1976 (Fig. 16),
plataforma marítima, aliados às reservas em declínio, permitiram a presença das empresas estrangeiras,
levaram a companhia a duas importantes decisões: 1) como a Shell, Exxon, Texaco, BP, ELF, Total,
a criação da Braspetro (Fig. 14), na tentativa de Marathon, Conoco, Hispanoil, Pecten, Pennzoil e
buscar no exterior o petróleo não encontrado companhias brasileiras, como a Paulipetro, Azevedo
internamente; 2) o direcionamento dos investimentos Travassos, Camargo Correa, além da Petrobras,
para o downstream (refino, transporte, petroquímica, atuando no cenário da indústria petrolífera no Brasil.
comercialização). Com o Primeiro Choque do Nesse período foi também descoberto o campo
Petróleo, em 1973, e a descoberta do Campo de de gás do Juruá, na Bacia do Solimões (1978) e a
Ubarana na porção marítima da Bacia Potiguar, os primeira acumulação terrestre da Bacia Potiguar
investimentos no mar se elevaram novamente e, no (1979). No mar, aconteceu a primeira descoberta por
apagar do ano de 1974, finalmente a primeira uma empresa sob contrato de risco, o campo de gás
descoberta importante aconteceu no mar: o Campo de Merluza, pela Pecten, na Bacia de Santos. Datam
de Garoupa, na Bacia de Campos (Fig. 15). Esta também desta época a criação do Proalcool, em
descoberta marcou o início de um novo ciclo no Brasil, 1980, numa tentativa nacional de reduzir a
renovando as esperanças, até então sempre frustradas, dependência externa de combustível, e o
de auto-suficiência. Nesta fase, também, foi conferida estabelecimento da meta do Governo Federal para a
ênfase especial ao treinamento dos técnicos brasileiros produção de 500.000 barris por dia em 1985. Em
e à contratação sistemática de consultores estrangeiros 1984, foram descobertos na Bacia de Campos o
alinhados com as mais recentes metodologias e Campo de Marimbá e o gigante Albacora, ambos já
tecnologias de E&P. Nesta fase já reina, absoluta, a indicando o irreversível caminho das águas profundas.
sísmica de reflexão como principal método A meta dos 500.000 barris por dia foi atingida ao
investigativo em franca evolução tecnológica. Métodos final do ano de 1984, com antecipação de quase um
potenciais são bastante utilizados, porém a Geologia ano. Esta fase teve início com as bacias cretácicas
de Superfície, pelas circunstâncias da exploração terrestres em natural declínio exploratório e a Bacia
offshore, praticamente já não é mais utilizada. de Campos como nova esperança.
Nesta fase, foram perfurados 316 poços As importações de petróleo a US$15/barril
exploratórios em terra e 165 na plataforma continental. pesavam cada vez mais na balança comercial
Ao final desta fase, existiam cerca de 272 geólogos e brasileira e, assim, com a necessidade de maior
geofísicos de petróleo no Brasil. Os resultados da fase produção interna, tem inicio o desafio da engenharia
foram 30 acumulações de óleo e gás descobertas, 20 de produção com os sistemas antecipados. A pressão
em terra e 10 no mar, das quais as mais importantes da balança comercial resultou também na criação dos
em terra foram as de São Mateus e Fazenda Cedro, contratos de risco e o Segundo Choque do Petróleo
no Espírito Santo e Remanso no Recôncavo, e as do agravou ainda mais a situação de dependência do
mar foram Ubarana, na Bacia Potiguar, e petróleo estrangeiro. O treinamento dos técnicos da
destacadamente Garoupa, na Bacia de Campos. No Petrobras foi acelerado, tanto no Brasil quanto no
final de 1974 as reservas estavam em 1,445 bilhões exterior. Foi a “Era Carlos Walter” na Petrobras.
Carlos Walter Marinho Campos, falecido em 2000, posicionamento dinâmico facilitaram o avanço para
foi o Gerente de Exploração da Petrobras que, em as águas profundas.
seu momento histórico, fomentou as atividades na Nesta fase, foram perfurados pela Petrobras 885
plataforma continental, particularmente rumo às águas poços em terra e 750 no mar. Enquanto isso, as
profundas da Bacia de Campos, ao mesmo tempo empresas sob contrato de risco perfuraram 51 poços
em que mantinha uma posição veementemente crítica em terra e 64 no mar.
à exploração nas bacias paleozóicas, por ele Como resultado, foram descobertas 148
classificadas como “vendedoras de ilusões”. Em parte, acumulações de óleo e gás, 98 em terra e 50 no mar.
os resultados da exploração no Brasil têm As mais importantes em terra foram as de Juruá, no
corroborado o pensar de Carlos Walter, muito embora Solimões, Fazenda Belém e Alto do Rodrigues, na
expressivas reservas de hidrocarbonetos tenham sido Bacia Potiguar, Riacho da Barra, no Recôncavo, e
descobertas na Bacia do Solimões, a bacia paleozóica Pilar, em Sergipe-Alagoas. As mais importantes no
brasileira mais conhecida e amostrada. mar foram Namorado, Enchova, Carapeba, Marimbá
A Bacia de Campos se afirmou com as novas e Albacora, na Bacia de Campos (Fig. 18). Ao final
descobertas e o desafio da engenharia foi vencido de 1984, as reservas totais brasileiras alcançavam
com os sistemas antecipados de produção (Fig. 17). 4,29 bilhões de barris e a produção chegava a
A qualidade dos dados sísmicos melhorou 488.400 barris por dia.
consideravelmente e se anteciparam soluções para a
produção em lâminas d’água maiores. O Centro de - 1985/1997: Fase Marítima/Bacia de Campos/
Processamento de Dados Sísmicos da Petrobras se Águas Profundas
tornou plenamente operante, oferecendo opções e
soluções caseiras que facilitaram o trabalho dos Confirmada a vocação da Bacia de Campos,
exploracionistas. O Segundo Choque do Petróleo fez outras descobertas importantes foram realizadas nas
com que jazidas em águas mais profundas e as suas águas profundas. A sísmica 3D se afirmou como
marginais em terra se tornassem economicamente ferramenta, otimizando tempo e custos desde a
viáveis. Assim, aconteceram os recordes de descoberta até o desenvolvimento dos campos. A
investimentos, resultando em mais descobertas e Petrobras começou a preparar o desenvolvimento de
acréscimo substancial das reservas e da produção. sistemas de produção em águas profundas.
O Pólo Nordeste da Bacia de Campos e a faixa de Levantamentos de sísmica 3D terrestre tornaram-se
400 m (Marimbá) de lâmina d’água contribuíram com rotineiros e importantes descobertas de gás, óleo e
importantes descobertas. A Bacia Potiguar terrestre condensado ocorreram na região do Rio Urucu e de
se revelou com o trend Estreito-Guamaré e o óleo em carbonatos albianos da Bacia de Santos
Recôncavo se revitalizou a partir da descoberta de (Tubarão, Coral e Estrela do Mar). A exploração na
Riacho da Barra. Em 1985, navios de posicionamento Bacia de Campos foi caracterizada pelo aumento
dinâmico permitiram a perfuração em cotas substancial da aquisição sísmica 3D, com a utilização
batimétricas cada vez maiores, e logo nos primeiros de navios de fontes e cabos múltiplos que,
poços foram descobertos os gigantes Albacora (400 conjuntamente com a interpretação sísmica interativa,
a 1.000 metros) e Marlim (700 a 1.200 metros), com otimizou a delimitação dos campos descobertos e os
os turbiditos se afirmando como os principais estudos de reservatório.
reservatórios das bacias da Plataforma Continental Os contratos de risco terminaram em 05/10/1988,
brasileira. Com a acelerada informatização da permanecendo apenas os contratos de descobertas
Petrobrás, ganhou força a idéia de fortalecer o consideradas comerciais. Os levantamentos de
processamento sísmico interno, inclusive com a sísmica 3D terrestres começaram a mostrar resultados,
compra de supercomputadores. Os primeiros principalmente nas bacias do Espírito Santo, Potiguar
levantamentos de sísmica 3D revolucionaram e e no Recôncavo, ao mesmo tempo em que outras
aceleraram a exploração no mar e navios de importantes descobertas ocorriam na área de Rio
Urucú (gás, condensado e óleo). Em Campos, o Federal aliado aos meios empresariais e com o maciço
aumento substancial das campanhas de sísmica 3D, apoio da mídia, o Congresso Nacional aprovou a
para guiar a exploração em áreas virgens, abriu novas Emenda Constitucional nº 9, com o propósito
frentes exploratórias e reduziu ainda mais os custos governamental de atrair investimentos estrangeiros
das descobertas e de delimitação na Bacia de através da abertura do Setor Petróleo Brasileiro.
Campos. A migração pré-empilhamento em Como meio para atingir tal objetivo, foi aprovada a
profundidade, o processamento orientado para os quebra do Monopólio que a Petrobras exercia em
objetivos, o posicionamento GPS e o processamento nome da União e, ao mesmo tempo foi possibilitado
a bordo, foram outras novidades deste período, além à Companhia estabelecer parcerias empresariais com
da descoberta da primeira acumulação de gás na Bacia investidores privados nacionais ou multinacionais, para
do Paraná, em Barra Bonita, e da última grande a exploração, desenvolvimento da produção e
descoberta em águas profundas da Bacia de Campos, produção de petróleo.
o Campo de Roncador, um gigante com óleo de boa Quando, em seis de agosto de 1997, foi
qualidade, até agora o maior campo brasileiro (Fig. promulgada a Nova Lei do Petróleo (9478/97),
19). Em 1997 foram iniciadas negociações de parceria regulamentando o Setor Petróleo Brasileiro e criando
com empresas multinacionais e brasileiras, nas áreas a Agência Nacional do Petróleo (ANP), oficializou-
de exploração e desenvolvimento da produção, e em se o início de uma nova era na Indústria do Petróleo
06/08/1997 foi promulgada a lei 9.478/97, regulando Nacional, e finalmente, em seis de agosto de 1998,
a indústria do petróleo no Brasil, quebrando o quando a Petrobras passou à condição de
monopólio da União representado até então pela concessionária da ANP, concretizou-se a quebra do
Petrobras. monopólio do petróleo. A partir da aprovação da
Em síntese, a quarta fase deste período teve como Emenda Constitucional nº 9, a Petrobras, devidamente
características a confirmação do potencial das águas autorizada pelo Ministério de Minas e Energia
profundas da Bacia de Campos, a afirmação da (MME), iniciou em maio de 1996, a demarcação das
sísmica 3D como ferramenta exploratória das mais áreas exploratórias e dos campos de petróleo para
importantes e o cumprimento da meta de 1.000.000 requisição à Agência Nacional do Petróleo (ANP), e
de barris diários de produção. Na quarta e última fase iniciou ainda contatos com empresas nacionais e
foram perfurados pela Petrobras 930 poços em terra estrangeiras visando a consecução de parcerias em
e 549 no mar. Por sua vez, as companhias sob contrato algumas destas áreas e campos selecionados.
de risco perfuraram 71 poços em terra e 10 no mar. A partir destes contatos iniciais, em janeiro de 1997
Os resultados da fase foram as 211 acumulações de foram assinados Memorandos de Entendimento com
óleo e gás descobertas, das quais 123 em terra e 88 151 companhias nacionais e estrangeiras. Em seguida,
no mar. No final de 1997 as reservas totais em maio do mesmo ano, estas empresas assinaram
alcançavam 16,9 bilhões de barris e a produção diária Termos de Confidencialidade para ter acesso e
era de 1.069.000 barris. O ciclo de exclusividade da analisar os dados disponíveis acerca das áreas
Petrobras na execução do monopólio da União na selecionadas para parceria. Esta nova era para a
área petrolífera se encerraria com a promulgação da indústria do petróleo no Brasil foi oficializada em seis
lei 9.478/97, dando início à “fase ANP”. de agosto de 1997, quando foi promulgada e iniciou
sua vigência a Lei 9478/97, denominada de “Nova
Nova Lei Do Petróleo (9478/1997) - ANP/Águas Lei do Petróleo”, que regulamentou o Setor e criou a
Ultraprofundas Agência Nacional do Petróleo (ANP), para gerir e
fiscalizar as atividades da área. A Agência Nacional
Em novembro do ano de 1995, em notável do Petróleo foi implantada em janeiro de 1998, com
contraste ao que ocorrera durante a nacionalista sede operacional no Rio de Janeiro. A nova legislação
campanha popular “O Petróleo é nosso”, que culminou estabeleceu para a Petrobras uma fase de transição
no Monopólio do Petróleo pela União e na criação de três anos para a conclusão de projetos
da Petrobras, após intensa campanha do Governo exploratórios que estavam em andamento. Também
para as recentes descobertas que ainda não estavam exploratória. Na mesma ocasião, a Petrobras devolveu
em efetiva produção, a lei deu um prazo de 3 anos integralmente à ANP 26 blocos exploratórios e parte
para o início da produção comercial. de outros dois. Em 1999, até junho, foram assinados
Assim, em atendimento aos novos requisitos legais, mais cinco contratos exploratórios de parceria com
a Petrobras em outubro de 1997 requisitou as companhias estrangeiras Amerada Hess, British
oficialmente ao Ministério de Minas e Energia Borneo (depois Agip-British Borneo), Sipetrol,
(MME), as áreas exploratórias que estavam com Tecpetrol e Santa Fé (depois Devon-Sta. Fé), e com
investimentos em andamento e os campos de petróleo a nacional Odebrecht.
descobertos até então. Foram solicitadas à ANP 133 Adicionalmente, em junho, a Petrobras obteve na
áreas de exploração abrangendo cerca de 663.000 Primeira Rodada de Licitações de Blocos
km2 , aproximadamente 10% do total da área Exploratórios promovida pela ANP, uma concessão
sedimentar brasileira. A recém-criada Agência de forma exclusiva e quatro outras em consórcio com
contratou a Universidade Federal da Bahia (UFBA) as companhias Repsol-YPF, Agip-British Borneo,
para fazer a análise técnica das solicitações da Amerada Hess, KerrMcGee, British Petroleum, Esso-
Petrobras quanto às áreas Exploratórias e a Mobil e Shell. Outras sete concessões foram
Universidade de Campinas (UNICAMP), para adquiridas pelas empresas Texaco, Agip, Esso-Mobil,
analisar as áreas de Desenvolvimento da Produção e Unocal e Repsol-YPF, exclusivamente e em parcerias,
Produção requisitadas. Entre outubro de 1997 e configurando aí a concretização da quebra do
março de 1998, a Companhia começou a receber monopólio do petróleo no Brasil. Nesta Primeira
propostas concretas de parceria em Exploração e Rodada foram ofertados pela ANP 26 blocos
Produção. As propostas foram analisadas e iniciou- exploratórios.
se a definição de operadores e associações, assim Até o final de 1999, a Petrobras firmou mais 10
como as negociações dos termos comerciais dos contratos de parceria nas suas áreas originais de
projetos de parceria. exploração, com as estrangeiras Esso-Mobil, British
Finalmente, em junho de 1998, a ANP definiu as Gás, Texaco, Nissho-Iwai, KerrMcGee, Unocal,
áreas que ficariam com a Petrobras, e em 6 de agosto Shell, Japex-Marubeni, Repsol-YPF, BP, TotalFinaElf
de 1998 foram assinados entre a Companhia e a ANP e Enterprise, e com a empresa nacional Odebrecht.
os contratos de concessão de 115 blocos Ao final do ano de 1999, a Petrobras detinha direitos
exploratórios englobando uma área total de cerca de exclusivos ou em parceria em 94 concessões
457.000 km2, aproximadamente 7% do total exploratórias e outras sete concessões exploratórias
sedimentar brasileiro. Com a definição das áreas foram adquiridas por outras empresas, totalizando
exploratórias e das condições contratuais, iniciou-se 101 concessões exploratórias em território brasileiro.
uma fase de ajuste das condições comerciais nos Em janeiro de 2000, a Petrobras devolveu à ANP
contratos de parceria em andamento, e os primeiros três blocos exploratórios e até junho do mesmo ano
quatro contratos de parceria em exploração e três firmou mais seis parcerias em concessões
em desenvolvimento da produção foram assinados exploratórias, com as empresas estrangeiras Chevron,
ainda naquele ano com as companhias estrangeiras ElPaso-Coastal, Enterprise e Amerada Hess, e com
YPF (depois Repsol-YPF), Santa Fé (depois Devon- as nacionais Odebrecht, Queiroz Galvão e Petroserv.
Sta.Fé), Norbay, Coastal (depois El Paso-Coastal), Na Segunda Rodada de Licitações de Blocos
Perez Companc, Union Pacific Resources (depois Exploratórios da ANP realizada em junho de 2000,
Anadarko-UPR), TDC, e com as nacionais Petroserv, a Petrobras adquiriu direitos exclusivos sobre dois
Sotep e Ipiranga. blocos e em parceria com as empresas Chevron, Shell,
Em maio de 1999, a Companhia obteve da ANP Petrogal, British Gas, Repsol-YPF e Amerada Hess,
a possibilidade de prorrogação, mediante descoberta, sobre outros seis blocos. Outras 13 concessões foram
por dois anos do prazo de concessão para 34 blocos adquiridas pelas empresas estrangeiras Coastal, Pan-
e por seis anos para outros 2 blocos, sendo a maioria Canadian, Santa Fé, SK, Shell, Rainier, Amerada
destes blocos de águas profundas ou de fronteira Hess e Union Pacific, e as nacionais Odebrecht,
Queiroz Galvão e Ipiranga. Ao todo foram ofertadas intensificou-se a exploração em águas profundas fora
23 áreas e adquiridas 21. Desta forma, ao final de da Bacia de Campos, principalmente nas bacias de
2000, a Petrobras detinha direitos sobre 99 blocos Santos e Espírito Santo. Além disso, iniciou-se em
exploratórios, e outras companhias eram 1999 a exploração na região de águas ultraprofundas,
concessionárias de outros 20 blocos exploratórios, com a perfuração dos primeiros poços em cotas
totalizando 119 concessões exploratórias no Brasil. batimétricas maiores que 2.000 metros, tendo
Em junho de 2001 foi realizada a Terceira Rodada ocorrido uma primeira descoberta modesta, no norte
de Licitações de Blocos Exploratórios promovida pela da Bacia de Campos, no ano de 2000.
ANP, com oferta de 53 áreas exploratórias em
diversas bacias sedimentares brasileiras. A Petrobras Síntese dos resultados da Exploração
fez propostas em 20 blocos, tendo adquirido direitos
em 15 deles, sete com exclusividade, e oito em As acumulações descobertas, conseqüência do
consórcio com as empresas Enterprise, Statoil, esforço exploratório acima descrito, foram 10 até
Queiroz Galvão, Petroserv, ElPaso, Esso-Mobil, 1953, 447 entre 1954 e 1997, e outras 45 no período
KerrMcGee, Petrogal, TotalFinaElf e Shell. Outras de 1998 a agosto de 2001. As reservas brasileiras
15 empresas adquiriram mais 18 áreas exploratórias, de petróleo estão hoje assim distribuídas: provadas
totalizando 33 novas concessões adquiridas. Em julho de óleo = 7,1 bilhões de barris, e de gás = 228 bilhões
de 2001 existiam 114 concessões exploratórias onde de m3, com totais em 16,1 bilhões de barris de óleo-
a Petrobras tinha participação exclusiva ou em equivalente. A produção acumulada, ao final de 2000,
parcerias e outras 38 concessões de outras empresas, era de 6,8 bilhões de barris de óleo-equivalente, que
totalizando 152 em toda a área sedimentar brasileira. somados às reservas totais remanescentes, dão um
Em seis de agosto do mesmo ano, tendo expirado total de 23 bilhões de óleo-equivalente como recursos
o prazo da Fase de Exploração (3 anos) de 50 blocos descobertos pela atividade exploratória no Brasil até
não prorrogáveis e de outros oito prorrogáveis porém os dias de hoje.
sem descoberta, a Petrobras retornou à Agência
Nacional do Petróleo (ANP) um total de 58 blocos A exploração de petróleo na margem continental
exploratórios. Nos 50 blocos não prorrogáveis foram brasileira: aspectos ambientais
retidas apenas as áreas que delimitam as descobertas
de hidrocarbonetos notificadas e cujos planos de Os oceanos constituem uma vasta fronteira fluida,
avaliação foram apresentados pelos concessionários dinâmica, multiestratificada e complexa como nossa
à ANP, para avaliação técnica e comercial das jazidas atmosfera, porém muito mais desconhecida pelos
encontradas. homens. As superficies sem água de Marte, Vênus e
Após seis de agosto de 2001, existiam 94 da Lua já foram mapeadas, em contraste com apenas
concessões exploratórias ativas nas bacias 5% do assoalho de nossos mares. Entretanto,
sedimentares brasileiras, 56 da Petrobras e 38 de algumas das decisões ambientais e econômicas mais
outras empresas, e mais 270 concessões de importantes a respeito do aquecimento global, a
desenvolvimento da produção (41) e produção (229) descoberta de novas fontes de energia, a predição
da Petrobras, exclusivamente ou em parceria. Este de variações climáticas, a pesca sustentável e a
período atual da Exploração teve como características proteção da propriedade costeira dependem do
além do novo cenário já implantado, com a realização conhecimento e entendimento dos nossos oceanos.
de três licitações promovidas pela ANP e a presença Nosso entendimento a respeito do funcionamento
no Brasil de cerca de 40% de todos os navios de dos oceanos tem mudado também. Tomemos por
aquisição sísmica existentes no mundo, a utilização exemplo a relação dos oceanos com a questão da
da sísmica 3D com finalidade exploratória nas bacias energia e do aquecimento global. Foram descobertas
terrestres, com excepcionais resultados nas bacias do recentemente pistas de que o gás natural metano pode
Espírito Santo e Potiguar. Na Plataforma Continental, estar percolando para cima do assoalho oceânico em
grandes quantidades. Isto poderia ser uma grande direitos exclusivos de soberania para a exploração e
fonte potencial de energia. O metano é também um o aproveitamento de recursos naturais do leito marinho
importante agente ambiental, se ele sobe para a e do subsolo desta área.
superfície do mar, gradualmente ou em pulsos súbitos, Por ser o petróleo um recurso estratégico, o
pode ter um papel importante na questão do conhecimento do potencial petrolífero do território
aquecimento global. Por outro lado, é também possível brasileiro deve ser buscado em seu maior grau de
que os oceanos ajudem a mitigar o aquecimento global precisão possível. Este conhecimento depende tanto
pela absorção de grandes quantidades de dióxido de de investimentos nas áreas de tecnologia, quanto na
carbono, outro agente ambiental da atmosfera. formação de pessoal e, principalmente de
Aproximadamente dez anos após as primeiras investimentos de alto risco em área pouco exploradas.
descobertas nas regiões da plataforma continental, a A Petrobras ao longo de sua existência, sempre
Petrobras descobriu o seu primeiro campo gigante primou por acompanhar e desenvolver tecnologia
na região do talude continental, em lâmina d’água específica na área do petróleo e na formação de
maior de 700 metros, abrindo desta forma uma nova pessoal capacitado a executar seus trabalhos, bem
fronteira exploratória e um novo patamar tecnológico como, por ampliar a exploração às áreas de fronteira,
de produção de hidrocarbonetos. A produção destes como atestado por seus resultados em águas
campos é um processo dispendioso e que requer uma profundas. No novo cenário imposto pela nova lei do
tecnologia específica e precisa devido aos riscos petróleo, cabe à agência controladora (ANP)
ambientais envolvidos. Entretanto, os volumes de óleo estimular investimentos nas áreas acima mencionadas.
encontrados nos campos de água profunda justificam As margens continentais correspondem à transição
o desenvolvimento desta nova tecnologia de produção entre a crosta continental e a oceânica. São regiões
e hoje a Petrobras tem completado rotineiramente onde espessos pacotes sedimentares podem ser
poços em lâminas d’água profundas, com poços encontrados, e como o petróleo é gerado e
produtores situados em lâminas d’água maiores que acumulado nestas rochas, as margens possuem grande
1.870 m e poços exploratórios situados em potencial petrolífero. A soberania nesta região é
profundidades próximas de 2.800 metros. A importante para o Brasil e o critério estabelecido pelas
produção destes campos requer também um bom Nações Unidas leva em consideração a espessura
conhecimento das condições ambientais e de sedimentar existente na sua extremidade mais afastada
estabilidade do subsolo marinho, onde se assentarão do território emerso. A espessura sedimentar é obtida
todos os equipamentos de extração de petróleo. através de levantamentos sísmicos. A Petrobras e a
Condições de mar, força e direção das ondas e Marinha do Brasil executaram um extenso trabalho,
correntes também devem ser precisamente com o Projeto LEPLAC, visando ao Brasil exercer
conhecidas, bem como a circulação submarina, para sua hegemonia na exploração e aproveitamento dos
que operações seguras de produção possam ser recursos naturais do leito marítimo e do subsolo ao
executadas. longo de seu extenso território submerso.
A extensão ou continuidade do território brasileiro A exploração e a produção de petróleo são
em direção ao Oceano Atlântico foi delimitada com atividades que requerem extremo cuidado em relação
acurácia através de um grande projeto conduzido pela à preservação ambiental. A Petrobras, através de seus
Marinha do Brasil e pela Petrobras, segundo os diversos órgãos operacionais e de seu centro de
critérios estabelecidos pela Convenção das Nações pesquisas, desenvolveu procedimentos e tecnologias
Unidas sobre o Direito do Mar. O Plano de para evitar, detectar e minimizar danos ao meio
Levantamento de Plataforma Continental Brasileira ambiente causados por acidentes em suas operações.
(Projeto LEPLAC) objetiva estabelecer a área Os derrames devem ser evitados ao máximo e,
oceânica além do limite marítimo das 200 milhas da quando ocorrem, suas origens e responsabilidades
Zona Econômica Exclusiva (ZEE) brasileira, na qual, devem ser apuradas como medida de prevenção
segundo os termos da convenção, o Brasil exercerá futura.
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