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Terra Brasilis (Nova Série)

Revista da Rede Brasileira de História da Geografia e


Geografia Histórica
7 | 2016
Élisée Reclus e a Geografia dos Novos Mundos

O Brasil e a colonização
Diário de Pernambuco

Edição electrónica
URL: http://journals.openedition.org/terrabrasilis/1931
DOI: 10.4000/terrabrasilis.1931
ISSN: 2316-7793

Editora:
Laboratório de Geografia Política - Universidade de São Paulo, Rede Brasileira de História da Geografia
e Geografia Histórica

Refêrencia eletrónica
Diário de Pernambuco, « O Brasil e a colonização », Terra Brasilis (Nova Série) [Online], 7 | 2016, posto
online no dia 09 dezembro 2016, consultado o 19 abril 2019. URL : http://journals.openedition.org/
terrabrasilis/1931 ; DOI : 10.4000/terrabrasilis.1931

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© Rede Brasileira de História da Geografia e Geografia Histórica


O Brasil e a colonização 1

O Brasil e a colonização
Diário de Pernambuco

NOTA DO EDITOR
O presente artigo publicado no Diário de Pernambuco, em suas edições de número 223 e 224,
de setembro 1862, trazia em suas páginas uma extensa análise aos escritos de Élisée
Reclus para a Revue des Deux Mondes, intitulados “O Brasil e a colonização”.
A crítica ao artigo de Reclus publicada no jornal pernambucano é extensa e minuciosa e se
constitui, até onde pudemos levantar, na primeira análise aos escritos de Élisée Reclus no
Brasil, fazendo uma série de referencia a diversas passagens da publicação original. Cabe
destacar que estes artigos de Reclus, publicados em 1862 na revista francesa e criticado
pelo jornal recifense, só seriam traduzidos ao português quase 150 anos após a publicação
original, no ano de 2011, graças ao trabalho editorial de Plínio Augusto Coelho, que
traduziu e publicou os artigos em livro1 homônimo.
Desconhecido ainda do grande público, fazia poucos anos que Élisée Reclus havia
começado a se dedicar ao trabalho de geógrafo. Foi somente após seu primeiro exílio e
retorno da experiência nas Américas, ocorrida em meados da década de 1850, que Élisée
passou a se dedicar a escrita de textos geográficos. Foram seus textos publicados na Revue
des Deux Mondes e sua participação na Société de Géographie de Paris – na qual foi aceito
como membro em julho de 1858 – que lhe deram os primeiros destaque como geógrafo,
mas, certamente, o que conferiu a Reclus o prestigio, do qual passaria a gozar junto a
comunidade científica internacional, a partir da década de 1860, foram seus trabalhos
realizados junto a editora Hachette.
Na Revue des Deux Mondes Reclus colaborou com 33 artigos, entre os anos de 1859 e 1868,
sendo 20 destes especificamente sobre questões relacionadas ao continente americano. Os
escritos de Élisée para a revista abordavam temas que ele conhecia com alguma
proximidade. Os três anos que passou trabalhando como tutor em uma fazenda de
algodão no sul escravagista dos Estados Unidos da América (1853-1856), ou o período de
quase dois anos (1856-1857) em que realizou uma incursão pela Nova Granada – atual
Colômbia – lhe permitiram escrever uma série de artigos para a revista a partir de sua

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vivência, uma vez que percorreu aquelas terras com o intuito de se estabelecer ali como
um colono.
A referencia ao artigo de Reclus sobre o Brasil em um jornal do império contudo não era
um fato isolado e acidental. A Revue des Deux Mondes, publicada na França, era uma revista
de ampla circulação e que tinha como leitores políticos e intelectuais brasileiros. O acesso
a Revue des Deux Mondes se estendia também para além dos gabinetes oficiais, cópias da
revista estavam disponíveis para o público em geral em espaços como o Gabinete
Português de Leitura e no Gabinete Literário, ambos em Pernambuco, a Biblioteca Pública
da Bahia, a Biblioteca Fluminense e o Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro.
Por isso, não surpreende que a matéria O Brasil e a colonização, tenha sido publicada no
Diário de Pernambuco em Recife poucos meses após sua publicação na revista francesa, uma
vez que a capital da província contava com ao menos dois espaço literários em que se
encontravam disponíveis a Revue des Deux Mondes. Além disso, o jornal Diário de
Pernambuco, de propriedade de Manoel Figueiroa de Faria, era uma espécie de órgão
oficial do governo provinciano, trazia em suas páginas analises políticas, econômicas e
anúncios de toda a província de Pernambuco bem como as principais noticias do império
e do exterior.
O artigo contudo, planejado para ser publicado em 3 partes, acabou sendo publicado de
forma parcial, sem a publicação da última parte – conforme indicado ao final da edição de
número 224 do jornal recifense. Por conta disto, as conclusões finais e a assinatura do
texto se perderam, o que não prejudicou a compreensão da crítica.
Transcrevemos aqui o artigo do Diário de Pernambuco por entendermos que se trata de um
importante documento aos estudos que buscam compreender como se deu a recepção das
ideias de Élisée Reclus no Brasil.
Adriano Skoda

I
1 Sob este titulo publicou a Revista dos Dous Mundos nos seus numeros de 15 de junho e 15 de
julho ultimo dous longos artigos que chamam naturalmente a nossa attenção.
2 Não nos póde ser indifferente o que se escreve e se pensa a respeito do nosso paiz e das
nossas cousas na parte mais civilisada do velho mundo; e se por ventura nos é licito
desprezar as invenções ridículas e os aleives grosseiros que enchem os livros e os
escriptos de charlatães improvisados em viajantes observadores da nossa terra,
indispensavel se torna refutar os erros que se podem passar como verdadeiros
apadrinhados pelo prestigio ou de um nome de autor conhecido, ou de uma publicação
periodica justamente apreciada.
3 A Revista dos Dous Mundos está neste caso: é um periodico estimado dos sabios e dos
litteratos, é um dos mais considerados órgãos da imprensa de Paris; quasi sempre escolhe
com esmero os artigos que publica, e portanto as noticias que espalha, as ideias que
propaga, produzem mais ou menos impressão no espírito dos seus leitores, que se contam
por milhares.
4 Assim, pois, era para nós mais do que simples satisfação de curiosidade, era um dever a
leitura desses dous artigos assignados por Elisée Reclus, porque embora não estivessem
apadrinhados por um nome deslumbrante na republica das lettras, tinham por si o reflexo
do prestigio do periodico que os estampava nas suas paginas.

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5 Abrimos com empenho a Revista dos Dous Mundos; mas infelizmente logo na introdução,
logo no primeiro periodo do trabalho do Sr. Elisée Reclus achamos fundamentos seguros
para duvidar do bom resultado do seu estudo e da justeza das suas apreciações.
6 As fontes principaes, as decididamente preferidas pelo Sr. Elisée Reclus, as fontes elle
bebeu quasi todas as informações que serviram de base ao seu trabalho, foram, o Sr. Elisée
Reclus o declara, as obras do Sr. Avé Lallemant e do Sr. Biard, os Reise durch Sud-
Brazilien im Jahre 1858; Reise durch Nord-Brazilien im Jahre 1859 do primeiro e Deux
années au Brésil pelo segundo, isto é, a obra da maledicencia e a da ingratidão, ou a do
alieve e do charlatanismo.
7 Para o Sr. Elisée Reclus, o Sr. Avé Lallemant é um viajante que pertence a essa pleiade de
sabios que tem elevado as viagens á altura de uma missão social; e o livro do Sr. Biard está
cheio de observações engenhosas e de desenhos que são obras primas de verdade.
8 Fazendo tal juizo dos escriptos dos dous viajantes, era impossivel que o Sr. Elisée Reclus
deixasse de tornar-se muitas vezes écho dos aleives e das falsidades de um, e das
estravagantes, imaginarias e ridículas observações do outro.
9 E é isto tanto mais para sentir, quanto mais devemos dizê-lo, o Sr. Elisée Reclus enuncia
bons principios, e parece desejoso de procurar a verdade; mas desditosamente o seu
trabalho tem um vicio original, nasceu das fontes envenenadas.
10 Nós temos já conhecimento das obras dos Srs. Avé Lallemant e Biard, e sabemos o que
ellas valem, como deve saber o governo quanto nos custou a do primeiro.
11 O Sr. Avé Lallemant escreveu animado sempre de má vontade contra os Brasileiros, e
onde pôde achar occasião de ferir-nos, desvirtuando os factos e calumniando as
intenções, não hesitou em fazê-lo. Entendeu lá para si que era patriotismo allemão o
indicio de profunda sabedoria ver nos filhos desta pobre terra algozes dos seus patrícios, e
nos costumes do nosso povo as expressões de quasi selvatiquezas; misturou aleires com
algumas observações verdadeiras, vestiu uns e outros com as galas de um estylo
agradavel, escondeu a peçonha no meio de flores, e julgou perfeitamente cumprida a sua
santa missão.
12 Da obra do Sr. Avé Lallemant um único proveito póde ser colhido pelo Brasil: é o fructo da
lição da experiencia que ensinará o nosso governo a escolher melhor os seus viajantes
estipendiados.
13 Quanto ao Sr. Biard, aceitamos a palavra de que se serviu o Sr. Elisée Reclus para
qualificar as observações desse viajante: o Sr. Biard é um – tourista engenhoso ;– mas
engenhoso de máu gosto; porque é de máu gosto a manifesta jactancia de ingratidão
daquelle que confessa os favores que recebeu, e morde as mãos que o favoreceram; que
recorda a pratica da mais nobre hospitalidade, e ri e zomba do hospede que o recebeu
debaixo do tecto. O Sr. Biard é daquelles visitantes que inventam quando não podem ver,
e falsificam o que vêm; mas não tendo como o Sr. Avé Lallemant um estylo que o
recommende, vingou-se dessa superioridade do seu emulo, falsificando com o pincel
depois de falsificar com a penna. As estampas que ornam o livro do Sr. Biard, estampas
que o Sr. Elisée Reclus considerou obras primas, são muitas vezes caricaturas insultuosas,
ou quadros–engenhosos de um tourista diffamador.
14 Não nos doem, não nos affligem as observações veridicas, nem as justas censuras dos
abusos de alguns costumes ridículos, e praticas reprehensiveis que se observam, não só no
interior do paiz, como ainda nas nossas mais populosas cidades: a crítica, a censura são

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em tal caso muito aproveitáveis, com ellas vem a luz da civilização, com ellas vem os
melhoramentos, com ellas ganha o paiz e ganha o povo. O que nos indigna é a falsidade
que nos insulta, emprestando-nos vicios e até crimes, de que não podemos ser acuusados.
15 Agora mesmo acabamos de lêr O Imperio do Brasil – Monographia completa do Imperio Sul-
Americano, de Baril, conde de La Hure, obra em cujo ultimo capitulo se enxontram
algumas observações criticas sobre certos costumes da população do interior do nosso
paiz, e nem de leve nos ressentimos do que escreveu o autor desse livro, porque
reconhecemos o justo fundamento das suas reflexões; mas entre o conde de La Hure e Avé
Lallemant e Biard ha uma distancia de verdade dos homens do embuste.
16 Demoramo-nos lembrando os escriptos dos Srs. Avé Lallemant e Biard para tornar menos
dolorosos ao Sr. Elisée Reclus os graves erros que commetteu, e as injustas apreciações
que fez nos seus dous artigos estampados na Revista dos Dous Mundos; mas esta
consideração não o absolve de tudo, porque o homem que se julga habilitado para
escrever sobre uma materia, deve assumir a responsabilidade das proposições que
enuncia, da historia que conta, e dos factos de que se suppõe sabedor; deve ter pelo menos
criterio bastante para escolher as fontes das suas observações, e para não confundir
Ferdinand Denis com Biard, ou o principe Maximiliano com Avé Lallemant.
17 Entretanto não seremos demasiadamente severos com o collaborador da Revista dos Dous
Mundos, devemos dar-lhe meio perdão ao menos de um duplo erro que tambem
commerremos; tambem o nosso governo acreditou facilmente no criterio do Sr. Avé
Lallemant, e tambem nós julgamos digno de consideração o Sr. Biard.
18 Estudaremos pois, embora não tão largamente como poderíamos fazê-lo, examinaremos
sem ressentimento e com frieza o trabalho do collaborador da Revista dos Dous Mundos.
19 O Sr. Elisée Reclus dividiu as suas observações que intitulou O Brasil e a Colonisação em
dous artigos: no primeiro tomou por objecto “A bacia do Amazonas e os Indios” no
segundo “As provincias do litoral, os negros e as colonias alemães”.
20 Em ambos esses artigos e especialmente no ultimo, são frequentes os erros de historia, de
geographia e de topographia do paiz, e sem que tomemos a peite aponta-los todos, não
nos esqueceremos de mencionar alguns á medida que formos discutindo os diversos
pontos.
21 Precede a materia dos dous artigos um período de introducção, sobre o qual adiantaremos
agora mesmo algumas breves considerações.
22 A guerra civil que se acha travada nos campos da confederação norte-americana traz com
uma viva anxiedade o pensamento do Sr. Elisée Reclus a considerar todos os paizes da
America em que ainda existe a escravidão, e muito especialmente o Brasil, nas
circumstancias e na historia do qual acha este escriptor muitos pontos de semelhança
com as dos Estados-Unidos.
23 Acreditamos como o Sr. Elisée Reclus, que o resultado da luta terrivel que rebentou na
grande confederação americana póde ter immensa influencia sobre os destinos do
imperio brasileiro: mas entre os pontos de analogia que o collaborador da Revista dos
Dous Mundos encontrou nos dous paizes, protestamos desde já contra a expansão que se
póde das á sua proposição sobre os Indios.
24 É verdade que em um e outro desses vastos territorios o Europeu conquistador penetrou
no interior, levando diante de si o Indio, é verdade que no Brasil o colono fez do indio seu
escravo; é verdade que o nosso gentio experimentou tormentos indizíveis em uma

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peregrinação violenta e cruel. Mas é verdade tambem, cumpre dizê-lo, que desde meiados
do seculo XVIII a escravidão do gentio cessou, e a protecção a essa gente infeliz foi um
preceito da lei, e não se conservou como systema o extermínio do gentio, a guerra quasi
sem quartel aos miseros selvagens.
25 Nos Estados-Unidos essa pratica não foi considerada como um crime.
26 Podem-se entre nós apontar abusos e violencias de que mesmo ainda hoje estejam sendo
victimas alguns indios; mas esses abusos são crimes diante da lei, e se muitas vezes
escapam impunemente é que a espada da justiça não pôde facilmente chegar a esses
longinquos e occultos retiros onde a prepotencia assim alça o collo.
27 Limitamo-nos a esta simples reflexão por ora; provavelmente acharemos ensejo para
tornar a este assumpto, no qual nos encontraremos com o Sr. Elisée Reclus.
28 O período de introducção dos artigos a que aludimos, termina com os mais pomposos
elogios aos Srs. Avé Lallemant e Biard. Deixemos o Sr. Elisée Reclus na sua suavissima
illusão a respeito das suas duas preciosas fontes até ao próximo numero, em que
discorreremos sobre o seu primeiro artigo.

II
29 O Sr. Elisée Reclus dá princípio ao seu primeiro artigo, o da Revista dos Dous Mundos de
15 de junho, fazendo uma divisão de norte e sul do Brasil que não pode ser admittida, e
que nem mesmo aproveita as ultimas consequencias que elle pretende deduzir das suas
observações.
30 Para o Sr. Elisée Reclus é o cabo de S. Roque o ponto divisor do norte e do sul do Brasil, e
por esse modo ficariam sendo provincias do sul do imperio o Rio Grande do Norte, a
Parahyba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, que aliás pertencem ao grande grupo
das nossas provincias septentrionaes, tendo assim sido consideradas desde o tempo do
Brasil colonial, sempre que a metropole julgou dever crear um governo geral separado
para as capitanias do sul.
31 Em divisão tão arbitraria não vemos a conveniencia de se sacrificarem idéas estabelecidas,
na historia do passado, e aceitas e firmadas no espirito da população.
32 Mas determinando, como dessemos, o seu ponto divisor do norte e do sul do Brasil, o Sr.
Elisée Reclus informa que embora mais vizinhas da Europa, as provincias do Ceará para o
Norte tem sido menos favorecidas pela civilização européa, que parece parar diante do
magnífico estuario do Amazonas.
33 Não lembraríamos esta reflexão do collaborador da Revista dos Dous Mundos, reflexão
que não deixa de ser bem fundada, mas que se pode referir ainda a outras provincias, se
não tivessemos de fazer notar que na comparação das diversas capitaes das provincias
erige elle a Parahyba, em capital do Piauhy, fazendo assim descer da sua cathegoria a
Theresina.
34 O escriptor francez penetra no magestoso Amazonas, e extasiado com razão ao
contemplar tantas maravilhas de uma natureza colossal, triumpha em breve do próprio
assombro, e começando uma rapida descripção, encontra nas florestas das margens do
grande rio o páu-brasil e o cafeseiro de mistura com outras arvores, que realmente ali
crescem.

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35 Estes e outros erros indicam que o Sr. Elisée Reclus não tem os necessarios conhecimentos
para escrever sobre um paiz que nunca visitou, e a respeito do qual proferiu os peiores
livros para beber luzes que não tinha. E como não queremos agora insistir em
inexactidões desta ordem, limitar-nos-hemos a lembrar mais tres erros que commetteu o
escriptor francez, e que neste momento nos vem a memoria: elle chama piranga a piranha,
peixe bem conhecido e que abunda em alguns rios do norte, e em uma nota lembra-se de
fazer derivar do allemão toschauer ou zuschauer o nome tucháuas, chefe de indios; e peior
que tudo isso, ignora o que seja a língua geral fallada pelos indios, e a que elle chama
especie de língua franca formada de palavras de origem guarani, e ensinada pelos jesuitas
aos paes dos selvagens do Amazonas.
36 O collaborador da Revista dos Dous Mundos entra nas duas questões capitaes do seu
primeiro artigo e discorre sobre os indios e sobre a colonisação.
37 Tratando dos indios, começa por estudar a estatistica da população das provincias do Pará
e Alto-Amazonas, e acertando quando a não considera lisongeira, erra quando a reduz a
256,000 almas, devendo eleva-la a 350,000.
38 A base da população amazoniana, diz elle em seguida, se compõem de indios, a que se tem dado o
nome geral de Tapuyas; mas não observa que naquella estatistica não entram numerosas
tribus desses indios; e isso era tanto mais necessario quanto é certo que em suas
considerações o Sr. Elisée Reclus confunde de um modo lamentavel as tribus errantes com
os Indios aldeados ou em relação com o homem civilisado.
39 Não pertencemos ao numero daquelles que ainda louvam o barbaro systema das bandeiras
e da escravidão ou da perseguição do gentio; mas realmente o Sr. Elisée Reclus pecca por
exagerado quando proclama a bondade e doçura entrenecedora dos Tapuyas: os Indios das
florestas são o que podem ser em sua extrema selvatiqueza, e longe estão de primar por
bondade e doçura: a santa causa da humanidade não precisa embellezar o selvagem para
servi-lo.
40 Feitos estes reparos, declaramos com franqueza e prazer que estamos de accordo com o
autor do artigo da Revista dos Dous Mundos a respeito de quasi todas as suas idéas sobre o
gentio do Amazonas.
41 Pensamos, como elle, que abusos lamentaveis, e uma incuria desastrosa, tem dado causa a
emigração de muitas hordas de Indios do Amazonas para as terras das republicas
vizinhas, e que essas emigrações são da maior insonveniencia para o Brasil.
42 Pensamos, como elle, que o nosso governo não se tem esforçado, como deve, no empenho
da catechese e da conquista civilisadora do gentio, necessidade palpitante do paíz, que
não póde dispensar tantos braços vigorosos, e que tão uteis seriam.
43 Pensamos, como elle, que o gentio poderia dar-nos a melhor das colonisações para o
Amazonas, se com vontade forte, esforço constante, paciencia e caridade chegassemos, e
isso é possível, a arrancar do seio das florestas e aldear essas hordas numerosas que muito
contribuiriam para a riqueza futura das provincias ribeirinhas do grande rio.
44 Vejam embora nestas idéas uma utopia, um sonho irrealisavel, alguns ou muitos homens
que testemunhando o poder da força humana domando os mais ferozes animaes, ainda
assim não admittem que se chegue a catechisar e aproveitar o indio selvagem! Vejam-o
embora, nós acompanharemos nesse ponto o Sr. Elisée Reclus, e pediremos ao governo
brasileiro que reflicta seria e demoradamente sobre tão grave e tão importante assumpto.

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45 Passando a tratar da colonisação e dos trabalhos e empenho empregados para leva-la ás


terras do Amazonas, o collaborador da Revista dos Dous Mundos torna a cahir em evidente
exageração, partindo de um principio até certo ponto verdadeiro.
46 Com effeito é uma verdade que as terras mais septentrionaes do Brasil são menos
favoraveis que as do sul aos colonos europeus, e especialmente aos colonos do norte da
Europa, e isto perfeitamente se explica pela grande differença do clima; ainda assim
porém é levar a exageração além de todos os limites dizer que os emigrantes do velho
mundo, chegando as margens do Amazonas, acham logo um tumulo no solo que apenas
começam a cultivar.
47 O Sr. Elisée Reclus tira esta terrivel conclusão do que diz ter se observado em algumas
colonias, e cita por exemplo a de Nossa Senhora do Ó, onde, conforme as informações que
teve, de cento e cincoenta colonos allemãos que alli foram recebidos, raros foram os que
escaparam com vida ás molestias que se desenvolveram logo depois da estação em que
costumam baixar as aguas, e a colonia recebeu assim um golpe fatal, embora o seu
fundador ainda acaricie o seu sonho de colonisação.
48 O quadro é sem duvida horrível; mas felizmente encontramos no relatório das terras
publicas e da colonisação de 1861 esclarecimentos que desmentem o lugubre painel do Sr.
Elisée Reclus:
Esta colonia (a de Nossa Senhora do Ó), diz o relatorio, foi fundada em 4 de maio de
1855 pelo cidadão José do Ó de Almeida, sendo para ella adoptado o systema de
arrendamento e de parceria.
A sua população consta de 52 homens e 55 mulheres, sendo maiores 71 e menores
36, casados 20, solteiros e viuvos 67, ao todo 107. Destes colonos 101 são brasileiros,
3 portuguezes e 3 suissos.
Os empregados da colonia são um medico, um pharmaceutico, um capellão e um
guarda-livros.
Possue um engenho de assucar, distillação de aguardente, serraria de madeira. Tem
além disto uma capella e 22 casas para os colonos.
49 Além desta informação, temos ainda a do relatório de 1857, que nos diz:
O cidadão José do Ó de Almeida, havendo recebido dos cofres provinciaes por
emprestimo a quantia de 8:000$, attrahiu para a ilha das Onças algumas famílias da
provincia do Cearã, e alguns colonos portuguezes, formando uma pequena colonia
com 188 pessoas, das quaes teem falecido 15, ausentando-se 57 e nascido 1.
50 O relatório de 1858 diz a respeito da mesma colonia:
A população que em dezembro de 1856 contava de 16 pessoas, no fim de 1857 se
elevou a 119, sendo 10 Portuguezes, 5 Suissos e 104 Brasileiros, dos quaes 26 eram
naturaes do Pará.
51 Como differem estes esclarecimentos dos que apresentou o Sr. Elisée Reclus!... onde está a
peste que devorou perto de 150 colonos allemães?... Se uma tal desgraça sobreviesse
deixaria ella de ser mencionada nos relatórios a que nos referimos?...
52 Mas ainda temos cousa melhor, e agora o Sr. Elisée Reclus poderá apreciar o merecimento
e a consciência do Sr. Avé Lallemant.
53 Quando o Sr. Avé Lallemant visitou a colonia agricola militar estabelecida perto de
Obidos, diz o collaborador da Revista, achou-a provida de numeroso estado-maior, porém
somente com dous colonos.
54 Ora, a informação do famoso viajante estipendiado pelo nosso governo refere-se, cremos
nós, ao anno de 1858, e no relatório da repartição geral das terras publicas e da

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colonisação apresentado em 1859, e por consequencia relativo ao anno de 1858,


encontramos o seguinte:
Colonia de Obidos. – Segundo as ultimas informações prestadas pelo director, o
pessoal desta colonia se compõe do mesmo director, do sub-director, do facultativo,
do capellão, do almoxarife, de um feitor apontador, de 23 colonos militares, de 132
paísanos; mas a sua população vae a 242 indivíduos, contando-se as famílias dos
empregados, 28 aggregados, 30 escravos e 3 Africanos livres.
55 Refere ainda o Sr. Elisée Reclus que em 1854 uma tentativa de emigração levou ao Pará
470 Portugiezes, dos quaes tres annos depois apenas 60 estavam com vida.
56 Outro quadro horrível! Mas vejamos a verdade: em 1854 diversos emprezarios do Pará
obtiveram do governo daquella provincia um emprestimo, obrigando-se a introduzir nella
e a empregar nos seus estabelecimentos ruraes ou fabris 450 colonos. Em 1855 apenas
dous desses emprezarios tinham feito chegar procedentes de Portugal 100 colonos,
nenhum dos quaes se conservou no estabelecimento que os recebera, porque todos
preferiram rescindir os seus contratos de locação de serviços e procuraram outros
destinos!
57 E eis ahi a historia de 390 colonos mortos em tres annos inventada pelos informantes do
Sr. Elisée Reclus.
58 Não queremos insistir mais nestes pontos, em que ainda por vezes teriamos de encontrar
o Sr. Elisée Reclus bem distante da verdade, ou muito em opposição a ella.
59 Mas como é certo que a companhia da navegação do Amazonas perdeu cabedal, tempo e
trabalho procurando estabelecer nas margens do Amazonas colonias que não vingaram;
como é tambem certo que outras têm sido abandonadas por emigrantes e colonos
europeus, devemos explicar as causas de semelhantes factos, para que algum outro os não
attribua á desolação, á miseria e á morte; e ainda bem que uma voz poderosa e cheia do
prestigio da experiencia poderá neste caso fallar por nós.
60 Eis o que diz o Sr. Barão de Mauá no seu relatório que em 1851 apresentou á assembléa
geral dos accionistas da companhia de navegação e commercio do Amazonas:
A grande questão da colonisação, Srs. accionistas, que aliás importa um interesse
brasileiro de primeira ordem, carece ainda de muito estudo para ser
satisfactoriamente resolvida; a própria riqueza das magnificas regiões amazonas é
um obice, por assim dizer, insuperável á realisação do estabelecimento de nucleos
coloniaes. Não basta termos terras que em fertilidade egualam, excedem mesmo as
melhores do mundo; não basta que essas terras abundem em produção naturaes,
que despertem a cobiça do trabalhador menos ambicioso mostrando-lhe a natureza
seus valiosos fructos, prompto por assim dizer a serem colhidos; não basta que esses
terrenos se achem em parte cobertos de annosos troncos, de frondosas arvores, que
só esperam ser derrubadas pela mão do homem para fornecerem as melhores e
mais preciosas qualidades de madeira ao comercio e ás artes; não basta mesmo um
clima sadio como o dos terrenos que escolhemos; nem, finalmente, a vontade a mais
tenaz para conseguir um grande fim, pois que, sem embargo de todos estes
elementos, nossos esforços só deram em resultado uma completa decepção.
Tão pouco se póde attribuir o máo exito desses esforços a erros administrativos nos
meios de que se lançou mão. Para attrahir opportunamente a verdadeira
colonisação era preciso dispôr os elementos necessarios; e, pois, contrahir um forte
numero de trabalhadores que viessem derrubar as matas, fazer plantações dos
principaes generos de alimentação vegetal, levantar cabanas e estabelecimentos
industriaes de natureza a satisfazer as necessidades primitivas de futuras povoações
agricolas, parecia na verdade o meio mais racional, senão o único, de conseguir-se
mais tarde o grande fim que tinhamos em vista; tudo porém falhou; não só porque o

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pessoal dos colonos, por sua má indole, não satisfez, como mesmo pelo principio
economico do que o trabalho procura o emprego de que póde auferir maior
proveito, sendo certo que no Amazonas o braço vigoroso que trabalhe por sua
conta, encontrará por longo tempo uma remuneração mais proveitosa do que o
mais pinguo salario que a industria ou a agricultura possam pagar.

III
61 O primeiro artigo do Sr. Elisée Reclus nos levaria muito longe se não tivessemos pressa de
acabar o que estamos escrevendo.
62 Pode ser que ainda tornemos a elle, se o julgarmos preciso; agora porém vamos concluir
acrescentando breves palavras sobre uma questão importante de que tambem se occupa o
collaborador da Revista.
63 A conveniencia de se abrir o Amazonas ao commercio do mundo é por todos os brasileiros
reconhecida, e hoje é apenas uma questão de opportunidade.
64 Antes que o Sr. Elisée proclamasse na imprensa franceza esse pensamento generoso e
civilisador, já no Brasil na tribuna universal e na do parlamento se tinha sustentado a
mesma causa com vigor e eloquencia.
65 Liberdade de navegação do Amazonas, questão de escravidão e outras ainda de elevada
transcendencia, hão de ser decididas pelos poderes publicos do Brasil com prudencia e
patriotismo, sem que, nós o dizemos bem alto ao Sr. Elisée Reclus, sem que “os ribeirinhos
do Amazonas rompam toda a solidariedade com os seus compatriotas do sul.”
66 As palavras que sublinhamos offerecem um conselho que repugna aos sentimentos dos
brasileiros de qualquer e de todas as províncias do imperio.
67 Apesar do que de nós dizem e propalam os Avé Lallemant, Biard e outros, temos bastante
criterio, bastante luz e civilização para ver, destinguir e reconhecer uma taça envenenada
que nos apresentam com o sorriso nos labios.
68 Deixando as terras do Amazonas, o collaborador da Revista dos Dous Mundos vem no seu
segundo artigo considerar as provincias do littoral brasileiro do cabo de S. Roque para o
sul, e faz notar o contraste que observa entre paizes ricos e no entanto quasi desertos,
esses que acabara de visitar, e a zona que lhe succede, e onde brilha uma civilisação
relativamente avançada.
69 No empenho de explicar esse contraste o Sr. Elisée Reclus entende que o problema
facilmente se resolve com as correntes maritimas que indicavam preciamente a direcção
que seguiriam os colonos europeus, e com as tempestades que arrebatavam os navio e os
faziam naufragar nas praias, marcando os pontos onde se elevariam um dia as grandes
cidades do Brasil.
70 Ainda bem que em seguida se lembra o escriptor francez do clima das procincias do sul,
que muito melhor explica a mais constante direcção dos emigrantes europeus para esta
parte do imperio; se assim não fôra, haveria ensejo para lamentar que o Sr. Elisée Reclus
fosse pedir ás correntes maritimas e ás tempestades a resolução do problema, resolução
que além do clima a historia claramente offerece.
71 As correntes marítimas concorreram muito para o descobrimento do Brasil por Pedro
Alvares Cabral; mas certamente não influiram na colonisação: as tempestades ainda
menos: um único naufragio teve lugar em sitio visinho daquelle, onde as levantou uma

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das nossas maiores cidades; foi o de Diogo Alvares em Itaparica; não é porém a este
naufragio que se deve a fundação da primeira capital do Brasil.
72 A mais prompta colonisação das provincias do sul teve outras causas: o favoravel clima é
uma das primeiras; a necessidade de expellir os Francezes do Rio de Janeiro apressou a
fundação desta cidade, que influiu logo muito sobre o sul, e que avultou de importancia
pela excellencia do seu porto, e communicações com as terras das Minas-Geraes, onde as
riquezas meneraes foram logo reunindo multidões de aventureiros: os receios da
Hespanha no Prata e as guerras do sul determinaram enfim a rapida povoação da nossa
provincia mais meridional.
73 Deixemos esta questão de parte e acompanhemos o Sr. Elisée Reclus na sua curiosa visita;
mas acompanhemo-lo com cuidado, pois que realmente não é um guia seguro.
74 Começa fazendo do monte Paschoal uma ilha Paschoal a que aporta Cabral descobrindo o
Brasil, e situa Porto Seguro em uma praia vizinha da ilha por elle imaginada.
75 Descrevendo ligeiramente a cidade do Rio de Janeiro, contempla arrebatado a
magnificencia da natureza, e faz sobresahir o Corcovado e os Tres Irmãos.
76 Deixando que o engenhoso Sr. Biard o leve pela mão, entra em 1858 na nossa academia
das bellas artes e ali encontra nove professores e apenas um auditorio de tres alumnos.
77 Discorrendo sobre a vida e costumes dos negros escravos, e fallando dos cantos rudes
entoados por elles nas ruas da cidade quando se occupam do serviço de cargas, informa
em uma nota que alguns senadores fatigados desta melopes que se ouve constantemente
no Rio de Janeiro, fizeram promulgar um decreto prohibindo aos negros o esotar durante
o seu trabalho, o que tornou estes infelizes tão fracos, tão abatidos, tão doentes e
preguiçosos que foi preciso revogar sem demora o celebre decreto.
78 Informa ainda que depois do bill Aberdeen, o trafico de Africanos continuou vigoroso,
porque os negreiros tinham a certeza de vender no Brasil cada escravo por 400 francos
(cerca de 150$!)
79 Lembrando alguns facos da nossa historia, o Sr. Elisée Reclus nos ensina que houve uma
revolta de cabaneiros nas provincias do norte e nas margens do Amazonas, revolta que
ainda considera uma insurreição servil.
80 Diz-nos que a revolta do Rio-Grande do Sul rebentou em 1831.
81 Informa-nos que os mulatos e os negros em 1838 se apoderaram da Bahia, organisaram um
governo regular e resistiram por muitos dias a um sitio e bloqueio rigorosos.
82 Conta-nos que em 1840 e 1841 rebentou outra revolta mesmo ás portas do Rio de Janeiro e
que durante mais de um anno a provincia de Minas-Geraes se conservou em poder dos
insurgentes.
83 Observa que o governo imperial vigia com tanta anxiedade a provincia de Pernambuco
sempre inquieta, que em seus mezes, de novembro de 58 a junho de 1859, teve de mandar-
lhe cinco diversos presidentes.
84 Diz que além das insurreicções servis do Pará, de Pernambuco (a dos cabaneiros) a da
Bahia (a de 1838), as próprias revoluções de Minas Geraes e do Rio-Grande do Sul que
tinham um caracter mais especificamente politico, ameaçaram degenerar em uma
verdadeira guerra de raças.
85 Refere, e felizmente neste caso cita o veracissimo testemunho do Sr. Avé Lallemant, e o
Sr. Lallemant é médico, e o era no Rio de Janeiro, refere, dizemos, que medicos

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especuladores anunciam pelas folhas periodicas que compram negros doentes, e que
fazem taes transacções para curarem esses escravos e depois vendê-los por alto preço.
86 Conta que ha senhores que por vaidade enfeitam com as suas próprias joias as suas
escravas para dar aos estrangeiros alta idéa da riqueza que possuem, embora um instante
depois mandem açoutar as infelizes ainda adornadas com os seus adereços e perolas.
87 Poderiamos ir adiante; mas parece-nos de sobra o que copiamos do artigo do Sr. Elisée
Reclus para demonstrar que o seu trabalho perde qualquer merecimento que chegaria a
ter a algum respeito; porque não pode nem deve escrever sobre um paiz quem tão pouco
sabe da sua historia, da sua geographia e dos costumes do seu povo.
88 Tantos erros, tão falsas apreciações, tantas injustiças davam-nos o direito de rejeitar in
limine o trabalho do Sr. Elisée Reclus: são erros imperdoaveis, são apreciações pueris e
extravagantes, são injustiças tão manifestas que nós os apontamos sem corrigir os
primeiros, e sem responder ás outras; mas nem por isso desconheceremos a verdade que
apparece em uma ou outra das observações do collaborador da Revista dos Dous Mundos.
89 Por exemplo: diz elle, e é verdade, que nas nossas principaes cidades temos despendido
sommas fabulosas em pagar primas-donas, esquecendo obras de primeira necessidade.
90 Faz algumas considerações razoaveis sobre o enthusiasmo com que emprehendemos ás
vezes grandes trabalhos sem de antemão estuda-los bastante; de modo que nos acontece
perder cabedal e tempo, que poderiamos ter aproveitado em obras mais bem pensadas.
91 Discorre perfeitamente, e isso era facil, sobre a necessidade de multiplicar as nossas vias
de communicação, approximando por meio dellas as provincias longínquas da capital do
imperio.
92 Mas o Sr. Elisée Reclus tem um máu genio que incessantemente se esforça para descia-lo
do bom caminho: esse máu genio é mais do que o Sr. Biard, é o Sr. Avé Lallemant.
93 Depois de muitas e longas reflexões sobre o trabalho escravo no Brasil, reflexões justas
umas vezes, e outrs inexactas, e fundadas em bases falsas, o Sr. Elisée Reclus passa a
considerar a colonisação, e especialmente os colonos allemães, e então entrega-se de
olhos fechados ao Sr. Avé Lallemant, que o conduz aonde o collaborador da Revista dos
Dous Mundos certamente não quizera ter ido, pois que não temos razão alguma de suppô-
lo desejoso de cahir e de perder-se no feio abysmo da diffamação e da falsidade.
94 O Sr. Elisée Reclus principia condemnando o systema de parceria e de salario em materia
de colonisação e preconisando a emigração espontanea.
95 Inclinamo-nos não pouco para esta opinião do collaborador da Revista; mas nem por isso
entendemos que na pratica da colonisação um systema seja absolutamente, e em todas as
circumstancias, o melhor e único adoptavel.
96 Entretanto não é neste ponto que o Sr. Elisée Reclus vae mal e se perde: aqui deixou-se
guiar pela própria intelligencia; mas descendo á relação e á apreciação de alguns factos,
não falla mais por si, é o écho da voz do Sr. Avé-Lallemant.
97 Estudando a organisação e o estado de diversas colonias allemãs, passa elle em revista as
estabelecidas no Rio Grande do Sul e em Santa Catharina, e é ainda inexacto em algumas
das suas informações, especialmente a respeito das primeiras; ao menos porém não
encontra nellas Brasileiros algozes, nem barbaras matanças.
98 É verdade que pensando e escrevendo assim, serve elle ao seu principio e demonstra com
esses factos como a propriedade moralisa, eleva e felicita o colono, o migrante, que pelo

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contrario se encontra sempre desgraçado e offendido em seus direitos nas colonias das
parcerias ou naquellas em que trabalha por salario; mas, seja ou não por isso, o Sr. Elisée
Reclus não foi cruel, nem injusto comnosco, tratando das colonias do Rio Grande do Sul e
de Santa Catharina.
99 Antes, porém, de haver chegado a essas colonias, já o Sr. Elisée Reclus tinha considerado a
colonisação do Mucury, e obedecendo á inspiração do seu máu genio; derramado todo o
fel da diffamação que na fonte envenenada bebêra, sobre um distincto Brasileiro que não
conhece, e sobre estabelecimentos coloniaes de que não tem idéa alguma, que não seja
mais ou menos falsa.
100 O collaborador da Revista dos Dous Mundos depois de referir como pôde e como quiz o
começo e desenvolvimento da companhia do Mucurym e da respectiva colonisação,
acompanha o Sr. Avé-Lallemant ao Mucury em 1859, isso é, conta o que contára este
famoso viajante modelo, averbando a calumniosa relação com insinuações perfidas e
profundamente injuriosas.
101 Para que repetirmos o que todos leram com indignação em uma época ainda bem
recente?...
102 Bastam quatro palavras para assignalar esta nova edição daquelles improvisos.
103 O Sr. Elisée Reclus descreve o seu viajante modelo, o Sr. Avé-Lallemant, desembarcando
em S. José de Porto-Alegre, e logo alli encontrando duas famílias de emigrantes
abarracados na praia e no estado da maior miseria: não tinham querido sujeitar-se ás
duras condições impostas pelo director da companhia de Mucury, e instinctivamente
haviam procurado o mar, que único lhes poderiam offerecer soccorro.
104 A fome e o typho punham em horriveis torturas esses desgraçados. Seguindo a sua viagem
de observação, o Sr. Lallemant continúa a presenciar eguaes miserias: aqui a peste – ali
uma colonia deserta – na própria colonia de Santa Clara a epidemia fazendo horriveis
estragos – em Philadelphia a devastação das modestas plantações dos emigrantes.
105 A tanto horror, a tão barbaro e inqualificavel abandono dos colonos, acudiu felizmente o
Sr. Avé-Lallemant, que denunciou ao governo do Brasil a triste situação dos seus
compatriotas no Mucury.
106 Eis ahí a historia, e por ella bem se vê que é o Sr. Avé-Lallemant quem falla pela voz do
collaborador da Revista dos Dous Mundos.
107 Mas o Sr. Elisée Reclus devia pensar que o nome do viajante modelo não o salva da
responsabilidade de propalador de falsidades: devia comprehender que era da sua
obrigação de homem de bem informar-se completamente da verdade dos factos antes de
publicar tão graves accusações contra um homem, uma companhia e um governo.
108 Contra um homem, porque o director da companhia do Mucury é apresentado como um
verdugo e deshumano perseguidor.
109 Contra a companhia do Mucury, porque, tolerando esses horriveis abusos do seu
presidente, mostrava-se tão barbara como elle.
110 Contra o governo, porque o próprio Sr. Elisée Reclus, diz:
Que a sorte das victimas foi bem depressa esquecida, e a companhia do Mucury
obteve do governo um credito de 3,120,000 francos com a garantia de 7 por cento.
111 O Sr. Elisée Reclus devia lembrar-se que a sua responsabilidade se tornava muito maior
ainda, quando em uma nota deixava cahir no papel em que escrevia uma insinuação tão
perfida, que entendemos até indigno de nós repeti-la.

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112 Devia lembrar-se que assumia toda a responsabilidade dos aleives do Sr. Avé-Lallemant,
quando para mais profundamente ferir a reputação do director da companhia do Mucury
ia até ao ponto de escrever que o – imperador do Brasil fulminava como indigno o nome
daquelle Brasileiro, que a provincia de Minas-Geraes duas vezes propuzera em primeiro
lugar em listas para senador,– como se a attribuição constitucional da escolha do senador
fosse um raio que ferisse os candidatos não escolhidos!
113 E nem ao menos o Sr. Elisée Reclus se informou neste caso dos preceitos da nossa
constituição, nem ao menos se limitou a offender o director da companhia, e quiz tambem
atacar o imperador do Brasil, calumniando suas intenções seus actos.
114 Longe esteve do espírito do Sr. Élisée Reclus tudo isto; mas é innegavel que elle pelo
menos peccou por leviandade e precipitação reprehensíveis.
115 O Sr. Elisée deveria ter-se informado melhor antes de escrever: e isso era facil, porque
correm impressos documentos officiaes que esclarecem perfeitamente essa questão do
Mucury.
116 Não nos fazemos cargo de defender o Sr. Teophilo Benedicto Ottoni, contra as accusações
do Sr. Avé-Lallemant. Tem o Sr. Ottoni adversarios politicos, suas opiniões desagradam a
muitos dos seus compatriotas; não ha porém quem deixe de fazer justiça á sua honradez e
ao seu coração.
117 Não o defenderemos, pois; mas simplesmente faremos recordar alguns esclarecimentos
officiaes, que são de sobra para destruir toda essa rede de aleives tecida pelo Sr. Avé-
Lallemant.
118 Na sua visita a diversas colonias estabelecidas no Brasil, o Sr. Avé-Lallemant chegou á
barra do Mucury,que aliás não é nem era o ponto colonial, e ali encontrou fugitivos trinta
colonos da Associação Central que haviam abandonado a colonia no próprio dia em que
tinham chegado, tendo recebido viveres para quinze dias, e não tendo querido nem ao
menos ver os lotes de terras que lhes eram destinados; estavam alguns destes colonos
atacados de febres intermitentes, de que falleceram tres, achando-se outros naturalemnte
abatidos: isto bastou para que o viajante modelo enxergasse naquelle espectaculo a
carnificina do Mucury, e delle tirasse motivo para o invento de mil falsidades.
119 Percorrendo as diversas colonias do Mucury, vendo e observando tudo, encontrando
numerosos colonos satisfeitos e alegres, e animação em quasi toda a parte, ainda assim o
Sr. Avé-Lallemant descreveu com as mais negras cores a colonisação do Mucury, e fez ao
director da companhia terriveis accusações.
120 O governo imperial, sciente do que o Sr. Avé-Lallemant participára e prapalára ter
observado, mandou ao Mucury successivamente tres commissarios encarregados de
examinar o estado daquella colonia.
121 O primeiro destes commissarios foi o Allemão F. A. Lichmund, amigo do Sr. Avé-
Lallemant, e inimigo pessoal do director da companhia, e ainda assim, no meio de
infundadas censuras, disse no seu relatório, fallando da colonia de Santa Clara: “Os
colonos que ficaram em Santa Clara em numero de duzentos pouco mais ou menos, em
parte são já mais antigos e bem estabelecidos: estes não desejam sahir da colonia.”
122 O segundo commissario foi o tenente José Feliciano Bueno Mamoré, que em officio de 27
de abril de 1860 resumiu as informações que deu ao governo imperial nestas poucas
palavras: “Tendo ouvido a pessoas desinteressadas, posso affirmar que a peior epidemia
que tem reinado nesta colonia e na de Santa Clara doi o Dr. Lallemant.”

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123 O terceiro commissario foi o Sr. Dr. Sebastião Machado Nunes, e este digno cidadão fez em
um longo relarotio a pintura exacta do estado da colonisação do Mucur, desmentindo as
falsas noticias do Dr. Lallemant.
124 Por exemplo: tratando dos colonos de Philadelphia, que o Sr. Avé-Lallemant declara
doentes, infelizes e desesperados, aquelle commissario diz:
Tende até aqui exposto V. Exe. As principaes queixas dos colonos, e o que me
pareceu haver nellas de verdadeiro e procedente, vou dizer com franqueza a minha
opinião ácerca da colonisação do Mucury, e é que o colono que se estabelecer nas
immediações de Philadelphia até ao Ribeirão de Areia, d'onde começam as terras de
melhor qualidade, e for trabalhador e industrioso, há de conquistar uma posição e
fazer fortuna: não posso deixar de formar esta opinião quando o observei entre os
colonos modernos (de oito mezes), ao lado de um que quasi nada tinha feito, outro
que apresentava resultados taes que sorprenderam, accusando todos a mesma
falta...
125 De Santa Clara, ondem segundo o Sr. Avé-Lallemant, estavam os colonos morrendo de
fome, observa o commissario o seguinte:
Com taes elementos, a epidemia que houve, fazendo degenerar em typhos as febres
intermittentes, próprias do lugar, é um facto que naturalmente se explica. A outras
causas não posso eu attribuir a defecção dos colonos de Santa Clara, sendo certo que
nunca lhes faltou o alimento, pois alguns generos de que houve falta por pouco
tempo foram substituidos por outros de que havia abundancia no armazem da
companhia, como a farinha de trigo, que lhes foi distribuida com profusão, o
bacalháo, etc.
Se os colonos tivessem procurado conjurar a crise, muito provavelmente o teriam
conseguido; e a prova está em que os mais antigos, que viviam em suas casas, fóra
dos fócos de infecção creados por áquelles, a atravessaram quasi incolumes, não
tendo succumbido um só.
Se em Santa Clara se deram as causas que ficam apontadas para a defecção dos
colonos, outro tanto não succedeu em Philadelphia, onde o clima é benigno, e não
houve epidemia, nem falta de mantimentos, estando todos situados em lugares
convenientes nas margens dos ribeirões.
Estes colonos foram evidentemente arrastados pela torrente que se desprendeu em
Santa Clara e seduzidos com promessas fallazes que imprudentemente lhes fez
alguém, servindo-se do nome do governo.
126 A estas informações officiaes poderiamos juntar muitas outras de egual importância, mas
força é que não estendamos demasiadamente este artigo; no entanto é impossivel
esquecermos o testemunho de tres pessoas autorisadas pela sua posição, e pelas
commissões que desempenhara.
127 Em 1860 o Sr. deputado Theophilo Ottoni, o director da companhia do Mucury,
pronunciou na camara dos Srs. deputados em discurso, em que discorrendo sobre aquella
companhia, e patenteando a toda a luz a falsidade das accusações do Sr. Avé-Lallemant,
enunciou proposições censurando o Sr. conselheiro Manoel Felizardo de Souza e Mello,
então ministro da agricultura, commercio e obras publicas, a quem de certo modo
responsabilisava em parte pelos abusos e pela influencia maligna daquelle viajante
estipendiado pelo governo.
128 O Sr. conselheiro Manoel Felizardo de Souza e Mello, respondendo ao Sr. deputado
Theophilo Ottoni, disse então:
Eu não diria palavra, Sr. presidente, sobre tudo quanto o nobre deputado expoz a
respeito da empreza do Mucury; approvaria com o meu silencia a indignação que
mostrou contra as perversidades e loucuras do homem tantas vezes estigmatisado;

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não proferiria uma palavra sobre todo esse longo tópico do discurso do nobre
deputado, se não me tivesse feito uma injustiça que eu não poderia esperar da
illustração do nobre deputado. Não era possível, Sr. presidente, que um homem na
minha posição, sem estar completamente varrido de juizo, approvasse, quanto mais
aconselhasse e ordenasse tantas indignidades.
129 E depois de algumas outras observações, continuou fallando do Sr. Avé Lallemant:
A capacidade do indivíduo, o seu caracter, nos eram inteiramente desconhecidos:
não sabiamos quem era o Sr. Lallemant; nunca tinhamos tido relações com elle;
sabiamos que era um medico que havia muitos annos estava no paiz; não sabiamos
quaes eram as suas intenções e suas idéas sobre colonisação; só pessoa ligada a elle
o poderia saber, e essa pessoa o affiançava.
(…)
Ora, que culpa posso eu ter, se esse homem trahiu áquelle que o apresentou? Serei
eu por isso responsavel? Não é isso uma injustiça grave que me faz o nobre
deputado?... se o nobre deputado, cujos trechos hontem foram aqui lidos, se ali há
calumnia, perversidade e mentira, permitta-se-me a expressão, que peso pode dar-
se a uma carta, em que elle diz – por sua causa estou aqui? – Se eu tenho pintado o
homem tal qual o considero agora, se tenho estygmatisado o seu procedimento,
como poderi ser complice com elle?...
130 Eis ahi o Sr. Lallemant julgado por um ministro da corôa, a quem o Sr. Theophilo Ottoni
fazia opposição, e de quem é adversario politico.
131 No relatório da liquidação da companhia do Mucury por parte do governo, relatório que
não pode ser suspeito como redigido por algum amigo pessoal do ex-diretor da
companhia, não menos se desmentem as invenções calumniosas do Sr. Lallemant.
132 Eis o que se lê em duas paginas desse documento.
133 Em referencia aos trabalho da companhia em 1859, diz o relatório:
A colonisação era o maior, senão exclusivo afan da companhia.
Á timidez primitiva sobre este objecto succedera um febril ardor.
Á parcimonia em trazer emigrantes, seguira-se a avidez de alcança-los promptos e
em grande numero, de modo que o Mucury chegou momentaneamente a rivalisar
com as mais fortes emprezas colonisadoras do imperio.
Resultado em parte desse proceder da companhia, e em parte filho de uma ruim
fatalidade, deu-se o facto de se acharem accumulados mais de 500 emigrantes na
época pestifera do anno, e no lugar mais insalubre do Mucury.
Sefuiu-se o lugebre e doloroso painel que o paiz contemplou, e cujos traços não são
deste lugar.
É justiça no entanto dizer que, se de imprevidencia foi culpada a companhia nesse
fatal desastre, muitos esforços envidou ella depois para resgatar o seu erro ou
attenua-lo.
Quanto ás terras, cuja propriedade a companhia adquiriu, nada é preciso que eu
diga, visto que a legitimação de 291,013,969 braças quadradas foi feita segundo as
instrucções e explicita approvação de diversos presidentes da provincia de Minas,
que estão muito alto collocados para necessitarem de defeza. Fallo dos Srs.
senadores F. D. Pereira de Vasconcellos, Herculano Ferreira Penna e Carneiro de
Campos, e do actual presidente de Santa Catharina padre Vicente Pires da Motta.
134 E mais adiante, tratando da improvisada carnificina e das accusações feitas por isso ao
director da companhia, ou a esta, assim falla o mesmo documento:
É por demais dizer que se a defeza que de si fez a companhia parece insufficiente, as
accusações que lhe foram assacadas tem muito de declamatorias e até de
calumniosas.
A verdade singela, importa neste caso a exacta apreciação dos successos.
A insalubridade periodica do Mucury se pronuncia, todos os annos com bastante

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O Brasil e a colonização 16

energia para dispensar auxiliares, e se no maior numero de casos as febres


intermittentes cedem a um acertado tratamento o seu melhor antidoto é a mudança
de estação, ou a transferencia de doentes para localidade diversa, sobre tudo para a
Philadelphia.
Conseguintemente a responsabilidade da companhia não pode ir alem do facto da
sua imprevidencia, por que é innegavel que revelado o mal não poupou esforços
para o combater.
Não só deixou de calcular sobre as despezas que um melhor tratamento dos colonos
devia trazer-lhe, mas ainda fez sacrificios de todo o genero para que nada lhes
faltasse; ainda mas, o proprios director da empreza e seu irmão Dr. Ernesto
Benedicto Ottoni, se apresentaram no meio do flagello, exemplificando assim uma
louvavel dedicação.
135 O barão de Tchudy, que viajou pelo Brasil com o fim determinado de estudar a vida e
estado dos colonos allemães estabelecidos no nosso paiz, é lembrado com a mais justa
consideração pelo Sr. Elisée Reclus; admira porem que o collaborador da Revista dos Dous
Mundos se esquecesse deste sabio allemão, quando tratou do Mucury.
136 Repetiremos ao Se. Elisée Reclus algumas palavras do barão de Tchudy, tirando-as de um
artigo sobre o Mucury, que elle fez imprimir na Gazeta Universal de Aupsburgo.
137 O sabio Allemão declara que encontrou no Mucury poucos colonos queixosos, mas que
mesmo nestes casos, examinando a questão de mais perto, achou que a culpa era dos
mesmos queixosos.
138 Referindo-se a todos os colonos desde Philadelphia até Santa Clara, sustenta que a
“situação delles em geral é satisfactoria, que com poucas excepções lhe asseguráram
todos que a directoria cumpre conscienciosamente os seus contratos.”
139 Copiaremos ainda as seguintes informações que se acham no mesmo artigo:
Como na mór marte das colonias, tambem no Mucury o emigrante morigerado e
intelligente consegue em pouco tempo uma posição proporcionalmente boa, que
elle vae de anno em anno melhorando pela sobriedade, pelo trabalho assiduo e pela
economia, alcançando emfim um resultado que não lhe fora dado esperar na Europa.
140 (Continuar-se ha)

NOTAS
1. RECLUS, Élisée. O Brasil e a Colonização. São Paulo: Imaginário, 2011

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