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30/06/2020 A PUJANÇA NAGÔ NA NEGRA BAHIA

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A PUJANÇA NAGÔ NA NEGRA BAHIA

Introduzidas no Brasil com a escravidão, as culturas negras imprimiram, cada uma com suas peculiaridades e em diferentes graus, marcas
profundas em quase toda a extensão da alma e do território brasileiras. E na Bahia essa presença - que se recria hoje em importantes
instituições como as comunidades terreiro - é devida basicamente à cultura dos nagôs, não que, vinda da África Ocidental, foi, entre o fim
do século XVIII e o fim do séuclo XIX, das últimas a serem escravizadas no Brasil.

Kêtu, Egba, Egbado e Sabé são alguns dos segmentos nagôs que vieram para a Bahia provenientes da grande área iorubá que compreende
sul e centro da atual República de Benin, ex-Daomé; parte da República do Togo: e todo sudoeste da Nigéria. E todos eles - com destaque
para os Kêtu contribuiram decisivamente para e implantação da cultura nagô naquele Estado, reconstituindo suas instituições e procurando
adaptá-las ao novo meio, com o máximo de fidelidade aos padrões básicos de origem, fidelidade essa em parte facilitada pelo intenso
comércio que se desenvolveu entre a Bahia e a costa ocidental da África durante todo o século XIX até os primeiros anos que se seguirem
à Abolição.

Dentre as instituições dos nagôs que floresceram na Bahia, certamente uma das mais fortes é a tradição dos Orixás. Com efeito, desde
princípios do século XIX, apesar de a única religião autorizada no Brasil ser a católica, as casas de culto dedicadas à adoração dos orixás
já eram bem conhecidas. Por essa época, os cultos protestantes só eram permitidos quando realizados por europeus, e a religião tradicional
africana era reprimida inclusive através da violência policial.

Durante o cativeiro, uma das únicas coisas que não se pôde roubar ao negro foi a fé religiosa. E essa fé foi sempre um fator de aglutinação
a continuidade. Assim, a religião impregnou todas as atividades nagô brasileiro influenciando até a sua vida profana. Recriando, então,
aqui, nas comunidades-terreiro, o espaço geográfico da África e sua herança cultura, foi justamente através da religião que o nagô
conservou um profundo sentido de comunidade e transmitiu de geração a geração as raízes de sua cultura.

Além dos orixás, entidades divinas, poderes e patronos de forças puras da natureza, emanados da entidades suprema Olorum, os nagôs e
seus descendentes sempre cultuaram também os antepassados, os Egun - aqueles espíritos de indivíduos que depois se converteram em
ancestrais, em "pais" (Baba Egun). O culto aos antepassados, entretanto, não pode em hipótese alguma se confundir com o culto aos
orixás, já que cada um deles tem doutrina e liturgia próprias.

Nos terreiros onde se renova a tradição dos orixás se cultuam também os mortos da casa e os grandes fundadores e fixadores da religião.
Esses mortos ilustres são invocados no Padê, uma cerimônia propiciatória, assentados e consagrados no Ilê Ibô Aku, a casa de adoração
aos mortos, situada num espaço separado do templo dos orixás.

Mas o culto a esses mortos, repetimos, não se confunde nunca com o culto aos orixás. E nem se confunde também com o culto aos Eguns,
que são aqueles antepassados que tiveram o merecimento de ser preparados para sua invocação em forma corporizada.

O culto aos Eguns se realiza em terreiros específicos. O espaço onde se reverencia a memória dos antepassados é o Ilê Igbalé -
representação de uma antiga clareira existente no amago da floresta africana e consagrada aos Egun. Neste terreiros, a invocação dos
ancestrais é a própria essência e a razão maior do culto.

www.angelfire.com/me3/joliveira/agboula/nago.html 1/1

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