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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE


DO SUL – UNIJUÍ

BRUNA BERTASSO DOS SANTOS

SINTOMA: PERCORRENDO O CAMINHO E O SENTIDO DE SUA


FORMAÇÃO

IJUÍ

2011
2

BRUNA BERTASSO DOS SANTOS

SINTOMA: PERCORRENDO O CAMINHO E O SENTIDO DE SUA


FORMAÇÃO

Monografia apresentada para obtenção


de graduação no curso de Psicologia
da Unijuí.

Orientador: Ana Maria de Souza Dias

Ijuí

2011
3

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

DHE – Departamento de Humanidades e Educação

Curso de Psicologia

SINTOMA: PERCORRENDO O CAMINHO E O SENTIDO DE SUA


FORMAÇÃO

Bruna Bertasso dos Santos

Banca Examinadora:

____________________________

Normandia Cristian Giles Castilho

_____________________________

Ana Maria de Souza Dias

IJUÍ, JANEIRO DE 2012


4

RESUMO

Os sintomas psíquicos apresentados pelos pacientes que buscam tratamento


são um misto de sofrimento e gozo na medida em que entendemos que são os
próprios pacientes que se colocam em determinadas condições subjetivas. O
propósito deste trabalho é estudar a formação sintomática como o resultado de
um recalcamento do desejo e entender sobre os elementos que a compõe para
chegar à hipótese do gozo inconsciente contido em todo sintoma. O tema é
trabalhado a partir da teoria psicanalítica com o uso prioritário da obra
freudiana e lacaniana. Neste sentido, partindo de algumas experiências clínicas
que mostram o quanto pode ser difícil a saída de uma posição subjetiva, bem
como o desvincular-se de um sintoma clínico recoberto por questões
imaginárias, que esta pesquisa tem como objetivo um estudo a respeito da
formação sintomática e sobre o que está por trás dela. Apreende-se um desejo
do sujeito no arranjo da formação sintomática, pelo fato de jazer na mesma o
elemento correspondente ao gozo buscado por este sujeito. As queixas que
advém no discurso dessas pessoas são efeitos do desconhecimento sobre o
sentido do sintoma, uma vez que este sentido permanece a nível inconsciente.
O trabalho ainda sublinha a importância de diferenciar as duas modalidades de
sintomas que se apresentam, sendo eles o sintoma clínico e o sintoma de
estrutura, que dizem tanto da posição subjetiva quanto dos efeitos de estrutura
do sujeito em questão.
Palavras-chave: produção sintomática, desejo, gozo.
5

Os homens, contudo, sempre acham difícil renunciar


ao prazer; não podem deixar-se levar a fazê-lo sem
alguma forma de compensação. (Singmund Freud)
6

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................07

1. SIGMUND FREUD E AS PRIMEIRAS DESCOBERTAS SOBRE O


SINTOMA....................................................................10

2. SOB A PERSPECTIVA LACANIANA: O QUE SUSTENTA UMA


PRODUÇÃO SINTOMÁTICA?.....................................24

CONCLUSÃO........................................................................39

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................43


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INTRODUÇÃO

O presente trabalho caracteriza-se por uma pesquisa de cunho teórico


acerca da problemática dos sintomas psíquicos que se estruturam na vida dos
sujeitos. O mesmo se embasa única e prioritariamente em conceitos
psicanalíticos para, assim, formular todo o percurso de desenvolvimento da
concepção dos sintomas na teoria freudiana, e após dar conta das principais
contribuições de Lacan acerca das questões que compõem o assunto. Este
trabalho detém seu olhar para os sintomas como uma via de gozo para o
sujeito, buscando compreender e trabalhar a questão do gozo que se coloca
por trás da produção sintomática.

O estudo dos sintomas leva-nos a circular por vários conceitos dentro


da psicanálise, e remete-nos a construção minuciosa a que Freud se deteve
durante tantos anos em sua trajetória. Neste sentido durante todo o primeiro
capítulo ocupamo-nos de percorrer esta trajetória freudiana na construção do
conceito de sintoma. Iniciamos pelas primeiras descobertas de Freud
juntamente com Josef Breuer no tratamento de sintomas histéricos, passando
desde as conceituações acerca do inconsciente, da sexualidade, do desejo, até
a repetição, as pulsões, em especial à pulsão de morte, trabalhada em ‘O mal-
estar na civilização’, onde Freud entende que haveria algo para além do
princípio do prazer que movimentaria o desejo e a repetição.

Partindo deste último ponto, a pulsão de morte, dá-se início ao segundo


capítulo, onde será feita uma breve retomada da teoria lacaniana no que diz
respeito à constituição psíquica, trazendo como ponto central de sua teoria a
elaboração de que o inconsciente se estrutura como linguagem. Com isso,
passa a se trabalhar as questões e também os conceitos relacionados à teoria
de Jacques Lacan, tratando das duas vertentes do desejo postas por ele, do
papel do grande Outro na constituição do sujeito e o que ele significa, sobre a
influencia da linguística na obra de Lacan e sobre os processos metafóricos e
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metonímicos, chegando até o ponto em que Lacan formula o conceito de gozo


e o situa no centro das representações na estrutura da Coisa (das Ding). Para
finalizar e enlaçar a ideia central da pesquisa serão trabalhados, por fim, os
dois tipos de sintomas que tratamos em psicanálise, sintoma clínico e sintoma
de estrutura.

Meu interesse em estudar sobre a temática dos sintomas como via de


gozo, se deu pelo fato de que fui percebendo ao longo do estágio em
processos clínicos que cursei, e com a experiência de escuta que pude ter, a
dificuldade que os sujeitos têm de se implicarem em seus sintomas, bem como
a resistência em sair dos mesmos, e por fim, mas não menos importante, a
repetição incessante dos sintomas acompanhada das queixas a respeito
destes. Esta é uma questão sempre presente na clínica, na medida em que
pensamos que é pela via do próprio sintoma clínico que o sujeito busca
tratamento, ou seja, é justamente por desconhecer o motivo de seu sofrimento
não se implicando nele, e por estar incomodado com este sintoma, que o
sujeito procura o psicólogo clínico. Então, ao passo que vamos escutando o
sujeito, vamos também percebendo que seu interesse não é o de desvincular-
se desse sintoma, mas pelo contrário, que ele goza estando nessa posição, e
que a queixa que surge a nível consciente é pelo fato de ele desconhecer o
verdadeiro sentido de seu sintoma. O sujeito, dessa forma, endereça ao
psicólogo seu sintoma, direciona-se ao mesmo com a suposição de que ele
saiba sobre o sentido de seu sintoma, há o pedido de que o clínico decifre-o.

Com este trabalho busco apreender a problemática dos sintomas em


psicanálise de forma mais aprofundada, entendendo o percurso da formação
sintomática. Fazendo toda a retomada de teorizações e conceitos
psicanalíticos desde Freud até Lacan justamente para acompanhar todo um
processo histórico de construções que envolvem a temática. Sempre com o
propósito de entender teoricamente uma questão que se repete na clínica:
porque um sujeito permanece em uma condição que lhe cause tamanho
sofrimento? Estudar sobre os sintomas como uma formação do inconsciente,
9

como uma via de gozo que faz o sujeito cair em repetição é no mínimo
instigante para mim. Poder pensar quais as questões da ordem do desejo
desse sujeito se colocam a ponto de ele produzir tal formação inconsciente. E
mais, quanto custa para o sujeito manter esse sintoma? Afinal, isto não é sem
efeitos.
10

1. SIGMUND FREUD E AS PRIMEIRAS DESCOBERTAS SOBRE O


SINTOMA

Este primeiro capítulo se propõe a desenvolver e discutir acerca da


problemática dos sintomas psíquicos que se colocam na vida dos sujeitos. O
que são, como se formam e a que servem os sintomas, dos quais se derivam
as queixas dos pacientes, são questões norteadoras para o desenvolvimento
deste trabalho. Neste sentido faz-se uso inteiramente da teoria psicanalítica
como principal e único meio de fundamentação e pesquisa do assunto, tendo
as concepções de Sigmund Freud como fundamental meio de sustentação
para o trabalho.

A pesquisa parte, em seu referencial teórico, dos estudos de Sigmund


Freud sobre os sintomas neuróticos, como estes se manifestam e porque se
apresentam com tanta frequência na vida dos sujeitos lhes causando tamanho
desconforto. Para se ter uma compreensão mais abrangente do tema foi
necessário fazer uma busca teórica a partir da concepção que Freud tinha
sobre os sintomas no início de sua produção em psicanálise. É imprescindível
registrar que o autor teve sua formação acadêmica em medicina, se
especializando em neurologia, o que esclarece porque inúmeras vezes no
início de seu trabalho ele se manteve em uma posição bastante organicista
sobre determinadas questões, que mais tarde ele próprio perceberia que se
tratavam de questões psíquicas a nível inconsciente.

Freud, ao iniciar um de seus trabalhos sobre o conceito de sintoma,


escreve que: “O sentido dos sintomas neuróticos foi descoberto, em primeira
mão por Josef Breuer, em seu estudo e cura bem sucedida (entre 1880 e 1882)
de um caso de histeria, que desde então se tornou famoso”
(FREUD,1917[1916-17] p.265). Com isso ele atribui à Breuer essa descoberta,
mas é importante entendermos o que pensavam esses autores sobre a
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temática antes da descoberta citada anteriormente por Freud, bem como qual
foi a forma de abordagem usada por eles nesse momento.

Inicialmente, Breuer e Freud passaram a estudar os sintomas histéricos


que se apresentavam principalmente em forma de paralisia motora, para só
mais tarde Freud passar a identificar também os sintomas presentes na
neurose obsessiva, que se colocam como idéias repetitivas, rituais, entre
outros. No começo não havia uma concepção clara da origem dos sintomas por
parte dos autores. Em uma carta enviada a Breuer em 29.6.1892, Freud faz
algumas proposições de organização do material produzido por eles até então
sobre a histeria e os chamados “ataques histéricos”, onde coloca como um de
seus títulos “A origem dos estigmas histéricos: altamente obscura, escassos
indícios.” (FREUD, 1892 p.191) A falta de respostas precisas para seus
questionamentos se faz visível nesse momento, Freud e Breuer não tinham
ainda esclarecido a origem de tais estigmas.

No desenvolvimento do texto, Freud registra que percebe haver um


conteúdo que seria responsável pelo desencadeamento dos ataques histéricos
que não tem “conexão associativa com a consciência normal” (FREUD, 1893
p.192) E que somente sob o estado “hipnóide” acha-se um conteúdo que está
desconectado do conteúdo restante da consciência. Então o mesmo propõe
que há uma divisão no conteúdo da consciência. E para explicar tais ataques,
escreve sobre a presença de uma dissociação. Não tinha, portanto, até o
momento, chegado a formular a idéia de inconsciente. Mas sugere que o
retorno de uma lembrança foi o que causou o trauma psíquico responsável
pelos ataques histéricos.

No decorrer de seus escritos ele fala pela primeira vez em lembrança


inconsciente, se referindo no restante do texto a esta como um segundo estado
da consciência. No final desse texto Freud faz uma citação recheada de
12

sentido, que ilustra com perfeição o quanto a sua obra foi uma construção
minuciosa de conceitos e reparos para se chegar ao que temos hoje.

Se uma pessoa histérica intencionalmente procura esquecer uma


experiência, ou decididamente rechaça, inibe e suprime uma intenção
ou idéia, esses atos psíquicos, em conseqüência, entram no segundo
estado da consciência; daí produzem seus efeitos permanentes e a
lembrança deles retorna sob a forma de ataque histérico. (FREUD.
1893 p.196)

Freud abandona o método de sugestão hipnótica por acreditar que este


não proporcionava o resultado esperado de uma análise das neuroses. Adere
então ao método da associação livre, em que o paciente fala o que lhe vem à
mente, decidindo então o curso da análise. A partir disso ele evolui em sua
produção.

Segundo Freud:

[...] desde os Estudos, a técnica psicanalítica sofreu uma revolução


radical. Naquela época, o trabalho [de análise] partia dos sintomas e
visava a esclarecê-los um após outro. Desde então, abandonei essa
técnica por achá-la totalmente inadequada para lidar com a estrutura
mais fina da neurose. Agora deixo que o próprio paciente determine o
tema do trabalho cotidiano, e assim parto da superfície que seu
inconsciente ofereça a sua atenção naquele momento. (FREUD, 1905.
p. 23)

Os Estudos aos quais Freud refere-se na citação acima designa o artigo


chamado “Estudos sobre a Histeria” (1893-1895), que foi escrito pelo mesmo
juntamente com Josef Breuer. Nesta publicação há o início da produção teórica
sobre os fenômenos histéricos, constando ainda relatos de casos clínicos
trabalhados por Freud e o famoso caso conduzido por Breuer da “Srta. Anna
O.”.
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Foi com o uso do método da associação livre que Freud deu início ao
tratamento de um caso de histeria em uma paciente, à qual ele iria chamar de
Dora, que lhe possibilitou a compreensão do sentido dos sintomas neuróticos a
partir do relato de dois de seus sonhos. O que Freud percebe ao escutar Dora
é que a mesma faz o relato de seus sonhos no momento em que não consegue
dar conta de lembranças para explicar determinadas situações. Freud começa
a pensar que alguma outra coisa poderia estar se colocando ali onde nas
lacunas da memória aparece o relato do sonho. E passa a investigar essa
questão construindo uma obra de extremo valor sobre a interpretação dos
sonhos, quando passa a entender a origem, bem como o sentido dos sintomas
neuróticos. Portanto, é a partir da compreensão do significado dos sonhos na
vida do sujeito que o autor consegue fazer uma relação para entender o
verdadeiro significado do aparecimento dos sintomas na vida de seus
pacientes.

Durante a publicação de “Fragmento da Análise de um Caso de Histeria”


(1905), Freud levanta muitos fatores que ele teria apreendido até então acerca
da origem dos sintomas histéricos e também enquanto sintomas psíquicos, que
poderiam não ser de natureza da estrutura histérica. Entre estes ele escreve
sobre “complacência somática”, que proporcionaria aos processos psíquicos
uma saída pela via corporal. Afirma que o sentido atribuído ao sintoma histérico
seria “emprestado” a ele pelo sujeito, ou seja, que o sintoma não traz consigo
esse sentido. Assegura ainda o conteúdo sexual determinantemente formador
dos sintomas, bem como sua pluralidade de significados. Escreve ele:

[...] o sintoma significa a representação – a realização – de uma


fantasia de conteúdo sexual, isto é, uma situação sexual. Melhor
dizendo, pelo menos um dos significados de um sintoma corresponde à
representação de uma fantasia sexual, enquanto para os outros
significados não se impõe tal limitação do conteúdo. Quando se
empreende o trabalho psicanalítico, logo se constata que os sintomas
têm mais de um significado e servem para representar
simultaneamente diversos cursos inconscientes de pensamento.
(FREUD, 1905. p.53)
14

Para que fique clara a referência que Freud faz às fantasias de conteúdo
sexual presente no significado dos sintomas, é importante salientar o que o
autor entende por sexualidade, pois em sua obra ele não reduz o termo ao
genital, pelo contrário, constrói uma ampla teoria acerca dessa questão
trazendo importantes contribuições sobre a constituição do psiquismo. Freud
descobre tratando seus pacientes adultos que existe sexualidade infantil devido
à disposição perverso-polimorfa da criança à sexualidade, mas que por conta
do que ele vai chamar de “amnésia infantil” essas vivências não são
lembradas. Sobretudo é através dessa “pré-história” que o adulto constrói e
organiza sua sexualidade, bem como sua vida sexual.

Ainda sobre a sexualidade, Freud faz uma importante descoberta que


mais tarde abriria uma gama de possibilidades para o entendimento da vida
psíquica dos sujeitos. Ouvindo suas histéricas ele percebe em diversos casos o
relato de uma cena sexual vivida por elas na infância, algo que se aproximaria
de um abuso pela posição de passividade em que se encontravam, isto não
necessariamente, pois o autor escreve que em alguns casos “as experiências
são supreendentemente triviais” (FREUD, 1896). A partir disso Freud constrói a
Teoria da Sedução, em que acredita que na origem da neurose teríamos um
abuso sexual real praticado por um adulto, que resultaria mais tarde nos
sintomas e traumas histéricos. No decorrer de sua pesquisa Freud esbarrou no
fato de que nem todos os pais eram abusadores, e que suas histéricas não
haviam mentido quando diziam ter sido vítimas de uma sedução. Quando o
autor anuncia o abandono de sua Teoria da Sedução em uma carta enviada a
Fliess em 21 de setembro de 1897, escreve: “não acredito mais em minha
neurótica”.

Para dar conta dessas verdades ele aponta para uma nova teoria,
substitui a Teoria da Sedução pela da fantasia, elabora então uma concepção
de que o sujeito possui uma realidade singular em seu psiquismo que é guiada
pelos seus desejos e fantasias. Que esta seria a verdade do sujeito, dando
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espaço para uma realidade psíquica baseada no inconsciente. A contribuição


que Freud faz com essa teoria é sem dúvida um marco na história da
psicanálise, pois a partir do conceito de uma realidade psíquica1 baseada no
inconsciente de cada sujeito pode-se ficar mais próximo de onde reside o
desejo do mesmo, e com isso chegar ao esclarecimento do desenvolvimento
de uma produção sintomática, por exemplo.

Contudo é cabível a compreensão do significado do desejo na teoria


freudiana para que se faça entender o porquê da realização de uma fantasia de
conteúdo sexual nos sintomas, tema abordado no início dessa discussão
acerca da sexualidade. Com isso deve-se grifar que “Freud utiliza dois termos
para designar o desejo: Wunsch, que significa voto ou desejo, e Lust, que se
traduz como apetite e prazer.” (VALAS. 2001 p.7). Entretanto é em sua obra “A
Interpretação dos Sonhos” que Freud vai ter uma melhor definição de desejo.
Nesta “Wunsch é o desejo inconsciente recalcado2, e ao mesmo tempo é
realização de desejo.” (VALAS. 2001 p. 11) Para o autor o desejo tem sempre
uma polaridade sexual, na medida em que busca satisfação. Com isso o que
ele apreendeu durante essa construção teórica sobre os sonhos é basicamente
que os mesmos são a realização de um desejo sexual, pois durante o processo
onírico o que se busca é a satisfação. Nesse mesmo contexto que os sintomas
teriam em pelo menos um de seus significados a realização de um conteúdo
sexual, pela busca de satisfação de um desejo que se encontra recalcado.

A grande descoberta que Freud faz com a interpretação dos sonhos é


acerca do desejo, pois o que ele evidencia é que este se manifesta de forma
1
Como realidade psíquica compreende-se a realidade de cada sujeito, que cada um compõe a
partir de seus desejos e fantasias inconscientes. E é através da escuta do discurso do paciente
que comporta essa realidade que Freud se propôs a escutá-los. Para Roudinesco (1998) é um
termo empregado em psicanálise para designar uma forma de existência do sujeito que se
distingue da realidade material, na medida em que é dominada pelo império da fantasia e do
desejo.
2
Roudinesco (1998 p.647) coloca que para Sigmund Freud, o recalque designa o processo que
visa a manter no inconsciente todas as ideias e representações ligadas às pulsões e cuja
realização, produtora de prazer, afetaria o equilíbrio do funcionamento psicológico do indivíduo,
transformando-se em fonte de desprazer. Freud, que modificou diversas vezes sua definição e
seu campo de ação, considera que o recalque é constitutivo do núcleo original do inconsciente.
16

censurada, através de representações, estas estão sob ordem desse desejo


que é inconsciente, chegam à consciência como uma distorção do conteúdo
original. Neste contexto temos também o sintoma psíquico, como uma
manifestação dos processos inconscientes, que diz respeito ao desejo. Com
isso o sintoma vai aparecer no lugar de alguma outra coisa que devido as
forças do recalque não pode se fazer consciente. Portanto temos o sintoma,
em Freud, como o que está a serviço de um desejo inconsciente, bem como da
realização desse desejo.

Nesta relação de significados entre sintomas e sonhos, Sigmund Freud


conclui inicialmente que “Os sintomas neuróticos têm, portanto, um sentido,
como as parapraxias e os sonhos, e, como estes, têm uma conexão com a vida
de quem os produz.” (FREUD, 1915-1916 p.265) As parapraxias, as quais
Freud refere neste trecho, dizem respeito, entre outros, aos atos falhos,
esquecimentos, lapsos de memória e de língua. O autor encontra nas
parapraxias o mesmo elemento que se achava por trás dos sonhos, um
sentido, ou seja, tanto os sonhos como as parapraxias não se apresentam por
acaso na vida dos sujeitos, são da ordem de um desejo que é singular ao
próprio sujeito e que torna tal produção uma responsabilidade sua.

O propósito de desvendar como se constituem os sintomas nos leva ao


estudo de uma conferência produzida por Freud em 1917, em que ele trabalha
sobre “Os caminhos da formação dos sintomas”. E desta produção que
partimos para compreender esse processo. De início o que se percebe é que
Freud deixa explícita a probabilidade de deslocamento3 que existe nos
sintomas, escreve ele: “A única coisa tangível que resta da doença, depois de
eliminados os sintomas, é a capacidade de formar novos sintomas.” (FREUD,
1917 p.361) Neste período o caráter organicista e patológico dos sintomas se

3
É um processo psíquico inconsciente, teorizado por Freud sobretudo no contexto da análise
do sonho. Roudinesco (1998) escreve que o deslocamento acontece por meio de um
deslizamento associativo, que transforma elementos primordiais de um conteúdo latente em
detalhes secundários de um conteúdo manifesto.
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desfaz em partes e o que se apresenta é a necessidade que o sujeito tem em


formar sintomas. A questão é o porquê de tal condição, sendo que Freud
descreve os sintomas como sendo “atos, prejudiciais, ou, pelo menos, inúteis à
vida da pessoa, que por vez, deles se queixa como sendo indesejados e
causadores de desprazer ou sofrimento.” (FREUD,1917 p.361)

O que o autor passa a investigar é que os sintomas surgem pela


necessidade da libido se satisfazer. Com isso as duas instâncias psíquicas,
consciente e inconsciente agem para manter o sintoma, e repousa sobre esse
fator a grande dificuldade que há em dissociá-lo. A libido busca a satisfação,
mas pela imposição da realidade se faz insatisfeita e precisa regredir nessa
busca, encontrá-la em outras fixações anteriormente deixadas para trás. Freud
afirma que se dá um acordo entre inconsciente e desejo nele contido e
consciência e as leis do ego para que a partir disso seja formado o conteúdo
sintomático que se apresenta a nível consciente.

A respeito do retorno da libido na busca pela satisfação, Freud entende


que vai se dar em fixações correspondentes as “atividades e experiências da
sexualidade infantil, [...] nos objetos da infância que foram abandonados”.
(1917 p.363). Portanto, seria a estas experiências que a libido retorna para
encontrar satisfação. Sobre este ponto o autor ressalta a importância das
experiências sexuais infantis na vida dos adultos, bem como a consideração
especial que se deve ter a elas no trabalho terapêutico. Segundo seu
entendimento: “Elas determinam as mais importantes conseqüências, porque
ocorreram numa época de desenvolvimento incompleto e, por essa mesma
razão, são capazes de ter efeitos traumáticos.” (FREUD. 1917 p.364)

Um dos fatores relevantes em relação à produção sintomática é que a


mesma é tomada como desconhecida pelo sujeito, ou seja, o sujeito
desconhece o sentido de seu sintoma, não se identifica a ele. Isto ocorreria
18

devido ao desejo, que é o motor da produção sintomática, ser inconsciente,


pois o que se manifesta na consciência é uma distorção do conteúdo original
que agiu para formar o sintoma, a distorção resultante do acordo recentemente
citado entre consciente e inconsciente. Sobre essa questão Freud afirma:
“Assim, o sintoma emerge como um derivado múltiplas-vezes-distorcido da
realização de desejo libidinal inconsciente, uma peça de ambigüidade
engenhosamente escolhida, com dois significados em completa contradição
mútua.” (FREUD. 1917 p.363)

Ainda em sua obra sobre ‘Os caminhos da formação dos sintomas’


Freud dedica algumas páginas para tratar de um conceito, citado
anteriormente, que faz toda a diferença no trabalho de análise, e que ele
introduz nesse material com especial cuidado, trata-se do conceito de realidade
psíquica. O que o autor escreve é a dificuldade que encontrava inicialmente em
diferenciar o que se tratava da realidade e o que era da fantasia do paciente,
todavia a posteriori foi percebendo a relevância de todo e qualquer relato que
fizesse parte do discurso do paciente, entendendo que todo elemento seria
importante por se tratar da realidade psíquica do paciente. Com isso o autor
afirma que: “As fantasias possuem realidade psíquica, em contraste com a
realidade material, e gradualmente aprendemos a entender que, no mundo das
neuroses, a realidade psíquica é a realidade decisiva.” (FREUD,1917 p.370) A
importância de tal reconhecimento na teoria freudiana da psicanálise é sem
dúvida um determinante para o avanço do tratamento das neuroses, pois dá
ênfase ao sujeito do inconsciente, cuja singularidade deve ser considerada.

A respeito das fantasias Freud escreve:

O ego humano, como sabem, é, pela pressão da necessidade


externa, educado lentamente no sentido de avaliar a realidade e de
obedecer ao princípio de realidade; no decorrer desse processo, é
obrigado a renunciar, temporária ou permanentemente, a uma
variedade de objetos e de fins aos quais está voltada sua busca de
prazer, e não apenas de prazer sexual. Os homens, contudo, sempre
19

acham difícil renunciar ao prazer; não podem deixar-se levar a fazê-lo


sem alguma forma de compensação. Por isso retiveram uma atividade
mental na qual todas aquelas fontes de prazer e aqueles métodos de
conseguir prazer, que haviam sido abandonados, têm assegurada sua
sobrevivência – uma forma de existência na qual se livram das
exigências da realidade e aquilo que chamamos de ‘teste de realidade’.
Todo desejo tende, dentro de pouco tempo, a afigurar-se em sua
própria realização; não há dúvida de que ficar devaneando sobre
imaginárias realizações de desejos traz satisfação, embora não interfira
com o conhecimento de que se trata de algo não-real. Desse modo, na
atividade da fantasia, os seres humanos continuam a gozar da
sensação de serem livres da compulsão externa, à qual há muito
tempo renunciaram, na realidade. (FREUD, 1917 p.373-374)

O que Freud deixa explícito nesse trecho, e que é de extrema


importância para o clínico que trabalha ou pretende trabalhar com a
psicanálise, é que o sujeito renuncia a satisfação do seu desejo pela via da
realidade, pelas imposições do ego, mas que o mesmo vai criar condições de
compensação para continuar obtendo prazer. E é pela fantasia que isto se
torna possível, essa é a via para manter o prazer sem que o sujeito precise
reconhecer o caráter ‘não-real’ de sua produção. Os sujeitos sempre vão
buscar realizar os seus desejos mesmo que eles sejam barrados pela
realidade, há sempre outra saída para que a satisfação seja assegurada. E os
sintomas produzidos pelos sujeitos nos mostram isso. Pela via sintomática, que
por vezes causa estranheza devido ao seu sentido desconhecido e por isso
inconsciente, satisfaz-se o desejo que foi anteriormente barrado pelas
imposições da realidade.

É justamente pela busca de satisfação que Freud afirma existir nos


sujeitos uma ‘compulsão à repetição’, o autor elabora essa temática em seu
texto ‘Além do princípio de prazer’ (1920), onde formula a ideia de que a
repetição seria uma fonte de prazer. O que Freud percebe é que a pesar de
haver um princípio de prazer, que tem como finalidade evitar o desprazer e
proporcionar apenas prazer, regendo as atividades da vida das pessoas, elas
continuamente se colocam à repetir situações que lhes causam sofrimento e
desprazer.
20

A partir dessa questão o autor faz uma relação entre repetição e o que
ele vai chamar de ‘instinto’ 4 que impulsionaria tal compulsão, ele os denomina
‘instintos de vida’ que seriam os sexuais ou de autoconservação e os ‘instintos
de morte’ os quais colocam o sujeito em situações de desprazer. Então temos
os instintos como impulsionadores de uma repetição que pode ser prazerosa
ou desprazerosa. Mas afinal, que conteúdo compõe essa repetição? Segundo
Freud (1920), “a compulsão à repetição deve ser atribuída ao reprimido
inconsciente.” Com isso o conteúdo que sofreu recalque tende a retornar sob
forma de repetição, e nesse ponto é pertinente fazer alusão aos sintomas, pois
a repetição é componente importante na produção sintomática, fato que só
reforça nossas apostas acerca da satisfação presente nessa criação.

Freud ainda faz mais algumas considerações sobre a relação da


repetição com o princípio de prazer, questiona-se:

Mas, como se acha a compulsão à repetição – a manifestação do


poder do reprimido – relacionada com o princípio de prazer? É claro
que a maior parte do que é reexperimentado sob a compulsão à
repetição, deve causar desprazer ao ego, pois traz à luz as atividades
dos impulsos instintuais reprimidos. Isso, no entanto, constitui
desprazer de uma espécie que já consideramos e que não contradiz o
princípio de prazer: desprazer para um dos sistemas e,
simultaneamente, satisfação para outro. (1920 p.31)

É possível a partir dessa passagem trabalhar o que seria esse


‘reexperimentado’ a que Freud se refere, tendo em vista que o conteúdo cuja
repetição se ocupa é um conteúdo da ordem do recalcado e que retorna nesse
contexto. Então pode-se pensar que tal conteúdo já esteve presente em um
outro momento correspondendo a uma experiência de satisfação primária que

4
É importante acrescentar que o termo ‘instinto’ é mantido durante o texto devido à tradução inglesa da
obra de Sigmund Freud à qual faço uso para fundamentar meu trabalho, e que usa deste termo para se
referir às pulsões. Portanto, pela necessidade de ser fiel nas citações mencionadas é preciso manter o
termo ‘instinto’ como se o próprio Freud o tivesse usado, na medida em que é claramente compreendido
que Freud preferia o termo ‘pulsão’ para designar esta atividade psíquica. (Ver próxima nota de rodapé
onde se esclarece o conceito de pulsão)
21

então retorna pela repetição. O sujeito pela via das pulsões5 está sempre na
tentativa de reviver as experiências de satisfação primárias. Prazer que ele
experimentou em um determinado momento da vida e do qual busca realizar-
se novamente. Essa busca se apresenta de várias formas possíveis em sua
vida, e está sempre implicada ali onde surge o que é de seu desejo.

Outra obra que nos traz contribuições acerca dos sintomas e dos
caminhos diretos e indiretos para sua formação é ‘Inibições, Sintomas e
Ansiedade’, de (1926[1925]), onde Sigmund Freud passou a se ocupar da
relação da angústia com o recalque e a produção de sintomas apresentados
pelos sujeitos. Neste ele faz todo um percurso até chegar a uma conclusão em
relação à origem da angústia, inicia pensando o posicionamento do eu, pois
este efetua o recalque do conteúdo que não lhe é favorável ou prazeroso, mas
neste conteúdo existia um desejo, que teve então de ser recalcado. Porém a
estória não se resume a isso, pois pela via das pulsões esse desejo vai buscar
satisfação a partir de uma produção sintomática, que se apresenta como uma
satisfação substitutiva, tendo em vista que surge na consciência como um
sofrimento para o sujeito, ou seja, se apresenta de outra forma a nível
consciente devido à força do eu que mantem seu conteúdo original recalcado.
Esse desprazer, essa angústia sentida pelo eu devido ao aparecimento do
sintoma vai desencadear uma defesa por parte deste, tendo como
consequência da última o recalque e assim a produção sintomática. Contudo
temos aqui um processo que circula e se completa, estando a angústia na
origem do conflito e sendo o que viabiliza toda a movimentação restante no
aparelho psíquico acerca dessa questão.

5
Pulsão foi um conceito empregado por Sigmund Freud a partir de 1905, para definir
uma carga energética que se encontra na origem da atividade motora do organismo e do
funcionamento psíquico inconsciente do homem (Elizabeth Roudinesco-1998). A atividade
pulsional é o que leva o sujeito em busca do objeto de desejo, que pode ser qualquer um, ou
seja, não há um único objeto da pulsão, este está em constante renovação na medida em que
a satisfação obtida quando no encontro com o objeto é sempre parcial. Então, vai-se em busca
de um novo objeto para se obter satisfação, esta é a finalidade das pulsões. Houve uma
preocupação do próprio Freud em não confundir o termo Trieb traduzido como pulsão, com
Instinkt, que fica reservado para caracterizar comportamentos animais. A preocupação de
Freud era de marcar a especificidade do psiquismo humano com esse conceito.
22

É importante fundamentar essa construção com uma passagem em que


Freud escreve sobre o processo de formação dos sintomas a partir do eu, e
depois de como estes se apresentam como uma fonte de desprazer:

Um sintoma é um sinal e um substituto de uma satisfação instintual que


permaneceu em estado jacente; é uma consequência do processo de
repressão. A repressão se processa a partir do ego quando este –
pode ser por ordem do superego – se recusa a associar-se com uma
catexia instintual que foi provocada no id. O ego é capaz, por meio de
repressão, de conservar a ideia que é o veículo do impulso
repreensível a partir do tornar-se consciente. A análise revela que a
ideia amiúde persiste como uma formação inconsciente. (FREUD.
1925-26 p.95)

Então temos clara aqui a ideia de satisfação substitutiva para Freud, e


também enquanto ao posicionamento do eu em relação ao conteúdo a ser
recalcado. Ainda a respeito dos sintomas, mas agora sobre o desprazer
causado pela satisfação substitutiva, Freud escreve: “[...] o impulso instintual
encontrou um substituto apesar da repressão, mas um substituto muito mais
reduzido, deslocado e inibido, e que não é mais reconhecível como uma
satisfação. E, quando o impulso substitutivo é levado a efeito, não há qualquer
sensação de prazer; sua realização apresenta, ao contrário, a qualidade de
uma compulsão.” (FREUD. 1925-26 p.98)

Com isso a via de satisfação pulsional exprime um prazer às avessas,


que se dá de forma inconsciente, e que se apresenta ao eu, à consciência,
como um enorme desprazer, um desconforto desconhecido pelo sujeito como
uma produção sua. As pulsões buscam a satisfação e dependendo do seu
caráter vão nos trazer diferentes sensações, sejam elas prazerosas ou não. É o
caso da pulsão de morte, a partir da qual o sujeito se coloca em uma situação
de sofrimento, visto que o prazer se dá a nível inconsciente. Isto que Freud
nomeia de pulsão de morte e a que há muito se dedicou a estudar é do que
trataremos ao trabalhar o ‘Mal Estar na Civilização’, texto produzido por Freud
entre 1929-1930, em que ele se ocupa de questões relacionadas ao âmbito
23

social e individual, relacionando-as e trazendo importantes contribuições aos


que apreciam e/ou se interessam pelo trabalho psicanalítico.

Sigmund Freud, a partir da análise do sadismo percebe que a pulsão de


morte seria investida de libido, e que poderia provir daí a relação com a
repetição e a satisfação. O autor afirma:

É no sadismo – onde o instinto de morte deforma o objetivo erótico em


seu próprio sentido, embora, ao mesmo tempo, satisfaça integralmente
o impulso erótico – que conseguimos obter a mais clara compreensão
interna (insight) de sua natureza e de sua relação com Eros. Contudo,
mesmo onde ele surge sem qualquer intuito sexual, na mais cega fúria
de destrutividade, não podemos deixar de reconhecer que a satisfação
do instinto se faz acompanhar por um grau extraordinariamente alto de
fruição narcísica, devido ao fato de presentear o ego com a realização
de antigos desejos de onipotência deste último. O instinto de
destruição, moderado e domado, e, por assim dizer, inibido em sua
finalidade, deve, quando dirigido para objetos, proporcionar ao ego a
satisfação de suas necessidades vitais e o controle sobre a natureza.
(FREUD. 1929-1930 p.125)

Freud parte do pressuposto de que o princípio de prazer rege a vida das


pessoas, porém o que o autor percebe é que existiam muitas situações
desfavoráveis para os sujeitos nas quais eles próprios se colocavam, então ele
entende que haveria algo para além disso que movimentaria o desejo e a
repetição. Compreende isto como a pulsão de morte e apreende nesta um
investimento libidinal do sujeito porque satisfaz suas questões narcísicas,
serve, portanto, ao seu eu. E é sobre esse mais além impossível de ser
alcançado e que sempre é buscado pelo sujeito que trataremos no capítulo
seguinte, disso que é quase indescritível e que põe o sujeito em movimento em
busca da satisfação de seu desejo.
24

2. SOB A PERSPECTIVA LACANIANA: O QUE SUSTENTA UMA


PRODUÇÃO SINTOMÁTICA?

No capítulo anterior ocupamo-nos das contribuições freudianas para dar


conta das questões referentes ao início das produções e conceituações sobre
os sintomas. Para isto foram trabalhados alguns dos conceitos fundamentais
da psicanálise que nos levaram a finalizar o primeiro capítulo com a ideia de
Freud de que no desdobramento dos sintomas deparamo-nos com a realização
de um desejo inconsciente, bem como que a produção sintomática seria
impulsionada pelas pulsões, que iniciam o percurso com a finalidade de
satisfazer-se. Em razão destas que o sujeito se colocaria em situações de
desprazer, em especial é à pulsão de morte que Freud atribui esta questão,
entendendo que a repetição sintomática estaria ligada à satisfação que estas
pulsões podem trazer para o sujeito pelo fato de serem investidas de libido
narcísica.

Neste capítulo, com a proposição de dar continuidade à pesquisa


tomaremos como norte as releituras de alguns autores contemporâneos da
obra de Jacques Lacan, assim como alguns textos do próprio, um pós-
freudiano que construiu sua teoria partindo da leitura da obra de Sigmund
Freud. Jacques Lacan “redefiniu, sob a perspectiva do estruturalismo e da
linguística, todas as categorias psicanalíticas conhecidas, ao mesmo tempo
que criou muitas outras.” (BLEICHMAR e BLEICHMAR, 1992 p. 138)

Com Freud fomos até as pulsões de morte, as quais ele situa em um


mais-além do princípio do prazer, que se faz indescritível na medida em que
nenhum sujeito possui acesso a essa satisfação completa. Mas é Lacan quem
se dedica a estudar essa temática e a desenvolver um conceito
importantíssimo que fundamentaria toda a parte até então inexplicável da
pesquisa freudiana. Trata-se do conceito de gozo. Porém antes de nos atermos
a este conceito é importante entendermos um pouco sobre o processo de
25

construção da teoria lacaniana, bem como qual a concepção de desejo que


tinha Lacan e como o autor trabalhava com esse conceito, para que assim
entremos nas outras teorizações a serem trabalhadas.

No entanto Lacan concebe sua teoria, entre outras, a partir da influência


da linguística de Saussure e da antropologia de Lévi-Strauss. Sob essas
concepções formula sua obra baseando-se no aforismo de que “o inconsciente
é estruturado como uma linguagem”, ou seja, que o inconsciente existe porque
há linguagem. Que o ser humano é inserido no campo da linguagem pelo
Outro6 e é através desse Outro, inicialmente encarnado pela função materna (o
Outro primordial), que ele se constitui enquanto sujeito7. Mais ainda, o indivíduo
só se constituiria enquanto sujeito na medida em que estivesse inserido no
campo da linguagem, submetido à lei. “Portanto, o homem nasce em um
universo que fala, em um universo de linguagem. O fato de ser nomeado o
introduz no sistema linguístico e este sistema o transforma em mais um
significante da cadeia. O sujeito é, segundo Lacan, um significante, para outros
sujeitos ou outros significantes.” (BLEICHMAR e BLEICHMAR, 1992 p. 148).
Com isso, Lacan distingue o sujeito da pessoa, o concebe como dividido pelo
significante.

O sujeito psicológico nasce ao ser incluído na ordem do significante e


na lei do pai, reconhecendo a castração. Mas, por este mesmo ato, seu
psiquismo é clivado, uma parte dele ser-lhe-á inteiramente
desconhecida: seu inconsciente. Então aparece uma alienação inicial.
Não é sujeito até que ingresse na ordem simbólica da linguagem, e
quando o faz, fica dividido, clivado pelo efeito da própria ordem
simbólica. O que, portanto, se impõe, é a castração; aliena-nos na
estrutura da linguagem, que não nos deixa resquícios para ser mais do
que sujeitos alienados na demanda. O Outro, ao ditar as leis da
linguagem, que nos estruturam, e das relações de parentesco que
estabelecemos, também dita as normas a que se subordinarão nossos

6
Conforme Elisabeth Roudinesco (1998) o Outro, é um termo utilizado por Jacques Lacan para
designar um lugar simbólico – o significante, a lei, a linguagem, o inconsciente, ou, ainda, Deus
– que determina o sujeito ora de maneira externa a ele, ora de maneira intra-subjetiva em sua
relação com o desejo. O Outro é, então, a lei, as normas, a estrutura da linguagem.
7
O sujeito trazido diversas vezes no texto, diz respeito ao sujeito da psicanálise, conceituado
por Lacan como sujeito de desejo, da falta, submetido às leis da linguagem que o constituem,
sujeito castrado. Para Roland Chemama (1995) o sujeito, em psicanálise, é o sujeito do desejo,
que S. Freud descobriu no inconsciente.
26

desejos e, consequentemente, nossas demandas.(BLEICHMAR e


BLEICHMAR, 1992 p. 156)

É a partir do Outro que insere o sujeito na estrutura da linguagem que


ele vai demandar, com isso é através da demanda desse Outro que o sujeito
vai responder com seu desejo e sua demanda. A castração se impõe na
medida em que acompanha a lei, tendo em vista que para que se entre na
linguagem e se constitua como sujeito desejante é necessário se submeter à lei
do pai, e reconhecer-se castrado, faltoso em relação ao desejo. Sobre essa
questão Lacan escreve:

O que se estrutura do sujeito passa sempre pela intermediação do


mecanismo que faz com que seu desejo já seja, como tal, moldado
pelas condições da demanda. Eis o que vai sendo inscrito, conforme a
história do sujeito, em sua estrutura: são as peripécias, os avatares da
constituição desse sujeito, na medida em que ele está submetido à lei
do desejo do Outro. É isso que faz do mais profundo desejo do sujeito,
daquele que permanece suspenso no inconsciente, a soma, a integral,
diríamos, desse D maiúsculo que é o desejo do Outro. (LACAN, 1957-
1958 p.282-83)

Desta forma, a maioria dos sujeitos se subjetivam, porém há os que não


ingressam no mundo da falta, não conhecem a lei paterna que traz consigo a
impossibilidade de satisfação com o que é o desejo da mãe, e dão entrada,
portanto, na estrutura das psicoses, onde se vive alienado ao desejo do Outro.
O sujeito não descola desse Outro que inicialmente se colocou.

A teoria de que o inconsciente se estrutura como linguagem é construída


sobre os processos metafóricos e metonímicos, onde os primeiros dizem
respeito à substituição de um significante por outro, mantendo uma relação de
similitude, já os segundos acontecem quando um significante é substituído por
outro que mantenha com o primeiro uma relação de contiguidade. Lacan
elabora sua teoria baseando-se nos conceitos da linguística, cujo objeto de
estudo é a língua em sua estrutura mais geral, resultado da influencia de
Saussure em sua obra. Sobre os processos metafóricos e metonímicos
27

dizemos que como resultado das substituições dos mesmos por outros
significantes, têm-se as manifestações do inconsciente, os atos falhos, os
chistes, os sonhos e os sintomas. Todas estas são formações do inconsciente
que vão remeter-nos diretamente ao ponto onde situa-se o desejo. Mas como
Lacan conceitua o desejo, qual sua concepção? Tendo em vista que Freud
descrevia o desejo como sendo sexual por definição.

O desejo na teoria lacaniana está submetido às leis da linguagem,


metáfora e metonímia, ele se aloja na metonímia da cadeia significante, daí
então a necessidade de o desejo ser interpretado para o sujeito, pois o mesmo
não pode reconhecê-lo. É preciso que este desejo seja decifrado devido ao fato
de que sua origem reside no inconsciente. Lacan escreve “(...) que o desejo
está instalado numa relação com a cadeia significante, que ele se instaura e se
propõe inicialmente na evolução do sujeito humano como demanda (...)” (1957-
1958 p.262) O objeto de desejo também se situa na metonímia da cadeia
significante, esse objeto é o falo8, aquilo que falta à mãe, e que o sujeito
inicialmente vai em busca com o propósito de satisfazer-se para se constituir
no objeto do desejo da mãe, pois nesse tempo o desejo é o desejo do Outro,
portanto é preciso saber o que ele deseja para que assim se possa desejar.
“Lacan pensa que uma das vertentes do desejo humano é que o sujeito
procura se constituir em objeto do desejo de seu semelhante, o outro, em
primeira instância, a mãe. Desejo de (a). Desejo como (a) e que (a) nos tome
como objeto de seu desejo. Ali estaria uma das bases do amor (e se isso não
ocorrer, do ódio).” (BLEICHMAR e BLEICHMAR 1992 p.157-58) O objeto (a) é
o objeto causa de desejo, também o objeto da pulsão, que pode ser qualquer
um. Este é o objeto perdido que por essa razão torna-se objeto de desejo.

8
O falo é a representação construída com base no órgão genital masculino, é o elemento no
qual se organiza a sexualidade humana. Freud utiliza o termo “pênis” para “designar a parte
ameaçada do corpo do menino e ausente do corpo da mulher.” (Nasio. 1997 p.33) Com isso,
foi Lacan quem alçou o termo “falo” à nível de conceito psicanalítico e designou “ o termo
“pênis” para denominar apenas o órgão anatômico masculino. ” (Nasio. 1997 p.33)
28

Lacan coloca, portanto, duas vertentes do desejo humano, uma já


citada acima é em relação ao desejo do outro, enquanto semelhante, essa é
uma concepção apoiada na “Dialética do senhor e do escravo” de Hegel, onde
um não se sustenta sem o outro, vai ser sempre definido pela relação. A
seguinte seria em relação ao grande Outro, lugar da linguagem e do
significante que constituem o sujeito, pois é pelo Outro que o sujeito vê as
possibilidades de desejar. “É o Outro quem dá, desde o início, as palavras para
desejar.(...) O Outro indica o que desejar. Sua mensagem aparece no sujeito
de maneira invertida quando é expressa como desejo próprio.” (BLEICHMAR e
BLEICHMAR, 1992 p. 158)

A mãe, quem geralmente encarna esse lugar, nomeia e inscreve as


manifestações do seu bebê no universo da linguagem. Dando-lhes sentido e
demandando-lhe o que desejar a mãe vai ocupando esse lugar de grande
Outro que mais tarde necessita deslizar, não se apoiando permanentemente na
figura materna. Para Lacan “O que se produz da relação com o objeto mais
primordial, o objeto materno, efetua-se desde logo com base em signos, com
base no que poderíamos chamar, para dar uma imagem do que queremos
dizer, de moeda do desejo do Outro.” (1957-1958 p. 263) Sendo assim, o
desejo é o desejo do Outro na medida em que o sujeito se apoia nisto para
desejar, a relação vai se dar com o que é o desejo do Outro, qual é o objeto de
desejo do Outro.

Há um duplo desejo de reconhecimento: pelo outro e pelo Outro.


Porém, assim como estrutura o sujeito, a linguagem confere ao desejo uma das
características essenciais: o efeito de deslocamento metonímico de um objeto
para outro. (...) A linguagem transcorre neste contínuo deslocamento. O
inconsciente, ao acompanhar a estrutura da linguagem, repete este fenômeno.
Isto leva a um deslocamento interminável do objeto de desejo. (BLEICHMAR e
BLEICHMAR, 1992 p. 158)

Sendo assim, compreende-se o desejo como em constante renovação


em relação ao objeto. E é pela via das pulsões que o sujeito deseja e busca
satisfazer-se. Qualquer um pode ser o objeto da pulsão, desde que possibilite a
29

satisfação. O objeto muda na medida em que o desejo se renova, e vai em


busca do gozo até então não alcançado. Através das pulsões que o sujeito
busca o gozo pleno, tanto interminável é esta busca quanto inalcançável é este
gozo pleno. Ou seja, o sujeito sempre vai permanecer na falta, esta
incompletude é constituinte e necessária para que se continue desejando.

“O desejo é causa, instiga a procurar objeto, o que corresponde a uma


definição clássica da pulsão: a pulsão é buscadora de objeto, mas não há a
possibilidade de encontrar o objeto que venha satisfazê-la.” (GERBASE. 2007,
p. 75) O desejo é o motor do psiquismo, ele que se faz presente como
consequência da falta é o que viabiliza a existência de um sujeito, sendo este o
sujeito do inconsciente, do desejo e da falta.

Ainda sobre o objeto de desejo Julieta Jerusalinsky traz importantes


contribuições quando escreve que:

Como vemos, em relação ao encontro do sujeito com o


objeto da satisfação, sempre é cedo ou tarde demais. O sujeito
sempre fica situado num destempo de desencontro com o
objeto pela temporalidade do funcionamento desejante. Esta
questão não se ordena ou se resolve por efeito da cronologia,
pois, por mais que o tempo passe, o encontro com o objeto não
se produz. Justamente porque trata-se aí de um destempo que
é estruturante do desejo. É no destempo que o sujeito do
desejo produz sua enunciação, entre o que imagina ter sido
desde sempre num passado já inscrito e a projeção de um
futuro que não terá sido senão enquanto anterior. (2002 p.81)

O que é possível ressignificar com a passagem de Julieta Jerusalinsky é


justamente que a falta é estruturante, sendo também estrutural. Pois esse
‘destempo’ faz parte da dinâmica do desejo, na medida em que o sujeito nunca
vai encontrar o objeto que irá satisfazê-lo. Esta é uma questão estrutural na
qual se enreda o desejo.
30

Em ‘A psicanálise depois de Freud. Teoria e clínica’ os autores trazem


importantes contribuições para fundamentar o que foi trabalhado até o
momento:

Assim, desejamos porque falamos. A linguagem é a estrutura que nos


torna desejantes e, ao mesmo tempo, o modelo de desejo. Lacan usa
ambos os critérios, simultaneamente. O desejo fica, ao mesmo tempo,
inscrito e oculto na demanda. Está antes dela. Na realidade, o que se
demanda é ser amado, como sucede na análise, tanto no paciente
como no analista. O Outro regula esta relação, assim como todas as
relações. Porque há linguagem, expressa-se a demanda de amor onde
está o desejo de reconhecimento. Este por efeito de ordem significante,
nunca pode ser preenchido. Aparece sempre de outra forma. Assim
como o dicionário explica um termo com outro e este remete, por sua
vez, a um terceiro, um significante só encontra seu sentido na cadeia
de significantes. (BLEICHMAR e BLEICHMAR , 1992 p. 158-59)

Contudo, assim se organiza a teoria lacaniana do desejo, baseada nas


percepções freudianas, mas também com peculiaridades bastante singulares
de Jacques Lacan. Seguindo a proposição de trabalho, e entendendo o quão
imprescindível se faz o estudo desta temática, é momento de ater-se a abordar
o conceito de gozo formulado por Lacan e também por ele entendido como
uma das mais importantes contribuições ao freudismo. Inaugura-se a partir
dessa construção uma gama de possibilidades para se discutir a constituição
psíquica do sujeito, bem como de que forma este se organiza enquanto sujeito
inserido no campo da linguagem.

Sigmund Freud referiu-se ao termo gozo poucas vezes e diferentemente


da forma e da importância que Lacan o atribuiu, pois Freud usava o termo no
vocabulário corrente, como “sinônimo de prazer intenso ou volúpia” (VALAS,
2001 p.28). Já Lacan “o importa do discurso jurídico, cuja própria essência é
distribuir, repartir e retribuir o gozo” (VALAS, 2001 p.28). Tratar do conceito de
gozo é essencial para entrarmos na problemática dos sintomas, pois desta
forma se faz plausível pensar algumas hipóteses para o trabalho clínico. O que
se apresenta inicialmente na clínica são queixas em relação ao sintoma vivido
pelo sujeito, e o que se espera em relação ao tratamento é que o sujeito possa
31

se identificar ao seu ‘sinthoma’, se implicar em suas questões e naquilo que ele


se queixa.

Então, Lacan vai conceituar o gozo a partir do seminário ‘A ética da


psicanálise’, de 1960. Neste, sua hipótese inicial era a de que a captura do
gozo se dá pelo significante. E para ilustrar sua conjectura ele cria um objeto
em forma de anel para demonstrar a dialética presença-ausência sem fim do
significante. Com isso situa sobre o corpo do anel o sistema das
representações simbólicas e imaginárias (S,I) do sujeito, colocando no espaço
central, a Coisa (das Ding), cuja referencia é o gozo, que fica situado assim no
próprio centro das representações do sujeito. Sendo assim, “o gozo é ao
mesmo tempo o que é o mais estranho e o mais íntimo ao sujeito, mas estando
fora do significante, isto é, no real.” (VALAS, 2001, p.28) Isto se coloca pelo
fato de, na ilustração feita por Lacan, o interior do anel se comunicar com o
exterior, mantendo assim essa relação contínua.

das Ding ( real)

J(A)

S + I ; (A)

Há a estrutura da Coisa, que coloca o gozo como centro das


representações, justamente porque a estrutura é “não-toda-significante”,
portanto isso é o que permite manter gozo e significante em uma relação de
inclusão e exclusão. É importante lembrar que inicialmente Lacan pensava a
estrutura como “toda-significante”, para ele tudo era significante, mas
abandona essa hipótese em função do gozo, que, então, ocupa lugar central.
32

As relações do sujeito com o gozo, apresentadas pelo anel, colocam


uma oposição polar, pois de um lado tem-se o gozo do lado da Coisa, e de
outro o desejo que é para o sujeito o desejo do Outro, ‘lugar do significante,
onde o desejo se articula com a lei’ (VALAS, 2001, p.29). Esta separação
radical entre gozo na Coisa e desejo do Outro é o que viabiliza a subjetivação,
ou seja, para que o corpo (carne) possa se subjetivar é preciso consentir com a
perda do gozo, para então existir na palavra como desejante. Neste ponto que
situa-se o sujeito da Lei, dividido, que não fica preso ao gozo da Coisa, que se
coloca no Real.

Têm-se, ainda, a proposição de um gozo originário, que teria deixado


uma marca para que o sujeito continuasse na busca por esse gozo, porém ele
existiria no só-depois da incidência da linguagem, pois o significante ocupa o
primeiro lugar inaugurando a cadeia de significantes. Com isso o gozo só
haveria “na medida em que o significante lhe dá consistência” (VALAS, 2001,
p.29). Então, o objeto primordial foi perdido desde sempre e para sempre, pois
o significante dá essa significação a própria perda gerada por ele, pelo fato de
inaugurar a cadeia. O objeto primordial, portanto, constitui-se como uma falta
estrutural, sendo o que permite ao sujeito desejar e continuar desejando.

Antes, é porque o objeto encontrado toma o lugar dessa falta, sem


trazer ao sujeito a satisfação ideal, que a nostalgia do objeto perdido na
origem se gera para ele. (...) a Coisa (das Ding) vem em lugar do
objeto primeiro perdido de sempre, que o sujeito, na sua busca
desejante procura encontrar, a partir de coordenadas de prazer ou de
desprazer, registradas no inconsciente sob a forma dos traços
mnêmicos que Lacan traduz em termos de significante. (VALAS, 2001,
p.29-30).

Com isso o sujeito vai sempre apresentar objetos substitutivos para dar
conta desse vazio que se coloca em decorrência de tal falta instaurada pelo
objeto primordial perdido, que só deixa a marca enquanto faltoso porque antes
dele houve a incidência do significante. Contudo, a Coisa (das Ding) que é
33

inacessível, é lugar de vazio, vazio estrutural, e se faz desta forma para que o
sujeito possa desejar, para dar lugar à falta. O acesso à Coisa é barrado pelo
significante, que dá sustentação à Lei, tendo em vista que a Coisa
primeiramente é tida como o Outro pré-histórico, lugar ocupado inicialmente
pela mãe, por esta ser quem realiza a sua função. “Assim, o sujeito do
inconsciente está condenado a ir atrás de seu desejo, mas a cada passo que
ele dá o desejo se desloca. Por isso dizemos que o desejo é metonímico,
desliza incessantemente. Não ceder de seu desejo, então, quer dizer, não
ceder da procura do objeto que possa satisfazê-lo [...]” (GERBASE. 2007, p.
75)

O gozo se coloca no campo central da Coisa, sendo o seu acesso


impossível para o sujeito, devido à barreira feita pelos significantes que dão
suporte à Lei. O gozo pertence a outro registro, diferentemente do prazer, pois
está para além deste. Ele se compõe como um mal para o sujeito, porque está
no princípio de sua abolição. Para se ter acesso ao gozo, para chegar até ele,
seria necessário o sujeito transgredir, pois o desejo é correspondente à Lei.
Contudo essa transgressão se faz impossível para o sujeito, na medida em que
o mesmo não possui condições nem biológicas, enquanto corpo, nem
estruturais, enquanto psíquicas, para dar conta desse gozo que viria de forma
excessiva. O gozo fica, portanto, como proibido. Pelo fato de que seu excesso
causaria a abolição do sujeito, sendo assim o gozo só pode ser sentido no
corpo, pois não há sujeito do gozo da mesma forma em que há sujeito do
inconsciente. Não há, porém, como o sujeito gozar sem que seja pela via
corporal, caso contrário não existiria sujeito.

Far-se-á uso mais uma vez de uma passagem de Valas para


fundamentar essa proposição acerca do gozo: “Definitivamente, só a pulsão
permite ao sujeito chegar à satisfação, sem romper o funcionamento do
aparelho psíquico. Assim, é seguindo os trilhos da Lei, e não transgredindo-a,
que o sujeito pode chegar a um gozo satisfatório e não nocivo.” (VALAS 2001,
p.35) Este gozo, referido como sendo possível apenas pela via corporal, e que
34

Valas coloca como viabilizado pelas pulsões, é o que podemos presumir como
existente nos sintomas. Ou seja, presente na produção sintomática dos
sujeitos, na repetição da mesma, que configura a busca interminável pela via
pulsional de um objeto, do gozar deste objeto. Pelos sintomas, manifestações
do inconsciente que possibilitam o aparecimento do desejo, o sujeito goza, e
isto se faz visível pela repetição que se coloca.

Retomemos aqui o que foi tratado no final do primeiro capitulo para que
assim seja possível fazer o enlace teórico necessário para dar continuidade à
linha de pensamento acerca dos sintomas. Para Freud a ‘compulsão à
repetição’ seria regida pela pulsão de morte, na busca de um mais além para o
prazer que para ele se fez inexplicável até este momento. E é esta a grande
contribuição que traz Lacan sobre esta questão não esclarecida para Freud,
pois conceituando o gozo, teorização à qual Lacan gostaria que fosse chamada
de campo lacaniano, o mesmo coloca o gozo como núcleo dos sintomas, como
um núcleo real de gozo impossível de ser alcançado. Os sintomas seriam
manifestações do inconsciente, que aparecem para dar conta de um desejo
que não tem espaço para se manifestar de outra forma. Trata-se de um desejo
inconsciente do sujeito, com os sintomas o sujeito goza, e por isso repete-o,
busca alcançar esse gozo impossível pela repetição, gozo que segundo Lacan
só acontece via corporal. “Para todo o sempre, o desejo humano continuará
irredutível a qualquer redução e adaptação. Nenhuma experiência analítica irá
contra isso. O sujeito não satisfaz simplesmente um desejo, mas goza por
desejar, e essa é uma dimensão essencial de seu gozo.” (LACAN, 1957-1958
p.325)

Castilho trabalha de forma muito esclarecedora com a questão dos


sintomas, segundo ela:

O sintoma é um fenômeno subjetivo, expressão de um conflito


inconsciente. O sintoma é uma metáfora de um desejo inconsciente
que foi recalcado, e é uma forma disfarçada do sujeito gozar sem que
35

sua consciência moral saiba disso. Ele é a expressão de uma demanda


de gozo dirigida a um Outro da fantasia inconsciente. Neste sentido, o
sintoma vem representar para o sujeito uma dimensão de seu desejo
que lhe escapa. (2010 p. 44)

Freud falava sobre realização de desejo tanto nos sonhos quanto nos
sintomas, falava também em satisfação, Lacan acrescenta: satisfação às
avessas. Tendo em vista o sofrimento que causa para o sujeito manter sua
produção sintomática, paga-se o preço pelo gozo, e não é pouca coisa. O
sujeito ‘ama seu sintoma mais do que a si mesmo’. E esta é uma situação
visível na clínica. O trabalho que o sujeito tem para manter seu sintoma, sem
ter que se haver com ele é imenso. E é o caminho que a clínica psicanalítica
pretende modificar, pois a proposição é que o sujeito se identifique ao seu
sintoma, que sustente seu desejo. “O que se pode esperar de uma análise não
é que o sujeito se liberte de seus sintomas, mas que saiba de que forma está
implicado neles para se haver com seu ‘sinthoma’.” (CASTILHO, 2010 p. 44)
Agora, não pensemos que este é um caminho fácil para os psicólogos, pois
Lacan já alertava sobre o ‘elemento de máscara do sintoma’. “A ideia de
máscara significa que o desejo se apresenta sob uma forma ambígua, que
justamente não nos permite orientar o sujeito em relação a esse ou aquele
objeto da situação. Há um interesse do sujeito na situação como tal, isto é, na
relação desejante. É precisamente isso que é exprimido pelo sintoma que
aparece, e é isso que chamo de elemento de máscara do sintoma.” (LACAN,
1957-1958 p. 337)

O interesse do sujeito é continuar gozando com seu sintoma, mesmo


que isto lhe traga muito sofrimento conscientemente, e é geralmente pela
queixa desse sofrimento que ele busca o tratamento terapêutico ou analítico,
enfim, é para livrar-se dessa dor que o sujeito procura o clínico psicólogo. Ele
pensa que o mesmo sabe sobre a causa de seu sofrimento, fato que o próprio
desconhece. O sintoma tem sempre um endereçamento, uma solicitação por
sua interpretação direcionada a quem escuta.
36

No tratamento o sintoma é endereçado ao psicólogo ou analista para


que se revele o sentido oculto, o que significa a presença da transferência, ou
seja, a suposição de um sujeito que saiba sua significação. O sintoma, aqui, já
é formado com um apelo a sua interpretação, uma vez que é dirigido ao Outro
(analista) que supostamente detém seu sentido. (CASTILHO, 2010 p. 44)

Normalmente um sujeito procura tratamento para aliviar-se de um


sintoma que está lhe fazendo sofrer, chega ao consultório extremamente
queixoso e pouco implicado no que diz respeito a sua queixa, neste ponto é
pertinente tratar sobre este tipo de sintoma que se apresenta. Fala-se aqui do
sintoma clínico, o qual Lacan vai chamar de Symptôme, e que podemos
escutar nas queixas e lamentações trazidas para tratamento. O sintoma clínico
é o que coloca o sujeito em busca de um alívio para seu sofrimento, é o que lhe
encaminha para análise ou terapia, ele vem acompanhado de um pedido de
tratamento, justamente de um pedido de alívio dessa dor, que no
desdobramento da escuta vamos transformando em demanda de tratamento.
Alfredo Jerusalinsky (1997) confere um “caráter provisório” aos sintomas
clínicos, mesmo vendo também a “possibilidade de cronificação” destes. Estas
questões são bastante presentes na clínica psicanalítica, pois assim como um
sintoma pode fazer parte da vida de um sujeito apenas por algum tempo,
dissolvendo-se durante o tratamento, temos também sujeitos que chegam à
clínica com sintomas cronificados, que foram se cristalizando ao passar do
tempo. O sintoma clínico pode se apresentar da mesma forma em diferentes
estruturas psíquicas, ou seja, neurose obsessiva e neurose histérica podem
manifestar um mesmo sintoma clínico.

Por outro lado tem-se o sintoma de estrutura, Sinthome como trata


Lacan, que é o que organiza o sujeito, lhe cedendo um lugar. O sintoma de
estrutura diz da posição subjetiva do sujeito, do lugar de onde ele fala, de seu
lugar de enunciação, de endereçamento ao Outro, e é deste lugar e à isso que
o percurso de análise procura fazê-lo se identificar. A identificação com seu
‘Sinthoma’, com o que lhe é próprio, com o que diz respeito à sua subjetivação.
O sintoma de estrutura é o que mostra e diz da posição subjetiva do sujeito, é a
partir da escuta desse sintoma que se faz possível pensar um diagnóstico em
37

nível de estrutura psíquica. Sobre os sintomas de estrutura, Jerusalinsky


escreve que os mesmos constituem “uma posição necessária para o sujeito em
questão” (1997 p.8), compreende-se isso na medida em que articulamos a
importância de um sintoma inicial para que a criança passe a constituir-se
como sujeito, a tecer a sua história a partir dos significantes emprestados pelos
pais ou quem faz sua função. É através do Outro, lugar inicialmente encarnado
pela função materna, que o sujeito vê as possibilidades de subjetivação. Com
isso, o trabalho do psicólogo começa no momento de escutar essa queixa e
identificar o tempo de estabelecimento da demanda de tratamento, sempre
norteando sua escuta pela posição subjetiva em que esse sujeito se endereça,
pelos significantes que se repetem, por onde surge o desejo. Ou seja, escutar
sempre levando em conta o sujeito do inconsciente, com o qual a psicanálise
se propõe a trabalhar.

Portanto, tem-se a concepção de sintomas partindo dos estudos e


teorizações de S. Freud e chegando a Jacques Lacan, que modifica e
ressignifica alguns pontos da teoria. A pretensão da psicanálise, seja com
Freud ou Lacan, é sempre levar em conta o sujeito do inconsciente, escutar
seu desejo, “[...] o analista surge unicamente como o lugar da fala, um ouvido
que escuta e não responde” (LACAN. 1957-1958 p.489). É essa mesma
perspectiva que embasa o trabalho com os sintomas na clínica, direcionando a
atenção para escutar o que diz respeito ao desejo do paciente, sem se
apressar ou se preocupar em responder à demanda, em formular diagnósticos
precoces e rotulantes, pois o papel do psicólogo ou analista não é esse. E sim
o de viabilizar um lugar de fala dando espaço para que as questões de seu
paciente venham á tona, para que o sujeito do inconsciente possa advir,
suportando os impasses de um tratamento pela sustentação da transferência.

Por fim, faz-se uso de uma passagem lacaniana com o proposito de que
o trabalho não se feche, mas pelo contrário, que possa fazer pensar e provocar
novos questionamentos:
38

O desejo articula-se necessariamente na demanda, porque só


podemos aproximar-nos dele por intermédio de alguma demanda. A
partir do momento em que o paciente nos aborda e vem a nosso
consultório, é para nos pedir alguma coisa, e já vamos muito longe no
compromisso e no rigor da situação quando lhe dizemos,
simplesmente: - Estou à sua escuta. (Lacan, 1957-1958 p.341)
39

CONCLUSÃO

A proposta inicial para esta pesquisa era trabalhar com os sintomas


psíquicos como viabilizadores de gozo para o sujeito, entendendo que um
sujeito constrói um sintoma em cima de um desejo inconsciente, que o próprio
sintoma é uma metáfora de um desejo inconsciente. No decorrer do trabalho
fomos vendo a necessidade de fazer uma retomada histórica da obra de Freud
no que se refere aos sintomas. Neste percurso foi possível identificar a beleza
da construção freudiana da psicanálise, acompanhando a cada texto as
descobertas que Freud vai fazendo, bem como as hipóteses que vai
abandonando por encontrar explicações mais cabíveis para determinada
questão.

Nesse sentido a ideia era de estudar a formação dos sintomas psíquicos


para poder fundamentar a hipótese de que um sujeito se coloca e permanece
em uma condição de sofrimento. Ou seja, em uma produção a qual chamamos
de sintomática, pelo fato de tirar algum proveito desta, por haver um gozo
inconsciente contido nesta produção. E é para fundamentar essa questão que
percorremos desde o início da psicanálise com Freud até as importantes
teorizações de Lacan, que em sua releitura freudiana elabora o conceito de
gozo para explicar muitas das manifestações dos seres humanos,
acrescentando muito à teoria e tirando o gozo do campo da satisfação, onde
Freud relacionava-o quando queria falar de um prazer extremo. Contudo
entendemos o gozo em um outro registro, diferente da satisfação, ele está para
além dela, provocando um misto de prazer e sofrimento, e é justamente a isto
que corresponde o sintoma.

Durante a pesquisa foi sendo plausível formular algumas conclusões,


assim como articular mais questões ao assunto. Entre estas, a formação
sintomática não fica apenas sendo vista como algo que proporcione uma
satisfação inconsciente para o sujeito, como inicialmente colocou Freud. Vai
40

além desta, a produção sintomática é produto da metáfora de um desejo


inconsciente do sujeito que a produz, desejo esse que transita, desliza em
consequência dos significantes que vão se articulando na vida deste sujeito.
Resultado de uma estruturação onde o sujeito fica inserido no campo da
linguagem. Assim, atribui-se ao sujeito a responsabilidade por sua condição,
por aquilo que lhe acomete, entendendo que os sintomas são condições que o
próprio sujeito cria e articula inconscientemente para gozar. Para poder dar
conta do seu desejo, desejo que se movimenta, transita, impera, na medida em
que se faz mostrar de alguma forma, mesmo que haja a tentativa de barrá-lo.
Todavia o que se apresenta é um sujeito faltoso pela própria condição
estrutural, que enreda e articula em seus sintomas suas formas de gozar, estas
se configuram pela parcialidade inerente, da mesma forma que buscam
incessantemente o gozo pleno e inalcançável.

O que acompanha o sujeito que busca tratamento é uma lamentação a


respeito do sintoma em que ele se encontra e do qual desconhece a razão. Ele
busca tratamento com o intuito de que o psicólogo decifre seu sintoma, diga-lhe
o porquê do sofrimento que lhe acomete. O sujeito vai em busca desse saber
sobre o sintoma que ele próprio articulou, porém necessita que o Outro faça-se
suporte de seu traço para que ele possa o reconhecer. Cabe pensarmos na
questão da identificação com o sintoma como uma forma de movimento
subjetivo, de lidar com isso que se queixa de um outro lugar. Quando tratamos
de identificação ao sintoma, entramos na diferenciação já feita no texto entre
sintoma clínico e sintoma de estrutura. Com isso o caminho de um tratamento
vai na direção de o sujeito conseguir fazer um giro na sua posição subjetiva,
abandonando a posição queixosa em relação ao seu sintoma, e passando a se
identificar com seu ‘sinthoma’, este que é da sua condição subjetiva, no qual
ele se estruturou e do lugar de onde se endereça ao Outro.

O que me suscita nessa dinâmica de identificação ao ‘sinthoma’ é a


possibilidade de o sujeito sustentar o seu desejo a partir de um outro lugar,
como se uma nova posição subjetiva fosse inaugurada neste momento, para
41

que assim o sujeito possa fazer uso dela se endereçando desde este novo
espaço, se responsabilizando a partir daí com o que é do seu desejo.

Com a diferenciação das duas noções de sintoma ressignifica-se a


importância de um sintoma inicial na vida de um sujeito. A partir desta
teorização entende-se o quanto o sintoma é fundamental para a estruturação
psíquica de um sujeito, não reduzindo os sintomas ao senso comum, pois o
clínico precisa ter este discernimento em relação ao caso que se apresenta. Ao
contrário, o caminho do tratamento fica comprometido.

Castilho (2010) descreve esse percurso de tratamento a respeito dos


sintomas dizendo que: “Durante o tratamento o paciente decifra os sentidos
dos seus sintomas, pode fazer a travessia de sua fantasia, desfazendo as
identificações imaginárias que o alienam permitindo a emergência de seu
próprio desejo, e se espera que a partir deste processo o sujeito possa lidar
com sua vida desde outra posição subjetiva, diferente daquela que ocupava no
inicio de seu tratamento.”. Portanto, este é o movimento que se espera de um
tratamento clínico: que possa haver espaço de fala para que o sujeito construa
seu percurso mediante suas condições subjetivas.

Pensemos no trabalho que há para manter um sintoma, em todo o


esforço psíquico que é necessário para que se produza este, que surge como
um efeito do recalcado. Tamanho é o desejo do sujeito que movimenta a
atividade pulsional e compõe todo o enredo de uma produção sintomática.
Freud entendia que consciente e inconsciente trabalham para manter um
sintoma, cada um tirando seu proveito da situação. A questão é: o que se
recalca a ponto de formar um sintoma? Qual seria o significante primeiro que
deu origem ao processo metafórico formador do sintoma? Tendo em vista que
os processos metafóricos e metonímicos dão conta das traduções significantes
do desejo. É difícil precisar estas questões sem antes fazer a escuta de um
caso clínico, e percorrer o caminho que a psicanálise se propõe no tratamento
42

de sujeitos que chegam acometidos de sofrimentos derivados de seus


sintomas e que precisam, na verdade, elaborar condições para se haver e se
identificar com seu ‘sinthoma’. O caminho de análise não é curto e nem traz
garantias inicias, ele pede que o sujeito invista de seu desejo, que se implique,
que queria, justamente, se haver com seu ‘sinthoma’. A psicanálise traz em seu
propósito uma escuta livre de quaisquer que sejam as imposições da moral,
dando espaço para que o sujeito fale livremente sobre seus desejos, com a
possibilidade de ouvir alguns ecos de seu discurso. Sobre essa dinâmica de
trabalho é que vejo a viabilização de um tratamento que abra caminho para que
um sujeito possa advir com seu desejo. Acredito que a psicanálise oferece a
um sujeito, acima de tudo, a possibilidade de questionar-se, fato que em
tempos de alienação só adquire ainda maior valor.
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