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IJUÍ
2011
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Ijuí
2011
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Curso de Psicologia
Banca Examinadora:
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RESUMO
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................07
CONCLUSÃO........................................................................39
INTRODUÇÃO
como uma via de gozo que faz o sujeito cair em repetição é no mínimo
instigante para mim. Poder pensar quais as questões da ordem do desejo
desse sujeito se colocam a ponto de ele produzir tal formação inconsciente. E
mais, quanto custa para o sujeito manter esse sintoma? Afinal, isto não é sem
efeitos.
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temática antes da descoberta citada anteriormente por Freud, bem como qual
foi a forma de abordagem usada por eles nesse momento.
sentido, que ilustra com perfeição o quanto a sua obra foi uma construção
minuciosa de conceitos e reparos para se chegar ao que temos hoje.
Segundo Freud:
Foi com o uso do método da associação livre que Freud deu início ao
tratamento de um caso de histeria em uma paciente, à qual ele iria chamar de
Dora, que lhe possibilitou a compreensão do sentido dos sintomas neuróticos a
partir do relato de dois de seus sonhos. O que Freud percebe ao escutar Dora
é que a mesma faz o relato de seus sonhos no momento em que não consegue
dar conta de lembranças para explicar determinadas situações. Freud começa
a pensar que alguma outra coisa poderia estar se colocando ali onde nas
lacunas da memória aparece o relato do sonho. E passa a investigar essa
questão construindo uma obra de extremo valor sobre a interpretação dos
sonhos, quando passa a entender a origem, bem como o sentido dos sintomas
neuróticos. Portanto, é a partir da compreensão do significado dos sonhos na
vida do sujeito que o autor consegue fazer uma relação para entender o
verdadeiro significado do aparecimento dos sintomas na vida de seus
pacientes.
Para que fique clara a referência que Freud faz às fantasias de conteúdo
sexual presente no significado dos sintomas, é importante salientar o que o
autor entende por sexualidade, pois em sua obra ele não reduz o termo ao
genital, pelo contrário, constrói uma ampla teoria acerca dessa questão
trazendo importantes contribuições sobre a constituição do psiquismo. Freud
descobre tratando seus pacientes adultos que existe sexualidade infantil devido
à disposição perverso-polimorfa da criança à sexualidade, mas que por conta
do que ele vai chamar de “amnésia infantil” essas vivências não são
lembradas. Sobretudo é através dessa “pré-história” que o adulto constrói e
organiza sua sexualidade, bem como sua vida sexual.
Para dar conta dessas verdades ele aponta para uma nova teoria,
substitui a Teoria da Sedução pela da fantasia, elabora então uma concepção
de que o sujeito possui uma realidade singular em seu psiquismo que é guiada
pelos seus desejos e fantasias. Que esta seria a verdade do sujeito, dando
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É um processo psíquico inconsciente, teorizado por Freud sobretudo no contexto da análise
do sonho. Roudinesco (1998) escreve que o deslocamento acontece por meio de um
deslizamento associativo, que transforma elementos primordiais de um conteúdo latente em
detalhes secundários de um conteúdo manifesto.
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A partir dessa questão o autor faz uma relação entre repetição e o que
ele vai chamar de ‘instinto’ 4 que impulsionaria tal compulsão, ele os denomina
‘instintos de vida’ que seriam os sexuais ou de autoconservação e os ‘instintos
de morte’ os quais colocam o sujeito em situações de desprazer. Então temos
os instintos como impulsionadores de uma repetição que pode ser prazerosa
ou desprazerosa. Mas afinal, que conteúdo compõe essa repetição? Segundo
Freud (1920), “a compulsão à repetição deve ser atribuída ao reprimido
inconsciente.” Com isso o conteúdo que sofreu recalque tende a retornar sob
forma de repetição, e nesse ponto é pertinente fazer alusão aos sintomas, pois
a repetição é componente importante na produção sintomática, fato que só
reforça nossas apostas acerca da satisfação presente nessa criação.
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É importante acrescentar que o termo ‘instinto’ é mantido durante o texto devido à tradução inglesa da
obra de Sigmund Freud à qual faço uso para fundamentar meu trabalho, e que usa deste termo para se
referir às pulsões. Portanto, pela necessidade de ser fiel nas citações mencionadas é preciso manter o
termo ‘instinto’ como se o próprio Freud o tivesse usado, na medida em que é claramente compreendido
que Freud preferia o termo ‘pulsão’ para designar esta atividade psíquica. (Ver próxima nota de rodapé
onde se esclarece o conceito de pulsão)
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então retorna pela repetição. O sujeito pela via das pulsões5 está sempre na
tentativa de reviver as experiências de satisfação primárias. Prazer que ele
experimentou em um determinado momento da vida e do qual busca realizar-
se novamente. Essa busca se apresenta de várias formas possíveis em sua
vida, e está sempre implicada ali onde surge o que é de seu desejo.
Outra obra que nos traz contribuições acerca dos sintomas e dos
caminhos diretos e indiretos para sua formação é ‘Inibições, Sintomas e
Ansiedade’, de (1926[1925]), onde Sigmund Freud passou a se ocupar da
relação da angústia com o recalque e a produção de sintomas apresentados
pelos sujeitos. Neste ele faz todo um percurso até chegar a uma conclusão em
relação à origem da angústia, inicia pensando o posicionamento do eu, pois
este efetua o recalque do conteúdo que não lhe é favorável ou prazeroso, mas
neste conteúdo existia um desejo, que teve então de ser recalcado. Porém a
estória não se resume a isso, pois pela via das pulsões esse desejo vai buscar
satisfação a partir de uma produção sintomática, que se apresenta como uma
satisfação substitutiva, tendo em vista que surge na consciência como um
sofrimento para o sujeito, ou seja, se apresenta de outra forma a nível
consciente devido à força do eu que mantem seu conteúdo original recalcado.
Esse desprazer, essa angústia sentida pelo eu devido ao aparecimento do
sintoma vai desencadear uma defesa por parte deste, tendo como
consequência da última o recalque e assim a produção sintomática. Contudo
temos aqui um processo que circula e se completa, estando a angústia na
origem do conflito e sendo o que viabiliza toda a movimentação restante no
aparelho psíquico acerca dessa questão.
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Pulsão foi um conceito empregado por Sigmund Freud a partir de 1905, para definir
uma carga energética que se encontra na origem da atividade motora do organismo e do
funcionamento psíquico inconsciente do homem (Elizabeth Roudinesco-1998). A atividade
pulsional é o que leva o sujeito em busca do objeto de desejo, que pode ser qualquer um, ou
seja, não há um único objeto da pulsão, este está em constante renovação na medida em que
a satisfação obtida quando no encontro com o objeto é sempre parcial. Então, vai-se em busca
de um novo objeto para se obter satisfação, esta é a finalidade das pulsões. Houve uma
preocupação do próprio Freud em não confundir o termo Trieb traduzido como pulsão, com
Instinkt, que fica reservado para caracterizar comportamentos animais. A preocupação de
Freud era de marcar a especificidade do psiquismo humano com esse conceito.
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Conforme Elisabeth Roudinesco (1998) o Outro, é um termo utilizado por Jacques Lacan para
designar um lugar simbólico – o significante, a lei, a linguagem, o inconsciente, ou, ainda, Deus
– que determina o sujeito ora de maneira externa a ele, ora de maneira intra-subjetiva em sua
relação com o desejo. O Outro é, então, a lei, as normas, a estrutura da linguagem.
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O sujeito trazido diversas vezes no texto, diz respeito ao sujeito da psicanálise, conceituado
por Lacan como sujeito de desejo, da falta, submetido às leis da linguagem que o constituem,
sujeito castrado. Para Roland Chemama (1995) o sujeito, em psicanálise, é o sujeito do desejo,
que S. Freud descobriu no inconsciente.
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dizemos que como resultado das substituições dos mesmos por outros
significantes, têm-se as manifestações do inconsciente, os atos falhos, os
chistes, os sonhos e os sintomas. Todas estas são formações do inconsciente
que vão remeter-nos diretamente ao ponto onde situa-se o desejo. Mas como
Lacan conceitua o desejo, qual sua concepção? Tendo em vista que Freud
descrevia o desejo como sendo sexual por definição.
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O falo é a representação construída com base no órgão genital masculino, é o elemento no
qual se organiza a sexualidade humana. Freud utiliza o termo “pênis” para “designar a parte
ameaçada do corpo do menino e ausente do corpo da mulher.” (Nasio. 1997 p.33) Com isso,
foi Lacan quem alçou o termo “falo” à nível de conceito psicanalítico e designou “ o termo
“pênis” para denominar apenas o órgão anatômico masculino. ” (Nasio. 1997 p.33)
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J(A)
S + I ; (A)
Com isso o sujeito vai sempre apresentar objetos substitutivos para dar
conta desse vazio que se coloca em decorrência de tal falta instaurada pelo
objeto primordial perdido, que só deixa a marca enquanto faltoso porque antes
dele houve a incidência do significante. Contudo, a Coisa (das Ding) que é
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inacessível, é lugar de vazio, vazio estrutural, e se faz desta forma para que o
sujeito possa desejar, para dar lugar à falta. O acesso à Coisa é barrado pelo
significante, que dá sustentação à Lei, tendo em vista que a Coisa
primeiramente é tida como o Outro pré-histórico, lugar ocupado inicialmente
pela mãe, por esta ser quem realiza a sua função. “Assim, o sujeito do
inconsciente está condenado a ir atrás de seu desejo, mas a cada passo que
ele dá o desejo se desloca. Por isso dizemos que o desejo é metonímico,
desliza incessantemente. Não ceder de seu desejo, então, quer dizer, não
ceder da procura do objeto que possa satisfazê-lo [...]” (GERBASE. 2007, p.
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Valas coloca como viabilizado pelas pulsões, é o que podemos presumir como
existente nos sintomas. Ou seja, presente na produção sintomática dos
sujeitos, na repetição da mesma, que configura a busca interminável pela via
pulsional de um objeto, do gozar deste objeto. Pelos sintomas, manifestações
do inconsciente que possibilitam o aparecimento do desejo, o sujeito goza, e
isto se faz visível pela repetição que se coloca.
Retomemos aqui o que foi tratado no final do primeiro capitulo para que
assim seja possível fazer o enlace teórico necessário para dar continuidade à
linha de pensamento acerca dos sintomas. Para Freud a ‘compulsão à
repetição’ seria regida pela pulsão de morte, na busca de um mais além para o
prazer que para ele se fez inexplicável até este momento. E é esta a grande
contribuição que traz Lacan sobre esta questão não esclarecida para Freud,
pois conceituando o gozo, teorização à qual Lacan gostaria que fosse chamada
de campo lacaniano, o mesmo coloca o gozo como núcleo dos sintomas, como
um núcleo real de gozo impossível de ser alcançado. Os sintomas seriam
manifestações do inconsciente, que aparecem para dar conta de um desejo
que não tem espaço para se manifestar de outra forma. Trata-se de um desejo
inconsciente do sujeito, com os sintomas o sujeito goza, e por isso repete-o,
busca alcançar esse gozo impossível pela repetição, gozo que segundo Lacan
só acontece via corporal. “Para todo o sempre, o desejo humano continuará
irredutível a qualquer redução e adaptação. Nenhuma experiência analítica irá
contra isso. O sujeito não satisfaz simplesmente um desejo, mas goza por
desejar, e essa é uma dimensão essencial de seu gozo.” (LACAN, 1957-1958
p.325)
Freud falava sobre realização de desejo tanto nos sonhos quanto nos
sintomas, falava também em satisfação, Lacan acrescenta: satisfação às
avessas. Tendo em vista o sofrimento que causa para o sujeito manter sua
produção sintomática, paga-se o preço pelo gozo, e não é pouca coisa. O
sujeito ‘ama seu sintoma mais do que a si mesmo’. E esta é uma situação
visível na clínica. O trabalho que o sujeito tem para manter seu sintoma, sem
ter que se haver com ele é imenso. E é o caminho que a clínica psicanalítica
pretende modificar, pois a proposição é que o sujeito se identifique ao seu
sintoma, que sustente seu desejo. “O que se pode esperar de uma análise não
é que o sujeito se liberte de seus sintomas, mas que saiba de que forma está
implicado neles para se haver com seu ‘sinthoma’.” (CASTILHO, 2010 p. 44)
Agora, não pensemos que este é um caminho fácil para os psicólogos, pois
Lacan já alertava sobre o ‘elemento de máscara do sintoma’. “A ideia de
máscara significa que o desejo se apresenta sob uma forma ambígua, que
justamente não nos permite orientar o sujeito em relação a esse ou aquele
objeto da situação. Há um interesse do sujeito na situação como tal, isto é, na
relação desejante. É precisamente isso que é exprimido pelo sintoma que
aparece, e é isso que chamo de elemento de máscara do sintoma.” (LACAN,
1957-1958 p. 337)
Por fim, faz-se uso de uma passagem lacaniana com o proposito de que
o trabalho não se feche, mas pelo contrário, que possa fazer pensar e provocar
novos questionamentos:
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CONCLUSÃO
que assim o sujeito possa fazer uso dela se endereçando desde este novo
espaço, se responsabilizando a partir daí com o que é do seu desejo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS