Você está na página 1de 22

UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE BIOMEDICINA

TERAPIA GÊNICA E SUA EVOLUÇÃO: A BUSCA PARA A CURA DE DOENÇAS

DO ENVELHECIMENTO

Gene Therapy and its Evolution: The Search for the Cure of Aging Diseases

NOME: ALESSANDRA CHICHAVEKE


RA: 414201336
8º SEMESTRE A - MANHÃ
CAMPUS: VERGUEIRO

São Paulo
2018
TERAPIA GÊNICA E SUA EVOLUÇÃO: A BUSCA PARA A CURA DE DOENÇAS

DO ENVELHECIMENTO

RESUMO

Esta pesquisa investigou os pressupostos da Terapia Gênica, sua evolução e seus efeitos para a
cura de doenças do envelhecimento. Para desenvolvê-la focalizou-se no seguinte objetivo
centralizador: “Analisar, descrever e ressaltar a importância da Terapia Gênica e investigar a
evolução desta no tratamento de doenças relacionadas ao envelhecimento e a busca pelo
retardamento de seus efeitos”. Empregou-se, como metodologia de investigação, a revisão
bibliográfica, que subsidiou as discussões que perpassam pelos conceitos, fundamentos e
perspectivas apresentadas pela Terapia Gênica, além da sua utilização para a cura de muitas
patologias. Das considerações finais, antecipa-se que a Terapia Gênica se tem mostrado uma
técnica terapêutica promissora no tratamento e na cura de doenças, especialmente as causadas
pelo envelhecimento, agindo na correção dos genes que as causam. Todavia, se fazem
necessários a progressão e o investimento de novas pesquisas na área da Terapia Gênica para
que se alcancem resultados satisfatórios e precisos.

Palavras-chave: Terapia Gênica. Doenças do Envelhecimento. DNA.

GENE THERAPY AND ITS EVOLUTION: THE SEARCH FOR THE CURE OF
AGING DISEASES

ABSTRACT

This research investigated the assumptions of Gene Therapy, its evolution and its effects for the
cure of aging diseases. To develop it, we focus on the following central objective: "Analyze,
describe and emphasize the importance of Gene Therapy and to investigate the evolution in the
treatment of diseases related to aging and the search to delay its effects." We used, as a
methodology research, the bibliographic review, which subsidized the discussions that
permeate the concepts, theoretical foundations and perspectives presented about Gene Therapy,
besides to its use for the cure of many pathologies. About final considerations, we anticipate
that Gene Therapy has shown a promising therapeutic technique in the treatment and cure of
diseases, especially those caused by aging, acting in the correction of the genes that cause them.
However, it is necessary to progress and invest new research in the field of Gene Therapy to
achieve satisfactory and accurate results.

Keywords: Gene Therapy. Aging Diseases. DNA.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

ILUSTRAÇÃO 1: Processo de envelhecimento celular ....................................................... 05

ILUSTRAÇÃO 2: Formas potenciais de Terapia Gênica ..................................................... 06

ILUSTRAÇÃO 3: Os mecanismos do envelhecimento ........................................................ 12

ILUSTRAÇÃO 4: Principais classes de vetores.................................................................... 15


SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 05

2- METODOLOGIA .................................................................................................... 08

3- DESENVOLVIMENTO ........................................................................................... 10

3.1- O ENVELHECIMENTO E SUAS (DES)VANTAGENS .................................... 10

3.2- TERAPIA GÊNICA: CONCEPTUALIZAÇÃO E FUNDAMENTOS ............. 13

3.3- OS EFEITOS DA TERAPIA GÊNICA EM DOENÇAS CRÔNICAS E NAS DO

ENVELHECIMENTO .................................................................................................. 17

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 20

REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 21
5

1- INTRODUÇÃO

O envelhecimento constitui um processo biológico irremediável marcado por uma perda

evolutiva das funções motoras e sensoriais, aumentando consequentemente a vulnerabilidade

às doenças. Estas podem afetar a funcionalidade, a mobilidade e a independência, impedindo o

ser humano de ter um envelhecimento saudável e autônomo (LOBO; SANTOS; GOMES, 2014,

p. 914).

Segundo Siqueira et al (2015, p. 2), alterações moleculares, que ocorrem com o passar do

tempo, desencadeiam modificações orgânicas e, consequentemente, levam ao envelhecimento.

O DNA1 telomérico está bem relacionado com esse processo. Telômeros são sequências de

repetições nucleopeptídicas presentes no final dos cromossomos, as quais não conseguem ser

transcritas pela DNA polimerase, resultando em uma redução do tamanho do telômero ao final

de cada mitose, o que compreende a senescência replicativa, e que, por muitas vezes, dão

origem a doenças como, por exemplo, o câncer (SIQUEIRA, et al, 2015, p. 2). Esse processo é

elucidado na Ilustração 1:

ILUSTRAÇÃO 1: Processo de envelhecimento celular

Fonte: http://www.medicinageriatrica.com.br/2006/12/28/teorias-do-envelhecimento-celular/

1
DNA: Deoxyribonucleic Acid; Ácido desoxirribonucleico.
6

A perspectiva de curar doenças tem sido motivada pelas constantes descobertas sobre o material

genético. A compreensão e possibilidade de manipulação do DNA possibilitou um grande

avanço na medicina terapêutica. Dessas descobertas e nesse contexto surge a Terapia Gênica,

podendo ser definida como o tratamento de doenças genéticas, adquiridas e hereditárias, através

de células do próprio paciente, utilizando genes para a cura ao invés de medicamentos

(AZEVÊDO, 2009, p. 6).

A Terapia Gênica pode ser entendida como técnicas que permitem a introdução e expressão de

um gene terapêutico em células doentes que apresentam algum tipo de anormalidade de origem

genética, possibilitando a correção desses genes que causam doenças. O material inserido nas

células do paciente pode gerar uma proteína codificada que, por alterações em sua estrutura, é

produzida de forma inadequada, não conseguindo, assim, cumprir o seu papel funcional. É

possível também manipular a expressão de outros genes, ativá-los ou inativá-los. Para isso,

utilizam-se dois tipos de técnicas: a Germinativa, que se dá pela introdução do material genético

nos óvulos ou espermatozoides, e a Somática, onde se introduz material genético em qualquer

outra célula (COUTO, et al, 2017, p. 51), conforme destaca a Ilustração 2:

ILUSTRAÇÃO 2: Formas Potenciais de Terapia Gênica

Fonte: http://slideplayer.com.br/slide/3964688/
7

Partindo dessas referências, nosso objeto de estudo pretensionou uma análise nos fundamentos

e evolução da Terapia Gênica, visando oferecer aos leitores mais uma contribuição acadêmica

postulada na busca para a cura de doenças. Almejou, ainda, pesquisar as teorias para que cada

vez mais sejam contínuas as investigações aplicáveis à evolução e alternativas na área da saúde.

Assim considerado, pode-se compreender porque são tão relevantes e imprescindíveis os

incansáveis estudos sobre a genética e seu funcionamento, uma vez que, a partir dela nasce a

possibilidade de encontrar o caminho para as curas de doenças que ainda, em nossos dias, nos

parecem fatais. Com efeito, as doenças do envelhecimento estão ligadas aos genes, que no

decorrer do tempo precisam fazer cada vez mais reparos no DNA, causando, dessa forma, maior

número de mutações e, consequentemente, ocasionando inumeráveis doenças. Constata-se,

desse modo, que sendo possível reparar esses erros genéticos, igualmente, será possível curar

doenças que hoje são consideradas irremediáveis no campo da saúde pública e garantir uma

maior perspectiva e qualidade de vida para todos.

Acredita-se que a difusão do pensamento acadêmico, neste trabalho, delimitado na

“Biotecnologia e Diagnóstico Molecular” oportuniza o revigoramento da consciência

acadêmica, estimulando a renovação de responsabilidades no campo profissional e ético. Por

fim, defende-se a importância da efetivação desta pesquisa, por beneficiar, primeiramente, a

pesquisadora, e posteriormente, seus interlocutores para que possam refletir acerca dos dilemas,

perspectivas e evolução que vem perpassando o histórico da Terapia Gênica e seu intento pela

cura de anomalias. Portanto, a inquietação, a interrogação, a indagação e a pesquisa fazem

avançar, especialmente o campo da saúde.


8

2- METODOLOGIA

O itinerário metodológico tem por objetivo apontar as setas do processo da pesquisa e,

igualmente, indicar “como” podemos desenvolvê-la. Desta forma, a metodologia adotada estará

pautada em conceitos e proposições que oferecerão fundamental sustentação teórica, estando

estes firmados em autores que nos auxiliarão na elaboração dos resultados a que se pretende a

investigação. Nesse sentido, este estudo será realizado por meio de revisão da literatura,

dispondo de pesquisa bibliográfica, ocasião em que será realizado o levantamento de dados,

discussões, resultados e informações, utilizando-se, para tanto, de artigos e trabalhos

científicos, dissertações e teses que perpassem pela temática aqui adotada.

Os tipos de documentos utilizados no método de pesquisa podem ser classificados como

documentos primários que se obtém através de resultados de pesquisa e documentos

secundários, abrangendo listas, revisões bibliográficas, papéis e relatos de casos.

Para a efetivação do Trabalho de Conclusão de Curso os documentos utilizados foram: leitura

e análise de livros, artigos, revistas, teses, dissertações e sites, tais como: Scielo, Medline,

Science, Lilacs, sendo utilizadas para a pesquisa exploratória palavras-chaves como: “terapia

gênica”, “D.N.A”; “engenharia genética”, “manipulação gênica”, “doenças do envelhecimento”

e “telômeros”, consultadas em idioma nacional e internacional, com ênfase nos últimos cinco

anos, seguindo determinados critérios de seleção.

Foram pesquisadas dissertações, teses e, prioritariamente, artigos científicos, voltados à

temática supramencionada, visando o aprofundamento, análise e compreensão das premissas

que abordam as bases conceptivas da Terapia Gênica e sua relação com a cura de doenças

relacionadas ao envelhecimento. Desses, escolhemos os dezoito (18) mais relevantes para

compor, elencar e subsidiar as referências bibliográficas.


9

Esse arsenal teórico nos subsidiará para a elaboração da pesquisa, constituindo-se da dissertação

da temática escolhida e dos resultados levantados, mediante a contextualização e

problematizações emanadas da presente investigação.

É oportuno destacar que o presente trabalho está delimitado na Linha de Pesquisa

“Biotecnologia e Diagnóstico Molecular”. Ressaltamos, também, que como critério de

normatização utilizado para a elaboração deste Trabalho de Conclusão de Curso adotamos a

ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), visando produzir e elaborar a pesquisa em

questão a partir de suas diretrizes e normas vigentes.


10

3- DESENVOLVIMENTO

3.1. - O ENVELHECIMENTO E SUAS (DES)VANTAGENS

Nunca na história da humanidade um número tão grande de pessoas viveu tanto. O aumento da

expectativa de vida também traz problemas. Um deles é o aumento rápido da proporção de

idosos, e com esse aumento, as doenças associadas ao envelhecimento tornaram-se habituais.

Uma boa genética é, presumivelmente, o fator biológico mais associado à longevidade.

Experimentos envolvendo a manipulação de genes estenderam de forma significativa o tempo

de vida de organismos considerados modelos, como leveduras, moscas, vermes e até

mamíferos. Alguns biólogos moleculares e geneticistas defendem a ideia de que a senescência

é um processo dotado de plasticidade, controlável em certa medida. Uma das estratégias na

busca por viver mais e melhor é procurar mecanismos celulares e moleculares associados a uma

boa velhice em quem é extremamente longevo. O DNA desses indivíduos pode ser fonte de

informações úteis para combater doenças associadas à velhice e conter o avanço dos ponteiros

do relógio biológico. O tempo todo, as reações químicas no organismo, podem causar lesões

nas moléculas de DNA. O DNA de uma célula humana sofre 10 mil alterações espontâneas por

dia, quase uma a cada 10 segundos; entretanto, surgiram proteínas que auxiliam o material

genético a se manter íntegro, permitindo às células produzirem cópias perfeitas de si mesmas e

continuar a existir. Entretanto, os mecanismos de reparo também falham, e, com o tempo, as

células-tronco acumulam defeitos genéticos e perdem a capacidade de se reproduzir e manter

os tecidos íntegros e em funcionamento. Problemas com o reparo de DNA também ocorrem em

outras enfermidades características do envelhecimento, como a doença de Alzheimer, mais

frequente depois dos 80 anos (PIVETTA; ZORZETTO, 2017, p. 20).

Sacina (2014, p. 63) discute acerca das mudanças no perfil demográfico brasileiro nos últimos

anos, denominado de envelhecimento da população, que aliado à transformação do ambiente


11

no qual esta inserida e o modo das relações entre pessoas, aponta para uma alteração significante

no perfil de morbimortalidade, diminuindo a ocorrência de doenças infectocontagiosas e

colocando as doenças crônico-degenerativas como foco de atenção da saúde pública (SACINA,

2014, p. 63).

Segundo Oliveira et al (2013), o envelhecimento biológico é um processo que se inicia no

nascimento e ocorre até a morte. Este, afeta a fisiologia do organismo e impacta na capacidade

funcional do individuo, tornando-o mais suscetível às doenças crônicas. As causas do

envelhecimento ainda são pouco conhecidas, mas estudos apontam que o encurtamento

telomérico é uma das principais causas. A enzima DNA polimerase, que é responsável pela

replicação do DNA eucariótico, é incapaz de copiar o trecho final do DNA linear telomérico de

cada cromossomo, e, por isso, após cada divisão, segmentos de telômeros são perdidos

(OLIVEIRA et al, 2013, p. 1).

Durante a vida da célula, os danos genéticos não ocorrerem de forma igual ao longo da molécula

de DNA, eles demonstram atingir com mais frequência suas duas extremidades, que são

chamadas de telômeros e que são responsáveis por proteger o restante da fita de DNA. Cada

vez que o material genético duplica e a célula se divide, os telômeros encolhem 2% e só uma

enzima chamada telomerase é capaz de recuperar o cumprimento dos telômeros. Porém, a

maioria das células adultas não produz telomerase, normalmente sintetizadas pelas células

tronco, desta forma, com a capacidade restrita de recuperação, os telômeros encurtam com a

idade (PIVETTA; ZORZETTO, 2017, p. 22).

Na ilustração, a seguir, exibimos a reconstrução artística de dois cromossomos, estruturas que

empacotam o DNA nas células. Os telômeros, (em laranja), protegem as pontas dos

cromossomos.
12

ILUSTRAÇÃO 3: Os mecanismos do envelhecimento

Fonte: Pivetta; Zorzetto, 2017, p. 22.

O envelhecimento é um desafio para a saúde pública contemporânea, bem como um fator de

risco para a oncogênese, onde dois terços dos casos de câncer são diagnosticados em indivíduos

com mais de 65 anos e a taxa de mortalidade ultrapassa 80%. (OLIVEIRA et al, 2013, p. 2).
13

3.2- TERAPIA GÊNICA: CONCEPTUALIZAÇÃO E FUNDAMENTOS

Neste capítulo discutiremos os conceitos/definições e os fundamentos da Terapia Gênica, a

partir das contribuições de autores que discorreram sobre essa temática. Para tanto, estaremos

focalizados no objetivo central e norteador de nossa pesquisa: “Analisar, descrever e ressaltar

a importância da Terapia Gênica e investigar a evolução desta no tratamento de doenças

relacionadas ao envelhecimento e a busca pelo retardamento de seus efeitos”. A partir desse

movimento passamos a apresentar os estudos por nós sistematizados.

A Terapia Gênica pode ser definida, segundo Azevêdo (2009), como um tratamento de doenças

genéticas ou não-genéticas por meio da introdução de cópias de genes, em células específicas

do paciente, com objetivos terapêuticos, utilizando-se de genes ao invés de drogas para

tratamento de doenças. A transferência de informações genéticas de um organismo para o outro,

premissa que fundamenta a Terapia Gênica, é conhecida em bactérias desde 1944, a partir das

experiências de Avery, McLeod e McCarty (AZEVÊDO, 2009, p. 6).

Nas décadas de 60 e 70, a perspectiva de curar doenças através de transferência de genes,

tornou-se mais próxima da realidade, sendo desenvolvidas linhas de células geneticamente

marcadas: entendeu-se o mecanismo de transformação celular em mamíferos pelos vírus

papiloma e SV40. Surgem, desta forma, as técnicas de DNA recombinante e a primeira tentativa

de transferência gênica em organismos complexos (AZEVÊDO, 2009, p. 6).

No final da década de 80, o National Institutes of Health – Institutos Nacionais de Saúde (NIH)

aprovaram o primeiro protocolo para teste de Terapia Gênica em humano, o qual consistia na

transferência de genes do sistema imune para um paciente em estado avançado de câncer

(AZEVÊDO, 2009, p. 6).

O conhecimento dos genes responsáveis por características normais ou patológicas permite a

aplicação dos princípios da medicina genômica, que irá alterar a maneira de diagnosticar e tratar

várias doenças a partir da Terapia Gênica. A introdução de um gene normal poderá reverter o
14

quadro clínico de uma doença e as células geneticamente modificadas poderão ativar o sistema

imunológico para se defender da doença ou ainda, produzir moléculas de interesse terapêutico

(FECCHIO, et al, 2015, p. 45).

Segundo Couto, et al (2017), a maior parte das tentativas clínicas de Terapia Gênica que estão

sendo estudadas buscam a substituição de um gene defeituoso por um gene normal e visam o

tratamento, em maior incidência, de doenças adquiridas, como por exemplo, doenças

cardiovasculares, neoplasias malignas e AIDS2, do que as doenças hereditárias, tendo como

base a introdução de genes em células. Todavia, existe certa dificuldade na entrada de DNA

puro através da membrana plasmática de células eucarióticas, necessitando, para tanto, de um

“carreador” que facilite a entrada do DNA nas células vivas, denominado “vetor” (COUTO, et

al, 2017, p. 52).

A palavra vetor é originária do latim: vector, (aquele que carrega, entrega), podendo ser

definido como o agente que contém os genes a serem transferidos e expressos em uma célula

receptora. Os diversos tipos de vetores são utilizados para levar o gene selvagem ao núcleo das

células-alvo. O vetor ideal deve ser de fácil produção, deve promover a expressão do transgene

de modo eficiente e por longo tempo, ter especificidade na célula alvo e não deve gerar resposta

imunológica ao vírus ou ao transgene pelo paciente (FECCHIO, et al, 2015, p. 45).

Há três principais classes de vetores atualmente em estudo: os plasmídeos, os vetores virais e

os vetores nanoestruturados. Esses genes ainda podem ser transferidos através de injeções

diretas de gene no organismo e a partir de métodos, utilizando princípios físicos ou químicos

(COUTO et al, 2017, p. 52).

2
HIV: Human Immunodeficiency Virus; Vírus da Imunodeficiência Humana.
15

ILUSTRAÇÃO 4: Principais classes de vetores

Fonte: https://pt.slideshare.net/AmandaVallePinhatti/aula-terapia-gnica

Dois tipos de técnicas chamadas de ex vivo e in vivo são utilizadas para levar genes para o

interior das células somáticas do corpo humano. Na técnica ex vivo, retiram-se células do

paciente, faz-se cultura das mesmas, usam-se vetores para nelas inserir o gene previamente

isolado e engenheirado, e, por infusão, essas células tratadas são levadas de volta ao paciente.

As células da medula são as mais usadas em terapia ex vivo, embora existam testes em outros

tipos de células. Na técnica in vivo, o gene engenheirado é levado diretamente ao organismo do

paciente, também usando vetores, porém dispensando a retirada de células e sua subsequente

reintrodução no paciente (AZEVÊDO, 2009, p. 7).

Os primeiros vetores usados em Terapia Gênica foram o vírus do papiloma e adenovírus. Em

1989, os retrovírus tornaram-se os mais eficazes modelos de vetores. Eles são os preferidos em

80% das experiências clínicas em Terapia Gênica, pelo fato de apresentarem algumas

vantagens, tais como: eficiente integração ao genoma da célula e expressão gênica por longo

tempo. Porém, seu uso é restrito à terapia ex vivo devido às dificuldades para purificação e
16

concentração vital, além do fato de que os retrovírus infectam exclusivamente as células que se

dividem. Por serem vírus patogênicos, na construção de vetores retrovirais a parte viral

patogênica é removida, por medida de segurança. Todavia, essa medida não exclui o perigo de

reversão ao estado selvagem patogênico, seguido de multiplicação viral e suas consequências

e, além disso, a integração dos retrovírus ao genoma humano ocorre ao acaso. Esse fato é

preocupante, pois existe, entre outras, a possibilidade de transformação neoplásica de células

do paciente por mutagênese insercional. Ainda que as experiências em animais e humanos

demonstrem que esse risco é baixo, existe risco adicional de transformação celular em

decorrência de alta taxa de erros da transcriptase reversa do retrovírus (AZEVÊDO, 2009, p.

7).

Os adenovírus apresentam menor eficácia como vetores. As propriedades de poderem ser

purificados em grandes quantidades e de infectarem qualquer tipo de célula, diferenciadas ou

não, que se dividem ou não, são as vantagens dos adenovírus, porém, apresentam a grande

desvantagem de conterem genes com potencial de estimular resposta imune no paciente e, com

isso, efeitos adversos. Os Complexos lipídios, por terem carga elétrica positiva, ligam-se

espontaneamente à superfície celular e diretamente ao DNA ou RNA3, sem serem degradados

pelos lisossomos. Estas propriedades fizeram com que os lipossomos tornassem-se um eficiente

meio para transportar DNA para dentro de uma variedade de células em cultura. Todavia, a

proporção entre os lipídios e a quantidade de DNA ou RNA deve ser cuidadosamente calculada

para evitar intoxicação lipídica da célula a ser tratada (AZEVÊDO, 2009, p. 7).

3
RNA: Ribonucleic acid; Ácido ribonucleico.
17

3.3 - OS EFEITOS DA TERAPIA GÊNICA EM DOENÇAS CRÔNICAS E NAS DO

ENVELHECIMENTO

A manipulação do DNA tem possibilitado um grande avanço na medicina terapêutica. É nessa

perspectiva que a Terapia Gênica permite a correção dos genes que causam doenças.

De acordo com Fécchio et al (2015, p. 47), no caso da Angina Refratária, a Terapia Gênica com

o VEGF (Vascular Endotelial Growth Facto – Fator de Crescimento do Endotélio Vascular)

representa um potencial alternativo no seu tratamento, uma vez que possibilita o

desenvolvimento da circulação colateral e melhora a perfusão miocárdica. O VEGF funciona

como um importante marcador de dano endotelial e também como mediador de reparo

(FÉCCHIO et al, 2015, p. 47).

Em casos de Injúria como Infarto, Isquemia e Inflamação o VEGF aumenta sua expressão e

estimula o recrutamento, mobilização e manutenção das células progenitoras endoteliais da

medula óssea. Na Doença Arterial Coronariana (DAC), a Terapia Gênica, utilizando o VEGF,

com a finalidade de induzir a angiogênese miocárdica poderia vir a ser uma nova modalidade

de tratamento, pois há possibilidades de desenvolver novos vasos arteriais ou promover a

reformação dos vasos existentes. Já nos casos de Doenças Cardiovasculares, a Terapia Gênica

não visa a substituição de um gene anormal, mas supra-regular a expressão de uma proteína

útil, aumentando o conteúdo de DNA. Nesse contexto, sua eficácia depende do gene, do vetor

e da forma de administração utilizados (FÉCCHIO, et al, 2015, p. 47).

A Doença de Alzheimer é uma enfermidade característica do envelhecimento; geralmente se

manifesta após os 80 anos e incide em problemas com o reparo de DNA. Estudos mostram que

as células de idosos com Alzheimer que foram submetidas a concentrações elevadas de espécies

reativas de oxigênio – situação semelhante a que ocorre no corpo em condições de estresse -


18

levam três vezes mais tempo para se recuperar do banho de radicais livres do que os idosos

saudáveis (PIVETTA; ZORZETTO, 2017, p. 22).

O Câncer é um processo sequencial pelo qual uma célula obtém novas características e assim,

começa a se proliferar sem controle, tornando-se imortal e invadindo locais que não deveria

invadir. Essas características fazem do Câncer um alvo para as terapias que eliminam as células

tumorais, bloqueiam a proliferação tumoral ou melhoram a resposta imunológica. Isso pode ser

feito através da terapia de compensação de mutações, Terapia Gênica Suicida e Terapia

Oncolítica. A Terapia Gênica é projetada para introduzir ácidos nucleicos nas células e

substituir o material genético defeituoso para curar ou tratar o Câncer, sendo que este

procedimento encontra-se em estudo, todavia, já demonstrando evidências claras de sua eficácia

terapêutica, revelando uma toxicidade muito reduzida quando comparada com os tratamentos

tradicionais (RODRIGUEZ, et al, 2014, p. 4).

Estudos estão sendo realizados com pessoas que perderam a audição por consequência de

alguma doença, por excesso de barulho ou pelo uso de algum medicamento com efeitos

colaterais, utilizando um vírus para inserir um gene chamado Atoh1 na cóclea. O gene estimula

a produção de células ciliadas no ouvido interno, que são as responsáveis por captar as vibrações

mecânicas que serão transformadas em informação sonora pelo Sistema Nervoso Central. Esta

terapia não é destinada a deficientes auditivos de nascença, pois, o gene Atho1 atua

transformando determinadas células de suporte em células ciliadas e os deficientes auditivos de

nascença não possuem essas células (CALLONI, 2014, p. 2).

O HIV é uma doença que tem aumentado consideravelmente entre as pessoas mais idosas, e,

apesar de não ser uma patologia consequente do envelhecimento, vale citar que a manipulação

genética do gene CCR5 em células tronco hematopoiéticas, juntamente com terapias de

inserção de genes que atuam interferindo no ciclo de replicação do HIV, tem tido resultado na
19

obtenção de células mielóides resistentes ao HIV e redução da carga viral (BACELAR

JÚNIOR, 2015, p. 58).

A vacina gênica pode atuar no combate à Tuberculose, uma vez que as inoculações das vacinas

de DNA que codificam os genes das proteínas imunogênicas, por via intramuscular, associados

aos promotores do CMV e da hidroxi-metil-glutaril-CoA redutase, protegem significativamente

contra a infecção Mycobacterium tuberculosis. Esta vacina é produzida retirando-se um pedaço

da molécula de DNA de um vírus, bactéria, fungo ou parasita e inoculando-se nos humanos,

sendo que essa molécula codifica uma proteína imunogênica, estimulando o sistema

imunológico a produzir anticorpos, principalmente linfócitos T auxiliares ou citotóxicos

(COUTO, 2017, p. 54).


20

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os genes são os responsáveis por fornecer informações para a síntese de proteínas nas células,

informações estas que foram passadas de pais para filhos, através de seus DNAs e que são de

vital importância para o perfeito funcionamento do corpo. Com o passar do tempo, o corpo vai

envelhecendo por consequência da intensa síntese das células, e, quando um gene torna-se

defeituoso, compromete esse vital movimento, tornando o corpo humano susceptível a várias

doenças.

A Terapia Gênica tem sido o foco e a esperança de muitos cientistas para a cura de doenças que

até hoje não possuem tratamentos eficazes, principalmente as crônicas não transmissíveis, que

também são consequentes do processo natural do envelhecimento, sendo que essas representam

a maior causa de morbidade e mortalidade mundial. Todavia, ainda se há muito que pesquisar

e obter novos conhecimentos e avanços científicos e tecnológicos, nesta área, pois os métodos

de transferência gênica disponíveis, apesar de diversificados, apresentam muitas limitações,

sendo, aliás, pouco eficientes quanto ao direcionamento celular e seus efeitos colaterais ainda

não estão claros. Além disto, há o obstáculo de ser uma terapia muito cara, e, por consequência,

até pouco tempo, perdurava a escassez de investimento por parte do poder público e limitado

interesse por parte do setor privado. Aliás, além de ser um percurso moroso deve ser, ante de

tudo, consciente. De fato, há um direcionamento promissor de que a Terapia Gênica atinja,

efetivamente, a cura de doenças que até hoje são consideradas incuráveis como, por exemplo,

o Mal de Alzheimer e alguns tipos de câncer.


21

REFERÊNCIAS

AZEVÊDO, Eliane S. Terapia Gênica. Revista Bioética. Vol. 5, n. 2, edição 2009.

BACELAR JÚNIOR, Arilton Januário et al. A engenharia genética como nova metodologia
de combate ao HIV: A terapia gênica, a interferência por RNA e suas aplicações. Brazilian
Journal of Surgery and clinical Research – BJSCR. Vol. 13n.3, pp.50-55 (Dez 2015-Fev 2016).

CALLONI, Giordano Wosgrau. Estamos enfim prontos para terapia gênica? 2014.
Disponível em: https://cientistasdescobriramque.com/2014/05/20/estamos-enfim-prontos-
para-terapia-genica/. Acesso em 28 out. 2017.

CÂMARA, Hugo Miguel de Sousa. Terapia gênica viral. 2014. Disponível em:
https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/idiomas/terapia-genica-viral/56297.
Acesso em 28 out. 2017.

COUTO, Eduardo Carvalho et al. O uso atual da genética, prevenção, tratamento e cura de
doenças. Revista Interdisciplinar Ciência e Saúde. Vol 2, n. 1, edição 2017.

FÉCCHIO, Dânia Caroline; MACEDO, Luciana Conci; RICCI, Gléia C. Laverde. O uso da
Terapia Gênica no Tratamento de Doenças. In: Revista Uningá Review, Volume 21, n. 1,
jan/mar. 2015, p. 44-49.

GORGULHO, Carolina Mendonça. Terapia gênica com interferon-alfa no controle do


câncer colorretal. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Medicina da UNESP, Botucatu:
2015.
LIRA, Priscilla de. Aplicação da tecnologia do DNA recombinante na saúde: riscos e
benefícios. Monografia (TCC). Centro Universitário de Brasília – UNICEUB- Faculdade de
Ciências da Educação e Saúde – FACES - Curso de Biomedicina. Brasília, 2016.

LOBO, Alexandrina de Jesus Serra; SANTOS, Luísa; GOMES, Sónia. Nível de dependência
e qualidade de vida da população idosa. Revista Brasileira de Enfermagem [online]. Vol.67,
n.6, pp.913-919. 2014. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2014670608.
Acesso em: 29. out. 2017.

MELO, Vanessa Costa de, et al. Produção Científica sobre Envelhecimento e Câncer: Uma
Revisão Integrativa. IV Congresso Nacional de Envelhecimento Humano. Anais CIEH (2015)
– Vol. 2, N.1, ISSN 2318-0854.

MIGUEL, Gabriel Queiroz Buarraj; SANCHEZ, Cláudio José Palma. Manipulação genética
em humanos e seus limites. ETIC 2015 – Encontro de Iniciação Científica. ISSN 21-76-8498.

NARAHASHI L; CAMPOS de Carvalho Antonio C.; ARAUJO, H. P. Regulamentação das


terapias celulares no Brasil. Vigilância Sanitária em Debate: Sociedade, Ciência &
Tecnologia, v. 1, p. 1-6, 2015.

OLIVEIRA, Stéphanny Sallomé Sousa; SOUSA, Giovanni Tavares; PEIXOTO, Maria do


Socorro Rocha Melo. A influência genética dos telômeros sobre o envelhecimento celular e
22

sua relação cancerígena. Trabalho apresentado no III Congresso Nacional de Envelhecimento


Humano, 13 a 15 de junho de 2013, Campina Grande - PB.

PIVETTA, Marcos; ZORZETTO, Ricardo. Os mecanismos do envelhecimento. 2017.


Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2017/04/018-
025_Envelhecimento_254.pdf. Acesso em 28 out. 2017.

RODRIGUEZ, Josefa A. et al. Terapia gênica para El tratamiento Del câncer.


Rev.colomb.cancerol. Bogotá, v. 18, n. 1, Jan.2014.

SACINA, Thaís. Estimativa 2014-Incidência de câncer no Brasil. 2014. Disponível em:


http://www.inca.gov.br/rbc/n_60/v01/pdf/11-resenha-estimativa-2014-incidencia-de-cancer-
no-brasil.pdf. Acesso em 29 out. 2017.

SIMÃO, Daniel Filipe Mestre. Novas Linhas Celulares Humanas para Produção de
Adenovírus com Aplicação em Terapia Génica. Dissertação (Mestrado) - Universidade Nova
de Lisboa, Portugal: 2010.

SIQUEIRA, Hiloma Rayssa Fernandes et al. Mecanismos biomoleculares do


envelhecimento. IV Congresso Nacional de Envelhecimento Humano. Anais CIEH (2015) –
Vol. 2, N.1, ISSN 2318-0854.

Você também pode gostar