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FAAP Pós-Graduação
São Paulo
2010
Antonio Sidney Francisco
São Paulo
2010
Francisco, A. S.
Nota: _____________________
Banca examinadora:
______________________________________
______________________________________
______________________________________
Agradeço à professora Caru, por ter acolhido a
minha ideia, também pelo carinho, traquilidade e a
maneira sutil e tão valiosa de ajudar-me a
aprofundar este trabalho.
“Procure entender a fundo o que dizem os grandes
artistas, os verdadeiros artistas, em suas obras
primas, e encontrará Deus nelas. Um o terá dito ou
escrito num livro, outro, num quadro.” (VAN GOGH,
2002, p.51)
RESUMO
This work intends to present the Dutch painter Vincent Willem Van Gogh’s
life scenario, encompassing family, social, artistic and psychological aspects. This
project originated basically from reading the book ‘Letters to Theo’, comprising a
selection of letters written by the painter to his brother Theo van Gogh, from July
1883 to July 1890. The correspondence between the two started after they met in
August 1872, near Helvoirt, a small village where his father had been appointed
pastor. The letters reveal his thoughts on art, his artistic production, the impulses of
his creativity, the society in which he lived and the illness that struck him at the end of
his life. This work endeavours to emphasize the most decisive aspect that generated
this investigation: the painter’s clear, coherent and balanced thinking, when emitting
judgments on himself, on others and on the circumstances to which he was exposed
during his lifetime. His widely admired works reveal a human being with a special
sensibility and a restrained, organizing and critical thinking that in itself deserves to
be highlighted as opposed to the acts that refer to his madness.
Key words: Vincent Van Gogh. Art. Art and Psychology. Process of Creation.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Artista: Jacob van Ruysdael. Obra: Vista de Haarlem. Ano: Cerca de 1650-1682.
Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 43x38 cm. Acervo: Rijksmuseum/Amsterdã. .................... 18
Figura 2: Artista: Van Gogh. Obra: Natureza Morta com Bíblia. Ano: 1885. Técnica:
óleo s/tela. Dimensões: 67x78 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã. ............................ 21
Figura 3: Artista: Van Gogh. Obra: Gordina de Groot, Cabeça. Ano: 1885. Acervo:
Museu Van Gogh/ Amsterdã. ................................................................................................ 22
Figura 4: Artista: Van Gogh. Obra: Homem com Arado, Mulher Abaixada e uma Pequena
Casa de Fazenda com Montes de Turfa. Ano: 1883. Acervo: Museu Van Gogh/
Amsterdã. .............................................................................................................................. 23
Figura 5: Artista: Van Gogh. Obra: Tecelã Voltada para a Esquerda. Ano: 1884.
Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã. .................................................................................... 23
Figura 6: Artista: Van Gogh. Obra: Os Comedores de Batatas. Ano: 1885. Técnica:
óleo s/tela. Dimensões: 82x114 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã. .......................... 24
Figura 7: Artista: Van Gogh. Obra: Os Comedores de Batatas. Ano: 1885. Técnica:
Desenho. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã..................................................................... 24
Figura 8: Artista: Van Gogh. Obra: Infelicidade. Ano: 1882. Acervo: Coleção Garman
Ryan. ..................................................................................................................................... 26
Figura 9: Artista: Van Gogh. Obra: Sien, com um charuto, sentada perto do fogão.
Ano: 1882. Acervo: Kroller-Muller Museum/Otterlo. .............................................................. 26
Figura 10: Artista: Anton Rudolf Mauve. Obra: Mulher com Cabrito em Laren.
Técnica: óleo s/tela - Dimensões: 50x75 cm. Acervo: Gemeentemuseum - Den Haag........ 29
Figura 11: Artista: Anton Rudolf Mauve. Obra: Cavalgando sobre a Neve no Bosque do
Hague. Ano: 1879. Técnica: aquarela e tinta opaca branca sobre papel. Dimensões:
44 × 27 cm. Acervo: Rijksmuseum/Amsterdã........................................................................ 30
Figura 12: Artista: Van Gogh. Obra: Pai Tanguy. Ano: 1887-1888. Técnica: lápis de
grafite. Dimensões: 21,5 x 13,5 cm. Acervo: Rijksmuseum/Amsterdã. ................................. 32
Figura 13: Artista: Van Gogh. Obra: Pai Tanguy. Ano: 1887-1888. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 60 x 51 cm. Acervo: Coleção Stavros S. Niarchos. ........................................... 32
Figura 14: Artista: Van Gogh. Obra: Retrato de Joseph Roulin. Ano: 1889. Técnica: óleo
s/tela. Dimensões: 64 x 54,5 cm. Acervo: The Museum of Modern Art/New York. ............... 33
Figura 15: Artista: Van Gogh. Obra: A Canção de Ninar (Augustine Roulin). Ano: 1889.
Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 93 x 74 cm. Acervo: The Metropolitan Museum of
Art/New York.......................................................................................................................... 33
Figura 16: Artista: Van Gogh. Obra: Auto-Retrato. Ano: 1888. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 60,3 x 49,4 cm. Acervo: The Fogg Art Museum Harvard University/
Cambridge. ............................................................................................................................ 35
Figura 17: Artista: Van Gogh. Obra: Amendoeiras em Flor (segundo Hiroshige).
Ano: 1887. Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 55 x 46 cm. Acervo: Museu Van
Gogh/Amsterdã...................................................................................................................... 37
Figura 18: Artista: Hiroshige Utagawa. Obra: Cerejeira em Flor no Jardim Kameido.
Ano: 1878. ............................................................................................................................. 37
Figura 19: Artista: Van Gogh. Obra: Ponte sob a Chuva (segundo Hiroshige). Ano: 1887.
Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 73 x 54 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã............. 38
Figura 20: Artista: Hiroshige Utagawa. Obra: A Ponte Ohashi sob a Chuva. Ano: 1857.
Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã. .................................................................................... 38
Figura 21: Artista: Van Gogh. Obra: As três cigarras. Ano: 1889. Acervo: Museu Van
Gogh/ Amsterdã..................................................................................................................... 39
Figura 22: Obra: Pormenor de um Manual de Pintura Japonês. Ano: 1878.......................... 39
Figura 23: Artista: Van Gogh. Obra: Café Noturno. Ano: 1888. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 70 x 89 cm. Acervo: Yale University Art Gallery/New Haven. ........................... 40
Figura 24: Artista: Van Gogh. Obra: Horta e Casa com Telhado Laranja. Ano: 1888.
Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã. .................................................................................... 42
Figura 25: Artista: Van Gogh. Obra: Pomar Rosa. Ano: 1888. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 64,5 x 80,5. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã. ............................................ 42
Figura 26: Artista: Van Gogh. Obra: Ciprestes. Ano: 1889. Técnica: óleo s/tela. Acervo:
Museu Van Gogh/Amsterdã. ................................................................................................. 43
Figura 27: Artista: Van Gogh. Obra: Ciprestes. Ano: 1889. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 93,4 x 74 cm. Acervo: Metropolitan Museum of Art /Nova York. ....................... 43
Figura 28: Artista: Van Gogh. Obra: Semeador com Sol Poente. Ano: 1888. Técnica:
óleo s/tela. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã................................................................... 44
Figura 29: Artista: Van Gogh. Obra: O Semeador. Ano: 1888. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 32 x 40 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã.............................................. 44
Figura 30: Artista: Van Gogh. Obra: La Crau com Pessegueiros em Flor. Ano: 1889.
Técnica: óleo s/tela. Acervo: Coleção Particular. .................................................................. 45
Figura 31: Artista: Van Gogh. Obra: Colheita em La Crau, Montmajour ao Fundo. Ano:
1888. Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 73 x 92 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã... 45
Figura 32: Artista: Van Gogh. Obra: Campo de Trigo sob Céu Nublado. Ano: 1890.
Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 50 x 100,5 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã........ 46
Figura 33: Artista: Jean-Francois Millet. Obra: A Sesta. Ano: 1866. Técnica: pastel e
crayon preto. Dimensões: 29 x 42 cm. Acervo: Museum of Fine Arts/Boston....................... 49
Figura 34: Artista: Van Gogh. Obra: A Sesta, Ano: 1890. Técnica: óleo s/tela. Dimensões:
73 x 91 cm. Acervo: Musée d’Orsay/Paris............................................................................. 49
Figura 35: Artista: Jean-François Millet. Obra: O Ângelus. Ano: 1857-1859. Técnica: óleo
s/tela. Dimensões: 55,5 x 66 cm. Acervo: Musée d'Orsay/Paris. .......................................... 50
Figura 36: Artista: Van Gogh. Obra: O Ângelus. Ano: 1882. Técnica: Desenho a lápis e
giz vermelho. Bruxelas. Acervo: Kroller-Muller Museum/Otterlo. .......................................... 50
Figura 37: Artista: Van Gogh. Obra: Pietà (segundo Delacroix). Ano: 1889. Técnica: óleo
s/tela. Dimensões: 73 x 60,5 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã. ............................... 51
Figura 38: Artista: Ferdinand-Victor-Eugéne Delacroix. Obra: Pietà. Ano: 1850. Técnica:
óleo s/tela. Acervo: Olga's Gallery.Nasjonalgalleriet/Oslo..................................................... 52
Figura 39: Artista: Rembrandt. Obra: Os Síndicos da Guilda dos Tecelões. Ano: 1662.
Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 191,5 x 279 cm. Acervo: Rijksmuseum/Amsterdam. ........ 53
Figura 40: Artista: Rembrandt. Obra: A Noiva Judia. Ano: 1665-1669. Técnica: óleo
s/tela. Dimensões: 121,5 x 166,5 cm. Acervo: Rijksmuseum/Amsterdã. .............................. 53
Figura 41: Artista: Rubens. Obra: A Descida da Cruz. Ano: 1611-1614. Técnica: óleo
s/tela. Dimensões: 4:20 x 3:10 cm. Acervo: Catedral da Antuérpia/Antuérpia. ..................... 55
Figura 42: Artista: Jean-Baptiste-Camille Corot. Obra: A Ponte de Narni. Ano: 1826.
Técnica: Óleo s/papel, montado s/tela. Dimensões: 34 x 48 cm. Acervo: Musée Du
Louvre/Paris........................................................................................................................... 56
Figura 43: Artista: Jean-Baptiste-Camille Corot. Obra: A Igreja de Marissel. Ano: 1867.
Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 55 x 43 cm. Acervo: Musée du Louvre/Paris. ................... 56
Figura 44: Artista: Adolphe Monticelli. Obra: Os Carvalhos em Saint-Zacharie. Ano: 1824-
1886. Técnica: óleo s/madeira de mogno. Dimensões: 33,5x53 cm.Acervo: Musée des
Beaux-Arts/Marseille.............................................................................................................. 57
Figura 45: Artista: Adolphe Monticelli. Obra: Passeio em um Parque, ao Crepúsculo.
Ano: 1824-1886. Técnica: óleo s/madeira. Acervo: Musée d'Orsay/Paris............................. 58
Figura 46: Artista: Jacob van Ruysdael. Obra: Paisagem (detalhe). Ano: 1646. Técnica:
óleo s/tela. Dimensões: 62,5 x 89 cm. Acervo: Museum Boijmans Van Beuningen/
Rotterdam. ............................................................................................................................. 59
Figura 47: Artista: Jacob van Ruysdael. Obra: Vista de Deventer a Partir do Noroeste.
Ano: 1657. Técnica: óleo s/carvalho. Dimensões: 52 x 76 cm. Acervo: The National
Gallery/Londres. .................................................................................................................... 59
Figura 48: Artista: Jozef Israels. Obra: Sozinha no Mundo. Ano: 1878. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 90 x 139 cm. Acervo: Rijskmuseum/Amsterdã. ................................................. 60
Figura 49: Artista: Van Gogh. Obra: Cesta com Maçãs. Ano: 1885. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 33 x 43,5 cm. Acervo: Rijksmuseum/Amsterdã. ................................................ 63
Figura 50: Artista: Van Gogh. Obra: A Vinha Encarnada. Ano: 1888. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 75 x 93 cm. Acervo: Museu Pushkin/Moscou.................................................... 65
Figura 51: Artista: Van Gogh. Obra: A Casa Amarela. Ano: 1888. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 72 x 91,5 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã........................................... 67
Figura 52: Artista: Van Gogh. Obra: A Cadeira de Gauguin. Ano: 1888. Técnica: óleo
s/tela. Dimensões: 90,5 x 72, 5 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã. ........................... 70
Figura 53: Artista: Van Gogh. Obra: A Cadeira de Van Gogh. Ano: 1888. Técnica: óleo
s/tela. Dimensões: 93 x 73,5cm. Acervo: Tate Gallery/Londres............................................ 71
Figura 54: Artista: Van Gogh. Obra: O Pátio de Exercícios. Ano: 1890. Técnica: óleo
s/tela. Dimensões: 80 x 64 cm. Acervo: Museu Pushkin/Moscou. ........................................ 75
Figura 55: Artista: Van Gogh. Obra: O Escolar (O Filho do Carteiro – Garoto de Boné).
Ano: 1888. Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 63 x 54 cm. Acervo: Museu de Arte de São
Paulo/São Paulo. ................................................................................................................... 79
Figura 56: Artista: Van Gogh. Obra: No Limiar da Eternidade. Ano: 1890. Técnica: óleo
s/tela. Dimensões: 80 x 64 cm. Acervo: Rijksmuseum/Amsterdã. ........................................ 79
Figura 57: Artista: Van Gogh. Obra: Três Pares de Sapatos. Ano: 1886. Técnica: óleo
s/tela. Dimensões: 49 x 72 cm. Acervo: The Fogg Art Museum Harvard
University/Cambridge. ........................................................................................................... 80
Figura 58: Artista: Van Gogh. Obra: Quatro Girassóis Colhidos. Ano: 1887. Técnica:
óleo s/tela. Dimensões: 60 x 100 cm. Acervo: Kroller-Muller Museum/Otterlo...................... 81
Figura 59: Artista: Van Gogh. Obra: Vista do Mar em Scheveningen. Ano: 1882.
Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 34.5 x 51 cm. Acervo: Stedelijk Museum/Amsterdã. ........ 83
Figura 60: Artista: Van Gogh. Obra: Pequenas Casas. Ano: 1883. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 35 x 55.5 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã........................................... 84
Figura 61: Artista: Van Gogh. Obra: Paisagem de Outono com Quatro Árvores. Ano:1885.
Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 64 x 89 cm. Acervo: Kroller-Muller Museum/Otterlo. ........ 84
Figura 62: Artista: Van Gogh. Obra: O Moinho de La Galette. Ano: 1887.
Técnica: óleo s/tela. dimensões: 46 x 38 cm. Acervo: Carnegie Museum of Art/
Pittsburgh............................................................................................................................... 85
Figura 63: Artista: Van Gogh. Obra: Campo com Papoulas. Ano: 1889.
Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 71 x 91 cm. Acervo: Kunsthalle Bremen/Bremen. .... 85
Figura 64: Artista: Van Gogh. Obra: O Jardim de Daubigny (estudo). Ano: 1890.
Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 50.7 x 50.7 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdam.... 86
Figura 65: Artista: Van Gogh. Obra: Moça de Branco no Bosque. Ano: 1882.
Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã. .................................................................................. 88
Figura 66: Artista: Van Gogh. Obra: Moça de Branco no Bosque. Ano: 1882.
Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 39 x 49 cm. Acervo: Kroller-Muller Museum/Otterlo. 88
Figura 67: Artista: Van Gogh. Obra: Quarto de Van Gogh em Arles. Ano: 1888.
Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã. .................................................................................... 91
Figura 68: Artista: Van Gogh. Obra: Quarto de Van Gogh em Arles. Ano: 1889.
Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 57,5 x 74 cm. Acervo: Musée d’Orsay/Paris.................... 91
Figura 69: Artista: Van Gogh. Obra: Caminho com Cipreste e Estrela. Ano: 1890.
Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 92.0 x 73.0. Acervo: Kroller-Muller Museum/Otterlo. ........ 92
Figura 70: Artista: Van Gogh. Obra: Terraço do Café à Noite. Ano: 1888. Técnica: óleo
s/tela. Dimensões: 81 x 65,5 cm. Acervo: Kroller-Muller Museum/Otterlo. ........................... 93
Figura 71: Casa típica da cidade. ........................................................................................ 102
Figura 72: Vista de um canal da cidade. ............................................................................. 102
Figura 73: Hospital psiquiátrico. .......................................................................................... 103
Figura 74: Artista: Van Gogh. Obra: Pinheiros e Figuras à frente do Hospice Saint Paul.
Ano: 1889. Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 58 x 45 cm. Acervo: Musée d’Orsay/
Paris..................................................................................................................................... 103
Figura 75: Pátio interno do hospital. .................................................................................... 104
Figura 76: Artista: Van Gogh. Obra: O Pátio do Hospital em Arles. Ano: 1889. Técnica:
óleo s/tela. Dimensões: 73 x 92 cm. Acervo: Coleção Oskar Reinhart/Wintherthur............ 104
Figura 77: Jardim das Oliveiras. .......................................................................................... 105
Figura 78: Artista: Van Gogh. Obra: Olive Grove: Orange Sky. Ano: 1889. Técnica: óleo
s/tela. Dimensões: 74 x 93 cm. Acervo: Goteborgs Konstmuseum/Goteborg..................... 105
Figura 79: Quarto do pintor.................................................................................................. 106
Figura 80: Entrada da casa Dr. Gachet. .............................................................................. 106
Figura 81: Casa do Dr. Gachet............................................................................................ 107
Figura 82: Artista: Van Gogh. Obra: Rua em Auvers. Ano: 1890. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 73 x 92. Acervo: Ateneumin Taidemuseo/Helsinki. ......................................... 107
Figura 83: Rua de Auvers.................................................................................................... 108
Figura 84: Artista: Van Gogh. Obra: Ruas de Vilarejo com Degraus em Auvers, com
Figures. Ano: 1890. Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 49,8 x 70,1 cm. Acervo: Saint
Louis Art Museum/St. Louis................................................................................................. 108
Figura 85: Igreja de Auvers. ................................................................................................ 109
Figura 86: Artista: Van Gogh. Obra: A Igreja de Auvers. Ano: 1890.
Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 94 x 74 cm. Acervo: Musée d’Orsay/Paris...................... 109
Figura 87: Campo de trigo. .................................................................................................. 110
Figura 88: Artista: Van Gogh. Obra: Campo de Trigo com Cotovia. Ano: 1887.
Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 34 x 65,5 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã........ 110
Figura 89: Campo de Trigo.................................................................................................. 111
Figura 90: Artista: Van Gogh. Obra: Campo de Trigo com Flores. Ano: 1890.
Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 60 x 81 cm. Acervo: Fondation Beyeler – Riehen/
Basel/Switzerland. ............................................................................................................... 111
Figura 91: Cemitério de Auvers, onde estão enterrados Van Gogh e seu irmão Theo....... 112
Figura 92: Artista: Van Gogh. Obra: Jardim de Daubigny com Gato Preto.
Ano: 1890. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã................................................................. 123
Figura 93: Artista: Van Gogh. Obra: Jardim de Daubigny. Ano: 1890. Técnica: óleo
s/tela. Dimensões: 50 x 101,5 cm. Acervo: Collection R. Staechelin/Basel. ....................... 124
Figura 94: Artista: Van Gogh. Obra: Campo de Trigo com Corvos. Ano: 1890.
Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 50,5 x 103 cm. Acervo: Museu Van Gogh/
Amsterdã. ............................................................................................................................ 124
Figura 95: Artista: Van Gogh. Obra: Raízes de Árvores. Ano: 1890.
Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 50 x 100 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã......... 125
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................14
1 O ENCONTRO ....................................................................................................................17
2 RELAÇÕES FAMILIARES, SOCIAIS E AFETIVAS – UM CHARME TODO ESPECIAL ..19
2.1 O Pai.................................................................................................................................20
2.2 O Missionário....................................................................................................................21
2.3 O Pintor de Camponeses .................................................................................................22
2.4 Clasina Maria Hoornik ......................................................................................................25
3 FORMAÇÃO ARTÍSTICA ...................................................................................................28
3.1 Sobre Retratos..................................................................................................................31
3.2 Autorretrato.......................................................................................................................34
3.3 Japonismo ........................................................................................................................35
3.4 Paisagens .........................................................................................................................40
4 SOBRE ARTISTAS E OBRAS COMENTADAS - INFLUÊNCIAS .....................................47
4.1 Jean-Francois Millet (1814-1875) .....................................................................................48
4.2 Ferdinand-Victor-Eugène Delacroix (1798-1840) .............................................................51
4.3 Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606-1669) ..............................................................52
4.4 Peter Paul Rubens (1577-1640) .......................................................................................54
4.5 Jean-Baptiste-Camille Corot (1796-1875) ........................................................................55
4.6 Adolphe Monticelli (1824-1886) ........................................................................................57
4.7 Jacob van Ruysdael (1628?-1682)...................................................................................58
4.8 Jozef Israels (1824-1911) .................................................................................................60
5 PENSAMENTO ESTÉTICO ................................................................................................61
5.1 A Cor.................................................................................................................................61
6 NO SUL DA FRANÇA - A CASA AMARELA, O ARTISTA E A UNIÃO DE CLASSE ......66
6.1 A Presença de Gauguin....................................................................................................67
7 ESTADO FÍSICO E EMOCIONAL ......................................................................................72
8 VELAS ACESAS NA ABA DO CHAPÉU ...........................................................................77
9 CONSTRUINDO O MOSAICO ............................................................................................98
9.1 Saint-Rémy-de-Provence ...............................................................................................101
9.2 Auvers-sur-Oise..............................................................................................................105
10 DUAS CARTAS A MAIS .................................................................................................113
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................119
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................127
14
INTRODUÇÃO
Acaso...
O livro Cartas a Theo reúne 200 cartas selecionadas, trocadas entre o pintor
e seu irmão, quando o pintor tinha 20 anos, até sua morte com 37 anos de idade.
Guardadas por Jô Van Gogh-Bonger, esposa do irmão, trata-se de um importante
retrato biográfico do pintor, da sociedade e do seu tempo. Nelas estão descritos o
seu processo criativo, a sua prática, o seu apurado pensamento estético, as suas
preferências, influências artísticas e reflexões pessoais. Apresenta um
desenvolvimento cronológico, uma linguagem livre e espontânea, mostrando uma
dimensão ampla da vida do pintor, com descrições de obras, esboços e comentários
sobre vários assuntos de seu interesse.
Sua obra tem o poder de atrair o olhar dos leitores e interessados pelas
qualidades expressivas das imagens e pelo apuro técnico que apresenta. Se ela
fosse determinada apenas por distúrbios psíquicos, não apresentaria qualidades tão
marcantes como: enquadramento, harmonia, equilíbrio, proporcionalidade,
profundidade, riqueza de tonalidades e pertinência de temas, características estas
que muitas vezes mostram-se comprometidas nos trabalhos de pacientes com
problemas psíquicos.
Por causa dessa mescla de vida trágica com muita beleza visual, Van Gogh
se constitui num bom modelo para se fazer uma conexão entre arte e psicologia.
Criador e criatura conversam entre si.
Hoje, ao se perguntar por que foi tão fortemente tocado pela leitura, o autor
percebe que sensibilizou-se pela seguinte questão: Como compreender um homem
rotulado de louco e que apresentava um pensamento tão organizado e lúcido?
E assim foi profundamente tocado pela questão do preconceito social do qual Van
Gogh foi alvo, também pelo sentimento de incompreensão que permeou toda a sua
vida.
1 O ENCONTRO
- Theo meu irmão, sinto uma labareda dentro de mim que me leva
incontrolavelmente para todos os lados.
1
O texto desta introdução, denominado “Num Bosque Perfumado” é de autoria do autor deste
trabalho, inspirado no texto em que Van Gogh descreve o encontro com o irmão e sela a amizade
eterna entre os dois.
18
- Para uma cena que me assusta, mas finaliza um drama, como nos
quadros de Rubens.
Figura 1: Artista: Jacob van Ruysdael. Obra: Vista de Haarlem. Ano: Cerca de 1650-1682. Técnica:
óleo s/tela. Dimensões: 43x38 cm. Acervo: Rijksmuseum/Amsterdã.
19
Van Gogh nasceu numa família ligada às artes. Seu pai, Theodore Van
Gogh, foi pastor protestante e sua mãe, Anna-Cornelia Carbentus, era filha de um
encadernador da corte. Há registros de membros da família exercendo a função de
comerciantes de quadros.
2.1 O Pai
As relações entre Van Gogh e seu pai nunca foram boas, apesar de o pintor
ter exercido a função de pastor, o que denota uma afinidade vocacional entre
ambos. Era motivo de preocupação a insegurança profissional, a relação com as
mulheres e seu estilo de vida aventureiro. O fato da família não reconhecer seu
trabalho como pintor sempre o desagradou muito. Seu desejo frenético pelo trabalho
pode ter sido uma válvula de escape para as pressões internas diante de tantas
desaprovações. Apesar das reprovações, seu pai, à sua maneira, dedicou-lhe
atenção, procurando ajudá-lo a se empregar como pastor.
Figura 2: Artista: Van Gogh. Obra: Natureza Morta com Bíblia. Ano: 1885. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 67x78 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã.
2.2 O Missionário
O ano de 1857 foi muito difícil para Vincent. Extremamente depressivo, sofre
seguidas crises nervosas, longos períodos de mutismo e solidão, impulsionando-o
para uma violenta religiosidade, levando-o a desejar seguir a carreira de pastor.
Sentindo grande admiração pelo trabalho do pai e um desejo de ser útil às pessoas,
atuou inicialmente como professor e posteriormente pregador religioso. Durante o
trabalho como professor escrevia para a família dizendo que se sentia perseguido.
Em 1878 foi para o Seminário Teológico da Universidade de Amsterdam.
Reprovado, participou em Bruxelas de um curso trimestral na Escola Evangélica,
conseguindo, a pedido do pai, o lugar de pregador missionário nas minas de carvão
de Borinage, na Bélgica. Como pregador, apresentava dificuldades com a oratória e
em ser aceito pela comunidade e superiores. Era visto como um excêntrico ao se
descuidar da aparência e da moradia. Em uma tentativa de se aproximar dos
mineiros, começou a trabalhar nas minas, onde acabou adoecendo. Voltou, então,
convalescente para casa, concluindo não ser esta a sua vocação.
22
Quando digo que sou um pintor de camponeses, isto é bem real e você verá
adiante que é aí que eu me sinto em meu ambiente. Não foi por nada que
durante tantas noites meditei junto ao fogo, entre os mineiros, os turfeiros e
os tecelões, salvo quando o trabalho não me deixava tempo para reflexão.
Eu me envolvi tão intimamente com a vida dos camponeses de tanto vê-la
continuamente e todos os dias que realmente não me sinto atraído por
outras idéias. (VAN GOGH, 2002, p.147)
Um camponês é mais belo entre os campos em suas roupas de fustão, do
que aos domingos quando vai à igreja ridiculamente vestido como um
senhor. E da mesma forma, seria um erro, na minha opinião, dar a uma
pintura de camponeses um certo polimento convencional. Se uma pintura
de camponeses cheira a toucinho, a comida, a batatas, perfeito! Isso não é
nocivo; se um estábulo cheira a esterco, bom! É por isto mesmo que é um
estábulo; se os campos têm um cheiro de trigo maduro ou de batatas, ou de
guano e de esterco, é justamente aí que está a saúde, especialmente para
as pessoas da cidade. (VAN GOGH, 2002, p.155)
Figura 3: Artista: Van Gogh. Obra: Gordina de Groot, Cabeça. Ano: 1885. Acervo: Museu Van Gogh/
Amsterdã.
23
Figura 4: Artista: Van Gogh. Obra: Homem com Arado, Mulher Abaixada e uma Pequena Casa de
Fazenda com Montes de Turfa. Ano: 1883. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã.
Figura 5: Artista: Van Gogh. Obra: Tecelã Voltada para a Esquerda. Ano: 1884. Acervo: Museu Van
Gogh/Amsterdã.
e sombra e claro e escuro, uma tendência dos seus primeiros trabalhos. Para chegar
ao quadro final, visitou a casa da família retratada várias vezes, explorando
exaustivamente através de desenhos todas as possibilidades formais e tonais da
cena (figura 7). Consta que ele pintou cerca de 40 cabeças humanas como estudo
para a pintura do quadro.
Nos meus novos desenhos começo as figuras pelo tronco e parece-me que
elas adquirem assim maior amplitude e largura. No caso de não bastarem
cinqüenta, desenharei cem, e se isto ainda não for o suficiente farei ainda
mais, até chegar exatamente onde quero, ou seja, até que tudo seja
redondo e que na forma não haja de modo algum nem fim nem começo,
mas que se forme um conjunto harmonioso de vida. (VAN GOGH, 2002,
p.157)
Figura 6: Artista: Van Gogh. Obra: Os Comedores de Batatas. Ano: 1885. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 82x114 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã.
Figura 7: Artista: Van Gogh. Obra: Os Comedores de Batatas. Ano: 1885. Técnica: Desenho. Acervo:
Museu Van Gogh/Amsterdã.
25
família, principalmente seu pai que era pastor protestante e não podia aceitar seu
filho vivendo em concubinato com uma prostituta.
Figura 8: Artista: Van Gogh. Obra: Infelicidade. Ano: 1882. Acervo: Coleção Garman Ryan.
Figura 9: Artista: Van Gogh. Obra: Sien, com um charuto, sentada perto do fogão. Ano: 1882. Acervo:
Kroller-Muller Museum/Otterlo.
27
3 FORMAÇÃO ARTÍSTICA
2
Escola de Barbizon: Aproximadamente a partir de 1830, forma-se e desenvolve-se na França a
Escola Paisagista dita de Barbizon, nome de uma aldeia na orla da floresta de Fontaineblau, para
onde alguns jovens pintores, tendo à frente Théodore Rousseau, haviam se retirado com o intuito de
renovar a pintura de paisagens, abandonado todas as convenções e regras, vivendo no campo,
estudando assiduamente os aspectos mutáveis da natureza. Os principais componentes do grupo
são: Dias de La Peña (1808-76), Charles Daubigny (1817-78), Jules Dupré (1811-89), Constant
Troyon (1810-65). (ARGAN, 2002, p.60)
29
Figura 10: Artista: Anton Rudolf Mauve. Obra: Mulher com Cabrito em Laren. Técnica: óleo s/tela -
Dimensões: 50x75 cm. Acervo: Gemeentemuseum - Den Haag.
30
Figura 11: Artista: Anton Rudolf Mauve. Obra: Cavalgando sobre a Neve no Bosque do Hague. Ano:
1879. Técnica: aquarela e tinta opaca branca sobre papel. Dimensões: 44 × 27 cm. Acervo:
Rijksmuseum/Amsterdã.
Em Paris, envolve-se muito com a arte por influência do seu irmão. Mantém
relacionamento com vários pintores do movimento Impressionista, dentre eles:
Gauguin, Toulouse Lautrec, Monet, Pissarro, Sisley, Renoir, Degas e Signac. Assiste
às aulas no estúdio de Fernad Cormon e o seu trabalho muda consideravelmente de
uma tonalidade sombria para tonalidades mais vibrantes.
Antes de realizar uma obra definitiva, costumava fazer vários esboços, que
lhe serviam para estudar o tema e resolver aspectos da composição e enquadre.
Percebe-se no seu trabalho um cuidado no detalhamento dos elementos que
ornamentavam a figura, na disposição e escolha das cores. Através desses ensaios
se formava a imagem, integrada à personalidade do retratado. E assim, captava
fielmente não só os traços físicos da pessoa, mas também seu caráter. Esse
interesse pela figura humana tem uma relação direta com sua vocação humanística,
valorizando o ser humano pela sua riqueza de expressão, seus mistérios, encanto e
beleza interior.
Pressionado por uma corrente realista na pintura, tinha opinião própria sobre
o retrato na pintura. Sobre isso ele diz: “[...] não renuncio à idéia que tenho sobre o
retrato, pois é uma boa coisa lutar por isso, e mostrar às pessoas que existe nelas
algo além do que um fotógrafo com sua máquina pode revelar.” (VAN GOGH, 2002,
p.193)
Figura 12: Artista: Van Gogh. Obra: Pai Tanguy. Ano: 1887-1888. Técnica: lápis de grafite.
Dimensões: 21,5 x 13,5 cm. Acervo: Rijksmuseum/Amsterdã.
Figura 13: Artista: Van Gogh. Obra: Pai Tanguy. Ano: 1887-1888. Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 60
x 51 cm. Acervo: Coleção Stavros S. Niarchos.
33
A falta de uma família em Arles fez com que Van Gogh estreitasse os laços
de amizade com o carteiro Joseph Roulin. Conviveu com a família e a retratou várias
vezes, ressaltando a dignidade do casal. Nele, o olhar corajoso e enfático (figura
14), nela a postura austera e majestosa de uma dama (figura 15). Ambos têm ao
fundo o mesmo papel de parede, ornamentado por flores, quebrando a formalidade
dos quadros.
Figura 14: Artista: Van Gogh. Obra: Retrato de Joseph Roulin. Ano: 1889. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 64 x 54,5 cm. Acervo: The Museum of Modern Art/New York.
Figura 15: Artista: Van Gogh. Obra: A Canção de Ninar (Augustine Roulin). Ano: 1889. Técnica: óleo
s/tela. Dimensões: 93 x 74 cm. Acervo: The Metropolitan Museum of Art/New York.
34
Na última semana fiz não só um, mas dois retratos do meu carteiro, um de
meio corpo com as mãos, e uma cabeça em tamanho natural. O
homenzinho, não aceitando dinheiro, me saiu mais caro comendo e
bebendo comigo, além do que eu lhe dei a Lanterna de Rochefort. Enfim,
este é um mal menor e sem importância, levando em conta que ele posou
muito bem, e que eu conto pintar também seu recém-nascido dentro em
pouco, pois sua mulher acaba de dar à luz [...]. (VAN GOGH, 2002, p.266)
3.2 Autorretrato
Figura 16: Artista: Van Gogh. Obra: Auto-Retrato. Ano: 1888. Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 60,3 x
49,4 cm. Acervo: The Fogg Art Museum Harvard University/Cambridge.
Um dia você também verá meu auto-retrato, que enviei a Gauguin (Auto-
retrato dedicado a Gauguin, Arles, 1888, Cambridge, Fogg Art Museum,
Harvard University), pois espero que ele o conserve consigo. É todo
cinzento contra um Véronèse pálido (sem amarelo). A roupa é aquele
casaco castanho bordado em azul, mas no qual eu exagerei o castanho até
chegar no púrpura e o tamanho dos bordados azuis. A cabeça foi modelada
em plena pasta clara contra um fundo claro quase sem sombras. Apenas fiz
os olhos um pouco oblíquos, à japonesa. (VAN GOGH, 2002, p.312)
3.3 Japonismo
Van Gogh fala várias vezes nas suas cartas a respeito da arte japonesa de
forma elogiosa. Essa arte, com seus temas bucólicos e românticos, fora muito bem
recebida pelos artistas europeus, principalmente os impressionistas, que buscavam
novas propostas para seus trabalhos.
Nos textos, o pintor demonstra uma simpatia até certo ponto ingênua,
baseada numa fantasia de que na terra do sol nascente tudo era superior ao
ocidente. Dá para se imaginar o impacto que as imagens de lá causavam nos
europeus em termos de vestimentas, costumes, valores, paisagens, tipo físico,
religião e alimentação, dentre outras. Quando morreu, foram encontradas
aproximadamente 400 gravuras de origem japonesa em seu poder.
A precisão técnica do pintor pode ser percebida nas releituras (figuras 17, 19
e 21) de gravuras japonesas (figuras 18, 20 e 22).
37
Figura 17: Artista: Van Gogh. Obra: Amendoeiras em Flor (segundo Hiroshige). Ano: 1887. Técnica:
óleo s/tela. Dimensões: 55 x 46 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã.
Figura 18: Artista: Hiroshige Utagawa. Obra: Cerejeira em Flor no Jardim Kameido. Ano: 1878.
Figura 19: Artista: Van Gogh. Obra: Ponte sob a Chuva (segundo Hiroshige). Ano: 1887. Técnica:
óleo s/tela. Dimensões: 73 x 54 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã.
Figura 20: Artista: Hiroshige Utagawa. Obra: A Ponte Ohashi sob a Chuva. Ano: 1857. Acervo: Museu
Van Gogh/Amsterdã.
Invejo aos japoneses a extrema nitidez que têm todas suas coisas. Elas
nunca são aborrecidas e nunca parecem ter sido feitas às pressas. Seu
trabalho é tão simples quanto respirar e fazem uma figura com alguns
traços firmes com a mesma facilidade com que abotoam uma camisa. (VAN
GOGH, 2002, p.306)
39
Figura 21: Artista: Van Gogh. Obra: As três cigarras. Ano: 1889. Acervo: Museu Van Gogh/ Amsterdã.
Figura 23: Artista: Van Gogh. Obra: Café Noturno. Ano: 1888. Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 70 x
89 cm. Acervo: Yale University Art Gallery/New Haven.
3.4 Paisagens
“[...] acho muito provável que mais de uma pessoa tenha ficado assustada
com as tentativas que é preciso fazer no início e que, naturalmente, não dão certo
logo ao primeiro dia em que se começa a utilizá-los.” (VAN GOGH, 2002, p.136)
41
Van Gogh tinha predileção pela pintura ao ar livre. Era na natureza que ele
captava uma enorme gama de tonalidades dentro de uma mesma cor. Considerava
pobre a luminosidade dos quadros pintados nos ateliers. Neles, os pintores só
enxergavam a luz do meio dia e ficavam cegos à profusão de tonalidades
decorrentes da trajetória do sol.
No sul da França, a relação de Van Gogh com a natureza foi muito intensa,
estimulando sua criatividade. Nos quadros em Arles, o pintor já suprimia o uso do
desenho na tela. Isto porque fazia muitos desenhos das cenas e figuras antes de
colocá-las nas telas (sequência de figuras de 24 a 31). Esse domínio técnico lhe
possibilitava focar toda a sua criatividade na escolha das cores e na relação entre
elas.
Não sei o que farei e o que o futuro me reserva, mas espero não esquecer
as lições que assim aprendi nestes últimos tempos. Colocar seu tema
nitidamente de um só golpe, mas com um esforço absolutamente
impregnado com todo seu espírito e com toda sua atenção. Atualmente,
nada me agrada mais que o trabalho com pincel – até para desenhar – em
vez de fazer o esboço a carvão. Quando penso em como os antigos
holandeses preparavam seus quadros, constato que há relativamente pouco
desenho propriamente dito. E, contudo, eles desenham de uma maneira
impressionante. (VAN GOGH, 2002, p.181)
42
Figura 24: Artista: Van Gogh. Obra: Horta e Casa com Telhado Laranja. Ano: 1888. Acervo: Museu
Van Gogh/Amsterdã.
Figura 25: Artista: Van Gogh. Obra: Pomar Rosa. Ano: 1888. Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 64,5 x
80,5. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã.
Figura 26: Artista: Van Gogh. Obra: Ciprestes. Ano: 1889. Técnica: óleo s/tela. Acervo: Museu Van
Gogh/Amsterdã.
Figura 27: Artista: Van Gogh. Obra: Ciprestes. Ano: 1889. Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 93,4 x 74
cm. Acervo: Metropolitan Museum of Art /Nova York.
Figura 28: Artista: Van Gogh. Obra: Semeador com Sol Poente. Ano: 1888. Técnica: óleo s/tela.
Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã.
Figura 29: Artista: Van Gogh. Obra: O Semeador. Ano: 1888. Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 32 x
40 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã.
45
Figura 30: Artista: Van Gogh. Obra: La Crau com Pessegueiros em Flor. Ano: 1889. Técnica: óleo
s/tela. Acervo: Coleção Particular.
Figura 31: Artista: Van Gogh. Obra: Colheita em La Crau, Montmajour ao Fundo. Ano: 1888. Técnica:
óleo s/tela. Dimensões: 73 x 92 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã.
E me faz bem fazer coisas difíceis. O que não impede que eu tenha uma
terrível necessidade de – direi a palavra – religião, então á noite saio fora
para pintar as estrelas, e sempre sonho com um quadro assim, com um
grupo de figuras vivas dos amigos [...] (VAN GOGH, 2002. p.307)
46
Figura 32: Artista: Van Gogh. Obra: Campo de Trigo sob Céu Nublado. Ano: 1890. Técnica: óleo
s/tela. Dimensões: 50 x 100,5 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã.
Veja, nesses tempos de hoje existe tanta gente que não se sente feita para
o público, mas que sustenta e reforça o que fazem os outros. Os tradutores
de livros por exemplo. Os gravadores, os litógrafos [...]. Isto para lhe dizer,
portanto, que não hesito em fazer cópias. (VAN GOGH, 2002, p.409)
A seguir, uma síntese do perfil de alguns artistas admirado por Van Gogh e
algumas citações do pintor, priorizando os aspectos mais relacionados à sua obra.
Figura 33: Artista: Jean-Francois Millet. Obra: A Sesta. Ano: 1866. Técnica: pastel e crayon preto.
Dimensões: 29 x 42 cm. Acervo: Museum of Fine Arts/Boston.
Figura 34: Artista: Van Gogh. Obra: A Sesta, Ano: 1890. Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 73 x 91 cm.
Acervo: Musée d’Orsay/Paris.
50
O que você diz da cópia a partir de Millet, a Vigília, me deu grande prazer.
Quanto mais eu penso, mais acho que reproduzir coisas de Millet que ele
não teve tempo de pintar a óleo tem sua razão de ser. Trabalhar seja em
seus desenhos, seja suas gravuras sobre madeira, não é portanto pura e
simplesmente copiar. É antes traduzir para uma outra língua – a das cores –
as impressões de claro-escuro em branco e preto. (VAN GOGH, 2002,
p.408-409)
Figura 35: Artista: Jean-François Millet. Obra: O Ângelus. Ano: 1857-1859. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 55,5 x 66 cm. Acervo: Musée d'Orsay/Paris.
Figura 36: Artista: Van Gogh. Obra: O Ângelus. Ano: 1882. Técnica: Desenho a lápis e giz vermelho.
Bruxelas. Acervo: Kroller-Muller Museum/Otterlo.
51
Delacroix é admirado por Van Gogh porque, assim como ele, sua obra se
destaca pelo movimento, exuberância da cor e emoção exaltada. São muito visíveis
nessa analogia os aspectos comuns entre ambos, além da força dramática e de um
desenho tortuado.
Figura 37: Artista: Van Gogh. Obra: Pietà (segundo Delacroix). Ano: 1889. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 73 x 60,5 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã.
52
Figura 38: Artista: Ferdinand-Victor-Eugéne Delacroix. Obra: Pietà. Ano: 1850. Técnica: óleo s/tela.
Acervo: Olga's Gallery.Nasjonalgalleriet/Oslo.
Mas como é belo o que nos conta Sylvestre sobre Delacroix, ao dizer que
ele pegava um tom ao acaso em sua palheta. ‘um matiz violáceo
inominável’, que atirava este tom em algum canto, tanto para representar a
maior luminosidade quanto para a sombra mais profunda, e que com esta
lama ele conseguia trabalhar de tal forma que ela resplandecia como a luz
ou ficava muda como uma sombra profunda. (VAN GOGH, 2002, p.171)
Assim como Van Gogh, Rembrandt se retratou várias vezes durante sua
longa existência, mesmo nos momentos mais difíceis. Sua pintura é revestida de
uma espiritualidade que a torna solene tocando o sentimento. Também é
caracterizada por efeitos dramáticos, luz e sombras.
Figura 39: Artista: Rembrandt. Obra: Os Síndicos da Guilda dos Tecelões. Ano: 1662. Técnica: óleo
s/tela. Dimensões: 191,5 x 279 cm. Acervo: Rijksmuseum/Amsterdam.
Figura 40: Artista: Rembrandt. Obra: A Noiva Judia. Ano: 1665-1669. Técnica: óleo s/tela. Dimensões:
121,5 x 166,5 cm. Acervo: Rijksmuseum/Amsterdã.
54
Embora sem formação acadêmica, Van Gogh fazia uma leitura pontual,
focalizando os diferenciais de cada artista. Essa capacidade em fazer esse
reconhecimento vem de uma intimidade do pintor com a arte.
[...] mas a meu ver mais belo, é o encanto da Descida da Cruz, em que a
mancha branca é relembrada pelos cabelos loiros, pelo rosto e pelo
pescoço branco das figuras de mulher, enquanto que o ambiente escuro é
impressionantemente rico pelas diferentes massas de vermelho, de verde
escuro, de preto, de cinza, de violeta, tratadas em menor e aproximadas
das outras pelo tom. (VAN GOGH, 2002, p.199)
55
Figura 41: Artista: Rubens. Obra: A Descida da Cruz. Ano: 1611-1614. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 4:20 x 3:10 cm. Acervo: Catedral da Antuérpia/Antuérpia.
“[...], pois eu o ouvi dizer um dia que, certos quadros de Corot, nos céus
vespertinos, por exemplo, havia tons que eram muito luminosos no quadro e que,
considerados em si mesmos, eram tons cinzentos relativamente escuros.” (VAN
GOGH, 2002, p.134)
Figura 42: Artista: Jean-Baptiste-Camille Corot. Obra: A Ponte de Narni. Ano: 1826. Técnica: Óleo
s/papel, montado s/tela. Dimensões: 34 x 48 cm. Acervo: Musée Du Louvre/Paris.
Figura 43: Artista: Jean-Baptiste-Camille Corot. Obra: A Igreja de Marissel. Ano: 1867. Técnica: óleo
s/tela. Dimensões: 55 x 43 cm. Acervo: Musée du Louvre/Paris.
57
“E muitas vezes penso neste excelente pintor [...], que diziam ser tão
beberrão e demente, quando me vejo eu mesmo voltando do trabalho mental para
equilibrar as seis cores essenciais: vermelho, azul, amarelo, laranja, lilás e verde.”
(VAN GOGH, 2002, p.255)
Figura 44: Artista: Adolphe Monticelli. Obra: Os Carvalhos em Saint-Zacharie. Ano: 1824-1886.
Técnica: óleo s/madeira de mogno. Dimensões: 33,5x53 cm.Acervo: Musée des Beaux-Arts/Marseille.
58
Figura 45: Artista: Adolphe Monticelli. Obra: Passeio em um Parque, ao Crepúsculo. Ano: 1824-1886.
Técnica: óleo s/madeira. Acervo: Musée d'Orsay/Paris.
Figura 46: Artista: Jacob van Ruysdael. Obra: Paisagem (detalhe). Ano: 1646. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 62,5 x 89 cm. Acervo: Museum Boijmans Van Beuningen/Rotterdam.
Figura 47: Artista: Jacob van Ruysdael. Obra: Vista de Deventer a Partir do Noroeste. Ano: 1657.
Técnica: óleo s/carvalho. Dimensões: 52 x 76 cm. Acervo: The National Gallery/Londres.
“Este charco na lama com seus troncos apodrecidos era tão absolutamente
melancólico e dramático como Ruysdael [...].” (VAN GOGH, 2002, p.119)
60
Nas cartas, expressa uma comoção diante da vida frágil destas pessoas.
Pelos quadros, que expressam uma nota penetrante de tristeza, obcuridade e
aflição, libera toda a sua sensibilidade humanística (conforme se pode observar na
figura 48).
Figura 48: Artista: Jozef Israels. Obra: Sozinha no Mundo. Ano: 1878. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 90 x 139 cm. Acervo: Rijskmuseum/Amsterdã.
5 PENSAMENTO ESTÉTICO
Espero meu velho, que trabalhando muito eu faça algum dia algo de bom.
Eu ainda não cheguei lá, mas não desisto, estou me esforçando para
consegui-lo, gostaria de realizar algo sério, algo vigoroso, que tenha alma!
Em frente, em frente (VAN GOGH, 2002, p.106)
5.1 A Cor
Van Gogh, ao estar convicto da sua vocação artística, intuía o que agregar
aos seus conhecimentos. Sua autocrítica o conduzia a um aperfeiçoamento
voluntário, recorrendo aos manuais de pintura e desenho, com programação de
exercícios básicos e avançados, frequentando ateliers, experimentando cor e
fazendo muito desenho de observação e memória.
62
“Quero dizer com isto que, mais que as pessoas, existem regras, princípios
ou verdades fundamentais, tanto para o desenho, quanto para a cor, aos quais é
preciso recorrer quando se encontra algo de verdadeiro.” (VAN GOGH, 2002, p.152)
“Muitas vezes ainda quebro a cabeça para começar, mas assim mesmo as
cores se sucedem como que sozinhas, e ao tomar uma cor como ponto de partida,
me vem claramente à cabeça o que deduzir e como chegar a dar-lhe vida.” (VAN
GOGH, 2002, p.173)
Van Gogh sabia que o emprego adequado das tintas sobre a tela era
imprescindível para se obter bons resultados. Essa monumental quantidade de tons,
sobretons, nuances e justaposições de cores, presentes nos seus quadros, não é
obra do acaso, mas sim resultado de muito estudo e experimentação.
Meus estudos não têm para mim nenhuma razão de ser além de uma
espécie de ginástica para subir e descer nos tons; assim, não se esqueça
que pintei meu musgo branco ou cinza com uma cor de barro e que apesar
de tudo, no estudo, ele fica claro. (VAN GOGH, 2002, p.172)
produzindo ainda outro tipo de contraste. Este exercício tonal pode ser observado na
figura 49.
Figura 49: Artista: Van Gogh. Obra: Cesta com Maçãs. Ano: 1885. Técnica: óleo s/tela. Dimensões:
33 x 43,5 cm. Acervo: Rijksmuseum/Amsterdã.
“Vemos, portanto, que existem vários meios, diferentes entre si, mas
igualmente infalíveis de fortalecer, sustentar, atenuar ou neutralizar o efeito de uma
cor, e isto trabalhando com o que a cerca, sem mexer propriamente nela.” (VAN
GOGH, 2002, p.151)
“Estou a tal ponto lambuzado de cores que há cores até nesta carta [...].
Gostaria muito que ela desse certo, mas o grande problema é manter o desenho por
uma profundidade de tom, e a luminosidade é extremamente difícil.” (VAN GOGH,
2002, p.97)
Ao libertar a cor, Van Gogh antecipou o que seria uma das marcas do
modernismo: sobreposição do sutil sobre o escultórico na pintura. Segundo ele, “A
pintura, no estado em que se encontra, promete tornar-se mais sutil – mais música e
menos escultura -, enfim, promete a cor.” (2002, p.286)
realidade. Teve um compromisso com a arte baseado nas suas próprias regras,
definindo o que e como pintar. Não tinha como parâmetro o mercado de arte para
desenvolver o seu trabalho. Na realidade, era seu desejo mostrar a beleza que
sentia e queria exprimir. Sobre o sucesso ele fala:
Mais forte que isto é o que diz Carlyle: Conheceis aqueles vagalumes que
no Brasil são tão luminosos, que à noite as damas os fincam com alfinetes
em suas cabeleiras; a glória é muito boa, mas, vede, ela é para o artista o
que o alfinete é para esses insetos [...]. Ora, eu tenho horror ao sucesso,
receio a ressaca de um sucesso dos impressionistas, os dias já difíceis de
hoje nos parecerão mais tarde ter sido ‘os bons tempos’ (VAN GOGH,
2002, p.281)
Figura 50: Artista: Van Gogh. Obra: A Vinha Encarnada. Ano: 1888. Técnica: óleo s/tela. Dimensões:
75 x 93 cm. Acervo: Museu Pushkin/Moscou.
66
Você sabe que eu sempre achei idiota os pintores viverem sós etc. Sempre
se perde muito quando se está isolado.
E já seria um começo de associação. Bernard, que também vem para o
Midi, nos encontrará, e saiba que você, eu o vejo sempre na França, à testa
de uma associação de impressionistas. E se eu puder ser útil para uni-los,
de bom grado eu os acharia todos melhores que eu. (VAN GOGH, 2002,
p.237-238)
67
Figura 51: Artista: Van Gogh. Obra: A Casa Amarela. Ano: 1888. Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 72
x 91,5 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã.
Para alojar alguém, haverá o mais belo cômodo de cima, que tentarei
arrumar, tanto quanto possível, como um aposento de mulher realmente
artístico. A seguir, meu próprio quarto, que eu quero extremamente simples,
e com móveis quadrados e amplos: a cama, as cadeiras, a mesa, tudo em
madeira branca. Embaixo, o ateliê e um outro cômodo, também ateliê, mas
ao mesmo tempo cozinha. Você verá um dia destes um quadro da casinha
em pleno sol, ou então com a janela iluminada e o céu estrelado. [...] O
quarto no qual você se hospedará, ou que será de Gauguin, se G. vier, terá
nas paredes brancas uma decoração com grandes girassóis amarelos.
(VAN GOGH, 2002, p.291-292)
Assim estamos nós, Gauguin me dizia esta manhã, quando lhe perguntei
como se sentia, que ele ‘sentia a sua antiga natureza’, o que me deu muito
prazer. Chegando aqui no inverno passado, cansado e com a cabeça quase
apagada, antes de começar a me recuperar eu também sofri interiormente
um pouco. (VAN GOGH, 2002, p.334)
Eu, por mim, acredito que Gauguin tinha se desanimado um pouco com a
boa cidade de Arles, com a casinha amarela onde trabalhamos, e sobretudo
comigo. De fato, tanto para ele quanto para mim, aqui ainda existiriam
sérias dificuldades a vencer. Mas estas dificuldades estão mais dentro de
nós mesmos que em qualquer outra parte. (VAN GOGH, 2002, p.336)
Na mesma noite fomos ao café. Ele tomou um absinto leve. De repente, ele
me jogou na cara o copo e o seu conteúdo. Aparei o golpe e, pegando-o
forte pelo braço, saí do café, atravessei a Praça Victor Hugo e, alguns
minutos depois, Vincent achava-se em sua cama, onde em alguns
segundos dormiu para se levantar somente na manhã seguinte. Ao
despertar muito calmo, ele me disse: ‘Meu caro Gauguin tenho uma vaga
lembrança de que ontem à noite o ofendi. Eu o perdôo de bom grado e de
todo coração, mas a cena de ontem poderia se repetir, e se eu fosse
atacado poderia perder as estribeiras e estrangulá-lo. Permita-me então
escrever ao seu irmão para anunciar-lhe o meu regresso’. (GAUGUIN,
2000, p.21)
“Eis o que se passara, Van Gogh voltou para casa e imediatamente cortou
sua orelha exatamente na base da cabeça.” (VAN GOGH, 2002, p.343)
Ele me dizia que esperava ficar curado o suficiente para vir me ver na
Bretanha, mas que naquele momento não via perspectiva de uma cura.
‘Caro mestre (a única vez em que pronunciou essa palavra) depois de tê-lo
conhecido e de o deixar aflito, é mais digno morrer em bom estado de
espírito do que em um estado degradante. Deu um tiro de pistola em sua
barriga e foi somente algumas horas depois, deitado no seu leito e fumando
seu cachimbo, que ele morreu, guardando toda a sua lucidez de espírito,
com amor por sua arte e sem ódio dos outros’. (GAUGUIN, 2000, p.24)
O que se sabe é que o estado físico e emocional de Van Gogh piorou depois
que Gauguin partiu. As crises com alucinações visuais e auditivas ocorreram mais
frequentemente associadas a um terrível mal estar físico. Infelizmente, aquilo que
seria para ele um acontecimento esperado com tanta expectativa, a Casa Amarela,
uma associação de artistas, se converteu num traumático drama para ambos.
70
É bastante engraçado talvez, que o resultado deste terrível ataque seja não
haver mais em meu espírito quase nenhum desejo nem esperança bem
claros, e eu me pergunto se é assim que pensamos quando, as paixões já
um pouco extintas, começamos a descer a montanha ao invés de subi-la
(VAN GOGH, 2002, p.391)
Assim como fez com seu pai, Van Gogh presentificou a relação com
Gauguin através da pintura de uma cadeira requintada e com o colorido típico do
amigo (figura 52). A cadeira que o presentifica por sua vez é simples e luminosa
(figura 53).
Gostaria muito que De Haan visse um estudo meu de uma vela acesa e
dois romances (um amarelo e outro rosa) colocados sobre uma cadeira
vazia (justamente a cadeira de Gauguin), tela de 30, em vermelho e verde.
Acabo de trabalhar ainda hoje em seu pendant, minha própria cadeira vazia,
uma cadeira de madeira branca com um cachimbo e uma bolsa de tabaco.
(VAN GOGH, 2002, p.357)
Figura 52: Artista: Van Gogh. Obra: A Cadeira de Gauguin. Ano: 1888. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 90,5 x 72, 5 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã.
71
Figura 53: Artista: Van Gogh. Obra: A Cadeira de Van Gogh. Ano: 1888. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 93 x 73,5cm. Acervo: Tate Gallery/Londres.
72
“Como talvez você já saiba, voltei ao Borinage, meu pai me disse que seria
melhor ficar pelas vizinhanças de Etten: eu disse que não e acredito ter agido melhor
assim.” (VAN GOGH, 2002, p.42)
No final da vida já trocava o dia pela noite; para combater a insônia e tentar
dormir, encharcava o travesseiro e o colchão com cânfora. Nessa fase, embora com
graves problemas de saúde e emocionais, Van Gogh mostrou-se ainda muito criativo
e produtivo. Nesse período são conhecidas as releituras de conteúdo religioso dos
mestres Millet, Delacroix, Rembrandt e Doré.
Figura 54: Artista: Van Gogh. Obra: O Pátio de Exercícios. Ano: 1890. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 80 x 64 cm. Acervo: Museu Pushkin/Moscou.
76
Não tenho mais nada com que me distrair – proíbem-me até mesmo de
fumar, o que no entanto é permitido aos outros doentes - , não tendo nada
mais a fazer, penso em todos os conhecidos, o dia inteiro e a noite inteira.
Que miséria – e tudo isso por nada, por assim dizer. Não lhe escondo que
eu teria preferido morrer a causar e sofrer tanto estorvo. (VAN GOGH, 2002,
p.372)
É assim que me vejo a mim mesmo – devo realizar em alguns anos, uma
obra cheia de coração e de amor e consagrar-me com energia a isso. Se
ficar mais tempo em vida do que espero, tanto melhor, mas não quero
considerar essa eventualidade. (COLI, 2006, p.21)
78
Figura 55: Artista: Van Gogh. Obra: O Escolar (O Filho do Carteiro – Garoto de Boné). Ano: 1888.
Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 63 x 54 cm. Acervo: Museu de Arte de São Paulo/São Paulo.
Figura 56: Artista: Van Gogh. Obra: No Limiar da Eternidade. Ano: 1890. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 80 x 64 cm. Acervo: Rijksmuseum/Amsterdã.
Contudo, prefiro pintar os olhos dos homens, mais que as catedrais, pois
nos olhos há algo que nas catedrais não há, mesmo que elas sejam
majestosas e se imponham; a alma de um homem, mesmo que seja um
pobre mendigo ou uma prostituta, é mais interessante a meus olhos. (VAN
GOGH, 2002, p.193)
80
Você é bom para com os pintores e saiba que, quanto mais eu reflito, mais
eu sinto que não há nada de mais realmente artístico que amar as pessoas.
Você poderá me dizer que então seria melhor dispensarmos a arte e os
artistas. À primeira vista isto é verdade, mas enfim os gregos e os franceses
e os antigos holandeses aceitaram a arte, e vemos a arte sempre
ressuscitar após as decadências fatais, e não creio que seríamos mais
virtuosos só pelo fato de abominarmos tanto os artistas quanto sua arte.
(VAN GOGH, 2002, p.294)
Figura 57: Artista: Van Gogh. Obra: Três Pares de Sapatos. Ano: 1886. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 49 x 72 cm. Acervo: The Fogg Art Museum Harvard University/Cambridge.
Figura 58: Artista: Van Gogh. Obra: Quatro Girassóis Colhidos. Ano: 1887. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 60 x 100 cm. Acervo: Kroller-Muller Museum/Otterlo.
Figura 59: Artista: Van Gogh. Obra: Vista do Mar em Scheveningen. Ano: 1882. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 34.5 x 51 cm. Acervo: Stedelijk Museum/Amsterdã.
84
Figura 60: Artista: Van Gogh. Obra: Pequenas Casas. Ano: 1883. Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 35
x 55.5 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã.
Figura 61: Artista: Van Gogh. Obra: Paisagem de Outono com Quatro Árvores. Ano: 1885. Técnica:
óleo s/tela. Dimensões: 64 x 89 cm. Acervo: Kroller-Muller Museum/Otterlo.
85
Figura 62: Artista: Van Gogh. Obra: O Moinho de La Galette. Ano: 1887. Técnica: óleo s/tela.
dimensões: 46 x 38 cm. Acervo: Carnegie Museum of Art/Pittsburgh.
Figura 63: Artista: Van Gogh. Obra: Campo com Papoulas. Ano: 1889. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 71 x 91 cm. Acervo: Kunsthalle Bremen/Bremen.
86
Figura 64: Artista: Van Gogh. Obra: O Jardim de Daubigny (estudo). Ano: 1890. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 50.7 x 50.7 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdam.
As naturezas-mortas que lhe envio são estudos de cor. Ainda farei várias;
não creio que isso seja inútil. Elas ficarão um pouco menos boas em algum
tempo, mas dentro de um ano, por exemplo, estarão melhores que agora,
quando tiverem secado e recebido uma boa camada de verniz. (VAN
GOGH, 2002, p.166)
Nas descrições das suas obras, Van Gogh era guiado por um pensamento
ordenador e lógico ao comentar sobre a disposição dos elementos no quadro,
proporcionalidade dos volumes e senso de perspectiva. Nos esboços, nota-se
organização e racionalidade, mantendo um cuidado com estética, textura e volume
dos corpos. Numa escrita emocionada, descrevia a cena minuciosamente,
atribuindo-lhes as cores e os tons. A figura 65 é o esboço de uma pintura do artista,
retratada na figura 66, que atrai devido a uma forte expressividade tonal. Uma linha
diagonal aprofunda a cena num plano ascendente.
O outro estudo do bosque tem como tema grandes troncos de faias verdes
sobre um fundo de arbustos secos e uma pequena figura de moça em
branco. A grande dificuldade foi conservar a luminosidade, e colocar o céu
entre as árvores que se encontravam a diferentes distâncias, o lugar e a
espessura relativa destes troncos sendo modificados pela perspectiva. É
preciso fazer de maneira a que possamos respirar e passear na floresta, e
ela deve exalar [...]. (VAN GOGH, 2002, p.92)
88
Figura 65: Artista: Van Gogh. Obra: Moça de Branco no Bosque. Ano: 1882. Acervo: Museu Van
Gogh/Amsterdã.
Figura 66: Artista: Van Gogh. Obra: Moça de Branco no Bosque. Ano: 1882. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 39 x 49 cm. Acervo: Kroller-Muller Museum/Otterlo.
“Em certos momentos, quando a natureza fica tão bela quanto nesses dias,
tenho uma lucidez terrível, e então não me reconheço mais e o quadro me vem
como em sonho.” (VAN GOGH, 2002, p.308)
Fica difícil analisar a obra de Van Gogh sob a lente da psicanálise, correndo-
se o risco de cair numa interpretação convencional, e descartar as sutilezas que as
imagens expressam. Somente a linguagem artística conseguirá formular a
complexidade e fluidez dos sentimentos e a integração de vários níveis de
significados.
90
Olhando a obra de Van Gogh sob este aspecto, em geral, restaura aspectos
afetivos, físicos e emocionais. Um estado latente de depressão, causado por
fracassos e rejeições, se contrapõe a imagens exaltadas e tendência aos
movimentos ascendentes. Percebe-se a presença de significados que exaltam as
forças da vida, com sinais de vitalidade, força da natureza e elaboração formal
vibrante (cores altas, complementares e quentes).
3
Hanna Segal é a mais destacada e lúcida intérprete no pós-guerra da obra de Melanie Klein. Ela
investigou a aplicação mais ampla das idéias psicanalíticas em diversos campos, principalmente nos
da estética, política e literatura. (PICK; ROPER, 1999)
91
Figura 67: Artista: Van Gogh. Obra: Quarto de Van Gogh em Arles. Ano: 1888. Acervo: Museu Van
Gogh/Amsterdã.
Figura 68: Artista: Van Gogh. Obra: Quarto de Van Gogh em Arles. Ano: 1889. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 57,5 x 74 cm. Acervo: Musée d’Orsay/Paris.
Desta vez trata-se simplesmente de meu quarto, só que aqui a cor é que
tem que fazer a coisa e, emprestando através de sua simplificação um estilo
maior às coisas, sugerir o descanso ou o sono em geral. Enfim, a visão do
quadro deve descansar a cabeça, ou melhor, a imaginação. As paredes são
de um violeta pálido. O chão é de lajotas vermelhas [...]. A madeira da cama
e das cadeiras é de um amarelo de manteiga fresca, o lençol e os
travesseiros, limão-verde bem claro. O cobertor, vermelho escarlate, A
janela, verde. A mesinha, laranja, a bacia, azul. As portas lilás. E pronto –
nada mais neste quarto com os postigos de janela fechados. O feitio dos
móveis também deve exprimir um descanso inviolável. Os retratos na
parede, um espelho, uma toalha e algumas roupas. A moldura – como não
há branco no quadro – será branca. Isso para compensar o descanso
forçado a que fui obrigado. (VAN GOGH, 2002, p.319)
92
Figura 69: Artista: Van Gogh. Obra: Caminho com Cipreste e Estrela. Ano: 1890. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 92.0 x 73.0. Acervo: Kroller-Muller Museum/Otterlo.
Figura 70: Artista: Van Gogh. Obra: Terraço do Café à Noite. Ano: 1888. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 81 x 65,5 cm. Acervo: Kroller-Muller Museum/Otterlo.
94
Nesta citação, extraída da carta de Van Gogh para o irmão, que trazia
consigo no dia da morte, elucida a absoluta consciência da parceria na produção e
na comunicabilidade dos quadros.
4
Inconsciente coletivo: Depósito e, ao mesmo tempo, a camada mais profunda do inconsciente e
corresponde a uma imagem do mundo que levou eras e eras para se formar. Nessa imagem
cristalizaram-se os arquétipos ou as leis e princípios dominantes e típicos dos eventos que ocorreram
no ciclo da alma humana. (GRIMBERG, 2003, p.135)
5
Arquétipos: Constituem uma espécie de matriz, uma raiz comum a toda a humanidade e da qual
emerge a consciência. Essa descoberta significa o reconhecimento de duas camadas no
inconsciente: a pessoal e a impessoal, ou transpessoal, o inconsciente coletivo. (idem, ibidem, p.134)
96
K. Jaspers confessa que Van Gogh o atrai [...] parece-me que uma íntima
fonte da existência abres-se diante de nós por um instante, como se viesse
de profundezas ocultas, revelando-se diretamente. Existe aí uma vibração
que não podemos suportar por muito tempo e da qual procuramos logo nos
subtrair; [...] esta vibração não nos leva a assimilar o elemento estrangeiro,
mas a transformá-lo numa modalidade outra, mais a nosso alcance. Isso é
extremamente excitante, mas não é nosso mundo; surge daí a interrogação
radical, um apelo que se dirige a nossa própria existência. Seu efeito é
benéfico, provoca em nós uma transformação. (SILVEIRA, 1981, p.15)
9 CONSTRUINDO O MOSAICO
Esta pesquisa se originou pelo interesse do seu autor pela vida e obra de
Van Gogh, após a leitura do livro Cartas a Theo, surpreendendo-o positivamente ao
constatar que o pintor possuía um conhecimento apurado sobre a arte. A partir
dessa leitura, a percepção sobre o trabalho de Van Gogh ampliou-se, e o que antes
era considerado espontâneo, gestual e intuitivo, incorporou uma experiência
acumulada que envolvia história familiar, estudos, pesquisas, planos, senso crítico e
equilíbrio estético.
Embora tenha feito uma catalogação geral, incluindo também temas sobre a
descrição da natureza, papel e reconhecimento do artista e opiniões a seu respeito,
foram estabelecidos como temas principais para análise: relações familiares, sociais
e afetivas, formação artística, artistas e obras comentadas, pensamento estético e
estado físico e emocional. Os outros temas foram incluídos na pesquisa a fim de
complementar ou acrescentar informações referentes aos itens selecionados. Para
facilitar a análise, foram feitas as compilações dos trechos selecionados.
100
Para dar maior ênfase aos assuntos e trazer para o plano da realidade as
questões teóricas, foram transcritos na pesquisa alguns trechos das cartas, de
acordo com a pertinência. Essa estratégia se mostrou interessante porque além de
facilitar a análise, sublinhando alguns pontos, criou uma espécie de diálogo ficcional,
entre o pesquisador e o analisado.
Por solicitação do seu irmão, Van Gogh dispunha além do seu quarto, um
aposento que servia de atelier, de onde avistava as lindas paisagens que
circundavam o hospital. No local, que já foi monastério, atualmente funciona um
hospital psiquiátrico onde se aplica muito apropriadamente a Arteterapia. O lugar é
bonito, sereno, os ambientes e os jardins são muito bem cuidados, conforme
mostram as fotos inclusas neste trabalho, tiradas pelo seu autor.
101
9.1 Saint-Rémy-de-Provence
.
Figura 71: Casa típica da cidade.
Figura 74: Artista: Van Gogh. Obra: Pinheiros e Figuras à frente do Hospice Saint Paul. Ano: 1889.
Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 58 x 45 cm. Acervo: Musée d’Orsay/Paris.
104
Figura 76: Artista: Van Gogh. Obra: O Pátio do Hospital em Arles. Ano: 1889. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 73 x 92 cm. Acervo: Coleção Oskar Reinhart/Wintherthur.
105
Figura 78: Artista: Van Gogh. Obra: Olive Grove: Orange Sky. Ano: 1889. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 74 x 93 cm. Acervo: Goteborgs Konstmuseum/Goteborg.
9.2 Auvers-sur-Oise
Auvers-sur-Oise foi a cidade onde Van Gogh se instalou no final da vida para
receber tratamento do médico homeopata Paul-Ferdinand Gachet, artista, grande
admirador dos impressionistas e várias vezes retratado pelo pintor. A pequena
cidade ainda mantém o encanto e a magia, retratadas nos seus últimos quadros.
106
Figura 82: Artista: Van Gogh. Obra: Rua em Auvers. Ano: 1890. Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 73 x
92. Acervo: Ateneumin Taidemuseo/Helsinki.
108
Figura 84: Artista: Van Gogh. Obra: Ruas de Vilarejo com Degraus em Auvers, com Figures. Ano:
1890. Técnica: óleo s/tela. Dimensões: 49,8 x 70,1 cm. Acervo: Saint Louis Art Museum/St. Louis.
109
Figura 86: Artista: Van Gogh. Obra: A Igreja de Auvers. Ano: 1890. Técnica: óleo s/tela. Dimensões:
94 x 74 cm. Acervo: Musée d’Orsay/Paris.
110
Figura 88: Artista: Van Gogh. Obra: Campo de Trigo com Cotovia. Ano: 1887. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 34 x 65,5 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã.
111
Figura 90: Artista: Van Gogh. Obra: Campo de Trigo com Flores. Ano: 1890. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 60 x 81 cm. Acervo: Fondation Beyeler – Riehen/Basel/Switzerland.
112
Figura 91: Cemitério de Auvers, onde estão enterrados Van Gogh e seu irmão Theo.
113
No ano de 2009, o Museu Van Gogh colocou no ar o site Van Gogh Letters
(www.vangoghletters.org), por ocasião do lançamento de uma coleção com seis
volumes que contêm uma extensa correspondência do pintor. O site possibilita
acesso ao teor das cartas, desenhos incluídos nas mesmas, suas pinturas e de
outros artistas que são citados na correspondência.
O autor deste trabalho escolheu duas cartas que não haviam sido publicadas
no livro que o embasou. A primeira, datada de 21 de abril de 1882, quando residia
em Haia, o pintor revela uma personalidade frágil e delicada e de maneira sensível e
carinhosa queixa-se ao irmão sobre o tratamento desrespeitoso recebido do pintor
Mauve. A segunda carta, datada de 5 de outubro de 1889, morando em Saint-Rémy,
quase no final da vida, fala ao irmão sobre projetos de trabalho, aspectos da
natureza que tanto o sensibilizava e estudos futuros na Holanda.
Segue o teor da Carta 219 - de: Vincent Van Gogh para: Theo Van Gogh -,
local: Haia (Holanda), data aproximada: sexta-feira, 21 de abril de 1882 (VAN GOGH
LETTERS, 15/12/2009):
Às vezes, penso comigo mesmo: se minha vida fosse um pouco mais fácil,
quanto mais e melhor que agora, eu poderia trabalhar. Eu de fato trabalho,
como acho que você viu nos meus últimos desenhos, estou começando a
compreender como superar as dificuldades – mas veja quase nenhum dia
passa sem que alguma outra coisa apareça, além do esforço de desenhar,
o que já seria bastante difícil sem algo mais a suportar. E, veja, há
infelicidade que acredito, na verdade, não merecer – pelo menos não sei o
que fiz para merecê-la – e que eu gostaria muito de afugentar. Seja
114
No final de janeiro – acho que uns 15 dias depois da minha chegada aqui, a
atitude de Mauve para comigo de repente mudou muito – tornou-se tão
inamistosa quanto havia sido amistosa. Atribuí isso à falta de satisfação
com o meu trabalho, e fiquei tão ansioso e agitado que caí num estado
extremamente perturbado e doente, como já lhe escrevi naquela época.
Mauve então veio me ver e me reassegurou que tudo ficaria bem,
encorajando-me.
Mas, numa noite, pouco tempo depois disso, ele começou a falar comigo de
novo, de uma maneira tão diferente, que me parecia que eu me defrontava
com outro homem. Pensei, ‘meu querido amigo, era exatamente como se
alguém tivesse derramado veneno no meu ouvido’ – na verdade,
maledicência – mas eu me encontrava no escuro quanto à origem do vento
venenoso.
Mauve começou a fazer coisas como imitar minha maneira de falar e meus
maneirismos, dizendo ‘olha só a cara que você faz’, ou ‘isso é bem o jeito
que você fala’, parecendo estar com raiva, mas ele é muito bom nisso, e
devo admitir que fosse uma impressionante caricatura de mim, se bem que
raivosamente desenhada.
Naquela ocasião, ele disse algumas coisas que, de outra maneira, H.G.T.
(Hermanus Gijsbertus Teersteg, marchand) costumava dizer a meu respeito.
E eu lhe perguntei: ‘Mauve, você viu Teersteg recentemente?’ Não, disse
Mauve. E continuou conversando, mas, cerca de 10 minutos mais tarde, ele
deixou transparecer que tinha visto Tersteeg, de fato, naquele mesmo dia.
Após isso, não consegui tirar Tersteeg da minha cabeça, e pensei: ‘será
possível, meu querido H.G.T. que vossa excelência está por trás disso?’ E
então escrevi uma carta curta, mas não sem polidez para H.G.T.
Esta era a carta que H.G.T. relatou a você em sua primeira visita a Paris.
Quando ele voltou de Paris, fui vê-lo e lhe disse que esperava que me
perdoasse se falei algo sobre Vossa Excelência que não fosse aplicável,
pois que estava eu no escuro quanto à causa do meu problema. De
qualquer forma, ele ficou novamente amigável comigo – mas apesar disso
fui ver Mauve e Mauve continua pouco à vontade e bastante inamistoso.
E, algumas vezes, foi-me dito que ele não estava em casa, e, no final das
contas, havia todos os sinais de uma frieza indiscutível. Comecei a aparecer
por lá cada vez menos, e Mauve nunca mais veio me ver, apesar de não ser
tão longe.
O jeito que Mauve falava também se tornou tão acanhado, se é que posso
assim colocar, quanto era anteriormente abrangente. Antes de tudo, eu
tinha que desenhar a partir de moldes de gesso. Eu abomino desenhar com
base em moldes de gesso – no entanto, eu tinha algumas mãos e pés
pendurados no estúdio, que não eram para desenhar. Uma vez, ele me
115
Em resposta a isso, um bilhete de Mauve, dizendo que ele não queria mais
saber de mim por dois meses. E, de fato, ele não teve nada comigo durante
esses dois meses, mas durante esse período eu não fiquei quieto, embora
possa lhe assegurar que não estive desenhando a partir de moldes de
gesso e, devo dizer que trabalhei com mais ânimo e paixão, uma vez que
estava livre. Quando os dois meses estavam mais ou menos esgotados,
escrevi-lhe felicitando-o pela grande tela que havia acabado, e lhe falei uma
vez, brevemente, na rua.
Agora, os dois meses estão esgotados há muito tempo, mas ele ainda não
veio me ver. E coisas têm acontecido com H.G.T. que me estimularam a
dizer a Mauve ‘vamos apertar as mãos e deixar de guardar mágoa ou
qualquer rancor mútuo’, mas é muito difícil para você me orientar e muito
difícil para eu ser orientado por você, caso você exija ‘estrita obediência’ em
tudo que diz e eu não sou capaz de cumprir. De maneira que há um limite
para guiar e ser guiado. Isso em nada contribui para diminuir meu
sentimento de obrigação e gratidão para com você.
Observei isso no próprio H.G.T., quando ele me contou que cuidaria para
que o dinheiro que você me manda fosse cortado: ‘Mauve e eu nos
asseguraremos que um ponto final seja colocado nisso.’ Eu então escrevi a
H.G.T. uma carta menos amigável do que a primeira – tomando o cuidado
de agradecê-lo por sua ajuda em me ’guiar’.
em Mauve, porque, mesmo que eu não queira mais saber sobre essa
‘orientação’ que ele oferece, eu gostaria na verdade de apertar sua mão de
novo, e desejo que ele quisesse fazer o mesmo. Você talvez saiba algo
sobre isso, que eu não saiba? Você, quem sabe, poderia me esclarecer
sobre essa questão? Dou-lhe o adeus,
Sempre seu,
Vincent
Perdoe-me por aborrecê-lo com isso, mas veja, estou tão no escuro. No
caso de pontos de vista diferentes sobre assuntos artísticos, não é justo, em
minha opinião, roubar alguém de seus meios de subsistência, ou tentar
voltar seus amigos contra ele, por razões que têm a ver com sua vida
privada.
Eu, uma vez, queria ralhar com uma pessoa que frequentemente recebia
pão de mim. Não, pensei, vou suportar isso dele, porque, de outra forma,
ele não terá nada para comer. Você compreende, mas pessoas com certos
comportamentos vêem coisas assim de um jeito diferente.
Tenho outro desenho de uma figura feminina com tristeza, só que maior, e
creio que melhor que a primeira. E estou trabalhando num desenho de uma
rua na qual os canos de esgoto, ou de águas, estão sendo escavados, ou
seja, mostra escavadores junto a um buraco.
Breitner ainda está no hospital e terá que ali permanecer talvez mais um
mês.
A seguir, a carta número 808, de Vincent Van Gogh para Theo Van Gogh, eu
irmão, datada de 05 de outubro de 1889, em Saint-Rémy-de-Provence (VAN GOGH
LETTERS, 15/12/2009):
Quero lhe pedir que me mande, o mais cedo possível, os brancos que pedi,
e de ajuntar a essa remessa, acrescente a tela de cinco ou dez metros, do
jeito que achar melhor. Em seguida, devo começar a te comunicar uma
novidade que me causa bastante contrariedade. Acontece que houve,
durante a minha estada aqui, algumas despesas que eu acreditava que o
Sr. Peyron lhe havia comunicado, à medida que ocorriam, sendo que ele me
avisou outro dia que não o havia feito, de modo que isto se acumulou em
mais ou menos 125 francos, deduzindo os 10 que você havia enviado pelo
correio. Essas despesas foram para as tintas, as telas, as molduras e os
chassis, minha viagem outro dia para Arles, uma roupa e diversos
consertos.
Uso aqui duas cores, o branco de cerusa (alvaiade), e o azul comum, mas
em bastante quantidade, e a tela é do tipo não preparada e mais forte. Isso
117
cai muito mal, bem na época em que, de bom grado, eu teria repetido minha
viagem a Arles, etc.
Isto posto, vou lhe contar que temos tido alguns dias de outono soberbos e
que os tenho aproveitado. Tenho alguns estudos, entre eles um muro todo
amarelo sobre um terreno pedregoso, destacando-se sobre o azul de céu.
Nesse estudo, creio que você verá que eu encontrei o traçado de Monticelli.
Você terá recebido as telas enviadas que lhe expedi no sábado passado.
Estou muito surpreso em saber que o Sr. Isaacson quer fazer um artigo
sobre meus estudos. Com todo prazer, mas lhe peço que espere ainda, seu
artigo não há de perder absolutamente nada e, com mais um ano de
trabalho, espero, eu poderia colocar sob seu olhar coisas mais
características, com mais vontade no desenho, mais conhecimento de
causa quanto ao Midi provençal.
Mesmo não tendo aqui no Midi, como o bom reitor, uma amante que me
prenda, me ligo involuntariamente às pessoas e coisas.
Mas, o que ele quer dizer agora, quando ainda falta acentuar as oliveiras, as
figueiras, as vinhas, os ciprestes, todas as coisas características, da mesma
forma que as Alpinas, que devem atingir maior caráter. Como eu desejaria
ver isso que Gauguin e Bernard relatam!
118
Enfim, é difícil deixar um país, antes de provar alguma coisa que sentimos e
amamos. Se eu voltar ao Norte, proponho-me a fazer um monte de estudos
de grego, você sabe, estudo pintados com branco e azul e um pouco de
alaranjado, somente como a céu aberto. Preciso desenhar e procurar estilo.
Escrevo-lhe com pressa, para não mais tardar em responder à sua boa
carta, esperando que você escreva de novo, sem demorar muito. Eu ainda
vejo muitos bons motivos para o amanhã – nas montanhas.
Vincent
119
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Somos hoje o que éramos ontem. Isto não significa que se deva marcar
passo, e não tentar desenvolver-se, ao contrário, há uma razão imperiosa
para fazê-lo e para buscá-lo. Mas para permanecermos fiéis a estas
palavras, não podemos recuar, e quando começamos a considerar as
coisas com um olhar livre e confiante, não podemos voltar atrás e nem
hesitar. (VAN GOGH, 2002, p.27)
121
Van Gogh demonstra lucidez quando fala dos seus projetos e suas
intenções; tinha a capacidade de compreender e selecionar os pontos principais a
respeito do que lia e observava nas obras dos artistas; era claro nas descrições dos
seus trabalhos e criticava com fundamento as estruturas sociais do seu tempo.
Você deve saber que entre os missionários acontece o mesmo que com os
artistas. Há uma velha escola acadêmica muitas vezes execrável, tirânica, a
abominação da desolação, enfim, homens que têm uma espécie de
couraça, uma armadilha de aço de preconceitos e convenções; estes
quando estão à testa dos negócios, dispõem dos cargos e, por meios
indiretos, buscam manter seus protegidos e excluir os homens naturais [...].
Este estado de coisas tem seu lado ruim para quem não está de acordo
com tudo isto, e que de toda sua alma, de todo coração, e com toda
indignação de que é capaz, protesta contra isto. Quanto a mim, respeito os
acadêmicos que não são como estes; mas os respeitáveis são mais raros
do que acreditaríamos à primeira vista. Agora, uma das causas pelas quais
eu estou agora deslocado – e por que durante tantos anos estive deslocado
– é simplesmente porque tenho idéias diferentes das desses senhores que
dão cargos àqueles que pensam como eles. Não se trata de uma simples
questão de asseio, como hipocritamente me censuraram, é uma questão
mais séria que isto, posso lhe garantir. (VAN GOGH, 2002, p.47)
Shapiro afirma que alguns artistas desta época buscavam ideias antigas da
religião e formas comuns da vida como reação às transformações sociais do final do
século 19.
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Este trabalho muito ensinou, não só sobre História da Arte, mas também
sobre a Psicologia e seu inter-relacionamento com a Cultura. Das alegrias e tensões
mencionadas, mexer na vida desse homem foi uma delas, pois abriu algumas
fendas na memória do autor, e isso foi muito bom. Como foi bom também poder
juntar o mosaico das imagens com os textos. Fazendo-o sentir como se estivesse
vasculhando um baú com cartas e fotografias do passado.
Finalizar um trabalho significa dar um termo, fechar uma porta. Fazer isso
não é fácil porque gera uma angústia ao pensar que se poderia ter dado mais, ou
por simplesmente não querer abrir mão daquilo que havia dado prazer. Assim foi
difícil começar e terminar. O que leva a pensar que talvez algumas pessoas
finalizem algo abrupta e repentinamente, como Van Gogh o fez.
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Talvez você veja este esboço do jardim de Daubigny – é uma das minhas
telas mais trabalhadas -, [...] O Jardim de Daubigny; primeiro plano de relva
verde e rosa. À esquerda, um arbusto verde e lilás e um tronco de planta
com folhagens esbranquiçadas. No meio, um canteiro de rosas, à direita
uma sebe, um muro e, em cima do muro, uma aveleira com folhagem
violeta. A seguir uma sebe de lilases, uma fileira de tílias arredondadas
amarelas, a casa em si ao fundo, rosa, com teto de telhas azuladas. Um
banco e três cadeiras, uma figura negra com chapéu amarelo e no primeiro
plano um gato preto. Céu verde pálido. (VAN GOGH, 2002, p.419)
Figura 92: Artista: Van Gogh. Obra: Jardim de Daubigny com Gato Preto. Ano: 1890. Acervo: Museu
Van Gogh/Amsterdã.
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Figura 93: Artista: Van Gogh. Obra: Jardim de Daubigny. Ano: 1890. Técnica: óleo s/tela. Dimensões:
50 x 101,5 cm. Acervo: Collection R. Staechelin/Basel.
Não se sabe qual seria seu último trabalho, pois nenhuma carta é conhecida
como pertencente ao período imediatamente antecedente à sua morte. Muitos
consideram a obra Campo de Trigo com Corvos (figura 94) como o último, pelo seu
conteúdo expressivo, por acentuar caminhos cortados e um clima dramático, com
prenúncios óbvios de seu fim. Outra hipótese seria Raízes de Árvores (figura 95),
porém não se tem provas quanto a isso. (MUSEU VAN GOGH, 19/01/2010)
Figura 94: Artista: Van Gogh. Obra: Campo de Trigo com Corvos. Ano: 1890. Técnica: óleo s/tela.
Dimensões: 50,5 x 103 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã.
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Figura 95: Artista: Van Gogh. Obra: Raízes de Árvores. Ano: 1890. Técnica: óleo s/tela. Dimensões:
50 x 100 cm. Acervo: Museu Van Gogh/Amsterdã.
O suicídio:
O mito eterno:
Van Gogh representa aquilo que nos consultórios nos assombra pelo que a
vida mostra de mais cruel: o medo da rejeição e da morte. Sempre haverá espaços
para Van Gogh porque ele é um mito eterno. Por um lado, representa as injustiças
que corroem as estruturas sociais e células doentes formadas por endividados,
alcoolizados, contaminados, rejeitados, em busca de ajuda por conviver, às vezes,
com realidades tão aversivas. Por outro lado, sempre haverá pessoas que se
encantam com um clarão no céu e um pequeno galho de flor brotando, como válvula
para liberar a sua pressão interna. Alguém que diante da insuportável dor da
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A última imagem:
Boulon (2006 p.27) revela beleza, emoção e intimidade com a obra de Van
Gogh ao imaginar a última criação do pintor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. 9.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
COLI, Jorge. Vincent Van Gogh – A Noite estrelada. São Paulo: Perspectiva,
2006.
GAUGIN, Paul. Antes e Depois (Ideias e Memórias). Porto Alegre: L&PM Pocket,
2000.
GRIMBERG, Luiz Paulo. Jung, o Homem Criativo. 2.ed. São Paulo: FTD, 2003.
JUNG, Carl G. (org.). O Homem e seus Símbolos. 21.ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1977.
VAN GOGH, Vincent. Cartas a Theo. Edição ampliada, anotada e ilustrada. Porto
Alegre: L&PM Pocket, 2002.
YACUBIAN, Elza Márcia Targas. A doença e a arte Vincent Van Gogh. São Paulo:
Casa Leitura Médica, 2008.
COLEÇÕES:
MUSEU VAN GOGH. Coleção Folha. Grandes Museus do Mundo. Texto Paola
Rapelli. Museu Van Gogh Amsterdã. Rio de Janeiro: Media Fashion, 2009.
PERRUCHOT, Henri. A Vida de Van Gogh. Coleção Destinos. Lisboa: Estúdios Cor
Ltda.
WEBGRAFIA:
VAN GOGH & GAUGUIN. Diversas pesquisas sobre o tema. Disponível em:
<http://www.vangoghgauguin.com/>. Acessado em 19 dez., 2009.