Repertórios visuais em narrativas

literárias afro-brasileiras (1982-2021):

a moda, as cores e a educação na
pós-modernidade

PPGL - UEL
Gabriel Camilo (Doutorando - Bolsista CAPES)
Profa. Dra. Maria Carolina de Godoy (Orientadora)
 Quando eu era menina, eu pensava sera que eu
vou viver como desejo? Comprar vestidos
bonitos, residir numa casa vermêlha, a minha côr
predileta – Agora que comprei a casa não me foi
possível pinta-la de vermêlho porque os padres
haviam de dizer: a Carolina é comunista gostaria
de ter um tumulo vermêlho mas os padres não
vão permitir porque eles querem mandar no povo.

(JESUS, 1996, p. 141).

Tem hora que eu tenho a impressão que estou

num palacio lá no ceu Que o ceu é dividido em
salas. E cada sala é uma côr. As paredes e os
moveis de cor única. E eu fico na sala vermêlha. E
o Luiz fica numa sala azul cada sala tem uma
pessôa usando a sua côr predileta.

(JESUS, 1996, p. 160 e 161).

O que iremos
discutir
Assuntos abordados
Sumário
Objetivos
Cronograma/Metodologia
Recortes de Estudo
 SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO
I O autor, a Moda e a literatura afro-brasileira: uma trajetória em
formação
II Panorama dos escritores contemporâneos com as obras em
análise

2 Teoria da Moda
2.1 Mediação aos autores em diálogos: as ciências humanas e a
literatura em destaque
2.1.1 Todas As Cores Em Uma Nova Paleta
2.1.1.1 Guarda-roupa literário na escola
2.1.1.1.1 Retornos possíveis (em síntese)

3 Análise das obras: a Moda e as cores nas narrativas

3.1 As cores primárias representadas: o vermelho, o azul e o
amarelo
3.1.1 A Outra Cor: Em (Re)Construção, O Preto E Branco
3.2 A Moda: a vestimenta, a perfumaria
3.2.1 Design e temporalidade

4 Literatura e Moda nos cenários da educação contemporânea

brasileira
4.1 O ensino na metodologia triangular
4.1.1 A Educação Nas Artes: Crítica Dos Métodos
4.1.1.1 Currículo em espaços comparativos de arte
4.1.1.1.1 Posicionamentos contemporâneos escolares e de
aprendizagem

5 CONCLUSÃO: Ênfase das coisas (v)indo

REFERÊNCIAS

O objetivo geral é compreender as relações e os diálogos
entre Moda, literatura afro-brasileira, arte, educação e o
pensamento pós-moderno, a partir de leituras articuladas
dos elementos textuais contemporâneos da Teoria da Moda
e das demais áreas elencadas, verificando como essas
linguagens (visual, performática e escrita) ajustam-se à
teoria literária.
Objetivos específicos:
a) Analisar criticamente as estratégias de manipulação
estéticas (imagem), sociais e históricas (estados de alma)
representadas na narrativa dos escritores afro-brasileiros
selecionados, inseridos com parte significativa de suas
produções no final do século XX e decorrer do XXI (1982-
2021);
b) Estabelecer diálogos entre o pensamento pós-moderno e
as problemáticas presentes na arte contemporânea
brasileira, assim como contextualizar em uma perspectiva
histórica esses conceitos-chaves com teorias literárias, das
artes e da Moda, contemplando os acontecimentos e as
rupturas políticas e étnico-raciais de vanguardas históricas
e socioculturais;
c) Produzir estudos que abordem a tradição da Teoria de
Moda nas áreas da literatura, da arte e da educação,
contextualizando os escritores afro-brasileiros nesse
panorama contemporâneo, contribuindo com os debates da
Moda e da Literatura enquanto fenômenos sociais e
estéticos, investigando ainda as estratégias diretas de
atuação desses autores nos campos da educação crítica e
poética.
Objetivos Propostos
A perspectiva teórica, estudada desde a
graduação e Mestrado, contempla as relações
entre narrativa de autoria negra, artes, educação
e currículo.
Nesta continuidade de pesquisa, no doutorado,
novas perspectivas são inseridas: Moda, cores,
pós-modernidade, estratégias de manipulação.
Há diálogo com a fortuna crítica dos autores e a
educação.
Como corpus da pesquisa: As mulheres de
Tijucopapo (1982), de Marilene Felinto, Meu
estranho diário (1996) e Meu sonho é escrever
(2018), de Carolina Maria de Jesus, Água de
barrela (2016), de Eliana Alves Cruz, O beijo na
parede (2013), Estela sem Deus (2018) e O avesso
da pele (2020), de Jeferson Tenório, Torto Arado
(2019) e Doramar ou a odisseia (2021), de Itamar
Vieira Junior, Redemoinho em dia quente (2019),
de Jarid Arraes, Terra nos cabelos (2020) e Sobre
o fundo azul da infância (2020), de Tônio Caetano.
Cronograma de execução
Recortes de estudo

Conceitos Articulações Tema e formas

Cor Moda Narrativa

Pós-modernidade Educação e Currículo Autobiográfica e
Vanguarda histórica Arte Contemporânea Ficcional
Estados de alma Imagem/Visualidades Espaço
Estratégias de Romance X Conto X (narrativo/discursivo)
manipulação Diário Memórias de si
Crítica (Estética)
Prática em poética, teoria e educação
Moda na literatura: experimentação constante e forma variável

O espaço do agir deve ser inventado, suas modalidades serão

aquelas da imaginação, da criatividade transversal, do
ecletismo marginal, de um desvio visível, de uma alteridade
irredutível que se manifestará no espaço mental subtraído do
lugar comum, que exprimirá a força do desejo, desejo há muito
negado. É o desejo, portanto, que tem a função catalisadora de
recursos e energias, e liberá-lo significa realizá-lo.

(CALANCA, 2008, p. 201).

Educação
Carolina, década de 60, Brasil

(GHIRALDELLI JR, 1957, p. 50).

Problematização
através de diálogo.
Vivência
e Pesquisa. "Já estava cansada de viver às margens da vida."

“Não sei dormir sem ler. Gosto de manusear um livro. “Tenho apenas dois anos de grupo escolar, mas
O livro é a melhor invenção do homem.” procurei formar o meu carater.”
(JESUS, 2014, p. 22) (JESUS, 2014, p. 14)

Eleição
dos temas geradores. Conscientização
e ação social e política.
“Não devemos confiar no dinheiro, confiar na cultura.”
(JESUS, 1963, p. 17). “As canetas e os lápis dos tolos são os revólveres”.
(JESUS, 1963, p. 45).
“A educação de uma criança, é semelhante a pedra que
é necessário esmerilhá-la e lapidá-la para transformá- "A democracia está perdendo os seus adeptos. No
lo n'um cidadão humano.” nosso país, tudo está enfraquecendo. O dinheiro é
(JESUS, 1963, p. 58). fraco. A democracia é fraca e os políticos, fraquíssimos.
E tudo o que está fraco, morre um dia."
A cor e a vestimenta
O céu só sabe ser azul irônico lá
em cima enquanto eu aqui
embaixo morro a minha dor de
chuva cinza de não ter tido uma
meia com pompons no Natal
porque o céu era longe, limite
inatingível.
(Marilene Felinto, 1982, Brasil)
O sujeito e o significado
O que existe por detrás de suas
vestes, o ser falante jamais
haverá de descobrir.
(Mauro Mendes Dias, 1997, Brasil)
Teoria de Moda
Diálogos
As roupas da época da guerra
demonstram com que força a
moda reflete a situação
econômica e política vigente, a
atmosfera do momento.
(Christina Probert, 1989)
Na narrativa
Teu caos me comove. Olho para
tudo isso e percebo que serão
esses objetos que vão me
ajudar a narrar o que você era
antes de partir. Os mesmos
utensílios que te derrotaram e
que agora me contam sobre
você. Os objetos serão o teu
fantasma a me visitar.
(TENORIO, 2020)
Vestimenta e imagem: memória de si

Enquanto investigo suas coisas, encontro

uma foto. Eu, você e minha mãe. É uma
imagem comum: estávamos numa praça, não
havia data, eu devia ter uns dois anos. Era um
dia frio, pois estávamos de touca e cachecol.
Você e minha mãe sorriam. Eu não. Desde
pequeno me recuso a sorrir sem vontade.

(TENORIO, 2020, p. 38).

 Referências
ARRAES, J. Redemoinho em dia quente. São Paulo: Alfaguara, 2019.
BARBOSA, A. M. A imagem no ensino de arte: anos oitenta e novos tempos.São Paulo: Perspectiva, 1991.
BARTHES, R. Sistema da Moda. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.
BENJAMIN, W. Charles Baudelaire. Passagens. Trad. Irene Aron/ Cleonice Paes Barreto Mourão. São Paulo; Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado de
São Paulo: Ed. UFMG, 1982.
BERNARDETE A. G. Pesquisa, educação e pós-modernidade: confrontos e dilemas. Cadernos de Pesquisa, v. 35, n. 126, p. 595-608, set./dez. 2005.
CAETANO, T. Terra nos cabelos. Rio de Janeiro: Record, 2020.
CAETANO, T. Sobre o fundo azul da infância. Belo Horizonte: Venas Abiertas, 2020.
CALANCA, D. História social da moda. Trad. Renato Ambrosio. São Paulo: Senac SP, 2008.
CRANE, D. A moda e seu papel social: classe, gênero e identidade das roupas. Trad. Cristiana Coimbra. São Paulo: Senac SP, 2006.
CRUZ, E. A. Água de barrela. Rio de Janeiro: Malê, 2018.
DIAS, M. M. Moda divina decadência: ensaio psicanalítico. São Paulo: Hacker, 1997.
DURAND, J. C. Moda, luxo e economia. São Paulo: Babel Cultural, 1988.
ERNER, G. Sociologia das tendências. Trad. Julia da Rosa Simões. São Paulo: Gustavo Gili, 2015.
FELINTO, M. As mulheres de Tijucopapo. São Paulo: Ed. Da Autora, 2019.
FERRAZ, M. H. C. T.; FUSARI, M. F. R. Metodologia do ensino de arte. São Paulo: Cortez, 1993.
GODART, F. Sociologia da moda. Trad. Lea P. Zylberlicht. São Paulo: Senac SP, 2010.
JESUS, C. M. Meu estranho diário. (Orgs.) José Carlos Sebe Bom Meihy e Robert M. Levine. São Paulo: Xamã, 1996.
JESUS, C. M. Meu sonho é escrever… contos inéditos e outros escritos. (Org.) Raffaela Fernandez. São Paulo: Ciclo Contínuo Editorial, 2019.
 Referências
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LAVER, J. A roupa e a moda: uma história concisa. Capítulo final (por) Christina Probert. Trad. Glória Maria de Mello Carvalho. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
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SOUZA, G. M. O espírito das roupas: a moda no século dezenove. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
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OSTROWER, F. Criatividade e processos de criação. Petrópolis: Vozes, 1987.
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TENORIO, J.Estela sem Deus. Porto Alegre: Zouk, 2018.
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VIEIRA JUNIOR, I. Torto Arado. São Paulo: Todavia, 2019.
VIEIRA JUNIOR, I. Doramar ou a Odisseia. São Paulo: Todavia, 2021.
ZAMBONI, S. A pesquisa em arte: um paralelo entre arte e ciência. Campinas, SP: Autores Associadas, 2001.