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Clavícula Hermética Número 1 - A

O que é Magia Cerimonial?

A Magia Cerimonial Moderna adquiriu a forma atual nos séculos XVIII e XIX e se
refere à muitas tradições diferentes, mas a maioria é geralmente baseada na
Kabalah, Hermética, Rosacrucismo, Alquimia e outras ciências ocultas. A Magia
Cerimonial não é obra de nenhum indivíduo ou cultura ¡solada e têm sua origem
nos antigos mistérios ensinados na Grécia, Egito, Caldéia e Israel.

A Magia Cerimonial é também chamada de Alta Magia, enquanto a Bruxaria é


chamada de Baixa Magia. Não se ligue muito nas palavras alta e baixa pois são
apenas palavras que indicam níveis de conhecimento técnico e não de poder, ou
seja: não são indicações de qualidade. Na Idade Média, a prática de Baixa Magia
geralmente pertencia ao camponês iletrado, ao homem do campo e, na maioria das
vezes, estava ligada aos rituais agrícolas e de Magia Natural. Já a Alta Magia
requeria, no mínimo, a habilidade de ler e escrever o que não era exigido pela Baixa
Magia. A Baixa Magia está bem viva na atualidade, principalmente nas zonas rurais.
O que seria as benzeduras e simpatias senão práticas simples de baixa magia (magia
natural) tão utilizados por nossos curandeiros? Além disso, muitos bruxos
modernos incorporaram elementos de Alta Magia em suas próprias práticas.

Alta Magia inclui o uso do cerimonial em várias formas para se experimentar um


influxo de poder de natureza cósmica, arquetípica e mesmo transcendente. Na Alta
Magia o mago invoca as forças superiores para comandar as forças inferiores da
natureza. Ele identifica-se com uma consciência superior (anjo, deus, deva etc.) para
exercer domínio sobre as potências inferiores.
Para o Mago o poder ou Ser que chamamos Deus é se manifesta através de vários
Mistérios que são as energias divinas, conhecidas como “deuses”. O objetivo do
Mago é tornar-ser um com Deus. Isso consiste em experimentar, ainda que seja por
fração de segundo, a consciência da união com a Divindade ou um de seus aspectos.

Entretanto os rituais de Alta Magia não são religiosos, isto é: não envolvem a fé ou
a veneração a um Deus ou panteão de deuses.  No contexto da Magia Cerimonial, o
emprego de símbolos e práticas inspiradas nas Egrégoras Mitológicas ou
“Divindades da Antiguidade” não deve ser confundido com o culto pagão da
Natureza.  De fato, a Alta Magia não tem nada a ver com esses ritos particulares,
individuais ou coletivos. Exemplificando: quando adotamos um deus pagão como
foco do cerimonial mágico, não estamos querendo reviver uma espécie de adoração
religiosa. Pelo contrário, essas formas divinas são apenas lentes psíquicas, nas quais
devem ser concentradas forças de tipo apropriado, que emanam ou do inconsciente
coletivo ou dos domínios objetivos internos da existência.

“Os conceitos da Sabedoria Antiga podem ser rudes do ponto de vista da filosofia
moderna, mas somos forçados a admitir que a força causativa por atrás da
manifestação é afim, em sua natureza, antes à mente do que à matéria. Dar um
passo à frente e personificar os diferentes tipos de força é uma analogia legítima,
desde que compreendamos que a entidade que é a alma da força pode diferir em
espécie e grau de nossas mentes, assim como nossos corpos diferem em tipo e escala
dos corpos dos planetas.” (Dion Fortune)

Muitos magos cerimoniais trabalham com energia interna (shakti) combinada com a
energia de diversas entidades supra-físicas (deuses, anjos, gênios etc) para realizar
suas operações mágicas. Em geral, o mago cerimonial domina e ordena as entidades
de diversas hierarquias e para tal tem que ter controle tanto interno como externo.
Algumas vezes uma forma de energia espiritual mais geral (planetária, elemental ou
zodiacal) pode ser usada para criar elementais artificiais, consagrar talismãs e
amuletos, lançar feitiços etc. Outras vezes ele precisa pedir ajuda a um arcanjo ou
mesmo evocar um daemon, gênio ou elemental para fazer sua magia.

Na verdade a Magia Cerimonial, em seu mais amplo sentido, inclui pelo menos três
tipos distintos de trabalho cerimonial, todos, porém, sujeitos a um único conjunto
geral de regras ou governados por uma única fórmula principal. A palavra
“cerimonial” inclui rituais para iniciação, para invocação de dos chamados deuses e
para evocação de espíritos elementares e planetários. Há também a enorme esfera
de talismãs, e sua consagração e carga. O método da Magia Cerimonial é
provavelmente o mais ideal de todos os métodos para desenvolvimento espiritual,
suas técnicas incluem “inflamar-se” por meio da oração, da meditação, do ritual, da
música, incenso, nomes exóticos e assim por diante. Todos os métodos têm o
objetivo comum de desligar o “diálogo interior” e de concentrar o magista, de modo
que o resultado desejado possa acontecer. Uma invocação, por exemplo, é completa
quando o magista purifica sua consciência, concentra-se e deixa a nova energia
penetre, informe e enriqueça seu ser.

Os cerimoniais de Alta Magia pertencem mais a segunda parte do desenvolvimento


ocultista, pois não é possível praticá-la sem conhecer a fundo as técnicas da
visualização; banimentos, invocações e consagrações cerimoniais. Essas técnicas
serão exploradas em nosso primeiro seminário conforme segue o programa abaixo:

Módulo 1 - Rituais do Pentagrama, prá tica, simbolismos e variaçõ es.


Módulo 2 – Banimentos e Consagraçõ es (de Pessoas, Objetos e
Ambientes).
Módulo 3 – Construçã o do Altar Teú rgico e preparaçã o da Egrégora.
Módulo 4 – Edificaçã o do Templo Má gico e a Abertura do Portal do
Limiar.
Módulo 3 – Exercício do Pilar do Meio e o desenvolvimento do Corpo
de Luz.
Módulo 4 – Método dos Três Segredos (do Corpo, da Fala e da Mente)
e seu uso na Magia.
Módulo 5 – Sobre invocaçõ es, oraçõ es e decretos.
Módulo 6- Método de Assunçã o de Formas Deuses – a Fó rmula de
IHVH
Módulo 7 – Consagraçã o da Espada e seus usos ritualísticos.
Módulo 8 – Consagraçã o do Punhal e seus usos ritualísticos.
Módulo 9 – Consagraçã o da Taça e seus usos ritualísticos.
Módulo 10 – Consagraçã o do Bastã o e seus usos ritualísticos.
Módulo 11 – Consagraçã o do Pantá culo e seus usos ritualísticos.
Módulo 12 – Introduçã o a Limpeza e purificaçã o de Ambientes.
Módulo 13 – Como defender-se de energias e forças negativas.
Módulo 14 – Yô ga do Corpo, da Respiraçã o e da Mente (parte 1.)
Módulo 15 – Sobre o Guardiã o e o Mestre do Templo.
Módulo 16 – Ancoragem da Força Invocada e Uso de Elos Má gicos.
Módulo 17 – Comunicaçã o com o Anjo da Guarda.

A Magia Cerimonial, como ciência, deve ser praticada com seriedade e constância, e
os rituais devem ter sempre uma boa e segura orientação, não se deve abrir portais
dimensionais se não sabe como fechá-los e, principalmente, como lidar com as
energias e entidades que você dá passagem em um ritual. As técnicas de Magia
Cerimonial abrem portais e atrai as mais poderosas forças da natureza. Como
praticante de Magia Cerimonial você lida com um complexo sistema de energias
sutis. Na magia cerimonial o praticante usa o usa o ritual, sob forma específica de
cerimônia, para obter uma mudança desejada. Esse resultado é alcançado usando os
símbolos e as técnicas que correspondem à energia específica com que se vai tratar.
Um ritual pode ter um objetivo específico, por exemplo: a celebração de um festival,
ascensão espiritual, paz planetária, a obtenção de dinheiro, a conquista de amor,
praticamente qualquer coisa, na verdade. Em última análise e sempre, porém, o
processo envolve:

1- A purificação da personalidade
2- Contato da energia da alma
3- União final com o espírito

Entretanto, em seu sentido transcendente, Magia Cerimonial é um conjunto de


práticas místicas e mágicas que visam auxiliar o mago na descoberta sua Divindade
interior, que é a fonte de sua Vontade Real, para que com isso ele possa cumprir o
seu destino.
O objetivo final da Alta Magia tem sido descrito como a comunicação com o Sagrado
Anjo Guardião (S.A.G) – o que traz iluminação e informação para o magista, que
vive neste plano de existência. Entretanto, o contato com o SAG não é uma
experiência subjetiva com aquilo que a Yoga e a Teosofia chamam de “Eu Superior”.
O Sagrado Anjo Guardião é uma entidade real embora não–física, possivelmente um
espírito desencarnado evoluído que ultrapassou os estágios da humanidade e atua
como uma espécie de guia ou mentor espiritual do magista. 

O ocultista inglês Kenneth Grand fez um comentário sobre o “Culto ao Anjo da


Guarda”.

“ O anjo da guarda era um conceito comum a todos os grandes cultos da Antiguidade.


Os egípcios referem-se a ele como Asar-Un-Nefer, O Que se Fez Perfeito; os chineses
chamam-no a Grande Pessoa; os hindus conhecem-no como Ishta devata , ou Deus Eleito; os
cabalistas chamam-no de Yechidah, o Eu Superior; os budistas o denominam Adi-Buda, a raiz
da Luz ou iluminação; os gnósticos referem-se a ele como Augoeides, o Eu Luminoso. Mais
recentemente, os teosofistas popularizaram a idéia do anjo da guarda como o Vigilante Mudo
ou o Grande Mestre”.

O Sagrado Anjo Guardião é ponte de ligação entre o mago e as Altas Inteligências do


Cosmo, atuando como mediador entre o limite terrestre e o infinito. A comunicação
com o Sagrado Anjo Guardião ativa os quatro chakras superiores, o que torna possível
a conexão com Entidades Transcendentais. A partir de um intercurso maior com seu
Anjo você deve seguir adiante e canalizar uma força cósmica específica e direcioná-la
para um determinado objetivo. O processo teúrgico de re-ligar o homem as
Potestades Superiores, e trazer sua influência à esfera terrestre, fundamenta-se na Lei
das Analogias expressa no axioma de Hermes:

“ O que está acima...


é como ...
o que está embaixo.
Para que se cumpra o milagre da Unidade.”

Vale lembrar que a metafísica da Magia Cerimonial baseia-se na concepção


hermética do Universo que parte do princípio de que o Macrocosmo (Universo) e
Microcosmo (Homem) são reflexos exatos um do outro.

“O homem é um microcosmo, ou um mundo em miniatura, porque ele é um extrato de


todas as estrelas e planetas de todo o firmamento, da Terra e dos elementos; e, assim ele é
sua quintessência.” (Teofrasto Paracelso séc.XVI)
A Via Iniciática da Magia Cerimonial Ocidental

A antiga Magia Cerimonial era fundamentada em conceitos e nas práticas do


misticismo judaico e cristão. De modo geral, os encantamentos e as técnicas de
preparação do mago e do material eram centrados em orações nas quais são
exaustivamente repetidos muitos nomes hebraicos e gregos de Deus, de anjos e
demônios, além de fórmulas mágicas em latim ou hebraico mais ou menos
distorcidas. O rígido monoteísmo dos grimórios ou manuais de magia medieval
derivava das várias cópias (manuscritas e impressas) das Clavículas de Salomão, que
expunham as regras da Goécia. A Goécia é uma sub-tradição da Ordem de Hermes,
que, acreditando na lenda, foi criada pelo próprio rei Salomão.

“Desde o Império Romano até a Reforma, a magia ritual e cerimonial estava


totalmente entrelaçada com a religião predominante na época. Quando o cristianismo
alcançou o poder com o imperador Constantino, a Magia assumiu rapidamente a
natureza cristã. Muitas cerimônias de magia bastante usadas, algumas tão antigas,
provindo da época da Babilônia, assumiram a nova roupagem teológica da religião
cristã. As práticas religiosas cristãs impuseram, aos antigos círculos mágicos
babilônicos, os nomes dos quatro anjos judaicos dos pontos cardeais. Elas também
substituíram os nomes das divindades do panteão babilônico pelos nomes dados pelo
panteão romano às forças planetárias, e os nomes das divindades hebraicas do Antigo
Testamento pelos nomes dos atributos do Deus Criador.”
( Draja Mickaharic)

Assim, a regra era a cristianização dos ritos e das fórmulas mágicas. Os apelos divinos
eram feitos em nome de Jesus Cristo, e as alusões ao Novo Testamento eram comuns.
Nomes hebraicos de poder, como Agla e Tetragrammaton, foram substituídos por
frases cristãs e assim por diante.

Em seu livro “As Ciências Ocultas” Arthur Edward Waite admitia que as técnicas de
Magia Cerimonial deviam “ter hoje (1891) efeito tão forte quanto em qualquer período
da Antigüidade. (...) Ora, o valor real e demonstrável do cerimonial da magia tem dois
aspectos. Produzia no operador uma exaltação que desenvolvia as faculdades latentes
de seu ser interior; e as condições ambientais necessárias para o sucesso de todo tipo
de experiência mágica eram produzidas por (...) um apelo aos sentidos, exercido por
um ritual exuberante e irresistível (...), seus perfumes e incensos.” Para Arthur Waite,
o princípio fundamental para a comunicação com várias classes de inteligências
transcendentais ( tais como anjos, espíritos elementares, demônios etc) “...residia no
exercício de certa força oculta existente no mago e intensamente exercida para o
estabelecimento daquela correspondência entre os dois planos da natureza capaz de
efetuar o propósito almejado. A síntese desses métodos e processos tinha o nome de
Magia Cerimonial e constituía, de fato, uma tremenda válvula multiplicadora das
faculdades latentes da natureza espiritual do homem.” Aqui vale observar que Waite
insiste em que a magia não é uma violação das leis da natureza nem produz efeitos a
partir de causas evidentemente inadequadas. Ao invés disso, os processos mágicos
seguem suas próprias leis, inteiramente adequadas aos resultados que produzem,
especialmente quando se atenta que eles operam fundamentalmente na psicologia do
mago, alterando seu estado de consciência e ativando suas energias psíquicas. Waite
também criticava o excesso de observâncias rituais grotescos dos grimórios
medievais, bem como o uso de meios violentos e não naturais como o haxixe e outras
drogas.

Entretanto, a Magia Cerimonial evoluiu e modificou-se e já a partir da época de Waite


(final do século dezenove) buscou-se reviver novamente os elementos teúrgicos do
êxtase, que são a chave para o conhecimento Divino ou gnose. Assim é que as
mudanças promovidas por Levi, Mathers, Westcott e seus sucessores era a de mesclar
as tradições mágicas anteriores com uma mística união com o Divino, mergulhando-
as no espírito de otimismo e fé no progresso humano que caracterizava o século XIX.
Foi a esta mistura que Eliphas Levi, com sua genial capacidade de criar rótulos úteis,
inventou o termo haute magie, Alta Magia. O que Levi e os ocultistas do século XIX
tencionavam fazer era liberar as habilidades mentais e espirituais latentes dos seres
humanos através do uso da magia ritual tradicional. Era uma terapia destinada a
permitir que os seres humanos evoluíssem até se tornarem deidades, ou até
manifestar o divino que já existia neles.

Surge assim a Alta Magia Cerimonial, que combina aspectos do misticismo judaico-
cristão com as antigas Tradições de Mistérios da Grécia, Egito e Mesopotâmia. Os
principais agentes dessa mudança foram a Ordem Hermética da Golden Dawn e seu
mais conhecido membro Aleister Crowley. A primeira mudança veio em relação às
entidades as quais se dirigiam. Embora mantivessem as hostes judaico-cristãs, a
Golden Dawn também se dirigia a deuses do panteão egípcio e greco-romano, sempre
trajando túnicas e adornos sugestivos das deidades invocadas. Depois que Crowley
seguiu por conta própria, continuou a dirigir-se aos antigos deuses. Mais adiante, ele
negou a existência de um poderoso Ente Supremo no topo da hierarquia universal.
Proclamou que o objetivo do Mago era "alcançar o Conhecimento e Conversação do
Sagrado Anjo Guardião", satisfação da "verdadeira vontade", e a realização da própria
divindade. Apesar de alguns magos terem sido influenciados pela própria obra de Carl
Jung, que considerava todos os deuses como imagens arquetípicas projetados por um
inconsciente coletivo, e por filosofia orientais, outros entendem os deuses como seres
reais ou personalidades incorpóreas onipresentes, intimamente ligadas com sua
cultura de origem e com a essência universal de onde vieram.

Existe pouca dúvida de que Crowley acreditasse que o Sagrado Anjo Guardião fosse
uma entidade externa à própria pessoa, uma das inúmeras inteligências operando de
outras dimensões da existência. Para Crowley, a realização da divindade do mago não
significa sua absorção no absoluto, significava a realização de sua linha de evolução
individual. Na verdade essa realização é um processo gradativo de iluminação da
consciência humana rumo a Consciência Cósmica.

Escolas Principais

Como qualquer outra forma de Arte e principalmente por ser muito antiga, a Magia
ramificou-se em uma infinidade de escolas e linhas distintas, de forma inumerável.
Estudaremos, a princípio, as antigas escolas de magia.

Escolas Antigas

Escola Teúrgica (grego-egípcia) - A palavra: “Teurgia”, significa “Ação dos Deuses”


ou ainda “Serviço Divino” sendo considerada um tipo mais elevado de Magia, realizada
num contexto espiritualista por filósofos e sacerdotes.

A Teurgia surgiu através de Jâmblico de Chalcis (250 – 330 d.C) místico e filósofo
neoplatônico do século IV da nossa era. A Filosofia Hermética formava a base teórica
que fundamentava as práticas teúrgicas entre os neoplatônicos. Esta filosofia
fundamentava-se num tipo de gnose emanacionista que buscava elevar o iniciado as
alturas do Uno Transcendental pela escada da Natureza. Nessa ascensão as esferas
celestiais o iniciado travava comunicação com aqueles poderes espirituais
denominados “deuses”. Os caminhos de busca do Mago, deixados pela Hermética, são:
alcançar o limiar do Espírito para ser onipotente e conquistar o conhecimento (gnose)
da Mente Cósmica; e conseqüentemente, entender a natureza do Universo. Os
teurgistas foram muito perseguidos pelos cristãos, e, por isso, além de serem reduzidos
em seu número, passaram a formar grupos secretos, operadores da Magia Teúrgica. A
Teurgia grega, ou Magia dos Deuses, era originalmente egípcia. Isto não surpreende
visto os rituais de mistérios desenvolvidos no Egito influenciaram de maneira
determinante praticamente todas as escolas de magia e ocultismo que se
desenvolveram posteriormente no Ocidente. A Teurgia é a raiz da Alta Magia ocidental
moderna.

Inglaterra (Escola Enochiana) – Surgiu a partir dos trabalhos do célebre erudito


inglês, matemático e ocultista John Dee (1527-1608). John Dee foi considerado um dos
maiores magos da Idade Média e Renascimento na Europa. Dee e seu assistente, o
vidente e alquimista Edward Kelly, levaram a cabo uma série de operações mágicas que
culminaram com a descoberta, através de anjos, de uma poderosa linguagem mística
que seria o próprio idioma angélico, ou enochiano que possibilitaria o contato com
entidades angélicas. Suas obras e os alentados tratados que legaram continuam sendo
objeto de intensa pesquisa e experimentação por parte dos Magos ainda hoje.
É importante ressaltar que as entidades angélicas com as quais se lida na Magia
Enochiana não correspondem per si nem a concepção popular de anjos nem a
kabalística. Não podemos pensar nos Anjos Enochianos como figuras abstratas e sem
Vontade eu são os anjos kabalísticos. E sob hipótese nenhuma pode-se pensar neles
como as criaturas patéticas ditas “anjos” de certos movimentos “New Age”. Para todos
os meios e fins são considerados entidades particulares com cuja lida deve ser
cuidadosa. Um Anjo Enochiano é uma inteligência antiqüíssima; estas entidades
representam energias poderosas as quais não se deve tratar levianamente.

Para Aleister Crowley, a etapa atual, que ele batizou de Novo Aeon, é marcada pelo
desenvolvimento da nossa capacidade de nos comunicarmos com Inteligências
Superiores Praeter-humanas, seres que, desprovidos de corpos orgânicos, mesmo
assim são capazes de organizar memória e inteligência, e estabelecer o contato conosco.
O contato com as inteligências praeter-humanas, entretanto, não é novidade. Sempre
existiram magos e videntes capazes de estabelecer a comunicação telepática com seres
transcendentais, derivando dela sabedoria, conhecimento e poder. A diferença hoje é
que esta habilidade é cada vez menos o domínio misterioso de uma elite, e com o
avançar do Novo Aeon, essa capacidade será cada vez mais entendida e difundida,
tornando enfim obsoletas todas as formas religiosas onde existe a necessidade do
sacerdote como intermediário.

No século XX, a Magia Enochiana se popularizou após os esforços da Aurora Dourada


e de Aleister Crowley, tendo sido este a primeira pessoa a percorrer os 30 Aethires,
durante a travessia pelo deserto do Saara, e registrado suas experiências iniciáticas no
maravilhoso livro chamado “A Visão e a Voz”.

França (Escola Salomônica) - O chamado “Ocultismo Francês” também lança


raízes profundas no tempo. Desde o famoso alquimista Nicholas Flamel (1330-1418) e o
legendário Michel de Notredame (1503-1566), até toda uma longa geração de
"Grimoires" (livros de magia prática). A característica desses manuais de Magia era a
operação com sinais e símbolos ( círculos, alfabeto sagrado, quadrados mágicos,
pantáculos, fórmulas, números arábicos etc.) numa técnica de relação análogas com as
forças cósmicas, no desenvolvimento espiritual.

O maior tratado de Magia escrito, que, de fato, promoveu a credibilidade da prática, na


época medieval, foi Clavicules de Salomon ou Chave de Salomão. As reais importâncias
das Clavículas (existiram várias) e também de todos os Grimoires, são entender e
desenvolver as técnicas de evocações para o aprimoramento e desenvolvimento
espiritual, em ascensão permanente.

Salomão na Magia – A Clavícula de Salomão é o mais antigo, e o mesmo tempo, o


mais célebre tratado de Magia Cerimonial européia. O texto (grimorie) essencial para
evocar, proteger e prender espíritos de todos os gêneros, creditado a Salomão, o Rei.
Provas circunstanciais demonstram que a Chave de Salomão realmente existiu, em
uma forma ou outra, desde a antiguidade mais remota. Segundo os historiadores do
assunto, e ao contrário do que seu título sugere, este livro não foi escrito pelo Rei
Salomão. Supõe-se que Salomão tenha nascido em 1033 anos antes de Cristo. A
maioria dos manuscritos originais tratam dos séculos XVI e XVII d.C, entretanto há
uma versão em grego do século XV d.C e mesmo no século I a.C., como nos relata
Flavius Josephus, existiu um livro assim. Eleazar, o Judeu exorcizava demônios com
sua ajuda e com o Anel de Salomão, que é bem conhecido dos leitores das Mil e Uma
Noites. A atribuição de uma obra a um personagem famoso era um recurso literário
muito utilizado na Antiguidade e na Idade Média européia. Freqüentemente, naquele
tempo os livros eram escritos por mais de uma pessoa, eram o resultado do esforço
comum de um grupo de estudiosos e, muitas vezes, consistiam em uma compilação de
materiais transmitidos oralmente há muito tempo, sem que fosse possível atribuir-lhes
um autor específico.
Como dito acima os grimórios (manuais de magia) conhecidos pelo nome de Clavículas
de Salomão são bem numerosos. Vários deles permaneceram manuscritos, sendo
incontestavelmente os mais interessantes. O mais popular consta de 36 Pantáculos
divididos em sete categorias, uma para cada planeta visível. Essas Clavículas, que são
aplicações práticas da Kabbalah, contêm ensinamentos talmúdicos e “Palavras de
Poder”. Algumas de suas Palavras de Poder, a própria forma dos processos, apontam
para velhas origens semíticas e babilônicas. Se aceitarmos o fato, em torno do qual há
uma concordância geral, de que as origens do ocultismo ocidental estão, em última
instância, em fontes caldeu-egípcias, poderemos começar a entender a influência que
este personagem semi-lendário (Salomão) exerceu na tradição oculta do ocidente.
Outras pistas sugerem que a Chave se derivou de um corpo de conhecimento mágico
iniciado ou usado por Salomão, que na época circulava entre os feiticeiros da parte
oriental do Mediterrâneo. Essa outra linha de pensamento é interessante, no que diz
respeito às afirmações de que a magia de Salomão está intimamente ligada à magia
teúrgica praticada no Antigo Egito e atribuída a Hermes Trimegistos – identificado
com o deus egípcio Thoth. O termo hermético ainda é utilizado para designar
operações alquímicas e obras secretas.
Tem havido confusão nos comentários e na história, devido ao fato de que vários livros
circularam sob o título de Chave de Salomão. Naturalmente não podemos ter certeza
sobre quanto do trabalho, como se conhece hoje, é original, e quanto deve ser atribuído
a adições posteriores. Por exemplo, o Lemegeton, algumas vezes denominado de “a
Pequena Chave de Salomão” ou “a Goetia” é outro livro atribuído ao autor célebre e
que trata exclusivamente da conjuração de espíritos planetários, ora vistos como anjos
ou tidos como anjos caídos ou demônios, além de ritos para evocá-los.
Lemegeton ( ou “Clavícula Menor de Salomão”) é dividido em cinco partes:
Ars Goetia
Ars Teurgia Goetia
Ars Paulina
Ars Almadel
Ars Notória
A origem do Lemegeton é obscura, mas parece ter relação indireta com os feiticeiros
goéticos da região da Tessália, na Grécia, que herdaram a Magia Caldaica. Alguns
heruditos afirmam que o sistema originou-se com os judeus no período denominado de
“Cativeiro da Babilônia” e após alcançar a Idade Média sofreu um processo de
sincretismo cristão da doutrina de anjos e demônios. Entretanto, isto é apenas
especulação e uma das inúmeras edições da Chave nos diz como este livro foi enterrado
com Salomão em seu túmulo e depois levado para a Babilônia por um príncipe desse
país. “Todas as coisas criadas” devem obedecer aos seus segredos. Seja como for, tanto
o Lemegeton como as Clavículas de Salomão dizem respeito aos grimórios medievais,
onde se preservou a sabedoria européia pré-cristã.
O Lemegeton do Rei Salomão descreve a Magia da seguinte forma:
“Magia é o conhecimento mais elevado, mais absoluto e mais divino no que se refere
à Filosofia Natural, avançando em seu trabalho e operações maravilhosas, com um
correto conhecimento das ocultas e internas virtudes das coisas, assim, para poder
aplicar Agentes corretos em pacientes Adequados, produzindo estranhas e
admiráveis efeitos. Quando os Magos são buscadores profundos e cuidadosos na
Natureza, eles, por seus conhecimentos, sabem como antecipar um efeito, que para os
vulgares parecerá um milagre”.

Escolas Modernas
Modernamente salientam-se algumas pelo seu caráter filosófico singular ou pelo
expressivo número de seus adeptos.

Alta Magia - Toda a base histórica da Magia Antiga lançou as sementes para o
florescimento, no séc. XIX, do que ficou conhecido como Alta Magia.

O renascimento da Alta Magia começou em 1801 com a publicação de “O Mago” do


inglês Francis Barret e continuou por todo o século XIX através da linhagem dos
ocultistas franceses Eliphas Levi, Papus (Dr. Gerard Encausse), Stanislas de Guaita e
Josephin Peladan e Saint-Yves D’Alveydre. Integrados entre si por identidades
doutrinárias ou por vínculos de mestre e discípulo, esses autores propõem uma visão
eticamente orientada, enfatizando a importância do Mago alinhar-se com as forças de
Luz.
Inglesa - A Escola Inglesa apresenta três correntes principais de grande importância
na História da Magia.
Goldem Dawn - Deve-se aos discípulos ingleses de Levi, os chefes fundadores da
Ordem da Aurora Dourada (fundada em 1888), iniciarem um retorno à origem pré-
cristã da Alta Magia; a sua fonte espiritual no paganismo grego-egípcio e caldaico.
Além de darem continuidade a obra de Levi os fundadores da Aurora Dourada (Goldem
Dawn) ampliaram seus ensinamentos desenvolvendo sua própria síntese de técnicas
teúrgicas. Entre os membros da Aurora Dourada, e da sua ramificação a Estrela
Matutina, estavam Aleister Crowley e Dion Fortune. A Ordem Hermética da Aurora
Dourada atingiu seu auge na década de 1890, tendo seus ensinamentos formado a base
sobre o qual muitas das ordens ocultas modernas derivaram.

Wiccana - Outra escola inglesa clássica de grande relevância é a da Wicca


Gardneriana que também apresenta divisões. Wicca é um Sistema Iniciático de
orientação neo-pagã, relacionada com a Bruxaria enquanto Religião de Mistérios,
fundada nos anos 50 por Gerald Gardner. Ou seja, Wicca nada mais é que uma tradição
mágico-iniciática semelhante a outras fraternidades esotéricas como a Maçonaria e a
Rosacruz apenas segue seus ditames próprios. Os Rituais Wiccanos da Escola
Gardneriana são impregnados de Magia Cerimonial oriundos da Golden Dawn e seus
textos Litúrgicos são fortemente influenciados por Thelema. Além do mais, Gerald
Gardner se baseou muito em particular nas Clavículas de Salomão para reconstruir a
Bruxaria Neo-Pagã da Wicca.

Em sua busca no resgate dos valores, ritos e instrumentos da antiga Bruxaria medieval
e mesmo pré-cristã a Wicca trabalha com o culto às Forças da Natureza através dos
Antigos Deuses pagãos: a Grande Deusa-Mãe e o Grande Deus Chifrudo Cernunnos,
que não se confunde com o Diabo, como querem alguns de seus detratores.
Os ciclos lunares, bem como os equinócios e solstícios, desempenham papel
fundamental nessa escola. Também são essenciais as datas específicas do culto,
relacionadas com o ciclo da Terra e das colheitas. Hoje em dia a Escola Wicca é uma
das correntes mais atuantes dentro da Magia Moderna.
A Wicca também apresenta divisões como a Wicca Alexandrina, Diânica, Eclética etc,
sendo que algumas dessas tradições (como a Diânica) buscam um retorno as origens
espirituais da Wicca presentes no Xamanismo. Estes grupos buscam um diferencial das
práticas wiccanas gardnerianas que são fortemente influenciadas pela Magia
Cerimonial de raiz thelêmica.
Thelêmica - A mais moderna dentre as linhas da escola inglesa é também a mais
radical. Deriva diretamente das obras de Aleister Crowley (1875-1947), um caso à parte
na História da Magia. Amado, odiado, admirado, invejado, Crowley é uma figura
extremamente polêmica, certamente um nome maldito e evitado por aqueles que
sustentam e defendem ortodoxamente os padrões vigentes da sociedade ocidental
moderna. Auto-intitulado "A Besta do Apocalipse", foi inimigo prático do cristianismo
organizado. Proclamou-se, além de pleno praticante e disseminador do saber antigo,
profeta e visionário do neopaganismo, do Lúcifer redivivo e revelador de uma nova
tradição/religião de Thelema. Aleister Crowley integrou e fundou algumas das mais
poderosas sociedades secretas de seu tempo, como a Golden Dawn, na Inglaterra, a
qual transformou completamente imprimindo a sua marca pessoal; e a O.T.O., "Ordo
Templi Orientis", grupo alemão de magia sexual de grande importância no cenário
ocultista da época.

Em suas inúmeras obras, tais como "Magick", "777" e "O Livro da Lei", Crowley criou
um sistema próprio de Magia Sexual com base no seu extenso e profundo
conhecimento das técnicas orientais do tantrismo e Yoga. Sua estruturação moderna
da Magia, e do papel do Homem no Universo, está casado com a visão profética
telêmica constante no Livro da Lei. A contribuição feita por Crowley às ciências
ocultas, especialmente a Magia foi enorme deixando um legado cultural fundamental
para aqueles que procuram entender como a Magia pôde adentrar o século XX como
uma forma ainda válida para compreender o mundo.

Escolas Orientais - Muitas escolas orientais também influenciam o moderno


pensamento mágico e constituem uma importante corrente filosófica dentro das
Ciências Ocultas. Dentre elas sobressaem-se algumas, principalmente as linhas
Tântricas, que utilizam magia, sexo ritual e Yoga de forma integrada para atingir as
transformações interiores desejadas.
Tantrismo - Originárias da região da Cachemira, na Índia, as seitas tântricas
remontam a tempos imemoriais e propõem uma visão do mundo baseada no culto ao
Deus Shiva e às forças femininas da Natureza, principalmente à Shakti, a força sexual
feminina que permite ao adepto e sua parceira cavalgar o êxtase e abraçar os mundos!
O Tantra é um sistema espiritual altamente iniciático e oculto, que concede excepcional
importância à transmutação alquímica do indivíduo. Suas práticas consistem de rituais,
yôga e modos esotéricos de concentração-meditação.

Divisão - De uma forma geral o Tantra Indiano divide-se em duas linhas: a da “Mão
Esquerda” (Vama-Marga), que trabalha com práticas sexuais concretas (maithuna) e a
da “Mão Direita” (Dakshina Marga), que utiliza elementos simbólicos como mandalas
e yantras para evocar a energia sexual do cosmos. Nos dois casos o poder da
sexualidade é utilizado a fim de obter uma consciência espiritual intensificada e uma
mente iluminada. O objetivo final do Tantra é fundir o mundo fenomenal e o mundo
divino numa realidade integradora e transcendente.

O ponto comum entre elas é o trabalho sobre a Kundalini, o poder sexual que jaz mais
ou menos adormecido em todo ser humano. As doutrinas Tântricas constituem um
importante elemento incorporado pelos Magos modernos.
No final do século dezenove houve a penetração de ensinamentos tântricos orientais na
Magia Cerimonial que terminaram por serem incorporados e organizados dentro de
uma visão hermética. Isto permitiu que o tantrismo ocidental evoluísse para um
sistema híbrido altamente complexo e assumisse inúmeras formas. Atualmente,
podemos identificar um sistema de Tantrismo Ocidental muito distinto do Tantra
hindu e budista. Benjamin Walker, diplomata e autor indiano, disse que “o Tantrismo
encontrado nas escolas ocultistas de hoje consiste em uma mistura de elementos do
Oriente Médio, Ásia Central e China, acrescentado ao núcleo indiano essencial, e pode
ser mais revestido ainda das várias formas adotadas pelos Rosacrucianos, a Hermética,
a Maçonaria e a Cabala”.

Os principais precursores do movimento do Tantra Ocidental, também conhecido


como Tantra Gnóstico, foram: Randolph Paschal, Karl Keller, Aleister Crowley, Dion
Fortune e Austin Osmar Spare. Os três últimos delinearam seus sistemas dos restos da
Aurora Dourada a qual pertenceram. Todos fizeram importantes contribuições para o
atual despertar mágico. Fortune, particularmente, chamou a atenção para a interação
entre existente entre o sistema endócrino e o ramificado complexo de nervos e nadis na
anatomia oculta do homem; Spare, em virtude de sua iniciação nos Mistérios Sabáticos,
foi capaz de explicar a inter-relação de forças sexuais polarizadas operando em níveis
de alta emotividade.
A característica principal dos métodos tântricos repousa no papel mágico da
imaginação, o trabalho com a energia, e o domínio mágico de todas as aparências. É o
desenvolvimento demiúrgico da imaginação, a derivação da energia sexual, que
fornecerá os meios de penetrar (e de agir) sobre os planos sutis de manifestação com
fins iluminatórios e mágicos. Este princípio do Tantra é freqüentemente desconhecido
da maioria dos estudiosos do assunto. Só o tantrismo, seja oriental ou ocidental (só a
linguagem variará), permite a compreensão plena do que é Alquimia.
Um mago tântrico visa fazer subir a kundalini ou energia divina através da imaginação
mágica, elevando-se através da escala de todas as aparências até o ponto culminante
em que o tântrico se identifica com o Uno Transcendental além de toda manifestação.
Em seguida, deve o tântrico atrair as forças do Não Manifesto a Terra, revivendo o
processo divino da Criação, onde ocorre a encarnação do Espírito no Reino da Matéria.
Parafraseando Dion Fortune: “Deve haver, em nós, um circuito entre o céu e a terra,
não basta tirar kundalini da base da espinha, fazendo-a subir, mas também devemos
fazer descer a Luz Divina através do Lótus de Mil Pétalas”. Nessa ascensão sobre os
diferentes níveis de realidade a energia pode assumir inúmeras manifestações de seres
espirituais os quais o tântrico exercerá seu controle mágico. Ele deve evocá-las
exercendo sua autoridade sobre elas. Essas forças são inteligentes, sendo uma
manifestação da corrente mágica que deve ser absorvida e “aterrada” pelo tântrico.

Fim da Clavícula Hermética 1-A.

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