Você está na página 1de 9

Clavícula Hermética 4-A

YANTRAS, MANTRAS E MUDRAS

“Nisso, como em todas as operações da magia, três coisas são indispensáveis: o


gesto, o símbolo e a palavra. O gesto atrai, o símbolo fixa e a palavra determina.”

Nos antigos grimó rios medievais encontramos toda sorte de receitas e rituais
má gicos. Se formos observar atentamente veremos que os fins perseguidos pela
magia grimorial sã o basicamente: influir na mente e nos desejos dos demais (nã o
importa que sejam pessoas, animais ou espíritos) para que façam ou deixem de fazer
algo, controlar os elementos, incidir sobre os acontecimentos e o tempo, saber fatos
passados, presente e futuros (profecias), descobrir segredos etc. Nã o entrarei aqui
no debate se tudo isso é possível com magia ou nã o. Também nã o irei comentar
questõ es de ética ou moral, esse nã o é o objetivo de nossa clavícula. Apenas gostaria
de chamar a atençã o para o fato que nã o importa o tipo de ritual, feitiço ou
encantamento encontrado nos grimó rios, uma coisa é sempre constante: o uso do
elemento visual ou yantras (círculos má gicos, talismã s etc.), o uso do som através da
fala ou de mantras ( encantamentos, oraçõ es e conjuraçõ es ) e o uso de oraçõ es e
gestos, que sã o os mudras (realizaçã o de sacrifícios rituais, oferendas, magia
simpá tica etc.).

É o uso combinado desses três elementos que atraem as entidades e forças astrais
desejadas, magnetizando-as para que vibrem em harmonia com a operaçã o, assim
formando com elas uma corrente egregó rica, regida pela verdadeira vontade do
magista. Isso está de acordo com os princípios ocultistas sobre formas e símbolos que
produzem efeitos específicos sobre forças telú ricas e energias sutis. Por exemplo, se
certas inscriçõ es rú nicas forem colocadas em uma pedra ou ponto geomâ ntico
correto, entã o um certo efeito será obtido. Também se o magista construir um
talismã de letras rú nicas combinando com nomes divinos hebraico e/ou de anjos e
invocar uma força astral ou divina, em correspondência com os símbolos nele
desenhados, entã o é dito que ele ativou o talismã através de uma consagraçã o. Nesse
exemplo o magista utilizou os princípios do yantra (sigilos, símbolos) e do mantra
(invocaçã o) e dos mudras (posturas, gestos) de forma conjunta na forma de um
encantamento com uso de talismã s.

Em todo nosso curso de Alta Magia estudaremos a fundo esses três elementos
fundamentais do cerimonial má gico. Nessa clavícula vamos analisar a questã o do uso
ritualístico dos nomes ou palavras de poder que sã o verdadeiros mantras se
utilizados de forma consciente.

Palavras de Poder e Nomes Sagrados de Deus

“No Antigo Egito, as palavras de Rá, reveladas por Toth tornaram-se as coisas e as criaturas do
mundo, isto é, as palavras (significando ondas de som) criaram as formas do Universo.”

Em se tratando de Alta Magia utilizamos as expressõ es “Nomes de Poder” ou “Palavras


de Poder” para compor uma oraçã o má gica e realizar invocaçõ es e evocaçõ es
cerimoniais. Um “Nome de Poder” é uma palavra ou nome freqü entemente
ininteligível, e se pressupõ e conter um poder oculto. Muitas vezes acontece que a
origem e o significado de um nome de poder ou “Nomes Bá rbaros de Invocaçã o e
Evocaçã o” se perdeu nas brumas do tempo. Estudos indicam que Nomes de Poder já
eram usados nos papiros má gicos gregos (PGN corpus) que continham uma coleçã o
soberba de manuais de magia e receitas do Egito produtos de um razoavelmente
homogêneo sincretismo cultural greco-egípcio. A maioria data do período entre o
século I a.C e o século V d,C; e particularmente dos séculos III e IV d.C; embora com
freqü ência reflitam material helenístico. Muitos dos nomes bá rbaros (nomes de poder)
mencionados pelos gregos antigos eram, sem dú vida, nomes de deuses e deusas que
foram adulterados pelo tempo.

A expressã o “Nomes Bárbaros de Invocaçã o e Evocaçã o” sã o “Nomes de Poder”


convencionalmente atribuída à s palavras de linguagem primordial e é conhecida
também pelo termo Goetia – literalmente “uivante”. Esses nomes evocativos bá rbaros
representam um formidá vel – e perigoso – meio de comunicaçã o com entidades de
outras esferas de existência, psicologicamente podemos dizer que formular um nome
bá rbaro na mente consciente têm como efeito, se vibrado por longo tempo, abrir o
subconsciente de maneira trazer à tona as muitas informaçõ es e idéias contidas no
reservató rio chamado inconsciente coletivo. Segundo Kenneth Grand: “os nomes
bá rbaros de evocaçã o e invocaçã o, sejam eles enoquianos, goéticos, gnó sticos,
tâ ntricos, etc, estã o particularmente adaptados para desselar à subconsciência. Sua
potência reside principalmente no fato de que eles sã o ininteligíveis para a mente
consciente. As longas seqü ências de formidá veis palavras que rugem e gemem através
de tantas conjuraçõ es têm um efeito real de exaltar a consciência do magista ao clímax
apropriado.”

No comentá rio acima Kenneth Grant, nos fala principalmente do ritual goético. A
goetia, ou feitiçaria goética, é um sub-ramo da Ordem de Hermes que se pressupõ e ter
sido praticada pelo Rei Salomã o. Refere-se a uma prá tica má gico-ritualística que inclui
a invocaçã o e evocaçã o de “anjos caídos” e/ou "demô nios" ou "espíritos que nã o
seguem linhas evolutivas". O termo Goetia provém do latim da Idade Média
significando “A Arte de Uivar”, e do Grego γοητεία (goēteia) que significa "feitiçaria". O
termo “uivante” descreve bem a maneira de recitar os Nomes de Poder para provocar
as evocaçõ es. Psicologicamente, o mago, mediante a técnica evocativa penetra na parte
subconsciente da mente, liberando os psiquismos ou “atavismos primordiais” (os
demô nios e os “espíritos”), que assumem formas e materializaçõ es no plano astral.

Por sua vez o termo “Nomes de Deus” muitas vezes referem-se as palavras em hebraico
ou latim. Nos grimó rios tradicionais da Idade Média e Renascença sã o utilizados
amplamente tanto na confecçã o dos círculos má gicos quanto nas consagraçõ es e
conjuraçõ es cerimoniais. Para muitos ocultistas os “Nomes de Deus” funcionam como
verdadeiros “Nomes de Poder”.

Os nomes de Deus nos mostram os atributos da personalidade Divina geralmente com


origens nas religiõ es consideradas abraâ micas que sã o Judaísmo, Cristianismo e
Islamismo. Muitos Nomes de Deus sã o comuns entre as três religiõ es, principalmente
entre o Judaísmo e o Cristianismo, já que este ú ltimo é derivado daquele. Entretanto
como estudantes de ocultismo nó s utilizamos também nomes e atributos divinos das
antigas religiõ es pagã s. Esse sincretismo nã o surpreende visto que a Alta Magia baseia-
se no Ocultismo Ocidental que engloba a filosofia e técnicas de Magia das antigas
civilizaçõ es da Suméria, Babilô nia, Egito, Grécia e Roma. A magia dos á rabes e hebreus
(antigos judeus) junto com a com a corrente mística do gnosticismo cristã o pertence
também a Tradiçã o Má gica Ocidental.

Muito embora sua importâ ncia no cerimonial má gico os nomes ou palavras de poder
nã o sã o, em si mesmos, fó rmulas má gicas. Por exemplo, os nomes hebraicos de Deus
nos quatro quadrantes do Ritual de banimento do Pentagrama expressam fó rmulas
que governam os quatro Elementos Metafísicos (Fogo, Ar, Á gua e Terra). Eles nã o sã o
mais má gicos ou religiosos do que E= MC ao quadrado. Entretanto, tanto os “Nomes de
Deus” quanto os “Nomes de Poder” sã o temas de grande complexidade, pois quando
você aprende emitir a nota-chave vibrató ria dessas palavras ou frases, junto às
imagens a elas relacionadas, você ativa determinados centros psicofisioló gicos do
corpo humano (chakras), o que causa um stress na luz astral que, de fato, pode
precipitar mudanças. Isso também foi confirmado pela ciência, que realizou
verificaçõ es e comprovou, sem sombra de dú vida, que algumas vibraçõ es particulares
podem causar – se moduladas de certas maneiras – variaçõ es, até considerá veis, nos
ritmos vitais humanos.

Os mais efetivos resultados visíveis utilizando Nomes de Poder muitas vezes ocorre
quando o magista incorpora uma forma deus, quando ele invoca uma divindade dentro
do círculo má gico. Ao assumir uma forma-deus o magista busca torna-se um canal
para a força có smica ou divindade que ele está representando, trazendo o poder para
dentro dele mesmo. Nesse estado, obviamente, sua consciência está alterada, a
personalidade do magista é sobrepujada e inundada pelo poder de seu Eu mais
profundo, e este é iluminado e “carregado” pela entidade ou divindade invocada. Uma
palavra de poder vibrada nestas circunstâ ncias tem de fato um poder de cravar a
vontade do magista nos campos morfogenéticos do astral e, no devido tempo, produzir
efeitos sobre a matéria. 

Significado de alguns Nomes de Deus e Palavras de Poder

Iah : O nome do Pai, que significa em hebraico O Infinito.

Agla : É uma sigla para o hebraico “Atah Gebur Le Olahm Adonai, que significa “Tu és
Grande (ou Poderoso) para sempre meu Senhor.”

Eloah: o nome do Filho, que significa O Manifesto.

Yeseraye : possivelmente uma corrupção ou abreviação de Ejeieh Asher Ejeieh, o nome


que Deus revelou a Moisés no arbusto ardente. O nome significa “Deus sem princípio e
sem final” e deve ser utilizado quando se invocam os anjos para que esses convertam os
pedidos das pessoas em realidade.
Tetragramaton : em hebraico designa o Nome de Deus em quatro letras: Yod, He, Vau,
He (em latim Ieve).

Yod - Heh - Vau – Heh: palavra que significa: “EU SOU O QUE SOU”.

Adonai : O nome do Rei Supremo, que significa em hebraico o “Senhor/Dono” em sua


forma extensiva “O Senhor da Terra”. Esse é o nome que substitui IHVH quando um judeu
devoto lê a Bíblia em voz alta. Poderia, portanto representar Deus manifesto diante de suas
criaturas, Senhor, Protetor e Criador.

Adonai Sabaoth : o folclore hebraico indica que se deve usar esse nome de Deus quando
se deseja chamar os quatro ventos e contatar o espírito dos mortos.

Eheieh : É a conjugação do verbo Ser em hebraico, e pode tanto significar “Eu Sou”
quanto “Eu Serei”. Também o nome da Essência Divina. É o nome que Deus revelou a
Moisés no arbusto em chamas. Enfatiza Deus como um fato sempre presente, que é, que
era , e que sempre será.

El Elyon : O mais elevado, O Deus Altíssimo.

Emanuel: Deus conosco

El Shaddai : O Elevado todo-poderoso.

Rotas, Opera, Tenet, Arepo, Sator : Palavras de origem desconhecida utilizada em todo
mundo romano desde o século II d.C. Conhecida como Fórmula Sator foi usada na Idade
Média como um encantamento em círculos mágicos e em grupos esotéricos.

Achamot : Anagrama de Chokmah, nome hebraico para Sabedoria.


Iehovah ou Ieve : o Tetragramaton, que significa em hebraico “A Sabedoria Eterna”.

Kadosh IEVE Tsabaot : Santo Deus das Hostes

Jeová Shalom: O Senhor é a nossa Paz

Kleidophoros: Título de Hécate como Guardiã das chaves ou portadora da chave.

Enodia: das estradas ( epíteto de Hécate)

 Antaia: a distante (epípeto de Hécate).

Yeheshuah : Nome dado a Jesus pelos cabalistas cristãos durante a Renascença, que o
usavam como palavra de poder supremo na sua magia e adoração. Eles pretendiam que ela
substituísse o Tetragramaton dos judeus.

Ialdabaoth, Saclas e Samael : Entre os gnósticos pneumáticos são nomes que designam o
Demiurgo – o Deus inferior que criou o mundo material. Por vezes retratado como um ser
monstruoso com corpo de serpente e cabeça de leão.

Abraxas : Os gnósticos basilidianos dos primeiros séculos da era cristã defendiam a


existência de um ser onipotente, abaixo do Deus superior, que presidia todas as coisas e
cujo nome era Abraxas. O nome Abraxas tem o valor numérico de 365, igual ao número de
dias do ano e foi concebido como o mais elevado dos 365 Eons. O deus Abraxas era,
portanto, o símbolo do ano, o símbolo da trajetória da Terra ao redor do Sol.

IO Pan : O Paian é uma invocação do Grande Todo, o deus Pã. Visto como um símbolo, o
“Grande Deus Pã”, é uma figura de Chokmah no Sistema Solar Logoidal. É um símbolo
que tem relação com o símbolo da “Serpente-que-segura-a-sua-cauda-na boca”. No grande
Deus Pã reside a compreensão tanto do começo quanto do fim da força-sexo. Ele
representa o “despertar de Kundalini” e também representa aquela força usada a serviço da
mais elevada magia de sabedoria.

Agathos Daímon : Gênio bom, ou espírito guardião, da mitologia grega antiga,


frequentemente concebido como uma serpente alada que paira invisível em torno de um
homem e traz prosperidade para o seu lar.

IAO : A divindade suprema dos gnósticos pneumáticos. O deus trino e uno como Isis,
Apophis e Osíris. É também uma fórmula mágica conhecida pelos magistas thelêmicos: Isis
(Natureza) é destruída por Apophis (forças caóticas) e renascida como Osíris.

Apo Pantos Kakodaimonos : Em grego: “Para longe de mim todos os Espíritos Malignos!”

Zazas, Zazas, Nasatanata Zazas : Fórmula tradicional para abrir as regiões infernais, o
Hades, Amenti ou subconsciente.

Comentários:

1- Um encantamento é o ato de lançar um feitiço mágico, particularmente através de


gestos ritualísticos e palavras murmuradas, recitadas ou cantadas.

2- Como a língua hebraica é muito diferente da portuguesa e de difícil tradução para


esta, você poderá encontrar grafias e pronúncias diferentes das que apresentaremos aqui. Por
exemplo, o nome Jeová no original se diz IERROVÁH ou IHAVEH, também de forma
simplificada: Javé ou Jah. Comumente se encontra no lugar de V um W e um H depois da
última vogal. O importante aqui é o significado!
3- Os campos morfogenéticos ou campos mórficos são campos que levam
informações, não energia, e são utilizáveis através do espaço e do tempo sem perda alguma
de intensidade depois tido sido criado. Eles são campos não físicos que exercem influência
sobre sistemas que apresentam algum tipo de organização inerente. A hipótese dos campos
morfogenéticos foi formulada por Rupert Sheldrake. Segundo o holismo, os campos
morfogenéticos são a memória coletiva a qual recorre cada membro da espécie e para a qual
cada um deles contribui. No ocultismo existe o termo “campo akáshico” para designar um
fenômeno semelhante.

4- A exaltação de “atavismos primordiais” pelo magista é utilizado para despertar


níveis subliminares de consciência de modo a revitalizar poderes sobre-humanos
adormecidos. Segundo Dave Lee em seu livro “Caostopia” o conceito de atavismo foi
“reintroduzido na Magia por Austin Spare. No sistema de Spare, um atavismo é conseguido
pelo magista individual para aumento de poder e feitiçaria, sem referência a qualquer tribo ou
contexto social. Isto se relaciona com o conceito de deuses animais para as suas origens
xamânicas, onde o shaman descobre o seu animal de poder em um transe, e passa a trabalhar
com ele a partir daí.”

Você também pode gostar