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COLETÂNEA DE

TRABALHOS CIENTÍFICOS
DO GRUPO G6
COLETÂNEA DE TRABALHOS CIENTÍFICOS DO GRUPO G6

Editoras
Angélica de Cássia Oliveira Carneiro
Paula Gabriella Surdi

Equipe Técnica
Ana Márcia Macedo Ladeira Carvalho
Angélica de Cássia Oliveira Carneiro
Benedito Rocha Vital
Marcio Arêdes Martins
Paulo Fernando Trugilho

Empresas do Grupo G6
Aperam
ArcelorMittal BioFlorestas
Gerdau
Plantar Siderúrgica S.A.
Saint-Gobain
Vallourec

Executores
Sociedade de Investigações Florestais - SIF
Laboratório de Painéis e Energia da Madeira - LAPEM/UFV
Universidade Federal de Viçosa - UFV

Parceiros
Departamento de Engenharia Florestal - DEF/UFV
Universidade Federal de Lavras - UFLA
Carneiro, Angélica de Cássia Oliveira; Surdi, Paula Gabriella.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6. Viçosa,
2018.
182p.: il.

ISBN: 978.85.8179.158-6

1. Carvão vegetal 2. Fornos e fornalhas 3. Qualidade da


madeira 4. Tecnologia e coprodutos I. Título
APRESENTAÇÃO

O G6 – Grupo de Pesquisa em Carvão vegetal foi criado com o intuito de identificar


gargalos e desafios comuns entre as empresas produtoras de carvão vegetal, unificar e
compartilhar informações, gerar pesquisa e desenvolvimento, reduzindo custos, integrando
universidade/empresa e o setor produtivo de carvão com os setores de ferro gusa e aço.
Sua missão é contribuir para o desenvolvimento técnico, social e ambiental da cadeia
produtiva de carvão vegetal de forma a atingir a sustentabilidade do negócio. Espera-se que as
ações do grupo contribuam com todos os setores envolvidos na produção, comercialização e
utilização do carvão vegetal.
O Grupo, integrado pelas Empresas ArcelorMittal BioFlorestas, Gerdau, Plantar
Siderúrgica S.A., Aperam, Vallourec e Saint-Gobain, conta com a gestão e coordenação técnica
da Sociedade de Investigações Florestais (SIF), e com o apoio direto da Universidade Federal
de Viçosa (UFV), Universidade Federal de Lavras (UFLA), Universidade Federal dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG).
A presente coletânea reúne os principais resultados dos artigos publicados em revistas
científicas nacionais e internacionais, trabalhos de conclusão de curso, dissertações e teses de
autoria de pesquisadores, professores e alunos, principalmente, da UFV e da UFLA, os quais
foram realizados em parceria com as empresas que integram o G6.
A coletânea, cujas temáticas englobam desde a madeira, processo, controle, fornos,
qualidade até redução de emissões, está organizada em 48 trabalhos, apresentando temas
relevantes ao setor de carvão vegetal.
Manifestamos os nossos agradecimentos ao suporte financeiro disponibilizado pelo
Grupo e pelas instituições públicas (FAPEMIG, CEMIG, CAPES e CNPq) para a realização das
pesquisas. Também agradecemos às empresas, professores, pesquisadores, alunos e demais
profissionais que contribuíram para o desenvolvimento dos trabalhos.

Angélica de Cássia Oliveira Carneiro


Professora - UFV

Paula Gabriella Surdi


Pesquisadora - UFV
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 1

SUMÁRIO

QUALIDADE DA MADEIRA E DO CARVÃO VEGETAL ................................................................................... 3


1| Influência da composição química da madeira no rendimento gravimétrico e propriedades do carvão
vegetal .............................................................................................................................................................. 5
2| Correlações entre a relação cerne/alburno da madeira de eucalipto, rendimento e propriedades do
carvão vegetal .................................................................................................................................................. 9
3| Efeito da carbonização da madeira na estrutura anatômica e densidade do carvão vegetal de Eucalyptus
........................................................................................................................................................................ 13
4| Estudo da degradação térmica da madeira de Eucalyptus através de termogravimetria e calorimetria ... 18
5| Influência do diâmetro da madeira de eucalipto na produtividade e nas propriedades do carvão vegetal
produzido em sistema forno-fornalha ............................................................................................................. 21
6| Potencial energético da madeira de Eucalyptus sp. em função da idade e de diferentes materiais
genéticos ........................................................................................................................................................ 24
7| Influência das dimensões da madeira na secagem e nas propriedades do carvão vegetal...................... 27
8| Combustão espontânea de madeira tratada termicamente ....................................................................... 31
9| Efeito da produtividade florestal e permeabilidade da madeira de Eucalyptus spp. na velocidade de
secagem para fins energéticos....................................................................................................................... 34
10| Propriedades da madeira e estimativas de massa, carbono e energia de clones de Eucalyptus
plantados em diferentes locais ....................................................................................................................... 39
11| Comparação de procedimentos para análise química imediata de carvão vegetal ................................. 42
12| Correlações entre os parâmetros de qualidade da madeira e do carvão vegetal de clones de eucalipto
........................................................................................................................................................................ 46
13| Análise termogravimétrica em clones de eucalipto como subsídio para a produção de carvão vegetal
........................................................................................................................................................................ 50
14| Influência das propriedades químicas e da relação siringil/guaiacil da madeira de eucalipto na produção
de carvão vegetal ........................................................................................................................................... 54
15| Caracterização espacial das propriedades do carvão vegetal em estoques industriais .......................... 58
16| Seleção de materiais genéticos de Eucalyptus sp. para a produção de carvão vegetal utilizando análise
multivariada .................................................................................................................................................... 62
17| Propriedades da madeira e do carvão vegetal em clones de híbridos de Eucalyptus, em diferentes
ambientes (sítios) ........................................................................................................................................... 66
18| Efeito da idade e de materiais genéticos de Eucalyptus sp. na madeira e carvão vegetal .................... 71
19| Otimização da produção do carvão vegetal por meio do controle de temperaturas de carbonização .... 76
FORNOS E FORNALHAS ................................................................................................................................. 79
20| Desempenho de uma câmara de combustão para a combustão de gases provenientes do processo de
carbonização da madeira ............................................................................................................................... 81
21| Simulação de uma câmara de combustão de gases provenientes do processo de carbonização ......... 84
22| Utilização de metamodelo para otimização multi-objetivo de uma câmara de combustão de gases
provenientes do processo de carbonização de madeira ................................................................................ 88
23| Desenvolvimento e avaliação de uma fornalha metálica para combustão dos gases da carbonização da
madeira ........................................................................................................................................................... 92
24| Efeito da classe diamétrica da madeira no desempenho de uma fornalha de alvenaria para queima dos
gases da carbonização ................................................................................................................................... 96
25| Redução de metano e monóxido de carbono na produção de carvão vegetal em sistema forno-fornalha
...................................................................................................................................................................... 100
2 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

26| Efeito da combustão dos gases da carbonização no rendimento gravimétrico da madeira de Eucalyptus
sp ................................................................................................................................................................. 104
27| Construção de um sistema de queima de gases da carbonização para redução da emissão de
poluentes...................................................................................................................................................... 106
28| Análise de risco econômico de dois sistemas produtivos de carvão vegetal ........................................ 109
29| Viabilidade econômica de diferentes sistemas de produção de carvão vegetal em escala industrial .. 114
30| Efeito do teor de umidade da madeira na emissão de gases de efeito estufa no processo de
carbonização ................................................................................................................................................ 117
31| Temperatura final de carbonização e queima dos gases na redução de metano, como base à geração
de créditos de carbono ................................................................................................................................ 120
TECNOLOGIA E COPRODUTOS .................................................................................................................. 125
32| Discriminação entre carvões provenientes de madeira de Eucalyptus sp. e de espécies nativas por
análise de imagens digitais .......................................................................................................................... 127
33| Resfriamento artificial em fornos retangulares para a produção de carvão vegetal ............................. 130
34| Perfil térmico e controle da carbonização em forno circular por meio da temperatura interna ............. 134
35| Balanço de massa e energia na pirólise da madeira de Eucalyptus em escala macro ........................ 137
36| Forno macro ATG: estudo do fluxo gasoso no processo da pirólise da madeira de Eucalyptus .......... 140
37| Secagem da madeira de eucalipto em toras a altas temperaturas ....................................................... 143
38| Teor de umidade da madeira em tora ................................................................................................... 147
39| Propriedades de briquetes obtidos de finos de carvão vegetal ............................................................. 150
40| Secagem de madeira em toras utilizando os gases combustos do queimador .................................... 152
41| Resfriamento artificial de carvão vegetal em fornos de alvenaria ......................................................... 156
42| Análise energética dos coprodutos da carbonização de madeira visando o aproveitamento energético
para a secagem da madeira e geração de energia elétrica ........................................................................ 158
43| Limites de inflamabilidade do gás da carbonização em tubo de combustão ........................................ 162
44| Quantificação de resíduos da colheita florestal e resíduos da carbonização ....................................... 165
45| Potencial dos resíduos da colheita florestal e resíduos da carbonização para geração de energia .... 168
46| Equações alométricas para estimar estoque de energia em árvores de eucalipto ............................... 172
47| Cogeração de energia a partir dos gases da carbonização e biomassa florestal usando microturbina
..................................................................................................................................................................... 175
48| Secadores de madeira: uma alternativa sustentável para o aumento da produção do carvão vegetal
..................................................................................................................................................................... 179
QUALIDADE DA MADEIRA E DO
CARVÃO VEGETAL
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 5

1| INFLUÊNCIA DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA MADEIRA NO RENDIMENTO


GRAVIMÉTRICO E PROPRIEDADES DO CARVÃO VEGETAL

Bárbara L. Corradi Pereira, Angélica de C. O. Carneiro, Ana Márcia M. L. Carvalho, Jorge L. Colodette,
Aylson Costa Oliveira e Maurício P. F. Fontes

INTRODUÇÃO determinar as correlações entre as propriedades da


madeira e do carvão vegetal.
O Brasil é o único país que produz carvão
vegetal em larga escala para ser utilizado na
MATERIAL E MÉTODOS
indústria, destacando-se, então, como maior
produtor e consumidor do produto. Os principais Neste trabalho foram utilizados seis clones
destinos são os setores de ferro-gusa e aço, que de Eucalyptus sp.: Clone 1 (Eucalyptus
consomem 72% do carvão vegetal produzido, e de camaldulensis), Clone 2 (Híbrido de Eucalyptus
ferro-liga, que utiliza 12%, seguido do residencial urophylla), Clone 3 (Híbrido de Eucalyptus grandis),
(cocção e aquecimento residencial), do industrial Clone 4 (Híbrido de Eucalyptus urophylla), Clone 5
(excluindo-se a siderurgia), com destaque para a (Eucalyptus urophylla) e Clone 6 (Eucalyptus
produção de cimentos, indústria química, de camaldulensis). As árvores foram colhidas aos 7,5
alimentos e de cerâmicas (EPE, 2011). anos de idade, e cultivadas em espaçamento inicial
Eucalyptus é o gênero mais usado nos de 3,8 x 2,4 metros, provenientes de um teste
programas de reflorestamento no Brasil, para suprir clonal. De cada árvore foram retirados seis discos
a demanda das diversas indústrias de base de 10 cm de espessura, correspondentes a 0%,
florestal, nas quais está inserida a siderurgia, em DAP (diâmetro à altura do peito), 25%, 50%, 75% e
razão de suas características de rápido 100% da altura comercial do tronco, até o diâmetro
crescimento e boa adaptação às condições mínimo de 7 cm.
edafoclimáticas existentes no país, fatores estes O estudo das propriedades químicas da
que determinaram sua expansão nas indústrias de madeira foi realizado a partir da análise química
base florestal. elementar e estrutural, relação Siringil/Guaiacil
Botrel et al. (2007) afirmam que além da (S/G) e índice de cristalinidade da celulose na
análise da madeira, são necessários também madeira.
estudos que consideram o desempenho do produto A pirólise da madeira foi realizada em mufla
final, neste caso, o carvão vegetal. Assim, o laboratorial. Foi determinado o rendimento
aprimoramento da matéria-prima em conjunto com gravimétrico em carvão vegetal, os teores de
o produto obtido fornecerá respostas mais efetivas. materiais voláteis, cinzas e carbono fixo, poder
Tal fato possibilita a redução na variabilidade das calorífico superior e composição elementar.
propriedades da madeira, refletindo no aumento do O experimento foi instalado segundo um
rendimento em carvão e nas propriedades delineamento inteiramente casualizado, com seis
almejadas na sua utilização como termorredutor, tratamentos (clones), com três repetições (árvores),
densidade e teor de carbono fixo, principalmente. totalizando 18 unidades amostrais. Os dados foram
Diante do exposto, o presente trabalho teve submetidos à análise de variância e, quando
como objetivo avaliar as propriedades químicas da estabelecidas diferenças entre eles, aplicou-se o
madeira de clones de Eucalyptus, o rendimento em teste de Tukey. Para o estudo das correlações foi
carvão vegetal e suas propriedades, além de empregado o coeficiente de correlação de Pearson.
6 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

RESULTADOS E DISCUSSÃO * Madeira livre de extrativos. S/G= Relação Siringil/ Guaiacil.


Médias, na coluna, seguidas da mesma letra não diferem entre
si, a 5% de probabilidade, pelo teste Tukey.
Para a composição química elementar da
madeira, a análise de variância indicou que o efeito Com relação ao teor de lignina,
de clone foi significativo, a 5% de probabilidade, componente principal quando a finalidade da
apenas para o teor de nitrogênio, conforme madeira é a produção de carvão vegetal, os clones
apresentado na Tabela 1. Foram também 1, 2 e 6 destacaram-se. Os teores de lignina
verificados traços de enxofre, para a madeira dos verificados nos clones em estudo são considerados
clones 1, 2 e 3, 0,015, 0,003 e 0,009%, satisfatórios para produção de carvão vegetal e
respectivamente. estão em conformidade com outros trabalhos em
Os baixos teores de nitrogênio e enxofre na que clones de Eucalyptus foram estudados com a
madeira contribuem para que o carvão vegetal seja mesma finalidade.
ambientalmente mais vantajoso que a utilização de De acordo com os resultados, os clones
carvão mineral, uma vez que baixos teores destes que apresentaram menor relação S/G também se
elementos na madeira refletirão em baixos teores destacaram como fonte de matéria-prima para
também no carvão vegetal. produção de carvão vegetal, à exceção do clone 4,
que apesar de baixa relação S/G não se destacou
Tabela 1. Valores médios de nitrogênio, carbono, diante de outras propriedades, como densidade da
hidrogênio e oxigênio da madeira de Eucalyptus madeira e teor de lignina. Já o clone 2, que
spp., em porcentagem
Clone Nitrogênio * Carbono** Hidrogênio** Oxigênio** apresentou a maior relação S/G, também
1 0,10ab 45,70ab 5,86ab 48,32ab apresentou um dos menores rendimentos em
2 0,11ab 45,92ab 5,91ab 48,06ab carvão.
3 0,12a 44,80ab 5,70ab 49,38ab A Figura 1A mostra o difratograma de raio
4 0,10ab 43,76b 5,58b 50,55a
X referente à madeira dos clones 1 e 2 e a Figura
5 0,09b 47,11a 5,96a 46,83b
1B, os índices de cristalinidade da celulose da
6 0,10ab 45,19ab 5,82ab 48,89ab
* Significativo a 5% de probabilidade; **Significativo a 10% de madeira dos clones avaliados, calculados a partir
probabilidade. Médias, na coluna, seguidas da mesma letra não
diferem entre si, a 5% de probabilidade, pelo teste Tukey.
dos difratogramas.

Na Tabela 2 estão apresentados os valores


médios para os componentes químicos da madeira
dos clones de Eucalyptus avaliados, além do teste
de comparação múltipla realizado.

Tabela 2. Valores médios de celulose,


hemiceluloses, lignina, extrativos, cinzas e relação
S/G da madeira de Eucalyptus spp.
Clones Celulose* (%) Hemiceluloses* (%) Lignina* (%)
1 47,6 ab 22,1 ab 30,3 ab
2 46,1 b 22,5 a 31,4 a
3 48,2 a 22,0 ab 29,8 bc
4 48,8 a 22,4 ab 28,8 c
5 48,4 a 21,9 b 29,7 bc
6 47,2 ab 22,4 a 30,4 ab
Clones Extrativos (%) Cinzas (%) S/G
1 4,3 ab 0,16 ab 2,75 b
2 5,0 a 0,14 ab 2,95 a Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si, a 5% de
3 4,1 b 0,12 ab 2,75 b probabilidade, pelo teste Tukey. IC (%)= Índice de
4 4,7 ab 0,10 b 2,33 c Cristalinidade, em %.
5 4,8 ab 0,11 ab 2,70 b
Figura 1. (A) Difratogramas de raio X da madeira
6 3,1 c 0,18 a 2,35 c
de Eucalyptus spp., clones 1 e 2. (B) Valores
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médios do índice de cristalinidade da madeira de carvão vegetal. Observa-se que o maior índice de
Eucalyptus.
cristalinidade e a menor relação S/G promoveram
incrementos no rendimento em carvão vegetal,
Apesar das interferências das regiões
visto que as estruturas cristalinas da celulose e as
amorfas da celulose, pode-se observar a presença
maiores proporções de unidades guaiacila, que
dos picos referentes aos planos cristalográficos nos
contribuem para a maior condensação da lignina,
seguintes ângulos de Bragg (2θ): 18,2 (plano 101);
aumentaram, possivelmente, a resistência da
26,1 (plano 002) e 40,9 (plano 040). Os resultados
madeira à degradação térmica.
de raios X apresentam os picos referentes aos
O PCS do carvão vegetal é superior ao da
planos cristalinos característicos dos materiais
madeira porque a maior parte dos componentes
lignocelulósicos, onde se pode observar que a
que possuem ligações menos estáveis na madeira
reflexão (002) foi a mais intensa para todos os
é degradada durante a pirólise, prevalecendo os
clones.
compostos que possuem ligações mais resistentes
Os clones 1 e 6 apresentaram os maiores
à ação do calor, como os anéis aromáticos
índices de cristalinidade, 70,6 e 70,3%,
presentes na estrutura da lignina. Ressalta-se que
respectivamente. Pressupõe-se que madeiras com
o poder calorífico superior do carvão vegetal
maiores índices de cristalinidade são mais
proveniente dos clones avaliados apresentaram um
resistentes à degradação térmica, o que contribuiria
incremento energético médio de 61,3%.
para o maior rendimento em carvão vegetal.
O teor de lignina total influenciou
Os rendimentos gravimétricos médios em
positivamente o PCS do carvão. O PCS do carvão
carvão vegetal obtidos para os diferentes clones
vegetal apresentou correlação positiva com os
são considerados satisfatórios (Tabela 3).
teores de carbono e hidrogênio e correlação
negativa com o teor de oxigênio.
Tabela 3. Rendimento gravimétrico em carvão
vegetal e suas correlações com as propriedades da O carvão dos diferentes clones avaliados
madeira, independentemente do clone
neste estudo, em geral, apresentou teores de
Rendimento Gravimétrico em Carvão Vegetal
Clones 1 2 3 4 5 6 carbono fixo e materiais voláteis ligeiramente
34,96 34,71 34,93 34,33 35,40 35,76
RGCV (%)
ab ab ab b ab a
distintos daqueles desejáveis para a siderurgia,
Correlações Significativas citados por Santos (2008), 75 a 80% de carbono
Lig.
Variáveis C H O Extrat. Cel. IC S/G
Tot. fixo e 20 a 25% de materiais voláteis. O teor de
RGCV 0,50* 0,61* -0,51* -0,51* 0,31 -0,32 0,50* -0,58*

RGCV= Rendimento gravimétricos em carvão vegetal. Médias,


cinzas do carvão do clone 6 foi significativamente
na linha, seguidas da mesma letra não diferem entre si, a 5% de maior do que o dos demais clones, porém, abaixo
probabilidade, pelo teste Tukey.
do máximo desejável para o uso siderúrgico,
Os teores de carbono e hidrogênio conforme recomendações de Santos (2008) que
correlacionaram-se positivamente com o estabelece que o teor de cinzas deve ser inferior a
rendimento em carvão, e o teor de oxigênio 1%.
apresentou correlação negativa. Vale ressaltar que entre todas as
Apesar de haver tendência positiva da propriedades avaliadas apenas a composição
relação entre o teor de lignina e negativa entre o química da madeira apresentou correlações
teor de celulose com o rendimento em carvão significativas com os teores de carbono fixo,
vegetal, como pode ser observado na Tabela 3, materiais voláteis e cinzas do carvão.
ambos não apresentaram correlações O teor de materiais voláteis apresentou
significativas, predominando o efeito da relação correlação significativa com o teor de extrativos e
S/G e o índice de cristalinidade no rendimento em teor de celulose. A madeira dos clones com
8 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

maiores teores de celulose também apresentaram teor de extrativos afetou negativamente o


maiores teores de materiais voláteis no carvão rendimento quanto para as propriedades do carvão
vegetal, o que é devido, possivelmente, à celulose vegetal.
contribuir menos na fixação de carbono no carvão
vegetal, uma vez que os teores de carbono fixo e REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
materiais voláteis são inversamente proporcionais.
O teor de carbono fixo do carvão vegetal BOTREL, M.C.G.; TRUGILHO, P.F.; ROSADO,
S.C.S. SILVA, J.R.M. Melhoramento genético das
correlacionou-se positivamente com o teor de propriedades do carvão vegetal de Eucalyptus.
lignina e negativamente com o teor de celulose. O Revista Árvore, Viçosa, v.31, n.3, p.391-398,
2007.
teor de cinzas da madeira e do carvão vegetal
apresentaram correlação positiva, já que os EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA-EPE.
2011. Balanço Energético Nacional2012: Ano
compostos inorgânicos não são degradados Base 2011. Rio de Janeiro, 2012. 266p.
durante a carbonização. Disponível em:<http://www.ben.epe.gov.br>.
Acesso em: 25 out. 2012.
Observaram-se teores médios de 78,03%
de carbono, 18,42% de oxigênio, 3,45% de SANTOS, M. A. S. Parâmetros de qualidade do
carvão vegetal para uso em alto-forno. In: FÓRUM
hidrogênio, 0,10% de nitrogênio e 0% de enxofre. NACIONAL SOBRE CARVÃO VEGETAL, 1.,
2008, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte:
UFMG, 2008.
CONCLUSÃO
Acesse o trabalho completo pelo QR Code
Apesar da pequena diferença de teores de
carbono, oxigênio e hidrogênio na madeira, estes
componentes afetaram de maneira significativa o
rendimento em carvão e seu poder calorífico
superior.
Maiores índices de cristalinidade da
celulose favoreceram o rendimento gravimétrico
em carvão vegetal, porém não apresentou
influência nas propriedades do carvão.
A relação S/G contribuiu mais para o
rendimento em carvão vegetal, quando comparada
ao teor de lignina total. Contudo, o teor de lignina
apresentou grande contribuição para as
propriedades do carvão vegetal, assim como o alto
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2| CORRELAÇÕES ENTRE A RELAÇÃO CERNE/ALBURNO DA MADEIRA DE


EUCALIPTO, RENDIMENTO E PROPRIEDADES DO CARVÃO VEGETAL

Bárbara Luísa Corradi Pereira, Aylson Costa Oliveira, Ana Márcia Macedo Ladeira Carvalho, Angélica de
Cássia Oliveira Carneiro, Benedito Rocha Vital e Larissa Carvalho Santos

INTRODUÇÃO Foram selecionadas três árvores de


diâmetro à altura do peito médio para cada um dos
Do ponto de vista da tecnologia da seis clones. De cada árvore foram retirados seis
madeira, uma propriedade anatômica importante é discos de 10 cm de espessura, correspondentes a
a quantificação das porcentagens de cerne e 0%, DAP (diâmetro à altura do peito), 25%, 50%,
alburno porque um maior porcentual de um ou outro 75% e 100% da altura comercial do tronco, até o
será importante para cada uma das utilizações diâmetro mínimo de 7 cm.
dadas à madeira (OLIVEIRA, 1997). Os procedimentos utilizados para
Segundo Silva (2002), a madeira de cerne, determinação da relação cerne/ alburno (C/A) estão
pela sua coloração e propriedades específicas, de acordo com a metodologia descrita por
apresenta maior valor tecnológico para usos em Evangelista (2007). A relação cerne/alburno (C/A)
serraria e, por isso, tem sido o alvo de interesse dos foi calculada pela fórmula:
usuários de madeira.
Porém, no que se refere à produção de
carvão vegetal, há carência de estudos da Sendo,
influência da relação C/A no rendimento de carvão Dc: Diâmetro do cerne, em cm; e,
e em suas propriedades. O conhecimento e a D: Diâmetro do disco sem casca, em cm.
compreensão da variabilidade da madeira e das As carbonizações foram realizadas em um
suas relações com as propriedades do carvão forno elétrico tipo mufla.
vegetal têm grande importância porque fornecem O experimento foi instalado segundo um
subsídios para a busca de soluções para a delineamento inteiramente casualizado, com seis
produção de carvão vegetal homogêneo, com alto tratamentos (clones) e três repetições (árvores),
rendimento, elevada qualidade, aliados à redução totalizando 18 unidades amostrais. Os resultados
do custo de produção. foram submetidos à análise de variância (ANOVA),
Diante do exposto, os objetivos do presente para verificação das diferenças existentes entre os
trabalho foram determinar a relação cerne/alburno clones avaliados. Quando foram estabelecidas
da madeira de clones de Eucalyptus, bem como diferenças significativas entre eles, aplicou-se o
verificar as correlações existentes entre esta teste Tukey em nível de 95% de significância.
relação com a densidade da madeira, com o Na Tabela 1 são apresentados os valores
rendimento em carvão vegetal e com suas médios das propriedades da madeira e do carvão
propriedades. vegetal, utilizadas para a análise de correlações.

MATERIAL E MÉTODOS Tabela 1. Informações das propriedades da


madeira e do carvão vegetal utilizadas na análise
de correlações
Neste trabalho foram utilizados seis clones Clones DBM (g/cm³) RGCV (%) DACV (g/cm³)
de Eucalyptus spp., com 7,5 anos de idade, 1 0,531 34,96 0,361
2 0,545 34,71 0,380
cultivados em espaçamento 3,80 m x 2,40 m, 3 0,577 34,93 0,385
4 0,548 34,33 0,367
provenientes de um teste clonal. 5 0,585 35,40 0,405
6 0,563 35,76 0,405
10 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

Clones MV (%) CF (%) CZ (%) base para o topo do caule. Assim,


1 72,93 26,72 0,35
2 74,91 24,76 0,33 proporcionalmente, existe mais madeira jovem do
3 73,86 25,79 0,35
4 73,86 25,74 0,41 que adulta nas posições mais altas, e como o
5 73,56 26,08 0,36
6 75,13 24,23 0,64 desenvolvimento do cerne acompanha o avanço da
DBM= Densidade básica da madeira; RGCV= Rendimento
gravimétrico em carvão vegetal; DACV= Densidade aparente do
idade do lenho, a proporção do mesmo é maior
carvão vegetal; MV= Materiais voláteis; CF= Carbono fixo; CZ= onde o lenho é mais velho, ou seja, a proporção de
Cinzas.
cerne diminui da base para o topo da árvore.
Para determinar as correlações existentes O clone 1 apresentou a maior relação C/A
entre a relação C/A e as outras propriedades da (1,01) seguido pelo clone 4 (0,94).
madeira e do carvão vegetal foi empregado o Na produção de carvão vegetal, a relação
coeficiente de correlação de Pearson, C/A afeta a etapa inicial do processo, caracterizada
considerando-se o nível 95% de significância. Para pela secagem da madeira. Ao considerar somente
as correlações que se mostraram significativas, esta fase inicial da carbonização, menores relações
foram feitas análises de regressões lineares. Os C/A seriam mais adequadas, a exemplo daqueles
modelos escolhidos foram aqueles que melhor se apresentados pelos clones 5 e 6.
ajustaram às variáveis, levando-se em Na Tabela 3 e na Figura 1 estão
consideração o coeficiente de determinação (R2), a apresentadas, respectivamente, as correlações e
significância da regressão pelo teste F e a os ajustes de regressões equivalentes às
significância dos coeficientes pelo teste t. correlações que se mostraram significativas, entre
a relação C/A, a densidade básica da madeira, o
RESULTADOS E DISCUSSÃO rendimento gravimétrico em carvão vegetal e suas
propriedades.
A distribuição da relação C/A para os
materiais genéticos avaliados é apresentada na
Tabela 3. Correlações entre a relação C/A,
Tabela 2. densidade básica da madeira, rendimento
gravimétrico em carvão vegetal e suas
propriedades
Tabela 2. Valores médios da relação cerne/alburno Propriedades Correlações
(C/A) dos clones de Eucalyptus spp. Densidade básica da Madeira -0,46*
Rendimento gravimétrico em carvão vegetal -0,57*
Posição no sentido base-topo Densidade Aparente do carvão vegetal -0,64*
Clone Média* Materiais Voláteis 0,65*
0% 25% 50% 75% 100%
Carbono Fixo -0,63*
1,58 1,32 0,91 0,37 0,19 1,01 Cinzas -0,47*
1
aA aA bA cA cB A * Correlações significativas, a 5% de probabilidade.
0,80 0,93 0,73 0,28 0,27 0,69
2
cA aBC aA bA bAB BC
1,41 1,29 0,73 0,32 0,20 0,76
3
aAB aA bA cA cB BC
1,38 1,19 0,80 0,41 0,54 0,94
4
aAB aAB bA cA bcA AB
1,26 0,89 0,35 0,26 0,19 0,66
5
aB bC cB cA cB BC
0,90 0,51 0,30 0,38 0,39 0,49
6
aC bD bB bA bAB C
*Média ponderada pela altura comercial das árvores. Mesmas
letras maiúsculas em cada coluna (clones) e minúsculas em
cada linha (posição no sentido base-topo) indicam igualdade
pelo teste Tukey (p>0,05).

Observa-se que houve um decréscimo


significativo da relação cerne/alburno no sentido
longitudinal da árvore. Isso se deve a participação
das camadas recém-formadas na proporção total
de madeira que vai aumentando gradativamente da
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 11

Figura 1. Ajustes de regressões equivalentes às carvão para um determinado volume, ou seja,


correlações significativas, a 5% de probabilidade,
menor densidade.
entre a relação C/A, densidade básica da madeira,
rendimento gravimétrico em carvão vegetal e suas Verifica-se que o teor de materiais voláteis
propriedades.
apresentou correlação significativa e positiva com a
relação C/A. Já em relação ao teor de carbono fixo,
Os efeitos das propriedades da madeira na
foi observada uma correlação negativa com a
sua densidade básica são interativos e difíceis de
relação C/A, visto que os teores de materiais
ser avaliados isoladamente (PANSHIN; DE
voláteis e de carbono fixo são inversamente
ZEEUW, 1980). No presente estudo, verificou-se
proporcionais.
que os clones com maiores relações C/A
Observa-se também uma correlação
apresentaram menores densidades básicas da
negativa entre a relação C/A e a porcentagem de
madeira, enquanto que as maiores densidades
cinzas, uma vez que o alburno é fisiologicamente
básicas da madeira foram obtidas para os clones
ativo, sendo responsável pelo transporte
com menores relações C/A. Ou seja, há uma
ascendente de líquidos e sais minerais.
relação inversa entre a densidade e a relação C/A.
Tal fato pode ser explicado, possivelmente, pelo
CONCLUSÃO
aumento da espessura da parede das fibras e
diminuição do tamanho dos poros no sentido
Os valores médios da relação C/A nos
medula-casca.
clones variaram de 0,49 a 1,01.
Foi observada correlação significativa
A relação C/A correlacionou-se significativa
negativa entre a relação C/A e o rendimento em
e negativamente com a densidade básica da
carvão vegetal, o que pode estar relacionado ao
madeira, rendimento em carvão, densidade
fato de os maiores teores de extrativos na madeira
aparente do carvão e teores de carbono fixo e
terem contribuído para a diminuição do rendimento
cinzas. Já a correlação entre o teor de materiais
em carvão vegetal, sendo os mesmos mais
voláteis e relação C/A mostrou-se significativa e
concentrados no cerne. Pode-se considerar que
positiva.
isso se deve ao fato de que maior parte dos
Para a produção de carvão vegetal deve-se
extrativos presentes em árvores jovens de
ter preferência pelos clones com maior proporção
Eucalyptus degradarem-se a baixas temperaturas
de alburno em relação à de cerne, podendo-se,
e não contribuírem para o aumento do rendimento
então, utilizar árvores com menores idades que,
em carvão vegetal.
portanto, não possuem significativas áreas
A relação C/A apresentou correlação
ocupadas pelo cerne.
significativa e negativa com a densidade aparente
O clone 6 destacou-se em relação aos
do carvão vegetal, possivelmente devido à menor
demais, para a produção de carvão vegetal,
densidade do cerne. Vale ressaltar que a menor
apresentando menor relação C/A, e que pode ser
retratibilidade da madeira proveniente do cerne, em
associada às melhores características da madeira
relação ao carvão do alburno, durante a
e do carvão.
carbonização, pode ter contribuído para a
correlação negativa observada entre a densidade
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
aparente do carvão e a relação C/A. Tal fato,
provavelmente, pode ser atribuído aos gases EVANGELISTA, W.V. Caracterização da
gerados durante a carbonização que causam madeira de clones de Eucalyptus
camaldulensis Dehnh. e Eucalyptus urophylla
rupturas principalmente na porção relativa ao S.T. Blake, oriunda de consórcio
cerne, proporcionando a este uma massa menor de agrossilvipastoril. 2007. 120p. Dissertação
12 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

(Mestrado) – Universidade Federal de Viçosa, Acesse o trabalho completo pelo QR Code


Viçosa, 2007.

OLIVEIRA, J. T. S. Caracterização da madeira


de eucalipto para a construção civil. 1997. 429
p. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo,
São Paulo, 1997.

PANSHIN, A.J.; De ZEEUW, C. Textbook of


wood technology. New York: Mc-Graw Hill, 4.ed,
722p. 1980.

SILVA, J. C. Caracterização da madeira de


Eucalyptus grandis Hill ex. Maiden, de
diferentes idades, visando a sua utilização na
indústria moveleira. 2002. 179 f. Tese
(Doutorado em Ciências Florestais) –
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR,
2002.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 13

3| EFEITO DA CARBONIZAÇÃO DA MADEIRA NA ESTRUTURA ANATÔMICA E


DENSIDADE DO CARVÃO VEGETAL DE Eucalyptus

Bárbara Luísa Corradi Pereira, Ana Márcia Macedo Ladeira Carvalho, Aylson Costa Oliveira, Larissa
Carvalho Santos, Angélica de Cássia Oliveira Carneiro, Mateus Alves de Magalhães

INTRODUÇÃO As árvores foram colhidas aos 7,5 anos de


idade, e cultivadas em espaçamento inicial de 3,8 x
Para caracterizar a madeira de espécies de 2,4 metros, provenientes de um teste clonal. Foram
Eucalyptus para as diversas finalidades é selecionadas três árvores de diâmetro médio para
necessário analisá-la anatomicamente cada um dos seis clones, totalizando 18 árvores
(SHIMOYAMA, 1990), dado que as propriedades (amostras). De cada árvore foram retirados seis
físicas e mecânicas da madeira estão intimamente discos de 10 cm de espessura, correspondentes a
relacionadas à composição do lenho e à estrutura 0%, DAP (diâmetro à altura do peito), 25%, 50%,
e organização de seus elementos (ESAU, 1974). 75% e 100% da altura comercial do tronco.
É importante salientar que a densidade da Para a microscopia eletrônica de varredura
madeira depende das dimensões das células que a foram realizados cortes nos planos transversal,
compõem: as fibras, vasos e parênquimas radial e longitudinal tangencial e longitudinal radial da
axial, bem como da proporção, distribuição e madeira e do carvão. Foram utilizadas amostras de
quantidade destes elementos (PANSHIN; DE 0,5 x 0,5 x 0,5cm da região do cerne periférico,
ZEEUW, 1980). provenientes da parte superior do torete relativo ao
São escassos os trabalhos desenvolvidos DAP. Por se tratar de uma avaliação qualitativa e
com a finalidade de relacionar a composição como não há grandes diferenças na estrutura
anatômica da madeira das espécies ao seu anatômica dos clones estudados, será apresentada
potencial para produção de carvão vegetal. a MEV somente do clone 1.
Diante do exposto, o presente trabalho Foi realizada a análise morfológica de
objetivou determinar as características anatômicas fibras e poros. A densidade básica da madeira foi
e densidade da madeira e do carvão vegetal de determinada pelo método de imersão em água, de
clones de Eucalyptus; determinar as possíveis acordo com a norma ABNT NBR 11941 (ABNT,
correlações entre as propriedades anatômicas e 2003), utilizando-se duas cunhas opostas de
densidades da madeira e carvão; e avaliar as madeira, passando pela medula.
modificações anatômicas que ocorrem com a As carbonizações foram realizadas em um
carbonização da madeira. forno elétrico tipo mufla.
Para medição do diâmetro e da frequência
MATERIAL E MÉTODOS de poros no carvão vegetal, foram utilizadas
amostras carbonizadas da região de transição
Neste trabalho foram utilizados seis clones
entre o cerne e o alburno de cada árvore,
de Eucalyptus sp.: Clone 1 (Eucalyptus
provenientes da parte superior do torete relativo ao
camaldulensis), Clone 2 (híbrido de Eucalyptus
DAP.
urophylla), Clone 3 (híbrido de Eucalyptus grandis),
A densidade relativa aparente do carvão foi
Clone 4 (híbrido de Eucalyptus urophylla), Clone 5
determinada pelo método hidrostático, por meio da
(Eucalyptus urophylla) e Clone 6 (Eucalyptus
imersão em mercúrio, conforme descrito por Vital
camaldulensis).
(1984).
14 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

O experimento foi instalado segundo um


delineamento inteiramente casualizado, com seis
tratamentos (clones), com três repetições (árvores),
totalizando 18 unidades amostrais. Os resultados
foram submetidos à análise de variância (ANOVA),
para verificação das diferenças existentes entre os
clones avaliados. Quando estabelecidas diferenças
significativas entre eles, aplicou-se o teste Tukey.
Para determinar as correlações existentes entre as
propriedades avaliadas foi empregado o coeficiente
de correlação simples de Pearson. Figura 2. Microscopia eletrônica de varredura da
seção transversal da madeira e carvão vegetal de
Eucalyptus: (A) Alburno da madeira (aumento de
RESULTADOS E DISCUSSÃO 300 vezes); (B) Alburno no carvão (aumento de 300
vezes); (C) Cerne da madeira (aumento de 300
vezes); (D) Cerne no carvão (aumento de 300
A Figura 1A e 1B mostram a região de vezes).
transição entre cerne e alburno na madeira e no
carvão vegetal, respectivamente, na seção
transversal. Já nas Figuras 1C e 1D são
apresentados detalhes das fibras na madeira e
carvão vegetal, no mesmo plano de corte. A Figura
2 apresenta detalhes da região transversal do
alburno e cerne da madeira e carvão vegetal,
destacando-se os poros. A Figura 3 apresenta
micrografias da seção longitudinal tangencial da
madeira e carvão vegetal de Eucalyptus. A Figura
4 apresenta micrografias da seção longitudinal
Figura 3. Microscopia eletrônica de varredura da
radial da madeira e carvão vegetal de Eucalyptus.
seção longitudinal tangencial da madeira e carvão
vegetal de Eucalyptus: (A) Seção tangencial da
madeira (aumento de 300 vezes); (B) Seção
tangencial do carvão (aumento de 300 vezes); (C)
Detalhes de fibras e parênquima da madeira
(aumento de 1.750 vezes); (D) Detalhes de fibras e
parênquima radial do carvão (aumento de 1.750
vezes).

Figura 1. Microscopia eletrônica de varredura da


seção transversal da madeira e carvão vegetal de
Eucalyptus: (A) Região de transição do cerne e
alburno na madeira (aumento de 75 vezes); (B)
Região de transição do cerne e alburno no carvão
(aumento de 75 vezes); (C) Fibras na madeira
(aumento de 4.900 vezes); (D) Fibras no carvão
(aumento de 4.900 vezes).
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 15

Figura 4. Microscopia eletrônica de varredura da ³, respectivamente, porém, não diferiram


seção longitudinal radial da madeira e carvão
significativamente do clone 6 (0,563 g.cm -³).
vegetal de Eucalyptus: (A) Seção radial da madeira
(aumento de 75 vezes); (B) Seção radial do carvão No presente estudo, as maiores
(aumento de 75 vezes); (C) Detalhes de fibras e
densidades básicas estão associadas às madeiras
parênquima radial da madeira (aumento de 1.800
vezes); (D) Detalhes de fibras e parênquima radial dos clones com maiores frações parede das fibras,
do carvão (aumento de 1.800 vezes).
e poros de menores diâmetros e maiores
frequências. Para a produção de carvão vegetal é
De uma forma geral, as características
desejável o menor conteúdo de espaços vazios,
anatômicas como forma, arranjo e organização de
caracterizados pelos lumes das fibras e vasos, uma
poros, raios e fibras da madeira apresentaram
vez que estes não contribuem com o rendimento
pouca ou nenhuma modificação devido à
gravimétrico em carvão, além de influenciarem
carbonização e a superfície do carvão apresentou
negativamente a qualidade do mesmo.
estruturas bem definidas.
A densidade básica da madeira pode ser
Na Tabela 1 estão os valores médios dos
considerada um dos principais critérios de seleção
parâmetros quantitativos anatômicos da madeira
de espécies e clones de Eucalyptus para produção
dos clones de Eucalyptus.
de carvão vegetal. Devem-se preferir madeiras com
Tabela 1. Valores médios da análise morfológica a maior densidade básica, pois a utilização de
de poros e fibras da madeira dos diferentes clones
madeiras mais densas resulta em maior produção
de Eucalyptus spp.
Poros Fibras de carvão vegetal para um determinado volume de
Clones Frequência Fração
Diâmetro (µm)
(poros.mm-²) Parede (%) madeira enfornada, além de o produto apresentar
1 149,50 a 8,16 d 47,0 b
2 136,90 b 11,78 bc 48,1ab melhor qualidade para suas diversas finalidades.
3 134,23 bc 11,18 bc 49,9 ab
4 120,33 c 14,14 a 50,4 ab De modo geral, este estudo mostrou que a
5 123,36 bc 13,33 ab 54,3 ab
6 144,81 ab 10,69 c 55,6 a
densidade básica da madeira correlacionou-se
Médias, na coluna, seguidas da mesma letra não diferem entre significativa e negativamente com o diâmetro
si, a 5% de probabilidade, pelo teste Tukey.
tangencial dos poros e diâmetro do lume das fibras,
Os valores médios de densidade básica da com respectivos coeficientes de correlação linear
madeira, em g.cm-³, estão apresentados na Figura de Pearson (r) iguais a -0,57 e -0,53. Por outro lado,
5. a frequência de poros e a fração parede
correlacionaram-se positiva e significativamente
com a densidade da madeira, com coeficientes de
correlação linear de Pearson (r) iguais a 0,46 e
0,55, respectivamente. Os outros parâmetros
anatômicos avaliados não apresentaram
correlações significativas.
Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si, a 5% de
probabilidade, pelo teste Tukey. Nas Figuras 6A e 6B estão,
Figura 5. Valores médios da densidade básica da
respectivamente, o diâmetro médio tangencial e a
madeira dos diferentes clones de Eucalyptus spp.
frequência de poros no carvão vegetal dos
A densidade básica da madeira variou de diferentes clones de Eucalyptus spp.
0,531 a 0,585 g.cm-³ entre os clones avaliados.
Observa-se, na Figura 5, que os clones 3 e 5
apresentaram os maiores valores médios de
densidade básica da madeira, 0,577 e 0,585 g.cm -
16 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

Quanto às propriedades anatômicas da


madeira, não foram verificadas correlações
significativas entre o diâmetro tangencial dos poros
e sua frequência com a densidade do carvão.
Observa-se que as dimensões das fibras
Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si, a 5% de
probabilidade, pelo teste Tukey. influenciaram de maneira significativa a densidade
Figura 6. Valores médios do (A) diâmetro do carvão vegetal. O diâmetro das fibras e o
tangencial dos poros e da (B) frequência de poros
do carvão vegetal dos diferentes clones de diâmetro do lume correlacionaram-se de maneira
Eucalyptus spp. negativa com a densidade aparente do carvão, com
coeficientes de correlação linear equivalentes a -
O diâmetro dos poros no carvão vegetal,
0,47 e 10,61, respectivamente. Já a fração parede
comparado aos da madeira que lhe deu origem,
das fibras correlacionou-se positivamente (r =
contraiu, em média, 18,6%, o que aumentou a
0,64).
frequência dos poros por mm² em cerca de duas
Em relação às propriedades anatômicas do
vezes. Durante a carbonização da madeira, ocorre
carvão, não foi observada correlação significativa
a degradação dos componentes da parede celular
entre a densidade e a frequência de poros,
e consequentemente, o volume ocupado pelo
enquanto maiores diâmetros dos poros estão
carvão vegetal num forno.
relacionados com a diminuição da densidade
O diâmetro e frequência de poros do
aparente do carvão (r = -0,46). É desejável também
carvão vegetal seguiram, de modo geral, a mesma
que a frequência de poros seja a menor possível, a
tendência observada na madeira, ou seja, suas
fim de que a maior parte da área seja ocupada por
dimensões modificaram-se proporcionalmente. O
massa e não por espaços vazios, o que contribuiria
clone 1, por exemplo, apresentou tanto na madeira
para uma maior densidade do carvão, todavia, tal
quanto no carvão vegetal maiores diâmetros e
relação foi constatada apenas para os clones 3 e 6.
menores frequências de poros, já o clone 5 obteve
menores diâmetros e maiores frequências de poros
CONCLUSÃO
em relação aos demais.
A densidade aparente do carvão vegetal As características descritivas (organização
apresentou variação de 0,361 a 0,405 g.cm -³. Os das células) quase sempre foram mantidas após a
clones 5 e 6 apresentaram as maiores densidades carbonização, o que torna a análise da anatomia do
do carvão, em média 0,405 g.cm -³, seguidos dos carvão vegetal um subsídio para a identificação da
clones 2 (0,380 g.cm -3) e 3 (0,385 g.cm-³), e as madeira que deu origem a esse.
menores densidades foram verificadas para os As modificações na estrutura anatômica da
clones 1 (0,361 g.cm-³) e 4 (0,367 g.cm-³). As madeira são principalmente referentes aos
diferenças encontradas para a densidade aparente parâmetros quantitativos tais como espessura da
dos diferentes clones avaliados podem ser parede das fibras e diâmetro dos poros.
conferidas, principalmente, à densidade básica da Os clones avaliados apresentaram
madeira. De modo geral, quanto maior a densidade densidade básica da madeira satisfatória para a
básica da madeira, maior também a densidade produção de carvão vegetal, destacando-se os
aparente do carvão vegetal. clones 3, 5 e 6, para tal propriedade.
Observa-se uma correlação significativa Os parâmetros anatômicos
positiva entre a densidade básica da madeira e a correlacionaram-se significativamente com a
densidade aparente do carvão vegetal (r = 0,68). densidade básica da madeira e densidade aparente
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 17

do carvão vegetal, destacando-se, neste estudo, a Acesse o trabalho completo pelo QR Code
fração parede das fibras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICAS. NBR 11941: Madeira: determinação
da densidade básica. Rio de Janeiro, 2003. 6 p.

ESAU, K. Anatomia das plantas com sementes.


São Paulo: Edgard Blucher, 1974. 293 p.

PANSHIN, A.J.; De ZEEUW, C. Textbook of


wood technology. New York: Mc-Graw Hill, 4.ed,
722p. 1980.

SHIMOYAMA, V.R. Variações da densidade


básica e características anatômicas e químicas
da madeira em Eucalyptusspp. 1990. 93p.
Dissertação (Mestrado) - Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São
Paulo, Piracicaba, 1990.

VITAL, B. R. Métodos de determinação da


densidade da madeira. Viçosa, MG: Sociedade
de Investigações Florestais, 1984. 21 p.
18 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

4| ESTUDO DA DEGRADAÇÃO TÉRMICA DA MADEIRA DE Eucalyptus ATRAVÉS DE


TERMOGRAVIMETRIA E CALORIMETRIA

Bárbara Luísa Corradi Pereira, Angélica de Cássia Oliveira Carneiro, Ana Márcia Macedo Ladeira Carvalho,
Paulo Fernando Trugilho, Isabel Cristina Nogueira Alves Melo e Aylson Costa Oliveira

INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS

A pirólise da madeira é um processo físico- Foram utilizados seis clones de Eucalyptus


químico em que esta é aquecida a temperaturas até spp. aos 7,5 anos de idade, cultivados em
450ºC em atmosfera não oxidante e tem como espaçamento 3,8 x 2,4 metros, provenientes de um
produto um resíduo sólido rico em carbono, o teste clonal em linhas de cinco plantas com quatro
carvão vegetal e uma fração volátil que consiste em repetições.
gases não condensáveis e vapores orgânicos De cada árvore foram retirados seis discos
condensáveis (ANTAL JR., 2003). Trata-se de um de 10 cm de espessura, correspondentes a 0%,
processo extremamente complexo e geralmente é 25%, 50%, 75% e 100% da altura comercial do
constituída por uma série de reações químicas, tronco, até o diâmetro mínimo de 7 cm. As
acompanhadas por processos de transferência de amostras de madeira foram transformadas em
calor e massa (YANG et al., 2007). A pirólise de serragem, utilizando-se um moinho de laboratório
qualquer biomassa, entre elas a madeira, pode ser tipo Wiley, de acordo com a norma TAPPI 257 om-
considerada como a sobreposição da 52 (TAPPI, 2001). Foram feitas amostras
decomposição dos seus três componentes compostas de cada árvore e foi utilizada a fração
principais: hemiceluloses, celulose e ligninas, além de granulometria classificada entre as peneiras de
da perda de água do material. 200 e 270 mesh.
Assim, a melhor compreensão do Para análise termogravimétrica da madeira
comportamento da madeira durante a pirólise é utilizou-se o aparelho DTG-60H, Shimadzu. A curva
decisiva para a seleção de clones, otimização dos termogravimétrica (TG) foi obtida para avaliar a
processos e melhoria da qualidade do carvão perda de massa em função da temperatura e a
vegetal. Considerando a grande variedade de curva da derivada primeira da perda de massa
espécies e clones de Eucalyptus cultivados no (DTG).
Brasil, torna-se necessária a busca por novas A partir das curvas TG, procederam-se os
informações sobre as propriedades da madeira, cálculos de perda de massa nos seguintes
para que a seleção de materiais genéticos intervalos de temperatura: temperatura 50-100°C,
superiores para produção de carvão vegetal seja 100-150°C, 150-200°C, 200-250°C, 250-300°C,
bem-sucedida. 300-350°C, 350-400°C, 400-450°C. Calculou-se
Diante do exposto, o objetivo deste também a massa residual na temperatura de
trabalho foi avaliar a degradação térmica da 450°C, considerando-se a massa absolutamente
madeira de diferentes clones de Eucalyptus por seca, na temperatura de 100°C.
meio das análises termogravimétrica (TG/DTG) e Para a calorimetria exploratória diferencial
de calorimetria exploratória diferencial (DSC), (DSC) foi utilizado o equipamento DSC-60A,
estabelecendo suas relações com a produção de Shimadzu.
carvão vegetal. O experimento foi instalado segundo um
delineamento inteiramente casualizado, com seis
tratamentos (clones), com três repetições (árvores),
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 19

totalizando 18 unidades amostrais. Os resultados pequenas diferenciações nas temperaturas


foram submetidos à análise de variância (ANOVA), correspondentes aos picos máximos de
para verificação das diferenças existentes entre os degradação, relacionados à degradação das
clones avaliados. Quando estabelecidas diferenças hemiceluloses e celulose, principalmente. Observa-
significativas entre eles, aplicou-se o teste Tukey se, também, que os picos máximos de degradação
em nível de 95% de significância. das hemiceluloses ocorreram em temperaturas
entre 278 e 280 ºC e da celulose, entre 342 e 347
RESULTADOS E DISCUSSÃO ºC.
As curvas TG/DTG indicam três faixas de
As curvas termogravimétricas (TG) degradação térmica, que estão destacadas na
representam a perda de massa, em porcentagem, Figura 1.1, sendo a primeira atribuída à secagem
em função da temperatura, enquanto as curvas da madeira e as outras duas, à degradação de
DTG correspondem à derivada primeira das curvas hemiceluloses e celulose, devendo-se ressaltar
TG e apresentam a variação da massa em relação que cada um se degrada de maneira distinta em
ao tempo, registradas em função da temperatura. diferentes faixas de temperatura. Não foi detectada
Na Figura 1 estão representadas as curvas faixa específica de degradação de lignina, devido
termogravimétricas (TG/DTG) da madeira, para os ao fato de esta ocorrer em ampla faixa de
seis clones de Eucalyptus, a partir da curva temperatura (YANG et al., 2007), além de a sua
intermediária obtida para cada clone, na faixa de temperatura final de degradação ser superior à
temperatura de 50 a 450 ºC, temperatura máxima temperatura final avaliada (450 ºC), havendo
recomendada para a produção de carvão vegetal. sobreposição das faixas.
Na Tabela 1, apresentam-se as médias das
perdas de massa obtidas para cada clone de
Eucalyptus, em função de faixas de temperatura de
50 a 450 ºC, com intervalos de 50 ºC, e a massa
residual no fim do processo.

Tabela 1. Valores médios da perda de massa dos


clones de Eucalyptus em função das faixas de
temperatura e massa residual, em porcentagem.

*Massa residual, considerando-se a massa de madeira


absolutamente seca (a.s.).

Figura 1. Curvas TG/DTG da madeira de Não foram verificadas diferenças


Eucalyptus spp. para os clones 1, 2, 3, 4, 5 e 6. significativas a 95% de significância para a perda
Atmosfera de nitrogênio e taxa de aquecimento de
10 °C/min. (a) Secagem da madeira, (b) de massa nessas faixas de temperatura, apesar
Degradação térmica de hemiceluloses e (c) das diferenças na composição química da madeira
Degradação térmica de celulose.
do clones avaliados. Também não foram

Observa-se, na Figura 1, que os perfis de observadas diferenças significativas para a massa

degradação térmica da madeira dos diferentes residual, quando considerada a massa seca de

clones apresentaram-se semelhantes, ocorrendo madeira.


20 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

Na Figura 2 estão representadas as curvas entre os clones, sendo possível distinguir duas
DSC da madeira para os seis clones avaliados, a etapas de degradação, das hemiceluloses e
partir da curva intermediária obtida para cada celulose, além da secagem da madeira.
clone. A termogravimetria e a calorimetria podem
auxiliar na escolha de faixas de temperaturas
utilizadas no processo de carbonização em fornos
para a produção de carvão vegetal buscando a
maior eficiência do sistema. Além disso, através
das técnicas estudadas é possível identificar as
principais fases das reações de liberação ou
absorção de energia, e perda de massa, que estão
diretamente ligadas à qualidade do carvão vegetal.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTAL JR., M. The Art, Science, and Technology


of Charcoal Production. Industrial Engineering
Chemistry Research, n. 42, p. 1619 - 1640, 2003.

OLIVEIRA, R.M. Utilização de técnicas de


caracterização de superficies de madeiras
tratadas termicamente. 2009. 123p. Tese
(Doutorado) – Instituto de Física da Universidade
Figura 2. Curvas DSC da madeira de Eucalyptus de São Paulo, São Carlos, 2009.
para os clones 1, 2, 3, 4, 5 e 6. Atmosfera de
nitrogênio e taxa de aquecimento de 10 °C/min. (a) TAPPI - Technical Association of the Pulp and
Secagem da madeira, (b) Degradação térmica de Paper Industry. TAPPI test methods T 257 cm-
hemiceluloses e (c) Degradação térmica de 85: sampling and preparing wood for analysis.
celulose In: TAPPI Standard Method. Atlanta, USA. Cd-
Rom, 2001.

A DSC fornece a informação se a reação é YANG, H.; YAN, R.; CHEN, H.; LEE, D. H. ;
caracterizada por liberação de calor (exotérmica) ZHENG, C. Characteristics of hemicellulose,
cellulose and lignin pyrolysis. Fuel, v. 86, p. 1781-
ou absorção de calor (endotérmica), além de 1788, 2007.
fornecer a quantidade de calor envolvido na reação.
De acordo com Oliveira (2009), os dados Acesse o trabalho completo pelo QR Code
de DSC devem ser analisados sempre com cautela,
já que eles mostram o efeito total das reações que
incidem diretamente sobre a madeira,
denominadas reações primárias, e aquelas que
incidem na decomposição dos produtos
intermediários, tais como vapores orgânicos e
levoglucosana, denominadas reações secundárias,
sendo essas reações complexas, consecutivas
e/ou simultâneas.
CONCLUSÃO

As análises térmicas da madeira (TG/DTG


e DSC) não apresentaram variações expressivas
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 21

5| INFLUÊNCIA DO DIÂMETRO DA MADEIRA DE EUCALIPTO NA PRODUTIVIDADE E


NAS PROPRIEDADES DO CARVÃO VEGETAL PRODUZIDO EM SISTEMA FORNO-
FORNALHA

Danilo Barros Donato e Angélica de Cássia Oliveira Carneiro

INTRODUÇÃO fornalha para combustão dos gases, conforme


Figura 1.
A qualidade da madeira é fator de extrema
importância quando o objetivo é a produção de
carvão vegetal com alto rendimento, baixo custo e
elevada produtividade. Entretanto, as propriedades
do carvão vegetal não são dependentes apenas
das características intrínsecas da madeira, mas,
também, de outros fatores como a condução do
processo, as dimensões do forno, o diâmetro da
madeira e o seu teor de umidade.
Assim, um dos grandes problemas
Figura 1. Vista em perspectiva do forno de
enfrentados pelas indústrias siderúrgicas é a
alvenaria circular.
heterogeneidade das propriedades do carvão
vegetal, ocasionadas pelo grande número de Para as carbonizações utilizou-se madeira
variáveis que influenciam o processo, destacando- de Eucalyptus sp., em duas classes de diâmetro,
se o teor de umidade e a variabilidade da classe de 7 a 12 cm e 13 a 18 cm. Para a determinação
diamétrica da madeira enfornada. das propriedades do carvão vegetal foram
Salienta-se que a variação diamétrica da coletadas amostras em três posições equidistantes
madeira é o parâmetro que mais está presente em do forno, com distância de 1 metro entre os pontos
todas as etapas do processo de produção do de coleta, no sentido da porta ao fundo do mesmo.
carvão vegetal (RAAD, 2006). Devendo ressaltar Para avaliar o efeito do diâmetro da
que além de influenciar nas propriedades e nas madeira nos rendimentos gravimétricos (carvão,
etapas do processo de produção do carvão vegetal, finos e atiço) e nos parâmetros da carbonização
o diâmetro da madeira exerce forte influência no (quantidade de madeira enfornada e tempo de
custo da madeira, diluído ao tempo de estocagem carbonização), o experimento foi instalado segundo
em campo, no transporte e também no ciclo de um delineamento inteiramente casualizado (DIC),
carbonização. com duas classes de diâmetro da madeira, e três
Nesse sentido, o objetivo principal deste repetições (carbonizações), totalizando seis
trabalho foi estudar a influência do diâmetro da unidades amostrais. As propriedades do carvão
madeira na produtividade e nas propriedades do vegetal foram analisadas segundo fatorial 3 x 2
carvão vegetal em sistema forno-fornalha. (posição no forno e classe de diâmetro da madeira),
com 3 repetições, totalizando 18 unidades
MATERIAL E MÉTODOS
amostrais. Realizou-se a análise de variância e
quando houve efeito dos tratamentos as médias
Para proceder à carbonização da madeira
foram comparadas pelo teste Tukey, a 95% de
foi utilizado um forno circular de alvenaria com
probabilidade.
capacidade volumétrica de 12 st, acoplado a uma
22 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

RESULTADOS E DISCUSSÃO 13 – 18 cm 7032 aB 6909 abB 6808 bB


*Médias seguidas das mesmas letras não diferem entre si pelo
Na Tabela 1 são apresentados os valores teste Tukey, a 95% de probabilidade. Letras minúsculas
referem-se ao mesmo diâmetro nas diferentes posições; e letras
médios dos parâmetros e rendimentos maiúsculas aos diferentes diâmetros para uma mesma posição
no forno.
gravimétricos das carbonizações.
Observa-se que os valores do poder
Tabela 1. Parâmetros e rendimentos gravimétricos
das carbonizações, em função das classes de calorífico superior (PCS) foram significativamente
diâmetro da madeira. diferentes para as diferentes classes de diâmetro.
Diâmetro da Madeira
Parâmetros Não houve interação significativa entre as posições
7-12 cm 13-18 cm
porta e meio para ambas as classes de diâmetro,
Massa seca de madeira 3061,43 A 3203,92 B
enfornada (kg) (± 32,48) (±45,22) sendo a posição fundo do forno estatisticamente
34,28 A 39,35 B
Teor de umidade da Madeira (%)
(±1,92) (±2,36) diferente, apresentando menor valor de PCS do
63,0 A 74,0 B
Tempo de carbonização (horas) carvão.
(±1,00) (±0,82)
Rendimento Gravimétrico em 33,62 A 31,67 B
carvão vegetal (%) (±0,96) (±0,17) Os valores médios do teor de carbono fixo
Rendimento Gravimétrico em 1,89 A 1,96
finos (%) (±0,27) A(±0,36)
(CF) do carvão vegetal em função dos tratamentos
Rendimento Gravimétrico em 0,23 A 0,46 A são apresentados na Tabela 3.
atiço (%) (±0,17) (±0,12)
* Médias seguidas da mesma letra entre as classes de diâmetro
para um mesmo parâmetro não diferem entre si, a 5% de
significância, pelo teste F. Os valores entre parênteses indicam Tabela 3. Valores médios do teor de carbono fixo
o desvio padrão. (%) do carvão vegetal da madeira de Eucalyptus sp
em função da posição no forno e classe de
Observa-se que as carbonizações diâmetro.
Diâmetro Posição no forno
utilizando toras de menor diâmetro tiveram menor da madeira
Porta Meio Fundo
massa seca de madeira enfornada, tendo 7 – 12 cm 84,25 aA 78,66 bA 74,82 cB
enfornado em média 4,45% a menos que a madeira 13 – 18 cm 82,28 aA 76,20 cA 78,84 bA
de diâmetro maior. As carbonizações realizadas *Médias seguidas das mesmas letras não diferem entre si pelo
teste Tukey, a 95% de probabilidade. Letras minúsculas
com madeira de menor diâmetro tiveram menor referem-se ao mesmo diâmetro nas diferentes posições; e letras
maiúsculas aos diferentes diâmetros para uma mesma posição
tempo de condução (63 horas), ou seja, 14,86% a no forno.
menos que as realizadas com madeira de maior.
Os rendimentos gravimétricos em carvão vegetal, Observa-se que os teores de carbono fixo

finos e atiços para ambas as classes de diâmetro (CF) dos carvões produzidos com madeira de

foram considerados satisfatórios. menor diâmetro foram significativamente diferentes

Não houve efeito dos tratamentos na ao longo das posições do forno. No entanto, o

densidade a granel e aparente do carvão vegetal, mesmo não foi observado para as toras de maior

sendo os valores médios iguais a 156,41 e 355 diâmetro em relação as posições meio e fundo.

kg/m³, respectivamente. Os valores médios de friabilidade do carvão

Os valores médios do poder calorífico vegetal em função dos tratamentos são

superior (PCS) do carvão vegetal em função dos apresentados na Tabela 4.

tratamentos são apresentados na Tabela 2.


Tabela 4. Valores médios da friabilidade (%) do
carvão vegetal da madeira de Eucalyptus sp em
Tabela 2. Valores médios do poder calorífico função da posição no forno e classe de diâmetro.
superior (kcal/kg) do carvão vegetal da madeira de
Diâmetro Posição no forno
Eucalyptus sp em função da posição no forno e da madeira Porta Meio Fundo
classe de diâmetro.
7 – 12 cm 11,69 cB 12,74 aB 12,41 bB
Diâmetro Posição no forno
da madeira 13 – 18 cm 12,54 cA 14,36 aA 13,79 bA
Porta Meio Fundo
7 – 12 cm 7307 aA 7446 aA 6946 bA
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 23

*Médias seguidas das mesmas letras não diferem entre si pelo O carvão vegetal produzido com toras de
teste Tukey, a 95% de probabilidade. Letras minúsculas
referem-se ao mesmo diâmetro nas diferentes posições; e letras menor classe de diâmetro teve uma maior
maiúsculas aos diferentes diâmetros para uma mesma posição
no forno. resistência a friabilidade.

Os valores de friabilidade para ambas as


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
classes de diâmetro foram satisfatórios, e tiveram a
mesma classificação de acordo com o CETEC CETEC - Fundação Centro Tecnológico de Minas
(1982), sendo classificados como pouco friáveis, ou Gerais. Produção e Utilização de Carvão Vegetal.
Séries Técnicas CETEC, Belo Horizonte, 393 p.
seja, a porcentagem de perda na forma de finos 1982.
variaram de 10 a 15% em relação a massa inicial
RAAD, T. J; PINHEIRO. P.C.C; YOSHIDA M. I.
de carvão vegetal. Equação geral de mecanismos cinéticos da
carbonização do Eucalyptus spp. Cerne, Lavras,
v. 12, n. 2, p. 93-106, abr./jun. 2006.
CONCLUSÃO
Acesse o trabalho completo pelo QR Code
Conclui-se que a carbonizações utilizando
madeira de menor diâmetro obteve uma
produtividade em carvão vegetal.
As carbonizações com madeiras de menor
diâmetro tiveram redução no tempo de
carbonização em 14,86% em comparação com a
de maior, reduzindo o tempo médio em
aproximadamente 11 horas.
De modo geral, os valores obtidos para
análise química imediata do carvão produzido para
ambas classes de diâmetro foram condizentes com
o que é desejável para uso siderúrgico.
24 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

6| POTENCIAL ENERGÉTICO DA MADEIRA DE Eucalyptus sp. EM FUNÇÃO DA


IDADE E DE DIFERENTES MATERIAIS GENÉTICOS

Angélica de Cássia Oliveira Carneiro, Ana Flávia Neves Mendes Castro, Renato Vinícius Oliveira Castro,
Rosimeire Cavalcante dos Santos, Lumma Papaspyrou Ferreira, Renato Augusto Pereira Damásio e
Benedito Rocha Vital

INTRODUÇÃO De cada árvore foram retirados cinco


discos (0%, 25%, 50%, 75% e 100% da altura
A biomassa, no Brasil, é constituída, em comercial do tronco), bem como determinados a
grande parte, pela madeira e, quando se avalia a densidade básica, o poder calorífico superior e a
produção de energia, pode-se dizer que seu uso se análise elementar da madeira, e, com base nesses
divide em produção de carvão vegetal valores, foi possível estimar a quantidade de
(carbonização) e consumo direto da lenha energia m-3.
(combustão) (VALE et al., 2002).
Para queima direta, é melhor utilizar
RESULTADOS E DISCUSSÃO
madeiras com maior poder calorífico, pois essa
propriedade está relacionada com o rendimento Os valores de densidade básica da
energético que, por sua vez, está relacionado com madeira variaram de 0,45 g cm -3 a 0,52 g cm-3; 0,45
a sua constituição química, em que os teores de g cm-3 a 0,54 g cm-3; 0,49 g cm-3 a 0,56 g cm-3, para
celulose, hemiceluloses, lignina, extrativos e GG 100, GG 157 e GG 680, respectivamente.
substâncias minerais variam de uma espécie para Observou-se aumento significativo da densidade
outra (QUIRINO et al., 2005). Além disso, pode-se básica da madeira com o incremento da idade,
dizer que a densidade da madeira também é uma sendo somente aos 7 anos observados valores
característica bastante relevante. A idade das semelhantes aos valores ideais para produção de
árvores também interfere consideravelmente, pois carvão vegetal.
diversas transformações ocorrem na madeira à Na Figura 1 estão apresentados os valores
medida que envelhece, podendo-se citar variações médios do poder calorífico superior da madeira em
nas suas composições químicas, físicas e função dos tratamentos, da idade e do clone.
anatômicas.
Portanto, é necessário conhecer as
propriedades da madeira e a sua variação
conforme a idade, para destiná-la a determinado
uso, a fim de promover seu melhor aproveitamento.
Dessa forma, este trabalho teve como objetivo
determinar a influência da idade e de diferentes
Médias seguidas da mesma letra maiúscula entre as idades e
materiais genéticos de Eucalyptus sp. Na produção minúscula entre os clones não diferem entre si, todos a 5% de
significância, pelo teste de Kruskall-Wallis.
de madeira para energia.
Figura 1. Poder calorífico superior (kcal kg-1) da
madeira em função da idade e do clone.
MATERIAL E MÉTODOS
Analisando a Figura 1, observa-se que
Neste estudo, foram avaliados três clones houve efeito da idade no poder calorífico superior
de Eucalyptus sp., em quatro idades diferentes, aos da madeira, e diferença significativa entre os
3, 4, 5 e 7 anos, sendo provenientes da Gerdau clones, em todas as idades.
S/A.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 25

Quando se utiliza biomassa para energia, a 100. Entre os clones, não houve diferença
composição elementar é uma propriedade do significativa, exceto aos 3 anos.
combustível muito importante e constitui a base Ainda na Figura 2, letra d, verifica-se que
para análise do processo de combustão. Na Figura não houve influência da idade no teor de oxigênio,
2 estão apresentados os valores médios para independentemente do clone. Entre os clones não
análise elementar da madeira dos três clones em ocorreu diferença significativa nas idades de 3 e 4
estudo, nas diferentes idades avaliadas. anos, sendo a diferença aos 5 e 7 anos
significativa.
De maneira geral, pela Figura 2e, verifica-
se que houve efeito da idade no teor de enxofre dos
clones GG 157 e GG 680. Houve também diferença
significativa entre os clones, exceto na idade de 5
anos. No clone GG 680, nas idades de 5 e 7 anos,
o teor de enxofre foi zero.
Na Figura 3 são apresentados os valores
médios da quantidade de energia por m 3 em função
dos tratamentos, da idade e do clone.

Médias seguidas da mesma letra maiúscula entre as idades e


minúscula entre clones não diferem entre si, a 5% de
significância, pelo teste de Tukey; (e) médias seguidas da
mesma letra maiúscula entre as idades e minúscula entre clones
não diferem entre si, a 5% de significância, pelo teste de
Kruskall-Wallis.
Figura 2. Análise elementar da madeira em função
Médias seguidas da mesma letra maiúscula entre as idades e
da idade e do clone, sendo: (a) teor de nitrogênio minúscula entre clones não diferem entre si, a 5% de
(N%); (b) teor de carbono (C%); (c) teor de significância, pelo teste de Tukey.
hidrogênio (H%); (d) teor de oxigênio (O%); e (e) Figura 3. Quantidade de energia produzida por m 3
teor de enxofre (S%). em função da idade e do clone.

Analisando a Figura 2a, observa-se que Analisando a Figura 3, observa-se que a


não houve influência da idade no teor de nitrogênio, quantidade de energia armazenada em 1 m 3 de
exceto para o clone GG 680, que apresentou madeira aumentou com a idade, seguindo a mesma
menores teores desse elemento nas idades de 5 e tendência da densidade básica da madeira. O clone
7 anos. Entre os clones ocorreu diferença GG 100 apresentou os menores valores dessa
significativa em todas as idades, exceto aos 4 anos. variável, observando-se uma variação de 2.389
Analisando a Figura 2b, observa-se que kW.h.m-³ a 2.801 kW.h.m -³, enquanto o clone GG
não houve influência da idade no teor de carbono, 680 apresentou o melhor desempenho dessa
exceto no clone GG 680, que apresentou aumento variável, e os valores médios variaram de 2.594
no teor de carbono com a idade. Também, verifica- kW.h.m-³ a 2.943 kW.h.m -³. Os valores médios do
se que houve efeito significativo do clone nas clone GG 157 oscilaram entre 2.408 kW.h.m -³ e
diferentes idades avaliadas, exceto na idade de 4 2.916 kW.h.m-³.
anos. Ainda, constata-se que não houve influência
da idade no teor de hidrogênio, exceto no clone GG CONCLUSÃO
26 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

A idade influencia a densidade básica da REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


madeira e, consequentemente, a quantidade de
energia armazenada por m³. QUIRINO, W. F. et al. Poder calorífico da madeira
e de materiais ligno-celulósicos. Revista da
O clone GG 680 apresentou melhor Madeira, n.89, p.100-106, 2005.
desempenho quando se avaliou o uso da madeira
VALE, A. T.; BRASIL, M. A. M.; LEÃO, A. L.
para geração de energia, atingindo, aos 7 anos, o Quantificação e caracterização energética da
valor de 2.802 kW.h.m -3. madeira e casca de espécies do cerrado. Ciência
Florestal, v.12, n.1, p.71-80, 2002.
O clone GG680 apresentou maiores teores
de carbono em relação aos outros clones, em todas Acesse o trabalho completo pelo QR Code
as idades, e, além disso, houve elevação desses
teores com o aumento da idade.
Maiores teores de carbono e de densidade
básica, principalmente aos 7 anos, são importantes
dados que contribuíram, significativamente, com os
melhores resultados de poder calorífico,
apresentados pelo clone GG680.
Cabe ressaltar que a escolha do melhor
material genético deve levar em consideração as
características tecnológicas da madeira, bem como
a sua produtividade e efetividade técnica de
produção. Portanto, deve-se avaliar, também, a
produtividade das florestas, com o objetivo de
determinar se o ganho em qualidade de madeira é
superior ao ganho pela produtividade.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 27

7| INFLUÊNCIA DAS DIMENSÕES DA MADEIRA NA SECAGEM E NAS


PROPRIEDADES DO CARVÃO VEGETAL

Márcia Aparecida Pinheiro e Ana Márcia Macedo Ladeira Carvalho

INTRODUÇÃO O experimento foi instalado utilizando-se


toretes com e sem casca, em três classes
A secagem é uma das fases mais diamétricas e três comprimentos. Os toretes foram
importantes para a indústria produtora de carvão dispostos em uma estrutura a 0,60 metros do chão,
vegetal, pois proporciona, entre outras vantagens, dentro de um galpão coberto. Determinou-se a
a redução do peso da madeira diminuindo o custo umidade inicial dos toretes e o acompanhamento
com transporte, aumento do rendimento da secagem se deu através de pesagens semanais
gravimétrico, redução no tempo de carbonização, durante todo período de observação.
redução da geração de finos, além da redução de Foram determinadas as propriedades da
gases poluentes do processo. Esta fase demanda madeira no sentido base-topo e no sentido medula-
grandes investimentos e um alto consumo de casca.
energia, resultando em altos custos quando feito Para o carvão vegetal realizaram-se
artificialmente. Portanto, há um grande interesse carbonizações em duplicata para cada uma das
pelas indústrias consumidoras de madeira, três classes diamétricas analisadas. As
principalmente em toras, em encontrar formas carbonizações foram conduzidas em forno tipo
eficientes e mais viáveis economicamente de secar container, com tempo variando de 6 a 13 horas. Em
a madeira no menor espaço de tempo, visando seguida determinaram-se as propriedades físicas,
maximizar o seu uso com rendimentos satisfatórios, químicas e a friabilidade do carvão vegetal.
visto que em média a madeira fica em torno de 150 Os dados foram submetidos à análise de
dias no campo até que atinja valores de umidade variância, e quando estabelecidas diferenças entre
satisfatórios. eles, aplicou-se o teste Tukey em nível de 95% de
De modo geral, tem-se observado que o significância.
diâmetro da madeira é a dimensão que mais
influencia na perda de umidade, requerendo maior
RESULTADOS E DISCUSSÃO
tempo de secagem, onerando o processo e
influenciando também, a qualidade e o rendimento Na Tabela 1 são apresentados os valores
do carvão produzido. Além disso, a presença de médios das propriedades da madeira de
casca e o comprimento da madeira são outros Eucalyptus urophylla no sentido base-topo.
fatores a serem considerados durante a secagem.
Neste contexto, buscou-se neste trabalho Tabela 1. Propriedades médias da madeira de
Eucalyptus urophylla no sentido base-topo
relacionar a velocidade de secagem com as Posição no sentido base-topo
Propriedade
propriedades físicas, dimensões da tora de madeira 0% 25 % 50 % 75 % 100 %
1,36 1,06 0,68 0,28 0,20
Relação C/A
e seus efeitos, na qualidade do carvão vegetal. a a b c c
Densidade
622 587 585 578 565
básica
a b b b b
(kg/m³)
MATERIAL E MÉTODOS Retração
10,39 10,24 9,58a 8,24 8,14
Tangencial
a ab b b b
(%)
Foi utilizada madeira de Eucalyptus Retração 7,17 7,71 7,42 6,67 6,72
Radial a a a a a
urophylla, aos cinco anos de idade, provenientes de Retração 19,43 18,51 18,36 16,2 15,44
Volumétrica a a a 4a a
um plantio localizado no município de Viçosa, MG.
28 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

Coeficiente 1,44 1,33 1,29 1,23 1,21 cerne/alburno. Em relação às amostras da região
anisotrópico a b bc cd d
Médias na mesma linha seguidas da mesma letra não diferem do alburno, observou-se uma permeabilidade
entre si, a 95% de probabilidade, pelo teste Tukey.
gasosa média de 216,97 cm³/cm.atm.s.

A análise de variância indicou que o efeito Na Tabela 3 são apresentados os teores


médios de umidade inicial da madeira com e sem
da posição no sentido base-topo foi significativo a casca em função da classe diamétrica.
95% de probabilidade, para a relação C/A,
densidade básica, retração tangencial e coeficiente
Tabela 3. Teores médios iniciais de umidade da
anisotrópico. Para a retração radial e volumétrica o madeira com e sem casca em função da classe
efeito da posição no sentido base-topo não foi diamétrica
Classe 1 Classe 2 Classe 3
Parâmetros
significativo. (<10cm) (10-13cm) (>13cm)
Com casca 86,49 % 81,45 % 85,47 %
Na Tabela 2 são apresentados os valores Sem casca 76,86 % 72,56 % 76,59 %
Percentagem de
médios das propriedades da madeira de variação
11,13 % 10,91 % 10,38 %

Eucalyptus urophylla no sentido medula-casca.


De modo geral, a madeira com casca
Tabela 2. Propriedades médias da madeira de apresentou maior umidade média inicial em relação
Eucalyptus urophylla no sentido medula-casca
à madeira sem casca. A casca também possui
Posição no sentido medula-casca
Propriedade Transição umidade o que pode ter contribuído para os
Cerne Alburno
Cerne/Alburno
Densidade básica maiores teores observados. A percentagem de
471c 541b 642a
(kg/m³)
Diâmetro
variação de umidade entre a madeira com e sem
tangencial dos 88,82b 93,84b 108,80a casca, dentro de cada classe diamétrica foi
vasos (µm)
Frequência dos semelhante, apresentando um valor médio de
11,96a 11,25a 11,23a
vasos (vasos/mm²)
Comprimento das
0,99b 1,05ab 1,12a 10,81%.
fibras (mm)
Largura das fibras
19,99b 21,36ab 21,85a
A velocidade de secagem foi maior para a
(µm)
Diâmetro do lume madeira sem casca, sendo observada uma
8,58a 8,32a 8,02a
das fibras (µm)
Espessura da diferença mais acentuada para madeira de menor
parede das fibras 5,84b 6,66 a 6,64a
(µm) diâmetro e comprimento, principalmente nos
Fração parede das
fibras (%)
58,43a 60,78a 62,52a primeiros 14 dias de secagem.
Médias na mesma linha seguidas da mesma letra não diferem A menor perda de água observada nos
entre si, a 95% de probabilidade, pelo teste Tukey.
toretes de madeira com cascas se deve ao
De modo geral, observa-se, na Tabela 2, impedimento físico que a mesma oferece e também
que para aquelas propriedades que foram a redução da área superficial do lenho, afetando a
significativas, houve um aumento das mesmas no saída da água.
sentido medula-casca. De modo geral, verificou-se que as
De acordo com os resultados da análise de madeiras com menores comprimentos secaram
permeabilidade da madeira não houve nenhuma mais rápido. A madeira de 0,20 m de comprimento,
vazão de fluxo gasoso nas amostras do cerne, classe diâmetro 1, atingiu a umidade próxima a
possivelmente devido as pressões de trabalho 30% em um menor intervalo de tempo quando
utilizadas na bomba de vácuo e da permeabilidade comparadas com a madeira de 0,4 e 0,6 m, com
extremamente baixa, normalmente apresentada casca e sem casca.
por esta região. Vale salientar que madeiras mais A madeira de menor diâmetro aliado a
permeáveis secam mais rápido, logo é desejável ausência de casca e menor comprimento, atingiu a
seleção de materiais genéticos de eucalipto e tratos umidade próxima aos 30% mais rapidamente que
silviculturais que proporcionam baixa relação as demais, ou seja, em 21 dias.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 29

Segundo Vital et al. (1985) a secagem Eucalyptus urophylla em função da classe de


natural é influenciada pelo diâmetro da madeira, diâmetro.
sendo que, quanto maior o diâmetro, maior será o
percurso a ser percorrido pelas moléculas de água, Tabela 5. Valores médios das propriedades físicas,
químicas e de friabilidade do carvão vegetal da
do interior até a superfície da madeira.
madeira de Eucalyptus urophylla, em função da
De acordo com os resultados obtidos neste classe diamétrica
Densidade Densidade
trabalho para que o processo de secagem ocorra Classe Umidade
Aparente Granel
diamétrica (%)
(kg/m³) (kg/m³)
mais rápido, a madeira deve apresentar dentre Classe 1
350,93c 170,38a 3,08b
(> 10 cm)
outras características, menor diâmetro e
Classe 2
450,80b 193,50a 3,94b
comprimento, ausência de casca, alta (10 – 13 cm)
Classe 3
514,25a 196,25a 5,31a
permeabilidade e baixa relação cerne/alburno. A (>13 cm)
Classe CZ MV CF Friabilidade
influência dos fatores inerentes ao ambiente diamétrica (%) (%) (%) (%)
Classe 1
também devem ser considerados para se obter 1,11a 17,62a 81,27a 16,62b
(> 10 cm)
Classe 2
maior eficiência do processo. 0,8ab 17,11a 82,09a 18,17b
(10 – 13 cm)
Na Tabela 4 estão apresentados os valores Classe 3
0,44b 19,58a 79,99a 25,83a
(>13 cm)
médios das propriedades da madeira utilizada nas Médias na coluna seguidas da mesma letra não diferem entre si,
a 95% de probabilidade, pelo teste Tukey.
carbonizações.

De acordo com a análise de variância


Tabela 4. Valores médios das propriedades da houve efeito significativo do diâmetro, a 95% de
madeira de Eucalyptus urophylla utilizada nas
carbonizações probabilidade, apenas para as propriedades
CD DM U DB
Carbonizações
(cm) (%) (Kg/m³)
densidade aparente, umidade, cinzas e friabilidade
1 1 8,77 26,28 570 do carvão vegetal.
2 1 8,86 35,15 561
3 2 11,14 23,26 580 Observa-se que houve um aumento
4 2 11,47 26,26 582
5 3 14,78 31,93 584 significativo na densidade aparente dos carvões
6 3 13,93 45,76 586
CD = Classe diamétrica; DM = Diâmetro médio; U = umidade; com aumento do diâmetro. Segundo Santos (2010),
DB = Densidade básica.
durante a carbonização da madeira, devido à

Observaram-se maiores valores médios de degradação térmica de seus principais

umidade e densidade da madeira na classe de componentes, perde-se em média 65% de massa.

maior diâmetro. Logo, quanto maior for à densidade da madeira,

Para o rendimento gravimétrico em carvão haverá mais massa de madeira, e

vegetal (RGCV) a análise de variância indicou que consequentemente, maior será a massa restante

não houve efeito significativo do diâmetro a 95% de presente no carvão vegetal.

probabilidade. O valor médio foi de 28,49 %. No A friabilidade do carvão vegetal foi afetada

entanto, observou-se uma tendência de aumento pelo diâmetro da madeira. Madeiras de maiores

do rendimento gravimétrico em função do aumento diâmetros possuem maiores área de cerne, essa

da classe diamétrica. O aumento do rendimento região está mais propícia à formação de trincas e

gravimétrico em carvão vegetal provavelmente fissuras durante a carbonização, ocasionando

ocorreu em função do arranjo da madeira dentro do maior geração de finos.

container e da densidade básica.


Na Tabela 5 estão apresentados os valores CONCLUSÃO

médios das propriedades do carvão vegetal de


30 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

A posição longitudinal, no sentido base- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


topo, afetou a densidade básica, relação CA,
retração tangencial e o coeficiente anisotrópico, SANTOS, R. C. dos. Parâmetros de qualidade
da madeira e do carvão vegetal de clones de
sendo que essas propriedades apresentaram uma eucalipto. 2010. 122 f. Tese (Doutorado em
tendência decrescente ao longo do sentido base- Ciência e Tecnologia da Madeira) - Universidade
Federal de Lavras, Lavras, MG. 2010.
topo.
A posição radial afetou a densidade básica VITAL, B. R. DELLA LUCIA, R. M. VALENTE, O.
F. Estimativa do teor de umidade de lenha para
e a estrutura anatômica da madeira (vasos e carvão em função do tempo de secagem. Revista
fibras). Os parâmetros relacionados aos vasos e as Árvore, v.9, s/n, p.10-27, 1985.

fibras são variáveis, e apresentam-se crescentes Acesse o trabalho completo pelo QR Code
quanto a posição radial, no sentido medula-casca,
exceto para frequência de vasos e diâmetro do
lume das fibras.
A separação da madeira por classe de
diâmetro para secagem é uma prática que torna a
este processo mais rápido e eficiente.
Madeiras de menor diâmetro, associadas a
menor comprimento e a ausência de casca atingem
a umidade de 30% mais rapidamente que as
demais.
Madeiras de maior diâmetro necessitam de
uma carbonização mais lenta, pois a velocidade de
saída dos gases que geram pressão interna na
madeira produzem carvão com maior friabilidade.
Em madeiras de menores diâmetros é necessário
um maior controle da carbonização.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 31

8| COMBUSTÃO ESPONTÂNEA DE MADEIRA TRATADA TERMICAMENTE


Matheus Perdigão de Castro Freitas Pereira e Benedito Rocha Vital

INTRODUÇÃO Para realização do estudo, cavacos de


madeira in natura, torrificados por 20 min em um
A combustão espontânea é um reator tipo rosca sem fim nas temperaturas de 180,
acontecimento químico que ocorre a partir da 220 e 260 ºC e carvão vegetal produzido em forno
reação de materiais combustíveis com o oxigênio, de alvenaria foram submetidos às análises
ocasionando uma lenta geração de calor, pelo qual termogravimétricas, de calorimetria diferencial
os materiais elevam suas temperaturas, através de exploratória e ao teste de combustão espontânea
reações exotérmicas internas, e atingem recomendado pela Organização das Nações
temperaturas maiores do que o ambiente Unidas (2009).
(AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES Na Figura 1 está apresentado o esquema
TERRESTRES - ANTT, 2004; QUINTIERE et al. de análise e classificação de combustíveis sólidos
2012). quanto ao teste de combustão espontânea.
Apesar de alguns estudos evidenciarem
que o carvão vegetal não é passível deste
fenômeno, a ANTT o classifica como substância
sujeita a combustão espontânea. Assim, alguns
órgãos de fiscalização e controle de alguns estados
brasileiros exigem que o transporte viário do carvão
vegetal siga as normas da Associação Brasileira de
Normas Técnicas - ABNT NBR 7500 (2004), ou que
Figura 1. Esquema para análise de combustão
o transportador viário do carvão vegetal possua espontânea e grupo de embalagem que deve ser
uma declaração de que o produto foi ensaiado e utilizado no transporte do material (Adaptado da
ONU, 2009)
considerado não-perigoso para o transporte,
gerando um custo extra e enfraquecendo o setor RESULTADOS E DISCUSSÃO
carvoeiro.
Neste sentido, existe a preocupação Na Figura 2 são apresentadas as curvas

também de que possa vir a exigir este controle dos termogravimétricas (TGA e DTG) dos cavacos

cavacos torrificados, uma biomassa ainda em submetidos aos tratamentos térmicos.

expansão no mercado brasileiro. Observa-se, na Figura 2, que os perfis de

Assim sendo, este trabalho teve como degradação térmica dos cavacos de madeira foram

objetivo verificar se cavacos de madeira de distintos para os diferentes tratamentos.


Eucalyptus urophylla tratados termicamente são Segundo Yang et al. (2007), a degradação
passíveis de combustão espontânea, associando térmica das hemiceluloses concentra-se na faixa de
esta informação com as análises temperatura de 220-315 ºC. Assim, observa-se que

termogravimétricas (TGA/DTG) e de calorimetria a degradação das hemiceluloses iniciou-se nas

diferencial exploratória (DSC) dos materiais. temperaturas de 218 e 224 ºC, respectivamente,
para a testemunha e os cavacos torrificados a 180

MATERIAL E MÉTODOS ºC, finalizando nas temperaturas de 308 e 309 ºC,


respectivamente. Observa-se que para os
32 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

tratamentos realizados nas temperaturas de 220,


260 ºC e no carvão vegetal não se verifica o pico
característico das hemiceluloses, uma vez que nos
processos de torrefação ou carbonização as
N.O.: não observado
hemiceluloses são degradadas. Nesta faixa de
temperatura tiveram-se perdas de massa de 25,0, De modo geral, observaram-se dois picos
23,8 15,11, 6,5 e 1,5%, respectivamente, para os para os cavacos tratados termicamente até 260 ºC,
tratamentos in natura, 180, 220, 260 e carvão enquanto para o carvão vegetal não se observou
vegetal. pico definido até a temperatura avaliada (450 ºC)
provavelmente devido à baixa concentração de
holocelulose ocasionada pelo tratamento térmico
da madeira (torrefação/carbonização).
Nota-se que a fase exotérmica dos cavacos
iniciou em temperaturas acima de 291 °C enquanto
a do carvão vegetal foi superior a 443 ºC. Esta é
uma importante informação, visto que comprova
que tanto os cavacos tratados termicamente quanto
o carvão vegetal não são passíveis de combustão
espontânea, seja no seu transporte e/ou no seu
armazenamento, uma vez que a temperatura
ambiente terrestre não atinge estes valores.
Na Tabela 2 são apresentados os
resultados do teste de combustão espontânea
sugerido pela ONU (2009), bem como as
Figura 2. Curvas termogravimétricas dos cavacos
de madeira: A (in natura); B (180ºC); C (220ºC); D temperaturas máximas atingidas por cada amostra.
(260ºC) e E (Carvão vegetal).
Tabela 2. Resultado do teste de combustão
Pelas curvas de TGA e DTG, e pela tabela espontânea e temperatura máxima atingida pela
de degradação de massas, observa-se que os amostra

cavacos tratados termicamente a 260 ºC e o carvão


vegetal apresentaram maior massa residual, sendo
essa composta na sua maioria pela lignina, que
apresenta alta estabilidade térmica.
Na Tabela 1 estão as temperaturas
Nota-se que de acordo com o teste
relacionadas ao início do processo exotérmico e
sugerido no Manual de critérios e recomendações
aos picos máximos das curvas DSC dos cavacos
da ONU, nenhum dos materiais sofreu combustão
de madeira e do carvão vegetal.
espontânea quando submetidos por 24 horas, em
estufa com circulação de ar, à temperatura de 140
Tabela 1. Temperatura de início do processo
exotérmico e temperatura máxima dos picos ºC, em recipiente de 100 mm.
exotérmicos das curvas DSC em função dos Assim sendo, considera-se que os mesmos
tratamentos
não são substâncias sujeitas à combustão
espontânea, conforme classe 4.2, da ONU,
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 33

portanto, seu transporte não deve estar Spontaneous Ignition in Fire Investigation.
2012.
condicionado às normas da NBR 7500.
UNITED NATIONS, Recommendations on the
Transport of Dangerous Goods. Manual of tests
CONCLUSÃO
and criteria. Fifth revised edition. New York and
Geneva, 2009.
Quanto maior a temperatura do tratamento
YANG, H.; YAN, R.; CHEN, H.; LEE, D. H.;
térmico maior a massa residual dos cavacos ZHENG, C. Characteristics of hemicellulose,
quando submetidos ao teste termogravimétrico, cellulose and lignin pyrolysis. Fuel, v. 86, n. 12, p.
1781-1788, 2007.
sendo considerados os cavacos tratados à 260 ºC
e o carvão vegetal os materiais mais estáveis
Acesse o trabalho completo pelo QR Code
termicamente.
As fases exotérmicas dos cavacos de
madeira iniciaram em temperaturas superiores a
291 ºC e do carvão vegetal em temperaturas
superiores a 443 ºC.
Tanto os cavacos de madeira in natura e
torrificados quanto o carvão vegetal não sofreram
combustão espontânea, portanto, não devem ser
enquadrados na classe de risco 4.2 da Resolução
da ANTT (2004).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE


NORMAS TÉCNICAS. NBR 7500:2003:
Identificação para o transporte terrestre,
manuseio, movimentação e armazenamento de
produtos. Rio de Janeiro, 47 p., 2004.

AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES


TERRESTRES - ANTT. Resolução
ANTT Nº 420/02/2004. ANTT. Disponível em:
<http://www.antt.gov.br/index.php
/content/view/1420/Resolucao_420.html> Acesso
em: 20 dez 2016.

QUINTIERE, J. G.; WARDEN, J. T.;


TAMBURELLO, S. M.; MINNICH, T. E.
34 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

9| EFEITO DA PRODUTIVIDADE FLORESTAL E PERMEABILIDADE DA MADEIRA DE


Eucalyptus spp. NA VELOCIDADE DE SECAGEM PARA FINS ENERGÉTICOS

Ramon Ubirajara Teixeira e Angélica de Cássia Oliveira Carneiro

INTRODUÇÃO
Foram utilizados seis clones comerciais de
Os índices de qualidade presentes na Eucalyptus sp., aos nove anos de idade,
madeira podem variar consideravelmente com a provenientes de um teste clonal localizado na
espécie, idade, além de fatores genéticos e Fazenda Guaxupé Florestal, no município de Ubá-
ambientais e, afetarão diretamente seu uso final. MG.
A secagem da madeira é fator O experimento de secagem da madeira foi
determinante na maioria dos usos, a exemplo da instalado segundo um Delineamento Inteiramente
produção de carvão vegetal, pois influencia Casualizado utilizando-se três classes de diâmetro,
diretamente o rendimento gravimétrico, a geração com e sem casca, com duas repetições cada.
de finos, aumenta o tempo de carbonização, entre Os toretes de madeira foram colocados em
outros. Vale salientar que, hoje, no Brasil, existem uma estrutura a 60 cm do piso para evitar contato
aproximadamente 7,74 milhões de hectares de direto com o mesmo. Determinou-se a umidade
florestas plantadas, dos quais 38,7% são inicial dos toretes de madeira e o monitoramento da
destinados à produção de carvão vegetal e lenha secagem foi realizado quinzenalmente por meio de
(IBA, 2015), evidenciando a importância deste setor pesagens de cada torete até o 154º dia de
para a cadeia florestal. observação.
Sabe-se que a madeira depende de um Para a determinação da permeabilidade
longo período de tempo no campo, após o corte, longitudinal da madeira ao fluxo gasoso, foi
para que se possa perder o máximo de água livre montado um experimento em DIC, para os seis
possível, de modo a viabilizar o transporte, clones e três classes de diâmetro. Foram
reduzindo os custos com logística. Contudo, clones determinadas as permeabilidades do alburno para
de alta produtividade, de modo geral, apresentam as 3 classes de diâmetro e do cerne para 2 classes
fustes com diâmetros maiores, demandando de diâmetro.
maiores tempos de secagem. Determinou-se, também, a relação
Além do efeito direto do diâmetro das toras, cerne/alburno, a densidade básica da madeira no
a secagem também pode ser influenciada pelas sentido base-topo e medula-casca, a morfologia
características químicas, anatômicas e físicas da dos poros e fibras no sentido base-topo e a
madeira, dentre as quais destaca-se a composição química estrutural.
permeabilidade da madeira. De modo geral, Para os dados de secagem, foram
madeiras de maiores diâmetros e menos ajustados modelos exponenciais para explicar o
permeáveis necessitam de maiores tempos de comportamento da perda de umidade; e a
secagem. comparação entre os tratamentos foi realizada pelo
Neste contexto, esse trabalho buscou teste de identidade de modelos.
correlacionar as propriedades da madeira e a Os demais dados foram submetidos à
produtividade de diferentes clones de eucalipto análise de variância, e quando estabelecidas
com a velocidade de secagem de madeira em tora. diferenças entre eles, aplicou-se o teste Tukey em
nível de 5% de significância.
MATERIAL E MÉTODOS
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 35

Não houve efeito significativos dos


RESULTADOS E DISCUSSÃO tratamentos na composição química da madeira.
No entanto, ressalta-se que o clone 3336 apesar de
A frequência de vasos foi maior no topo das não ser significativamente diferente, apresentou o
árvores, com exceção do clone 3336 que maior percentual médio de extrativos em relação
apresentou maiores frequências de vasos na parte aos demais.
média do fuste da árvore. Os maiores diâmetros de Na Tabela 1 são apresentados os valores
vasos foram observados, principalmente, na parte médios da permeabilidade da madeira do cerne dos
basal e média do fuste da árvores de todos os clones em função da classe de diâmetro.
clones avaliados.
A fração parede variou significativamente, Tabela 1. Valores médios de permeabilidade da
entre as diferentes alturas do fuste, para os clones madeira do cerne (cm³/cm.atm.s)
Classe de diâmetro
de menor IMA, sendo que os maiores valores foram Clone Média
1 (16.1-25 cm) 2 (10.1-16 cm)
encontrados na parte média do fuste da árvore,
57 3.68 6.45 4.87 A
enquanto que para os clones de maiores 1213 4.30 5.05 4.62 A
produtividades essa propriedade não variou, 3335 4.06 7.00 5.04 A
significativamente, no sentido longitudinal. 3336 3.93 5.82 4.87 A

A relação cerne/alburno diminuiu no 3487 3.77 4.14 3.98 A


GG100 6.18 5.62 5.94 A
sentido longitudinal para todos os materiais
Média 4.35 b 5.54 a 4.95
genéticos, e ressalta-se que na altura de 100% do Médias seguidas de mesmas letras maiúsculas entre clones e
minúsculas entre classes, não diferem entre si, a 5% de
fuste não foi observada a presença de cerne. Em significância pelo teste de Tukey
geral, os clones seguiram um mesmo padrão nas
diferenças entre as alturas, ou seja, quando se Observa-se que a permeabilidade média

analisa a diferença na relação cerne/alburno de do cerne variou de 3,98 a 5,04 cm³/cm.atm.s e que

uma altura para a seguinte, independente do clone, não houve diferenças significativas entre os

de modo geral, houve uma redução significativa. diferentes clones. Quando se observa o efeito

Independente do clone, a densidade básica classe de diâmetro, nota-se que, em média, a

aumentou no sentido medula-casca, ou seja, para permeabilidade do cerne aumentou no sentido

todos os clones a madeira de alburno apresentou- longitudinal de 4,35 pra 5,54 cm³/cm.atm.s, e

se mais densa que a madeira de cerne. A apesar desta pequena diferença, ela pode

densidade básica, em média, para os materiais contribuir diretamente para a secagem da madeira,

genéticos, foi de 0,44 para cerne, 0,49 para o cerne principalmente para clones que possuem alta

periférico e 0,53 g/cm³ para o alburno. Não houve relação cerne/alburno e classes de diâmetros

efeito significativo da interação clone e altura na maiores, onde a maior parte da madeira é de cerne.

densidade básica da madeira. Porém, observa-se, Na Tabela 2 são apresentados os valores

em média, uma tendência de a densidade básica médios da permeabilidade da madeira do alburno


apresentar valores menores na parte basal do dos clones em função da classe de diâmetro.
fuste, aumentar até a altura de 75% do fuste
Tabela 2. Valores médios de permeabilidade da
comercial e, apresentar uma leve redução no topo madeira do alburno (cm³/cm.atm.s)
do fuste, com exceção do clone 3487, o qual Classe de diâmetro
Clone 1 2 3
Média
apresentou uma tendência em aumentar no sentido (16.1-25 cm) (10.1-16 cm) (6-10 cm)

longitudinal. 57 335.43 279.76 396.41 337.36 A


1213 256.27 288.49 410.87 310.15 A
36 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

3335 259.78 335.61 388.81 328.07 A


aproxima do topo, a relação cerne/alburno vai
3336 149.61 258.36 372.48 297.00 A diminuindo consideravelmente, logo a
3487 356.03 345.00 344.62 347.87 A permeabilidade da madeira nessas regiões é dada
GG100 321.95 394.17 346.20 354.11 A quase que exclusivamente pelo alburno.
Média 293.47 c 316.90 b 375.07 a 329.09
Na Figura 1 são apresentados os valores
Médias seguidas de mesmas letras maiúsculas entre clones e
minúsculas entre classes, não diferem entre si, a 5% de médios de umidade das toras, observados e
significância pelo teste de Tukey
estimados, durante o período de secagem para as
A permeabilidade do alburno foi, em média, 3 classes diamétricas, com e sem casca,
cerca de 64 vezes maior que a permeabilidade do observando o efeito do material genético.
cerne. Quando se observa o efeito classe de
diâmetro, nota-se também um aumento da
permeabilidade do alburno no sentido longitudinal,
variando, em média, de 293,47 na base do fuste
para 375,07 cm³/cm.atm.s no topo. Essa diferença
ocorre, provavelmente, em função da maior
frequência de vasos e menor espessura da parede
das fibras no topo do fuste.
Na Tabela 3 são apresentados os valores
médios da permeabilidade da madeira dos clones
em função da classe de diâmetro obtidos pela
média ponderada das permeabilidades do cerne e
alburno de acordo com a relação cerne/alburno de
cada classe.

Tabela 3. Valores médios de permeabilidade da


madeira (cm³/cm.atm.s), ponderada pela relação
C/A, por classe de diâmetro
Classe de diâmetro
Clone Média
1 2 3
57 95.65 186.34 396.41 226.13 A
Figura 1. Valores médios estimados, da umidade
1213 102.71 167.97 308.15 192.95 A
da madeira de Eucalyptus spp., nas 3 classes
3335 92.53 172.56 388.81 217.97 A diamétricas, com e sem casca em função do tempo
3336 12.43 119.36 372.48 168.09 A de secagem, observando o efeito do clone.
3487 95.47 179.27 344.62 206.45 A
GG100 124.06 234.23 346.20 234.83 A De acordo com a Figura 1, observa-se que,
Média 87.14 c 176.62 b 359.45 a 207,74 de modo geral, o teor de umidade inicial das toras
Médias seguidas de mesmas letras maiúsculas entre clones e
minúsculas entre classes, não diferem entre si, a 5% de influenciou diretamente o teor de umidade final,
significância pelo teste de Tukey
após os 154 dias de secagem, ou seja, as toras de
madeira que apresentaram os maiores teores de
Houve somente efeito isolado da classe de
umidade inicial também apresentaram os maiores
diâmetro na permeabilidade da madeira. A
teores de umidade no 154º dia de secagem,
permeabilidade da madeira aumenta no sentido
evidenciando assim o efeito do máximo teor de
longitudinal. Isso pode ser explicado pela alta
umidade da madeira no tempo de secagem que
quantidade de madeira de cerne presente na base
relaciona-se diretamente com os caracteres
do fuste, já que o cerne é extremamente menos
anatômicos da madeira.
permeável que o alburno. A medida que se
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 37

De modo geral, observa-se que a diferença superior de cada classe o que, estabeleceu uma
na velocidade de secagem entre os clones é mais considerável diferença de diâmetros entre clones
significativa quando se avaliou as toras com casca, para mesma classe, fato este, mais expressivo na
ou seja, quando se retirou a casca da madeira as classe 1, a de maior diâmetro.
curvas de secagem dos diferentes clones avaliados
se mostraram mais próximas umas das outras e
quando se observa as curvas de secagem dos
clones com madeira sem casca, nota-se que as
mesmas estão mais distantes entre si, o que indica
que a diferença entre elas é altamente significativa,
segundo o teste de identidade de modelos. Isso
evidencia um efeito direto da espessura da casca,
bem como da sua composição química e
anatômica.
Na Figura 2 são apresentados os valores
médios de umidade das toras, observados e
estimados, durante o período de secagem para os
6 clones, com e sem casca, observando o efeito da
classe diamétrica.
De acordo com a Figura 2, observa-se que
houve diferenças significativas entre as curvas de
secagem, de acordo com o teste de identidade de
Figura 2. Valores médios estimados, da umidade
modelos, entre todas as classes, independente do da madeira dos 6 clones de Eucalyptus sp., com e
clone e presença e ausência de casca, exceto o sem casca em função do tempo de secagem,
observando o efeito da classe diamétrica.
clone 1213 com casca, o qual apresentou curvas
de secagem significativamente iguais para as CONCLUSÃO
classes de diâmetro 2 e 3, de acordo com o teste
de identidade de modelos, indicando que apenas Não houve diferenças significativas entre

um modelo pode ser ajustado para representar as as permeabilidades gasosas da madeira entre os

duas classes de diâmetro. Indica, também, que as clones. Porém, houve uma grande variação desta

toras de diâmetros variando de 6 a 15 cm para o propriedade dentro da mesma árvore,

clone 1213, com casca, têm o mesmo principalmente entre madeiras do cerne e madeiras

comportamento de secagem. Logo, não é do alburno e, também, entre classes de diâmetro.

necessária a separação destas toras neste O clone mais permeável, no geral, foi o GG100,

intervalo de diâmetro para este clone. principalmente nas classes de diâmetro 1 e 2.

É importante ressaltar que cada clone A permeabilidade da madeira afetou

possui um IMA (Incremento Médio Anual em diretamente a secagem. Clones mais permeáveis

m³/ha.ano) diferente, o que influenciou diretamente secaram mais rapidamente que clones menos

no diâmetro das toras. Logo, clones de menores permeáveis quando em diâmetros semelhantes,

IMA’s (menor produtividade) apresentam diâmetros principalmente quando a relação cerne/alburno se

médios próximos ao limite inferior de cada classe e, apresentou mais baixa.

clones de maiores IMA’s os diâmetros médios A ausência da casca favoreceu a secagem,

prevaleceram com valores próximos ao limite porém, com menos intensidade nos clone 1213 e
38 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

57, os quais a ausência desta, pouco favoreceu a REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


velocidade de secagem. Toras de madeira sem
casca perderam umidade mais rapidamente que IBA. Indústria Brasileira de Árvores, 2015. 27p.

toras com casca no início da secagem, com uma


Acesse o trabalho completo pelo QR Code
tendência a se equilibrarem no decorrer do tempo.
Toras de menores diâmetros secaram mais
rapidamente do que toras de maiores diâmetros
para todos os clones em estudo.
No geral, clones com maiores IMA’s
apresentaram uma menor velocidade de secagem
em relação aos de menores IMA’s por conta de
seus maiores diâmetros. Porém o clone GG100,
que possui um IMA elevado, apresentou uma maior
velocidade de secagem em relação ao clone 3335,
de IMA inferior, provavelmente por conta de sua
maior permeabilidade da madeira.
Os clones que apresentaram menores
teores de umidade ao longo do período de
avaliação foram os clones 1213, 57 e GG100.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 39

10| PROPRIEDADES DA MADEIRA E ESTIMATIVAS DE MASSA, CARBONO E


ENERGIA DE CLONES DE Eucalyptus PLANTADOS EM DIFERENTES LOCAIS

Larissa Carvalho Santos, Ana Márcia Macedo Ladeira Carvalho, Bárbara Luísa Corradi Pereira, Aylson Costa
Oliveira, Angélica de Cássia Oliveira Carneiro e Paulo Fernando Trugilho

INTRODUÇÃO árvores com diâmetro médio representativos de


cada povoamento. Foram colhidas quatro árvores,
O carvão vegetal é excelente matéria-prima por clone e local, totalizando 24 amostras. Os
para a siderurgia brasileira, devido ao seu valor clones foram coletados em plantios comerciais com
como combustível e termorredutor, elevado grau de espaçamento de 3,0 x 3,0 m, aos 6 anos de idade,
pureza e baixo custo de produção, além de ser um aproximadamente.
produto renovável e ambientalmente correto Foram retirados toretes de 0,1 m na base,
quando oriundo de florestas plantadas a 25%, 50%, 75% e 100% da altura comercial do
(FREDERICO, 2009). tronco, considerada até um diâmetro mínimo de 7
O conceito de florestas energéticas surgiu cm. De cada torete foi retirado um disco de faces
durante a década de 1980, para definir as paralelas, e dele obtidas duas cunhas opostas,
plantações florestais com grande número de utilizadas para a determinação da densidade
árvores por hectare e, consequentemente, de curta básica da madeira. O restante do disco foi utilizado
rotação, que tinham como finalidade a produção do para a produção de serragem, visando às análises
maior volume de biomassa por área em menor da composição elementar e poder calorífico
espaço de tempo (MAGALHÃES, 2001). Nesse superior dos diferentes materiais genéticos
contexto, os estudos que visam à seleção de estudados.
espécies em florestas energéticas de eucalipto O teor de carbono na madeira foi feito
propõem homogeneizar as propriedades da conforme metodologia descrita por Ramos e Paula
madeira e melhorar, além da eficiência de queima et al. (2011). A massa seca de madeira sem casca
direta, rendimentos em carvão, teor de carbono e por hectare/ano foi obtida multiplicando-se o
outras propriedades desejadas na sua utilização incremento médio anual (m 3.ha.ano) da madeira
como termorredutor. sem casca pela densidade básica da madeira
Assim, este estudo teve como objetivo (kg.m-3). A massa de carbono (expressa em
principal determinar a densidade básica e poder tonelada) foi obtida multiplicando-se a massa seca
calorífico, além de estimar massa, carbono e de madeira pela porcentagem de carbono presente
energia disponível na madeira de diferentes clones na madeira. Para o cálculo da quantidade de
de Eucalyptus plantados em diferentes locais, com energia por hectare/ano, expressa em kW.h,
o intuito de direcionar os clones que melhor se multiplicou-se a massa seca da madeira pelo poder
desenvolvem em determinados ambientes. calorífico superior, fazendo-se a equivalência de 1
kWh a 859,85 kcal.
MATERIAL E MÉTODOS Para avaliar o efeito das diferentes regiões
e dos clones nas propriedades da madeira e nas
Foram utilizados três clones híbridos de
estimativas de massa e energia, instalou-se um
Eucalyptus urophylla, provenientes de plantios
fatorial completo no delineamento inteiramente
comerciais de uma empresa florestal, nos
casualizado, em que foram comparados duas
municípios de Turmalina e Itacambira, ambos
regiões de plantio e três clones, com quatro
localizados em Minas Gerais. Selecionaram-se
repetições (árvores), totalizando seis tratamentos e
40 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

24 observações. Os dados foram submetidos à massa seca de madeira, massa de carbono e


energia para os diferentes clones estudados,
análise de variância (ANOVA). Estabelecidas as
desenvolvidos em Turmalina e Itacambira, MG.
diferenças significativas, foram feitos os devidos Turmalina Itacambira
Clones
desdobramentos, sendo os tratamentos Teor de carbono (%)
comparados entre si, por meio do teste de Tukey a 1 45,81 bA 48,59 aA
2 47,53 aA 45,99 aA
5% de probabilidade.
3 47,06 aA 47,01 aA
Massa seca de madeira (t/ha.ano)
RESULTADOS E DISCUSSÃO 1 23,28 aA 16,5 bB
2 19,49 aC 20,18 aA
Na Tabela 1 são apresentados os 3 21,40 aB 15,27 bB
Carbono (t/ha.ano)
incrementos médios anuais (IMAs), observados em
1 10,66 aA 8,02 bB
cada clone, nos diferentes locais. Turmalina
2 9,27 aB 9,29 aA
apresentou condições mais favoráveis ao 3 10,07 aAB 7,18 bB
desenvolvimento dos clones, uma vez que o IMA Energia Disponível (kw.h/ha.ano)
de todos os clones foi superior. 1 122428,60 aA 84971,36 bB
2 100980,57 aB 103169,31 aA
3 110302,95 aB 79953,66 bB
Tabela 1. Incrementos Médios Anuais (IMAs), em Médias seguidas pela mesma letra minúscula, na linha, ou pela
m³/ha.ano, observados nos três clones mesma letra maiúscula, na coluna, não diferem entre si, pelo
Teste de Tukey a 5% probabilidade.
desenvolvidos em Turmalina e Itacambira, MG,
considerando a madeira sem casca.
Clone Turmalina Itacambira Os valores médios da porcentagem de
1 43,40 31,95 carbono foram próximos entre si. Apenas no clone
2 39,18 39,07 1 houve diferenças significativas a 5% de
3 44,51 31,68
probabilidade, nos locais de plantio: o teor de
carbono da madeira do clone 1 em Itacambira era
A densidade básica da madeira dos
estatisticamente superior ao de Turmalina.
diferentes clones não foi afetada pelas regiões
Comparando os clones em Turmalina,
analisadas. Houve somente diferenças
todos diferiram significativamente entre si,
significativas de densidade básica da madeira entre
acompanhando o incremento médio anual desses
clones, a 5% de probabilidade. A densidade dos
clones naquele local, sendo a massa de matéria
clones 1 e 3 diferiram entre si, mas o clone 2 não
seca de madeira do clone 1 estatisticamente
diferiu significativamente dos demais. A maior
superior à dos clones 2 e 3. Em Itacambira, os
densidade básica da madeira foi observada no
clones 1 e 3 diferiram significativamente do clone 2,
clone 1 (529 kg.m -3), seguido pelo clone 2 (507
tendo este apresentado maior valor estimado de
kg.m-3), e a menor densidade foi apresentada pelo
massa de matéria seca, acompanhando o maior
clone 3 (479 kg.m-3).
IMA desse clone em relação aos demais.
Não houve diferenças significativas a 5%
Localmente, os clones 1 e 3 diferiram
de probabilidade para o poder calorífico superior,
significativamente entre Turmalina e Itacambira,
sendo este, em média, 4.456 kcal.kg-1.
ambos apresentando maior massa de matéria seca
Na Tabela 2 são apresentados os valores
em Turmalina. Entre todos os clones, o clone 1, em
médios do teor de carbono e das estimativas da
Turmalina, foi o que apresentou maior massa de
massa seca, massa de carbono e energia, em
matéria seca de madeira, valendo ressaltar que,
função dos clones e locais.
além de seu alto IMA, a densidade básica da sua
madeira foi superior à dos clones 2 e 3.
Tabela 2. Valores médios do teor de carbono
presente na madeira, em %, e das estimativas de
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 41

Analisando os diferentes clones, em demais, na localidade de Turmalina; em termos de


Turmalina o maior valor médio encontrado para a acúmulo de massa seca, o clone 2 apresentou o
massa de carbono foi no clone 1, tendo este não se pior desempenho em Turmalina; em Itacambira, o
diferenciado estatisticamente do clone 3, que por melhor desempenho em termos de acúmulo de
sua vez também não se diferenciou do clone 2, que massa seca, massa de carbono e energia foram
obteve menor massa de carbono/ha.ano. Em observados para o clone 2.
Itacambira, porém, maior valor foi obtido no clone Os clones 1 e 3 apresentam melhor
2, a exemplo da MSM, diferindo-se estatisticamente desenvolvimento em Turmalina. Em Itacambira, os
dos clones 1 e 3, que apresentaram o menores melhores resultados foram para o clone 2.
valores. Comparando os diferentes locais, apenas Recomenda-se o plantio do clone 1 na
o clone 2 não apresentou diferenças em acúmulo localidade de Turmalina e do clone 2 em
de massa de carbono em função dos locais. Os Itacambira, para a produção de energia pela
clones 1 e 3 tiveram maior massa de carbono combustão direta ou conversão em carvão vegetal.
acumulada em Turmalina.
Quanto à estimativa de energia estocada REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
por hectare/ ano, verificou-se que o clone 1, em
Turmalina, apresentou maior quantidade de FREDERICO, P. G. U.; Influência da densidade
e composição química da madeira sobre a
energia, o que pode ser explicado por sua elevada qualidade do carvão de Eucalyptus grandis W.
massa de matéria seca. Os demais clones não Hill ex Maiden e de híbridos de Eucalyptus
grandis X Eucalyptus urophylla S.T. Blake
apresentaram, naquela localidade, diferenças 2009. Dissertação (Mestrado em Ciência
significativas. Lá, também acompanhando os Florestal). Universidade Federal de Viçosa. UFV,
2009. 66p.
resultados de massa seca, o clone 2 destacou-se
estatisticamente dos demais, apresentando maior MAGALHAES, J. G. R. A energia que vem da
floresta. In: Biomassa: Energia dos Trópicos em
quantidade de energia disponível por ha.ano. Minas Gerais, Editora UFMG, Belo Horizonte,
M.G. – 1ª Edição, p.133-144, 2001.

CONCLUSÃO RAMOS E PAULA, L; TRUGILHO, P. F.; NAPOLI,


A.; BIANCHI,M. L. Characterization of residues
from plant biomass for use in energy generation.
A densidade básica da madeira dos
Revista Cerne, v. 17, n. 2, p.237-246, 2011.
diferentes clones não foi afetada pelas regiões
analisadas, apresentando variações apenas no Acesse o trabalho completo pelo QR Code
nível de clone, o que permite inferir ser essa uma
característica determinada pela carga genética do
material estudado.
Em relação ao teor de carbono, apenas o
clone 1 apresentou diferenças significativas quanto
ao local, com maiores valores observados em
Itacambira.
Quando houve diferenças significativas
para acúmulo de massa seca, massa de carbono e
energia/ha, os clones com melhor desempenho
foram aqueles que se desenvolveram em
Turmalina; com relação a esses mesmos
parâmetros, o clone 1 sobressaiu em relação aos
42 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

11| COMPARAÇÃO DE PROCEDIMENTOS PARA ANÁLISE QUÍMICA IMEDIATA DE


CARVÃO VEGETAL

Artur Queiroz Lana, Thiago Taglialegna Salles, Angélica de Cássia Oliveira Carneiro, Marco Túlio Cardoso e
Ramon Ubirajara Teixeira

INTRODUÇÃO utilizam o mesmo procedimento (Empresas A, B e


C); dois procedimentos praticados por laboratórios
Na última década houve aumento da de universidades de Minas Gerais, Universidade
demanda por fontes de energia renováveis, Federal de Lavras (UFLA) e Universidade Federal
especialmente da biomassa. Nesse cenário, o de Viçosa (UFV); um procedimento descrito pela
carvão vegetal tem destaque no Brasil, sendo NBR 8112; e um procedimento feito em analisador
utilizado não somente como fonte energética, mas termogravimétrico (TGA) com os parâmetros
também como agente redutor principal no processo presentes na NBR 8112 e rampa de aquecimento
de redução do minério de ferro em processos igual a 32º C/min. Com exceção deste último,
siderúrgicos. realizado com cadinhos de ferro de 15 ml, os
O conhecimento da composição química demais ensaios foram realizados em forno do tipo
do carvão vegetal é fundamental para determinar mufla com cadinhos de porcelana de 20 ml. Cada
sua qualidade e, consequentemente, controlar as procedimento foi executado com quatro repetições.
características dos processos em que é As amostras de carvão vegetal foram previamente
empregado, uma vez que diferentes usos secas em estufa a 105º C por 14h, resfriadas em
demandam propriedades específicas do carvão. dessecador de sílica e pesadas em balança
Para determinar sua composição química é analítica de precisão (0,001g).
realizada, entre outros ensaios, a análise química O cálculo dos teores de materiais voláteis
imediata, que visa quantificar os constituintes: (MV), cinzas (Cz) e carbono fixo (CF) foram feitos
carbono fixo, matérias voláteis e cinzas. de acordo com as equações: MV=100[(P1-P2)/P],
Há no Brasil a NBR 8112 (ABNT, 1986), Cz=100[(P2- P0)/P] e CF=100-Cz-MV, em que: P1 é
que prescreve o método para realização da análise a massa inicial do cadinho + massa da amostra, em
química imediata de carvão vegetal. Entretanto, g; P2 é a massa final do cadinho + massa da
empresas e laboratórios do país optam por fazer amostra, em g; P é a massa inicial da amostra, em
adaptações na norma, gerando seus próprios g; P0 é a massa inicial do cadinho, em g; MV é o
procedimentos para o mesmo fim. Diante disso, os teor de materiais voláteis, em %; Cz é o teor de
objetivos deste trabalho foram: comparar os cinzas, em %; e CF é o teor de carbono fixo, em %.
resultados destes procedimentos com o resultado As comparações dos resultados foram feitas via
obtido por meio da NBR 8112, e avaliar a ANOVA e teste de médias (Tukey).
aplicabilidade da NBR 8112 em analisador No procedimento UFLA para teor de MV, o
termogravimétrico (TGA). tempo de aclimatação foi feito com 2 minutos sobre
a porta e 3 minutos sobre a borda da abertura
MATERIAL E MÉTODOS frontal da mufla. Para o ensaio da Empresa E, a
aclimatação foi feita com 2 minutos em cada um
Foram executados, em amostras de um
destes locais. Os demais ensaios tiveram o tempo
mesmo lote de carvão vegetal de Eucalyptus sp.,
total de aclimatação feito sobre a porta da mufla.
cinco procedimentos operacionais (ensaios) de
No procedimento para MV da Empresa F, o cadinho
análise química imediata praticados por empresas
de 20 ml contendo a amostra foi introduzido na
brasileiras (Empresas A a G), sendo que três delas
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 43

mufla dentro de um cadinho maior, de 30 ml. No Temperatura do TGA Massa da amostra % de perda de massa
915,5 20,0
ensaio TGA (ABNT), o equipamento foi ligado com

Temperatura (ºC) / Massa (mg)


900,0 19,3
os cadinhos em seu interior, levou 40 minutos para 884,5 18,5
869,0 17,8
atingir a temperatura de 900ºC, e então foi iniciada

(%)
853,5 17,0
a contagem do tempo de queima. 838,0 16,3
822,5 15,5
Nos procedimentos para determinação de
807,0 14,8
cinzas, o tempo de queima foi prolongado nos 791,5 14,0
28,2 30,5 32,7 35,0 37,2 39,5 41,7 44,0 46,2
casos em que este não foi suficiente para que a Tempo (min)
amostra tivesse todo seu carbono fixo e materiais Figura 1. Curvas médias de temperatura no TGA,
tempo de queima e perda de massa da amostra
voláteis totalmente queimados.
durante a execução do procedimento TGA (ABNT).

RESULTADOS E DISCUSSÃO Para a determinação do teor de cinzas


(Cz), a hipótese H0 não foi rejeitada no teste F
Na ANOVA dos resultados dos ensaios (p=0,17) da ANOVA. Nos ensaios das Empresas D
para determinação de teor de materiais voláteis e F, as amostras permaneceram por mais 4 horas
(MV), a hipótese H0 ou hipótese nula, que propões dentro da mufla para finalizar o processo de
que não há diferença estatística significativa entre queima. As médias para teor de Cz foram: ABNT =
as médias para os terrores de voláteis encontrados, 0,80%; TGA (ABNT) = 0,76%; Empresa F = 0,77%;
foi rejeitada pelo teste F (p<0,05). Então procedeu- Empresa E = 0,72%; UFV = 0,81%; UFLA = 0,74%;
se o teste de médias para comparação dos Empresa D = 0,81%; Empresas A/B/C = 0,74%.
procedimentos (Tabela 1). Não foi possível obter resultados consistentes
através metodologia da empresa G, cujas
Tabela 1. Grupos de médias gerados pela repetições apresentaram valores variando entre
aplicação do teste Tukey (α=0,05) aos resultados
de teores de materiais voláteis (MV). 0,09 e 2,27%.
Procedimento Média do teor Grupos
operacional de MV (%) homogêneos Na comparação dos valores obtidos para o
Empresa D 15.96 d teor de carbono fixo (CF), rejeitou-se a hipótese H0
Empresa F 17.32 e no teste F (p<0,05). Dado este resultado executou-
Empresas A/B/C 18.12 a
se o teste de médias Tukey para comparar os
UFLA 18.24 a b
ABNT 18.33 a b procedimentos (Tabela 2). Como não houve
Empresa G 18.60 a b c resultado de teor de Cz para a Empresa G, não foi
Empresa E 18.67 b c calculado o teor de CF para esta empresa.
UFV 18.89 c
TGA (ABNT) 19.78 f
* Médias seguidas de uma mesma letra não diferem Tabela 2. Grupos de médias gerados pela
estatisticamente entre si. aplicação do teste Tukey (α=0,05) aos resultados
de teores de carbono fixo (CF).
Procedimento Média do teor Grupos
Na procura pelo tempo de queima ideal no operacional de CF (%) homogêneos
ensaio TGA (ABNT) para MV, a partir dos valores TGA (ABNT) 79,46 c
médios de perda de massa gerados pelo analisador UFV 80,30 b
Empresa E 80,68 a b
termogravimétrico (Figura 1), foi visto que houve
ABNT 80,88 a b
degradação de 18,60% da massa da amostra 2 UFLA 81,02 a
minutos após a temperatura de 900ºC ser atingida. Empresas A/B/C 81,14 a
Empresa F 81,91 d
Empresa D 83,23 e
* Médias seguidas de uma mesma letra não diferem
estatisticamente entre si.
44 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

Não foram observadas diferenças dos tratamentos foram estatisticamente iguais. No


significativas nas médias dos resultados dos caso do procedimento da Empresa G, utilizar uma
ensaios, tanto para teor de materiais voláteis amostra de 0,1g implica no fato de se trabalhar com
quanto para teor de cinzas, que fossem geradas alta sensibilidade em relação às diferenças de
pela granulometria das amostras. massa inicial/final (menores que 0,01g),
Houve diferença estatística entre as prejudicando a exatidão do ensaio. Para os
médias de teor de materiais voláteis dos procedimentos das empresas D e F, o tempo de
tratamentos. Os valores de teor de MV das queima não foi suficiente. Não foi observada
Empresas D e F ficaram abaixo do valor encontrado queima completa de 1g de carvão vegetal em um
pelo ensaio da ABNT. Já para os procedimentos da tempo menor que 3h a 700º C, quando observados
UFV e TGA (ABNT), os valores de MV foram mais gráficos de perda de massa gerados por TGA em
altos quando comparados ao da ABNT. Os baixos diversas rotinas de determinação de teor de Cz no
valores encontrados podem ser explicados devido laboratório onde foi conduzido o presente estudo.
à amostra com o dobro da massa padrão (Empresa Em relação ao teor de carbono fixo, as
D) e o uso de um segundo cadinho de maior volume médias foram estatisticamente diferentes. Como o
(Empresa F) que não permitiram que o total de MV teor de CF é obtido indiretamente pelos valores de
fosse queimado propriamente durante os ensaios. MV e Cz, e o teor de cinzas foi estatisticamente
Já os valores mais altos podem ser explicados pelo igual para todos os procedimentos, o teste de
tempo de queima mais longo no procedimento da médias para CF seguiu a tendência do teste para
UFV e, no procedimento TGA (ABNT), ao fato da MV. A exceção aconteceu para o ensaio da UFV
amostra ficar dentro do equipamento até que a que obteve o teor de CF estatisticamente igual ao
temperatura de 900º fosse atingida, indicando da ABNT.
queima de carbono fixo durante estes ensaios, com É importante ressaltar que os resultados
sua massa perdida contabilizada no cálculo do teor dos testes de média envolvendo os procedimentos
de MV. de determinação de MV, quando comparados com
Verificou-se que no caso do ensaio TGA os valores de referência do ensaio ABNT, foram
(ABNT) para MV tivesse o tempo de queima coerentes com a NBR 8112, que não considera
alterado para 2 minutos, este resultaria em um teor semelhantes estimativas que diferem em mais de
(18,60%) próximo ao valor de referência 2% (em valores relativos) entre si. O mesmo
encontrado no procedimento ABNT. O valor de CF aconteceu para os procedimentos de determinação
recalculado para o ensaio TGA (ABNT) seria então de Cz, onde a diferença limite é 10% (em valores
igual a 80,64% e o de Cz continuaria igual a 0,76%. relativos).
Neste caso, conforme observado nas Tabelas 1 e Observou-se também que os
2, os resultados para materiais voláteis, cinzas e procedimentos para teor de MV e Cz das Empresas
carbono fixo desta metodologia estariam em A/B/C e o da ABNT, vê-se que a única diferença
conformidade aos resultados obtidos pela entre eles é a granulometria, uma vez que para Cz
aplicação da NBR 8112. viu-se que 6h de queima a 600º C foram suficientes.
Observou-se que nos ensaios para teor de Neste caso, como os teores dos constituintes
cinzas, um tempo de queima de 6 horas a 600º C estudados foi o mesmo para estes dois
foi suficiente para queima de toda a amostra. procedimentos, depreende-se que o tamanho das
Descartando os resultados do procedimento da partículas não causou diferenças estatísticas entre
Empresa G e considerando o tempo de queima as médias dos tratamentos.
adicional nos casos das empresas D e F, as médias
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 45

Os ensaios para as Empresas A/B/C, Os métodos para análise química imediata


Empresa E e laboratório da UFLA geraram de carvão vegetal no Brasil necessitam ser
resultados equivalentes aos ensaios realizados padronizados.
com base na NBR 8112. Já os demais
procedimentos estudados não geraram valores REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
equivalentes aos obtidos através da aplicação da
norma da ABNT. Os resultados obtidos ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS-ABNT. Normas técnicas NBR 8112.
demonstram a necessidade da adoção de um Brasília, 1986. n.p.
procedimento único entre as empresas e
instituições de pesquisa no Brasil, visando à Acesse o trabalho completo pelo QR Code

padronização do método de análise química


imediata de carvão vegetal no país, para que sejam
gerados valores passíveis de comparação dentro
dos setores de pesquisa e produção.

CONCLUSÃO

Os procedimentos operacionais de análise


química imediata de carvão vegetal das Empresas
A/B/C, Empresa E, e do laboratório da UFLA têm
resultados equivalentes ao procedimento da ABNT.
O procedimento TGA (ABNT), quando
utilizado para determinação de teor de materiais
voláteis com tempo de queima igual a dois minutos,
também produz resultados equivalentes ao
procedimento descrito pela NBR 8112.
46 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

12| CORRELAÇÕES ENTRE OS PARÂMETROS DE QUALIDADE DA MADEIRA E DO


CARVÃO VEGETAL DE CLONES DE EUCALIPTO

Rosimeire Cavalcante dos Santos, Angélica de Cássia Oliveira Carneiro, Ana Flávia Mendes Castro, Renato
Vinícius Oliveira Castro, Juliana Jerasio Bianche, Marina Moura de Souza e Marco Túlio Cardoso

INTRODUÇÃO objetivos observar correlações existentes entre as


propriedades da madeira e do carvão de quatro
O uso da madeira no Brasil, visando à clones de eucalipto e destacar, dentre esses, o
geração de energia, tem sido historicamente material genético com maior potencial para
relacionado à produção de carvão vegetal, e essa, produção de carvão.
se destaca em decorrência da demanda existente
pelo produto junto ao setor siderúrgico.
MATERIAL E MÉTODOS
A evolução do setor industrial visando
atender à demanda das regiões mais Foram utilizados quatro clones de
desenvolvidas do país, trouxe como consequência Eucalyptus - (1) E. urophylla x E. grandis, (2) E.
a implantação de maciços florestais formados, em urophylla x E. grandis, (3) E. urophylla x E. grandis
maior parte, por espécies exóticas, e, nesse e (4) E. camaldulensis x E. grandis), aos sete anos
contexto, várias espécies do gênero Eucalyptus de idade, provenientes de plantios comerciais, com
foram introduzidas para atender à produção de espaçamento de 3 x 3 m. Para as análises da
carvão vegetal. qualidade da madeira e do carvão foram utilizadas
De acordo com Tomazello Filho (1985), as amostras compostas retiradas ao longo da altura
variações na qualidade da madeira dessas comercial da árvore.
espécies ocorrem na sua estrutura anatômica, nas O estudo das propriedades da madeira foi
composições químicas e em suas propriedades realizado a partir das análises química e anatômica,
físicas, podendo ser detectadas significativas densidade básica e poder calorífico superior. A
diferenças inter e intraespecíficas. Dessa forma, carbonização foi realizada em mufla de laboratório,
essa variabilidade poderá ocasionar sob aquecimento elétrico. Posteriormente, foram
consequências negativas na qualidade do carvão, determinados os teores de materiais voláteis,
as quais refletirão nas operações dos altos fornos cinzas e carbono fixo e os rendimentos
siderúrgicos, visto que o carvão vegetal, além de gravimétricos em carvão vegetal, gases
sofrer influência do sistema de produção, também, condensáveis e não condensáveis. Determinou-se,
sofre influência direta e significativa da madeira que ainda, o poder calorífico superior e a densidade
lhe deu origem. relativa aparente do carvão.
Nesse contexto, para atender à produção O experimento foi instalado segundo um
de carvão vegetal com controle da alta delineamento inteiramente casualizado, com seis
variabilidade, faz-se necessário o estudo da repetições. Os dados foram submetidos à análise
influência do material genético de origem por meio de variância e, quando estabelecidas diferenças
dos níveis de correlações entre a qualidade da entre eles, aplicou-se o teste de Tukey, a 5% de
madeira e do carvão produzido. significância. Para o estudo das correlações foi
Visando contribuir com informações empregado o coeficiente de correlação de Pearson
adicionais sobre diferentes materiais genéticos a 5% e 10% de significância.
selecionados para reflorestamentos destinados à
produção de carvão, o presente estudo teve por
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 47

RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores observados neste trabalho para


comprimento das fibras variaram entre 1,02 e 1,12
Os valores médios observados para a mm, para largura entre 16,82 e 20,02 μm, diâmetro
densidade básica da madeira dos clones 1 e 4 do lume entre 8,93 e 9,38 μm e espessura da
foram superiores a 0,54 g/cm³, o que é interessante parede entre 3,94 e 5,25 μm. Esses valores estão
para produção de carvão vegetal, visto que quando de acordo aos observados na literatura quando
se degrada a madeira, cerca de 60% de sua massa refere-se às dimensões dos elementos anatômicos
é perdida, consequentemente, quanto maior a de folhosas.
densidade da madeira, maior a massa de carvão Na Figura 3 são mostrados os valores
vegetal produzido para um determinado volume, médios para os rendimentos gravimétricos em
além disso, proporciona, de modo geral, carvão carvão vegetal, gases condensáveis e não
com maior resistência mecânica. condensáveis.
Na Figura 1 estão apresentados os valores
médios da composição química das madeiras dos
clones de eucalipto. Os teores de lignina e
extrativos totais presentes na madeira dos clones
de eucalipto são considerados satisfatórios,
considerando a indicação do uso da madeira para
produção de carvão.

Médias seguidas da mesma letra, na mesma variável, não


diferem entre si, a 5% de significância, pelo teste Tukey.
Figura 3. Rendimentos gravimétricos em carvão
vegetal, gases condensáveis e gases não
condensáveis, obtidos de diferentes clones de
eucalipto.

Os rendimentos gravimétricos foram


afetados pelos diferentes materiais genéticos,
Médias seguidas da mesma letra, na mesma variável, não
diferem entre si, a 5% de significância, pelo teste Tukey.
apresentando valores médios que variaram entre
Figura 1. Composição química das madeiras dos 28,27% e 30,21%, 36,76% e 41,29%, 29,66% e
diferentes clones de eucalipto.
36,76%, para os rendimentos em carvão vegetal,

Os valores médios do poder calorífico gases condensáveis e gases não condensáveis,

superior da madeira dos diferentes materiais respectivamente (Figura 3).

genéticos de eucalipto encontram-se na Figura 2. A partir da Figura 4 é possível observar os


valores médios da análise química imediata do
carvão dos diferentes materiais genéticos de
eucalipto.

Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si, a 5% de


significância, pelo teste Tukey.
Figura 2. Poder calorífico superior da madeira dos
diferentes clones de eucalipto.
48 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

Médias seguidas da mesma letra, na mesma variável, não mesma produtividade. Provavelmente, o maior
diferem entre si, a 5% de significância, pelo teste Tukey.
Figura 4. Análise química imediata do carvão poder calorífico superior do carvão, observado
vegetal obtido de diferentes clones de eucalipto. neste estudo, se deve aos altos teores de carbono
fixo obtidos para os carvões dos diferentes
A partir da análise química imediata do
materiais genéticos.
carvão (Figura 4), observou-se valores médios para
Na Tabela 1 são apresentadas as
o teor de materiais voláteis variando entre 11,74%
correlações observadas entre as propriedades da
e 14,27%, teor de cinzas entre 0,39% e 0,76%,
madeira e do carvão dos materiais genéticos 1, 2,
sem, no entanto, esse último, apresentar efeito de
3 e 4, os quais representam os tratamentos
clone. O teor de carbono fixo variou entre 85,33% e
adotados na pesquisa.
87,52%. Segundo Santos (2008), a faixa desejada
de carbono fixo no carvão para uso siderúrgico está
Tabela 1. Correlações entre as propriedades da
compreendida entre 75% e 80%, no entanto, madeira e do carvão vegetal dos materiais
maiores teores de carbono fixo contribuem para o genéticos 1, 2, 3 e 4.
aumento na produtividade dos altos-fornos para o
mesmo consumo redutor. Observa-se, portanto,
que as faixas de valores encontradas no presente
trabalho para o teor de carbono fixo no carvão,
oriundo dos diferentes clones, atendem às
condições citadas como ideais para uso
siderúrgico.
Os valores médios encontrados para
densidade relativa aparente do carvão variaram
entre 0,266 e 0,345g/cm³.
Os valores médios do poder calorífico do
carvão dos clones de eucalipto estão apresentados
Correlações significativas a 10%*e 5%** de significância.
na Figura 5.
CONCLUSÃO

De acordo com os resultados, conclui-se


que existe variabilidade da madeira entre os quatro
materiais genéticos avaliados, tendo os mesmos
correlações distintas entre as propriedades da
madeira e do carvão, tanto no rendimento quanto
na qualidade do carvão vegetal.
Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si, a 5% de
significância, pelo teste Tukey.
Todos os materiais genéticos
Figura 5. Poder calorífico do carvão vegetal obtido apresentaram, de modo satisfatório, rendimento
de diferentes clones de eucalipto.
gravimétrico em carvão vegetal e qualidade dos

Os valores médios observados para o mesmos.

poder calorífico superior do carvão variaram entre A composição química da madeira, de

8.210 e 8.515 kcal/kg (Figura 5). Carvão vegetal modo geral, apresentou baixa frequência nas

com maior poder calorífico proporciona, correlações significativas, a 5% de significância, no

especialmente para o emprego siderúrgico, menor rendimento e qualidade do carvão vegetal para

consumo de insumo redutor, considerando uma cada clone.


Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 49

O material genético 1 se destacou, visando (Mestrado em Engenharia Florestal) -


Universidade de Brasília, Brasília, 2008.
produção de carvão, por apresentar algumas
características da madeira e do carvão superiores TOMAZELLO FILHO, M. Estrutura anatômica da
madeira de oito espécies de eucalipto cultivadas
aos outros clones.
no Brasil. IPEF, Piracicaba, n.29, p.25-36, 1985.
De modo geral, algumas correlações já
bem estabelecidas nas literaturas não foram Acesse o trabalho completo pelo QR Code
observadas neste trabalho para os diferentes
clones.
Para destacar um material genético para a
produção de carvão é necessário antever a
qualidade da sua madeira, mediante a avaliação
das suas propriedades, para a obtenção de
maiores rendimentos em carvão, maiores teores de
carbono fixo, além de maiores densidades
aparentes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SANTOS, I.D. Influência dos teores de lignina,


holocelulose e extrativos na densidade básica,
contração da madeira e nos rendimentos e
densidade do carvão vegetal de cinco espécies
lenhosas do cerrado. 2008. 57p. Dissertação
50 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

13| ANÁLISE TERMOGRAVIMÉTRICA EM CLONES DE EUCALIPTO COMO SUBSÍDIO


PARA A PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL

Rosimeire Cavalcante dos Santos, Angélica de Cássia Oliveira Carneiro, Paulo Fernando Trugilho, Lourival
Marin Mendes, Ana Márcia Macedo Ladeira Carvalho

INTRODUÇÃO experimento tinha 7 anos de idade e espaçamento


3,0 x 3,0 m.
As variações na qualidade da madeira de De cada árvore-amostra foram retirados
eucalipto ocorrem em nível de sua estrutura discos de 2,5 cm de espessura da base, e também,
anatômica, composição química e propriedades a 25%, 50%, 75% e 100% da altura comercial,
físicas, podendo ser detectadas significativas sendo considerada até um diâmetro de 5 cm. Os
diferenças em níveis inter e intraespecíficos discos foram subdivididos em quatro cunhas, sendo
(TOMAZELLO FILHO, 1985). Essa variabilidade utilizadas duas opostas para a determinação das
poderá ocasionar consequências negativas na análises termogravimétrica e térmica diferencial da
qualidade do carvão, as quais refletirão nas madeira e as demais para a carbonização.
operações dos alto-fornos siderúrgicos, visto que, o As carbonizações foram realizadas em
carvão vegetal, além de sofrer influência do sistema mufla de laboratório com aquecimento elétrico. A
de produção, também, de forma especial, sofre temperatura inicial foi sempre igual a 150 °C e a
influência direta da madeira que lhe deu origem. temperatura máxima foi de 450°C, permanecendo
A análise termogravimétrica (TGA) da estabilizada por um período de 60 minutos.
madeira permite o registro constante da perda de Após cada carbonização, foram
massa de uma amostra submetida a um programa determinados os rendimentos gravimétricos em
de temperatura, com variação de tempo ou carvão, gases condensáveis e não-condensáveis,
temperatura, pois, como resultado do fornecimento o rendimento em carbono fixo, a análise química
de temperaturas crescentes à madeira, há, imediata, a densidade relativa aparente e o poder
geralmente, o decréscimo da massa da amostra. calorífico superior do carvão.
Campos (2009), ao estudar o O experimento foi instalado segundo um
comportamento térmico da madeira de eucalipto, delineamento inteiramente casualizado, com
por meio da análise termogravimétrica, observou quatro tratamentos (material genético) e seis
uma faixa de maior degradação térmica da madeira repetições (árvore-amostra), totalizando 24
entre 250 e 400 °C. unidades amostrais. Os dados foram submetidos à
Dentro desse contexto, o presente trabalho análise de variância e quando estabelecidas
foi realizado com o objetivo de estudar a qualidade diferenças significativas, os tratamentos foram
da madeira de diferentes materiais genéticos de comparados entre si por meio do teste de Tukey a
eucalipto para a produção de carvão vegetal por 5% de probabilidade.
meio da análise termogravimétrica.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
MATERIAL E MÉTODOS
Na Figuras 1A, 1B, 1C e 1D apresentam-
Foram utilizados, no presente trabalho, se, respectivamente, os termogramas referentes às
quatro materiais genéticos híbridos de Eucalyptus, análises termogravimétrica (TG) e térmica
sendo três de E. urophylla x E. grandis e um E. diferencial (DTA) dos materiais genéticos um, dois,
camaldulensis x E. grandis. Os materiais genéticos três e quatro.
foram denominados um, dois, três e quatro. O
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 51

isso foi observado neste trabalho, pois, os materiais


genéticos um e três apresentaram maior e menor
rendimento gravimétrico em carvão,
respectivamente, conforme pode ser constatado na
Figura 2.
Verifica-se ainda (Tabela 1) que a maior
degradação térmica ocorreu na faixa de
temperatura compreendida entre 300 e 400 ºC,
Figura 1. Termogramas e DTAs das madeiras. A) durante a qual se obteve perdas superiores a 50%
Material genético 1; B) Material genético 2; C)
Material genético 3; D) Material genético 4. da massa inicial da madeira. Essa faixa de
temperatura compreende a fase de degradação,
Observa-se, a partir das Figuras 1A, 1B, 1C principalmente, da celulose, que de acordo com a
e 1D, que o comportamento durante a degradação literatura tem sua maior degradação na faixa
térmica das madeiras dos materiais genéticos compreendida entre 325 e 375 ºC.
avaliados foram muito semelhantes com perdas de Os valores médios dos rendimentos
massa, mais acentuadas numa faixa aproximada gravimétricos em carvão vegetal, gases
de temperatura e com picos de energia liberada, condensáveis e gases não condensáveis estão
expressos pela análise térmica diferencial, também mostrados na Figura 2.
bem próximos. No presente estudo, foram
encontrados para todos os materiais genéticos,
maiores picos de energia liberada nas faixas de
temperaturas entre 360°C e 380°C.
Na Tabela 1, apresenta-se a perda de
massa e a massa residual observadas em função
das diferentes faixas de temperaturas avaliadas
para o estudo da resistência térmica dos materiais Médias seguidas da mesma letra, para uma mesma variável,
não diferem entre si a 5% de significância pelo teste Tukey.
genéticos. Figura 2. Rendimentos gravimétricos em carvão
vegetal, gases condensáveis e gases não
condensáveis obtidos de diferentes materiais
Tabela 1. Perda de massa (%) dos diferentes genéticos de eucalipto.
materiais genéticos em função das faixas de
temperaturas.
A análise de variância indicou diferenças
significativas para as variáveis avaliadas nas
madeiras dos diferentes materiais genéticos.
Observa-se, a partir da Figura 2, que os
rendimentos gravimétricos foram afetados pelos
Pela Tabela 1, observa-se que o material
diferentes materiais genéticos, apresentando
genético um foi o que apresentou a menor perda de
valores médios que variam entre 28,27 e 30,21%,
massa total (89%), sendo esse considerado,
36,76 e 41,29%, 29,66 e 36,76%, para os
portanto, mais estável termicamente em relação
rendimentos em carvão vegetal, gases
aos demais. Por outro lado, o material genético três
condensáveis e gases não condensáveis,
foi o menos estável com 96% de perda de massa
respectivamente.
até a temperatura de 500 ºC. De modo geral,
Os maiores valores observados para o
quanto mais estável termicamente a madeira
rendimento gravimétrico em carvão vegetal a partir
espera-se maior rendimento em carvão vegetal,
52 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

da carbonização das madeiras dos materiais


genéticos um, dois e quatro, deve-se,
provavelmente, à composição química dessas
madeiras, especialmente o teor de lignina. Vale
ressaltar que a lignina é um componente desejável
Médias seguidas da mesma letra minúscula não diferem entre si
na conversão da madeira em carvão e seu teor e a 5% de significância pelo teste Tukey.
tipo são parâmetros importantes, do ponto de vista Figura 3. Rendimento gravimétrico em carbono fixo
do carvão vegetal obtido de diferentes materiais
industrial. genéticos de eucalipto.
Adicionalmente, pode-se observar, como
base nos valores residuais apresentados na Tabela Verifica-se, de acordo com a Figura 3, que

1, que os referidos materiais genéticos também o material genético um diferiu estatisticamente dos

apresentaram maiores resistência à degradação demais e apresentou, para essa propriedade,

térmica durante o processo de pirólise, com valores médios estatisticamente superiores aos

destaque para o material genético um. Por outro mesmos. Além do maior rendimento em carvão

lado, o material genético três apresentou menores vegetal observado para esse material genético, a

estabilidade térmica e rendimento gravimétrico em composição elementar da madeira pode ter

carvão vegetal. influenciado os resultados observados, visto que,

Os maiores rendimentos gravimétricos em de modo geral, o percentual de carbono elementar

gases condensáveis foram observados para as presente na madeira tem relação positiva com os

madeiras dos materiais genéticos um, dois e três, rendimentos gravimétricos em carvão vegetal e em

os quais não apresentaram diferença estatística. carbono fixo.

Os menores valores foram observados para o O teor de materiais voláteis observado

material genético quatro. Já, para os rendimentos variou entre 11,74 e 14,27%, o teor de cinzas entre

gravimétricos em gases não condensáveis, 0,39 e 0,76% e o teor de carbono fixo variou entre

maiores valores foram observados a partir das 85,33 e 87,52%. Maiores valores médios

carbonizações da madeira do material genético relacionados à presença de materiais voláteis

quatro e não apresenta diferença estatística do foram observados no carvão oriundo do material

material genético três. genético quatro, o qual apresenta também menores

Os valores acima referidos estão porcentagens de carbono fixo. Sob essas

relacionados às porcentagens de celulose e condições, esse fato é esperado, pois, essas

hemiceluloses presentes na madeira desses variáveis apresentam-se inversamente

materiais genéticos. Há ainda a influência do tipo proporcionais e são, ao mesmo tempo,

das hemiceluloses as quais, juntamente com a influenciadas, para uma mesma condição de

celulose, são degradadas dentro da faixa de processo, pelo teor de lignina na madeira.

temperatura utilizada no processo de carbonização Os valores médios encontrados para

e, assim, formam os gases condensáveis e não- densidade relativa aparente do carvão variaram

condensáveis. entre 0,266 e 0,345 g/cm3. A análise de variância

De acordo com a Figura 3, pode-se mostrou que o efeito de material genético foi não

observar os valores do rendimento gravimétrico em significativo no estudo da densidade relativa

carbono fixo, variando entre 24,20 e 26,44%. aparente do carvão vegetal. Dessa forma, para
essa variável, não há diferença estatística entre os
mesmos.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 53

Para o poder calorífico superior os valores Os materiais genéticos um e três


observados variaram entre 8.210 e 8.515 Kcal/Kg. apresentaram, respectivamente, maior e menor
De acordo com a Figura 4, os maiores valores estabilidade térmica, na medida em que
significativos para esse parâmetro foram apresentaram, também, maior e menor rendimento
observados para a madeira do material genético gravimétrico em carvão.
quatro, que diferiu estatisticamente dos demais. O material genético um destacou-se por
Isso se deve, provavelmente, ao menor teor de apresentar rendimento gravimétrico em carbono
carbono fixo, presente no carvão oriundo desse fixo superior aos demais, além de apresentar
clone que apresenta também os maiores teores de também, maior rendimento em carvão vegetal;
materiais voláteis, ricos em hidrogênio (H) e que Foi possível inferir sobre a qualidade da
tem poder calorífico superior ao da madeira. madeira dos diferentes materiais genéticos de
Carvão vegetal com maior poder calorífico eucalipto visando à produção de carvão vegetal a
proporciona, especialmente para o emprego partir da análise termogravimétrica, relacionando-a,
siderúrgico, menor consumo de insumo redutor de forma especial, à maior resistência a
considerando uma mesma produtividade. degradação térmica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMPOS, A. C. M. Carvão de Eucalyptus: efeito


dos parâmetros da pirólise sobre a madeira e
seus componentes químicos e predição da
qualidade pela espectroscopia NIR. 2009. 118
Médias seguidas da mesma letra minúscula não diferem entre si p. Dissertação (Mestrado em Engenharia
a 5% de significância pelo teste Tukey. Florestal) -Universidade Federal de Lavras,
Figura 4. Poder calorífico superior do carvão Lavras, 2009.
vegetal obtido de diferentes materiais genéticos de
eucalipto. TOMAZELLO FILHO, M. Estrutura anatômica de
oito espécies de eucalipto cultivadas no Brasil.
Piracicaba: IPEF, 1985. 31 p.
CONCLUSÃO

Acesse o trabalho completo pelo QR Code


Os maiores picos de energia foram
liberados nas faixas de temperaturas entre 360°C e
380°C.
A maior degradação térmica das madeiras
dos materiais genéticos avaliados ocorreu na faixa
de temperatura compreendida entre 300 e 400 ºC,
durante a qual se obtiveram perdas superiores a
50% da massa inicial da madeira.
O material genético um apresentou maior
estabilidade térmica, maior rendimento
gravimétrico em carvão vegetal e maior rendimento
em carbono fixo.
54 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

14| INFLUÊNCIA DAS PROPRIEDADES QUÍMICAS E DA RELAÇÃO


SIRINGIL/GUAIACIL DA MADEIRA DE EUCALIPTO NA PRODUÇÃO DE CARVÃO
VEGETAL

Rosimeire Cavalcante dos Santos, Angélica de Cássia Oliveira Carneiro, Benedito Rocha Vital, Renato
Vinícius Oliveira Castro, Graziela Baptista Vidaurre, Paulo Fernando Trugilho, Ana Flávia Neves Mendes
Castro

INTRODUÇÃO Foram utilizadas, na pesquisa, madeiras


provenientes de quatro clones híbridos de
A madeira é constituída de celulose, Eucalyptus, aos 7 anos de idade, sendo três de
hemiceluloses e lignina, além de extrativos e Eucalyptus urophylla x Eucalyptus grandis e um
também de uma pequena fração de inorgânicos, Eucalyptus camaldulensis x Eucalyptus grandis.
distribuídos nas diversas camadas que compõem a De cada árvore, foram retirados discos com
fibra. A lignina é o composto mais importante espessuras de 5 cm a 0%, 25%, 50%, 75% e 100%
quando se objetiva a produção de carvão vegetal, da altura comercial do tronco. De cada disco foram
pois o rendimento gravimétrico do processo de obtidas duas cunhas opostas, as quais foram
carbonização e a qualidade do mesmo estão utilizadas, parte para a carbonização e posterior
diretamente relacionados aos teores de lignina determinação dos rendimentos gravimétricos e
presentes na madeira (SJÖSTRÖM, 1992; propriedades do carvão e a outra parte para a
ROWELL et al., 2005). produção de serragem, visando as determinações
Tendo em vista que a diferença química da composição química, composição elementar e
estrutural presente nos diferentes tipos de lignina relação siringil/guaiacil da madeira dos diferentes
pode afetar o rendimento da carbonização da materiais genéticos estudados. As análises foram
madeira em função do posicionamento do grupo realizadas em amostragem composta.
funcional no anel aromático, possibilitando O experimento foi instalado segundo um
estruturas mais condensadas e, delineamento inteiramente casualizado, com
consequentemente, estruturas mais estáveis quatro tratamentos (clones), com seis repetições
termicamente, a relação siringil/guaiacil pode ser (árvore-amostra), totalizando 24 unidades
estabelecida como um parâmetro global da amostrais. Foram realizadas análise de variância e,
qualidade tecnológica da madeira, capaz de auxiliar quando estabelecidas diferenças significativas, os
nos processos de seleção de clones de eucalipto tratamentos foram comparados entre si, por meio
(SANTOS, 2010). do teste de Tukey, a 5% de significância.
Desse modo, o presente trabalho foi Para determinar as correlações existentes
realizado com o objetivo de determinar, com base entre as propriedades químicas, relação
nas propriedades químicas, na relação siringil/guaiacil da madeira, rendimento
siringil/guaiacil e nas correlações entre essas gravimétrico e as propriedades do carvão vegetal
propriedades e as propriedades do carvão, a foi empregado o coeficiente de correlação de
qualidade da madeira de diferentes materiais Pearson. Para as correlações significativas, foram
genéticos de eucalipto para a produção de carvão feitas análises de regressão linear.
vegetal.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
MATERIAL E MÉTODOS
As análises de variância indicaram
diferenças significativas ao nível de 5% de
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 55

significância, entre os tratamentos, para a químicas da madeira, um ou mais materiais


composição elementar, composição química e genéticos com potencial para energia.
relação siringil/guaiacil da madeira dos clones Os valores médios da relação
avaliados. siringil/guaiacil da madeira dos diferentes materiais
Na Tabela 1, encontram-se as médias das genéticos de eucalipto são mostrados na Figura 2.
variáveis obtidas a partir da análise da composição
elementar das madeiras dos quatro materiais
genéticos estudados. Observa-se que a
porcentagem média de carbono e hidrogênio
presentes no clone 1 foi superior às observadas na
madeira dos demais clones, entretanto, sem
apresentar diferença estatística.

Médias seguidas da mesma letra minúscula não diferem entre


Tabela 1. Composição elementar da madeira dos
si, a 5% de significância, pelo teste Tukey.
diferentes materiais genéticos de clones de Figura 2. Relação siringil/guaiacil da madeira nos
eucalipto. diferentes clones de eucalipto.

Em relação à S/G, maiores valores foram


Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre observados para o clone 3 (3,25). Os menores
si, a 5% de significância, pelo teste Tukey.
valores médios significativos foram obtidos para a
Os valores médios da composição química madeira do clone 2 (2,60).
dos materiais genéticos estudados são mostrados De acordo com Wallis et al. (1996) e
na Figura 1. Carvalho (2002), a relação, ou razão
siringil/guaiacil varia de 0,51 a 5,2, dependendo da
espécie de madeira. Essa relação observada no
presente estudo variou de 2,60 a 3,25. De acordo
com os resultados obtidos, observa-se que as
madeiras dos materiais genéticos 1, 2 e 4
apresentam melhores características para a
produção de carvão vegetal, em termos das
características estruturais de lignina, uma vez que
Médias seguidas da mesma letra, na mesma variável, não
diferem entre si, a 5% de significância, pelo teste Tukey. apresentaram menor relação siringil/guaiacil. Estes
Figura 1. Composição química da madeira dos clones tendem a apresentar maior rendimento
diferentes clones de eucalipto.
gravimétrico em carvão, conforme apresentado na
Pode-se observar que os clones 1 e 2 Figura 3.
apresentaram maiores teores de extrativos totais e
holocelulose e menores teores de lignina total na
madeira em relação aos demais. No entanto, de
modo geral, para os quatro clones, os valores
médios encontrados para o teor de lignina total foi
de 32%. Essa porcentagem é considerada
satisfatória, especialmente nesse caso, em que se
pretende indicar, com base nas propriedades Médias seguidas da mesma letra, na mesma variável, não
diferem entre si, a 5% de significância, pelo teste Tukey.
56 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

Figura 3. Rendimentos gravimétricos em carvão voláteis, ricos em hidrogênio (H) e que tem poder
vegetal (RGCV), gases condensáveis (RGGC) e
calorífico superior ao da madeira. Os valores
gases não condensáveis (RGGNC) obtidos de
diferentes clones de eucalipto. médios observados para essa propriedade
variaram entre 8.210 e 8.515 kcal kg-1.
Conforme a Figura 3, observa-se diferença
O carvão vegetal com maior poder
significativa entre os materiais genéticos para os
calorífico proporciona, especialmente para o
rendimentos gravimétricos, apresentando valores
emprego siderúrgico, menor consumo de insumo
médios que variam entre 28,27% e 30,21%,
redutor, considerando uma mesma produtividade.
36,76% e 41,29%, 29,66% e 36,76%, para os
Provavelmente, o maior poder calorífico superior
rendimentos em carvão vegetal, gases
observado neste estudo se deve aos altos teores
condensáveis e gases não condensáveis,
de carbono fixo obtidos para os carvões dos
respectivamente.
diferentes materiais genéticos.
De modo geral, a partir da análise química
Verificou-se correlação negativa e
imediata do carvão oriundo dos diferentes materiais
significativa entre a relação S/G da madeira e o teor
genéticos, os teores de materiais voláteis
de materiais voláteis do carvão (-0,57), e positiva
observados variaram entre 11,74% e 14,27%, os
(0,53), entre a relação S/G e o teor de carbono fixo
teores de cinzas entre 0,39% e 0,76% e o teor de
do carvão. Esse resultado se deve à maior
carbono fixo variou entre 85,33% e 87,52%.
degradação da madeira que, durante o processo de
Os valores médios encontrados para a
pirólise, tem grande perda de massa e eliminação
densidade relativa aparente do carvão variaram
de compostos voláteis ricos em oxigênio e
entre 0,266 e 0,345g cm -3.
hidrogênio e, com isso, concentra-se carbono,
Na Figura 4 são apresentados os valores
derivado principalmente da lignina.
médios do poder calorífico superior do carvão
A análise de correlação indicou, também,
vegetal obtido a partir da madeira de diferentes
que o teor de lignina presente na composição
materiais genéticos de eucalipto.
química dos clones de eucalipto apresentou
correlação negativa com a densidade relativa
aparente do carvão (-0,67).
Correlações negativas foram observadas,
ainda, entre o teor de lignina da madeira e os
rendimentos gravimétricos em carvão vegetal (-
0,54) e gases não condensáveis (-0,46).
De acordo com Martins (1980), a lignina é
Médias seguidas da mesma letra, na mesma variável, não
diferem entre si, a 5% de significância, pelo teste Tukey. o componente químico da madeira mais estável
Figura 4. Poder calorífico do carvão vegetal obtido
termicamente, quando comparada com a
de diferentes clones de eucalipto.
holocelulose e com a própria madeira. Esse fato
Na Figura 4 verifica-se que os maiores está relacionado, segundo o autor, com a
valores significativos para o poder calorífico complexidade de sua estrutura química. Esperava-
superior do carvão foram observados para o carvão se, dessa forma, que esse composto contribuísse
oriundo da madeira do clone 4, que diferiu positivamente para o rendimento em carvão
estatisticamente dos demais. Isso se deve, vegetal, e, consequentemente, a correlação entre
provavelmente, ao menor teor de carbono fixo os referidos parâmetros fosse positiva.
presente no carvão oriundo desse clone que O teor de lignina da madeira, contudo,
apresenta também os maiores teores de materiais influenciou, positivamente, o poder calorífico
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 57

superior do carvão com coeficiente de correlação REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


de 0,58, e, também, o rendimento em gases
condensáveis (0,67). MARTINS, H. Madeira como fonte de energia. In:
PENEDO, W. R. (Ed.). Uso da madeira para fins
Foram observadas correlações energéticos. Belo Horizonte: CETEC, 1980. v. 1,
significativas entre o teor de holocelulose na p. 9-26.

madeira e a densidade relativa aparente do carvão WALLIS, A. F. A. et al. Chemical analysis of


(0,78), o poder calorífico superior do carvão (-0,48), polysaccharides in plantation eucalypt woods and
pulps. Appita Journal, Victoria, v. 49, n. 4, p. 258-
o rendimento gravimétrico em gases condensáveis 262, 1996.
(-0,70) e o rendimento gravimétrico em gases não
CASTRO, A. F. N. M. Efeito da idade e de
condensáveis (0,54). O teor de extrativos materiais genéticos de Eucalyptus sp. na
apresentou correlação significativa e negativa com madeira e carvão vegetal. 2011. 86 f.
Dissertação (Mestrado em Ciência Florestal) -
o poder calorífico superior do carvão (-0,52). Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2011.

ROWELL, R. M. et al. Cell Wall Chemistry. In:


CONCLUSÃO ______ (Ed.). Handbook of Wood Chemistry
and Wood Composites. Boca Raton: CRC Press,
2005. p. 121-138.
Existe variabilidade nas características
químicas das madeiras dos quatro materiais SJÖSTRÖM, E. Wood Chemistry: fundamentals
and applications. New York: Academic Press,
genéticos avaliados, tendo, os mesmos,
1992.
correlações distintas tanto no rendimento quanto na
SANTOS, R. C. Parâmetros de qualidade da
qualidade do carvão vegetal.
madeira e do carvão vegetal de clones de
Todos os materiais genéticos eucalipto. 2010. 173 f. Tese (Doutorado em
Ciência e Tecnologia da Madeira) – Universidade
apresentaram de modo satisfatório, rendimento
Federal de Lavras, Lavras, 2010.
gravimétrico em carvão vegetal e qualidade.
O material genético 1 foi o mais indicado Acesse o trabalho completo pelo QR Code
entre os demais por apresentar maior rendimento
em carvão vegetal.
As madeiras dos clones com baixa relação
siringil/guaiacil apresentaram aumento no
rendimento em carvão vegetal.
O mais importante na escolha do material
genético para a produção de carvão é antever a
qualidade da madeira mediante a avaliação das
suas propriedades para a obtenção de maiores
rendimentos e qualidade do carvão. Assim,
recomenda-se atentar para a seleção de materiais
genéticos que possuem madeira com elevados
teores de lignina, maiores concentrações de
carbono e com baixa relação S/G.
58 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

15| CARACTERIZAÇÃO ESPACIAL DAS PROPRIEDADES DO CARVÃO VEGETAL


EM ESTOQUES INDUSTRIAIS

Clarissa Gusmão Figueiró e Angélica de Cássia Oliveira Carneiro

INTRODUÇÃO das propriedades do carvão vegetal em estoques


industriais.
Os crescentes investimentos das empresas
do setor de carvão vegetal em fornos de maiores
MATERIAL E MÉTODOS
dimensões resultaram em aumento do volume de
carvão produzido a cada ciclo de carbonização. No Foram amostrados três estoques
entanto, o controle do processo foi dificultado, uma industriais de carvão vegetal provenientes do forno
vez que o monitoramento da distribuição dos RAC 700, e três estoques provenientes do RAC
gases, taxa de aquecimento e a temperatura ao 220, pertencentes a empresa Aperam Bioenergia.
longo do forno é mais complexo nestes tipos de Utilizou-se uma metodologia de
fornos, o que pode refletir na variabilidade do amostragem mecanizada, em que se estabeleceu,
carvão vegetal estocado. para o RAC 700, 25 pontos de coleta do carvão no
Neste sentido, é natural que se manifestem estoque, sendo 10 pontos localizados na parte
incertezas quanto a metodologia de análise de superior e 15 pontos na parte inferior do estoque,
qualidade preconizada pela ABNT NBR 6923, uma conforme Figura 1.
vez que esta norma não faz distinção da
quantidade amostral de acordo com tamanho do
estoque.
O entendimento da distribuição espacial
das propriedades do carvão vegetal em estoques
industriais, por meio de métodos geoespaciais, Figura 1. Esquema ilustrativo de unidades
amostrais no estoque do forno RAC 700.
pode propiciar a constatação de padrões de
distribuições, o que auxiliará na formação de
Para o RAC 220, foram coletados 15
procedimentos para coleta de informações do
pontos, sendo 10 localizados na parte inferior e 5
produto.
na parte superior, conforme Figura 2.
A aplicação de técnicas geoespaciais é
expressiva no setor agrícola e florestal, com
presença nas áreas relacionas ao estudo de
atributos do solo, fitopatologia, fitotecnia, dados
climáticos, inventário florestal, inventário de
biomassa, entre outras (BOKEN et al., 2004;
Figura 2. Esquema ilustrativo de unidades
SOOHOO et al., 2016; DESAVATHU et al., 2017). amostrais no estoque do forno RAC 220.
Porém, não há indícios na literatura de estudos que
utilizem esta técnica para avaliação das Determinou-se a granulometria média, teor
propriedades do carvão vegetal em estoques de finos, densidade a granel, teor de carbono fixo,
industriais. materiais voláteis e teor de cinzas para todas as
Visando contribuir para melhorias do unidades amostrais coletadas.
controle de qualidade do carvão vegetal, buscou- Foi realizada a análise descritiva dos dados
se, neste trabalho, estudar a distribuição espacial dos estoques dos fornos RAC 700 e RAC 220,
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 59

individualmente, além dos testes de Shapiro-Wilk propriedades do carvão vegetal por capacidade do
para normalidade e Levene para homogeneidade forno.
de variância.
A determinação da relação entre as Tabela 2. Teste Shapiro-Wilk para verificação da
normalidade dos dados e teste de Levenes para
propriedades no estoque, foi realizada por meio da
análise da homogeneidade de variância
combinação das técnicas de análise geoespacial GM TF DG CF MV CZ
Forno Teste (mm) (%) (kg/cm3) (%) (%) (%)
(IDW) e análise de componentes principais. O RAC SW * * * ns ns *
efeito da posição (comprimento, altura e largura) do 700 L ns ns * * * *
RAC SW ns * * * * ns
estoque nas propriedades do carvão vegetal foi 220 L ns ns * * * *
avaliado por meio da análise espacial (IDW) em * = p-valor<0,05; ns = não significativo
Legenda: SW = Teste Shapiro-Wilk; L = Leste de Levene; GM =
conjunto a técnica de aprendizagem de máquina Granulometria média; TF = Teor de finos; DG = Densidade a
granel = CF: Carbono fixo = MV = Materiais voláteis; CZ =
(random forest). Cinzas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com a Tabela 2, observa-se que


as pressuposições de normalidade e
A análise descritiva das propriedades do
homogeneidade de variâncias não foram atendidas
carvão vegetal dos estoques provenientes dos
para todas as propriedades, o que impediu a
fornos RAC 700 e RAC 220 estão apresentadas na
utilização de ferramentas estatísticas paramétricas
Tabela 1.
convencionais.
Foi observada uma dependência espacial
Tabela 1. Estatística descritiva dos parâmetros de
nos dados, devido principalmente ao processo de
qualidade do carvão vegetal de acordo com o
tamanho de forno carbonização, que apresenta variações ao longo do
Propriedades do carvão vegetal
Forno Parâmetros DG interior do forno, e a descarga do carvão, que é
GM (mm) TF (%)
(kg/cm3)
n 75 75 75 realizada de acordo com um procedimento
Média 33,75 20,75 205,58
RAC 700

operacional, favorecendo, portanto, a utilização de


Mediana 31,62 20,94 198,40
Mínimo 24,49 2,47 158,79 uma abordagem geoespacial como análise.
Máximo 52,25 33,24 321,90
CV (%) 17,51 41,54 18,04 Na Figura 3 é apresentada a distribuição
n 45 45 45
Média 31,98 23,79 180,69 geoespacial das propriedades do carvão vegetal e
RAC 220

Mediana 31,35 25,85 179,99


Mínimo 22,70 5,46 146,40
análise de componentes principais para o estoque
Máximo 44,95 38,48 259,38 1 do forno RAC 700.
CV (%) 17,98 38,92 12,32
Forno Parâmetros CF (%) MV (%) CZ (%)
n 75 75 75
Média 73,29 25,21 1,50
RAC 700

Mediana 73,10 25,27 1,47


Mínimo 65,78 18,20 0,87
Máximo 80,08 32,63 2,65
CV (%) 4,57 7,69 25,33
n 45 45 45
Média 71,10 27,67 1,23
RAC 220

Mediana 71,52 27,12 1,16


Mínimo 64,46 24,02 0,76
Máximo 74,49 34,70 2,00
CV (%) 3,33 9,00 24,39
Legenda: n = número de unidades amostrais; GM =
Granulometria média; TF = Teor de finos; DG = Densidade a
granel; CF = Carbono fixo; MV = Materiais voláteis; CZ = Cinzas.

Legenda: GM – granulometria média; TF – teor de finos; DG –


densidade a granel; CF – carbono fixo; CZ – cinzas.
Na Tabela 2 estão apresentados os Figura 3. Distribuição espacial da granulometria
resultados dos testes de normalidade e média (A), teor de finos (B), densidade a granel (C),
carbono fixo (D), cinzas (E) e autovetores das
homogeneidade de variâncias para as
60 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

propriedades em relação as componentes Legenda: GM – granulometria média; TF – teor de finos; DG –


densidade a granel; CF – carbono fixo; CZ – cinzas.
principais 1 e 2 para o estoque 1 (RAC 700).
Figura 4. Distribuição espacial da granulometria
média (A), teor de finos (B), densidade a granel (C),
De acordo com o mapa temático (Figura 3), carbono fixo (D), cinzas (E) e autovetores das
independente do estoque avaliado, observa-se propriedades em relação as componentes
principais 1 e 2 para o estoque 2 (RAC 220).
uma relação inversa entre a granulometria média e
o teor de finos, ou seja, as regiões em que são De acordo com a Figura 4, é possível
observadas as menores granulometrias médias, observar que, para a maior parte das propriedades,
são obtidos os maiores percentuais de finos de as relações entre as variáveis do carvão vegetal
carvão vegetal. Essa relação é comprovada pela foram semelhantes aos resultados obtidos nos
análise de componentes principais, na qual é estoques provenientes dos fornos do tipo RAC 700.
possível observar a formação de um ângulo de Observa-se uma relação inversa entre a
aproximadamente 180° entre os vetores granulometria média e o teor de finos, em que a
granulometria média e teor de finos, o que indica medida que se aumenta a quantidade de carvão
correlação inversa entre as variáveis. retida nas peneiras de menor malha, diminui-se a
O carvão vegetal que apresenta menor granulometria média do carvão vegetal. Tal relação
granulometria, de modo geral, ocupa os espaços pode ser confirmada pela análise de componentes
vazios existentes entre as peças de maior principais, uma vez que para os três estoques
granulometria, aumentando, assim, a massa de avaliados do forno RAC 220, os vetores dessas
carvão vegetal para uma mesma unidade de propriedades apresentaram ângulos entre si
volume. próximos a 180°.
Os teores de carbono fixo e cinzas Observa-se a existência de uma relação
apresentaram relações similares tanto para o direta entre a densidade a granel e o teor de finos,
estoque 1 quanto para o estoque 3, sendo que as constatada pela análise de componentes
regiões que apresentaram maior teor de carbono principais, onde os vetores formados por essas
fixo apresentaram, também, maior teor de cinzas. propriedades apresentaram um ângulo entre si
Tal relação foi confirmada por meio da análise de menor que 90°. Assim como mencionado
componentes principais, uma vez que, os vetores anteriormente, o carvão vegetal de menor tamanho
que representam essas propriedades ocupa os espaços vazios entre as peças maiores,
apresentaram ângulos entre si inferiores a 90 °. aumentando, portanto, a massa de carvão vegetal
Nas Figura 4 está apresentada a para uma mesma unidade de volume.
distribuição geoespacial das propriedades do A relação entre o carbono fixo e o teor de
carvão vegetal e análise de componentes principais cinzas pode ser observada nos mapas temáticos
para o estoque 2 do forno tipo RAC 220. como sendo uma relação direta, onde quanto maior
o teor de carbono fixo maior o teor de cinzas.
Entretanto, essa relação foi observada apenas para
os estoques 2 e 3. Para o estoque 1, foi observado
que quanto maior o teor de cinzas menor o carbono
fixo. Assim como dito anteriormente, essa relação
inversa pode ter ocorrido devido a contaminações
do carvão com terra, proveniente do solo que pode
ter se misturado ao carvão vegetal nos momentos
de movimentação do mesmo.
CONCLUSÃO
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 61

Acredita-se que, para a gestão de uma unidade


Relações semelhantes entre as propriedades produtora, tais observações permitem a
do carvão vegetal foram observada tanto para os identificação de problemas ao longo processo
estoques do forno tipo RAC 700, quanto para o produtivo, possibilitando solucioná-los antes que
RAC 220. De forma geral, a granulometria média causem grandes prejuízos econômicos,
apresenta relação negativa com teor de finos. A melhorando o controle de qualidade da empresa.
densidade a granel, apresenta relação positiva com
o teor de finos. E, por fim, o teor de carbono fixo REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
apresenta uma relação positiva com teor de cinzas.
O efeito das posições (comprimento, altura e ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, ABNT. NBR 6923: Carvão vegetal –
largura) do estoque nas propriedades do carvão Amostragem e preparação de amostra. 1981.
vegetal, para os estoques provenientes dos fornos 15p.

RAC 700, evidencia a necessidade de uma BOKEN, V. K.; HOOGENBOOM, G.; HOOK, J. E.;
amostragem que contemple todas as posições do THOMAS, D. L.; GUERRA, L. C.; HARRISON, K.
A. Agricultural water use estimation using
estoque. geospatial modeling and a geographic information
A utilização da interpolação IDW em conjunto system. Agricultural Water Management, v.67,
n.3, 2004, p.185-189.
com a análise de componentes principais e
aprendizagem de máquina, possibilita, por meio DESAVATHU, R.N.; NADIPENA, A.R.; PEDDADA,
J.R. Assessment of soil fertility status in Paderu
das avaliações dos mapas temáticos, a realização Mandal, Visakhapatnam district of Andhra Pradesh
de inferências a respeito da qualidade do carvão through Geospatial techniques. The Egyptian
Journal of Remote Sensing and Space Science,
vegetal em diferentes estoques industriais. Além v.21, n.1 2018, p.73-81.
disto, propicia a observação de possíveis
SOOHOO, W.M. Geospatial modeling and
problemas durante o processo de produção, como assessment of the environmentally sensitive
por exemplo, a possível existência de lands in the midwestern U.S. 2016. 45p.
Master's thesis - University of South Carolina,
contaminantes no carvão de alguns estoques. 2016.
62 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

16| SELEÇÃO DE MATERIAIS GENÉTICOS DE Eucalyptus sp. PARA A PRODUÇÃO


DE CARVÃO VEGETAL UTILIZANDO ANÁLISE MULTIVARIADA

Lucas de Freitas Fialho e Angélica de Cássia Oliveira Carneiro

INTRODUÇÃO uma análise univariada. Para a realização da


abordagem multivariada se utilizou uma
Os avanços dos estudos a respeito da combinação entre as análises de componentes
qualidade da madeira e do carvão vegetal principais e a análise de agrupamentos
evidenciam a importância da investigação por hierárquicos.
completa das características inerentes a matéria-
prima e ao produto final. No entanto, isso acarreta
RESULTADOS E DISCUSSÃO
um crescimento do número de variáveis a serem
analisadas e estudadas, tornando a sua Na Tabela 1 são apresentados os
interpretação cada vez mais complexa. resultados da análise exploratória dos valores
Neste contexto, a escolha da análise obtidos das propriedades da madeira e do carvão
estatística a ser utilizada, como a medida da vegetal dos materiais genéticos avaliados.
magnitude das diferenças entre as observações
entre as propriedades, é essencial para que sejam Tabela 1. Análise exploratória das propriedades da
madeira e do carvão vegetal
obtidos resultados fidedignos da população em
estudo, uma vez que análises ou interpretações
incorretas da estatística podem resultar em
prejuízos econômicos (BOOS; STEFANSKI, 2011;
COLQUHOUN, 2014).
Diante do exposto, buscou-se, neste
trabalho, por meio das propriedades da madeira e
do carvão vegetal, selecionar os materiais
superiores por meio de análises estatísticas
univariada e multivariada.

MATERIAL E MÉTODOS
*Coeficiente de variação médio segundo Warrick e Nielsen
(1980).
Utilizou-se 25 materiais genéticos de
Eucalyptus spp., aos 87 meses de idade, cultivados A análise de Scott-Knott (Quadro 1) indicou
em espaçamento 3 x 3 metros, provenientes de um a formação de diferentes números de grupos para
teste clonal pertencente a empresa Aperam cada propriedade da madeira e do carvão vegetal.
BioEnergia no município de Itamarandiba, Minas Os grupos foram organizados em ordem
Gerais. decrescente de médias, sendo que o Grupo I
Foram determinadas as propriedades da contém as maiores médias para cada propriedade.
madeira e do carvão vegetal para todos os De modo geral, as propriedades da
materiais genéticos, além do rendimento madeira e do carvão vegetal, cujo coeficiente de
gravimétrico. variação foi classificado como médio,
Os dados foram submetidos ao algoritmo apresentaram a formação de um maior número de
de agrupamento hierárquico Scott-Knott, como
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 63

grupos quando comparado as propriedades que análise de componentes principais (PCA) pode ser
apresentaram coeficiente de variação baixo. uma alternativa para o estudo conjunto das
variáveis, de forma a permitir a visualização da
Quadro 1a. Materiais genéticos separados em estrutura dos dados, encontrar similaridade entre
grupos dissemelhantes entre si, para as
amostras, detectar amostras anômalas (outliers) e
propriedades da madeira, pelo teste Scott-Knott a
5% de probabilidade reduzir a dimensionalidade do conjunto de dados
(SOUZA; POPPI, 2012).
Para uma melhor compreensão das CPs
geradas em uma análise de componentes utilizou-
se a representação gráfica do tipo biplot (Figuras 1
e 2), na qual os materiais genéticos estão
representados por pontos, identificados com seus
respectivos números, e as variáveis são

Quadro 1b. Materiais genéticos separados em representadas por seus respectivos vetores.
grupos dissemelhantes entre si, para as
propriedades do carvão vegetal, pelo teste Scott-
Knott a 5% de probabilidade

Verifica-se a ampla participação do


material genéticos 9 e 21 na formação de grupos
de propriedades com valores potenciais para a
produção de carvão vegetal. A combinação de
todas as propriedades qualifica-os como superiores
para a produção de carvão vegetal, pois
enquadraram no grupo de maior valor de Legenda: IMA = Incremento médio anual (m 3.ha-1.ano-1); CA =
Relação cerne/alburno; DB = Densidade básica (g.cm-3); FREP
incremento médio anual, teor de carbono. Quanto = Frequência de poros (poros.mm-2); EXT = Extrativos totais (%);
REND = Rendimento gravimétrico em carvão vegetal (%); DA =
as propriedades do carvão, participaram dos Densidade relativa aparente do carvão vegetal (g.cm -3); FRIA =
Friabilidade do carvão vegetal (%).
grupos de maiores valores de rendimento
Figura 1. Vetores das propriedades da madeira e
gravimétrico e densidade relativa aparente. Além do carvão vegetal e dispersão dos escores dos 25
materiais genéticos em relação aos componentes
disso, esses materiais genéticos se enquadraram
principais 1 e 2.
no grupo com os menores valores para teor de
oxigênio e teor de holoceluloses da madeira, e
friabilidade e teor de cinzas do carvão vegetal.
Na utilização de uma abordagem
univariada para a seleção com múltiplos materiais
genéticos e propriedades, algumas subjetividades
podem surgir sobre a interpretação final dos
resultados, uma vez que, os materiais genéticos
podem não se enquadrar em grupos potenciais
para todas as variáveis de estudo, o que gerará
dúvidas para o pesquisador/executor. Logo, a
64 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

Legenda: IMA = Incremento médio anual (m 3.ha-1.ano-1); CA = Observando-se os resultados das análises
Relação cerne/alburno; DB = Densidade básica (g.cm -3); FREP
= Frequência de poros (poros.mm-2); EXT = Extrativos totais (%); multivariadas foi possível constatar que os
REND = Rendimento gravimétrico em carvão vegetal (%); DA =
Densidade relativa aparente do carvão vegetal (g.cm -3); FRIA = materiais genéticos mais indicados para a
Friabilidade do carvão vegetal (%).
Figura 2. Vetores das propriedades da madeira e produção de carvão vegetal são 21, 10 e 9 (Grupos
do carvão vegetal e dispersão dos escores dos 25 VII e VIII). Observa-se que este grupo apresentou
materiais genéticos em relação aos componentes
principais 1 e 3. altos valores de incremento médio anual,
densidade básica da madeira, frequência de poros
Na Figura 3 é apresentado o dendrograma e extrativos totais. Além disso, apresentou altos
dos agrupamentos dos materiais genéticos em valores de rendimento gravimétrico e densidade
função das propriedades da madeira e do carvão relativa aparente, e um baixo valor de friabilidade
vegetal, selecionadas por meio da análise de do carvão vegetal.
componentes principais. Na Tabela 2 são
apresentados os valores médios das propriedades CONCLUSÃO
da madeira e do carvão vegetal para cada grupo
formado por meio da análise de agrupamentos De modo geral, as propriedades da
hierárquico. madeira e do carvão vegetal, dos diversos
materiais genéticos avaliados, apresentaram-se
satisfatórias para a produção de carvão vegetal
para uso siderúrgico. Sendo que, a maior parte das
propriedades apresentaram baixo coeficiente de
variação.
A análise termogravimétrica da madeira
permitiu a identificação de possíveis materiais
genéticos superiores para a produção de carvão
vegetal, com destaque para os materiais 9 (Híbrido
de E. urophylla e E. maidenii), 10 (Híbrido de E.
urophylla e Eucalyptus sp.) e 21 (Híbrido de E.
Figura 3. Dendrograma obtido pelo método urophylla, E. camaldulensis, E. grandis e
“Complete linkage”, utilizando a distância Eucalyptus sp.).
euclidiana obtida por meio de médias padronizadas
de características da madeira e do carvão vegetal O teste de Scott-Knott mostrou-se eficiente
para os 25 materiais genéticos. para a seleção de materiais genéticos para a
produção de carvão vegetal, sendo selecionado por
Tabela 2. Valores médios das propriedades da
madeira e do carvão vegetal para os grupos meio desta ferramenta estatística o material
formados pela análise de agrupamento. genético 9 (Híbrido de E. urophylla e E. maidenii) e
21 (Híbrido de E. urophylla, E. camaldulensis, E.
grandis e Eucalyptus sp.).
As análises multivariadas de componentes
principais e de agrupamentos mostraram-se
Legenda: IMA = Incremento médio anual (m 3.ha-1.ano-1); CA = eficazes para a seleção de materiais genéticos para
Relação cerne/alburno; DB = Densidade básica (g.cm -3); FREP
= Frequência de poros (poros.mm-2); EXT = Extrativos totais (%); a produção de carvão vegetal, sendo os materiais
REND = Rendimento gravimétrico em carvão vegetal (%); DA =
Densidade relativa aparente do carvão vegetal (g.cm -3); FRIA = 9 (Híbrido de E. urophylla e E. maidenii), 10
Friabilidade do carvão vegetal (%).
(Híbrido de E. urophylla e Eucalyptus sp.) e 21
(Híbrido de E. urophylla, E. camaldulensis, E.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 65

grandis e Eucalyptus sp.) mais indicados por meio cerne/alburno, densidade básica, frequência de
destas ferramentas estatísticas. poros e teor de extrativos da madeira. As
Apesar de ambas as análises se propriedades do carvão vegetal que mais
mostrarem eficientes na solução do problema contribuíram foram rendimento gravimétrico,
proposto pelo estudo, existem algumas densidade relativa aparente e friabilidade.
peculiaridades que devem ser ressaltadas: o teste
de Scott-Knott permite a visualização dos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
resultados de cada propriedade de forma
independente, permitindo ao pesquisador/executor BOOS, D.B.; STEFANSKI, L.A. P-Value Precision
and Reproducibility. The American Statistician,
atribuir um peso maior a determinada propriedade v.65, 2011, p.213-221.
em detrimento as outras; em contrapartida, a
COLQUHOUN D. An investigation of the false
análise multivariada possibilitou a observação das discovery rate, and the misinterpretation of p-
relações entre as propriedades. Essa peculiaridade values. Royal Society Open Science, 2014.

permite ao pesquisador saber qual ou quais SOUZA, A.M.; POPPI, R.J. Experimento didático
propriedades estão contribuindo mais para a de quimiometria para análise exploratória de óleos
vegetais comestíveis por espectroscopia no
variância conjunta dos dados. infravermelho médio e análise de componentes
Neste estudo as propriedades que mais principais: um tutorial, parte I. Química Nova,
v.35, n.1, 2012, 223-229.
contribuíram para a variância conjunta dos dados
foram o incremento médio anual, relação
66 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

17| PROPRIEDADES DA MADEIRA E DO CARVÃO VEGETAL EM CLONES DE


HÍBRIDOS DE Eucalyptus, EM DIFERENTES AMBIENTES (SÍTIOS)

Isabel Cristina Nogueira Alves de Melo e Paulo Fernando Trugilho

INTRODUÇÃO materiais e seus parâmetros cinéticos, como a


energia de ativação e o fator pré-exponencial.
A evolução da tecnologia siderúrgica
preconiza a homogeneização das propriedades da
MATERIAL E MÉTODOS
madeira pelo plantio de espécies selecionadas.
Essa evolução objetiva melhorar os rendimentos O material foi obtido em plantios comerciais
em carvão, o teor de carbono, a densidade do pertencentes a empresa Plantar Siderúrgica. As
carvão e outras propriedades mecânicas almejadas características avaliadas na madeira foram o poder
na sua utilização dentro dos alto-fornos. A adoção calorífico, densidade básica, composição química
de uma matéria-prima padronizada permitirá um elementar e estrutural.
funcionamento mais regular dos alto-fornos. Além As carbonizações foram realizadas em
disso, a preocupação atual em conservar as mufla laboratorial empregando-se uma taxa de
florestas nativas e desenvolver fontes de energia aquecimento de 1,56 °C por minuto com
renováveis acentua ainda mais essa tendência. temperatura final de 450 °C. Foram avaliados o
Atualmente, o enfoque tem sido na qualidade rendimento gravimétrico da carbonização, a análise
específica da madeira, com base nas suas química imediata, a densidade relativa aparente e
características físicas e químicas, visando à o poder calorífico superior do carvão vegetal.
obtenção de genótipos superiores para Para análise dos dados foi adotado o
determinada finalidade (CAMPOS, 2008). delineamento inteiramente casualizado, com 12
O processo de conversão da madeira em tratamentos e quatro repetições. Os dados foram
carvão vegetal através do processo de pirólise é submetidos à análise de variância e, quando
baseado numa série de reações complexas que estabelecidas diferenças entre eles, aplicou-se o
são influenciadas por muitos fatores, como por teste de Tukey.
exemplo, taxa de aquecimento, temperatura, tempo Também foram realizadas análises
de residência, umidade e composição da biomassa. termogravimétricas em diferentes taxas de
Neste sentido o uso de análises termogravimétricas aquecimento.
(TGA) e de calorimetria exploratória diferencial A análise de calorimetria exploratória
(DSC) vem sendo utilizadas como ferramentas para diferencial foi realizada com o objetivo de identificar
auxiliar na compreensão deste processo complexo, as faixas de temperatura nas quais ocorrem as
através da adequação de modelos e determinação principais variações de energia.
de seus parâmetros cinéticos. A cinética de decomposição térmica das
Dessa forma, o objetivo do presente amostras foi estudada a partir de ensaios
trabalho foi analisar a qualidade tecnológica da dinâmicos e os parâmetros cinéticos foram
madeira e do carvão vegetal em clones híbridos de calculados utilizando os modelos de Kissinger,
Eucalyptus plantados em Minas Gerias. Também FWO e KAS.
foi avaliado o efeito do espaçamento de plantio e
de locais ou sítios. Além disso, avaliou-se o RESULTADOS E DISCUSSÃO
comportamento térmico da madeira dos diferentes
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 67

O poder calorífico superior da madeira semelhantes 0,371 e 0,370 g.cm -3,


apresentou efeito significativo tanto para o respectivamente.
espaçamento quanto para o local de plantio. O Quanto ao poder calorífico superior do
maior espaçamento de plantio acarretou em carvão vegetal observou-se efeito significativo da
maiores valores de poder calorífico (4550 kcal.kg- interação entre os clones e o espaçamento de
1), enquanto no espaçamento de 9 m2 por planta o plantio. O desdobramento e avaliação do efeito de
valor médio foi 4506 kcal.kg-1. clone dentro de espaçamento de plantio mostra
O rendimento gravimétrico em carvão que, somente no menor espaçamento (9 m2),
vegetal apresentou efeito significativo de clone e existe diferença entre os materiais genéticos
interações de clone x local e clone x espaçamento. (Tabela 2). Os maiores valores médios foram
O desdobramento e avaliação do efeito de clone obtidos no menor espaçamento por planta (7213
dentro de local de plantio mostra que em Itacambira kcal.kg-1), sendo que nesta condição o clone 3
os materiais não apresentaram diferença apresentou o menor valor dentre todos os materiais
significativa entre si, já dentre os materiais avaliados. Já no espaçamento 12 m 2 observou-se
provenientes de Curvelo o clone 3 destacou-se menor variação do poder calorífico entre os clones,
apresentando o maior rendimento gravimétrico em os quais não diferiram estatisticamente.
carvão vegetal, sendo o maior valor absoluto
(37,62%) dentre todos os tratamentos analisados Tabela 2. Valores médios do poder calorífico
superior do carvão vegetal em função da interação
(Tabela 1).
entre clone e espaçamento.

Tabela 1. Valores médios de rendimento em carvão


vegetal em função da interação entre clone e local.

Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre


si, a 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey

Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre Os teores de materiais voláteis e de
si, a 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey
carbono fixo sofreram influência da interação entre
Pelo desdobramento e avaliação do efeito os clones e os locais de plantio. O desdobramento
de clone dentro de espaçamento de plantio e avaliação do efeito de clone dentro de local de
observou-se que o clone 1 plantado no plantio mostra que na localidade de Itacambira os
espaçamento de 12 m 2 apresentou o menor clones não apresentaram diferenças significativas
rendimento em carvão (34,80%), enquanto os entre si para as variáveis analisadas. O clone 2,
outros materiais obtiveram rendimentos superiores quando plantado em Curvelo, destacou-se do
a 36%. No espaçamento de 9 m 2 não foi observada demais pois apresentou menor teor de materiais
influência do material genético no rendimento de voláteis (24,25%) acompanhado de um maior teor
carvão vegetal. de carbono fixo (75,27%).
A densidade relativa aparente do carvão O teor de materiais voláteis dos clones
vegetal foi estatisticamente diferente entre os variou entre 24,15 e 26,85%. Apesar das diferenças
materiais genéticos estudados, sendo que o clone significativas entre os clones, os teores de cinzas
3 apresentou os menores valores médios (0,326 foram baixos, apresentando valores médios de
g.cm-3). Os clones 1 e 2 apresentaram valores 0,61%.
68 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

A Figura 1A ilustra as curvas de DSC da


madeira dos clones de Eucalyptus. Observa-se que
todas as curvas de DSC apresentaram
comportamento semelhante, o que pode ser
atribuído a semelhança na composição química
estrutural e elementar dos materiais genéticos.
Com o objetivo de facilitar a identificação dos picos
de variação de energia, destaca-se na Figura 1B o Figura 2. Perfil da perda de massa dos diferentes
materiais em função da temperatura sob taxa de
comportamento do clone 1 plantado nos dois
aquecimento de 10°C.min-1.
espaçamentos e na localidade de Itacambira,
utilizando taxa de 10 °C.min-1. A Figura 3 apresenta as curvas da derivada
primeira da curvas termogravimétricas (DTG) e
apresenta a variação da massa em relação ao
tempo, registradas em função da temperatura.
Nesta figura é possível observar os picos nos quais
a velocidade de decomposição da biomassa é
máxima, identificando as temperaturas nas quais
ocorrem as principais perdas de massa.
As curvas de DTG revelaram que todas as
amostras apresentaram três etapas evidentes de
perda de massa.

Figura 1. Curvas de DSC para a madeira dos


diferentes tratamentos (a) e curva de DSC para
madeira do clone 1, localidade Itacambira (b).

A Figura 2 ilustra os perfis de degradação


térmica dos diferentes clones nos espaçamentos e Figura 3. Curvas de DTG (derivadas
locais de plantio na taxa de aquecimento de termogravimétricas) dos diferentes tratamentos.

10°C.min-1. Observa-se que todos os materiais


A Figura 4 mostra os perfis de degradação
apresentaram o mesmo padrão de decomposição
térmica dos clones nos diferentes locais. Observa-
térmica e houve pouca variação de massas
se que não houve influência significativa dos locais
residuais finais.
de plantio e nem dos clones, o que é compreensível
pois os três materiais estudados são híbridos das
mesmas espécies de Eucalyptus grandis x
Eucalyptus urophylla, tendo portanto materiais
genéticos semelhantes.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 69

Entretanto, estes benefícios decorrentes


do maior espaçamento devem ser avaliados com
cautela, uma vez que não prevaleceram após a
determinação do rendimento e da caracterização
dos carvões vegetais produzidos.
Apesar do teor de carbono fixo médio dos
carvões produzidos estar um pouco abaixo dos
75% recomendado para fins siderúrgicos, todos os
clones avaliados apresentam características
satisfatórias para produção de carvão vegetal, este
fato se deve ao nível de excelência atingido pelas
empresas florestais brasileiras.
Os resultados das análises térmicas, tanto
análise termogravimétrica quanto a de calorimetria

Figura 4. Perfil de degradação térmica dos clones exploratória diferencial, mostraram que não
nas localidades de Itacambira (A) e Curvelo (B), existem diferenças significativas entre as madeiras
sob taxa de aquecimento de 10 °Cmin-1.
dos diferentes tratamentos estudados, o que é

A Figura 5 ilustra os valores médios de perfeitamente compreensível, vista à similaridade

energia de ativação obtidos pelos diferentes da composição química estrutural e elementar dos

métodos (Kissinger, FWO e KAS) para todos os materiais avaliados.

materiais estudados. Através da análise de calorimetria


exploratória diferencial observou-se que o início da
fase de liberação de energia se inicia em
temperaturas próximas a 260 °C e as temperaturas
do primeiro pico exotérmico foi 327 °C e do
segundo pico 359 °C.
Através da derivação da curva
termogravimétrica (DTG) foi possível identificar os
picos de evaporação da água, de degradação das
hemiceluloses e da celulose. Não foi possível
identificar o pico de degradação da lignina devido a
Figura 5. Comparação entre os diferentes métodos
utilizados para determinação dos valores de temperatura final utilizada nas análises ser abaixo
energia de ativação da temperatura de degradação deste componente.
O teor de lignina e de holocelulose
CONCLUSÃO
apresentaram boas relações funcionais com os

As características da madeira foram resultados de perda de massa por faixas de

influenciadas tanto pelos locais de plantio quanto temperatura obtidas através das análises

pelo espaçamento adotado. Sendo que o uso de termogravimétricas.

maiores espaçamento de plantio contribuiu Os parâmetros cinéticos obtidos pelos

favoravelmente para características importantes da diferentes métodos foram coerentes aos valores

madeira, como densidade básica, teor de lignina e encontrados na literatura para estudos com

poder calorífico superior. madeira.


70 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

Os três métodos utilizados, Kissinger, FWO Acesse o trabalho completo pelo QR Code
e KAS, foram satisfatórios para obtenção dos
parâmetros cinéticos, sendo que o método de
Kissinger apresentou-se menos consistente para
estimar a Ea, mas ainda assim demonstrou ser
eficiente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMPOS, A. C. M. Carvão de Eucalyptus: efeito


dos parâmetros da pirólise sobre a madeira e
seus componentes químicos e predição da
qualidade pela espectroscopia NIR. 2008, 128p.
Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia
da Madeira) - Universidade Federal de Lavras,
Lavras, 2008.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 71

18| EFEITO DA IDADE E DE MATERIAIS GENÉTICOS DE Eucalyptus sp. NA


MADEIRA E CARVÃO VEGETAL

Ana Flávia Neves Mendes Castro e Angélica de Cássia Oliveira Carneiro

INTRODUÇÃO 100% da altura comercial do tronco. Inicialmente,


fez-se a medição das porcentagens de cerne e
Atualmente, devido à maior alburno de cada disco, antes que fossem realizadas
competitividade do mercado é importante que as as demais análises. De todos os discos, foram
empresas florestais realizem uma busca retiradas duas cunhas opostas, utilizadas para a
permanente por materiais genéticos que forneçam determinação da densidade básica da madeira. O
madeira com as propriedades adequadas para uma restante do disco foi seccionado, sendo que uma
determinada finalidade, aliada a uma elevada parte foi destinada à produção de carvão e outra
produtividade, em um menor tempo possível. parte destinada à determinação da composição
Existem, hoje, vários materiais genéticos que já elementar, composição química, poder calorífico
foram melhorados buscando aprimorar as superior e análise termogravimétrica. Para as
características da madeira que resultem na análises especificadas acima utilizou-se amostras
produção de carvão vegetal de melhor qualidade, compostas enquanto que para a densidade básica
mas ainda é preciso investir em novas pesquisas da madeira e porcentagens de cerne e alburno a
para obter clones cada vez mais adequados à avaliação foi feita longitudinalmente, ou seja,
produção de carvão. sentido base-topo.
Quanto ao ciclo de corte das florestas, as As carbonizações foram realizadas em
empresas estipulam uma idade de corte para toda mufla de laboratório com aquecimento elétrico,
a sua área plantada, baseando-se na produtividade sendo que as amostras foram inseridas em um
do povoamento. Entretanto, essa recomendação contêiner metálico. Para a recuperação dos gases
desconsidera a rotação, o crescimento da espécie condensáveis, adaptou-se na saída dos gases um
em questão, o aumento em valor devido ao ganho condensador tubular resfriado a água. Após as
em qualidade da madeira (RODRIGUEZ et al., carbonizações, foram determinados, com base na
1997). O ciclo de exploração deve ser massa seca da madeira, os rendimentos
cuidadosamente avaliado, uma vez que se sabe gravimétricos em carvão, gases condensáveis e
que a idade influencia as características da não condensáveis, sendo esse último obtido por
madeira. diferença.
Dessa forma, o objetivo principal deste O experimento foi instalado segundo um
trabalho foi avaliar o efeito da idade e diferentes delineamento inteiramente casualizado, em arranjo
materiais genéticos de Eucalyptus na produção de fatorial (3 x 4). Os tratamentos foram constituídos
carvão vegetal. por três materiais genéticos (clones de Eucalyptus
urophylla: GG 100 e GG 157, e um clone híbrido de
MATERIAL E MÉTODOS Eucalyptus grandis x Eucalyptus urophylla: GG
680) com quatro idades (3, 4, 5 e 7 anos), e três
Foram utilizados três clones de Eucalyptus
repetições.
sp. nas classes de idade de três, quatro, cinco e
sete anos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De cada árvore foram retirados cinco
discos correspondentes a 0%, 25%, 50%, 75% e
72 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

Para a relação cerne/alburno, o efeito da 3000


Aa Aa Aa

2850 Ab

Energia (kW.h m-3)


Bb
idade foi significativo somente para o clone GG 680 2700
BCa
Ca
Bb
ABc
2550 ABb
e a maior relação foi observada aos sete anos, para Bb Cb
2400

os três clones avaliados. Observou-se que, em 2250

2100
todas as idades, não houve diferença significativa 3 4 5 7
Idade (anos)
na relação cerne/alburno entre os clones. Os GG100 GG157 GG680

Médias seguidas da mesma letra maiúscula entre as idades e


valores médios variaram de 1,16 a 1,61 (GG 100), minúscula entre clones, não diferem entre si a 5% de
significância, pelo teste Tukey.
1,36 a 1,77 (GG 157) e 0,96 a 1,85 (GG 680). Figura 2. Quantidade de energia produzida por m 3
Observou-se um aumento significativo da em função da idade e clone.

densidade básica da madeira com o aumento da


Analisando a Figura 2 observa-se que a
idade, sendo que, somente aos sete anos, foram
quantidade de energia armazenada em um metro
observados valores semelhantes aos valores ideais
cúbico de madeira aumentou com o aumento da
para a produção de carvão vegetal, conforme
idade, seguindo a mesma tendência da densidade
estipulado por Brito et al. (1983) (0,52 g/cm 3; 0,54
básica da madeira. O clone GG 100 apresentou os
g/cm3; 0,56 g/cm3 para GG 100, GG 157 e GG 680,
menores valores para essa variável, observando
respectivamente).
uma variação de 2389 kW.h.m -³ a 2801 kW.h.m-³,
Na Figura 1 estão apresentados os valores
enquanto que o clone GG 680 apresentou o melhor
médios para poder calorífico superior da madeira
desempenho para essa variável, sendo que os
em função dos tratamentos idade e clone.
valores médios variaram de 2594 kW.h.m -³ a 2943
kW.h.m-³. Pode-se dizer que a densidade básica da
4750 Aa Aa
Aa
4700
ABab madeira foi a variável que mais contribuiu para o
PCS (Kcal/Kg)

4650 Ba Ab Ba Ba
Aa
4600
4550
Cb melhor desempenho desse clone. Os valores
4500 Bb Bb

4450
médios para o clone GG 157 variaram de 2408
4400
4350 kW.h.m-³ a 2916 kW.h.m-³.
3 4 5 7
Idade (anos) Não houve influência da idade no teor de
GG100 GG157 GG680

Médias seguidas da mesma letra maiúscula entre as idades e nitrogênio, exceto para o clone GG 680, que
minúscula entre os clones, não diferem entre si. Todos a 5% de
significância, pelo teste Kruskall-Wallis. apresentou menores teores desse elemento nas
Figura 1. Poder Calorífico Superior (Kcal/Kg) da
idades de cinco e sete anos. Entre os clones
madeira em função da idade e clone.
ocorreu diferença significativa para todas as
Analisando a Figura 1, observa-se que idades, exceto aos quatro anos. Os valores médios
houve efeito da idade no poder calorífico superior para o teor de nitrogênio variaram de 0,14 a 0,18;
da madeira, e diferença significativa entre os 0,13 a 0,18; 0,09 a 0,19, para os clones GG 100,
clones, em todas as idades. Os valores médios de GG 157 e GG 680, respectivamente.
poder calorífico superior da madeira obtidos no Não houve influência da idade no teor de
presente trabalho foram de 4633 Kcal/Kg (GG 100), carbono, exceto para o clone GG 680, que
4660 Kcal/Kg (GG 157) e 4542 Kcal/Kg (GG 680). apresentou aumento do teor de carbono com o
Na Figura 2 estão apresentados os valores aumento da idade. Observa-se que houve efeito
médios para quantidade de energia por m 3 em significativo do clone nas diferentes idades
função dos tratamentos idade e clone. avaliadas, exceto na idade quatro anos. O maior
valor encontrado para o teor de carbono foi de
48,42% para o clone GG 680 aos sete anos, e o
menor valor foi de 45,84% para o clone GG 157 aos
sete anos.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 73

Não houve influência da idade no teor de médios para a relação S/G variaram de 2,7 a 2,3;
hidrogênio, exceto para o clone GG 100. Entre os de 3,2 a 2,8; de 2,5 a 2,4 para os clones GG 100,
clones não houve diferença significativa, exceto GG 157 e GG 680, respectivamente.
aos três anos. O maior valor médio obtido para o Houve efeito da idade para os três clones
teor de hidrogênio foi de 6,41% para o clone GG avaliados para o teor de holocelulose. Observou-
100 aos três anos de idade, e o menor foi de 6,13% se, também, que existe diferença significativa entre
encontrados para o clone GG 100 aos sete anos e os clones em todas as idades, exceto aos quatro e
para o clone GG 680 aos cinco anos cinco anos. Os valores para o teor de holocelulose
Não houve influência da idade no teor de da madeira variaram de 62,46% a 65,41%; 63,95%
oxigênio, independente do clone. Entre os clones a 66,24%; 61,88% a 65,24% para os clones
não ocorreu diferença significativa para as idades GG100, GG 157, GG 680, respectivamente.
de três e quatro anos, sendo que aos cinco e sete Na Figura 3 estão apresentados os
anos a diferença foi significativa. O maior valor termogramas referentes às análises de TGA em
encontrado para o teor de oxigênio foi de 47,85% função da idade e dos materiais genéticos.
para o clone GG 157 aos sete anos de idade, e o
(A)
menor foi de 45,28% obtido para o clone GG 680,
100% 3 anos 100% 4 anos
GG100 GG100

aos sete anos. 80%


GG157 80%
GG157

60% GG680 GG680


TGA (%)

TGA (%)
60%

O valor máximo encontrado para o teor de 40% 40%

20% 20%

enxofre foi de 0,08%. 0%


0 100 200 300 400 500
0%
0 100 200 300 400 500
Temperatura ( C) Temperatura ( C)

Houve efeito da idade, no teor de 100% 5 anos


GG100
100% 7 anos
GG100
80% 80%
GG157 GG157

extrativos, para os clones GG 100 e GG157, e além GG680 GG680

TGA (%)
60%
TGA (%)

60%

40% 40%

disso, verificou-se uma diferença significativa entre 20% 20%

0% 0%

os clones em todas as idades avaliadas. Os valores 0 100 200


Temperatura ( C)
300 400 500 0 100 200 300
Temperatura ( C)
400 500

(B)
médios obtidos para teor de extrativos foram de 100% Clone GG100 100% Clone GG157
3 anos 3 anos

2,37% a 4,68%, 2,91% a 3,94%, 3,50% a 4,31% 80% 4 anos


5 anos
80% 4 anos
5 anos
7 anos
TGA (%)

60% 7 anos
TGA (%)

60%

para os clones GG 100, GG 157 e GG 680, 40% 40%

20% 20%

respectivamente. Para a produção de carvão 0%


0 100 200 300 400 500
0%
0 100 200 300 400 500
Temperatura ( C) Temperatura ( C)
100% Clone GG680
vegetal, a presença de maiores teores de extrativos 80%
3 anos
4 anos
5 anos

é indesejável, uma vez que, para essa finalidade, é 7 anos


TGA (%)

60%

40%

ideal que a madeira apresente maiores 20%

0%
0 100 200 300 400 500

quantidades de compostos estáveis termicamente, Temperatura ( C)

Figura 3. Termogramas referentes as análise de


como é o caso da lignina. TGA em função das idades (A) e em função dos
Para o teor de lignina total presente na clones (B).
madeira, houve efeito da idade para os clones GG
De modo geral, houve efeito significativo da
100 e GG 680, e não ocorreu diferença significativa
idade e do material genético na densidade aparente
entre os clones, em nenhuma idade avaliada. Os
do carvão. Para o clone GG 680 o fator idade não
resultados encontrados nesse trabalho para o teor
foi significativo. Os valores médios de densidade
de lignina total variaram de 30,73% a 33,82%.
aparente do carvão variaram de 0,26 g/cm 3 a 0,33
Relação Siringil/Guaiacil
g/cm3; 0,29 g/cm3 a 0,34 g/cm3; 0,33 g/cm3 a 0,35
Ocorreu uma diminuição da relação S/G
g/cm3 para os clones GG 100, GG 157 e GG 680,
com o aumento da idade, para os três clones
respectivamente.
avaliados. Além disso, observa-se a existência de
diferença significativa entre os clones. Os valores
74 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

Na Figura 4 são apresentados os valores 79,0 Aa Aa

Carbono Fixo (%)


Ab Ab Aa
77,0 Ab Aa Aa Aa
médios para poder calorífico superior do carvão 75,0
Aa Aa Bb

73,0
vegetal em função da idade e clone. 71,0
69,0
67,0
65,0
7600 Aa Aa 3 4 5 7
Poder Calorífico Superior

Aa Aab Aa
Ab Ab Ab Ab Aa
7400 Ab Aa Idade (anos)
7200 GG100 GG157 GG680
(Kcal/Kg)

7000
Médias seguidas da mesma letra maiúscula entre as idades e
6800
6600
minúscula entre clones, não diferem entre si a 5% de
6400 significância, pelo teste Tukey.
6200 Figura 5. Teor de carbono fixo do carvão vegetal
6000
3 4 5 7
em função da idade e clone.
Idade (anos)
GG100 GG157 GG680

Médias seguidas da mesma letra maiúscula entre as idades e O teor de carbono fixo do carvão para a
minúscula entre clones, não diferem entre si a 5% de
significância, pelo teste Tukey. siderurgia deve estar em torno de 70% a 80%
Figura 4. Poder calorífico do carvão vegetal em
(SANTOS, 2008). Observa-se que os valores
função da idade e clone.
obtidos no presente estudo estão de acordo com as
Pela Figura 4 observa-se que não houve exigências para uso em siderurgia.
influência da idade para os três clones avaliados. Analisando a Figura 5 verifica-se que não
Entretanto, houve diferença significativa entres os houve efeito da idade no teor de carbono fixo do
clones em todas as idades, exceto aos sete anos. carvão vegetal, exceto para o clone GG 157 que
Os valores para o poder calorífico superior do apresentou um menor valor para essa variável aos
carvão variaram de 7332 kcal/kg a 7478 kcal/kg; sete anos. Observa-se que houve diferença
7279 kcal/kg a 7383 kcal/kg; 7282 kcal/kg a 7363 significativa entre os materiais genéticos, exceto na
kcal/kg para os clones GG 100, GG 157 e GG 680, idade de cinco anos. De modo geral, o clone GG
respectivamente. 100 apresentou os maiores teores de carbono fixo.
Verificou-se um aumento no teor de Os valores médios para teor de carbono fixo no
voláteis do carvão em função da idade, exceto para carvão variaram de 75,75% a 77,55%; 74,25% a
o clone GG 680 que não apresentou diferença 76,63%; 74,71% a 76,36% para os clones GG 100,
significativa entre as idades. Observou-se, ainda, GG 157 e GG 680, respectivamente.
que o teor de matérias voláteis foi influenciado pelo Na Figura 6 são apresentados os valores
material genético utilizado para a produção de médios para o rendimento gravimétrico em carvão,
carvão vegetal, exceto para idade de sete anos. o rendimento gravimétrico em gases condensáveis
Avaliando o efeito da idade no teor de e o rendimento gravimétrico em gases não
cinzas dos carvões, independente do clone verifica- condensáveis, em função da idade e clone.
se, de modo geral, uma redução desta variável a
medida que se aumentou a idade da árvore. Os
valores médios de teor de cinzas no carvão
variaram de 0,48% a 1,24%; 0,35% a 1,44%; 0,17%
a 0,65% para os clones GG 100, GG 157 e GG 680,
respectivamente.
Na Figura 5 são apresentados os valores
médios para o teor de carbono fixo do carvão
vegetal em função da idade e clone.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 75

40
680 apresentou o maior potencial para a produção

Rendimento Gravimétrico em
37
Aa Aa

Carvão Vegetal (%)


Aa Aa Aa Aa
Aa Ab
34 Ab Ab Aa Ab

31
de carvão.
28
25 Entretanto, deve-se avaliar também, a
22
3 4 5 7 produtividade das florestas, com o objetivo de
Idade (anos)
50 GG100 GG157 GG680
determinar se o ganho em qualidade da madeira é
Rendimento Gravimétrico em

Aa Aa Aa Aa Aa Aa Aa
Gases Condensáveis (%)

Aa Aa Aa
45 Ba Bb

40

35
superior ao ganho pela produtividade.
30
25
E por fim, conclui-se que os três materiais
20
3 4 5 7 genéticos estudados, independentemente da
Idade (anos)
25 GG100 GG157 GG680
idade, atendem as especificações para uso
Gases Não Condensáveis (%)
Rendimento Gravimétrico em

Aa Aa Aa
Aa Aa
Aa Aa Aab Ab
20 Aa Bb Bb

15 siderúrgico, e com rendimento gravimétrico


10

5
satisfatório.
0
3 4 5 7
Idade (anos)
GG100 GG157 GG680
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Médias seguidas da mesma letra maiúscula entre as idades e
minúscula entre clones, para uma mesma variável, não diferem
entre si a 5% de significância, pelo teste Tukey.
BRITO, J. O.; BARRICHELO, L. E. G.; SEIXAS,
Figura 6. Rendimento gravimétrico em carvão, F.; MIGLIORINI, A. J.; MURAMOTO, M. C. Análise
rendimento gravimétrico em gases condensáveis e da produção energética e de carvão vegetal de
rendimento gravimétrico em gases não espécies de eucalipto. IPEF, Piracicaba, n. 23, p.
condensáveis em função da idade e clone. 53-56, 1983.

Analisando a Figura 6 observa-se que não RODRIGUEZ, L. C. E.; BUENO, A. R. S.;


RODRIGUES, F. Rotações de eucaliptos mais
houve influência da idade no rendimento longas: análise volumétrica e econômica. Scientia
gravimétrico em carvão vegetal. No entanto, Forestalis, Piracicaba, n. 51, p. 15-28, 1997.
observa-se que houve diferença entres os clones, SANTOS, M. A. S. Parâmetros da qualidade do
exceto aos quatro anos. carvão vegetal para uso em alto-forno. In: Fórum
nacional de carvão vegetal. 2008a, Belo
Horizonte. Disponível em:
CONCLUSÃO <painelflorestal.com.br/exibeNews.php?id=1784>.
Acesso em: 31 Maio, 2009.
A idade da árvore influenciou as
Acesse o trabalho completo pelo QR Code
propriedades da madeira, independente do clone,
proporcionando ganhos na qualidade do carvão e
aumento na produção de energia/m 3.
A idade do material genético não
influenciou o rendimento gravimétrico em carvão
vegetal.
O clone GG 680 apresentou melhor
desempenho quando se avaliou o uso da madeira
para geração de energia, atingindo aos sete anos
um valor de 2802 kW.h.m-3.
A relação S/G da madeira teve influência
no rendimento gravimétrico em carvão vegetal
sendo mais expressiva para o clone GG 680.
Levando em consideração somente as
propriedades da madeira para a escolha do melhor
material genético, pode-se dizer que o clone GG
76 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

19| OTIMIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DO CARVÃO VEGETAL POR MEIO DO CONTROLE


DE TEMPERATURAS DE CARBONIZAÇÃO

Aylson Costa Oliveira, Angélica de Cássia Oliveira Carneiro, Bárbara Luísa Corradi Pereira, Benedito Rocha
Vital, Ana Márcia Macedo Ladeira Carvalho, Paulo Fernando Trugilho e Renato Augusto Pereira Damásio

INTRODUÇÃO

Os pequenos e médios produtores,


responsáveis por cerca de 80% da produção total
de carvão, optam pelos fornos de baixa capacidade
volumétrica, devido ao elevado custo com
maquinário e ao maior investimento inicial para a
construção de fornos de maiores dimensões.
Figura 1. Vista frontal do sistema forno-fornalha,
Segundo Carvalho et al. (2012), esses produtores com medidas em cm. Escala 1:20.
utilizam fornos de diferentes formatos para
Foram realizadas quatro carbonizações
produção de carvão vegetal, destacando-se os
para avaliar o funcionamento e o desempenho do
fornos do tipo “rabo-quente”, superfície e encosta.
sistema forno-fornalha. Utilizou-se madeira com
Porém, esses fornos apresentam baixo rendimento
casca de Eucalyptus spp.com 7 anos de idade,
gravimétrico e emissões não controladas de gases
diâmetro variando de 10 a 30 cm, altura de 1,50 a
poluentes para o ambiente.
2,20 m e umidade média (base seca) de 42,50%,
A alternativa para aproveitamento dos
proveniente de plantio comercial com espaçamento
gases gerados durante a carbonização seria
3x3, localizado na cidade de Viçosa-MG.
através da condensação, em que se obtêm o
A partir das temperaturas médias obtidas
alcatrão e o licor pirolenhoso. Contudo, não existe
dos quatro pontos de medição da cúpula e dos
cadeia sólida e sustentável, abrangendo a
quatro pontos instalados nas paredes do forno,
produção, coprocessamento e consumo desses
procedeu-se a confecção do perfil térmico de cada
subprodutos, desestimulando sua recuperação.
carbonização.
Atualmente, a alternativa mais interessante tem
Simultaneamente à ignição do forno,
sido a combustão dos gases em fornalhas que
realizou-se o acendimento da fornalha, que foi
proporciona, ao mesmo tempo, a melhoria do
abastecida com resíduos lignocelulósicos, tais
ambiente de trabalho e a obtenção de energia
como: madeira semicarbonizada, galhos, madeira
térmica (CARDOSO et al., 2010).
apodrecida, casca. Abastecimentos posteriores
O objetivo deste trabalho foi avaliar o
foram necessários para manter a chama acessa e
funcionamento de um sistema forno-fornalha com
elevar a temperatura na fornalha. A eficiência da
baixa emissão de gases poluentes.
fornalha foi determinada através da relação do
tempo total de queima sem a necessidade de
MATERIAL E MÉTODOS
abastecimentos com resíduos com o tempo total de
O sistema avaliado consiste em três fornos carbonização.
circulares de superfície (Figura 1), conectados Após o resfriamento do forno, procedeu-se
através de ductos a uma fornalha central, ambos sua abertura, realizando-se a descarga e pesagem
construídos com tijolos maciços cerâmicos. do carvão, dos finos (carvão com granulometria
inferior a 12,7mm) e atiços (madeira parcialmente
carbonizada).
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 77

O rendimento gravimétrico de cada abertura do forno e a descarga do carvão vegetal


carbonização foi determinado através da divisão sem riscos de incêndio.
das massas dos produtos obtidos pela massa seca O tempo médio de resfriamento foi de 50
de madeira enfornada. horas. Ressalta-se que esse tempo foi devido às
baixas temperaturas do ambiente na época de
RESULTADOS E DISCUSSÃO realização das carbonizações, cuja temperatura
média foi de 18,0 ºC, com mínima de 12,2 ºC e
A Figura 2A representa a variação da máxima de 27,2 ºC.
temperatura média da cúpula do forno observada Na Tabela 1 estão os valores médios dos
durante as quatro carbonizações realizadas. Para parâmetros de funcionamento da fornalha em cada
garantir um rendimento gravimétrico satisfatório de faixa de carbonização proposta para este sistema
carvão vegetal com baixa geração de atiço e finos, forno-fornalha.
as temperaturas da parte inferior do forno também
foram controladas. A Figura 2B representa a Tabela 1. Valores médios dos parâmetros de
variação da temperatura média da parede do forno. funcionamento da fornalha em cada faixa de
carbonização
Faixa de carbonização
Parâmetro
I II III IV
Temp. da cúpula do
145°C 260°C 375°C 430°C
forno
Temp. da parede do
60°C 80°C 170°C 345°C
forno
Temp. de saída dos
30°C 55°C 160°C 250°C
gases do forno
Temp. de saída dos
260°C 300°C 400°C 440°C
gases na chaminé
Consumo de resíduo 500 300 100 200
(massa seca) kg kg kg kg

Os rendimentos gravimétricos em carvão


vegetal, atiço e finos obtidos nas carbonizações
realizadas no sistema forno-fornalha estão
apresentados na Tabela 2.

Tabela 2. Rendimentos gravimétricos do sistema


Figura 2. Temperaturas médias do forno durante forno-fornalha
as carbonizações. A) cúpula do forno; B) parede do Rendimento (%) Umidade
Carbonização da Madeira
forno. Carvão Atiço Finos
(%)
1 - Ajuste 26,40 21,60 4,10 41,25
2 32,15 12,42 3,14 42,67
Para as carbonizações realizadas neste 3 31,80 10,83 3,54 44,86
4 35,61 3,28 3,02 41,28
trabalho, o término da carbonização ocorreu na 70ª
hora, momento em que cessou o fluxo de gases do
Nas carbonizações 2, 3 e 4, verificou-se
forno para a fornalha e a temperatura do forno
que o sistema forno-fornalha proporcionou
diminuiu naturalmente (Figuras 2A e 2B). Nesse
rendimento gravimétrico médio em carvão vegetal
momento, realizou-se o fechamento de todas as
de 33%, sendo esse considerado satisfatório, pois
entradas de ar, bem como sua vedação com
os atuais fornos de carvão vegetal apresentam
argamassa de solo argiloso, areia e água.
rendimento médio de 28 a 30%. Em fornos de
O resfriamento ocorreu de maneira natural,
alvenaria do tipo “rabo-quente”, o mais utilizado por
mediante a simples troca de calor do forno com o
pequenos produtores, o rendimento gravimétrico
ambiente, até que a temperatura interna atingisse
em carvão vegetal, geralmente, alcança máximo de
média inferior a 40ºC, temperatura que assegura a
78 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

25% e segundo Minette et al. (2007), neste tipo de carbonização durante um terço do tempo total de
forno, o trabalhador fica exposto a altas carbonização, sem a necessidade de
temperaturas e aos gases originários da abastecimento com resíduos lignocelulósicos, além
carbonização da madeira. de reduzir quase que a totalidade das emissões de
O valor médio de 8,85% de atiço para esse fumaça para o ambiente.
sistema forno-fornalha foi considerado elevado,
com possibilidade de redução do seu valor, o que REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
reflete no aumento do rendimento gravimétrico em
carvão vegetal, como foi verificado na quarta CARDOSO, M. T.; DAMÁSIO, R. A. P.;
CARNEIRO, A. C. O.; JACOVINE, L. A. G.;
carbonização deste trabalho. Para tal, devem-se VITAL, B. R.; BARCELLOS, D. C. Construção de
manter os controladores de ar mais tempo abertos um sistema de queima de gases da carbonização
para redução da emissão de poluentes. 2010.
após a chegada da frente de carbonização e Cerne, Lavras-MG, v. 16, Suplemento, p. 115-124,
cumprir os tempos e as temperaturas 2010.

estabelecidos, buscando controlar a temperatura CARVALHO, S. R.; BORGES, V. L.; MULINA, B.


média próxima ao limite superior. H. O.; OLIVEIRA, R. L. M.; FIGUEIRA JÚNIOR, E.
A.; PESSOA FILHO, J. S.Instrumentação térmica
aplicada ao processo de produção de carvão
vegetal em fornos de alvenaria. 2012. Revista
CONCLUSÃO
Árvore, Viçosa-MG, v.36, n.4, p.787-796, 2012.

O sistema forno-fornalha apresentou MINETTE, L. J.; PIMENTA, A. S.; FARIA, M. M.;


SOUZA, A. P.; SILVIA, E. P.; FIEDLER, N. C.
produção satisfatória de carvão vegetal, com baixa
Avaliação da carga de trabalho físico e análise
produção de atiço através do controle da biomecânica de trabalhadores da carbonização
em fornos tipo “rabo-quente”. 2007. Revista
carbonização realizado com base nas faixas de
Árvore, Viçosa-MG, v.31, n.5, p.853-858, 2007.
carbonização em função do tempo e da
temperatura, permitindo o reconhecimento das Acesse o trabalho completo pelo QR Code
fases do processo e auxiliando-o na tomada de
decisão sobre as ações a serem executadas no
forno.
A determinação do perfil térmico de cada
carbonização permite o reconhecimento de falhas
durante o controle da carbonização e do
resfriamento, sendo utilizado como ferramenta para
correção nas carbonizações posteriores, além de
apresentar a evolução da temperatura no interior do
forno ao longo do tempo, o que pode explicar
possíveis resultados.
A fornalha funcionou adequadamente,
realizando a combustão dos gases gerados na
FORNOS E FORNALHAS
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 81

20| DESEMPENHO DE UMA CÂMARA DE COMBUSTÃO PARA A COMBUSTÃO DE


GASES PROVENIENTES DO PROCESSO DE CARBONIZAÇÃO DA MADEIRA

Marcelo Pereira Coelho e Marcio Arêdes Martins

INTRODUÇÃO proporções reportadas por Cardoso et al. (2010).


Foi construído com oito aberturas (quatro de cada
A maior parte do carvão vegetal produzido lado), sendo que duas têm tamanho maior, para
atualmente no Brasil é proveniente de fornos efetuar a ignição e as outras, para controle da
rudimentares de baixo rendimento e sem controle carbonização (Figura 1). O sistema forno-câmara
de emissões atmosféricas, causando impactos de combustão foi projetado para a carbonização de
econômicos, sociais e ambientais. 10 m³ de madeira.
Dentre as alternativas tecnológicas para
redução de emissões destacam-se o uso de
queimadores de gases acoplados aos fornos de
produção de carvão. Os produtos gerados na
carbonização da madeira, além do carvão vegetal,
são a água e os produtos orgânicos, incluindo o
ácido acético, o metanol, os compostos aromáticos,
os derivados fenólicos, os aldeídos e o breu ou
piche, além dos gases não condensáveis, dentre os
Figura 1. Esquema forno e fornalha/chaminé: (a)
quais se destacam o metano (CH4), o dióxido de vista lateral e (b) vista em perspectiva.
carbono (CO2), o monóxido de carbono (CO), o
hidrogênio (H2) e outros hidrocarbonetos leves A metodologia para a coleta e análise dos

(BRITO, 1990). gases da carbonização é sumarizada na

No entanto, existem algumas dificuldades Figura 2.

de se fazer um bom dimensionamento das câmaras


de combustão para queima dos gases, visto que a
composição e a vazão dos gases ao longo do
tempo de carbonização é variável, ocasionando na
maioria das vezes um dimensionamento incorreto,
acarretando num consumo demasiado de
combustível auxiliar para eliminação total das
emissões.
Deste modo, este trabalho foi realizado
com o objetivo principal de projetar e avaliar o
desempenho de uma câmara de combustão
cilíndrica para gases oriundos da carbonização da
madeira.

MATERIAL E MÉTODOS
Figura 2. Processo de tratamento e análise dos
O forno utilizado neste experimento gases.

consiste em uma unidade piloto com as mesmas


82 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

Realizaram-se duas carbonizações da altas concentrações de oxigênio na saída eram


madeira para avaliar o desempenho da câmara de esperadas, uma vez que a câmara de combustão
combustão. A primeira foi realizada sem a queima não funciona durante todo o período da
dos gases e a segunda usando o sistema de carbonização.
queima. Para cada carbonização, o forno foi Nota-se, ainda pela Tabela 1, que houve
preenchido com madeira de Eucalyptus sp., uma redução de 22,71% na quantidade equivalente
comprimento médio de 2,10 m e diâmetro de 12 a de CO2 emitida pelo sistema, demonstrando que a
25 cm, colocando-as na posição vertical. queima dos gases, além do potencial energético, é
O rendimento gravimétrico e as uma alternativa ambientalmente correta.
propriedades do carvão foram determinados. Na Tabela 2 são apresentados o
rendimento gravimétrico e as propriedades do
RESULTADOS E DISCUSSÃO carvão vegetal, após as carbonizações sem e com
queima dos gases.
Avaliando o tempo total de carbonização da
madeira, observou-se que o tempo de Tabela 2. Rendimento gravimétrico e propriedades
carbonização da madeira com queima de gases foi do carvão vegetal, após as carbonizações sem e
com queima dos gases.
menor. Este fato ocorreu devido ao aumento da
temperatura no forno, ocasionado pela elevada
taxa de aquecimento provocado pela menor
umidade da madeira, o que dificultou o seu
controle, tendo com isso atingido as temperaturas
já pré-estabelecidas num tempo menor que o
determinado. O tempo médio de resfriamento
independente da carbonização foi de 72 horas,
As propriedades medidas do carvão
momento esse considerado segura para abertura
vegetal demonstraram que a queima dos gases,
do forno, temperatura de 60 ºC.
pela câmara de combustão não influenciou a
A Tabela 1 resume os resultados das
qualidade e o rendimento do processo, quando
emissões médias sem queima e com queima de
comparados aos mesmos resultados obtidos sem
gases.
queima de gases, exceto pelo pequeno aumento na
friabilidade e redução do carbono fixo. Entretanto,
Tabela 1. Comparação entre os resultados obtidos
sem queima e com queima de gases. essas variações não podem ser diretamente
atribuídas à queima dos gases, pois outras
variáveis de difícil controle durante o processo de
carbonização.

Como mostrado na Tabela 1, a queima dos


gases resultou na redução de 74,14% e 99,8% das CONCLUSÃO
emissões médias de monóxido de carbono e
A estrutura metálica da chaminé revestida
metano, respectivamente.
com manta cerâmica se mostrou bastante
A concentração média de dióxido de
adequada, pois atendeu às condições do processo
carbono aumentou em 89,93%, enquanto a
de combustão, sem problemas em sua estrutura. A
concentração média de oxigênio foi reduzida em
estrutura metálica modulada tem como vantagem
15,48%, indicando que realmente houve a oxidação
principal a possibilidade de ser montada e
dos combustíveis e não somente uma diluição. As
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 83

desmontada com facilidade, e deslocada para outra construtivas do sistema de combustão devem ser
praça de carbonização. conduzidos para melhorar o controle da
A baixa inércia térmica da manta cerâmica carbonização e aproveitamento da energia gerada
faz com que ocorram variações abruptas de no processo.
temperatura demando uma quantidade
considerável de combustível auxiliar para manter a REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
base aquecida. Logo, o uso de tijolos refratários
para a construção da base é uma alternativa mais BRITO, J. O. Princípios de produção e
utilização de carvão vegetal de madeira.
adequada. Documentos Florestais. 1990, Vol. 9, pp. 1-19.
A câmara de combustão funcionou
CARDOSO, M. T.; DAMÁSIO, R. A. P.;
adequadamente como queimador de gases, CARNEIRO, A. C. O.; JACOVINE, L. A. G.;
promovendo a queima dos gases durante 32% do VITAL, B. R.; BARCELOS, D. C. Construção de
um sistema de queima de gases da carbonização
tempo total de carbonização. No entanto houve para redução da emissão de poluentes. Revista
interrupção da chama devido a variação de vazão Cerne. 2010, Vol. 16, pp.115-124.

dos gases.
Acesse o trabalho completo pelo QR Code
O gasto de combustível auxiliar para
abastecimento da câmara de combustão na fase de
baixa vazão de gases foi considerada pequena.
Houve redução da concentração de
metano e monóxido de carbono emitidos durante a
carbonização com queima dos gases.
A queima dos gases não afetou o
rendimento e a qualidade do carvão vegetal.
As temperaturas médias medidas durante
o funcionamento da câmara de combustão
evidenciam o grande potencial energético que pode
ser aproveitado.
Outros estudos para verificar as dimensões
corretas, bem como as melhores características
84 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

21| SIMULAÇÃO DE UMA CÂMARA DE COMBUSTÃO DE GASES PROVENIENTES


DO PROCESSO DE CARBONIZAÇÃO
Marcelo Pereira Coelho e Marcio Arêdes Martins

INTRODUÇÃO carbonização (Figura 1). O sistema forno-câmara


de combustão foi projetado para a carbonização de
O desenvolvimento de uma câmara de 10 m³ de madeira.
combustão adequada para a queima dos gases da
carbonização provenientes de fornos de alvenaria
é um passo importante para uma nova perspectiva
na produção de carvão vegetal, mitigando impactos
negativos e aperfeiçoando a produção e a
qualidade do carvão vegetal.
Atualmente não há uma metodologia de
projeto para câmaras de combustão de gases de
carbonização, além disso, o comportamento
Figura 1. Esquema forno, câmara de combustão
térmico e fluidodinâmico, bem como suas (a) vista lateral e (b) vista em perspectiva.
influências no desempenho dos sistemas de
Os pontos P1 e P3 representam as
combustão não são bem compreendidos.
localizações dos pontos de coleta de gás e de
Entretanto, os avanços nos métodos numéricos,
temperatura durante os dois primeiros ensaios o
associados à evolução dos sistemas
ponto P2 foi o segundo ponto de medição de
computacionais, estão permitindo que problemas
temperatura utilizado somente durante o terceiro
de escoamentos de fluidos, com transferência de
ensaio.
calor e de massa, possam ser resolvidos com
Foram realizadas três carbonizações. A
rapidez, integrando assim as ferramentas de CFD
primeira sem queima de gases, usando o sistema
(Dinâmica dos fluidos computacional) aos
de queima com um sistema para coleta e análise
procedimentos de projetos e análise de
de gases e temperaturas, a segunda usando o
escoamento, nas mais diversas áreas da
sistema de queima com um sistema para coleta e
engenharia (MALISKA, 2003).
análise de gases e temperaturas e uma terceira
Diante das necessidades de
carbonização foi conduzida utilizando a câmara de
desenvolvimento de sistemas de queima de gases
combustão, sem coleta e análise dos gases.
de carbonização mais eficientes esse trabalho foi
Apenas as temperaturas nos pontos P2 e P3 foram
feito com o objetivo de avaliar os aspectos térmicos
medidas. Para tanto, o forno foi preenchido com
e fluidodinâmicos de uma câmara de combustão
madeira de Eucalyptus sp., com comprimento
em uso por meio da CFD.
médio de 2,10 m e diâmetro de 12 a 25 cm, na
posição vertical. O teor de umidade da madeira
MATERIAL E MÉTODOS
carbonizada variou de 27,06 a 37,52% (b.s).
O forno utilizado neste experimento Devido às infinitas combinações de frações
consiste em uma unidade piloto com as mesmas dos componentes do gás de carbonização, foram
proporções reportadas por Cardoso et al. (2010). selecionados três cenários, a partir dos valores
Foi construído com oito aberturas (quatro de cada experimentais, para a composição dos gases: a rica
lado), sendo que duas têm tamanho maior, para em combustível (a melhor combinação encontrada
efetuar a ignição e as outras, para controle da experimentalmente), a média e a pobre em
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 85

combustível (pior combinação encontrada a partir da quadragésima a sexagésima hora, a


experimentalmente, mas que ainda era passível de composição se tornou média estável (Figura 3).
queima).
Na Figura 2 é apresentado um esquema
que sumariza todo o sistema de coleta e análise
dos gases.

Figura 3. Concentrações dos gases durante a


carbonização sem queima de gases.

O segundo e o terceiro ensaios de


carbonização tiveram duração de 53 horas, o teor
de água da madeira foi de 27,06% (b.s), por esse
motivo, o processo de carbonização foi mais rápido
que no primeiro ensaio.
Durante o processo de carbonização, a
taxa de massa de gás não foi constante. Desta
Figura 2. Processo de tratamento e análise dos forma, a consideração de taxa de massa constante
gases da carbonização. como condição de contorno na entrada da chaminé
não representa bem a realidade.
A distribuição probabilística da taxa de
Verificou-se, que as taxas se distribuíam
massa de combustível é um parâmetro importante,
com frequências que caracterizam uma distribuição
pois, caso exista algum modelo estatístico que
probabilística. Foram testadas as distribuições:
descreva tal distribuição, o mesmo pode ser
Normal, Lognormal e Gama. Por meio da Figura 4
utilizado em simulações transientes do processo de
pode-se afirmar que a taxa de massa segue
queima dos gases. Portanto, durante as
distribuição Gama, uma vez que os pontos plotados
carbonizações, os valores das taxas de massa de
se localizam aproximadamente sob a reta que corta
combustível oriundas do forno foram medidas e
o gráfico e entre o intervalo de confiança. Além
suas frequências tabuladas para averiguar a
disso, a hipótese nula (a taxa de massa se distribui
existência de uma distribuição probabilística que se
conforme a distribuição gama) não foi rejeitada (p-
adeque aos dados.
valor > 0,05).
RESULTADOS E DISCUSSÃO

O primeiro ensaio de carbonização durou


69 horas, e não foi efetuada a queima dos gases.
O teor de água foi de 37,5% (b.s). Logo, durante as
primeiras 15 horas, houve somente a secagem da
madeira com muita liberação de vapor de água e
poucos gases combustíveis. Entretanto, após 30
horas de carbonização as frações mássicas dos
componentes tornaram o gás passível de queima e, Figura 4. Gráfico de Probabilidade gama
86 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

Dada distribuição de probabilidade, foram


realizadas 90 simulações, nas quais foram
considerados 3 cenários (rico, médio e pobre em
combustível) e 30 taxas de massa de combustível
distribuídas aleatoriamente conforme a distribuição
Gama com parâmetro de forma (r) = 8,930 e
parâmetro de escala (a) 0,003759. A composição
do gás nos três cenários é mostrada na Tabela 1.
Figura 5. Concentrações de oxigênio simuladas e
valores experimentais.
Tabela 1. Cenários considerados nas simulações.
Os valores experimentais de concentração
de oxigênio e as faixas simuladas para os três
cenários se encontram dentro de uma faixa de
valores observados, mesmo simulando em regime
Os valores apresentados na Tabela 1
permanente.
advêm dos resultados experimentais medidos no
duto de admissão de gás para a câmara de
combustão e representam a melhor, a média e a
pior combinação, passíveis de queima, médias
registradas.
Embora o empuxo na câmara de
combustão, devido à queima dos gases
influenciasse a vazão mássica, verificou-se que
quando aumentava a retirada de material gasoso
do forno, ocorria um aumento da temperatura no Figura 6. Concentrações de dióxido de carbono
interior do forno. Assim, para o controle da simuladas e limites experimentais.
temperatura, intervenções eram feitas no processo
A menor concentração de O2 medida no
de carbonização, ora nos controladores de ar do
experimento foi de 3,9 %, nesse momento também
forno, ora no duto de que conduzia o gás até a
foi registrado o maior pico de concentração de CO 2
câmara, com o fechamento parcial da válvula
(21,33 %).
borboleta. Diante disso, considerou-se que o
A concentração média de CO2 simulada,
comportamento da taxa de massa sempre se
analisando os três cenários, foi de 9,63 % e a
repetiria desde que a temperatura do forno fosse
concentração média experimental, durante o
controlada conforme descrito anteriormente.
período de queima foi de 8,96 %, já a concentração
Nas Figuras 5 e 6 são mostrados os valores
média de O2, analisando os três cenários, foi de
simulados em confronto com os valores
8,81 % enquanto que a concentração média
experimentais obtidas para as frações de CO2 e O2,
experimental foi de 11,33 %, provavelmente devido
medidas a 4 m de altura na chaminé (P3 na Figura
a entrada de ar pela abertura da admissão de
1).
resíduos.
Os valores experimentais de concentração
de dióxido de carbono e as faixas simuladas para
os três cenários estão dentro dos pontos de
variação experimental.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 87

A temperatura experimental, da mesma Trabalhos futuros, utilizando esse modelo


forma que as concentrações de CO2 e O2, foi poderão ser desenvolvidos, para projetar ou
influenciada pelas condições adversas ocorridas analisar câmaras de combustão, buscando mais
entre a 39ª e 46ª horas. eficiência em parâmetros importantes como, por
Neste trabalho a temperatura no interior da exemplo, aumentar a temperatura no interior da
câmara foi bem distribuída e o tempo de residência câmara para fins de aproveitamento energético
foi superior a 2 segundos para taxas de massa com mínima emissão de monóxido de carbono e
inferiores a 0,05 kg.s-1. Porém, para taxas metano.
superiores a 0,05 kg.s-1 o tempo de residência foi
menor que 2 segundos e a frequências de tais REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
taxas não podem ser ignoradas. Deste modo, pode-
se dizer que o projeto precisa ser melhorado. CARDOSO, M. T.; DAMÁSIO, R. A. P.;
CARNEIRO, A. C. O.; JACOVINE, L. A. G.;
VITAL, B. R.; BARCELOS, D. C. Construção de
um sistema de queima de gases da carbonização
CONCLUSÃO
para redução da emissão de poluentes. Revista
Cerne. 2010, Vol. 16, pp. 115-124.
O modelo se mostrou eficaz na previsão do
MALISKA, C.R. Transferência de calor e
comportamento da queima, resultando em valores
mecânica dos fluidos computacional. 2a.
coerentes com os resultados experimentais. Rio de Janeiro: LTC, 2003. p. 453.
A distribuição gama da taxa de massa,
Acesse o trabalho completo pelo QR Code
verificada durante o processo de carbonização,
deve ser mais bem investigada, pois caso se
confirme, simulações transientes mais elaboradas
poderão ser desenvolvidas, inserindo uma função
geradora de números aleatórios (segundo a
distribuição gama) nas simulações, assim,
resultados mais próximos da realidade poderão ser
alcançados.
A análise térmica e fluidodinâmica da
câmara simulada permite afirmar que ainda é
possível melhorar o desempenho do sistema, pois
em algumas situações foi verificado que a
combustão se estendeu por toda a chaminé, o que
resultou na liberando monóxido de carbono nestes
casos.
88 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

22| UTILIZAÇÃO DE METAMODELO PARA OTIMIZAÇÃO MULTI-OBJETIVO DE UMA


CÂMARA DE COMBUSTÃO DE GASES PROVENIENTES DO PROCESSO DE
CARBONIZAÇÃO DE MADEIRA
Marcelo Pereira Coelho e Marcio Arêdes Martins

INTRODUÇÃO a concentração de monóxido de carbono (principal


componente dos gases combustíveis) no interior da
Cardoso et al. (2010) avaliaram o câmara, utilizando um metamodelo baseado em
desempenho de uma câmara de queima acoplada CFD.
a um forno, provando o potencial da queima dos
gases na redução das emissões de gases
MATERIAL E MÉTODOS
poluentes e particulados. Entretanto, a câmara
proposta dificulta o aproveitamento da energia Um esquema do sistema é mostrado na
liberada na combustão, além de exigir muitas Figura 1, que consiste de uma câmara de
variáveis de controle, tais como regulagem de combustão cilíndrica com uma única entrada de ar
vazão dos gases combustíveis e controle de oito na base e uma única entrada de combustível
entradas de ar. Além disso, para grandes vazões, a acoplado a um forno de carbonização com volume
câmara funciona como um grande pré-misturador e de 10 m3.
a queima só ocorria, efetivamente, na chaminé.
Nos últimos anos, os avanços da
capacidade de cálculo dos computadores aliada ao
surgimento de códigos comerciais de CFD
(Dinâmica dos fluidos computacional) para
simulação de processos térmicos e fluidodinâmicos
de sistemas tem permitido o desenvolvimento e
Figura 1. Esquema do sistema acoplado ao forno.
estudo de produtos e processos de maneira rápida
e precisa. Aliadas a esse desenvolvimento, as
Ressalta-se que foi simulado somente o
ferramentas estatísticas e heurísticas para
sistema de queima de gases da carbonização.
determinação de pontos ótimos auxiliam ainda mais
Um esquema da câmara de combustão
a rápida solução de problemas.
modelada é mostrado na Figura 2.
Entretanto, ferramentas estatísticas, em
alguns casos, podem demandar um grande número
de pontos experimentais, aumentando o custo
computacional e inviabilizando a conciliação da
técnica CFD e das ferramentas estatísticas. A
solução para resolver esse problema foi a criação
de técnicas de otimização aproximada que significa
o modelo de um modelo denominado metamodelo
(PARK et al., 2006).
Este trabalho foi realizado com o objetivo Figura 2. Esquema da câmara de combustão de
gases modelada.
de determinar parâmetros e elaborar uma
metodologia de projeto para câmaras de Este trabalho trata-se de um problema

combustão que maximize a temperatura e minimize multi-objetivo. No qual se deseja minimizar a fração
média de CO na saída, que significa oxidá-lo quase
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 89

totalmente no interior da câmara de combustão e Buscou-se minimizar a fração de CO e


maximizar a temperatura no interior da câmara de maximizar a temperatura e garantir um número de
combustão. Busca-se, portanto, encontrar os Reynolds (ReD) turbulento. Entretanto, os objetivos
valores ótimos para a Razão de Aspecto (RA), a mais importantes foram minimizar a fração de CO e
razão entre os diâmetros da admissão de ar e da maximizar a temperatura, uma vez que a motivação
câmara de combustão (d/D). Além disso, procura- deste trabalho advém das demandas do setor
se também determinar o melhor número de produtivo de carvão vegetal que visam reduzir as
Reynolds no interior da câmara (ReD). Assim, será emissões de poluentes e gases de efeito estufa e
possível determinar o diâmetro para a câmara de aproveitar a energia gerada no processo.
combustão em função do número de ReD. Três soluções candidatas foram
O delineamento do experimento, a geração encontradas e classificadas de acordo com a
da superfície de resposta e a otimização foram prioridade atribuída as variáveis de resposta. A
feitas no Módulo Goal driven optimization que faz classificação é mostrada na Tabela 2. A candidata
parte do programa computacional ANSYS A foi escolhida, pois foi muito superior as outras em
Workbench 14®. termos de temperatura.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Tabela 2. Candidatas a soluções “ótimas” e


respectivas verificações em CFD.
As razões de aspecto testadas variaram
entre 7 e 10, porém, não é desejável que a chama
se estenda por toda a câmara. De fato, é desejável
que parte da câmara seja utilizada para a queima e
parte para a exaustão dos gases. Assim, podem-se
A partir dos parâmetros da candidata A foi
definir duas zonas na câmara: zona de queima e
possível determinar uma relação entre Red e ReD,
zona de exaustão.
e a partir de tais relações, estabelecer uma
O valores de RA, d/D e Re foram obtidos
metodologia de projeto de câmara de combustão
por meio da CFD e do método de kriging.
otimizado.
Primeiramente, foram definidos os limites
A taxa de massa média dos gases no duto
superiores e inferiores de cada variável de design.
pode ser medida ou estimada de maneira simples,
Após a definição desses limites, o DOE foi gerado
considerando o tempo efetivo de carbonização, a
e a técnica CFD foi utilizada para gerar as
massa enfornada e o rendimento do forno. Valores
respostas. O método de Kriging foi, então, usado
abaixo da média são toleráveis, pois, com o uso de
para gerar as superfícies de resposta. O DOE, com
uma válvula pode-se aumentar a velocidade do
suas respostas, é mostrado na Tabela 1.
escoamento e, consequentemente, o número de
Reynolds.
Tabela 1. DOE e respostas obtidas
Para uma situação em que a taxa média de
combustível foi 0,03356 kg.s-1 ± 0,00905,
recomenda-se que no dimensionamento, o desvio
médio seja adicionado à média por causa das
variações inerentes ao processo.
Os resultados para uma taxa de massa
média de 0,03356 e para uma taxa elevada de 0,07
kg.s-1 (a mais alta verificada experimentalmente)
90 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

são mostrados nas Figuras 3 e 4, respectivamente. CONCLUSÃO


Taxas abaixo de 0,07 kg.s-1 apresentaram oxidação
completa do monóxido de carbono. Um metamodelo baseado no método de
kriging foi utilizado para gerar inferências mais
rápidas às alterações de parâmetros de projeto no
comportamento das variáveis de interesse,
tornando possível estabelecer funções objetivo a
serem maximizadas, minimizadas ou atingirem
certos níveis de interesse.
O método de otimização multi-objetivo foi
utilizado para encontrar um conjunto de soluções
Pareto ótimas e, a partir de um conjunto de critérios
Figura 3. Resultados obtidos para uma taxa de baseados em experimentos anteriores, selecionar
massa de 0,03356 kg.s-1.
três candidatas Pareto ótimas.
A melhor candidata foi escolhida e seus
O tempo de residência do combustível na
parâmetros serviram de base para a formulação de
zona de queima foi calculado com base no tempo
equações para o projeto de câmaras de combustão
em que as linhas de corrente permaneceram na
para gases de carbonização.
zona de queima e variou entre 2,48 e 3 s, ou seja,
As equações foram desenvolvidas para um
superior aos 2 segundos recomendados para
número de Reynolds no duto de admissão de gás
câmaras de incineração de resíduos perigosos
combustível de 6500, porém são válidas para
(cuja queima pode liberar organoclorados, ácidos
valores uma faixa de Red de 4647 a 24860.
etc.).
Foi verificado que o sistema de queima
proposto é adequado para operar nesta faixa de
Red, demonstrando que a câmara consegue
queimar com eficiência uma ampla faixa de valores
de taxa de massa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARDOSO, M.T.; DAMÁSIO, R. A. P.;


CARNEIRO, A. C. O.; JACOVINE,
Figura 4. Resultados obtidos para uma taxa de L. A. G.; VITAL, B. R; BARCELLOS, D.C.
massa de 0,07 kg.s-1. Construção de um sistema de queima de gases da
carbonização para redução da emissão de
A análise da Figura 4 permite dizer que a poluentes. Revista Cerne, 2010, Vol.16, pp. 115-
124.
câmara de combustão, mesmo dimensionada para
um número de Reynolds específico, na verdade se PARK, KYOUNGWOO, OH, PARK-KYOUN; LIM,
HYO-JAK. The
comporta adequadamente para uma longa faixa de aplication of the CDF model and Kriging method to
Reynolds. Como os picos de taxa de massa são an optimization of a heat sink.
Internetional Journal of Heat and Mass
pontuais, é possível dizer que a câmara funcionará Transfer. 2006, 49, pp. 3339-3447.
adequadamente.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 91

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92 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

23| DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO DE UMA FORNALHA METÁLICA PARA


COMBUSTÃO DOS GASES DA CARBONIZAÇÃO DA MADEIRA

Artur Queiroz Lana e Angélica de Cássia Oliveira Carneiro

INTRODUÇÃO Diante do exposto, este estudo teve por


objetivo desenvolver e avaliar o desempenho de
No Brasil, o carvão vegetal destina-se uma fornalha metálica para combustão dos gases
quase exclusivamente ao setor siderúrgico, para da carbonização da madeira, para a redução das
redução do minério de ferro para produção de ferro- emissões de gases poluentes e geradores do efeito
gusa, aço e ferro-ligas. Um porcentual menor é estufa na produção de carvão vegetal.
destinado às indústrias cimenteira e ceramista, ao
uso comercial em churrascarias e padarias, além
MATERIAL E MÉTODOS
do uso residencial para cocção de alimentos e
aquecimento (ABRAF, 2012). Para proceder à combustão dos gases foi
Apesar de algumas empresas terem adotada uma fornalha metálica acoplada a um
avançado no sentido de industrializar o processo de forno circular de alvenaria, através de um duto
produção do carvão vegetal, a maior parte do metálico para condução dos gases. Optou-se por
carvão vegetal brasileiro é produzida em pequenos esse tipo de forno para receber a fornalha metálica
fornos de alvenaria, de forma muito empírica. por ser de baixo custo, fácil construção e bastante
Esses fornos possuem baixa capacidade difundido entre os pequenos e médios produtores
volumétrica e baixo controle de qualidade do de carvão vegetal, principalmente no Estado de
processo, culminando em um produto final com Minas Gerais. A Figura 1 mostra uma vista em
qualidade e rendimento variável e inferior ao perspectiva do sistema adotado.
desejável, diante da tecnologia já existente.
Além dos problemas tecnológicos
referentes ao aumento da produtividade, a
conversão da madeira em carvão vegetal emite
grande quantidade de gases poluentes na
atmosfera, gerando um grande passivo ambiental.
Junto com os gases é desprendida energia térmica
em forma de calor, que é simplesmente dissipada
no ambiente. Portanto, há importantes fatores
relacionados à redução de emissões de poluentes
Figura 1. Vista em perspectiva do sistema forno
e ao aproveitamento energético a serem fornalha.
pesquisados para melhor eficiência e qualidade do
processo produtivo. Foram realizadas cinco carbonizações,

Apesar dos avanços na área de queima com faixas de temperatura de carbonização

dos gases da carbonização e da implantação de predefinidas, utilizando-se madeira de Eucalyptus

algumas fornalhas pelas empresas, ainda são sp., na Unidade Experimental de Carvão Vegetal da

necessárias pesquisas para obter a melhor relação Universidade Federal de Viçosa - MG.

custo-benefício do sistema, pois existem barreiras O rendimento gravimétrico, as

técnicas a serem superadas. propriedades do carvão vegetal, os perfis térmicos


do forno e da fornalha e os seus parâmetros de
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 93

funcionamento foram determinados. Para praticamente toda a madeira foi convertida em


caracterização dos gases não condensáveis, CH4, carvão vegetal, evidenciando que o processo de
CO, CO2, H2 e O2, foram realizadas coletas com carbonização procedeu-se de maneira adequada,
intervalo de 1 hora durante o processo. Por meio de não tendo interferências da fornalha.
um analisador de gases foram determinadas as Na Tabela 2 estão os valores médios das
concentrações antes e após a fornalha para propriedades do carvão vegetal e os respectivos
averiguar a redução das emissões de gases tóxicos desvios-padrão e coeficientes de variação.
nocivos ao homem e ao meio ambiente.
Tabela 2. Propriedades do carvão vegetal
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Figura 2 estão as imagens do projeto


implantado.
Os valores médios de densidade a granel e
aparente neste trabalho ficaram abaixo do
desejado para uso siderúrgico. Santos (2008)
considera que para esse uso a densidade a granel
do carvão deve estar acima de 200 kg/m3. Esta
baixa densidade do carvão está diretamente
correlacionada com a baixa densidade da madeira.
Figura 2. Sistema forno fornalha implantado. O poder calorífico superior (PCS) médio foi
igual a 7.781 kcal/kg, próximo aos valores
Na Tabela 1 estão os valores médios dos desejados normalmente encontrados na literatura
rendimentos gravimétricos das carbonizações e o para uso siderúrgico e doméstico.
teor de umidade médio da madeira. O teor de carbono fixo médio deste
experimento foi igual a 79%. Rosillo-Calle e Bezzon
Tabela 1. Valores médios dos rendimentos (2005) afirmam que o carvão vegetal usado na
gravimétrico das carbonizações
fabricação de aço e ferro-gusa deve ter teor de
carbono fixo superior a 75%, uma vez que o teor de
carbono fixo afeta o consumo específico de redutor
e, consequentemente, a produção de ferro- gusa.
Observa-se que o rendimento gravimétrico O valor médio de materiais voláteis obtido
médio em carvão vegetal foi de 33%, superior aos neste experimento foi igual a 21%, sendo
valores obtidos nos tradicionais fornos de alvenaria considerado satisfatório tanto para seu uso
denominados rabo-quente, nos quais o rendimento doméstico como siderúrgico. A média do teor de
médio não ultrapassa 26% de rendimento mássico, cinzas deste experimento foi igual a 0,86%, valor já
além da exposição insalubre dos trabalhadores aos esperado para madeiras comerciais do gênero
gases tóxicos da carbonização. Eucalyptus, uma vez que a própria madeira já
Os valores médios de rendimento apresenta baixos porcentuais de cinzas.
gravimétrico para finos e atiço gerados ficaram O índice de friabilidade média dos carvões
abaixo dos 3 e 4%, respectivamente. Esses valores foi de 11%, classificado como pouco friável,
são considerados baixos em relação à massa total segundo a tabela do CETEC (1982).
de madeira enfornada, o que demonstra que
94 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

Na Figura 3 é apresentado o perfil térmico quando ocorreu a aproximação da frente de


médio do forno para as carbonizações, dado pela carbonização da madeira dentro do forno.
média das temperaturas obtidas na copa do forno. Os picos invertidos de temperaturas
observados na antecâmara foram devido ao
apagamento da chama no seu interior, causados
provavelmente pelo excesso de volume de gases
advindos do forno, sendo necessários o controle de
sua vazão e a realização de pequenos
reabastecimentos com resíduos lignocelulósicos
para retomada da combustão.
Observou-se que em alguns momentos
Figura 3. Perfil térmico médio do forno. houve diminuição abrupta da temperatura no
interior da antecâmara, porém a temperatura na
Constatou-se que as temperaturas obtidas câmara e na chaminé não foram afetadas.
ao longo das carbonizações foram próximas às Ao final do processo observou-se uma
faixas estipuladas de temperatura para cada fase, queda brusca da temperatura, em todos os pontos,
indicando que houve adequada condução do devido ao apagamento da chama no interior da
processo de carbonização, respeitando os limites fornalha, ocasionada pela redução do volume de
propostos. gases, uma vez que a madeira se encontrava
Na Figura 4 está o perfil térmico médio da quase em sua totalidade carbonizada, indicando o
fornalha em função das fases de carbonização. final do processo de carbonização.
Excepcionalmente, o duto permaneceu com
temperatura maior que nas demais partes da
fornalha, devido à proximidade do braseiro com a
região onde estava ocorrendo a termo degradação
da madeira e consequentemente a liberação de
energia.
Na Tabela 3 estão os valores médios
porcentuais de cada gás analisado, no duto, ou
Figura 4. Perfil térmico da fornalha. seja, na saída do forno e posteriormente na
chaminé, em função das fases da carbonização.
Observa-se que as temperaturas da
fornalha permanecem abaixo dos 70 °C, até a 36ª Tabela 3. Valores médios (%) dos gases da
hora, início da terceira fase estipulada. Ocorreram, carbonização

então, a ignição do combustível auxiliar na fornalha


e sua queima, ocasionando o aumento da
temperatura no interior da fornalha e iniciando a
combustão dos gases. Verificou-se também que as
temperaturas na câmara de combustão ficaram Na Tabela 4 estão os valores porcentuais
acima das temperaturas registradas na antecâmara médios de redução alcançada pela fornalha para o
e na chaminé, o que evidencia ser essa a região de CO, CH4 e H2 na terceira e na quarta fase e a
maior concentração das reações de oxidação dos redução média nessas duas fases, comparando-se
gases. O duto teve somente sua temperatura as concentrações obtidas no duto e na chaminé.
elevada além dos 300 °C no final da carbonização,
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 95

Tabela 4. Redução das concentrações na chaminé A fornalha metálica para combustão dos
em relação ao duto
gases da carbonização pode ser considerada uma
alternativa às fornalhas convencionais de
alvenaria, pois realiza eficientemente a combustão
dos gases da carbonização e tem potencial de ser
Observa-se que a fornalha, quando
produzida em escala comercial, adaptando-se a
operante, conseguiu reduzir grande parte da
novas e a UPCs já existentes e atendendo a
emissão dos gases nocivos para atmosfera. No
pequenos, médios e grandes produtores de carvão
entanto, melhores resultados poderiam ser obtidos
vegetal.
com a utilização de materiais construtivos
refratários para promover o amortecimento térmico
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
e o isolamento do sistema.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PRODUTORES


CONCLUSÃO DE FLORESTAS PLANTADAS - ABRAF. 2012.
Anuário estatístico da ABRAF: ano base 2011.
Brasília, 2012. 130p.
A utilização da fornalha metálica para
combustão dos gases da carbonização não CETEC - Fundação Centro Tecnológico de Minas
Gerais. 1982. Produção e Utilização de Carvão
prejudicou o desempenho da carbonização da Vegetal. Séries Técnicas CETEC, Belo Horizonte,
madeira, mantendo valores médios satisfatórios de 393 p.
rendimento e qualidade do carvão vegetal. ROSILLO-CALLE, F.; BEZZON, G. Produção e uso
O consumo de combustível auxiliar (77 kg) industriais do carvão vegetal. In: ROSILLO-CALLE,
F.; BAJAY, S. V.; ROTHMAN, H. Uso da biomassa
foi minimizado pelo estrangulamento da câmara de para a produção de energia na indústria
combustão, correspondendo apenas a 0,78% da brasileira. Campinas, SP: Unicamp, 2005. 447 p.
madeira enfornada, o que é considerado baixo se SANTOS, I. D. Influência dos teores de lignina,
comparado ao consumo dos fornos de alvenaria já holocelulose e extrativos na densidade básica,
contração da madeira e nos rendimentos e
avaliados. densidade do carvão vegetal de cinco espécies
A fornalha metálica promoveu a combustão lenhosas do cerrado. 2008. Dissertação MSc. -
Universidade de Brasília, Brasília, 2008.
dos gases da carbonização da madeira em 98% do
tempo total da terceira fase e em 81% do tempo
Acesse o trabalho completo pelo QR Code
total da quarta fase, mantendo-se acesa em média
por 42% do tempo total das carbonizações.
A utilização da fornalha metálica para
combustão dos gases reduziu significativamente as
concentrações de CO e CH4 na massa de gás
expelida pela chaminé, em média 86 e 88%,
respectivamente, o que contribui para a mitigação
do efeito estufa.
A fornalha não apresentou avarias ou
quaisquer alterações físicas significativas visíveis
ao longo de sua utilização, apesar do registro de
temperaturas elevadas em seu exterior, em torno
de 180 °C, evidenciando a necessidade de maior
isolamento térmico.
96 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

24| EFEITO DA CLASSE DIAMÉTRICA DA MADEIRA NO DESEMPENHO DE UMA


FORNALHA DE ALVENARIA PARA QUEIMA DOS GASES DA CARBONIZAÇÃO

Danilo Barros Donato e Angélica de Cássia Oliveira Carneiro

INTRODUÇÃO O processo de carbonização foi realizado


monitorando-se a temperatura do forno, a qual foi
A utilização do carvão vegetal na indústria controlada pelas entradas de ar (“tatu”) e pelo
siderúrgica brasileira traz grandes benefícios e tem acionamento da válvula borboleta instalada no duto
ainda um grande potencial social, econômico e de ligação do forno com a fornalha. Para proceder
ambiental (MCHENRY, 2009). Entretanto, os a combustão dos gases foi utilizada uma fornalha
benefícios ambientais passaram a ser acoplada a um forno circular de alvenaria, conforme
questionados pelas emissões de metano e outros Figura 1.
poluentes durante o processo de produção do
carvão vegetal.
Nesse sentido, pesquisadores de
diferentes áreas têm buscado formas de reduzir as
emissões de poluentes, por meio da combustão
dos gases gerados na carbonização da madeira
utilizando para tanto fornalha acoplada aos fornos
(OLIVEIRA, 2012).
Ressalta-se que, apesar de já existirem
trabalhos na literatura sobre o tema, que permitiram
Figura 1. Vista em perspectiva do sistema forno-
grandes avanços no que tange a construção e as
fornalha de alvenaria.
oportunidades da queima dos gases da
carbonização, essa tecnologia ainda é incipiente e No sistema forno-fornalha foram
não está completamente consolidada e sim em mensurados a temperatura do forno; temperatura
desenvolvimento. dos gases no duto; temperatura da câmara de
Nesse sentido, o objetivo principal deste combustão da fornalha; temperatura da chaminé
trabalho foi dimensionar e avaliar o desempenho de ponto 1 (1,85 m de altura da chaminé); temperatura
uma fornalha de alvenaria acoplada a um forno da chaminé ponto 2 (3,2 m de altura da chaminé);
circular para queima dos gases da carbonização. massa seca de combustível auxiliar e tempo total
Os objetivos específicos foram: avaliar os de queima dos gases.
parâmetros de funcionamento da fornalha e; obter Para avaliar o efeito da classe de diâmetro
o perfil térmico do forno e da fornalha em função da da madeira nos parâmetros operacionais da
classe de diâmetro da madeira carbonizada. fornalha em função das fases do processo de
carbonização, o experimento foi instalado segundo
MATERIAL E MÉTODOS um delineamento inteiramente casualizado, com
duas classes de diâmetro, sendo três repetições
Para as carbonizações utilizou-se madeira
por tratamento, totalizando 6 unidades amostrais.
de Eucalyptus sp., com idade aproximada de 6
Os dados foram submetidos a uma análise de
anos, comprimento de 1,5 m, em duas classes de
variância pelo teste F, ao nível de significância de
diâmetro, de 7 -12 cm e de 13 - 18 cm.
5%.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 97

RESULTADOS E DISCUSSÃO Temperatura da Chaminé


53,47 a 58,44 a 69,55 a 59,00 a
Ponto 2 (°C)
Temperatura externa 20,20 a 19,07 a 21,75 a 18,00 a
câmara de combustão (°C)
Na Figura 2 são apresentadas as Massa seca de
3,85 a 3,85 a 0a 0a
combustível auxiliar (kg)
temperaturas médias da copa do forno em função Fase III Fase IV
Parâmetros 13-18
do tempo de carbonização para as duas classes de 7-12 cm 13-18 cm 7-12 cm
cm
Tempo total de queima dos
diâmetro avaliadas e a curva estimada. gases (%)
83,33 a 45,83 b 54,55 b 77,78 a
Temperatura dos gases no
198,88 a 138,42 b 268,83 a 310,86 a
duto (°C)
Temperatura Câmara de
450 Fase I Fase II Fase III Fase IV A 508,32 a 258,38 b 323,92 b 402,32 a
400 combustão (°C)
350 Temperatura da Chaminé
Temperatura ( C)

607,00 a 319,46 b 418,58 b 541,82 a


300 Ponto 1 (°C)
250
Temperatura da Chaminé
200 528,92 a 314,75 b 353,08 b 496,19 a
150
Ponto 2 (°C)
100 Temperatura externa da 31,86 a 29,58 a 37,50 a 40,91 a
50 câmara de combustão (°C)
0 Massa seca de
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 11,11 b 25,93 a 27,16 a 24,63 a
Tempo (horas)
combustível auxiliar (kg)
* Médias seguidas da mesma letra entre as classes de diâmetro
Curva Estimada de Carbonização Toras de 7 - 12 cm
para um mesmo parâmetro e fase não diferem entre si, a 5% de
450 Fase I Fase II Fase III Fase IV B significância, pelo teste F.
400
350
Temperatura ( C)

300
250
200
Observa-se na Tabela 1 que nas Fases I e
150
100 II do processo de carbonização, os valores médios
50
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75
dos parâmetros da fornalha para ambas as classes
Tempo (horas)

Curva Estimada de Carbonização Toras de 13 - 18 cm


de diâmetro não tiveram diferença significativa,
Figura 2. Temperatura média na copa do forno em exceto a temperatura dos gases no duto na Fase II.
função do tempo de carbonização e classes de Observa-se também que não houve
diâmetro da madeira.
queima dos gases nessas duas fases, pois apesar
do abastecimento inicial da fornalha na Fase I, este
Observa-se que as temperaturas médias
contribuiu apenas para auxiliar no processo de
obtidas na copa do forno foram próximas as faixas
ignição do forno. Ressalta-se que nessas duas
estabelecidas de temperatura para cada fase,
fases iniciais, o processo de carbonização é
indicando que houve uma adequada condução do
endotérmico, ou seja, parte da energia gerada no
processo.
processo é utilizada na secagem da madeira e
Observa-se que as carbonizações
início da degradação térmica de seus constituintes.
realizadas com madeira de menor classe de
O tempo total de queima dos gases da
diâmetro tiveram menor tempo de condução (63
carbonização, nas Fases III e IV foi diferente entre
horas), ou seja, reduziu 14,86% do tempo em
as classes de diâmetros de madeira carbonizadas,
relação à classe de diâmetro maior.
sendo que a classe de menor diâmetro promoveu
Na Tabela 1 estão apresentados os valores
maior tempo de queima na Fase III e menor na
médios dos parâmetros operacionais da fornalha
Fase IV. Essa diferença se deve ao fato de que as
para as diferentes classes de diâmetro.
carbonizações com toras de menor classe de

Tabela 1. Valores médios dos parâmetros da diâmetro tiveram menor ciclo de carbonização,
fornalha. fazendo com que na Fase III ocorresse maior
Fase I Fase II
Parâmetros 13-18
liberação de gases combustíveis, devido a maior
7-12 cm 13-18 cm 7-12 cm
cm
Tempo total de queima dos
área superficial das toras de menor diâmetro, o que
0a 0a 0a 0a
gases (%)
Temperatura dos gases no
promoveu maior transferência de calor por unidade
56,93 a 50,13 a 92,18 a 65,58 b
duto (°C)
Temperatura Câmara de de tempo e também pelo maior teor de umidade
48,87 a 50,06 a 65,55 a 53,75 a
combustão (°C)
Temperatura da Chaminé das toras de maior diâmetro.
52,80 a 54,50 a 69,83 a 60,08 a
Ponto 1 (°C)
98 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

Na Figura 3 é apresentado o perfil térmico carbonização. Essa interrupção da chama da


médio da fornalha em função das fases de fornalha pode ser explicada, pelo menos em parte,
carbonização e das classes de diâmetro da pela redução da vazão dos gases combustíveis
madeira. e/ou pelo empobrecimento da mistura desses
gases, por exemplo, com a elevação da
concentração de CO2 e também diluição de
oxigênio (O2).
Sendo assim, como a concentração dos
gases é heterogênea ao longo do processo de
carbonização e pela admissão de ar primário da
câmara de combustão da fornalha ser realizada
manualmente, pode vir a ocorrer um excesso ou
Figura 3. Imagem termográfica no infravermelho deficiência de O2 necessário para as reações de
do sistema forno-fornalha. combustão dos gases advindos do forno.
Observa-se na Figura 3 que o perfil térmico Assim, a câmara de combustão deve ser
da fornalha nas Fases I e II para ambas as classes projetada de modo, a permitir uma velocidade
de diâmetro e nos diferentes pontos de coleta de adequada de propagação dos gases no seu
temperatura, tiveram o mesmo comportamento interior, para obter um tempo mínimo de residência
térmico. para que ocorra a combustão completa.
Observa-se que o início da queima dos Pode-se dizer que neste trabalho que o fato
gases iniciou-se na Fase III, para ambas as classes da temperatura no interior da câmara de combustão
de diâmetros utilizadas nesse estudo. Essa fase é ter sido inferior aos obtidos na chaminé, mostra que
caracterizada como exotérmica, ou seja, é a partir o tempo de residência dos gases foi inferior a 2
dela que ocorre a maior liberação de gases de segundos, fazendo com que a sua queima
maior poder calorífico, como por exemplo, o CO e ocorresse ao longo da chaminé, indicando que o
CH4, que são gases inflamáveis, passando a projeto do sistema forno-fornalha precisa ser
exercer a função de combustíveis para a melhorado.
combustão no interior da fornalha.
Durante a queima dos gases no interior da CONCLUSÃO
câmara de combustão da fornalha foram obtidas
A fornalha teve bom desempenho para a
temperaturas variando entre 465 a 1037 °C. Logo,
combustão dos gases da carbonização,
espera-se ter obtido redução destes compostos nas
independentemente da classe de diâmetro
duas últimas fases da carbonização utilizando o
avaliada, tendo funcionado em aproximadamente
sistema forno-fornalha proposto neste trabalho.
42% do tempo total de carbonização nos testes que
Porém, ressalta-se que entre o início da
utilizaram toras de 7-12 cm de diâmetro e
combustão dos gases e o encerramento do
aproximadamente 35% para os testes com toras de
processo de carbonização ocorreu algumas
13-18 cm.
interrupções (apagamento da chama da fornalha),
O gasto de combustível auxiliar para
sendo necessário, portanto, realizar abastecimento
abastecimento da câmara de combustão foi
da fornalha com combustível auxiliar (madeira,
considerado pequeno para ambas as classes de
casca e/ou atiço) para manter a temperatura
diâmetro avaliadas.
adequada na câmara de combustão para
continuação da queima dos gases da
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 99

A estrutura da fornalha se mostrou OLIVEIRA, A. C. Sistema forno-fornalha para a


adequada, pois atendeu as condições do processo produção de carvão vegetal: Dissertação de
Mestrado. Universidade Federal de Viçosa, 2012.
de combustão, apresentando bom isolamento
térmico, sem problemas em sua estrutura, tendo
Acesse o trabalho completo pelo QR Code
como principais vantagens o seu baixo custo e
facilidade de construção.
A determinação do perfil térmico do forno
em função da classe de diâmetro da madeira, além
de permitir observar a evolução da temperatura em
seu interior ao longo do processo, auxilia também
em sua operação assim como no planejamento das
praças de carbonização.
A determinação do perfil térmico da
fornalha permitiu o reconhecimento de algumas
falhas de dimensionamento da câmara de
combustão, além de ter indicado a evolução da
temperatura em seu interior ao longo do processo,
auxiliando em sua operação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MCHENRY, M. P. Agricultural bio-char production,


renewable energy generation and farm carbon
sequestration in Western Australia: Certainty,
uncertainty and risk. Agriculture, Ecosystem and
Enveronment. 2009, Vol. 129, pp. 1-7.
100 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

25| REDUÇÃO DE METANO E MONÓXIDO DE CARBONO NA PRODUÇÃO DE


CARVÃO VEGETAL EM SISTEMA FORNO-FORNALHA

Danilo Barros Donato e Angélica de Cássia Oliveira Carneiro

INTRODUÇÃO Para proceder à combustão dos gases foi


utilizada uma fornalha acoplada a um forno circular
A maior parte produção de carvão vegetal de alvenaria. Para as carbonizações utilizou-se
produzido atualmente no Brasil é por pequenos e madeira de Eucalyptus sp., com idade aproximada
médios produtores, utilizando fornos rudimentares de 6 anos, comprimento de 1,5 m e classe de
de baixo rendimento e sem controle de emissões diâmetro de 13 - 18 cm, apresentando umidade
atmosféricas, causando impactos econômicos, média de 39,35%. Foram realizadas duas
sociais e principalmente ambientais. Porém, esses carbonizações.
impactos podem ser minimizados por meio de Os gases foram coletados em dois pontos
tecnologias que melhorem o rendimento distintos, sendo o primeiro no duto de transporte
gravimétrico e/ou por sistemas que capturam os dos gases da carbonização para fornalha, próximo
gases emitidos, ou até mesmo incinerando-os. ao forno, e o segundo a 80% (3,20 metros) da altura
Segundo Elk (2010) a queima dos gases da total da chaminé, de modo, a obter as
carbonização, além de ser vantajosa ao meio concentrações antes e após a queima dos gases.
ambiente, pode se tornar economicamente viável Os gases foram succionados por uma
pela possibilidade de gerar projetos de créditos de bomba peristáltica de funcionamento contínuo a
carbono, pois há nesse processo redução da uma vazão média de sucção de 1L/minuto, e
emissão, principalmente, de metano, que é cerca transportados até o sistema de pré-lavagem,
de 25 vezes mais nocivo que o dióxido de carbono constituído por cinco frascos de kitassato em linha,
para o efeito estufa. dentro de uma caixa de isopor, conforme Figura 1.
Sendo assim, com a crescente
preocupação mundial com a redução de gases de
efeito estufa (GEE) frente ao aquecimento global, o
segmento de produção de carvão vegetal no Brasil,
provavelmente contribuirá para a redução de
emissões de gases poluentes por meio de sua
queima em fornalhas acopladas aos fornos,
principalmente se essas tecnologias estiverem Figura 1. Sistema de lavagem, condicionamento e
acessíveis economicamente a pequenos e médios análise dos gases. Fonte: Adaptado de Lana
(2014).
produtores, que correspondem por mais de 50%
deste segmento. Após a pré-lavagem, os gases não
Nesse sentido, o objetivo principal desse condensados foram conduzidos até o sistema de
trabalho foi avaliar a redução de metano e condicionamento de gases do analisador gasboard
monóxido de carbono emitidos na carbonização da 9030 Wuhan CUBIC Optoeletronics Co. Ltda., no
madeira por meio da sua queima em fornalha de qual passaram por uma lavagem em água,
alvenaria. resfriamento a 4°C em um desumidificador (chiller)
e posteriormente por um cilindro contendo carvão
MATERIAL E MÉTODOS ativado e algodão.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 101

As concentrações médias dos principais carbonização e essas por sua vez quando
gases não condensáveis do processo de acontecem, ocasionam uma maior degradação da
carbonização, como o metano (CH4), dióxido de madeira e, consequentemente, gerou maior volume
carbono (CO2), monóxido de carbono (CO) e de gases, elevando os níveis CO.
oxigênio (O2), foram apresentadas a partir das Verifica-se que a concentração de CO
emissões médias em intervalos de 6 em 6 horas até diminui consideravelmente, ao final do processo de
o término do processo. carbonização, devido a redução dos produtos
Foi avaliado o efeito da temperatura na voláteis presentes na massa de carvão resultante.
concentração e poder calorífico dos gases não Na Figura 3 é apresentada a concentração
condensáveis da carbonização ao longo do média do gás dióxido de carbono (CO2).
processo.
16 450
14 400

Concentração CO2 (%)


RESULTADOS E DISCUSSÃO 350
12
300
10
250
Na Figura 2 é apresentada a concentração 8
200
6
média do gás monóxido de carbono (CO) ao longo 150
4 100
do processo de carbonização. 2 50
0 0
9 450 0 6 12 18 24 30 36 42 48 54 60 66 72 78
8 400 Tempo (horas)
Concentração CO (% )

7 350 Duto Chaminé Temperatura (°C)


6 300
5 250 Figura 3. Concentração média de dióxido de
4 200 carbono em função do tempo de carbonização.
3 150
2 100
1 50
Observa-se que a concentração média de
0
0 6 12 18 24 30 36 42 48 54 60 66 72 78
0 CO2, na chaminé, no início da carbonização foi
Tempo (horas)
superior a do duto. Provavelmente, isso se deve ao
Duto Chaminé Temperatura (°C)
abastecimento inicial da fornalha, com combustível
Figura 2. Concentração média de monóxido de
carbono em função do tempo de carbonização. auxiliar, aproximadamente 5 Kg de madeira,
necessários para aquecer a câmara de combustão
Observa-se, de forma geral, que os valores para gerar um diferencial de temperatura entre a
médios de monóxido de carbono, no duto, fornalha e o forno, o que acarreta uma pressão
aumentaram ao longo da fase endotérmica. manométrica negativa ao longo da chaminé para
Verificam-se três picos, sendo o primeiro após 12 promover a exaustão dos gases da carbonização
horas do início da carbonização, seguido de de dentro do forno, auxiliando, portanto, na sua
redução até a décima sétima hora, e voltando ignição.
aumentar, consideravelmente, sua concentração, A partir da vigésima quinta hora de
atingindo a porcentagem máxima na vigésima carbonização a concentração média de CO2 do
oitava hora, e novamente teve uma redução duto foi superior à da chaminé, sendo que era
voltando a aumentar sua concentração com o esperado o inverso, visto que quando se inicia a
terceiro pico na quinquagésima segunda hora. combustão dos gases da carbonização, esses são
Ressalta-se que o primeiro pico da oxidados a CO2, H2O e energia na forma de calor.
concentração do CO, é devido às combustões Esses valores, provavelmente, se devem a uma
incompletas da madeira dentro do forno, maior admissão de ar primário para a câmara de
principalmente nas regiões próximas aos “tatus”
nas etapas endotérmicas do processo de
102 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

combustão, fazendo com que ocorresse uma inflamáveis advindos do forno, ou até mesmo pelo
diluição do CO2 pelo ar atmosférico. seu limite de inflamabilidade.
Na Figura 4 é apresentada a concentração Na Figura 5 é apresentado o poder
média do gás metano (CH4) ao longo do processo calorífico dos gases ao longo do processo de
de carbonização. carbonização.

0,7 450 400 450

Poder calorífico dos gases (kcal.Nm3 )


0,6 400 350 400
Concentração CH4 (% )

350 350
0,5 300
300 300
250
0,4 250 250
200
0,3 200 200
150 150
0,2 150
100 100 100
0,1 50 50 50
0 0 0 0
0 6 12 18 24 30 36 42 48 54 60 66 72 78 0 6 12 18 24 30 36 42 48 54 60 66 72 78
Tempo (horas) Tempo (horas)
Duto Chaminé Temperatura (°C) Duto Chaminé Temperatura (°C)

Figura 4. Concentração média de metano em Figura 5. Poder calorífico médio dos gases em
função do tempo de carbonização. função do tempo de carbonização.

Observa-se a ocorrência de três picos na Observa-se que a curva do poder calorífico


curva de concentração do CH4 ao longo da dos gases não condensáveis da carbonização
carbonização, sendo que o primeiro ocorre na fase seguiu o mesmo perfil das curvas dos gases CO e
endotérmica do processo e os demais na CH4, ocorrendo o primeiro pico depois de 12 horas
exotérmica. Em relação a primeiro pico da do processo, seguido por um aumento gradativo
concentração de CH4, pode-se dizer que até atingir o pico máximo na trigésima hora, e logo
provavelmente foi devido às combustões parciais após esse período ocorreu um declínio atingindo
dentro do forno, uma vez que neste intervalo de um pico invertido após a 41ª hora do processo de
tempo, o processo se encontra na fase de carbonização. Isso se deve pelo fato de que os
secagem, onde ocorre praticamente a liberação gases mencionados acima serem inflamáveis, logo
CO2 e vapor d’água. o aumento de suas concentrações ocasionou a
O pico máximo da concentração de CH4 elevação do poder calorífico dos gases, e vice
ocorreu após 55 horas do processo, onde a versa.
temperatura média do forno encontrava-se a De modo geral, o tempo de carbonização
aproximadamente 420 °C, evidenciando que a tem uma relação direta com o aumento da
temperatura final exerce forte influência na taxa de concentração dos gases e esses por sua vez
emissão desse gás. apresentam ao longo do processo oscilações de
Observa-se também, que a partir da suas concentrações, o que faz com que o poder
trigésima hora do processo, caracterizado pelo calórico tenha a mesma tendência, visto que
início da combustão dos gases da carbonização, a processo de carbonização não ocorre de forma
concentração média desse gás no duto não seguiu simultânea, e sim no sentido da porta para o fundo
o mesmo comportamento que a curva das do forno e de cima para baixo. Logo, a
concentrações da chaminé. Este fato pode ser concentração e vazão desses gases são
explicado por prováveis apagamentos da câmara heterogêneas, ocasionando, portanto, variação em
de combustão da fornalha, ocasionado pelas seu poder calorifico, conforme pode ser observado
variações na concentração e vazão dos gases na Figura 5.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 103

Na Tabela 1 são apresentados os valores exotérmica do processo de carbonização de 66,5


médios da concentração de cada gás analisado, no para o CO e de 70% para o gás CH4.
duto e posteriormente na chaminé da fornalha, em A eliminação dos gases poluentes por meio
função das fases da carbonização. de sua combustão proporcionou uma redução de
244,65 kg de emissões de CO2 equivalente.
Tabela 1. Concentrações médias (%) dos gases
em função das fases de carbonização.
Fases da Carbonização REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Gás
Fase 1 Fase 2
(%)
Duto Chaminé Duto Chaminé
ELK, A. G. P. Van. Mudanças climáticas, lixo,
CO 2,45 0,81 5,96 2,08
energia. São Paulo, 2010. Disponível em:
CH4 0,14 0,03 0,29 0,08 <http://www.ecosdasardenha.com.br/palestras/pal
CO2 2,43 2,81 6,35 5,06 estrantes/05_Ana_Ghislane_Van_ Elk.pdf>.
O2 11,32 17,47 16,4 12,72 Acesso em: 31 jun. 2010.
Gás Fase 3 Fase 4
(%) Duto Chaminé Duto Chaminé LANA, A. Q. Desenvolvimento e avaliação de
CO 6,99 2,12 2,95 1,09 uma fornalha metálica para combustão dos
CH4 0,49 0,15 0,36 0,11 gases da carbonização da madeira. 2014. P.
CO2 12,38 6,97 7,22 5,14 Dissertação (Mestrado em Ciência Florestal) -
O2 4,53 10,94 8,39 11,41 Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG -
2014.
Observa-se, de modo geral, que as
concentrações médias dos gases CO, CH4 e CO2 Acesse o trabalho completo pelo QR Code
no duto foram superiores aos da chaminé,
enquanto que o oposto foi verificado para as
concentrações de O 2. Isso foi devido,
provavelmente, pelo excesso de ar atmosférico
admitido na câmara de combustão, o que
ocasionou diluição e consequentemente o aumento
da concentração de O2.

CONCLUSÃO

Conclui-se que a fornalha avaliada neste


estudo proporcionou uma redução média na
emissão de gases poluentes ao longo da fase
104 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

26| EFEITO DA COMBUSTÃO DOS GASES DA CARBONIZAÇÃO NO RENDIMENTO


GRAVIMÉTRICO DA MADEIRA DE Eucalyptus sp.

Marco Túlio Cardoso, Angélica de Cássia Oliveira Carneiro, Renato Augusto Pereira
Damásio, Laércio Antônio Gonçalves Jacovine, Benedito Rocha Vital,
Maria Cristina Martins, Rosimeire Cavalcante dos Santos

INTRODUÇÃO 8 anos, com comprimento de 2,10 m e diâmetro


variando de 12 a 20 cm.
A transformação da madeira em carvão As propriedades da madeira foram
vegetal é um processo de decomposição térmica determinadas e, posteriormente, o rendimento
físico-química irreversível, que se inicia com a gravimétrico de carvão, finos e tiços.
secagem, com a perda de água livre ou capilar e de
água de adesão. Após a retirada da água, inicia-se
RESULTADOS E DISCUSSÃO
a fase de pirólise, com a produção de gases
condensáveis e não condensáveis (VALE e Na Tabela 1 são apresentadas as
GENTIL, 2008). propriedades da madeira.
Segundo Carvalho Jr. e Mcquay (2007), a
combustão ideal, designada como combustão Tabela 1. Propriedades da madeira de Eucalyptus
sp.
completa, ocorre quando todo carbono no
combustível é oxidado para dióxido de carbono
(CO2), todo hidrogênio para água (H2O) e todo
enxofre para dióxido de enxofre (SO2). Assim, para
Na Tabela 2 e na Figura 1, verificam-se os
combustão eficiente dos gases da carbonização,
valores médios de rendimento gravimétrico das
esses devem ser convertidos em dióxido de
carbonizações com madeira de eucalipto, em
carbono, vapor d’água e energia.
massa e percentagem, respectivamente.
Além da questão ambiental, é importante
destacar que para tornar viáveis tecnologias de
Tabela 2. Rendimento gravimétrico, em massa, das
redução de emissão de gases da carbonização da
carbonizações com madeira de eucalipto.
madeira, essas não devem prejudicar a produção e
a qualidade do produto final, além de serem de
baixo custo aquisitivo.
Sendo assim, o objetivo do trabalho foi
avaliar a influência da combustão dos gases da
carbonização de madeira no rendimento
gravimétrico em carvão vegetal, em madeira
parcialmente carbonizada (“tiços”) e em finos.

MATERIAL E MÉTODOS

Para realização das carbonizações foi


utilizado um sistema forno-fornalha, com
Figura 1. Rendimento gravimétrico, em
capacidade para 10 estéreos de madeira. Foi porcentagem, das carbonizações com madeira de
utilizada madeira de Eucalyptus sp., com idade de eucalipto.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 105

Era esperado um rendimento gravimétrico de 30% do tempo total de carbonização com chama
em carvão vegetal médio de pelo menos 30%. constante na câmara de combustão, reduzindo em
Sendo assim os valores obtidos foram quase totalidade os gases de efeito estufa.
considerados baixos, evidenciando a necessidade A utilização da fornalha não influenciou o
de maiores ajustes no controle do processo de rendimento gravimétrico em carvão vegetal e
carbonização. reduziu a quantidade de tiços, porém aumentou a
A formação de “tiço” foi superior para proporção de finos gerados; evidenciando a
carbonização sem queima de gases, 12,5%, contra necessidade de um maior controle da
3,5% observados na carbonização com queima de carbonização, visto que a queima dos gases
gases. Esses valores estão relacionados com a aumenta a sua velocidade.
geração de finos, pois se obteve maior
percentagem de finos na carbonização com queima REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
de gases, 4,35%, contra 3,25% da carbonização
sem queima de gases. Isso ocorreu porque na CARVALHO JR., J. A.; MCQUAY, M. Q.
Princípios de combustão aplicada.
carbonização com queima de gases há, desde o Florianópolis, 2007. 176p.
princípio do processo, o acendimento da fornalha,
VALE, A. T.; GENTIL, L. V. Produção e uso
o que causa um gradiente um gradiente de energético de biomassa e resíduos agroflorestais.
temperatura entre ela e o forno, fazendo com que a In: OLIVEIRA, J. T. S; FIEDLER, N. C.;
NOGUEIRA, M. (Ed.). Tecnologias aplicadas ao
sucção dos gases seja maior, acelerando o setor madeireiro III. Jerônimo Monteiro-ES: 2008.
processo de carbonização. p. 196-246.

A formação de “tiços” ocorreu, em todas as


carbonizações, na parte inferior próximo à porta do Acesse o trabalho completo pelo QR Code

forno, o que é devido ao fato de a carbonização


ocorrer de cima para baixo, ou seja, o forno aquece
primeiramente na parte superior, depois a frente de
carbonização desce ao mesmo tempo em que se
direciona para a parte de trás do forno, onde há a
tiragem dos gases. Assim, na carbonização com
queima de gases, onde a tiragem dos gases é mais
forçada, houve maior contato do calor com a parte
inferior do forno, formando menos “tiços” em
comparação com a carbonização sem queima de
gases.

CONCLUSÃO

A fornalha funciona efetivamente como


queimador de gases da carbonização, tendo mais
106 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

27| CONSTRUÇÃO DE UM SISTEMA DE QUEIMA DE GASES DA CARBONIZAÇÃO


PARA REDUÇÃO DA EMISSÃO DE POLUENTES

Marco Túlio Cardoso, Renato Augusto Pereira Damásio, Angélica de Cássia Oliveira Carneiro, Laércio
Antônio Gonçalves Jacovine, Benedito Rocha Vital, Daniel Câmara Barcelos

INTRODUÇÃO

A redução das emissões de gases de efeito


estufa na carbonização, por meio da combustão
dos mesmos, além das vantagens para o meio
ambiente, pode ser economicamente interessante,
a partir da possibilidade de gerar projetos de
créditos de carbono, pois há, nesse processo, a
redução da emissão, principalmente de metano,
que é cerca de 21 vezes mais nocivo que o dióxido
de carbono (ELK, 2010).
Assim, o desenvolvimento de uma fornalha
capaz de queimar os gases da carbonização em
fornos de alvenaria, torna-se um passo importante
para uma nova perspectiva para a produção de
carvão vegetal, buscando mitigar os impactos
negativos e otimizar a produção e a qualidade do Figura 1. (a) Protótipo do sistema forno/fornalha,
(b) vista geral do forno, do queimador de gases e
carvão vegetal. da chaminé.
Este trabalho foi realizado com o objetivo
geral de avaliar um sistema de forno com uma Foram realizadas carbonizações com e
fornalha para queima dos gases da carbonização sem o sistema de queima de gases em
que possibilite a redução da emissão de poluentes, funcionamento. Para tal, o forno foi preenchido com
tornando o processo de carbonização mais madeira de Eucalyptus sp., com idade de 8 anos.
eficiente, do ponto de vista tecnológico e ambiental. Para os procedimentos de coletas,
acondicionamento e armazenamento, as amostras
MATERIAL E MÉTODOS de gases foram observadas as normas
Evironmental Protection Agency (EPA), Method 18:
Buscou-se projetar um forno com fornalha coleta em bags. As análises para a determinação
para queima de gases similar aos fornos das concentrações dos gases foram realizadas
retangulares industriais, porém, em escala piloto. segundo as normas ASTM 1945.
O sistema forno-fornalha foi projetado para
a carbonização de 10 metros estéreo de madeira, RESULTADOS E DISCUSSÃO
tendo a possibilidade de carbonização da madeira
tanto na vertical quanto na horizontal. Nas paredes Na Figura 2 observa-se o perfil térmico da
do forno e da fornalha, foram feitas as aberturas carbonização da madeira de Eucalyptus sp. sem a
para controle da entrada de ar (Figura 1). queima dos gases pela fornalha.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 107

ininterruptas, atingindo a temperatura máxima de


850 ºC, ou seja, a fornalha funcionou por
aproximadamente 33% do tempo de carbonização.
No período de queima dos gases, não houve
emissão dos mesmos pela chaminé, sendo liberado
apenas calor.
O rendimento gravimétrico em carvão
Figura 2. Perfil térmico da carbonização sem vegetal e o teor de carbono fixo obtidos com a
queima dos gases pela fornalha. Term. 1: termopar
colocado na parte superior do forno, próximo à queima dos gases da carbonização foram de
porta; Term. 2: termopar colocado na parte superior 28,70% e 82,56%, respectivamente.
do forno, próximo à saída dos gases; Term. 3:
termopar colocado na saída de gases do forno para Nas Figuras 4 e 5 observam-se as
fornalha. concentrações dos gases metano (CH4) e
monóxido de carbono (CO), emitidos durante o
A temperatura máxima da fornalha foi de
processo de carbonização com e sem o
120 ºC, atingida após 48 horas de carbonização. Ao
funcionamento da fornalha.
atingir a temperatura de 120 ºC, as entradas de ar
da fornalha foram abertas para que a mesma
resfriasse, evitando-se a queima dos gases, visto
que, a essa temperatura, os gases da carbonização
entram em combustão, conforme demonstrado em
testes preliminares.
O rendimento gravimétrico em carvão
vegetal e o teor de carbono fixo foram de 28,15% e
75,45%, respectivamente.
Figura 4. Concentração de metano (CH4) (%v/v)
Na Figura 3 observa-se o perfil térmico da por amostra coletada durante o período de
carbonização, com e sem a fornalha em
carbonização da madeira de Eucalyptus sp. com a
funcionamento.
queima dos gases pela fornalha.
As concentrações de metano foram
reduzidas a valores próximos de zero com a
queima dos gases pela fornalha. Esse fato
demonstra a eficiência de poder oxidativo do
sistema, reduzindo quase a totalidade da emissão
de um dos gases mais nocivos ao meio ambiente.

Figura 3. Perfil térmico da carbonização com


queima dos gases pela fornalha. Term. 1: termopar
colocado na parte superior do forno, próximo a
porta; Term. 2: termopar colocado na parte superior
do forno, próximo a saída dos gases; Term. 3:
termopar colocado na saída de gases do forno para
fornalha.

A partir da 35ª hora de carbonização,


Figura 5. Concentração de monóxido de carbono
quando a fornalha atingiu 120 ºC, os gases foram (CO) (%v/v) por amostra coletada durante o
queimados com eficiência, por cerca de 17 horas
108 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

período de carbonização, com e sem a fornalha em da energia do forno para sua posterior utilização
funcionamento.
com fonte de calor, para secagem da madeira, por
Pelo que se observa no gráfico da Figura 5,
exemplo.
houve redução significativa nas concentrações de
monóxido de carbono quando se procedeu a
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
queima dos gases, evidenciando, com isso, que a
maior parte desse gás foi oxidada e liberada na
AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND
forma de CO2. MATERIALS. ASTM D 1945: standard test method
for analysis of natural gas by gas chromatography.
Philaldelphia, 1996.
CONCLUSÃO
ELK, A. G. P. Van. Mudanças climáticas, lixo,
energia. São Paulo, 2010. Disponível em:
A estrutura do forno é adequada, uma vez
<http://www.ecosdasardenha.com.br/palestras/pal
que suportou as carbonizações. Porém, é estrantes/05_Ana_Ghislane_Van_ Elk.pdf>.
Acesso em: 31 jun. 2010.
necessário um estudo de materiais, com objetivo de
reduzir o custo de construção. U.S. ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY.
Measurement of gaseous organic compound
A fornalha funcionou adequadamente
emission by Gas Chromatography- Method 18;
como queimador de gases da carbonização, tendo Code of Federal Regulations, Part 60, Subpart
TTT. Washington, 1997.
33% do tempo total de carbonização com chama
constante na câmara de combustão, reduzindo em
Acesse o trabalho completo pelo QR Code
quase totalidade os gases de efeito estufa.
O gasto de combustível para manter a
fornalha funcionando é desprezado a partir do
momento em que se utiliza uma fornalha central
para quatro fornos, carbonizando de modo
sincronizado, com o objetivo de manter a fornalha
constantemente acesa, apenas queimando os
gases combustos da carbonização.
Os gases de efeito estufa, principalmente
metano e monóxido de carbono, foram reduzidos
eficientemente pela utilização da fornalha, tendo a
quantidade liberada diminuído em 96% e 93%,
respectivamente.
Recomendam-se outros estudos para
redimensionar, principalmente, a chaminé e a
câmara de combustão da fornalha para se ter um
melhor controle da carbonização e aproveitamento
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 109

28| ANÁLISE DE RISCO ECONÔMICO DE DOIS SISTEMAS PRODUTIVOS DE


CARVÃO VEGETAL

Aylson Costa Oliveira, Bárbara Luísa Corradi Pereira, Thiago Taglialegna Salles, Angélica de Cássia Oliveira
Carneiro, Artur Queiroz Lana

INTRODUÇÃO O objetivo deste trabalho foi analisar a


viabilidade econômica da produção de carvão
A produção de carvão vegetal é vegetal em duas tecnologias de conversão: fornos
dependente da tecnologia de conversão, ou seja, de superfície acoplados a fornalha para queima de
do tipo de forno, além das características da gases (sistema fornos-fornalha) e fornos do tipo
madeira utilizada nas carbonizações e da mão de rabo-quente, sem sistema de queima de gases,
obra empregada. assim como realizar a simulação de risco de
Em relação à questão tecnológica de investimento utilizando a técnica de Monte Carlo.
conversão da madeira em carvão vegetal, a
produção brasileira ainda é em grande parte
MATERIAL E MÉTODOS
realizada em fornos rudimentares de alvenaria,
com controle empírico da carbonização, resultando Para a realização das análises econômica
em baixo rendimento gravimétrico e impactos e de risco de investimento da produção de carvão
sociais, econômicos e ambientais. Segundo vegetal, definiu-se uma produção mensal média
Carneiro et al. (2013), 70%, da produção brasileira igual a 65,45 metros cúbicos de carvão (mdc),
ocorre em fornos do tipo rabo-quente e fornos de correspondendo a 785,4 mdc anualmente,
superfície, utilizados por pequenos e médios produção normalmente verificada para pequenos
produtores; 20% em fornos retangulares, produtores de carvão vegetal.
tecnologia utilizada pelas grandes empresas, e As tecnologias de conversão utilizadas
10% através de outras tecnologias. foram um sistema fornos-fornalha e fornos rabo-
Além das questões técnicas e ambientais, quente, representados pelas figuras 1A e 1B,
a questão econômica deve ser considerada quando respectivamente.
se deseja realizar o investimento em determinada
tecnologia, devendo-se estabelecer qual opção
disponível apresenta maior rentabilidade para o
produtor.
Os métodos tradicionais de avaliação
econômica de projetos baseiam-se na análise de
dados ou indicadores determinísticos. No entanto,
as atividades florestais estão sujeitas a inúmeras
incertezas e variações do mercado. De acordo com
Coelho et al. (2008), para reduzir o risco na tomada
de decisão, no que se refere à questão econômica,
a técnica de Monte Carlo é uma ferramenta útil, ao
permitir a observação do desempenho de uma
variável de interesse em razão do comportamento
de variáveis que encerram elementos de incerteza. Figura 1. (A) Croqui ilustrativo do sistema forno-
fornalha; (B) Esquema ilustrativo do forno rabo-
quente.
110 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

O custo de construção do sistema fornos- para comercializar o carvão vegetal produzido, o


fornalha com 4 fornos, incluindo dutos, fornalha e produtor necessita realizar o transporte, assumindo
chaminé, para o Estado de Minas Gerais, foi igual os custos decorrentes.
a R$ 4.390; enquanto os 5 fornos rabo-quente Para cálculo do custo de transporte,
tiveram custo igual a R$ 3.850 (OLIVEIRA, 2012). considerou-se como R$ 2,88 o preço médio do litro
Para a elaboração do fluxo de caixa de de óleo diesel e 100 km como distância média de
cada tecnologia de conversão, considerou-se R$ transporte, resultando no custo de transporte igual
35,18 como o custo do estéreo (st) de madeira de a R$ 11,52/mdc.
Eucalyptus ao longo de todo o horizonte de
planejamento, o valor de venda do carvão vegetal RESULTADOS E DISCUSSÃO
foi igual a R$ 110,00 por mdc. Estes valores foram
determinados de acordo com os valores médios Na Tabela 1 são apresentados os custos

verificados no Estado de Minas Gerais anuais atribuídos ao consumo da madeira e as

(CIFLORESTAS, 2015). receitas anuais geradas pela comercialização do

Nos anos em que não houve construção carvão vegetal, no sistema fornos-fornalha e nos

dos fornos, foi considerado um custo de fornos rabo-quente.

manutenção igual a 5% sobre o valor total gasto na


sua construção, sendo, portanto, igual a R$ 219,50 Tabela 1. Custos anuais com madeira e receitas
anuais do carvão vegetal
para o sistema fornos-fornalha e R$ 192,50 para os Sistema de
Consumo Custo da Produção Receita
de madeira madeira de carvão do carvão
Produção
fornos rabo-quente. (st) (R$) (mdc) (R$)
Sistema
Para a análise econômica e financeira foi Forno- 1.728 60.791,00 785,4 86.400,00
fornalha
considerado um horizonte de planejamento de 12 Fornos
Rabo- 2.160 75.988,80 785,4 86.400,00
quente
anos, contemplando dois cortes de madeira de
Eucalyptus aos seis anos. A taxa de juros
Observa-se na Tabela 1 que para uma
empregada foi 7,5%. A análise econômica foi
mesma produção de carvão vegetal e, portanto,
realizada através da determinação dos seguintes
uma mesma receita, os fornos rabo-quente
indicadores: Valor Presente Líquido (VPL), Valor
apresentam custo com a madeira 25% maior que o
Anual Equivalente (VAE) e Razão Benefício –
sistema fornos-fornalha. Isto se deve à diferença no
Custo (B/C).
rendimento gravimétrico dos tipos de fornos
Para a análise financeira, o indicador
analisados, 25% para o rabo-quente e 32% para o
estimado foi a lucratividade, a qual é expressa
sistema fornos-fornalha. Tal fato acarreta no maior
como um valor percentual que indica a proporção
consumo de madeira e número de carbonizações
de ganhos de um negócio.
anuais, sendo 180 para os fornos rabo-quente
A análise de risco de investimento foi
contra 144 para o sistema fornos-fornalha.
realizada para o sistema fornos-fornalha e fornos
O fluxo de caixa com os valores correntes
rabo-quente. Para isso, os dados de custos e
(Tabela 2) foi elaborado de acordo com os custos e
receitas foram analisados usando-se o software
receitas determinados para a produção de carvão
@RISK 6.0 (PALISADE CORPORATION, 2012).
vegetal no sistema fornos-fornalha e nos fornos
Para a análise econômica dos dois
rabo-quente.
sistemas produtivos de carvão vegetal
consideraram-se a produção de carvão e a sua
Tabela 2. Fluxo de caixa da produção de carvão
comercialização na propriedade, sem considerar vegetal
custos de transporte. Porém, em alguns casos,
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 111

Ano
Sistema forno-fornalha Tabela 3. Indicadores econômicos e financeiro da
Custo Receita Saldo produção de carvão vegetal
1 65.180,94 86.400,00 21.219,06 Sistema forno- Fornos rabo-
2 61.010,54 86.400,00 25.389,47 Indicador
fornalha quente
3 61.010,54 86.400,00 25.389,47 VPL (R$) 190.001,40 68.581,13
4 61.010,54 86.400,00 25.389,47 VAE (R$/ano) 24.562,97 8.866,02
5 61.010,54 86.400,00 25.389,47 B/C 1,40 1,11
6 61.010,54 86.400,00 25.389,47 Lucratividade (%) 28,43 10,26
7 65.180,94 86.400,00 21.219,06
8 61.010,54 86.400,00 25.389,47
9 61.010,54 86.400,00 25.389,47 O Valor Presente Líquido (VPL) foi positivo,
10 61.010,54 86.400,00 25.389,47
11 61.010,54 86.400,00 25.389,47 indicando a viabilidade de ambos os projetos.
12 61.010,54 86.400,00 25.389,47
Total 740.467,23 1.036.800,00 296.332,77 Porém, o VPL obtido para o sistema fornos-fornalha
Fornos rabo-quente
Ano foi igual a R$ 190.001,40 e para os fornos rabo-
Custo Receita Saldo
1 78.838,80 86.400,00 7.561,20
2 76.131,30 86.400,00 10.268,70 quente de R$ 68.581,13. Assim, o lucro obtido
3 78.838,80 86.400,00 7.561,20
4 76.131,30 86.400,00 10.268,70
devido à produção e comercialização no projeto do
5 78.838,80 86.400,00 7.561,20 sistema fornos-fornalha é três vezes maior que o
6 76.131,30 86.400,00 10.268,70
7 78.838,80 86.400,00 7.561,20 lucro dos fornos rabo-quente.
8 76.131,30 86.400,00 10.268,70
9 78.838,80 86.400,00 7.561,20 O Valor Anual Equivalente (VAE)
10 76.131,30 86.400,00 10.268,70
11 78.838,80 86.400,00 7.561,20 representa o lucro anual e foi positivo para os dois
12 76.131,30 86.400,00 10.268,70
Total 929.820,60 1.036.800,00 106.979,40 projetos analisados, indicando a viabilidade de
ambos.
Observando os fluxos de caixa (Tabela 2), Ambas as razões Benefício-Custo (B/C)
verifica-se que ambas as tecnologias de conversão foram superiores a 1. Para o sistema fornos-
da madeira em carvão apresentam saldo positivo a fornalha a razão B/C foi de 1,40 e para os fornos
partir do primeiro ano. Além disso, observa-se que rabo-quente esta razão foi igual a 1,11. Dessa
os fornos rabo-quente apresentam maior custo forma, para o sistema fornos-fornalha as receitas
anual provocado pelo maior consumo de madeira superam os custos em 40%, para os fornos rabo-
para produzir uma mesma quantidade de carvão quente as receitas superaram em apenas 11% os
vegetal que o sistema fornos-fornalha. custos envolvidos na produção de carvão vegetal.
Conforme apresentado na Tabela 2, o A lucratividade do sistema fornos-fornalha
sistema fornos-fornalha apresenta maiores custos foi de 28,43% ao ano, ou seja, para cada R$ 100,00
nos anos 1 e 7 (R$ 65.180,94) em relação aos comercializados de carvão vegetal, o produtor terá
demais anos (R$ 61.010,54) do horizonte de como lucro R$ 28,43. Para os fornos rabo-quente a
planejamento devido a necessidade de reforma de lucratividade foi igual a 10,26%, aproximadamente
toda a estrutura de produção de carvão, ou seja, três vezes menor que o encontrado para o sistema
devido a vida útil de seis anos, nestes anos deve- fornos-fornalha.
se realizar a construção dos fornos, dutos, fornalha Pelos resultados encontrados, o sistema
e chaminé. Nos demais anos, os custos do projeto fornos-fornalha apresentou maior viabilidade
são referentes aos custos com madeira e econômica, ou seja, gera maior lucro para uma
manutenção anual do sistema. produção anual média de 785,4 mdc nas condições
Na Tabela 3 são apresentados os apresentadas. Além disso, há também o ganho
indicadores econômicos, Valor Presente Líquido ambiental obtido pela mínima emissão de gases
(VPL), Valor Anual Equivalente (VAE), Razão poluentes para a atmosfera devido o acoplamento
Benefício-Custo (B/C) e o indicador financeiro, dos fornos a uma fornalha.
Lucratividade para a produção de carvão vegetal no Mediante as simulações realizadas no
sistema fornos-fornalha e nos fornos rabo-quente. software @Risk para o sistema fornos-fornalha e
112 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

fornos rabo-quente, elaborou-se a distribuição das Figura 3. (A) Análise de sensibilidade das variáveis
de entrada com a variável de saída (VPL) para o
probabilidades do indicador financeiro Valor
sistema fornos-fornalha; (B) Análise de
Presente Líquido (VPL), conforme apresentado na sensibilidade das variáveis de entrada com a
variável de saída (VPL) para os fornos rabo-quente.
Figura 2.

Para ambas as tecnologias de conversão


avaliadas verificou-se a maior sensibilidade do VPL
para a variação dos valores de preço do carvão
vegetal, rendimento gravimétrico e custo da
madeira. Observou-se também que os fornos rabo-
quente são mais sensíveis à variação do custo da
madeira. Provavelmente, isto ocorre por este tipo
de forno consumir maior quantidade de madeira
durante o processo de carbonização. O custo de
construção dos fornos e a taxa de juros tiveram
influência insignificante sobre o VPL para ambos os
tipos de fornos.
Considerando-se a produção média anual
de carvão vegetal de 785,4 mdc e custo do
Figura 2. (A) Distribuição da probabilidade do VPL transporte igual a R$ 11,52/mdc, os custos anuais
do sistema fornos-fornalha; (B) Distribuição da
de produção de carvão nos fornos rabo-quente e no
probabilidade do VPL dos fornos rabo-quente.
sistema fornos-fornalha tem um aumento de R$
Na Figura 3 são apresentados os 9.047,81, referentes ao transporte do carvão
resultados obtidos pela análise de sensibilidade vegetal. O aumento dos custos reflete-se na
para o sistema fornos-fornalha e fornos rabo- redução dos valores verificados para os
quente, considerando o Rendimento gravimétrico indicadores econômicos para o sistema fornos-
(%), Preço do carvão vegetal (R$/mdc), Custo da fornalha e torna inviável a produção de carvão nos
madeira (R$/st), Taxa de juros (% ao ano) e Custo fornos rabo-quente nessas condições.
de construção dos fornos (R$) como variáveis de
entrada (inputs) e o Valor Presente Líquido (VPL) CONCLUSÃO
como variável de saída (output).
Pode-se concluir que, nas condições
apresentadas, o sistema fornos-fornalha apresenta
maior viabilidade econômica que os fornos rabo-
quente, gerando maior lucro para o produtor de
carvão vegetal. Além dos ganhos financeiros, há o
ganho técnico, devido ao maior rendimento
gravimétrico, menor consumo de madeira e
necessidade de menor número de fornos para uma
mesma produção, e o ganho ambiental, devido ao
fato de o sistema fornos-fornalha apresentar baixa
emissão de poluentes durante a carbonização da
madeira.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 113

Pela análise de sensibilidade, as variáveis vegetal e Eucalipto para carvão. Disponível em:
<http://www.ciflorestas.com.br>. Acesso em: 20
com maior influência sobre o VPL foram, de forma
set. 2015.
positiva, o preço do carvão vegetal e o rendimento
Coelho Júnior LM; Rezende JLP; Oliveira AD;
gravimétrico e, de forma negativa, o custo da
Coimbra LAB; Souza AN. Análise de investimento
madeira. de um sistema agroflorestal sob situação de risco.
Cerne 2008; 14 (4): 368-378.
Pela simulação de Monte Carlo existe a
probabilidade de os projetos apresentarem valores Oliveira AC. Sistema forno-fornalha para
produção de carvão vegetal [Dissertação].
negativos para o VPL, inviabilizando
Viçosa-MG: Universidade Federal de Viçosa;
economicamente ambos os projetos. Porém a 2012.
produção em fornos rabo-quente apresenta maior
Palisade Corporation. 2012. Maker of risk and
risco de tornar-se inviável, o que ocorre quando se decisions analysis. Disponível em:
<http://www.palisade.com>. Acesso em: 17 ago.
considera na análise o transporte do carvão.
2015.
Conclui-se que a inclusão da análise de
risco na análise econômica de projetos para a Acesse o trabalho completo pelo QR Code
produção de carvão vegetal resulta em maior
segurança para inferir sobre os indicadores
econômicos e sua viabilidade econômica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Carneiro ACO; Vital BR; Oliveira AC; Pereira BLC.


Pirólise lenta da madeira para produção de carvão
vegetal. In: Santos, F; Colodette, J; Queiroz, JH
(Org.). Bioenergia & Biorrefinaria: Cana-de-
Açúcar & Espécies Florestais. Suprema:
Visconde do Rio Branco; 2013.

Centro de Inteligência em Florestas -


CIFLORESTAS. 2015. Cotações - Carvão
114 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

29| VIABILIDADE ECONÔMICA DE DIFERENTES SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE


CARVÃO VEGETAL EM ESCALA INDUSTRIAL

Danilo Barros Donato, Mateus Alves Magalhães, Angélica de Cássia Oliveira Carneiro,
Carlos Miguel Simões da Silva, Wagner Davel Canal, Márcio Lopes da Silva

INTRODUÇÃO Para a estimativa do número necessário de


fornos para cada cenário proposto, foram utilizados
Atualmente, o setor florestal investe em valores médios do rendimento gravimétrico e do
projetos de inovação tecnológica para encontrar ciclo de carbonização de cada forno avaliado,
sistemas alternativos de produção de carvão fornecidos pelas próprias empresas detentoras de
vegetal que possibilitem melhorias significativas cada tecnologia.
nesse cenário (GUIMARÃES NETO, 2007). O Para a condução da análise financeira e
desenvolvimento de fornos retangulares de econômica dos diferentes cenários estabelecidos,
alvenaria é, até o momento, o avanço tecnológico considerou-se um horizonte de planejamento de 10
mais efetivo para o aumento em escala industrial anos, e a taxa de juros de 7,5% ao ano.
da produtividade de carvão vegetal no Brasil. A análise econômica foi realizada através
Além dos fornos de alvenaria, outros tipos da determinação dos seguintes indicadores: Valor
estão sendo desenvolvidos, dentre os quais se Presente Líquido (VPL), Valor Anual Equivalente
destacam os fornos metálicos. Os fornos (VAE), Razão Benefício/Custo (B/C) e
“bricarbras” e o DPC (Drying Pyrolisis and Cooling Lucratividade.
- Secagem, pirólise e resfriamento) são alguns
exemplos em escala industrial.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Além da viabilidade técnica e ambiental de
cada sistema de carbonização, a viabilidade Na Tabela 1 são apresentados os dados
econômica é o principal critério de escolha entre técnicos para cada sistema de carbonização, de
eles. O retorno financeiro com relação ao capital acordo com os cenários estabelecidos.
investido deve ser avaliado para a escolha correta
do sistema a ser utilizado em cada cenário de Tabela 1. Informações técnicas dos diferentes
sistemas de carbonização.
produção desejado.
Diante do exposto, este trabalho teve como
objetivo realizar a análise de viabilidade econômica
de quatro sistemas de produção de carvão vegetal
– dois fornos retangulares de alvenaria e dois
fornos metálicos – em diferentes cenários de escala
produtiva.
Observa-se que os fornos retangulares de
MATERIAL E MÉTODOS alvenaria apresentam maior capacidade de
enfornamento, tanto em volume quanto em massa,
Foram avaliados dois fornos retangulares, em relação aos metálicos. No entanto, o ciclo de
com volume interno de 380 e 700 m³, e dois fornos produção dos fornos metálicos é significativamente
metálicos, com volume interno de 32 e 100 m³, menor que o dos retangulares, o que compensa
considerando três cenários de produção – 2500; sua menor capacidade de enfornamento de
5000 e 10000 metros cúbicos de carvão (mdc) por madeira.
mês.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 115

Na Tabela 2 são apresentados os custos Sendo assim, com base nos aspectos
envolvidos nos diferentes sistemas de técnicos e nos custos de produção envolvidos em
carbonização analisados. Observa-se que os cada sistema carbonização, obtiveram-se os
custos de construção e manutenção dos fornos indicadores econômicos, conforme apresentado na
retangulares de alvenaria foram superiores aos dos Tabela 3. O forno metálico 1 apresentou os
fornos metálicos. Já os maiores custos mensais menores custos de produção e os melhores
com mão-de-obra foram apresentados pelo forno indicadores econômico de viabilidade.
metálico 2 (32 st), em contrapartida os custos com Os indicadores VPL e o VAE para todos os
equipamentos foram os menores. Os custos projetos avaliados foram positivos, indicando a
mensais com madeira foram maiores para o forno viabilidade econômica dos projetos.
retangular 2 (380 st) e o forno metálico 2 (32 st). Os cálculos referentes à razão Benefício-
Custo (B/C) foram superiores a 1 para todos os
Tabela 2. Custos envolvidos nos diferentes projetos analisados, sendo o sistema de
sistemas de carbonização.
carbonização metálico 1 o que obteve o maior valor
para uma produção mensal de 10.000 mdc com a
razão de 1,41; indicando que para esse projeto as
receitas superam os custos em 41%.
Em relação à lucratividade, assim como
nos demais índices econômicos o projeto do
sistema de carbonização metálico 1 para uma
produção de mensal de 10.000 mdc obteve uma
Os fornos retangulares 1 apresentam maior maior lucratividade, com valor de 32,36%. Isso
custo de construção por seu maior porte e por significa que para cada R$100,00 de carvão vegetal
necessitarem de uma estrutura segura que suporte comercializado, R$32,36 é contabilizado como
as carbonizações e também pelo fato de que as lucro.
operações de carga e descarga serem
mecanizadas. Tabela 3. Indicadores econômicos e financeiros de
O sistema metálico 1 por ser totalmente diferentes sistemas de carbonização.
mecanizado e automatizado necessita de menos
mão de obra em relação ao demais. Por outro lado,
o metálico 2 apresenta alto custo com mão-de-obra
por ter parte de suas operações manuais e pelo
significativo número de fornos demandados para
atingir as produções estabelecidas. Entretanto,
esse sistema de carbonização demanda poucos
equipamentos, reduzindo assim este tipo de custo. CONCLUSÃO
Já em relação ao custo com madeira, esse
é maior para os fornos retangular 2 e metálico 2, Todos os sistemas de produção de carvão
em função destes apresentarem menor rendimento vegetal (fornos retangulares de alvenaria e fornos
gravimétrico em carvão vegetal, necessitando de metálicos) em todos os cenários avaliados para
uma maior quantidade de madeira para a mesma escala produtiva foram economicamente viáveis de
produção que os demais.
116 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

acordo com os indicadores de VPL, VAE, Acesse o trabalho completo pelo QR Code
Benefício/Custo e Lucratividade.
Os melhores indicadores foram
apresentados pelo forno metálico com volume
interno de 100 st, no cenário de maior produção
(10.000 mdc/mês), evidenciando a maior
rentabilidade do projeto com relação aos demais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GUIMARÃES NETO, R. M.; PIMENTA, A. S.;


SILVA, M. L.; SOARES, N. S.; VITAL, B. R.;
SILVA, J. C. Avaliação econômica e financeira de
projetos de fornos dos tipos container industrial e
retangular de 40 estéreos. Revista Árvore,
Viçosa, MG, v. 31, n. 4, p. 709-715, 2007.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 117

30| EFEITO DO TEOR DE UMIDADE DA MADEIRA NA EMISSÃO DE GASES DE


EFEITO ESTUFA NO PROCESSO DE CARBONIZAÇÃO

Wagner Davel Canal, Ana Márcia Macedo Ladeira Carvalho, Angélica de Cássia Oliveira Carneiro, Benedito
Rocha Vital, Bárbara Luísa Corradi Pereira e Danilo Barros Donato

INTRODUÇÃO acoplado a um recipiente de coleta (kitassato a),


conforme representado na Figura 1.
Estudos já comprovaram que o conteúdo
de água na madeira tem a capacidade de promover
incrementos na produção de gases não
condensáveis e materiais particulados, a
diminuição da taxa de aquecimento, a inconstância
da temperatura máxima média do processo, o
aumento dos tempos de ignição e de carbonização,
a diminuição do rendimento gravimétrico em carvão
vegetal, aumentos do tempo de carbonização e a Fonte: Costa (2012), adaptado.
emissão de gases poluentes para uma mesma taxa Figura 1. Caracterização do sistema de tratamento
e análise dos gases não condensáveis.
de produção de carvão vegetal (ANDRADE;
CARVALHO, 1998; ARRUDA et al., 2011). No Com a coleta de gases não condensáveis
entanto, ainda não se observa na literatura análises em cada processo determinou-se o fator de
relacionando a produção de gases de efeito estufa emissão de CO2, CO, CH4 e H2 (Kg gás/ton.mad.),
com o teor de umidade da madeira. além de serem determinados o rendimento
Sendo assim, o objetivo desse trabalho foi gravimétrico dos produtos da carbonização.
avaliar o efeito dos diferentes teores de umidade Instalou-se o experimento segundo um
nos rendimentos gravimétricos dos produtos da delineamento inteiramente casualizado, com
carbonização, nos percentuais de emissão de quatro tratamentos (umidades) e três repetições
gases de efeito estufa por faixa de temperatura, e (carbonizações).
na emissão total de gases não condensáveis por
teor de umidade de madeira enfornada. RESULTADOS E DISCUSSÃO

MATERIAL E MÉTODOS Para as umidades de 0%, 20%, 40% e 60%


a massa de madeira seca foi igual a 281g, 230g,
Utilizou-se madeira de Eucalyptus spp. 178g e 116g, respectivamente. Desse modo, a
com aproximadamente 7 anos de idade, umidade na madeira influenciou no rendimento
proveniente de um teste clonal de uma empresa gravimétrico em carvão vegetal, variando de
florestal, localizado em Divinésia, MG. 32,43% a 0% UBS até 18,99% a 60% UBS.
Foram realizadas carbonizações em mufla O rendimento gravimétrico em gases
de laboratório com sua madeira seccionada e sob condensáveis aumentou proporcionalmente ao
teores de umidade, base seca, de 0%, 20% (±5), aumento da umidade da madeira, observando-se
40% (±5) e 60% (±5). valores de 49,10% a 0% UBS e 68,03% a 60% UBS
Na saída da mufla foi conectado um – cerca de 20% maior.
sistema de recuperação dos gases condensáveis, O rendimento gravimétrico em gases não
utilizando um condensador tubular resfriado à água condensáveis também foi inversamente
118 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

proporcional à umidade da madeira, cujos valores substituídos respectivamente nas equações


variaram de 18,47% a 0% UBS até 12,97% a 60% representadas acima.
UBS. Ao simular uma real condição de campo,
Na Figura 2 é apresentado os valores onde o valor de umidade da madeira varia entre
médios da emissão de cada gás não condensável 35% e 40% (UBS), a substituição desses valores
em função do teor de umidade da madeira. nas equações expostas revelará emissões médias
de 152,08 Kg de CO2, 81,69 Kg de CO, 0,56 Kg de
H2 e 13,47 Kg de CH4 por tonelada de madeira. E
ao se reduzir a umidade da madeira para valores
próximos de 25% e 30% por meio do processo de
secagem, tem-se uma queda média dessas
emissões para 114,17 Kg de CO2, 72,58 Kg de CO,
0,49 Kg de H2 e 9,07 Kg de CH4 por tonelada de
madeira.
Desse modo, considera-se que os
potenciais de aquecimento global de cada gás
originado no processo de carbonização podem ser
menos intensos se forem empregados programas
Figura 2. Valores observados e estimados de
gases não condensáveis em função da umidade, de secagem eficientes à madeira em tora até o seu
sendo: CO2 (A), CO (B), H2 (C) e CH4 (D).
ponto de saturação de fibras.

Observa-se que um aumento no teor de


CONCLUSÃO
umidade da madeira até níveis de 60%, em base
seca, ocasiona incrementos na emissão dos gases
Aumentos no teor de umidade
monóxido de carbono, dióxido de carbono,
proporcionam uma diminuição nos rendimentos em
hidrogênio e metano na fração gasosa não
carvão vegetal e em gases não condensáveis e
condensável.
aumento nos rendimentos em gases condensáveis.
As emissões dos gases CH4, CO e H2 no
O fator de emissão de dióxido de carbono,
processo de carbonização da madeira promovem
monóxido de carbono, hidrogênio e metano (Kg
impacto negativo ao meio ambiente, uma vez que
gás/ton. madeira) possui correlação significativa
eles possuem potenciais de aquecimento global
com o teor de umidade da madeira enfornada.
(GWP) respectivos a 25, 1,9 e 5,8 vezes maiores
A presença de água garante atrasos ao
que o dióxido de carbono, considerado como gás
processo de degradação da madeira e,
de efeito estufa referencial – CO2e. Em virtude
consequentemente, de emissão de gases, além de
disso, deseja-se uma maximização na produção do
garantir aumentos em produção desses
gás CO2, já que ele pode ser reabsorvido pelas
compostos.
florestas, não interferindo na intensificação do
Teores de umidade acima de 30%, base
efeito estufa (FORSTER; RAMASWAMY, 2007).
seca não são recomendáveis para o processo de
Dessa forma, o total de carbono equivalente a CO2
carbonização sob a ótica de emissão de gases de
oriundo desse processo o qual se relaciona aos
efeito estufa e também do aspecto técnico, pois se
gases CH4, CO e H2 para uma massa de 1.000Kg
tem um aumento expressivo de metano, além de
de madeira carbonizada, é de 465,78 kg CO2e,
reduzir o rendimento gravimétrico em carvão
547,45 kg CO2e, 661,77 kg CO2e e 858,65 kg CO2e
vegetal.
para 0%, 20%, 40% e 60% de umidade,
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 119

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Acesse o trabalho completo pelo QR Code

ANDRADE, A. M.; CARVALHO, L. M.


Potencialidades energéticas de oito espécies
florestais do Estado do Rio de Janeiro. Floresta e
Ambiente, Seropédica, v. 5, n. 1, p. 24-42, 1998.

ARRUDA, T. P. M.; PIMENTA, A. S.; VITAL, B. R.;


LUCIA, R. M. D.; ACOSTA, F. C. Avaliação de
duas rotinas de carbonização em fornos
retangulares. Revista Árvore, Viçosa, v. 35, n. 4,
p. 949-955, 2011.

FORSTER, P. V.; RAMASWAMY, P. (Coord.)


Changes in Atmospheric Constituents and in
Radiative Forcing. In: Climate Change 2007: The
Physical Science Basis. Contribution of Working
Group I to the Fourth Assessment Report of the
Intergovernmental Panel on Climate Change.
Cambridge: Cambridge University Press, 2007, v.
1, p. 129-234.
120 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

31| TEMPERATURA FINAL DE CARBONIZAÇÃO E QUEIMA DOS GASES NA


REDUÇÃO DE METANO, COMO BASE À GERAÇÃO DE CRÉDITOS DE
CARBONO

Júlia Melo Franco Neves Costa e Ana Márcia Macedo Ladeira Carvalho

INTRODUÇÃO Diante disso, o objetivo deste trabalho foi


estudar a temperatura final de carbonização na
A produção de carvão vegetal no Brasil é emissão dos gases não condensáveis da
feita nos moldes tradicionais, caracterizada por carbonização, com destaque para o metano, e a
baixa eficiência energética e não recuperação dos redução de metano obtida com a queima dos
gases liberados na carbonização, especialmente a gases, de acordo com a metodologia de pequena
realizada pelos pequenos e médios produtores escala AMSIIIK, para obtenção de créditos de
associados ao mercado guseiro. carbono.
A utilização do Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL) como norteador do
MATERIAL E MÉTODOS
desenvolvimento no setor viabilizaria a adoção de
práticas operacionais mais eficientes e melhores Foram realizados dois experimentos,
tecnologias, além de possibilitar o maior sendo um na condição de laboratório –
aproveitamento dos produtos derivados e a carbonização em mufla, e outro em condição de
redução das emissões a ele associadas. campo – forno de alvenaria.
Estão disponíveis duas metodologias Tanto para as carbonizações em mufla e
oficiais da Convenção Quadro das Nações Unidas em forno de alvenaria utilizou-se madeira de
sobre Mudanças Climáticas para redução de Eucalyptus spp., com aproximadamente 8 anos de
metano na produção de carvão vegetal, sendo uma idade.
associada ao aumento do rendimento gravimétrico, No primeiro caso, estudou-se a influência
a AM0041 (UNFCCC, 2006), para projetos de de três diferentes temperaturas finais de
grande escala, e a outra à captura e queima do carbonização em forno elétrico tipo mufla, no fator
metano, denominada AMSIIIK (UNFCCC, 2008), de emissão de metano (Kg/tonelada de madeira
para projetos de pequena escala. seca). Na saída da mufla foi conectado um sistema
Não há, até o momento, projetos com de recuperação dos gases condensáveis,
registro ou em processo de validação no Brasil que utilizando um condensador tubular resfriado à água
empreguem a metodologia AMSIIIK, aplicável acoplado a um recipiente de coleta (quitasato),
àqueles que evitam a liberação de CH4, conforme representado na Figura 1.
substituindo os métodos convencionais de
produção de carvão por unidades de produção
equipadas com sistemas de queima do gás gerado
no processo. Dessa forma, percebe-se a
necessidade de avaliar a aplicação dessa
metodologia, com um estudo dos parâmetros a ela
relacionados, como a relação entre e a temperatura
e a emissão de metano e a redução de emissão
desse gás na queima dos gases da carbonização
Figura 1. Caracterização do sistema de tratamento
em fornos de alvenaria de pequena escala. e análise dos gases não condensáveis.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 121

Os gases não condensáveis foram curvas percentuais de liberação de cada gás ao


conduzidos a cada trinta minutos a um sistema de longo da evolução da temperatura, caracterizando
análise de gases (gasboard 3100), fornecendo todo o processo de pirólise em termos de emissão
leituras da composição percentual de CH4, CO2, (Figura 3).
CO, H2, O2 e hidrocarbonetos.
As carbonizações em forno de alvenaria
foram realizadas de tal forma a simular um projeto
de MDL de pequena escala, estimando a redução
de emissão dos gases de efeito estufa, em especial
a do gás metano, com utilização de fornalha para
combustão dos gases gerados.
O forno utilizado, com capacidade
aproximada de 10 estéreos de madeira, é um
Figura 3. Composição percentual dos gases não
protótipo de forno retangular da ArcelorMittal condensáveis da carbonização.
Bioenergia. A fornalha utilizada para a queima dos
gases tem dimensões externas de 1 x 1 m. A Observa-se que a liberação de CO2 e CO,

conexão entre o forno e a fornalha foi feita por um notadamente os principais produtos gasosos da

duto metálico com 0,30 m de diâmetro interno. As carbonização, se tornou significativa a partir dos

características mencionadas podem ser 200 °C, atingindo picos próximos a 22% e 12%

observadas na Figura 2. respectivamente aos 300 °C. A concentração de


CO atingiu um novo pico aos 400 °C, de menor
magnitude, ultrapassando, contudo, a
concentração de CO2 nessa temperatura e
estabilizou-se a partir de 500 °C a patamares
inferiores.
Nota-se, na Figura 3, que os gases H2 e
CH4 têm uma menor contribuição percentual na
composição dos gases não condensáveis da
carbonização. O H2 começa a ter uma liberação
Figura 2. Vista em perspectiva do sistema forno-
mais significativa próximo dos 500 °C, com alcance
fornalha.
de 1,7% aos 700 °C, apresentando, porém, um pico
A estimativa da redução das emissões de concentração isolado em temperatura inferior,
decorrente da implementação do projeto, foi com valor de 1,5% aos 300 °C. Já o CH4 mostrou
calculada pela diferença entre as emissões da linha uma evolução contínua a partir dos 300 °C,
de base e as emissões do projeto. chegando aos 3% na temperatura de 550 °C,
estabilizando em valor próximo a essa
RESULTADOS E DISCUSSÃO concentração.
Já o comportamento de crescimento
Além de possibilitarem a determinação da progressivo da concentração de H2 e CH4 entre 400
composição em massa de cada gás presente no °C e 700 °C, se deve ao fato de resultarem de
conteúdo do GNC, por meio da sua média e reações secundárias, ou seja, ocorridas entre os
posterior transformação para massa, as leituras produtos voláteis da pirólise e catalisadas pelo leito
pontuais no gasboard permitiram a construção de do carvão vegetal em formação, ou ainda da
122 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

degradação da lignina, componente de maior a queima de gases é de €32,17 equivalente a


estabilidade térmica, que se decompõe a pequenas R$84,00.
taxas sob ampla faixa de temperatura.
A Tabela 1 apresenta os resultados de fator CONCLUSÃO
de emissão em metano para as duas
carbonizações realizadas nos fornos de alvenaria, O fator de emissão de metano (KgCH 4/t

sendo uma sem a queima dos gases na fornalha e madeira) tem alta correlação com a temperatura

a outra promovendo a combustão dos mesmos. final de carbonização, resultando em equações


com bons ajustes de reta, que podem estimar a

Tabela 1. Fator de emissão de CH4 (Kg/t madeira) emissão de linhas de base, como preconiza a
para carbonizações com e sem a queima de gases metodologia AMSIIIK.
pela fornalha.
A utilização de faixas teóricas de
degradação da madeira na condução da
carbonização pode contribuir para redução da
emissão de metano, por promover o controle da
Comparando os valores de carbonização temperatura em patamares e buscar o aumento do
sem queima e com queima percebe-se uma rendimento gravimétrico em carvão vegetal.
combustão eficiente dos gases, pois em relação ao A redução da emissão de metano
metano houve uma redução equivalente a 99,8% representa a eficiência de queima do gás com a
de emissão em massa. utilização de fornalha, havendo, portanto uma
A redução de emissões durante um ano contribuição efetiva desse instrumento na
para o projeto em questão foi estimada pela mitigação dos gases do efeito-estufa, além de
subtração entre as emissões do cenário linha de melhorar consideravelmente os aspectos de saúde
base e as emissões do projeto atividade em e segurança do trabalho.
conjunto com as emissões de fuga, as quais foram A geração de receita com a
desconsideradas, conforme a equação a seguir: comercialização dos créditos de carbono é
RE = EB – (EP + Fuga) pequena, principalmente quando comparada aos
As emissões da linha base durante um ano custos de elaboração do projeto, necessitando
foram estimadas em 18,02 tCO2e. As emissões do existir outros mecanismos para viabilizar ou
projeto somaram pouco mais de 2 kg ou 0,00238 t incentivar a queima de metano na produção de
de CO2e, valor ínfimo que reflete a eliminação de carvão vegetal em pequena escala.
quase a totalidade do metano com a queima dos
gases da carbonização. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A redução de emissões durante um ano foi
de 21,448 tCO2e, que corresponde praticamente ao INSTITUTO CARBONO BRASIL. O mercado de
carbono entre 27 de novembro e 04 de dezembro
valor das emissões da linha base, já que as 2012. Disponível em:
emissões do projeto foram quase nulas. <http://www.institutocarbonobrasil.org.br/analise_fi
nanceira/noticia=732572>. Acesso em: 03 dez
As 21,448 tCO2e reduzidas durante um ano 2012.
com a implementação do projeto equivalem ao
UNITED NATIONS FRAMEWORK CONVENTION
mesmo valor em Certificados de Emissões ON CLIMATE CHANGE. Approved baseline and
Reduzidas (CERs). Considerando um preço de monitoring methodology AM0041 “Mitigation of
methane emissions in the wood carbonization
€1,50 por tonelada de tCO2e (INSTITUTO activity for charcoal production”: version 01. 2006.
CARBONO BRASIL, 2012), a receita em créditos 63 p. Disponível em:

carbono estimada com a utilização de fornalha para


Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 123

<http://www.mct.gov.br/upd_blob/0014/14282.pdf>
. Acesso em: 10 mar. 2011.

UNITED NATIONS FRAMEWORK CONVENTION


ON CLIMATE CHANGE. Indicative simplified
baseline and monitoring methodologies for
selected small-scale CDM project activity
categories AMSIIIK “Avoidance of methane
release from charcoal production by shifting from
traditional open-ended methods to mechanized
charcoaling process”: version 04. 2008. 28 p.
Disponível em:
<http://cdm.unfccc.int/filestorage/CDMWF_AM_ZB
FK5T27N1DE9P6WT0J7DUPLEQ1VLM/EB44_re
pan19_AMS_III.K_ver04.pdf?t=RWN8MTI5MTA2
MDIwNC45Mg==|ntXa6ksuwIOiWlEax4bxh_mCQj
M=>. Acesso em: 10 mar. 2011

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TECNOLOGIA E COPRODUTOS
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 127

32| DISCRIMINAÇÃO ENTRE CARVÕES PROVENIENTES DE MADEIRA DE


Eucalyptus sp. E DE ESPÉCIES NATIVAS POR ANÁLISE DE IMAGENS
DIGITAIS

Bruno Geike de Andrade e Benedito Rocha Vital

INTRODUÇÃO ferramentas deverão possuir rigor cientifico sem


perder praticidade, uma vez que o reconhecimento
O Brasil é maior produtor e consumidor de é realizado em campo.
carvão vegetal do mundo, sendo a maior parte Com base no exposto, essa dissertação
desta produção destinada ao mercado interno, estudou o potencial da análise de imagens digitais
principalmente para os setores de ferro-gusa e aço como auxílio na distinção do carvão produzido com
e, em menor escala, para o setor de ferro-ligas, o madeira de espécies nativas daquele produzido
comércio e o consumo residencial (ABRAF, 2012). com madeira do gênero Eucalyptus.
Apesar de ser o maior produtor de carvão
vegetal do mundo, o Brasil ainda não é capaz de
MATERIAL E MÉTODOS
atender a totalidade da demanda que aqui se
estabeleceu, tornando economicamente viável a Foram estudadas 18 espécies lenhosas, 6
exploração ilegal de florestas nativas para a pertencentes ao gênero Eucalyptus e 12 espécies
produção clandestina de carvão vegetal. nativas da Zona da Mata Mineira.
Dados da AMS (2008) mostram que 47% Para cada espécie foram produzidas 50
de todo o carvão vegetal produzido no Brasil, em imagens da seção transversal do lenho
2008, foram provenientes de madeira de florestas carbonizado, totalizando 300 imagens para a
nativas. Para a ABRAF (2011), este percentual classe eucalipto e 600 para a classe nativa.
subiu para 55% em 2010. A partir destas imagens foram produzidas
Dentre os dispositivos legais criados para 24 imagens-índice com três e oito diferentes
coibir a produção clandestina de carvão vegetal, o resoluções (pixels) e profundidade de imagem
Documento de Origem Florestal (DOF) é o mais (bits). Em seguida, 24 classificadores bayesianos
recente. Instituído pelo Ministério do Meio para classes gaussianas foram desenvolvidos
Ambiente, o DOF trata-se de uma licença utilizando-se características de texturas extraídas
obrigatória para o controle do transporte e das imagens-índice por meio da técnica da matriz
armazenamento de produtos e subprodutos de coocorrência de níveis de cinza.
florestais de origem nativa, incluído o carvão A avaliação da classificação foi realizada
vegetal. Porém, esse dispositivo ainda apresenta segundo o método da validação cruzada deixando
vulnerabilidades, devendo o agente fiscalizador, uma amostra de fora da fase de treinamento. Em
portanto, verificar se o material transportado seguida, por meio da matriz de erros, foram obtidos
corresponde ao descrito no documento, podendo os índices de Exatidão Global e Kappa que foram
haver autuação de toda a carga caso haja utilizados para avaliar a significância dos
desacordo em relação à quantidade ou espécie. classificadores por meio de um Teste Z.
O esforço do governo em reduzir o
consumo ilegal de florestas nativas para a RESULTADOS E DISCUSSÃO
produção de carvão deverá ser acompanhado por
uma inovação nas ferramentas de reconhecimento Nas Figuras 1 e 2 são apresentadas

de espécies dos agentes fiscalizadores. Tais imagens da seção transversal do carvão de cada
128 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

espécie/hibrido. Com base nessas imagens nota- Conforme é observado na Tabela 1, em


se que os elementos anatômicos que, visualmente, média, os classificadores apresentaram uma
facilitam a discriminação entre as duas classes são Exatidão Global de 98,45%.
os raios e os poros. Ou seja, nas espécies nativas Em média, foram classificadas de forma
há uma ampla variação de padrões, porém, para as correta 98,37 e 98,61% das amostras das classes
espécies de Eucalyptus ocorrem, quase nativa e eucalipto, respectivamente. Logo, a
exclusivamente, raios finos e pouco reflectivos, chance dos classificadores errarem foi, em geral,
parênquima pouco visível e poros solitários com aproximadamente a mesma para as duas classes.
padrões de arranjo diagonal, de acordo com o Por outro lado, 99,28% das amostras
descrito por Alfonso (1987). classificadas como nativa estavam corretas, contra
A possibilidade de distinção entre carvões 97,13% das imagens classificadas como eucalipto.
com base nos poros e nos raios tem como grande Ou seja, houve uma maior possibilidade de que
vantagem para a análise de imagens o fato de que uma amostra classificada como eucalipto fosse, na
estes elementos anatômicos apresentam verdade, nativa, do que o contrário.
reflectâncias completamente distintas, segundo a
metodologia utilizada. Deste modo, os poros e os Tabela 1. Exatidão global e acurácias por classe.
raios constituíram os limites inferior e superior dos
histogramas das imagens.

Na Tabela 2 são mostrados os


classificadores e seus respectivos índices kappas.
Ao nível de 5% de probabilidade, todos
apresentaram desempenho significativamente
superior ao de uma classificação ao acaso.
Figura 1. Imagens da seção transversal de
espécies do grupo de nativas. Em geral, os piores resultados couberam
aos classificadores que utilizaram o menor número
de características, tais como o número 9, com dez
características, e o número 17, com 14. Contudo,
os melhores resultados não foram
necessariamente acompanhados por um alto
número de atributos selecionados, como mostram
os classificadores 5 e 7, ambos com 25 atributos e
estatisticamente superiores aos classificadores 10
Figura 2. Imagens da seção transversal de e 20, com 39 e 34 atributos, respectivamente.
espécies do grupo de eucaliptos.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 129

Entre os destaques de cada resolução, o A análise de imagens digitais se mostrou


classificador 21 apresentou resultado uma potencial e promissora ferramenta para auxílio
significativamente inferior aos demais. Entre os na identificação da origem do carvão vegetal.
classificadores 5 e 11 não foi possível estabelecer Trabalhos futuros deverão contemplar uma gama
o melhor, já que o primeiro utilizou menor maior de espécies, abordar materiais carbonizados
quantidade de atributos em seu modelo ao passo em diferentes temperaturas e analisar as
que o último utilizou imagens com menor resolução variabilidades da madeira oriundas de diferentes
e profundidade de imagem. idades e posições no tronco.
Futuramente, comprovada sua eficiência
nestes novos estudos, a análise de textura poderá
Tabela 2. Estimativas dos coeficientes Kappa por
classificador. ser adaptada para condições de campo, visando
semi-automatizar a classificação do carvão em
postos de fiscalização.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRAF - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE


PRODUTORES DE FLORESTAS PLANTADAS.
Anuário estatístico da ABRAF: ano base 2011.
Brasília, 2012. 145p.

ABRAF - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE


PRODUTORES DE FLORESTAS PLANTADAS.
Anuário estatístico da ABRAF: ano base 2010.
Brasília, 2011. 130p.
*: estatisticamente diferente de zero, pelo Teste Z, ao nível de
5% de probabilidade. Obs.: índices seguidos pela mesma letra,
na coluna, não diferem estatisticamente entre si, pelo Teste Z, ALFONSO, V. A. Caracterização anatômica do
ao nível de 5% de probabilidade. lenho e da casca das principais espécies de
Eucalyptus L'Hérit cultivados no Brasil. São
Paulo, USP: 1987. 188f. Tese (Doutorado em
CONCLUSÃO
Biociências) Universidade de São Paulo.

Os 24 classificadores desenvolvidos AMS - ASSOCIAÇÃO MINEIRA DE


SILVICULTURA. Anuário Estatístico 2008. Belo
acertaram, em média, 98,45% das 900 imagens
Horizonte, 2008. Disponível em
testadas, permitindo distinguir satisfatoriamente <www.silviminas.com.br >. Acesso dia 03 de
setembro de 2010.
carvões produzido com madeira de 6 espécies do
gênero Eucalyptus daquele produzido com a
Acesse o trabalho completo pelo QR Code
madeira de 12 espécies nativas da Zona da Mata
Mineira.
Dois classificadores foram destacados com
base no desempenho. Um classificou imagens com
resolução de 320 x 256 pixels e 3 bits através de 37
atributos de textura, resultando em um índice kappa
de 99,3%. E outro classificou imagens com
resolução de 1280 x 1024 pixels e 5 bits através de
25 atributos de textura, resultando em um índice
kappa de 99,8%.
130 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

33| RESFRIAMENTO ARTIFICIAL EM FORNOS RETANGULARES PARA A


PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL

Aylson Costa Oliveira, Angélica de Cássia Oliveira Carneiro, Daniel Camara Barcellos, Augusto Valencia
Rodriguez, Bartholomeu Machado Nogueira Amaral e Bárbara Luísa Corradi Pereira

INTRODUÇÃO Pelo exposto, o objetivo deste trabalho foi


avaliar três modelos de trocadores de calor para
O tempo médio de carbonização da acoplamento em fornos retangulares de produção
madeira nos fornos retangulares é de 4 dias, de carvão vegetal que promovam redução
enquanto que o resfriamento pode durar de 8 a 14 significativa do tempo de resfriamento e
dias. O tempo de resfriamento depende da consequentemente, elevem a produtividade dos
geometria do forno, de suas dimensões, do material fornos.
usado na sua construção e da massa de carvão
produzida, entre outros (FRANÇA; CAMPOS,
MATERIAL E MÉTODOS
2002). Assim, um importante aspecto a ser
considerado na produção de carvão vegetal é o A pesquisa foi realizada na unidade
longo período de resfriamento dos fornos, produtora de carvão vegetal Buritis da Empresa
acarretando na baixa produtividade e exigindo um ArcelorMittal Bioflorestas, localizada na cidade de
maior número de fornos para suprir a demanda de Martinho Campos-MG.
produção. Foram avaliados fornos retangulares com
A prática mais usual de resfriamento é o capacidade volumétrica de enfornamento de 320
processo natural, em que o forno reduz sua m³ de madeira com casca, com 32 m de
temperatura lentamente, ocorrendo a troca de calor comprimento, 4 m de largura, 4 m de altura das
do carvão com o ambiente do forno e do forno com paredes com 1,27 m de flecha na cúpula.
o ambiente externo. O procedimento mais O ciclo total de produção de carvão vegetal,
empregado para se acelerar o resfriamento dos com resfriamento natural apresenta duração média
fornos é aplicar sobre os fornos uma mistura de de 12 dias, sendo 4 dias de carbonização e 8 dias
água e argila, popularmente conhecida como de resfriamento. O rendimento gravimétrico médio
“barrela”. em carvão vegetal é de 33%.
A melhor alternativa de resfriamento de Para avaliação dos 3 modelos de
fornos retangulares para a produção de carvão trocadores propostos, foram acompanhadas
vegetal, seria a utilização de trocadores de calor. O diversos ciclos de carbonização. A temperatura foi
trocador de calor é um equipamento que tem como medida através de sensor infravermelho em pontos
principal objetivo transferir energia térmica de um instalados na porta dos fornos retangulares.
sistema para a vizinhança ou entre partes de um Na Figura 1A são apresentados os
sistema. O resfriamento artificial em fornos de esquemas de instalação do trocador de calor,
alvenaria consiste na retirada do ar aquecido de Modelo 1, no forno retangular. A circulação de ar
dentro do forno durante o período de resfriamento, ocorreu pela parte superior do forno,
conduzir este ar por um trocador de calor, para aproximadamente 3,7 m de altura, região mais
depois retorná-lo à uma temperatura mais baixa aquecida, devido a circulação do ar cuja tendência
para o interior do forno, acelerando a redução da é a subida do ar quente. O ar quente do interior do
temperatura interna do forno, reduzindo assim, o forno foi succionado em uma extremidade,
tempo de resfriamento. trocando calor com o sistema de dutos externos e
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 131

retornando, a uma temperatura mais baixa, na Figura 2. Trocador de calor em forno retangular,
Modelo 3.
extremidade contrária do forno retangular.
Buscando maior redução do tempo de RESULTADOS E DISCUSSÃO
resfriamento dos fornos retangulares, a partir dos
resultados obtidos pelo Modelo 1, observou-se a Na Figura 3 são apresentadas a evolução

necessidade de aumentar a troca de calor. No da temperatura dos fornos durante o período de

Modelo 2, conforme apresentado na Figura 1B, o ar resfriamento dos fornos retangulares com trocador

quente do interior do forno troca calor com o tubo de calor, Modelo 1, e a testemunha nos 4 ciclos de

metálico que realiza a troca de calor com a água e carbonização avaliados.

esta por sua vez troca calor com o meio ambiente


através de um sistema de cascata.

Figura 1. (A) Trocador de calor em forno


retangular, Modelo 1. (B) Trocador de calor em
forno retangular, Modelo 2.

O trocador de calor Modelo 3 apresenta


maior área de troca de calor dos tubos metálicos
com a água. A área de troca imersa é de 330 m 2 e
a de tubulação aérea é de 30 m 2 perfazendo um
total de 360 m2 de área de troca. Na Figura 2 são
apresentados os esquemas de instalação do Figura 3. Temperatura dos fornos durante o
período de resfriamento, utilizando o trocador de
trocador de calor no forno retangular, Modelo 3.
calor Modelo 1 e a testemunha.
Pretende-se com este modelo reduzir em quatro a
cinco dias o tempo de resfriamento. Neste sistema de resfriamento, a troca de
calor ocorria entre ar/ar, ou seja, o ar aquecido do
interior do forno trocava calor com os tubos
metálicos que trocavam calor com o meio
ambiente. O exaustor foi mantido ligado durante
todo o período de resfriamento dos fornos
retangulares.
Durante a abertura do forno e consequente
descarregamento do carvão vegetal, detectou-se
que a região do forno onde o ar era insuflado
132 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

(Figura 1A) apresentava baixo índice de incêndio, Durante a abertura dos fornos retangulares
enquanto que a região onde o ar era aspirado utilizando o Modelo 2 para aceleração do
(Figura 1A) apresentava elevada frequência de resfriamento verificou-se focos de incêndio na parte
incêndios, indicando que apenas um dos lados do central do forno, onde ocorre a sucção dos gases
forno estava sendo resfriado efetivamente. aquecidos (Figura 1B). A ocorrência destes
O Modelo 1 de trocador de calor adaptado incêndios pode ser a má distribuição de ar no
a fornos retangulares apresentou diminuição de 24 interior do forno, promovendo a reação do oxigênio
horas no tempo de resfriamento, passando para com a massa aquecida de carvão ou mesmo pela
168 horas (7 dias) em relação ao tempo verificado má vedação dos fornos.
no resfriamento natural dos fornos retangulares que Através da utilização do Modelo 2 de
era de 192 horas ou 8 dias. Ou seja, o ganho real trocador de calor para fornos retangulares, obteve-
no tempo de resfriamento foi de 12,5% com a se um ganho real de 38% do tempo de resfriamento
utilização do trocador de calor, Modelo 1. em relação ao resfriamento natural. Dessa forma, a
Na Figura 4 são apresentadas a média da unidade de produção de carvão vegetal pode
temperatura dos fornos durante o período de através do aumento da produtividade dos fornos
resfriamento dos fornos retangulares com trocador proporcionada pela diminuição do ciclo de
de calor Modelo 2 e a testemunha. carbonização, aumentar sua produção mensal.
Na Tabela 1 são apresentados os valores
encontrados para tempo de resfriamento e
temperatura verificada da porta dos fornos no
momento de abertura de descarga dos fornos
retangulares sem uso do trocador de calor
(testemunha), com o uso do trocador de calor
Modelo 3 com sentido de fluxo de gás convencional
e com sentido do fluxo de gás invertido.
Figura 4. Temperatura média dos fornos durante o
período de resfriamento, utilizando o trocador de
calor Modelo 2 e a testemunha. Tabela 1. Tempo de resfriamento e temperatura da
porta do forno para a testemunha, trocador de calor
Verificou-se em alguns carbonizações, que Modelo 3, com fluxo de gases convencional e fluxo
de gás invertido
no momento em que o exaustor era desligado, seja Testemunha
Tempo (dias) Temp. (ºC)
por manutenção ou outros motivos, ocorria o Média 10,2 52,2
Máx 16,6 80,0
incremento na temperatura média do forno em
Mín 6,8 40,0
10ºC, diminuindo a eficiência deste trocador de Desvio 2,5 10,7
CV (%) 24,0 20,5
calor. Fluxo de Gás Convencional
Tempo (dias) Temp. (ºC)
Para o Modelo 2, em termos percentuais, Média 6,9 55,2
Máx 9,8 70,0
os gases do interior do forno de carbonização Mín 3,6 40,0
Desvio 1,4 9,3
sofreram uma redução na sua temperatura em CV (%) 20,8 16,8
Fluxo de Gás Invertido
média de 36%, nas primeiras 30 horas de
Tempo (dias) Temp. (ºC)
resfriamento e no restante do período, a redução foi Média 8,9 50,0
Máx 13,1 60,0
em média de 22%. Estes valores indicam que se Mín 5,8 40,0
Desvio 2,6 7,1
pode buscar a melhoria da eficiência deste trocador CV (%) 28,6 14,1

de calor, buscando uma maior redução da


De acordo com a Tabela 1, a temperatura
temperatura dos gases antes de seu retorno ao
média de abertura foi de 52,2ºC para os fornos
interior do forno.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 133

retangulares sem utilização de trocador de calor focos de incêndio durante a abertura do forno e
para redução do tempo de resfriamento. Os fornos descarregamento do carvão vegetal.
com trocador de calor Modelo 3, apresentaram O resfriamento artificial abre também novas
temperatura de 55,2 ºC e 50,0 ºC, para o fluxo de fronteiras e investigação, a exemplo do efeito na
gás convencional e fluxo de gás invertido, qualidade e rendimentos de carvão vegetal, uma
respectivamente. vez que o tempo reduzido pode estar contribuindo
Devido a maior área de troca de calor da para a melhoria desses fatores.
tubulação com o ambiente externo, o Modelo 3 em
ambos os fluxos avaliados, mostrou-se mais REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
eficiente que os trocadores de calor Modelos 1 e 2.
E o Modelo 3 com fluxo invertido mostrou-se mais FRANÇA, G. A. C.; CAMPOS, M. B. Análise
teórica e experimental do resfriamento de carvão
recomendado para utilização em fornos vegetal em forno retangular. In: ENCONTRO DE
retangulares de alvenaria para produção de carvão ENERGIA NO MEIO RURAL, 4., 2002,
Campinas. Proceedings online... Disponível em:
vegetal ao apresentar menor número de focos de <http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?scrip
incêndio durante a abertura do forno e seu combate t=sci_arttext&pid=MSC0000000022002000100017
&lng=en&nrm=abn>. Acesso em: 05 Nov. 2012.
ser facilitado devido sua ocorrência próximo às
portas. Acesse o trabalho completo pelo QR Code

CONCLUSÃO

Conclui-se que os trocadores de calor


avaliados foram eficientes na redução do tempo de
resfriamento dos fornos retangulares para
produção de carvão vegetal, em comparação com
o resfriamento de forma natural, elevando, assim, a
produtividade dos fornos e, consequentemente, da
unidade de produção de carvão vegetal.
O trocador de calor Modelo 3 com fluxo de
gás invertido apresentou o maior ganho real no
tempo de resfriamento, além do menor número de
134 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

34| PERFIL TÉRMICO E CONTROLE DA CARBONIZAÇÃO EM FORNO CIRCULAR


POR MEIO DA TEMPERATURA INTERNA

Renato Augusto Pereira Damásio, Aylson Costa Oliveira, Angélica de Cássia Oliveira Carneiro, Daniel
Camara Barcelos, Barbára Luísa Corradi Pereira, Mateus Alves de Magalhães, Carlos Miguel Simões da
Silva

INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS

A produção de carvão vegetal ocorre em O forno avaliado é classificado como


ambientes fechados, em condições controladas de circular de superfície, com capacidade de 12 st (9
oxigênio, aplicando-se calor à madeira para sua m³) de madeira e foi construído em alvenaria,
destilação e para o desdobramento de seus acoplado a uma fornalha para a combustão dos
constituintes diversos subprodutos. O processo de gases gerados no processo de produção de carvão
carbonização ocorre em temperaturas superiores a vegetal, conforme Figura 1.
150°C, com temperatura final máxima desejável de
500°C, com o rendimento do processo variando em
função da qualidade da madeira (densidade,
umidade e teor de lignina) e da tecnologia de
conversão empregada, ou seja, do tipo de forno.
O controle operacional subjetivo dos fornos
de carbonização baseia-se na coloração da
fumaça, na temperatura das paredes do forno
sentida pelo tato e na observação da aparência dos Figura 1. Croqui ilustrativo do sistema forno de
superfície acoplado à fornalha para queima dos
controladores de ar, fatores dependentes da gases.
experiência do operador, refletindo em baixo
rendimento gravimétrico e índices inferiores de Para monitoramento da temperatura

qualidade do carvão vegetal (CARNEIRO et al., interna do forno durante a carbonização e o

2013). resfriamento, foram instalados cilindros metálicos

De acordo com Raad (2001), a produção para medição da temperatura por meio de um

de carvão vegetal com monitoramento da sensor de infravermelho.

temperatura interna dos fornos auxilia na tomada As temperaturas de cada carbonização

de decisão, proporciona maior controle da foram registradas em intervalos de 1 em 1 hora

carbonização e do resfriamento do forno, durante a carbonização e em intervalos de 8 em 8

resultando em ganhos representativos no h durante o resfriamento do forno.

rendimento gravimétrico. A partir das temperaturas obtidas pelos

Diante do exposto, os objetivos deste quatro pontos de medição da cúpula e dos quatro

trabalho foram verificar o efeito do controle da pontos instalados nas paredes do forno, realizou-

carbonização por meio da temperatura interna em se o mapeamento térmico do forno durante a

forno circular no rendimento gravimétrico em carbonização que teve rendimento gravimétrico em

carvão vegetal e nas propriedades do mesmo e carvão vegetal mais próximo ao valor médio das

elaborar o perfil térmico do forno durante a três carbonizações realizadas.

carbonização e resfriamento. Foram determinadas as seguintes


propriedades do carvão vegetal: densidade a
granel, densidade relativa aparente, poder
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 135

calorífico superior (PCS), teores de materiais


voláteis (TMV), cinzas (TCZ), carbono fixo (TCF),
teor de umidade (base seca) e friabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 1 são apresentados os


rendimentos gravimétricos em carvão vegetal, atiço
e finos para a primeira carbonização, sem controle
por temperatura e a média das carbonizações com
controle pela temperatura interna do forno circular
de superfície.

Figura 2. Mapas térmicos da fase inicial de


Tabela 1. Rendimentos gravimétricos de carvão carbonização em forno circular de superfície, em
vegetal, atiço e finos para a carbonização sem e que eixo X = perímetro do forno (cm) e eixo Y =
com controle de temperatura. altura do forno (cm): a) 8 h; b) 16 h; c) 24 h; d) 32
Rendimento (%) h. A escala de cores (à direita da figura) representa
Carbonização as temperaturas em °C.
Carvão Atiço Finos
Sem controle de
26,40 21,60 4,10
temperatura
Com controle 33,18 8,85 3,23
de temperatura* (5,17) (45,06) (6,86)
*Média e coeficiente de variação (CV) das três carbonizações
com controle de temperatura interna do forno

Verificou-se que por meio do controle da


carbonização pela temperatura interna do forno e
com a adoção das faixas teóricas, obteve-se
considerável redução na geração de atiço e ganho
na produção de carvão vegetal, valores superiores
ao normalmente verificado para fornos circulares
de superfície com controle da carbonização por
mecanismos subjetivos (MENDES et al., 1982).
O ciclo de carbonização da madeira no
forno circular de superfície avaliado neste trabalho,
teve duração média de 120 h, sendo 72 h para
carbonização da madeira e 48 h para ao
resfriamento do forno e posterior retirada do carvão Figura 3. Mapas térmicos da fase final de
carbonização em forno circular de superfície, em
vegetal. que eixo X = perímetro do forno (cm) e eixo Y =
Nas Figuras 2 e 3 são apresentados os altura do forno (cm): a) 40 h; b) 48 h; c) 56 h; d) 64
h; e) 72 h. A escala de cores (à direita da figura)
mapas térmicos elaborados a partir das representa as temperaturas em °C.
temperaturas registradas durante uma
carbonização de madeira em forno circular de De acordo com as Figuras 2 e 3, observa-
superfície. se que mesmo com o controle adequado da
carbonização não foi alcançada a homogeneidade
das temperaturas no interior do forno, sendo a
136 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

temperatura da parte superior (cúpula) maior que a O resfriamento foi homogêneo, evidenciando a boa
temperatura da parte inferior (parede). vedação do forno ao fim da carbonização.
Para as propriedades do carvão vegetal, O controle da temperatura interna do forno
não foram observadas diferenças expressivas permitiu o incremento do monitoramento do ciclo de
absolutas entre a carbonização sem controle de carbonização, resultando em aumento da
temperatura e a médias das carbonizações em que produtividade do carvão vegetal.
o controle de temperatura foi efetuado.
O carvão apresentou densidade média a REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
granel de 181 kg.m-³ e densidade aparente média
de 312 kg.m-³. A umidade de equilíbrio CARNEIRO, A. C. O.; VITAL, B. R.; OLIVEIRA,
A.C.; PEREIRA, B. L. C. Pirólise lenta da madeira
higroscópico do carvão teve valor médio igual a para produção de carvão vegetal. In: SANTOS, F.;
4,60%. O poder calorífico superior (PCS) médio do COLLODETTE, J.; QUEIROZ, J.H. Bioenergia &
Biorrefinaria – Cana-de-Açúcar & Espécies
carvão foi de 8.114 kcal.kg-1. O elevado poder Florestais. 1. ed. Viçosa, MG: Os Autores, 2013.
calorífico do carvão vegetal obtido nas
MENDES, M. G.; GOMES, P. A.; OLIVEIRA, J. B.
carbonizações no forno circular de superfície pode Propriedades e controle de qualidade do carvão
ser explicado pelo teor de carbono fixo superior a vegetal. In: Produção e utilização do carvão
vegetal. 1982. Belo Horizonte: Fundação Centro
80%. O porcentual de cinzas do carvão foi igual a Tecnológico de Minas Gerais - CETEC, p. 75-89,
1%. O teor de materiais voláteis foi de 17,07%. O 1982.

índice de friabilidade média do carvão vegetal foi RAAD, T. J. Instrumentação e Controle de


igual a 15,28%, especificamente classificado como Processo de Carbonização dos Fornos Industriais
da V&M Florestal. Anais... 1o Congresso
friabilidade média. Internacional de uso da biomassa plantada para a
produção de metais e geração de eletricidade,
Belo Horizonte, Brasil, p. 8-11. 2001.
CONCLUSÃO
Acesse o trabalho completo pelo QR Code
O controle da carbonização pela
temperatura interna em forno circular de superfície,
mensurada por meio de sensor infravermelho,
proporcionou aumento no rendimento gravimétrico
em carvão vegetal além da redução na geração do
atiço.
O carvão vegetal produzido no forno
circular possui qualidade satisfatória para sua
utilização aos diversos fins ao qual se destina,
principalmente siderúrgico.
Os mapas térmicos elaborados mostraram
a heterogeneidade da temperatura interna entre a
parte inferior e superior do forno, principalmente
durante a carbonização.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 137

35| BALANÇO DE MASSA E ENERGIA NA PIRÓLISE DA MADEIRA DE Eucalyptus


EM ESCALA MACRO

Márcia Silva de Jesus e Paulo Fernando Trugilho

INTRODUÇÃO composição química elementar, imediata,


energética e física.
As tecnologias atualmente empregadas O fluxo, a massa e potencial energético dos
para pirólise e/ou carbonização da madeira são gases não condensáveis foram estimados a partir
ineficientes, sabendo-se que são gerados durante de dados disponibilizados pelo software do forno.
o processo, além do carvão vegetal, mais de 70% Realizaram-se ainda, o balanço de massa e
em massa de coprodutos, como gases e alcatrão, energia do processo.
com alto potencial energético, mas, ainda, sem
uma adequada utilização. Além disso, dentre as
propriedades intrínsecas a matéria-prima, podem-
se destacar, especificamente a umidade e
diâmetro, pois influenciam, diretamente, o
rendimento e a qualidade do carvão vegetal
produzido.
Dessa forma, faz-se necessário o
desenvolvimento de ferramentas que busquem
melhor entender os fenômenos que controlam esse
processo, em escala próxima à industrial. Diante
disso, objetivou-se, neste trabalho, avaliar o efeito
da umidade e diâmetro no balanço de massa e
energia em toretes de madeira de Eucalyptus Figura 1. Layout do forno Macro ATG. Fonte:
Andrade (2014).
urophylla no processo de pirólise em escala
laboratorial simulando o processo industrial. RESULTADOS E DISCUSSÃO

MATERIAL E MÉTODOS A umidade das madeiras armazenadas ao


ar livre correspondeu a 13%, tanto para a madeira
Foram utilizadas duas árvores do clone de diâmetro de 7 cm como também para a de 12
Eucalyptus urophylla S.T. Blake, aos seis anos de cm. Enquanto que, as umidades das madeiras
idade e coletados 2 toretes de 30 cm de secas em estufa corresponderam a 0,58 e 0,83%
comprimento por árvore, com diâmetros de 7 e 12 respectivamente, para os diâmetros de 7 e 12 cm.
cm. Posteriormente, foram armazenados em estufa Os valores médios em densidade foram de
e ao ar livre para secagem. Inicialmente, buscou-se 477,63 e 491,40 kg m -3 e os valores médios do
caracterizar a madeira a partir de análises poder calorífico superiores foram de 19,68 e 19,84
químicas, energéticas e físicas. MJ kg-1 respectivamente, para os toretes de
As carbonizações foram feitas em forno madeira secos em estufa e ao ar.
elétrico denominado Macro ATG (Figura 1), na Foi verificado que, na composição química
temperatura final de 500 ºC e taxa de aquecimento imediata e elementar do carvão vegetal, ocorreu
de 5 ºC min-1. Foram avaliadas no carvão vegetal a aumento nos teores em carbono fixo, cinzas,
nitrogênio e carbono elementar, quando
138 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

comparado aos valores médios encontrados na


madeira. Os teores médios em carbono fixo foram
de 85,35 e 83,95% e em carbono elementar de
89,37 e 88,71%, respectivamente para os toretes
de madeira secos em estufa e ao ar. Os altos teores
em carbono devem-se ao efeito da temperatura
final de pirólise (500 ºC).
Os valores médios em densidade relativa
aparente foram de 273,50 e 270,38 kg m -3,
enquanto que, os valores médios do PCS foram de
33,44 e 32,74 MJ kg-1 respectivamente, para o Figura 2. Fluxo gasoso do processo de pirólise dos
toretes de Eucalyptus urophylla. 1.Torete com 12
carvão vegetal dos toretes de madeira secos em cm diâmetro, estufa; 2. Torete com 7 cm diâmetro,
estufa e ao ar. estufa; 3. Torete com 12 cm diâmetro, ar livre; 4.
Torete com 7 cm diâmetro, ar livre.
No balanço de massa foram obtidos
rendimentos médios em carvão de 28,1 e 30,3% O pico em produção de gases começa 120
respectivamente, para os diâmetros de 7 e 12 cm. minutos após o início da pirólise e tem duração
Os compostos gasosos com maiores fluxos máxima de, aproximadamente, 30 minutos.
foram o CO e CO2 e CH4, independente do No presente trabalho, foi observado que, o
diâmetro e umidade da madeira. intervalo de máxima produção energética foi 120
Quando comparados os fluxos totais de minutos, após o início da pirólise (Figura 3), mesmo
gases da pirólise, é possível observar que os período em que foi constatado maior fluxo gasoso.
maiores fluxos são dos gases produzidos a partir O tempo de permanência dessa produção também
da madeira seca em estufa. Foram em média 70,25 foi equivalente ao do fluxo gasoso
e 62,27 Nl h-1 kg-1ms respectivamente, para o torete aproximadamente, 30 minutos.
seco em estufa e ao ar. Esse comportamento pode
ser entendido da seguinte maneira, os gases
produzidos a partir da matéria-prima mais úmida
são passíveis de sofrer o efeito da diluição no vapor
d’água, por isso a diminuição da concentração dos
compostos. A diluição dos gases afeta tanto a
massa quanto o fluxo.
Outro importante aspecto no rendimento
em gases não condensáveis é o comportamento da
evolução dos principais compostos no decorrer do
tempo (Figura 2) e, a partir dele, determinar o
intervalo em que ocorre a máxima emissão de Figura 3. Evolução energética dos gases
gases, durante o processo da pirólise. produzidos no processo de pirólise da madeira dos
toretes de Eucalyptus urophylla. 1.Torete com 12
cm diâmetro, estufa; 2. Torete com 7 cm diâmetro,
estufa; 3. Torete com 12 cm diâmetro, ar livre; 4.
Torete com 7 cm diâmetro, ar livre.

Um importante fato que se pode observar é


a formação de patamares energéticos,
principalmente na pirólise da madeira seca ao ar e
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 139

de maior diâmetro, na Figura 3 (3). Isso pode ser A umidade regula o gradiente térmico
explicado seguindo a lógica da transferência formado no material sólido, a produção de gases e,
térmica, pela formação de gradientes de consequentemente, a distribuição de energia dos
temperaturas muito mais evidentes nos toretes de compostos gasosos com o tempo.
maiores diâmetros e maior umidade. Assim, a A energia dos gases produzidos na
umidade regula o gradiente térmico formado no carbonização da madeira com 13% de umidade
material sólido, a produção de gases e, será mantida por um maior período, o que pode
consequentemente, a distribuição de energia dos favorecer a queima.
compostos gasosos com o tempo. O pico em produção de gases é o mesmo
que o da máxima produção energética inicia 120
CONCLUSÃO minutos após a pirólise e tem duração máxima de
30 minutos, possivelmente o melhor momento de
As umidades (0,58; 0,83 e 13%) e diâmetro queima. Nesse intervalo, a temperatura na madeira
(7 e 12 cm) não influenciaram o balanço de massa está acima de 300 ºC.
e energia do processo. Maior será a energia liberada quanto menor
A produção e qualidade dos gases foram a umidade e maior quantidade em massa da
influenciadas pela umidade e diâmetro. Os gases matéria-prima.
mais energéticos foram produzidos a partir da
matéria- prima seca e os diâmetros influenciam o
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
gradiente térmico, ditando a sequência e
velocidade das reações. ANDRADE, F. W. C. Teste em equipamento
Macro ATG: rendimento gravimétrico sólido e
Há um aproveitamento em 32,8% a mais
transferência térmica na pirólise da madeira de
em energia, a partir do processo em que se utiliza Eucalyptus. 2014. 81 p. Dissertação (Mestrado em
Ciência e Tecnologia da Madeira) – Universidade
matéria prima seca.
Federal de Lavras, Lavras, 2014.
O fluxo e massa dos gases podem ser
afetados pela umidade, a partir do efeito da Acesse o trabalho completo pelo QR Code
diluição, comprometendo o potencial energético
dos compostos gasosos.
Há uma grande variação de temperatura na
madeira, durante a carbonização, em decorrência
da transferência térmica, a diferença entre a
superfície-centro pode atingir até 120 ºC.
Quanto mais úmida a madeira, maior a
diferença de temperatura entre a superfície e o
centro, favorecendo a produção de tiços.
Madeira com 13% de umidade gasta 10
minutos de secagem, até o interior do sólido.
A taxa de transferência térmica é afetada
pela umidade.
A velocidade de aquecimento decresce
com o aumento da temperatura.
140 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

36| FORNO MACRO ATG: ESTUDO DO FLUXO GASOSO NO PROCESSO DA


PIRÓLISE DA MADEIRA DE Eucalyptus

Márcia Silva de Jesus, Alfredo Napoli, Fernando Wallace Carvalho Andrade, Paulo Fernando Trugilho, Maria
Fernanda Vieira Rocha, Philippe Gallet, Nabila Boutahar

INTRODUÇÃO O protótipo chamado Macro ATG, é


composto por um forno elétrico, cuja temperatura
As tecnologias atualmente empregadas pode atingir até 1.000 ºC, apresenta também um
para pirólise e/ou carbonização da madeira são reator de pirólise, uma célula de carga, um
ineficientes, tendo em vista que são gerados controlador de pressão, um condensador do líquido
durante o processo, além do carvão vegetal, mais pirolenhoso, um fluxômetro e um cromatógrafo
de 70% de massa sob forma de coprodutos como gasoso. As experimentações são controladas por
gases e alcatrão com alto potencial energético, mas um painel de controle e um software desenvolvido
sem utilização adequada. especificamente pelo Cirad (Figura 1).
É importante ressaltar, que a temperatura
não age de forma isolada nas reações de pirólise,
existindo fatores adicionais como propriedades
físicas e químicas da matéria-prima e do carvão
vegetal (umidade do material, densidade,
composição química, condutividade, etc.) e
parâmetros do processo (taxa de aquecimento,
pressão e atmosfera).
Desta forma, faz-se necessário o
desenvolvimento de ferramentas mais eficientes
que busquem melhor entender e explicar os
fenômenos térmicos e químicos que envolvem e Figura 1. Layout do equipamento piloto de pirólise
controlam a conversão da madeira em carvão – forno Macro ATG. Legenda: 1- Painel de controle; 2-
Aquisição de dados; 3- Célula de carga – balança; 4- Forno; 5-
vegetal, em escala próxima à industrial. Além de Regulação e segurança; 6- Reator de pirólise; 7- Condensador;
8- Misturador de gases; 9- Fluxômetros; 10- Regulador de
entender os mecanismos e a cinética das reações, pressão e vazão; 11- Cadinho; 12- Cilindro de gases; 13-
Cromatógrafo.
e sua relação com o rendimento e eficiência
energética do processo (PENEDO, 1982). Nesse trabalho foram utilizados toretes de
Diante do exposto, este trabalho teve como clones de Eucalyptus urophylla S.T. Blake, 6 anos
objetivo analisar o comportamento do fluxo gasoso de idade e 30 cm de comprimento, agrupados em
e destacar o potencial do forno piloto, Macro ATG, duas classes de diâmetro: 8 - 10 cm e 13 - 16 cm e
para o estudo da pirólise de toretes de madeira de umidade média de 16%.
eucalipto. Nos toretes foram conectados 4
termopares, cuja disposição na madeira foi no
MATERIAL E MÉTODOS sentido casca para medula para captar a variação
da transferência de calor dentro do torete e traçar
O desenvolvimento do equipamento piloto
seu perfil térmico durante o processo da pirólise.
no processo de pirólise da madeira foi realizado
Durante o processo de decomposição
pelo Centro de Cooperação Internacional em
térmica da madeira, os voláteis produzidos foram
Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento –
coletados em um condensador de líquido
CIRAD, França.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 141

pirolenhoso, equipado com um filtro eletrostatic que Já o Gráfico 3 representa o fluxo gasoso
permite a recuperação eficiente dos compostos acumulado e sua variação em função do tempo
condensáveis. Assim, a produção de gases durante o processo de pirólise dos toretes de
gerados é quantificada por meio de um medidor de madeira para a classe diamétrica 13 - 16 cm.
fluxo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O Gráfico 1 apresenta a temperatura do


reator, temperatura interna do torete e fluxo de
gases da pirólise em função do tempo para a classe
de maior diâmetro.

Gráfico 3. Fluxo gasoso acumulado e variação do


fluxo em função do tempo durante a pirólise do
torete de Eucalyptus urophylla, da classe 13 - 16
cm.

O maior incremento do fluxo gasoso foi


observado acima de 300 ºC, atingindo seu pico
Gráfico 1. Comportamento do fluxo de gás máximo de 24 NL.min-1 aos 166 minutos, que
nitrogênio, parâmetros do forno e transferência
térmica da superfície externa e interna do torete corresponde a 66 minutos de residência na
Eucalyptus urophylla, da classe 13 – 16 cm durante temperatura de 500 ºC.
a pirólise, em função da temperatura e tempo.
Os picos observados na variação de

No Gráfico 1 foi observado perfis de volume até 200 ºC possivelmente estão

temperaturas dentro da madeira durante a pirólise, relacionados à eliminação de vapores d’água. Já os

sendo que apenas a superfície externa segue o picos observados nas temperaturas superiores a

padrão de temperatura do forno. Esses diferentes 250 ºC, estão relacionados à degradação da fração

perfis ocorrem devido a transferência térmica ser mais reativa da composição química da madeira, as

um processo lento. hemiceluloses, seguida da celulose, o que

Observa-se ainda no Gráfico 1, que o fluxo provavelmente ocasionou o aumento do fluxo

de gases atinge o maior pico entre os 900 e 1000 gasoso e, consequentemente, o maior pico,

segundos, aproximadamente 2 horas e 35 minutos liberando gases como monóxido de carbono, ácido

após o início da pirólise, nesse intervalo o perfil metanóico, ácido acético entre outros, que também

térmico interno no torete varia. são potencialmente combustíveis (JANKOWSKY,

Devido à transferência térmica ser um 1986; ROWELL, 1991; BRANCA; DI BLASI, 2003).

processo lento na madeira, não há uniformidade na O volume total de gases produzidos foi da

sua degradação, dessa forma, próximo à medula, a ordem de 543 cm3, na pirólise da classe 8 - 10 cm,

temperatura é aproximadamente 33% menor que a e 697 cm3, na pirólise da classe 13 - 16 cm.

temperatura na superfície mais externa do torete, o


que geralmente são os responsáveis pela geração CONCLUSÃO

de atiços nas empresas de produção de carvão


vegetal.
142 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

O forno Macro ATG apresentou resultados madeiras. 1986. 159 p. Tese – Escola Politécnica,
Universidade de São Paulo, Piracicaba.
satisfatórios durante o processo de pirólise de
toretes de madeira. ROWELL, R. M. Chemical Modification of Wood.
In: Wood and cellulosic chemistry. New York,
O forno pode ser considerado inovação
1991, p. 703-756.
tecnológica no estudo de fluxo gasoso da pirólise.
A partir do forno Macro ATG é possível Acesse o trabalho completo pelo QR Code
acompanhar, em escala macro, a variação do
volume gasoso e o comportamento da
transferência térmica no interior do torete de
madeira.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PENEDO, W.R. Manual de construção e


operação de fornos de carbonização. Belo
Horizonte: CETEC, 1982, 158 p.

BRANCA, C.; DI BLASI, C. D. Kinetics of the


isothermal degradation of wood in the temperature
range 528-708 K. Journal of Analytical and
Applied Pyrolysis, v. 67, n. 1, p. 207-219, 2003.

JANKOWSKY, I. P. Potencialidade de creosoto


de Eucalyptus spp. como preservativo para
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 143

37| SECAGEM DA MADEIRA DE EUCALIPTO EM TORAS A ALTAS TEMPERATURAS


Aylson Costa Oliveira, Bárbara Luísa Corradi Pereira, Angélica de Cássia Oliveira Carneiro, Lucas de Freitas
Fialho, Clarissa Gusmão Figueiró, Benedito Rocha Vital e Mateus Alves de Magalhães

INTRODUÇÃO Foram utilizados toretes de Eucalyptus


urophylla com 60 cm de comprimento, em três
Uma forma de aproveitamento do calor classes diamétricas: 8-12 cm; 12,1-16cm e 16,1-20
gerado pelas fornalhas no processo produtivo do cm. Os toretes foram submetidos à secagem em
carvão vegetal seria o seu direcionamento para a estufa com circulação forçada de ar, na presença
secagem das toras de madeira por meio de ou ausência de casca em cinco temperaturas: 50,
secadores industriais. Visto que, a secagem da 75, 100, 125 e 150ºC.
madeira ao ar livre, principal método adotado Determinou-se a massa e a umidade inicial
atualmente, segundo Zanuncio et al. (2013) de cada torete e com pesagens periódicas
demanda elevado período de tempo para redução acompanhou-se a perda de água, encerrando o
da umidade da madeira a níveis satisfatórios para processo de secagem quando os toretes de
a carbonização, entre 30 e 40%, além de madeira atingiam a umidade de 20%.
apresentar grande heterogeneidade do teor de A taxa de secagem foi calculada por meio
umidade em relação às dimensões das toras e da relação entre a perda total de umidade e o tempo
posição na pilha. total em horas para que as toras atingissem a
Segundo Galvão e Jankowsky (1985), umidade estabelecida.
temperaturas mais elevadas favorecem o processo
de secagem da madeira, fornecendo mais energia
RESULTADOS E DISCUSSÃO
para evaporação da água e elevando o potencial do
ar em receber maior quantidade de vapor de água. O modelo matemático que melhor
Deste modo, a utilização de secadores industriais descreveu a redução no teor de umidade das toras
utilizando como fonte de calor os gases combustos nos diferentes tratamentos (presença ou ausência
da carbonização possibilitará a homogeneização de casca, diâmetro das toras e temperatura de
da umidade de grandes volumes de madeira, secagem, exceto para 150ºC, Classes 1 e 2) ao
redução do tempo de secagem e obtenção de longo do tempo foi um modelo exponencial de dois
menores teores de umidade em relação ao parâmetros:
normalmente verificado na secagem ao ar livre. 𝐲 = 𝐚 ∗ 𝐞𝐱𝐩⁡(−𝐛𝐱)
Portanto, o objetivo deste trabalho foi Em que:
avaliar a velocidade de secagem da madeira em y = valor estimado de umidade para toras
toras de Eucalyptus urophylla a altas temperaturas, de eucalipto (%);
como subsídio aos futuros projetos de secadores x = tempo de secagem (dias);
industriais. Objetivou-se também avaliar a 𝐚, 𝐛 = parâmetros do modelo.
influência da presença ou ausência de casca e do Para a temperatura de 150ºC com
diâmetro da madeira na velocidade de secagem em presença ou ausência de casca para toras com
diferentes temperaturas. diâmetro variando entre 8 e 12 cm (Classe 1) e
entre 12,1 e 16 cm (Classe 2), o modelo que melhor
MATERIAL E MÉTODOS se adequou aos valores de redução da umidade ao
longo do tempo foi um modelo linear com dois
parâmetros:
144 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

𝐲 = 𝐚𝐱 + 𝐛

Em que:
y = valor estimado de umidade para toras
de eucalipto (%);
x = tempo de secagem (dias);
𝐚, 𝐛 = parâmetros do modelo.
Provavelmente, o modelo linear para a
secagem à 150ºC para as Classes 1 e 2 deve-se a
maior velocidade de evaporação da água e
secagem das toras em razão da elevada
temperatura.
As equações ajustadas para a estimativa
do teor de umidade médio da madeira em tora de
eucalipto ao longo do tempo apresentaram
coeficientes de determinação (R²) superiores a Figura 2. Valores médios estimados de umidade
das toras de eucalipto sem casca em função da
99%, demonstrando assim, que o modelo foi
temperatura de secagem. (A) Classe 1 (Ø 8-12 cm);
satisfatório na modelagem da secagem da madeira (B) Classe 2 (Ø 12,1-16 cm); (C) Classe 3 (Ø 16,1-
20 cm).
em tora.
Nas Figuras 1 e 2 são apresentados os
Na Tabela 1 são apresentadas as taxas de
valores médios estimados de umidade das toras de
secagem, redução do teor de umidade por hora,
eucalipto ao longo do tempo, nas diferentes
para as toras de eucalipto nas diferentes
temperaturas de secagem na estufa para cada
temperaturas de secagem na estufa para cada
classe diamétrica, na presença e ausência de
classe diamétrica, na presença ou ausência de
casca.
casca.

Tabela 1. Valores médios da taxa de secagem,


%/hora, das toras de eucalipto em função da
temperatura de secagem, classe diamétrica e
presença ou ausência de casca
Taxa de Secagem (%/hora)
Classe
Casca 100 125 150
Diamétrica 50ºC 75ºC
ºC ºC ºC

Classe 1 Presente 0,12 0,48 0,93 2,68 2,29


(Ø 8-12 cm) Ausente 0,09 0,51 1,31 2,59 2,43
Classe 2 Presente 0,06 0,22 0,64 1,15 1,67
(Ø 12,1-16
cm) Ausente 0,09 0,27 0,75 1,30 1,58
Classe 3 Presente 0,06 0,15 0,70 1,09 1,06
(Ø 16,1-20
cm) Ausente 0,08 0,17 0,63 1,25 1,01

Verifica-se nas Figuras 1 e 2 que as toras


de menor diâmetro, pertencentes à Classe 1,
. apresentaram os menores tempos de secagem,
Figura 1. Valores médios estimados de umidade
exceto para a secagem realizada em temperatura
das toras de eucalipto com casca em função da
temperatura de secagem. (A) Classe 1 (Ø 8-12 cm); de 50ºC. Em média, para as toras da Classe 2
(B) Classe 2 (Ø 12,1-16 cm); (C) Classe 3 (Ø 16,1-
atingirem 20% de umidade, o tempo necessário foi
20 cm).
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 145

50% superior ao verificado para a Classe 1. Para quando a madeira estiver com baixo teor de
as toras de maior diâmetro da Classe 3, o tempo de umidade.
secagem foi 2 e 3 vezes maior, respectivamente,
em relação às Classes 1 e 2. CONCLUSÃO
As diferenças nos tempos de secagem
(Figuras 1 e 2) são decorrentes das diferenças A secagem de toras de madeira em estufa à
verificadas entre as classes diamétricas nas taxas altas temperaturas promoveu a redução da
de secagem, que diminui com o aumento do umidade a valores próximos a 20% para todas as
diâmetro das toras (Tabela 1). De maneira geral, classes diamétricas, com presença ou ausência de
observou-se as maiores taxas de secagem para as casca, em tempos inferiores a 30 dias.
toras pertencentes à Classe 1, por isso, os menores O aumento da temperatura promoveu o
tempos de secagem. Para a Classe 2, houve uma aumento da taxa de secagem e consequente
redução média de 40% na taxa de secagem, redução do tempo de secagem, não havendo
resultando nos tempos intermediários de secagem, alteração a partir de 125ºC. A presença de casca
enquanto que as toras pertencentes a Classe 3, na madeira de Eucalyptus urophylla em toras foi
apresentaram os maiores tempos de secagem insignificante na secagem em temperaturas
devido as menores taxas de secagem, em média, superiores a 100ºC, não sendo recomendado o
20% menor em relação à Classe 2 e 50% em descascamento das toras.
relação à Classe 1. A taxa de secagem das toras de menor
Em projetos de secadores artificiais que diâmetro foram superiores ao verificado para as
visam à utilização dos gases combustos da toras de maior diâmetro nas mesmas condições de
carbonização como fonte de calor, é necessário a temperatura, resultando em diferença no tempo de
mistura dos gases com o ar ambiente para secagem, sendo recomendada a separação das
adequação da temperatura do fluido às condições toras em classes diamétricas anteriormente à
mais seguras de secagem, visto que segundo secagem em estufa.
Oliveira et al., (2013), os gases liberados pela A melhor condição de operação de
fornalha alcançam temperaturas que variam de 200 secadores artificiais para a madeira de eucalipto
a 500ºC. Logo, visando à secagem da madeira em em tora seria com presença de casca, separadas
tora, as temperaturas mais elevadas seriam as em classes diamétricas e em temperatura de
mais indicadas para operação do secador pela 125ºC.
necessidade de menor redução da temperatura dos
gases da fornalha e pela maior velocidade de REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
secagem resultando no menor tempo de ocupação
GALVÃO, A. P. M.; JANKOWSKY, I. P. Secagem
da câmara de secagem, possibilitando a secagem
racional da madeira. São Paulo, Nobel, 1985.
da madeira para diversos ciclos de carbonização. 111 p.
No entanto, como as diferenças entre o
OLIVEIRA, A. C.; CARNEIRO, A. C. O.; PEREIRA,
tempo e as taxas de secagem entre as B. L. C.; VITAL, B. R.; CARVALHO, A. M. M. L.;
TRUGILHO, P. F.; DAMÁSIO, R. A. P. Otimização
temperaturas de 125 e 150ºC (Tabela 1) não foram
da produção do carvão vegetal por meio do controle
expressivas, recomenda-se que a operação de de temperaturas de carbonização. 2013. Revista
Árvore, Viçosa-MG, v.37, n.3, p.557-566, 2013.
secagem de madeira em toras em secadores
industriais metálicos seja realizada a 125ºC, ZANUNCIO, A. J. V.; MONTEIRO, T. C.; LIMA, J.
T.; ANDRADE, H. B.; CARVALHO, A. G. Drying
visando menores danos à estrutura do secador e
biomass for energy use of Eucalyptus urophylla
risco de ocorrência de incêndios, principalmente
146 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

and Corymbia citriodora Logs. 2013.


BioResources, v.8, n. 4, p. 5159-5168, 2013.

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Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 147

38| TEOR DE UMIDADE DA MADEIRA EM TORA


Danilo Barros Donato, Renato Vinícius Oliveira Castro, Angélica de Cássia Oliveira Carneiro, Ana Márcia
Macedo Ladeira Carvalho, Benedito Rocha Vital e Ramon Ubirajara Teixeira

INTRODUÇÃO metros e separadas em três classes de diâmetro,


10-12; 14-16; e 18-20 centímetros.
O método mais confiável para As alternativas de determinação do teor de
determinação do teor de umidade da madeira em umidade da tora foram determinadas por meio de
tora é o estabelecido de acordo com a norma da uma balança analisadora do teor de umidade,
ABNT NBR 14929 (ABNT, 2003), também sendo que foram utilizados para coleta das
chamado de método gravimétrico ou da estufa, que amostras na forma de serragem, uma furadeira
é preciso, porém demorado e caro. elétrica portátil e um trado manual. Também foram
Em virtude das desvantagens do método utilizados os medidores elétricos do tipo capacitivo
da ABNT NBR 14929, faz-se necessário o e resistivo, conforme esquema apresentado na
desenvolvimento de métodos de determinação do Figura 1.
teor de umidade da madeira em tora que sejam
rápidos, de baixo custo e confiáveis.
Algumas alternativas vêm sendo
estudadas por algumas empresas do setor de
produção de carvão vegetal e sua precisão
comparada com a do método tradicional para se
obter o teor de umidade da madeira em tora. Uma
dessas alternativas é a retirada de corpos de prova
na tora em forma de serragem, com o auxílio de
uma furadeira elétrica ou um trado manual. No
entanto, há poucos trabalhos na literatura a
respeito desses métodos, ou esses ainda não Figura 1. Esquema representativo dos métodos de
amostragem e determinação do teor de umidade da
foram publicados. madeira em tora utilizado neste estudo.
Nesse sentido o objetivo geral desse
trabalho foi o de avaliar diferentes métodos de Devido a eventuais distorções entre os

determinação do teor de umidade da madeira em resultados encontrados por esses métodos, em


tora e correlacionar os valores obtidos com o comparação com o método ABNT-NBR14929,

método da ABNT-NBR14929. foram estabelecidos um fator de correção e um


modelo de regressão para fazer os ajustes.

MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi analisado segundo o


delineamento inteiramente casualizado (DIC)
Foram colhidas 14 árvores da espécie simples. Realizou-se a análise de variância, e
Eucalyptus sp. com idade de 6 anos, cultivadas em quando houve efeito dos tratamentos as médias
espaçamento 3,0 x 2,0 metros, pertencentes a uma foram comparadas pelo teste Tukey, a 95% de
propriedade particular localizada no município de probabilidade.
Viçosa – Minas Gerais.
Após o corte, as árvores foram RESULTADOS E DISCUSSÃO
seccionadas em três comprimentos: 1,5; 3,0; e 4,5
148 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

Na Tabela 1 estão os valores médios do comparados à metodologia da ABNT, de forma


geral e por classe de diâmetro.
teor de umidade da madeira obtidos a partir de
diferentes métodos de determinação.
Verifica-se, de modo geral, que a dispersão
dos valores de umidade entre o método da ABNT e
Tabela 1. Valores médios de teor de umidade em
os demais tratamentos testados neste trabalho tem
função dos métodos de amostragem e
determinação do teor de umidade da madeira para como característica uma correlação linear positiva.
a leitura direta.
Observa-se que a correlação existente entre o
método da ABNT e da balança analisadora (trado
manual) foi menor, quando comparado com o
método também da balança, porém obtendo as

Observa-se que todos os métodos de amostras com a furadeira elétrica.

determinação do teor de umidade utilizados nesse No caso dos medidores elétricos, tanto o

trabalho foram significativamente diferentes. No capacitivo como o resistivo, observa-se uma baixa

entanto, constata-se que o método em que a correlação entre eles e o método da ABNT,

balança analisadora de umidade foi utilizada, cuja principalmente pela faixa de umidade da madeira

amostra foi retirada com a furadeira elétrica, foi o em tora utilizada nesse trabalho, reproduzindo

que mais se aproximou do valor de umidade obtido valores normalmente obtidos em campo.

pelo método da ABNT. Por outro lado, o valor Na Figura 2 pode-se constatar, de modo

médio obtido pelo medidor elétrico resistivo foi o geral, que os métodos alternativos de determinação

mais distante, em relação ao obtido pelo método do teor de umidade da madeira para as classes de

ABNT. menor diâmetro tiveram melhor correlação com o

Na Figura 2 estão as correlações método da ABNT, quando comparadas com as

existentes entre os métodos alternativos de demais classes diamétricas. Em relação aos

determinação do teor de umidade da madeira em medidores elétricos, essa tendência se deve ao fato

tora e o método da ABNT por classe de diâmetro de as classes de menor diâmetro terem menor

(Figura 2a, 2b e 2c). gradiente de umidade, quando comparadas com as


de maior, consequentemente as toras de menor
diâmetro tiveram menor teor umidade, e quanto
mais próximo esse valor do PSF melhor são as
leituras realizadas por esses aparelhos. A perda de
precisão das estimativas de teor de umidade acima
do PSF é explicada por Jankowsky (2000), que
atribui à presença de água livre acima desse ponto,
que apresenta resistência muito menor que a da
madeira.
Já no caso dos medidores capacitivos, o
melhor ajuste de correlação para as toras de menor
classe diamétrica em relação à de maior se deve
ao efeito de profundidade do campo elétrico, que
apesar de não ser linear diminui logaritmicamente
na zona externa em direção ao interior da madeira.
Segundo Franzoi (1997), o valor obtido pelo
Figura 2. Dispersão entre as estimativas de
medidor capacitivo não indica o valor da superfície
umidade de toras por diferentes métodos,
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 149

da madeira, mas sim da média do teor de umidade Assim, desde que se utilize um fator de
abrangido pelo seu campo elétrico, que varia em correção ou um modelo de regressão, os métodos
função do aparelho. de determinação do teor de umidade da madeira
Na Tabela 2 estão os valores do fator de testados nesse estudo são adequados para
correção para cada método alternativo utilizado determinação da umidade da madeira de maneira
neste estudo. rápida, barata e eficiente, quando comparados ao
método da ABNT.
Tabela 2. Fatores de correção do teor de umidade
da madeira em tora em função do Método.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICAS. NBR 14929: Madeira: determinação
da densidade básica. Rio de Janeiro, 2003. 6 p.

O valor obtido pelo fator de correção para FRANZOI, L. C. N. A Secagem da Madeira em


Estufa: secagem artificial. Bento Gonçalves:
cada método alternativo aqui testado indica que SENAI/CETEMO, 1997, 83 p.
todos esses métodos subestimam o valor do teor
JANKOWSKY, I, P. Melhorando a eficiência dos
de umidade obtido pelo método da ABNT. secadores para madeira serrada. Piracicaba,
IPEF, 2000. 13 p. (Circular Técnica, 191).
CONCLUSÃO
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De modo geral, as leituras diretas (sem
fatores de correção) para determinação do teor de
umidade da madeira pelos métodos alternativos,
em comparação com o método da ABNT, foram
estatisticamente diferentes. A determinação do teor
de umidade utilizando a balança analisadora e a
retirada das amostras de serragem com o auxílio
da furadeira elétrica foi que mais se aproximou do
valor obtido pelo método da ABNT.
Utilizando tanto o fator de correção quanto
o modelo de regressão adotado nesse estudo,
constatou-se que todos os métodos alternativos de
determinação do teor de umidade passaram a
apresentar resultados confiáveis, sendo o modelo
de regressão mais preciso que o fator de correção.
150 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

39| PROPRIEDADES DE BRIQUETES OBTIDOS DE FINOS DE CARVÃO VEGETAL


Danilo Barros Donato, Carlos Miguel Simões da Silva, Mateus Alves de Magalhães, Carlos Alberto Araújo
Júnior, Angélica Cássia Oliveira Carneiro, Benedito Rocha Vital

INTRODUÇÃO homogeneização, essa mistura foi colocada em


uma briquetadeira (Figura 1).
Há o acúmulo de um volume bastante
expressivo de finos de carvão que são gerados em
todas as atividades do processo produtivo, desde a
carbonização, peneiramento e transporte até a
utilização final. Dentre as possibilidades de
reaproveitamento desses finos de carvão está a
briquetagem para possibilitar a aplicação como
redutor em alto-fornos ou para a geração de Figura 1. Imagem ilustrativa da briquetadeira de
extrusão utilizada para produção dos briquetes. A -
energia (LUCENA et al., 2008; PEREIRA et al.,
vista lateral; e B -Vista Superior.
2009).
A briquetagem é um processo mecânico na A análise química imediata e a densidade
qual se aplica pressão em uma biomassa dispersa aparente dos briquetes foram determinadas. Além
em partículas, visando compactá-la em sólidos com disso, estimou-se o poder calorífico útil e a
geometria definida (KALIYAN; MOREY, 2009). densidade energética de cada tratamento. A
Quando se utiliza os finos de carvão, é necessária resistência à compressão dos briquetes quando
a adição de algum material aglutinante que submetidos a um determinado esforço foi
possibilite a adesão das partículas para que o determinada em uma máquina universal de
briquete não se desfaça novamente em finos ensaios.
(LUCENA et al., 2008).
Com isso, o objetivo do presente estudo foi RESULTADOS E DISCUSSÃO
avaliar algumas propriedades físicas, químicas e
mecânicas dos briquetes produzidos por pequenos Observou-se que os briquetes produzidos

produtores de Minas Gerais, utilizando finos de com o aglutinante de silicato apresentaram um

carvão vegetal e diferentes materiais aglutinantes. maior teor de cinzas que os demais (Tabela 1), por
causa da presença da sílica, um dos constituintes

MATERIAL E MÉTODOS do adesivo que aparece como resíduo do processo


de degradação do material pelo calor.
Para a produção dos briquetes, foram
utilizados os finos de carvão em duas Tabela 1. Análise imediata, poder calorífico
granulometrias (moinha fina e moinha grossa), superior e densidade energética dos briquetes de
carvão vegetal com três tipos de aglutinantes.
água e aglutinantes, nas respectivas proporções:
70 kg de moinha de carvão, sendo 40 kg da moinha
com granulometria 0,80 mm e 30 kg de moinha com *Não significativo pelo teste F a 5% de probabilidade de erro.
Médias seguidas das mesmas letras não diferem entre si pelo
granulometria 3 mm. Foram empregados a farinha teste Tukey, a 95% de nível de confiança.

de trigo, o adesivo de silicato e o melaço de soja Quanto ao poder calorífico superior dos
como aglutinantes. A mistura entre os finos de briquetes analisados nesse estudo, observou-se
carvão, água e aglutinante foi realizada com o que os resultados obtidos para os três tipos de
auxílio de uma betoneira. Ao final da
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 151

briquetes produzidos foram significativamente os aglutinantes de farinha de trigo e melaço de soja


diferentes entre si. O maior valor obtido foi para o apresentaram os melhores resultados, sinalizando
briquete produzido com o aglutinante de melaço de a viabilidade na obtenção de energia a partir
soja. Consequentemente, a densidade energética dessas fontes.
dos briquetes de melaço de soja foi A proporção dos aglutinantes testados
significativamente superior aos demais, mostrando nesse estudo (6%) resultou em baixa resistência a
um maior potencial para geração de energia. compressão. Desta forma novos estudos são
De acordo com a Tabela 2, observou-se necessários para avaliar a influência de diferentes
que os valores médios da densidade aparente dos proporções de aglutinantes na resistência
briquetes produzidos com os aglutinantes de mecânica de briquetes a partir de finos de carvão
melaço de soja e silicato foram estatisticamente vegetal.
iguais e superiores ao valor obtido para os
briquetes produzidos com o aglutinante de farinha REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
de trigo.
KALIYAN, K.; MOREY, R. V. Factors affecting
strength and durability of densified biomass
Tabela 2. Valores médios da densidade e da products. Biomass & Bioenergy. V. 33, n. 3, p.
resistência à compressão dos briquetes em função 337–359. 2009.
dos aglutinantes.
LUCENA, D.A.; MEDEIROS, R.D.; FONSECA,
U.T.; ASSIS, P.S. Aglomeração de moinha de
carvão vegetal e sua possível aplicação em alto-
Médias seguidas das mesmas letras não diferem entre si pelo
teste Tukey, a 5% de probabilidade de erro.
forno e geração de energia. Tecnologia em
Metalurgia e Materiais. V.4, n.4, p. 1-6. 2008.

A resistência à compressão dos briquetes PEREIRA, F.A.; CARNEIRO, A.C.O.; VITAL, B.R.;
produzidos com o aglutinante de melaço de soja e DELLA LÚCIA, R.M.; PATRÍCIO JÚNIOR, W.;
BIANCHE, J.J. Propriedades físico-químicas de
de farinha de trigo não diferiram entre si. Contudo, briquetes aglutinados com adesivo de silicato de
os briquetes produzidos com o silicato sódio. Floresta e Ambiente. v.16, n.1, p. 23
– 29. 2009.
apresentaram um menor valor de resistência à
compressão que os briquetes produzidos com os Acesse o trabalho completo pelo QR Code
demais aglutinantes avaliados.
O valor médio obtido para a densidade dos
briquetes que utilizaram o aglutinante de silicato
não teve uma relação direta entre a densidade e a
sua resistência mecânica.

CONCLUSÃO

Os briquetes produzidos com todos os


aglutinantes testados nesse estudo são
recomendados como fonte energética em usos
domésticos e comerciais.
De acordo com os resultados obtidos para
as propriedades físicas e químicas dos briquetes,
152 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

40| SECAGEM DE MADEIRA EM TORAS UTILIZANDO OS GASES COMBUSTOS DO


QUEIMADOR

Marco Túlio Cardoso e Angélica de Cássia Oliveira Carneiro

INTRODUÇÃO Foi desenvolvido e construído um secador


metálico, com capacidade volumétrica útil de 16,8
A água na madeira é um dos principais m³. Na Figura 1 estão apresentados os detalhes
problemas, indubitavelmente, desde o transporte construtivos do secador.
das toras até a unidade de produção de carvão
vegetal, até no processo de carbonização, tendo
influência inclusive na qualidade do carvão.
Sabe-se que o diâmetro das toras tem
influência no seu teor de umidade, principalmente
quando da secagem natural, por meio da qual toras
com diâmetros menores tem uma secagem mais
efetiva, comparando-se com toras de diâmetros
maiores. Logo, a separação de toras por classes de
diâmetro para a carbonização torna-se uma
alternativa para minimizar o impacto negativo que a
água na madeira tem no processo.
Figura 1. (a) Vista geral do secador; (b) detalhe da
Contudo, a separação de toras por classes tubulação e ventilador centrífugo de exaustão do ar
diamétricas nem sempre é viável, sendo necessário úmido; (c) detalhes do posicionamento do
distribuidor dos gases combustos, ventiladores
o desenvolvimento de tecnologias que possam axiais e saídas de ar úmido.
secar a madeira mais rapidamente.
Atualmente a queima dos gases da Realizaram-se duas secagens para cada

carbonização é uma tecnologia muito difundida classe de diâmetro das toras, a saber: Classe 1 (8

entre as grandes empresas, por meio da qual a 14 cm); Classe 2 (14 a 22 cm) e Classe 3 (8 a 22

obtém-se grande quantidade de energia térmica, cm), totalizando seis secagens.

logo, o aproveitamento dessa energia para a Utilizou-se 45 amostras de toras, com 2

secagem das toras em secadores torna-se uma metros de comprimento, para se obter o perfil de

alternativa atraente. umidade da pilha de madeira. Estas foram

Portanto, o objetivo principal deste trabalho distribuídas em 3 estratos (linhas) e 3 seções

foi secar madeira em toras com a utilização da (colunas) ao longo da pilha de madeira, sendo cada

energia térmica liberada na queima dos gases da amostra pesada antes e depois da secagem.

carbonização. O tempo de secagem estabelecido foi de


68 horas e a temperatura média do gás de entrada

MATERIAL E MÉTODOS no secador foi de 150 ºC.


Determinou-se, também, o rendimento
Foi avaliado o efeito da classe diamétrica gravimétrico e as propriedades do carvão vegetal.
na taxa de secagem e redução relativa de umidade.
Determinou-se a influência da posição da tora na RESULTADOS E DISCUSSÃO
pilha de madeira na secagem, além da variação de
teor de umidade ao longo da tora. Avaliando a temperatura dos gases ao
longo do tempo de carbonização e da secagem da
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 153

madeira, de modo geral, observa-se que houve em comparação a parte inferior, mostrando que a
variação na temperatura dos gases na saída da frente de carbonização avança de cima para baixo.
fornalha, contudo essa variação não teve efeito na
temperatura dos gases na entrada secador,
mantendo-se os valores pré-estabelecidos.
De modo geral, tem-se observado que
acima de 110°C ocorre a combustão dos gases
sem a necessidade de combustível auxiliar para
manter a combustão, pois nesta temperatura os
gases da carbonização têm na sua composição
menor quantidade de água e maior percentual de
Figura 2. Imagem termográfica no infravermelho do
gases combustíveis. forno e tubulação de transporte de gases.
A temperatura da câmara de combustão
Na Figura 3 são apresentados os perfis de
variou ao longo do tempo, porque a combustão dos
temperaturas do secador, para cada classe de
gases não foi constante, principalmente no início da
diâmetro das toras em função do tempo de
carbonização, quando foi necessário adição de
secagem.
combustível auxiliar (resíduos de biomassa) para
manter a chama, devido ao baixo poder calorífico
dos gases. Observa-se que a temperatura dos
gases combustos na tubulação de saída da
fornalha até a abertura de controle de temperatura
do secador, também seguiu a mesma tendência de
variação verificada na câmara de combustão, no
entanto, essa variação não afetou a temperatura de
entrada do secador, uma vez que essa é controlada
pela admissão de ar atmsférico.
Verifica-se que a temperatura dos gases
na entrada do secador variou de 140 a 160°C,
independente da classe de diâmetro da madeira.
Isso evidenciou a funcionalidade da abertura de
controle manual da temperatura do gás de entrada.
Verificou-se, também, uma tendência de
aumento de temperatura dos gases úmidos de
saída do secador ao longo do tempo. Figura 3. Perfil térmico do secador para secagens
de toras de madeira ao longo do tempo, sendo (a)
Na Figura 2 é apresentada uma imagem Classe 1, (b) Classe 2 e (c) Classe 3. Legenda: L.E.
termográfica no infravermelho do forno e da – lado esquerdo (entrada do distribuidor dos gases
combustos); L.D. – lado direito; Tras. – parede
tubulação de transporte de gases até o secador. oposta à porta.
Observa-se uma redução de temperatura ao longo
da tubulação que transporta os gases combustos De modo geral, observa-se que a
até a entrada do secador. Além disso, a imagem temperatura dentro do secador ao final da secagem
permite visualizar a condução da carbonização, foi maior que a inicial, indicando o aquecimento de
evidenciando maior temperatura na copa do forno todo o sistema, incluido parede, piso, dutos e
principalmente a madeira. Se a secagem ocorresse
154 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

em um período de tempo maior, a tendência seria Na Tabela 2 são apresentados os valores


que em um dado momento, mantendo-se a médios de rendimento gravimétrico e das
secagem, ou seja, eliminação de água da madeira, propriedades do carvão vegetal.
as temperaturas se manteriam constantes, quando
ocorresse um equilíbrio térmico entre o gás quente Tabela 2. Valores médios de rendimento
gravimétrico e propriedades do carvão vegetal.
admitido no secador e toda estrutura metálica, piso Valores com desvio
Propriedade do carvão vegetal
e a pilha de madeira. padrão
Rendimento gravimétrico em carvão
30,9±2,7
Na Tabela 1 são apresentados os valores vegetal (%)
Finos (%) 4,13± 0,35
médios dos principais parâmetros da madeira, por
Atiço (%) 5,08± 0,29
classe de diâmetro, obtidos após as secagens. De
Densidade a granel (kg/m³) 156,15±9,56
modo geral, após a secagem as toras de madeira Friabilidade 10,8±1,7
reduziram em média 36,45% da sua umidade Carbono fixo (%) 77,7±2,4
inicial. Materiais voláteis (%) 21,1±1,9
Cinzas (%) 0,99±0,17

Tabela 1. Parâmetros médios da madeira, por


classe de diâmetro, obtidos após a secagem. Observou-se que os valores obtidos nas
Taxa de
Massa seca
Classe de
de madeira
Massa de água secagem carbonizações, tanto para rendimento gravimétrico
diâmetro eliminada (kg) (kg água/kg
(kg)
madeira.h) quanto propriedades do carvão vegetal, são
1 4314,4 1281,35 0,00436
adequados para sua utilização em siderurgia,
2 4460,5 554 0,00183
indicando que a integração do sistema
3 4132,5 707,1 0,00252
forno/fornalha com o secador não foi prejudicial
Classe de Umidade Umidade Redução
diâmetro inicial (%) final (%) relativa (%) para o processo de carbonização.
1 70,81 42,96 39,34 O consumo total de energia elétrica foi de
2 84,46 61,29 27,43 850 Kw, tendo um consumo médio de 212,5 Kw
3 39,99 22,96 42,58 para cada secagem, ou 49,4 Kw por tonelada de
massa seca de madeira. Essa energia foi
Verifica-se na Tabela 1 que houve efeito da consumida em 68 horas ininterruptas de
classe de diâmetro na redução relativa média da funcionamento do sistema de secagem,
umidade da madeira após a secagem. De acordo contemplando 2 ventiladores centrífugos e 3 axiais.
com os resultados, as toras de madeira Na Tabela 3 são apresentados os valores
pertencentes as classes 1 e 3 obtiveram maior obtidos de energia térmica intensiva, energia
redução de umidade em relação as toras com maior elétrica intensiva e eficiência térmica do secador.
diâmetro (classe 2), seguindo a mesma tendência
da secagem ao ar livre, conforme relatado por Tabela 3. Eficiência térmica do secador em função
Pinheiro (2013) e Rezende (2009), em experimento das secagens das toras de diferentes classes de
diâmetro.
de secagem natural com diferentes classes de
CD EF EU ETI EEI ET
diâmetro.
1 20305 12470 4707 49,3 0,61
De modo geral, os resultados obtidos
2 20330 5388 4558 47,6 0,27
demonstram a maior dificuldade de secagem para
3 22480 7979 5440 51,4 0,36
toras com diâmetros maiores, sendo este fato
Média 21038 8612 4902 49,4 0,41
explicado pela maior distância a qual as moléculas Legenda: CD = Classe diâmetro; EF = Energia fornecida (J/s);
EU = Energia utilizada (J/s); ETI = Energia térmica intensiva
de água do interior da tora têm que percorrer para (J/s.Ton. madeira seca); EEI = Energia elétrica intensiva
(kW/Ton. madeira seca); ET = Eficiência térmica.
atingirem a superfície e por diferença de pressão
serem removidas.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 155

Observa-se maior eficiência térmica para carga de madeira mais homogênea quando
as secagens realizadas com as toras de menor comparado com a carga de madeira de diâmetros
diâmetro, ou seja, a energia na forma de calor misturados.
fornecida para a secagem foi melhor aproveitada A redução relativa, independente da classe
para esta classe. A menor eficiência foi obtida para de diâmetro, foi maior nas toras posicionadas nas
a Classe 2, toras com diâmetros maiores, partes mais altas da pilha.
evidenciando maiores perdas térmicas neste De modo geral, a redução relativa do teor
processo, o que representa também a maior de umidade, nas condições e parâmetros em que
dificuldade de secagem dessas toras. foram realizadas as secagens, foi de 36,45%.
Os parâmetros obtidos de energia térmica O consumo de energia elétrica, por cada
intensiva e energia elétrica intensiva são tonelada de madeira (massa seca), foi de 49,4 kW.
importantes, pois servirão de suporte para A maior eficiência térmica, sendo 0,61, foi
dimensionamento de secadores industriais. obtida para as secagens da Classe 1.
A demanda de energia para retirada da Estimou-se um ganho médio de 4,85% no
água da madeira foi diretamente proporcional à rendimento gravimétrico em carvão vegetal ao se
quantidade de água eliminada na secagem, logo utilizar madeira com baixa umidade na
teve influência não só da classe de diâmetro das carbonização.
toras mais também da umidade inicial e final, a qual
determinou a proporção de água de adesão REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
eliminada, uma vez que é necessária maior
quantidade de energia para retirada desse tipo de PINHEIRO, M. A. Influência das dimensões da
madeira na secagem e nas propriedades do
água da madeira. carvão vegetal. 2013. 77 fls. Dissertação
Comparando-se as estimativas de (Mestrado em Ciência Florestal) – Universidade
Federal de Viçosa, Viçosa.
rendimentos gravimétricos das carbonizações,
obteve rendimento variando de 28,3% a 36,9%, REZENDE, R. N. Secagem de toras de clones
de Eucalyptus empregados na produção de
sendo o valor médio de 32,4%, ou seja, haveria um carvão. 2009. 178 p. Dissertação (Mestrado em
ganho de 1,5 pontos percentuais, ou 4,85% a mais Ciência e Tecnologia da Madeira) – Universidade
Federal da Lavras, Lavras.
de carvão ao se utilizar a madeira previamente
seca. Além do ganho em rendimento gravimétrico Acesse o trabalho completo pelo QR Code
em carvão vegetal, a utilização de madeira com
baixa umidade reduz o ciclo de carbonização em
função de haver menor quantidade de água nas
toras para ser eliminada na fase inicial.

CONCLUSÃO

As perdas térmicas ocorridas nas


tubulações do transporte de gases não afetaram a
temperatura de entrada dos gases no secador.
As toras separadas por classe de diâmetro
apresentaram uma tendência de menor variação do
teor de umidade após a secagem, gerando uma
156 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

41| RESFRIAMENTO ARTIFICIAL DE CARVÃO VEGETAL EM FORNOS DE


ALVENARIA

Ivanildo da Silva dos Santos e Marcio Arêdes Martins

INTRODUÇÃO Para avaliação dos efeitos da velocidade


de escoamento dos gases pelo leito do carvão
O resfriamento artificial do carvão vegetal vegetal e, consequentemente, o tempo de
contido em fornos retangulares é uma realidade, resfriamento do forno e também seu efeito na
tornando-se necessário o conhecimento da cinética qualidade final do carvão produzido, utilizou-se um
do processo de resfriamento e da dinâmica do trocador de calor do tipo casco e tubos, equipado
escoamento dos gases ao percolar o leito de com inversores de frequência que proporcionaram
carvão durante o processo. variação nas velocidades de escoamento das
O dimensionamento e construção de partes fluidas do sistema.
sistemas de resfriamentos vêm ocorrendo, Em cada carbonização, preencheu-se o
levando-se em conta basicamente a quantidade de forno com madeira de Eucalyptus sp., idade
calor que se deseja retirar dos fornos em um aproximada de 8 anos, comprimento de 2,10 m,
intervalo de tempo que justifique sua implantação. diâmetro de 8 a 25 cm, teor de água que variou de
Alguns protótipos já foram testados, sendo que 27 a 38 % b.s., poder calorífico superior de 4444
algumas configurações tiveram viabilidade técnica, kcal kg-1 e densidade básica de 490kg m -3. As toras
porém não se viabilizaram do ponto de vista de madeira foram dispostas verticalmente no forno.
econômico e ambiental. Assim, para um melhor Para avaliar os efeitos do resfriamento do
dimensionamento e configurações de resfriamento forno no rendimento e na qualidade final do carvão,
de fornos, parâmetros do carvão vegetal e dinâmica o experimento foi conduzido segundo o
de escoamento devem ser considerados. Diante delineamento inteiramente casualizado, com
desta problemática, o objetivo geral deste trabalho quatro velocidades de gases pelo leito, em três
foi avaliar o resfriamento de uma massa de carvão repetições, totalizando doze carbonizações.
vegetal contida em um protótipo de forno
retangular, usando um trocador de calor.
RESULTADOS E DISCUSSÃO

MATERIAL E MÉTODOS Durante as carbonizações, as


temperaturas internas do forno evoluíram,
Para os ensaios de carbonização e seguindo a curva teórica de carbonização adotada
resfriamento, foi utilizado um protótipo de forno para o forno e na maior parte do tempo, não
retangular com capacidade para 10 estéreos de ultrapassaram a temperatura máxima permitida
madeira, conforme Figura 1. para parte superior do forno (copa).
O emprego de maiores velocidades de gás
pela massa de carvão proporcionaram maior
diferença de pressão no interior do forno,
provocando infiltrações de ar (comburente) e,
consequentemente, queimas de carvão no ponto
de sucção dos gases. Este fato ocorria em média
13 horas após o início do resfriamento, momento
Figura 1. Esquema do acoplamento do forno com
trocador de calor. em que os ventiladores eram desligados.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 157

A melhor eficiência, obtida com os A metodologia de resfriamento tem


resfriamentos onde aplicou-se menores influência mínima na qualidade do carvão se
velocidades é um fator importante a considerar no comparada aos procedimentos de carbonização e
dimensionamento de sistemas de resfriamento com à qualidade da madeira a ser carbonizada.
trocador de calor. Aumento das velocidades de A circulação de gases através da massa de
escoamento, objetivando redução no tempo de carvão proporcionou redução no tempo de
resfriamento, deve ser acompanhado de resfriamento de 76 para 28 horas, que representa
metodologia que não eleve a diferença de pressão uma redução de 63% em relação ao tempo de
entre a sucção e injeção dos gases do forno. resfriamento por convecção natural.
De acordo com a análise de variância, ao O uso de trocadores de calor para
nível de 95% de probabilidade, pelo teste F, a resfriamento de fornos de alvenaria com
variação da velocidade dos gases pelo leito e escoamento forçado pela massa de carvão, não
consequentemente o tempo de resfriamento, não devem proporcionar velocidades superficiais e
ocasionaram variação significativa no rendimento e diferença de pressão entre a sucção e injeção,
nas propriedades do carvão, exceto para o capaz de promoverem infiltração de ar atmosférico
parâmetro friabilidade (Tabela 1). pelas estruturas do forno e para o forno utilizado
esses valores são 0,034 m s-1 e 14,2 mmca,
Tabela 1. Valores médios do rendimento respectivamente.
gravimétrico e das propriedades dos carvões em
O uso da tecnologia de resfriamento
função das diferentes velocidades superficiais dos
gases pela massa de carvão durante o resfriamento desenvolvida pode proporcionar ganhos
do forno.
expressivos na produtividade de carvão, pois
proporciona redução no ciclo de produção.

Onde: RGCV-rendimento gravimétrico do carvão vegetal, Cf- Acesse o trabalho completo pelo QR Code
teor de carbono fixo, Cz-teor de cinzas, F-teor de friabilidade,
Pcs-Poder calorífico superior, MV-teor de materiais voláteis,
Dap-densidade aparente, Dag-densidade a granel. Valores
médios de friabilidade, seguidos de mesma letra na coluna, não
diferem entre si pelo teste de Tukey, ao nível de 95% de
probabilidade.

CONCLUSÃO

A variação da velocidade superficial pela


massa de carvão durante os resfriamentos,
estatisticamente não alterou a maioria dos
parâmetros de qualidade do carvão, exceto para a
friabilidade, mesmo assim, os valores obtidos
classificam o carvão como pouco friável.
158 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

42| ANÁLISE ENERGÉTICA DOS COPRODUTOS DA CARBONIZAÇÃO DE MADEIRA


VISANDO O APROVEITAMENTO ENERGÉTICO PARA A SECAGEM DA
MADEIRA E GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

Emanuele Graciosa Pereira, Marcio Arêdes Martins, Luis Felipe S. dos Santos e Angélica de Cássia Oliveira
Carneiro

INTRODUÇÃO da ArcelorMittal, localizada no município de São


José do Goiabal, Minas Gerais, a qual é constituída
O carvão é produzido por meio da por dezesseis fornos retangulares interligados
decomposição da madeira de forma controlada sob entre si por meio de dois dutos metálicos (Figura 1).
o efeito da temperatura e oxigênio, com o objetivo
principal de se obter o carvão vegetal na forma de
carbono fixado (fração sólida). Nesse processo,
outras frações são geradas, tais como ácido
pirolenhoso e alcatrão insolúvel, que corresponde a
fração líquida e gases não-condensáveis, que é a
fração gasosa (MCKENDRY, 2002). O processo de
Figura 1. Planta baixa do sistema de forno-
produção de carvão também gera resíduos: os
queimador da ArcelorMittal.
oriundos do processamento das toras de madeira,
os resíduos florestais; do manuseamento do O experimento foi dividido em duas partes,
carvão, os finos, e da carbonização incompleta da sendo que na primeira parte a carbonização no
madeira, chamados de atiços. forno 11 (Figura 1) foi monitorada para análise
Os coprodutos gerados na produção de energética do gás de pirólise emitida por esse
carvão vegetal e os resíduos tem potencial para forno. Posteriormente, a carbonização conjunta da
serem aproveitados para a geração de energia, por planta foi investigada, ou seja, com vários fornos
meio do uso de queimadores de gases acoplados enviando gases fumaça ao queimador.
aos fornos para redução das emissões nocivas ao
meio ambiente e ao homem. A energia RESULTADOS E DISCUSSÃO
disponibilizada pelos queimadores pode ser
aproveitada para a secagem da madeira a ser A primeira fração da destilação (64 a 94 oC)

carbonizada e para geração de energia elétrica, corresponde predominantemente ao metanol. O

para ser utilizada na própria unidade produtora de poder calorífico médio dessa fração foi de 10,78 MJ

carvão ou até mesmo distribuída na rede elétrica. kg-1, indicando que esta pode ser utilizada para

Diante do exposto, este trabalho objetivou uma produção complementar de energia.

quantificar o potencial energético dos coprodutos A segunda e maior fração separada na

da produção de carvão vegetal, considerando faixa de temperatura de 94 a 98 ºC é composta em

também os resíduos florestais e os finos de carvão sua maior parte por água de constituição. Tal fato é

para o aproveitamento da energia para a secagem confirmado pelo ponto de ebulição da água que é

da madeira e produção de eletricidade. 97,9 ºC (KLEIN; NELLIS, 2012), no local de


realização do experimento e também pelo fato de

MATERIAL E MÉTODOS que não foi possível obter leituras de PCS nos
testes com essas frações.
Os dados experimentais foram coletados O resíduo da destilação fracionada do
na planta de carbonização da unidade de produção líquido pirolenhoso é o alcatrão solúvel e insolúvel,
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 159

apresentando alto poder calorífico devido aos fato, fornecendo uma análise comparativa do
componentes químicos presentes no alcatrão que potencial dos gases não condensáveis com e sem
possuem grande energia de ligação, liberando o potencial dos gases condensáveis.
assim mais energia, 25,96 MJ kg -1, quando essas
ligações são rompidas.
Na Figura 2 é apresentada a variação
temporal da concentração de cada gás analisado
na saída do forno 11.

Figura 4. Potencial térmico dos gases não


condensáveis com e sem os gases condensáveis.

A variação do potencial térmico dos gases


Figura 2. Concentração dos gases não representa um problema para a cogeração, devido
condensáveis ao longo do período de
à instabilidade da disponibilidade de entalpia. A
carbonização.
densidade energética dos gases de carbonização
Observa-se na Figura 2 que a composição muda dentro de um mesmo ciclo de pirólise,
dos gases é variável durante a carbonização, iniciando com uma fase de baixa energia, devido ao
confirmando um dos motivos que limita o uso conteúdo de água, e formando mais tarde um gás
desses gases para a geração de energia. com médio poder calorífico. Algumas medidas
Na Figura 3 está representado o Poder podem ser adotadas para contornar essa limitação.
Calorífico Inferior (PCI) dos gases não O balanço de energia foi determinado a
condensáveis ao longo do processo de partir dos valores experimentais de poder calorífico
carbonização emitidos pelo forno 11. A variação da da madeira, do carvão, dos gases condensáveis e
composição dos gases não condensáveis ao longo não condensáveis. Com os resultados do balanço
do processo de carbonização resulta na variação de energia, foi possível analisar a partição de
temporal dos valores de poder calorífico do gás da energia em cada coproduto da carbonização e
carbonização comparar com os valores de referência. Os valores
de referência foram determinados por meio do
balanço de energia a partir de dados da literatura
(Figura 5).

Figura 3. PCI dos gases não-condensáveis.

Os gases condensáveis são uma


importante parcela de contribuição energética para Figura 5. Distribuição da energia dos coprodutos.

a planta de carbonização. A Figura 4 ilustra esse


160 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

Observa-se na Figura 5 que a maior parte considerada se refere apenas àquela contida no
da energia total dos coprodutos corresponde a gás não condensável.
energia do carvão vegetal, sendo 71 % o valor
encontrado neste trabalho. A porcentagem de
energia referente aos gases não condensáveis (10
%) corresponde à metade da energia contida no
alcatrão solúvel e insolúvel (20 %). Essa evidência
experimental permite concluir que o alcatrão é um
importante coproduto para a geração de energia
térmica e elétrica na planta. 9
O balanço de energia total do forno 11 está
representado em um fluxograma apresentado na Figura 7. Potencial térmico da fornalha em função
do número de fornos e do estágio de
Figura 6. carbonização.

O potencial térmico calculado para cada dia


de medição especificado na Figura 7 não se refere
a de um sistema de sincronismo dos fornos.
Observa-se que cada ponto possui uma condição
Figura 6. Balanço de energia do processo de de número de fornos e horas de carbonização, que
carbonização. consequentemente gera potenciais de energia
diferentes.
A variação da concentração dos gases
Na Figura 8 está representada a geração
entre a entrada na célula de queima e saída na
de energia em dois cenários de sincronismos
chaminé pode ser visualizada na Tabela 1. A
diferentes considerando apenas a queima dos
queima dos gases resultou na redução da maior
gases não condensáveis.
parte das emissões médias de monóxido de
carbono e metano para os três cenários estudados,
ou seja, quando 3, 4 e 5 fornos estavam em estágio
de pirólise. Desse modo, constata-se que a
fornalha é um eficiente dispositivo para a redução
da emissão dos gases nocivos para atmosfera.

Tabela 1. Variação da concentração dos gases.


No Variação na composição do gás (%)
fornos CO CO2 CH4 O2
3 -98,86 +1,27 -88,65 -14,14
4 -97,35 +20,02 -68,08 -26,84 Figura 8. Potencial de geração de energia em dois
5 -99,78 +71,14 -91,87 -47,47 cenários de sincronismo dos fornos.

A Figura 7 mostra os resultados do Observa-se pela Figura 8 que os maiores

potencial térmico da fornalha para cada ponto de valores de potencial térmico do queimador foi de 5

medição da concentração dos gases, sendo que MW no cenário 2. Assim, diferentes combinações

cada ponto está associado com uma quantidade de de fases dos fornos culminam em diferentes

fornos em carbonização. Ressalta-se que a energia potenciais energéticos, uma vez que o gás da
carbonização possui uma composição variável ao
longo do processo.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 161

Na Figura 9, os dois cenários de carvão, 10% dos gases não condensáveis e 1,8%
sincronismo dos fornos foram modificados é perdida para o meio-ambiente.
adicionando a energia dos gases condensáveis. A concentração dos gases ao longo do
Foram calculadas as quantidades de resíduos processo de carbonização é muito variável, o que
necessária para que o potencial energético do representa um grande obstáculo para o seu
queimador seja constante. aproveitamento energético.
A análise comparativa da composição do
gás de carbonização antes e depois da queima na
fornalha mostrou que a queima é eficiente no
controle de emissões, sendo que foi obtido
reduções de CO e CH4 na faixa de 97 a 99 % e 68
a 91 %, respectivamente.
Os dois cenários de sincronismo dos fornos

Figura 9. Potencial térmico e quantidade de estudados indicaram que essa metodologia é


resíduo necessária para a geração de energia fundamental para aumentar o potencial térmico.
constante no A) cenário 1 (8,6 MW) e B) cenário 2
(9,7 MW).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Observa-se pela Figura 9 que, quando se
considera a energia dos gases condensáveis e não KLEIN, S., NELLIS, G. Thermodynamics.
Cambridge University Press, 2011.
condensáveis, o potencial máximo atingido foi de
8,6 e 9,7 MW para o cenário 1 e 2, respectivamente. MCKENDRY, P. Energy production from biomass:
part 2, conversion technologies. Bioresource
As quantidades de resíduo florestal e finos de Technology, Essex, v. 83, n. 1, p. 47-54, 2002.
carvão necessárias para que esses valores
máximos de potencial térmico sejam constantes Acesse o trabalho completo pelo QR Code
estão representadas na Figura 10, como uma
função do tempo. As curvas correspondentes a
quantidade de resíduos representam apenas um
exemplo de quando se considera que serão
utilizadas 50% de resíduos florestais e 50% de finos
de carvão.

CONCLUSÃO

O balanço de energia total para um único


forno de uma unidade de produção de carvão
vegetal industrial permitiu quantificar que 21% da
energia da madeira corresponde a energia do
líquido pirolenhoso, 67,2% a energia contida no
162 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

43| LIMITES DE INFLAMABILIDADE DO GÁS DA CARBONIZAÇÃO EM TUBO DE


COMBUSTÃO

Emanuele Graciosa Pereira e Marcio Arêdes Martins

INTRODUÇÃO O estudo consistiu em empregar misturas


sintéticas, a partir de gases de pureza analítica,
A falta de conhecimento das condições cujas composições foram típicas da fração não
ótimas para a combustão do gás de fornos de condensável do gás de carbonização. A Figura 1
carbonização é um fator limitante para o apresenta o sistema experimental utilizado na
desenvolvimento de sistema de queima, tais como determinação dos limites de inflamabilidade do gás
incineradores, queimadores e fornalhas. Dentre os não condensável (GNC) da carbonização.
desafios, pode-se citar (i) a necessidade do estudo
da interação hidrodinâmica decorrente do
acoplamento de um queimador a um forno de
carbonização, pois ocorre alteração da vazão de ar
admitida ao forno em detrimento do empuxo
térmico; (ii) o desenvolvimento de uma metodologia
validada para o dimensionamento de câmaras de
combustão; e (iii) a necessidade do conhecimento
das propriedades relacionadas a combustão do
gás, tais como os limites de inflamabilidade.
Os limites de inflamabilidade inferior (LII) e Figura 1. Esquema experimental para
determinação dos limites de inflamabilidade de
superior (LSI) correspondem respectivamente às combustíveis gasosos: A) Cilindros de gases; B)
frações volumétricas mínimas e máximas de Rotâmetros; C) Mufla; D) Serpentina; E) Entrada de
gás no vidro; F) Entrada de O2; G) Tubo de quartzo;
combustível em uma mistura comburente, que H) Centelhador; I) Interruptor da centelha; J)
quando submetida a uma fonte de ignição provoca Compressor.
uma combustão autossustentada (VIVAS, 2010).
A concentração dos componentes
O conhecimento dos limites de
majoritários (O2, CO2, H2, CO, CH4 e N2) no gás de
inflamabilidade do gás da carbonização permite
carbonização (GNC) é muito variável ao longo do
determinar as condições de composição e
processo de carbonização. Neste sentido, foram
temperatura para quais não se estabelece a
estudados quatro cenários típicos (C1, C2, C3 e
queima dos gases na fornalha e, nesse sentido, é
C4) do GNC ao longo do processo da carbonização
possível adotar medidas que garantem a
(Tabela 1).
combustão desses gases durante toda a
carbonização.
Tabela 1. Descrição da concentração dos gases de
O objetivo principal da presente cada cenário estudado.
investigação foi determinar os limites de
inflamabilidade do gás da carbonização, realizando
experimentos em tubo de combustão para
diferentes temperaturas.

Os limites de inflamabilidade foram obtidos


MATERIAL E MÉTODOS
variando-se as vazões do GNC, com as
composições fixas apresentadas na Tabela 1, e de
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 163

ar na mistura até que os percentuais do GNC linhas contínuas representam o intervalo entre os
fossem tais que não provocaram a formação, limites inferior e superior, determinado em cada
propagação e sustentação da chama. Os testes temperatura e é a região onde ocorre a formação
foram repetidos em triplicata e a mistura foi definida da chama estável. Neste sentido, qualquer mistura
como inflamável somente se a combustão fosse de GNC e oxidante cuja composição esteja externa
observada em cada uma das três vezes em que a a esta zona indica uma mistura que não
fonte de ignição fosse acionada, sem alterar as apresentará combustão sustentada (chama).
vazões de GNC e ar. Observa-se que o valor mínimo de
Foram feitos testes utilizando líquido concentração do GNC em que ocorre a combustão
pirolenhoso com o objetivo de analisar a influência dos gases em todos os casos foi de 54% v/v (b.s.).
da adição deste nos limites inferior de No entanto, observou-se que para valores de 60%
inflamabilidade do GNC. Foi utilizado o mesmo v/v (b.s.), a chama se mostrava mais forte e o GNC
aparato reportado na Figura 1, porém usando uma queimava de maneira mais intensa. Em aplicações
seringa de cromatografia gasosa para injeção do industriais, tais como na queima de emissões dos
líquido no início da tubulação da serpentina. fornos de carbonização, uma vez que o GNC
possui composição variável, pode-se considerar
RESULTADOS E DISCUSSÃO que uma porcentagem de 60% de GNC na fornalha
seja um valor adequado que garantirá a combustão
Na Figura 2, as barras verticais delimitadas dos gases durante todas as etapas da
por pontos representam os intervalos de carbonização.
inflamabilidade das misturas de GNC para quatro Na Tabela 2 estão apresentados os valores
temperaturas empregadas. da relação entre o ar atmosférico e o gás não
condensável da carbonização. A razão de
equivalência para cada cenário estudado também
está apresentada na Tabela 2.

Tabela 2. Relação Ar/GNC e razão de equivalência


para os cenários de concentração de
GNC.

Observa-se na Tabela 2 que a quantidade


de O2 presente nos cenários C2 e C4 foi suficiente
para a combustão estequiométrica do GNC, ou
seja, suficiente para atingir uma reação de
combustão completa. Assim, uma vez que a
quantidade de ar requerida (estequiométrica) para
Figura 2. Limites de inflamabilidade do gás da a combustão do GNC para C2 e C4 é nula, a
carbonização para diferentes temperaturas.
relação (Ar/GNC)est e a razão de equivalência (ϕ)
Na Figura 2 pode-se verificar como a também é nula.
temperatura afeta os limites de inflamabilidade. As
164 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

Para garantir a combustão completa de um determinação do intervalo de inflamabilidade, o


combustível é necessário fornecer ar em excesso, valor de limite de inflamabilidade do metano foi
pois na prática a mistura Ar/Combustível é concordante com os valores reportados na
dificilmente homogênea. Desse modo, caso tiver na literatura, sendo assim a metodologia experimental
câmara de combustão somente o ar teórico, foi validada para obtenção de limites de
sempre haverá regiões no interior da câmara de inflamabilidade de combustíveis gasosos.
combustão com o ar em excesso e outras com a Os resultados de limite de inflamabilidade
deficiência de ar, sendo que nessa segunda região para o gás não condensável indicaram que a
irá ocorrer a queima incompleta do gás. presença de 60% v/v (b.s.) de gás não condensável
Na Figura 3 estão apresentados a variação pode garantir a combustão dos gases durante
dos valores de limite inferior com a adição de gás todas as etapas da carbonização.
condensável (GC) a mistura de gás não A quantidade de O2 presente nas misturas
condensável (GNC). C2 e C4, classificadas como misturas autógenas,
foi de fato suficiente para a combustão
estequiométrica do gás não condensável, ou seja,
suficiente para atingir teoricamente uma reação
completa. Por outro lado, a quantidade de O2 nas
misturas C1 e C3, classificadas como misturas
pobres, não foi suficiente para oxidar o GNC, sendo
necessário 19 kg e 31 kg de ar ideal para cada 100
kg de GNC para as misturas C1 e C3,
Figura 3. Limite inferior de inflamabilidade da
respectivamente.
mistura de gases condensáveis e não
condensáveis. De modo geral, observou-se influência
favorável do ácido pirolenhoso na combustão para
Observa-se pela Figura 3 que para os
as misturas C1, C2 e C4, reduzindo os valores de
cenários C1, C2 e C4 os valores de limite inferior
limite inferior de inflamabilidade da mistura de GC
de inflamabilidade da mistura de GC e GNC
e GNC. Apesar da redução pouco expressiva nos
diminuíram, indicando que o líquido pirolenhoso
valores de LII, o líquido pirolenhoso pode contribuir
exerceu uma influência favorável na combustão.
para a estabilidade do queimador, contribuindo
Apesar da redução pouco significativa nos valores
para manter a fornalha sempre acesa.
de LII, o líquido pirolenhoso pode fornecer grande
quantidade de energia devido ao elevado poder
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
calorífico de seus constituintes, contribuindo para a
estabilidade do queimador, mantendo a fornalha VIVAS, B. M. M. Determinação experimental de
limites de inflamabilidade e temperatura de
sempre acesa.
autoignição de petro e biocombustíveis em
tubo de combustão. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Química) - Universidade Federal do
CONCLUSÃO
Paraná, Curitiba/PR, 2010.

Nos testes de validação do aparato


experimental e do procedimento analítico para a
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 165

44| QUANTIFICAÇÃO DE RESÍDUOS DA COLHEITA FLORESTAL E RESÍDUOS DA


CARBONIZAÇÃO

Ana Flávia Neves Mendes Castro e Angélica de Cássia Oliveira Carneiro

INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS

Quando se trata de florestas plantadas, O presente estudo foi desenvolvido na


principalmente de florestas de Eucalyptus, pode-se empresa ArcelorMittal BioFlorestas na cidade de
dizer que a madeira é a principal matéria prima que Martinho Campos – MG. Inicialmente definiu-se
se deseja obter, sendo que as outras partes da uma área de produção de 50 hectares,
árvore (casca, galhos, folhas, raízes) são muitas correspondente ao material genético mais
vezes tratadas como resíduos. Sendo assim, a representativo da empresa (Eucalyptus urophylla x
atividade florestal, de forma geral, é caracterizada Eucalyptus grandis), com espaçamento inicial de
por apresentar grande produção de resíduos no 3,0m x 2,5m, que se encontrava em idade de corte
processo produtivo (BRAND et al., 2002; (79 meses) no período de execução do projeto.
WIECHETECK, 2009), sendo que esses são Foi realizado o inventário da área antes do
gerados em todas as etapas do processo, desde a corte da floresta. Para a estimativa do estoque de
colheita florestal até a destinação do produto final. biomassa total da floresta antes da colheita, bem
Nas florestas de Eucalyptus destinadas à como da biomassa estocada em cada parte das
produção de carvão vegetal não é comum realizar árvores (madeira, casca, galho, folha), foram
o descascamento da madeira, seja no campo ou no realizadas cubagens rigorosas de 60 árvores-
pátio, sendo a casca também utilizada como amostra, sendo que foram obtidas árvores com
matéria prima do processo de carbonização. dimensões que contemplassem todas as classes
Entretanto, sabe-se que essa fração da biomassa diamétricas observadas. Dessas árvores, foram
de Eucalyptus se desprende da madeira com muita retiradas as folhas, galhos e casca, e depositadas
facilidade, e acaba se tornando um resíduo durante separadamente em lonas para pesagem logo após
a movimentação das toras. a colheita das árvores, de modo a evitar a perda de
Sendo assim, o conhecimento da umidade.
quantidade e qualidade dos resíduos florestais é Após a pesagem do material de cada
importante, uma vez que permite avaliar o seu árvore separadamente, foram retiradas amostras
potencial de aproveitamento (BAGGIO e de cada uma das partes, com aproximadamente
CARPANEZZI, 1995), bem como realizar o 300 gramas cada, para determinação do teor de
dimensionamento do seu processo de umidade e estimativa da biomassa. A amostra de
aproveitamento e dos equipamentos. folhas continha folhas verdes de diferentes
Portanto, este trabalho teve como objetivo tamanhos, a amostra de galhos, apenas os galhos
quantificar o estoque de biomassa total da parte que estavam vivos (com folhas), com diferentes
aérea de uma floresta de Eucalyptus em idade de diâmetros, e a amostra de cascas foi coletada ao
corte, divididas em suas principais partes (madeira, longo de cada árvore.
casca, galhos e folhas) e quantificar a perda de Do tronco foram obtidos cinco discos
biomassa durante as etapas de corte, extração, equidistantes, em diferentes posições, ou seja, a 0,
secagem, transporte e transformação da madeira 25, 50, 75 e 100% da altura comercial de cada
em carvão vegetal. árvore amostra, além do disco na altura do DAP
(diâmetro à altura do peito), totalizando seis discos
166 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

por árvore. Os discos também foram pesados logo das árvores (folhas, galhos, casca, ponteira,
madeira)
após o corte das árvores, para evitar a perda de
umidade.
As amostras de cascas, galhos, folhas e os
*Madeira total excluindo a ponteira
discos de madeira de cada uma das 60 árvores
foram separadas em sacos plásticos, para posterior Na Tabela 1, observa-se que a estimativa
envio ao laboratório para obtenção da massa seca da biomassa total acima do solo foi de 145,99 t.ha-
e também densidade básica da madeira e da 1, sendo que 6,34 t.ha-1 (4,34%) é composta de
casca. folhas, galhos e ponteira, que são considerados
A biomassa foi determinada e a perda de resíduo de colheita, e em geral deixados no campo.
casca no processo foi quantificada. Já a estimativa da biomassa potencial para ser
A madeira e parte da casca de todo o enfornada para a carbonização foi de 136,89 t.ha-1,
povoamento monitorado foram carbonizadas considerando-se que toda a madeira e toda a casca
conforme os procedimentos da empresa, em fornos podem ser utilizadas.
retangulares de aproximadamente 150 m3 (240 st), Na Tabela 2 estão apresentados os valores
sendo realizadas carbonizações completas com o para o teor de umidade e perda de casca em cada
material rastreado, em três repetições. uma das etapas avaliadas nesse estudo.
Após o término da carbonização foram
determinados os rendimentos gravimétricos em Tabela 2. Perda de casca durante a secagem,
carvão vegetal e a massa de atiços e finos (0-2 mm transporte e enfornamento da madeira

e 2-9 mm) gerados no processo de conversão de


madeira e casca em carvão vegetal.
A biomassa por hectare de carvão vegetal, 1° avaliação: após a secagem da madeira em campo (≈ 90 dias
após o corte); 2° avaliação: após o transporte e
de atiços e de finos foi estimada. descarregamento da madeira na Unidade Produtora de Carvão
(≈ sete dias após a 1° avaliação); 3° avaliação: após o
carregamento do forno (≈ dois dias após a 2° avaliação).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 2, observamos que a umidade
A distribuição de diâmetros apresentou média da madeira, nas três etapas de avaliação, foi
comportamento esperado de distribuição de 30%.
diamétrica, com tendência a normalidade, sendo Com relação à umidade da casca, foi
que a classe com maior frequência foi a de 15 cm. observado um valor médio de 18% de umidade, nas
Com relação à frequência das toras de 3 três etapas de avaliação.
metros por classe de diâmetro, pode-se dizer que Ainda analisando a Tabela 2, observa-se
está adequado para a produção de carvão vegetal, que a perda total de casca nas três etapas
uma vez que o diâmetro ideal para a carbonização avaliadas foi de 25,7%, portanto, estima-se que
é em torno de 10 cm, e a classe que apresentou a aproximadamente 74% da casca é enfornada, e o
maior frequência foi a de centro de classe de 9 cm. restante é considerado resíduo (2,75 t.ha-1). A
Na Tabela 1 está apresentada a estimativa etapa em que ocorreu a maior perda de casca foi a
de biomassa por árvore e por hectare, em cada primeira, que corresponde à etapa de maior
parte da árvore. movimentação das toras. É importante ressaltar
que a casca é um resíduo difícil ser aproveitado,
Tabela 1. Estimativa de estoque de biomassa uma vez que se desprende ao longo do trajeto, e
média por árvores e por hectare total e nas partes
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 167

dificulta a coleta desse material. Portanto esses ocasião da colheita, e podem ser aproveitados para
25,7% são realmente considerados resíduos. a geração de energia térmica e elétrica.
Na Tabela 3 é apresentada a estimativa de Dentre os resíduos da colheita, a casca
biomassa convertida em carvão, atiços, finos (0-2 apresenta maior contribuição (7,32%), e após o
mm) e finos (2-9 mm) a partir de um hectare de período de secagem da madeira em campo essa
floresta de Eucalyptus. porcentagem aumenta, chegando a 10,59%. A
perda de casca total foi de 25,7%, o seja 2,74 t.ha -
Tabela 3. Estimativa de biomassa por hectare para 1.

os componentes: carvão, atiços e finos após a


Com relação aos resíduos gerados na
carbonização da madeira com casca
unidade de produção de carvão os finos lideram
com aproximadamente 20%.

Volume de madeira por forno (150,04 m³ = 240,1 st); fator de


conversão para hectare = 1,83 (um hectare de matéria prima é REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
carbonizado em 1,83 fornos); massa seca enfornada (por forno)
= 74,6 t por forno; massa seca enfornada (por hectare) = 136,1
t hectare-1. RGCV = 31% BAGGIO, A. J.; CARPANEZZI, A. A. Quantificação
dos resíduos florestais em bracatingais na região
De acordo com a Tabela 3, observa-se que metropolitana de Curitiba, PR. Boletim de
Pesquisa Florestal, n. 30/31, p.51-66, 1995.
o rendimento gravimétrico em carvão vegetal foi de
31%. BRAND, M. A.; MUÑIZ, G. I. B.; SILVA, D. A.;
KLOCK, U. Caracterização do rendimento e
A densidade a granel dos finos de menor quantificação dos resíduos gerados em serraria
granulometria (0-2mm) foi mais elevada do que a através do balanço de materiais. Revista
Floresta, v. 32, n. 2, p. 247-259, 2002.
dos finos de maior granulometria (2-9mm), uma vez
que as partículas são menores e ocupam mais WIECHETECK, M. Aproveitamento de resíduos
e subprodutos florestais, alternativas
espaço, e, portanto aumenta o valor da densidade. tecnológicas e propostas de políticas ao uso
A quantidade de biomassa de carvão de resíduos florestais para fins energéticos.
Boletim técnico, Curitiba, 40 p. 2009.
vegetal foi de 42,16 t.ha-1 correspondente a
68,04%, enquanto que para atiços esse valor foi de Acesse o trabalho completo pelo QR Code
11,63% (7,21 t.ha-1), para os finos (0-2 mm) foi de
11,79% (7,31 t.ha-1) e para os finos (2-9 mm) foi de
8,54% (5,3 t.ha-1). Portanto, observa-se que há
produção de grande quantidade de resíduos
durante o processo de carbonização da madeira.

CONCLUSÃO

O estoque de biomassa de uma floresta de


Eucalyptus, aos 79 meses de idade foi de 145,99
t.ha-1, sendo que, deste montante 11,67% (17,03
t.ha-1) está em forma de resíduos gerados por
168 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

45| POTENCIAL DOS RESÍDUOS DA COLHEITA FLORESTAL E DA CARBONIZAÇÃO


PARA GERAÇÃO DE ENERGIA

Ana Flávia Neves Mendes Castro e Angélica de Cássia Oliveira Carneiro

INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS

A biomassa florestal apresenta grande O presente estudo foi desenvolvido na


destaque e pode ser diferenciada em três principais empresa ArcelorMittal BioFlorestas na cidade de
grupos: o material advindo da colheita florestal (ou Martinho Campos – MG. Inicialmente definiu-se
resíduo da colheita), os resíduos gerados devido ao uma área de produção de 50 hectares,
processamento da madeira e a madeira oriunda de correspondente ao material genético mais
florestas energéticas (SOUZA et al., 2012). No caso representativo da empresa (Eucalyptus urophylla x
da produção de carvão vegetal, os resíduos sólidos Eucalyptus grandis), com espaçamento inicial de
gerados durante a transformação da madeira são 3,0m x 2,5m, que se encontrava em idade de corte
os atiços e os finos. (79 meses) no período de execução do projeto.
O aproveitamento dos resíduos florestais Para determinação das propriedades
pode gerar benefícios à floresta e ao meio ambiente físicas e químicas da madeira, casca, galhos e
uma vez que favorece o crescimento da floresta; folhas, foram utilizadas 15 árvores amostra, sendo
reduz os riscos de incêndios florestais e reduz os três árvores em cada uma das cinco classes de
impactos ao meio ambiente na produção de energia diâmetro identificadas no povoamento. De cada
(LEINONEN, 2004). árvore retirou-se as folhas, os galhos e a casca,
De modo geral, os resíduos que em seguida foram colocadas em lonas para
lignocelulósicos são combustíveis e podem ser pesagem logo após a colheita, de modo a evitar a
utilizados diretamente na condição em que se perda de umidade.
encontram ou podem ser transformados por Após pesar todo o material, foram
processos mecânicos em partículas menores como coletadas amostras de folhas e de galhos, com
cavacos ou serragem, ou ainda adensados na aproximadamente 300 gramas. A amostra de folhas
forma de briquetes e pellets (VALE e GENTIL, continha folhas verdes de diferentes tamanhos, a
2008). amostra de galhos, apenas os galhos com folhas
Diante do que foi exposto verifica-se a com diferentes diâmetros, e a amostra de cascas
necessidade de qualificação dos resíduos florestais coletada ao longo de cada árvore.
para determinar a viabilidade de sua utilização Da madeira foram obtidos cinco discos
como combustível para geração de energia, equidistantes, em diferentes posições no tronco, ou
principalmente nos projetos de cogeração nas seja, 0, 25, 50, 75 e 100% da altura comercial das
unidades produtoras de carvão vegetal. Portanto, árvores, além do disco na altura do DAP (diâmetro
esse estudo teve como objetivo determinar as à altura do peito), totalizando seis discos. Todos os
propriedades químicas e físicas dos resíduos da discos também foram pesados logo após o
colheita florestal e do processo de carbonização da processamento das árvores, para evitar a perda de
madeira, bem como verificar a viabilidade do uso umidade.
desse material para a geração de energia térmica e As amostras de cascas, galhos, folhas e os
elétrica. discos de madeira de cada uma das 15 árvores
foram separadas em sacos plásticos, para serem
enviadas para análises em laboratório.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 169

A madeira foi carbonizada em fornos Verifica-se ainda que o maior valor para o poder
retangulares de aproximadamente 150 m 3, sendo calorífico superior foi obtido para as folhas (5082
realizadas três repetições (três carbonizações kcal.kg-1), uma vez que apresentou o maior teor de
completas com o material rastreado). Após o carbono fixo (18,83%) e menor teor de voláteis
término da carbonização foram determinados os (76,86%), apesar de ter apresentado o maior teor
rendimentos gravimétricos em carvão vegetal, de cinzas (4,31%).
atiços e finos. Foi realizada uma amostragem de Com relação à composição química
cada um destes materiais, em cada um dos três imediata da madeira, da casca e dos resíduos da
fornos para posterior realização das análises físicas colheita, apresentada na Tabela 1, verifica-se que,
e químicas. de modo geral, os valores obtidos nesse trabalho
Foram determinadas as propriedades estão de acordo com o que se observa na literatura.
físicas e químicas da madeira, casca, galhos, Na Tabela 2 estão apresentados os valores
folhas, carvão vegetal, atiços e finos: poder médios, ponderados pela classe de DAP, da
calorífico superior (PCS); análise química imediata composição química elementar da madeira, casca,
(cinzas, voláteis, carbono fixo); análise elementar e galhos e folhas.
análise de minerais. Foram determinadas as
densidades básicas da madeira e da casca, e a Tabela 2. Valores médios, ponderados pela classe
de DAP, da composição química elementar para
densidade relativa aparente do carvão e dos atiços.
madeira, casca, galhos e folhas
Além disso, foram determinadas as densidades à
granel do carvão vegetal, atiços, finos, folhas,
galhos e ponteira.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
De maneira geral a composição elementar
A distribuição de diâmetros apresentou o da madeira não varia muito, e os valores médios
comportamento esperado de distribuição são: 50% de carbono; 6% de hidrogênio; 43%
diamétrica, com tendência a normalidade, sendo oxigênio, 0,15% de nitrogênio e 1% de cinzas
que a classe com maior frequência foi a de 15 cm. (RAAD, 2004). Analisando a Tabela 2 verifica-se
Na Tabela 1 estão apresentados os valores que os valores obtidos para a composição química
médios, ponderados por classe de diâmetro, elementar da madeira são semelhantes aos
obtidos para densidade, poder calorífico superior e apresentados por Raad (2004).
análise química imediata da madeira, da casca, das Na Tabela 3 estão apresentados os valores
folhas e dos galhos. médios, ponderados pela classe de diâmetro, bem
como os valores estimados por quilo (kg) de
Tabela 1. Valores médios, ponderados por classe material, por árvore e por hectare, do teor de
de DAP, observados para densidade, poder
calorífico superior e análise química imediata da minerais para a madeira, a casca, os galhos e as
madeira, da casca, dos galhos e das folhas folhas.

Tabela 3. Valores médios dos teores de minerais


da madeira, casca, galhos e folhas, estimados por
kg de material, por árvore e por hectare

O valor médio do poder calorífico superior


da madeira foi de 4588 kcal.kg-1 (Tabela 1).
170 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

O poder calorífico superior do carvão


vegetal foi o que apresentou maior valor (8134
kcal.kg-1), enquanto que os finos (0-2mm)
apresentaram o menor valor para essa
propriedade, devido possivelmente a uma
contaminação com impurezas presentes no chão
do forno (Figura 1).
Na Figura 2 estão apresentados os valores
para o potencial energético para a madeira, casca,
galhos e folhas (a) e carvão vegetal, dos atiços e
As folhas apresentaram maior quantidade finos de carvão (b).
de nutrientes por quilo (kg) de material, entretanto
quando se avalia a massa de nutrientes por
hectare, verifica-se que a madeira aloca a maior
quantidade dos nutrientes, uma vez que é
responsável por 88,33% da biomassa total (Tabela
3).
Com relação à alocação de cada nutriente
nos diversos compartimentos das árvores, Figura 2. Potencial energético para a madeira,
casca, galhos e folhas (a) e carvão vegetal, dos
verificou-se no presente trabalho que a madeira
atiços e finos de carvão (b).
apresentou maior quantidade de nitrogênio,
fósforo, enxofre e potássio (62,05%, 55,46%, Analisando a Figura 2 observa-se que a
66,74%, 85,13%, respectivamente), a casca madeira apresentou o maior potencial energético,
apresentou maior quantidade de cálcio (41,78%) e que se deve a maior quantidade de biomassa
a copa apresentou maior teor de magnésio produzida por esse componente da árvore. Porém,
(38,95%). quando comparamos com o carvão vegetal,
Na Figura 1 estão apresentados os valores observamos que este apresenta elevado potencial
médios do poder calorífico superior do carvão para geração de energia, devido ao poder calorífico
vegetal, dos atiços e dos finos. mais elevado. Ou seja, durante a carbonização
ocorre a concentração de carbono e
consequentemente, de energia. Dessa maneira,
verifica-se que os resíduos da carbonização
também apresentam expressivo potencial
energético, maior do que os resíduos da colheita
florestal.
A Tabela 4 apresenta o potencial de
geração elétrica por hectare para a madeira, carvão
e resíduos da colheita e da carbonização.
Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si a 5% de
significância, pelo teste Tukey. As barras indicam o desvio
padrão. Tabela 4. Resumo do potencial de geração de
Figura 1. Poder calorífico superior do carvão energia elétrica por hectare em função das
vegetal, atiço e finos de carvão. diferentes biomassas
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 171

que pode acarretar em custos com fertilização, e


precisa ser devidamente avaliado, a fim de
determinar o limite de utilização desses resíduos.

Do ponto de vista do setor elétrico, verifica- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

se na Tabela 4 que o potencial total da biomassa


LEINONEN, A. Harvesting technology of forest
para geração de energia elétrica, utilizando uma residues for fuel in the USA and Finland.
conversão elétrica média de 11%, está em torno de Espoo, 2004. 132 p. (VTT Tiedotteita. Research
Notes, 2229).
117 Mwh/ha.
É possível observar que os resíduos SOUZA, M. M., SILVA, D. A., ROCHADELLI, R.,
SANTOS, R. C. Estimativa de poder calorífico e
florestais (casca, galho e folha) e da carbonização caracterização para uso energético de resíduo da
(atiço e finos) apresentam potencial de geração de colheita e do processamento de Pinus taeda.
Floresta, v. 42, n. 2, p. 325 - 334, 2012.
energia elétrica de ordem de 19,86 MW/ha, o que é
uma quantidade de energia considerável. VALE, A. T.; GENTIL, L.V. Produção e uso
energético de biomassa e resíduos a
agroflorestais. In: OLIVEIRA, J. T. S.; FIEDLER,
CONCLUSÃO N. C.; NOGUEIRA, M. (Ed.). Tecnologias
aplicadas ao setor madeireiro III. Jerônimo
Monteiro – ES: 2008. p. 196-246.
A madeira de Eucalyptus urophylla x
Eucalyptus grandis aos 79 meses, avaliada no Acesse o trabalho completo pelo QR Code
presente trabalho, apresenta qualidade para a
produção de carvão vegetal.
Os resíduos da colheita florestal e da
carbonização apresentaram potencial para serem
utilizados para a geração de energia, uma vez que
estocam uma grande quantidade de energia que
não é utilizada. Entretanto, os finos de menor
granulometria (0-2mm) apresentam-se
contaminados, o que dificulta o seu
aproveitamento.
A quantidade de nutrientes exportada caso
o resíduo da colheita seja retirado do campo para
utilização na geração de energia é significativa, o
172 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

46| EQUAÇÕES ALOMÉTRICAS PARA ESTIMAR ESTOQUE DE ENERGIA EM


ÁRVORES DE EUCALIPTO

Ana Flávia Neves Mendes Castro e Angélica de Cássia Oliveira Carneiro

INTRODUÇÃO uma área de produção de 50 hectares,


correspondente ao material genético mais
A biomassa florestal apresenta grande representativo da empresa (Eucalyptus urophylla x
destaque e pode ser diferenciada em três principais Eucalyptus grandis), com espaçamento inicial de
grupos: o material advindo da colheita florestal (ou 3,0m x 2,5m, que se encontrava em idade de corte,
resíduo da colheita), os resíduos gerados devido ao aos 79 meses no período de execução do projeto.
processamento da madeira e a madeira oriunda de Foi realizado o inventário da área antes do
florestas energéticas (SOUZA et al., 2012). No caso corte da floresta, pela metodologia da amostragem
da produção de carvão vegetal, os resíduos sólidos casual simples. Para a estimativa do estoque de
gerados durante a transformação da madeira são biomassa total da floresta antes da colheita, bem
os atiços e os finos. como da biomassa estocada em cada parte das
A biomassa florestal e os resíduos tem árvores (madeira, casca, galho, folha), foram
apresentado potencial de utilização para geração realizadas cubagens rigorosas de 60 árvores-
de energia e com isso surge a necessidade de amostra, sendo que foram obtidas árvores com
desenvolver novos estudos para avaliar as dimensões que contemplassem todas as classes
propriedades desse material, de modo a determinar diamétricas observadas.
o seu potencial para aproveitamento. Além da Dessas árvores, foram retiradas as folhas,
caracterização da biomassa, é importante também galhos e casca, e depositadas separadamente em
determinar a quantidade de energia que existe na lonas para pesagem logo após a colheita das
árvore como um todo e nas partes separadamente. árvores, de modo a evitar a perda de umidade.
A utilização de modelos para representar Após a pesagem do material de cada árvore
ou explicar uma realidade é uma estratégia muito separadamente, foram retiradas amostras de cada
utilizada em vários campos da ciência (SOARES et uma das partes, com aproximadamente 300
al., 2005). Uma maneira de estimar a quantidade gramas cada, para determinação do teor de
de energia em árvores é através da utilização de umidade e estimativa da biomassa. A amostra de
equações alométricas, para cada parte da árvore folhas continha folhas verdes de diferentes
de modo a obter a quantidade de energia total e em tamanhos, a amostra de galhos, apenas os galhos
cada parte separadamente. que estavam vivos (com folhas), com diferentes
Sendo assim, o objetivo do presente estudo diâmetros, e a amostra de cascas foi coletada ao
foi ajustar modelos alométricos e gerar equações longo de cada árvore.
para estimar o estoque de energia na árvore, ou Do tronco foram obtidos cinco discos
seja, a energia total, bem como a energia estocada equidistantes, em diferentes posições, ou seja, a 0,
nas diferentes partes das árvores. 25, 50, 75 e 100% da altura comercial de cada
árvore amostra, além do disco na altura do DAP
MATERIAL E MÉTODOS (diâmetro à altura do peito), totalizando seis discos
por árvore. Os discos também foram pesados logo
O presente estudo foi desenvolvido na
após o processamento das árvores, para evitar a
empresa ArcelorMittal BioFlorestas na cidade de
perda de umidade.
Martinho Campos – MG. Inicialmente definiu-se
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 173

As amostras de cascas, galhos, folhas e os galhos, folhas, parte da casca (25,7% da casca é
discos de madeira de cada uma das 60 árvores perdida durante o processo) e as ponteiras (0,35%
foram separadas em sacos plásticos, para da biomassa) são deixados no campo ou se
posteriormente serem enviadas ao laboratório para perdem durante o transporte. Isso pode representar
obtenção da massa seca e também densidade 134 MJ.árvore-1, e quando se pensa para um
básica da madeira e da casca. povoamento esse valor se torna bastante
Para a estimativa da energia estocada nas expressivo, ou seja, 179.210 MJ.ha-1. Dessa forma,
árvores foram determinados os valores de percebe-se que o material considerado como
biomassa e poder calorífico superior, em cada parte resíduo apresenta potencial para produção de
da árvore. energia.
A seleção dos modelos foi baseada nos De maneira geral, os cinco modelos
gráficos de dispersão onde as variáveis utilizados apresentaram ajuste adequado, com
apresentaram relação com os estoques de energia, estatísticas de precisão satisfatórias e distribuição
com comportamento exponencial. de resíduos adequados.
Para o ajuste dos modelos foram utilizadas, O erro apresentou comportamento
aleatoriamente, 40 árvores, das 60 árvores homocedástico para todas as equações estimadas,
amostradas, e as 20 árvores restantes (4 por classe e para a energia na madeira e energia total os
de diâmetro) foram utilizadas para validação das resíduos estão mais uniformemente distribuídos e
equações. com menor amplitude (±10) do que para a energia
na casca, galhos e folhas (amplitude de ±40)
RESULTADOS E DISCUSSÃO (Figuras 2 e 3).

Na Figura 1 estão apresentados os valores


de estoque de energia em cada parte da árvore:
madeira, casca, galhos e folhas, por classe de
diâmetro.

Figura 1. Estoque de energia em cada parte da


Figura 2. Gráficos de resíduos percentuais obtidos
árvore por classe de dap. no ajuste (quadrados preenchidos) e na validação
(pontos não preenchidos).

A madeira é responsável pela maior parte


da energia estocada na árvore, sendo que esse fato
já era esperado uma vez que a madeira representa
a maior fração da árvore (Figura 1). Entretanto,
cerca de 6,35 % da energia estocada pela árvore
não é utilizada e é considerada resíduo, pois os
174 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

selecionadas as equações com as variáveis DAP e


altura e DAP e largura da copa.
Energia na Madeira (kJ) = e(-1,8450+2,1350.Ln dap+1,1029.Ln Ht)

Energia na Casca (kJ) = e(-4,2731+1,7990.Ln dap+1,3487.Ln Ht)

Energia nos Galhos (kJ) = e(-3,6927+2,5565.Ln dap+0,7905.Ln Lc)


Figura 3. Estimavas resultantes dos ajustes do Energia nas Folhas (kJ) = e(-3,8016+2,6915.Ln dap+0,3195.Ln Lc)
modelo 5 para galhos (a) e folhas (b).
Energia Total (kJ) = e(-1,5070+2,2023.Ln dap+0,9806.Ln Ht)
A validação procedeu-se aplicando as
equações ajustadas à base de dados com 20 CONCLUSÃO
árvores que não fizeram parte dos dados de ajuste
da equação (dados independentes), selecionadas Pode-se concluir que as equações

aleatoriamente da base de dados original. selecionadas são precisas para a estimativa de

Os dados de validação apresentaram estoque de energia nas árvores de Eucalyptus.

estatísticas de precisão bem semelhantes aos Modelos que estimam o estoque de energia

encontrados no ajuste. Assumindo os desvios total, na madeira e na casca foram precisos

encontrados, todos os modelos foram capazes de utilizando como variáveis independentes o DAP e

estimar o estoque de energia nas árvores com Ht das árvores e para a estimativa da energia

precisão. estocada nas folhas e galhos, a equação que utiliza

A inclusão das variáveis independentes apenas as variáveis DAP e Lc.

largura de copa (Lc) e tamanho de copa (Tc)


proporcionou melhorias nas estatísticas das REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
equações ajustadas. Entretanto, essa melhoria foi SOARES, C. P. B.; LEITE, H. G.; GORGENS, E.
pequena e não justifica a sua utilização para B. Equações para estimar o estoque de carbono
no fuste de árvores individuais e em plantios
determinação da energia da madeira, na casca e comerciais de eucalipto. Revista Árvore, Viçosa,
energia total, uma vez que não são tão fáceis de v.29, n.5, p.711-718, 2005.

serem obtidas, e podem ocasionar em erros na sua SOUZA, M. M., SILVA, D. A., ROCHADELLI, R.,
SANTOS, R. C. Estimativa de poder calorífico e
obtenção.
caracterização para uso energético de resíduo da
A variável largura de copa é uma colheita e do processamento de Pinus taeda.
Floresta, v. 42, n. 2, p. 325 - 334, 2012.
informação muito importante para a determinação
de galhos e folhas, pois está diretamente Acesse o trabalho completo pelo QR Code
relacionada com a quantidade desses
componentes. A importância dessa variável foi
comprovada com a sua significância no modelo 4,
sendo portanto ajustado o modelo 5, com as
variáveis DAP e Lc para galhos e folhas.
Dessa forma, para a energia na madeira,
na casca e a energia total foram selecionadas as
equações com as variáveis independentes DAP e
Ht, uma vez que apresentaram um bom ajuste e
utilizam somente duas variáveis. Para a energia
estocada nos galhos e nas folhas foram
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 175

47| COGERAÇÃO DE ENERGIA A PARTIR DOS GASES DA CARBONIZAÇÃO E


BIOMASSA FLORESTAL USANDO MICROTURBINA

Ana Flávia Neves Mendes Castro e Angélica de Cássia Oliveira Carneiro

INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS

Uma alternativa para aumentar a produção Foi desenvolvido um sistema de cogeração


de energia a partir de combustíveis renováveis é a de energia na empresa ArcelorMittal BioFlorestas,
cogeração, que pode ser definida como o processo em parceria com a Companhia Energética de Minas
de transformação de uma forma de energia em Gerais S.A. (CEMIG), com o objetivo de aproveitar
mais de uma forma de energia útil, sendo que as os gases da carbonização em uma unidade de
formas de energia útil mais frequentes são a produção de carvão vegetal (UPE) para geração de
energia mecânica e a térmica (ODDONE, 2001; energia elétrica. Esse sistema é composto por uma
VILELA, 2014). UPE contendo 12 fornos retangulares com
A utilização de turbinas a gás é uma capacidade de 240 st, com as chaminés
alternativa que vem sendo aprimorada e estudada conectadas a dutos que transportam os gases da
que, em princípio, aplicam como fluido de trabalho carbonização até um queimador, ligado a um
o ar a alta temperatura no lugar de gases de trocador de calor e a uma turbina a gás de
combustão. Estes sistemas são conhecidos como combustão externa (Figura 1).
turbinas a gás de queima externa ou turbinas a ar
quente (Externally Fired Gas Turbine – EFGT ou
Hot Air Gas Turbine – HAGT). O ar, enquanto fluido
de trabalho, é aquecido mediante a troca de calor,
à alta temperatura, com os gases de combustão
produzidos, principalmente, a partir da queima de
biomassa em uma fornalha, ou da queima dos
gases da carbonização.
O ciclo EFGT apresenta as vantagens de
turbinas a gás (custos operacionais baixos, elevada
vida útil e confiabilidade, relativamente elevada Figura 1. Sistema de transporte de gases da
carbonização (a), queimador dos gases da
eficiência energética, mesmo em tamanho carbonização (b), queimador de biomassa (c),
pequeno) e a capacidade de utilizar biocombustível trocador de calor (d) e turbina a gás de combustão
externa (e).
de baixa qualidade (PANTALEO et al., 2013).
Sendo assim, esse trabalho teve como Foram determinados os seguintes
objetivos: avaliar o desempenho de um sistema de parâmetros para avaliação do sistema de
cogeração de energia a partir da queima dos gases cogeração: temperatura dos gases da
da carbonização, por meio de uma turbina a gás de carbonização; temperatura do gás de traço;
combustão externa, para produção de energia temperatura no queimador dos gases da
elétrica; quantificar o consumo de biomassa carbonização; temperatura do gás combusto no
florestal para iniciar o processo de queima dos trocador de calor; temperatura de entrada do ar na
gases da carbonização. turbina; temperatura de saída do ar no exaustor;
temperatura de saída do ar na turbina; pressão de
176 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

entrada do ar na turbina; pressão de saída do ar na resfriamento natural e três fornos carbonizando.


turbina; pressão dentro do trocador de calor. Entretanto, é muito difícil conseguir essa
Avaliou-se também o consumo de energia configuração durante todo o tempo, pois os fornos
pelo sistema de cogeração, no início da atividade, precisam de manutenção e podem ocorrer outros
quando o sistema de injeção de biomassa está em problemas durante o processo. Por isso, para que
funcionamento, e o consumo de energia quando o se consiga manter o sistema de cogeração
sistema está gerando energia. Determinou-se funcionando ininterruptamente, seria necessário
ainda, o consumo de biomassa no queimador acoplar mais fornos, para conseguir manter pelo
pirolítico. menos três fornos sempre carbonizando.
A temperatura média no interior do
RESULTADOS E DISCUSSÃO queimador dos gases da carbonização pode ser
comparada à temperatura que se observa no
Na Tabela 1 estão apresentados os valores interior das fornalhas acopladas às chaminés de
médios observados para temperatura em fornos de carbonização. Essas duas estruturas tem
diferentes partes do sistema de cogeração durante a mesma função, queimar os gases da
o funcionamento. carbonização, porém a diferença entre elas é a
distância que cada uma se apresenta do forno, e o
Tabela 1. Temperaturas médias observadas em material de construção.
diferentes etapas do sistema de cogeração
Na Figura 2 está apresentada a variação
das temperaturas enquanto o sistema esteve em
funcionamento.

Para que o sistema de cogeração de


energia funcione adequadamente é muito
importante o controle dos parâmetros de avaliação
nas diferentes etapas do sistema. Com relação à
temperatura dos gases da carbonização que
chegam ao queimador, verificou-se que a Figura 2. Variação das temperaturas do sistema
durante o funcionamento em diferentes dias de
temperatura média observada (160°C a 170°C)
funcionamento.
encontra-se em um valor adequado. Sendo assim,
a temperatura média dos gases da carbonização Durante o funcionamento do sistema de
observada no sistema (Tabela 1) pode ser cogeração houve variação das temperaturas em
considerada suficiente para manter a queima dos todas as etapas (Figura 2). Essa variação pode ter
gases no queimador. A quantidade de gases da ocorrido devido à variabilidade da qualidade do gás
carbonização que chegam até o queimador é de carbonização que chega ao queimador,
controlada através da regulação do número de produzindo um gás combusto com temperatura
fornos que se encontram em diferentes estágios do variada. Como foi mencionado anteriormente, é
processo de carbonização. Para conseguir uma preciso no mínimo de três fornos para manter a
mistura de gases adequada é necessário que se vazão e o poder calorífico dos gases adequado
tenha a seguinte combinação na praça de para que o sistema funcione de maneira
carbonização: um forno em processo de satisfatória. Entretanto, não é possível garantir que
descarga/carga, oito fornos em processo de o abastecimento dos gases aconteça de forma
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 177

homogenia durante todo o tempo e, portanto sistema de injeção de combustível auxiliar, situação
ocorrem alterações na quantidade e qualidade dos que ocorre no início do processo, verificou-se que
gases que chegam ao queimador, influenciando a o consumo de energia foi de 85 kWh. Quando o
temperatura atingida após a queima dos gases. sistema de injeção de biomassa é desligado e a
Observou-se que a temperatura média de entrada queima dos gases da carbonização consegue
na turbina foi de 683°C, variando de 572°C a manter a chama, o gasto de energia cai para 58,5
728°C. A temperatura do ar na entrada da turbina kWh. Considerando-se que a produção máxima de
apresentou variação de acordo com a temperatura energia pelo sistema é de 55 kWh observa-se que
dentro do queimador dos gases da carbonização. mesmo quando o sistema está gerando energia
Quanto maior a temperatura obtida no queimador, sem necessidade de injeção de biomassa, o
maior a temperatura que o ar entra na turbina. consumo de energia ainda é maior, o que gera um
Além disso, ao analisar a Tabela 2, déficit de aproximadamente 4 kWh. A turbina
observa-se que houve correlação positiva entre a Turbec 100 foi desenvolvida para trabalhar em
temperatura de entrada na turbina e a potência condições próximas aos padrões ISO (15°C, 1.013
gerada. bar e 60% de umidade) (PANTALEO et al., 2013).
O princípio de funcionamento dessa turbina é a
Tabela 2. Correlação entre as diferentes expansão do ar ao ser aquecido. Ou seja, o ar
temperaturas obtidas no sistema de cogeração e a
ambiente entra nas serpentinas do trocador de
potência gerada pela turbina
calor, é aquecido pelo gás combusto que passa por
fora dessa estrutura, e expande. Quanto maior a
diferença de temperatura entre o gás combusto e o

*Indicam correlações significativas pelo teste t, a 95% de ar ambiente, maior será a expansão do ar na
probabilidade.
turbina. Portanto, em regiões com temperaturas
mais baixas, consegue-se maior expansão do ar, e
Na Tabela 3 estão apresentados os valores
consequentemente, maior geração de energia na
obtidos para o consumo e a produção de energia
turbina, o sistema é mais eficiente. Entretanto em
pelo sistema de cogeração.
regiões mais quentes, como no caso de Martinho
Campos, que apresenta temperatura média anual
Tabela 3. Produção e consumo de energia do
sistema de cogeração de energia e do sistema de de 19,8ºC e 25,3ºC, acima da condição ISO, a
injeção de biomassa como combustível auxiliar
potência alcançada pela turbina é menor. Para que
a planta de cogeração estudada consiga produzir
energia capaz de suprir a demanda da planta e
possivelmente da UPE Buritis, seria necessário a
utilização de uma turbina com maior capacidade de
O consumo de energia elétrica do sistema geração de energia (300kW- 400kW), para
de cogeração de energia, apresentado na Tabela 3 compensar as temperaturas mais elevadas da
foi determinado com a intenção de verificar se a região.
produção de energia pelo sistema de cogeração Quanto ao consumo de biomassa,
seria capaz de suprir a demanda de energia da verificou-se que existe a necessidade de utilização
planta, que precisa manter ligados diversos desse combustível auxiliar somente no início do
equipamentos (exaustores, computadores, picador, processo, em geral durante as cinco primeiras
esteiras, rosca sem fim). Sendo assim, quando toda horas. Nesse período, 10,4m 3 de cavacos são
a planta se encontra em funcionamento, incluindo o consumidos.
178 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

CONCLUSÃO PANTALEO, A.M.; CAMPOREALE, S. M.; SHAH,


N. Thermo-economic assessment of externally
fired micro-gas turbine fired by natural gas and
Verificou-se que é possível gerar energia a biomass: Applications in Italy. Energy Conversion
partir da queima dos gases da carbonização em and Management, v.75, p.202–213, 2013.
fornos de alvenaria utilizando turbina a gás. VILELA, A. O. Desenvolvimento, projeto,
A turbina selecionada nesse projeto não foi fabricação, validação técnica, energética e
ambiental de um forno industrial de
capaz de gerar energia suficiente para suprir a carbonização. 2014, 352 f. Tese (Doutorado em
demanda da planta de cogeração, sendo que da Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos)
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
maneira com que está funcionando (12 fornos, Horizonte, 2014.
turbina com potência de 100kW), gera um déficit de
energia de aproximadamente 4 a 8 kWh. Portanto, Acesse o trabalho completo pelo QR Code
seria necessária a utilização de uma turbina com
maior potência e acoplar um maior número de
fornos para que a geração de energia por esse
sistema de cogeração seja maior do que o gasto,
tornando o sistema viável.
O consumo de biomassa (cavacos) foi de
10,4 m3, ocorrendo somente o início do processo,
até que os gases da carbonização sejam
suficientes para manter a queima.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ODDONE, D. C. Cogeração: uma alternativa


para produção de eletricidade. 2001, 88 f.
Dissertação (Mestrado em Energia) Universidade
de São Paulo – São Paulo, 2001.
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 179

48| SECADORES DE MADEIRA: UMA ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL PARA O


AUMENTO DA PRODUÇÃO DO CARVÃO VEGETAL

Clarissa Gusmão Figueiró, Angélica de Cássia Oliveira Carneiro, Lucas de Freitas Fialho, Mateus Alves
Magalhães, Gabriel Browne de Deus Ribeiro, Fernanda Barbosa Ferreira, Lívia Martins Alves

INTRODUÇÃO O presente estudo foi desenvolvido em


uma unidade de produção de carvão vegetal
Na indústria florestal brasileira, o setor de localizada em Martinho Campos – MG.
carvão vegetal é um exemplo de cadeia que O secador foi construído com chapa
apresenta algumas práticas produtivas que podem galvanizada de 2,00 mm, estruturado em perfil
ser melhoradas, como a destinação adequada dos quadrado, paredes de 40 mm de espessura com
gases produzidos durante a carbonização. Na isolamento térmico feito com manta de fibra
maioria das empresas, os gases são liberados na cerâmica aluminada, com densidade de 160 kg/m³
atmosfera, sem nenhum tipo de minimização do e espessura de 38,10 mm. Nas Figuras 1 e 2 são
seu efeito poluidor e danoso. apresentados a planta baixa e o diagrama
A combustão é uma alternativa atraente esquemático do secador metálico.
que auxilia na destinação ambientalmente correta
dos gases, uma vez que pode reduzir mais de 80%
do metano emitido no processo, dependendo do
tipo da câmara de combustão (PEREIRA et al.,
2017). Outro benefício da combustão é a geração
de energia térmica, que pode ser direcionada em
secadores de madeira.
O uso de secadores de madeira na
Figura 1. Planta baixa do secador de madeira.
produção de carvão vegetal ainda é incipiente, no
entanto apresenta grande potencial. Por meio da
secagem da madeira, o ciclo de carbonização é
reduzido, além de possibilitar o aumento do
rendimento gravimétrico em carvão vegetal, uma
vez que parte da energia disponível no sistema
será direcionada para secagem superficial da
madeira. A implantação de secadores, em
unidades produtoras de carvão vegetal, significa
uma redução de um passivo ambiental garantindo
uma melhora na eficiência e na sustentabilidade do Figura 2. Diagrama esquemático do secador de
madeira.
processo produtivo.
Assim, o objetivo foi avaliar a viabilidade A secagem foi realizada durante 72 horas,
técnica de um secador de madeira para ser utilizando madeira de Eucalyptus sp. em duas
empregado na produção industrial de carvão classes de diâmetro, com temperatura média de
vegetal. admissão de gases combustos no secador entre
100 e 150ºC. Foi determinada a massa de água
MATERIAL E MÉTODOS retirada pela secagem e estimada a quantidade de
madeira que seria consumida durante a
180 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6

carbonização para remoção da mesma quantidade aquecimento do sistema, incluindo parede, piso,
de água, sendo essa madeira convertida em massa dutos e principalmente a madeira.
de carvão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Estão apresentadas na Figura 3 as


temperaturas do sistema de transporte dos gases
combustos desde a saída do exaustor até a
tubulação no interior do secador, em função do
tempo de secagem. Observa-se que houve uma
redução média de 80 °C na temperatura do gás Figura 4. Perfil térmico do secador ao longo do
tempo de secagem.
transportado da saída do exaustor até a entrada do
secador. A redução de temperatura média da Apesar das paredes do secador serem
entrada do secador até a temperatura do segundo compostas de chapas metálicas paralelas e
termopar no interior do secador foi de 46,89 °C. isoladas internamente por manta cerâmica, nas
Denota-se a ocorrência de oscilações na regiões das junções entre as portas não havia
temperatura ao longo do tempo. Essas variações isolamento térmico, contribuindo, portanto, para as
são explicadas pelo abastecimento insuficiente de trocas de calor do interior do secador com o
gases combustos para manutenção da ambiente.
temperatura no secador ao longo do processo. Observa-se na Figura 5 que a perda de
umidade em função da classe de diâmetro não
apresentou diferenças significativas entre si.

Figura 3. Temperatura dos gases combustos, em


função do tempo de secagem, ao longo das
tubulações de transporte.

A temperatura média dos gases na copa do


secador foi de 93,84 °C, valor inferior à temperatura
média dos gases na entrada do secador (Figura 4),
que foi de 138,74 °C. O Lado B obteve as menores
temperaturas em relação ao Lado A. Este fato é
explicado pela ausência de ventiladores axiais do
Lado B do secador, o que prejudicou o
aquecimento do mesmo. Porém não ocasionou
diferenças na perda de umidade entre as pilhas de Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si, a 5% de
probabilidade, pelo teste Tukey.
madeira. A temperatura interna do secador ao final Figura 5. Perda de umidade em função da classe
da secagem foi maior que a inicial, indicando o de diâmetro (I) e em função da altura na pilha de
madeira (II).
Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6 181

Na parte superior houve uma maior CONCLUSÃO


redução de umidade da madeira em relação a parte
inferior e mediana (Figura 5). O primeiro contato A utilização do secador metálico é viável

entre os gases combustos e a madeira ocorre na tecnicamente, reduzindo em 8%, em média, o teor

porção superior da pilha, onde parte da energia dos de umidade da madeira e proporcionando um

gases é utilizada para a retirada de água da aumento de 3,3% na produtividade de carvão

madeira, reduzindo significativamente sua vegetal.

capacidade de secagem nas posições inferiores. Recomenda-se, para o aumento da

Com a utilização de um sistema de eficiência de secagem em projetos futuros,

secagem ocorreu um aumento de 3,3% na melhorias no isolamento térmico e inserção de

produtividade de carvão vegetal. Elevados teores pontos de tiragem dos gases úmidos.

de umidade podem aumentar o consumo de


madeira para gerar energia térmica, utilizada nos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

fornos de carbonização, para remover água do


PEREIRA, E. G.; MARTINS, M. A.; PECENKA, R.;
sistema. Quando a madeira é carbonizada com CARNEIRO, A. C. O. Pyrolysis gases burners:
teores de umidade inferiores, esse consumo de Sustainability for integrated production of charcoal,
heat and electricity. Renewable and Sustainable
energia do sistema decresce. Energy Reviews, v.75, p.592-600, 2017.
182 Coletânea de Trabalhos Científicos do Grupo G6
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