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“... conheço muitas coisas inúteis aos seres humanos, a saber, alimentos,
bebidas, remédios e muitíssimas outras, e algumas que são úteis; algumas
que não são nem inúteis e nem úteis para seres humanos, mas, inúteis ou
úteis aos cavalos, e algumas que são úteis somente para o gado, algumas
apenas aos cães; algumas também, que não são úteis a nenhum desses,
embora sejam úteis as arvores; algumas que são boas para as raízes de uma
árvore, mas ruins para seus brotos, como acontece com o estrume, que se
revela bom para ser aplicado às raízes de todas as plantas, mas que se
jogares sobre os brotos e ramos arruinará todos. Outro exemplo é o azeite,
que é extremamente ruim para todas as plantas, sendo também o pior
inimigo dos pelos de todos os animais exceto daqueles do ser humano, para
cujos cabelos é benéfico bem como para todo o resto do corpo humano. Mas
o bom é algo tão multifacetado e variável que, nesse exemplo do azeite, este
é bom para as partes externas do corpo humano, nas ao mesmo tempo
péssimo para as partes internas, motivo pelo qual os médicos proíbem
indiscriminadamente que seus pacientes utilizem o azeite em suas dietas,
exceto em uma quantidade mínima, o suficiente para afastar de nossas
narinas o cheiro pouco apetecedor dos alimentos e seus condimentos.”
(PLATÃO; Protágoras, 334, a,b,c)
Um ponto talvez de menor importância para a nossa investigação, mas, que pode
levantar à novas hipóteses está na presença do “mito de Prometeu”(230d) que surge no
texto de Platão, Protágoras. O “mito de Prometeu” é uma tentativa com a qual
Protágoras procura explicar a distribuição do senso politico entre os homens. Na
narração de Protágoras, coube a Prometeu a tarefa de inspecionar seu irmão Epimeteu
que tinha a tarefa de distribuir dons aos animais, no entanto, Epimeteu foi
demasiadamente generoso com os demais animais mais esqueceu do homem que
continuou sem pelos nem garras e nada que pudesse protege-lo, Prometeu por isso
atribuiu a sabedoria de Atena aos homens e roubou o fogo para que esses pudessem usar
essa sabedoria, mas, faltou a arte da politica e o senso de justiça entre os homens para
que estes vivessem juntos e por isso Zeus enviou Hermes para que distribuísse a arte da
politica entre os homens. A simples presença desse mito no nosso estudo já demonstra
que Protágoras tinha algum conhecimento e interesse nos mitos, embora não exista
motivo para alarde uma vez que estes mesmos mitos eram bastante conhecidos na
Grécia e que um retórico sofista certamente conhecia tais mitos, mas, a simples
atribuição de feitos divinos já seria algo de estranho a um ateísta. Um fragmento
especifico deste mito no entanto terá relevante importância para nós: “Entretanto agora
que o ser humano passara a compartilhar com os deuses de algo que antes fora
exclusivo destes últimos, ele, primeiramente, devido a uma espécie de afinidade ou
proximidade com os deuses, tornou-se o único animal que os venerava, tendo erigido
altares e confeccionado imagens sagradas.” (PLATÃO; Protágoras, 322A). Esta
passagem traz uma nova perspectiva aonde podemos ver tanto o interesse de Protágoras
pela religião como uma comparação dos homens com os deuses os diferenciando dos
animais, no entanto a tese do “homem medida” surge novamente com a distribuição da
arte politica aonde o homem seria capaz de reger suas próprias leis graças aos deuses
que nos deram esse dom. Segundo esta interpretação os próprios deuses deram ao
homem a capacidade de ser sua própria medida.
A partir dessa pesquisa, notamos que ainda não podemos dizer que Protágoras
foi ou não um ateísta, mas creio que estabelecemos que de modo algum ele tinha
intensão de afirmar serem os deuses inexistentes, a única a preocupação de Protágoras é
afirmar que os deuses não são uma medida confiável para que o homem conheça o
mundo, pois, a medida de algo que queremos conhecer não pode ser algo que não
vemos e não sentimos, a medida do mundo e de todas as coisas para o homem só pode
vir do próprio homem. Em contrapartida a problemática que a tese do “homem medida”
nos traz é que se as coisas são para mim como me parece, o que entendo como verdade
universal é apenas uma verdade minha, e o que é verdade pode ser apenas convenção ou
opinião, a possibilidade de que algo de falso seja dito sobre os deuses ainda compreende
um novo problema ao mundo grego, jamais os deuses haviam sido tão confrontados no
mundo grego, isso por que estes existindo ou não, não seriam suficientes para reger a
polis.
BIBLIOGRAFIA