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A descoberta do homem

Os Sofistas e o deslocamento do eixo da pesquisa

"Sofista" significa sábio, especialista do saber; precisamente sábio em cada um dos


problemas que dizem respeito ao homem e a sua posição na sociedade.
A Sofistica constitui radical inovação da problemática filosófica, deslocando o eixo das
pesquisas do cosmo para o homem. Inaugura, portanto, o período chamado
"humanista" da filosofia grega (a partir do séc. V . C.).

Concorreram para tal causas de ordem filosófica (o esgotamento do debate cosmológico) e


causas de ordem socio-política e cultural: a crise da aristocracia e dos seus valores e a ascensão
de novas classes sociais (a demos) com a democracia; o incremento do comércio e o intercâmbio
cultural entre povos nativos e estrangeiros, dando origem a novas verdades e novos valores, à
comparação de costumes e ao relativismo.

Uma dessas verdades foi a respeito virtude, sobretudo a virtude política, que deixa de ser inata ou
natural e passa a ser considerada como adquirida. E se é adquirida, resta agora saber como? Se
será por uma única via ou várias (e daí relativismo)

Nesse contexto, os Sofistas proclamaram possuir a arte de educar os homens e de prepará-


los para a vida politica, oferecendo-lhes novas ideias e novos instrumentos como a arte de
bem falar, argumentar para convencer ou defender-se contra oponentes.

0s Sofistas souberam captar de modo perfeito essas instâncias da época conturbada em que viveram,
sabendo explicita-las e dar-lhes forma e voz. E tiveram boa recepção sobretudo entre os jovens que
encontravam neles as respostas para as suas inquietações.

Tudo isso permite compreender melhor certos aspectos dos Sofistas, pouco aprecia dos no passado ou até
julgados negativa mente, em particular seu modo de difundir cultura, o fato de tornar esta difusão uma
profissão, de percorrer varias cidades-Estado, sua liberdade de espírito e a crítica em relação à tradição.

Grupos de sofistas

A Sofistica se agrupa em quatro expressões:


a) a primeira geração dos grandes mestres (Protágoras, Górgias, Pródico) que tinham
algumas reservas morais e não caírem no relativismo absoluto;
6) os Eristicos, que levaram o aspecto formal do método (da argumentação e refutação) à exasperação,
perderam interesse pelos conteúdos e também perderam a reserva moral que caracterizava os mestres.  
A erística pode ser entendida como uma arte do falar e do argumentar, através de uma disputa
verbal, que envolve um convencimento, mesmo que este convencimento seja apenas de modo
aparente, através de argumentos plausíveis e não necessariamente argumentos verdadeiros.

Aristóteles irá destacar o caráter educativo que a erística possui, especialmente para as pessoas
que desejavam falar em público, como por exemplo nas assembleias e nos tribunais. É neste
contexto da educação que a erística aparece como um ponto forte e positivo (inclusive nos dias
atuais). Uma pessoa educada eristicamente torna-se habilidosa em formular argumentos plausíveis
e com alto valor de convencimento, assim, consequentemente torna-se hábil em debater sobre
qualquer assunto com qualquer pessoa, sempre conseguindo sucesso ou aparente sucesso no
debate.

c) os Sofistas políticos, que utilizaram idéias sofistas em sentido "ideológico", como diriamos hoje, ou
seja, com finalidades politicas, caindo em excessos de vários tipos e chegando até a teorização do
imoralismo;
d) um grupo de Sofistas ligados aos mestres da primeira geração que constitui a Escola
"naturalista", assim chamada porque, como veremos a seguir, contrapunha a lei natural (da
natureza) à positiva (dos homens), privilegiando a úiltima e relativizando a primeira.

0s mestres: Protágoras, Górgias, Pródico

1. Protágoras, o fundador do relativismo ocidental, das antilogias e do utilitarismo

Influencias: Heráclito (tudo tem dois polos opostos, antilogias) e Parménides


(identificação/redução do ser ao não-ser)

Protógoras de Abdera (nascido entre 491 e 481 a.C.) foi o fundador do "relativismo"
ocidental, que ele expressou na celebre formula "o homem e medida de todas as coisas",
com isso entendendo que não existe critério absoluto para julgar o verdadeiro e o falso, o
bem e o mal, o ser e o não ser. Mas que cada homem julga conforme o próprio modo de
ver as coisas.

Contra a oposição de Parménides entre o Ser e o não-ser, Protágoras identifica o ser ao


aparecer e o aparecer à percepção. Só é possível conhecer o que aparece, logo tudo o
que aparce é verdadeiro, é ser, pelo menos para cada homem que assim parece. Assim, o
ser é identificado ao não-ser e a verdade (aletheia) à opinião (doxa).
A não definição da verdade: o sofista, contudo, não pode definir o que é a verdade, pelo
menos não enquanto correspondência, pois ele só admite o que aparece (o falso). Para admitir a
verdade (em oposição à falsidade), é preciso dois pólos separados e que se correspondam, como
o ser e o discurso sobre ele.

Relativismo: O aparecer de algo foi associada a verdade de seu julgamento. Pela


impossibilidade de negar a verdade da percepção de alguém, cada ser humano é a medida de sua
própria percepção, sendo, portanto, toda percepção infalível e inquestionável.

Antilogias: Para cada tese e portanto possível trazer a baila argumentos a favor e contra
(antilogia) e, por conseguinte, é possivel, com técnica apropriada, da qual Protágoras se
dizia mestre, tornar mais forte o argument0 mais fraco: nisso justamente consistia a
"virtude", ou seja, a habilidade do homem. Assim, o "verdadeiro" e o "falso", e o " bem" e o
"mal" perdem qualquer determinação absoluta.

A antilogia funda-se no pressuposto de que tudo é passível de dois discursos opostos.


Como exemplos disso, Protágoras recorre à verdade sobre Deus (cuja certeza da
existência é tão sustentável quanto a sua incerteza e sobre os entes matemáticos (cujo
discurso é passível de oposições: a linha tangente que se diz tocar no círculo por um único
ponto, no fundo ela o faz por vários pontos).

Caso concreto da aplicação da antilogia na democracia grega: o relato de Plutarrco


O relato é a respeito de um incidente ocorrido em uma prova dos jogos olímpicos em que um
indivíduo atingiu com um dardo, involuntariamente, um jovem que passava, levando-o à morte.
Após um incidente no qual um Plutarco conta que Péricles e Protágoras passaram o dia inteiro
discutindo sobre quem seria o verdadeiro culpado do funesto acontecimento, se o lançador, o
dardo ou os organizadores dos jogos.24 A resposta poderia ser qualquer uma das três e todas
estariam igualmente corretas: um médico poderia assegurar que foi a lança; para um
administrador, os culpados poderiam ser os organizadores; para os parentes do morto, o
lançador; e ainda poderia haver quem acusasse o próprio morto de suicídio por estar
voluntariamente em um lugar perigoso. A decisão da justiça sobre isso só é possível delimitando-
se uma medida, e esta medida, como se vê, é excludente e restritiva.

O utilitarismo como parâmetro da medida:


A medida não é totalmente arbitrária, subjacente a ela há sempre um parâmetro. Este parâmetro,
todavia, é sempre artificial, precário e sem validade universal. Todavia, nem tudo para
Protágoras e relativo: com efeito, se o homem é "medida" da verdade, e "medido" pelo "útil"
e pelo "danoso": estes, portanto, tornam-se referencias últimas das quais Protágoras se
proclamava mestre.
Se não existe uma verdade absoluta, uma única medida, existe, portanto, algo que e' mais útil, mais

conveniente e, portanto, mais oportuno. 0 sábio é aquele que conhece esse relativo mais útil, mais
conveniente e mais oportuno, sabendo convencer também os outros a reconhece-lo e pô-lo em pratica.

2. Górgias de Leontini (nascido por volta de 4851480 a.C.): o niilismo, a retórica e a


arte.
Herda de Parmenides a temática ontológica (o ser existe, e o nao-ser nao existe), mas
inverte os termos (o ser não existe, e o não-ser existe). 0s pontos-chave de seu
pensamento se exprimem nas três proposições seguintes:

1) "0 nada existe": isto se deduz do fato de que do ser (do principio) os filósofos
precedentes deram definições diversas e opostas, demonstrando, com isso, que ele não
existe (Exemplo: para Parménides o ser é limitado e finito, com figura esférica, e para
Melisso, seu discípulo, o ser é ilimitado e incorpóreo). O ser não podendo ser "nem uno, nem
mútiplo, nem incriado, nem gerado" só pode ser, portanto, nada.

2) "Mesmo que (o ser) existisse, não seria cognoscível": o pensamento, com efeito, não
se refere necessariamente ao ser e apenas ao ser - como queria Parménides -, pois
existem coisas pensadas que são não existentes (corno, por exemplo, a Quimera, fantasia,
imaginação). Pelo que o não-ser é tão pensável (ex. homem voador) tanto quanto o
pensável é não-existente (a fantasia). Logo, não há nenhuma relação entre ser e
pensamento. Portanto, há divórcio e ruptura entre ser e pensamento.

3) "Mesmo que fosse pensável, o ser não seria exprimível": a palavra, sendo
um som, significa quando muito um som, mas não aquilo que deriva dos outros
sentidos, como por exemplo uma cor ou um odor.

Esta doutrina toma o nome de "niilismo", enquanto põe o nada como fundamento de tudo.

Eliminada a possibilidade de alcançar uma "verdade" absoluta (a ale'theia), parece que


só restou a Górgias o caminho da "opiniio" (doxa) (que Parméneides havia negado). Ele,
porém, negou tamém a opinião, considerando-a "a mais périfida (enganosa) das coisas".
Procura então um terceiro caminho, o da razão que se limita a iluminar fatos. Portanto,
do niilismo cai-se no relativismo gnosiológico e moral. Tudo depende de percepção
de cada um.
Do niilismo à retórica:

Se não existe verdade absoluta e tudo é falso, a palavra adquire então


autonomia própria, quase ilimitada, porque desligada dos vinculos do ser. Em sua
independência onto-veritativa, torna-se (ou pode tornar-se) disponível para tudo. E eis que
Górgias descobre, precisamente no plano teórico, aquele aspecto da palavra pelo
qual (prescindindo de toda verdade), ela pode ser portadora de persuasão, crença e
sugestão. A retórica é exatamente a arte que desfruta a fundo esse aspecto da palavra,
podendo ser definida como a arte de persuadir, que no séc. V a.C. tinha enorme
importância política.
Justamente o político era também retor. Para Górgias, Ser retor consiste em "ser capaz de
persuadir os juizes nos tribunais, os conselheiros no Conselho, os membros da assembleia
popular na Assembliia e, da mesma forma, qualquer outra reunião que se realize entre
cidadiios"

A palavra, perdendo qualquer relação com o ser ( que não existe), não é mais veiculo de
verdade, mas torna-se portadora de persuasão e sugestão: se esta acção tem propósito
prático (por exemplo, convencer o público em uma assembleia, os juizes em um processo),
temos a retórica (oratoria); se, ao inves, tem proposito puramente estético, temos a
artecircunstâncias e situações da vida dos homens e das cidades na sua concretitude e
na sua situagio contingente, sem chegar a dar a estes um fundamento adequado.

Conclusão sobre a sofistica


- O maior significado histórico e filosófico dos sofistas foi o seu deslocamento do eixo da
pesquisa filosófica do cosmo para o homem.
- A Sofistica atuou complexivamente urna profunda acção critica sobre a moral (em sentido
relativistico, niilistico e utilitarista); sobre o conhecimento (o logos não leva a uma verdade
isenta de controvérsias), e sobre a religião, mas não soube construir alternativa filosófica
validas para substituir as criticadas.
- Destruiu a velha concepção de Deus: Protágoras permaneceu agnóstico
(impossibilidade de afirmar ou negar a existência e Deus). Gorgias foi mais além com
seu niilismo. Pródico entendeu os deuses como hipostatização do útil e Crítias como
invenqiio "ideologican de um hábil político.

O mesmo aconteceu com a verdade, que antes residia no logos:


- Protagoras cindiu o logos nos "dois raciocinios", descobrindo que o logos diz
econtradiz.
- Górgias rejeitou o logos como pensamento e só o salvou como palavra maágica, mas
encontrou urna palavra que pode dizer tudo e o contrário de tudo, podendo, portanto,
expressar verdadeiramente nada.

Igualmente aconteceu com a cocepção de homem que antes era tido como logos, agora é
considerado na sua dimensão meramente biológica e animal, esquecendo-se a sua
dimensão espiritual.

Veremos agora como Sócrates soube finalmente encontra-la.

Sócrates
Natureza do homem, ética e liberdade e Felicidade

O homem é a sua alma


Diante dos relativismo e do niilismo proclamados pelos Sofistas, Sócrates se propões ensinar a
saberoria como búsca de justificação filosófica (de um fundamento) da vida moral. Este
fundamento reside na própria natureza ou essência do homem que é a sua alma. Entendendo por
alma como: consciência, personalidade intelectual e moral (hoje sria a capacidade de entender e
de querer). Conhecer a si mesmo significa reconhecer esta verdade da interioridade e
espiritualidade do homem.
A moral fundada sobre a alma: se o homem é alma, a sua virtude consiste na cura da alma,
fazeno que ela ser realize de acordo com a sua natureza como: como actividade cognoscitiva.
Logo a virtude comsistirá fundamentalmente no cultivo da actividade intelectual: ciência,
conhecimento. É porque o corpo é instrumento da alma, as virtudes do corpo serão também
subordinandos às virtudes da alma.

o intelectualismo ético

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