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GRANDE ORIENTE DO BRASIL - PARÁ

ARLS ESPERANÇA DO TAPAJÓS Nº 2718

JORDY CARVALHO PANTOJA

A MAÇONARIA É PARA HOMENS LIVRES

OR∴ SANTARÉM – PA
2022
JORDY CARVALHO PANTOJA

A MAÇONARIA É PARA HOMENS LIVRES

Trabalho apresentado a Comissão de Admissão e Grau,


vinculada a ARLS Esperança do Tapajós, Nº 2718,
jurisdicionada ao Grande Oriente do Estado do Pará,
federada ao Grande Oriente do Brasil, como requisito
para obtenção do Grau de Companheiro.

OR∴ SANTARÉM – PA
2022
“É muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias, mesmo
expondo-se a derrota, do que formar fila com os pobres de espírito que nem gozam
muito nem sofrem muito, porque vivem nessa penumbra cinzenta que não conhece
vitória nem derrota.”
Theodore Roosevelt
RESUMO

O presente trabalho propõe a reflexão entre os irmãos acerca do conceito de


liberdade e suas implicações na caminhada maçônica. Para isso foram
escolhidos como posicionamentos norteadores, três grandes expoentes do
conhecimento profano, mas que, ao nosso entender, podem corroborar com a
Maçonaria, pela profundidade com que pensaram o tema em comento. São
eles o pensamento grego com Aristóteles, Alemão com Hegel e Francês com
Sartré, em períodos diferentes da história e com propostas diferentes. Para
arrematar, finda-se o trabalho com as considerações contidas na maçonaria
sobre a liberdade e como alcança-la.

Palavras-chave: Liberdade. Conhecimento. Maçonaria.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO   06
2 QUAL O SIGNIFICADO DE LIBERDADE? 06
3 ARISTÓTELES, HEGEL E SARTRE 07
3.1. Aristóteles 07
3.2. Hegel 08
3.3. Sartre 09
4 LIBERDADE PARA A MAÇONARIA 10
REFERÊNCIAS 13
1. INTRODUÇÃO

O homem é do tamanho do rastro que ele deixa no mundo! Não seria


possível concordar com esta afirmação sem nos remeter as possibilidades
individuais de cada grande expoente que andou entre nós.

A Maçonaria se propõe ousadamente a libertar o homem das correntes


do vício e lhe conceber entre os iniciados da luz. Mesmo assim, as condições
profanas de conforto na ignorância se prostram diariamente e nos seduzir.

Qual o significado de ser um Homem Livre aos olhos da sagrada


Maçonaria? Não raramente as respostas destoam conforme as inclinações
ideológicas ou culturais de cada irmão.

Sendo uma Fraternidade Universal, é prudente supor que as chaves


para essa evolução têm desafiado o tempo e o espaço, atravessando episódios
de toda sorte na caminhada humana neste plano.

2. QUAL O SIGNIFICADO DE LIBERDADE?

Nos dicionários encontraremos as seguintes definições: Estado ou


característica de quem é livre, de quem não se submete; Atributo do que se
encontra solto ou sem obstáculos para se movimentar; Alternativa que uma
pessoa possui para se expressar da maneira como bem entende. Tomemos a
última sentença, por amparar de forma holística nossa pretensão semântica.

Certa vez ouvi uma máxima, para alguns pessimistas, de que o “Homem
é esse animal que carrega o defunto nas costas”, Luiz Felipe Pondé, Filósofo e
palestrante contemporâneo, ao retratar desta forma, nos faz lembrar de nossa
perenidade, e condição passageira, e que deve ter sido muito angustiante, para
os primeiros homens, se perceber enquanto pensava sobre si (criando o eu).

Criamos subterfúgios, que se diferenciam ao longo do tempo e dos


lugares que habitamos, mas, de longe, a fé em uma dimensão para além da
morte, nos tocou mais profundamente que qualquer outra possível solução
para esta condição mortal, somos criaturas, obras de um pai celestial, um
arquiteto que a tudo criou, e essa conclusão é tão antiga quanto a nossa
capacidade de pensar.

Seria essa a única forma de ser livre? Tomemos na Maçonaria, e das


fontes do saber e dos mistérios bebemos para penetrar nas reflexões de quem
a cerca do tema pensou com profundidade.

3. ARISTÓTELES, HEGEL E SARTRE

Na tradição Grega (eleuthería) e latina (libertas), a liberdade se


apresenta como ontológica, condição de ser, para aqueles o homem livre difere
do escravo, para estes o homem livre assume uma responsabilidade para
consigo e para a comunidade (BUENO, 2007).

Adotemos então três ilustres pensadores de tempos (antiguidade,


modernidade e pós-modernidade) e culturas (grega, alemã e francesa)
diferentes, a começar por Aristóteles, que abordou o tema liberdade em seus
tratados sobre ética e política.

3.1. ARISTÓTELES

Para Aristóteles, a liberdade é produto da integração do Homem com a


Pólis, pois sendo um animal político, que interage nas relações em
comunidade, estaria a felicidade (eudaimonía) no exercício pragmático da
política. Sem o Ethos integrado na Polis, e comunicado através dos símbolos
(palavras) entre a comunidade, não há homem, estaria abaixo (animal) ou
acima dele (Deus), segundo Aristóteles:

Somente o homem, entre todos os animais, possui o dom da palavra; a voz


indica dor e o prazer, e por essa razão é que ela foi outorgada aos outros
animais. Eles chegam a sentir sensações de dor e de prazer, e fazerem-se
entender entre si. A palavra, contudo, tem a finalidade de fazer entender o
que é útil ou prejudicial, e, consequentemente, o que é justo e o injusto. O
que, especificamente, diferencia o homem é que ele sabe distinguir o bem
do mal, o justo do que não o é, e assim todos os sentimentos dessa ordem
cuja comunicação forma exatamente a família do Estado (ARISTÓTELES,
2002, p. 14).
Ao refletir entre colunas, os irmãos certamente perceberão que é
compromisso da Maçonaria a evolução do homem como indivíduo, bem como
agente social, e que os interesses individuais – não raramente vaidosos –
devem ceder ao colidirem com o interesse da comunidade, assim seremos
livres e de bons costumes, posto que este último é determinado nas relações
sociais.

3.2. HEGEL

Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1830) foi um filósofo alemão


idealista desbravador do campo das ideias e postulados, bem como da
dialética lógica. O pensamento de Hegel influenciou pensadores como Ludwig
Feuerbach, Bruno Bauer, Friedrich Engels e Karl Marx.

Acerca da Liberdade, Hegel destoa da tradição grega, desde Platão, ao


sugerir que, a partir da fenomenologia do espírito, o homem alcançaria a ideia
através da realidade, esta que se modifica a depender do tempo e espaço em
que se encontra. Assim, nós não vivemos em um mundo espelhado no mundo
das ideias, mas sim, nós criamos o mundo das ideias através das experiências
que vivemos.

Hegel aponta que “o Estado é a liberdade e a moralidade” (DIMOULIS,


2014, p. 30), mas para chegar a esta máxima, introduziremos brevemente a
lógica hegeliana. Para ele, a compreensão de liberdade (Freiheit), se dá a partir
da epstemologia do espírito (Geist), que se manifesta em diferentes graus,
subjetivo, objetivo e, finalmente, absoluto.

Por Espírito em Hegel, entenda, “a comunidade de homens que toma


consciência de si mesma na história” (Lacoste, 1986, p. 43). Assim, espírito
absoluta engloba 3 principais manifestações: Arte, Religião e Filosofia.
Diferente de espírito subjetivo, que compreende as manifestações do indivíduo
– como pensamento e vontade – e espírito objetivo, que são as experiências
em sociedade, como o direito, a política e o Ethos.
Espírito é a ideia que retorna a si mesma a partir da alteridade, é se
aproximar da proposta divina, o auto-realizar-se. Ensina Reale e Antiseri, 2005,
p. 125, “o Espírito Absoluto é a ideia que se autoconhece de modo absoluto, é
Deus que se reconcilia com sua comunidade e consigo mesmo”.

E Hegel conclui que esta razão autoconsciente só é possível através do


Estado (Staat), onde se manifestaria as determinações do espírito absoluto
(arte, religião e filosofia), na chamada “realidade da ideia”. Como dito antes,
para Hegel, a ideia (Idee) é ontológica e epistemologicamente anterior às
coisas e ao real.

Assim como a razão é um meio, está presente em tudo, ou seja, é a


razão o próprio espírito do mundo (Weltgeist), está presente em tudo, mas
somente no homem ela (a razão) pode ter consciência de si, e a história é a
realização da razão, posto que o indivíduo não tem história, ele é.

O desenvolvimento da razão, para alcançar a liberdade, perpassa por


três estágios dialéticos: imediatidade, momento de conceitos gerais;
imediatidade, materialização dos conceitos gerais, a absorvência do universal
no particular; suprassunção, terceiro momento onde a negação do particular
coincide para a síntese do particular no universal (tese, antítese e síntese).

3.3. SARTRE

Viajando para um dos berços da Maçonaria, encontramos um dos


maiores influenciadores do século XX, Jean-Paul Charles Aymard Sartre foi um
filósofo, escritor e crítico francês, conhecido como representante do
existencialismo, ao conhecer sua obra, os irmãos certamente podem identificar
meios de lapidar sua consciência acerca de liberdade que tanto buscamos.

“Estamos condenados a sermos livres!” assim inicia a proposta deste


francês. Sartre desloca a visão de liberdade (liberté) para, metaforicamente,
condenação, pois “somos aquilo que fazemos do que fizeram de nós”. Temos
assim, sempre uma escolha a partir da condição em que nos encontramos.
A liberdade é, portanto, existência, e nela, a existência precede a
essência” Sartre (2015, p. 695). Assim vejamos:

A liberdade humana precede a essência do homem e tornaa possível: a


essência do ser humano achasse em suspenso na liberdade. Logo, aquilo
que chamamos liberdade não pode se diferençar do ser da “realidade
humana”. O homem não é primeiro para ser livre depois: não há diferença
entre o ser do homem e seu “ser livre” (SARTRE, 2015, p. 68).

A projeção que fazemos de nós estaria, assim, condicionada a nossa


liberdade, consciente ou não dela.

Ao entender a máxima de Sartre, podemos toma-la como um desafio de


perspectivas sobre nós. Façamos o exercício de mudar o termo homem-em-si
por homem-para-si, e explico. O ser que é em si, coincidindo consigo mesmo,
afasta-se da liberdade, já que “é o que não é e não é o que é”, o que lhe obriga
a fazer-se em vez de, meramente, ser, conforme SCHNEIDER, 2006, p. 296.

Assumir a autoria do seu projeto existencial é a única forma de ter


liberdade onde nossa própria existência se confunde com nossa liberdade.

O filósofo, então, ensina que:

Mostramos que a liberdade se identifica com o ser do parasi: a realidade


humana é livre na exata medida em que temdeser seu próprio nada. [...] E o
ato fundamental da liberdade... é este ato que confere seu sentido à ação
em particular que levo em consideração em dado momento: este ato
constantemente renovado não se distingue de meu ser, é escolha de mim
mesmo no mundo e, ao mesmo tempo, descoberta do mundo (SARTRE,
2015, p. 559 e 569)

A abordagem de Sartre é metafísica, dado que só existe liberdade na


plenitude do nosso intelecto, quando transcendemos as ideologias e campos
culturais que nos condicionam desde o nascimento, pois somos seres
pensantes. É, pois, na ontologia que se traduz a liberdade de Sartre, ao definir
o ser da realidade humana.

4. A LIBERDADE PARA A MAÇONARIA

Não há consenso na literatura dos pedreiros Livres sobre o que é a


liberdade, até porque a maçonaria desde suas primeiras Lojas, seja em
Londres, na Escócia ou na França, evitou dar respostas as questões de cunho
pessoal. A escola maçônica, todavia, ensina pelos símbolos e alegorias.

Assim, são condições para a iniciação nesta fraternidade uma crença


num princípio criador, o que para muitos é motivo de segregação e guerras,
na Maçonaria é a fé, ainda que de religiões diferentes, elemento de nossa
egrégora.

No documento publicado em 1720 por James Anderson, a quem se deu


a incumbência de reunir as tradições documentais maçônicas em uma única
obra, existe um título: De Deus e da Religião, que declara:

Um Maçom é obrigado, por dever de ofício, a obedecer a Lei Moral; e se ele


compreende corretamente a Arte, nunca será um estúpido ateu nem um
libertino irreligioso. Muito embora em tempos antigos os Maçons fossem
obrigados em cada país a adotar a religião daquele país ou nação, qualquer
que ela fosse, hoje se pensa mais acertado somente obrigá-los a adotar
aquela religião com a qual todos os homens concordam, guardando suas
opiniões particulares para si próprios, isto é, serem homens bons e leais, ou
homens de honra e honestidade, qualquer que seja a denominação ou
convicção que os possam distinguir; por isso a Maçonaria se torna um
centro da união e um meio de conciliar uma verdadeira amizade entre
pessoas que de outra forma permaneceriam em perpétua distância.

Podemos, de pronto, notar que parte da liberdade na Maçonaria está em


se reconhecer como criatura, sabendo seu lugar na obra do Criador, e
iluminando seus irmãos com as luzes que recebe do Arquiteto Supremo.
Assim, a angustia de quem não se prostra a refletir sobre sua existência, nunca
atingirá um Pedreiro Livre, pois este se vê pedra em constante lapidação.

Em seguida, chamemos os irmãos a lembrar da resposta dado ao


seguinte questionamento: Que vindes aqui fazer? Que deve-se responder,
como todos sabem com: Vencer minhas paixões, Submeter minha vontade.
(grifo nosso). As paixões implicam em demasiada energia aplicada ao Ego,
assim fulminando em ações (quase sempre desmedidas). Feliz – e livre – é o
homem que destas paixões se serve aos propósitos nobres, pois do contrário,
a qualidade de suas ações desmedidas é como um rio que, fora de controle
inunda cidades. Façamos deste rio uma hidrelétrica que gera luz aos homens.

Acerca de submeter a vontade, esta só é possível quando vencemos as


paixões que regem as ambivalências de ideologias fruto da convivência em
sociedade. O homem comum procura impor sua vontade, segundo suas
paixões. O maçom vence suas paixões e submete sua vontade, atuando de
modo lúcido e harmônico.

Não nos enganemos, meus irmãos, com a falsa ideia de que o homem é
originalmente bom, como propôs Rousseau, que inclusive era Mestre Maçom.
Sejamos vigilantes e procuremos sempre nortear nossos pensamentos e ações
segundo um ideal, e que este esteja em altos graus, beirando o inatingível,
posto que é ideal, e se procuramos uma ordem de aperfeiçoamento, é porque
sabemos e podemos concordar sem medo, somos eivados de vícios e estes se
apresentam cotidianamente em nossa caminhada nesse plano.

Freud já nos alertava no tocante a natureza humana, aduz o médico


psicanalista que o ser humano é espontâneo e naturalmente egocêntrico,
egoísta, tendendo a buscar seus interesses pessoais como primeiro e mais
forte impulso.

Ora, se o Maçom reserva parte de seu tempo para o desbaste da pedra,


vencendo suas paixões e submetendo suas vontades, certamente a sensação
de liberdade lhe ocorrerá com frequência, já que este seve quebrando a
algemas dos vícios que aprisionam os homens, seja qual posição ou cargo
exerça em sociedade.

Em linhas gerais, a liberdade na Maçonaria pode se apresentar como


ausência de vínculos coercitivos genéricos, estando disposto a avaliar posições
outrora distantes de suas fontes originais de tomada de decisões e
posicionamentos, priorizando a reavaliação de suas próprias verdades.

A conclusão desta peça de arquitetura será escrita pelos estimados


irmãos leitores, que se proponham a escrever nos templos de seus espíritos
com maço e cinzel, até que esteja claro o aperfeiçoamento moral, e este
refletido na egrégora.

T.F.A.
REFERÊNCIAS

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. Pietro Nasseti. São Paulo: Martin Claret,
2001.
ARISTÓTELES. Política. Trad. Torrieri Guimarães. São Paulo: Martin Claret, 2002.
BUENO, I. J. Liberdade e ética em JeanPaul Sartre. 2007. 117 f. Dissertação
(Mestrado em Filosofia) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007.
DIMOULIS, D. Manual de introdução ao estudo do direito. 6. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2014.
James Anderson. As Constituições dos Franco Maçons. De 1723. Ed. A
Fraternidade, São Paulo, 1982, p. 50.
LACOSTE, J. Filosofia da arte. 2 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1986.
LEPAGE, Marius. História e Doutrina da Franco-Maçonaria. São Paulo,
Pensamento, 1985.
REALE, G.; ANTISERI, D. História da filosofia 5: do romantismo ao
empiriocriticismo. Trad. Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2005.
SARTRE, J. P. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. 24. ed. Trad.
Paulo Perdigão. Petrópolis: Vozes, 2015.
SCHNEIDER, D. R. Liberdade e dinâmica psicológica em Sartre. Natureza
Humana, v. 8. n. 2, p. 283314, 2006.

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