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LIVRES?
MITO, Antes do surgimento da filosofia na Grécia
antiga, predominava a consciência mítica.
SÓFOCLES. Édipo rei. São Paulo: Abril Cultural, 1976. p. 82. (Coleção Teatro Vivo)
A tentativa de reflexão, de
autoconhecimento e de desejo de
autonomia retrata o logos nascente.
Daí em diante a filosofia representará
o esforço da razão em compreender o
mundo e orientar a ação.
LIBERDADE Afinal, somos livres ou determinados?
Quando nos referimos ao conceito de
liberdade, podemos fazê-lo com base em
L E LIVRE-
enquanto para outros liberdade é poder
pensar e agir por si próprio, sem nenhum
constrangimento. Na maior parte da
ARBÍTRIO
tradição filosófica, a liberdade humana é
admitida como absoluta, ou seja, temos a
escolha de agir de um modo ou de outro,
independentemente das forças que nos
constrangem. Essa tendência adquiriu
nuanças diferentes conforme a época,
como veremos.
LIBERDADE
INCONDICIONAL
A concepção de liberdade remonta a Sócrates, que imprimiu
uma orientação racionalista à ética. Para ele, a prática de
virtudes como a justiça, a fortaleza, a temperança e a
prudência depende do conhecimento que delas temos: agimos
bem quando as conhecemos e mal quando as ignoramos.
Desse modo, alguém é corajoso quando a razão o orienta a
enfrentar os desafios e a não se acovardar. A posição
intelectualista de Sócrates é criticada por ter desconsiderado
a vontade humana como elemento capaz de contrariar a
disposição racional para o bem.
Na ética de Aristóteles, tanto a virtude como o vício dependem da
vontade do indivíduo. Trata-se do conceito de liberdade incondicional,
pela qual podemos agir de uma maneira ou de outra,
independentemente das forças que nos constrangem. Sobre essas
forças, ao examinar as paixões humanas, Aristóteles define-as como
apetites (a cólera, o medo, a audácia, a inveja, a alegria, o desejo) e,
por isso, não dependem de nossa escolha. Mas a virtude, contrariamente
às paixões humanas, é uma disposição de caráter relacionada à escolha
racional própria do homem dotado de sabedoria prática. É bem verdade
que, na Grécia antiga, a liberdade era exercida no espaço da pólis, na
qual os cidadãos construíam a política. Portanto, livre era o homem da
praça pública, disponível para compartilhar entre iguais as ações e os
discursos e liberado das obrigações cotidianas da vida. A família, ao
contrário, achava-se mergulhada nas exigências de sua preservação por
pertencer ao "espaço da necessidade". Na vida privada, portanto, não
havia liberdade, mas submissão ao chefe de família, que exercia um
poder de vida ou morte sobre mulheres, crianças e escravos.
LIVRE-ARBÍTRIO
A noção de liberdade "interior", relacionada ao próprio eu
e não mais vinculada apenas ao espaço público, só
apareceu como discussão teórica com os primeiros
teólogos cristãos. Agostinho de Tagaste (354-430) - ou
Santo Agostinho, bispo de Hipona (África) - foi o primeiro a
usar o conceito de livre-arbítrio, como faculdade da razão
e da vontade, em sua obra De libero arbitrio voluntatis
(Sobre a livre escolha da vontade). No sentido ético, livre-
arbítrio significa liberdade de indiferença, por meio da
qual o sujeito age pela força de sua vontade,
independentemente dos constrangimentos que sofre.
Em seu livro Confissões, Agostinho relata a luta interna que
culminou com sua conversão ao cristianismo, depois de ter
levado uma vida por ele considerada dissoluta. A vivência dos
conflitos de uma consciência atormentada pela noção do
pecado o fez exaltar o poder da vontade: se a razão conhece,
é a vontade que decide e escolhe. Como cristão, realçou a
graça divina como auxílio imprescindível para escolher o bem e
rejeitar o mal.
A noção de livre-arbítrio permaneceu na história, após ter se fortalecido
na tradição cristã medieval. Na Idade Moderna, em uma das máximas da
sua moral provisória, Descartes defende que o ser humano deve sempre
procurar o domínio de si. Mesmo que as paixões possam ser boas em si,
a força delas está em iludir a alma com razões enganosas e
inadequadas. Portanto, o intelecto tem prioridade sobre as paixões,
para que possamos controlá-las
DETERMINISMO
POSITIVISTA
A posição do determinismo contraria o conceito de livre-
arbítrio. De acordo com o determinismo científico, tudo o que
existe tem uma causa. O conhecimento das causas garante a
validade das leis científicas, que se sustentam pela forte
probabilidade de certas causas produzirem sempre os mesmos
efeitos. Por exemplo, uma barra de ferro se dilata com o
aquecimento: a dilatação é um efeito inevitável, que não pode
deixar de ocorrer. Além da formulação de leis e teorias, o
determinismo da natureza permite o avanço tecnológico. De
início o determinismo foi aceito como conceito básico para
estabelecer o método rigoroso das ciências da natureza, mas
logo passou a ser referência para a compreensão dos fenômenos
humanos.
Para o filósofo francês Auguste Comte (1798-1857), principal expoente da teoria
positivista, o espírito humano teria passado por três estágios: teológico, metafísico e
positivo. O último estágio é considerado superior por denotar a fase de maturidade
intelectual da humanidade, ao alcançar o conhecimento científico. O termo positivo
significa, para Comte, o conhecimento comprovado pela experiência e capaz de
enunciar leis universais. Portanto, para tornar-se positiva, a ciência sociológica
deveria instrumentalizar-se como método das ciências experimentais, Comte
apenas estabeleceu parâmetros para a nova sociologia, indicando a necessidade
de serem examinados cientificamente os fundamentos da inteligência e da moral.
Admitia, também, que oestudo das paixões ajudaria a evitar as turbulências que
sempre perturbaram as ações humanas. Para Hippolyte Taine (1828-1893), discípulo
de Comte, toda vida humana social depende de três fatores: raça, meio e momento
histórico. Portanto, o ato humano não é livre, mas causado por esses fatores, dos
quais não pode escapar. Se nossos atos são motivados, sem que conheçamos o que
nos mobiliza a agir, a liberdade humana não passaria de ilusão.
No século XX, diversos filósofos da
corrente fenomenológica abordaram o
tema da liberdade. Para eles, a discussão
sobre liberdade não se completa no plano
FENOMENOLOGIA: A
de uma liberdade abstrata nem conforme
uma concepção racionalista, que privilegie
apenas o trabalho da consciência. Os
LIBERDADE fenomenólogos consideram a liberdade do
sujeito encarnado, situado e capaz de