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GRANDE DO SUL
RAFAEL ZIMMERMANN
Ijuí (RS)
2016
1
RAFAEL ZIMMERMANN
Ijuí (RS)
2016
2
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
The present work of monographic research makes an analysis of the emergence of the
rule of law, mainly, from the conception of classic contractualists. It briefly discusses the
generations of rights, as well as the liberal revolutions of the eighteenth century, searching
understand the importance of this movement for the consolidation of constitutionalism. Still,
it makes a counterpoint of ideas, between the constitutional right and the human rights,
understood in this work, from an universal perspective. Finally, it makes some considerations
about the idea of justice, in that it proposes to look at the new perspectives of contemporary
political philosophy.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 8
CONCLUSÃO......................................................................................................................... 60
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 62
8
INTRODUÇÃO
Além disso, faremos uma abordagem sobre justiça, sobretudo, a partir dos desafios
enfrentados pelos países com a evolução dos direitos humanos e o cenário de demandas cada
vez mais crescentes, que não podem ser resolvidas apenas por um Estado nacional, mas pela
ajuda mútua e cooperação internacional.
Trataremos a teoria da justiça por meio de dois autores liberais igualitários, John
Ralws e Amartya Sen, os quais divergem em algumas considerações, ainda que se utilizem
dos direitos civis, político, econômicos e sociais para afirmarem suas teses.
Quanto à metodologia a ser aplicada neste estudo, optamos pelo método de abordagem
hipotético-dedutivo, uma vez que se parte da coleta de dados em fontes bibliográfica
disponíveis em meios físicos e eletrônicos, afim de desenvolver uma hipótese com base no
problema apresentado. A pesquisa quanto ao objeto é do tipo exploratória e se utiliza de
referenciais teóricos com obras de renomado respeito da filosofia política, contratualismo
clássico, democracia, justiça e direitos humanos.
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São os dois grandes projetos que se postulavam como universais: o de uma Igreja
Romana, que passaria a se apresentar na Europa Medieval como grande fator de
unidade da cristandade ocidental, e o de um Império do Ocidente, que já não existia
mais a partir da deposição de Rômulo Augusto em 476 d.C., mas que, a partir daí,
nunca deixaria de pairar o imaginário político dos novos reinos que, nessa parte
ocidental do antigo império Romano, dava agora origem aos inúmeros reinos
europeus, o que certamente era também imaginado pelo centro administrativo da
Igreja. (SILVA, 2014, p.35-36)
Se caracterizou também por ser um período de transição histórica entre a Idade Antiga
e a Idade Moderna, sendo denominada por muitos como um período de trevas na história, de
embrutecimento, de ignorância e de desenvolvimento, a qual significou a decadência em
aspectos de produção artística e literária. (BEDIN, 2008)
Com a queda do Império Romano, a Igreja passou a ser a instituição oficial do mundo
medieval, do mesmo modo como passou a filtrar o conhecimento nesse período, sendo a
guardiã e a intérprete do conhecimento da Antiguidade Clássica. (BEDIN, 2008)
Somente com Carlos Magno, a partir de 800 d.C, o projeto de estabelecer uma
sucessão hereditária no Império Carolíngio e relacioná-lo com a ideia universal da Igreja
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Esse sistema se afirmou na Alta Idade Média, séculos X a XIII, por volta de 1270,
momento este, em que se assentou a sociedade feudal, ou seja, o auge do feudalismo,
preparando novos tempos, delimitando alguns aspectos da modernidade, do laicismo e da
centralização administrativa. (BEDIN, 2012)
Por sua vez, o Declínio do Papado e a Baixa Idade Média repercutiu o conflito entre os
reis e o poder da Igreja. O resultado prático dessa concorrência se baseou na noção de que o
Império perdeu cada vez mais espaço e importância para a realidade política europeia, uma
vez que a dimensão de Império não se configurou nos moldes do Império Romano, restando
preponderante a ideia de “reinos”, até a consolidação de fato do Estado Moderno. De outro
modo, o papado seguiu-se daquele momento histórico até os dias atuais, como uma forte força
política e cultural, continuando a interferir de algum modo na configuração de Estados-
Nações, que se sucederam na modernidade. (SILVA, 2014)
Outro exemplo, a Reforma, foi um episódio histórico que abalou a Igreja definhando
as estruturas institucionalizadas da Igreja Católica. Em 1517, Martinho Lutero expos as 95
teses contra o poder dessa Igreja, que havia caído na corrupção, cometendo práticas como o
tráfico de indulgências para obtenção de lucro. A Reforma impulsionou o Poder dos Reinos
em detrimento do poder da Igreja, o que foi altamente inspirador para os reformadores.
(SILVA, 2014)
Nesse sentido, podem ser definidos três aspectos desse momento. O aspecto teológico,
pois o fundamento do cristianismo se assenta na fé e não na idolatria de imagens e ídolos.
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Moral, porque se opõe à corrupção e Política uma vez que os povos puderam ter uma leitura
diferente da palavra de Deus na Bíblia, mais próxima da sua realidade. As palavras de Lutero
estabeleceram os espaços que deveriam ser ocupados pela Igreja e os que deveriam ser
ocupados pelo Estado, impulsionando um posicionamento estatal mais laico e mais moderado.
Esse fato, ocasionado pelo fato de a Igreja Católica não mais passar a atender aos
interesses de seus fiéis e tão pouco os setores do próprio clero. Por conseguinte, a Reforma
dividiu os cristãos em católicos e evangélicos, pelos motivos expostos a seguir:
Com esse quadro consolidado, os ataques ao papado e à Igreja tornaram-se cada vez
mais fortes e sistemáticos. Neste sentido, contribuiu também para a fragilização da
Igreja e do papado a corrupção, o nepotismo, a busca de riqueza pessoal por parte
dos bispos e a concupiscência do clero. Esses atos passaram a ser condenados
publicamente pelos cristãos, letrados ou não. Essa condenação, no entanto, não
revelava sentimento anti-religioso, de seus membros. Ao contrário, o que se
condenava eram as práticas religiosas oficiais da Igreja, valorizando-se o resgate do
espírito e dos princípios do cristianismo dos primeiros tempos, que muitos cristãos
entendiam terem sido abandonados. (BEDIN, 2008, p. 73)
Esse movimento, no entanto, não passou invisível aos olhos da Igreja Católica, a qual
propôs uma reação à essa reforma, ou seja, a Contra-Reforma Católica, que conjuntamente ao
Renascimento estabeleceram as condições necessárias para o surgimento em definitivo do
mundo moderno. Assim sendo, a Igreja Católica passou a se utilizar de diversos mecanismos
para manter sua hegemonia. A partir do Concílio de Trento, a Companhia de Jesus foi o
instrumento utilizado pela antiga Igreja retomar o poder exercido até então, buscando apoiar-
se nos príncipes e outros setores que os apoiavam. Do mesmo modo, a ampliação do papel
dos tribunais de inquisição e a confecção do Índex, ou seja, o livro de obras proibidas pela
Igreja Católica, possibilitaram a censura e a tomada de medidas hostis sobre aqueles que
criticavam e possuíam um pensamento divergente ao da Igreja. (BEDIN, 2012)
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No entanto,
Em suma, a Baixa Idade Média se caracterizou como o período em que o comércio foi
se reascendendo, as cidades emergindo, ocasionando uma ruptura com a tradicional sociedade
agrária, no caminho da afirmação do Estado Moderno. Após o apogeu da Idade Média, nos
séculos XI e XIII, as profundas transformações provocaram o colapso no sistema feudal,
ocasionado pela fome, guerra e pestes, ou seja, privações de todos os gêneros, como a Guerra
dos Cem Anos, a peste negra e a fome decorrente da crise agrícola de 1315 e 1317. (BEDIN,
2008)
A mudança sobreveio por diversos fatores, sendo uma crise de grandes proporções,
envolvendo aspectos demográficos, econômicos, sociais, políticos e clericais, por exemplo. A
forma predatória e invasiva de lidar com a natureza e com as pessoas se tornou insustentável.
Portanto, as formas de sociabilidade predominantemente agrárias se alteraram para uma
configuração social, não mais balizada pelo feudo, mas sim pela indústria e pelo comércio,
pelo modo de vida urbano, assim como por relações sociais mais livres. Assim, desenhava-se
o início de um período que viria a seguir: a Modernidade, e em consequência, o Estado
Moderno.
Com o advento da Modernidade inaugura-se uma nova era, a qual seria o berço do que
mais tarde iriam chamar de Estado Moderno. Assim sendo, por Modernidade se entende o
período histórico datado desde o ano de 1500 até os dias atuais. Possibilitou a formação de um
aparato público-estatal, o qual instituiu divisões e formas políticas pessoalizadas e parciais,
sendo um contraponto à proposta de universalidade e impessoalidade das formas de
representatividades. (TORRES, 1989)
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Na obra, ele se preocupa muito com o momento histórico da Itália, que conta com uma
fragilidade por falta de unidade nacional, intrigas políticas, imoralidades e instabilidade
política. Sua preocupação com as finalidades lhe rendeu a utilização de seu sobrenome como
adjetivo pejorativo: “maquiavélico”, ao defender que os fins justificam os meios. A maioria
dos leitores não considera o propósito final, que para o autor seria o bem comum. Disserta
que, se não tens bons fins não encontrarás os meios certos, da mesma maneira como não se
deve escolher maus meios para não destruir os fins. Injustiçado ou não, cabe considerar que
ele foi um dos maiores pensadores práticos da história. (MAQUIAVEL, 1987)
Fato é que este pensador pôs o homem, como um ser capaz, em frente ao poder divino,
rompendo com as bases do direito natural. Neste sentido:
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liberal-formal de Estado de Direito, prescindiu de uma estrutura democrática para que tivesse
a soberania e o domínio de suas ações legitimados pelo povo.
O referido autor afirma encontrar nos homens igualdade ainda maior do que a força,
sendo esta a prudência, a partir da experiência adquirida em vida. Com base nessa igualdade
quanto à capacidade dos “homens deriva a igualdade quanto à esperança de atingirmos os
nossos fins”. (HOBBES, 2003, p. 107-108). O caminho que leva a um determinado fim faz
com que os homens se destruam e subjuguem um ao outro, uma vez, que o fim constitui-se na
sua conservação e também no seu deleite. Por isso, surge nos homens a desconfiança, isto é, o
alicerce para o que se pensa, uma maneira de se garantir, e esta é a antecipação. Nada mais
razoável do que a força ou a astúcia para subjugar as pessoas e todos os homens que puder,
durante o tempo necessário para que não veja mais poder algum que o ameace.
Dessa maneira, sem um poder comum capaz de manter todos os homens em temor
respeitoso se encontram em estado de guerra uns com os outros.
Com isto torna-se manifesto que, durante o tempo em que os homens vivem sem um
poder comum capaz de mantê-los todos em temor respeitoso, eles se encontram
naquela condição a que se chama guerra; e uma guerra que é de todos os homens
contra todos os homens. Pois a GUERRA não consiste apenas na batalha ou no ato
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de lutar, mas naquele lapso de tempo durante o qual a vontade de travar batalha é
suficientemente conhecida. (HOBBES, 2003, p. 109)
Nessa guerra de todos contra todos não há espaço para a lei, logo, não há a noção de
certo e incerto ou de justo e injusto. As virtudes da guerra são a força e a fraude,
contrariamente à noção de justiça. Esta por sua vez, faz parte do homem que vive em
sociedade, de forma coletiva. Do mesmo modo, não há a distinção entre o meu e o teu
somente pertencendo a cada homem aquilo que for capaz de conservar e durante o tempo em
que conseguir.
Quais os desejos dos homens em manter a paz? O uso da razão sugere algumas normas
onde os homens conseguem entrar em comum acordo. Por outro lado, alguns dos desejos dos
homens tendem para a paz. O medo da morte, o desejo das coisas necessárias a uma vida
confortável e a esperança de alcançá-las por meio do trabalho. (HOBBES, 2003)
Surge então, para (HOBBES, 2003) a terceira lei da natureza, a qual afirma que uma
vez celebrado o pacto todos devem cumpri-lo. Nestes termos, o fundamento do contrato e da
lei em si é a possibilidade de ser exigida dos indivíduos uma conduta de acordo com a
convenção das partes.
Nesta lei da natureza reside a fonte e a origem da JUSTIÇA. Porque sem um pacto
anterior não há transferência de direito, e todo homem tem direito a todas as coisas;
consequentemente nenhuma ação pode ser injusta. Mas, depois de celebrado o pacto
rompê-lo é injusto. E a definição de INJUSTIÇA não é outra senão o não-
cumprimento de um pacto. E tudo o que não é injusto é justo. [...]. Portanto, para que
as palavras “justo” e “injusto” possam ter lugar, é necessário alguma espécie de
poder coercitivo, capaz de obrigar igualmente os homens ao cumprimento dos seus
pactos, mediante o terror de algum castigo que seja superior ao benefício que
esperam tirar do rompimento do pacto, e capaz de confirmar propriedade que os
homens adquirem por contrato mútuo, como recompensa do direito universal a que
renunciaram. E não pode haver tal poder antes de se erigir uma república.
(HOBBES, 2003, p. 124)
Desse modo, restam aqui estabelecidas as únicas leis que dizem respeito à doutrina da
sociedade civil, as quais possuem como objetivo principal ditar a paz como um meio de
“conservação dos homens em multidões”. (HOBBES, 2003, p. 135)
Por sua vez, John Locke, assegura a existência de leis no estado de natureza, contudo
este estado não consiste na guerra de todos contra todos como supunha Hobbes. Assim, a
superação do estado de natureza ocorre principalmente para proteger a liberdade e a
propriedade dos indivíduos.
Neste sentido, a origem do poder político advém de um estado natural, onde todos os
homens estabelecem formas de manter a propriedade e ordenar-lhes as ações conforme as leis
naturais sem pedir autorização a outro homem. (LOCKE, 1963). Embora, possuam os
homens, no estado de natureza, total liberdade de dispor da própria pessoa e posses, ninguém
detém o poder, diga-se, direito de destruir a si mesmo ou a qualquer outro ser vivo existente.
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Assim, neste estado todos são executores da lei da natureza e juízes em seus próprios
casos. Desta forma, o governo civil é um remédio para os inconvenientes do estado de
natureza, haja vista, que um homem que comete um mal contra outro, mesmo sabendo de tal
malefício raramente condena a si próprio. Locke afirma que o mundo nunca estará com
poucos homens nesse estado, porque mesmo o estabelecimento de um pacto para a vida em
comunidade e em corpo político, não significa dizer, que qualquer pacto retire dos homens o
estado de natureza. Neste sentido, cabe ressaltar que todos os homens se encontram
naturalmente no estado natural até que por consentimento próprio se tornam membros de uma
sociedade política.
Para Locke, o estado de guerra difere do estado de natureza, como se segue: “O estado
de guerra é um estado de inimizade e destruição”. (LOCKE, 1963, p. 13). afirmando
diferentemente de Hobbes, que “[...] não há quem deseje ter alguém sob seu poder absoluto
senão para compeli-lo pela força ao que é contra o direito de liberdade, isto é, torna-lo
escravo.” (LOCKE, 1963, p. 14)
Esse estado de guerra pretende a transgressão das leis naturais, dessa forma, é preciso
evita-lo, o qual não se tem a quem apelar senão para os céus, onde também não existe
autoridade que decida sobre a divergência e faça cessar tal violência.
A liberdade de um homem denota-se tão necessária para a preservação de sua vida que
ele não pode desfazer-se desta, senão perdendo o poder sobre a própria vida. Não obstante, a
vida pode ser perdida não somente pelo pulsar, mas pela falta do direito de dela dispor, como
se evidencia na condição de escravidão, a qual pode ser considerado “um estado de guerra
continuado entre o conquistador legítimo e o cativo”. (LOKCE, 1963, p. 18). Por conseguinte,
uma vez realizado um acordo entre ambos cessa o estado de guerra, por força de disporem de
seus direitos, faculdades e liberdades sobre a própria vida.
de qualquer lei senão esse poder legislativo promulgar de acordo com o crédito que
lhe concedem. (LOCKE, 1963, p. 17)
Outro direito indispensável à sociedade civil versa sobre a propriedade, de tal modo,
que apesar de todos os seres inferiores estarem em condição de apropriação por todos os
homens, cada um possui a sua própria propriedade. Ninguém senão ele próprio possui direito
sobre o que dela advier. Seja o que for que tenha retirado do estado de natureza pertence a ele,
de modo que tenha o direito sobre isto, pois trabalhou para ter o que outros nãos fizeram. A
despeito desse direito adquirido pelo trabalho, ninguém pode se apoderar da propriedade sem
a existência de um pacto, exceto quando não houver o suficiente para terceiros e, desde que
não prejudique aquele proprietário. (LOCKE, 1963)
Ninguém se julgaria prejudicado porque outro homem bebesse, embora fosse longo
o trago, se dispusesse de um rio inteiro da mesma agua para matar a sede; e o caso
da terra e da agua, quando há bastante para ambos é perfeitamente o mesmo.
(LOCKE, 1963, p. 23)
Quando esses homens formaram uma comunidade, como um só corpo essa vontade de
agir ocorreu somente pela vontade da maioria. Assim sendo, em assembleias o poder
legislativo passou a agir em nome da vontade da maioria e somente através dessa vontade
possui, atualmente, legitimidade no ato de criar uma lei, seguindo desse modo, a lei da
natureza e da razão.
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Todo homem quando concorda em fazer parte desse corpo político assume que a
vontade da maioria deve prevalecer sobre sua singular vontade. Entretanto, presume-se que a
união de homens em comum enfraqueça as discordâncias tornando-os raros ou poucos em
comparação aos pontos em comum. Se os desencontros fossem maiores do que as
semelhanças, o pacto de união de uma sociedade perante um governo dessa mesma sociedade
não teria eficácia. (LOCKE, 1963)
Além disso, o autor afirma que em sociedades políticas menores, onde não existem
conflitos sobre terras e cada indivíduo possui o suficiente para a subsistência, de forma que
não prejudique os demais membros dessa comunidade, os conflitos existentes são menores do
que em localidades em que existam mais membros e disputas por terras, riquezas e poder. A
necessidade de muitas leis não existe, visto que os conflitos são menores ou em algumas
situações, inexistentes. Da mesma forma, não era preciso muitos funcionários para gerir o
governo e acompanhar a execução da justiça. (LOCKE, 1963)
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Naturalmente, os mais sábios e os mais fortes guerreiros sempre foram escolhidos para
conduzir determinado povo, bem como em guerras contra os inimigos governando,
principalmente, no intuito de evitar a destruição dessa comunidade. (LOCKE, 1963)
Assim, é fácil distinguir entre quem pertence e quem não pertence no corpo da
sociedade política. Aqueles que unidos permanecem vinculados a uma legislação e estão em
comum acordo sobre as penalidades de uma conduta que confronte os motivos da constituição
da sociedade civil.
Para John Locke, se as pessoas se inserem na sociedade política não podem se eximir
da obrigação e do imperativo da lei.
Para responder a essa pergunta o autor menciona que nenhum indivíduo trocaria o
estado de natureza voluntariamente para um Estado pior do que estava em perfeita liberdade,
uma vez, que o poder do Estado perante a sociedade civil limita-se ao bem comum.
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Toda ação livre possui duas causas. Uma delas é a vontade moral, aquela que
determina o ato e outra, a vontade física a qual se constitui na potência que a executa. Da
mesma forma, há no corpo política duas forças. Uma delas é o poder legislativo e a outra o
poder executivo. (ROUSSEAU, 2012)
Rousseau afirma em O Leviatã que o povo unido forma um soberano e nada mais
representa do que a fragmentação do poder individual. Assim, suponha-se que existam 100
membros do povo, o poder de cada um é dividido à fração de um centésimo do poder do
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soberano, isto, se este poder for considerado como um corpo político. Assim, o autor conclui
que quanto mais se estende o Estado, mais se diminui a liberdade. (ROUSSEAU, 2012)
Por existir uma variação na constituição do Estado aufere-se que podem haver tantos
Estados e constituições diversas quantos os existentes e, por isso, o governo pode ser diferente
em cada Estado, mas não haverá por isso uma constituição de governo única e absoluta.
Para Rousseau, o governo “[...] é em pequeno o que é em grande o corpo político que
o inclui; é uma pessoa moral dotada de certas faculdades, ativa como soberano, passiva como
o Estado [...]”. (ROUSSEAU, 2012, p.60). Por sua vez, essas particularidades e atributos
pressupõem a existência de “[...] assembleias, conselhos, o poder de deliberar, de resolver, e
supõe direitos, títulos e privilégios, que pertençam exclusivamente ao príncipe e que tornem a
condição de magistrado mais respeitável [...]”. (LOCKE, 1963, p.61)
Assim, podemos dizer que passaram a existir alguns princípios norteadores das cartas
de direitos nos países ocidentais, influenciados, principalmente, a partir das revoluções
oitocentristas. Esses princípios, via de regra, foram concentrados em direitos fundamentais, ou
seja, nas constituições nacionais, as quais possuíram um viés bastante substancial em limitar o
exercício do poder político.
Sob outro aspecto, após a garantia dos direitos civis, políticos, individuais e outros, a
partir das conquistas e lutas históricas, isto é, em sua maior parte, direitos subjetivos a cada
indivíduo, o Estado passou a ser um instrumento de limitação de poderes, mas também como
um instrumento de trabalho em prol da sociedade. Montesquieu (2010), afirma que a
liberdade política só se encontra nos governos moderados, em que não haja abuso de poder.
Para que o povo detenha o poder preponderante na sociedade, há que existir um instrumento,
qual sejam as constituições, em que ninguém seja forçado a fazer as coisas que a lei não
obriga, e a não fazer o que a lei lhe permite.
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Diante dessa nem tão simples teoria e definição, o espírito, ou seja, a virtude da lei, em
uma República, deve ser considerada como um sentimento e não uma série de conhecimentos.
Para Rousseau “[...] cada um de nós põe em comum sua pessoa e todo o seu poder sob a
suprema direção da vontade geral, e recebemos enquanto corpo cada membro como parte
indivisível do todo”. (ROUSSEAU, 2012, p.26)
O que aconteceu para essa inversão de pensamento, em que a igualdade natural foi
semeada entre as pessoas e a liberdade e a propriedade foram protegidas como essenciais à
vida de cada indivíduo? Para responder a essa pergunta abordaremos três movimentos
constitucionais, sejam eles, o Inglês, o Americano e o Francês, os quais se diferenciaram do
movimento antigo, justamente por este ser um conjunto de princípios escritos ou
consuetudinários sedimentados na existência de direitos estamentais perante os regimes
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Dessa forma, o constitucionalismo enquanto conceito pode ser definido como “[...] a
teoria que ergue o princípio do governo limitado indispensável à garantia dos direitos em
dimensão estruturante da organização político-social de uma comunidade”. (CANOTILHO,
2003, p.51)
Em outras palavras:
Essas definições nos trazem uma ideia de finalidade a ser alcançada pelo Estado
Moderno. Por assim dizer, a consolidação do Estado, acrescido de constitucionalidade,
pressupõe o poder não só de limitar o poder político, mas de delimitar o seu uso quando
necessário. Caso este, em que o Estado está legitimado a intervir na esfera privada para julgar
e punir os cidadãos conforme um processo justo.
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Neste sentido, podemos abordar o princípio da reserva legal, isto é, o princípio legal
balizador de toda ação estatal, constituindo-se em uma garantia de que não haverá crime sem
lei anterior que o defina, nem aplicação de pena sem prévia previsão legal. Tal enunciado foi
estabelecido pela primeira vez no art.39, da Carta Magna de João Sem Terra em 1215.
(BEDIN, 1998)
Por sua vez, a Magna Carta de 1215 deu início ao movimento constitucional na
Inglaterra, em que o rei João Sem Terra para não ser deposto cedeu e aceitou os termos
elencados nessa carta, a qual limitou o seu poder. Não pode mais aumentar impostos ou
alterar leis sem antes consultar o Grande-Conselho, órgão composto por integrantes da
Nobreza e do Clero. Assim sendo, fez prevalecer as leis e costumes em detrimento da
discricionariedade do poder real, a obediência e controle do poder executivo à soberania do
parlamento, assim como o ideal de igualdade no acesso à justiça e aos tribunais.
(CANOTILHO, 2003)
Mesmo após a Carta de 1215, os reis, advindos da alta nobreza, juntamente ao Clero
detinham o poder monárquico em grande escala na Europa. Entretanto, a burguesia cresceu a
partir do final da Idade Média com a adoção do mercantilismo e do livre comércio e começou
a ocupar os espaços do parlamento e iniciar reivindicações, possibilitando as condições para
as revoluções liberais europeias, bem como as revoluções industriais dos séculos XVIII e
XIX. Por assim dizer, a Magna Carta de 1215 inicia o processo que culmina na Revolução
Inglesa no século XVII, quando há a instauração da monarquia parlamentarista. (TORRES,
1989)
concorrência no mercado. Assim, a alta burguesia utilizou a alta dos valores imobiliários da
época, especialmente, de terras em zonas rurais para expandir seus negócios comprando e
desapropriando terras para a produção, dentre tantas coisas, de lã, o que seria utilizado mais
tarde para servir de matéria prima da revolução industrial inglesa. (TORRES, 1989)
Passados alguns anos de lutas o rei foi obrigado e se retirar para a Escócia, onde tinha
muitos inimigos. Acaba preso e vendido ao parlamento Inglês, vindo a ser executado. Então,
assume o Poder Oliver Cromwell, líder parlamentarista, o qual manteve o apoio dos militares
e da burguesia após a execução de Jaime I.
Ocorreram diversas disputas do poder real até o ano de 1689, com a proclamação do
Bill os Rights, quando foi estabulado direitos e garantias individuais aos súditos, bem como a
sucessão da Coroa e os direitos do Parlamento, sendo o primeiro documento permissivo em
relação à participação do povo, ainda que representados, para a implementação de cobranças
de tributos, por exemplo. Essa carta ficou conhecida por ser a mais importante carta de
direitos após o Magna Carta de João Sem Terra, servindo como base para as cartas de direitos
subsequentes na Inglaterra. (TORRES, 1989)
unidade política passa a ser observada pela soberania estatal, delimitada por um território de
determinado povo. (CANOTILHO, 2003)
Nos Estados Unidos da América (EUA), inicialmente habitada por nativos da América
do Norte e posteriormente colônia Inglesa, a Declaração de Direitos de Virgínia, em 16 de
junho 1776, alguns dias antes da Declaração de Independência dos EUA, em 04 de julho de
1776, estabeleceu, por meio de um documento escrito, leis e princípios norteadores da
organização político-jurídica do povo da Virgínia. A Declaração de Independência, por sua
vez, foi um documento que declarou a independências das treze colônias americanas do
domínio da Grã-Bretanha. (CANOTILHO, 2003)
Logo, o Estado Constitucional dos EUA teve sua legitimidade popular na criação
desses documentos, condizentes com uma lei suprema e fundamental para o povo, escrita, de
forma a estabelecer os esquemas essenciais de governo, os respectivos limites de ação do
poder político arbitrário, gerados em uma república, incluindo-se, mais uma vez, os direitos e
garantias individuais de cada cidadão. Além disso, o governo submeter-se-ia à lei, sendo
possível justificar o governo quando este cumprisse sua obrigação jurídico-constitucional,
segundo os princípios de unidade, publicidade, durabilidade e antecedência. (CANOTILHO,
2003)
34
Para o povo dos EUA não bastou a elaboração de um instrumento normativo qualquer,
baseado, por exemplo, na iluminação divina de um monarca, por mais bem intencionado que
este fosse. Ocorre que as normas, isto é, as leis deveriam ser elaboradas de acordo com a
razão pública para que estas se tornassem as razões do governo. (CANOTILHO, 2003).
Assim sendo, o governo passou a se subordinar à lei, ou seja, à constituição, a qual seria um
composto de direitos e justiça, legitimados pela ideia de soberania dos indivíduos, em que a
autoridade pertencesse ao povo e, consequentemente, dele emanaria o poder.
Ainda, a justiça seria judicializada por juízes agentes do povo, os quais controlariam
as ações do governo com base no enunciado constitucional, exercendo a justiça em nome do
povo, justamente por estarem os juízes condensados ao poder popular. (CANOTILHO, 2003)
Assim, como a revolução Inglesa, a revolução francesa reservou um lugar propício aos
ensinamentos de John Locke, que erigiu em primeiro lugar a proteção da propriedade, a qual
por meio de um contrato, juntamente à liberdade, a segurança e a resistência a opressão,
tornaram-se os fundamentos inegáveis desse novo Estado artificial. Tais fundamentos foram
positivados no art.2º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e desde lá estão
elencados nas mais diversas constituições nacionais, inclusive, de âmbito internacional.
Como bem observa (RAMOS, 2015), podemos observar que a Declaração Universal
dos Direitos Humanos, de 1948, elenca alguns direitos da mesma forma como estes foram
positivados na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789. O art.1º do seu
diploma assevera que “todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos.
Dotados de razão e consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de
fraternidade.” (ONU, 2016). Dessa feita, são elencados alguns direitos inatos a cada pessoa,
isto é, direitos oriundos do jusnaturalismo, compreendidos como essenciais a todos,
indistintamente de crença ou condição social, econômica e religiosa, por exemplo. Ainda,
assumiram um caráter mais amplo e universalista.
Esse momento histórico vivido pela França já havia presenciado no ocidente outras
revoluções, como a Inglesa e a Americana, as quais tiveram importância para seus
idealizadores, ou seja, seus cidadãos, contudo, fora a francesa o grande marco para a história
contemporânea do ocidente. Como a carta foi erigida sob sólidos princípios garantidores de
direitos individuais, bem como sob a égide da vontade geral unificante do povo francês, foi
possível visualizar a inversão da relação entre governantes e governados, ao menos enquanto
garantia constitucional, porquanto, até aquele momento, apenas o rei detinha o poder político,
com raras exceções de concessões e privilégios, que de longe alteravam a configuração de um
Estado Monárquico. (BOBBIO, 1992)
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Mais tarde, é verdade, foi possível distinguir a quem exatamente esses princípios
serviram, pois mesmo a revolução tendo melhorado e muito a vida dos cidadãos da França e
ter iniciado um novo momento político-jurídico, não modificou no mundo dos fatos as
condições materiais na sociedade, especialmente, porque viriam a seguir as revoluções
industriais, marcando ainda mais a ideia de liberalidade econômica já pleiteada antes dessas
revoluções, por alguns grupos contra hegemônicos à época das monarquias absolutistas.
Por fim, vimos os principais pontos da primeira geração de direitos, sendo estes os
direitos civis e liberdades civis clássicas, que estabelecem uma distinção entre as esferas
privada e pública, as quais se transformam nas principais características do pensamento liberal
e democrático.
A consolidação dos direitos civis e políticos foi vista de forma mais ampla até aqui.
Ocorre, que ao longo da modernidade, as necessidades humanas, a configuração social e o
direito foram sendo alterados.
Deste modo, o surgimento dos direitos econômicos, sociais e culturais ocorreu após a
afirmação dos direitos civis e políticos. Assim, as cartas de direitos, ao longo da modernidade,
passaram a incorporar e estabelecer direitos para além dos direitos individuais. Por assim
dizer, a afirmação do Estado de Direito e o caráter político das revoluções oitocentristas
conferiram às constituições dos Estados um forte conteúdo político, caracterizado pela
influência do movimento liberal logo no início da modernidade.
Esse Estado liberal, consolidado a partir das revoluções liberais, semeou a liberdade
no seio da população. Consequentemente, a liberdade passou a compor o ideal das mais
distintas classes sociais, embora na prática a concretização desses direitos fosse sendo
conquistada aos poucos.
Por conseguinte, o Estado social veio preencher as lacunas deixadas pelo movimento
liberal, tendo em vista a necessidade de o Estado promover ações de garantia de direitos, não
mais apenas negando ações, mas promovendo mecanismos de defesa desses direitos.
38
A doutrina socialista se apresenta como crítica à doutrina liberal, sobretudo, pelo fato
de compreender a proteção da propriedade privada como fonte principal da desigualdade
social, ou seja, desigualdade de fato. Essa alegação, realizada por um setor auto intitulado de
esquerda, tem como pano de fundo o fato de a proteção da propriedade e da liberdade ter se
restringido a alguns grupos sociais, como para o homem burguês e não para o proletariado,
por exemplo. (BEDIN, 2002)
Não obstante, esses novos conteúdos sociais passaram a integrar a materialidade das
constituições dos Estados-Nação, gerando o Estado de Bem-Estar Social, ou seja, o Welfare
State, surgido a partir das políticas definidas depois da crise do modelo liberal econômico, em
1930, e quando da reconfiguração geopolítica no pós-segunda guerra mundial. (STRECK;
BOLZAN DE MORAIS, 2010)
Não é nosso enfoque englobar toda a evolução do Estado Social, mas sim, dizer que o
Estado Democrático de Direito abarca as diferentes concepções teóricas desde o início do
Estado Moderno, não se limitando, tão somente, no conteúdo das normas, mas sim no aspecto
transformador do Estado. Para isso, impossível desconsiderar as ideias liberais, as
preocupações sociais e as conquistas democráticas. (STRECK; BOLZAN DE MORAIS,
2010)
supressão de todos os outros. Portanto, o fim deve ser o bem comum e os meios compatíveis
com essa ideia.
Neste diapasão, é notório que a democracia visa a proteção dos direitos fundamentais
do maior número de pessoas. Portanto, se a proteção dos direitos fundamentais implica a
garantia de direitos a liberdade e a igualdade, chegamos ao seguinte enunciado: “Hoje apenas
os Estados nascidos das revoluções liberais são democráticos e apenas os Estado
Democráticos protegem os direitos do homem: todos os Estados autoritários do mundo são ao
mesmo tempo antiliberais e antidemocráticos”. (BOBBIO, 1993, p. 43)
Tais enunciados soam de forma abstrata, residindo em uma crítica a essa abertura. No
entanto, é exatamente essa ideia abstrata que possibilita a fundamentação dos direitos do
homem no plano internacional, ainda que existam limites a essa abertura constitucional, como
o princípio da igualdade entre os Estados, a independência nacional, a não ingerência nos
assuntos internos de outros países e a resolução pacífica dos conflitos. (CANOTILHO, 2003)
recíprocos, não abrangendo somente os cidadãos inseridos no bojo dos Estados, mas também
os excluídos, em suma, englobam todas as pessoas. Enxergam o ser humano como parte
integrante do mundo, responsável pelo futuro das próximas gerações, transpondo a barreira da
soberania estatal. (BOBBIO, 1992)
A DUDH consiste no desfecho de todo o estudo desse trabalho, ao menos no que tange
à construção teórico dos direitos do homem.
Nos seus trinta artigos, são enumerados os chamados direitos políticos e liberdades
civis (artigos I a XXI), assim como os direitos econômicos, sociais e culturais
(artigos XXII a XXVII).
Entre os direitos civis e políticos constam o direito à vida e à integridade física, o
direito à igualdade, o direito de propriedade, o direito à liberdade de pensamento,
consciência e religião, o direito à liberdade de opinião e expressão e à liberdade de
reunião.
Entre os direitos sociais em sentido amplo constam o direito à segurança social, ao
trabalho, à livre escolha da profissão e à educação, bem como o direito a um padrão
de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive
alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais
indispensáveis (direito ao mínimo existencial – artigo XXV). (RAMOS, 2015)
O mesmo autor sustenta que a fundamentação unívoca dos direitos do homem não
seria possível, porquanto, existem divergências até quanto ao conjunto de direitos humanos e
sua definição concreta. Também, essa evolução do rol de direitos humanos foi sendo alterada,
na medida em que um direito hoje considerado direito humano, amanhã pode não ser.
Considerando a complexidade e as frequentes divergências, delimitar a fundamentação dos
direitos do homem impediria a sua evolução. (BOBBIO, 1992)
Tais lutas em prol dos direitos do homem fizeram surgir respostas institucionais, as
quais ao longo do tempo, ampliaram o alcance das normas e a sua vigência para além dos
Estados nacionais, o que caracteriza o Estado na pós-modernidade. Por fim, a consolidação
dos Estados Democráticos constitucionais consumou a ideia de igualdade na liberdade,
servindo de base para a existência de normas de caráter universal e de reciprocidade, mas que
seriam incapazes de sozinhas transformar a realidade social.
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Partindo de pressupostos básicos, John Rawls pensa a justiça com um viés igualitário,
ancorado no que ele considerou nominar de liberalismo igualitário. O primeiro se refere à
ideia de que a igualdade deve residir na garantia das liberdades civis e políticas, de forma a
transformar as liberdades formais em liberdades substanciais dentro de um Estado, portanto,
pensado como uma comunidade fechada, com suas próprias regras e princípios de justiça. De
outro modo, as desigualdades econômicas e sociais devem ser ajustadas para serem as
menores possíveis, além de servirem para o maior benefício possível dos membros menos
favorecidos da sociedade. (RAWLS, 1997)
do bem. Essencial também, que esse cidadão considere-se no direito de exigir das instituições
a promoção da sua concepção do bem, tendo como condição preponderante a concepção
pública de justiça. Nesse diapasão, um escravo não é dotado de qualidades que o permita
assumir deveres e obrigações, considerando a falta de uma concepção particular de justiça,
visto que não detém a liberdade em decorrência das suas faculdades morais, mas sim responde
às ordens de seu proprietário. Assim, a impossibilidade de assumir responsabilidades pelos
seus fins afeta a validade da exigência recíproca de bem e de justiça. (SEN, 2009)
Por conseguinte, nem todas as pessoas podem ser consideradas livres e iguais, mas
todos os que possuem essas faculdades podem ser considerados cidadãos e participar da
posição original, anterior ao contrato social. Assim, estariam todos em pé de igualdade no
momento de decidir sobre os princípios regentes de um Estado Democrático de Direito. Neste
caso, as pessoas não conheceriam a desigualdade e as diferentes distinções criadas pelo
mundo da cultura, da mesma forma como não obteriam vantagens ou desvantagens do mundo
da natureza.
Ante o exposto, podemos pensar que a justiça como equidade apenas pode ser
concretizada quando a sociedade deixa de admitir desigualdades injustas, por ocasião de que
cada indivíduo, nas suas particularidades, jamais abdicaria da sua quota parte de direitos,
expectativas e projetos de vida, para viver de forma miserável, ainda que em benefício da
maioria.
[...] Antes de mais nada, ninguém conhece seu lugar na sociedade, sua posição de
classe ou status social; nem sabe sua fortuna na distribuição de dotes e habilidades
naturais, sua inteligência e força, e assim por diante. [...] Além disso, presumo que
as partes não conhecem as circunstâncias especiais de sua própria sociedade, isto é,
não sabem a situação econômica ou política, ou o nível de civilização e cultura que
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foram capazes de atingir. As pessoas na posição original não têm informação sobre
qual geração pertencem. [...] Precisam escolher princípios, com cujas consequências
estejam preparadas a conviver, qualquer que seja a geração a que resultem pertencer.
(RAWLS, 1981, p. 119)
Por isso, a ideia de posição inicial do contrato social deve ser considerada fundamental
para pensarmos uma concepção política de justiça, acreditando ser o marco da sociedade
contratual um sistema intergeracional de cooperação entre os cidadãos considerados como
livres e iguais. (RAWLS, 1997)
Além disso, justiça pode ser considerada uma virtude das instituições sociais, as quais
se referem às constituições políticas e os principais entendimentos econômicos e sociais,
sobretudo, porque se uma instituição for injusta deverá ser abolida ou reformulada, de forma a
atender aos princípios da justiça. Estes, por sua vez, para validarem a ideia de justiça, devem
determinar os ajustes sociais, de modo a assegurar um acordo de partilha correta das
vantagens e encargos estabelecidos na sociedade. (RAWLS, c1981)
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Devemos, ainda, considerar a justiça inserida sob a ótica das sociedades democráticas
modernas, observando que em qualquer dessas sociedades a cultura política será caracterizada
pela diversidade de doutrinas, sejam elas, políticas, religiosas, filosóficas e morais,
concebidas de forma oposta e irreconciliável. Deste modo, as concepções de bem, de justo ou
injusto variam em diferentes doutrinas, distinguindo-se da idade Clássica, em que as
diferentes percepções de bem não eram aceitas. (RAWLS, 1997)
Ocorre, que limitaremos nossa concepção de justiça à justiça política, a qual expressa
um consenso de sobreposição, isto é, uma doutrina que sustenta de forma abrangente suas
concepções, sem utilizar o Estado para dominar ou sobrepor-se a essas doutrinas. Propõe uma
aceitação da doutrina política por parte das demais, indicando os valores da justiça política na
seguinte transcrição:
[...] estes valores regulam a estrutura básica da vida social – a própria base da nossa
existência – e especificam os termos fundamentais da cooperação política e social.
Na justiça como equidade alguns destes importantes valores – os valores da justiça –
são expressos pelos princípios da justiça para a estrutura básica: entre eles, os
valores da igual liberdade política e civil; a igualdade equitativa de oportunidades;
os valores da reciprocidade económica; as bases sociais do respeito mútuo entre os
cidadãos. (RAWLS, 1997, p. 146)
Formula a justiça como a correlação do justo e do bem, de forma que ambos não
podem ser considerados separadamente para que se efetive a justiça. O bem, segundo Rawls,
enquanto ideal tende a não ser convergente em uma sociedade democrática, porquanto o uso
da razão humana resulta em maiores divergências de pontos de vista e de significados de bem.
Este, por sua vez, significa a busca de cada indivíduo por propriedade, liberdade, poder,
riqueza e reciprocidade. (RAWLS, 1997)
Assim,
Com isso, observamos que a razão pública deve ser respeitada, ainda que a razão
individual entre em conflito, uma vez que a sociedade política e o poder público pressupõem
cidadãos livres e iguais como corpo coletivo. Caso contrário, em que houvesse a
preponderância da razão individual, não estaríamos respeitando o ideal de justiça estabelecido
pelos cidadãos democráticos, mas sim por aqueles intolerantes, indiferentes e irracionais,
voltando a um Estado anterior à sociedade política democrática ou saindo dos seus limites.
Por fim, para Rawls a liberdade é fundamental e deve ser assegurada para cada
indivíduo, mas a ética e os valores morais devem ser válidos de forma universal, isto é, para
todos. Dessa maneira, propõe a justiça como um ideal a ser alcançado por todo cidadão livre e
igual com os seus concidadãos, pautando princípios comuns para todos dentro de uma
concepção política de justiça.
Portanto, é possível dizer que os direitos econômicos e sociais passam a ser preteríveis
nesse momento em relação aos direitos políticos e civis, justamente, porque estes já estão
presentes, ao menos, formalmente em todos os Estados Democráticos. Não obstante, entende
Sen, que a real eliminação e enfrentamento das injustiças não ocorre em todas as sociedades,
enfatizando um problema de concretização dos direitos formais pré-estabelecidos.
sustenta que democracia é o governo exercido por meio do debate, isto é, um governo com
características tolerantes e não totalitárias. (SEN, 2009)
Amartya Sen (2009) vai sedimentando sua ideia de justiça no combate da injustiça.
Cita diversos exemplos. Afirma em um deles que a invasão realizada pelos Estados Unidos no
Iraque, em 2003, demonstrou que os piores prejuízos da guerra não aconteceram tanto pela
invasão, quanto pelo pensamento da impossibilidade da existência democrática naquele país,
causando enormes privações a população.
Neste caminho, existem outras experiências narradas pelo autor, as quais devem ser
consideradas. Por exemplo, no caso da Grécia antiga, certamente o êxito democrático teve
influência pelas discussões públicas mais do que pela votação secreta surgida neste país, até
porque não há comprovação histórica do imediato impacto desses acontecimentos no oeste da
Grécia e de Roma, ou seja, nos países hoje em que há democracia institucional como já nos
referimos. De outro modo, após a incorporação do voto secreto e do uso da argumentação
pública algumas cidades asiáticas como Irã passaram a se utilizar desses elementos
democráticos na administração municipal, nos séculos seguintes ao florescimento da
democracia ateniense. (SEN, 2009)
56
Além disso, o príncipe budista Shotoku, em 604 d.C., 6 séculos antes à Magna Carta
de João Sem Terra, publicou a constituição dos dezessete artigos, a qual afirmava que as
decisões importantes a serem tomadas jamais devem ser feitas por apenas uma pessoa. Isso
demonstra que a democracia institucionalizada eclodiu exponencialmente, em países como a
Inglaterra, Estados Unidos e França, muito tempo depois desses documentos, além de
contrariar aqueles que enxergam apenas a democracia ocidental. (SEN, 2009)
Por fim, nos resta concluirmos a abordagem do ponto fundamental deste tópico. A
percepção de indignação quanto às injustiças do mundo leva as pessoas a criarem consensos
sobre determinados assuntos. Assim, existe uma característica, já abordada, mas que ainda
não foi elevada ao seu grau último de importância, qual seja, a razão pública. Esta, se
encontra presente em todas as democracias, sendo um de seus aspectos fundamentais, se não o
mais relevante. Transcende os aspectos do sufrágio universal na medida em que incorpora o
discurso da minoria junto ao grande corpo da maioria.
Nesse sentido,
Há, naturalmente, a visão mais antiga e mais formal da democracia que a caracteriza
principalmente com relação às eleições e à votação secreta, em vez da perspectiva
mais ampla do governo por meio do debate. Contudo, na filosofia política
contemporânea, a compreensão da democracia ampliou-se enormemente, de modo
que já não seja vista apenas com relação as demandas por exercício universal do
voto secreto, mas, de maneira muito mais aberta, com relação àquilo que John Ralws
chama de “exercício da razão pública”. (SEN, 2009, p.270)
3.3 As críticas de Amartya Sen à Teoria da Justiça de John Rawls: ampliações da ideia
de justiça
Amartya Sen, em seu livro A Ideia de Justiça (2009), critica alguns aspectos da teoria
da justiça proposto por John Rawls, pois vê falhas graves de sustentação da mesma.
haver instituições plausíveis com a justiça como equidade nem sequer nos Estados nacionais?
(SEN, 2009)
Algumas dessas perguntas o autor não responde, aliás, as utiliza para afirmar a
imperfeição da teoria de Rawls. Iniciaremos considerando a posição original estabelecida por
Rawls, de que todos são livres e iguais e os princípios de justiça podem ser escolhidos de
acordo com a justiça política como equidade. Em seguida, esses princípios levam à escolha
das instituições reais para funcionarem de acordo com os princípios de justiça escolhidos.
Ocorre que Rawls estipula dois princípios obtidos na posição original. A ideia de igualdade na
liberdade e a existência apenas das chamadas desigualdades justas, de forma a obedecerem à
ordem do benefício dos membros menos favorecidos da sociedade pode não resistir às
diferenças.
Descreve Amartya Sen (2009) que ao restringir esses princípios Rawls somente
considera a escolha desses dois princípios na posição original, desconsiderando a existência
de diferentes percepções de mundo e de bem. Mesmo concebendo a justiça como equidade,
Rawls enxerga dificuldades em obter um acordo unânime sobre o conjunto de princípios de
justiça. Por isso, afirma Sen, que a Teoria de Justiça proposta por Rawls pode ser, inclusive,
abandonada para a compreensão genérica de justiça, mas serve para compreender um dos
aspectos da justiça, ou seja, a justiça como equidade.
Para Sen (2009), a liberdade foi colocada em um pedestal na teoria de Rawls, sendo a
prioridade do alcance da sua Teoria de Justiça. Entretanto, é possível a liberdade ser
considerada como prioridade, mas não absoluta, levando em conta o direito à vida e às
condições mínimas de sobrevivência, as quais podem ser mais relevantes em alguns contextos
no mundo. Nestes casos, podem ser consideradas prioritárias perante a liberdade.
Para Sen (2009) é importante considerar que uma gestante deverá necessitar mais
alimento para satisfazer suas necessidades do que uma pessoa que não esteja grávida, ou,
então, que uma pessoa com deficiência possa fazer muito menos com os mesmos recursos
disponíveis em relação à outra pessoa com aptidões físicas melhores. Ainda, se alguém
utilizasse algum outro princípio na posição original e chegasse até a justiça como na doutrina
de Rawls, sua tese estaria comprometida.
Destarte, os dois princípios de justiça como equidade visam à escolha das instituições
sociais e o surgimento, em decorrência, de um comportamento real correspondente a essas
instituições. Na visão de Sen (2009), esse fato desconsidera o comportamento real das
pessoas, independentemente do fim estabelecido por uma instituição, ainda que estas se
enquadrem no modelo de justiça proposto por Rawls.
Sen (2009), concebe diferentes princípios de justiça, diferenciando o dever ser do ser,
atentando para a realidade concreta e social, não apenas ideal. Analisa a teoria da justiça de
Rawls de forma comparativa e não somente identificando a justiça como uma solução
transcendental. Assim, pretende eliminar os casos reais e urgentes de injustiça no mundo, bem
como possibilitar o surgimento de olhares divergentes ao movimento contratualista.
Por isso, justiça para Amartya Sen significa a eliminação da pobreza, pois esta
representa a privação das liberdades e capacidades individuais, portanto, é pré-requisito para a
garantia dos direitos civis e políticos, base da teoria da justiça. A democracia auxilia no
processo de eliminação das privações das liberdades e, desse modo, na ampliação das
liberdades substantivas.
De acordo com essas proposições, as pessoas não querem viver apenas num plano
ideal, porque de nada adianta um plano ideal para quem não consegue obter no plano real as
condições mínimas existenciais. Eis o aspecto transformador da teoria de justiça de Amartya
Sen (2009), pois busca na eliminação das injustiças a consagração da justiça. Afinal, se
existem divergências profundas sobre justiça, pelo menos as pessoas, do ponto de vista
prático, reconhecem uma injustiça facilmente.
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CONCLUSÃO
O poder exercido pela Igreja e pelos Monarcas, nos diversos reinos existentes durante
a Idade Média, em várias ocasiões, não possuía limites, ocasionando atos intolerantes por
parte do Estado e atrocidades das mais diversas. Não obstante, as revoltas Baroniais do século
XII e XIII, a revolução Inglesa, no século XVII, a Americana e a Francesa, em 1776 e 1789,
respectivamente, possibilitaram o surgimento de constituições nacionais, no intuito de
proteger os direitos do homem.
Ocorre, que a evolução dos direitos do homem transcendeu a perspectiva dos Estados
nacionais, intrínsecos da modernidade, possibilitando a ascensão dos direitos na esfera
internacional, como os direitos humanos, entendidos por muitos, como exigências éticas e
morais para além do positivismo jurídico.
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REFERÊNCIAS
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Campus, 1992.
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LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo. São Paulo: Martin Claret, 2002.
MONTESQUIEU, Charles de Secondat, Baron de. Do Espírito das Leis. Tradução de Roberto
Leal Ferreira. São Paulo: Martin Claret, 2010.
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http://www.ohchr.org/EN/UDHR/Documents/UDHR_Translations/por.pdf>. Acesso em: 26
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RAMOS, André de Carvalho. Teoria Geral dos Direitos Humanos na Ordem Internacional.
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SEN, Amartya. A Ideia de Justiça. Tradução de Ricardo D. Mendes e Denise Bottmann. São
Paulo: Ed. Schwarcz Ltda, 2009.
______. Desenvolvimento como Liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 461.
SILVA, Enio Waldir. Estado, sociedade civil e cidadania no Brasil: bases para uma cultura
de direitos humanos. Ijuí: Unijuí, 2014. 304 p.
STRECK, Lenio; MORAIS, José Luis Bolzan de. Ciência Política e Teoria do Estado. 7. ed.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010.