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É inegável reconhecer como o sucesso dos livros atuais sobre vampiros, magia e
fantasia abriu espaço para que outras criaturas míticas também pudessem sair das
sombras e ganhar destaque. Mas não diria que eu tenho inspiração nas obras literárias
atuais do gênero, porque bebo no terror mais clássico. Minha influência vem do Mal do
Século e na abordagem da solidão e melancolia – impregnadas no personagem central
da trama – adaptadas a uma linguagem mais atual. Macário, de Álvares de Azevedo é
meu livro de cabeceira, junto aos contos de Edgar Allan Poe. Admiro também os
vampiros criados pela Anne Rice, mas a influência maior para ambientação da trama e
personagens foi Drácula, de Bram Stoker.
Posso dizer que a influência cinematográfica teve um peso enorme sobre a estética e
construção da trama, já que, originalmente, o Vila Socorro fora escrito para as telas. O
mesmo Drácula, dirigido por Francis Ford Coppola, é o grande responsável pelo visual,
densidade da história e questionamentos internos dos personagens. O Labirinto do
Fauno, de Guillermo Del Toro, influenciou na construção de diálogos e na inserção de
uma história fantasiosa em um momento histórico específico. O Grande Truque, de
Christopher Nolan, apesar de não ser do mesmo gênero, foi a maior inspiração para
construir uma trama de surpresas bem amarradas.
5- Por que você resolveu escrever sobre a licantropia, narrativas de homens que
se transformam em lobos? De onde vem o seu interesse pelo assunto?
6- Qual é, na sua opinião, a razão deste tipo de histórias sobre homens que se
transformam em feras serem tão populares ainda hoje? Qual seria a razão do
fascínio por essas figuras?
Em certo grau, acredito que o fascínio ocorra pela transferência da culpa. Agir por
impulso assassino gera um certo fascínio nas pessoas por existir a liberdade para
concretizar tais atos sem a mordaça moral. Mas, para aceitarmos esse comportamento,
precisamos construir uma representação animalesca para justificar ações abomináveis.
E nada mais fascinante que nos vermos como uma criatura imortal, mais forte e veloz do
que qualquer homem na Terra, que vingaria todas as nossas mágoas com carnificina
impulsionada pelo desejo de reparação.
O Vila Socorro ficou com o final em aberto para um dos personagens principais que
deverá retornar em alguma obra futura. É possível uma continuação direta que aborde o
vampirismo, mas o mais provável é que esse personagem seja visto em outro romance
que estou elaborando, chamado Rio das Almas. Irei desenvolver melhor essa ideia após
terminar de escrever o roteiro cinematográfico de Sabola Citiwala - o escravo de Capela
para também adaptá-lo como romance em seguida – como foi feito com o Vila Socorro.
Nesse novo texto, eu recrio a lenda do Saci de forma mais cruel e visceral, reforçada por
pesquisa histórica e crença folclórica repaginada a um estilo mais denso.