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Preconceito étnico-racial na escola

As vezes somos engolidos por nossa própria ignorância. E, mesmo sendo impostos pela
sociedade e pela escola, deixamos passar despercebidos os absurdos do cotidiano.
Ao ler o texto e principalmente assistindo ao documentário me deparei com a discrepância
entre a pluralidade estatística da população brasileira e a monocultura evidenciada em muitas de
nossas escolas.
Fui estudante de escola municipal e estadual em São Paulo, além de bolsista, por aprovação
em concurso vestibulinho, em uma instituição privada. Cursei a graduação na UNESP e o Mestrado
na UFSCAR. A exceção de minha caminhada acadêmica nas escolas municipais e estaduais onde
convivia com um número relevante de colegas pardos ou pretos, no ensino médio, na graduação e
no mestrado, é possível contar nos dedos o número de colegas pardos com quem estudei e me
recordo de um único colega preto, da época do ensino médio. Quanto aos professores, a relação é
ainda menor e a exceção de dois professores pretos de oficina mecânica no ensino médio, não tive
contato com outros professores cujos ancestrais eram prioritariamente de origem africana.
Ao confrontar o censo populacional das salas de aula por onde passei já está escancarada a
injustiça curricular e a falta de acesso para afra-descendentes a determinados degraus da evolução
acadêmica e consequente “êxito” profissional.
Muitos de meus colegas negros, cujos primeiros degraus dividimos, enquanto eu me lançava
aos pisos superiores em busca de conhecimento, reconhecimento e realizações, permaneceram no
patamar, por algum momento assistindo a minha ascensão e logo depois se submeteram as
migalhas oferecidas pela racista realidade social, educacional e profissional.
É um absurdo assistir ao emocionado depoimento de uma mãe cuja vaga ao filho para o
próximo ano letivo condicionava-se a um corte de cabelo “adequado”, afinal, à realidade branca, é
opressivo ter a evidência preta impedindo a passagem do olhar ao quadro branco. Todavia, o
daltonismo racial é referendado.
Juliano Moreira, Milton Santos, André Rebouças, Teodoro Sampaio, Chiquinha Gonzaga,
Abdias do Nascimento, Carolina Maria de Jesus, para não citar prioritariamente Machado de Assis,
Lima Barreto (que na minha ignorância, alimentada pela falta de informações e imagens dos livros,
os dois últimos eram brancos) e Zumbi dos Palmares, referências de negros na constituição da
pátria tupiniquim, a exceção do último a importância histórica só conheci após a graduação ou há
pouco tempo por intermédia de reportagens e artigos, fruto do meu interesse cotidiano pela leitura e
prioridade dada a qualificadas mídias jornalísticas.
Enquanto o currículo escolar não contemplar, dentre tantas outras, as figuras negras
mencionadas no parágrafo anterior, haverá uma visão míope escravagista da história do afra-
descendente e de seus antepassados e vamos continuar referendando e relegando, prioritariamente,
a realidade profissional do negro ao servente de pedreiro, faxineiro, copeiro, ajudante de cozinheiro,
para não falar do lixeiro, do qual o labor deriva muitas vezes da porquice deveras esbranquiçada da
população. Ratificamos que: o tom de pele melânico é característico ao serviçal.
Não me agrada a política de cotas, por causar segregação, por evidenciar as diferenças e
causar incomodo, inclusive ao cotista. Entretanto, hoje, ela é necessária! Precisamos de políticas
capazes de reduzir as diferenças e arcar com as dívidas histórico-sociais associadas principalmente
a população afro-descendente. Ou, continuaremos compactuando com a mediocridade de uma
população cujo acesso aos níveis superiores da formação acadêmica é notadamente caucasiano.
Ou seja, nos mantemos preconceituosos, negando a igualdade de oportunidades. Fechamos os
nossos olhos para realidade, ao aceitar, continuar subindo os degraus sem olhar para trás,
preferindo balançar as mãos ao léu ao invés de oferecê-las a quem permanece, pois não se
reconhece merecedor de ocupar o seu lugar no próximo nível, no patamar.
A situação só será mudada quando ao admitir a inadequada realidade, cada um passe a lutar
por uma escola mais multicolorida, tanto quanto se revela a população da própria sociedade.

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