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3 A produção cultural:

3.1 Distinção social e mecenato


Com o conhecimento proveniente do Renascimento, apareceram curiosas
atitudes socioculturais, que apoiam a superioridade do Homem e no poder
individual.
Salienta-se ainda, a ostentação das elites cortesãs e burguesas, a prática do
mecenato e o estatuto de prestígio dos intelectuais e artistas.

3.1.1. A ostentação das elites cortesãs e burguesas


As elites sociais, ou, cortesãs, eram formadas por nobres e burgueses em busca
de ascensão.
Rodeadas de luxo, conforto, beleza e sabedoria, as elites ostentavam vestes
sumptuosas, ricos palácios e solares, consumiam requintadas iguarias, investiam na
aquisição de obras de arte e no reforço das suas bibliotecas. A estas, deveu-se a
criação de famosas artes, como a dos Médicis em Florença ou a dos duques de
Urbino.
As cortes constituíram um círculo privilegiado da cultura e da sociabilidade
renascentistas. Estas converteram-se em focos de poderoso mecenato.
O cortesão apresentava-se como modelo de talentos físicos e intelectuais, de
qualidades morais e boas maneiras.
A vida quotidiana das elites cortesãs estava condicionada por exigentes regras
de comportamento social. Conhecidas por civilidade, essas regras instruíam sobre o
modo como se deveria comer, vestir, cumprimentar, falar, estar e, inclusive, sobre
preceitos de higiene pessoal. A sociabilidade renascentista tornou-se assim, mais
polida e contida que a medieval.

3.1.2 O estatuto de prestígio dos intelectuais e artistas


Solicitavam aos intelectuais manuscritos antigos, originais ou copiados, e obras
literárias que exibiam nas suas bibliotecas. Encarregavam os artistas de grandiosos
projetados de arquitetura, de estátuas, túmulos, retratos. Eram mecenas à procura
de deixar o seu nome imortalizado.
Os mecenas expressavam, o prestígio e a consideração que o Renascimento
sentia pelos seus intelectuais e artistas.
3.1.3 Portugal: o ambiente cultural da corte régia
A corte régia portuguesa sobressaiu no panorama da sociabilidade e da cultura
renascentista.
No que se refere ao mecenato, quer D. João II, D. Manuel I ou o seu filho D.
João III não se pouparam a despesas para acolher humanistas estrangeiros. A D. João
III se deveu a fundação do Colégio das artes, em Coimbra, que se celebrizou pelos
seus métodos atualizados, pela qualidade do seu corpo docente e dos seus manuais.

3.2. Os caminhos abertos pelos humanistas


Os humanistas, intelectuais do Renascimento, sobressaíram em diferentes
ramos da produção literária, como a poesia, a história, o teatro, a sátira, a filosofia e a
retórica.
Em todas estas matérias, defenderam a excelência do ser humano, que
consideravam um ser bom e respeitável, inclinado para o bem e a perfeição.
Transmitiram assim, o ideal do antropocentrismo.
Segundo o humanista florentino Pico della Mirandola, o seu humano, por ser
dotado da Razão, era o único ser completamente livre, pois possuía a capacidade de
contruir o seu próprio destino e de escolher a sua missão. O livre-arbítrio
superiorizava o Homem.

3.2.1. Valorização da Antiguidade Clássica


Os humanistas alimentaram uma notável paixão pela Antiguidade. Admiravam
autores como, Homero, Platão, Virgílio, etc.
Os humanistas procuraram com avidez manuscritos antigos em bibliotecas e
mosteiros, com o intuito de os compreenderem e os traduzirem, estudaram o grego,
e aperfeiçoaram a língula latina.
Também recuperaram as Sagradas Escrituras. Com os seus conhecimentos em
línguas, conseguiram ler o Novo Testamento e para conhecerem o Antigo
Testamento tiveram de aprender a língua hebraica.
É passada assim uma imagem dos humanistas como homens de grande rigor
linguístico e exigência técnica. Com os humanistas, as letras antigas renasceram, tal
como os valores antropocêntricos e a pureza da mensagem bíblica.
O ensino, fomentou de igual forma o gosto pela Antiguidade. Incluía o estudo
do Latim, do Grego, do Hebraico, da Literatura em prosa e em verso, da História e da
Filosofia antigas, estas eram as áreas de estudo fundamentais para a formação de um
ser humano. Receberam o nome de studia humanitatis ou “humanidades”.

3.2.2 Afirmação das línguas nacionais e consciência da


modernidade
Os humanistas criaram obras onde imitavam os autores greco-latinos. Os
antigos influenciara-os no estilo, praticaram os mesmos géneros literários, seguiram
temáticas afins e recorreram à mitologia.
Um exemplo português é o autor Luís de Camões e a sua obra, Os Lusíadas.
Pela Europa, verificou-se um movimento de afirmação das línguas nacionais,
que adquiriram regras gramaticais precisas uniformidade ortográfica e um
vocabulário mais rico e elegante.
A consciência de modernidade, levou os humanistas a entenderem o estudo
dos clássicos não como um fim, mas como um instrumento formativo.

3.2.3 Individualismo, racionalidade, espirito crítico e utopia


Os humanistas consideravam que o individuo se distinguia e afirmava no
mundo pelo uso da Razão. A racionalidade deveria ser logo exercitada nos jovens
pelos respetivos professores. Para eles, o mestre ideal seria aquele que ensinasse o
aluno a discernir, julgar e duvidar, inclusive, da autoridade dos clássicos.
Atentos ao mundo, os humanistas procuraram torna-lo melhor e mais perfeito.
Fazendo uso da razão e espírito crítico, denunciaram comportamentos indignos e
imaginaram sociedades ideais – as utopias.
A crítica social levou á construção de utopias. Muitas obras literárias do
Renascimento perspetivaram mundos de perfeição e harmonia, onde se praticava um
novo ideal de vida centrado nos valores humanos.

3.3 A reinvenção das formas artísticas – imitação e superação


dos modelos da Antiguidade
Os renascentistas inspiraram-se na Antiguidade Clássica a nível das artes, mas
conseguiram de longe superá-los, tanto a nível: da pintura, da arquitetura e da
escultura.
 Pintura:
Na pintura, o gosto pela representação da figura humana também se fez sentir,
assim sendo, a pintura refletia, a redescoberta do Homem e do indivíduo,
relacionando-a com um dos seus ideais, o Humanismo.
As suas maiores qualidades eram, a originalidade e
a criatividade
Pintura a óleo
Invenção flamenga do século XV.
Era realizada sobre madeira/tela, tinha uma longa durabilidade, possuía a
possibilidade de retoque e detinha uma enorme variedade de matrizes e de
gradações de cor.
Foi uma inovação que reteve uma enorme aceitação.
A terceira dimensão
O campo de visão do observador era estruturado por linhas que se unificavam
no horizonte.
Criaram assim um espaço tridimensional marcado pela profundidade, pelo
relevo e pelo volume das formas.
A perspetiva representava uma desmontagem do conceito medieval de
espaço.
O sfumato permitia ver os objetos com uma maior nitidez.
A geometrização
Para o retrato das cenas, foram utilizadas formas geométricas, essencialmente
a piramidal.
A proporção
A proporção entre as dimensões tornou-se importante, criaram, assim uma
medida-padrão (módulo), que servia de referência para as diferentes dimensões.
As representações naturalistas
O artista, esforçava-se para compreender as leis que regiam a Natureza.
As representações naturalistas
O artista, esforçava-se para compreender as leis que regiam a Natureza.
Na expressividade dos rostos, as imperfeições estavam presentes, estavam
também presentes os sentimentos e estados de alma, que refletiam os traços de
personalidade.
Ressaltavam a espontaneidade dos gestos e a verossimilhança das vestes e dos
cenários.
O corpo, dos seres vivos, era pintado com extremos rigor anatómico.
As paisagens tornaram-se um elemento essencial da composição pictórica.
 Escultura:
Inspirada também na Antiguidade Clássica, a escultura atingiu o seu expoente
máximo com os escultures renascentistas.
A escultura ganhou autonomia e naturalidade. O corpo nu readquiriu a sua
importância e a estátua equestre voltou a embelezar a praça pública.
Principais características:
- buscavam representar o Homem como ele é na realidade;
- Proporção da figura mantendo a sua relação com a realidade;
- Profundidade e perspetiva;
- Estudo do corpo e do carácter humano.
Salientam-se os estudos de perspetiva, baseados em
rigorosos desenhos prévios.

Rigor
anatómic
Aperfeiço o Expressão
amento fisionómic
técnico; a;

Racionali Espontanei
dade; dade;

Equilíbrio Ondulaç
ão das
; linhas;
 Arquitetura:
A arquitetura procedeu a uma simplificação e racionalização da estrutura dos
edifícios.
Simetria absoluta, nas fachadas a simetria é visível no rigoroso enquadramento
que preside às portas e janelas; as portas têm dimensões próximas umas das outras,
o mesmo nas janelas. Defende-se a planta circular, pois o circulo era a figura
geométrica mais perfeita e natural.
Matematização rigorosa do espaço arquitetónico, a partir de múltiplos de uma
unidade-padrão.
Relações proporcionais, estabelecidas entre as várias partes do edifício.
Cubos e paralelepípedos, eram, as formas ideais para a integração das
estruturas arquitetónicas.
Perspetiva linear, semelhança a uma pirâmide visual, na base encontra-se o
observador e o vértice é o ponto para onde se deve olhar. O espaço surge concebido
em função do observador, que ocupa um lugar central na perceção da obra.
Linhas e ângulos retos, oposição à verticalidade do estilo gótico.
Abóbadas de berço e de arestas, que substituem as de cruzaria ogival, o que
facilitou a construção.
Cúpula, era um elemento dominante em quase todas as igrejas renascentistas.
Arco de volta perfeita, pelas suas fáceis ligações ao resto da construção.
Gramática decorativa greco-romana
Além das estruturas, tal como na Antiguidade
adotaram a gramática decorativa greco-romana.
a) Incluíram as colunas (base, fuste, capitel) e os entablamentos (arquitrave, friso,
cornija) das ordens clássicas, essencialmente a coríntia e compósita.
b) Recuperaram-se os frontões triangulares.
c) Utilizaram-se os grotescos, serviam
para ornamentar.
Arquitetura civil e urbanismo
O Renascimento construiu palácios e villae e habitações destinadas ao bem-
estar de nobres ou burgueses.
Os palácios tinham um grande pátio central, e as fachadas podiam ser
revestidas por almofadados ou mesmo apresentar colunas e entablamentos clássicos.
A villae era, uma cas de campo, que era simétrica nas fachadas e tinham um
toque de classicismo. Tinham como decoração enormes jardins, que por sua vez
continham, fontes e jogos de água e estátuas decorativas
A racionalidade no urbanismo
Por via do seu gosto pela perfeição, harmonia e proporção, os intelectuais e
artistas renascentistas conceberam projetos de mundos e cidades ideais e
racionalizados.
As utopias, imaginação de lugares, onde o bem, a virtude, a beleza e a justiça
estavam constantemente presentes, eram um exemplo desses projetos.
Assim, brotou um urbanismo regular e racionalizado. Projetaram, também,
planos urbanísticos retilíneos, submetidos a regras de higiene, funcionalidade e
beleza.
Estes projetos, quase nunca foram realizados.
A arte em Portugal: o gótico manuelino e a afirmação das novas
tendências renascentistas
Em Portugal, entre a última década do século XV e o primeiro quartel do século
XVI, a arquitetura gótica renovou-se, dando origem a um novo estilo artístico, o
Manuelino.

 O gótico-manuelino
Este estilo artístico português, o manuelino, tem fortes ligações às Descobertas
marítimas.
É uma arte heterogénea, que se manifestou na arquitetura e na decoração
arquitetónica.
Características e complementos:
 gótico final, o plateresco e o mudéjar (estilo mourisco com ornatos de linhas
retas e entrelaçadas) hispânicos;
 o naturalismo (troncos, ramagens, flores, conchas, algas, corais, boias,
cordas);
 o exotismo das colunas e colunelos torsos ou espiralados;
 a heráldica régia de D. Manuel (escudo real, esfera armilar e cruz da Ordem
de Cristo);
 a simbólica cristã (instrumentos da Paixão de Cristo e até as próprias
conchas).
Estruturalmente, o estilo gótico foi mantido:
 Os arcos quebrados (em ogiva), associam-se a uma profusão de arcos;
 As abóbadas apresentam redes complexas de nervuras, algumas curvas;
 A abóbada rebaixada, surge como um avanço técnico.
Relativamente, à decoração, o Manuelino, destaca-se essencialmente pela
exuberância das suas formas naturalistas: as bases marinhas unem-se com a
vegetação terrestre; os arcos, os pilares, as janelas, as arquivoltas de portais e
rosáceas, são preenchidos concentrada e exaustivamente, o que leva ao anúncio do
futuro “horror ao vazio” do estilo barroco.
Houveram, de igual forma, progressos na arquitetura civil, nomeadamente nos
paços régios, nos solares nobres e nas fortalezas, defensivas ou ofensivas.
 A arquitetura renascentista
Este estilo artístico enalteceu-se em Portugal, essencialmente, a partir do
reinado de D. João III.
Manifestações do Classicismo na arquitetura portuguesa:
 simplificação das nervuras das abóbadas de cruzaria;
 utilização das abóbadas de berço redondo e das coberturas planas de
madeira;
 substituição de contrafortes por pilastras laterais;
 delimitação das naves, por arcadas redondas, assentes em colunas toscanas;
 multiplicação dos frontões, das colunas, dos capitéis clássicos e dos
entablamentos;
 expansão do modelo de igreja-salão;
 aparecimento da planta centrada.
A respeito, da arquitetura civil, destaca-se a Casa dos Bicos, Lisboa e o Palácio
da Quinta da Bacalhoa, Azeitão.

 A escultura
A escultura portuguesa do Renascimento permaneceu ligada ao
enquadramento arquitetónico.
Entre finais do século XV e a primeira metade do século XVI, brotou um surto
escultórico, quer fosse na decoração de pupilos, como de pias batismais ou na
estatuária de túmulos, portais e altares.
Cria-se uma obra multifacetada, com grande capacidade técnica, onde o Gótico
se funde com o Manuelino e o Classicismo, levando a uma intensa harmonia.

 A pintura
Renova-se a pintura portuguesa, aproximando-a do Renascimento europeu.
Destacam-se escolas ou oficinas, nomeadamente:
 Em Coimbra, a oficina do Mestre do Sardoal;
 Em Lisboa, a oficina do Mestre da Lourinhã;
 Em Évora, a oficina de Francisco Henriques;
 Em Viseu, a oficina de Vasco Fernandes.
 Artista importantes renascentistas portugueses:
Tal como no resto da Europa, existiram artistas que se destacaram em Portugal,
na época do Renascimento, tal como:
 Mateus Fernandes;
 Diogo Boutaca;
 Diogo e Francisco Arruda;
Arquitetos
 João de Castillo.
 Filipe Terzio;
 Jerónimo de Ruão

 Diogo Pires;
 Nicolau Chanterenne;
 João de Ruão; Escultores
 Filipe Hodarte;
 Francisco de Holanda;

 Nuno Gonçalves;
 Álvaro Pires de Évora;
 Frei Carlos;
Pintores
 Vicente Gil;
 Garcia Fernandes;
 Francisco Henriques;

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